O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Política

Investigado por: 2023-10-20

Vídeo tira imagens de contexto para mentir sobre desapropriações no AM e PA

  • Falso
Falso
Vídeo publicado no TikTok faz montagem com gravações de eventos distintos para afirmar que seriam operações de desapropriação no Pará e no Amazonas. Um dos vídeos foi filmado em Porto Seguro, na Bahia, em outubro de 2023, durante uma ação de reintegração de posse após decisão judicial. O outro registro foi feito durante um incêndio acidental no município de Anapu, sudoeste do Pará, em 15 de agosto de 2023, e não tem relação com a alegação do vídeo.

Conteúdo investigado: Vídeo exibe trechos de uma ação ostensiva da Polícia Militar em uma área rural e de incêndios em locais distintos, como uma oficina automotiva e um acampamento em uma área de mata. Há uma mensagem sobreposta ao conteúdo: “Desapropriações de terra seguem a todo vapor no Pará e Amazonas”. Na parte final do registro, um narrador alega que aquilo seria um trabalho da Polícia Federal junto da Força Nacional. “Tudo pegando fogo aqui, tudo aqui. Agora a gente só tem que pegar e ir embora, pegar as coisas e ir embora aqui da região, aqui”, afirma.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Vídeo descontextualiza imagens de situações distintas para espalhar a alegação falsa de que há operações de desapropriação de terra nos estados do Pará e do Amazonas.

O Comprova conseguiu identificar que a foto que abre o vídeo foi feita no território Yanomami, em Roraima, em operação do Ibama contra o garimpo ilegal. Já o primeiro vídeo exibido na postagem foi feito na Bahia, no município de Porto Seguro. Um segundo vídeo, de uma oficina automotiva em chamas, mostra, na verdade, um incêndio acidental em comércios de Anapu, no Pará.

A reportagem não conseguiu confirmar a origem do último trecho do vídeo, que exibe um incêndio em um acampamento em uma área de mata, com um maquinário também em chamas. Um narrador que fala nesta parte do registro, contudo, faz menção a uma ação da Polícia Federal (PF) e da Força Nacional, que costumam fazer operaçõesconjuntas de combate ao garimpo ilegal na Amazônia.

O próprio narrador dá a entender que se trata de área de garimpo, ao fazer menção ao fato de que os ocupantes do local teriam “gasto dinheiro à toa” com PLG, sigla para Permissão de Lavra Garimpeira. Não é possível atestar, no entanto, que a narração é original deste último recorte do vídeo.

O Comprova questionou o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) se reconhece as imagens do terceiro vídeo como sendo de alguma operação da PF contra o garimpo ilegal, mas não obteve retorno até esta publicação.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 20 de outubro, foram mais de 85,2 mil visualizações, 3 mil curtidas e 978 comentários no TikTtok.

Como verificamos: O Comprova fez uso de diferentes técnicas para tentar identificar o contexto de cada parte do vídeo. Foi feita uma busca reversa de imagens usando Yandex, Google Imagens e TinEye, sem sucesso. Também foram selecionados elementos que ajudassem na identificação dos locais em que cada trecho foi gravado, como placas de carros, fachadas de comércios e fardas de autoridades.

As imagens foram comparadas com notícias divulgadas em diferentes locais do país, como da TV Bahia, afiliada Globo no estado, do G1 no Pará e do SBT Altamira. A Polícia Federal e as polícias militares do Pará e da Bahia foram consultadas. O Comprova entrevistou a Central Estadual de Associações das Comunidades Tradicionais da Agricultura Familiar e Campesina da Bahia (Cecaf/BA) e o dono da oficina automotiva em Anapu. Por fim, tentamos contato com o autor da publicação.

Foto é de operação contra garimpo ilegal

A fotografia que abre o vídeo exibe um barracão em chamas sob os olhares de um agente com farda do Ibama, órgão que costuma queimar o aparato de criminosos em ações contra o garimpo ilegal. Ao fazer uma busca simples no Google pelos termos “ibama operação garimpo”, a reportagem encontrou a imagem original, que era maior, mas foi recortada para ser incluída no vídeo enganoso.

Trata-se de uma foto de uma operação contra o garimpo ilegal no território Yanomami, em Roraima, em 6 de fevereiro de 2023. A imagem foi divulgada dois dias depois pelo governo federal. Na ocasião, foram destruídos um helicóptero, um avião, um trator de esteira e estruturas de apoio logístico ao garimpo. Além disso, a ação apreendeu duas armas de fogo e três barcos com cerca de 5 mil litros de combustível.

Reintegração de posse em Porto Seguro

O Comprova checou notícias divulgadas em diferentes locais do país e concluiu que os primeiros trechos da postagem desinformativa dizem respeito à reintegração de posse ocorrida na manhã do dia 3 de outubro, em Porto Seguro, na Bahia. O episódio ocorreu em uma localidade conhecida como Gleba Fazenda Roça do Povo/Mangabeira.

De acordo com notícia veiculada na TV Bahia, afiliada Globo no estado, a ação retirou da área centenas de famílias ligadas à Associação dos Produtores do Novo Horizonte. A sede da entidade de trabalhadores rurais funcionava no local e foi destruída. Outras dezenas de imóveis também foram derrubados no lugar.

A área tem 44 hectares e foi requerida na Justiça pelo proprietário. O pedido de posse da área foi feito em 2017 e uma sentença reconheceu a propriedade das terras. A partir disso, foi expedido mandado de reintegração de posse.

A Central Estadual de Associações das Comunidades Tradicionais da Agricultura Familiar e Campesina da Bahia (Cecaf/BA) confirmou ao Comprova a ação e afirmou que as famílias expulsas do lugar moravam e produziam a própria alimentação desde o início dos anos 2000. Até a retomada do terreno, a entidade diz que o espaço era dividido entre seis associações.

Na data da gravação, dia 3 de outubro, um oficial de justiça foi ao local acompanhado de homens da Polícia Militar e, com o documento de reintegração em mãos, cumpriu a decisão. Houve resistência, confusão e prisão de algumas pessoas. A PM informou à reportagem que não ocorreu confronto com os moradores, mas detenções aconteceram por causa de desobediência e de incitação à violência.

A Secretaria de Assistência Social do Estado cadastrou moradores despejados para tentar reduzir o impacto da reintegração através de ações sociais.

A defesa do dono das terras informou à TV Bahia que o proprietário do terreno estava disposto a garantir aluguel social para as famílias por pelo menos 6 meses. No entanto, nem todas as famílias aceitaram.

O Comprova tentou contato com a PM do estado, mas não recebeu resposta até aqui. A Secretaria de Desenvolvimento Regional do Estado também foi consultada sobre o caso, mas não houve retorno.

A postagem investigada afirma que as imagens teriam sido feitas no Pará e no Amazonas, mas a Polícia Militar paraense negou que nos registros apareçam agentes da corporação.

| Fotos – Reprodução/TikTok/Globoplay
 

Na imagem da esquerda (acima), o vídeo enganoso mostra a reintegração de posse em Porto Seguro como sendo desapropriações de terra no Pará e no Amazonas. A imagem da direita é do telejornal BA Meio-Dia e veicula imagens e informações reais sobre a reintegração de posse. Nas duas imagens é possível observar a mesma casa na cor cinza com a frente em formato diagonal.

É possível perceber também o fardamento dos agentes da Polícia Militar. Em ambos os registros os policiais usam roupas marrons claras, com peças nas pernas na cor preta e a inscrição de “Polícia Militar” nas costas. Também é possível ver, nas imagens abaixo, o momento em que um oficial de Justiça, de cabelos brancos e blusa preta, tenta conversar com a população. Em ambos os registros, esse momento é gravado.

 

Incêndio acidental em Anapu

Para identificar o local da cena exibida no segundo vídeo usado, de um incêndio em uma oficina automotiva, o Comprova buscou pelo sistema Sinesp Cidadão, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, as placas dos carros que estão legíveis no vídeo, para verificar o local de registro dos veículos.

Um dos carros, um Volkswagen Gol preto (abaixo), tem placa de Anapu, no Pará. O DDD do município é 91, o mesmo que aparece nos números de telefone indicados na fachada da oficina (também abaixo).

 

Ao buscar por “autopeças são trindade anapu” no Google, o Comprova encontrou então à beira da Rodovia Transamazônica em Anapu um comércio parecido ao que foi incendiado, mas com um banner diferente. A imagem do local no Google Street View (abaixo) exibe, no entanto, uma outra placa na fachada do local com os dizeres “Barbudo calços de borracha”, que também aparece no vídeo do TikTok.

Já ao pesquisar “incêndio oficina anapu” no Google, o Comprova encontrou reportagens do G1 no Pará (abaixo) e do SBT Altamira que tratam do episódio, ocorrido em 15 de agosto deste ano. As chamas se espalharam por quatro estabelecimentos à beira da rodovia, incluindo a oficina automotiva. Segundo informações dos veículos locais, o incidente começou de maneira acidental, após ter sido colocado fogo em um terreno baldio vizinho.

A versão foi reforçada pelo proprietário da loja automotiva. O Comprova ainda fez contato por WhatsApp com o telefone indicado no registro de CNPJ da Autopeças São Trindade. Um homem que responde pelo número afirmou ser dono da oficina e disse que o incêndio ocorreu acidentalmente, sem qualquer relação com desapropriação de terra. Ao menos até a publicação deste texto, ele não autorizou sua identificação.

No conteúdo enganoso, um homem afirma que o incêndio teria sido causado pela Polícia Federal (PF). Por meio da nota, a corporação negou ter feito qualquer operação de desapropriação em Anapu.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova não conseguiu contato com o responsável pela publicação.

O que podemos aprender com esta verificação: Desinformadores costumam utilizar montagens com registros de situações reais, mas fora do contexto original, para fazer alegações enganosas ou falsas a respeito de um assunto amplamente comentado ou de interesse público. Outra tática é não identificar os autores dos registros, além de omitir quando e onde foram gravados. Nesses casos, é importante buscar veículos de comunicação de sua confiança para verificar se a alegação é verdadeira ou não.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente, o Comprova mostrou que o governo federal não estava expulsando famílias de assentamento no município de São Félix do Xingu, no Pará. As pessoas retiradas eram consideradas invasoras pela Justiça e ocupavam território indígena homologado há anos. Também foi mostrado que era enganoso vídeo que relacionava protestos em Pernambuco a Lula e à transposição do rio São Francisco e que vídeo de hidrelétrica transbordando era antigo e não tem relação com desligamento de bombas do São Francisco.

Política

Investigado por: 2023-10-20

Biden não disse que Lula deveria se preocupar com comida para brasileiros em vez da guerra

  • Enganoso
Enganoso
Post engana ao afirmar que Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, teria dito ao presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que ele deveria se preocupar em colocar comida nas mesas dos brasileiros, em vez de se preocupar com a guerra. A mensagem viralizou durante os embates entre os dois líderes a respeito da guerra entre Hamas e Israel. Há uma afirmação parecida, feita por um conselheiro de Biden em abril deste ano, no contexto da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Conteúdo investigado: Vídeo no TikTok traz uma foto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, com os dizeres “Biden manda indireta para Lula e diz que ao invés dele se preocupar com a guerra ele deveria era se preocupar em por comida na mesa dos brasileiros”.

Onde foi publicado:TikTok, Instagram e YouTube.

Conclusão do Comprova: Um vídeo que viralizou após o início da guerra entre o grupo palestino Hamas e Israel engana ao afirmar que o presidente americano, Joe Biden, teria dito a Lula para se preocupar em colocar comida nas mesas dos brasileiros, e não com a guerra.

Houve um pronunciamento similar feito por um conselheiro do chefe de Estado americano em abril de 2023, mas tratava-se de uma resposta ao posicionamento de Lula a respeito da guerra na Ucrânia. Na ocasião, Juan Gonzalez, diretor sênior de Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, disse: “se perguntar a um brasileiro na rua qual é a opinião dele sobre a Ucrânia, ele diria que está pensando mais em colocar comida na mesa, nas chances de educação e oportunidades econômicas, do que no que alguns deles veem como um conflito na Europa que ocorre há 300 anos”.

A busca no Google pelas palavras-chave citadas na postagem, como “comida” e “guerra”, associadas aos nomes dos dois presidentes, não retornou qualquer resultado que confirmasse uma alegação recente a esse respeito. O resultado mais próximo a esse sentido é uma reportagem da Folha de S.Paulo, de abril de 2023, citando a fala de Juan Gonzalez.

As palavras-chave também foram pesquisadas em inglês e o retorno mais substancial da busca é sobre um encontro entre os dois presidentes, em 20 de setembro, em Nova York, quando ambos evitaram falar da guerra entre Rússia e Ucrânia e quando o ataque a Israel ainda não havia ocorrido.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O post aqui verificado teve até 20 de outubro 724 mil visualizações no TikTok, 17,4 mil curtidas, além de receber 2,6 mil comentários e ser compartilhado mais de 3,8 mil vezes. No Instagram, a postagem teve mais 255 reações. No YouTube, foram 80 mil visualizações, 1 mil curtidas e 199 comentários.

