O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2021-11-23

É falso que o diretor-geral da OMS tenha se posicionado contra o carnaval de 2022

  • Falso
Falso
É falsa uma postagem compartilhada por mais de um usuário no Facebook afirmando que o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, não recomenda a realização do carnaval em 2022. A entidade afirmou desconhecer a declaração dele neste sentido.
  • Conteúdo verificado: Postagem no Facebook traz a foto de Tedros Adhanom com a afirmação “Presidente da OMS não recomenda carnaval em 2022. E agora? Como ficam políticos, juízes, mídia e empresários mortadelas, que afirmaram ser crime de genocídio não seguir o determinado pela OMS?”. Há, ainda, o link para um vídeo no YouTube.

São falsas as postagens compartilhadas no Facebook afirmando que Tedros Adhanom, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), teria feito recomendação contrária ao carnaval em 2022 no Brasil em decorrência da pandemia. O Comprova e a própria organização não localizaram qualquer registro de fala dele neste sentido.

A última orientação da entidade, emitida em 4 de novembro de 2021 para governos, autoridades de saúde e organizadores de eventos, é de que a decisão de restringir, modificar, adiar, cancelar ou prosseguir com a realização de um evento deve sempre se basear na avaliação rigorosa de riscos e na situação epidemiológica de cada cidade, estado ou país.

A postagem anexa também inclui o link de um vídeo no YouTube, intitulado “Carnaval 2022. OMS não recomenda”. O autor, contudo, afirma ao longo da gravação que o diretor-geral “foi claro, ele não recomenda grandes multidões, ele alerta para o risco que isso pode significar”, mas não trata especificamente da tradicional festa brasileira. Além disso, o autor do vídeo não fornece a fonte da suposta fala de Adhanom.

Em outro trecho do vídeo, afirma que o diretor-geral chorou em julho de 2021, em decorrência da pandemia, mas este fato ocorreu um ano antes, em julho de 2020.

Sobre o carnaval de 2022 no Brasil, reportagem do Comprova fez recentemente um levantamento sobre os preparativos nas principais cidades que organizam grandes eventos de carnaval. Não há consenso entre as autoridades e a realização das festas depende do aval dos governos estaduais e municipais.

O infectologista Álvaro Furtado, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, ouvido pela reportagem, afirma que o país está em um momento favorável no que diz respeito à redução progressiva no número de casos, da circulação viral, do número de óbitos e da ocupação dos leitos, além de avanços na cobertura vacinal. Se o cenário continuar evoluindo desta maneira, avalia, os indicadores serão favoráveis à realização do evento.

Para o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, o momento epidemiológico será determinante para a decisão final sobre a realização do carnaval nas cidades brasileiras. Segundo o infectologista, esse cenário vai depender, essencialmente, do surgimento de novas variantes e do tempo de proteção conferido pelas vacinas.

Por fim, foram procurados dois autores das postagens no Facebook e o responsável pelo vídeo publicado no YouTube, mas nenhum respondeu as mensagens.

Para o Comprova, é considerado falso o conteúdo inventado.

Como verificamos?

O primeiro passo foi assistir ao vídeo linkado na postagem compartilhada e entrar em contato com o autor dele.

Em seguida, o Comprova procurou a própria Organização Mundial da Saúde e utilizou o Google para reportagens e entrevistas nas quais Tedros Adhanom pudesse ter falado sobre o carnaval de 2022.

Também foram procurados os infectologistas Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, e Álvaro Furtado, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Por fim, o Comprova procurou os autores das publicações no Facebook.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 23 de novembro de 2021.

Verificação

OMS nega posicionamento de Tedros Adhanom sobre o carnaval

A OMS afirmou não ter conhecimento de nenhuma declaração do diretor-geral Tedros Adhanom contra o carnaval de 2022, conforme informado em nota encaminhada ao Comprova.

Conforme a entidade, houve uma menção à comemoração durante uma conferência da OMS com a imprensa em 30 de abril de 2021, mas não por Tedros Adhanom, e sim por Sylvain Aldighieri, gerente de Incidentes da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da OMS nas Américas. Na ocasião, contudo, ele se referia ao feriado de carnaval de 2021, e não de 2022, como sugerem os posts aqui verificados.

Naquele momento, quando a maioria dos países da América do Sul relatava tendências crescentes, Aldighieri declarou que a ação mais importante para ajudar os serviços de saúde a dobrar a curva era a implementação estrita de medidas públicas de saúde e sociais.

Acrescentou que, de três a quatro meses anteriores, muitos países tiveram implementação abaixo do ideal das medidas de saúde pública em decorrência de uma sequência de feriados que desencadearam grande movimentação populacional, como Natal, Réveillon, carnaval e Páscoa.

O vídeo que baseou as publicações

O vídeo usado nas publicações do Facebook tem pouco mais de 23 minutos e foi publicado no dia 15 de novembro no canal Sofá di Pobre, que possui 7,22 mil inscritos.

Nele, o autor afirma que o diretor-geral da OMS não esconde sua preocupação e deixa claro: “o vírus recuou, mas ainda não foi derrotado, preparando um contra-ataque que já pode ser sentido em algumas partes do mundo, prudência determina que não é o momento de se organizar eventos com aglomeração de multidões, leviandade ignorando os efeitos colaterais pode trazer consequências com sequelas irreparáveis”.

A partir de quinze minutos e três segundos, o autor diz que Tedros Adhanom “foi claro, ele não recomenda grandes multidões, ele alerta para o risco que isso pode significar”, mas não declara que o diretor-geral tenha se referido especificamente ao carnaval. Mais adiante, diz que, segundo a OMS, o risco é gigantesco de haver uma contaminação violenta no Brasil. Em nenhuma das falas o autor apresenta as fontes de tais afirmações.

Ainda no vídeo, o responsável pelo canal diz que “o presidente da OMS, em julho de 2021, chorou em público e a razão das lágrimas era ele não entender por que é tão difícil o ser humano se unir, reação desesperada diante de uma pandemia assassina e das carinhas de paisagens espalhadas pelo mundo”.

Tedros Adhanom, de fato, chorou em público, mas isso ocorreu um ano antes do mencionado pelo autor do vídeo, em julho de 2020, como comprovam notícias em diversos veículos.

Ao longo do vídeo, o responsável pelo canal defende Jair Bolsonaro (sem partido) e o governo federal, critica o lockdown, governadores, prefeitos, vacinas, o Supremo Tribunal Federal (STF), a CPI da Pandemia, a mídia e defende “remédios alternativos” contra a covid-19. Também diz que o inverno europeu está “mandando recado assustador” ao brasileiro, e está sendo ignorado, referindo-se aos preparativos para o carnaval. O autor foi procurado pelo Comprova, mas não respondeu até a publicação desta reportagem.

Orientação atual da OMS sobre eventos de massa

A OMS compartilhou com o Comprova as orientações relacionadas aos eventos de grande porte durante a pandemia, datadas de abril de 2020. O documento define como reunião de massa um evento que reúna número de pessoas tão grande que tenha o potencial de sobrecarregar os recursos de planejamento e resposta do sistema de saúde na comunidade onde ocorre.

“Você precisa considerar o local e a duração do evento, bem como o número de participantes. Por exemplo, se o evento ocorrer durante vários dias em um pequeno estado-ilha onde a capacidade do sistema de saúde é bastante limitada, então mesmo um evento com apenas alguns milhares de participantes pode colocar uma grande pressão no sistema de saúde e ser considerado uma ‘reunião em massa’. Por outro lado, se o evento for realizado em uma grande cidade, em um país com um grande sistema de saúde, com recursos suficientes, e durar apenas algumas horas, o evento pode não constituir um evento de ‘reunião de massa’”, diz a organização.

A entidade também disponibilizou um documento, atualizado em 4 de novembro de 2021, que fornece orientações para governos, autoridades de saúde e organizadores de eventos sobre a tomada de decisões relacionadas à realização de encontros em massa durante a pandemia, informando que os mais importantes fatores de risco aumentado de transmissão são o tempo de permanência dos participantes no evento, a realização em locais fechados e o não cumprimento das medidas de precaução, como uso de máscaras e de higienização das mãos, além do distanciamento.

Conforme a OMS, a decisão de restringir, modificar, adiar, cancelar ou prosseguir com a realização de um evento deve ser sempre baseada em uma avaliação rigorosa dos riscos associados ao evento. O próprio órgão desenvolveu ferramentas de avaliação de risco para facilitar e orientar o processo de tomada de decisão relacionado à realização de eventos genéricos, religiosos e esportivos, atribuindo uma pontuação numérica para cada fator de risco e medida preventiva, permitindo o cálculo de um risco geral.

Os eventos associados a um risco baixo ou muito baixo de transmissão e tensão no sistema de saúde podem ser considerados suficientemente seguros. Já aqueles com nível de risco moderado, alto ou muito alto podem não ser suficientemente seguros e exigem a aplicação completa de medidas de precaução. Por fim, se o risco de transmitir SARS-CoV-2 permanecer significativo após a aplicação de todas as medidas de precaução relevantes, adiar, cancelar ou fazer o evento de forma online deve ser considerado.

“A abordagem baseada em risco é flexível e adaptável a encontros de diferentes tipos e tamanhos, ocorrendo no contexto de quaisquer cenários de transmissão Sars-CoV-2”, diz a OMS, acrescentando que mesmo considerado de baixo risco, a recomendação é sempre considerar a implementação de medidas de precaução para diminuir ainda mais o risco residual, uma vez que o risco zero não existe.

Ainda no texto, a OMS afirma que as reuniões de massa não são meramente eventos recreativos, tendo implicações importantes no bem-estar espiritual e na promoção de comportamentos saudáveis. O órgão recomenda que, dada a substancialidade social, cultural, política e econômica implicadas, as autoridades avaliem a importância e necessidade de um evento de reunião em massa e considerem se deve este ocorrer, desde que todos os riscos de saúde pública associados sejam adequadamente avaliados, tratados e mitigados.

Por fim, a entidade mantém uma página de perguntas e respostas sobre a realização de reuniões durante a pandemia.

O que dizem os especialistas?

A realização do carnaval no Brasil não é consenso entre as autoridades e depende do aval dos governos estaduais e municipais. Na comunidade médica, a avaliação é a de que a organização do evento dependerá da cobertura vacinal e dos dados epidemiológicos coletados próximos ao período do feriado.

O infectologista Álvaro Furtado, disse, em entrevista ao Comprova, que o momento atual da pandemia no Brasil é favorável para a realização de grandes eventos. “A gente vê os dados das últimas semanas epidemiológicas e observa redução progressiva no número de casos, diminuição da circulação viral, diminuição do número de óbitos e também na ocupação dos leitos de UTI. A gente também está avançando no nosso programa de imunização, com 60% da população vacinada (com a segunda dose)”.

Na avaliação dele, o cenário que se configura abre a possibilidade de realização de uma festa como o carnaval. O médico deixa claro, contudo, que isso pode mudar em caso de revés nos indicadores ou de retrocessos na vacinação.

“A questão é que, pelos dados dos últimos meses, pelos indicadores progressivamente melhores e com a cobertura vacinal avançando do jeito que está, com possibilidade de terceira dose que a gente já aprovou, isso deixa um cenário mais favorável para que aconteça um evento com grande quantidade de pessoas.”

Ao Comprova, o também infectologista Renato Kfouri, pondera, ainda, que a decisão final vai depender do surgimento ou não de novas variantes do coronavírus. “Não precisamos de um carnaval para aumentar a circulação [do vírus]. Vemos, hoje, os estádios de futebol, onde já há torcidas e muitas pessoas não usam máscaras… nem por isso o Brasil está vivendo uma nova onda.”

Kfouri acrescenta que, apesar da alta taxa de cobertura vacinal, ainda não é possível cravar a efetividade dos imunizantes a longo prazo, e isso pode, sim, alterar os planos para a realização de grandes eventos. “Não adianta dizer que, até lá, teremos 80% ou 90% da população vacinada, porque a duração da proteção da vacina se perde. É correta a preparação para o carnaval, mas o determinante é o momento epidemiológico, e isso é imprevisível.”

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre as políticas públicas do governo federal, as eleições de 2022 e a pandemia, como o caso aqui verificado, que não apenas desinforma sobre a covid-19, como também faz ataques a políticos, juízes, mídia e empresários.

Apenas uma das postagens, no grupo Bolsonaro 2022 BR, somou 8,9 mil interações, e, conforme a ferramenta Crowdtangle, foi compartilhada em diversos grupos de apoio ao presidente.

Comentários mostram que usuários entenderam que Tedros Adhanom se referiu especificamente ao carnaval no Brasil, como este: “Algum esquerdopata vai ser contra a Ciência da OMS?”, referindo-se de forma pejorativa a opositores do governo federal.

Outros comentários comprovam que o conteúdo fomenta o ataque a grupos que discordam de Bolsonaro, como o que sugere que “o presidente veta o Carnaval em todo território brasileiro, se exime de toda e qualquer culpa, o STF vai contra a ordem do presidente e dá total autonomia para prefeitos e governadores decidir se vai ter carnaval ou não. Depois quero ver culparem o presidente Jair Bolsonaro.”

Em seguida, a mesma usuária afirma que foi exatamente o que ocorreu em 2021, e outro membro responde que “teve a CPI do Circo e ngm [ninguém] conseguiu provar nada contra o nosso presidente Jair Bolsonaro”. A CPI à qual se refere o usuário foi finalizada com o pedido de indiciamento de 78 pessoas, incluindo o presidente, além de duas empresas, por supostos crimes cometidos durante a pandemia.

Apesar de a usuária afirmar que Bolsonaro pode vetar o carnaval, neste mês, o Projeto Comprova já explicou que o veto à festa não está sujeito apenas à vontade do presidente da República.

Este conteúdo também foi verificado pela agência Aos Fatos, que o considerou falso. Peças desinformativas sobre o carnaval têm aparecido com frequência conforme se aproxima o feriado.

Para o Comprova, falso é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2021-11-22

Secretário de fomento à cultura engana ao dizer que vacinas contra a covid são experimentais

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o tuíte do secretário nacional de Incentivo e Fomento à Cultura, André Porciuncula, contra as vacinas que combatem a covid-19. Diferentemente do que ele afirma, os imunizantes não são experimentais, mas, sim, comprovadamente eficazes e aprovados por órgãos de vigilância em saúde, como a Anvisa, no Brasil, a FDA, nos Estados Unidos, a EMA (Agência Europeia de Medicamentos), além da OMS.
  • Conteúdo verificado: Tuíte de André Porciuncula engana ao dizer que vacinas desenvolvidas para combater a covid-19 ainda são experimentais e, por esse motivo, promete impedir o passaporte da vacina nos projetos da Lei Rouanet.

Uma publicação feita no Twitter do secretário de Incentivo e Fomento à Cultura, responsável pelo orçamento da Lei Rouanet, André Porciuncula, engana ao afirmar que as vacinas contra o coronavírus não impedem a transmissão da covid-19. Além disso, a mesma postagem distorce a realidade ao afirmar que os imunizantes ainda estão em fase experimental.

As desenvolvedoras de vacinas Pfizer/BioNTech, Oxford-AstraZeneca, Instituto Butantan, Johnson & Johnson, Moderna e Fiocruz realizaram testes em milhares de voluntários. Com estes procedimentos científicos, todas conseguiram provar que a vacina consegue reduzir a transmissão e contaminação geradas pela covid, sem comprometer a saúde da população.

O conteúdo do tuíte também afirma que o passaporte da vacina gera uma “odiosa segregação, sustentada na falsa premissa de que a vacina impede a contaminação e a transmissão”. O documento, solicitado em algumas cidades do país, visa garantir mais segurança em espaços públicos em que um grande volume de pessoas se concentra, como shows e eventos.

A medida foi adotada diante dos avanços na flexibilização das atividades comerciais no país, gerada pela redução de contaminados e mortos após a imunização massiva dos brasileiros pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

André Porciuncula foi procurado pela reportagem, mas não deu retorno até a publicação deste texto. Diante dos dados imprecisos que induzem uma interpretação diferente do que é a realidade, o Comprova classificou como enganosa a publicação.

Como verificamos?

Inicialmente, fomos em busca de informações disponibilizadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre o processo de aprovação de uma vacina. Também checamos dados presentes no site da Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), que vigia a saúde da União Europeia. Como amplamente já divulgado, os imunizantes não são experimentais. A mesma informação é reforçada a partir do acesso a todas as plataformas, onde fica explícito que metodologias rígidas e pautadas na ciência foram utilizadas.

Entrevistamos o especialista em vacinologia e professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Odir Antonio Dellagonstin e o doutor em imunologia e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Daniel Mansur.

A reportagem também entrou em contato com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para checar quais eram os métodos adotados pelo órgão ao aprovar um imunizante para uso em território nacional. Até o momento não tivemos retorno.

Por fim, André Porciuncula, autor da postagem aqui verificada, foi contatado via e-mail. Até o momento da publicação desta matéria, não houve retorno.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 22 de novembro de 2021.

Verificação

Diferentemente do que afirma André Porciuncula, as vacinas desenvolvidas pelas farmacêuticas Pfizer/BioNTech, Oxford-AstraZeneca, Instituto Butantan, Johnson & Johnson, Moderna e Fiocruz são comprovadamente eficazes contra a covid-19. A conclusão foi definida após testes em milhares de voluntários.

Em verificações anteriores, o Comprova também mostrou estar provado que as vacinas em uso contra o coronavírus são seguras e, se não impedem que 100% dos imunizados não se infectem ou transmitam, reduzem significativamente estes riscos. Dados atualizados sobre a proteção gerada pelos imunizantes foram explanados em uma matéria recente, publicada no UOL.

Um exemplo que ilustra o avanço da proteção gerada pelas vacinas é a Pfizer, que tem sido amplamente utilizada para dose de reforço. O imunizante consegue manter 95% de prevenção contra infecções.

