O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Eleições

Investigado por: 2024-10-11

PT conquistou 248 prefeituras em 2024, e não 46 como alega post

  • Falso
Falso
Diferentemente do que alegam postagens que circulam nas redes sociais, o Partido dos Trabalhadores (PT) elegeu 248 candidatos a prefeituras no primeiro turno das Eleições Municipais de 2024, apresentando crescimento na quantidade de candidaturas eleitas, já que no primeiro turno de 2020 o partido havia vencido em 179 municípios.

Conteúdo investigado: Uma postagem no X diz que o Partido dos Trabalhadores (PT) só venceu a disputa para prefeitura em 46 municípios. Outro conteúdo, publicado no Telegram, afirma que o Brasil “despetizou”.

Onde foi publicado: X e Telegram.

Conclusão do Comprova: Autor de postagem no X mente ao afirmar que o PT conquistou apenas 46 prefeituras no primeiro turno das Eleições Municipais de 2024. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que, na verdade, o partido teve 248 candidatos à prefeitura eleitos. Desse total, 120 conquistaram a reeleição. Com isso, o PT ficou em 9º lugar dentre os partidos com mais candidatos eleitos no país.

Outra postagem, feita no Telegram, afirma que o país foi “despetizado”. Em um glossário ‘bolsonarista’ feito pelo Estadão, o termo “despetizar/despetização” é definido como um neologismo. O termo foi usado por Onyx Lorenzoni, ministro da Casa Civil durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), que dizia que o governo precisava “despetizar o Brasil”; ou seja, exonerar todos os funcionários não alinhados com a ideologia de direita do presidente.

O dicionário informal, por sua vez, define o termo despetização como “efeito de despetizar, deixar de ser petista”.

No entanto, considerando que o PT aumentou o número de prefeituras conquistadas entre as últimas eleições, indo de 179 no primeiro turno de 2020 para 248 no primeiro turno de 2024, a afirmação foge do contexto do cenário político atual.

Além das prefeituras já conquistadas, o PT ainda disputará 13 municípios no segundo turno, incluindo 4 capitais, sendo elas: Cuiabá (MT), Fortaleza (CE), Natal (RN) e Porto Alegre (RS).

Já o Partido Liberal (PL), também citado em uma das peças de desinformação, elegeu 510 prefeitos neste ano, sendo dois nas capitais Rio Branco (AC) e Maceió (AL). O número é similar ao apontado no conteúdo enganoso (que citou 508 prefeituras). No primeiro turno das eleições de 2020, a sigla elegeu prefeitos em 343 municípios, sendo duas capitais (também Rio Branco e Maceió, prefeitos que foram reeleitos em 2024).

O Comprova não conseguiu contatar os responsáveis pela publicação, pois seus perfis no Telegram e X não permitem o envio de mensagens.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 11 de outubro, o conteúdo publicado no X tinha 1,2 mil visualizações. Já o conteúdo compartilhado no Telegram foi visualizado 2,9 mil vezes.

Fontes que consultamos: Consultamos os dados eleitorais na seção Estatísticas Eleitorais no portal do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A Aos Fatos também investigou o conteúdo e concluiu que a publicação feita no X é falsa. Em 2022, o Comprova investigou e concluiu que era falso um vídeo do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso aparecia dizendo ser contra o PT. Já em 2018, o projeto mostrou que uma empresa contratada pelo TSE não tinha ligação com o PT no segundo turno das eleições presidenciais daquele ano.

Eleições

Investigado por: 2024-10-11

Post usa captura de tela fora de contexto para alegar que houve fraude nas eleições de 2022

  • Enganoso
Enganoso
Publicação engana ao usar captura de tela fora de contexto, sugerindo que teria havido fraude na disputa que elegeu Lula (PT) presidente. Na imagem, é apresentada apuração do estado do Paraná sobre as eleições presidenciais de 2022, momento em que Jair Bolsonaro (PL) aparece com 55,38% e Lula, 35,80%. O recorte, no entanto, não representa o resultado da votação em todo o país. Dados do TSE confirmam vitória de Lula sobre Bolsonaro nesse pleito.

Conteúdo investigado: Captura de tela da transmissão realizada pela Jovem Pan News durante a cobertura do primeiro turno das eleições de 2022, acrescida de legenda que aponta fraude no pleito. A imagem é acompanhada dos dizeres: “Nunca esquecemos dessa tela” e “1 minuto depois, Lula 46 versus 45 Jair Bolsonaro”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Uma captura de tela mostrando a apuração das eleições presidenciais de 2022 engana ao apontar fraude naquele pleito. A imagem exibida é um trecho da transmissão realizada pela Jovem Pan News durante a cobertura do primeiro turno.

Às 20h21, o telão exibido no estúdio mostrava 79,32% das urnas apuradas em todo o país para a eleição à Presidência. O jornalista Adalberto Piotto, então, pergunta se há alguma atualização nos dados. Enquanto espera retorno da produção, o apresentador faz uma menção ao fato de Sérgio Moro (União Brasil) já ter sido eleito naquele momento “e o Lula ainda não”.

Na ocasião, a imagem apresentada no telão muda para a apuração dos votos para presidente da República no Paraná – estado em que o ex-juiz da Operação Lava Jato foi eleito senador, o que pode ter gerado a confusão –, onde Jair Bolsonaro (PL) tinha 55,38% dos votos e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 35,80%. A imagem fica na tela antes de a exibição voltar ao cenário nacional, agora com 82,55% das urnas apuradas. Diferentemente do cenário observado no Paraná, no panorama total do país Lula vencia com 46,53% dos votos, ante 44,81% de Bolsonaro.

Conforme aponta o portal de dados abertos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro, que tentava a reeleição, não chegou a ter 55% dos votos no primeiro turno das eleições de 2022 no cenário geral do país. O percentual máximo atingido, a nível nacional, pelo então presidente durante a apuração foi de 49,0%, às 18h8min. Já no segundo turno, o ex-mandatário despontou com 56,8% dos votos apurados até às 17h17min. O último momento em que Bolsonaro teve 55% ou mais dos votos apurados foi às 17h21min.

No Paraná, Bolsonaro venceu tanto no primeiro quanto no segundo turno das eleições de 2022. No resultado final do estado, o então presidente obteve 62,40% dos votos válidos ao conseguir 4.159.266 de eleitores. Enquanto Lula computou 37,60%, um total de 2.506.464 de votantes.

O Comprova tentou contatar o responsável pela publicação, mas o perfil não admite receber mensagens de perfis que não estão em sua rede.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 11 de outubro de 2024, a publicação contava 2,4 milhões de visualizações no TikTok.

Fontes que consultamos: O programa na íntegra da Jovem Pan News e o Portal de Dados Abertos do TSE.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Estadão, Reuters e Justiça Eleitoral verificaram conteúdos semelhantes. O processo eleitoral é frequentemente alvo de desinformação. O Comprova, por exemplo, mostrou ser enganoso vídeo de 2010 descredibilizando as urnas sem provas, que voltou a circular em 2024 como se fosse atual, assim como post engana ao afirmar que os EUA teriam construído urnas para o Brasil. Além disso, o Comprova verificou ser falso que Lula tenha recebido votos nulos ou brancos nas eleições de 2022. Neste link, você confere as checagens do Comprova sobre eleições.