Como verificamos: Utilizando o Google, buscamos combinações das palavras-chave supostamente ditas por Joe Biden, junto do nome dele e do presidente Lula. Enviamos e-mail para a Casa Branca, para a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil e para o Ministério das Relações Exteriores brasileiro. Consultamos notícias relacionadas ao conflito entre Hamas e Israel e ao posicionamento do governo brasileiro sobre ele. Também buscamos o perfil responsável pela publicação em outras redes e encontramos contas no Kwai, Instagram e YouTube. Por fim, entramos em contato com o autor.

Biden não disse que Lula deveria se preocupar em pôr comida na mesa dos brasileiros

Uma busca no Google com as palavras-chave “guerra” e “comida”, associadas aos nomes dos presidentes Joe Biden e Lula, em português, não localizou qualquer notícia relacionada à alegação feita no post. O resultado mais próximo encontrado é uma reportagem da Folha de S.Paulo, de abril de 2023, quando uma declaração do presidente Lula a respeito de um suposto interesse dos Estados Unidos em incentivar a guerra entre Rússia e Ucrânia repercutiu no país norteamericano.

Na ocasião, o diretor sênior de Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Juan Gonzalez, um dos principais conselheiros do presidente americano, Joe Biden, disse que países como o Brasil estão longe do conflito e, portanto, essa não era uma preocupação prioritária de seus cidadãos. Conforme ele, “se perguntar a um brasileiro na rua qual é a opinião dele sobre a Ucrânia, ele diria que está pensando mais em colocar comida na mesa, nas chances de educação e oportunidades econômicas, do que no que alguns deles veem como um conflito na Europa que ocorre há 300 anos”.

Gonzalez acrescentou que todos que assinaram a Carta da ONU têm responsabilidades e que países como o Brasil, que desempenham um papel de liderança pela paz, são bem-vindos, mas que a ideia de que os EUA não apoiam a paz ou têm algo a ver com o início da guerra não tem relação com os fatos. “Passamos todo o ano de 2021 tentando evitar que a guerra acontecesse e temos apoiado a paz”, declarou.

A mesma pesquisa por palavras-chave, mas feita em inglês, também não retorna declaração do presidente norte-americano no sentido alegado nas redes sociais. Os resultados mais recentes estão relacionados à notícia do encontro entre os presidentes, em 20 de setembro, em Nova York, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). Na ocasião, os dois evitaram falar sobre as diferenças entre os posicionamentos de ambos acerca da guerra entre Rússia e Ucrânia (PBS, AP News e ABC News). O conflito entre Hamas e Israel ainda não havia iniciado.

O Comprova procurou a Casa Branca, a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil e o Ministério das Relações Exteriores, mas não recebeu respostas até o momento.

Como o Brasil se posiciona em relação ao conflito na Faixa de Gaza

O conteúdo aqui checado circula amplamente durante o conflito entre Hamas e Israel, dando a entender que Biden poderia ter criticado Lula sobre este assunto. O governo brasileiro, que apoia a criação de um estado palestino e a manutenção de Israel, estabelecido em 1948, tem defendido que as partes cessem ataques e que seja retomada uma negociação de paz.

Como presidente do Conselho de Segurança da ONU, o país já convocou mais de uma reunião sobre o assunto e tenta aprovar uma proposta que minimize a crise humanitária na região da Faixa de Gaza. Em 18 de outubro, foi votada a primeira, que defendeu pontos como a libertação imediata e incondicional dos reféns israelenses, a proteção de civis e da infraestrutura, a criação de um corredor humanitário, a saída segura de civis e a proteção de pessoal de assistência humanitária, além de condenar todas as formas de violência contra civis, incluindo os atos do Hamas.

A proposta recebeu 12 votos favoráveis, mas acabou vetada pelos Estados Unidos, um dos integrantes permanentes do conselho.

Conforme a embaixadora norte-americana, Linda Thomas-Greenfield, o motivo foi a resolução não mencionar claramente o direito de Israel de se defender. Já o embaixador do Brasil na ONU, Sergio Danese, disse que houve um esforço para acomodar posições diferentes e até opostas, com foco na situação humanitária. A partir disso, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que é preciso aguardar a evolução dos fatos e ver se há condição de apresentar nova proposta, diferente da atual.

No dia dos ataques do Hamas a Israel, em 7 de outubro, o governo brasileiro publicou nota condenando os atos e manifestando solidariedade ao povo de Israel, reiterando o compromisso com a solução de dois Estados, com Palestina e Israel convivendo em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas.

No mesmo dia, no X (antigo Twitter), Lula disse ter ficado chocado com os ataques terroristas, expressou condolências aos familiares das vítimas e reafirmou o repúdio ao terrorismo em qualquer de suas formas. Ele defendeu, ainda, a retomada das negociações que conduzam a uma solução ao conflito e que garanta a existência de um Estado Palestino economicamente viável, convivendo pacificamente com Israel.

No dia 11, Lula publicou na mesma plataforma uma carta aberta ao secretário-geral da ONU, António Guterres, e à comunidade internacional, na qual fez um apelo em defesa das crianças palestinas e israelenses. No post, ele diz ser preciso que o Hamas liberte crianças israelenses sequestradas e que Israel cesse o bombardeio para que as crianças palestinas e suas mães deixem a Faixa de Gaza.

Após a oposição criticar a postura do governo brasileiro, que não classifica o Hamas como grupo terrorista, Mauro Vieira disse, em 18 de outubro, que não adotará a classificação até que a ONU o faça, posicionamento acatado historicamente pelo Brasil em relação a assuntos dessa natureza.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova entrou em contato com o autor da publicação via mensagem no Instagram, mas não obteve resposta.

O que podemos aprender com esta verificação: Uma tática usada pelos agentes de desinformação é o uso de declarações de autoridades sem a indicação da fonte. Neste caso, uma declaração com esse teor teria grande repercussão na mídia. É preciso sempre consultar veículos de comunicação de sua confiança e órgãos oficiais para atestar a veracidade da informação.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente, o debate em torno da guerra entre Hamas e Israel, e o papel do Brasil no conflito, tem gerado desinformação. O Comprova já verificou que Lula depositou flores no Museu do Holocausto, ao contrário do que alega vídeo, que o Brasil doou R$ 25 milhões à Autoridade Palestina para ajuda humanitária, e não ao grupo terrorista e que o governo brasileiro assinou acordo de cooperação técnica com Autoridade Palestina, não com o Hamas. As relações diplomáticas do governo Lula também são constantemente alvo de desinformação. O Comprova checou que é falso que Lula não tenha sido convidado para evento de líderes promovido por Biden e que vídeo de projeção em prédio de Nova York com frase de apoio a Lula é de 2022.

Política

Investigado por: 2023-10-19

Governo Lula assinou acordo de cooperação técnica com Autoridade Palestina, não com o Hamas

  • Enganoso
Enganoso
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não assinou, em setembro de 2023, um acordo de cooperação técnica com o grupo Hamas. O termo em questão foi celebrado com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em nome da Autoridade Nacional Palestina (ANP), não tendo qualquer relação com o grupo extremista.

Conteúdo investigado: Vídeo com trecho de discurso do deputado federal Giovani Cherini (PL-RS), em sessão na Câmara dos Deputados, em que o parlamentar afirma que o Brasil está em cooperação técnica com o grupo extremista Hamas. O vídeo exibe o print de um decreto de setembro de 2023 que promulga acordo entre o governo federal e a Organização para Libertação da Palestina — a qual ele trata como “Autoridade de Libertação da Palestina”. Ele alega que o Hamas integra a organização.

Onde foi publicado: Kwai, Instagram e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: O governo federal não firmou acordo de cooperação técnica com o Hamas, diferentemente do que alega um deputado federal. O parlamentar afirma ainda que o vínculo teria sido assinado com a “Autoridade de Libertação da Palestina”, entidade que sequer existe.

O decreto nº 11.695, de 11 de setembro de 2023, exibido pelo parlamentar em sua publicação, determina, na verdade, um acordo técnico do Brasil com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em nome da Autoridade Nacional Palestina (ANP). A entidade é controlada pelo Fatah, um partido que é considerado o principal rival político do Hamas, pelo qual foi expulso da Faixa de Gaza em 2006.

Promulgado neste ano, o acordo foi aprovado também pela Câmara dos Deputados, em 8 de novembro de 2012, quando Cherini já era deputado. O parlamentar esteve presente, inclusive, na sessão em que houve aval ao texto. A votação na ocasião foi simbólica, sem registro da relação de votantes. Contudo, o partido dele à época, o PDT, encaminhou voto favorável. Além disso, ele não manifestou contrariedade ao acordo na data.

O parlamentar afirma no discurso que viralizou que a população judaica diminuiu desde que “foi criado, provisoriamente, a Palestina”. No entanto, o número de judeus no mundo aumentou desde a Segunda Guerra Mundial.

O acordo em questão pretende promover cooperação técnica em áreas consideradas prioritárias às duas partes, sem especificar quais são elas. Seriam feitas reuniões por via diplomática para estabelecer isso.

A Agência Brasileira de Cooperação (ABC), vinculada ao Ministério das Relações Exteriores, afirma que acordos desse tipo viabilizam o compartilhamento de conhecimentos, experiências e boas práticas entre países, com benefícios econômicos e sociais às duas partes. Atualmente, o Brasil tem parcerias bilaterais semelhantes à que assinou com a Autoridade Palestina com outros 80 países, incluindo Israel.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 19 de outubro, a publicação no Kwai acumulava 3,5 mil curtidas e mais de 1,9 mil compartilhamentos. Na mesma data, a postagem no Instagram tinha 5,8 mil curtidas e havia sido compartilhada mais de 800 vezes. O conteúdo também vem sendo disseminado no WhatsApp.

Como verificamos: A verificação buscou no Google a afirmação “Brasil está em cooperação técnica com o Hamas”, o que resultou em links de checagens feitas por outros veículos (Aos Fatos, Estadão Verifica)

Também encontramos nas redes sociais do deputado federal Giovani Cherini a mesma alegação de existência do acordo entre Brasil e Hamas, feita durante pronunciamento em sessão na Câmara dos Deputados, do dia 10 de outubro.

O vídeo original do pronunciamento do parlamentar foi publicado em seu perfil oficial no Instagram. Em 18 de outubro, o deputado divulgou novo vídeo reafirmando a desinformação.

O Comprovou buscou também, via Google, o decreto nº 11.695, de 11 de setembro de 2023, que aparece como print no vídeo compartilhado nas plataformas Kwai, Instagram e WhatsApp. O documento está disponível no Diário Oficial da União, publicado em 12 de setembro de 2023.

Além disso, entramos em contato com o deputado e buscamos eventuais checagens anteriores que tratassem de conteúdos divulgados por ele.

Um levantamento da Agência Lupa de 2022 revelou que Giovani Cherini foi o parlamentar que mais disseminou desinformação sobre o coronavírus em discursos no plenário da Câmara dos Deputados ao longo de 2021. Também no primeiro ano de pandemia, o deputado afirmou, sem qualquer embasamento científico ou plausibilidade biológica, que o câncer do ex-prefeito de São Paulo Bruno Covas (PSDB), já falecido, teria sido agravado pelo uso de máscara, “porque as células precisam de respiração”.

OLP, Autoridade Palestina e Hamas não são a mesma coisa

Por ser um tema em evidência e que vem sendo utilizado por desinformadores para espalhar alegações falsas ou enganosas, o Comprova já detalhou que a Autoridade Palestina não é comandada pelo Hamas.

O deputado Giovani Cherini faz confusão ao citar a existência da suposta “Autoridade de Libertação da Palestina”, que incluiria o Hamas. O acordo técnico foi assinado, conforme destaca o decreto, com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em nome da Autoridade Nacional Palestina (ANP), também conhecida apenas por Autoridade Palestina.

A OLP é um movimento político fundado em 2 de junho de 1964 por um grupo de palestinos no exílio em defesa da causa nacional palestina. Vários partidos integram a organização, entre eles o Fatah, principal líder da OLP, considerado mais moderado e com divergências históricas frente ao Hamas.

A OLP foi criada com o apoio da Liga Árabe, uma organização internacional que representa os países árabes, que dão suporte ainda hoje à causa palestina.

Já a ANP é uma autoridade que surgiu em 1994 como consequência dos Acordos de Oslo, firmados entre Israel e palestinos a contragosto do Hamas. A Autoridade tem poderes investidos pela OLP para atuar como um governo autônomo em territórios do que viria a ser o Estado da Palestina enquanto as negociações pela paz entre os dois grupos se desenvolviam.

Os Acordos de Oslo foram firmados à época com atuação de Yasser Arafat, que foi líder do Fatah, chefe da OLP em um primeiro momento e depois presidente da ANP até 2004, quando morreu.

