O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2021-08-16

Post engana ao dizer que CDC recomendou suspensão da aplicação da vacina da Janssen recentemente

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso post no Twitter que diz que o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos recomendou a suspensão da imunização com a vacina da Janssen. A interrupção ocorreu em abril e, no mesmo mês, a vacinação foi retomada.
  • Conteúdo verificado: Post no Twitter, publicado em agosto, afirma que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos acaba de aconselhar a suspensão da aplicação da vacina contra a covid-19 da Janssen. A publicação compartilha uma reportagem do jornal El País de abril.

É enganosa a postagem feita pelo empresário e presidente do diretório estadual do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) em São Paulo, Otávio Fakhoury, no Twitter afirmando que a aplicação da vacina da Janssen acabou de ser suspensa pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. Na verdade, a interrupção do uso do imunizante ocorreu em 13 de abril e durou apenas 10 dias. Portanto, quando o empresário fez o tuíte, a situação já havia sido normalizada havia pelo menos quatro meses.

A publicação ainda diz que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deveria se manifestar sobre o caso. Porém, o imunizante só começou a ser utilizado no Brasil em junho, quando as primeiras doses chegaram ao país e a aplicação já tinha sido retomada nos Estados Unidos.

O Comprova entrou em contato com Otávio Fakhoury pelo Facebook e pelo Instagram. Logo após a solicitação de contato, o post foi excluído e substituído por outro no qual ele alega que a suspensão temporária seria prova do caráter experimental das vacinas – o que também é enganoso.

Por meio da assessoria de imprensa do empresário, ele entrou em contato com a reportagem e afirmou que o primeiro post foi um erro e que, ao perceber, ele excluiu a publicação e fez uma nova com a correção. Quanto à afirmação de que a vacina é experimental, Fakhoury disse se referir ao fato do imunizante ter sido aprovado em caráter emergencial. Além disso, afirmou que os posts em seu Twitter se tratam de opinião e não têm a intenção de espalhar mentiras ou enganar ninguém.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor. O fato do autor do tuíte ter apagado a publicação considerada enganosa não interrompe a investigação do Comprova. Esta verificação está sendo publicada para esclarecimento das pessoas que tiveram acesso ao tuíte enganoso.

Como verificamos?

O Comprova leu a notícia compartilhada pelo empresário para ver se seu contexto original foi respeitado e notou que ela era antiga. Em vista disso, consultou os sites dos órgãos reguladores citados para conferir o desfecho do caso envolvendo o imunizante da Janssen.

A reportagem assistiu à sessão da CPI da Pandemia para entender o contexto da publicação do empresário e a sua relação com o que foi dito pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE). O parlamentar disse que Fakhoury não perdia a oportunidade de desinformar sobre as vacinas.

Por fim, procuramos o empresário para comentar.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 16 de agosto de 2021.

Verificação

Suspensão temporária das vacinas Janssen

O empresário compartilhou uma notícia da versão brasileira do jornal El País que dizia que “Autoridades dos EUA recomendam interrupção da aplicação da vacina Janssen contra a covid-19 após casos de trombose”. Sem dizer que ela foi postada em 13 de abril, a postagem é enganosa por levar a entender que a situação é atual. Apesar disso, a suspensão já havia sido revogada quatro meses antes.

Em 13 de abril, o Centro de Controle de Doenças e a Agência de Alimentos e Medicamentos (FDA), as duas agências regulatórias dos Estados Unidos, emitiram uma nota conjunta para suspender temporariamente a aplicação da vacina produzida pela Janssen. A nota dizia que haviam sido relatados seis casos de uma mistura rara de coágulos com queda no número de plaquetas.

Àquela altura, 6,8 milhões de pessoas já haviam recebido a vacina. Os casos eram um por milhão de vacinados. Como isso poderia ser sinal de um efeito colateral extremamente raro, a pausa foi sugerida para que os técnicos pudessem investigar os casos.

Isso é um procedimento normal de segurança. As vacinas passam por rigorosos testes em milhares de voluntários que avaliam a eficácia e a segurança delas. Mesmo assim, ainda é possível que elas tenham efeitos colaterais extremamente raros, que só poderiam aparecer quando a vacina é aplicada em milhões de pessoas. Por isso, os órgãos regulatórios mantêm mecanismos de vigilância dos efeitos colaterais mesmo após a autorização.

A pausa da aplicação durou dez dias. Em 23 de abril, os dois órgãos divulgaram que o estudo dos casos permitiu concluir que os coágulos realmente estavam relacionados com a vacina da Janssen. No entanto, reconheceram que a chance deles ocorrerem é “muito baixa” e determinaram a retomada da aplicação.

“A FDA considera que os benefícios conhecidos são maiores do que os riscos conhecidos em indivíduos acima dos 18 anos”, informou a agência. Ela também anunciou que manteria o sistema de vigilância para detectar eventuais aumentos nos riscos trazidos pelo imunizante. A possibilidade de coágulos foi incluída na bula como um efeito colateral muito raro (abaixo de 1 caso para cada 10 mil).

No tuíte apagado, o empresário pede que a Anvisa “se manifeste”. É importante lembrar que embora tenha recebido autorização para uso emergencial em 31 de março da Anvisa, as primeiras doses da Janssen só chegaram no Brasil em 22 de junho – dois meses após sua aplicação ter sido retomada nos Estados Unidos.

Por telefone, Fakhoury disse que o primeiro post, que dava a entender que a suspensão da vacina tinha ocorrido recentemente, foi um erro e que ao perceber ele excluiu a publicação e fez uma nova com a correção.

Vacinas em uso foram testadas e aprovadas

Em seu segundo tuíte, o empresário alega que as vacinas são “experimentais”. Fakhoury disse se referir ao fato do imunizante ter sido aprovado em caráter emergencial e que os posts em seu Twitter se tratam de opinião. “Eu faço opinião, não trato como a publicação de um jornal. Eu não sou contra a vacina. A vacina tem que ser disponibilizada a todos, mas os riscos têm que ser explicados e cada um decide se vai tomar. Ninguém quer mentir ou enganar ninguém. Eu tenho opiniões e tem gente que não gosta”, afirmou.

No Brasil, quatro vacinas estão aprovadas para uso pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A Pfizer e a AstraZeneca têm autorização para uso definitivo. Já Coronavac e Janssen têm autorização para uso emergencial.

De acordo com a Anvisa, nesse tipo de autorização, as vacinas continuam a ser avaliadas e só podem ser usadas pelo governo, não podendo ser comercializadas por clínicas e laboratórios. Apesar da autorização ser concedida de forma mais rápida, a agência exige que o imunizante tenha finalizado todos os testes e comprovado sua eficácia e segurança.

Já a FDA explica que a aprovação em caráter emergencial é mais rápida, mas todos os dados disponíveis são avaliados antes de concedê-la. “Uma vez submetida, o FDA avaliará a solicitação e determinará se os critérios legais relevantes foram atendidos, levando em consideração a totalidade das evidências científicas sobre a vacina que estão disponíveis.” Entre esses critérios, estão dados de segurança e eficácia.

Todas as vacinas em uso já terminaram as três fases de testes em humanos exigidas pela Anvisa e pelas principais agências reguladoras do mundo. A Janssen terminou os testes em janeiro de 2021 e conseguiu uma eficácia global de 66%; a Coronavac também finalizou os testes em janeiro e conseguiu a eficácia de 50,38%; a Pfizer terminou os testes ainda em novembro de 2020 e conseguiu eficácia de 95%; e a AstraZeneca em janeiro, com 82% de eficácia.

O autor do post

Otávio Fakhoury é um empresário e financista apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Desde julho de 2021, é também presidente do diretório estadual do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) em São Paulo.

Fakhoury é investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) em inquéritos que apuram a atuação organizada na divulgação de fake news e na promoção de atos antidemocráticos. O empresário já financiou um dos blogs alvo da Polícia Federal e que já teve conteúdos checados pelo Comprova. Em entrevistas anteriores, o empresário afirma que o inquérito das fake news é “cerceamento à liberdade de expressão”.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. O post verificado aqui teve mais de 1,5 mil interações no Twitter antes de ser apagado.

Conteúdos enganosos que tentam desacreditar as vacinas são perigosos porque podem levar a população a colocar a saúde em risco.

O Comprova já esclareceu diversos conteúdos sobre imunização, como, por exemplo, que é enganoso post que afirma que o CDC e Anthony Fauci não acreditam na vacina, que o diagnóstico positivo de Doria não indica ineficácia da Coronavac e que é falso que imunizantes usados no Brasil não passaram por testes de segurança e eficácia.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-08-13

Médica usa dados fora de contexto de hospital de Israel para acusar CDC de mentir sobre casos de covid em pessoas não vacinadas

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o tuíte de uma médica que utiliza dados de um hospital israelense para afirmar, sem provas, que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos mente em relação ao número de pessoas não-vacinadas internadas com covid-19.
  • Conteúdo verificado: Infectologista utiliza dados apresentados pelo diretor de um hospital em Israel para afirmar, em post no Twitter, que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) norte-americano mente em relação à porcentagem de não vacinados hospitalizados por covid-19.

É enganosa a postagem feita por uma médica infectologista no Twitter alegando que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos mente em relação à porcentagem de pessoas não vacinadas internadas com covid-19 no país. A autora do tuíte tira de contexto números apresentados por Kobi Haviv, diretor-médico do Herzog Hospital de Jerusalém, à emissora local Canal 13 sobre uma nova onda da doença em Israel.

Na fala, Haviv afirma que 90% dos pacientes atendidos no Herzog já tinham sido vacinados e que a efetividade da vacina está diminuindo. É possível perceber que há uma interrupção na fala do médico no vídeo postado no Twitter e compartilhado por contas de diversos países.

No mesmo tuíte, a médica destaca números apresentados por Kobi Haviv, escreve que Israel vacinou 62% de sua população e questiona por que nos Estados Unidos, onde o CDC afirma que 97% dos hospitalizados com covid são pessoas não vacinadas, seria diferente.

É fato que ambos os países têm observado aumento no número de casos de covid-19, inclusive entre imunizados, principalmente em decorrência da variante delta. Enquanto os Estados Unidos afirmam que a maior parte dos hospitalizados é composta por pessoas não vacinadas, Israel apresenta dados absolutos contendo mais pessoas imunizadas entre as internadas. Entretanto, a partir dos dados relativos, considerando a taxa de 100 mil habitantes, o país possui um maior número de hospitalizados dentre as pessoas não vacinadas.

Embora o post utilize números apresentados pelo médico na entrevista, omite que a unidade hospitalar onde ele trabalha atende predominantemente pessoas idosas, maior faixa etária vacinada no país, aumentando, assim, a quantidade de pessoas vacinadas atendidas.

O Ministério de Saúde israelense informou que a mais recente onda de contaminações se dá, em parte, por causa da diminuição na proteção das pessoas vacinadas em janeiro e fevereiro. Com base nisso, o órgão passou a recomendar uma terceira dose para os idosos.

O post também não contextualiza o que Kobi Haviv fala sobre o assunto em pelo menos mais duas entrevistas – uma para a mesma emissora de TV e outra para uma rádio local, todas na mesma semana: ele defende a vacinação, reforça o poder da vacina em proteger as pessoas em casos mais graves e aconselha, inclusive, a aplicação da terceira dose. Desta forma, a médica abre espaço para que os seguidores – mais de 34 mil – interpretem que os imunizantes são ineficazes, como fica claro em grande parte dos comentários criticando a política de vacinação durante a pandemia.

A reportagem tentou falar com a profissional pelo Twitter, onde ela fez a postagem, mas o perfil mantém fechado o canal para mensagens privadas. Uma mensagem solicitando um meio de contato foi deixada na postagem. O Comprova classificou o conteúdo como enganoso porque ele retira informações de contexto e as utiliza de modo a confundir.

Como verificamos?

O primeiro passo foi fazer uma busca reversa de imagens de frames do vídeo compartilhado no Twitter pela médica, sem resultados. Contudo, buscando no Google pelos termos citados, como o nome do médico entrevistado, encontramos o mesmo vídeo em duas plataformas distintas: o YouTube e o UGETube – site norte-americano mantido pelo grupo Utah Gun Exchange para comércio de armamentos e munição.

Também localizamos um vídeo com conteúdo similar no Facebook. O material foi postado às 10h13 do dia 23 de julho de 2021 pela conta oficial do Herzog Hospital. O tema da entrevista é o mesmo daquele aqui verificado, ela foi concedida à mesma emissora de TV e para a mesma jornalista – Sivan Cohen Saban –, mas é possível perceber que os vídeos são diferentes porque Sivan usa roupas de cores distintas nos dois vídeos e faz saudações diferentes nas duas ocasiões.

| Vídeo compartilhado no Twitter

| Vídeo postado na conta do Herzog Hospital no Facebook

As entrevistas foram concedidas em hebraico e, por isso, pedimos que duas pessoas que falam o idioma assistissem aos dois vídeos e traduzissem o conteúdo. Os vídeos foram vistos pelo historiador Magide Jarallah Dracoulakis Nunes e pelo rabino Gilberto Ventura, fundador do Sinagoga sem Fronteiras, que faz o acolhimento, a nível nacional, das comunidades brasileiras dos descendentes dos judeus forçados pela inquisição.

Ambos afirmaram que o conteúdo das entrevistas eram similares, mas também apontaram informações contidas no vídeo postado no Facebook do hospital que não aparecem nas imagens que viralizaram nas redes.

Também fizemos uma busca pelo nome do médico em hebraico – קובי חביב – na ferramenta de busca de notícias do Google e localizamos textos em veículos de mídia de Israel que repercutiam as declarações feitas por Kobi Haviv, sobre o mesmo assunto, na rádio 103 FM de Israel. A entrevista concedida a Anat Davidov no dia 27 de julho tem cerca de 10 minutos de duração.

Foram analisados os dados atuais da pandemia nos Estados Unidos e em Israel, por meio das plataformas dos governos e pela imprensa. Para isso, foi necessária a ajuda da ferramenta de tradução do Google, já que muitas informações estavam em hebraico.

Entramos em contato, ainda, com o Herzog Hospital, com o CDC, com o Ministério da Saúde de Israel e com o médico Shimshon Erdman, diretor do Departamento de Relações Internacionais com a América Latina da Associação Médica de Israel. Por fim, tentamos contactar a autora do tuíte. Apenas o Ministério da Saúde de Israel e Shimshon Erdman retornaram ao nosso contato por e-mail.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 13 de agosto de 2021.

Verificação

O vídeo e os números

O tuíte verificado foi postado por uma médica infectologista brasileira. No post, ela destaca alguns números e compartilha um link que leva a um vídeo de 42 segundos no qual o chefe do Herzog Hospital de Jerusalém, Kobi Haviv, é entrevistado pela jornalista Sivan Cohen Saban, do Canal 13 de Israel, e afirma que de 85% a 90% das pessoas hospitalizadas na unidade estão totalmente vacinadas.

No vídeo compartilhado, há uma legenda em inglês sobreposta à chamada feita pela própria emissora. O Comprova não conseguiu localizar o vídeo original, mas encontrou outras duas entrevistas concedidas pelo mesmo médico entre os dias 23 e 27 de julho deste ano.

A postagem feita pela médica destaca os números informados por Kobi Haviv – de 85% a 90% dos hospitalizados sendo pessoas vacinadas – e acrescenta um segundo dado, de que 95% desses pacientes hospitalizados eram vacinados e tinham quadro grave. Este percentual aparece na legenda original em hebraico feita pela emissora de TV. Pedimos, então, que o rabino Gilberto Ventura, do Sinagoga sem Fronteiras, confirmasse se o médico menciona esse número em sua fala. O rabino afirma que não, e que o número citado pelo médico no vídeo que viralizou é de 90% de vacinados internados.

A autora do tuíte usa estes números para questionar por que o quadro nos Estados Unidos seria diferente do de Israel, afirmando que o CDC mente ao dizer que 97% dos casos de hospitalizados são de pessoas não vacinadas. A infectologista não apresenta, contudo, dados que comprovem o que diz.

