O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2023-10-11

Estudo não mostra que vacina da Pfizer modifica o código genético e que causará epidemias

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Falso
É falsa a alegação de um médico de que um estudo sueco feito com a vacina da Pfizer tenha revelado que o imunizante modifica o código genético e que isso possa causar futuras epidemias de doenças autoimunes, câncer e infertilidade. Na verdade, a pesquisa mediu o efeito do imunizante em linhagens de células do fígado em laboratório, em condições experimentais, e não em humanos ou qualquer outro ser vivo, o que é apontado como limitador da pesquisa pelos próprios autores. Especialistas ouvidos pelo Comprova destacam que outros estudos atestam que não há a inoculação do DNA pela vacina. As doenças citadas pelo médico sequer aparecem no estudo.

Conteúdo investigado: Em um vídeo, o médico Alessandro Loiola afirma, citando um estudo, que vacinas vão causar, no futuro, “epidemia de doença cardiovascular, epidemia de doença autoimune, epidemia de câncer, e isso se daqui a uma ou duas gerações a gente não tiver uma epidemia de infertilidade junto, entre outras coisas” ao mudar o código genético das pessoas. Ele lista problemas de saúde que dizem estarem sendo causados pela vacina atualmente: trombofilia, trombocitopenia, AVC isquêmica, AVC hemorrágico, trombose arterial periférica, amputação de membros, mal cardíaco súbito e morte súbita. Afirma ainda que 99,9993% das crianças não apresentam qualquer sintoma ao pegarem covid-19.

Onde foi publicado: Facebook e Telegram.

Conclusão do Comprova: É falso que um estudo sueco feito com a vacina da Pfizer contra a covid-19 tenha revelado que o imunizante modifica o código genético e que isso vá causar epidemias de “doenças autoimunes, câncer e infertilidade”, como afirma médico em vídeo.

Os autores decidiram realizar uma pesquisa com células hepáticas após estudos pré-clínicos mostrarem efeitos hepáticos reversíveis em animais que receberam a injeção da Pfizer e por uma análise ter apontado que o RNA do SARS-CoV-2 pode ser transcrito reversamente e integrado no genoma das células humanas. O estudo aqui citado mede o efeito da vacina da Pfizer em linhagens de células do fígado em laboratório, em condições experimentais, e não em humanos ou qualquer outro ser vivo, o que é apontado como limitador da pesquisa pelos próprios autores. Além disso, não faz previsões a respeito de nenhuma doença.

Eles concluíram que a vacina entra nas células do fígado em meio de cultura seis horas após a administração e que surge DNA convertido a partir do RNA mensageiro em células hospedeiras, mas apontam não saber se o DNA convertido está integrado ao DNA das células, ou seja, se ele compromete o genoma. Especialistas ouvidos pelo Comprova destacam que outros estudos atestam que não há a modificação do DNA pela vacina.

Ao Comprova, a Pfizer afirmou que, até o dia 5 de outubro, distribuiu mais de 4,6 bilhões de doses da vacina ComiRNAty em mais de 181 países. Segundo a empresa, não há, até o momento, qualquer alerta de segurança ou preocupação, de modo que o benefício da vacinação segue se sobrepondo a qualquer risco.

O Ministério da Saúde reforçou que as vacinas passam por um rígido processo de avaliação de qualidade pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) da Fundação Oswaldo Cruz, instituição responsável pela análise de qualidade dos imunobiológicos adquiridos e distribuídos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O vídeo aqui verificado teve 16,3 mil visualizações no Telegram. No Facebook, foram 31 mil compartilhamentos e 34 mil reações até 10 de outubro.

Como verificamos: Primeiro, localizamos e consultamos o estudo sobre o qual o médico se refere no vídeo. Em seguida, buscamos explicações dos autores da pesquisa sobre os resultados e de especialistas que pudessem comentá-los. Revisitamos também checagens anteriores do Comprova sobre a segurança da vacina da Pfizer e dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Saúde, além de procurarmos a própria farmacêutica e analisarmos a bula do imunizante.

Estudo não prova mudança no código genético

No vídeo verificado, o médico cita o estudo “Transcrição reversa intracelular da vacina de mRNA BNT162b2 da Pfizer BioNTech COVID-19 in vitro em linhagem de células de fígado humano”, publicado em fevereiro de 2022, por pesquisadores da Universidade de Lund, da Suécia. O médico alega que a pesquisa demonstrou que a vacina modificou a expressão genética de uma linhagem de células, surgindo um novo padrão de DNA, e que essas alterações passaram para as células-filhas. A partir disso, o médico conclui que a vacina modifica o código genético e que isso seria transmissível à geração posterior da pessoa imunizada

Os autores investigaram o efeito do imunizante mRNA BNT162b2, fabricado pela Pfizer e BioNTech, na linhagem celular do fígado humano. Para tal, células Huh7, de uma linha originalmente retirada de um tumor de fígado, foram expostas à vacina in vitro e foi feita PCR quantitativa no RNA extraído das células. A Huh7 é uma célula imortal, capaz de se dividir indefinidamente e frequentemente utilizada como modelo para investigar cânceres e hepatite C. Já a PCR é uma proteína produzida no fígado, cuja concentração se eleva quando há um processo inflamatório em curso.

No ano passado, após o estudo ter sido acessado massivamente e discutido nas redes sociais, muitas vezes mal interpretado, a Universidade de Lund publicou uma página com explicações de dois dos autores, os professores Yang de Marinis e Magnus Rasmussen.

Conforme De Marinis, o estudo mostra que a vacina entra nas células do fígado seis horas após a administração e que surge DNA convertido a partir do RNA mensageiro em células hospedeiras, mas Rasmussen destaca que estas descobertas foram observadas em placas de Petri e em condições experimentais, portanto, não se sabe se o DNA convertido está integrado ao DNA das células, o que, sim, poderia trazer alguma consequência caso se comprovasse.

Eles ressaltam, também, as limitações do estudo. De acordo com Rasmussen, as linhagens celulares são diferentes das células dos organismos vivos, portanto, é importante que investigações semelhantes sejam feitas em humanos. “É importante ter em mente que as células do fígado neste estudo são geneticamente mais instáveis ​​do que as nossas próprias células do fígado”.

De Marinis acrescenta que não se sabe se o que foi observado nesta linhagem celular também poderia acontecer em células de outros tecidos. Por fim, eles afirmam não haver qualquer razão para alguém mudar a decisão de se vacinar com base na pesquisa e defendem a realização de mais pesquisas sobre o assunto.

Assim como os autores pontuam, Patrícia Almeida, hepatologista do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, destaca se tratar de um estudo in vitro, ou seja, em que é utilizada uma linhagem de célula carcinogênica (retirada de um tumor) e isso foge do que acontece normalmente no corpo humano. “O hepatócito tem um ciclo de replicação completamente diferente de um ciclo de uma célula carcinogênica, que é bem mais ativa em multiplicação”, explica.

Segundo ela, o estudo demonstra que ocorre uma penetração de RNA mensageiro no tecido hepático, mas que isso já é esperado porque o fígado é quem faz a metabolização do que entra no corpo, inclusive a vacina da covid-19. Conforme ela, a pesquisa não demonstra que ocorreu uma modificação do código genético. “É encontrado RNA mensageiro na célula, mas não é comprovada a transcrição e incorporação dessa informação genética do vírus no nosso genoma, no nosso código genético, então se o estudo não traz essa informação, quiçá afirma que isso vai passar para nossa descendência”, afirma.

A hepatologista explica que o DNA está no núcleo da célula, então para o RNA mensageiro se ligar a ele, teria que passar pela membrana nuclear e, em seguida, através de um sistema de chave e fechadura, conseguir acessar o núcleo, o que não existe na vacina. “O RNA mensageiro não tem toda a informação genética viral e, mesmo que ele entrasse, haveria necessidade de tradução dessa linguagem para DNA, para que ele fosse inoculado. Ou seja, mesmo que existisse a transcrição reversa, ainda teria que ser integrado esse material genético ao DNA, para isso é necessária outra enzima, a integrase, que também não está presente na vacina. Assim, a probabilidade do RNA mensageiro alterar o DNA do paciente é nula”, diz.

O médico Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), também ressalta que não há a possibilidade de uma vacina que usa RNA mensageiro, como a da Pfizer, alterar o DNA de uma pessoa, que fica guardado no núcleo da célula. “O número de estudos é gigantesco mostrando que não há nenhuma possibilidade de incorporação de material genético no genoma de ninguém. Não modifica a expressão genética e não interfere no longo prazo”, disse.

O Comprova já esclareceu, anteriormente, que as vacinas contra a covid-19 não causam danos ao DNA de quem é vacinado.

Possibilidade de haver epidemias não é citada na pesquisa

Após afirmar que a vacina modifica o código genético, o médico cuja fala aqui é verificada declara aguardar pra ver “a desgraça que isso vai fazer no sistema linfocitário, no sistema macrofágico e no ‘sistema natural killer’”, referindo-se às células NK, que fazem parte do sistema imune e têm como função reconhecer o patógeno invasor e destruí-lo. Ele alega, com base do estudo sueco, que devem surgir epidemias de doença cardiovascular, doença autoimune e de câncer. Também especula que, em “uma ou duas gerações”, poderá haver uma epidemia de infertilidade.

Nenhuma dessas doenças ou previsões é citada no estudo. Renato Kfouri afirma que não há “plausibilidade biológica” na ideia de que a vacina poderia trazer algum transtorno no futuro, como os citados no vídeo, porque a proteína de RNA mensageiro da vacina se desintegra rapidamente.

Patrícia Almeida destaca que é impossível definir qualquer risco da vacina a partir do estudo apresentado, assim como seria impossível um estudo desta natureza apontar que existirão epidemias de outras doenças em decorrência do imunizante. A médica destaca que existem vários questionamentos em relação à genotoxicidade desde o surgimento das primeiras vacinas feitas de RNA mensageiro, mas que a inoculação do DNA é algo improvável cientificamente.

Efeitos colaterais graves e covid em crianças

Os efeitos colaterais provocados pelas vacinas podem ser encontrados nas bulas dos imunizantes, que estão disponíveis no site da Anvisa.

No caso da Pfizer, as reações mais comuns (ocorrem em 10% dos pacientes) são consideradas leves, como dor e inchaço no local de injeção, cansaço, dor de cabeça, diarreia e dor muscular, dor nas articulações, calafrios e febre. Já a miocardite (infecção das fibras do coração) e a pericardite (inflamação do revestimento externo do coração), consideradas reações graves, são tidas como muito raras, ocorrendo em menos de 0,01% dos pacientes.

Procurada pelo Comprova, a Pfizer afirma que, normalmente, os casos de pericardite e miocardite ocorreram com mais frequência em homens mais jovens, após a segunda dose da vacina e em até 14 dias após a vacinação. Reações foram menos relatadas em crianças com 5 a menos de 12 anos de idade do que em adolescentes de 12 a 17 anos. Sobre o problema, a empresa declara ainda que geralmente os casos são leves e os indivíduos tendem a se recuperar dentro de um curto período de tempo, embora não informe qual, após o tratamento padrão, que pode incluir compressa fria se houver dor no local da aplicação e ingestão de analgésico em caso de febre e dores na cabeça e no corpo, além de repouso. A Pfizer solicita que após a vacinação, a pessoa deve ficar alerta para sinais de miocardite e pericardite, como falta de ar, palpitações e dores no peito, e procurar atendimento médico imediato, caso ocorram.

A empresa disponibilizou um portal para comunicação de informações relacionadas a relatos de eventos adversos para facilitar o contato com a empresa e o monitoramento de farmacovigilância.

Diferentemente do que afirma o médico, crianças podem desenvolver doenças graves associadas à covid-19, principalmente a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P).

O Instituto Butantan ressalta que ela atinge majoritariamente crianças não vacinadas. Um estudo internacional também mostrou que crianças não vacinadas são mais propensas a desenvolver sintomas graves de covid-19, representando 90% dos casos moderados a graves da doença entre o público pediátrico.

Pfizer diz que não há alerta de preocupação

Sobre os comentários do médico, o Comprova procurou a Pfizer para que a empresa comentasse as acusações. A Pfizer informou que não comenta estudos que não sejam de autoria dela e declarou que já distribuiu, até o dia 5 de outubro, mais de 4,6 bilhões de doses da vacina ComiRNAty em mais de 181 países. Segundo a empresa, não há, até o momento, qualquer alerta de segurança ou preocupação, de modo que o benefício da vacinação segue se sobrepondo a qualquer risco.

A empresa ressalta que agências regulatórias pelo mundo como a Federal Drug Administration (FDA), a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizaram o uso da vacina contra a Covid-19, baseadas em avaliações robustas e independentes de dados científicos sobre qualidade, segurança e eficácia, incluindo o estudo clínico da fase 3. Esse estudo procedeu com a administração da vacina a milhares de pessoas, para que fosse demonstrada a sua eficácia e segurança, ou seja, que a vacina é capaz de proteger os indivíduos com o mínimo possível de reações adversas.