Apesar de ter surgido com caráter provisório, por um período de cinco anos, a ANP permanece ativa até hoje, enquanto o Estado da Palestina não é reconhecido por toda a comunidade internacional. Atualmente, a ANP é comandada pelo presidente Mahmoud Abbas, também do Fatah. Ou seja, na contramão do que os posts levam a crer, a OLP, a ANP e o Hamas não são a mesma coisa.

A ANP deveria atuar como órgão interino de autogoverno em áreas da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, conforme estabeleceram os Acordos de Oslo. Contudo, a autoridade administra hoje apenas a Cisjordânia. Já a Faixa de Gaza está sob controle do Hamas, que expulsou violentamente o Fatah da região em 2006, ao fundar um governo independente da ANP.

O grupo fundamentalista islâmico Hamas é considerado terrorista por países como Estados Unidos, Japão e as nações vinculadas à União Europeia. Já o Brasil, seguindo a classificação da ONU, não reconhece o Hamas como uma organização terrorista. Apesar do posicionamento neutro do país sobre o tema, Lula classificou os ataques recentes do grupo a Israel como “terroristas”.

O Hamas foi criado durante a Primeira Intifada palestina, um movimento contra a ocupação israelense da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Em sua carta fundadora, de 1988, o grupo rechaça a existência do Estado de Israel.

Deputado participou de aprovação do acordo

O decreto do governo federal que promulgou o acordo, exibido pelo deputado Giovani Cherini, menciona que o texto já havia sido aprovado pelo Congresso Nacional com o decreto legislativo nº 586, de 2012.

Esse decreto legislativo teve tramitação iniciada pela Câmara dos Deputados, com o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 44/2011, que foi aprovado em 8 de novembro de 2012. Na ocasião, Cherini era deputado federal e marcou presença na sessão extraordinária que tratou do texto, entre 385 parlamentares.

O portal da Câmara não exibe a lista de votantes na ocasião, uma vez que a votação foi simbólica. Neste tipo de votação, o presidente da sessão pede que os deputados que aprovam o projeto permaneçam como estão, conforme prevê o Regimento Interno da Casa.

Não há vídeos da sessão disponíveis no portal da Câmara. Há registro, contudo, de que o PDT, partido de Cherini à época, encaminhou voto favorável ao acordo. Apenas um deputado se inscreveu na ocasião como orador para falar do assunto, o delegado Protógenes (PCdoB-SP), que endossou a aprovação.

Deputado cita dados errados sobre população judaica

Giovani Cherini afirma, ainda em seu discurso sobre o suposto acordo do Brasil com o Hamas, que a população judia teria diminuído desde que “foi criado, provisoriamente, a Palestina”.

Ele não esclarece, contudo, qual o marco temporal que entende ser o de criação provisória da Palestina, definição que não tem consenso entre a comunidade internacional. Um movimento significativo mais recente sobre o tema é de 29 de novembro de 2012, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) concedeu status de Estado observador não membro à Palestina. Israel e Estados Unidos foram contrários e até hoje mantêm a posição de não reconhecimento da existência de um Estado da Palestina.

Além disso, Cherini não cita a origem dos dados populacionais sobre os quais faz menção. Ele afirma que o número de judeus teria caído de 18 milhões para 15 milhões. A Biblioteca Virtual Judia adota estimativa mais recente, de 2022, de que há ao menos 15.253.500 judeus no mundo, maior número desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, quando foram vítimas do Holocausto.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova tentou contato pelo e-mail do gabinete do deputado federal Giovani Cherini, mas não obteve retorno até esta publicação.

O que podemos aprender com esta verificação: Uma das táticas mais utilizadas por desinformadores é o uso de informações reais de forma distorcida ou intencionalmente fora do contexto para enganar e levar a uma interpretação diferente da verdadeira. A citação do Decreto 11.695/2023 gera uma suposta credibilidade. Nesses casos, é importante buscar fontes confiáveis e seguras para entender o que, de fato, está sendo informado, além de verificar se a alegação é verdadeira ou não.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A informação de que o decreto citado no vídeo alvo desta checagem seria um acordo entre o Brasil e o Hamas já foi desmentida por Aos Fatos, Estadão e Terra. O Comprova também já mostrou que o Brasil doou R$ 25 milhões à Autoridade Palestina para ajuda humanitária, e não ao Hamas, ao verificar peça de desinformação que faz confusão semelhante entre os grupos.

 

Política

Investigado por: 2023-10-18

É enganoso vídeo que relaciona protestos em Pernambuco a Lula e à transposição do rio São Francisco

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso que o presidente Lula (PT) tenha fechado bombas da transposição do rio São Francisco que enviam água para reassentados do Sistema Itaparica, em Pernambuco. O sistema de irrigação não tem ligação com a obra da transposição – ele recebe água diretamente do Velho Chico. Além disso, o que ocorreu foi que o fornecimento de energia da região foi cortado – impedindo que as bombas enviassem água para a população e a agricultura – por um desentendimento entre a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e a Eletrobras Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco), que jogam a responsabilidade do desabastecimento uma para a outra.

Conteúdo investigado: Vídeo que circula nas redes sociais mostra diversos veículos parados em uma rodovia. O homem aparentemente responsável pela filmagem afirma que foi “fechada a estrada que passa por baixo da transposição, que acabou a água e fecharam as bombas”. Sobre a imagem, foi inserido o seguinte texto: “Acabou a água, fecharam as bomba [sic]. O amor venceu, pede água para papai do amor”. Na legenda da publicação, estão presentes hashtags como #forapt, #foralulacomunista e #foralulamentiroso.

Onde foi publicado: TikTok, Telegram e Whatsapp.

Conclusão do Comprova: Publicações relacionam, de forma enganosa, protestos realizados em Pernambuco, no dia 4 de outubro, com a transposição do rio São Francisco e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os conteúdos investigados têm como base protestos realizados na BR-316, entre Petrolândia e Floresta, no sertão pernambucano. Sobre os vídeos, desinformadores imputaram, por meio de textos e legendas, que a razão dos protestos seriam ações de Lula, que teria supostamente fechado as bombas da transposição do rio São Francisco.

Na realidade, o protesto foi realizado por reassentados do Sistema Itaparica e teve por objetivo chamar a atenção do governo federal para a situação de desabastecimento de água nos Perímetros Irrigados da região após corte de energia elétrica no dia anterior, o que impediu o bombeamento da água.

O post já desinforma ao afirmar que o protesto tem a ver com a transposição do rio São Francisco, uma vez que o sistema não faz parte do Pisf (Projeto de Integração do São Francisco).

Além disso, como informou o G1, a energia foi cortada porque, segundo trabalhadores da região, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e a Eletrobras Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco) não cumpriram um acordo.

Até 2014, quem administrava o Sistema Itaparica eram a Codevasf e a Chesf, mas esta última cessou a parceria. Então, quatro anos depois, a Codevasf ficou como única responsável até que, em setembro deste ano, a Codevasf determinou que a Chesf voltasse a assumir os gastos. Sobre o desabastecimento ocorrido no início de outubro, ficou um toma lá, dá cá: ao Comprova, a Codevasf afirmou que a responsabilidade pelas despesas de operação, manutenção e energia elétrica do sistema é da Chesf. Também ao Comprova, a Chesf afirmou que a responsabilidade é da Codevasf.

Então, embora a Codevasf seja uma empresa pública, do governo federal, não é possível afirmar que Lula mandou desligar a bomba.

Os reassentados permaneceram três dias sem energia nem água, quando o serviço foi restabelecido. Posteriormente, no dia 11, foi realizada uma audiência pública na Câmara dos Deputados para debater as dificuldades enfrentadas pelo Sistema Itaparica.

Nela, segundo o deputado federal Josias Gomes (PT-BA), vice-líder do PT na Câmara, ficou garantido que o Sistema Itaparica vai operar até o fim do ano e que serão discutidos os recursos para 2024.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No TikTok, o vídeo tem 10 mil visualizações, mil curtidas e 118 comentários.

Como verificamos: Um outro post que usa trechos do mesmo vídeo da publicação verificada aqui continha outra gravação, do mesmo local, em que um homem discursava no protesto. No boné deste homem foi possível ler o nome “Rogério Novaes” e, a partir de uma busca no Google com as palavras “Rogério Novaes” e “protesto”, descobriu tratar-se do vice-prefeito de Petrolândia, em Pernambuco.

Com isso, a reportagem conseguiu concluir que a manifestação era na região de Petrolândia e encontrou notícias sobre o ato em sites locais e no G1.

O próximo passo foi mais uma busca no Google, desta vez por “sindicato”, “Petrolândia” e “protesto”. Alguns sites informavam que o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Petrolândia estava envolvido no protesto e, então, a partir de telefone informado no perfil do Instagram do órgão, a reportagem entrevistou Natanael Caetano da Silva, seu diretor-presidente.

A Codevasf e a Chesf também foram contatadas, por e-mail.

Onde e quando o vídeo foi gravado?

O vídeo foi gravado na BR-316, na altura do canal da transposição do Rio São Francisco, durante um protesto realizado por moradores dos perímetros irrigados do Sistema Itaparica, um conjunto de dez projetos de irrigação entre Pernambuco e Bahia. O sistema foi implantado pela Chesf no final da década de 1980, como compensação pelo deslocamento das populações rurais da região do lago da Usina Hidrelétrica Luiz Gonzaga.

Ao buscar o local no Google Maps, pode-se reconhecer que se trata do mesmo lugar mostrado na filmagem. Os moradores também realizaram protestos no Trevo do Ibó, no km 82 da BR-116.

Os protestos não eram contra o presidente Lula

O vídeo investigado é narrado pelo homem que realiza a filmagem. Em nenhum momento o presidente é mencionado pelo homem. No Instagram do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Petrolândia, é possível encontrar outros vídeos feitos durante os protestos, e legendas indicam que o protesto é contra a Chesf e a Codevasf, pela falta de pagamento da energia elétrica que ocasionou nos problemas enfrentados pelos moradores do Sistema.

Em entrevista ao Comprova, o presidente do sindicato, Natanael Caetano da Silva, reiterou que as manifestações foram realizadas em protesto às empresas e para pedir intervenção do governo federal na situação. “Após acontecer tudo isso, [o governo federal] paralisou duas obras da Codevasf e colocou R$ 25 milhões à disposição da Codevasf para pagar as contas de energia e fechar o resto do ano”, afirma o presidente.

“O que viralizou foi algumas falas fora de contexto de pessoas que estavam lá, e fizeram vídeos culpando o governo”, esclarece Silva.

A água utilizada nos perímetros irrigáveis é do Rio São Francisco, mas não vem da transposição. Como o nome indica, o Sistema Itaparica está ligado à antiga barragem de Itaparica, que posteriormente passou a se chamar Luiz Gonzaga. As famílias que antes habitavam a região onde hoje se encontra a barragem foram reassentadas nos projetos entre 1987 e 1988, enquanto a construção dos projetos de irrigação foi iniciada em 1994, muito antes do início da transposição do rio, que começou em 2007.

O que diz o responsável pela publicação: A reportagem tentou contato por meio de mensagem privada no TikTok, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.

O que podemos aprender com esta verificação: Uma das táticas utilizadas por desinformadores é o uso de episódios reais, mas propagados fora do contexto original, para fazer alegações enganosas e falsas a respeito de um assunto de interesse público. Os vídeos acabam ganhando uma falsa credibilidade. Nesses casos, é importante buscar fontes confiáveis e seguras para entender o que, de fato, está sendo informado, além de verificar se a alegação é verdadeira ou não.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A transposição do São Francisco é alvo frequente dos desinformadores. Este mês, mostramos que o protesto de garimpeiros na Bahia não foi motivado por falta de água, nem tem relação com governo Lula. Em maio, o Comprova mostrou que Bolsonaro não concluiu 84% das obras da transposição, como alegava vídeo. Anteriormente, explicamos o que é a transposição e por que ela gera dúvidas.

Política

Investigado por: 2023-10-18

Vídeo de hidrelétrica transbordando é antigo e não tem relação com desligamento de bombas do São Francisco

  • Enganoso
Enganoso
Vídeo que viralizou no TikTok engana ao associar suposta ação do governo Lula (PT) em bloquear as águas do rio São Francisco com seca no Nordeste. A publicação mostra uma montagem com duas gravações com contextos diferentes e estabelece uma relação enganosa entre a falta de água e os protestos. Na verdade, há escassez de água em decorrência de seca e estiagem em alguns estados nordestinos. Além disso, o ato mostrado não tem relação com o fechamento de bombas.

Conteúdo investigado: Vídeo publicado no Tik Tok mostra o que seria uma usina hidrelétrica na região Nordeste do Brasil. Uma descrição afirma: “governo deixa o Nordeste sem água e vazão da água não tem para onde ir. Águas do São Francisco foram fechadas e está transbordando”. As imagens são da vista aérea de uma hidrelétrica, onde existem cachoeiras e muita água correndo. Posteriormente, o vídeo é cortado para outro contexto e situação, em que nordestinos estariam realizando “bloqueios em rodovias para a liberação da água do São Francisco”.

