O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2021-08-20

Site antivacina inventa dado sobre efeito colateral em crianças imunizadas com Pfizer

  • Falso
Falso
É falso que dados da Pfizer revelem que 80% das crianças vacinadas desenvolvem efeitos adversos, como afirma uma publicação em um site. A farmacêutica não tem nenhum estudo sobre vacinação em crianças concluído e, até o momento, afirma, assim como órgãos como o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos e a Anvisa, que os benefícios da imunização superam os riscos.
  • Conteúdo verificado: Texto em site afirma que vacinas das Pfizer produzem “efeitos adversos” em 80% das crianças e indica que a vacinação seria pior do que a covid-19.

É falsa a publicação no site antivacina Coletividade Evolutiva segundo a qual dados da farmacêutica Pfizer teriam mostrado que “80% das crianças vacinadas desenvolvem efeitos adversos”.

Um dos links do conteúdo falso leva a uma página em alemão, de onde o texto em português foi traduzido. Na versão estrangeira há um link para um documento da Food and Drug Administration (FDA), agência regulatória dos Estados Unidos, citado como fonte dos tais dados, mas ele é apenas uma ficha técnica para profissionais de saúde que aplicam vacinas. Neste relatório, há informações sobre reações adversas em públicos de idades diferentes, mas em nenhum momento cita os tais 80% de casos de crianças vacinadas que teriam desenvolvido efeitos adversos.

A Pfizer afirmou à reportagem que, em junho, anunciou o início do teste da vacina em um grupo de crianças com menos de 12 anos, mas ainda não há resultados disponíveis.

A empresa acrescentou que “os benefícios da vacinação superam em muito os potenciais eventos adversos”. É o mesmo que afirmam o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O Comprova considerou o conteúdo falso porque ele foi inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. A reportagem tentou falar com o site que publicou o material, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

Como verificamos?

O primeiro passo foi verificar para onde levavam os links incluídos no post verificado. O primeiro deles, logo no início do texto, sugeria que o leitor seria levado diretamente a um suposto relatório da Pfizer, de 37 páginas, onde constavam informações sobre reações adversas em 80% das crianças vacinadas.

O link, contudo, levava a um site austríaco, com texto escrito em alemão. Usando a ferramenta de tradução do Google, a reportagem percebeu que o conteúdo era similar, embora maior. Este, sim, fornecia um link direto ao suposto relatório que, na verdade, era uma ficha técnica destinada a profissionais responsáveis por aplicar as vacinas, disponibilizado pela FDA, mas sem os dados destacados por nenhum dos dois textos.

Foram realizadas pesquisas sobre a imunização de crianças e adolescentes no site da Pfizer e nas páginas de autoridades de saúde como CDC, FDA e Anvisa.

A reportagem contatou, por e-mail, a Pfizer, que respondeu com um comunicado. Também tentou falar com o Coletividade Evolutiva via e-mail e preenchendo o formulário de contato no site, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 20 de agosto de 2021.

Verificação

Pfizer em crianças

Segundo comunicado da farmacêutica enviado ao Comprova, ainda não há dados disponíveis sobre resultados da vacinação de crianças menores de 12 anos. Em junho, a empresa anunciou o início dos testes nesse grupo, mas não informou quando os resultados devem ser publicados.

“A fase 2/3 do ensaio contará com até 4,5 mil participantes com 11 anos ou menos nos Estados Unidos, Polônia e Espanha em mais de 90 locais de ensaios clínicos”, informa o documento.

Sobre o relatório

Citado como fonte dos dados do texto verificado aqui, o relatório da FDA é verdadeiro, mas não contém as informações alegadas pelo texto original e pela tradução publicada no Brasil. No documento, de 39 páginas, há informações sobre reações adversas em públicos de idades diferentes, mas também como acondicionar, diluir e aplicar uma dose da vacina.

A postagem aqui verificada afirma que 80% das crianças que receberam a vacina da Pfizer tiveram efeitos adversos e que pelo menos 80% podem esperar reações adversas “traumáticas”. O documento não traz este percentual, nem o de 79%, mencionado no texto original do site austríaco. Também não há qualquer menção a reações “traumáticas” ou a um relatório publicado pela Pfizer no dia 19 de maio.

Segundo o documento, que teve a última atualização no site em 12 de agosto de 2021, a reação adversa que atingiu o maior percentual de pessoas vacinadas pela Pfizer com idades entre 12 e 15 anos foi dor no local da injeção (86,2% após a primeira dose).

Nesta mesma faixa de idade, os eventos adversos considerados graves se manifestaram em 0,4% dos que receberam a vacina, após a segunda dose. No grupo placebo da mesma idade, essas reações ocorreram em 0,1% dos participantes. Dos 2.260 adolescentes de 12 a 15 anos que participaram do Estudo 2 da Pfizer nos Estados Unidos, 1.131 receberam a vacina e 1.129, o placebo.

Em um estudo clínico, as reações adversas em adolescentes de 12 a 15 anos de idade incluíram dor no local da injeção (90,5%), fadiga (77,5%), dor de cabeça (75,5%), calafrios (49,2%), dores musculares (42,2%), febre (24,3%), dores nas articulações (20,2%), inchaço no local da injeção (9,2%), vermelhidão no local da injeção (8,6%), linfadenopatia (0,8%) e náuseas (0,4%).

Casos de reações alérgicas graves, miocardite e pericardite foram relatados após a administração da vacina fora dos ensaios clínicos.

Estudo da Pfizer

Em estudo clínico com jovens de 12 a 15 anos, a vacina “demonstrou eficácia de 100%”, segundo a empresa informou à reportagem. “Os ensaios de fase 3 foram realizados em 2.260 adolescentes, nos Estados Unidos, e apresentou respostas robustas na produção de anticorpos e o perfil de segurança aceitável semelhante a outros grupos etários também foi estabelecido.”

Ainda de acordo com o documento, as reações adversas mais comuns, em 10% dos pacientes, e comuns (entre 1% e 10%) “podem incluir dor, inchaço ou vermelhidão no local de injeção, cansaço, dor de cabeça, diarreia, dor muscular, dor nas articulações, calafrios e febre, além de náusea e vômito”.

Pfizer em jovens

Ao contrário de outros imunizantes, o grupo mais jovem a receber a Pfizer na fase de ensaios clínicos foi entre 16 e 25 anos – o que possibilitou que a aprovação inicial do imunizante já considerasse os adolescentes mais velhos como aptos a receber as doses. Depois, graças a estudos divulgados no final de março, os órgãos reguladores ampliaram a possibilidade de aplicação da vacina.

A Pfizer é usada em maiores de 12 anos desde maio. O primeiro órgão a autorizar esse uso foi o CDC, em 12 de maio de 2021. Dias depois, a União Europeia também autorizou o uso do imunizante nesta faixa etária.

Israel também autorizou a vacinação de adolescentes em maio com as doses da Pfizer e, no Reino Unido, foi no começo de junho.

No Brasil

Por aqui, a Anvisa autorizou o uso em adolescentes, a partir de 12 anos, em 11 de junho. Como a própria agência sinaliza, este é o único imunizante aprovado para uso em menores de idade no país.

Por decisão do Ministério da Saúde, a vacinação dos adolescentes, entre 12 e 17 anos, deve ocorrer nos estados após o término da aplicação da primeira dose, por faixa etária, nos adultos.

Como o ritmo de vacinação não é o mesmo em todos os estados, o Comprova buscou informações sobre os 26 estados e o Distrito Federal e constatou que ao menos as seguintes localidades já começaram a imunização de adolescentes (até 20 de agosto): Acre; Amapá; Amazonas; Distrito Federal (no caso dos adolescentes com deficiência ou síndromes, e antes do término da vacinação dos adultos); Maranhão; Mato Grosso do Sul; Pernambuco; Rio Grande do Sul; Rondônia; Roraima e São Paulo.

Em Minas Gerais, a cidade de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, e, no Pará, Ananindeua, na região metropolitana de Belém, também já começaram a vacinação de menores de idade.

O Site

Esta não é a primeira postagem do site Coletividade Evolutiva que contém informações falsas sobre a vacinação. Há, na página, uma editoria de “manipulação”, com textos sobre o suposto caráter experimental das vacinas contra a covid e sobre o efeito “magnético” do imunizante. O Comprova já considerou falsa uma postagem do site sobre os efeitos colaterais da CoronaVac.

O site austríaco Report24, que teve a postagem traduzida, também já publicou outros conteúdos conspiratórios e contrários à vacinação.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. O texto verificado aqui entrou na lista de monitoramento do Comprova via pedidos de leitores pelo WhatsApp (se tiver dúvida sobre algum conteúdo, você pode enviá-lo para o telefone 11 97045-4984 ou clicando neste link).

Conteúdos que tentam desacreditar as vacinas são perigosos porque podem levar a população a colocar a saúde em risco.

O Comprova já esclareceu diversos conteúdos sobre imunização, como, por exemplo, que é falso que internação de Silvio Santos por covid indique ineficácia da Coronavac, que é enganoso post que afirma que o CDC e Anthony Fauci não acreditam na vacina, que o diagnóstico positivo de Doria não indica ineficácia da Coronavac e que é falso que imunizantes usados no Brasil não passaram por testes de segurança e eficácia.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2021-08-19

Médico americano engana ao dizer que vacinas ‘enlouquecem’ sistema imunológico e agravam covid-19

  • Enganoso
Enganoso
O discurso do médico Dan Stock, propagado em publicação viral no Twitter, é enganoso ao associar vacinas ao aumento no números de casos de covid-19 nos Estados Unidos. Ele sugere que os imunizantes provocam uma exacerbação da doença, mas não há evidências de que as vacinas estejam associadas ao fenômeno citado pelo médico. Stock também engana ao citar que máscaras são ineficazes para o controle da pandemia e ao recomendar um tratamento sem benefícios comprovados pela ciência. Em um compilado de documentos usados como evidências para sustentar sua afirmação, o médico lista estudos retratados, inconclusivos ou com conclusões que não corroboram com o seu discurso.
  • Conteúdo verificado: O vídeo mostra um discurso do médico americano Dan Stock em audiência a um conselho escolar, em Fortville, Indiana, nos Estados Unidos. Ele afirma que vacinas de covid confundem o sistema imunológico e fazem o organismo combater o vírus de uma maneira inadequada. O médico sugere que a vacinação pode provocar um fenômeno que exacerba a doença e associa os imunizantes ao recente aumento no número de infecções diárias no país. Stock ainda sugere que máscaras são inúteis para controlar a pandemia e que a vacina não oferece benefícios a pacientes recuperados da covid.

São enganosas as alegações do médico norte-americano Dan Stock de que vacinas de covid-19 confundem o sistema imunológico de pessoas imunizadas e as tornam suscetíveis a quadros mais severos da doença, em comparação com a infecção natural. Uma postagem que divulga o discurso do médico em audiência, na cidade de Fortville, Indiana, foi compartilhada mais de 10 mil vezes no Twitter. A plataforma adicionou um aviso ao conteúdo para alertar que o material é enganoso.

No vídeo, Stock cita um fenômeno conhecido, em inglês, como Antibody-Dependent Enhancement (ADE) que, segundo ele, agravaria casos de covid entre vacinados e poderia estar relacionado ao surto recente de casos da doença nos Estados Unidos. O país aplica os imunizantes da Pfizer/BioNtech (Comirnaty), Moderna e Janssen. Não há evidências, entretanto, que essa condição esteja associada com a doença, tampouco com as vacinas.

O médico ainda tira de contexto um estudo do Centro de Prevenção e Controle de Doenças Infecciosas (CDC) dos Estados Unidos que aponta a incidência de sintomas de covid em pessoas vacinadas em Barnstable, Massachusetts. O próprio estudo afirma que a pesquisa não deve sustentar conclusões sobre a efetividade das vacinas.

O vídeo também espalha desinformação ao sugerir que máscaras faciais são ineficazes para coibir a transmissão do novo coronavírus. As melhores evidências científicas indicam que a proteção é essencial para diminuir a exposição à doença. Por fim, Stock faz propaganda de um tratamento sem comprovação científica.

O Comprova considera enganosas as publicações cujos conteúdos confundem ou usam dados imprecisos, como faz Stock ao distorcer informações de estudos para atacar vacinas.

Como verificamos?

Para investigar o conteúdo, o Comprova apurou primeiramente a ocasião em que o discurso do médico foi gravado. A reportagem identificou que as alegações de Dan Stock ocorreram em 6 de agosto de 2021, durante uma audiência na Mount Vernon School Corporation, uma associação escolar que agrega instituições de ensino voltadas a crianças e adolescentes.

O passo seguinte foi investigar quem era o autor do discurso enganoso. O Comprova identificou que Dan Stock é um médico da família que diz praticar “medicina funcional”. Trata-se de um modelo alternativo baseado em uma visão holística dos sistemas biológicos do corpo humano e na individualidade do paciente. Stock é proprietário de uma loja de suplementos.

Ao buscar pelo vídeo e o nome de Dan Stock no Google, o Comprova encontrou uma série de verificações de veículos estrangeiros (1, 2, 3, 4). Segundo uma verificação do site americano Politifact, o médico indicou por correio de voz que os documentos por ele apresentados aos diretores da associação escolar foram publicados em um blog conservador.

O Comprova analisou os 22 artigos listados no site e identificou estudos retratados por inconsistências técnicas, análises não científicas e até trabalhos que contradizem os próprios apontamentos do médico na audiência. Também consultamos o epidemiologista formado pela Universidade de São Paulo (USP) Julio Ponce, bem como a imunologista da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) Cristina Bonorino para analisar as alegações de Stock na reunião.

A reportagem ainda recorreu a fontes documentais, como um editorial da revista Science que minimiza o risco de ADE em vacinas de covid, orientações do CDC e da Organização Mundial da Saúde (OMS) acerca de vacinas, bem como o painel de evidências de tratamentos para covid-19 dos Institutos Nacionais de Saúde americanos (NIH).

Contatamos o médico Dan Stock por um e-mail disponibilizado em seu perfil no Linkedin, mas não obtivemos resposta até o fechamento desta reportagem.

Verificação

Não há evidências de que vacinas causam ADE

Ao contrário do que sugere Stock, não há evidências de que vacinas de covid-19 favorecem uma exacerbação da doença mediada por anticorpos. Essa condição, mais conhecida na língua inglesa como Antibody-Dependent Enhancement, descreve um fenômeno em que anticorpos gerados anteriormente por uma infecção natural ou induzidos por vacinas não conseguem neutralizar o vírus em uma nova infecção, e podem facilitar o ataque do patógeno às células do hospedeiro.

Durante seu discurso, o médico sugere que o fenômeno poderia estar associado com aumentos recentes nos números de casos em algumas regiões dos Estados Unidos. Stock cita que foram observados sinais de ADE em estudos com animais durante o desenvolvimento de vacinas contra a Sars, outro coronavírus que foi pivô de uma epidemia em 2003, na China. De fato, a possibilidade de ocorrência dessa condição foi uma preocupação de cientistas no desenvolvimento de vacinas contra a covid, mas nem os estudos pré-clínicos com animais nem ensaios em humanos identificaram evidências do fenômeno, ressalta um editorial da revista Science sobre o assunto, publicado em fevereiro deste ano.

O artigo evidencia ainda que a hipótese levou cientistas a adotarem estratégias para minimizar os riscos de ADE no desenvolvimento das vacinas contra a covid.Também não há evidências de que novas variantes possam desencadear a condição, tampouco o monitoramento de efeitos adversos realizado por agências sanitárias indicou qualquer sinal do problema.

Outra evidência que torna a hipótese improvável é que experimentos com tratamentos baseados em plasma convalescente (com anticorpos contra covid-19) não provocaram exacerbação da doença em voluntários. Até o momento, as evidências da vacinação no ‘mundo real’ mostram que os imunizantes são eficazes em prevenir formas graves da doença. Cerca de 99% das mortes e hospitalizações por covid-19, nos Estados Unidos, ocorrem em pessoas não imunizadas.

Vale ressaltar que o compilado de evidências citado por Stock não contém nenhum estudo que prove a ocorrência de exacerbação de covid mediada por anticorpos. Uma das pesquisas analisou casos de covid em profissionais de saúde vacinados e apontou que a maioria teve sintomas leves ou quadros assintomáticos.

Aumento de casos não é consequência da vacina

Para atacar a vacinação, o médico cita que em Barnstable, cidade de aproximadamente 44 mil habitantes em Massachusetts, 75% dos novos casos de covid-19 ocorreram em pessoas vacinadas. A informação foi retirada de um estudo do CDC, divulgado no final de julho, que avaliou 469 ocorrências da doença na cidade americana.

