O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Eleições

Investigado por: 2025-02-14

É falso que Agência Lupa foi financiada pela USAID para interferir nas eleições de 2022

  • Falso
Falso
Não há provas de que a Agência Lupa, iniciativa dedicada à checagem de fatos, esteja “envolvida em ações patrocinadas pela USAID", como afirmou no Instagram uma vereadora de Porto Alegre. No portal que registra os financiamentos externos da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) não consta nenhum repasse à Lupa nos anos de 2022, 2023 e 2024.

Conteúdo investigado: Vídeo da vereadora de Porto Alegre Fernanda Barth (PL) afirma que a Agência Lupa estava envolvida em campanhas de financiamento da USAID contra a desinformação em período eleitoral com o objetivo de “calar tudo aquilo que eles não concordam”.

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: Não existem provas de que a Agência Lupa tenha sido financiada pela Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (USAID), como argumenta Fernanda Barth (PL), vereadora em Porto Alegre. Em um post, ela afirmou que a “Agência Lupa é uma das que encontramos envolvidas em ações patrocinadas pela USAID”, mas não apresentou provas.

As alegações de Barth repercutem declarações de Mike Benz, ex-funcionário do departamento de Estado dos EUA, de que a USAID financiou iniciativas de combate à desinformação globalmente com o intuito de conter governos populistas de direita. Benz afirmou que, no Brasil, caso a USAID não existisse, Bolsonaro teria sido eleito presidente em 2022. Ele não apresentou provas que sustentem suas alegações.

Os dados sobre os programas de financiamento da USAID estão disponíveis para consulta na internet no portal ForeignAssistance.gov, do governo norte-americano. O Comprova consultou os valores relacionados ao Brasil nos anos de 2022, 2023 e 2024. Não há qualquer financiamento para a Agência Lupa, agências de checagens ou veículos jornalísticos. Ao Comprova, a Lupa negou ter recebido fundos direta ou indiretamente da USAID.

Procurada, Fernanda Barth negou, por meio de seu advogado, ter partido dela a afirmação de que a Agência Lupa recebeu qualquer valor diretamente da USAID. Segundo ela, a “manifestação se baseia em informações públicas e declarações de parlamentares que já alertaram sobre a atuação da USAID no financiamento de projetos alinhados a determinadas agendas políticas.”

O Comprova informou à vereadora não ter encontrado no site ForeignAssistance.gov nenhuma menção à Lupa. Em resposta, Barth disse que a afirmação categórica de que a Agência Lupa não recebeu recursos da USAID sem que tenha sido realizada uma auditoria externa e isenta de suas contas, configura “uma publicação sem provas concretas”. Ela acrescentou que “a mera negativa por parte das instituições não comprova que esses recursos nunca foram recebidos direta ou indiretamente”.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 14, o vídeo da vereadora havia alcançado mais de 2,5 mil curtidas no Instagram. 

Fontes que consultamos: O Comprova assistiu à entrevista de Mike Benz, consultou suas redes sociais e reportagens da imprensa brasileira e internacional que repercutiram suas alegações. Foram feitas consultas ao portal que registra os financiamentos da USAID e ao site do ICFJ e Agência Lupa. A reportagem fez contato com a Lupa, o ICFJ, a vereadora Fernanda Barth e o deputado Eduardo Bolsonaro.

O ICFJ e o papel de Eduardo Bolsonaro

A suposta ligação entre a USAID e a Agência Lupa foi citada em um post publicado no X pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em 4 de fevereiro, três dias antes da publicação de Fernanda Barth. A postagem de Eduardo Bolsonaro alcançou mais de 435 mil visualizações e oito mil compartilhamentos.

No post, ele afirma, sem provas, que a USAID “tem financiado ONGs, veículos de mídia e movimentos políticos com o objetivo de moldar narrativas e interferir na democracia brasileira.” Eduardo Bolsonaro também afirma que o Centro Internacional para Jornalistas, uma organização sem fins lucrativos baseada em Washington e conhecida pela sigla em inglês ICFJ, intermediou recursos da USAID para a Lupa “sustentar a narrativa oficial sobre os eventos de 8 de janeiro de 2023”. Não constam na postagem evidências dessa acusação.

Em 2023, um projeto da Agência Lupa chamado “Lupa nos Golpistas” esteve entre os nove selecionados para uma iniciativa do ICFJ chamada Jogo Limpo 2.0. A iniciativa ofereceu financiamento e mentorias e, como consta no site do ICFJ, foi integralmente financiado pelo YouTube Brasil e não pela USAID.

O projeto se dedicou a mapear publicações falsas que levaram cidadãos brasileiros a participar dos atos antidemocráticos em Brasília em 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes pró-Bolsonaro depredaram a sede dos Três Poderes.

O projeto “Lupa nos Golpistas” resultou em um minidocumentário que, segundo consta no site da Agência Lupa, foi realizado com apoio da Fundação Heinrich Böl, uma organização sem fins lucrativos baseada na Alemanha, e do programa Jogo Limpo 2.0, do ICFJ. Procurada, a Fundação Heinrich Böll afirmou que “não recebe nenhum recurso da USAID e também não funciona como intermediária de repasse para nenhum de seus parceiros”.

O Comprova informou a Fernanda Barth que a Agência Lupa negou, em nota, ter recebido financiamento direto da USAID ou via ICFJ. Em resposta, a vereadora afirmou que “a existência do ICFJ é financiada pela USAID” e que “é inegável que há um fluxo financeiro entre a USAID e o ICFJ”.

Como afirmou Fernanda Barth ao Comprova, o nome da USAID de fato consta na página “Amigos e Apoiadores 2024” no site do ICFJ. Ele aparece ao lado de mais de 50 entidades públicas e privadas, incluindo outras cinco agências governamentais – o Departamento de Estado dos EUA, três embaixadas norte-americanas e o Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido.

Ao Comprova, o ICFJ afirmou que “já recebeu recursos da USAID antes” e que eles foram “concessões de subsídios para executar programas específicos em países específicos”, mas disse que “nunca recebeu financiamento da USAID para nenhum projeto no Brasil” e que “não financiou a Agência Lupa com nenhum recurso da USAID”.

Além disso, a entidade afirmou que nunca “recebeu fundos da USAID para operações gerais ou financiamento institucional.”

Suposto dossiê

A vereadora Fernanda Barth também afirma, no vídeo, que a Agência Lupa fez um dossiê de 10 páginas contra ela, o que teria resultado no bloqueio de seu perfil no Instagram. A Agência Lupa negou, respondendo que, sobre ela, produziu a seguinte checagem: Vereadora de Porto Alegre usa informações falsas para criticar vacina em vídeo viral.

“Não fizemos nenhum tipo de dossiê sobre a vereadora, mas checamos essa manifestação dela, assim como checamos um sem número de manifestações públicas de outros ocupantes de cargos eletivos sobre os mais variados temas”, disse a Lupa.