Para os adolescentes entre 12 a 15 anos, a vacina da Pfizer tem eficácia de 100%, segundo o resultado de um ensaio clínico divulgado pela farmacêutica em 22 de novembro, cujos dados serão enviados para revisão dos pares.

A eficácia dos imunizantes foi analisada, ainda, por agências reguladoras de saúde de diversos países, incluindo a Anvisa, no Brasil, e a FDA, nos Estados Unidos. As avaliações focaram na maneira como os imunizantes foram produzidos, a partir de dados apresentados pelos laboratórios e um conselho feito por membros das instituições.

Além dessas instituições, a própria OMS tem avaliado, com base na segurança e eficácia dos imunizantes, quais entram para a lista de aprovados para uso. Diante das evidências apresentadas pelas empresas de fármacos a partir de estudos científicos, os imunizantes aplicados não podem ser considerados como experimentais.

Os testes foram elaborados para testar segurança e eficácia porque até então era preciso conter o número de infectados de forma segura, de modo que os sistemas de saúde não ficassem sobrecarregados.

Superada esta etapa, os voluntários continuam sendo acompanhados para responder a outras perguntas: quanto tempo dura a imunidade fornecida pela vacina? Qual a vantagem de se tomar doses de fabricantes diferentes? Qual a necessidade de uma dose de reforço?

Termo ‘experimental’ é equivocado

O professor de infectologia da UFSC Daniel Mansur diz que o termo “experimental”, citado na publicação do secretário de incentivo à cultura, foi usado pejorativamente, mas não deveria.

Mansur explica que todas as vacinas existentes passaram por fases experimentais, mas que isso “não significa que elas não tiveram todas as etapas de segurança checadas”.

O infectologista complementou ainda que os imunizantes são submetidos a etapas de segurança e que algumas das farmacêuticas têm mais de 30 anos de experiência no desenvolvimento de vacinas de RNA, o que garante protocolos eficientes.

“A partir do momento em que [a vacina] entra em circulação, ela deixa de ser experimental e vira algo comprovado. Então, penso que nesse sentido a conotação de experimental, como sendo de algo ruim, é o problema [da postagem], mas essa fase que as pessoas podem estar chamando de experimental é restrita às fases 1, 2 e 3 que são necessárias [antes da aprovação das vacinas]”, diz Mansur.

No Brasil, as vacinas da Pfizer-BioNTech e da Oxford-Astrazeneca, produzida no país pela Fiocruz, já receberam autorização definitiva para aplicação. Já os imunizantes do Instituto Butantan e da Johnson & Johnson receberam autorização emergencial que vale enquanto durar a pandemia.

Monitoramento permanente das vacinas

Todas as vacinas em uso no mundo — e não apenas as desenvolvidas contra o coronavírus — devem ser constantemente monitoradas para que a segurança seja contínua, segundo recomendações da OMS.

Sobre este assunto, o professor e vacinologista da UFPel Odir Dellagostin explica que após a aprovação do uso emergencial dos imunizantes, a avaliação segue para a fase quatro, em que indivíduos vacinados estão sob monitoramento para que seja possível detectar qualquer tipo de alteração dos dados observados durante os testes. Qualquer efeito adverso grave detectado é informado e investigado.

“Felizmente, estes efeitos adversos graves têm sido muito raros. A maioria, após investigação, acaba sendo descartado, ou seja, é identificado que estes efeitos não são decorrentes das vacinas. A segurança e a eficácia continuam sendo monitoradas de forma permanente, assim como ocorre com outras vacinas, mesmo as mais tradicionais”, diz.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre o governo federal, as eleições ou a pandemia que tenham atingido alto grau de viralização. O post verificado alcançou 3,2 mil interações até o dia 22 de novembro.

A checagem de conteúdos como esse é importante, visto que a desinformação pode colocar a saúde das pessoas em risco. Como citado acima, ao contrário do que o post faz crer, a imunização é uma das principais formas para conter a pandemia.

O Comprova já checou outros conteúdos criticando as vacinas desenvolvidas para combater o coronavírus, como a live de uma médica afirmando que as vacinas são experimentais e a que afirmava de maneira falsa que os imunizantes seriam capazes de gerar HIV, câncer ou HPV, o que não procede.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-11-19

Compra de máscaras por R$ 28,8 milhões na PB foi erro de cadastro; valor correto é R$ 9,6 mil

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a postagem indicando que o governo da Paraíba gastou R$ 28,8 milhões para comprar 3 mil máscaras de proteção contra a covid-19 em processo de licitação, o equivalente a R$ 9,6 mil a unidade. O valor é resultado de um erro de digitação, reconhecido pela administração estadual. No Portal da Transparência, o gasto está corrigido: R$ 9,6 mil é o valor global do contrato. O valor unitário de cada máscara foi de R$ 3,20.
  • Conteúdo verificado: Postagens no Twitter afirmam que o governo da Paraíba gastou R$ 28,8 milhões para comprar 3 mil máscaras de proteção contra a covid-19, o equivalente a R$ 9,6 mil a unidade.

Publicações no Twitter enganam ao afirmar que o governador da Paraíba desembolsou R$ 28,8 milhões para comprar 3 mil máscaras de proteção contra a covid-19, o equivalente a R$ 9,6 mil a unidade. Um dos autores é o deputado estadual Cabo Gilberto (PSL), alinhado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e que tem pretensão de se candidatar em 2022 para comandar o Executivo paraibano.

O valor de R$ 28,8 milhões havia sido divulgado de forma equivocada pelo próprio governo no Portal da Transparência por um erro de digitação, segundo informações da Controladoria-Geral do Estado (CGE). O valor de R$ 9,6 mil não representava o preço de cada máscara (o que geraria o valor de R$ 28,8 milhões), mas sim o valor global para a compra das 3 mil máscaras. Assim, o custo unitário de cada máscara foi, na realidade, de R$ 3,20.

A correção foi feita no dia 13 de novembro e divulgada em redes sociais do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) da Paraíba, órgão para o qual foram adquiridas as máscaras. Ainda assim, a história continuou circulando nas redes com um print que se assemelha a uma versão antiga da nota no Portal da Transparência. A postagem do deputado, por exemplo, foi realizada no dia seguinte, quando o valor correto já estava disponível para consulta pública.

O Comprova procurou os autores. Um deles não tinha a opção de mensagem direta no Twitter, enquanto que, para o deputado, foram enviados e-mails e mensagens, mas ele não respondeu. A página do Instagram que originou a história, dias antes da correção no portal da transparência, atribuiu a culpa ao governo da Paraíba.

O Comprova considerou o conteúdo enganoso porque usa dados imprecisos e confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

Para conferir a veracidade do contrato exposto nas postagens, o Comprova fez uma pesquisa no Portal da Transparência do governo da Paraíba. Na página, foi identificado o mesmo número contratual apresentado na publicação, mas com valores muito inferiores ao divulgado nas redes sociais.

Uma tentativa de localizar o documento compartilhado também foi feita em uma consulta ao Diário Oficial, mas sem sucesso.

A reportagem ainda entrou em contato com o governo da Paraíba para questionar sobre o conteúdo da publicação e a divergência de dados, e também com a empresa citada no tuíte.

Além disso, foram consultados órgãos de controle – Ministério Público Estadual, Ministério Público Federal e Tribunal de Contas – para averiguar a existência de alguma investigação referente ao conteúdo da postagem.

Por fim, foram procurados os autores. Um deles não tinha a opção de mensagem direta no Twitter, enquanto que, para o deputado, foram enviados e-mails e mensagens, mas ele não respondeu. O Comprova também entrou em contato com uma página no Instagram que teve um vídeo mais antigo contestado pelo Detran-PB.

Verificação

Contratos do governo da Paraíba na pandemia

O Portal da Transparência do governo da Paraíba aponta que o estado empenhou, desde o início de 2021, o total de R$ 1,1 milhão com a empresa L&J Transfer, cujo CNPJ é citado no tuíte. A empresa forneceu uma série de produtos ao governo local, como luvas, material sanitizante, tecido – e também máscaras.

As duas publicações no Twitter que foram verificadas pelo Comprova indicam que a compra das 3 mil máscaras foi feita no dia 26 de março de 2021 pelo Detran-PB “para a campanha educativa do Maio Amarelo”.

No Portal da Transparência é possível encontrar um empenho (número 546) nessa mesma data, feito com a L&J Transfer, para a aquisição de “três mil máscaras descartáveis a serem distribuídas na campanha educativa Maio Amarelo, prevista para o período de 01/05/2021 a 31/05/2021”. O valor pago pelo Detran, no entanto, é bem inferior ao descrito nas postagens: R$ 9.600. Assim, cada máscara custou R$ 3,20.

O número do processo licitatório e do pregão também são idênticos aos que aparecem nas publicações.

Em 2021, o governo da Paraíba fez três processos licitatórios ou dispensas com a participação da L&J Transfer.

Ao fazer a consulta do documento que apresenta número idêntico ao divulgado nas redes sociais, o Portal da Transparência mostra uma tela semelhante à que viralizou, mas com o valor correto do contrato, de R$ 9,6 mil (abaixo).

Outro processo existente era de janeiro, tinha valor inferior a R$ 1 milhão, mas foi cancelado.

O terceiro, também de março, está em andamento. A soma dos serviços é de R$ 1,182 milhão para a aquisição emergencial de luvas e máscaras. A maior parte desse valor – R$ 1,165 milhão – tem a L&J Transfer como destinatária.

Analisando-se detidamente o contrato desta licitação, é possível identificar que a empresa deve fornecer 500 mil máscaras a R$ 0,40 cada; a um custo final de R$ 200 mil. O resto do valor é para a compra de luvas de diversos tipos.

Em contato telefônico com a L&J Transfer, a empresa informou o e-mail para o Comprova repassar a demanda, mas as questões não foram respondidas até a publicação do texto.

Autenticidade do documento nas redes sociais

Procurado pelo Comprova, o Governo da Paraíba explicou que houve um equívoco na inserção dos dados do contrato no Portal da Transparência. Em nota, a Controladoria-Geral do Estado (CGE) disse que houve um erro de digitação e que a correção foi providenciada tão logo ele foi identificado. A Controladoria indica que foi falha humana.

A Gerência Executiva de Auditoria da Controladoria também abriu uma investigação “com o objetivo de apurar procedimentos adotados e respectivos responsáveis pelo cadastramento do Processo Licitatório Nº 26.201.002582.2021 – Pregão nº: 0008/2021 no Sistema Gestor de Compras e sua disponibilização no Portal de Transparência do Estado”, informou, também em nota. O trabalho teve início no último dia 16 e a previsão é que ele seja concluído até 23 deste mês, segundo documento enviado ao Comprova.

A correção foi feita no dia 13, inclusive nas redes sociais do Detran-PB, o órgão promotor das ações educativas para as quais foram adquiridas as máscaras. A postagem, naquele momento, era uma reação a um vídeo que já estava circulando sobre o valor da proteção facial antes dos tuítes aqui verificados.

O Detran, no entanto, não deixava claro no post que havia ocorrido um erro no lançamento do portal da transparência, o que só foi confirmado a partir de um questionamento direto do Comprova para a CGE. O Detran escreveu que o vídeo era uma “fake absurda e folclórica”.

Para a publicação no Twitter, feita no dia seguinte à correção, os autores usaram prints do Portal da Transparência de data anterior à retificação do governo e, por esta razão, sugerem que houve sobrepreço nas máscaras.

Órgãos de controle

Com as informações sobre o suposto contrato de R$ 28,8 milhões para máscaras, os Ministérios Públicos do Estado da Paraíba e o Federal foram consultados sobre eventual investigação sobre o caso, ou outras apurações relacionadas a compras do governo durante a pandemia.

Em nota, o MPPB informou que atua na prevenção a compras superfaturadas e, durante a crise sanitária, uma das atribuições passou a ser a análise e monitoramento de despesas públicas feitas pelo Estado e municípios para o enfrentamento à covid-19.

“Esse trabalho vem sendo realizado por uma equipe de auditores de contas públicas do Centro de Apoio Operacional (CAO) às promotorias de Justiça de defesa do patrimônio público com o objetivo de identificar, através da análise de empenhos, indícios de sobrepreço em insumos, medicamentos, equipamentos hospitalares e em kits de higiene e cestas básicas destinados às famílias em situação de vulnerabilidade social”, sustentou o órgão.

O MPPB acrescentou que já foram elaborados relatórios sobre o assunto. Alguns, segundo o órgão, apontaram indícios de sobrepreço e, por isso, foram encaminhados aos promotores de Justiça que atuam na defesa do patrimônio público para que fossem adotadas as providências necessárias à apuração dos fatos.

Pesquisa realizada junto ao cartório da Promotoria de Justiça de defesa do patrimônio público de João Pessoa sobre aquisição de máscaras cirúrgicas pelo Estado da Paraíba apontou que foram instaurados, em 2020 e em 2021, procedimentos, inclusive em razão do relatório encaminhado pelo CAO. Uma das investigações, no entanto, foi encaminhada para o MPF porque os recursos empregados na compra de máscaras eram federais.

“Especificamente, em relação aos fatos nos prints, a coordenação do CAO informou que, em análise preliminar, não há relatório de auditoria sobre a compra de máscaras apontada e que foi aberto procedimento (PGA 001.2021.069137) visando à estruturação inicial dos documentos públicos relativos à contratação citada para, em seguida, encaminhá-lo a um dos promotores de Justiça de defesa do patrimônio público de João Pessoa para averiguação”, afirmou o órgão.

O MPF também afirmou que não há investigação relacionada ao conteúdo da postagem no Twitter, embora haja uma apuração vinculada a compras no período da pandemia em 2020. O órgão federal não repassou detalhes sobre o objeto do contrato, valores e empresas.

O Tribunal de Contas não se manifestou.

Origem do conteúdo

O conteúdo mais antigo encontrado nesta checagem é de uma página no Instagram chamada @bombaparaiba. Em 12 de novembro, a conta publicou um vídeo alegando que “recebeu uma denúncia” sobre uma compra de 3 mil máscaras por R$ 28,8 milhões pelo governo do Estado, citando como fonte o Portal da Transparência. Esse mesmo vídeo foi contestado pelo Detran-PB em 13 de novembro, data em que a informação foi corrigida no portal.

Em contato com o Comprova, a página @bombaparaiba confirmou que “foi a primeira a divulgar” e negou ter espalhado desinformação. “Depois da denúncia modificaram lá, mas eles (governo do Estado da Paraíba) só nos acusam de fake, em nenhum momento assumiram se foi erro de digitação, apenas modificaram sem justificativa. Falar que é fake foi a solução fácil, não assumir erro deve ser difícil.”

Em 14 de novembro, o deputado Cabo Gilberto Silva (PSL-PB) deu novo fôlego ao assunto quando postou um print do que parece uma versão anterior, ainda não corrigida, do site de transparência do governo da Paraíba. A imagem traz o dado equivocado de R$ 28,8 milhões.

Em tom irônico, Silva escreveu: “[…] nosso governo sabe gastar o dinheiro do pagador de impostos! O decreto de calamidade só acaba no meio do ano que vem, se ele não prorrogar novamente! João Azêvedo (governador do Estado da Paraíba) bom danado.” A história então viralizou no Twitter e virou objeto de apuração do Comprova.

De acordo com um site de notícias local, o deputado Cabo Gilberto, ex-policial militar, cogita concorrer ao cargo de Azevêdo nas eleições do próximo ano. Ele apoia o presidente Jair Bolsonaro e pretende se filiar ao mesmo partido do chefe do Executivo, este em conversas avançadas com o PL.

O deputado também foi notícia recentemente ao recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra o “passaporte da vacina” no Estado e ter o pedido negado pela Corte. Mais tarde, participou de uma sessão presencial da Assembleia Legislativa sem estar imunizado contra a covid-19, contrariando as regras e gerando reação contrária de colegas parlamentares. Dias depois, anunciou que havia tomado a primeira dose da Coronavac.

Quem é o governador da Paraíba?

O governador da Paraíba é João Azevêdo, eleito em 2018 no primeiro turno. Ele deixou o PSB em dezembro de 2019, em meio a desavenças com o seu antecessor, Ricardo Coutinho, que assumiu a presidência estadual do partido. Após seu mandato, Coutinho passou a ser acusado de lavagem de dinheiro e outras irregularidades, o que contribuiu para o afastamento entre os dois. Azevedo se filiou ao Cidadania em janeiro de 2020.

Azevêdo já entrou em atrito com o Bolsonaro, quando o presidente chamou gestores nordestinos de “paraíbas”, em 2019. O chefe do Executivo negou, posteriormente, estar fazendo uma crítica à região e disse se referir apenas aos governadores do Maranhão, Flávio Dino (PSB), e da Paraíba, Azevêdo, a quem chamou de “intragáveis”. Em março de 2021, Azevêdo também criticou as postagens de Bolsonaro sobre o envio de recursos para os estados. Em setembro, respondeu ao discurso do presidente na ONU, contra as medidas de distanciamento social adotadas pelos governadores.

Este ano, o governador paraibano também já se encontrou com o ex-presidente Lula (PT), possível adversário de Bolsonaro nas eleições de 2022.

Por que investigamos

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre governo federal, pandemia e eleições que tenham atingido alto grau de viralização. As postagens aqui verificadas tiveram, juntas, mais de 5 mil interações até o dia 19 de novembro.

Com a proximidade das eleições, o uso de desinformação torna-se ainda mais grave porque lança dúvidas sobre eventuais candidatos em favor de outros concorrentes, confundindo a população que tem direito a fazer sua escolha a partir de dados confiáveis.

O deputado, autor da desinformação, é apontado como possível candidato ao governo da Paraíba e adversário de João Azevêdo. Ele ainda se apresenta como aliado de Bolsonaro, que também deverá concorrer à reeleição para presidente.

