O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2024-09-11

Vídeo antigo sobre febre amarela é tirado de contexto para atacar vacina contra covid-19

  • Falso
Falso
Vídeo adulterado e publicado nas redes sociais tenta confundir o público ao afirmar que vacinas matam. O autor da publicação usa uma reportagem da TV Globo, de 2018, sobre a morte de duas pessoas devido aos efeitos colaterais da vacina contra a febre amarela em São Paulo, e relaciona os óbitos com o imunizante contra a covid-19. O caso aconteceu dois anos antes da pandemia.

Conteúdo investigado: Vídeo do telejornal SPTV 1ª Edição, da TV Globo, compartilhado nas redes sociais, no qual o jornalista César Tralli noticia a morte de duas pessoas após se vacinarem contra a febre amarela. A publicação insinua que as mortes ocorreram pela vacina contra a covid-19. Na legenda, a postagem diz “agora que Bolsonaro não é mais presidente, a vacina mata. E quem está dizendo isso é a Globo!”.

Onde foi publicado: X e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: Um vídeo antigo voltou a viralizar no X e no WhatsApp com alterações enganosas que apontam que a TV Globo teria admitido que vacinas contra a covid-19 matam. O autor do post utilizou um vídeo do SPTV 1ª edição, de 2018, no qual o jornalista César Tralli, então apresentador do telejornal, noticia a morte de duas pessoas imunizadas contra a febre amarela. Naquele momento, o país enfrentava centenas de casos da doença e um terceiro óbito estava para ser confirmado.

Em nenhum momento o jornalista afirma que as vacinas matam. Ele alerta que há contraindicações no caso da imunização contra a febre amarela (veja o vídeo original aqui, em uma verificação do portal g1 sobre o assunto) e ressalta que médicos suspeitavam que a baixa imunidade das pessoas vacinadas estava ocasionando as mortes.

O vídeo original sofreu edições e cortes. No material adulterado, Tralli faz o seguinte comentário sobre a vacina contra febre amarela: “Gente, é importante lembrar o seguinte: a vacina tem, sim, contra indicações. Tem riscos à saúde. O secretário municipal da saúde aqui de São Paulo, Wilson Pollara, me confirmou agora há pouco por telefone que duas pessoas já morreram aqui em São Paulo depois de tomar a vacina, um homem e uma mulher. Os médicos suspeitam que eles estavam com a imunidade baixa. E outras três mortes de pessoas que tomaram a vacina também estão sendo investigadas. Uma delas deve se confirmar: mais um homem. Todas essas pessoas tomaram vacina de outubro para cá”.

A versão adulterada elimina a frase “só deve tomar essa vacina contra a febre amarela quem for viajar ou mora em área de risco”, dita pelo apresentador. Conforme a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) o imunizante é contraindicado para:

  • Crianças menores 6 meses de idade
  • Pessoas com doença febril aguda, com comprometimento do estado geral de saúde;
  • Pessoas com história de reação anafilática relacionada a substâncias presentes na vacina, como ovo de galinha e seus derivados, gelatina, eritromicina e canamicina;
  • Gestantes, a não ser em situações de alto risco de infecção, o que deve ser avaliado pelo médico;
  • Pessoas com imunodepressão grave por doença ou por uso de medicação/tratamento;

  • Pacientes com câncer;
  • Indivíduos que vivem com HIV, sintomáticos e com comprometimento da imunidade;
  • Pacientes com história de doenças do timo, como miastenia gravis, timoma ou timectomia.
  • Pacientes submetidos a transplante de órgãos;
  • Mulheres grávidas só devem ser vacinadas com orientação médica, embora não existam evidências de que a vacina possa provocar alterações nocivas em fetos.

O texto descritivo da matéria, que fica no rodapé da tela, também foi alterado. Enquanto no vídeo original estava escrito “febre amarela”, no conteúdo modificado ele é substituído, logo no início, por “vacinas matam”. Ainda na legenda do post no qual essa versão foi publicada, o autor escreveu: “Resumindo, Bolsonaro sempre teve razão!”.

O vídeo confunde ao induzir que a TV Globo estaria falando da vacinação contra a covid-19 e que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria correto ao questionar a eficácia da vacina. A pandemia chegou ao país em 2020, um ano após o início da gestão do então mandatário. A imunização contra a covid no Brasil começou em 2021 e sempre foi colocada em xeque por Bolsonaro, que nunca apresentou evidências científicas de falhas.

O Ministério da Saúde atestou, repetidas vezes, que todos os imunizantes utilizados contra a doença têm eficácia comprovada e que, “previamente à sua introdução, passaram por todas as fases de estudos pré-clínicos e estudos clínicos (fase I, II e III)”.

Sobre a vacina contra a febre amarela, a Fiocruz, em nota publicada no site, esclarece que ela é raramente associada a eventos graves, como reação de hipersensibilidade (0,0009%), reação anafilática (0,000023%), doença neurológica (0,0004%) e doença viscerotrópica (0,0003% em maiores de 60 anos e 0,001% em menores de 60 anos).

Não foi possível contato com o autor do post, já que o X está fora do ar no Brasil.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. A publicação distribuída na rede social X alcançou até o dia 10 de setembro, 144 mil visualizações.

Fontes que consultamos: A partir da publicação original, foi realizada uma pesquisa no Google com os termos “vacina febre amarela mortes” ou “vacina febre amarela mortes SPTV“. O buscador exibiu os resultados das notícias e rapidamente foi possível encontrar as informações sobre o caso de 2018, incluindo o vídeo publicado na época pelo portal g1, da TV Globo, em 19 de janeiro de 2018, com a reportagem exibida no telejornal SPTV. Além disso, é possível encontrar a notícia das mortes causadas pela vacina contra a febre amarela em sites como Agência Brasil e g1 a partir do buscador Google.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O vídeo com a edição alterada já foi verificado por veículos como Fato ou Fake e Estadão Verifica. O conteúdo também foi checado por UOL Confere, Terra e Reuters, que apontaram que o conteúdo distribuído nas redes sociais e pelo aplicativo de mensagens WhatsApp é enganoso.

Saúde

Investigado por: 2024-09-03

É falso que pessoas vacinadas tenham o dobro de chances de pegar covid

  • Falso
Falso
Vídeo mente ao usar dados de estudo estrangeiro para afirmar que pessoas vacinadas teriam o dobro de chance de pegar covid-19 em relação a não vacinadas. Na realidade, o estudo citado aponta apenas que a eficácia dos imunizantes contra covid diminui com passar do tempo, ao comprovar que idosos da Europa com mais de 60 anos, vacinados há mais de 6 meses, manifestaram redução da eficácia da vacina. A pesquisa também ressalta a necessidade de monitoramento de novas variantes da covid-19 para atualizações de vacinas.

Conteúdo investigado: Autor de vídeo usa estudo publicado em periódico médico estrangeiro para afirmar que vacinas contra covid-19 teriam “eficácia negativa comprovada”. Ele alega que pessoas vacinadas tiveram o dobro de chance de pegar covid-19 em relação às não vacinadas.

Onde foi publicado: X e site de internet.

Conclusão do Comprova: É falso o conteúdo de um vídeo que contesta a eficácia da vacina contra a covid-19 ao afirmar que pessoas imunizadas têm o dobro de chance de pegar a doença em comparação aos que não receberam a proteção. A declaração inventa dados e os atribui ao estudo intitulado “COVID-19 Vaccine Effectiveness in Autumn and Winter 2022 to 2023 Among Older Europeans”, (“Eficácia da Vacina contra Covid-19 em Idosos Europeus entre o Outono de 2022 e o Inverno de 2023”, em português).

O estudo foi elaborado por uma equipe de pesquisadores liderada pela francesa Charlotte Laniece Delaunay, do Departamento de Epidemiologia da empresa Epiconcept, e publicado no JAMA Network Open, a plataforma on-line de colaboração aberta do periódico americano Journal of the American Medical Association (JAMA), em julho de 2024. O JAMA é publicado pela American Medical Association (Associação Médica Americana), maior associação de médicos e estudantes de medicina dos Estados Unidos, desde 1883.

As afirmações falsas, publicadas no X, baseiam-se em um texto do site Médicos pela Vida, formado por um grupo de médicos que já foi condenado por fazer propaganda pró-cloroquina. O Comprova já publicou outras checagens relacionadas a conteúdos divulgados pelo grupo, como esta que concluiu ser enganoso que um estudo de Harvard tenha confirmado a eficácia da hidroxicloroquina na prevenção da covid-19.

Conforme apontam os especialistas ouvidos pelo Comprova, o texto do site distorce dados do estudo publicado no JAMA – a ideia de “eficácia negativa” jamais é citada no estudo original –, além de incluir informações que sequer fazem parte da pesquisa, como um gráfico a respeito da eficácia das vacinas contra a variante Omicron, que foi traduzido de maneira enganosa.

Diferentemente do que alegam os responsáveis pelo conteúdo investigado, o estudo não afirma que as vacinas tenham eficácia negativa, mas sim que a efetividade delas após a aplicação diminui com o tempo, como já era previsto. Na verdade, a pesquisa destaca que as vacinas são mais eficazes em até 180 dias. Além disso, enfatiza a importância de os órgãos de saúde estarem atentos para disponibilizar vacinas atualizadas para novas variantes do vírus.