Uma busca por outras checagens da agência mostra que Fernanda Barth aparece citada em uma outra checagem, mas não como a responsável pela alegação checada. O texto, de 2020, mostra que é falso que a então candidata à Prefeitura de Porto Alegre Manuela D’Ávila publicou propaganda de campanha com foice e martelo de brinquedo para festejar o Dia das Crianças.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Aos Fatos concluiu que a denúncia sobre atuação da USAID contra Jair Bolsonaro é baseada em desinformação. Recentemente, o Comprova mostrou que imagem de Alexandre de Moraes com boné da USAID foi gerada por IA, que post alega sem apresentar provas que a covid-19 foi criada em laboratório por ordem de Obama e que vídeo é tirado de contexto para dizer que trechos da Bíblia serão banidos das redes sociais. As duas últimas checagens também mencionam a USAID.

Notas da comunidade: Até o fechamento deste texto não havia “notas da comunidade” nas postagens no X de Eduardo Bolsonaro e de Mike Benz com sua entrevista a Steve Bannon.

Eleições

Investigado por: 2025-01-27

Vídeo satírico de Lula pedindo votos para Bolsonaro em 2026 foi gerado por IA

  • Sátira
Sátira
Criado com inteligência artificial (IA), um vídeo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pedindo votos para Jair Bolsonaro (PL) é uma sátira, publicada por um perfil de humor. O uso de IA, além de identificado por uma marca d'água da Infinity AI, serviço de geração digital de imagens, no canto inferior direito da tela, pôde ser verificado pelo Comprova por informações contidas no conteúdo, como distorções no rosto perceptíveis, comuns em imagens sintéticas.

Conteúdo investigado: Vídeo mostra Lula com uma camiseta com a inscrição “Bolsonaro 2026”. No conteúdo, o atual chefe do Executivo pede para que as pessoas votem no ex-presidente nas próximas eleições. A legenda da publicação diz “um vídeo honesto!”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É sátira um vídeo em que o presidente Lula pede votos para Jair Bolsonaro nas eleições de 2026 e usa uma camiseta com o nome do ex-presidente. As cenas foram produzidas por inteligência artificial, o que é possível verificar pela marca d’água “Infinity AI” no canto inferior direito do conteúdo.

I Legenda: É possível ver no vídeo analisado que as imagens foram geradas pela plataforma Infinity AI, que permite a criação de conteúdo digital. I

Além disso, há distorções no rosto de Lula vistas a olho nu, algo que comumente ocorre em imagens geradas digitalmente.

A ferramenta Hive Moderation, que verifica indícios de manipulação por IA, também indicou evidências de manipulação na publicação. Segundo o serviço, não há nenhuma chance de a imagem usada no vídeo ser real; sobre o áudio, a ferramenta aponta haver 72% de chance de ter sido criado sinteticamente, resultando em 72% de probabilidade de o conteúdo ter sido gerado com inteligência artificial ou com uso de deepfake, técnica de IA usada para combinar áudios e vídeos e criar conteúdos falsos, como explicou o Comprova.

 

I Legenda: Análise do Hive Moderation concluiu haver 72% de chance de o vídeo ter sido gerado por IA I

 

Além de todas as evidências de conteúdo gerado por IA, não há declarações de Lula pedindo voto para Bolsonaro, que está inelegível até 2030. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) impediu, em 2023, o ex-presidente de concorrer ao pleito durante oito anos por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.

O Comprova concluiu tratar-se de uma sátira porque, além de ter sido publicado por um perfil que se define como “de memes e humor”, o post traz hashtags como #lula, #bolsonaro, #direita e #esquerda. Em um dos poucos comentários em que alguém parece acreditar no vídeo, o dono do perfil reforça que é um canal de humor.

Sátira, para o Comprova, é o meme, paródia ou imitação publicada com intuito de fazer humor. O Comprova verifica conteúdos satíricos quando percebe que há pessoas tomando-os por verdadeiros ou quando circulam por outros meios sem a identificação de conteúdo humorístico feita pelo autor.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. A publicação teve mais de 64 mil visualizações e 2 mil curtidas até 27 de janeiro.

Fontes que consultamos: Consulta na ferramenta Hive Moderation e busca pelo perfil responsável pela publicação.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Vídeos criando deepfakes de Lula e outros políticos já foram checados outras vezes. O Comprova já verificou, inclusive, um post semelhante ao checado aqui, do petista pedindo votos para Bolsonaro na eleição de 2022. Também já concluiu ser sátira vídeo de mulher com rosto do presidente e delegado parecido com Bolsonaro.

Eleições

Investigado por: 2024-11-05

Vídeo de políticos convocando população para ato em 15 de novembro é de 2023, e não deste ano

  • Enganoso
Enganoso
A candidata derrotada à Prefeitura de Curitiba Cristina Graeml (PMB) e outros políticos não convocaram a população para ato no próximo dia 15 de novembro, como mostra vídeo compartilhado nas redes sociais. A publicação reúne recortes de gravações feitas em 2023 e utiliza imagens de manifestações antigas.

Conteúdo investigado: Vídeo exibe políticos, entre eles a candidata derrotada à prefeitura de Curitiba Cristina Graeml (PMB) conclamando a população para um protesto em 15 de novembro.

Onde foi publicado: Kwai e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: Não há registro de que a candidata derrotada à prefeitura de Curitiba, Cristina Graeml (PMB), tenha divulgado manifestação no dia 15 de novembro de 2024. Vídeo no Kwai engana ao resgatar declarações antigas de Cristina e outras personalidades sobre eventos que ocorreram em 2023. O vídeo foi postado pela primeira vez naquele ano. Desde então, vem sendo replicado sem a data original.

A primeira pessoa que aparece no vídeo é a jornalista e candidata derrotada na disputa pela Prefeitura de Curitiba, Cristina Graeml. Sua fala foi retirada de uma entrevista realizada pela revista Oeste em 14 de setembro de 2023. Nela, Graeml informa que “estão programando uma manifestação para o dia 15 de novembro”, em referência aos atos realizados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no ano passado.

As imagens da filmagem seguinte, com o desembargador aposentado Sebastião Coelho, foram extraídas de um vídeo publicado no canal do YouTube do portal O Antagonista em 26 de setembro de 2023. Na gravação, Coelho convoca o público para manifestações contra o Supremo Tribunal Federal (STF) para outubro daquele ano.

O terceiro vídeo foi publicado também no dia 26 de setembro de 2023. O trecho utilizado faz parte de uma entrevista coletiva concedida pelo senador Rogério Marinho (PL-RN) sobre um plebiscito a respeito da criminalização do aborto no Brasil. Embora a fala de Marinho seja sobre esse tema, o trecho foi recortado para não mencionar especificamente o plebiscito ou mesmo a palavra “aborto”, podendo ser interpretado como uma fala a respeito de um suposto ato a ser realizado – o que não é o caso.

O vereador Coronel Vargas (PL-RS) aparece por último. O trecho foi retirado de uma sessão realizada na Câmara de Vereadores do município gaúcho de Santa Maria em 12 de setembro de 2023, ocasião na qual o vereador falou sobre uma suposta “cultura do medo” que desmotiva as pessoas a se manifestarem. O político também criticou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e o Exército. O restante das imagens apresentadas são trechos de gravações de diferentes manifestações e atos antigos realizados por apoiadores de Bolsonaro.

O perfil no Kwai não tem opção de receber mensagem e, por isso, o Comprova não conseguiu contato com o autor.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Não há como mensurar o alcance do vídeo no WhatsApp, mas todo conteúdo muito compartilhado é marcado como “encaminhado com frequência”. Os vídeos publicados pelo autor da postagem original têm em média mil visualizações.

