O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
Filtro:

Política

Investigado por: 2024-11-20

É falso que Lula tenha confirmado lista com 800 mil idosos que perderiam benefício do INSS

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Falso
É falso que o presidente Lula tenha confirmado uma lista de 800 mil beneficiários idosos que teriam o salário de R$ 1.412 cortado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), como afirma vídeo em rede social. O que está acontecendo desde agosto de 2023 é uma revisão e atualização cadastral. De acordo com o INSS, pode ocorrer um bloqueio temporário caso o beneficiário não for inserido no Cadastro Único em 30 dias após receber notificação.

Conteúdo investigado: Vídeo afirma que o presidente Lula confirmou uma lista com nomes de 800 mil pessoas acima dos 60 anos que perderão o salário de R$ 1.412 do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). “Começa a lei que corta benefício de forma automática e imediata. Se houver suspeita de fraude, [a medida será] sem investigar ou avisar os aposentados”, diz trecho de narração do vídeo, que foi editado com várias fotos de idosos e do chefe do Executivo.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Não é verdade que foi divulgada uma lista de 800 mil beneficiários do INSS que terão salário cortado. Conteúdo falso tenta confundir as pessoas com base na iniciativa da autarquia do governo federal que lançou, em agosto de 2023, um programa de revisão do Benefício de Prestação Continuada (BPC) para quem não tem inscrição no Cadastro Único (CadÚnico), e daqueles que não atualizam as informações no sistema há mais de 48 meses. O objetivo é manter atualizados os dados de beneficiários do programa.

Tal revisão foi confundida e vídeos que circulam nas redes sociais com um corte nos salários pagos pelo INSS. Após a ampla circulação da informação falsa, o governo federal publicou um esclarecimento no site oficial. O Instituto garantiu que as informações são falsas e também reforçou, em nota ao Comprova, que o órgão apenas operacionaliza os pagamentos do BPC, já que ele não se trata de um benefício previdenciário, mas sim assistencial, pertencente ao Ministério de Desenvolvimento Social (MDS).

O BPC garante um salário mínimo por mês ao idoso com mais de 65 anos ou à pessoa com deficiência de qualquer idade, mesmo que não tenha contribuído para a Previdência Social, que comprovem renda familiar per capita igual ou inferior a um quarto do salário mínimo.

Acontece que desde agosto do ano passado, o INSS está instruindo 505.018 pessoas a procurarem por Centros de Referência e Assistência Social (Cras) em seus municípios para realizarem inscrição no cadastro e atualizarem as informações. Na falta de comparecimento do beneficiário do BPC ao Cras do município, o pagamento é bloqueado em 30 dias a contar do envio da notificação. Somente são suspensos os benefícios que forem comprovados o recebimento do aviso, e o não comparecimento do beneficiário para a renovação.

Após o bloqueio do pagamento, os beneficiários podem ligar para a Central 135 e solicitar o desbloqueio. Com a ligação para o 135, começará a correr um novo prazo de 45 ou 90 dias, a depender do município onde reside. Passado o tempo limite, o BPC é bloqueado.

O INSS informou ainda que, em uma segunda etapa, outras 517.571 pessoas que estão sem atualização cadastral nos últimos 48 meses serão avisadas sobre a necessidade de fazer atualização cadastral no Cras.

Além dos mencionados acima, outros 680 mil segurados que estão em benefício por incapacidade temporária (antigo auxílio-doença) por mais de 24 meses também estão sendo chamados para revisão. Por mais que o Departamento de Perícia Médica Federal tenha capacidade para 800 mil perícias, isso não quer dizer que o INSS cortará 800 mil benefícios. A intenção é apenas identificar quem realmente tem direito ao pagamento, conforme informou o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, em nota divulgada pelo INSS.

“É uma determinação do presidente Lula: dar direito a quem tem direito. Não é justo pagar benefício a quem não precisa. Isso faz com que falte dinheiro para pagar quem realmente tem direito ao pagamento”, informa o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi. Ele afirma que as revisões seguem critérios rigorosos de checagem de informações, e que a ampla defesa dos beneficiários é assegurada, conforme determina a Constituição Federal.

O Comprova tentou contato com o autor do post falso, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 20 de novembro, o vídeo estava com 200 mil visualizações e mais de 9 mil curtidas.

Fontes que consultamos: Site do INSS e a assessoria de imprensa do órgão.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O conteúdo falso foi checado também pelo UOL Confere, Estadão Verifica, Aos Fatos e Folha. O Comprova também já checou: post engana ao omitir que salário de grevistas do INSS também foi cortado por Bolsonaro, INSS pagou 13º em novembro apenas para beneficiários que não tiveram adiantamento e postagens atribuem erroneamente a Bolsonaro suspensão de benefício (BPC) ocorrida no governo Temer.

Política

Investigado por: 2024-11-19

Não há registro de que Trump tenha dito que Lula é o maior presidente do mundo

  • Falso
Falso
Não há registro de que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, tenha declarado que Lula é o maior presidente do mundo, como afirma vídeo que viralizou nas redes sociais. O pronunciamento após a vitória, em 6 de novembro, e publicações em perfis de Trump não citam o brasileiro.

Conteúdo investigado: Vídeo com imagens de Donald Trump e com uma narração gerada por um aplicativo de edição de vídeo diz que Lula se tornou manchete no mundo no dia 6 de novembro após o norte-americano dizer que o brasileiro é o “maior presidente do mundo”. Trump também teria dito que não haverá impasses entre os Estados Unidos e o Brasil neste novo mandato. “Meu interesse é que as pessoas tanto no Brasil quanto aqui nos Estados Unidos tenham o direito de terem bons presidentes que dê prioridade às necessidades do povo”, diz trecho da narração.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Trump não declarou que Lula (PT) é o maior presidente do mundo. O presidente eleito dos Estados Unidos não se pronunciou nas redes sociais no dia 6 de novembro, quando foi anunciada sua vitória contra Kamala Harris, candidata democrata. No dia da eleição, ele fez um discurso de agradecimento, e não mencionou Lula. O Comprova já verificou outro conteúdo falso que afirmava que o americano teria dito que não convidaria o brasileiro para a posse.

Uma das imagens utilizadas na montagem do vídeo – como o Comprova verificou a partir de uma busca reversa – foi trecho de um vídeo publicado por Trump em 10 de outubro de 2023. Na ocasião, ele criticava um acordo travado pelos Estados Unidos, presidido por Joe Biden, e pelo Irã que consistia na libertação de cidadãos norte-americanos em troca da liberação de fundos iranianos na Coreia do Sul. Não houve nenhuma menção ao presidente do Brasil.

A narração falsa alega que Trump teria agradecido Lula por parabenizá-lo pela vitória nas eleições. De fato, o brasileiro, que havia declarado apoio a Kamala Harris ainda no período eleitoral, parabenizou o norte-americano em um post no X, mas a mensagem foi publicada depois do discurso de Trump, que aconteceu ainda na madrugada, após a emissora Fox News projetar a vitória.

