O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2022-03-23

Vacinas de mRNA não são terapia genética e não causam covid-19

  • Falso
Falso
É falso que vacinas de mRNA sejam terapia genética ou causem a mesma doença que deveriam combater. Médico também engana ao afirmar que imunizantes são responsáveis por hipercoagulação, cascatas de citocina e por antecipar a morte de mais de 23 mil pessoas.

Conteúdo verificado: Vídeo que circula no Youtube e no Telegram, publicado pelo médico urologista Alain Machado da Silva Dutra, retoma uma série de argumentos contra as vacinas de mRNA que circulam desde que a tecnologia passou a ser utilizada.

Onde foi publicado: YouTube e Telegram

Conclusão do Comprova: Vacinas que utilizam a tecnologia de RNA mensageiro (mRNA) não são terapia genética, não causam inúmeras doenças e não provocam a mesma enfermidade que deveriam combater. Também é falso que elas provocam hipercoagulação e que desencadeiam uma síndrome chamada cascata ou tempestade de citocinas. Em um vídeo publicado no YouTube e distribuído também no Telegram, o médico urologista Alain Dutra faz essas e outras afirmações, entre falsas e enganosas, numa tentativa de desacreditar os imunizantes e desestimular a vacinação.

Agências sanitárias de todo o mundo já atestaram que as vacinas são seguras e eficazes contra a covid-19 e concordam que seus benefícios superam possíveis riscos (1, 2 e 3). Além de divulgar mentiras a respeito das vacinas, o autor do vídeo também engana ao apresentar dados de notificações de efeitos adversos às autoridades sanitárias dos Estados Unidos como se fossem dados definitivos e incontestáveis, o que não é verdade. O próprio sistema Open Vaers (Vaccine Adverse Event Reporting System) alerta que os relatórios “não podem ser usados para determinar se uma vacina causou ou contribuiu para um efeito adverso ou doença”.

O médico urologista também engana ao citar uma série de artigos científicos que, supostamente, corroboram com as afirmações dele. Os artigos, contudo, ou não chegam às mesmas conclusões, ou não são, de fato, publicações científicas, e sim artigos de opinião.

O Comprova classificou este vídeo como falso porque há, nele, conteúdo inventado ou que sofreu edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

O que diz o autor da publicação: O autor foi procurado por e-mail, mas não respondeu até a publicação deste texto.

Como verificamos: Inicialmente, o Comprova buscou por outras verificações publicadas que já tratavam de pontos mencionados pelo autor do vídeo ou sobre as vacinas de RNA mensageiro (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

Em seguida, foram entrevistadas duas imunologistas: Rosane Nassar Meireles Guerra, doutora em Imunologia e professora do departamento de Patologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA); e Fernanda Grassi, doutora em Imunologia, pesquisadora titular do Instituto Gonçalo Moniz da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e membro da Rede CoVida, parceria entre a Fiocruz e a Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Também foram acessados os artigos mencionados pelo autor do vídeo e os dados do sistema Open VAERS, que reúne notificações voluntárias de suspeitas de reações adversas às vacinas, mantido pelo governo dos Estados Unidos, além de publicações de agências sanitárias, institutos de pesquisa e associações médicas. Por fim, foi procurado o médico urologista Alain Dutra, autor do vídeo aqui verificado.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 23 de março de 2022.

 

Conteúdo do vídeo

O vídeo completo tem quase 15 minutos de duração e traz informações falsas e enganosas sobre as vacinas contra a covid-19, sobretudo as que utilizam a tecnologia de RNA mensageiro, e ainda sobre reações adversas aos imunizantes.

O autor do vídeo, um médico urologista, engana ao afirmar, por exemplo, que as vacinas de mRNA provocam hipercoagulação, quando, na verdade, episódios muito raros foram associados às vacinas de adenovírus, como Janssen e AstraZeneca. Ele também mente ao descrever o funcionamento das vacinas de mRNA e associá-las a uma cascata de citocinas. A síndrome pode ser fatal, mas muito raramente é desencadeada pelas vacinas.

Ele ainda mente ao sugerir que, na prática, as vacinas provocam a mesma doença que deveriam combater. A comunidade científica concorda que as vacinas em uso no mundo contra a covid-19 são seguras, eficazes e não provocam doenças. Entenda a seguir cada um dos pontos mencionados pelo autor do vídeo.

Vacinas de mRNA não provocam hipercoagulação

Para a imunologista Fernanda Grassi, da Fiocruz-BA, não faz sentido falar em hipercoagulação associada às vacinas de mRNA. Casos do tipo chegaram a ser associados às vacinas de adenovírus, como a AstraZeneca e a Janssen, entre março e abril do ano passado. “Na realidade, nem as vacinas de adenovírus fazem isso. O que acontece é que algumas pessoas que têm uma espécie de reação autoimune, que fazem anticorpos anti-plaquetas, mas não é que a vacina faz isso, é que algumas pessoas têm essa susceptibilidade. Com a vacina de mRNA, então, não tem nenhuma associação”, explica Fernanda.

Quando a relação entre casos raros de hipercoagulação associados à baixa contagem de plaquetas (trombocitopenia) e as vacinas AstraZeneca começou a ser investigada pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e pela Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde do Reino Unido (MHRA), em abril de 2021, a Fiocruz, que fabrica a vacina no Brasil, recomendou “fortemente” a continuidade da vacinação, por entender que os benefícios superavam os riscos.

A Anvisa se manifestou sobre o caso um pouco mais tarde, em junho, e também recomendou a continuidade da vacinação tanto com o imunizante da AstraZeneca quanto com o da Janssen, chamando a atenção para a necessidade de diagnóstico precoce. É importante destacar, ainda, que pessoas com covid-19 podem desenvolver quadros de hipercoagulação e que o risco de trombose é maior em decorrência da doença do que da vacina.

Vacinas não provocam a mesma doença que o vírus – nem outras, como câncer

Outra afirmação falsa presente no vídeo é de que as vacinas que utilizam a tecnologia de mRNA provocam a mesma doença que o vírus, ou seja, a que elas deveriam combater. O que a vacina de mRNA faz é “ensinar” as células do corpo humano a sintetizar a proteína spike, que é própria do coronavírus, para que o sistema imune esteja preparado para combatê-la caso o coronavírus de fato entre em contato com o corpo.

“Você tem uma molécula de RNA que vai dar uma informação para que a célula do nosso corpo produza a proteína spike. Essa molécula é muito instável, se degrada muito facilmente, é lábil. Através de nanopartículas, conseguiram estabilizar essa molécula de RNA para que ela entre e dê as informações para que a célula produza a proteína. Depois, ela se degrada, ela não faz nada no corpo, não se incorpora, ela simplesmente se desfaz”, explica Fernanda Grassi.

A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) também explica em seu site como funciona a tecnologia, presente em vacinas como a Moderna e a Pfizer, e descarta a possibilidade de que o imunizante cause a covid-19 ou qualquer alteração no genoma. “É essencial deixar claro que a molécula não contém outra informação, não é capaz de realizar qualquer outra tarefa e não penetra no núcleo de nossas células. Então, não consegue causar a covid-19 ou qualquer alteração em nosso genoma”, diz o texto, que também detalha todo o processo de defesa desencadeado pela vacina.

Da mesma forma que não causa doenças autoimunes nem a própria covid-19, as vacinas de mRNA também não causam outras doenças como câncer, ou doenças autoimunes, conforme já desmentiu o Comprova.

São raros casos de cascata de citocina desencadeada pela vacina

Ainda falando sobre como as vacinas atuam no corpo, o autor do vídeo utiliza uma analogia com a guerra para afirmar que, ao receber a vacina, o corpo trava uma batalha com ele mesmo. Ele diz que as vacinas de mRNA, em vez de levar pequenos fragmentos do “armamento” do inimigo para estimular o sistema imune a criar anticorpos para combater o invasor, acabam estimulando o corpo a produzir esses mesmos armamentos em larga escala, produzindo “mísseis teleguiados para os órgãos”.

Segundo ele, isso provoca uma guerra constante dentro do corpo humano que provoca uma “cascata de citocinas”, o que é contestado por imunologistas ouvidos pelo Comprova. A professora Rosane Nassar, da UFMA, explica que a cascata de citocinas está associada à hiperativação do sistema imune e é capaz de intensificar as reações inflamatórias, pois pode atrair e estimular células diversas. Quando essa cascata não é controlada, ela pode sim levar à morte.

Rosane explica que essa é uma das principais complicações causadas pela covid-19 em sua forma grave e que é muito raro que as vacinas contra o novo coronavírus possam provocar uma cascata ou tempestade de citocinas.

Para a também imunologista Fernanda Grassi, a relação entre a vacina e a tempestade de citocinas não tem qualquer cabimento. “A vacina é composta de substâncias que não levam ao desenvolvimento da doença. O SARS-Cov 2 leva a essa tempestade de citocinas, mas a vacina não faz isso”, afirma. De acordo com Fernanda, o que a vacina pode fazer é desencadear uma reação imunológica, mas ela é controlada e “infinitamente mais leve do que a doença”.

“O antígeno que estimula o sistema imune não causa uma reação patogênica, não tem nenhum cabimento dizer isso, nem com a vacina de vírus inativado, que tem a estrutura do vírus, só que inativado. As únicas vacinas que poderiam, teoricamente, levar a um quadro de uma resposta mais patogênica são as vacinas de vírus atenuados, e essas vacinas são contraindicadas para pessoas imunossuprimidas. É o caso da vacina de febre amarela. Mas todas as vacinas que estamos utilizando aqui contra a covid, nenhuma delas causa esse tipo de situação”, esclarece.

Vacinas x terapia genética experimental

No vídeo publicado em seu canal no YouTube, o médico usa o conceito “terapia genética experimental” para nomear as vacinas de mRNA. Segundo ele, os imunizantes que usam essa tecnologia nem poderiam ser chamados de vacinas. Ao Comprova, a imunologista Rosane Nassar refutou a alegação do urologista e explicou que esse conceito nem sequer faz sentido. Segundo ela, a terapia genética experimental só ocorre com animais de laboratório.

Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma nota em 7 de janeiro de 2022 para esclarecer que as vacinas de mRNA não podem ser consideradas “terapias gênicas”, outro termo comumente ligado às vacinas por pessoas que tentam desacreditá-las: “Segundo normas vigentes na Anvisa, publicadas desde 2018, o produto de terapia gênica é um medicamento especial que contém ácido nucleico recombinante (material genético), com o objetivo de regular, reparar, substituir, adicionar ou deletar uma sequência genética e/ou modificar a expressão de um gene humano, com vistas a resultados terapêuticos. Ou seja, a terapia gênica utiliza-se de material genético humano, manipulado em laboratório, para tratamento de doenças genéticas ou relacionadas”, diz a Anvisa.

Fernanda Grassi também rechaça o argumento do autor do vídeo. “As vacinas são, conceitualmente, vacinas, são substâncias que vão induzir a produção de anticorpos com o intuito de prevenir o desenvolvimento de uma doença. Elas não são terapias genéticas porque estas terapias modificam o gene”, afirma.

O uso de argumentos que sugerem que as vacinas contra a covid-19 fazem experimentos ou alterações genéticas é recorrente. O Comprova já desmentiu, por exemplo, que as vacinas injetam DNA alienígena, e já mostrou que outro médico descontextualizou o manual da Pfizer para sugerir alterações genéticas.

Vacinas anteciparam a morte de mais de 23 mil pessoas?

O autor cita dados do relatório Open Vaers (Vaccine Adverse Event Reporting System), do governo dos Estados Unidos, até o dia 11 de fevereiro de 2022. Não é possível conferir se os dados são precisos, mas o relatório aponta, com dados até 11 de março e 2022, um total de 25.641 mortes relatadas como efeito adverso das vacinas contra a covid-19, 141.112 hospitalizações ligadas às vacinas e 1.183.493 eventos adversos ligados à vacina.

O relatório de fato informa que o sistema de notificação voluntária representa apenas 1% dos eventos, mas faz uma observação importante que não foi levada em conta pelo médico autor do vídeo: de que os dados não devem ser usados para determinar se uma vacina causou ou contribuiu para um efeito adverso ou mesmo a doença.

“Embora muito importante no monitoramento da segurança da vacina, os relatórios Vaers por si só não podem ser usados ​​para determinar se uma vacina causou ou contribuiu para um evento adverso ou doença. Os relatórios podem conter informações incompletas, imprecisas, coincidentes ou não verificáveis. Em grande parte, as denúncias ao Vaers são voluntárias, o que significa que estão sujeitas a vieses. Isso cria limitações específicas sobre como os dados podem ser usados ​​cientificamente. Os dados dos relatórios VAERS devem sempre ser interpretados com essas limitações em mente”, diz um aviso sobre a isenção de responsabilidade do Vaers e do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC).

O site Open Vaers lista as “principais considerações e limitações dos dados”:

  • Os fornecedores de vacinas são incentivados a relatar qualquer problema de saúde clinicamente significativo após a vacinação ao Vaers, independentemente de acreditarem ou não que a vacina foi a causa.
  • Os relatórios podem incluir informações incompletas, imprecisas, coincidentes e não verificadas.
  • O número de notificações por si só não pode ser interpretado ou usado para chegar a conclusões sobre a existência, gravidade, frequência ou taxas de problemas associados às vacinas.
  • Os dados do Vaers são limitados a notificações de eventos adversos de vacinas recebidas entre 1990 e a data mais recente para a qual os dados estão disponíveis.
  • Os dados Vaers não representam todas as informações de segurança conhecidas para uma vacina e devem ser interpretados no contexto de outras informações científicas.

Artigos não corroboram tese do vídeo

Para tentar passar uma impressão de que as alegações do vídeo são bem fundamentadas, o autor cita estudos e compartilha os links na descrição do material. Os artigos, contudo, não corroboram necessariamente os argumentos do urologista. O primeiro estudo citado, publicado em março de 2021 na revista científica Circulation Research, do AHA Journals, não diz que a vacina é problemática, pelo contrário. Os pesquisadores perceberam, num estudo com hamsters, que a proteína Spike (S) do coronavírus é capaz, sozinha, de danificar as células endoteliais vasculares, que possuem funções metabólicas no sistema circulatório. Na conclusão do artigo, os estudiosos afirmam que “o anticorpo gerado pela vacinação e/ou o anticorpo exógeno contra a proteína S não apenas protege o hospedeiro da infectividade do SARS-CoV-2, mas também inibe a lesão endotelial imposta pela proteína S”.

O segundo artigo citado também não depõe contra a vacina. Ele foi lançado primeiro na plataforma Medrxiv, que reúne produções que ainda não foram revisadas por pares, e depois na revista Bioscience Reports, em agosto do ano passado. No texto, os pesquisadores apontaram que a presença da proteína Spike na circulação de pacientes com covid-19 contribuiu para a hipercoagulação nesses pacientes. Eles dizem que o estudo fornece evidências de que direcionar a proteína, “diretamente, seja por meio de vacinas ou anticorpos, provavelmente será um benefício terapêutico”.

O terceiro link compartilhado é do “Estudo para Descrever a Segurança, Tolerabilidade, Imunogenicidade e Eficácia de Candidatos à Vacina de RNA Contra covid-19 em Indivíduos Saudáveis”, feito pela Pfizer/BioNTech, mas ainda não há resultados publicados.

O quarto link faz referência a um artigo publicado em fevereiro de 2022 pela jornalista Apoorva Mandavilli, do The New York Times. O artigo mostra que o CDC vem deixando de publicar alguns dados sobre efetividade das vacinas em adultos jovens e que uma das razões é o medo de que eles sejam mal interpretados e gerem hesitação. O link compartilhado pelo autor do vídeo, contudo, é um artigo opinativo que omite uma análise de especialistas sobre o caso. Segundo ele, o medo da hesitação não é uma razão plausível para omitir os dados, mas o órgão deveria ter alertado as pessoas que, à medida que mais pessoas fossem vacinadas, a porcentagem de pessoas vacinadas hospitalizadas também aumentaria. O artigo opinativo compartilhado, pelo contrário, interpreta o artigo do The New York Times como um sinal de que as vacinas não funcionam, o que é mentira.

Em seguida, o autor do vídeo lista um artigo de opinião baseado em afirmações do cardiologista norte-americano Peter McCullough, que diz que as vacinas de mRNA estão instalando uma proteína inflamatória permanentemente no corpo humano, se referindo à proteína spike McCullough, contudo, já teve várias de suas afirmações desmentidas por outras agências de checagem.

Já os dois artigos publicados na revista Nature tratam de sequelas patológicas da covid-19 longa e de efeitos a longo prazo da covid, sem mencionar eventuais problemas provocados pela vacinação.

Quem é o autor do vídeo

O autor do vídeo aqui verificado é o médico urologista Alain Dutra, que possui registro ativo no Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp). A especialidade dele pode ser verificada no site do Conselho Federal de Medicina (CFM), mas também nas próprias redes de Dutra.

O médico se apresenta como o dono do “canal de saúde mais completo do YouTube” e, além do vídeo que tenta desacreditar as vacinas, ele também já gravou um material sobre como fazer um “detox da proteína Spike” com ervas.

Por que investigamos: O Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais ou aplicativos de mensagem sobre a pandemia de covid-19, eleições e políticas públicas do governo federal. Conteúdos que buscam desacreditar as vacinas, associando-as às doenças que elas combatem, contribuem para minar a principal estratégia contra o coronavírus em nível mundial. Isso pode desestimular o processo de vacinação da população e favorecer a disseminação do vírus.

Alcance da publicação: A publicação verificada teve mais de 83 mil visualizações no YouTube e 4,4 mil no Telegram até o dia 22 de março.