Onde foi publicado: Tik Tok.

Conclusão do Comprova: É enganoso vídeo que associa suposta ação do governo Lula (PT) em bloquear as águas do rio São Francisco com seca no Nordeste. A publicação no Tik Tok mostra uma montagem com duas gravações feitas em contextos diferentes e estabelece uma relação enganosa entre a falta de água e protestos no Nordeste. No primeiro vídeo, a abundância de água na hidrelétrica não foi causada pelo fechamento das bombas, mas sim pela cheia em função das chuvas de janeiro de 2023. Ao contrário, em outubro deste ano, foi registrada a escassez de água em decorrência de seca e estiagem em alguns estados da região. Além disso, não houve qualquer fechamento de bombas na usina e o protesto mostrado na segunda gravação não tem relação com as imagens iniciais.

Na primeira parte do vídeo verificado pelo Comprova, imagens aéreas do Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso, localizado no norte da Bahia, são utilizadas para afirmar que o governo Lula teria trancado as águas do São Francisco. Tais imagens retratam a hidrelétrica em um período de cheia, formando cachoeiras, algo que não tem relação com a transposição ou bloqueio das águas.

Por meio de nota, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Eletrobras Chesf), responsável pela usina hidrelétrica, confirmou que as imagens mostram o Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso, na Bahia. No início deste ano, o aumento da vazão do rio São Francisco fez reaparecer as cachoeiras, que possuem desnível de 80m de queda d’água. Por conta desse espetáculo natural, a região atraiu turistas, que realizaram visitas guiadas autorizadas pela própria Chesf. As quedas d’água de Paulo Afonso voltaram a ficar visíveis em 2022, após mais de dez anos de período de seca.

Já o segundo vídeo mostra, na verdade, um protesto realizado no dia 4 de outubro, no Km 82 da BR 116, próximo ao Trevo do Ibó, em Belém do São Francisco, no estado de Pernambuco. Na ocasião, agricultores dos projetos de irrigação Pedra Branca (BA), Fulgêncio (PE) e Brígida (PE) denunciaram a falta de água e energia nas localidades. Os projetos são atendidos pelo Sistema Itaparica, programa federal implementado na década de 1990 pela Chesf, para compensar as populações que tiveram que ser realocadas após a construção da usina hidrelétrica de Luiz Gonzaga, situada em Petrolândia (PE).

O corte de energia e água nos locais não têm relação com um suposto fechamento de bombas feito pelo governo federal. A responsabilidade do abastecimento, segundo o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Petrolândia (PE), é da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), uma empresa pública vinculada ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MDR). Até 2014, a companhia administrava o Sistema Itaparica em parceria com a Chesf. Após o fim do convênio, foi a Codevasf que assumiu a manutenção dos projetos de irrigação.

No entanto, uma resolução de 21 de setembro deste ano da Codevasf determinou que a administração do projeto voltasse para a Chesf. Ao Comprova, ambas as empresas enviaram notas atribuindo uma à outra a responsabilidade pela manutenção e operação dos projetos do Sistema Itaparica. O “toma lá, dá cá” já foi noticiado por outros veículos como a Folha de Pernambuco.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 18 de outubro de 2023, o conteúdo investigado tinha 16,4 mil visualizações, 5,6 mil compartilhamentos e 1,5 mil comentários no Tik Tok.

Como verificamos: O Comprova analisou as imagens utilizadas em ambos os vídeos investigados e buscou identificar os locais onde foram gravadas e em quais contextos. Para analisar o primeiro vídeo, que mostra uma hidrelétrica vista de cima, a verificação usou o mecanismo de busca reversa do Google, utilizando o print do vídeo.

A pesquisa indicou imagens semelhantes e dessa forma foi possível identificar o Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso, localizado no norte do estado da Bahia. Foram encontradas diversas imagens, entre elas uma publicada no site da Chesf, empresa controladora da Eletrobras responsável pelo complexo.

Para analisar o segundo vídeo, a verificação usou também o mecanismo de busca reversa do Google, utilizando o print do vídeo. O resultado indicou diversas gravações semelhantes, além de uma matéria do G1 noticiando a manifestação. O ato ocorreu no dia 4 de outubro, no Km 82 da BR 116, próximo ao Trevo do Ibó, em Belém do São Francisco, no estado de Pernambuco.

O Comprova entrou em contato com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Petrolândia (PE), uma das organizações envolvidas nos protestos. Através de visualização no Google Maps, foi possível identificar os locais onde os agricultores protestaram no dia 4 de outubro, em Belém do São Francisco. A verificação também solicitou posicionamento da Chesf e da Codevasf, empresas que até 2014 tinham convênio para manutenção dos projetos de irrigação de Pedra Branca (BA), Fulgêncio (PE) e Brígida (PE).

Além disso, o autor da postagem do Tik Tok foi contatado pelo Comprova, via mensagens no Facebook, o qual retornou à equipe. Não era possível falar com ele pelo próprio Tik Tok, pois a possibilidade de envio de mensagens estava bloqueada.

Governo Federal não “fechou” bombas do Rio São Francisco

De acordo com a assessoria de imprensa da Eletrobras Chesf, responsável pela usina, as imagens do Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso, na Bahia, são antigas e não mostram a grande quantidade de água represada por causa de um suposto fechamento das bombas. Segundo o órgão, a gravação retrata uma situação de cheia no rio São Francisco no início de 2023. Devido ao aumento da vazão, formam-se cachoeiras na região, que acabam se tornando pontos de visitação turística. A alegação já foi desmentida antes por outros veículos de verificação.

Apesar de a Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso também ser de responsabilidade da Chesf , mesma empresa envolvida na falta de água nos projetos de irrigação Pedra Branca (BA), Brígida (PE) e Fulgêncio (PE), a Eletrobras nega que haja relação entre as cachoeiras e o protesto no Trevo do Ibó, no estado de Pernambuco.

Manifestação não tem relação com suposto fechamento de bombas

Em entrevista ao Comprova, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Petrolândia (PE), Natanael Caetano da Silva, informou que a manifestação em Belém do São Francisco, no Trevo de Ibó, foi realizada para cobrar o abastecimento das empresas Codevasf e Chesf e pedir intervenção do governo federal. “Após acontecer tudo isso, [o governo federal] paralisou duas obras da Codevasf e colocou R$25 milhões à disposição da Codevasf para pagar as contas de energia e fechar o resto do ano”, afirmou o sindicalista.

Durante audiência pública realizada pela Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, no dia 11 de outubro, Giuseppe Serra Seca Vieira, secretário nacional de Segurança Hídrica do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MDIR), afirmou que o órgão fez um aporte de R$ 20 milhões para a Codevasf.

Abastecimento nos projetos de irrigação

Pedra Branca (BA), Brígida (PE) e Fulgêncio (PE) estão entre os dez projetos de irrigação atendidos pelo Sistema Itaparica, um programa federal implementado na década de 1990 que abrange áreas localizadas entre a Bahia e Pernambuco. Ele foi criado junto à Chesf para compensar as populações que tiveram que ser realocadas após a construção da Usina Hidrelétrica de Luiz Gonzaga, em Petrolândia (PE). Os projetos têm foco na agricultura familiar.

No entanto, desde 2014, os projetos de irrigação atendidos pelo sistema vêm passando por diversos problemas. No dia 11 de outubro, uma audiência pública foi realizada pela Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, para debater as dificuldades enfrentadas pelos pequenos agricultores que vivem nas áreas cobertas pelo programa.

A Chesf repassava recursos para a Codevasf manter os projetos de irrigação, mas o convênio acabou em 2014. No ano seguinte, a Codevasf alegou problemas orçamentários e suspendeu contratos de assistência técnica. As informações foram compartilhadas pela secretária-executiva da área de gestão de empreendimentos de irrigação da Codevasf, Andréa Sousa, em depoimento durante a audiência pública na Câmara dos Deputados.

Com o fim do convênio entre a Chesf e a Codevasf, “as áreas irrigadas passaram a ser administradas pela 3ª Superintendência Regional da Codevasf, em Petrolina (PE), e pela 6ª Superintendência Regional da Codevasf, em Juazeiro (BA), com o apoio da Área de Gestão dos Empreendimentos de Irrigação da Codevasf, em Brasília”. A informação foi divulgada pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, por meio de notícia publicada no site do governo federal em dezembro de 2017.

Em nota enviada ao Comprova, a Codevasf afirmou que uma resolução da empresa, aprovada pela sua diretoria executiva em 21 de setembro deste ano, remeteu às Chesf “a responsabilidade pelas despesas de operação, manutenção e energia elétrica dos projetos, de modo a garantir o adequado funcionamento das infraestruturas de uso comum do sistema”.

A verificação também entrou em contato com a Eletrobras Chesf que, via nota encaminhada por email, alegou que “é da Codevasf a responsabilidade pela operação e manutenção dos bens que compõem a estrutura de uso comum dos perímetros irrigados de Itaparica, localizados nos estados de Pernambuco e da Bahia, bem como o pagamento da energia elétrica associada”.

O que diz o responsável pela publicação: Em resposta ao Comprova, o autor da postagem no Tik Tok afirmou que não foi ele quem gravou as imagens. Segundo o usuário, as imagens foram encontradas em blogs locais, que falam sobre o desabastecimento de água no Nordeste, algo que ele afirma não ser noticiado pela imprensa tradicional.

O que podemos aprender com esta verificação: A desinformação emerge de fontes que, por vezes, desmerecem a credibilidade dos veículos tradicionais de imprensa. É importante ficar em alerta diante de afirmações como “veja o que o jornalismo não mostra”. No caso do material verificado aqui, uma busca rápida no Google mostraria que a falta de água no Nordeste acontece em decorrência de seca e estiagem em alguns estados e não em razão do fechamento de bombas. Uma característica comum da desinformação é o uso de acontecimentos verdadeiros para estabelecer relações inadequadas que enganam e induzem leitores a interpretações erradas dos fatos. Além disso, discursos muito genéricos merecem atenção. No caso analisado, a afirmação é de que todo o Nordeste estaria sem água, uma região com diversos estados e municípios.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Recorrentemente, a transposição do São Francisco é alvo de desinformação. Há menos de um mês, o Comprova explicou como a polarização intensifica a desinformação sobre a transposição do São Francisco, bem como já mostrou o porquê do assunto gerar dúvidas. Em uma outra verificação, já foi desmentida a informação enganosa de que Bolsonaro teria concluído 84% das obras da transposição do Rio São Francisco.

Política

Investigado por: 2023-10-18

Lula depositou flores no Museu do Holocausto, ao contrário do que alega vídeo

  • Falso
Falso
É falso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha se recusado a levar flores ao Museu do Holocausto, em Jerusalém, durante visita a Israel em 2010. Reportagens, fotos e vídeos da época mostram o petista depositando uma coroa de flores no chão do Salão da Memória, onde estão gravados os nomes dos principais campos de concentração nazistas.

Conteúdo investigado: Vídeo em que um homem com sotaque estrangeiro afirma que Lula se recusou a deixar flores em visita oficial ao Museu do Holocausto, em Jerusalém. O homem também diz que o presidente levou flores ao túmulo do ex-chefe da Autoridade Nacional Palestina (ANP) Yasser Arafat. Sobre o vídeo estão imagens da bandeira de Israel e a inscrição: “e agora Lula é fake diz aí p povo…? (sic)”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É falso que Lula tenha se recusado a levar flores ao Museu do Holocausto, em Jerusalém, como sugere um homem em vídeo compartilhado nas redes sociais. Em 16 de março de 2010, durante viagem presidencial a Israel, o presidente visitou o local e depositou uma coroa de flores com as cores do Brasil no chão do Salão da Memória, espaço onde estão gravados os nomes dos 22 campos de concentração e extermínio nazistas.

Lula também participou de duas cerimônias: acendeu uma chama em memória dos seis milhões de judeus mortos pelo regime nazista , para “reavivar a chama eterna”, e plantou uma muda de oliveira no bosque de Jerusalém, ação simbólica que representa a continuidade da vida e a crença divina. Foi a primeira visita de um chefe de Estado brasileiro a Israel, repetida em 2019 por Jair Bolsonaro (PL).

Além da alegação de não ter depositado flores no Museu do Holocausto, a pessoa no vídeo ainda afirma que Lula colocou flores no túmulo do líder palestino Yasser Arafat, morto em 2004. Essa afirmação é correta. De fato, o presidente foi a Ramallah, na Cisjordânia, visitar o mausoléu do ex-chefe da Autoridade Nacional Palestina (ANP) no dia seguinte à visita a Israel.

Falso: Conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 18 de outubro, a publicação no TikTok contava com 1,1 milhão de visualizações, 52,9 mil curtidas e 2.095 comentários.

