O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2022-02-16

Vacinas não criaram novas cepas ou mais casos de covid em Israel, como sugere postagem no Telegram

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa uma postagem no Telegram que sugere interpretações sobre o efeito da aplicação da terceira e quarta doses da vacina contra a covid-19 em Israel. A postagem reproduz um gráfico sobre internações no país e, com a inserção de marcações e texto, sugere que as doses extras foram ineficazes contra as novas variantes do coronavírus, ou ainda que a vacinação teria contribuído para o surgimento e avanço das cepas. Dados do governo e da imprensa local mostram que as vacinas foram aprovadas para conter o aumento de contágio e internações diante das variantes delta e ômicron, que já estavam em circulação, e que a maioria dos casos graves verificados são de pessoas não vacinadas.
  • Conteúdo verificado: Uma postagem no canal do Telegram do grupo “Médicos pela Vida” insere marcações e texto em gráfico de internações semanais por covid-19 em Israel, para apontar que as datas de início da vacinação da terceira e da quarta dose no país precedem o crescimento de hospitalizações. O texto que acompanha o gráfico sugere que a vacina seria a causadora desse aumento ou ineficaz diante das variantes do coronavírus.

Uma montagem divulgada no canal do Telegram do grupo “Médicos Pela Vida” faz intervenções no gráfico de novas internações por covid-19 em Israel, abrindo margem às seguintes interpretações: que a terceira e quarta doses foram a causa ou teriam contribuído para o avanço de novas variantes do coronavírus, ou que elas teriam sido ineficazes diante do aumento de contágio provocado pelas cepas.

Conforme demonstram as informações oficiais do governo de Israel, ambas leituras são incorretas. A vacinação não causou o surgimento das variantes: as cepas delta e ômicron já estavam em circulação no país quando a aplicação das doses de reforço foi aprovada, justamente para conter o aumento de casos da doença.

Apesar do crescimento no número de hospitalizações, o reforço ofereceu uma proteção importante. Os dados demonstram que a maioria dos internados na segunda onda da ômicron não estavam vacinados. Além disso, comparando as datas de aprovação das doses com as curvas do gráfico original utilizado na postagem, é possível notar que o efeito seguinte é o de queda nas internações.

As explicações de virologistas e epidemiologistas, dadas ao Comprova, também contribuíram para descartar a veracidade das interpretações sugeridas pela postagem.

O Comprova classificou como enganosa a publicação por distorcer dados com o objetivo de induzir o leitor a um erro de interpretação com relação às vacinas e a sua eficácia.

O grupo de Telegram que publicou a mensagem não disponibiliza outros meios de contato além do próprio chat, assim como os administradores não são identificados. O Comprova tentou entrar em contato pelo Telegram e até o momento não teve nenhuma resposta.

Como verificamos?

Por meio de uma busca pelas palavras-chaves indicadas na montagem, foi possível constatar que o gráfico utilizado como base é o do Our World in Data, plataforma mantida por pesquisadores da Universidade de Oxford e que coleta dados globais da pandemia.

Uma pesquisa nas publicações no site do Ministério da Saúde de Israel e em reportagens locais e internacionais trouxe as datas de início da terceira e quarta doses no país, e o contexto em que foram aprovadas: quando as variantes delta e ômicron já estavam em circulação e as curvas de infecção e internações, ascendentes.

O Comprova encaminhou e-mails para diferentes endereços encontrados no site do governo de Israel, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

A equipe também fez contato com o virologista Amilcar Tanuri, chefe do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e com o médico sanitarista Gonzalo Vecina, ex-diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para que explicassem o comportamento do vírus e da vacina no organismo.

A reportagem também buscou os autores da postagem, sem sucesso. O Comprova contatou um grupo de nome semelhante, mas este esclareceu não ser o autor da postagem.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 16 de fevereiro de 2021.

Verificação

O gráfico oficial e as inserções

O gráfico original do site Our World in Data mostra o número de internações semanais em leitos de UTI por covid-19 em Israel, por milhão de pessoas, com curvas ascendentes por volta de agosto de 2021 e fevereiro de 2022. A visualização dos dados não traz qualquer menção à vacinação. Somente no conteúdo replicado no Telegram são inseridas, na imagem, as setas com as inscrições “3ª dose” e “4ª dose”, pouco antes de as curvas crescerem.

Essas inscrições dão a entender que a aplicação das terceiras e quartas doses da vacina foram a causa ou teriam contribuído para o avanço de novas variantes do coronavírus, ou que elas seriam ineficazes diante do aparecimento das mutações do vírus. As interpretações são sugeridas pelo seguinte texto que acompanha o gráfico:

“Uma imagem vale mais que mil palavras! Talvez desenhando fique mais fácil de entender a relação de eficácia das diversas doses de vacinas x avanço das novas cepas… Dados de Israel, um dos países que mais vacinaram sua população em todo o mundo.”

