O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2023-04-18

É falso que Bill Gates tenha comprado ações da Coca-Cola para inserir vacinas com mRNA na bebida

  • Falso
Falso
É falso que Bill Gates tenha a intenção de inserir vacinas com RNA mensageiro (mRNA) no refrigerante Coca-Cola para controlar o DNA das pessoas. Os imunizantes com essa tecnologia sequer têm essa capacidade e não há registro de alteração na fórmula da bebida.

Conteúdo investigado: Posts afirmam que o empresário norte-americano Bill Gates comprou grande parte das ações da Heineken e da Coca-Cola, que a fórmula do refrigerante foi alterada e que a intenção é inserir nesta bebida vacinas com mRNA.

Onde foi publicado: Twitter, TikTok, Instagram e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falso que o empresário norte-americano Bill Gates tenha comprado ações da Coca-Cola para inserir vacinas mRNA na bebida que leva o nome da empresa no intuito de controlar o DNA das pessoas.

Recentemente, foi noticiado que ele adquiriu ações da Heineken no mesmo dia em que a empresa Fomento Economico Mexicano SAB – conhecida como Coca-Cola Femsa e que negocia na Bolsa de Valores com a sigla KOF – vendeu participação na companhia. A Femsa é responsável por engarrafar o refrigerante e Gates também detém participação nela, mas não é algo recente: as ações foram compradas em 2007.

Além disso, ao Comprova, tanto a Femsa quanto a Coca-Cola garantem não ter havido mudanças na fórmula da bebida. A empresa mexicana é apenas uma das engarrafadoras do refrigerante. Somente no Brasil, o sistema Coca-Cola possui outras seis parceiras engarrafadoras que, juntas, somam 37 fábricas.

Para reforçar a teoria falsa de que Bill Gates estaria querendo interferir no DNA de quem consome a bebida, o autor escreve que “eles nem escondem mais: a propaganda da Femsa (empresa distribuidora) é justamente a seguinte: Um só DNA!”.

Sobre isso, a Femsa acrescentou que utiliza o termo “DNA KOF” na comunicação interna da empresa como forma de traduzir os valores e comportamentos que envolvem os colaboradores.

“Com o propósito de empoderar nossas equipes para liderarem o crescimento e a transformação em um ambiente de constante mudança na indústria, definimos o DNA KOF como uma série de crenças e comportamentos fundamentais que regulam nossas ações diárias”, detalha a companhia em seu site.

Uma explicação sobre o assunto também foi publicada na página da empresa no Facebook em 2021.

 

| As menções à sigla DNA são feitas no contexto da comunicação interna da Femsa. (Fonte: Captura de tela do site da Femsa Brasil feita em 17 de abril).

Por fim, é amplamente comprovado, como já mostrou o Comprova, algumas vezes, que as vacinas mRNA não são capazes de alterar o DNA humano.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No Twitter, a postagem foi curtida 2 mil vezes até o dia 14 de abril e depois foi deletada. No Instagram, os conteúdos somavam mais de 4 mil curtidas até 18 de abril. Até a mesma data, a postagem registrou 59 mil interações no TikTok, entre curtidas, compartilhamentos e comentários.

Como verificamos: Pelo Google, buscamos notícias publicadas pela imprensa profissional sobre a possível compra de ações das companhias Heineken e Coca-Cola pelo empresário Bill Gates. Em seguida, entramos em contato com as assessorias de imprensa da Coca-Cola, da Femsa e da Fundação Bill e Melinda Gates. A Autoridade Holandesa para Mercados Financeiros (Autoriteit financiële Markten – AFM), reguladora do mercado financeiro da Holanda, também foi procurada. Por fim, revisitamos checagens do Comprova sobre a tecnologia mRNA, utilizada em vacinas contra a covid-19, e procuramos os autores das postagens.

Bill Gates comprou ações da Heineken e já possuía da Femsa há anos

Não há notícia de que Bill Gates tenha comprado ações da Coca-Cola Company, empresa dona do refrigerante Coca-Cola.

Na verdade, foi noticiado recentemente que o empresário adquiriu, em 17 de fevereiro de 2023, uma participação minoritária na Heineken Holding NV, acionista controlador da segunda maior cervejaria do mundo, por cerca de US$ 902 milhões.

Segundo a Bloomberg, o fundador e filantropo da Microsoft comprou 3,8% da Heineken Holding, de acordo com um documento da Autoridade Holandesa para Mercados Financeiros, totalizando 6,65 milhões de ações, em sua capacidade individual, e outros 4,18 milhões de ações por meio da Fundação Bill & Melinda Gates. A AFM foi procurada pelo Comprova para confirmar a informação, mas não retornou.

O nome do refrigerante aparece nessa história porque Gates adquiriu a participação no mesmo dia em que a Femsa, engarrafadora e distribuidora da Coca-Cola, lançou uma venda de € 3,7 bilhões em ações vinculadas a parte de suas participações na Heineken. Pouco antes, a Femsa havia anunciado planos de se desfazer de sua participação na cervejaria por motivos estratégicos.

Conforme o site de investimento Seu Dinheiro, em 2007, há 16 anos, o empresário comprou uma participação avaliada em US$ 392 milhões (R$ 2 bilhões no câmbio atual) na Femsa. Sete anos antes, a mexicana havia vendido sua cervejaria para a Heineken.

O Comprova também solicitou à Femsa, à Fundação Bill e Melinda Gates e à Coca-Cola informações sobre possíveis venda e compra de ações e se Gates detém ações na empresa que fabrica o refrigerante. A Coca-Cola respondeu informando ser uma empresa de capital aberto nos Estados Unidos e que não comenta movimentações de acionistas. A Femsa não respondeu e a Fundação Bill e Melinda Gates enviou nota ao Comprova sem fazer referências à compra de ações e afirmando que são falsas as alegações de que Bill Gates está inserindo mRNA em bebidas e que ele faça parte de uma “Nova Ordem Mundial”.

Não há registro de alteração na fórmula da Coca-Cola

Os responsáveis pelas postagens não apresentam quaisquer provas de que a Coca-Cola tenha mudado a composição da bebida tradicional que leva seu nome. Ao Comprova, a empresa garantiu que não houve qualquer alteração recente na fórmula do produto. Uma nota sobre o assunto foi publicada no site da companhia, acrescentando que todos os ingredientes utilizados nos produtos são seguros, aprovados pelos órgãos regulatórios e constam no rótulo das embalagens.

O último registro de mudança de fórmula da tradicional bebida ocorreu em de 23 de abril de 1985, há mais de 35 anos. À época, a alteração não foi bem aceita pelos consumidores e a fórmula original foi retomada poucos meses depois, em 11 de julho de 1985.

A assessoria de imprensa da Coca-Cola Femsa declarou que as alegações feitas nas redes sociais são inverídicas e explicou que utiliza o termo “DNA KOF” em sua comunicação interna como forma de traduzir os valores e comportamentos que envolvem seus colaboradores. A expressão foi utilizada nas peças desinformativas como “prova” de que se pretende alterar as informações genéticas das pessoas por meio da bebida.

Vacinas não alteram o DNA das pessoas

Não há sentido em afirmar que inserir vacinas com mRNA em refrigerantes possibilite o controle do DNA, isso porque nem mesmo os imunizantes aplicados nas pessoas para o combate da doença são capazes disso.

A falsa afirmação de que o mRNA pode alterar o DNA passou a ser amplamente difundida após a aprovação de duas vacinas contra a covid-19, da Pfizer e da Moderna, que usam a tecnologia. A alegação foi desmentida várias vezes ao longo da pandemia de coronavírus. O Comprova já explicou que as vacinas de mRNA são desenvolvidas para não interferir no DNA humano e que não há qualquer evidência de que sejam capazes de causar danos genéticos.

O mRNA é uma molécula existente no corpo humano e que leva informações até o núcleo das células para produção de proteínas. Os laboratórios responsáveis pelos imunizantes produziram mRNAs sintéticos, que contêm uma parte da informação genética do novo coronavírus. No nosso corpo, esse RNA vai fazer com que produzamos uma proteína que alerta o sistema imunológico para criar anticorpos.

Sobre alegações desta natureza, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já se posicionou informando que as vacinas que empregam em sua tecnologia o código genético do vírus Sars-CoV-2 não são produtos de terapia gênica porque não utilizam cópias de genes humanos para tratamentos de doenças.

Bill Gates é alvo frequente de teorias conspiratórias devido aos investimentos filantrópicos na área de saúde, incluindo para o combate ao coronavírus. O Estadão Verifica demonstrou, por exemplo, que uma postagem editou vídeo do empresário para sugerir conspiração envolvendo vacina da covid-19 e que um trecho de outra fala dele foi modificado para desacreditar segurança dos imunizantes.

O que diz o responsável pela publicação: No Twitter, o conteúdo foi postado pela conta @VitimasVacinas, que não possui qualquer identificação de quem seja o responsável e não permite o envio de mensagens. Posteriormente, o tuíte foi apagado. O vídeo no Instagram foi gravado por Cristiane Luz. Ao Comprova, ela disse ter se baseado em sites de jornalismo independentes e páginas do Twitter, além dos próprios conhecimentos espirituais sobre o tema, encerrando o contato em seguida.

O que podemos aprender com esta verificação: Os posts têm ar de teoria conspiratória ao sugerirem que um empresário mundialmente conhecido estaria planejando controlar a humanidade. Também envolvem os nomes de duas gigantes do ramo de bebidas. Caso essas empresas, ou mesmo o bilionário, estivessem agindo de má-fé contra os consumidores, o fato certamente teria ampla divulgação. Nesse contexto, é importante destacar que a imprensa profissional é uma fonte de informação confiável, portanto, bastaria uma busca pelo assunto para encontrar notícias nesse sentido. Sobre o funcionamento da tecnologia em vacinas, há farto conteúdo não só na imprensa, como também nos sites das agências que regulamentam esses produtos e em fontes oficiais dos governos, que devem ser consultadas. É importante também que o leitor fique atento a conteúdos muito mirabolantes, como este, e se perguntar se faz algum sentido o que é afirmado na publicação. Bastaria uma simples pergunta, como “É possível colocar DNA em um refrigerante?”, para desconfiarmos do conteúdo.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Conteúdos semelhantes foram verificados por Fato ou Fake, Uol Confere e por Boatos.Org. Além disso, o Comprova já demonstrou anteriormente ser falsa uma publicação sugerindo que Bill Gates instalaria nanopartículas nas doses da vacina e que imunizantes não injetam “DNA alienígena” nos humanos.

Saúde

Investigado por: 2023-03-29

Reportagem da TV Record não alega que pandemia foi planejada, ao contrário do que afirma legenda

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso afirmar que a pandemia de covid-19 foi planejada. Um conteúdo que circula na internet alega tal coisa a partir de uma reportagem da TV Record, levada ao ar em 2021. A reportagem em questão relata um pedido feito, em 2018, por cientistas norte-americanos e chineses para criar uma linhagem de coronavírus, o que acabou negado pelo governo dos EUA. O conteúdo investigado sobrepôs à reportagem um texto afirmando que isso provaria a existência de um complô para criar a pandemia de covid-19. Não há evidência científica que sustente o argumento de que a pandemia foi criada propositalmente. As investigações atuais se dividem entre duas teorias: transmissão a partir de animais ou vazamento de laboratório.

Conteúdo investigado: Texto sobreposto sobre uma reportagem da TV Record a respeito do coronavírus afirma: “A pandemia foi toda planejado (sic)! A grande mentira, que afetou o mundo”.

Onde foi publicado: Telegram.

Conclusão do Comprova: É enganoso afirmar, a partir de uma notícia veiculada na TV Record, que a pandemia de coronavírus foi planejada. A reportagem de 2021 não alega isso, apenas reproduz informações do jornal britânico The Telegraph sobre cientistas chineses e norte-americanos terem proposto, em 2018, criar novos tipos de coronavírus a partir de combinação genética.

O veículo inglês baseou-se em um pedido de subsídios feito em 2018 por pesquisadores à Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa norte-americana que, posteriormente, foi negado.

Ainda não se sabe concretamente qual a origem do Sars-Cov-2, o vírus causador da covid-19. Uma teoria apoiada por serviços de inteligência dos Estados Unidos aponta um vazamento em um laboratório em Wuhan, na China, cidade onde foram notificados os primeiros casos da doença. Outra, divulgada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), apresenta indícios de que a contaminação tenha partido de animais e se iniciado em um mercado, na mesma cidade.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No Telegram, a postagem aqui verificada teve 6,3 mil visualizações até 29 de março.

