O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
Filtro:

Saúde

Investigado por: 2021-07-05

Não há provas que Renan Calheiros soubesse de irregularidades na compra da Covaxin

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa uma postagem no Facebook que afirma que o senador Omar Aziz e Renildo Calheiros, irmão de Renan, são autores de medida provisória que permitiu compra da vacina indiana e que Renan "sabia de tudo" sobre suposto esquema de propina na compra da Covaxin. A publicação se baseia em especulações de um youtuber e não apresenta nenhuma prova de que os senadores teriam conhecimento do suposto esquema.
  • Conteúdo verificado: Postagem no Facebook afirma que youtuber revelou que senador Omar Aziz e Renildo Calheiros, irmão de Renan, são autores de medida provisória que permitiu compra da vacina indiana e que Renan “sabia de tudo” sobre suposto esquema.

É enganoso um post feito no Facebook pela página Movimento Avança Brasil e que viralizou nas redes envolvendo os nomes dos senadores Omar Aziz (PSD-AM), Renan Calheiros (MDB-AL) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), respectivamente presidente, relator e vice-presidente da CPI da Covid, e do deputado federal Renildo Calheiros (PCdoB-PE). A publicação afirma: “Então quer dizer que o Kim Paim revelou que os autores de MPs para comprar a Covaxin foram Omar e o irmão do Renan? Randolfe foi o relator e deu parecer favorável? E #RenanSabiaDeTudo? La casa cayó”.

Kim Paim, que tem um canal no YouTube, não revelou o que o post descreve. Ele apenas especula sobre emendas propostas pelos parlamentares que envolveram a autoridade sanitária da Índia, sem apresentar nenhuma evidência de que eles teriam conhecimento do suposto esquema de superfaturamento da vacina.

O vídeo publicado por ele em sua plataforma é de 28 de junho, um dia depois que o líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR), para se defender das acusações feitas pelo deputado Luis Miranda, divulgou nota dizendo que a medida provisória que permitiu a compra de vacinas da Índia recebeu emendas dele e “de oito parlamentares”, citando Aziz e Renildo.

Na manhã de 28 de junho (data em que o post verificado aqui foi publicado), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou a apoiadores o mesmo conteúdo: que “a emenda para a Covaxin veio deles, Randolfe como relator, do irmão do Renan e do próprio Omar Aziz”.

Outra desinformação espalhada por Paim e pelo post checado: senadores e deputados não podem ser autores de MPs. Elas são criadas pelo presidente da República e se tornam leis após aprovação do Congresso, como afirma a Constituição.

A história publicada por Paim se refere à MP 1.026/2021 que, na versão original, previa que a Anvisa poderia conceder autorização excepcional para a importação e distribuição de vacinas contra a covid-19 já aprovadas por cinco agências sanitárias internacionais. Ela foi aprovada pelo Congresso com a adição de outras seis autoridades sanitárias – essa inclusão permitiria a importação da Covaxin pelo Brasil.

Segundo o site do Congresso, a MP recebeu 164 emendas. Seis foram apresentadas por Randolfe Rodrigues; três, por Renildo, e duas, por Aziz – os três pediram a inclusão de agências sanitárias que não estavam na versão original do texto, o que não significa que eles sabiam das supostas irregularidades envolvendo a negociação da compra do imunizante indiano, reveladas pela Folha e que se tornaram um dos pontos centrais da CPI.

Procurado, Paim se disse surpreso pelo contato da reportagem e perguntou quem pediu para o Comprova “tentar salvar a pele dos senadores”. Ele insistiu que as emendas de Omar Aziz e do irmão de Renan Calheiros e a relatoria de Randolfe Rodrigues na MP das vacinas sustentavam o seu argumento.

Como verificamos?

Buscamos nas redes sociais quem era o youtuber, citado na mensagem original. Assistimos ao vídeo postado em seu canal no YouTube e lemos os seus tuítes. Também entramos em contato com ele por e-mail para pedir mais detalhes sobre as alegações. Ele nos retornou no dia 1º de julho.

Procuramos a MP 1.026/2021 no site do Congresso Nacional e lemos todas as emendas apresentadas ao texto durante a sua tramitação, assim como as justificativas apresentadas pelos parlamentares em suas emendas. No site das agências sanitárias listadas na proposta, encontramos informações sobre as vacinas liberadas em cada país. Também consultamos a plataforma Our World in Data para saber em que países a Covaxin tem sido aplicada.

Buscamos na imprensa informações sobre as denúncias envolvendo o contrato do imunizante indiano. Por fim, enviamos e-mail para a Secretaria de Comunicação da Presidência da República para saber em que fontes o presidente Jair Bolsonaro baseou suas afirmações, mas não tivemos retorno.

Verificação

O caso Covaxin

Suspeitas de irregularidades no contrato para aquisição da vacina indiana Covaxin estão sendo investigadas pelo Ministério Público Federal (MPF), pela Polícia Federal (PF) e pela CPI da Covid no Senado Federal.

O contrato para a aquisição de 20 milhões de doses foi assinado no dia 25 de fevereiro deste ano, pelo Ministério da Saúde. O investimento total seria de R$ 1,614 bilhão, e a previsão era de que as primeiras doses fossem entregues já a partir do mês de março.

Essa compra do governo brasileiro chamou a atenção por ter sido concluída em apenas três meses, contra 11 meses para o imunizante da Pfizer, e ao custo de US$ 15 por dose — o mais caro entre as seis vacinas contra a covid-19 adquiridas pelo Brasil até o momento.

Esse valor também é 1.000% maior do que aquele estimado pela fabricante em um telegrama da embaixada brasileira em Nova Délhi, na Índia, de agosto do ano passado, de acordo com reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. Em dezembro, outro comunicado dizia que o produto “custaria menos do que uma garrafa d’água”.

A Covaxin também é a única vacina até agora a ter sido negociada pelo governo através de uma empresa intermediária, a Precisa Medicamentos, e não diretamente com a fabricante, neste caso, o laboratório indiano Bharat Biotech.

Entre os sócios da Precisa está o empresário Francisco Maximiano, que também é presidente de uma empresa investigada por fraude na compra de medicamentos para doenças raras pelo Ministério da Saúde, a Global Gestão em Saúde, em 2017.

O caso, que tramita na Justiça Federal do Distrito Federal, envolveu o pagamento antecipado de quase R$ 20 milhões por remédios que nunca foram entregues. O deputado federal Ricardo Barros, que era ministro da Saúde na época, é réu na ação por improbidade administrativa.

A Precisa aumentou sua participação em contratos com o governo federal em mais de 6.000% durante a gestão de Bolsonaro, segundo notícia do Estadão. Ela saiu de acordos de R$ 27,4 milhões em 2018 pela venda de 11,7 milhões de preservativos femininos, para o total de R$ 1,67 bilhão em 2019 e 2020. A empresa também é investigada por suspeitas de superfaturamento em testes de covid vendidos ao governo do Distrito Federal.

Apesar da promessa de entrega de doses a partir de março, a Bharat sequer havia concluído os estudos clínicos de fase 3 na data. Apenas em 4 de junho a Anvisa autorizou a primeira importação, em caráter excepcional, de 4 milhões de doses da Covaxin, mas esse quantitativo somente poderia ser utilizado dentro de um estudo de eficácia, com acompanhamento laboratorial e certificado de boas práticas, entre outras condições, o que acabou não ocorrendo.

Em 29 de junho, a Anvisa recebeu o pedido de liberação para o uso emergencial da Covaxin. Um dia depois, a entidade suspendeu temporariamente a análise porque “documentos obrigatórios e essenciais” não foram apresentados pela Precisa. O Brasil segue sem ter recebido nenhuma dose do imunizante indiano.

As suspeitas sobre o contrato para a compra da Covaxin ganharam força depois que o jornal Folha de S. Paulo revelou que um servidor do Ministério da Saúde, Luís Ricardo Miranda, que coordena o setor de importação da pasta, prestou depoimento ao Ministério Público Federal (MPF) relatando uma “pressão atípica” para autorizar a importação da vacina, no dia 31 de março. A reportagem foi publicada em 18 de junho.

Depois desse fato, o irmão do servidor público, o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF) trouxe novas informações. Em uma entrevista ao canal CNN Brasil, o deputado mostrou uma fatura de compra que havia sido encaminhada a Ricardo, em 20 de março, com dados incompatíveis com o contrato.

A quantidade de entrega era inferior e o documento previa pagamento antecipado de US$ 45 milhões. O acerto financeiro também envolvia uma terceira empresa, chamada Madison Biotech, que seria uma subsidiária da Bharat localizada em Singapura, país conhecido por ser um paraíso fiscal. Essa nota foi corrigida posteriormente, mantendo o pagamento para a Madison.

O deputado Luís Miranda também disse que levou o caso até o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), no mesmo dia em que o irmão recebeu a fatura irregular, em uma reunião privada no Palácio do Alvorada. Ele argumentou que poderia se tratar de indícios de corrupção no Ministério da Saúde. Esse encontro está registrado em fotos e mensagens trocadas com um assessor da Presidência.

Na ocasião, segundo Miranda, Bolsonaro teria dito que encaminharia o caso para o diretor-geral da Polícia Federal e que esse seria “mais um rolo” do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros. As informações foram prestadas pelos irmãos em depoimento à CPI da Covid, em 25 de junho.

Não há registros de que a PF tenha sido comunicada por Bolsonaro, sendo que um inquérito só foi aberto no dia 30 de junho. Isso motivou senadores de oposição a protocolarem uma notícia-crime no Supremo Tribunal Federal (STF), acusando o presidente de cometer o crime de prevaricação. Governistas rebatem dizendo que Bolsonaro informou o então ministro Eduardo Pazuello, que não teria encontrado irregularidades.

Nesta sexta-feira, 2 de julho, depois de ser cobrada a se posicionar pela ministra Rosa Weber, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu a abertura do inquérito para investigar Bolsonaro. Após o caso vir à tona, o Ministério da Saúde decidiu suspender o contrato para aquisição do imunizante.

A Bharat Biotech e a Precisa Medicamentos negam que tenha havido superfaturamento no contrato, dizendo que o preço acertado com o governo brasileiro é o mesmo que o praticado por outros 13 países. O deputado Ricardo Barros também divulgou nota em que nega envolvimento com supostas irregularidades na compra da Covaxin.

A MP das vacinas

A história publicada por Kim Paim se refere à Medida Provisória 1026, de 2021, que “Dispõe sobre as medidas excepcionais relativas à aquisição de vacinas, insumos, bens e serviços de logística, tecnologia da informação e comunicação, comunicação social e publicitária e treinamentos destinados à vacinação contra a covid-19 e sobre o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19“.

Essa MP foi editada pelo Poder Executivo, em 6 de janeiro de 2021. Esse é um instrumento que pode ser adotado pelo presidente da República em casos de relevância e urgência, porque produz efeito imediato. Para que seja transformada em lei, no entanto, a MP precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional. Isso ocorreu em 10 de março de 2021, quando foi publicada a Lei Federal nº 14.124.

O texto original da MP previa que a Anvisa poderia conceder uma autorização excepcional e temporária para a importação e distribuição de vacinas contra a covid-19 já aprovadas por cinco agências sanitárias internacionais: dos Estados Unidos (Food and Drug Administration, FDA), da União Europeia (European Medicines Agency, EMA), do Japão (Pharmaceuticals and Medical Devices Agency, PMDA), da China (National Medical Products Administration, NMPA) e do Reino Unido (Medicines and Healthcare Products Regulatory Agency, MHRA).

A lei aprovada pelo Congresso incluiu outras seis autoridades sanitárias internacionais: da Índia (Central Drugs Standard Control Organization, CDSCO), da Rússia (Ministry of Health of the Russian Federation), da Coreia do Sul (Korea Disease Control and Prevention Agency, KDCA), do Canadá (Health Canada, HC), da Austrália (Therapeutic Goods Administration, TGA) e da Argentina (Administración Nacional de Medicamentos, Alimentos y Tecnología Médica, ANMAT). Essa análise precisa ser feita em sete dias úteis, caso a documentação encaminhada esteja completa.

Essas mudanças permitiriam a importação da Covaxin ao Brasil, já que o imunizante ainda não foi autorizado pelas cinco agências originais da MP (Estados Unidos, União Europeia, Japão, Reino Unido e China).

Ainda não há uma relação direta entre a MP e o suposto esquema da Covaxin. O assunto veio à tona porque Ricardo Barros é autor de emenda que incluiu a autoridade sanitária indiana na legislação, ao mesmo tempo que a Precisa contava com essa alteração na MP para conseguir autorização de uso para a vacina no Brasil.

Segundo a plataforma Our World in Data, ligada à Universidade de Oxford, a Covaxin tem sido aplicada em seis países. Além da Índia, a lista inclui o Paraguai, Irã, República Centro-Africana, Comores e as Ilhas Maurício.

As emendas de Omar Aziz, Randolfe Rodrigues e Renildo Calheiros

De acordo com o site do Congresso Nacional, a MP 1026/21 recebeu, ao todo, 164 emendas; já incluindo na lista aquelas que foram apresentadas durante a discussão no plenário.

Dessas, seis emendas foram apresentadas pelo senador Randolfe Rodrigues. Entre elas, existem pedidos para incluir na lista original de autoridades sanitárias a Rússia (emenda 14) e a Organização Pan-Americana de Saúde, Opas (emenda 15); esta última não aprovada e não incluída no texto final.

O deputado federal Renildo Calheiros, irmão do senador Renan Calheiros, apresentou três emendas. Entre elas, a emenda 77 incluía as agências sanitárias da Rússia e da Índia na lista original. Na justificativa, ele afirmou que: “A Federação Russa e a República da Índia, parceiras do Brasil nos BRICs, têm se destacado na pesquisa e produção de vacinas contra a Covid 19. Na situação de carência absoluta de vacinas em que o Brasil se encontra, as decisões regulatórias desses dois países também devem poder ser utilizadas como referência para as autorizações emitidas pela Anvisa.”

Aziz apresentou duas emendas ao texto da MP. Uma delas, a emenda 111, incluía no texto as agências sanitárias da Índia, Canadá, Rússia, Argentina e Coreia do Sul. Na justificativa, ele escreveu: “Esta emenda objetiva incluir no art. 16 da medida provisória nº 1.026, de 2021, que disciplina a autorização excepcional concedida pela Anvisa, as entidades sanitárias regulatórias do Canadá, da Rússia, da Coreia do Sul, da Argentina e da Índia dentre aquelas cujas decisões possam ser utilizadas como referência para as autorizações emitidas pela Agência Nacional.”

Renan Calheiros não apresentou nenhuma emenda a esta MP.

Emendas de outros parlamentares

Outros sete parlamentares pediram a inclusão da entidade de saúde indiana na MP.

Cinco deputados federais pediram, ao mesmo tempo, a inclusão da Índia e da Rússia: Alice Portugal (PCdoB-BA) – emenda 70; Jandira Feghali (PCdoB-RJ) – emenda 73; Perpétua Almeida (PCdoB-AC) – emenda 82; Orlando Silva (PCdoB-SP) – emenda 102 e emenda 104; e Daniel Almeida (PCdoB-BA) – emenda 107.

Um pediu Índia, Austrália e Canadá: Gonzaga Patriota (PSB-PE) – emenda 128.

Apenas um parlamentar apresentou uma emenda que contemplava unicamente a agência indiana: Ricardo Barros – emenda 117.

Mudanças no texto

O texto original foi, então, alterado por um projeto de lei de conversão, o PLV 1/2021, de autoria do deputado Pedro Westphalen (PP-RS). Ele incorporou, integral ou parcialmente, todas as emendas que incluíam novas agências sanitárias no artigo 16.