O Comprova já fez inúmeras verificações que colocam candidatos que se opõem ao presidente em condições de desvantagem perante a opinião pública a partir de mentiras, como o vídeo de Bia Kicis sobre a retenção do passaporte de Lula, ou tentando favorecer outros, como o que sugere declaração de apoio de Lewis Hamilton a Bolsonaro.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Atualização: Esta verificação foi atualizada em 22 de novembro para incluir a resposta da página do Instagram que originou a história. 

Saúde

Investigado por: 2021-11-19

Não há relação entre casos de mal súbito em atletas e vacinas contra covid

  • Enganoso
Enganoso
Vídeo viral no Twitter mostra atletas desmaiando durante partidas e faz associação com imunizantes, mas dois deles nem tinham sido vacinados quando sofreram o mal súbito. Os registros de desmaios entre atletas não são raros, e parte deles estão relacionados às questões climáticas. Até o momento, não há nenhum trabalho científico publicado que relacione vacinas à incidência de mal súbito ou morte súbita.
  • Conteúdo verificado: Um vídeo publicado por uma médica no Twitter mostra atletas e árbitros de diferentes modalidades desmaiando durante prática esportiva. A autora do post diz que “a incidência de mal súbito tende a subir”. Embora não cite as vacinas contra a covid-19, seguidores relacionaram os casos com a imunização nos comentários.

É enganosa a publicação compartilhada no Twitter que mostra um vídeo que exibe uma série de recortes nos quais atletas e árbitros desmaiam durante práticas esportivas.

O vídeo é acompanhado da legenda: “Meras coincidências? Não adianta vir com a história de sedentarismo e obesidade na pandemia. São todos atletas! A incidência de mal súbitos só tende a subir”. Comentários deixados na postagem mostram que usuários relacionam os incidentes às vacinas contra a covid-19.

À exceção de um dos casos mostrado no vídeo, que não conseguimos identificar a data, os demais ocorreram neste ano. Em dois deles, foi confirmado que as pessoas não estavam imunizadas no momento em que o desmaio foi registrado.

A reportagem também foi em busca de pesquisas ligadas ao tema, mas não há indícios de que ocorrências de mal súbitos tenham aumentado recentemente ou de que exista essa tendência, como sugere a publicação. Essa alegação não é respaldada pela ciência, que considera as vacinas seguras para o uso e eficazes contra o vírus.

Casos de desmaios e outras reações de mal súbito são comuns no meio esportivo, ainda que os atletas tenham uma rotina considerada saudável.

A reportagem procurou a usuária que publicou o vídeo, que alcançou mais de 2 mil compartilhamentos, mas não recebeu resposta até a publicação desta verificação.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.

Como verificamos?

Inicialmente, foi realizada uma busca reversa de imagens, utilizando frames de cada um dos episódios que aparecem no vídeo. São sete situações diferentes, a maioria ocorrida em 2021. Além das situações individualmente, a sequência de atletas desmaiando também aparece em dois vídeos maiores, com mais desinformação sobre vacinas, postados na plataforma russa Vidio+.

Em seguida, o Comprova procurou a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde em busca de informações oficiais sobre casos de mal súbito e entrevistou o médico cardiologista Sérgio Timerman, diretor do Laboratório de Simulação de Emergências Cardiovasculares do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP).

Por fim, a autora do tuíte foi procurada através de um comentário no Twitter, mas não respondeu ao pedido de contato até a publicação desta reportagem.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 19 de novembro de 2021.

Verificação

Relação entre vacinas e mal súbito é enganosa

Tanto o mal súbito quanto a morte súbita são definidos por uma perda de consciência inesperada e repentina. A diferença é que, na morte súbita, há também uma parada cardiorrespiratória, segundo explica Sérgio Timerman, diretor do Laboratório de Simulação de Emergências Cardiovasculares do Instituto do Coração.

O mal súbito pode ter causas diversas: infarto, AVC, arritmia cardíaca, longo período sem alimentação, frio e calor intensos. “Diferentemente da morte súbita em que a pessoa perdeu a consciência porque o coração falhou como bomba e ela teve uma parada cardiorrespiratória”, explica Timerman.

Ele é enfático ao dizer que é enganosa a relação entre vacinação e casos de mal súbito ou morte súbita. “Eu fui conferir. Não há nenhum relato de parada cardiorrespiratória ou aumento de morte e mal súbitos relacionados à vacina. Isso é fake news.”

O Ministério da Saúde informou que não há uma classificação específica para “morte súbita” e não é possível comparar sua incidência ano a ano.

Os casos que aparecem no vídeo

Christian Eriksen, 12 de junho

A primeira cena do vídeo publicado pela médica mostra o jogador dinamarquês Christian Eriksen desmaiado em campo. O mal súbito ocorreu no dia 12 de junho durante uma partida de futebol entre Dinamarca e Finlândia pela Eurocopa 2020.

Ele recebeu massagem cardíaca até ser reanimado e encaminhado a um hospital. A partida chegou a ser suspensa, mas foi retomada após a notícia de que Eriksen estava em condição estável. Ele precisou colocar um desfibrilador cardíaco, o que o impediu de seguir como atleta da Inter de Milão, clube italiano pelo qual jogava até o incidente.

Três dias após o episódio, o Comprova mostrou que a morte súbita não tinha relação com a vacina contra a covid-19, como foi sugerido em boatos divulgados por um blogueiro bolsonarista. Ele se baseou em uma suposta entrevista do médico-chefe do clube de Eriksen a uma rádio italiana, mas a rádio informou que a entrevista nunca existiu. O médico também negou que Eriksen tivesse se vacinado anteriormente ao incidente.

| Jogador Christian Eriksen foi reanimado em campo; ele precisou colocar um desfibrilador no coração

Jogadora de críquete, 2 de julho

O segundo caso a aparecer no vídeo mostra uma jogadora de críquete caída em campo, enquanto outras se aproximam e chamam por socorro. Nas imagens, não fica claro quem é a mulher caída, mas o episódio aconteceu no dia 2 de julho, durante uma partida entre os times femininos das Índias Ocidentais e do Paquistão, no Coolidge Cricket Ground, em Antígua.

Naquela partida, duas jogadoras das Índias Ocidentais – Chinelle Henry e Chedean Nation – tiveram mal súbito, com cerca de dez minutos de diferença entre um caso e outro. O Comprova entrou em contato com o Windies Cricket – o time das Índias Ocidentais – questionando sobre o que causou os dois episódios, mas não obteve resposta.

Contudo, em 3 de julho, o jornal Hindustan Times, de Nova Délhi, publicou em uma reportagem sobre o caso que o clube emitiu um comunicado informando que as duas atletas estavam conscientes e estáveis.

No dia 4, a ESPN publicou que as duas já estavam de volta ao time e incluiu vídeos postados no Twitter do Windies em que elas afirmavam que estavam bem, sem internação hospitalar e sem restrições. As duas puderam disputar a partida seguinte dois dias depois.

| Jogadoras das Índias Ocidentais que tiveram mal súbito puderam disputar outra partida dois dias depois

Moussa Dembele, 23 de março

O terceiro atleta a aparecer nas imagens é o jogador de futebol francês Moussa Dembele. Ele sofreu um mal súbito e caiu durante um aquecimento, antes de entrar em campo pelo Atlético de Madrid, em 23 de março de 2021.

Segundo o site de notícias Sky Sports, ele chegou a ficar mais de um minuto inconsciente, mas deixou o campo “caminhando sem qualquer ajuda”. Outro site, o Talk Sport, afirmou que exames relacionaram o desmaio repentino à baixa pressão arterial.

O Comprova também procurou o Atlético de Madrid para comentar sobre o caso, mas não obteve resposta do clube até esta publicação.

| A imprensa profissional relatou que Moussa Dembele passou mal por causa de pressão baixa

Jack Draper, 25 de março

No vídeo compartilhado também aparecem imagens do momento em que o tenista britânico Jack Draper desmaia durante uma partida oficial. De acordo com publicação do jornal The Guardian, o episódio ocorreu em 25 de março, durante o torneio Miami Open.

Ao portal de notícias Sky Sports, o jogador afirmou que em janeiro ficou duas semanas afastado dos treinos por conta de um quadro “agressivo” de coronavírus.

A LTA, órgão britânico que patrocina atletas no tênis e que concede uma bolsa a Draper, confirmou ao Comprova por e-mail que o desmaio ocorreu por conta do calor. Além disso, afirmou que o tenista não era vacinado contra a covid-19 na época do episódio e que ele próprio afirmou posteriormente que não estava habituado àquele nível de tênis profissional no calor da Flórida.

| Jack Draper confessou que não estava habituado ao nível de tênis profissional no calor da Flórida

Desconhecido, 28 de abril

O quinto caso a aparecer nas imagens é de um homem que sofre um mal súbito, instantes antes de fazer um saque em uma partida de badminton. A disputa parece acontecer num ginásio ou em outro lugar onde haja mais de uma quadra, e não foi possível identificar elementos que mostrem onde o caso aconteceu, a identidade do homem que aparece nas imagens, nem o estado de saúde dele.

Esta mesma imagem aparece em dois vídeos com mais desinformação sobre vacinas, hospedados em um site russo. A busca reversa de imagens do Yandex localizou outros quatro vídeos, maiores do que o trecho que aparece no tuíte aqui verificado, que indicam que o caso aconteceu no dia 28 de abril de 2021, por volta das 19h, conforme aparece no topo das imagens de uma câmera de segurança.

Quatro perfis diferentes no YouTube compartilharam o mesmo vídeo, todos da Indonésia, mas os títulos e legendas não informam onde o caso aconteceu. Um quinto vídeo encontrado no YouTube sugere que o incidente tenha ocorrido na Malásia.

O Comprova tentou contato com o perfil cujo vídeo tinha mais visualizações, mas não obteve resposta.

| O mecanismo de busca reversa permite identificar outras vezes em que aquele vídeo foi postado

| Vídeo encontrado por meio da busca reversa do Yandex

Charles Bulu, 30 de março

O árbitro ganês Charles Bulu também aparece na seleção de imagens divulgadas. Ele desmaiou em 30 de março deste ano, enquanto apitava uma partida entre Costa do Marfim e Etiópia pelas eliminatórias da Copa Africana das Nações.

No dia seguinte, o portal de esportes Goal publicou que o árbitro de 34 anos tinha sido levado a um hospital em Abjdan, na Costa do Marfim, e que passava bem.

Solicitamos informações à Confederação Africana de Futebol, responsável pelo campeonato, mas não obtivemos resposta.

| Árbitro passou mal durante partida entre Costa do Marfim e Etiópia

Embora não haja informações se o árbitro já estava vacinado, é improvável que isso tenha ocorrido. Isso porque as primeiras vacinas contra a covid-19 só começaram a ser administradas em Gana, seu país natal, em 1º de março.

O início da campanha foi possível graças ao consórcio COVAX, da Organização Mundial da Saúde, que entregou um lote inicial de 600 mil doses para o país com aproximadamente 31 milhões de habitantes. À entidade, o presidente ganês, Nana Akufo-Addo, informou que os primeiros a serem imunizados seriam os profissionais da área da saúde.

Bert Smith, 30 de março

O último a aparecer nas imagens é o árbitro de basquete Bert Smith, que desmaiou durante uma final regional de um torneio universitário, em 31 de março de 2021, em Indianápolis, no estado de Indiana (EUA). A cena deste incidente também consta na seleção de imagens divulgadas pela médica Roberta Lacerda.

Em 9 de abril, Smith contou ao jornal The Indianapolis Star que, por causa do mal súbito naquela partida, descobriu que tinha um coágulo sanguíneo no pulmão. “A gente não sabe para onde o coágulo estava indo em seguida”, disse na época.

De acordo com o site de notícias USA Today, Smith testou positivo para coronavírus em agosto, contudo os médicos não disseram se há uma correlação entre a doença causada pelo vírus e seu coágulo sanguíneo.

O Comprova enviou um e-mail de contato ao NCAA Basketball Championship, torneio universitário de basquete dos Estados Unidos, mas não teve retorno até a publicação desta verificação.

| Árbitro desmaiou enquanto apitava partida de basquete universitário, nos Estados Unidos

Casos de mal súbito anteriores à pandemia

Sérgio Timerman lembra que já tivemos casos de mal súbito e morte súbita no ambiente esportivo no passado. “Não é algo frequente, mas acontece. Já vimos uma série de casos de parada cardiorrespiratória em campos e quadras esportivas. Muitas vezes houve uma reversão pelo bom atendimento. Outras vezes, não houve reversão.”

A reversão ocorre quando a pessoa sofre uma morte súbita, mas é reanimada pela equipe médica. É o que aconteceu com o dinamarquês Christian Eriksen.

Outros casos não tiveram um desfecho feliz. Em 2003, muito antes da pandemia e das atuais vacinas, o meio-campista Marc-Vivien Foé, da seleção de Camarões, disputava a semifinal da Copa das Confederações contra a Colômbia quando teve um colapso em campo e morreu. De acordo com a ESPN, tempos depois foi revelado que ele sofria de cardiomiopatia hipertrófica – uma rara condição hereditária, que afeta menos de 0,2% da população mundial.

Em 2004, o zagueiro do São Caetano Serginho passou mal em decorrência de uma parada cardiorrespiratória durante partida contra o São Paulo, no estádio do Morumbi, em 2004. Ele morreu horas depois no hospital. Posteriormente foi revelado pela imprensa que o clube saberia de um problema no coração do jogador que deveria tê-lo impedido de continuar jogando. Contudo, o time nega.

Atletas de alto rendimento precisam passar por bateria de exames rotineiramente para detectar problemas silenciosos no sistema circulatório e evitar que este tipo de incidente ocorra, explica Timerman. Exemplo disso é o caso do árbitro Bert Smith, cujo coágulo na circulação sanguínea passou despercebido até o momento em que ele desmaiou durante uma partida de basquete. Exames posteriores apontaram o diagnóstico como a causa do mal súbito.

A autora

A autora da publicação no Twitter do vídeo com uma seleção de imagens de atletas desmaiando é Roberta Lacerda Almeida de Miranda Dantas, graduada em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Tanto em sua conta na rede social, como no Currículo Lattes (com última atualização em 2019), consta que possui especialização em infectologia.

Roberta ingressou no Twitter há seis meses, usando a conta para publicações antivacinas e a favor do tratamento precoce – sendo este último comprovadamente ineficaz. Apesar da recente existência da conta, ela reúne mais de 2,4 mil publicações, às vezes com aproximadamente 30 postagens por dia.

A médica também divulga um site que reúne vídeos sobre covid supostamente retirados das redes sociais por conter conteúdos considerados inadequados pelas empresas de tecnologia. Além disso, replica informações em uma conta no Telegram, que leva seu nome.

Outra publicação de Roberta Lacerda já foi verificada pelo Comprova. Em agosto deste ano, a médica distorceu dados apresentados por um diretor-médico do Herzog Hospital de Jerusalém para levantar suspeitas sobre infecções em não vacinados.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado sobre a pandemia, eleições e políticas públicas do governo federal. O tuíte checado foi compartilhado 2,3 mil vezes e recebeu 5,5 mil reações. O vídeo foi reproduzido ao menos 39,3 mil vezes até o dia 19 de novembro de 2021.

Conteúdos enganosos desestimulam a população a tomar as vacinas contra a covid-19, a principal forma atualmente de prevenir o contágio e evitar mortes. O Comprova já mostrou ser mentira que a vacina cause HIV, câncer ou HPV. Também é falso que pessoas possam ser rastreadas após se vacinarem.

Embora a médica não cite os imunizantes em sua postagem, usuários que deixaram comentários acreditam que eles seriam os responsáveis pelos casos mostrados. “Eu fico apavorada. Em minha família toda, apenas eu e meu dois filhos menores não nos vacinamos”, disse uma usuária. Outra diz que não tomou os imunizantes e se refere a eles como “experimentais” – alegação já desmentida pelo Comprova.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações e que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Política

Investigado por: 2021-11-18

Ao contrário do que diz vídeo, lei 14.132 não é para prender governadores e prefeitos que adotam medidas restritivas

  • Falso
Falso
É falso o conteúdo do vídeo que circula nas redes sociais afirmando que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criou uma lei para punir governadores e prefeitos que "perseguissem a população" por meio de lockdowns para frear a covid-19. A lei citada foi proposta em agosto de 2019, antes da pandemia, e trata sobre o crime de stalking (perseguição, em inglês), que surgiu como uma prática virtual, mas se estende também ao ambiente offline.
  • Conteúdo verificado: Vídeo no TikTok usa lei que trata sobre a prática do stalking para afirmar, falsamente, que governadores, prefeitos e policiais militares poderão ser multados e presos caso persigam “cidadãos de bem” contrários ao lockdown.

É falso o vídeo que circula no TikTok afirmando que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) assinou um decreto permitindo que governadores, prefeitos e policiais militares sejam multados e presos caso “venham a prender ou perseguir ou agredir cidadão de bem no seu direito de ir e vir ou no seu direito de livre iniciativa de trabalho honesto”, referindo-se às medidas para conter a pandemia.

O autor da gravação tira de contexto a lei 14.132, de iniciativa do Congresso Nacional e sancionada por Bolsonaro em 31 de março de 2021. Diferentemente do que ele diz, a lei transforma em crime a prática do stalking, que é a perseguição reiterada de alguém em ambiente físico ou virtual.

A reportagem tentou contatar o responsável pelo perfil que postou a gravação, mas não obteve resposta até a publicação deste texto. A postagem foi considerada falsa porque usa informações inventadas.

Como verificamos?

O narrador do vídeo cita o “decreto 14.132”, que, na realidade, é o número da lei à qual ele se refere. Por uma busca simples no Google, a reportagem acessou o texto da lei no site da Imprensa Nacional, do governo federal. A partir desse documento, o Comprova classificou o conteúdo verificado como falso, já que o material não sustenta as alegações do vídeo.