A empresa também informou que dados de estudos de mundo real complementam as informações dos estudos clínicos e proporcionam evidência adicional de que a vacina fornece proteção eficaz contra formas graves da doença.

Na mesma linha, segue o Ministério da Saúde, que também considera que os benefícios do uso da vacina superam os seus possíveis riscos.

De acordo com a pasta, a probabilidade de eventos adversos graves causados pelas vacinas é muito menor do que o risco das doenças e suas complicações. O ministério salienta que, como qualquer outro medicamento, as vacinas não estão livres de provocar eventos adversos e, por isso, está atento e acompanhando todos os casos notificados como Eventos Supostamente Atribuíveis à Vacinação ou Imunização, para rápida resposta à população.

Sobre reações oriundas da vacina, a Pfizer disse ao Comprova que realiza habitualmente o acompanhamento de relatos de potenciais eventos adversos de seus produtos, mantendo sempre informadas as autoridades, de acordo com a regulamentação vigente nos países onde é aplicada. A empresa disponibilizou um portal para comunicação de informações relacionadas a relatos de eventos adversos para facilitar o contato com a empresa e o monitoramento de farmacovigilância.

Ministério da Saúde reforça segurança das vacinas

Ao Comprova, o Ministério da Saúde informou que todas as vacinas ofertadas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) são seguras e possuem autorização de uso pela Anvisa, após terem demonstrado eficácia e segurança favoráveis em estudos clínicos. O órgão também afirma que as vacinas passam por um rígido processo de avaliação de qualidade pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) da Fundação Oswaldo Cruz, instituição responsável pela análise de qualidade dos imunobiológicos adquiridos e distribuídos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Sobre os possíveis efeitos colaterais provocados pela ComiRNAty, a pasta declarou que a Anvisa é o órgão responsável pelo recebimento de relatórios de segurança das vacinas. Além dela, o PNI coordena o Sistema Nacional de Vigilância (SNV) de Eventos Supostamente Atribuíveis à Vacinação ou Imunização (ESAVI), cuja fonte de dados são as notificações de casos suspeitos que são realizadas por qualquer profissional de saúde do Brasil, por meio do sistema de informações e-SUS Notifica. Dessa forma, o PNI realiza o monitoramento da ocorrência de ESAVI de forma contínua e sistemática, permitindo a detecção de sinais de segurança e a avaliação do benefício-risco das vacinas recomendadas e em uso no país.

O Ministério da Saúde reforça que para a avaliação e investigação de ESAVI graves, raros ou inusitados foi criado um Comitê Interinstitucional de Farmacovigilância de Vacinas e outros Imunobiológicos (Cifavi) com participação da Anvisa, Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) e especialistas de diversas modalidades médicas e de saúde pública, coordenado pela pasta ministerial.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova enviou um pedido de posicionamento ao número de WhatsApp controlado pela equipe do médico Alessandro Loiola, que faz as alegações aqui verificadas, mas não teve resposta até o momento.

O que podemos aprender com esta verificação: O post verificado lança dúvidas sobre a segurança das vacinas contra a covid-19, que são alvo frequente de desinformação. Para passar um ar de seriedade e comprovação sobre o que está dizendo, o autor cita um estudo real, mas omitindo considerações importantes dos pesquisadores sobre o assunto, além de acrescentar informações que não estão na pesquisa. As pesquisas científicas ficam disponíveis para consulta online e, como no caso aqui verificado, frequentemente são abordadas em entrevistas e reportagens de veículos profissionais de imprensa ou de instituições, como universidades, que buscam traduzir as informações para o público leigo.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Alegações semelhantes sobre o estudo sueco foram checadas no ano passado por Reuters e AP News. Anteriormente, o Comprova demonstrou que vacinas não injetam “DNA alienígena” nas pessoas, que é falso que elas causem danos irreversíveis ao DNA e que Bill Gates tenha comprado ações da Coca-Cola para inserir vacinas com mRNA na bebida.

Saúde

Investigado por: 2023-10-10

É falso que Canadá tenha admitido que triplamente vacinados contra a covid-19 tenham desenvolvido Aids

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Falso
É falso que o governo canadense tenha admitido que pessoas que já tomaram três doses da vacina de covid-19 tenham desenvolvido Aids. Não há relação entre os imunizantes e a doença, que é causada pela infecção do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Dados do governo canadense mostram apenas as taxas de casos de covid-19 entre vacinados e não imunizados, sem qualquer relação com casos de infecções por HIV.

Conteúdo investigado: Publicação compartilha link de matéria e print de uma manchete do site Tribuna Nacional que diz “Governo canadense admite que 74% dos triplamente vacinados tem Aids”. A legenda afirma que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teria avisado sobre a relação entre a covid-19 e a Aids e questiona: “será que daria pra lascar um processo naqueles comunistas e genocidas da cpmi do circo?”.

Onde foi publicado: X (antigo Twitter) e site.

Conclusão do Comprova: É falso que o governo canadense tenha admitido que pessoas que foram vacinadas contra a covid-19 tenham desenvolvido quadro de Aids. A Agência de Saúde Pública do Canadá (PHAC, em inglês) confirmou que a notícia é falsa e apresentou links de agências de checagem internacionais que desmentem a correlação.

Uma publicação no X distorce dados epidemiológicos do governo do Canadá. Nestes relatórios, não há qualquer menção ao HIV. Há somente informações referentes ao resumo dos casos, mortes, testes e variantes preocupantes de covid-19 em todo o Canadá ao longo do tempo.

Os dados destacados no conteúdo investigado são inadequados e as comparações propostas ali não fazem sentido. Em uma delas, o texto afirma que a população não vacinada teve menos casos de covid-19. Porém, a população não vacinada é muito menor do que a que foi vacinada.

Por exemplo, na segunda semana epidemiológica citada no artigo, terminada em 13 de fevereiro de 2022, os dados oficiais do governo canadense mostram que a população vacinada com duas doses era de 13,72 milhões de habitantes. Os triplamente vacinados eram 16,84 milhões e os não vacinados eram 5,75 milhões. Esses dados foram obtidos na plataforma Wayback Machine, que compila páginas antigas da Internet. No conteúdo investigado, a população por status de vacinação foi subestimada no casos dos vacinados (11,50 e 11,70 milhões, respectivamente), e superestimada para os não vacinados (13,21 milhões).

Para efeitos de comparação, desde o início da vacinação, em dezembro de 2020, 40% dos casos confirmados de covid foram de não vacinados, contra 32,3% de vacinados com esquema inicial e 18,7% com uma dose de reforço. Esses números são de 14 de outubro de 2022, data da última atualização do portal da Agência de Saúde Pública do Canadá.

Além disso, o conteúdo investigado usa dados de dezembro de 2020 a 2022, quando a proporção de vacinados e não vacinados oscilou drasticamente com o avanço da imunização. O Canadá demorou para iniciar o processo, mas teve uma alta busca por vacinação, além de ter adotado medidas mais rígidas para conter a disseminação do vírus.

Alguns dos gráficos usados no material de desinformação apresentam dados corretos sobre vacinados no Canadá. Os números mostrados não revelam qualquer relação com casos de Aids ou imunodeficiência adquirida.

Consultado pelo Comprova, o médico imunologista e especialista em doenças parasitárias e infecciosas José David Urbáez Brito, que também é presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, reforça que a ideia de que vacinados perdem imunidade e desenvolvem Aids não se sustenta.

“Primeiro que a Aids é uma doença causada por um vírus. É o vírus da imunodeficiência humana, HIV. Então essa vacina (de covid-19) não tem nenhum componente vivo, nada que possa lembrar um vírus. Portanto, não teria nem maneira (de causar a infecção). Mesmo que a intenção fosse de uma conspiração internacional completamente à margem da ética, não há maneira”, afirma o especialista.

Ele avalia ainda que a metodologia, de comparar eficácia da vacina com base no número de casos de vacinados e não vacinados, é utilizada apenas em fase de testes ou nos estágios iniciais da criação de uma vacina. “O cálculo você faz quando a vacina é criada, neste momento você vai comparar o número de casos entre pessoas vacinadas com o número de casos entre pessoas não vacinadas. Você calcula a eficácia porque você vai ver que entre os vacinados teve um caso, entre os não vacinados teve 100 casos. Então, aí a vacina evitou 99 casos”, explicou.

Falso: Conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O post foi excluído antes da finalização desta verificação, mas até o dia 3 de outubro, a publicação no X contava com 97 mil visualizações.

Como verificamos: Inicialmente, procuramos informações sobre a covid-19 no Canadá no site oficial do governo local. Também buscamos no Google pelas palavras-chave “Canadá covid aids”, para saber se houve algum pronunciamento relacionando a vacinação com a doença. Buscamos pelo site britânico The Exposé, para encontrar o conteúdo original, traduzido pelo Tribuna Nacional. Pesquisamos no Google por explicações oficiais e médicas sobre o vírus da Aids, além de outros momentos em que peças de desinformação envolvendo vacinas de covid-19 e Aids viralizaram. Em seguida, buscamos pelo site da Agência de Saúde Pública do Canadá no Wayback Machine, para tentar encontrar os dados apresentados na matéria.

Por fim, entramos em contato com José David Urbáez Brito, presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal e com a Agência de Saúde Pública do Canadá. Buscamos pelo autor em outras redes sociais e no Google, mas não encontramos nenhuma informação que nos permitisse entrar em contato com ele. Na rede social X não há possibilidade de pessoas que não se seguem mutuamente enviarem mensagens.

Vacina da covid não causa Aids

Além de usar dados de forma incorreta, a publicação investigada compara a Aids a uma suposta redução da resposta do sistema imunológico após a aplicação da vacina de covid-19. O artigo cita até mesmo que os imunizantes contra a doença causariam a “síndrome de imunodeficiência adquirida por vacina” (vaids), uma espécie de Aids. As alegações são infundadas, como também mostram outras verificações, aqui, aqui e aqui.

A Aids é o estágio mais avançado da infecção por HIV e ocorre se o paciente não utilizar medicamentos antirretrovirais e recusar acompanhamento médico. Conforme a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o HIV tem como alvo o sistema imunológico e enfraquece os sistemas de defesa das pessoas contra infecções e alguns tipos de câncer.

Como o vírus destrói e prejudica a função das células imunes, os pacientes vivendo com o vírus se tornam gradualmente imunodeficientes. A função imunológica é medida pela contagem de células CD4, um tipo de linfócito que atua na identificação, no ataque e na destruição de bactérias, fungos e vírus que invadem o corpo.

A imunodeficiência resulta em um aumento da suscetibilidade a várias infecções e doenças que pessoas com um sistema imune saudável podem combater. Com o avanço da medicina, o uso de medicamentos antirretrovirais permitiu que pessoas vivendo com HIV não desenvolvessem Aids e pudessem viver com qualidade. Pessoas com HIV em tratamento antes do avanço da doença podem ter expectativa de vida quase igual à de pessoas não infectadas.

O efeito imunossupressor causado tanto por medicamentos como pela manifestação da Aids não tem qualquer relação com a resposta do sistema imunológico após a aplicação de vacinas. Conforme o médico José David Urbáez Brito, a publicação investigada tenta associar erroneamente a vacina à diminuição da imunidade.

Medicamentos imunossupressores são geralmente usados por pessoas que fazem tratamento para doenças autoimunes como lúpus, artrite reumatoide, doença de Crohn e anemia hemolítica. Pessoas que estão em tratamento pós-transplante de órgãos ou células tronco ou ainda que façam quimioterapia também são consideradas imunossuprimidas.

“Nesse paciente, o tratamento passa por modificar a imunidade do indivíduo por conta da própria natureza agressiva do tratamento. Então, uma leucemia aguda, para você combater, você usa tratamentos agressivos que acabam destruindo a medula óssea e você fica imunossuprimido, você fica sem as células de defesa. Então, o que eles estão tentando combinar nesse texto é que a vacina agiria modificando o sistema imunológico para ele ficar fraco, como se fosse um imunossupressor. Isso não existe”, ressalta o infectologista.

Ao Comprova, a Agência de Saúde Pública do Canadá negou a informação de que as vacinas contra covid tenham causado Aids e apresentou links de agências de checagem internacionais que desmentem a correlação entre a vacinação contra covid-19 e a Aids, como esta da AP News. Ao site de verificação de fatos Lead Stories, a agência enviou uma resposta ressaltando o caráter falso do artigo.

“Com bilhões de doses de vacinas contra a covid-19 administradas a indivíduos em todo o mundo, os dados do mundo real sugerem fortemente que os indivíduos vacinados contra a covid-19 não ficam imunocomprometidos após a vacinação. A eficácia protetora destas vacinas contra a casos graves de covid-19 é inequivocamente conhecida por ser mediada pela atividade do sistema imunitário do indivíduo vacinado”, explicou em nota.

A agência destacou que, até a data de fechamento deste material, ainda não haviam sido apresentadas à PHAC quaisquer notificações de Aids após a vacinação contra a covid-19. Além disso, a nota ressalta ainda que as autoridades de saúde canadenses monitoram “continuamente” os dados sobre a vacinação no país.

