O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa, apartidária e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Política

Investigado por: 2025-02-20

Vídeo mostra réplicas usadas em airsoft para acusar Justiça de devolver armas ao crime organizado

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso que membros de uma organização criminosa tenham conseguido a devolução de armas de grosso calibre por meio da Justiça. O vídeo foi tirado de contexto para parecer que, após uma perícia, a Polícia Civil devolveu armamentos para criminosos. Na verdade, os homens que aparecem nas imagens são produtores de conteúdo digital e as armas são de airsoft, um jogo desportivo onde os participantes simulam operações policiais.

Conteúdo investigado: Vídeo mostra homens saindo de um prédio, que seria uma delegacia da Polícia Civil, com armas. De acordo com o relato deles, o armamento teria passado por uma perícia. O texto que acompanha o post diz: “Justiça determina devolução de armas de grosso calibre a membros de organização criminosa q haviam sido apreendidas pela Polícia. ESSE É O BRASIL GOVERNADO POR BANDIDOS DENTRO DE TODOS OS PODERES! Aceitem o Brasil acabou!”

Onde foi publicado: Telegram, Instagram e X.

Conclusão do Comprova: É enganoso que membros de uma organização criminosa tenham conseguido a devolução de armas de grosso calibre por meio da Justiça. O vídeo foi tirado de contexto. Os homens que aparecem no vídeo são produtores de conteúdo digital e os itens são réplicas de armas de fogo do tipo airsoft, um jogo desportivo onde os participantes simulam operações policiais.

O vídeo em questão foi gravado no dia 10 de fevereiro de 2025, em frente ao Complexo Policial Investigador Bandeira, em Feira de Santana, na Bahia. Nele, dois influenciadores digitais celebram que retomaram a posse de suas armas de airsoft. “Estamos com nossos equipamentos novamente, graças a Deus. Saindo aqui agora da delegacia da Polícia Civil. Todas as armas passaram por perícia. Estamos de volta com nossos equipamentos, viu”, diz um deles.

Após a repercussão do vídeo de maneira enganosa, eles se pronunciaram. Um deles, que se apresenta nas redes sociais como Jean Youtuber, disse em um post no Instagram que está sendo “acusado de tráfico de drogas” e esclareceu que os itens em questão são para a prática de airsoft.

Já Erick Menezes, o outro homem que aparece no registro, se desculpou por ter gravado dentro da delegacia e disse que a intenção do vídeo era justamente mostrar que os materiais apreendidos não eram armas de fogo.

Em outro vídeo, o advogado que representa os dois, Bender Nascimento, afirmou que iniciou tratativas jurídicas para que as postagens fraudulentas sejam retiradas do ar.

Questionada pelo Comprova sobre o conteúdo do vídeo, a Polícia Civil da Bahia explicou que em 20 de dezembro de 2024, a Polícia Militar conduziu quatro homens à Central de Flagrantes de Feira de Santana. Com eles, foram encontrados os seguintes materiais: nove réplicas de arma de fogo (modelos: A4, AK 47, G36, Glock G18, Th Hammer, bereta, revólver) e itens como cinco rádios comunicadores, duas capas de coletes balísticos, chapéu e coturno.

Os homens prestaram depoimento e informaram que são produtores de conteúdo digital, sendo que, na data em que foram conduzidos à delegacia, estavam na Avenida Senador Quintino, no bairro Brasília, em Feira de Santana, realizando gravações.

As nove imitações foram apreendidas e passaram por uma perícia no Departamento de Polícia Técnica. Os demais materiais foram devolvidos aos proprietários. O laudo da polícia constatou que todas as réplicas são do tipo airsoft. Por esse motivo, os itens foram restituídos aos donos, Jean e Erick, pela 1ª Delegacia Territorial de Feira de Santana no dia 10 de fevereiro.

O Comprova não conseguiu contato com o canal do Telegram que divulgou o vídeo nem com uma das contas do X que reproduziu o conteúdo e obteve grande alcance. Uma mensagem foi enviada para uma das contas do Instagram que publicou o vídeo, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No canal do Telegram, o vídeo contava com 3,6 mil visualizações até 19 de fevereiro. No X, o vídeo já foi divulgado por dezenas de perfis. Um dos posts teve 105,6 mil visualizações, mil curtidas e mil compartilhamentos até a mesma data. No Instagram, a publicação conta com 58,6 mil visualizações.

Fontes que consultamos: Google Maps para verificar o local onde o vídeo foi gravado. As redes sociais dos homens que aparecem nas imagens foram encontradas por meio de uma pesquisa no Google sobre influencers baianos que usam airsoft. A história foi confirmada com a assessoria de imprensa da Polícia Civil da Bahia.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Estadão, o g1, Aos Fatos e a Reuters também mostraram que é enganosa a informação de que criminosos deixaram uma delegacia após recuperar armas de grosso calibre. O Comprova já verificou um post que mentiu ao relacionar a soltura de membros do Comando Vermelho a visitas de “dama do tráfico” ao Ministério da Justiça e outro que enganou ao afirmar um delegado que fez a proteção de Lula durante a eleição tinha ligação com a delação de Marcos Valério.

Notas da comunidade: Em um dos posts do X que divulgam o vídeo, foi adicionada a seguinte nota da comunidade: “As armas eram cenográficas, de airsoft!”, o que coincide com o resultado da apuração do Comprova. O post no Instagram também conta com um alerta de informação falsa. A plataforma informa que o conteúdo passou por análise de verificadores de fatos independentes (Estadão, Aos Fatos e Reuters).

Política

Investigado por: 2025-02-19

Documentos apresentados por senador não são sigilosos e nem provam que ‘modelo de censura’ americano foi aplicado no Brasil

  • Enganoso
Enganoso
Documentos da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não provam que “o modelo de censura americano foi aplicado no Brasil” para manipular as eleições de 2022. A afirmação foi feita nas redes sociais pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES). Ele sugere, sem provas, que os documentos são sigilosos – quando na realidade são públicos – e faz sua afirmação sem apresentar provas. O senador ainda acusa o Projeto Comprova de “filtrar informações” como parte do suposto modelo. A USAID e o TSE não estão envolvidos na criação do Comprova, no seu financiamento ou na orientação do seu trabalho, que segue metodologia descrita em seu site e evidenciada em cada verificação.

Conteúdo investigado: Vídeo em que o senador Marcos do Val afirma ter provas claras da intervenção da USAID nas eleições presidenciais brasileiras de 2022. Segundo ele, a interferência se deu com a aplicação no Brasil, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), do “modelo de censura” preconizado pela USAID. Uma das diretrizes, afirma Do Val, era a atuação de uma coalizão para checagem de fatos, “filtrando informações que deveriam chegar ao público”. Por trás da iniciativa, segundo o senador, estaria a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).

Onde foi publicado: Facebook e Instagram.

Conclusão do Comprova: Em um vídeo compartilhado nas redes sociais, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) sugere estar revelando documentos secretos que contêm “provas claras” de que “o modelo de censura americano foi aplicado no Brasil” para interferir nas eleições presidenciais de 2022. “Me deram a autorização para falar”, diz ele, acrescentando que guardava o material, em silêncio, desde 2023.

Os documentos, porém, são públicos e podem ser lidos por qualquer pessoa com acesso à internet. O documento produzido pela USAID é de 2021 e traça um panorama da desinformação a nível global, como forma de ajudar seus funcionários e parceiros a compreender seus princípios básicos e a como lidar com o fenômeno, reduzindo os danos de seus impactos. Já o documento do TSE delineia esforços para reduzir os efeitos da desinformação no processo eleitoral brasileiro.