A reportagem também tentou encontrar o autor do post original, mas não conseguiu. No entanto, foi localizada a postagem compartilhada no Instagram que aparece no vídeo, feita por uma apoiadora do presidente Jair Bolsonaro. Então, foi feito contato com o perfil que postou o vídeo no TikTok por mensagem direta e comentário aberto no post, mas ele não respondeu.

Por fim, a equipe entrevistou o advogado criminal Bruno Paiva para saber mais detalhes sobre a lei citada na gravação.

Verificação

A lei

Mencionada na postagem, a lei existe, mas seu conteúdo foi retirado de contexto para dizer que seria uma determinação de Bolsonaro contra governadores, prefeitos e policiais. A lei número 14.132 instituiu, na realidade, o crime de perseguição, conhecido como stalking (em inglês), e foi apresentada como projeto ainda em 2019, antes da pandemia.

A prática ilegal é definida como perseguição reiterada, por qualquer meio, como a internet — cyberstalking —, que ameaça a integridade física e psicológica de alguém, interferindo na liberdade e na privacidade da vítima. Portanto, não mantém relação com o que foi citado no vídeo que circula entre apoiadores do presidente nas redes sociais.

O documento foi sancionado por Bolsonaro, com publicação em 1º de abril de 2021, e acrescenta ao Código Penal o crime de perseguição, revogando o artigo 65, do decreto 3.688 de 3 de outubro de 1941, que descrevia a Lei das Contravenções Penais.

A pena para quem for condenado é de 6 meses a 2 anos de prisão, mas pode chegar a 3 anos com agravantes, como crimes contra mulheres, crianças e idosos. Antes, o crime não era tipificado e tinha como pena de 15 dias a dois meses, ou multa, quando enquadrado na infração de perturbação da tranquilidade alheia.

Segundo o advogado criminalista Bruno Paiva, o contexto do decreto levou em consideração que as mulheres são as maiores vítimas de perseguição na internet, que pode ou não se estender para a vida fora das redes sociais. Paiva diz ainda que apesar das estatísticas indicando quais são as vítimas recorrentes do stalking – majoritariamente mulheres –, a lei protege qualquer cidadão que seja alvo desse tipo de crime.

“Esse crime surge em um contexto que já vem de vários anos de crimes contra as mulheres, sobretudo de crimes que não chegam a se transformar em lesão corporal ou feminicídio. No entanto, atingem as mulheres muito mais, após términos de relacionamento, onde [homens] vão atrás tanto na forma física quanto na esfera virtual”, explica.

Constrangimento por meio de redes sociais e telefonemas no ambiente de trabalho podem caracterizar as ameaças que a lei coíbe, segundo o advogado.

Caso haja perseguição virtual, é possível fazer o registro em cartório por meio de uma ata notarial, em que um oficial vai atestar que aquele conteúdo de fato existiu, ainda que venha a ser apagado futuramente por quem cometeu o crime de perseguição.

“Se a ameaça acontecer presencialmente, de forma física, é interessante que seja registrado um boletim de ocorrência. Continuando a perseguição, que se procure a Defensoria Pública, um advogado ou uma delegacia, pedindo a investigação com as características da pessoa que está perseguindo”, detalha Paiva.

Autoria da lei

O projeto de lei foi apresentado pela senadora Leila Barros (PSB-DF), em agosto de 2019. Jogadora da seleção brasileira por 18 anos antes de entrar na política, Leila dedicou a aprovação do texto à radialista Verlinda Robles, obrigada a se mudar do Mato Grosso do Sul após sofrer stalking em 2018, e à jornalista Jaqueline Naujorks, que publicou o caso. “Quem já viveu o stalking na vida sabe o que isso significa”, disse a senadora.

De acordo com o site do Senado, o relator da matéria na Casa, Rodrigo Cunha (PSDB-AL), justificou a importância do projeto citando um dado da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2017, “que apontava o Brasil como o país com a quinta maior taxa de feminicídios por 100 mil mulheres em todo o mundo”. Ele também destacou que “76% dos feminicídios do país são cometidos por pessoas próximas à vítima”.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O conteúdo checado aqui teve ao menos 44,7 mil interações até 18 de novembro.

Ao tirar de contexto a lei que tipifica o crime de stalking, o vídeo pode gerar confusão. E, por meio de informações falsas, pode colocar a população contra agentes estaduais e municipais, governadores e prefeitos e incentivar o descumprimento de eventuais medidas de restrição impostas para frear a covid-19.

A publicação segue a linha de Bolsonaro, que já chamou de tirano quem fechou estabelecimentos não essenciais por conta da pandemia.

O Comprova já checou outros conteúdos criticando medidas de restrição, como o vídeo que usava informações falsas para dizer que o lockdown foi inútil e o tuíte com frase de enviado da OMS retirada de contexto para sugerir que o órgão condena o fechamento.

Post viral semelhante foi verificado em abril pela agência Lupa e pelo Estadão Verifica.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

 

Política

Investigado por: 2021-11-12

Veto a carnaval não está sujeito apenas à vontade de Bolsonaro

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa uma postagem afirmando que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pode vetar carnaval em todo o país. Legalmente, há possibilidade de restrições, mas o governo federal não sinalizou nenhuma medida para impedir a realização da festa em 2022. Especialistas em Direito ouvidos pelo Comprova dizem que mesmo que a União decidisse pelo cancelamento, haveria espaço para questionamentos na Justiça.
  • Conteúdo verificado: Postagem no Facebook afirma que Bolsonaro pode vetar carnaval de 2022 em todo o país se OMS ainda estiver em estado de pandemia.

É enganosa uma publicação no Facebook que afirma que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pode vetar o carnaval de 2022 se a Organização Mundial da Saúde (OMS) não tiver decretado o fim da pandemia. Embora, legalmente, ele possa adotar restrições, até o momento o governo federal não fez nenhum anúncio relacionado ao assunto, nem sinalizou a intenção de implementar a medida.

Dois professores especialistas em Direito apontam em que circunstâncias Bolsonaro poderia impedir a festa. Porém, mesmo que a União decida pelo cancelamento, há espaço para questionamento na Justiça.

A postagem também faz considerações sobre o impacto financeiro para as administrações locais que promovem o carnaval, com o suposto veto de Bolsonaro, mas os gestores ainda não definiram se vão fazer a festa em 2022, e eles próprios condicionam a sua realização ao quadro sanitário devido à covid-19.

O Brasil ainda vivencia um momento pandêmico, considerando as fases definidas pela OMS e, para o retorno à normalidade, precisa que a circulação do Sars-Cov-2 volte aos níveis observados em outras infecções sazonais.

Essa classificação depende da análise dos indicadores da doença no mundo e, até o carnaval, que ocorrerá no período de 26 de fevereiro a 1º de março, pode haver mudanças no comportamento da covid-19 que obriguem os governos a adotar medidas mais restritivas ou, ao contrário, a flexibilizar as atividades econômicas e sociais.

O perfil que publicou o conteúdo foi procurado, mas não respondeu à mensagem da reportagem.

O Comprova considerou o post enganoso porque usa dados imprecisos e confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

Para avaliar se o presidente da República tem poder para vetar a realização de festividades como o carnaval, o Comprova entrevistou dois especialistas em Direito Constitucional: Gustavo Ferreira Santos, professor da Universidade Católica de Pernambuco, e Ricardo Gueiros, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

Também procuramos os governos dos estados de Pernambuco, Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, bem como as prefeituras de Recife, Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro, cidades que realizam os principais carnavais do país, para saber se há preparativos em andamento para a festa do próximo ano e que critérios serão usados para definir se elas serão liberadas ou não.

Nos sites da OMS e do Centro de Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, levantamos informações sobre as etapas de uma pandemia, desde o seu início até os critérios utilizados para declarar que ela foi encerrada.

Entramos em contato com a Secretaria de Comunicação da Presidência da República, e também com o Ministério da Saúde, para saber se Bolsonaro tinha o objetivo de tomar alguma medida em relação ao carnaval de 2022, mas não obtivemos retorno até o fechamento deste texto.

Por fim, procuramos o autor da postagem por meio de mensagens privadas do Facebook e deixamos um comentário na última publicação feita por ele em seu perfil na plataforma.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 12 de novembro de 2021.

Verificação

Presidente pode vetar as festas?

Em entrevista ao Comprova, o professor Gustavo Ferreira Santos lembrou que o STF entendeu as ações para combater o coronavírus como competência compartilhada entre a União, os estados e os municípios e que, dentro dessa decisão, valeriam as medidas mais restritivas adotadas por uma dessas esferas. Apesar disso, ele disse que uma decisão nesse sentido não poderia ser tomada agora, sem levar em consideração a situação epidemiológica de quando as festas vão acontecer.

Segundo o especialista, o presidente também teria que seguir o princípio da proporcionalidade em sua decisão. Nele, a medida de restrição de direitos precisa ser adequada (ser capaz de atingir o objetivo ao qual ela se propõe); necessária (não haver outra forma menos restritiva de atingir esses objetivos); e proporcional no sentido estrito (tem que valer a pena do ponto de vista jurídico restringir um direito, como a liberdade, para assegurar outro, como a saúde).

“O poder público não tem um cheque em branco em uma democracia constitucional. O presidente da República não pode fazer o que ele quiser”, lembra Santos. “No caso desse tipo de restrição, de fazer um lockdown durante o carnaval, se não existirem dados epidemiológicos que sustentem essa decisão, ela será considerada desproporcional e, portanto, excessiva; logo inconstitucional. Então, é um raciocínio que só pode ser feito na época”, diz.

Para o professor, Bolsonaro também não poderia recorrer a um estado de sítio para cancelar o carnaval. “O estado de sítio precisava ter uma grave comoção nacional que, para garantir ou restabelecer a ordem, precisasse de restrições a direitos. E mais: o estado de sítio precisa que o presidente da República peça autorização ao Congresso Nacional para decretar. Ele não pode simplesmente meter a caneta”, argumenta.

O professor de Direito Constitucional Ricardo Gueiros acredita que, se medidas restritivas propostas pela União e pelos entes subnacionais forem contraditórias, o tema provavelmente seria levado à Justiça.

“Mediante duas decisões, proferidas em 2020, o STF optou por afirmar que não haveria uma prevalência das normas do governo federal no campo da saúde pública. Na verdade, o que houve foi uma opção de se dizer que haveria uma cooperação e democratização gerencial entre os entes públicos – União, estados e municípios. Nesse sentido, o STF frisou que eventuais problemas – ou seja, as situações em que as normas da União, dos estados e dos municípios, sejam conflituosas – deveriam ser sanados pelo Poder Judiciário”, explica.

Ele argumenta ainda que, de forma geral, as normas municipais deveriam prevalecer, já que a prefeitura tem uma noção mais direta das particularidades de risco da sua região. Mas que também é preciso levar em consideração quais são as medidas mais restritivas.

“Em tese, o governo federal pode, sim, editar normas que proíbam os festejos de carnaval, sob o fundamento de medidas sanitárias. Entretanto, provavelmente, haverá normas estaduais ou municipais em sentido contrário. O que ocorreria? A situação, por certo, seria levada ao Judiciário”, prevê.

Planejamento para o carnaval

A assessoria do Governo de Pernambuco disse que ainda não está tratando desse assunto. Afirmou ainda que a Secretaria Estadual de Saúde está esperando os números da pandemia de dezembro para poder tomar uma decisão sobre a autorização ou não das festividades no estado. A gestão pernambucana também garantiu que qualquer decisão será baseada em critérios de saúde.

“Novas flexibilizações no nosso plano de convivência, bem como o relaxamento de qualquer medida restritiva de cuidado está atrelada diretamente ao avanço da vacinação. E é a sociedade que vai dizer se nós vamos ter carnaval ou não; na medida em que nós possamos atingir ou não o cumprimento das metas de vacinação”, afirmou o secretário estadual de Saúde, André Longo, em uma live no dia 21 de outubro.

A Prefeitura do Recife afirmou, em nota, que já deu início às tratativas administrativas para realização do carnaval em 2022. “No entanto, a execução dos contratos relativos às festividades do período está condicionada à decisão que será adotada pelas autoridades sanitárias”, diz o texto.

O Governo da Bahia respondeu com uma live do governador Rui Costa (PT) do último dia 9, em que ele diz ser cedo para tomar a decisão sobre autorizar ou não o carnaval no estado. “Primeiro, porque o número de contaminados está muito alto. Nós estamos oscilando em termos de 2,5 mil contaminados. E estamos com uma linha horizontal com mais de 200 pessoas na UTI há mais de 60 dias. Significa que a doença não está caindo. Se de um lado ela não está subindo, ela também não está caindo. Ela continua contaminando muita gente”, explica.

Segundo o gestor, se ele anunciar agora que a festa estará liberada e, ao longo do mês de dezembro, o número de casos subir, ele terá que cancelar o evento, o que pode gerar, inclusive, processos judiciais das pessoas que se sentirem economicamente lesadas por terem feito contratos ou comercializado produtos antecipadamente.

“A medida mais segura e responsável com a vida das pessoas é aguardar a repercussão do número de contaminados e de internados na UTI. Se ele começar a cair, as chances de ter carnaval aumentam. Se voltar a subir, é impossível ter carnaval”, disse.

Em Salvador, o município disse que a definição sobre a realização do carnaval deve ocorrer nas próximas semanas. “A Prefeitura de Salvador segue em diálogo com todos os atores envolvidos nos festejos do réveillon e carnaval, atenta ao cenário da covid-19 na cidade. A definição sobre a realização ou não destes eventos na capital baiana deverá ser divulgada ainda este mês de novembro”, diz a nota enviada ao Comprova.

A assessoria do Governo do Estado de São Paulo disse, por telefone, que ainda não há definições porque a realização ou não do carnaval dependerá do quadro sanitário. A prefeitura da capital paulista informou, por meio da Secretaria Municipal das Subprefeituras (SMSUB), que recebeu a inscrição para 867 desfiles de blocos no carnaval de 2022.

“As documentações para habilitação dos blocos serão analisadas e publicadas conforme as emissões das aprovações. Os cortejos dos blocos serão celebrados nas regiões das 32 subprefeituras”, afirmou.

Através da SPturis, o município também informou que o carnaval no Sambódromo já está sendo planejado. “A realização do evento, assim como os desfiles dos blocos, está condicionada ao quadro epidemiológico relativo à pandemia de covid-19 e entendimento das autoridades de saúde pública e sanitárias”, adianta a cidade.

Também por telefone, a assessoria de imprensa do Governo do Estado do Rio de Janeiro disse que as normas para realização ou não das festas no próximo ano cabem às prefeituras. Na capital, a assessoria da RioTur explicou que o planejamento está sendo feito como se tivessem 100% de segurança da realização do carnaval da cidade, mas que só vai acontecer se as condições sanitárias permitirem.

Definição de pandemia e quando ela acaba

Segundo esquema da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma pandemia pode ser dividida em oito fases. Elas são pensadas para que governos e autoridades de saúde possam adotar diferentes medidas para proteger as pessoas.

Na fase 1, não há informações de que um vírus que circula entre animais tenha infectado humanos. Quando o vírus salta de uma espécie, seja doméstica, seja selvagem, para os seres humanos, o nível de alerta entra em fase 2, o que significa que há uma potencial ameaça. A fase 3 ocorre quando o vírus segue pulando entre espécies, causando casos esporádicos, mas a transmissão entre duas pessoas ainda é baixa, incapaz de causar um surto em uma comunidade.

Os riscos seguem aumentando na fase 4, quando se considera que a transmissão entre humanos já é frequente o suficiente para criar surtos locais da doença. Qualquer país que detecte uma doença neste estágio, deve comunicar a OMS e, portanto, a comunidade internacional.

Quando a infecção se espalha para mais de um país de um mesmo continente ou região, a situação avança para fase 5, descrita como “um forte sinal de que uma pandemia é iminente” e, assim, os demais governos devem começar a pôr em prática seus planos de mitigação da ameaça.

A fase 6 é chamada de fase pandêmica especificamente. Ela é caracterizada quando há surtos locais do vírus em ao menos um país de um continente ou região diferente daquela em que a doença foi inicialmente reportada. Esse estágio indica que a doença se tornou uma ameaça global.

A covid-19 foi classificada como uma pandemia pela OMS no dia 11 de março de 2020. Foi a primeira vez que uma infecção por coronavírus chegou à fase 6. Naquele momento, embora 90% dos casos ainda estivessem concentrados em quatro países da Ásia, o Sars-CoV-2 já havia sido detectado em 114 nações; algumas com transmissão local da doença.

“Pandemia não é uma palavra para ser usada de forma leviana ou descuidada. É uma palavra que, se mal utilizada, pode causar medo irracional ou uma admissão injustificada de que a batalha está perdida, levando a sofrimentos e mortes desnecessárias”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, em seu comunicado.

“Nós não podemos dizer isso de forma mais alta, ou mais clara: todos os países ainda podem mudar o curso desta pandemia. Se eles detectarem, testarem, tratarem, isolarem, rastrearem e mobilizarem seus povos em resposta, aqueles com alguns casos podem evitar que eles se tornem clusters, e que esses clusters se transformem numa transmissão comunitária”, afirmou, sobre o motivo de classificar a covid-19 como uma pandemia.

O estágio seguinte é chamado de “período de pós-pico”, quando o nível da doença na maioria dos países com vigilância sanitária adequada apresentam uma redução nos níveis de infecção. Esse estágio pode indicar que a pandemia parece estar regredindo.

No entanto, é possível que a doença ainda possa provocar novas ondas de infecção e, por isso, autoridades sanitárias devem se manter vigilantes em relação a possíveis surtos. Segundo a OMS, em pandemias anteriores, a sequência de ondas duraram meses. Uma onda também pode ser separada da outra por vários meses e, por isso, um relaxamento imediato nas medidas de prevenção nessa etapa pode ser prematuro.

A última etapa é o período pós-pandêmico. Nesse ponto, a atividade do vírus retornou aos seus níveis normais, vistos em outras infecções sazonais. Ao menos no caso do vírus da gripe, o mais comum a provocar pandemias na história humana, é de se esperar que o novo vírus provoque surtos sazonais, que devem continuar a ser monitorados pelas autoridades.

