O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Investigado por: 2024-07-04

Frio e calor podem aumentar riscos de infarto e AVC; entenda

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Especialistas apontam que calor e frio excessivos podem aumentar risco de infarto e AVC. Uma publicação no X compara duas reportagens que mostraram separadamente os efeitos de altas e baixas temperaturas na saúde das pessoas. Com a frase “The show must go on”, que significa “o show deve continuar”, o músico Roger Moreira insinuou que haveria contradição na cobertura jornalística sobre o tema. Nos comentários, usuários da rede social fazem relação dos problemas cardíacos com as vacinas contra a covid-19. Entretanto, estes efeitos adversos são conhecidos e raros.

Conteúdo analisado: Postagem do cantor e guitarrista Roger Moreira, da banda Ultraje a Rigor, traz capturas de tela de publicações feitas pelo portal Metrópoles com notícias que tratam sobre o impacto do frio e do calor para ocorrência de infarto e AVC. Ao comentar as reportagens, Roger escreveu em inglês: “The show must go on”.

Onde foi publicado: X.

Contextualizando: Uma postagem do artista Roger Moreira, da banda Ultraje a Rigor, compara duas reportagens do portal Metrópoles que abordam separadamente os efeitos do calor (publicada em outubro de 2023) e do frio (junho de 2024) para o corpo humano. O artista sugere contradição entre as matérias, mas especialistas e estudos consultados pelo Comprova apontam que tanto altas quanto baixas temperaturas podem aumentar os riscos de problemas cardíacos e acidente vascular cerebral (AVC).

Nos comentários, usuários da rede social sugerem que os problemas de saúde são, na verdade, causados por “inoculação em massa na população de uma certa substância experimental” e mencionam “grande experiência mundial”, em referências às vacinas contra a covid-19. O efeito colateral do imunizante é frequente alvo de desinformação. O principal argumento é quanto ao desenvolvimento de miocardite e pericardite em pessoas que são vacinadas, mas o Comprova já mostrou que este efeito adverso pós-vacinação é conhecido e raro.

A primeira reportagem do portal Metrópoles, intitulada “Altas temperaturas aumentarão mortes por infarto e AVC, aponta estudo” faz referência a um estudo feito por pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Já a segunda, intitulada “Casos de AVC e infarto aumentam no clima frio; veja como se prevenir”, utiliza dados do Instituto Nacional de Cardiologia (INC).

Roger já foi multado por declarações na internet. Em dezembro do ano passado, ele foi condenado a pagar R$ 60 mil e a se retratar em publicações nas redes sociais após comentários ofensivos sobre uma menina de 11 anos vítima de estupro. Em maio, o vocalista criou uma Vakinha intitulada “Pela liberdade de expressão” em que afirma estar sendo “pressionado e coagido pelo presente governo a calar a boca” e diz que as condenações tiveram viés político.

A reportagem entrou em contato com Roger, mas não houve retorno até a publicação.

Fontes consultadas: Pesquisamos os links originais das reportagens mencionadas no post, assim como as publicações usadas como base para os textos. Entrevistamos o cardiologista, coordenador assistencial e vice-diretor INC, Alexandre Rouge, o cardiologista e coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Sírio-Libanês Brasília, Cassio Borges, e a neurologista vascular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e da Sociedade Brasileira de AVC (SBAVC) Maramelia Miranda. Também entramos em contato com o artista responsável pelo post.

Médicos apontam aumento de risco de infarto e AVC no calor e no frio

Especialistas consultados pelo Comprova explicam que tanto o frio excessivo quanto as altas temperaturas podem aumentar os riscos de infarto e AVC. “O extremo calor faz com que os vasos se dilatem para a pessoa perder calor do corpo para o ambiente, para tentar resfriar o corpo. Isso é um mecanismo natural. Mas, com isso, a pessoa também perde mais líquido no calor, sua mais, a pessoa perde água e perde sais”, explica o cardiologista Alexandre Rouge, vice-diretor do INC.

Rouge afirma que este quadro leva à desidratação, que pode provocar arritmia cardíaca e queda de pressão (principalmente no caso de pessoas que já tenham diagnóstico de pressão alta e usam remédios, como diurético, para controle). A queda de pressão, por sua vez, diz o médico, pode desencadear outros eventos, como AVC e infarto.

De acordo com o cardiologista Cassio Borges, o frio pode provocar vasoconstrição, quando a musculatura do vaso se contrai e tem possibilidade de levar a aumento da pressão arterial. Este fator pode desestabilizar placas das coronárias ou dos vasos cerebrais. “Com isso, aumenta o risco dessas placas se romperem, formarem coágulos e isso levar a infarto do miocárdio, além de AVC. O frio também gera espasmos e contração nas artérias coronárias, nos vasos do coração, e também nos vasos cerebrais”, disse o cardiologista.

A neurologista vascular Maramelia Miranda explica que as duas matérias estão corretas e que “juntar os posts fazendo ironia com as informações serve para confundir os que leem”.

Segunda doença que mais mata no Brasil, o AVC é causado por um comprometimento nas veias ou artérias do cérebro e pode ser dividido em isquêmico, causado por uma obstrução em uma artéria cerebral, ou hemorrágico, quando acontece o rompimento de uma veia do cérebro. A especialista explica que a mudança de temperatura pode importar na pressão arterial, causando hipotensão ou hipertensão, um dos fatores que contribui para a ocorrência de um AVC.

Segundo a médica, as baixas temperaturas têm impactos mais significativos, principalmente com o aumento considerável dos casos de hemorragia. Entretanto, existem outras condições que podem aumentar a incidência de AVC, como a frequência cardíaca e a desidratação, que também ocorrem em altas temperaturas.

Mudanças climáticas e problemas cardíacos

A reportagem que trata sobre o impacto das altas temperaturas, citada no post de Roger, tem como base um estudo de pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, publicado na revista científica Circulation. A pesquisa aponta a perspectiva de que a quantidade de mortes cardiovasculares associadas ao calor extremo entre adultos nos Estados Unidos tenha aumento estatístico significativo nos próximos anos.

“Devido a uma combinação de aumento contínuo de dias de calor extremo, envelhecimento da população dos EUA e migração contínua para áreas mais quentes, prevê-se que o número de mortes cardiovasculares associadas ao calor extremo continue a aumentar nas próximas décadas”, aponta o levantamento.

Alexandre Rouge destaca que, com o aquecimento global, existem cada vez mais extremos de temperaturas, com invernos mais rigorosos e verões mais quentes. Por este motivo, diz o médico, é importante que as pessoas tenham cuidados, como a hidratação constante.

Já a reportagem que aborda os efeitos do frio menciona dados divulgados pelo INC. Uma publicação no site da entidade aponta que os índices de infarto podem aumentar em até 30%, principalmente quando a temperatura está abaixo de 14 graus. Segundo o instituto, pessoas com idade entre 75 e 84 anos e aquelas com doença coronariana prévia são mais vulneráveis nestes casos. O dado do INC também já foi publicado pelo Ministério da Saúde.

Questionado sobre a fonte dos dados, o INC encaminhou à reportagem estudos que, por exemplo, mostram aumento da mortalidade por infarto do miocárdio em São Paulo durante o inverno e a relação de temperatura com este tipo de evento.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: Dentro da temática de saúde, o Comprova já mostrou que post engana ao afirmar que Índia pediu pena de morte a cientista da OMS contrária ao uso da ivermectina contra covid-19 e o caso de outra publicação que também engana ao associar sintomas da covid longa às vacinas. Além disso, é enganoso afirmar que miocardite e pericardite ocorrem apenas em pessoas que receberam imunizante contra a covid.

Política

Investigado por: 2024-07-03

Vídeo engana ao tirar de contexto fala de Lula sobre “universidade ser para ricos”

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Enganoso
É enganoso o vídeo postado no TikTok que traz um recorte descontextualizado de uma fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a afirmação de que as universidades são feitas para ricos e não para pobres. O vídeo usa um trecho de um discurso real de Lula, proferido em junho de 2024, mas engana ao colocar o petista na condição de quem defende a universidade somente para ricos. No vídeo original, ele critica o que diz ser o pensamento da “elite política brasileira” ao segregar o acesso ao ensino superior.

Conteúdo investigado: Publicação com uma tarja “Não é atoa (sic) que ele é o pai dos jumentos, pois adora multiplicar a burrice”, acompanhada de captura de tela da capa de um vídeo publicado em 10 de junho pelo jornal Correio Braziliense com a frase “Lula: Universidade foi feita para rico” e um vídeo com um trecho do discurso do presidente.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Post engana ao afirmar que o presidente Lula (PT) defende que as universidades brasileiras são feitas para ricos e não para pobres. No discurso, o petista criticou um grupo classificado como “elite política brasileira” que, na visão dele, pensa dessa forma. Logo, o trecho da fala que circula no vídeo foi tirado de contexto.

