O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
Filtro:

Política

Investigado por: 2025-02-07

Imagem de Alexandre de Moraes com boné da USAID foi gerada por IA

  • Falso
Falso
É falsa a imagem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes usando um boné com o logo da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). O conteúdo foi gerado por meio de inteligência artificial, o que é possível constatar pela presença da marca d’água do Grok, chatbot de IA do X. Além disso, a mídia contém erros característicos da tecnologia, como letras ilegíveis e distorções na imagem.

Conteúdo investigado: Postagem compartilha uma imagem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), usando um boné com o logo da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês). “Agora tudo está claro”, afirma a legenda.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: É falsa a imagem que mostra Alexandre de Moraes vestindo um boné da USAID, organização de ajuda humanitária dos Estados Unidos. É possível identificar no conteúdo uma marca d’água do Grok, chatbot de inteligência artificial do X, o que indica que a mídia foi criada digitalmente.

Além da indicação da ferramenta, a imagem tem erros característicos de conteúdos criados por IA. No logo da USAID, por exemplo, as letras que deveriam formar “United States Agency International Development” estão ilegíveis. Há, ainda, distorções no rosto: o lábio inferior está torto e a ponta no nariz, borrada. A ferramenta Hive Moderation, que afirma detectar o uso de IA em mídias, concluiu que há 99,7% de chance de a imagem ter sido gerada pela tecnologia.

I Legenda: Hive Moderation concluiu que a mídia tem 99.7% de chance de ter sido criada por IA I

I Legenda: Além da marca d’água, elementos distorcidos, como o lábio inferior e a ponta do nariz, indicam que o conteúdo foi criado por meio de IA I

A figura foi criada em meio aos ataques do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e do bilionário Elon Musk à USAID, agência responsável por 40% dos programas de ajuda humanitária do mundo. A crise foi iniciada quando dois altos funcionários da USAID recusaram acesso a documentos confidenciais a representantes do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), chefiado por Musk. Eles foram colocados em licença forçada pelo governo após o episódio.

Neste domingo, 2, Musk chamou a organização de “criminosa” em uma postagem no X. No mesmo dia, em uma coletiva de imprensa, Trump disse que a agência é “administrada por lunáticos radicais de esquerda e vamos tirá-los de lá”.

A partir das 23h59 desta sexta-feira, 7, horário de Washington, todos os funcionários não essenciais da agência serão colocados em licença de forma indefinida. A informação foi publicada no site da USAID.

O autor da postagem falsa foi procurado por mensagem direta no X, mas não retornou até o encerramento desta checagem.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No X, a postagem acumula mais de 89,5 mil visualizações, mil compartilhamentos e 8 mil curtidas.

Fontes que consultamos: O primeiro indício de que a imagem foi criada por IA é a marca d’água presente no conteúdo. Algumas ferramentas de geração de imagens, como é o caso do Grok, apresentam uma identificação para sinalizar que aquele conteúdo foi gerado por IA, o que auxilia a não cair em desinformação. Além disso, consultamos o Hive Moderation, que afirma detectar o uso de IA, e fizemos buscas no Google.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente, o Comprova checou outras peças que foram criadas por meio de inteligência artificial. Uma das verificações mostra, por exemplo, que um vídeo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pedindo votos para Jair Bolsonaro (PL) em 2026 foi gerado por meio da tecnologia. Outra mídia, uma imagem de Trump ao lado de cadeira com nome de Bolsonaro, também foi desmentida após a detecção do uso de IA.

Notas da comunidade: Até o encerramento desta checagem, o X não havia acrescentado notas da comunidade à postagem verificada.

Política

Investigado por: 2025-02-06

Mulher foi expulsa de avião por se negar a despachar bagagem, não por discussão política

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso que uma “passageira petista” teria sido expulsa de avião pela Polícia Militar de Goiás após discutir e bater em comissária de bordo que se recusara a pedir para pararem de cantar “música de Jair Bolsonaro”. Como verificado a partir de uma busca reversa, o vídeo é de 2018 e mostra uma mulher sendo levada pela PM por se recusar a despachar bagagem de mão.

Conteúdo investigado: Post em vídeo mostra confusão dentro de aeronave e policiais militares retirando uma criança e uma mulher que estavam sentadas. A legenda diz que “passageira petista teria ficado indignada porque os passageiros estavam cantando música do Bolsonaro” e discutido e batido em aeromoça que teria se negado a pedir para as pessoas pararem de cantar. “O comandante, então, prudentemente, se recusa a decolar com a passageira petista a bordo e aciona a polícia Militar do Estado de Goiás, que brilhantemente entra na aeronave…e coloca esse verme para fora”, continua a legenda.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Um post viral engana ao dizer que uma passageira foi expulsa de avião pela Polícia Militar de Goiás por discutir e dar tapa em comissária de bordo que não pediu para que outros passageiros parassem de cantar música em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O vídeo usado no post é verdadeiro, como foi possível verificar em uma busca reversa, que permite encontrar outras imagens semelhantes, mas não mostra a situação descrita no post.

Como mostra reportagem do Bom Dia GO, da Globo, o caso aconteceu em 4 de outubro de 2018 e o motivo da expulsão do voo, que ia de Goiânia para São Paulo, foi porque a passageira “teria se recusado a despachar bagagem e insultado comissários e passageiros”. O vídeo começou a circular como conteúdo de desinformação naquela época mesmo, período de eleição para presidente.

O Comprova tentou contato com a autora do post enganoso, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O post foi visualizado mais de 788,9 mil vezes no X até 6 de janeiro.

Fontes que consultamos: Reportagens e verificações sobre a expulsão da passageira.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Lupa, Estadão Verifica e AFP Checamos já verificaram posts que usaram o vídeo para dizer que a expulsão foi por questão eleitoral. Em 2021, a AFP voltou a checar o vídeo, mas em um outro contexto de desinformação, dizendo falsamente que a passageira estaria sendo presa por desvio de verbas públicas.

O Comprova já investigou outros vídeos tirados de contexto, como o post que acusa erroneamente o governo Lula (PT) de querer dar comida estragada para a população e o que descontextualiza imagens para mentir sobre desapropriações no Amazonas e no Pará.

Notas da comunidade: O X exibe notas da comunidade para o post investigado. Nelas, o X afirma: “Informação falsa. A mulher em questão foi retirada da aeronave por causar tumulto por não querer despachar a bagagem”, o que coincide com a verificação do Comprova. Nas notas, a rede social oferece dois links, um para o Terra e outro para o Estadão Verifica.