Outras checagens sobre o tema: Em publicações anteriores, o Comprova mostrou ser falso que vacinas de RNA mensageiro causam doenças autoimunes, também mostrou que agências reguladoras negaram risco de infertilidade nos vacinados, que vacinas não injetam DNA alienígena e que elas também não provocam câncer, nem provocam alterações genéticas.

Saúde

Investigado por: 2022-03-17

Não é possível afirmar que morte em Jundiaí (SP) está ligada à vacinação; investigação segue em andamento

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a publicação que atribui a morte de um jovem à vacinação contra covid-19. A Secretaria de Saúde de São Paulo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a prefeitura de Jundiaí (SP), onde o rapaz foi atendido, informaram que a causa da morte ainda é investigada.

Conteúdo verificado: Publicação que atribui a morte de um jovem de 20 anos de Jundiaí (SP) à vacinação contra a covid-19.

Onde foi publicado: Twitter

Conclusão do Comprova: A publicação sobre a morte de Guilherme Rian Barbosa Gomes, 20 anos, engana ao afirmar que o jovem faleceu em decorrência da vacina contra o coronavírus. As agências de saúde esclareceram que o caso ainda está sob investigação. A suspeita foi levantada pelo padrasto de Guilherme. O homem compartilhou vídeos em que diz que o enteado teve uma crise epiléptica após a aplicação da primeira dose da Pfizer. O mesmo teria acontecido depois da segunda.

Procurado pelo Comprova, o homem afirmou que não comentaria sobre o caso do enteado, a pedido da mãe do menino.

Ao Comprova, a prefeitura de Jundiaí informou que o caso está sob investigação. O mesmo foi dito pela Secretaria de Saúde de São Paulo. A Anvisa, que também analisa o ocorrido, afirmou que outros eventos adversos foram relatados neste óbito, contudo, o órgão não especificou quais seriam e informou que ainda não concluiu a investigação. O Ministério da Saúde também acompanha o caso. Procurada, a Pfizer disse desconhecer o caso em questão.

Enganoso para o Comprova é todo o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações, confundindo o público, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

O que diz o autor da publicação: A equipe entrou em contato com a autora da postagem por uma conta no Instagram. O perfil no Twitter, onde foi feita publicação, não permite o envio de mensagens. Não houve retorno até a publicação.

Como verificamos: A partir da publicação do Twitter, o Comprova localizou o perfil no Instagram do padrasto de Guilherme, Moises Aparecido Rodrigues, que, desde dezembro de 2021, compartilha na rede social o quadro de saúde do enteado.

A equipe entrou em contato com a Anvisa, Pfizer, Ministério da Saúde, Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, Prefeitura de Jundiaí e o Hospital São Vicente de Paulo, onde o jovem foi internado, para entender se o caso está sendo apurado e o que causou a morte de Guilherme.

O padrasto de Guilherme também foi procurado pelo Comprova. No entanto, ele preferiu não dar detalhes sobre o caso.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 17 de março de 2022.

 

Morte de Guilherme

Fazendo uma busca pelo perfil do padrasto, descobrimos que, após receber a primeira dose da Pfizer em 26 de agosto de 2021, Guilherme sofreu alguns episódios de convulsão, foi internado, mas se recuperou.

Em 30 de novembro do ano passado, cinco dias após receber a segunda dose, o rapaz teve crises de epilepsia e foi internado na UTI do Hospital de Caridade São Vicente de Paulo, em Jundiaí (SP) no dia 2 de dezembro. Lá, Guilherme faleceu em 10 de março de 2022.

O Comprova não teve acesso ao atestado de óbito do rapaz. Nem a família, nem o hospital repassaram a informação sobre a causa da morte.

Investigação em andamento

Questionado sobre o atendimento e óbito de Guilherme, o Hospital São Vicente de Paulo informou que, em razão da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), não é possível fornecer dados de pacientes ou detalhes de tratamentos ministrados.

Porém, segundo o hospital, não há evidências médicas, no âmbito dos tratamentos ministrados pelo São Vicente de Paulo, de morte causada por efeitos adversos da vacina contra a covid-19.

Ao Comprova, a prefeitura de Jundiaí informou que realiza a investigação epidemiológica do caso de Guilherme por meio da Unidade de Gestão de Promoção da Saúde (UGPS). Posteriormente, a apuração será encaminhada à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, órgão responsável pela conclusão da análise e, caso necessário, ao Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS).

Segundo a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, o Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) está acompanhando e analisará a ocorrência de Jundiaí. A pasta informou que todos os casos de eventos adversos são analisados por uma comissão de especialistas antes de qualquer confirmação e ressaltou a segurança e eficácia das vacinas.

“É, portanto, precipitado e irresponsável afirmar que o caso do município está associado à vacinação. Na maioria das vezes, os casos de eventos adversos pós-vacinação são coincidentes, sem qualquer relação causal com o imunizante”, afirmou, em nota.

Já a Anvisa foi notificada sobre a morte, mas informou que até o momento não foram divulgadas evidências que comprovem a relação do óbito com a vacinação. O caso segue em investigação, segundo o órgão.

Procurado, o Ministério da Saúde declarou que o caso é investigado pelas secretarias de saúde do município e do Estado.

“Todos os Eventos Adversos Pós-Vacinação (EAPV) graves (deste caso) ainda estão em investigação pelas vigilâncias de EAPV municipais e estaduais e, até o momento, nenhum deles têm relação causal confirmada com as vacinas covid-19 utilizadas”, disse.

Mortes por efeitos adversos

A Pfizer informou que não foi notificada sobre o óbito em Jundiaí e que a empresa realiza o monitoramento dos relatos recebidos de eventos adversos do produto, mantendo sempre informadas as autoridades sanitárias brasileiras.

Conforme a farmacêutica, todas reações adversas observadas em estudos clínicos e pós comercialização estão disponibilizadas na bula do imunizante e não há alertas de gravidade em segurança, de forma que os benefícios da vacinação seguem sobrepondo-se a qualquer potencial risco.

Por que investigamos: O Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais ou aplicativos de mensagem sobre a pandemia de covid-19, eleições e políticas públicas do governo federal. Conteúdos que associam a vacina a óbitos de forma infundada contribuem para descredibilizar a segurança e efetividade dos imunizantes. Isso pode desestimular o processo de vacinação da população, principal medida para combater a proliferação do vírus.

Alcance da publicação: A publicação verificada teve mais de 2 mil interações até o dia 16 de março.

Outras checagens sobre o tema: Em verificações anteriores, o Comprova mostrou ser enganoso um post que relacionava a morte de uma criança com Coronavac, que não há registro de mortes de crianças causadas por vacinas contra a covid-19 no Brasil e que não há comprovação que a morte de um adolescente em Arujá (SP) tem relação com a vacina. Além disso, no início deste ano, o Comprova também explicou por que eventos adversos graves pós-vacinação contra a covid-19 são raros e os benefícios da imunização superam os riscos.

Saúde

Investigado por: 2022-03-17

Em tuíte para atacar vacinas, deputado ignora comorbidades dos pacientes e a alta cobertura vacinal no RS

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa uma postagem feita por deputado federal que dá a entender que pessoas vacinadas morrem mais de covid-19 do que as não vacinadas. Apesar de usar dados verdadeiros de um hospital do Rio Grande do Sul, a postagem desconsidera que aproximadamente 100% da população do estado acima dos 60 anos (faixa etária que concentra a maioria dos óbitos mencionados no tuíte) já está vacinada, de forma que os dados sobre mortes precisam ser analisados proporcionalmente. Além disso, de acordo com o hospital, a maioria desses óbitos aconteceu entre pessoas idosas e/ou que possuíam comorbidades que levaram os pacientes a um quadro grave ao mesmo tempo que estavam com covid-19.

Conteúdo verificado: Post do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) compartilha trecho de uma tabela com dados de óbitos no Hospital Nossa Senhora da Conceição, de Porto Alegre (RS), mostrando que a maioria dessas mortes aconteceu entre pessoas que já haviam se vacinado.

Onde foi publicado: Twitter

Conclusão do Comprova: É enganoso um tuíte compartilhado pelo deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) no dia 5 de março de 2022 com uma tabela que mostra o número de óbitos por covid-19 registrado em um hospital do Rio Grande do Sul. Os dados são verdadeiros e indicam que a maioria das mortes registrada aconteceu entre pessoas que haviam se vacinado com duas ou três doses da vacina, mas isso não significa que os imunizantes sejam ineficazes, como explicaram ao Comprova a assessoria do próprio hospital e uma médica da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

De acordo com o hospital, a maioria dos óbitos registrados na tabela compartilhada pelo deputado era de pessoas idosas e/ou que tinham alguma comorbidade grave ao mesmo tempo que estavam infectadas com a covid-19. Ou seja, há casos em que o óbito aconteceu em decorrência dessa doença prévia, e não necessariamente por causa da covid-19, o que faz com que os dados não sejam adequados para considerações a respeito da efetividade das vacinas.

Também segundo o hospital, é preciso levar em conta que, no estado do Rio Grande do Sul, quase 100% da população acima dos 60 anos (faixa etária que concentra a maioria dos óbitos na tabela) já está vacinada, o que impede qualquer comparação proporcional entre óbitos ocorridos entre vacinados e não vacinados.

Além disso, estudo feito pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) do Rio Grande do Sul demonstrou que a vacinação com ao menos duas doses foi capaz de reduzir o risco de morte por covid-19 em até 95% para pessoas com mais de 60 anos. Dados coletados entre agosto e novembro de 2021 no estado indicaram que a taxa de óbitos entre os idosos não vacinados foi de 4,16/100 mil habitantes. Na mesma faixa etária, entre os vacinados, a taxa foi de 0,17/100 mil, ou seja, 24 vezes menor.

O conteúdo foi considerado enganoso porque oculta a limitação da base de dados da tabela do hospital gaúcho, não contextualiza o quadro clínico dos pacientes que vieram a óbito e faz comparações desproporcionais. Para o Comprova é enganoso todo o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor, confundindo o público, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

O que diz o autor da publicação: O Comprova tentou contato com Osmar Terra por meio de seu e-mail institucional e telefone divulgados no site da Câmara dos Deputados, mas não houve retorno até o fechamento da checagem.

Como verificamos: Para verificar o conteúdo, o Comprova fez contato, por e-mail, com a assessoria de imprensa do Hospital Nossa Senhora da Conceição, que é citado no tuíte de Osmar Terra, pedindo esclarecimentos sobre a veracidade dos dados e da interpretação dos números.

A SBIm também foi procurada para contribuir com a explicação dos dados divulgados e contextualizar se pessoas que tomaram duas doses das vacinas podem ser consideradas “vacinadas”. O mesmo questionamento foi feito para o Ministério da Saúde, que foi acionado pela equipe do Comprova por e-mail.

A assessoria de imprensa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o ministério foram contatados na busca por informações sobre casos graves e óbitos por covid-19 no Brasil de acordo com o status de vacinação.

Por fim, a equipe do deputado federal Osmar Terra foi procurada, por e-mail e telefone, para fornecer explicações sobre o tuíte.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 17 de março de 2021.

 

Dados compartilhados pelo deputado

Os dados que aparecem na postagem do deputado são verdadeiros e dizem respeito ao número de óbitos por covid-19 registrados na UTI destinada a atender pacientes adultos com covid-19 do hospital Nossa Senhora da Conceição, de Porto Alegre (RS), entre janeiro e fevereiro de 2022. A informação foi confirmada pela assessoria do hospital em e-mail enviado ao Comprova. Na mesma mensagem, o hospital também afirmou que os dados não podem avaliar a efetividade das vacinas e que a interpretação desses números deve ser feita “com cuidado”, levando-se em consideração o quadro clínico dos pacientes que vieram a óbito e a proporção da população gaúcha que já está vacinada.

O tuíte compartilhado pelo deputado apresenta uma tabela mostrando que, em janeiro de 2022, foram registrados 12 óbitos por covid-19 no hospital, dos quais dois se tratam de pessoas que não haviam se vacinado, sete de quem havia tomado duas doses da vacina e três de pessoas que tomaram as três doses.

Em fevereiro de 2022, foram 35 óbitos registrados, dos quais três foram de pessoas que não haviam tomado nenhuma dose da vacina; dois óbitos de pessoas com uma dose; 13 óbitos de pessoas com duas doses e 17 mortes registradas entre quem havia tomado as três doses.

Nos dois meses, portanto, foram 47 óbitos registrados por covid-19, dos quais 40 foram entre pessoas que podem ser consideradas vacinadas (que receberam ao menos duas doses dos imunizantes), o que corresponde a cerca de 85% das mortes, conforme escreveu Osmar Terra.

Apesar de serem verdadeiros, os dados mostrados na tabela não devem, segundo o próprio hospital, ser interpretados para avaliar a eficácia das vacinas, e que a maioria dos casos era de pessoas idosas e/ou com comorbidades, cujo óbito ocorreu por conta de alguma outra doença que o paciente já possuía, e não necessariamente em decorrência da covid-19. “Eram pessoas com comorbidades graves associadas a um quadro de síndrome respiratória por covid-19 que provocou um agravamento da doença de base. Ou seja, estes pacientes foram a óbito pela doença de base ao mesmo tempo que estavam com covid-19”, explicou a assessoria do hospital. “Atualmente, com a elevada cobertura vacinal não estamos identificando óbitos por covid-19 em pessoas sem comorbidades e mais jovens como presenciamos em 2020 e no início de 2021”, acrescentaram.

Segundo os dados da tabela, dos 47 óbitos registrados no hospital, 40 foram de pessoas com 60 anos ou mais. “Os dados não avaliam a efetividade das vacinas uma vez que aproximadamente 100% das pessoas com mais de 60 anos já receberam as duas doses de vacina contra a covid-19 no Rio Grande do Sul”, argumentou ainda o hospital.

De acordo com números da secretaria estadual de Saúde do Rio Grande do Sul, 75% de toda a população residente no estado está vacinada com pelo menos duas doses. Conforme avaliou o hospital na resposta ao Comprova, esse patamar é próximo a 100% para todas as faixas-etárias acima dos 60 anos, também de acordo com números da secretaria, consultados no dia 15 de março de 2022.

60 a 64 anos: 99%;

65 a 69 anos: 98%;

70 a 74 anos: 99%;

75 a 79 anos: 96%

80 anos ou mais: 90%.

Dados precisam ser observados em conjunto a outras informações

Em concordância com a explicação dada pelo hospital, a presidente da Comissão Técnica para a Revisão dos Calendários Vacinais da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi, afirma que os dados mostrados na tabela repercutida no tuíte de Osmar Terra precisam ser analisados em conjunto a outras informações sobre o histórico do paciente.

Ela explica que, embora os casos sejam computados como covid-19, não significa, necessariamente, que o paciente tenha morrido em decorrência da doença, mas sim devido ao agravamento de outras enfermidades, como diabetes ou hipertensão.

“Há casos em que o paciente é internado para uma cirurgia eletiva, faz o teste de covid e dá positivo. Mesmo que ele não tenha sintomas e venha a falecer de outras causas, é considerado paciente covid. Da mesma forma, existem situações em que o paciente é internado por covid mas os sintomas da doença não são graves, porém acabam agravando outras enfermidades. Mas a causa da morte não é por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave)”, explica Mônica Levi.

A médica afirma ainda que nenhuma vacina é capaz de proteger 100% contra internações e mortes. E que, em um cenário de significativa cobertura vacinal, como verificado no Brasil, é natural que haja casos entre vacinados.

“A gente viu uma proteção excelente, mas não tão intensa nos idosos, especialmente acima dos 70 anos, e nos imunodeprimidos. Mesmo tomando doses extras, os imunodeprimidos não respondem tão bem à vacinação. Então, obviamente, nós vamos encontrar pessoas vacinadas e que tiveram casos graves e óbitos. Além disso, quando você tem uma parcela muito elevada da população que foi vacinada, entre 80% e 90%, vai ser mais difícil encontrar alguém não vacinado entre os internados”, diz Mônica.

Em checagem recente, o projeto Comprova já demonstrou como uma publicação semelhante, mas com dados da Inglaterra, gerou o mesmo tipo de desinformação. Uma postagem feita no Telegram se baseou em um relatório do sistema de vigilância em saúde do Reino Unido que mostrava como pessoas com 1, 2 ou 3 doses da vacina representavam, em números absolutos, muito mais óbitos por covid-19 do que pessoas não vacinadas, desconsiderando a informação de quase 70% da população inglesa já havia recebido pelo menos uma dose da vacina.

O próprio relatório alertava que a análise desses dados brutos não era capaz de indicar a efetividade da vacina, e citava algumas explicações, entre elas, que:

-No contexto de uma cobertura vacinal muito alta na população, mesmo com uma vacina altamente eficaz, espera-se que uma grande proporção de casos, hospitalizações e mortes ocorram em indivíduos vacinados, simplesmente porque uma proporção maior da população é vacinada do que não vacinada e nenhuma vacina é 100% eficaz.

-Além disso, desde o início da vacinação, os imunizantes têm sido priorizados à população mais suscetível a desenvolver a forma grave da doença, como idosos e pessoas imunossuprimidas. Esses indivíduos, dos chamados grupos de risco, também correm maior risco de hospitalização ou morte devido a outras enfermidades não relacionadas à covid, e, portanto, podem ser hospitalizados ou morrer com a covid-19 ao invés de covid-19.”

-A situação vacinal dos casos, pacientes internados e mortes, não deve ser usada para avaliar a eficácia da vacina devido às diferenças de risco, comportamento e testes nas populações vacinadas e não vacinadas. As taxas de casos nas populações vacinadas e não vacinadas são taxas brutas que não levam em conta os vieses estatísticos subjacentes nos dados.

Outro ponto é que, quando o mesmo relatório mostrava taxas proporcionais (taxa/100 mil habitantes) entre a população vacinada e a não vacinada, esta segunda apresentava, em todas as faixas etárias, números maiores de hospitalizações e óbitos por covid-19.