“A vacinação continua a ser uma das formas mais eficazes de proteger as nossas famílias, comunidades e nós próprios contra a covid-19. As evidências mostram que as vacinas utilizadas no Canadá são muito eficazes na prevenção de casos graves, hospitalização e morte por covid-19”, concluiu a agência.

Níveis de vacinação e casos confirmados de covid no Canadá

Segundo dados oficiais do governo canadense, o país administrou mais de 99 milhões de doses de vacina contra a covid-19 de 14 de dezembro de 2020 até 10 de setembro de 2023, última atualização da plataforma. Do total da população, 83,2% receberam pelo menos uma dose – o equivalente a 32.372.771 habitantes –, enquanto 80,5% do total completaram o esquema primário de vacinação. A terceira dose foi aplicada em 62,2% dos mais de 24 milhões que já tomaram duas doses.

Com a vacinação alcançando mais de três quartos da população canandense, os números de casos e mortes caíram drasticamente. Depois de ter ultrapassado os 300 mil casos e beirado as 900 mortes em uma semana epidemiológica de janeiro de 2022, a semana terminada em 4 de outubro de 2023 registrou 7.901 novos casos e 65 mortes pela doença.

A publicação analisada apresenta dados verídicos, mas compara o número de casos entre vacinados, com até três doses tomadas, e não vacinados. A metodologia, conforme o médico José David Urbáez Brito, é considerada em fases iniciais da vacina. Com a aplicação em massa na população, é feita a análise da onda de contágio do contingente total de habitantes de um país.

“Quando faz o ensaio da vacina, você tem esse interesse (de comparar vacinados e não vacinados), mas depois você vai ver como se comportava a população toda. E aí o que você viu foi a queda vertiginosa, a ausência de casos graves e de óbito. A eficácia você calcula lá atrás. Para você, com isso, fazer a incorporação aos programas de vacinação”, pontuou.

Suposta relação entre vacinação contra covid e Aids teve início em 2021

Em um material explicativo publicado pelo Comprova em 25 de agosto de 2022, foi mostrado que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por associar a vacinação contra a covid-19 com o desenvolvimento da Aids.

Em uma de suas lives semanais, em 21 de outubro de 2021, Bolsonaro leu uma notícia que afirmava que relatórios oficiais do governo do Reino Unido sugeriam que pessoas totalmente vacinadas contra a covid-19 – a época, com três doses – estariam desenvolvendo a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (Aids) de maneira muito mais rápida do que o previsto.

“Recomendo ler a matéria, não vou ler para vocês aqui porque posso ter problema com a minha live aqui, não quero que caia a live aqui, eu quero dar informações concretas. Vou deixar bem claro aqui, talvez eu tenha sido o único chefe de Estado do mundo que tenha tido coragem de colocar a cara à tapa nessa questão”, disse o ex-presidente. A transcrição do áudio original desta live está em uma pasta organizada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e disponibilizada na ferramenta Pinpoint, do Google, que reúne a transcrição de todas as lives semanais do presidente.

A matéria lida por Bolsonaro era do site norte-americano Before It’s News, conhecido por propagar informações falsas sobre vacinas. À época, em resposta ao Fato ou Fake, do g1, o Departamento de Saúde e Assistência Social do Reino Unido afirmou que a publicação é de um site que propaga “fake news” e teorias da conspiração e diz que a história não é verdadeira.

A suposta relação entre a vacina e a doença teve uma sobrevida em fevereiro de 2023, quando peças de desinformação começaram a circular dizendo que o governo alemão teria anunciado que “um número alarmante” de vacinados contra a covid-19 estariam desenvolvendo a síndrome de imunodeficiência adquirida. Agências de verificação como a Lupa e a AFP Checamos mostraram que esses conteúdos eram falsos.

O que diz o responsável pela publicação: Não é possível enviar mensagens diretas por meio de contas que não se seguem mutuamente no X (antigo Twitter). O nome do autor da publicação foi procurado em outras redes sociais, mas as contas não eram do mesmo usuário.

O que podemos aprender com esta verificação: Uma das táticas mais comuns de peças de desinformação é a utilização de dados reais utilizados de forma distorcida para corroborar uma informação falsa. A série de estatísticas reais sobre a situação de casos de covid-19 e vacinação no Canadá poderiam gerar uma espécie de credibilidade dos subsequentes cálculos e o suposto desenvolvimento de Aids.

Além disso, caso o governo canadense realmente tivesse admitido ou afirmado algo nesse sentido, tal informação seria amplamente divulgada pelos próprios canais oficiais e em diversos veículos de comunicação

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: As agências Aos Fatos, boatos.org e Reuters também verificaram o mesmo conteúdo e concluíram que a alegação é falsa.

A temática da vacinação costuma ser alvo de desinformadores e peças sobre o assunto já foram verificadas pelo Comprova. Recentemente, o projeto mostrou que CDC não falsificou dados nem admitiu que 99% das mortes por Covid nos EUA foram por outras causas, que governo da Flórida não declarou vacina contra a covid-19 uma arma biológica, ao contrário do que diz post e que OMS não admitiu que bebês de mães vacinadas estão nascendo com problemas no coração.

Saúde

Investigado por: 2023-10-03

CDC não falsificou dados nem admitiu que 99% das mortes por Covid nos EUA foram por outras causas

  • Falso
Falso
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos não falsificou os dados de morte por covid-19 para convencer a população a se vacinar. A publicação falsa distorce os dados do painel de controle da doença disponibilizado pela agência e faz menção ao número de mortos por covid-19 durante a semana de 13 a 19 de agosto de 2023. Uma publicação do jornal britânico Daily Mail é usada como base, mas o conteúdo foi alterado e não diz que o CDC falsificou o número de mortos por covid na referida semana.

Conteúdo investigado: Artigo compartilhado por virologista no X, antigo Twitter, afirma que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos admitiu que “falsificou 99% das mortes por covid-19 para assustar o público e fazê-lo tomar a vacina”. Segundo o texto, dados da agência de saúde revelam que apenas 1,7% das 324 mortes pelo vírus registradas na semana encerrada em 19 de agosto de 2023 tiveram a doença como principal causa de óbito.

Onde foi publicado: X (antigo Twitter) e Telegram.

Conclusão do Comprova: É falso o artigo compartilhado pelo virologista Paolo Zanotto, no Twitter, afirmando que 99% das mortes por covid-19 foram falsificadas pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. A publicação distorce dados do painel do COVID Data Tracker que registra o número de óbitos decorrentes do vírus, por semana, no país.

A peça de desinformação usa como base uma afirmação incorreta publicada pelo Daily Mail em 28 de agosto, mas que foi corrigida no dia seguinte. O jornal britânico havia publicado, a partir de uma interpretação errada dos dados do CDC da semana que se encerrou em 19 de agosto de 2023, que “99% das mortes de covid na semana passada não foram causadas principalmente pelo vírus”.

A matéria foi alterada e o veículo exibe, desde então, uma nota informando a correção do conteúdo anteriormente publicado e que o comparativo percentual toma como base as mortes por todas as causas. O texto foi editado para afirmar que apenas 1% das mortes por todas as causas nos EUA na semana encerrada em 19 de agosto de 2023 teve como causa a covid-19, justamente como mostra o painel disponibilizado pela agência.

O jornal explica que há, na parte inferior do rastreador de dados da covid do CDC, uma nota de rodapé que diz que a porcentagem de todas as mortes relatadas atribuídas como covid-19 é calculada “com base no número de mortes por todas as causas”. “Alteramos o artigo para refletir isso”, afirma o Daily Mail.

| Captura de tela de artigo publicado no Daily Mail feita em 3 de outubro de 2023.

O painel do CDC que reúne informações relacionadas à covid-19 nos Estados Unidos tem um gráfico que registra semanalmente as mortes decorrentes da doença relatadas à agência de saúde. Na semana do dia 13 a 19 de agosto deste ano, a tabela mostra que ocorreram 881 mortes pelo vírus, o que representou 1,6% de todos os óbitos notificados nesse intervalo de tempo, por todas as causas, no país.

Em resposta a Zanotto, um usuário do X compartilhou o link para a checagem feita pelo USA Today sobre o mesmo assunto e questionando o exagero das afirmações. O autor do post verificado pelo Comprova, no entanto, manteve o posicionamento de que os dados sobre mortes na pandemia são deturpados.

Falso para o Comprova é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até esta terça-feira, 3, foram mais de 187,4 mil visualizações, 6 mil curtidas e 2 mil compartilhamentos. O conteúdo também foi publicado no Telegram com duas visualizações, não sendo possível saber se o conteúdo foi republicado.

Como verificamos: O Comprova leu a notícia publicada pelo virologista para entender as alegações feitas na publicação. A partir disso, buscou pelos dados oficiais da agência de saúde norte-americana e reportagens na imprensa sobre o assunto.

Na pesquisa, a equipe confrontou as informações publicadas pelo artigo com os números do painel COVID Data Tracker, do CDC, e descobriu que os dados sobre a quantidade de mortes relacionadas à covid-19 estavam distorcidos.

Foi encontrada também a publicação do Daily Mail que informava sobre o erro na primeira versão publicada da reportagem, base para o conteúdo desinformativo. A verificação localizou ainda checagens do USA Today e da Associated Press desmentindo o mesmo conteúdo.

Por fim, buscamos informações relacionadas ao biólogo Paolo Zanotto e tentamos contato com ele por e-mail. O CDC também foi consultado sobre o caso.

Publicação usa reportagem com erro reconhecido pelo próprio Daily Mail

Em 28 de agosto deste ano, o Daily Mail publicou uma interpretação incorreta dos dados do CDC. No entanto, para corrigir a informação, a manchete foi alterada no dia seguinte e uma nota foi publicada na reportagem.

O esclarecimento, anexado ao fim da matéria, frisou que “uma versão anterior deste artigo afirmava que 99% por cento das mortes de Covid na semana passada não foram causadas principalmente pelo vírus. Na verdade, uma nota de rodapé na parte inferior do rastreador de dados da Covid do CDC explica que a porcentagem de todas as mortes relatadas atribuídas como Covid-19 é calculada com base no número de mortes por todas as causas. Alteramos o artigo para refletir isso”.

Apesar da atualização feita pelo jornal, a publicação analisada baseou-se na notícia antiga, sem a correção. O Daily Mail atualizou o seu texto um dia depois, em 29 de agosto, enquanto o post desinformativo possui a data do dia 31, ou seja, após a edição com os dados corretos.

No X, um usuário enviou para o autor da publicação a checagem feita pelo USA Today, questionando um exagero nas afirmações feitas por Zanotto. O biólogo, no entanto, sustentou o posicionamento de que os dados sobre mortes na pandemia são deturpados.

Os números mostram que, na época, o painel da agência norte-americana registrava 324 mortes por covid-19 entre os dias 13 e 19 daquele mês – representando 1,7% do total de mortes no país naquela semana. A partir daí, houve uma atualização pelo CDC com a inclusão de novos relatórios de mortes relacionadas àquela semana.

As informações mais recentes do COVID Data Tracker, atualizadas em 23 de setembro, mostram que na semana encerrada em 19 de agosto de 2023 a covid-19 foi responsável por 1,6% do total de mortes nos Estados Unidos.

O autor do post

Paolo Zanotto é um virologista e professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP). Em 2021, ele foi apontado na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid, no Senado Federal, como o idealizador do “gabinete das sombras”. O grupo era formado por médicos negacionistas e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que serviria para orientar o governo no combate à pandemia.

Em um vídeo de setembro de 2020, divulgado pelo jornal Metrópoles, médicos desaconselharam Bolsonaro a comprar a vacina contra o vírus, durante reunião no Palácio do Planalto. Nas gravações, Zanotto faz um discurso e sugere a criação do grupo oculto para discutir o “tratamento precoce”, além de orientar o ex-presidente a tomar “extremo cuidado” com os imunizantes.

O relatório final da CPI, apresentado em 20 de outubro de 2021 pelo senador Renan Calheiros (MDB), sugeriu o indiciamento do virologista pelo crime de epidemia com resultado morte, previsto no artigo 247 do Código Penal, por conta da participação no “gabinete paralelo”.

Vacinação segue sendo melhor método de proteção contra covid-19

O número de mortes causadas pela covid-19 caiu por causa da vacinação. As vacinas são altamente eficazes na prevenção de doenças graves, hospitalização e morte causada por todas as cepas do vírus SARS-CoV-2, incluindo a variante ômicron e suas sub-linhagens, conforme a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS). As vacinas são altamente eficazes na redução da transmissão do vírus, embora possam não impedir completamente a infecção.

Há dez vacinas contra a covid-19 aprovadas pela OMS, para as quais foram emitidas recomendações de uso e que são produzidas pelos seguintes fabricantes: Pfizer/BioNTech, AstraZeneca/Oxford, Janssen, Moderna, Sinopharm, Sinovac, Bharat, Novavax, Casino e Valneva. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o uso de seis delas: Pfizer/Wyeth, Pfizer, Coronavac, Janssen, Oxford/Covishield (Fiocruz e Astrazeneca) e Spikevax.