O Comprova procurou o responsável pela publicação e pelo site, mas não houve retorno de ambos.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O conteúdo foi publicado no X, onde alcançou mais de 24,1 mil visualizações até o dia 27 de agosto. A mesma postagem foi feita no Instagram em 22 de agosto e, até 2 de setembro, já acumulava 12,4 mil compartilhamentos.

Fontes que consultamos: Lemos na íntegra o estudo mencionado nas postagens e constatamos que as informações disseminadas eram falsas, pois tiravam o estudo de contexto e incluíam dados inexistentes. Para confirmar nossa análise, consultamos dois especialistas em infectologia e o Ministério da Saúde, que corroboraram nossas conclusões. Além disso, pesquisamos o histórico e entramos em contato com o Médicos pela Vida e o perfil Estúdio 5º Elemento. Ambos já tiveram anteriormente conteúdos desmentidos por iniciativas de checagem.

Eficácia da vacina

Conforme o infectologista da Fiocruz Amazônia, Marcus Lacerda, em nenhum momento a pesquisa divulgada pelo Médicos pela Vida cita ou aborda a comprovação da chamada “eficácia negativa” da vacina contra a covid-19.

Na verdade, a pesquisa usada no vídeo aponta que o imunizante funciona melhor até 180 dias após a aplicação. Após esse período, a efetividade da vacina é reduzida. Apesar da diminuição, ela não perde a eficácia, muito menos teria a capacidade de tornar as pessoas vacinadas mais suscetíveis a adquirir a doença em relação às pessoas não vacinadas, como afirmam o autor do vídeo e o Médicos pela Vida.

Lacerda ressalta que a redução da efetividade da vacina indica a necessidade de reforço de doses do imunizante e, principalmente, a importância do monitoramento de novas variantes para a atualização de vacinas.

Ainda segundo o infectologista, o estudo compara uma vacina feita contra um tipo circulante e a eficácia dela com outro vírus Sars-Cov-2. “Isso [aparição de novas variantes] diminui também a eficácia”, afirmou ele.

“Então, o que o artigo está chamando atenção é que às vezes você tem que monitorar o tipo de vírus que está circulando para poder fazer atualização da vacina, porque depois de 180 dias ela funciona pior para as novas variantes, mas não quer dizer que não funciona”, afirma.

O Comprova também conversou com o infectologista e pesquisador da Fiocruz Julio Croda. Segundo ele, as publicações checadas mentem ao tirar de contexto os dados do estudo para sugerir que a vacina perde eficácia completamente com o tempo ou, em alguns casos, que ela chegaria a ter uma proteção “negativa”.

“Esse estudo não traz nada diferente do que a gente já sabe: a perda de proteção ao longo do tempo. A Organização Mundial de Saúde e o próprio Ministério da Saúde já recomendam, para alguns grupos vulneráveis, duas doses de vacina para que seja garantida a proteção mais duradoura”, afirma.

Comprovadamente seguras

Em nota enviada ao Comprova, o Ministério da Saúde afirmou que as vacinas contra a covid-19 são comprovadamente seguras e eficazes, desenvolvidas para reduzir hospitalizações e mortes causadas pela doença, que resultou em uma crise global de saúde pública. “A vacinação em massa foi crucial para controlar a pandemia, reduzindo significativamente a morbimortalidade associada à doença”, destacou.

Segundo a pasta, a covid-19 continua sendo uma das principais causas de mortalidade por doenças infecciosas no Brasil, com cerca de 69 óbitos semanais, principalmente entre não vacinados ou aqueles com esquema vacinal incompleto ou atrasado, incluindo crianças.

“A redução dos casos graves e óbitos em comparação aos primeiros anos da pandemia é um reflexo direto de uma campanha de vacinação eficaz. É importante esclarecer que o estudo de Delaunay et al. (2024), citado na demanda do veículo, avaliou a eficácia das vacinas contra a covid-19 na prevenção de infecções sintomáticas em pessoas com 60 anos ou mais, atendidas em serviços de saúde primária na Europa durante o outono e inverno de 2022 e 2023. Os resultados reforçam evidências de pesquisas anteriores e validam a estratégia atual do Ministério da Saúde, que inclui vacinação anual ou semestral para grupos prioritários e a conclusão do esquema vacinal primário para crianças”, acrescentou o Ministério da Saúde.

O Comprova entrou em contato com o site Médicos Pela Vida e a página 5º Elemento, mas não houve retorno.

Responsáveis pelas publicações

O Médicos pela Vida (MPV) é um movimento criado a partir da pandemia que diz reunir médicos de diferentes especialidades que defenderam o uso de medicamentos sem comprovação científica de eficácia para tratar a doença, como a ivermectina e a hidroxicloroquina. Após a pandemia, o MPV segue publicando conteúdos – vários dos quais com caráter duvidoso (1, 2 e 3), conforme apurado pelo Comprova em diferentes ocasiões.

O Médicos pela Vida também já foi condenado após denúncia do Ministério Público Federal (MPF) em 2023, por divulgação de “manifesto” em que fazia defesa do chamado “tratamento precoce” contra covid. A organização foi condenada a pagar R$ 55 milhões por danos morais coletivos e à saúde. O recurso aguarda julgamento no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4).

Já o Estúdio 5º Elemento é um programa on-line que discute temas como política, saúde e a “cultura woke” (termo inglês frequentemente utilizado para dar conotação de insensatez ou extremismo a pautas politicamente liberais, como feminismo ou ambientalismo, por exemplo). Nos vídeos publicados, os integrantes do canal também questionam temas como a mudança climática, vacinas contra a covid-19, pautas feministas etc.

Conforme apuração feita pelo Comprova, um dos integrantes do Estúdio 5º Elemento é Arthur Mario Pinheiro Machado. Em 2018, Machado foi preso pela Polícia Federal no âmbito da Operação Rizoma, um desdobramento da Operação Lava Jato. Ele foi apontado como líder de um esquema criminoso de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e corrupção por meio de fraudes que geraram prejuízos aos fundos de pensão – uma movimentação que passaria dos R$ 20 milhões em propinas.

Machado também foi candidato a deputado federal pelo Republicanos-SP em 2022, mas não se elegeu.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Estadão classificou o mesmo post como enganoso. O Comprova já desmentiu outra publicação do Médicos pela Vida, que afirmava falsamente que o vírus da covid-19 foi criado em laboratório. Além disso, o Comprova verificou e desmentiu uma publicação nas redes sociais que alegava que a vacina da AstraZeneca continha varíola dos macacos. Também identificou que publicações usaram um artigo do site suíço Die Weltwoche para distorcer documentos vazados do Instituto Robert Koch (RKI), alegando incorretamente que a pandemia foi uma “fraude”.

Saúde

Investigado por: 2024-08-27

É falso que a vacina AstraZeneca transmita varíola dos macacos

  • Falso
Falso
Publicação mente ao afirmar que a vacina contra a covid-19 fabricada pela AstraZeneca contenha varíola dos macacos (em inglês, monkeypox ou mpox). O post destaca um trecho da bula que cita o “adenovírus de chimpanzé” na composição do imunizante e o associa à doença. Na realidade, esse adenovírus não tem qualquer relação com a mpox.

Conteúdo investigado: Publicação destaca a bula da AstraZeneca e relaciona o item “adenovírus de chimpanzé”, que aparece na composição da vacina, com a varíola dos macacos.

Onde foi publicado: Telegram e X.

Conclusão do Comprova: É falso que a vacina AstraZeneca tenha varíola dos macacos. Na verdade, o imunizante contém um adenovírus recombinante de chimpanzé, um vírus sem relação com o que causa a mpox. Essa informação foi confirmada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e dois especialistas consultados pelo Comprova.

O adenovírus usado na vacina serve apenas para carregar o material genético do coronavírus. É assim que a injeção causa uma resposta imunológica na pessoa vacinada, de acordo com Anvisa e Fiocruz.

O vírus contido na vacina foi modificado para não se replicar no nosso corpo – ou seja, ele não é capaz de causar doenças. Mesmo se fosse, o vírus é da família Adenoviridae, diferente do que causa a mpox, que é da família Poxviridae.

A reportagem tentou contato com a conta do X e do Telegram que compartilharam o conteúdo, mas não havia espaço para envio de mensagem.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No Telegram, a publicação teve mais de 5 mil visualizações até o dia 26 de agosto de 2024. Já no X, na mesma data, o conteúdo alcançava a marca de 19,2 mil visualizações, 808 curtidas e 326 compartilhamentos.

Fontes que consultamos: Anvisa e Ministério da Saúde, instituições que trabalham com o imunizante, além de Fiocruz, AstraZeneca, o professor Aguinaldo Roberto Pinto, do departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e o médico infectologista Keny Colares, consultor da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP).

Adenovírus e mpox são vírus diferentes

Ouvido pelo Comprova, Aguinaldo Roberto Pinto, professor do departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da UFSC, destacou que o adenovírus e a mpox são dois vírus distintos, portanto, não há a possibilidade do imunizante causar a varíola dos macacos.