Quem está imunizado?

Outro foco de desinformação a respeito da efetividade das vacinas tem relação com o critério usado para que pessoas sejam consideradas efetivamente vacinadas: se após tomar duas ou três doses dos imunizantes. Um post com esse teor feito pelo médico Alessandro Loiola , no aplicativo Gettr, e depois compartilhado no Telegram, fazia menção a uma suposta “manipulação” das estatísticas sobre vacinação no Brasil, que antes consideravam “vacinadas” as pessoas que tomaram duas doses, e hoje os “vacinados” seriam aqueles com as três doses dos imunizantes.

A médica Mônica Levi esclarece que, para efeito de estatísticas, o Ministério da Saúde considera como vacinados aqueles que tomaram duas doses/dose única ou mais do imunizante contra a covid-19; parcialmente vacinados os que tomaram uma dose, e não vacinados aqueles que não tomaram a primeira dose.

“No início da vacinação, as duas doses se mostraram muito eficazes. No entanto, no segundo semestre do ano passado, vários estudos no Brasil e no exterior mostraram que havia uma perda de imunidade a partir do quarto mês da segunda aplicação. Esse fator, aliado ao surgimento das variantes, levou à necessidade da aprovação da dose de reforço. Acredito que essa classificação precise mudar, pois, do ponto de vista médico, não se pode dizer que uma pessoa está protegida após seis, sete meses da segunda aplicação”.

No Brasil, a terceira dose da vacina já está sendo aplicada desde setembro de 2021. Inicialmente, essa dose de reforço foi direcionada para grupos de risco, como idosos com mais de 70 anos e pessoas com comorbidades, mas hoje é recomendada e está disponível para todos os brasileiros maiores de 18 anos. O prazo atual recomendado para imunização com a terceira dose é de no mínimo quatro meses após a data de aplicação da segunda dose.

O Comprova questionou o Ministério da Saúde para entender quais públicos são considerados “vacinados” e “não vacinados” ou com “esquema vacinal completo” e com “esquema vacinal incompleto”, mas não houve retorno até o fechamento desta checagem.

Nesta notícia do site do Ministério da Saúde, do dia 11 de março, é possível verificar uma diferenciação entre os que estão com esquema vacinal completo – os que teriam tomado as duas doses da vacina – e os que tomaram a dose de reforço. As informações aparecem no último parágrafo do texto:

“Atualmente, 91% da população acima de 12 anos tomou a primeira dose da vacina, 84,38% desse mesmo público completou o esquema vacinal e apenas 36,48% das pessoas acima de 18 anos – único público listado no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação (PNO) como alvo desta etapa – tomaram a dose de reforço”.

Na Nota Técnica Diferenciais de Cobertura Vacinal Segundo Grupos Etários no Brasil, divulgada pela Fiocruz nesta quarta-feira, 16, a diferenciação é a mesma: o que se depreende do trecho abaixo:

“Considerando o esquema atual de duas doses ou aplicação de dose única, o país tem 73,9% da população com esquema completo, e 32,9% da população que já recebeu a dose de reforço”.

Maior número de casos e mortes entre não vacinados

O Comprova buscou dados oficiais do Ministério da Saúde sobre casos graves e óbitos por covid-19 de acordo com a cobertura vacinal da população. Não foi possível localizar as informações nos canais oficiais da pasta. Os dados foram solicitados por e-mail, mas não houve resposta.

No boletim “Evolução temporal de casos e óbitos de SRAG por faixa etária”, do Observatório Covid-19 BR, da Fiocruz, há informações de acordo com o status vacinal da população. A fundação, no entanto, faz a ressalva de que os dados são preliminares, inconclusivos, e que o estudo precisa ser aprofundado.

Na tabela abaixo, por exemplo, é possível constatar maior proporção de casos de SRAG por covid-19 no país entre não vacinados do que entre os vacinados ao menos com a segunda dose. A incidência é avaliada a cada 100 mil habitantes.

 

Já em outro quadro, abaixo, há a relação de casos e óbitos de SRAG por covid-19 de acordo com a cobertura vacinal a 100 mil habitantes. São considerados dados do país e de São Paulo. Os números seguem a mesma tendência: maior ocorrência entre os não vacinados.

Quem são Osmar Terra e Alessandro Loiola

Em seu sexto mandato como deputado federal pelo Rio Grande do Sul, Osmar Terra é médico formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) especializado em saúde perinatal. Foi prefeito de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, secretário de saúde do Rio Grande do Sul, ministro do Desenvolvimento Social e Agrário durante o governo de Michel Temer (MDB) e ministro da Cidadania do atual governo. Materiais divulgados por ele já foram checados pelo Comprova, como este em que usou dados incorretamente e neste quando compartilhou vídeos como sendo de um ex-ministro.

Nascido no Espírito Santo e formado pela Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, Alessandro Lemos Passos de Loiola tem registro como cirurgião geral, proctologista e coloproctologista nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. Em novembro de 2019, foi nomeado como coordenador-geral de Empreendedorismo e Inovação, do Departamento de Empreendedorismo Cultural, da Secretaria de Economia Criativa. A nomeação foi assinada pelo então ministro do Turismo Marcelo Henrique Teixeira Dias e publicada no diário oficial dia 27 de novembro. Dois meses depois teve a exoneração publicada no Diário Oficial dia 24 de janeiro de 2020, dez dias após a demissão do ministro. Já teve conteúdos divulgados verificados pelo projeto Comprova como este em que fala das vacinas , ou neste que fala sobre as medidas protetivas.

 

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos com grande alcance nas redes sociais que tenham relação com a pandemia de covid-19, políticas públicas e as eleições presidenciais. A postagem confunde o leitor porque, além das informações serem apresentadas sem o devido contexto, dão a entender que as vacinas não seriam eficazes para o controle da pandemia.

Alcance da publicação: Até o dia 17 de março, o post do deputado federal Osmar Terra somava 5,3 mil interações no Twitter.

Outras checagens sobre o tema: Em verificações recentes, o Comprova já demonstrou que estudos sobre a eficácia das vacinas apontaram que a maioria dos infectados pela covid-19 são pessoas não vacinadas; que os benefícios da vacinação superam os riscos e que a vacinação é endossada por alguns dos principais órgãos e agências de saúde do mundo como principal forma de combate à covid-19.

Saúde

Investigado por: 2022-03-15

Pfizer pagou FDA e Anvisa para inscrição em processo de análise, não para aprovação da vacina

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o tuíte que insinua que a Pfizer pagou pela aprovação da vacina contra a covid-19 para a Food and Drug Administration (FDA) e também para Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ambos órgãos cobram taxas a serem quitadas para análise técnica e clínica de produtos, mas o pagamento não interfere no resultado final.

Conteúdo verificado: Uma publicação feita no Twitter sugere que a Pfizer pagou para que a FDA aprovasse o imunizante da empresa contra a covid-19. O autor da postagem mostra um print screen de um documento que cita uma transferência de US$ 2,8 milhões feita pela empresa ao órgão americano. Também é sugerido que a farmacêutica pagou para que a Anvisa aprovasse o uso do imunizante no Brasil.

Onde foi publicado: Twitter

Conclusão do Comprova: É enganoso que a FDA e a Anvisa tenham recebido pagamento da Pfizer/BioNTech para aprovação da vacina contra a covid-19 nos Estados Unidos e no Brasil, conforme sugere um post no Twitter.

Diferente do que indica o autor da publicação, o documento mostrado não é uma prova de que a Pfizer pagou para a FDA aprovar o imunizante. O que o documento mostra na verdade é um pagamento feito pela empresa como taxa de usuário, valor cobrado para submeter o produto para análise. A publicação verificada mostra a frase incompleta, não apresentando o trecho que cita o motivo desse pagamento.

Ao Comprova, a FDA informou que o valor foi usado para financiar uma revisão independente dos dados clínicos da vacina ComiRNAty, produzida pela Pfizer/BioNTech. O órgão disse também que essa análise não interferiu na integridade científica e na segurança da população. Esse tipo de cobrança é amparada por uma lei federal americana, de outubro de 1992.

Já a Anvisa informou que cobra uma Taxa de Fiscalização de Vigilância Sanitária (TFVS) para a utilização de diferentes serviços da agência, inclusive para solicitar a aprovação de medicamentos. O pagamento, segundo o órgão, não interfere no resultado final da avaliação.

Também em nota, a Pfizer informou que tem a política global de não comentar documentos que circulam ou viralizam em redes sociais. A empresa argumentou que tanto Anvisa quanto FDA cobram taxas específicas para diferentes avaliações realizadas pelas agências.

No texto, a Pfizer destacou ainda que a aprovação de sua vacina por agências reguladoras internacionais e pela Anvisa ocorreu “por meio da análise robusta de documentos contendo informações técnicas dos estudos conduzidos”.

Para o Comprova, enganoso é todo o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor, confundindo o público, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

O que diz o autor da publicação: O autor da postagem é Frank César. No Twitter, ele se apresenta como CEO e editor-chefe de um site que publica conteúdo de apoio ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Procurado pelo Comprova, Frank disse que não se posicionará sobre a conclusão que a equipe chegou após a verificação do conteúdo.

Como verificamos: Por meio de pesquisas na internet, o documento foi encontrado no site do Public Health and Medical Professionals for Transparency Documents (PHMPT). A entidade reúne profissionais de saúde pública e cientistas para divulgar os dados em que a FDA se baseia para licenciar os imunizantes contra o coronavírus.

O grupo PHMPT fez um pedido de Lei de Acesso à Informação para obter informações sobre a autorização de uso da ComiRNAty em pessoas com mais de 16 anos nos Estados Unidos. As informações foram confirmadas pelo FDA em resposta ao Comprova.

O texto é descrito como a primeira parte da inscrição original à aprovação de licença biológica, que autoriza a utilização do imunizante na faixa etária determinada. O documento indica que foi enviado no dia 6 de maio de 2021. Meses depois, em 23 de agosto de 2021, a vacina da Pfizer/BioNTech foi a primeira a ser aprovada nos Estados Unidos pelo FDA, conforme foi divulgado no site do órgão.

Buscamos também a Anvisa e a Pfizer para esclarecer o processo de aprovação de medicamentos.

A equipe também tentou contato com o autor das publicações por meio das redes sociais, mas ele disse que não comentaria o caso.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 15 de março de 2021.

 

Pagamento à FDA

No fim da primeira página do documento, é demonstrado que a agência de regulação recebeu um pagamento de U$ 2.875.842,00 por parte da Pfizer no dia 5 de maio de 2021. O dinheiro foi destinado ao Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. No texto, é descrito que a quantia é para a aplicação da taxa de usuário. No conteúdo investigado, porém, a frase está pela metade e não mostra o trecho que cita o motivo do pagamento. O valor é superior a R$ 14 milhões, segundo a cotação de 14 de março de 2022.

Para o Comprova, a FDA certificou que o pagamento foi apresentado como uma taxa de usuário. Esse tipo de pagamento faz parte do “Prescription Drug User Fee Act (PDUFA)”, criado pelo Congresso dos Estados Unidos em 1992

O valor pago, segundo o órgão, financia a revisão independente dos dados da vacina. Isso “sem atrapalhar o compromisso da agência com a integridade científica, a saúde pública, as normas regulamentares, a segurança dos pacientes e a transparência”.

O texto autoriza que a FDA cobre taxas de empresas que produzem certos medicamentos e produtos biológicos. “Desde a aprovação, as taxas de uso têm desempenhado um papel importante na agilização do processo de aprovação de medicamentos”, informa o site da FDA.

O dinheiro, de acordo com a lei, deve ser usado para custear os recursos usados no processo de aprovação. Isso inclui o pagamento de funcionários e de consultores, a criação de comissões de análise e a aquisição de equipamentos de informática e científicos.

Os valores das taxas exibidos no site da FDA são:

A quantia paga pela Pfizer equivale à taxa de inscrição com dados clínicos obrigatórios em 2021. Um pedido de medicamento humano, em que não seja necessário apresentar dados clínicos sobre segurança ou eficácia para aprovação, custa metade desse montante. Os valores são relativos à data de envio do pedido e são os mesmos para todas as solicitações, independentemente de qual empresa se trata.

Aprovação de medicamentos pela Anvisa

A aprovação de medicamentos pela Anvisa passa por pelo menos três grandes áreas. Elas estão descritas na Lei nº 5.991/1973:

  • Gerência Geral de Medicamentos (avalia aspectos de segurança e eficácia),
  • Gerência Geral de Inspeção e Fiscalização Sanitária (avalia qualidade, certificação e linhas de produção do medicamento);
  • Gerência de Farmacovigilância (avalia o plano de monitoramento de possíveis efeitos adversos após a aprovação do remédio).

A partir da avaliação positiva dos aspectos obrigatórios, o registro do medicamento é aprovado pela Gerência Geral de Medicamentos. No caso dos medicamentos em Autorização de Uso Emergencial, a aprovação é feita pela Diretoria Colegiada da Anvisa.

A empresa cobra uma TFVS, valor pago para a utilização de qualquer serviço da agência. O valor varia de acordo com o porte da empresa e com o serviço solicitado. Esse pagamento é previsto pela lei 9.782/99.

Essa taxa é paga no momento em que o interessado faz uma petição à Anvisa, antes da análise. “A taxa é paga antes que o processo técnico se inicie e independentemente do resultado da análise, seja de aprovação ou negativa”, esclareceu o órgão ao Comprova.

O que diz a farmacêutica

Em nota, a Pfizer informou que tem política global de não comentar documentos que circulam ou viralizam em redes sociais. A empresa informou que, assim como todas as farmacêuticas, segue a Resolução nº 222/2006 da Anvisa, que determina o pagamento de taxas específicas para cada tipo de avaliação a ser realizada pela agência, como estudos clínicos, aprovação de medicamentos e vacinas, inspeção de fábricas, alterações em bula.

A Pfizer destacou que as taxas variam de US$ 3.514,32 a US$ 157.416,00, conforme determinação da agência. De acordo com a empresa, a FDA tem esse mesmo processo de pagamento de taxas, definidas pela agência regulatória americana e aplicada a todas as indústrias farmacêuticas dos Estados Unidos.

“A aprovação da vacina ComiRNAty pelas agências regulatórias internacionais e pela Anvisa aconteceu por meio da análise robusta de documentos contendo informações técnicas dos estudos conduzidos”, argumentou.

 

Por que investigamos: O Comprova verifica conteúdos suspeitos que viralizam na internet sobre a pandemia da covid-19, políticas públicas e as eleições presidenciais deste ano. O foco é analisar publicações virais, que tiveram grande alcance nas redes sociais e podem confundir a população.

O conteúdo verificado engana o leitor ao induzir que a aprovação da vacina contra a covid-19 depende de pagamentos aos órgãos de regulação sanitária, como a Anvisa e a FDA. Além disso, a publicação não indica o contexto do documento, permitindo uma interpretação equivocada.

Alcance da publicação: Até o dia 14 de março, a postagem tinha 3.290 curtidas, 1.270 compartilhamentos e 100 comentários.

Outras checagens sobre o tema: Em relação à pandemia, o Comprova verificou recentemente que post tira dados de contexto para sugerir que vacinados são mais vulneráveis à covid e que um estudo feito em Itajaí não prova eficácia de ivermectina contra covid-19.

Saúde

Investigado por: 2022-03-09

Proporção de mortes por covid é maior entre não vacinados no Reino Unido, diferentemente do que insinua post

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa uma postagem no Telegram que usa dados brutos, sem investigação de casos relatados, de um relatório do sistema de saúde britânico para sugerir que pessoas vacinadas morrem mais por covid-19 do que não vacinadas. No período contemplado pelo levantamento, a maioria da população britânica (69,4%) já havia recebido pelo menos uma dose do imunizante, de forma que os dados sobre mortes precisam ser analisados proporcionalmente. Pessoas não vacinadas são minoria em números absolutos, mas têm mais chances de morrer pela doença, como o próprio relatório aponta.
  • Conteúdo verificado: Post que circula no Telegram alega que dados de um relatório do governo do Reino Unido provam que pessoas “totalmente vacinadas” contra a covid-19 representam 9 de cada 10 óbitos pela doença registrados no país. A mensagem apresenta um gráfico com o número de mortes por status de vacinação e um link para um texto em português que comenta estes e outros dados sobre óbitos, hospitalizações e casos de covid-19 na Inglaterra.

É enganosa uma mensagem que circula no Telegram e apresenta dados de um relatório divulgado pelo governo do Reino Unido para afirmar que pessoas vacinadas contra a covid-19 representam 9 em cada 10 mortes pela doença no país. A publicação se baseia em dados brutos e tira de contexto as informações do boletim, além de fazer comparações desproporcionais entre as parcelas da população vacinada e não vacinada. Na Inglaterra, cerca de 70% da população já tomou ao menos uma dose da vacina. O mesmo não ocorre em comparações relativas, que mostram que, proporcionalmente, não vacinados morrem mais.

Os dados do post aqui verificado estão em uma publicação divulgada em 24 de fevereiro de 2022 pela United Kingdom Health Security Agency (UKHSA), a Agência de Segurança Sanitária do Reino Unido. O texto do Telegram, no entanto, faz interpretações erradas e omite informações relevantes contidas no relatório.

O próprio boletim alerta que é impossível julgar a efetividade da vacina a partir da análise desses dados brutos, como fez o post do Telegram, e ressalta que uma interpretação correta dos números (que leve em consideração tanto a proporção da população vacinada quanto o perfil dessa população) é essencial. “Estes dados são publicados para ajudar a entender as implicações da pandemia, para o NHS [o Serviço Nacional de Saúde inglês], por exemplo, compreender as cargas de trabalho nos hospitais, e para ajudar a entender onde priorizar a entrega da vacina”, diz trecho do relatório.