Política

Investigado por: 2025-02-03

Vídeo é tirado de contexto para acusar governo Lula de querer dar comida estragada à população

  • Enganoso
Enganoso
Vídeo recorta e retira de contexto a fala de uma analista política da CNN para dar a entender que o presidente Lula pretende dar comida estragada à população. Ao acessar a íntegra da análise, o Comprova verificou que ela, na verdade, fala sobre como o assunto em torno das medidas para redução do preço dos alimentos do governo federal está virando alvo de desinformação.

Conteúdo investigado: Vídeo mostra trecho de um comentário da analista política Clarissa Oliveira, da CNN, em transmissão da emissora. O post aplica acima do vídeo o texto: “Governo Lula vai oferecer comida vencida para deixar os alimentos mais baratos”. Há a marca d’água “JMNotícias” sobreposto à imagem e na descrição do post está escrito “#patriotas”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É enganoso o vídeo que circula nas redes sociais com um recorte descontextualizado da fala da analista de política da CNN Clarissa Oliveira, que dá a entender que ela afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer dar alimentos estragados para a população. Na realidade, ao longo dos 3 minutos que compõem a análise completa, ela fala sobre como o assunto em torno das medidas para redução do preço dos alimentos do governo federal está virando alvo de desinformação.

No trecho que viralizou no TikTok, foi recortado apenas um minuto da fala da analista política. A versão original e completa está disponível no YouTube da CNN.

“O governo do presidente Lula está num momento muito delicado em termos de popularidade. Acabou de vir de uma crise de comunicação bastante intensa com o Pix. A disseminação de notícias falsas a respeito do Pix foi uma arma usada com muita eficiência pela oposição ao presidente Lula. […] Se começa a se formar uma nova onda: ‘Olha, o presidente Lula quer dar comida estragada para quem quer comprar alimento mais barato”, diz Clarissa Oliveira em um trecho da transmissão.

O assunto veio à tona no dia 22 de janeiro, após o ministro da Casa Civil, Rui Costa, conceder uma entrevista ao programa ‘Bom Dia Ministro’ e falar sobre “intervenção” no preço dos alimentos.

O ministro esclareceu que não haverá intervenção governamental para forçar de modo artificial a queda dos preços dos alimentos e que não cogita alterar a regra do prazo de validade dos alimentos, nem a venda de alimentos fora do prazo de validade como medida para reduzir os preços.

“O presidente Lula se reuniu com as entidades atacadistas de supermercado no final do ano passado e elas apresentaram um conjunto de sugestões, foram várias. A venda de produtos com validade vencida não é a cultura, nem a prática do Brasil. Para alimentos, para uso pessoal, eu acho que não faz parte da nossa cultura isso e não está no nosso cenário adotar essa medida”, esclareceu Costa em entrevista à CNN, no mesmo dia 22.

A sugestão feita pelas entidades atacadistas, conforme descrito em nota publicada pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), publicada no mesmo dia 22, também não era de vender produtos estragados. A proposta feita ao governo foi a de reestruturar o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), por meio do PAT e-social, com apoio da Caixa Econômica Federal. O que, conforme descrito pela associação, poderia “gerar economia da ordem de R$ 10 bilhões anuais, a venda de remédios sem receita nos supermercados, que pode reduzir os preços em 35%, a modernização do sistema de prazos de validade, o chamado Best Before, e a redução do prazo de reembolso dos cartões de crédito.”

Best Before é um conceito utilizado por países como os Estados Unidos e Canadá, que vai além do sistema de prazo de validade utilizado no Brasil. No caso do Best Before, como explicado pela própria Abras, é indicado um prazo mínimo em que o produto deve manter todas suas características. Porém, após essa data, ele não necessariamente é visto como “estragado”, e precisa ser descartado. Neste método, é avaliado que o alimento se mantém próprio para o consumo enquanto continuar com suas características iniciais.

O Comprova entrou em contato com o perfil que compartilhou o vídeo. A responsável pela publicação respondeu que não tinha conhecimento de que era um recorte descontextualizado e, em seguida, deletou o vídeo da plataforma.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. A publicação teve mais de 57,6 mil curtidas, 6,3 mil comentários e 15 mil compartilhamentos até o dia 30 de janeiro.

Fontes que consultamos: Pesquisas no Google, no YouTube e em publicações da imprensa sobre o tema.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Estadão Verifica e o Aos Fatos também fizeram verificações sobre o assunto, indicando que a informação é enganosa. O Comprova também já verificou outras peças de desinformação sobre economia no governo Lula, como sobre um vídeo de mulheres criticando o preço dos alimentos que, na verdade, é de de 2022, no governo Bolsonaro e um post falso que afirma que Lula vai reduzir o salário mínimo em 2025.

Contextualizando

Investigado por: 2025-01-31

Posse de Trump: só após 90 dias será possível saber se parlamentares usaram dinheiro público

  • Contextualizando
Contextualizando
O Comprova não encontrou registro de uso de verbas públicas para a viagem aos Estados Unidos de 21 deputados e um senador para a posse de Donald Trump em 20 de janeiro. Os parlamentares têm prazo de 90 dias para solicitar reembolso. Entenda o caso.

Conteúdo investigado: Posts que afirmam que parlamentares bolsonaristas viajaram aos Estados Unidos para acompanhar a posse de Donald Trump utilizando dinheiro público para pedir sanções contra o Brasil.

Onde foi publicado: X.

Contextualizando: No dia 20 de janeiro de 2025, quando o republicano Donald Trump tomou posse para seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, alguns parlamentares bolsonaristas brasileiros estiveram em Washington para acompanhar a posse. A comitiva contou com pelo menos 21 deputados federais e um senador. Nas redes sociais, publicações alegam que o grupo utilizou dinheiro público para realizar a viagem.

Embora muitos deles tenham usado as redes sociais para negar o uso de verba pública e para afirmar que viajaram utilizando recursos próprios, ainda não é possível dizer que nenhum dinheiro público será usado para custear pelo menos uma parte das viagens: por enquanto, não há registros de compra de passagens, hospedagem ou outros gastos no exterior com cota parlamentar ou viagem em missão oficial em nome de nenhum dos parlamentares que viajaram aos EUA na ocasião.