O perfil que fez a publicação falsa no TikTok publicou uma série de outros conteúdos suspeitos. Essas postagens também utilizam o nome de Lula associado a outras personalidades relevantes, como o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama e o papa Francisco.

O Comprova entrou em contato com o responsável pela página que publicou o vídeo investigado, mas não obteve resposta até a publicação do material.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 19 de novembro, o vídeo tinha 492,6 mil visualizações, 32,3 mil curtidas e mais de 3,7 mil comentários.

Fontes que consultamos: Redes sociais de Trump e perfil de Lula no X.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O G1 também concluiu que o conteúdo é falso. O Comprova já realizou várias verificações que envolvem a relação política entre Estados Unidos e o Brasil: Trump não pode prender Alexandre de Moraes caso seja eleito presidente, diferentemente do que afirmou Marcos do Val, vídeo de campanha de Trump foi alterado para incluir cena com Bolsonaro e post sobre limusine da Tesla criada para Trump foi feito por perfil de paródias de Elon Musk são alguns exemplos.

Política

Investigado por: 2024-11-19

Ida de Bolsonaro à posse de Trump depende do STF e não de passaportes da Itália e dos EUA

  • Falso
Falso
Ida de Jair Bolsonaro (PL) à posse de Donald Trump, eleito pela segunda vez presidente dos Estados Unidos (EUA), depende de decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), e não de passaportes italiano ou estadunidense. Para ter o documento, o ex-presidente brasileiro precisaria ser cidadão dessas nações, o que não se tem registro.

Conteúdo investigado: Vídeo com fotografia de Donald Trump ao lado de Jair Bolsonaro (PL) acompanhado de textos “o STF fica passando mal de inveja” e “o STF vai negar o passaporte de Bolsonaro para ele ir à posse de Trump, mas Trump pode conceder um passaporte especial para Bolsonaro e Bolsonaro também pode pedir à primeira-ministra da Itália, já que ele é cidadão italiano. E, com certeza, Giorgia Meloni vai ajudar o capitão”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Não é verdade que um passaporte especial emitido por Trump ou um passaporte italiano seriam suficientes para permitir a ida de Bolsonaro à posse do presidente eleito dos EUA, diferentemente do que afirma um vídeo publicado no TikTok. A publicação menciona ainda que o ex-presidente brasileiro é cidadão italiano, informação da qual não se tem registro.

Em janeiro de 2023, o ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, revelou que Bolsonaro, àquela época, ainda não havia pedido a cidadania do país. No mês seguinte, o ex-presidente disse que, pela legislação italiana, ele seria italiano por ter direito à cidadania. No entanto, ele não havia confirmado se pretendia ou não fazer o pedido.

Em novembro de 2023, Bolsonaro ainda não havia conseguido o título de cidadão. Na época, a Itália avançava com uma lei que poderia impedir o ex-presidente de ter cidadania. Desde então, não há mais atualizações sobre o caso.

Se considerarmos que ele ainda não fez o pedido de cidadania, Bolsonaro não teria um passaporte italiano – documento que é concedido apenas a cidadãos do país.

A publicação também levantou a possibilidade de Trump conceder um passaporte especial ao ex-presidente. No programa Oeste sem Filtro, o jornalista Alexandre Garcia também questionou sobre essa possibilidade, afirmando que ele próprio recebeu o documento em ocasiões de trabalho, como “cobrir Presidência da República no Japão”.

Procurado pelo Comprova, o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) orientou checar o Decreto Nº 5.978/2006. De acordo com o regulamento, há cinco tipos de passaporte no Brasil:

  • Comum, emitido para qualquer cidadão brasileiro;
  • Diplomático, emitido a autoridades diplomáticas ou a serviço do governo brasileiro;
  • Oficial, emitido a autoridades e/ou funcionários(as) do governo brasileiro em missão oficial;
  • Para estrangeiro, concedido no território nacional ou fora do país para pessoas apátrida ou de nacionalidade indefinida, asilado ou refugiado no País e outras situações especiais, descritas no decreto;
  • De emergência, concedido àquele que necessite de documento de viagem com urgência e não possa comprovadamente aguardar o prazo de entrega, nas hipóteses de catástrofes naturais, conflitos armados ou outras situações emergenciais, individuais ou coletivas, definidas em ato dos Ministérios da Justiça ou das Relações Exteriores, conforme o caso.

O professor de Direito Internacional da Nabuco CACD Ricardo Macau destaca que, mesmo que Bolsonaro tenha passaporte estrangeiro ou autorização especial para entrar nos EUA, ele deve passar pelo controle migratório antes de sair do país. Isto é, pela Polícia Federal (PF), que é orientada a cumprir as ordens do STF, como a de não autorizar viagens internacionais do ex-presidente.

Isso porque seu passaporte foi apreendido pela Polícia Federal (PF) a mando do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em decorrência do envolvimento do ex-presidente em uma tentativa de golpe de Estado.

Com isso, o político só pode sair do país com autorização do magistrado, como ele mesmo disse durante cerimônia de posse do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) como secretário de Relações Institucionais e Internacionais do PL, em Brasília.

“Se for (convidado), vou peticionar ao TSE [Tribunal Superior Eleitoral], para ver se eu posso ir lá acompanhado da esposa. Se [Trump] não convidar, paciência, tem seus motivos. Acredito que seja convidado. Bem, quem vai decidir se eu vou ou não é Sua Excelência, Alexandre de Moraes”, disse o ex-presidente.

“Então ele pode ter passaporte de 10, 20 ou 30 países. Ele vai ter que passar pelo controle imigratório da Polícia Federal. Isso está na Constituição [Art. 38 da Lei nº 13.445/2017]. A Polícia Imigratória é a PF, e a PF tem que cumprir uma ordem do Alexandre de Moraes, que é não autorizar o Bolsonaro a sair do país”, explicou.

Em nota ao Comprova no dia 13 de novembro, o STF informou que não localizou, até aquele momento, “pedido nesse sentido [de autorização para sair do país] nos processos públicos que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro”. O tribunal não informou como iria proceder no caso de um pedido do tipo, já que a solicitação deve passar por análise de Moraes.

A reportagem contatou o perfil que publicou o vídeo no TikTok, mas não obteve resposta. A assessoria de Bolsonaro também foi contatada e não respondeu até a publicação desta checagem.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 18 de novembro, a publicação no TikTok alcançou 409,8 mil visualizações.

Fontes que consultamos: Ministério das Relações Exteriores, STF, professor de Direito Internacional Ricardo Macau e reportagens linkadas ao longo do texto.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Conteúdos com desinformação envolvendo Jair Bolsonaro são frequentes. O Comprova já mostrou, por exemplo, que Rayssa Leal não dedicou medalha olímpica ao ex-presidente em entrevista e que a trilha sonora de Rebeca Andrade em Paris não fez homenagem ao político.