Como verificamos: Em primeiro lugar, buscamos no Google pelas palavras-chave “Lula Museu do Holocausto”, encontrando uma série de verificações feitas por agências de checagem nos primeiros links de busca (UOL Confere, Boatos.org, Aos Fatos, Estadão Verifica, Lupa). Também encontramos, na mesma pesquisa, uma reportagem da antiga TV Nacional do Brasil publicada no canal oficial do governo no YouTube e matérias jornalísticas relatando a visita (g1, Jornal da Record, Folha, Efe e GaúchaZH).

Em seguida, buscamos por registros oficiais da viagem, encontrando fotografias na biblioteca da Presidência. Também tentamos entrar em contato com o autor da postagem. O Comprova ainda procurou pelo vídeo original, por meio da ferramenta de busca por imagens do Google, Yandex e TinEye, mas só encontrou o mesmo conteúdo publicado em diferentes contas do TikTok.

Lula depositou flores no Museu do Holocausto

Lula visitou o Museu do Holocausto em 16 de março de 2010, no segundo dia de sua viagem oficial a Israel. Na ocasião, o presidente compareceu ao local acompanhado da então primeira-dama, Marisa Letícia, e do então presidente israelense, Shimon Peres, ambos já falecidos.

A visita durou cerca de uma hora. É possível ver a entrega das flores nesta reportagem da TV Nacional do Brasil — que mais tarde se fundiu com a TV Brasil – publicada pelo canal oficial do governo federal.

A biblioteca da Presidência da República disponibilizou fotos da visita de Lula a Israel. Uma delas mostra o momento do depósito da coroa:

Reportagens do G1, da Folha de S.Paulo e de O Globo da época também repercutiram a visita. Na saída do local, Lula disse que conhecer o Museu do Holocausto e depositar flores era uma atitude “quase obrigatória a todo ser humano que quer governar uma nação”, segundo a BBC Brasil. O presidente ainda enfatizou: “A humanidade deve repetir todos os dias, quantas vezes for necessário, ‘nunca mais’, ‘nunca mais’, ‘nunca mais'”.

O roteiro é feito tradicionalmente pelos chefes de Estado que viajam a Israel, mas Lula foi o primeiro presidente brasileiro a realizar essa visita. Em 2019, o então presidente Bolsonaro (PL) viajou ao país e também participou das cerimônias.

Presidente também levou flores ao túmulo de Yasser Arafat

No vídeo que circula no TikTok, o homem diz que Lula teria deixado flores no túmulo do líder palestino Yasser Arafat, morto em 2004. Essa afirmação é verdadeira. No dia seguinte à viagem a Israel, o presidente desembarcou em Ramallah onde visitou o mausoléu do ex-chefe da Autoridade Nacional Palestina (ANP) e depositou uma coroa de flores no local. Durante a passagem pela Cisjordânia, Lula também se encontrou com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. As fotos da viagem, incluindo da visita ao túmulo de Arafat, estão disponíveis aqui.

À época, a Agência Brasil relatou que setores da sociedade israelense teriam ficado descontentes com o cancelamento da visita da comitiva brasileira ao túmulo de Theodor Herzl, fundador do sionismo – movimento que defende a existência de um Estado judeu e que levou à criação de Israel. Segundo a delegação brasileira, a não aceitação a esse evento foi por não ser comum e recorrente em viagens oficiais de chefes de Estado.

O que diz o responsável pela publicação: O TikTok não permite o envio de mensagens entre usuários que não se seguem mutuamente e, por isso, não foi possível contatar o autor da publicação. Tentamos buscar pelo perfil @mouraoliveira04 em outras redes sociais, mas não encontramos equivalência.

O que podemos aprender com esta verificação: Uma tática empregada por pessoas que costumam espalhar desinformação é o uso de vídeos em que não há identificação ou elementos que ajudem a reconhecer o autor das falas que estão repercutindo. Neste caso, o sotaque estrangeiro do homem que faz as acusações pode levar o espectador a crer que ele seja habitante da região e, consequentemente, tenha autoridade sobre o tema. Além disso, o conteúdo desinformativo foi compartilhado em um momento sensível, de acirramento de conflitos, o que é outra tática comum. Ao se deparar com publicações desse tipo, é importante consultar órgãos oficiais ou veículos de comunicação de sua confiança. Às vezes, uma simples busca pode sanar dúvidas sobre a veracidade do conteúdo.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A verificação do conteúdo analisado também foi feita pelo UOL Confere. Outras publicações com a mesma alegação foram verificadas em outubro de 2023 pela Reuters e pela AFP. Além disso, em 2022, Aos Fatos, boatos.org, Estadão Verifica e Lupa também verificaram peças com a mesma temática.

Peças de desinformação envolvendo o nome do presidente Lula são comuns e já foram verificadas pelo Comprova. Recentemente, a iniciativa mostrou que o Brasil doou R$ 25 milhões à Autoridade Palestina para ajuda humanitária, e não ao Hamas, que vídeo não mostra Putin criticando Lula após encontro com Zelensky, que Lula não estava bêbado nem agarrou apoiadora como alegam publicações que usam vídeo manipulado e que vídeo de projeção em prédio de Nova York com frase de apoio a Lula é de 2022.

Política

Investigado por: 2023-10-17

Protesto de garimpeiros na Bahia não foi motivado por falta de água, nem tem relação com governo Lula

  • Falso
Falso
É falso um vídeo compartilhado nas redes sociais mostrando, supostamente, um protesto no Nordeste do Brasil por conta da falta de água na região. O conteúdo falso sugere que o problema teria passado a ocorrer após a vitória de Lula (PT) nas eleições presidenciais de 2022. As imagens mostram, na verdade, uma manifestação realizada por garimpeiros em Santaluz, no interior da Bahia, em setembro de 2022, contra o fechamento de garimpos próximos a uma mineradora.

Conteúdo investigado: Vídeo mostra o que seria um protesto por falta d’água no Nordeste. Sobre o conteúdo, aparecem as inscrições: “Nordeste pede socorro” e “hoje só resta pedir desculpas a todos Patriota (sic)”. Um homem narra o conteúdo e, logo em seguida, aparece afirmando que a população da região não soube “agradecer os benefícios” alcançados à época do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele ainda afirma que hoje resta o “sentimento de revolta”, dando a entender que o problema da falta d’água estaria ocorrendo por conta da vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022.

Onde foi publicado: TikTok e Twitter.

Conclusão do Comprova: É falso que moradores da região Nordeste do Brasil tenham fechado uma estrada de terra em protesto contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por conta da falta de água. Um vídeo que viralizou nas redes sociais usa imagens de uma manifestação ocorrida no interior da Bahia em 1º de setembro de 2022. Na ocasião, garimpeiros em Santaluz, cidade do interior da Bahia, fecharam o acesso à sede de uma mineradora em protesto contra o fechamento de garimpos ilegais na região, onde é feita a exploração de ouro.

O homem que narra as imagens iniciais do vídeo e que depois aparece falando para a câmera fala como se fosse um eleitor de Lula arrependido porque o presidente teria “zombado da cara dos patriotas”. Ele também passa a falsa impressão de que estaria participando do protesto, já que usa, por diversas vezes, o termo “nós”. Como foi possível verificar, os vídeos de viés político publicados por ele em sua conta no TikTok são de apoio a Jair Bolsonaro (PL) – muitos deles, inclusive, inflando a participação do ex-presidente no Projeto de Integração do rio São Francisco, obra constantemente alvo de desinformação.

No vídeo aqui investigado, ele afirma que os nordestinos foram “ingratos” com Bolsonaro e que não souberam dar valor quando tinham água no governo passado, já que agora não têm mais, o que é falso. Embora não cite diretamente o Projeto de Integração do São Francisco (PISF), também chamado de transposição do São Francisco, o argumento de que Bolsonaro levou água ao Nordeste – e que Lula a cortou – vem aparecendo em dezenas de vídeos nas redes sociais.

O Ministério da Integração Nacional e Desenvolvimento Regional (MIDR) informou que “não há nenhuma paralisação na oferta de água bruta nos estados do CE, PB, PE e RN, que são beneficiados pelo Projeto de Integração do Rio São Francisco”. Entretanto, 495 cidades de nove estados da região Nordeste tiveram situação de emergência por conta da seca ou estiagem reconhecida pelo governo federal.

O MIDR avalia a situação de cada um deles e libera recursos, de acordo com a necessidade, para “reconstrução de estruturas danificadas, socorro e assistência humanitária, restabelecimento de serviços essenciais e ações de recuperação/reconstrução”. Além disso, o órgão e o Exército realizam juntos a Operação Carro-Pipa, que atende atualmente mais de 1,5 milhão de pessoas em 416 municípios do Nordeste.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 17 de outubro de 2023, o conteúdo investigado tinha 134,4 mil visualizações no TikTok. Ele foi republicado no Twitter, onde apenas uma postagem acumulava mais de 184,5 mil visualizações até o mesmo dia.

Como verificamos: Primeiramente, foi feita uma busca reversa de imagens usando ferramentas como Yandex, Google Imagens e TinEye para tentar localizar registros originais do vídeo usado na publicação, sem sucesso. Em seguida, foram selecionados elementos na imagem que pudessem ajudar a identificar o local onde o vídeo havia sido gravado, a exemplo de placas de carro.

Em um trecho do vídeo, foi possível identificar um veículo de cor prata, com a placa JRO-8J27 e, com a ajuda do sistema Sinesp Cidadão, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, descobriu-se que o carro era da cidade de Santaluz, no interior da Bahia

Depois, foram feitas pesquisas sobre protestos que pudessem ter ocorrido na mesma região onde o carro foi registrado, e assim o Comprova descobriu um protesto de garimpeiros, em setembro de 2022, em Santaluz. As imagens publicadas em matérias na imprensa local mostravam um lugar parecido com o do vídeo investigado, e elementos no vídeo também apareciam nas fotos publicadas na época.

Foi feito contato com o repórter fotográfico Raimundo Mascarenhas, do site Calila Notícias, na Bahia, que cobriu a manifestação dos garimpeiros em setembro de 2022, autor de diversas fotos do protesto, publicadas em vários sites da região.

O Comprova ainda acionou a Defesa Civil Nacional, vinculada ao MIDR, para obter informações sobre locais no Nordeste em situação de emergência por seca, estiagem ou que estejam sofrendo com problemas de abastecimento de água.

Vídeo mostra protesto de garimpeiros em 2022

Diferentemente do que diz a narração, o vídeo não mostra nordestinos arrependidos por votar em Lula protestando pelo direito à água, e, sim, garimpeiros que culpavam a mineradora Equinox Gold por uma operação da Polícia Federal ocorrida em 30 de agosto de 2022 – ou seja, antes da eleição do petista. Para eles, a empresa havia motivado a operação da PF que agiu para desarticular um garimpo ilegal que atuava há anos na região dos municípios de Santaluz, Cansanção, Monte Santo, Queimadas, Quijingue e Nordestina, todos na Bahia. Na ocasião, a PF cumpriu 12 mandados de busca em Cansanção e Monte Santo.

O local onde o protesto aconteceu, uma estrada de terra onde há diversos carros estacionados, além de pessoas bloqueando a passagem com pneus, é a via que dá acesso à sede da mineradora Equinox Gold, em Santaluz. A Equinox Gold iniciou a extração de ouro na mina de Santaluz em junho de 2021. A manifestação aconteceu a partir de 1º de setembro de 2022 e teve cobertura do site local Calila Notícias.

Em um trecho do vídeo investigado, é possível ver um Fiat Palio prata estacionado no sentido oposto no fluxo de veículos da estrada. A placa do carro é JRO-8J27, de Santaluz (BA). Foi a partir da imagem dele que o Comprova suspeitou que o protesto tivesse acontecido naquela cidade, ou naquela região. A partir da busca de notícias sobre protestos em Santaluz, os resultados foram de matérias publicadas a respeito do ato dos garimpeiros.

Além do Calila Notícias, outros sites do interior da Bahia noticiaram o protesto, incluindo o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Extração, Pesquisa e Benefício de Ferro, Metais Básicos e Preciosos de Serrinha e Região (Sindimina), que também publicou fotos do episódio.

Embora o local fosse parecido, o Comprova não localizou exatamente o mesmo vídeo. Apesar disso, havia uma imagem mostrando outro carro no mesmo lugar, com placa de PKS-1732, um Jeep Compass branco de Quijingue (BA), cidade a apenas 71 quilômetros de Santaluz.

| ​​Crédito: Reprodução/Sinesp Cidadão

O Comprova conseguiu confirmar que o vídeo aqui investigado era mesmo do protesto de garimpeiros ao identificar uma árvore e uma barraca, em ângulos diferentes, tanto em uma imagem feito pelo fotógrafo Raimundo Mascarenhas, do Calila Notícia, quanto no vídeo investigado:

| Garimpeiros fecharam a estrada de acesso à mineradora Equinox Gold, em Santaluz (BA), a partir de 1º de setembro de 2022. Crédito: Raimundo Mascarenhas/Calila Notícias/Reprodução

| Vídeo publicado em conta no TikTok como sendo de protesto contra falta d’água no governo Lula mostra mesma árvore e barraca.

