O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Investigado por: 2023-12-13

Empréstimo do Brics foi aprovado pelo Senado e será destinado para pequenas e microempresas brasileiras

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Vídeo nas redes sociais aponta que o governo brasileiro pegou empréstimo de US$ 1 bilhão no "banco do Brics" sem ter uma finalidade definida para a quantia. O motivo seria o fato de a atual presidente da instituição internacional ser a ex-presidente da República Dilma Rousseff (PT). No entanto, o valor tem destino: será usado em um programa que garante acesso a crédito para as micro, pequenas e médias empresas brasileiras, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), criado em 2020 para reduzir os impactos econômicos da pandemia da covid-19.

Conteúdo investigado: Vídeo mostra homem relacionando a nomeação de Dilma Rousseff como presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) – conhecido como “banco do Brics” – ao fato de o Brasil ter fechado um empréstimo de US$ 1 bilhão junto à instituição financeira. Segundo ele, a imprensa não teria dado publicidade à aprovação da operação de crédito. O conteúdo é acompanhado do trecho de um telejornal no qual a apresentadora fala sobre o empréstimo, citando que ainda não há destinação para o valor. Na sequência, um comentarista aparece para participar do jornal e diz que, com o empréstimo, o governo federal “pode roubar e muito”.

Onde foi publicado: TikTok.

Contextualizando: O Projeto de Resolução (PRS 44/2023) que autorizou o Brasil a fazer um empréstimo de até US$ 1 bilhão com o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês) foi aprovado pelo Senado em abril deste ano. A informação foi divulgada no portal Senado Notícias. Um vídeo que viralizou nas redes sociais, publicado no mês de outubro, usa essa informação para afirmar que o governo brasileiro obteve o crédito sem dar destinação aos recursos, com anuência da presidente do banco Dilma Rousseff e assinatura do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Um comentarista ainda acrescenta que, com a operação, o governo federal “pode roubar e muito”.

No entanto, o próprio PRS 44/2023, de autoria da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, sinaliza qual será o destino do valor da operação de crédito: o financiamento parcial do Programa Emergencial de Acesso a Crédito (FGI PEAC), criado em 2020 para reduzir os impactos econômicos da pandemia da Covid-19 e executado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O programa garante a ampliação do acesso ao crédito para Microempreendedores Individuais (MEIs), micro, pequenas e médias empresas brasileiras (MPMEs).

O governo federal, em outubro, negou a informação de que a quantia do crédito não teria destinação determinada. Por meio de nota, a Secretaria de Comunicação da Presidência comunicou que o pagamento do empréstimo deverá ser feito em 30 anos, com juros de 1,64% ao ano.

Além disso, não se sustenta a afirmação de que a imprensa brasileira não teria dado publicidade à aprovação do crédito. O tema foi pautado por veículos jornalísticos como O Globo, Gazeta do Povo, Folha de S. Paulo e Correio Braziliense, também no mês de outubro, quando Dilma assinou o acordo para o empréstimo.

O que é o “banco do Brics”?

O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês) foi criado em 2015. Um ano antes, o Brasil foi sede da 6ª edição da cúpula do Brics, um bloco político-econômico composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Neste evento, que aconteceu em Fortaleza, no Ceará, o grupo de países assinou a criação do NDB, com o objetivo de subsidiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento, públicos ou privados, nas cinco nações que formam o grupo e em outros países emergentes.

A instituição realiza dois tipos de operações de crédito: soberanas, que são aquelas em que um país ou ente federativo da nação membro do Brics pede dinheiro; e não soberanas, que ocorrem quando uma empresa privada com sede em um dos países membros solicita o empréstimo.

O banco está sediado em Xangai, na China. Além dos cinco países fundadores, o NDB possui três novos membros: Bangladesh, Emirados Árabes e Egito. A instituição é formada por um conselho de governadores, outro de diretores, além de um presidente e quatro vice-presidentes. A presidência é rotativa, sendo periodicamente ocupada por representantes das nações do Brics.

Quem representa o Brasil no conselho de governadores atualmente é Fernando Haddad, ministro da Fazenda. Dilma Rousseff teve o nome aprovado para a presidência por um comitê do NDB após ser sabatinada por ministros da Economia de outros países membros do Brics. O mandato de Dilma como presidente do NDB vai até julho de 2025. Quem antecedeu a petista no cargo foi Marcos Troyjo, diplomata indicado à presidência do banco por Jair Bolsonaro, em 2020.

Projetos do Brasil no NDB

Os projetos subsidiados pelo NDB focam em áreas como energia limpa, infraestrutura de transporte, água e saneamento básico, proteção ambiental e infraestrutura digital. De acordo com dados coletados no site do banco, até 11 de dezembro de 2023, existiam 29 projetos do Brasil na instituição internacional, o que inclui aqueles aprovados (18), em tramitação (6), cancelados (3) e concluídos (2).

Portanto, o empréstimo de US$ 1 bilhão para o financiamento parcial do Programa Emergencial de Acesso a Crédito (FGI PEAC), aprovado pelo Senado em abril, não é o primeiro que o Brasil contrata com o NDB. A lista de projetos brasileiros envolve iniciativas públicas e privadas de diferentes estados e municípios do país.

O valor mais alto que o país já recebeu em empréstimo do NDB foi de US$ 1,2 bilhão para subsidiar a infraestrutura sustentável do BNDES, em 2020, durante a gestão do ex-presidente do banco, Marcos Troyjo.

 

Como o conteúdo pode ser interpretado fora do contexto original: Neste caso, a peça de desinformação tenta associar a imagem da ex-presidente Dilma Rousseff, enquanto atual presidente do NDB, ao fato do Brasil ter fechado acordo de empréstimo com o banco. Mas, na verdade, já existe um histórico de acordos do país com a instituição pelo menos desde 2018. Além disso, o conteúdo investigado dá a entender que a imprensa não cobriu o empréstimo, quando sua aprovação pelo Senado foi noticiada de forma vasta.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova tentou entrar em contato com o autor da publicação. Mas, até a publicação deste texto, ela não respondeu nossos questionamentos.

O que podemos aprender com esta investigação: É comum que os desinformadores usem trechos de reportagens ou fatos verdadeiros, de forma descontextualizada, para imprimir veracidade a determinadas teorias ou afirmações. Ao se deparar com publicações desse tipo, principalmente aquelas que não identificam fontes de informação e misturam opinião com fatos, é importante consultar diferentes veículos de imprensa de sua confiança, além de buscar canais oficiais, como o site do governo federal, do Senado e os dados no portal do próprio banco.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 13 de dezembro, o vídeo tinha mais de 140 mil visualizações, 5.275 compartilhamentos, 5.005 curtidas e 625 comentários.

Como verificamos: Em busca no Google pelos termos “Dilma empréstimo Brics” localizamos matérias publicadas na imprensa a respeito do tema, além de uma publicação do Governo Federal que detalha a finalidade do empréstimo. Também foram feitas buscas por “Oeste sem filtro + Constantino + Dilma empréstimo Brics”, sendo possível localizar o trecho da reportagem que aparece no conteúdo investigado.

No site do NDB encontramos uma relação com o histórico de todos os projetos do Brasil, divididos em: aprovados, em tramitação, cancelados ou concluídos. A lista reúne empréstimos desde 2018. Também procuramos a responsável pelo perfil que compartilhou o conteúdo apurado.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova verificou um vídeo publicado no TikTok, que alegava que um suposto membro da Otan ameaçou “desmantelar o Brasil”, dividindo-o em cinco partes, se o país continuasse sendo aliado dos Brics, grupo de países formado atualmente por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul. O conteúdo foi considerado enganoso. Já mostramos também serem enganosos posts afirmando que o Brasil fará empréstimo a Argentina.

Política

Investigado por: 2023-12-12

Homem abordado por MST em vídeo é funcionário e não dono de fazenda; ocupação foi desfeita

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Vídeo mostra integrantes do Movimento Sem Terra (MST) informando a um homem em uma propriedade rural que ele precisa deixar o local, que foi ocupado. O vídeo foi feito em uma fazenda na zona rural de Parauapebas (PA) em 20 de novembro de 2023. A ocupação fazia parte dos atos pelo Dia da Consciência Negra e foi desfeita ainda no dia 20 após uma negociação entre o movimento, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a Polícia Civil. Já o homem que aparece nas imagens sendo abordado pelos integrantes da ocupação é um funcionário, e não o dono da fazenda.

Conteúdo investigado: Vídeo em que integrantes do Movimento Sem Terra (MST) informam a um homem em uma propriedade rural que ele precisa deixar o local, já que a terra foi ocupada. Nas redes sociais, o vídeo foi compartilhado milhares de vezes, com legendas que afirmam que o MST expulsou o dono da fazenda. Algumas delas afirmam que o gado foi confiscado e que o homem foi ameaçado para deixar a própria fazenda até as 20h daquele dia.

Onde foi publicado: Twitter, Facebook, Instagram, TikTok e Telegram

Contextualizando: O vídeo de uma conversa entre integrantes do MST e um homem em uma fazenda foi publicado nas redes sociais por diversos políticos, e rapidamente alcançou milhões de visualizações. Nele, duas pessoas identificadas como integrantes do MST informam a um homem em uma casa dentro de uma propriedade rural que ele deveria deixar o local até as 20h daquele dia, já que a terra estava ocupada.

O homem, então, pergunta quem iria retirar o gado da propriedade, já que apenas ele e mais uma pessoa fazem esse trabalho por lá, enquanto uma integrante do MST responde que ninguém do movimento irá mexer nas coisas que estão no local e que aquilo já não diz respeito ao rapaz ou ao dono da terra, e sim às pessoas que a estão ocupando.

Os vídeos que viralizaram nas redes sociais ganharam textos sobrepostos à imagem ou legendas que afirmaram que o MST havia invadido uma fazenda e expulsado o dono dela. Outras diziam que o gado havia sido roubado e até que o dono tinha sido ameaçado. Algumas apenas teciam críticas ao grupo. O MST confirmou que o vídeo foi feito em uma ocupação do movimento, na zona rural de Parauapebas (PA), mas negou que o rapaz que é abordado no vídeo seja o dono ou que tenha havido violência.

O MST, a Polícia Civil e o Sindicato dos Proprietários Rurais de Marabá – que fica na mesma região – concordaram que o homem é um trabalhador da fazenda. O dono, na realidade, é um fazendeiro identificado como José Miranda Cruz, que entrou na justiça com um pedido de interdito proibitório – uma medida preventiva, para se antecipar à possibilidade de um “esbulho, turbação, ameaça ou conflito fundiário coletivo rural” – e obteve uma sentença favorável nesta segunda-feira, 11 de dezembro.

As imagens que viralizaram foram feitas no dia 20 de novembro deste ano e marcaram o Dia da Consciência Negra e a Jornada de Lutas Terra e Liberdade. O acampamento, que havia começado na madrugada do dia 19 para 20 de novembro, foi desfeito na noite de 20 de novembro após uma negociação entre os ocupantes e o Incra, com intermédio da Delegacia Especial de Conflitos Agrários (Deca) de Marabá.

