O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
Filtro:

Política

Investigado por: 2024-06-04

Reportagem não disse que Queiroz é pai de Flávio Bolsonaro

  • Sátira
Sátira
É satírico o post que fez uma montagem e uma alteração em texto de captura de tela de reportagem apurada pelo portal Metrópoles e republicada pelo Diario de Pernambuco para afirmar que Fabrício Queiroz é pai de Flávio Bolsonaro (PL-RJ). As reportagens abordam áudios em que o ex-assessor do então deputado estadual pelo Rio de Janeiro faz ameaças à família Bolsonaro, sem mencionar paternidade. O perfil do autor da publicação é de paródia e faz sátiras e críticas à direita.

Conteúdo investigado: Post com o texto “Bomba! Queiroz é pai de Flávio Bolsonaro. Agora está explicado o empenho nas rachadinhas” e uma captura de tela com o título “Fabrício Queiroz ameaça família Bolsonaro em áudios; ouça – Operador das rachadinhas da família admite paternidade e diz que recebia pagamentos para ficar em silêncio”. A imagem acompanha foto de Queiroz e de Jair Bolsonaro.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: É uma sátira o post viral segundo o qual Fabrício Queiroz seria pai de Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O conteúdo apresenta uma montagem com uma captura de tela de uma reportagem com o título “Fabrício Queiroz ameaça família Bolsonaro em áudios; ouça” e uma chamada inferior, inventada, dizendo “Operador das rachadinhas da família admite paternidade e diz que recebia pagamentos para ficar em silêncio”. O layout da página capturada se assemelha a uma publicação feita pelo jornal Diario de Pernambuco, mas teve o texto alterado.

Na verdade, no jornal pernambucano o subtítulo era “Operador das rachadinhas admite que recebia pagamentos para ficar em silêncio e diz guardar segredos comprometedores”. A reportagem sobre os áudios de Queiroz foi originalmente publicada pelo portal Metrópoles, em 23 de novembro de 2023. O Diario de Pernambuco replicou o conteúdo. Outro elemento diferente na montagem é que, na indicação de autoria, aparece “Por Rodrigo Rangel – Metrópoles asadas”, o que não consta na reportagem verdadeira.

Na legenda da postagem satírica, o publicador escreveu “BOMBA!. Queiroz é pai de Flávio Bolsonaro. Agora está explicado o empenho nas rachadinhas”. A conta se descreve como um “perfil-paródia”. Os comentários da publicação também indicam tom de piada. “Quem precisa de fonte? Congresso liberou geral”, diz um dos comentários do post, que faz menção à manutenção feita pelo Congresso Nacional a veto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a projeto que criminaliza disseminação de notícias falsas durante o período eleitoral.

Outro comentário sugere ao autor do post que o nome do veículo e do jornalista sejam retirados, ao que o perfil responde: “Achei assim, vou deixar”.

Ao Comprova, Rodrigo Rangel afirmou que sua reportagem não faz qualquer menção à paternidade. Publicada no Metrópoles, a matéria é originalmente intitulada “Em áudios, Queiroz pede dinheiro e empareda o clã Bolsonaro”.

Procurado, o Diario de Pernambuco declarou que a imagem não é de uma reportagem do portal. É possível notar que a fonte do texto da postagem é diferente da tipografia utilizada pelo jornal.

Sátira, para o Comprova, são memes, paródias e imitações publicadas com intuito de fazer humor. O Comprova verifica conteúdos satíricos quando percebe que há pessoas tomando-os por verdadeiros.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 4 de junho, o post somava mais de 29,8 mil visualizações, 2 mil curtidas, 617 compartilhamentos e 96 comentários.

Fontes que consultamos: Analisamos a reportagem original do Metrópoles e contatamos o jornalista citado para saber se a matéria fazia alguma menção à suposta paternidade de Queiroz. Uma busca reversa pela imagem de destaque da reportagem mostrou que o conteúdo havia sido veiculado também no Diario de Pernambuco. Com isso, entramos em contato com o jornal para saber se o subtítulo da captura de tela foi utilizado em algum momento pelo portal.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou se tratar de conteúdo satírico post que afirma que Elon Musk teria comprado “mais de 99%” das ações do Grupo Globo e vídeo em que um ator diz importar alimentos na Europa com dinheiro da Lei Rouanet.

Política

Investigado por: 2024-05-29

Post distorce reportagem para acusar Eduardo Bolsonaro de doar dinheiro público a Trump

  • Enganoso
Enganoso
O site Intercept Brasil não revelou que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) doou dinheiro público para a campanha de Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos e candidato à presidência nas eleições de 2024. Postagem distorce reportagem do veículo, publicada no dia 23 de maio, sobre o PL ter utilizado R$ 160 mil de seu fundo partidário para pagar o advogado Sérgio Sant'Ana, sócio de Eduardo Bolsonaro no Instituto Conservador-Liberal.

Conteúdo investigado: Publicação afirma que o site Intercept publicou a denúncia de que o deputado Eduardo Bolsonaro doou R$ 160 mil em dinheiro público para a campanha de Donald Trump, que é novamente candidato à presidência dos EUA. O post utiliza uma foto do candidato ao lado do filho de Jair Bolsonaro e do deputado Mário Frias (PL-SP).

Onde foi publicado: X

Conclusão do Comprova: É enganoso que o site Intercept Brasil tenha revelado que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) doou dinheiro público para a campanha do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A postagem distorce uma reportagem publicada pelo veículo no dia 23 de maio, que revela o pagamento de R$ 160 mil provenientes do fundo partidário do Partido Liberal (PL) para o advogado Sérgio Sant’Ana, sócio de Eduardo Bolsonaro. O post com alegações enganosas foi feito cerca de três horas após a publicação da reportagem.

De acordo com a publicação do Intercept, Sant’Ana é diretor do Instituto Conservador-Liberal, uma organização criada em sociedade com Eduardo Bolsonaro que tem como missão principal a organização das edições brasileiras da Conferência da Ação Política Conservadora (CPAC). O evento, que teve origem nos Estados Unidos, é realizado no Brasil há cinco anos e é organizado pelo instituto desde 2021.

Ao contrário do que alega a postagem, que foi excluída pelo administrador do perfil, não há menção a Trump na reportagem. A imagem utilizada no post é do ex-presidente norte-americano com Eduardo e com o deputado federal e ex-secretário de Cultura no governo Bolsonaro, Mário Frias (PL-SP). O encontro ocorreu em 13 de março deste ano, na casa do republicano em Mar-a-Lago, na Flórida.

Segundo o Intercept, o pagamento do PL ao sócio de Eduardo na organização do CPAC chama a atenção porque, em 2023, o partido utilizou sua Fundação Álvaro Valle para bancar todos os ingressos da edição brasileira do evento. A fundação é mantida, em parte, com recursos do fundo partidário.

A reportagem tentou entrar em contato com o perfil que publicou as alegações falsas, mas não foi possível enviar mensagem.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até terça-feira (28), a publicação tinha quase 380 mil visualizações no X.

Fontes que consultamos: Inicialmente, realizamos uma busca por reportagens do Intercept que mencionam o deputado federal Eduardo Bolsonaro. Utilizando o Google, identificamos a reportagem que aborda o uso de recursos do fundo partidário pelo PL para pagar o advogado Sérgio Sant’Anna.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A distorção de reportagens veiculadas por meios de comunicação para espalhar denúncias falsas sobre figuras públicas e políticos é uma das táticas utilizadas por propagadores de desinformação. Em outro contexto, o Comprova desmentiu uma postagem publicada no X, que distorceu uma reportagem do jornal britânico Financial Times, alegando que o veículo teria afirmado categoricamente que o governo americano interferiu nas eleições brasileiras para favorecer Lula.