Outro trecho do documento menciona ainda que as taxas de mortes por 100 mil habitantes são sempre menores na população vacinada do que na não vacinada, em qualquer faixa etária.

A mensagem foi compartilhada por um canal chamado “ACTUS LIBERANDI” no Telegram no dia 1 de março de 2022. O autor apresenta ainda um link para um texto repercutindo estes e outros dados presentes no relatório da UKHSA. O texto, em português, é uma tradução de uma publicação do site inglês The Exposé, que já foi alvo de outras verificações por compartilhar desinformação sobre a pandemia. Em novembro de 2021 e janeiro de 2022, por exemplo, a agência Lupa classificou como falsas duas publicações sobre a pandemia feitas pelo site.

O Comprova não conseguiu contato com o canal responsável pela postagem. A equipe também procurou pelo nome do perfil em outras redes sociais, mas não encontrou resultados.

O conteúdo foi considerado enganoso porque oculta a limitação da base de dados do relatório do governo britânico, além de fazer comparações desproporcionais.

Como verificamos?

Para verificar o conteúdo, o Comprova acessou o site da UKHSA e buscou a página onde são publicados os boletins semanais de acompanhamento dos casos e óbitos da covid-19 na Inglaterra.

Fazendo uma comparação entre os dados expostos nos relatórios do governo britânico e os que estavam presentes no post do Telegram, foi possível atestar que, apesar de utilizar números reais, o texto que circula na rede social os interpreta de maneira equivocada e omite informações importantes dos boletins.

A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) foi procurada para contribuir com a avaliação dos dados e da eficácia das vacinas contra a covid-19.

O Comprova não conseguiu contato com o autor da postagem no Telegram. A mensagem foi disparada em um canal chamado “ACTUS LIBERANDI”, dentro do aplicativo de mensagens, por onde não foi possível contatar o autor do post. A equipe também procurou o nome “actus liberandi” em outras redes sociais, mas não encontrou nenhum canal de contato ou perfil com esse nome.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 9 de março de 2022.

Verificação

Sobre os relatórios da UKHSA

Semanalmente, a UKHSA publica um relatório com os resultados do acompanhamento de casos, hospitalizações e mortes em decorrência da covid-19 no Reino Unido, além de uma avaliação da eficácia da vacina e cobertura vacinal da população.

O relatório citado pelo post aqui verificado foi divulgado no dia 24 de fevereiro e faz referência à oitava semana de 2022 analisada pela UKHSA. Todos os outros boletins semanais da agência podem ser consultados aqui.

Os dados referentes ao status vacinal, casos confirmados, mortes e hospitalizações em decorrência do coronavírus são baseados nas amostras das quatro semanas anteriores à publicação do relatório: de 24 de janeiro ao dia 20 de fevereiro de 2022. Estes são os dados mostrados nas tabelas 10, 11 e 12 do relatório, que também aparecem no post do Telegram.

Contextualização dos dados do relatório citados na postagem

A imagem que está na mensagem do Telegram é um gráfico feito pelo site The Exposé com base nos números que constam na tabela 12 do relatório da UKHSA. Para produzir o gráfico, foram consideradas pessoas “vacinadas” aquelas que tomaram uma, duas ou as três doses da vacina contra o coronavírus. Assim, na semana estudada, esse grupo soma 4.302 óbitos de um total de 4.861 (esse “total” engloba apenas pessoas consideradas “vacinadas” ou “não vacinadas”, excluindo os números da coluna em que não há informação sobre o status de vacinação).

Legenda: Tabela 12 do relatório da semana 8, pode ser encontrada na página 43

De fato, essa proporção faz com que os “vacinados” (com ao menos uma dose) sejam 88,5% das mortes registradas, ou, aproximadamente, “9 em cada 10”. Mas o texto compartilhado no Telegram fala dos “totalmente vacinados”, expressão que pode se referir a pessoas que tomaram duas ou três doses do imunizante. Nesse caso (pessoas com duas ou três doses) o número de mortes é menor e não representa “9 em cada 10” óbitos registrados.

O post também oculta informações contidas na nota de rodapé, logo abaixo da tabela do boletim da UKHSA, que alertam para a correta interpretação dos dados. Em um item intitulado “interpretation of data” (em português, “interpretação dos dados”), que pode ser consultado nas páginas 38 e 39 do relatório, está escrito:

“No contexto de uma cobertura vacinal muito alta na população, mesmo com uma vacina altamente eficaz, espera-se que uma grande proporção de casos, hospitalizações e mortes ocorram em indivíduos vacinados, simplesmente porque uma proporção maior da população é vacinada do que não vacinada e nenhuma vacina é 100% eficaz.”

Além disso, desde o início da vacinação, os imunizantes têm sido priorizados à população mais suscetível a desenvolver a forma grave da doença, como idosos e pessoas imunossuprimidas. Esses indivíduos, dos chamados grupos de risco, também correm maior risco de hospitalização ou morte devido a outras enfermidades não relacionadas à covid.

De acordo com o relatório, até o dia 20 de fevereiro de 2022, os números da vacinação no Reino Unido eram os seguintes: 69,4% da população havia recebido a primeira dose; 64,7% recebeu também a segunda; e 50,1% recebeu a terceira dose da vacina.

A contextualização dos dados continua: “A situação vacinal dos casos, pacientes internados e mortes, não deve ser usada para avaliar a eficácia da vacina devido às diferenças de risco, comportamento e testes nas populações vacinadas e não vacinadas. As taxas de casos nas populações vacinadas e não vacinadas são taxas brutas que não levam em conta os vieses estatísticos subjacentes nos dados.”

Em meio às diferenças entre populações vacinadas e não vacinadas que podem ter impactado os números do relatório, o próprio estudo cita:

“- O comportamento em relação à realização dos testes tende a ser diferente de acordo com o status vacinal da pessoa.

– Muitos dos que tiveram prioridade na vacinação eram pessoas com maior risco de covid-19, seja pela idade, ocupação, circunstâncias familiares, ou por causa de problemas de saúde subjacentes.

– Pessoas totalmente vacinadas e não vacinadas podem se comportar de forma diferente, particularmente no que diz respeito às interações sociais e, portanto, podem ter diferentes níveis de exposição à covid-19.

– Pessoas que nunca foram vacinadas estavam mais propensas a contrair covid-19 em semanas ou meses anteriores ao período dos casos estudados pelo relatório. Isso pode ter feito com que algumas dessas pessoas não vacinadas tivessem alguma imunidade natural ao vírus, o que pode ter contribuído para uma menor taxa de infecção nas últimas semanas”.

Proporcionalmente, não vacinados morrem mais

Conforme enfatiza o relatório da UKHSA, não é possível fazer uma comparação entre a quantidade absoluta de óbitos, hospitalizações ou casos de pessoas vacinadas e não vacinadas porque o boletim utiliza dados brutos e não a taxa de incidência (quando é calculada a quantidade de óbitos, hospitalizações e casos relativos à população – por 100 mil habitantes, por exemplo – e à cobertura vacinal de cada faixa etária).

Embora os dados brutos apontem para um número maior de casos, hospitalizações e mortes entre pessoas vacinadas, quando a comparação é feita em termos proporcionais à população por status de vacinação, sempre há mais óbitos e hospitalizações entre não vacinados.

A tabela 13 do relatório da semana 8 mostra as taxas não ajustadas de infecção por covid-19, hospitalização e morte em populações vacinadas e não vacinadas.

Legenda: Tabela 13 mostra os dados proporcionais de casos, hospitalizações e óbitos por covid-19 da semana 8

Em relação às mortes, tanto dentro de 60 dias após o teste positivo quanto dentro de 28 dias, os números foram menores entre todas as faixas etárias da população vacinada se comparado com os números da população não vacinada. O número de hospitalizações entre pessoas vacinadas em todas as faixas etárias também foi menor se comparado aos dados de internações de pessoas não vacinadas.

Nesta tabela, o relatório utiliza taxas de pessoas vacinadas com pelo menos 3 doses (por 100 mil habitantes) em comparação com taxas de pessoas não vacinadas (por 100 mil habitantes).

O único dado que aparece com mais incidência em pessoas vacinadas é o número de casos de infecção. Isso, no entanto, é explicado pelo relatório nas notas de rodapé abaixo da tabela:

“As taxas de casos nas populações vacinadas e não vacinadas são taxas brutas não ajustadas que não levam em conta os enviesamentos estatísticos subjacentes nos dados e é provável que haja diferenças sistemáticas entre esses 2 grupos populacionais.”

O relatório ainda ressalta: “as taxas de casos não ajustadas entre pessoas não vacinadas foram formatadas em cinza para enfatizar ainda mais a cautela a ser empregada na interpretação desses dados”.

Os dados dessa tabela, porém, são omitidos pela publicação do Telegram.

Importância do reforço

O médico infectologista e consultor da SBI Marcelo Cecílio Daher explica que, quando as primeiras vacinas contra a covid-19 começaram a ser desenvolvidas, havia menos mutações do vírus (variantes alfa e beta). Novas cepas como a gama, delta e a Ômicron têm mais resistência à proteção das vacinas. Apesar disso, pessoas imunizadas e contaminadas com estas variantes têm menor probabilidade de desenvolver uma forma grave da doença, que cause hospitalização ou óbito.

“Os anticorpos produzidos pela vacina não induzem a proteção total contra a infecção. Mas as pessoas vacinadas têm uma forma mais branda da doença. Ou seja, as pessoas vacinadas se infectam, mas têm sintomas leves”, afirma.

No Brasil, levantamentos feitos em dois dos maiores hospitais de referência para o tratamento da covid-19 no país (Emílio Ribas, em São Paulo, e Ronaldo Gazolla, no Rio de Janeiro) revelaram que a proporção de mortes por covid entre idosos, mesmo triplamente vacinados, voltou a crescer, indicando a necessidade da 4ª dose da vacina.

De acordo com reportagem do Estadão, os levantamentos mostraram que no início de fevereiro, de 70% a 90% dos mortos pela doença eram pessoas não vacinadas ou com o esquema de vacinação incompleto. No fim de fevereiro, porém, esse porcentual caiu para aproximadamente 50%, revelando nova mudança no perfil das vítimas. Na outra metade, a maioria são idosos que tomaram a terceira dose em novembro.

“Nas primeiras três semanas da disseminação da Ômicron, (praticamente) 100% dos mortos eram não vacinados, com o esquema vacinal incompleto ou imunossuprimidos (transplantados, pacientes de câncer, entre outros)”, afirmou ao Estadão o infectologista Alexandre Naime Barbosa, da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp). “Agora, esse grupo representa 50% dos mortos, os outros 50% são idosos já com as três doses; a diferença é que eles tomaram essa 3ª dose há mais de três meses e a imunidade deles começou a cair.”

Contexto britânico

Na Inglaterra, um estudo publicado pelo New England Journal of Medicine constatou que duas doses das vacinas Pfizer-BioNTech ou Moderna oferecem pouca proteção contra a doença sintomática causada pela variante ômicron (embora ainda proporcionem alta proteção contra doenças graves, hospitalização e morte), mas uma dose de reforço foi capaz de restaurar a proteção.

De acordo com os pesquisadores, a dose de reforço aumentou a proteção de volta aos níveis observados após o indivíduo receber a segunda dose e antes de começar a diminuir novamente em cerca de dois meses.

Atualmente, são aprovadas no Reino Unido as vacinas Pfizer-BioNTech, Oxford-AstraZeneca, Moderna, Novavax e Janssen.

Dados do Office for National Statistics (ONS) sugerem que mais de 9 em cada 10 adultos no Reino Unido agora têm anticorpos contra o coronavírus, seja de uma infecção passada ou por ter recebido pelo menos uma dose da vacina.

Segundo uma reportagem da BBC News, em janeiro deste ano, o Comitê Conjunto de Vacinação e Imunização do Reino Unido – Joint Committee on Vaccination and Immunisation (JCVI) – afirmou que ainda não seria necessária uma quarta dose de reforço porque os dados mostram que, três meses após uma injeção de reforço, pessoas com 65 anos ou mais ainda têm cerca de 90% de proteção contra a hospitalização.

Conforme a pesquisa de “infecção por Coronavírus, características de pessoas testando positivo para covid-19”, atualizada de forma recorrente pelo Office for National Statistics (ONS), a maioria das pessoas que relataram ter recebido vacinas continuou a ter menos probabilidade de testar positivo para a doença do que aquelas que relataram não ter sido vacinadas na quinzena até o dia 12 de fevereiro de 2022.

Até o dia 7 de março de 2022, 140.194.389 doses da vacina foram aplicadas no Reino Unido, sendo 52.677.564 primeiras doses, 49.120.352 segundas doses e 38.396.473 terceiras doses.

Mortes entre não vacinados estão caindo?

No final do texto publicado no Telegram há uma comparação entre o número de mortes de pessoas vacinadas e não vacinadas divulgado no relatório da semana 51 (que analisa o período de 22 de novembro a 19 de dezembro de 2021) e os mesmos números do relatório divulgado na semana 8 (24 de janeiro a 20 de fevereiro de 2022). O trecho mistura dados diferentes para sugerir que as mortes entre pessoas não vacinadas estariam caindo (saindo de 889 na semana 51 de 2021, para 559 na semana 8 de 2022).

O número de 889 do relatório divulgado na semana 51 foi obtido pela soma de mortes dentro de 60 dias após o teste positivo de covid-19. Já o número de 559 do relatório divulgado na semana 8 foi obtido pela soma de mortes dentro de 28 dias após o teste positivo. Ao consultarmos os dados de mortes dentro de 60 dias para a semana 8, o número é de 746, não 559. Trata-se de uma redução de 16% no número de mortes, e não de 37%, como afirma o texto.

Além disso, não é verdade que as mortes estejam diminuindo constantemente entre os não vacinados na Inglaterra, quando analisamos os dados dos relatórios semanais mais recentes. Como já demonstrado acima, no relatório divulgado na semana 51 (a última de 2021) o número de óbitos bruto de não vacinados na tabela “b)” foi de 889; na semana 1 (a primeira de 2022), o número foi de 928; na semana 2, de 1.065; na semana 3, de 1.155; na semana 4, de 1.152; na semana 5, de 1.177; na semana 6, de 1.077; na semana 7, de 905; até chegar, na semana 8, em 746.

Ou seja, no início de 2022, o número de óbitos entre não vacinados quase sempre esteve acima do registrado na última semana de 2021. Foi só na oitava semana de 2022 que o número ficou abaixo da semana 51. E é apenas entre as semanas 5 e 8 que há diminuição dos números, mas ainda em patamares próximos (ou maiores) do que no final do ano passado.

Além disso, vale ressaltar que entre os meses finais de 2021 (novembro e dezembro) e o início de 2022 (janeiro e fevereiro), mais pessoas receberam doses do imunizante no Reino Unido, seja primeira, segunda ou terceira, o que aumenta o número da população vacinada se comparada à que não recebeu nenhuma dose.

Por isso também pode ser esperado que um menor número de pessoas não vacinadas tenha morrido durante a semana 8 em relação à semana 51.

Morte entre vacinados

O texto aqui verificado alega que “as mortes da população vacinada aumentaram de 2.913 entre 22 de novembro e 19 de dezembro de 2021, para 4.302 entre 24 de janeiro e 20 de fevereiro de 2022”, o que representaria um aumento de 48%.

Novamente, entre pessoas vacinadas na semana 51, o artigo se baseia no número de óbitos dentro de 60 dias após o teste positivo (isto é, a tabela “b”), presente na página 39 do relatório. Somando o total de mortes de pessoas vacinadas com uma ou duas doses, obtém-se o valor 2.913 entre 22 de novembro e 19 de dezembro.

Aqui, no entanto, há um ponto que deve ser considerado: a tabela da semana 51 é separada da seguinte forma entre pessoas vacinadas: a) aquelas que receberam uma dose (1-20 dias antes da data em que a amostra foi coletada do paciente); b) aquelas que receberam uma dose (≥21 dias antes da data em que a amostra foi coletada do paciente) e c) aquelas que receberam a segunda dose (≥14 dias antes da data em que a amostra foi coletada do paciente). Veja print abaixo.

Legenda: Tabela 10 “b)” da Semana 51 pode ser consultada na página 39 do relatório

Já na semana 8, a tabela é dividida de forma semelhante entre pessoas vacinadas, mas com o acréscimo daquelas (d) que receberam a terceira dose (≥14 dias antes da data em que a amostra foi coletada do paciente). Veja print abaixo.

Legenda: Tabela 10 “b)” da Semana 8 pode ser consultada na página 44 do relatório

Ou seja, na semana 51 não é contabilizada a quantidade de pessoas que morreram e que receberam a terceira dose, o que torna uma comparação entre as duas tabelas inviável.

Caso utilizássemos apenas os dados de pessoas vacinadas com a primeira e a segunda dose da tabela “b” (60 dias após teste positivo) na semana 8, seriam 1.735 óbitos – e não 4.302 como afirma o texto. Ou seja, entre os vacinados e usando o mesmo recorte, o número de óbitos saiu de 2.913 na semana 51, para 1.735 na semana 8. O que significa uma redução de quase 40% no número de óbitos.

Sobre a afirmação de que “as mortes estão aumentando dramaticamente entre a população triplamente vacinada”, de fato, ao analisar semana a semana, o número de óbitos entre triplamente vacinados cresceu nas duas tabelas, mas é importante mencionar que é só a partir da semana 3 que o relatório passa a contar com esses dados específicos. Em todas as semanas analisadas, os maiores números de óbitos entre os triplamente vacinados se concentram na faixa-etária acima dos 80 anos.