Médico defende as vacinas

Embora a maior parte dos números apresentados pela médica tenham, de fato, sido ditos por Kobi Haviv, ela não contextualiza as informações, o que faz parecer que o diretor do Herzog Hospital é contrário à vacinação, e isso não é verdade. Em entrevistas concedidas à mesma emissora de TV e à rádio 103 FM, Havivi afirma que a maioria dos pacientes graves do hospital foi vacinada e que esperava por um aumento no número de casos quando a equipe acompanhou a variável B.1.617.2 (Delta) agindo na Itália.

Ele acredita que a efetividade das vacinas tem diminuído e informa que a maioria dos pacientes tem mais de 70 anos e que mais de 90% estão vacinados. Diferentemente do que sugere o post feito pela médica, o diretor da unidade defende a vacinação, ressalta que muitos infectados permanecem com quadros leves graças à vacina e se coloca favorável à aplicação de uma terceira dose, o que já está ocorrendo em Israel

Estas informações estão em um texto publicado pelo jornal Ma’ariv, um diário dos mais vendidos do país, que compartilhou, além dos dados, o áudio da entrevista concedida por ele à rádio 103 FM no dia 27 de julho.

O Comprova entrou em contato com a unidade hospitalar, via Facebook, mas não houve retorno. Também solicitou ao Ministério da Saúde israelense detalhes sobre o atendimento no local e se o diretor é considerado uma autoridade em saúde no país, mas não obteve resposta para este ponto.

O médico Shimshon Erdman, diretor do Departamento de Relações Internacionais com a América Latina da Associação Médica de Israel, disse ao Comprova que a unidade dirigida por Kobi Haviv é um centro que trata pacientes com problemas de saúde agravados pela idade e que o médico indica que os pacientes e a equipe recebam uma terceira dose da vacina, o que já está acontecendo.

Por se tratar de um centro especializado, é natural que receba maior número de pessoas vacinadas, visto que esta é a faixa etária com a maior cobertura vacinal em Israel até o momento, segundo o painel de dados (abaixo) relacionados à doença no país, atualizado no dia 12 de agosto.

A plataforma demonstra o número de pacientes ativos e em estado grave, de acordo com as faixas etárias da população e conforme as condições de imunização de cada uma, apresentando, inclusive, a comparação entre a incidência de pacientes para cada 100 mil residentes em cada etapa de imunização: totalmente vacinado; parcialmente vacinado; e não vacinado.

Apesar da maioria dos pacientes ter sido totalmente vacinada, segundo os números absolutos, quando a análise é feita a partir dos números relativos, conforme orientou o Ministério da Saúde de Israel à reportagem, e considerando a taxa de 100 mil habitantes, é possível perceber um maior número de hospitalizados dentre as pessoas não vacinadas no país.

| Números relativos

| Números absolutos

Como explica reportagem do Viva Bem UOL, o sistema imune inicia um processo de declínio progressivo aos 20 anos e as pessoas tornam-se mais vulneráveis às doenças ao final da vida, o que explica a maior vulnerabilidade dos idosos à covid.

Shimshon Erdman também afirma que os vacinados não sofrem com a gravidade da doença, mas, quanto menores os antígenos, mais difícil será lutar contra a contaminação. Assim como Kobi Haviv, ele diz apoiar a aplicação da terceira dose.

Israel vê aumento de infecções diante da variante delta

Segundo informou o Ministério da Saúde de Israel ao Comprova, o noticiário e o próprio site do governo, atualmente o país registra aumento nas infecções como resultado da variante delta, inclusive com a hospitalização de pacientes totalmente vacinados, principalmente entre os grupos de risco. Na quarta-feira (11), havia 694 pessoas sendo tratadas contra o vírus nos hospitais de Israel e cerca de 64% dos pacientes definidos como críticos haviam sido totalmente vacinados.

O país se prepara para o fortalecimento das unidades hospitalares após funcionários do Ministério da Saúde e outros especialistas apresentaram dados prevendo cerca de 4,8 mil pacientes com coronavírus que precisarão de hospitalização até 10 de setembro.

No início de julho, o Ministério da Saúde de Israel relatou que a efetividade da vacina da Pfizer – imunizante mais aplicado no país – contra infecções e casos sintomáticos de covid-19 havia caído para 64% desde 6 de junho. O órgão destacava, contudo, que a vacina continuou tendo 93% de efetividade na prevenção de hospitalizações e casos graves da doença. “Consideramos a vacinação a ferramenta mais eficaz no combate à pandemia”, afirmou o ministério ao Comprova.

Em uma checagem publicada pelo Comprova, em 5 de agosto, a pasta informou que a mais recente onda de contaminações começou em meados de junho e avaliou que o aumento no número de contágios se dá, em parte, por causa da diminuição na proteção das pessoas vacinadas em janeiro e fevereiro. Com base nisso, o órgão passou a recomendar uma terceira dose para os idosos.

O site do órgão mantém uma aba sobre a aplicação desta terceira dose da vacina, explicando os motivos e informando que, entre os infectados, estão crianças, a maioria não vacinada, e também uma parcela imunizada, incluindo com morbidade particularmente grave entre adultos com 60 anos ou mais.

O governo explica que o benefício esperado da administração da terceira dose é baseado em estudos conduzidos por fabricantes de vacinas, os quais apontam que uma terceira dose após a dose basal causa um impulso que aumenta o nível de anticorpos, a qualidade e a duração no corpo. O resultado é um aumento na capacidade dos anticorpos em protegerem contra o vírus.

Ao Comprova, o médico Shimshon Erdman explicou que Israel enfrenta um impulso muito agressivo da pandemia com números que eram registrados desde o início da pandemia. “É enormemente contagioso, com um aumento gráfico assustador, dobrando os números de semana para semana, e também criando a sensação de que se a população não respeitar as indicações não haverá reação diferente que fazer o encerramento total das atividades”, alerta.

Variante também preocupa os Estados Unidos

No dia 16 de julho, Rochelle Walensky, diretora do Centro para Controle de Doenças dos Estados Unidos, esteve em reunião na Casa Branca para a atualização da pandemia e da variante delta no país. Na ocasião, informou que 97% das pessoas que estavam entrando nos hospitais naquele momento não haviam sido vacinadas, notícia repercutida pela imprensa.

O país também vê o número de casos crescer. Em 27 de julho, o CDC divulgou orientações atualizadas sobre a necessidade de aumentar urgentemente a cobertura de vacinação da covid-19 e uma recomendação para que todos em áreas de alta transmissão usem máscara em locais públicos fechados, mesmo aqueles totalmente vacinados.

O principal motivo foi uma reversão na trajetória descendente dos casos, tendo sido observado um aumento rápido e alarmante no caso de covid e nas taxas de hospitalização em todo o país ao longo do mês.

De acordo com o órgão, no final de junho a média móvel em sete dias era de 12 mil casos confirmados. Em 27 de julho, entretanto, essa média atingiu mais de 60 mil casos, sendo considerada maior que a existente antes da vacina estar amplamente disponível.

Outro motivo foi o surgimento de novos dados de que a variante delta é mais infecciosa e está levando a uma maior transmissibilidade quando comparada a outras variantes, mesmo em indivíduos já vacinados, sendo atualmente a cepa predominante do vírus nos Estados Unidos.

Um estudo divulgado pelo centro, por exemplo, apontou que em julho de 2021, após vários eventos públicos em um condado de Barnstable, Massachusetts, 469 casos de covid foram identificados entre pessoas que viajaram para a cidade entre os dias 3 e 17 de julho. Destes, 346 (74%) ocorreram em pessoas totalmente vacinadas. Os testes identificaram a variante delta em 90% das amostras de 133 pacientes. No total, cinco pessoas foram hospitalizadas, quatro delas vacinadas, e não houve óbitos.

O CDC afirma que as vacinas são altamente eficazes, inclusive contra a variante delta, na prevenção do agravamento da doença e morte, mas não são 100% eficazes e algumas pessoas totalmente vacinadas são infectadas.

| Mapa de risco dos Estados Unidos em 11/08 (Fonte: CDC)

Quem postou?

O tuíte foi postado pela médica Roberta Lacerda Almeida de Miranda Dantas, que possui registro emitido pelo Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte, tendo como especialidade a infectologia. Ela mantém um canal com 32 mil inscritos no YouTube, no qual afirma trazer “novidades” e responder “perguntas sobre temas de saúde e tratamento imediato para a covid-19”.

Ela defende o “tratamento precoce” contra a covid, com o uso de medicamentos como ivermectina, azitromicina e hidroxicloroquina, que não têm eficácia comprovada contra a doença, tendo sido convidada, inclusive, a debater o tema, em maio deste ano, em reunião da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados.

O Comprova tentou falar com a profissional pela plataforma na qual fez a postagem, mas o espaço para envio de mensagens está fechado. Foi deixada uma resposta à publicação solicitando um meio de contato.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. A postagem aqui verificada foi curtida 1,7 mil vezes, além de ter sido retuitada 439 vezes.

Conteúdos enganosos envolvendo as vacinas e autoridades e órgãos de saúde podem levar a população a rejeitar as recomendações de combate à pandemia e, assim, colocar-se em risco.

O Comprova já esclareceu diversos conteúdos sobre a imunização, como o post que engana ao afirmar que o CDC e Fauci não acreditam na eficácia das vacinas, o boato que tirava de contexto estudo com adolescentes nos Estados Unidos para atacar vacina da Pfizer, o que afirmava que o diagnóstico positivo de Doria indicaria ineficácia da Coronavac e o que enganava dizendo que os imunizantes usados no Brasil não teriam passado por testes de segurança e eficácia.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Saúde

Investigado por: 2021-08-10

Post engana ao afirmar que CDC e Fauci não acreditam na eficácia das vacinas

  • Enganoso
Enganoso
Post no Instagram engana ao afirmar que Anthony Fauci é "uma farsa completa" e que ele e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) estariam dizendo que "as vacinas não protegem".
  • Conteúdo verificado: Com trecho de entrevista em vídeo de Anthony Fauci e dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, post no Instagram afirma que o infectologista “é uma farsa completa” e que ele e o CDC não acreditam na eficácia das vacinas contra a covid-19.

É enganoso o post que viralizou no Instagram usando trecho de entrevista de Anthony Fauci, diretor do Instituto de Alergias e Doenças Infecciosas (Niaid) dos Estados Unidos e principal autoridade de saúde no país, para afirmar que ele e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) estão dizendo que “as vacinas não protegem”.

A autora do post escreve que “Fauci é uma farsa completa” e que “ele fala como se os dados tivessem mudado”, ignorando que os dados haviam, de fato, mudado.

O vídeo que ela usa para atacá-lo é de uma entrevista que o infectologista concedeu para a rede MSNBC em 28 de julho. A gravação girou em torno de uma medida anunciada pelo CDC um dia antes, quando o órgão deu um passo atrás e voltou a recomendar o uso de máscara em ambientes fechados por pessoas vacinadas. A mudança, como Fauci explica na entrevista, foi a chegada da variante delta aos Estados Unidos, o que não é explicado no post verificado.

O conteúdo enganoso ainda afirma que “os próprios números do CDC provam que Fauci está mentindo”, usando a informação de que o órgão norte-americano reportou “menos de 6 mil casos de hospitalizações entre pessoas vacinadas”. O problema, no caso, é que o post é de 28 de julho – quando os Estados Unidos vivem uma nova alta de casos, muito por conta da variante delta – e, o dado sobre o número de internações, de 19 de abril.

Além disso, o post engana ainda ao afirmar que o “CDC e Fauci estão dizendo que as vacinas não protegem”. Na entrevista para a MSNBC, Fauci diz que é “extremamente improvável’’ que uma pessoa completamente vacinada seja hospitalizada ou morra. O CDC reforça que as vacinas são seguras e eficazes contra a covid-19 e que, mesmo com a variante delta, infecções acontecem em apenas uma pequena proporção de pessoas que foram totalmente vacinadas e tendem a ser leves.

A reportagem procurou a autora do post, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. O Comprova classificou o conteúdo como enganoso porque ele retira informações do contexto original e as utiliza de modo que seu significado sofra alterações.

Como verificamos?

O primeiro passo foi, por meio de pesquisa no Google com frases do vídeo usado no post, encontrar a gravação original da entrevista de Fauci. A partir dela, a reportagem buscou informações sobre as diretrizes do CDC em relação ao uso de máscaras no site do órgão e também pesquisou, com a plataforma TweetDeck, tuítes da Casa Branca sobre avisos acerca da proteção facial.

O site do CDC também foi utilizado como fonte de informação sobre comunicados sobre a campanha de vacinação nos Estados Unidos.

Para saber o número de norte-americanos vacinados em diferentes datas citadas abaixo, a equipe usou o painel virtual Our World in Data, da Universidade de Oxford.

Via mensagem privada no Instagram, o Comprova contatou a autora do post verificado aqui, @kennia.wr, mas não obteve resposta.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 10 de agosto de 2021.

Verificação

Momentos diferentes

A autora coloca dois dados acompanhando o vídeo com a entrevista de Fauci para acusá-lo de mentiroso: “161 milhões de americanos foram vacinados (dados do CDC)” e “o CDC reporta menos de 6 mil casos de hospitalizações entre pessoas vacinadas”.

A primeira informação é verdadeira e da mesma época em que o post foi publicado. Em 22 de julho – ou seja, apenas seis dias antes da postagem –, a Casa Branca informou que o país havia vacinado “mais de 161 milhões de pessoas”.

Já o segundo dado foi tirado de contexto. A informação de que o CDC havia reportado menos de 6 mil hospitalizações entre vacinados foi dada pelo órgão à CNN norte-americana em 15 de abril, mais de três meses antes da postagem. Na época do post, o número de novos casos de covid naquela semana havia subido para 500 mil, ante 92 mil na última semana de junho. Em 28 de julho, dia da entrevista dada por Fauci, os Estados Unidos viviam uma alta de casos – muito em decorrência da variante delta, como Fauci diz no vídeo –, como é possível ver no gráfico abaixo:

 

CDC e as máscaras

Em 8 de março, o CDC relaxou as diretrizes em relação ao uso de máscaras, afirmando que pessoas completamente vacinadas podiam se reunir em grupos pequenos em locais fechados sem a proteção facial.

No comunicado, o órgão destacava que, “embora a nova orientação seja um passo positivo, a grande maioria das pessoas precisa ser totalmente vacinada antes que as precauções com a covid-19 possam ser amplamente suspensas” para “proteger o grande número de pessoas que permanecem não vacinadas”.

Já em 13 de maio, o órgão afirmou que tanto em locais abertos quanto fechados o uso de máscara não era mais necessário por cidadãos completamente imunizados.

Na época do primeiro anúncio (8 de março), segundo o site Our World in Data, apenas 9% dos norte-americanos estavam totalmente imunizados e, 8,6%, parcialmente protegidos. Na data do post verificado aqui, os números eram, respectivamente, 48,9% e 7,8%.

Em 10 de março, o país atingia um pico de 4,6 milhões de novas doses aplicadas em apenas um dia e, depois, viu a administração da vacina cair, chegando a apenas 600 mil doses diárias em 29 de julho, segundo reportagem da Folha.

O CDC deu um passo atrás em 27 de julho e atualizou as diretrizes baseado em “novas evidências sobre a variante B.1.617.2 (delta)”, que já circulava nos Estados Unidos”. Assim, o órgão voltou a recomendar que pessoas vacinadas usassem a proteção facial em ambientes fechados e em áreas de “transmissão substancial”.

Fauci, CDC e vacinas

A publicação afirma que “CDC e Fauci estão dizendo que as vacinas não protegem”, mas isso não é verdade. Na própria entrevista para a MSNBC, Fauci diz que é “extremamente improvável’’ que uma pessoa completamente vacinada seja hospitalizada ou morra de covid-19 e ressalta a importância de vacinar o maior número de pessoas possível.