Contextualizando

Investigado por: 2024-11-18

Aeronaves estrangeiras mostradas em vídeo participavam de simulação da FAB; entenda

  • Contextualizando
Contextualizando
Post mostra a chegada de aeronaves internacionais para o Exercício Cruzeiro do Sul (CRUZEX), da Força Aérea Brasileira (FAB), sem dar detalhes do evento. Nos comentários do post, há dúvidas a respeito do episódio e teorias conspiratórias segundo as quais estaria “acontecendo alguma coisa estranha que a mídia não fala”. Há ainda questionamentos sobre um suposto envolvimento dos Estados Unidos (EUA) na defesa do Brasil. O objetivo do treinamento é que integrantes das Forças Aéreas de diferentes países troquem experiências por meio de um treinamento conjunto em simulações de conflito, como destacam os meios de comunicação/as redes sociais da FAB.

Conteúdo analisado: Vídeo mostra quatro aeronaves sobrevoando no céu. A legenda diz “Caças F-15 dos EUA pousaram na Base Aérea de Natal, no Rio Grande do Norte, como parte do exercício multinacional ‘CRUZEX 2024’”.

Onde foi publicado: TikTok.

Contextualizando Apesar da legenda da gravação apontar que se trata de um exercício multinacional, comentários na postagem conspiram que estaria “acontecendo alguma coisa estranha que a mídia não fala” e questionam suposto envolvimento dos EUA na defesa do Brasil. As redes sociais da FAB mencionam o evento desde outubro, enfatizando a legenda “CRUZEX: A Guerra é Simulada. O Treinamento é Real”.

O vídeo mostra a chegada de aeronaves para participarem do Exercício Cruzeiro do Sul (CRUZEX). O evento acontece desde 2002 e é liderado pela Força Aérea Brasileira (FAB), com a participação do Exército e da Marinha do Brasil. O objetivo é promover a troca de experiências entre os integrantes das Forças Aéreas dos países participantes por meio de um treinamento conjunto em simulações de conflito. Este ano aconteceu a 8ª edição do treinamento, entre os dias 3 e 15 de novembro, na Base Aérea de Natal (BANT). A maioria dos veículos aéreos participantes pousou entre os dias 1 e 3 de novembro, segundo a FAB.

Os EUA participam do CRUZEX desde a 5ª edição, que aconteceu em 2010. Neste ano, o país trouxe para o Brasil caças F-15 Eagle pela primeira vez. As aeronaves vieram da 159º Ala de Caça da Guarda Aérea Nacional de Louisiana, sediada na Base Aérea Naval Conjunta de Nova Orleans. A esquadrilha de caças foi fotografada no dia 2 de novembro – data da postagem do TikTok– e consta no Flickr oficial da FAB.

Este ano, os países que participam com esquadrões de voo em território brasileiro são Argentina, Chile, Colômbia, Estados Unido, Paraguai, Peru e Portugal. Há equipes do Chile, Colômbia, EUA, Paraguai e Peru para realizar tarefas espaciais e cibernéticas. Como observadores, estão África do Sul, Alemanha, Canadá, Equador, França, Itália, Suécia e Uruguai. Cada país oferece suas aeronaves e conhecimentos específicos, visando uma cooperação internacional no campo da defesa.

Os países e as respectivas aeronaves participantes no treinamento são:

  • Brasil, com os caças F-39 Gripen, F-5EM, A-1, A-29B, de transporte C-105/SC-105 Amazonas, KC-390 Millennium, E99M e helicóptero H-36 Caracal da FAB, além do A4 da Marinha do Brasil (MB);
  • Argentina com IA-63 Pampa e KC-130H;
  • Chile com o KC-135 e F-16 ;
  • Colômbia com KC-767;
  • EUA com F-15 e KC-46 (767);
  • Paraguai com AT-27 e C-212;
  • Peru com KT-1P e KC-130;
  • Portugal com KC-390.

Release do evento enviado à imprensa informa que participam 16 países, mais de 3,6 mil militares e cerca de 100 aeronaves nesta edição. O conteúdo verificado aqui foi postado no Tiktok no dia 2 de novembro e já soma mais de 1 milhão de visualizações, 40 mil curtidas e 2 mil comentários na plataforma.

Fontes consultadas: Assessoria de Imprensa do Comando da Aeronáutica e publicações oficiais no site e redes sociais da Força Aérea Brasileira.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: Mais postagens nas redes sociais mencionam as Forças Armadas do Brasil e justificam contextualizações do Projeto Comprova, como um post que usa vídeos antigos para minimizar atuação do Exército nas enchentes no RS; autor diz que era teste de fake news.

Política

Investigado por: 2024-11-14

Post sobre limusine da Tesla criada para Trump foi feito por perfil de paródias de Elon Musk

  • Falso
Falso
A Tesla não se pronunciou oficialmente sobre criar uma limusine para Donald Trump, eleito pela segunda vez presidente dos Estados Unidos. O conteúdo que sugere a criação do veículo foi publicado por uma conta que faz paródias de Elon Musk, dono da fabricante de carros, e foi reproduzido em outras redes afirmando que o ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PL), teria sido convidado para conhecer o veículo. O Comprova apurou que a Tesla não tem disponível o modelo do tipo.

Conteúdo investigado: Post com imagem de um carro de luxo posicionado em frente à Casa Branca, em Washington DC, nos Estados Unidos, e legenda que diz “Elon preparou um Tesla limusine para Trump e convidou Bolsonaro para conhecê-la”. A imagem foi publicada originalmente em outra plataforma por um perfil que faz paródias de Elon Musk com o texto “Devo fazer uma limusine Tesla para Trump? À prova de balas, é claro!”, como se fosse uma declaração do bilionário.

Onde foi publicado: X e TikTok.

Conclusão do Comprova: Não é verdade que Elon Musk tenha publicado sobre a criação de uma limusine para Donald Trump. Uma postagem no TikTok tira de contexto a publicação de uma conta satírica que imita o empresário. Uma busca no perfil oficial de Musk no X mostrou que ele não publicou o conteúdo.

A limusine também não está na relação de carros fabricados pela Tesla. Na verdade, não há esse modelo de veículo no catálogo disponível no site da empresa automotiva.

Na internet, o Comprova encontrou uma limusine Tesla que não foi criada pela fabricante, mas adaptada de um modelo original. Trata-se de um modelo que tem como base o Model S 85 de 2015. O veículo esteve à venda no eBay em 2017 e não é o mesmo que aparece nos conteúdos investigados nesta checagem.

De acordo com a descrição no eBay à época do anúncio, a limusine foi construída para um projeto publicitário da empresa Big Limos, especializada no alargamento de automóveis e na conversão dos veículos para limusines de luxo.

No TikTok, uma postagem utilizou a mesma imagem da suposta limusine da Tesla para afirmar que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu um convite para conhecer o veículo. Bolsonaro, no entanto, não fez nenhuma publicação nas redes sociais sobre o possível convite, assim como Musk e Trump.