Como mostrou o Comprova, a imunidade natural, ou seja, quando uma pessoa já contraiu a doença e seu corpo desenvolveu anticorpos, não torna a vacina desnecessária no combate à infecção por covid.

O que diz o responsável pela publicação: No X, não é possível mandar mensagens diretas por usuários que não se seguem mutuamente. O professor foi contatado por meio de seu email institucional da USP, mas, até o fechamento desta checagem, não houve retorno.

O que podemos aprender com esta verificação: Como as informações publicadas podem sofrer alteração, é preciso estar atento a alertas ou notas explicativas que apontem para essas possíveis mudanças. Outra técnica usada para criar o efeito de credibilidade para informações falsas é usar dados reais de forma distorcida. Por isso, é importante consultar as fontes originais e diversos veículos de comunicação, além de desconfiar caso não seja informado a origem dos dados ou autoria da informação. Neste caso, a consulta ao conteúdo original já demonstraria o uso de dados de forma errada. O uso de termos alarmantes como “assustar a população a se vacinar” e “número de mortes foi falsificado” também são usados para gerar medo e incentivar teorias contra a vacinação.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Outros veículos como o USA Today e a Associated Press desmentiram o mesmo conteúdo. O Comprova já checou outras alegações relacionados às decisões e dados do CDC, como que é enganoso post que afirma que a agência de saúde recomendou suspensão da aplicação da vacina da Janssen recentemente, que médica retirou dados de hospital israelense de contexto ao acusar CDC de mentir sobre infecções em não vacinados e que deputada distorce entrevista de diretora do CDC para criticar imunizantes e “passaporte sanitário“.

Saúde

Investigado por: 2023-08-23

FDA apenas reconheceu autoridade do médico de prescrever ivermectina off-label; medicamento segue sem aprovação para tratar covid

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso que a FDA, agência norte-americana que regula medicamentos quanto à eficácia e segurança, tenha autorizado o uso da ivermectina para a prevenção ou tratamento da covid-19. Declaração de uma advogada da agência em audiência judicial foi distorcida para levar à desinformação. Ao ser questionada sobre suposta interferência ilegal da FDA em proibir prescrição médica off-label, ela afirmou que a agência reconhece que os médicos têm autoridade para prescrever ivermectina para tratar a covid, o que não significa que o órgão passou a autorizar o seu uso no combate à doença. A prescrição off-label é o direito do médico de prescrever ao paciente um medicamento para uma finalidade diferente daquelas oficialmente aprovadas por órgãos regulatórios.

Conteúdo investigado: Vídeo publicado no Instagram em 22 de agosto com a legenda “FDA autoriza médicos americanos a tratarem covid com ivermectina! Não indica, mas autoriza! O que mudou?”. Na tela do vídeo, acrescenta a data em que a FDA teria mudado sua orientação: “desde 08/08/23”.

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: Não é verdade que a agência americana FDA autorizou o tratamento de covid-19 com ivermectina. Postagens com a informação enganosa tiram de contexto a fala de uma advogada da agência reguladora em audiência de processo judicial, no dia 8 deste mês.

Ao ser questionada se a agência estava interferindo na prerrogativa dos médicos de prescrever medicamento off-label, quando um remédio é indicado a um paciente para uma finalidade não recomendada oficialmente por agências regulatórias, ela afirmou, segundo o site The Epoch Times: “A FDA reconhece explicitamente que os médicos têm autoridade para prescrever ivermectina para tratar a covid”.

A declaração diz respeito à relação médico-paciente, e não significa que a FDA tenha aprovado o uso da ivermectina para o tratamento ou prevenção da covid-19. A lista de medicamentos aprovados para covid no site da FDA não inclui a ivermectina. O mesmo acontece em relação às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Brasil.

Para o Comprova, enganoso é conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 23 de agosto, a postagem no Instagram tinha mais de 635 mil visualizações.

Como verificamos: Ao analisar o perfil do responsável pelo post, verificou-se que, numa postagem seguinte ao conteúdo de desinformação, ele compartilha um vídeo em que um homem fala, em inglês, sobre o assunto. Ele mostra um gráfico sobre o qual aparece a frase: “A FDA reconhece explicitamente que os médicos têm autoridade para prescrever ivermectina para tratar a covid”. A pesquisa da frase no Google levou a texto no site The Epoch Times, em que foi possível esclarecer o contexto em que a frase foi dita.

A partir das informações, novas consultas levaram a um texto publicado em 8 de agosto sobre a audiência judicial envolvendo a FDA e um grupo de médicos ocorrida naquele dia. A data é a mesma que consta no vídeo desinformativo como sendo o momento a partir do qual a FDA teria passado a autorizar a ivermectina no tratamento da covid.

As buscas ainda levaram a textos que desmentiram a desinformação (Verify e The Hill), e também aos esclarecimentos da FDA em seu perfil no X (antigo Twitter). Também foram consultados os sites da FDA, da OMS e da Anvisa.

FDA não autorizou o uso de ivermectina no combate à covid-19

A FDA, agência federal americana equivalente à Anvisa no Brasil, não autorizou médicos a usarem ivermectina para o tratamento da covid-19. A afirmação enganosa é feita no Instagram e repete uma onda recente de desinformação sobre o assunto surgida neste mês nos Estados Unidos (Verify e The Hill).

No dia 16, a FDA fez um pronunciamento no X (antigo Twitter) reafirmando que “não autorizou ou aprovou ivermectina para prevenção ou tratamento de covid-19, nem afirmou que o medicamento é seguro e efetivo no combate à doença”.

“Embora a FDA tenha aprovado a ivermectina para determinadas utilizações em seres humanos e animais, não autorizou nem aprovou a ivermectina para utilização na prevenção ou tratamento da covid-19, nem declarou que o medicamento é seguro ou eficaz para essa utilização”, esclarece a agência reguladora.

Logo abaixo, o órgão compartilha um link do National Institutes of Health (NIH), a agência de pesquisas médicas do Departamento de Saúde americano, que afirma que “a ivermectina não está aprovada pela FDA para o tratamento de qualquer infecção viral” e que a análise de estudos sobre o medicamento no combate à covid não traz evidência de efetividade no tratamento. A recomendação do NIH é “contra o uso de ivermectina para o tratamento da covid-19”.

A origem da desinformação

No pronunciamento da FDA no X, o ponto 2 esclarece uma questão que está na origem da recente onda de desinformação: “Os profissionais de saúde podem, em geral, optar por prescrever um medicamento humano aprovado para uma utilização não aprovada quando considerarem que essa utilização não aprovada é clinicamente adequada para um determinado doente”.

Essa prática comum na medicina é conhecida como prescrição off-label, sendo de inteira responsabilidade do médico, como afirma esta nota de 2020 do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers).

Por acharem que a FDA estava desrespeitando esse direito, um grupo de médicos dos EUA entrou com um processo judicial contra a agência. Eles alegam que a FDA interferiu ilegalmente no direito de o médico prescrever ivermectina off-label ao divulgar, repetidas vezes, mensagens para que o seu uso contra a covid fosse interrompido. Um dos exemplos trazidos à Justiça (Página 3) é o post da FDA, em agosto de 2021, que diz: “Você não é um cavalo. Não é uma vaca. É sério, pessoal. Parem com isso”.

A chamada faz referência ao uso da ivermectina em animais. No entanto, o link compartilhado no post leva a texto no site da FDA que aponta que o uso do medicamento também é autorizado em humanos, mas em doses muito específicas para tratar vermes parasitas, piolhos e doenças de pele como a rosácea. O texto afirma que, para tratamento ou prevenção da covid-19, o uso da ivermectina não é aprovado ou autorizado.

Em uma audiência no dia 8 (a data utilizada no vídeo enganoso), a advogada que representa a FDA, ao rebater interferência da agência na prática médica off-label, respondeu, segundo o site The Epoch Times: “A FDA reconhece explicitamente que os médicos têm autoridade para prescrever ivermectina para tratar a covid”.

Enganosamente, a frase foi retirada de contexto para afirmar que a FDA passou a autorizar médicos a prescreverem ivermectina para covid.

O que diz o responsável pela publicação: O médico Roberto Zeballos, responsável pela publicação, foi procurado, mas não respondeu até o fechamento desta checagem.

O que podemos aprender com esta verificação: A publicação feita pelo médico no Instagram descontextualiza a afirmação da advogada levantando suspeitas sobre a posição de uma agência que regula o uso de medicamentos nos Estados Unidos. Diante desse tipo de dúvidas lançadas em publicações em redes sociais, devemos buscar mais informações em fontes confiáveis tanto da imprensa quanto de órgãos de saúde.

Buscas na internet pelo nome do responsável pela publicação também são úteis. No caso do médico que teve a postagem verificada, é possível constatar que ele já foi alvo de uma carta de repúdio de professores de medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) por declarações contra as vacinas anti covid-19 e em defesa de tratamentos sem eficácia reconhecida por órgãos de controle (Veja, UOL, Aos Fatos, Piauí). Em checagens do Comprova, ele já foi desmentido pelo menos duas vezes, nas seguintes publicações: Vacinas são eficazes contra a variante delta, ao contrário do que diz post e Ministério da Saúde de Israel nega que seus dados permitam concluir sobre imunidade de infectados.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A Reuters e a AFP também fizeram checagens sobre o tema. Conteúdos que envolvem tratamentos ou procedimentos médicos costumam ser alvos frequentes de desinformação. Recentemente, o Comprova mostrou que a autorização da ozonioterapia está condicionada à aprovação da Anvisa e que a OMS não admitiu que bebês de mães vacinadas estão nascendo com problemas no coração. Também explicou como funciona a lista de espera por transplante de órgão no Brasil.

Comprova Explica

Investigado por: 2023-08-10

Autorização da ozonioterapia no país está condicionada à aprovação da Anvisa

  • Comprova Explica
Comprova Explica
Posts acusam o governo federal de negacionista por ter sancionado uma lei que autoriza a ozonioterapia no país. No entanto, o texto permite a prática somente com o uso de equipamentos para finalidades cuja eficácia e segurança sejam aprovadas pela Anvisa. Até o momento, a técnica foi aprovada pelo órgão somente para fins odontológicos e estéticos.

Conteúdo analisado: Após a sanção da Lei 14.648, de 4 de agosto de 2023, que autoriza a realização da ozonioterapia em território nacional, uma publicação no Telegram questiona “quem é o negacionista agora?”, já que a prática não tem comprovação científica de eficácia para aplicações médicas. A pergunta faz referência às críticas direcionadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a condução da pandemia da covid-19. Naquele período, algumas pessoas afirmaram que a covid-19 poderia ser tratada com ozonioterapia, algo sem comprovação científica.

Comprova Explica: A sanção da Lei 14.648 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) resultou em uma série de postagens nas redes sociais acusando o governo de negacionista. As alegações se baseiam em manifestações de entidades médicas, como o Conselho Federal de Medicina (CFM), que afirmam não haver comprovação científica suficiente sobre segurança e efetividade da prática em medicina.

Porém, a lei sancionada afirma que “a ozonioterapia somente poderá ser aplicada por meio de equipamento de produção de ozônio medicinal devidamente regularizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ou órgão que a substitua”.

Segundo a Anvisa, até o momento, os únicos equipamentos regularizados pela agência para uso da ozonioterapia são para fins odontológicos e estéticos, cuja segurança e eficácia foram aprovadas. E não para aplicações médicas em pacientes.

Como verificamos: O Comprova consultou o Diário Oficial da União (DOU) do dia 7 de agosto de 2023, a fim de acessar a Lei 14.648, que autoriza a prática da ozonioterapia no país. A partir disso, foram consultados comunicados, notas à imprensa e documentos oficiais por parte do governo federal, do Ministério da Saúde e da Anvisa sobre o procedimento.

Em seguida, para entender a tramitação do projeto de lei no Congresso, foram consultados os sites da Câmara dos Deputados e do Senado. Notas e resoluções do Conselho Federal de Medicina (CFM), Associação Médica Brasileira (AMB), Associação Brasileira de Ozonioterapia (Aboz), Conselho Federal de Odontologia (CFO), Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e Conselho Federal de Farmácia (CFF), que tratam sobre a prática com ozônio, também foram consultadas.

Para entender sobre o uso da ozonioterapia durante a pandemia, buscamos por verificações e reportagens da época relacionadas ao assunto. Por fim, entramos em contato com o Ministério da Saúde e com a Anvisa.

Lei autoriza ozonioterapia somente em casos aprovados pela Anvisa

A Lei 14.648, de 4 de agosto, que autoriza a ozonioterapia no território nacional, foi sancionada pelo presidente Lula com publicação no Diário Oficial da União em 7 de agosto. O texto havia sido enviado para sanção presidencial no dia 17 de julho, após ter sido aprovado pela Câmara e pelo Senado. O documento assinado pelo presidente é o mesmo remetido pelo Senado Federal após tramitação nas duas casas legislativas. Segundo a CNN Brasil, antes de sancionar a lei, o Palácio do Planalto consultou a Anvisa, que não se opôs.