Política

Investigado por: 2024-05-28

Arroz chinês mostrado em vídeos não é de plástico e nem será importado pelo Brasil

  • Enganoso
Enganoso
Posts enganam ao sugerir que o governo federal vai importar arroz de plástico da China para evitar o aumento no preço do produto após as enchentes no Rio Grande do Sul, maior produtor do grão no Brasil. As publicações usam um vídeo da fabricação de arroz artificial em uma máquina de uma empresa chinesa e sugerem que o arroz produzido por esse equipamento é feito de plástico e será comprado pelo Brasil. Esse arroz, no entanto, não usa plástico em sua composição, mas sim quirera de arroz ou outros cereais como milho e trigo, e o edital de importação da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) não prevê a compra desse tipo de produto.

Conteúdo investigado: Vídeos com alegações de que o arroz que o governo federal importará é feito de plástico. Um deles mostra o processo de produção da empresa chinesa SunPring acompanhado da frase “Este é o arroz chinês. Se o que está sendo colocado a venda é este, não sei, mas seria muito interessante alguém mandar analisar”. Outro conteúdo mostra gravação em que uma mulher afirma que comprou e consumiu arroz de plástico, que derrete ao ser colocado no fogo.

Onde foi publicado: X e Kwai.

Conclusão do Comprova: Vídeos enganam ao sugerir que o arroz a ser importado pelo governo federal é feito na China com plástico e papel. Posts com vídeo do processo de fabricação de arroz em máquinas da empresa chinesa SunPring, verificados pelo Comprova, sugerem incorretamente que o grão produzido por esse equipamento é feito de plástico e será comprado pelo Brasil. Na verdade, a empresa reprocessa grãos quebrados e dá ao produto o formato de um grão de arroz normal.

A SunPring explica em seu site que seu arroz é artificial e pode ser feito com milho, trigo, aveia e soja, além de grãos quebrados de arroz como matéria-prima. É possível ainda incrementar nutrientes como cálcio, zinco e ferro. Em nenhum momento é cogitado o uso de papel ou plástico na produção do grão.

“O valor dos nutrientes do arroz artificial é de 5 a 10 vezes maior que o do arroz normal”, garante a empresa. Ainda segundo a companhia, “o preço do arroz artificial é mais alto do que o arroz normal, mas ele pode ser cozido diretamente ou cozido no vapor com arroz normal na proporção”.

Segundo informou a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), esse processo existe há muitos anos, mas é de baixa produção por não ser economicamente viável.

“O arroz do vídeo é um arroz produzido em máquina extrusora e é fabricado a partir dos grãos quebrados de arroz, quirera, canjica e canjicão de arroz, extrusado por meio de um tubo formatador que corta o amido em forma de arroz”, afirmou a entidade. Neste vídeo, publicado no YouTube pela empresa chinesa, é possível ver a produção em detalhes.

O governo federal não prevê a importação de arroz artificial, como o produzido pela empresa chinesa. O edital da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) evidencia que o arroz importado deve ser tipo 1, ou seja, o de melhor qualidade, da safra 2023/2024. O documento detalha ainda que o produto deverá ter aspecto, cor, odor e sabor característico de arroz beneficiado, sendo vedada a aquisição de arroz aromático. A medida adotada pelo governo federal tem por objetivo suprir a demanda após perdas na safra do Rio Grande do Sul, maior produtor do país, devido às enchentes.

A Conab disse que o arroz poderá ser comprado de todos os países produtores e exportadores de arroz, mas as variedades precisam ser compatíveis ao consumo brasileiro, conforme Instrução Normativa do Ministério da Agricultura e Pecuária n.º 06/2009. Essa normativa da Conab especifica que o arroz importado é proveniente da espécie Oryza sativa L., uma das mais cultivadas globalmente, como mostra detalhamento feito pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

O autor do post enganoso foi procurado pelo Comprova, mas não respondeu até a publicação deste texto.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 28 de maio, o post tinha 128,2 mil visualizações, 2 mil curtidas, 1 mil compartilhamentos e 208 comentários.

Fontes que consultamos: Entramos em contato com a Conab, com a Abiarroz e entrevistamos Manoel Maradini Filho, professor do Departamento de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Também procuramos pelas regras definidas para o leilão de importação do arroz e fizemos uma busca reversa no Google para identificar a origem de um dos vídeos enganosos verificados.

Mulher diz que comprou arroz de plástico

Em outro vídeo, publicado no Kwai, uma mulher afirma que comprou “arroz de plástico”. Ela coloca os grãos diretamente nas chamas do fogão e alega que estão pegando fogo e “derretendo”. Nem o Rio Grande do Sul nem a China são citados na gravação, mas o vídeo, que circula pelo menos desde maio de 2022, voltou a viralizar no contexto da discussão da importação de arroz pelo Brasil.

O professor Antônio Manoel Maradini Filho, da Ufes, analisou o vídeo a pedido do Comprova. Ele, que atuou por 30 anos no desenvolvimento de produtos e no controle de qualidade em empresas alimentícias, afirma não ser possível dizer que o material que aparece na gravação é arroz. “Parecem ser peletes de material plástico com formato parecido com grão de arroz”, diz. Segundo Maradini, o arroz exposto a uma chama como a do vídeo viraria carvão e não derreteria. “Não tem nenhuma informação do fabricante, não apresenta nenhuma embalagem”, alerta.

Leilão para importação de arroz foi suspenso

Há cerca de duas semanas, o governo federal editou uma medida provisória que autorizou a importação de 104 mil toneladas de arroz pela Conab. O objetivo é evitar o aumento preço do do produto após as enchentes no Rio Grande do Sul, maior produtor do grão no país. A previsão era a de que o leilão ocorresse no último dia 21, mas foi suspenso.

A Conab divulgou no dia 20 um comunicado informando que a nova data de realização “será publicada oportunamente”.

Durante reunião extraordinária, o Comitê Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex) zerou as tarifas para dois tipos não parboilizados e um tipo polido/brunido do grão até 31 de dezembro. A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) informou que vai monitorar a situação para reavaliar o período de vigência, caso necessário.

Para zerar as tarifas, os três tipos de arroz foram incluídos na Lista de Exceções à Tarifa Externa Comum (Letec) do Mercosul. A medida, conforme disse o MDIC, foi solicitada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária e pela Conab.

A maior parte das importações de arroz no Brasil vem do próprio Mercosul, sem pagar tarifa de importação. O MDIC diz que a redução a zero da alíquota abre espaço para a compra de arroz de outros grandes produtores, como a Tailândia. Até abril deste ano, o país asiático respondia por 18,2% das importações brasileiras de arroz.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Estadão e a Agência Aos Fatos também concluíram ser falsas as alegações de que o Brasil vai importar arroz de plástico da China. O Comprova já checou outras informações relacionadas às chuvas no Rio Grande do Sul e entendeu ser enganoso o vídeo que alega que a Anvisa impediu o transporte de medicamentos ao estado e explicou que detentos em abrigos gaúchos são do regime semiaberto.

Comprova Explica

Investigado por: 2024-05-28

Entenda medida do governo de zerar taxa de importação do arroz e suas consequências

  • Comprova Explica
Comprova Explica
Em 20 de maio, o governo federal zerou a tarifa de importação do arroz para garantir o abastecimento devido à tragédia ambiental no Rio Grande do Sul, que reduzirá a oferta. A medida visa evitar desabastecimento e aumento de preços. Três tipos de arroz foram incluídos na Lista de Exceções à Tarifa Externa Comum. Especialistas e produtores criticam a decisão, argumentando que não há desabastecimento real e que a medida pode prejudicar os produtores locais e afetar a economia.

Conteúdo analisado: Vídeo de trecho de um programa jornalístico exibido no YouTube em que um comentarista traz estatísticas sobre a safra de arroz e afirma que objetivo do governo federal ao importar o produto é destruir o agronegócio no Brasil, em particular na região Sul. Nessa e em outras postagens nas redes sociais, usuários comentam demonstrando preocupação com o agronegócio e com os preços do arroz no país.

