O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2021-11-09

Segurança de vacina da Pfizer para crianças foi atestada pelo CDC; monitoramento de longo prazo é padrão

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a sequência de tuítes e a postagem no Instagram, feitas por um médico, questionando se a vacina da Pfizer contra a covid-19 é segura para crianças de 5 a 12 anos. Ele destaca apenas trecho de um documento da farmacêutica, que afirma ser pequeno o número de participantes nos estudos para identificar risco potencial de miocardite associada ao imunizante na faixa etária. O médico omite que autoridades sanitárias consideraram os benefícios da vacinação superiores aos riscos, o que também foi destacado no relatório.
  • Conteúdo verificado: Sequência de tuítes e postagem no Instagram expõem parte de um documento da Pfizer admitindo que os testes em crianças de 5 a 12 anos foram feitos em um grupo muito reduzido para que pudessem ser conclusivos para casos de miocardite nessa faixa etária. Ele orienta que as pessoas não acreditem na segurança da vacina para esse público só porque o FDA e o CDC a aprovaram.

É enganoso que as vacinas contra a covid-19 desenvolvidas pela Pfizer não são seguras para uso em crianças e adolescentes, conforme descontextualiza uma sequência de tuítes e uma postagem no Instagram aqui verificados.

Nos posts, um médico alega que a própria Pfizer informou em um documento que o número de participantes no programa de desenvolvimento clínico da vacina para crianças de 5 a 11 anos era muito reduzido para detectar risco potencial de miocardite associada ao imunizante.

O documento citado nas publicações de fato existe e foi apresentado em reunião junto ao Comitê Consultivo de Vacinas e Produtos Biológicos (VRBPAC), da Food & Drug Administration (FDA). Porém, o conteúdo publicado nas redes sociais não explicita coerentemente os dados que constam no relatório.

A própria FDA chegou a publicar um release informando ter autorizado a vacina da Pfizer-BioNTech para uso emergencial em crianças e adolescentes entre 5 e 11 anos, o que reforça ser enganosa a tese de que os imunizantes contra o coronavírus não seriam seguros para essa faixa etária.

O autor questiona a segurança da vacina citando que, a longo prazo, a possibilidade de miocardite só será avaliada em cinco estudos pós-autorização, incluindo um de cinco anos de duração. Porém, omite dados do próprio documento informando sobre os baixos riscos em comparação ao benefício, já que a covid-19 pode acarretar em problemas de saúde mais graves e até a morte.

Procurado, o autor do tuíte afirmou ser a favor da vacinação, mas “ser contra esta vacina, neste grupo etário”. Insistiu, erroneamente, que não houve “estudos de segurança adequados” e declarou que as pessoas têm o direito de saber “que o próprio fabricante diz que os riscos só serão conhecidos após cinco anos do início da vacinação”. Por fim, ele considerou a aprovação da vacina, sem todos os estudos, inédita e absurda.

O Comprova classificou o conteúdo como enganoso porque, publicado fora de seu contexto original e utilizando dados imprecisos, induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Como verificamos?

Inicialmente, entramos em contato com a Pfizer para questionar quais eram os riscos da aplicação dos imunizantes contra a covid-19 em crianças e adolescentes de 5 a 12 anos de idade.

Na sequência, a reportagem acionou o FDA, agência reguladora de Saúde nos Estados Unidos, equivalente à Anvisa no país, que sugeriu a leitura de nota oficial sobre o assunto em seu site.

Em seguida, a Anvisa foi procurada para falar sobre o avanço da aprovação para o uso emergencial dos imunizantes no Brasil para estes grupos etários.

Também foi entrevistada a imunologista Fernanda Grassi, pesquisadora titular do Instituto Gonçalo Moniz/Fiocruz-Bahia, para falar sobre os riscos que envolvem a vacinação de crianças e o número de pessoas utilizadas nos testes vacinais.

Por fim, o autor do tuíte foi procurado.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 9 de novembro de 2021.

Verificação

Trecho destacado em tuíte é recorte do documento oficial

O trecho citado nas postagens feitas no Twitter e no Instagram pertence a um documento de 82 páginas apresentado pela Pfizer em reunião junto ao Comitê Consultivo de Vacinas e Produtos Biológicos Relacionados (VRBPAC), do FDA, a agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos, em 26 de outubro de 2021.

Por ocasião da reunião, os conselheiros votaram para recomendar a vacinação com o imunizante da Pfizer contra a covid-19 em crianças de 5 a 12 anos, conforme noticiou a imprensa americana.

A própria agência publicou release informando ter autorizado a vacina da Pfizer-BioNTech para uso emergencial na faixa etária. Segundo o comunicado, a autorização foi baseada na avaliação completa e transparente do FDA dos dados, que incluíram contribuições de especialistas de comitês consultivos independentes que votaram a favor de tornar a vacina disponível para crianças nessa faixa etária.

Dentre os pontos-chave para pais e cuidadores, a agência destacou a eficácia e a segurança da vacina para o público. Em relação à primeira, as respostas imunológicas das crianças foram comparáveis ​​às de indivíduos de 16 a 25 anos. A vacina foi considerada 90,7% eficaz na prevenção de covid-19 na faixa infantil. Sobre a segunda, a segurança da vacina foi estudada em aproximadamente 3,1 mil crianças de 5 a 12 anos que receberam a substância e nenhum efeito colateral sério foi detectado no estudo em andamento.

A FDA explica que o Comitê Consultivo sobre Práticas de Imunização do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) se reunirá em breve para discutir outras recomendações clínicas.

De acordo com a agência, a vacina da Pfizer para crianças de 5 a 12 anos de idade é administrada como uma série primária de duas doses, com três semanas de intervalo, mas trata-se de uma dose mais baixa (10 microgramas) do que a usada para indivíduos com 12 anos de idade ou mais (30 microgramas).

Nos EUA, os casos de covid-19 em crianças nesta faixa etária representam 39% dos casos em indivíduos com menos de 18 anos. De acordo com o CDC, aproximadamente 8.300 casos da doença em crianças de 5 a 12 anos de idade resultaram em hospitalização. Em 17 de outubro, 691 mortes por covid-19 haviam sido relatadas nos Estados Unidos em indivíduos com menos de 18 anos de idade, sendo 146 mortes no grupo de 5 a 11 anos.

“Com base na totalidade das evidências científicas disponíveis, os benefícios conhecidos e potenciais da vacina Pfizer-BioNTech covid-19 em indivíduos de até 11 anos de idade superam os riscos conhecidos e potenciais”, afirma o órgão. O CDC recomendou no dia 2 de novembro a aplicação da vacina pediátrica para cerca de 28 milhões de crianças nessa faixa etária nos Estados Unidos.

Contexto da publicação feita no Twitter

A página do documento compartilhada no post apresenta, em inglês, as conclusões gerais de risco-benefício da vacinação em crianças de 5 a 12 anos. No texto, a farmacêutica informa que a covid é uma infecção grave e potencialmente fatal para crianças e que as duas doses primárias da vacina mostraram um perfil favorável de segurança e tolerabilidade, respostas imunes robustas contra todas as variantes preocupantes e alta eficácia contra a covid-19 sintomática em um período em que a variante delta foi predominante nos Estados Unidos.

De fato, como observado pelo autor das postagens, o documento destaca que o número de participantes no programa de desenvolvimento clínico é muito pequeno para detectar quaisquer riscos potenciais de miocardite associados à vacinação. Também cita que a segurança de longo prazo do imunizante será analisada em cinco estudos pós-autorização, incluindo um estudo de acompanhamento de cinco anos para avaliar a longo prazo sequelas de miocardite/pericardite pós-vacinal.

Nas postagens, contudo, o médico fala apenas sobre esse trecho da página, omitindo, nos comentários em português, por exemplo, a informação que consta no documento sobre os bancos de dados de vigilância de segurança de Israel sugerirem que as taxas de incidência de casos raros pós-vacinação de miocardite atingem o pico em indivíduos do sexo masculino com 16 a 19 anos de idade e que diminuem em adolescentes de 12 a 15 anos de idade.

O documento da Pfizer destaca, também, que a dose para crianças de 5 a 12 anos de idade é 1/3 da dose administrada aos vacinados mais velhos. “Com base nessas informações, é razoável prever que as taxas de miocardite pós-vacina provavelmente serão ainda mais baixas em 5 a 12 anos de idade do que as observadas em adolescentes de 12 a 15 anos”, diz o documento.

Para a infectologista Fernanda Grassi, que é pesquisadora titular do Instituto Gonçalo Moniz/Fiocruz-Bahia, os testes vacinais na fase anterior à aprovação de uma vacina – ou seja, a fase 3 – são mesmo limitados. “Você faz os testes em um número limitado de pessoas e quando essa vacina é aprovada e vai para a fase 4, você tem a farmacovigilância”, aponta.

Qualquer vacina precisa dessa vigilância, diz. “Todas as vacinas precisam de farmacovigilância, até as que são aprovadas há muito tempo. Evidentemente, qualquer vacina ou qualquer medicamento que entre (aprovada), a gente tem que continuar investigando, vendo se casos que vão surgindo estão ou não relacionados à vacina”, explica.

A pequena participação de crianças no ensaio clínico rendeu alguma polêmica nos Estados Unidos, como detalha essa reportagem do New York Times. Em outra notícia, contudo, o veículo explica serem reconfortantes os dados recentes sobre a frequência que as vacinas contra a covid causam problemas cardíacos em crianças, isso porque a miocardite continua muito incomum e quase sempre é leve e temporária. O risco cardíaco da própria covid-19 é muito maior, destacam especialistas ouvidos pelo veículo.

Conforme as informações, embora as vacinas feitas pela Pfizer-BioNTech e Moderna pareçam estar associadas a um risco aumentado de miocardite em pessoas com até 30 anos, o risco absoluto permanece muito pequeno.

O especialista em inflamação do coração em crianças do Hospital Infantil UPMC de Pittsburgh, Dr. Brian Feingold, por exemplo, afirma à publicação que estatisticamente é muito mais provável que a covid-19 cause danos ao coração. Para ele, deste modo, mesmo que o risco de miocardite após a vacinação seja real, a infecção causada pelo coronavírus é mais perigosa.

Desde o início da pandemia de coronavírus, afirma, dezenas de milhares de crianças foram hospitalizadas com covid e 657 morreram, de acordo com dados coletados pelo CDC. Além disso, algumas crianças infectadas podem desenvolver covid prolongada, permanecendo doentes por meses após o desaparecimento da infecção inicial, o que afetou pelo menos 5.200 crianças nos Estados Unidos.

O veículo também detalha que a incidência de miocardite após a vacinação varia com a idade, sexo e dose – e entre os diferentes estudos feitos sobre o assunto. Mas a tendência, até agora, sugere que as chances são maiores após a segunda dose de uma vacina de mRNA em pacientes do sexo masculino com idades entre 16 e 29 anos, com cerca de 11 casos de miocardite para cada 100 mil pacientes masculinos vacinados nessa faixa etária.

Embora os dados sobre miocardite em adolescentes de 12 a 15 anos após a vacinação sejam limitados, o Dr. Paul A. Offit, diretor do Centro de Educação de Vacinas do Hospital Infantil da Filadélfia, diz que, até o momento, os problemas cardíacos após a vacinação parecem ser menos comuns em meninos dessa idade do que em homens mais velhos. “A miocardite é geralmente um fenômeno pós-púbere”, observa.

O FDA informa que a Pfizer atualizou seu plano de monitoramento de segurança para incluir avaliação de miocardite, pericardite e outros eventos de interesse em crianças de 5 a 12 anos de idade. Além disso, o FDA e o CDC têm vários sistemas implantados para monitorar continuamente a segurança da vacina contra a covid-19 e permitir a rápida detecção e investigação de possíveis problemas de segurança.

É obrigatório para a Pfizer e os provedores de vacinação relatar quaisquer eventos adversos graves, casos de Síndrome Inflamatória Multissistêmica e casos de covid-19 que resultem em hospitalização ou morte em indivíduos vacinados. Também é obrigatório para os provedores de vacinação relatar todos os erros de administração da vacina ao Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas norte-americano (VAERS), dos quais tenham conhecimento e para a Pfizer incluir um resumo e análise de todos os erros de administração da vacina identificados em relatórios mensais de segurança para o FDA.

Miocardite é rara em pacientes com ou sem covid-19

A miocardite geralmente resulta de infecção por um vírus ou bactéria e causa sintomas como batimento cardíaco rápido ou irregular, dor no peito e falta de ar. Globalmente, cerca de 10 a 20 pessoas em cada 100.000 desenvolvem miocardite a cada ano, mas muitas outras apresentam sintomas leves e podem nunca ser diagnosticadas.

No entanto, a covid-19 tem mais chances de gerar a complicação do que a vacina desenvolvida contra o coronavírus, segundo um estudo divulgado em agosto deste ano pelo CDC (Centro para a Prevenção e o Controle de Doenças), dos Estados Unidos. Os dados apresentados pela pesquisa analisaram consultas em mais de 900 hospitais norte-americanos.

“A miocardite permanece rara em pacientes com ou sem covid”, diz um trecho do relatório do CDC. Ao mesmo tempo, o CDC diz que apesar do vírus ampliar os riscos para o desenvolvimento de uma miocardite, as consequências podem variar conforme a idade do paciente.

Foram identificados pelo FDA casos de miocardite e de pericardite após vacinação contra a covid-19 com imunizantes de plataforma de RNA mensageiro (RNAm), como as vacinas da Pfizer e da Moderna. No Brasil, apenas a primeira possui autorização para uso pela Anvisa, que emitiu alerta.

De acordo com a imunologista Fernanda Grassi, existem sim riscos de miocardite e pericardite pós-vacinal, mas os benefícios da vacinação são muito superiores aos riscos. “É claro que vacinar crianças de 5 a 11 anos é uma situação que você vai precisar acompanhar, mas o que tudo indica nesse momento é que os benefícios são muitos superiores aos riscos”, diz.

Ela ressalta que os casos de miocardite são extremamente raros, de pouca gravidade e autolimitados, ou seja, se curam sozinhos.

“Não existe na comunidade científica nenhuma barreira, nenhuma limitação, restrição a vacinar crianças. Pelo contrário: agora, cada vez mais, a gente está vendo a necessidade de vacinar essa faixa etária, porque os casos graves que estão diminuindo nas populações adultas estão se tornando mais graves em crianças. E isso é o que acontece quando a gente não vacina uma faixa etária. Sem contar que a criança pode servir até como reservatório para novas variantes”, pontua.

Dados comprovam segurança da vacina

O FDA explica que os dados de eficácia para apoiar a vacinação são baseados em um estudo randomizado controlado por placebo em andamento que envolveu aproximadamente 4.700 crianças de 5 a 12 anos de idade. O estudo está sendo conduzido nos Estados Unidos, Finlândia, Polônia e Espanha.

As crianças no grupo da vacina receberam duas doses da vacina Pfizer-BioNTech covid-19 contendo 10 microgramas de RNA mensageiro por dose. O FDA analisou dados que compararam a resposta imune de 264 participantes deste estudo com 253 participantes de 16 a 25 anos que receberam duas doses mais altas da vacina em um estudo anterior que determinou que a vacina era eficaz na prevenção de covid-19. As respostas imunológicas dos participantes mais jovens foram comparáveis ​​às dos participantes mais velhos.

O FDA também conduziu uma análise preliminar dos casos de covid-19 que ocorreram sete dias após a segunda dose. Nesta análise, entre os participantes sem evidência de infecção anterior com SARS-CoV-2, três casos de covid-19 ocorreram entre 1.305 receptores da vacina e 16 casos de covid-19 ocorreram entre 663 receptores de placebo; a vacina foi 90,7% eficaz na prevenção de covid-19.

O que diz a Pfizer

Procurada pelo Comprova, a farmacêutica encaminhou extensa nota sobre o assunto afirmando que a Pfizer e BioNTech desenharam um estudo de fase 1/2/3 na população pediátrica entre 6 meses de 11 anos de idade, que vem sendo conduzido por centros de pesquisa especializados e seguindo todos os critérios e regulamentações pertinentes à condução de pesquisa em seres humanos.

Em relação à análise preliminar dos dados da vacina em crianças de 5 a 11 anos, afirma que o regime de duas doses de 10 mcg da vacina se mostrou segura e capaz de gerar altos títulos de anticorpos, acrescentando que, além do FDA já ter aprovado o uso emergencial para a faixa etária, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) está em processo de análise dos dados.

Conforme a farmacêutica, é realizado habitualmente o acompanhamento de relatos de eventos adversos de seus produtos e o registro destes são fundamentais para que se mantenha uma análise criteriosa da relação risco-benefício de um determinado medicamento ou vacina. “Até o momento, especificamente sobre a vacina ComiRNAty, não há qualquer alerta de segurança ou preocupação, de modo que o benefício da vacinação segue estabelecido”, sustenta.

A nota afirma, ainda, que a farmacêutica atende à exigência das agências reguladoras de que os fabricantes conduzam estudos de farmacovigilância pós-aprovação, com relatórios regulares para as autoridades de saúde. “A Pfizer tem um plano robusto de farmacovigilância que foi aprovado pelas agências reguladoras; atualmente, esse plano de farmacovigilância inclui 6 estudos pós-aprovação da Pfizer, aceitos pelo FDA, em adultos, adolescentes e crianças para monitorar a segurança da vacina e identificar efeitos colaterais potencialmente raros. Isso é feito para todas as vacinas e medicamentos”.

Por fim, a Pfizer afirma que espera ainda neste ano apresentar os dados de segurança e imunogenicidade da vacina na população entre 6 meses a menores de 5 anos.

O que diz a Anvisa sobre uso da vacina em crianças e adolescentes

A Anvisa informou, ao ser procurada pelo Comprova, que a Pfizer ainda não solicitou a indicação de sua vacina para crianças menores de 12 anos no Brasil. “A análise da Anvisa tem início a partir do momento em que o pedido é feito, com a apresentação dos dados e resultados de estudos que sustentem a indicação de faixa etária”, explicou a o órgão, acrescentando que irá comunicar o recebimento deste pedido tão logo dê entrada na agência.

Ainda segundo a nota encaminhado à reportagem, a solicitação para a inclusão de uma nova indicação de faixa etária na bula de uma vacina depende de protocolo a ser realizado pela empresa/instituição detentora do registro ou da autorização de uso emergencial, com a apresentação de dados clínicos e científicos que sustentem a segurança e eficácia da vacina para o público infantil.

“Como agência reguladora, a Anvisa somente pode aprovar novas indicações de qualquer medicamento ou vacina diante da apresentação de dados técnicos sólidos e mediante um pedido objetivo dos desenvolvedores de cada vacina. Por isso, o pedido de nova indicação deve ser feito pelo laboratório farmacêutico responsável pela vacina”, sustenta..