O Comprova perguntou à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal se foram utilizados recursos públicos nas viagens dos parlamentares aos Estados Unidos. Por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), a Câmara disse que deputados podem usar recursos da cota parlamentar para cobrir despesas no exterior, desde que receba autorização prévia do terceiro secretário (para passagens) e do presidente da Casa para as demais despesas reembolsáveis, como hospedagem, alimentação, combustível etc.

Por enquanto, a Câmara não tem registros de despesas referentes à posse de Donald Trump, mas é possível pedir o reembolso em até 90 dias após o gasto – ou seja, até abril. Além disso, se tiverem viajado em missão oficial, têm direito a receber diária de viagem no valor de US$ 428 (leia mais abaixo).

O Senado foi questionado sobre a viagem do senador Jorge Seif (PL-SC), que aparece em imagens e postou nas redes sociais que viajou a Washington para a posse. Em nota, o Senado disse que não foram encontradas na base de dados registros de requerimento do senador para realização de viagem aos Estados Unidos este mês, “seja com ou sem ônus para o Senado Federal”. Também não foram emitidas passagens ou pagas diárias internacionais para ele, e não há previsão de reembolso.

O Comprova não conseguiu contato com o autor da publicação.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 31 de janeiro, a publicação alcançou 245 mil visualizações no X.

Fontes que consultamos: Foram acessados os portais da Transparência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, onde buscamos por registros de pagamentos relacionados à cota parlamentar e a viagens oficiais desde a eleição de Donald Trump, em novembro do ano passado, até o dia da posse dele, em 20 de janeiro deste ano.

A Câmara e o Senado também foram procurados diretamente através das assessorias de comunicação – no caso da primeira, foi solicitado ainda o envio de respostas via Lei de Acesso à Informação (LAI). Também foram acessadas as redes sociais dos parlamentares que viajaram a Washington para a posse de Donald Trump, onde foram encontradas publicações que comprovam a ida ao local, e procurados os partidos aos quais eles são filiados.

Quais parlamentares viajaram para a posse de Trump?

Aos menos 21 deputados federais e um senador viajaram aos Estados Unidos para acompanhar a posse de Donald Trump como presidente: os deputados Adilson Barroso (PL-SP), Bia Kicis (PL-DF), Cabo Gilberto Silva (PL-PB), Capitão Alden (PL-BA), Carla Zambelli (PL-SP), Coronel Chrisóstomo (PL-RO), Coronel Fernanda (PL-MT), Coronel Ulysses (União Brasil-AC), Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Giovani Cherini (PL-RS), Joaquim Passarinho (PL-PA), Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP), Marcel van Hattem (Novo-RS), Marcos Pollon (PL-MS), Mário Frias (PL-SP), Maurício do Vôlei (PL-MG), Mauricio Marcon (Podemos-RS), Messias Donato (Republicanos-ES), Nikolas Ferreira (PL-MG), Sargento Gonçalves (PL-RN) e Silvia Waiãpi (PL-AP), além do senador Jorge Seif (PL-SC).

O Comprova encontrou publicações nas redes sociais de todos eles feitas em Washington. Os vídeos e fotos do deputado Nikolas Ferreira foram acessados através das redes sociais da Rádio Itatiaia (1 e 2), de Minas Gerais, estado que ele representa. Uma lista inicial da comitiva contava também com os nomes dos deputados federais Gustavo Gayer (PL-GO) e Sóstenes Cavalcanti, mas não foram encontradas publicações que indiquem que eles estivessem no local.

O senador Eduardo Girão (Novo-CE) não aparece em fotos da posse de Donald Trump, mas esteve presente em outro evento em Washington, quatro dias depois: uma caminhada contra o aborto, no dia 24. O partido Novo informou, por meio da assessoria, que ele custeou a viagem com recursos próprios

As viagens foram pagas com dinheiro público?

Em postagens nas redes sociais, alguns dos parlamentares que viajaram para a posse de Donald Trump negaram o uso de dinheiro público e disseram ter custeado a viagem com recursos próprios, sem uso de verba da Câmara dos Deputados. O Comprova questionou a Câmara sobre o uso de recursos públicos, e pediu uma lista de todos os deputados que viajaram, além dos que receberam autorização para viajar em missão oficial.

A Câmara respondeu, via Lei de Acesso à Informação: “Após consulta aos nossos registros, verificamos que, até o momento, não foram identificadas despesas realizadas com a utilização da CEAP [Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar] relacionadas à referida viagem, em favor dos deputados desta Casa”, mas destacou que eles têm um prazo de 90 dias para pedir reembolso.

Apesar da resposta, não foram informados quais deputados viajaram, nem se eles pediram autorização para seguir em missão oficial. Ao Correio Braziliense, parceiro do Comprova, a Casa disse que 13 deputados receberam autorização para viajar em missão oficial, mas que não arcou com os custos.

Já o Senado foi questionado a respeito da viagem do senador Jorge Seif, e respondeu que “não há registro nas bases de dados do Senado Federal de requerimento de autoria do Senador Jorge Seif para a realização de viagem aos Estados Unidos neste mês de janeiro de 2025, seja com ou sem ônus para o Senado Federal”. Também não foram emitidas passagens ou liberadas diárias internacionais para o senador este ano. Ainda segundo o Senado, “não há previsão normativa para solicitação de ressarcimento de passagens internacionais utilizando cota parlamentar”.

As viagens de deputados federais podem ser pagas com verba pública em duas situações: com o uso de recursos da cota parlamentar ou por meio de diárias pagas para viagens em missão oficial. O valor da cota parlamentar varia de estado para estado porque depende do preço médio das passagens aéreas para Brasília (DF). A maior cota é para os parlamentares do estado de Roraima (R$ 51.406,33). A menor, para os do Distrito Federal (R$ 36.582,46).

Já no caso das viagens oficiais, o deputado tem direito a receber diárias que variam conforme o destino. Segundo o site da Câmara, a diária para viagens nacionais é de R$ 842. Nas internacionais, o parlamentar recebe diária de US$ 391 quando viaja para países da América do Sul e de US$ 428 quando vai para outros países – R$ 2.496,05 na cotação desta sexta-feira, 31.

Os dados disponíveis no site da Câmara referentes a janeiro de 2025 não apontam nenhum gasto da cota parlamentar com passagens ou hospedagem no exterior para os deputados que foram à posse. Também não foram encontrados registros de compra de passagens ou reserva feita ainda nos meses de novembro e dezembro, após o anúncio da vitória do republicano nas eleições dos EUA. Não foi cadastrada nenhuma viagem em missão oficial para os parlamentares citados.