Ele explicou que a AstraZeneca é, de fato, feita a partir de um adenovírus que foi isolado de chimpanzés, mas que teve seu genoma modificado em laboratório de modo que não tenha capacidade de se multiplicar em seres humanos, conferindo assim segurança a este tipo de imunizante.

O professor acrescentou que as vacinas, de modo geral, são produzidas a partir de microrganismos mortos, microorganismos atenuados, RNA mensageiro e tipos de adenovírus que são incapazes de se replicar.

Relação de mpox com macacos é equivocada

Apesar de ser popularmente conhecida como “varíola dos macacos”, a transmissão da mpox não está relacionada a esses animais. De acordo com o Ministério da Saúde, o nome vem da descoberta inicial do vírus em macacos em um laboratório da Dinamarca, em 1958.

O Ministério da Saúde destaca que, embora o animal reservatório do vírus – no qual vive e se multiplica o agente causador da mpox – seja desconhecido, os principais associados são roedores, como os esquilos das florestas tropicais da África, principalmente da África Ocidental. Atualmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) também aponta ratos como animais suscetíveis a este tipo de varíola. No entanto, as “transmissões do surto atual, que atingiram mais de 75 países, foram atribuídas à contaminação de pessoa para pessoa, com contato próximo”, cita o órgão.

O médico infectologista e consultor da ESP Keny Colares disse que até o termo monkeypox é inadequado. “Ficou como se fosse um vírus de macacos, mas, na verdade, é uma doença humana”, afirmou.

“Esse vírus foi descoberto pela primeira vez em pessoas que tinham contato com macacos e achava-se que a doença era desse animal. Na verdade, ele é muito mais um vírus que causa doença humana e que, eventualmente, deu em algum macaco e, na época que esse vírus foi descoberto, ganhou esse nome de monkeypox e agora é difícil de voltar atrás”, contextualizou.

Vacina não é mais usada no Brasil

Segundo a Anvisa, a vacina AstraZeneca, registrada junto ao órgão em março de 2021, teve seu registro válido por três anos, até março de 2024. Quando este registro chegou ao fim, não houve pedido de renovação por parte da empresa e, por isso, a autorização para o uso em território nacional foi cancelada. Ou seja, o imunizante não é mais aplicado no Brasil.

A agência explicou que foi uma decisão apenas comercial, a eficácia e a segurança da vacina não mudaram.

A Fiocruz informou que mais de 190 milhões de doses da vacina foram aplicadas no país no período de três anos, e que a vacina “foi considerada uma estratégia eficaz do Ministério da Saúde para salvar vidas em momento de alto risco de doença grave pela covid-19”.

O Ministério da Saúde, em nota publicada no dia 3 de maio de 2024, confirmou que desde dezembro de 2022, com a queda de hospitalizações e mortes em decorrência da covid-19, a Astrazeneca deixou de ser adquirida. A pasta passou a dar preferência para a aquisição de vacina de outras plataformas, “conforme a disponibilidade das produtoras e recomendações da Câmara Técnica Assessora de Imunizações (CTAI)”.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Reuters e Aos Fatos confirmaram que é falso que a vacina AstraZeneca cause varíola dos macacos. O Comprova explicou o que é a mpox, doença que levou a OMS a declarar emergência global.

Saúde

Investigado por: 2024-08-26

Publicação tira de contexto fala da ministra da Saúde sobre vacinação contra mpox

  • Enganoso
Enganoso
Post engana ao comparar a não obrigatoriedade da vacina contra a mpox com a exigência de imunização contra a covid-19 durante a pandemia, alegando que Jair Bolsonaro (PL) teria sido perseguido quando presidente. A publicação reproduz uma imagem da tela da CNN Brasil no momento em que o canal exibia uma entrevista com a ministra da Saúde, Nísia Trindade. Ela explicava que não há indicação de imunização em larga escala porque o contágio da mpox se dá através de contato, diferentemente da covid-19, cuja transmissão é de ampla difusão.

Conteúdo investigado: Uma imagem publicada no TikTok mostra o momento em que a ministra da Saúde, Nísia Trindade, concedia entrevista ao programa Live CNN. A chamada da reportagem é “Mpox – Ministra: “Não há recomendação de vacinação em massa”. Sobre a captura, o autor do post escreve “Agora não é mais obrigatória a vacina? Mas perseguiram tanto o Bolsonaro por ter falado isso. Narrativa esquerdopata que fala, né?”

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: A ministra da Saúde, Nísia Trindade, não comentou sobre a vacinação contra a covid-19 durante a entrevista que concedeu à CNN, no dia 21 de agosto. A pauta da conversa de pouco mais de seis minutos foi, na verdade, a mpox. Na ocasião, Nísia informou que no momento não há recomendação de vacinação em massa contra a doença.

Na imagem é possível ver o nome “mpox” no texto fixado na tela pela emissora. A palavra aparece escrita em branco sobre um fundo vermelho. Abaixo, está a afirmação da ministra: “Não há recomendação de vacinação em massa”. Ela se referiu à mpox, portanto, e não à covid-19. Trindade argumentou, durante a entrevista, que não há indicação de imunização em larga escala porque a transmissão da mpox é através de contato e não uma transmissão de ampla difusão.

A ministra explicou que até aquela data havia a confirmação de 700 pessoas infectadas pelo vírus mpox e que desenvolveram a doença. Ela afirmou, ainda, que não há nenhum registro, no Brasil, da cepa 1B, considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a mais perigosa. Segundo Nísia, o Ministério da Saúde negocia a aquisição de 25 mil doses com a Organização Panamericana de Saúde (Opas).

Na sequência, ela adiantou que o Ministério da Saúde e o Ministério da Tecnologia e Inovação estão trabalhando juntos para o desenvolvimento de uma vacina contra a mpox, que ainda está em fase de estudos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Devido ao tempo de desenvolvimento da vacina, ela não pode ser disponibilizada para os casos atuais. A ministra reconheceu a importância do imunizante, assim como estratégias como a “biblioteca de vacinas”, que visa a antecipar respostas a futuras ameaças à saúde pública.

O autor da publicação enganosa foi contatado mas não respondeu.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 23 de agosto, o vídeo no TikTok acumulava 35,2 mil visualizações, 1.359 curtidas, 226 compartilhamentos e 78 comentários.

Fontes que consultamos: Utilizamos a busca reversa de imagens e encontramos uma publicação da CNN no X, com um corte da entrevista. Na sequência buscamos os termos “CNN, ministra da Saúde, mpox” no Google e localizamos o vídeo publicado no canal da emissora no YouTube. O site do Ministério da Saúde também foi consultado para levantar informações sobre a mpox e a covid-19.

Mpox

A doença entrou em discussão porque no dia 14 de agosto a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a mpox como Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII). O Ministério da Saúde explicou que “o alerta é feito para criar uma resposta internacional coordenada e colaborativa para lidar com a doença e não significa que necessariamente ocorrerá uma nova pandemia”.

O site do Ministério da Saúde informa que a principal forma de contágio da doença ocorre por meio de “exposição próxima e prolongada (abraços, beijos, relação sexual), quando existem lesões na pele, tais como erupções cutâneas, crostas, feridas e bolhas, ou fluidos corporais (como secreções e sangue) em uma pessoa infectada”.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já desmentiu boatos sobre a vacinação contra covid-19 em uma postagem que desinformou ao dizer que pesquisadores descobriram relação entre vacina e covid longa. E também publicou um Comprova Explica sobre a mpox.

Comprova Explica

Investigado por: 2024-08-20

Entenda o que é a mpox, doença que levou OMS a declarar emergência global

  • Comprova Explica
Comprova Explica
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou novamente a mpox como Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), após ter rebaixado seu status em maio de 2023 devido à queda no número de casos. A doença, também conhecida como varíola dos macacos, já havia alcançado o mais alto nível de alerta em julho de 2022.

Conteúdo analisado: Mpox volta a ser considerada emergência de saúde pública internacional e publicações nas redes sociais disseminam desinformação sobre o tema.

Comprova Explica: Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a mpox como Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII). O status já havia sido dado em julho de 2022, mas fora rebaixado em maio de 2023, após queda no número de casos.

A mpox é uma doença zoonótica viral, ou seja, que pode ser transmitida entre animais e pessoas. No Brasil, apenas neste ano, já foram registrados 709 casos; e 16 pessoas morreram desde 2022. Como o assunto está no noticiário, posts de desinformação começaram a circular e, contra isso, a seção Comprova Explica traz detalhes sobre o que é a doença e como ela é transmitida, entre outros pontos.

Quais são os sintomas mais comuns da mpox?

De acordo com o Instituto Butatan, a mpox se inicia com uma fase que se assemelha a uma gripe, em que a pessoa apresenta febre, dor de cabeça e dor no corpo, calafrios, exaustão, que podem durar em média três dias. Na etapa seguinte, surgem lesões na pele que progridem por cinco estágios: mácula, pápula, vesícula, pústula e, finalmente, crosta, que é o estágio final, quando as lesões caem.

Como é transmitida a mpox?

Por ser uma doença viral, ela pode ser transmitida por meio do contato com pessoas, animais e objetos infectados ou contaminados.