Como verificamos: A partir das informações na reportagem e da identificação visual de que se tratava de um conteúdo da TV Record, a equipe buscou palavras-chave no Google que levaram à publicação da notícia. Nela, constava a data de veiculação, possibilitando encontrar a íntegra do programa. O conteúdo foi comparado com o que circula nas redes sociais e com a legenda que o acompanha. Em seguida, foram consultadas notícias e estudos acerca das hipóteses levantadas até o momento em torno da origem do Sars-Cov-2.

Reportagem de 2021 não afirma que pandemia foi planejada

A reportagem compartilhada com a legenda enganosa foi veiculada pelo JR na TV, da TV Record, em 6 de outubro de 2021. Ao contrário do que sustenta o texto compartilhado nas redes sociais, a reportagem não confirma que a pandemia da covid-19 tenha sido planejada ou mesmo desencadeada de forma deliberada por ação humana.

Os âncoras Christina Lemos e Celso Freitas afirmam apenas que o jornal inglês The Telegraph revelou a existência de um documento que lançava novas dúvidas sobre as origens da pandemia.

De acordo com o noticiário britânico, em 2018, cientistas de Wuhan, na China, e dos Estados Unidos, planejavam criar novos coronavírus combinando os códigos genéticos de outros vírus. O caso veio à tona a partir de documentos vazados nos quais os pesquisadores pediam subsídios à Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa norte-americana. A intenção, segundo a interpretação desses documentos, era misturar dados genéticos de cepas intimamente relacionadas e cultivar vírus novos. O jornal informa que a proposta foi rejeitada no mesmo ano.

O veículo acrescenta, ainda, que o banco de dados com as cepas virais estudadas antes da pandemia em Wuhan foi retirado do ar depois da pandemia, tornando impossível verificar em quais vírus a equipe estava trabalhando e se algum chegou a ser criado. Destaca, por fim, que os cientistas negam consistentemente a criação do Sars-CoV-2 em laboratório.

A TV Record, por sua vez, reproduz essas informações e acrescenta que a China nega que a covid-19 tenha surgido a partir do laboratório de Wuhan, que a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou relatório inconclusivo sobre o assunto e o governo americano ainda investiga o surgimento do vírus.

Existe uma origem definida para a pandemia?

Desde o surgimento da pandemia de coronavírus, em março de 2020, cientistas tentam identificar de que forma surgiu o SARS-CoV-2. A origem, no entanto, ainda não foi comprovada.

Em março deste ano, quando a pandemia completou três anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou ter exigido dos Estados Unidos e de outros países que compartilhassem informações que pudessem ser úteis na investigação da origem da doença.

O posicionamento ocorreu após o The Wall Street Journal divulgar, em 26 de fevereiro, que um relatório sigiloso do Departamento de Energia dos Estados Unidos atribuía a origem da pandemia a um vazamento acidental no Instituto de Virologia de Wuhan.

Ao jornal, fontes do órgão sustentaram a tese a partir de novas informações de inteligência, estudos acadêmicos e consultas a especialistas, mas ponderaram que o próprio relatório afirma ter uma “confiança baixa” na conclusão apresentada, o que significa que as informações não permitem realizar um julgamento definitivo.

Em fevereiro, Tedros Adhanom comprometeu-se a fazer todo o possível para ter uma resposta final e disse ter enviado e-mail oficial ao alto escalão do governo chinês solicitando novamente a colaboração de Pequim.

A teoria de que houve um vazamento compete com outra hipótese, popularizada em fevereiro de 2021, quando uma equipe interdisciplinar de especialistas liderada pela OMS e acompanhada por chineses passou duas semanas no país asiático e publicou um relatório conjunto sobre a transmissão do vírus aos humanos por um animal, possivelmente em um mercado de Wuhan.

Recentemente, o The New York Times divulgou que amostras positivas para o coronavírus colhidas no mercado foram carregadas em um banco de dados internacional e divulgadas apenas em 2023. Uma equipe de especialistas internacionais analisou este conteúdo genético e divulgou um relatório, em 20 de março, descrevendo as evidências da amostra e defendendo que elas fortalecem a teoria de que animais silvestres comercializados ilegalmente deflagraram a pandemia de coronavírus. A reportagem foi republicada pela Folha de S.Paulo e repercutida pela Veja.

O que diz o responsável pela publicação: Não foi possível chegar ao autor da postagem, pois o canal no Telegram não identifica o responsável, tampouco fornece links para outras redes sociais que permitam fazer contato.

O que podemos aprender com esta verificação: Desde o início da pandemia há um forte movimento desinformativo sobre o assunto e que engloba não apenas a origem do vírus, mas também as medidas restritivas no combate à covid-19 e o desenvolvimento das vacinas contra ela.

Conteúdos como o aqui verificado tendem a disseminar preconceito contra a população de origem asiática ao cravar que o vírus tenha sido espalhado de forma proposital após ser desenvolvido em laboratório.

O autor da postagem utiliza uma reportagem televisiva para reforçar a desinformação que está sendo propagada na legenda, mas basta assistir à peça jornalística para entender que ela não confirma essa hipótese.

O leitor também pode utilizar os sites de busca, como o Google, para identificar a data em que a matéria foi ao ar e, assim, descobrir se a notícia é atual ou se a informação está desatualizada.

Da mesma forma, pesquisas podem ser feitas em veículos de imprensa profissional e em sites de organizações de saúde para acesso aos dados atualizados sobre a pandemia.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Desde 2020, no início da pandemia, o Comprova checa conteúdos que acusam a China de ter propagado o coronavírus. Já foi demonstrado que o FBI não confirmou a origem do vírus, que é enganoso que e-mail de Anthony Fauci prove origem do vírus em laboratório e que uma frase dita em 2016 por um pesquisador americano não indica que os chineses provocaram a pandemia.

Saúde

Investigado por: 2023-03-28

Laudos não relacionam morte de médico citada em tuíte à vacina contra covid

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Enganoso
É enganoso insinuar que médico tenha morrido no Paraná em decorrência da vacinação contra a covid-19. Ele foi vítima de um infarto fulminante que sequer chegou a ser notificado como caso de evento adverso, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).

Conteúdo investigado: No Twitter, médico afirma que colega de profissão é o “milionésimo caso de morte súbita em jovem vacinado”, insinuando que a vacina contra a covid-19 tenha causado o óbito. Ele compartilha, junto da afirmação, trecho de notícia sobre a morte do profissional e uma postagem de janeiro de 2022 na qual o médico dizia ser favorável à deportação do tenista sérvio Novak Djokovic da Austrália por recusar o imunizante.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganoso associar a morte do médico Atamai Moraes por infarto fulminante à vacinação contra a covid-19. A postagem analisada coloca em dúvida a causa da morte de Moraes e o identifica como um militante pró-vacina que criticou o tenista Novak Djokovic por ser contrário à vacinação. O autor da publicação enganosa escreve:

“O tenista continua vivo, sem vacina de Covid e ganhando títulos. O médico raivoso é o milionésimo caso raro de morte súbita em jovem vacinado”.

A família de Atamai Moraes afirma que a necropsia e os laudos iniciais não apontaram a possibilidade de o óbito estar relacionado ao imunizante. A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) do Paraná, onde ele morreu, informou não ter localizado notificação de reação adversa à vacina após o óbito.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) garante a segurança das vacinas, assim como as principais agências reguladoras do mundo. Todos os imunizantes passam por rigorosas fases de ensaios clínicos antes de serem aprovados para uso na população em geral. Após a aprovação das vacinas contra a covid-19, o monitoramento da segurança delas continua como parte normal dos programas de imunização, o que é feito para todas as vacinas.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O tuíte aqui verificado somou 14,4 mil curtidas, 288 comentários e 3,9 mil retuítes até o dia 28 de março.

O que diz o responsável pela publicação: Ao Comprova, o autor do post, alegou que o tuíte não correlaciona diretamente a morte de Atamai com a vacinação contra a covid-19 e citou uma publicação do médico no Facebook afirmando, em novembro de 2021, ter sofrido uma reação grave após ser imunizado com a primeira dose.A Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba informou ter sido feita a investigação clínica deste caso e concluído que a situação não tinha vínculo com a vacinação. A pasta destacou, ainda, não haver evidência de que a morte, quase dois anos depois, tenha relação causal com a vacina.

Como verificamos: Para se informar sobre o caso do óbito citado no post, a reportagem conversou com a família de Moraes por WhatsApp. Além disso, como as mortes relacionadas à vacinação contra a covid-19 precisam ser relatadas às autoridades de saúde, o Comprova procurou as Secretarias de Saúde do Paraná e de Curitiba e o Ministério da Saúde e a Anvisa. Também pesquisou dados referentes ao número de mortes relacionadas à imunização.

Relação causal entre a vacina e a morte não é comprovada

Atamai Caetano Moraes, de 27 anos, morreu enquanto trabalhava na Santa Casa de Prudentópolis, na região central do Paraná. O caso foi registrado em 23 de outubro de 2022, e a causa foi divulgada como infarto pelos veículos Plural, Aventuras na História e G1. O Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná (CRM/PR) chegou a emitir uma nota de pesar. Não houve, na ocasião, qualquer menção à suspeita de que o médico tivesse sofrido uma reação adversa grave à vacinação.

À época, a Polícia Civil informou que investigaria o caso. Ao Comprova, a assessoria de imprensa do órgão explicou que foi instaurado um inquérito policial para apurar a causa da morte e que testemunhas estão sendo ouvidas, mas o caso não foi concluído.

Ao Comprova, a enfermeira Jaqueline Rodrigues Zaborovski afirmou não haver relação entre o infarto fulminante sofrido pelo marido e qualquer tipo de vacina, incluindo a da covid-19. Conforme ela, a necropsia e os laudos iniciais não apontaram essa possibilidade.

[Nota da redação: Jaqueline Rodrigues Zaborovski afirma ser a noiva de Atamai Caetano Moraes, mas o Comprova foi notificado pela família de que há uma disputa judicial a respeito.]

Jaqueline condenou as peças desinformativas que associam o nome de Atamai a uma campanha anti-vacinação. “É algo repugnante depois de tanto trabalho como médico na pandemia e como defensor da verdade e da luta contra o negacionismo referente aos cuidados com a covid-19, à vacina e aos coquetéis medicamentosos sem fundamento científico algum”, desabafou.

Reação adversa anterior à morte foi descartada

A enfermeira informou, ainda, que Atamai chegou a ser internado no início de 2021 ao sofrer uma crise convulsiva, mas que esta esteve relacionada a uma febre sentida quando foi infectado pelo vírus. À época, diz, ele havia tomado a primeira dose do imunizante que ainda estava em fase de testes e, por isso, a vigilância epidemiológica acompanhou o caso, mas descartou a relação posteriormente. O atendimento neurológico pelo qual passou também descartou haver ligação entre o episódio e o imunizante, conforme ela.

Ao Comprova, a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná informou registrar no sistema e-SUS Notifica Covid, disponibilizado pelo Ministério da Saúde, casos de reações adversas após a vacinação.

Conforme o órgão, ao ser realizada a busca pelo nome do médico, o sistema informa uma notificação feita pelo município de Curitiba em 26 de janeiro de 2021. Não há outra notificação registrada após a morte dele.

A Secretaria Municipal de Saúde da capital paranaense também foi procurada e informou que Atamai era morador da cidade, mas trabalhava em municípios da região metropolitana, tendo apresentado uma suspeita de reação adversa após ser vacinado com a primeira dose em 20 de janeiro de 2021, no município de Pinhais.

A pasta acrescentou ter sido realizada toda a investigação clínica do caso e concluído que a situação não tinha vínculo com a vacinação. “A morte do médico ocorreu quase dois anos depois, em 23 de outubro de 2022. Não há qualquer evidência que exista relação causal com a vacinação ocorrida no passado”, destacou a assessoria de imprensa.

Benefícios da vacinação superam os riscos

Segundo os dados da Sesa, em 2021 o Paraná registrou 28.073 notificações de reações adversas, em 2022 foram 10.956 e, em 2023, outras 363 até o dia 23 de março, somando 39.392 desde o início da vacinação. A plataforma de transparência da pandemia mantida pelo governo do Paraná informa que, até a manhã de 27 de março, foram aplicadas 27,4 milhões de doses no Estado, ou seja, as reações notificadas são apenas 0,14% do total de doses aplicadas.

O órgão não identificou quantas evoluíram a óbito, mas o Comprova já explicou anteriormente que os eventos adversos graves pós-vacinação contra a covid-19 – dentre eles a morte – são raros e que os benefícios da imunização superam os riscos. Um boletim epidemiológico divulgado pelo governo federal no final de 2021 mostrou que o risco de óbito pela doença é 56 vezes maior do que o risco de ocorrência de um evento adverso relacionado à vacinação.