O Comprova contatou a Tesla e a assessoria de imprensa de Donald de Trump e Jair Bolsonaro, mas não obteve retorno até a publicação desta checagem. A iniciativa também contatou o autor do post no TikTok e não obteve resposta.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 14 de novembro, o post no X alcançou 20,1 milhões de visualizações. Já o vídeo no TikTok alcançou 1,4 milhões de visualizações.

Fontes que consultamos: Catálogo de carros da Tesla, ferramenta AI or Not e buscas do Google por supostas limusines da fabricante de Musk.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Elon Musk e Donald Trump são alvos frequentes de desinformação e, por isso, de checagens do Comprova. Recentemente, a iniciativa contextualizou a suposta compra da CNN pelo bilionário que fez Javier Milei, presidente da Argentina, cair em sátira e mostrou também que o político americano não postou que não convidaria Lula (PT) para sua posse “porque lugar de ladrão é na cadeia”.

Contextualizando

Investigado por: 2024-11-13

Entenda a suposta compra da CNN por Musk que fez Milei cair em sátira

  • Contextualizando
Contextualizando
A CNN não foi comprada por Elon Musk e não há negociações do tipo em andamento, diferentemente do que afirmou o presidente argentino, Javier Milei. A emissora, pertencente à Warner Bros. Discovery, desmentiu a fala do mandatário. A declaração do argentino, no entanto, abriu caminho para o surgimento de desinformações sobre o assunto, como um conteúdo que afirma que o youtuber Allan dos Santos seria escalado âncora da filial brasileira após a suposta venda. O Comprova contextualiza o tema.

Conteúdo analisado: Imagem que diz que Elon Musk comprou a rede americana CNN e colocou Allan dos Santos como âncora na filial brasileira. O conteúdo tem, lado a lado, fotografias de Allan, Musk e Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

Onde foi publicado: TikTok.

Contextualizando: Boatos de que Elon Musk teria comprado a emissora CNN surgiram após o presidente da Argentina, Javier Milei, afirmar na Câmara de Comércio do país que a suposta negociação seria positiva, pois “as decisões tomadas por [Donald] Trump teriam melhor repercussão”.

No entanto, Musk não comprou a CNN. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa da emissora, que pertence à Warner Bros. Discovery. “Não há verdade alguma em rumores de venda ou mudança de propriedade da CNN. Quaisquer declarações em contrário são completamente falsas”, disse o canal de notícias em nota ao Comprova.

De acordo com uma checagem da Lupa, Milei falou sobre a compra porque teria interpretado como verdade uma sátira de um portal de humor. O site em questão, chamado SpaceXMania, costuma publicar artigos sem informações reais, em que satiriza Musk e as empresas dele.

O site, aliás, afirma ter como missão divulgar “as fake news mais frescas, algumas análises atrevidas e uma boa dose de sátira, tudo reunido em uma mistura maluca que orbita em torno de Elon Musk e tudo o que é destaque nos gráficos virais/tendência”.

Musk não se pronunciou publicamente sobre o tema. A reportagem contatou o bilionário por meio da assessoria de imprensa da Tesla, uma de suas empresas, questionando se haveria algum plano para adquirir a emissora, mas não houve retorno até opublicaçã deste texto.

A repercussão da fala de Milei fez com que peças de desinformação sobre essa suposta compra começassem a circular nas redes sociais. Uma delas, postada no TikTok, afirma que, após a compra da CNN por Musk, o youtuber e blogueiro Allan dos Santos seria escalado como âncora da filial brasileira – o que também não é verdade.

Ao Comprova, a assessoria de imprensa da CNN Brasil afirmou que a postagem traz conteúdo falso, e que não comentará o caso.

Apesar disso, Allan dos Santos costuma apoiar Musk nas redes sociais, principalmente quando aborda as polêmicas envolvendo o bilionário e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Allan, que está foragido da Justiça brasileira desde 2021, teve seus perfis no X bloqueados por ordem de Moraes. No entrave do ministro contra Musk, o youtuber foi beneficiado, e teve suas contas desbloqueadas na plataforma. Atualmente, a conta do youtuber no X está retida.

No mês passado, Allan comprou um carro Tesla, da fabricante de Musk. E, em vídeo que circula no X, o youtuber comemora com uma “dancinha” a suposta compra da CNN por Elon.

O Comprova tentou contatar o autor do post no TikTok, mas o perfil não permite o envio de mensagens. A reportagem também contatou o advogado de Allan dos Santos, mas não teve resposta até a publicação desta checagem.

Fontes consultadas: CNN e CNN Brasil, reportagens sobre o tema, linkadas ao longo do texto, e buscas no Google por declarações de Musk.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: Diferentes iniciativas de checagem, como Estadão Verifica, Lupa e UOL Confere, mostraram que é falsa a informação de que Musk tenha comprado a CNN. O Comprova, por sua vez, já desmentiu diversos conteúdos envolvendo o bilionário, como a afirmação de que ele teria visitado o Brasil em 2024 e anunciado a construção de escolas no país ou anunciado a abertura de fábricas da Tesla e SpaceX em território nacional.

Saúde

Investigado por: 2024-11-12

CEO da Pfizer não enfrenta prisão perpétua nem encara tribunal holandês, ao contrário do que diz post

  • Falso
Falso
Não é verdade que Albert Bourla, CEO da Pfizer, enfrenta prisão perpétua ou encara processo em um tribunal holandês por mentir sobre a vacina contra a covid-19, como indica a legenda de uma postagem no X. O texto vem acompanhado de um vídeo com tais acusações, que se baseiam em teorias da conspiração disseminadas desde 2021. O Comprova não encontrou nenhum indício de que o CEO esteja preso ou seja alvo de processos na Holanda. A Pfizer negou que haja qualquer prisão ou processo contra Bourla.

Conteúdo investigado: Vídeo que narra uma “série de mentiras descaradas ditas pelo CEO da Pfizer que serviram para alimentar um dos maiores escândalos na saúde da história recente”, conforme descrito na legenda da publicação. Semelhante a um telejornal, o conteúdo é apresentado por um homem que narra as acusações e traz trechos de entrevistas de ex-membros da Pfizer, que criticam a empresa e dizem que Bourla enfrenta um tribunal na Holanda.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Albert Bourla, presidente da Pfizer, não enfrenta prisão perpétua nem processos na Holanda por supostamente mentir sobre a vacina contra a covid-19. Conteúdo que diz o contrário traz alegações falsas sobre a liberdade de Bourla e sobre a eficácia do imunizante.

Um vídeo publicado no X descreve inúmeras razões, todas elas envolvendo teorias da conspiração sobre a vacina contra a covid-19, pelas quais o CEO teria sido convidado a defender a si mesmo e a Pfizer em um tribunal holandês. O conteúdo, no entanto, não especifica em qual tribunal da Holanda o suposto processoocorre. Já a legenda do post afirma que Bourla “enfrenta prisão perpétua por mentir para bilhões sobre a vacina covid”. Conforme apuração do Comprova, não foi encontrada nenhuma notícia ou menção a nenhuma das duas situações. Também não foram encontrados vídeos ou fotos da suposta prisão de Bourla. Pelo contrário, há reportagens que desmentem a suposta prisão do empresário.