Segundo o Ministério da Saúde, a transmissão é mais propensa entre pessoas e animais quando há contato direto com a pele e secreções (pus, sangue), ou exposição próxima e prolongada com gotículas e demais secreções respiratórias. Vale reforçar que, em caso de lesões na boca, a saliva também pode ser infectante.

Quanto aos objetos, eles se tornam um risco após o contato recente com pessoas contaminadas, exigindo atenção principalmente quanto a roupas, toalhas, roupas de cama, pratos e talheres, e itens de higiene pessoal.

A pessoa doente pode transmitir a doença desde o momento em que os sintomas começam até a erupção ter cicatrizado completamente e uma nova camada de pele se formar.

Risco de morte

Segundo o infectologista, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Julio Croda, no continente africano o cenário é mais crítico porque lá a doença também acomete crianças, quadro que não é tão visto nos demais países.

“Em termos de mortalidade, [ocorrem] principalmente na África. A taxa de mortalidade é maior porque acomete também crianças, diferente do acometimento que ocorre no Brasil, na Europa e em outros países”, pontuou.

Segundo a Save the Children, cerca de dois terços das infecções por mpox na República Democrática do Congo (RDC), que atualmente registra cerca de 90% dos casos notificados, ocorrem em pessoas com menos de 15 anos.

Ainda de acordo com a organização, a taxa de mortalidade entre crianças é quase quatro vezes superior à de adultos. O surto, que já causou mais de 500 mortes no país, tem sobrecarregado o sistema de saúde e levado à perda de milhares de crianças.

Os especialistas do CDC África acreditam que o maior número de casos e mortes entre crianças provavelmente se deve à falta de proteção da vacina contra a varíola, que não é aplicada desde 1980 na região, e porque cerca de 40% das crianças estão desnutridas, o que atrapalha o combate ao vírus.

No Brasil, o infectologista aponta que a transmissão é mais comum através de relações sexuais, pois há maior troca de fluídos; e as mortes acontecem com mais frequência em pacientes imunossuprimidos, considerados o grupo de risco.

“A transmissão ocorre nesse grupo, mas o óbito acontece principalmente no paciente que vive com o HIV e está imunossuprimido”, disse Croda.

Esse quadro também é visto no resto do mundo. Já na África, segundo o especialista, a mortalidade é maior, justamente por causa ds variante que acomete também as crianças.

“No caso da África existe uma mortalidade maior, porque [a mpox] acomete também crianças, e tem uma transmissão domiciliar que não é vista no resto do mundo”, esclareceu o infectologista.

Há vacina para mpox?

A vacina pré-exposição existe e é priorizada para pessoas do grupo de risco, que são mais propensas a evoluir para quadros graves da doença. São elas:

  • Pessoas vivendo com HIV/aids (PVHA); com idade igual ou superior a 18 anos; e com status imunológico identificado pela contagem de linfócitos T CD4 inferior a 200 células nos últimos seis meses. Linfócitos T CD4, também conhecidos como células T auxiliares, são um tipo de glóbulo branco essencial para o sistema imunológico, que ajuda a coordenar a resposta imune do corpo contra infecções ao ativar outras células imunológicas.
  • Profissionais de laboratório que trabalham diretamente com Orthopoxvírus em laboratórios com nível de biossegurança 2 (NB-2), de 18 a 49 anos de idade.

A vacina pós-exposição é aplicada em pessoas que tiveram contato direto com fluidos e secreções corporais de pessoas com suspeitas ou confirmadas para mpox, cuja exposição seja classificada como de alto ou médio risco, conforme recomendações da OMS, mediante avaliação da vigilância local.

Como se prevenir

A melhor forma de prevenção é evitar o contato direto com pessoas contaminadas.

Outras medidas, como o uso de máscara cobrindo boca e nariz, evitar ambientes fechados e aglomerações, além de higienizar as mãos frequentemente, também são recomendadas.

O que significa a emergência sanitária declarada pela OMS? 

A declaração de uma ESPII da OMS indica que uma situação de saúde pode constituir um risco de saúde pública para outros países, devido à disseminação de uma doença, o que requer uma resposta internacional coordenada e imediata.

A Emergência de Saúde foi decretada pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, devido ao aumento dos casos de mpox na República Democrática do Congo e em um número crescente de países na África.

Esta é a segunda vez que foi declarada ESPII nos últimos dois anos para a mpox.

Em resposta à medida da OMS, o governo brasileiro estabeleceu o Centro de Operações de Emergências (COE Mpox), que tem como objetivo fiscalizar, centralizar e coordenar as ações de monitoramento e resposta à situação epidemiológica em todo o território nacional.

Histórico da doença

A primeira declaração de Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) para mpox feita pela OMS ocorreu em julho de 2022.

Qual é a diferença entre a declaração atual e uma pandemia?

De acordo com a OMS, uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional é o mais alto nível de alerta da Organização.

A ESPII é considerada, nos termos do Regulamento Sanitário Internacional (RSI), “um evento extraordinário que pode constituir um risco de saúde pública para outros países devido à disseminação internacional de doenças; e potencialmente requer uma resposta internacional coordenada e imediata”.

Já uma pandemia, ainda segundo a OMS, é a disseminação mundial de uma nova doença e o termo passa a ser usado quando uma epidemia, surto que afeta uma região, se espalha por diferentes continentes com transmissão sustentada de pessoa para pessoa.

O infectologista Julio Croda também esclarece:

“O decreto de emergência está muito associado a uma resposta mais robusta, principalmente no continente africano”, explicou o especialista.

Segundo Croda, existe um surto relacionado à nova variante da doença, chamada clado 1B, que parece ser mais grave se comparada com o clado 2, que circulou anteriormente.

Além disso, defende que existe uma dificuldade financeira de fazer o vacinamento de contato e contenção do surto, e também de disponibilizar vacinas suficientes para esse grupo populacional, principalmente na África, continente mais atingido pela doença atualmente.

O especialista ainda ajuda a diferenciar a pandemia de declaração de emergência: “A pandemia se configura por uma transmissão de uma doença em forma de surto em diversas regiões do globo. O que, por enquanto, não é o caso da mpox associada ao clado 1B”.

Quantos casos da doença há no Brasil? Onde estão localizados?

Dados do governo federal apontam que de 1º de janeiro a 14 de agosto de 2024 foram registrados 709 casos confirmados ou prováveis da doença no Brasil.

Os números deste ano são bem menores do que os registrados no ano passado, quando foram notificados mais de 10 mil casos confirmados ou prováveis da mpox.

Desde 2022, ano em que a doença teve pico no Brasil, 16 pessoas morreram, sendo o óbito mais recente registrado em abril de 2023.

Procurado, o Ministério da Saúde informou que agora, com a criação do COE Mpox, serão realizadas reuniões semanais para debater o assunto, que resultarão também em boletins mais precisos e transparentes para informar a população sobre o cenário da doença no Brasil.

Fontes consultadas: Para esclarecer o assunto, o Comprova consultou o Ministério da Saúde e o infectologista, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Julio Croda.

Por que o Comprova explicou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está gerando muitas dúvidas e desinformação, o Comprova Explica. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: Outras iniciativas como o g1, também explicaram sobre o que é mpox e sobre a emergência sanitária causada pela doença. Além disso, o UOL, Terra e Agência Brasil também produziram reportagens acerca do assunto e a Organização Pan-Americana da Saúde criou uma seção de perguntas e respostas sobre a mpox.

Saúde

Investigado por: 2024-08-15

Não há indicação de ivermectina no tratamento contra câncer e como medida pós-vacina

  • Falso
Falso
A ivermectina deve ser usada contra doenças relacionadas a parasitas e vermes. Ao contrário do que apontam peças de desinformação, o medicamento não é indicado para tratamento contra outras doenças, como câncer, ou como uma medida pós-vacinação de covid-19. Os imunizantes são seguros e as reações comuns às doses, como dor local e febre, são consideradas leves e passageiras.

Conteúdo investigado: Postagens afirmam que pesquisas científicas indicam que a ivermectina “pode curar câncer, Parkinson, danos causados por vacinas e muito mais”. Uma das publicações questiona: “Dá para entender porquê (sic) demonizam tanto esse medicamento secular?”.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: A ivermectina é um medicamento recomendado para tratamento contra doenças provocadas por parasitas e vermes e seu uso não é indicado para o tratamento de “lesões” supostamente causadas por vacinas contra a covid-19, ao contrário do que apontam publicações falsas nas redes sociais. Não há evidência de que os imunizantes provocam este tipo de problema ao corpo humano, mas sim reações passageiras, como febre e inchaço local.

Em nota, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmou que estudos demonstram que a ivermectina funciona no tratamento das seguintes infecções, causadas por parasitas: elefantíase, lombriga, sarna, piolho, estrongiloidíase intestinal e oncocercose.

Segundo o órgão, as indicações “são aprovadas a partir da apresentação de dados e estudos que demonstrem a relação de eficácia e segurança para as indicações pretendidas pela empresa registrante”. “Não há qualquer indicação aprovada pela Anvisa para uso da ivermectina em quadros diferentes dos citados acima”, destacou a agência.

Também consultada pelo Comprova, a Food and Drug Administration (FDA), agência norte-americana que regula medicamentos quanto à eficácia e segurança, afirmou, como a Anvisa, que a ivermectina é aprovada no país apenas para tratar pessoas com problemas causados por parasitas.