Após desocuparem a fazenda, os integrantes do movimento montaram um acampamento, a cinco quilômetros do local, em uma área cedida por um assentado, enquanto fazem um cadastramento junto ao Incra e aguardam que o órgão federal analise a situação da fazenda ocupada no dia 20. O caso da ocupação também é apurado pela Deca.

O novo acampamento, batizado de Terra e Liberdade, foi palco de uma tragédia no último sábado, 9 de dezembro. Durante a instalação de internet no local por técnicos de uma empresa privada chamada G5 Internet, uma antena acabou atingindo um fio de alta tensão. De acordo com o MST, nove pessoas morreram eletrocutadas, sendo seis trabalhadores sem-terra e três técnicos da empresa. Outras oito pessoas ficaram feridas. Uma delas continuava internada com queimaduras de segundo grau, mas com quadro estável, até a tarde de domingo.

Em entrevista coletiva, representantes do MST Nacional e do movimento no Pará disseram não haver indícios de que o acidente tenha sido uma ação criminosa com envolvimento dos latifundiários da região, mas culparam as más condições de trabalho na empresa de internet pela tragédia, já que os técnicos trabalharam por longas horas sem uso de equipamentos de proteção individual (EPIs), mesmo com pedidos dos acampados de que o trabalho fosse suspenso e concluído em outro momento.

O local do vídeo

O conteúdo viral foi publicado por diversos políticos e outros usuários nas redes sociais nos últimos dias. Quase todos registram as mesmas cenas: um diálogo entre integrantes do MST e um homem que diz trabalhar com gado no local. Alguns conteúdos acrescentam que o vídeo foi feito em Mato Grosso, em 5 de dezembro, o que é falso. Um dos vídeos virais possui alguns segundos a mais no início que permitem identificar uma tenda branca e um banheiro químico verde próximos um do outro.

| Vídeo com texto sobreposto à imagem afirmando que grupo ficou com gado foi publicado pelo ex-deputado Deltan Dallagnol
 

Ao fazer uma busca nos arquivos de ocupação do MST, o Comprova localizou estruturas parecidas em uma ocupação nas fazendas Santa Maria e Três Marias, na zona rural de Parauapebas, no dia 20 de novembro.

Além disso, uma das pessoas que aparece no vídeo viral – uma mulher usando boné com símbolo do MST e uma camisa verde, calça jeans e sandália – também é vista em um vídeo publicado por um site local feito durante a ocupação. O nome dela não foi identificado.

| Mulher que aparece no vídeo viral usando camisa verde do MST, com calça jeans clara, boné e sandália. Foto: Reprodução

 

| Vídeo publicado pelo site Portal Pebão mostra momento da desocupação. Mesma mulher de camisa verde aparece na imagem, usando calça jeans clara, sandálias e boné preto. Foto: Portal Pebão/Reprodução
 

O próximo passo foi buscar informações com o próprio MST, com representantes de fazendeiros da região, com o Incra e com a polícia sobre o conteúdo. Todos, exceto o Incra, reconheceram o vídeo e o apontaram como tendo sido gravado na ocupação de 20 de novembro na fazenda Santa Maria, em Parauapebas.

Apesar de não poder afirmar que o vídeo tinha sido feito na mesma ocupação, o Incra disse, através da assessoria de comunicação, que atuou no caso citado. “O Incra Sudeste do Pará designou equipe da Câmara de Conciliação Agrária para se reunir com as lideranças e apurar a questão in loco”, disse.

O homem expulso da fazenda

Embora tenha sido citado em dezenas de postagens como sendo o “dono” da fazenda expulso pelo MST, o rapaz que aparece nos vídeos apenas trabalha na propriedade. De acordo com o MST no Pará, não houve nenhum momento de violência ou de desrespeito com os trabalhadores do local durante a ocupação. No diálogo registrado no vídeo, o homem de camisa e boné vermelhos se apresenta como sendo assistente social e diz que tem estrutura à disposição do rapaz para ajudar a levar seus pertences do local.

Em nota, o MST do Pará disse que convidou os trabalhadores para se juntarem ao movimento, mas que havia uma pessoa armada fazendo ameaças. “Na fazenda, [os ocupantes] encontraram uma família de trabalhadores, que inclusive foi convidado a lutar junto com o Movimento. E um vaqueiro que estava armado, ameaçando as famílias ocupantes”, diz a nota. Por essa razão, diz o MST, o vaqueiro foi convidado a deixar o local, para que o Incra e a Justiça vistoriassem a terra.

A nota não diz se o vaqueiro que fazia ameaças é o que aparece no vídeo, mas as imagens não mostram nenhuma arma à vista. Segundo o delegado Antônio Mororó Filho, da Deca, ninguém foi preso. Ele mencionou, ainda, que o homem abordado no vídeo não tinha um vínculo empregatício com a fazenda, e sim que trabalhava lá recebendo diárias, mas não identificou o rapaz pelo nome.

A terra ocupada

De acordo com a direção do MST no Pará, as fazendas ocupadas no dia 20 de novembro no sudeste do estado pertencem à família Miranda. “A área que foi ocupada é um complexo de fazendas que configuram latifúndios improdutivos, de terras griladas”, disse o MST, em nota.

A situação das terras é investigada pela Superintendência Regional do Incra Sudeste do Pará, com sede em Marabá. “A princípio, uma análise preliminar do corpo técnico do Incra detectou que trata-se de áreas particulares tituladas pelo antigo Grupo Executivo das Terras do Araguaia-Tocantins (Getat). Todas as pautas estão sendo analisadas criteriosamente, sob a ótica da legitimidade e do amparo legal”, diz nota do Incra, que sucedeu o Getat, grupo extinto em 1987.

O Comprova tentou localizar o dono da fazenda invadida por intermédio do Sindicato dos Produtores Rurais de Marabá, mas não obteve sucesso até a publicação desta reportagem. O vice-presidente do Sindicato, Maurício Fraga Filho, disse que a propriedade pertence a José Miranda Cruz, e não ao homem que aparece nas imagens. “O rapaz é funcionário da fazenda, ele cuida do gado da propriedade”, disse.

Maurício contou que acompanhou a reintegração de posse e que os integrantes do MST, na realidade, ficaram cerca de 20 horas no local. “Os invasores entraram à noite e saíram pacificamente no final da tarde e início da noite”, disse.

Apesar de Maurício dizer que a saída aconteceu de forma pacífica, a direção do MST no Pará denunciou, em nota no site da organização, que os ruralistas da região queriam uma desocupação forçada e que houve cerco ao local e bloqueio das entradas e saída pela polícia.

O delegado que acompanhou a desocupação e que conduz o inquérito do caso, Antônio Mororó Júnior, da Delegacia Especial de Conflitos Agrários de Marabá, disse que, após a negociação, o grupo montou um acampamento próximo da fazenda. “Nós intermediamos no sentido de que a gente respeita o direito à propriedade, à função social da propriedade, e de maneira alguma queria esvaziar o direito de ninguém. Mas, no atual Estado Democrático de Direito, pensamos que é inadmissível reivindicar dessa forma, com invasões, da forma como foi”, disse.

Quem é o dono da terra?

A fazenda ocupada pelo MST no dia 20 pertence a José Miranda Cruz, um antigo fazendeiro da região. Ele aparece em pelo menos duas reportagens publicadas em abril de 1998 pela Folha de S.Paulo sobre as tensões na região após o assassinato de duas lideranças do MST em Parauapebas. Na época, 11 fazendeiros tiveram a prisão decretada. José Miranda apareceu nas reportagens falando sobre o temor de que invasões ocorressem (1 e 2).

Sobre a ocupação que aparece nos posts verificados aqui, foi possível acessar a argumentação do fazendeiro a partir da sentença de um pedido de interdito proibitório feito pelos advogados dele no dia 21 de novembro de 2023, um dia após o MST desocupar a fazenda Santa Maria. O juiz titular da Região Agrária de Marabá, Amarildo José Mazutti, disse haver indícios de que José Miranda Cruz exerce a posse da terra de forma “mansa e pacífica e direta” há mais de 30 anos e que explora a atividade de pecuária.

Um funcionário que serviu de testemunha disse que ficam na propriedade cerca de 4 mil animais e que no local possui quatro vaqueiros e outros três funcionários, todos trabalhando com carteira assinada – o que não condiz com a declaração do rapaz que aparece no vídeo, já que ele afirma serem apenas duas pessoas trabalhando com gado, nem com a declaração do delegado Antônio Mororó Júnior, que disse ao Comprova que o rapaz trabalhava no local mediante recebimento de diárias.

No pedido de interdito proibitório, o dono da fazenda argumentou que os integrantes do MST acamparam a apenas cinco quilômetros de distância e que havia ameaças de que voltassem a invadir a fazenda. O juiz atendeu ao pedido de liminar feito pelos advogados, embora tenha dito que “o autor não foi efetivamente molestado, vindo a sofrer apenas ameaças, com atos tendentes a turbar ou esbulhar a posse, definitivamente”.

Na sentença desta segunda-feira, 11, o juiz Amarildo José Mazutti fixou uma multa de R$ 1 mil por dia para cada pessoa que descumprir a decisão e “praticar turbação ou esbulho na área do imóvel objeto da lide”, limitando a multa a R$ 100 mil, e deu um prazo de 15 dias para que as partes contestem a decisão, caso desejem. Segundo a sentença, o Ministério Público se manifestou favorável à liminar.

No último sábado, 9, antes de viajar a Parauapebas para acompanhar a situação após o acidente que resultou na morte de nove pessoas, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, disse que negocia com a mineradora Vale um terreno para assentar as famílias. A companhia atua na extração de minérios em Parauapebas.

“Nós vamos levar os sentimentos do presidente Lula, as condolências nossas, e ao mesmo tempo, nós vamos prosseguir uma negociação que já está em curso para o assentamento dessas famílias. Nós, inclusive, tivemos uma ligação com o presidente da Vale semana passada para uma solução de assentamento dessas famílias”, disse, em um vídeo publicado no Instagram.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova tentou contato com alguns perfis que publicaram o vídeo, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 12 de dezembro, o vídeo somava mais de 4,1 milhões de interações em apenas 6 posts checados nas redes sociais.

Como verificamos: O primeiro passo foi localizar onde o vídeo foi feito, a partir de ferramentas de busca reversa de imagens e de pesquisa em registros de ocupações do MST, o que levou à imagem de uma ocupação no dia 20 de novembro de 2023 em Parauapebas (PA). Em seguida, foram procurados o MST, representantes de fazendeiros da região, o Incra e a Polícia Civil. Também foram acionados perfis oficiais do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Como afirmado acima, o MST é alvo frequente dos desinformadores. Só neste ano, o Comprova checou, por exemplo, que matança de bois na Bahia não tem relação com o movimento, que post engana ao associar ao MST plantação de maconha na Bahia e que não há registro público de declaração de Lula nem do MST sobre eliminar o agronegócio da Terra.