Randolfe Rodrigues foi relator do PLV 1/2021 no Senado. A única mudança que ele fez no artigo 16 foi em relação ao nome dado por Westphalen à autoridade de saúde da Rússia. Diz o relatório do senador: “Outro reparo a fazer é quanto ao nome da autoridade sanitária russa, que aprovou e registrou a vacina Sputinik V. Segundo informações obtidas junto à Embaixada da Rússia, o nome correto é Ministry of Health of the Russian Federation, e não Federal Service for Surveillance in Healthcare, conforme consta do inciso VI do art. 16 do PLV.”

No dia 22 de junho, uma matéria da Crusoé mostrou que “o texto incorporado pelo relator da matéria é idêntico ao do líder do governo, diferentemente das emendas de autoria de outros deputados”. A reportagem também mostra que o presidente da Precisa Medicamentos, Francisco Maximiano, citado no caso, afirmou ao embaixador do Brasil em Nova Delhi, André Correia do Lago, que a liberação do imunizante no Brasil poderia ser obtida brevemente “em razão de nova redação da Medida Provisória 1.026/21”.

Versão final da lei:

Emenda do Ricardo Barros:

Emenda do Omar Aziz:

Emenda de Renildo Calheiros:

 

O youtuber

Em sua descrição no Twitter, Kim Paim se descreve como “o homem que se tornará o rei dos piratas”. Apoiador de Bolsonaro, na aba “Sobre” de seu canal no YouTube, ele escreve uma espécie de estrofe: “Olavo tem razão/ Bolsonaro é mito/ Tias do zap moram em meu coração/ E os chapéus de palha vencerão”.

Ao primeiro contato do Comprova, que o questionava sobre quem eram as fontes para as afirmações feitas e se ele tinha alguma prova do que afirma no vídeo com as acusações, ele respondeu com dois e-mails.

No primeiro, disse que seus vídeos e tuítes “são feitos inteiramente com matérias da grande mídia e documentos oficiais”, sem enviar nada, e que “o simples fato” de a reportagem enviar um e-mail questionando-o sobre as denúncias mostrava que o repórter não conhece o trabalho do youtuber. Na realidade, é trabalho de qualquer jornalista comprometido com a verdade tentar falar com as pessoas citadas na reportagem. Nesta mensagem, Paim também escreveu: “Mas, conta aí, quem pediu para você tentar salvar a pele dos senadores?”.

Minutos depois, ele enviou um outro e-mail que terminava com: “Se eu precisar te contar mais do que isso, é melhor vocês me contratarem (sic) logo. Como vocês são desinformados. Pqp”.

Depois de enviar os e-mails, o youtuber foi ao Twitter e sugeriu que o Comprova estaria agindo a pedido de Renan Calheiros. “Tantos documentos disponibilizados, e ainda irão falar no mínimo que meus tuítes são imprecisos. Vão fazer de tudo para salvar a turminha do Renan”, escreveu.

E, um dia depois, Paim publicou um vídeo em seu canal no YouTube com novas acusações infundadas contra o Comprova.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia ou sobre políticas públicas do governo federal.

Quando o conteúdo acusa os senadores à frente da CPI, que tenta apurar ações e omissões da União em relação à covid-19, ele se torna perigoso pois pretende deslegitimar o trabalho de investigação no Senado. Só no Facebook, o post na página Movimento Avança Brasil teve 2,1 mil compartilhamentos e 3,8 mil reações. Já o tuíte de Kim Paim foi compartilhado 2,5 mil vezes e teve mais de 6 mil reações até 2 de julho.

Neste ano, o Comprova publicou diversos conteúdos que, como o verificado aqui, distorcem a realidade em prol da narrativa do presidente, que vem atacando a CPI e ironizou denúncia do pedido de propina na compra da vacina, dizendo que representante de empresa relatou “propininha de R$ 2 bilhões”. Alguns exemplos são a checagem que concluiu ser falso que irmãos Miranda forjaram recibos da compra da Covaxin, a que enganava ao afirmar que a Universidade de Oxford encontrou fortes indícios da ivermectina contra a covid e a do deputado Eduardo Bolsonaro desinformando ao postar que os imunizantes não passaram por protocolos de segurança.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-06-29

É falso que irmãos Miranda forjaram recibos da compra da Covaxin para prejudicar Bolsonaro

  • Falso
Falso
É falso que o deputado Luis Miranda e seu irmão, o funcionário público Luis Ricardo Miranda, forjaram documento sobre a compra da Covaxin "para propagar fake mews (sic) contra o presidente Bolsonaro".
  • Conteúdo verificado: Post que viralizou no Facebook e no Twitter compara dois documentos da negociação da Covaxin com o governo brasileiro e afirma que o recibo apresentado pelo servidor Luis Ricardo Miranda é falso. A legenda acusa o funcionário e seu irmão, o deputado Luis Miranda, de terem falsificado o papel para prejudicar Jair Bolsonaro.

É falso o post que viralizou em redes como Facebook e Twitter afirmando que o deputado Luis Miranda (DEM-DF) e seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, tenham forjado documento para propagar desinformação contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

O post se refere a recibo sobre a compra da vacina indiana Covaxin, negociada com o governo federal pela Precisa Medicamentos. Segundo o servidor, como revelou o jornal Folha de S.Paulo, houve pressão atípica no ministério para que a aquisição fosse efetuada e ele, inclusive, foi com seu irmão levar a suspeita até Bolsonaro.

Após a suspeita e a conversa com o presidente serem reveladas, Onyx Lorenzoni, ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, foi escolhido para defender Bolsonaro em pronunciamento e disse que o documento apresentado por Luis Ricardo Miranda fora adulterado – linha que segue o post verificado aqui. Mas, na verdade, como mostrou O Globo, a versão colocada como “falsa” pelo ministro e pelo post verificado aqui é a primeira versão de três que foram apresentadas. O documento está em um sistema do Ministério da Saúde a que os servidores federais têm acesso.

Procurado, o deputado Miranda afirmou que ele e o irmão foram “atacados e acusados de mentir” e que “as pessoas precisam entender a gravidade de uma fake news”. “Cedo ou tarde, a verdade sempre aparece, mas os danos causados nunca serão esquecidos”, disse.

O Comprova também tentou contatar o autor do primeiro post que encontrou no Twitter com o conteúdo falso, mas foi bloqueado pelo usuário.

Como verificamos?

Pesquisamos reportagens sobre o caso envolvendo os irmãos Miranda e a negociação da Covaxin e logo foi possível verificar que o post checado aqui seguia a mesma narrativa do governo federal que, por meio de Lorenzoni, acusou o servidor de ter apresentado um documento falso.

Também tentamos usar as ferramentas Google Lens e Invid Magnifier, de ampliação de imagens online, para ler as informações em cada recibo apresentado nos posts, mas a resolução estava ruim e não foi possível identificar os dados. Para ir adiante, a reportagem usou como base as versões publicadas pelo jornal O Globo na matéria “Documento sobre Covaxin que Palácio do Planalto diz que não existe está em sistema do Ministério da Saúde”, publicada em 24 de junho, e conseguiu verificar que os dados eram os mesmos.

Por meio de recursos como o TweetDeck, chegamos ao que pode ter sido o primeiro tuíte com o conteúdo verificado. Tentamos contatar o autor do perfil (@LinsLeandroBr), que não respondeu e bloqueou a repórter. Já a assessoria de imprensa do deputado Luis Miranda conseguimos contatar por Whatsapp.

Verificação

Versões

O post verificado aqui compara dois documentos com o timbre da empresa de Singapura Madison Biotech, ligada à Bharat Biotech, que produz a vacina na Índia. Um é marcado como “documento apresentado” e, outro, como “documento original”, indicando que o primeiro teria sido falsificado.

Ao ampliar a imagem dos dois recibos exibidos no post usando ferramentas como Google Lens e InVid, não é possível ler todas as informações das imagens, mas, usando como referências as versões do documento publicadas pelo O Globo, dá para identificar que o papel colocado como falso por Lorenzoni e no post tem seis dígitos no campo relativo à quantidade de doses da vacina e, no recibo posto como original, há sete dígitos.

As diferentes versões no post:

A primeira versão, publicada inicialmente pelo Globo e colocada como “documento apresentado” no post:

A terceira versão, publicada inicialmente pelo Globo e colocada como “documento original” no post:

Como mostrado pelo veículo carioca, a primeira versão, recebida pelo Ministério da Saúde em 18 de março, traz um pedido de 300 mil doses (seis dígitos) e a segunda e terceira versões trazem 3 milhões (sete dígitos).

Outra diferença entre os recibos é que a versão apontada como falsa pelo post, traz a informação de que o pagamento seria adiantado, ou seja, antes do recebimento das doses. Já no recibo apontado como “original” está “segundo o contrato”. Mesmas informações que aparecem nos recibos divulgados pelo Globo.

Para o Comprova, o deputado Luis Miranda afirmou: “Quando provamos que o documento estava no sistema do Ministério da Saúde, os acusadores não tiveram a coragem de pedir desculpas e apresentar a verdade”. Disse ainda que espalhar desinformação afeta “a vida de uma pessoa, de uma família”.

Pedido de investigação

Em pronunciamento à imprensa na quarta-feira (23), o ministro Lorenzoni não só negou qualquer irregularidade na compra da vacina como anunciou que a Polícia Federal irá investigar os irmãos Miranda, a pedido de Bolsonaro.

“Luiz Miranda, Deus está vendo. O senhor não vai só se entender com Deus não, vai se entender com a gente também e tem mais: o senhor vai explicar e o senhor vai pagar pela irresponsabilidade, pelo mau-caratismo, pela má-fé”, declarou o ministro. Posteriormente, Bolsonaro afirmou que a diferença nos recibos se deu por um zero a menos, que foi corrigido.

Um dia depois do anúncio do governo, Luis Miranda escreveu em seu perfil no Twitter, dirigindo-se a Bolsonaro: “Por que me atacar com fake news através do @onyxlorenzoni? Só tentei combater uma possível corrupção”.

Precisa

A Precisa Medicamentos, intermediária da compra da Covaxin, é o principal alvo das suspeitas de corrupção apuradas pela CPI da Covid e pelo Ministério Público Federal.

A empresa que intermediou a compra da vacina Covaxin aumentou sua participação em contratos com o governo federal em mais de 6.000% durante a gestão de Bolsonaro. Segundo reportagem do Estadão, a Precisa Medicamentos saiu de acordos de R$ 27,4 milhões em 2018 pela venda de 11,7 milhões de preservativos femininos, para o total de R$ 1,67 bilhão em 2019 e 2020.

Além disso, o Ministério Público Federal move uma ação contra a Global Saúde, empresa ligada à Precisa que firmou um contrato para entregar medicamentos para doenças raras no valor de R$ 19,9 milhões, mas não entregou os produtos. À época, no governo Michel Temer, o ministro da Saúde era Ricardo Barros, deputado federal que hoje é acusado de pressionar o ministério a comprar a Covaxin.

A empresa também é investigada na operação Falso Negativo por superfaturamento de testes de covid vendidos ao governo do Distrito Federal.

CPI da Covid

A existência de denúncias de irregularidades acerca da negociação da Covaxin pelo governo federal foi revelada pela Folha em 18 de junho, quando o jornal publicou uma reportagem sobre o depoimento sigiloso do servidor Luis Ricardo Miranda ao Ministério Público Federal. A partir daquela reportagem, o caso se tornou prioridade na CPI da Covid, que chamou o funcionário público e o irmão deputado para depor na última sexta-feira (25).

No depoimento, os dois disseram que avisaram Bolsonaro sobre suspeitas de irregularidades relacionadas ao contrato e o deputado afirmou que, na ocasião, o presidente citou o nome de Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, relacionando-o às supostas irregularidades. Barros, porém, negou participação e disse que “a investigação provará isso”.

No dia 27, a Folha publicou entrevista em que Luis Miranda afirma que o esquema de corrupção na pasta da Saúde pode ser “muito maior” do que a negociação da Covaxin e incluir fraude na compra de testes de covid.

Um dia depois, ao comentar as suspeitas ligadas a Covaxin com apoiadores, Bolsonaro comentou que não tem como saber o que ocorre nos ministérios.

Com as reviravoltas, a oposição quer paralisar votações no Congresso e avalia incluir o caso da Covaxin no superpedido de impeachment contra Bolsonaro, que será apresentado na semana que vem.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia ou sobre políticas públicas do governo federal.

Quando o conteúdo envolve a compra de uma vacina, a suspeita de um servidor público e um deputado, a checagem é necessária porque informações incorretas podem levar a acusações infundadas (contra os irmãos). O post verificado aqui teve mais de 1,3 mil interações, incluindo cerca de 425 compartilhamentos.

Neste ano, o Comprova publicou diversos conteúdos que, como o verificado aqui, distorcem a realidade em prol da narrativa do presidente, que ignora a gravidade da pandemia, não dando importância à vacina ou às medidas preventivas contra a doença. Alguns exemplos são o que enganava ao afirmar que a Universidade de Oxford encontrou fortes indícios da ivermectina contra a covid e o do deputado Eduardo Bolsonaro desinformando ao postar que os imunizantes não passaram por protocolos de segurança.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2021-06-25

Universidade de Oxford não encontrou ‘fortes indícios’ da eficácia da ivermectina contra a covid

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a declaração do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que "a Oxford encontrou fortes indícios de que ivermectina realmente previne ou, no primeiro momento, é salutar e começaram a estudar com mais profundidade", referindo-se à covid-19. O estudo anunciado pela Universidade de Oxford existe, mas afirma apenas que uma pesquisa randomizada será iniciada com a ivermectina, com base em estudos de laboratório e estudos-piloto. Além disso, o estudo é voltado para pessoas já infectadas, e não para a prevenção da doença.
  • Conteúdo verificado: Vídeo do presidente afirmando que a Universidade de Oxford encontrou fortes indícios de que a ivermectina previne ou é salutar contra a covid e que, por isso, começou a estudá-la com mais profundidade. Após o anúncio sobre a pesquisa, contas de apoiadores do governo em redes sociais fizeram postagens ironizando as informações de que a substância não tem comprovação científica e defendendo que a substância já deveria estar sendo utilizada no combate à doença.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) declarou no dia 23 de junho que a Universidade de Oxford encontrou fortes indícios de que a ivermectina realmente previna ou é benéfica no tratamento da covid-19. A afirmação é enganosa pois o estudo ainda se encontra em estágio inicial, não tendo chegado a conclusões.

Em vídeo gravado durante conversa com apoiadores, ele pergunta: “Vocês viram aí que a Oxford encontrou fortes indícios de que a ivermectina realmente previne ou, no primeiro momento, é salutar e começaram a estudar com mais profundidade a ivermectina?”.

A declaração ocorreu no mesmo dia em que a Oxford comunicou que passaria a investigar a ivermectina como parte de um ensaio randomizado, destacando que o medicamento demonstrou reduzir a replicação do Sars-CoV-2 em estudos de laboratório, ou seja, sem testes em humanos, e que estudos-piloto, em escala reduzida, mostram que a administração precoce pode reduzir a carga viral e a duração dos sintomas em alguns pacientes com casos leves.

O estudo da Oxford, entretanto, está apenas no início e a equipe responsável afirmou ao Comprova que não possui expectativa de prazo para a publicação de resultados. Além disso, em nenhum momento o comunicado fala sobre prevenção da covid e destaca que há poucas evidências de ensaios clínicos randomizados em grande escala para demonstrar que a ivermectina pode acelerar a recuperação da doença ou reduzir a internação hospitalar.

Além da declaração do presidente, diversas contas de apoiadores, algumas com grande alcance, incluindo a do deputado federal Capitão Alberto Neto (Republicanos-AM), fizeram postagens em redes sociais ironizando as informações de que a substância não tem comprovação científica e defendendo que ela já deveria estar sendo utilizada no combate à doença.