Ambos os documentos citam a checagem de fatos como um dos aspectos para combater a desinformação. Do Val equipara a verificação à “censura”, mas não apresenta provas a respeito de suas afirmações. Como mostra o histórico da atividade do Comprova, o que pode ser verificado em links disponíveis na internet, o projeto não censura ou filtra conteúdos na internet.

O Comprova procurou Marcos Do Val. Não houve retorno até o fechamento desta verificação.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. A publicação teve mais de 3,4 mil visualizações e 3,7 mil curtidas até o dia 19 de  fevereiro.

Fontes que consultamos: O Comprova fez buscas na internet para localizar e ler os documentos mostrados no vídeo. Ao encontrar o link de publicação do documento da USAID no site da agência, mencionado em um arquivo em pdf, recuperou-o no site Web Archive, plataforma que grava e arquiva páginas da internet para consulta posterior, mesmo quando o site original não estiver acessível online. Esse é o caso do site da USAID, que não está ativo. Foram consultados dados sobre os programas de financiamento da agência norte-americana e publicações dos sites do Projeto Comprova e da Abraji. O senador Marcos do Val foi procurado.

Documentos são públicos

No vídeo, Marcos do Val mostra dois documentos que, segundo ele, trazem “provas claras” de que as eleições foram manipuladas. Ele dá a entender que os documentos são sigilosos. Ao se referir a um deles, diz que “a USAID nem imaginava que a gente ia chegar até isso”. O documento, porém, não é sigiloso. Ele foi disponibilizado no site da entidade, como mostra gravação de página no Web Archive. Também é possível consultá-lo em pelo menos dois outros sites (aqui e aqui). A página da USAID está fora do ar, após o início de uma investigação do governo de Donald Trump a respeito das atividades da agência.

O documento, chamado Disinformation Primer, algo como “Guia de Desinformação” em tradução livre, foi produzido pela agência. Ele não apresenta um “modelo de censura”. Como consta na página 1, trata-se de uma cartilha com o objetivo de ajudar funcionários e parceiros da USAID a compreender os princípios básicos da desinformação – como ela é difundida, por que é difundida e como reduzir os danos de seu impacto nas sociedades em todo o mundo.

O outro documento citado por Marcos do Val é intitulado “Programa Permanente de Enfrentamento à Desinformação no Âmbito da Justiça Eleitoral – Plano Estratégico Eleições 2022”. Ele também é público e está disponível no site do TSE. O programa foi instituído na Portaria nº 510, de 4 de agosto de 2021, com a “finalidade de enfrentar a desinformação relacionada à Justiça Eleitoral e aos seus integrantes, ao sistema eletrônico de votação, ao processo eleitoral em suas diferentes fases e aos atores nele envolvidos” (Art. 1).

Guia da USAID não contém ‘modelo de censura’

No vídeo, Marcos do Val diz que a comparação entre os documentos provaria que “o modelo de censura americano foi de fato aplicado no Brasil” para manipular as eleições. Ele menciona “coalizão para checagem de fatos, filtrando informações que deveriam chegar ao público”, como uma dessas “provas”. Neste momento, ele cita a página 52 do guia da USAID e a página 11 do documento do TSE. Segundo ele, a Abraji “estaria por trás dessa checagem de fatos”.

Como consta no site do Comprova, a Abraji é a entidade que mantém e lidera a iniciativa, uma coalizão atualmente composta por 42 veículos.

A partir da página 52, o guia da USAID lista, no tópico “Esforços de Programação Focados em Eleições”, um compilado de ações para reduzir a desinformação adotadas ao redor do mundo para defender a integridade de eleições democráticas. Dentre elas, “construir a capacidade dos corpos de gestão eleitoral para combater a desinformação durante os períodos eleitorais”.

É isso o que propõe o documento do TSE, que descreve, na página 11, o histórico das ações do órgão, desde 2017, para o enfrentamento dos efeitos da desinformação sobre o processo eleitoral.

O documento do TSE cita o guia da USAID dentre uma série de outras referências teóricas, produzidas por “organismos internacionais e por entidades internacionais e nacionais dedicadas ao estudo e ao enfrentamento da desinformação” (Pág. 16).

O fato de o TSE ter tomado medidas contra a desinformação e de a USAID ter feito um guia sobre desinformação não fornecem qualquer prova de que as ações descritas sejam ilegítimas ou tenham influenciado as eleições. Não indicam, também, a existência de alguma relação entre elas ou de “provas claras” de que “o modelo de censura americano foi de fato aplicado no Brasil”.

Programa do TSE não orienta checagem de fatos

O “Programa Permanente de Enfrentamento à Desinformação no Âmbito da Justiça Eleitoral” foi lançado inicialmente nas eleições de 2020. No documento, há previsão para organização de um fluxo de informações entre membros da Justiça Eleitoral e agências de checagem de fatos com o objetivo de verificar “possíveis conteúdos falsos relacionados ao Processo Eleitoral” (Pág. 26). Ainda na mesma página, o TSE destaca que “cada instituição de checagem terá absoluta independência em suas apurações e será responsável pelas checagens que realizar”.

A iniciativa, chamada “Coalizão para Checagem”, também integrou a versão do programa para as eleições de 2022. O material – que é o citado por Do Val no vídeo – descreve, na página 34, que “o ingresso de novas instituições de checagem na coalizão deve levar em consideração seu comprometimento e esforço com o enfrentamento à desinformação, além de aspectos como transparência, apartidarismo, ética jornalística, consistência no trabalho de checagem ao longo dos últimos dois anos, além da aplicação de uma política de correção clara e comunicada ao público”.

Em 2022, a parceria entre o TSE e as agências de checagem envolveu o Comprova. O projeto se chamou Confirma 2022 e sua existência era pública. Em 2023, a iniciativa foi premiada no evento GlobalFact10, realizado na Coreia do Sul. Por meio da parceria, eleitores podiam solicitar informações à corte via WhatsApp e, se houvesse uma verificação publicada a respeito daquele tema, poderiam receber esclarecimentos feitos com base nas verificações já publicadas.

Comprova não ‘filtra’ informações

No vídeo, Marcos do Val afirma a existência de uma “coalizão para checagem de fatos, filtrando informações que deveriam chegar ao público”, tendo por trás a Abraji. Apesar de não citar nominalmente o Comprova, é ao projeto de checagem de fatos liderado pela Abraji que ele se refere.

O Projeto Comprova, porém, não “filtra”, censura ou tira de circulação conteúdos que estão disponíveis na internet. Como descrito no site da iniciativa, o Comprova monitora as redes sociais e recebe de seus leitores sugestões de conteúdos suspeitos ou duvidosos. Aqueles que têm mais viralização são investigados e uma verificação é publicada, com uma de quatro etiquetas possíveis: Enganoso, Falso, Comprovado ou Sátira.

Esse conteúdo com os esclarecimentos é publicado no site do Comprova e pode ser republicado por qualquer veículo de imprensa.

Verbas da USAID

Como consta no site do Comprova, o projeto foi idealizado e desenvolvido pelo First Draft com a colaboração da Abraji, do Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor), do Google News Initiative e do Meta Journalism Project, e teve início em 2018. Não há, portanto, participação da USAID ou do TSE na fundação do Comprova.

Também não há qualquer envolvimento da USAID ou do TSE no financiamento do Comprova. Até 2024, o Google foi o patrocinador master do projeto, que ainda recebeu recursos da Meta e do WhatsApp.

Ao longo dos anos, o projeto recebeu outros aportes financeiros, dentre eles o da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil – e não da USAID, que é um outro órgão do governo norte-americano. Eles serviram para financiar os projetos +Comunidades, em 2020, no governo de Donald Trump, e +Redações, em 2022, no mandato de Joe Biden. A existência das duas iniciativas, bem como a origem de seu financiamento, é pública.