Em comunicado, o CDC incentiva a vacinação, reforça que as vacinas são seguras e eficazes contra o vírus e que pessoas imunizadas podem voltar a fazer as atividades que faziam antes da pandemia. O órgão diz que mesmo com a variante delta, infecções acontecem em apenas uma pequena proporção de pessoas que foram totalmente vacinadas e tendem a ser leves. Apesar disso, pessoas vacinadas que se infectarem com a variante delta podem transmitir o vírus para outras e por isso é importante o uso de máscaras. O CDC ainda alerta que pessoas com sistema imunológico baixo, incluindo aquelas que tomam medicamentos imunossupressores, podem não estar protegidas mesmo se totalmente vacinadas.

Com exceção da Janssen, que é aplicada em dose única, as demais vacinas contra a covid-19 disponíveis nos Estados Unidos devem ser tomadas em duas doses. A imunização completa ocorre cerca de duas semanas após a aplicação da segunda dose.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. Segundo o Instagram, o post verificado aqui foi visualizado mais de 12,5 mil vezes até 10 de agosto.

Conteúdos enganosos que tentam desacreditar autoridades e órgãos de saúde e suas campanhas contra a covid-19 são especialmente perigosos porque colocam a população em risco, fazendo-a questionar medidas de prevenção, como a vacina, principal ferramenta contra o coronavírus no momento.

O Comprova já esclareceu diversos conteúdos sobre a imunização, como o boato que tirava de contexto estudo com adolescentes nos Estados Unidos para atacar vacina da Pfizer, o que afirmava que o diagnóstico positivo de Doria não indicava ineficácia da Coronavac e o que enganava dizendo que os imunizantes usados no Brasil não passaram por testes de segurança e eficácia.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Saúde

Investigado por: 2021-08-06

Boato tira de contexto estudo com adolescentes nos EUA para atacar vacina da Pfizer

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa uma postagem no Instagram que cita 14 relatos de mortes de jovens relacionadas à vacinação de covid-19, nos Estados Unidos. O conteúdo tira de contexto dados de uma pesquisa do Centro de Controle e Prevenção de Doenças Infecciosas americano (CDC) que já descartou haver relação causal entre a imunização e oito dos relatos. Seis casos seguem em investigação.
  • Conteúdo verificado: Print compartilhado no Instagram do que seria o story de um médico respondendo o que acha sobre a vacinação em crianças e adolescentes. Na resposta, diz poder falar sobre os dados da Pfizer e afirma que “no último semestre foram relatadas 14 mortes de jovens entre 12 e 17 anos relacionadas a essa vacina (sic)”. Acrescenta existir um estudo nos Estados Unidos mostrando que, para cada caso de evento adverso notificado, existem 30 não notificados. Por fim, diz que apenas um jovem na mesma faixa etária morreu de covid-19 no mesmo período e deixa uma sugestão: “faça as contas”.

Uma postagem no Instagram com quase 6 mil visualizações engana ao citar relatos de suspeitas de eventos adversos da vacina Pfizer-BioNTech (também chamada de Comirnaty) em crianças e adolescentes nos Estados Unidos para sugerir que a imunização é insegura. O conteúdo tira de contexto dados expostos em uma pesquisa do Centro de Controle e Prevenção de Doenças Infecciosas americano (CDC) ao omitir que os relatos de mortes citados no estudo não foram confirmados como consequência da vacinação.

O estudo monitorou o registro de suspeitas de eventos adversos da vacina entre jovens de 12 a 17 anos, durante dezembro de 2020 a julho de 2021. Os autores destacam no documento que as notificações registradas no Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas americano (VAERS) não implicam necessariamente que a vacina tenha relação causal com os episódios.

Segundo o relatório, investigações sobre a causa da morte de oito dos 14 casos reportados não indicaram um padrão sugestivo que associe as mortes com a vacina. As outras seis ocorrências ainda são apuradas por especialistas. O boato também cita supostos dados de subnotificação de eventos adversos para atribuir um tom alarmista sobre a segurança da vacinação.

O site do VAERS destaca que a subnotificação é de fato uma limitação do sistema, em especial para ocorrências leves. Entretanto, isso não prova que a vacina da Pfizer causou mortes em adolescentes ou é insegura. Com base no estudo do CDC citado no boato, o Comitê Consultivo e Práticas de Imunização (ACIP) americano avaliou os riscos e benefícios da vacina e decidiu manter a recomendação para que crianças e adolescentes recebam o imunizante.

A postagem afirma ter ocorrido apenas uma morte por covid na faixa etária entre 12 e 17 anos no último semestre. A plataforma do CDC que compila os dados provisórios relacionados à contaminação e mortes pela doença, contudo, não apresenta filtros específicos para esse recorte de idade. Possui, entretanto, a possibilidade de pesquisa de números referentes a crianças e adolescentes com idades entre zero e 17 anos, que somaram 151 óbitos apenas entre janeiro e julho de 2021.

O responsável pelo post foi procurado, assim como o médico marcado no print e apontado como o autor das afirmações, mas nenhum respondeu até a publicação.

Como verificamos?

Inicialmente, o Comprova utilizou o Google para buscar palavras-chave que levassem à origem das afirmações feitas no post, localizando um relatório técnico do CDC sobre a segurança da vacina contra a covid-19 em adolescentes com idade entre 12 e 17 anos.

Em seguida, consultou informações sobre o Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas (VAERS) e sobre a segurança dos imunizantes, além de analisar outras verificações e artigos sobre os assuntos abordados no post.

Foram verificados os dados oficiais do Centro Nacional de Estatísticas de Saúde disponíveis sobre mortes por covid no país, recortando as informações relacionadas a crianças e adolescentes e consultado o que dizem as agências reguladoras americana e brasileira sobre a vacinação nessa faixa etária.

A reportagem procurou o médico que é citado no post como sendo o autor das afirmações, questionando se elas, de fato, são de sua autoria, e verificou todos os stories em destaque no perfil do profissional, onde não consta o conteúdo printado e compartilhado pela conta aqui verificada, também procurada pelo Comprova.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 6 de agosto de 2021.

Verificação

Relação entre mortes e a vacina não foi comprovada

A postagem se apropria de dados de um relatório de técnicos do CDC, publicado no dia 30 de julho, no site da instituição. A pesquisa analisou relatos de possíveis eventos adversos nos sistemas de farmacovigilância VAERS e V-Safe. A primeira plataforma compila notificações de suspeitas de eventos adversos pós-vacinação da população geral dos Estados Unidos.

Já o V-Safe corresponde a um aplicativo de celular que envia formulários e lembretes para usuários cadastrados com o intuito de monitorar possíveis efeitos adversos da vacina em crianças e adolescentes. As duas plataformas recebem relatos de usuários mesmo que a conexão com o evento adverso reportada e a vacina não tenha sido confirmada.

O estudo do CDC indica que o VAERS recebeu 9.246 informes de suspeitas de eventos adversos sobre jovens de 12 a 17 anos, entre 14 de dezembro e 16 de julho. A imunização de adolescentes de 16 e 17 anos foi autorizada pela agência sanitária americana FDA em dezembro, enquanto a vacinação da faixa etária de 12 a 15 anos foi autorizada em maio de 2021.

Até julho, cerca de 8,9 milhões de adolescentes foram imunizados ao menos com a primeira dose da vacina da Pfizer. Mais de 90,7% dos relatos ao VAERS contemplam suspeitas de eventos adversos “não sérios”, principalmente cansaço e dor de cabeça. Outros 863 relatórios apontaram ocorrências mais severas, incluindo as 14 mortes citadas na postagem.

Entre as causas identificadas estão embolismo, infecções bacterianas e suicídio. Segundo os autores, os inquéritos “relativos à causa de morte não indicam um padrão sugestivo de relação causal com a vacinação”. Eles pontuam que os seis casos restantes ainda aguardam informações adicionais. De qualquer forma, é enganoso afirmar que as mortes suspeitas foram provocadas pela vacina da Pfizer antes da revisão adequada dos dados.

O aplicativo V-Safe, por sua vez, registrou 66 mil notificações de eventos adversos entre adolescentes de 16 e 17 anos, e outras 62 mil no grupo de 12 a 15 anos. Não houve relatos de mortes. As principais reações reportadas, diz o estudo, correspondem a dor no local da aplicação da vacina, fadiga, dor de cabeça e dores musculares.

Benefícios superam os riscos de eventos adversos sérios

A pesquisa do CDC ressalta que entre os eventos severos mais relatados ao VAERS configuram suspeitas de miocardite, uma inflamação de um músculo do coração chamado miocárdio. A condição não foi associada a causa da morte de nenhuma das suspeitas de mortes notificadas e representa 4,3% do total de relatórios sobre pacientes de 12 a 17 anos enviados ao sistema.

Os autores destacam que embora análises estatísticas não tenham indicado que miocardite seja um evento adverso associado a vacinas de covid, a mesma condição foi relatada em sistemas de farmacovigilância de diferentes países, o que corrobora com uma conexão causal. Os pesquisadores acrescentam que, a partir dos dados do estudo, o ACIP analisou a relação de riscos e benefícios da vacinação para pessoas acima de 12 anos e decidiu manter a recomendação da vacina da Pfizer para o grupo.

Eles observam que, com exceção dos casos de miocardite, os resultados do relatório são similares aos descritos nos ensaios clínicos da vacina. No Brasil, a Anvisa também emitiu um comunicado sobre os riscos de miocardite e, assim como o CDC, concluiu que os benefícios superam os riscos de eventos adversos.

Cuidado com dados de notificações

As notificações de sistemas de vigilância farmacológica como o VAERS são alvos recorrentes de boatos que tentam descredibilizar a vacinação. Em dezembro, o Comprova já havia desmentido um conteúdo parecido que tirava de contexto os dados de eventos adversos da plataforma americana.

O estudo do CDC publicado no mês passado destaca que o VAERS é uma ferramenta de monitoramento passiva, portanto a plataforma está sujeita a subnotificações e relatórios imprecisos. Autoridades incentivam que pacientes e provedores de serviços de saúde reportem qualquer suspeita de efeitos adversos, mesmo que não existam sinais claros de conexão com as vacinas.

Os autores elencam esse fator como uma das principais limitações do trabalho, mas isso não é citado na postagem enganosa. O próprio VAERS é categórico ao afirmar que as notificações enviadas ao sistema não devem ser usadas isoladamente para concluir que um evento adverso reportado foi causado por uma substância.

“Os relatórios podem incluir informações incompletas, imprecisas, coincidentes e não verificadas”, diz o site do órgão. “O número de relatórios por si só não pode ser interpretado ou utilizado para chegar a conclusões sobre a existência, gravidade, frequência ou taxas de problemas associados às vacinas.”.

Para identificar a incidência de um evento adverso não esperado, especialistas recorrem a análises estatísticas sobre as notificações. Especialistas comparam, por exemplo, a taxa de ocorrência de uma doença na população geral e a taxa de ocorrência entre os vacinados, explica um boletim do Yellow Card, o sistema de vigilância farmacológica do Reino Unido.

No caso de suspeitas de mortes, como demonstra o estudo do CDC, os órgãos sanitários costumam consultar prontuários clínicos, certidões de óbito, autópsias, entre outras fontes de informação. Os dados são continuamente monitorados e, a partir das investigações, as autoridades avaliam a proporção entre os riscos e benefícios da vacina.

Subnotificação é outro fator limitante

A postagem enganosa afirma que um estudo nos Estados Unidos mostra que, a cada evento adverso notificado, outros 30 não são reportados. O Comprova não identificou especificamente a pesquisa mencionada na mensagem, mas o próprio VAERS pontua que a subnotificação configura uma limitação dos dados do sistema de farmacovigilância.

Segundo a instituição, no entanto, o grau de subnotificação varia muito a depender da gravidade da suspeita de evento adverso relatada.

“Uma grande parte das milhões de doses de vacinas administradas a cada ano por injeção causa dor, mas relativamente poucos desses episódios são relatados no VAERS. Médicos e pacientes compreendem que os efeitos colaterais menores das vacinas muitas vezes incluem este tipo de desconforto, bem como febres baixas”, diz o site do VAERS.

O órgão acrescenta que eventos médicos mais sérios e inesperados têm uma probabilidade maior de serem relatados do que efeitos colaterais leves, “especialmente quando ocorrem logo após a vacinação, mesmo que possam ser coincidentes e relacionados a outras causas”, afirma.

Uma verificação da agência norte-americana FactCheck.org investigou um boato semelhante propagado por um apresentador de uma emissora de TV americana. Além de deturpar um relatório de segurança de vacinas, o apresentador citou um levantamento de 2010 submetido ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos, que concluiu que apenas 0,3% (1 a cada 300) dos efeitos adversos eram reportados à agência sanitária americana FDA. Para suspeitas mais graves, a porcentagem foi estimada entre 1-13%. A análise, entretanto, não explicou como calculou esta porcentagem, mostra a verificação do FactCheck.org.

O mesmo documento foi utilizado pelo ativista conservador Charlie Kirk em especulações enganosas, conforme artigo publicado pela National Review, que explica a interpretação errada dele e informa que, desde o início da vacinação para a covid, o banco de dados é alvo de interpretações errôneas, além de abordar pontos do relatório semelhantes aos observados pela FactCheck.org.

Ainda que a subnotificação seja uma limitação do sistema, ao passo que as mortes relatadas ao VAERS não têm necessariamente vínculos causais com a vacina, é insustentável sugerir que há uma subnotificação de óbitos provocados por imunizantes.

Mortes por covid-19 entre crianças e adolescentes

Na publicação, afirma-se que no último semestre apenas um jovem na faixa etária – entre 12 e 17 anos – morreu de covid. Ele não informa a fonte dessa declaração, mas a contagem provisória de óbitos pela doença, realizada pelo CDC com dados do Centro Nacional de Estatísticas de Saúde (NCHS, em inglês), aponta que entre janeiro e julho de 2021 foram registradas 151 mortes entre crianças e adolescentes com idades entre zero e 17 anos (Folha 1, Folha 2). Durante o ano de 2020, foram 198 mortes. Até o momento, a soma entre crianças e adolescentes é de 349 óbitos.

O site do órgão também permite fazer a contagem por semanas, com recortes entre as idades de 5 a 14 anos e de 15 a 24, os mais próximos do período citado no post (entre 12 e 17 anos). Na primeira faixa (5-14), apenas entre o primeiro e o último final de semana de julho foram contabilizadas três mortes. Na segunda (15-24), foram 31 mortes.

O CDC explica que os números de óbitos relatados nas tabelas são baseados nos dados recebidos e codificados na data da análise e podem não representar todas as mortes ocorridas nos períodos descritos, devido ao lapso de tempo entre o momento em que ocorreu o óbito e o preenchimento do atestado de óbito.

O que diz a agência sobre a vacinação entre crianças e adolescentes?

O CDC recomenda a vacinação para maiores de 12 anos mesmo que adolescentes tenham sido menos infectados pela doença em comparação aos adultos, isso porque essas pessoas podem adoecer e também infectar outras. O órgão destaca que a imunização generalizada é ferramenta importante para ajudar a conter a pandemia.

A entidade ressalta que as vacinas são seguras e eficazes e têm sido usadas sob o monitoramento de segurança mais intensivo da história dos Estados Unidos, o que inclui estudos em adolescentes.

No último mês, em audiência do Comitê de Saúde, Educação, Trabalho e Pensões do Senado americano, a infectologista Rochelle P. Walensky, diretora do CDC, defendeu a vacinação de crianças afirmando que as variantes podem ser um problema e que deve ser feito algo enquanto houver mortes registradas entre esse público.

No Brasil, a Anvisa autorizou a vacina da Pfizer para adolescentes com mais de 12 anos após a apresentação de estudos desenvolvidos pelo laboratório indicando a segurança e eficácia para este grupo. Antes, a vacina da Pfizer estava autorizada para pessoas com 16 anos de idade ou mais. Até o momento, esta é a única entre as vacinas autorizadas no Brasil com indicação para menores de 18 anos.