A Pfizer deve pedir a aprovação do uso de imunizantes contra a covid-19 em crianças entre 5 a 11 anos. A previsão é que o pedido seja encaminhado à Anvisa ainda no mês de novembro.

O governo de São Paulo solicitou à Anvisa urgência na autorização de uso das imunizações para estes grupos etários. João Doria (PSDB) afirmou durante uma coletiva de imprensa que membros da equipe de saúde do estado integraram uma reunião técnica com profissionais do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde). Segundo o governador, São Paulo tem condições técnicas para iniciar a vacinação assim que a Anvisa liberar a aplicação no país.

Quem é o autor

O autor das postagens é o médico Paulo Macio Porto de Melo, inscrito no Conselho Regional de Medicina de São Paulo desde 1998 com áreas de atuação em neurocirurgia e neurologia.

Procurado pelo Comprova, ele afirma ter lido todo o documento e informado a fonte das informações na sequência de postagens, além de ter disponibilizado toda a página sobre os riscos.

Questionado se o conteúdo poderia desincentivar a vacinação, ele afirma que a postagem não se trata disso, e sim “das pessoas terem o direito de saber que o próprio fabricante diz que os riscos só serão conhecidos após cinco anos do início da vacinação”, acrescentando acreditar que isso é “inédito e absurdo”.

Por fim, afirmou ter se vacinado e não ser contra as vacinas, mas “ser contra essa vacina específica, neste grupo etário e sem estudos de segurança adequados”.

O médico já foi ouvido no Senado, onde defendeu o tratamento precoce com o uso de medicamentos sem comprovação científica contra a covid-19. Ele chegou a ser convocado para a CPI da Covid, mas o depoimento foi cancelado.

Ao longo da pandemia, Paulo Porto de Melo foi alvo de verificações por diferentes agências de checagem brasileiras por declarações falsas e enganosas sobre outra vacina contra a covid-19, a CoronaVac. As checagens foram publicadas por Aos Fatos, Lupa e Estadão Verifica.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado sobre políticas públicas do governo federal, eleições e a pandemia, como este aqui checado, que teve até o dia 9 de novembro mais de 7,9 mil interações no Twitter e 2,4 mil no Instagram. Os números foram contabilizados com base nos comentários, compartilhamentos e curtidas nas postagens.

Ao afirmar de forma enganosa que as vacinas contra a covid-19 podem causar efeitos adversos, a longo prazo, em crianças e adolescentes, a publicação confunde e assusta os cidadãos, que podem se tornar aversos a aplicação dos imunizantes no público de 5 a 12 anos, ainda que eles sejam comprovadamente seguros.

Isso fica claro em algumas respostas de usuários ao fio compartilhado no Twitter, como a que diz estar sofrendo por não tomar a “picadinha” e nem aplicar no filho de 17 anos: “não posso ir à missa, alguns lugares já não entro mais, minha família me critica me chamando de louca… mas algo me diz no fundo do coração que não tome, então não tomo”.

Ou o que afirma não querer levar os filhos para tomarem sequer as vacinas contra outras doenças, por medo “Não estou nem afim de levar meu filho de 3 pra 4 anos para tomar as habituais e antigas e já exigidas por medo, e por lembrar do que ele já passou antes das reações. Imagina esta MERDA se eu irei dar…”

As vacinas contra o coronavírus, principal mecanismo de combate à doença, têm sido alvo frequente de alegações falsas compartilhadas nas redes sociais. Sobre os imunizantes, o Comprova já identificou ser falso que a Polônia usava órfãos em experimentos de vacinas a Pfizer e da Moderna, como também o documento da Suprema Corte dos Estados Unidos que afirma falsamente que as vacinas transformam os cidadãos em ‘trasumanos’.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-11-05

É falso que pessoas imunizadas com a vacina da Pfizer se tornem rastreáveis

  • Falso
Falso
Diferentemente do que afirma um homem em um vídeo compartilhado no Telegram, a Pfizer não patenteou um sistema de rastreamento de pessoas vacinadas; e não há grafeno na formulação das vacinas contra a covid-19.
  • Conteúdo verificado: Vídeo publicado em um canal no Telegram afirma que a Pfizer patenteou um sistema de rastreamento de pessoas imunizadas contra a covid-19 e que teria grafeno na composição da vacina.

A Pfizer não patenteou, no dia 31 de agosto de 2021, qualquer sistema de rastreamento de pessoas vacinadas com o imunizante desenvolvido por ela contra a covid-19, como afirma um jornalista em vídeo publicado no Telegram.

Na verdade, existe uma patente emitida nesta data, nos Estados Unidos, que trata do uso de contato digital para aplicação de medidas profiláticas contra doenças infecciosas propagadas pelo ar, mas ela pertence a dois advogados israelenses sem ligação com a Pfizer. Na prática, o sistema utilizaria sinal de Bluetooth para identificar as pessoas que mais interagem socialmente e priorizá-las na aplicação de medicamentos ou vacinas – este método, segundo os proprietários, resultariam num melhor desempenho epidemiológico.

As demais afirmações feitas ao longo do vídeo também são falsas, como a de que seria possível o rastreamento de pessoas vacinadas por meio de óxido de grafeno “mantido nos tecidos adiposos de todas as pessoas que receberam a injeção”. Nem a vacina da Pfizer e nem qualquer outra contra a covid-19 possui essa substância na composição.

Além disso, especialistas ouvidos pelo Comprova afirmam que não é possível rastrear pessoas por meio das nanopartículas de grafeno.

O Comprova também conversou diretamente com a Pfizer, que afirmou ser falso o conteúdo do vídeo, mesma afirmação feita pelas agências reguladoras americana e brasileira, a Food and Drug Administration (FDA) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), respectivamente.

Procurado, o autor do vídeo não respondeu ao Comprova, que identificou o conteúdo como falso por ser inventado.

Como verificamos?

A reportagem, inicialmente, foi em busca de informações sobre a composição dos imunizantes desenvolvidos pela Pfizer para combater a covid-19, por meio de consulta da bula do fármaco, disponível no site da Anvisa. O documento não cita, em qualquer circunstância, a presença de grafeno em sua composição.

Na sequência, entramos em contato com a Universidade Federal de Pelotas em busca do contato de um especialista em vacinas, capaz de explicar se é comum ou não a presença da substância citada no vídeo em imunizantes. A instituição nos encaminhou o telefone do professor e vacinologista Odir Dellagostin.

A reportagem também procurou a FDA, onde a vacina foi patenteada, e a Anvisa.

Contatamos, ainda, os donos da patente citada no vídeo, que não pertence à Pfizer, mas sim a dois advogados israelenses — Gal Ehrlich e Maier Fenster —, sócios do escritório Ehrlich & Fenster, especializado em marcas e patentes nas áreas de biotecnologia, dispositivos médicos, física, química, farmacêutica, softwares e sistemas de informação.

Por fim, o Comprova encaminhou mensagem para o autor do vídeo, com o objetivo de saber quais eram as fontes das informações que ele cita na publicação. Até a publicação deste texto, não houve retorno.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 4 de novembro de 2021.

Verificação

O que é a patente e o que dizem os proprietários?

No vídeo, o autor do conteúdo cita que uma suposta patente da Pfizer foi aprovada no dia 31 de agosto de 2021, e que se trataria de um sistema capaz de rastrear os seres humanos que receberam a vacina contra a covid-19. Existe uma patente aprovada nesta data, que trata do uso de contato digital para aplicação de medidas profiláticas contra doenças infecciosas propagadas pelo ar. Contudo, ela não pertence à Pfizer e nem a nenhuma farmacêutica.

Os donos da patente são dois advogados israelenses — Gal Ehrlich e Maier Fenster —, sócios do escritório Ehrlich & Fenster, especializado em marcas e patentes nas áreas de biotecnologia, dispositivos médicos, física, química, farmacêutica, softwares e sistemas de informação.

A patente, intitulada “Métodos e sistemas de priorização de tratamentos, vacinação teste e/ou atividades protegendo a privacidade dos indivíduos” (tradução livre), não mantém relação com o rastreio de pessoas vacinadas, nem com o uso de grafeno para localizar essas pessoas por meio de vestígios presentes no tecido adiposo de seres humanos.

A ideia inicial foi concebida, segundo um dos autores, Gal Ehrlich, entre abril e maio de 2020, quando não havia nenhuma vacina disponível contra a covid-19, mas quando já era visível a super-disseminação do Sars-CoV-2.

A proposta é aplicar medidas profiláticas contra doenças infecciosas que se disseminam pelo ar, primeiro, em pessoas que praticam mais interações sociais, a fim de obter um desempenho epidemiológico melhor dessas medidas. Para encontrar essas pessoas, o sistema criado pelos dois advogados utilizaria os sinais de interações por Bluetooth entre celulares das pessoas com mais interações sociais.

“Nossa invenção estipula que medidas profiláticas (incluindo, por exemplo, o uso de medicamentos ou vacinas) para combater uma doença infecciosa nascida em gotícula/ar, nos casos em que as medidas estão em escassez, teriam um desempenho epidemiológico superior se administradas primeiro àqueles que praticam mais interações sociais em comparação com aqueles que estão em risco (por exemplo, idosos, doentes) como é atualmente recomendado pela OMS para as vacinas contra a covid-19, e praticado por todos os governos”, afirma Gal Ehrlich, um dos donos da patente, em e-mail ao Comprova.

Ehrlich nega que a invenção tenha relação com a Pfizer ou com qualquer outra farmacêutica. Na verdade, ninguém se interessou ainda em aplicar o modelo desenvolvido pela dupla. “Infelizmente, nem a Pfizer nem ninguém, até agora, manifestou qualquer interesse nesta invenção/patente”, disse ao Comprova.

O que dizem a Pfizer e as agências de regulação

A reportagem entrou em contato com a Pfizer para solicitar esclarecimentos sobre como foi elaborada a fórmula da vacina, se o grafeno integra sua composição e também de que maneira foi realizada a patente do imunizante contra a covid-19.

A farmacêutica afirmou que em nenhum momento patenteou qualquer sistema de rastreamento, como afirma a publicação compartilhada no Telegram.

“Com relação às informações que têm circulado em redes sociais e aplicativos de mensagens sobre a vacina ComiRNAty, esclarecemos: a Pfizer não confirma registro de patente e nenhum componente que faça o rastreamento dos vacinados”, disse a empresa, em nota.

Também procurada, a FDA respondeu que “essas afirmações são completamente falsas” e que nenhuma vacina aprovada pelo órgão contém os materiais citados nas alegações feitas no vídeo. Acrescentou que a lista de ingredientes nas vacinas pode ser encontrada na Folha de Dados para Destinatários e Cuidadores.

Ainda de acordo com a agência, as orientações para o desenvolvimento da vacina descrevem as recomendações da FDA para medidas de controle de qualidade (aqui e aqui).

Há, ainda, o memorando de autorização de uso de emergência para um produto não aprovado, que inclui informações sobre química, fabricação e controles da vacina, bem como informações sobre a condução de ensaio clínico. Essas mesmas informações, acrescenta, estão disponíveis para a vacina da Pfizer.

Para os imunizantes aprovados há informações mais extensas sobre medidas de controle de qualidade, segundo explica o órgão.

Por fim, a agência indica uma entrevista em áudio postada no YouTube, em agosto deste ano, na qual o médico Peter Marks, diretor do Centro de Avaliação e Pesquisa Biológica (CBER) do FDA, fala sobre a desinformação que circula em torno das vacinas, a partir de 9 minutos e 47 segundos.

Segundo ele, um dos maiores desafios para vacinar o público tem sido a quantidade esmagadora de afirmações falsas que circulam sobre vacinas. Marks cita, como exemplos, boatos de que os imunizantes causam infertilidade, que contêm microchips e que podem causar a própria covid-19. “E pior, ouvimos falsas alegações de que milhares de pessoas morreram por causa da vacina. Deixe-me esclarecer que essas afirmações simplesmente não são verdadeiras”, declara.

No Brasil, foi procurada a Anvisa, que também informou que a vacina da Pfizer não inclui substâncias como o grafeno e que a composição consta na bula do produto. “É importante destacar que a regulamentação de produtos estéreis é bastante rigorosa em relação à presença de impurezas, inclusive aquelas que possam ser resultantes do processo de produção de medicamentos e vacinas”, diz a nota encaminhada ao Comprova.

A bula do imunizante foi registrada na Anvisa no dia 23 de fevereiro de 2021. Diferentemente do que afirma o vídeo, em nenhuma parte do documento a farmacêutica ou a agência reguladora de saúde citam o grafeno como um dos compostos presentes nos imunizantes.

Segundo o documento, cada dose da vacina diluída contém um composto de RNA mensageiro, de cadeia simples, altamente purificado e produzido usando transcrição in vitro, a partir dos modelos de DNA correspondentes. A função dessa fórmula é codificar a proteína S — spike — do SARS-Cov-2 e combatê-lo.

O mesmo imunizante também é composto por excipientes — ingredientes diluídos, de poder terapêutico, utilizados para assegurar a estabilidade dos fármacos —, que incluem sacarose, cloreto de sódio, cloreto de potássio, fosfato de sódio dibásico di-hidratado, fosfato de potássio monobásico e água para injetáveis.

Afinal, o que é o grafeno?

Mencionado como o material que está revolucionando a tecnologia, o grafeno é uma das formas do carbono, extremamente fino, resistente, transparente e leve, além de ser capaz de conduzir correntes elétricas. O foco neste elemento se assemelha à revolução associada às descobertas do plástico e do silício.

Formado por carbono puro — também presente no diamante —, o material é obtido por meio da extração do grafite, um dos materiais mais abundantes da Terra.

Presente desde o lápis até painéis fotovoltaicos, o uso do grafeno rendeu o Nobel da Física de 2010 ao cientista russo-britânico Konstantin Novoselov e ao cientista neerlandês Andre Geim, ambos da Universidade de Manchester, na Inglaterra.

De acordo com o vacinologista e professor da UFPel, Odir Dellagostin, o grafeno é uma das formas cristalinas do carbono, com inúmeras aplicações, que vão desde a indústria têxtil, até a área de construção civil, passando por novos materiais.

“O óxido de grafeno é uma nanopartícula que vem sendo estudada como aditivo em fármacos e até mesmo como adjuvante de vacinas, tendo demonstrado resultados promissores. Porém, o grafeno não está presente nas vacinas contra a covid-19”, explica Dellagostin, ao comentar sobre as afirmações falsas do vídeo aqui verificado.

Além disso, a nanopartícula presente nas vacinas da farmacêutica Pfizer é composta de lipídio, não de grafeno, segundo informações presentes na bula dos medicamentos e confirmadas pelo professor.

O vacinologista afirma ainda que, por não estar presente na composição dos imunizantes contra o coronavírus, não é possível detectar o grafeno em um organismo vacinado.

“Grafeno é uma nanopartícula, que vem sendo testada como adjuvante — espécie de auxiliar — de vacina, mas que não está presente ainda em nenhuma vacina. Não há como detectar grafeno no organismo vacinado”.

O especialista desmente o vídeo do suposto jornalista que afirma ser possível rastrear pessoas por meio das nanopartículas de grafeno. “Não há nenhuma forma de ‘rastrear’ pessoas por meio destas nanopartículas. Creio que o boato surgiu pelo fato de que estas vacinas têm nanopartículas lipídicas na sua composição”.

Essas nanopartículas são pedaços microscópicos de gordura, que contêm um RNA mensageiro, fragmento genético com instruções para que células do corpo humano produzam a proteína Spike do SARS-CoV-2, vírus que causa a covid-19. A mesma explicação sobre a composição de imunizantes foi dada em uma verificação da Agência Lupa.

De acordo com o professor, estudos conduzidos pela UFPel têm testado nanotubos de carbono — um derivado do grafeno — como adjuvante das vacinas. Os resultados foram promissores, mas Dellagostin ressalta que para ser possível chegar a um produto comercial e seguro, serão necessários mais estudos.

“Há ainda uma preocupação com os riscos que estas partículas nanométricas podem ter no organismo. Esta é a única preocupação”.

Patentes para medicamentos nos Estados Unidos

O FDA explica que as patentes são um direito de propriedade concedido pelo Escritório de Patentes e Marcas Registradas dos Estados Unidos (Upsto) a qualquer momento durante o desenvolvimento de um medicamento e pode abranger uma ampla gama de reivindicações.

As informações relacionadas às patentes de medicamentos devem ser submetidas via formulários para que sejam indexadas no Orange Book, uma base de dados que contém informações sobre medicamentos coletadas desde 2013.

No caso das vacinas, como a ComiRNAty, as informações são depositadas em outro banco de dados, identificado como Purple Book, que reúne os produtos biológicos licenciados pela FDA, incluindo produtos biossimilares e intercambiáveis ​​licenciados e seus produtos de referência.

Sobre o autor

O autor do vídeo é o jornalista Claudio Lessa, que passou por diversos veículos de comunicação até o início dos anos 2000, quando foi aprovado em um concurso para a Câmara dos Deputados.

Conteúdo postado por ele anteriormente já foi alvo de verificação do Comprova. A reportagem tentou entrar em contato com Lessa, pelo Facebook, mas ele não respondeu até esta publicação.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O vídeo aqui verificado teve 16 mil visualizações até o dia 4 de novembro de 2021.

Conteúdos falsos referentes à segurança das vacinas cientificamente comprovadas como o principal método contra o novo coronavírus podem causar pânico na comunidade e desencorajar a vacinação.

Postagens semelhantes a esta foram verificadas pelas agências Boatos.org, Factual AFP e Reuters.

Sobre imunizantes, o Comprova já identificou ser falso que órfãos da Polônia são usados em experimentos de vacina da Pfizer e Moderna, que tuíte engana ao dizer que vacina da Pfizer tem partículas contaminantes e que é falso que documento da Suprema Corte dos EUA afirme que vacinados contra a covid-19 se tornam transumanos.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2021-10-29

CDC não disse que imunidade natural é superior à das vacinas, como sugere empresário indiciado pela CPI

  • Falso
Falso
É falso que o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos tenha admitido que a imunidade de quem já foi infectado pela covid-19 seja superior a de quem se vacinou. Tuíte de um empresário brasileiro reproduz o conteúdo de uma publicação em inglês escrita após uma troca de emails com o CDC. Embora o autor insista que a “imunidade natural” é superior aos imunizantes, o órgão americano não sustenta essa tese nas mensagens. Na verdade, o CDC defende que mesmo quem já teve a doença deve se imunizar, para evitar reinfecções. Um estudo publicado pelo órgão diz ainda que as vacinas melhoram resposta imune em pessoas que tiveram a doença.
  • Conteúdo verificado: Tuíte afirma que o “CDC americano teve que admitir, em uma troca formal de emails, que a imunidade natural é superior à imunidade da vacina”. O link que acompanha o tuíte mostra uma troca de emails entre um escritório de advocacia e integrantes do CDC, mas, em nenhum momento, o CDC faz tal admissão.