A origem do conteúdo investigado é um vídeo publicado pelo Correio Braziliense com parte do discurso do petista em uma reunião com reitores de universidades e institutos federais em Brasília (DF), em 10 de junho. A cerimônia contou com as presenças do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, e dos ministros da Educação, Camilo Santana, e da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos. Na data, professores e técnicos das instituições federais estavam em greve.

O vídeo do Correio Braziliense contém uma foto de capa com os dizeres: Lula: “Universidade foi feita para rico”. Essa imagem foi usada de forma descontextualizada pelo autor do post enganoso para sugerir que o presidente defendeu o ingresso apenas de ricos em universidades brasileiras.

Ao todo, o discurso de Lula tem cerca de 15 minutos. O Correio Braziliense publicou um trecho de um minuto e 20 segundos, mas deixou claro no título que o presidente fazia uma reflexão sobre a relação da elite política com a educação. O post enganoso fez um recorte de 20 segundos do vídeo já recortado pelo jornal, omitindo a parte em que o petista associa esse pensamento à elite política brasileira.

O Comprova encontrou a íntegra do discurso disponibilizado no canal do governo federal no YouTube, e verificou que, na verdade, Lula defendeu que todas as classes sociais devem ter acesso ao ensino universitário. O pronunciamento do presidente também pode ser conferido na íntegra no site do Planalto.

“E vocês [reitores] têm que ajudar o governo, por quê? Porque nesse país, a elite política nunca teve preocupação com a educação do povo, porque os filhos deles foram estudar no exterior. Esse negócio de aparecer governo preocupado em colocar indígenas na universidade, colocar quilombola na universidade, esse negócio de colocar gente da escola pública na universidade, isso não é normal. O normal é que universidade foi feita para rico, universidade foi feita para rico, não para pobre. E quando a gente faz uma inversão, de que universidade não é para rico nem para pobre, universidade é para quem quer estudar e consegue, dentro da regra do jogo, competir, é para todo mundo”, afirmou o petista.

Para o Comprova, enganoso é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 2 de julho, o post contabilizava 227,8 mil visualizações, 7,922 curtidas e 1,199 comentários.

Fontes que consultamos: A reportagem fez buscas no Google que trouxeram o vídeo completo do discurso no canal do governo federal no YouTube e checagens sobre o mesmo conteúdo.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Estadão Verifica, Reuters, AFP, Aos Fatos, Lupa e UOL Confere já checaram o mesmo vídeo e concluíram que a fala de Lula foi tirada de contexto. O Comprova também verificou outros discursos do presidente e mostrou que uma publicação distorceu a fala dele a respeito de pessoas carentes e que um vídeo foi editado para parecer que o petista defende o fechamento de igrejas.

Saúde

Investigado por: 2024-07-01

É enganoso que fundação de Bill Gates tenha financiado pesquisa para tornar gripe aviária transmissível para humanos

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Enganoso
É enganoso que a Fundação Bill & Melinda Gates tenha feito uma doação para uma universidade dos Estados Unidos com objetivo de pagar por estudo para tornar o vírus da gripe aviária (H5N1) capaz de infectar humanos. O financiamento, na realidade, estava ligado a uma pesquisa para analisar as mutações do vírus e criar alertas sobre uma possível pandemia. Além disso, o primeiro diagnóstico de H5N1 em humanos é de 1997 e a doação entre as instituições americanas foi registrada em 2009.

Conteúdo investigado: Publicação alega que o vírus H5N1, também conhecido como gripe aviária, deve ser a origem de uma nova pandemia que “globalistas estão planejando desencadear”. O autor afirma que parte do plano estaria ligada a uma doação de US$ 9,5 milhões da Fundação Bill & Melinda Gates para a Universidade de Wisconsin-Madison para tornar este vírus transmissível a humanos e outros mamíferos, e cita estudos conduzidos pelos pesquisadores Yoshihiro Kawaoka e Ron Fouchier. O post também alega que o coronavírus, que provocou a mais recente pandemia, foi modificado em laboratório.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: A Fundação Bill & Melinda Gates fez uma doação de cerca de US$ 9 milhões à Universidade de Wisconsin-Madison, em 2009, para financiar uma pesquisa com a finalidade de identificar mutações do vírus da gripe aviária (H5N1) que possam infectar humanos. A ideia era monitorar essas mutações na natureza e antecipar a possibilidade de uma pandemia e estratégias de saúde para combatê-la.

É enganoso, portanto, que o pagamento tenha sido feito com foco em estudo para tornar o H5N1 transmissível para seres humanos e, consequentemente, provocar deliberadamente uma pandemia. Bill Gates é um empresário e filantropo americano conhecido por ter sido um dos fundadores da Microsoft. Seu nome é frequentemente ligado a teorias conspiratórias de diversas naturezas.

Ao Comprova, o virologista Flavio Fonseca, do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), afirma que jamais foi notificado vazamento de vírus de laboratório nos estudos dos pesquisadores mencionados na postagem.

Segundo boletim de 8 de maio da Organização Mundial da Saúde (OMS), até o momento não há sinais de adaptação do vírus H5N1 que permitam transmissão entre humanos. Ainda de acordo com a OMS, a avaliação de risco à saúde pública representada pela gripe aviária continua no patamar baixo e de baixo a moderado para pessoas expostas a animais infectados. Como mostrou o Comprova, a transmissão para humanos é rara, mas pode acontecer por meio de contato direto com animais infectados ou inalação de secreções de animais doentes.

A publicação investigada foi feita no X, plataforma que não permite envio de mensagens diretas para usuários que não seguem a pessoa que tenta entrar em contato. Por este motivo, não houve contato com o responsável pelo post.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 28 de junho, a publicação no X alcançou 10,6 mil visualizações, 893 curtidas e 392 compartilhamentos.

Fontes que consultamos: O Comprova procurou inicialmente a Fundação Bill & Melinda Gates e a Universidade de Wisconsin-Madison, que se posicionaram por e-mail. As doações feitas pela fundação foram consultadas no site da instituição. Também foram consultadas publicações do National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID), Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos EUA, e OMS, além de sites especializados no tema, como a revista Science, matérias na imprensa e verificações já publicadas pelo Comprova.

A equipe também procurou o NIAID, o CDC, a agência Food and Drug Administration (FDA). O Comprova tentou contato com o virologista Yoshihiro Kawaoka, citado no post, mas não houve resposta. Houve tentativa de contato com Ron Fouchier, por meio da Erasmus University Medical Center. A instituição respondeu que o virologista não estava disponível para responder.

O Comprova também ouviu os virologistas Flávio Fonseca, da UFMG, e Amilcar Tanuri, do Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e o infectologista Renato Kfouri.

A OMS não retornou o contato.

Estudos não buscam desencadear pandemia em humanos, mas preveni-la

É verdade que a Fundação Bill & Melinda Gates fez doação de cerca de US$ 9 milhões à Universidade de Wisconsin-Madison. Uma publicação de 2009 feita pela universidade em seu site oficial informa que o recurso tinha a finalidade de financiar estudos para identificar mutações em proteínas virais que permitiriam que o vírus da gripe aviária se ligasse aos receptores humanos ou facilitasse a replicação eficiente em células humanas. O objetivo dos estudos era o de monitorar essas mutações na natureza para prever riscos de uma eventual pandemia.

O texto informa que o principal pesquisador do projeto é o virologista Yoshihiro Kawaoka, que atuaria ao lado de um time internacional de cientistas para buscar um método confiável para identificar ameaças de influenza à saúde humana, o que resultaria no desenvolvimento de uma resposta antecipada por parte dos sistemas de saúde, como a distribuição de compostos antivirais e o desenvolvimento e a produção de vacinas.

Ou seja, o objetivo da pesquisa era diferente do apontado na postagem investigada: não desencadear uma pandemia de gripe aviária em humanos, mas identificar os mecanismos por meio dos quais ela poderia surgir e preparar antecipadamente os mecanismos de proteção. A doação também foi divulgada no site da fundação.

Em nota, a Universidade Wisconsin-Madison negou relação da pesquisa com “tornar o H5N1 transmissível para humanos”. De acordo com a instituição, a pesquisa proporcionou informações que têm sido usadas para monitorar o vírus da gripe aviária que circula na natureza. O material foi construído com base em trabalhos anteriores de Kawaoka e seus colegas, que identificaram “crucial mutação que contribui para a letalidade do vírus da gripe aviária em mamíferos”. Ainda segundo a universidade, estes dados estão sendo usados pela OMS e pelo CDC para avaliar o potencial pandêmico do vírus.

Também por nota, a Fundação Bill & Melinda Gates alegou que as afirmações feitas na postagem são falsas. No site da instituição é possível acessar um arquivo com dados de doações já feitas. Estão registradas na tabela 32 doações para “University of Wisconsin” e “University of Wisconsin Foundation”, sendo que apenas uma, de 2009, trata, de acordo com o resumo divulgado, sobre gripe aviária. “Análise de alto rendimento de variantes da gripe aviária para potencial pandêmico”, informa a coluna que aponta o propósito das doações.