Mas, isso não significa que recursos públicos ainda não possam ser usados. Isso porque, no caso da cota parlamentar, os deputados têm três meses para apresentar recibos e pedir reembolso. “O deputado tem até 90 dias para apresentar a documentação comprobatória do gasto. Os valores das notas fiscais apresentadas dentro desse prazo são debitados da cota do mês a que a despesa se refere”, diz a Câmara. O valor é creditado na conta do deputado, em média, até três dias úteis após a solicitação.

Já no caso das missões oficiais, os deputados têm 15 dias para apresentar relatório sobre as atividades desenvolvidas na viagem. Segundo o site da Câmara, as viagens ao exterior ocorrem “para que deputadas e deputados possam desempenhar missões junto a governos estrangeiros e a entidades internacionais, como a Organização dos Estados Americanos e a Organização das Nações Unidas”.

O Comprova questionou aos partidos políticos aos quais os parlamentares são filiados se eles financiaram a ida dos deputados aos EUA e se houve uso de recursos públicos, como verba do fundo partidário, por exemplo. O Podemos disse que apenas o deputado Maurício Marcon viajou e que ele “foi com recursos próprios”. O mesmo disse o Novo: apenas o deputado Marcel van Hattem viajou e usou verba própria: “Não houve dinheiro público custeando”, disse o partido.

O União Brasil também foi questionado sobre o uso de verba pública, mas respondeu, em nota, que “o partido não disponibilizou essa informação”. O PL e o Republicanos foram procurados: o PL sugeriu que fossem acionadas as equipes de cada parlamentar, e o Republicanos não respondeu.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou que uma imagem de Donald Trump ao lado de cadeira com o nome de Jair Bolsonaro foi criada com inteligência artificial, que um perfil de humor enganou ao comparar as posses de Lula e Trump com fotos de outros eventos e que um vídeo satírico de Lula pedindo votos para Bolsonaro em 2026 foi feito com IA.

Notas da comunidade: O X não liberou notas da comunidade para o post investigado até a publicação desta verificação.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2025-01-30

Vídeo engana ao afirmar que ministério teria entregue gestão de terras indígenas para empresa

  • Enganoso
Enganoso
Vídeo de ex-candidato à presidência em 2022 distorce as informações de um protocolo de intenções assinado entre a Ambipar, multinacional brasileira especializada em soluções ambientais, e o Ministério dos Povos Indígenas durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. O autor do conteúdo engana ao dizer que a pasta teria entregue 14% do território nacional, que seriam as terras indígenas demarcadas, para a empresa administrar. Na realidade, o acordo visa fortalecer a gestão territorial indígena por meio de ações focadas no desenvolvimento sustentável e na prevenção de emergências climáticas. A iniciativa irá abranger quase 1 milhão de quilômetros quadrados de territórios indígenas, o que representa 14% do território nacional.

Conteúdo investigado: Vídeo gravado pelo monsenhor Kelmon, conhecido como Padre Kelmon, que foi candidato à Presidência da República em 2022 pelo PTB, atualmente filiado ao PL, no qual ele afirma que o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) teria entregado a gestão de 14% do território nacional, onde estão terras indígenas demarcadas, a uma empresa. A suposta concessão ao setor privado teria ocorrido durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Kelmon argumenta que a transferência da administração representaria uma ameaça à soberania nacional, pois mais de um milhão de quilômetros quadrados de territórios indígenas passariam a ser controlados por uma empresa privada.

Onde foi publicado: Instagram e Facebook.

Conclusão do Comprova: Não é verdade que a pasta comandada pela ministra Sonia Guajajara tenha transferido a gestão de 14% do território nacional para uma empresa. Padre Kelmon, autor do vídeo verificado, distorce o objetivo de um protocolo de intenções assinado pelo secretário-executivo do MPI, Eloy Terena, com a Ambipar, uma multinacional brasileira especializada em soluções ambientais. O acordo, firmado durante o Fórum Econômico Mundial — realizado nos dias 20 e 24 deste mês, prevê iniciativas para fortalecer a gestão territorial indígena com ações voltadas ao desenvolvimento sustentável e à prevenção a emergências climáticas.

Em nota publicada no domingo, 26, o ministério desmentiu alegações de que o protocolo assinado com a Ambipar seria uma transferência de gestão de terras indígenas para a iniciativa privada. Segundo a pasta, a parceria “estabelece um compromisso preliminar sem transferência de qualquer verba ou de responsabilidade do Poder Público”. A assinatura faz parte da ampliação de diálogos que o órgão se propõe a promover com diferentes setores da sociedade civil voltados para a proteção dos direitos dos povos indígenas para além do poder público.

De acordo com uma postagem da multinacional sobre a parceria, a iniciativa vai beneficiar quase 1 milhão de quilômetros quadrados de terras indígenas. Segundo a Funai, as terras indígenas no Brasil ocupam cerca de 14% do território nacional, o equivalente a 1,2 milhão de quilômetros quadrados. Para qualificar e fortalecer esses territórios, segundo o MPI, estão previstas as seguintes ações:

  • Projetos de conservação e recuperação ambiental;
  • Promoção da economia circular;
  • Gestão, destinação e disposição de resíduos sólidos;
  • Suporte técnico para prevenção e respostas a eventos extremos, como incêndios e enchentes;
  • Reflorestamento de áreas desmatadas e desenvolvimento de projetos de bioeconomia e serviços ecossistêmicos.

Ao contrário do que é dito na peça aqui verificada, o acordo com a Ambipar não ameaça a soberania do país, uma vez que a Constituição Federal prevê, no parágrafo 4º do artigo 231, que “as terras indígenas são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis”, ou seja, não podem ser vendidas e os direitos sobre elas não se perdem com o tempo.

O que é um protocolo de intenções?

Alvo de desinformação nas redes sociais, o protocolo de intenções consiste em um instrumento jurídico que estabelece vínculo cooperativo ou de parceria entre entes públicos com interesses recíprocos. Ao Comprova, o advogado mestre em Direito Administrativo Marcos Jorge explicou que o protocolo pode formalizar essa relação tanto entre entes públicos quanto entre entes públicos e particulares, a fim de realizar um propósito comum.

No caso da Ambipar, Jorge comentou que o protocolo serve para definir quais interesses o ministério e a empresa irão defender em conjunto. “Esses interesses não são interesses da empresa. Sempre que o poder público estiver presente, o que tem que ser atendido é o interesse público”, pontuou. Segundo o advogado, o instrumento resguarda o interesse dos povos indígenas e não tem relação com a concessão de terra pública ou indígena para o setor privado.