É falso um tuíte do empresário Otávio Fakhoury segundo o qual o CDC, órgão de controle de doenças americano, teria admitido que a imunidade de quem já teve covid-19 é superior a de quem se vacinou. Ele se baseia em uma publicação em inglês que trocou emails com o CDC. Nas mensagens publicadas em anexo pelo site, o CDC, na verdade, reitera sua política de que mesmo as pessoas que já se recuperaram do novo coronavírus devem buscar ser imunizadas.

Além disso, no site da instituição, há um estudo defendendo que as vacinas melhoram a resposta imune em pessoas que já tiveram a doença.

Autoridades de saúde do Brasil, como a Anvisa, a Sociedade Brasileira de Imunizações, a Fiocruz e o Instituto Butantan também defendem que mesmo os recuperados devem buscar se vacinar para se proteger contra novas variantes e porque a imunidade natural tende a cair com o tempo.

Essa necessidade de reforço dos anticorpos também foi explicada ao Comprova pelo imunologista João Bosco, do Hospital Albert Einstein. Após analisar o conteúdo original, o médico ainda criticou o fato de o estudo citado pelo site em inglês, no qual Fakhoury se baseou, estar em um repositório de pré-publicações e, portanto, nunca ter tido seus resultados revisados por outros cientistas.

Indiciado pela CPI da Pandemia por supostamente financiar sites que difundem desinformação sobre a covid-19, o empresário disse ao Comprova, por telefone, que apenas reproduziu em português o que estava dito na página em inglês, não emitindo nenhuma opinião nova e, por isso, não deveria ser alvo de uma verificação.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

Inicialmente, o Comprova contatou o CDC questionando se a troca de e-mails é real e aguardamos um retorno. Além disso, foram realizadas buscas na internet para saber quem é Otávio Fakhoury.

Verificamos que ele atua como líder do PTB em São Paulo e foi indiciado por incitação ao crime (artigo 286 do Código Penal) pela CPI da Covid, no Senado Federal, que apura as ações e omissões do governo federal e seus aliados no combate à pandemia.

Encaminhamos um e-mail ao diretório estadual da sigla em que ele atua para saber se ele gostaria de se manifestar sobre o posicionamento compartilhado no Twitter. Em retorno, a assessoria política do PTB informou que Fakhoury estava disponível para esclarecer pontos via ligação.

Na sequência, a reportagem foi em busca de estudos do próprio órgão de saúde norte-americano que mostrassem seu posicionamento científico a respeito da imunidade contra a covid-19. Encontramos pesquisas que asseguram que a vacina é a melhor alternativa contra o vírus por reduzir as chances de reinfecção e desenvolvimento de quadros graves da doença.

Através dos sites dessas instituições, também consultamos a posição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Butantan sobre a necessidade de imunizar pessoas que já se recuperaram da covid-19.

A reportagem contatou ainda o médico imunologista João Bosco, diretor de genética do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, que analisou o conteúdo da publicação.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 29 de outubro de 2021.

Verificação

Vacinas melhoram resposta imune em pessoas que tiveram a doença, sugere estudo do CDC

Diferentemente do que sugere a publicação compartilhada no Twitter, o CDC afirma em um estudo divulgado em agosto deste ano que as vacinas trazem uma proteção maior a pessoas que tiveram infecção prévia por covid-19. A pesquisa desenvolvida em Kentucky, nos Estados Unidos, avaliou a imunidade de pessoas que já tinham sido infectadas com o Sars-COV-2.

Centenas de moradores da região, que haviam contraído o vírus até junho de 2021 e não foram vacinados, tiveram 2,34 vezes mais chances de reinfecção em comparação com os totalmente imunizados.

Segundo o CDC, os resultados sugerem que, entre as pessoas que tiveram covid-19 anteriormente, a vacinação completa fornece proteção adicional contra a reinfecção.

As vacinas também evitaram hospitalizações ligadas à covid-19 entre os grupos de maior risco, como idosos acima dos 65 anos e pessoas com comorbidades. “À medida que os casos, hospitalizações e mortes aumentam, os dados do relatório semanal sobre a doença reforçam que as vacinas são a melhor forma de prevenir a covid-19″, explica o CDC.

O autor da publicação em inglês na qual o tuíte se baseou apresentou uma petição ao CDC pedindo que revisse a política de vacinação de quem já teve a covid-19. O pedido foi rejeitado por uma questão formal. Ainda assim, o órgão faz questão de reiterar a necessidade de vacinação para quem já foi infectado, como uma forma de prevenir a reinfecção pelo novo coronavírus. O CDC argumenta que os dados atuais mostram que contrair novamente a doença é mais provável para quem não recebeu os imunizantes.

No email, o CDC diz ainda que não vai oferecer uma resposta detalhada a todas as “incorreções” presentes no email. O autor, então, diz que o órgão “falhou em rebater de forma clara, consistente e irrefutável” os argumentos. Ao contrário do que afirma o post em inglês e, em seguida, o tuíte do empresário brasileiro, no entanto, o CDC nunca admitiu que a “imunidade natural” é superior à conquistada pelas vacinas.

Categorias de imunidade contra a covid-19

O centro de monitoramento de doenças norte-americano detalha quais são os tipos de imunidades geradas contra a covid-19 e pontua que existem dois grupos: o de imunidade ativa e outro de imunidade passiva.

O primeiro ocorre quando há a exposição ao vírus e o sistema imunológico precisa reagir com a produção de anticorpos contra a doença, o que pode ocorrer por imunidade natural — quando há um quadro infeccioso — ou por imunidade induzida pela vacina.

Já os casos de imunidade passiva ocorrem quando um bebê recém-nascido adquire anticorpos por meio da placenta ou do leite materno.

“A principal vantagem da imunidade passiva é a proteção ser imediata, enquanto a imunidade ativa leva tempo (geralmente várias semanas) para se desenvolver”, detalha o CDC.

Autoridades no Brasil

Como o Comprova mostrou recentemente, a Anvisa já argumentou que testes de anticorpos não substituem a imunização e servem tão somente para indicar se as pessoas já foram infectadas pelo Sars-CoV-2.

“Não existe, até o momento, a definição da quantidade mínima de anticorpos neutralizantes necessária para conferir proteção imunológica contra a infecção pelo Sars-CoV-2, uma reinfecção, as formas graves da doença e nem contra as novas variantes circulantes”, diz a agência brasileira, na nota técnica 33/2021.

A Sociedade Brasileira de Imunizações também defende que pessoas que já tiveram a doença devem se vacinar. “Como a duração da proteção natural gerada pela própria doença é desconhecida e por existir a possibilidade de reinfecção, ainda que pouco frequente, a vacinação é indicada, independentemente de histórico de covid-19”, argumenta a entidade. A única recomendação é esperar quatro semanas após o início dos sintomas para se vacinar ou, no caso de assintomáticos, após receber o resultado positivo no teste de RT-PCR.

A mesma posição é defendida pela Fiocruz e pelo Instituto Butantan, centros de pesquisa responsáveis pela produção da AstraZeneca e da CoronaVac. “Mesmo quem já teve covid-19 deve ser imunizado”, defende a Fiocruz.

“Isso porque, mesmo com anticorpos, nem sempre o organismo cria a chamada ‘memória imunológica’, que é a capacidade de reconhecer e se proteger contra uma segunda invasão. E uma pessoa pode contrair novamente a covid-19, ainda mais por conta das variantes que circulam por aí”, explica o Butantan.

Especialista reforça que mesmo quem teve covid deve se vacinar

A pedido do Comprova, o imunologista João Bosco analisou o conteúdo verificado. Segundo ele, mesmo quem já foi infectado pelo coronavírus deve se vacinar.

“A gente sabe que a infecção natural claramente induz proteção. Ninguém está dizendo que não. Quem teve infecção passada está mais protegido do que quem nunca se vacinou ou nunca foi infectado. Porque o nosso organismo produz anticorpos. Só que os níveis de proteção alcançados pela infecção natural são inferiores a quem toma duas doses de uma boa vacina. Principalmente agora que muitos de nós estão tomando uma dose extra de reforço”, afirmou.

Segundo ele, isso acontece porque os imunizantes estimulam mais produção de anticorpos do que no caso de uma infecção comum. “A gente já sabe que quanto mais anticorpos, mais difícil é de você ser infectado ou que essa infecção seja mais grave”, lembra o médico. Além disso, o especialista afirma que, para quem já se recuperou da covid-19, a vacinação pode funcionar como uma dose de reforço dessa imunidade.

“Independente de como você adquirir a proteção, pelo que a gente tem visto da covid, o nível dessa proteção tende a cair com o tempo. Inclusive por causa do surgimento de novas variantes. Tanto que nós já estamos trabalhando com uma janela de aplicação de uma dose de reforço do imunizante de seis a oito meses em alguns grupos mais vulneráveis. É possível que a gente entre num ciclo como o influenza, o vírus da gripe, que todo ano a gente tem uma vacina nova por causa do surgimento de novas variantes. Por isso eu me vacino mesmo depois de ter sido infectado”, projeta o imunologista.

Ele lembra ainda que a imunização ajuda a proteger outras pessoas, como crianças, que não puderam se proteger e, com menos vírus circulando, a chance de surgirem novas variantes diminui.

Por fim, Bosco questiona o artigo citado como argumento pela publicação, dizendo ser errado afirmar que os anticorpos produzidos por uma infecção natural não permitem a transmissão do vírus. “Tanto o vacinado quanto quem foi infectado podem ter infecção por Delta, por exemplo”, afirma. Ele cita que o texto está disponível apenas num repositório de pré-publicação e, portanto, não foi sequer revisado e confirmado pela comunidade acadêmica.

O autor

Otávio Fakhoury é um empresário que se descreve em sua conta verificada no Twitter como “conservador, antiglobalista, anticomunista”, além de presidente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) em São Paulo. Essa informação pode ser confirmada no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Ele foi indiciado por incitação ao crime (artigo 286 do Código Penal) pela CPI da Covid no Senado Federal por suspeita de disseminar fake news. Segundo o relatório final, ele teria financiado diversos grupos e sites que propagaram desinformação durante a pandemia, investindo mais de R$ 310,2 mil ao longo dos anos de 2020 e 2021, além de transferências financeiras para o blogueiro Allan dos Santos.

Ainda de acordo com o documento, ele também teria feito postagens em suas próprias redes sociais com críticas à vacinação e defendendo o uso de medicamentos sem eficácia para tratar a covid-19.

“Com essa conduta, Otávio Fakhoury contribuiu para que um número significativo de brasileiros não aceitasse a vacinação com a CoronaVac”, afirma o relatório.

Fakhoury depôs à CPI no dia 30 de setembro. Disse que suas conclusões seriam uma opinião pessoal e que a emitiu com base no direito à liberdade de expressão.

O que diz Fakhoury

Em entrevista ao Comprova via ligação pelo WhatsApp, na presença do assessor de comunicação, Otávio Fakhoury afirmou que a postagem do Twitter não tinha cunho opinativo, com exceção da última linha, em que ele escreveu: “Leia a troca formal com o CDC e julgue você mesmo”.

De acordo com ele, o restante do tuíte seria uma transcrição resumida do que havia na suposta troca de mensagens entre o colunista norte-americano e o CDC.

“No meu texto deixei claro ali [que não opinei]. Até escrevi que não emiti opinião minha. Coloquei no final que gostaria que todo mundo formasse a sua opinião”, disse o líder do PTB. Fakhoury também disse não ser apto a debater sobre a imunização e que apenas leu o “texto inteiro” e achou “a troca de emails interessante”.

O líder do PTB alega não ser contra a vacinação, mas declara abertamente que não concorda com o uso obrigatório dos imunizantes contra a covid-19 e o passaporte vacinal.

“Eu até coloquei num segundo tuíte agora, como você está falando comigo, onde eu digo: (sic) ‘Antes q qquer um venha taxar o tweet acima de ‘fake news’, já deixo claro q o q escrevi foi um resumo em português do q foi escrito nos parágrafos iniciais pelo autor do artigo. Não sou jornalista, não faço notícias, e o q compartilho são matérias q podem ser de interesse geral'”.

Por telefone, o político disse que o texto é apenas uma tradução e que a veracidade do texto deve ser checada com o autor do mesmo. Mais uma vez, ele voltou a afirmar que apenas “reproduziu a tradução”.

“Eu não sou técnico, mas gosto de ler coisas de gente técnica. Cresço quando assisto gente técnica debater, a gente não cresce vendo senador debater. Sou leigo, então como posso formar uma opinião? Vendo os técnicos falarem, vendo o CDC falar”, reforçou.

Ao ser questionado sobre a leitura de um estudo recente do centro de controle da saúde norte-americana, que aponta para a melhor resposta imune em pessoas já tiveram covid-19 e se vacinaram, Fakhoury afirmou não saber da existência dele.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado sobre a pandemia, as políticas públicas do governo federal e as eleições. O tuíte em questão teve mais de 3 mil interações.

Publicações que envolvem a covid-19, especialmente as vacinas, são importantes de serem verificadas porque podem afetar a confiança da população nos imunizantes que, até aqui, são a principal arma defendida por autoridades de saúde para combater a doença. Além disso, pessoas desinformadas sobre a pandemia podem colocar suas vidas em risco.

Recentemente, o Comprova mostrou que os testes de anticorpos não devem substituir a vacina contra a covid-19, como sugeria um deputado do Paraná; que uma deputada distorceu entrevista de uma diretora do CDC para criticar as vacinas e a adoção de “passaportes sanitários”; e que um infectologista fez uma publicação enganosa ao comparar a imunidade gerada por doenças como sarampo, febre amarela e hepatite B àquela gerada pela covid-19.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2021-10-29

É falso que órfãos da Polônia são usados em experimentos de vacina da Pfizer e Moderna

  • Falso
Falso
São falsas as afirmações compartilhadas por uma apresentadora brasileira que vive nos Estados Unidos sobre médicos poloneses terem denunciado a utilização de bebês órfãos em experimentos ilegais de “vacinas de engenharia genética” contra a covid-19, desenvolvidas pela Pfizer e Moderna. A partir de mentiras, a publicação nociva induz a população a evitar os imunizantes, ainda que os insumos sejam comprovadamente eficazes e seguros, de acordo com órgãos nacionais e internacionais de vigilância em saúde.
  • Conteúdo verificado: Texto que circula nas redes sociais diz que médicos poloneses denunciaram supostos “experimentos ilegais realizados com bebês órfãos na Polônia, Espanha, Finlândia e Estados Unidos”. Os experimentos, diz o texto, visam “testar suas novas vacinas de engenharia genética“.

É falso que médicos poloneses denunciaram a utilização de bebês órfãos em experimentos ilegais de “vacinas de engenharia genética” contra a covid-19. A autora da postagem é Karina Michelin, já verificada em checagens anteriores do Comprova, e na publicação verificada utiliza argumentos sem comprovação, desmentidos pelo Ministério da Saúde polonês e pela fabricante dos imunizantes.

Procurada pelo Comprova, a primeira conselheira de Missão da Embaixada da República da Polônia em Brasília, Renata Siuda-Ambroziak, afirmou que todos os estudos sobre o imunizante contra o coronavírus obtiveram autorização legal exigida pelas entidades de saúde e ética locais.

Além disso, um infectologista e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) esclareceu que “engenharia genética” é o antigo nome dado à biologia molecular, utilizada tanto na fabricação de vacinas quanto de medicações, como a insulina.

Diferentemente da indução que o texto de Karina Michelin faz sobre o uso dessa técnica ser algo prejudicial, o especialista afirma que ela é utilizada por mais de 50 anos, sem prejuízos aos usuários dos fármacos.

A reportagem contatou a autora da postagem, para saber quais eram suas fontes e verificar a procedência das informações. Até o momento, não houve retorno.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

O Comprova contactou as farmacêuticas Pfizer e Moderna para checar se as informações citadas na publicação verificada procediam. Apenas a primeira retornou até o momento, com explicações sobre a não procedência das informações.

Em seguida, pesquisamos na internet sobre quem é Grzegorz Braun, o político citado na postagem. O Comprova pesquisou o perfil de Braun no Twitter para descobrir se, realmente, ele compartilhou informações a respeito de supostos experimentos ilegais com crianças órfãs polonesas, como divulgaram Karina Michelin, em sua página, e o grupo Médicos pela Vida, pelo Telegram.

Na sequência, a reportagem recorreu às checagens anteriores sobre publicações feitas por Michelin, para consultar as informações que haviam sido levantadas sobre ela. Buscas na internet também foram realizadas para conseguir dados sobre quem seria a jornalista e apresentadora, além do contato com ela. Até o momento, não houve retorno.

Depois, fez contato com o político Grzegorz Braun por meio do perfil dele no Twitter, na página pessoal que ele mantém na internet e, também, com o partido que ele diz presidir.

O passo seguinte consistiu em buscar respostas junto ao governo polonês procurando a Embaixada da Polônia em Brasília, a fim de confirmar a existência de tal pesquisa e saber se ela estaria sendo feita com crianças órfãs da covid-19 no país.

Por último, foi consultado Daniel Mansur, infectologista e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), para que uma explicação científica sobre o assunto pudesse contextualizar e dizer se procedia ou não o uso de “engenharia genética” para a produção de vacinas.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 29 de outubro de 2021.

Verificação

O que diz o governo polonês

A equipe do Comprova contatou o Ministério da Saúde da Polônia, e também a Embaixada da Polônia em Brasília. Nos dois casos, enviamos o link do post do político Grzegorz Braun sobre a pesquisa realizada no país com crianças, e também o da postagem de Karina Michelin.

Em resposta, Renata Siuda-Ambroziak, primeira conselheira/vice-chefe da Missão da Embaixada da República da Polônia em Brasília confirmou que um ensaio clínico patrocinado pela BioNTech com a vacina Comirnaty está em andamento no país e que todos os protocolos legais foram cumpridos.

“O estudo é justificado cientificamente, descrito no protocolo do ensaio clínico e conduzido por pesquisadores – médicos com qualificação profissional adequada, conhecimento científico e experiência no trabalho com pacientes”. Além disso, o pesquisador é responsável pela obtenção do consentimento consciente de cada participante do estudo.