Comprova Explica: Em 20 de maio, o governo federal zerou a tarifa de importação do arroz para garantir o abastecimento no Brasil. A medida, aprovada pelo Comitê Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior, é uma das ações de enfrentamento às consequências econômicas da tragédia ambiental ocorrida no Rio Grande do Sul, maior produtor de arroz do país. As enchentes já deixaram 169 mortos e 56 desaparecidos, segundo o último boletim divulgado em 27 de maio pela Defesa Civil do estado.

Com a medida, dois tipos de arroz não parboilizados e um tipo polido, o que inclui o branco, foram incluídos na Lista de Exceções à Tarifa Externa Comum (Letec), atendendo a pedido do Ministério da Agricultura e Pecuária e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). “Ao zerar as tarifas, buscamos evitar problemas de desabastecimento ou de aumento do preço do produto no Brasil, por causa da redução de oferta”, disse o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin (PSB).

O Rio Grande do Sul é responsável por cerca de 70% da produção nacional de arroz. O governo autorizou a Conab a comprar arroz importado. Os estoques adquiridos serão destinados à venda direta para mercados de vizinhança, supermercados, hipermercados, atacarejos e estabelecimentos comerciais com ampla rede de pontos de venda nas regiões metropolitanas em todo o país. Esses estabelecimentos comerciais deverão vender o arroz exclusivamente para o consumidor final.

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, disse que o governo federal não pensa em concorrer com os produtores de arroz do Rio Grande do Sul e que o objetivo de importar o produto é evitar especulação de preços. “O objetivo da portaria não é concorrer com os produtores gaúchos. O governo não seria insensível de criar uma concorrência, fazer baixar o preço do arroz para o produtor.” O leilão foi suspenso após o governo constatar aumento de preços de fornecedores do Mercosul e um novo edital será divulgado.

Especialistas e associações produtoras de arroz, porém, têm críticas à medida. “É impossível não haver uma concorrência com o arroz produzido no Brasil, sobretudo no Rio Grande do Sul”, disse Anderson Belloli, diretor-executivo e jurídico da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz).

“Essa polêmica sobre a importação tem como fundamento um suposto desabastecimento aqui no estado em decorrência da tragédia que a gente vive. Porém, das seis regiões arrozeiras, apenas uma foi afetada pelas enchentes. Quando começaram os temporais, 85% da safra já tinha sido colhida. A safra projetada pela Conab é maior do que a do ano passado, mesmo com as perdas”, completou.

De acordo com a CNN, o levantamento semanal da Conab mostrou que o valor do arroz no varejo chegou a acumular aumento de 40% em quatro semanas após a tragédia no Rio Grande do Sul. “O risco gerado pelo próprio governo internalizou um choque negativo na oferta do grão no país, levando a uma combinação de potencial desabastecimento e altos preços”, explicou Pedro Tremacoldi-Rossi, professor adjunto no departamento de Economia da Universidade de Columbia e PhD em Economia Aplicada pela Universidade de Illinois Urbana-Champaign.

“As estimativas dão que 83% da safra atual já foi colhida. Não está claro o quanto dessa safra já foi ‘escoada’ para outros estados, se está em armazéns ou se foi comprometida. Certamente, existe um problema logístico, mas provavelmente não será permanente e, mesmo se boa parte do arroz ainda estiver no estado, deve começar a sair de lá sem muita demora”, afirma.

Uma possível preocupação, diz Tremacoldi-Rossi, é que os efeitos do choque climático se prolonguem. “Seria provável que a próxima safra seja afetada e, possivelmente, o estado leve entre um a três anos-safra para se recuperar. Essa é uma estimativa baseada em outros choques climáticos de alto impacto ao redor do mundo em áreas de boa produtividade”, diz.

O especialista explicou ainda que o Brasil já importa arroz de países do Mercosul e que a taxa de importação para eles já é zerada. A nova medida do governo, portanto, deve afetar compras de outros países, como, por exemplo, a Tailândia. “Vai depender do apetite dos importadores nacionais e dos leilões do governo”, diz.

Segundo ele, o governo estaria tentando enviar um recado aos consumidores de modo a evitar a expectativa de que o produto vai faltar. “Para prevenir potenciais corridas aos supermercados e casos isolados de falta de arroz, que podem alimentar um problema sistêmico – parecido com um pânico bancário –, essas medidas dão a impressão de que a oferta de arroz no país vai se expandir, em teoria acalmando consumidores”, afirma. ”Isso ajuda tanto na disponibilidade quanto nos preços”.

Já Denis Medina, economista e professor da Faculdade do Comércio, lembrou que o Brasil, historicamente, produz mais arroz do que consome e exporta o excedente. “Então, não existe naturalmente uma necessidade de importação para consumo”, diz. Em sua análise, a medida pode ser negativa para o mercado. “O governo, com a intenção de vender arroz a R$ 4 o quilo, vai prejudicar o equilíbrio de mercado. Ele está puxando o preço bem abaixo do preço médio de venda nos varejistas. Ele quer que o varejista venda a R$ 4. Isso não prejudica só o agro, prejudica a economia como um todo”, avalia.

Para Medina, a principal medida que o governo poderia tomar para evitar que o produtor local seja afetado é a reconstrução da infraestrutura no Rio Grande do Sul. “Estradas, acessos, as casas, tudo mais. É onde ele [o governo] pode evitar que o produtor seja prejudicado. Com isso, também, estruturas de armazenamento mais adequadas. A gente sabe que, hoje, um dos entraves do agro é capacidade de armazenamento, e depende de investimento privado para isso. O governo tem pouco investimento nessa área”.

Fontes consultadas: Conab, Federarroz, informações divulgadas pelo governo federal e os especialistas Denis Medina, economista e professor da Faculdade do Comércio, e Pedro Tremacoldi-Rossi, professor adjunto no departamento de Economia da Universidade de Columbia e PhD em Economia Aplicada pela Universidade de Illinois Urbana-Champaign.

Por que explicamos: Com a decisão do governo federal de zerar a taxa de importação de arroz, diversos conteúdos começaram a surgir nas redes sociais com desinformação ou preocupação com o agronegócio e os preços do arroz no país. É importante que seja explicado do que trata sua medida, seus objetivos e as principais críticas e comentários de especialistas para que as informações falsas não sejam espalhadas.

Para se aprofundar mais: Essa não é a primeira vez que desinformações sobre a cultura do arroz no Brasil circulam nas redes sociais. Em setembro de 2020, o Comprova mostrou que a demarcação de terra indígena em Roraima não tem relação com alta do preço do arroz. Já em fevereiro deste ano, publicou ser falso que Brasil pode ficar sem arroz e preços vão aumentar por conta de exportação ilegal. O Estadão Verifica também trouxe que representantes do setor pediram para que a população não faça estoque de arroz por causa de chuvas no RS.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-05-24

Fluxo do abastecimento de aeronaves civis com doações no RS foi alterado por segurança

  • Contextualizando
Contextualizando
Não há dificuldade generalizada para abastecimento de aeronaves carregadas com donativos para vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul, ao contrário do que sugere vídeo do deputado estadual Bim da Ambulância (Avante-MG), gravado na Academia da Brigada Militar de Porto Alegre. A Defesa Civil gaúcha explicou que o alto volume de tráfego aéreo no dia da gravação forçou um ajuste temporário no abastecimento de aeronaves civis. Além disso, uma mudança na regra de abastecimento, ocorrida em 12 de maio, quando foi feita a gravação, afetou momentaneamente as operações naquele dia. Até então, o combustível de helicópteros civis era pago pelo governo estadual, mas passou a ser bancado por doações.