A reportagem entrou em contato com os autores de duas postagens sobre o assunto que viralizaram no X, mas não houve retorno até a publicação. Após o pedido de resposta do Comprova, um dos conteúdos foi apagado. A postagem também mostrava contraponto que informava o risco do uso da ivermectina para tratamentos em casos que não são recomendados oficialmente.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 14 de agosto, duas publicações sobre o tema no X alcançaram juntas 295,3 mil visualizações, 16 mil curtidas e 4 mil compartilhamentos.

Fontes que consultamos: Entramos em contato com Anvisa, FDA, Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e entrevistamos o médico Igor Thiago Queiroz, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Também consultamos o site do Ministério da Saúde.

Vacina contra covid-19 é segura

A publicação verificada alega que “a ivermectina mostrou-se útil no tratamento de lesões causadas pelas vacinas de mRNA para Covid-19”. O texto falso não detalha quais seriam essas lesões. No entanto, o infectologista Igor Thiago Queiroz reafirma o que já tem sido apontado pela comunidade científica: a vacina contra a covid-19 é segura e não causa lesões.

“Pode provocar alguns efeitos colaterais, principalmente locais, dor local, mal-estar, às vezes um pouco de febre baixa, que seriam esperados por muitas vacinas comumente”, disse. “Ela não tem como provocar doença, porque é uma partícula do vírus. É um RNA mensageiro para estimular a produção de anticorpos”.

De acordo com Queiroz, os efeitos causados pela vacina são considerados leves e podem ser contornados com uso de medicamentos como paracetamol.

As peças de desinformação relacionadas às vacinas contra a covid-19 são comuns. O Comprova já mostrou caso de postagem que engana ao associar sintomas da covid longa às vacinas. Entre as condições provocadas pela covid estão perda de memória e fadiga; não há comprovação que a vacina também cause esses sintomas. Outra checagem apontou ser enganoso afirmar que miocardite e pericardite ocorrem apenas em pessoas vacinadas contra a covid-19.

Ivermectina não é recomendada para tratamento contra câncer

As peças de desinformação também alegam que a ivermectina pode curar câncer. Entretanto, em nota, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica afirmou que “não há embasamento científico para essa associação”. A entidade pontuou que atualmente ”existem tratamentos eficazes e seguros para a maioria dos tipos de câncer” e destacou que a substituição de terapias comprovadas por alternativas sem evidência científica pode criar riscos para os pacientes.

Em julho, o Ministério da Saúde publicou nota afirmando que a ivermectina não deve ser usada no tratamento contra o câncer.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Estadão Verifica publicou, em abril de 2023, uma checagem que também mostrou que a ivermectina não pode ser considerada tratamento contra câncer. Na área de saúde, o Comprova mostrou que uma declaração de Drauzio Varella foi tirada de contexto para sugerir que o médico defende o uso de drogas e que documentos de órgão ligado ao governo alemão não apontam que a pandemia foi “fraude”.

Esta verificação contou com a colaboração de jornalistas que participam do Programa de Residência no Comprova.

Contextualizando

Investigado por: 2024-08-07

Documentos de órgão ligado ao governo alemão não apontam que pandemia foi “fraude”

  • Contextualizando
Contextualizando
Publicações nas redes sociais usam artigo do site suíço Die Weltwoche para distorcer atas vazadas do Instituto Robert Koch (RKI), órgão oficial de saúde da Alemanha, e alegar que a pandemia foi uma “fraude”. Os documentos revelam discussões internas sobre a comunicação e gestão da pandemia de covid-19 na Alemanha entre 2021 e 2024. Entenda o contexto.

Conteúdo analisado: Postagens alegam que protocolos do órgão oficial de saúde da Alemanha negam a pandemia. Uma publicação no X, com o título “Artigo publicado no jornal suíço ‘Weltwoche’” alega no texto que “O quadro é chocante. Fica claro: Não foi ‘a ciência’ que aconselhou os políticos, mas os políticos que deram instruções aos cientistas. E juntos eles enganaram o público”.

Onde foi publicado: X.

Contextualizando: Um recente vazamento de documentos do Instituto Robert Koch (RKI), órgão público alemão que esteve na linha de frente durante a pandemia de covid-19, tem repercutido entre comunicadores na Alemanha. Os chamados “Protocolos RKI” divulgam atas de reuniões do órgão e e-mails do período de 2021 a 2024. Nas mensagens, os responsáveis discutem ações de saúde e estratégias de comunicação, mas não chegam a insinuar que a pandemia foi uma “fraude”, ao contrário do que afirma o post.

Órgão público que figura entre os mais importantes na área de saúde pública na Alemanha, o RKI teve arquivos vazados em 22 de julho por um grupo liderado pela jornalista Aya Velázquez. Anteriormente, o próprio órgão havia disponibilizado as atas de janeiro de 2020 a abril de 2021 (em alemão), divulgadas em 30 de maio após um pedido via Lei da Liberdade de Informação (IFG). Na época, o órgão disse que divulgaria os registros restantes “após análise adequada e participação de terceiros”.

Os novos documentos abrangem o período de 2020 a 2023, que ainda não estavam disponíveis no site do RKI. Segundo Aya Velázquez, os documentos foram obtidos por meio de um ex-funcionário do Instituto. O primeiro vazamento dos Protocolos RKI, ou RKI Files, como ficaram conhecidos, reuniu todas as atas de reuniões em arquivo de mais de 10GB disponibilizado livremente. Dias depois, veio a nova fase, o que a jornalista chamou de “vazamento dentro de um vazamento”. O novo conjunto de dados compreende e-mails enviados pelo órgão e até correspondências internacionais.

O jornal Die Weltwoche, que tem versões alemã e suíça, utilizou o vazamento para acusar o governo de “criar” a pandemia. O veículo publicou um artigo escrito por Philipp Gut e intitulado “Protocolos não editados do RKI: Não houve “pandemia dos não vacinados”. Não houve pandemia alguma. O governo federal deu instruções à “ciência” – e juntos eles enganaram o público”, que foi amplamente compartilhado no X.

O veículo em questão é um periódico alinhado à direita comandado pelo político conservador suíço Roger Köppel, editor-chefe e acionista majoritário. Durante a pandemia, o Die Weltwoche, chegou a questionar a eficácia das vacinas e a apoiar políticos que criticaram abertamente a atuação das autoridades de saúde, como o ex-presidente Donald Trump.

Uma das acusações feitas pelo Die Weltwoche ao governo após o vazamento dos protocolos é de que os órgãos da Alemanha teriam causado pânico na população sobre uma suposta “pandemia de não vacinados”. O termo aparece na ata de uma reunião feita em 5 de novembro de 2021.

No trecho em questão, os presentes discutem estratégias de comunicação. “A mídia está falando de uma pandemia dos não vacinados. Do ponto de vista técnico, isso não é correto, toda a população contribui. Isso deve ser abordado na comunicação?”, diz no documento. O texto também afirma que o termo pandemia de não vacinados (em alemão) estaria sendo usado por um ministro do país, por isso, não era algo fácil de ser corrigido. Em seguida, a comunicação discute estratégias para incentivar a vacinação.

O ministro citado no documento é o ex-ministro federal da Saúde, Jens Spahn (em alemão). Após a divulgação dos Protocolos RKI, ele falou a respeito da “pandemia de não vacinados” para a ZDF (em alemão), emissora pública de televisão da Alemanha. “O que eu quis dizer com isso é que naquela época, nas unidades de terapia intensiva, víamos principalmente pessoas sem vacinação que apresentavam casos graves e extremamente graves”, argumentou. Segundo ele, essa situação ameaçava sobrecarregar o sistema de saúde.

Pouco antes, em 29 de outubro de 2021, a ata afirma que o “ministro (Jens Spahn) recomendou a todos a dose de reforço e a vacinação dupla de recuperados”, mas ainda não há dados do FG33 e da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre o segundo. O RKI destaca ainda que não havia feito recomendações nesse sentido pelo Comitê Permanente de Vacinação (STIKO). Em seguida, aparece a pergunta “O que realmente traz benefício adicional?”

Não há nas recomendações oficiais ou relatórios semanais de 2021 do RKI menção às recomendações feitas pelo ministro.

Em 23 de julho, o RKI emitiu um posicionamento em que critica o vazamento. “O RKI desaprova expressamente na medida em que dados pessoais e segredos comerciais e de empresas de terceiros sejam publicados ilegalmente nestes conjuntos de dados e, em particular, os direitos de terceiros sejam violados”, escreveu. O órgão afirmou que não verificou os dados vazados e destacou que ainda vai publicar as atas de maio de 2021 a julho de 2023 após revisão, mesmo após o RKI Files

Fontes consultadas: Consultamos veículos alemães para saber mais sobre os Protocolos RKI e procuramos atas e informações do próprio Instituto. As notícias nos levaram até a origem desses documentos, publicados pela jornalista independente Aya Velazquéz em 22 de julho. Uma busca pelas contas oficiais de Velazquéz nos permitiu ter acesso aos arquivos disponibilizado, onde foi feita uma busca pelos trechos utilizados para criticar o órgão.