As pesquisas de ‘ganho de função’

A alegação feita no tuíte distorce o objetivo dos estudos, ao sugerir ligação com uma ação deliberada para provocar uma nova pandemia, tendo a Fundação Bill & Melinda Gates por trás.

A Universidade de Wisconsin-Madison informou ao Comprova que três estudos publicados conduzidos pelo virologista Yoshihiro Kawaoka foram, pelo menos em parte, financiados pelos US$ 9,5 milhões doados pela Fundação Bill & Melinda Gates. Os estudos foram publicados pelas revistas Nature e Science.

O Comprova enviou os estudos ao National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID), que faz parte do National Institutes of Health dos Estados Unidos (NIH), com questionamentos sobre a segurança das pesquisas e seus resultados. O NIAID respondeu que os questionamentos deveriam ser feitos aos pesquisadores que conduziram os estudos e ao CDC. Além dos três estudos de Yoshihiro Kawaoka, foi enviado ao órgão o trabalho The Multibasic Cleavage Site in H5N1 Virus Is Critical for Systemic Spread along the Olfactory and Hematogenous Routes in Ferrets, liderado por Ron Fouchier, e citado no conteúdo investigado.

O Comprova buscou os pesquisadores e o CDC, mas não houve resposta. O CDC disse que “não comenta sobre descobertas ou reivindicações feitas por indivíduos ou organizações externas ao CDC.”

Já o NIAID enviou um link para seu site com explicações mais genéricas sobre o tipo de estudo que envolve patógenos potenciais de pandemia (PPPs), como o H5N1, nos quais as pesquisas mencionadas se enquadram. São pesquisas conhecidas como “enhanced potential pandemic pathogen (ePPP) research” (pesquisa sobre patógenos pandêmicos potenciais aprimorados), um tipo de estudo que se enquadra nas chamadas pesquisas de “ganho de função” (“gain-of-function” [GOF] research). Os estudos da Universidade de Wisconsin se enquadram nesta categoria.

Segundo o texto, esse tipo de pesquisa busca entender a natureza fundamental das interações entre esses patógenos e o organismo humano, avaliar o potencial pandêmico de agentes infecciosos, como vírus, e informar sistemas de saúde pública voltados, por exemplo, à vigilância e ao desenvolvimento de vacinas e outras medidas médicas. O texto destaca que esse tipo de estudo envolve risco e exige uma supervisão rigorosa.

“Embora essa pesquisa seja intrinsecamente arriscada e exija uma supervisão rigorosa, o risco de não realizar esse tipo de pesquisa e não estar preparado para a próxima pandemia também é alto”, destaca o texto.

O virologista Flavio Fonseca explica que esse tipo de estudo foi usado por muitos anos para entender mecanismos de ganho de patogenicidade.

“Esses estudos foram muito usados há 10, 15, 20 anos atrás e faziam parte de um processo de entendimento para identificar o tipo de mutações que, se detectadas na natureza, devem ser usadas como alarmes para a gente prever o surgimento de cepas altamente patogênicas, de variantes altamente patogênicas, principalmente de vírus respiratórios”, diz Fonseca, que compartilha a opinião pessoal de que esses estudos devem ser limitados por serem “muito arriscados”.

Controvérsias envolvendo pesquisas de Kawaoka e Fouchier

Um texto na revista Science informa sobre as controvérsias no meio científico desencadeadas pelas pesquisas dos virologistas Yoshihiro Kawaoka e Ron Fouchier envolvendo H5N1, quando revelaram, em 2011, “que haviam modificado separadamente o mortal vírus da influenza aviária H5N1 para que se espalhasse entre furões (uma espécie de mamíferos)”, tornando-o mais arriscado para humanos. O texto aborda a aprovação do governo americano para a retomada dos estudos depois de quatro anos em que as pesquisas ficaram suspensas por terem sido consideradas perigosas.

Reportagens publicadas pelo The Intercept e USA Today citam que houve polêmica nesses estudos. A matéria do The Intercept chega a falar em dois acidentes no laboratório de Kawaoka, porém com baixo risco de infecção. A reportagem do USA Today também aborda os acidentes. No entanto, as matérias não mencionam ter comprovadamente havido vazamento de mutação do vírus H5N1 transmissível a humanos dos laboratórios, muito menos uma suposta ação propositada nesse sentido.

Virologistas apontam para mutações na natureza

O virologista Flavio Fonseca afirma que “jamais foi notificado escape” nesses estudos.

“Os estudos, na verdade, são bem conhecidos, são estudos que avaliaram as mutações necessárias para fazer com que o vírus se disseminasse mais rapidamente entre mamíferos”, diz Fonseca. “Não houve escape desses vírus, isso jamais foi notificado. Esse tipo de estudo é conduzido em laboratórios classificados com nível de biossegurança 3 ou nível de biossegurança 4. Os mecanismos de segurança para evitar escape são absolutamente incríveis”.

O virologista Amílcar Tanuri e o infectologista Renato Kfouri, também procurados pelo Comprova, relataram maior probabilidade de surgimento na natureza de uma cepa do vírus H5N1 capaz de infectar humanos, como comumente ocorre com os vírus Influenza, do que em laboratório – possibilidade sobre a qual se mostraram descrentes.

Coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro titular da Academia Brasileira de Ciências, Tanuri explica que os vírus emergentes e pandêmicos, como o H5N1, “não surgiram pela mão do homem”, diz. Se assim fosse, acrescenta, ele deixaria “assinaturas” características da manipulação genética que teria sido feita.

“Pela análise das sequências dos vírus aviários, dessa gripe aviária, não há nenhuma indicação de ter havido algum processo feito pelo homem”, diz Tanuri.

“O ‘spillover’ (quando há transbordamento de uma espécie para outra) do vírus é característica do influenza”, diz Kfouri. “Isso ocorre ao acaso. Creio que o homem não seria capaz de alterá-lo a ponto dessa perfeição que ocorre ao acaso na natureza”.

Primeiras infecções de gado para humanos são recentes e podem ter origem em ave infectada

Em boletim de 30 de maio deste ano, o CDC reportou dois casos de infecção por H5N1 de trabalhadores rurais nos Estados Unidos durante um surto de gripe aviária em vacas leiteiras. São os “primeiros casos conhecidos de transmissão presumida de vaca para humano de vírus da Influenza A aviária”, informa o boletim. Os trabalhadores tiveram sintomas leves.

O CDC informa no boletim que o sequenciamento genético identificou que a cepa que infectou o gado e um dos trabalhadores rurais foi identificada em aves selvagens, aves comerciais, aves de criação e outros animais nos EUA desde janeiro de 2022. A investigação do outro caso segue em andamento.

Já uma reportagem do The Guardian informa que um estudo ainda não revisado por pares veio a público em maio argumentando que o vírus foi introduzido em vacas leiteiras por meio de uma única introdução de um pássaro selvagem.

O boletim do CDC informa que de 1997 até o final de abril de 2024, um total de 909 casos esporádicos de humanos com A(H5N1) foram relatados mundialmente em 23 países. Destes, 52% foram fatais.

Não há evidência de que novo coronavírus foi modificado em laboratório propositalmente

A postagem feita no X também alega que a covid-19 foi modificada em laboratório para ser capaz de infectar humanos. No entanto, outras verificações já publicadas pelo Comprova mostraram que não há evidência científica de que o SARS-CoV tenha sido criado propositalmente.

Postagem faz menção a médico que teve diversas alegações desmentidas sobre a covid-19

O tuíte faz menção a uma postagem no X de uma fundação criada pelo cardiologista americano Peter McCullough, que, segundo verificações de outras iniciativas de checagem (FactCheck.org e AFP Fact Check), tem promovido, desde o início da pandemia de covid-19, desinformação sobre a doença e vacinas de mRNA. O Comprova já mostrou que ele apresentou evidências enganosas ao sugerir conspiração da ciência contra a cloroquina no tratamento à covid-19 e que fez alegações enganosas ao indicar uma lista de substâncias indicadas para “desintoxicação” da proteína S presente na vacina contra a covid-19. Uma série de outras alegações do médico foram desmentidas por serviços de checagem no exterior.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Temas relacionados à saúde pública são alvos frequentes de desinformação. O Comprova já mostrou, por exemplo, o caso de post enganoso que associou sintomas de covid longa às vacinas contra a doença e que não é necessário detox da proteína da vacina contra o novo coronavírus.

