O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
Filtro:

Comprova Explica

Investigado por: 2024-10-21

Entenda o que mudou na Declaração de Nascido Vivo após julgamento do STF

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Comprova Explica
Na quinta-feira (17), o Supremo Tribunal Federal (STF) definiu que a Declaração de Nascido Vivo (DNV) deve passar a apresentar os termos “parturiente/mãe” no lugar de apenas “parturiente”, após o parto de uma criança nascida viva. A medida busca incentivar a inclusão e o englobamento da população transexual – no caso, por exemplo, de homens trans que deem à luz. A decisão também estabelece a mudança do campo “responsável legal” para “responsável legal/pai”. Anteriormente, em 2021, o tribunal já havia trocado o termo “mãe” por “parturiente” para incluir pessoas transexuais e travestis.

Conteúdo analisado: Publicação traz uma captura de tela da reportagem do portal JOTA sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal, com o título “STF decide incluir o termo ‘parturiente’ na Declaração de Nascidos Vivos do SUS” e a linha fina “O termo é considerado mais inclusivo a transexuais e travestis, que podem ou não se considerar ‘mães’ ou ‘pais’”. Na legenda, a autora – que se declara escritora de um livro sobre “ideologia de gênero” em seu perfil – escreveu “E lá vamos nós…”.

Comprova Explica: O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em 17 de outubro, pela substituição de dois termos na Declaração de Nascido Vivo (DNV) por equivalentes mais inclusivos, a fim de englobar a população transexual. Conforme definido de forma unânime pela Corte, o DNV deve passar a apresentar os termos “parturiente/mãe” e “responsável legal/pai” nos lugares de “parturiente” e “responsável legal”, respectivamente.

A mudança foi alvo de indignação por usuários nas redes sociais, que questionaram também o envolvimento do STF na pauta. Por isso, o Comprova explica a seguir o que motivou a mudança e por que o Supremo se envolveu no tema.

O que é o registro de nascidos vivos?

A Declaração de Nascido Vivo, geralmente abreviada como DNV, é o documento padrão utilizado em todo o território nacional que alimenta o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), do Ministério da Saúde. Segundo informações do governo, os dados obtidos a partir da DNV são essenciais para o monitoramento do número de nascidos vivos no Brasil, do pré-natal, da gestação e do parto. Ela também é necessária para que os cartórios emitam a certidão de nascimento.

Parturiente: qual o motivo da mudança?

Conforme divulgado pelo próprio STF, o objetivo é a utilização de termos mais inclusivos que englobem também a população transexual. O tribunal entende que, ao utilizar as expressões “parturiente/mãe” e “responsável legal/pai”, no lugar de um único termo, está contemplando a população trans sem excluir as pessoas que desejam constar como “mãe” e “pai” no documento.

Por que o STF foi envolvido?

O Supremo foi acionado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) por meio de uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) ainda em 2021– a iniciativa que tem como objetivo controlar atos do Poder Público que podem ser contrários à Constituição Federal e ferir direitos considerados fundamentais. A ADPF 787, movida pela legenda, apontava uma omissão da União em assegurar acesso adequado e em condições de igualdade aos serviços de saúde para pessoas transexuais e travestis – à época, a DNV trazia somente o termo “mãe”, mesmo se tivesse sido um homem trans a dar à luz.

Em decisão liminar emitida em julho daquele ano, o relator da ADPF, ministro Gilmar Mendes, determinou que o Ministério da Saúde alterasse o documento para constar a categoria “parturiente”, independentemente dos nomes dos genitores de acordo com sua identidade de gênero. Três anos depois, em julho de 2024, a ação foi julgada procedente, e foi observado que após o ajuizamento da ação, em 2021, o SUS mudou o cadastro do DNV. Por isso, ficou considerado que o STF não precisaria mais voltar à questão.

A decisão deste mês, portanto, vem apenas para conciliar e incluir ambos os termos, além de garantir que, ao se tornar obrigatória, a mudança – já em vigor – não seja desfeita no futuro.

Fontes consultadas: Supremo Tribunal Federal e governo federal.

Por que o Comprova explicou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está gerando muitas dúvidas e desinformação, o Comprova Explica. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: A iniciativa Fato ou Fake, do G1, checou um conteúdo de desinformação sobre o tema e concluiu que é falso que o STF retirou as palavras “pai” e “mãe” das certidões de nascimento. O tribunal, aliás, é alvo frequente de postagens verificadas pelo Comprova. Recentemente, por exemplo, contextualizamos a Operação Shadow, mostrando que não há uma organização criminosa dentro do STF.

Política

Investigado por: 2024-10-18

Lula não disse na ONU que entregaria o Brasil em caso de invasão

  • Enganoso
Enganoso
Vídeo é tirado de contexto para enganar e dar a entender que o presidente Lula falou na Organização das Nações Unidas (ONU) que entregaria o Brasil em caso de uma invasão em um possível cenário de guerra – o que não aconteceu. Publicação utilizou trecho irônico da opinião do analista político Lourival Sant’anna durante o programa CNN Prime Time.

Conteúdo investigado: Postagem utiliza trecho de um programa jornalístico para afirmar que Lula “disse na ONU que se o Brasil for invadido, ele entrega a nação”. A publicação acrescenta que “é o absurdo do absurdo”.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não disse que entregaria a nação se o Brasil fosse invadido, diferentemente do que afirma post no X. Na verdade, a postagem utilizou uma fala irônica do analista político Lourival Sant’anna, da CNN Brasil, para dizer que a fala foi um posicionamento do chefe do Executivo brasileiro .

A edição do programa CNN Prime Time, que foi ao ar em 25 de setembro de 2024, repercutiu a participação de Lula durante uma coletiva de imprensa na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada no dia anterior ao do programa. O trecho analisado por Sant’anna, por sua vez, se refere a comentários feitos por Lula sobre o conflito na Ucrânia. A crítica do analista é à declaração do presidente de que “ele [o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky], se fosse esperto, diria que a solução é diplomática, e não militar”.

Na interpretação do analista, a afirmação seria um “ultraje” à Ucrânia, na medida em que soaria como se Lula sugerisse “abrir mão do território, não defender a soberania do próprio país”. Durante o comentário, Sant’anna ironiza a fala do mandatário brasileiro e afirma sarcasticamente: “Então já sabemos, se o Brasil for invadido, o presidente Lula vai ser esperto e vai entregar o território invadido. É a única conclusão possível”.