Conteúdo analisado: Vídeo gravado pelo deputado estadual de Minas Gerais Bim da Ambulância (Avante) em que o parlamentar afirma que não estava conseguindo decolar um helicóptero com doações para vítimas da enchente no Rio Grande do Sul (RS) de uma base da Brigada Militar em Porto Alegre. Segundo ele, não foi dada autorização para abastecer a aeronave, mesmo com uso de recurso próprio.

Onde foi publicado: X, Instagram e TikTok.

Contextualizando: Em vídeo postado nas redes sociais, o deputado estadual Bim da Ambulância (Avante-MG) relatou que não conseguia decolar com um helicóptero no Rio Grande do Sul porque não recebeu autorização para abastecer a aeronave por ser um veículo civil. A postagem sugere que se trata de um problema generalizado. No entanto, o governo estadual e a Tri Aviation, empresa responsável pelo fornecimento do combustível, informaram que a dificuldade foi momentânea. Bim conseguiu comprar combustível, pago por pix, com recurso próprio, naquele mesmo dia.

“Não estamos conseguindo decolar, pois não temos autorização de utilização do combustível particular. É, até por pagar tá tendo guerra do lado de cá”, afirmou Bim no vídeo. Ao Comprova, o parlamentar disse que as imagens foram gravadas no dia 12 de maio, na Academia da Brigada Militar, em Porto Alegre.

O governo gaúcho negou, em nota, que aeronaves civis estejam sendo preteridas em detrimento das militares. O órgão apontou que, no dia em que o vídeo foi gravado, a Academia da Polícia Militar, utilizada como ponto de abastecimento, contava com elevado volume de tráfego aéreo, incluindo 21 helicópteros militares.

“Devido ao intenso volume de operações aéreas e por questões de segurança, houve uma necessidade de ajuste temporário na frequência de abastecimento para aeronaves civis. Esta medida foi essencial para garantir a segurança de todas as operações aéreas na área, levando em consideração o risco associado ao tráfego intenso de aeronaves militares e civis”, informou o governo.

Também em nota, a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, responsável pelo controle do tráfego de aeronaves na Academia da Brigada Militar, informou que o veículo em questão, com código PR-BPR, recebeu 460 litros de combustível ao todo em dois dias (09/05: 120 litros; 09/05: 120 litros; 09/05: 100 litros; e 12/05: 120 litros), “evidenciando que não houve qualquer impedimento ao abastecimento da aeronave mencionada”.

Ao Comprova, o deputado Bim da Ambulância disse que foi informado pelos militares de que o abastecimento não havia sido autorizado por “ordem superior”, sem entrar em detalhes. Segundo Bim, o problema durou o período da manhã. O parlamentar afirmou, ainda, que conseguiu realizar apenas um voo com ajuda humanitária naquele dia por causa da burocracia e também por questões climáticas.

De acordo com o coordenador de operação de combustível da Tri Aviation, Márcio Irion, até o dia 12, a empresa estava abastecendo aeronaves militares e civis na Academia da Brigada Militar e o combustível era pago pelo governo estadual. No dia 12, diz Irion, a Defesa Civil informou que não iria mais fornecer combustíveis para as aeronaves civis.

Segundo o coordenador, empresas particulares passaram a fazer doações para pagar pelo abastecimento de helicópteros civis, que se concentraram no Centro de Treinamento Esportivo (CETE). Irion afirmou que o vídeo de Bim foi gravado logo após a reunião em que a decisão foi tomada, e que a “informação chegou distorcida a ele [o deputado]”. O coordenador também confirmou que Bim conseguiu abastecer seu helicóptero na mesma data da gravação e pagou a Tri Aviation pelo combustível usando recurso próprio.

Questionado sobre a decisão de não pagar pelo abastecimento de aeronaves civis, o governo do Rio Grande do Sul não respondeu. Na nota, a gestão informou que “as aeronaves civis são abastecidas com combustível disponibilizado por doações de empresas. Para as aeronaves militares e de outros estados que estão auxiliando o Rio Grande do Sul, o abastecimento é fornecido pelo governo do Estado”.

Fontes que consultamos: A verificação foi feita a partir de questionamentos enviados ao governo do Rio Grande do Sul e ao deputado Bim da Ambulância. Com um recorte do vídeo, foi possível identificar o logo da empresa Tri Aviation, que também foi contatada pela reportagem.

Por que o Comprova contextualizou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: Outros assuntos relacionados à tragédia no Sul também foram verificados pelo Comprova, como um post que usou vídeos antigos para minimizar atuação do Exército e um vídeo que engana ao dizer que a Anvisa impede transporte de medicamentos no estado.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-05-23

Homem minimiza volume de chuvas e alega falsamente que abertura de comportas causou alagamentos

  • Falso
Falso
É falso vídeo em que morador de Arroio dos Ratos (RS) atribui inundações à suposta abertura de cinco comportas de barragens e afirma que não houve chuva suficiente para causar tamanho estrago, apenas uma “garoa forte”. Não há indícios de que a abertura de comportas de barragens no estado tenha desencadeado as inundações. No dia 2 de maio, a Usina 14 de Julho abriu duas comportas apenas para evitar danos na estrutura, porque o modelo não permite aumentar o fluxo de água nos rios. No dia 3, a Usina de Passo Real operou com vazão acima do máximo, mas o volume voltou ao esperado no dia 7. Enquanto isso, o local onde o vídeo foi gravado acumulou cerca de 420 mm de chuva em quatro dias e teve decretada situação de emergência de nível II – por chuvas intensas e inundações.

Conteúdo investigado: Vídeo em que homem questiona quem autorizou abertura simultânea de cinco comportas de barragens e alega que foi essa suposta decisão que causou a enchente no Rio Grande do Sul. Ele também alega que a água subiu muito rápido no local onde ele mora, mesmo tendo havido apenas uma “garoa forte” e não havendo rios no lugar.

Onde foi publicado: TikTok e Instagram.

Conclusão do Comprova: É falso o conteúdo de um vídeo gravado por um morador da zona rural do município de Arroio dos Ratos, na região metropolitana de Porto Alegre (RS), em que ele atribui a enchente que afeta o estado desde o fim de abril a uma suposta abertura simultânea de cinco comportas de uma barragem. Para reforçar o argumento, ele afirma que mora em um lugar onde não há rios e onde houve apenas uma “garoa forte”, mas que, mesmo assim, a água subiu rapidamente, cobrindo um açude que fica em frente à casa.

Não é verdade que cinco comportas de barragens tenham sido abertas simultaneamente durante as chuvas recentes. No dia 2 de maio, houve um rompimento parcial da barragem da Usina 14 de Julho, no Vale do Taquari, e dois dias depois optou-se por uma abertura gradual e controlada das duas comportas da barragem, apenas para evitar danos na estrutura. Como esta é uma barragem do tipo “fio d’água”, que usa apenas o fluxo normal de água do rio, a abertura de comportas não influencia na vazão das águas do rio. Mesmo que houvesse influência, a região onde o vídeo foi gravado não é afetada pela barragem.

No dia 3 de maio, a Usina de Passo Real operou com vazão acima do máximo por conta do grande volume de água. Enquanto isso acontecia, a Usina de Jacuí, que acabou inundada, foi desligada. No dia 7, o reservatório em Passo Real atingiu o nível esperado, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). De qualquer forma, essas operações foram feitas depois de 1º de maio, data em que o autor publicou os primeiros vídeos mostrando que a fazenda já estava alagada, e as usinas ficam distantes de Arroio dos Ratos – mais de 260 quilômetros.

Além disso, o argumento de que não houve chuva intensa na região não tem base factual. A propriedade rural onde o vídeo foi gravado fica no Rincão dos Américos, que foi incluído no decreto de emergência de nível II publicado pela Prefeitura de Arroio dos Ratos em 1º de maio. Segundo a Defesa Civil do município, choveu 420 mm em Arroio dos Ratos de 29 de abril a 2 de maio. A Agência Nacional de Águas (ANA) não tem dados específicos do dia 1º de maio para o local.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. A postagem publicada no TikTok tem 581 mil visualizações, 49,6 mil curtidas, 11,8 mil compartilhamentos e foi salva 4,8 mil vezes até 23 de maio de 2024.