Os autores da pesquisa, no entanto, destacam no próprio relatório que o levantamento é insuficiente para fornecer conclusões sobre a eficácia das vacinas de covid, incluindo a variante delta, que atualmente corresponde à cepa predominante no país.

“À medida que a cobertura vacinal a nível populacional aumenta, é esperado que as pessoas vacinadas representem uma proporção maior de casos de covid-19. Em segundo lugar, infecções assintomáticas podem estar subrepresentadas por causa do viés de detecção”, explicam os autores no texto.

Entre as pessoas completamente vacinadas, apenas quatro tiveram que ser hospitalizadas e nenhuma morte foi registrada. O estudo ainda afirma que a “vacinação é a estratégia mais importante para prevenir casos graves e óbitos” e recomenda a expansão de estratégias não farmacológicas, como o uso de máscaras em locais fechados, independentemente do grau de vacinação do indivíduo.

Como já explicou o Comprova, os imunizantes já aprovados por agências de saúde nos Estados Unidos e no Brasil foram desenvolvidos para prevenir casos sintomáticos da doença. Nenhuma vacina elimina totalmente o risco de contrair covid, embora reduzam significativamente as chances do paciente desenvolver formas graves. Segundo o CDC, as vacinas também reduzem o risco de pessoas espalharem o novo coronavírus para outras, mas não excluem completamente essa possibilidade.

Julio Ponce lembra que os recentes aumentos de hospitalizações por covid nos EUA estão associados a pessoas não vacinadas. “Mesmo que consideremos que alguns vacinados peguem a doença, eles têm um risco diminuído de agravamento. Em Indiana, onde o vídeo foi gravado, 96% dos novos casos são de pessoas que não se vacinaram”, afirma.

Alerta especial para variante delta

O CDC alerta, entretanto, para casos raros em que vacinados são infectados pela variante delta. Apesar das vacinas serem “altamente eficazes” em evitar o agravamento de infecções desta cepa do novo coronavírus, diferentemente de outras variantes, a delta parece produzir quantidades similares de vírus tanto em pessoas não vacinadas quanto em pessoas totalmente vacinadas.

Por outro lado, a carga viral produzida pelas infecções da variante delta em pessoas totalmente imunizadas diminui mais rapidamente do que as infecções naqueles que não tomaram esquema vacinal completo. “Isto significa que as pessoas totalmente vacinadas [transmitem o vírus] por menos tempo do que as pessoas não vacinadas.”, afirma o CDC.

Melhores evidências indicam que uso de máscaras é eficaz

Stock acerta ao afirmar que o novo coronavírus é propagado por meio de pequenas gotículas chamadas aerossóis. Ele desinforma, no entanto, ao sugerir que devido ao tamanho das partículas, o uso de máscaras não seria eficaz para coibir a transmissão da covid-19. Embora parte dos aerossóis possam escapar das máscaras, o equipamento ainda é essencial para controlar a pandemia.

Segundo o epidemiologista Julio Ponce, trabalhos científicos mostram que o uso da máscara promove uma redução bastante sensível de infectados em contexto de surtos de coronavírus. Ele cita um artigo publicado na conceituada revista de medicina JAMA, o qual afirma que antes da pandemia de covid, o uso comunitário de máscaras para reduzir a transmissão de vírus respiratórios era controverso devido a falta de evidências relevantes sobre a prática.

Ao longo da crise sanitária, entretanto, as evidências científicas cresceram. O artigo pontua que em trabalhos recentes, máscaras de pano de várias camadas bloquearam de 50% até 70% das gotículas pequenas exaladas por uma pessoa infectada. O relatório explica que as máscaras ainda servem como uma barreira contra as gotículas maiores.

O compilado de documentos de Stock contra o uso de máscaras reúne desde análises informais de postagens em blogs, estudos retratados por inconsistências técnicas (1, 2), trabalhos não conclusivos sobre a eficácia da medida (1), até mesmo pesquisas que, na verdade, sugerem benefícios das máscaras. É o caso, por exemplo, deste artigo que conclui que a análise mostra evidências de que estados americanos com regras para uso da proteção registraram uma maior queda nas taxas de diárias de covid, em comparação a outros que não adotaram a medida.

“O que pode ser colocado em contexto é que há máscaras que protegem mais do que outras. Os estudos que o médico menciona parecem ser aqueles feitos com máscaras cirúrgicas, que são adequadas para limitar a projeção de gotículas e aerossóis de quem as usa, mas não são tão eficazes para proteger de aerossóis possivelmente contaminados no ambiente”, afirma Ponce.

O especialista pontua que, por esse motivo, máscaras PFF2/N95 são mais recomendadas para locais de alta exposição, uma vez que os equipamentos são capazes de filtrar até 95% de partículas pequenas.

Vacinas são importantes mesmo para recuperados da covid

Outra informação enganosa do vídeo corresponde à alegação de Stock de que as vacinas de covid não promovem benefícios a quem já se recuperou da doença.

De acordo com o CDC, pesquisadores ainda não estabeleceram por quanto tempo dura a imunidade conferida pela infecção natural ou pelas vacinas. Por outro lado, a agência diz que estudos indicam que os imunizantes podem aprimorar a proteção de pessoas que já se recuperaram da infecção.

Já a OMS afirma que a “maioria das pessoas infectadas com Sars-CoV-2 desenvolvem uma resposta imune nas primeiras semanas, mas ainda estamos aprendendo o quão forte e duradoura é essa resposta imune, e como ela varia entre diferentes pessoas, acrescentando que “mesmo que você tenha tido uma infecção anterior, a vacina age como um reforço que fortalece a resposta imune.”

Em entrevista ao Comprova, a professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre Cristina Bonorino explica que, no caso da infecção natural, o microorganismo evolui para escapar das respostas imunes do hospedeiro, e por isso nem sempre a imunidade deixada após a infecção é eficaz e duradoura.

“As vacinas, por outro lado, focam em estimular mecanismos importantes para controlar a multiplicação do microorganismo no indivíduo, sem a desvantagem do que acontece na infecção natural. Vacinas, portanto, geram respostas mais eficazes que a infecção natural”, comenta a especialista.

A Agência Lupa fez uma verificação de boato semelhante

Tratamento divulgado pelo médico não tem comprovação científica

No vídeo, o médico faz propaganda de substâncias sem benefícios comprovados contra a covid-19 ao citar que tratou 15 pacientes com um protocolo de ivermectina, zinco e vitamina D. O relato de Stock, entretanto, não configura evidência de que o tratamento funcione.

Como já explicou o Comprova em outras verificações, para atestar a eficácia de um medicamento contra a covid, são necessários múltiplos ensaios clínicos randomizados com estrutura adequada e número extenso de participantes. O Painel de Diretrizes de Tratamentos para Covid, dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH), afirma que não há dados suficientes para recomendar a favor ou contra o uso da ivermectina para o tratamento da doença.

“São necessários resultados de ensaios clínicos adequadamente desenvolvidos, bem concebidos e bem conduzidos para fornecer orientações mais específicas e baseadas em evidências sobre o papel da ivermectina no tratamento da covid-19”, diz o documento

No compilado de documentos de Stock constam estudos que sugerem potenciais benefícios da vitamina D no tratamento da covid-19. As diretrizes do NIH, entretanto, informam que também faltam mais dados para recomendar contra ou a favor do uso da suplementação da substância como terapia contra o novo coronavírus.

O órgão emitiu a mesma recomendação para o uso do Zinco, porém, o painel alerta contra a suplementação acima dos níveis de dieta recomendados, uma vez que o consumo excessivo da substância pode ocasionar deficiência de cobre no sangue e outras doenças.

Quem é Stock

Daniel “Dan” Stock se define no Linkedin como um médico de família experiente e com formação em medicina funcional, um ramo alternativo cujos métodos não têm comprovação científica. De acordo com a rede social, ele se formou na Indiana University School of Medicine em 1988.

Segundo o breve perfil de Dan Stock no Top NPI, um site pensado para auxiliar moradores dos Estados Unidos a encontrarem médicos próximos de onde moram, o profissional tem 33 anos de experiência na medicina e é licenciado para exercer a profissão pelo conselho estadual de Indiana.

Após falar ao conselho escolar da Mount Vernon School Corporation, no condado de Hancock, em Indiana, Stock publicou um texto no Linkedin para agradecer o “apoio esmagador de todos”. O teor da mensagem sugere que as medidas adotadas no contexto do enfrentamento à covid-19 são atentatórias às liberdades individuais.

“Por favor, rezem por mim, por nossa própria liberdade que nosso próprio governo federal ameaça, mas como vocês, chamem vocês legisladores estaduais e locais e exijam que eles não sirvam aos especialistas selecionados pelos lobistas federais, mas a você”, ele escreveu.

O Projeto Comprova enviou questionamentos ao profissional no endereço de e-mail disponibilizado por ele no Linkedin, mas não obteve retorno até a publicação desta checagem.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre o governo federal, eleições ou a pandemia que tenham atingido alto grau de viralização. A postagem verificada nesta matéria alcançou mais de 10 mil visualizações no Twitter. Segundo agências de checagem estrangeiras, o mesmo discurso enganoso de Dan Stock atingiu milhões de usuários em outros países.

As alegações do médico são perigosas ao espalhar informações falsas para atacar medidas essenciais para o combate à pandemia, como o uso de máscaras e a vacinação em massa. Essas práticas são recomendadas e defendidas pelas principais agências de saúde no Brasil e no exterior e têm respaldo em evidências científicas relevantes.

O mesmo conteúdo foi verificado por uma série de veículos estrangeiros, incluindo Politifact, Associated Press, Agência Reuters e Verify This. Conteúdos semelhantes já foram desmentidos por veículos brasileiros, como o Estadão Verifica, Aos Fatos e Agência Lupa.

O Comprova também já verificou outras afirmações equivocadas sobre a imunização em massa contra a covid. Um boato recente afirmava enganosamente que não há lógica por trás da vacinação para conter a pandemia. Outro conteúdo tirou de contexto uma entrevista de uma autoridade de saúde americana na tentativa de desqualificar a segurança dos imunizantes usados no país. Uma terceira postagem distorcia dados de efeitos adversos da vacina da Pfizer em adolescentes.

Enganoso, para o Comprova, são conteúdos retirados do contexto original e usados em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-08-18

Internação de Silvio Santos por covid-19 não indica ineficácia da Coronavac

  • Enganoso
Enganoso
Post engana ao associar a internação por covid-19 do apresentador Silvio Santos com uma suposta falha da Coronavac – vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac – que é aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e, portanto, é segura e eficaz. Assim como todos os outros imunizantes em uso no Brasil, a Coronavac é capaz de reduzir o risco das pessoas desenvolverem quadros graves da doença, mas não elimina totalmente a possibilidade de contágio.
  • Conteúdo verificado: Publicação feita no Twitter e compartilhada no Instagram afirma que o apresentador Silvio Santos foi internado por covid-19 após duas doses da “PlaceboVac” – expressão usada para desqualificar a vacina Coronavac – e questiona o que mais é necessário ocorrer para que haja o cancelamento da distribuição do imunizante, apontado no post como “suspeito e ineficaz”.

O fato de o apresentador Silvio Santos, 90 anos, ter sido internado por covid-19 não comprova que a vacina recebida por ele, a Coronavac, seja ineficaz. O imunizante, assim como os demais em uso no Brasil contra o coronavírus, é capaz, conforme testes realizados e estudos documentados, de reduzir o risco de desenvolver quadros graves da doença, mas não elimina completamente a possibilidade de contágio.

Segundo especialistas, nenhuma vacina é capaz de assegurar 100% de proteção contra as doenças. No caso das utilizadas contra a covid, elas cumprem o papel de servir como um redutor de risco, evitando as formas graves. No entanto, mesmo após a imunização, independentemente de qual fabricante seja a vacina aplicada, é possível haver contaminação, internação e até óbito – mas com frequência muito menor do que entre não vacinados.

Isso acontece porque os imunizantes diminuem, mas não zeram as chances de casos graves e de morte pela doença. Portanto, a acusação feita no conteúdo verificado, no qual o autor afirma que a Coronavac é “suspeita e ineficaz”, devido à internação de Silvio Santos mesmo vacinado, é infundada.

O Comprova entrou em contato com o autor da publicação no Twitter e com o perfil que replicou no Instagram, mas até a publicação deste texto não obteve retorno.

Enganosos para o Comprova são os conteúdos que confundem, mesmo que não haja intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

O Comprova consultou dados oficiais nos sites da Anvisa e OMS sobre a segurança e eficácia da Coronavac e buscou por notícias em veículos jornalísticos. Em paralelo, procurou informações nas redes sociais da família Abravanel sobre a imunização de Silvio Santos.

Conversou com dois especialistas: a infectologista da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) Raquel Stucchi e o médico e consultor em infectologia da Escola de Saúde Pública do Ceará Keny Colares. Além disso, procurou o Instituto Butantan, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e o SBT.

Também entrou em contato, via Instagram, com o autor da publicação no Twitter e com o perfil que compartilhou o post do Twitter no Instagram, mas não obteve retorno.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 18 de agosto de 2021.

Verificação

Silvio está vacinado?

Conforme divulgado em diversos veículos jornalísticos, incluindo publicações no site e nas redes sociais do SBT, emissora da qual Silvio Santos é dono, o empresário e apresentador de 90 anos está vacinado contra a covid-19. Ele recebeu a primeira dose no dia 10 de fevereiro; e a segunda no dia 10 de março, em um posto de saúde na cidade de São Paulo.

Na data da primeira dose, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), publicou em seu Twitter uma foto do apresentador, com a filha Patrícia Abravanel, e um texto confirmando a aplicação da Coronavac. “Silvio Santos, aos 90 anos de idade, recebeu hoje a vacina do Butantan aqui em São Paulo. Muito feliz por você, meu amigo”, diz a postagem.

No mesmo dia, Patrícia postou no Instagram a imagem do cartão de vacina do pai que confirma que o imunizante aplicado foi a Coronavac (na imagem, consta um erro de escrita no nome de registro de Silvio, que é Senor Abravanel. No cartão foi registrado “Senhor Abravanel).

No dia 13 de agosto, a notícia de que Silvio foi internado por covid-19 em São Paulo ganhou repercussão. No SBT, o portal principal da emissora e o SBT News noticiaram a confirmação da contaminação e a internação; e no telejornal SBT Brasil foi informado que “o empresário e apresentador Silvio Santos, de 90 anos, testou positivo para a covid-19. Ele está internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e seu estado de saúde é muito bom”, disse o âncora.

Na mesma data, tanto Patrícia quanto Silvia Abravanel, que também é filha de Silvio, publicaram no Instagram informações sobre o estado de saúde do pai. “Nosso pai está clinicamente bem. Daquele jeito que a gente ama… brincando com todos, fazendo piadas […] Mas testou positivo para covid e, por conta da idade e necessidade de exames frequentes, os médicos decidiram interná-lo”, afirmou Patrícia.

Silvia disse: “Nosso pai está super bem, graças a Deus. Ele testou positivo para covid. Os exames dele estão bons e ele decidiu ficar no hospital para fazer o acompanhamento diário exigido pelos médicos por conta da idade dele”.

Ainda no dia 13, à noite, Silvio deixou o hospital. A informação também foi divulgada no Instagram da sobrinha, Dory Abravanel.

O jornalista Roberto Cabrini, que atualmente trabalha na Record, mas já atuou no SBT, em vídeo publicado no Twitter, no dia 14 de agosto, afirmou ter conversado com Íris Abravanel, esposa do apresentador. Segundo o jornalista, ela afirmou que “Silvio é forte e já havia deixado o hospital onde passou por uma série de exames”.

Também no dia 14 de agosto, segundo o portal R7, Tiago Abravanel, neto de Silvio, atualizou o estado de saúde do avô. Em uma publicação no Instagram, ele agradeceu as demonstrações de cuidado e disse que o avô “está se cuidando”.

A assessoria de imprensa do SBT confirmou ao Comprova que o apresentador tomou as duas doses da vacina Coronavac e disse que Silvio está “muito bem” e “na fase final da quarentena fora do hospital”.

Internação não indica ineficácia da vacina

O post enganoso insinua que o fato de Silvio Santos ter contraído covid-19 e ter ficado internado seria resultado de uma suposta ineficácia da vacina Coronavac. No entanto, isso não é verdade.

Segundo a infectologista Raquel Stucchi, as vacinas funcionam, sim, e reduzem os casos graves e a mortalidade. “É inegável que a vacinação conseguiu diminuir o número das internações, dos casos graves e da mortalidade. Se nós analisarmos os dados de março e abril, é facilmente perceptível que houve uma diminuição expressiva das internações e da mortalidade nos idosos que foram os primeiros a serem vacinados”.