À reportagem, o Ministério da Saúde lembrou que, assim como qualquer medicamento ou imunizante, as vacinas para a covid-19 podem causar eventos adversos, sendo a maioria deles sem gravidade, como dores de cabeça, tosse, diarreia, rinite, náusea, entre outros.

As reações graves, destacou a pasta, são muito raras e ocorrem, em média, um caso a cada 100 mil doses aplicadas, apresentando um risco significativamente inferior ao de complicações causadas pela infecção do vírus. Dentre elas, está a possibilidade de desenvolvimento de tromboses venosas, miocardite e pericardite, síndromes neurológicas como a síndrome de Guillain-Barré, encefalite, hemorragias cerebrais, arritmia, infarto agudo do miocárdio e embolia pulmonar, entre outros.

Uma nota técnica da pasta publicada em maio de 2022 analisou a incidência de miocardite e pericardite no contexto da vacinação contra a covid-19 entre 18 de janeiro de 2021 e 12 de março de 2022, um período de mais de um ano. Foram identificados 222 eventos no e-SUS Notifica e, destes, apenas 87 tiveram diagnóstico sindrômico de miocardite/pericardite com algum nível de certeza. No mesmo período, o país registrou 294.159.843 doses aplicadas. Entre as reações graves confirmadas, apenas dois óbitos foram registrados.

A Anvisa informou ao Comprova que todos os dados de monitoramento e relatos de eventos adversos recebidos até o momento mantêm a relação de benefício-risco da vacina favorável ao seu uso. Sobre os casos graves como os de trombose, infartos e miocardites, explicou que eles podem ser desencadeados por multifatores e são conhecidos e descritos nas bulas das substâncias.

O órgão reforça que cidadãos e profissionais de saúde devem ficar atentos aos sinais e sintomas de eventos adversos e notificar imediatamente casos suspeitos, tendo em mãos a identificação do tipo de vacina, bem como a identificação e registro do número do lote utilizado e do fabricante. Quando esses eventos graves são notificados, é aberta uma investigação, com o objetivo de um diagnóstico diferencial e exclusão de causas alternativas.

O que podemos aprender com esta verificação: Uma tática comum de desinformadores é fazer correlações entre fatos diversos e destoantes, como a crítica feita pelo médico Atamai Moraes ao tenista Novak Djokovic por sua contrariedade ao uso da vacina e a morte de Moraes por um infarto fulminante. Isso ocorre em um contexto no qual há publicações diversas alegando que a vacina contra a covid-19 tem causado mortes súbitas em pessoas mais jovens.

A relação é feita quando a postagem afirma que “o médico raivoso é o milionésimo caso raro de morte súbita em jovem vacinado”, ou seja, se apropria da dualidade entre “milionésimo” e “caso raro” como crítica às explicações de que não é possível relacionar a vacinação ao falecimento de Moraes.

A prova de que o conteúdo desinforma é a quantidade de respostas de usuários que demonstram ter associado a morte do jovem médico à vacinação. Uma pessoa, por exemplo, respondeu à publicação dizendo que “o dr. Atamai Moraes é uma vítima da vacina”, enquanto outra afirma que “sem vacinas, sem efeitos colaterais” e uma terceira declara estar “fora dessas vaxinas (sic)”.

Desta forma, tem-se que é preciso questionar também o interesse, a intenção e o contexto das postagens que recebemos.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Sobre esse assunto, o Comprova já desmentiu que o jogador Lucas Leiva apresentou problemas cardíacos por ter se vacinado, mostrou não haver comprovação de que morte de menino em Arujá (SP) tenha relação com o imunizante e que não é verdade que a vacina da covid fez ‘explodir’ doenças cardíacas em crianças.

 

Atualização: Esta verificação foi atualizada em 3 de abril de 2023 para inserção de uma nota da redação.

Saúde

Investigado por: 2023-03-23

Lucas Leiva e médicos desmentem áudio que relacionava aposentadoria do atleta com a vacina contra a covid-19

  • Falso
Falso
Não é verdade que o problema cardíaco que levou o ex-jogador de futebol Lucas Leiva, do Grêmio, a se aposentar tenha relação com o fato de ele ter se vacinado contra a covid-19, ao contrário do que afirmam áudio no WhatsApp e posts em redes sociais. O atleta e o seu médico desmentiram as publicações em suas redes sociais. "O conteúdo difundido pelo autor do áudio não possui qualquer relação com o caso", afirmou Márcio Dornelles, médico do clube, no Instagram.

Conteúdo investigado: Em áudio atribuído ao “médico do Lucas Leiva”, homem alega que a aposentadoria do jogador do Grêmio aconteceu por um problema cardíaco causado pela vacina contra a covid-19. Posts nas redes sociais também relacionam o problema ao imunizante.

Onde foi publicado: WhatsApp, TikTok, Instagram e Twitter.

Conclusão do Comprova: É falso que o médico de Lucas Leiva, ex-jogador de futebol do Grêmio que se aposentou devido a um problema cardíaco, tenha gravado um áudio atribuindo a condição do atleta às vacinas contra a covid-19. Posts nas redes sociais também fazem essa falsa relação, utilizando foto que o atleta postou em junho de 2021, quando tomou a primeira dose. Tanto o ex-jogador quanto o médico do clube, Márcio Dornelles, desmentiram a informação em suas redes sociais.

Atleta de 36 anos, Lucas anunciou a aposentadoria do futebol em 17 de março devido a uma fibrose cicatricial do miocárdio. Em coletiva de imprensa, o médico do Grêmio, Márcio Dornelles, disse que o problema provavelmente derivou de uma miocardite — que é uma inflamação no músculo cardíaco com múltiplas causas, mas geralmente resultado de uma infecção no organismo. Ele não falou em evento adverso de vacina em nenhum momento da conversa com os jornalistas.

Ao Comprova, Dornelles ressaltou que o atleta não teve nenhuma alteração cardíaca constatada nos exames realizados em junho do ano passado, quando o clube gaúcho contratou o volante. A condição só viria a ser descoberta em dezembro, na bateria de exames de pré-temporada. Nesse intervalo, Lucas não recebeu nenhuma dose da vacina.

A miocardite já foi descrita, de fato, como um evento adverso extremamente raro das vacinas contra a covid-19, em especial as que usam plataformas de RNA mensageiro, como a Comirnaty, da Pfizer. Mas, ao fazer uma relação com o caso de Lucas, o conteúdo espalha desinformação.

De acordo com nota técnica do Ministério da Saúde, a incidência de miocardite como reação adversa das vacinas contra a covid-19 ocorre na ordem de 0,029 eventos para cada 100 mil doses aplicadas no Brasil, ou um caso a cada 3,4 milhões de doses. A maioria dos pacientes apresenta sintomas leves, dentro de duas semanas, e se recupera. Autoridades de saúde e especialistas ressaltam que os benefícios são maiores do que os riscos do medicamento.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O áudio circula no WhatsApp com o aviso “encaminhada com frequência”, sinalização que indica a alta viralização do conteúdo. Post no Twitter ligando o caso de Lucas à vacina foi visualizado mais de 630 mil vezes até 22 de março. No TikTok, publicação semelhante teve cerca de mil compartilhamentos, e, no Instagram, chegou a 4,2 mil interações.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova entrou em contato com as contas que divulgaram o conteúdo por mensagens diretas nas redes sociais, mas não obteve resposta. O autor do áudio não pôde ser identificado.

Como verificamos: O primeiro passo foi buscar reportagens sobre a aposentadoria de Lucas Leiva. Uma delas, do UOL, detalha o problema cardíaco do atleta. Em seguida, entramos em contato com a assessoria de imprensa do Grêmio, por mensagem no WhatsApp, e acompanhamos as redes sociais do atleta e da equipe médica envolvida em seu caso.

Também pesquisamos informações sobre a relação da vacina com a miocardite. Foi encontrado, por exemplo, um alerta da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre relatório da FDA, órgão de saúde dos Estados Unidos, que aborda casos de miocardite em pessoas imunizadas com vacinas da Pfizer e da Moderna. O Ministério da Saúde também atualizou uma nota técnica no ano passado a respeito do assunto.

Na tentativa de descobrir se o áudio viral do WhatsApp era de alguém da equipe médica do atleta, a reportagem pesquisou vídeos no YouTube com Dornelles e outros integrantes da equipe e comparou com a voz do áudio. Já na primeira audição foi possível verificar que não eram as mesmas vozes. Nesta terça-feira, 21 de março, Lucas e o médico do Grêmio postaram stories no Instagram desmentindo o boato.

O caso

O meio-campista do Grêmio Lucas Leiva anunciou a aposentadoria em 17 de março informando que os exames realizados no começo do mês indicaram que ele não poderia continuar a carreira. O atleta foi diagnosticado com fibrose cicatricial do miocárdio em dezembro, durante os procedimentos de pré-temporada no clube gaúcho. Ele havia retornado ao Grêmio em junho do ano passado, quando não havia nenhuma anomalia cardíaca constatada.

O anúncio ocorreu em uma coletiva de imprensa convocada pelo Grêmio, da qual participaram os médicos do clube Márcio Dornelles e Paulo Rabaldo. Além deles, os consultores da área de cardiologia Ricardo Stein e Leandro Zimerman prestaram apoio no caso do atleta, segundo relato da diretoria.

Desde o diagnóstico, Lucas ficou afastado dos treinamentos. Os médicos constataram que uma zona do coração não estava contraindo de forma adequada, o que era resultado de uma fibrose. O mais provável é que o problema tenha resultado de uma miocardite — uma inflamação no coração — mesmo que sem apresentar sintomas.

A miocardite pode surgir por múltiplas causas, mas ocorre principalmente por conta de infecção por um vírus. Diversos outros agentes, como bactérias e protozoários, podem desencadear o processo. A maioria das pessoas recupera o músculo normalmente, mas há casos em que as fibras acabam sendo substituídas por tecidos mais rígidos que se assemelham a cicatrizes e apresentam capacidade de contração reduzida.

Além de prejudicar o rendimento físico, a condição pode causar arritmias graves e parada cardíaca diante do esforço mais intenso. Lucas não apresentou evolução no quadro nos últimos meses e foi aconselhado a interromper a carreira para não correr riscos de desenvolver uma situação mais grave.

Áudio de WhatsApp

Após o anúncio, um áudio atribuído ao “médico do Lucas Leiva” começou a circular no WhatsApp espalhando a tese insustentável de que o problema teria sido causado pela vacina contra a covid-19.

“O cara fica com uma sequela para sempre e é um efeito pós-vacinação”, alega o autor da gravação, que não pôde ser identificado pelo Comprova. Ele também espalha a ideia de que o atleta tinha uma “saúde monstruosa” e que “não tem cabimento nenhum” receber o imunizante nessa situação.

Parte dos conteúdos trazia a foto de Lucas recebendo uma das doses da vacina em 26 de junho de 2021. “Sensação única! São quase 2 anos que estamos lutando contra esse vírus e eu realmente acredito que uma forma de vencê-lo é se vacinando”, escreveu o atleta, quando ainda era jogador da Lazio, da Itália.

No entanto, não é de nenhum dos médicos citados na coletiva do Grêmio a autoria do áudio. Basta comparar a voz do homem com a de Dornelles, Rabaldo, Stein e Zimerman em diferentes entrevistas disponibilizadas no YouTube.

Na terça-feira, 21 de março, tanto Lucas quanto Dornelles postaram stories no Instagram desmentindo a informação. “Tem um áudio que está rolando no WhatsApp e estou aqui para desmentir a veracidade deste áudio. Não é o médico do Grêmio. Então, queria deixar isso bem claro até porque estão expondo situações muito desagradáveis”, gravou o atleta.

“Não possuo qualquer relação com o conteúdo difundido”, escreveu o médico do Grêmio em uma nota de esclarecimento. “O conteúdo difundido pelo autor do áudio não possui nenhuma relação com o caso. Ao contrário, (as informações) são falsas e espalham desinformação ao grande público através da rede social e apps”. Ele anunciou que tomaria as “medidas cabíveis” em busca da identificação dos envolvidos.

O Comprova conversou com Dornelles e Zimerman por telefone. O médico do Grêmio garantiu que não havia qualquer relação do caso com a vacina de covid-19 e que não existe uma conexão temporal entre esses fatos, considerando que Lucas não tomou nenhuma dose do imunizante no ano passado.

O médico cardiologista Leandro Zimerman, do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, disse que não viu nenhuma evidência relacionando a condição de Lucas ao fato de ter recebido a vacina. “Definitivamente, não é essa a ideia. Não é uma hipótese que estamos levando a sério”, declarou ao Comprova.