Atualmente, a bula da vacina da Pfizer traz a orientação de uso adulto e pediátrico a partir dos 12 anos de idade. Conforme o laboratório, os resultados demonstraram eficácia de 100% em estudo clínico com jovens dessa faixa etária. Os ensaios de fase 3 foram realizados em 2.260 adolescentes, nos Estados Unidos, e apresentaram respostas robustas na produção de anticorpos.

De acordo com a empresa, a mesma autorização concedida pelo FDA e pela Anvisa também foi dada pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA), da União Europeia, e por agências de países como Reino Unido, Canadá, Chile, Uruguai, Israel, Dubai, Hong Kong, Filipinas, Cingapura e Japão.

Autoria da postagem

A postagem aqui verificada foi feita pelo perfil @vacinacv19_relatos, que afirma compilar notícias relacionadas às vacinas contra a covid-19. A conta já teve conteúdo removido por “informações falsas e prejudiciais” relacionadas à doença, segundo justificou a plataforma.

A publicação é um print no qual não constam as informações referentes ao perfil de origem. Na legenda, o usuário @vacinacv19_relatos afirma se tratar de um story da conta @marceu.lima, pertencente ao médico Marceu do Nascimento Lima, registrado no Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro desde janeiro de 2008.

O profissional tem como especialidades a clínica médica e a cardiologia e mantém no perfil do Instagram um link para plataforma na qual agenda teleconsultas. Ele possui várias postagens nas quais defende a não vacinação de pessoas que já foram infectadas pelo novo coronavírus.

Ambos foram procurados, mas não responderam.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. Segundo a ferramenta CrowdTangle, o post foi publicado em 2 de agosto no Instagram e dois dias depois, em 6 de agosto, já somava 5.955 interações.

Conteúdos enganosos sobre vacinas contra a covid-19 podem induzir a população a recusar medidas de prevenção, como a imunização, e se expor a riscos durante a pandemia.

O Comprova já esclareceu diversos conteúdos sobre a imunização, como, por exemplo, que o diagnóstico positivo de Doria não indica ineficácia da Coronavac e que os imunizantes usados no Brasil passaram por testes de segurança e eficácia e que médico descontextualizou manual da Pfizer para sugerir alterações genéticas pela vacina.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Saúde

Investigado por: 2021-08-05

Ministério da Saúde de Israel nega que seus dados permitam concluir sobre imunidade de infectados

  • Enganoso
Enganoso
Postagens em site e redes sociais enganam ao afirmar que, segundo o Ministério da Saúde de Israel, pessoas que foram infectadas pelo novo coronavírus ficam sete vezes mais protegidas do que aquelas que tomaram a vacina da Pfizer.
  • Conteúdo verificado: Posts afirmam que, de acordo com números do governo israelense, quem teve covid-19 tem imunidade mais forte do que pessoas que não se infectaram e se vacinaram.

São enganosas as postagens em um site e em redes sociais que declaram, com base em supostos dados do Ministério de Saúde de Israel, que pessoas infectadas pela covid-19 estão sete vezes mais protegidas do que aquelas que não tiveram a doença e foram imunizadas com a vacina da Pfizer.

Contatado pela reportagem, o órgão do governo israelense respondeu que os dados disponíveis até agora não permitem apoiar ou rejeitar essa afirmação. Questionado se seria correto dizer que os anticorpos advindos da infecção natural são mais fortes do que os criados pela vacina, o ministério declarou que essa informação “não é conhecida no momento”. A pasta ainda reforçou a importância da vacinação e que ela já se mostrou eficaz em prevenir casos graves e hospitalizações.

O site Frontliner, citado como fonte de informação nos posts, foi procurado pela reportagem, mas não respondeu até a publicação deste texto.

Como verificamos?

Inicialmente, pesquisamos informações sobre a situação da campanha de vacinação em Israel e a eficácia das vacinas em reportagens nacionais e internacionais. O segundo passo foi contatar, por e-mail, o Ministério da Saúde daquele país.

Por mensagens de WhatsApp, falamos com o médico Roberto Zeballos, que postou este conteúdo em seu perfil no Instagram. Tentamos contato, por e-mail, com o site Frontliner, responsável pelo texto, e com o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que publicou um tuíte sobre o assunto. Em ambos os casos, não houve resposta.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 5 de agosto de 2021.

Verificação

Que dados são esses?

Ao contrário do que afirmam textos verificados aqui, os dados sobre contaminação divulgados pelo ministério israelense não foram obtidos por meio de estudo, mas, sim, via monitoramento epidemiológico realizado pela pasta.

Por e-mail, o Ministério da Saúde de Israel informou que a mais recente onda de contaminações começou em meados de junho. Do dia 15 daquele mês até 27 de julho, foram diagnosticadas 24.348 novas infecções.

Destes casos, 163 (0,66%) ocorreram em pessoas que já haviam sido diagnosticadas anteriormente com a covid-19. Nesta conta entram diagnósticos feitos ao menos 90 dias depois do primeiro resultado positivo. Quarenta e sete destas pessoas também já estavam totalmente vacinadas.

Outros 12.511 (51,3%) novos casos no mesmo período foram observados em pessoas que já haviam recebido a vacinação completa e acabaram infectadas pela primeira vez.

A doença gera melhor imunidade que a vacinação?

O ministério isralense respondeu que “os dados disponíveis atualmente não permitem confirmar ou negar” que a imunidade das pessoas que entraram em contato com o vírus seja mais forte do que a imunidade conferida por vacinas. “O Ministério da Saúde avalia que o aumento no número de contágios se dá em parte por causa da diminuição na proteção das pessoas vacinadas em janeiro e fevereiro”, disse o órgão israelense.

Por fim, o ministério informou que seus dados “claramente mostram” que a vacinação protege contra casos graves de covid-19 e sugerem que o grau de imunidade pode diminuir quando em contato com a variante Delta e de acordo com o tempo passado após a segunda dose da vacina. Com base nisso, o órgão passou a recomendar uma terceira dose para os idosos. O primeiro a receber a dose de reforço foi o presidente, Isaac Herzog.

Apesar disso, não há estudos conclusivos que indiquem benefício na medida, disse a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Brasil, em recente posicionamento. No país, dois testes clínicos sobre o tema estão sendo conduzidos pelos laboratórios AstraZeneca e Pfizer/BioNTech.

Já a Agência de Medicamentos Europeia (EMA) informa que, até o momento, não se sabe quanto tempo dura a imunidade das vacinas e que é preciso aguardar a conclusão dos estudos atualmente em desenvolvimento. Alguns deles monitoram o impacto das vacinas na vida real, o que deverá subsidiar estratégias futuras de vacinação. O órgão recomenda que todas as pessoas elegíveis se vacinem.

Eficácia da Pfizer

Em sua resposta, o ministério cita um estudo publicado na Lancet sobre o impacto e a eficácia da Pfizer realizado em Israel entre 24 de janeiro e 3 de abril com pessoas com 16 anos ou mais.

O levantamento conclui que duas doses da vacina “são altamente eficazes em todas as faixas etárias na prevenção de infecções sintomáticas e assintomáticas por Sars-CoV-2 e hospitalizações relacionadas à covid-19, doença grave e morte”, incluindo contra a variante alfa. Ainda de acordo com o estudo, “essas descobertas sugerem que a vacinação pode ajudar a controlar a pandemia”.

Em 7 de julho, o Ministério da Saúde havia anunciado que os dados epidemiológicos mais recentes até então mostravam que a taxa de eficácia da vacina em prevenir o contágio e a contaminação sintomática havia caído para 64%. O órgão ressaltou que essa observação se deu simultaneamente com o aumento de contágios pela variante Delta.

No mesmo pronunciamento, o ministério observou que a eficácia em prevenir casos graves e hospitalizações estava em 93%, muito próximo da eficácia anunciada pela Pfizer nos testes clínicos, de 95%.

O site

O site Frontliner afirma, na aba “Quem somos” da seção sobre “princípios editoriais”, que defende “a independência do nosso jornalismo, a primazia da realidade – fatos em primeiro lugar, respeito pelas opiniões e aqueles que as expressam, e o direito de cada indivíduo formar suas opiniões”.

Também afirma que suas publicações trazem “fatos verificados” e entregam “elementos fidedignos à fonte”.

O site já apareceu em outras verificações. Em outubro do ano passado, o Comprova classificou como enganoso um texto que retirava frase de enviado da OMS de contexto para sugerir que a entidade condenava o lockdown. Texto semelhante foi verificado também pelo Estadão Verifica em março deste ano.

O Comprova enviou mensagem por e-mail e pelo “fale conosco” do site, mas não recebeu retorno até a conclusão deste texto.

O texto do site Frontliner ganhou visibilidade ao ser compartilhado por pessoas influentes nas redes sociais. Um deles foi o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que escreveu no Twitter que “Vacina é feita com o vírus da covid, inativado, ou partes dele. Seu objetivo é provocar a produção de anticorpos que irão proteger o organismo de uma infecção com vírus ativo. Igual, quem já teve infecção do vírus ativo produz anticorpos, que protegerão bem o organismo!”

Médico de formação, Osmar Terra foi ministro da Cidadania no primeiro ano do governo Bolsonaro. Ele já fez alegações enganosas sobre a pandemia no Rio Grande do Sul e sobre a eficácia das medidas de distanciamento social, checadas pelo Projeto Comprova. Ele também é investigado pela CPI da Covid, no Senado, por supostamente integrar um gabinete paralelo de aconselhamento do presidente Bolsonaro sobre a condução da pandemia. Procurado pelo Comprova, não respondeu.

Outro post que deu visibilidade ao texto do Frontliner foi um vídeo no Instagram do médico Roberto Zeballos. Na postagem, ele diz que “Estudo de Israel revela que quem venceu a doença tem imunidade SETE vezes melhor do que qualquer vacina!”. Ele também nota que “As vacinas estão mostrando proteção também!” e que “Obviamente não vale o risco de pegar a doença”.

Ao Comprova, ele afirmou que “isso é imunologia básica” e que quem se infecta acaba desenvolvendo resposta imunológica a todas as partes do vírus, não só a uma proteína dele, referindo-se à tecnologia utilizada em algumas das vacinas atualmente utilizadas. Ele disse se basear no estudo do ministério isralense e que suas falas se comprovam “em estudos e resultados com números, nunca especulações”.

Ao ser contestado com a resposta do órgão israelense, respondeu que falou em “estudo” mas que quis dizer os dados de monitoramento. “E quando faz a conta, vê os números e quem teve infecção realmente ficou mais protegido. Não pode ser considerado um estudo, mas tem vários estudos que mostram que quem pegou a doença, tem uma imunidade longa e mais eficaz”, sustentou.

Há estudos mostrando que a imunidade conferida pela infecção seria duradoura. No entanto, os principais órgãos reguladores consideram que os resultados dos estudos até o momento são insuficientes para dizer que a infecção forneceria imunidade maior ou que duraria mais. O Centro de Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, ressalta que especialistas “estão pesquisando para entender mais sobre a imunidade tanto pela infecção quanto pela vacinação” e que estudos apontam que as vacinas oferecem um reforço na proteção de quem já foi infectado. A Anvisa reitera isso, dizendo que “pesquisas apontam que a vacina pode proporcionar uma imunidade mais duradoura à covid-19 e fortalecer a imunidade natural à doença”. Ambos recomendam que qualquer pessoa elegível, mesmo quem já teve a doença, se vacine.

Zeballos já foi alvo de duas checagens do Comprova no começo da pandemia. Em uma delas, uma entrevista sua foi tirada de contexto. Ele dava seu relato sobre experiências com medicamentos corticoides no tratamento da covid-19. À época, como ele próprio explicou ao Comprova, os resultados não haviam sido publicados. Atualmente já se possui estudos robustos que comprovam o benefício destes remédios para pacientes infectados.

A outra checagem foi feita sobre um áudio no qual ele replicava alegações de um médico francês de que o Sars-CoV-2 teria escapado de um laboratório em Wuhan, na China. Até hoje essa hipótese não foi comprovada, e as evidências mais robustas apontam que o coronavírus teria sido transmitido naturalmente de um animal selvagem para o ser humano.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. O texto do site Frontliner foi compartilhado 726 vezes no Facebook e teve 5.729 interações. Já o vídeo do médico Roberto Zeballos foi visualizado mais de 180 mil vezes e o tuíte do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) teve 3.824 reações.

Conteúdos enganosos sobre vacinas ou tratamentos contra a covid-19 podem induzir a população a recusar medidas de prevenção, como a imunização, e se expor a riscos durante a pandemia.

O Comprova já mostrou, por exemplo, que exames sorológicos não servem para provar grau de proteção das vacinas, que o diagnóstico positivo de Doria não indica ineficácia da Coronavac, que a Infecção de Rodrigo Faro não prova ineficácia da vacina e que os imunizantes usados no Brasil passaram por testes de segurança e eficácia.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Saúde

Investigado por: 2021-07-29

Site engana ao afirmar que Anvisa ‘confessa ineficácia de máscaras’ contra a covid

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a publicação em um site conservador brasileiro afirmando que “Anvisa confessa ineficácia de máscaras e diz se basear apenas na OMS”. O texto se baseou em um ofício do órgão que trata de máscaras de tecido e que foi descontextualizado. Além disso, publicações da agência utilizam outras fontes, além da OMS, como referência desde o início da pandemia do novo coronavírus.
  • Conteúdo verificado: Texto em site afirma que a Anvisa confessou ineficácia de máscaras e disse se basear apenas na OMS para recomendar o equipamento, sem levar a ciência em conta.

É enganoso que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tenha “confessado” que máscaras sejam ineficazes para a proteção contra a covid-19, segundo afirma o título e o subtítulo de texto publicado em um site conservador brasileiro e fechado para não assinantes, que foi compartilhado em redes sociais. Outro artigo, veiculado no dia seguinte e sem bloqueio, muda levemente o tom, afirmando que a Anvisa confessou falta de evidências de eficácia de máscaras.

No Twitter, onde o link postado teve grande interação, pessoas comentaram a postagem fazendo coro à afirmação que consta no título e concordando com ela. Como o conteúdo é liberado apenas para assinantes, muitos usuários da rede social não tiveram acesso ao texto completo.

Em ofício utilizado como base para o conteúdo, a chefe de gabinete da agência, Karin Schuck Hemesath Mendes, afirma ter sido mantida, em nota técnica do órgão, a recomendação para o uso da proteção “apesar de não existir evidências robustas sobre a eficácia do uso de máscaras de tecido como controle de fonte para a transmissão da covid-19”.

O documento diz, ainda, que a recomendação é baseada no princípio da precaução e alinhada com as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O ofício trata apenas de máscaras de tecido e em nenhum momento a funcionária da Anvisa diz que elas são ineficazes. O título do texto verificado, entretanto, não faz essa identificação dos equipamentos e leva à interpretação de que nenhum deles protege contra o vírus.

Diversos documentos consultados pelo Comprova demonstram que a Anvisa recomenda a utilização das máscaras para a proteção desde 2020, assim como estudos, médicos e outros órgãos de saúde. A agência também utiliza outras fontes, além da OMS, para as orientações.

A reportagem entrou em contato com o site que publicou o conteúdo e a equipe afirmou ter construído o título de forma a resumir o conteúdo da publicação e chamar a atenção, alegando ser impossível inserir nele todas as informações do texto. Justificou, ainda, que o trecho do ofício em que se baseou está na abertura e que o parágrafo seguinte esclarece que se tratam de máscaras de pano.

Como verificamos?

O Comprova acessou e leu o ofício citado no conteúdo publicado no site. Em seguida, consultou diversas publicações da Anvisa desde o início da pandemia do novo coronavírus e entrou em contato com o órgão, por e-mail.

Também consultou estudos relacionados ao uso de máscaras na proteção contra a covid-19 e entrevistou o clínico geral Vitor Key Assada, que atende na linha de frente contra a covid-19 no Hospital Santa Casa de Londrina.

Por fim, entrou em contato com os responsáveis pela publicação verificada.