No entanto, ela destaca que, com a vacinação no mundo todo, o que foi observado e já documentado é que a proteção de todas as vacinas, independentemente do fabricante, diminui com o passar dos meses. “Particularmente, para alguns grupos populacionais, como por exemplo, os idosos. Eles vão perdendo a proteção pela vacina depois de 4 a 6/7 meses. Essa é a explicação porque passados todos esses meses aqui no Brasil, nós devemos observar e já estamos observando um aumento de internação de idosos e vamos, infelizmente, observar também um aumento da mortalidade”, explica.

Apesar de o risco de infecção ser maior entre os idosos, Raquel afirma que qualquer pessoa que tenha se imunizado corre o risco de pegar covid, pois ainda não há uma vacina com 100% de proteção para doenças infecciosas. “O que as vacinas fazem, e daí com uma diferença de fabricante para fabricante, é diminuir o risco da gente ter uma forma grave da doença. O risco de pegar covid pós-vacinação é para todos, mas sabemos que algumas pessoas já inicialmente não respondem tão bem às vacinas. Os idosos de uma maneira geral, para qualquer vacina, não respondem tão bem”.

Dessa forma, de acordo com a infectologista, a terceira dose – que já vem sendo discutida no país – para determinados grupos deverá ser obrigatória, “porque nós já sabemos que para qualquer vacina há uma redução da proteção”.

Os Estados Unidos anunciaram nesta quarta-feira (18) que os americanos que receberam as vacinas da Pfizer e da Moderna poderão receber uma terceira dose oito meses depois da segunda, a partir de 20 de setembro.

“Os dados disponíveis mostram claramente que a proteção contra a infecção por Sars-CoV-2 começa a declinar com o tempo, depois das primeiras doses da vacina”, diz um comunicado conjunto de altos funcionários, entre eles a diretora do CDC (Centros de Prevenção e Controle de Doenças), Rochelle Walensky, e a diretora interina da agência reguladora de medicamentos e alimentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês), Janet Woodcock. “Somado à prevalência da variante Delta, estamos começando a ver evidências de uma proteção reduzida contra casos leves e moderados da doença”, acrescentou.

No Brasil, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse nesta quarta-feira (18) que a terceira dose da vacina será aplicada, inicialmente, em idosos e profissionais da saúde. Mas ele não informou quando isso acontecerá. Segundo ele, mais dados científicos são necessários.

Em nota enviada ao Comprova, a SBIm afirmou que nenhuma vacina tem 100% de eficácia. Além disso, fatores como imunossenescência (queda natural da imunidade relacionada ao envelhecimento), comorbidades e possível menor resposta a variantes podem contribuir para a redução do índice.

A nota ainda diz que “esses parecem ser os casos do ator Tarcísio Meira e do empresário e apresentador Silvio Santos. É importante salientar que a imensa maioria dos vacinados que desenvolveram covid não evoluiu para forma grave e que a mortalidade se mostrou muito baixa. Nos países com a vacinação mais avançada, os óbitos vêm se concentrando em não vacinados e em indivíduos com esquema incompleto. Da mesma forma, no Brasil já é possível notar movimento semelhante entre os grupos contemplados há mais tempo”.

Nos EUA, por exemplo, quase todas as mortes por covid-19 em maio foram de pessoas que não foram vacinadas. Uma análise da Associated Press com base em dados governamentais disponíveis daquele mês mostra que infecções em pessoas totalmente vacinadas foram responsáveis ​​por menos de 1.200 das mais de 853.000 hospitalizações por covid-19. Isso representa cerca de 0,1%. O assessor da Casa Branca para doenças infecciosas, Anthony Fauci, chegou a usar a expressão “’pandemia entre não vacinados”.

Imunização é uma estratégia coletiva

O médico e consultor em infectologia da Escola de Saúde Pública do Ceará Keny Colares ressalta que não se pode “julgar o funcionamento de uma vacina baseada na situação de uma pessoa. Para considerarmos a eficácia de uma medicação, de uma vacina, temos que avaliar o comportamento dela em um grande número de pessoas. Visto que somos todos diferentes e essa doença, com várias outras, age diferente de uma pessoa para outra. Isso era assim antes da vacina, e continua sendo depois da vacina”.

Ele reitera que estudos já mostravam que as vacinas têm uma boa proteção, mas não são absolutas. Por isso, “temos que somar essa proteção das vacinas a outras medidas”. Para ele, a imputação de que uma vacina é melhor que outra, baseada no grau eficácia, desconsidera que os dados sobre a proteção contra a infecção foram obtidos em estudos diferentes, com pessoas em locais com circulação viral distinta e em momentos diferenciados também.

Além disso, ressalta que “é muito importante não só o indivíduo estar vacinado, mas a coletividade, porque com todas as vacinas, com todas as doses, se a pessoa ficar circulando em um ambiente que está cheio de pessoas contaminadas, ela tem o risco de se contaminar”.

A vacinação da população geral, destaca, é uma linha de defesa e será preciso “somar todas essas estratégias para viver em segurança, até que surjam novas estratégias com novas ferramentas que consigam melhores resultados. Temos que modular as nossas expectativas para caber na realidade. Existem soluções parciais que, bem utilizadas, vão nos permitir viver”.

Coronavac é eficaz

A Coronavac foi aprovada pela Anvisa para uso emergencial no Brasil em janeiro de 2021 e pela OMS, em junho. Comunicado oficial da organização diz que “a OMS validou a vacina Sinovac-CoronaVac COVID-19 para uso emergencial, dando aos países, financiadores, agências de compra e comunidades a garantia de que atende aos padrões internacionais de segurança, eficácia e fabricação”.

O texto ainda diz que, baseada nas evidências disponíveis, a OMS recomenda a vacina para uso em adultos de 18 anos ou mais, em um esquema de duas doses com um espaçamento de duas a quatro semanas. O documento afirma que “poucos adultos mais velhos (com mais de 60 anos) foram incluídos em ensaios clínicos, portanto a eficácia não pode ser estimada neste grupo etário. No entanto, a OMS não está recomendando um limite máximo de idade para a vacina porque os dados coletados durante o uso subsequente em vários países e os dados de imunogenicidade de suporte sugerem que a vacina provavelmente tem um efeito protetor em pessoas idosas”.

A OMS recomendou ainda que os países que usam a vacina em grupos de idade avançada realizem monitoramento de segurança e eficácia para verificar o impacto.

A eficácia global da Coronavac, divulgada com dados iniciais da fase de pesquisa no Brasil, é de 50,38%. Também foi informada uma eficácia de 78% para prevenir casos leves e 100% para casos graves. Contudo, em relação aos casos graves, o próprio Butantan já explicou que o dado não tem significância estatística do ponto de vista científico, porque o número de infectados que precisaram de hospitalização durante os testes foi muito pequeno.

Um artigo científico encaminhado por cientistas do Butantan, em abril de 2021, para a revista científica The Lancet mostrou que a eficácia da Coronavac para casos sintomáticos atingiu 50,7% com 14 dias de intervalo entre as duas doses, mais do que os 50,38% divulgados anteriormente.

Outro estudo feito pelo Instituto Butantan na cidade de Serrana, no interior de São Paulo, vacinou cerca de 75% da população adulta e constatou queda de 80% nos casos sintomáticos de covid e de 86% nas internações, além da redução de mortes em 95%.

Uma pesquisa, feita no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, apontou queda de 80% nos casos de covid-19 entre os 22 mil funcionários vacinados com a Coronavac.

Atualmente, a Coronavac é usada em mais de 30 países. Em entrevista ao Estadão, o médico infectologista e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Alexandre Naime afirmou que o que está por trás da desconfiança em relação às vacinas desenvolvidas na China é uma “guerra política” que mais desinforma do que ajuda as pessoas a entenderem como funciona cada uma delas. “Não cabe comparar agora. No futuro terá sim a revacinação e novas vacinas. Agora, precisamos salvar vidas”, afirma.

Procurado pelo Comprova, o Instituto Butantan enviou dois links: em um traz 5 perguntas e respostas para entender por que pessoas vacinadas também pegam covid-19 e em outro, uma entrevista com o filho de Tarcísio Meira, Tarcísio Filho, no programa Fantástico, da Globo. O ator lembrou que o pai, que morreu vítima de covid-19, tinha comorbidades sérias e que a mãe, que também contraiu o vírus, foi salva por causa da vacina.

Quem é o autor do post?

O autor do post no Twitter é @felipetellesbr, mas a página que compartilhou o tuíte dele no Instagram se chama Mundo Conservador, que traz na bio a descrição: “análises conservadoras diferenciadas e enriquecimento intelectual”.

Nas redes sociais, Felipe se descreve como “um grande entusiasta do Ocidente” e afirma que é dono da página @mundoconservador.

Entramos em contato, via Instagram, com o autor da publicação no Twitter e com o perfil que compartilhou o post no Instagram, mas não tivemos retorno.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. O post verificado aqui teve mais de 9,4 mil interações no Instagram.

Conteúdos enganosos que tentam desacreditar as vacinas são perigosos porque podem levar a população a colocar a saúde em risco.

O Comprova já esclareceu diversos conteúdos sobre imunização, como, por exemplo, que é enganoso post que afirma que o CDC e Anthony Fauci não acreditam na vacina, que o diagnóstico positivo de Doria não indica ineficácia da Coronavac e que é falso que imunizantes usados no Brasil não passaram por testes de segurança e eficácia.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-08-16

Post engana ao dizer que CDC recomendou suspensão da aplicação da vacina da Janssen recentemente

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso post no Twitter que diz que o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos recomendou a suspensão da imunização com a vacina da Janssen. A interrupção ocorreu em abril e, no mesmo mês, a vacinação foi retomada.
  • Conteúdo verificado: Post no Twitter, publicado em agosto, afirma que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos acaba de aconselhar a suspensão da aplicação da vacina contra a covid-19 da Janssen. A publicação compartilha uma reportagem do jornal El País de abril.

É enganosa a postagem feita pelo empresário e presidente do diretório estadual do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) em São Paulo, Otávio Fakhoury, no Twitter afirmando que a aplicação da vacina da Janssen acabou de ser suspensa pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. Na verdade, a interrupção do uso do imunizante ocorreu em 13 de abril e durou apenas 10 dias. Portanto, quando o empresário fez o tuíte, a situação já havia sido normalizada havia pelo menos quatro meses.

A publicação ainda diz que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deveria se manifestar sobre o caso. Porém, o imunizante só começou a ser utilizado no Brasil em junho, quando as primeiras doses chegaram ao país e a aplicação já tinha sido retomada nos Estados Unidos.

O Comprova entrou em contato com Otávio Fakhoury pelo Facebook e pelo Instagram. Logo após a solicitação de contato, o post foi excluído e substituído por outro no qual ele alega que a suspensão temporária seria prova do caráter experimental das vacinas – o que também é enganoso.

Por meio da assessoria de imprensa do empresário, ele entrou em contato com a reportagem e afirmou que o primeiro post foi um erro e que, ao perceber, ele excluiu a publicação e fez uma nova com a correção. Quanto à afirmação de que a vacina é experimental, Fakhoury disse se referir ao fato do imunizante ter sido aprovado em caráter emergencial. Além disso, afirmou que os posts em seu Twitter se tratam de opinião e não têm a intenção de espalhar mentiras ou enganar ninguém.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor. O fato do autor do tuíte ter apagado a publicação considerada enganosa não interrompe a investigação do Comprova. Esta verificação está sendo publicada para esclarecimento das pessoas que tiveram acesso ao tuíte enganoso.

Como verificamos?

O Comprova leu a notícia compartilhada pelo empresário para ver se seu contexto original foi respeitado e notou que ela era antiga. Em vista disso, consultou os sites dos órgãos reguladores citados para conferir o desfecho do caso envolvendo o imunizante da Janssen.

A reportagem assistiu à sessão da CPI da Pandemia para entender o contexto da publicação do empresário e a sua relação com o que foi dito pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE). O parlamentar disse que Fakhoury não perdia a oportunidade de desinformar sobre as vacinas.

Por fim, procuramos o empresário para comentar.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 16 de agosto de 2021.

Verificação

Suspensão temporária das vacinas Janssen

O empresário compartilhou uma notícia da versão brasileira do jornal El País que dizia que “Autoridades dos EUA recomendam interrupção da aplicação da vacina Janssen contra a covid-19 após casos de trombose”. Sem dizer que ela foi postada em 13 de abril, a postagem é enganosa por levar a entender que a situação é atual. Apesar disso, a suspensão já havia sido revogada quatro meses antes.

Em 13 de abril, o Centro de Controle de Doenças e a Agência de Alimentos e Medicamentos (FDA), as duas agências regulatórias dos Estados Unidos, emitiram uma nota conjunta para suspender temporariamente a aplicação da vacina produzida pela Janssen. A nota dizia que haviam sido relatados seis casos de uma mistura rara de coágulos com queda no número de plaquetas.

Àquela altura, 6,8 milhões de pessoas já haviam recebido a vacina. Os casos eram um por milhão de vacinados. Como isso poderia ser sinal de um efeito colateral extremamente raro, a pausa foi sugerida para que os técnicos pudessem investigar os casos.

Isso é um procedimento normal de segurança. As vacinas passam por rigorosos testes em milhares de voluntários que avaliam a eficácia e a segurança delas. Mesmo assim, ainda é possível que elas tenham efeitos colaterais extremamente raros, que só poderiam aparecer quando a vacina é aplicada em milhões de pessoas. Por isso, os órgãos regulatórios mantêm mecanismos de vigilância dos efeitos colaterais mesmo após a autorização.

A pausa da aplicação durou dez dias. Em 23 de abril, os dois órgãos divulgaram que o estudo dos casos permitiu concluir que os coágulos realmente estavam relacionados com a vacina da Janssen. No entanto, reconheceram que a chance deles ocorrerem é “muito baixa” e determinaram a retomada da aplicação.

“A FDA considera que os benefícios conhecidos são maiores do que os riscos conhecidos em indivíduos acima dos 18 anos”, informou a agência. Ela também anunciou que manteria o sistema de vigilância para detectar eventuais aumentos nos riscos trazidos pelo imunizante. A possibilidade de coágulos foi incluída na bula como um efeito colateral muito raro (abaixo de 1 caso para cada 10 mil).

No tuíte apagado, o empresário pede que a Anvisa “se manifeste”. É importante lembrar que embora tenha recebido autorização para uso emergencial em 31 de março da Anvisa, as primeiras doses da Janssen só chegaram no Brasil em 22 de junho – dois meses após sua aplicação ter sido retomada nos Estados Unidos.

Por telefone, Fakhoury disse que o primeiro post, que dava a entender que a suspensão da vacina tinha ocorrido recentemente, foi um erro e que ao perceber ele excluiu a publicação e fez uma nova com a correção.

Vacinas em uso foram testadas e aprovadas

Em seu segundo tuíte, o empresário alega que as vacinas são “experimentais”. Fakhoury disse se referir ao fato do imunizante ter sido aprovado em caráter emergencial e que os posts em seu Twitter se tratam de opinião. “Eu faço opinião, não trato como a publicação de um jornal. Eu não sou contra a vacina. A vacina tem que ser disponibilizada a todos, mas os riscos têm que ser explicados e cada um decide se vai tomar. Ninguém quer mentir ou enganar ninguém. Eu tenho opiniões e tem gente que não gosta”, afirmou.

No Brasil, quatro vacinas estão aprovadas para uso pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A Pfizer e a AstraZeneca têm autorização para uso definitivo. Já Coronavac e Janssen têm autorização para uso emergencial.

De acordo com a Anvisa, nesse tipo de autorização, as vacinas continuam a ser avaliadas e só podem ser usadas pelo governo, não podendo ser comercializadas por clínicas e laboratórios. Apesar da autorização ser concedida de forma mais rápida, a agência exige que o imunizante tenha finalizado todos os testes e comprovado sua eficácia e segurança.

Já a FDA explica que a aprovação em caráter emergencial é mais rápida, mas todos os dados disponíveis são avaliados antes de concedê-la. “Uma vez submetida, o FDA avaliará a solicitação e determinará se os critérios legais relevantes foram atendidos, levando em consideração a totalidade das evidências científicas sobre a vacina que estão disponíveis.” Entre esses critérios, estão dados de segurança e eficácia.

Todas as vacinas em uso já terminaram as três fases de testes em humanos exigidas pela Anvisa e pelas principais agências reguladoras do mundo. A Janssen terminou os testes em janeiro de 2021 e conseguiu uma eficácia global de 66%; a Coronavac também finalizou os testes em janeiro e conseguiu a eficácia de 50,38%; a Pfizer terminou os testes ainda em novembro de 2020 e conseguiu eficácia de 95%; e a AstraZeneca em janeiro, com 82% de eficácia.