A publicação analisada foi feita no X em 31 de outubro. Dois dias antes, Albert Bourla concedeu entrevista ao canal de TV americano CNBC. Ainda no dia 29, o canal no YouTube do site Yahoo Finance também publicou uma entrevista com o CEO. Já em 12 de agosto, o executivo foi o personagem de uma entrevista em formato pingue-pongue, escrita pelo jornalista Matthew Perrone para a Associated Press. Em nenhum desses casos foram mencionados processos contra ele. 

A disseminação de informações do tipo sobre Albert Bourla não é novidade. Em 2022, por exemplo, a revista Forbes publicou uma reportagem intitulada “Não, o CEO da Pfizer não foi preso; saiba como surgiu essa teoria da conspiração” com o objetivo de desmentir boatos sobre o executivo. Ao Comprova, a Pfizer disse que as informações citadas no post aqui analisado “não procedem”.

A empresa reforçou a segurança da vacina produzida e garante que “não há qualquer alerta de segurança, de modo que o benefício da vacinação permanece se sobrepondo a qualquer risco”, em resposta às alegações do post investigado, que põe em xeque a segurança e eficácia do imunizante. Ainda segundo a Pfizer, a vacina já foi distribuída em 183 países, totalizando mais de 4,8 bilhões de doses.

“Em nosso compromisso com a segurança e a eficácia de nossos produtos, realizamos habitualmente o acompanhamento de relatos de potenciais eventos adversos, mantendo as autoridades regulatórias sempre informadas, conforme a regulamentação vigente em cada país”, informou a Pfizer, acrescentando “que diferentes agências regulatórias pelo mundo, como FDA, EMA e Anvisa, autorizaram o uso da vacina ComiRNAty contra a COVID-19 da Pfizer/BioNTech”.

O vídeo publicado no X também desinforma ao reforçar as desconfianças em torno da vacina ao dizer que Bourla não se imunizou, o que é mentira, conforme mostrou o Comprova em uma verificação de 2021.

Uma das pessoas que aparecem no conteúdo investigado é Mike Yeadon. Ele é ex-vice-presidente da Pfizer e já foi alvo de checagem do Estadão Verifica, em 2020, por compartilhar informações falsas sobre vacinas e pandemia de covid-19. Recentemente, em 2024, alegações dele também foram checadas pelo UOL Confere, que concluiu ser falso que os imunizantes contra a covid-19 tenham sido produzidos com a intenção de “reduzir a população”, como disse Yeadon em tom conspiratório.

O Comprova contatou o autor da publicação investigada, contudo não teve retorno até a publicação deste texto.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 12 de novembro de 2024, no X, o conteúdo tinha 212,8 mil visualizações; 5,3 mil curtidas e 1,9 mil compartilhamentos.

Fontes que consultamos: Pfizer e histórico de publicações e entrevistas de Albert Bourla disponíveis na internet.

Quem é Albert Bourla?

Albert Bourla é presidente e diretor executivo da Pfizer. Conforme o site oficial da empresa, ele tem mais de 30 anos na organizaçãoe assumiu o cargo de CEO em janeiro de 2019. Além disso, Bourla é doutor em Medicina Veterinária e possui Ph.D. em Biotecnologia da Reprodução pela Veterinary School of Aristotle University, na Grécia.

Entre outras funções, ele é presidente da International Federation of Pharmaceutical Manufacturers & Associations e da The Pfizer Foundation, e copresidente do Conselho de Administração da Partnership for New York City.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O CEO da Pfizer já foi alvo de outras verificações no Comprova em decorrência de falsas afirmações. Em uma delas, foi mostrado que, ao contrário do que diz um texto disseminado pelo WhatsApp, Bourla não foi condenado. As vacinas também são peças de muita desinformação. O Comprova já mostrou ser falso que pessoas vacinadas tenham o dobro de chance de pegar covid e que é enganoso post de deputado com questionamentos sobre a eficácia dos imunizantes.

Saúde

Investigado por: 2024-11-12

Site engana ao dizer que miocardite e pericardite são causadas apenas por vacina e não por covid-19

  • Enganoso
Enganoso
Publicação do grupo Médicos pela Vida (MPV) engana ao afirmar, com base em constatações de cinco estudos sobre o tema, que “miocardite e pericardite são causadas apenas pelas vacinas e não pela covid-19”. Especialistas apontam que os ensaios em questão não têm como finalidade relacionar ou não a incidência das duas condições ao processo de vacinação. Eles também reforçam a eficácia da imunização, superior a eventuais efeitos colaterais.

Conteúdo investigado: Postagem com link de texto publicado no site do grupo Médicos Pela Vida afirma que miocardite e pericardite são causadas apenas pelas vacinas e não pela covid-19. O conteúdo aponta que a informação é resultado de cinco estudos científicos, todos em inglês. O MPV acrescenta que o “Brasil precisa interromper imediatamente a obrigatoriedade das vacinas covid-19 em crianças de 6 meses a 5 anos”, pois essa medida seria contrária às “melhores evidências científicas disponíveis”.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Publicação do Médicos pela Vida engana ao afirmar que cinco estudos – um deles já verificado em outubro e classificado pelo Comprova como enganoso – concluíram que miocardite e pericardite, condições caracterizadas pela inflamação do músculo cardíaco e inflamação do revestimento externo do coração, respectivamente, são causadas apenas pelas vacinas e não pela covid-19.

Especialistas ouvidos pelo Comprova apontam que os ensaios citados pelo grupo para corroborar a afirmação são, na verdade, de revisão (permitem somente a atualização de informações e um resumo sobre as principais pesquisas em torno de um determinado tema) ou observacionais (descritivos e analíticos) e não possibilitam identificar as relações de causalidade entre dois fatores.

Para estabelecer o chamado nexo causal (causa de um evento decorrente de dois fatores) são necessários ensaios experimentais ou de intervenção (entenda melhor abaixo, na análise sobre os ensaios). Não é o caso dos estudos citados pelo MPV, grupo criado na pandemia e que defende “tratamento precoce” e medicamentos como a hidroxicloroquina contra a covid-19. O MPV já foi condenado pela Justiça do Rio Grande do Sul a pagar R$ 55 milhões por estimular tal tratamento.

Lilian Martins, infectologista pediátrica e professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), afirma não ser inesperada a ocorrência de efeitos adversos em razão da vacinação, incluindo o desenvolvimento de miocardite ou pericardite, mas ressalta que um melhor entendimento da relação causal entre os dois eventos ainda é necessário.

Segundo a especialista, devido à administração global de mais de 13 bilhões de doses, reações adversas são esperadas, mas há uma baixa frequência de desenvolvimento de miocardite ou pericardite em vacinados.

“E, mesmo que futuramente se comprove a relação da vacina com miocardites graves e óbitos, deve-se ressaltar que o número de casos relatados através dos artigos de revisão são muito poucos diante da quantidade de doses aplicadas em todo o mundo”, afirma. “Em resumo, as vacinas atuais contra a covid- 19 demonstraram claramente sua eficácia e, sem dúvida, provaram que os benefícios superam os riscos por uma grande margem”, destaca.

