O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Política

Investigado por: 2024-02-26

Vídeo engana ao dizer que todos com mais de 60 anos têm isenção de Imposto de Renda e IPTU e desconto em contas

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o vídeo em que uma voz feminina afirma que uma nova lei publicada no Diário Oficial da União dá isenção total do Imposto de Renda e do IPTU, além de descontos de 80% nas contas de energia e saneamento básico para pessoas acima de 60 anos. Nenhuma das taxas citadas nem pagamentos deixam de ser cobrados apenas pelo critério da idade.

Conteúdo investigado: Vídeo em que uma voz feminina afirma que, em uma nova decisão publicada no Diário Oficial da União (DOU), a Justiça Federal ampliou os direitos para pessoas acima de 60 anos. Segundo a narradora, que não se identifica, esse público está isento de pagar Imposto de Renda e Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) e tem mais de 80% de desconto em contas de energia e saneamento básico.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Mulher engana ao afirmar, em vídeo viral, que pessoas com mais de 60 anos não pagam Imposto de Renda e IPTU e têm descontos de 80% nas contas de energia e saneamento básico. Os benefícios que existem em alguns casos são atrelados a outros critérios, como renda.

Segundo a lei 7.713, de 22 de dezembro de 1988, que trata do Imposto de Renda, não há isenção determinada apenas pela idade. Como explicou ao Comprova a advogada Vanessa Vaz Galvão Assunção, especializada em direito previdenciário, qualquer pessoa que recebe até R$ 2.824 por mês tem isenção total, independentemente da idade. Para aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que completam 65 anos há a dupla isenção, que permite que a pessoa não pague o imposto se receber até R$ 5.648, ela explica.

Uma vez que a arrecadação do IPTU é competência do município, as regras para concessão de descontos e isenções são estabelecidas por leis municipais, que determinam tamanho do imóvel, valor do imóvel e renda do idoso para que recebam o benefício. “Por exemplo, em Santos (SP) é o seguinte: se você ganhar até dois salários mínimos e a propriedade tiver até 120 m², você tem a isenção total. De 120 m² a 250 m², você tem um desconto”, exemplifica Assunção.

O vídeo também afirma que pessoas acima de 60 anos têm direito a receber desconto de até 80% na conta de luz e saneamento básico. Entretanto, a afirmação é exagerada. A Tarifa Social de Energia Elétrica, criada em 2002, pela lei nº 10.438, determina que idosos acima de 65 anos que recebam o Benefício de Prestação Continuada (BPC) podem solicitar o desconto através de inscrição no CadÚnico, mas o desconto varia de 10% a 65% a depender do consumo kilowatts/hora (kWh) por mês.

“Consumo de até 30 kWh mês pagam 65% a menos na conta de luz. A segunda faixa de desconto é de 40% e pode ser aplicada a quem consome de 31 kWh até 100 kWh mês. A terceira faixa de desconto é de 101 kWh até 220 kWh mensais, cujo abatimento é de 10%”, informa o portal do Ministério de Minas e Energia.

A autora do post também diz que o público acima dos 60 anos tem 80% de desconto na conta de saneamento básico, o que também não é verdade. Algumas cidades adotam descontos nas cobranças de água e esgoto, mas são casos específicos, relacionados à população de baixa renda.

Como o Comprova verificou, o vídeo foi gravado na cidade de Três Ranchos, em Goiás. A prefeitura local disse à reportagem que as afirmações do vídeo não procedem.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 23 de fevereiro, o vídeo verificado aqui foi compartilhado 31,4 mil vezes e recebeu 32,4 mil curtidas.

Como verificamos: Buscamos documentos oficiais que descrevessem as regras para cada tipo de benefício, como o Estatuto da Pessoa Idosa (Lei Federal nº 10.741/2003), a Lei 7.713, de 22 de dezembro de 1988, que trata do Imposto de Renda, e o portal do Ministério de Minas e Energia. Além disso, entramos em contato com a Receita Federal, o INSS e com os especialistas: Maria Dalva da Silva Santana, advogada conselheira da OAB Contagem e atualmente estou presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa da OAB/MG, Vanessa Vaz Galvão Assunção, advogada especializada em direito previdenciário, e Ramon Barbosa Tristão, que atua na área de Direito Consultivo.

Identificamos o local em que o vídeo foi gravado com a ferramenta Invid, que possibilitou a visualização da placa da Secretaria de Cidadania e Assistência Social da cidade de Três Ranchos, em Goiás. A partir desta etapa, entramos em contato com a assessoria de imprensa da prefeitura local para checar como são os pagamentos feitos por idosos mencionados no vídeo.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova enviou mensagem para o perfil que postou o conteúdo, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

O que podemos aprender com esta verificação: O vídeo trata o assunto como se apenas por alcançar uma certa idade (60 anos) qualquer pessoa teria, em todo o território nacional, direito aos benefícios, criando falsas expectativas na população. Afirmações simplistas, que tratam de assuntos diversos e complexos, devem ser checadas em canais oficiais ou com os órgãos locais para verificação dos critérios necessários para cada tipo de benefício.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já checou outros conteúdos que abordam benefícios sociais, como o vídeo que mentia ao afirmar que o governo criara o Ceia para Todos. Sobre o Bolsa Família, a seção Comprova Explica trouxe detalhes sobre por que não havia o pagamento de uma 13ª parcela do programa.

Política

Investigado por: 2024-02-22

Jet ski usado por indígena em foto não pertence à Funai

  • Enganoso
Enganoso
Posts enganam que indígena posou para foto com jet ski pago com recursos da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). A organização negou que seja dona do veículo. As postagens retiram de contexto uma peça satírica produzida pelo influenciador Kauri Waiãpi, ou Daldeia. O criador de conteúdo é conhecido na internet por compartilhar conteúdos de humor sobre pautas da sua comunidade.

Conteúdo investigado: Posts mostram o influenciador Kauri Daldeia posando em um jet ski com três mulheres. As imagens evidenciam que o veículo tem a logomarca da “Funai” e alegam que o passeio foi pago com dinheiro público. As legendas dizem: “Índio quer harém. Sabe quem paga? Você, mané!” e “aos índios amigos jetskis, aos outros, a fúria da ‘natureza’”.

Onde foi publicado: X (antigo Twitter).

Conclusão do Comprova: É enganoso que um influenciador indígena tenha posado para foto com jet ski da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), diferentemente do que afirmam posts nas redes sociais. Segundo a organização, “o jet ski não pertence à Funai, bem como não foi comprado com recursos da mesma”. O homem que aparece nas imagens é o ativista Kauri Waiãpi, mais conhecido como Daldeia, de 29 anos. Ele produz conteúdos satíricos nas redes desde 2021.

Postagens feitas no X retiram de contexto uma fotografia em que Daldeia e três mulheres aparecem em um jet ski com a logomarca da Funai. O influenciador é conhecido por utilizar o bom humor para conscientizar a sociedade sobre pautas indígenas. Em seu Instagram, Kauri Waiãpi fez uma piada afirmando que o passeio na moto aquática havia sido “patrocinado” pela instituição pública. A reportagem tentou verificar se a logomarca da Funai foi colocada digitalmente ou não, ou se era um adesivo, mas não conseguiu chegar a uma conclusão sobre isso.

Daldeia acumula mais de 3 milhões de seguidores no TikTok, YouTube e Instagram, nos quais compartilha conteúdos relacionados à sua rotina e cultura. Além da publicação sobre o jet ski, o influenciador também tem vídeos provocativos sobre compras de luxo e passeios que realiza com o “Bolsa Funai”, o que também é uma brincadeira, já que a bolsa não existe. Frequentemente, ele utiliza em suas peças de humor a logomarca do órgão para ironizar preconceitos e ataques aos direitos de comunidades indígenas.