Também buscamos o pronunciamento oficial do órgão e das figuras envolvidas.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: Em março, o RKI Files também gerou uma onda de acusações e conteúdos enganosos, como foi mostrado pelo Tagesschau (em alemão). Em abril, o Comprova publicou texto em que explica que o órgão de saúde alemão não determinou que lockdown era prejudicial, nem que covid matava igual à gripe. Em maio, a Folha de S.Paulo publicou reportagem mostrando que era falso que governo da Alemanha tenha considerado a pandemia uma fraude.

 

Este Contextualizando contou com a colaboração de jornalistas que participam do Programa de Residência no Comprova.

Saúde

Investigado por: 2024-07-04

Declaração de Drauzio Varella é tirada de contexto para sugerir que médico defende o uso de drogas

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso que o médico Drauzio Varella tenha dito que drogas fazem bem. Vídeo tira de contexto uma fala do médico durante uma entrevista concedida ao podcast Podpah, em julho de 2022. Na ocasião, Drauzio comentava sobre como o tema drogas deveria ser abordado com crianças e adolescentes. O oncologista afirmou que a maneira de tratar o assunto com menores passa por não esconder que os entorpecentes causam prazer e, por isso, viciam. O médico, no entanto, não deixou de pontuar os malefícios do uso de entorpecentes.

Conteúdo investigado: Vídeo em que o prefeito da cidade de Chapecó (SC), João Rodrigues (PSD), critica um comentário feito pelo médico Drauzio Varella durante uma entrevista no podcast Podpah. A gravação mostra um trecho em que o oncologista explica como o tema drogas deve ser abordado com crianças. Segundo Rodrigues, Drauzio teria dito que “droga faz bem”.

Onde foi publicado: X e Telegram.

Conclusão do Comprova: O médico Drauzio Varella não disse que drogas fazem bem durante sua participação no podcast Podpah, em julho de 2022. Vídeo que circula nas redes sociais distorce um comentário do oncologista sobre como o tema drogas deveria ser abordado com crianças. Na entrevista, Drauzio mencionou que, ao tratar do assunto com menores de idade, é importante não esconder que os entorpecentes causam prazer e, por isso, são viciantes. O conteúdo omite o fato de que, em seguida, Varella também destacou os prejuízos à saúde decorrentes do uso de drogas.

A íntegra da entrevista tem quase duas horas de duração. Já o vídeo verificado exibe apenas um recorte do momento em que o médico comenta o tema drogas, o qual começou a ser abordado após Varella ter falado sobre os danos que o cigarro causa à saúde. A partir dos 47 minutos, o oncologista menciona qual seria a melhor maneira de falar sobre o assunto com crianças.

Os comentários do prefeito João Rodrigues a respeito da explicação de Drauzio foram feitos durante uma entrevista à Rádio Chapecó, dias após o médico participar do podcast. No recorte distorcido e compartilhado nas redes, Drauzio diz: “Você tem que ensinar a criança, dizendo assim: ‘Droga é bom’. É bom! Se não desse prazer, ninguém usava. Pra que que você ia jogar fumaça no pulmão se não tivesse prazer com ela? Pra que você ia cheirar um pó se não te desse prazer? Você vai cheirar pó de giz? Não vai, né?”.

A versão não exibe o restante do comentário do médico, que afirma, logo em seguida: “Agora, tem que educar. Educar significa o quê? Uma coisa: você tem 32 anos. Uma coisa é você fumar maconha aos 32 anos. Outra coisa é um menino de 12 [anos] porque aí isso vai interferir com a formação do sistema nervoso central dele. E isso é um problema que ele pode carregar pelo resto da vida, então, você não pode ser permissivo desse jeito”.

Logo depois, Drauzio explica como o uso de maconha por crianças e adolescentes afeta o lobo frontal, área do cérebro responsável pela tomada de decisões. Segundo o médico, o lobo frontal amadurece devagar e a maconha afeta essa região. “Então, é coisa pra adulto. E tem um outro problema, vicia, claro que vicia. Tudo que dá prazer vicia. Por quê? Porque o cérebro parte do princípio que se você está tendo prazer com aquilo é porque aquilo é bom pro organismo”, disse Varella.

Ao Comprova, por telefone, o prefeito de Chapecó afirmou não considerar a fala do médico Drauzio Varella fora de contexto. Ele ainda comparou a declaração do médico no início da pandemia, quando ele se referiu à covid-19 como “resfriadinho”, com as falas de Jair Bolsonaro sobre a doença, quando se referiu à covid diversas vezes como “gripezinha”. Drauzio, no entanto, se retratou e disse que avaliou mal o início da pandemia. Já Bolsonaro, não o fez.

A reportagem tentou entrar em contato com o perfil que publicou o vídeo verificado no X, mas não foi possível enviar mensagem.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até quarta-feira, a publicação tinha mais de 252 mil visualizações no X e 1.602 no Telegram.

Fontes que consultamos: Para esta checagem, buscamos a entrevista completa de Drauzio e fizemos uma busca reversa para identificar a pessoa que comenta as falas do oncologista.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O recorte fora de contexto da entrevista de Drauzio Varella ao Podpah foi checado ainda em 2022 pelo Aos Fatos, UOL Confere e pela Reuters. Em 2020, o Comprova classificou como enganoso um vídeo publicado pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES) que usava trechos de falas antigas de Drauzio sobre a pandemia.

Contextualizando

Investigado por: 2024-07-04

Frio e calor podem aumentar riscos de infarto e AVC; entenda

  • Contextualizando
Contextualizando
Especialistas apontam que calor e frio excessivos podem aumentar risco de infarto e AVC. Uma publicação no X compara duas reportagens que mostraram separadamente os efeitos de altas e baixas temperaturas na saúde das pessoas. Com a frase “The show must go on”, que significa “o show deve continuar”, o músico Roger Moreira insinuou que haveria contradição na cobertura jornalística sobre o tema. Nos comentários, usuários da rede social fazem relação dos problemas cardíacos com as vacinas contra a covid-19. Entretanto, estes efeitos adversos são conhecidos e raros.

Conteúdo analisado: Postagem do cantor e guitarrista Roger Moreira, da banda Ultraje a Rigor, traz capturas de tela de publicações feitas pelo portal Metrópoles com notícias que tratam sobre o impacto do frio e do calor para ocorrência de infarto e AVC. Ao comentar as reportagens, Roger escreveu em inglês: “The show must go on”.

Onde foi publicado: X.

Contextualizando: Uma postagem do artista Roger Moreira, da banda Ultraje a Rigor, compara duas reportagens do portal Metrópoles que abordam separadamente os efeitos do calor (publicada em outubro de 2023) e do frio (junho de 2024) para o corpo humano. O artista sugere contradição entre as matérias, mas especialistas e estudos consultados pelo Comprova apontam que tanto altas quanto baixas temperaturas podem aumentar os riscos de problemas cardíacos e acidente vascular cerebral (AVC).

Nos comentários, usuários da rede social sugerem que os problemas de saúde são, na verdade, causados por “inoculação em massa na população de uma certa substância experimental” e mencionam “grande experiência mundial”, em referências às vacinas contra a covid-19. O efeito colateral do imunizante é frequente alvo de desinformação. O principal argumento é quanto ao desenvolvimento de miocardite e pericardite em pessoas que são vacinadas, mas o Comprova já mostrou que este efeito adverso pós-vacinação é conhecido e raro.

A primeira reportagem do portal Metrópoles, intitulada “Altas temperaturas aumentarão mortes por infarto e AVC, aponta estudo” faz referência a um estudo feito por pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Já a segunda, intitulada “Casos de AVC e infarto aumentam no clima frio; veja como se prevenir”, utiliza dados do Instituto Nacional de Cardiologia (INC).

Roger já foi multado por declarações na internet. Em dezembro do ano passado, ele foi condenado a pagar R$ 60 mil e a se retratar em publicações nas redes sociais após comentários ofensivos sobre uma menina de 11 anos vítima de estupro. Em maio, o vocalista criou uma Vakinha intitulada “Pela liberdade de expressão” em que afirma estar sendo “pressionado e coagido pelo presente governo a calar a boca” e diz que as condenações tiveram viés político.

A reportagem entrou em contato com Roger, mas não houve retorno até a publicação.

Fontes consultadas: Pesquisamos os links originais das reportagens mencionadas no post, assim como as publicações usadas como base para os textos. Entrevistamos o cardiologista, coordenador assistencial e vice-diretor INC, Alexandre Rouge, o cardiologista e coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Sírio-Libanês Brasília, Cassio Borges, e a neurologista vascular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e da Sociedade Brasileira de AVC (SBAVC) Maramelia Miranda. Também entramos em contato com o artista responsável pelo post.

Médicos apontam aumento de risco de infarto e AVC no calor e no frio

Especialistas consultados pelo Comprova explicam que tanto o frio excessivo quanto as altas temperaturas podem aumentar os riscos de infarto e AVC. “O extremo calor faz com que os vasos se dilatem para a pessoa perder calor do corpo para o ambiente, para tentar resfriar o corpo. Isso é um mecanismo natural. Mas, com isso, a pessoa também perde mais líquido no calor, sua mais, a pessoa perde água e perde sais”, explica o cardiologista Alexandre Rouge, vice-diretor do INC.