Na tabela “b” (óbito 60 dias após teste de covid), na semana 3, o número total de óbitos entre triplamente vacinados foi de 1.509; na semana 4, de 2.124; na semana 5, de 2.956; na semana 6, de 3.840; na semana 7, de 4.260; e na semana 8, de 4.407.

Na tabela “a” (óbito 28 dias após teste de covid), na semana 3, esse número foi de 1.256; na semana 4, de 1.840; na semana 5, de 2.585; na semana 6, de 3.196; na semana 7, de 3.307; e na semana 8, de 3.120.

Na semana 3, a Inglaterra tinha 48,4% da população vacinada com a terceira dose. Na semana 4, a taxa passou para 49,0%, enquanto na semana 5 foi para 49,4%. Nas semanas 6, 7 e 8, a cobertura vacinal de terceira dose foi de 49,7%; 49,9% e 50,1%, respectivamente.

O médico Marcelo Cecílio Daher explica que, num cenário de alta circulação do vírus, como o atual, pessoas vacinadas têm a possibilidade de se infectar, desenvolver a forma grave da doença e eventualmente morrer. No entanto, esses são casos atípicos.

“Nesse cenário, essa população será uma população minoritária. O que a gente está observando são pessoas não vacinadas com formas graves da doença, muito mais do que pessoas vacinadas”, destaca.

Daher também ressalta que pessoas não vacinadas não têm imunidade contra o coronavírus. “Esse é um vírus novo e as pessoas não vacinadas adoecem e podem ter formas graves da doença, principalmente pessoas mais velhas, idosas, e pessoas com comorbidades.”

Por que investigamos?

O Comprova tem o compromisso de investigar conteúdos suspeitos que tenham relação com a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições. A equipe tem como foco as publicações virais, que tiveram grande alcance nas redes sociais e podem confundir a população.

Até o dia 9 de março, o post aqui verificado alcançou 7,1 mil visualizações no Telegram.

O conteúdo confunde o leitor ao ignorar as comprovações e os números divulgados pela autoridade sanitária da Inglaterra sobre a relação entre aplicação de vacinas e mortes.

Em verificações recentes, o Comprova já demonstrou que estudos sobre a eficácia das vacinas apontaram que a maioria dos infectados pela covid-19 são pessoas não vacinadas; que os benefícios da vacinação superam os riscos e que a vacinação é endossada por alguns dos principais órgãos e agências de saúde do mundo como principal forma de combate à covid-19.

Para o Comprova é enganoso todo o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor, confundindo o público, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2022-03-03

Estudo feito em Itajaí não prova eficácia de ivermectina contra covid-19

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a publicação feita por uma deputada federal com a afirmação de que o maior estudo sobre ivermectina no combate à covid-19 teria sido realizado no Brasil e demonstraria a eficácia do medicamento contra a doença. Especialistas ouvidos pelo Comprova identificaram fragilidade na metodologia da pesquisa, incluindo a falta de acompanhamento dos participantes e a imprecisão dos dados coletados. Trechos do próprio estudo confirmam serem necessários mais levantamentos para avaliar a suposta eficácia do vermífugo contra o coronavírus.
  • Conteúdo verificado: Publicação no Twitter diz que o maior estudo sobre ivermectina no combate à covid-19 foi feito no Brasil e que as conclusões comprovam a eficácia do remédio no tratamento da doença. O post traz um trecho de uma declaração do médico Pierre Kory em evento realizado no Senado dos Estados Unidos.

É enganosa uma publicação feita no Twitter pela deputada federal Bia Kicis (União-DF) e que atribui a um estudo realizado na cidade de Itajaí (SC) a suposta confirmação de que a ivermectina, um antiparasitário, seria eficaz no “tratamento precoce” contra a covid-19. Na rede social, Kicis afirma que o estudo “prova sem sombra de dúvida que a ivermectina funciona”. Além disso, a parlamentar afirma que esta é a maior pesquisa do mundo relacionada ao tema.

O post foi feito com base no vídeo de uma transmissão de um evento realizado no Senado dos Estados Unidos. Na oportunidade, o médico especialista em cuidados pulmonares Pierre Kory cita o estudo para defender o uso do medicamento. Kory é representante de uma associação formada por profissionais de saúde americanos que defendem temas como o tratamento precoce contra o coronavírus, para o qual não há comprovação científica.

A pesquisa citada pelo médico no vídeo aqui verificado foi publicada na revista científica Cureus em 15 de janeiro deste ano e passou por revisão de pares, segundo os autores. O objetivo era avaliar o impacto do uso regular de ivermectina nas taxas de infecção e mortalidade por covid-19 na cidade catarinense. Os dados foram coletados entre julho e dezembro de 2020, portanto, quando ainda não havia a campanha nacional de vacinação.

De acordo com o estudo, a taxa de infecção por coronavírus entre os usuários do medicamento moradores de Itajaí foi de 3,7%. Já o porcentual entre não usuários foi de 6,6%. Ainda segundo a pesquisa, o remédio reduziu em 68% a taxa de mortalidade por covid-19 e em 56% a chance de hospitalização pela doença. Os autores do documento afirmam que os resultados apontam para eficácia da ivermectina no tratamento profilático contra a covid-19, mas também ponderam no texto que estudos mais robustos são necessários.

Especialistas consultados pela equipe do Comprova afirmaram que um estudo observacional, como é o caso, pode gerar indícios para que novas pesquisas sejam realizadas sobre um tema, porém não criam uma verdade científica. Esses profissionais também apontaram possíveis inconsistências nos dados do levantamento citado no vídeo e destacaram que atualmente não há evidências que confirmem a eficácia da ivermectina como tratamento profilático contra a covid-19.

A farmacêutica Merck Sharp & Dohme (MSD), responsável pela criação do medicamento, também já afirmou que não há evidência científica sobre a efetividade da ivermectina contra a covid-19.

O estudo é assinado por nove pessoas, mas foi liderado pela médica Lucy Kerr, a favor do uso da ivermectina, e coproduzido pelo endocrinologista Flávio Cadegiani. O médico foi indiciado pela CPI da Pandemia sob acusação de crime contra a humanidade: ele fez parte de um estudo clínico com o medicamento experimental proxalutamida, proposto inicialmente para o tratamento de câncer, que teria levado 200 pessoas a óbito.

Os pesquisadores convidaram a população de Itajaí para retirar, voluntariamente, comprimidos de ivermectina oferecidos nos postos de saúde do município. A orientação era para que os pacientes tomassem o remédio por dois dias consecutivos a cada 15 dias.

A Prefeitura de Itajaí, no entanto, informou que a busca pelo medicamento no SUS não se manteve estável, o que, segundo especialistas consultados pelo Comprova, altera os resultados obtidos e impede uma conclusão sobre os efeitos do medicamento em uma população.

No texto do estudo, os autores afirmam que foram considerados 223 mil cidadãos de Itajaí para a pesquisa. Destes, 159 mil foram incluídos na análise (113 mil como usuários de ivermectina e 45 mil que não usaram o medicamento).

Procurada pelo Comprova, a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) encaminhou uma planilha com a lista de estudos autorizados no Brasil sobre uso de ivermectina no tratamento contra a covid-19. Usando o número do Certificado de Apresentação de Apreciação Ética (CAAE), que consta no estudo publicado, foi possível identificar que a pesquisa de Itajaí foi registrada com uma amostra de 9.956 participantes.

Há outros dois estudos brasileiros sobre o tema com amostras maiores (de 10 mil e 43 mil). Pelos dados oficiais, portanto, a pesquisa citada pela deputada não pode ser considerada a maior sobre ivermectina no Brasil. Além disso, a quantidade de participantes não significa que os resultados sejam os mais precisos sobre o assunto, pois isso depende de como a análise foi feita.

Questionada sobre o tema, Kerr afirmou que a aprovação da pesquisa foi relacionada aos casos de covid-19 e não sobre o uso de ivermectina. O número de 9.956 pessoas é citado no estudo como referência à quantidade geral de pessoas que tiveram covid-19 em Itajaí antes e durante do período do programa de distribuição de ivermectina (não está claro até quando vai este período).

Este levantamento tem sido divulgado por seus autores como o maior do mundo porque eles citam a quantidade de cidadãos que supostamente tomaram o medicamento, mas esta informação não condiz com o registro oficial de amostra do estudo. Além disso, com base na informação divulgada pela Prefeitura de Itajaí, houve queda na quantidade de pessoas que buscaram a ivermectina nas unidades de saúde.

Coordenador do Conep, Jorge Venancio disse que a situação pode ser irregular e precisa ser analisada.

A pesquisa foi publicada em um periódico que tem sede na Califórnia, nos Estados Unidos. A revista recebeu a última nota de importância e de qualidade atribuída pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) às publicações científicas usadas no Brasil, em uma escala dividida em oito níveis. Especialistas dizem que o periódico tem peso zero na comunidade.

O Comprova classificou o conteúdo como enganoso porque usa dados imprecisos.

Como verificamos?

Observando o vídeo postado pela deputada é possível ver os nomes de Pierre Kory e Ron Johnson em placas de identificação dos palestrantes do evento. Ao procurar pelas palavras “Dr. Pierre Kory Senator Ron Johnson” juntas no Google, um dos resultados é uma publicação no site do político americano com a divulgação do evento.

Com isso, foi possível encontrar a transmissão completa (com duração de 5h36min) do painel no Rumble, plataforma canadense de compartilhamento de vídeos. Com regras mais flexíveis de controle de conteúdo que outros sites, levantamento da Wired mostrou que o Rumble permite postagens de desinformação e recomenda vídeos com este tipo de conteúdo.

Ao fazer pesquisa com as palavras “estudo”, “ivermectina” e “Itajaí” no Google, encontramos outras checagens sobre o levantamento, que possibilitaram a identificação da pesquisa.

Para análise dos resultados apresentados no estudo, entrevistamos Debora Melecchi, conselheira Nacional de Saúde (CNS); Jorge Venancio, coordenador da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep); Raquel Stucchi, professora associada da disciplina de Infectologia do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp; e Breno Adaid, pesquisador do Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB). O Conep também foi procurado para pesquisa de dados sobre estudos com ivermectina no Brasil.

Lucy Kerr, uma das autoras do artigo, também foi entrevistada. Os pesquisadores Flávio Cadegiani e Fernando Baldy, que também assinam a publicação, foram contactados, mas não responderam até a publicação deste texto. A reportagem entrou em contato com Pierre Kory, mas não houve retorno. A assessoria de Bia Kicis disse que a deputada não se pronunciará sobre o assunto.

A reportagem também tentou, sem sucesso, contato com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No vídeo, Kory afirma que o Ministério da Saúde ofereceu ivermectina à população de Itajaí, mas a iniciativa foi da prefeitura local. O Comprova questionou o órgão federal sobre o tema, mas não houve resposta.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 3 de março de 2022.

Verificação

O que diz a pesquisa

O estudo citado no vídeo aqui verificado foi realizado com o objetivo de avaliar o impacto do uso regular de ivermectina nas taxas subsequentes de infecção e mortalidade por covid-19. Foi feito na cidade de Itajaí, em Santa Catarina, e já foi concluído.

Os pesquisadores convidaram a população para uma consulta no programa e para compilar informações básicas, pessoais, demográficas e médicas. Na ausência de contraindicações, a ivermectina foi oferecida como tratamento opcional, mas sem que houvesse acompanhamento direto dos pesquisadores.

Dos 223.128 cidadãos de Itajaí considerados para o estudo, foram incluídos na análise 159.561 moradores: 113.845 (71,3%) usuários regulares de ivermectina e 45.716 (23,3%) não usuários. Segundo a pesquisa, a taxa de infecção por coronavírus entre os usuários do vermífugo foi de 3,7%, enquanto que entre os não-usuários foi de 6,6%.

O estudo diz, ainda, que o remédio reduziu em 68% a taxa de mortalidade por covid-19 e em 56% a chance de hospitalização pela doença. A conclusão dos autores é de que “o uso regular de ivermectina como agente profilático foi associado a taxas de infecção, hospitalização e mortalidade significativamente reduzidas por COVID-19”.

Ao mesmo tempo, admitem: “estudos mais robustos com amostras maiores ainda são recomendados para confirmar os possíveis efeitos benéficos da ivermectina na COVID-19”.

O estudo citado na postagem aqui verificada foi registrado oficialmente, conforme mostra pesquisa feita na Plataforma Brasil, base nacional e unificada de registros de pesquisas envolvendo seres humanos, usando os números de identificação (Certificado de Apresentação de Apreciação Ética, o CAAE) e do parecer citados no estudo.

Levantamento encaminhado pelo Conep ao Comprova mostra que foram registrados no Brasil 189 estudos envolvendo ivermectina no tratamento de pacientes contra a covid-19. A busca foi feita em todo o sistema do Conep e dos comitês regionais de pesquisa entre 1º de janeiro de 2020 e 23 de fevereiro de 2022.

O estudo citado na postagem da deputada foi registrado com amostra oficial de 9.956 participantes. O Brasil tem outros dois estudos com amostras maiores, de 10 mil e 43 mil. Portanto, oficialmente, a pesquisa aqui verificada não é a maior relacionada à ivermectina.

Quanto à diferença entre a amostra de participantes registrada no Conep e a quantidade de pessoas que usou ivermectina no estudo, Lucy Kerr argumentou que a aprovação do trabalho foi relacionada aos casos de covid-19 e não sobre o uso de ivermectina. Kerr afirmou também que “não seria possível saber quantas pessoas seriam analisadas antes da aprovação”.

De acordo com o coordenador do Conep, Jorge Venancio, a discrepância entre a amostra registrada e a quantidade de pessoas que recebeu ivermectina é irregular e precisa ser investigada para saber se trouxe risco aos participantes.

O que dizem os especialistas

A conselheira de Saúde Debora Melecchi afirma que o estudo citado na postagem é frágil por se tratar de uma pesquisa observacional, considerada mais simplista e que não estabelece relação de causa e efeito. “Não tem como afirmar ou dar uma confiabilidade ao seu resultado.” Melecchi explica que estudos que levam a conclusões sobre a eficácia de um medicamento para determinado fim são realizados com metodologias como randomizado duplo-cego, quando o paciente não sabe se está tomando medicamento ou placebo. O médico envolvido na pesquisa também não tem esta informação, o que tende a diminuir o risco de viés e aumentar a confiança nos resultados.

O Instituto Nacional de Saúde (NIH – National Institute of Health), agência governamental do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, já alertou para a falta de dados que sustentem o uso do vermífugo contra infecções virais. “Fica complicado querer comparar a confiabilidade de um estudo observacional versus dezenas de ensaios clínicos randomizados duplos-cegos”, argumenta Melecchi.

Esta também é a visão do coordenador do Conep. Venancio afirma que estudos observacionais podem gerar indícios para que sejam feitas novas pesquisas com maior nível de rigor, mas não levam a conclusões científicas.

“Você faz esse estudo em duplo-cego em várias partes do mundo, com pesquisadores diferentes, que não têm relação entre si, e chega no mesmo resultado. Então, você estabelece uma verdade científica”, afirma. Segundo o coordenador, nenhum dos estudos rigorosos feitos até o momento apresentaram conclusões suficientes para indicar a eficácia da ivermectina em relação à covid-19.

Melecchi ressalta que apenas a vacina contra a covid-19 é comprovadamente eficaz para precaução contra a doença. “É a vacina que vai assegurar a principal proteção às pessoas, aliada aos cuidados sanitários, com o uso correto de máscara, a higiene das mãos e dos objetos”, afirma.

Segundo a conselheira, existem antivirais aprovados pela Anvisa para o tratamento de pessoas com covid-19, mas estes medicamentos são usados apenas nos casos de pacientes que estão internados e, em geral, em ambiente de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e intubados. Melecchi explica que nos casos leves da doença, os médicos, após consulta, receitam medicamentos para reduzir os sintomas, mas estes não têm efeito direto contra o vírus.

Para a infectologista Raquel Stucchi, a análise estatística empreendida no estudo parece “falha” devido à variação do número de indivíduos que usaram regularmente a ivermectina ao longo do estudo.

O argumento da especialista tem como base uma nota de esclarecimento divulgada pela Prefeitura de Itajaí em janeiro de 2021 (logo após o período de coleta de dados do estudo) afirmando que 138.216 mil moradores da cidade retiraram a primeira dose de ivermectina nas unidades de saúde. Quinze dias depois, esse número caiu para 93.970 pessoas. Na sequência, somente 8.312 pessoas retiraram a quarta e a quinta doses do remédio.

Em outra nota encaminhada ao Comprova durante a produção desta reportagem, a prefeitura informou que ofertou o tratamento profilático com ivermectina para quase 180 mil pessoas entre 2020 e 2021. Segundo a prefeitura, os dados foram compilados e fornecidos aos pesquisadores. “Porém, questões relacionadas ao estudo devem ser tratadas diretamente com os responsáveis pela pesquisa, que não foi realizada pelo Município”, diz a nota.

Stucchi também ressaltou a nota Qualis C da revista Cureus, onde foi publicado o artigo. A classificação Qualis une procedimentos utilizados pela Capes para realizar a estratificação da qualidade da produção intelectual dos programas de pós-graduação. De acordo com a professora da Unicamp, “Qualis C é uma revista que não tem nenhuma credibilidade”.

Os estratos de qualidade dos periódicos são divididos, pela Capes, em A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5 e C, sendo o primeiro o de maior relevância e o último peso zero. Os critérios se baseiam na qualidade das pesquisas e na importância dos temas analisados para a comunidade científica e para a sociedade em geral.

O estudo foi submetido a uma revisão realizada por outros pesquisadores da revista. O processo ocorreu entre 4 a 13 de janeiro de 2022.

Argumento da autora

A médica Lucy Kerr, uma das autoras do estudo, disse que a não continuidade quinzenal do uso da ivermectina não impactou os resultados da pesquisa porque o medicamento tem “efeito prolongado”. Kerr argumentou também que a metodologia utilizada, denominada de distribuição de Poisson, se equipara a um estudo randomizado duplo-cego.