Os dados sobre os programas de financiamento da USAID estão disponíveis para consulta na internet no portal ForeignAssistance.gov, do governo norte-americano. Conforme o portal, não há qualquer financiamento para o Comprova, a Abraji, agências de checagens ou veículos jornalísticos nos anos de 2022, 2023 e 2024.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já desmentiu outras alegações de Marcos do Val, quando mostrou que Trump não pode prender Alexandre de Moraes e que falas antigas de Drauzio Varella foram usadas para minimizar a gravidade da pandemia de covid-19. Sobre a USAID, o Comprova mostrou recentemente que é falso que a Agência Lupa foi financiada pela USAID para interferir nas eleições de 2022, que imagem de Alexandre de Moraes com boné da USAID foi gerada por IA, que post alega sem apresentar provas que a covid-19 foi criada em laboratório por ordem de Obama e que vídeo é tirado de contexto para dizer que trechos da Bíblia serão banidos das redes sociais.

Eleições

Investigado por: 2025-02-14

É falso que Agência Lupa foi financiada pela USAID para interferir nas eleições de 2022

  • Falso
Falso
Não há provas de que a Agência Lupa, iniciativa dedicada à checagem de fatos, esteja “envolvida em ações patrocinadas pela USAID", como afirmou no Instagram uma vereadora de Porto Alegre. No portal que registra os financiamentos externos da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) não consta nenhum repasse à Lupa nos anos de 2022, 2023 e 2024.

Conteúdo investigado: Vídeo da vereadora de Porto Alegre Fernanda Barth (PL) afirma que a Agência Lupa estava envolvida em campanhas de financiamento da USAID contra a desinformação em período eleitoral com o objetivo de “calar tudo aquilo que eles não concordam”.

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: Não existem provas de que a Agência Lupa tenha sido financiada pela Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (USAID), como argumenta Fernanda Barth (PL), vereadora em Porto Alegre. Em um post, ela afirmou que a “Agência Lupa é uma das que encontramos envolvidas em ações patrocinadas pela USAID”, mas não apresentou provas.

As alegações de Barth repercutem declarações de Mike Benz, ex-funcionário do departamento de Estado dos EUA, de que a USAID financiou iniciativas de combate à desinformação globalmente com o intuito de conter governos populistas de direita. Benz afirmou que, no Brasil, caso a USAID não existisse, Bolsonaro teria sido eleito presidente em 2022. Ele não apresentou provas que sustentem suas alegações.

Os dados sobre os programas de financiamento da USAID estão disponíveis para consulta na internet no portal ForeignAssistance.gov, do governo norte-americano. O Comprova consultou os valores relacionados ao Brasil nos anos de 2022, 2023 e 2024. Não há qualquer financiamento para a Agência Lupa, agências de checagens ou veículos jornalísticos. Ao Comprova, a Lupa negou ter recebido fundos direta ou indiretamente da USAID.

Procurada, Fernanda Barth negou, por meio de seu advogado, ter partido dela a afirmação de que a Agência Lupa recebeu qualquer valor diretamente da USAID. Segundo ela, a “manifestação se baseia em informações públicas e declarações de parlamentares que já alertaram sobre a atuação da USAID no financiamento de projetos alinhados a determinadas agendas políticas.”

O Comprova informou à vereadora não ter encontrado no site ForeignAssistance.gov nenhuma menção à Lupa. Em resposta, Barth disse que a afirmação categórica de que a Agência Lupa não recebeu recursos da USAID sem que tenha sido realizada uma auditoria externa e isenta de suas contas, configura “uma publicação sem provas concretas”. Ela acrescentou que “a mera negativa por parte das instituições não comprova que esses recursos nunca foram recebidos direta ou indiretamente”.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 14, o vídeo da vereadora havia alcançado mais de 2,5 mil curtidas no Instagram. 

Fontes que consultamos: O Comprova assistiu à entrevista de Mike Benz, consultou suas redes sociais e reportagens da imprensa brasileira e internacional que repercutiram suas alegações. Foram feitas consultas ao portal que registra os financiamentos da USAID e ao site do ICFJ e Agência Lupa. A reportagem fez contato com a Lupa, o ICFJ, a vereadora Fernanda Barth e o deputado Eduardo Bolsonaro.

O ICFJ e o papel de Eduardo Bolsonaro

A suposta ligação entre a USAID e a Agência Lupa foi citada em um post publicado no X pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em 4 de fevereiro, três dias antes da publicação de Fernanda Barth. A postagem de Eduardo Bolsonaro alcançou mais de 435 mil visualizações e oito mil compartilhamentos.

No post, ele afirma, sem provas, que a USAID “tem financiado ONGs, veículos de mídia e movimentos políticos com o objetivo de moldar narrativas e interferir na democracia brasileira.” Eduardo Bolsonaro também afirma que o Centro Internacional para Jornalistas, uma organização sem fins lucrativos baseada em Washington e conhecida pela sigla em inglês ICFJ, intermediou recursos da USAID para a Lupa “sustentar a narrativa oficial sobre os eventos de 8 de janeiro de 2023”. Não constam na postagem evidências dessa acusação.

Em 2023, um projeto da Agência Lupa chamado “Lupa nos Golpistas” esteve entre os nove selecionados para uma iniciativa do ICFJ chamada Jogo Limpo 2.0. A iniciativa ofereceu financiamento e mentorias e, como consta no site do ICFJ, foi integralmente financiado pelo YouTube Brasil e não pela USAID.

O projeto se dedicou a mapear publicações falsas que levaram cidadãos brasileiros a participar dos atos antidemocráticos em Brasília em 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes pró-Bolsonaro depredaram a sede dos Três Poderes.

O projeto “Lupa nos Golpistas” resultou em um minidocumentário que, segundo consta no site da Agência Lupa, foi realizado com apoio da Fundação Heinrich Böl, uma organização sem fins lucrativos baseada na Alemanha, e do programa Jogo Limpo 2.0, do ICFJ. Procurada, a Fundação Heinrich Böll afirmou que “não recebe nenhum recurso da USAID e também não funciona como intermediária de repasse para nenhum de seus parceiros”.

O Comprova informou a Fernanda Barth que a Agência Lupa negou, em nota, ter recebido financiamento direto da USAID ou via ICFJ. Em resposta, a vereadora afirmou que “a existência do ICFJ é financiada pela USAID” e que “é inegável que há um fluxo financeiro entre a USAID e o ICFJ”.

Como afirmou Fernanda Barth ao Comprova, o nome da USAID de fato consta na página “Amigos e Apoiadores 2024” no site do ICFJ. Ele aparece ao lado de mais de 50 entidades públicas e privadas, incluindo outras cinco agências governamentais – o Departamento de Estado dos EUA, três embaixadas norte-americanas e o Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido.

Ao Comprova, o ICFJ afirmou que “já recebeu recursos da USAID antes” e que eles foram “concessões de subsídios para executar programas específicos em países específicos”, mas disse que “nunca recebeu financiamento da USAID para nenhum projeto no Brasil” e que “não financiou a Agência Lupa com nenhum recurso da USAID”.

Além disso, a entidade afirmou que nunca “recebeu fundos da USAID para operações gerais ou financiamento institucional.”

Suposto dossiê

A vereadora Fernanda Barth também afirma, no vídeo, que a Agência Lupa fez um dossiê de 10 páginas contra ela, o que teria resultado no bloqueio de seu perfil no Instagram. A Agência Lupa negou, respondendo que, sobre ela, produziu a seguinte checagem: Vereadora de Porto Alegre usa informações falsas para criticar vacina em vídeo viral.