O Comprova procurou a assessoria de comunicação da presidência e do deputado, mas nenhuma retornou. Também entrou em contato com outras três contas de apoiadores que compartilharam o vídeo, mas não houve retorno. Uma quarta não foi procurada porque, em verificação anterior, pediu para não ser mais consultada.

Como verificamos?

A reportagem avaliou a fala do presidente e as demais postagens de contas em redes sociais, comparando-as com o comunicado oficial divulgado pela Universidade de Oxford, localizando as incoerências entre as informações.

Em seguida, encaminhou e-mail para os responsáveis pelo estudo Principle, que irá analisar os efeitos da ivermectina contra a covid, pedindo detalhes sobre o trabalho a ser desenvolvido.

Também pesquisou a diferença entre o ensaio randomizado, aqui proposto, e os estudos de laboratório e piloto nos quais a universidade se baseia para aprofundar o olhar sobre a ivermectina e consultou os atuais entendimentos dos principais órgãos reguladores e fiscalizadores de medicamentos acerca da droga.

Por fim, o Comprova procurou a assessoria de comunicação da presidência e do deputado federal, além das demais contas, via mensagem direta ou resposta à publicação em questão no Twitter.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 25 de junho de 2021.

Verificação

O que a Oxford anunciou?

Em comunicado divulgado no dia 23 de junho, a Universidade de Oxford, na Inglaterra, informou que passaria a investigar a ivermectina como parte do ensaio randomizado, onde os integrantes serão escolhidos de forma aleatória.

A análise se dará no contexto do estudo Principle (sigla em inglês para Plataforma de Ensaio Randomizado de Tratamentos na Comunidade para Epidemias e Doenças Pandêmicas), conduzido nacionalmente com intuito de encontrar tratamentos para a recuperação rápida de infectados pelo coronavírus e que evitem internação hospitalar.

A publicação destaca que a ivermectina é um medicamento antiparasitário seguro e de amplo espectro, com propriedades antivirais conhecidas. Os responsáveis pelo estudo afirmam que o remédio demonstrou reduzir a replicação do Sars-CoV-2 em estudos de laboratório (pré-clínicos e sem testes em humanos) e que pequenos estudos-piloto (em pequena escala) mostram que a administração precoce pode reduzir a carga viral e a duração dos sintomas em alguns pacientes com casos leves. Não é citado nenhum estudo relacionado ao uso da ivermectina como remédio preventivo.

A divulgação não esclarece quais estudos são esses. O Comprova questionou a equipe responsável sobre isso, mas ela respondeu sem citar os estudos que neste momento não estão sendo concedidas entrevistas à mídia internacional a respeito da pesquisa com a ivermectina, que apenas começou.

O anúncio divulgado pela Oxford observa, entretanto, que embora a ivermectina seja usada rotineiramente em alguns países para o tratamento da doença, há poucas evidências de ensaios clínicos randomizados em grande escala para demonstrar que ela pode acelerar a recuperação ou reduzir a internação hospitalar.

No texto, o professor Chris Butler, do Departamento de Ciências da Saúde de Atenção Primária de Nuffield da Universidade de Oxford, investigador-chefe adjunto do estudo, afirma que o medicamento tem bom perfil de segurança e que será estudado devido aos primeiros resultados promissores em alguns estudos. “Ao incluir a ivermectina em um ensaio de grande escala como Principle esperamos gerar evidências robustas para determinar a eficácia do tratamento contra a covid-19 e se há benefícios ou danos associados ao seu uso”, disse. Em nenhum momento são citados “fortes indícios” dessa eficácia.

Como será o estudo com a ivermectina

Os responsáveis pelo Principle explicam que os voluntários passarão por triagem por meio de questionário e, em seguida, serão aleatoriamente designados para receber um curso de três dias relacionado ao tratamento com ivermectina via oral. A partir disso, serão acompanhados por 28 dias e comparados com participantes que foram designados a receber o tratamento padrão do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido.

Entre as pessoas elegíveis para o estudo estão aquelas com idades entre 18 e 64 anos com certas condições de saúde subjacentes/falta de ar devido à doença ou com idade acima de 65 anos, estando nos primeiros 14 dias após apresentarem sintomas ou tendo recebido um teste positivo.

A ivermectina é o sétimo tratamento a ser investigado pelo Principle, que também avalia atualmente o antiviral favipiravir, utilizado no tratamento da influenza.

Em abril deste ano, a universidade relatou evidências provisórias do primeiro medicamento eficaz do Reino Unido para tratar a covid em pacientes em casa, a budesonida inalada, mostrando que o tratamento pode reduzir o tempo de recuperação em uma média de três dias. Desde então, o medicamento foi incluído nas diretrizes clínicas para o tratamento em estágio inicial no Reino Unido, Canadá e Índia.

O estudo também já concluiu que as substâncias azitromicina e doxiciclina não são um tratamento eficaz para reduzir o tempo de recuperação ou o risco de internação hospitalar para pessoas com suspeita de covid.

Ao Comprova, por e-mail, os responsáveis pelo Principle informaram não haver, ainda, número definido de participantes a serem recrutados para a análise da ivermectina ou um tempo definido para quando os resultados estarão disponíveis.

Eficácia do antiparasitário não foi comprovada

O anunciado pela Universidade de Oxford afirma apenas que uma pesquisa randomizada será iniciada com a ivermectina, com base em estudos de laboratório e estudos-piloto. Até o momento não há, contudo, estudo concluído que comprove a eficácia do antiparasitário para tratamento ou prevenção da covid.

A OMS, por exemplo, recomenda o uso da substância apenas em ensaios clínicos, como é o caso aqui verificado, tendo em vista que a evidência atual sobre o uso desse medicamento para tratar pacientes com a doença é inconclusiva.

Já a Food and Drug Administration (FDA), agência de regulação dos Estados Unidos, também desaprova o uso da substância para tratar ou prevenir a covid-19 e alerta que doses excessivas do medicamento podem causar danos. A European Medicines Agency (EMA) desaconselha o uso fora de ensaios clínicos.

No Brasil, a Anvisa já esclareceu que não existem estudos conclusivos que comprovem o uso desse medicamento para o tratamento, mas destacou que não existem estudos que refutem o uso: “Nesse sentido, as indicações aprovadas para a ivermectina são aquelas constantes da bula do medicamento”, diz. Apesar deste posicionamento, acrescenta que “o uso do medicamento para indicações não previstas na bula é de escolha e responsabilidade do médico prescritor”.

O laboratório Merck, fabricante da ivermectina nos Estados Unidos, afirmou em fevereiro de 2021 que os cientistas da empresa examinam cuidadosamente todos os estudos disponíveis e emergentes de ivermectina para o tratamento da doença para evidências de eficácia e segurança, mas ainda não foi identificada base científica para um efeito terapêutico potencial contra a covid de estudos pré-clínicos.

Como reiterado frequentemente pelo Comprova, não há, até o momento, estudos que comprovem a eficácia ou segurança do uso de medicamentos associados ao “tratamento precoce” para o combate à covid. Os órgãos se baseiam em estudos grandes, bem desenhados e publicados em revistas científicas respeitadas.

Anúncio não incentiva uso de ivermectina contra a covid

Em nenhum trecho do anúncio feito pela Universidade de Oxford é recomendado o uso da ivermectina para tratamento da covid antes de haver resultados que comprovem a eficácia da droga neste sentido.

Além da declaração do presidente Bolsonaro aos apoiadores, o Comprova identificou postagens no Twitter e no Facebook sobre um suposto sucesso que uma pesquisa realizada na universidade estaria obtendo para confirmar a eficácia da ivermectina. Porém, o Principle, como já dito aqui, sequer admitiu em resposta ao Comprova que os estudos sejam da própria universidade ou em quais estaria se baseando.

Tuítes nos perfis @PolitzOficial, @spinellirio, @paulofilippus e @BrazilFight enfatizam quanto o presidente apostou no medicamento para o “tratamento precoce” da doença e que, agora, a pesquisa conduzida pela instituição inglesa teria fortes indícios da eficácia da ivermectina, além de questionar se a CPI da Pandemia, no Senado, e o Jornal Nacional vão divulgar o fato.

No Facebook, a postagem na página do deputado federal Capitão Alberto Neto (Republicanos-AM) apresenta com ironia a notícia da análise anunciada pela universidade com a seguinte frase: Será que vão contestar com tanta ênfase os estudos da Oxford agora? Em seguida, reproduz trecho da notícia veiculada no Portal Terra sobre os resultados da droga em testes laboratoriais e estudos-piloto.

As assessorias de comunicação do presidente e do deputado foram procuradas e não retornaram. Os demais, à exceção do @Politz, foram contatados pelo Twitter, mas também não responderam. O Politz não foi procurado porque em verificação anterior afirmou não ter interesse em ser consultado em novas checagens.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia ou sobre políticas públicas do governo federal.

Quando o conteúdo envolve medicamentos ou tratamentos contra o novo coronavírus, a checagem é necessária porque informações incorretas podem levar as pessoas a colocarem a saúde em risco. Aqui o caso é ainda mais grave, pois a desinformação foi propagada pelo presidente, a maior autoridade do país, o que pode impactar fortemente na forma como as pessoas lidam com a doença.

Até o momento, as medidas eficazes contra o novo coronavírus incluem a vacinação, a higienização das mãos, o uso de máscaras e o distanciamento social.

Em dois dias o vídeo com a fala de Bolsonaro publicado no Youtube somou 181 mil visualizações e 2,3 mil comentários. Também no dia 25 de junho a postagem do deputado federal no Facebook já alcançava 16 mil reações, 9,4 mil comentários e 7,7 mil compartilhamentos. No Twitter, as demais postagens somaram 9,4 mil interações.

O vídeo do presidente e conteúdos semelhantes nas redes sociais também foram verificados pela AFP Checamos e pelo Estadão Verifica. Neste ano, o Comprova já publicou outras verificações relacionadas à ivermectina, como os malefícios de altas doses da droga e que a OMS não indica o uso da ivermectina no combate à covid.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

 

 

Saúde

Investigado por: 2021-06-25

É enganoso que e-mail de Anthony Fauci mostrado no Fantástico prove origem do coronavírus em laboratório

  • Enganoso
Enganoso
Tuíte engana ao afirmar que Fantástico mostrou que, segundo e-mails de Anthony Fauci, principal autoridade de saúde dos Estados Unidos, o coronavírus foi criado em laboratório. A reportagem é bem clara ao afirmar que está apresentando hipóteses sobre a origem.
  • Conteúdo verificado: Tuíte segundo o qual reportagem do Fantástico teria mostrado que e-mails de Anthony Fauci revelaram que o coronavírus foi criado em laboratório, chamando a pandemia de “fraudemia”.

É enganoso o tuíte segundo o qual o Fantástico teria mostrado que e-mails do virologista Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) dos Estados Unidos e principal autoridade de saúde no país, revelem que o novo coronavírus foi criado em laboratório.

“Um amigo que me criticou o ano de 2020 inteiro, me acusando de teórico da conspiração, acaba de me ligar para pedir desculpas, pois, segundo ele, o Fantástico acaba de revelar os e-mails do Dr. Fauci, revelando a criação do vírus em laboratório. Fraudemia revelada! Grande dia!!!”, escreve o autor do post um dia após a exibição do programa da Globo.

Porém, a reportagem não fez tal afirmação. De acordo com o programa dominical, o que se descobriu nas mensagens foi que, “já em fevereiro de 2020, em segredo, alguns dos principais virologistas do mundo mostravam desconfiança sobre as origens do vírus”. Ou seja, o Fantástico não afirmou que os e-mails revelavam que o vírus fora criado em laboratório. Inclusive, a menção a Fauci é bem rápida.

Em outro momento da matéria, sem relação com os e-mails, o jornalista reforça que está falando em hipóteses. Após mostrar um vídeo que retrata morcegos supostamente em cativeiro no Instituto de Virologia de Wuhan, na China, e, depois, explicar que, diferentemente do que se dizia no Ocidente, pode haver, sim, esses animais no complexo, ele diz: “Isso pode reforçar a possibilidade, vou repetir, a possibilidade, de que o vírus da covid-19 não tenha vindo de um animal na natureza, mas, sim que ele tenha escapado de um laboratório chinês”.

Além disso, como recentemente mostrou o Comprova, os e-mails de Fauci não comprovam nada sobre a origem do vírus. O cientista com quem ele trocou mensagens havia escrito que, baseado em análises preliminares, o Sars-CoV-2 parecia “(potencialmente) manipulado”. Mais tarde, o pesquisador concluiu em artigo publicado na Nature Medicine em março de 2020 que o patógeno “não é um produto de laboratório ou um vírus manipulado propositalmente”.

O Comprova tentou contatar o autor do tuíte, mas não recebeu retorno até a publicação deste texto.

Como verificamos?

No site do Fantástico, encontramos as reportagens que haviam sido exibidas em 20 de junho, um dia antes do tuíte verificado aqui e, entre elas, a que abordava uma “polêmica sobre origem da covid”.

Também pesquisamos verificações anteriores do Comprova sobre os e-mails de Anthony Fauci e as mais recentes reportagens sobre este assunto e sobre a origem do coronavírus.

Por último, deixamos um comentário no tuíte de @AlanLopesRio pedindo para conversar com o autor do post – sem resposta.

O Comprova não fez verificação da reportagem do Fantástico, somente da declaração do tuíte sobre o teor da reportagem.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 24 de junho de 2021.

Verificação

A reportagem

O tuíte verificado aqui cita uma matéria que o Fantástico, da Globo, levou ao ar em 20 de junho, intitulada “Polêmica sobre origem da covid esquenta após imagens de morcegos em laboratórios”.

O repórter Álvaro Pereira Junior inicia a reportagem citando “um evento grandioso”, “a inauguração, em dezembro de 2017, de um laboratório de segurança biológica máxima em Wuhan”. Ele se refere ao Instituto de Virologia de Wuhan, na cidade chinesa que registrou os primeiros casos de covid-19 no mundo.

Em uma reportagem de pouco mais de 10 minutos, Pereira Júnior conta que um grupo virtual de detetives amadores chamado Drastic encontrou um vídeo da inauguração do laboratório de Wuhan em que aparecem imagens de morcegos vivos no que seriam as instalações internas do local, algo que “os chineses e seus parceiros científicos aqui do Ocidente sempre negaram”, como diz o repórter. As imagens contrariam a posição do laboratório, que, ainda segundo Pereira Júnior, afirmou não manter estudos internos com o animal.

Nesse momento, o jornalista afirma: “Então, se os morcegos estão mesmo lá e, ainda por cima, estão na área de segurança máxima, isso pode reforçar a possibilidade, vou repetir, a possibilidade, de que o vírus da covid-19 não tenha vindo de um animal na natureza, mas, sim, que ele tenha escapado de um laboratório chinês”.

A construção da matéria é baseada em entrevistas com pessoas a favor e contra a suposição de que o vírus teria surgido naquele laboratório.

Os e-mails

Já na parte final da reportagem, é citado um dos e-mails trocados por Anthony Fauci e o pesquisador Kristian Andersen, professor do Departamento de Imunologia e Microbiologia da Scripps Research – os e-mails de Fauci foram obtidos por jornalistas e publicados nos veículos Washington Post, Buzzfeed e CNN no início de junho. A troca de mensagem referida no Fantástico ocorreu em 1º de fevereiro de 2020, e mostra uma resposta de Andersen a Fauci.