O Comprova fez esta verificação baseada em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 29 de julho de 2021.

Verificação

Anvisa não “confessa a ineficácia de máscaras” contra a covid-19

O texto publicado afirma que a Anvisa confessou a ineficácia de máscaras e que se baseia apenas na OMS, não levando em conta a ciência para recomendar o uso do equipamento. O conteúdo foi baseado em um ofício assinado por Karin Schuck Hemesath Mendes, chefe de gabinete da Anvisa, no dia 7 de abril de 2021, em resposta a questionamentos do defensor público federal João Frederico Bertran Wirth Chaibub, que atua em Goiânia (GO).

No documento, ela esclarece que as orientações para prevenção e controle da disseminação de doenças na população em geral, incluindo a recomendação do uso de máscara facial de tecido, competem ao Ministério da Saúde e que cabe à Gerência Geral de Tecnologia em Serviços de Saúde (GGTES) da Anvisa emitir orientações sobre prevenção e controle da disseminação da covid-19 apenas dentro dos serviços de saúde.

Destaca, ainda, que para este público o órgão atualiza frequentemente notas técnicas levando em consideração a situação epidemiológica do país e a disponibilização de novas evidências nacionais e internacionais.

Neste contexto, a chefe de gabinete afirma que “apesar de não existir evidências robustas sobre a eficácia do uso de máscaras de tecido como controle de fonte para a transmissão da covid-19, considerando o cenário epidemiológico atual, com vasta disseminação do vírus, incluindo cepas com tendência de maior transmissibilidade e virulência, pelo princípio da precaução e alinhado com as orientações da Organização Mundial da Saúde, a GGTES manteve na última atualização da nota técnica Nº 04/2020 (25/02/2021), a orientação para o uso de máscara de tecido para o controle de fonte por: pacientes, acompanhantes e visitantes (se estiverem assintomáticos) e profissionais do serviço de saúde que executam atividades exclusivamente administrativas e não tem nenhum contato com pacientes ou áreas de internação de pacientes”.

O ofício, entretanto, trata apenas de máscaras de tecido e, em nenhum momento, Karin diz que elas são ineficazes, ao contrário do que afirma um segundo texto publicado no site, que só cita se tratar de máscaras de tecido quando reproduz literalmente, entre aspas, trechos do documento.

Procurada pelo Comprova, a assessoria de comunicação da agência encaminhou posicionamento afirmando que o trecho sobre não existirem “evidências robustas” foi retirado de contexto. “O fragmento deve ser lido à luz do conhecimento científico produzido no transcorrer do enfrentamento à pandemia no Brasil e no mundo”, diz a nota. O Comprova verificou que, por não terem padronização na fabricação, a eficácia de máscaras de tecido varia. Já outros modelos, como o cirúrgico e o PFF2, têm eficácia comprovada em impedir a transmissão.

A agência acrescenta que a nota técnica a que se refere o ofício elenca entre as medidas de prevenção e controle de novos casos de infecção pelo Sars-CoV-2 o uso de máscaras adequadas pelos profissionais que atuam nos serviços de saúde. “Com o avanço da pandemia e considerando o acúmulo de evidências sobre a transmissão do novo coronavírus, a Anvisa vem implementando diversas atualizações em suas publicações. Em todas elas o uso de máscaras faciais adequadas às necessidades e aos profissionais de saúde foi reforçado”, afirma.

Assim como consta no ofício, a assessoria de comunicação afirma que as definições sobre o uso de máscaras pela população devem partir do Ministério da Saúde, mas explicou que a agência elaborou diversas orientações sobre máscaras faciais para uso não profissional com a finalidade de apoiar as ações para a saúde pública.

“Máscaras faciais não hospitalares não oferecem total proteção contra infecções, mas reduzem sua incidência. Especialistas apontam que mesmo pequenas medidas para reduzir transmissões têm grande impacto na atual pandemia, especialmente quando combinadas com medidas preventivas adicionais. Por esse motivo, a Agência sempre reforçou que máscaras de tecido íntegras, limpas, secas e usadas de forma correta são eficazes para evitar que gotículas contaminadas sejam expelidas sobre produtos, equipamentos e outras pessoas”.

O vírus pode se espalhar pela boca ou nariz de uma pessoa infectada, ao tossir, espirrar, falar, cantar ou respirar, por gotículas respiratórias maiores e aerossóis menores. A evidência atual sugere que a doença se espalha principalmente entre pessoas que estão em contato próximo umas com as outras, normalmente dentro de um metro. Uma pessoa pode ser infectada quando aerossóis ou gotículas contendo o vírus são inalados ou entram em contato direto com os olhos, nariz ou boca.

O que a Anvisa diz sobre o uso de máscaras?

Em janeiro deste ano, a Anvisa publicou um longo material em texto esclarecendo dúvidas sobre o uso de máscaras faciais e alertando as pessoas para que não se deixem “enganar pelas fake news”. O conteúdo, em formato de perguntas e respostas, explica, por exemplo, quais são os diferentes tipos de máscaras, para que servem e quais tipos de equipamentos têm sido utilizados pela população e pelos profissionais de saúde.

Em uma questão específica, afirma que as máscaras de proteção de uso não profissional são aquelas confeccionadas artesanalmente com tecidos e utilizadas para cobrir o nariz e a boca em espaços públicos durante a pandemia. “Essas máscaras atuam como barreiras físicas, reduzindo a propagação do vírus e, consequentemente, a exposição e o risco de infecções”, diz o texto.

Em seguida, o material educativo destaca que a utilização é uma importante medida de saúde pública que as pessoas devem adotar no combate à covid-19, além do distanciamento social e da limpeza frequente das mãos.

Em março deste ano, o órgão também publicou um documento de perguntas e respostas sobre o uso de máscaras de proteção facial em aeroportos e aeronaves, esclarecendo quais os tipos permitidos nesses locais, como usá-las e em quais situações é permitido retirá-las.

Em maio, uma nota técnica atualizou as medidas sanitárias a serem adotadas em portos e embarcações para resposta à Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) e Internacional (ESPII) pelo novo coronavírus, também reforçando a obrigatoriedade do uso das máscaras. “Entre as exigências aos viajantes, a Anvisa determinou que as máscaras de tecido confeccionadas artesanal ou industrialmente com material como algodão e tricoline devem possuir mais de uma camada de proteção e ajuste adequado ao rosto”, disse o órgão em nota encaminhada ao Comprova.

No início da pandemia no Brasil, em abril de 2020, a Anvisa já havia lançado uma cartilha com as orientações gerais relacionadas às máscaras faciais de uso não profissional. Nas referências, consta que o órgão se baseou em orientações do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) – o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos; da Association Française de Normalisation (AFNOR) – conjunto de normas francesas, como a ABNT no Brasil; da National Center for Biotechnology Information (NBCI) – que é o Centro Nacional de Informação Biotecnológica, uma seção da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos; em artigos científicos, entre outras.

Na ocasião, a OMS somente foi citada com a recomendação de que se respeitasse a distância entre as pessoas preconizada pela entidade e pelo Ministério da Saúde.

No dia 23 de julho de 2021, há menos de uma semana, a Anvisa publicou uma revisão da nota técnica nº 07/2020 com orientações para prevenção e vigilância epidemiológica das infecções por Sars-CoV-2 dentro dos serviços de saúde. Nela, o órgão destaca que a vacinação protege o indivíduo de infecção ou da forma grave da infecção, mas esta proteção não é absoluta e que estudos mais recentes relatam eficácia reduzida das vacinas contra a infecção por variantes do vírus.

Desta forma, o órgão orienta que mesmo o profissional do serviço de saúde totalmente vacinado – que recebeu a segunda dose em uma série de duas doses há mais de duas semanas ou uma dose de uma vacina de dose única há mais de duas semanas – deve continuar a usar os equipamentos de proteção individual, incluindo a máscara.

O texto também distribui orientações para pacientes, acompanhantes e visitantes, destacando que pessoas assintomáticas devem fazer uso de máscara de tecido e sintomáticas de máscara cirúrgica durante toda a permanência no serviço de saúde.

“Ressalta-se que por ainda estarmos com elevada transmissão comunitária do Sars-CoV-2 e que a vacinação não reduz 100% a possibilidade de infecção por esse vírus, todos dentro do serviços de saúde (profissionais, pacientes, visitantes e acompanhantes) devem continuar utilizando máscara facial como controle de fonte, independente de já estarem vacinados contra covid-19 ou não”, diz a nota técnica.

Conforme a Anvisa informou ao Comprova, nos primeiros meses da pandemia, diante de um possível cenário de desabastecimento de máscaras profissionais no mercado nacional, que poderia atingir trabalhadores que atuam na linha de frente com pacientes com covid-19, o órgão publicou material com orientações sobre confecção e uso de máscaras artesanais. “O objetivo era estimular a população a buscar uma solução de baixo custo e de mais fácil acesso para reforçar a proteção”.

A agência também lembra que, embora o uso de máscara de proteção facial seja uma medida fundamental no combate à propagação do novo coronavírus, para que haja prevenção efetiva o equipamento precisa fazer parte de um conjunto de medidas que inclui distanciamento social e higiene das mãos com água e sabonete ou preparações alcoólicas. Além disso, é necessário evitar aglomerações e permanecer em locais limpos e bem ventilados.

Estudos comprovam a eficácia do equipamento de proteção

Estudos científicos comprovam a eficácia das máscaras na proteção contra a contaminação pelo novo coronavírus. Em maio deste ano, por exemplo, a Agência Brasil publicou o resultado de um estudo conduzido por pesquisadores do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), que constatou que máscaras de algodão, as mais comumente usadas pela população na prevenção da covid-19, têm eficiência de filtração de 20% a 60%. A pesquisa foi publicada na revista Aerosol Science & Technology e analisou 300 máscaras usadas pela população brasileira.

Em abril de 2020, uma reportagem do UOL já citava outra pesquisa científica que atestou a eficácia de máscaras cirúrgicas contra a disseminação do coronavírus. O estudo publicado na revista Nature Medicine comprovou que o aparato reduz a quantidade do agente infeccioso no ar expirado por pessoas contaminadas com coronavírus sazonais, que integram a família do Sars-CoV-2, causador da pandemia, ou com o vírus da influenza, que provoca a gripe.

Em 5 de julho de 2021, especialistas em medicina, baseados em evidências científicas, divulgaram a carta “Choosing Wisely” na revista Nature Medicine, com 10 dicas para enfrentamento da covid-19. Dentre elas, a primeira é usar máscaras sempre que estiver em público. De acordo com os especialistas, uma revisão sistemática e meta-análise de 10 estudos observacionais ajustados e 29 não ajustados mostraram que o risco de infecção foi significativamente reduzido com o uso de máscaras faciais. As máscaras N95 (PFF2 no Brasil) foram citadas como as que mais protegem.

Em março deste ano, no momento mais grave da pandemia no Brasil, a Associação Médica Brasileira chegou a divulgar carta pedindo vacinas, isolamento e uso de máscaras para combater pandemia: “Nosso diagnóstico é de que apenas a obediência às regras de proteção – como confinamento, uso de máscara e outras –, as iniciativas contínuas de testagem e rastreio de contactantes, juntamente com a vacinação em larga escala, são capazes de oferecer melhor prognóstico à população brasileira”.

Em dezembro de 2020, um ano após o início da pandemia, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, gravou uma mensagem na qual afirmava que a vacinação de todos contra a covid-19 levaria tempo e a população deveria “continuar a aderir às medidas testadas e comprovadas que mantêm todos e cada um de nós seguros”, o que significa, destacou, “manter distância física, usar máscaras faciais, praticar a higiene das mãos e respiratória, evitar locais fechados lotados e encontrar pessoas em ambientes abertos”.

Em junho deste ano, Mariângela Simão, diretora-geral assistente da OMS, elogiou a produção de vacinas no Brasil, mas destacou que a vacinação por si só não é suficiente no país e reforçou a importância do uso da máscara. “Eu sei que há uma controvérsia recente no Brasil sobre o uso consistente de máscaras. Continua sendo uma orientação da OMS o uso consistente de máscaras onde não há possibilidade de distanciamento social, a higienização das mãos, etiqueta respiratória, ambientes ventilados, evitar aglomerações”, afirmou.

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da OMS nas Américas, mantém uma folha informativa sobre a covid-19 com as orientações das duas entidades sobre o uso de máscaras, afirmando que as evidências científicas mais recentes mostram que elas são uma medida fundamental para suprimir a transmissão da doença e salvar vidas. O texto orienta a utilização das máscaras de tecido, especificamente, pelo público em geral com idade inferior a 60 anos e que não apresente problemas de saúde subjacentes.

Tipos de máscara e a eficácia

O Comprova entrevistou o clínico geral Vitor Key Assada, que atende na linha de frente contra a covid-19 no Hospital Santa Casa de Londrina. O profissional ressaltou a importância do uso das máscaras para evitar a propagação do vírus. “Essas postagens afirmando que [as máscaras] são ineficazes são completamente errôneas. São várias publicações desde o início da pandemia que confirmam a eficácia do uso das máscaras. Quando a gente coloca a máscara, entendemos subjetivamente que estamos nos protegendo, que vamos colocar a máscara para não nos contaminar, mas não é só isso. Muitos artigos evidenciam o quanto a máscara, principalmente para os assintomáticos, ajuda a não transmitir o vírus para outras pessoas”, esclarece.

Ele destaca a existência de três modelos principais de máscara: as de pano, as cirúrgicas e aquelas com modelos “bico de pato”, como N95 e PFF2. As duas últimas, afirma, são as mais recomendadas para quem está em ambientes com alta carga viral, como hospitais, apresentando eficácia maior que 90%.

Quanto às máscaras de tecido, ele observa haver alguns problemas. “Não quer dizer que todas são ineficazes, mas não há um padrão. Por mais que a OMS cite que elas devem ter pelo menos dois tecidos, que seriam as camadas da máscara, sabemos que as empresas estão mais ligadas em estética e conforto do que propriamente na filtragem das partículas. Os estudos apontam uma variabilidade de eficácia muito grande de proteção [das máscaras de tecido], justamente porque não há controle de qualidade”.

Em relação às cirúrgicas, afirma que possuem proteção de 80% para cima. “Obviamente, cada uma delas tem um período de uso, ou seja, você tem que estar trocando elas e conservá-las. Tudo isso pode afetar diretamente a eficácia das máscaras”.

Por fim, o profissional opina pela manutenção do uso das máscaras mesmo diante do avanço da vacinação. “Como sabemos, a vacina por si só não significa que estamos acabando com a doença de uma hora para outra, ainda mais que nenhuma vacina tem proteção de 100%. Não dá para falar: olha, temos 70% da população vacinada, abre a porteira, todo mundo está livre do uso de máscara. Eu acho que não é por aí. Acho que é muito importante continuar usando a máscara mesmo com o avanço da vacinação. A vacina não significa que não podemos pegar e nem transmitir para quem não foi vacinado”.

Quem publicou o texto

O texto com título e subtítulo enganosos foi publicado no site Brasil sem Medo, que se identifica como “o maior jornal conservador do Brasil” e tem, entre os colunistas, o escritor bolsonarista Olavo de Carvalho.

Procurada, a equipe do site afirmou que “o título é construído de forma a resumir o conteúdo da publicação e, também, chamar a atenção, sendo impossível inserir nele todas as informações do texto”, acrescentando que aqueles que leram a matéria completa “sabem que esse trecho do ofício está no próprio lead e que, no parágrafo seguinte, também é esclarecido que se tratam de máscaras de pano, que são as utilizadas pela maior parte da população”.

Declarou, também, que a intenção do site ao publicar o texto foi “informar a população sobre um aspecto importante da pandemia, que é a possível ineficácia das máscaras de pano”, acrescentando que a imprensa tradicional não o faz “por razões ideológicas e financeiras”.