A vice-chefe da missão acrescentou que, em abril deste ano, “o estudo obteve a autorização legalmente exigida junto ao Gabinete de Registo do PLWMiPB e o parecer favorável da comissão de ética, após cumprir os requisitos estabelecidos no regulamento que rege os ensaios clínicos de medicamentos”.

A pesquisa tem três fases e o objetivo é determinar a dose e avaliar a segurança, a tolerabilidade e a imunogenicidade. O estudo de fase II/III é cego para observador controlado por placebo para determinar a segurança, a tolerabilidade e a imunogenicidade da vacina candidata de RNA Sars-CoV-2 contra covid-19 em crianças saudáveis ​menores de 12 anos. Siuda-Ambroziak ressalta que a fase I da pesquisa já foi realizada nos Estados Unidos.

Quanto ao procedimento adotado para as pesquisas com crianças, a chefe da Missão explica que, os regulamentos poloneses preveem a necessidade de consentimento do representante legal da criança menor de 13 anos.

Quanto ao questionamento se Grzegorz Braun oficializou alguma denúncia, a representante da embaixada da Polônia em Brasília informou que, “até ao momento, o Gabinete não recebeu qualquer informação sobre quaisquer irregularidades a este respeito. (…) Braun emitiu perguntas e notificações oficiais. Na opinião do Instituto, as dúvidas decorrem do desconhecimento das disposições legais sobre ensaios clínicos de medicamentos.”

Quem é Grzegorz Braun?

Grzegorz Michał Braun é um político conservador do Sejm, a Câmara baixa do parlamento polonês. Concorreu nas eleições municipais de Gdansk, logo após o assassinato do então prefeito Pawel Adamowicz, ocorrido em 2019. Segundo reportagem da RFI, a plataforma de Braun foi “a defesa da Polônia da invasão migratória e das ordens da União Europeia”.

No site que leva seu nome, ele diz ser graduado em Estudos Poloneses pela Universidade de Wrocław, onde também foi professor de jornalismo até 2007. Em 2015, concorreu ao cargo de presidente da República da Polônia.

No que consiste a denúncia?

O Comprova pesquisou o perfil de Grzegorz Michał Braun no Twitter para descobrir se, realmente, ele tuitou sobre supostos experimentos ilegais com crianças órfãs polonesas, como divulgaram Karina Michelin e o grupo Médicos pela Vida.

Localizamos o post e, usando a ferramenta do Google Tradutor, identificamos que, o post, ele publica a imagem de um documento e cita o presidente do Escritório de Registro de Medicamentos, Dispositivos Médicos e Produtos Biocidas, Grzegorz Cessak, afirmando que, desde 27 de de abril, havia uma decisão do órgão “que permite a vacinação experimental ‘anti covid’ de crianças e bebês saudáveis — a sentença de “partes” é suficiente para toda a justificativa”.

Após encontrar o documento postado pelo político, o Comprova recorreu ao Google Tradutor para descobrir como se escreve “crianças órfãs”, “órfãs” ou “órfãos” em polonês e encontrou os seguintes termos: “osierocone dzieci”, “sierota” e “sieroty”. Não há nenhuma dessas palavras no post de Braun nem no documento postado por ele. Há, tão somente, a afirmação de que as autoridades autorizaram “a vacinação experimental anti covid de crianças e bebês saudáveis”.

O Comprova quis saber de Braun qual era a crítica dele à pesquisa e se o documento postado fazia menção a crianças órfãs da covid. Os contatos foram feitos por meio de mensagens enviadas em seu perfil do Twitter e também para o Kon Federacja, partido do qual ele se apresenta como presidente. Além disso, nossa equipe enviou e-mail para a seção “contato” da página que ele mantém na internet. Até o fechamento desta matéria não houve retorno.

O que diz o infectologista

Diante da confirmação do governo polonês sobre a existência da pesquisa de vacina contra a covid-19 com crianças menores de 12 anos, o Comprova quis saber de um infectologista como são os protocolos de testes.

Daniel Mansur explica que é fundamental apresentar evidências dos ensaios de segurança durante o pedido de uso emergencial de vacina, capazes de assegurar que os imunizantes são seguros e eficazes.

O cientista descreveu ainda que esses mesmos ensaios costumam ser testados em grupos diversos de pessoas, iniciando a testagem — em linhas gerais — em pessoas a partir dos 18 anos e, à medida em que se apresentam indícios seguros e eficientes, outra faixa de idade é testada.

Ao ser questionado se era possível que crianças órfãs estejam sendo submetidas aos testes, como afirma a publicação de Karina Michelin, o infectologista afirma que a ação, caso estivesse de fato ocorrendo, não seria ética.

Terapia de “engenharia genética”

Diante dos questionamentos feitos na publicação sobre os imunizantes, o professor da UFSC disse que as vacinas são seguras e que, até agora, os efeitos colaterais que aparecem na maioria das pessoas são rápidos.

A engenharia genética faz parte da constituição de diversas vacinas, segundo explica o infectologista. Mansur diz ainda que este termo foi substituído por “biologia molecular”.

“Pessoas mais de antigamente chamariam isso de engenharia genética [esse método de produzir imunizantes]. Isso não quer dizer que existe um problema. É uma técnica estabelecida há 40, 50 anos. Então, sim, a maioria delas é feita por engenharia genética, mas não existe nenhum problema relacionado”.

A insulina e os anticorpos utilizados para tratar o câncer são exemplos que ilustram a utilização da biologia molecular no cotidiano, de acordo com o infectologista.

Quem é a autora do post verificado

A autora do post, replicado também no grupo do Telegram ‘Médicos pela Vida’, se apresenta no Linkedin como produtora e apresentadora de um programa de TV na Flórida, voltado para brasileiros interessados em compras e baladas em Miami.

Outras publicações de Karina já foram alvos de checagens do Comprova. No caso do vídeo postado por ela para dizer que a imprensa dá destaque para pesquisadores irrelevantes. Além de usar o índice-H — métrica que avalia a quantidade de citações de artigos científicos de um determinado pesquisador — de cientistas que estudam o novo coronavírus de forma equivocada, ela errou ao dizer que pesquisadores da Organização Mundial de Saúde (OMS) não têm citações acadêmicas.

O Comprova contatou a autora da postagem, para saber quais eram suas fontes e verificar a procedência das informações. Até o momento, não houve retorno.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O post verificado alcançou 1.500 curtidas e mais de 500 compartilhamentos no Twitter.

Publicações falsas, como a que foi aqui verificada, colocam a saúde da população em risco ao afirmar que a vacinação contra a covid-19 voltada para crianças é dispensável. Já foi comprovada em estudos de órgãos nacionais a eficácia das vacinas disponíveis atualmente contra a doença.

Isso fica claro na reação dos seguidores de Karina Michelin ao comentarem o post. “Querem destruir a todo custo quem não tem como se defender… literalmente”, tuitou uma mulher que se apresenta como pastora.

Outro seguidor escreve: “Eugenia in progress”, com o emoji da lupa.

O Comprova já verificou outros boatos como esse relacionados à vacina, como um tuíte que engana ao dizer que a vacina da Pfizer tem partículas contaminantes e a publicação que engana ao dizer que dados oficiais sobre a covid-19 em 2020 e 2021 apresentados pelo G1 comprovam a ineficácia das vacinas

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2021-10-27

Frase de Nobel de Medicina, de 2007, é tirada de contexto para defender “tratamento precoce”

  • Enganoso
Enganoso
Post viral no Facebook engana ao associar comentário do vencedor do prêmio Nobel de Medicina de 1993, Richard J. Roberts, ao "tratamento precoce" contra a covid-19, comprovadamente ineficaz. O post sugere que não há interesse da indústria farmacêutica em produzir medicamentos para tratamento de doenças, mas a frase foi tirada de contexto. Ao Comprova, Roberts desmentiu a relação entre a frase que disse em 2007 e a pandemia.
  • Conteúdo verificado: Post no Facebook usa foto e comentário de Richard J. Roberts, vencedor do prêmio Nobel de Medicina de 1993, fora de contexto para promover o “tratamento precoce” contra a covid-19.

É enganosa a publicação viral no Facebook que usa uma fala de Richard J. Roberts, vencedor do Prêmio Nobel de Medicina, para promover o “tratamento precoce” contra a covid-19.

O autor do post usa a seguinte frase creditada a Roberts, acompanhada de foto do cientista: “Medicamentos que curam não são rentáveis, portanto, não são produzidos. A indústria farmacêutica, na realidade, não quer curar ninguém, e por um motivo muito simples e direto: a cura é menos rentável que a doença”. Na legenda, o autor do post enganoso escreve: “Por isso não queriam autorizar o tratamento precoce”, associando a reputação de um conceituado cientista a um tratamento sem eficácia comprovada.

O comentário foi feito por Roberts em 2007, mas nada tinha a ver com o novo coronavírus, que estava longe de ser descoberto. Ao Comprova, o cientista afirmou ter dado a declaração sobre “antibióticos e em relação à motivação do lucro que impulsiona a indústria farmacêutica” e descartou relação com a pandemia.

A reportagem contatou o perfil do grupo Bolsonaro 2022, um dos primeiros a publicar o conteúdo, mas não recebeu resposta. O Comprova considerou enganoso o conteúdo porque a frase foi tirada do contexto original e usada para induzir a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Como verificamos?

A reportagem buscou informações sobre Richard J. Roberts e sobre seu trabalho com biologia molecular no processamento de genes que lhe rendeu o Nobel. Por meio de pesquisa no Google, verificou-se que o comentário dele sobre a indústria farmacêutica foi feito em entrevista publicada na página 64 da edição de 27 de julho de 2007 do jornal La Vanguardia, da Espanha.

Em seguida, o Comprova procurou também a Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas e o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo para comentarem a alegação de que não haveria interesse em produzir medicamentos contra a covid-19, o que foi refutado por ambas as instituições.

O próximo passo foi contatar o cientista pelo e-mail informado na página da Universidade Northeastern, onde ele aparece como docente. Para saber mais sobre a pesquisa de novos medicamentos, a reportagem entrevistou, por WhatsApp, Lucindo Quintanas, diretor da Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas (ABCF) e pró-reitor de pós-graduação e pesquisa da Universidade Federal de Sergipe, além de representantes do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma).

A equipe também procurou o autor de uma das primeiras publicações feitas utilizando a montagem no Facebook e o usuário que compartilhou o post relacionando-o ao “tratamento precoce”, mas eles não responderam até a publicação deste texto.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 27 de outubro de 2021.

Verificação

A origem da frase

A fala de Roberts é verdadeira, mas foi tirada de contexto. A afirmação é de 27 de julho de 2007, portanto 13 anos antes da pandemia, e está publicada no jornal espanhol La Vanguardia.

“Os antibióticos foram interrompidos porque eles são muito eficazes e curam completamente. Como nenhum novo antibiótico foi desenvolvido, os microrganismos infecciosos se tornaram resistentes e, hoje, a tuberculose, que havia sido derrotada na minha infância, está ressurgindo e matou 1 milhão de pessoas no ano passado”, diz o cientista no texto.

Questionado pelo jornalista do La Vanguardia se estaria se referindo ao Terceiro Mundo, Richard responde: “Esse é outro triste capítulo: apenas se investigam as doenças do Terceiro Mundo, mas os medicamentos que as combateriam não são rentáveis. Mas estou te falando do nosso Primeiro Mundo: o medicamento que cura completamente não é rentável e por isso não o pesquisam”.

Nenhuma referência à covid-19

O Comprova entrou em contato com Richard J. Roberts para esclarecer o contexto em que a fala sobre a indústria farmacêutica foi dita e questionou se ele mantém o mesmo entendimento quando trata-se da busca por novos medicamentos para a covid-19.

O cientista afirmou ter feito a declaração usada no post verificado aqui, “mas no contexto dos antibióticos e em relação à motivação do lucro que impulsiona a indústria farmacêutica”. À reportagem, ele explicou: “A premissa é simples. Se eu comprar um medicamento que me cura, só preciso de uma dose. Se eu comprar um medicamento que apenas atenua os sintomas temporariamente, preciso continuar a tomá-lo regularmente, talvez pelo resto da minha vida. Os lucros do último excedem em muito os do primeiro, mesmo que o custo de uma dose seja bastante alto”.

Quando questionado se a frase usada no post poderia ser aplicada em relação à pesquisa e ao desenvolvimento de remédios contra a covid-19, Richard afirmou que a situação é diferente também por aspectos econômicos. “É muito diferente. Em parte, devido ao número de casos em todo o mundo e à probabilidade de se tornar endêmica como a gripe. Em um caso como este, as consequências econômicas da doença são muito diferentes das de uma infecção bacteriana que ocorre com pouca frequência.”

Além do posicionamento enviado ao Comprova, Richard já havia se manifestado a favor da Ciência em outras ocasiões. Em um bate-papo com o pesquisador Johan Rockström e com a vice-presidente de Ciência e Programa do Museu do Prêmio Nobel, Anna Sjöström, publicado no canal oficial do Prêmio Nobel no YouTube, há sete meses, ele disse: “Sinto que os países que se saíram melhor na crise da covid foram aqueles nos quais os políticos realmente reconheceram que os cientistas eram as pessoas que precisavam fazer a comunicação, e não eles”. Na ocasião, o Nobel também afirmou que “o valor da Ciência realmente cresceu muito dentro de um ano nesta terrível pandemia” e defendeu os imunizantes, que costumam ser criticados por quem apoia o “tratamento precoce”. “A vacina foi desenvolvida em tempo recorde, o que foi realmente bom”, disse.

Sem comprovação científica

Desde os primeiros meses da pandemia, o governo federal defendia o uso de medicamentos sem comprovação científica para o tratamento da doença, algo que o presidente continua fazendo. Em 20 de maio de 2020, foi publicado documento com orientações para o manuseio de medicamentos incluídos no chamado “tratamento precoce” contra a covid-19.

Há menções ao tratamento precoce em boletins informativos disponibilizados no site do poder executivo entre 2020 e 2021, sendo que a última menção clara foi feita no dia 11 de janeiro de 2021, nos posts “Em visita a Manaus, ministro Pazuello diz que programa de vacinação do Brasil será ‘o maior do mundo’” e “Ministério da Saúde levanta situação da atenção primária em Manaus”.

No dia 25 do mesmo mês, a Folha noticiou que a Saúde apagou um texto que orientava o ‘tratamento’ de seu site oficial. Em maio, conforme a Piauí, a recomendação para o uso de cloroquina também foi deletada do site do Ministério da Saúde, às vésperas do início da CPI da Pandemia.

Sem nenhuma comprovação científica contra a covid e não recomendado por autoridades de saúde, o ‘tratamento’ continua sendo defendido por Jair Bolsonaro (sem partido), aliados e seguidores como uma forma de enfrentamento da pandemia. As ações do presidente em relação aos medicamentos foram alvo de investigação da CPI da Pandemia no Senado.

No relatório final da CPI consta trecho de uma nota técnica enviada pelo Ministério de Saúde com entendimento de que os medicamentos defendidos não têm eficácia comprovada e não devem ser usados no tratamento da doença. “Alguns medicamentos foram testados e não mostraram benefícios clínicos na população de pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados, sendo eles: hidroxicloroquina ou cloroquina, azitromicina, lopinavir/ritonavir, colchicina e plasma convalescente. A ivermectina e a associação de casirivimabe + imdevimabe não possuem evidência que justifiquem seu uso em pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados nessa população”, descreve o documento.

Entretanto, o presidente Jair Bolsonaro continua defendendo o tratamento precoce. Em 21 de setembro, quando participou da 76ª Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU), ele disse que “desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do ‘tratamento precoce‘”.

Novos medicamentos

Lucindo Quintanas, diretor da Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas, reforçou que a aspa destacada no post verificado aqui foi tirada de contexto. “Em nenhum momento ele (Richards) afirma que o setor farmacêutico esteja trabalhando para o não desenvolvimento de drogas contra a covid-19. Pelo contrário, indústrias de biotecnologia, startups e o setor farmacêutico, chamado de big pharma, têm trabalhado incansavelmente no desenvolvimento das vacinas”, afirmou.

Segundo Quintanas, “algumas medicações estão sendo desenvolvidas para pacientes que vão ter a covid-19, alguns já estão na fase 3 de testes, e o setor farmacêutico é um grande parceiro e financiador de parte deste trabalho”.

Ele destacou ainda que “nesse momento, a covid é uma das áreas de maior interesse para o setor, que tem investido muito para desenvolver tratamentos de eficácia clínica para os pacientes e imunizantes para reduzir a possibilidade de que as pessoas cheguem a desenvolver as formas graves da doença”.

Em nota oficial enviada à reportagem, o Sindusfarma também destacou o empenho do setor para o desenvolvimento de imunizantes e de medicações. “A pandemia reafirmou o papel fundamental da indústria farmacêutica para a prevenção e a cura de doenças. Até a manhã do dia 22 de outubro, mais de 3,8 bilhões de pessoas – 50% da população mundial – foram vacinadas e protegidas. Uma grande conquista da indústria farmacêutica em benefício da Humanidade”, afirmou a entidade.

Quem é Richard J. Roberts?

Um dos vencedores do prêmio Nobel de Medicina de 1993, Richard J. Roberts é formado em Química e doutor em Química Orgânica pela Universidade de Sheffield, na Inglaterra. Atualmente, é diretor científico da New England Biolabs, empresa que trabalha na descoberta e produção de enzimas para aplicações em biologia molecular. Também está no quadro de docentes da Universidade Northeastern, em Boston, nos Estados Unidos.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O post que associa a fala de Richard Roberts ao tratamento precoce teve mais de 2,6 mil compartilhamentos e 3,8 mil curtidas no Facebook até 27 de outubro.

Comentários na postagem, como “Sim, muitas doenças já têm cura e outras são provocadas pelos medicamentos contínuos que nos oferecem, quando lemos a bula vemos os interesses exclusos (sic). A vacina também é um jeito de deixá-los mais ricos do que já são” e “Fizemos aqui em casa o tratamento precoce e estamos todos bem, queremos saber também sobre as pessoas que tomaram a segunda dose da vacina e morreram de covid. Exemplo Tarcísio Meira e outros”, reforçam a ideia de que medicamentos e vacinas com segurança e eficácia comprovadas cientificamente não funcionam, contribuindo para a desinformação.