O repórter dá ênfase a dois pontos da mensagem. Primeiramente, ao título, que faz referência a um artigo compartilhado no e-mail anterior, não divulgado na matéria, “Explorando genomas de coronavírus em busca de pistas das origens do surto”. O Fantástico mostra a expressão “origens do surto” em evidência, assim como a palavra “inconsistente” que aparece na frase “Devo mencionar que, após as discussões de hoje, Eddie, Bob, Mike e eu descobrimos que o genoma é inconsistente com as expectativas da teoria da evolução”. Ao mostrar as imagens, o repórter narra: “Em fevereiro de 2020, em segredo, alguns dos principais virologistas do mundo mostravam desconfiança sobre a origem do vírus. Mas nunca disseram isso em público”.

Como já mostrado pelo Comprova, os e-mails trocados entre Fauci e Andersen não provam que o vírus tenha sido manipulado em laboratório, como infere o autor do tuíte. Apenas reflete as considerações iniciais do cientista sobre o assunto. Em 17 de março de 2020, mais de um mês depois da troca de mensagens, Andersen e outros pesquisadores publicaram um artigo científico na revista Nature Medicine. Nele, dizem que “nossa análise claramente mostra que o Sars-CoV-2 não é um produto de laboratório ou um vírus manipulado propositalmente”.

Investigação

Um relatório publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em fevereiro de 2021, após expedição à China, não chegou a considerar a hipótese de criação artificial e indicou que a possibilidade de o vírus ter escapado de um laboratório era “extremamente improvável”.

Alguns cientistas, incluindo o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, defendem que a teoria de escape de laboratório deve ser melhor investigada. Em maio, 18 pesquisadores assinaram uma carta na Nature em que dizem que o vazamento acidental “permanece viável”. Depois que esta possibilidade passou a ser mais debatida, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu que agências de inteligência americanas investigassem as origens da pandemia.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos sobre a pandemia e sobre políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. Até 20 de junho, o tuíte verificado aqui foi compartilhado mais de 2,1 mil vezes e teve cerca de 7,5 mil curtidas.

Ao usar uma reportagem do Fantástico para concluir algo que não foi informado, o autor do tuíte segue a linha do ex-presidente Donald Trump e de Jair Bolsonaro (sem partido) e culpa a China pela pandemia. Além disso, ao se referir à pandemia como “fraudemia”, o autor menospreza a realidade do coronavírus, que já matou mais de 3,8 milhões de pessoas ao redor do mundo, segundo dados da Universidade Johns Hopkins.

O Comprova já fez outras verificações sobre a suposta criação do coronavírus em laboratório, como a já citada que descontextualizava os e-mails de Fauci e a que enganava ao dizer que a China havia testado o Sars-CoV-2 como arma biológica.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado de contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda aquele que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-06-22

Estudos fraudados não deslegitimam artigos que comprovam ineficácia da cloroquina contra a covid-19

  • Enganoso
Enganoso
Médico norte-americano apresenta evidências enganosas ao sugerir conspiração da ciência contra cloroquina. Texto publicado em um site brasileiro, no qual o médico defende uso de coquetel de medicamentos contra a covid-19, engana ao não explicar que tratamento não tem eficácia comprovada.
  • Conteúdo verificado: Site publica texto com afirmações de cardiologista dos Estados Unidos ao Senado. Ele cita dois estudos sobre hidroxicloroquina que foram  fraudados e diz, a partir disso, que a droga funciona contra a covid-19 se combinada com outras – declaração sem embasamento científico, já que não há medicamentos com eficácia comprovada contra a doença até o momento.

O texto “‘Covid-19: estudos do tratamento precoce foram fraudados na medicina acadêmica’, diz Dr. Peter McCullough”, publicado pelo site Terça Livre, traz informações verdadeiras sobre as declarações do médico, mas engana ao não esclarecer que o “tratamento precoce” não tem eficácia comprovada contra o coronavírus.

O texto se refere às afirmações de McCullough durante uma audiência no Senado americano sobre “Tratamento ambulatorial precoce: uma parte essencial de uma solução para a covid-19”, em 19 de novembro de 2020. Ele esteve lá como testemunha, chamado pelo senador Ron Johnson, republicano que, como o ex-presidente Donald Trump, defende a hidroxicloroquina e outros medicamentos sem eficácia comprovada contra o Sars-CoV-2.

McCullough é um conhecido defensor do chamado “tratamento precoce” nos Estados Unidos e, como destaca o Terça Livre, afirmou ao Senado que “o tratamento com hidroxicloroquina para a covid-19 foi ignorado, banido e até mesmo fraudado na medicina acadêmica”. Na audiência, ele citou dois estudos que refutavam os benefícios da hidroxicloroquina no combate ao coronavírus e que tiveram de ser retratados.

O Terça Livre confunde ao não informar que os estudos retirados do ar não invalidam outros vários artigos que comprovam a ineficácia dessas drogas na pandemia e que nenhum medicamento citado pelo médico é eficaz no combate ao coronavírus, não sendo, portanto, recomendados por autoridades sanitárias como a Organização Mundial da Saúde (OMS), o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) e a FDA (agência regulatória de medicamentos, na sigla em inglês) dos Estados Unidos.

Procurado, o site não respondeu ao pedido de entrevista até a publicação deste texto.

Como verificamos?

O Comprova acessou o vídeo transmitido ao vivo pela conta do programa News Hour, da PBS, no Youtube, no dia 19 de novembro de 2020.

Em seguida, buscou a página da Comissão de Segurança Interna e Assuntos Governamentais do Senado Americano, onde localizou a audiência sobre “tratamento ambulatorial precoce: uma parte essencial de uma solução para covid-19”. O vídeo também está arquivado no site, além do testemunho do médico, transcrito na íntegra.

A reportagem também buscou a biografia do médico e consultou as entrevistas à Gazeta do Povo e à jornalista Laura Ingraham, da Fox News, nas quais defende que a  hidroxicloroquina, em combinação com outros medicamentos, é segura, eficaz e reduz a hospitalização e a morte.

Pesquisou quem é Ron Johnson, senador republicano que comandou a audiência da qual McCullough participou, e buscou informações sobre os estudos mencionados pelo médico, cujas fraudes foram repercutidas pela imprensa.

Foram consultadas as informações mais atualizadas em relação ao chamado “tratamento precoce” e que comprovam a ineficácia de medicamentos como hidroxicloroquina e ivermectina contra a covid. Por fim, a equipe entrou em contato com os responsáveis pelo Terça Livre, mas não obteve resposta.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 21 de junho de 2021.

Verificação

Os estudos

Os estudos mencionados por Peter McCullough tiveram, de fato, falhas apontadas. Um é o artigo “Cardiovascular Disease, Drug Therapy, and Mortality in Covid-19”, que continua disponível na plataforma do New England Journal of Medicine, mas com aviso de remoção. Outro, dos mesmos autores, foi publicado pelo Lancet e é alvo frequente de publicações que tiram as informações de contexto, como observou o Estadão Verifica em janeiro de 2021.

Os rumores no meio médico e estatístico sobre eles começaram após a divulgação na Lancet, em 22 de maio de 2020. O artigo defendia que o uso de medicamentos contra a malária, como a cloroquina e a hidroxicloroquina, no tratamento da covid-19 não se mostraram benéficos e aumentaram o risco de morte por problemas cardiovasculares.

Os pesquisadores informavam terem usado dados de 96 mil pacientes em 671 hospitais do mundo fornecidos pela Surgisphere Corporation, fundada pelo cirurgião vascular Sapan Desai, coautor do artigo.

Entretanto, causou estranheza que uma empresa pequena tivesse dados anônimos de tantos pacientes e dos mais variados hospitais. Os demais coautores, Mandeep Mehra, do Hospital Brigham de Mulheres de Boston, Frank Ruschitzka, do Hospital Universitário de Zurique, e Amit Patel, do departamento de bioengenharia da Universidade de Utah, pediram os dados brutos para assegurar tanto a veracidade da origem quanto a comprovação dos resultados, o que foi negado por Desai.

Como os dados originais de onde foram extraídas as análises não estavam disponíveis e sem um comitê de ética que comprovasse a legalidade do processo, cerca de 120 especialistas da área médica e estatística assinaram uma carta à Lancet apontando as irregularidades no estudo e exigindo a revisão. A revista inglesa retratou-se e retirou do ar o artigo em 5 de junho de 2020.

No dia da retratação, o The New England Journal of Medicine também publicou uma nota para retirar outro artigo assinado por Desai e que analisava se a terapia medicamentosa usada para tratar doenças cardiovasculares era eficaz no combate à covid-19. Os dados utilizados eram os mesmos do artigo da Lancet.

“Tratamento precoce”

Como reiterado frequentemente pelo Comprova, não há, até o momento, estudos que comprovem a eficácia ou segurança do uso de medicamentos associados ao “tratamento precoce” para o combate à covid. No caso da cloroquina e da hidroxicloroquina, a ineficácia nestes casos inclusive já está comprovada.

A OMS contraindica “fortemente” a adoção das duas drogas, posicionamento também adotado pela FDA, autoridade sanitária dos Estados Unidos, e pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA). Os órgãos se baseiam em outros estudos grandes, bem desenhados e publicados em revistas científicas respeitadas.

O médico

Peter McCullough é um especialista em doenças cardiovasculares ligado ao Baylor University Medical Center em Dallas, no Texas.

Ele defende a proposta de reunir diversas pesquisas já publicadas sobre “tratamento precoce” para formar uma espécie de guia orientativo para médicos. Afirma ser necessário usar um coquetel de medicamentos nesse tratamento, sendo que a hidroxicloroquina faria parte de um programa de quatro a seis drogas para pacientes com mais de 50 anos ou com comorbidades.

McCullough atribui a não adoção do tratamento ao medo dos médicos de contraírem o vírus e ao fracasso de governos, empresas farmacêuticas e agências de pesquisa na realização de grandes ensaios clínicos. Ele também vê como censura o fato de redes sociais, como o Twitter, suspenderem contas que tratem do assunto. Já foi alvo de agências de checagem como AFP ao distribuir informação inverídica sobre vacinação e teve artigo verificado pelo próprio Comprova.

O vídeo da audiência aqui checado tem de 2 horas e 16 minutos e foi transmitido ao vivo pela página do programa News Hour, da PBS, no Youtube, no dia 19 de novembro de 2020. Durante o depoimento, o médico afirma ter havido má-fé acadêmica em relação à hidroxicloroquina por conta dos dois estudos removidos das revistas científicas. O trecho consta a partir de 1:44:43 do vídeo.

Ron Johnson

Partidário fervoroso do ex-presidente Donald Trump, Ron Johnson, senador republicano de Wisconsin que comandou a audiência da qual McCullough participou, “passou grande parte de 2020 promovendo investigações contra Hunter Biden, tentando inutilmente mostrar a corrupção por parte de Joseph R. Biden Jr. (Joe Biden)”, segundo o The New York Times. Ainda de acordo com o veículo americano, ele “espalhou desinformação sobre o vírus, a eleição, o motim do Capitólio e até mesmo a vegetação da Groenlândia”.

Em janeiro de 2021, após a vitória de Joe Biden contra Trump, Johnson foi um dos 11 senadores republicanos que disse que iria contestar o resultado da eleição. Além de defender medicamentos como cloroquina e ivermectina, o parlamentar tem minimizado a urgência de vacinar todos os americanos, como mostra reportagem da CNN publicada em abril.

Terça Livre

O site pertence ao bolsonarista Allan dos Santos, investigado no inquérito que apura a organização e o financiamento de atos antidemocráticos ao longo de 2020.

As provas coletadas pela Polícia Federal no ano passado com a quebra de sigilo do aparelho celular de Allan dos Santos mostram que ele mantinha reuniões com deputados bolsonaristas e servidores do Palácio do Planalto. É dele uma mensagem enviada a um assessor de Bolsonaro na qual defende uma intervenção militar no país. Em julho de 2020, ele afirmou que havia deixado o país.

A Polícia Federal pede a abertura de oito frentes de apuração. Cinco meses depois de ser questionada pelo STF sobre a continuação das investigações, a Procuradoria-Geral da República defendeu o arquivamento do inquérito. Em 3 de fevereiro deste ano, Terça Livre teve seu canal no YouTube encerrado por violar as regras da plataforma, mas, em 12 de fevereiro, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo ordenou que o Youtube reativasse o canal. À época, Santos chamou a retirada de censura e criou um canal próprio, que também foi removido.

Na semana passada, o Comprova verificou um tuíte em que o bolsonarista afirmava, falsamente, que um jogador dinamarquês havia se vacinado antes de sofrer mal súbito.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia ou sobre políticas públicas do governo federal.

Quando o conteúdo envolve medicamentos ou tratamentos contra o novo coronavírus, a checagem é necessária porque informações incorretas podem levar as pessoas a colocarem a saúde em risco.

A publicação teve mais de 3,8 mil interações no Facebook e, destas, mil foram compartilhamentos. A postagem foi sinalizada pela plataforma com a frase “Tratamentos para a covid-19 sem comprovação científica podem ser prejudiciais à saúde”.

Neste ano, o Comprova já publicou diversas verificações neste sentido, como, por exemplo, os malefícios de altas doses de ivermectina, a não eficácia da hidroxicoloroquina contra a covid e sobre o “tratamento precoce”. Conteúdos semelhantes também foram publicados por outras agências de checagem, como Agência Lupa e Aos Fatos.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-06-21

É falso que senadores republicanos tenham descoberto origem da covid-19

  • Falso
Falso
A alegação é falsa. Site afirma que vírus vazou de laboratório baseado apenas em uma suspeita levantada por senadores republicanos.
  • Conteúdo verificado: Texto publicado em site na internet segundo o qual senadores republicanos revelaram que já descobriram a origem da covid-19 e que farmacêuticas trabalharam para a “potencialização” dos efeitos do vírus.

Um pronunciamento de cinco senadores republicanos foi tirado de contexto nas redes para dar força a uma teoria de que o Sars-CoV-2 teria escapado de um laboratório. Embora acreditem nessa tese, os senadores não apresentaram nenhuma evidência para comprovar sua veracidade.

O site Terra Brasil Notícias publicou um texto em 14 de junho no qual diz que senadores republicanos “já descobriram a real origem da covid-19” e que ele teria surgido em laboratório chinês. O texto traz dois vídeos de um pronunciamento de cinco parlamentares americanos. No entanto, em nenhum momento os senadores fazem a afirmação de que descobriram a origem da doença. Na verdade, eles convocaram um pronunciamento para criticar o que chamam de “censura das companhias de tecnologia sobre as origens do coronavírus”.

Segundo eles, as empresas donas de redes sociais teriam atuado para limitar o debate sobre a teoria de que o Sars-CoV-2 pode ter vazado de um laboratório em Wuhan, na China.

Ainda em março de 2020, em um estudo publicado na revista Nature, cinco pesquisadores dos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália concluíram que “a análise mostra claramente que o SARS-CoV-2 não é uma construção de laboratório ou um vírus propositalmente manipulado”. A conclusão deste estudo foi corroborada em outras pesquisas publicadas em revistas científicas de renome, como a Cell e Nature Microbiology.

No primeiro estudo, os pesquisadores discutiram a possibilidade de o vírus ter escapado de um laboratório e, apesar de mencionarem que naquele ponto era impossível provar ou refutar essa teoria, disseram acreditar que tal tese não era plausível.

A teoria de um possível vazamento passou a ser mais discutida nos últimos meses, em especial depois que o presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que a comunidade de inteligência norte-americana estaria dividida sobre a teoria e pediu mais investigações. Ainda assim, essa hipótese continua a ser inconclusiva e baseada em evidências circunstanciais. No evento em questão, os senadores não apresentaram provas para essa teoria e sequer haviam convocado o pronunciamento para isso. Apenas pediram que sejam feitas novas investigações sobre o tema.

Procuramos o Terra Brasil Notícias, mas não obtivemos retorno.

Como verificamos?