Política

Investigado por: 2024-10-10

Vídeo não mostra Musk dizendo que suspensão do X no Brasil teria sido “jogo sujo”

  • Falso
Falso
É falso o vídeo que circula no TikTok e mostra o empresário Elon Musk dizendo que a suspensão do X no Brasil “foi um jogo sujo”. O trecho utilizado pelo autor da postagem é de um discurso do empresário em um evento da Tesla, feito em junho deste ano, antes mesmo da suspensão da plataforma no Brasil, e o tema não foi abordado. O vídeo acrescenta às imagens uma dublagem falsa.

Conteúdo investigado: Vídeo mostra Elon Musk discursando em um evento. O áudio, em português, supostamente uma dublagem do que foi dito por Musk, indica que o empresário estaria parando sua apresentação para comentar o desbloqueio do X no Brasil, alegando que “foi um jogo sujo”, e que “o medo deles [autoridades brasileiras] era outro”, era “o poder de vocês, o poder de falar sem filtros, sem amarras” e que havia sido uma “guerra”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: O vídeo utilizado pelo autor da postagem foi feito durante a participação de Musk no “2024 Annual Stockholder Meeting”, um encontro anual da Tesla realizado em Austin, no Texas, no dia 13 de junho de 2024, dois meses e quatro dias antes do X fechar o escritório no Brasil após decisões do judiciário brasileiro. Conforme checado pelo Comprova, o conteúdo da dublagem é inventado, e não tem relação com a fala de Musk na ocasião.

Segundo a dublagem, Musk teria dito que tentaram de tudo para derrubar a plataforma por meio de “bloqueios, acusações, pressão de todo lado”. Teria, ainda, prometido seguir na luta para evitar que “eles” continuem “tentando controlar o que você fala”. Além de ter ocorrido antes do bloqueio do X no Brasil – e, consequentemente, antes da liberação da plataforma -, o tema não foi pauta do discurso do empresário durante o evento de junho.

Observa-se também que, para dificultar a identificação de onde foi feita a fala, o autor da postagem “espelhou” o vídeo, de forma que o letreiro que aparece atrás de Musk não pode ser lido facilmente.

Até o momento, Elon Musk ainda não se pronunciou oficialmente sobre o desbloqueio da rede social no Brasil, que ocorreu em 8 de outubro. Um perfil oficial da plataforma emitiu um comunicado afirmando que o “X tem orgulho de estar de volta ao Brasil” e que continuará a “defender a liberdade de expressão, dentro dos limites da lei”.

O Comprova entrou em contato com o autor do vídeo, mas não obteve resposta até o momento da publicação deste material.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 9 de outubro, apenas um dia após a publicação, o conteúdo já havia recebido mais de 125 mil visualizações, além de 15,5 mil curtidas, 3,2 mil comentários e 1,3 mil compartilhamentos.

Fontes que consultamos: Discurso de Elon Musk no evento da Tesla e perfis oficiais do empresário e do X nas redes sociais.

A liberação do X no Brasil

No dia 29 de agosto deste ano, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão imediata e completa do funcionamento do X (antigo Twitter) no Brasil. Antes da suspensão, a empresa anunciou o fechamento de seu escritório no Brasil em 17 de agosto, em protesto contra as decisões do ministro do STF.

A decisão pela suspensão da plataforma ocorreu por descumprimento de ordem judicial emitida pela Suprema Corte, que exigia a nomeação de um novo representante legal da empresa no país. Na ocasião, o STF notificou a empresa diretamente pela plataforma X. A empresa, no entanto, não cumpriu a ordem no período estipulado.

De acordo com o Supremo, a ausência de um representante legal no Brasil dificultou o cumprimento de ordens judiciais, como a remoção de conteúdos considerados ilegais. Ao determinar a suspensão imediata do X, Moraes solicitou diretrizes às empresas Apple, Google e provedores de internet, para que retirassem aplicativos VPN das lojas a fim de impedir o acesso à rede social em território nacional.

No entanto, horas depois da decisão sobre o bloqueio ter sido expedida, o ministro recuou sobre a retirada de aplicativos de VPN das lojas virtuais.

Após diversos ataques de Musk ao ministro do Supremo, em 20 de setembro, 22 dias depois do bloqueio do X no Brasil, a plataforma indicou a advogada Rachel de Oliveira Villa Nova como representante legal no Brasil. Ela já tinha desempenhado a mesma função antes do fechamento do escritório da empresa no país.

No dia 26 de setembro, a companhia enviou ao ministro todos os documentos solicitados para a retomada da rede social e bloqueou as nove contas solicitadas nas ordens judiciais.

Além disso, no dia 7 de outubro, a plataforma realizou o pagamento das multas determinadas por Moraes. Elas se referiam ao não cumprimento das ordens do ministro.

Nesta terça-feira (8), o magistrado determinou a liberação do X no país, dando à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) 24 horas para cumprir a decisão.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Essa não é a primeira vez que falas de Musk são “dubladas” de forma mentirosa. Em agosto deste ano, o Comprova mostrou que um vídeo mentia ao afirmar que ele teria dito que Lula “foi nomeado, e não eleito”. Além disso, desde o bloqueio do X no Brasil, o Comprova fez diversas checagens relacionadas ao tema, como quando o X voltou a funcionar temporariamente por causa de troca de servidor, não por pagamento de multa e que é enganoso post que associa queda em ações da Tesla com embates entre Musk e Alexandre de Moraes.

Política

Investigado por: 2024-10-09

Real Digital, o Drex, não mudaria sigilo bancário que existe atualmente

  • Enganoso
Enganoso
O Drex, moeda digital do Banco Central (BC) que ainda está em fase de testes restritos, não representa um controle social pelo governo nem o fim da privacidade dos cidadãos. O rastreio bancário da moeda digital poderá ser feito em casos de atividades ilícitas, assim como já acontece com os meios de pagamentos atuais, como cartões de crédito e transferências bancárias. Especialistas explicam que o sistema financeiro do Drex só poderá ser implantado quando atender à legislação brasileira, que prevê sigilo fiscal.

Conteúdo investigado: Vídeo publicado nas redes sociais afirma que o Drex, projeto de moeda digital criado e operado pelo Banco Central, representa controle social, fim da privacidade e permitirá bloqueio de salários. “Ele pode, por exemplo, garantir que você só consiga usar seu dinheiro em uma determinada área circunscrita e não use mais para doar dízimo ou comprar em empresas que não são alinhadas com o governo. O governo tem agora a sua localização bem clara e definida e o seu dinheiro pode ser bloqueado instantaneamente pela Justiça. O dinheiro virou concessão do governo”, diz o homem que aparece no conteúdo enganoso.