Em 2023, a Agência Lupa publicou um material sobre grupos da extrema-direita que distorcem conteúdos irônicos feitos por influenciadores indígenas, como Daldeia, para atacá-los com mentiras de que “mordomias” são financiadas com dinheiro público.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No X, até o dia 22 de fevereiro, juntas, as publicações somavam mais de 49,7 mil visualizações.

Como verificamos: Primeiramente, procuramos pelo perfil nas redes sociais do influenciador indígena Daldeia, por ser ele quem aparece nas imagens pilotando o jet ski. No perfil do Instagram do influenciador, encontramos a foto original e a legenda apontando para um tom sarcástico, assim como nas outras publicações postadas por ele. No entanto, não conseguimos contato direto com Daldeia. Em seguida, buscamos outras checagens sobre o assunto que concluíram que os posts publicados em perfis no X são enganosos ao retirar o conteúdo do contexto original. Procuramos a Funai, o próprio influenciador e os responsáveis pelos perfis que publicaram o conteúdo enganoso.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova procurou os responsáveis pelas publicações por meio de mensagem direta no X e e-mail, mas não obteve nenhuma resposta.

O que podemos aprender com esta verificação: Conteúdos de humor, irônicos ou satíricos podem ser erroneamente interpretados como verídicos, ou retirados do contexto original para endossar um ponto de vista distinto do pretendido originalmente, como aconteceu com a postagem do influencer Daldeia. Portanto, é importante verificar o perfil de quem fez a postagem e para qual finalidade foi criado originalmente.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O conteúdo investigado aqui foi verificado pelo Boatos.org e Diário de Goiás, que também concluíram que o post é enganoso. No ano passado, o Aos Fatos publicou que grupos da extrema-direita distorcem conteúdos satíricos produzidos por influenciadores indígenas.

Comprova Explica

Investigado por: 2024-02-20

Entenda se declaração de Lula sobre Holocausto pode justificar abertura de processo de impeachment

  • Comprova Explica
Comprova Explica
Deputados federais de oposição pretendem ingressar com um pedido de impeachment contra o presidente Lula (PT) por uma declaração em que ele comparou a guerra de Israel na Faixa de Gaza com o Holocausto. O assunto tomou as redes sociais e expôs dúvidas dos usuários sobre o processo. O Comprova explica como funciona e o que prevê a legislação sobre o impedimento do presidente da República.

Conteúdo analisado: Vídeo publicado nas redes sociais em que o youtuber e blogueiro Allan dos Santos, atualmente foragido da Justiça, diz que deputados federais ingressaram com um pedido de impeachment contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por colocar o Brasil em uma “zona de não neutralidade”, o que configuraria crime de responsabilidade. A denúncia estaria baseada na fala do mandatário durante uma coletiva de imprensa em Adis Abeba, na Etiópia, em 18 de fevereiro, quando fez um paralelo entre a guerra na Faixa de Gaza e o Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial. 

Comprova Explica: O presidente Lula classificou a resposta de Israel na Faixa de Gaza aos ataques terroristas promovidos pelo Hamas como “genocídio” e “chacina”. Em seguida, comparou a ação israelense ao extermínio de milhões de judeus pelos nazistas, então chefiados por Adolf Hitler, no século XX. As declarações foram dadas por Lula no dia 18 de fevereiro, durante entrevista em Adis Abeba, na Etiópia, onde participou da 37ª Cúpula da União Africana e de reuniões bilaterais com chefes de Estados do Continente.

As falas levaram deputados federais da oposição, liderados pela deputada Carla Zambelli (PL-SP), a anunciarem que irão protocolar um pedido de impeachment contra o presidente, com a alegação de que a afirmação de Lula é “injustificável, leviana e absurda”, além de “uma afronta aos judeus, aos descendentes do horror do nazismo e algo que só fomenta o crescimento do antissemitismo no Brasil”. Os parlamentares alegam que ele cometeu crime de responsabilidade ao expor o Brasil ao perigo de guerra, por cometer ato de hostilidade contra Israel.

O termo “impeachment” esteve nos trending topics do X nos dois dias seguintes e expôs dúvidas dos usuários sobre um eventual processo de impedimento do presidente. Por isso, o Comprova decidiu explicar como funciona o processo e mostrar se as declarações de Lula se enquadram no que prevê a legislação para o tema.

A lei 1.079, de 10 de abril de 1950, e o artigo 85 da Constituição Federal regulam o processo de impeachment e estabelecem que o presidente pode ser afastado do cargo caso cometa crime de responsabilidade, como aqueles que atentem contra a Constituição e contra a existência da União; o livre exercício dos poderes constitucionais e dos direitos políticos, individuais e sociais; a segurança interna do país; a probidade na administração; a lei orçamentária; a guarda e o legal emprego dos dinheiros públicos; e o cumprimento das decisões judiciárias.

A aceitação de um processo de impeachment depende do presidente da Câmara dos Deputados, e consiste em uma das principais responsabilidades de quem ocupa este cargo. A legislação brasileira diz que é permitido a qualquer cidadão denunciar perante à Casa o presidente da República ou ministro de Estado, por crime de responsabilidade. Apesar de o processo de impeachment ser um julgamento, trata-se de um processo eminentemente político.

Não há nenhuma norma no Regimento Interno da Câmara dos Deputados que exija o processamento automático ou com prazo estabelecido para pedidos de impeachment. Assim, cabe ao presidente da Casa decidir quando um processo de impeachment será iniciado ou não. Além disso, em 2022, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por unanimidade que a avaliação de admissibilidade dos requerimentos é política e não cabe intervenção da Justiça.

Como verificamos: A reportagem buscou a Lei 1.079, de 10 de abril de 1950 e o artigo 85 da Constituição Federal para entender em quais casos o presidente da República pode sofrer um impeachment, e consultou o site e Regimento Interno da Câmara dos Deputados e do STF para verificar quem é apto a fazer a solicitação e quais são os procedimentos, desde a denúncia até a possível aprovação. Também ouviu Rubens Beçak, doutor em Direito Constitucional e professor da Universidade de São Paulo (USP).

Além disso, foram feitas consultas à Câmara dos Deputados para verificar quantos pedidos de afastamento foram protocolados no atual mandato de Lula e de seus antecessores desde 1990. O Comprova também confirmou com deputados da oposição a intenção de apresentar um pedido de impeachment contra o presidente.

Pedidos de impeachment fazem parte do jogo político

Em entrevista coletiva em Adis Abeba, capital da Etiópia, em 18 de fevereiro, Lula definiu as mortes de civis em Gaza como genocídio, criticou países desenvolvidos pelo corte de ajuda humanitária para moradores da região e declarou: “O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”.

O governo de Israel repudiou as falas e declarou o presidente brasileiro persona non grata – expressão em latim que, no contexto diplomático, representa que um país se mostra contrário à presença de uma pessoa que integre uma missão diplomática ou representante de outro Estado em seu território -, até que se desculpe ou se retrate. Após a repercussão, deputados federais da oposição anunciaram que vão entrar com um pedido de impeachment contra Lula, sob a justificativa de que ele teria atentado contra a existência da União, exposto o Brasil ao risco de guerra e comprometido a neutralidade do país.