Fontes que consultamos: Pesquisa reversa por imagens no Google, o vídeo original publicado no Kwai, e redes sociais das pessoas mencionadas no vídeo.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A checagem do conteúdo enganoso foi realizada também pelo site Aos Fatos e Reuters. Posts com imagens antigas colocadas em outro contexto são frequentemente verificados pelo Comprova. Alguns exemplos: Lewis Hamilton não carregou bandeira do Brasil em apoio a atos golpistas e vídeos antigos são usados para enganar sobre adesão a atos pró-Bolsonaro em 1º de Maio.

Eleições

Investigado por: 2024-11-01

Ocupações em São Paulo não tiveram relação com resultado das eleições

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a alegação de que as ações de ocupação promovidas pela Frente de Luta por Moradia (FLM) no último domingo (27), na Grande São Paulo, foram motivadas pela derrota de Guilherme Boulos (PSOL) nas eleições para prefeito da capital paulista. Embora as ações tenham ocorrido no dia da votação, Boulos não tem relação com o coletivo e, nas postagens da FLM, nenhuma menção ao processo eleitoral é feita – todas as ações são justificadas pelo propósito de luta por moradia defendido pelo grupo.

Conteúdo investigado: Vídeo diz que após derrota de Guilherme Boulos, militantes do Movimento Sem Terra (MST) teriam começado uma série de invasões na Grande São Paulo. Ao longo do vídeo, fotos de Boulos e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) são exibidas antes da gravação de uma das ações.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Vídeo engana ao relacionar ação de ocupação realizada no último domingo (27) ao Movimento Sem Terra (MST), ao deputado federal e candidato derrotado em São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL-SP), e ao resultado das eleições municipais na capital paulista.

O vídeo exibido pelo perfil é, na verdade, referente a uma ação promovida pela Frente de Luta por Moradia (FLM), movimento com o qual Boulos não teve relação. Boulos foi líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). A ocupação foi uma de três tentativas, todas realizadas em 27 de outubro, no Centro de São Paulo – uma na Av. Nove de Julho (apresentada no vídeo checado), uma na Rua Major Quedinho (Bela Vista) e uma na Rua São Bento (Sé).

A FLM fez algumas publicações em suas redes sociais a respeito das ações. Em uma delas, o movimento referencia uma reportagem do G1 sobre as operações de retirada de pessoas feitas pela Polícia Militar (PM) nas ocupações; a legenda do post, por sua vez, traz um pronunciamento do coletivo sobre os eventos:

“O poder público não garante moradia para trabalhadores e trabalhadoras sem-teto, mas expulsa mulheres, crianças, homens, idosos e jovens de imóveis que não cumprem a função social da propriedade”, escreveu a FLM. “As pessoas são tratadas com tiro, porrada e bomba. Tudo isso para proteger prédios que estão fora da lei, leia-se o Estatuto da Cidade, a Constituição Federal. As imagens deste domingo retratam a violência do estado contra famílias sem-teto. Ocupação não é caso de polícia!”.

Em nenhuma das publicações relativas às ações do dia 27 é feita qualquer menção ao resultado das eleições municipais, que terminaram com a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB). O nome de Boulos também não é mencionado. O advogado da FLM, em entrevista ao portal Metrópoles, negou qualquer relação das ações com a votação, assim como duas pessoas do movimento ouvidas pela Folha de S. Paulo.

O Comprova também consultou portais de notícias parceiros do projeto, bem como as páginas oficiais do MST e do MTST – este último, sim, já liderado por Boulos. Não há nenhum registro de ocupações ou ações dos dois grupos em São Paulo desde o dia 27. Uma nota a respeito das ações da PM foi solicitada à Secretaria de Segurança Pública, mas não houve retorno até a publicação desta checagem.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 31 de outubro, o vídeo tinha 159,7 mil reproduções no TikTok, bem como 8,8 mil curtidas.

Fontes que consultamos: Redes sociais da Frente de Luta Por Moradia, do Movimento Sem Terra e do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto; reportagens da Folha de S.Paulo e do UOL; Secretaria de Segurança Pública.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Vários conteúdos falsos e enganosos circularam durante as eleições citando Boulos. O Comprova checou, por exemplo, que vídeo engana ao dizer que ele é líder do MST e responsável por queimar fazendas. Outro episódio que teve repercussão nacional foi o fato do adversário Pablo Marçal ter utilizado documento falso para alegar que o psolista foi internado por uso de drogas.

Eleições

Investigado por: 2024-11-01

Ricardo Nunes não colocou fim ao Bilhete Único em São Paulo, diferentemente do que alega vídeo

  • Enganoso
Enganoso
Ricardo Nunes (MDB), prefeito reeleito de São Paulo, não colocou fim ao Bilhete Único e nem criou lei recente com um substituto ao cartão, como afirmam conteúdos enganosos que circulam na internet. A última alteração sobre o sistema de bilhetagem eletrônica na capital paulista ocorreu em 2021, e teve como objetivo evitar fraudes na utilização do serviço.

Conteúdo investigado: Vídeo fala em “primeira vitória dos pobres de direita”, se referindo ao suposto fim do Bilhete Único em São Paulo. A postagem traz o texto: “fim de Bilhete Único popular: Ricardo Nunes traz lei nos ônibus e metrôs de SP com substituto”.

Onde foi publicado: Site de notícias e TikTok.

Conclusão do Comprova: Não é verdade que o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) instituiu o fim do Bilhete Único, cartão que unifica passagens de trens e ônibus e permite aos passageiros fazer até quatro embarques em linhas diferentes, dentro de um período de 3 horas. Conteúdos que circulam na internet descontextualizam uma medida de 2021, no primeiro ano da gestão do emedebista, para insinuar que ele tomou a decisão de substituir o sistema de bilhetagem eletrônica depois de reeleito em outubro de 2024.

A imagem e uma parte do texto que aparece no vídeo foram originalmente publicados em um site na internet no dia 28 de outubro, data seguinte ao segundo turno do pleito que reelegeu Nunes. No texto, o autor fala do “fim do Bilhete Único popular, com decreto do prefeito Ricardo Nunes na SPTrans e que garante substituto no metrô, ônibus e CPTM”.

O conteúdo tira de contexto, fazendo parecer recente uma medida de 2021 que determinou o fim do Bilhete Único sem cadastro associado a um CPF. “O objetivo é reforçar as medidas de combate a fraudes no sistema de transportes e, consequentemente, prejuízos aos cofres públicos e também aos passageiros”, informou a prefeitura na época.

Uma consulta no Diário Oficial de São Paulo mostrou que nenhum decreto sobre o Bilhete Único foi publicado após a reeleição de Nunes, o que significa que o prefeito não adotou nenhuma medida nova após o resultado do pleito.

O Comprova consultou a prefeitura e a SPTrans sobre o caso, que responderam da mesma forma: “A Prefeitura de São Paulo informa que o Bilhete Único segue funcionando normalmente na cidade e qualquer informação diferente disso não condiz com a verdade”.

“Para a prevenção de fraudes, a SPTrans utiliza desde 2021 o cadastro de cartões a partir do CPF do usuário. Informações sobre as modalidades disponíveis estão disponíveis aqui”, afirma trecho da nota.