O repórter Raimundo Mascarenhas, do Calila Notícias, confirmou ao Comprova que o vídeo foi mesmo feito durante o protesto de garimpeiros em setembro de 2022 na estrada que dá acesso à Equinox Gold, e que um áudio falso foi inserido sobre a imagem. Ele afirmou ter acompanhado o protesto, durante todo o dia 1º de setembro do ano passado, e confirmou que não se tratava de um protesto contra o presidente Lula nem sobre acesso a água e, sim, contra o fechamento de garimpos na região.

Em 5 de setembro de 2022, o site Voz do Campo publicou o posicionamento oficial da Equinox Gold sobre a manifestação. A empresa negou que tivesse relação com a operação da PF que fechou garimpos ilegais. Na manifestação, garimpeiros diziam que não eram bandidos e pediam a legalização dos garimpos onde atuavam.

Nordeste tem 495 municípios em situação de emergência pela seca ou estiagem

Ao ser feita referência à falta de chuva, sobretudo na região Nordeste brasileira, é comum o uso das palavras seca e estiagem como sinônimos. Tecnicamente, no entanto, esses dois eventos climáticos têm características distintas.

Segundo definição da Secretaria de Defesa Civil (Sedec) do Ministério da Integração, a estiagem configura-se por um período extenso com poucas ou nenhuma chuva, que gera perda da umidade do solo maior do que a reposição. Há também, uma redução drástica ou atraso das chuvas em uma época em que foram previstas, de forma a comprometer a reserva de água da localidade. Está relacionada a dois fatores, quais sejam, o atraso superior a quinze dias do início da temporada de chuvas e a média mensal do volume de chuvas inferior a 60% das médias de longo período.

Já a seca, também segundo a Sedec, é a estiagem crônica que se prolonga. Para ser definido como seca, o fenômeno precisa trazer consequências não só ecológicas e econômicas, mas também sociais e culturais. Além da ausência de chuvas, as secas e as estiagens podem ser causadas por intervenção humana quando se maneja de modo inadequado corpos hídricos e bacias hidrográficas.

Dados do Sistema Integrado de Informações Sobre Desastres (S2ID), do Governo Federal, contabilizados até segunda-feira, 16 de outubro de 2023, revelam que 495 municípios da região Nordeste brasileira têm situação de emergência reconhecida pelo governo federal, sendo 19 em razão da seca e outros 476 por conta da estiagem.

Na Bahia, estado onde ocorreu o protesto dos garimpeiros, são 60 municípios em situação de emergência, todos por estiagem.

Após reconhecer a situação de emergência, o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional avalia pedidos de recursos e, conforme a necessidade, faz a liberação de valores para a reconstrução de estruturas danificadas, socorro e assistência humanitária, restabelecimento de serviços essenciais e ações de recuperação/reconstrução.

Os ministérios da Defesa e da Integração e Desenvolvimento Regional ainda mantêm uma cooperação técnica e financeira, denominada Operação Carro-Pipa, para realizar ações complementares de apoio às atividades de distribuição de água potável às populações atingidas por estiagem e seca. Isso ocorre tanto na região do semiárido nordestino, como na porção norte dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Nesse contexto, o Exército Brasileiro atua como Órgão de Execução para planejamento e operacionalização das ações de apoio à distribuição de água potável.

No Nordeste, já foram utilizados 3.145 carros-pipa, que atenderam mais de 1,5 milhão de pessoas. Esta é uma das estratégias usadas para a convivência com o semiárido, assim como o Projeto de Integração do São Francisco também o é. Na região, os estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte recebem águas do Rio São Francisco por meio do PISF, e não há, segundo o MIDR, nenhuma paralisação na oferta de água bruta em nenhum desses estados.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova tentou contato com o autor do vídeo, identificado como “@joao.pires.ofic”, mas não há a possibilidade de enviar mensagem pelo TikTok, a menos que os usuários se sigam mutuamente.

O que podemos aprender com esta verificação: Uma das táticas utilizadas por desinformadores é o uso de episódios reais, mas propagados fora de seu contexto original, para fazer alegações enganosas e falsas a respeito de um assunto de interesse público. Os vídeos acabam gerando uma suposta credibilidade. Nesses casos, é importante buscar fontes confiáveis e seguras para entender o que, de fato, está sendo informado, além de verificar se a alegação é verdadeira ou não.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O fornecimento de água no Nordeste é tema recorrente de desinformação em posts compartilhados nas redes sociais. O Comprova já realizou verificações relacionadas ao andamento das obras da transposição do Rio São Francisco, explicou o funcionamento do processo de captação e bombeamento de água para estados do Brasil e mostrou que o governo federal não bloqueou água na região. Também mostrou que a polarização intensifica a desinformação sobre o tema.

Política

Investigado por: 2023-10-13

Brasil doou R$ 25 milhões à Autoridade Palestina para ajuda humanitária, e não ao Hamas

  • Falso
Falso
Não é verdade que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) doou R$ 25 milhões ao grupo terrorista palestino Hamas, em 2010, durante seu segundo mandato como presidente da República. O valor foi autorizado pela Lei nº 12.292 de 2010, que prevê a doação de recursos à Autoridade Nacional Palestina, comandada pelo partido Fatah — oposição ao Hamas —, para a reconstrução da Faixa de Gaza após os conflitos entre Israel e o grupo fundamentalista islâmico.

Conteúdo investigado: Publicações afirmam que Lula doou R$ 25 milhões ao Hamas por meio de um decreto em 2010. Os posts vêm acompanhados de uma notícia publicada pela Câmara dos Deputados com o título: “Câmara aprova doação de R$ 25 milhões para a Palestina” e da captura de tela da Lei nº 12.292/2010, que autoriza o auxílio. Algumas das postagens citam antigas checagens sobre o tema, mas as categorizam como “mentiras”.

Onde foi publicado: X (antigo Twitter), TikTok e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: Publicações afirmam, de forma enganosa, que, em 2010, o presidente Lula doou R$ 25 milhões ao grupo terrorista palestino Hamas, autor dos massacres a Israel em 7 de outubro. Os conteúdos investigados aqui têm como base uma lei, sancionada em 20 de julho de 2010, que autorizava a doação do recurso à Autoridade Nacional Palestina, órgão liderado pelo Fatah, e não para o Hamas. A verba era para auxiliar na reconstrução de Gaza, cidade inserida na região da Faixa de Gaza, após o conflito entre Israel e Hamas, entre o final de 2008 e início de 2009.

As publicações tratam a ANP e o Hamas como se fossem a mesma coisa, o que não é verdade. A Autoridade Palestina é um órgão de governo autônomo, criado para administrar territórios reivindicados por palestinos até o desenrolar das negociações de paz entre Israel e Palestina. Atualmente, o órgão controla a Cisjordânia, enquanto a Faixa de Gaza está sob domínio do Hamas.

Na época da doação, a Organização das Nações Unidas (ONU) fez um apelo para que a comunidade internacional fornecesse recursos para financiar a ajuda humanitária às vítimas. A entidade estimou que seriam necessários US$ 613 milhões para atender às demandas mais urgentes de compra de alimentos, água, abrigos, fornecimento de cuidados médicos e educação.

A desinformação já foi desmentida por agências de checagem e voltou a circular após os atentados terroristas do Hamas contra Israel, em 7 de outubro. O governo federal também publicou uma nota negando o financiamento ao grupo.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No X, são dezenas de posts que disseminam essa desinformação. O Comprova compilou quatro, que chegaram a 101,5 mil visualizações em conjunto.

Como verificamos: O Comprova procurou informações sobre a doação citadas pelas publicações nos sites do Governo Federal e Câmara Legislativa, além de buscar a Lei nº 12.292, que trata da doação. Com buscas no Google, foi possível encontrar outras checagens sobre o tema (Estadão Verifica, Aos Fatos, UOL Confere e Fato ou Fake). O Comprova também tentou contato com os responsáveis pelas publicações.

Qual o contexto da doação?

Entre 2009 e 2010 o Congresso Nacional discutiu e aprovou um projeto de lei, de autoria do Poder Executivo, que autorizava a doação de R$ 25 milhões à Autoridade Nacional Palestina para auxiliar na reconstrução da Faixa de Gaza. A ajuda se deu no contexto do acirramento do conflito entre Israel e o grupo Hamas no território palestino, entre o final de 2008 e início de 2009, durante o segundo mandato de Lula. O confronto durou cerca de 20 dias e deixou mais de 1,3 mil mortos.

A lei foi sancionada em 2010. Na justificativa da proposta aprovada, o governo citou a estimativa da ONU de que seriam necessários US$ 613 milhões para prestar assistência nas áreas de alimentação, educação e saúde às vítimas na Palestina, além da reconstrução da estrutura da Cidade de Gaza, a maior do território.

À época, o então ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou que o recurso seria enviado a um fundo administrado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). “É dinheiro para um fundo que vai trabalhar na reconstrução de Gaza. Não é dar dinheiro para um grupo ou outro, mas para um fundo administrado pelas Nações Unidas”, disse.

Ao contrário do que afirmam os posts, o valor não foi direcionado ao Hamas. Apesar de controlar a Faixa de Gaza desde 2007, o grupo negou qualquer interferência na gestão das doações para a reconstrução da área. Na realidade, a própria lei afirma que os recursos seriam doados à Autoridade Nacional Palestina, organização controlada pelo Fatah, partido contrário ao Hamas.

Autoridade Palestina não é comandada pelo Hamas

A Autoridade Palestina surgiu em 1994, como consequência dos Acordos de Oslo firmados entre Israel e palestinos. O órgão foi criado com o intuito de funcionar como um governo autônomo enquanto as negociações pela paz entre as nações se desenvolviam. Apesar de ter sido estabelecido que o órgão seria provisório (por um período de cinco anos), a Autoridade Palestina permanece ativa até hoje. Atualmente, ela é comandada pelo presidente Mahmoud Abbas, do Fatah, considerado um partido mais moderado e que historicamente possui divergências com o Hamas.

Em 2006, o grupo fundamentalista chegou a vencer o Fatah durante as eleições legislativas para a ANP. No entanto, os dois entraram em um conflito, que terminou com o Fatah expulso da Faixa de Gaza. O partido, por sua vez, assumiu o controle da Cisjordânia e rejeitou a administração Hamas, mantendo o domínio sobre a Autoridade Palestina. Portanto, na contramão do que os posts levam a crer, a ANP e o Hamas não são a mesma coisa.

O grupo fundamentalista islâmico Hamas é considerado terrorista por países como Estados Unidos, Japão e as nações vinculadas à União Europeia. Já o Brasil, seguindo a classificação da ONU, não reconhece o Hamas como uma organização terrorista. Apesar do posicionamento neutro do país sobre o tema, Lula classificou os ataques recentes do grupo a Israel como “terroristas”.

O texto do projeto de lei alvo de desinformação é categórico ao classificar a ANP como “único representante legítimo do povo palestino”: “O principal destinatário dos recursos doados será a Autoridade Nacional Palestina, na qualidade de único representante legítimo do povo palestino”.

Os conteúdos investigados já foram desmentidos por agências de checagem ao menos desde 2021 e voltaram a circular nesta semana, após a ofensiva do Hamas a Israel, no último dia 7 de outubro. O conflito já deixou mais de 3 mil mortos até a sexta-feira (13). O governo brasileiro condenou a ação e convocou uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, presidido pelo Brasil, para discutir soluções.

O que diz o responsável pela publicação: Os perfis que publicaram conteúdos desinformativos sobre o tema costumam não aceitar receber mensagens pelo X. O Comprova conseguiu entrar em contato via e-mail com um dos responsáveis pela publicação. Ele seguiu afirmando, sem provas, que o recurso foi doado ao Hamas, e que a Palestina é comandada pelo grupo, o que não é verdade.

O que podemos aprender com esta verificação: Uma das táticas mais utilizadas por desinformadores é o uso de informações reais de forma distorcida para corroborar uma informação falsa. A citação da Lei nº 12.292/2010 gera uma suposta credibilidade. A menção de checagens já feitas sobre o tema, e a rejeição de que exponham a verdade, serve para desencorajar que o público busque esse trabalho para se informar.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A suposta doação já foi verificada por G1, UOL Confere, Aos Fatos e Estadão Verifica. O envio de recursos do Brasil para o exterior é constantemente alvo de desinformação. O Comprova já checou que o país não enviou US$ 600 milhões para o agronegócio argentino e que é enganoso que o Brasil fará empréstimo à Argentina enquanto Lula bloqueia recursos da saúde e educação.