Dentre os colunistas do site também está Bernardo P. Kuster, que se apresenta como jornalista, palestrante, tradutor e diretor de opinião do Brasil sem Medo. O link com o conteúdo que ele compartilhou nas próprias redes sociais gerou, apenas no Twitter, 6.892 interações. Ele foi procurado, mas não respondeu.

No Instagram, ele teve o conteúdo publicado no dia 26 de julho removido sob alegação, por parte da plataforma, de ir contra as diretrizes da comunidade. No dia seguinte, 27 de julho, foi publicado novo artigo sobre o assunto no site, desta vez liberado para a leitura de não assinantes, acusando o Instagram de censura. O site ainda aproveitou o teor postado em uma coluna que faz “giro de notícias”.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições e pandemia que tenham atingido alto grau de viralização. Em julho de 2021, os participantes decidiram também iniciar a verificação da desinformação envolvendo possíveis candidatos à presidência da República. Desde então, o projeto tem monitorado nomes que vêm sendo incluídos em pesquisas dos principais institutos.

O compartilhamento da primeira publicação aqui verificada teve 8.822 interações apenas no Twitter, segundo a ferramenta CrowdTangle. Uma conta do Instagram que postou o print da coluna do site onde foi utilizado o teor do texto somou mais de 700 curtidas na plataforma.

O uso de máscaras faciais é apontado como uma das medidas de prevenção à covid-19, sendo incentivado pela Organização Mundial da Saúde desde o ano passado, somado a outras ações, como a higienização frequente das mãos e o distanciamento social.

Enquanto não há medicamentos eficazes contra o vírus e sem a cobertura vacinal adequada, esta segue sendo a recomendação, principalmente no Brasil, onde já foram registradas mais de 550 mil mortes pela doença. O país tem hoje pouco mais de 38,04 milhões de pessoas completamente vacinadas, o que equivale a 18,6% da população brasileira.

Desde o ano passado, o uso de máscaras faciais têm sido alvo de afirmações falsas ou enganosas. O Comprova já verificou, por exemplo, que um estudo não comprova a ineficácia do uso do equipamento; que as máscaras são eficientes no combate ao novo coronavírus; que o uso correto delas reduz as chances de contaminação e não torna o sangue ácido; e que as elas não causam acúmulo de líquido nos pulmões, tampouco intoxicação.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; bem como aquele que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

 

Saúde

Investigado por: 2021-07-23

Estudo francês em hamsters não prova eficácia da ivermectina contra a covid-19 em humanos

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a publicação no site Terça Livre que afirma que um estudo francês apontou a eficácia da ivermectina para combater a covid-19. O texto omitiu que o estudo mencionado, realizado pelo Instituto Pasteur da França e publicado na revista EMBO Molecular Medicine no último dia 12, foi feito em hamsters, e não em humanos.
  • Conteúdo verificado: Texto do site Terça Livre afirma que um estudo francês apontou a eficácia da ivermectina contra a covid-19.

É enganosa a publicação no site Terça Livre que afirma que um estudo francês apontou a eficácia da ivermectina para combater a covid-19. O texto omitiu que o estudo mencionado, realizado pelo Instituto Pasteur da França e publicado na revista EMBO Molecular Medicine no último dia 12, foi feito em hamsters, e não em humanos. Estudos publicados até o momento são insuficientes para concluir que a ivermectina seja eficaz contra o novo coronavírus.

O Comprova procurou o Terça Livre por e-mail, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. Após o contato, a publicação do site foi editada para incluir a informação de que o estudo em questão foi feito em hamsters.

Como verificamos?

O Comprova leu o estudo citado na publicação e também a checagem feita pela AFP sobre o assunto. Em seguida, consultou o doutor em Microbiologia e Imunologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Alison Chaves.

Para a verificação, também foram consultadas outras pesquisas sobre o uso da ivermectina no tratamento da covid-19 e agências reguladoras que falam sobre o medicamento.

Por fim, entramos em contato com o site responsável pelo texto.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 23 de julho de 2021.

Verificação

Estudo

O estudo realizado pelo Instituto Pasteur da França e publicado na revista EMBO Molecular Medicine no último dia 12 mostrou que doses padrão de ivermectina foram capazes de prevenir a deterioração clínica e a perda de olfato, além de limitar a inflamação do trato respiratório superior e inferior em hamsters sírios (também chamados de hamsters dourados) infectados com SARS-CoV-2. Foi concluído que a ivermectina melhorou o resultado clínico nos animais infectados com o vírus e está associada a um estado inflamatório reduzido, mas sem impacto das cargas de SARS-CoV-2 no trato respiratório superior e inferior. Por fim, o estudo afirma que traz a prova de conceito de que uma terapia imunomoduladora baseada em ivermectina melhora a condição clínica de hamsters infectados com SARS-CoV-2 e, em ensaios clínicos, aliviaria os sintomas da covid-19 em humanos.

Em nota à imprensa, o Instituto Pasteur informou que os pesquisadores demonstraram que ‘’a ivermectina, uma molécula comercializada como um tratamento antiparasitário, protege contra os sintomas da Covid-19 em um modelo animal’’. O Instituto Pasteur informou à AFP, parceira do Comprova, que esses resultados foram obtidos como parte de um estudo pré-clínico.

Para o doutor em Microbiologia e Imunologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Alison Chaves, o estudo não é mal feito, apenas exagera as conclusões. Ele chama atenção para o relato de redução da resposta a interferon nos hamsters do estudo. Os interferons são glicoproteínas produzidas naturalmente no organismo e têm propriedades antivirais. ‘’Isso não é bom e gera mais dúvidas do que certezas, pois o interferon é uma das principais citocinas antivirais que nosso sistema imunológico produz. Há publicações sugerindo que a deficiência de interferon está associada a quadros mais severos da doença e há muitos estudos sugerindo interferon como intervenção para a doença”, observa.

Chaves ainda aponta que o modelo animal pode ter uma quantidade muito maior da citocina se comparado a humanos. ‘’Não conheço a fundo os modelos inflamatórios em hamster, mas camundongos, por exemplo, produzem uma enxurrada de interferon. Esta foi uma das limitações na época dos estudos com zika vírus. Os animais não desenvolviam a doença pelo excesso de interferon inerente ao modelo. Isso foi resolvido gerando camundongos geneticamente modificados para expressar menos interferon’’.

O Comprova tentou entrar em contato por e-mail com o pesquisador do Instituto Pasteur Guilherme Dias de Melo, um dos responsáveis pelo estudo, mas não obteve retorno.

O resultado em hamsters significa que será igual em humanos?

Julival Ribeiro, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explicou à AFP que “todo estudo sobre qualquer droga tem fases pré-clínica e clínica até que fique comprovado por meio de estudos clínicos randomizados, duplo-cego, que esse medicamento combate determinada doença”.

‘’A Sociedade Americana de Infectologia e outras sociedades do mundo afirmam que a ivermectina só poderá ser usada quando sua eficácia for comprovada em estudos clínicos. Até agora não está demonstrada a eficácia da ivermectina para tratar covid-19 em seres humanos”, acrescentou Ribeiro. Ele alertou ainda que após testar uma droga em animais, jamais se pode extrapolar o resultado para seres humanos.

Alison Chaves também aponta que não é possível usar o estudo para embasar qualquer conduta clínica: ‘’Trata-se de um estudo em modelo animal. Por isso não se pode extrapolar esses dados para clínica, como fizeram os autores, tanto ao sugerir melhora clínica (termo inapropriado para modelos animais) quanto ao sugerir que a droga poderia ser usada na clínica para covid-19, considerando estes resultados.”

Estudos com ivermectina não comprovaram eficácia contra covid-19

Embora não exista comprovação científica de que a ivermectina seja eficaz contra a covid-19, o Terça Livre citou outros quatro estudos que supostamente indicariam a eficácia do medicamento. Ao Comprova, o doutor em Microbiologia e Imunologia Alison Chaves analisou cada um deles.

O primeiro é um estudo australiano de junho de 2020. ‘’O estudo australiano aponta o caminho inverso do estudo do Instituto Pasteur. Nesse estudo, a ivermectina reduz a carga viral in vitro. No estudo francês in vivo, não há redução importante da carga viral e os autores sugerem que o caminho é outro (imunomodulação). Estudos in vitro são apenas screening de drogas, não servem para embasar condutas clínicas’’, analisa Chaves.

Outros dois estudos mencionados pelo site são metanálises. Nesses casos, diferentes estudos sobre um mesmo assunto são agrupados e, então, os resultados são comparados. ‘’O estudo da Indonésia é uma metanálise cujas conclusões dependem fortemente de estudos mal feitos e, descoberto mais recentemente, fraudados’’, diz Chaves. Em junho deste ano, ele publicou um artigo na Revista Questão de Ciência sobre como essas metanálises de ivermectina são compostas por estudos suspeitos. “Observe que o estudo de Oxford é outra metanálise que usa exatamente os mesmos estudos problemáticos. Especial atenção para o estudo de Elgazzar em ambas metanálises’’, completa. O Comprova também já publicou uma verificação mostrando que a metanálise publicada no Open Forum Infectious Diseases em julho é insuficiente para apontar a eficácia da ivermectina contra a covid-19.

Já o quarto e último estudo citado, publicado no Chest Journal, é finalmente um estudo clínico. ‘’No entanto, é de baixa qualidade de evidência. O estudo é retrospectivo, não foi controlado em nenhum aspecto. Em síntese, agrupando todos estes estudos, não há contribuição alguma para se reduzir as incertezas sobre eficácia do tratamento proposto. Neste caso, não se pode concluir nada sobre a droga. Uma conclusão negativa seria de qualidade duvidosa pelas mesmas razões já mencionadas’’, conclui.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomenda que a ivermectina seja usada contra a covid-19, exceto em ensaios clínicos, devido à falta de evidências que comprovem seus benefícios contra a doença. A Agência Europeia de Medicamentos e a FDA, agência reguladora dos Estados Unidos, compartilham o mesmo posicionamento. No Brasil, a Anvisa também reconhece que não existem estudos conclusivos que comprovem o uso do medicamento para o tratamento da covid-19.

Quem postou

O Terça Livre pertence a Allan dos Santos, investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito das fake news. O Google removeu o canal no YouTube do site após decisão judicial favorável à multinacional. Em fevereiro o canal já havia sido derrubado por violar diretrizes da plataforma, mas uma liminar conseguiu permitir o retorno do perfil. O Comprova procurou o Terça Livre por e-mail, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. Após o contato, o texto do site foi editado e a informação de que o estudo em questão foi feito em hamsters foi incluída.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia, processo eleitoral ou políticas públicas do governo federal. Em julho de 2021, os participantes decidiram também iniciar a verificação da desinformação envolvendo possíveis candidatos à presidência da República. A publicação verificada aqui teve mais de 4 mil interações no Facebook.

A checagem de conteúdos envolvendo informações sobre supostos tratamentos para a covid-19 é importante, pois a desinformação pode colocar a saúde das pessoas em risco.

A mesma publicação foi verificada pela AFP Checamos na última terça-feira (20).

Postagens sobre a ivermectina já foram verificadas pelo Comprova, mostrando que a metanálise publicada no Open Forum Infectious Diseases é insuficiente para apontar a eficácia da ivermectina contra a covid-19, que é enganoso que a Universidade de Oxford tenha encontrado ‘fortes indícios’ da eficácia do medicamento contra a covid e outra que mostra que a ivermectina em altas doses pode causar até convulsão.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

 

 

Saúde

Investigado por: 2021-07-22

Exame sorológico não prova que vacinas deixam de proteger

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso vídeo publicado no Facebook e Twitter no qual um médico afirma que o diagnóstico negativo de um exame sorológico que fez provaria que a Coronavac não gera imunidade contra a covid-19. Especialistas ouvidos pelo Comprova explicam que o exame não é capaz de medir o nível de proteção garantida por vacinas, pois mede apenas a quantidade de anticorpos neutralizantes, que representam só parte do sistema imunológico humano.
  • Conteúdo verificado: Em um vídeo publicado nas redes sociais, o médico Delano Santiago Pacheco diz que foi imunizado com duas doses da Coronavac. Porém, ao fazer dois testes sorológicos não teria apresentado anticorpos neutralizantes suficientes contra o Sars-CoV-2. Ele conclui que a vacina não serviu para ele.

Médico engana ao associar o resultado de um teste de anticorpos neutralizantes à eficácia da vacina Coronavac. Os anticorpos só são uma das defesas ativadas após uma imunização e também não se sabe qual a quantidade necessária deles para garantir uma proteção.

Tanto a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quanto a Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm) não aconselham a realização desse tipo de exame após a vacinação por esses dois motivos.

Conforme explicado pela imunologista do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), Anna Castelo Branco, esse tipo de teste só serve para saber se a pessoa teve contato com o vírus, o que não assegura que ela tenha ou não imunidade contra a doença.

O vídeo foi removido das redes sociais dele, mas circula em outros perfis, como o da ex-deputada federal pelo PTB do Rio de Janeiro Cristiane Brasil. Em outra publicação, do mesmo médico, ele admite que os anticorpos não são a única forma de defesa contra o vírus produzida após a vacinação.

Como verificamos?

O primeiro passo feito pelo Comprova foi procurar saber quem era o médico que falava no vídeo. Com isso, fomos tentar entender que teste ele tinha feito, o que esse exame mede e se ele serve para apontar a eficácia de uma vacina. Para isso, além das notas técnicas divulgadas pela Anvisa e pela SBIm, consultamos a imunologista do ICB-USP Anna Castelo Branco.

Também tentamos entrar em contato com Delano, responsável pelo vídeo, pelo e-mail disponível no site da Câmara Municipal de Divinópolis (MG), onde ele é suplente, e pelo número de WhastApp divulgado em sua página do Facebook, mas até o fechamento dessa checagem, não obtivemos retorno. Além disso, tentamos falar com a ex-deputada federal pelo PTB do Rio de Janeiro Cristiane Brasil pelo Facebook.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 22 de julho de 2021.

Verificação

Testes sorológicos não são capazes de medir eficácia de uma vacina

Existem dois tipos de testes sorológicos para a covid-19 disponíveis no mercado. Esses exames servem para medir se a pessoa tem anticorpos contra o vírus. O mais simples deles mede se a pessoa tem anticorpos de memória, o IgG – nesse caso só se sabe se a pessoa teve contato com o vírus. O segundo tipo de teste é um pouco mais detalhista. Ele mede se a pessoa tem os chamados anticorpos neutralizantes, que servem para impedir a entrada do vírus na célula. Não fica claro no vídeo exatamente qual o teste que o médico fez, mas ao que parece ele fez um exame de anticorpos neutralizantes.

O problema desse exame é que ainda não há estudos que demonstrem qual a quantidade de anticorpos neutralizantes necessária para impedir uma infecção. De acordo com explicação do site do Laboratório Exame, a única indicação do teste é para quem deseja saber se já teve contato com o vírus da covid-19.

Segundo a imunologista Anna Castelo Branco, nenhum teste sorológico disponível no mercado tem a capacidade de medir a eficácia de uma vacina. “Ainda não foi estabelecida qual é exatamente a necessidade de anticorpos que são necessários para bloquear a entrada do vírus na célula”, destaca Anna.

Além disso, ela lembra que os anticorpos neutralizantes são só uma das defesas ativadas pela vacina. Para as outras não há testes capazes de fazer a medição. “O segundo ponto é que o sistema imunológico é treinado em várias frentes diferentes, como se fosse um exército composto por vários batalhões. O anticorpo é só um desses batalhões, mas a gente tem a imunidade inata, que é primeira linha de defesa, e a adaptativa”, ressalta.

O próprio médico, autor do vídeo, fez essa explicação em outra postagem após a repercussão da primeira. No novo vídeo, ele adota um tom diferente e, apesar de não desmentir o primeiro, diz que o teste sozinho não é capaz de determinar que uma pessoa não está imune. Ele afirma que, além dos anticorpos, existem outras defesas que são ativadas com a vacina, mas que não há como medi-las.