Eleições

Investigado por: 2023-12-12

É falso que dono da Seara atacou eleitores de Bolsonaro em vídeo

  • Falso
Falso
É falso que o presidente da Seara tenha atacado eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como afirma vídeo que circula nas redes sociais. A publicação usa imagens de uma pessoa chamada Paulo Seara e mente ao dizer que ele é dono da empresa. A Seara não possui nenhum sócio com esse nome e é administrada desde 2013 pela JBS, companhia brasileira do setor de alimentos.

Conteúdo investigado: Vídeo mostra homem xingando eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em texto sobre o vídeo, ele é identificado como dono da empresa Seara. Durante a fala, ele afirma que os bolsonaristas não aceitam a derrota nem o fato de Lula (PT) ser presidente do Brasil. No mesmo conteúdo, uma mulher aparece em seguida chamando os eleitores bolsonaristas de patriotas e cita ataques supostamente praticados contra a apresentadora Sabrina Sato. Tarja no vídeo a descreve como “Garota propaganda da Seara”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É falso que o dono da Seara apareça em vídeo xingando apoiadores de Jair Bolsonaro que não aceitam o resultado das eleições de 2022, nas quais Lula foi eleito. Apesar de a pessoa que aparece nas imagens se chamar, de fato, Paulo Seara, como afirma o post investigado aqui, ele não possui nenhuma ligação com a empresa de alimentos que, desde 2013, é administrada pela JBS.

Ao Comprova, o homem, que mora em Itajaí (SC), relatou que o vídeo foi gravado em 7 de janeiro deste ano e publicado em um grupo de aplicativos de mensagens. Depois, a imagem passou a ser compartilhada em outras plataformas com a alegação de que ele seria dono da empresa. No entanto, ele afirma que nunca teve ligação com a Seara, apesar do sobrenome.

Além disso, dados da Receita Federal apontam que não há nenhum Paulo Seara entre os sócios proprietários da empresa. Em 2013, a Seara foi adquirida pela JBS por R$ 5,8 bilhões. Antes, a empresa pertencia à Marfrig Alimentos.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 8 de dezembro, a publicação no TikTok tinha mais de 9 mil visualizações, 348 curtidas e 32 compartilhamentos.

Como verificamos: A primeira ação foi consultar a Receita Federal para descobrir quem compõe o quadro societário da Seara S.A e se havia alguém com o nome Paulo Seara. Para isso, o Comprova buscou o CNPJ da empresa na Redesim e encontrou o documento com o nome dos atuais donos da Seara. Também foi procurado o CNPJ da JBS, atual detentora da marca, com o mesmo objetivo de checar se algum “Paulo Seara” fazia parte do grupo.

Depois, foi feita uma busca no Google e nas redes sociais pelo nome de “Paulo Seara” para tentar localizar a pessoa que aparece nas imagens. Foram encontradas reportagens do jornal “Diarinho”, de Santa Catarina, em que um empresário de Itajaí com o mesmo nome era citado.

O Comprova, então, entrou em contato com o homem, que afirmou ser a mesma pessoa que aparece no vídeo e negou ter qualquer tipo de envolvimento com a marca Seara. Ele afirma ser um empresário de Itajaí, no Litoral Norte de Santa Catarina, que coincidentemente tem o sobrenome Seara.

JBS é dona da marca Seara

A Seara iniciou as atividades em novembro de 1956 na cidade de Seara, no Oeste de Santa Catarina, com a inauguração de um frigorífico administrado pelos irmãos Artêmio e Aurélio Paludo. Mas foi só na década de 1970 que a empresa começou as atividades de abate de aves e, nos anos seguintes, passou a exportar os produtos para outros países.

Em 2013, a marca, que até então pertencia à Marfrig Alimentos, foi vendida para a JBS pelo valor de R$ 5,85 bilhões. Conforme noticiado pela Época Negócios, a venda da divisão foi uma estratégia da Marfrig para reduzir o endividamento e conseguir focar em outros projetos.

Segundo dados da Receita Federal, aparecem como sócios da Seara Alimentos Ltda, a Seara Holding Ltda e a JBS Holding Brasil S.A. Já como administradores estão Wesley Mendonça Batista Filho, João Francisco Almeida de Freitas Campos , Gilberto Tomazoni e Gilberto Meirelles Xando Baptista. A empresa é avaliada em mais de R$ 25 bilhões. Em 2020, João Campos assumiu como CEO da empresa, cargo em que permanece até hoje.

| Quadro de sócios da Seara mostra que não há nenhum Paulo Seara na lista (Foto: Reprodução, Receita Federal)

Já em relação à JBS S/A, Gilberto Tomazoni aparece como presidente, segundo a Receita Federal. No cadastro também constam os seguintes diretores: Wesley Mendonça Batista Filho, Eliseo Santiago Perez Fernandez, Guilherme Perboyre Cavalcanti e Jeremiah Alphonsus O Callaghan. O Comprova tentou contato com a equipe da Seara via e-mail e formulário disponível no portal da marca, mas não conseguimos contato até o fechamento desta publicação.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova não conseguiu fazer contato com os perfis responsáveis pelas publicações, pois eles não permitem o envio de mensagens diretas.

O que podemos aprender com esta verificação: Uma tática usada por desinformadores é associar o posicionamento de pessoas conhecidas a grandes marcas. A medida, além de trazer uma imagem negativa para a empresa, também gera dificuldade para que o cidadão saiba se aquela pessoa é quem a postagem diz ser. Por isso, sempre pesquise informações sobre quem é detentor de determinada marca, para conferir se o conteúdo é real.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O tema já foi alvo de verificação de UOL Confere, Agência Lupa, Boatos.org, Estadão Verifica e Reuters. Todos consideraram o conteúdo falso. Recentemente, a Seara foi citada em outro caso verificado pelo Comprova. Trata-se de um vídeo que falava sobre um suposto programa do governo federal chamado “Ceia para Todos” em parceria com a empresa. No entanto, o programa não existe e o conteúdo era usado para aplicar um golpe.

Política

Investigado por: 2023-12-07

Post engana ao sugerir que governo federal banca 1,3 mil pessoas na COP28

  • Enganoso
Enganoso
A delegação brasileira que participou da COP28 em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, não foi toda financiada com recursos do governo federal, como indica postagem do deputado federal Kim Kataguiri (União-SP). Lista de participantes do evento conta também com membros de outros poderes (Legislativo e Judiciário), assim como políticos de estados e municípios e integrantes de entidades privadas e de organizações da sociedade civil. Os custos pagos pelo governo são apenas os de representantes da administração pública federal.

Conteúdo investigado: Postagem do deputado federal Kim Kataguiri (União-SP) traz captura de tela do título de uma reportagem que diz “Brasil tem a maior delegação da COP28, com 1.337 nomes inscritos”. O parlamentar escreve: “O Governo Lula é composto por um monte de deslumbrado. Isso não é preocupação com meio ambiente. É turismo pelo mundo com dinheiro público”.

Onde foi publicado: X (antigo Twitter).

Conclusão do Comprova: É enganosa a postagem do deputado federal Kim Kataguiri (União-SP) que insinua que 1.337 membros da delegação brasileira que compareceram à Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP28) em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, teriam sido bancados pelo governo federal. O evento é realizado entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro.

O post analisado utiliza de forma distorcida os dados de uma matéria do jornal Folha de S.Paulo que diz que a delegação brasileira no evento foi a maior do mundo, com 1.337 integrantes. Contudo, o próprio texto da reportagem esclarece que os representantes do governo federal brasileiro são cerca de 400, segundo o Itamaraty.

Como explicaram funcionários do Ministério das Relações Exteriores em comunicado à imprensa, o Brasil considera como parte da delegação nacional na COP todo brasileiro inscrito para participar, incluindo empresários, representantes de entidades privadas e de organizações da sociedade civil. Contudo, somente representantes da administração pública federal têm os custos cobertos pelo governo federal.

Uma planilha com os nomes e funções dos participantes do evento está disponível no site da COP28. Na parte que mostra a lista de agentes públicos brasileiros, percebe-se que há 1.337 participantes, o número divulgado pela Folha. O grupo, porém, também é formado por governadores, prefeitos, vereadores, secretários e assessores, técnicos e profissionais de imprensa de estados e municípios.

Há ainda representantes de outros poderes como ministros do Supremo Tribunal Federal, parlamentares e representantes de partidos políticos. Um deles é Antônio Eduardo Gonçalves de Rueda, 1º vice-presidente do União-Brasil, partido do deputado autor da postagem enganosa.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 07, o tuíte enganoso tinha 122,9 mil visualizações, 560 compartilhamentos e 4 mil curtidas.

Como verificamos: Inicialmente, buscamos pelo título da matéria que aparece na postagem analisada e encontramos o conteúdo original, publicado pelo jornal Folha de S.Paulo. Em seguida, foi feita uma busca no site da COP28 pela lista de participantes citada na matéria. O Comprova ainda consultou comunicado à imprensa de membros do Itamaraty, no qual foi informado o dado de cerca de 400 representantes do governo federal na COP28, e fez contato com o gabinete do deputado responsável pelo tuíte enganoso.

Reportagem já esclarecia a situação

O tuíte analisado nesta verificação se baseia em matéria da Folha com o título “Brasil tem a maior delegação da COP28, com 1.337 nomes inscritos”. A leitura do texto, porém, já é suficiente para se concluir que a postagem sugerindo que os 1.337 integrantes tiveram custos da viagem bancados pelo governo Lula é enganosa.

Na matéria, há informação, atribuída ao Itamaraty, dando conta de que a delegação oficial do governo, entre autoridades e funcionários, é de cerca de 400 pessoas, e que o governo cobre apenas gastos de participação de representantes da administração pública federal.

Um dia antes da matéria da Folha, a Exame divulgou um número ainda maior de membros na delegação brasileira: 2.400 inscritos – dado, segundo o texto, divulgado pelo Itamaraty. Mais uma vez, o texto diz que “entre autoridades e funcionários do governo são em torno de 400 nomes”.

Essas informações atribuídas ao Itamaraty pela Folha e pela Exame constam no comunicado de autoridades da pasta à imprensa, no dia 20 de novembro. Quando perguntado sobre o número de participantes da delegação brasileira, o embaixador André Aranha Corrêa do Lago, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente, esclarece que, por tradição, a delegação nacional engloba todos os brasileiros interessados em participar do evento: “Queria reiterar que só uma parte bem menor dessa delegação é paga pelo estado brasileiro”, diz o embaixador, informando mais à frente o número de aproximadamente 2.400 inscritos e, dentre estes, cerca de 400 da comitiva do governo federal.

Lista da ONU mostra membros de estados, municípios, do Legislativo e Judiciário

A lista na qual a Folha se baseou foi disponibilizada, em 30 de novembro, no site do Secretariado de Mudanças Climáticas da ONU, contendo os participantes inscritos até aquele momento. Na planilha, é possível constatar que a contagem foi feita na aba “Parties”, onde a delegação brasileira começa na posição 1.814, com o presidente Lula, e termina na posição 3.150, com Arnaldo Zunizakae, do departamento de Projetos Estratégicos de Etnoturismo do Estado do Mato Grosso. Entre as posições 1.814 e 3.150 da planilha, contam-se 1.337 participantes brasileiros – o número divulgado pela Folha.