 

 

Política

Investigado por: 2023-10-10

Brasil não enviou US$ 600 milhões para agronegócio da Argentina

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha enviado US$ 600 milhões para o agronegócio da Argentina, dos quais seriam US$ 100 milhões para produtores de leite, para que vendessem a mercadoria ao Brasil. O deputado que faz a alegação distorce os termos de um acordo ainda em discussão entre os dois países para viabilizar exportações brasileiras de alimentos e peças de carro aos argentinos. O parlamentar também afirma que o setor do agronegócio está em recessão, o que não é verdade, conforme indicam os dados mais recentes do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

Conteúdo investigado: Vídeo em que um homem afirma que Lula vai mandar US$ 600 milhões “para o agro” na Argentina. Na sequência, o homem reproduz vídeo do deputado federal Rodolfo Nogueira (PL-MS), em que ele afirma que “Lula destinou US$ 600 milhões ao agronegócio da Argentina” sendo que US$ 100 milhões seriam para “produtores de leite da Argentina para vender ao Brasil”. Ele diz que isso levaria o mercado leiteiro brasileiro, já em crise, à falência. O parlamentar ainda argumenta que o agronegócio estaria em recessão, o que iria se espalhar para outros setores da economia: “Vai chegar na cidade, senhor Lula, a recessão do agro chega na cidade já, já”.

Onde foi publicado: TikTok, WhatsApp e Instagram.

Conclusão do Comprova: É enganoso que o governo Lula (PT) tenha enviado US$ 600 milhões para o agronegócio da Argentina e que parte do valor seria destinado à compra de leite de produtores argentinos. O deputado que faz a alegação distorce os termos de um acordo que ainda está sendo discutido pelos países. O acordo busca viabilizar exportações brasileiras ao país vizinho. A negociação trataria da venda de alimentos e peças de carro para a Argentina, e não da compra de leite pelo Brasil.

O governo brasileiro anunciou, em 28 de agosto, que os dois países chegaram a um acordo para financiar US$ 600 milhões de exportações do Brasil à Argentina, após reunião entre o presidente Lula, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o ministro da Economia argentino, Sergio Massa, que reforçou o anúncio.

A previsão, naquele momento, era de que o Banco do Brasil (BB) pagaria cada exportador brasileiro e teria o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF) como garantidor do financiamento à Argentina. Ao Comprova, o Ministério da Fazenda comunicou, porém, que o acordo ainda não está fechado, pois resta ser apresentada uma proposta detalhada sobre as garantias do financiamento por parte da Argentina e do CAF.

Já a alegação do parlamentar de que o agronegócio estaria em recessão não encontra sustentação ao ser confrontada com os dados mais recentes do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

Economistas classificam como recessão técnica a ocorrência de dois trimestres seguidos de queda do PIB, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e dividido entre os setores de agropecuária, serviços e indústria. O PIB agropecuário teve queda de 0,9% no segundo trimestre deste ano, mas vinha de uma alta de 21% no trimestre anterior. A retração mais recente, conforme análise do IBGE, se deve, principalmente, à base elevada de comparação do primeiro trimestre de 2023.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No TikTok, uma publicação que repercute a fala do deputado teve 19,9 mil curtidas e 17,8 mil compartilhamentos até 9 de outubro.

Como verificamos: O Comprova reconheceu, no vídeo investigado, o deputado federal Maurício Souza (PL-MG), o Mauricio do Vôlei, ao lado da pessoa que faz as alegações sobre o suposto acordo comercial. Nas redes sociais do deputado, foi possível confirmar que ele estava em um evento de lançamento da Frente Parlamentar em Defesa das Cooperativas e Pequenos Laticínios do Brasil com Leite Nacional e da Pecuária Leiteira Brasileira (FPDCPLB), da Câmara dos Deputados, ocorrido em 20 de setembro de 2023.

Um vídeo de todo o evento está disponível no canal da Câmara no YouTube. O registro permite identificar que o autor da fala é o deputado federal Rodolfo Nogueira (PL-MS). Em sua conta no Instagram, o parlamentar publicou vídeo com alegação semelhante à que fez no Plenário da Câmara.

A reportagem tentou contato com o deputado Rodolfo Nogueira via WhatsApp por seu telefone pessoal e pelo e-mail funcional do gabinete, mas não obteve retorno.

Financiamento à Argentina já foi alvo de desinformação

Essa não foi a primeira vez que as negociações entre Brasil e Argentina se tornaram objeto de desinformação. No início de setembro, o Estadão Verifica fez uma checagem sobre um conteúdo enganoso semelhante, que havia sido divulgado pelo deputado estadual pelo Rio Grande do Sul Gustavo Victorino (Republicanos).

Ao Estadão Verifica, Victorino confirmou que o suposto acordo mencionado por ele, sobre o Brasil enviar US$ 600 milhões ao agronegócio da Argentina, dos quais US$ 100 milhões iriam para produtores de leite, fazia alusão a um financiamento em negociação entre os dois países, também na casa dos U$ 600 milhões, mas para viabilizar exportações brasileiras ao país vizinho, sem relação com o mercado de leite.

Na ocasião em que a alegação viralizou a partir de falas de Victorino, a presidência da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) divulgou ter feito contato com o Banco do Brasil para confirmar o suposto repasse milionário ao mercado leiteiro argentino, o que foi desmentido pela instituição financeira, que ressaltou a possibilidade de ter ocorrido uma possível confusão por parte do deputado. O BB reconheceu haver apenas uma negociação para viabilizar exportações brasileiras à Argentina.

Acordo em discussão não tem relação com produtores argentinos de leite

A negociação entre os dois países versa sobre um financiamento para assegurar a continuidade de exportações de alimentos e peças de carros do Brasil para a Argentina.

Em 4 de setembro, o governo federal fez uma publicação sobre o tema, afirmando que, em uma primeira rodada das negociações, o Brasil havia proposto um financiamento de R$ 700 milhões (cerca de US$ 140 milhões), que seria viabilizado pelo Programa de Financiamento às Exportações (Proex), um mecanismo existente desde 1991 para apoiar exportações brasileiras a outros países, não só à Argentina.

Essa mesma publicação do governo federal informa que a Argentina fez uma contraproposta que elevaria o financiamento para US$ 500 milhões, ao contar com garantias do CAF. Não foi apresentado, no entanto, um documento formal com a proposta final ao Brasil, também segundo divulgou a gestão Lula.

A nota ainda afirma que peças de desinformação têm atribuído ao acordo um falso fomento do Brasil para empresas argentinas. Na realidade, a intenção é fomentar a exportação de produtos brasileiros para o exterior.

Em contato com o Comprova, o Ministério da Fazenda reforçou que o acordo não foi fechado e que em momento algum foi sugerido um aporte brasileiro de US$ 100 milhões a produtores de leite da Argentina.

“Nas negociações iniciais, a delegação argentina sugeriu que o financiamento se direcionasse a peças automotivas, um dos principais produtos de exportação do Brasil ao país vizinho. Porém, a negociação não avançou além das intenções sobre este ponto em específico”, escreveu, em nota.

Ainda ao Comprova, o Banco do Brasil, agente exclusivo da União para negociações do Proex, também negou fazer parte de acordo que viabilizaria exportações do mercado de leite da Argentina ao Brasil.

“O Banco do Brasil tem atuado em trabalho conduzido pelo Ministério da Fazenda, envolvendo diversos Ministérios, no sentido de construir alternativa de financiamento às exportações brasileiras para a Argentina. Cabe ressaltar que se alguma solução técnica for viabilizada, é condição indispensável que ela não traga qualquer tipo de risco ou impacto em balanço tanto do BB quanto da União”, escreveu.

Por que o mercado do leite está em crise

O setor leiteiro no Brasil tem vivido crise devido ao preço de venda não cobrir os custos de produção. O mercado reclama, entre outras coisas, que produtores de países vizinhos, caso da Argentina, contam com políticas públicas de fomento, como subsídios, a ponto de conseguirem exportar leite a consumidores brasileiros a preços menores do que os valores ofertados por produtores locais.

De acordo com a Abraleite, produtores têm sofrido com o que chama de “importações predatórias”, vindo especialmente de países parceiros do Mercosul, como a Argentina e o Uruguai. A associação estima que as importações representam mais de 11% do que é consumido tradicionalmente no país. Historicamente, esse percentual era de 3%.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) apontam que, de janeiro a setembro deste ano, consumidores brasileiros importaram o equivalente a US$ 652,02 milhões de leite, creme de leite e laticínios, uma variação de 105,5% em comparação com o mesmo período do ano passado.

No último dia 2 de outubro, o governo federal anunciou que editaria uma medida tributária para desincentivar a importação de leite de países vizinhos pelo mercado brasileiro. Anteriormente, foi anunciada a destinação de R$ 100 milhões para a compra de leite em pó de agricultores familiares brasileiros como forma de incentivar o setor produtivo nacional.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova tentou contato com o deputado Rodolfo Nogueira via WhatsApp por seu telefone pessoal e pelo e-mail funcional de seu gabinete, mas não obteve retorno.

O que podemos aprender com esta verificação: Tirar notícias verdadeiras de seu contexto original para fazer alegações enganosas e falsas a respeito de um assunto de interesse público é uma tática utilizada com frequência por desinformadores. Nesses casos, é importante buscar fontes confiáveis e seguras para entender o que, de fato, está sendo informado, além de verificar se a alegação é verdadeira ou não.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Como informado acima, o suposto envio de US$ 600 milhões pelo governo federal para o agronegócio da Argentina, dos quais US$ 100 milhões iriam a produtores argentinos de leite, havia sido desmentido pelo Estadão Verifica ao ser alegado por um outro deputado. O acordo de fato em discussão ainda foi alvo de uma outra peça de desinformação checada pelo Comprova, que mostrou ser enganoso que o Brasil fará empréstimo à Argentina enquanto Lula bloqueia recursos da saúde e educação. Foi feita também verificação sobre um tuíte que engana ao responsabilizar o governo federal pela importação de laticínios.

Contextualizando

Investigado por: 2023-10-06

Mudança de metodologia de repasse é confundida com falta de recursos para o Plano Safra

  • Contextualizando
Contextualizando
Vídeo que circula no Instagram afirma que não há recursos para empréstimos ao produtor rural no Plano Safra 2023/2024 e que os repasses feitos em julho foram inferiores ao verificado no mesmo mês de 2022, apesar do valor recorde previsto neste ano. A autora cita dados não consolidados à época e tira informações de seu contexto. Na comparação entre os meses citados por ela, houve, na verdade, aumento de repasse para a agricultura empresarial e perda em menor grau à produção familiar. Além disso, operando sob nova metodologia, os recursos do Plano Safra passaram a ser liberados de forma trimestral e, diante da alta demanda por crédito, os valores previstos para o primeiro trimestre foram, de fato, rapidamente absorvidos, gerando interrupção de algumas linhas de crédito. No entanto, houve antecipação de valores e retomada das linhas de crédito.

Conteúdo investigado: Publicação no Instagram afirma que não há dinheiro para o Plano Safra 2023/24. Ela alega que, embora tenha sido anunciado um valor recorde à iniciativa pelo governo federal, a concessão de crédito pelas instituições bancárias que operam as linhas do plano está travada por falta de recursos. A autora do conteúdo afirma também que a agricultura familiar perdeu, na comparação de julho de 2023 com o mesmo mês de 2022, 47% dos recursos do Plano Safra, enquanto os médios e os grandes produtores teriam 36,8% a menos, o que estaria travando a cadeia produtiva do agronegócio no país. No fim do vídeo, ela questiona: “Onde vamos parar? Onde estão os recursos do Plano Safra?”.

Onde foi publicado: Instagram.

Contextualizando: Lançado no fim de junho, o Plano Safra 2023/2024 teve recorde de recursos previstos para empréstimos a produtores rurais – R$ 435,82 bilhões (R$ 364,22 bilhões para agricultura e pecuária empresarial e R$ 71,6 bilhões para a produção familiar).

Nesta edição, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) alterou a metodologia para repasse dos recursos aos agentes financiadores, que são bancos e cooperativas de créditos. Agora, os valores são repassados a cada trimestre mediante o planejamento informado pelas instituições ao governo, e não mais por livre demanda dos produtores.

Esse contingenciamento, aliado à forte demanda por crédito no mês de julho, fez com que os recursos previstos para o primeiro trimestre fossem rapidamente consumidos nos primeiros trinta dias do programa, o que interrompeu algumas linhas de financiamento. Como resultado, o mês de julho de 2023, comparado com o mesmo mês de 2022, registrou queda de 8% no número total de contratos. O montante de recursos disponibilizados, no entanto, teve alta de 15%.

Se considerarmos apenas a produção empresarial (médios e grandes produtores), houve alta de 12% no número de contratos e de 21% no volume de recursos concedidos, e não queda de 36,8% do dinheiro. Já em relação somente à produção familiar, cujo crédito é repassado via Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), o mês de julho registrou quedas de 15% no volume de contratos e de 10% dos recursos concedidos, e não um montante 47% menor de verba.