Política

Investigado por: 2024-07-01

Post engana ao tratar quantidade de brasileiros no exterior como fluxo migratório recente

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Enganoso
Post engana ao tratar a quantidade de brasileiros vivendo no exterior como um movimento recente de emigração, sugerindo que isso esteja ocorrendo por conta do governo federal. Os dados mais recentes do Ministério das Relações Exteriores são de 2022 e estimam que, naquele ano, 4,5 milhões de brasileiros viviam fora do país, mas o movimento não é recente. O período de maior saída de brasileiros foi entre 2012 e 2013. Especialista diz que o fluxo migratório depende de questões geopolíticas, dos mercados regionais e da política dos destinos escolhidos pelos emigrantes, não apenas de questões internas do Brasil.

Conteúdo investigado: Publicação no X com um mapa e uma tabela com aqueles que seriam os países com o maior número de brasileiros residentes. A legenda diz que “O movimento de saída de pessoas do Brasil está tão grande que já está sendo considerado uma diáspora”, dando a entender que esses brasileiros deixaram o país no momento atual.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: É enganoso post no X segundo o qual “o movimento de saída de pessoas do Brasil está tão grande que já está sendo considerado uma diáspora”. Sem mencionar diretamente, o conteúdo sugere que isso seria culpa do atual governo federal. A publicação compartilha um mapa produzido por um perfil especializado em fazer conteúdos a partir de dados, e este, por sua vez, não indica a metodologia utilizada. Embora a lista de países com mais brasileiros esteja bem próxima da realidade, a maior parte dos números difere do dado mais recente, de 2022, divulgado em agosto do ano passado pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE), que aponta 4,5 milhões de brasileiros vivendo fora do Brasil.

Diferentemente do que o post leva a crer, os dados não mostram uma saída repentina de brasileiros do país, e sim o número de pessoas que já vivem no exterior no momento da coleta de dados – elas podem ter chegado em outros países há um ano ou há décadas. Esse número acumulado é chamado de estoque por especialistas.

Além disso, segundo a professora Rosana Baeninger, pesquisadora do Departamento de Demografia, do Núcleo de Estudos de População Elza Berquó e Observatório das Migrações em São Paulo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), não é possível chamar essa saída dos brasileiros de “diáspora”, porque isso exigiria a formação de uma comunidade politicamente forte em outro país, desencadeada por uma crise, o que não é o caso do Brasil.

O perfil que fez a publicação no X não se identifica por um nome, nem permite o envio de mensagens, de modo que não foi possível contatá-lo. Os responsáveis por produzir o material, Maps Interlude, também não disponibilizam uma forma de contato em seu site.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 29 de junho de 2024, o post tinha 1,9 milhão de visualizações.

Fontes que consultamos: Para esta checagem, foram acessados documentos do Ministério das Relações Exteriores que registram estimativas de brasileiros que vivem no exterior desde 2009. Também foram consultados dados sobre a população brasileira vivendo fora do Brasil no Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, foi entrevistada a professora doutora Rosana Baeninger, pesquisadora do Departamento de Demografia, do Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó” e do Observatório das Migrações em São Paulo da Unicamp.

Qual o tamanho da comunidade brasileira no exterior?

O número mais recente de brasileiros vivendo no exterior é uma estimativa referente a 2022, divulgada em agosto do ano passado pelo MRE: 4,5 milhões de pessoas, distribuídas em 175 países e territórios pelo mundo. “É importante a gente dizer que se trata de um estoque de brasileiros no exterior. Tem pessoas que foram há 60 anos, 50 anos, e estão lá. Não quer dizer que todo mundo saiu em 2022”, explica a professora Rosana Baeninger, da Unicamp.

Esses dados, contudo, não são exatos porque o MRE não tem jurisdição para fazer um censo fora do Brasil. Os números, então, são contabilizados a partir da emissão de passaportes e outros documentos e serviços realizados nas embaixadas, ou por uma matrícula consular – quando um brasileiro se apresenta ao consulado do Brasil no exterior para informar que se mudou, mas essa apresentação não é obrigatória.

O único momento em que houve uma tentativa de contabilizar a população brasileira no exterior foi em 2010. No censo daquele ano, o IBGE perguntou aos moradores se algum integrante daquele domicílio morava fora do país. O número foi de 495.645 brasileiros vivendo fora do Brasil, bastante inferior aos 3,1 milhões que o MRE estimou para aquele ano. Mas, a pergunta não foi incluída na PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, feita ano a ano, nem no Censo de 2022, por isso não há como comparar.

Sobre os dados do MRE, o número estimado para 2022 é ligeiramente superior ao registrado no levantamento de 2021, que mostrava haver 4,4 milhões de brasileiros morando fora do Brasil, uma alta de 4%. O maior aumento, segundo os dados do MRE, ocorreu em 2013, com relação a 2012: naquele ano, 902.487 brasileiros deixaram o Brasil para viver em outros países, 48% a mais do que no ano anterior.

Para Baeninger, essa grande diferença entre 2012 e 2013 pode estar relacionada com uma melhora na coleta dos dados, mas também tem forte influência do acordo de residência do Mercosul, que permite que brasileiros transitem, morem e trabalhem nos países do bloco. O acordo foi firmado em 2009.

Haiti e Colômbia viveram ou vivem diáspora, não o Brasil

A pesquisadora Rosana Baeninger explica que o fluxo migratório de brasileiros para outros países não chega a configurar uma diáspora, diferentemente do que alega a publicação investigada. O site responsável por criar o mapa também chama a saída de brasileiros de ‘diáspora’, mas sem atribuí-la a um governo ou afirmar que o fluxo é recente. “[A diáspora] quando se forma uma comunidade politicamente forte em outros países, e quando tem uma crise. Nós não temos uma diáspora, uma crise em que os brasileiros estão escapando para sobreviver. Não são comunidades políticas fora do Brasil”, afirma.

Ela cita como exemplos de diáspora o que acontece há várias décadas no Haiti e o que ocorreu na Colômbia, quando muitos colombianos foram para a Espanha por causa da violência interna no país. O termo, na realidade, tem um fundo histórico e antropológico. Costuma ser usado para tratar da dispersão dos judeus e dos povos africanos, por exemplo. O dicionário Caldas Aulete define o termo diáspora como a “dispersão de um povo ou de uma classe pelo mundo ao longo dos anos ou dos séculos, por perseguição política, religiosa ou étnica”.

Para Baeninger, a emigração de brasileiros faz parte de um processo histórico. “Antes, a mobilidade social brasileira era muito garantida pela migração interna. Isso vai se decompor a partir dos anos 1990 e começo dos 2000. No século XXI, estamos passando por uma transição. Embora tenhamos muitos postos de trabalho, não temos a qualificação dessas pessoas. E aquela mobilidade social que a migração interna garantia vai se desfazendo”, explica. Por isso, muitos buscam essa mobilidade em outros países

“Não tem a ver com questão ideológica, nem com governo. Essa emigração tem, na ponta, uma questão que é global, dessas novas dinâmicas do emprego. Nesses países de destino, na Europa, Canadá, Estados Unidos, a transição demográfica está avançada e eles não têm mais jovens. Eles vão absorver a mão de obra qualificada deles e, para os serviços secundários, eles vão precisar de uma mão de obra migrante”, afirma a pesquisadora.

Onde os brasileiros mais moram no exterior?

A tabela exibida no post viral lista os 24 países com maior número de brasileiros. Embora a maioria dos países da lista esteja correta, os números são inconsistentes, e não há uma indicação de qual seja a fonte deles. O que se pode dizer é que os Estados Unidos são, há algum tempo, o país com o maior número de brasileiros – 1,9 milhão em 2022 –, seguido de Portugal (360 mil), Paraguai (254 mil), Reino Unido (220 mil) e Japão (206.990), de acordo com os dados do MRE.

Há uma razão histórica para alguns desses destinos receberem muitos brasileiros. Em outros casos, o fluxo migratório tem a ver com geopolítica internacional e com o que os países têm a oferecer aos brasileiros. Segundo Baeninger, já se sabe que os Estados Unidos tinham empresas em Governador Valadares (MG) na Segunda Guerra Mundial, o que ajudou a formar uma rede. O Japão, por sua vez, tinha uma forte política para receber imigrantes.

“Mas, a gente só vai se dar conta dessa dimensão quando chegou ao Primeiro Mundo. Porque já nos anos 1970, quantos brasileiros estavam no Paraguai? Mais de 400 mil. Mas, a gente só vai observar quando começa a ser esse fluxo sul-norte. Os principais destinos eram EUA, Japão e o Paraguai”, aponta.

O número de emigrantes brasileiros partindo para outros lugares começa a aumentar depois de 2010 à medida que a política e o perfil migratório dos países foi mudando: Portugal, por exemplo, tinha uma migração focada em dentistas, e passou a se receber profissionais da construção civil; o Chile costumava empregar estrangeiros em cargos de gerência, mas hoje há brasileiros em diferentes postos de trabalho.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já checou outros conteúdos que tentavam atacar a situação econômica e política do Brasil: mostrou que um vídeo comparava dados diferentes e enganava sobre déficit das contas públicas; explicou o que é a Selic e porque ela não deve ser analisada a partir de valores médios em cada governo; e mostrou que post enganava ao afirmar que Lula foi afastado de líder em foto oficial do G7.