Rouge afirma que este quadro leva à desidratação, que pode provocar arritmia cardíaca e queda de pressão (principalmente no caso de pessoas que já tenham diagnóstico de pressão alta e usam remédios, como diurético, para controle). A queda de pressão, por sua vez, diz o médico, pode desencadear outros eventos, como AVC e infarto.

De acordo com o cardiologista Cassio Borges, o frio pode provocar vasoconstrição, quando a musculatura do vaso se contrai e tem possibilidade de levar a aumento da pressão arterial. Este fator pode desestabilizar placas das coronárias ou dos vasos cerebrais. “Com isso, aumenta o risco dessas placas se romperem, formarem coágulos e isso levar a infarto do miocárdio, além de AVC. O frio também gera espasmos e contração nas artérias coronárias, nos vasos do coração, e também nos vasos cerebrais”, disse o cardiologista.

A neurologista vascular Maramelia Miranda explica que as duas matérias estão corretas e que “juntar os posts fazendo ironia com as informações serve para confundir os que leem”.

Segunda doença que mais mata no Brasil, o AVC é causado por um comprometimento nas veias ou artérias do cérebro e pode ser dividido em isquêmico, causado por uma obstrução em uma artéria cerebral, ou hemorrágico, quando acontece o rompimento de uma veia do cérebro. A especialista explica que a mudança de temperatura pode importar na pressão arterial, causando hipotensão ou hipertensão, um dos fatores que contribui para a ocorrência de um AVC.

Segundo a médica, as baixas temperaturas têm impactos mais significativos, principalmente com o aumento considerável dos casos de hemorragia. Entretanto, existem outras condições que podem aumentar a incidência de AVC, como a frequência cardíaca e a desidratação, que também ocorrem em altas temperaturas.

Mudanças climáticas e problemas cardíacos

A reportagem que trata sobre o impacto das altas temperaturas, citada no post de Roger, tem como base um estudo de pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, publicado na revista científica Circulation. A pesquisa aponta a perspectiva de que a quantidade de mortes cardiovasculares associadas ao calor extremo entre adultos nos Estados Unidos tenha aumento estatístico significativo nos próximos anos.

“Devido a uma combinação de aumento contínuo de dias de calor extremo, envelhecimento da população dos EUA e migração contínua para áreas mais quentes, prevê-se que o número de mortes cardiovasculares associadas ao calor extremo continue a aumentar nas próximas décadas”, aponta o levantamento.

Alexandre Rouge destaca que, com o aquecimento global, existem cada vez mais extremos de temperaturas, com invernos mais rigorosos e verões mais quentes. Por este motivo, diz o médico, é importante que as pessoas tenham cuidados, como a hidratação constante.

Já a reportagem que aborda os efeitos do frio menciona dados divulgados pelo INC. Uma publicação no site da entidade aponta que os índices de infarto podem aumentar em até 30%, principalmente quando a temperatura está abaixo de 14 graus. Segundo o instituto, pessoas com idade entre 75 e 84 anos e aquelas com doença coronariana prévia são mais vulneráveis nestes casos. O dado do INC também já foi publicado pelo Ministério da Saúde.

Questionado sobre a fonte dos dados, o INC encaminhou à reportagem estudos que, por exemplo, mostram aumento da mortalidade por infarto do miocárdio em São Paulo durante o inverno e a relação de temperatura com este tipo de evento.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: Dentro da temática de saúde, o Comprova já mostrou que post engana ao afirmar que Índia pediu pena de morte a cientista da OMS contrária ao uso da ivermectina contra covid-19 e o caso de outra publicação que também engana ao associar sintomas da covid longa às vacinas. Além disso, é enganoso afirmar que miocardite e pericardite ocorrem apenas em pessoas que receberam imunizante contra a covid.

Saúde

Investigado por: 2024-07-01

É enganoso que fundação de Bill Gates tenha financiado pesquisa para tornar gripe aviária transmissível para humanos

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Enganoso
É enganoso que a Fundação Bill & Melinda Gates tenha feito uma doação para uma universidade dos Estados Unidos com objetivo de pagar por estudo para tornar o vírus da gripe aviária (H5N1) capaz de infectar humanos. O financiamento, na realidade, estava ligado a uma pesquisa para analisar as mutações do vírus e criar alertas sobre uma possível pandemia. Além disso, o primeiro diagnóstico de H5N1 em humanos é de 1997 e a doação entre as instituições americanas foi registrada em 2009.

Conteúdo investigado: Publicação alega que o vírus H5N1, também conhecido como gripe aviária, deve ser a origem de uma nova pandemia que “globalistas estão planejando desencadear”. O autor afirma que parte do plano estaria ligada a uma doação de US$ 9,5 milhões da Fundação Bill & Melinda Gates para a Universidade de Wisconsin-Madison para tornar este vírus transmissível a humanos e outros mamíferos, e cita estudos conduzidos pelos pesquisadores Yoshihiro Kawaoka e Ron Fouchier. O post também alega que o coronavírus, que provocou a mais recente pandemia, foi modificado em laboratório.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: A Fundação Bill & Melinda Gates fez uma doação de cerca de US$ 9 milhões à Universidade de Wisconsin-Madison, em 2009, para financiar uma pesquisa com a finalidade de identificar mutações do vírus da gripe aviária (H5N1) que possam infectar humanos. A ideia era monitorar essas mutações na natureza e antecipar a possibilidade de uma pandemia e estratégias de saúde para combatê-la.

É enganoso, portanto, que o pagamento tenha sido feito com foco em estudo para tornar o H5N1 transmissível para seres humanos e, consequentemente, provocar deliberadamente uma pandemia. Bill Gates é um empresário e filantropo americano conhecido por ter sido um dos fundadores da Microsoft. Seu nome é frequentemente ligado a teorias conspiratórias de diversas naturezas.

Ao Comprova, o virologista Flavio Fonseca, do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), afirma que jamais foi notificado vazamento de vírus de laboratório nos estudos dos pesquisadores mencionados na postagem.

Segundo boletim de 8 de maio da Organização Mundial da Saúde (OMS), até o momento não há sinais de adaptação do vírus H5N1 que permitam transmissão entre humanos. Ainda de acordo com a OMS, a avaliação de risco à saúde pública representada pela gripe aviária continua no patamar baixo e de baixo a moderado para pessoas expostas a animais infectados. Como mostrou o Comprova, a transmissão para humanos é rara, mas pode acontecer por meio de contato direto com animais infectados ou inalação de secreções de animais doentes.

A publicação investigada foi feita no X, plataforma que não permite envio de mensagens diretas para usuários que não seguem a pessoa que tenta entrar em contato. Por este motivo, não houve contato com o responsável pelo post.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 28 de junho, a publicação no X alcançou 10,6 mil visualizações, 893 curtidas e 392 compartilhamentos.

Fontes que consultamos: O Comprova procurou inicialmente a Fundação Bill & Melinda Gates e a Universidade de Wisconsin-Madison, que se posicionaram por e-mail. As doações feitas pela fundação foram consultadas no site da instituição. Também foram consultadas publicações do National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID), Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos EUA, e OMS, além de sites especializados no tema, como a revista Science, matérias na imprensa e verificações já publicadas pelo Comprova.

A equipe também procurou o NIAID, o CDC, a agência Food and Drug Administration (FDA). O Comprova tentou contato com o virologista Yoshihiro Kawaoka, citado no post, mas não houve resposta. Houve tentativa de contato com Ron Fouchier, por meio da Erasmus University Medical Center. A instituição respondeu que o virologista não estava disponível para responder.

O Comprova também ouviu os virologistas Flávio Fonseca, da UFMG, e Amilcar Tanuri, do Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e o infectologista Renato Kfouri.

A OMS não retornou o contato.

Estudos não buscam desencadear pandemia em humanos, mas preveni-la

É verdade que a Fundação Bill & Melinda Gates fez doação de cerca de US$ 9 milhões à Universidade de Wisconsin-Madison. Uma publicação de 2009 feita pela universidade em seu site oficial informa que o recurso tinha a finalidade de financiar estudos para identificar mutações em proteínas virais que permitiriam que o vírus da gripe aviária se ligasse aos receptores humanos ou facilitasse a replicação eficiente em células humanas. O objetivo dos estudos era o de monitorar essas mutações na natureza para prever riscos de uma eventual pandemia.

O texto informa que o principal pesquisador do projeto é o virologista Yoshihiro Kawaoka, que atuaria ao lado de um time internacional de cientistas para buscar um método confiável para identificar ameaças de influenza à saúde humana, o que resultaria no desenvolvimento de uma resposta antecipada por parte dos sistemas de saúde, como a distribuição de compostos antivirais e o desenvolvimento e a produção de vacinas.

Ou seja, o objetivo da pesquisa era diferente do apontado na postagem investigada: não desencadear uma pandemia de gripe aviária em humanos, mas identificar os mecanismos por meio dos quais ela poderia surgir e preparar antecipadamente os mecanismos de proteção. A doação também foi divulgada no site da fundação.