“O MPV também fala sobre os efeitos adversos em crianças de seis meses a cinco anos para pedir a interrupção do processo de imunização nesse público, mas, nesta faixa etária, efeitos como miocardite e pericardite não são observados”, complementa a professora.

André Prudente, infectologista e diretor do Hospital Giselda Trigueira, unidade referência em doenças infectocontagiosas em Natal (RN), diz que a literatura aponta que vacinados e não vacinados podem desenvolver as duas condições, mas reforça que a eficácia da imunização supera, em muito, possíveis efeitos adversos.

“Afirmar que só o imunizante provoca miocardite e pericardite significa dizer que essas doenças não existiam antes da vacina de covid-19. Estamos falando, porém, de duas situações que podem ocorrer após qualquer doença viral, como influenza, dengue, chikungunya, zika e a própria covid, óbvio. A miocardite também pode ser gerada, em menor grau, a partir de efeitos colaterais de qualquer vacina, mas não exclusivamente em decorrência delas”, sublinha.

“Agora, sem sombra de dúvida, é muito melhor estar vacinado e evitar todas as outras complicações da infecção pelo coronavírus. A vacina é segura, eventualmente pode provocar efeitos, mas em escala bem menos frequente do que a doença”, diz o médico.

Carlos Carvalho, professor titular de Pneumologia da Faculdade de Medicina da USP, aponta que a incidência de efeitos como a miocardite em pessoas vacinadas contra a covid-19 é de uma em cada 10 mil. “O nexo causal de que a vacina corresponde a uma proporção grande de miocardite é completamente falso. Um estudo robusto deste ano acompanhou pessoas com miocardite provocada por outras causas que não a covid-19, bem como pacientes que tiveram a infecção provocada pelo Sars-CoV-2 que evoluíram para miocardite e indivíduos vacinados que também evoluíram para a inflamação do músculo cardíaco”, descreve.

“O resultado observado é que não existe nenhuma relação entre tomar vacina e desenvolver miocardite. É um ensaio publicado no Journal of the American Medical Association (Jama) e que põe uma pá de cal nessa história de que a vacina de RNA mensageiro tem um fator causal maior [que provoca miocardite ou pericardite]”, comenta Carvalho.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Análise

A pedido do Comprova, os especialistas ouvidos nesta reportagem analisam, a seguir, quatro dos cinco estudos citados pelo MPV para afirmar, de forma enganosa, que apenas as vacinas provocam miocardite e pericardite. O estudo que não aparece aqui, conforme mencionado no início deste texto, já foi destrinchado pelo Comprova no mês passado. Confira:

Estudo 1

O primeiro estudo utilizado pelo grupo para afirmar que pericardite e miocardite não são causadas pela infecção provocada pelo coronavírus é intitulado “Incidência de miocardite e pericardite em doentes não vacinados após a covid-19 – um grande estudo de base populacional”. Ele é de 2022 e tem origem em Israel. Foi realizado com 196.992 adultos infectados pela doença entre março de 2020 e janeiro de 2021.

Como o título indica, a população analisada não havia passado pelo processo de imunização. O Médicos Pela Vida destacou que não foi observado “aumento na incidência de pericardite ou miocardite em pacientes adultos se recuperando da infecção por covid-19”, mas não mencionou o fato de os indivíduos não terem sido imunizados.

O professor Carlos Carvalho, da Faculdade de Medicina da USP, aponta que o material mostra apenas uma associação, mas não possui nexo causal. “É um estudo retrospectivo, que não foi delineado nem feito com o objetivo de avaliar a frequência das alterações cardíacas. Neste tipo, são analisados dados já produzidos no passado para gerar uma hipótese a partir da associação entre dois fatores. Mas essa hipótese tem que ser confirmada com um estudo prospectivo, onde o pesquisador acompanha um determinado grupo durante meses ou anos para ver o que que acontece”, explica o professor.

Para esclarecer melhor, o especialista toma como exemplo o próprio estudo citado pelo Médicos Pela Vida. Segundo ele, para estabelecer um nexo causal entre o uso da vacina e o desenvolvimento de pericardite e miocardite seria necessário acompanhar, prospectivamente, populações com covid e que não tomaram a vacina; populações com covid e vacinadas; e populações com miocardite, mas sem covid-19.

“Então, se tivesse muito mais miocardite em quem tomou a vacina do que nas outras situações, seria possível afirmar um nexo causal com o desenvolvimento da inflamação do músculo cardíaco. Mas, no estudo avaliado, a miocardite aparece em outras situações, podendo ter sido provocada por diferentes causas”, conclui Carvalho.

Estudo 2

O segundo estudo utilizado pelo grupo, intitulado “Patologia cardíaca associada à avaliação post-mortem: uma revisão sistemática colaborativa” também é de 2022, mas com origem na Arábia Saudita. Foram estudadas as autópsias de 548 corações de pessoas que morreram com ou de covid-19. A idade média dos falecidos era de 69 anos. O Médicos Pela Vida destacou que o estudo constata “a prevalência média relatada de miocardite extensa, focal ativa e multifocal de 0,0%”.

O infectologista André Prudente cita que o estudo pega dados “bastante limitados” de outros ensaios, única e exclusivamente de pessoas que já morreram, apenas para revisão. Assim como o estudo 1, Prudente afirma tratar-se de um “ensaio que não demonstra causalidade”, uma vez que só é possível falar em causa e efeito em estudos de intervenção.

“Estudos de intervenção são o que a gente chama de duplos-cegos randomizados, aplicados em um grupo de pessoas exposto a um mesmo risco. Por exemplo: divide-se um grupo de mil pessoas pela metade. Em uma parte aplica-se a vacina, na outra, apenas o placebo [composição neutra, sem o princípio ativo que produz efeitos em uma determinada terapia]. Nem a pessoa que está recebendo nem quem está aplicando sabe o que é injetado. Isso é conhecido apenas na randomização, feita em um programa de computador. Depois de avaliar os efeitos da intervenção ao longo do tempo é que o estudo é aberto aos dois grupos para que seja feita uma comparação. Somente a partir daí, é possível falar em causa e efeito”, detalha.

Segundo o infectologista, o ensaio mencionado pelo Médicos pela Vida é apenas observacional, com dados retroativos. “Para estudos sem intervenção, como é o caso aqui, fala-se apenas em possível relação. Portanto, as afirmações da postagem não se sustentam”, afirma André Prudente.

Estudo 3

O grupo citou também o estudo “Achados da autópsia em casos de miocardite fatal induzida pela vacina contra a covid-19” para embasar as declarações. O artigo é de janeiro deste ano, com origem nos Estados Unidos, e se baseia em autópsias de 28 pessoas que morreram após a vacinação. A idade média dos indivíduos foi de 44 anos. O número médio e mediano de dias desde a última vacinação contra a covid-19 até a morte foi de 6,2 e 3 dias, respectivamente. O Médicos pela Vida frisa que os autores estabeleceram “que todas as 28 mortes (100%) foram provavelmente causalmente ligadas à vacinação contra a covid por revisão independente das informações clínicas apresentadas em cada artigo”.