Primeiramente, buscamos a origem do vídeo utilizado pelo site. Uma notícia do 10 News, da emissora ABC, informou que o pronunciamento dos parlamentares ocorreu em 10 de junho. Localizamos o vídeo publicado na íntegra na conta do Twitter da senadora Marsha Blackburn. Assim, foi possível compreender o contexto das alegações dos senadores.

Consultamos notícias na mídia nacional e internacional para obter informações sobre as investigações da OMS e das agências de inteligência dos Estados Unidos sobre a origem do vírus.

Também utilizamos as informações de uma checagem anterior do Comprova sobre o vazamento de e-mails de Anthony Fauci sobre a pandemia.

Solicitamos um posicionamento do Terra Brasil Notícias, mas não tivemos retorno até a publicação deste texto.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 18 de junho de 2021.

Verificação

O pronunciamento de senadores republicanos

Os trechos dos vídeos que viralizaram nas redes sociais no Brasil são parte de um pronunciamento de cinco senadores republicanos, comandado por Marsha Blackburn (Tennessee) em 10 de junho. Diferentemente do informado pelo site Terra Brasil Notícias, Blackburn e os colegas de partido não estavam anunciando que “tinham descoberto a real origem da covid-19”, mas sim, dando sua opinião sobre o que chamam de “censura das grandes companhias de tecnologia sobre a origem do coronavírus”.

Na visão destes republicanos, os veículos de comunicação tradicionais e as empresas de redes sociais não teriam dado a atenção devida a uma das teorias sobre a origem do Sars-CoV-2: a de que ele teria escapado de um laboratório em Wuhan.

“Vou dizer o seguinte: as companhias de tecnologia passaram dos limites nisso. Todos nós temos sugestões de como nós, enquanto senadores, podemos avançar nessa questão e devemos garantir que isso nunca mais aconteça ao povo americano”, disse Blackburn, citando conteúdos relacionados a esse tema que, segundo ela, teriam sido retirados do ar pelas empresas que controlam redes sociais como Facebook, Twitter e YouTube.

Um dos senadores presentes no pronunciamento foi alvo dessa política de combate à desinformação das redes sociais. Na última sexta-feira, 11, Ron Johnson (Winsconsin) teve o seu canal no YouTube suspenso por uma semana. Segundo relatou a CNN, a plataforma informou que removeu o vídeo “de acordo com nossas políticas de desinformação médica, que não permitem conteúdo que incentive as pessoas a usar hidroxicloroquina ou ivermectina para tratar ou prevenir o vírus”. O Comprova já mostrou que estes medicamentos não possuem eficácia comprovada para a covid-19.

Johnson também deu sua opinião sobre a teoria de origem do Sars-CoV-2 em um laboratório. Primeiro adotou um tom ponderado ao dizer que as evidências da teoria de um “potencial vazamento” de laboratório estavam às vistas de todos e que “o resultado dessa lacuna de 18 meses em não investigar a verdadeira origem do coronavírus provavelmente significa que nunca chegaremos ao fundo disso”.

No entanto, depois adota tom mais enfático ao acusar as autoridades chinesas de negligência no momento inicial da pandemia e dizer não ter dúvidas de que “a China é culpada”.

O texto ainda cita os senadores Marco Rubio e Tom Cotton, mas eles não aparecem no vídeo.

Até o momento, as evidências mais robustas que existem são estudos científicos que mostram ser mais provável a teoria de que o Sars-CoV-2 evoluiu naturalmente em morcegos e contaminou os seres humanos, provavelmente tendo infectado um terceiro animal no percurso. Esses senadores republicanos acreditam na tese de que o vírus foi criado em um laboratório e acabou escapando por algum acidente, mas também não apresentaram nenhuma evidência disso. Essa teoria ganhou atenção nos últimos meses, mas permanece sem comprovação, como você pode ler a seguir.

O que se sabe sobre a origem do Sars-CoV-2

Os senadores americanos citados nesta checagem são republicanos, o mesmo partido do ex-presidente Donald Trump que, há um ano, durante campanha em que buscava a reeleição, lançou suspeita sobre a origem do Sars-CoV-2, indicando que o vírus havia vazado do laboratório de Wuhan e que a China era a culpada pela tragédia humanitária. Até deixar a Casa Branca, o ex-presidente não comprovou sua teoria.

Em seu lugar, assumiu o democrata Joe Biden que, no final do mês passado, determinou investigação sobre a origem do coronavírus, e disse que as agências de inteligência dos Estados Unidos estão analisando várias hipóteses, até mesmo um acidente no laboratório chinês. Segundo Biden, os dados atuais são insuficientes para determinar se o vírus surgiu de causas naturais ou de um acidente de laboratório.

A decisão do presidente é uma resposta a um relatório da inteligência dos Estados Unidos, que afirma que pesquisadores do Instituto de Virologia de Wuhan foram hospitalizados no final de 2019 com sintomas que reacendem o debate sobre a origem do Sars-CoV-2. O relatório, porém, é inconclusivo, e Biden requisitou a nova investigação, com prazo para término em até 90 dias – contados a partir do final de maio.

Para Mike Ryan, diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS), “essa mobilização para se descobrir a origem do Sars-CoV-2 está envenenada pela política”.

Em março, a OMS apresentou um relatório sobre o surgimento da covid-19, classificando como “extremamente improvável” a pandemia ser decorrente de um acidente ou fuga do Sars-CoV-2 de laboratório. Era mais plausível, segundo o documento, uma origem natural, ou seja, um animal transmitir o agente infeccioso para humanos.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, criticou a falta de acesso a dados brutos do governo chinês sobre os primeiros casos. Adhanom, grupos de pesquisadores e mesmo o presidente Joe Biden defendem que as autoridades continuem investigando as origens do vírus.

As incertezas sobre a forma como surgiu o novo coronavírus colocaram o assunto em pauta na reunião do G7 (grupo de algumas das maiores economias do mundo) realizada recentemente. Encerrado o encontro, o bloco solicitou que a China colabore com a OMS nas investigações para esclarecer de onde vem o Sars-CoV-2.

E-mails de Fauci não atestam origem do vírus

No vídeo, o senador republicano Roger Marshall, do estado do Kansas, menciona ter lido os e-mails do infectologista Anthony Fauci sobre as origens do vírus. Fauci é diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) dos Estados Unidos e um dos principais conselheiros da Casa Branca no combate à pandemia de covid-19. A imprensa americana publicou, entre maio e junho deste ano, alguns e-mails de Fauci que datam de fevereiro de 2020.

“Estamos 17 meses depois, ainda não sabemos muito sobre esse vírus. Eu acho que devemos responsabilizar o Partido Comunista Chinês. E se os Estados Unidos de alguma forma são responsáveis, se ajudaram a financiar os laboratórios que levaram ao desenvolvimento desse vírus, então também precisamos ser responsabilizados e precisamos nos aprofundar sobre as regras de pesquisa de ganho funcional”, diz Roger Marshall no vídeo.

Em uma troca de mensagens no dia 1º de fevereiro de 2020, Fauci e o pesquisador Kristian Andersen, do laboratório Scripps Research, da Califórnia, discutiram pesquisas sobre análises da sequência genética do Sars-CoV-2 em busca da origem do vírus. Andersen afirmava na época que ainda tentava entender algumas das estruturas únicas do coronavírus e que elas pareciam (potencialmente) “manipuladas”. Na conversa (disponível na página 3.187 do documento) o cientista também observou que ainda haviam outras análises sendo realizadas e que suas opiniões poderiam mudar.

Os e-mails não continham provas de que o vírus havia sido manipulado ou criado em laboratório, mas sim mostravam uma hipótese levantada pelo pesquisador. Pouco mais de um mês após a conversa, no dia 17 de março, Andersen e outros cientistas publicaram um artigo científico na revista Nature Medicine afirmando que a análise deles mostrava que o Sars-CoV-2 “não é um produto de laboratório ou um vírus manipulado propositalmente”.

Uma troca de mensagens de Fauci com um cientista que já havia recebido financiamento do NIAID para conduzir pesquisas no Instituto de Virologia de Wuhan é tirada de contexto para alegar que ele teria “potencializado” o coronavírus. O pesquisador, Peter Daszak, é presidente da EcoHealth Alliance, uma organização que estuda a emergência de doenças virais. Ele pesquisava coronavírus em morcegos, animal do qual emergiu a SARS em 2003. Os coronavírus são um grupo de vírus dos quais surgiram a covid-19, a SARS e outras doenças.

A existência desse estudo estimulou o surgimento de uma teoria, nas redes sociais, de que Daszak estaria realizando “ganho de função” com o Sars-CoV-2. Esse termo faz referência a um ramo da ciência no qual cientistas modificam um vírus geneticamente para deixá-lo mais perigoso ou mais transmissível. Com isso, os cientistas podem analisar o comportamento do patógeno.

Tanto o NIAID quanto a EcoHealth Alliance negam ter feito experimentos desse tipo. Como mostrou o Comprova, em audiência no Senado em 26 de maio, Fauci negou que o NIAID tivesse financiado pesquisas com esse propósito.

No vídeo dos senadores checado aqui, quando o senador Marshall diz que é preciso investigar se os Estados Unidos ajudaram a “financiar os laboratórios que levaram ao desenvolvimento desse vírus”, ele estava se referindo a este fato. O NIAID faz parte de um conglomerado de centros de pesquisa do governo americano. Por isso, é falso afirmar que os senadores tenham denunciado financiamento de farmacêuticas ao Instituto de Virologia de Wuhan, como afirma o texto do Terra Brasil Notícias.

O Comprova já desmentiu que Fauci teria afirmado que o coronavírus é fruto de engenharia genética.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. A publicação verificada aqui teve mais de 26,2 mil visualizações no Instagram.

Esta não é a primeira vez que o Terra Brasil Notícias compartilha desinformação. O Comprova já demonstrou que o site distorceu notícia de TV australiana para alegar que a China havia testado o coronavírus como arma biológica. Essa é uma ideia também defendida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Sobre outras teorias envolvendo o país asiático, o Comprova desmentiu que máscaras importadas da China estariam infectadas pelo coronavírus e demonstrou serem enganosas teses que colocavam em dúvida a segurança e eficácia da Coronavac, vacina da chinesa Sinovac (produzida no Brasil em parceria com o Instituto Butantan). A disseminação desse tipo de conteúdo contribui para que pessoas deixem de se vacinar ou usar máscara de proteção facial contra a covid-19.

A alegação de que o Senado americano teria encontrado a origem do vírus também foi checada pelo Boatos.org.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2021-06-18

Vídeo que mostra o governador da Bahia dançando forró é de antes da pandemia

  • Enganoso
Enganoso
Postagem tira de contexto imagens de um evento realizado em maio de 2018, com participação de Rui Costa (PT), governador da Bahia, e dos senadores Otto Alencar (PSD) e Jaques Wagner (PT), para atacar os políticos e as medidas de prevenção contra a covid-19.
  • Conteúdo verificado: Post no Instagram com vídeo do governador da Bahia, Rui Costa, dançando forró em um evento, com a legenda sugerindo que a “turma do fique em casa e da CPI da cloroquina” estava num forró sem usar máscara durante a pandemia.

Um vídeo do governador da Bahia, Rui Costa (PT), dançando forró no interior do estado, voltou a circular nos últimos dias em páginas bolsonaristas como se fosse de um evento em um final de semana recente, durante a pandemia. Os autores das publicações afirmam que “a turma do fique em casa e da CPI da cloroquina” estava sem máscara em um forró em um final de semana na Bahia, citando também os senadores Otto Alencar (PSD) e Jaques Wagner (PT).

As imagens, no entanto, são antigas. O vídeo foi gravado na cidade de Lapão, no centro-norte do estado, no dia 11 de maio de 2018. O episódio ocorreu durante uma série de entregas de obras feitas pelo governo no município, que fica a cerca de 500 quilômetros de Salvador. As informações foram prestadas pela assessoria do governador e confirmadas pelo Comprova.

Não é correto, portanto, associar o vídeo antigo a um suposto descumprimento de medidas como distanciamento social e uso de máscaras, eficazes em reduzir o risco de contágio pelo novo coronavírus. O Comprova entrou em contato com a página de Instagram @bolsonaroparana2022 nesta quinta-feira, 17 de junho, mas não teve retorno até a publicação desta checagem.

Como verificamos?

O Comprova fez essa verificação por meio de buscas a notícias, fontes oficiais e outras informações. Ao pesquisar os principais termos no Google, a reportagem chegou até uma nota do Governo da Bahia, que classifica o conteúdo como “fake news”.

Por meio de mensagens de texto, a assessoria do governador Rui Costa esclareceu que o vídeo foi gravado em um evento na cidade de Lapão, na região de Irecê, em 11 de maio de 2018.

Apesar de não ter obtido o conteúdo original com a assessoria, o Comprova checou a informação em um banco de fotos que mostra Rui Costa, Otto Alencar e Jaques Wagner com as mesmas roupas em atos públicos na cidade. Os registros estão disponíveis na conta oficial do governador no Facebook e confirmam que o vídeo é antigo e foi tirado de contexto.

Além disso, as buscas também retornaram um vídeo postado cinco dias depois do evento pelo perfil “Irecê BA minha cidade” no YouTube, além de uma nota publicada pelo Jornal Grande Bahia mostrando que o mesmo vídeo já tinha sido tirado de contexto para atacar o governador naquele ano.

Verificação

Em 15 de junho, o governo do Estado da Bahia publicou uma nota sobre o vídeo no site Bahia Contra o Fake. “É completamente falsa a informação que o governador Rui Costa dançou forró e aglomerou em plena pandemia em Irecê, no interior da Bahia”, diz o texto. “Um vídeo gravado em maio de 2018, portanto antes da covid-19, mostra Rui Costa dançando ao lado do senador Otto Alencar e de outras lideranças políticas e moradores da região.”

O Comprova entrou em contato com a assessoria de comunicação do governo do estado, que prestou novas informações. Segundo a equipe, o vídeo foi feito no dia 11 de maio de 2018, durante uma série de entregas na cidade de Lapão, na região do Irecê e centro-norte da Bahia. O vídeo não foi postado pela assessoria, que não tinha o conteúdo original para envio.

A reportagem então checou a informação em um álbum na conta oficial do governador no Facebook, que mostra imagens daquele mesmo dia, registradas pelo fotógrafo Mateus Pereira. Embora o vídeo não tenha sido postado, as fotos mostram Rui Costa e os senadores Otto Alencar e Jaques Wagner com as mesmas roupas que aparecem nas imagens do forró.

O governador usa a mesma camisa azul clara e listrada, calça cinza escuro e o boné com a palavra “Sertão”. Os senadores Otto Alencar e Jaques Wagner também aparecem nas imagens com camisas azul e branca, respectivamente.

 

Além disso, o mesmo vídeo já tinha circulado em grupos de WhatsApp no final de maio de 2018, como mostra uma nota do Jornal Grande Bahia. Naquela época, o vídeo era compartilhado junto a uma mensagem que dizia que Costa, Alencar e Wagner estariam gastando dinheiro “em um forró na chácara de um lobista” enquanto os caminhoneiros estavam em greve, paralisando as rodovias pelo país.

Em ambas as situações, o vídeo foi tirado de contexto. Em 11 de maio de 2018, quando foi gravado, a greve dos caminhoneiros ainda não tinha sido deflagrada, o que só aconteceu no dia 18 daquele mês. Da mesma forma, não havia razão para que as pessoas usassem máscara no vídeo em 2018, já que ainda não havia uma pandemia.

O Comprova ainda constatou que o vídeo circula, pelo menos, desde o dia 16 de maio de 2018 na internet. Ele foi postado pelo canal “Irecê BA minha cidade” no YouTube, com o título “Rui Costa governador da Bahia cantando forró em Irecê”. O primeiro caso de covid-19 no Brasil foi registrado apenas em 26 de fevereiro de 2020, mais de um ano e meio depois.