Como mostra a captura de tela da planilha, é possível ver a participação de representantes de diversos estados e da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Os exemplos sinalizados estão entre as posições 3.134 (representante do Estado de São Paulo) e 3.111 (representante do Senado Federal) da planilha. Há, ainda, a participação de representantes de partidos, como o União Brasil, partido do deputado responsável pela postagem enganosa. Um deles é Antônio Eduardo Gonçalves de Rueda, 1º vice-presidente do União-Brasil, que aparece na posição 2.451 da tabela.

Em agosto, o Ministério das Relações Exteriores divulgou formulário para credenciamento de representantes do poder público e de entidades do setor privado e da sociedade civil brasileiras interessados em participar da delegação brasileira na COP28. O texto traz a seguinte observação: “O governo federal não se responsabiliza por custos ou procedimentos relativos à concessão de visto, passagens aéreas e reserva de hospedagem para participar da reunião em apreço”.

A planilha da ONU tem ainda uma segunda lista, onde estão relacionados 1.744 nomes de representantes da sociedade civil, empresas, associações, universidades e outros.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova fez contato com o gabinete do deputado federal Kim Kataguiri. Não houve resposta até a publicação deste texto.

O que podemos aprender com esta verificação: Desinformadores usam com frequência partes de reportagens fora de contexto para fazer afirmações genéricas e sem fundamento a partir do conteúdo publicado originalmente. Nesse caso, a leitura do texto da matéria cujo título foi usado pelo deputado bastaria para que o leitor compreendesse que a comitiva brasileira não era composta apenas de membros do governo federal. Por isso, é importante buscar a origem da informação e compreender o contexto para não ser enganado.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Outros conteúdos recentes que viralizaram nas redes sociais foram classificados como enganosos pelo Comprova: post mente ao relacionar soltura de membros do Comando Vermelho a visitas de “dama do tráfico” a ministério, agência europeia não desqualificou vacinas contra a covid-19 e médica engana ao dizer que vacinas contra a covid-19 causam infarto e morte súbita em crianças.

Política

Investigado por: 2023-12-06

É falso que governo tenha criado “Ceia para Todos” em parceria com a Seara; conteúdo leva a golpe

  • Falso
Falso
É falso que o governo federal tenha criado o programa “Ceia para Todos”, em parceria com a Seara; vídeo usa trecho de reportagem do Jornal da Globo sobre repatriação de brasileiros vindos de Israel e forja imagens e elementos visuais da Globo e da CNN para dar aparência de notícia ao conteúdo inventado; a voz do repórter foi manipulada com uso de inteligência artificial.

Conteúdo investigado: Vídeo que supostamente noticia a criação de um programa do governo federal chamado “Ceia para Todos”. O programa promoveria descontos de até 90% na compra de produtos para a ceia de Natal em parceria com a Seara.

Onde foi publicado: Facebook.

Conclusão do Comprova: É falso que o governo federal tenha criado um programa chamado “Ceia para Todos” em parceria com a Seara, oferecendo desconto de até 90% na compra de produtos da ceia de Natal. O vídeo usa de forma fraudulenta um trecho do Jornal da Globo de 11 de outubro de 2023, sobre a repatriação de brasileiros que estavam em Israel, e faz uma montagem com imagens de outras reportagens em supermercados.

A voz do repórter também foi alterada com o uso de inteligência artificial. Uma análise feita por um perito consultado pelo Comprova aponta que apenas nos primeiros quatro segundos o áudio é da reportagem original, enquanto o restante foi produzido por meio de softwares de inteligência artificial utilizando a voz do repórter, o que fica evidente por meio de emendas encontradas ao longo do áudio.

Além disso, o vídeo usa elementos visuais de emissoras de TV distintas para passar um efeito de verdade, o que não se sustenta. O vídeo, por exemplo, começa com uma transmissão do Jornal da Globo, apresentado pela jornalista Renata Lo Prete, mas tem um cabeçalho da emissora concorrente CNN.

Ao indicar que as pessoas cliquem em um link para saber mais sobre o assunto e inserir o CPF para saber se está apto a participar, o conteúdo ainda leva o público a cair em golpes.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 6 de novembro, o vídeo compartilhado no Facebook tinha 26 mil visualizações, 236 curtidas e 187 comentários.

Como verificamos: O primeiro passo foi pesquisar se existe algum programa do governo federal oferecendo ceia de Natal ou desconto em produtos da ceia. Para isso, o Comprova fez uma busca no Google e questionou a Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Também foi procurada a marca Seara, citada no vídeo como uma suposta parceira do governo federal no programa.

Em seguida, foi feita uma busca reversa de imagens na tentativa de localizar a edição do Jornal da Globo que teve um trecho utilizado no vídeo e apontar sobre qual assunto a reportagem falava.

Por fim, foi consultado o professor de Engenharia de Informação da Universidade Federal do ABC (UFABC) Mario Gazziro, que analisou o vídeo e, por meio de um software, identificou emendas no áudio que comprovam que apenas os quatro primeiros segundos fazem parte da reportagem original, enquanto no restante a voz do repórter foi forjada com uso de ferramentas de inteligência artificial.

Não existe programa “Ceia para Todos”

De acordo com o governo federal, não existe um programa chamado “Ceia para Todos”, nem uma convocação para que as pessoas se cadastrem para comprar produtos com desconto. Em nota, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República disse que conteúdos assim têm se espalhado, geralmente associados a nomes de marcas, mas são falsos.

“É muito difícil uma ação do Governo Federal estar vinculada a marcas, quanto mais a uma única. Dentro desse detalhe, é preciso notar que uma única empresa dificilmente daria conta de uma demanda para o Brasil inteiro, um país de dimensões continentais”, diz a nota.

O Comprova procurou a Seara, empresa citada na peça de desinformação, mas não recebeu resposta até a publicação desta checagem. O UOL Confere, porém, verificou o mesmo conteúdo e notou que no site oficial da empresa havia um aviso indicando que não possui parcerias com governos, nem solicita pagamento de PIX para benefícios filantrópicos. 

Vídeo usa trecho de reportagem sobre repatriação de brasileiros de Israel

Os primeiros segundos do vídeo viral mostram a jornalista Renata Lo Prete, âncora do Jornal da Globo, conversando com o repórter Victor Boyadjian, de Brasília (DF). O conteúdo capta uma primeira frase dita por Victor: “Oi, Renata, boa noite pra você, pra todos! De fato, já tá bem perto”.

Em seguida, há um corte abrupto na fala e a imagem muda para uma cena comum gravada em supermercado, com pessoas comprando produtos usados na ceia de Natal. A narração também muda e a intenção é fazer parecer que o próprio repórter noticia que o prazo para as inscrição no suposto programa está perto do fim.

O vídeo original, contudo, não tem nenhuma relação com um programa “Ceia para Todos”, nem fala sobre compras de Natal. O assunto tratado era a chegada de um segundo voo da Força Aérea Brasileira (FAB) ao Brasil trazendo 214 cidadãos brasileiros repatriados de Israel, logo após o Hamas atacar a capital Tel Aviv, em 7 de outubro.

O que estava “bem perto”, segundo o repórter, não era o fim do prazo para se inscrever no programa, e sim o pouso da segunda aeronave, no Rio de Janeiro. O conteúdo completo pode ser visto na edição do Jornal da Globo de 11 de outubro de 2023, a partir do minuto 16:28.

Voz do repórter foi forjada usando inteligência artificial

Segundo Mario Gazziro, professor da UFABC, a partir do momento em que as imagens de supermercado aparecem no vídeo, a voz usada não é mais a original do repórter, e sim um áudio feito por meio de softwares de inteligência artificial.

A voz do repórter foi treinada nesses programas para que lesse o texto presente na “matéria”. Cada trecho foi emendado com partes de silêncio idênticas o que, segundo o especialista, comprova que se trata de desinformação. Ao todo, foram identificados cinco trechos onde ocorrem as emendas, como mostra a imagem abaixo.

| Imagem mostra trechos onde há emendas no áudio da gravação, o que comprova o uso de inteligência artificial (Material cedido ao Comprova).

“Eles utilizaram os mesmos cinco trechos de silêncio digital, gravado pelo microfone, para emendar as partes do áudio geradas por softwares de IA. Ao contrário do que se pensa, o silêncio digital nunca é a ausência total de informações. Na verdade, o silêncio carrega o chamado ruído de conforto e através dessas emendas podemos constatar tecnicamente que se trata de conteúdo fake”, diz.

O perito salienta que a escolha pelo repórter se deu justamente pela grande quantidade de material disponível, o que facilitaria o treinamento dos softwares para a reprodução do áudio.

“Não seria possível, por exemplo, reproduzir a voz de uma pessoa que não tenha tanto material público disponível para a realização do treinamento”, explica.

Um caso semelhante ocorreu recentemente com o ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino, como mostrou o Estadão Verifica. No áudio, o ministro supostamente dizia que seu objetivo era “arruinar a economia”. Porém, uma análise apontou que o áudio também foi gerado por ferramentas de deepfake, que usa técnicas de inteligência artificial.

Conteúdo leva a golpe

Na legenda do vídeo publicado no Facebook, a autora do conteúdo pede que as pessoas cliquem em “Saiba mais” para saber se estão aptas a receber o benefício. Uma vez na página, as pessoas são levadas a clicar em um segundo link para “verificar se o seu CPF cumpre os requisitos para o programa”. O governo federal alerta para o risco de que as pessoas caiam em golpes como este.

“Os usuários podem, por exemplo, ser colocados diante de cadastros que vão capturar dados como telefone celular e CPF. Outra armadilha são as taxas fictícias que os autores desses golpes cobram dos usuários desprevenidos”, diz nota publicada no site do governo.

O governo recomenda que, em caso de dúvidas sobre políticas públicas, as pessoas consultem o site Gov.br.

O que diz o responsável pela publicação: A autora da publicação foi procurada através de mensagem direta no Facebook, mas não respondeu até a publicação desta checagem.

O que podemos aprender com esta verificação: O uso de inteligência artificial tem se popularizado entre os desinformadores. Neste caso, além de utilizar a técnica para forjar a voz do repórter, a publicação também usa logos de emissoras distintas e parte do trecho de uma publicação original. Em situações como essa, é importante que a pessoa desconfie do formato da notícia e identifique possíveis elementos que tragam controvérsias. Também é importante pesquisar em canais oficiais sobre a veracidade da informação.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O suposto programa “Ceia para Todos” já foi checado em novembro pela equipe do Uol Confere, que mostrou que os anúncios são falsos. Além disso, o Comprova já investigou outros conteúdos onde houve adulteração nas imagens e áudios nas publicações, como por exemplo: Vídeo distorce voz de Lula para alimentar teoria conspiratória; e Vídeo de mulher com rosto de Lula e delegado parecido com Bolsonaro é uma sátira.

Política

Investigado por: 2023-12-06

É falso áudio em que Dino fala em ‘arruinar a economia’

  • Falso
Falso
É falso o áudio que circula nas redes sociais, atribuído ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), segundo o qual entre os "objetivos" do governo Lula estariam "arruinar a economia", "aumentar o desemprego", "invadir terras" e controlar o Exército. O áudio tem origem em uma sátira de um canal de vídeos de humor político no YouTube, mas ele foi reeditado e distribuído no TikTok e Kwai como se a fala fosse de Dino.