A reportagem contatou o perfil que publicou o vídeo no TikTok e o autor responsável pelo texto publicado no site de notícias, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O primeiro conteúdo publicado no TikTok com a desinformação foi excluído, portanto não é possível mensurar o alcance. Também não é possível mensurar o alcance do site de notícias que publicou sobre o tema. Já um vídeo no TikTok que reproduziu o primeiro atingiu mais de 1,1 mil visualizações até 31 de outubro.

Fontes que consultamos: Prefeitura de São Paulo, SPTrans e Diário Oficial.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A gestão Nunes já foi alvo de checagens anteriores do Comprova. Recentemente mostramos que o prefeito citou taxa para aterrar fios em 2023 e não em 2024, diferentemente do que alegam posts. Também investigamos 16 ocorrências reunidas em vídeo viral sobre o governo do emedebista.

Eleições

Investigado por: 2024-10-30

Fortaleza não teve troca de 6 mil urnas nem denúncia de fraudes na eleição municipal

  • Falso
Falso
Fortaleza não teve 6 mil urnas eletrônicas trocadas e nem registrou fraude nas eleições municipais de 2024. Vídeo com o primeiro assunto circulou no Kwai. O segundo repercutiu no X e no WhatsApp. Publicações falsas tiraram de contexto entrevista sobre distribuição de urnas no Ceará e vídeo antigo sobre o pleito de 2022. O TRE-CE confirmou a troca de apenas quatro urnas no segundo turno da capital cearense e afirmou não ter havido fraude no pleito.

Conteúdo investigado: Publicação no Kwai afirma que 6 mil urnas foram trocadas em Fortaleza e que a ação “fez a diferença” no resultado; vídeo no X que mostra comemoração de suposta vitória de André Fernandes (PL) após constatada fraude nas eleições; e áudios no WhatsApp que colocam sob suspeita as urnas ao também mencionarem fraude.

Onde foi publicado: Kwai, X e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falso que Fortaleza teve 6 mil urnas trocadas no segundo turno das eleições de 2024. O vídeo utilizado na publicação é o trecho de uma entrevista ao vivo exibida no dia 17 de outubro no CETV, da TV Verdes Mares, afiliada da Rede Globo na capital cearense. O entrevistado foi Caio Guimarães, secretário de eleições do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE).

A pauta foi sobre as 6 mil urnas utilizadas no segundo turno de Fortaleza e em Caucaia, município localizado na região metropolitana da capital. Caio falou sobre a preparação das mídias com os dados dos candidatos, os testes de integridade e a logística de distribuição das urnas nas duas cidades. Em nenhum momento foi informado sobre trocas de urnas, o secretário apenas explicou como é feita a substituição caso ocorra algum problema.

Segundo o TRE-CE, foram distribuídas 6.034 urnas, sendo, 5.274 para Fortaleza e 760 para Caucaia. O Tribunal informou ao Comprova que não há indício de fraude no resultado em Fortaleza e que foram feitas apenas quatro substituições das urnas que apresentaram algum problema técnico. “Elas foram substituídas por urnas de contingência que servem de reserva. A informação difundida como fake news trata-se de uma distorção da realidade”, completou por nota.

Nos áudios que circulam nas redes sociais, há menção à suposta compra de urnas e insinuações de que parte dos equipamentos teriam vindo de Brasília de “última hora”. Questionado, o TRE-CE também negou transporte dos equipamentos da capital federal para o segundo turno no Ceará.

O outro vídeo, publicado no X, mostra uma suposta comemoração de André Fernandes, que foi o candidato do PL à Prefeitura de Fortaleza neste ano. Na verdade, o vídeo foi gravado em 31 de outubro de 2022, no final da apuração de votos do segundo turno, quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito presidente do Brasil e derrotou o então chefe do Executivo brasileiro, Jair Bolsonaro (PL). Na época, alguns boatos sobre uma suposta confirmação de fraude geraram celebrações por parte de apoiadores do agora ex-presidente. As mesmas imagens aparecem em vídeos publicados, no período eleitoral de 2022, pelo jornais O Globo e Estado de Minas. Não há informação de onde o vídeo foi gravado.

Com 716.133 votos (50,38%), Evandro Leitão (PT) foi eleito prefeito de Fortaleza no segundo turno do pleito. Em uma disputa acirrada, Fernandes obteve 705.295 dos votantes, computando 49,62%.

Após o resultado, o candidato derrotado discursou para apoiadores no comitê central de campanha e não mencionou fraude no segundo turno das eleições. Ele, na verdade, avaliou que o resultado “significa uma vitória”. “Saio daqui muito feliz, nenhum jogo de loteamento de espaço público, e esse resultado apertado para a gente significa uma vitória”, disse.

O Comprova tentou contatar os autores dos conteúdos de desinformação, mas não houve retorno até a publicação desta verificação.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 30 de outubro, o vídeo publicado no X teve 27,3 mil visualizações e 800 no Kwai.

Fontes que consultamos: Íntegra da entrevista de Caio Guimarães, secretário de eleições do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), reportagens, TRE-CE e redes sociais de André Fernandes (PL).

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Outras iniciativas também checaram essas publicações e chegaram a mesma conclusão, a exemplo do UOL, Estadão Verifica, AFP e Aos Fatos. As eleições do Brasil, aliás, sempre são alvos de acusações de fraudes. Em 2024, o Comprova verificou os seguintes conteúdos: post usa captura de tela fora de contexto para alegar que houve fraude nas eleições de 2022; é falso que totalização de votos a cada 12% indique fraude no 1º turno das eleições; vídeo que insinua fraude em votação em Maceió reproduz infográfico com erro.

Eleições

Investigado por: 2024-10-27

Post engana ao dizer que candidata de cidade no MA publicou pesquisa eleitoral falsa

  • Enganoso
Enganoso
A candidata à Prefeitura de Imperatriz (MA) Mariana Carvalho (Republicanos) foi acusada erroneamente de divulgar uma “pesquisa fake” na véspera do segundo turno. Segundo o post enganoso, ela teria divulgado uma pesquisa de setembro, anterior ao primeiro turno, em 26 de outubro. No entanto, o post de Mariana trazia os resultados de pesquisa eleitoral divulgada pelo Instituto Ranking naquela mesma data (26 de outubro). O número que estava errado na publicação da política era o de registro da pesquisa, referente a um levantamento realizado em setembro. Ela apagou o post com erro e publicou, minutos depois, um post com o número de registro da pesquisa correto.

Conteúdo investigado: Post afirma que a candidata à Prefeitura de Imperatriz, no Maranhão, Mariana Carvalho (Republicanos) teria divulgado uma pesquisa eleitoral falsa. O conteúdo usa imagem com dados de levantamento publicado por ela e, na legenda, escreve: “Candidata Mariana Carvalho posta pesquisa fake! A pesquisa divulgada está registrada sob número: 03954/2024 no TSE. Pasmem, quando consultada a pesquisa, seu registro foi no dia 17/09/2024 antes do primeiro turno das eleições, será uma tentativa de induzir e enganar o povo de Imperatriz?”.

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: Post publicado em 26 de outubro engana ao afirmar que Mariana Carvalho teria divulgado em suas redes sociais uma “pesquisa fake” em que ela aparece com 45% dos votos e, seu rival, Rildo Amaral (PP), com 43%.