Zimerman relata que uma série de fatos apontam para a ausência de relação, a começar pela época que o jogador do Grêmio recebeu as doses e o tipo de vacina. Além disso, destaca que a chance de miocardite pós-vacinação é muito baixa e, nos casos em que aparece, geralmente ocorre em jovens e adolescentes.

O cardiologista lamentou ainda o teor do áudio que circula nas redes e reforçou que as pessoas devem tomar as vacinas quando forem chamadas. “A chance de fazer uma miocardite pela vacina é muito menor do que a chance de desenvolver a mesma condição ao pegar o vírus. Então, é óbvio que vale a pena.”

Miocardite

Como mostrou o Comprova em outras verificações, a miocardite é um evento adverso que pode ocorrer em decorrência das vacinas contra a covid-19. O tema é amplamente explorado por grupos antivacina, mas estes ignoram que as chances de esse tipo de reação ocorrer são extremamente baixas e que a chance de desenvolver miocardite ao se infectar com o vírus da covid-19 são maiores.

Em setembro de 2021, por exemplo, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) publicou um estudo segundo o qual a incidência da miocardite em pacientes que pegaram Covid é de 150 casos por 100 mil e de 9 casos por 100 mil entre aqueles que não tiveram a doença. O estudo cita ainda que, embora haja evidências de aumento de casos entre pessoas vacinadas contra a doença, os benefícios superam o risco e, por isso, a vacinação é recomendada.

De acordo com nota técnica do Ministério da Saúde, atualizada em maio do ano passado, levantamento da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) estimou um risco de miocardite de 1 a cada 10 mil pessoas vacinadas após mais de 479 milhões de doses da vacina da Pfizer terem sido aplicadas no continente. Ainda que a incidência seja baixa, os casos se referem mais frequentemente a jovens do sexo masculino e com sintomas aparecendo nos primeiros 14 dias.

O Ministério da Saúde fez o mesmo exercício com o sistema de notificação do Sistema Único de Saúde (SUS) e constatou que, de janeiro de 2021 a março de 2022, foram registrados 222 eventos de miocardite e pericardite após a vacinação. Nem todos os casos podem ser atribuídos aos imunizantes, pois diante de uma aplicação em massa de um medicamento na população, casos que ocorreriam naturalmente podem se misturar aos causados pelas vacinas simplesmente por uma questão cronológica.

Segundo a pasta, 87 casos foram classificados como provavelmente relacionados às vacinas, dentro de um universo de 294 milhões de doses aplicadas no Brasil no mesmo período. A incidência total encontrada foi de 0,029 eventos para cada 100.000 doses, o equivalente a um caso a cada 3,4 milhões de doses da vacina. O sexo masculino foi mais frequente, a idade média foi de 35 anos e a maioria ocorreu após uma média de 14 dias da vacina.

A maioria das pessoas se recupera do problema pouco tempo depois do diagnóstico. Foram notificadas apenas duas mortes, sendo que para uma a vacina foi entendida como uma possível causa e a outra foi apontada como inclassificável pelo Comitê Interinstitucional de Farmacovigilância de Vacinas e outros Imunobiológicos.

A mesma nota técnica aponta que a incidência estimada de miocardite na população em geral é de 0,2% a 12% — ou seja, casos ocorrem naturalmente e não devem ser relacionados aos imunizantes antes de uma análise médica, que envolve exames complementares. Os sintomas mais comuns são dor no peito, falta de ar e palpitações.

“Os dados de incidência basal da doença e da baixa incidência de miocardite/pericardite como evento adverso pós vacinação (EAPV) descritos reforçam o benefício da vacina em detrimento do risco da doença COVID-19 e o risco de desenvolvimento de formas graves. Assim, mantém-se a recomendação de vacinação para toda população com indicação do uso do imunizante Pfizer/Cominarty sem restrições”, conclui a nota.

O que podemos aprender com esta verificação: Desde o início da pandemia, circulam nas redes sociais peças de desinformação desacreditando as vacinas. O Comprova, inclusive, já publicou diversas verificações sobre o tema. Considerando isso, tome cuidado com conteúdos virais que questionem os imunizantes.

Além disso, é de conhecimento geral entre os verificadores de fatos que áudios são um dos conteúdos mais difíceis de serem checados, por trazerem menos informações do que fotos ou vídeos. O que não impede que algumas ações simples possam ser feitas por qualquer pessoa. Ao receber um áudio sem a identificação do autor, desconfie. No WhatsApp, devemos desconfiar ainda mais quando o arquivo chega com a etiqueta “encaminhada com frequência”.

Como não é simples – muitas vezes, nem possível – identificar a autoria do áudio, busque em sites de veículos profissionais notícias sobre aquele assunto. Alguma mídia tradicional publicou conteúdo sobre médicos ligando o problema de Lucas Leiva à vacina? Se não encontrar nada, é bem possível que o áudio seja mentiroso mesmo.

O conteúdo verificado aqui mistura um acontecimento real, o anúncio da aposentadoria de Leiva por um problema de saúde, com uma mentira – a ligação da doença à vacina. Essa tática é bastante usada pelos desinformadores, na tentativa de tornar a mentira mais verossímil, como se isso fosse possível. Para não cairmos nela, a mesma dica anterior: sempre procure fontes confiáveis, como veículos de imprensa profissionais e órgãos governamentais.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo verificado aqui foi checado por Boatos.org e GZH. Foco de desinformação desde o início da pandemia, as vacinas continuam sendo descredibilizadas até hoje. Já nesta quinta fase, o Comprova publicou ser falso que Lula não foi imunizado e que é enganoso que o governo federal indica o uso de cloroquina no tratamento contra a covid. No ano passado, outro conteúdo enganoso envolvendo miocardite em atletas de futebol foi verificado.

 

Correção: Esta verificação foi atualizada em 23 de março de 2023, às 12h, para corrigir uma informação equivocada que constava no terceiro parágrafo da seção Áudio de WhatsApp. A primeira versão do texto dizia que o jogador estava no Liverpool, da Inglaterra. Na verdade, o clube era a Lazio, da Itália.

Saúde

Investigado por: 2023-03-10

Governo federal não indica uso de cloroquina contra a covid; post tira falas de Flávio Dino de contexto

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa uma publicação que usa uma entrevista de maio de 2020 de Flávio Dino (PSB), atual ministro de Justiça e Segurança Pública, à TV Mirante, como se fosse atual. O conteúdo descontextualiza a fala do então governador do Maranhão para dizer que houve uma mudança de opinião sobre o uso de medicamentos como cloroquina e azitromicina para prevenir ou tratar a covid-19. Esses remédios até hoje não têm eficácia comprovada contra a doença.

Conteúdo investigado: Vídeo de homem reagindo a uma entrevista de Flávio Dino à TV Mirante, gravada em maio de 2020, como se a fala fosse atual.

Onde foi publicado: WhatsApp e TikTok.

Conclusão do Comprova: Post com entrevista do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, sobre o uso de cloroquina e azitromicina para o tratamento da covid-19, é enganoso. O conteúdo foi exibido, na verdade, em 19 de maio de 2020 – nos primeiros meses da pandemia –, quando ainda não havia um consenso entre cientistas sobre a ineficácia desses medicamentos. Dino era, na época, governador do Maranhão.

De acordo com a mensagem que acompanha o vídeo, dá-se a entender que Dino acredita na eficácia da cloroquina para o tratamento da covid-19 hoje em dia, o que não é verdade. “Agora pode tomar cloroquina, azitromicina”, diz o texto que se sobrepõe à gravação de um homem que usa um efeito de palhaço do TikTok.

Na entrevista, o ministro responde ao repórter que o havia questionado sobre a “polêmica nacional” de médicos receitarem cloroquina para tratar o novo coronavírus.

Ele diz: “Polêmica completamente desnecessária, porque, desde o meio de março, eu afirmo e reitero que a cloroquina pode ser receitada pelos médicos. Nós sempre oferecemos aos médicos a oportunidade de receitar cloroquina, azitromicina, ivermectina”.

Em junho de 2020, poucos dias depois da fala de Dino à TV Mirante, a Secretaria de Saúde (SES) do Maranhão divulgou novas diretrizes de tratamento (veja aqui) que desaconselham o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina.

Diferentemente do que o post afirma, o governo federal não recomenda o uso dos remédios. A atual ministra da Saúde, Nísia Trindade, no dia 10 de janeiro, informou, segundo o Valor Econômico, que “medidas sem base científica ou sem amparo legal, entre elas nota técnica sobre cloroquina, serão revogadas imediatamente pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Procurada, a assessoria de Flávio Dino disse que o atual posicionamento do ministro da Justiça e da Segurança Pública, a respeito do uso das drogas para a covid-19, é o mesmo de maio de 2020 –quando, segundo eles, o então governador do MA não se dizia a favor do uso das drogas, mas sim que respeita a decisão dos médicos sobre o assunto.

“Se o médico achar necessário administrar o medicamento, ele será administrado. Se o médico não considerar cabível, ou que há riscos para os pacientes, é claro que não serei eu nem nenhuma autoridade externa que vai influenciar no conteúdo do trabalho do médico”, dizia Dino em maio na mesma entrevista em trecho após a cena cortada e divulgada nas redes.

“Esquemas com estas drogas não demonstraram benefício em pacientes internados, com aumento do risco de complicações cardiológicas”, informa o documento.

O ex-presidente Jair Bolsonaro, durante toda a pandemia, aconselhou o uso da cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina contra a covid-19, apesar de esses medicamentos não possuírem eficácia comprovada para combater a doença.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: No TikTok, a peça de desinformação alcançou, até a manhã desta sexta-feira (10), 44,6 mil visualizações e 2,1 mil curtidas, 290 comentários e 1,9 mil compartilhamentos em diversas plataformas, incluindo o WhatsApp.

O que diz o responsável pela publicação: Não foi possível contatar o perfil que publicou o conteúdo no TikTok. No entanto, há no perfil vários conteúdos similares ao vídeo checado pelo Comprova.

Em sua conta, o usuário republica e reage – por vezes usando o filtro de palhaço – a vídeos contrários ao governo do presidente Lula (PT) e a favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Como verificamos: Para investigar o vídeo, o Comprova fez uma busca por palavras-chave da gravação para identificar a data de gravação do vídeo que estava circulando. Com isso, a reportagem encontrou a íntegra da entrevista de Dino ao JMTV 2ª Edição no Globoplay, o serviço de streaming da Rede Globo.

Localizada a gravação original, o Comprova entrou em contato com o ministro para esclarecer qual é – e qual já foi – o posicionamento de Dino em relação aos medicamentos no contexto do enfrentamento à covid-19.

Em seguida, a reportagem buscou o protocolo adotado pela Secretaria de Saúde do Maranhão sobre o uso de cloroquina para o tratamento da covid na época da entrevista e hoje em dia, para verificar se houve alguma mudança após a fala de Dino para a emissora.

O projeto também procurou no site oficial do governo federal as orientações atuais do Ministério da Saúde sobre o tratamento farmacológico de adultos hospitalizados com covid-19. O site disponibiliza um documento de maio de 2021. Nele não é recomendado o uso da hidroxicloroquina, azitromicina ou cloroquina, nem mesmo em associação com outros medicamentos.

Mudanças no protocolo farmacêutico do Maranhão

A Secretaria da Saúde do Maranhão iniciou, em maio de 2020, a implementação de um protocolo de medicamentos para tratar a covid-19 em pacientes hospitalizados. O tratamento era ofertado para pessoas no período de um a cinco dias após a infecção.

Na época, a secretaria justificou o uso da cloroquina ou hidroxicloroquina como complemento a outros tratamentos, como assistência ventilatória e medicações para sintomas como febre e mal-estar. Porém, a cloroquina e a hidroxicloroquina não eram indicadas para prevenção da doença ou tratamento de casos leves.

Dois anos depois, em agosto de 2022, a SES divulgou a 10ª edição do seu Plano de Contingência do Novo Coronavírus. O documento não registrava novas recomendações relacionadas com o uso de hidroxicloroquina, cloroquina ou azitromicina.

O protocolo destaca a importância do reconhecimento precoce dos sintomas da covid-19 e do monitoramento contínuo dos pacientes para um atendimento adequado dos casos suspeitos ou confirmados da doença. Além disso, o protocolo aponta que o tratamento da doença deve obedecer aos pareceres técnicos mais recentes do Ministério da Saúde, publicados em maio de 2021, que dispensam o uso de cloroquina e azitromicina em casos de hospitalização.

Ministério não recomenda uso de cloroquina ou hidroxicloroquina em pacientes hospitalizados

A última orientação do Ministério da Saúde acerca do tratamento farmacológico de adultos hospitalizados com covid-19 foi publicada em maio de 2021.