Saúde

Investigado por: 2024-07-01

Post engana ao afirmar que Índia pediu pena de morte a cientista da OMS contrária ao uso da ivermectina contra covid-19

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso que o governo indiano tenha pedido pena de morte para Soumya Swaminathan, ex-cientista-chefe da OMS, por propagar desinformação contra ivermectina no tratamento de covid-19. Além de a ivermectina ser um remédio contra parasitas e vermes e não ter eficácia comprovada contra o Sars-CoV-2, um vírus, o órgão citado em site cujo texto viralizou não representa o poder público indiano. A Indian Bar Association é uma associação voluntária de advogados e não funciona como uma “OAB indiana”, diferentemente do que afirmam os posts enganosos.

Conteúdo investigado: Matéria do site The People’s Voice reproduzida nas redes sociais afirma que a Índia pediu pena de morte para “cientista da OMS que bloqueou o acesso à ivermectina” para tratamento da covid-19.

Onde foi publicado: X, TikTok e Telegram.

Conclusão do Comprova: Post engana ao apontar que a Índia processou e pediu pena de morte para ex-cientista-chefe da Organização Mundial de Saúde (OMS), Soumya Swaminathan, por desincentivar o uso de ivermectina no tratamento da covid-19. O medicamento, que atua contra parasitas e vermes, não tem eficácia comprovada contra o Sars-CoV-2.

O texto do portal The People’s Voice, site conservador que espalhou a desinformação, afirma que o suposto processo foi movido pela Ordem dos Advogados do país. No entanto, a organização citada, Indian Bar Association (IBA), ou Ordem dos Advogados da Índia em português, não tem ligação com o governo do país.

Embora tenha esse nome, a IBA é uma associação voluntária de advogados e não funciona como uma “OAB indiana”, como indicam posts. Na Índia, a associação que tem papel similar ao da Ordem dos Advogados do Brasil é o Bar Council of India.

A IBA enviou um aviso legal para a cientista em 26 de maio de 2021, em que acusa Swaminathan, que trabalhou como cientista-chefe da OMS durante a pandemia, de propagar desinformação contra ivermectina, e outro em 14 de setembro de 2022, por “divulgar a narrativa de que as vacinas contra a covid-19 são completamente seguras”. Essas notificações, ao contrário do que diz postagem, não equivalem a um processo na Justiça. O conteúdo também foi investigado pelo Estadão Verifica. Ao jornal, a OMS afirmou que não recebeu qualquer processo formal contra a cientista.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 28 de junho, um post no X com a desinformação tinha sido visualizado mais de 95 mil vezes e recebido 9 mil curtidas. No TikTok, post semelhante foi retirado do ar.

Fontes que consultamos: Buscamos pela publicação completa no site que aparece na captura de tela. A partir do texto, procuramos no site da India Bar Association informações sobre processos e outros documentos emitidos pela organização. Também entramos em contato com a OMS e a IBA, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Organização já fez outras notificações contra a cientista

Durante a pandemia, a IBA se mostrou atuante contra a vacinação e a favor de tratamentos sem eficácia comprovada contra a covid, como a hidroxicloroquina e a ivermectina.

A primeira notificação legal contra Soumya Swaminathan foi em 25 de maio de 2021. No comunicado, a associação acusa a autoridade em saúde de “realização de uma campanha de desinformação contra Ivermectina por supressão deliberada da eficácia do medicamento ivermectina como profilaxia e para tratamento de covid-19, apesar da existência de grandes quantidades de dados clínicos compilados e apresentado por médicos conceituados, altamente qualificados e experientes médicos e cientistas”.

O texto se refere a uma postagem no X onde a médica reforça o posicionamento da OMS e compartilha declaração da farmacêutica Merck, responsável pela produção do Stromectol (ivermectina), que alerta para a falta de comprovação científica e dados sobre a segurança do medicamento no tratamento contra a covid. A postagem em questão não está mais disponível.

Na notificação, a IBA cita a Front Line Covid-19 Critical Care Alliance (FLCCC), organização que defende o uso de medicamentos ineficazes, e integrantes da aliança, como os médicos Pierre Kory e Paul E. Marik, que já foram citados em outras checagens do Comprova. O grupo brasileiro Médicos pela Vida também é citado.

Em 13 de junho, menos de um mês depois, os advogados voltaram a emitir notificação legal contra Swaminathan, o diretor-geral da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, e o membro da Direção Geral dos Serviços de Saúde (DGHS) do governo da Índia, Sunil Kumar, em que volta a acusar as autoridades de disseminar desinformação contra a ivermectina.

Pouco depois, em 13 de julho, a India Bar Association apresentou uma queixa formal contra autoridades de saúde e outros divulgadores científicos, entre eles a associação de Bill Gates, por “conspiração e ofensas graves cometidas contra a humanidade na pandemia de covid-19”.

O documento pede que os acusados sejam incriminados por “crime contra a humanidade” e que a prisão seja garantida pela Interpol. Os advogados afirmam que Swaminathan, Tedros Adhanom, Bill Gates, Anthony Fauci, Mark Zuckerberg e outros “são culpados de assassinatos em massa e estarão sujeitos à pena de morte” sem direito a fiança.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo foi verificado por Estadão Verifica e Boatos.org. O uso da ivermectina contra a covid já foi investigado diversas vezes, como quando o Comprova mostrou que um estudo realizado em Itajaí (SC) não provava a eficácia do medicamento e que um post desinformava ao afirmar que pesquisa havia descoberto relação entre a droga e a covid longa.

Política

Investigado por: 2024-06-26

É satírico o vídeo em que homem diz estar indo investigar túmulo de Lula

  • Sátira
Sátira
São satíricos os vídeos sobre uma suposta investigação de um túmulo onde estaria sepultado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os conteúdos foram postados no TikTok por um perfil que afirma publicar “fantasias, sátiras, comédia, sem base na realidade”. No discurso, há elementos fantasiosos, uso de termos de duplo sentido e da imagem de um personagem fictício. Além disso, parte das imagens foi feita em Campo Grande (MS), e não no interior da Bahia, como afirma o autor.

Conteúdo investigado: Série de vídeos em que um homem afirma estar investigando uma denúncia de que existe um túmulo onde estaria sepultado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enquanto outra pessoa estaria governando o Brasil no lugar dele. Um dos vídeos afirma que o túmulo fica em uma cidade no interior da Bahia, outra postagem diz que foi localizado um chip no mausoléu. O autor do conteúdo satírico diz que o resultado da investigação seria exibido na edição de 23 de junho de 2024 do Fantástico, da Rede Globo.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Não há qualquer base factual na série de vídeos satíricos publicadas no TikTok, em que o autor afirma estar saindo de São Paulo e viajando em direção a uma cidade no interior do Nordeste para investigar a existência de um suposto túmulo do presidente Lula (PT). A sequência tem oito vídeos e, já no primeiro deles, o autor inclui a seguinte legenda: “Vídeo sem base na realidade humor ficção, feito para gado!” (sic). Mesmo assim, há comentários na publicação indicando que algumas pessoas tomaram o conteúdo como verdadeiro.

Uma mulher diz ter comentado com o marido que Lula morreu antes da posse. Outra diz: “Que a verdade seja mostrada em nome de Jesus. Que assim seja!”. São comentários que parecem ter ignorado a legenda e a descrição do perfil, que afirma publicar “fantasias, sátiras, comédia, sem base na realidade”.

Outro indício de que o vídeo é uma sátira é o fato de ter elementos humorísticos: a suposta fonte da informação sobre o túmulo seria um homem que mora no interior da Bahia chamado Paulo Minoso, um termo de duplo sentido para “pau luminoso”. O autor chega a se queixar do sumiço da fonte no momento da chegada à cidade no interior da Bahia e afirma que será preciso expor o homem. Em seguida, exibe uma fotografia de um personagem de memes chamado Leno Brega – autor de paródias de cunho sexual de músicas sertanejas.

O Comprova conseguiu identificar que parte das imagens dos vídeos foi feita em Campo Grande (MS), e não no interior da Bahia. E não há nenhum registro de óbitos de pessoas chamadas “Luiz Inácio Lula da Silva” em cartórios de registro civil do Estado. O autor afirma também que sua “investigação” seria divulgada em uma reportagem do Fantástico, da Globo, no dia 23 de junho, o que não ocorreu.

Ao Comprova, o autor do conteúdo, o empresário Rod Rocha, afirmou que suas publicações são satíricas.

Sátira, para o Comprova, são memes, paródias e imitações publicadas com intuito de fazer humor. O Comprova verifica conteúdos satíricos quando percebe que há pessoas tomando-os por verdadeiros.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 26 de junho, a sequência de vídeos somava mais de 2,5 milhões de visualizações. Apenas um dos vídeos alcançou 1,3 milhões.