Outros conteúdos que tentam questionar a segurança das vacinas contra o coronavírus já foram publicados recentemente pelo Comprova, como a comparação enganosa entre a imunidade gerada pelas vacinas contra o sarampo, a febre amarela e a hepatite B com a da covid-19, a associação, também enganosa, entre partículas contaminantes e a vacina da Pfizer, e a suposição de que vacinados estariam se tornando transumanos.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda aquele que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-10-26

Comparar número de mortes por covid em 2020 e 2021 não indica ineficácia da vacinação

  • Enganoso
Enganoso
Publicação feita no Twitter engana ao relacionar o número de vacinados e o avanço de mortes por covid-19 entre 2020 e 2021. O post compara cenários diferentes da pandemia, da evolução de casos e da cobertura vacinal no Brasil. Ele descontextualiza matérias jornalísticas utilizadas como base dos argumentos apresentados no Twitter. Entidades de saúde brasileiras e internacionais reforçam que a vacina tem sido eficaz no combate e na redução de casos graves e mortes pela doença.
  • Conteúdo verificado: Publicação feita pelo economista e comentarista da Jovem Pan Rodrigo Constantino, no Twitter, distorce dados oficiais sobre a covid-19 apresentados pelo G1 para contestar a eficácia das vacinas.

É enganosa a publicação compartilhada no Twitter pelo economista e comentarista da Jovem Pan Rodrigo Constantino contestando a eficácia das vacinas contra a covid-19, porque descontextualiza matérias jornalísticas utilizadas como base dos argumentos apresentados.

No tuíte verificado, Constantino utiliza dados divulgados pelo portal G1 em 1º de janeiro e em 15 de outubro de 2021. Na primeira data, o Brasil registrava 195 mil mortes pela doença, enquanto, na segunda, havia ultrapassado 600 mil mortes.

Diante disso, o comentarista escreveu: “Em 2020, sem vacinas, o Brasil não chegou a 200 mil mortes com covid; em 2021, com mais de 100 milhões de pessoas vacinadas com 2 doses, até agora mais de 400 mil pessoas morreram, ou seja, o dobro”.

A construção narrativa feita por Constantino descredibiliza os imunizantes contra a covid-19 por uma comparação sem fundamento, visto que os números de mortes e casos da doença têm caído desde o início da vacinação. Além disso, a publicação não considera o ritmo da imunização do país, distorcendo a realidade.

Diante disso, o Comprova considerou o conteúdo enganoso porque se baseia em dados imprecisos e confunde os internautas sobre os efeitos gerados pela vacina contra o coronavírus, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

O Comprova buscou informações sobre o caso em matérias jornalísticas e no site oficial da OMS (Organização Mundial da Saúde), da Universidade Johns Hopkins e do Ministério da Saúde brasileiro.

Entrevistamos, por WhatsApp, o autor da publicação, Rodrigo Constantino. Procuramos Sabine Righetti, pesquisadora de Política Científica associada à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e fundadora da Agência Bori, com trabalho voltado para a covid-19.

Também conversamos por WhatsApp com Leonardo Weissmann, infectologista do instituto Emílio Ribas e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, além do infectologista da Sociedade Mineira de Infectologia, Carlos Starling.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 26 de outubro de 2021.

Verificação

A relação estabelecida pelo comentarista da Jovem Pan Rodrigo Constantino entre o número de vacinados e o avanço de mortes por covid-19 entre 2020 e 2021 não tem fundamento, porque compara cenários diferentes da pandemia, da evolução de casos e da cobertura vacinal no Brasil. Ele descontextualiza matérias jornalísticas utilizadas como base dos argumentos apresentados no Twitter.

Não é cabível utilizar como parâmetro as métricas citadas por Constantino devido a uma série de fatores. O colunista errou ao afirmar que o ano de 2020 tinha menos mortes devido à ausência de vacinas.

Em entrevista ao Comprova, o infectologista Leonardo Weissmann, analisou a publicação de Constantino.

Segundo Weissmann, a informação citada na postagem está “fora de contexto” e é “sem sentido”. Ele explicou o motivo em 6 pontos:

  • A primeira pessoa foi vacinada no Brasil no dia 17 de janeiro e é de conhecimento geral que a vacinação no país demorou a engrenar, por falta de organização e de vacinas.
  • Em 10 de abril de 2021, o país registrou 2.616 óbitos em um único dia, segundo dados oficiais do Ministério da Saúde. O número de óbitos acumulados já passava de 351 mil. Nessa mesma data, de acordo com o site Our World in Data, ligado à Universidade de Oxford, na Inglaterra, 9,7% da população brasileira havia tomado a primeira dose da vacina e apenas 2,8% tinha imunização completa.
  • Com o aumento de vacinados no país, a curva de hospitalização e óbitos assumiu uma tendência de queda, demonstrando que o imunizante está cumprindo com o seu papel de proteção contra formas graves da covid-19. Os números demonstram isso claramente.
  • Estudo realizado pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, e divulgado recentemente, com 1.174 pacientes internados de janeiro a setembro de 2021, demonstrou que aproximadamente 88% não tinham imunização completa, ou seja, quase 9 em cada 10 pacientes. Desses, 274 morreram, sendo que 237 não estavam vacinados e apenas 16 pessoas tinham recebido duas doses, isto é, quase 15 vezes mais óbitos entre os não vacinados.
  • Outro estudo, realizado por pesquisadores da Fiocruz, com dados oficiais de 1º a 26 de setembro, demonstrou que, dos indivíduos entre 0 e 59 anos que morreram nesse período, 85% tinham vacinação incompleta.

Também contatado pelo Comprova, o ex-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia Carlos Starling, que é um dos integrantes do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 de Belo Horizonte, criticou a colocação do tuíte e a chamou de ingênua “do ponto de vista epidemiológico”, além de “contaminada por ideologia política”.

“Vacinas não são mágicas. O fato de termos as doses não significa que tenham sido aplicadas”, respondeu o infectologista à reportagem. Na avaliação dele, a capacidade vacinal do SUS poderia ter salvado muito mais vidas no começo do ano, caso os imunizantes tivessem sido adquiridos antes.

Starling lembrou ainda que o país teve, no começo de 2021, a disseminação da variante Gama (P1), mais transmissível e virulenta do que a Alpha, até então predominante.

“Somente agora, no segundo semestre de 2021 podemos ver o efeito real da vacinação nos indicadores epidemiológicos. Estudos de vida real publicados pelo Reino Unido, Israel, Uruguai, Chile, etc; mostram que as vacinas – todas elas – reduziram em mais de 90% o risco de morte por covid”, completou.

Pesquisadora de Política Científica associada à Unicamp, com trabalho voltado para a covid-19, Sabine Righetti afirmou ao Comprova que a análise tem de ser feita a partir do início da vacinação no país.

“Em abril a gente chegou a 4 mil mortos por dia, com uma média móvel aí de mais de 3,5 mil. De lá pra cá, com a aceleração da vacinação, a tendência de queda de mortos tem se mantido, nunca foi revertida, mesmo com as variantes”, disse a pesquisadora, fundadora da Agência Bori.

O mês de abril de 2021 foi o mais letal da pandemia no Brasil. Foi encerrado com média móvel de mortos superior a 2,5 mil, com 82.401 óbitos. A média móvel é o cálculo por meio do qual é possível analisar com mais precisão os movimentos da curva de infectados ou mortos, se ascendente ou decrescente.

Consiste na soma do número de casos ou de mortos dos sete dias anteriores. O resultado da soma deve ser dividido por sete. Não são os óbitos ocorridos na semana os que entram na operação matemática, mas os que foram registrados no sistema no decorrer da semana.

Em 30 de abril, o esquema vacinal havia sido completado em 15.677.543 pessoas, isto é, em 7,40% da população brasileira.

Para que um resultado coletivo favorável contra o vírus seja atingido, especialistas citam uma cobertura vacinal entre 80% e 90%, como mostra esta reportagem do UOL. “Só assim a gente terá uma prevenção de casos moderados e graves, o que tornará a doença algo possível de conviver”, projetou em janeiro Melissa Palmieri, diretora da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) em São Paulo.

As vacinas funcionam

Números do Consórcio de Veículos de Imprensa e do site Our World in Data mostram que a curva de mortos pela covid-19 caiu na medida em que a vacinação avançou no Brasil. É uma relação de causa e consequência possível de ser estabelecida, como afirmou Leonardo Weissmann e ao contrário do que sugeriu Constantino.

Em 25 de outubro, a média móvel de mortes diárias por covid-19 no país estava em 338, segundo dados do Consórcio de Veículos de Imprensa. Já o Our World in Data demonstra que a taxa de vacinação contra a covid estava, em 24 de outubro (último dado disponibilizado, até a publicação desta checagem), em 53,97%. Outros 20,08% da população tomaram uma dose do imunizante.

No país, onde há maior recusa de aplicação das vacinas, o número de internados por covid-19 tem sido elevado. Em uma matéria publicada em 30 de setembro, o UOL mostrou que, no Rio de Janeiro, 94,5% dos internados em um hospital de referência eram pessoas não vacinadas.

Um total de 206 pessoas entre os 218 internados com o vírus no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla não foram imunizados. Desse grupo, 12 hospitalizados haviam tomado ao menos uma dose da vacina. As informações foram repassadas ao portal de notícias pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.

O cenário se repete nos Estados Unidos: o número de casos e mortes tem aumentado nos estados com as menores taxas de vacinação.

Como mostrou uma verificação anterior, feita pelo UOL Confere, dados da Universidade Johns Hopkins utilizados pelo monitoramento do site Our World in Data sobre o avanço da covid-19 entre março de 2020 e outubro de 2021 nos Estados Unidos comprovam que o avanço da imunização gerou queda no número de mortes pela doença entre janeiro — que foi o pico de casos no país — e julho deste ano.

O autor

O Comprova entrou em contato com Rodrigo Constantino. O economista respondeu que “publicou um dado oficial” e que “deixou perguntas sobre qual a explicação para tal fenômeno no ar”.

Em seguida, o comentarista da Jovem Pan expôs a repórter do Comprova no Twitter, por meio do compartilhamento das mensagens trocadas na apuração das informações aqui checadas, mas sem incluir a íntegra da mensagem enviada.

100 milhões de vacinados no Brasil

O Brasil alcançou a marca de 100 milhões de pessoas totalmente vacinadas em 13 de outubro deste ano, de acordo com dados levantados pelo consórcio de veículos de imprensa, do qual o UOL, a Folha de S. Paulo, o Estadão, o G1, o O Globo e o Extra fazem parte.

Naquela altura, o país passou a integrar a lista de nações mais populosas a ultrapassar a marca. Os Estados Unidos, a Índia e a China também haviam completado o esquema de vacinação em mais de 100 milhões de pessoas, segundo dados do Our World in Data e de veículos internacionais de imprensa.

O número foi alcançado 58 dias após a marca de 50 milhões de pessoas com o esquema de imunização completo, que ocorreu no dia 16 de agosto.

No dia em que o país atingiu a marca de imunizados, 201 novas mortes por covid-19 foram registradas. Ao todo, o Brasil notificou 605.884 óbitos por conta da doença desde o início da pandemia até o dia 25 de outubro de 2021.

São Paulo registrava mais de 100 mortes diárias e na data em que houve o recorde foram notificados apenas nove. No mesmo momento, os estados do Acre, Amapá, Ceará, Rondônia e Roraima não registraram nenhum óbito.

Ao todo, 18 estados apresentam queda e sete, alta. O Distrito Federal e o Ceará apresentaram estabilidade. O dado foi comparado com o mesmo índice de 14 dias anteriores.

A variação do Brasil está pelo quarto dia seguido em queda: o índice ficou em -41%. Se ficar abaixo de -15%, indica tendência de queda; acima de 15%, aceleração; entre esses dois valores, estabilidade.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O post verificado foi compartilhado originalmente no Twitter e alcançou mais de 15,4 mil interações, entre curtidas, comentários e compartilhamentos.

Publicações enganosas como esta colocam a saúde da população em risco ao sugerir que a vacinação contra a covid-19 é dispensável. A eficácia e a segurança dos imunizantes já foram comprovadas em estudos de órgãos nacionais, como a.Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e internacionais.

É por meio da imunização que os números de casos e óbitos da doença têm caído. Além da repercussão, a postagem torna-se nociva por partir de uma pessoa de visibilidade, capaz de formar opinião de outras pessoas sobre assuntos diversos. Dessa maneira, o tuíte acaba sendo considerado por pessoas que o têm como autoridade.

Outras verificações desmentem boatos da internet como essa, ligada à vacina, como a de um deputado do Paraná que afirma que teste de anticorpos podem substituir os imunizantes e a de um tuíte que engana ao dizer que a vacina da Pfizer tem partículas contaminantes.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-10-25

Antiviral em teste da Pfizer não tem ivermectina na fórmula

  • Falso
Falso
São falsas as alegações feitas em vídeo de que a Pfizer estaria desenvolvendo um remédio para covid-19 que contém, entre seus componentes, a ivermectina. A farmacêutica está, sim, produzindo um medicamento via oral contra a doença, mas, como a empresa informou ao Comprova, sua fórmula não contém o antiparasitário, comprovadamente ineficaz contra o coronavírus.
  • Conteúdo verificado: Um vídeo que circula no TikTok afirma que a Pfizer está desenvolvendo um remédio para covid-19 com ivermectina na composição.

É falso o conteúdo de um vídeo que circula no TikTok afirmando que a Pfizer está desenvolvendo um medicamento contra a covid-19 com ivermectina em sua fórmula. O PF-07321332 (nome provisório do medicamento em teste) é uma terapia antiviral projetada especificamente para ser administrada por via oral.

Como a farmacêutica informou ao Comprova, o remédio é um “inibidor de protease”, enzima presente no novo coronavírus necessária para que ele se replique, e não tem nenhuma semelhança com a ivermectina ou com “qualquer composição” dela.

Naylson Ribeiro, farmacêutico clínico formado pelo Instituto de Ciência e Tecnologia da Qualidade (ICTQ) do Piauí, explica que a ivermectina é um antiparasitário, enquanto o medicamento desenvolvido pela Pfizer é um antiretroviral. “São mecanismos de ação diferentes”, disse.

A reportagem tentou contato com o autor do vídeo, mas não obteve retorno até a conclusão desta verificação. O Comprova considerou o conteúdo falso porque foi inventado.

Como verificamos?

A reportagem buscou informações sobre o autor do vídeo em redes sociais como TikTok, Facebook e LinkedIn.

Para saber sobre o remédio em desenvolvimento, levantamos informações no site da farmacêutica Pfizer e contatamos a assessoria de imprensa da empresapor e-mail. Além disso, buscamos sua composição química nos sites DrugBank, PubChem e Chemical & Engineering News.

No site da Abbott Laboratories, fabricante da ivermectina, encontramos informações sobre o antiparasitário, inclusive sua fórmula molecular.

Também entrevistamos Naylson Ribeiro e o professor doutor em Farmacologia da Universidade Federal de Campina Grande Sávio Benvindo Ferreira.

Verificação

O medicamento em teste

Em março deste ano, a Pfizer iniciou um estudo clínico de fase 1 de um antiviral contra a covid-19 via oral em adultos saudáveis para verificar sua segurança, tolerabilidade e farmacocinética. Chamado inicialmente de PF-07321332, o medicamento atua como um inibidor que impede a replicação do vírus causador da doença nas células.

Em julho, a farmacêutica anunciou em seu site o progresso dos estudos e a evolução para testes nas fases 2 e 3 com o intuito de avaliar a eficácia e a segurança do medicamento, administrado com uma baixa dose de ritonavir (antirretroviral prescrito no tratamento do HIV) em pacientes diagnosticados com o coronavírus e com alto risco de ter o quadro piorado.

Segundo explica reportagem da Galileu, “a droga foi desenvolvida para se conectar à estrutura do Sars-CoV-2, impedindo que ela realize o seu papel: ‘cortar’ o material genético do patógeno e dar origem a novos vírus”. E, como informou a farmacêutica ao Comprova, no passado, o mecanismo dos inibidores de protease revolucionaram o tratamento de HIV e hepatite C, outras doenças virais.

O medicamento em teste e a ivermectina

Diferente do que o autor do vídeo afirma, o remédio que a Pfizer está testando não leva ivermectina em sua fórmula. No vídeo, ele diz que quando a farmacêutica “precisava vender vacina, a ivermectina não tinha comprovação científica” e que, “agora, ela pode ser usada”, o que é uma informação falsa, segundo a checagem feita pela reportagem.

A Pfizer está pesquisando medicamentos contra a covid desde o início da pandemia, como afirma em seu site. E, como afirma mensagem enviada ao Comprova, o PF-07321332 não tem relação nenhuma com o antiparasitário.

O mesmo já havia sido informado pela empresa anteriormente. Conforme a Folha noticiou em agosto, “em ofício enviado ao senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI da Covid, que solicitou informações sobre o medicamento à empresa”, a Pfizer afirmou que o antiviral estudado “é composto de estruturas químicas e mecanismos de ação totalmente diferentes da hidroxicloroquina, da azitromicina e da ivermectina”.

Entrevistado pela reportagem, Naylson Ribeiro, farmacêutico do ICTQ do Piauí, diz que os dois remédios são de classes farmacológicas totalmente diferentes. “A ivermectina é um antiparasitário de amplo espectro, enquanto que o PF-07321332 atua na inibição da protease, enzima que o vírus precisa para se replicar e infectar novas células”, diz ele.

Sobre o uso do antiparasitário contra a covid, o Ministério da Saúde do Brasil afirmou em março que “o uso da ivermectina para covid-19 não está previsto em bula e a utilização off label [fora do que a bula prescreve], até o momento, não teve o respaldo das agências reguladoras, bem como do fabricante do medicamento”. Mesma opinião da Organização Mundial da Saúde (OMS), que não recomenda a utilização “para quaisquer outros propósitos diferentes daqueles para os quais seu uso está devidamente autorizado, como para tratamento de oncocercose e sarna”.

O vídeo

O autor do vídeo usa como fundo de tela uma ampliação de um texto do site Zero Hedge intitulado “Pfizer lança estudo final para medicamento covid que é supostamente semelhante a ‘pasta de cavalo'” e, logo após ler o título, aponta no conteúdo do texto a palavra “ivermectina”.

O Zero Hedge afirma em um manifesto no site que uma de suas missões é “liberar o conhecimento oprimido”. A página é conhecida por compartilhar informações de extrema-direita.

O link do texto citado no vídeo está com um aviso no Twitter dizendo que ele pode ser inseguro.

Em uma reportagem da ABC News, divulgada em fevereiro deste ano e intitulada “​Os super espalhadores por trás das principais teorias da conspiração covid-19​”, o Zero Hedge é citado por republicar um texto de um site ligado a teorias da conspiração.

No ano passado, o Zero Hedge foi banido do Twitter por relacionar um cientista chinês à pandemia.