A lei autoriza que a ozonioterapia seja aplicada somente por meio de equipamento de produção de ozônio medicinal regularizado pela Anvisa. Até o momento, segundo comunicado da agência, os equipamentos aprovados são exclusivamente para fins odontológicos e estéticos, nos seguintes procedimentos:

  • Dentística: tratamento da cárie dental – ação antimicrobiana;
  • Periodontia: prevenção e tratamento dos quadros inflamatórios/infecciosos;
  • Endodontia: potencialização da fase de sanificação do sistema de canais radiculares;
  • Cirurgia odontológica: auxílio no processo de reparação tecidual;
  • Estética: auxílio à limpeza e assepsia de pele.

Na nota técnica de junho de 2022 anexada ao comunicado, a Anvisa informa que tem recebido “diversas submissões de regularização de dispositivos médicos emissores de ozônio cujas indicações de uso visam a aplicação da técnica de ozonioterapia para diversos fins”. No entanto, somente os equipamentos para os procedimentos descritos acima tiveram segurança e eficácia aprovadas pela Anvisa.

A nota técnica ressalta que o uso de equipamentos para aplicação de ozonioterapia para fins diversos daqueles aprovados pelo órgão constitui infração sanitária, sujeita a sanções previstas na Lei 6437/77. E que denúncias podem ser feitas à Ouvidoria da Anvisa (pelo número 0800 642 9782 ou pelo site da Ouvidoria).

A autorização prevista na lei é para aplicação da ozonioterapia em caráter complementar. Segundo o Ministério da Saúde, práticas complementares não substituem o tratamento tradicional: “Elas são um adicional, um complemento no tratamento e indicadas por profissionais específicos conforme as necessidades de cada caso”.

Processo de aprovação na Anvisa

Ao Comprova, a Anvisa esclareceu que os equipamentos emissores de ozônio para aplicação em odontologia e estética foram aprovados gradualmente, à medida que as empresas interessadas em regularizá-los enviavam pleitos para a agência, que avaliou os estudos que embasavam os produtos quanto à eficácia e segurança. Esses estudos, segundo a Anvisa, compõem os dossiês técnicos dos produtos e são informações sob sigilo empresarial.

Ainda de acordo com a agência, foram submetidos nos últimos anos pleitos relacionados a outras aplicações, como para dor lombar, artrite, artrose e diabetes. Porém, conforme o órgão, não houve comprovação de eficácia para essas finalidades.

Em comunicado de 7 de agosto, a Anvisa informa que novas indicações de uso da ozonioterapia poderão ser aprovadas. Para tanto, são necessárias novas submissões de pedidos de regularização de equipamentos emissores de ozônio pelas empresas interessadas, com apresentação dos estudos necessários à comprovação de sua eficácia e segurança.

Projeto de Lei foi apresentado por senador em 2017

O projeto (PL 227/17) que deu origem à lei foi apresentado pelo então senador Valdir Raupp em 2017. O texto original, que foi modificado, previa autorização para a prescrição da ozonioterapia como tratamento médico de caráter complementar. Dentre as justificativas, o senador destacou a aplicação da ozonioterapia como prática reconhecida pelo sistema de saúde de países como Alemanha, China, Rússia, Cuba, Portugal, Espanha, Grécia, Turquia e em 32 estados dos Estados Unidos. E que a técnica pode ser usada no tratamento de patologias de origem inflamatória, infecciosa e isquêmica.

O PL seguiu para a Câmara em novembro de 2017, onde recebeu a numeração PL 9001/2017 e foi modificado. Na redação final, foi retirada a prescrição da ozonioterapia como tratamento médico. O texto não foi para o plenário da casa legislativa por ser de caráter conclusivo. Esse tipo de projeto só precisa ser aprovado pelas duas comissões designadas para análise. O projeto deixa de ter essa característica caso as comissões dêem pareceres divergentes sobre o assunto (uma aprovar e a outra reprovar) ou se 52 deputados (10% da Câmara) assinarem um recurso contra esse rito após a aprovação nas comissões – o que não aconteceu.

Com a aprovação pelas comissões de Seguridade Social e Família e de Constituição e Justiça e de Cidadania, o texto final, que seguiu de volta para revisão no Senado em maio de 2023, foi o mesmo remetido ao Palácio do Planalto e sancionado pelo presidente Lula em agosto deste ano.

O que é a ozonioterapia?

De acordo com o Conselho Federal de Medicina, a ozonioterapia é um procedimento terapêutico que aplica uma mistura de dois gases nos pacientes: o oxigênio e o ozônio. A aplicação pode ser feita de diferentes formas, como endovenosa, retal, intra-articular, local e intramuscular.

Na nota técnica da Anvisa de junho de 2022, a agência explica que o ozônio é um “gás com forte poder oxidante e bactericida”. Por conta disso, seu uso deverá ser destinado apenas para fins odontológicos e estéticos, com o objetivo de tratar inflamações e infecções nessas áreas, além de limpeza de pele. Em outras aplicações, esse gás costuma ser utilizado para desinfecção de ambientes hospitalares e no tratamento de água.

Em 20 de abril de 2018, o CFM publicou uma resolução que torna a ozonioterapia um procedimento de caráter experimental. Com isso, os tratamentos médicos só poderão utilizar essa abordagem se forem voltados para estudos, e desde que sigam critérios definidos pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Dentre as regras, está a concordância dos participantes com as condições da pesquisa, a garantia de sigilo e anonimato, a oferta de suporte médico-hospitalar em caso de efeitos adversos e a não cobrança do tratamento em qualquer uma de suas etapas.

O conselho também pontuou que, a pedido da Associação Brasileira de Ozonioterapia, avaliou até aquele momento mais de 26 mil trabalhos sobre o assunto. A conclusão, no entanto, foi de que o uso medicinal dessa prática ainda precisa de mais estudos, “com metodologia adequada e comparação da ozonioterapia a procedimentos placebos, assim como estudos comprovando as diversas doses e meios de aplicação de ozônio”, conforme consta no site do CFM.

Ozonioterapia foi incorporada ao SUS como prática complementar em odontologia em 2018

Em 2018, o Ministério da Saúde incluiu a ozonioterapia no rol de Práticas Integrativas e Complementares (Pics) do SUS. Em resposta ao Comprova, a pasta informou, por telefone, que a inclusão se referia somente às práticas odontológicas que, à época, já haviam sido autorizadas pela Anvisa.

Em 2015, a Resolução CFO-166 do Conselho Federal de Odontologia reconheceu e regulamentou o uso pelo cirurgião-dentista da prática da ozonioterapia. No anexo da Resolução, o CFO elenca as áreas de aplicação da técnica em odontologia. Estão listadas as quatro com equipamentos de aplicação de ozônio já aprovados pela Anvisa (listada acima), acrescidas de outras duas ainda sem aprovação pela agência:

– Dor e disfunção de ATM: atividade antiálgica e antiinflamatória;

– Necroses dos maxilares: osteomielite, osteorradionecrose e necroses induzidas por medicamentos.

Em 2020, no Parecer Normativo nº 001/2020/COFEN, o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) regulamentou a ozonioterapia como prática do enfermeiro. Em um trecho, o parecer determina que a técnica “somente seja aplicada através de equipamento de produção de ozônio medicinal devidamente certificado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”.

Determinação semelhante tem a Resolução nº 685, de 30 de janeiro de 2020, do Conselho Federal de Farmácia (CFF), que regulamenta a atribuição do farmacêutico na prática de ozonioterapia. No artigo 4º, em que são descritas as atribuições do profissional na prática da ozonioterapia, lê-se no inciso IX: “Utilizar equipamentos e materiais apropriados, devidamente registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”.

Relação com a pandemia

Após a Organização Mundial de Saúde (OMS) caracterizar o estado de contaminação pelo coronavírus como uma pandemia, o uso da ozonioterapia como tratamento complementar para a doença passou a ser discutido no Congresso Nacional. Em abril de 2020, mês seguinte ao anúncio da OMS, a deputada federal Paula Belmonte (Cidadania-DF) apresentou o Projeto de Lei 1.383, que permitia a prática como um tratamento complementar aos infectados pelo SARS-CoV-2.

De acordo com a autora da proposta, apesar de não existirem evidências científicas de que a ozonioterapia teria efetividade na prevenção ou tratamento da covid-19, seria uma forma de possibilitar que “a comunidade médica utilize o tratamento quando julgar necessário”.

Em julho do mesmo ano, o texto do PL foi alvo de debate pela Comissão Externa da Câmara dos Deputados sobre o tratamento da doença. Os defensores argumentaram que a prática poderia evitar o agravamento do quadro do paciente e reduzir o tempo de internação. Já aqueles que discordavam pontuaram a falta de evidências científicas sobre a eficácia do procedimento, manifestando a necessidade de estudos experimentais para a aplicação.

Em agosto, o prefeito de Itajaí (SC), Volnei Morastoni (MDB), anunciou em uma transmissão ao vivo que a cidade iria adotar a aplicação de ozônio por via retal como uma medida de tratamento contra a covid-19 em pacientes com confirmação de infecção pelo vírus e com sintomas. O município estaria incluído em um estudo da Associação Brasileira de Ozonioterapia para avaliar a efetividade do procedimento contra a doença. O projeto chegou a ser adiado, mas posteriormente retornou e, até janeiro de 2021, tinha atendido 81 voluntários na rede pública da cidade. No site da Aboz, no entanto, não há informações ou dados sobre a eficácia do tratamento, prometida para abril de 2021.

À época, o Comprova fez uma verificação sobre a declaração feita por Morastoni e concluiu que não existiam evidências científicas que comprovassem a relação entre a ozonioterapia e o tratamento da covid-19.

A Anvisa concluiu, em outubro de 2020, que a ação desinfetante do ozônio não tem efetividade contra o SARS-CoV-2. A agência também ressaltou o caráter perigoso da ação do gás em humanos, podendo gerar lesões na pele, nas vias respiratórias e nos olhos, além de reações alérgicas.

Por que explicamos: O Comprova Explica tem a função de esclarecer temas em discussão nas redes sociais e que são alvos de desinformação. Durante a pandemia da covid-19, conteúdos falsos defendendo a ozonioterapia como forma de tratamento para a doença foram explorados politicamente e disseminados no ambiente digital, gerando dúvidas sobre o procedimento. Assim, a apresentação das práticas em que o uso da ozonioterapia tem comprovação científica e é permitido pelas autoridades sanitárias busca levar compreensão sobre o tema à população em um contexto de desordem informacional.

Outras checagens sobre o tema: Durante a pandemia de covid-19, o Fato ou Fake, do G1, também investigou a prática da ozonioterapia no tratamento da doença e apresentou que não há evidências científicas de que a aplicação do ozônio mate o vírus.

Conteúdos sobre tratamentos e procedimentos médicos costumam ser alvos de desinformação e são verificados pelo Comprova. Recentemente, a iniciativa verificou que a OMS não admitiu que bebês de mães vacinadas estão nascendo com problemas no coração, que as vacinas não têm vírus e fungos ‘do câncer’ e que o Ministério da Saúde não proibiu vacinas contra a covid-19.

Saúde

Investigado por: 2023-07-21

Governo da Flórida não declarou vacina contra a covid-19 uma arma biológica, ao contrário do que diz post

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso um post que afirma que o estado da Flórida, nos Estados Unidos, declarou que as vacinas mRNA contra a covid-19 são armas biológicas. Na verdade, elas foram classificadas dessa forma pelo comitê-executivo do Partido Republicano de Brevard, um dos 67 condados da Flórida, que pede, em carta, que a aplicação dos imunizantes passe a ser considerada ilegal.

Conteúdo investigado: Post nas redes sociais apresenta uma reportagem televisiva em inglês e afirma na legenda: “Flórida declara vacina de mRNA contra Covid uma ‘Bio-Arma’. Legislação a ser aprovada torna ILEGAL a administração de qualquer vacina mRNA a qualquer pessoa no estado”.

Onde foi publicado: Telegram e Twitter.

Conclusão do Comprova: Publicação que circula nas redes sociais engana ao sugerir que o governo da Flórida, nos Estados Unidos, declarou a vacina mRNA (RNA mensageiro) contra a covid-19 uma “bio-arma”. O post, que reproduz uma notícia veiculada em inglês por emissora de TV americana, acrescenta que a administração do imunizante no estado americano passará a ser considerada ilegal.

As alegações, porém, não correspondem ao conteúdo da reportagem, exibida em 13 de julho. Segundo o noticiário, quem classificou os imunizantes como uma “arma biológica” foi o comitê-executivo do Partido Republicano de Brevard, um dos 67 condados da Flórida, e não o governo estadual. A afirmação foi feita por líderes do grupo político em carta, na intenção de pedir a autoridades que proibissem a aplicação e o recebimento de vacinas no estado. Resoluções semelhantes já foram aprovadas por comitês partidários de outros condados, mas não avançaram no Legislativo.