Fontes que consultamos: O Comprova procurou, inicialmente, o autor do conteúdo, para tentar identificar o local exato onde o vídeo foi feito, a data da inundação e questionar a quais barragens ele se referia quando falava de abertura de comportas. Também foram acionados o governo do Rio Grande do Sul, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a ANA, a Companhia Energética do Rio das Antas (Ceran), onde ficam três barragem no Vale do Taquari, e dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico.

Foram consultados ainda a Defesa Civil de Arroio dos Ratos, dados meteorológicos e de precipitação do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e da ferramenta Weather Spark, além de decretos municipais e federais sobre situação de emergência pelas chuvas e inundações. Para encontrar o local onde o vídeo foi gravado, foram utilizadas as ferramentas Sinesp Cidadão, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, CruzaGrafos, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), e o Google Maps.

Vídeo foi gravado em Arroio dos Ratos, onde choveu 420 mm em quatro dias

O vídeo investigado mostra o autor em uma propriedade rural, onde é possível ver uma casa, alguns galpões, uma cerca e uma espécie de açude alguns metros adiante. Quando as imagens investigadas são publicadas, em 18 de maio, não há mais alagamento, mas há vídeos anteriores, a partir de 1º de maio, que mostram uma inundação em frente à casa. Há marcas nas paredes que mostram que a água chegou a pelo menos dois palmos dentro do imóvel. Durante a inundação, ele se abrigou em um cerro ao lado da propriedade.

O responsável pela publicação não diz onde o vídeo foi feito, mas ele responde a um comentário na postagem no TikTok dizendo ser de Eldorado do Sul. Ao Comprova, o autor do vídeo, identificado como João Alves, confirmou ser desta cidade, mas não respondeu com detalhes sobre a localização da fazenda. Ele se limitou a responder que tudo estava documentado na rede social e que a água havia subido “de repente”.

Na realidade, o vídeo não foi gravado em Eldorado do Sul, e sim na zona rural do município vizinho de Arroio dos Ratos que, diferentemente do que afirma o autor do vídeo, foi fortemente afetado por chuvas intensas. A fazenda onde as imagens foram feitas figura como sede de uma microempresa de construção civil que tem João Alves como sócio. O local fica na Estrada Rincão dos Américos, e uma comparação entre o local no Google Street View e outros vídeos publicados pelo autor no TikTok comprovam se tratar do mesmo lugar.

| Após a chuva, autor gravou vídeo na propriedade mostrando casa ao fundo. Imagem: Reprodução/Tik Tok.

| Apesar da diferença na cor, imagem captada pelo Google Street View em julho de 2023 mostra a mesma casa na zona rural de Arroio dos Ratos. Ao fundo, o cerro onde o autor disse ter se abrigado, que também aparece no vídeo dele. Imagem: Reprodução/Google Street View.

O bairro Rincão dos Américos foi incluído pela prefeitura em um decreto de emergência de nível II no mesmo dia em que os primeiros vídeos começaram a ser publicados pelo autor do material. No decreto municipal, foram citadas apenas as “áreas comprovadamente afetadas pelo desastre”.

De acordo com a coordenadora da Defesa Civil de Arroio dos Ratos, Juliana Silveira de Abreu, entre os dias 29 de abril e 2 de maio, choveu 420 mm na cidade. Segundo a ferramenta Weather Spark, a média de precipitação em todo o mês de maio em Arroio dos Ratos é de 100,2 mm, o que desmente a alegação de que não houve chuvas fora do normal. Na realidade, choveu em quatro dias quatro vezes mais do que a média para o mês inteiro.

A Prefeitura de Arroio dos Ratos tem uma página dedicada ao desastre e publicou que, no dia 1º de maio, a cidade foi afetada por uma “calamidade natural de proporções históricas”: “Uma enchente avassaladora, desencadeada pelas intensas chuvas dos últimos dias, deixou a comunidade à beira do limite. Ruas se transformaram em rios, casas foram alagadas e a população enfrentou um cenário de desespero e destruição”.

O Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil, do governo federal, reconheceu a situação de emergência na cidade por chuvas intensas, e o reconhecimento ainda está em vigor.

O autor do vídeo argumenta ainda que não existem rios por lá. Na realidade, bem próximo da cancela de entrada na fazenda passa o Arroio dos Ratos, um córrego que margeia por boa parte do município e que, durante as chuvas intensas, recebeu um grande volume de água da própria cidade – segundo a Defesa Civil, bairros da zona urbana foram inundados devido às cheias dos arroios que banham o município, atingindo também a zona rural.

Abertura de comportas não foi responsável pelo desastre

O autor do vídeo não fala nas imagens sobre quais comportas de barragens teriam sido abertas simultaneamente, nem respondeu ao Comprova quando questionado sobre isso. No entanto, não há registros de aberturas deliberadas de cinco comportas de barragens durante os eventos climáticos dos últimos dias. Esta mesma alegação aparece em um vídeo antigo, já desmentido pelo Estadão Verifica, que mostrou que as barragens citadas não têm comportas capazes de armazenar e regular o fluxo de água.

É o que explica a Agência Nacional de Energia Elétrica, segundo a qual existem 125 usinas hidrelétricas no Rio Grande do Sul, com 143 barragens. Das 125 usinas, apenas quatro possuem reservatório com capacidade de regularização: são as usinas hidrelétricas Passo Fundo, Passo Real, Barra Grande e Machadinho.

Todas as outras são usinas do tipo “fio d’água”, que operam apenas com o fluxo natural dos rios. A Aneel explica que essas usinas não possuem capacidade de armazenar e regular água de cheias, por isso a abertura de suas comportas não pode agravar casos como o que está ocorrendo no Rio Grande do Sul.

No dia 2 de maio, o grande volume de chuva fez romper parcialmente a barragem da Usina 14 de Julho, no Vale do Taquari, e no dia 4, a Companhia Energética do Rio das Antas (Ceran), que gere a usina, optou por abrir, de forma gradual e controlada, duas comportas da usina. Isso aconteceu para preservar a estrutura.

Não houve impacto significativo na vazão do Rio das Antas justamente porque a barragem é do tipo “fio d’água”. A Ceran explicou, quando as comportas foram abertas, que não haveria variação relevante no nível do rio e nem alterações para as comunidades abaixo da barragem.

Além do baixo impacto, a Companhia explicou ao Comprova que as cidades de Arroio dos Ratos e Eldorado do Sul – citada pelo autor do vídeo – não seriam afetadas mesmo que houvesse um aumento da vazão porque não estão abaixo da barragem e não fazem parte da chamada Zona de Autossalvamento (ZAS) – área de impacto imediato em caso de emergência envolvendo uma barragem. A Defesa Civil de Arroio dos Ratos disse que não há comportas de barragens no município.

Já o governo do Rio Grande do Sul monitora diariamente a situação das barragens do Estado e divulgou, em nota do dia 4 de maio, que as ações de resposta para as duas barragens sob risco naquele dia – 14 de Julho e Bento Gonçalves – já estavam em andamento e tomadas de modo a não alterar o nível do rio Taquari-Antas. Os dados mais recentes são de 22 de maio e apontam que há uma barragem em situação de emergência: a de Salto, da Usina Hidrelétrica de Bugres, em São Francisco de Paula.

Em nota, o governo do Rio Grande do Sul disse que, nos reservatórios que são de sua competência fiscalizatória, as questões que envolvem abertura e fechamento de comporta são operações que podem fazer parte do funcionamento normal de uma barragem e são de responsabilidade do empreendedor. “No RS, a maior parte das barragens possuem o maciço de terra com vertedouro do tipo soleira livre. O vertedouro é considerado um dos principais dispositivos de segurança e tem como função manter o nível adequado de água na barragem”, diz o texto.