Para Rubens Beçak, professor da USP, a declaração de Lula não configura crime de responsabilidade, porque não atenta contra a governabilidade brasileira ou sua credibilidade. “Eu não vejo nas declarações nada mais a ser condenado do que uma declaração desastrada, não acho que dê substrato para um pedido de impeachment. Faz parte do jogo político pedir o impeachment, mas, apesar de deplorar as declarações, não acho que ainda chegamos nesse ponto”, disse.

Somente no atual mandato, já foram protocolados 18 pedidos de impeachment contra Lula, por variados atos. Um deles, por exemplo, protocolado em outubro passado, o acusou de atacar o Legislativo e o Judiciário brasileiro ao declarar, em janeiro de 2023, que o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, foi um “golpe”.

Todos os presidentes desde a redemocratização foram alvos de pedidos de impeachment, segundo levantamento da Câmara dos Deputados, com no mínimo quatro (Itamar Franco, 1992 a 1995) e, no máximo, 158 (Jair Bolsonaro, 2018 a 2022). Só dois requerimentos foram levados a cabo pela Casa, os que culminaram no impeachment de Fernando Collor, em 1992, e no de Dilma Rousseff, em 2016.

Apesar do processo de impeachment ser um julgamento, cabe somente ao presidente da Câmara dos Deputados a aceitação ou não da denúncia e decidir quando e se será iniciado. Não há norma no Regimento Interno da Casa que exija o processamento automático ou com prazo estabelecido para os pedidos. O Supremo Tribunal Federal também reforça que a admissibilidade dos requerimentos é política e não cabe intervenção da Justiça.

As formalidades da abertura do processo

O Artigo 218 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados também afirma que qualquer cidadão pode fazer a denúncia, desde que a entregue assinada e com firma reconhecida, acompanhada de documentos que comprovem, ou da declaração de impossibilidade de apresentá-los, com indicação do local onde possam ser encontrados, bem como, se for o caso, apresentação de, no mínimo, cinco testemunhas.

Se o pedido for aprovado pelo presidente da Câmara, representantes de todos os partidos formarão, em até 48 horas, uma comissão especial para análise do requerimento. O denunciado também deve ser comunicado e tem até dez sessões parlamentares para se manifestar. A partir do pronunciamento ou do término do prazo previsto, a Comissão tem de cinco a dez sessões para oferecer o parecer, deferindo ou indeferindo o pedido.

Após 48 horas da publicação no Diário Oficial, em caso de deferimento, o parecer será incluído na ordem do dia da próxima sessão e será votado pelos deputados federais. O processo contra o presidente é instaurado somente se aprovado por dois terços dos parlamentares (342 do total de 513). Nesse caso, a denúncia segue para o Senado e, do contrário, é arquivado e o processo fica suspenso até o término do mandato presidencial.

Por que explicamos: A seção Comprova Explica esclarece assuntos em discussão nas redes sociais que têm potencial de gerar desinformação. O vídeo verificado pode causar dúvida sobre o processo de impeachment, quem pode protocolá-lo e por quais motivos. Ao conhecer o procedimento e observar que a oposição protocola pedidos semelhantes desde a redemocratização, o leitor pode dar a devida dimensão à denúncia apresentada agora.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já desmentiu um boato que a Constituição permitiria revogar um mandato político por coletar assinaturas dos cidadãos. Na seção Comprova Explica, detalhou como age o mosquito da dengue geneticamente modificado e o que os protestos dos agricultores na Europa têm a ver com políticas ambientais.

Política

Investigado por: 2024-02-16

Torcidas organizadas negam ato contra Bolsonaro em São Paulo

  • Falso
Falso
É falso que torcidas organizadas de futebol estão planejando um ato pela democracia e contra Jair Bolsonaro (PL) no dia 25 de fevereiro, na Avenida Paulista, em São Paulo. Nessa data e no mesmo local, o ex-presidente pretende reunir seus apoiadores para uma manifestação em que quer se defender de acusações que vem sofrendo. O Comprova contatou cinco das oito torcidas citadas em posts virais, e elas negam tal convocação.

Conteúdo investigado: Posts dizendo que torcidas organizadas como a Gaviões da Fiel, do Corinthians, e a Independente, do São Paulo, marcaram um ato em defesa da democracia e contrário a Jair Bolsonaro (PL) no dia 25 de fevereiro, às 15h30, na avenida Paulista, em São Paulo.

Onde foi publicado: X e Facebook.

Conclusão do Comprova: Posts afirmando que torcidas organizadas de alguns dos principais times de futebol do Brasil estão organizando um ato em São Paulo, em 25 de fevereiro, em defesa da democracia e contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), são falsos. As publicações citam Mancha Alvi Verde, do Palmeiras; Gaviões da Fiel, do Corinthians; Independente, do São Paulo; Galoucura, do Atlético-MG; Máfia Azul, do Cruzeiro; Raça Rubro-Negra, do Flamengo; Força Jovem, do Vasco; e Fúria Jovem, do Botafogo. As cinco primeiras negaram ter feito tal convocação. O Comprova não conseguiu contato com as três últimas.

A Mancha Alvi Verde publicou nota em suas redes afirmando que não fez qualquer “convocação para que seus associados compareçam a manifestações de cunho político e desaprova a utilização indevida de seu nome em publicações apócrifas nas redes sociais”.

Danilo Pássaro, torcedor da Gaviões da Fiel e um dos organizadores de ato que uniu as torcidas pela democracia em 2020, postou serem falsas notícias sobre a “articulação das torcidas para confrontar os bolsonaristas”. Na publicação, ele escreve que “o que nos uniu em 2020 foi a defesa da democracia, algo que avaliamos não ser necessário por enquanto”.

Sobre a Independente, Henrique Gomes, o Baby, um dos principais líderes da torcida, afirmou que não há nada organizado. “A Independente respeita a democracia, a esquerda, a direita e o centro. Quem quiser ir, vai, mas a Independente, o CNPJ, não chamou para nada”, disse ao Comprova.

Entre as torcidas mineiras, o presidente da Galoucura, Josimar Júnior, declarou que a torcida não participa de ato político. Já o vice-presidente da Máfia Azul, Raphael Ceraso, afirmou desconhecer “essa tal convocação em ‘ato nacional em defesa da democracia'”.

Segundo os posts, o ato seria às 15h30, na Avenida Paulista, mesmo local para onde Jair Bolsonaro (PL) chamou seus apoiadores para uma manifestação no mesmo dia, meia hora antes. Em post com vídeo publicado em 12 de fevereiro, o ex-presidente convoca bolsonaristas para um ato pacífico e diz: “Quero me defender de todas as acusações que estão sendo imputadas à minha pessoa nos últimos meses”.

Ao Comprova, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirmou que a Polícia Militar foi informada sobre manifestações no dia 25, “mas que não houve detalhamento”. A prefeitura também foi procurada, mas não respondeu até a publicação deste texto.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 16 de fevereiro, apenas três posts no X verificados aqui somavam 8 mil curtidas e mais de 2,3 mil compartilhamentos.

Como verificamos: Buscamos posicionamentos oficiais das torcidas e, como apenas a Mancha Alvi Verde havia feito uma publicação a respeito, entramos em contato com as organizações por WhatsApp ou telefone. Também contatamos, por e-mail, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, que nos respondeu, e a prefeitura de São Paulo, que não retornou.

O que diz o responsável pela publicação: A reportagem contatou os perfis que publicaram os conteúdos virais por meio de mensagem no próprio post, mas nenhum respondeu.