O autor do vídeo

No Linkedin, Luciano Raul Mazeo – que usa o perfil @lucianomazeo no TikTok – se denomina jornalista, estudante de História e autodidata e afirma ter experiência como “coordenador de mídias sociais no partido Patriotas”.

A reportagem enviou e-mail para o grupo Anhanguera Educacional, que aparece no LinkedIn de Mazeo, para confirmar se ele estuda ou já estudou na instituição – a faculdade respondeu que ele “não é mais aluno da instituição”.

Já em sua página no Facebook, Mazeo se apresenta como empreendedor.

O Comprova tentou falar Mazeo via WhatsApp e mensagem privada no Facebook e no Instagram, mas ele não respondeu em nenhum dos canais. Após a tentativa de contato, o post verificado aqui passou a aparecer como “vídeo indisponível” no TikTok.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O post verificado aqui foi visualizado 31,7 mil vezes no TikTok até 18 de outubro — depois, foi retirado do ar.

Ao defender a ivermectina contra a covid-19, o autor do vídeo vai contra as evidências científicas e coloca a saúde da população em risco ao indicar um medicamento que até o momento não possui eficácia comprovada contra a doença. Além disso, ele menospreza a vacina, dizendo que não se imunizou, sendo que o produto é a ferramenta mais eficaz contra o coronavírus no momento.

UOL Confere, Boatos.org, AFP Checamos, Associated Press e Politifact checaram conteúdos semelhantes.

O Comprova já publicou outras verificações relacionadas à pandemia, como a que informa ser falso que documento da Suprema Corte dos Estados Unidos afirma que vacinados se tornam transumanos e a reportagem que mostra que deputada distorce entrevista de diretora do CDC para criticar vacinas e “passaporte sanitário“.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2021-10-22

Infectologista engana ao comparar imunidade gerada por sarampo, febre amarela e hepatite B com a gerada por covid-19

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o tuíte de um médico comparando os vírus da covid-19 com os do sarampo, febre amarela e hepatite B para defender que pessoas já infectadas pelo coronavírus não precisariam se vacinar. Diante das altas taxas de mutação do Sars-CoV-2 e do fato de que até aqui não se sabe a duração da imunidade após a infecção ou mesmo após a vacinação, as autoridades de saúde recomendam que mesmo os já infectados tomem a vacina
  • Conteúdo verificado: Tuíte afirma de maneira enganosa que “ninguém recomenda vacina da gripe após a pessoa ter pego gripe” e sugere que a mesma lógica deve ser aplicada para os casos de covid-19. A mesma publicação usa como exemplo outros tipos de vírus, como hepatite b, sarampo e febre amarela.

Pessoas que já foram infectadas pela covid-19 devem ser vacinadas porque há o risco de reinfecção. Por isso, é enganosa a relação que um médico faz no Twitter entre a imunização contra o novo coronavírus e outras doenças, como sarampo, febre amarela e hepatite B.

O pediatra e infectologista Marcio Nehab, do Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz, explicou ao Comprova que o poder de mutação da covid-19 e da gripe são maiores que o das outras três doenças.

Além disso, até aqui, as pesquisas não mostraram por quanto tempo uma pessoa está protegida contra o novo coronavírus após se recuperar da doença. Estudos iniciais indicam que a vacinação ajuda a protegê-la, mesmo que já tenha sido infectada. Os principais órgãos de saúde do mundo recomendam a vacinação de quem já teve a doença, e essa também é a orientação do Ministério da Saúde no Brasil.

Em relação ao sarampo, à hepatite B e à febre amarela, a postagem diz não ser recomendada a vacina caso a pessoa já tenha sido infectada, mas as organizações orientam pela vacinação caso não haja comprovação sorológica de imunidade. Além disso, algumas das doenças citadas são prevenidas por vacinas que protegem contra múltiplas enfermidades, como a tríplice viral.

Sobre a gripe comum — influenza —, as vacinas sazonais são projetadas para proteger contra os vírus mais comuns durante a próxima temporada, e as pessoas devem se vacinar mesmo que tenham apresentado estado gripal recentemente. Além disso, a imunidade natural ou vacinal ao vírus cai com o tempo, uma possibilidade que também está sendo levantada no caso da covid-19.

Este conteúdo é enganoso, para o Comprova, porque usa dados imprecisos. Procurado, o autor do tuíte, o médico Francisco Cardoso, fez uma resposta pública ao Comprova, mas bloqueou a conta do projeto no Twitter. Ele alegou que imunizar esse grupo seria um “desperdício de vacinas” porque os casos de reinfecção seriam raros e normalmente mais brandos.

Como verificamos?

A reportagem buscou informações oficiais sobre o esquema vacinal do sarampo, da gripe, da covid-19 e da hepatite B nos sites oficiais do Ministério da Saúde, da Bio-Manguinhos e da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e OMS (Organização Mundial da Saúde). A intenção era encontrar quais recomendações eram feitas em casos nos quais o paciente já foi infectado pelo vírus anteriormente.

A pasta da Saúde foi procurada em 18 de outubro, mas não retornou. As demais mantinham disponíveis as informações em seus sites ou responderam e-mails encaminhados pelo Comprova. Reportagens e artigos científicos fizeram parte da pesquisa.

Em seguida, foram entrevistados o pediatra e infectologista Marcio Nehab, do Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz, e a microbiologista Jordana Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Por fim, o Comprova contatou o autor do post. A resposta foi feita de maneira pública, no Twitter, à reportagem.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 21 de outubro de 2021.

Verificação

Vírus da covid-19 tem mutação acelerada

Reportagem da National Geographic Brasil explica de forma detalhada haver milhares de variantes do Sars-CoV-2 que surgiram desde o início da pandemia e que estas são produzidas de forma rápida e intensa porque há muita gente infectada. O processo é aleatório, mas tende a ocorrer com mais frequência em um cenário de alta circulação do vírus.

Depois que o coronavírus entra em contato com as mucosas do corpo (olhos, nariz e boca), ele inicia a trajetória de infecção ao se prender na superfície das células e ao disparar o seu material genético (RNA). O objetivo é fazer com que o nosso corpo ajude a produzir cópias do vírus. Neste processo, contudo, é possível ocorrer mutações.

Parte delas compromete estruturas e acaba prejudicando os próprios organismos, mas algumas dessas mutações se mostram úteis para o vírus e o fortalecem para que passe de um hospedeiro a outro, ajudando-o a superar outras variantes existentes na região.

No caso dos coronavírus, a taxa de mutação é ligeiramente mais baixa do que outros vírus de RNA, mas não o suficiente para impedir que essas mutações sigam ocorrendo. À medida que o novo coronavírus se espalhava de maneira descontrolada pelo mundo, tornou-se inevitável que uma série de variantes surgisse.

Vacina contra coronavírus deve ser aplicada em quem foi infectado

O infectologista Marcio Nehab, afirmou ao Comprova que o poder de mutação dos vírus da covid-19 e da gripe é maior que o de doenças como sarampo, hepatite B e febre amarela. Portanto, as pessoas devem ser vacinadas, independentemente de já terem sido infectadas pelo novo coronavírus.

“As pesquisas ainda não mostraram por quanto tempo você está protegido contra a covid-19 depois de se recuperar da doença. A vacinação ajuda a protegê-lo, mesmo que você já tenha tido a doença e a manter anticorpos circulantes por mais tempo”, diz.

A mesma orientação é dada pela Fiocruz: “Quanto à vacina contra covid-19, ela deve ser ministrada mesmo nos usuários que já tenham tido o diagnóstico da doença, pois pode haver o risco de reinfecção. Deve ser observado o intervalo preconizado entre a doença e a vacinação”.

A microbiologista e professora da UFMG Jordana Reis relata que as evidências disponíveis sugerem diferenças na imunidade gerada pela infecção por covid-19 em relação a doenças como o sarampo e a febre amarela, neste caso, duradouras.

Casos de reinfecção por covid-19 foram registrados por várias autoridades sanitárias e em estudos científicos, com o primeiro caso apontado ainda em agosto de 2020, em Hong Kong. Em dezembro, o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso no Brasil. Ainda assim, questões como a frequência desse tipo de caso e o nível de risco oferecido para os pacientes permanecem incertas.

A maior preocupação é que o surgimento de variantes do novo coronavírus possa facilitar essas ocorrências. Evidências sugerem, no entanto, que essa possibilidade existe mesmo com as mesmas linhagens do vírus, em um caso em que a pessoa não desenvolve uma resposta imunológica robusta o suficiente para evitar uma nova contaminação — o que geralmente está associado a um primeiro quadro brando ou assintomático.

Os principais órgãos de saúde do mundo recomendam a aplicação da vacina contra a covid-19 em quem já teve a doença. A OMS justifica essa posição pelo fato de que “a proteção que as pessoas recebem por uma infecção anterior de covid-19 varia muito de pessoa para pessoa” e de que a imunidade obtida com a vacina nestes grupos é “muito forte”, fazendo com que a pessoa fique mais protegida e por mais tempo.

Pessoas que tiveram a doença e depois foram vacinadas receberam até o apelido de “superimunizadas”, como mostra esse artigo de divulgação científica da revista Nature. Rishi Goel, imunologista da Universidade da Pensilvânia, conta que algumas pessoas que tiveram covid-19 desenvolvem um nível altíssimo de anticorpos ao receber as vacinas. Estudos iniciais de laboratório sugerem, inclusive, que essa resposta pode gerar uma proteção mais eficiente contra as variantes.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos afirma que pessoas que tiveram covid-19 devem receber as vacinas por dois motivos principais: a ciência ainda não sabe por quanto tempo elas continuam protegidas após a recuperação; e pelo fato de que já foram constatados benefícios da vacinação neste grupo.

O órgão sanitário norte-americano cita como evidência um estudo que analisou casos no Estado de Kentucky e mostrou que, entre pessoas que tiveram covid-19 antes, as não vacinadas tinham cerca de duas vezes mais chances de contrair a doença novamente do que aquelas com o esquema vacinal completo.

O Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC), agência que faz parte da União Europeia, destaca que não existem informações suficientes para dizer por quanto tempo alguém que teve covid-19 está protegido de uma reinfecção, ou seja, a chamada imunidade natural. “Evidências iniciais sugerem que a imunidade natural contra a covid-19 pode não durar muito, porém, mais estudos são necessários para entender essa questão.”

No Brasil, o Ministério da Saúde defende a vacinação de pessoas com infecções prévias, como mostra essa página oficial do órgão. “Pessoas que já pegaram covid-19 devem ser vacinadas. Pesquisas apontam que a vacina pode proporcionar uma imunidade mais duradoura à covid-19 e fortalecer a imunidade natural à doença”, aponta o conteúdo. Procurada pela reportagem, a pasta não respondeu aos questionamentos.

Gripe

O post engana também ao afirmar que “ninguém recomenda vacina de gripe APÓS a pessoa ter pego gripe”. A gripe (influenza) é uma infecção viral aguda de elevada transmissibilidade e distribuição global e, apesar de ter evolução autolimitada, pode apresentar-se de forma grave.

Conforme a Fiocruz, a vacinação deve ser realizada anualmente nas campanhas oferecidas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) para os grupos prioritários com predisposição para complicações, mesmo os que já tenham apresentado algum “estado gripal”, pois são grandes as variações antigênicas, ou seja, quando o vírus altera as proteínas ou carboidratos em sua superfície e, assim, evita uma resposta imune do hospedeiro. Além disso, na rotina, não se faz o diagnóstico etiológico dos casos.

Nehab explica que as vacinas contra a gripe fazem com que os anticorpos se desenvolvam no corpo cerca de duas semanas após a vacinação e estes anticorpos fornecem proteção contra infecção por vírus influenza circulantes. “As vacinas sazonais contra a gripe são projetadas para proteger contra os vírus da gripe que a pesquisa indica que serão mais comuns durante a próxima temporada.”

Ele acrescenta que se você teve influenza recentemente, ainda assim deve tomar a vacina que contém três ou quatro cepas diferentes do vírus. “Fora que sua imunidade natural ou vacinal ao vírus cai com o tempo. Daí a importância das doses de reforço”, destaca.

Sarampo

De acordo com a Fiocruz, o sarampo é uma doença viral, infecciosa aguda, potencialmente grave, transmissível e altamente contagiosa e, por isso, a vacinação é a única forma de prevenir a ocorrência na população suscetível e ela, sendo administrada na rotina da rede básica de saúde em bloqueio ou intensificação vacinal e nas campanhas de vacinação de seguimento.

Desde 2013, o calendário básico de imunizações do Brasil passou a contar com a vacina tetravalente viral que inclui a imunização contra a varicela (catapora), além de sarampo, caxumba e rubéola, já contempladas anteriormente na tríplice viral. O imunizante é produzido pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos – Bio-Manguinhos.

Após os últimos casos da doença no ano de 2015, o Brasil recebeu em 2016 a certificação da eliminação do vírus. Consequentemente, nos anos de 2016 e 2017 não foram confirmados casos de sarampo no país. Em 2018, contudo, o vírus voltou a circular.

O Ministério da Saúde, via Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde de outubro de 2021, informa que em 2021, até a Semana Epidemiológica (SE) 35, 580 casos de sarampo foram confirmados. Atualmente, existem casos no Amapá, Pará, Alagoas, São Paulo, Ceará e Rio de Janeiro.

Considerando que alguns estados ainda mantêm circulação do vírus do sarampo, é recomendado que as ações de vacinação na rotina sejam mantidas e que todas as pessoas de 12 meses até 59 anos de idade estejam vacinadas contra a doença.

Recomenda-se não serem vacinados apenas casos suspeitos de sarampo, entre a primeira amostra de sangue coletada e a coletada de 15 a 25 dias após a primeira, isso porque a administração da vacina interfere diretamente no resultado laboratorial e classificação final do caso.

Após a fase aguda do sarampo, contudo, com ausência de sinais e sintomas e com coleta das amostras para confirmação e/ou descarte do caso, é orientado seguir com a administração da vacina tríplice ou tetra viral, considerando a imunização para as demais doenças prevenidas pelas vacinas.

A Fiocruz afirma que os indivíduos que comprovam sorologicamente que já foram infectados pelo vírus, em princípio, apresentam proteção natural pela doença.

Em entrevista ao Bem Estar, em 2019, a infectologista e diretora técnica da Secretaria de Saúde de São Paulo Helena Sato afirmou que aqueles que já tiveram sarampo devem tomar a vacina. “O sarampo pode se confundir com outras doenças. Não necessariamente a pessoa teve sarampo”, lembrando que outras infecções virais têm sintomas semelhantes.

O Ministério da Saúde destaca ser fundamental que as pessoas que não tomaram a vacina ou que não sabem se tomaram a vacina procurem os postos de saúde.

Marcio Nehab reforça que, se a pessoa não tem certeza se é imune ao sarampo, deve primeiro tentar encontrar os registros de vacinação ou documentação de imunidade à doença. Caso não possua comprovação escrita sobre a imunidade, deve ser vacinada.

“Não há mal nenhum em receber outra dose da vacina tríplice se você já for imune ao sarampo (ou caxumba ou rubéola). E se você não for imune e pegar o vírus, a doença pode ser muito grave e até matar. Outra opção é pedir a um profissional de saúde para testar seu sangue para determinar se você está imune, mas isso geralmente não é recomendado e poucos laboratórios fazem esse teste validado pelo Ministério da Saúde”, explica.

Febre amarela

A maioria dos infectados pela febre amarela, transmitida por um vírus que tem como vetor em áreas urbanas o mosquito Aedes aegypti — o mesmo da dengue —, adquire imunização permanente contra a doença, segundo informações divulgadas pela Fiocruz.

O vírus só causa sintomas em pessoas que nunca tiveram contato com a doença ou que não receberam a vacina. Desde 1937, a Bio-Manguinhos prepara os imunizantes a partir da cepa atenuada 17D, da febre amarela.

O vírus é cultivado em ovos embrionários de galinhas, acompanhando as normas que a OMS estabelece.

O Ministério da Saúde recomenda que a vacina seja aplicada a partir dos nove meses de vida, com um reforço a cada dez anos, no mínimo. A medida vale especialmente para quem reside em regiões endêmicas ou quem irá viajar para esses locais, acompanhando o Calendário Nacional de Vacinação

Também devem evitar a vacinação contra a febre amarela quem teve histórico de reações anafiláticas a ovos de galinha e seus derivados, gelatina, eritromicina e canamicina. Gestantes, a não ser em situação epidemiológica com alto risco de exposição, seguindo recomendações expressas das autoridades de saúde, devem evitar o imunizante.

Quem tem imunodeficiência congênita ou secundária por doenças, como câncer e leucemia, ou por medicamentos, não pode receber a dose. O mesmo vale para quem possui histórico de doença do timo, como miastenia grave, timoma ou timectomia e para crianças com menos de seis meses de idade.

A reportagem entrou em contato com a Bio-Manguinhos, responsável pela fabricação da vacina, para saber se quem teve um quadro infeccioso por conta do vírus precisa tomar o imunizante. Em resposta, a entidade afirmou que se a infecção foi confirmada laboratorialmente, a pessoa deve ter anticorpos contra a febre amarela e, portanto, está protegida contra uma nova infecção e não é preciso se vacinar.

“Há, porém, algo a se considerar: se o fato ocorreu há mais de 10 anos, por segurança seria recomendada a vacinação, já que os títulos de anticorpos neutralizantes se reduzem no decorrer dos anos”, afirmou em nota a Bio-Manguinhos.

Hepatite B

A hepatite B é um dos cinco tipos de hepatites existentes no Brasil, causada pelo vírus HBV, que atinge o fígado. Assim como a C, ela pode ser transmitida por sangue contaminado, sexo desprotegido e compartilhamento de objetos perfurocortantes. Conforme a Fiocruz, também há risco potencial de transmissão vertical (da mãe para o bebê) no momento do parto.

Sobre a imunidade adquirida naturalmente pela doença, o instituto diz que esta deve ser avaliada sorologicamente. “A vacina é recomendada, de forma universal, a partir do nascimento.”

Segundo o infectologista Marcio Nehab, a maioria das pessoas infectadas por hepatite B na idade adulta é capaz de lutar contra o vírus e se recuperar totalmente em 1 a 3 meses e ficará imune à infecção pelo resto da vida. Porém, há pessoas que precisam ser vacinadas para adquirir a imunidade. “Se não souber se é ou não imune pode tomar a vacina sem problemas.”

A principal forma de prevenção da doença é a vacina, que está disponível no SUS (Sistema Único de Saúde), de acordo com dados do Ministério da Saúde. A pasta oferta o imunizante para todas as faixas etárias.

O Ministério da Saúde estima que o risco da infecção tornar-se crônica depende da idade do indivíduo. Enquanto as crianças de até um ano têm 90% de chance de desenvolver um quadro mais agudo, as demais, entre um e cinco anos, têm entre 20% e 50% de chance.