No entanto, as interpretações não encontram respaldo nos dados oficiais disponíveis no site do governo de Israel, nas informações consultadas na imprensa local e internacional e nas avaliações dos pesquisadores ouvidos nesta verificação.

Vacinas para conter variantes

Segundo conteúdo disponível na página de notícias do Ministério da Saúde de Israel, a terceira e a quarta doses da vacina contra a covid-19 foram aprovadas para conter as ondas de contaminação, já em curso, provocadas pelas variantes delta e ômicron.

Nesta notícia, de 5 de agosto de 2021, o Ministério da Saúde de Israel recomenda a vacinação de adolescentes diante da prevalência e alta transmissibilidade da delta, que foi identificada no país em abril. A terceira dose foi aprovada em 30 de julho (pessoas acima de 60 anos), 13 de agosto (50 anos ou mais), 24 de agosto (acima de 30 anos) e 29 de agosto (acima de 12 anos). Ou seja, quando a variante delta já estava em circulação. Ao observar essas datas no gráfico, é possível perceber queda na curva de internações na sequência.

O mesmo se dá em relação à onda de contaminação da ômicron. Segundo o gráfico abaixo, extraído do site do Ministério da Saúde de Israel (boletim de 10 de janeiro, pág. 3), a predominância da variante tem início no país em meados de dezembro de 2021, com a indicação próxima do dia 18. As quartas doses em Israel foram aprovadas em 2 de janeiro (pessoas com 60 anos ou mais) e em 26 de janeiro (acima de 18 anos). Portanto, após a prevalência da ômicron.

Ainda no site do Ministério da Saúde de Israel, na página de informações sobre as vacinas, consta que a quarta dose foi aprovada diante da onda de contaminação provocada pela variante ômicron, como destacado abaixo:

| Tradução do texto marcado em azul: Diante da atual onda de infecção provocada pela variante Omicron, a quarta dose para públicos adicionais foi aprovada

Mais uma vez, ao se observar a segunda curva de aumento de internações do gráfico, é possível constatar a queda de internações após as datas de aprovação da quarta dose.

Outro dado que afasta as interpretações sugeridas pela postagem são os estudos de efetividade divulgados pelo Ministério da Saúde de Israel.

Sobre a terceira dose, pesquisadores da pasta e de universidades locais apontaram defesa imunológica 10 vezes maior contra infecção e forma grave da covid-19 após a terceira dose (de reforço) da Pfizer do que em pessoas que foram vacinadas com duas doses há cinco meses ou mais.

“Especialistas de todo o mundo estão tentando descobrir se o motivo da recorrência da doença se deve a alterações no vírus e, principalmente, à entrada da cepa Delta, erosão na eficácia das vacinas ou uma combinação dos dois”, diz trecho da notícia.

Nesta outra publicação, de 25 de janeiro, o Ministério da Saúde de Israel recomenda a quarta dose para pessoas entre 18 e 60 anos. A decisão foi tomada com base em estudo que aponta de três a cinco vezes mais proteção contra formas graves da doença após a quarta dose e duas vezes mais proteção para quem tomou a terceira dose.

Não vacinados são maioria dos internados

O gráfico acima, do governo de Israel, mostra aumento de internações em período que coincide com a segunda curva ascendente do gráfico do Our World in Data, reproduzido, com inserções, na postagem do Telegram ora verificada. A imagem do boletim do governo de Israel traz uma informação adicional: a grande maioria dos hospitalizados são de pessoas não vacinadas.

A informação foi repercutida pela mídia local. Em 8 de fevereiro, o site The Times of Israel publicou reportagem em que o ministro da Saúde de Israel culpa os não vacinados pela alta pressão no sistema hospitalar do país.

A reportagem informa que, de acordo com estatísticas do Ministério da Saúde, as pessoas acima de 60 anos não vacinadas com dose de reforço têm 12 vezes mais chances de adquirir uma forma grave da covid-19 do que as imunizadas na mesma faixa etária.

Dois dias antes, o mesmo veículo de Israel publicou matéria reforçando a informação: em 6 de fevereiro, havia, entre pessoas com 60 anos ou mais, 415,6 casos graves por 100 mil habitantes entre não vacinados, contra 35,9 entre os vacinados.

Israel tem 9,217 milhões de habitantes. As vacinas aprovadas no país são Pfizer, Moderna e Astrazeneca. Foram vacinadas 4.457.409 pessoas com a terceira dose e 704.017 com a quarta, até 16 de fevereiro. Os dados constam em painel do governo de Israel, reproduzido abaixo, com destaque para o quadro ‘Vacinados’ (tradução do hebraico), e o detalhamento por número de doses.