O post investigado destaca que o número de registro da pesquisa divulgado no perfil de Mariana é 03954/2024, e que esse levantamento foi registrado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 17 de setembro, o que é verdade. O que esse post não diz é que os resultados que o material divulgado pela candidata trazia estavam corretos — apenas o número de registro da pesquisa estava errado.

O levantamento registrado em setembro — e que Mariana usou em uma publicação daquele mês — indicava as intenções de voto da pesquisa estimulada (na qual os eleitores recebem a lista de candidatos antes de dizer em quem vão votar). Na ocasião, ela aparecia com 25%, e Rildo, com 32%.

Os números de intenção de voto trazidos na postagem feita por Mariana em 26 de outubro — 45% para ela, e 43% para Rildo — são de uma pesquisa eleitoral divulgada, segundo o TSE, em 26 de outubro. Ou seja, diferentemente do que sugere o post verificado, ela não tentou induzir ou enganar os eleitores publicando, pouco antes do segundo turno, dados de uma pesquisa anterior ao primeiro dia de votação.

Como verificado pelo Comprova, Mariana publicou em seu Instagram o resultado correto, mas o número de registro da pesquisa, digitado em letras miúdas, errado. Às 14h40, o post foi apagado e substituído por outro, com o número de registro correto (01971/2024) e outra legenda. O conteúdo investigado, que usou o primeiro post com o número errado para desinformar sobre a candidata, foi publicado no Instagram às 14h28, antes da correção.

Os horários foram obtidos ao inspecionar o código-fonte das publicações na página da rede social, clicando em “elementos” e buscando pelo termo “datetime”, que indica o horário do post.

O extensor do Google Chrome — programa que pode ser instalado no navegador para melhorar a sua funcionalidade — “Exact Time Viewer for Instagram”, usado para verificar o horário em que os conteúdos foram postados na rede social, confirmou os horários.

Em contato com a reportagem por telefone e WhatsApp, Ivanildo Tavares, marido e marqueteiro de Mariana, afirmou que, ao fazer o post com o resultado de 26 de outubro, o designer se esqueceu de alterar o número de registro. “Foi uma falha humana, sem intenção”, ele afirmou. “Imediatamente, foi corrigido, conforme está no feed.”

O Comprova tentou entrar em contato com um dos perfis que publicou o post enganoso, mas não houve resposta até a publicação deste texto. Entre os posts recentes da página, há um declarando apoio a Rildo e outros atacando Mariana. Outro perfil que postou o conteúdo de desinformação não pôde ser contatado por não permitir o envio de mensagens e não haver outro meio de contato.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 27 de outubro, o post verificado tinha alcançado 1,7 mil curtidas.

Fontes que consultamos: Conta oficial de Mariana Carvalho no Instagram, site para consulta de pesquisa eleitoral do TSE e assessoria da candidata.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Ainda sobre as eleições municipais, o Comprova verificou que o PT conquistou 248 prefeituras em 2024, e não 46, diferentemente do que alega post; que é falso que candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) foi cassada e Pablo Marçal (PRTB) estava no segundo turno contra Ricardo Nunes (MDB) e que site de notícias foi clonado para divulgar conteúdo falso de candidata à reeleição no Tocantins.

Contextualizando

Investigado por: 2024-10-27

Análises de áudio apontado por André Fernandes como deepfake têm resultados divergentes

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Contextualizando
Áudio atribuído a André Fernandes (PL), deputado federal e candidato à Prefeitura de Fortaleza (CE), sob acusação de que o material foi elaborado por inteligência artificial (IA), apresenta resultados divergentes quanto à possibilidade de ter sido manipulado ou não. No conteúdo, Fernandes diz, supostamente, que é preciso distribuir dinheiro a pastores e lideranças comunitárias depois de ser ultrapassado pela oposição em pesquisas para o segundo turno das eleições municipais de 2024. Ele acusa o adversário Evandro Leitão (PT) de ter utilizado deepfake para gerar o material. Este ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou regra que pode levar à cassação do registro ou do mandato por uso irregular de IA. O Comprova contextualiza o caso e apresenta a análise de especialistas.

Conteúdo analisado: Áudio em que André Fernandes (PL) teria dito ser necessário “derramar dinheiro na mão de pastor e de líder comunitário” para conseguir vencer no segundo turno das eleições municipais.

Onde foi publicado: YouTube.

Contextualizando: Na semana que antecedeu o segundo turno das eleições 2024, circulou nas redes sociais um áudio atribuído a André Fernandes, candidato a prefeito de Fortaleza, em que ele supostamente afirma que é preciso distribuir dinheiro a lideranças religiosas e comunitárias. No áudio, uma voz parecida com a do candidato diz que ele foi ultrapassado nas pesquisas de intenção de voto. Após a divulgação do conteúdo, Fernandes chamou uma coletiva de imprensa e disse ter provado que o material seria falso e teria sido criado pela campanha do adversário Evandro Leitão (PT), com uso de inteligência artificial. O candidato, no entanto, não apresentou evidências do uso de deepfake no material que viralizou.

O Comprova pediu a dois peritos forenses que analisassem o material, mas as conclusões apresentadas mostraram resultados divergentes. A Agência Lupa submeteu o áudio a três ferramentas de detecção de IA e também obteve resultados diferentes.

Mauricio de Cunto, cientista forense em material multimídia, um dos especialistas consultados pelo Comprova, analisou, em estudo preliminar, ser “muito improvável que a gravação tenha sido espontaneamente gerada por André Fernandes”. Ele esclarece, no entanto, que um estudo completo do material demandaria dias ou até semanas.

Cunto comparou o áudio que viralizou a gravações reais coletadas no perfil de Fernandes. Ele afirmou que “é muito improvável” que o áudio e as gravações reais tenham a mesma origem. O perito informou que fez “rápidas avaliações fonéticas, linguísticas, comportamentais, observação da forma de onda, espectro e espectrograma”. Esses últimos três termos se referem a gráficos que mostram aspectos técnicos como frequência, amplitude, tempo e harmônicos (características de ondas, sons, luz e variadas radiações) de elementos do áudio.

“Há, de fato, um conjunto minimamente robusto de evidências, como irregularidades no ritmo e entonação da voz, anomalias no ruído de fundo, tempos excessivamente longos entre algumas palavras e formações improváveis de formas de onda, entre vários outros aspectos, que indicam que a gravação pode ter ser sido gerada artificialmente, editada ou ainda imitada”, afirmou o perito.

Para fazer a análise preliminar, o especialista aplicou uma abordagem baseada em probabilidades bayesianas (Teorema de Bayes), muito comum em exames forenses. O teorema permite calcular a probabilidade de uma hipótese ser verdadeira com base em evidências observadas e conta com uma escala que vai de -4 a +4. Para a conclusão da análise do áudio atribuído a Fernandes, foi adotado o índice -3.

“Quanto mais próximo de ‐4, mais forte é a indicação de que as amostras não correspondem”, disse. “Por isso, a conclusão de que é muito improvável que as vozes tenham sido originadas pelo mesmo falante.”