Conteúdo investigado: Áudio que circula nas redes sociais atribui ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), declarações segundo as quais os “objetivos“ do governo Lula seriam “arruinar a economia“, “aumentar o desemprego“ e controlar o Exército, entre outros. O autor do vídeo também afirma que os “piores inimigos“ são Dino e Lula (PT), que, por não poderem comprar as redes sociais, querem destruí-las.

Onde foi publicado: TikTok e Kwai.

Conclusão do Comprova: É falso o áudio atribuído ao ministro da Justiça, Flávio Dino, no qual ele confessaria que o Projeto de Lei 2.630, o chamado “PL das Fake News”, fortaleceria o atual governo ao ”controlar” ou eliminar as redes sociais e “esconder a verdade”. O áudio é, na realidade, parte de uma sátira publicada em um canal de vídeos de humor político no YouTube. O conteúdo foi usado em vídeos nas redes sociais para alimentar desinformação contra Dino.

A gravação é apresentada por um influenciador na rede social TikTok como sendo um “vazamento” de um áudio de Dino que mostraria “as reais intenções do ministro”. Entre elas, estariam “aumentar o desemprego”, “destruir as empresas”, “falir o agronegócio”, “controlar o Exército”, “desmobilizar as polícias”, além de “eliminar as redes sociais”, já que a “verdade é inimiga” do governo.

Uma outra publicação no Kwai também reproduz o mesmo áudio adulterado com a descrição “Desgoverno luladrao Olha a conversa do home quer ir para o STF bandidos“.

O Comprova procurou o perito Maurício de Cunto, que apontou que o áudio tem origem em um canal de sátira no YouTube chamado “Bastidores do Brasil”, que faz humor com a política brasileira.

Já Mario Gazziro, professor de Engenharia de Informação da Universidade Federal do ABC (UFABC), fez uma análise na qual constatou na montagem 5 trechos de silêncio com microfone por 31 vezes, o que sinaliza a existência de alterações na edição do áudio (o diagnóstico pode ser observado nesta imagem). As pausas da gravação foram adicionadas com o recurso de copiar e colar pedaços do áudio. “Fizeram um trabalho bem amador na colagem”, relata o perito.

O Comprova também entrou em contato com o Ministério da Justiça e da Segurança Pública, que disse que o áudio não é verdadeiro. “Trata-se de uma tentativa grosseira de imitação e imputação de atitudes criminosas ao senador Flávio Dino” e lamentou o conteúdo falso que tem o “propósito de manchar a reputação“ do político.

No começo de dezembro, em sua conta na rede social X (antigo Twitter), Dino já havia se manifestado e negado que a voz no áudio seria a dele.

“Registro a minha indignação com a campanha abjeta que estão fazendo, a exemplo dessa grosseira falsificação. A prova da falsidade é evidente, à luz do conteúdo estapafúrdio e do estilo ridículo com que o discurso é proferido.“

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado deliberadamente para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 6 de dezembro, o conteúdo publicado no TikTok alcançou 51,2 mil visualizações e no Kwai alcançou 25,3 mil visualizações. O áudio original, no canal de sátira desmonetizado no YouTube, tinha mais de 216 mil visualizações.

Como verificamos: Foi realizada uma pesquisa no Google, para verificar se havia alguma publicação noticiosa sobre a fala suspeita de Dino. Foram encontradas outras checagens sobre o tema. Então, procuramos os peritos Mário Gazziro e Maurício de Cunto para verificar a autenticidade e a origem do áudio. Outras checagens sobre o tema também foram encontradas durante a pesquisa no Google. A assessoria de comunicação do ministro também foi procurada.

O que diz o responsável pela publicação: Os autores das publicações foram questionados pelo Comprova sobre a origem do áudio. O autor que fez a publicação no TikTok disse que recebeu o arquivo via Telegram. Perguntado novamente sobre quem foi o usuário do Telegram que enviou o áudio, não respondeu e posteriormente a publicação já não estava mais disponível em sua conta no perfil. Já outro autor, que publicou o áudio no Kwai, não respondeu o nosso questionamento.

O que podemos aprender com esta verificação: Montagens de áudio são comuns. No entanto, aquelas geradas por inteligência artificial têm ganhado espaço, com popularização de métodos e ferramentas para manipulação de voz e até imagem das pessoas. Isso gera dificuldade para o cidadão diferenciar o que é verdadeiro e falso. Esse tipo de método se junta a áudios adulterados de outras formas ou imitações de personalidades políticas. O intuito desses conteúdos é enganar as pessoas ou gerar falsas informações para poluir o debate público e destruir reputações. Por isso, ao se deparar com esses conteúdos, é importante sempre realizar buscas na internet para saber se o conteúdo realmente é real. 

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A verificação também foi realizada pelo UOL Confere, Estadão Verifica, Agência Lupa e Aos Fatos e todos concluíram que a informação é falsa ou é uma sátira. Em novembro, o Comprova verificou um caso semelhante sobre um vídeo que compara dois trechos de discursos de Lula, sendo que em um deles a voz aparece diferente. O conteúdo em questão foi editado, alimentando uma teoria da conspiração de que o presidente da República teria um sósia que governa em seu lugar.

Política

Investigado por: 2023-12-05

Post mente ao relacionar soltura de membros do Comando Vermelho a visitas de “dama do tráfico” a ministério

  • Enganoso
Enganoso
Publicação engana ao relacionar a soltura de suspeitos de integrar o Comando Vermelho em Mato Grosso a visitas de Luciane Barbosa Farias, conhecida como “Dama do Tráfico” do Amazonas, ao Ministério da Justiça. A decisão judicial citada no conteúdo foi dada pela juíza Ana Cristina Silva Mendes, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, em 23 de fevereiro deste ano, data anterior às visitas de Luciane ao ministério.

Conteúdo investigado: Tweet exibe o que parece ser a publicação de um site a respeito de uma decisão judicial que concedeu liberdade a integrantes da facção criminosa Comando Vermelho e relaciona a soltura à suposta visita da “primeira-dama” do Comando Vermelho ao Ministério da Justiça. A publicação é acompanhada da legenda: “Um governo de bandidos, de mal carácteres (sic), de párias que deviam estar trancados numa cela. Corja. Por isso somos @jairbolsonaro”.

Onde foi publicado: X (antigo Twitter).

Conclusão do Comprova: Postagem engana ao indicar que uma juíza de Mato Grosso tenha mandado retirar a tornozeleira eletrônica de 38 integrantes do Comando Vermelho e soltar outros sete acusados após a visita de Luciane Barbosa Farias, conhecida como “dama do tráfico” do Amazonas, ao Ministério da Justiça. Não é possível fazer tal relação, pois a decisão da juíza Ana Cristina Silva Mendes, titular da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, foi emitida em 23 de fevereiro deste ano, como mostra a íntegra da sentença. Já as visitas da esposa de Clemilson dos Santos Farias, o “Tio Patinhas”, ao ministério aconteceram em 16 de março e 2 de maio deste ano, como revelou o Estadão.

Segundo a decisão da Justiça de Mato Grosso, alguns dos 45 suspeitos de integrar o Comando Vermelho no Estado estavam presos ou cumprindo medidas cautelares desde 2018, quando foi deflagrada a primeira fase da Operação Décimo Mandamento. Outros usam tornozeleira desde 2019. Foi a ausência das sentenças que motivou a decisão, portanto.

“No caso, os acusados estão submetidos às ordens judiciais deste processo há mais de 04 anos e dada a complexidade do feito a elaboração da sentença demandará uma apuração acurada dos fatos, o que, indubitavelmente causará demora na sua finalização”, escreveu a juíza, em trecho da decisão.

Segundo a magistrada, embora os crimes dos quais eles são acusados sejam de “extrema periculosidade”, a Constituição garante a “razoável duração do processo e meios que garantam a sua celeridade”.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 5 de dezembro, o conteúdo compartilhado no X acumulava mais de 18,2 mil visualizações, passava de 1,2 mil curtidas e já havia sido republicado 680 vezes.

Como verificamos: Usando o título de uma captura de tela que aparece no tuíte investigado, buscamos pela notícia da soltura dos suspeitos de integrar o Comando Vermelho em Mato Grosso. A pesquisa levou a matérias da imprensa local e também a outras checagens feitas sobre o mesmo tema.

No Google, também buscamos notícias a respeito do contexto das visitas de Luciane Barbosa ao Ministério da Justiça. Consultamos ainda o site do Tribunal de Justiça do Mato Grosso para obter a sentença da juíza Ana Cristina Silva Mendes.

Decisão de soltar suspeitos de integrar facção ocorreu em fevereiro

Em decisão dada em 23 de fevereiro deste ano, a juíza Ana Cristina Silva Mendes, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, determinou a revogação da prisão preventiva de quatro pessoas suspeitas de integrar a facção criminosa Comando Vermelho em Mato Grosso. A mesma decisão determinou a retirada de tornozeleira eletrônica de outros 38 suspeitos e a revogação de prisão domiciliar de três suspeitos.

Todos foram alvo da 1ª fase da Operação 10º Mandamento, deflagrada em 2018, em uma ação conjunta da Delegacia Regional de Barra do Garças, em Mato Grosso, e a Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO).

A suspeita é de que os alvos teriam promovido ataques a prédios públicos, incêndios a viaturas das forças de segurança e pichações na cidade. A decisão da magistrada também relaciona os alvos a crimes de furto qualificado, roubo majorado e tráfico de drogas, que eram ordenados ou articulados dentro de unidades prisionais do Estado.

Na decisão, a magistrada argumentou que os crimes pelos quais os suspeitos são acusados são de “extrema periculosidade”. Por outro lado, ponderou que os homens estavam presos ou cumprindo medidas cautelares há mais de quatro anos enquanto aguardam sentença. A juíza citou que a Constituição garante a “razoável duração do processo e meios que garantam a sua celeridade”.

“No caso, os acusados estão submetidos às ordens judiciais deste processo há mais de 04 anos e, dada a complexidade do feito, a elaboração da sentença demandará uma apuração acurada dos fatos, o que, indubitavelmente causará demora na sua finalização”, citou a juíza, em trecho da decisão.

As visitas da “Dama do tráfico” citadas pelo desinformador, aconteceram pelo menos em três ocasiões em 2023: em março, maio e novembro. Ou seja, depois da soltura dos suspeitos.

Visita de “dama do tráfico” ao ministério

As visitas de Luciane Barbosa Farias ao Ministério da Justiça foram reveladas pelo Estadão em 13 de novembro. Segundo o jornal, elas aconteceram pelo menos em três ocasiões em 2023: em março, maio e novembro. Esta última foi noticiada pelo jornal O Globo.

Depois das visitas, Luciene foi condenada em segunda instância a dez anos de prisão por associação para o tráfico, lavagem de dinheiro e por integrar organização criminosa. Ela é casada com Clemilson dos Santos Farias, o “Tio Patinhas”, integrante do Comando Vermelho no Amazonas, segundo a Polícia Civil daquele estado.