O que dizem os especialistas

Os especialistas procurados pelo Comprova são categóricos ao afirmar que as vacinas não causam ou favorecem o surgimento de novas variantes. Pelo contrário, as doses fortalecem a imunidade contra o coronavírus.

“A vacina dá uma proteção para as pessoas. Ela diminui a carga viral, faz com que a contaminação não seja tão grave e não leve as pessoas à morte. Essa é a coisa mais importante da vacina”, explica Gonzalo Vecina, médico sanitarista e ex-diretor presidente da Anvisa.

O virologista e professor da UFRJ, Amilcar Tanuri, pondera ainda que a eficiência da vacina é maior do que a proteção causada pela contaminação natural. “A vacina cria o que chamamos de célula de memória e elas são melhores no combate às mutações do que os anticorpos criados pela infecção natural”.

Com o início da aplicação da terceira dose da vacina contra o coronavírus para a população em geral a partir do dia 30 de agosto, Israel viu os novos casos de infecções caírem no dia 13 de setembro.

Os dois profissionais, especialistas em vírus e suas propriedades e em contaminações em grande escala, explicam que a natureza do organismo do vírus é se modificar para sobreviver, e as vacinas dificultam essas modificações e não as estimulam.

“As mutações ocorrem de forma natural. As moléculas do vírus estão sempre em mutação, independente de vacina ou mesmo de infecção. O vírus está sempre mudando”, diz o professor Tanuri.

Para Gonzalo Vecina, professor da Universidade de São Paulo (USP), os dados do gráfico mostram impacto positivo das vacinas no controle do coronavírus, justamente devido à queda das curvas após a aprovação das doses extras em Israel:

“A vacina então faz esse combate ao vírus de maneira mais inteligente. Ela protege o corpo inclusive de algumas mutações dependendo de como ela ocorre. Diminui a carga viral e faz os efeitos serem menos agressivos ou danosos”.

Por que investigamos?

O Comprova verifica informações suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais ou aplicativos de mensagem sobre políticas públicas do governo federal, eleições presidenciais e a pandemia da covid-19. A publicação checada teve mais de 54 mil interações depois de compartilhada em um canal do Telegram com 110 mil inscritos.

Outras checagens feitas pelo Comprova já mostraram que a vacina não gera câncer, HPV ou HIV, que a segurança que a vacina traz supera os riscos de miocardite e que estudos foram distorcidos na tentativa de sugerir a ineficiência dos imunizantes. A Agência Lupa também fez uma checagem mostrando que a mortalidade por covid não aumentou depois da vacinação em Israel.

Para o Comprova, enganoso é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2022-02-15

Cena de reportagem em que homem finge estar morto é de ato pelo meio ambiente

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa postagem no Facebook que usa o vídeo de uma reportagem sobre um protesto de ativistas pelo clima para dizer que a mídia está “corrompida”. No ato, os manifestantes simularam a morte de pessoas que são afetadas pela falta de medidas para reduzir as emissões de CO2,. Deitados ao chão, como cadáveres, um deles levanta e é impedido por outra pessoa. Não há relação com vítimas da covid-19 ou com qualquer iniciativa do próprio repórter ou jornal.
  • Conteúdo verificado: Um vídeo publicado em um grupo do Facebook mostra o trecho de uma reportagem com imagens de pessoas deitadas no chão sob sacos plásticos, como cadáveres. Um dos “defuntos” começa a se levantar, mas é impedido por outra pessoa. Na legenda, o post afirma que a mídia está “corrompida”, sugerindo que o jornal teria montado a cena para noticiar mortes que não aconteceram.

É enganoso um post no Facebook que usa o trecho de uma reportagem para afirmar que a mídia está “corrompida”. O vídeo exibe imagens de um grupo de pessoas deitadas no chão sob sacos plásticos, como se fossem cadáveres. Um dos “defuntos” tenta se levantar, mas é impedido por outra pessoa. O post sugere que o jornal teria montado a cena para noticiar mortes que não ocorreram, passando a ideia de que se trata de algo que ocorreu durante a pandemia. Na verdade, trata-se da cobertura de um protesto de rua organizado por ativistas do clima — não houve mortes nem qualquer tentativa de enganar a respeito disso por parte da mídia.

A cobertura foi feita pelo repórter Marvin Bergauer, do jornal austríaco OE24 e foi exibida no dia 4 de fevereiro de 2022. O ato foi organizado pelo grupo Fridays For Future e ocorreu em frente ao escritório do chanceler austríaco, Karl Nehammer. A ideia era fazer alusão ao número de pessoas que diariamente morrem vítimas de emissão de CO2 e cobrar a aprovação de uma política de proteção climática no país.

Além das 49 pessoas deitadas, outras também estavam vestidas de “morte”, com foices na mão e cartazes. Em um dos cartazes exibidos, havia a frase: “Klimaschutzgesetz rettet leben” (“Lei de proteção climática salva vidas”, em tradução livre).