No estudo, os autores dizem que pesquisas mais robustas são recomendadas para confirmar os efeitos da ivermectina contra a covid-19. À reportagem, Kerr alegou que a afirmação foi feita para mostrar que “os pesquisadores não estão superestimando os próprios achados”.

“Nós tivemos uma altíssima precisão dos dados analisados. Primeiro porque toda a população (tem seus dados) digitalizados no SUS. Segundo lugar, porque nós utilizamos uma metodologia que garantiu um estudo muito forte, robusto, preciso de alta qualidade. Qual era essa sistemática? Nós utilizamos em primeiro lugar um método de Poisson de ajuste das variáveis”, afirmou. A reportagem pediu que Kerr explicasse o método, mas ela se recusou sob o argumento de que o tema é complexo.

Pesquisador do Instituto de Educação Superior de Brasília, Breno Adaid explica que a Distribuição de Poisson é uma modelagem estatística em que, por meio de uma amostra, é possível calcular a possibilidade de certa ocorrência acontecer na população de forma geral, tendo como base a quantidade de ocorrências em um grupo. Neste método, são usados apenas valores inteiros.

Adaid afirma que usar a Distribuição de Poisson no caso do estudo aqui verificado foi uma estratégia correta porque é feita a comparação de casos mortes e não mortes (que só pode ser uma ocorrência inteira).

O especialista destaca, no entanto, que o Poisson e o estudo duplo-cego não são equivalentes. O duplo-cego, diz Adaid, é o delineamento de uma pesquisa, a forma como o estudo será conduzido. Já o Poisson é a forma como os dados são tratados. “São duas coisas que podem conversar entre si, porque uma pode ser aplicada após a outra, mas são distintas. Não pode trocar um pelo outro ou dizer que são equivalentes”, afirma.

Automedicação

Dentro da discussão sobre “tratamento precoce” contra a covid-19, a conselheira Melecchi destaca também a necessidade de a população fazer uso racional de medicamentos. O tema tem sido debatido no CNS. Melecchi afirma que é preciso utilizar estas substâncias para uma finalidade que tenha comprovação científica e com monitoramento de um profissional da área da saúde. “Nos preocupa muito a manutenção de incentivo ao uso de medicamentos como a ivermectina, sem de fato essa comprovação (de que é eficaz no tratamento) para covid-19, e que pode causar danos na saúde das pessoas”, afirma.

Melecchi explica que a ivermectina pode ter efeitos leves, mas também pode provocar taquicardia. Além disso, diz a conselheira, se existir interação com outros medicamentos – como antidepressivos, ansiolíticos e outros que têm ação direta no sistema nervoso – a combinação pode provocar reações graves, que podem requerer, inclusive, atendimento médico.

Questionada sobre o motivo que levou à distribuição de medicamento sem eficácia comprovada contra a covid-19, a Prefeitura de Itajaí informou que desde o início da pandemia adotou diversas ações de combate ao vírus, como testagem massiva, implantação de novas estruturas de atendimento à população e ampliação de leitos de UTI. “E, em um momento de incertezas e sem vacinas disponíveis contra o coronavírus, a cidade ofertou também o tratamento profilático com ivermectina para prevenir e amenizar infecções por coronavírus, por ser um remédio seguro, já amplamente usado no país”, destacou.

Na nota, a prefeitura também disse que os moradores de Itajaí receberam “orientações de que o uso de tratamentos profiláticos não é uma cura para a covid-19, mas sim uma ação preventiva para ser adotada periodicamente e em conjunto com as demais medidas não farmacológicas”. De acordo com a prefeitura, o uso do medicamento ocorreu de forma voluntária e com prescrição médica.

Dados do governo de Santa Catarina mostram que Itajaí registrou, até dia 2 de março de 2022, 49 mil casos de covid-19 e 848 mortes provocadas pela doença. A taxa de mortalidade na cidade, segundo dados do Ministério da Saúde, é de 386 mortes por covid-19 a cada 100 mil habitantes. No Brasil, esse índice é de 309 mortes e, no Estado de Santa Catarina, 299 mortes a cada 100 mil habitantes.

O contexto do vídeo

O vídeo divulgado pela deputada no Twitter é um recorte de 1 minuto e 59 segundos de um painel de discussão intitulado “COVID 19: A Second Opinion” (Covid 19: Uma Segunda Opinião, em tradução livre), mediado pelo senador americano Ron Johnson. O encontro ocorreu no dia 24 de janeiro deste ano, no Senado dos Estados Unidos. A transmissão completa do evento tem 5 horas e 36 minutos de duração.

Na divulgação do painel, a organização afirmou que o objetivo era o fornecimento de uma “perspectiva diferente sobre a resposta global à pandemia”, com a proposta de mostrar “o estado atual do conhecimento sobre tratamento precoce e hospitalar, eficácia e segurança da vacina, o que deu certo, o que deu errado, o que deve ser feito agora, e o que precisa ser tratado a longo prazo”.

O evento teve participação de 12 pessoas. Entre eles está Pierre Kory, médico que aparece no recorte divulgado por Bia Kicis. Kory é um dos fundadores da Front Line COVID-19 Critical Care Alliance (FLCCC). No site da entidade, ele é identificado como especialista em cuidados pulmonares e críticos.

No vídeo, Kory faz críticas ao sistema de saúde dos Estados Unidos e faz defesa do tratamento precoce contra a covid-19. Como argumento, ele cita estudos realizados pelo mundo, entre os quais está o de Itajaí. Vídeos com recorte semelhante do painel também circulam em um canal do Telegram chamado Médicos pela Vida.

O Comprova verificou recentemente um conteúdo falso divulgado por Kicis que teve origem neste mesmo evento realizado no Senado dos EUA. Em outra postagem no Twitter, a deputada fez referência a um banco de dados militar do país para afirmar que houve um “aumento alarmante” de doenças graves após a vacinação contra a covid-19, obrigatória para membros da Forças Armadas americanas.

No entanto, um porta-voz do órgão de vigilância sanitária das Forças Armadas dos EUA afirmou que houve erro no código de programação da plataforma, o que causou distorção nos dados. O conteúdo foi considerado falso pelo Comprova porque se apoiou em dados incorretos, que já foram desmentidos.

A reportagem tentou contato com Kory pelo endereço de e-mail disponível no site da FLCCC, mas não houve retorno até esta publicação. A assessoria de Kicis disse que a parlamentar não iria se manifestar sobre o assunto.

No post da deputada, o vídeo tem a logo do Médicos pela Vida, grupo de profissionais brasileiros conhecidos por defender tratamento precoce contra a covid-19. O grupo também costuma criticar as vacinas, comprovadamente eficazes para reduzir os casos e mortes pela doença. Em nota, a entidade afirmou que não tem relação com a elaboração do estudo de Itajaí, mas demonstrou apoio à conclusão apresentada por seus autores e ao conteúdo do post de Kicis.

Quanto à divulgação do conteúdo no canal do Telegram chamado Médicos pela Vida, a instituição disse que não é responsável pela plataforma, mas ressaltou que concorda “em boa parte” com o que é divulgado no grupo. Não há, no Telegram, nenhuma forma de contato direto com os responsáveis por canais.

Exterior

No vídeo, Kory também cita o uso de ivermectina em outros países, como Argentina, Peru e Japão. A exposição que o médico faz sobre o país é vaga. Ele afirma que houve orientação da Associação Médica de Tóquio para uso de ivermectina durante um “surto de verão” e que isso teria levado a queda em taxas de hospitalização em comparação com outros períodos da pandemia, mas não cita datas.

Em agosto de 2021, o Comprova verificou e classificou como enganosa outra postagem de Kicis em que a deputada defendeu o uso da ivermectina no tratamento profilático contra a covid-19 usando como base uma declaração do presidente dessa associação japonesa, Haruo Ozaki.

O Comprova mostrou na época que Ozaki realmente fez a afirmação, mas o medicamento não está entre as substâncias aprovadas no país para uso no tratamento contra a covid-19, de acordo com lista divulgada no site da Agência de Produtos Farmacêuticos e Dispositivos Médicos (PMDA) do Japão.

No site do Ministério da Saúde da Argentina, o uso de medicamentos como tratamento precoce contra a covid-19 não está entre as sugestões para que a população faça prevenção contra a doença.

No Peru, documento oficial do governo afirma que não há evidência para recomendar remédios para pacientes com suspeita ou confirmação de covid-19, mas o texto destaca que há estudos em andamento.

Por que investigamos?

O Comprova verifica informações suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais ou aplicativos de mensagem sobre políticas públicas do governo federal, eleições presidenciais e a pandemia da covid-19. A publicação checada teve 2.744 compartilhamentos, 107 comentários e 6.644 curtidas até o dia 23 de fevereiro.

O Estadão Verifica e a Agência Lupa também verificaram publicações que citam o estudo realizado em Itajaí e concluíram que o levantamento não prova que a ivermectina é eficiente contra a covid-19.

Outras checagens feitas pelo Comprova já mostraram ser enganoso que a Universidade de Oxford encontrou ‘fortes indícios’ da eficácia da ivermectina contra a covid-19, que ivermectina em altas doses pode causar até convulsão e que antiviral em teste da Pfizer não tem ivermectina na fórmula.

Para o Comprova, enganoso é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2022-03-03

Não há comprovação que morte de menino em Arujá (SP) tem relação com vacina

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o vídeo que atribui a morte de um adolescente de 12 anos à vacinação contra a covid-19. O caso está sob investigação do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) do Estado de São Paulo. Além disso, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não há até o momento confirmação de mortes de crianças associadas a eventos adversos pós-vacinação da covid-19.
  • Conteúdo verificado: Um vídeo publicado no Instagram e em grupos de WhatsApp atribui a morte de um adolescente de 12 anos à vacinação contra a covid-19.

É enganoso um vídeo que circula no Instagram e no WhatsApp e que relaciona a morte de um adolescente de 12 anos em Arujá (SP), no dia 3 de fevereiro de 2022, à vacinação contra covid-19. O médico legista responsável pela necropsia informou ao Comprova que o óbito ocorreu devido a uma malformação vascular. Já a Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo comunicou que a investigação ainda está em andamento, não sendo possível associar o óbito à imunização.

O vídeo traz imagens da criança e uma narração feita pelo pai. Ele afirma que o menino sofreu um infarto fulminante enquanto andava de bicicleta. O homem também diz que foi questionado pelos médicos e pelo perito do Instituto Médico Legal (IML) se o filho havia sido vacinado contra a covid-19. Nas imagens são mostrados um atestado de óbito e uma carteira de vacinação.

A Secretaria Municipal de Saúde de Arujá disse que só será possível atestar a causa do óbito após a conclusão do exame necropsia emitido após cerca de 40 dias da morte.

O Comprova falou com Luciley Cavalcante, mãe do adolescente, por mensagens em uma rede social. Ela informou que o menino nunca foi ao cardiologista, mas que fazia consulta de rotina com o médico da família a cada seis meses.

Segundo Luciley, a desconfiança deles quanto à vacina se deu pelas perguntas que os profissionais do IML fizeram sobre a vacinação do menino quando o corpo foi liberado.Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, responsável pelo IML, não existe um protocolo de questionamento quanto à vacinação nessas situações.

Os familiares foram procurados pela Secretaria Estadual de Saúde. A mãe confirmou que os médicos que atenderam o menino mencionaram doenças cardíacas pré-existentes como causa da morte.

O perfil que publicou o vídeo também foi procurado pela equipe, e respondeu que deveríamos procurar a mãe da vítima e nos encaminhou um link com a postagem dela para um vídeo muito semelhante, mas com a narração dela.

O conteúdo foi classificado como enganoso porque usa informações ainda em apuração para divulgar material antivacina.

Como verificamos?

No vídeo, localizamos a imagem do cartão de vacinação. No documento há o nome, local e dados das vacinas aplicadas. Em outro trecho da gravação, há uma imagem da certidão de óbito.

A resolução do vídeo é baixa e dificultou o entendimento de algumas das informações, porém conseguimos confirmar o nome da vítima, da mãe e do pai e o endereço residencial.

Pesquisamos no Instagram e através do nome, localizamos o perfil do adolescente.

Ao pesquisar as pessoas que ele seguia, localizamos o perfil da mãe. Como estava bloqueado, buscamos o mesmo nome no Facebook e encontramos a conta dela, Luciley Cavalcante, e do pai, Renildo Alves. A mãe também está divulgando o vídeo em suas redes sociais afirmando que a morte teria sido causada pela vacinação contra covid.

Entramos em contato com a família através das redes sociais.

No cartão de vacinação consta que o garoto foi imunizado na Unidade Básica de Saúde Municipal Parque Rodrigo Barreto, em Arujá/SP. A primeira dose foi administrada em 9 de setembro de 2021 e a segunda em 6 de dezembro de 2021, ambas da Pfizer.

Enviamos e-mail solicitando informações sobre o caso para a Secretaria Municipal de Saúde de Arujá, Secretaria de Estado da Saúde, Ministério da Saúde, Anvisa, Pfizer e Polícia Civil de SP.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis até o dia 3 de março de 2022.

Verificação

Causa da morte

O pai do menino, Renildo Alves da Silva, conta no áudio que o garoto passou mal em frente ao portão de casa. Ele foi encontrado caído e com o rosto roxo. Segundo a mãe, Luciley Cavalcante, o menino foi levado para a UPA Barreiro, mesma unidade onde foi vacinado. Ele faleceu no local em 3 de fevereiro.

A família relata que o corpo foi levado ao IML e que o laudo ainda não foi disponibilizado a eles. Ainda no vídeo, o pai conta que o menino era saudável e realizava exames regulares. Ao Comprova, no entanto, a mãe relatou que a criança nunca foi atendida por um cardiologista.

O médico chegou a afirmar que “não foi constatada nenhuma relação com a vacinação”, mas não deu detalhes, e também não comentou sobre a condição prévia de saúde do adolescente.

A certidão de óbito também afirma que a morte foi provocada por causas cardíacas. O documento descreve: choque cardiopático, infarto agudo do miocárdio, arritmia cardíaca e miocardiopatia hipertrófica.

Mesmo assim, a Secretaria Municipal de Saúde de Arujá e a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo ainda apuram se há relação da morte com a vacinação. Em nota ao Comprova, a pasta estadual classificou como “precipitado e irresponsável afirmar, neste momento, que o caso está relacionado à vacinação”.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Saúde não foram notificados sobre a morte em Arujá.

Brasil não tem mortes de crianças pelas vacinas

Não há registro de mortes de crianças relacionadas à vacinação contra o coronavírus. A informação foi divulgada pelo presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, em entrevista à Agência Senado no dia 16 de fevereiro deste ano. De acordo com Barra Torres, apenas dez crianças nos Estados Unidos tiveram efeitos adversos graves após a vacina, mas todas tiveram alta médica.

A vacinação de adolescentes contra a covid-19 no Brasil é feita com a Pfizer e a Coronavac. O grupo de 12 a 17 anos, do qual o menino fazia parte, passou a ser vacinado em setembro de 2021, após recomendação do Ministério da Saúde.

Por que investigamos?

O Comprova verifica conteúdos suspeitos que circulam nas redes sociais ou aplicativos de mensagem sobre a pandemia do coronavírus, eleições e políticas públicas. O conteúdo verificado teve mais de 61 mil interações apenas no Instagram. Também é possível localizar o vídeo enganoso no Facebook e ele circula também no WhatsApp.

Não há até momento a confirmação de que a morte do menino tenha sido causada pela vacina da Pfizer. Assim, o conteúdo compartilhado contribui para a disseminação de notícias falsas sobre a vacinação contra o coronavírus.

Em outras verificações, o Comprova já mostrou ser enganoso, um post que relacionava a morte de uma criança com CoronaVac e que não há registro de mortes de crianças causadas por vacinas contra a covid-19 no Brasil.

Enganoso para o Comprova é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2022-03-03

Post tira dados de contexto para sugerir que vacinados são mais vulneráveis à covid

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso um tuíte que usa dados de mortes por covid-19 no Distrito Federal referentes a um único dia para sugerir que pessoas vacinadas são mais vulneráveis à doença. O tuíte omite informações importantes e dá destaque a um conjunto de dados muito pequeno, que não é representativo da atual fase da pandemia.
  • Conteúdo verificado: Tuíte apresenta dados de um boletim diário de óbitos por covid-19 no DF, referente a 15 de fevereiro de 2022. O tuíte dá destaque ao fato de todas as oito mortes serem de pessoas que receberam ao menos duas doses da vacina, enquanto nenhuma pessoa não vacinada morreu naquele dia.

É enganoso um post no Twitter que usa dados de mortes por covid-19 no Distrito Federal referentes a um único dia para sugerir que pessoas vacinadas são mais vulneráveis à doença. O tuíte omite informações importantes e dá destaque a um conjunto de dados muito pequeno, que não é representativo da atual fase da pandemia.

Os dados citados na publicação foram extraídos da “Síntese diária de óbitos notificados em 15 de fevereiro”, um documento produzido pela Diretoria de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (Divep/SVS). Segundo o informe, foram notificadas oito mortes por covid-19 no DF em 15 de fevereiro de 2022.

O autor do post ressalta que todas as oito vítimas haviam recebido ao menos duas doses da vacina contra a covid-19; quatro delas também tinham recebido a dose de reforço. “NENHUM ÓBITO DE NÃO VACINADO”, destaca o tuíte, induzindo à conclusão de que pessoas vacinadas são mais vulneráveis ao coronavírus, como mostram comentários feitos no post original (1 e 2).