Os imunizantes contra a covid-19 e seus efeitos colaterais são investigados pela Suprema Corte da Flórida, a pedido do governador Ron DeSantis (Republicanos), desde o fim do ano passado, mas a apuração no estado não tem relação direta com a carta elaborada pelo comitê-executivo do partido. Além disso, as conclusões ainda não foram divulgadas.

As vacinas de RNA mensageiro, como as da Pfizer e da Moderna, aplicadas nos Estados Unidos, não se valem de vírus vivos, como muitas das vacinas tradicionais. Em vez de inserir o vírus atenuado ou inativo no organismo da pessoa vacinada, esse tipo de imunizante ensina as células a produzirem uma proteína que estimula a resposta imunológica do corpo.

De acordo com o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, evidências de centenas de milhões de vacinas contra o coronavírus já administradas no país e de bilhões de vacinas administradas globalmente demonstram que elas são seguras e eficazes. Ainda conforme a agência, os efeitos graves à saúde relacionados a elas são raros.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 21 de julho, posts no Twitter somavam mais de 1,2 milhão de visualizações, 34,4 mil curtidas e 13,9 mil compartilhamentos. Já a publicação no Telegram alcançava 6,7 mil visualizações.

Como verificamos: Primeiramente, pesquisamos no Google pelo título exibido pelo noticiário de TV reproduzido pela peça investigada: “County GOP: ‘Covid Vax a Bioweapon?’”. A busca retornou link para reportagem com o vídeo original, publicada em 13 de julho pela emissora WPEC, de West Palm Beach (Flórida). Em seguida, transcrevemos o áudio da notícia veiculada, por meio da ferramenta Transkriptor, e traduzimos o conteúdo.

Depois, fizemos buscas por termos como “vacina”, “mRNA”, “covid-19”, “arma biológica”, “Brevard” e “Flórida”, em português e inglês. Encontramos checagens e outras notícias sobre o tema abordado (Florida Today, Boatos.org, Estadão, PolitiFact e Tampa Bay Times).

Na sequência, enviamos e-mail ao governo e ao Departamento de Saúde da Flórida. Por fim, procuramos o responsável pela publicação.

Comitê do Partido Republicano em Brevard condena vacina em carta

A notícia, cujo sentido foi distorcido pela peça de desinformação, foi apresentada por telejornal da WPEC, emissora afiliada à CBS, em 13 de julho. Conforme a reportagem, a ideia de que a vacina mRNA contra a covid-19 é uma “arma biológica” é defendida em carta por líderes do Partido Republicano do Condado de Brevard.

O comitê executivo do partido em Brevard escreveu o documento, de quatro páginas, na intenção de encaminhá-lo ao governo do estado. Nele, afirma, entre outras coisas, que “evidências fortes e confiáveis ​​foram recentemente reveladas de que a covid-19 e as vacinas de covid-19 são armas biológicas e tecnológicas”. O grupo ainda questiona a segurança e eficácia dos imunizantes e pede que a aplicação e o recebimento de vacinas mRNA passem a ser ilegais na Flórida.

As alegações são falsas. Evidências científicas comprovam que os imunizantes que utilizam a tecnologia de mRNA ampliaram a resposta imunológica da população e foram responsáveis pela desaceleração de contágios. As vacinas atualmente disponíveis tiveram seus dados de segurança atestados pelas principais agências sanitárias do mundo.

Outros condados, como o de Lee, capitanearam iniciativas semelhantes; a proposta, porém, não ganhou apoio do Legislativo.

Depois que a reportagem foi ao ar, o conteúdo da carta foi aprovado em votação por membros do partido, e, posteriormente, o documento foi enviado ao governador Ron DeSantis, ao procurador-geral Ashley Moody, aos senadores Scott e Rubio, e a outras autoridades, exigindo que as vacinas fossem proibidas no estado.

O Comprova solicitou posicionamento sobre o caso ao governo e ao Departamento de Saúde da Flórida, mas não obteve retorno.

Vacinas são investigadas pela Suprema Corte da Flórida

Após solicitação do governador do estado Ron DeSantis (Republicanos), em 13 de dezembro de 2022, a Suprema Corte da Flórida passou a investigar as vacinas contra a covid-19, conforme noticiou o The Guardian.

A justificativa de DeSantis para a apuração é, em parte, liberar mais informações das farmacêuticas sobre as vacinas e possíveis efeitos colaterais. Ele ainda argumenta que as empresas tinham interesse financeiro em criar um clima no qual as pessoas acreditassem que a imunização garantiria que não pudessem espalhar o vírus a outras pessoas.

O governador é pré-candidato à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicano, assim como Donald Trump, e, durante a pandemia, adotou discurso negacionista semelhante ao do ex-presidente.

Em 22 de dezembro, foi noticiado pela AP News que um grande júri será convocado para a investigação. Esses júris estaduais, geralmente compostos por 18 pessoas, podem investigar atividades criminosas e emitir indiciamentos, mas também examinar problemas sistêmicos na Flórida e fazer recomendações.

O grande júri estadual se reunirá por um ano. Assim, não há, até o momento, nenhum resultado dos trabalhos divulgado pela imprensa profissional. A investigação das vacinas, que deve ser concluída no fim deste ano, não tem relação direta com a carta elaborada por líderes do Partido Republicano no condado de Brevard.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova entrou em contato por e-mail com o perfil responsável pela publicação no Telegram, mas não obteve retorno até a conclusão desta checagem.

O que podemos aprender com esta verificação: O conteúdo apresenta características típicas de peças de desinformação, como caráter vago e alarmista. Repare que o post enganoso usa termos como “bio-arma” e ILEGAL, em letras maiúsculas, e cita a proibição da administração de “qualquer vacina” mRNA a “qualquer pessoa” no estado.

A publicação também se aproveita de uma matéria jornalística, apresentada em inglês, para conferir credibilidade à alegação, mas acaba por distorcer seu sentido.

Ao se deparar com conteúdos suspeitos como esse, busque pela reportagem original para conferir se ela foi alterada, e, depois, traduza ou busque auxílio de alguém para traduzir o texto. Além disso, pesquise sobre o tema junto à imprensa profissional e a órgãos oficiais de saúde.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A mesma publicação foi alvo de checagem do Boatos.org e PolitiFact.

O Comprova já investigou conteúdos com alegações similares envolvendo vacinas contra a covid-19. Recentemente, mostrou ser falso que Parlamento Europeu tenha classificado os imunizantes como arma biológica, que elas não foram proibidas e que a OMS não admitiu que bebês de mães vacinadas estão nascendo com problemas no coração.

Saúde

Investigado por: 2023-07-19

OMS não admitiu que bebês de mães vacinadas estão nascendo com problemas no coração

  • Falso
Falso
A Organização Mundial da Saúde (OMS) não admitiu que mães totalmente vacinadas estão dando à luz filhos com problemas cardíacos. Publicação em site e no Telegram mente ao fazer tal afirmação, sem nenhuma evidência. O texto falso mistura dados corretos – o aumento incomum dos casos de bebês com miocardite, inflamação no músculo cardíaco, informado pela OMS – com desinformação – ligando os casos aos imunizantes. O órgão de saúde não atribui os casos de miocardite em bebês a nenhuma vacina.

Conteúdo investigado: Texto publicado em um site e compartilhado nas redes sociais afirma que a Organização Mundial da Saúde “admite que mães totalmente vacinadas estão dando à luz bebês com graves defeitos cardíacos”. De acordo com o conteúdo, a UK Health Security Agency abordou o assunto e sua possível relação com a vacina contra a covid-19.

Onde foi publicado: Telegram e em um site de internet.

Conclusão do Comprova: É falso que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenha admitido que mães “totalmente vacinadas” estão tendo filhos com “graves defeitos cardíacos”, diferentemente do que afirma publicação em site compartilhada no Telegram.

Não há qualquer evidência relacionando imunizantes a problemas cardíacos em recém-nascidos. O link com a fonte da “informação” colocado no início do texto leva para um outro site com texto, em inglês, intitulado “OMS alerta para aumento incomum de casos de miocardite grave entre recém-nascidos e bebês no Reino Unido”. Este dado, sim, é correto e pode ser conferido na página da OMS. O documento não faz qualquer menção a vacinas.

Sobre elas, inclusive, o texto desinformativo aqui verificado inicialmente não cita a quais vacinas a OMS estaria se referindo, mas, depois do quarto parágrafo, fala sobre a relação da miocardite com os imunizantes contra a covid-19.

De fato, a miocardite é um evento adverso que pode ocorrer em decorrência dessa imunização, como o Comprova já mostrou, e, embora o tema seja amplamente explorado por grupos antivacina – como o site aqui verificado –, a chance de a inflamação no músculo cardíaco ocorrer é muito mais baixa do que a de uma pessoa se infectar pela covid-19. Por isso, além da OMS, órgãos de saúde do mundo todo, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Brasil, a United Kingdom Health Security Agency (UKHSA), do Reino Unido, o Center for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos, recomendam que mulheres grávidas se vacinem contra o novo coronavírus.

Contatada pelo Comprova, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), que atua como escritório regional da OMS, reforçou que se trata de um conteúdo falso e que a vacinação “só faz bem, tanto para mães quanto para seus bebês e toda a família”.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 19 de julho, o conteúdo teve 7,7 mil visualizações no Telegram.

Como verificamos: A equipe fez buscas no Google com as palavras-chave “OMS”, “vacina”, “bebês” e “miocárdio”. Não foram encontrados estudos ou pesquisas publicadas pela OMS que citassem qualquer relação entre vacinas e os efeitos em bebês.

Também pesquisou publicações do governo do Reino Unido sobre o assunto. Foram encontrados comunicados por parte do governo inglês sobre monitoramento de reações a miocardite e pericardite após vacinação contra covid-19.

O Comprova entrou em contato com a assessoria de imprensa da OPAS para questionar a veracidade do conteúdo publicado e com o site que publicou a desinformação.

Miocardite, grávidas e vacinas

Ao Comprova, a OPAS afirmou que, de fato, a OMS foi notificada pelo governo do Reino Unido sobre o aumento de casos de miocardite grave em recém-nascidos, mas sem nenhuma relação com vacinas ou gestantes. Os casos são associados à infecção por enterovírus no País de Gales, entre junho de 2022 e abril de 2023.

O órgão, que atua como escritório regional da OMS, disse ainda que tanto a OPAS quanto a OMS recomendam “que as mulheres grávidas se vacinem com todas as doses necessárias e recomendadas – tanto as contra covid-19 e gripe quanto as de rotina do calendário nacional de vacinação – para que se protejam de doenças potencialmente mortais”.

De acordo com o Instituto Oswaldo Cruz (IOC), os enterovírus estão entre os agentes virais mais frequentemente relacionados a doenças em seres humanos. Fazem parte deste grupo mais de setenta tipos de vírus, que são transmitidos através da via fecal-oral, ou seja, quando uma pessoa ingere alimentos ou água com fezes contaminadas pelos vírus. Outra forma de contaminação é o  compartilhamento de objetos infectados.

Alguns sintomas causados pelo enterovírus são dor de cabeça, febre, vômitos, dor de garganta, feridas na pele e úlceras dentro da boca. O diagnóstico é confirmado por exames laboratoriais, mas não há tratamento específico, mas a utilização de medicamentos que aliviam os sintomas.

O que diz o responsável pela publicação: Questionado sobre a fonte do texto, o site do Jornal Verdade Censurada, que publicou a desinformação, enviou um link de um portal conservador dos Estados Unidos e, mais tarde, outros links – nenhum comprova o que foi publicado por eles. Além disso, o site não respondeu se teria o documento da OMS citado na publicação.

O que podemos aprender com esta verificação: O post verificado mistura fatos com invenções, seguindo uma tática recorrente entre os desinformadores. Então, antes de acreditar no boato sem mesmo se informar sobre o assunto em sites de veículos de comunicação profissionais, devemos pensar se o conteúdo duvidoso faz sentido. Basta fazermos algumas perguntas para perceber que há algo errado na publicação. Se a OMS tivesse admitido que bebês estão nascendo com problemas por conta de suas mães vacinadas, isso não seria notícia em todos os veículos? Os órgãos de saúde do mundo todo continuariam incentivando grávidas a se vacinarem se crianças estivessem nascendo com alguma doença? Então, quando vir um conteúdo muito alarmista, como o verificado aqui, desconfie.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Vacinas, principalmente as contra a covid-19, são temas frequentes das verificações do Comprova. Só neste ano, o projeto publicou, por exemplo, ser falso que elas foram proibidas e enganoso post de deputado que questiona a eficácia delas.

Saúde

Investigado por: 2023-07-07

Vídeo tira de contexto declarações de pastor à CPI da Covid para atacar vacinas

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso vídeo que usa trechos do depoimento do reverendo Amilton à CPI da Covid afirmando que ele se arrepende de ter escondido efeitos colaterais de vacinas. Na verdade, o reverendo admitiu culpa em esquema de superfaturamento envolvendo a compra de imunizantes.