Segundo o órgão, não é recomendado o uso da hidroxicloroquina e cloroquina, nem mesmo em associação com outros medicamentos. De acordo com as diretrizes ministeriais, não há evidências de benefícios do uso desses medicamentos, seja de forma isolada ou em combinação com outros remédios.

O Ministério da Saúde ressalta, no entanto, que os pacientes que já fazem uso de cloroquina ou hidroxicloroquina para outras condições de saúde devem continuar com o tratamento.

Além disso, a azitromicina, segundo o mesmo documento, também não é recomendada para pacientes hospitalizados com covid-19, a menos que haja suspeita ou presença de infecção bacteriana.

O uso do medicamento deve seguir as orientações do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar local ou dos protocolos institucionais de uso de antimicrobianos. Estudos clínicos não mostraram benefícios no uso de outros medicamentos no tratamento da covid-19 (colchicina, plasma convalescente, associação de casirivimabe e imdevimabe, lopinavir/ritonavir e ivermectina).

O Ministério da Saúde pontuou, ainda, que as recomendações foram emitidas com base em avaliações técnicas e científicas, e devem ser seguidas pelos profissionais de saúde que atuam no tratamento de pacientes hospitalizados com Covid-19.

O que podemos aprender com esta verificação: Retirar de contexto conteúdos legítimos para usá-los em um contexto diferente para apoiar narrativas enganosas é uma tática comum dos disseminadores de desinformação. Conteúdos legítimos usados em falsos contextos são verossímeis e mais facilmente aceitos pelos incautos. Um olhar mais atento ao vídeo permite identificar elementos de cena e informações contidas na fala de Dino que mostram que o vídeo foi gravado quando ele ainda era governado do Maranhão antes, portanto, de assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública no governo atual.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Em abril de 2021, o Projeto Comprova desmentiu o mesmo vídeo que tirava entrevista de Flávio Dino de contexto. A publicação em questão era oriunda da página de Carlos Bolsonaro. Após a recente viralização do mesmo conteúdo, também verificaram o conteúdo: UOL, G1, Estado de Minas, Aos Fatos e AFP checamos.

Saúde

Investigado por: 2023-03-07

FBI não confirmou origem do novo coronavírus, ao contrário do que diz tuíte

  • Enganoso
Enganoso
Tuíte engana ao afirmar que o FBI confirmou que o novo coronavírus saiu de um laboratório chinês. O diretor do órgão afirmou, em entrevista à Fox News, que "provavelmente" isso ocorreu. O FBI vê a possibilidade de vazamento acidental do vírus com "moderada confiança", ou seja, diferentemente do que afirma o tuíte, não dá certeza sobre isso.

Conteúdo investigado: Tuíte diz que o FBI confirmou que o novo coronavírus saiu de um laboratório chinês.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganoso o tuíte segundo o qual o FBI (Federal Bureau of Investigation; a polícia federal norte-americana) confirmou que o coronavírus, responsável pela covid-19, saiu de um laboratório chinês. O tuíte remete a uma publicação na internet que usa a mesma afirmação no título. Essa informação, porém, não consta no texto.

O conteúdo cita uma entrevista de 28 de fevereiro em que Christopher Wray, diretor do FBI, diz à Fox News que “provavelmente” um vazamento acidental em um laboratório em Wuhan teria iniciado a pandemia. Diferentemente do conteúdo apurado aqui, publicado pelo portal Terra Brasil Notícia, o diretor não crava a informação sobre a origem da covid-19.

A declaração de Wray foi feita após o jornal The Wall Street Journal divulgar dados de relatório entregue à Casa Branca em que o U.S. Energy Department, órgão do governo norte-americano responsável pela política de energia e segurança nuclear, diz que “a pandemia de covid provavelmente surgiu de um vazamento de laboratório”.

Segundo o relatório, “o vírus covid-19 circulou pela primeira vez em Wuhan, na China, no mais tardar em novembro de 2019”.

Na mesma reportagem, publicada em 26 de fevereiro, o Wall Street cita que o FBI vê a teoria de vazamento acidental com “confiança moderada” e que o relatório cita que outras quatro agências e um painel nacional de inteligência acreditam que a pandemia resultou provavelmente de uma transmissão natural. A Central Intelligence Agency (CIA) e um outro órgão não identificado estão indecisos sobre a origem, segundo o documento.

Um dia depois, o jornal publicou que a Casa Branca afirma não haver “consenso dentro do governo Biden sobre as origens do vírus”.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 7 de março, o tuíte teve 390,9 mil visualizações, 16,3 mil curtidas e 3.490 compartilhamentos.

O que diz o responsável pela publicação: A reportagem contatou o site Terra Brasil Notícias, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

Como verificamos: Inicialmente, a equipe buscou a entrevista de Wray para a Fox News, citada no conteúdo. Também pesquisou reportagens internacionais sobre o posicionamento do FBI em relação à origem da covid. Por último, tentou, via mensagem privada no Instagram, contato com o site que publicou o tuíte e o texto verificados aqui.

O que podemos aprender com esta verificação: Não se deixe levar somente pelo título. Muitas publicações titulam posts com informações bombásticas e alarmistas que não são confirmadas pelo texto. Quando isso acontece, desconfie. Busque pelos termos usados no título em sites de bsuca e outras publicações confiáveis. Verifique também se o texto contém links para as fontes originais antes de compartilhar.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Desde o início da pandemia o Comprova vem checando conteúdos que acusam a China de ter propagado o coronavírus. Entre as checagens estão a de frase de pesquisador americano de 2016 que não indica que chineses provocaram pandemia e a de que é enganoso que e-mail de Anthony Fauci mostrado no Fantástico prove origem do vírus em laboratório.

Saúde

Investigado por: 2023-03-06

Lula foi vacinado contra covid, ao contrário do que afirma legenda de vídeo

  • Falso
Falso
É falso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não tenha sido vacinado contra a covid-19 durante o lançamento do Movimento Nacional pela Vacinação. Trecho de um vídeo da cerimônia, compartilhado amplamente nas redes sociais, foi legendado de forma a dar a entender que uma técnica em enfermagem diz ao presidente que seu cartão de vacinação foi preenchido, mas que ele não recebeu o imunizante.

Conteúdo investigado: Um vídeo que circula nas redes sociais apresenta um trecho da cerimônia do Movimento Nacional pela Vacinação, realizada em 27 de fevereiro, em que Lula aparece ao lado da ministra da Saúde, Nísia Trindade. O presidente é abordado por uma mulher de vermelho, cuja fala é legendada da seguinte maneira: “Vou falar!! Receba o cartão de vacina, mas você não foi vacinado, não. Gerente da UBS ainda vai passar foto entregando o cartão”. À peça de desinformação, foram acrescentadas, ainda, as inscrições “foi tudo teatro” e “farça montada!!! aplicou plascebo (sic)”.

Onde foi publicado: Kwai, Twitter, Facebook e TikTok.

Conclusão do Comprova: Não é verdade que o presidente Lula (PT) não tenha sido vacinado contra a covid-19 durante o lançamento do Movimento Nacional pela Vacinação, em 27 de fevereiro.

Trecho de um vídeo da cerimônia, compartilhado amplamente nas redes sociais, foi legendado de forma a dar a entender que uma técnica em enfermagem diz ao presidente que seu cartão de vacinação foi preenchido, mas que ele não recebeu o imunizante.

Na transmissão feita pelo canal TV Brasil no YouTube, contudo, é possível verificar que a legenda não condiz com o que a mulher fala. Na verdade, ela refere-se ao fato de que, se Lula não tiver o documento com o registro, não poderá comprovar a imunização.

Também pode-se acompanhar, em imagens ampliadas, o vice-presidente e médico Geraldo Alckmin (PSDB) aplicando a substância no presidente.

A Secretaria de Comunicação da Presidência negou que a vacinação tenha sido encenada, assim como a Secretaria de Saúde do Distrito Federal, responsável pela UBS onde ocorreu a cerimônia.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Conforme a ferramenta CrowdTangle, a publicação aqui verificada recebeu 28,7 mil interações no Twitter até o dia 3 de março. O vídeo também foi compartilhado por diversas contas em diferentes redes sociais, que tiveram milhares de interações. Uma das publicações no TikTok soma 57,7 mil visualizações, enquanto outra teve mais 13,5 mil no Kwai.

O que diz o responsável pela publicação: O vídeo contém a inscrição de quem o publicou no Kwai e no Tik Tok. O Comprova encontrou os perfis citados na publicação e enviou mensagens, mas, até a publicação deste texto, não recebeu resposta.

Como verificamos: Primeiramente, identificamos o evento sobre vacinação do qual o presidente Lula participou junto da ministra da Saúde, Nísia Trindade. Em seguida, procuramos pela transmissão da cerimônia no YouTube. Ao assisti-la, identificamos o trecho utilizado nas peças desinformativas. A partir do áudio com melhor qualidade disponível na plataforma, foi possível entender com clareza o que a mulher diz ao presidente.

Por meio de uma publicação do Conselho Nacional de Enfermagem (Cofen), foram identificados os profissionais da área que participaram do evento. Ao consultar os nomes deles no Google Imagens, descobrimos que a pessoa que fala com Lula é a técnica em enfermagem Fátima Lúcia Rola, que em 2022 foi candidata a deputada distrital pelo PT.

A pesquisa no Google também informou que ela é membro da Associação dos Profissionais de Saúde Pública do Distrito Federal, o Clube da Saúde, com o qual a reportagem entrou em contato, e é conselheira de saúde no Distrito Federal, portanto, a Secretaria de Saúde também foi procurada.

Entrevistamos, por fim, o médico pediatra Juarez Cunha, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e membro da Comissão Nacional Especializada em Vacinas.

Lula foi imunizado no lançamento do Movimento Nacional pela Vacinação

No dia 27 de fevereiro, Lula recebeu a quinta dose da vacina contra a covid-19. Ele foi imunizado com o produto bivalente da empresa Pfizer (Comirnaty), cujo uso temporário e emergencial foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em novembro de 2022. As vacinas bivalentes oferecem proteção contra mais de uma cepa do vírus.

A aplicação ocorreu durante o lançamento do Movimento Nacional pela Vacinação, do Ministério da Saúde, com o objetivo de ampliar a cobertura vacinal no Brasil. A cerimônia foi realizada em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) no Guará, região administrativa do Distrito Federal.

Além de Lula, participou do evento o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, que é médico anestesista e foi o responsável por aplicar a dose no presidente.

O conteúdo aqui checado tenta desqualificar as vacinas e afirma falsamente que Lula não teria recebido a dose de fato, mas fingido ter sido imunizado. Na peça de desinformação, consta sobre as imagens a seguinte inscrição: “farça montada!!! aplicou plascebo (sic)” – um placebo é elaborado para ter a aparência exata de um medicamento real, mas é composto por substâncias químicas inativas, ou seja, não faz qualquer efeito.

Por conta de outras postagens falsas e enganosas que circulam nas redes sociais sustentando que Lula não foi vacinado, a Secretaria de Comunicação da Presidência já havia se posicionado sobre o assunto. No dia 28 de fevereiro, a pasta ressaltou que o presidente é um “defensor da ciência e da vacinação como estratégia fundamental para a saúde pública no Brasil”. Ao ser procurada pelo Comprova, reforçou o comunicado e desmentiu o conteúdo alvo desta verificação.

Procurada pelo Comprova, a assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, responsável pela UBS onde ocorreu a imunização, também declarou ser falsa a afirmação de que o presidente Lula não tenha sido vacinado.

Na transmissão do evento feita pela TV Brasil, é possível acompanhar, a partir dos nove minutos e 37 segundos, Alckmin aplicando a substância em Lula. Imagens em zoom mostram o vice-presidente preparando a dose e, neste momento, quando ele retira um pouco do ar que há na seringa, nota-se alguns respingos saindo da agulha, comprovando que havia líquido no interior:

| Captura de tela da transmissão da TV Brasil feita em 02/03/2023

Diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o médico Juarez Cunha frisa que os frascos que chegam à rede pública de saúde contêm vacina e que o placebo, mencionado na peça de desinformação, é destinado a estudos clínicos. “Na nossa rede, os frascos que a gente tem de vacina são de vacina, não existe frasco de placebo. Então, quando tu aspira o produto ali, o produto que tu aspira é vacina”, explica Cunha.

“O presidente atual, em outros momentos, já participou de campanhas de vacinação, e isso nunca foi uma preocupação”, acrescenta.