Após a divulgação das visitas de Luciene, o Ministério da Justiça editou uma portaria com novas regras, mais rígidas, sobre visitas.

O ministro Flávio Dino, titular da pasta, afirmou que nunca se encontrou com Luciene pessoalmente. Na ocasião das visitas, ela foi recebida por secretários do ministério.

Em 19 de março, Luciane esteve com Elias Vaz, secretário nacional de Assuntos Legislativos. Em 2 de maio, ela se encontrou com Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais.

O que diz o responsável pela publicação: A conta do X do atleta Renzo Gracie, responsável pela publicação investigada e já verificado anteriormente pelo Comprova, não permite envio de mensagens diretas. O Comprova enviou questionamento pelo perfil oficial de Renzo no Instagram, mas não houve retorno até a conclusão desta checagem.

O que podemos aprender com esta verificação: Umas das táticas usadas pelos desinformadores é usar fatos verdadeiros fora de contexto para imprimir veracidade ao conteúdo. Desconfie de postagens que usam títulos de reportagens, sem detalhes da notícia, para apoiar afirmações contundentes ou sensacionalistas. Neste caso a publicação ainda contém a expressão “Faz o L”, que costumeiramente é utilizada por opositores ao presidente Lula de forma irônica para criticar ações do atual governo. Como citado ao longo da verificação, não há qualquer relação da decisão da Justiça de Mato Grosso com o governo petista. Ao se deparar com publicações desse tipo é importante procurar veículos de imprensa de sua confiança.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo verificado nesta checagem foi desmentido pela Agência Lupa e pelo Estadão. Sobre conteúdos de desinformação que citam o governo Lula, o Comprova mostrou ser falso que ponte sobre o Araguaia esteja paralisada, que projeto que previa envio de equipamentos eletrônicos para escolas de presídios é do Governo do Rio e foi suspenso e que é falsa a postagem que mostra Javier Milei chamando Lula de ladrão após eleição na Argentina.

Contextualizando

Investigado por: 2023-12-01

Brasil defende solução pacífica entre Venezuela e Guiana em disputa por região petrolífera

  • Contextualizando
Contextualizando
O governo brasileiro não toma partido na atual tensão entre Venezuela e Guiana pelo controle do território de Essequibo, região com mais de 160 mil quilômetros, rica em recursos naturais e que está sob administração da Guiana. A posição oficial do Itamaraty é de busca por uma solução negociada e pacífica para o caso. O Ministério da Defesa enviou reforço de tropas do Exército Brasileiro a Roraima, na região da fronteira com os dois países. O objetivo, segundo o ministro José Múcio disse à TV Globo, é impedir que militares venezuelanos transitem pelo território brasileiro.

Conteúdo investigado: Vídeo no Instagram aborda tensão entre Venezuela e Guiana pelo domínio do território de Essequibo, administrado pela Guiana e onde foram descobertas ricas jazidas de petróleo em 2015. Ao afirmar que tropas do Exército Brasileiro se deslocaram para Roraima, na região da fronteira do Brasil com os dois países, o responsável pela gravação diz que, devido à proximidade do presidente brasileiro com o venezuelano, “a população fica na dúvida se este comboio seria para impedir a invasão venezuelana ou para apoiá-la”. Ele alega também que o episódio pode colocar em xeque a relação do Brasil com os Estados Unidos, já que uma empresa americana de petróleo atua na região.

Onde foi publicado: Instagram.

Contextualizando: Informações de que o Exército Brasileiro enviou reforço a Pacaraima (RR), na região da tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana, começaram a ganhar projeção nas redes sociais em novembro de 2023. Segundo publicação do jornal Folha de Boa Vista do dia 24, “moradores do município de Pacaraima divulgaram, nas últimas duas semanas, vídeos que registram uma movimentação anormal de tropas do Exército Brasileiro em direção à fronteira do Brasil com a Venezuela”.

Posteriormente, entre os dias 29 e 30, outros veículos começaram a publicar notícias sobre o reforço (Folha de S.Paulo, Estadão, TV Globo, Agência Brasil), que acontece em momento em que a Venezuela ameaça anexar a região de Essequibo, que corresponde a dois terços do território da Guiana, fica na fronteira entre os dois países e é rica em petróleo recursos naturais. A região é disputada entre Venezuela e Guiana desde 1841. A reivindicação do território pela Venezuela se intensificou a partir de 2015, quando foram descobertas jazidas de petróleo em Essequibo.

A controvérsia pela soberania da região remonta a 1811, quando a Venezuela tornou-se independente do domínio espanhol tendo a região de Essequibo como parte de seu território. Três anos depois, em um acordo com a Holanda, o Reino Unido assumiu o controle da área que corresponde à Guiana e, segundo denúncia da Venezuela em 1841, se apoderou do território. O impasse resultou, em 1899, em um tribunal internacional que decidiu que o território pertencia à então Guiana inglesa.

A Venezuela, porém, voltou a contestar o domínio da região de Essequibo e atualmente se apega a um acordo, firmado em Genebra, pouco antes da independência da Guiana, em 1966, que decidiu por uma solução negociada, mas que nunca saiu. A Guiana, por sua vez, reivindica a validade do acordo de 1899, não reconhecido pela Venezuela.

A escalada atual na tensão, além de motivar o reforço do Exército Brasileiro na fronteira, resultou no envio de chefes militares à Guiana pelo governo norte-americano para planejar a defesa do país. O Reino Unido também se manifestou pela ajuda militar à Guiana contra uma possível investida bélica da Venezuela.

Reforço militar é para impedir trânsito de tropas venezuelanas em território brasileiro

Segundo o G1, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou à TV Globo, em 30 de novembro, que o envio de reforço do Exército Brasileiro a Pacaraima tem o objetivo de evitar qualquer trânsito de militares venezuelanos pelo território brasileiro. Ao Comprova, o Ministério da Defesa afirmou, em nota, que tem acompanhado a situação: “As ações de defesa têm sido intensificadas na região da fronteira ao Norte do país, promovendo maior presença militar”, informou a pasta.

Itamaraty busca solução pacífica para o caso

O vídeo que viralizou no Instagram sobre o assunto diz que, devido à proximidade de Lula com Nicolás Maduro, presidente venezuelano, não se sabe se o reforço do Exército Brasileiro na fronteira seria para impedir a invasão venezuelana da Guiana ou para apoiá-la. Segundo posicionamento do Ministério das Relações Exteriores, o Brasil é neutro no caso.

Em 30 de novembro, a embaixadora brasileira Gisela Padovan, secretária de América Latina e Caribe do Itamaraty, disse que o Brasil tem conversado com as duas partes em busca de uma solução negociada e pacífica para a questão. “O nosso interesse realmente é não ter nenhuma questão militar e bélica na nossa região. A gente prima pela paz e pela cooperação e todos os esforços brasileiros, nos mais diferentes âmbitos, são nesse sentido”, disse a embaixadora.

A embaixadora ressaltou que o caso está sendo avaliado pela Corte Internacional de Justiça da Organização das Nações Unidas (ONU), e que o governo brasileiro está acompanhando as resoluções do órgão sobre o caso. “O Brasil está acompanhando e mantendo um diálogo construtivo em busca de uma solução bilateral ou pela Corte, mas uma solução pacífica”, disse Gisela Padovan.

Em meio à tensão entre os dois países, Nicolás Maduro convocou um referendo para 3 de dezembro em que os venezuelanos terão que responder se apoiam a anexação de cerca de 75% do território da Guiana para a criação da chamada “Guiana Essequiba”.

Em 1º de novembro de 2023, a Corte Internacional de Justiça decidiu que a Venezuela não pode tentar anexar a região de Essequibo, na Guiana. Porém, o governo de Caracas diz que não reconhece o órgão e que o referendo está mantido. A Corte tem o papel de resolver disputas entre Estados, mas sua atuação é mais simbólica do que prática, já que o tribunal não pode obrigar países a cumprirem suas decisões.

Como o conteúdo pode ser interpretado fora do contexto original: Da forma como foi veiculado, o vídeo e o comentário do autor dão margem à interpretação de que o envio de tropas do Exército Brasileiro para Roraima teria o objetivo de apoiar o governo venezuelano em uma possível invasão à Guiana.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova fez contato com o responsável pela conta que postou o vídeo. Ele alegou propósito informativo. Porém, quando perguntado sobre a origem da informação, critério e contexto da publicação em seu perfil no Instagram, não respondeu.

Alcance da publicação: Até o dia 1º de dezembro, o vídeo que motivou esta verificação tinha 1,7 milhão de visualizações, 159.413 mil curtidas no Instagram, 22,6 mil envios, além de 1,7 mil comentários.

Como verificamos: O Comprova buscou notícias na imprensa sobre o conflito entre Venezuela e Guiana pelo domínio de Essequibo e fez contato com o Ministério da Defesa e o Ministério das Relações Exteriores para entender a posição do Brasil na disputa e o envio de tropas do Exército para a região da tríplice fronteira. O Comprova também identificou um padre que atua há 11 anos em Pacaraima para buscar informações sobre o clima na região e fez contato com o responsável pelo vídeo que deu origem a esta verificação.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Outros conteúdos que viralizaram recentemente nas redes sociais motivaram a criação dos seguintes textos explicativos pelo Comprova: Divulgação de salários por empresas visa igualdade de gênero e não prevê exposição de dados pessoais; Desmatamento na Amazônia cai, mas queimadas crescem; e Lei que institui pau de arara como manifestação cultural não permite retorno do uso dos veículos.

Saúde

Investigado por: 2023-12-01

Agência europeia não desqualificou vacinas contra a covid-19, diferentemente do que afirma médico

  • Enganoso
Enganoso
Não é verdade que a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) tenha desqualificado vacinas de RNA mensageiro contra a covid-19. A alegação foi feita por um médico brasileiro que se baseou em uma entrevista coletiva de um deputado europeu antivacina que distorce uma carta da organização. No documento, a agência defende a segurança dos imunizantes e mantém a recomendação ao uso deles.

Conteúdo investigado: Em vídeo no Instagram, médico cita uma coletiva de imprensa realizada no Parlamento Europeu, em que alguns deputados discorreram sobre uma carta enviada a eles pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA). Segundo o autor da publicação, a EMA diz no documento, que não estaria publicado no site da entidade, que não há indicação para vacinação de menores de 60 anos, devido à “baixíssima fatalidade de pessoas jovens e sadias”. O médico ainda afirma que a EMA “só autorizou comercialização de vacina de RNAm para proteção individual dependendo do médico”, não tendo sido indicada a imunização em massa. Ainda de acordo com o médico, a proteína Spike — utilizada pelas vacinas de RNAm — seria tóxica. Um texto acompanha o vídeo: “EMA surpreende parlamentares europeus com conclusões óbvias mas que desqualificam as vac de RNAm”.

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: Não é verdade que a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) tenha desqualificado vacinas de RNA mensageiro contra a covid-19, conforme alega um médico em vídeo no Instagram. Ele também menciona informações falsamente atribuídas à EMA sobre os imunizantes ao se basear em uma coletiva de imprensa comandada por um deputado europeu antivacina, Marcel de Graaff, que, na verdade, deturpou na ocasião uma carta da agência.