O que podemos aprender com esta verificação: Em 2020, houve um ato em que torcidas organizadas se uniram pela defesa da democracia, mas é sabido que elas não costumam se relacionar de forma amigável. O primeiro passo ao se deparar com posts dizendo que elas estão juntas em alguma ação, é que o leitor desconfie e, então, tente buscar a informação fora das redes sociais, em sites de veículos de imprensa.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Além do Estadão Verifica, Alma Preta e Aos Fatos também investigaram o conteúdo. No Comprova, outros posts com desinformação envolvendo torcidas já foram checados, como o que enganava ao dizer que a torcida do Vasco havia recebido Lula e Eduardo Paes e o que mentia ao associar ao petista vídeo de abordagem da Polícia Militar a torcedores do Sport.

Política

Investigado por: 2024-02-14

Post engana ao induzir ligação entre furto em loja e fala de Flávio Dino

  • Enganoso
Enganoso
Post engana ao forçar uma ligação direta entre o discurso do ex-ministro de Justiça e Segurança Pública e futuro ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, no dia 31 de janeiro de 2024, e um furto registrado cinco dias antes na cidade de Suzano (SP).

Conteúdo investigado: Um vídeo que circula nas redes sociais mostra o momento do furto de chocolates realizado por quatro pessoas em uma unidade das Lojas Americanas em Suzano, região metropolitana de São Paulo, sobreposto a uma reportagem da CNN que mostra o discurso de Flávio Dino defendendo que não se aplique a pena de prisão para crimes menos graves. A imagem também é acompanhada do texto “já pode roubar à vontade”.

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: É enganoso que o caso de furto de chocolates ocorrido em uma unidade das Lojas Americanas tenha ligação direta com a fala de Flávio Dino, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, que será ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) a partir de 22 de fevereiro. O registro do grupo cometendo o delito foi noticiado no dia 26 de janeiro de 2024 pelo telejornal Bora Brasil, da Band. De acordo com as Lojas Americanas, o crime ocorreu no município de Suzano, na região metropolitana de São Paulo, no mesmo dia da exibição da reportagem. Já o discurso de Dino foi realizado posteriormente, em 31 de janeiro de 2024.

Em sua fala, o então ministro defende que “punição não é igual a prisão”, e que crimes considerados menos graves, como furto e delito de trânsito, não levem à prisão do indivíduo, mas sim a outras formas de punição. Além disso, parte da fala do ex-ministro da Justiça foi omitida e descontextualizada para indicar que Dino incentiva a prática de furtos, como o registrado nas Americanas. “Estuprador tem que ser preso. Homicida tem que ser preso. Autor de crime hediondo tem que ser preso. Mas uma pessoa que eventualmente praticou um delito de trânsito? Um furto? Mesmo situações envolvendo crimes relativos a patrimônio, de um modo geral. Então, imagino que seja por aí”, afirmou Dino.

Em nota enviada ao Comprova, a empresa de varejo informou que registrou boletim de ocorrência no mesmo dia da ação criminosa. A Americanas S.A. acrescenta, ainda, que “a companhia vem investindo em segurança com tecnologias de monitoramento e estuda medidas adicionais de prevenção na unidade”.

Ao produzir a montagem dos dois registros sobrepostos, com as tarjas “Já pode roubar à vontade” e “Eita”, o vídeo sugere uma situação de causa e consequência entre o discurso de Flávio Dino e a ação criminosa na loja de departamentos, como se o ex-ministro estivesse “liberando”, descriminalizando ou incentivando a prática de furto.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Até a manhã do dia 10 de fevereiro de 2024, a publicação no Instagram contava com 2,2 milhões de reproduções; 41,1 mil curtidas; 6,2 mil comentários; e 53,1 mil compartilhamentos.

Como verificamos: Buscamos pelos termos “chocolate americanas roubo” e encontramos o trecho do telejornal Bora Brasil publicado pela Band em sua conta no X. A reportagem mostrava o mesmo vídeo utilizado na montagem. A Americanas foi procurada e confirmou que o caso havia acontecido na cidade de Suzano, no dia 26 de janeiro de 2024, portanto cinco dias antes da fala de Flávio Dino. Também confirmamos a veiculação do discurso do senador Flávio Dino no dia 31 de janeiro, na CNN, após pesquisa no canal do YouTube da emissora.

O que diz o responsável pela publicação: O autor foi questionado sobre a publicação, mas não respondeu até o fechamento desta verificação. A publicação não foi apagada.

O que podemos aprender com esta verificação: É importante checar a data dos vídeos e em qual contexto foram publicados, como forma de afastar uma falsa relação entre os conteúdos. A ausência de marcadores temporais e tarjas de texto chamativas, sobrepostas em tom de urgência e alerta, podem ser um indicativo de que as postagens foram retiradas de seu contexto original ou manipuladas para desfavorecer alguém em posição contrária ao autor do post.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Checagens recentes de UOL Confere, Estadão Verifica e AFP Checamos, iniciativas de checagem que fazem parte do Comprova, também mostraram que o ex-ministro Flávio Dino não defendeu a prática de furto no Brasil. Em outros momentos, Flávio Dino já foi alvo de desinformação, como falsas postagens nas quais teria se eximido da responsabilidade pelo combate ao armamento de traficantes no país e áudios falsos afirmando que entre os “objetivos” do governo Lula estariam “arruinar a economia”.

Política

Investigado por: 2024-02-09

Vídeo em que Anitta faz críticas ao governo federal é de 2022

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o post que usa um vídeo antigo para sugerir que a cantora Anitta está arrependida de ter prestado apoio ao presidente Lula (PT). As imagens que circulam não são de 2024, como o vídeo tenta induzir. Elas foram retiradas de uma transmissão ao vivo que a artista participou com o cantor Filipe Ret, em 12 de julho de 2022. Na ocasião, a cantora fez críticas à gestão e à postura de Jair Bolsonaro (PL) e reafirmou o apoio a Lula na campanha eleitoral daquele ano.

Conteúdo investigado: Post que compartilha um vídeo no qual Anitta aparece em uma live fazendo críticas ao governo e afirma que a população brasileira tem tido dificuldade de se alimentar. A cantora também diz que a “pessoa no comando” incita brigas entre os cidadãos. As imagens foram publicadas com a legenda “Será que a ficha está caindo?”, em 5 de fevereiro de 2024.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Anitta participou de uma live promovida pelo cantor Filipe Ret, em 12 de julho de 2022, sobre a parceria musical deles, e a dupla comentou outros assuntos, entre eles o governo então vigente e as eleições presidenciais de 2022. No trecho da transmissão ao vivo publicado pelo canal do Poder360 e na íntegra publicada pelo canal do YouTube Vou Contar Tudo, a artista afirma que decidiu declarar seu voto ao então candidato Lula e opina que a população brasileira estaria com dificuldades para se alimentar durante a gestão de Jair Bolsonaro e que ele incitaria a briga entre os eleitores.

“Minha família mora toda no Brasil, minha galera. Minha família sabe o preço de todas as coisas que as pessoas não estão conseguindo comer no Brasil. Isso não é normal, galera. E o pior de tudo é ter uma pessoa no comando que incentiva a sociedade a ficar brigando uns com os outros. Isso não existe. É por isso que eu, que nunca cogitei votar no Lula, agora voto”, declarou.

Na postagem investigada aqui, feita em 5 de fevereiro de 2024, a fala de Anitta foi retirada de contexto e o trecho seguinte, em que a cantora afirma seu voto em Lula, foi cortado. Além disso, o vídeo é acompanhado da legenda “Será que a ficha está caindo?”, induzindo à interpretação de que a declaração é recente e se refere ao atual governo Lula.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Até 8 de fevereiro, a publicação contava com 72,9 mil visualizações, 204 republicações e 1.316 curtidas.