Nesta quarta-feira (16), Rui Costa comentou o assunto no programa “Papo Correria”, no YouTube, em que responde a perguntas de internautas. “Tem gente infelizmente espalhando fake news que continua até hoje”, comenta o governador, a partir dos 42 minutos de gravação. “Eu vi imagem de uma visita que eu fiz há dois ou três anos numa cidade do interior, nessa época de festas juninas, que alguém colocou música e a gente brincou de dançar. É de 2018. ali o Otto Alencar, o nosso senador, cantando. E essas pessoas espalham esse vídeo. Infelizmente, eles não cansam.”

Na nota publicada no dia 15, o governo da Bahia acrescenta que “os responsáveis pela fake news serão denunciados e responsabilizados judicialmente pela disseminação das informações falsas na internet”.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia e políticas públicas que tenham obtido grande alcance nas redes sociais. O conteúdo verificado teve mais de 2,7 mil visualizações no Instagram até a manhã desta sexta-feira (18).

A checagem se justifica pelo fato de que esse tipo de postagem confunde a população a respeito da necessidade de medidas de prevenção contra a covid-19, como o distanciamento social e o uso de máscaras, ao duvidar do seu cumprimento por figuras públicas que deveriam dar o exemplo.

Além disso, a peça de desinformação ganhou tração nas redes em virtude de uma disputa política do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) contra governadores e prefeitos e, mais recentemente, contra membros da CPI da Covid no Senado, que apura ações e omissões do governo federal durante a pandemia.

Bolsonaro é contrário ao fechamento de estabelecimentos comerciais e restrição de circulação de pessoas, o que o coloca em rota de colisão desde o ano passado com gestores regionais que adotam temporariamente esse tipo de medida para frear a disseminação do vírus.

Em março deste ano, por exemplo, Bolsonaro acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar decretos na Bahia, no Rio Grande do Sul e no Distrito Federal que determinaram a restrição de circulação de pessoas. Na época, Rui Costa chamou o presidente de “principal aliado do vírus no Brasil”.

Já Otto Alencar se tornou alvo do presidente e de seus apoiadores por sua postura na CPI da Covid, da qual é membro efetivo. O senador já criticou o governo federal diversas vezes na comissão parlamentar de inquérito e considera que Bolsonaro teve conduta criminosa na pandemia ao “apostar na tese de imunidade de rebanho” para superar a crise. Ele também ficou marcado por um episódio em que critica a médica Nise Yamaguchi, defensora da cloroquina e conselheira informal do presidente.

A postagem ainda chama a atenção por conter uma tática comum de desinformação nas redes, que é utilizar um conteúdo antigo como se fosse atual, de modo a estabelecer uma crítica incoerente. O Comprova já verificou casos semelhantes antes, como uma foto do governador paulista,João Doria, sem máscara, recebendo uma vacina contra a gripe. O registro é de março de 2020, quando o equipamento ainda não era obrigatório em São Paulo.

O post também foi checado pela Agência Lupa e o Fato ou Fake, do G1. Ambos concluíram que se trata de uma informação falsa.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.

Saúde

Investigado por: 2021-06-17

Vacinas contra a covid-19 usadas no Brasil passaram por testes de segurança, ao contrário do que diz deputado

  • Falso
Falso
É falsa uma postagem no Facebook do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmando que as vacinas contra a covid-19 não seguiram os protocolos normais de desenvolvimento. Todos os imunizantes passaram por fases de testes, cujos dados são públicos, e, antes de serem aplicados, suas segurança e eficácia são analisadas pela autoridade sanitária de cada país.
  • Conteúdo verificado: Publicação do deputado Eduardo Bolsonaro no Facebook afirma que as vacinas contra o novo coronavírus não seguiram os protocolos de desenvolvimento e que reações adversas têm ocorrido nas pessoas imunizadas. Ele também critica a adoção de um “passaporte de imunização” no Brasil.

É falso que as vacinas para prevenção da covid-19 não tenham seguido os protocolos e que, por isso, reações adversas ocorreram, como afirma o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em uma postagem no Facebook em que critica a possível adoção pelo Brasil de um “passaporte de imunização”, documento que permitiria às pessoas frequentar locais e eventos públicos após a vacinação.

Todas as vacinas em uso no Brasil passaram por diversas fases de teste, em laboratórios e em humanos, para verificar se elas eram seguras e eficazes. O formato dos testes e seus resultados são publicados na internet pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e acompanhados por cientistas do mundo todo. Além disso, toda essa documentação é avaliada pela equipe técnica e pela diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que também vistoria as sedes dos laboratórios, antes de autorizar o uso das vacinas no Brasil.

Em entrevista ao Comprova, o infectologista David Urbaez explicou que a rapidez no desenvolvimento dos imunizantes ocorreu por causa do grande investimento da indústria farmacêutica, por se tratar de uma pandemia. Ele também explica que reações leves são comuns em todas as vacinas e não significa que elas não passaram pelas etapas corretas de testagem. Qualquer suspeita de reação grave é comunicada pelos médicos às autoridades de saúde e acompanhada de perto pela Anvisa.

A adoção de um documento similar a um “passaporte de imunidade”, em discussão no Congresso Nacional, também tem ocorrido em outros países para permitir a retomada da circulação de pessoas e das atividades econômicas ou o turismo e viagens internacionais. Esse tipo de estratégia é criticada pela OMS, que alerta para dúvidas sobre a duração da imunidade após a vacinação e a possibilidade de isso aprofundar desigualdades no mundo por causa da falta de imunizantes em países de renda baixa e média. No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), pai de Eduardo Bolsonaro, prometeu vetar a lei, caso ela seja aprovada.

Como verificamos?

Procuramos informações da OMS e da Anvisa sobre o processo de desenvolvimento das vacinas e para entender se houve reações adversas e se elas estão relacionadas ao descumprimento de algum protocolo de criação dos imunizantes.

Entrevistamos o médico David Urbaez, presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, sobre as reações que algumas pessoas sentem após serem vacinadas.

Também pesquisamos informações sobre a proposta de criação de um “passaporte de imunização” no Brasil, se há modelos similares sendo adotados em outros países e sobre o que foi a Revolta da Vacina, citada na publicação.

Procuramos a assessoria de Eduardo Bolsonaro por WhatsApp e e-mail disponível no site da Câmara, mas não tivemos resposta.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 17 de junho de 2021.

Verificação

O desenvolvimento das vacinas

Todas as vacinas em desenvolvimento ou aprovadas contra a covid-19 passam por uma série de etapas antes de serem autorizadas para uso humano; incluindo testes em laboratório e ao menos três fases de testes clínicos. A configuração desses testes e seus resultados são compilados e disponibilizados publicamente pela OMS, inclusive para que outros cientistas possam avaliar a segurança e a eficácia dos imunizantes.

Desde o início da pandemia, 287 vacinas já foram desenvolvidas, de acordo com o banco de dados da OMS. Dessas, 185 ainda estão em estágio pré-clínico, enquanto 102 já avançaram para pesquisas em humanos. Até o dia 3 de junho de 2021, a OMS havia avaliado e aprovado a segurança e eficácia de seis imunizantes: AstraZeneca/Oxford; Janssen; Moderna; Pfizer/BionTech; Sinopharm; e CoronaVac.

Mesmo com esse processo internacional público de desenvolvimento de vacinas, antes de serem aplicadas nos cidadãos, elas precisam ainda ser aprovadas pelos órgãos de vigilância sanitária competentes em cada país. No Brasil, a responsabilidade é da Anvisa, que segue uma série de critérios para garantir que os imunizantes aplicados em território nacional sejam seguros e eficazes.

Segundo a agência, as diversas fases de teste servem para avaliar, gradualmente, se a vacina é segura, se ela provoca reações no corpo humano, qual a dose indicada e qual a capacidade dela de gerar anticorpos, além de comprovar se ela é, realmente, capaz de proteger as pessoas do vírus.

A documentação detalhada de cada etapa é analisada pelo corpo técnico da agência e seu uso só é autorizado após ser votado pela diretoria da Anvisa, que é um órgão colegiado, em reuniões públicas (inclusive com transmissão ao vivo pela Internet). O órgão também inspeciona as fábricas e laboratórios para ter certeza de que o imunizante pode ser produzido seguindo os critérios de segurança e confiabilidade.

Atualmente, o Brasil tem duas vacinas registradas para uso geral: da AstraZeneca e da Pfizer. Outras três são aprovadas para uso emergencial: CoronaVac, Covishield e Janssen. É possível conferir o status da documentação, a bula e as últimas notícias sobre cada imunizante no site da Anvisa.

Segundo o infectologista David Urbaez, a única razão para a vacina da covid-19 ter sido desenvolvida de forma mais rápida do que habitualmente ocorre é pelo alto investimento que foi feito. “A velocidade desse processo foi diretamente explicada pelo volume de investimentos como nunca antes ocorreu, motivado pela emergência mundial de grande porte, junto a um número muito significativo de grupos de pesquisa que se dedicam exclusivamente ao assunto”, explica. Além do que as novas plataformas, como RNAm e/ou vetores virais, são tecnologias que já se encontravam maduras e tinham sido previamente testadas para outras infecções como SARS e para outros fins em termos de imunoterapia”.

Reações

Segundo a Anvisa informa nas bulas das vacinas autorizadas no Brasil, os imunizantes, como qualquer outro medicamento, podem apresentar efeitos colaterais. As diferentes fases de testes antes da autorização servem justamente para garantir que eles não provoquem reações graves, que possam prejudicar a saúde das pessoas.

Mesmo após autorizadas, as vacinas são acompanhadas pela Anvisa e pelos seus fabricantes por meio de um processo chamado farmacovigilância. Reações adversas suspeitas são notificadas pelos profissionais de saúde que trataram o paciente para os órgãos competentes, incluindo a Anvisa.

Se a agência identificar um uso de algum medicamento ou vacina que não siga o que determina a bula ou que possa causar algum risco à saúde das pessoas, ela pode determinar a suspensão total ou parcial (apenas para alguns grupos) do seu uso.

Isso ocorreu, por exemplo, no dia 10 de maio, quando a Anvisa suspendeu o uso em gestantes da vacina da AstraZeneca produzida pela Fiocruz, após o registro de “uma suspeita de evento adverso grave”. A aplicação desse imunizante em mulheres grávidas não era prevista pela bula.

De acordo com David Urbaez, os efeitos adversos são comuns em todas as vacinas contra qualquer doença e nada têm a ver com a forma como ela foi desenvolvida. Isso ocorre porque os imunizantes têm a capacidade de estimular o sistema imune. “O sistema imune estimulado gera uma série de substâncias biológicas, que em mais ou menos proporção, geram os efeitos adversos sistêmicos como febre, dores musculares, indisposição, etc”, disse.

Segundo o especialista, em mais de 99% das vezes, essas reações são leves, isto é, não geram nenhuma ameaça ao estado de saúde do indivíduo. “Rarissimamente podem acontecer efeitos adversos mais sérios, sempre menos de 1% das ocorrências. Sempre lembrando, todas as vacinas em uso não têm vírus vivos, pelo que sua segurança é garantida após as fases de ensaio clínico”, afirma.

O certificado nacional de imunização

Existe uma proposta em tramitação no Congresso Nacional para criar um certificado nacional de imunização. O documento apresentaria “informações sobre vacinação, testagem e recuperação de doença infectocontagiosa de seu portador”. A ideia é que ele fosse usado para permitir que as pessoas já imunizadas pudessem abrandar (ou até suspender) as medidas restritivas para enfrentamento da covid-19.

Segundo o site do Senado Federal, o certificado “poderá ser utilizado para autorizar a entrada em locais e eventos públicos, o ingresso em hotéis, cruzeiros, parques e reservas naturais, entre outras possibilidades”. Isso porque, na visão dos senadores, pessoas já vacinadas ou que tenham testado negativo para o Sars-CoV-2 representariam “risco não elevado de propagação do vírus”. O controle do acesso a serviços com base no documento seria feito pelos estados.

O texto original é de autoria do senador Carlos Portinho (PL-RJ), mas sofreu algumas alterações com um substitutivo proposto pelo relator Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB) – uma dessas mudanças foi a troca do nome “passaporte” para “certificado”. A proposta foi aprovada pelo Senado no último dia 10, com 72 votos favoráveis e nenhum voto contrário. O texto agora está em tramitação na Câmara dos Deputados.

No dia 15, o presidente Jair Bolsonaro disse que vetaria a lei, caso ela fosse aprovada no Congresso. “Se passar, eu veto, e o Parlamento vai analisar o veto. Se derrubar, aí é lei”, ele afirmou a apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada.

Passaporte de imunização no mundo

O Green Pass de Israel é um modelo parecido com o que está em discussão no Brasil porque, ao contrário de outros passaportes de imunização em debate ou implementação, ele é voltado para o público interno que poderá acessar estabelecimentos cadastrados no sistema se estiver vacinado, tiver se recuperado da covid-19 ou tiver feito um teste RT-PCR negativo nas últimas 72 horas.

Em abril, o governo do Reino Unido começou a testar a adoção de um passaporte covid para permitir o acesso de pessoas a eventos de grandes públicos, como partidas esportivas, shows e casas noturnas. A promessa do governo britânico é que o passaporte, se implementado, não poderá ser exigido em alguns serviços, como transporte público e lojas essenciais, como supermercados. O primeiro-ministro Boris Johnson também já afirmou que restaurantes e pubs podem começar a pedir uma prova do status vacinal das pessoas a partir do final de julho, quando o país espera que todos os adultos sejam liberados para vacinação.

Em outra frente, um aplicativo do sistema de saúde do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês) tem sido utilizado pelo governo como opção para cidadãos ingleses que queiram viajar ao exterior. O programa mostra se a pessoa já tomou as duas doses. Crianças e jovens com menos de 16 anos não receberão um status. Por enquanto, ainda há dúvidas sobre quais países aceitam o certificado como alternativa aos testes negativos.

A União Europeia formalizou a adoção de um Certificado Digital Covid-19 no último dia 14. Ele poderá ser emitido por qualquer um dos 27 países membros e entrará em vigor a partir de julho. O documento trará dados sobre vacinação, testes e recuperação do novo coronavírus e poderá ser usado para que as pessoas possam voltar a circular livremente dentro do bloco; pois as exigências de medidas sanitárias como testes e quarentenas na chegada a outro país da UE podem ser retiradas para quem tiver o certificado.

Em janeiro deste ano, o arquipélago de Seychelles, no Oceano Índico, já havia adotado uma regra similar, permitindo que turistas que trouxessem um certificado de seus países atestando a vacinação não precisassem se submeter a quarentena ao entrar no país. Mesmo pessoas imunizadas precisariam levar um teste RT-PCR negativo realizado ao menos 72 horas antes do embarque.

OMS critica os passaportes

Desde abril de 2020, a OMS se posicionou contrária à possibilidade de criação de passaportes de imunidade, sejam eles aplicados a viagens ou ao retorno dos trabalhos e atividades normais. “Atualmente, não há evidências de que as pessoas que se recuperaram da covid-19 e possuem anticorpos estejam protegidas contra uma segunda infecção”, afirmou a entidade, na ocasião.

Em agosto de 2020, o primeiro caso confirmado de reinfecção pelo Sars-CoV-2 foi registrado em Hong Kong. Em dezembro do mesmo ano, foi a vez do Brasil identificar seu primeiro episódio confirmado de reinfecção. No início de abril de 2021, um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontou que os sintomas podem ser mais fortes quando a pessoa contrai o vírus pela segunda vez. No mesmo mês, o Brasil teve a primeira morte por uma pessoa que, mesmo tendo se recuperado da doença na primeira vez, acabou sendo reinfectada por uma nova variante.