“Não fizemos nenhum tipo de dossiê sobre a vereadora, mas checamos essa manifestação dela, assim como checamos um sem número de manifestações públicas de outros ocupantes de cargos eletivos sobre os mais variados temas”, disse a Lupa.

Uma busca por outras checagens da agência mostra que Fernanda Barth aparece citada em uma outra checagem, mas não como a responsável pela alegação checada. O texto, de 2020, mostra que é falso que a então candidata à Prefeitura de Porto Alegre Manuela D’Ávila publicou propaganda de campanha com foice e martelo de brinquedo para festejar o Dia das Crianças.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Aos Fatos concluiu que a denúncia sobre atuação da USAID contra Jair Bolsonaro é baseada em desinformação. Recentemente, o Comprova mostrou que imagem de Alexandre de Moraes com boné da USAID foi gerada por IA, que post alega sem apresentar provas que a covid-19 foi criada em laboratório por ordem de Obama e que vídeo é tirado de contexto para dizer que trechos da Bíblia serão banidos das redes sociais. As duas últimas checagens também mencionam a USAID.

Notas da comunidade: Até o fechamento deste texto não havia “notas da comunidade” nas postagens no X de Eduardo Bolsonaro e de Mike Benz com sua entrevista a Steve Bannon.

Política

Investigado por: 2025-02-13

Vídeo de homem falando em ‘abraçar o capeta’ é de programa humorístico, não de ministro de Lula

  • Enganoso
Enganoso
Um post engana ao dizer que um ministro do governo Lula (PT) teria ofendido os brasileiros e proposto uma “aliança com o capeta”. A publicação usa vídeo do Porta dos Fundos, produtora de vídeos de humor. A gravação é protagonizada pelos atores Luis Lobianco e Fabio Porchat e uma rápida busca no Google mostrou tratar-se da esquete “Aliança com o Demo”, publicada em 2022.

Conteúdo investigado: Post com vídeo em que um homem fala sobre política, pergunta se “a solução não é a gente abraçar o capeta?” e propõe um governo satanista, que substitua a bíblia pela constituição. A legenda afirma: “Ouça o que o ministro do Lula disse sobre a família brasileira. Você e eu pagamos o salário pra esse cara ir a público dizer isso, veja só. Ele mandou a família brasileira ir a… Isso é postura de ministro?”.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: É enganoso que um homem que faz declarações sugerindo “abraçar o capeta” em um vídeo compartilhado nas redes sociais seja ministro do governo Lula. Ele é, na verdade, o ator e comediante Luis Lobianco. Ao lado do também ator Fabio Porchat, os dois interpretam personagens fictícios em um quadro de humor do canal Porta dos Fundos.

O vídeo utilizado pela postagem com informação falsa reuniu recortes do episódio “Aliança com o demo”, publicado no YouTube no dia 15 de setembro de 2022, às vésperas das eleições presidenciais. Lobianco interpreta o personagem Sérgio Góes, um candidato a presidente do Brasil que é entrevistado por Edson, personagem de Porchat.

Além de Lobianco não ocupar cargo de ministro no governo, não há nenhuma menção em sites de notícias de que algum ministro de Lula tenha feito alguma declaração parecida.

Apesar de muitas pessoas terem deixado comentários dizendo se tratar de um vídeo de humor, houve quem acreditasse no conteúdo. “A própria palavra de Cristo diz que não devemos dar créditos a essa gentalha que fala de Deus honrando com os lábios, mas suas ações e atitudes são completamente inversas” e “É um canalha satânico, que quer impor a satanice dele no Brasil, vai pro inferno Satanás” foram alguns dos comentários feitos no post.

No vídeo publicado no X, aparece uma marca d’água de um canal na rede de vídeos Kwai. O Comprova encontrou a página original que, apesar de ter recebido mais de 350 mil curtidas, está vazia, o que sugere que o canal tenha apagado as suas publicações.

A reportagem tentou contato com o perfil que publicou o post, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 13 de fevereiro, o post tinha sido visualizado mais de 3,6 mil vezes.

Fontes que consultamos: Pesquisa no Google a partir da identificação de Lobianco e Porchat.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O conteúdo enganoso já foi checado pelo UOL Confere, G1, Agência Lupa e Boatos.org. O Comprova também já checou que ”advogado do PT” em vídeo do Kwai é personagem de humor, vídeo satírico de Lula pedindo votos para Bolsonaro em 2026 foi gerado por IA e que entrevista sobre voto foi feita por humorista, não pelo Datafolha.

Notas da comunidade: Até a publicação desta verificação, o X não havia acrescentado notas da comunidade à postagem em questão.

Política

Investigado por: 2025-02-12

Vídeo é tirado de contexto para dizer que trechos da bíblia serão banidos de redes sociais

  • Enganoso
Enganoso
Post retira de contexto trecho de um vídeo antigo em que a jornalista Daniela Lima, então âncora na CNN Brasil, comentava uma postagem publicada pelo ex-deputado federal Deltan Dallagnol. A edição do vídeo faz parecer que era da jornalista e não do deputado a alegação de que trechos da bíblia serão proibidos porque podem ser interpretados como discurso de ódio.

Conteúdo investigado: Post com vídeo da jornalista Daniela Lima, no programa CNN 360º, dizendo que trechos da bíblia serão proibidos porque podem ser interpretados como discurso de ódio. Sobre a imagem, é aplicado o texto “Exemplo de discurso e pessoa recrutada pela USAID para propagar mentiras e defender a censura da direita no Brasil”.

Onde foi publicado: Instagram, X e Facebook.

Conclusão do Comprova: É enganoso um post nas redes sociais que retira de contexto o trecho de um vídeo com comentário feito pela jornalista Daniela Lima para atribuir a ela uma fala que, na verdade, é do ex-deputado federal Deltan Dallagnol, no contexto da discussão do Projeto de Lei 2630/2020, o PL das Fakes News.

O trecho em questão foi retirado de uma fala de Daniela no programa CNN 360° veiculado no dia 1º de maio de 2023. No vídeo, a partir dos 58 minutos e 28 segundos, ela comenta sobre um pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a favor do fim da desinformação. Na sequência, a jornalista discorre sobre a pressão das big techs e dos setores conservadores do Congresso Nacional contra o Projeto de Lei, que atualmente está travado no legislativo, e sobre a desinformação que estava sendo propagada a fim de posicionar critãos contra o texto.

A partir de uma hora, dois minutos e 22 segundos, Daniela expõe a pressão dos parlamentares evangélicos para o não andamento do projeto e diz que vai citar um político que pautou uma grande discussão na semana anterior. Então, emenda: “Ele disse: trechos da bíblia serão proibidos de circular porque podem ser interpretados como discurso de ódio. Trechos que falam contra a população LGBTQIA+. E se você repetir, na rua, o que ele tá querendo que você possa dizer na internet, você pode ser indiciado por homofobia. Que prega a submissão da mulher ao seu marido. Oi? Século 21. Eu pago as contas da minha casa.” Na época, a fala de Dallagnol gerou repercussão e chegou a ser desmentida pelo Comprova.

Nesta semana, o vídeo voltou a circular nas redes sociais do verador Carlos Bolsonaro (PL-RJ).. Na publicação, ele escreve que a fala da jornalista é “um exemplo de discurso e pessoa recrutada pelo USAID [Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional] para propagar mentiras e defender a censura da direita no Brasil”.