O autor do post

Otávio Fakhoury é um empresário e financista apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Desde julho de 2021, é também presidente do diretório estadual do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) em São Paulo.

Fakhoury é investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) em inquéritos que apuram a atuação organizada na divulgação de fake news e na promoção de atos antidemocráticos. O empresário já financiou um dos blogs alvo da Polícia Federal e que já teve conteúdos checados pelo Comprova. Em entrevistas anteriores, o empresário afirma que o inquérito das fake news é “cerceamento à liberdade de expressão”.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. O post verificado aqui teve mais de 1,5 mil interações no Twitter antes de ser apagado.

Conteúdos enganosos que tentam desacreditar as vacinas são perigosos porque podem levar a população a colocar a saúde em risco.

O Comprova já esclareceu diversos conteúdos sobre imunização, como, por exemplo, que é enganoso post que afirma que o CDC e Anthony Fauci não acreditam na vacina, que o diagnóstico positivo de Doria não indica ineficácia da Coronavac e que é falso que imunizantes usados no Brasil não passaram por testes de segurança e eficácia.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-08-13

Médica usa dados fora de contexto de hospital de Israel para acusar CDC de mentir sobre casos de covid em pessoas não vacinadas

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o tuíte de uma médica que utiliza dados de um hospital israelense para afirmar, sem provas, que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos mente em relação ao número de pessoas não-vacinadas internadas com covid-19.
  • Conteúdo verificado: Infectologista utiliza dados apresentados pelo diretor de um hospital em Israel para afirmar, em post no Twitter, que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) norte-americano mente em relação à porcentagem de não vacinados hospitalizados por covid-19.

É enganosa a postagem feita por uma médica infectologista no Twitter alegando que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos mente em relação à porcentagem de pessoas não vacinadas internadas com covid-19 no país. A autora do tuíte tira de contexto números apresentados por Kobi Haviv, diretor-médico do Herzog Hospital de Jerusalém, à emissora local Canal 13 sobre uma nova onda da doença em Israel.

Na fala, Haviv afirma que 90% dos pacientes atendidos no Herzog já tinham sido vacinados e que a efetividade da vacina está diminuindo. É possível perceber que há uma interrupção na fala do médico no vídeo postado no Twitter e compartilhado por contas de diversos países.

No mesmo tuíte, a médica destaca números apresentados por Kobi Haviv, escreve que Israel vacinou 62% de sua população e questiona por que nos Estados Unidos, onde o CDC afirma que 97% dos hospitalizados com covid são pessoas não vacinadas, seria diferente.

É fato que ambos os países têm observado aumento no número de casos de covid-19, inclusive entre imunizados, principalmente em decorrência da variante delta. Enquanto os Estados Unidos afirmam que a maior parte dos hospitalizados é composta por pessoas não vacinadas, Israel apresenta dados absolutos contendo mais pessoas imunizadas entre as internadas. Entretanto, a partir dos dados relativos, considerando a taxa de 100 mil habitantes, o país possui um maior número de hospitalizados dentre as pessoas não vacinadas.

Embora o post utilize números apresentados pelo médico na entrevista, omite que a unidade hospitalar onde ele trabalha atende predominantemente pessoas idosas, maior faixa etária vacinada no país, aumentando, assim, a quantidade de pessoas vacinadas atendidas.

O Ministério de Saúde israelense informou que a mais recente onda de contaminações se dá, em parte, por causa da diminuição na proteção das pessoas vacinadas em janeiro e fevereiro. Com base nisso, o órgão passou a recomendar uma terceira dose para os idosos.

O post também não contextualiza o que Kobi Haviv fala sobre o assunto em pelo menos mais duas entrevistas – uma para a mesma emissora de TV e outra para uma rádio local, todas na mesma semana: ele defende a vacinação, reforça o poder da vacina em proteger as pessoas em casos mais graves e aconselha, inclusive, a aplicação da terceira dose. Desta forma, a médica abre espaço para que os seguidores – mais de 34 mil – interpretem que os imunizantes são ineficazes, como fica claro em grande parte dos comentários criticando a política de vacinação durante a pandemia.

A reportagem tentou falar com a profissional pelo Twitter, onde ela fez a postagem, mas o perfil mantém fechado o canal para mensagens privadas. Uma mensagem solicitando um meio de contato foi deixada na postagem. O Comprova classificou o conteúdo como enganoso porque ele retira informações de contexto e as utiliza de modo a confundir.

Como verificamos?

O primeiro passo foi fazer uma busca reversa de imagens de frames do vídeo compartilhado no Twitter pela médica, sem resultados. Contudo, buscando no Google pelos termos citados, como o nome do médico entrevistado, encontramos o mesmo vídeo em duas plataformas distintas: o YouTube e o UGETube – site norte-americano mantido pelo grupo Utah Gun Exchange para comércio de armamentos e munição.

Também localizamos um vídeo com conteúdo similar no Facebook. O material foi postado às 10h13 do dia 23 de julho de 2021 pela conta oficial do Herzog Hospital. O tema da entrevista é o mesmo daquele aqui verificado, ela foi concedida à mesma emissora de TV e para a mesma jornalista – Sivan Cohen Saban –, mas é possível perceber que os vídeos são diferentes porque Sivan usa roupas de cores distintas nos dois vídeos e faz saudações diferentes nas duas ocasiões.

| Vídeo compartilhado no Twitter

| Vídeo postado na conta do Herzog Hospital no Facebook

As entrevistas foram concedidas em hebraico e, por isso, pedimos que duas pessoas que falam o idioma assistissem aos dois vídeos e traduzissem o conteúdo. Os vídeos foram vistos pelo historiador Magide Jarallah Dracoulakis Nunes e pelo rabino Gilberto Ventura, fundador do Sinagoga sem Fronteiras, que faz o acolhimento, a nível nacional, das comunidades brasileiras dos descendentes dos judeus forçados pela inquisição.

Ambos afirmaram que o conteúdo das entrevistas eram similares, mas também apontaram informações contidas no vídeo postado no Facebook do hospital que não aparecem nas imagens que viralizaram nas redes.

Também fizemos uma busca pelo nome do médico em hebraico – קובי חביב – na ferramenta de busca de notícias do Google e localizamos textos em veículos de mídia de Israel que repercutiam as declarações feitas por Kobi Haviv, sobre o mesmo assunto, na rádio 103 FM de Israel. A entrevista concedida a Anat Davidov no dia 27 de julho tem cerca de 10 minutos de duração.

Foram analisados os dados atuais da pandemia nos Estados Unidos e em Israel, por meio das plataformas dos governos e pela imprensa. Para isso, foi necessária a ajuda da ferramenta de tradução do Google, já que muitas informações estavam em hebraico.

Entramos em contato, ainda, com o Herzog Hospital, com o CDC, com o Ministério da Saúde de Israel e com o médico Shimshon Erdman, diretor do Departamento de Relações Internacionais com a América Latina da Associação Médica de Israel. Por fim, tentamos contactar a autora do tuíte. Apenas o Ministério da Saúde de Israel e Shimshon Erdman retornaram ao nosso contato por e-mail.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 13 de agosto de 2021.

Verificação

O vídeo e os números

O tuíte verificado foi postado por uma médica infectologista brasileira. No post, ela destaca alguns números e compartilha um link que leva a um vídeo de 42 segundos no qual o chefe do Herzog Hospital de Jerusalém, Kobi Haviv, é entrevistado pela jornalista Sivan Cohen Saban, do Canal 13 de Israel, e afirma que de 85% a 90% das pessoas hospitalizadas na unidade estão totalmente vacinadas.

No vídeo compartilhado, há uma legenda em inglês sobreposta à chamada feita pela própria emissora. O Comprova não conseguiu localizar o vídeo original, mas encontrou outras duas entrevistas concedidas pelo mesmo médico entre os dias 23 e 27 de julho deste ano.

A postagem feita pela médica destaca os números informados por Kobi Haviv – de 85% a 90% dos hospitalizados sendo pessoas vacinadas – e acrescenta um segundo dado, de que 95% desses pacientes hospitalizados eram vacinados e tinham quadro grave. Este percentual aparece na legenda original em hebraico feita pela emissora de TV. Pedimos, então, que o rabino Gilberto Ventura, do Sinagoga sem Fronteiras, confirmasse se o médico menciona esse número em sua fala. O rabino afirma que não, e que o número citado pelo médico no vídeo que viralizou é de 90% de vacinados internados.

A autora do tuíte usa estes números para questionar por que o quadro nos Estados Unidos seria diferente do de Israel, afirmando que o CDC mente ao dizer que 97% dos casos de hospitalizados são de pessoas não vacinadas. A infectologista não apresenta, contudo, dados que comprovem o que diz.

Médico defende as vacinas

Embora a maior parte dos números apresentados pela médica tenham, de fato, sido ditos por Kobi Haviv, ela não contextualiza as informações, o que faz parecer que o diretor do Herzog Hospital é contrário à vacinação, e isso não é verdade. Em entrevistas concedidas à mesma emissora de TV e à rádio 103 FM, Havivi afirma que a maioria dos pacientes graves do hospital foi vacinada e que esperava por um aumento no número de casos quando a equipe acompanhou a variável B.1.617.2 (Delta) agindo na Itália.

Ele acredita que a efetividade das vacinas tem diminuído e informa que a maioria dos pacientes tem mais de 70 anos e que mais de 90% estão vacinados. Diferentemente do que sugere o post feito pela médica, o diretor da unidade defende a vacinação, ressalta que muitos infectados permanecem com quadros leves graças à vacina e se coloca favorável à aplicação de uma terceira dose, o que já está ocorrendo em Israel

Estas informações estão em um texto publicado pelo jornal Ma’ariv, um diário dos mais vendidos do país, que compartilhou, além dos dados, o áudio da entrevista concedida por ele à rádio 103 FM no dia 27 de julho.

O Comprova entrou em contato com a unidade hospitalar, via Facebook, mas não houve retorno. Também solicitou ao Ministério da Saúde israelense detalhes sobre o atendimento no local e se o diretor é considerado uma autoridade em saúde no país, mas não obteve resposta para este ponto.

O médico Shimshon Erdman, diretor do Departamento de Relações Internacionais com a América Latina da Associação Médica de Israel, disse ao Comprova que a unidade dirigida por Kobi Haviv é um centro que trata pacientes com problemas de saúde agravados pela idade e que o médico indica que os pacientes e a equipe recebam uma terceira dose da vacina, o que já está acontecendo.

Por se tratar de um centro especializado, é natural que receba maior número de pessoas vacinadas, visto que esta é a faixa etária com a maior cobertura vacinal em Israel até o momento, segundo o painel de dados (abaixo) relacionados à doença no país, atualizado no dia 12 de agosto.

A plataforma demonstra o número de pacientes ativos e em estado grave, de acordo com as faixas etárias da população e conforme as condições de imunização de cada uma, apresentando, inclusive, a comparação entre a incidência de pacientes para cada 100 mil residentes em cada etapa de imunização: totalmente vacinado; parcialmente vacinado; e não vacinado.

Apesar da maioria dos pacientes ter sido totalmente vacinada, segundo os números absolutos, quando a análise é feita a partir dos números relativos, conforme orientou o Ministério da Saúde de Israel à reportagem, e considerando a taxa de 100 mil habitantes, é possível perceber um maior número de hospitalizados dentre as pessoas não vacinadas no país.

| Números relativos

| Números absolutos

Como explica reportagem do Viva Bem UOL, o sistema imune inicia um processo de declínio progressivo aos 20 anos e as pessoas tornam-se mais vulneráveis às doenças ao final da vida, o que explica a maior vulnerabilidade dos idosos à covid.

Shimshon Erdman também afirma que os vacinados não sofrem com a gravidade da doença, mas, quanto menores os antígenos, mais difícil será lutar contra a contaminação. Assim como Kobi Haviv, ele diz apoiar a aplicação da terceira dose.

Israel vê aumento de infecções diante da variante delta

Segundo informou o Ministério da Saúde de Israel ao Comprova, o noticiário e o próprio site do governo, atualmente o país registra aumento nas infecções como resultado da variante delta, inclusive com a hospitalização de pacientes totalmente vacinados, principalmente entre os grupos de risco. Na quarta-feira (11), havia 694 pessoas sendo tratadas contra o vírus nos hospitais de Israel e cerca de 64% dos pacientes definidos como críticos haviam sido totalmente vacinados.

O país se prepara para o fortalecimento das unidades hospitalares após funcionários do Ministério da Saúde e outros especialistas apresentaram dados prevendo cerca de 4,8 mil pacientes com coronavírus que precisarão de hospitalização até 10 de setembro.

No início de julho, o Ministério da Saúde de Israel relatou que a efetividade da vacina da Pfizer – imunizante mais aplicado no país – contra infecções e casos sintomáticos de covid-19 havia caído para 64% desde 6 de junho. O órgão destacava, contudo, que a vacina continuou tendo 93% de efetividade na prevenção de hospitalizações e casos graves da doença. “Consideramos a vacinação a ferramenta mais eficaz no combate à pandemia”, afirmou o ministério ao Comprova.

Em uma checagem publicada pelo Comprova, em 5 de agosto, a pasta informou que a mais recente onda de contaminações começou em meados de junho e avaliou que o aumento no número de contágios se dá, em parte, por causa da diminuição na proteção das pessoas vacinadas em janeiro e fevereiro. Com base nisso, o órgão passou a recomendar uma terceira dose para os idosos.

O site do órgão mantém uma aba sobre a aplicação desta terceira dose da vacina, explicando os motivos e informando que, entre os infectados, estão crianças, a maioria não vacinada, e também uma parcela imunizada, incluindo com morbidade particularmente grave entre adultos com 60 anos ou mais.

O governo explica que o benefício esperado da administração da terceira dose é baseado em estudos conduzidos por fabricantes de vacinas, os quais apontam que uma terceira dose após a dose basal causa um impulso que aumenta o nível de anticorpos, a qualidade e a duração no corpo. O resultado é um aumento na capacidade dos anticorpos em protegerem contra o vírus.

Ao Comprova, o médico Shimshon Erdman explicou que Israel enfrenta um impulso muito agressivo da pandemia com números que eram registrados desde o início da pandemia. “É enormemente contagioso, com um aumento gráfico assustador, dobrando os números de semana para semana, e também criando a sensação de que se a população não respeitar as indicações não haverá reação diferente que fazer o encerramento total das atividades”, alerta.

Variante também preocupa os Estados Unidos

No dia 16 de julho, Rochelle Walensky, diretora do Centro para Controle de Doenças dos Estados Unidos, esteve em reunião na Casa Branca para a atualização da pandemia e da variante delta no país. Na ocasião, informou que 97% das pessoas que estavam entrando nos hospitais naquele momento não haviam sido vacinadas, notícia repercutida pela imprensa.

O país também vê o número de casos crescer. Em 27 de julho, o CDC divulgou orientações atualizadas sobre a necessidade de aumentar urgentemente a cobertura de vacinação da covid-19 e uma recomendação para que todos em áreas de alta transmissão usem máscara em locais públicos fechados, mesmo aqueles totalmente vacinados.

O principal motivo foi uma reversão na trajetória descendente dos casos, tendo sido observado um aumento rápido e alarmante no caso de covid e nas taxas de hospitalização em todo o país ao longo do mês.

De acordo com o órgão, no final de junho a média móvel em sete dias era de 12 mil casos confirmados. Em 27 de julho, entretanto, essa média atingiu mais de 60 mil casos, sendo considerada maior que a existente antes da vacina estar amplamente disponível.

Outro motivo foi o surgimento de novos dados de que a variante delta é mais infecciosa e está levando a uma maior transmissibilidade quando comparada a outras variantes, mesmo em indivíduos já vacinados, sendo atualmente a cepa predominante do vírus nos Estados Unidos.

Um estudo divulgado pelo centro, por exemplo, apontou que em julho de 2021, após vários eventos públicos em um condado de Barnstable, Massachusetts, 469 casos de covid foram identificados entre pessoas que viajaram para a cidade entre os dias 3 e 17 de julho. Destes, 346 (74%) ocorreram em pessoas totalmente vacinadas. Os testes identificaram a variante delta em 90% das amostras de 133 pacientes. No total, cinco pessoas foram hospitalizadas, quatro delas vacinadas, e não houve óbitos.

O CDC afirma que as vacinas são altamente eficazes, inclusive contra a variante delta, na prevenção do agravamento da doença e morte, mas não são 100% eficazes e algumas pessoas totalmente vacinadas são infectadas.

| Mapa de risco dos Estados Unidos em 11/08 (Fonte: CDC)

Quem postou?