Autor cita teoria da conspiração envolvendo caixões americanos

Além das falas sobre a chuva e as barragens, o autor do vídeo recorre a uma teoria conspiratória antiga para sugerir que as mortes já eram esperadas. Segundo ele, o Brasil comprou, pouco antes das chuvas, caixões da FEMA: urnas pretas, feitas em fibra de carbono, com capacidade para corpos de até quatro homens adultos. A FEMA é a Federal Emergency Management Agency, a agência federal de gestão de desastres dos Estados Unidos, e o que ele descreve não são caixões, e sim túmulos usados para colocar os caixões no solo e evitar que ele desmorone.

As teorias da conspiração sobre os “caixões da FEMA” se tornaram constantes durante o governo de Barack Obama, sob a alegação de que o presidente havia secretamente investido US$ 1 bilhão em caixões plásticos com capacidade múltipla. Publicações conspiratórias diziam que o governo estava se preparado para um desastre biológico, ou para matar “dissidentes”. Durante a pandemia da covid-19, essa mesma teoria voltou a circular, como uma suposta prova de que os teóricos da conspiração de 2010 estavam corretos.

Na realidade, como mostrou o PolitiFact, os caixões da FEMA não são necessariamente caixões, e sim túmulos de plásticos que são colocados no solo para proteger os caixões e para evitar que o solo desmorone. A maioria dos cemitérios dos Estados Unidos exigem estes túmulos, explicou o PolitiFact. O Comprova questionou a FEMA se houve venda de túmulos para o Brasil e se essa prática é comum, mas não obteve resposta até a publicação desta checagem.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A tragédia provocada por enchentes no Rio Grande do Sul tem sido alvo de peças de desinformação publicadas na internet. O Comprova já mostrou que detentos em abrigos são do semiaberto e não têm relação com crimes de violência sexual e que sete deputados do Estado foram contra anistia, mas votaram a favor de suspensão de dívida do estado.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-05-21

Janja não combinou cena com militar e cachorro para divulgar vídeo nas redes sociais

  • Enganoso
Enganoso
Publicação engana ao dizer que Janja teria pedido para um militar da FAB encenar a entrega de um cachorro para ela com o objetivo de viralizar a imagem nas redes sociais. A reportagem do site Poder360 estava no local na hora da gravação e constatou que foi uma brincadeira não combinada entre a primeira-dama e o militar. Além disso, o animal que aparece na foto é a cadela Resistência, que foi adotada por Janja em 2018.

Conteúdo investigado: Post com vídeo da primeira-dama, Janja Lula da Silva, interagindo com cachorro e militar. Na legenda, autor afirma que ela teria encenado a entrega do animal para que a gravação fosse divulgada nas redes sociais.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Publicação engana ao dizer que a primeira-dama, Janja Lula da Silva, pediu que um militar da Força Aérea Brasileira (FAB) entregasse nas mãos dela um cachorro para que a cena viralizasse nas redes sociais. O post enganoso usou um vídeo publicado originalmente pelo portal Metrópoles. A equipe de reportagem do site Poder360 também estava no local onde a gravação ocorreu e viu que se tratou de uma brincadeira não combinada entre Janja e o militar. O animal que aparece no vídeo é a cadela Resistência, que foi adotada pela primeira-dama em 2018 e subiu a rampa do Palácio do Planalto na posse do presidente em 2023.

A cena foi gravada em 18 de maio, na Base Aérea de Brasília, durante o evento de envio de donativos para animais domésticos afetados pelas enchentes no Rio Grande do Sul. A aeronave estava com o compartimento de carga aberto, ainda sendo carregada. Janja entregou Resistência nas mãos de um militar, que fingiu levá-la para dentro do avião. A primeira-dama, então, gritou, em tom de brincadeira, para que o militar devolvesse a cadela.

No mesmo dia, Janja compartilhou nas redes sociais fotos de sua participação no evento em Brasília. Nas imagens é possível ver que a primeira-dama está acompanhada das cadelas Resistência e Paris, também adotada por ela e Lula, mas que não tem tantas aparições públicas. “A convite do Brigadeiro Damasceno, comandante da Força Aérea Brasileira, estive na Base Aérea de Brasília com Paris e Resistência para acompanhar essa ação repleta de afeto”, declarou Janja na ocasião.

Ao todo, Lula e Janja têm três cadelas. A mais recente é Esperança, adotada no dia 5 de maio durante visita do casal ao Rio Grande do Sul. O animal foi resgatado em Canoas (RS), após o temporal que devastou o estado gaúcho.

O Comprova entrou em contato com o autor do post enganoso, mas não obteve retorno até o fechamento do texto.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 21 de maio, a publicação tinha 2,7 milhões de visualizações, 39 mil curtidas, 12 mil compartilhamentos e 3 mil comentários.

Fontes que consultamos: Buscamos o vídeo original, que mostra a logo do portal Metrópoles, nas redes do portal. Procuramos por notícias sobre a ação do vídeo envolvendo a primeira-dama e o militar, e encontramos registro no site Poder 360. Em seguida, consultamos o site oficial da FAB e as redes da primeira-dama.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Assuntos relacionados às enchentes no Rio Grande do Sul se tornaram alvo de desinformação nas redes sociais. O Comprova já explicou a discussão sobre a dívida do estado com a União, em que sete deputados gaúchos foram contra a anistia, mas votaram a favor da suspensão, e mostrou ser enganoso o vídeo em que um médico afirma que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) impede o transporte de medicamentos aos gaúchos.

Contextualizando

Investigado por: 2024-05-20

Detentos em abrigos do RS são do semiaberto e não têm relação com crimes de violência sexual

  • Contextualizando
Contextualizando
Detentos que foram abrigados em locais de acolhimento em Porto Alegre são apenados em regime semiaberto com monitoramento de tornozeleira eletrônica. Presos em regime fechado continuam nas unidades prisionais. Também não há registros de crimes cometidos pelos abrigados.

Conteúdo analisado: Postagem mostra vídeo em que o prefeito de Porto Alegre (RS), Sebastião Melo (MDB), afirma que abrigos para vítimas das enchentes estão “contaminados” pela presença de pessoas em cumprimento de pena. Na legenda, o perfil diz: “Estão colocando PRESIDIÁRIOS criminosos junto com pessoas e famílias nos abrigos! Kd o ministro dos direitos humanos? Kd o Ministério Público? O desgoverno Luladrão vai dizer que é FakeNews? Vão censurar o prefeito que denunciou essa (sic) descalabro?”.

Onde foi publicado: X (antigo Twitter).

Contextualizando Com as enchentes que atingiram grande parte do Rio Grande do Sul, o sistema carcerário do estado também foi afetado, fazendo com que pessoas em cumprimento de pena fossem transferidas para locais seguros. Com isso, presos que estavam em regime semiaberto foram acolhidos em abrigos municipais, em suas casas ou nas de conhecidos.

As adaptações do sistema penitenciário gaúcho provocaram intensa discussão nas redes sociais, levando o governo do Rio Grande do Sul, por exemplo, a desmentir que detentos de uma unidade prisional de regime fechado tivessem sido soltos. Outras publicações citam que presidiários estariam deixando as prisões danificadas pela chuva e sendo levados para abrigos públicos com famílias vítimas das enchentes.

É o caso de um post publicado no X, no dia 15 de maio, que usa uma declaração dada pelo prefeito de Porto Alegre (RS), Sebastião Melo (MDB), no dia 12, em que o chefe do Executivo municipal afirmou que abrigos para vítimas das enchentes estão “contaminados” pela presença de pessoas que estão em cumprimento de pena.