Recentemente, a USAID, responsável por 40% dos programas de ajuda humanitária do mundo, tem sido alvo de ataques do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e do bilionário Elon Musk. No Brasil, a Agência também tem sido alvo de desinformação.

O Comprova entrou em contato com o gabinete do vereador Carlos Bolsonaro por e-mail, mas até a publicação deste texto, não houve resposta.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Carlos Bolsonaro tem 3,2 milhões de seguidores no Instagram e a publicação em questão já possuía 9,7 mil comentários até o dia 12 de fevereiro. No Facebook, o post acumula 1,2 mil compartilhamentos. No X, o vídeo alcançou mais de 100 mil visualizações e 6 mil curtidas.

Fontes que consultamos: O Comprova consultou o vídeo completo do programa CNN 360º veiculado no dia 1º de maio de 2023 e disponível no YouTube. Além disso, buscou as versões dos textos do PL 2630/2020 a fim de averiguar o que estava descrito na proposta sobre manifestações religiosas.

Desinformação propagada por ex-deputado

Em abril de 2023, a informação de que trechos da bíblia seriam banidos das redes sociais começou a circular na internet por meio de publicações do então deputado federal Deltan Dallagnol. No X, Facebook e Telegram, a mensagem ganhou repercussão diante do debate sobre o PL 2630/2020.

Dallagnol alegava que, caso aprovado, o PL das Fake News seria responsável por censurar a fé. Em posts alarmistas, ele convocava cristãos a impedir a votação do projeto na Câmara dos Deputados. Mas na realidade o texto deixava claro que manifestações religiosas não seriam impactadas pela legislação.

O artigo 6º do texto inicial previa que não seriam restritas manifestações artísticas, intelectuais ou de conteúdo satírico, religioso, político, ficcional ou literário. A última versão do PL, entregue pelo relator Orlando Silva (PCdoB-SP) ainda no mês de abril, também não citava a proibição de trechos bíblicos.

À época, o relator chegou a anunciar mudanças no texto para deixar ainda mais explícito que o PL não tinha a intenção de vedar citações da bíblia. Nas redes sociais, Orlando Silva publicou um vídeo gravado com a presença do deputado Cezinha da Madureira (PSD-SP), ex-coordenador da Frente Parlamentar Evangélica, para esclarecer que o projeto não pretendia censurar a prática religiosa.

Um ano depois, em abril de 2024, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), anunciou o engavetamento do PL 2630/2020. Na ocasião, ele também divulgou que seria criado um grupo de trabalho para debater um novo projeto de regulamentação das redes sociais no Brasil.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Estadão já verificou que houve manipulação no vídeo em que a jornalista Daniela Lima aparece comentando sobre o PL das Fake News. O Comprova desmentiu o boato de que o Projeto de Lei iria proibir versículos bíblicos nas redes sociais e também mostrou que é falsa uma imagem que circula pela internet do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, com o boné da Agência.

Notas da comunidade: Até a publicação desta verificação, o X não havia acrescentado notas da comunidade à postagem em questão.

Política

Investigado por: 2025-02-07

Imagem de Alexandre de Moraes com boné da USAID foi gerada por IA

  • Falso
Falso
É falsa a imagem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes usando um boné com o logo da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). O conteúdo foi gerado por meio de inteligência artificial, o que é possível constatar pela presença da marca d’água do Grok, chatbot de IA do X. Além disso, a mídia contém erros característicos da tecnologia, como letras ilegíveis e distorções na imagem.

Conteúdo investigado: Postagem compartilha uma imagem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), usando um boné com o logo da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês). “Agora tudo está claro”, afirma a legenda.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: É falsa a imagem que mostra Alexandre de Moraes vestindo um boné da USAID, organização de ajuda humanitária dos Estados Unidos. É possível identificar no conteúdo uma marca d’água do Grok, chatbot de inteligência artificial do X, o que indica que a mídia foi criada digitalmente.

Além da indicação da ferramenta, a imagem tem erros característicos de conteúdos criados por IA. No logo da USAID, por exemplo, as letras que deveriam formar “United States Agency International Development” estão ilegíveis. Há, ainda, distorções no rosto: o lábio inferior está torto e a ponta no nariz, borrada. A ferramenta Hive Moderation, que afirma detectar o uso de IA em mídias, concluiu que há 99,7% de chance de a imagem ter sido gerada pela tecnologia.

I Legenda: Hive Moderation concluiu que a mídia tem 99.7% de chance de ter sido criada por IA I

I Legenda: Além da marca d’água, elementos distorcidos, como o lábio inferior e a ponta do nariz, indicam que o conteúdo foi criado por meio de IA I

A figura foi criada em meio aos ataques do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e do bilionário Elon Musk à USAID, agência responsável por 40% dos programas de ajuda humanitária do mundo. A crise foi iniciada quando dois altos funcionários da USAID recusaram acesso a documentos confidenciais a representantes do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), chefiado por Musk. Eles foram colocados em licença forçada pelo governo após o episódio.

Neste domingo, 2, Musk chamou a organização de “criminosa” em uma postagem no X. No mesmo dia, em uma coletiva de imprensa, Trump disse que a agência é “administrada por lunáticos radicais de esquerda e vamos tirá-los de lá”.

A partir das 23h59 desta sexta-feira, 7, horário de Washington, todos os funcionários não essenciais da agência serão colocados em licença de forma indefinida. A informação foi publicada no site da USAID.

O autor da postagem falsa foi procurado por mensagem direta no X, mas não retornou até o encerramento desta checagem.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No X, a postagem acumula mais de 89,5 mil visualizações, mil compartilhamentos e 8 mil curtidas.

Fontes que consultamos: O primeiro indício de que a imagem foi criada por IA é a marca d’água presente no conteúdo. Algumas ferramentas de geração de imagens, como é o caso do Grok, apresentam uma identificação para sinalizar que aquele conteúdo foi gerado por IA, o que auxilia a não cair em desinformação. Além disso, consultamos o Hive Moderation, que afirma detectar o uso de IA, e fizemos buscas no Google.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente, o Comprova checou outras peças que foram criadas por meio de inteligência artificial. Uma das verificações mostra, por exemplo, que um vídeo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pedindo votos para Jair Bolsonaro (PL) em 2026 foi gerado por meio da tecnologia. Outra mídia, uma imagem de Trump ao lado de cadeira com nome de Bolsonaro, também foi desmentida após a detecção do uso de IA.

Notas da comunidade: Até o encerramento desta checagem, o X não havia acrescentado notas da comunidade à postagem verificada.

Política

Investigado por: 2025-02-06

Mulher foi expulsa de avião por se negar a despachar bagagem, não por discussão política

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso que uma “passageira petista” teria sido expulsa de avião pela Polícia Militar de Goiás após discutir e bater em comissária de bordo que se recusara a pedir para pararem de cantar “música de Jair Bolsonaro”. Como verificado a partir de uma busca reversa, o vídeo é de 2018 e mostra uma mulher sendo levada pela PM por se recusar a despachar bagagem de mão.

Conteúdo investigado: Post em vídeo mostra confusão dentro de aeronave e policiais militares retirando uma criança e uma mulher que estavam sentadas. A legenda diz que “passageira petista teria ficado indignada porque os passageiros estavam cantando música do Bolsonaro” e discutido e batido em aeromoça que teria se negado a pedir para as pessoas pararem de cantar. “O comandante, então, prudentemente, se recusa a decolar com a passageira petista a bordo e aciona a polícia Militar do Estado de Goiás, que brilhantemente entra na aeronave…e coloca esse verme para fora”, continua a legenda.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Um post viral engana ao dizer que uma passageira foi expulsa de avião pela Polícia Militar de Goiás por discutir e dar tapa em comissária de bordo que não pediu para que outros passageiros parassem de cantar música em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O vídeo usado no post é verdadeiro, como foi possível verificar em uma busca reversa, que permite encontrar outras imagens semelhantes, mas não mostra a situação descrita no post.