Em fevereiro de 2021, a OMS voltou a se manifestar contra a adoção de certificados de vacinação para liberar viagens internacionais. Embora os imunizantes protejam contra a infecção pela covid-19, ainda há dúvidas envolvendo a capacidade das vacinas em reduzir a transmissão do vírus, incluindo o surgimento de novas variantes, e o tempo de duração da proteção oferecido pelos imunizantes.

A entidade também teme que a priorização de viajantes no processo vacinal possa prejudicar a imunização de populações prioritárias, inclusive aquelas com maior risco de desenvolver a forma grave da doença. “Atualmente, há limitação de acesso às vacinas contra a covid-19 no mundo todo, particularmente em países de baixa e média renda. (…) A OMS expressa preocupação de que a distribuição desigual de vacinas possa aprofundar desigualdades que já existem e criar novas formas de desigualdade”, afirma o relatório.

A Revolta da Vacina

A Revolta da Vacina, citada por Eduardo Bolsonaro na postagem, ocorreu no Rio de Janeiro no início do século XX. Na época, a rejeição era à vacina da varíola – as pessoas acreditavam que poderiam ficar com feições bovinas, já que o imunizante era feito com pústulas, nódulos que contém pus, de vacas doentes. O produto se tornou obrigatório no Brasil em 1904.

A obrigatoriedade fez com que as pessoas fossem às ruas protestar. Na ocasião, 945 pessoas foram presas, 461 deportadas, 110 feridas e 30 mortas em menos de duas semanas de conflitos. A obrigatoriedade da vacina foi retirada. Na época, o Brasil tinha 3.500 mortes por varíola. Dois anos depois, este número subiu para 6.500. A doença só foi erradicada no Brasil em 1971 após uma nova campanha de vacinação chamada de Campanha de Erradicação da Varíola (CEV).

Vacina traz proteção individual?

De acordo com o infectologista David Urbaez, não adianta ter imunizações individuais. É preciso que a população como um todo seja vacinada para barrar a proliferação do vírus da covid-19. Ele ainda destaca que, apesar de dificultarem que o indivíduo fique doente, as vacinas não têm a capacidade de evitar que uma pessoa vacinada transmita a covid-19 para uma que não esteja imunizada.

“A vacina tem eficácia somente como estratégia coletiva, pois do ponto de vista individual pouco faz se estamos em uma situação epidemiológica de alta transmissão. Temos que alcançar 75%-85% da população geral vacinada, territorialmente de forma homogênea para conseguirmos a imunidade coletiva, dispositivo que consegue controlar a transmissão. Daí porque todas as pessoas são importantes nesse processo”, destaca.

Essa meta de que 60% a 80% da população precisa ser vacinada para que a pandemia seja controlada é esperada pela maioria dos modelos epidemiológicos. Para que este número seja atingido, praticamente toda a população adulta precisaria ser vacinada, já que ainda não há uma indicação para vacinação de crianças contra a covid-19. No Brasil, somente o imunizante da Pfizer tem autorização da Anvisa para ser aplicada em menores de 18 anos.

Nesse mesmo sentido, um estudo feito pelo Instituto Butantan em Serrana, São Paulo, concluiu que a vacinação de 95% da população adulta com a CoronaVac é capaz de criar a imunidade de grupo e controlar a pandemia.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. Publicações que tratam da vacinação contra o novo coronavírus merecem atenção especial, visto que a desinformação sobre esse tema pode fazer com que pessoas evitem se imunizar, o que é a principal forma de proteção contra o vírus.

A postagem em questão teve 62 mil curtidas, 5,1 mil comentários e 14 mil compartilhamentos entre os dias 15 e 17 de junho. Ela recebeu um aviso do Facebook afirmando que “as vacinas contra a covid-19 passam por vários testes de segurança e eficácia e são, então, monitoradas com atenção”, tendo como fonte a OMS.

Recentemente, o Comprova mostrou que a vacina contra a covid-19 não tem efeito magnético; que agências reguladoras negam o risco de infertilidade em vacinados; e que um ranking usado por Bolsonaro não representa a realidade da imunização no país.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

 

Saúde

Investigado por: 2021-06-17

É enganoso post que compara falas de Biden e Bolsonaro sobre dispensa do uso de máscara

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o vídeo que combina declarações de Joe Biden e Jair Bolsonaro sobre a liberação do uso de máscaras. O americano anunciou a dispensa da proteção facial em casos específicos e com o país vendo cair drasticamente o número de casos e internações por covid, diferentemente do que ocorre no Brasil.
  • Conteúdo verificado: Vídeo no Instagram compara anúncio do presidente americano Joe Biden e uma fala de Bolsonaro sobre uso de máscaras. O trecho de Biden é acompanhado por legenda em português com um corte de parte da declaração.

É enganoso um vídeo que viralizou nesta semana no Instagram comparando declarações dos presidentes Joe Biden e Jair Bolsonaro (sem partido) sobre a dispensa do uso de máscaras. No trecho publicado, o americano fala que a proteção não é mais necessária para quem estiver totalmente vacinado e em locais abertos, longe de aglomerações. Já a gravação de Bolsonaro mostra-o dizendo que o ministro da Saúde vai concluir um parecer desobrigando o uso da proteção por pessoas já vacinadas.

Inicialmente, o post, que acusa a mídia de tratar os dois mandatários de forma diferente, engana ao não traduzir com fidelidade a fala de Biden, legendando apenas: “Se você já foi vacinado, não precisa usar máscara”. Ou seja, ignorando condições específicas citadas acima, como manter o distanciamento social.

A postagem também desinforma ao desconsiderar os contextos da pandemia de cada país. A declaração de Biden foi feita em 27 de abril, quando os Estados Unidos tinham aplicado 215 milhões de doses em sua população, de 328 milhões de pessoas, desde o início da campanha de imunização. Segundo o monitor Our World in Data, da Universidade de Oxford, 96,7 milhões de americanos estavam totalmente vacinados — cerca de 30% da população. A fala de Bolsonaro foi em 10 de junho, dia em que o Brasil tinha 23,4 milhões de seus 211 milhões de cidadãos totalmente imunizados, ou 11% de seus habitantes, também de acordo com o painel.

Outro dado importante para entender as declarações é o número de casos e óbitos por covid em cada país. Em 27 de abril, dia da fala de Biden, os Estados Unidos registraram 40,4 mil casos de coronavírus e 485 mortes nas últimas 24 horas, segundo relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) para as Américas. Já em 10 de junho, quando Bolsonaro falou em desobrigar o uso de máscara, o Brasil registrou 2.344 novas mortes e 89.802 novos casos da doença.

Para especialistas ouvidos pelo Comprova, o Brasil só poderá seguir o exemplo dos Estados Unidos quando mais gente estiver totalmente vacinada e os números de casos e óbitos tiverem caído.

Como verificamos?

Inicialmente, transcrevemos o trecho da fala de Biden no vídeo e fizemos uma busca no Google, que resultou em reportagens sobre o fim da obrigatoriedade de máscaras em casos específicos em veículos nacionais e internacionais, informando o contexto e a data em que o discurso foi feito. Ao buscar a fala com o nome “White House”, encontramos a transcrição do discurso completo no site da Casa Branca.

Também transcrevemos e pesquisamos no Google a declaração de Bolsonaro; a busca resultou em matérias de sites nacionais repercutindo a fala.

Pesquisamos os números de vacinados no site Our World in Data e contatamos, por e-mail, órgãos oficiais, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Saúde, para levantar dados sobre o uso de máscaras. Este último não respondeu, mas a reportagem pesquisou documentos no site da instituição.

Para comentar os cenários dos dois países, entrevistamos Raquel Stucchi, infectologista da Universidade de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, e o pesquisador Daniel Mansur, professor de imunologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e membro do Comitê Científico da Sociedade Brasileira de Imunologia.

Enviamos mensagens privadas para o perfil @acordabrasil38, onde o vídeo viralizou, mas não recebemos resposta até a publicação deste texto. Também tentamos contatar a página @cristianocjs_br2, citada como provável fonte do conteúdo pelo @acordabrasil38. Um dia depois do contato da reportagem, o perfil estava fora do ar.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 17 de junho de 2021.

Verificação

Vídeos sem contexto

No trecho de nove segundos do vídeo de Biden, publicado no post verificado aqui, ele diz: “Se você foi totalmente vacinado e está ao ar livre, você precisa… e se você não está em uma grande aglomeração, você não precisa usar máscara”.

A declaração foi dada em 27 de abril, durante uma coletiva de imprensa nos jardins da Casa Branca, em Washington. Ele abre o evento com um discurso sobre a luta que o país trava contra a covid-19 para conseguir chegar bem ao 4 de julho, feriado nacional do Dia da Independência.

Diferentemente do que a postagem faz crer ao comparar as afirmações de Biden com as de Bolsonaro – “a mesma informação, presidentes diferentes” –, são contextos completamente distintos.

Em seu discurso, o americano fala sobre as pessoas mais velhas, explicando que, quando assumiu o cargo, em janeiro, o país perdia dezenas de milhares de idosos todas as semanas. “Naquela época, menos de 1% dos idosos estavam totalmente vacinados. Hoje, em menos de cem dias, mais de 67%, dois terços de nossos idosos, estão, e mais de 80% já receberam pelo menos uma injeção”, diz ele, acrescentando que esse esforço “resultou em uma queda de 80% nas mortes entre os idosos americanos e uma queda de 70% nas hospitalizações”.

Outro dado que ele dá antes de anunciar que pessoas imunizadas e longe de aglomerações podem ficar sem máscara ao ar livre é que desde sua posse, em 20 de janeiro, o país, de 328 milhões de habitantes, havia aplicado 215 milhões de doses.

Segundo o monitor Our World in Data, 96,7 milhões estavam totalmente vacinados, ou quase 30% dos americanos.

Relatório de 27 de abril da OPAS mostra que os Estados Unidos registraram 40,4 mil casos de coronavírus e 485 mortes nas últimas 24 horas.

Já o trecho seguinte do vídeo verificado mostra o presidente brasileiro dizendo: “Ministro da Saúde, ele vai ultimar um parecer visando a desobrigar o uso de máscara por parte daqueles que estejam vacinados”. A declaração foi feita no dia 10 de junho, em um evento no Planalto sobre medidas para o setor de turismo, e não terminava aí. Além de falar em desobrigar o uso da proteção para vacinados, Bolsonaro também disse que o parecer valeria para aqueles que “já foram contaminados para tirar este símbolo que, obviamente, tem a sua utilidade para quem está infectado”.

No dia da declaração, 23,4 milhões dos 211 milhões de cidadãos estavam totalmente vacinados, ou 11% da população, também de acordo com o Our World in Data. Ainda em 10 de junho, o país registrou 2.344 novas mortes por Covid-19 e 89.802 novos casos da doença em 24 horas, chegando a um total de 482.135 mortes e 17.215.159 casos desde o início da pandemia.

O que dizem os especialistas

Para a infectologista Raquel Stucchi, diferentemente do que Bolsonaro afirma no vídeo do post verificado aqui, o Brasil não está no momento de liberar o uso de máscaras. “Nós temos quase 12% da população vacinada apenas e um número ainda muito expressivo de casos. A taxa de ocupação de leitos de hospital na maior parte dos estados ultrapassa 80%, muitos acima de 90%, e temos uma mortalidade ainda muito alta, então, nada disso faz com que nós possamos desobrigar o uso de máscaras”, diz ela.

Em contrapartida, ela destaca que os Estados Unidos cumpriram quesitos importantes: vacinaram com duas doses parte significativa da população com imunizantes de alta eficácia e viram uma queda drástica no número de hospitalizações e óbitos. “Portanto, eles podem, sim, tentar abolir o uso de máscaras em locais abertos e sem aglomerações.”

Opinião semelhante tem o pesquisador Daniel Mansur. “Para aliviar as medidas, só quando o número de casos estiver bem baixo”, afirma. “As situações dos Estados Unidos e do Brasil não são comparáveis. Aqui, o pessoal não foi vacinado ainda (em larga escala).”

Ele cita como exemplo Florianópolis, onde vive. Em levantamento publicado pela Folha em 9 de junho, a taxa de ocupação de leitos de UTI na cidade havia subido de 67% para 89% em uma semana. Em Santa Catarina, foi de 91% para 95%.

Uso de máscara

“As pessoas que já foram vacinadas com as duas doses não podem abrir mão da máscara no Brasil pelos motivos já falados: número de casos muito grande, alta taxa de ocupação hospitalar e alta mortalidade”, diz Raquel Stucchi. Ela ressalta que, mesmo vacinadas, elas podem se infectar e transmitir o vírus, já que nenhum imunizante garante 100% de proteção.

Stucchi lembra ainda que, ao contrário do que Bolsonaro afirma (que, além dos vacinados, o governo dispensaria o uso de máscara por pessoas que já se contaminaram), “a reinfecção existe”.

Como reforça Daniel Mansur, já foi comprovado que mesmo uma pessoa sem sintomas pode transmitir o coronavírus, por isso, o uso da máscara continua sendo essencial no Brasil. “A máscara é importante porque protege quem usa e também evita que os outros peguem”, diz ele. “Acho que a parte mais difícil é colocar na cabeça das pessoas que não é só por elas, é pelo próximo também.”

Em verificação publicada pelo Comprova em 11 de junho, a OPAS afirmou que “as evidências científicas mostraram que máscaras são uma medida fundamental para suprimir a transmissão da covid-19 e salvar vidas. Devem ser usadas como parte de uma abordagem abrangente de ‘Faça tudo’, incluindo manter distanciamento físico de um metro ou mais de outras pessoas, evitar locais com aglomeração e contato próximo, garantir boa ventilação, limpar frequentemente as mãos e cobrir o espirro e a tosse com o cotovelo dobrado”.

Procurada pelo Comprova, a Anvisa enviou informações a respeito da resolução nº 456/2021, sobre medidas de proteção contra o vírus apenas “em aeroportos e aeronaves”. A instituição afirmou que as definições sobre uso de máscaras pela população partem do Ministério da Saúde, que não respondeu ao contato da reportagem.

Em seu site, a pasta recomenda a utilização “para toda a população em ambientes coletivos, em especial no transporte público e em eventos e reuniões, como forma de proteção individual, reduzindo o risco potencial de exposição do vírus especialmente de indivíduos assintomáticos”.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia ou sobre políticas públicas do governo federal. Quando esse conteúdo envolve medidas contra o coronavírus, sua checagem se torna ainda mais necessária, porque informações incorretas podem levar as pessoas a colocarem a saúde em risco.

Além de tentar desmoralizar a imprensa, o post verificado aqui, que teve 8.327 visualizações no Instagram até 17 de junho, distorce informações para fazer crer que o Brasil pode seguir o exemplo dos Estados Unidos e desobrigar o uso de máscaras em determinadas ocasiões, o que ainda não é recomendado por autoridades sanitárias.

Neste mês, o Comprova publicou outros conteúdos semelhantes, como um que enganava ao afirmar que estudo provava a ineficácia das máscaras contra a covid e outro que tirava de contexto e-mails de Anthony Fauci sobre a proteção facial.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-06-16

Ao contrário do que afirma post, ivermectina em altas doses pode causar até convulsão

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa postagem de médico no Twitter e no Instagram afirmando que a ivermectina é um remédio seguro em altas doses e com estudos comprovados de sua ação antiviral. O profissional defende o uso da substância no "tratamento precoce" contra a covid-19, porém não há, até o momento, estudo que comprove a eficácia do antiparasitário neste sentido e o uso é desaconselhado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela farmacêutica Merck, que produz a droga nos Estados Unidos. Especialistas também afirmam que nenhum medicamento é seguro em doses excessivas.
  • Conteúdo verificado: Postagens no Instagram e no Twitter de um médico defendendo que ivermectina é um remédio “enviado por Deus”, seguro em altas doses e com estudos já comprovados de sua ação antiviral.