Como verificamos: Uma pesquisa no Google foi realizada com os termos “pessoas não estão conseguindo comer no Brasil”, que resultou no vídeo postado pelo Poder360 no YouTube. Depois de ter acesso ao vídeo com o trecho que a cantora declara seu voto em Lula, também foram pesquisados os termos “Anitta declara voto em Lula”, que retornou notícias em diversos veículos de comunicação e postagens no X. Já as buscas por “Anitta critica Bolsonaro 2022” levaram à live em que a cantora fez as declarações, na íntegra, publicada pelo canal Vou Contar Tudo, em 12 de julho de 2022, dia em que o vídeo foi transmitido ao vivo.

Anitta não criticou governo Lula em live

O vídeo que passou a circular no X induz o internauta a acreditar que as declarações de Anitta foram feitas em 2024 e que ela se arrependeu de ter apoiado publicamente o presidente Lula nas eleições de 2022. Entretanto, o trecho em que ela faz as críticas foi tirado do contexto e pertence a uma live que a artista participou com o cantor Filipe Ret, em 12 de julho de 2022, que teve como tema principal uma parceria musical entre os dois. Na ocasião, eles abordaram outros assuntos, como as eleições presidenciais e, durante os comentários, a cantora criticou a gestão do então presidente Jair Bolsonaro, apontando a dificuldade da população em se alimentar e a postura do político em incentivar brigas entre eleitores.

Vídeo omitiu apoio de Anitta a Lula

Além de não mostrar a data do vídeo, o post omite o trecho em que a cantora declara apoio ao então candidato Lula. “É por isso que eu, que nunca cogitei votar no Lula, agora voto. Se eu quiser, faço outra tatuagem com o nome dele”, diz a cantora, logo após as falas que aparecem no vídeo verificado.

O que diz o responsável pela publicação: O responsável pelo perfil no X excluiu a publicação, após o início da verificação. O administrador não respondeu à tentativa de contato do Comprova.

O que podemos aprender com esta verificação: É importante verificar quando um vídeo de uma personalidade foi publicado e em qual contexto, assim como buscar o registro original nas páginas oficiais da personalidade em questão.

A ausência de marcadores temporais ou de nomes citados diretamente podem ser um alerta de que a postagem foi retirada de seu contexto original e manipulada a favor de quem está repostando o vídeo nas redes sociais.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Publicações relacionadas ao posicionamento político de artistas durante as eleições de 2022 já haviam sido investigadas. Outras verificações do Comprova descobriram ser falsos os vídeos que afirmavam que Anitta foi vaiada durante uma apresentação, após fazer críticas a Jair Bolsonaro, e que houve protesto contra Lula na apresentação de Marina Sena no festival Lollapalooza, no mesmo ano.

Política

Investigado por: 2024-02-09

Posts enganam ao divulgar vídeo antigo para sugerir que Lula é impopular

  • Enganoso
Enganoso
São enganosos os posts que utilizam um vídeo antigo para afirmar que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não tem apoio popular no atual mandato. A gravação em questão mostra o político desembarcando de um jatinho e sugere que ele foi ignorado por funcionários de um aeroporto ao acenar. A gravação, porém, não é atual. Ela foi feita em agosto de 2022, em uma área de desembarque privada, sem a presença de público, no aeroporto de Campina Grande (PB).

Conteúdo investigado: Vídeo mostra o presidente Lula caminhando em uma pista de aeroporto, em direção a um carro, acenando, após desembarcar de um jatinho. Ao lado dele, estão pelo menos outras três pessoas. Todas usam máscara de proteção, incluindo Lula. De costas para o autor do vídeo, estão três funcionários do terminal em pé, olhando para frente. A legenda traz a seguinte frase: “Lula acena para os funcionários do aeroporto que ignoram”.

Onde foi publicado: X, Telegram e YouTube.

Conclusão do Comprova: É antigo o vídeo que mostra o presidente Lula em uma pista de aeroporto, acenando, enquanto alguns funcionários do local o observam, sem reagir. A gravação foi feita no dia 2 de agosto de 2022 durante o desembarque do petista no aeroporto de Campina Grande (PB). Naquela época, o vídeo circulou já com a legenda sugerindo que Lula não teria apoio popular, por causa da postura dos funcionários do terminal, que não acenam de volta. Agora, o mesmo conteúdo voltou a ser distribuído nas redes sociais, desta vez sugerindo que o presidente não tem apoio popular atualmente.

A gravação foi replicada em outros momentos por diversos sites que afirmavam se tratar de uma visita de Lula a Teresina (PI), também em agosto de 2022. O uniforme dos funcionários do aeroporto, no entanto, traz o logomarca da concessionária Aena, que administra o terminal de Campina Grande, e não o de Teresina.

Ao Comprova, a concessionária Aena informou que a área de desembarque é restrita e que o pouso não foi divulgado no dia da viagem. Por essa razão, segundo a empresa, não havia público no local. A concessionária diz, ainda, que não há imagens que possam mostrar se outras pessoas acenaram ou não para Lula. A mesma informação foi confirmada pelo ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, que recebeu o presidente no aeroporto. Segundo ele, o acesso ao terminal foi restringido e os carros da comitiva entraram na pista para não atrasar a programação de Lula.

O Comprova não conseguiu verificar para quem Lula acena, nem afirmar que o atual presidente foi ignorado por funcionários de um aeroporto, como sugerem os vídeos investigados. Naquela viagem, o então candidato à presidência da República foi recebido pelo ex-governador da Paraíba e pelo à época candidato ao governo do estado, Veneziano Vital do Rêgo (MDB), atualmente senador, para atos de campanha na cidade ao longo do dia.

Os posts no X e no Telegram que deram origem a esta verificação foram excluídos pelo autor nas duas redes sociais depois do contato feito pelo Comprova.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O vídeo aqui investigado teve mais de 38 mil visualizações no X e 13,5 mil no Telegram até o dia 1 de fevereiro, quando foram apagados. Em um shorts do YouTube, as visualizações chegam a 2,4 mil.

Como verificamos: Fizemos uma primeira busca por outros vídeos que indicassem a qual aeroporto o post se referia. Encontramos informações antagônicas sobre o desembarque de Lula em duas possíveis cidades: Campina Grande e Teresina. Os dois municípios fizeram parte de uma mesma agenda de campanha, nos dias 2 e 3 de agosto de 2022.

Analisando os uniformes dos funcionários, identificamos que se tratava realmente de um aeroporto administrado pela empresa Aena, o que descartava a capital piauiense, onde o terminal é gerido pela CCR Aeroportos. Na sequência, entramos em contato com a concessionária responsável pelo terminal para checar a veracidade do vídeo.

Depois, fizemos buscas por vídeos que pudessem ter outro ângulo do desembarque de Lula na pista para confirmar a resposta ao aceno. Encontramos posts feitos Ricardo Coutinho e Veneziano Vital do Rêgo comentando a chegada de Lula na cidade, na data pesquisada.

Vídeo não foi gravado em Teresina

O vídeo circulou mais de uma vez por redes sociais e portais de notícias locais, mas com a informação falsa de que se tratava de uma viagem de Lula a Teresina. Naquela semana, o então candidato realizou uma caravana pelo Nordeste para participar de atos públicos. Lula esteve, de fato, na capital do Piauí, mas no dia 3 de agosto, portanto, um dia depois da gravação aqui investigada.