Onde foi publicado: Telegram, Facebook e Instagram.

Conclusão do Comprova: O vídeo engana ao afirmar que o real digital vai permitir que o governo bloqueie o uso de dinheiro em determinadas áreas geográficas ou o pagamento para certas empresas. O Drex, regulado pelo Banco Central (BC), é apenas uma versão digital do real, que funcionará sob as mesmas regras já vigentes no sistema financeiro atual.

Segundo BC, órgão criador e regulador da nova moeda, o Drex “é o real, a moeda brasileira oficial, em formato digital”. Embora tenha outro nome, o projeto prevê que ela tenha o mesmo valor, aceitação, garantias e segurança do real tradicional – utilizado em movimentações com dinheiro em espécie ou cartões de crédito e débito.

Ainda de acordo com o banco, também criador do Pix, o intuito é modernizar o sistema financeiro brasileiro e facilitar as transações digitais. Enquanto o Pix é um meio pelo qual é possível transferir dinheiro, o Drex é o próprio dinheiro a ser transferido. A nova moeda digital poderá ser utilizada tanto para “fazer um Pix” quanto para realização de pagamentos ou transferências por meio de outras modalidades já existentes.

Conforme o especialista Eduardo Ibrahim, professor convidado da Escola de Economia de São Paulo e expert da Singularity Brazil, a moeda digital ainda não está em funcionamento, pois ainda precisa ser adequada à legislação atual, que garante o sigilo fiscal.

“Inclusive, o projeto, hoje, tem desafios técnicos para justamente garantir que a legislação atual seja cumprida em uma tecnologia que foi projetada para ter transparência”, explicou Eduardo. O professor ainda comenta que há um desafio para manter o sigilo bancário ao passo em que também prioriza a transparência de informações.

Na legislação atual, a Instrução Normativa nº 2.219 estabelece prerrogativas para a prestação de informações relativas às operações financeiras de interesse da Secretaria Especial da Receita Federal. Com isso, as instituições financeiras devem prestar contas quando o montante global movimentado ou o saldo mensal por tipo de operação ultrapassar R$ 5 mil para pessoas físicas e R$ 15 mil para pessoas jurídicas.

No vídeo publicado nas redes sociais, o autor alega que o governo terá acesso à localização do usuário e poderia, por exemplo, restringir a área onde o cidadão utilizaria o dinheiro. Além disso, conseguiria verificar se os impostos estão sendo pagos em dia.

Segundo Ibrahim, essas afirmações são superficiais, porque o sistema financeiro atual já é totalmente eletrônico e não há nada que não possa ser rastreado nas carteiras digitais dos bancos. A inspeção das operações ocorre apenas em casos de movimentações suspeitas ou de acordo com a Instrução Normativa citada. O economista, portanto, entende que a principal discussão é estudar como o Drex acompanhará a legislação atual.

Alexandre Tamura, diretor de Data Regulation (regulamento de dados) da Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, argumenta que não há evidências que sustentem a afirmação de que o Drex se tornará um sistema de controle social e pontua que o cenário atual contraria as afirmações enganosas.

“Não há também fundamento para a ideia de que o governo limitaria o uso do dinheiro a áreas geográficas ou estabelecimentos. O Drex visa transações mais eficientes e acessíveis”, informou Tamura..

“O Drex terá medidas de segurança e controle para prevenir atividades ilícitas, como lavagem de dinheiro, iguais a controles já existentes, mas isso não significa ter um controle invasivo sobre as transações pessoais. A moeda digital será regida por leis e regulamentos que protegem os direitos e a privacidade dos cidadãos, impedindo seu uso como ferramenta de controle social, e não elimina o sigilo fiscal”, acrescentou.

A reportagem questionou ao Banco Central do Brasil quando a moeda estará disponível, mas a instituição não deu uma previsão. A publicação mais recente no site oficial sobre o andamento para o desenvolvimento da moeda informa que a fase de testes com o Piloto Drex, iniciada em março de 2023, trabalha “para que se possa garantir o atendimento de todos os requisitos jurídicos relacionados à preservação da privacidade e à proteção de dados pessoais”.

“Esses são os fatores que têm o maior impacto no cronograma. O risco associado a eles já estava claro no início do projeto e faz parte da evolução de um ambiente de pesquisa e desenvolvimento que busca uma solução ainda globalmente inédita. Para esse desafio, o Banco Central tem contado com a colaboração do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e de equipes globais de pesquisa e desenvolvimento voltadas à busca dessa solução”, disse Fabio Araujo, consultor do Departamento de Operações Bancárias e de Sistemas de Pagamentos do Banco Central (Deban).

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O alcance no Telegram foi de 2,7 mil visualizações e, no Instagram, 89 mil.

Fontes que consultamos: Especialista em economia Eduardo Ibrahim, da Singularity Brazil; Alexandre Tamura, diretor de Data Regulation; e Banco Central do Brasil.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A seção Comprova Explica trouxe detalhes do funcionamento do Drex. O projeto também checou a informação enganosa de que o recurso seria utilizado para arrecadar impostos diretamente de transações digitais.

Contextualizando

Investigado por: 2024-10-08

Prisão de Putin em possível vinda ao Brasil depende do Judiciário e não de Lula; entenda

  • Contextualizando
Contextualizando
Post nas redes sociais menciona que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que virá ao Brasil em novembro para reunião do G20, teria que ser preso ao pisar no território brasileiro pois, caso contrário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estaria desrespeitando a Constituição. O assunto é complexo, mas, de qualquer forma, a eventual prisão de uma autoridade na situação de Putin não seria de responsabilidade do presidente da República.

Conteúdo analisado: Publicação afirma que Lula planeja trazer Vladimir Putin para reunião do G20 em novembro. “Urgente: Lula planeja trazer Putin ao Brasil em novembro para reunião do G20! Devido às sanções, Putin teria que ser preso ao pisar no território brasileiro. Se Lula não fizer isso, ele irá desrespeitar constituição brasileira e colocar o Brasil em uma crise”. O post é acompanhado de trecho de uma análise do jornalista Lourival Sant’Ana na CNN.

Onde foi publicado: X.

Contextualizando: Vladimir Putin, presidente da Rússia, deve ser convidado a vir para o Brasil para participar da reunião da cúpula do G20, um encontro anual entre chefes de Estado e de Governo dos países membros do grupo, que tem como objetivo aprovar acordos e discutir caminhos para lidar com desafios globais.

A vinda de Putin, no entanto, não seria uma visita normal. Em março de 2023, o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu um mandado de prisão para o presidente russo, devido a alegações de crimes de guerra relacionados à deportação de crianças ucranianas durante o conflito da Rússia com a Ucrânia.

Como o Brasil ratificou os termos do acordo internacional que criou o Estatuto de Roma, tratado que criou o Tribunal Penal Internacional, o país tem a obrigação de cooperar com o TPI, inclusive no cumprimento de mandados de prisão.