Antes da covid-19, a última pandemia foi a de H1N1, um dos tipos de vírus da gripe. A fase 6 foi declarada pela OMS em 11 de junho de 2009. Na época, a doença havia sido identificada em mais de 70 países. Em novembro, a OMS informou que a infecção havia se espalhado por quase todas as nações do mundo. Em 10 de agosto de 2010, a evolução para o período pós-pandêmico foi anunciada, embora ainda houvesse surtos locais, particularmente na Nova Zelândia.

Para declarar o fim da pandemia, a OMS considerou que nenhum novo surto estava sendo reportado. Durante a pandemia, o H1N1 foi o vírus da gripe dominante nas análises laboratoriais, mas, naquele momento, o monitoramento mostrava que havia um mix de diferentes cepas, compatível com a situação normal da doença. Além disso, havia uma boa cobertura de vacinação na maior parte dos países, especialmente quando considerados os grupos de risco, e os números de imunização seguiam crescendo.

O autor do post investigado

O autor se identifica como membro do grupo Bolsonaro 2022, no Facebook, que já apareceu em outras verificações do Comprova. Nos comentários de sua publicação, há vários internautas concordando com a suposta restrição imposta pelo presidente. Ele foi procurado para falar sobre a sua postagem, mas não deu retorno.

Esta não é a primeira vez que circulam postagens relacionadas ao carnaval e a possibilidade de suspensão da festa. Em janeiro de 2019, a Lupa constatou que era falso que Bolsonaro havia assinado decreto pelo fim do carnaval e da parada gay. Um ano depois, já com informações sobre a covid-19, também houve boato sobre a suspensão da folia relacionada à doença.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia, as políticas públicas do governo federal e as eleições de 2022. A publicação no Facebook verificada aqui dialoga com os três tópicos ao mesmo tempo. A postagem teve mais de 22 mil interações, entre curtidas, comentários e compartilhamentos.

Recentemente, o Comprova mostrou que uma tabela sobre pagamentos do Bolsa Família estava sendo retirada de contexto para favorecer o presidente Jair Bolsonaro; que é falso que Bolsonaro está distribuindo aos estados máquinas que Dilma Rousseff doaria a países africanos; e que jogadores de times europeus não dedicaram gols ao presidente brasileiro.

Enganoso, para o Comprova, é o contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-11-12

Médico engana ao relacionar eficácia da vacina a novo remédio da Pfizer

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o tuíte de um médico questionando a eficácia da vacina da Pfizer/BioNTech contra a covid-19 pelo fato de o laboratório estar desenvolvendo um remédio contra a doença. A relação feita por ele entre o imunizante e o medicamento não se sustenta, já que o primeiro atua na prevenção e o outro no tratamento. Além disso, o desenvolvimento do fármaco nada tem a ver com a eficácia da vacina.
  • Conteúdo verificado: Post no Twitter levanta suspeitas sobre a vacina contra a covid-19 da Pfizer/BioNTech ao dizer que o mesmo fabricante agora investe “milhões de dólares no desenvolvimento de uma droga para tratar uma doença que sua vacina evitaria por completo”.

É enganosa uma postagem no Twitter, feita por um médico defensor do chamado “tratamento precoce”, que coloca dúvidas sobre a eficácia da vacina da Pfizer/BioNTech pelo fato de o laboratório norte-americano trabalhar no desenvolvimento de um comprimido contra a doença. Remédios e vacinas são estratégias complementares e servem para finalidades diferentes: um para tratar pacientes diagnosticados com o vírus; outro para treinar o sistema imunológico e prevenir a infecção e a evolução para quadros graves.

Diferentemente do que sugere o conteúdo, a vacina não evita “por completo” a doença. Nenhum imunizante é 100% eficaz contra a covid-19, e os estudos que embasaram a aprovação da Comirnaty mostram isso: a eficácia geral da vacina foi calculada em 95% em ensaios clínicos que envolveram mais de 43 mil voluntários. Esses dados foram publicados em uma renomada revista científica e referendados por autoridades de saúde de vários países, incluindo o Brasil.

Além disso, o fato de uma vacina ter sido aprovada não significa que ela está disponível para todos de forma imediata. Cerca de metade da população mundial não tomou sequer uma dose de qualquer vacina disponível e permanece desprotegida contra a covid-19. Um quarto da população brasileira se enquadra nessa situação. Dados mostram que em torno de 460 mil pessoas são infectadas e 7 mil morrem diariamente por complicações do coronavírus em todo o planeta.

Por fim, o desenvolvimento de medicamentos eficazes é necessário para um cenário adverso em que uma nova variante surja com capacidade de driblar a proteção conferida pelas vacinas. A resposta de quanto tempo dura essa imunidade também está sendo investigada pela ciência.

O autor do post, Ricardo Zimerman, foi procurado por e-mail, mas não respondeu até a publicação da checagem. O Comprova considerou o post enganoso porque usa dados imprecisos e confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

O Comprova iniciou a verificação buscando informações junto à Pfizer sobre o medicamento que está em fase de teste pelo laboratório farmacêutico.

Em seguida, fez a análise da relação entre ele e a vacina contra a covid-19, desenvolvida pela mesma empresa, e que possui registro definitivo no Brasil – pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – e em outros países.

A reportagem leu estudos sobre a eficácia do imunizante citado e pesquisou números relacionados à vacinação no país, incluindo os da vacina da Pfizer.

O Comprova buscou, ainda, a opinião de um especialista no assunto, o professor e imunologista Jorge Andrade Pinto, coordenador da Unidade de Pesquisa Clínica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Por fim, pesquisou quem é o médico autor da postagem e entrou em contato, mas não recebeu resposta até esta publicação.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 12 de novembro de 2021.

Verificação

Vacina confere nível altíssimo de proteção, mas não é infalível

Não é verdade que a vacina da Pfizer “evitaria a doença por completo”, como alega o post do médico checado pelo Comprova. Os testes que resultaram na aprovação da vacina (estudos clínicos de fase 3) demonstraram uma eficácia de 95% em prevenir casos de covid-19, segundo consta em estudo publicado na revista científica The New England Journal of Medicine, uma das mais prestigiadas do mundo. Apesar de alto, o índice não significa que todas as pessoas vacinadas estão livres do risco de adoecer pela covid-19.

Um total de 43.548 voluntários foram divididos em dois grupos: os que receberiam a vacina da Pfizer e os que receberiam placebo. O sorteio resultou em 21.720 vacinados com a Comirnaty e 21.728 no grupo controle. Foram constatados 162 casos de covid-19 no grupo placebo e apenas oito entre as pessoas imunizadas, sete dias após a segunda dose. Eficácia semelhante foi observada independentemente de idade, sexo, raça, etnia, comorbidades prévias e peso dos participantes.

O estudo ainda demonstrou que a vacina oferece alguma proteção, em menor grau, também com esquema vacinal incompleto. Foram registrados 39 casos em voluntários que haviam tomado apenas a primeira dose da vacina, contra 82 no grupo controle nesse mesmo período, o que resulta em eficácia geral de 52%. O estudo comprovou ainda que o imunizante é seguro, sendo que as reações adversas mais comuns são de caráter leve a moderado, como dores no braço e sintomas semelhantes aos de uma gripe.

Em 23 de fevereiro de 2021, a Anvisa concedeu o registro definitivo à vacina contra a covid-19 desenvolvida em parceria pelos laboratórios Pfizer e BioNTech. A equipe técnica da agência referendou os dados de segurança e eficácia e autorizou a aplicação da vacina em pessoas com 16 anos ou mais.

Em 11 de junho, a Anvisa aprovou o uso da vacina em jovens de 12 a 15 anos. A vacina demonstrou eficácia de 100% em estudo clínico com jovens dessa faixa etária. A taxa não significa que seja impossível que ocorram casos de covid-19 entre vacinados nesta faixa etária — quando o produto passa a ser aplicado em larga escala, na ordem de milhões de pessoas, um número estatisticamente pequeno, ignorado em determinada amostra, pode aparecer. Os ensaios de fase 3 foram realizados em 2.260 adolescentes, nos Estados Unidos. A aplicação nesta faixa etária começou em setembro no Brasil.

Em 26 de outubro, a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA), agência regulatória norte-americana, emitiu autorização para uso emergencial da vacina da Pfizer/BioNTech contra a covid-19 para crianças de 5 a 11 anos nos Estados Unidos. Estudo clínico com 4.647 crianças concluiu que a vacinação infantil apresenta uma eficácia de quase 91% na prevenção da covid-19 sintomática. O pedido está sob análise no Brasil.

Segundo dados do Ministério da Saúde, até 10 de novembro, foram aplicadas 75,68 milhões de doses desta vacina no Brasil, o equivalente a 27,8% do Programa Nacional de Imunização (PNI). A vacina da Pfizer é aplicada em duas doses, e o produto também está sendo utilizado como dose de reforço para grupos de risco desde agosto.

Além dessas evidências de que o produto funciona e é seguro para os grupos indicados, outros estudos foram realizados com o objetivo de avaliar quão eficiente a vacina é em prevenir contágio, hospitalizações e mortes pela doença no “mundo real”. A resposta da ciência é amplamente positiva.

Apesar disso, evidências relacionadas à queda no nível de anticorpos após alguns meses e o surgimento de novas variantes mais transmissíveis, como a Delta, trazem alguma preocupação entre os cientistas. As vacinas continuam funcionando e salvando vidas nesse contexto, mas doses de reforço passaram a ser recomendadas por autoridades de saúde, assim como a adoção de medidas não farmacológicas, como o uso de máscaras, em locais com alta circulação do vírus.

Remédios são necessários mesmo com vacinas

O objetivo de se desenvolver um medicamento contra a covid é o tratamento de pessoas infectadas pelo vírus, a fim de reduzir a gravidade da doença, hospitalizações e mortes, bem como a probabilidade de infecção após a exposição. De acordo com o professor e imunologista Jorge Andrade Pinto, coordenador da Unidade de Pesquisa Clínica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os remédios que estão sendo estudados são antivirais que visam diminuir a replicação do vírus Sars-Cov-2 na pessoa infectada, diminuindo a chance de progressão para a doença grave e internação.

As vacinas operam de uma forma diferente: o objetivo é treinar o sistema imunológico para que a pessoa tenha uma resposta rápida e robusta contra o vírus no caso de uma contaminação futura. Como é de conhecimento público, as vacinas não eliminam completamente a possibilidade de uma infecção pelo novo coronavírus e medicamentos ainda são necessários para o tratamento de casos que podem evoluir para forma grave.

Em uma entrevista para a revista Veja Saúde, em março deste ano, o médico português Guilherme Pessoa-Amorim, pesquisador da Universidade de Oxford e da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, explicou por que os medicamentos continuam sendo necessários para combater a pandemia.

“As vacinas terão um efeito tremendo na redução da transmissão, hospitalizações e mortalidade da covid-19, mas não são 100% eficazes, e demorará algum tempo até atingirmos a imunidade de grupo em cada um dos países, e ainda mais a nível global”.

O pesquisador também ressalta que podem surgir novas variantes no futuro que escapem da proteção vacinal — o que não ocorreu até o momento — e destacou que ainda não se tem a resposta sobre quanto tempo dura a proteção conferida pelas vacinas.

“É possível que a covid-19 se torne uma doença endêmica na população, como a gripe comum, com picos sazonais e necessidade de atualização periódica de vacinas”, explicou à revista. “Sendo assim, continuará a haver um grande número de pessoas sendo infectadas e manifestando doença grave, com necessidade de hospitalização e, consequentemente, de tratamentos eficazes e cuidados adequados.”

O post aqui checado desconsidera vários aspectos. A principal falha da tese é que o fato de uma vacina ter sido aprovada com um elevado patamar de eficácia não significa que imediatamente todas as pessoas passaram a ter acesso a ela. No Brasil, por exemplo, 57,08% da população tinha completado o esquema vacinal e 73,28% havia recebido ao menos uma dose de alguma das quatro vacinas aprovadas até terça-feira, 9 de novembro. O produto da Pfizer/BioNTech representa cerca de 28% das doses aplicadas.

Aproximadamente um quarto da população brasileira permanece totalmente desprotegida, enquanto cerca de 16% ainda aguardam a segunda dose da vacina, mesmo com quase 10 meses de campanha — lembrando que alguns grupos, como crianças de até 11 anos, ainda não podem ser imunizadas no país, enquanto uma parcela minoritária simplesmente se recusa a tomar a vacina mesmo com as evidências disponíveis atualmente.

Em todo o mundo, cerca de 40% da população estava com o esquema vacinal completo na mesma data e 51,2% receberam ao menos a primeira dose, segundo a plataforma Our World In Data, mantida por pesquisadores da Universidade de Oxford. O levantamento informa que 123 países e territórios tinham menos da metade da população com as doses necessárias, enquanto 44 deles sequer chegaram a 10%. Do outro lado, apenas 10 nações superaram a marca de 80% (veja mais no gráfico abaixo).

 

Esses números ajudam a explicar porque, mesmo com a disponibilização das primeiras vacinas a partir de dezembro de 2020, o número de casos e mortes por covid-19 continua elevado e a pandemia ainda não pode ser controlada em muitos lugares.

Segundo o mapa de monitoramento da covid-19 da Universidade Johns Hopkins, a quantidade semanal de casos confirmados no mundo está próxima a 3 milhões, enquanto o número de mortes fica em torno de 48 mil por semana. A plataforma Our World In Data informava no dia 10 de novembro uma média móvel de 474.729 casos e 7.167 mortes por dia no mundo.

No Brasil, a média móvel de casos estava em 11.039 por dia, e a de mortes, 243 por dia, em 9 de novembro de 2021, de acordo com levantamento do consórcio de veículos de imprensa, que leva em conta os boletins fornecidos pelas Secretarias Estaduais de Saúde. Essa média é calculada a partir dos dados dos últimos sete dias, como forma de evitar distorções em determinados momentos da semana.

Outro fator que impacta esses valores é o surgimento de variantes mais transmissíveis do coronavírus, como a Delta, que apresenta uma maior chance de sucesso em driblar as defesas do corpo, inclusive entre os vacinados. Ainda assim, as vacinas continuam prevenindo casos, hospitalizações e mortes pela doença. O estado de São Paulo, por exemplo, registrou no início de novembro uma queda de 93% nas mortes por covid-19 ante abril, pico da segunda onda da pandemia. Atualmente, o maior risco está entre aqueles que não se vacinaram ou ainda não completaram a imunização.

Diante da quantidade de pessoas afetadas pela pandemia hoje, a estratégia de buscar medicamentos que funcionem contra a doença segue relevante, do ponto de vista humanitário — e existe demanda para as empresas farmacêuticas interessadas em descobrir esse tipo de tratamento.

O post também ignora que as vacinas e as terapias medicamentosas constituem estratégias complementares. Um dos motivos é justamente que nenhum imunizante é capaz de prevenir 100% uma infecção. Para esses casos — a taxa de breakthrough, infecções em quem já foi imunizado com duas doses — somados com os indivíduos que não tiveram acesso aos imunizantes anteriormente, a disponibilização de um tratamento que comprovadamente funcione é essencial para salvar vidas e reduzir os danos causados ao organismo pela covid-19.

Pfizer diz que medicamento reduziu o risco de hospitalização ou morte em 89%

No dia 5 de novembro de 2021, a Pfizer anunciou que o seu candidato a tratamento por via oral contra a covid-19, o medicamento batizado de Paxlovid, reduziu o risco de hospitalização ou morte em 89% na análise provisória em estudo de fase 2 e 3. A porcentagem foi calculada em comparação com o placebo em adultos de alto risco não hospitalizados com a doença. Os resultados foram noticiados pela imprensa.

De acordo com a farmacêutica, na população geral do estudo, até o dia 28 nenhuma morte foi relatada em pacientes que receberam o medicamento, em comparação com 10 mortes em pacientes que receberam placebo. A Pfizer planeja enviar os dados como parte de sua apresentação contínua à FDA o mais rápido possível.

O Paxlovid é uma terapia antiviral projetada para ser prescrita ao primeiro sinal de infecção ou ao primeiro conhecimento de uma exposição, no intuito de evitar o agravamento da doença e a consequente hospitalização e morte.

“A prevenção é o nosso objetivo primário. Nós recebemos a imunidade através da vacina, mas para a população que mesmo vacinada foi contaminada pela doença ou para o não vacinado, disponibilizamos os medicamentos antivirais, com a intenção de modificar o curso da doença” reforça o coordenador da Pesquisa Clínica na UFMG, Jorge Pinto.

Estudo randomizado duplo-cego foi realizado

De acordo com o anúncio da Pfizer, um estudo randomizado duplo-cego – quando nem o examinado e nem o examinador sabem o que está sendo utilizado como variável em um dado momento – foi realizado em pacientes adultos não hospitalizados com covid-19 e que apresentavam alto risco de progredir para doença grave. Os pacientes foram tratados dentro de três dias do início dos sintomas.

Os resultados apontaram que 0,8% dos pacientes que receberam o medicamento foram hospitalizados até o dia 28 após a randomização (3/389 hospitalizados, sem mortes), em comparação com 7,0% dos pacientes que receberam placebo e foram hospitalizados ou morreram (27/385 hospitalizados, com sete mortes subsequentes).

Ainda conforme a Pfizer, reduções semelhantes na hospitalização ou morte relacionadas à covid-19 foram observadas em pacientes tratados dentro de cinco dias do início dos sintomas: 10% que receberam o medicamento foram hospitalizados até o dia 28 após a randomização (6/607 hospitalizados, sem mortes), em comparação com 6,7% dos pacientes que receberam placebo (41/612 hospitalizados, com 10 mortes subsequentes)

Na população geral do estudo, até o dia 28 nenhuma morte foi relatada em pacientes que receberam o remédio da Pfizer, em comparação com 10 (1,6%) mortes em pacientes que receberam placebo.