Técnica em enfermagem não diz que Lula não foi vacinado

A mulher que aparece de vermelho ao lado do presidente Lula nas imagens viralizadas é a técnica em enfermagem Fátima Lúcia Rola, servidora pública do Distrito Federal. Na peça desinformativa, uma legenda adicionada ao conteúdo não reproduz o que realmente é dito no vídeo. A postagem sustenta falsamente que a mulher teria dito: “vou falar!! Receba o cartão de vacina, mas você não foi vacinado, não. Gerente da UBS ainda vai passar foto entregando o cartão”.

Na transmissão feita pela TV Brasil, a cena pode ser conferida a partir dos 11 minutos e 48 segundos. O material está disponível no YouTube e tem qualidade de áudio superior à do conteúdo viralizado, permitindo entender com mais precisão o teor da fala.

Ao se aproximar de Lula, que está ao lado da ministra da Saúde, Nísia Trindade, Fátima, na verdade, diz: “presidente, deixa eu falar, receba o cartão de vacina, senão o senhor não foi vacinado, não”. Ela refere-se à comprovação, feita pelo documento, de que ele recebeu o imunizante.

Em seguida, a técnica aponta para o documento que está na mão de outra pessoa, apresentada por ela como gerente da Unidade Básica de Saúde onde ocorre o evento. A gerente mostra o comprovante ao presidente, que o pega, analisa e mostra os registros das vacinas para as câmeras. Depois, Lula guarda o cartão no bolso do paletó. Após um trecho inaudível, Fátima acrescenta: “vamos tirar foto entregando o cartão”.

À reportagem, a assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde do Distrito Federal afirma ser falso que qualquer servidora tenha dito que o presidente não recebeu o imunizante. “A recomendação dada a todas as pessoas que recebem qualquer vacina é que guarde, em local acessível e seguro, o cartão de vacinas para que possa comprovar as imunizações, nos casos em que se fizer necessário”, orienta o órgão, em nota.

O Comprova procurou Fátima Lúcia por meio do Clube da Saúde, da Secretaria de Saúde do Distrito Federal e de sua conta pessoal no Facebook, mas não conseguiu falar com a técnica em enfermagem.

O que podemos aprender com esta verificação: A partir da manipulação do registro de um evento em que o presidente Lula de fato tomou a quinta dose da vacina contra a covid-19, o conteúdo aqui verificado se aproveita do excesso de ruídos para acrescentar ao vídeo uma falsa legenda sobre o que está sendo dito, induzindo ao erro quem o visualiza sem tanta atenção.

Diante disso, a verificação feita pelo Comprova levanta alguns pontos que servem de aprendizado. São eles:

1) Desde que começaram a ser divulgadas informações sobre a produção de vacinas contra a covid-19, as redes sociais viraram palco de desinformações sobre a eficácia do imunizante. O Comprova, inclusive, já verificou vários conteúdos suspeitos sobre o tema. Considerando isso, tome cuidado com conteúdos virais que questionem as vacinas, seja em relação à sua eficácia ou sobre a aplicação de imunizantes em autoridades.

2) Sempre procure fontes confiáveis para verificar as afirmações apresentadas em conteúdos disseminados nas redes sociais.

3) Procure se informar por meio de veículos de imprensa profissionais, órgãos governamentais e instituições com credibilidade.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal. São abertas investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já verificou diversos conteúdos falsos citando o nome do presidente Lula, como, por exemplo, que o plano de governo dele não propunha medidas como nova CPMF, tributação do PIX e congelamento da poupança. Também foram checadas dezenas de conteúdos relacionados às vacinas contra a covid-19, como um vídeo que distorce declaração de executiva da Pfizer sobre eficácia do imunizante. O mesmo conteúdo aqui verificado foi checado também por Aos Fatos.

Saúde

Investigado por: 2022-11-18

Post usa declaração de virologista conhecido por desinformar para mentir sobre eficácia das vacinas contra covid

  • Falso
Falso
É falso que o virologista e infectologista Robert Malone seja o “pai da vacina” e que um discurso feito por ele em Washington, nos Estados Unidos, em janeiro deste ano, prove que as vacinas contra a covid-19 não funcionem ou sejam perigosas, como afirma post. Malone foi um dos primeiros a estudar a tecnologia de RNA mensageiro (mRNA) em vacinas, mas não é verdade que ele tenha criado esse tipo de imunizante – ele costuma reivindicar o crédito e é apresentado assim na transmissão da Fox News usada no post. Além disso, ele é conhecido por espalhar desinformação sobre a pandemia e usa argumentos falsos sobre segurança das vacinas para desencorajar as pessoas a se vacinarem.

Conteúdo investigado: Vídeo com discurso do virologista Robert Malone, em que ele afirma que as vacinas de mRNA contra covid-19 – que chama de “vacinas genéticas” – não são seguras e não protegem contra a variante ômicron. Ele acrescenta que mesmo se todas as pessoas nos Estados Unidos se vacinarem, não haverá imunidade de rebanho, como ocorreria, segundo ele, a partir da imunidade natural, ou seja, a partir da infecção pelo vírus.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É falso post que afirma que, segundo o “pai da vacina”, os imunizantes contra a covid-19 não funcionam e que as mortes por conta da doença são a prova disso. A publicação usa um vídeo de declaração do médico norte-americano Robert Malone, um dos primeiros a pesquisar o uso de RNA mensageiro em vacinas, mas, diferentemente do que afirma o conteúdo checado, ele não é o criador da tecnologia, desenvolvida por diversos cientistas.

Malone foi chamado de “estrela da desinformação da covid” pelo jornal The New York Times, e a gravação usada no post verificado aqui mostra mais uma mentira contada por ele. As vacinas são comprovadamente eficazes contra o coronavírus.

Segundo levantamento da Info Tracker, plataforma desenvolvida pela USP (Universidade de São Paulo) e Unesp (Universidade Estadual de São Paulo) para monitorar os dados da pandemia, de março de 2021, quando se iniciou a aplicação da segunda dose, a novembro do mesmo ano, de cada dez pessoas que morreram no Brasil pela doença, oito não haviam recebido nenhuma dose de qualquer um dos imunizantes aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que “as vacinas contra a covid-19 desempenham um papel crítico na prevenção de mortes e internações” e “estão contribuindo para controlar a propagação da doença”, segundo documento revisado em março deste ano.

Como informado pelo Comprova em verificação recente, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e o Office for National Statistics (ONS), do Reino Unido, também reforçam a eficácia das vacinas contra mortes por covid-19. O Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos, afirma o mesmo.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Apenas uma postagem no Twitter acumulava quase 7 mil interações até a tarde desta sexta-feira (18).

O que diz o responsável pela publicação: O perfil no Twitter não permite envio direto de mensagem ao autor da publicação. A página de mesmo nome no Instagram também não tem habilitada a opção.

Como verificamos: Inicialmente, fizemos uma busca reversa de imagens no Google associada ao nome de Robert Malone por frames do vídeo. Além de chegar a outras postagens nas redes sociais com o mesmo conteúdo, também foi encontrada uma checagem feita em janeiro de 2022 pelo Estadão Verifica e outra em fevereiro pelo Fato ou Fake, do G1.

Outra busca pelos termos “mRNA”, “vaccine” e “Robert Malone” levou a reportagens publicadas nos Estados Unidos sobre a disseminação de desinformação por parte do virologista: a primeira, do Washington Post, se referia ao mesmo discurso de Malone usado no post aqui investigado; a segunda, no The New York Times, levava a um perfil de Malone e sua relação com a desinformação contra as vacinas.

O Comprova acessou relatórios oficiais do CDC (1, 2), materiais publicados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pela OMS a respeito da segurança e eficácia das vacinas de mRNA (Pfizer e Moderna), além de reportagens na imprensa sobre o assunto.

Também foi entrevistado o médico pediatra Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Vídeo é de janeiro de 2022

O aumento do número de casos de covid-19 em vários países nas últimas semanas fez ressurgir conteúdos de desinformação sobre a pandemia. É o caso do vídeo que aparece no tuíte checado. Ele é um trecho de uma transmissão do programa Special Report, da Fox News, que mostrava uma manifestação em Washington, nos Estados Unidos, contra a obrigatoriedade das vacinas no dia 23 de janeiro de 2022.

Robert Malone, um virologista e infectologista norte-americano, falou na ocasião para milhares de manifestantes antivacina, que aplaudiam frases que, vez ou outra, os encorajava a não se vacinar e adquirir a imunidade natural, ou seja, através da infecção pelo vírus.

Quando gravou o vídeo sugerindo que as pessoas estariam mais protegidas do vírus contraindo a doença do que se vacinando, a covid-19 já tinha matado 860 mil americanos. Naquela época, a ômicron era predominante nos Estados Unidos.

Vacinas são seguras e tecnologia é estudada há anos

Durante o discurso, Robert Malone diz que “a ciência está resolvida” e que as vacinas de mRNA – que ele chama de “vacinas genéticas” não estão funcionando e não são seguras. A alegação é falsa. De acordo com a OMS, a tecnologia de vacina de mRNA é estudada há mais de uma década, inclusive no desenvolvimento de vacinas contra zika, raiva e influenza.

“Essas vacinas mRNA foram rigorosamente avaliadas por segurança, e os ensaios clínicos mostraram que fornecem uma resposta imune duradoura. Vacinas mRNA não são vacinas contra vírus vivos e não interferem no DNA humano”, diz a OMS.

A diretora de Imunização da OMS, Kate O’Brien, explica que as vacinas de mRNA funcionam como se fornecesse uma receita para que o sistema imunológico produza os anticorpos que irão combater o vírus. “A vacina fornece as instruções ao nosso próprio sistema imunológico a fim de produzir uma parte pequena, minúscula, apenas um componente muito pequeno da partícula viral contra a qual o sistema imunológico irá reagir. É tudo o que são as vacinas de mRNA”, diz.

Uso de vacinas de mRNA vem surtindo efeito

Dois dias antes do discurso de Malone, em 21 de janeiro, o CDC, dos Estados Unidos, havia publicado um relatório online sobre a eficácia da terceira dose das vacinas de mRNA contra atendimentos de urgência e hospitalizações de adultos durante a prevalência das variantes delta e ômicron no país. Os dados desmentem a fala de Malone.

O resultado aponta para uma eficácia de 94% na prevenção de atendimentos de urgência e emergência contra a variante delta e de 82% contra a ômicron. Para a prevenção de hospitalizações, a eficácia foi de 94% contra a delta e de 90% contra a ômicron.

De acordo com o médico pediatra e infectologista Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, as evidências sobre a eficácia das vacinas agora são as mais robustas desde o início da pandemia. Para ele, não há dúvidas do efeito protetor das vacinas contra os quadros mais graves de covid-19. “Quando a gente olha os dados e compara os índices de vacinados e não vacinados, é brutal a diferença. O indivíduo, quando ele está com um esquema vacinal completo, o risco dele para todos os desfechos da covid-19 é menor”, aponta o médico.

Ainda segundo Kfouri, as vacinas de mRNA fornecem uma proteção ainda melhor do que as demais. “Essas vacinas são mais imunogênicas, ou seja, elas despertam anticorpos melhores, uma neutralização maior, quando comparadas às de vetor viral e às de vírus inativado”, diz.

Apesar de a resposta imune ser muito superior, a duração da proteção não é tão longa quanto se esperava, mas esse não é um fator exclusivo das vacinas de mRNA. “Desde a ômicron, há uma perda da proteção, o que tem feito com que indivíduos vacinados se infectem. Nós não temos hoje uma proteção boa contra a forma leve da doença, mas as vacinas continuam muito eficazes contra a forma grave”, explica.

Proteção contra novas cepas, como a ômicron

A proteção das vacinas diminuiu frente às novas cepas, especialmente a ômicron, mas os imunizantes ainda protegem contra as formas graves e letais da doença. Reforços com vacinas de mRNA são recomendados, inclusive, no momento atual da pandemia – o relatório mais recente do CDC sobre a eficácia das vacinas de mRNA contra a variante ômicron é de 21 de outubro de 2022.

Segundo o estudo, feito em pacientes adultos vacinados entre 26 de dezembro de 2021 e 31 de agosto de 2022, a eficácia da vacina de mRNA monovalente contra a hospitalização diminui com o tempo. No intervalo de 120 dias iniciais após a aplicação da terceira dose, a eficácia era de 79% contra as cepas BA.1 e BA.2 – subvariantes da ômicron. Após esses 120 dias, a eficácia caiu para 41%. Já nas cepas BA.4 e BA.5, também subvariantes da ômicron, a eficácia de 60% nos 120 dias iniciais após a terceira dose caiu para 29% após 120 dias.