O tuíte foi postado pela médica Roberta Lacerda Almeida de Miranda Dantas, que possui registro emitido pelo Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte, tendo como especialidade a infectologia. Ela mantém um canal com 32 mil inscritos no YouTube, no qual afirma trazer “novidades” e responder “perguntas sobre temas de saúde e tratamento imediato para a covid-19”.

Ela defende o “tratamento precoce” contra a covid, com o uso de medicamentos como ivermectina, azitromicina e hidroxicloroquina, que não têm eficácia comprovada contra a doença, tendo sido convidada, inclusive, a debater o tema, em maio deste ano, em reunião da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados.

O Comprova tentou falar com a profissional pela plataforma na qual fez a postagem, mas o espaço para envio de mensagens está fechado. Foi deixada uma resposta à publicação solicitando um meio de contato.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. A postagem aqui verificada foi curtida 1,7 mil vezes, além de ter sido retuitada 439 vezes.

Conteúdos enganosos envolvendo as vacinas e autoridades e órgãos de saúde podem levar a população a rejeitar as recomendações de combate à pandemia e, assim, colocar-se em risco.

O Comprova já esclareceu diversos conteúdos sobre a imunização, como o post que engana ao afirmar que o CDC e Fauci não acreditam na eficácia das vacinas, o boato que tirava de contexto estudo com adolescentes nos Estados Unidos para atacar vacina da Pfizer, o que afirmava que o diagnóstico positivo de Doria indicaria ineficácia da Coronavac e o que enganava dizendo que os imunizantes usados no Brasil não teriam passado por testes de segurança e eficácia.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Saúde

Investigado por: 2021-08-10

Post engana ao afirmar que CDC e Fauci não acreditam na eficácia das vacinas

  • Enganoso
Enganoso
Post no Instagram engana ao afirmar que Anthony Fauci é "uma farsa completa" e que ele e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) estariam dizendo que "as vacinas não protegem".
  • Conteúdo verificado: Com trecho de entrevista em vídeo de Anthony Fauci e dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, post no Instagram afirma que o infectologista “é uma farsa completa” e que ele e o CDC não acreditam na eficácia das vacinas contra a covid-19.

É enganoso o post que viralizou no Instagram usando trecho de entrevista de Anthony Fauci, diretor do Instituto de Alergias e Doenças Infecciosas (Niaid) dos Estados Unidos e principal autoridade de saúde no país, para afirmar que ele e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) estão dizendo que “as vacinas não protegem”.

A autora do post escreve que “Fauci é uma farsa completa” e que “ele fala como se os dados tivessem mudado”, ignorando que os dados haviam, de fato, mudado.

O vídeo que ela usa para atacá-lo é de uma entrevista que o infectologista concedeu para a rede MSNBC em 28 de julho. A gravação girou em torno de uma medida anunciada pelo CDC um dia antes, quando o órgão deu um passo atrás e voltou a recomendar o uso de máscara em ambientes fechados por pessoas vacinadas. A mudança, como Fauci explica na entrevista, foi a chegada da variante delta aos Estados Unidos, o que não é explicado no post verificado.

O conteúdo enganoso ainda afirma que “os próprios números do CDC provam que Fauci está mentindo”, usando a informação de que o órgão norte-americano reportou “menos de 6 mil casos de hospitalizações entre pessoas vacinadas”. O problema, no caso, é que o post é de 28 de julho – quando os Estados Unidos vivem uma nova alta de casos, muito por conta da variante delta – e, o dado sobre o número de internações, de 19 de abril.

Além disso, o post engana ainda ao afirmar que o “CDC e Fauci estão dizendo que as vacinas não protegem”. Na entrevista para a MSNBC, Fauci diz que é “extremamente improvável’’ que uma pessoa completamente vacinada seja hospitalizada ou morra. O CDC reforça que as vacinas são seguras e eficazes contra a covid-19 e que, mesmo com a variante delta, infecções acontecem em apenas uma pequena proporção de pessoas que foram totalmente vacinadas e tendem a ser leves.

A reportagem procurou a autora do post, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. O Comprova classificou o conteúdo como enganoso porque ele retira informações do contexto original e as utiliza de modo que seu significado sofra alterações.

Como verificamos?

O primeiro passo foi, por meio de pesquisa no Google com frases do vídeo usado no post, encontrar a gravação original da entrevista de Fauci. A partir dela, a reportagem buscou informações sobre as diretrizes do CDC em relação ao uso de máscaras no site do órgão e também pesquisou, com a plataforma TweetDeck, tuítes da Casa Branca sobre avisos acerca da proteção facial.

O site do CDC também foi utilizado como fonte de informação sobre comunicados sobre a campanha de vacinação nos Estados Unidos.

Para saber o número de norte-americanos vacinados em diferentes datas citadas abaixo, a equipe usou o painel virtual Our World in Data, da Universidade de Oxford.

Via mensagem privada no Instagram, o Comprova contatou a autora do post verificado aqui, @kennia.wr, mas não obteve resposta.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 10 de agosto de 2021.

Verificação

Momentos diferentes

A autora coloca dois dados acompanhando o vídeo com a entrevista de Fauci para acusá-lo de mentiroso: “161 milhões de americanos foram vacinados (dados do CDC)” e “o CDC reporta menos de 6 mil casos de hospitalizações entre pessoas vacinadas”.

A primeira informação é verdadeira e da mesma época em que o post foi publicado. Em 22 de julho – ou seja, apenas seis dias antes da postagem –, a Casa Branca informou que o país havia vacinado “mais de 161 milhões de pessoas”.

Já o segundo dado foi tirado de contexto. A informação de que o CDC havia reportado menos de 6 mil hospitalizações entre vacinados foi dada pelo órgão à CNN norte-americana em 15 de abril, mais de três meses antes da postagem. Na época do post, o número de novos casos de covid naquela semana havia subido para 500 mil, ante 92 mil na última semana de junho. Em 28 de julho, dia da entrevista dada por Fauci, os Estados Unidos viviam uma alta de casos – muito em decorrência da variante delta, como Fauci diz no vídeo –, como é possível ver no gráfico abaixo:

 

CDC e as máscaras

Em 8 de março, o CDC relaxou as diretrizes em relação ao uso de máscaras, afirmando que pessoas completamente vacinadas podiam se reunir em grupos pequenos em locais fechados sem a proteção facial.

No comunicado, o órgão destacava que, “embora a nova orientação seja um passo positivo, a grande maioria das pessoas precisa ser totalmente vacinada antes que as precauções com a covid-19 possam ser amplamente suspensas” para “proteger o grande número de pessoas que permanecem não vacinadas”.

Já em 13 de maio, o órgão afirmou que tanto em locais abertos quanto fechados o uso de máscara não era mais necessário por cidadãos completamente imunizados.

Na época do primeiro anúncio (8 de março), segundo o site Our World in Data, apenas 9% dos norte-americanos estavam totalmente imunizados e, 8,6%, parcialmente protegidos. Na data do post verificado aqui, os números eram, respectivamente, 48,9% e 7,8%.

Em 10 de março, o país atingia um pico de 4,6 milhões de novas doses aplicadas em apenas um dia e, depois, viu a administração da vacina cair, chegando a apenas 600 mil doses diárias em 29 de julho, segundo reportagem da Folha.

O CDC deu um passo atrás em 27 de julho e atualizou as diretrizes baseado em “novas evidências sobre a variante B.1.617.2 (delta)”, que já circulava nos Estados Unidos”. Assim, o órgão voltou a recomendar que pessoas vacinadas usassem a proteção facial em ambientes fechados e em áreas de “transmissão substancial”.

Fauci, CDC e vacinas

A publicação afirma que “CDC e Fauci estão dizendo que as vacinas não protegem”, mas isso não é verdade. Na própria entrevista para a MSNBC, Fauci diz que é “extremamente improvável’’ que uma pessoa completamente vacinada seja hospitalizada ou morra de covid-19 e ressalta a importância de vacinar o maior número de pessoas possível.

Em comunicado, o CDC incentiva a vacinação, reforça que as vacinas são seguras e eficazes contra o vírus e que pessoas imunizadas podem voltar a fazer as atividades que faziam antes da pandemia. O órgão diz que mesmo com a variante delta, infecções acontecem em apenas uma pequena proporção de pessoas que foram totalmente vacinadas e tendem a ser leves. Apesar disso, pessoas vacinadas que se infectarem com a variante delta podem transmitir o vírus para outras e por isso é importante o uso de máscaras. O CDC ainda alerta que pessoas com sistema imunológico baixo, incluindo aquelas que tomam medicamentos imunossupressores, podem não estar protegidas mesmo se totalmente vacinadas.

Com exceção da Janssen, que é aplicada em dose única, as demais vacinas contra a covid-19 disponíveis nos Estados Unidos devem ser tomadas em duas doses. A imunização completa ocorre cerca de duas semanas após a aplicação da segunda dose.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. Segundo o Instagram, o post verificado aqui foi visualizado mais de 12,5 mil vezes até 10 de agosto.

Conteúdos enganosos que tentam desacreditar autoridades e órgãos de saúde e suas campanhas contra a covid-19 são especialmente perigosos porque colocam a população em risco, fazendo-a questionar medidas de prevenção, como a vacina, principal ferramenta contra o coronavírus no momento.

O Comprova já esclareceu diversos conteúdos sobre a imunização, como o boato que tirava de contexto estudo com adolescentes nos Estados Unidos para atacar vacina da Pfizer, o que afirmava que o diagnóstico positivo de Doria não indicava ineficácia da Coronavac e o que enganava dizendo que os imunizantes usados no Brasil não passaram por testes de segurança e eficácia.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Saúde

Investigado por: 2021-08-06

Boato tira de contexto estudo com adolescentes nos EUA para atacar vacina da Pfizer

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa uma postagem no Instagram que cita 14 relatos de mortes de jovens relacionadas à vacinação de covid-19, nos Estados Unidos. O conteúdo tira de contexto dados de uma pesquisa do Centro de Controle e Prevenção de Doenças Infecciosas americano (CDC) que já descartou haver relação causal entre a imunização e oito dos relatos. Seis casos seguem em investigação.
  • Conteúdo verificado: Print compartilhado no Instagram do que seria o story de um médico respondendo o que acha sobre a vacinação em crianças e adolescentes. Na resposta, diz poder falar sobre os dados da Pfizer e afirma que “no último semestre foram relatadas 14 mortes de jovens entre 12 e 17 anos relacionadas a essa vacina (sic)”. Acrescenta existir um estudo nos Estados Unidos mostrando que, para cada caso de evento adverso notificado, existem 30 não notificados. Por fim, diz que apenas um jovem na mesma faixa etária morreu de covid-19 no mesmo período e deixa uma sugestão: “faça as contas”.

Uma postagem no Instagram com quase 6 mil visualizações engana ao citar relatos de suspeitas de eventos adversos da vacina Pfizer-BioNTech (também chamada de Comirnaty) em crianças e adolescentes nos Estados Unidos para sugerir que a imunização é insegura. O conteúdo tira de contexto dados expostos em uma pesquisa do Centro de Controle e Prevenção de Doenças Infecciosas americano (CDC) ao omitir que os relatos de mortes citados no estudo não foram confirmados como consequência da vacinação.

O estudo monitorou o registro de suspeitas de eventos adversos da vacina entre jovens de 12 a 17 anos, durante dezembro de 2020 a julho de 2021. Os autores destacam no documento que as notificações registradas no Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas americano (VAERS) não implicam necessariamente que a vacina tenha relação causal com os episódios.

Segundo o relatório, investigações sobre a causa da morte de oito dos 14 casos reportados não indicaram um padrão sugestivo que associe as mortes com a vacina. As outras seis ocorrências ainda são apuradas por especialistas. O boato também cita supostos dados de subnotificação de eventos adversos para atribuir um tom alarmista sobre a segurança da vacinação.

O site do VAERS destaca que a subnotificação é de fato uma limitação do sistema, em especial para ocorrências leves. Entretanto, isso não prova que a vacina da Pfizer causou mortes em adolescentes ou é insegura. Com base no estudo do CDC citado no boato, o Comitê Consultivo e Práticas de Imunização (ACIP) americano avaliou os riscos e benefícios da vacina e decidiu manter a recomendação para que crianças e adolescentes recebam o imunizante.

A postagem afirma ter ocorrido apenas uma morte por covid na faixa etária entre 12 e 17 anos no último semestre. A plataforma do CDC que compila os dados provisórios relacionados à contaminação e mortes pela doença, contudo, não apresenta filtros específicos para esse recorte de idade. Possui, entretanto, a possibilidade de pesquisa de números referentes a crianças e adolescentes com idades entre zero e 17 anos, que somaram 151 óbitos apenas entre janeiro e julho de 2021.

O responsável pelo post foi procurado, assim como o médico marcado no print e apontado como o autor das afirmações, mas nenhum respondeu até a publicação.

Como verificamos?

Inicialmente, o Comprova utilizou o Google para buscar palavras-chave que levassem à origem das afirmações feitas no post, localizando um relatório técnico do CDC sobre a segurança da vacina contra a covid-19 em adolescentes com idade entre 12 e 17 anos.

Em seguida, consultou informações sobre o Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas (VAERS) e sobre a segurança dos imunizantes, além de analisar outras verificações e artigos sobre os assuntos abordados no post.

Foram verificados os dados oficiais do Centro Nacional de Estatísticas de Saúde disponíveis sobre mortes por covid no país, recortando as informações relacionadas a crianças e adolescentes e consultado o que dizem as agências reguladoras americana e brasileira sobre a vacinação nessa faixa etária.

A reportagem procurou o médico que é citado no post como sendo o autor das afirmações, questionando se elas, de fato, são de sua autoria, e verificou todos os stories em destaque no perfil do profissional, onde não consta o conteúdo printado e compartilhado pela conta aqui verificada, também procurada pelo Comprova.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 6 de agosto de 2021.

Verificação

Relação entre mortes e a vacina não foi comprovada

A postagem se apropria de dados de um relatório de técnicos do CDC, publicado no dia 30 de julho, no site da instituição. A pesquisa analisou relatos de possíveis eventos adversos nos sistemas de farmacovigilância VAERS e V-Safe. A primeira plataforma compila notificações de suspeitas de eventos adversos pós-vacinação da população geral dos Estados Unidos.

Já o V-Safe corresponde a um aplicativo de celular que envia formulários e lembretes para usuários cadastrados com o intuito de monitorar possíveis efeitos adversos da vacina em crianças e adolescentes. As duas plataformas recebem relatos de usuários mesmo que a conexão com o evento adverso reportada e a vacina não tenha sido confirmada.

O estudo do CDC indica que o VAERS recebeu 9.246 informes de suspeitas de eventos adversos sobre jovens de 12 a 17 anos, entre 14 de dezembro e 16 de julho. A imunização de adolescentes de 16 e 17 anos foi autorizada pela agência sanitária americana FDA em dezembro, enquanto a vacinação da faixa etária de 12 a 15 anos foi autorizada em maio de 2021.

Até julho, cerca de 8,9 milhões de adolescentes foram imunizados ao menos com a primeira dose da vacina da Pfizer. Mais de 90,7% dos relatos ao VAERS contemplam suspeitas de eventos adversos “não sérios”, principalmente cansaço e dor de cabeça. Outros 863 relatórios apontaram ocorrências mais severas, incluindo as 14 mortes citadas na postagem.

Entre as causas identificadas estão embolismo, infecções bacterianas e suicídio. Segundo os autores, os inquéritos “relativos à causa de morte não indicam um padrão sugestivo de relação causal com a vacinação”. Eles pontuam que os seis casos restantes ainda aguardam informações adicionais. De qualquer forma, é enganoso afirmar que as mortes suspeitas foram provocadas pela vacina da Pfizer antes da revisão adequada dos dados.

O aplicativo V-Safe, por sua vez, registrou 66 mil notificações de eventos adversos entre adolescentes de 16 e 17 anos, e outras 62 mil no grupo de 12 a 15 anos. Não houve relatos de mortes. As principais reações reportadas, diz o estudo, correspondem a dor no local da aplicação da vacina, fadiga, dor de cabeça e dores musculares.

Benefícios superam os riscos de eventos adversos sérios

A pesquisa do CDC ressalta que entre os eventos severos mais relatados ao VAERS configuram suspeitas de miocardite, uma inflamação de um músculo do coração chamado miocárdio. A condição não foi associada a causa da morte de nenhuma das suspeitas de mortes notificadas e representa 4,3% do total de relatórios sobre pacientes de 12 a 17 anos enviados ao sistema.

Os autores destacam que embora análises estatísticas não tenham indicado que miocardite seja um evento adverso associado a vacinas de covid, a mesma condição foi relatada em sistemas de farmacovigilância de diferentes países, o que corrobora com uma conexão causal. Os pesquisadores acrescentam que, a partir dos dados do estudo, o ACIP analisou a relação de riscos e benefícios da vacinação para pessoas acima de 12 anos e decidiu manter a recomendação da vacina da Pfizer para o grupo.