Fontes que consultamos: Para esta checagem, o Comprova acessou os vídeos publicados pelo autor sobre o assunto, utilizou ferramentas de busca reversa de imagens (Yandex) e geolocalização (Google Maps) para identificar o local onde os vídeos foram feitos, além do app Sinesp Cidadão, do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), para identificar o local de registro de placas de carro que aparecem nas imagens.

Também foi acessada a última edição do Fantástico, de 23 de junho de 2024, e a Consulta Pública de Óbitos em Cartórios de Registro Civil da Bahia. O responsável pelo conteúdo foi procurado e confirmou que o conteúdo é satírico.

Vídeos foram feitos no Mato Grosso do Sul, não na Bahia

Apesar de afirmar que está saindo de São Paulo e indo de carro até uma cidade no interior da região Nordeste – sem especificar qual delas – o autor do vídeo gravou pelo menos uma parte do conteúdo na cidade de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Foi possível fazer a identificação a partir da parte 2 da sequência de vídeos, em que ele afirma estar chegando em uma cidade que fica próxima do local onde ficaria o suposto túmulo.

Em outro vídeo, ele diz que o local seria no interior da Bahia, o que não é verdade. Em um momento do vídeo, é possível identificar a placa de um carro Fiat, modelo Mobi 2021, com placa de Campo Grande. No mesmo vídeo, é possível ver do lado direito da imagem uma loja chamada MultiArt. O Comprova identificou o mesmo local na Avenida Manoel da Costa Lima, nº 550, em Campo Grande – bem longe da Bahia.

Mesmo sabendo que o conteúdo é satírico, o Comprova buscou por eventuais registros de óbito em nome de “Luiz Inácio Lula da Silva” em cartórios de registro civil da Bahia. No vídeo, o homem disse que os cartórios não quiseram mostrar os registros, mas eles são públicos. Não há nenhum óbito de um “Luiz Inácio Lula da Silva” em cartórios de registro civil da Bahia, segundo dados do site oficial do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA).

Ao Comprova, o autor do vídeo afirmou que se chama Rod Rocha, é empresário e tem 46 anos. Rod reafirmou que suas publicações são sátiras. “Sempre coloco nomes de pessoas fictícias com duplo sentido como Paulo Minoso, Equipe Iroca, muitas pessoas dão risadas e entendem a brincadeira. Na bio tem a informação de sátira e humor, assim como não capa do vídeo”, disse o autor.

Fantástico não fez reportagem sobre morte de Lula

Em um dos vídeos, o autor afirma que o resultado de sua investigação seria divulgado em uma reportagem no Fantástico, programa da Rede Globo, no dia 23 de junho. Nesta data, a revista eletrônica não divulgou qualquer matéria relacionada a uma suposta morte de Lula. Entre os temas abordados pelas reportagens desta edição estão incêndio no Pantanal, ações relacionadas às enchentes no Rio Grande do Sul, a qualidade dos colchões de espuma vendidos no Brasil e o fim da greve em universidades federais, além de notícias sobre esporte, como Campeonato Brasileiro e Copa América.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A teoria conspiratória sobre a morte de Lula já foi verificada anteriormente. Em dezembro de 2022, o Comprova mostrou que eram falsas as alegações de que o presidente sofreu um AVC, morreu e foi substituído por um sósia. Outros temas relacionados à política brasileira também são alvos de desinformação e já foram verificados, como o post que engana ao afirmar que Lula foi afastado de líder em foto oficial do G7 e outra postagem enganosa que sugere que um secretário do governo confirmou a cobrança de novo imposto sobre o pix.

Política

Investigado por: 2024-06-26

Publicação distorce fala de Lula sobre população carente

  • Enganoso
Enganoso
Vídeos enganam ao utilizar recortes de discursos de Lula (PT) em Teresina (PI) e em Brasília (DF). O presidente não disse que políticos não devem cuidar de pobres porque quando eles ascenderem socialmente deixarão de votar. Os conteúdos enganosos omitem o trecho em que o presidente atribui esse pensamento ao que ele chama de “elite conservadora do Piauí” e tiram de contexto uma reflexão dele a respeito da necessidade de seu partido, o PT, conversar com outras classes sociais.

Conteúdo investigado: Vídeos com recortes de discursos de Lula em Teresina, no dia 21 de junho de 2024, e em convenção do PT, em 8 de dezembro de 2023, em que o presidente teria dito que políticos não deveriam cuidar de pessoas pobres porque quando elas estudam e ascendem socialmente deixam de votar.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Vídeos tiram de contexto trecho de discurso do presidente Lula (PT) realizado em 21 de junho, em Teresina, durante o evento de encerramento da Caravana Federativa, evento itinerante que visa a promover a articulação entre as esferas de governo federal, para discutir programas, políticas e serviços públicos. As publicações recortam falas do presidente e alegam que ele teria dito que os políticos não deveriam tirar pessoas da pobreza porque, se elas estudarem e aumentarem o padrão de vida, não votarão mais.

Os posts exibem o seguinte trecho da fala de Lula: “Então, pobre é pobre, tem que trabalhar, pobre é pobre, a gente ganha o voto de pobre na época da lei, para que cuidar de pobre? Porque na hora que a gente começa a ajudar as pessoas mais humildes e as pessoas vão comendo, as pessoas vão trabalhando, as pessoas vão estudando, as pessoas também ficam mais conscientes politicamente e as pessoas podem não votar, sabe?”.

Na transcrição do discurso e na gravação completa do pronunciamento, disponibilizadas pelo Planalto, é possível ver que as publicações enganosas cortaram a parte em que Lula atribui esse pensamento à “elite conservadora” do Piauí. Nesse momento, ele fazia uma reflexão sobre a dificuldade de fundar o PT, e não ao presente. “Aqui tinha uma elite conservadora muito comprometida com a elite conservadora do Sul do país”, afirmou o petista.

“É que muita gente da elite que governou o Nordeste, eles pensavam como pensava a elite do Sul do país e estavam pouco se lixando para fazer o desenvolvimento dos seus estados, porque eles viviam bem, ele vivia bem, ele não passava fim de semana aqui no Piauí, eles viajavam”, criticou Lula.

Um dos posts analisado pelo Comprova exibe ainda outro recorte de um discurso de Lula feito no dia 8 de dezembro de 2023, durante uma conferência do PT em Brasília (DF), em que o presidente diz que o perfil do eleitor do partido é de classes mais baixas, como mostra a íntegra da fala. Como verificado pelo UOL, o petista não disse que esses eleitores não são inteligentes ou não podem ascender socialmente, porque deixariam de votar no partido. Ele fazia, na verdade, uma reflexão sobre a necessidade da legenda conversar com outras classes sociais.

“Quem vota majoritariamente no PT são pessoas que ganham até dois salários mínimos. Um metalúrgico de São Bernardo, que ganha R$ 8 mil, já não quer mais votar na gente. Pega a pesquisa e vocês percebem que quem ganha acima de cinco salários mínimos já tem dificuldade de votar na gente. É por que essa pessoa ficou ruim? Não, é porque possivelmente essa pessoa elevou um milímetro padrão de vida dela, de aprendizado dela e nós não aprendemos a conversar com ela”, disse Lula durante a convenção do partido em Brasília.

O Comprova entrou em contato com os autores dos post enganosos, mas não houve retorno.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Os vídeos analisados somavam até o dia 25 de junho mais de 308,9 mil visualizações, 16,6 mil curtidas e 1,7 mil comentários.

Fontes que consultamos: Fizemos uma busca reversa no Google para encontrar os vídeos na íntegra, procuramos os discursos nos canais oficiais do governo e consultamos outras verificações feitas por outros veículos.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Estadão já verificou o discurso de Lula feito no Piauí e entendeu ser enganosa a afirmação de que o presidente defendia exploração eleitoral da população carente. O Comprova já mostrou casos semelhantes com recorte da fala do ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso e com outra declaração do petista, em que a voz do presidente foi distorcida para alimentar teoria conspiratória.

Política

Investigado por: 2024-06-24

Post engana ao afirmar que Lula foi afastado de líder em foto oficial do G7

  • Enganoso
Enganoso
Publicação engana ao dizer que segurança mandou Lula (PT) se afastar de homem, que seria um rei, no momento da foto com líderes mundiais convidados do G7, na Itália. O homem que interagiu com o petista é o presidente do Banco Mundial, Ajay Banga. E ele mostrava a posição determinada para Lula para a captação da imagem das autoridades. Já o homem apontado como rei é Mohammed bin Zayed Al Nahya. Na verdade, ele é um sheik e também presidente dos Emirados Árabes.