Anna Castelo Branco explica que o médico usa conceitos corretos, mas ele erra ao dizer que a vacina não foi capaz de protegê-lo, já que a defesa não é feita somente pelos anticorpos. “Ele é muito enfático em dizer que não está protegido e isso não é verdade. Ele pega uma única informação e tira uma conclusão clínica. Esse dado isolado de uma única pessoa não representa nada quando a gente fala de eficácia de uma vacina. O que é mais real são os ensaios clínicos que são feitos em várias pessoas. E a Coronavac tem alta efetividade, principalmente no que é prioridade, que são os casos graves e mortes”, destaca.

Uma análise da resposta imunológica provocada pelas diferentes vacinas em uso, publicada na revista científica Nature em julho, apontou que as respostas apresentadas têm sido diferentes e que ainda não há como saber qual dessas defesas é mais eficaz contra a covid-19. Os autores concluem que estudos futuros devem ser feitos analisando as pessoas que se infectaram mesmo estando vacinadas. “Análises abrangentes e cuidadosas de todos os dados imunológicos, comparando as respostas pós-vacina iniciais em indivíduos que foram infectados após a vacinação com aqueles que não foram, acabarão por fornecer uma resposta.”

Com a repercussão do vídeo, a Secretaria de Saúde de Divinópolis (Semusa) emitiu uma nota pública em que contesta a fala do médico. Na publicação, o órgão apresenta orientações da Anvisa e da SBIm que desaconselham o uso de testes sorológicos após a vacinação.

Segundo a SBIm, em nota técnica de março deste ano, testes sorológicos não são recomendados após a vacinação por não terem a capacidade de medir de forma correta se a pessoa está imunizada. “A complexidade da imunidade pós-vacinal ou mesmo após doença natural, no entanto, não corrobora a realização dos testes, pois os resultados não traduzem a situação individual de proteção”, afirma.

A instituição lembra ainda a fragilidade do método, já que a imunização não é formada apenas por anticorpos. “A complexidade que envolve a proteção contra a doença torna desaconselhável a dosagem de anticorpos neutralizantes com o intuito de se estabelecer um correlato de proteção clínica, pois certamente não se avalia a proteção desenvolvida após vacinação apenas por testes laboratoriais ‘in vitro’ através da dosagem de anticorpos neutralizantes”, destaca.

Em nota técnica, a Anvisa também se manifestou contra a realização dos exames. A agência destaca que, para que esses testes pudessem ser de alguma forma utilizados, seria indispensável saber a quantidade de anticorpos que são necessários para neutralizar o vírus. “Assegurar a proteção ao vírus, seja pela imunidade adquirida após uma infecção ou desenvolvida após a vacinação, requer estudos que verifiquem a quantidade de anticorpos necessária para a efetividade da proteção. A avaliação por quanto tempo estes anticorpos ficam viáveis no organismo e que seja verificado também a sua funcionalidade, isto é, a sua capacidade de neutralização. As informações quanto à proteção ao Sars-CoV-2 ainda não foram estabelecidas pela ciência”, diz. “Independentemente do resultado de um ensaio sorológico, devem ser seguidas as orientações e cuidados quanto ao distanciamento social, uso de máscaras e higienização das mãos”, completa.

O mesmo entendimento foi destacado pelo Instituto Butantan, fabricante da Coronavac no Brasil. “Testes sorológicos não servem para avaliar se alguém está protegido ou não contra a covid-19. Os testes de anticorpos detectam a presença de anticorpos em determinado momento, sendo úteis apenas para identificar pessoas que foram expostas ao vírus, não para garantir se alguém está protegido ou não contra a doença. Mesmo a Anvisa recomenda não utilizar estes testes para avaliar a proteção”, explicou em post no Instagram.

O que se sabe sobre a eficácia da Coronavac

A Coronavac foi aprovada para uso emergencial no Brasil pela Anvisa em janeiro de 2021 e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em junho. A vacina teve uma eficácia global de 50,38% na fase três dos testes clínicos no Brasil.

Além dos testes clínicos, um estudo feito pelo Instituto Butantan na cidade de Serrana, no interior de São Paulo, vacinou cerca de 75% da população adulta e constatou queda de 80% nos casos sintomáticos de covid e de 86% nas internações, além da redução de mortes em 95%.

Outra pesquisa, feita no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, apontou queda de 80% nos casos de covid-19 entre os 22 mil funcionários vacinados com a Coronavac.

Quem é Delano Santiago Pacheco?

O médico se formou em medicina pela Unigranrio, no Rio de Janeiro, e é pós-graduado em dermatologia pelo Centro de Medicina Especializada, Pesquisa e Ensino (Cemepe). Ele foi eleito vereador de Divinópolis em 2012, pelo PRTB, e reeleito em 2016, pelo MDB. Também foi candidato em 2020, mas ficou como suplente. Delano é clínico geral e dermatologista. Ele atende em uma clínica própria em Divinópolis e no Hospital Bom Pastor.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia e sobre políticas públicas do governo federal. Em julho de 2021, os participantes decidiram também iniciar a verificação da desinformação envolvendo possíveis candidatos à presidência da República. Desde então, o projeto tem monitorado nomes que vêm sendo incluídos em pesquisas dos principais institutos.

Conteúdos sobre vacinas ou tratamentos contra a covid-19 são ainda mais necessários, já que podem induzir a população a recusar medidas de prevenção, como as vacinas, e se expor a riscos durante a pandemia. O conteúdo verificado aqui teve 8,2 mil visualizações e mil interações no Facebook. Já no Twitter, foram mais de 3,1 mil visualizações e 300 curtidas.

O Comprova já mostrou que o Diagnóstico positivo de Doria não indica ineficácia da Coronavac, que a Infecção de Rodrigo Faro não prova ineficácia da vacina contra a covid-19, que as vacinas usadas no Brasil passaram por testes de segurança e eficácia; que são enganosas as postagens afirmando que quem tomou CoronaVac se protegeu pela metade; que um imunizante não precisa ser estudado por dez anos para ser seguro; e que a OMS não recomendou a aplicação de uma terceira dose da CoronaVac.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda aquele que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-07-22

Post engana ao desacreditar eficácia das vacinas contra a covid-19

  • Enganoso
Enganoso
Post sobre a covid-19 engana ao afirmar que "não há nenhuma lógica" em se vacinar uma vez que pessoas imunizadas podem, como as não protegidas, transmitir o vírus. A publicação vai na contramão do que afirmam órgãos como Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde, segundo os quais a vacinação é uma das principais ferramentas para conter a pandemia.
  • Conteúdo verificado: Publicação no Instagram que tenta colocar em xeque a eficácia dos imunizantes contra a covid-19 ao afirmar que tanto pessoas vacinadas quanto não vacinadas podem transmitir o coronavírus.

É enganosa a publicação que viralizou no Instagram comparando pessoas vacinadas com não imunizadas para insinuar que a proteção não é eficaz contra o novo coronavírus. A imagem do post traz a inscrição “Os não vacinados podem pegar covid e podem transmitir covid; os vacinados podem pegar covid, podem transmitir covid, mas estão vacinados” e, na legenda, “A irracionalidade sem nenhuma lógica…pare e pense”.

O post acerta ao dizer que a vacina não impede que a pessoa se infecte com o Sars-CoV-2, mas ele desinforma ao não esclarecer que elas reduzem os riscos de desenvolvimento de formas graves da doença e óbitos.

Uma das evidências disso é o estudo de efetividade conduzido pelo Instituto Butantan na cidade de Serrana, no interior paulista. Foi observada queda de 80% nos casos sintomáticos da doença, 86% nas internações e 95% nas mortes após 75% da população adulta ser imunizada.

Diferentemente do que o post afirma, tomar uma das vacinas em uso no Brasil não é um ato irracional. Pelo contrário: estudos clínicos realizados com milhares de voluntários, usados como base para liberação do uso dos imunizantes no país, comprovaram que as vacinas contra a covid, são, sim, além de seguras, eficazes. E, por enquanto, de acordo com órgãos como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e Ministério da Saúde, são a “abordagem farmacológica mais promissora” para conter a circulação do vírus.

A reportagem tentou falar com o perfil que publicou o post, @mulherdireitaconvervadora, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.

Como verificamos?

Inicialmente, a equipe buscou reportagens sobre a relação entre pessoas imunizadas e a transmissão da doença e também sobre estudos ligados à campanha de vacinação.

Também pesquisou informações em sites como os do Ministério da Saúde e da OMS e utilizou uma verificação recente feita pelo Comprova, sobre como o diagnóstico positivo do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), não indicava a ineficácia da Coronavac.

Além disso, a reportagem entrevistou por telefone o epidemiologista e professor do curso de Saúde Pública da Universidade de Brasília (UnB) Walter Ramalho e tentou falar, via mensagem privada no Instagram, com o perfil que fez a publicação, mas não houve resposta.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 22 de julho de 2021.

Verificação

Transmissão

O post verificado aqui afirma que “os vacinados podem transmitir a covid”. Esse dado é verdadeiro, já que nenhum imunizante é 100% eficaz contra qualquer doença. Mas, diferentemente do que a publicação faz crer, isso não significa que se vacinar é um ato de “irracionalidade”.

No caso do coronavírus, já está comprovado que as vacinas em uso no Brasil reduzem os riscos de que a pessoa infectada desenvolva formas mais graves da doença ou mesmo que ela morra.

Foi o que evidenciou um estudo do Instituto Butantan realizado em Serrana, no interior paulista. Com 75% da população adulta totalmente vacinada (com duas doses da Coronavac), os pesquisadores já conseguiram observar uma queda importante entre os novos casos sintomáticos da doença e de hospitalizações. Quando 95% estavam imunizados, a cidade viu as mortes caírem em 95%.

Consultado pelo Comprova, o epidemiologista Walter Ramalho explica que é possível perceber uma diminuição no período de transmissão pelas pessoas vacinadas que foram contaminadas pelo novo coronavírus. “Quando uma pessoa imunizada contra a covid-19 entra em contato com o vírus, ela vai ter uma resposta imunológica mais rápida da doença. Vai transmitir, mas o período de transmissão é bem menor em relação às pessoas não vacinadas”, ressalta.

Pesquisas

Outras pesquisas também revelam um impacto positivo da imunização contra a covid-19 em relação às internações em UTI e mortes em níveis nacionais. O Boletim Extraordinário do Observatório Covid-19/Fiocruz, divulgado em 14 de julho pela Fundação Oswaldo Cruz, aponta uma melhora no índice de ocupação dos leitos de UTI. Segundo o documento, entre 4 e 10 de julho, nenhuma unidade da federação apresentou taxa de ocupação superior a 90%. Um cenário visto pela primeira vez desde o início de dezembro de 2020. O estudo também registra uma queda de 2% ao dia no número de casos e óbitos pelo novo coronavírus. A vacinação no Brasil iniciou em 17 de janeiro de 2021.

Essa tendência também foi observada em pesquisa realizada em parceria com o Ministério da Saúde, com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e com a Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Os pesquisadores analisaram o cenário epidemiológico entre 3 de janeiro a 27 de maio, e identificaram uma redução significativa de mortes pela covid-19 entre brasileiros com mais de 70 anos – população com maior cobertura vacinal no momento.

Eficácia

Como mostrado em verificação recente do Comprova, a Coronavac apresentou eficácia global de 50,38% – o número representa a proporção de pessoas que não foram infectadas após tomarem a vacina.

Já o imunizante da AstraZeneca apresentou eficácia de 70%; o da Pfizer, 95% sete dias após a segunda dose, de acordo com a bula; e, o da Janssen, de dose única, 66%.

No entanto, pesquisas podem apresentar resultados distintos umas das outras por diversos aspectos, que incluem o perfil da população, idade e diferentes respostas imunológicas de cada organismo. É exatamente por isso que não tem como comparar uma vacina com a outra.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ressalta que todas as vacinas analisadas e autorizadas pelo órgão são seguras e possuem perfis de eficácia definidos por estudos desenvolvidos e ainda em andamento. “É importante destacar que estas são vacinas novas e que por isso seguem em monitoramento”, salientou em nota.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre o governo federal, eleições ou a pandemia que tenham atingido alto grau de viralização. O post verificado aqui atingiu mais de 3,7 mil interações até 22 de julho.

A checagem de conteúdos envolvendo informações sobre a vacina é importante, pois a desinformação pode colocar a saúde das pessoas em risco. Como citado acima, ao contrário do que o post faz crer, a imunização é uma das principais formas para conter a pandemia.

O Comprova já desmentiu outras afirmações equivocadas sobre imunização, como a que usava a infecção do apresentador Rodrigo Faro para questionar a eficácia da vacina, a que desinformava ao falar da validade das doses da vacina Janssen doadas ao Brasil pelos Estados Unidos e a que enganava ao dizer que quem tomou Coronavac se protegeu pela metade.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-07-22

Estudo compartilhado por Damares não atribui suicídios de crianças a isolamento na pandemia

  • Enganoso
Enganoso
Ministra compartilhou conteúdo enviesado de um site. O estudo original, que ainda não foi revisado por outros pesquisadores ou publicado em revistas científicas, analisa apenas o risco de morte de crianças e adolescentes por covid-19 na Inglaterra, e não as taxas de suicídio.
  • Conteúdo verificado: A ministra Damares Alves divulgou link para um texto alegando que “cinco vezes mais crianças morreram por suicídio no confinamento do que por covid-19”, supostamente baseado em uma pesquisa do Reino Unido. Na legenda do post, defende a reabertura das escolas.

São enganosas as análises que o site Epoch Times e a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, fazem acerca de um estudo que analisa dados sobre mortes de crianças e adolescentes por covid-19 na Inglaterra. Os pesquisadores não analisaram as taxas de suicídio. Não é correto, portanto, atribuir o número de casos a medidas de isolamento, como sugere a postagem.

Tanto o site quanto a ministra associam o número de suicídios entre menores de 18 anos na Inglaterra, citado no levantamento, ao fechamento de escolas e ao distanciamento social. O dado, entretanto, aparece no documento apenas como comparativo com o número de crianças e adolescentes mortos em decorrência da covid-19. Os autores não analisam se houve aumento ou diminuição destes casos em tempos de lockdown. Em junho deste ano, entretanto, o órgão britânico National Child Mortality Database (NCMD) compartilhou em sua página artigo concluindo haver poucos indícios de que tenha havido mortalidade excessiva entre crianças e adolescentes durante o período de lockdown no país.

O Comprova conversou por e-mail com um dos pesquisadores para saber se é correto atribuir os casos de suicídio a medidas de isolamento na pandemia. David Odd, professor da Escola de Medicina da Universidade de Cardiff, respondeu que investigou essa questão em uma outra pesquisa, ainda não publicada, concluindo que “não foram encontradas evidências concretas de que a morte de crianças por suicídio tenha aumentado durante a pandemia de covid-19 na Inglaterra”.

O Comprova procurou Damares Alves e o site que publicou o conteúdo distorcendo a pesquisa britânica. A assessoria da ministra não respondeu aos questionamentos. O site não recebeu a mensagem enviada pelo endereço de contato informado.

Como verificamos?

O Comprova consultou a viralização do conteúdo utilizando a ferramenta CrowdTangle e analisou o estudo original citado na publicação compartilhada pela ministra Damares Alves, buscando também na imprensa reportagens que tivessem feito a divulgação dos resultados.

Em seguida, buscou dados do Serviço Nacional de Saúde (NHS) britânico e do National Child Mortality Database (NCMD) para consultar informações sobre os suicídios entre crianças e adolescentes em anos anteriores ao início da pandemia. Também consultou pesquisas específicas sobre o tema, relacionadas de fato ao isolamento social.

Os verificadores pediram ao psicólogo Caio Maximino de Oliveira, doutor em Neurociências e Biologia Celular e professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), que fizesse uma análise do estudo.

Os autores da pesquisa britânica foram procurados por endereços de e-mail que constam nas páginas de suas universidades. David Odd, da Universidade de Cardiff, foi o único que respondeu até a publicação desta checagem.