Questionada sobre a possibilidade de Lula “prender” o presidente russo, a Assessoria Especial do Presidente da República disse que o mandatário brasileiro já tratou do tema publicamente, como durante uma visita à Alemanha em dezembro do ano passado, e explicou que “não é competência dele decidir pela prisão”, sendo a definição de responsabilidade da Justiça.

Ao Comprova, a presidente da Comissão de Relações Internacionais da seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/DF), Clarita Maia, explicou que Putin poderia sim ser preso no Brasil, mas que há uma série de fatores a influenciar na execução dessa prisão.

Entre eles estão a imunidade diplomática, já que chefes de Estado geralmente gozam de imunidades sob o direito internacional consuetudinário, o que pode criar um conflito jurídico; e de considerações diplomáticas e políticas, que permite que o Brasil possa decidir não prender o presidente russo por razões políticas ou diplomáticas, para evitar tensões internacionais.

Além disso, Maia acrescentou que a ordem de prisão poderia ser cumprida especificamente através do Poder Judiciário, com autorização de um juiz federal ou outro órgão competente, ou pela Polícia Federal.

“As autoridades diplomáticas brasileiras também poderiam se envolver, dependendo de como a prisão se desenrolasse, já que envolvem a presença de um chefe de Estado estrangeiro”, acrescentou a advogada.

A eventual prisão também dependeria de uma série de fatores, como uma notificação por parte do TPI, coordenação entre o Ministério da Justiça (MJ), Polícia Federal (PF) e outras autoridades responsáveis pela prisão, e ainda a logística de detenção e transporte, já que Putin teria que ser levado sob custódia até Haia, na Holanda, onde o TPI está sediado.

“Isso envolveria coordenação internacional, possivelmente com o uso de aviões sob escolta militar ou policial”, acrescenta Maia.

A reportagem também entrou em contato com o jornalista Lourival Sant’Anna para saber se a fala utilizada pela postagem estava completa ou se foi manipulada. O jornalista confirmou que, apesar da publicação utilizar apenas um recorte, o trecho da fala está na íntegra e que a análise está completa no Youtube.

Consequências

Caso Putin decida vir ao Brasil e o país não realize a prisão, haveria consequências políticas, como explica Alexandre Coelho, professor de Relações Internacionais na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP) e doutor em Relações Internacionais pelo Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP).

“O país poderá enfrentar consequências diplomáticas e jurídicas, como a perda de credibilidade no cenário internacional e possíveis sanções políticas”, afirma. “Além disso, o Brasil poderia ser acusado de violar suas obrigações internacionais perante o TPI, comprometendo sua reputação como defensor dos direitos humanos e do Estado de Direito”, explica.

Por outro lado, a prisão também teria consequências. “A relação entre o Brasil e a Rússia, membros dos BRICS, é estratégica. A prisão de Putin poderia comprometer alianças políticas, econômicas e comerciais dentro desse grupo, minando a cooperação multilateral”, afirma.

“Além disso, a Rússia, como uma grande potência nuclear e um dos atores principais no cenário internacional, possui considerável influência. O Brasil, ao optar por cumprir o mandado do TPI, arriscaria alienar outros países que também questionam a legitimidade do tratado, como China e Índia”, pontuou Coelho.

“Politicamente, o presidente brasileiro enfrentaria um dilema entre respeitar suas obrigações internacionais e manter uma política externa equilibrada, que historicamente busca evitar antagonismos desnecessários com grandes potências”, acrescentou.

Lula e Putin

Vale contextualizar que o presidente Lula declarou em 9 de setembro de 2023, em entrevista ao canal indiano Firstpost, durante reunião do G20 em Nova Delhi, que Putin não seria preso se vier ao Brasil: “A gente gosta de tratar bem as pessoas. Então, acredito que o Putin pode ir facilmente ao Brasil. Eu posso te dizer que, se eu sou o presidente do Brasil e se ele vem para o Brasil, não tem porque ele ser preso”. A declaração foi noticiada por veículos como Folha de S.Paulo, Veja, CNN, e UOL.

No entanto, após a repercussão negativa da fala, o presidente brasileiro voltou atrás, e no dia 11 daquele mês disse que quem decidiria a prisão é a Justiça.

Na ocasião, Lula mencionou ainda que desconhecia a existência do TPI: “Eu não sei se o tribunal, não sei se a Justiça brasileira, vai prender. Isso quem decide é a Justiça, não é o governo [brasileiro], nem o Parlamento (…) Eu inclusive quero muito estudar essa questão deste Tribunal Penal [Internacional], porque os Estados Unidos não são signatários dele, a Rússia não é signatária dele também. Então, eu quero saber por que o Brasil é signatário de um tribunal que os EUA não aceitam. Por que somos inferiores e temos que aceitar uma coisa? Eu não estou dizendo que vou sair de um tribunal. Eu só quero saber, e só me apareceu agora, eu nem sabia da existência desse tribunal”.

Fontes consultadas: Clarita Maia, presidente da Comissão de Relações Internacionais da OAB/DF; a Assessoria Especial da Presidência da República (Secom); Alexandre Coelho, professor da FESP-SP; e o jornalista Lourival Sant’Anna.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O presidente Lula e Putin já foram alvos de desinformação, a exemplo do uso de um vídeo em que o presidente Russo teria criticado Lula após um encontro com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. O comprova mostrou que era conteúdo falso. O Estadão Verifica também constatou que era falso o conteúdo que dizia que Putin iria intervir nas eleições de 2022 no Brasil.

Eleições

Investigado por: 2024-10-06

Vídeo de 2010 descredibilizando as urnas sem provas volta a circular como se fosse atual

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o discurso do então deputado federal pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), Fernando Chiarelli, na Câmara dos Deputados, criticando o processo eleitoral brasileiro, que voltou a circular neste domingo de eleição como se fosse recente. O vídeo é de 2010 e, diferentemente do que o político afirma, ele não provou que as urnas eletrônicas são uma farsa. Usados no Brasil desde 1996, os equipamentos já foram alvo de diversas denúncias de fraude, mas, até hoje, nenhuma foi comprovada, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Conteúdo investigado: Vídeo mostra discurso na Câmara dos Deputados de político dizendo que o sistema eleitoral brasileiro é uma fraude, que as urnas eletrônicas não são utilizadas em nenhum outro lugar do mundo e são programadas para favorecer candidatos. No início do vídeo, uma mensagem sugere que a gravação é recente e que teria sido retirada do YouTube.

Onde foi publicado: WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É enganoso vídeo de parlamentar dizendo que as urnas eletrônicas são “uma mentira”. A gravação, que é de novembro de 2010 e voltou a viralizar neste domingo (6), dia do primeiro turno das eleições municipais de 2024, mostra o então deputado federal pelo PDT Fernando Chiarelli em sessão plenária falando, sem provas, que as urnas já estariam preparadas “para criar quem vai ganhar e quem vai perder a eleição”.