A infectologista pediátrica e professora Lilian Martins ressalta que se trata de um estudo de revisão e que a mera observação da miocardite e do óbito após a imunização não estabelece de forma conclusiva que a vacina seja a causa do evento. “Observa-se uma associação temporal entre o recebimento da vacina e o desenvolvimento da miocardite/óbito. No entanto, deve-se considerar a possibilidade de demais elementos (medicamentos, drogas, fatores de risco e outras doenças) que possam ter contribuído para o desenvolvimento da miocardite ou para a morte do paciente, não permitindo a conclusão aqui quanto à causa definidora, como os autores sugerem”, diz.

Martins destaca que o próprio estudo não mostra a exclusão de outras possíveis causas da doença, as quais devem ser consideradas. “Estabelecer uma ligação causal direta entre um evento adverso específico e uma vacina com base apenas em relatos de casos individuais é geralmente arriscado e repleto de desafios. Além disso, indivíduos que pareciam saudáveis no momento da vacinação podem ter problemas de saúde não detectados”, pondera.

Ela afirma que estabelecer ou rejeitar a causa definitiva de um evento específico não é tarefa fácil, daí porque a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a realização de avaliações de causalidade em escala populacional, ao contrário do estudo aqui apresentado. “O artigo em questão sugere a relação da vacina com os casos fatais de miocardite em indivíduos de diferentes idades, sendo a maioria deles acima de 30 anos, após diferentes doses da vacina e com intervalos diversos após a aplicação, alguns deles depois de 14 dias. A literatura hoje mostra que o maior risco de miocardite ocorre em jovens menores de 30 anos, após a segunda dose e nos primeiros 14 dias posteriores à imunização”, conclui.

Estudo complementar

O grupo citou, por fim, um estudo complementar intitulado “Manifestações cardíacas e resultados da miocardite associada à vacina contra a covid-19 em jovens nos EUA: resultados longitudinais do estudo multicêntrico Myocarditis After covid Vaccination (MACiV)”. Com origem nos Estados Unidos, o ensaio foi realizado em 38 hospitais do país, onde 333 pacientes com miocardite associada à vacina de covid-19 foram comparados com 100 pacientes com síndrome inflamatória multissistêmica em crianças. Foram incluídos pacientes com menos de 30 anos de idade com diagnóstico clínico de miocardite aguda após vacinação contra covid-19.

O site do grupo destaca a constatação do estudo: “A lesão cardíaca pela vacina é persistente. Depois de 178 dias de acompanhamento, em média, a cicatrização cardíaca ainda estava presente em 60% dos pacientes no acompanhamento”.

Segundo André Prudente, o estudo, assim como os demais, é observacional e retrospectivo, sem que seja estabelecida uma relação de causa. “Foram questionadas somente pessoas que tiveram miocardite e observou-se que havia bem mais gente com a condição e que foi vacinada do que o contrário. Mas isso também não comprova absolutamente nada, porque no período do estudo [entre abril de 2021 e novembro de 2022], a maioria das pessoas já estava imunizada. Também não se sabe em que época as pessoas avaliadas tiveram miocardite – se a condição ocorreu nove meses depois da vacina, não há relação alguma entre uma coisa e outra”, detalha.

Casos são raros

Em julho de 2021, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu um alerta à sociedade sobre o risco de miocardite e pericardite associadas à vacinação contra a covid-19 com imunizantes baseados em RNA mensageiro (RNAm). O alerta ocorreu após a agência tomar conhecimento de casos dessas condições registrados pela agência reguladora dos Estados Unidos (FDA).

A própria Anvisa esclareceu, contudo, que o risco de ocorrência desses eventos adversos é baixo, embora tenha recomendado aos profissionais de saúde que fiquem atentos e perguntem às pessoas que apresentarem sintomas se elas foram vacinadas, especialmente com a vacina da Pfizer.

Conforme verificação do Comprova de outubro passado, casos de miocardite e pericardite como efeito adverso pós-vacinação com imunizantes de mRNA são conhecidos e raros. A informação consta na bula da vacina Pfizer-BioNTech (BNT162b2), também chamada Comirnaty. Segundo a bula, casos muito raros de miocardite e pericardite foram relatados após a vacinação. A proporção em pessoas acima de 5 anos de idade é de menos de 1 caso a cada 10 mil doses aplicadas.

O Comprova procurou o Médicos pela Vida, mas a conta do grupo no X está configurada para não receber mensagens. Eles também não responderam aos contatos feitos por e-mail.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 11 de novembro, a publicação do Médicos pela Vida no X acumulava 238 mil visualizações.

Fontes que consultamos: Os infectologistas André Prudente e Lilian Martins, o pneumologista Carlos Carvalho e estudos mencionados pelo MPV.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: As vacinas contra a covid-19 são utilizadas frequentemente como peças de desinformação para falar de efeitos adversos em crianças. O Comprova já mostrou que não é verdade que ela fez explodir doenças cardíacas em crianças e que é falsa a alegação de que a OMS teria admitido que bebês de mães imunizadas estariam nascendo com problemas no coração. Também mostrou que a proteção oferecida pelos imunizantes supera o risco de miocardite em crianças.

 

Política

Investigado por: 2024-11-08

Trump não postou que não convidaria Lula para sua posse ‘porque lugar de ladrão é na cadeia’

  • Falso
Falso
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, não postou que não convidou Lula (PT) para a posse em Washington, diferentemente do que diz uma postagem. As publicações mais recentes do republicano nas redes sociais foram antes do resultado da eleição americana. Trump agradeceu aos eleitores apenas em um discurso, no qual o presidente do Brasil não foi citado.

Conteúdo investigado: Postagem com fotos de Donald Trump e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acompanhadas do texto: “Bomba. Donald Trump em sua rede social falou que não convidou Lula para sua posse porque lugar de ladrão é na cadeia e não na presidência. Já dorme sem essa bandidão de 9 dedos”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Publicação mente ao afirmar que Donald Trump, eleito presidente dos Estados Unidos pela segunda vez pelo Partido Republicano, afirmou em uma de suas contas nas redes sociais que não convidou Lula para a posse, prevista para ocorrer em 20 de janeiro de 2025 em Washington, capital do país.

O Comprova verificou todas as redes sociais do republicano e constatou que, desde o resultado da eleição americana divulgado em 6 de novembro até a data da publicação deste texto, dia 8, Trump não fez nenhuma publicação.

Nas últimas postagens, em todas as plataformas checadas pela reportagem, o americano pede para que a população vá votar. Por rede, as últimas publicações de Trump foram:

  • X (Twitter): aviso de que havia somente uma hora restante antes do fechamento das urnas no estado da Califórnia;
  • Truth Social: a mesma publicação do X;
  • Instagram: vídeo em que Trump pede aos republicanos para que “continuem na fila” [de votação];
  • Facebook: o mesmo vídeo do Instagram;
  • TikTok: vídeo diferente em que Trump também pede aos republicanos para “continuarem na fila”.