“Nesse caso concreto, a gente não tem a concessão, pois não se transfere a terra para a Ambipar administrar, como em uma concessão se transferiria. Apenas define que em um milhão de quilômetros quadrados de territórios indígenas, a Ambipar irá fomentar e apoiar a gestão territorial indígena”, disse Jorge.

O Comprova entrou em contato com o monsenhor Kelmon pelo Instagram, mas não obteve retorno até a publicação desta verificação.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 30 de janeiro, o vídeo alcançou 584 mil visualizações e obteve mais de 17 mil compartilhamentos no Instagram. No Facebook, o conteúdo recebeu mais de 52 mil curtidas e foi compartilhado mais de nove mil vezes.

Fontes que consultamos: Matérias publicadas pela imprensa sobre a parceria, um advogado mestre em direito administrativo, Constituição Federal e o site do Ministério dos Povos Indígenas.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Notícias sobre territórios indígenas costumam ser alvo de desinformação nas redes sociais. Em diversas situações, o Comprova desmentiu e contextualizou informações equivocadas envolvendo esses territórios, como no caso da Terra Indígena (TI) Apyterewa, em São Félix do Xingu (PA), onde uma ação de desintrusão retirou não indígenas que ocupavam a área irregularmente. Também foi esclarecido que a remoção de agricultores das regiões de Raposa Serra do Sol (RR) e Suiá Missú (MT) não foi uma decisão de Lula. Além disso, foi desmentida a suposta relação entre o aumento do preço do arroz e a demarcação de terra indígena em Roraima, assim como a alegação de que terras indígenas em Rondônia teriam sido vendidas a uma empresa irlandesa. O Aos Fatos concluiu que a alegação de que o governo federal teria transferido a gestão das terras indígenas a uma multinacional é falsa.

Contextualizando

Investigado por: 2025-01-30

Entenda o exercício militar da Venezuela na fronteira com o Brasil e suas implicações

  • Contextualizando
Contextualizando
Vídeo que circula na internet aparentemente mostra a presença de militares venezuelanos armados em território brasileiro. No entanto, o episódio não significa o início de um conflito bélico entre os dois países como sugerem publicações nas redes sociais. No dia 22 de janeiro, o governo venezuelano fechou a fronteira com o Brasil, em Pacaraima, em Roraima, para a realização de exercícios militares. A medida durou até a manhã seguinte.

Conteúdo analisado: Vídeo mostra a fronteira entre o Brasil e a Venezuela na cidade de Pacaraima. No lado brasileiro, é possível ver homens armados em caçambas de caminhonetes. O homem que grava o vídeo diz: “Neste momento, aí as tropas… forças especiais da Venezuela estão do lado do Brasil”. Há postagens que repercutem o vídeo com sugestões de que o episódio significa o início de uma guerra entre os dois países ou de uma invasão venezuelana. “Tropas do regime de Maduro cruzam a fronteira com o Brasil armados” e “Brasil sendo invadido pela tropa armada da Venezuela” são algumas das frases em postagens que compartilham o vídeo.

Onde foi publicado: X.

Contextualizando: Reportagens publicadas na imprensa brasileira (CNN Brasil, O Globo) informam que, no dia 22 de janeiro, o governo da Venezuela fechou a fronteira com o Brasil, em Pacaraima, em Roraima, para a realização de exercícios militares na chamada operação “Escudo Bolivariano 2025”. Dois dias antes, o site governo venezuelano publicou pronunciamento do ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, sobre a ação. Segundo ele, o exercício militar teve o objetivo de colocar em prática ações que “garantam a defesa militar e a ordem interna do país” e tornem as fronteiras do país “inexpugnáveis em todo o território nacional”.

A medida durou cerca de 12 horas, com a reabertura na manhã seguinte. Ainda no dia 22, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil divulgou nota afirmando que a decisão de fechar a fronteira se deu de forma unilateral pelo governo venezuelano. Ainda segundo o texto, o governo de Nicolás Maduro informou “que o fechamento deve-se a exercícios militares rotineiros e foi feito por medida de segurança”.

Não se trata, portanto, de uma incursão militar para início de um conflito bélico com o Brasil, como sugerem algumas das postagens.

Reportagem da CNN Brasil sobre a reabertura da fronteira, no dia 23, observa que circulam na internet “imagens de viaturas venezuelanas aparentemente cruzando a divisa, entrando em solo brasileiro e retornando logo em seguida”. A descrição coincide com o vídeo analisado neste Contextualizando.

O Comprova buscou contato com o Exército Brasileiro, o Ministério da Defesa, o MRE, a Polícia Militar de Roraima, o Governo do Estado de Roraima, a Prefeitura de Pacaraima e o Consulado da Venezuela no Brasil na tentativa de confirmar se militares venezuelanos ingressaram armados em território brasileiro. O governo de Roraima disse que não se pronunciaria sobre o assunto: “Não compete ao Estado vigiar fronteiras, nem comentar políticas diplomáticas, estratégias, ações de defesa nacional ou afins”, diz trecho da nota enviada ao Comprova. Os demais órgãos não responderam.

Apesar de o Comprova não ter obtido confirmação de nenhum órgão oficial sobre a presença de militares da Venezuela armados no lado brasileiro da fronteira, o site Roraima em Rede afirma que as tropas do país adentraram “alguns metros” no território do Brasil durante o exercício militar. A matéria reproduz o mesmo vídeo analisado neste Contextualizando.

A comparação entres as imagens do vídeo e da fronteira via Google Maps (abaixo), permite constatar que se trata do mesmo local. Já os veículos que aparecem no vídeo no lado brasileiro da fronteira se assemelham às caminhonetes utilizadas pela Unidade de Reação Rápida (URRA) do exército venezuelano. A unidade participou da manobra, como consta no pronunciamento do ministro da Defesa venezuelano.

| Imagem do vídeo investigado.

| Captura de tela do Google Maps mostra a fronteira entre Brasil e Venezuela em Pacaraima, em Roraima.

Crise diplomática

Na avaliação do advogado Belisário dos Santos Jr., membro da comissão Internacional de Juristas em Genebra, na Suíça, caso os militares venezuelanos tenham de fato ingressado armados em território brasileiro, há uma sinalização, por parte do governo venezuelano, de um interesse em causar um conflito diplomático com o Brasil. “A fronteira física entre dois países é algo ‘sagrado’”, diz Belisário. “Se os militares venezuelanos entraram armados no lado brasileiro, isso é grave, e demonstra um ato de provocação de Nicolás Maduro (presidente da Venezuela) capaz de gerar um conflito diplomático entre os dois países”.