O parlamentar havia enviado uma carta anterior à entidade em 4 de outubro de 2023 requerendo a suspensão, na Europa, das autorizações de venda das vacinas Comirnaty e Spikevax, ambas de RNA mensageiro e feitas contra a covid-19. No dia 18 daquele mesmo mês, a EMA respondeu às ponderações do deputado com documento no qual defende a segurança dos imunizantes e mantém a recomendação do uso deles.

“As evidências continuam a mostrar que as vacinas proporcionam proteção, o que é particularmente importante para as pessoas vulneráveis. Remover essas vacinas como uma opção aos estados-membro da União Europeia e para os profissionais de saúde sem a devida atenção aos dados disponíveis seria, portanto, um grande desserviço para a União Europeia e para a saúde pública”, aponta a carta assinada por Emer Cooke, diretora-executiva da EMA. Esse trecho não é lido pelo deputado na coletiva.

O médico brasileiro, que se baseia na entrevista coletiva, alega que a EMA teria admitido não haver indicação de imunização para menores de 60 anos, que a covid-19 tem baixíssima letalidade entre pessoas jovens e sadias, e que não há registros de efeitos secundários das vacinas. A entidade não faz nenhuma dessas alegações.

Na carta, a EMA afirma que as vacinas são indicadas para ativar a proteção do indivíduo imunizado contra a doença e que as autoridades de saúde monitoram continuamente os dados sobre vacinados e relatos de eventuais efeitos, ponderando que nem toda adversidade pode ser associada aos imunizantes.

“Tais eventos adversos podem ocorrer por outras razões em pessoas vacinadas, como acontecem em pessoas não vacinadas”, explica a EMA na carta enviada ao deputado e tornada pública desde então.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O vídeo teve 776 mil visualizações, 60,7 mil curtidas e 1,6 mil comentários até 1º de dezembro.

Como verificamos: Acessamos o link disponibilizado na postagem original. A partir da descrição do vídeo no link, foi possível entender que se tratava de uma coletiva de imprensa concedida no Parlamento Europeu em Estrasburgo, na França, em 21 de novembro de 2023. Na ocasião, não houve qualquer participação da Agência Europeia de Medicamentos.

A coletiva foi comandada por Marcel de Graaff, deputado europeu pelo partido holandês Fórum pela Democracia (FVD) e conhecido por se manifestar contra a vacinação, e tratou de uma carta escrita pela EMA em resposta a questionamentos anteriores dele, relativos às vacinas contra covid-19.

A partir dessas informações, fizemos buscas no Google com os termos “Fórum pela Democracia”, “Parlamento Europeu” e “vacina”, com um filtro temporal para resultados a partir do dia 21 de novembro. A busca, entretanto, não retornou resultados relevantes. Refizemos, então, a mesma pesquisa, porém com os termos em francês “Parlement Européen”, “Forum pour la Démocratie” e “vaccin”. Com essa nova pesquisa encontramos uma reportagem da AFP checando os pontos abordados na coletiva de imprensa.

De acordo com a matéria da AFP, a coletiva gerou diversos conteúdos de desinformação em vários países da Europa, principalmente nos Países Baixos, na Alemanha, na Bulgária e na Bélgica.

Encontramos a carta mencionada pelo deputado europeu na seção “Cartas Abertas” no site da EMA, contrariando o médico autor da postagem, que afirma que a entidade não teria divulgado o documento.

Também entramos em contato com o médico autor da postagem original.

O que diz a carta da EMA

A coletiva de imprensa mencionada pelo médico autor da publicação não contou com a participação de representantes da EMA. Participam da apresentação os deputados Marcel de Graaff e Joachim Kuhs (do partido alemão AfD, de extrema-direita), a médica dinamarquesa Vibeke Manniche e o holandês Willem Engel, líder da organização Viruswaarheid (Verdade sobre o Vírus, em holandês).

Durante a coletiva, os participantes falaram sobre uma carta enviada a eles pela EMA, em resposta a uma carta remetida anteriormente por De Graaff. De acordo com o deputado, ele havia pedido à Agência que retirasse a autorização de comercialização de vacinas contra a covid-19.

Bem como o médico autor do vídeo, De Graaff diz que a EMA teria autorizado “apenas a vacinação individual e não a vacinação em massa para controle da doença” e que, com poucas exceções, “menores de 60 anos não deveriam ter sido vacinados”. Os outros participantes da entrevista afirmam também que haveria “lotes de vacinas perigosos” e que não haveria registros adequados dos efeitos adversos das vacinas.

A carta referenciada durante a coletiva está disponível na íntegra no site da EMA. A partir da leitura do texto, é possível verificar que a EMA não “desqualificou as vacinas de RNAm” e que o uso da carta feito na coletiva — e posteriormente pelo médico no Instagram — não condiz com o conteúdo do documento.

Sobre a alegação de que pessoas com menos de 60 anos não deveriam ser vacinadas, salvo exceções: a carta da EMA não menciona uma idade limite para a utilização da vacina. O documento diz apenas que as vacinas “também fornecem proteção contra formas graves da doença, incluindo hospitalização. Isso é particularmente importante para pessoas vulneráveis ​​que correm maior risco”.

Apesar de a carta da EMA não mencionar a vacinação de menores de 60 anos, há outros documentos e estudos que comprovam a eficácia e importância da vacinação desta faixa etária. Uma pesquisa conduzida no Paraná, mostrou que, entre pessoas com menos de 60 anos, o número de mortes de não vacinados foi 83 vezes maior do que no caso de pacientes imunizados.

Sobre a alegação de que a EMA só autorizou comercialização de vacina de RNAm para proteção individual, e não para vacinação em massa: na carta, a Agência realmente afirma que as vacinas não foram indicadas para prevenir a transmissão de uma pessoa para outra, e sim para a proteção de indivíduos vacinados apenas. O documento ainda aponta que não há dados o suficiente para avaliação conclusiva sobre a prevenção de transmissão da doença em relação aos imunizantes.

No entanto, diferentemente do que alega o autor da postagem, a agência não diz que “não fazia sentido imunizar todo mundo” nem que o imunizante foi autorizado para aplicação “dependendo do médico”. Depois da coletiva de imprensa, a EMA adicionou uma seção em seu site respondendo a pergunta “vacinas contra a covid-19 reduzem a transmissão do vírus SARS-CoV-2?”. De acordo com a Agência, apesar de o principal objetivo da vacina ser a proteção contra a doença, isso não significa que ela não possa reduzir a transmissão do vírus. Após a autorização das vacinas pela EMA, estudos comprovaram que vacinas contra a covid-19 podem, sim, prevenir a transmissão do vírus.

Sobre a alegação de que não há registros adequados dos efeitos adversos da vacina: a carta da EMA fala várias vezes sobre efeitos adversos das vacinas, mas em momento algum diz que não há registros deles. “Gostaríamos de salientar que a EMA e as autoridades nacionais monitoram continuamente os dados sobre os efeitos secundários notificados”, afirma o documento.

A carta ainda clarifica que a notificação de uma suspeita de efeito colateral não é evidência que a vacinação seja a causa do efeito em questão. “Para determinar se uma vacina tem um efeito adverso, as autoridades têm de avaliar todos os dados relevantes, incluindo dados que possam indicar que a condição ocorre com maior frequência em pessoas vacinadas ou pessoas recentemente vacinadas do que em outras.”

Sobre a alegação de que a proteína Spike é tóxica: o documento redigido pela EMA não menciona efeitos da proteína Spike para humanos, tanto na vacinação, quanto em outros contextos, como, por exemplo, na própria infecção por SARS-CoV-2.

Entretanto, a possibilidade da proteína Spike utilizada nas vacinas ser tóxica já foi discutida por pesquisadores. Ainda que o assunto esteja sob evolução, estudos publicados pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, chegam à conclusão de que, apesar de poder haver certa toxicidade nas proteínas Spike das vacinas, os imunizantes “são uma boa aposta por serem muito menos tóxicos do que as proteínas spike produzidas durante as infecções virais que previnem”.

Este artigo publicado pela Universidade de Berkeley, nos EUA, discute possíveis efeitos da proteína Spike em casos graves de covid-19 e vai ao encontro do que diz a outra pesquisa. “A quantidade de proteína Spike que circula no corpo após a vacinação é muito menos concentrada do que as quantidades observadas em pacientes com covid-19 grave e que foram utilizadas no estudo.”

Autor de vídeo teve outros conteúdos verificados

O autor do vídeo é o médico clínico geral Roberto Sebastian Zeballos, já verificado pelo Comprova em ocasiões anteriores por divulgar conteúdos falsos ou enganosos sobre a pandemia (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7).

Em 2021, reportagem do Aos Fatos mostrou que Zeballos era um dos médicos com maior projeção de conteúdos de desinformação sobre a doença. Na conta do Instagram, em que divulgou o vídeo com alegações enganosas sobre a carta da EMA, ele acumula atualmente 651 mil seguidores.

Em janeiro do ano passado, professores da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgaram uma carta aberta em protesto às declarações de Zeballos contra as vacinas da covid-19. O médico é formado pela instituição, na qual também obteve grau de mestre e doutor em imunologia.

“Embora tenha o grau de médico e doutorado, parece que pouco aprendeu sobre metodologia científica e aplicações práticas de epidemiologia clínica. Situação que gera, para dizer o mínimo, falta de credibilidade e de integridade. Apresentar experiência clínica individual como única prova da veracidade de suas hipóteses é desconhecer o mais simples pressuposto de metodologia científica. Ninguém julga um tratamento com base em experiência individual”, escreveram os autores da carta.

Em uma das ocasiões em que foi procurado pelo Comprova, Zeballos afirmou que suas afirmações sobre a covid-19 são baseadas na experiência tratando casos da doença. 

Mais recentemente, o Comprova mostrou ser enganoso que a FDA, agência norte-americana que regula medicamentos quanto à eficácia e segurança, tenha autorizado o uso da ivermectina para a prevenção ou tratamento da covid-19, o que havia sido alegado por Zeballos também em vídeo no Instagram.

O que diz o responsável pela publicação: Ao Comprova, Roberto Zeballos listou, em contatos por telefone e WhatsApp, uma série de considerações sobre a carta. Ele afirmou que não encontrou a íntegra dela em um primeiro momento e que se baseou na coletiva de imprensa concedida no Parlamento Europeu para gravar o vídeo.

Após a reportagem enviar a ele o link do documento, disponível no site da EMA, o médico afirmou que a EMA “coloca que autorizou (ONLY) apenas com análise individual” a aplicação da vacina. O trecho ao qual ele se refere diz, na verdade, que a indicação autorizada do imunizante é apenas para prover proteção à pessoa que for vacinada (“The indications are for protecting the vaccinated individuals only”).

Zeballos disse que a EMA cita na carta sobre a autorização ter o objetivo de reduzir doenças graves — a agência escreve que as vacinas protegem contra quadros severos, incluindo hospitalização, o que é particularmente importante para pessoas vulneráveis.

O médico acrescenta, ainda, que devido ao Reino Unido considerar como população de risco a faixa etária acima dos 60 anos, o que não consta no documento, isso pode ter levado o eurodeputado no qual se baseou a interpretar que, na prática, a vacinação não seria indicada pela EMA para quem tenha idade menor do que essa.