Em nota, a Universidade Wisconsin-Madison negou relação da pesquisa com “tornar o H5N1 transmissível para humanos”. De acordo com a instituição, a pesquisa proporcionou informações que têm sido usadas para monitorar o vírus da gripe aviária que circula na natureza. O material foi construído com base em trabalhos anteriores de Kawaoka e seus colegas, que identificaram “crucial mutação que contribui para a letalidade do vírus da gripe aviária em mamíferos”. Ainda segundo a universidade, estes dados estão sendo usados pela OMS e pelo CDC para avaliar o potencial pandêmico do vírus.

Também por nota, a Fundação Bill & Melinda Gates alegou que as afirmações feitas na postagem são falsas. No site da instituição é possível acessar um arquivo com dados de doações já feitas. Estão registradas na tabela 32 doações para “University of Wisconsin” e “University of Wisconsin Foundation”, sendo que apenas uma, de 2009, trata, de acordo com o resumo divulgado, sobre gripe aviária. “Análise de alto rendimento de variantes da gripe aviária para potencial pandêmico”, informa a coluna que aponta o propósito das doações.

As pesquisas de ‘ganho de função’

A alegação feita no tuíte distorce o objetivo dos estudos, ao sugerir ligação com uma ação deliberada para provocar uma nova pandemia, tendo a Fundação Bill & Melinda Gates por trás.

A Universidade de Wisconsin-Madison informou ao Comprova que três estudos publicados conduzidos pelo virologista Yoshihiro Kawaoka foram, pelo menos em parte, financiados pelos US$ 9,5 milhões doados pela Fundação Bill & Melinda Gates. Os estudos foram publicados pelas revistas Nature e Science.

O Comprova enviou os estudos ao National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID), que faz parte do National Institutes of Health dos Estados Unidos (NIH), com questionamentos sobre a segurança das pesquisas e seus resultados. O NIAID respondeu que os questionamentos deveriam ser feitos aos pesquisadores que conduziram os estudos e ao CDC. Além dos três estudos de Yoshihiro Kawaoka, foi enviado ao órgão o trabalho The Multibasic Cleavage Site in H5N1 Virus Is Critical for Systemic Spread along the Olfactory and Hematogenous Routes in Ferrets, liderado por Ron Fouchier, e citado no conteúdo investigado.

O Comprova buscou os pesquisadores e o CDC, mas não houve resposta. O CDC disse que “não comenta sobre descobertas ou reivindicações feitas por indivíduos ou organizações externas ao CDC.”

Já o NIAID enviou um link para seu site com explicações mais genéricas sobre o tipo de estudo que envolve patógenos potenciais de pandemia (PPPs), como o H5N1, nos quais as pesquisas mencionadas se enquadram. São pesquisas conhecidas como “enhanced potential pandemic pathogen (ePPP) research” (pesquisa sobre patógenos pandêmicos potenciais aprimorados), um tipo de estudo que se enquadra nas chamadas pesquisas de “ganho de função” (“gain-of-function” [GOF] research). Os estudos da Universidade de Wisconsin se enquadram nesta categoria.

Segundo o texto, esse tipo de pesquisa busca entender a natureza fundamental das interações entre esses patógenos e o organismo humano, avaliar o potencial pandêmico de agentes infecciosos, como vírus, e informar sistemas de saúde pública voltados, por exemplo, à vigilância e ao desenvolvimento de vacinas e outras medidas médicas. O texto destaca que esse tipo de estudo envolve risco e exige uma supervisão rigorosa.

“Embora essa pesquisa seja intrinsecamente arriscada e exija uma supervisão rigorosa, o risco de não realizar esse tipo de pesquisa e não estar preparado para a próxima pandemia também é alto”, destaca o texto.

O virologista Flavio Fonseca explica que esse tipo de estudo foi usado por muitos anos para entender mecanismos de ganho de patogenicidade.

“Esses estudos foram muito usados há 10, 15, 20 anos atrás e faziam parte de um processo de entendimento para identificar o tipo de mutações que, se detectadas na natureza, devem ser usadas como alarmes para a gente prever o surgimento de cepas altamente patogênicas, de variantes altamente patogênicas, principalmente de vírus respiratórios”, diz Fonseca, que compartilha a opinião pessoal de que esses estudos devem ser limitados por serem “muito arriscados”.

Controvérsias envolvendo pesquisas de Kawaoka e Fouchier

Um texto na revista Science informa sobre as controvérsias no meio científico desencadeadas pelas pesquisas dos virologistas Yoshihiro Kawaoka e Ron Fouchier envolvendo H5N1, quando revelaram, em 2011, “que haviam modificado separadamente o mortal vírus da influenza aviária H5N1 para que se espalhasse entre furões (uma espécie de mamíferos)”, tornando-o mais arriscado para humanos. O texto aborda a aprovação do governo americano para a retomada dos estudos depois de quatro anos em que as pesquisas ficaram suspensas por terem sido consideradas perigosas.

Reportagens publicadas pelo The Intercept e USA Today citam que houve polêmica nesses estudos. A matéria do The Intercept chega a falar em dois acidentes no laboratório de Kawaoka, porém com baixo risco de infecção. A reportagem do USA Today também aborda os acidentes. No entanto, as matérias não mencionam ter comprovadamente havido vazamento de mutação do vírus H5N1 transmissível a humanos dos laboratórios, muito menos uma suposta ação propositada nesse sentido.

Virologistas apontam para mutações na natureza

O virologista Flavio Fonseca afirma que “jamais foi notificado escape” nesses estudos.

“Os estudos, na verdade, são bem conhecidos, são estudos que avaliaram as mutações necessárias para fazer com que o vírus se disseminasse mais rapidamente entre mamíferos”, diz Fonseca. “Não houve escape desses vírus, isso jamais foi notificado. Esse tipo de estudo é conduzido em laboratórios classificados com nível de biossegurança 3 ou nível de biossegurança 4. Os mecanismos de segurança para evitar escape são absolutamente incríveis”.

O virologista Amílcar Tanuri e o infectologista Renato Kfouri, também procurados pelo Comprova, relataram maior probabilidade de surgimento na natureza de uma cepa do vírus H5N1 capaz de infectar humanos, como comumente ocorre com os vírus Influenza, do que em laboratório – possibilidade sobre a qual se mostraram descrentes.

Coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro titular da Academia Brasileira de Ciências, Tanuri explica que os vírus emergentes e pandêmicos, como o H5N1, “não surgiram pela mão do homem”, diz. Se assim fosse, acrescenta, ele deixaria “assinaturas” características da manipulação genética que teria sido feita.

“Pela análise das sequências dos vírus aviários, dessa gripe aviária, não há nenhuma indicação de ter havido algum processo feito pelo homem”, diz Tanuri.

“O ‘spillover’ (quando há transbordamento de uma espécie para outra) do vírus é característica do influenza”, diz Kfouri. “Isso ocorre ao acaso. Creio que o homem não seria capaz de alterá-lo a ponto dessa perfeição que ocorre ao acaso na natureza”.

Primeiras infecções de gado para humanos são recentes e podem ter origem em ave infectada

Em boletim de 30 de maio deste ano, o CDC reportou dois casos de infecção por H5N1 de trabalhadores rurais nos Estados Unidos durante um surto de gripe aviária em vacas leiteiras. São os “primeiros casos conhecidos de transmissão presumida de vaca para humano de vírus da Influenza A aviária”, informa o boletim. Os trabalhadores tiveram sintomas leves.

O CDC informa no boletim que o sequenciamento genético identificou que a cepa que infectou o gado e um dos trabalhadores rurais foi identificada em aves selvagens, aves comerciais, aves de criação e outros animais nos EUA desde janeiro de 2022. A investigação do outro caso segue em andamento.

Já uma reportagem do The Guardian informa que um estudo ainda não revisado por pares veio a público em maio argumentando que o vírus foi introduzido em vacas leiteiras por meio de uma única introdução de um pássaro selvagem.

O boletim do CDC informa que de 1997 até o final de abril de 2024, um total de 909 casos esporádicos de humanos com A(H5N1) foram relatados mundialmente em 23 países. Destes, 52% foram fatais.

Não há evidência de que novo coronavírus foi modificado em laboratório propositalmente

A postagem feita no X também alega que a covid-19 foi modificada em laboratório para ser capaz de infectar humanos. No entanto, outras verificações já publicadas pelo Comprova mostraram que não há evidência científica de que o SARS-CoV tenha sido criado propositalmente.

Postagem faz menção a médico que teve diversas alegações desmentidas sobre a covid-19

O tuíte faz menção a uma postagem no X de uma fundação criada pelo cardiologista americano Peter McCullough, que, segundo verificações de outras iniciativas de checagem (FactCheck.org e AFP Fact Check), tem promovido, desde o início da pandemia de covid-19, desinformação sobre a doença e vacinas de mRNA. O Comprova já mostrou que ele apresentou evidências enganosas ao sugerir conspiração da ciência contra a cloroquina no tratamento à covid-19 e que fez alegações enganosas ao indicar uma lista de substâncias indicadas para “desintoxicação” da proteína S presente na vacina contra a covid-19. Uma série de outras alegações do médico foram desmentidas por serviços de checagem no exterior.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Temas relacionados à saúde pública são alvos frequentes de desinformação. O Comprova já mostrou, por exemplo, o caso de post enganoso que associou sintomas de covid longa às vacinas contra a doença e que não é necessário detox da proteína da vacina contra o novo coronavírus.