A análise primária do conjunto de dados provisório avaliou 1219 adultos que foram inscritos até 29 de setembro de 2021. No momento da decisão de interromper o recrutamento de pacientes, a inscrição era de 70% dos 3 mil pacientes planejados de locais de ensaios clínicos nas Américas do Sul e Norte, Europa, África e Ásia, com 45% dos pacientes localizados nos Estados Unidos.

Os indivíduos inscritos tinham um diagnóstico confirmado por laboratório de infecção por Sars-CoV-2 dentro de um período de cinco dias com sintomas leves a moderados e eram obrigados a ter pelo menos uma característica ou condição médica subjacente associada a um risco aumentado de desenvolver doença grave. Cada paciente foi randomizado (1:1) para receber Paxlovid ou placebo por via oral a cada 12 horas por cinco dias.

A Pfizer diz ter comparado também eventos adversos emergentes do tratamento ​​entre o medicamento (19%) e o placebo (21%), a maioria de intensidade leve.

Testes no Brasil

Procurada pelo Comprova, a Pfizer informou que em outubro de 2021 iniciou no Brasil a condução de uma série de estudos clínicos de Fase 2/3 com o uso da molécula PF-07321332.

No país, são mais de 20 centros de pesquisa que participam da pesquisa e que estão convocando voluntários nos estados do Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo.

São selecionados maiores de 18 anos e, dependendo em qual das três vertentes dos estudos sejam elegíveis, podem ou não já estar vacinados contra covid-19. “A PF-07321332 já demonstrou potente atividade in vitro contra o Sars-CoV-2 nas fases pré-clínicas, assim como adequadas segurança e tolerabilidade em estudos de Fase I em humanos”, afirma a farmacêutica.

A Pfizer Brasil explica, ainda, que nesses estudos, o fármaco também será coadministrado com uma baixa dose de ritonavir, assim como ocorreu nos Estados Unidos.

“Considerando os resultados positivos obtidos nos estudos pré-clínicos, a Pfizer deu continuidade ao programa de desenvolvimento clínico dessa molécula e realiza três estudos pivotais, randomizados, duplo-cego e controlados por placebo”.

O primeiro estudo se dá em pacientes não vacinados ou vacinados com suspeita e/ou diagnóstico de covid-19 e com baixo risco de desenvolver doença grave. O segundo em pacientes não vacinados com suspeita e/ou diagnóstico de Covid-19 e com alto risco de desenvolver doença grave. E o terceiro em pessoas não vacinadas cujos contatos domiciliares estão com covid-19.

A diretora médica da Pfizer Brasil, Márjori Dulcine, por meio da assessoria de comunicação, afirma que a empresa entende que as medidas de combate à pandemia de covid vão além da vacinação, por isso a realização de ensaios iniciais de rastreamento de compostos antivirais em busca de potenciais moléculas.

Por fim, a empresa destaca que tais estudos foram previamente aprovados pela Anvisa e Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), assim como pelos Comitês de Ética dos centros de pesquisa selecionados.

O autor

O autor do tuíte é o médico infectologista Ricardo Ariel Zimerman, que em junho deste ano foi ouvido na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, onde se manifestou a favor do chamado “tratamento precoce”, que utiliza medicamentos sem comprovação científica contra covid-19.

Zimerman também foi citado em uma reportagem do Matinal Jornalismo, publicada em agosto de 2021, como um dos responsáveis por testes com a substância proxalutamida em pacientes contaminados pelo novo coronavírus, que teriam ocorrido em um hospital da Polícia Militar do Rio Grande do Sul (RS) sem autorização da Anvisa, o que é investigado pelo Ministério Público Federal. Ele foi denunciado, ainda, por ter ameaçado jornalistas envolvidos na reportagem.

O médico já foi alvo de verificações em outras ocasiões e por diferentes motivos. O próprio Comprova já identificou ser enganosa uma mensagem publicada por ele no Twitter comparando pedido de um vidente para que as pessoas sigam usando máscara como meio de proteção contra a covid-19 com os resultados de um estudo da Dinamarca que não teria mostrado benefício para o uso de proteção facial.

Outros veículos, como Estadão Verifica e GHZ, também verificaram conteúdos do infectologista, que recomendou tratamento precoce sem eficácia comprovada e usou dados distorcidos para falar de isolamento social nas cidades.

Ele foi procurado pela reportagem, mas não respondeu até esta publicação.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O tuíte verificado teve 700 retuítes e mais de 3 mil curtidas até o dia 12 de novembro de 2021.

Publicações enganosas como esta colocam a saúde da população em risco ao sugerir que a vacinação contra a covid-19 é dispensável. Tanto a eficácia quanto a segurança dos imunizantes já foram comprovadas em estudos de órgãos e agências nacionais, como a Anvisa, e internacionais.

O Comprova já publicou outras checagens que desmentem boatos ligados à vacinação e pandemia, como o que informa ser falso que antiviral em teste da Pfizer teria ivermectina na fórmula e ser enganoso post que afirmava que a vacina contra a covid-19 poderia gerar HIV, câncer e HPV.

Enganoso, para o Comprova, é todo o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos.

Saúde

Investigado por: 2021-11-11

Vacina contra a covid-19 é segura e não gera HIV, câncer ou HPV

  • Falso
Falso
São falsas as afirmações contra a vacina da covid-19 ditas pelo médico Nelson Modesto, em um áudio que circula no Telegram. O profissional da saúde afirma que os imunizantes conseguem gerar HIV, câncer e HPV nos vacinados, o que é mentira. Verificações anteriores realizadas pelo Comprova mostram serem inventadas as ligações entre a vacina e uma série de doenças, como as citadas na publicação.
  • Conteúdo verificado: Um homem se apresenta em um áudio como o médico Nelson Modesto. Ele afirma que realizou um estudo provando que as vacinas com “insumo chinês” têm a capacidade de desenvolver doença autoimune e câncer nos imunizados. Ele também diz, sem provas, que os políticos estão tentando calar os médicos.

É falso o conteúdo que circula no Telegram, em formato de áudio, no qual há afirmações sobre as vacinas contra a covid-19 conseguirem gerar nos imunizados doenças autoimunes e câncer. O conteúdo é atribuído ao médico Nelson Modesto, especialista em clínica médica, que atua com imunoterapia ativada e imuno-oncologia.

O áudio foi compartilhado no grupo Médicos Pela Vida e gerou pânico entre os membros, além de reforçar a falsa ideia de que as vacinas não são seguras e eficazes. É possível chegar a esta conclusão a partir de comentários deixados na publicação, como o de um homem afirmando que o “China vírus veio de lá, tudo por dinheiro“.

Além de comentários xenofóbicos, outros negacionistas também aparecem, como o de uma mulher que afirma não existir o coronavírus. Ela utiliza como justificativa que “nenhum cientista encontrou o vírus isolado”, o que é mentira.

A reportagem entrou em contato com o profissional para checar se o áudio seria, de fato, da autoria dele. O médico confirmou e deu mais detalhes da pesquisa elaborada que foi citada no áudio.

Segundo o médico, todas as vacinas aplicadas no Brasil foram elaboradas com o insumo chinês que causa câncer e doenças autoimunes, além de estar contaminando os vacinados com uma variante do coronavírus mais forte. Modesto fez as afirmações sem apresentar qualquer tipo de prova que pudesse ratificar sua tese.

Ainda sem provas, o médico diz que o insumo chinês contém Nagalase — enzima chamada de proteína de ligação à vitamina D —, óxido de grafeno e nanopartículas de grafeno, substâncias que, segundo ele afirma também erroneamente, causam as doenças já citadas. Esses componentes não integram a lista de substâncias presentes nos imunizantes desenvolvidos pela Pfizer, Coronavac e AstraZeneca.

“Eu fiz o estudo que prova que as pessoas vacinadas contra a covid-19 estão na realidade se contaminando com uma nova variação do vírus, bem como também podem desenvolver câncer e doenças autoimunes, meu estudo foi elaborado em torno do BDORT, o insumo chinês contém substâncias que causam todos esses problemas que eu descobri”, afirmou Modesto. Questionado sobre como o suposto estudo foi desenvolvido e a veracidade deste, o médico informou que a pesquisa ainda não está completa.

“Ainda não tenho este estudo escrito para publicação, estou fazendo o levantamento de participantes, já avaliei e tratei cerca de 75 pessoas que estavam contaminadas com a vacina. Para ter um bom resultado quero chegar em 100 participantes no meu estudo. A pesquisa está em Powerpoint. Não vou publicar meu trabalho no Brasil, irei publicar a pesquisa no Canadá”, disse Modesto.

Especialistas entrevistados pelo Comprova relatam que as afirmações do médico são equivocadas e infundadas, visto que as pesquisas publicadas apontam resultados diferentes.

Diante das informações apuradas, a verificação do Comprova definiu o conteúdo como falso, por ter sido inventado.

Como verificamos?

O Comprova buscou informações sobre a relação de vacinas e o desenvolvimento de doenças em matérias jornalísticas e no site oficial da OMS (Organização Mundial da Saúde) e do Ministério da Saúde brasileiro.

Entrevistamos, por WhatsApp, o médico infectologista e professor da Universidade Católica de Brasília César Carranza Tamayo.

Também conversamos por WhatsApp com Gilmar Alves Zonzin, ex-presidente da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Estado do Rio, além de Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), que tem pós-doutorado em epidemiologia pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.

A reportagem entrou em contato com Nelson Modesto, citado como autor do áudio aqui verificado, que confirmou a autenticidade da gravação. Também entramos em contato com a instituição de ensino superior em que ele leciona, no interior de São Paulo, e aguardamos retorno.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 11 de novembro de 2021.

Verificação

Vacinas contra covid-19 não causam doenças autoimunes ou câncer

Especialistas ouvidos pela reportagem do Comprova afirmam que as vacinas desenvolvidas para combater o coronavírus não são responsáveis pelo desenvolvimento de doenças autoimunes ou câncer, conforme afirma falsamente o áudio aqui verificado. O mesmo é dito por autoridades sanitárias do Brasil — como a Anvisa — e do mundo — como o FDA, CDC e OMS.

Gilmar Alves Zonzin, ex-presidente da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Estado do Rio, classificou como ‘bizarras’ e ‘absurdas’ as afirmações de Nelson Modesto ligando o citomegalovírus, HIV e HPV aos imunizantes contra a covid-19.

“Já lhe adianto que essas são informações bizarras, absurdas, sem nenhum fundamento. Outrossim, vacinas, como também medicamentos, e diversos insumos, não são ausentes em efeitos indesejáveis, que devem ser identificados, relatados, monitorados, estudados, etc., mas não essas bizarrices”, concluiu.

O médico infectologista César Carranza Tamayo disse que as vacinas são seguras e que a maior parte dos efeitos adversos é leve, como febre e dor no local da aplicação. Segundo o especialista, as vacinas não são causadoras de doenças autoimunes ou câncer.

“O que acontece, e isso é um efeito largamente conhecido, é que pessoas com esse tipo de doenças, mas que ainda não desenvolveram sintomas, podem começar a apresentá-los após uma infecção viral ou algumas vacinas com vetor viral”, explica o infectologista.

Na sequência, Tamayo complementou informando que uma pessoa que tem alguma doença autoimune ainda não manifestada de forma plena pode ter uma virose, como a mononucleose — doença do beijo —, e posteriormente iniciar os sintomas da doença. “Isso não quer dizer que o vírus causou a doença, mas que serviu como gatilho para essa pessoa começar a apresentar sintomas da doença autoimune”, descreve.

“As vacinas em geral são amplamente testadas em laboratório antes de serem liberadas para sua distribuição e comercialização. As medidas de fabricação são extremamente estritas para garantir a esterilidade da vacina. Ou seja, uma vacina não pode ter absolutamente nenhum contaminante que possa causar doenças (como bactérias, vírus, etc). Até porque, se isso acontecesse, existiria a chance de uma vacina perder sua eficácia”.

A mesma afirmação sobre a segurança dos imunizantes contra a covid-19 foi feita por Ethel Maciel.

“Sobre a segurança das vacinas contra covid-19: São seguras e eficazes. Os eventos graves pós vacinais são raros. O evento raro mais comum é a trombose, mas a doença (covid-19) causa muito mais essa doença (trombose) que a vacina”.

A cientista recomendou a leitura do artigo disponível na página da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) a respeito do risco de trombose.

Em complemento, a epidemiologista disse que outro evento raro, pós-vacina, é a miocardite, mas que os casos também são mais registrados nas pessoas que desenvolveram a covid-19 do que em vacinados. Maciel contestou o áudio de Nelson Modesto, alegando que o imunizante não provoca ‘qualquer outra doença’.

“A vacina contra covid-19 não provoca HIV, HPV ou qualquer outra doença. A vacina auxilia o sistema imunológico a construir a resposta imune contra a covid, essa é a ação, não causa doença”, afirmou.

Outro estudo sugerido pela especialista foi divulgado pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos. O artigo relaciona a covid-19 e a miocardite, utilizando como base dados coletados em hospitais norte-americanos entre março de 2020 e janeiro de 2021.

Quem é o médico

Nelson Modesto, citado como autor do áudio aqui verificado, afirma ser médico desde 1967, graduado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com especialização em Clínica Médica pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica e doutorado em Medicina pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

As informações foram obtidas pelo Comprova por meio de uma busca na Plataforma Lattes, do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que agrega currículos virtuais com foco na trajetória acadêmica. Todas as informações foram preenchidas pelo próprio médico nessas plataformas.

As mesmas informações presentes no Lattes constam no perfil do Facebook do médico. Modesto não tem pesquisas publicadas em revistas de relevância dentro da sua área de atuação.

Modesto declara nas plataformas digitais que ainda atua como professor titular da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e como Médico do Hospital da Real Sociedade Beneficência de Campinas. O especialista foca suas atividades no nicho de leptômonas — tipo de parasitas. No entanto, segundo o site da instituição, ele não consta como docente.

Confrontado com as informações pela reportagem do Comprova, Modesto alegou que há anos não atua mais como professor na PUC Campinas, mas não esclareceu por quais motivos ainda mantém o título nas redes sociais e no currículo acadêmico como se fossem referentes ao atual status dele.

Uma outra checagem foi feita pelo Boatos.org desmentindo as afirmações contidas no áudio. O Comprova também desmentiu outras afirmações contidas na declaração de Modesto, como a verificação que conferiu que as vacinas de RNA mensageiro não geram doenças autoimunes e não são responsáveis pelo desenvolvimento de câncer.

Congresso citado pelo médico

Por meio de uma busca na internet, a reportagem localizou o congresso citado no áudio que circula nas plataformas de mensagens. Trata-se da 1ª Jornada Brasileira Sobre o BDORT e Cuidados Integrativos, que aconteceu virtualmente em julho deste ano.

Em conversa com a reportagem, o médico confirmou ter sido palestrante no evento e ainda disse ter apresentado sua pesquisa, no entanto, Nelson Modesto não consta na lista de palestrantes que integra o site oficial do evento. As apresentações da jornada foram transmitidas via YouTube, onde ainda constam os vídeos e Modesto não aparece nas gravações.

A sigla BDORT significa Bi Digital O-Ring Test (Teste do Anel Bi-Digital, em português). A técnica consiste em uma “investigação clínica não invasiva, desenvolvida pelo médico engenheiro nipo-americano Yoshiaki Omura”, segundo informações divulgadas pela organização que representa a categoria no país, situada em São Paulo.

A técnica, considerada como uma ponte entre métodos orientais e ocidentais, usa como teste a musculatura dos dedos, em forma de anel. O teste, segundo o site da AMBBDORT (Associação Médica Brasileira do Bi-Digital O-Ring Test), é baseado na pesquisa da força muscular em um grupamento muscular padrão.

No site, a associação explica que o método tem sido utilizado para o “diagnóstico e tratamento experimental”.

“Este método não deve substituir, em hipótese alguma, os métodos convencionais de diagnóstico e tratamento vigentes com base em protocolos de pesquisa”, diz a AMBBDORT.

Diante da falta de evidências que pudessem comprovar a presença de Nelson Modesto no evento, o Comprova encaminhou um e-mail solicitando a confirmação da AMBBDORT sobre a lista de palestrantes e participantes.

O objetivo é checar se Modesto integrou alguma mesa de debate ou se submeteu, de fato, o artigo citado no áudio. Até o momento da publicação desta matéria, a reportagem não teve retorno da associação.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado sobre a pandemia, as políticas públicas do governo federal e as eleições. A publicação no canal Médicos pela Vida do Telegram teve mais de 21 mil visualizações.

Informações sobre a pandemia, especialmente as vacinas, são importantes de serem verificadas porque podem afetar a confiança da população nos imunizantes — que possuem comprovação científica e são defendidos por autoridades de saúde para combater a doença.

Recentemente, o Comprova mostrou ser falso que pessoas imunizadas com a vacina da Pfizer se tornem rastreáveis e que CDC não disse que imunidade natural é superior à das vacinas, como sugere empresário indiciado pela CPI.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que sofreu edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2021-11-09

Segurança de vacina da Pfizer para crianças foi atestada pelo CDC; monitoramento de longo prazo é padrão

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a sequência de tuítes e a postagem no Instagram, feitas por um médico, questionando se a vacina da Pfizer contra a covid-19 é segura para crianças de 5 a 12 anos. Ele destaca apenas trecho de um documento da farmacêutica, que afirma ser pequeno o número de participantes nos estudos para identificar risco potencial de miocardite associada ao imunizante na faixa etária. O médico omite que autoridades sanitárias consideraram os benefícios da vacinação superiores aos riscos, o que também foi destacado no relatório.
  • Conteúdo verificado: Sequência de tuítes e postagem no Instagram expõem parte de um documento da Pfizer admitindo que os testes em crianças de 5 a 12 anos foram feitos em um grupo muito reduzido para que pudessem ser conclusivos para casos de miocardite nessa faixa etária. Ele orienta que as pessoas não acreditem na segurança da vacina para esse público só porque o FDA e o CDC a aprovaram.