Eles observam que, com exceção dos casos de miocardite, os resultados do relatório são similares aos descritos nos ensaios clínicos da vacina. No Brasil, a Anvisa também emitiu um comunicado sobre os riscos de miocardite e, assim como o CDC, concluiu que os benefícios superam os riscos de eventos adversos.

Cuidado com dados de notificações

As notificações de sistemas de vigilância farmacológica como o VAERS são alvos recorrentes de boatos que tentam descredibilizar a vacinação. Em dezembro, o Comprova já havia desmentido um conteúdo parecido que tirava de contexto os dados de eventos adversos da plataforma americana.

O estudo do CDC publicado no mês passado destaca que o VAERS é uma ferramenta de monitoramento passiva, portanto a plataforma está sujeita a subnotificações e relatórios imprecisos. Autoridades incentivam que pacientes e provedores de serviços de saúde reportem qualquer suspeita de efeitos adversos, mesmo que não existam sinais claros de conexão com as vacinas.

Os autores elencam esse fator como uma das principais limitações do trabalho, mas isso não é citado na postagem enganosa. O próprio VAERS é categórico ao afirmar que as notificações enviadas ao sistema não devem ser usadas isoladamente para concluir que um evento adverso reportado foi causado por uma substância.

“Os relatórios podem incluir informações incompletas, imprecisas, coincidentes e não verificadas”, diz o site do órgão. “O número de relatórios por si só não pode ser interpretado ou utilizado para chegar a conclusões sobre a existência, gravidade, frequência ou taxas de problemas associados às vacinas.”.

Para identificar a incidência de um evento adverso não esperado, especialistas recorrem a análises estatísticas sobre as notificações. Especialistas comparam, por exemplo, a taxa de ocorrência de uma doença na população geral e a taxa de ocorrência entre os vacinados, explica um boletim do Yellow Card, o sistema de vigilância farmacológica do Reino Unido.

No caso de suspeitas de mortes, como demonstra o estudo do CDC, os órgãos sanitários costumam consultar prontuários clínicos, certidões de óbito, autópsias, entre outras fontes de informação. Os dados são continuamente monitorados e, a partir das investigações, as autoridades avaliam a proporção entre os riscos e benefícios da vacina.

Subnotificação é outro fator limitante

A postagem enganosa afirma que um estudo nos Estados Unidos mostra que, a cada evento adverso notificado, outros 30 não são reportados. O Comprova não identificou especificamente a pesquisa mencionada na mensagem, mas o próprio VAERS pontua que a subnotificação configura uma limitação dos dados do sistema de farmacovigilância.

Segundo a instituição, no entanto, o grau de subnotificação varia muito a depender da gravidade da suspeita de evento adverso relatada.

“Uma grande parte das milhões de doses de vacinas administradas a cada ano por injeção causa dor, mas relativamente poucos desses episódios são relatados no VAERS. Médicos e pacientes compreendem que os efeitos colaterais menores das vacinas muitas vezes incluem este tipo de desconforto, bem como febres baixas”, diz o site do VAERS.

O órgão acrescenta que eventos médicos mais sérios e inesperados têm uma probabilidade maior de serem relatados do que efeitos colaterais leves, “especialmente quando ocorrem logo após a vacinação, mesmo que possam ser coincidentes e relacionados a outras causas”, afirma.

Uma verificação da agência norte-americana FactCheck.org investigou um boato semelhante propagado por um apresentador de uma emissora de TV americana. Além de deturpar um relatório de segurança de vacinas, o apresentador citou um levantamento de 2010 submetido ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos, que concluiu que apenas 0,3% (1 a cada 300) dos efeitos adversos eram reportados à agência sanitária americana FDA. Para suspeitas mais graves, a porcentagem foi estimada entre 1-13%. A análise, entretanto, não explicou como calculou esta porcentagem, mostra a verificação do FactCheck.org.

O mesmo documento foi utilizado pelo ativista conservador Charlie Kirk em especulações enganosas, conforme artigo publicado pela National Review, que explica a interpretação errada dele e informa que, desde o início da vacinação para a covid, o banco de dados é alvo de interpretações errôneas, além de abordar pontos do relatório semelhantes aos observados pela FactCheck.org.

Ainda que a subnotificação seja uma limitação do sistema, ao passo que as mortes relatadas ao VAERS não têm necessariamente vínculos causais com a vacina, é insustentável sugerir que há uma subnotificação de óbitos provocados por imunizantes.

Mortes por covid-19 entre crianças e adolescentes

Na publicação, afirma-se que no último semestre apenas um jovem na faixa etária – entre 12 e 17 anos – morreu de covid. Ele não informa a fonte dessa declaração, mas a contagem provisória de óbitos pela doença, realizada pelo CDC com dados do Centro Nacional de Estatísticas de Saúde (NCHS, em inglês), aponta que entre janeiro e julho de 2021 foram registradas 151 mortes entre crianças e adolescentes com idades entre zero e 17 anos (Folha 1, Folha 2). Durante o ano de 2020, foram 198 mortes. Até o momento, a soma entre crianças e adolescentes é de 349 óbitos.

O site do órgão também permite fazer a contagem por semanas, com recortes entre as idades de 5 a 14 anos e de 15 a 24, os mais próximos do período citado no post (entre 12 e 17 anos). Na primeira faixa (5-14), apenas entre o primeiro e o último final de semana de julho foram contabilizadas três mortes. Na segunda (15-24), foram 31 mortes.

O CDC explica que os números de óbitos relatados nas tabelas são baseados nos dados recebidos e codificados na data da análise e podem não representar todas as mortes ocorridas nos períodos descritos, devido ao lapso de tempo entre o momento em que ocorreu o óbito e o preenchimento do atestado de óbito.

O que diz a agência sobre a vacinação entre crianças e adolescentes?

O CDC recomenda a vacinação para maiores de 12 anos mesmo que adolescentes tenham sido menos infectados pela doença em comparação aos adultos, isso porque essas pessoas podem adoecer e também infectar outras. O órgão destaca que a imunização generalizada é ferramenta importante para ajudar a conter a pandemia.

A entidade ressalta que as vacinas são seguras e eficazes e têm sido usadas sob o monitoramento de segurança mais intensivo da história dos Estados Unidos, o que inclui estudos em adolescentes.

No último mês, em audiência do Comitê de Saúde, Educação, Trabalho e Pensões do Senado americano, a infectologista Rochelle P. Walensky, diretora do CDC, defendeu a vacinação de crianças afirmando que as variantes podem ser um problema e que deve ser feito algo enquanto houver mortes registradas entre esse público.

No Brasil, a Anvisa autorizou a vacina da Pfizer para adolescentes com mais de 12 anos após a apresentação de estudos desenvolvidos pelo laboratório indicando a segurança e eficácia para este grupo. Antes, a vacina da Pfizer estava autorizada para pessoas com 16 anos de idade ou mais. Até o momento, esta é a única entre as vacinas autorizadas no Brasil com indicação para menores de 18 anos.

Atualmente, a bula da vacina da Pfizer traz a orientação de uso adulto e pediátrico a partir dos 12 anos de idade. Conforme o laboratório, os resultados demonstraram eficácia de 100% em estudo clínico com jovens dessa faixa etária. Os ensaios de fase 3 foram realizados em 2.260 adolescentes, nos Estados Unidos, e apresentaram respostas robustas na produção de anticorpos.

De acordo com a empresa, a mesma autorização concedida pelo FDA e pela Anvisa também foi dada pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA), da União Europeia, e por agências de países como Reino Unido, Canadá, Chile, Uruguai, Israel, Dubai, Hong Kong, Filipinas, Cingapura e Japão.

Autoria da postagem

A postagem aqui verificada foi feita pelo perfil @vacinacv19_relatos, que afirma compilar notícias relacionadas às vacinas contra a covid-19. A conta já teve conteúdo removido por “informações falsas e prejudiciais” relacionadas à doença, segundo justificou a plataforma.

A publicação é um print no qual não constam as informações referentes ao perfil de origem. Na legenda, o usuário @vacinacv19_relatos afirma se tratar de um story da conta @marceu.lima, pertencente ao médico Marceu do Nascimento Lima, registrado no Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro desde janeiro de 2008.

O profissional tem como especialidades a clínica médica e a cardiologia e mantém no perfil do Instagram um link para plataforma na qual agenda teleconsultas. Ele possui várias postagens nas quais defende a não vacinação de pessoas que já foram infectadas pelo novo coronavírus.

Ambos foram procurados, mas não responderam.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. Segundo a ferramenta CrowdTangle, o post foi publicado em 2 de agosto no Instagram e dois dias depois, em 6 de agosto, já somava 5.955 interações.

Conteúdos enganosos sobre vacinas contra a covid-19 podem induzir a população a recusar medidas de prevenção, como a imunização, e se expor a riscos durante a pandemia.

O Comprova já esclareceu diversos conteúdos sobre a imunização, como, por exemplo, que o diagnóstico positivo de Doria não indica ineficácia da Coronavac e que os imunizantes usados no Brasil passaram por testes de segurança e eficácia e que médico descontextualizou manual da Pfizer para sugerir alterações genéticas pela vacina.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Saúde

Investigado por: 2021-08-05

Ministério da Saúde de Israel nega que seus dados permitam concluir sobre imunidade de infectados

  • Enganoso
Enganoso
Postagens em site e redes sociais enganam ao afirmar que, segundo o Ministério da Saúde de Israel, pessoas que foram infectadas pelo novo coronavírus ficam sete vezes mais protegidas do que aquelas que tomaram a vacina da Pfizer.
  • Conteúdo verificado: Posts afirmam que, de acordo com números do governo israelense, quem teve covid-19 tem imunidade mais forte do que pessoas que não se infectaram e se vacinaram.

São enganosas as postagens em um site e em redes sociais que declaram, com base em supostos dados do Ministério de Saúde de Israel, que pessoas infectadas pela covid-19 estão sete vezes mais protegidas do que aquelas que não tiveram a doença e foram imunizadas com a vacina da Pfizer.

Contatado pela reportagem, o órgão do governo israelense respondeu que os dados disponíveis até agora não permitem apoiar ou rejeitar essa afirmação. Questionado se seria correto dizer que os anticorpos advindos da infecção natural são mais fortes do que os criados pela vacina, o ministério declarou que essa informação “não é conhecida no momento”. A pasta ainda reforçou a importância da vacinação e que ela já se mostrou eficaz em prevenir casos graves e hospitalizações.

O site Frontliner, citado como fonte de informação nos posts, foi procurado pela reportagem, mas não respondeu até a publicação deste texto.

Como verificamos?

Inicialmente, pesquisamos informações sobre a situação da campanha de vacinação em Israel e a eficácia das vacinas em reportagens nacionais e internacionais. O segundo passo foi contatar, por e-mail, o Ministério da Saúde daquele país.

Por mensagens de WhatsApp, falamos com o médico Roberto Zeballos, que postou este conteúdo em seu perfil no Instagram. Tentamos contato, por e-mail, com o site Frontliner, responsável pelo texto, e com o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que publicou um tuíte sobre o assunto. Em ambos os casos, não houve resposta.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 5 de agosto de 2021.

Verificação

Que dados são esses?

Ao contrário do que afirmam textos verificados aqui, os dados sobre contaminação divulgados pelo ministério israelense não foram obtidos por meio de estudo, mas, sim, via monitoramento epidemiológico realizado pela pasta.

Por e-mail, o Ministério da Saúde de Israel informou que a mais recente onda de contaminações começou em meados de junho. Do dia 15 daquele mês até 27 de julho, foram diagnosticadas 24.348 novas infecções.

Destes casos, 163 (0,66%) ocorreram em pessoas que já haviam sido diagnosticadas anteriormente com a covid-19. Nesta conta entram diagnósticos feitos ao menos 90 dias depois do primeiro resultado positivo. Quarenta e sete destas pessoas também já estavam totalmente vacinadas.

Outros 12.511 (51,3%) novos casos no mesmo período foram observados em pessoas que já haviam recebido a vacinação completa e acabaram infectadas pela primeira vez.

A doença gera melhor imunidade que a vacinação?

O ministério isralense respondeu que “os dados disponíveis atualmente não permitem confirmar ou negar” que a imunidade das pessoas que entraram em contato com o vírus seja mais forte do que a imunidade conferida por vacinas. “O Ministério da Saúde avalia que o aumento no número de contágios se dá em parte por causa da diminuição na proteção das pessoas vacinadas em janeiro e fevereiro”, disse o órgão israelense.

Por fim, o ministério informou que seus dados “claramente mostram” que a vacinação protege contra casos graves de covid-19 e sugerem que o grau de imunidade pode diminuir quando em contato com a variante Delta e de acordo com o tempo passado após a segunda dose da vacina. Com base nisso, o órgão passou a recomendar uma terceira dose para os idosos. O primeiro a receber a dose de reforço foi o presidente, Isaac Herzog.

Apesar disso, não há estudos conclusivos que indiquem benefício na medida, disse a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Brasil, em recente posicionamento. No país, dois testes clínicos sobre o tema estão sendo conduzidos pelos laboratórios AstraZeneca e Pfizer/BioNTech.

Já a Agência de Medicamentos Europeia (EMA) informa que, até o momento, não se sabe quanto tempo dura a imunidade das vacinas e que é preciso aguardar a conclusão dos estudos atualmente em desenvolvimento. Alguns deles monitoram o impacto das vacinas na vida real, o que deverá subsidiar estratégias futuras de vacinação. O órgão recomenda que todas as pessoas elegíveis se vacinem.

Eficácia da Pfizer

Em sua resposta, o ministério cita um estudo publicado na Lancet sobre o impacto e a eficácia da Pfizer realizado em Israel entre 24 de janeiro e 3 de abril com pessoas com 16 anos ou mais.

O levantamento conclui que duas doses da vacina “são altamente eficazes em todas as faixas etárias na prevenção de infecções sintomáticas e assintomáticas por Sars-CoV-2 e hospitalizações relacionadas à covid-19, doença grave e morte”, incluindo contra a variante alfa. Ainda de acordo com o estudo, “essas descobertas sugerem que a vacinação pode ajudar a controlar a pandemia”.

Em 7 de julho, o Ministério da Saúde havia anunciado que os dados epidemiológicos mais recentes até então mostravam que a taxa de eficácia da vacina em prevenir o contágio e a contaminação sintomática havia caído para 64%. O órgão ressaltou que essa observação se deu simultaneamente com o aumento de contágios pela variante Delta.

No mesmo pronunciamento, o ministério observou que a eficácia em prevenir casos graves e hospitalizações estava em 93%, muito próximo da eficácia anunciada pela Pfizer nos testes clínicos, de 95%.

O site

O site Frontliner afirma, na aba “Quem somos” da seção sobre “princípios editoriais”, que defende “a independência do nosso jornalismo, a primazia da realidade – fatos em primeiro lugar, respeito pelas opiniões e aqueles que as expressam, e o direito de cada indivíduo formar suas opiniões”.

Também afirma que suas publicações trazem “fatos verificados” e entregam “elementos fidedignos à fonte”.

O site já apareceu em outras verificações. Em outubro do ano passado, o Comprova classificou como enganoso um texto que retirava frase de enviado da OMS de contexto para sugerir que a entidade condenava o lockdown. Texto semelhante foi verificado também pelo Estadão Verifica em março deste ano.

O Comprova enviou mensagem por e-mail e pelo “fale conosco” do site, mas não recebeu retorno até a conclusão deste texto.

O texto do site Frontliner ganhou visibilidade ao ser compartilhado por pessoas influentes nas redes sociais. Um deles foi o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que escreveu no Twitter que “Vacina é feita com o vírus da covid, inativado, ou partes dele. Seu objetivo é provocar a produção de anticorpos que irão proteger o organismo de uma infecção com vírus ativo. Igual, quem já teve infecção do vírus ativo produz anticorpos, que protegerão bem o organismo!”

Médico de formação, Osmar Terra foi ministro da Cidadania no primeiro ano do governo Bolsonaro. Ele já fez alegações enganosas sobre a pandemia no Rio Grande do Sul e sobre a eficácia das medidas de distanciamento social, checadas pelo Projeto Comprova. Ele também é investigado pela CPI da Covid, no Senado, por supostamente integrar um gabinete paralelo de aconselhamento do presidente Bolsonaro sobre a condução da pandemia. Procurado pelo Comprova, não respondeu.

Outro post que deu visibilidade ao texto do Frontliner foi um vídeo no Instagram do médico Roberto Zeballos. Na postagem, ele diz que “Estudo de Israel revela que quem venceu a doença tem imunidade SETE vezes melhor do que qualquer vacina!”. Ele também nota que “As vacinas estão mostrando proteção também!” e que “Obviamente não vale o risco de pegar a doença”.