Conteúdo investigado: Vídeo exibe recortes do depoimento do reverendo Amilton Gomes de Paula à CPI da Covid, realizada em 2021, com os textos sobrepostos: “Ele se arrependeu por esconder os efeitos colaterais que estão matando as pessoas” e “Ele tanto pediu pras pessoas tomarem a vacina que não tinha efeitos, nem causava doenças, ele por guarda a verdade pessoas estão ficando doentes no Brasil (sic)”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Vídeo desinforma ao incluir legenda enganosa em recortes do depoimento do reverendo Amilton Gomes de Paula à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, em 2021. A peça de desinformação sugere que o depoente se arrependeu de ter escondido efeitos colaterais da vacina. Na verdade, ele se referia ao seu papel como atravessador nas negociações de compra da vacina Astrazeneca com suspeita de superfaturamento. O reverendo Amilton foi indiciado pela CPI por tráfico de influência.

O Comprova considera enganoso o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Quando esta verificação foi aberta, no dia 4 de julho, o post registrava mais de 32 mil curtidas e mais de 20 mil compartilhamentos no TikTok. Depois disso, o vídeo foi apagado da plataforma.

Como verificamos: Primeiramente, como o depoente no vídeo aparece chorando, buscamos pelos termos “chora CPI covid” no Google. Assim, identificamos, a partir de notícias, que se tratava do reverendo Amilton de Paula.

A busca retornou reportagem do G1, com o título “Reverendo que negociou venda de vacinas chora na CPI da Covid”; registro do YouTube do portal Poder 360, com o título “Reverendo Amilton chora durante CPI da Covid e pede “desculpas ao Brasil”; e do UOL, com o título “Reverendo chora e admite culpa: “queria ter vacina para o Brasil”. Os vídeos publicados pelo UOL e pelo Poder 360 destacam trechos usados na publicação desinformativa.

Em seguida, buscamos pela íntegra da transcrição do depoimento do reverendo nas notas taquigráficas do Senado. Nesta fonte, foi possível identificar que os trechos usados na peça de desinformação não eram contínuos, mas recortes de trechos diferentes posicionados em sequência.

Primeiro recorte do vídeo

Logo no início do trecho usado na publicação desinformativa, em que afirma “tenho culpa, sim”, o reverendo respondia a perguntas do senador Marcos Rogério, que questionava “qual o seu real papel em tudo isso?”. A resposta do reverendo pode ser consultada na minutagem 15:40.

Segundo recorte do vídeo

O segundo recorte é da pergunta feita pelo senador Omar Aziz (PSD), no minuto 15:56, em que ele diz “o senhor chorou e se arrependeu do quê?”, e o reverendo Amilton responde: “de ter estado nessa operação das vacinas”.

O vídeo continua com a fala de Omar Aziz:

“Pois é. E aí, Senador Eduardo Girão, sem querer politizar, sem querer, mas fazendo comparativos, a Pfizer manda 101 e-mails para o Ministério da Saúde, e o Pastor consegue, em horas, que as portas se abram pra ele – você está me entendendo? -, numa mágica, numa coisa espantosa, não é?

Daí o argumento do Governo é não pagou, não pagou. Não, tripudiou na compra da vacina. Recebe em horas, e se abrem as portas para o reverendo entrar no Ministério da Saúde, coisa que o senhor não consegue fazer, coisa que eu não consigo fazer, coisa que nenhum senador consegue fazer aqui. Mas deixa de responder mais de cem e-mails pra a Pfizer.

O reverendo

Amilton Gomes de Paula é reverendo e fundador da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), uma organização não governamental sem qualquer histórico de atuação na área de vacinas. Em 3 de agosto de 2021, ele foi ouvido pela CPI da Covid e apontado como “intermediador” entre o governo federal e a empresa Davati Medical Supply na negociação de 400 milhões de doses do imunizante da AstraZeneca.

O caso foi investigado a partir de denúncias de possíveis ilegalidades envolvendo suspeita de tentativa de superfaturamento e cobrança de propina. Gomes de Paula foi apontado como mediador entre a empresa e o Ministério da Saúde e marcou reuniões de negociação entre as partes.

Relação com família Bolsonaro

Um registro de junho de 2019 mostra o pastor em um encontro com um dos filhos de Jair Bolsonaro (PL), o senador Flávio Bolsonaro (PL).

Mensagens obtidas pela CPI trocadas entre Amilton e o policial Luiz Paulo Dominguetti – representante da Davati Medical Supply que denunciou o esquema de cobrança de propina na venda de vacinas – mostraram que o pastor chegou a dizer a Dominguetti que teria se reunido com o então presidente, Bolsonaro.

À CPI, o reverendo afirmou que estava mentindo em mensagem ao policial e que o encontro não teria acontecido. Ele disse se tratar de uma “bravata”. Também no depoimento, ele afirmou que participou da campanha de Jair Bolsonaro à presidência em 2018, mas negou conhecê-lo pessoalmente.

O que diz o responsável pela publicação: O conteúdo desinformativo aparece indisponível no perfil que publicou o vídeo no TikTok. A conta em questão não permite troca de mensagens diretas entre perfis que não se seguem. Sendo assim, não foi possível entrar em contato.

O que podemos aprender com esta verificação: A postagem verificada pelo Comprova usa uma tática comum em peças de desinformação. Ela sobrepõe às imagens alegações em texto que não são confirmadas pelo conteúdo do vídeo. Quem cria esse tipo de postagem conta com a desatenção dos leitores que leem o texto, mas não acessam o vídeo ou não conseguem ativar o áudio. Sempre é recomendável, diante de uma peça que motiva reações emocionais, acessar o conteúdo na íntegra. Nesse caso específico, a edição do vídeo dá pistas de que houve cortes. E quando surge a dúvida sobre a veracidade ou integridade do conteúdo, o melhor caminho é fazer uma busca por notícias que possam refutá-la ou confirmá-la.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Conteúdo similar foi checado por Lupa e Aos Fatos. O Comprova publicou diversas verificações de conteúdos de desinformação sobre vacinas, como a que provou que É falso que Parlamento Europeu tenha classificado vacina contra a covid-19 como arma biológica. O Comprova Explica mostrou que a Vacina contra covid-19 não provoca Aids, ao contrário do que sugeriu Bolsonaro em live; entenda e a situação da vacina da Astrazeneca e por que sua recomendação mudou.

Saúde

Investigado por: 2023-06-09

É enganoso relacionar indenização britânica por danos causados por vacinas às mortes pela covid

  • Enganoso
Enganoso
Texto e post do site Brasil sem Medo (BSM) enganam ao relacionar indenização paga pelo governo britânico por danos causados por qualquer vacina a número de mortos por covid-19, afirmando, de maneira distorcida, que números oficiais mostram que pessoas vacinadas são as que mais morreram pela doença. A indenização é paga pelo menos desde 1997 para "casos extremamente raros" e que envolvam qualquer uma das vacinas em uso no Reino Unido. O conteúdo verificado tenta descredibilizar os imunizantes contra a covid-19, mas o órgão de saúde britânico os defende no texto que o BSM usa como fonte – o site omite esta informação. Além disso, o relatório usado pela página considera números de óbitos absolutos para fazer comparações, o que não é a maneira correta. É natural que haja mais mortes entre vacinados em uma população que já foi majoritariamente imunizada, informou a autoridade de saúde do Reino Unido ao Comprova.

Conteúdo investigado: Texto intitulado “Governo britânico anuncia indenização de 120 mil euros para vítimas de vacinas” que diz que “em março deste ano, um relatório publicado pela Agência de Saúde do Reino Unido apontou que os vacinados são maioria entre as mortes por covid-19”. O conteúdo foi replicado no Twitter.

Onde foi publicado: Site Brasil sem Medo, Instagram e Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganoso post que relaciona o fato de o governo britânico ter publicado em seu blog informações sobre o esquema de pagamento por danos causados ​​por vacinas a um relatório da UK Health Security Agency (UKHSA), a autoridade de saúde britânica, segundo o qual “os vacinados são maioria entre as mortes por covid-19”. O post desinforma ao sugerir que as vacinas contra o novo coronavírus não são seguras. A indenização existe pelo menos desde 1997 (muito antes da pandemia) e não foi anunciada recentemente, como algumas pessoas que compartilharam a desinformação acreditaram.

O texto leva a uma interpretação errada dos dados ao dar destaque a número mais alto de mortes entre vacinados quando a maior parte da população já se imunizou. “Não é que as pessoas vacinadas tenham maior probabilidade de morrer, é porque há mais pessoas vacinadas do que não vacinadas. Sempre haverá algumas infecções que levam à morte porque nenhuma vacina é 100% eficaz, mas uma pequena proporção de uma população muito grande (vacinada) é geralmente maior do que uma proporção maior de uma população menor (não vacinada)”, explicou a UKHSA ao Comprova.

Conteúdos fazendo esta afirmação enganosa – a de que os vacinados morreram mais do que os não vacinados – circulam desde o ano passado e um deles já foi verificado pelo Comprova.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Publicado pelo site Brasil sem Medo, o post foi visualizado mais de 13,8 mil vezes no Twitter e compartilhado 178 vezes até 9 de junho. Um dos perfis que compartilhou o conteúdo enganoso no Instagram teve mais de 19,4 mil interações até a data.

Como verificamos: Utilizando o Google, fizemos uma pesquisa pela principal alegação do post (Reino Unido anunciou pagamento de indenizações por danos causados por vacina) e localizamos uma publicação recente sobre o modelo de pagamento por danos causados ​​por vacinas. Em seguida, buscamos saber como funciona a política e desde quando ela existe. O próximo passo foi descobrir quando o imunizante contra a covid-19 foi inserido no sistema. Partimos então para a segunda alegação (dados de março apontam que maioria dos mortos por covid no país é vacinada) e consultamos os relatórios recentes da UK Health Security Agency sobre vacinação. Também entramos em contato com a agência, via e-mail, para solicitar mais detalhes sobre os dois assuntos. Por fim, procuramos os autores dos posts.

Reino Unido já pagava a indenização antes da covid-19

Apesar de ter sido publicado um comunicado recente sobre como funciona o esquema de pagamento por danos causados por vacinas no blog do Departamento de Saúde e Assistência Social, a política não é uma novidade para os britânicos. Existe notícia de 2005 informando os pagamentos a pacientes incapacitados por vacinas pelo menos desde 1997.

O comunicado ao qual os posts verificados se referem explica que é fornecido um pagamento único, isento de impostos, no valor de 120 mil libras, em “ocasiões muito raras” de uma vacina ter causado uma incapacidade grave. Logo no início do informativo é destacado que todas as vacinas usadas no país passaram por testes clínicos robustos e atenderam aos rígidos padrões de segurança, eficácia e qualidade da Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde (MHRA, na sigla em inglês) .

Isso inclui a vacina contra a covid-19, acrescentada ao programa em dezembro de 2020, antes mesmo de o uso ser aprovado no país. À época, o governo informou que os imunizantes só seriam implantados quando atendessem a padrões rígidos de segurança, eficácia e qualidade e fossem aprovados pelo órgão regulador.

O governo britânico mantém duas páginas oficiais (1 e 2) sobre os pagamentos, informando, inclusive, que eles podem ser feitos para danos causados por outras 18 vacinas, além da que combate o coronavírus. Entre elas, estão imunizantes comumente aplicados ao longo da vida das pessoas, como os que previnem contra influenza, sarampo, poliomielite, varíola e tétano.

Morrem mais vacinados porque o número de imunizados é maior

O texto compartilhado no Twitter cita que um relatório publicado pela Agência de Saúde do Reino Unido apontou que os vacinados são maioria entre as mortes ocorridas por covid-19 durante o mês de março deste ano. A publicação acrescenta que o período analisado foi de 28 de fevereiro até 27 de março, mas essa afirmação é incorreta.

A agência informou ao Comprova que desde o relatório publicado em 6 de abril – que traz dados do mês anterior – não é mais incluída a seção com registros sobre status vacinal dos casos, mortes e hospitalizações com covid-19. O órgão explicou que isso ocorre porque em 1º de abril de 2022 o governo do Reino Unido encerrou o fornecimento de testes gratuitos para o público em geral e a mudança afetou a capacidade de monitorar de forma robusta os casos de covid por status de vacinação.

Um comunicado sobre o assunto foi postado no blog da agência. Nele, é informado que os dados dos relatórios anteriores mostram que as taxas de hospitalização e mortes são substancialmente mais baixas em pessoas totalmente vacinadas, em todas as faixas etárias, sendo claro que as vacinas fornecem alto nível de proteção contra efeitos mais graves da doença.

A reportagem consultou o relatório publicado em abril e confirmou a informação fornecida pela agência. O documento cita dados coletados entre 27 de fevereiro e 26 de março – data próxima à citada pelo site –, porém eles não são referentes a mortes de pessoas com covid, mas sim a taxas de hospitalização pela doença entre pessoas vacinadas.

A agência britânica destacou que, no contexto da cobertura vacinal muito alta na população, mesmo com uma vacina altamente eficaz, é natural que uma grande proporção de casos, internações e mortes ocorra em indivíduos vacinados, isso porque é maior a proporção da população vacinada.