É enganoso que as vacinas contra a covid-19 desenvolvidas pela Pfizer não são seguras para uso em crianças e adolescentes, conforme descontextualiza uma sequência de tuítes e uma postagem no Instagram aqui verificados.

Nos posts, um médico alega que a própria Pfizer informou em um documento que o número de participantes no programa de desenvolvimento clínico da vacina para crianças de 5 a 11 anos era muito reduzido para detectar risco potencial de miocardite associada ao imunizante.

O documento citado nas publicações de fato existe e foi apresentado em reunião junto ao Comitê Consultivo de Vacinas e Produtos Biológicos (VRBPAC), da Food & Drug Administration (FDA). Porém, o conteúdo publicado nas redes sociais não explicita coerentemente os dados que constam no relatório.

A própria FDA chegou a publicar um release informando ter autorizado a vacina da Pfizer-BioNTech para uso emergencial em crianças e adolescentes entre 5 e 11 anos, o que reforça ser enganosa a tese de que os imunizantes contra o coronavírus não seriam seguros para essa faixa etária.

O autor questiona a segurança da vacina citando que, a longo prazo, a possibilidade de miocardite só será avaliada em cinco estudos pós-autorização, incluindo um de cinco anos de duração. Porém, omite dados do próprio documento informando sobre os baixos riscos em comparação ao benefício, já que a covid-19 pode acarretar em problemas de saúde mais graves e até a morte.

Procurado, o autor do tuíte afirmou ser a favor da vacinação, mas “ser contra esta vacina, neste grupo etário”. Insistiu, erroneamente, que não houve “estudos de segurança adequados” e declarou que as pessoas têm o direito de saber “que o próprio fabricante diz que os riscos só serão conhecidos após cinco anos do início da vacinação”. Por fim, ele considerou a aprovação da vacina, sem todos os estudos, inédita e absurda.

O Comprova classificou o conteúdo como enganoso porque, publicado fora de seu contexto original e utilizando dados imprecisos, induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Como verificamos?

Inicialmente, entramos em contato com a Pfizer para questionar quais eram os riscos da aplicação dos imunizantes contra a covid-19 em crianças e adolescentes de 5 a 12 anos de idade.

Na sequência, a reportagem acionou o FDA, agência reguladora de Saúde nos Estados Unidos, equivalente à Anvisa no país, que sugeriu a leitura de nota oficial sobre o assunto em seu site.

Em seguida, a Anvisa foi procurada para falar sobre o avanço da aprovação para o uso emergencial dos imunizantes no Brasil para estes grupos etários.

Também foi entrevistada a imunologista Fernanda Grassi, pesquisadora titular do Instituto Gonçalo Moniz/Fiocruz-Bahia, para falar sobre os riscos que envolvem a vacinação de crianças e o número de pessoas utilizadas nos testes vacinais.

Por fim, o autor do tuíte foi procurado.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 9 de novembro de 2021.

Verificação

Trecho destacado em tuíte é recorte do documento oficial

O trecho citado nas postagens feitas no Twitter e no Instagram pertence a um documento de 82 páginas apresentado pela Pfizer em reunião junto ao Comitê Consultivo de Vacinas e Produtos Biológicos Relacionados (VRBPAC), do FDA, a agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos, em 26 de outubro de 2021.

Por ocasião da reunião, os conselheiros votaram para recomendar a vacinação com o imunizante da Pfizer contra a covid-19 em crianças de 5 a 12 anos, conforme noticiou a imprensa americana.

A própria agência publicou release informando ter autorizado a vacina da Pfizer-BioNTech para uso emergencial na faixa etária. Segundo o comunicado, a autorização foi baseada na avaliação completa e transparente do FDA dos dados, que incluíram contribuições de especialistas de comitês consultivos independentes que votaram a favor de tornar a vacina disponível para crianças nessa faixa etária.

Dentre os pontos-chave para pais e cuidadores, a agência destacou a eficácia e a segurança da vacina para o público. Em relação à primeira, as respostas imunológicas das crianças foram comparáveis ​​às de indivíduos de 16 a 25 anos. A vacina foi considerada 90,7% eficaz na prevenção de covid-19 na faixa infantil. Sobre a segunda, a segurança da vacina foi estudada em aproximadamente 3,1 mil crianças de 5 a 12 anos que receberam a substância e nenhum efeito colateral sério foi detectado no estudo em andamento.

A FDA explica que o Comitê Consultivo sobre Práticas de Imunização do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) se reunirá em breve para discutir outras recomendações clínicas.

De acordo com a agência, a vacina da Pfizer para crianças de 5 a 12 anos de idade é administrada como uma série primária de duas doses, com três semanas de intervalo, mas trata-se de uma dose mais baixa (10 microgramas) do que a usada para indivíduos com 12 anos de idade ou mais (30 microgramas).

Nos EUA, os casos de covid-19 em crianças nesta faixa etária representam 39% dos casos em indivíduos com menos de 18 anos. De acordo com o CDC, aproximadamente 8.300 casos da doença em crianças de 5 a 12 anos de idade resultaram em hospitalização. Em 17 de outubro, 691 mortes por covid-19 haviam sido relatadas nos Estados Unidos em indivíduos com menos de 18 anos de idade, sendo 146 mortes no grupo de 5 a 11 anos.

“Com base na totalidade das evidências científicas disponíveis, os benefícios conhecidos e potenciais da vacina Pfizer-BioNTech covid-19 em indivíduos de até 11 anos de idade superam os riscos conhecidos e potenciais”, afirma o órgão. O CDC recomendou no dia 2 de novembro a aplicação da vacina pediátrica para cerca de 28 milhões de crianças nessa faixa etária nos Estados Unidos.

Contexto da publicação feita no Twitter

A página do documento compartilhada no post apresenta, em inglês, as conclusões gerais de risco-benefício da vacinação em crianças de 5 a 12 anos. No texto, a farmacêutica informa que a covid é uma infecção grave e potencialmente fatal para crianças e que as duas doses primárias da vacina mostraram um perfil favorável de segurança e tolerabilidade, respostas imunes robustas contra todas as variantes preocupantes e alta eficácia contra a covid-19 sintomática em um período em que a variante delta foi predominante nos Estados Unidos.

De fato, como observado pelo autor das postagens, o documento destaca que o número de participantes no programa de desenvolvimento clínico é muito pequeno para detectar quaisquer riscos potenciais de miocardite associados à vacinação. Também cita que a segurança de longo prazo do imunizante será analisada em cinco estudos pós-autorização, incluindo um estudo de acompanhamento de cinco anos para avaliar a longo prazo sequelas de miocardite/pericardite pós-vacinal.

Nas postagens, contudo, o médico fala apenas sobre esse trecho da página, omitindo, nos comentários em português, por exemplo, a informação que consta no documento sobre os bancos de dados de vigilância de segurança de Israel sugerirem que as taxas de incidência de casos raros pós-vacinação de miocardite atingem o pico em indivíduos do sexo masculino com 16 a 19 anos de idade e que diminuem em adolescentes de 12 a 15 anos de idade.

O documento da Pfizer destaca, também, que a dose para crianças de 5 a 12 anos de idade é 1/3 da dose administrada aos vacinados mais velhos. “Com base nessas informações, é razoável prever que as taxas de miocardite pós-vacina provavelmente serão ainda mais baixas em 5 a 12 anos de idade do que as observadas em adolescentes de 12 a 15 anos”, diz o documento.

Para a infectologista Fernanda Grassi, que é pesquisadora titular do Instituto Gonçalo Moniz/Fiocruz-Bahia, os testes vacinais na fase anterior à aprovação de uma vacina – ou seja, a fase 3 – são mesmo limitados. “Você faz os testes em um número limitado de pessoas e quando essa vacina é aprovada e vai para a fase 4, você tem a farmacovigilância”, aponta.

Qualquer vacina precisa dessa vigilância, diz. “Todas as vacinas precisam de farmacovigilância, até as que são aprovadas há muito tempo. Evidentemente, qualquer vacina ou qualquer medicamento que entre (aprovada), a gente tem que continuar investigando, vendo se casos que vão surgindo estão ou não relacionados à vacina”, explica.

A pequena participação de crianças no ensaio clínico rendeu alguma polêmica nos Estados Unidos, como detalha essa reportagem do New York Times. Em outra notícia, contudo, o veículo explica serem reconfortantes os dados recentes sobre a frequência que as vacinas contra a covid causam problemas cardíacos em crianças, isso porque a miocardite continua muito incomum e quase sempre é leve e temporária. O risco cardíaco da própria covid-19 é muito maior, destacam especialistas ouvidos pelo veículo.

Conforme as informações, embora as vacinas feitas pela Pfizer-BioNTech e Moderna pareçam estar associadas a um risco aumentado de miocardite em pessoas com até 30 anos, o risco absoluto permanece muito pequeno.

O especialista em inflamação do coração em crianças do Hospital Infantil UPMC de Pittsburgh, Dr. Brian Feingold, por exemplo, afirma à publicação que estatisticamente é muito mais provável que a covid-19 cause danos ao coração. Para ele, deste modo, mesmo que o risco de miocardite após a vacinação seja real, a infecção causada pelo coronavírus é mais perigosa.

Desde o início da pandemia de coronavírus, afirma, dezenas de milhares de crianças foram hospitalizadas com covid e 657 morreram, de acordo com dados coletados pelo CDC. Além disso, algumas crianças infectadas podem desenvolver covid prolongada, permanecendo doentes por meses após o desaparecimento da infecção inicial, o que afetou pelo menos 5.200 crianças nos Estados Unidos.

O veículo também detalha que a incidência de miocardite após a vacinação varia com a idade, sexo e dose – e entre os diferentes estudos feitos sobre o assunto. Mas a tendência, até agora, sugere que as chances são maiores após a segunda dose de uma vacina de mRNA em pacientes do sexo masculino com idades entre 16 e 29 anos, com cerca de 11 casos de miocardite para cada 100 mil pacientes masculinos vacinados nessa faixa etária.

Embora os dados sobre miocardite em adolescentes de 12 a 15 anos após a vacinação sejam limitados, o Dr. Paul A. Offit, diretor do Centro de Educação de Vacinas do Hospital Infantil da Filadélfia, diz que, até o momento, os problemas cardíacos após a vacinação parecem ser menos comuns em meninos dessa idade do que em homens mais velhos. “A miocardite é geralmente um fenômeno pós-púbere”, observa.

O FDA informa que a Pfizer atualizou seu plano de monitoramento de segurança para incluir avaliação de miocardite, pericardite e outros eventos de interesse em crianças de 5 a 12 anos de idade. Além disso, o FDA e o CDC têm vários sistemas implantados para monitorar continuamente a segurança da vacina contra a covid-19 e permitir a rápida detecção e investigação de possíveis problemas de segurança.

É obrigatório para a Pfizer e os provedores de vacinação relatar quaisquer eventos adversos graves, casos de Síndrome Inflamatória Multissistêmica e casos de covid-19 que resultem em hospitalização ou morte em indivíduos vacinados. Também é obrigatório para os provedores de vacinação relatar todos os erros de administração da vacina ao Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas norte-americano (VAERS), dos quais tenham conhecimento e para a Pfizer incluir um resumo e análise de todos os erros de administração da vacina identificados em relatórios mensais de segurança para o FDA.

Miocardite é rara em pacientes com ou sem covid-19

A miocardite geralmente resulta de infecção por um vírus ou bactéria e causa sintomas como batimento cardíaco rápido ou irregular, dor no peito e falta de ar. Globalmente, cerca de 10 a 20 pessoas em cada 100.000 desenvolvem miocardite a cada ano, mas muitas outras apresentam sintomas leves e podem nunca ser diagnosticadas.

No entanto, a covid-19 tem mais chances de gerar a complicação do que a vacina desenvolvida contra o coronavírus, segundo um estudo divulgado em agosto deste ano pelo CDC (Centro para a Prevenção e o Controle de Doenças), dos Estados Unidos. Os dados apresentados pela pesquisa analisaram consultas em mais de 900 hospitais norte-americanos.

“A miocardite permanece rara em pacientes com ou sem covid”, diz um trecho do relatório do CDC. Ao mesmo tempo, o CDC diz que apesar do vírus ampliar os riscos para o desenvolvimento de uma miocardite, as consequências podem variar conforme a idade do paciente.

Foram identificados pelo FDA casos de miocardite e de pericardite após vacinação contra a covid-19 com imunizantes de plataforma de RNA mensageiro (RNAm), como as vacinas da Pfizer e da Moderna. No Brasil, apenas a primeira possui autorização para uso pela Anvisa, que emitiu alerta.

De acordo com a imunologista Fernanda Grassi, existem sim riscos de miocardite e pericardite pós-vacinal, mas os benefícios da vacinação são muito superiores aos riscos. “É claro que vacinar crianças de 5 a 11 anos é uma situação que você vai precisar acompanhar, mas o que tudo indica nesse momento é que os benefícios são muitos superiores aos riscos”, diz.

Ela ressalta que os casos de miocardite são extremamente raros, de pouca gravidade e autolimitados, ou seja, se curam sozinhos.

“Não existe na comunidade científica nenhuma barreira, nenhuma limitação, restrição a vacinar crianças. Pelo contrário: agora, cada vez mais, a gente está vendo a necessidade de vacinar essa faixa etária, porque os casos graves que estão diminuindo nas populações adultas estão se tornando mais graves em crianças. E isso é o que acontece quando a gente não vacina uma faixa etária. Sem contar que a criança pode servir até como reservatório para novas variantes”, pontua.

Dados comprovam segurança da vacina

O FDA explica que os dados de eficácia para apoiar a vacinação são baseados em um estudo randomizado controlado por placebo em andamento que envolveu aproximadamente 4.700 crianças de 5 a 12 anos de idade. O estudo está sendo conduzido nos Estados Unidos, Finlândia, Polônia e Espanha.

As crianças no grupo da vacina receberam duas doses da vacina Pfizer-BioNTech covid-19 contendo 10 microgramas de RNA mensageiro por dose. O FDA analisou dados que compararam a resposta imune de 264 participantes deste estudo com 253 participantes de 16 a 25 anos que receberam duas doses mais altas da vacina em um estudo anterior que determinou que a vacina era eficaz na prevenção de covid-19. As respostas imunológicas dos participantes mais jovens foram comparáveis ​​às dos participantes mais velhos.

O FDA também conduziu uma análise preliminar dos casos de covid-19 que ocorreram sete dias após a segunda dose. Nesta análise, entre os participantes sem evidência de infecção anterior com SARS-CoV-2, três casos de covid-19 ocorreram entre 1.305 receptores da vacina e 16 casos de covid-19 ocorreram entre 663 receptores de placebo; a vacina foi 90,7% eficaz na prevenção de covid-19.

O que diz a Pfizer

Procurada pelo Comprova, a farmacêutica encaminhou extensa nota sobre o assunto afirmando que a Pfizer e BioNTech desenharam um estudo de fase 1/2/3 na população pediátrica entre 6 meses de 11 anos de idade, que vem sendo conduzido por centros de pesquisa especializados e seguindo todos os critérios e regulamentações pertinentes à condução de pesquisa em seres humanos.

Em relação à análise preliminar dos dados da vacina em crianças de 5 a 11 anos, afirma que o regime de duas doses de 10 mcg da vacina se mostrou segura e capaz de gerar altos títulos de anticorpos, acrescentando que, além do FDA já ter aprovado o uso emergencial para a faixa etária, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) está em processo de análise dos dados.

Conforme a farmacêutica, é realizado habitualmente o acompanhamento de relatos de eventos adversos de seus produtos e o registro destes são fundamentais para que se mantenha uma análise criteriosa da relação risco-benefício de um determinado medicamento ou vacina. “Até o momento, especificamente sobre a vacina ComiRNAty, não há qualquer alerta de segurança ou preocupação, de modo que o benefício da vacinação segue estabelecido”, sustenta.

A nota afirma, ainda, que a farmacêutica atende à exigência das agências reguladoras de que os fabricantes conduzam estudos de farmacovigilância pós-aprovação, com relatórios regulares para as autoridades de saúde. “A Pfizer tem um plano robusto de farmacovigilância que foi aprovado pelas agências reguladoras; atualmente, esse plano de farmacovigilância inclui 6 estudos pós-aprovação da Pfizer, aceitos pelo FDA, em adultos, adolescentes e crianças para monitorar a segurança da vacina e identificar efeitos colaterais potencialmente raros. Isso é feito para todas as vacinas e medicamentos”.

Por fim, a Pfizer afirma que espera ainda neste ano apresentar os dados de segurança e imunogenicidade da vacina na população entre 6 meses a menores de 5 anos.

O que diz a Anvisa sobre uso da vacina em crianças e adolescentes

A Anvisa informou, ao ser procurada pelo Comprova, que a Pfizer ainda não solicitou a indicação de sua vacina para crianças menores de 12 anos no Brasil. “A análise da Anvisa tem início a partir do momento em que o pedido é feito, com a apresentação dos dados e resultados de estudos que sustentem a indicação de faixa etária”, explicou a o órgão, acrescentando que irá comunicar o recebimento deste pedido tão logo dê entrada na agência.

Ainda segundo a nota encaminhado à reportagem, a solicitação para a inclusão de uma nova indicação de faixa etária na bula de uma vacina depende de protocolo a ser realizado pela empresa/instituição detentora do registro ou da autorização de uso emergencial, com a apresentação de dados clínicos e científicos que sustentem a segurança e eficácia da vacina para o público infantil.

“Como agência reguladora, a Anvisa somente pode aprovar novas indicações de qualquer medicamento ou vacina diante da apresentação de dados técnicos sólidos e mediante um pedido objetivo dos desenvolvedores de cada vacina. Por isso, o pedido de nova indicação deve ser feito pelo laboratório farmacêutico responsável pela vacina”, sustenta..