Como mostra reportagem do Bom Dia GO, da Globo, o caso aconteceu em 4 de outubro de 2018 e o motivo da expulsão do voo, que ia de Goiânia para São Paulo, foi porque a passageira “teria se recusado a despachar bagagem e insultado comissários e passageiros”. O vídeo começou a circular como conteúdo de desinformação naquela época mesmo, período de eleição para presidente.

O Comprova tentou contato com a autora do post enganoso, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O post foi visualizado mais de 788,9 mil vezes no X até 6 de janeiro.

Fontes que consultamos: Reportagens e verificações sobre a expulsão da passageira.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Lupa, Estadão Verifica e AFP Checamos já verificaram posts que usaram o vídeo para dizer que a expulsão foi por questão eleitoral. Em 2021, a AFP voltou a checar o vídeo, mas em um outro contexto de desinformação, dessa vez em um post que alegava falsamente que a passageira estaria sendo presa por desvio de verbas públicas.

O Comprova já investigou outros vídeos tirados de contexto, como o post que acusa erroneamente o governo Lula (PT) de querer dar comida estragada para a população e o que descontextualiza imagens para mentir sobre desapropriações no Amazonas e no Pará.

Notas da comunidade: O X exibe notas da comunidade para o post investigado. Nelas, o X afirma: “Informação falsa. A mulher em questão foi retirada da aeronave por causar tumulto por não querer despachar a bagagem”, o que coincide com a verificação do Comprova. Nas notas, a rede social oferece dois links, um para o Terra e outro para o Estadão Verifica.

Política

Investigado por: 2025-02-03

Vídeo é tirado de contexto para acusar governo Lula de querer dar comida estragada à população

  • Enganoso
Enganoso
Vídeo recorta e retira de contexto a fala de uma analista política da CNN para dar a entender que o presidente Lula pretende dar comida estragada à população. Ao acessar a íntegra da análise, o Comprova verificou que ela, na verdade, fala sobre como o assunto em torno das medidas para redução do preço dos alimentos do governo federal está virando alvo de desinformação.

Conteúdo investigado: Vídeo mostra trecho de um comentário da analista política Clarissa Oliveira, da CNN, em transmissão da emissora. O post aplica acima do vídeo o texto: “Governo Lula vai oferecer comida vencida para deixar os alimentos mais baratos”. Há a marca d’água “JMNotícias” sobreposto à imagem e na descrição do post está escrito “#patriotas”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É enganoso o vídeo que circula nas redes sociais com um recorte descontextualizado da fala da analista de política da CNN Clarissa Oliveira, que dá a entender que ela afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer dar alimentos estragados para a população. Na realidade, ao longo dos 3 minutos que compõem a análise completa, ela fala sobre como o assunto em torno das medidas para redução do preço dos alimentos do governo federal está virando alvo de desinformação.

No trecho que viralizou no TikTok, foi recortado apenas um minuto da fala da analista política. A versão original e completa está disponível no YouTube da CNN.

“O governo do presidente Lula está num momento muito delicado em termos de popularidade. Acabou de vir de uma crise de comunicação bastante intensa com o Pix. A disseminação de notícias falsas a respeito do Pix foi uma arma usada com muita eficiência pela oposição ao presidente Lula. […] Se começa a se formar uma nova onda: ‘Olha, o presidente Lula quer dar comida estragada para quem quer comprar alimento mais barato”, diz Clarissa Oliveira em um trecho da transmissão.

O assunto veio à tona no dia 22 de janeiro, após o ministro da Casa Civil, Rui Costa, conceder uma entrevista ao programa ‘Bom Dia Ministro’ e falar sobre “intervenção” no preço dos alimentos.

O ministro esclareceu que não haverá intervenção governamental para forçar de modo artificial a queda dos preços dos alimentos e que não cogita alterar a regra do prazo de validade dos alimentos, nem a venda de alimentos fora do prazo de validade como medida para reduzir os preços.

“O presidente Lula se reuniu com as entidades atacadistas de supermercado no final do ano passado e elas apresentaram um conjunto de sugestões, foram várias. A venda de produtos com validade vencida não é a cultura, nem a prática do Brasil. Para alimentos, para uso pessoal, eu acho que não faz parte da nossa cultura isso e não está no nosso cenário adotar essa medida”, esclareceu Costa em entrevista à CNN, no mesmo dia 22.

A sugestão feita pelas entidades atacadistas, conforme descrito em nota publicada pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), publicada no mesmo dia 22, também não era de vender produtos estragados. A proposta feita ao governo foi a de reestruturar o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), por meio do PAT e-social, com apoio da Caixa Econômica Federal. O que, conforme descrito pela associação, poderia “gerar economia da ordem de R$ 10 bilhões anuais, a venda de remédios sem receita nos supermercados, que pode reduzir os preços em 35%, a modernização do sistema de prazos de validade, o chamado Best Before, e a redução do prazo de reembolso dos cartões de crédito.”

Best Before é um conceito utilizado por países como os Estados Unidos e Canadá, que vai além do sistema de prazo de validade utilizado no Brasil. No caso do Best Before, como explicado pela própria Abras, é indicado um prazo mínimo em que o produto deve manter todas suas características. Porém, após essa data, ele não necessariamente é visto como “estragado”, e precisa ser descartado. Neste método, é avaliado que o alimento se mantém próprio para o consumo enquanto continuar com suas características iniciais.

O Comprova entrou em contato com o perfil que compartilhou o vídeo. A responsável pela publicação respondeu que não tinha conhecimento de que era um recorte descontextualizado e, em seguida, deletou o vídeo da plataforma.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. A publicação teve mais de 57,6 mil curtidas, 6,3 mil comentários e 15 mil compartilhamentos até o dia 30 de janeiro.

Fontes que consultamos: Pesquisas no Google, no YouTube e em publicações da imprensa sobre o tema.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Estadão Verifica e o Aos Fatos também fizeram verificações sobre o assunto, indicando que a informação é enganosa. O Comprova também já verificou outras peças de desinformação sobre economia no governo Lula, como sobre um vídeo de mulheres criticando o preço dos alimentos que, na verdade, é de de 2022, no governo Bolsonaro e um post falso que afirma que Lula vai reduzir o salário mínimo em 2025.

Contextualizando

Investigado por: 2025-01-31

Posse de Trump: só após 90 dias será possível saber se parlamentares usaram dinheiro público

  • Contextualizando
Contextualizando
O Comprova não encontrou registro de uso de verbas públicas para a viagem aos Estados Unidos de 21 deputados e um senador para a posse de Donald Trump em 20 de janeiro. Os parlamentares têm prazo de 90 dias para solicitar reembolso. Entenda o caso.

Conteúdo investigado: Posts que afirmam que parlamentares bolsonaristas viajaram aos Estados Unidos para acompanhar a posse de Donald Trump utilizando dinheiro público para pedir sanções contra o Brasil.

Onde foi publicado: X.

Contextualizando: No dia 20 de janeiro de 2025, quando o republicano Donald Trump tomou posse para seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, alguns parlamentares bolsonaristas brasileiros estiveram em Washington para acompanhar a posse. A comitiva contou com pelo menos 21 deputados federais e um senador. Nas redes sociais, publicações alegam que o grupo utilizou dinheiro público para realizar a viagem.