Conteúdo investigado: Trecho de vídeo que mostra diversos líderes mundiais se posicionando para a foto do G7, na Itália, acompanhado da palavra “Vergonha” e do texto “Lula subiu de penetra e o segurança do rei mandou se afastar e descer o degrau. E, saiu”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Publicação engana ao dizer que Lula (PT) subiu de penetra no local onde era realizada a foto oficial da cúpula do G7 e que o segurança de um rei teria mandado o presidente se afastar e descer da área destinada aos convidados do evento.

O post contém um trecho de um vídeo no qual mostra líderes mundiais se preparando para a foto oficial com os convidados da cúpula. É possível ver que Lula se aproxima do grupo e um homem de turbante vermelho aponta para o chão, orientando o presidente.

Na versão da publicação enganosa, seria uma ordem para que Lula se afastasse do homem de turbante branco, que seria um rei, e deixasse o local, o que não é verdade.

O Estadão e a Reuters também checaram o post e identificaram que o homem que aparece interagindo com o brasileiro era o presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, e não um segurança do evento. Já o homem de turbante branco é o sheik e presidente dos Emirados Árabes, Mohammed bin Zayed Al Nahyan, e não um rei.

O vídeo completo da movimentação das autoridades mostra que Ajay Banga estava indicando o local determinado para o presidente brasileiro se posicionar para tirar uma foto com os demais participantes do evento. É possível ver que há indicações no chão para a posição de cada líder mundial.

Ao contrário do que alega a publicação, Lula posou para a foto com os demais convidados para o G7 e ficou, inclusive, ao lado do presidente dos Emirados Árabes.

Lula foi convidado pela primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, para a reunião do G7, ocorrida em Borgo Egnazia, na região de Puglia, no sul da Itália. Foi a 8ª vez que o petista participou da cúpula como convidado, seis vezes nos seus dois primeiros governos e uma em 2023, no primeiro ano do terceiro mandato.

Na edição de 2024, o presidente participou de reuniões com Giorgia Meloni; com a representante da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen; com o premiê da Índia, Narendra Modi; com o presidente da Turquia, Recep Erdoğan; com o presidente da França, Emmanuel Macron; além de ter um encontro com o Papa Francisco e com o chanceler alemão, Olaf Scholz.

O autor do post enganoso não permite o envio de mensagens, por esta razão, não foi possível contactá-lo.

Para o Comprova, é enganoso o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 24 de junho, a publicação tinha mais de 910,3 mil visualizações, 37,6 mil curtidas e mais de 8,1 mil comentários.

Fontes que consultamos: Fizemos uma busca reversa no Google para encontrar o vídeo original e a foto oficial do G7. Também procuramos por outras checagens feitas a respeito do tema.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já verificou outras peças de desinformação sobre a viagem de Lula à Europa em junho de 2024 e mostrou, por exemplo, que o presidente não foi excluído de foto do G7 que mostra apenas os líderes dos países membros, explicou também que a visita dele e da primeira-dama Janja ao continente foi para cumprir agenda diplomática e que a diária no hotel onde o casal se hospedou custa até R$ 2,5 mil e não R$ 71 mil.

Contextualizando

Investigado por: 2024-06-22

Hotel em que Lula ficou na Itália tem diárias de até R$ 2,5 mil, e não de mais de R$ 71 mil

  • Contextualizando
Contextualizando
Após ser noticiado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja, iriam à Itália participar da Cúpula do G7, postagens foram compartilhadas nas redes sociais afirmando que o casal ficaria hospedado no hotel Borgo Egnazia, com diária acima de R$ 71 mil. Entretanto, conforme a Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo federal, Lula se hospedou no hotel Sole in Me, cuja diária é de 423 euros, ou seja, R$ 2.483,98.

Conteúdo analisado: Postagens nas redes sociais e em um blog afirmando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, iriam se hospedar no hotel cinco estrelas Borgo Egnazia, onde a diária passa dos R$ 71 mil, durante viagem à Itália para participar de um encontro do G7. 

Onde foi publicado:  X, Instagram, YouTube, Threads, Facebook, Kwai e TikTok. 

Contextualizando: O presidente Lula (PT) e a primeira-dama Janja estiveram na Itália, nos dias 14 e 15 de junho, para cumprir agenda junto à cúpula do G7, realizada no hotel Borgo Egnazia, na região da Puglia. O casal esteve no resort apenas durante a programação do evento e não ficou hospedado no local. 

O resort é um complexo luxuoso com casas, apartamentos, restaurantes e jardins, com diárias que variam de 2.380 euros (R$ 13.822,00) a 3.520 euros (R$ 20.443,00). A conversão dos valores foi feita pela ferramenta disponibilizada pelo Banco Central seguindo a cotação do dia 20 de junho.

Conforme informado pela Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo federal, o presidente se hospedou no Sole in Me, que se descreve como um resort de luxo cinco estrelas situado na cidade de Ostuni, também na região da Puglia. O órgão se recusou a informar, contudo, o valor pago por cada diária do quarto do casal. Mas o estabelecimento negou ao Comprova que tenha diárias no valor de R$ 71 mil.

O Comprova verificou a diária mais cara no estabelecimento, na Suíte Embaixador, que custava 432 euros no dia 20 de junho, ou seja R$ 2.483,98. A reportagem identificou dois pagamentos feitos pelo Ministério das Relações Exteriores ao hotel, um em maio e outro em junho, para hospedagem de parte da equipe de Lula no contexto da preparação do presidente na cúpula do G7. Os valores somam 60.500 euros (R$ 336.997,10). A Secom e o Itamaraty não informaram quantas pessoas ficaram hospedadas no local e por quantos dias. 

Um terceiro pagamento também foi feito ao hotel, no valor de R$ 27.338,52, para aluguel de equipamentos como computadores e roteadores, além de contratação de cerimonial. 

A reportagem fez a mesma busca no Portal da Transparência por pagamentos ao Borgo Egnazia, mas nada foi encontrado.

Antes da viagem, o jornal Folha de S.Paulo havia noticiado que o encontro da cúpula ocorreria no resort Borgo Egnazia, mas que o presidente brasileiro não ficaria hospedado no local. De acordo com o veículo, a sede do encontro teria sido escolhida pela primeira-ministra Giorgia Meloni, que hospedou no local Joe Biden (EUA), Emmanuel Macron (França), Olaf Scholz (Alemanha), Rishi Sunak (Reino Unido), Fumio Kishida (Japão) e Justin Trudeau (Canadá). 

Lula participou do evento no hotel nos dias 14 e 15, realizando reuniões com diferentes lideranças, a convite de Giorgia Meloni.O G7 é composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, mas os eventos do grupo costumam contar com a presença de países convidados. 

O colunista Cláudio Humberto e o site Diário do Poder, que também publicou nota sobre a hospedagem de Lula, foram procurados pela reportagem, mas não retornaram até esta publicação. 

Fontes consultadas: A reportagem consultou o Portal da Transparência do governo federal, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) e o Ministério das Relações Exteriores. Também foram feitas tentativas de contato com os hotéis Borgo Egnazia e Sole in Me, além de cotados os preços das diárias do último. Por fim, o Comprova procurou também o colunista Cláudio Humberto e o site Diário do Poder. 

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais:  O Comprova já explicou outro conteúdo que cita a viagem de Lula à Europa e mostrou que ele e a primeira-dama foram ao continente para cumprir agenda diplomática, e não para festejar o Dia dos Namorados. O projeto também checou anteriormente conteúdo desinformativo sobre valores pagos pelo governo brasileiro em diárias fora do país, informando que, em 2019, a hospedagem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em um hotel de luxo de Abu Dhabi não foi paga com dinheiro público brasileiro

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-06-20

Enchente em São Leopoldo (RS) não foi causada por rompimento de barragem

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso vídeo em que podcaster diz que inundação em São Leopoldo (RS) foi causada pelo rompimento de uma barragem. A inundação foi provocada por precipitações intensas, que levaram ao desligamento de casas de bombas e resultaram na erosão parcial de um dique de drenagem de água.

Conteúdo investigado: Vídeo de entrevista do podcaster Diego Santana Correa Oliveira em que ele afirma que a enchente em São Leopoldo (RS) foi provocada pelo rompimento de uma barragem que estaria há 13 anos sem manutenção. Ele também acusa o estado e o município de processar pessoas que teriam alertado sobre a enchente, e alega ainda que não viu a presença do governo em abrigos.

Onde foi publicado: Tiktok, Instagram e YouTube.

Conclusão do Comprova: O desastre das chuvas em São Leopoldo (RS) não foi causado pelo rompimento de uma barragem, diferentemente do que afirma um post viral. O município foi um dos mais afetados pelas enchentes no estado e emitiu o primeiro alerta para chuvas fortes em 27 de abril. Na data, a prefeitura informou que houve acúmulo de 63 mm de chuva em uma hora.

São Leopoldo fica na região do Rio dos Sinos e já havia sofrido com enchentes em 2023 e em outros anos. Por estar em uma região ameaçada por alagamentos, o município tem um sistema de drenagem composto por diques e casas de bombas espalhadas pelo território.