Não há registro de Lula falando que entregaria territórios brasileiros em caso de uma invasão. Os participantes do programa também não citam hipótese de uma invasão ao Brasil, tampouco de uma entrega de territórios em tal cenário.

A fala do presidente reproduzida pela CNN pode ser lida abaixo:

“Porque ele tem que defender a soberania e é obrigação. Ele tem que ser contra ocupação territorial e é obrigação dele. O que ele não está conseguindo fazer é a paz. E o que nós estamos propondo não é fazer a paz por eles. O que nós estamos é chamando a atenção para que eles levem em consideração que somente a paz vai garantir que a Ucrânia sobreviva enquanto país soberano e a Rússia sobreviva. Eles não precisam aceitar a proposta da China e do Brasil porque não tem proposta. Tem uma tese de que é importante começar a conversar. Ele, se fosse esperto, ele diria que a solução é diplomática, não é militar. E isso depende de capacidade de sentar e conversar. Ouvir o contrário. E tentar chegar em um acordo para que o povo ucraniano tenha sossego na vida.”

A reportagem tentou contato com o perfil responsável pela publicação da informação falsa, mas o perfil está configurado para não receber mensagens.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até esta quinta-feira (17) o vídeo checado teve 93 mil visualizações.

Fontes que consultamos: Vídeo original da CNN. O material foi localizado após uma pesquisa com palavras-chave para saber a data do discurso de Lula na ONU. A partir disso, foi possível encontrar o vídeo no Youtube.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: As declarações de Lula são constantemente alvo de descontextualização nas redes sociais. Em junho deste ano, o Comprova concluiu que uma publicação distorceu uma fala do governante sobre população carente. No mês seguinte, mostramos ser enganoso um vídeo que tira de contexto a fala dele sobre “universidade ser para ricos”. Em 2022, um vídeo enganava ao distorcer declarações de Lula sobre a Amazônia e sugerir ameaça à soberania do país.

Contextualizando

Investigado por: 2024-10-18

Operação Shadow não mostra que há organização criminosa dentro do STF; entenda

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Contextualizando
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) deflagrou a Operação Shadow para desmantelar uma organização criminosa investigada por tráfico de drogas. Os entorpecentes eram vendidos para colaboradores de órgãos públicos, de acordo com a polícia. Vídeo publicado nas redes sociais utiliza fatos da ação policial para dizer, erroneamente, que há uma organização criminosa dentro do Supremo Tribunal Federal (STF). Os apontamentos não têm fundamento, conforme apuração do Comprova.

Conteúdo analisado: Vídeo utiliza a Operação Shadow, da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), contra uma rede organizada de tráfico de drogas para afirmar que há uma organização criminosa dentro do Supremo Tribunal Federal. Autor da publicação diz que a investigação revela “um dos maiores escândalos que o Brasil já teve” e complementa: “Agora eu entendo porque todo traficante é liberado no STF”.

Onde foi publicado: X.

Contextualizando: No dia 10 de outubro, a Polícia Civil do Distrito Federal deflagrou a Operação Shadow para desarticular uma organização criminosa que vendia drogas para colaboradores e servidores de órgãos públicos. Com base na ação, um vídeo foi publicado nas redes sociais sugerindo que o tribunal teria interesse em ”liberar traficantes” e “legalizar a maconha”. A operação realmente ocorreu e foi desencadeada pela Polícia Civil, no entanto, a publicação descontextualiza a ação policial ao insinuar que as investigações revelaram que dentro do STF existe uma “organização criminosa”.

Na realidade, a operação coordenada pela 5ª Delegacia de Polícia do Distrito Federal prendeu quatro suspeitos de atuarem como fornecedores de drogas e não cita que eles tenham vínculo empregatício ou exerçam algum cargo no STF. Ao todo, foram cumpridos cinco mandados de busca e apreensão em Samambaia e Ceilândia, no Distrito Federal, e Águas Lindas, em Goiânia.

O vídeo também indica Douglas Ramos da Silva, de 36 anos, como funcionário terceirizado do STF e responsável por distribuir os entorpecentes aos servidores de órgãos públicos. De fato, antes da operação ser deflagrada, as investigações o identificaram como envolvido na comercialização ilegal de drogas.

A partir de buscas no Jusbrasil, o Comprova verificou que ele foi preso em setembro de 2023 por tráfico de drogas nas imediações do STF, do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Câmara dos Deputados. Na época, a Suprema Corte enviou uma nota à imprensa informando que Douglas “é funcionário de uma empresa terceirizada que presta serviços de manutenção no STF”.

Douglas atuava como eletricista e recebia as drogas de outros quatro fornecedores, conforme reportagem do G1. A investigação constatou que a rede de distribuição ativa de drogas contava com o uso de WhatsApp para favorecer o comércio ilegal nas proximidades do tribunal. Em setembro deste ano, após a prisão dos outros quatro envolvidos, o STF afirmou em nota publicada no site que “não há registro de envolvimento de nenhum servidor do tribunal na prática de crimes”.

“A investigação da Polícia Civil diz respeito a fornecimento que teria ocorrido em estacionamento próximo ao Supremo Tribunal Federal, mas que não pertence ao Tribunal. A administração do STF já tentou por diversas vezes regularizar e assumir o local para facilitar o controle, mas não houve autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Além disso, não há registro de envolvimento de nenhum servidor do Tribunal na prática de crimes. O STF tem fornecido informações quando consultado pelos investigadores”, diz a nota.

Organização criminosa

O vídeo também aponta que traficantes são sempre liberados pelo STF. Conforme verificado pelo Comprova no Jusbrasil, o habeas corpus foi solicitado pela defesa de Douglas no Superior Tribunal de Justiça (STJ), e concedido. Além disso, a publicação distorce ao dizer que “lá dentro [do STF] existe uma organização criminosa que trafica drogas para servidores desta instituição”.

Isso porque, conforme afirmou o advogado criminal Alexandre Torres, a operação da Polícia Civil do Distrito Federal não evidencia uma organização criminosa por tráfico de drogas dentro do STF. Na verdade, mesmo que servidores tenham comprado entorpecentes, eles estariam na posição de consumidores e não de traficantes, a qual requer um lucro direto ou indireto.

Torres também ressalta que o envolvimento do funcionário terceirizado não se enquadra como um crime contra a administração pública, mas um crime comum de tráfico. “Então, não tem vínculo com a administração pública. Agora, é uma situação de moralidade pública porque o STF é exposto”, diz.

O advogado criminalista Antônio Silvério Neto, sócio fundador do Coura e Silvério Neto Advogados, reforça que a Lei 12.850/13 define o que é organização criminosa no artigo 1º: “considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional”.