Para essa análise, Cunto usou parâmetros como “características acústicas em comparação de voz, para determinar se ela corresponde à mesma origem de outra”. O perito informou que avaliou ainda o histograma de frequência fundamental (que demonstra a distribuição de frequência da voz) e padrões de entonação.

Outra perícia feita a pedido do Comprova deu resultado diferente. O professor e pesquisador em Computação Forense da Universidade Federal do ABC (UFABC) Mario Gazziro analisou o áudio em oito trechos separados e concluiu que é Fernandes na gravação. Ele alerta, contudo, que o material pode ter sido montado ou adulterado para parecer que o candidato mencionou uma distribuição de dinheiro.

“As evidências indicam que todos os oito trechos de áudio estavam com similaridade acima de 90%, logo eles pertencem ao suposto autor, o candidato André Fernandes”, afirmou. “Mas as montagens detectadas podem ter atribuído outro contexto à mensagem, a exemplo do trecho em que é mencionado ‘derramar dinheiro na mão de…’. Aqui é identificado um corte antes de ele falar ‘…de pastor, líder comunitário’”.

| Fig.1: Áudio analisado com cortes identificados (círculos vermelhos), perfazendo 8 trechos.

A figura 2 mostra o detalhamento da inspeção visual e os diferentes ruídos encontrados entre os trechos, configurando a realização dos cortes, segundo Gazziro.

| Fig.2: Transição de ruído de fundo em 21,5 segundos, mostrando um dos 7 cortes (na região onde o padrão amarelo encontra o padrão vermelho, definido por inspeção visual)

“Esse trecho poderia facilmente ter sido adulterado a partir de um diálogo hipotético do tipo: ‘derramar dinheiro na mão de marketeiros e depois pedir apoio de pastor, líder comunitário’”, explicou. “Mas também poderia ter sido cortado apenas para suprimir algum nome que não era de interesse que fosse vazado junto com o material”.

O professor afirmou que sem o áudio completo e sem cortes, não é possível afirmar o que o candidato realmente disse na gravação.

Para a análise, Gazziro utilizou a inspeção visual das formas de onda utilizando o software GoldWave. Ele buscou por trechos de alteração do padrão do ruído de fundo ou ruído de conforto (gerado pelos aparelhos de captação, como smartphones, quando não existe ruído ambiente). Uma vez diferenciados eventuais trechos, cada um deles foi comparado com um áudio de controle, que contém a voz verdadeira de Fernandes, livre de ruídos ambientes e outras vozes, e adquirida com tecnologia de qualidade similar. “A comparação trecho a trecho se faz necessária, pois um desses trechos pode pertencer ao autor e outro não, principalmente pela evidência da constatação de cortes”, explicou.

Para realizar a comparação, segundo Gazziro, foi utilizada a extração de coeficientes cepstrais na escala MEL de frequências, que é uma técnica padrão ouro de computação forense para extração de características de biometria vocal, usada para gerar um “mapa” similar a uma “impressão digital” da voz do interlocutor. Extraídas as características, foi aplicada a checagem de batimento, que determina o percentual de verossimilhança da comparação. Todos os oito trechos tiveram fator de comprovação da hipótese acima de 90%. “De acordo com essa técnica, imitadores são classificados por fatores de comprovação entre 50% e 80% e deepfakes, entre 80% e 90%”, detalhou Gazziro.

As figuras 3 e 4 mostram respectivamente a forma de onda do áudio em que Fernandes supostamente falaria de dar dinheiro a pastores e seu respectivo mapa de biometria vocal. Na sequência, as figuras 5 e 6 mostram, respectivamente, a forma de onda do áudio de controle, pertencente a Fernandes, e seu respectivo mapa de biometria vocal.

(AMOSTRA)

| Fig.3: Trecho #7 da voz atribuída a André Fernandes no áudio analisado

(AMOSTRA)

| Fig.4: Biometria do trecho #7 da voz atribuída a André Fernandes

(CONTROLE)

| Fig. 5: Trecho de voz original de André Fernandes (CONTROLE) (obtido em https://www.instagram.com/andrefernandes?igsh=bnptMml4bWZsazRq).

(CONTROLE)

| Fig.6: Biometria do trecho de voz original de André Fernandes (CONTROLE) (obtido em https://www.instagram.com/andrefernandes?igsh=bnptMml4bWZsazRq).

De acordo com Gazziro, o trecho mais comprometedor do áudio, que fala em “derramar dinheiro” na mão de pastores, teve semelhança de 92,5% com a voz verdadeira de Fernandes. Os outros trechos têm percentuais de similaridade com média de 91,5%. Veja na tabela abaixo.

| Tab. I: Percentual de similaridade entre AMOSTRA e CONTROLE para cada trecho.

Acusações

No dia 21 de outubro, Fernandes voltou a acusar, durante uma coletiva de imprensa, a campanha do adversário Evandro Leitão de espalhar o áudio e de tê-lo criado usando inteligência artificial. Ele já havia feito isso dois dias antes, em 19 de outubro. André afirmou que o conteúdo teria sido publicado primeiro em um grupo oficial de Leitão e posteriormente em dois perfis no Instagram de integrantes do PT do município de Eusébio, no Ceará. O candidato do PL informou que pediu ao Ministério Público Eleitoral do Ceará (MP-CE) e à Polícia Federal (PF) a abertura de um inquérito contra o adversário.

A reportagem do Aos Fatos teve acesso ao material enviado por Fernandes ao MP-CE e à PF e constatou, por meio de uma imagem anexada à denúncia, que o áudio, na verdade, foi enviado ao grupo oficial de Leitão e não postado originalmente por eles. A mensagem com o áudio estava marcada como “encaminhada com frequência”. Além disso, a apuração detalhou que o vídeo compartilhado no Instagram de integrantes do PT já tinha marca d’água de outro usuário do TikTok, o que indica que foi uma reprodução.

No Instagram, Leitão negou as acusações de Fernandes, chamando-o de “rei das fake news”, e disse ser vítima de notícias falsas. O candidato, porém, não apresentou esclarecimento sobre o fato de aliados terem reproduzido vídeos com o áudio citado por André. As postagens com o compartilhamento do áudio já não estão mais disponíveis.

O Comprova tentou contato com André Fernandes para obter detalhes sobre a denúncia, com a diretoria estadual do PT no Ceará e com duas lideranças do partido no município de Eusébio para pedir um posicionamento sobre as publicações, mas não houve resposta. O Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também não retornaram o e-mail da reportagem questionando a denúncia do candidato do PL em Fortaleza.

Fontes consultadas: Peritos Mauricio de Cunto e Mario Gazziro, reportagens de Lupa e Aos Fatos, vídeo da transmissão da coletiva de imprensa do candidato André Fernandes.

Por que o Comprova contextualizou este conteúdo: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: Os serviços de checagens Aos Fatos e Agência Lupa apresentaram as informações que existem até o momento sobre o caso. Várias publicações com conteúdos políticos circulam às vésperas das eleições municipais. O Comprova já contextuailzou, por exemplo, que livro de prefeito de Belo Horizonte teve relato de estupro tirado do contexto em campanha de adversário e investigou 16 ocorrências reunidas em vídeo viral sobre a gestão Nunes em São Paulo.