A realidade do atual momento da pandemia, no entanto, é a oposta. Dados divulgados em fevereiro pelas secretarias de Saúde de estados como Amazonas, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo mostram que pessoas não vacinadas ou que não completaram o esquema vacinal, ou seja, não receberam as três doses, têm mais chances de morrer pela doença.

No Distrito Federal, dos 93 idosos acima de 60 anos que morreram entre 1º de janeiro e 7 de fevereiro, período analisado por um estudo feito pela Secretaria de Saúde, 79 (82,3%) não haviam recebido três doses da vacina. As informações foram divulgadas em 11 de fevereiro, portanto, estavam disponíveis quando o post investigado foi publicado. Não há informações sobre quantos estavam apenas com uma, duas ou nenhuma dose da vacina. O estudo leva em consideração que a população vacinada é aquela que completou o esquema básico (duas doses) e reforço.

Especialistas consultados pelo Comprova alertam que outras informações são relevantes ao se analisar dados de óbitos por covid-19. O tuíte aqui verificado diz que todas as oito vítimas notificadas no boletim de 15 de fevereiro do DF tinham mais de 60 anos. No entanto, o autor não menciona outros fatores de risco que constam no boletim e podem estar relacionados aos óbitos. Por exemplo, entre as oito mortes, cinco eram de pessoas com mais de 80 anos. Cinco delas também tinham comorbidades.

A Secretaria de Saúde do DF informou ao Comprova que está “em processo de revisão” do formato dos informes sobre covid-19, “no intuito de mitigar possíveis equívocos” e “interpretações errôneas” dos dados. Anteriormente, a secretaria já havia emitido um comunicado contextualizando as informações de um post parecido da deputada federal Bia Kicis (União Brasil-DF), que isolou dados do dia 14 de fevereiro de 2022.

O autor do tuíte aqui verificado também foi procurado pela equipe do Comprova, mas se recusou a comentar sobre o post.

O conteúdo foi considerado enganoso porque usa dados incompletos e omite informações importantes, induzindo a uma conclusão errada.

Como verificamos?

O tuíte aqui verificado apresenta um link para o informe da Divep/SVS com dados de mortes por covid-19 no DF no dia 15 de fevereiro. Por meio de uma consulta no site oficial da Secretaria de Saúde do DF, foi possível constatar que o documento linkado era legítimo. O Comprova também entrou em contato com o órgão para verificar se os dados que constavam no boletim estavam corretos e se havia mais informações sobre os óbitos notificados naquele dia.

Em seguida, buscamos especialistas que pudessem explicar o que os dados apresentados no post indicam sobre a eficácia das vacinas. Entrevistamos Breno Adaid, coordenador e professor de estatística no mestrado em administração do Centro Universitário IESB, e Julival Ribeiro, infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.

A equipe ainda fez uma busca por informações oficiais divulgadas recentemente para entender o contexto da atual fase da pandemia de covid-19. Procuramos dados de estados brasileiros que informaram a situação vacinal das vítimas do coronavírus.

Por fim, o Comprova entrou em contato com o autor do tuíte.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 3 de março de 2022.

Verificação

Dados descontextualizados

No post, o autor cita um boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal no dia 15 de fevereiro de 2022. O informe traz uma síntese dos óbitos por covid-19 notificados naquele dia. Uma tabela mostra a situação vacinal das vítimas. Foram oito mortes: quatro pessoas haviam tomado duas doses da vacina contra a covid-19, e outras quatro haviam recebido também uma dose de reforço.

O boletim aponta ainda que todas as vítimas tinham mais de 60 anos de idade; cinco tinham mais de 80. Cinco delas também tinham comorbidades. O relatório traz tabelas separadas de acordo com as características gerais dos casos, como gênero, faixa etária, região administrativa, tipos de comorbidade e situação vacinal. Porém, não detalha o perfil individual de cada paciente, de forma que não há como saber se as pessoas que estavam vacinadas com a dose de reforço eram as mesmas que tinham comorbidades ou outros fatores de risco, por exemplo.

Breno Adaid, pesquisador de dados de covid-19, afirma que informações divulgadas dessa forma podem contribuir para o surgimento de comparações que geram desinformação, como no post investigado. “Cientificamente falando, o correto é comparar grupos mais homogêneos possíveis. No caso, taxa de mortalidade antes e depois da vacina”, explica. “Quando você pega casos isolados, corre o risco de, sem querer ou intencionalmente, pegar dados com particularidades”, completa.

Adaid ressaltou que a melhor forma de tratar os dados seria colocá-los dentro de um contexto maior. Por exemplo, junto às comorbidades, faixa etária e outros fatores que podem ter contribuído para o agravamento dos casos.

Ao Comprova, a SES-DF informou que está em processo de revisão do método de divulgação dos dados sobre a situação vacinal dos óbitos. A mudança ocorre justamente para evitar interpretações equivocadas. Recentemente, o órgão desmentiu uma publicação da deputada federal Bia Kicis, que também usava dados do boletim epidemiológico para questionar a eficácia das vacinas.

Vacinados x Não vacinados

Além de apresentar os dados fora de contexto, a publicação também confunde ao afirmar que houve “100% de óbitos de vacinados”, colocando pessoas que haviam recebido duas e três doses do imunizante em um grupo só. Indivíduos que receberam uma, duas ou três doses da vacina têm diferentes níveis de proteção, que variam com o tempo após a imunização, como explica Julival Ribeiro, infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia: “Somente após quinze dias da [aplicação da] segunda dose a gente começa a ter imunoproteção. Hoje, já sabemos que depois de quatro meses [da segunda dose], nós devemos tomar o reforço. Justamente porque ao longo do tempo cai essa proteção.”

O médico também esclarece que a vacinação diminui, mas não exclui totalmente o risco de morte pela covid-19. Fatores como idade e comorbidades podem contribuir para um agravamento do quadro. “Essas pessoas têm mais chance de virem a complicar e resultar em óbito. Isso é esperado. Agora, o que não se pode fazer é uma análise mostrando que não vacinados são mais protegidos. Isso não existe”, afirma.

Ribeiro ressalta que, apesar disso, a vacinação teve um impacto positivo também sobre essa população mais vulnerável. No Distrito Federal, os dados de 2022 mostram que a taxa de mortalidade por covid-19 de idosos com ciclo vacinal incompleto (que não receberam três doses) foi 33 vezes maior. Em 25 de janeiro, a Secretaria de Saúde do DF informou que 90% das pessoas hospitalizadas naquele momento não haviam completado o esquema vacinal.

Contexto nacional

Até o momento, não há um levantamento nacional para avaliar o impacto da vacinação nos óbitos e hospitalizações. Porém, dados oficiais divulgados por diferentes estados brasileiros mostram um cenário semelhante àquele registrado no DF. Um estudo da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVE/SC), da Secretaria de Saúde de Santa Catarina, divulgado no início de fevereiro, mostrou que a taxa de óbitos de idosos não vacinados ou com vacinação incompleta foi 47 vezes maior do que daqueles que receberam a dose de reforço. Entre adultos (de 18 a 59 anos), a taxa foi 39 vezes superior no grupo de não vacinados e sem dose de reforço. O levantamento foi feito com dados de novembro de 2021 a janeiro de 2022.

A taxa de hospitalização de indivíduos não vacinados ou com vacinação incompleta também se manteve superior em Santa Catarina. No mesmo período, o índice de internações foi 31 vezes maior entre idosos que não completaram o esquema vacinal. Já entre adultos, a taxa foi 20 vezes maior do que entre aqueles que não receberam a dose de reforço.

No Rio Grande do Sul, dados do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) apontam que a dose de reforço reduziu em 95% a incidência de óbito em idosos no período de agosto a novembro de 2021. Entre as pessoas com mais de 20 anos com esquema vacinal completo, o risco de morte foi reduzido em 87%.

| Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs). Dados mostram o impacto da vacinação em hospitalizações e óbitos por covid-19 no Rio Grande do Sul

Outro estado que apresenta taxas de hospitalização e óbito superiores entre não vacinados é o Amazonas. No último boletim sobre a situação epidemiológica da covid-19, pacientes sem nenhuma dose da vacina apresentaram um risco 4,3 vezes maior de hospitalização do que indivíduos com esquema vacinal completo. Em relação aos óbitos, o risco foi 2,5 vezes maior. O boletim compila dados de 1º de janeiro a 8 de fevereiro.

Um levantamento feito pelo G1, com índices do Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo, além dos estados já citados na verificação, mostra um cenário semelhante: de que os não vacinados são os que mais morrem. Os dados reforçam o que especialistas e organizações nacionais e internacionais defendem: as vacinas contra a covid-19 são eficazes e a dose de reforço é fundamental para reduzir o risco de internação e óbito.

O autor

O post do Twitter foi feito pelo jornalista e advogado Paulo Cesar Rodrigues de Faria. Na rede social, ele tem publicado diversos conteúdos contrários à vacinação, entre eles, teses que o Comprova já desmentiu, como a de que as vacinas são “experimentais”.

Faria foi um dos responsáveis pela defesa do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), que em fevereiro de 2021 teve prisão determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, após publicar vídeo ofendendo juízes do tribunal, defendendo a sua destituição, e elogiando o Ato Institucional nº5, instrumento legal de repressão da ditadura militar brasileira (1964-1985).

O Comprova entrou em contato com o advogado, que respondeu em tom agressivo, crítico do trabalho de agências de verificação de fatos. Afirmou que projetos como o Comprova “adotaram a mentira, deturpação dos fatos, violações de honras e intimidades de quem pensa dissonante da ideologia progressista, como máxima de suas atuações”.

Em seguida, fez uma série de questionamentos sobre a verificação e disse que “medidas judiciais” seriam tomadas contra os jornalistas envolvidos na checagem e os veículos para os quais trabalham, caso fossem feitas publicações de caráter “não-jornalístico” e “viés político-ideológico” que atingissem sua “honra e dignidade”.

A equipe do Comprova então respondeu algumas das perguntas levantadas por Faria, informando quais especialistas foram consultados na verificação. Também deixamos links para matérias dos sites Metrópoles e G1, que trazem dados oficiais sobre a situação vacinal de vítimas da covid-19. Em resposta, o advogado voltou a fazer ataques à imprensa e ameaçou tomar medidas judiciais contra “todos os envolvidos”, em caso de violação à sua honra.

Por que investigamos?

O Comprova tem como escopo a investigação de conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais e estão relacionados a pandemia, eleições e políticas públicas do governo federal. Até o dia 2 de março de 2022, a publicação aqui verificada teve mais de 2.000 interações no Twitter.

Conteúdos que trazem desinformação sobre as vacinas contra a covid-19 podem provocar dúvidas e desestimular a população a aderir a campanha de vacinação em curso no Brasil. A eficácia e segurança das vacinas são temas constantes nas verificações do Comprova.

Já mostramos que um post que relacionava a morte de uma criança à CoronaVac era enganoso; que vacinas não criaram novas cepas ou mais casos de covid em Israel; e que o leite materno não substitui vacinação de crianças contra a covid-19, como sugeriu o ex-senador Magno Malta.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2022-02-22

Post engana ao relacionar morte de criança com CoronaVac; investigação segue em aberto

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso um post no Twitter que relaciona a morte de um menino de 10 anos no Rio de Janeiro à vacinação com a CoronaVac. Procurada pelo Comprova, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro informou que a investigação sobre o caso ainda está em aberto, de modo que não é possível afirmar, com as informações ora disponíveis, que a morte foi causada pela vacina. Os exames laboratoriais realizados até o momento afastam essa possibilidade.
  • Conteúdo verificado: Um post no Twitter traz imagens do relato de uma mãe que afirma que seu filho morreu dias após receber a primeira dose da CoronaVac. A autora do tuíte comenta: “CORONAVAC 10 anos! ASSASSINOS!”, insinuando que a vacina contra a covid-19 teria sido responsável pela morte do menino de 10 anos.

É enganoso um post no Twitter que relaciona a morte de um menino de 10 anos no Rio de Janeiro à vacinação com a CoronaVac, imunizante contra a covid-19 produzido no Brasil pelo Instituto Butantan. A Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) informaram ao Comprova que a investigação sobre o caso segue em aberto, de modo que não é possível afirmar, com as informações ora disponíveis, que a morte foi causada pela vacina.

O tuíte traz imagens de um relato da mãe da criança, Shirlene Souza Trindade, no Facebook. Ela afirma que seu filho recebeu a primeira dose da CoronaVac em 27 de janeiro. Depois, teria começado a apresentar sintomas como febre e dor na coluna. A mãe diz que o braço direito do menino, no qual recebeu a vacina, ficou inchado, “umas cinco vezes maior”. Após fazer consultas no Hospital Municipal Rocha Faria e em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), ele teria sido internado no Hospital Municipal Pedro II, onde morreu de parada cardíaca em 6 de fevereiro. Segundo Shirlene, os médicos do Pedro II trataram o caso do paciente “o tempo todo como suspeita da vacina”.

Procurada pelo Comprova, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio informou que uma investigação foi aberta sobre o caso, mas garantiu que “em nenhum momento, durante o atendimento no HMP II, os médicos tenham relatado tratar-se de caso de efeito adverso à vacina”. O órgão informa que o diagnóstico do menino foi de choque séptico de foco cutâneo devido a artrite séptica ou uma celulite no braço esquerdo — não no braço direito, no qual foi aplicada a vacina em no menino.

Ainda de acordo com a secretaria, um exame de antibiograma feito na véspera da morte, em 5 de fevereiro, registrou a presença no sangue do menino do microrganismo Staphylococcus aureus (MRSA+). “Trata-se de uma bactéria resistente a vários antibióticos e que, infelizmente, causou o quadro de sepse”, diz a nota do órgão. Embora a investigação ainda esteja em andamento, “todos os exames laboratoriais até o momento afastam a possibilidade de reação vacinal”, afirma a secretaria.

A Anvisa também informou, em nota ao Comprova, que “a investigação segue em andamento, não sendo possível confirmar a causalidade com a vacinação”.

O Comprova entrou em contato com Shirlene, a mãe do menino, por meio do Facebook e do Instagram, mas não obteve resposta. Depois disso, ela excluiu o post com o relato sobre a morte do filho do Facebook.

O Comprova também tentou contatar a autora do post aqui verificado, feito no Twitter, que se identifica como ChrisF. A conta, porém, até o dia 21 de fevereiro de 2022, não permitia o envio de mensagens privadas. Sem o sobrenome da autora, não foi possível encontrá-la em outras redes sociais.

O conteúdo foi classificado como enganoso porque usa informações imprecisas sobre um caso real para chegar a uma conclusão que, por ora, não tem sustentação.

Como verificamos?

Começamos a verificação fazendo contato com a Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro e com a Anvisa. Questionamos se as autoridades de saúde tinham conhecimento sobre o caso, se as informações divulgadas pela mãe eram verdadeiras, se existia alguma investigação sobre a morte do menino, se a apuração já havia sido finalizada e qual sua conclusão. Por fim, se houve relação da morte com a vacina contra a covid-19.

O Comprova também procurou o Instituto Butantan, responsável pela produção da CoronaVac no país.

Em seguida, tentamos contato diretamente com os hospitais em que o menino foi atendido, mas, por serem municipais, as instituições se manifestam somente via Secretaria Municipal de Saúde. Enviamos mensagem a um dos médicos que atendeu a criança, mas o profissional informou que, por orientação do hospital e de seu advogado, não iria se manifestar sobre o caso.

Conversamos com o pediatra e infectologista Daniel Jarovsky, da Santa Casa de São Paulo, para entender o que é o microrganismo Staphylococcus aureus (MRSA+), como se manifesta, que tipo de sintomas provoca e se pode levar à morte.

A mãe do paciente, Shirlene Souza Trindade, foi contatada pelo Comprova pelo Facebook e também em seu perfil no Instagram, mas não deu retorno.

Não conseguimos contato com a autora do post aqui verificado, que compartilha no Twitter imagens do relato de Shirlene, uma vez que o envio de mensagens privadas não está habilitado em sua conta. A autora também não inclui seu sobrenome, intitulando-se apenas como “Chris F”. Analisamos as postagens mais recentes feitas pela conta em questão no Twitter. Os conteúdos, em sua maioria, são contrários à vacinação contra a covid-19.

Foi feita ainda uma busca no Google, no dia 20 de fevereiro de 2022, por palavras-chave como “morte”, “menino”, “rj”, “vacina”, “covid” e pelo nome do menino. Entre os 10 primeiros links encontrados, dois eram sobre o caso verificado nesta checagem. O primeiro, uma peça de desinformação publicada em um site de “conteúdo conservador”, que apenas reproduz o relato da mãe, sem citar outras fontes; o segundo, um vídeo no YouTube, também reproduzindo o relato da mãe, publicado no canal Patriota Brasil, que costuma veicular conteúdos em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Não foram encontradas reportagens jornalísticas sobre o caso.

Os demais links encontrados durante a pesquisa foram reportagens com o serviço de vacinação de crianças contra a covid-19, uma matéria sobre o caso de outro menino, investigado em Minas Gerais, cuja conclusão das autoridades de saúde descartou a relação entre óbito e vacina, e outro caso desmentido pela Agência Lupa associado ao mesmo tema.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 22 de fevereiro de 2022.

Verificação

Hospitalização e morte da criança

O menino foi vacinado no dia 27 de janeiro de 2022, com a primeira dose da CoronaVac. Uma foto da caderneta de vacinação, compartilhada pela mãe, informa que a segunda aplicação estava prevista para o dia 24 deste mês. No relato, ela afirma que a imunização aconteceu em uma unidade da Clínica da Família, local similar a um posto de saúde. O endereço exato não foi divulgado.

Ainda de acordo com a mãe, dias depois da vacinação, o menino foi levado duas vezes ao Hospital Municipal Rocha Faria. Ela publicou uma foto com o receituário prescrito na primeira consulta, que ocorreu no dia 31 de janeiro. Quem assina o documento é um médico ortopedista e traumatologista. Procurado, ele preferiu não se manifestar sobre o caso.