Embora muitos deles tenham usado as redes sociais para negar o uso de verba pública e para afirmar que viajaram utilizando recursos próprios, ainda não é possível dizer que nenhum dinheiro público será usado para custear pelo menos uma parte das viagens: por enquanto, não há registros de compra de passagens, hospedagem ou outros gastos no exterior com cota parlamentar ou viagem em missão oficial em nome de nenhum dos parlamentares que viajaram aos EUA na ocasião.

O Comprova perguntou à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal se foram utilizados recursos públicos nas viagens dos parlamentares aos Estados Unidos. Por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), a Câmara disse que deputados podem usar recursos da cota parlamentar para cobrir despesas no exterior, desde que receba autorização prévia do terceiro secretário (para passagens) e do presidente da Casa para as demais despesas reembolsáveis, como hospedagem, alimentação, combustível etc.

Por enquanto, a Câmara não tem registros de despesas referentes à posse de Donald Trump, mas é possível pedir o reembolso em até 90 dias após o gasto – ou seja, até abril. Além disso, se tiverem viajado em missão oficial, têm direito a receber diária de viagem no valor de US$ 428 (leia mais abaixo).

O Senado foi questionado sobre a viagem do senador Jorge Seif (PL-SC), que aparece em imagens e postou nas redes sociais que viajou a Washington para a posse. Em nota, o Senado disse que não foram encontradas na base de dados registros de requerimento do senador para realização de viagem aos Estados Unidos este mês, “seja com ou sem ônus para o Senado Federal”. Também não foram emitidas passagens ou pagas diárias internacionais para ele, e não há previsão de reembolso.

O Comprova não conseguiu contato com o autor da publicação.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 31 de janeiro, a publicação alcançou 245 mil visualizações no X.

Fontes que consultamos: Foram acessados os portais da Transparência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, onde buscamos por registros de pagamentos relacionados à cota parlamentar e a viagens oficiais desde a eleição de Donald Trump, em novembro do ano passado, até o dia da posse dele, em 20 de janeiro deste ano.

A Câmara e o Senado também foram procurados diretamente através das assessorias de comunicação – no caso da primeira, foi solicitado ainda o envio de respostas via Lei de Acesso à Informação (LAI). Também foram acessadas as redes sociais dos parlamentares que viajaram a Washington para a posse de Donald Trump, onde foram encontradas publicações que comprovam a ida ao local, e procurados os partidos aos quais eles são filiados.

Quais parlamentares viajaram para a posse de Trump?

Aos menos 21 deputados federais e um senador viajaram aos Estados Unidos para acompanhar a posse de Donald Trump como presidente: os deputados Adilson Barroso (PL-SP), Bia Kicis (PL-DF), Cabo Gilberto Silva (PL-PB), Capitão Alden (PL-BA), Carla Zambelli (PL-SP), Coronel Chrisóstomo (PL-RO), Coronel Fernanda (PL-MT), Coronel Ulysses (União Brasil-AC), Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Giovani Cherini (PL-RS), Joaquim Passarinho (PL-PA), Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP), Marcel van Hattem (Novo-RS), Marcos Pollon (PL-MS), Mário Frias (PL-SP), Maurício do Vôlei (PL-MG), Mauricio Marcon (Podemos-RS), Messias Donato (Republicanos-ES), Nikolas Ferreira (PL-MG), Sargento Gonçalves (PL-RN) e Silvia Waiãpi (PL-AP), além do senador Jorge Seif (PL-SC).

O Comprova encontrou publicações nas redes sociais de todos eles feitas em Washington. Os vídeos e fotos do deputado Nikolas Ferreira foram acessados através das redes sociais da Rádio Itatiaia (1 e 2), de Minas Gerais, estado que ele representa. Uma lista inicial da comitiva contava também com os nomes dos deputados federais Gustavo Gayer (PL-GO) e Sóstenes Cavalcanti, mas não foram encontradas publicações que indiquem que eles estivessem no local.

O senador Eduardo Girão (Novo-CE) não aparece em fotos da posse de Donald Trump, mas esteve presente em outro evento em Washington, quatro dias depois: uma caminhada contra o aborto, no dia 24. O partido Novo informou, por meio da assessoria, que ele custeou a viagem com recursos próprios

As viagens foram pagas com dinheiro público?

Em postagens nas redes sociais, alguns dos parlamentares que viajaram para a posse de Donald Trump negaram o uso de dinheiro público e disseram ter custeado a viagem com recursos próprios, sem uso de verba da Câmara dos Deputados. O Comprova questionou a Câmara sobre o uso de recursos públicos, e pediu uma lista de todos os deputados que viajaram, além dos que receberam autorização para viajar em missão oficial.

A Câmara respondeu, via Lei de Acesso à Informação: “Após consulta aos nossos registros, verificamos que, até o momento, não foram identificadas despesas realizadas com a utilização da CEAP [Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar] relacionadas à referida viagem, em favor dos deputados desta Casa”, mas destacou que eles têm um prazo de 90 dias para pedir reembolso.

Apesar da resposta, não foram informados quais deputados viajaram, nem se eles pediram autorização para seguir em missão oficial. Ao Correio Braziliense, parceiro do Comprova, a Casa disse que 13 deputados receberam autorização para viajar em missão oficial, mas que não arcou com os custos.

Já o Senado foi questionado a respeito da viagem do senador Jorge Seif, e respondeu que “não há registro nas bases de dados do Senado Federal de requerimento de autoria do Senador Jorge Seif para a realização de viagem aos Estados Unidos neste mês de janeiro de 2025, seja com ou sem ônus para o Senado Federal”. Também não foram emitidas passagens ou liberadas diárias internacionais para o senador este ano. Ainda segundo o Senado, “não há previsão normativa para solicitação de ressarcimento de passagens internacionais utilizando cota parlamentar”.

As viagens de deputados federais podem ser pagas com verba pública em duas situações: com o uso de recursos da cota parlamentar ou por meio de diárias pagas para viagens em missão oficial. O valor da cota parlamentar varia de estado para estado porque depende do preço médio das passagens aéreas para Brasília (DF). A maior cota é para os parlamentares do estado de Roraima (R$ 51.406,33). A menor, para os do Distrito Federal (R$ 36.582,46).

Já no caso das viagens oficiais, o deputado tem direito a receber diárias que variam conforme o destino. Segundo o site da Câmara, a diária para viagens nacionais é de R$ 842. Nas internacionais, o parlamentar recebe diária de US$ 391 quando viaja para países da América do Sul e de US$ 428 quando vai para outros países – R$ 2.496,05 na cotação desta sexta-feira, 31.

Os dados disponíveis no site da Câmara referentes a janeiro de 2025 não apontam nenhum gasto da cota parlamentar com passagens ou hospedagem no exterior para os deputados que foram à posse. Também não foram encontrados registros de compra de passagens ou reserva feita ainda nos meses de novembro e dezembro, após o anúncio da vitória do republicano nas eleições dos EUA. Não foi cadastrada nenhuma viagem em missão oficial para os parlamentares citados.

Mas, isso não significa que recursos públicos ainda não possam ser usados. Isso porque, no caso da cota parlamentar, os deputados têm três meses para apresentar recibos e pedir reembolso. “O deputado tem até 90 dias para apresentar a documentação comprobatória do gasto. Os valores das notas fiscais apresentadas dentro desse prazo são debitados da cota do mês a que a despesa se refere”, diz a Câmara. O valor é creditado na conta do deputado, em média, até três dias úteis após a solicitação.

Já no caso das missões oficiais, os deputados têm 15 dias para apresentar relatório sobre as atividades desenvolvidas na viagem. Segundo o site da Câmara, as viagens ao exterior ocorrem “para que deputadas e deputados possam desempenhar missões junto a governos estrangeiros e a entidades internacionais, como a Organização dos Estados Americanos e a Organização das Nações Unidas”.