Já sobre a decisão unilateral da Venezuela de fechar a fronteira, para Belisário, embora menos grave, configura uma “ofensa” ao governo brasileiro. O advogado acredita que o episódio não tem potencial para gerar um conflito armado entre os dois países. “Isso me parece mais uma provocação, bem típica do Maduro, mas sem potencial para gerar consequências que extrapolem um conflito diplomático”.

Para a coordenadora do Curso de Relações Internacionais da Universidade Estadual Paulista em Franca (Unesp-Franca), Marilia de Souza Pimenta, o treinamento militar venezuelano não fere a soberania nacional brasileira, mas demonstra, no campo político, o afastamento de relações entre os dois países e a imprevisibilidade do governo de Maduro.

“Na prática, o que estamos vendo é o desmantelamento das relações políticas de proximidade que havia entre os dois países no início dos anos 2000, para relações cada vez mais distantes e difíceis para o cálculo político brasileiro, considerando ao menos dois fatos recentes: a questão da Guiana e as eleições de Maduro, cujas atas e documentos não foram formalmente apresentados, culminando no não reconhecimento de seu resultado pelo Brasil e a não presença de Lula em sua posse”, destaca a professora.

Resposta do governo brasileiro

De acordo com matérias da CNN Brasil e do Globo, publicadas nos dias 23 e 24, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, telefonou para o chanceler da Venezuela, Yván Gil, pedindo explicações sobre o episódio. As informações são de bastidores e não foi possível confirmá-las com as fontes oficiais.

Marilia de Souza Pimenta explica que, quando as relações diplomáticas são boas e estão estáveis, não há treinamento militar em região de fronteira ou bloqueio de passagem sem que haja comunicação prévia entre os países. “Ao contrário, na maioria das vezes, os treinamentos inclusive são feitos em conjunto, e a comunicação é feita via Forças Armadas”, diz a professora de Relações Internacionais, acrescentando que o fechamento de fronteira por decisão unilateral de um país demonstra “que há rusgas no campo político”.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. As postagens acumularam mais de 3,5 milhões de visualizações e 17 mil compartilhamentos no X.

Fontes que consultamos: O Comprova consultou notícias na imprensa e os seguintes órgãos: Exército Brasileiro, o Ministério da Defesa, o Ministério das Relações Exteriores (MRE), a Polícia Militar de Roraima, o governo do estado e a Prefeitura de Pacaraima. Foi feito contato também com o advogado Belisário dos Santos Jr., membro da comissão Internacional de Juristas em Genebra, na Suíça, e a professora Marília Souza Pimenta, coordenadora do Curso de Relações Internacionais da Unesp-Franca.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A Lupa e o Aos Fatos publicaram verificações sobre o exercício militar na fronteira. Em checagens anteriores, O Comprova já mostrou que o Brasil defende solução pacífica entre Venezuela e Guiana em disputa por região petrolífera e que post sobre “fuga de venezuelanos” ao Brasil mostra vídeo de pessoas migrando para o Panamá.

Política

Investigado por: 2025-01-23

Imagem de Trump ao lado de cadeira com nome de Bolsonaro foi criada com IA

  • Falso
Falso
Uma imagem que viralizou do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao lado de uma cadeira vazia com o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro foi criada por inteligência artificial. A reportagem fez uma busca reversa do conteúdo e encontrou um post com a mesma imagem em que aparece a marca d 'água do Grok, ferramenta de inteligência artificial do X.

Conteúdo investigado: Post mostra uma imagem do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sentado ao lado de uma cadeira vazia com o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro. “Trump posa ao lado de cadeira vazia com o nome de Bolsonaro”, diz texto inserido acima da imagem.

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: É falsa a foto de Donald Trump ao lado de uma cadeira vazia com o nome de Bolsonaro. O resultado de uma busca reversa da imagem, que permite encontrar outras imagens semelhantes, trouxe outro post em que é possível ver, no canto inferior direito, a marca d´água do Grok, ferramenta de inteligência artificial do X que cria imagens sintéticas a partir de comandos de usuários.

A mão distorcida do presidente recém-eleito e seu rosto mais redondo e jovem são alguns detalhes que evidenciam que a foto não é real, como é possível ver a seguir:

I Imagem usada no post verificado pela reportagem tem indícios de uso de inteligência artificial e edição que podem ser observados a olho nu. Créditos: Reprodução/Instagram e Divulgação/Casa Branca.

I Post publicado dois dias antes da publicação verificada pelo Comprova e encontrado a partir de busca reversa no Google Imagens; a imagem mostra a marca d´água do Grok. Crédito: Reprodução/Instagram.

Mesmo tendo concluído ser uma imagem gerada por IA, o Comprova fez outras buscas e não há nenhum registro nas redes sociais de Trump, de Bolsonaro ou na imprensa de cena semelhante à do post mentiroso.

A publicação sugere que o registro teria sido feito durante a posse do republicano, já que o ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PL), foi impedido de participar após o Supremo Tribunal Federal (STF) negar devolução do seu passaporte.

A reportagem tentou contatar o autor do post, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. A publicação teve mais de 8 mil visualizações e 16 mil curtidas até 22 de janeiro.

Fontes que consultamos: Buscas reversas no Google Imagens e pesquisas no Google.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A Agência Lupa e a Reuters também concluíram que a imagem é falsa. Ainda sobre Trump, o Comprova já verificou, por exemplo, que perfil de humor engana ao comparar posses de Trump e Lula (PT) usando fotos de outros eventos e que vídeo com dublagem falsa engana ao dizer que Trump enviou mensagem para Bolsonaro.

Política

Investigado por: 2025-01-21

Perfil de humor engana ao comparar posses de Trump e Lula usando fotos de outros eventos

  • Enganoso
Enganoso
Post engana ao comparar a recente posse de Donald Trump com a de Lula, em 2023, sugerindo que, na do brasileiro, houve a exibição de dois homens se beijando. A foto usada na publicação é real, mas anterior ao início do terceiro mandato de Lula. Ela é de janeiro de 2018 e mostra ato de artistas e intelectuais em seu apoio, contra sua condenação no caso do triplex do Guarujá. A imagem de Trump também não é de sua posse, ocorrida nesta segunda-feira (20). O clique é de maio de 2015.