Onde a desinformação surgiu

O perfil que disseminou a desinformação nas redes foi o do site Brasil sem Medo. A página conservadora publicou em 5 de junho um texto intitulado “Governo britânico anuncia indenização de 120 mil euros para vítimas de vacinas”. A desinformação começa no título, pois o valor é de 120 mil libras, e não euros.

Ao compartilhar o texto no Twitter, o perfil relacionou a indenização à vacinação contra a covid-19 ao incluir a legenda “Em março deste ano, um relatório publicado pela Agência de Saúde do Reino Unido apontou que os vacinados são maioria entre as mortes por covid-19”. Aqui, novamente, há outro erro: o texto linkado sobre as mortes é do próprio Brasil sem Medo, de 14 de abril de 2022, e não deste ano.

Não é a primeira vez que o site espalha desinformação. O Comprova já verificou outros cinco conteúdos disseminados por eles (1, 2, 3, 4 e 5) – destes, quatro negam medidas comprovadamente eficazes contra a disseminação da covid-19.

Na aba “Sobre” do site, cujo logo é Novo BSM, não há nenhuma informação a respeito da publicação. Em verificação de 2021, o Comprova afirmou que a plataforma se identificava como “o maior jornal conservador do Brasil”. Em redes como Twitter e Instagram, a página se define como “o único streaming de notícias e análises sobre política e cultura, declaradamente conservador”.

Ainda no site, na aba “Autores” aparece o nome de Olavo de Carvalho, que ficou conhecido como guru bolsonarista e morreu no ano passado. O site republica textos antigos dele.

O que diz o responsável pela publicação: O Brasil Sem Medo foi procurado, mas não respondeu até a publicação desta verificação. Um perfil no Instagram que usou o material e viralizou também não retornou o contato.

O que podemos aprender com esta verificação: É possível observar indícios de desinformação quando um texto parece evitar apresentar detalhes do assunto abordado. No caso aqui verificado, o conteúdo não contextualiza as informações referentes às políticas britânicas de vacinação e no âmbito da covid-19.

Primeiro, o site causa alarde ao noticiar que o Reino Unido divulgou estar indenizando vítimas de efeitos colaterais causados por vacinas e ao associar essa informação às mortes causadas pelo novo coronavírus. O texto omite que esses pagamentos existem há pelo menos 20 anos e são disponibilizados também para outros imunizantes. O texto também ignora a informação da agência de saúde britânica de que os casos de efeitos colaterais graves são raros.

Em seguida, o autor da publicação cita dados sobre mortes entre vacinados ignorando a orientação da fonte das informações de que eles devem ser lidos respeitada a proporcionalidade entre vacinados e não vacinados no país.

Desde o início da pandemia de covid-19, tanto a doença quanto as vacinas desenvolvidas para o combate a ela têm sido alvos de desinformação, portanto, é importante redobrar a atenção para conteúdos que abordem esses dois temas. Informações seguras podem ser consultadas junto às agências reguladoras, órgãos de saúde e imprensa profissional.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já checou diversas alegações que tentam descredibilizar a eficácia das vacinas contra a covid-19, associando-as a mortes. Já foi demonstrado, por exemplo, que a proporção de óbitos pela doença é maior entre não vacinados no Reino Unido, diferentemente do que insinua post, que site engana leitores ao usar título sensacionalista sobre morte de imunizados e ser enganoso que imunizante contra a covid-19 tenha provocado aumento de mortes entre crianças.

Saúde

Investigado por: 2023-06-08

Anvisa não retirou alerta sobre vacina da Pfizer para prejudicar Bolsonaro

  • Enganoso
Enganoso
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não retirou do ar um alerta sobre possíveis efeitos colaterais da vacina da Pfizer contra a covid-19. Um vídeo no Instagram diz, de forma enganosa, que a informação teria sido despublicada para prejudicar a reeleição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A nota técnica sobre o assunto nunca foi retirada do ar. Já a matéria que trata do tema foi ocultada do site da Anvisa em 1º de julho de 2022, por conta do período de defeso eleitoral – medida prevista em lei desde 1997 para impedir que quem está no poder utilize a máquina pública de comunicação para fazer campanha –, mas voltou para o site em 8 de agosto, a pedido da área técnica da agência.

Conteúdo investigado: Post em que um homem reage a um vídeo no qual uma moça alega que, para prejudicar o então candidato à presidência da República Jair Bolsonaro (PL), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) retirou do ar, durante o período eleitoral de 2022, o alerta sobre os riscos de miocardite e pericardite pós-vacinação do imunizante produzido pela Pfizer.

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: Um vídeo no Instagram engana ao dizer que um alerta da Anvisa a respeito de efeitos colaterais associados à vacina da Pfizer contra a covid-19 foi retirado do ar para prejudicar a reeleição do então presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2022. Durante o período de defeso eleitoral, medida prevista em lei desde 1997 para impedir que quem está no poder utilize a máquina pública de comunicação para fazer campanha, a agência retirou do ar a notícia que falava sobre registros de caso de miocardite e pericardite em vacinados com imunizantes do tipo mRNA, mas o documento técnico sobre o assunto, de 2 de julho de 2021, seguiu publicado.

Em 2022, o defeso eleitoral foi de 2 de julho a 30 de outubro, por causa do segundo turno, e foi aplicado a todos os canais de comunicação do governo, inclusive perfis em redes sociais.

O site da Anvisa chegou a publicar uma nota no dia 1º de julho de 2022 alertando que os textos sairiam do ar durante aquele período, mesmo aqueles publicados antes do defeso. O texto sobre a vacina da Pfizer foi ocultado naquela ocasião, mas voltou ao site em 8 de agosto, por “decisão da área técnica”, segundo informou a agência.

O Comprova encontrou 12 registros da página em questão na ferramenta Wayback Machine entre os dias 8 de agosto e 30 de outubro, ou seja, dentro do período de defeso eleitoral, inclusive dentro do período de campanha. A ferramenta captura e armazena páginas de sites conforme elas estão em determinada data.

A autora do vídeo enganoso interpreta de maneira equivocada uma atualização feita na nota da agência. No dia 7 de dezembro de 2022, a Anvisa acrescentou uma explicação sobre o defeso eleitoral ao texto de 2021 sobre a Pfizer esclarecendo o porquê de ele ter sido tirado do ar. Por isso, a “data de atualização” que aparece no alto do texto foi alterada para 7 de dezembro, dando a entender que ele só voltou ao ar nesta data.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Um usuário que gravou a si mesmo assistindo ao vídeo com as alegações enganosas obteve desde o dia em que a publicação foi postada, em 25 de abril, até 8 de junho, 526 mil visualizações. O Comprova não encontrou o vídeo original no perfil da autora.

Como verificamos: A equipe do Comprova entrou em contato com a Anvisa para saber se o conteúdo tinha sido removido do site durante o período de defeso eleitoral, procurou versões da nota arquivadas ao longo do tempo no site Wayback Machine e entrou em contato com as pessoas que aparecem na peça de desinformação. A autora do conteúdo foi reconhecida, porque outro conteúdo publicado por ela já tinha sido alvo de checagem pelo Comprova.

O vídeo

A criadora de conteúdo digital Cristiane Luz alega que o alerta da Anvisa sobre risco de miocardite e pericardite pós-vacinação da Pfizer, publicado em 9 de julho de 2021, “foi retirado do site e republicado no dia 7 de dezembro de 2022, após o resultado do segundo turno das eleições”. Ela chega a essa conclusão porque lê um informe que foi acrescentado à nota no dia 7 de dezembro sobre o período de defeso eleitoral. A imagem abaixo mostra o alerta da agência atualizado com a informação sobre o defeso (quadro cinza):

| Captura de tela do alerta da Anvisa. O texto dentro do retângulo cinza explica sobre o período de defeso eleitoral, ele foi acrescentado no dia 7 de dezembro de 2022. Foto: Reprodução.

Mais adiante, a autora do vídeo conclui: “eles retiraram uma informação importantíssima para a população para não beneficiar o candidato Jair Messias Bolsonaro. Ou seja, eles politizaram a pandemia. Eles politizaram medicamentos”.

No Wayback Machine, há registros da nota durante o defeso eleitoral, o que comprova que o conteúdo estava disponível ao público nesse período.

O que é o Wayback Machine

O Wayback Machine é um site que permite arquivar páginas da internet. Isso é especialmente útil quando se pretende verificar diferentes versões de um mesmo conteúdo ao longo do tempo. Por exemplo, é possível ver como era a página principal do YouTube na época em que o site surgiu, em 2005, e as mudanças que ocorreram de lá pra cá. A título de curiosidade, de 28 de abril de 2005 a 8 de junho de 2023, a URL www.youtube.com foi salva mais de 17 milhões de vezes.

Os criadores do Wayback Machine explicam que o objetivo é construir uma biblioteca digital. Eles estimam que possuem 735 bilhões de páginas arquivadas. Desse total, 103 arquivos são capturas de tela da nota da Anvisa. A imagem a seguir mostra o resultado exibido pela ferramenta quando a URL da nota é inserida no campo de pesquisa:

| Ao colocar a URL da nota da Anvisa na caixa de pesquisa do Wayback Machine, o site informa as capturas de tela que foram feitas do conteúdo. Foto: Reprodução.

Wayback Machine mostra que a nota estava no ar em período eleitoral

A nota da Anvisa foi publicada em 9 de julho de 2021. Desse dia até 11 de abril de 2023, o site Wayback Machine registrou 103 capturas de tela da nota, 12 delas ocorreram no período de defeso eleitoral, de 2 de julho a 30 de outubro. Isso significa que o conteúdo da nota estava disponível ao público nos dias que antecederam as eleições. A imagem a seguir mostra em quais dias de 2022 a nota foi salva na ferramenta:

| No ano de 2022, a nota da Anvisa só não foi salva nos meses de abril, julho e julho. O tamanho do círculo indica a quantidade de capturas que foram feitas. Em 1º de fevereiro foi o recorde de 2022, a página foi salva 4 vezes ao longo do dia. Foto: Reprodução.

A imagem acima permite constatar que não há registros da nota entre 2 de julho e 8 de agosto, período em que a Anvisa diz ter retirado o conteúdo do ar. Mas há acessos posteriores, nos dias 12, 13, 14 e 19 de agosto, 10 e 26 de setembro e 23 e 28 de outubro. Isso desmente a alegação da autora do vídeo de que o conteúdo só teria voltado ao ar em dezembro.

Os arquivamentos da nota feitos do dia 8 de dezembro de 2022 em diante diferem dos anteriores em um aspecto: a inserção da explicação sobre o período de defeso eleitoral. Ao comparar, por exemplo, a captura feita no dia 28 de outubro com a do dia 8 de dezembro percebe-se que o conteúdo do alerta não mudou e que a diferença entre as duas versões está no aviso em cinza inserido entre o título e o texto.

Covid-19 e miocardite

A miocardite é a inflamação do músculo cardíaco e a pericardite é a inflamação do revestimento externo do coração. Em ambos os casos, o sistema imunológico do organismo causa uma inflamação em resposta a uma infecção ou algum outro fator. Os sintomas podem incluir dor no peito, falta de ar ou palpitações.

Essas duas condições podem ocorrer como efeitos colaterais raros em pessoas que tomaram vacinas de RNA mensageiro (mRNA), como as da Pfizer e da Moderna.

Segundo dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI), disponíveis no site da Anvisa, até 31 de dezembro de 2022 foram administradas 501.573.962 doses de vacinas contra a covid-19 no país. Nesse período, foram notificados 154 casos de miocardite, definidos segundo critérios da Brighton Collaboration (rede global de pesquisa de segurança de vacinas sem fins lucrativos para profissionais de saúde), ocorridos após as vacinas. Isso corresponde a uma incidência de 3 a cada 1 milhão de doses aplicadas.

A Anvisa destaca, contudo, que a proteção da vacina contra a covid-19 supera o possível risco. A taxa de miocardite em pessoas acometidas pela covid-19 é de 30 casos por milhão para a população em geral.

O que diz o responsável pela publicação: Uma mensagem privada foi enviada para o perfil do Instagram da autora do conteúdo e do usuário que compartilhou o vídeo. Até o dia 8 de junho, a equipe do Comprova não recebeu retorno.

O que podemos aprender com esta verificação: A distorção de informações verdadeiras ou omissão de detalhes importantes sobre um determinado fato são táticas utilizadas por muitos desinformadores e também prática comum nas publicações que não utilizam critérios jornalísticos para investigar informações. Por isso, é importante desconfiar de pessoas que fazem alegações conspiracionistas, buscar a fonte original da informação e pesquisar sobre o assunto falado em sites confiáveis.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A covid e a miocardite já foram alvo de outras verificações do Comprova, como a que mostrou que um jogador do Bayern de Munique não teve a doença no coração por conta da vacina e que a proteção oferecida pelo imunizante supera o risco de miocardite, ao contrário do que disse um site e um médico.