Além disso, o uniforme usado pelos funcionários do terminal, na cor verde neon, traz o logo da concessionária Aena, que administra o terminal João Suassuna, em Campina Grande. A CCR, empresa responsável pela gestão do aeroporto de Teresina, que utiliza as cores laranja e vermelha na marca, confirmou que as imagens não correspondiam a aeroportos administrados pelo grupo.

Na Paraíba, Lula se reuniu pela manhã com lideranças religiosas em um hotel da cidade. Depois, à tarde, participou de um ato público no Parque do Povo, ao lado das autoridades que o recepcionaram no aeroporto. A agenda do então candidato aconteceria na capital paraibana, mas foi alterada depois que Lula recebeu o diagnóstico de covid-19. Ela ocorreu uma semana depois, em Campina Grande e não em João Pessoa.

Lula venceu a eleição em Campina Grande

Ao contrário do que sugere o vídeo aqui checado, utilizado para questionar a popularidade de Lula, o presidente venceu a eleição em Campina Grande na disputa de 2022. O petista recebeu 49,2% dos votos, contra 42,4% de Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno das eleições.

Em 2018, o cenário foi diferente, já que a cidade deu vitória a Jair Bolsonaro. Naquele ano, o político teve apoio de 56,3% dos eleitores da cidade paraibana no segundo turno disputado contra Fernando Haddad (PT), que teve 43,7% dos votos.

Segundo a pesquisa Datafolha realizada em 5 de dezembro de 2023, Lula encerrou o último ano com 38% de aprovação dos brasileiros, enquanto 30% consideraram seu trabalho regular, e outros 30%, ruim ou péssimo. Enquanto Jair Bolsonaro teve 30% de aprovação, 32% de avaliação regular e 36% de ruim/péssimo no fim do primeiro ano do seu mandato.

O levantamento mais recente ouviu 2.004 eleitores em 135 cidades do Brasil e a margem de erro média é de dois pontos para mais ou para menos. O presidente foi mais bem avaliado entre nordestinos (48%, num grupo que representa 26% da amostra), entre os que têm 45 a 59 anos (46%), entre quem tem menos escolaridade (50% entre os 28% dos ouvidos), entre os que se autodeclaram como pretos (46%), entre os católicos (43%, ante 26% entre os evangélicos) e entre os que recebem Bolsa Família (46%, ante 35% entre os que não recebem).

O que diz o responsável pela publicação: O responsável pelo perfil no X e pelo grupo no Telegram excluiu a publicação em ambas as redes, após tentativa de contato do Comprova. O usuário não respondeu aos questionamentos da reportagem.

O que podemos aprender com esta verificação: É comum em peças de desinformação o uso de recortes de trechos de vídeos em contextos diferentes dos originais. A postagem investigada aqui usa um vídeo de somente 3 segundos, sem som, captado num ambiente fechado e sem identificação do local e da data em que foi gravado, e aplica sobre ele uma afirmação. Desconfie de conteúdos com essas características e evite compartilhar se não tiver segurança da veracidade da publicação.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O jatinho usado por Lula nas viagens de campanha pelo Nordeste também virou alvo de investigações do Comprova. Outras verificações também desmentiram vídeos que tiraram de contexto a participação do presidente Lula em eventos públicos.

Política

Investigado por: 2024-02-06

É falso que Adélio Bispo tenha incriminado o PT ou prestado novo depoimento sobre facada em Bolsonaro

  • Falso
Falso
É falso que Adélio Bispo informou em um novo depoimento que membros do PT tenham sido os mandantes da facada dada por ele em Jair Bolsonaro (PL). A Defensoria Pública da União (DPU), que presta assistência jurídica ao autor do crime, informou que o último depoimento prestado por Adélio ocorreu em 2019. Dois inquéritos da Polícia Federal que investigaram o caso concluíram que ele agiu sozinho.

Conteúdo investigado: Um vídeo antigo gravado pelo deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) em que ele afirma que Adélio Bispo confessou que o PT mandou matar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a circular nas redes sociais acompanhado de um texto alegando que os mandantes do crime foram a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, e José Dirceu. O conteúdo acrescenta que a ex-deputada federal Manuela D’Ávila (PSOL) auxiliou na logística do crime.

Onde foi publicado: WhatsApp e X.

Conclusão do Comprova: Adélio Bispo não prestou um novo depoimento recentemente e nem indicou membros do PT como mandantes do crime praticado por ele contra Jair Bolsonaro (PL), em 2018. São falsas as alegações feitas em posts que circulam no X e no WhatsApp e que resgatam um boato antigo e já desmentido diversas vezes por agências de checagem.

Conforme a Defensoria Pública da União (DPU), que presta assistência jurídica a Adélio desde 2019 e exerce a sua curadoria especial, o último depoimento prestado por ele ocorreu em 19 de agosto daquele ano. O órgão informou ao Comprova não ter sido notificado sobre qualquer novo depoimento.

Os dois inquéritos da Polícia Federal (PF) que investigaram a facada concluíram que Adélio agiu sozinho e por motivação política. Atualmente, ele está recolhido na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS), onde cumpre medida de segurança após ter sido considerado inimputável pela Justiça Federal, devido a laudo que comprovou que ele possui transtorno delirante persistente.

A PF informou ao Comprova que divulga todas as ações e operações no próprio site e qualquer informação que circule nas redes sociais que não tenha partido dos canais oficiais de comunicação é de total responsabilidade de quem a divulgou.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Apenas no X, o post teve 195,7 mil visualizações até 5 de fevereiro. Não é possível mensurar quantas vezes foi compartilhado no WhatsApp.

Como verificamos: Inicialmente, fizemos uma busca combinada no Google com as palavras-chave “Adélio Bispo”, “depoimento”, “PT” e Gleisi Hoffman” que retornou checagens antigas sobre o mesmo assunto feitas por outras agências (Estadão Verifica, Aos Fatos, Lupa). Assim, percebemos se tratar de um boato constantemente resgatado nas redes sociais. Também consultamos informações para entendermos o caso e procuramos a DPU, a PF, o deputado Gustavo Gayer e o autor do post mais recente no X.

Alegações em vídeo foram desmentidas em 2022

Em 16 de fevereiro de 2022, o Estadão Verifica informou que alguns dias antes, em 12 de fevereiro, uma menção a um suposto depoimento de Adélio Bispo foi feita pelo perfil @AnonNovidades, no X, sem informar a fonte para a alegação.

Nos dias posteriores, outras postagens viralizaram com a mesma afirmação em diferentes redes sociais e o blog Terra Brasil Notícias publicou o conteúdo falso com crédito para o perfil @AnonNovidades. No mesmo dia, o blog publicou outro texto no qual disse que a Polícia Federal negou que o depoimento tivesse ocorrido.

O vídeo gravado por Gustavo Gayer quando ele ainda não era deputado não está mais nas redes sociais dele, mas a versão completa ainda pode ser encontrada circulando em outras contas. O Comprova localizou no YouTube uma postagem deste feita em 12 de fevereiro de 2022. Nesta versão, é possível identificar que Gayer repercutia o primeiro texto publicado pelo blog Terra Brasil Notícias, com o título “Urgente: Segundo Anonymous, em novo depoimento Adélio Bispo abre jogo sobre facada em Bolsonaro e diz que PT o contratou em 2018”.

Não foi possível confirmar o motivo de Gayer ter deletado esse conteúdo em suas redes sociais, já que ele não respondeu à tentativa de contato feita pela reportagem. Em novembro de 2022, ele publicou um vídeo no X informando ter apagado mais de mil vídeos no próprio canal no YouTube porque vinha sendo notificado pela plataforma por conta de algumas postagens.