A Pfizer deve pedir a aprovação do uso de imunizantes contra a covid-19 em crianças entre 5 a 11 anos. A previsão é que o pedido seja encaminhado à Anvisa ainda no mês de novembro.

O governo de São Paulo solicitou à Anvisa urgência na autorização de uso das imunizações para estes grupos etários. João Doria (PSDB) afirmou durante uma coletiva de imprensa que membros da equipe de saúde do estado integraram uma reunião técnica com profissionais do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde). Segundo o governador, São Paulo tem condições técnicas para iniciar a vacinação assim que a Anvisa liberar a aplicação no país.

Quem é o autor

O autor das postagens é o médico Paulo Macio Porto de Melo, inscrito no Conselho Regional de Medicina de São Paulo desde 1998 com áreas de atuação em neurocirurgia e neurologia.

Procurado pelo Comprova, ele afirma ter lido todo o documento e informado a fonte das informações na sequência de postagens, além de ter disponibilizado toda a página sobre os riscos.

Questionado se o conteúdo poderia desincentivar a vacinação, ele afirma que a postagem não se trata disso, e sim “das pessoas terem o direito de saber que o próprio fabricante diz que os riscos só serão conhecidos após cinco anos do início da vacinação”, acrescentando acreditar que isso é “inédito e absurdo”.

Por fim, afirmou ter se vacinado e não ser contra as vacinas, mas “ser contra essa vacina específica, neste grupo etário e sem estudos de segurança adequados”.

O médico já foi ouvido no Senado, onde defendeu o tratamento precoce com o uso de medicamentos sem comprovação científica contra a covid-19. Ele chegou a ser convocado para a CPI da Covid, mas o depoimento foi cancelado.

Ao longo da pandemia, Paulo Porto de Melo foi alvo de verificações por diferentes agências de checagem brasileiras por declarações falsas e enganosas sobre outra vacina contra a covid-19, a CoronaVac. As checagens foram publicadas por Aos Fatos, Lupa e Estadão Verifica.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado sobre políticas públicas do governo federal, eleições e a pandemia, como este aqui checado, que teve até o dia 9 de novembro mais de 7,9 mil interações no Twitter e 2,4 mil no Instagram. Os números foram contabilizados com base nos comentários, compartilhamentos e curtidas nas postagens.

Ao afirmar de forma enganosa que as vacinas contra a covid-19 podem causar efeitos adversos, a longo prazo, em crianças e adolescentes, a publicação confunde e assusta os cidadãos, que podem se tornar aversos a aplicação dos imunizantes no público de 5 a 12 anos, ainda que eles sejam comprovadamente seguros.

Isso fica claro em algumas respostas de usuários ao fio compartilhado no Twitter, como a que diz estar sofrendo por não tomar a “picadinha” e nem aplicar no filho de 17 anos: “não posso ir à missa, alguns lugares já não entro mais, minha família me critica me chamando de louca… mas algo me diz no fundo do coração que não tome, então não tomo”.

Ou o que afirma não querer levar os filhos para tomarem sequer as vacinas contra outras doenças, por medo “Não estou nem afim de levar meu filho de 3 pra 4 anos para tomar as habituais e antigas e já exigidas por medo, e por lembrar do que ele já passou antes das reações. Imagina esta MERDA se eu irei dar…”

As vacinas contra o coronavírus, principal mecanismo de combate à doença, têm sido alvo frequente de alegações falsas compartilhadas nas redes sociais. Sobre os imunizantes, o Comprova já identificou ser falso que a Polônia usava órfãos em experimentos de vacinas a Pfizer e da Moderna, como também o documento da Suprema Corte dos Estados Unidos que afirma falsamente que as vacinas transformam os cidadãos em ‘trasumanos’.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-11-05

É falso que pessoas imunizadas com a vacina da Pfizer se tornem rastreáveis

  • Falso
Falso
Diferentemente do que afirma um homem em um vídeo compartilhado no Telegram, a Pfizer não patenteou um sistema de rastreamento de pessoas vacinadas; e não há grafeno na formulação das vacinas contra a covid-19.
  • Conteúdo verificado: Vídeo publicado em um canal no Telegram afirma que a Pfizer patenteou um sistema de rastreamento de pessoas imunizadas contra a covid-19 e que teria grafeno na composição da vacina.

A Pfizer não patenteou, no dia 31 de agosto de 2021, qualquer sistema de rastreamento de pessoas vacinadas com o imunizante desenvolvido por ela contra a covid-19, como afirma um jornalista em vídeo publicado no Telegram.

Na verdade, existe uma patente emitida nesta data, nos Estados Unidos, que trata do uso de contato digital para aplicação de medidas profiláticas contra doenças infecciosas propagadas pelo ar, mas ela pertence a dois advogados israelenses sem ligação com a Pfizer. Na prática, o sistema utilizaria sinal de Bluetooth para identificar as pessoas que mais interagem socialmente e priorizá-las na aplicação de medicamentos ou vacinas – este método, segundo os proprietários, resultariam num melhor desempenho epidemiológico.

As demais afirmações feitas ao longo do vídeo também são falsas, como a de que seria possível o rastreamento de pessoas vacinadas por meio de óxido de grafeno “mantido nos tecidos adiposos de todas as pessoas que receberam a injeção”. Nem a vacina da Pfizer e nem qualquer outra contra a covid-19 possui essa substância na composição.

Além disso, especialistas ouvidos pelo Comprova afirmam que não é possível rastrear pessoas por meio das nanopartículas de grafeno.

O Comprova também conversou diretamente com a Pfizer, que afirmou ser falso o conteúdo do vídeo, mesma afirmação feita pelas agências reguladoras americana e brasileira, a Food and Drug Administration (FDA) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), respectivamente.

Procurado, o autor do vídeo não respondeu ao Comprova, que identificou o conteúdo como falso por ser inventado.

Como verificamos?

A reportagem, inicialmente, foi em busca de informações sobre a composição dos imunizantes desenvolvidos pela Pfizer para combater a covid-19, por meio de consulta da bula do fármaco, disponível no site da Anvisa. O documento não cita, em qualquer circunstância, a presença de grafeno em sua composição.

Na sequência, entramos em contato com a Universidade Federal de Pelotas em busca do contato de um especialista em vacinas, capaz de explicar se é comum ou não a presença da substância citada no vídeo em imunizantes. A instituição nos encaminhou o telefone do professor e vacinologista Odir Dellagostin.

A reportagem também procurou a FDA, onde a vacina foi patenteada, e a Anvisa.

Contatamos, ainda, os donos da patente citada no vídeo, que não pertence à Pfizer, mas sim a dois advogados israelenses — Gal Ehrlich e Maier Fenster —, sócios do escritório Ehrlich & Fenster, especializado em marcas e patentes nas áreas de biotecnologia, dispositivos médicos, física, química, farmacêutica, softwares e sistemas de informação.

Por fim, o Comprova encaminhou mensagem para o autor do vídeo, com o objetivo de saber quais eram as fontes das informações que ele cita na publicação. Até a publicação deste texto, não houve retorno.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 4 de novembro de 2021.

Verificação

O que é a patente e o que dizem os proprietários?

No vídeo, o autor do conteúdo cita que uma suposta patente da Pfizer foi aprovada no dia 31 de agosto de 2021, e que se trataria de um sistema capaz de rastrear os seres humanos que receberam a vacina contra a covid-19. Existe uma patente aprovada nesta data, que trata do uso de contato digital para aplicação de medidas profiláticas contra doenças infecciosas propagadas pelo ar. Contudo, ela não pertence à Pfizer e nem a nenhuma farmacêutica.

Os donos da patente são dois advogados israelenses — Gal Ehrlich e Maier Fenster —, sócios do escritório Ehrlich & Fenster, especializado em marcas e patentes nas áreas de biotecnologia, dispositivos médicos, física, química, farmacêutica, softwares e sistemas de informação.

A patente, intitulada “Métodos e sistemas de priorização de tratamentos, vacinação teste e/ou atividades protegendo a privacidade dos indivíduos” (tradução livre), não mantém relação com o rastreio de pessoas vacinadas, nem com o uso de grafeno para localizar essas pessoas por meio de vestígios presentes no tecido adiposo de seres humanos.

A ideia inicial foi concebida, segundo um dos autores, Gal Ehrlich, entre abril e maio de 2020, quando não havia nenhuma vacina disponível contra a covid-19, mas quando já era visível a super-disseminação do Sars-CoV-2.

A proposta é aplicar medidas profiláticas contra doenças infecciosas que se disseminam pelo ar, primeiro, em pessoas que praticam mais interações sociais, a fim de obter um desempenho epidemiológico melhor dessas medidas. Para encontrar essas pessoas, o sistema criado pelos dois advogados utilizaria os sinais de interações por Bluetooth entre celulares das pessoas com mais interações sociais.

“Nossa invenção estipula que medidas profiláticas (incluindo, por exemplo, o uso de medicamentos ou vacinas) para combater uma doença infecciosa nascida em gotícula/ar, nos casos em que as medidas estão em escassez, teriam um desempenho epidemiológico superior se administradas primeiro àqueles que praticam mais interações sociais em comparação com aqueles que estão em risco (por exemplo, idosos, doentes) como é atualmente recomendado pela OMS para as vacinas contra a covid-19, e praticado por todos os governos”, afirma Gal Ehrlich, um dos donos da patente, em e-mail ao Comprova.

Ehrlich nega que a invenção tenha relação com a Pfizer ou com qualquer outra farmacêutica. Na verdade, ninguém se interessou ainda em aplicar o modelo desenvolvido pela dupla. “Infelizmente, nem a Pfizer nem ninguém, até agora, manifestou qualquer interesse nesta invenção/patente”, disse ao Comprova.

O que dizem a Pfizer e as agências de regulação

A reportagem entrou em contato com a Pfizer para solicitar esclarecimentos sobre como foi elaborada a fórmula da vacina, se o grafeno integra sua composição e também de que maneira foi realizada a patente do imunizante contra a covid-19.

A farmacêutica afirmou que em nenhum momento patenteou qualquer sistema de rastreamento, como afirma a publicação compartilhada no Telegram.

“Com relação às informações que têm circulado em redes sociais e aplicativos de mensagens sobre a vacina ComiRNAty, esclarecemos: a Pfizer não confirma registro de patente e nenhum componente que faça o rastreamento dos vacinados”, disse a empresa, em nota.

Também procurada, a FDA respondeu que “essas afirmações são completamente falsas” e que nenhuma vacina aprovada pelo órgão contém os materiais citados nas alegações feitas no vídeo. Acrescentou que a lista de ingredientes nas vacinas pode ser encontrada na Folha de Dados para Destinatários e Cuidadores.

Ainda de acordo com a agência, as orientações para o desenvolvimento da vacina descrevem as recomendações da FDA para medidas de controle de qualidade (aqui e aqui).

Há, ainda, o memorando de autorização de uso de emergência para um produto não aprovado, que inclui informações sobre química, fabricação e controles da vacina, bem como informações sobre a condução de ensaio clínico. Essas mesmas informações, acrescenta, estão disponíveis para a vacina da Pfizer.

Para os imunizantes aprovados há informações mais extensas sobre medidas de controle de qualidade, segundo explica o órgão.

Por fim, a agência indica uma entrevista em áudio postada no YouTube, em agosto deste ano, na qual o médico Peter Marks, diretor do Centro de Avaliação e Pesquisa Biológica (CBER) do FDA, fala sobre a desinformação que circula em torno das vacinas, a partir de 9 minutos e 47 segundos.

Segundo ele, um dos maiores desafios para vacinar o público tem sido a quantidade esmagadora de afirmações falsas que circulam sobre vacinas. Marks cita, como exemplos, boatos de que os imunizantes causam infertilidade, que contêm microchips e que podem causar a própria covid-19. “E pior, ouvimos falsas alegações de que milhares de pessoas morreram por causa da vacina. Deixe-me esclarecer que essas afirmações simplesmente não são verdadeiras”, declara.

No Brasil, foi procurada a Anvisa, que também informou que a vacina da Pfizer não inclui substâncias como o grafeno e que a composição consta na bula do produto. “É importante destacar que a regulamentação de produtos estéreis é bastante rigorosa em relação à presença de impurezas, inclusive aquelas que possam ser resultantes do processo de produção de medicamentos e vacinas”, diz a nota encaminhada ao Comprova.

A bula do imunizante foi registrada na Anvisa no dia 23 de fevereiro de 2021. Diferentemente do que afirma o vídeo, em nenhuma parte do documento a farmacêutica ou a agência reguladora de saúde citam o grafeno como um dos compostos presentes nos imunizantes.

Segundo o documento, cada dose da vacina diluída contém um composto de RNA mensageiro, de cadeia simples, altamente purificado e produzido usando transcrição in vitro, a partir dos modelos de DNA correspondentes. A função dessa fórmula é codificar a proteína S — spike — do SARS-Cov-2 e combatê-lo.

O mesmo imunizante também é composto por excipientes — ingredientes diluídos, de poder terapêutico, utilizados para assegurar a estabilidade dos fármacos —, que incluem sacarose, cloreto de sódio, cloreto de potássio, fosfato de sódio dibásico di-hidratado, fosfato de potássio monobásico e água para injetáveis.

Afinal, o que é o grafeno?

Mencionado como o material que está revolucionando a tecnologia, o grafeno é uma das formas do carbono, extremamente fino, resistente, transparente e leve, além de ser capaz de conduzir correntes elétricas. O foco neste elemento se assemelha à revolução associada às descobertas do plástico e do silício.

Formado por carbono puro — também presente no diamante —, o material é obtido por meio da extração do grafite, um dos materiais mais abundantes da Terra.

Presente desde o lápis até painéis fotovoltaicos, o uso do grafeno rendeu o Nobel da Física de 2010 ao cientista russo-britânico Konstantin Novoselov e ao cientista neerlandês Andre Geim, ambos da Universidade de Manchester, na Inglaterra.

De acordo com o vacinologista e professor da UFPel, Odir Dellagostin, o grafeno é uma das formas cristalinas do carbono, com inúmeras aplicações, que vão desde a indústria têxtil, até a área de construção civil, passando por novos materiais.

“O óxido de grafeno é uma nanopartícula que vem sendo estudada como aditivo em fármacos e até mesmo como adjuvante de vacinas, tendo demonstrado resultados promissores. Porém, o grafeno não está presente nas vacinas contra a covid-19”, explica Dellagostin, ao comentar sobre as afirmações falsas do vídeo aqui verificado.

Além disso, a nanopartícula presente nas vacinas da farmacêutica Pfizer é composta de lipídio, não de grafeno, segundo informações presentes na bula dos medicamentos e confirmadas pelo professor.

O vacinologista afirma ainda que, por não estar presente na composição dos imunizantes contra o coronavírus, não é possível detectar o grafeno em um organismo vacinado.

“Grafeno é uma nanopartícula, que vem sendo testada como adjuvante — espécie de auxiliar — de vacina, mas que não está presente ainda em nenhuma vacina. Não há como detectar grafeno no organismo vacinado”.

O especialista desmente o vídeo do suposto jornalista que afirma ser possível rastrear pessoas por meio das nanopartículas de grafeno. “Não há nenhuma forma de ‘rastrear’ pessoas por meio destas nanopartículas. Creio que o boato surgiu pelo fato de que estas vacinas têm nanopartículas lipídicas na sua composição”.

Essas nanopartículas são pedaços microscópicos de gordura, que contêm um RNA mensageiro, fragmento genético com instruções para que células do corpo humano produzam a proteína Spike do SARS-CoV-2, vírus que causa a covid-19. A mesma explicação sobre a composição de imunizantes foi dada em uma verificação da Agência Lupa.

De acordo com o professor, estudos conduzidos pela UFPel têm testado nanotubos de carbono — um derivado do grafeno — como adjuvante das vacinas. Os resultados foram promissores, mas Dellagostin ressalta que para ser possível chegar a um produto comercial e seguro, serão necessários mais estudos.

“Há ainda uma preocupação com os riscos que estas partículas nanométricas podem ter no organismo. Esta é a única preocupação”.

Patentes para medicamentos nos Estados Unidos

O FDA explica que as patentes são um direito de propriedade concedido pelo Escritório de Patentes e Marcas Registradas dos Estados Unidos (Upsto) a qualquer momento durante o desenvolvimento de um medicamento e pode abranger uma ampla gama de reivindicações.

As informações relacionadas às patentes de medicamentos devem ser submetidas via formulários para que sejam indexadas no Orange Book, uma base de dados que contém informações sobre medicamentos coletadas desde 2013.

No caso das vacinas, como a ComiRNAty, as informações são depositadas em outro banco de dados, identificado como Purple Book, que reúne os produtos biológicos licenciados pela FDA, incluindo produtos biossimilares e intercambiáveis ​​licenciados e seus produtos de referência.

Sobre o autor

O autor do vídeo é o jornalista Claudio Lessa, que passou por diversos veículos de comunicação até o início dos anos 2000, quando foi aprovado em um concurso para a Câmara dos Deputados.

Conteúdo postado por ele anteriormente já foi alvo de verificação do Comprova. A reportagem tentou entrar em contato com Lessa, pelo Facebook, mas ele não respondeu até esta publicação.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O vídeo aqui verificado teve 16 mil visualizações até o dia 4 de novembro de 2021.

Conteúdos falsos referentes à segurança das vacinas cientificamente comprovadas como o principal método contra o novo coronavírus podem causar pânico na comunidade e desencorajar a vacinação.

Postagens semelhantes a esta foram verificadas pelas agências Boatos.org, Factual AFP e Reuters.

Sobre imunizantes, o Comprova já identificou ser falso que órfãos da Polônia são usados em experimentos de vacina da Pfizer e Moderna, que tuíte engana ao dizer que vacina da Pfizer tem partículas contaminantes e que é falso que documento da Suprema Corte dos EUA afirme que vacinados contra a covid-19 se tornam transumanos.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.