O Comprova questionou aos partidos políticos aos quais os parlamentares são filiados se eles financiaram a ida dos deputados aos EUA e se houve uso de recursos públicos, como verba do fundo partidário, por exemplo. O Podemos disse que apenas o deputado Maurício Marcon viajou e que ele “foi com recursos próprios”. O mesmo disse o Novo: apenas o deputado Marcel van Hattem viajou e usou verba própria: “Não houve dinheiro público custeando”, disse o partido.

O União Brasil também foi questionado sobre o uso de verba pública, mas respondeu, em nota, que “o partido não disponibilizou essa informação”. O PL e o Republicanos foram procurados: o PL sugeriu que fossem acionadas as equipes de cada parlamentar, e o Republicanos não respondeu.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou que uma imagem de Donald Trump ao lado de cadeira com o nome de Jair Bolsonaro foi criada com inteligência artificial, que um perfil de humor enganou ao comparar as posses de Lula e Trump com fotos de outros eventos e que um vídeo satírico de Lula pedindo votos para Bolsonaro em 2026 foi feito com IA.

Notas da comunidade: O X não liberou notas da comunidade para o post investigado até a publicação desta verificação.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2025-01-30

Vídeo engana ao afirmar que ministério teria entregue gestão de terras indígenas para empresa

  • Enganoso
Enganoso
Vídeo de ex-candidato à presidência em 2022 distorce as informações de um protocolo de intenções assinado entre a Ambipar, multinacional brasileira especializada em soluções ambientais, e o Ministério dos Povos Indígenas durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. O autor do conteúdo engana ao dizer que a pasta teria entregue 14% do território nacional, que seriam as terras indígenas demarcadas, para a empresa administrar. Na realidade, o acordo visa fortalecer a gestão territorial indígena por meio de ações focadas no desenvolvimento sustentável e na prevenção de emergências climáticas. A iniciativa irá abranger quase 1 milhão de quilômetros quadrados de territórios indígenas, o que representa 14% do território nacional.

Conteúdo investigado: Vídeo gravado pelo monsenhor Kelmon, conhecido como Padre Kelmon, que foi candidato à Presidência da República em 2022 pelo PTB, atualmente filiado ao PL, no qual ele afirma que o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) teria entregado a gestão de 14% do território nacional, onde estão terras indígenas demarcadas, a uma empresa. A suposta concessão ao setor privado teria ocorrido durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Kelmon argumenta que a transferência da administração representaria uma ameaça à soberania nacional, pois mais de um milhão de quilômetros quadrados de territórios indígenas passariam a ser controlados por uma empresa privada.

Onde foi publicado: Instagram e Facebook.

Conclusão do Comprova: Não é verdade que a pasta comandada pela ministra Sonia Guajajara tenha transferido a gestão de 14% do território nacional para uma empresa. Padre Kelmon, autor do vídeo verificado, distorce o objetivo de um protocolo de intenções assinado pelo secretário-executivo do MPI, Eloy Terena, com a Ambipar, uma multinacional brasileira especializada em soluções ambientais. O acordo, firmado durante o Fórum Econômico Mundial — realizado nos dias 20 e 24 deste mês, prevê iniciativas para fortalecer a gestão territorial indígena com ações voltadas ao desenvolvimento sustentável e à prevenção a emergências climáticas.

Em nota publicada no domingo, 26, o ministério desmentiu alegações de que o protocolo assinado com a Ambipar seria uma transferência de gestão de terras indígenas para a iniciativa privada. Segundo a pasta, a parceria “estabelece um compromisso preliminar sem transferência de qualquer verba ou de responsabilidade do Poder Público”. A assinatura faz parte da ampliação de diálogos que o órgão se propõe a promover com diferentes setores da sociedade civil voltados para a proteção dos direitos dos povos indígenas para além do poder público.

De acordo com uma postagem da multinacional sobre a parceria, a iniciativa vai beneficiar quase 1 milhão de quilômetros quadrados de terras indígenas. Segundo a Funai, as terras indígenas no Brasil ocupam cerca de 14% do território nacional, o equivalente a 1,2 milhão de quilômetros quadrados. Para qualificar e fortalecer esses territórios, segundo o MPI, estão previstas as seguintes ações:

  • Projetos de conservação e recuperação ambiental;
  • Promoção da economia circular;
  • Gestão, destinação e disposição de resíduos sólidos;
  • Suporte técnico para prevenção e respostas a eventos extremos, como incêndios e enchentes;
  • Reflorestamento de áreas desmatadas e desenvolvimento de projetos de bioeconomia e serviços ecossistêmicos.

Ao contrário do que é dito na peça aqui verificada, o acordo com a Ambipar não ameaça a soberania do país, uma vez que a Constituição Federal prevê, no parágrafo 4º do artigo 231, que “as terras indígenas são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis”, ou seja, não podem ser vendidas e os direitos sobre elas não se perdem com o tempo.

O que é um protocolo de intenções?

Alvo de desinformação nas redes sociais, o protocolo de intenções consiste em um instrumento jurídico que estabelece vínculo cooperativo ou de parceria entre entes públicos com interesses recíprocos. Ao Comprova, o advogado mestre em Direito Administrativo Marcos Jorge explicou que o protocolo pode formalizar essa relação tanto entre entes públicos quanto entre entes públicos e particulares, a fim de realizar um propósito comum.

No caso da Ambipar, Jorge comentou que o protocolo serve para definir quais interesses o ministério e a empresa irão defender em conjunto. “Esses interesses não são interesses da empresa. Sempre que o poder público estiver presente, o que tem que ser atendido é o interesse público”, pontuou. Segundo o advogado, o instrumento resguarda o interesse dos povos indígenas e não tem relação com a concessão de terra pública ou indígena para o setor privado.

“Nesse caso concreto, a gente não tem a concessão, pois não se transfere a terra para a Ambipar administrar, como em uma concessão se transferiria. Apenas define que em um milhão de quilômetros quadrados de territórios indígenas, a Ambipar irá fomentar e apoiar a gestão territorial indígena”, disse Jorge.

O Comprova entrou em contato com o monsenhor Kelmon pelo Instagram, mas não obteve retorno até a publicação desta verificação.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 30 de janeiro, o vídeo alcançou 584 mil visualizações e obteve mais de 17 mil compartilhamentos no Instagram. No Facebook, o conteúdo recebeu mais de 52 mil curtidas e foi compartilhado mais de nove mil vezes.

Fontes que consultamos: Matérias publicadas pela imprensa sobre a parceria, um advogado mestre em direito administrativo, Constituição Federal e o site do Ministério dos Povos Indígenas.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Notícias sobre territórios indígenas costumam ser alvo de desinformação nas redes sociais. Em diversas situações, o Comprova desmentiu e contextualizou informações equivocadas envolvendo esses territórios, como no caso da Terra Indígena (TI) Apyterewa, em São Félix do Xingu (PA), onde uma ação de desintrusão retirou não indígenas que ocupavam a área irregularmente. Também foi esclarecido que a remoção de agricultores das regiões de Raposa Serra do Sol (RR) e Suiá Missú (MT) não foi uma decisão de Lula. Além disso, foi desmentida a suposta relação entre o aumento do preço do arroz e a demarcação de terra indígena em Roraima, assim como a alegação de que terras indígenas em Rondônia teriam sido vendidas a uma empresa irlandesa. O Aos Fatos concluiu que a alegação de que o governo federal teria transferido a gestão das terras indígenas a uma multinacional é falsa.