“Por exemplo, é possível que haja uma organização criminosa onde quatro pessoas estejam associadas de maneira estruturada, com divisão de tarefas entre elas, como compra, remessa, venda e depósito, para a prática do tráfico de drogas, cuja pena máxima é de 15 anos, como prevê o artigo 33, da Lei 11.343/06”, complementa Silvério.

A reportagem tentou contato com o responsável pela publicação do vídeo, mas o perfil está configurado para não receber mensagens.

Fontes consultadas: Polícia Civil do Distrito Federal; Supremo Tribunal Federal; Jusbrasil; e os advogados Alexandre Torres e Antônio Silvério Neto.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Comprova já verificou vários conteúdos falsos ou enganosos que tentaram mostrar ações inconstitucionais ou ilícitas dos ministros do STF. Por exemplo: carta a ministro do STF foi inventada por comentarista, não escrita por traficante; Bolsonaro não apresentou provas de que ministros do STF receberam propina; Moraes nunca entrou com habeas corpus no STM, desembargador e advogados não acionaram Forças Armadas contra STF; e post com vídeo antigo engana ao sugerir que Barroso oferecia risco a voo.

Política

Investigado por: 2024-10-17

Transplantes com HIV: laboratório não foi contratado pelo governo federal e portarias revogadas não têm relação com testagens

  • Enganoso
Enganoso
Publicação engana ao afirmar que portarias revogadas pelo Ministério da Saúde em setembro de 2023 influenciaram no caso de transplante de órgãos contaminados com o vírus HIV. Outro post mente ao dizer que o governo federal repassou R$ 11 milhões para o laboratório envolvido no caso. Portaria publicada pelo ministério e informações do Portal da Transparência mostram que essas informações não procedem.

Conteúdo investigado: Publicação afirma que o atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) repassou, sem licitação, R$ 11 milhões para o laboratório PCS Lab Saleme, responsável pelo escândalo envolvendo transplantes de órgãos que resultou na contaminação de seis pacientes com o vírus HIV no Rio de Janeiro. Outra postagem, feita pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), diz que a revogação de duas portarias sobre transplantes feita pelo Ministério da Saúde em 2023 permitiu a situação.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Publicações que circulam nas redes sociais compartilham informações enganosas sobre o caso de órgãos transplantados contaminados com HIV no Rio de Janeiro. O laboratório PCS Lab Saleme, que emitiu laudos falsos negativos que resultaram na doação de órgãos infectados, está sob investigação.

Um post, publicado no X pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), reproduz trecho de um vídeo no qual o apresentador cita um médico que estaria atribuindo a responsabilidade sobre o caso ao Ministério da Saúde, devido a uma suposta revogação de duas portarias.

No entanto, conforme informado pela pasta e apurado pelo Comprova, a revogação não tem relação com a testagem dos órgãos, mas sim com questões financeiras. A Portaria GM/MS nº 1.262, de 12 de setembro de 2023, revogou as portarias GM/MS nº 3264/22 e nº 3265/22.

Entre as principais modificações, destacou o Ministério da Saúde ao Comprova, estão o reajuste do valor de incentivo e o monitoramento por parte das centrais estaduais dos indicadores para receber esse valor, uma vez que isso estava sendo feito sem o acompanhamento adequado dos serviços. A Portaria nº 1.262 alterou cinco principais pontos:

  • Mudança de nome do incremento: de Qualidot para Incremento Financeiro para Qualidade do Sistema Nacional de Transplantes;
  • Reforço na participação das Comissões Intergestores Bipartite, para fortalecer a gestão e auxiliar no monitoramento do repasse de incentivos financeiros públicos;
  • A classificação dos serviços de transplantes foi reformulada, a fim de esclarecer melhor os parâmetros;
  • Reajuste dos valores de incrementos, ampliando os recursos destinados a cada nível de classificação em relação às portarias revogadas;
  • Definição de indicadores a serem monitorados pelas centrais estaduais de transplantes como contrapartida dos incrementos, como realização de vistorias técnicas e o acompanhamento da sobrevida dos pacientes.

O Ministério da Saúde também informou que o caso ocorrido no Rio de Janeiro “se trata de um evento isolado cujas providências já estão sendo tomadas pelas autoridades competentes”. A pasta disse ainda que “as interpretações em circulação nas redes sociais sugerindo que revogações de portarias e alterações em normativas contribuíram para o incidente são infundadas e não correspondem à realidade”.

Além disso, o ministério informou que as modificações realizadas reforçam a segurança e eficiência do sistema, sem retrocesso no padrão de controle. O Comprova apurou que o novo texto não cita a fiscalização do transplante de órgãos.

Ao Comprova, a presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), Luciana Haddad, reforçou que a revogação das portarias não têm relação com os casos de infecção pelo vírus HIV. Questionada se a norma culminou na redução de custos que levaria a redução na qualidade do serviço, Luciana explicou que, “pelo contrário, a portaria fez um incremento financeiro”.

“As portarias não têm qualquer relação com os fatos. Elas não tratam de doadores de órgãos, mas sim dos procedimentos de transplante. Elas são muito semelhantes, [a revogação, no entanto,] mudou apenas a forma de avaliar o incremento e aumentou o valor do incremento, mas nada relacionado à doação de órgãos”, frisou.

Outra publicação, também feita no X, diz que o governo federal repassou R$ 11 milhões ao laboratório PCS Lab Saleme sem licitação. Uma busca pelo CNPJ da empresa no Portal da Transparência mostrou, no entanto, que não houve qualquer negociação entre o governo e o laboratório.

O PCS Lab Saleme foi contratado para fazer os exames em doadores de órgãos em 2023 pela Fundação Saúde, entidade pública de personalidade jurídica de direito privado responsável pela gestão da saúde pública do estado. O diretor executivo da entidade desde 2016 é médico ginecologista João Ricardo da Silva Pilotto, que já foi parceiro na vida privada de Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, sócio da PCS Lab Saleme. Matheus foi responsável por assinar o contrato com a Fundação.

A Fundação Saúde está vinculada à Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ). O secretário na época era Doutor Luizinho, hoje deputado federal e líder do PP na Câmara dos Deputados. Doutor Luizinho também é primo do Matheus Sales, sócio da PCS Lab Saleme. O Ministério Público do Rio de Janeiro investiga se há indícios de irregularidades no contrato.

O ex-secretário Doutor Luizinho esteve à frente da pasta entre janeiro e setembro de 2023, tendo como governador do estado Cláudio Castro (PL). Segundo reportagem da Band, o governador defendeu que o ex-secretário de saúde não interferiu na contratação do laboratório.