Ainda em seu discurso, ele diz que provaria, durante o mandato, que “o sistema eleitoral brasileiro é uma farsa”. Além de ele não ter apresentado nenhuma evidência disso, nenhuma denúncia de fraude contra as urnas eletrônicas, em uso no Brasil desde 1996, foi comprovada até hoje, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O Comprova já publicou diversas verificações abordando a segurança do processo eleitoral brasileiro (veja mais abaixo).

“As urnas têm um componente interno altamente protegido, chamado hardware de segurança, que faz várias verificações nos programas que rodam dentro do equipamento em diversos momentos. Se houver qualquer alteração nos programas, a urna simplesmente não funciona”, afirma texto publicado pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP). Além disso, elas podem ser auditadas antes, durante e depois das eleições.

Também não é verdade que o sistema eletrônico é usado apenas no Brasil. Levantamento realizado em 2023 pelo instituto International Idea, organização que apoia democracias em todo o mundo, mostrava que 34 países usavam o voto eletrônico em algum nível. Os Estados Unidos, que Chiarelli cita como uma nação que não usaria a tecnologia, a utilizam em parte do seu território.

Chiarelli também desinforma ao insinuar que os deputados João Hermann, Enéas e Clodovil teriam sido assassinados por denunciarem problemas nas urnas. Hermann, que foi deputado e prefeito de Piracicaba, no interior paulista, morreu por causa de um edema pulmonar, conforme publicado pelo PDT, partido de Chiarelli e de Hermann quando ele faleceu. Enéas, de leucemia, e, Clodovil, em decorrência de um acidente vascular cerebral.

Antes de exibir a fala enganosa de Chiarelli, o conteúdo verificado aqui exibe uma mensagem dizendo que o vídeo do deputado é recente e teria sido retirado do ar pelo YouTube, o que também não é verdade. De 2010, como informado acima, a fala do então deputado pode ser vista na plataforma. O Comprova não publica o link para não ajudar a disseminar a desinformação.

Na política desde 1992, Chiarelli foi cassado por falta de decoro dois anos depois por ofender um vereador com deficiência e, por isso, ficou oito anos inelegível.

Uma reportagem do Congresso em Foco, publicada em 2010, mostrou que, na época em que era deputado, ele foi um dos parlamentares com mais processos no Supremo Tribunal Federal (STF) na região Sudeste, com dez investigações em curso. À época, Chiarelli foi campeão de novos processos durante a tramitação do projeto ficha limpa e de casos de crimes contra a honra.

De acordo com uma reportagem publicada pelo UOL em 2011, ele ganhou notoriedade no município de Ribeirão Preto, no interior paulista, ao promover ações judiciais contra ex-prefeitos e ex-vereadores, interpretadas como uma forma de vingança pela sua cassação.

As controvérsias continuaram em 2016, quando, como pré-candidato à prefeitura de Ribeirão pelo PTdoB (hoje Avante), foi preso pela Polícia Federal por ofensas dirigidas à então prefeita da cidade, Dárcy Vera, em 2012. No dia da prisão, ele seria oficializado como candidato às eleições municipais daquele ano. Mais tarde, a Justiça Eleitoral o considerou inelegível com base na Lei da Ficha Limpa.

Em 2020, Chiarelli teve sua candidatura à prefeitura de Ribeirão Preto aceita pelo TRE-SP dois dias antes do primeiro turno. Inicialmente, seu registro havia sido indeferido devido ao não pagamento de uma multa de R$ 73 mil relacionada a uma condenação de 2013. Após quitar a multa, a defesa do político recorreu ao TRE-SP, que reverteu a decisão por unanimidade.

A última disputa eleitoral em que Chiarelli participou foi em 2022, quando concorreu a deputado federal por São Paulo pelo Patriota, atualmente PRD. Ele não foi eleito.

A reportagem não conseguiu contatá-lo.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O conteúdo verificado aqui está circulando no WhatsApp, onde não é possível mensurar a viralização, mas ele vem acompanhado do aviso “Encaminhada com frequência”.

Fontes que consultamos: Vídeo com o discurso de Chiarelli, e site do TSE e do TRE-SP, além de reportagens sobre o político.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Como informado acima, o Comprova já verificou diversos conteúdos que colocavam em dúvida a credibilidade das urnas. Veja alguns exemplos do que já foi publicado abaixo:

Eleições

Investigado por: 2024-10-06

Site de notícias foi clonado para divulgar conteúdo falso de candidata à reeleição no Tocantins

  • Falso
Falso
A prefeita de Gurupi (TO), Josi Nunes (União), não foi alvo de operação da Polícia Federal (PF) às vésperas das eleições, diferentemente do que afirma um site neste domingo (6). Página clonou o portal de notícias Gazeta do Cerrado e alegou que a candidata à reeleição teria desviado recursos de merenda escolar.

Conteúdo investigado: Texto de um site que tem visual semelhante ao portal de notícias Gazeta do Cerrado afirma que a prefeita de Gurupi (TO), Josi Nunes (União), foi alvo de uma operação da Polícia Federal. O resultado da suposta ação teria sido a apreensão de R$ 2 milhões em espécie desviados de merenda escolar e cocaína em pasta.

Onde foi publicado: Site de internet.

Conclusão do Comprova: Não há registro de que a prefeita de Gurupi (TO) e candidata à reeleição, Josi Nunes (União), tenha sido alvo de operação da Polícia Federal às vésperas das eleições como informa um site que copia o leiaute de página da Gazeta do Cerrado. Não há nenhuma ação da PF registrada no site oficial da corporação, onde todas as operações são divulgadas (veja mais abaixo). A direção do portal já denunciou o site falso para a Polícia Federal e o TSE e a prefeita repudiou a atitude.

O jornal Gazeta do Cerrado informou ao Comprova que fez a denuncia do site falso à Polícia Federal e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por meio do Sistema de Alertas de Desinformação Eleitoral – SIADE, ferramenta cidadã que permite denunciar fatos inverídicos ou descontextualizados que podem prejudicar as eleições.

“Lamentamos a tentativa de contaminar o processo eleitoral usando nossa marca. A Gazeta luta todos os dias contra a desinformação e só publicamos notícias checadas e apuradas. Buscaremos os autores da montagem e vamos pedir a responsabilização judicial”, disse Maju Cotrim, editora-chefe do veículo, em nota.

O site que imitou o jornal utilizou um endereço parecido com o verdadeiro, mas sem o “.br” no final. A página falsa também imitou o leiaute (visual do site) e copiou informações e notícias. O portal verdadeiro informou que tem marca registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e o link é o www.gazetadocerrado.com.br. A direção reforçou ainda que não procede a informação da suposta operação da Polícia Federal no município.

| Captura de tela do clone (à esquerda) e do site verdadeiro (à direita) capturadas às 14h do dia 6 de outubro de 2024.

Por meio de nota, Josi Nunes repudiou “a divulgação de uma fake news, sendo acusações infundadas que fazem parte de um ataque covarde e criminoso” contra a sua “candidatura e contra a liberdade de imprensa”. Josi acrescentou que “está adotando todas as medidas necessárias para identificar os responsáveis por esse crime eleitoral e garantir que eles respondam perante a justiça”.