Todas as publicações foram feitas antes da divulgação do resultado da votação.

Trump fez um pronunciamento após a vitória eleitoral, no qual ressaltou o resultado positivo do Partido Republicano no Senado, fez elogios ao empresário e apoiador Elon Musk e falou em “reunir o país” e que vai inaugurar uma nova “era de ouro” nos Estados Unidos. Em nenhum momento Lula – que parabenizou o novo mandatário americano nas redes sociais – foi mencionado.

O Comprova entrou em contato com o autor da publicação, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 7 de novembro, o vídeo contava com 350 mil visualizações, 22,7 mil curtidas, 3,7 mil compartilhamentos e 3,5 mil comentários.

Fontes que consultamos: Redes sociais de Donald Trump e reportagens sobre as eleições americanas.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Vários conteúdos relacionados às eleições no Brasil e nos Estados Unidos já circularam em 2024 envolvendo o nome de Trump e de personalidades brasileiras. O Comprova já mostrou que o americano não pode prender Alexandre de Moraes após ser eleito presidente; que vídeo de campanha do republicano foi alterado para incluir cena com Jair Bolsonaro (PL); que post distorceu reportagem para acusar Eduardo Bolsonaro (PL) de doar dinheiro público a Trump; e que um vídeo com dublagem falsa engana ao dizer que Trump enviou mensagem para Bolsonaro após atentado.

Política

Investigado por: 2024-11-08

Projeto de Lula não fará com que o Exército saia da Amazônia, ao contrário do que diz post

  • Enganoso
Enganoso
Não é verdade que o Exército brasileiro sairá da região amazônica e das fronteiras do país por causa da transferência do Programa Calha Norte do Ministério da Defesa para o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, como diz um vídeo publicado pelo deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP). A transferência do programa de fato ocorrerá, mas as Forças Armadas permanecem nas regiões, como prevê a Constituição Federal.

Conteúdo investigado: Vídeo publicado pelo deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP) com uma voz não identificada e imagens do Exército brasileiro. O conteúdo aborda a alteração feita no Programa Calha Norte (PCN), que vai migrar do Ministério da Defesa (MD) para o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR). Sobre o vídeo, há o texto: “O Exército sairá da Amazônia e da fronteira por ordem do governo”. Na legenda da publicação: “Depois desse governo teremos de reconquistar o Brasil”.

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: O governo não determinou a saída do Exército brasileiro da Amazônia e das fronteiras por causa da transferência do Programa Calha Norte do Ministério da Defesa para o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional.

Em resposta ao Comprova, a Defesa destacou que, conforme prevê a Constituição Federal, o Exército permanece na Amazônia e nas fronteiras. O Decreto nº 6703, de 18 de dezembro de 2008, determina a presença de unidades do Exército, da Marinha e da Força Aérea nas fronteiras.

O decreto também determina que a Estratégia Nacional de Defesa priorize a região amazônica. “A Amazônia representa um dos focos de maior interesse para a defesa. A defesa da Amazônia exige avanço de projeto de desenvolvimento sustentável e passa pelo trinômio monitoramento/controle, mobilidade e presença”, destaca o artigo 10 das diretrizes da norma.

O site do governo federal mostra que não há revogação do decreto, o que significa que suas atribuições e determinações permanecem vigentes.

O Comprova contatou a assessoria do deputado Luiz Phillipe, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. Também procuramos o Programa Calha Norte para obter mais informações, contudo, ainda não houve resposta. O espaço está aberto para posicionamentos.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 6 de novembro, a publicação alcançou mais de 52,3 mil curtidas no Instagram.

Fontes que consultamos: Ministério da Defesa, Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional e Constituição Federal.

O Programa Calha Norte

Criado em 1985, e desde então sob gestão do Ministério da Defesa, o Programa Calha Norte entrega, com recursos da União e em parceria com o Poder Legislativo, obras de infraestrutura. Elas são realizadas em áreas como saúde, educação, esporte, segurança pública e desenvolvimento econômico.

Os recursos, por sua vez, são oriundos de emendas parlamentares. Dessa forma, fica a cargo dos deputados federais e dos senadores indicarem as cidades beneficiadas e as obras ou os equipamentos a serem adquiridos.

Conforme o MIDR, o Calha Norte atende 783 municípios, sendo 170 localizados em 14.938 km de faixa de fronteira. A área de atuação compreende 59,2% do território nacional, habitado por cerca de 27 milhões de pessoas, dentre as quais se incluem 90% da população indígena brasileira.

O programa, ainda conforme a pasta da Integração e do Desenvolvimento Regional, abrange 85% da população indígena em uma área que corresponde a 99% da extensão das terras deles.

Transferência de ministérios

Como mostra um texto do MIDR, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) considera que “quase 100% do que o Calha Norte faz tem relação direta com o Desenvolvimento Regional”. Por isso, Lula optou, junto ao ministro da Defesa, José Múcio, pela alteração da pasta que assume a responsabilidade pelo PCN.

Ainda de acordo com o MIDR, a partir de 1º de janeiro de 2025, um Grupo de Trabalho (GT) interministerial vai elaborar um relatório de mapeamento das ações necessárias para a transferência do Programa Calha Norte do Ministério da Defesa para o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.

O GT será composto por integrantes das duas pastas, além do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, que, eventualmente, participará das reuniões.

Conforme o comunicado, Múcio disse que a decisão pela transferência é justa. “A Defesa vinha fazendo um trabalho que é de Desenvolvimento Regional, fugindo da finalidade do nosso ministério”, declarou. “As Forças Armadas devem trabalhar na área delas, não devem fazer o trabalho que vinham fazendo porque isso confundia, misturava as coisas, atrapalhava a nossa gestão”.

A ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, explicou a função da pasta nesse processo. “Nosso papel é ajudar os dois ministérios nessa transferência para que não tenhamos problema na hora de executar a política”, disse. “Nós debatemos isso há muito tempo, mas não tinha um prazo. Agora, temos um prazo e estruturamos um plano de trabalho bem definido para promovermos essa mudança”.

O GT terá prazo de até 60 dias, prorrogável por mais 30, para o desenvolvimento dos trabalhos e a elaboração de um relatório final, que será submetido à apreciação das autoridades máximas dos três ministérios. O documento conterá as minutas dos atos propostos e o resultado da análise realizada.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Aos Fatos, Lupa e Estadão Verifica investigaram o mesmo conteúdo e concluíram que Lula não mandou o Exército sair da Amazônia e das fronteiras brasileiras. O presidente, aliás, é alvo frequente de desinformação. O Comprova mostrou anteriormente que teorias da conspiração sobre sósia dele voltaram a circular nas redes sociais e que vídeo engana ao tirar de contexto fala do chefe do Executivo sobre “universidade ser para ricos”.