Contatada pelo Comprova, a secretaria informou que o laboratório foi contratado por licitação pela fundação para atender o programa de transplantes e unidades da rede estadual de saúde.

“O serviço foi suspenso logo após a ciência do caso e o prestador interditado cautelarmente. Neste momento, o PCS Lab está proibido de atuar em todo o território nacional”, afirmou a pasta em nota.

A secretaria informou ainda que o laboratório atendeu, anteriormente, quatro Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e um hospital da rede por meio de contrato emergencial. Nesses casos, portanto, sem licitação. As contratações estão disponíveis no Portal da Transparência do Estado do Rio de Janeiro.

O Comprova procurou os responsáveis pela publicação dos conteúdos, mas não obteve retorno até a publicação desta checagem. 

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 16 de outubro, a publicação feita por Bolsonaro no X alcançou 594,7 mil visualizações. Já a outra publicação analisada teve 138,6 mil visualizações.

Fontes que consultamos: Portal da Transparência do estado do Rio de Janeiro e do governo federal, Secretaria Estadual de Saúde do RJ e Ministério da Saúde.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O tema do transplante de órgãos já foi alvo de checagens anteriores do Comprova. A iniciativa explicou, por exemplo, como funciona a lista de espera por transplante de órgão no Brasil – o que também foi explicado pelo Ministério da Saúde –, e mostrou que um vídeo exagera o tamanho da lista de espera por transplante para enganar sobre Faustão e o SUS.

 

Atualização: Esta verificação foi atualizada em 18 de outubro de 2024 para corrigir uma informação equivocada de que um dos vídeos verificados pelo Comprova teria sido exibido pelo canal Brasil Paralelo. 

Eleições

Investigado por: 2024-10-17

Vídeo de 2022 foi editado para insinuar que Silvio Almeida pede votos para Boulos nas eleições de 2024

  • Falso
Falso
Posts enganam ao editar um vídeo para atrelar o ex-ministro Silvio Almeida, demitido do governo federal após acusações de assédio sexual, à candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) à Prefeitura de São Paulo. Almeida apoiou Boulos em 2022, na eleição para deputado federal, mas as publicações enganosas removeram do vídeo em questão as falas do ex-ministro a respeito daquele pleito, em uma tentativa de fazer o eleitor acreditar que o ex-ministro gravou um vídeo apoiando Boulos em 2024.

Conteúdo investigado: Vídeo em que o ex-ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida presta apoio à candidatura de Guilherme Boulos (PSOL). Um dos posts traz a legenda “Silvio Almeida – ex Min. de Lula e acusado por assédio e importunação sexual (seis mulheres), pede apoio para Guilherme Boulos. ‘Não há nada tão ruim que não possa piorar’”. Outro perfil publicou o conteúdo com a legenda “Guilherme Boulos recebe apoio de Mão Boba. Agora vai!”. Um terceiro perfil compartilhou o mesmo vídeo com a frase “Olha quem tá pedindo voto para o Guilherme Boulos, o taradão do Planalto”.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Vídeo de Silvio Almeida pedindo apoio a Guilherme Boulos enquanto candidato a deputado federal, em 2022, foi editado para alegar apoio do ex-ministro ao psolista nas eleições municipais de 2024. O pleito deste ano não é citado nos conteúdos, mas a publicação próxima à realização do segundo turno pode induzir usuários das redes sociais ao erro.

O vídeo original foi publicado em 31 de agosto de 2022 no canal oficial do YouTube de Boulos. No conteúdo, Almeida diz que “a eleição de Boulos à Câmara dos Deputados é fundamental não apenas para São Paulo, mas para todo o Brasil, contribuindo para um futuro onde novas conquistas possam ser realizadas em prol de uma sociedade mais justa”.

O trecho, assim como os outros que citam a Câmara, o ano e o âmbito federal das eleições de 2022, no entanto, foi suprimido nos posts enganosos. O vídeo original tem 1 minuto e 22 segundos de duração, enquanto a versão enganosa tem 56 segundos. O Comprova listou todas as falas de Almeida que estão no vídeo original e foram retiradas do conteúdo enganoso:

  • “Venho aqui apoiar Guilherme Boulos a deputado federal por São Paulo” (0:00 a 0:05)
  • “Por isso, vai ser essencial que com o presidente Lula na presidência, Guilherme Boulos esteja na Câmara dos Deputados para fazer o bom combate” (0:28 a 0:38)
  • “No próximo ano” (0:59)
  • “No próximo ano, na Câmara dos Deputados” (1:10)

Além disso, no conteúdo investigado, há ao menos três cortes abruptos de edição, mostrando alteração do conteúdo original. A edição também aplicou um zoom na imagem, retirando a legenda do vídeo e marca d’água da campanha de Boulos, com o número de candidato a deputado federal.

O Comprova não encontrou entrevistas ou declarações públicas de Almeida apoiando qualquer candidato a prefeito nas eleições municipais deste ano. Ele comentou o pleito, sem citar especificamente São Paulo, em fevereiro, durante encontro com a ministra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edilene Lôbo, para discutir o combate à violência política nas eleições.

O Comprova contatou os envolvidos na checagem. A assessoria do candidato Guilherme Boulos não quis comentar o caso. Já o ex-ministro Silvio Almeida não respondeu à tentativa de contato até a publicação desta checagem.

O perfil responsável pela publicação e criação do vídeo, como mostra uma marca d’água que reproduz seu nome de usuário, não permite o envio de mensagens. A mesma configuração impediu o contato com outros perfis que publicaram a desinformação.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 17 de outubro, o primeiro perfil que publicou o vídeo enganoso alcançou 27,1 mil visualizações na publicação do conteúdo. Os outros dois perfis que compartilharam a desinformação tiveram 229,2 mil e 222,7 mil visualizações, respectivamente.

Fontes que consultamos: Vídeo original na íntegra e reportagens sobre Almeida e as eleições.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A participação de Boulos na disputa pela Prefeitura de São Paulo é alvo frequente de desinformação. O Comprova já mostrou, por exemplo, que é falso que a candidatura dele foi cassada e Marçal (PRTB) está no segundo turno contra Ricardo Nunes (MDB). A iniciativa também concluiu que o psolista não ultrapassou Marçal na mesma hora em que Dilma e Lula dispararam contra adversários em 2014 e 2022, o que indicaria uma fraude nas eleições.