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Investigado por: 2024-10-27

Entenda a operação da PF contra o deputado Gustavo Gayer

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O deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) foi alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) na última sexta-feira (25/10) por suposto desvio de verbas parlamentares para financiar os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. Uma publicação no X atribui uma fala à defesa do parlamentar, dizendo que operações “não podem ser deflagradas no ápice do processo eleitoral”, dado que o segundo turno das eleições municipais acontecem neste domingo (27/10). O Comprova contextualiza a ação da PF e sua relação com o período eleitoral.

Conteúdo analisado: Post no X que atribui fala à defesa do deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) dizendo que operações da PF, como a que fez do parlamentar um alvo, “não podem ser deflagradas no ápice do processo eleitoral”, pois “atos judiciários interferem diretamente na política local, o que coloca em xeque a seriedade das decisões”.

Onde foi publicado: X.

Contextualizando: O deputado federal Gustavo Gayer é alvo de uma investigação da Polícia Federal por suposto desvio de verbas parlamentares para financiar os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. Na ocasião, milhares de bolsonaristas invadiram e vandalizaram os prédios do Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal (STF). Além de prender os envolvidos, a PF investiga quem financiou a tentativa de golpe.

A investigação apontou que Gayer pagou com verba da cota parlamentar a empresa de um amigo e político que participou dos atos golpistas, o empresário João Paulo Cavalcante, dono da Goiás Online Comunicações e Marketing Publicitário LTDA.

De acordo com o Portal da Transparência da Câmara dos Deputados, a empresa recebeu, ao todo, R$ 24 mil referentes a serviços de “publicidade das redes sociais” entre março, abril e maio deste ano. Esta é a maior fonte de gastos da cota parlamentar de Gayer.

A PF também trabalha com a hipótese de que seus secretários seriam pagos com recursos públicos para trabalharem em uma empresa chamada “Loja Desfazueli”, registrada no nome do filho de Gustavo, Gabriel Gayer.

A corporação também aponta que o espaço locado para o gabinete do deputado, supostamente custeado com cota parlamentar, seria utilizado simultaneamente para as operações da escola de inglês Gustavo Gayer Language Institute e para as atividades da Loja Desfazueli, o que poderia configurar, em tese, o uso inapropriado de recursos públicos destinados ao funcionamento do gabinete político, afirma a Procuradoria-Geral da República (PGR).

Além disso, segundo a investigação, o deputado teria adquirido a Associação Comercial das Micros e Pequenas Empresas de Cidade Ocidental (Ascompeco) para receber verbas públicas por meio das emendas parlamentares.

Para receber as emendas, a associação simulou contratos para fingir ter todas as certificações, segundo a PF. O órgão encontrou ao menos dois documentos supostamente falsificados.

Com isso, conforme a manifestação da PGR, assinada em 3 de outubro, a PF trabalha com quatro hipóteses:

  • Peculato (desvio de recursos);
  • Uso de verba pública para remuneração de empresa particular;
  • Aquisição de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) por meio de falsificação de documento particular;
  • Associação criminosa (nesse caso, a investigação aponta Gayer como suspeito de liderar o grupo).

Em decorrência da investigação, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, autorizou uma operação da PF de busca e apreensão na casa do deputado, que foi feita na sexta-feira (25/10).

Por ocorrer próxima ao segundo turno das eleições municipais, que acontece neste domingo (27/10), surgiram conteúdos nas redes sociais que questionam a legalidade da operação.

É o caso de uma publicação feita no X que atribui uma fala à defesa do deputado federal. O texto diz que operações como essa “não podem ser deflagradas no ápice do processo eleitoral”, pois “atos judiciários interferem diretamente na política local, o que coloca em xeque a seriedade das decisões”.

O Comprova consultou o advogado e professor de direito eleitoral, Alberto Rollo, para questionar sobre o tema. Segundo ele, a afirmação do post está incorreta. “O artigo 236 do Código Eleitoral proíbe prisão de eleitores, salvo em flagrante. Nada fala sobre operações que não envolvem prisão. Não tem nenhuma restrição para executar operação”, afirmou.

O advogado criminalista e sócio fundador do escritório Coura e Silvério Neto, André Coura, explicou que a operação tem amparo legal. “Não há qualquer restrição para a atuação da PF, em regra. O que o momento eleitoral restringe é a prisão”, disse.

De acordo com o TSE, desde terça-feira (22/10) e até 48 horas depois do encerramento da votação, nenhum eleitor poderá ser preso ou detido, salvo em flagrante delito, ou em virtude de sentença criminal condenatória por crime inafiançável, ou, ainda, por desrespeito a salvo-conduto.

“Vale lembrar, todavia, que a investigação de agentes com foro privilegiado (como é o caso dos deputados federais, que têm foro no STF), depende de prévia autorização judicial (nesse caso, do próprio Supremo)”, acrescentou. No caso de Gayer, Moraes autorizou a investigação.

O Comprova também contatou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a Polícia Federal (PF) para questionar sobre a legalidade da operação, mas não obteve retorno até a publicação desta checagem.

Gayer e PL se manifestaram

Gustavo Gayer, que é influenciador, além de deputado, tem se manifestado sobre o tema nas redes sociais. O parlamentar nega que tenha utilizado dinheiro público para financiar os atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Ele, que tem abordado o tema de forma jocosa, também nega as acusações de peculato.

O Partido Liberal (PL), sigla de Gayer, também se manifestou nas redes sociais. A legenda afirmou que a operação policial e a busca e apreensão na casa do deputado “representam mais uma ação nessa escalada autoritária e parcial de um ministro do STF contra um espectro político que representa grande parte da população brasileira”.

Ainda segundo o texto, o PL afirma que “trata-se de tema com baixa repercussão financeira. Por isso, o estranhamento e a perplexidade do Partido Liberal com a medida adotada”.

O Comprova contatou Gustavo Gayer por e-mail para solicitar uma posição sobre as acusações da Polícia Federal. No entanto, não obtivemos retorno até a publicação deste texto.

Fontes consultadas: Decisão do ministro Alexandre de Moraes, manifestação da PGR, entrevista com o advogado criminalista e sócio fundador do escritório Coura e Silvério Neto, André Coura, reportagens sobre o tema, linkadas ao longo do texto, e redes sociais de Gayer e do PL.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: Uma reportagem do site Poder360 explicou a investigação contra o deputado Gustavo Gayer. Outra, do Metrópoles, mostrou quem é o parlamentar alvo da operação da PF. Além disso, o Comprova já checou publicações virais sobre a Polícia Federal. Em agosto deste ano, por exemplo, a iniciativa mostrou que a corporação não disse que suposto esquema de venda de joias envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi inventado.

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Investigado por: 2024-10-26

Livro de prefeito de BH tem relato de estupro tirado do contexto em campanha de adversário

  • Contextualizando
Contextualizando
Um livro ficcional escrito em 2020 pelo prefeito de Belo Horizonte e candidato à reeleição, Fuad Noman (PSD), está no centro do debate político da capital mineira e virou alvo de seu adversário Bruno Engler (PL) no segundo turno das eleições de 2024. No romance, são narradas duas cenas de estupro, uma delas de uma menina de 12 anos, que alega ter sido violentada. Por conta da autoria da obra, o opositor ao atual mandatário passou a acusá-lo de endossar “pedofilia” e escrever “pornografia”. O Comprova contextualiza o assunto e detalha como é a obra e em qual contexto foi escrita.