O Comprova entrou em contato com a Polícia Federal para questionar se houve alguma operação no município de Gurupi. A assessoria respondeu que todas as ações são divulgadas no site e que “a PF não divulga nem confirma nomes de eventuais presos ou investigados”. Em uma pesquisa, a ação mais recente da PF que cita a cidade foi em agosto de 2024, mas o alvo foi uma secretaria do Governo do Estado.

Usamos a ferramenta Whois, que indica quem é o responsável pelo registro de páginas na internet, para tentar identificar a origem do site falso. Os dados indicam que o endereço do responsável pelo site é uma rua na cidade de Reykjavik, capital da Islândia. A data de criação do domínio “gazetadocerrado.com” foi em 05 de outubro.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Fontes que consultamos: Sócios e editores do jornal Gazeta do Cerrado, Maju Cotrim e Marco Aurélio, Josi Nunes e a Polícia Federal.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Outras verificações sobre conteúdo enganoso ou falso nas eleições foram realizadas pelo Comprova como a do candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB), que usou documento falso para alegar que Guilherme Boulos (PSol) foi internado por uso de drogas, assim como a criação de páginas falsas na internet como um site que copiou um portal de notícias e inventou uma entrevista com Haddad sobre criptomoedas também foram checadas.

Eleições

Investigado por: 2024-10-05

Marçal usou documento falso para alegar que Boulos foi internado por uso de drogas

  • Falso
Falso
Pablo Marçal (PRTB) usou laudo médico falso para afirmar que Guilherme Boulos (PSOL) foi internado em decorrência de dependência química. O documento apresenta uma série de inconsistências, como erros de digitação, número de RG com um dígito a mais e assinatura de um médico que nunca trabalhou na clínica. Além disso, há registros de que Boulos estava em outro lugar no momento apontado como o de sua internação.

Conteúdo investigado: Suposto laudo médico publicado por Pablo Marçal (PRTB) que aponta internação de Guilherme Boulos (PSOL) por conta do uso de cocaína e corte de entrevista de Marçal a um podcast em que ele afirma que o atendimento médico teria sido por “dependência química”.

Onde foi publicado: YouTube, TikTok, Instagram e X.

Conclusão do Comprova: O suposto laudo médico divulgado por Pablo Marçal para afirmar que Guilherme Boulos deu entrada em uma clínica de São Paulo após uso de cocaína, em 19 de janeiro de 2021, apresenta indícios de falsificação. O documento foi divulgado inicialmente em uma live no YouTube e compartilhado nas redes sociais pelo candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo. Marçal disse na live, em entrevista a um podcast, que a internação do psolista teria sido por “dependência química”.

O laudo afirma que Boulos recebeu atendimento médico por apresentar um quadro de surto psicótico grave. O documento indica o CID F14, código para “transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso da cocaína”. Além disso, aponta que o psolista teria feito um exame toxicológico que deu positivo para uso da substância. Como verificado por Estadão, Folha e Aos Fatos, entre outros veículos, o documento apresenta uma série de inconsistências.

No laudo, consta que o atendimento ao candidato do Psol ocorreu às 16h45. Naquela tarde, no entanto, o psolista estava em uma agenda com o vereador Emerson Osasco (PCdoB), o que pode ser confirmado com uma foto registrada no dia, publicada no Instagram, e com uma declaração feita pelo parlamentar na sexta-feira (4) sobre a publicação de Marçal.

Alguns usuários do Instagram alegaram que a publicação foi editada, indicando que ela poderia ter sido alterada após a repercussão do falso laudo médico. No entanto, o Instagram não permite edição de fotos já publicadas, apenas a remoção do conteúdo. Na publicação ainda é possível ver que a postagem foi editada no mesmo dia em que foi feita, como aponta uma etiqueta da rede social.

Considerando que a edição teria sido feita na legenda da foto, questionamos o vereador Emerson Osasco sobre possíveis mudanças no conteúdo. Ele não respondeu nossa tentativa de contato até a publicação desta checagem, mas publicou um posicionamento em seu Instagram, afirmando que “é prova viva” de que o candidato do PSOL estava com ele na data indicada no suposto laudo médico. Em seguida, destaca a foto analisada nesta checagem.

O Comprova localizou também uma live feita por Guilherme Boulos no dia em questão, 19 de janeiro de 2021. Além do registro ser de uma fala ao vivo, portanto feita naquele dia, nela, o candidato usa a mesma camiseta que usou na foto com Emerson Osasco.

Também não é verdade que Boulos ficou internado, uma vez que na tarde do dia seguinte ao encontro com o vereador do PCdoB, em 20 de janeiro de 2021, o candidato participou de uma distribuição de cestas básicas na Comunidade do Vietnã, zona sul de São Paulo, como mostra uma foto publicada na data em seu Facebook.

O suposto laudo ainda apresenta um erro de digitação no RG atribuído a Boulos, conforme comparado pelo Comprova com informações do psolista presentes em processos aos quais ele responde e que o projeto teve acesso. Além de ser um número diferente, o documento presente no suposto laudo possui um dígito a mais do que o padrão de documentos usados no Brasil (nove dígitos).

Também há indícios de que o nome da clínica citada no documento esteja errado, uma vez que a unidade existente no Jabaquara, onde o laudo afirma que o atendimento ocorreu, chama-se “Mais Consultas” e não “Mais Consulta”, o que também pode ser visto no CNPJ da empresa.

Além disso, o documento ainda tem problemas de digitação, como “por minha atendido” e “apresentou com quadro de surto psicótico grave”.

O laudo falso tem assinatura e CRM do médico José Roberto de Souza, falecido em 2022 vítima de câncer, de acordo com o jornal O Globo. Ainda segundo a reportagem d’O Globo, o profissional nunca trabalhou na clínica citada no documento.

O Comprova checou que o médico também possuía CRM no Espírito Santo. O portal da instituição confirma a informação de que ele morreu.

O Globo mostrou também que a assinatura original do especialista difere daquela presente no laudo forjado. O Comprova comparou as assinaturas e confirmou a diferença.

| Assinatura usada no laudo (à esquerda) e  a assinatura verdadeira (à direita).

Em um vídeo publicado no Instagram, Boulos negou que tenha sido internado na clínica, afirmou que o laudo é falso e disse que pedirá a prisão de Marçal.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. A entrevista em live em que Marçal menciona o documento, ao podcast Inteligência Ltda, teve 1.453.688 visualizações no YouTube. Não é possível medir o alcance da publicação do suposto laudo no Instagram do candidato do PRTB, uma vez que a plataforma removeu o post. No TikTok, um vídeo com cortes da entrevista ao podcast teve mais de 5 mil visualizações. E, apesar de estar suspenso no Brasil após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), o falso documento também foi compartilhado no perfil oficial de Marçal no X, alcançando mais de 368 mil visualizações. O Comprova acessou o conteúdo por meio de um dos editores, que reside na Alemanha.