Comprova Explica

Investigado por: 2024-10-17

Entenda o papel da Enel e de cada ente da Federação na crise de energia em SP

  • Comprova Explica
Comprova Explica
Após o apagão que atingiu a Grande São Paulo no dia 11 de outubro, foram levantadas discussões sobre a responsabilidade do poder público – federal, estadual e municipal – e da empresa responsável por fornecer o serviço na prevenção e na resolução de problemas do tipo. Nesta edição do Comprova Explica, apresentamos os principais órgãos federais, estaduais e municipais do setor de energia e as funções desempenhadas por cada um deles.

Conteúdo analisado: Posts, incluindo publicação de um vereador paulistano, que afirmam que o apagão teria sido proposital, a fim de alavancar a campanha de Guilherme Boulos (PSOL) nas eleições municipais. Posteriormente, o assunto ganhou alcance e chegou a ser tema de discussão no primeiro debate do segundo turno entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, Boulos e Ricardo Nunes (MDB).

Comprova Explica: O apagão ocorrido na Grande São Paulo no dia 11 de outubro foi ocasionado por um forte temporal, e chegou a atingir 3,1 milhões de imóveis na região metropolitana da capital, segundo a Enel. Além disso, de acordo com a Defesa Civil do Estado, sete mortes foram registradas.

A situação, que já durava mais de 120 horas no momento da publicação desta reportagem, ainda sem uma previsão de restabelecimento completo do serviço – 36 mil pessoas ainda seguiam sem energia, nesta quinta-feira (17) –, trouxe à tona questionamentos sobre a responsabilidade do poder público e da Enel, empresa privada responsável pela distribuição de eletricidade em São Paulo, principalmente após a empresa, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), trocarem acusações sobre a culpa pela crise.

A seguir, a seção Comprova Explica traz o papel de cada ente da federação.

Quem é responsável pelo apagão e qual a responsabilidade dos governos?

Enel

É a principal distribuidora de eletricidade de São Paulo, com 37% de todos os clientes paulistas, segundo dados de 2021. A maior parte dos consumidores atingidos – 3,1 milhões, mais do que os 2,1 milhões informados inicialmente – está em área sob concessão da Enel. Portanto, a empresa tem responsabilidade direta pela falta de luz.

No entanto, no contrato de prestação de serviço público de distribuição de energia elétrica da Enel, que é público, não está previsto prazo para restabelecimento do serviço em caso de um evento climático que provoque a falta de luz. No documento, só constam tais prazos para casos de suspensão por falta de pagamento, que são de 6 horas no meio urbano e 24 horas no meio rural.

Governo federal

A Enel é regulada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), instituição federal responsável por fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica no país. Seu atual diretor-geral é Sandoval de Araújo Feitosa Neto, indicado por Jair Bolsonaro (PL) em abril de 2022, ainda durante a gestão do ex-presidente.

Nos últimos dias, o órgão tem sido alvo de discussão e até de reclamações do prefeito Ricardo Nunes, que alega que a responsabilidade seria da esfera federal, não municipal. A mobilização foi tamanha que a ANEEL emitiu uma nota à imprensa, em que reforçou o papel que cumpre e repudiou “qualquer tentativa de intervenção ou tutela indevida”.

Além da ANEEL, o setor elétrico brasileiro é composto, a nível federal, por seis outras instituições, com papéis principalmente de planejamento e monitoramento. São elas, por ordem de hierarquia:

  • Ministério de Minas e Energia (MME): responsável pela condução das políticas energéticas do Brasil.
  • Conselho Nacional de Política Energética (CNPE): órgão interministerial que assessora o presidente da República; suas principais atribuições são a formulação de políticas e diretrizes de energia que assegurem o suprimento a todas as áreas do país.
  • Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE): acompanha e avalia a continuidade e a segurança do suprimento elétrico em todo o território nacional; é composto tanto pelo MME quanto pelas instituições seguintes.
  • Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE): reúne empresas e instituições que viabilizam operações de compra e venda de energia em todo o Brasil.
  • Empresa de Pesquisa Energética (EPE): realiza estudos e pesquisas com o objetivo de subsidiar o planejamento do setor energético.
  • Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS): opera, supervisiona e controla a geração de energia elétrica no Sistema Integrado Nacional (SIN), além de administrar a rede básica de transmissão de energia elétrica no país.

Na quarta-feira (16), a Controladoria-Geral da União (CGU) abriu uma investigação para apurar irregularidades envolvendo dirigentes da ANEEL. A ação é em resposta a denúncias encaminhadas pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

Governo estadual

O governo paulista também tem uma agência reguladora estadual. É a Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp), que fiscaliza todas as concessionárias do estado. A agência cita, entre as próprias competências:

  • Estabelecer normas e padrões para otimizar a prestação dos serviços;
  • Fazer com que sejam cumpridas as regras estabelecidas em contratos e regulamentos, bem como aplicar penalidades quando necessário;
  • Assegurar o equilíbrio econômico-financeiro e o efetivo cumprimento dos contratos de concessão.

Ou seja, embora não possa solucionar o problema de energia, a Arsesp cumpre um papel voltado principalmente ao aspecto de cobrar a Enel.

Governo municipal

O papel de uma prefeitura é basicamente o de realizar ações preventivas – por exemplo, a poda e o manejo das árvores. No primeiro semestre deste ano, dados da Prefeitura de São Paulo apresentados pelo g1 em um infográfico interativo mostram que há mais de 13 mil pedidos de poda em aberto na cidade. A queda de árvores foi uma das razões que levaram ao apagão na capital paulista.

Vale notar que, em 2020, a Prefeitura de São Paulo firmou um convênio com a Enel para que a empresa fizesse a poda de árvores próximas ou em contato com a rede de energia elétrica – outra justificativa que tem sido apresentada por Nunes para eximir a prefeitura de responsabilidade na gravidade do blecaute.

Também conforme reportagem do g1, a Enel executou menos de 1% das podas de árvores em contato com a fiação elétrica em 2024 na cidade de São Paulo.

Na Resolução Normativa ANEEL n° 1.000/2021 é citado, ainda, que são de responsabilidade do poder público municipal: a elaboração do projeto, a implantação, expansão, operação e manutenção das instalações de iluminação pública.

O Comprova procurou o Ministério de Minas e Energia e a Enel, mas não houve retorno.

Fontes consultadas: Contrato de prestação de serviço da Enel; ANEEL, do governo federal; Arsesp, do governo do Estado e reportagens sobre o tema.