Desde 2022, o boato associando o PT e um falso depoimento de Adélio volta a circular frequentemente, normalmente junto de uma mensagem em tom de urgência que leva as pessoas a interpretarem se tratar de um fato recém ocorrido.

Uma referência a Gleisi Hoffmann, que é citada nas postagens atuais, havia sido feita por Gayer quando o vídeo dele foi registrado, já fora de contexto. À época, ele mostrava um vídeo da presidente do PT afirmando que temia pela vida de Lula, mas não informava que o conteúdo havia sido gravado quatro anos antes, em 30 de outubro de 2018, durante entrevista coletiva do partido, que está disponível na página da AFP, no YouTube.

Caso Adélio

A DPU informou que Adélio segue recolhido na Penitenciária Federal de Campo Grande, onde cumpre medida de segurança. Ele é reconhecido como autor da facada em Bolsonaro, mas considerado inimputável pela Justiça Federal devido a laudo de 2018 que comprovou que ele sofria de transtorno delirante persistente.

Conforme noticiou a Folha de S.Paulo no final de 2023, atualmente há um impasse sobre a situação dele. A DPU tenta transferi-lo para um hospital psiquiátrico, mas a Justiça é contra por considerar que ele mantém a periculosidade e corre risco de morte fora do sistema federal. De acordo com o jornal, Adélio tem recusado remédios e está sem tratamento apropriado.

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi esfaqueado em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 6 de setembro de 2018, durante ato público de campanha.

Em dois inquéritos, a Polícia Federal concluiu que Adélio agiu sozinho e por motivação política.

O que diz o responsável pela publicação: Não foi possível entrar em contato com o perfil do X responsável por resgatar o antigo boato porque ele é bloqueado para receber mensagens de contas que não segue. Também não foi possível identificar contas em outras redes sociais pertencentes ao mesmo indivíduo. Gustavo Gayer, que hoje é deputado federal pelo PL de Goiás, também foi procurado, por meio do gabinete institucional, mas não houve resposta.

O que podemos aprender com esta verificação: Esta verificação é um bom exemplo de como é fundamental observar a fonte dos conteúdos acessados nas redes sociais antes de compartilhá-los. Ao se deparar com postagens de denúncias, conteúdos impactantes ou que sugiram conspirações, verifique se há link para alguma notícia produzida por um veículo jornalístico da sua confiança ou para uma fonte que tenha autoridade para falar sobre o assunto. Se não houver, faça uma busca na internet para obter mais informações. Neste caso, o Comprova identificou rapidamente, por uma busca simples no Google, que o boato sobre Adélio Bispo e um suposto envolvimento do PT como mandante do crime é recorrente, ressurgindo periodicamente nas redes sociais.

É importante também tomar cuidado com postagens que pedem seu compartilhamento com a justificativa de que a imprensa não está cobrindo o assunto. Essa é uma tática comum utilizada por perfis e páginas interessados em promover desinformação. Eles a utilizam para obter engajamento e ativar os algoritmos das redes sociais para que deem ainda mais visibilidade aos conteúdos da postagem. 

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: As alegações aqui verificadas foram desmentidas anteriormente por Aos Fatos, Lupa e Estadão Verifica. O Projeto Comprova já checou diversas alegações falsas ou enganosas sobre a facada em Bolsonaro e publicou, inclusive, um Comprova Explica sobre o assunto.

Política

Investigado por: 2024-02-05

Membro do MST que aparece em vídeo não é o homem que depredou relógio de dom João VI no Palácio do Planalto

  • Falso
Falso
É falso que o homem que quebrou o relógio de Dom João VI, no Palácio do Planalto, em 8 de janeiro de 2023, seja integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), diferentemente do que afirma post verificado pelo Comprova. O vândalo foi identificado como Antônio Cláudio Alves Ferreira, já a pessoa que aparece no vídeo verificado como sendo militante do MST chama-se Danilo e mora no Paraná. Um perito apontou diferenças entre os rostos dos dois homens. Não há nenhum indício de participação de integrantes do MST nos atos golpistas de 8 de janeiro.

Conteúdo investigado: Post faz uma montagem com dois vídeos. O primeiro é de um grupo de pessoas que usa roupas do Movimento pelo Direito à Moradia e que diz estar indo para Brasília. Entre eles aparece um homem que se identifica como Danilo e que veste uma camiseta do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). O segundo vídeo mostra uma pessoa quebrando o relógio de Dom João VI no Palácio do Planalto. A legenda do post diz “O tal bolsonarista que quebrou o relógio é do MST/PT…. Esconderam isso do povo…”

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: O homem que quebrou o relógio de Dom João VI durante os atos antidemocráticos em Brasília, em 8 de janeiro do ano passado, não é militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), ao contrário do que afirma post viral.

A publicação mescla o vídeo do homem jogando o relógio no chão, dentro do Palácio do Planalto, com uma gravação em que aparece um homem com uma camiseta do MST fazendo a letra L com a mão, em referência ao apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na publicação, o autor do post diz ser a mesma pessoa, o que não é verdade.

O vândalo foi identificado como Antônio Cláudio Alves Ferreira e foi preso em 23 de janeiro. Contatado pelo Comprova, o MST afirmou que o post é “uma montagem grosseira na tentativa de criminalizar o movimento” e que conteúdos de desinformação com o mesmo assunto circulam há um ano. Ainda de acordo com o grupo, o homem com a camiseta do MST se chama Danilo, é estudante e mora com a família em um acampamento no Paraná.

Em análise feita a pedido do Estadão, o perito audiovisual Ricardo Caires dos Santos, presidente da Comissão Nacional de Perícia Audiovisual, da Academia Brasileira de Ciências Criminais, também concluiu não ser a mesma pessoa nos dois vídeos. Segundo a perícia, há diferenças nos olhos, sobrancelhas e bigode.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Apenas um post no X havia sido visualizado mais de 69 mil vezes até 2 de fevereiro.

Como verificamos: O primeiro passo foi pesquisar no Google termos como “vândalo relógio Dom João VI” e “MST”. O resultado mostrou três verificações que desmentiram a associação dos dois vídeos.

Também foram pesquisadas notícias sobre Antônio Cláudio Alves Ferreira, identificado como a pessoa que quebrou o relógio. O Comprova também entrou em contato com a assessoria de imprensa do MST. Além disso, mandou mensagens para o perfil que compartilhou o vídeo original, que mostra o homem identificado como Danilo, e com o Movimento por Moradia Popular. Mas até a publicação dessa verificação não obteve resposta.

Vândalo se chama Antônio, não Danilo

O relógio de Balthazar Martinot, trazido ao Brasil pelo Dom João VI, que estava no Palácio do Planalto, foi quebrado durante a depredação da sede do Executivo no dia 8 de janeiro de 2023. Vídeo da câmera de segurança do local mostrou que o ato de vandalismo foi executado por um homem vestido com uma camisa estampada com o rosto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As imagens foram divulgadas pela TV Globo.

Logo depois, testemunhas, entre elas a irmã de Antônio Cláudio Alves Ferreira, o reconheceram como sendo a pessoa que aparece no vídeo, segundo reportagem do Diário de Pernambuco. Antônio é natural de Catalão, em Goiás, e, de acordo com a Polícia Civil do estado, foi a Brasília de carro, onde chegou no dia 2 de janeiro. No dia 9, após os ataques, o mesmo veículo foi visto de volta à Catalão.