É enganoso o conteúdo de postagens feitas pelos perfis de um médico no Twitter e no Instagram em que ele afirma que a ivermectina é um “remédio enviado por Deus”, barato, seguro em altas doses, pouco metabolizado no fígado e não filtrado nos rins e que sua ação antiviral já foi comprovada em estudos. O medicamento, de fato, é barato, mas ele não é seguro em altas doses, não tem eficácia antiviral comprovada e deve ser utilizado apenas como antiparasitário, como indica a bula. Doses além do recomendado podem provocar intoxicação e reações que vão desde urticária até convulsão.

Além disso, segundo especialistas ouvidos pelo Comprova, o teor de metabolização do medicamento no fígado ou de filtragem pelos rins não é, por si só, um indicativo de que ele seja seguro e que possa ser tomado em altas doses. Isso porque, ainda que um medicamento tenha baixa toxicidade, não quer dizer que ele não possa fazer mal. A ivermectina tem muitas interações medicamentosas e seu uso é recomendado em dose única, e não diária ou semanalmente, como vem sendo prescrita pelos defensores do “kit covid” e do “tratamento precoce”.

De acordo com a bula do medicamento, a ingestão de altas doses pode provocar intoxicação e, nestes casos, o paciente deve procurar assistência médica imediatamente levando, se possível, a bula ou a embalagem do medicamento. São relatados com maior frequência lesões cutâneas até urticária, inchaço, dor de cabeça, tontura, falta de disposição, náusea, vômitos, dor abdominal, diarreia, convulsões, alteração do equilíbrio, falta de ar e alterações na sensibilidade. A Food and Drug Administration (FDA) alerta para a possibilidade de coma e até morte em caso de overdose.

Como verificamos?

Primeiramente, buscamos informações profissionais do usuário @CanaldoFalcao1 em seu perfil no Twitter e encontramos o registro profissional de Marcos Falcão Farias Monte, sob o número 8608-AL, no Conselho Regional de Medicina do Estado de Alagoas. Também analisamos um canal do Telegram mantido pelo médico, por meio do qual encontramos um estudo envolvendo a ivermectina como potencial profilático para covid, compartilhado por ele. O material foi publicado no periódico Journal of Clinical and Diagnostic Research, considerado de média relevância, sem ser de excelência nacional ou internacional.

Em seguida, a partir de postagens em que o médico defendia e prescrevia a ivermectina e outros medicamentos do chamado “kit covid”, entramos em contato com especialistas para falar sobre os efeitos da droga e o impacto de altas doses. Para isso, ouvimos o infectologista Fábio Amorim, médico do Instituto Couto Maia, em Salvador, unidade de referência para doenças infectocontagiosas, e também o hepatologista Raymundo Paraná, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e coordenador do núcleo de pesquisa em Hepatologia do Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos (HUPES/UFBA).

Buscamos informações sobre o uso da ivermectina para pacientes com covid-19 junto à Organização Mundial de Saúde (OMS) e sobre os efeitos do medicamento em reportagens, como esta, publicada pelo CORREIO, e esta outra, do UOL.

Por fim, também entramos em contato por meio de um número de celular disponível na conta do Twitter de Marcos Falcão.Ele respondeu por outro número de telefone, exigindo o número de registro do jornalista e não respondendo às questões propostas. Também tentou intimidar o profissional, ameaçando denunciá-lo, processar o Comprova e, ao fim, compartilhou trechos da conversa nas redes sociais, desmerecendo o trabalho da checagem.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 16 de junho de 2021.

Verificação

O que diz a bula da ivermectina

Disponível no bulário eletrônico da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a bula da ivermectina recomenda a ingestão de uma dose única do medicamento para tratar doenças causadas por vermes ou parasitas. Na maior parte das doenças – estrongiloidíase, filariose, ascaridíase, escabiose e pediculose –, a dosagem recomendada é de 200 mcg por quilo de peso corporal. Uma pessoa que pesa entre 66 kg e 79 kg, por exemplo, deve tomar dois comprimidos e meio. Acima desse peso, o paciente deve calcular a quantidade de mcg por kg para tomar a dosagem correta.

No caso do tratamento para oncocercose, a dose oral única deve ser de 150 mcg/kg de peso corporal. Uma pessoa que pesa entre 65 kg e 84 kg deve tomar dois comprimidos.

A bula esclarece que a dose não deve ser repetida, a menos que haja recomendação médica e após a realização de exames laboratoriais. Também informa que, “em caso de intoxicação acidental ou na exposição significativa a quantidades desconhecidas de formulações veterinárias de ivermectina em humanos, seja por ingestão, inalação, injeção ou exposição de áreas do corpo”, o paciente deve procurar assistência médica imediatamente levando, se possível, a bula ou a embalagem do medicamento.

A bula da ivermectina informa que foram relatados alguns sintomas após a ingestão de dose acima da recomendada. Com maior frequência aparecem lesões cutâneas até urticária, inchaço, dor de cabeça, tontura, falta de disposição, náusea, vômitos, dor abdominal, diarreia, convulsões, alteração do equilíbrio, falta de ar e alterações na sensibilidade.

Problemas no fígado e nos rins

No post verificado aqui, Marcos Falcão afirma que a ivermectina é um “remédio enviado por Deus”, que é “apenas 8% metabolizado no fígado” e que “a molécula é grande e portanto não é filtrada nos rins”. Ele também afirma haver estudos comprovados de sua ação antiviral e que a medicação é “segura em altas doses”.

Médicos ouvidos pelo Comprova, contudo, refutam a informação publicada por Falcão. Tanto o infectologista Fábio Amorim, do Instituto Couto Maia, em Salvador, quanto o hepatologista Raymundo Paraná, da UFBA, têm atendido pacientes com problemas relacionados à ingestão de altas doses da ivermectina.

“Não desmerecendo o papel de Deus nisso tudo, mas é, no mínimo, questionável. Não tem nenhum documento, nenhum paper (artigo científico), em nenhum lugar do mundo que prove a eficácia da ivermectina (contra a covid). Eu desconheço. Não tem medicação nenhuma milagrosa. A gente trata as complicações da doença e não tem nada que trate ou amenize a covid”, afirma Fábio Amorim, que atende apenas em ambiente hospitalar pacientes infectados pelo coronavírus.

Ele acrescenta, ainda, que nenhuma medicação é segura em altas doses. “O que diferencia droga de veneno é volume, é quantidade. Nada em excesso ou fora de padrão é benéfico para ninguém. Se você conversar com gastroenterologista, tem pacientes com intoxicação por hipervitaminose, por excesso de vitamina D, e se você não tratar, o paciente pode ter infarto em poucos anos. Nem vitamina é benéfica em altas doses e as pessoas estão fazendo overdose de ivermectina, de hidroxicloroquina, de zinco, de vitamina D. Não tem porque a gente usar medicamento em demasia. Isso é insanidade”, afirma.

Raymundo Paraná, que tem atendido pacientes com lesões no fígado por conta do uso indiscriminado da ivermectina, reforça que a quantidade metabolizada no fígado ou filtrada nos rins não torna o medicamento seguro, ou mesmo eficaz, contra a covid. “Ela tem muitas interações medicamentosas, tem neurotoxicidade e, embora o potencial de toxicidade dela seja muito baixo, não quer dizer que ela não tenha potencial de toxicidade”, explica.

“A medicina tem como princípio primum non nocere – primeiro não faça mal. Para saber se não está fazendo mal, a gente tem que ter noção de que ela faz bem, o quanto faz mais bem do que mal. Se a gente não tiver essa noção, o pouco mal pode se transformar num grande mal se eu não tenho benefício. Como qualquer outra droga, se eu não tenho vantagens com o uso dela, eu só acumulo desvantagens. E, até o momento, a ivermectina é utilizada como antiparasitário e nem o fabricante recomenda que se use em outra coisa”, aponta.

O que dizem as entidades de saúde e o fabricante

A OMS e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da OMS nas Américas, não recomendam o uso de ivermectina para nenhum propósito que não seja aqueles para os quais o medicamento é autorizado: doenças parasitárias, como oncocercose e sarna.

A revisão dos estudos sobre medicamentos para uso em pacientes com covid-19 identificou “incerteza nos benefícios e danos potenciais”. “Embora estimativas sugiram benefícios com ivermectina, fatores como limitações metodológicas dos estudos apontam que as evidências são insuficientes e que mais pesquisas são necessárias para confirmar ou descartar esses achados”, diz a OMS.

Em 31 de março de 2021, a organização recomendou que a ivermectina fosse usada apenas em ensaios clínicos relacionados à covid-19, tendo em vista que a evidência atual sobre o uso desse medicamento para tratar pacientes com a doença é inconclusiva.

A Food and Drug Administration (FDA), agência de regulação dos Estados Unidos, também não aprova o uso da ivermectina para tratar ou prevenir a covid-19 e alerta que o uso de doses excessivas do medicamento, que não tem efeito antiviral, pode causar danos. A European Medicines Agency (EMA) também desaconselha o uso da ivermectina para pacientes com covid ou para prevenir a doença.

O laboratório Merck, fabricante da ivermectina nos Estados Unidos, afirmou em 4 de fevereiro de 2021 que os cientistas da empresa examinam cuidadosamente todos os estudos disponíveis e emergentes de ivermectina para o tratamento da doença para evidências de eficácia e segurança.

Até o momento, diz, a análise identificou não haver base científica para um efeito terapêutico potencial contra a covid de estudos pré-clínicos; não haver evidência significativa para atividade clínica ou eficácia clínica em pacientes com a doença; e preocupação com a falta de dados de segurança na maioria dos estudos.

“Não acreditamos que os dados disponíveis suportem a segurança e eficácia da ivermectina além das doses e populações indicadas nas informações de prescrição aprovadas pela agência reguladora”, diz o comunicado.

Quem é o autor do post

Marcos Falcão Farias Monte é médico com registro no Conselho Regional de Medicina do Estado de Alagoas, sob o número 8608-AL. O documento foi emitido há seis meses, em 15 de dezembro de 2020, após ele se formar pela Universidade Federal de Alagoas. Não há especialidades registradas.

Ele atende no formato de telemedicina e, tanto no Twitter quanto no Instagram, se apresenta como ativista político de direita, oferecendo tratamento imediato contra a covid. Também mantém um canal no YouTube, que já passou quatro meses desmonetizado como punição aplicada pela plataforma.

Via WhatsApp, o médico oferta serviços de análise clínica, prescrição de remédios, acompanhamento até a cura dos sintomas e solicitação de exames, com direito a quatro retornos por um valor de R$250.

Também pelos perfis, o Comprova localizou um canal do Telegram mantido pelo médico com mais de 5 mil inscritos. Na plataforma, Falcão recomenda – para “ajudar na prevenção da covid” – que todo domingo as pessoas tomem um comprimido de ivermectina para cada 30 kg. “Se tiver num meio-termo, arredonda para mais. Exemplo: 45 kg, toma dois”, diz a publicação, que indica, ainda, a ingestão de outras quatro substâncias também sem comprovação contra a covid em dias alternados, por semana ou diariamente. Em nenhum momento o profissional orienta as pessoas a consultarem um médico antes da ingestão do combo.

Para o hepatologista Raymundo Paraná, essa dosagem não é testada em humanos e não há estudos que comprovem o efeito antiviral da ivermectina, diferente do que diz Falcão. “Já vi pacientes tomando 2 comprimidos por dia, 1 por dia, 1 por semana, 1 a cada 15 dias e já vi 12 comprimidos por dia. É uma loucura. Nunca vi uma prescrição igual à outra porque ninguém sabe qual é a dose e nem o tempo de tratamento. Quando, em medicina, existem propostas muito diferentes, é porque nenhuma presta. Quando tem alguma que presta, todo mundo faz igual”, explica.

Ele destaca que opiniões individuais que defendem o uso da ivermectina contra a covid são frágeis e não há estudos sérios que comprovem sua eficácia, afirmando não fazer sentido que a venda do medicamento tenha crescido vertiginosamente justo no momento em que a pandemia teve mais vítimas.

“Se fosse uma dose tão milagrosa assim, não deveria ter essa coincidência, você deveria ter menos casos graves. Mas, pelo contrário, você teve muito mais casos do que quando não se usava. Obviamente que se fosse demonstrada a eficácia, nenhum médico sério do mundo se recusaria a prescrevê-la”, afirma.

O médico Marcos Falcão, em uma das postagens no Telegram, chega a compartilhar o estudo “Use of Ivermectin as a Potential Chemoprophylaxis for Covid-19 in Egypt: A Randomised Clinical Trial”, publicado no Journal of Clinical and Diagnostic Research, afirmando que ele comprova efeito da ivermectina na proteção contra a covid.

A conclusão do estudo, entretanto, sugere que a ivermectina apresenta eficácia promissora enquanto droga quimioprofilática (uso de medicamento de modo preventivo) contra a covid, acrescentando que trata-se de um primeiro relatório em relação ao uso da substância na profilaxia e que é apropriado se estudar rigorosamente o medicamento.

Conforme consulta na Plataforma Sucupira, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), vinculada ao Ministério da Educação, o periódico no qual o estudo foi publicado é avaliado como B3 na área de Medicina I, ou seja, considerado de média relevância, sem ser de excelência nacional ou internacional.

A cientista Natalia Pasternak, microbiologista da Universidade de São Paulo (USP), ouvida pela Comissão da Pandemia no Senado no dia 11 de junho de 2021, projetou em telão uma série de estudos científicos reconhecidos, de diversas partes do mundo, mostrando que a cloroquina e outros medicamentos do chamado “tratamento precoce”, dentre eles a ivermectina, não funcionam contra a covid-19.

Ela destacou que o chamado ‘kit covid’, que engloba remédios como hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina, não tem base científica, argumentando que a hidroxicloroquina, por exemplo, nunca foi testada em conjunto com ivermectina, e, juntas, podem ter interações medicamentosas que podem ser nocivas para os rins, para o fígado e podem levar pessoas à fila do transplante.

Na ocasião, o senador Luis Carlos Heinze defendeu que a ivermectina tem comprovação científica no combate à covid, declarando haver cinco metanálises favoráveis, sendo duas já publicadas (pelos doutores Pierre Kory – já verificado pelo Comprova – e Timotheus). A cientista, entretanto, voltou a negar a eficácia, defendendo que boas metanálises devem incluir “os melhores estudos feitos sobre aquele assunto”.

“Se a gente fizer uma metanálise só com estudos fracos, a gente vai ter uma metanálise fraca, e daí vão poder dizer que algo funciona, quando, na verdade, o conjunto das evidências que foi contemplado naquelas metanálises é um conjunto de evidências fracas. Então precisamos ter metanálises bem feitas”, declarou a especialista, lembrando que o consenso científico é constituído a partir de inúmeras pesquisas, de diferentes níveis de qualidade.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia ou sobre políticas públicas do governo federal. Quando esse conteúdo envolve medicamentos ou tratamentos contra o novo coronavírus, sua checagem se torna ainda mais necessária, porque informações incorretas podem levar as pessoas a colocarem a saúde em risco.

As postagens verificadas aqui tiveram mais de 4,1 mil curtidas, 1,2 mil compartilhamentos e 101 comentários no Twitter, além de 4,7 mil curtidas no Instagram.

Neste ano já foram publicadas checagens informando que a ivermectina não tem eficácia comprovada contra a covid-19 pelas agências Boatos.Org, Aos Fatos e o próprio Comprova.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.