Conteúdo investigado: Post com a legenda “Posse do Trump/Posse do Lula” e duas fotos. A da esquerda mostra Donald Trump e sua mulher, Melania. A da direita, Lula em uma plateia sorrindo ao olhar para dois homens se beijando.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: É enganoso post que, para comparar as posses do norte-americano Donald Trump e do brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, usa uma foto do petista sorrindo ao assistir a um beijo entre dois homens. A imagem é real, mas, como foi possível verificar a partir de uma busca no Google Imagens, é de um evento ocorrido em 18 de janeiro de 2018, e não de janeiro de 2023, quando Lula iniciou seu terceiro mandato, nem nas posses anteriores. Na ocasião da foto, intelectuais e artistas fizeram um ato em São Paulo para apoiar a candidatura de Lula à presidência e contra sua condenação no caso do triplex do Guarujá (SP).

I Captura de tela do site da Folha mostra clique feito pelo fotógrafo Jorge Araujo em ato realizado em apoio a Lula em 2018; foto do mesmo evento foi usada em post enganoso.

A foto usada como sendo da posse de Trump também não é do evento, ocorrido nesta segunda-feira (20) – nem da posse anterior, em 2017. O clique é de maio de 2015 e mostra o republicano com sua mulher, Melania, em uma luta entre os boxeadores Floyd Mayweather Jr. e Manny Pacquiao na MGM Grand Garden Arena, em Las Vegas.

I Captura de tela do site da Getty Images com a foto original que foi usada no post verificado pelo Comprova mostra Trump e Melania em evento em 2015, e não em sua posse.

O post enganoso foi publicado por um perfil que se define como de humor, mas diversos seguidores acreditaram no conteúdo. “Sem comparação” e “que brutal diferença” foram alguns dos comentários deixados. Contatado pela reportagem, o autor do post, que já teve outros conteúdos verificados pelo Comprova, respondeu em tom satírico.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. 

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Este post foi visualizado ao menos 783,1 mil vezes até 21 de janeiro.

Fontes que consultamos: Buscas no Google Imagens e reportagens sobre o ato em apoio a Lula em 2018.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Conteúdos de perfis humorísticos também podem ser verificados pelo Comprova quando há comentários de usuários que demonstram acreditar na veracidade da publicação. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já verificou outros conteúdos envolvendo Trump e Lula, como o post que mentia ao afirmar que o americano teria publicado que não convidaria o brasileiro para sua posse “porque lugar de ladrão é na cadeia” e o que inventava que o republicano teria dito que o petista é o maior presidente do mundo.

Notas da comunidade: Até o momento da publicação, o X não havia acrescentado notas da comunidade ao post verificado. As notas são um instrumento criado pelo X para que usuários da plataforma possam adicionar contexto aos posts de terceiros.

Política

Investigado por: 2024-12-13

Áudio sobre quadro de Lula ser ‘gravíssimo’ é de perfil que posta conteúdos inventados

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso que o estado de saúde do presidente Lula seja gravíssimo, como alega um áudio espalhado nas redes sociais e atribuído a um médico do Hospital Sírio-Libanês. A unidade de saúde informou desconhecer a origem do conteúdo, e o boletim médico mais recente informa que o presidente está lúcido e orientado, alimentando-se normalmente e realizando caminhada pelos corredores do hospital. A Secretaria de Comunicação (Secom) do governo federal informou que Lula tem previsão de alta para o início da próxima semana.

Conteúdo investigado: Áudio em que um homem afirma que o presidente Lula (PT) passou por procedimentos que “não são uma cirurgia simples” e que o estado dele é “gravíssimo”. O autor do conteúdo acrescenta que estão divulgando que o quadro é leve como manobra política, e que não estão falando a verdade. Junto ao post há uma legenda que diz se tratar do áudio de um médico, e o autor questiona: “estão escondendo a verdade de você?”

Onde foi publicado: TikTok, WhatsApp e Instagram.

Conclusão do Comprova: Um post viral engana ao dizer que o estado de saúde do presidente Lula (PT) é “gravíssimo”. O conteúdo traz um áudio em que um homem, que seria um médico do Hospital Sírio-Libanês, onde o petista está internado, faz declarações como “Até quando eu vou ficar falando que está tudo bem com o presidente? Estou cansado de passar vergonha alheia. Eu não tenho nem o que falar pros colegas de profissão” e “Eu não sei a quem interessa ficar passando que o quadro clínico dele é leve”.

A publicação foi feita por um perfil que afirma publicar “fantasias, sátiras, comédia, sem base na realidade”, mas foi compartilhada por diversas outras páginas como se fosse real. Segundo o conteúdo, o autor do áudio é um médico do Sírio, mas, contatado pelo Comprova, o hospital afirmou não ter conhecimento da gravação e enviou os boletins com atualização do quadro de Lula.

Segundo o mais recente deles, da manhã de 13 de dezembro, o presidente “segue lúcido e orientado, alimentou-se normalmente e realizou caminhada pelos corredores”. Ele saiu da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) para cuidados semi-intensivos. Em seu perfil oficial em redes como Instagram e X, Lula publicou vídeo caminhando nos corredores do hospital.

Também ao Comprova, a Secretaria de Comunicação (Secom) do governo federal mencionou o boletim médico e afirmou ser “evidente que o conteúdo é falso”. “A previsão de alta é no início da próxima semana”, disse o órgão.

A pedido da reportagem, o neurocirurgião Wuilker Knoner Campos, presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, analisou o áudio e explicou que vários termos citados na gravação sequer são adotados na neurocirurgia. Conforme o médico, existem duas formas de se fazer qualquer procedimento intracraniano, como drenar um hematoma, por exemplo: a trepanação e a craniotomia.

Na primeira, é feito um pequeno orifício, do tamanho de uma moeda de um real, e para drenar o hematoma é colocado um cateter. Já a craniotomia abre uma uma janela óssea maior, que pode variar do tamanho de uma medalha olímpica à metade do crânio, a depender do tamanho da lesão que precisa ser tratada.

No caso de Lula, segundo os boletins médicos divulgados, foi realizada a trepanação, ou seja, um pequeno orifício para drenar o sangue coagulado que estava aprisionado e comprimindo o cérebro, o que é chamado de hematoma subdural crônico. O médico destaca que essa é uma patologia muito frequente na neurocirurgia e, na maioria das vezes, simples de se resolver.