Antônio foi preso em 23 de janeiro em Uberlândia e está detido desde então no Presídio de Uberlândia I, antiga Colônia Penal Professor Jacy de Assis. Foi incluído no inquérito 4922, do Supremo Tribunal Federal, de relatoria do ministro Alexandre de Moraes. O inquérito investiga os participantes da invasão que não foram presos em flagrante. Na ação, ele responde por cinco crimes, incluindo golpe de Estado.

Relógio de Balthazar Martinot

O relógio de Balthazar Martinot é uma peça do século XVII que pertenceu a Dom João VI, presenteado pela Corte Francesa. O item estava exposto no Palácio do Planalto desde 2012, quando passou por uma restauração.

No dia dos ataques, o relógio foi destruído. Foram arrancados a estátua de Netuno que ficava no topo do objeto, os ponteiros e também os números.

O item foi enviado à Suíça, que se ofereceu para fazer o reparo. O objeto foi entregue a representantes do país em 26 de dezembro de 2023. A restauração será feita pela Audemars Piguet, fabricante tradicional de relógios. Não há data para finalização do restauro. Os custos também não foram divulgados.

Vídeo do MST é viagem para posse de Lula

O vídeo usado na montagem foi postado no Instagram de um integrante do Movimento pelo Direito à Moradia em 3 de janeiro de 2023. Nele, a pessoa que narra a gravação diz que eles estão indo para Brasília. O grupo, que usa camisas do Movimento pelo Direito à Moradia, que é do Paraná, está fazendo uma refeição. Uma das pessoas que aparecem é o homem que se apresenta como Danilo. O mesmo perfil do Instagram também postou fotos e vídeos do dia da posse do presidente Lula, em Brasília. Segundo o Movimento Sem Terra (MST), o vídeo mostra a viagem dos integrantes para a posse de Lula, em 1º de janeiro, portanto, antes dos atos golpistas.

O que diz o responsável pela publicação: Várias páginas no X republicaram o vídeo e não foi possível identificar o perfil que fez a primeira postagem. A reportagem também não conseguiu contatar os perfis que publicam por ser proibido o envio de mensagens.

O que podemos aprender com esta verificação: O post usa vídeos verdadeiros de pessoas parecidas para confundir e difundir uma informação falsa. Diante de postagens como essa, que fazem denúncias sensacionalistas ou apresentam teorias conspiratórias sem identificar as fontes dos conteúdos utilizados, faça buscas na internet para localizar informações sobre o tema fornecidas por veículos jornalísticos ou fontes com autoridade para falar sobre o tema em questão. Se fosse verdadeira a informação, a participação de um integrante do MST na tentativa de golpe de 8 de janeiro seria veiculada em diversos sites e programas de notícias e não somente em perfis de redes sociais cuja autoria não pode ser confirmada.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Estadão, Aos Fatos e Fato ou Fake, do G1, também verificaram o conteúdo. Sobre os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, o Comprova já checou outras publicações, como a de que o FBI não estava no Brasil para investigar os atos, diferentemente do que afirmava vídeo e de post que enganava ao associar vídeo de 2022 a início de movimento contra Lula.

Política

Investigado por: 2024-02-02

Apresentador da Globo não evitou noticiar rombo no governo Lula; houve erro técnico

  • Enganoso
Enganoso
Jornalista da RBS TV, afiliada da Globo no Rio Grande do Sul, não evitou ler manchete sobre déficit nas contas públicas do governo Lula (PT) para protegê-lo, ao contrário do que diz post. Houve um erro técnico no programa, com a exibição de capas de jornais que eram do dia anterior. Ao perceber o equívoco, o apresentador interrompeu a leitura e aguardou pela exibição das manchetes do dia correto.

Conteúdo investigado: Post no Instagram reproduz trecho do telejornal Bom Dia Rio Grande, na RBS TV, afiliada da Globo, em que o âncora estava mostrando as capas dos jornais do dia 31 de janeiro. O apresentador interrompe a leitura no momento em que terminaria de ler a manchete do Zero Hora sobre o déficit do governo atual. Sobre a imagem, aparece a inscrição “O cara travou na hora de falar do rombo do governo Lula”.

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: É enganoso que o apresentador Josmar Leite, da RBS TV, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Sul, tenha interrompido a leitura de manchete sobre déficit nas contas públicas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para protegê-lo. O que ocorreu foi um erro no noticiário da emissora, com a confusão da exibição de capas do dia.

Durante o telejornal Bom Dia Rio Grande, de 31 de janeiro, foram mostradas capas de jornais que eram, na verdade, do dia anterior. Por conta do equívoco, Josmar interrompeu a leitura das manchetes e informou que as capas corretas seriam exibidas pela equipe. Na sequência, o programa consertou as imagens e mostrou as matérias referentes àquele dia.

A informação lida de forma incorreta no dia 31 era a reportagem publicada no jornal Zero Hora do dia anterior, sobre o fato de as contas públicas federais terem fechado em 2023 com déficit de R$ 230,5 bilhões. Esse é o pior resultado desde 2020, ano em que começou a pandemia da covid-19, quando o déficit chegou a R$ 939,9 bilhões.

Após a exibição do telejornal, começou a circular nas redes sociais um vídeo com uma legenda afirmando que o apresentador Josmar Leite “travou” após falar do “rombo nas contas durante o governo Lula”, sugerindo também que a emissora não faz críticas ao presidente da República.

Com a circulação do material enganoso, a RBS TV, no mesmo dia, publicou em seu perfil no Instagram uma nota de esclarecimento sobre o caso, acompanhada do vídeo que mostra o momento do erro técnico e, em seguida, a apresentação da manchete atualizada do Jornal Zero Hora. A emissora também exibiu o trecho do dia anterior, 30, em que Josmar lê normalmente a matéria sobre o rombo.

Em nota, a RBS informou que a íntegra do conteúdo está disponível no Globoplay.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 2 de fevereiro de 2024, a publicação teve 370 mil visualizações, 18,8 mil curtidas e 3,6 mil comentários.

Como verificamos: Para encontrar informações sobre o ocorrido, o Comprova buscou pelo trecho original do telejornal no Globoplay que mostra o erro técnico e a correção das capas na sequência. Também encontrou o programa do dia anterior na plataforma, em que é possível ver que o jornalista leu normalmente a matéria sobre o rombo.

A equipe procurou o posicionamento da RBS TV em seu Instagram, onde esclareceu o engano e as capas do Jornal Zero Hora.

O que diz o responsável pela publicação: Procurado pelo Comprova, o administrador do perfil onde o vídeo foi publicado, não respondeu aos questionamentos feitos.

O que podemos aprender com esta verificação: Trechos recortados de vídeos, apresentados sem contexto e com sobreposição de legendas ou comentários de cunho político, merecem a nossa atenção. O uso de recortes de imagens com essas características é uma tática comumente utilizada por perfis cuja intenção é compartilhar desinformação ou reforçar discursos partidarizados. Neste caso, embora o Comprova não tenha conseguido confirmar alguma intencionalidade do responsável pela publicação, a postagem utiliza trecho de um telejornal sem apresentar para os usuários o contexto e nem explicar que se tratava de um erro. Em casos como este, devemos buscar pelos trechos originais do programa na plataforma da emissora e conferir a veracidade da publicação. Também seria possível checar a informação consultando as capas do jornal Zero Hora nos dias citados.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Metrópoles, Aos Fatos e Lupa também checaram o conteúdo. Ainda sobre trechos de telejornais tirados de contexto, o Comprova já verificou que montagem com vídeos engana sobre a cloroquina.