Foi receitado ao menino Nimesulida (anti-inflamatório), Dipirona (analgésico e antipirético) e uso de gelo na região em que a criança estava com dor. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, ele procurou atendimento com dores na lombar.

A mãe relata que, no segundo atendimento no Hospital Rocha Faria, a recomendação médica foi de seguir com a administração dos remédios. A data em que esse atendimento aconteceu não foi informada.

O terceiro atendimento, segundo o relato da mãe, ocorreu em uma Unidade de Pronto Atendimento. De acordo com ela, o estado de saúde da criança foi considerado muito grave pela equipe da unidade. Foi solicitada transferência, e o menino foi levado ao Hospital Municipal Pedro II. Isso teria ocorrido no dia 3 de fevereiro.

Conforme a mãe, a criança ficou internada por dias na unidade e teve febre, dor e bolhas de água pelo corpo, falta de ar e hemorragia no pulmão. Apenas a febre foi confirmada pela Secretaria de Saúde, que se limitou a informar que o menino teve piora no quadro e aparecimento de mais sintomas, sem especificá-los.

A mãe diz que os médicos do Hospital Pedro II trataram o caso como suspeita de reação à vacina, o que é negado pela Secretaria de Saúde e pela Prefeitura do Rio de Janeiro. As falas da pasta e da administração também contestam a versão da mãe do menino sobre as dores no braço direito, local onde a vacina foi aplicada. No texto, ela diz que esse membro inchou, ficando cinco vezes maior que o tamanho normal. Em nota, a prefeitura informou que, durante a internação, o menino foi diagnosticado com uma celulite no braço esquerdo, que seria uma infecção das partes mais profundas da pele.

O paciente teve uma sequência de paradas cardíacas no dia 6 e acabou morrendo. Um dia antes, foi feita uma coleta de sangue e, após exame, foi identificada a bactéria causadora da sepse. A informação é da prefeitura. Por não se tratar de morte violenta, o corpo não foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML).

No relato, a mãe diz que procurou a Clínica da Família para avisar sobre a morte e as reações que acreditava terem sido causadas pela vacina. De acordo com a secretaria, a investigação sobre a suposta relação começou nesta data.

Ao Comprova, a Anvisa informou que investiga o caso e que, neste momento, não é possível confirmar a vacinação como causa da morte. O Instituto Butantan também respondeu aos questionamentos da equipe dizendo que, até então, não há indícios de que o óbito tenha relação com a CoronaVac.

Infecção por bactéria

A bactéria Staphylococcus aureus, identificada no menino a partir de exame de sangue, é considerada comum, afirmou ao Comprova o pediatra e infectologista Paulo Daniel Jarovsky, da Santa Casa de São Paulo. De acordo com o médico, ela é geralmente encontrada na pele ou em regiões como nariz e garganta.

“A bactéria convive com o ser-humano nesses lugares, pele, garganta, nariz. E, basicamente, ela não causa infecção, a não ser que ocorra alguma ruptura da pele ou algum desbalanço do equilíbrio das bactérias”, explica.

Conforme Jarovsky, a contaminação ocorre quando a bactéria presente na superfície da pele entra no organismo, o que pode acontecer por meio de uma queimadura ou de infecções respiratórias, como resfriado e covid-19. Se a área não for esterilizada, até mesmo a perfuração de uma agulha ou outro objeto poderia ser um caminho para a bactéria entrar no organismo – não há provas de que esse tenha sido o caso do menino.

Os sintomas dependem de onde ela se aloja. No pulmão, por exemplo, pode causar pneumonia. Já no cérebro, meningite. Qualquer um desses casos, explica Jarovsky, pode levar a sepse. “Sepse é o quadro mais dramático, severo, mais grave de uma infecção, em que você tem um desarranjo de vários órgãos do corpo, em decorrência dessa infecção, que leva a uma inflamação generalizada e, se a sepse não for tratada adequadamente, ela pode evoluir para um choque séptico, falência de múltiplos órgãos e morte”, detalha o médico.

No caso do menino, a Secretaria Municipal da Saúde usou a sigla MRSA+ para descrever a bactéria encontrada. Jarovsky afirma que isso significa “resistente a meticilina”, antibiótico tipicamente usado no tratamento dessa infecção. O tratamento neste caso exigiria o uso de antibióticos mais “amplos e/ou potentes” para dar conta de vencer a bactéria.

A celulite infecciosa, também citada no laudo do menino, é uma infecção das partes mais profundas da pele. Já a artrite séptica, esclarece o especialista, caracteriza-se pelo alojamento da bactéria no líquido das articulações, principalmente de joelho e quadril.

“A bactéria [Staphylococcus aureus] é compatível tanto com uma celulite, quanto com uma artrite séptica, tem uma plausibilidade, sim, e poderia levar à morte se não tratado adequadamente. Não só adequadamente, mas prontamente”, conclui o pediatra.

Mortes por vacinas contra a covid-19

Não há registros de mortes de crianças devido à aplicação de vacinas contra a covid-19 no Brasil. A informação, constatada em checagem recente do Comprova, foi reafirmada na última semana pelo diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres.

O Instituto Butantan, responsável pela produção da CoronaVac, também afirmou ao Comprova, em nota enviada por e-mail, que não foram confirmados óbitos de crianças por reação do imunizante nas mais de 300 milhões de doses aplicadas ao redor do mundo.

A vacina já está em uso em crianças de 5 a 11 anos em 30 países. Somente nos Estados Unidos e no Canadá, aproximadamente 10 milhões de doses foram aplicadas.

Conforme Barra Torres, nos EUA, apenas dez crianças tiveram efeitos adversos mais graves após a vacina, mas todas elas já receberam alta médica.

Autoria do post

A conta no Twitter responsável pela publicação do conteúdo checado, identificada como “ChrisF”, foi criada em 2019 e possui mais de 37 mil tweets. No topo do perfil, a usuária, que, pela foto, parece ser uma mulher, fixou uma imagem com uma frase em inglês que põe em dúvida a existência da pandemia. Em tradução livre: “Uma pandemia real não precisaria de uma campanha de marketing.”

A conta costuma publicar e compartilhar conteúdos contrários à vacinação e à exigência de passaporte vacinal. As publicações também questionam a existência de mudanças climáticas e colocam em cheque outras informações já comprovadas cientificamente. Alguns conteúdos apoiam o presidente Jair Bolsonaro e criticam políticos de esquerda.

Até a manhã do dia 22 de fevereiro de 2022, a conta era seguida por mais de 4,8 mil pessoas.

Por que investigamos?

O Comprova atua na verificação de conteúdos suspeitos sobre a pandemia do coronavírus, políticas públicas e eleições que tenham viralizado nas redes sociais. No caso da covid-19, informações falsas ou enganosas prejudicam o combate à doença porque podem levar a população a deixar de adotar medidas preventivas e de proteção — como a vacinação e uso de máscaras.

O post aqui verificado teve mais de 8 mil interações no Twitter. A mensagem enganosa também foi reproduzida por outras páginas conhecidas por compartilhar conteúdos antivacina.

Verificações recentes do Comprova constataram que as vacinas são seguras e não criam novas cepas da covid-19, e que máscaras impedem a proliferação do coronavírus e não atrapalham a respiração.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2022-02-22

TV australiana admite erro em imagem de ivermectina usada em reportagem sobre a Rainha Elizabeth II

  • Enganoso
Enganoso
São enganosos os posts que afirmam que a Rainha Elizabeth II, do Reino Unido, esteja tomando ivermectina como tratamento para a covid-19. A afirmação se baseia em um trecho de uma reportagem de TV sobre a rainha que exibiu uma imagem de uma caixa de um medicamento que contém ivermectina enquanto um médico falava sobre possíveis tratamentos para Elizabeth II. A própria emissora de televisão admitiu o erro causado pela inclusão indevida da imagem do medicamento e já retirou o conteúdo do ar.
  • Conteúdo verificado: Vídeos postados no Twitter compartilham trecho de uma reportagem do programa de TV australiano A Current Affair sobre o estado de saúde da rainha Elizabeth II, que está com covid-19. Enquanto um médico é entrevistado e fala sobre formas de tratar a doença, é exibido uma imagem rápida de uma caixa do medicamento Stromectol, que contém ivermectina.

São enganosas as postagens que circulam no Twitter que afirmam que a Rainha Elizabeth II estaria sendo tratada da covid-19 com ivermectina. As postagens usam um trecho de uma reportagem do programa australiano A Current Affair sobre a infecção da rainha em que aparece a embalagem do remédio Stromectol, que tem em sua composição a ivermectina.

O programa emitiu nota assumindo que a imagem foi inserida na reportagem por erro e o vídeo foi deletado. Além disso, em nenhum momento durante a exibição do programa é dito que a rainha estaria tomando ivermectina ou qualquer outro remédio para tratamento da covid-19. O médico entrevistado na matéria também negou que tenha insinuado que a rainha estivesse recebendo o remédio.

Dois perfis que publicaram o conteúdo foram procurados. A coordenadora do Movimento Advogados do Brasil e da Associação Mães do Brasil, Flávia Ferronato, respondeu que o post foi uma piada. “Não posso me responsabilizar pela falta de humor e de compreensão de algumas pessoas. Muitos entenderam a piada”, explicou. O outro perfil não retornou até o fechamento desta checagem.

Para o Comprova, é considerado enganoso o conteúdo que retira informações de seu contexto original e omite informações, de forma deliberada ou não, para provocar uma interpretação que difere da realidade dos fatos.

Como verificamos?

No vídeo que está sendo compartilhado no Twitter, é possível ler na parte inferior os dizeres A Current Affair. Uma pesquisa com a expressão no Google nos indicou que trata-se de um programa da emissora de televisão australiana Nine Network.

Ao consultar a página oficial do A Current Affair no Facebook, foi possível assistir à reportagem original completa, que foi postada na manhã da última segunda-feira (21). Horas depois, o conteúdo foi retirado do ar pela própria página do programa de TV, e, em seguida, a mesma reportagem foi postada novamente, porém sem a imagem da caixa do medicamento com ivermectina.

Pelo vídeo, foi possível também identificar que o médico que fala sobre possíveis tratamentos para a rainha Elizabeth chama-se Mukesh Hawikerwa e trabalha na Austrália. Uma pesquisa nos buscadores de internet com este nome nos levou ao perfil do Twitter do médico. Na bio da rede social, o médico mantém um link de uma clínica australiana, a Cirqit Health.

O Comprova tentou contato com a emissora de televisão Nine Network, pedindo esclarecimentos sobre a reportagem, mas não houve retorno até o fechamento da checagem. A clínica em que trabalha o médico australiano também foi procurada e não houve retorno.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 22 de fevereiro de 2022.

Verificação

Rainha usou ivermectina?

A Rainha Elizabeth II, monarca do Reino Unido e da Austrália, testou positivo para a covid-19 no domingo (20/2). O rumor de que a rainha estaria tomando ivermectina começou depois que o programa australiano A Current Affair, do canal Nine Network, fez uma reportagem sobre o diagnóstico da monarca.

O programa foi exibido na manhã de segunda-feira (21/2), no horário de Brasília. Durante a reportagem, é entrevistado o médico australiano Mukesh Hawikerwal que fala sobre remédios já aprovados contra a covid-19 e que poderiam ser usados no tratamento da rainha. Em nenhum momento, ele afirma que a monarca estaria tomando algum desses medicamentos e nem cita a ivermectina, que não tem aprovação para ser usada contra a covid-19.

Porém, na versão original da reportagem, enquanto ele fala sobre os medicamentos que poderiam ajudar no tratamento da rainha, é exibida a imagem da embalagem do Stromectol, antiparasitário que tem ivermectina em sua composição.

Após a repercussão do trecho da reportagem, o programa emitiu uma nota em que diz que a inserção da imagem na reportagem foi causada por um erro humano e que, em nenhum momento, houve a intenção de sugerir que a rainha estivesse fazendo uso do medicamento. A nota ainda acrescenta que o programa já fez diversas reportagens ressaltando que não há comprovação de eficácia da ivermectina contra a covid-19. “Ontem à noite, a nossa reportagem sobre a rainha continha uma foto que não deveria ter sido incluída. A foto foi incluída por um erro humano. Estávamos destacando um medicamento de infusão aprovado chamado Sotrovimab e o relatório acidentalmente cortou para uma foto de Stromectol – um produto que contém ivermectina. Como programa, fizemos inúmeras histórias destacando as preocupações em relação ao uso de ivermectina como tratamento para o covid-19. Não pretendíamos sugerir que o Dr. Mukesh Hawikerwal endossou o Stromectol. Pedimos desculpas a ele esta manhã e ele aceitou esse pedido de desculpas. Não sugerimos que a rainha esteja usando ivermectina”, diz a nota. O vídeo original da reportagem foi excluído das redes sociais do canal.

Em seguida, a mesma reportagem foi novamente postada na página do Facebook do A Current Affair, porém, agora sem a imagem do medicamento com ivermectina. O trecho foi substituído por imagens da embalagem do Sotrovimab.

O Sotrovimab está entre os medicamentos recentemente aprovados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para o tratamento da covid-19. O remédio tem sido indicado para evitar que casos moderados da doença evoluam para quadros mais graves, e vem sendo utilizado em países como o Reino Unido. Reportagem publicada pela BBC Brasil sobre o medicamento afirma que especialistas definem o Sotrovimab como “anticorpo monoclonal que é administrado como transfusão para receptores de transplantes, pacientes com câncer e outros grupos de alto risco”. Ainda segundo reportagem da BBC, o medicamento deve ser administrado em pacientes que apresentem comorbidades como diabetes ou problemas respiratórios, e que podem ser mais gravemente afetados pelo coronavírus.

O médico Mukesh Hawikerwal também negou que tivesse falado que a rainha estaria usando ivermectina contra a covid-19. Pelo Twitter, ele compartilhou a lista de medicamentos aprovados na Austrália contra a covid-19, que não inclui a ivermectina, e ressaltou a importância da vacinação. “Aviso que a imagem no @Channel9 @ACurrentAffair9 está sendo atualizada. Agradeço pela diligência e vigilância de boas pessoas que alertaram para isso quando acordamos. A #CovidVaccine [vacina contra a covid] reduz drasticamente a gravidade da doença. Infusões em pessoas elegíveis melhoram os resultados”, destacou.

Em matéria desta terça-feira (22) do jornal The Guardian sobre o erro da emissora australiana, Hawikerwal também afirmou que a “ivermectina não foi mencionada na entrevista” e que ele jamais recomendaria ivermectina para tratamento da covid-19.

Em nota, o Palácio de Buckingham informou que a rainha estava com sintomas leves de resfriado e que ela está sendo acompanhada por uma equipe médica. O comunicado não informa se a monarca está fazendo uso de algum medicamento. “A rainha testou hoje positivo para covid. Sua Majestade está com sintomas leves de resfriado, mas espera continuar com tarefas leves em Windsor na próxima semana. Ela continuará recebendo atendimento médico e seguirá todas as orientações apropriadas”, diz a nota divulgada à imprensa no domingo.

Ivermectina não funciona contra a covid-19

Desde o início da pandemia, várias pesquisas já foram feitas com a ivermectina para saber se o antiparasitário funciona contra a covid-19. Porém, até o momento não há evidências da eficácia do remédio contra a doença.

Um estudo publicado em junho do ano passado na revista científica EClinical Medicine, publicação que faz parte da The Lancet, mostrou que não houve diferença na redução da carga viral entre os grupos que utilizaram a ivermectina e os que não.

A orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que o remédio só seja usado em estudos clínicos. A Agência de Medicamentos Europeia (EMA), a Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não recomendam o uso do medicamento para tratamento da doença. As agências ressaltam que não há estudos que comprovem a eficácia do medicamento e que altas dosagens podem fazer mal à saúde.

Desde o ano passado, a Administração de Produtos Terapêuticos (TGA, na sigla em inglês), equivalente à Anvisa na Austrália, passou a orientar que médicos só podem prescrever a ivermectina para os casos especificados na bula. “A ivermectina não está aprovada para uso contra a covid-19 na Austrália ou em outros países desenvolvidos, e seu uso pelo público em geral para covid-19 é atualmente fortemente desencorajado pela National COVID Clinical Evidence Taskforce, a Organização Mundial da Saúde e pela Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos”, diz o comunicado.

O laboratório Merck, fabricante do remédio nos Estados Unidos, disse em fevereiro de 2021 que analisou os estudos disponíveis sobre o remédio e que, até o momento, não há base científica que aponte um efeito terapêutico do uso da ivermectina contra a covid-19.

Por que investigamos?

O Comprova verifica informações suspeitas com grande circulação nas redes sociais ou aplicativos de mensagem sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais de 2022. O conteúdo que foi objeto desta verificação foi compartilhado em diversos perfis do Twitter e, somados, os posts acumulavam mais de 80 mil interações até o dia 22 de fevereiro de 2022.

Não há estudos que comprovem a eficácia de tratamentos como o uso da ivermectina para combater a covid-19. A própria farmacêutica que produz o medicamento nos Estados Unidos também admitiu que não há comprovação da eficácia do medicamento para combater o novo coronavírus.

O mesmo conteúdo aqui checado também foi marcado como falso pelo Fato ou Fake do G1 e pelo UOL Confere.

Em 2021 o Comprova já realizou checagens que mostraram que, além de não fazer efeito no tratamento para a covid-19 a ivermectina pode trazer riscos quando administrada em altas doses; que não há relação entre regiões que conseguiram conter o avanço do novo coronavírus e a distribuição do medicamento e que antivirais desenvolvidos para o tratamento da doença não possuem ivermectina em sua fórmula.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.