O presidente ainda foi submetido a outro procedimento, a embolização de uma artéria. De acordo com o neurocirurgião, aqui é feito um cateterismo, via artéria femoral, para depositar uma cola que vai fechar uma artéria. “É uma artéria que fica mais externa no cérebro, na capa do cérebro, e quando você fecha essa artéria, você impede que novos sangramentos aconteçam. Então, foi uma cirurgia preventiva para não ressangrar”, explicou.

Knoner Campos informa que a maior parte dos pacientes que passa por esses procedimentos não chega ao estado grave. “A grande maioria do hematoma subdural crônico, que é o problema do presidente Lula, é de pacientes que revertem o déficit que chegou. Normalmente, há uma paralisia de um lado, uma fraqueza, uma dor de cabeça, uma tontura, uma desorientação, mas quando drena, faz uma trepanação, normalmente no dia seguinte já recupera tudo”, disse.

Ele finaliza dizendo que isso explica porque o presidente já está bem, no quarto e comendo, conforme os boletins médicos divulgados. “É uma minoria que fica grave e não há, necessariamente, sequela. A maioria melhora no pós-operatório de hematoma subdural crônico.”

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Publicado em 11 de dezembro, o post verificado aqui foi visualizado mais de 84,6 mil vezes em dois dias.

Fontes que consultamos: Assessoria de imprensa do Sírio-Libanês, Secom, reportagens sobre a internação de Lula e um neurocirurgião.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A internação de Lula vem gerando uma onda de desinformação nas redes sociais. A Folha publicou, por exemplo, que a “internação de Lula é alvo de desinformadores nas redes sociais”; na mesma linha, o Estadão Verifica afirmou ser falso que o Hospital Sírio-Libanês tenha solicitado certidão de óbito do presidente e o Aos Fatos escreveu que “cirurgia de Lula infla teorias conspiratórias sobre falsa morte”. O Comprova também já investigou post envolvendo a hospitalização e concluiu ser falso que a primeira-dama, Janja, poderia assumir a presidência caso ele seja afastado. Ainda sobre o presidente, o Comprova classificou também como falsos post que afirmava que o governo iria cobrar imposto de donos de pets e conteúdo dizendo que Lula iria reduzir o salário mínimo em 2025.

Política

Investigado por: 2024-12-12

Janja não pode assumir presidência caso Lula seja afastado, ao contrário do que sugere post

  • Falso
Falso
A primeira-dama do Brasil, Rosângela Lula da Silva, mais conhecida como Janja, não pode assumir a presidência da República caso Lula (PT) seja afastado do cargo. A Constituição Federal de 1988 estabelece que o sucessor do chefe do Executivo é o vice-presidente – no caso, Geraldo Alckmin (PSB). Em caso de impedimento do suplente, serão sucessivamente chamados ao exercício da presidência o presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal (STF).

Conteúdo investigado: Publicação com print de post que diz: “Com afastamento de Lula, governo pode abrir exceção e nomear Janja para assumir presidência no lugar de Geraldo Alckmin devido sua capacidade de liderança”. No print, há adição da frase “que p*rra é essa?”. A legenda do conteúdo questiona: “E pode? Isso é legal?? Com a palavra o STE (sic) e o STF”.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Não é verdade que a primeira-dama, Janja, possa substituir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no caso de afastamento dele. Lula atualmente está internado para tratar uma hemorragia intracraniana.

Um post que circula nas redes sociais retirou a desinformação de uma conta no X que imita o jornal Estadão. O próprio perfil se intitula como paródia e afirma que “nada aqui é real” e que “todas as notícias do nosso portal são fictícias”.

Apesar disso, uma outra conta no X compartilhou print da publicação questionando se essa substituição “pode” e se “é legal”. O post recebeu uma nota da comunidade adicionada pelos leitores que afirma que o perfil da captura de tela é de comédia. “A notícia é uma brincadeira”, diz a nota.

Alguns usuários da rede social acreditaram no que diz o conteúdo.”Era só o que está [sic] faltando!!! Até quando vamos ficar parados assistindo esse circo? Tem que dar um basta nessa palhaçada urgente”, comentou um perfil.

Outro usuário respondeu ao post dizendo que “isso é golpe… É inconstitucional… Isso é um deboche com a cara do povo Brasileiro. O governo não tem que abrir exceção, deve cumprir a constituição, o Vice Chuchu tem que assumir…”.

De fato, a Constituição Federal de 1988 impede que a primeira-dama substitua o chefe do Executivo. O artigo 79 estabelece que “substituirá o presidente, no caso de impedimento, e suceder-lhe-á, no de vaga, o vice-presidente”. Numa situação de vacância, portanto, entraria Geraldo Alckmin (PSB), como já registrado ao longo deste mandato.

Já o artigo 80 determina que “em caso de impedimento do presidente e do vice-presidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da presidência o presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal [STF]”.

Ocupam os cargos respectivamente o deputado federal Arthur Lira (PP), o senador Rodrigo Pacheco (PSD) e o ministro Luís Roberto Barroso.

O artigo 81, por sua vez, afirma que, “vagando os cargos de Presidente e vice-presidente da República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga”.

Em resposta ao Comprova, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo federal afirmou que a informação veiculada na publicação é falsa. “A Presidência da República lamenta a disseminação de boatos falsos para fins políticos”, disse a pasta.

O Comprova contatou o autor da postagem falaciosa, mas não houve retorno até a publicação desta checagem.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 12 de dezembro, a publicação alcançou 77,4 mil visualizações.

Fontes que consultamos: Constituição Federal de 1988 e Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal.

Lula está internado após sangramento intracraniano

A peça de desinformação foi publicada em 11 de dezembro, dois dias após a internação de Lula para tratar um sangramento intracraniano. O presidente foi internado e fez uma cirurgia de emergência após sentir fortes dores de cabeça. A hemorragia é decorrente da queda que o mandatário sofreu em casa, em 19 de outubro.

Internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, Lula passou por um procedimento cirúrgico para drenar a hemorragia intracraniana e outro para retirada do dreno. Ele está bem e deve ter alta no começo da próxima semana.

Mesmo internado, Lula não passará, até o momento, o cargo para Alckmin.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O presidente Lula é alvo frequente de desinformação. Recentemente, o Comprova mostrou que um post engana ao relacionar a gestão do petista à distribuição de ossadas que é feita há 14 anos no Ceará. A iniciativa também revelou que é falsa a publicação que afirma que o presidente pretende reduzir o salário mínimo em 2025.