De acordo com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, o gestor manifestou preocupação sobre o assunto após reunião com as forças de segurança estaduais. O governo do município destacou ainda que não tem “gestão sobre o sistema penal e socioeducativo, que é administrado pelo Governo do Rio Grande do Sul”. A prefeitura afirma que contratou forças de segurança privadas e que a Guarda Municipal faz rondas em 84 dos 151 abrigos. Nenhuma ocorrência foi registrada por essas equipes.

Ao Comprova, a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) explicou que a medida vale apenas para pessoas privadas de liberdade que utilizavam tornozeleira eletrônica e que ficaram desabrigadas por conta das enchentes. O número de apenados e o motivo das condenações não foram divulgados por motivos legais e de segurança. Como notou o Estadão Verifica, ao jornal Correio do Povo o Sindicato da Polícia Penal (Sindppen) informou que “mais de 250 presos” receberam o benefício.

Segundo a Susepe, esses detentos do semiaberto estão em residências de pessoas conhecidas ou em abrigos disponibilizados nos municípios para o acolhimento de pessoas. O órgão ressalta ainda que o Judiciário concedeu prisão domiciliar com monitoramento eletrônico em caráter emergencial para os detentos em regime semiaberto em Charqueadas (Susepe). A decisão ocorreu porque os apenados “corriam risco de vida em função do rápido avanço no nível da água na unidade”.

As críticas ao abrigamento de apenados aumentaram após denúncias de violência sexual em abrigos no estado. No entanto, de acordo com a Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo (SSPS), não há registro de envolvimentos de apenados com crimes cometidos nos locais. A Secretaria reforça ainda que esses detentos são monitorados pela Polícia Penal, que entrou com pedido para que essas pessoas deixem a monitoração e retornem para estabelecimentos prisionais compatíveis.

Detentos do regime fechado não ganharam liberdade

O governo do Rio Grande do Sul emitiu comunicado no dia 5 de maio negando que presos do regime fechado de Charqueadas tenham sido soltos. No estado, existem 83 unidades prisionais de regime fechado, 17 unidades de semiaberto, dois centros de custódia hospitalar, um instituto psiquiátrico, um centro de triagem e nove institutos penais de monitoramento.

Desde o início do período de enchentes, algumas unidades foram atingidas. Em Júlio de Castilhos, o presídio foi destelhado e, segundo a Susepe, o trabalho de reposição já foi iniciado. Há duas semanas, quatro estabelecimentos prisionais sofreram com alagamentos no Complexo Prisional de Charqueadas:

  1. Penitenciária Estadual do Jacuí (JEC);
  2. Penitenciária Estadual de Charqueadas;
  3. Instituto Penal de São Jerônimo;
  4. Instituto Penal de Charqueadas (abriga apenados do semiaberto).

Na JEC, 1.057 presos precisaram ser transferidos para a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) e os demais foram transferidos para galerias superiores da própria unidade prisional. Conforme boletim divulgado pela SSPS no dia 8, todos os detentos transferidos naquele momento puderam retornar para a JEC.

Segundo a Susepe, o sistema prisional está regular, com fornecimento de alimentação e água potável para os servidores e as pessoas privadas de liberdade. Além disso, a Polícia Penal monitora eletronicamente aqueles que utilizam tornozeleira, além de promover fiscalização presencial nos abrigos.

CNJ emitiu orientações para o período emergencial

Devido à situação nos presídios do estado, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por meio do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas, emitiu diretrizes para orientar decisões do Poder Judiciário local nos âmbitos penal e socioeducativo. As diretrizes do Conselho não são de caráter obrigatório e servem para orientar a atuação do Judiciário.

Em relação ao uso de tornozeleira eletrônica, o CNJ estabeleceu orientações que levam em consideração “infraestrutura afetada, a falta ou fornecimento irregular de energia elétrica imprescindível ao seu carregamento, a possível necessidade de deslocamento, eventuais riscos à saúde da pessoa monitorada e a possibilidade de avaria do equipamento”.

Em 15 de maio, o Ministério Público do Rio Grande do Sul pediu ao CNJ, em reunião online, a reavaliação de orientações do conselho. De acordo com o procurador-geral de Justiça, Alexandre Saltz, a adoção do desencarceramento pode afetar a segurança pública do estado. O magistrado ainda alegou que os detentos estão “bem assistidos, melhor do que as pessoas que estão aqui fora, molhadas, desabrigadas, sem futuro, sem perspectiva, e tendo que dividir os abrigos com apenados”.

Já a Defensoria Pública da União (DPU) informou que está em diálogo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) para tratar sobre essa situação.

Fontes consultadas: Consultamos a Susepe e a SSPS para informações sobre o estado das unidades e o encaminhamento de detentos. Também entramos em contato com a Prefeitura de Porto Alegre, bem como com órgãos do poder judiciário.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Comprova já mostrou ser enganoso que doações enviadas pela população afetada pelas chuvas estejam sendo reembaladas com o selo do governo federal e que a Anvisa tenha impedido o transporte de medicamentos na região. Também publicou que post usa vídeos antigos para minimizar atuação do Exército nas enchentes e que deputado desinforma ao omitir que número de mortes dito por ministro foi corrigido.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-05-17

Sete deputados do RS foram contra anistia, mas votaram a favor de suspensão de dívida

  • Contextualizando
Contextualizando
O Congresso Nacional aprovou e o governo federal já sancionou a lei que suspende por três anos a dívida do Rio Grande do Sul e de municípios do estado com a União. Durante a tramitação da matéria, foram apresentadas emendas ao projeto de lei na tentativa de anistiar os entes em relação às dívidas, mas as sugestões foram rejeitadas, inclusive com votos de parlamentares gaúchos. Por outro lado, todos os deputados federais do Rio Grande do Sul foram favoráveis à suspensão da dívida por três anos.

Conteúdo analisado: Postagem do deputado federal Maurício Marcon (Podemos-RS) acusa parlamentares do Rio Grande do Sul de votarem “contra o seu próprio povo” por terem se posicionado contra a anistia de parcelas de dívidas do Estado e dos municípios gaúchos com a União por três anos.

Onde foi publicado: X.

Contextualizando: Uma publicação do deputado federal do Rio Grande do Sul Maurício Marcon (Podemos-RS) apresenta a lista de parlamentares que votaram contra o perdão de dívidas do estado em meio à tragédia provocada pelas enchentes. Sete deputados federais gaúchos foram, como ele escreve, contrários à anistia da dívida (perdão definitivo), mas votaram a favor da suspensão do pagamento das parcelas por três anos, conforme constava no texto original enviado pelo governo federal. Diante das dúvidas que o post gerou, o Comprova traz mais detalhes sobre o caso.

A Câmara dos Deputados aprovou, em 15 de maio, o projeto de lei do Executivo que suspendeu por três anos os pagamentos de 36 parcelas mensais da dívida do Rio Grande do Sul com a União, para que o recurso seja aplicado no enfrentamento aos estragos provocados pelas fortes chuvas das últimas semanas. A matéria foi aprovada com 404 votos favoráveis e apenas dois contrários. Todos os deputados federais do Rio Grande do Sul se posicionaram a favor da proposta.

Durante a tramitação da matéria, o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) apresentou duas emendas ao projeto: Emenda 3 (que pedia anistia das parcelas das dívidas do estado e seus municípios com a União por 36 meses) e Emenda 4 (pedido de anistia de toda a dívida do RS e seus municípios com União).

Ambas as emendas foram rejeitadas no Plenário da Câmara. A Emenda 3 teve 226 votos “não” e 215 “sim”. Já a Emenda 4, 223 votos “não” e 184 votos “sim”.