Ao Comprova, ele afirmou que “isso é imunologia básica” e que quem se infecta acaba desenvolvendo resposta imunológica a todas as partes do vírus, não só a uma proteína dele, referindo-se à tecnologia utilizada em algumas das vacinas atualmente utilizadas. Ele disse se basear no estudo do ministério isralense e que suas falas se comprovam “em estudos e resultados com números, nunca especulações”.

Ao ser contestado com a resposta do órgão israelense, respondeu que falou em “estudo” mas que quis dizer os dados de monitoramento. “E quando faz a conta, vê os números e quem teve infecção realmente ficou mais protegido. Não pode ser considerado um estudo, mas tem vários estudos que mostram que quem pegou a doença, tem uma imunidade longa e mais eficaz”, sustentou.

Há estudos mostrando que a imunidade conferida pela infecção seria duradoura. No entanto, os principais órgãos reguladores consideram que os resultados dos estudos até o momento são insuficientes para dizer que a infecção forneceria imunidade maior ou que duraria mais. O Centro de Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, ressalta que especialistas “estão pesquisando para entender mais sobre a imunidade tanto pela infecção quanto pela vacinação” e que estudos apontam que as vacinas oferecem um reforço na proteção de quem já foi infectado. A Anvisa reitera isso, dizendo que “pesquisas apontam que a vacina pode proporcionar uma imunidade mais duradoura à covid-19 e fortalecer a imunidade natural à doença”. Ambos recomendam que qualquer pessoa elegível, mesmo quem já teve a doença, se vacine.

Zeballos já foi alvo de duas checagens do Comprova no começo da pandemia. Em uma delas, uma entrevista sua foi tirada de contexto. Ele dava seu relato sobre experiências com medicamentos corticoides no tratamento da covid-19. À época, como ele próprio explicou ao Comprova, os resultados não haviam sido publicados. Atualmente já se possui estudos robustos que comprovam o benefício destes remédios para pacientes infectados.

A outra checagem foi feita sobre um áudio no qual ele replicava alegações de um médico francês de que o Sars-CoV-2 teria escapado de um laboratório em Wuhan, na China. Até hoje essa hipótese não foi comprovada, e as evidências mais robustas apontam que o coronavírus teria sido transmitido naturalmente de um animal selvagem para o ser humano.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. O texto do site Frontliner foi compartilhado 726 vezes no Facebook e teve 5.729 interações. Já o vídeo do médico Roberto Zeballos foi visualizado mais de 180 mil vezes e o tuíte do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) teve 3.824 reações.

Conteúdos enganosos sobre vacinas ou tratamentos contra a covid-19 podem induzir a população a recusar medidas de prevenção, como a imunização, e se expor a riscos durante a pandemia.

O Comprova já mostrou, por exemplo, que exames sorológicos não servem para provar grau de proteção das vacinas, que o diagnóstico positivo de Doria não indica ineficácia da Coronavac, que a Infecção de Rodrigo Faro não prova ineficácia da vacina e que os imunizantes usados no Brasil passaram por testes de segurança e eficácia.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Saúde

Investigado por: 2021-07-29

Site engana ao afirmar que Anvisa ‘confessa ineficácia de máscaras’ contra a covid

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a publicação em um site conservador brasileiro afirmando que “Anvisa confessa ineficácia de máscaras e diz se basear apenas na OMS”. O texto se baseou em um ofício do órgão que trata de máscaras de tecido e que foi descontextualizado. Além disso, publicações da agência utilizam outras fontes, além da OMS, como referência desde o início da pandemia do novo coronavírus.
  • Conteúdo verificado: Texto em site afirma que a Anvisa confessou ineficácia de máscaras e disse se basear apenas na OMS para recomendar o equipamento, sem levar a ciência em conta.

É enganoso que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tenha “confessado” que máscaras sejam ineficazes para a proteção contra a covid-19, segundo afirma o título e o subtítulo de texto publicado em um site conservador brasileiro e fechado para não assinantes, que foi compartilhado em redes sociais. Outro artigo, veiculado no dia seguinte e sem bloqueio, muda levemente o tom, afirmando que a Anvisa confessou falta de evidências de eficácia de máscaras.

No Twitter, onde o link postado teve grande interação, pessoas comentaram a postagem fazendo coro à afirmação que consta no título e concordando com ela. Como o conteúdo é liberado apenas para assinantes, muitos usuários da rede social não tiveram acesso ao texto completo.

Em ofício utilizado como base para o conteúdo, a chefe de gabinete da agência, Karin Schuck Hemesath Mendes, afirma ter sido mantida, em nota técnica do órgão, a recomendação para o uso da proteção “apesar de não existir evidências robustas sobre a eficácia do uso de máscaras de tecido como controle de fonte para a transmissão da covid-19”.

O documento diz, ainda, que a recomendação é baseada no princípio da precaução e alinhada com as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O ofício trata apenas de máscaras de tecido e em nenhum momento a funcionária da Anvisa diz que elas são ineficazes. O título do texto verificado, entretanto, não faz essa identificação dos equipamentos e leva à interpretação de que nenhum deles protege contra o vírus.

Diversos documentos consultados pelo Comprova demonstram que a Anvisa recomenda a utilização das máscaras para a proteção desde 2020, assim como estudos, médicos e outros órgãos de saúde. A agência também utiliza outras fontes, além da OMS, para as orientações.

A reportagem entrou em contato com o site que publicou o conteúdo e a equipe afirmou ter construído o título de forma a resumir o conteúdo da publicação e chamar a atenção, alegando ser impossível inserir nele todas as informações do texto. Justificou, ainda, que o trecho do ofício em que se baseou está na abertura e que o parágrafo seguinte esclarece que se tratam de máscaras de pano.

Como verificamos?

O Comprova acessou e leu o ofício citado no conteúdo publicado no site. Em seguida, consultou diversas publicações da Anvisa desde o início da pandemia do novo coronavírus e entrou em contato com o órgão, por e-mail.

Também consultou estudos relacionados ao uso de máscaras na proteção contra a covid-19 e entrevistou o clínico geral Vitor Key Assada, que atende na linha de frente contra a covid-19 no Hospital Santa Casa de Londrina.

Por fim, entrou em contato com os responsáveis pela publicação verificada.

O Comprova fez esta verificação baseada em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 29 de julho de 2021.

Verificação

Anvisa não “confessa a ineficácia de máscaras” contra a covid-19

O texto publicado afirma que a Anvisa confessou a ineficácia de máscaras e que se baseia apenas na OMS, não levando em conta a ciência para recomendar o uso do equipamento. O conteúdo foi baseado em um ofício assinado por Karin Schuck Hemesath Mendes, chefe de gabinete da Anvisa, no dia 7 de abril de 2021, em resposta a questionamentos do defensor público federal João Frederico Bertran Wirth Chaibub, que atua em Goiânia (GO).

No documento, ela esclarece que as orientações para prevenção e controle da disseminação de doenças na população em geral, incluindo a recomendação do uso de máscara facial de tecido, competem ao Ministério da Saúde e que cabe à Gerência Geral de Tecnologia em Serviços de Saúde (GGTES) da Anvisa emitir orientações sobre prevenção e controle da disseminação da covid-19 apenas dentro dos serviços de saúde.

Destaca, ainda, que para este público o órgão atualiza frequentemente notas técnicas levando em consideração a situação epidemiológica do país e a disponibilização de novas evidências nacionais e internacionais.

Neste contexto, a chefe de gabinete afirma que “apesar de não existir evidências robustas sobre a eficácia do uso de máscaras de tecido como controle de fonte para a transmissão da covid-19, considerando o cenário epidemiológico atual, com vasta disseminação do vírus, incluindo cepas com tendência de maior transmissibilidade e virulência, pelo princípio da precaução e alinhado com as orientações da Organização Mundial da Saúde, a GGTES manteve na última atualização da nota técnica Nº 04/2020 (25/02/2021), a orientação para o uso de máscara de tecido para o controle de fonte por: pacientes, acompanhantes e visitantes (se estiverem assintomáticos) e profissionais do serviço de saúde que executam atividades exclusivamente administrativas e não tem nenhum contato com pacientes ou áreas de internação de pacientes”.

O ofício, entretanto, trata apenas de máscaras de tecido e, em nenhum momento, Karin diz que elas são ineficazes, ao contrário do que afirma um segundo texto publicado no site, que só cita se tratar de máscaras de tecido quando reproduz literalmente, entre aspas, trechos do documento.

Procurada pelo Comprova, a assessoria de comunicação da agência encaminhou posicionamento afirmando que o trecho sobre não existirem “evidências robustas” foi retirado de contexto. “O fragmento deve ser lido à luz do conhecimento científico produzido no transcorrer do enfrentamento à pandemia no Brasil e no mundo”, diz a nota. O Comprova verificou que, por não terem padronização na fabricação, a eficácia de máscaras de tecido varia. Já outros modelos, como o cirúrgico e o PFF2, têm eficácia comprovada em impedir a transmissão.

A agência acrescenta que a nota técnica a que se refere o ofício elenca entre as medidas de prevenção e controle de novos casos de infecção pelo Sars-CoV-2 o uso de máscaras adequadas pelos profissionais que atuam nos serviços de saúde. “Com o avanço da pandemia e considerando o acúmulo de evidências sobre a transmissão do novo coronavírus, a Anvisa vem implementando diversas atualizações em suas publicações. Em todas elas o uso de máscaras faciais adequadas às necessidades e aos profissionais de saúde foi reforçado”, afirma.

Assim como consta no ofício, a assessoria de comunicação afirma que as definições sobre o uso de máscaras pela população devem partir do Ministério da Saúde, mas explicou que a agência elaborou diversas orientações sobre máscaras faciais para uso não profissional com a finalidade de apoiar as ações para a saúde pública.

“Máscaras faciais não hospitalares não oferecem total proteção contra infecções, mas reduzem sua incidência. Especialistas apontam que mesmo pequenas medidas para reduzir transmissões têm grande impacto na atual pandemia, especialmente quando combinadas com medidas preventivas adicionais. Por esse motivo, a Agência sempre reforçou que máscaras de tecido íntegras, limpas, secas e usadas de forma correta são eficazes para evitar que gotículas contaminadas sejam expelidas sobre produtos, equipamentos e outras pessoas”.

O vírus pode se espalhar pela boca ou nariz de uma pessoa infectada, ao tossir, espirrar, falar, cantar ou respirar, por gotículas respiratórias maiores e aerossóis menores. A evidência atual sugere que a doença se espalha principalmente entre pessoas que estão em contato próximo umas com as outras, normalmente dentro de um metro. Uma pessoa pode ser infectada quando aerossóis ou gotículas contendo o vírus são inalados ou entram em contato direto com os olhos, nariz ou boca.

O que a Anvisa diz sobre o uso de máscaras?

Em janeiro deste ano, a Anvisa publicou um longo material em texto esclarecendo dúvidas sobre o uso de máscaras faciais e alertando as pessoas para que não se deixem “enganar pelas fake news”. O conteúdo, em formato de perguntas e respostas, explica, por exemplo, quais são os diferentes tipos de máscaras, para que servem e quais tipos de equipamentos têm sido utilizados pela população e pelos profissionais de saúde.

Em uma questão específica, afirma que as máscaras de proteção de uso não profissional são aquelas confeccionadas artesanalmente com tecidos e utilizadas para cobrir o nariz e a boca em espaços públicos durante a pandemia. “Essas máscaras atuam como barreiras físicas, reduzindo a propagação do vírus e, consequentemente, a exposição e o risco de infecções”, diz o texto.

Em seguida, o material educativo destaca que a utilização é uma importante medida de saúde pública que as pessoas devem adotar no combate à covid-19, além do distanciamento social e da limpeza frequente das mãos.

Em março deste ano, o órgão também publicou um documento de perguntas e respostas sobre o uso de máscaras de proteção facial em aeroportos e aeronaves, esclarecendo quais os tipos permitidos nesses locais, como usá-las e em quais situações é permitido retirá-las.

Em maio, uma nota técnica atualizou as medidas sanitárias a serem adotadas em portos e embarcações para resposta à Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) e Internacional (ESPII) pelo novo coronavírus, também reforçando a obrigatoriedade do uso das máscaras. “Entre as exigências aos viajantes, a Anvisa determinou que as máscaras de tecido confeccionadas artesanal ou industrialmente com material como algodão e tricoline devem possuir mais de uma camada de proteção e ajuste adequado ao rosto”, disse o órgão em nota encaminhada ao Comprova.

No início da pandemia no Brasil, em abril de 2020, a Anvisa já havia lançado uma cartilha com as orientações gerais relacionadas às máscaras faciais de uso não profissional. Nas referências, consta que o órgão se baseou em orientações do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) – o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos; da Association Française de Normalisation (AFNOR) – conjunto de normas francesas, como a ABNT no Brasil; da National Center for Biotechnology Information (NBCI) – que é o Centro Nacional de Informação Biotecnológica, uma seção da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos; em artigos científicos, entre outras.

Na ocasião, a OMS somente foi citada com a recomendação de que se respeitasse a distância entre as pessoas preconizada pela entidade e pelo Ministério da Saúde.

No dia 23 de julho de 2021, há menos de uma semana, a Anvisa publicou uma revisão da nota técnica nº 07/2020 com orientações para prevenção e vigilância epidemiológica das infecções por Sars-CoV-2 dentro dos serviços de saúde. Nela, o órgão destaca que a vacinação protege o indivíduo de infecção ou da forma grave da infecção, mas esta proteção não é absoluta e que estudos mais recentes relatam eficácia reduzida das vacinas contra a infecção por variantes do vírus.

Desta forma, o órgão orienta que mesmo o profissional do serviço de saúde totalmente vacinado – que recebeu a segunda dose em uma série de duas doses há mais de duas semanas ou uma dose de uma vacina de dose única há mais de duas semanas – deve continuar a usar os equipamentos de proteção individual, incluindo a máscara.

O texto também distribui orientações para pacientes, acompanhantes e visitantes, destacando que pessoas assintomáticas devem fazer uso de máscara de tecido e sintomáticas de máscara cirúrgica durante toda a permanência no serviço de saúde.

“Ressalta-se que por ainda estarmos com elevada transmissão comunitária do Sars-CoV-2 e que a vacinação não reduz 100% a possibilidade de infecção por esse vírus, todos dentro do serviços de saúde (profissionais, pacientes, visitantes e acompanhantes) devem continuar utilizando máscara facial como controle de fonte, independente de já estarem vacinados contra covid-19 ou não”, diz a nota técnica.

Conforme a Anvisa informou ao Comprova, nos primeiros meses da pandemia, diante de um possível cenário de desabastecimento de máscaras profissionais no mercado nacional, que poderia atingir trabalhadores que atuam na linha de frente com pacientes com covid-19, o órgão publicou material com orientações sobre confecção e uso de máscaras artesanais. “O objetivo era estimular a população a buscar uma solução de baixo custo e de mais fácil acesso para reforçar a proteção”.

A agência também lembra que, embora o uso de máscara de proteção facial seja uma medida fundamental no combate à propagação do novo coronavírus, para que haja prevenção efetiva o equipamento precisa fazer parte de um conjunto de medidas que inclui distanciamento social e higiene das mãos com água e sabonete ou preparações alcoólicas. Além disso, é necessário evitar aglomerações e permanecer em locais limpos e bem ventilados.

Estudos comprovam a eficácia do equipamento de proteção

Estudos científicos comprovam a eficácia das máscaras na proteção contra a contaminação pelo novo coronavírus. Em maio deste ano, por exemplo, a Agência Brasil publicou o resultado de um estudo conduzido por pesquisadores do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), que constatou que máscaras de algodão, as mais comumente usadas pela população na prevenção da covid-19, têm eficiência de filtração de 20% a 60%. A pesquisa foi publicada na revista Aerosol Science & Technology e analisou 300 máscaras usadas pela população brasileira.

Em abril de 2020, uma reportagem do UOL já citava outra pesquisa científica que atestou a eficácia de máscaras cirúrgicas contra a disseminação do coronavírus. O estudo publicado na revista Nature Medicine comprovou que o aparato reduz a quantidade do agente infeccioso no ar expirado por pessoas contaminadas com coronavírus sazonais, que integram a família do Sars-CoV-2, causador da pandemia, ou com o vírus da influenza, que provoca a gripe.

Em 5 de julho de 2021, especialistas em medicina, baseados em evidências científicas, divulgaram a carta “Choosing Wisely” na revista Nature Medicine, com 10 dicas para enfrentamento da covid-19. Dentre elas, a primeira é usar máscaras sempre que estiver em público. De acordo com os especialistas, uma revisão sistemática e meta-análise de 10 estudos observacionais ajustados e 29 não ajustados mostraram que o risco de infecção foi significativamente reduzido com o uso de máscaras faciais. As máscaras N95 (PFF2 no Brasil) foram citadas como as que mais protegem.