Conteúdo analisado: Vídeo em que uma mulher insinua que o livro de Fuad Noman não retrata uma história de ficção e relaciona o trecho que cita o abuso sexual com a exposição do Festival Internacional de Quadrinhos (FIC-BH) de 2024, realizado em maio, no Minascentro. Segundo ela, a gestão do atual prefeito levou alunos da rede municipal na feira onde havia “obras de teor adulto que foram disponibilizadas para menores, sem qualquer tipo de filtro”. Na legenda, o post diz: “Eu sou mãe, mulher, tenho lado, defendo as crianças e sou Bruno Engler, 22!”.

Onde foi publicado: Instagram.

Contextualizando O livro “Cobiça”, escrito e publicado em 2020 pelo prefeito e candidato à reeleição em Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), está no centro do debate político da capital mineira no segundo turno das eleições de 2024. A obra virou alvo de críticas de seu adversário Bruno Engler (PL) e de uma disputa judicial sobre a repercussão do conteúdo.

O romance narra a história de uma mulher que viaja ao interior de Minas Gerais e se reconecta com memórias antigas. Como mostrou o Jornal O Globo, a campanha de Engler passou a explorar um trecho da obra no qual o autor cita um estupro coletivo de uma criança de 12 anos e acusa o prefeito de endossar a “pedofilia” e escrever “pornografia”.

A obra já havia sido explorada no primeiro turno devido aos contos eróticos entre personagens adultos, mas as cenas de estupro também passaram a ser citadas na propaganda eleitoral no segundo turno. Em um vídeo feito pela campanha, a vice de Engler, Coronel Claudia Romualdo (PL), ataca o teor do livro e afirma que o estupro de uma criança sequer deveria ser pensado. No dia 23 de outubro, a Justiça deu uma decisão suspendendo a propaganda.

No dia 25, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) publicou um vídeo nas redes sociais chamando o livro de “pornográfico”, mesmo após a decisão judicial contra a campanha de Engler. No mesmo dia, a Justiça Eleitoral determinou que o parlamentar retirasse a gravação do ar.

O Comprova teve acesso ao livro e identificou que, nele, são narradas duas cenas diferentes de estupro. Na primeira, no capítulo 8, página 157, três homens abusam sexualmente da mãe e da irmã de Pedrinho, um dos personagens centrais. As vítimas são agredidas e assassinadas na sequência. Noman se refere às duas na obra como “mulheres” e não afirma que a filha era menor de idade.

Já no capítulo 15, página 232, perto do fim do livro, o autor narra a história de Marli. A menina tenta convencer um personagem chamado Hypólito que ele é o seu pai. Para isso, menciona a mãe dela, Magda, que havia tido um relacionamento com ele no passado.

Segundo Marli, a mãe era casada, mas havia tido um relacionamento com Hypólito e engravidado. O marido da mulher não poderia ter filhos devido a um acidente e, quando a esposa apareceu grávida, ele descobriu ter sido traído.

Conforme o livro, o marido de Magda ficou furioso, levou a esposa para longe, trocou seu nome e o nome dela para não serem descobertos, proibindo-a de viajar até que Marli nascesse. A menina conta a Hypólito que, à medida que foi crescendo, viu indiferença por parte do marido de sua mãe e, quando completou 12 anos, passou a ser estuprada por ele.

Nessa parte do livro, Marli narra uma cena de estupro coletivo e, nas páginas seguintes, Hypólito se convence de que realmente é o pai dela, afirmando que vai lhe dar uma boa quantia em dinheiro para comprar uma casa. Após receber o dinheiro, a menina se encontra com um rapaz e afirma que Hypólito “caiu feito um patinho”. “Obrigado, mamãe Magda, seja lá quem tenha sido você.”

“Cobiça” é o segundo livro publicado por Fuad Noman. Em 2017, publicou “O amargo e o doce”, que conta a história de um jovem do interior que vai para BH trabalhar como garçom em um bar tradicional da capital. 

Juiz afirma que livro foi tirado de contexto

A campanha de Noman entrou na Justiça e alegou que a propaganda divulgada pelo adversário induzia o eleitorado ao erro ao apresentar o livro dessa forma. A Justiça Eleitoral de Minas Gerais, por sua vez, entendeu que a forma como a obra vinha sendo retratada pelos opositores do prefeito não é fiel ao romance.

Na decisão judicial a qual o Comprova teve acesso, disponibilizada em 24 de outubro, o juiz Adriano Zocche, da 331ª Vara Eleitoral de Belo Horizonte, deu razão a Fuad e disse que o trecho usado na propaganda do candidato do PL descontextualiza a obra ficcional.

“O trecho do livro referenciado, quando analisado em seu contexto literário, é parte de uma narrativa fictícia que relata a história de uma personagem de forma a evidenciar tragédias e abusos sofridos por ela, sem qualquer apologia ou incentivo a tais atos. Ocorre que a propaganda dá a entender claramente que a descrição de uma cena em livro, a qual retrata fato sabidamente ilícito, criminoso e imoral, implicaria automaticamente em endosso à prática. Isso é descontextualização”, afirma o magistrado.

Vereador registrou BO e propôs moção

Outra crítica feita por opositores do prefeito diz respeito ao Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ-BH), ocorrido em maio na capital mineira. A vereadora Flávia Borja (DC) convocou, em junho, uma audiência pública para debater o tema na Câmara Municipal de BH. Na ocasião, o vereador Irlan Melo (Republicanos) afirmou que os livros expostos na feira eram para adultos e poderiam ser comprados por crianças no evento.

O parlamentar chegou a registrar boletim de ocorrência sobre o caso e propôs na Casa Legislativa uma moção de repúdio à prefeitura. Segundo Melo, o evento não contava com classificação indicativa e expôs as crianças a produções inadequadas.

A Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte rebateu as críticas feitas pelo vereador. De acordo com a titular da pasta, Eliane Parreiras, o evento teve uma organização pensada para preservar as crianças e os profissionais foram treinados para mediar a interação das crianças e não as expor a conteúdos inadequados.

Sobre isso, o juiz Adriano Zocche afirmou que o termo de colaboração e o manual do expositor do FIQ mostram que as alegações dos vereadores não condizem com a realidade. “Dessa forma, a sequência das alegações reforça o caráter manipulado e distorcido da propaganda, intensificando o efeito de desinformação”.

O magistrado deferiu o pedido liminar feito pela campanha do prefeito Noman e determinou às emissoras de rádio a suspensão imediata da exibição da propaganda eleitoral de Engler citada no processo.

O Comprova tentou contato com a autora do vídeo que originou este Contextualizando, mas não obteve resposta até o fechamento do texto. O conteúdo foi excluído do Instagram no dia 25 de outubro.

Fontes consultadas: Versão digital do livro “Cobiça”, de Fuad Noman, Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) e reportagens sobre o tema.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Comprova já verificou vários conteúdos falsos ou enganosos que tiraram informações de contexto. Recentemente, nesta seção, contextualizamos que a prisão de Putin em possível vinda ao Brasil depende do Judiciário e não de Lula, e que Boulos não cometeu crime eleitoral ao votar com a família. Além disso, o Comprova investigou 16 ocorrências reunidas em vídeo viral sobre a gestão Nunes em São Paulo.