A postagem do deputado Mauricio Marcon se refere à Emenda 3. Ele escreve: “Deputados do RS acabaram de ajudar a derrubar uma emenda que ANISTIAVA as parcelas da dívida do RS nós próximos 36 meses, ou seja, mesmo com o estado DESTRUÍDO votaram CONTRA seu próprio povo”. Em seguida, lista os deputados: “São eles: Afonso Motta (PDT), Bohn Gass (PT), Denise Pessôa (PT), Lindenmeyer (PT), Marcon (PT), Maria do Rosário (PT), Reginete Bispo (PT)”.

De fato, os deputados gaúchos citados votaram contra a Emenda 3, como mostra a votação nominal disponível no site da Câmara dos Deputados.

Justificativa de rejeição da Emenda

Relator do Projeto de Lei na Câmara, o deputado Afonso Motta (PDT-RS) deu parecer rejeitando a Emenda 3, assim como todas as outras apresentadas, devido ao “desatendimento dos pressupostos financeiros e orçamentários”. Em seguida, foi aprovado recurso de Van Hattem contra a inadmissibilidade das emendas. Com isso, as emendas voltaram a ser avaliadas pelos deputados.

No momento da reavaliação da Emenda 3, tema do tuíte do deputado Marcon, analisado neste ‘Contextualizando’, a orientação do governo foi “não” à proposta. Integrante da bancada do governo, a federação PT-PCdoB-PV justificou o “não” em fala do deputado Lindbergh Farias (PT-RJ). Segundo ele, a emenda não acrescentaria valor no caixa do Rio Grande do Sul nos próximos anos além do previsto no texto original do PL.

“Para mim esse destaque é quase uma fake news. As pessoas dizendo ‘eu quero ajudar mais o Rio Grande do Sul’. O impacto esse ano, no próximo ano e no outro, vai ser zero. Vai entrar um centavo em algum município do Rio Grande do Sul se este destaque for aprovado? Não. O impacto vai ser em 40, 50 anos, vai ser para o estoque da dívida”, disse o deputado durante a votação.

Aprovação no Senado

Depois de passar pela Câmara, o projeto foi aprovado no Senado por unanimidade. Na Casa, também houve tentativa de anistiar o Rio Grande do Sul das dívidas, por meio de emenda apresentada pelo Partido Liberal (PL). No entanto, a sugestão também foi rejeitada. A lei foi sancionada pelo presidente Lula (PT) nesta sexta-feira (17).

Apesar de ter sido aprovada no contexto das enchentes no Rio Grande do Sul, a nova lei também pode beneficiar, no futuro, qualquer ente federativo (estados e municípios) que passe por calamidade pública provocada por eventos climáticos. Isso ocorrerá após reconhecimento do Congresso Nacional e por meio de proposta do governo federal.

A estimativa do governo federal é que, na prática, a suspensão da dívida deve provocar alívio de R$ 11 bilhões à gestão estadual. O recurso deve ser aplicado em um fundo para ações de enfrentamento às enchentes e de reconstrução das áreas afetadas.

A proposta da suspensão da dívida

A decisão do governo federal de suspender a dívida do RS com a União por três anos foi anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no dia 13 de maio . Com isso, explicou o ministro, o valor de R$ 11 bilhões passará a ser aplicado em um fundo para a reconstrução do Estado a partir de um plano de trabalho a ser elaborado pelo governo do RS. A proposta foi encaminhada ao Congresso Nacional por meio do Projeto de Lei Complementar 85/2024.

A proposta prevê também que os juros do pagamento da dívida, que correspondem a R$ 12 bilhões no período suspenso, serão zerados. Em Regime de Recuperação Fiscal com vigência até 2030, a dívida total do Rio Grande do Sul com a União é de cerca de R$ 100 bilhões.

Ao Estadão Verifica, a economista Carla Beni, professora de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), explicou que a medida parte do pressuposto de que o governo do RS “já tinha que ter no seu orçamento o planejamento para pagar a dívida”. Segundo explicou, com a proposta, a União está abrindo mão de receber esses valores pelo prazo de três anos. “O Rio Grande do Sul tinha que ter no seu planejamento o pagamento da dívida. No lugar de pagar a dívida, ele vai usar a verba para reconstruir o Estado”, explicou a economista.

Fontes consultadas: Para a produção deste material, foram consultados os registros de votação no site da Câmara dos Deputados, textos institucionais divulgados pela Casa e pelo Senado e reportagens publicadas na imprensa.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Comprova já fez outras publicações relacionadas às enchentes no Rio Grande do Sul, como o ‘Contextualizando’ que mostrou que caminhões com doações ao RS não são retidos por falta de nota fiscal. O projeto também mostrou que o governo atua no resgate de vítimas no RS desde o dia 30, ao contrário do que afirma mulher em vídeo publicado nas redes sociais.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-05-17

Fotos de alagamento no Maranhão são antigas e não retratam atual situação do estado

  • Enganoso
Enganoso
Post utiliza imagens antigas de enchentes registradas em 2018 e 2023 no Maranhão como se fossem atuais e que não condizem com a atual situação dos alagamentos causados pela chuva no estado.

Conteúdo investigado: Post sobre desabrigados pelas chuvas no Maranhão traz quatro fotos de alagamentos.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Post viral engana ao usar imagens de outras situações para tratar dos alagamentos no Maranhão, que já fizeram 31 cidades decretarem situação de emergência em 2024. A publicação enganosa traz quatro imagens, mas apenas uma retrata as consequências das chuvas que estão inundando o estado em 2024.

A primeira foto mostra dois adultos e um adolescente navegando em uma canoa. O Comprova verificou que ela já foi utilizada pelo UOL em reportagem sobre as chuvas que atingiram o Maranhão e o Pará em março de 2023. Segundo o portal, a imagem que retrata cena em Bacabal (MA), é uma reprodução do Instagram.

As outras três imagens foram publicadas em diferentes momentos pelo G1 Maranhão. A segunda foto, um registro aéreo de uma ponte destruída pela força da água, é a única das quatro registrada em 2024. A imagem foi veiculada em uma reportagem da TV Mirante, afiliada à Rede Globo no Maranhão, e portal G1 Maranhão mostrando um trecho da BR-222 que foi cortado pela força da água.

A terceira imagem, de moradores em meio a um alagamento tentando salvar um freezer, estampa reportagem de 2018 sobre chuvas no estado maranhense. Segundo o G1, foi clicada na cidade de Tulum e o autor é Paulino Silva.

A quarta imagem, de dois garotos em uma rua alagada, é uma captura de tela de uma reportagem exibida pela TV Mirante em março de 2023, durante uma cobertura sobre as enchentes no estado.

Atual situação do Maranhão

Ao Comprova, a Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil do Maranhão informou que, até esta sexta-feira (17), 31 municípios decretaram situação de emergência, segundo dados inseridos pelas prefeituras no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD), e um decretou situação de calamidade pública devido às chuvas.

No Maranhão, segundo o Governo do Estado, foram contabilizadas 3.940 famílias afetadas pelas chuvas e não há, atualmente, registro de famílias em abrigos.

Pelo X, o Comprova procurou o perfil Astronomiaum, responsável pelo post, mas não conseguiu contato, pois a conta só pode receber mensagens de perfis verificados. O Comprova fez contato também pelo Instagram do Astronomiaum e até a última atualização desta verificação não obteve resposta.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 10 de maio, a publicação teve 1,9 milhão de visualizações. Depois, ela foi apagada por seu autor.

Fontes consultadas: Buscamos por notícias de portais de notícias sobre os impactos das chuvas recentes no Maranhão. Em seguida, procuramos o Governo do Estado do Maranhão e a Secretaria Municipal de Segurança Cidadã (Semsec) do município de Barreirinhas.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Estadão Verifica também checou o post verificado aqui e a agência Lupa verificou conteúdo semelhante, que também usa imagens de outras situações para falar do Maranhão. O Comprova também acompanha a situação dos alagamentos no Rio Grande do Sul e explicou recentemente que caminhões com doações ao RS não são retidos por falta de nota fiscal e multas por excesso de peso serão anuladas.