Em março deste ano, no momento mais grave da pandemia no Brasil, a Associação Médica Brasileira chegou a divulgar carta pedindo vacinas, isolamento e uso de máscaras para combater pandemia: “Nosso diagnóstico é de que apenas a obediência às regras de proteção – como confinamento, uso de máscara e outras –, as iniciativas contínuas de testagem e rastreio de contactantes, juntamente com a vacinação em larga escala, são capazes de oferecer melhor prognóstico à população brasileira”.

Em dezembro de 2020, um ano após o início da pandemia, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, gravou uma mensagem na qual afirmava que a vacinação de todos contra a covid-19 levaria tempo e a população deveria “continuar a aderir às medidas testadas e comprovadas que mantêm todos e cada um de nós seguros”, o que significa, destacou, “manter distância física, usar máscaras faciais, praticar a higiene das mãos e respiratória, evitar locais fechados lotados e encontrar pessoas em ambientes abertos”.

Em junho deste ano, Mariângela Simão, diretora-geral assistente da OMS, elogiou a produção de vacinas no Brasil, mas destacou que a vacinação por si só não é suficiente no país e reforçou a importância do uso da máscara. “Eu sei que há uma controvérsia recente no Brasil sobre o uso consistente de máscaras. Continua sendo uma orientação da OMS o uso consistente de máscaras onde não há possibilidade de distanciamento social, a higienização das mãos, etiqueta respiratória, ambientes ventilados, evitar aglomerações”, afirmou.

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da OMS nas Américas, mantém uma folha informativa sobre a covid-19 com as orientações das duas entidades sobre o uso de máscaras, afirmando que as evidências científicas mais recentes mostram que elas são uma medida fundamental para suprimir a transmissão da doença e salvar vidas. O texto orienta a utilização das máscaras de tecido, especificamente, pelo público em geral com idade inferior a 60 anos e que não apresente problemas de saúde subjacentes.

Tipos de máscara e a eficácia

O Comprova entrevistou o clínico geral Vitor Key Assada, que atende na linha de frente contra a covid-19 no Hospital Santa Casa de Londrina. O profissional ressaltou a importância do uso das máscaras para evitar a propagação do vírus. “Essas postagens afirmando que [as máscaras] são ineficazes são completamente errôneas. São várias publicações desde o início da pandemia que confirmam a eficácia do uso das máscaras. Quando a gente coloca a máscara, entendemos subjetivamente que estamos nos protegendo, que vamos colocar a máscara para não nos contaminar, mas não é só isso. Muitos artigos evidenciam o quanto a máscara, principalmente para os assintomáticos, ajuda a não transmitir o vírus para outras pessoas”, esclarece.

Ele destaca a existência de três modelos principais de máscara: as de pano, as cirúrgicas e aquelas com modelos “bico de pato”, como N95 e PFF2. As duas últimas, afirma, são as mais recomendadas para quem está em ambientes com alta carga viral, como hospitais, apresentando eficácia maior que 90%.

Quanto às máscaras de tecido, ele observa haver alguns problemas. “Não quer dizer que todas são ineficazes, mas não há um padrão. Por mais que a OMS cite que elas devem ter pelo menos dois tecidos, que seriam as camadas da máscara, sabemos que as empresas estão mais ligadas em estética e conforto do que propriamente na filtragem das partículas. Os estudos apontam uma variabilidade de eficácia muito grande de proteção [das máscaras de tecido], justamente porque não há controle de qualidade”.

Em relação às cirúrgicas, afirma que possuem proteção de 80% para cima. “Obviamente, cada uma delas tem um período de uso, ou seja, você tem que estar trocando elas e conservá-las. Tudo isso pode afetar diretamente a eficácia das máscaras”.

Por fim, o profissional opina pela manutenção do uso das máscaras mesmo diante do avanço da vacinação. “Como sabemos, a vacina por si só não significa que estamos acabando com a doença de uma hora para outra, ainda mais que nenhuma vacina tem proteção de 100%. Não dá para falar: olha, temos 70% da população vacinada, abre a porteira, todo mundo está livre do uso de máscara. Eu acho que não é por aí. Acho que é muito importante continuar usando a máscara mesmo com o avanço da vacinação. A vacina não significa que não podemos pegar e nem transmitir para quem não foi vacinado”.

Quem publicou o texto

O texto com título e subtítulo enganosos foi publicado no site Brasil sem Medo, que se identifica como “o maior jornal conservador do Brasil” e tem, entre os colunistas, o escritor bolsonarista Olavo de Carvalho.

Procurada, a equipe do site afirmou que “o título é construído de forma a resumir o conteúdo da publicação e, também, chamar a atenção, sendo impossível inserir nele todas as informações do texto”, acrescentando que aqueles que leram a matéria completa “sabem que esse trecho do ofício está no próprio lead e que, no parágrafo seguinte, também é esclarecido que se tratam de máscaras de pano, que são as utilizadas pela maior parte da população”.

Declarou, também, que a intenção do site ao publicar o texto foi “informar a população sobre um aspecto importante da pandemia, que é a possível ineficácia das máscaras de pano”, acrescentando que a imprensa tradicional não o faz “por razões ideológicas e financeiras”.

Dentre os colunistas do site também está Bernardo P. Kuster, que se apresenta como jornalista, palestrante, tradutor e diretor de opinião do Brasil sem Medo. O link com o conteúdo que ele compartilhou nas próprias redes sociais gerou, apenas no Twitter, 6.892 interações. Ele foi procurado, mas não respondeu.

No Instagram, ele teve o conteúdo publicado no dia 26 de julho removido sob alegação, por parte da plataforma, de ir contra as diretrizes da comunidade. No dia seguinte, 27 de julho, foi publicado novo artigo sobre o assunto no site, desta vez liberado para a leitura de não assinantes, acusando o Instagram de censura. O site ainda aproveitou o teor postado em uma coluna que faz “giro de notícias”.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições e pandemia que tenham atingido alto grau de viralização. Em julho de 2021, os participantes decidiram também iniciar a verificação da desinformação envolvendo possíveis candidatos à presidência da República. Desde então, o projeto tem monitorado nomes que vêm sendo incluídos em pesquisas dos principais institutos.

O compartilhamento da primeira publicação aqui verificada teve 8.822 interações apenas no Twitter, segundo a ferramenta CrowdTangle. Uma conta do Instagram que postou o print da coluna do site onde foi utilizado o teor do texto somou mais de 700 curtidas na plataforma.

O uso de máscaras faciais é apontado como uma das medidas de prevenção à covid-19, sendo incentivado pela Organização Mundial da Saúde desde o ano passado, somado a outras ações, como a higienização frequente das mãos e o distanciamento social.

Enquanto não há medicamentos eficazes contra o vírus e sem a cobertura vacinal adequada, esta segue sendo a recomendação, principalmente no Brasil, onde já foram registradas mais de 550 mil mortes pela doença. O país tem hoje pouco mais de 38,04 milhões de pessoas completamente vacinadas, o que equivale a 18,6% da população brasileira.

Desde o ano passado, o uso de máscaras faciais têm sido alvo de afirmações falsas ou enganosas. O Comprova já verificou, por exemplo, que um estudo não comprova a ineficácia do uso do equipamento; que as máscaras são eficientes no combate ao novo coronavírus; que o uso correto delas reduz as chances de contaminação e não torna o sangue ácido; e que as elas não causam acúmulo de líquido nos pulmões, tampouco intoxicação.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; bem como aquele que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

 

Saúde

Investigado por: 2021-07-23

Estudo francês em hamsters não prova eficácia da ivermectina contra a covid-19 em humanos

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a publicação no site Terça Livre que afirma que um estudo francês apontou a eficácia da ivermectina para combater a covid-19. O texto omitiu que o estudo mencionado, realizado pelo Instituto Pasteur da França e publicado na revista EMBO Molecular Medicine no último dia 12, foi feito em hamsters, e não em humanos.
  • Conteúdo verificado: Texto do site Terça Livre afirma que um estudo francês apontou a eficácia da ivermectina contra a covid-19.

É enganosa a publicação no site Terça Livre que afirma que um estudo francês apontou a eficácia da ivermectina para combater a covid-19. O texto omitiu que o estudo mencionado, realizado pelo Instituto Pasteur da França e publicado na revista EMBO Molecular Medicine no último dia 12, foi feito em hamsters, e não em humanos. Estudos publicados até o momento são insuficientes para concluir que a ivermectina seja eficaz contra o novo coronavírus.

O Comprova procurou o Terça Livre por e-mail, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. Após o contato, a publicação do site foi editada para incluir a informação de que o estudo em questão foi feito em hamsters.

Como verificamos?

O Comprova leu o estudo citado na publicação e também a checagem feita pela AFP sobre o assunto. Em seguida, consultou o doutor em Microbiologia e Imunologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Alison Chaves.

Para a verificação, também foram consultadas outras pesquisas sobre o uso da ivermectina no tratamento da covid-19 e agências reguladoras que falam sobre o medicamento.

Por fim, entramos em contato com o site responsável pelo texto.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 23 de julho de 2021.

Verificação

Estudo

O estudo realizado pelo Instituto Pasteur da França e publicado na revista EMBO Molecular Medicine no último dia 12 mostrou que doses padrão de ivermectina foram capazes de prevenir a deterioração clínica e a perda de olfato, além de limitar a inflamação do trato respiratório superior e inferior em hamsters sírios (também chamados de hamsters dourados) infectados com SARS-CoV-2. Foi concluído que a ivermectina melhorou o resultado clínico nos animais infectados com o vírus e está associada a um estado inflamatório reduzido, mas sem impacto das cargas de SARS-CoV-2 no trato respiratório superior e inferior. Por fim, o estudo afirma que traz a prova de conceito de que uma terapia imunomoduladora baseada em ivermectina melhora a condição clínica de hamsters infectados com SARS-CoV-2 e, em ensaios clínicos, aliviaria os sintomas da covid-19 em humanos.

Em nota à imprensa, o Instituto Pasteur informou que os pesquisadores demonstraram que ‘’a ivermectina, uma molécula comercializada como um tratamento antiparasitário, protege contra os sintomas da Covid-19 em um modelo animal’’. O Instituto Pasteur informou à AFP, parceira do Comprova, que esses resultados foram obtidos como parte de um estudo pré-clínico.

Para o doutor em Microbiologia e Imunologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Alison Chaves, o estudo não é mal feito, apenas exagera as conclusões. Ele chama atenção para o relato de redução da resposta a interferon nos hamsters do estudo. Os interferons são glicoproteínas produzidas naturalmente no organismo e têm propriedades antivirais. ‘’Isso não é bom e gera mais dúvidas do que certezas, pois o interferon é uma das principais citocinas antivirais que nosso sistema imunológico produz. Há publicações sugerindo que a deficiência de interferon está associada a quadros mais severos da doença e há muitos estudos sugerindo interferon como intervenção para a doença”, observa.

Chaves ainda aponta que o modelo animal pode ter uma quantidade muito maior da citocina se comparado a humanos. ‘’Não conheço a fundo os modelos inflamatórios em hamster, mas camundongos, por exemplo, produzem uma enxurrada de interferon. Esta foi uma das limitações na época dos estudos com zika vírus. Os animais não desenvolviam a doença pelo excesso de interferon inerente ao modelo. Isso foi resolvido gerando camundongos geneticamente modificados para expressar menos interferon’’.

O Comprova tentou entrar em contato por e-mail com o pesquisador do Instituto Pasteur Guilherme Dias de Melo, um dos responsáveis pelo estudo, mas não obteve retorno.

O resultado em hamsters significa que será igual em humanos?

Julival Ribeiro, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explicou à AFP que “todo estudo sobre qualquer droga tem fases pré-clínica e clínica até que fique comprovado por meio de estudos clínicos randomizados, duplo-cego, que esse medicamento combate determinada doença”.

‘’A Sociedade Americana de Infectologia e outras sociedades do mundo afirmam que a ivermectina só poderá ser usada quando sua eficácia for comprovada em estudos clínicos. Até agora não está demonstrada a eficácia da ivermectina para tratar covid-19 em seres humanos”, acrescentou Ribeiro. Ele alertou ainda que após testar uma droga em animais, jamais se pode extrapolar o resultado para seres humanos.

Alison Chaves também aponta que não é possível usar o estudo para embasar qualquer conduta clínica: ‘’Trata-se de um estudo em modelo animal. Por isso não se pode extrapolar esses dados para clínica, como fizeram os autores, tanto ao sugerir melhora clínica (termo inapropriado para modelos animais) quanto ao sugerir que a droga poderia ser usada na clínica para covid-19, considerando estes resultados.”

Estudos com ivermectina não comprovaram eficácia contra covid-19

Embora não exista comprovação científica de que a ivermectina seja eficaz contra a covid-19, o Terça Livre citou outros quatro estudos que supostamente indicariam a eficácia do medicamento. Ao Comprova, o doutor em Microbiologia e Imunologia Alison Chaves analisou cada um deles.

O primeiro é um estudo australiano de junho de 2020. ‘’O estudo australiano aponta o caminho inverso do estudo do Instituto Pasteur. Nesse estudo, a ivermectina reduz a carga viral in vitro. No estudo francês in vivo, não há redução importante da carga viral e os autores sugerem que o caminho é outro (imunomodulação). Estudos in vitro são apenas screening de drogas, não servem para embasar condutas clínicas’’, analisa Chaves.

Outros dois estudos mencionados pelo site são metanálises. Nesses casos, diferentes estudos sobre um mesmo assunto são agrupados e, então, os resultados são comparados. ‘’O estudo da Indonésia é uma metanálise cujas conclusões dependem fortemente de estudos mal feitos e, descoberto mais recentemente, fraudados’’, diz Chaves. Em junho deste ano, ele publicou um artigo na Revista Questão de Ciência sobre como essas metanálises de ivermectina são compostas por estudos suspeitos. “Observe que o estudo de Oxford é outra metanálise que usa exatamente os mesmos estudos problemáticos. Especial atenção para o estudo de Elgazzar em ambas metanálises’’, completa. O Comprova também já publicou uma verificação mostrando que a metanálise publicada no Open Forum Infectious Diseases em julho é insuficiente para apontar a eficácia da ivermectina contra a covid-19.

Já o quarto e último estudo citado, publicado no Chest Journal, é finalmente um estudo clínico. ‘’No entanto, é de baixa qualidade de evidência. O estudo é retrospectivo, não foi controlado em nenhum aspecto. Em síntese, agrupando todos estes estudos, não há contribuição alguma para se reduzir as incertezas sobre eficácia do tratamento proposto. Neste caso, não se pode concluir nada sobre a droga. Uma conclusão negativa seria de qualidade duvidosa pelas mesmas razões já mencionadas’’, conclui.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomenda que a ivermectina seja usada contra a covid-19, exceto em ensaios clínicos, devido à falta de evidências que comprovem seus benefícios contra a doença. A Agência Europeia de Medicamentos e a FDA, agência reguladora dos Estados Unidos, compartilham o mesmo posicionamento. No Brasil, a Anvisa também reconhece que não existem estudos conclusivos que comprovem o uso do medicamento para o tratamento da covid-19.

Quem postou

O Terça Livre pertence a Allan dos Santos, investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito das fake news. O Google removeu o canal no YouTube do site após decisão judicial favorável à multinacional. Em fevereiro o canal já havia sido derrubado por violar diretrizes da plataforma, mas uma liminar conseguiu permitir o retorno do perfil. O Comprova procurou o Terça Livre por e-mail, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. Após o contato, o texto do site foi editado e a informação de que o estudo em questão foi feito em hamsters foi incluída.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia, processo eleitoral ou políticas públicas do governo federal. Em julho de 2021, os participantes decidiram também iniciar a verificação da desinformação envolvendo possíveis candidatos à presidência da República. A publicação verificada aqui teve mais de 4 mil interações no Facebook.

A checagem de conteúdos envolvendo informações sobre supostos tratamentos para a covid-19 é importante, pois a desinformação pode colocar a saúde das pessoas em risco.

A mesma publicação foi verificada pela AFP Checamos na última terça-feira (20).

Postagens sobre a ivermectina já foram verificadas pelo Comprova, mostrando que a metanálise publicada no Open Forum Infectious Diseases é insuficiente para apontar a eficácia da ivermectina contra a covid-19, que é enganoso que a Universidade de Oxford tenha encontrado ‘fortes indícios’ da eficácia do medicamento contra a covid e outra que mostra que a ivermectina em altas doses pode causar até convulsão.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.