O relatório apontou que não há dados suficientes para apontar a durabilidade da proteção no período de predominância das sub-variantes BA.4 e BA.5 justamente pelo declínio na proteção e pelo fato de as cepas anteriores – BA.1 e BA.2 – reduzirem as estimativas de eficácia das vacinas. Por isso, os cientistas apontaram que era importante que adultos com mais de 18 anos recebessem uma dose bivalente de vacina de mRNA atualizada para maximizar a proteção e evitar hospitalizações pelas cepas BA.4 e BA.5 antes da chegada do inverno nos Estados Unidos.

Também em outubro deste ano, um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com o Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISCGlobal) apontou que pessoas que receberam duas doses da vacina Coronavac – que usa vírus inativado – alcançaram uma proteção maior contra a covid leve e grave depois de receberem uma dose de reforço com vacina à base de mRNA.

De acordo com o infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz e da Yale School of Public Health, e coautor do estudo, a vacinação inicial com duas doses da Coronavac quase não ofereceu proteção contra a forma leve da covid-19 causada pela variante ômicron, enquanto a proteção contra a forma grave da doença variou de 40% a 50%. Uma terceira dose da Coronavac não ofereceu proteção adicional contra a forma sintomática da doença e concedeu adicional moderado contra a forma grave – 74% de eficácia em adultos e de 40% a 50% em idosos com mais de 75 anos.

Já uma dose de reforço com vacina de mRNA aplicada em pessoas que tinham recebido duas doses de Coronavac ofereceu uma proteção adicional de 56,8% contra a forma leve da covid-19 causada pela ômicron e de 86% para a forma grave. Além disso, a proteção com um reforço de vacina de mRNA pareceu ter uma duração de pelo menos quatro meses, enquanto com a vacina de vírus inativado acontecia o contrário – a proteção reduzia ao longo de quatro meses.

O estudo, publicado pela revista científica Nature, foi feito com uma amostra ampla, com quase 1,4 milhão de pares de casos em todos os mais de 5 mil municípios do Brasil, entre dezembro de 2021 e abril de 2022, quando a variante ômicron BA.1 era a predominante no país.

Vacinas protegem por pouco tempo? E a imunidade natural?

Em fevereiro deste ano, conforme divulgado no Brasil por veículos como Folha, UOL e CNN, um estudo do CDC avaliou que a eficácia da terceira dose dos imunizantes da Pfizer e da Moderna diminui após o quarto mês de administração, um efeito que também já havia sido observado nas administração das duas primeiras doses. A pesquisa examinou o total de 93 mil hospitalizações por covid-19 e mais de 240 mil atendimentos de emergência relacionados à doença, em 10 estados norte-americanos, ocorridas entre agosto de 2021 e janeiro de 2022, o que inclui as ondas das variantes delta e ômicron.

Mesmo com a predominância da ômicron, a eficácia contra hospitalizações se mantinha em 91% nos primeiros meses após o recebimento da vacina. Em pacientes com pelo menos quatro meses após a administração do imunizante, a eficácia reduzia para 78%. Em relação aos pacientes atendidos em pronto-socorro, a eficácia das doses de reforço após o surgimento da ômicron foi de 87% em dois meses seguintes à aplicação, de 66% após quatro meses e de 31% após cinco meses.

A conclusão do estudo apontou para a necessidade de doses suplementares e ratificou a oferta de altos níveis de proteção dos imunizantes no que tange à prevenção de quadros graves da doença. No vídeo, Robert Malone usa a queda na proteção das vacinas diante da variante ômicron para sugerir, então, que a imunidade natural, conferida pela infecção, seria mais duradoura, ampla e eficaz contra a morte por covid. Não é verdade.

De acordo com Renato Kfouri, da SBIm, a melhor proteção é a chamada híbrida, ou seja, uma mistura entre a imunidade natural adquirida após a infecção pela covid-19 associada à vacinação. “Para aqueles que já foram infectados e recebem a vacina, o risco de adoecimento é pelo menos seis vezes menor do que indivíduos que tiveram a doença e não tomaram a vacina”, diz.

No vídeo, Malone acrescenta que não haverá imunidade de rebanho pela vacinação e insinua que, diante dos riscos, as pessoas devem escolher a imunidade natural. Isso também não é verdade. Kfouri aponta que a meta de imunidade de rebanho citada por Malone é uma ideia abandonada há bastante tempo. “É que nem gripe, o vírus não é só de seres humanos, é zoonótico, tem reservatório em animais, é um RNA vírus que sofre mutações, cuja proteção das vacinas não é longeva. É um vírus que a vacina não previne infecção, mas complicações. Não há possibilidade de se conseguir imunidade de rebanho nem com as vacinas nem com a infecção. Isso é uma característica dos vírus respiratórios”, explica.

Quem é Robert Malone e qual sua relação com a vacina?

No início do vídeo, é possível ver que Malone é identificado na transmissão da Fox News como inventor da tecnologia de vacinas de DNA e mRNA, mas isso não é verdade. De fato, Malone foi um dos primeiros cientistas a iniciar pesquisas para o uso de RNA mensageiro em vacinas, mas ele não é o criador desse tipo de imunizante, já que esse trabalho se deveu à atuação de diversos outros cientistas.

Apesar do currículo como cientista e do trabalho em busca de tratamentos para combater os surtos de Zika e Ebola, Malone ficou conhecido por espalhar desinformação sobre as vacinas contra a covid-19 nos Estados Unidos, sobretudo a partir da atuação em programas conservadores, e seu discurso acabou sendo exportado.

Em janeiro deste ano, após o discurso em Washington, o Washington Post disse que as “alegações desacreditadas” de Robert Malone ajudaram a reforçar o movimento da desinformação. Em abril, o The New York Times o chamou de “estrela da desinformação da covid” e disse que o cientista se julgava “injustiçado”, reivindicando a paternidade das vacinas de mRNA.

Ele já apareceu em uma verificação do Comprova, que classificava como falso texto de médico francês com tese infundada de que vacinados são perigosos e devem ser isolados. Malone era um dos médicos que validavam o conteúdo de desinformação.

Consórcio de imprensa

“E agora? Podemos processar o con$órcio por difundirem fake news?”, pergunta o autor do post verificado aqui. A reportagem não conseguiu contatá-lo, mas por “consórcio” entende-se que ele está se referindo ao consórcio de veículos de imprensa criado em junho de 2020 para informar a sociedade brasileira sobre dados da covid-19 no país.

O grupo é formado por Folha, UOL, O Estado de S. Paulo, Extra, O Globo e G1 e, como publicou a Folha, foi criado de forma inédita “em um momento em que o governo Jair Bolsonaro (PL) tomava atitudes que reduziam a quantidade e qualidade dos dados disponíveis” sobre a doença. No início da pandemia, o governo federal começou a divulgar os casos de infectados e as mortes pelo vírus às 17h, mas, depois, passou para as 22h, dificultando a divulgação das informações nos telejornais e veículos impressos. Sobre a mudança de horário, Bolsonaro chegou a dizer no dia 5 de junho de 2020, em tom de deboche, “Acabou matéria no Jornal Nacional”.

O consórcio já recebeu reconhecimentos como o prêmio Einstein + Admirados da Imprensa de Saúde e Bem-Estar, entregue em setembro de 2021 e promovido pela Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein em parceria com o Portal de Jornalistas e Jornalistas & Cia. Também recebeu, em dezembro do mesmo ano, o prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa, promovido pela Associação Nacional de Jornais – o Comprova também foi homenageado na ocasião.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. O vídeo verificado nega a eficácia comprovada das vacinas, reforçando discurso negacionista disseminado de diferentes formas em diversas partes do mundo. Em casos assim, a desinformação pode fazer com que uma parcela da população não se vacine, ou seja, coloca a vida das pessoas em risco.

Outras checagens sobre o tema: Malone já apareceu em outra verificação do Comprova, como a de texto falso de médico francês que espalhava tese infundada de que vacinados são perigosos e devem ser isolados. As declarações do virologista também foram checadas pelo Estadão Verifica e pelo Fato ou Fake, do G1. Conteúdos falsos ou enganosos sobre a eficácia das vacinas têm sido verificados pelo Comprova, como vídeo que distorce declaração de executiva da Pfizer e post que tira dados de contexto para sugerir que vacinados são mais vulneráveis à covid.

Saúde

Investigado por: 2022-11-11

Vídeo distorce declaração de executiva da Pfizer sobre eficácia da vacina contra a covid-19

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a postagem que repercute declaração de político croata em que ele afirma que as vacinas contra a covid-19 são “fake”, não havendo diferença entre se vacinar ou não na prevenção de infecções e mortes. A fala distorce a declaração de uma executiva da Pfizer ao Parlamento Europeu, dada em outubro. Em audiência, Janine Small afirma não ter havido testes sobre o impacto do imunizante na cadeia de transmissão do coronavírus, e não sobre a eficácia do imunizante. Em relação à prevenção contra mortes, há, sim, eficácia, como mostram a Agência Europeia de Medicamentos (EMA), o Imperial College of London e a Office for National Statistics (ONS), do Reino Unido.

Conteúdo investigado: Um vídeo que circula no TikTok, no qual o advogado e político croata Mislav Kolakusic tira de contexto uma declaração dada por Janine Small, executiva da Pfizer, ao Parlamento Europeu para sugerir ineficácia da vacinação contra a covid-19. Para reforçar o discurso negacionista, a peça verificada afirma que a farmacêutica teria admitido um “crime mundial”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É enganosa a fala do político e advogado croata Mislav Kolakusic, que sugere ineficácia da vacinação contra a covid-19 na redução do número de mortes em decorrência da doença, chamando as vacinas de “fake”. A declaração é repercutida em uma postagem que circula no TikTok, que insere sobre o vídeo os dizeres: “Pfizer admite crime mundial”.

Kolakusic distorce uma declaração dada pela executiva da farmacêutica Pfizer Janine Small ao Parlamento Europeu, no dia 10 de outubro. Na ocasião, Janine declarou que a empresa só não fez testes, antes de a vacina ser disponibilizada, no que dizia respeito ao impacto sobre a transmissão do coronavírus entre humanos.

Em relação às mortes, Janine cita o oposto do que sugere o croata, e menciona estudo do Imperial College of London, publicado em junho de 2022, que estimou uma redução de 19,8 milhões de mortes por covid-19 em todo o mundo devido à vacinação. O trecho não aparece na postagem verificada.

Além desses dados, o Comprova buscou informações em sites da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e da Office for National Statistics (ONS), do Reino Unido, que reforçam a eficácia das vacinas contra mortes por covid-19.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Até o dia 11 de novembro, a publicação tinha 40,4 mil curtidas, além de 2.118 comentários e 22,2 mil compartilhamentos.

O que diz o responsável pela publicação: Não foi possível fazer contato com o autor da publicação, pois o TikTok não permite troca de mensagens entre contas que não se seguem mutuamente. Buscas por perfil semelhante foram feitas em outras plataformas, como Twitter e Facebook, mas sem sucesso. No Instagram, um perfil com a mesma descrição foi identificado, no entanto, a conta não permite envio direto de mensagem. Apesar da semelhança na descrição do usuário, as contas possuem conteúdos diferenciados e não há elementos que permitam inferir que ambas pertencem à mesma pessoa.

Como verificamos: A postagem verificada é um vídeo em que um homem cita uma declaração de uma executiva da Pfizer, que foi feita ao político holandês e membro do Parlamento Europeu Rob Roos. Busca no Google com os termos “rob roos interview pfizer director vaccine” levou a um vídeo na página de Roos no Facebook em que ele repercute a declaração. A partir do material, foi possível localizar a íntegra da audiência no site do Parlamento Europeu, compreender seu contexto, além de identificar os principais envolvidos.

A postagem verificada traz a inscrição do canal do Telegram do qual o vídeo foi retirado. No Twitter do mesmo canal, foi possível localizar uma publicação com o mesmo vídeo em um formato que permitiu a leitura do nome do homem que faz a afirmação enganosa: Mislav Kolakusic, representante da Croácia no Parlamento Europeu.

Além da declaração da executiva da Pfizer, ele cita, superficialmente, dados do National Health Service (NHS), na Inglaterra. O Comprova fez contato com o NHS, mas não obteve retorno até o fechamento desta verificação. No entanto, pesquisas nos sites da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), do Imperial College of London e da Office for National Statistics (ONS), do Reino Unido, confirmam a efetividade da vacina na prevenção de mortes por covid-19, contrariando o que sugere Mislav Kolakusic na postagem enganosa.

Fala de executiva da Pfizer não tem relação com eficácia da vacina contra covid-19

O vídeo utilizado na postagem verificada mostra uma declaração de Mislav Kolakusic no Parlamento Europeu. Advogado e político croata, ele repercute uma resposta dada no dia 10 de outubro por Janine Small, executiva da Pfizer, ao político holandês Rob Roos, também no parlamento europeu, para sugerir que as vacinas são ineficazes e que, portanto, as farmacêuticas deveriam ser processadas e a União Europeia reembolsada dos gastos para compra dos imunizantes. Kolakusic e Roos são representantes de seus países no parlamento europeu.