Por que o Comprova explicou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está gerando muitas dúvidas e desinformação, o Comprova Explica. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Comprova realizou outras verificações sobre blecautes no país, como quando concluiu que uma postagem enganava ao relacionar apagão em 25 estados brasileiros e no DF a decreto para compra de energia na Venezuela, em 2023. Próximo ao período eleitoral do ano anterior, o tema sobre queda de energia foi usado para falsas alegações de que as Forças Armadas haviam descoberto fraudes decorrentes de apagões nas eleições de 2014 e 2018. Ainda em 2022, ano da Copa do Mundo de Futebol, o Comprova mostrou que um conteúdo afirmava, de forma satírica, que Richarlison havia protestado contra falta de eletricidade no Amapá poucas horas antes de o Brasil entrar em campo contra o Uruguai.

Saúde

Investigado por: 2024-10-16

É falso que Aedes aegypti tenha tido “agulha” geneticamente modificada para não perfurar pele

  • Falso
Falso
Não é verdade que o Aedes aegypti tenha sido geneticamente modificado para não conseguir perfurar a pele de humanos e, assim, transmitir dengue, diferentemente do que afirma publicação. Especialistas ouvidos pelo Comprova afirmam que desconhecem a existência de estudos para amolecer a estrutura da probóscide, o aparelho perfurante do mosquito usado para sugar sangue de suas presas.

Conteúdo investigado: Vídeo mostra um mosquito tentando, sem sucesso, picar a mão de uma pessoa. A legenda afirma que “mosquita da dengue geneticamente modificada para que sua ‘agulha’ não consiga perfurar a pele” e que “é massa demais viver no futuro”.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Não há notícia ou evidência de modificação genética ou de experimentos para enfraquecer a probóscide, aparelho usado pelo mosquito Aedes aegypti para perfurar a pele e sugar o sangue. Dois professores universitários consultados pelo Comprova afirmaram que a postagem analisada é falsa.

O professor do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Marcelo Teixeira Tavares analisou o vídeo compartilhado a pedido do Comprova e concluiu que o conteúdo é falso.

Marcelo, que leciona disciplinas de zoologia e entomologia e é o curador da Coleção Entomológica da Ufes, afirmou que o que acontece com o mosquito mostrado no vídeo pode ser motivado por outros fatores.

“Não tem esse tipo de trabalho sendo realizado para amolecer a probóscide, que é essa estrutura que a fêmea do pernilongo pica a gente. Isso [o mosquito que não consegue picar] é outro evento. Às vezes, a pele da pessoa está muito grossa ou o mosquito não está com o exoesqueleto todo muito bem formado e não está conseguindo ainda picar. Podem acontecer coisas desse tipo, mas não é o caso de modificação genética”, explicou, descartando a ideia do autor da postagem.

O professor destacou também que existem pesquisas e experiências que utilizam o termo modificação genética para outros fins, mas não para interferir na probóscide.

“Existem trabalhos que são entendidos como modificação genética. Neste caso, são criados machos que já têm inoculado neles uma bactéria e quando são liberados na natureza copulam com as fêmeas, passando a bactéria. A partir disso, a fêmea passa para a cria. De tal maneira que isso ajuda a reduzir a população de mosquitos. Têm sido feitos testes para isso”, exemplificou.

“Outra maneira de modificar também é tornar os machos meio estéreis, numa condição que a prole também não vai para frente. Nesse caso existe sim uma condição de uma modificação genética, mas não há nada com relação ao aparelho picador”, acrescentou.

Uma iniciativa que utilizou um método semelhante citado pelo professor foi testada em 2010 no Caribe. No Brasil, também há projetos que utilizaram a modificação genética, a exemplo da Santa Casa de Porto Alegre (RS) e do “Aedes do Bem”, em Campinas (SP). Nessas iniciativas, a modificação é feita para que as fêmeas não sobrevivam e apenas os descendentes machos, que não picam e não transmitem dengue, cheguem à fase adulta. O resultado observado pelas iniciativas é a queda do número de fêmeas e, consequentemente, o controle populacional do Aedes.

Consultado pelo Comprova, o professor do departamento de Biologia Geral da Universidade Federal de Viçosa (UFV) Gustavo Martins apontou que o mosquito mostrado no vídeo é um Aedes albopictus e não o Aedes aegypti. A diferença entre os tipos é possível ser identificada devido à linha branco-prateada visível na cabeça do mosquito e que continua na dorsal do tórax do inseto.

“O mosquito mostrado na imagem parece estar fraco ou machucado, por isso não consegue perfurar a pele. Por isso, a afirmação de que se trata de uma linhagem modificada do Aedes aegypti não procede”, informou.

De acordo com o Instituto Butantan, o Aedes albopictus também carrega a característica de pernas listradas, mas não é considerado um vetor da dengue no Brasil, sendo comum no Sudeste Asiático, onde é o principal transmissor da doença.

A reportagem tentou contato com o responsável pela publicação, mas o perfil está configurado para não receber mensagens. A página posta assuntos variados e, no caso do vídeo do mosquito, a publicação não menciona fonte e nem é possível identificar onde foi gravado o vídeo.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 16 de outubro, a publicação teve 3,5 milhões de visualizações.

Fontes que consultamos: Professor Marcelo Teixeira Tavares, do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), professor Gustavo Martins, do departamento de Biologia Geral da Universidade Federal de Viçosa (UFV), site do Instituto Butantan e matéria do g1 sobre iniciativas de modificação genética de mosquitos vetores da dengue.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já checou outras peças de desinformação relacionadas à dengue e explicou como funciona o “Aedes do Bem”. A iniciativa também concluiu que um surto da doença não teve relação com programa de mosquitos financiado por Bill Gates.

Eleições

Investigado por: 2024-10-15

Alexandre de Moraes não é mais do TSE e não trocou urnas; vídeo mostra ministro votando em SP

  • Falso
Falso
É mentirosa a afirmação de que o ministro Alexandre de Moraes ordenou a troca de 48 urnas eletrônicas na cidade de São Paulo de última hora para prejudicar Pablo Marçal (PRTB) e favorecer Guilherme Boulos (PSOL) durante votação do primeiro turno das eleições municipais de 2024. Além de não haver nenhuma evidência disso, o magistrado deixou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em maio e não tem mais nenhuma ligação com a Corte. O post mentiroso usa vídeo de Moraes indo votar neste ano, em uma escola em São Paulo.

Conteúdo investigado: Um vídeo mostra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), votando. A legenda da postagem afirma que ele teria ordenado a troca de urnas na cidade de São Paulo para favorecer o candidato Guilherme Boulos em detrimento de Pablo Marçal.

Onde foi publicado: Telegram.