Fontes que consultamos: Live em que Marçal pediu à sua equipe para que publicasse o documento em questão em seu Instagram, registro de médicos no Conselho Federal de Medicina (CFM), redes sociais de Guilherme Boulos (PSOL), assessoria de Pablo Marçal (PRTB) e vereador Emerson Osasco (PCdoB), que não retornaram o contato, Econodata e reportagens e checagens sobre o tema.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Outras verificações sobre o tema indicam que há falsificações no laudo apresentado por Marçal. O Estadão Verifica mostrou que suposto laudo apresentado pelo candidato do PRTB contra Boulos tem indícios de falsificação. Já a iniciativa Aos Fatos concluiu que dados incorretos desmentem laudo usado por Marçal para acusar o psolista de uso de drogas. O G1 também publicou os indícios de falsidade do documento.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-10-04

Não há evidências de que o governo tenha ‘lista secreta’ de estados onde pode ocorrer chuva preta

  • Enganoso
Enganoso
Não há evidências de que o governo tenha uma “lista secreta” de estados brasileiros que podem registrar a chamada chuva preta. Ao Comprova, um meteorologista explicou que dados de monitoramento de eventos climáticos são públicos, portanto qualquer pessoa pode ter acesso. A conta que compartilhou a publicação se descreve como uma página de “histórias reais e fictícias de puro entretenimento”.

Conteúdo investigado: Vídeos publicados no TikTok que apontam a existência de uma suposta lista secreta em que o governo compila os estados que devem registrar chuva preta. Em uma das gravações, sobreposto às imagens, um texto diz: “Alerta urgente. Assista antes que o vídeo seja retirado pelo governo”. Na outra filmagem, o post diz: “Alerta urgente. Chuva preta decreta estados de emergência”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Não há evidências de que o governo tenha uma “lista secreta” com os estados propensos a registrar a chamada chuva preta, fenômeno que atingiu alguns municípios brasileiros entre agosto e setembro em decorrência das queimadas. Em entrevista ao Comprova, o meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Lucas Fumagalli, explicou que os dados para identificação do fenômeno são públicos e, por essa razão, não faz sentido falar em lista secreta. Segundo o especialista, os dados são observados em tempo real, disponibilizados de forma gratuita e estão à disposição de “todos aqueles que consigam interpretar as imagens”.

“Por exemplo, estou observando nesse momento as imagens de satélite. Estou vendo uma grande pluma de fumaça entre a Bolívia, Paraguai, Mato Grosso do Sul, Paraná, e uma frente fria avançando sobre essa região com fumaça. O que provavelmente poderia acontecer nessa situação? A ocorrência de um fenômeno deste tipo. Então, essas informações não são privadas ou confidenciais do governo. Elas são informações públicas, geralmente divulgadas a partir de satélites, que também não são satélites brasileiros, são estrangeiros”, pontuou Fumagalli.

O satélite referenciado pelo meteorologista é o geoestacionário GOES-16, de fabricação americana, que fornece dados publicamente. “As informações estão prontamente disponíveis. Por esse motivo, acredito que não faz sentido pensar em uma lista secreta de estados ou municípios que poderiam ser afetados pela chuva preta”, complementa.

Questionado, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) destacou que “a chuva preta pode ter ocorrido em diversas localidades, especialmente nas áreas onde havia fumaça”, mas não comentou sobre a questão da “lista secreta”.

Mesmo dizendo que a lista era secreta e estava sendo protegida pelo governo, o autor da publicação menciona os estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul.

A meteorologista Rafaela Gomes, que também atua na Funceme, explicou que os estados mencionados pelo conteúdo estão inseridos em regiões que possuem alto índice de incêndios florestais, acarretando em uma quantidade mais densa de queimadas e, portanto, mais suscetíveis ao fenômeno.

“Nessas regiões do Brasil, tanto Norte quanto essa parte Centro-Oeste e Sudeste, houve um grande número de queimadas este ano. Essas queimadas, especialmente entre agosto e setembro, fizeram com que aumentasse a quantidade de poluentes na atmosfera, e com o fenômeno das chuvas que ocorre nesta época do ano, acaba que, quando chove, tem essa mistura entre a poluição e a gotícula de água”, afirmou Rafaela.

O perfil alvo da checagem menciona outras alegações sem qualquer evidência, como a de que escolas estavam sendo fechadas devido ao fenômeno, que alguns estados decretaram emergência por causa da chuva preta e que o problema também estava sendo enfrentado em Portugal, país em que “o dia virou noite”. No entanto, os decretos de emergência (Pará e Rondônia, São Paulo, Mato Grosso, Espírito Santo) foram motivados pelas condições climáticas, como altas temperaturas, tempo seco e incêndios florestais, e não pela chuva preta. Também não foram encontrados registros de que o fenômeno tenha ocorrido em Portugal. Além disso, as publicações faziam menção a meteorologistas fictícios, que não foram encontrados pelo Comprova.

Outra alegação do vídeo é de que a chuva preta estaria deixando os bombeiros “sem saber o que fazer”. Na verdade, as equipes se mobilizaram para combater incêndios florestais, que causam destruição de biomas, deixam o ar carregado de fumaça e podem facilitar o acontecimento do fenômeno. Especialistas explicam (veja mais abaixo) que a chuva preta em si não tem potencial para tamanha destruição: ela nada mais é do que a junção das gotículas de chuva com partículas de fuligem da fumaça causada pelas queimadas, que deixam a água ‘suja’ e em tom escuro. No mais, o aviso de chuva preta se deve ao fato de que não é recomendada a exposição a essas gotículas, justamente por estarem carregadas de poluentes.

O Comprova entrou em contato com o autor da postagem, que não retornou às mensagens.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 3 de outubro, um dos vídeos tinha mais de 944 mil visualizações e 45 mil curtidas. Já o outro, alcançou 5.3 milhões de visualizações e mais de 96 mil curtidas.

Fontes que consultamos: Inmet, Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e meteorologistas.

Entenda o que é a chuva preta

Segundo o meteorologista Lucas Fumagalli, da Funceme, a chuva preta nada mais é do que a junção das gotículas de chuva com partículas de fuligem da fumaça causada pelas queimadas, que deixam a água “suja” e em tom escuro.

“Quando a chuva ocorrer, ela vai levar também todo esse material particular do que está presente na atmosfera em direção à superfície da terra. E é por isso que se observa, então, essa chuva preta, porque ela está carregando não só o vapor da água que estava presente na atmosfera, mas também por todo o material particular que estava presente”, comentou Fumagalli.

O alerta de chuva preta se deve ao fato de que não é recomendada a exposição a essas gotículas, justamente por estarem carregadas de poluentes, como explicou o meteorologista Natálio Abrahão em entrevista concedida ao Correio do Estado, jornal de Mato Grosso do Sul, um dos estados onde foi registrado o fenômeno em setembro.