À Rob Roos, Janine Small afirma (a partir de 15:31:44) que não foram feitos testes em relação a uma eventual quebra da cadeia de transmissão do coronavírus antes de a vacina da Pfizer ser disponibilizada ao mercado. Em sua página no Facebook, Roos utiliza apenas um trecho da resposta para criticar o passaporte vacinal, implementado em diversos países sob a justificativa de que, ao se vacinar, a proteção era conferida também ao próximo.

À resposta de Janine Small, Mislav Kolakusic acrescenta, em outra ocasião e sem maiores detalhes, que dados da NHS England mostram não haver diferença entre infecções e mortes por covid-19 entre quem foi vacinado com até quatro doses e não vacinados. A afirmação foi compartilhada por Kolakusic no Twitter. Com isso, o croata chama as vacinas de “fake” e pede a interrupção da compra de mais doses, reembolso do que já foi pago e que as farmacêuticas e laboratórios sejam processados.

Dados mostram que vacinados morrem menos

Ao contrário do que afirma Mislav Kolakusic, dados da Europa e Inglaterra mostram que as vacinas foram eficazes em prevenir mortes por covid-19. A resposta completa de Janine Small (a partir de 15:31:44) contém uma informação desprezada nos vídeos compartilhados por Roos e Kolakusic, que viralizaram nas redes sociais. Ela cita estudo do Imperial College of London, de junho de 2022, que estima que a vacinação contra a covid-19 evitou 19,8 milhões de mortes no mundo. O estudo, publicado na revista The Lancet Infectious Diseases, analisou dados de 185 países.

Outro dado que se contrapõe à afirmação do político croata é o do Office for National Statistics (ONS), órgão oficial do Reino Unido. A análise das mortes entre 1 de janeiro de 2021 e 31 de maio de 2022 na Inglaterra por covid-19, de acordo com status vacinal, mostra duas principais conclusões:

  • Redução consistente de mortes a cada mês após a introdução da terceira dose em setembro de 2021, na comparação entre vacinados com a terceira ou quarta dose e não vacinados ou vacinados com uma ou duas doses.
  • Maior número de mortes entre quem tomou a segunda dose há seis meses do que entre quem tomou a segunda dose em período posterior, o que indica uma possível redução da proteção conferida pela vacina com o passar do tempo.

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA), equivalente à Anvisa no Brasil, mantém uma página em seu site com dados atualizados sobre a segurança e a efetividade das vacinas contra a covid-19 aprovadas na Europa – Pfizer entre elas. Até outubro de 2022, foram quase 926 milhões de doses aplicadas na Europa. A EMA afirma que as vacinas são seguras e efetivas, tendo preenchido todos os critérios da agência relacionados à eficácia, segurança e qualidade em dezenas de milhares de testes.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. O vídeo verificado nega a eficácia empiricamente comprovada da utilização dos imunizantes contra a covid-19, inclusive na redução do número de óbitos e de manifestações mais graves da doença, reforçando discurso negacionista disseminado de diferentes formas em diversas partes do mundo. Em casos assim, a desinformação pode colocar a vida das pessoas em risco.

Outras checagens sobre o tema: Também investigada pelo UOL Verifica, a declaração do croata Mislav Kolakusic foi apontada como distorcida.

Sobre a pandemia, o Projeto Comprova também investigou que é enganoso que vacinação em crianças no Reino Unido foi interrompida devido a aumento de mortes; que órgão de saúde dos EUA não incluiu ivermectina entre terapias contra covid-19; que a morte de seis médicos canadenses não tem relação com o imunizante e que são falsas as alegações de médica que trata vacinação da covid em crianças como “assassinato em massa”.

Saúde

Investigado por: 2022-09-27

É enganoso que vacinação em crianças no Reino Unido foi interrompida devido a aumento de mortes

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Enganoso
É enganoso post no Twitter que afirma que o governo do Reino Unido interrompeu a imunização contra a covid-19 em crianças de 5 a 11 anos devido a um aumento de mortes nessa faixa etária. A vacinação de crianças continua ocorrendo. Somente as que completarem cinco anos a partir de setembro que não irão mais ser imunizadas, o que já era previsto desde fevereiro. Além disso, embora realmente tenha havido um crescimento na mortalidade em crianças em 2022, não existe evidência de que isso tenha ocorrido por causa da vacinação. Segundo a OMS, a vacinação de crianças contra a covid continua sendo eficaz e segura.

Conteúdo investigado: Post no Twitter que diz que o governo do Reino Unido teria interrompido a vacinação contra a covid-19 em crianças de 5 a 11 anos devido a um aumento de mortes nessa faixa etária. O post traz um link para um conteúdo do site negacionista The Exposé sobre o assunto.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganoso tuíte segundo o qual o governo britânico interrompeu a imunização contra a covid-19 em crianças de 5 a 11 anos “após um aumento de 22% nas mortes nesta faixa etária desde que o NHS (sistema de saúde britânico) começou a vaciná-las”.

De fato, foi registrado aumento de óbitos de 22%. Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas Britânico, de janeiro a setembro de 2020 foram contabilizadas 143 mortes de crianças de 5 a 9 anos. No mesmo período de 2022, foram 176 – ou seja, um aumento de 22%. Mas, diferentemente do que afirma o post enganoso, não é possível afirmar que os óbitos tenham relação com a vacina, nem que foram a causa da interrupção da campanha de imunização.

A suspensão da imunização para esse público estava prevista desde o mês de fevereiro, antes do início da campanha de vacinação. Na ocasião, o governo anunciou que a imunização do público de 5 a 11 anos incluía apenas as que completassem 5 anos de idade até o final de agosto de 2022. Ou seja, já estava previsto que, a partir de setembro deste ano, crianças que tivessem completado cinco anos não estariam mais elegíveis para a vacinação. Para o restante do público dessa faixa etária (ou seja, crianças que completaram cinco anos até agosto de 2022) as vacinas seguem disponíveis e sendo aplicadas, segundo o governo do Reino Unido.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Até o dia 27 de setembro o post contava com 6,7 mil curtidas e 2,7 mil retuítes.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o perfil do Twitter que fez a publicação por meio de mensagem direta na rede social, mas não houve retorno até a publicação da verificação.

Como verificamos: Para fazer a verificação, o Comprova pesquisou no Google notícias sobre a interrupção da vacinação em crianças a partir de cinco anos. Nessa pesquisa, encontramos uma matéria do The Guardian, citada no post viral, e uma do iNews. As duas falam sobre críticas de pais e especialistas à interrupção e também que a imunização dessas crianças era temporária desde o início. Em seguida, consultamos o site oficial da Agência de Segurança em Saúde do Reino Unido (UKHSA) para confirmar se a imunização realmente era temporária.

A fim de saber se o dado de 22% era verdadeiro, consultamos o site do Instituto Nacional de Estatísticas Britânico, onde são publicadas estatísticas sobre mortalidade e natalidade no Reino Unido. Os dados de 2022 estão disponíveis até o fim da primeira semana de setembro, por isso, fizemos a comparação com os outros anos usando o mesmo recorte.

Também procuramos na internet se havia sido publicado em algum lugar que a interrupção da vacinação tinha ligação com aumento de mortes, mas nada foi encontrado. Por fim, entramos em contato com a UKHSA, por e-mail, e por mensagem no Twitter com o autor do post.

Imunização de crianças no Reino Unido era temporária

A vacinação para crianças de 5 a 11 anos no Reino Unido começou em fevereiro de 2022 com o imunizante da Pfizer. A publicação de fevereiro deste ano no site oficial do governo do país já previa que a imunização seria suspensa em setembro para crianças que completassem cinco anos a partir desta data. Segundo o texto de fevereiro do governo britânico, o programa “se aplica a pessoas com idade entre 5 e 11 anos, incluindo aqueles que completarão 5 anos de idade até o final de agosto de 2022”. Ou seja, a imunização não terá mais como público as crianças que completarem cinco anos após o fim de agosto.

O Comprova tentou contato por e-mail com a Agência de Segurança em Saúde do Reino Unido (UKHSA) mas não houve retorno até a publicação desta checagem. Em verificação recente sobre o mesmo tema publicada pela agência de checagem australiana AAP, a UKHSA informou que nada havia mudado com relação à vacinação de crianças entre 5 e 11 anos.

À AAP, a agência britânica respondeu que “a elegibilidade sempre terminava em 31 de agosto e isso foi anunciado pela primeira vez em fevereiro deste ano” e que “aqueles que são elegíveis (ou seja, completaram 5 anos antes de 31 de agosto) ainda podem receber a vacina”.

No comunicado oficial de fevereiro de 2022, o governo britânico não detalhou qual critério para deixar de aplicar doses das vacinas em crianças que completam 5 anos a partir de setembro. Conforme relatado nas matérias do The Guardian e do iNews, um dos motivos para justificar a decisão é que crianças nessa idade correm menos risco de desenvolver formas graves da doença e que seria mais eficaz priorizar a vacinação de grupos mais vulneráveis.

Essa decisão gerou repercussão negativa entre especialistas e famílias, conforme noticiou o The Guardian, em reportagem que está citada no texto do The Exposé que faz parte do tuíte aqui verificado. Segundo o Guardian, a UKHSA disse que “a oferta de vacinas contra a covid a crianças saudáveis ​​de 5 a 11 anos sempre foi temporária” e que “crianças com cinco anos ou mais que pertençam a grupo de risco continuariam a receber as vacinas”.

Assim, a partir de agora, crianças saudáveis que completarem cinco anos de setembro deste ano em diante não terão mais direito a ser vacinadas. Crianças entre 5 anos (completos até agosto de 2022) e 11 anos que ainda não foram vacinadas, seguem tendo direito à imunização. E crianças que têm mais de 12 anos continuam tendo direito de ser vacinadas.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a vacinação de crianças de cinco a 11 anos é eficaz e segura. A recomendação é o uso de dose reduzida da vacina – 10 microgramas em vez de 30 microgramas – em comparação com aquela aplicada em pessoas com 12 anos ou mais. Além disso, este grupo deve ser o último a receber o imunizante e também não há orientação para dose de reforço.

Não há indícios de que aumento de mortes tenha relação com a vacina

O texto do The Exposé fala que a decisão de interromper a vacinação de crianças saudáveis a partir dos 5 anos aconteceu depois que uma instituição de governo do Reino Unido, conhecida como “Office for National Static”, publicou que o “número de mortes de crianças de 5 a 9 anos está 22% maior do que nos dois anos antes das vacinas serem aplicadas no país em crianças de 5 a 11 anos”.

De acordo com dados anuais do governo do Reino Unido, divulgados no site do Instituto Nacional de Estatísticas Britânico, entre janeiro e a primeira semana de setembro de 2020 foram registradas 143 mortes de crianças entre cinco e nove anos. Em 2021, foram 144 e em 2022, 176, no mesmo período. O aumento realmente representa 22% a mais do que nos dois últimos anos. Porém, não há nenhum indício de que o aumento tenha relação com a vacina.

Não é possível comparar o mesmo recorte com anos anteriores a 2020, já que antes a divulgação do governo usava recortes de idades diferentes.

Fonte citada no tuíte é site negacionista

O tuíte aqui analisado compartilha como fonte para as informações um link do site “The Exposé”, que se apresenta como veículo disposto a divulgar conteúdos “alternativos aos propagados pela grande mídia mentirosa”. O site é conhecido por publicar informações falsas sobre a pandemia de covid-19 e já foi verificado pelo Comprova em outras oportunidades: em dezembro de 2021 quando publicação do site afirmou que a vacina da covid teria provocado aumento de mortes de crianças e em março de 2022 por conta de um conteúdo que afirmava que a proporção de mortes era maior entre não vacinados do que entre vacinados no Reino Unido.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, as eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal. Conteúdos falsos ou enganosos sobre as vacinas contra a covid-19 podem desestimular as pessoas a se imunizarem, o que coloca a vida delas em risco.

Outras checagens sobre o tema: Esse mesmo conteúdo foi marcado como falso pela Australian Associated Press FactCheck.

Em checagens recentes sobre a pandemia, o Comprova também mostrou que é enganoso que ex-funcionária da Casa Branca tenha confessado, em entrevista, que as vacinas não protegem contra a covid-19, que a morte de seis médicos canadenses não tem relação com a vacina contra a covid-19 e que erros admitidos por órgão dos EUA no combate à covid têm relação com estratégias de comunicação, e não política de vacinação.