Conclusão do Comprova: É falso que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, tenha autorizado a troca de 48 urnas eletrônicas de última hora “para prejudicar Marçal e favorecer Boulos”, como aponta a legenda de um vídeo que mostra a chegada do magistrado para votar em São Paulo. Apesar de as imagens serem verdadeiras, conforme registrou o site Metrópoles, a legenda do conteúdo mente ao fazer tal afirmação. Moraes, que assumiu a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em agosto de 2022, deixou a Corte em maio deste ano. Ele não tem, portanto, nenhuma ligação com a Justiça Eleitoral e não há qualquer evidência de que ele tenha ordenado a troca de aparelhos. A ministra Cármen Lúcia é a atual presidente da Corte eleitoral.

De acordo com o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), durante o primeiro turno das eleições de 2024, 160 urnas foram substituídas na capital paulista – o equivalente a 0,6% do total de 26.553 urnas do Estado – depois que foram identificados problemas técnicos. Segundo o TRE-SP, as trocas foram autorizadas e realizadas pelo cartório eleitoral responsável pela seção onde as máquinas apresentaram defeito.

“A troca é realizada quando é detectado defeito na urna utilizada na seção eleitoral. Caso outros procedimentos não sejam suficientes para que a máquina volte a funcionar, ela é substituída por uma urna de contingência, que já foi previamente preparada pelo cartório eleitoral e, ao ser ligada, grava os dados da votação contidos no cartão de memória da urna substituída”, afirmou o TRE em nota enviada ao Comprova.

Desta maneira, informou o tribunal, “os votos dos eleitores que já haviam votado na urna com defeito são recuperados com total segurança, podendo-se dar continuidade ao pleito”. Os procedimentos a que se refere o TRE-SP estão determinados na Resolução nº 23.736, de fevereiro deste ano, do TSE. Ainda segundo o TRE, “todo procedimento relativo à substituição de urna é relatado pelo presidente da seção eleitoral em ata que será remetida à junta apuradora ao final da votação”.

Em seu site, o TSE aponta que as urnas utilizam tecnologias de criptografia, assinatura digital e resumo digital. Isso serve para garantir que apenas o software desenvolvido pelo TSE – gerado durante a Cerimônia de Lacração dos Sistemas Eleitorais – pode ser executado nos aparelhos certificados pela Justiça Eleitoral. Qualquer tentativa de mudança no sistema bloqueia o funcionamento da urna.

O vídeo que circula no Telegram mostra a chegada de Alexandre de Moraes à votação e foi publicado originalmente pelo portal Metrópoles. No post que traz falsas informações, a legenda “Sem falar com a imprensa, Moraes vota em São Paulo” foi encoberta pelo texto mentiroso dizendo que o ministro autorizou a substituição das urnas para prejudicar Marçal e beneficiar Boulos. De acordo com o portal, o magistrado votou no final da manhã do domingo (6) em uma escola do Jardim Europa, na zona oeste de São Paulo. Em nenhum momento o veículo de comunicação mencionou a informação falsa que está sendo compartilhada.

Na corrida pela Prefeitura de São Paulo nas eleições de 2024, Boulos e Ricardo Nunes (MDB) levaram a melhor. Com 29,07% dos votos da capital, o psolista segue para o segundo turno com o emedebista, que teve 29,48% dos votos. Apesar do resultado apertado, Pablo Marçal, que atingiu 28,14% dos votos, ficou em terceiro lugar e deixou a corrida eleitoral no primeiro turno.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O conteúdo compartilhado em um canal do Telegram chegou à marca de 3 mil visualizações na terça-feira (15). O Comprova não conseguiu contatar o autor da publicação no Telegram, já que não havia espaço para o envio de mensagens.

Fontes que consultamos: Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo e reportagem do Metrópoles.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O UOL e Aos Fatos também verificaram o conteúdo. As eleições são frequentemente alvo de desinformação. O Comprova, por exemplo, verificou que Boulos não ultrapassou Marçal na mesma hora em que Dilma e Lula dispararam contra adversários em 2014 e 2022. O projeto também checou uma publicação que enganou o leitor com a falsa informação de que Lula passou de 35,80% para 46% em um minuto durante a contagem dos votos das eleições presidenciais em 2022.

Contextualizando

Investigado por: 2024-10-15

Comlurb participa de distribuição de urnas no Rio de Janeiro desde 1996

  • Contextualizando
Contextualizando
A Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), da cidade do Rio de Janeiro, participa da distribuição das urnas eletrônicas desde 1996, quando foi firmado convênio com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ). Um vídeo compartilhado mostra o trabalho dos garis e tenta pôr em dúvida o processo eleitoral. Não há, porém, qualquer comprovação de que o transporte feito pela Comlurb tenha relação com algum tipo de fraude.

Conteúdo analisado: Vídeo mostra trabalhadores da Comlurb envolvidos no transporte de urnas eletrônicas em um galpão no Rio de Janeiro. A legenda do post diz: “que eu saiba é trabalho para funcionários designados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e não à prefeitura. Não digo que houve fraude, mas é sem dúvidas extremamente suspeito!”. De forma irônica, um homem diz no vídeo que “o processo é realmente legítimo e legal”.

Onde foi publicado: X e YouTube.

Contextualizando: Desde 2018, durante períodos de eleição, circulam conteúdos enganosos que relacionam a participação da Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro (Comlurb) no transporte de urnas eletrônicas a supostos casos de fraude eleitoral. Em 2024, este tipo de conteúdo voltou a ser compartilhado, mas não há nenhuma comprovação de fraude nas urnas eletrônicas, seja relacionada ao trabalho dos garis no transporte dos equipamentos de votação ou não (entenda o porquê mais abaixo).

Tem circulado na internet um vídeo publicado nos dias 8, 9 e 10 de outubro deste ano por diferentes perfis em diferentes redes, após o primeiro turno das eleições municipais de 2024. As imagens mostram trabalhadores da Comlurb transportando urnas no Rio de Janeiro. Os autores questionam o trabalho conjunto da prefeitura da cidade com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com a insinuação de que o fato seria motivo para duvidar do processo eleitoral.

A participação do órgão municipal na logística de distribuição das urnas se dá, no entanto, há 28 anos, por meio de uma parceria firmada entre a Comlurb e o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), como explicou o órgão por meio de nota enviada ao Comprova.