Em adultos, as chances caem: entre 20% a 30% das pessoas infectadas cronicamente pelo vírus desenvolverão cirrose ou câncer de fígado.

Diferenças entre covid-19 e outras doenças

As doenças não são causadas pelo mesmo agente patológico, e algumas também diferem entre si pelo meio de transmissão. Além disso, ao contrário do sarampo, da hepatite B, da febre amarela e da gripe, a covid-19 é uma doença nova e é a única caracterizada como pandemia atualmente.

O vírus do sarampo é um RNA vírus, que pertence à família Paramyxoviridae, sendo uma doença de transmissão respiratória como a covid-19. A hepatite viral B é causada por um vírus com genoma de DNA, pertencente à família Hepadnaviridae; a transmissão ocorre por meio do sangue contaminado e de relações sexuais desprotegidas.

O vírus da febre amarela é um gênero de vírus RNA da família Flaviviridae, transmitido por meio da picada de um mosquito. A gripe é causada por diferentes tipos de vírus influenza, que fazem parte da família Orthomyxoviridae, de vírus de RNA, transmitida também pelas vias respiratórias.

Já a covid-19 é causada pelo vírus Sars-CoV-2, um coronavírus que está mais próximo dos agentes causadores da MERS e da SARS, por exemplo. O seu genoma é de RNA e ela também é definida como uma doença de transmissão respiratória. As formas de contágio mais comuns ocorrem por meio do contato próximo com pessoas infectadas, a partir da entrada de gotículas nas mucosas dos olhos, nariz e boca.

Está bem estabelecido que pessoas que tiveram sarampo, por exemplo, passam a ficar imunes contra a doença ao longo de toda a vida. Da mesma forma, a aplicação de vacinas contra o sarampo, a hepatite B e a febre amarela costuma ocorrer somente uma vez, de preferência já durante a infância.

No caso da covid-19, no entanto, estudos iniciais sugerem que a proteção individual contra o vírus (adquirida pela doença prévia ou pela vacina) tende a cair com o tempo — inclusive, esse é o motivo da dose de reforço estar sendo recomendada para grupos de risco atualmente no Brasil. Mas uma resposta exata sobre a duração da proteção ainda não é certa, até porque o surgimento do novo coronavírus ocorreu apenas em 2019.

No caso da gripe, a situação é um pouco diferente. Por conta da variabilidade de tipos (influenza A, B e C) e de subtipos (como H1N1, por exemplo, que causou uma pandemia em 2009) as vacinas são atualizadas todos os anos, observando quais vírus estão circulando mais e representam maior perigo para a saúde pública. A campanha de imunização acontece antes de cada inverno.

Por fim, apesar de ocorrerem em várias partes do mundo, as outras quatro doenças citadas não configuram uma pandemia atualmente, ao contrário da covid-19. Ou seja, o risco de exposição ao Sars-CoV-2 é consideravelmente mais elevado hoje.

O Comprova acessou uma série de boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde para checar a frequência com que aparecem cada uma dessas doenças no Brasil. Em relação ao sarampo, foram registrados 20.901 em 2019 e 8.848 casos em 2020. Para a hepatite B, foram 13.256 em 2019 e 6.064 em 2020.

Sobre a febre amarela, um documento recente menciona cinco casos confirmados entre julho de 2020 e abril de 2021. O impacto da gripe influenza foi verificado com base no número de pacientes hospitalizados, 2.602 no ano passado, mas uma grande parte dos casos gera sintomas leves e dispensa atendimento hospitalar.

A covid-19 supera todos esses números em 24 horas. Em 20 de outubro, o Brasil registrava uma média móvel de 11.933 novos casos e 380 mortes por dia, de acordo com o levantamento do consórcio de veículos de imprensa. Desde a chegada do vírus no País, em fevereiro do ano passado, foram registrados 21,6 milhões e 604,3 mil óbitos pela doença.

O autor

Francisco Eduardo Cardoso Alves é especialista em Infectologia pelo Instituto Emílio Ribas e diretor-presidente da Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdência Social (ANMP). Defensor do “tratamento precoce” com medicamentos que não possuem eficácia comprovada contra a covid-19, foi ouvido pela CPI da Pandemia, onde defendeu a prática, em junho deste ano.

Já foi alvo de verificação anterior do Comprova, ao afirmar, em sequência de tuítes, que Casa Branca, CDC, FDA, OMS, Pfizer, Moderna e Johnson & Johnson não obrigam funcionários a se vacinarem, o que é enganoso.

O Comprova procurou Alves por e-mail e o questionou a respeito de dados sobre reinfecção pelo vírus e estudos mostrando benefícios da vacinação neste grupo, entre outros pontos. Ele não retornou o email mas decidiu “responder publicamente” em sua conta no Twitter.

O médico afirmou que está ciente da possibilidade de reinfecção por covid-19, mas alegou que as chances são mínimas, sustentando a tese de dispensar a vacinação. No entanto, um estudo publicado por autoridades dos Estados Unidos mostra que não vacinados tiveram mais que o dobro de chances de serem reinfectados, em comparação com os completamente vacinados.

Francisco diz que teve acesso aos estudos mostrando que a vacina melhora a resposta imunológica das pessoas com infecções prévias, mas afirmou que a imunização “é desnecessária quando a pessoa já tem imunidade natural”.

A opinião do infectologista vai à contramão do que determina o Ministério da Saúde e a OMS em relação às vacinas. A orientação é para que quem já teve covid-19, após a baixa da infecção, seja imunizado para diminuir as chances de uma nova infecção.

Por fim, ele diz que não teve covid-19 e que não concorda com a aplicação “obrigatória sob coação” das vacinas.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O post verificado foi compartilhado originalmente no Twitter e alcançou mais de 7,5 mil interações. Na repostagem do mesmo conteúdo feita no grupo Médicos pela Vida, no Telegram, o conteúdo enganoso foi visualizado por outras 20,2 mil pessoas.

Publicações enganosas como esta acabam reforçando que a vacinação contra a covid-19 seria dispensável quando, na realidade, é por meio da imunização que os números de casos e óbitos da doença têm caído. Além disso, por ser médico, o discurso do autor da postagem acaba sendo considerado por pessoas que o têm como autoridade em saúde.

Fica claro nos comentários da publicação que os usuários do Twitter e Telegram que viram o post acreditam que a vacina não é eficaz e que haveria uma “conspiração” por trás do imunizante, o que não é verdade.

Outros conteúdos no mesmo sentido foram checados pelo Comprova, como a informação falsa sobre um documento da Suprema Corte dos Estados Unidos apontando que os vacinados se tornariam transumanos. Outra postagem verificada foi sobre a deputada Bia Kicis, que distorceu entrevista de diretora do CDC para criticar vacinas e “passaporte sanitário“.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-10-15

Teste de anticorpos não deve substituir vacina contra a covid, como sugere deputado do PR

  • Falso
Falso
São falsas as alegações do deputado estadual Ricardo Arruda (PSL-PR) em um vídeo em que ele afirma que os exames de anticorpos garantem que as pessoas que já tiveram a doença estão imunes contra a covid-19 e, por isso, elas não precisam se vacinar; que o “tratamento precoce” teve a sua eficácia comprovada; e que ninguém monitora os efeitos colaterais dos imunizantes. Segundo a ciência, a vacinação garante uma proteção mais robusta do que a demonstrada pelos exames de anticorpos pós-infecção. Não há nenhum ensaio clínico que comprove a eficácia de medicamentos contra o novo coronavírus; pelo contrário, esses tratamentos são desaconselhados por autoridades de saúde internacionais. Já as reações aos imunizantes são monitoradas de perto, no Brasil, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
  • Conteúdo verificado: Vídeo que circula no Facebook mostra o deputado estadual do Paraná Ricardo Arruda fazendo diversas alegações falsas sobre a pandemia. Entre elas, ele afirma que o “tratamento precoce” foi “comprovado estatisticamente” por “milhões de médicos”.

São falsas várias alegações do deputado estadual do Paraná Ricardo Arruda (PSL-PR), declaradas em um vídeo que viralizou na Internet com críticas ao programa de vacinação contra a covid-19 e defesa de tratamentos ineficazes contra a doença.

Segundo Raphael Rangel, virologista, coordenador do curso de biomedicina do Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação (IBMR) e membro da Rede do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde, o grupo não vacinado é aquele que mais tem risco para exposição ao vírus, assim como a possibilidade de evolução para a forma grave da covid-19.

O virologista afirma que o grande perigo desse grupo é que essas pessoas podem se infectar recorrentemente e, por isso, dar origem a novas variantes.

Também é falso que não exista um acompanhamento dos efeitos colaterais das vacinas. Em primeiro lugar, porque antes de ser autorizado no Brasil, cada imunizante passou por três fases de testes clínicos para garantir a sua segurança e eficácia. Em segundo, porque notificações de reações adversas são monitoradas de perto por órgãos de vigilância sanitária como a Anvisa, que tem poder para suspender a aplicação das vacinas se houver risco à saúde da população.

Além disso, o deputado erra ao afirmar que o Supremo Tribunal Federal (STF) retirou a autonomia do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para atuar durante a pandemia e, por isso, todas as ações são decididas por governadores e prefeitos. O que a Suprema Corte decidiu foi que União, estados e municípios têm competência conjunta para atuar em questões de saúde pública, como determina a Constituição Federal. Segundo o órgão, caberia ao governo federal coordenar as ações específicas dos governos subnacionais.

Outra declaração falsa do parlamentar inclui a defesa do “tratamento precoce”. Ele alega, sem provas, que o método foi “estatisticamente” comprovado. O próprio Ministério da Saúde já afirmou à CPI da Pandemia que os remédios do kit covid, inicialmente defendido pelo governo federal, são, na verdade, ineficazes no combate ao vírus.

Ricardo Arruda também estabeleceu falsa equivalência entre a proteção contra o vírus oriunda da contaminação e a conferida pela vacina. O doutor em Epidemiologia pela Universidade de São Paulo (USP) Julio de Carvalho Ponce explica que a proteção “mais robusta” somente é garantida com a aplicação dos imunizantes.

O legislador ainda diz que o “tratamento precoce” contra a covid-19 é perseguido, enquanto as pessoas defendem a liberação de compostos medicinais a base de cannabis. De acordo com a médica especialista em dor crônica e medicina canabinóide Maria Teresa Jacob, “não há comparação possível entre tratamento precoce e maconha medicinal’. Aliás, nem se pode afirmar que existe tratamento precoce consensual [contra a covid-19]”.

Em nota, a assessoria do deputado afirmou que todas as informações sobre saúde que constam no vídeo tiveram como fonte “médicos confiáveis e renomados”, sem detalhar a quem se refere. A equipe do parlamentar também disse que as informações são checadas antes de serem publicadas.

Para o Comprova, é falso todo conteúdo inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

Inicialmente, buscamos informações em verificações acerca da vacinação contra covid-19 e do “tratamento precoce” já publicadas pelo Comprova. Além disso, entrevistamos o virologista Raphael Rangel; o epidemiologista Júlio de Carvalho Ponce; e a médica especialista em dor crônica e medicina canabinóide Maria Teresa Jacob.

Por email, o Comprova entrou em contato com a assessoria do gabinete do autor do vídeo.

Foram consultadas, por fim, informações científicas da Organização Mundial da Saúde (OMS), dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, da Anvisa e portais de notícias.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 15 de outubro de 2021.

Verificação

Efeitos colaterais das vacinas são monitorados

Em todas as bulas das vacinas autorizadas no Brasil, a Anvisa afirma que os imunizantes, como qualquer outro medicamento, podem causar efeitos colaterais, ainda que eles passem por três fases de testes clínicos que, além da eficácia, indicam se são seguros; isto é, que não provocam reações graves.

Não significa, contudo, que, após serem autorizadas, as vacinas não são mais acompanhadas pelas autoridades sanitárias. A Anvisa continua monitorando qualquer evento adverso por meio de um processo chamado farmacovigilância, assim como outras agências ao redor do mundo. Quando uma pessoa tem um episódio de saúde que se suspeita estar relacionado à imunização, o profissional de saúde que a atendeu notifica os órgãos competentes, incluindo a Anvisa, para que iniciem uma investigação criteriosa do caso.

A Anvisa tem poder para suspender total ou parcialmente (para alguns grupos) o uso de algum medicamento ou imunizante que esteja sendo aplicado em desacordo com a bula e que possa causar risco à saúde da população. Um exemplo foi a suspensão do uso da vacina da AstraZeneca em gestantes, no dia 10 de maio de 2021 A aplicação desse imunizante em mulheres grávidas não era prevista pela bula.

Em junho deste ano, o médico David Urbaez, presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, disse ao Comprova que a existência de algumas reações leves são comuns em todas as vacinas contra qualquer doença, já que elas estimulam o sistema imune. Essas reações leves, como dor no local da aplicação e febre, não têm relação com a forma como esse imunizante foi desenvolvido. “O sistema imune estimulado gera uma série de substâncias biológicas, que em mais ou menos proporção, geram os efeitos adversos sistêmicos como febre, dores musculares, indisposição, etc”, explicou.

De acordo com Urbaez, em mais de 99% das vezes, as reações aos imunizantes são leves. “Rarissimamente podem acontecer efeitos adversos mais sérios, sempre menos de 1% das ocorrências. Sempre lembrando, todas as vacinas em uso não têm vírus vivos, pelo que sua segurança é garantida após as fases de ensaio clínico”, afirmou.

STF e o papel dos estados e da União

Em 15 de abril de 2020, o plenário do STF reconheceu a competência concorrente entre a União, os estados e municípios no enfrentamento da pandemia. Na ação que avaliava trechos da Medida Provisória 926/2020, ficou entendido que governadores e prefeitos tinham autonomia para adotar medidas de distanciamento social que pudessem prevenir a infecção pela covid-19, considerando as realidades locais, já que o número de casos e de leitos varia de um lugar para outro do país. O papel do governo federal seria coordenar nacionalmente essas ações locais.

A decisão tinha como base o artigo 23, inciso II, da Constituição Federal, segundo o qual, “cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência” é uma competência comum da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.

O presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores sempre criticaram a decisão do STF. No entendimento do chefe do Planalto, o Judiciário limitou seus poderes para atuar durante a pandemia. O governo chegou a apresentar ações na Suprema Corte contra decretos estaduais que instituíram lockdown para contenção do vírus. Mas elas não prosperaram.

Em julho deste ano, o STF lançou uma peça de marketing dizendo ser falso que o Judiciário tenha retirado poderes do presidente para atuar na pandemia. “O STF decidiu que União, estados e prefeituras tinham que atuar juntos, com medidas para proteger a população”, explica o vídeo divulgado nas redes sociais. A peça também trazia o slogan “Uma mentira contada mil vezes não vira verdade”.

A decisão mais recente, citada no vídeo verificado, ocorreu após o Ministério da Saúde recomendar a suspensão da vacinação de adolescentes. A imunização de pessoas acima de 12 anos com a vacina da Pfizer havia sido autorizada pela Anvisa desde 11 de junho deste ano, após avaliar estudos que comprovaram a segurança e a eficácia do composto para esta faixa etária.

Apesar da orientação da União, alguns estados anunciaram que seguiriam aplicando a vacina. No dia 21 de setembro, o ministro do STF Ricardo Lewandowski concedeu uma liminar afirmando que “a imunização de adolescentes acima de 12 anos é da competência dos estados, do Distrito Federal e dos municípios”. A decisão dizia que estados e municípios deveriam observar, sob pena de responsabilização, as orientações dos fabricantes dos imunizantes, da Anvisa e das autoridades de saúde.

No dia seguinte, a Anvisa concluiu que o óbito de adolescente que ocorreu em São Paulo — citado pelo Ministério da Saúde como justificativa para suspensão da imunização — não tinha relação com a aplicação da vacina da Pfizer, após um processo de investigação. Na mesma data, o Ministério da Saúde voltou atrás e passou a recomendar novamente a imunização dos adolescentes.

Tratamento precoce não foi comprovado estatisticamente

Diferentemente do que afirma o parlamentar, não há comprovação estatística sobre eficácia do dito “tratamento precoce”. Ricardo Arruda não citou números nem alguma fonte que tenha embasado sua fala.

Como o Comprova já mostrou, a hidroxicloroquina é ineficaz no combate ao vírus. Trata-se de um dos remédios difundidos pelo presidente Jair Bolsonaro e aliados como antídoto para a infecção, ao lado da ivermectina e da azitromicina, sem comprovação de eficácia.

A OMS e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) já emitiram recomendações contrárias ao uso da hidroxicloroquina, da cloroquina e da ivermectina.

Um estudo randomizado – que compara duas ou mais intervenções conduzidas por pesquisadores e aplicadas de modo aleatório em voluntários – publicado na revista The Lancet mostrou que a azitromicina é ineficaz e não tem relação com redução de mortes por covid-19.

O próprio Ministério da Saúde assumiu que os medicamentos do chamado kit covid são incapazes de neutralizar o vírus. Em documento enviado à CPI da Covid, a pasta disse:

“Alguns medicamentos foram testados e não mostraram benefícios clínicos na população de pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados, sendo eles: hidroxicloroquina ou cloroquina, azitromicina, lopinavir/ritonavir, colchicina e plasma convalescente. A ivermectina e a associação de casirivimabe + imdevimabe não possuem evidência que justifiquem seu uso em pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados nessa população” .

O infectologista Julio Ponce explica que relatos individuais de “cura” não são suficientes para provar a eficácia de um medicamento. “Em medicina, não abordamos a capacidade de cura como um evento pessoal, único, mas sim com redução de risco, melhora de sintomas, diminuição de evolução a óbito, etc”, afirmou ao Comprova em entrevista feita pelo Twitter.

Exame de anticorpos não substitui vacina

Não é verdadeira a fala do parlamentar Ricardo Arruda que estabelece equivalência entre o resultado do teste de covid-19 e a vacina contra o vírus, como se ambos fossem atestados de imunidade contra o Sars-CoV-2.

A Anvisa alertou em seu site, em junho deste ano, que os testes disponíveis servem tão somente para a identificação de pessoas que tenham sido infectadas pelo coronavírus.

Na nota técnica 33/2021, a agência reguladora brasileira afirma que “não existe, até o momento, a definição da quantidade mínima de anticorpos neutralizantes necessária para conferir proteção imunológica contra a infecção pelo Sars-CoV-2, uma reinfecção, as formas graves da doença e nem contra as novas variantes circulantes.”