“É sempre importante não expor, tanto pessoas quanto animais, às chuvas que ocorrem depois de longos períodos de estiagem”, pontuou.

No mês de setembro, a chuva preta foi registrada em quatro municípios de Mato Grosso do Sul, o que havia sido antecipado pela meteorologia. Cidades do Oeste e do Sudoeste e do Paraná, assim como Santa Catarina e São Paulo também registraram o fenômeno, o que foi igualmente alertado pela meteorologia.

Quem emite os alertas

O meteorologista Fumagalli explicou que os alertas são emitidos tanto pelo Inmet e por órgãos estaduais, como por empresas privadas de meteorologia. Ele aponta que nem a iniciativa pública nem a privada tendem a fazer uso de listas secretas sobre onde o fenômeno irá ocorrer.

“O meteorologista se encarrega de interpretar todas essas informações e, no caso do Instituto Nacional de Meteorologia, aplicar os avisos quando forem pertinentes. Mas eu acredito que, relativo à chuva preta, esse tipo de previsão não é feita. Foi constatado que houve esse tipo de precipitação, porque se tinha uma grande quantidade de fuligem na atmosfera, devido à quantidade muito recorde de queimadas, e essa chuva preta foi coletada por observadores e, em geral, a própria sociedade”, ponderou.

Por meio de uma nota enviada ao Comprova, o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) reforçou que os alertas meteorológicos são emitidos para as defesas civis municipais e estaduais, pelo Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), com base nas previsões do Inmet, do Ministério da Agricultura e Pecuária, e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Questões envolvendo crise climática são frequentemente checadas pelo Comprova. Verificamos, por exemplo, que não há evidências de que MST tenha ameaçado “incendiar o agro” antes das queimadas recentes e que um vídeo foi tirado de contexto para dizer que brigadistas estariam causando incêndio no Pantanal. Além disso, explicamos que o decreto no Pará é de emergência climática, e não lockdown.

Política

Investigado por: 2024-10-03

Site imita portal de notícias e inventa entrevista com Haddad sobre criptomoedas

  • Falso
Falso
Não é verdade que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenha feito propaganda de uma plataforma que usa inteligência artificial para investir em criptomoedas, ou que tenha sido processado pelo “Banco Nacional do Brasil”. A peça de desinformação foi publicada em um site falso, que reproduz o portal de notícias Globo.com.

Conteúdo investigado: Site que simula portal de notícias Globo.com com texto que afirma que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ameaça a segurança financeira nacional e foi processado pelo “Banco Nacional do Brasil” após divulgar uso de plataforma que utiliza inteligência artificial para investir em criptomoedas.

Onde foi publicado: Site na internet, LinkedIn e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falso que Haddad esteja sendo processado pelo “Banco Nacional do Brasil” por ameaçar a segurança financeira do país. Conteúdo com tal afirmação simula uma página do site Globo.com e usa imagem real de quando o político deu entrevista para a CNN Brasil, em março. Já o texto usado na publicação mentirosa cita uma suposta conversa com a emissora, mas o conteúdo é todo inventado.

O site investigado exibe o título “Por que as palavras de Fernando Haddad ameaçam a segurança financeira de todo o Brasil? Ele foi processado pelo Banco Nacional do Brasil por causa dessas palavras!”. Como mostra a lista de instituições habilitadas a operar no mercado de câmbio do Banco do Brasil, não existe um “Banco Nacional do Brasil”. O conteúdo cita, além de Haddad, Raquel Landim, ex-apresentadora do programa CNN 360 que entrevistou o ministro com outras colegas, não mencionadas no conteúdo.

No texto, Haddad fala que está ganhando dinheiro de forma fácil em uma “plataforma que utiliza inteligência artificial para negociar criptomoedas”. No entanto, essa afirmação nunca foi dita. Na entrevista original, Haddad fala sobre meta fiscal, dívidas estaduais, Imposto de Renda e outros assuntos.

Contatado pelo Comprova, o Ministério da Fazenda afirmou se tratar de “um texto completamente falso”. A jornalista Raquel Landim reforçou à reportagem que o conteúdo é mentiroso. “Esse assunto nunca apareceu na entrevista, nunca tinha visto esse conteúdo e lamento muito que o nome do ministro e o meu e um material jornalístico estejam sendo utilizados para enganar pessoas”, disse.

A página com o conteúdo falso leva para um site que, em poucos cliques, pede os dados do cartão de crédito para que o usuário faça um depósito em dinheiro, o que pode ser um indicativo de golpe. Este site difere do endereço oficial utilizado pela plataforma de investimentos em criptomoedas citada na entrevista falsa – tanto na URL, quanto no conteúdo e design.

Há também diferenças entre o site falso e o Globo.com. No original, é possível ver um cabeçalho com menu interativo. Já o site falsificado usa apenas uma imagem estática e simples do painel inicial do veículo de comunicação. Além disso, a URL (endereço do navegador) do site forjado é diferente do site oficial.

No Brasil, a plataforma não tem registro em sites de avaliação, como no ReclameAqui, nem processos abertos no Jusbrasil. Foram encontrados apenas dois posts de blog na internet com conteúdo semelhante ao da página investigada, que também relacionam Haddad à divulgação da plataforma de investimentos. Ambos têm o mesmo título e a mesma entrevista falsa: “Fernando Haddad Immediate Luminary Opinião – fraude ou legítimo?”.

A origem do conteúdo falso é incerta. Ao pesquisar no código fonte da página que simula o portal Globo.com, não foi possível detectar registros do conteúdo na internet, nem do seu autor. Encontramos apenas uma frase em russo que diz “conectando à biblioteca”, em tradução livre.

I Legenda: Site que simula ser portal de notícias Globo.com mente ao afirmar que Haddad tenha sido processado por “Banco Nacional do Brasil” I

Em junho deste ano, o Estadão Verifica investigou um site semelhante, que também reproduzia um portal de notícias — no caso, o Valor Econômico.

Assim como o site checado aqui, o conteúdo falava em uma instituição financeira processando brasileiros, como Haddad, o ex-jogador de futebol Ronaldo Nazário e os empresários Luciano Hang, Roberto Irineu Marinho e Abílio Diniz, já falecido. Além disso, a publicação citava plataformas de criptomoedas, mostrando um padrão de desinformação.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Contudo, não foi possível mensurar a audiência do site investigado. Ainda assim, a checagem foi feita para alertar sobre sites que reproduzem portais de notícias e evitar possíveis golpes financeiros.

Fontes que consultamos: Entrevista original na íntegra, Banco Central do Brasil, Ministério da Fazenda, repórter da CNN Raquel Landim e busca pelo código fonte da página que desinforma.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Citado anteriormente, o Estadão Verifica concluiu que é falso que o Itaú esteja processando ministro, empresários e ex-jogador de futebol. O Comprova já investigou diversos conteúdos envolvendo o atual ministro da Fazenda. Mostramos, por exemplo, que post usa dados falsos sobre PIB e inflação e inventa fala de Haddad sobre impossibilidade de pagar funcionalismo.