“O órgão municipal é parceiro do TRE-RJ, por meio de um convênio, para distribuição de urnas eletrônicas. Uma parceria que vem desde as eleições de 1996. “Neste primeiro turno, mais de mil profissionais da empresa atuaram na distribuição dos equipamentos e atuam acompanhados por servidores da Justiça Eleitoral e por policiais militares”, informou o Tribunal, acrescentando que tem conhecimento das informações falsas e desinformação desde 2018.

O ano de 1996 também foi o ano em que as urnas eletrônicas foram implementadas pela primeira vez no processo eleitoral brasileiro. De acordo com o site do TSE, um terço do eleitorado da época teve o voto para as eleições municipais registrado nas urnas.

A Comlurb reforçou, também por meio de nota, que “o trabalho é feito em todos os pleitos, a pedido da Justiça Eleitoral e com base em termo de cooperação assinado com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE)”. O órgão municipal de limpeza ainda confirmou que “todo o serviço é realizado sob orientação de técnicos da Justiça Eleitoral e agentes da Polícia Militar”.

Segundo a companhia, mais de 3 mil garis e 200 agentes de limpeza participaram do transporte das urnas no Rio de Janeiro, que ocorreu nos dias 5 e 6 de outubro. O órgão não soube informar onde o vídeo divulgado nas redes sociais foi gravado.

O TSE afirma ser impossível fraudar as máquinas de votação. Especialistas ouvidos pelo Comprova em outra checagem garantem que as urnas possuem ferramentas seguras e eficazes contra fraudes.

Antes de serem usadas no dia das eleições, as urnas passam por um processo de lacração. Os lacres são produzidos pela Casa da Moeda e garantem que o equipamento não passou por uma tentativa de violação. Os equipamentos também têm um sistema eletrônico que impede o funcionamento fora do horário das eleições.

Na data do pleito, a máquina é ligada na presença de mesários e de fiscais de partidos políticos. Antes de abrir a votação, eles imprimem um documento chamado zerésima, que atesta que não há nenhum voto registrado no aparelho.

A Justiça Eleitoral informa que o programa usado nas urnas tem mais de 30 camadas de segurança; o código-fonte pode ser inspecionado por entidades fiscalizadoras como o Ministério Público, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e universidades. Todos esses processos são realizados para garantir a segurança do voto.

Fontes consultadas: Comlurb, TRE-RJ, além de veículos de notícia e sites institucionais que desmentiram o mesmo tipo de conteúdo em períodos eleitorais passados.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: Em 2022, o G1 checou um vídeo que mostrava os garis no trabalho de distribuição das urnas com a utilização de ônibus escolar e explicou que a ação é normal. O Comprova já checou conteúdos que tentam colocar em dúvida o processo eleitoral, a exemplo de uma publicação que dizia que havia dispositivo em urna capaz de alterar o resultado.

Política

Investigado por: 2024-10-14

Lula não é réu em tribunal internacional; post usa áudio fora de contexto

  • Falso
Falso
Vídeo mente ao afirmar em legenda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) será julgado por um “Superior Tribunal Internacional”. Não existe corte com esse nome e não há registros de que Lula seja réu em julgamento fora do Brasil.

Conteúdo investigado: Vídeo utiliza fotos de Lula e da comentarista Ana Paula Henkel com a legenda “Lula será julgado pelo Supremo Tribunal Internacional”. Um áudio da colunista também foi utilizado. “Agora tem a obrigação de apresentar provas de que o Judiciário [brasileiro] estava sob comando do Departamento de Justiça dos Estados Unidos”, diz trecho do áudio.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É falso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) será julgado pelo “Superior Tribunal Internacional”. Não há corte com este nome. O que existe é o Tribunal Penal Internacional (TPI), mas não há registro no site oficial do órgão de que o mandatário seja réu em algum processo. A corte possui uma lista pública com os 64 atuais réus, e o presidente brasileiro não é mencionado.

O áudio utilizado pelo vídeo checado pelo Comprova é um trecho da participação da comentarista Ana Paula Henkel no programa Oeste sem Filtro, da revista Oeste. No vídeo completo, a colunista critica Lula por ele ter dito, no dia 18 de janeiro de 2024, que o judiciário brasileiro “estava sob comando do Departamento de Justiça dos EUA”. O chefe do Executivo federal criticava o processo de julgamento da Operação Lava Jato. Diante disso, Ana Paula questionou se o presidente seria incluído no Inquérito das Fake News, caso não apresentasse provas do que disse em relação à Lava Jato.

No programa, veiculado no dia seguinte (19), Ana Paula falou que a declaração de Lula, feita durante uma visita à refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, foi uma acusação “gravíssima” e alertou que “isso pode causar um incidente diplomático gravíssimo”. A comentarista também indagou se as autoridades brasileiras, como o Supremo Tribunal Federal (STF), iriam questionar a acusação feita por ele.

Esse trecho da opinião da colunista foi reproduzido no vídeo com a informação falsa. No entanto, em nenhum momento ela menciona o suposto “Superior Tribunal Internacional” ou que o presidente seria investigado e julgado.

A crítica dela ao presidente foi sobre ele ter dito, em Pernambuco, que “tudo o que aconteceu” com a Lava Jato foi uma “mancomunação entre alguns juízes e procuradores desse país, subordinados ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos”. Segundo o presidente, os EUA “nunca aceitaram o Brasil ter uma empresa como a Petrobras”.

O Comprova tentou contato com o perfil que publicou o vídeo no TikTok, mas não teve retorno até a publicação deste texto.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

O que é o Tribunal Penal Internacional

O TPI, criado pelo Estatuto de Roma, é um organismo internacional permanente, com jurisdição para investigar e julgar indivíduos acusados de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crime de agressão. O tribunal emitiu, por exemplo, um mandado de prisão contra o presidente da Rússia, Vladimir Putin, por crimes de guerra, deportação ilegal de população e transferência ilegal de crianças da Ucrânia para a Rússia.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 14 de outubro, a publicação no TikTok já tinha alcançado 1,2 milhão de visualizações.

Fontes que consultamos: Buscador de pesquisa do Google, do Tribunal Penal Internacional, vídeo completo do comentário de Ana Paula Henkel, no programa Oeste Sem Filtro, e o discurso de Lula, disponíveis no YouTube.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Em janeiro deste ano, a Reuters verificou um conteúdo que circulou no Instagram e constatou que era falsa a alegação de que Lula seria julgado por um “Supremo Tribunal Internacional”. O Comprova já checou que um vereador alegou, de forma enganosa, que todos os juízes que condenaram o presidente foram afastados de seus cargos. Sobre o TPI, o projeto contextualizou que a prisão de Putin em possível vinda ao Brasil depende do Judiciário e não de Lula.