No mapa interativo do Sistema de Segurança de Barragem (SNISB), da Agência Nacional de Águas (ANA), é possível ver que não há barragens que retêm o fluxo de rios em São Leopoldo. O painel interativo da SNISB lista quatro barragens na cidade, duas de aquicultura, uma industrial e outra para recreação. Nenhuma delas está classificada com dano potencial alto (quanto estrago a barragem poderia provocar se se rompesse).

O que existe na cidade são diques, que chegam a 20,4 km de extensão. Ao Comprova, a Prefeitura de São Leopoldo disse que essas estruturas não se romperam e que “foram vitais para evitar uma catástrofe maior”. Afirmou ainda que os alagamentos foram provocados pelo grande volume de chuvas na região: 966 mm entre 24 de abril a 27 de maio. Apenas entre 30 de abril e 2 de maio foram 304 mm na cabeceira do Rio dos Sinos, na cidade de Caraá, e no Rio Paranhana, em São Francisco de Paula, e seus afluentes. Somente em São Leopoldo foram registrados 700,4 mm de chuva entre 27 de abril a 28 de maio.

Em Novo Hamburgo, a chuva intensa fez o Rio dos Sinos passar por cima do dique, pela primeira vez na história. A estrutura protegia a cidade até o nível de 9,50 metros do rio, mas o nível chegou a quase 10 metros. Foi decidido então que a casa de bombas do bairro Santo Afonso, que joga a água do Arroio Gauchinho para o Rio dos Sinos, seria desligada, pois, na avaliação da gestão municipal de Novo Hamburgo, não faria sentido jogar a água para o rio que estava transbordando.

A alegação do podcaster de que os governos não estão presentes em abrigos e que as vítimas das enchentes são amparadas apenas por voluntários também não procede. Em São Leopoldo, onde vivem mais de 217 mil habitantes, 100 mil pessoas ficaram desalojadas e cerca de 20 mil receberam auxílio em 132 abrigos da prefeitura e entidades parceiras, conforme informado pelo município.

Um balanço divulgado pelo Estadão em 15 de maio, um mês antes de o vídeo enganoso viralizar nas redes sociais, mostrou que o Rio Grande do Sul contava com 830 abrigos em atividade em 103 municípios, criados tanto pelo poder público quanto pela sociedade civil, em escolas, centros desportivos, universidades, clubes e outros espaços.

É possível constatar a presença governamental nos abrigos, por exemplo, na força-tarefa montada pela prefeitura de São Leopoldo para prestar atendimento de saúde nos albergues montados na cidade, nos serviços de Justiça disponibilizados em um mutirão e no reforço na segurança feito por policiais militares da reserva nos locais de acolhimento.

Também não há evidências de que a Prefeitura de São Leopoldo tenha processado pessoas que teriam alertado sobre os alagamentos. Em buscas na plataforma JusBrasil, o Comprova não encontrou ações judiciais movidas pelo município (1, 2, 3 e 4). A administração municipal negou que tenha movido ações judiciais sobre o tema. “Os alertas foram emitidos pela Defesa Civil do município para prevenir e dar segurança às pessoas em bairros limítrofes ao Rio dos Sinos”, disse.

A reportagem tentou contato com o autor da peça de desinformação, Diego Santana Correa Oliveira, e com a assessoria do Alfa 11 Cast, podcast apresentado por ele, mas não houve retorno.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 18 de junho, o vídeo contabilizava mais de 4,6 milhões de visualizações no TikTok, 237 mil no Instagram e mais de 13 mil vezes no YouTube.

Fontes que consultamos: Uma busca reversa de imagem nos permitiu identificar o homem no vídeo. A partir das redes sociais de Diego Santana Correa Oliveira, encontramos o vídeo original da fala, feita durante entrevista dele ao No Limite Podcast, em 4 de junho.

Também consultamos o mapa do Sistema de Segurança de Barragem (SNISB) e o Google Maps para encontrar barragens na região de São Leopoldo e entramos em contato com a prefeitura local, que informou sobre a situação dos diques. O governo municipal levantou ainda a possibilidade de a barragem mencionada ser a da Usina 14 de Julho, erroneamente atribuída a São Leopoldo. Com base nisso, buscamos manifestação e relatórios de vistoria da empresa que administra o reservatório.

Barragem comprometida fica em Cotiporã

Houve, de fato, o comprometimento da estrutura de uma barragem no estado. No entanto, isso aconteceu na região entre Cotiporã e Bento Gonçalves, a cerca de 150 km de São Leopoldo. E o rompimento parcial da barragem da Usina 14 de Julho não foi a causa da situação de calamidade nos municípios.

O reservatório teve a estrutura comprometida em 2 de maio por conta das fortes chuvas que atingiram o estado e do aumento da vazão do Rio das Antas. No dia 1º de maio, a Defesa Civil e a Companhia Energética Rio das Antas (Ceran) iniciaram um Plano de Ação de Emergência para retirar a população dos locais de risco.

Ao Comprova, a Ceran afirmou que realiza manutenções periódicas e que mantém contato com os agentes públicos, Defesas Civis e com a população, principalmente em épocas de grandes vazões. A companhia também diz que não moveu qualquer processo contra pessoas que supostamente alertaram sobre os riscos.

A Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) do Rio Grande do Sul criou um Grupo de Trabalho em 2019 para monitorar a segurança das barragens. Os relatórios das vistorias podem ser conferidos no site da pasta. Os documentos não citam a Usina 14 de Julho.

Procurada pelo Comprova, a CSC energia, responsável pela barragem da Usina 14 de Julho, afirmou que as manutenções na estrutura são feitas de forma periódica, com equipe de operação e manutenção somente para o local.

Grande volume de chuva levou a colapso em casas de bombas

Em 27 de abril, dia da primeira chuva severa na região de São Leopoldo, o diretor-geral do Serviço Municipal de Água e Esgotos (Semae), Maurício Miorim, esteve em uma das casas de bombas e disse que o equipamento de macrodrenagem funcionava perfeitamente ali e em outros pontos da cidade.

A prefeitura afirmou que a inundação na cidade não foi provocada pelo rompimento do dique, e sim pelo grande volume de chuva que afetou a casa de bombas do bairro Santo Afonso, no limite com a cidade vizinha de Novo Hamburgo, em 3 de maio. Isso ocasionou o desligamento das bombas e o consequente transbordo do dique do Arroio Gauchinho, erodindo parte da estrutura e inundando o bairro Santos Dumont/Vila Brás, em São Leopoldo.

Segundo a prefeitura, o mesmo ocorreu no dique do bairro Vicentina, junto à casa de bombas do Arroio da João Corrêa. Após o transbordo da água, o dique erodiu e os equipamentos precisaram ser desligados devido à grande quantidade de água, atingindo os bairros Vicentina, São Miguel e Vila Paim.

No Arroio Cerquinha, no bairro Campina, houve o transbordo do dique, que acabou ocasionando os alagamentos no bairro Campina e Scharlau. Por medida de segurança, foi necessário o desligamento da casa de bombas do Arroio Cerquinha, devido ao alto nível da água que atingiria a parte elétrica.

O grande volume de água na região fez com que o Rio dos Sinos começasse a refutar o fluxo de seus afluentes, outro fator que contribuiu para os alagamentos.

Sistema Contra as Cheias do Rio dos Sinos está inacabado

O Sistema de Proteção contra Cheias de São Leopoldo foi construído utilizando parâmetros da histórica cheia de 1941 e, segundo a prefeitura, foi importante para que a situação de calamidade não fosse ainda mais severa devido às fortes chuvas. Nas regiões não ocupadas da cidade, no entanto, os diques foram projetados com capacidade menor, como na Avenida João Correa.

Embora a construção dos sistemas de drenagem tenha sido iniciada na década de 1960, as obras nunca foram totalmente concluídas.

Em 2015, a Defesa Civil de São Leopoldo alertou para o que seria uma “tragédia anunciada”. Na época, o coordenador do órgão afirmou que mudanças nos Planos Diretores para urbanização de áreas de preservação na região da bacia do Rio dos Sinos dificultaria o escoamento da água, deixando a área suscetível a alagamentos.

O Ministério Público Federal (MPF), em 2019, se manifestou a favor de uma ação movida pelo município contra a União para o pagamento da última parcela para finalização do Sistema Contra as Cheias do Rio dos Sinos. O processo tramita no TRF4 desde 2017.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já checou diversos conteúdos sobre a atuação das autoridades na calamidade que atinge o Rio Grande do Sul e já mostrou ser enganoso que casa de bombas de Porto Alegre tenha sido sabotada e que estrada foi bloqueada em Canoas para passagem de carretas vazias. Também mostrou que post usa vídeos antigos para minimizar a atuação do Exército nas enchentes.