Por meio de relatórios e reportagens, foi pesquisada a forma como ocorreu o fechamento das escolas na Inglaterra. Por fim, tentou-se contato com o veículo que publicou o conteúdo e com a assessoria da ministra.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 22 de julho de 2021.

Verificação

Estudo

O estudo “Deaths in Children and Young People in England following SARS-CoV-2 infection during the first pandemic year: a national study using linked mandatory child death reporting data” foi divulgado na primeira semana de julho nas plataformas Research Square e medRxiv.

Esses sites funcionam como repositórios de preprints, ou seja, de versões preliminares de um manuscrito não revisado por outros cientistas. As duas plataformas, inclusive, alertam que o estudo não deve ser absorvido como informação estabelecida, nem utilizado para orientar a prática clínica.

As análises de dados de saúde pública foram conduzidas por pesquisadores britânicos. O grupo de menores de 18 anos que morreu de SARS-CoV-2 na Inglaterra foi comparado ao mesmo grupo que morreu de todas as outras causas usando estatísticas resumidas, e as diferenças entre os grupos foram comparadas.

O estudo concluiu que 25 pessoas menores de 18 anos, ou seja, crianças e adolescentes, morreram de SARS-CoV-2 durante o primeiro ano de pandemia, o equivalente a uma taxa de mortalidade de duas a cada milhão. No Brasil, o resultado foi divulgado pela Revista Crescer.

A maioria dos mortos tinha uma comorbidade subjacente, principalmente neurodeficiências e condições limitantes de vida, e eram de etnias asiática e negra.

Os pesquisadores afirmam ter usado um conjunto de dados de mortalidade nacional exclusivo vinculado aos dados do NHS — sigla em inglês para Serviço Nacional de Saúde —, além de informações do Banco de Dados Nacional de Mortalidade Infantil (NCMD).

Em meio a essas informações, os autores apontam que o SARS-CoV-2 contribuiu com 0,8% das 3.105 mortes registradas entre crianças e adolescentes entre março de 2020 e fevereiro de 2021. É neste ponto do estudo em que são citadas as mortes por suicídio (124) e as mortes por trauma (268), como exemplos para enfatizar que a covid-19 raramente é fatal entre menores de 18 anos naquele país.

Fonte: Deaths in Children and Young People in England following SARS-CoV-2 infection during the first pandemic year: a national study using linked mandatory child death reporting data

Os pesquisadores apontam que, no período entre março de 2020 e fevereiro de 2021, dentre as 3.105 mortes registradas entre crianças e adolescentes, 61 testaram positivo para a covid-19 — 5 mortes a cada 30 dias. Os casos detectados foram revisados, identificando que a doença havia contribuído para a morte de 25 jovens (41%) — duas mortes a cada 30 dias.

Dentre os 25 casos, 22 mortes se deram por covid-19 aguda e três por Síndrome Multissistêmica Inflamatória Pediátrica e Adolescência, uma reação inflamatória grave que acomete crianças e está relacionada ao novo coronavírus.

O psicólogo Caio Maximino de Oliveira, doutor em Neurociências e Biologia Celular e professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), faz algumas ressalvas em relação ao estudo. Ele destaca que passar pela revisão por pares é o padrão básico para avaliar a qualidade de artigo científico, o que ainda não ocorreu nesse caso.

Afirma, também, que o método utilizado pelos autores para calcular o risco não é ideal. “O risco de morte ou de internação foi calculado com base em toda a população de crianças e adolescentes do Reino Unido, e não em relação à população de crianças e adolescentes que pegaram covid-19”, explica Oliveira.

“Só posso saber a mortalidade ou o risco de uma doença causar algum evento grave que leve à internação se analisar quem pegou a doença, e não quem não pegou. A norma, na literatura epidemiológica, é analisar desse jeito, e não da forma como os autores fizeram. Os resultados, portanto, não querem dizer nada”, avalia.

O pesquisador destaca que o estudo original não trata sobre suicídio, cujos dados foram utilizados para comparação na contextualização. “Com certeza, se esse artigo for publicado, isso vai ser retirado da versão final. Eles não fazem inferência estatística sobre isso.”

Suicídios

O suicídio é citado apenas uma vez no estudo, para efeito de comparação em números de mortes em menores de 18 anos. Em determinado trecho, na discussão, os pesquisadores dizem que o “risco de remoção das crianças e adolescentes de suas atividades normais em eventos educacionais e sociais pode ser um risco maior do que o próprio SARS-CoV-2”. A menção, entretanto, é desacompanhada de qualquer dado científico que comprove ou sustente a ideia.

O Comprova buscou as mesmas bases de dados citadas nas referências dos estudos: o Serviço Nacional de Saúde (NHS) e o National Child Mortality Database (NCMD), um sistema que passou a registrar todos as mortes em menores de 18 anos desde abril de 2019, incluindo dados demográficos e clínicos dos eventos que levaram ao óbito.

Foram localizados relatórios a partir do ano terminado em março de 2018. De acordo com o documento “Revisões da morte infantil: ano terminado em 31 de março de 2018”, publicado pelo NHS, foram registradas 190 mortes por suicídio, dano autoinfligido ou aparente suicídio em menores de 18 anos no período.

O mesmo órgão de saúde do Reino Unido publicou, no ano seguinte, o documento “Revisões da Morte Infantil: Ano que Termina em 31 de março de 2019”, que somou 195 mortes de crianças e adolescentes pelas mesmas causas.

 

Após este ano, os relatórios passaram a ser confeccionados pelo NCMD, que publicou os “Dados de Revisão de Mortalidade Infantil: Ano Encerrado em 31 de março de 2020”. O documento contabiliza 213 mortes por suicídio, dano autoinfligido, aparente suicídio ou automutilação.

Este é o último relatório público localizado. Desta forma, o Comprova não teve acesso ao relatório onde constam as 124 mortes por suicídio informadas pelo estudo entre os meses de março de 2020 e fevereiro de 2021.

Em 25 de junho de 2021, o órgão compartilhou o artigo “Mortalidade infantil na Inglaterra durante a pandemia COVID-19”, que concluiu haver poucos indícios de que tenha havido mortalidade excessiva durante o período de lockdown no país. O estudo destaca que os dados utilizados foram coletados junto ao NCMD e que não estão disponíveis publicamente.

Este levantamento aponta terem sido registradas 1.550 mortes de crianças entre 6 de janeiro e 28 de junho de 2020. Destas, diz, 437 das mortes foram ligadas aos registros de virologia do SARS-CoV-2 e 25 (5,7%) e tiveram um resultado de PCR positivo.

As taxas de mortalidade por todas as causas durante o lockdown, no período analisado, foram semelhantes na comparação com as registradas no período de 2019. Conforme a conclusão deste estudo, são poucos os indícios de que tenha havido mortalidade excessiva durante o período de isolamento social.

Outro estudo, publicado na revista The Lancet Regional Health Europe, em abril deste ano, comparou o número de suicídios na população em geral da Inglaterra — não apenas crianças e adolescentes — entre abril e outubro de 2020 com janeiro a março do mesmo ano. O objetivo foi analisar os indicadores antes e depois do primeiro lockdown no país.

“Não observamos um crescimento nas taxas de suicídio na Inglaterra nos meses posteriores ao primeiro lockdown nacional de 2020, apesar das evidências de maior angústia na população”, apontam os autores, que destacam algumas limitações do estudo, como o fato de a pesquisa se concentrar em um período inicial da pandemia e não focar em características populacionais e geográficas.

Em resposta ao Comprova, o pesquisador da Universidade de Cardiff, David Odd, um dos autores do estudo britânico, encaminhou uma outra pesquisa divulgada na plataforma medRxiv que analisou de fato a incidência de suicídios de crianças e adolescentes na pandemia. Esse preprint afirma que foram encontrados 193 prováveis suicídios de jovens com menos de 18 anos na Inglaterra entre abril e dezembro de 2020, mas que aparentemente não houve aumento de casos do tipo durante a pandemia.

A preocupação com a saúde mental das pessoas, principalmente adolescentes, durante a pandemia, entretanto, existe. Dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, por exemplo, apontam que o número de tentativas de suicídio nessa faixa etária aumentou, de acordo com reportagem da rede CNBC.

A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) também emitiu um alerta, em setembro do ano passado, afirmando que a emergência de saúde pode aumentar os fatores de risco para o suicídio, como ansiedade e depressão. E esse tipo de problema pode também estar entre as sequelas da doença, de acordo com pesquisas.

A maioria das análises científicas, no entanto, sugere que essa possível alta nos suicídios pode se tratar de uma visão um tanto alarmista. Um artigo recente da revista científica Asian Journal of Psychiatric, por exemplo, sustenta que “a maioria dos estudos abrangentes baseados em dados apresentam uma redução modesta nas taxas de suicídio totais, enquanto o restante não relatou aumentos significativos durante o primeiro ano da pandemia de covid-19”.

Outros estudos publicados em revistas científicas importantes também não identificaram alterações relevantes no número de casos registrados.

Escolas do Reino Unido não ficaram o tempo todo fechadas

De acordo com um relatório do Parlamento Britânico, a maioria das escolas do Reino Unido foi fechada em 23 de março de 2020, data do primeiro lockdown. Apenas algumas crianças sob responsabilidade de trabalhadores essenciais, que não tinham com quem deixar os filhos para trabalhar, foram admitidas.

Ainda em maio do ano passado, o primeiro-ministro, Boris Johnson, anunciou uma retomada gradual do ensino presencial para algumas faixas etárias prioritárias do ensino primário, com reabertura parcial a partir de 1º de junho. Mas a chegada dos alunos na maioria das escolas aconteceu mesmo apenas em 1º de setembro, ao final do período regular de férias de verão e após cerca de cinco meses em casa.

As escolas permaneceram abertas durante todo o restante do segundo semestre de 2020, mesmo com uma série de restrições impostas pelo governo britânico para conter a escalada de casos de covid-19 e de apelos para o cuidado da população nos meses seguintes. Houve um segundo lockdown nacional na Inglaterra, em 5 de novembro, por exemplo, mas as instituições de ensino ficaram de fora.

Em 4 de janeiro de 2021, diante de mais uma onda de contaminação por covid-19, Johnson anunciou a volta do ensino remoto para escolas primárias, secundárias e faculdades da Inglaterra em um terceiro lockdown. A maior parte dos alunos retornou ao ensino presencial três meses depois, no dia 8 de março. Já as universidades foram totalmente reabertas em 17 de maio.

O estudo referido pela ministra Damares Alves, portanto, abrange tanto épocas em que a maioria das crianças e adolescentes da Inglaterra ficou em casa quanto outros períodos em que os estudantes estavam aprendendo presencialmente, mesmo durante a pandemia. As instituições estiveram abertas durante quatro meses no período analisado, entre os meses de setembro e dezembro. Ainda assim, não há registro de que os autores tenham excluído a quantidade de suicídios de jovens nesse período quando mencionam o dado.

Atualmente, as medidas de prevenção nas escolas estão bem mais flexíveis. O governo britânico não exige mais, por exemplo, o sistema de “bolhas”, que procurava restringir o contato dos estudantes apenas a certas turmas ou idades. Também não é preciso mais usar máscaras, nem manter o distanciamento social no ambiente escolar, exceto sob circunstâncias específicas.

Alunos que tiveram contato próximo com casos positivos também não precisam mais entrar automaticamente em isolamento, em um programa conhecido como NHS Trace and Track. Eles devem apenas fazer o teste de covid-19 e seguir o protocolo sanitário caso estejam contaminados. Outras medidas preventivas simples continuam em vigor, como promover a higienização e garantir a ventilação dos espaços escolares.

O Reino Unido estava com 69% da população totalmente vacinada em 20 de julho, ou seja, com as doses necessárias, e 88% com ao menos a primeira dose, segundo dados oficiais. O país flexibilizou as regras com base nos baixos índices de casos positivos entre os meses de fevereiro e maio, mas enfrenta uma nova alta de diagnósticos desde junho deste ano, com cerca de 47 mil novos casos por dia, em média.

As mortes, por outro lado, seguem em patamares baixos, em torno de 52 por dia, como reflexo da imunização. Esse cenário fez com que o governo britânico relaxasse ainda mais as medidas em 19 de julho — que foi apelidado de “Dia da Liberdade” pelos moradores locais. Não há mais obrigatoriedade de uso de máscaras, exceto no metrô de Londres, nem limite para aglomerações em ambientes abertos e fechados.

Quem ligou o estudo aos suicídios e ao isolamento?

O site Epoch Times publicou um texto distorcendo o conteúdo do estudo britânico, ao dar um destaque inexistente ao número relacionado aos suicídios entre crianças e adolescentes e ao relacionar esse dado aos lockdowns na Inglaterra, o que deturpa as informações contidas na análise.

Segundo detalha reportagem publicada em O Globo, o jornal em questão foi fundado em 2000 e é filiado ao obscuro movimento espiritual chinês Falun Gong, tendo crescido nos anos 2016 e 2017 ao apoiar o ex-presidente americano Donald Trump e abrir diversas páginas no Facebook, tornando-se uma das publicações digitais mais poderosas dos Estados Unidos.

É conhecido, também, por ser um importante fornecedor de desinformação de direita. A organização e as filiadas cresceram promovendo teorias de conspiração e acabaram virando uma máquina de espalhar boatos em escala global. Atualmente, possui versões em dezenas de países, inclusive no Brasil, na qual foi publicado o texto aqui verificado.

Em 2019, conforme o jornal The New York Times, o Facebook baniu a publicidade do Epoch Times após a NBC News publicar um relatório informando que o veículo sem fins lucrativos havia gastado mais de US$ 1,5 milhão em cerca de 11 mil anúncios pró-Trump em seis meses.

Nos sites que mantém, o Epoch Times costuma publicar conteúdos de conspiração, como teorias antivacinação. Já os canais no YouTube promovem o movimento QAnon. O Comprova procurou via email a publicação no Brasil, mas um dia depois recebeu uma mensagem automática afirmando ser impossível a entrega da mensagem “apesar das tentativas repetidas”, com a informação de que “o sistema de e-mail do destinatário recusou-se a aceitar uma conexão do seu sistema de e-mail”.

Já a ministra Damares Alves, que compartilhou a publicação associando o número de suicídios ao fechamento de escolas, é uma das figuras centrais do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Embora seja responsável pela pasta da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, frequentemente se posiciona sobre assuntos referentes ao Ministério da Educação. É defensora da aprovação de lei autorizando a prática do ensino domiciliar no Brasil, já assinou nota com críticas e sugestões à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), cujo texto defendia a introdução da teoria criacionista para o estudo da biologia, e anunciou a criação de um canal para que professores fossem denunciados por “atos contra a família”, além de apoiar o projeto “Escola sem Partido”. O Comprova entrou em contato com a assessoria de imprensa da ministra, mas não houve resposta.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre políticas públicas e pandemia de covid-19 que tenham atingido alto grau de viralização. Em julho de 2021, os participantes decidiram também iniciar a verificação da desinformação envolvendo possíveis candidatos à presidência da República. Desde então, o projeto tem monitorado nomes que vêm sendo incluídos em pesquisas dos principais institutos.

As medidas de distanciamento social, restrição de circulação e lockdown têm sido responsáveis, desde o início da pandemia, por evitar o colapso dos sistemas de saúde de vários países e por diminuir os índices de transmissão e as mortes em decorrência da contaminação pelo coronavírus. Associar essas medidas de forma enganosa aos números de suicídio pode causar pânico nas pessoas e, consequentemente, alimentar atitudes anti-isolamento.

Segundo a ferramenta CrowdTangle, o conteúdo do site recebeu mais de 17 mil interações no Facebook, mais de 1 mil no Twitter e mais de 33 mil no Instagram.A conta que mais contribuiu para a disseminação do conteúdo enganoso foi a da ministra Damares Alves. Todas as interações no Instagram, por exemplo, partiram do perfil dela. No Facebook, apenas o compartilhamento dela somou 7 mil interações. Na plataforma, o conteúdo foi compartilhado também por perfis de apoio ao presidente Bolsonaro.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.