Zeballos afirmou, também ao Comprova, que a EMA desqualifica as vacinas ao dizer que elas não controlam a transmissão da covid-19. Ele disse ainda considerar que, no momento, não existem incentivos para a notificação de efeitos adversos da vacina. Na carta, a EMA cita, na verdade, que não há indicação autorizada até aqui das vacinas para a redução da transmissão, por não haver dados que permitam avaliação conclusiva sobre isso. A agência afirma também monitorar continuamente relatos de efeitos adversos. Além disso, reforça a segurança e importância dos imunizantes em prover proteção.

O que podemos aprender com esta verificação: Uma tática comum usada por desinformadores para criar o efeito de credibilidade para informações falsas é usar documentos reais de forma distorcida. No caso verificado, o médico utilizou-se das falas de um deputado europeu que, já naquela altura, deturpou uma carta da EMA, com conteúdo de defesa da vacinação, ou seja, no sentido contrário ao que é alegado pelos desinformadores. Por isso, é importante consultar declarações originais e diversos veículos de comunicação, além de desconfiar caso não seja informada a fonte primária da informação.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Conteúdos falsos ou enganosos sobre a vacinação contra a covid-19 são frequentemente verificados pelo Comprova. Recentemente, mostramos que uma médica engana ao dizer que os imunizantes causam infarto e morte súbita em crianças e ser falsa a alegação de que o Parlamento Europeu tenha classificado a vacina como arma biológica.

 

Atualização: Esta verificação foi atualizada em 7 de dezembro de 2023 para incorporar na seção “O que diz o responsável pela publicação” a resposta do autor da publicação verificada.

Política

Investigado por: 2023-12-01

Vídeo de mulher com rosto de Lula e delegado parecido com Bolsonaro é uma sátira

  • Sátira
Sátira
Um vídeo que mostra uma mulher com o rosto parecido com o do presidente Lula (PT) e um delegado da Polícia Civil que lembra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é uma sátira. Trata-se do trecho de uma reportagem publicada originalmente pelo SBT-MS que foi digitalmente adulterado. Não há nas publicações indicação sobre a edição do conteúdo, o que despertou dúvidas entre usuários nas redes sociais sobre a veracidade dele.

Conteúdo investigado: Publicações em tom preconceituoso nas redes sociais alegam que uma pessoa trans com rosto idêntico ao do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi presa por um delegado parecido com o ex-presidente Jair Bolsonaro. A postagem é acompanhada por um vídeo com o trecho de uma reportagem que tem os dois personagens com faces aparentemente adulteradas, dentro de uma delegacia da Polícia Civil.

Onde foi publicado: X (antigo Twitter), Telegram e Facebook.

Conclusão do Comprova: Com o uso de inteligência artificial, vídeo viral faz sátira ao inserir o rosto do presidente Lula (PT) sobre o de uma mulher aparentemente algemada em uma delegacia da Polícia Civil e também ao colocar a face do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre a de um delegado. A gravação sobre a qual foram feitas as adulterações nos rostos é trecho de uma reportagem do SBT-MS.

O conteúdo foi compartilhado sem qualquer aviso de que se tratava de um vídeo editado, em uma página de “humor” e “notícias” cujos posts já foram verificados outras vezes pelo Comprova. A falta de clareza sobre a edição do vídeo despertou dúvidas entre usuários nas redes sociais sobre a veracidade dele e a intencionalidade da publicação.

A reportagem original tratava do assassinato de Renata de Freitas Garcia, uma mulher de 25 anos, em Campo Grande (MS). A matéria sem adulterações foi exibida pelo SBT-MS em 29 de outubro de 2018, dia em que o corpo da vítima foi encontrado em um terreno baldio na capital sul-mato-grossense.

Renata é a mulher que aparece no vídeo adulterado com o rosto parecido ao de Lula. A reportagem do SBT-MS sobre o assassinato utilizou imagens de arquivo da vítima, uma vez que ela já havia aparecido anteriormente em matérias da emissora por passagens policiais.

Em 2017, Renata chegou a ficar conhecida como “bandida sorridente”, conforme registrou a imprensa local, por uma série de entrevistas que concedeu em uma delegacia da Polícia Civil após ser presa por suspeita de tentativa de homicídio. As imagens dessa ocasião foram recuperadas no ano seguinte pela reportagem do SBT-MS que tratava da morte dela e que acabou adulterada posteriormente.

Sátiras são memes, paródias e imitações publicadas com intuito de fazer humor. O Comprova verifica conteúdos satíricos quando percebe que há pessoas tomando-os por verdadeiros.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No X, a publicação com o vídeo adulterado teve 434 mil visualizações e mais de 4 mil curtidas até 30 de novembro. Na mesma data, o post no Telegram tinha 12,3 mil visualizações.

Como verificamos: O Comprova fez, inicialmente, buscas reversas das imagens da mulher e do delegado que aparecem no vídeo sob verificação no Google Imagens e no TinEye.

Para o caso dela, não houve retorno significativo. Já em resposta ao print da autoridade policial, o Google sugere uma foto do delegado da Polícia Civil sul-mato-grossense Edemilson José Holler em um cenário parecido ao do vídeo adulterado. Ela está publicada em um portal de notícias de Campo Grande.

| Print utilizado na busca reversa no Google Imagens (Foto: Reprodução)

O Comprova fez então novas buscas no Google Imagens, mas pelo nome do delegado. Ao procurar pelos termos “Edemilson Holler”, encontrou uma nova foto da autoridade policial, em que aparece com um paletó, camisa e gravata parecidos ao do suposto delegado que tem o rosto semelhante ao de Bolsonaro.

Essa segunda imagem também foi publicada pelo portal Campo Grande News, em reportagem que trata da morte a facadas de Renata de Freitas Garcia. Ao buscar por outras publicações sobre o assassinato, o Comprova encontrou um registro de outro veículo local que traz uma imagem da vítima: uma mulher com roupa e em um cenário parecido ao da suposta pessoa trans que teria o rosto idêntico ao de Lula.

A foto dela mostra, no entanto, uma logomarca do programa Mauricio Picarelli e um microfone com espuma laranja, que não aparecem no vídeo com rostos aparentemente adulterados. O registro sob verificação tem uma marca d’água do SBT-MS, emissora com a qual o Comprova fez então contato.

Em resposta, o SBT-MS confirmou que o vídeo com a suposta pessoa trans parecida com Lula se trata, na verdade, do trecho de uma reportagem originalmente exibida pela emissora em 29 de outubro de 2018 para noticiar o assassinato de Renata de Freitas Garcia. A matéria traz também a entrevista com o delegado da Polícia Civil Edemilson José Holler. Os rostos verdadeiros não lembram Lula nem Bolsonaro.

“A nossa equipe já havia feito uma sonora com ela [Renata] em uma das ocasiões em que foi presa, justamente essa imagem que foi adulterada e chegou até vocês”, explicou o jornalista Odil Santana, que atua como arquivista do SBT-MS, em conversa com o Comprova.

Por fim, o Comprova ouviu o professor de engenharia da informação da Universidade Federal do ABC Mario Gazziro para entender como a alteração pode ter sido feita.

Vídeo adulterado já havia viralizado em 2021

O trecho da reportagem do SBT-MS com rostos adulterados já havia viralizado no Facebook no final de 2021. Em novembro daquele ano, o deputado estadual Ricardo Arruda (PL-PR) publicou o vídeo em sua página na rede social, em que teve 25 mil visualizações e 1,7 mil reações.

Naquele mesmo mês, o deputado estadual Anderson Moraes (PL-RJ) havia publicado em sua página no Facebook um vídeo de uma outra pessoa trans que supostamente tinha o rosto semelhante ao de Lula.

O vídeo compartilhado por Moraes é do trecho de uma aparente reportagem sobre uma pessoa trans com nome de registro Francis Lopes dos Santos, que teria agredido a mãe na ocasião em que foi presa. Ela concede entrevista em uma unidade da Polícia Civil do Paraná. Ao buscar pelo mesmo nome no Google, é possível encontrar uma outra reportagem da imprensa sobre o caso, que ocorreu em 15 de outubro de 2014, em Apucarana (PR), mas com imagens que mostram o rosto verdadeiro da suspeita envolvida.

O vídeo adulterado tem uma marca d’água com os dizeres “made with reface app”, o que indica que ele foi “feito com o aplicativo Reface”, uma ferramenta de inteligência artificial que permite ao usuário substituir o rosto de pessoas em fotos e vídeos, além de criar imagens e animações.

| Vídeo tem marca d’água de aplicativo Reface no canto superior esquerdo (Foto: Reprodução)

Há ainda na mesma publicação uma outra marca d’água, que indica que o vídeo teria partido do perfil “REFACE” do Kwai. No vídeo compartilhado por Arruda, que adultera o rosto de Renata de Freitas Garcia, há uma marca d’água em referência a uma conta no TikTok de nome parecido (refaceoficial). Não é possível confirmar, no entanto, que este vídeo também tenha sido feito com uso do aplicativo, uma vez que ele não conta com a marca d’água que remete à inteligência artificial.

| Conta “@refaceoficial” não está mais no ar no TikTok (Foto: Reprodução)

Publicação utiliza técnica de deepfake

O professor de engenharia da informação da Universidade Federal do ABC Mario Gazziro explica que o vídeo foi alterado a partir de uma técnica de geração de imagens chamada deepfake. Nesses casos, é possível perceber a mudança observando as diferenças entre as proporções do corpo e do rosto, ou entre expressões faciais e movimentos ou posturas corporais.

No vídeo investigado, essas incongruências ficam claras pela falta de sincronia entre a fala e o movimento da boca. As expressões faciais também soam pouco naturais.

Gazziro explica que o recurso de substituição de rostos é mais usado por se tratar de uma ferramenta relativamente acessível. Atualmente, há diversos softwares disponíveis para a criação de deepfakes, caso do aplicativo Reface.

“Gerar o chamado deepfake do corpo inteiro é muito mais trabalhoso para os falsificadores sendo ainda uma tecnologia pouco acessível, pois necessita da geração das cenas e corpos em 3d geradas com qualidade fotorrealista. Dessa forma, os falsificadores utilizam o recurso mais simples, que é apenas a substituição de rostos em vídeos pré-existentes”, ressalta.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova tentou contato por e-mail com o Movimento Sem Picanha, mas não obteve retorno até esta publicação.

O que podemos aprender com esta verificação: Técnicas de edição de deepfake, que, neste segundo caso, se utilizam de recursos de inteligência artificial para adulterar rostos e vozes de pessoas, têm sido usadas cada vez com maior frequência por produtores de desinformação. Também é comum que eles explorem vídeos antigos e em outros contextos para espalhar conteúdos falsos e enganosos. 

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova mostrou, no ano passado, ser falso um áudio atribuído ao então presidenciável Ciro Gomes sobre tomada de poder pelas Forças Armadas caso Lula fosse eleito. Na mesma época, circulou um áudio também de William Bonner chamando Lula e Alckmin de bandidos.