A FDA, agência sanitária norte-americana, equivalente à Anvisa no Brasil, também advertiu que os testes não devem ser usados para avaliar o nível de imunidade contra o vírus, seja antes ou depois da vacinação. De acordo com o comunicado, emitido em maio deste ano, são necessárias mais pesquisas para entender o significado de um teste de anticorpos positivo ou negativo.

Sobre os não vacinados, público ao qual o parlamentar se dirige na fala, a FDA sublinha que um resultado positivo não é significado de quantidade específica de imunidade ou proteção contra a infecção. O resultado positivo significa que o paciente provavelmente deve ter sido infectado pelo vírus. Dessa forma, a recomendação da agência reguladora estadunidense é de que um médico seja consultado.

“Se os resultados do teste de anticorpos forem interpretados como uma indicação de um nível específico de imunidade ou proteção contra a infecção pelo Sars-CoV-2, há um risco potencial de que as pessoas tomem menos precauções contra a exposição ao vírus. Tomar menos precauções pode aumentar o risco de infecção e pode resultar no aumento da disseminação do Sars-CoV-2”, diz o comunicado.

Júlio de Carvalho Ponce disse ao Comprova que o exame de anticorpos é um “indicativo de proteção, mas há uma proteção mais robusta com o uso de vacinas, mesmo para quem já foi infectado.”

Há mais literatura sobre maconha medicinal

Ricardo Arruda criticou o colega de Assembleia, o deputado Goura Nataraj (PDT), por ele ser contrário ao “tratamento precoce”, mas favorável ao uso da maconha para fins medicinais. Arruda então estabeleceu falsa equivalência entre o uso de produtos à base de cannabis e o tratamento que ele defende contra o Sars-Cov-2, cuja ineficácia já foi comprovada pela comunidade científica.

De acordo com a médica especialista em dor crônica e medicina canabinóide Maria Teresa Jacob, “não há comparação possível entre tratamento precoce e maconha medicinal”. Segundo ela, “nem se pode afirmar que existe tratamento precoce consensual [contra a covid-19]”.

Em entrevista ao Comprova, ela afirma que “estudos sobre cannabis medicinal têm crescido muito a cada ano e mostram como é possível aliviar a dor crônica no caso de muitas doenças como endometriose, problemas de coração e cefaléia, inclusive incluindo tratamento de covid-19”.

Uma resolução colegiada da direção da Anvisa, de número 327/2019, entrou em vigor no dia 10 de março de 2020 e definiu as condições e procedimentos para a concessão da Autorização Sanitária para a fabricação e importação de produtos de cannabis para fins medicinais.

A empresa farmacêutica Prati-Donaduzzi, como mostra matéria do portal UOL, conseguiu autorização para comercializar o canabidiol com cinco anos de validade. Não significa, porém, que os produtos tenham status de medicamento.

No quinto capítulo da mesma resolução, o segundo inciso do artigo 50 determina que os pacientes devam ser informados de que “o produto de Cannabis não é medicamento”.

Em 2021, a Anvisa aprovou dois novos produtos à base de cannabis fabricados nos Estados Unidos, ambos com concentração de tetra-hidrocarbinol (THC) de até 0,2%. O THC é o principal componente ativo da maconha, responsável pelos efeitos alucinógenos da planta.

O Conselho Federal de Medicina, citado pelo deputado, de fato adota postura resistente ao uso destes produtos. Ao lado da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a instituição assinou um decálogo em que se contrapôs ao uso do termo “maconha medicinal”. O argumento usado foi o mesmo da Anvisa, o de que não podem ser considerados medicamentos.

“Como os poucos resultados obtidos estão longe de ser generalizados, mesmo que o uso controlado possa ser feito, deve-se levar em conta os potenciais malefícios já comprovados”, dizem as associações no item 3 do documento.

O autor do vídeo

Segundo seu perfil no site da Assembleia Legislativa do Paraná, Ricardo Arruda (PSL) é formado em finanças e foi presidente do Banco Comercial. Ele também se diz ligado à Igreja Mundial do Poder de Deus, a quem prestou consultoria financeira durante a carreira. Exerceu o primeiro cargo político em 2013, quando se tornou deputado federal após o licenciamento de Edmar Arruda. Em 2014, foi eleito deputado estadual do Paraná, sendo reeleito em 2018. Entre seus projetos, propôs a adoção no Paraná do “Escola Sem Partido”, movimento que defende que professores não podem falar de política em sala de aula.

Em seu perfil oficial do Instagram, ele também se define como “anti-PT” e apoiador do presidente Jair Bolsonaro.

De acordo com o site Paraná Portal, parceiro do UOL, ele já foi condenado a retirar um vídeo do ar após acusar uma médica do estado de estar “matando pacientes” por se recusar a prescrever o tratamento com cloroquina. A BandNews FM de Curitiba também informa que ele já foi multado pela Justiça Eleitoral por propaganda antecipada ao contratar outdoors com sua foto e a do presidente da República.

Procurada, a assessoria de Ricardo Arruda afirmou que o objetivo do vídeo era “informar a população” e “transmitir dados que a grande mídia não divulga”. Segundo a equipe do parlamentar, todas as informações relativas a questões de saúde citadas na fala foram extraídas de “médicos confiáveis e renomados”; sem citar nomes. A assessoria também garante que elas são checadas antes de serem publicadas.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O vídeo verificado aqui teve mais de 40 mil visualizações e 1,2 mil curtidas no Twitter.

Em falas que reverberam as mesmas falácias do vídeo verificado, o presidente Jair Bolsonaro voltou a dizer que não tomará a vacina, por considerar que já está imunizado contra a covid-19 depois de ter sido infectado com o Sars-Cov-2.

A desinformação sobre o processo de imunização é prejudicial para a saúde pública e a manutenção do controle da pandemia no país.

Segundo monitoramento do Imperial College de Londres, pela primeira vez, desde o início da pandemia, a taxa de transmissão da doença no Brasil atingiu o menor nível desde abril de 2020, quando começou a ser medida.

O Comprova já publicou diversos conteúdos sobre imunização, como o que informa que é falso que documento da Suprema Corte dos EUA afirma que vacinados contra a covid-19 se tornam transumanos e a reportagem que mostra que deputada distorce entrevista de diretora do CDC para criticar vacinas e ‘passaporte sanitário’. O Estadão também já verificou alguns dos temas abordados nessa checagem, como uma postagem no Facebook desinforma ao transferir responsabilidade do combate à pandemia ao STF e uma reportagem que informa que testes de anticorpos não servem para medir proteção das vacinas contra a covid-19.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2021-10-15

Tuíte engana ao dizer que vacina da Pfizer tem partículas contaminantes

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a publicação que circula nas redes sociais afirmando que há micropartículas contaminantes na vacina desenvolvida pela Pfizer contra a covid-19. Os argumentos utilizados pelo autor da postagem não encontram respaldo na realidade e vão contra os preceitos básicos da OMS para definir a aprovação de uso emergencial de uma vacina, que inclui a eficácia e segurança. A Pfizer, a Anvisa e especialistas ouvidos pela reportagem afirmaram que o conteúdo é de cunho enganoso e que os imunizantes passam por processos rigorosos antes da liberação.
  • Conteúdo verificado: A tradução de uma sequência de tuítes feita por uma conta que seria de um médico norte-americano publicada no grupo Médicos Pela Vida no Telegram. As imagens postadas falam de partículas presentes na vacina da Pfizer e termina afirmando que podem ser “contaminantes”. Nos comentários, os leitores do grupo de Telegram se perguntam se as imagens comprovariam teorias segundo as quais as vacinas têm como objetivo acabar com a humanidade.

Um grupo do Telegram voltado a pessoas contrárias à vacinação republicou uma sequência de tuítes feita por um suposto médico norte-americano.

A publicação enganosa diz que há micropartículas contaminantes dentro de imunizante desenvolvido pela Pfizer contra a covid-19 e gerou especulações de internautas sobre as vacinas serem criadas para prejudicar a humanidade.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Pfizer e um cientista consultado pela reportagem apontam que as informações checadas não procedem, uma vez que as vacinas passam por três etapas de testagem, que avaliam a pureza, a eficácia e a segurança delas. O órgão de vigilância sanitária afirmou ainda que, na análise do imunizante, não constatou nenhum resíduo com potencial de impacto tóxico ou genético.

O Comprova tentou contatar o autor da postagem, mas as redes sociais do suposto médico John B. não permitem o envio de mensagens. A reportagem também não localizou qualquer indício de que o perfil seja, de fato, de um especialista norte-americano e a origem real das amostras que são apresentadas como sendo da vacina da Pfizer.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro, de modo que seu significado sofra alterações.

Como verificamos?

Foram realizadas buscas na internet para conseguir mais informações sobre quem é o suposto médico norte-americano John B. O primeiro resultado que aparece redireciona a busca para o Twitter do perfil que compartilhou as informações com críticas à composição da vacina desenvolvida pela Pfizer.

Com a falta de resultados capazes de mostrar a formação e mais detalhes sobre a carreira e pesquisa de John B., a reportagem realizou uma busca reversa da imagem do perfil no Twitter para localizar outras redes sociais do suposto médico, mas também não encontrou registros além da conta do Twitter e do Telegram — que também não traz detalhes.

Pela falta de registros, a reportagem suspeitou que o perfil pudesse ser falso. Utilizamos duas ferramentas de checagem para nos aproximarmos de respostas sobre quem estaria por trás do gerenciamento da conta: o Pegabot e o Botometer. Ambos foram desenvolvidos para identificar contas automatizadas no Twitter, também conhecidas como ‘bots’, ou ‘robôs’.

As plataformas indicaram que há mais de 51% de chance do Twitter ser gerido por um terceiro, que não seria médico, tampouco cientista.

O Comprova tentou contactar o suposto médico via Twitter, mas o perfil de Dr. John B. recusa automaticamente o recebimento de mensagens.

Junto à Pfizer, o Comprova quis saber se as imagens analisadas em microscópio eram verdadeiras. Também contactamos a Anvisa para identificar se havia algum registro de denúncia ou pesquisa capaz de colocar em dúvida a pureza do imunizante ComiRNAty — nome que a Pfizer deu à vacina contra a covid-19.

Também consultamos o site da OMS (Organização Mundial da Saúde) para levantar informações oficiais sobre os processos de aprovação e produção de vacinas, além de consultar o virologista e professor da UnB (Universidade de Brasília) Bergmann Ribeiro para conferir a veracidade das imagens.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 15 de outubro de 2021.

Verificação

Quem é o John B.?

A reportagem buscou informações sobre quem é o doutor John B. na internet. O primeiro resultado que aparece redireciona a busca para o Twitter do perfil que compartilhou as informações sobre supostas micropartículas contaminantes presentes na vacina da Pfizer.

Por meio de uma busca reversa da imagem do perfil de John B., o Comprova tentou localizar outras redes sociais do suposto médico, mas também não encontrou registros além da conta do Twitter.

O nome, muito comum nos Estados Unidos, indica para o perfil de diversos médicos, mas nenhum parecido com o que aparece na foto do Twitter.

A reportagem suspeitou que o perfil fosse falso, considerando que a mesma foto parece ter sido retirada de um banco de imagens. Esses bancos produzem fotografias produzidas, com cenários genéricos, que podem ser utilizadas para ilustrar conteúdos diversos. O padrão de imagens presente nesses sites se aproxima da foto utilizada no perfil de John B.

Outro elemento suspeito é o número expressivo de seguidores — mais de 31 mil até 6 de outubro de 2021 — em apenas quatro meses de criação do perfil, que, segundo o Twitter, foi criado em junho de 2021.

Então, a reportagem partiu para uma segunda análise na tentativa de descobrir quem são alguns dos seguidores do doutor John B.. De forma aleatória, entrou em alguns dos perfis e descobriu que, coincidentemente, também eram contas recentes e com conteúdos contrários à vacina.

Checagem do perfil

Para verificar se o perfil era ou não falso, utilizamos duas ferramentas de checagem: o Pegabot e o Botometer. Ambos foram desenvolvidos para identificar contas automatizadas no Twitter, também conhecidas como “bots”, ou robôs.

Segundo o Pegabot, há 51% de chances de o perfil de John B. ser gerido por alguém que se passa por um médico capaz de analisar imunizantes em nível microscópico. Pelas métricas apresentadas pela plataforma, há grandes chances de o perfil ser fake — falso, em português. O termo é usado para denominar contas ou perfis usados na Internet com o intuito de ocultar a identidade real de um usuário.

A métrica do Botometer calcula as chances de perfis serem verdadeiros ou falsos em uma escala de 0 a 5, sendo 5 a maior chance de ser falso e 0 a menor probabilidade. Ao checarmos o perfil do suposto médico, a plataforma apontou uma nota de 4.2. De acordo com a base de dados do Botometer, apenas 17% das contas com uma pontuação similar eram gerenciadas por humanos, enquanto outros 83% eram, de fato, perfis automatizados.

O Comprova tentou contactar o suposto médico via Twitter, mas o perfil de Dr. John B. recusa automaticamente o recebimento de mensagens.

Uma segunda busca foi feita pela reportagem via Telegram, no entanto, o grupo em que a mensagem verificada aqui circulou não redireciona o contato para o criador do conteúdo. Também procuramos o perfil dele no Instagram, mas não encontramos.

Por esse motivo, a reportagem não conseguiu acioná-lo para questionar o levantamento que ele diz ter realizado sobre a composição da vacina da Pfizer.

O que dizem a Anvisa e a Pfizer

O Comprova quis saber, então, se as supostas imagens da análise microscópica do imunizante da Pfizer eram verdadeiras. A empresa diz desconhecer a análise em questão e reafirma “que seu processo de fabricação respeita regras rigorosas de vigilância sanitária, para garantir a pureza e a segurança do imunizante”.

A Pfizer esclarece que todas as etapas de fabricação do imunizante, “incluindo análise de qualidade do produto, são minuciosamente avaliadas pelas agências regulatórias em todo mundo por ocasião de aprovação de uso e seguem processos contínuos de inspeção e análise por esses órgãos de acordo com a legislação vigente. A Pfizer dedica seus maiores esforços na vigilância da qualidade, segurança e eficácia dos insumos e produtos que fabrica e comercializa, disponibilizando seus produtos de forma segura e responsável ao mercado, em conformidade com as mais rigorosas normas de qualidade e segurança.”

E, por fim, a farmacêutica compartilhou o link da bula da vacina destacando que todas as informações, inclusive a sua composição, estão disponíveis ao público.

Nossa equipe também questionou a Anvisa se havia denúncia ou pesquisa que colocassem em dúvida a pureza do imunizante ComiRNAty. Por e-mail, a autarquia informou que os estudos de biodistribuição avaliados durante o registro do produto “não indicaram qualquer resíduo com potencial de impacto tóxico ou genético para as células do corpo humano”.

Segundo a agência, um ponto central na análise de todas as vacinas em uso no Brasil são os critérios de pureza e esterilidade nos ambientes de produção dos imunizantes. “A Anvisa mantém as indicações aprovadas para a vacina e não há dados que indiquem alteração no perfil de benefício-risco.”

Produção e aprovação de vacinas pela OMS

A aprovação de uma vacina pelo órgão conta com três fases de ensaios clínicos. Além disso, os imunizantes são avaliados para que sua segurança e eficácia sejam comprovados.

Essa aprovação regulatória precede o envio do imunizante pelos fabricantes à OMS. Com a entrega desse material ao órgão de saúde, um novo processo de avaliação é feito com ajuda da ONU (Organização das Nações Unidas) e de outras entidades internacionais para garantir a qualidade da vacina.

No site da OMS, a entidade explica que o controle de qualidade monitora de forma constante as vacinas e estabelece a gravidade de qualquer efeito colateral adverso e resposta das pessoas imunizadas.

Não existe um tempo mínimo determinado para o desenvolvimento de vacinas e a duração desse processo depende de uma série de variáveis, que incluem o processo, do teste pré-clínico à fabricação. Em casos de maior impacto para a saúde global, como o que ocorreu durante a pandemia em 2020, um procedimento legal permite que vacinas sejam aprovadas para uso emergencial, respeitando critérios de segurança e eficácia. A agilidade que acelerou o processo de fabricação das vacinas ocorreu porque entidades públicas e privadas uniram recursos financeiros e tecnológicos para combater a covid-19.

A organização afirma, ainda, que os estudos são realizados de forma frequente para determinar por quanto tempo a imunização será estabelecida pela vacina.

Bergmann Ribeiro, virologista e professor da Universidade de Brasília (UnB) classificou a divulgação das imagens como “absurdas” porque não dá para saber como foram feitas e se realmente usaram um frasco da vacina da Pfizer.

Segundo ele, qualquer remédio, antes de ser aprovado para uso, passa por testes rigorosos de qualidade e as agências de controle só aprovam após analisar e constatar que o conteúdo do frasco é o mesmo descrito na bula.

O especialista explica que o imunizante da Pfizer é composto por ácido nucleico (informação genética do coronavírus para produzir uma proteína chamada espícula), lipídios (que formam uma proteção para quando RNA-mensageiro for injetado nas pessoas), colesterol, fosfolipídio, sacarose, cloreto de sódio, cloreto de potássio, fosfato de sódio, por exemplo.

“Como se vê, são vários sais e, se eles forem ressecados, produzem cristais de diferentes tamanhos. Essas moléculas, num processo de precipitação, podem formar um cristalzinho. Nem por isso significa que o cristal é impureza. É um absurdo espalhar esse tipo de informação”, alerta Bergmann Ribeiro.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O conteúdo verificado aqui teve mais de 37 mil visualizações no Telegram, com 149 comentários que, em sua maioria, falam sobre teorias conspiratórias a respeito de um “great reset” — grande reinicialização, em português — envolvendo a vacina contra a covid-19, o que não procede.

O impacto gerado por esse conteúdo enganoso é observado a partir desses comentários. Um deles é a desinformação e o outro é a aversão aos imunizantes, ainda que sejam comprovadamente seguros e eficazes em salvar vidas ao redor do mundo.

Além disso, o Comprova decidiu investigar o material por conta da fonte de difusão desses dados, que seria um suposto médico norte-americano. A reportagem tentou localizá-lo, mas não há indícios de que realmente seja um médico por trás do gerenciamento da conta que difundiu as informações.

Outras checagens verificaram conteúdos semelhantes, como a agência Aos Fatos, que desmentiu um estudo japonês que havia “encontrado’ nanopartículas de mRNA em pessoas vacinadas com a Pfizer. A BBC também produziu uma matéria que traz esclarecimentos sobre os boatos de DNA alterado, microchips e supostos efeitos colaterais das vacinas.

Enganoso para o Comprova é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações. Também se encaixa nessa categoria a publicação que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.