Os percentuais, portanto, diferem dos apresentados no vídeo verificado. Isso porque, na época em que ele foi divulgado, os dados de julho ainda não haviam sido consolidados, informação que não é mencionada no conteúdo.

A informação divulgada – “não tem dinheiro para o Plano Safra” – também carece de contextualização. Após a interrupção de algumas linhas de financiamento, o governo federal antecipou recursos que estavam previstos para o trimestre seguinte.

Considerando-se os dois primeiros meses com dados consolidados (julho e agosto), o Plano Safra 2023/2024 registra aumento de 2,5% no número de contratos, de 21% no valor contratado e de 18% no valor médio por contrato. Já no Pronaf, há aumento de 1,2% no número de contratos e queda de 9,8% no valor do crédito concedido. Os dados de setembro ainda não foram fechados.

Como o conteúdo pode ser interpretado: Da forma como os dados foram divulgados, há margem para a interpretação de que há irregularidades no repasse dos recursos do Plano Safra 2023/2024.

O que é o Plano Safra?

O Plano Safra oferece linhas de crédito para o financiamento das atividades de pequenos, médios e grandes produtores rurais no Brasil. Criado pelo governo federal em 2003, ele começa a valer no dia 1º de julho de cada ano, com validade até junho do ano seguinte, acompanhando o calendário das principais safras do país.

O programa oferece diferentes linhas de crédito, com taxas de juros subsidiadas, destinadas aos distintos tipos de produtores rurais. A intenção é estimular o aumento da produção agropecuária. Cada grupo de produtores (pequenos, médios e grandes) recebe um volume diferente de recursos e taxas de juros de financiamento distintas.

Repasses passaram a ser trimestrais

O Plano Safra 23/24 trouxe como novidade a liberação de recursos para as linhas de crédito de forma trimestral. A intenção por trás da nova metodologia é poder realizar uma avaliação das aplicações das instituições financeiras a cada trimestre, e remanejar o crédito onde for necessário. “Na medida que uma instituição fale que vai gastar determinada quantidade e não gaste, a gente não precisa esperar até o fim da safra para poder saber isso”, explica Guilherme Rios, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Entretanto, a demanda pelos recursos do Plano Safra não é linear, ou seja, a necessidade por crédito é mais alta em alguns meses do que em outros. A liberação de crédito de maneira trimestral teve por consequência o rápido esgotamento dos recursos que haviam sido previstos para o 1º trimestre. De acordo com Rios, a demanda é maior nos meses de julho e agosto, levando ao esgotamento temporário de algumas linhas de crédito no início de agosto. As linhas foram retomadas com a antecipação dos recursos do 2º trimestre, a partir do dia 25 do mesmo mês.

“Os bancos informam ao governo o que eles pretendem gastar a cada trimestre e o governo faz o repasse. A demanda foi tão alta que os bancos não esperavam. Então, o recurso que eles planejaram por trimestre acabou logo ali no fim de julho e começo de agosto, e a gente ficou algumas semanas sem algumas linhas de crédito. O que o governo fez? Ele teve que adiantar os recursos do segundo trimestre do plano safra para poder cobrir”, esclarece Rios.

Percentuais reais são diferentes do que autora citou

Em contato com o Comprova via WhatsApp, a autora da publicação no Instagram afirmou que os percentuais citados por ela sobre a queda de recursos do Plano Safra, na comparação de julho de 2023 com o mesmo mês de 2022, haviam sido divulgados por Bruno Lucchi, diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em entrevista à jornalista Kellen Severo no programa Hora H do Agro, da Jovem Pan News, em edição exibida em 26 de agosto de 2023.

Lucchi faz de fato menção aos percentuais, mas tratando de queda no número de contratos, e não de recursos disponibilizados. O Banco Central, que faz o levantamento dos dados do Plano Safra, faz uma separação entre as duas coisas, uma vez que cada contrato tem valores diferentes cedidos.

No dia anterior, em 25 de agosto de 2023, a jornalista Kellen Severo já havia mencionado os mesmos percentuais durante um comentário no Jornal da Manhã, também da Jovem Pan News, que foi transcrito em um artigo para o portal do veículo. Foram exibidas sobre sua fala duas cartelas com infográficos, com dados que teriam como fonte o Banco Central (BC) e a CNA.

A primeira delas trata de números de contratos e do volume de crédito concedido para a agricultura familiar com o Plano Safra, o que ocorre por meio da linha de crédito do Pronaf.

Captura de tela da edição de 25 de agosto de 2023 do Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, feita em 4 de outubro de 2023 (Crédito: Jovem Pan News/Reprodução)

Já a segunda cartela exibe dados do crédito cedido a médios e grandes produtores, excluindo os agricultores familiares.

Captura de tela da edição de 25 de agosto de 2023 do Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, feita em 4 de outubro de 2023 (Crédito: Jovem Pan News/Reprodução)

Na altura em que os gráficos foram veiculados, no entanto, os dados do Plano Safra referentes ao mês de julho de 2023 não estavam consolidados na Matriz de Dados do Crédito Rural, página do Banco Central dedicada a essa divulgação. Conforme o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) informou ao Comprova, a consolidação dos dados só é realizada a partir do terceiro dia útil do mês posterior ao mês subsequente. Ou seja, os números de julho de 2023 só teriam um retrato fiel a partir de 5 de setembro de 2023. Antes disso, segundo o Mapa, os dados consultados no BC variam diariamente, “levando a incorreções se a comparação for realizada, antes do fechamento, com o mesmo período do ano anterior”.

O Mapa também cedeu ao Comprova um balanço consolidado do Plano Safra nos dois meses comparados, a partir de dados do Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro (Sicor), do Banco Central. O documento está disponível no site do governo federal.

Em julho de 2022, o Pronaf teve 144.753 contratos e concedeu R$ 6,939 bilhões em crédito, números que batem com os dados brutos da agricultura familiar divulgados pela Jovem Pan News para aquele mês. No entanto, em julho de 2023, foram assinados 123.291 contratos, e não cerca de 76,2 mil, e concedidos R$ 6,247 bilhões em crédito, e não cerca de R$ 5,04 bilhões.

Assim, de um período a outro, houve quedas de 15% no volume de contratos e de 10% dos recursos concedidos à agricultura familiar pelo Plano Safra, percentuais menores dos que foram divulgados pelo veículo e em parte replicados pela autora no post no Instagram.

Também em julho de 2022, foram fechados 190.990 contratos pelo Plano Safra, mas referentes a todas as linhas de crédito dele, incluindo o Pronaf, e não apenas às que atendem médios e grandes produtores, como apontou a Jovem Pan News. Eles totalizaram R$ 37,662 bilhões em recursos naquele mês.

Já em julho de 2023, foram assinados 175.168 contratos, e não cerca de 120,4 mil, que somaram R$ 43,382 bilhões, e não cerca de R$ 36,39 bilhões apresentados pelo veículo. Houve, portanto, na comparação entre os dois períodos, queda de 8% no número total de contratos e alta de 15% no montante de recursos disponibilizados.

Por fim, se considerada apenas a agricultura empresarial (médios e grandes produtores), ou seja, todas as linhas de crédito com exceção do Pronaf, houve alta de 12% no número de contratos, que foram de 46.237 para 51.877, e de 21% no volume de recursos concedidos, que passou de cerca de R$ 30,723 bilhões para R$ 37,135 bilhões de julho de 2022 em comparação com o mesmo mês de 2023.

Razão para a queda no Pronaf: taxa de juros

Apesar do valor recorde de financiamento no Plano Safra 2023/2024, o número de contratos e o volume de crédito liberado registraram queda no segmento da agricultura familiar, ao considerarmos apenas o mês de julho. Segundo o assessor técnico da CNA e o professor Omar Jorge Sabbag, do curso de Engenharia Agronômica da Universidade Estadual Paulista (Unesp), um dos fatores que explicam a queda nos números é a alta taxa de juros que, quando não subsidiada pelo governo, se torna desvantajosa para o produtor familiar. Com isso, ele acaba deixando de contratar o crédito.

Rios explica que essa é a maior dificuldade para que os empréstimos do Plano Safra cheguem até o produtor. Para isso, é necessário que haja verba disponível para que o governo subsidie parte dos juros praticados pelo agente financiador para que a taxa seja menor para o produtor – a esta operação dá-se o nome de juros equalizáveis. Caso contrário, o produtor da agricultura familiar, que depende desse subsídio, deixa de contratar o empréstimo. Ou seja, como diz Omar Sabbag, o crédito “trava”: está disponível, mas não em execução.

“Por mais que seja anunciado um volume de R$ 435 bilhões, não necessariamente todo o montante vai estar disponível”, diz Guilherme Rios. “Eu dependo dos recursos de subvenção para equalização das taxas do Pronaf, do custeio e do investimento. Neste ano, o volume que foi anunciado para essas subvenções dentro da Lei Orçamentária Anual já acabou. A gente espera do governo uma suplementação da parte equalizada, para que não falte recursos para o produtor.”

O patamar de juros equalizáveis previsto no Pronaf do Plano Safra 2023/24 é de 4% ao ano. Portanto, para que essa taxa seja atingida, é necessária a subvenção do governo. O professor dá um exemplo hipotético: “Vamos fazer uma analogia: eu vou lhe emprestar R$ 10 mil, e digo: ‘lhe cobro 15% de juros’. Aí vem, digamos, um parente seu e se predispõe a cobrir metade desses juros. Só que chega um determinado momento que esse seu parente não consegue mais subsidiar. O dinheiro permanece disponível comigo, mas, se o seu parente não subsidiar a metade, você vai ter que me pagar 15% de juros. Aí eu lhe pergunto: você vai conseguir bancar? O mais provável é que você desista do empréstimo”.

Outros fatores para redução de contratos no Pronaf

Além da dificuldade na obtenção de juros subsidiados, Sabbag cita outros obstáculos que atingem principalmente o produtor da agricultura familiar. Um deles é a dificuldade de comprovar junto ao agente financiador a capacidade de pagamento do crédito que se pretende contratar:

“É preciso apresentar um projeto técnico que demonstre a capacidade de pagamento para aderência ao crédito. Nele, constam diversas informações, como o croqui da área e a descrição das principais atividades. Enfim, não é algo simples. O médio e grande produtor tem uma assessoria mais robusta para produzir esse projeto técnico. Já o pequeno produtor está mais vulnerável”.

Há, ainda, o problema do endividamento, como mostrou matéria do Brasil de Fato.

“Muitas das vezes o produtor familiar não consegue ter um controle adequado da produção. Ele pode chegar ao final de uma safra com um lucro abaixo do esperado e ter prejuízo diante das taxas de juros que precisa pagar. Assim, ele chega endividado na safra seguinte e, automaticamente, o banco o classifica como restrito a crédito. Aí o financiamento do Plano Safra ‘trava’ para ele.”

O professor ainda cita outros empecilhos de ordem burocrática para acesso ao financiamento, como dificuldade em obter licenças ambientais, específicas para cada tipo de produção, e o Cadastro Ambiental Rural (CAR): “O CAR é uma espécie de RG do produtor e é um dos documentos exigidos para a contratação do crédito. Em relação a ele, há uma assimetria informacional. O produtor sabe que tem direito, mas muitas das vezes não sabe como obtê-lo, que órgão deve procurar”.

Dados do acumulado julho/agosto em 2022 e 2023

De acordo com a Matriz de Dados do Crédito Rural do Banco Central, no acumulado de julho e agosto de 2023 em comparação com o mesmo período de 2022, houve aumento de 2,5% no número de contratos, de 21% no valor contratado e de 18% no valor médio por contrato. Os dados brutos podem ser conferidos nas tabelas abaixo:

Considerando-se apenas os dados do Pronaf, os números registram, na comparação entre julho e agosto de 2022 com o mesmo período de 2023, aumento de 1,2% no número de contratos. Porém, há queda de 9,8% no valor do crédito concedido.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No Instagram, foram 91.5 mil visualizações, 4.1 mil likes e 181 comentários.

Como verificamos: O Comprova consultou dados referentes ao Plano Safra no site do governo federal, em matérias publicadas na imprensa e em portais de entidades do setor como a CNA. Foram consultados o professor Omar Jorge Sabbag, do curso de Engenharia Agronômica da Unesp, e o assessor técnico da CNA, Guilherme Rios. O Comprova ainda fez contato com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e analisou dados sobre o crédito rural no site do Banco Central. Além disso, entramos em contato com a autora da publicação original para questionar onde os dados por ela divulgados haviam sido consultados.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já checou outros conteúdos relacionados ao agronegócio. Em julho, foi verificado que o Brasil se comprometeu a diminuir a emissão de gás metano e não a reduzir produção agropecuária, como afirma post. Anteriormente, também verificamos que vídeo engana ao atribuir ao PT proibição de plantio de soja em Mato Grosso e que não há registro público de declaração de Lula nem do MST sobre eliminar agronegócio da Terra.