A postagem feita no Facebook distorce as informações e dá a entender que os jornalistas teriam fabricado a cena. “Falhou! Um defunto ressuscitou antes de terminar a reportagem. A mídia está corrompida no mundo todo”, diz a publicação. O repórter Marvin Bergauer, autor da matéria compartilhada na publicação, rebateu as acusações, em nota publicada no seu perfil do Facebook, e explicou que estava de fato cobrindo um protesto.

A autora do post original deletou a publicação após ser questionada pela equipe do Projeto Comprova.

O conteúdo foi classificado como enganoso, pois foi retirado do contexto original e teve seu significado original alterado, o que induziu a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Como verificamos?

Começamos a nossa verificação buscando no Google a origem do vídeo. Ao observar a imagem, conseguimos identificar o nome do repórter Marvin Bergauer e chegamos ao site austríaco Österreich. Em uma pesquisa mais detalhada pelo portal, encontramos a reportagem com o título: “Schock-Protest: 49 Aktivisten im Leichensack” (“Protesto de choque: 49 ativistas em sacos para corpos”).

Utilizamos o Google Tradutor para entender o conteúdo da reportagem. Trata-se de um protesto pela falta de uma política para redução de emissões de CO2 na atmosfera na Áustria.

Realizamos uma busca no Facebook para tentar contato com o repórter Marvin Bergauer. Depois disso, conseguimos localizar o autor original do vídeo no TikTok, através de postagem feita pelo repórter, que se pronunciou sobre o caso. O vídeo reúne mais de 1,7 milhão de visualizações na rede até 14 de fevereiro. Ele não relaciona o conteúdo a mortes pela covid-19 e apenas ironiza a falha da organização.

Também procuramos mais imagens desse mesmo dia e encontramos publicações na página do Facebook da Fridays for Future de Vienna.

Verificação

O grupo em que a publicação foi feita é usado para fazer propagandas de ações do governo federal e do presidente Jair Bolsonaro. Nele, há postagens contra a vacina da covid-19, que é uma medida comprovadamente eficaz para reduzir mortes e casos graves da doença.

Após as tentativas de contato com a autora original, a publicação no grupo foi deletada e não houve retorno de respostas.

A manifestação que de fato ocorreu e foi organizada pela Fridays For Future menciona um estudo publicado na Revista Nature. De acordo com a pesquisa, para cada 4.434 toneladas de emissões de dióxido de carbono, uma pessoa morrerá como resultado da crise climática neste século na Áustria.

Eles cobram que uma política climática seja estabelecida no país, porque a última venceu no final de 2020. Um dos representantes, Michael Spiekermann, também fez publicação em seu perfil no Instagram, explicando as motivações do ato. “Cada melhoria na lei de proteção climática reduz nossas emissões e salva milhares de vidas”, disse.

O repórter

O repórter Marvin Bergauer se pronunciou através das redes sociais e explicou que havia sido procurado por pessoas do Brasil, Canadá, Polônia, Rússia e Espanha, entre outros países, após a sua reportagem ter sido tirada do contexto. Ele criticou o uso do conteúdo para desacreditar a imprensa e acusá-la de manipular as informações sobre mortes causadas pela covid-19. Segundo ele, os termos mais usados foram “manipulador” e “mentiroso”.

Por fim, ele escreveu: “Por favor, não acreditem em tudo que lêem nas redes sociais […] Repostar tudo cegamente sem sequer questionar o que poderia realmente ser, só leva a mais teorias da conspiração, insultos desnecessários e uma distorção da realidade”.

Marvin foi procurado pela equipe do Projeto Comprova, mas não retornou as mensagens.

Sobre Fridays for Future

A Fridays for Future é uma organização não governamental formada por jovens e estudantes da Áustria que realizam manifestações para cobrar que políticos cumpram o acordo climático de Paris, compromisso firmado entre 200 países para conter a elevação das temperaturas globais a 1,5°C em relação à média pré-industrial.

Para isso, a ONG se divide em diversas regiões do país e realiza atos de forma individualizada, mas também em conjunto. A organização não tem filiação com partidos políticos e aceita o ingresso de qualquer pessoa que se interessar.

O grupo foi inspirado pela adolescente e ativista Greta Thunberg, que ficou conhecida por fazer protestos todas as sextas-feiras em frente ao parlamento sueco. Além dos atos de rua, eles também fazem oficinas e workshops em escolas, empresas e organizações. Um dos princípios para os protestos é que sejam pacíficos, sem ações que envolvam qualquer violência.

Por que investigamos?

O Comprova verifica informações suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais ou aplicativos de mensagens sobre políticas públicas do governo federal, eleições presidenciais e a pandemia da covid-19. O conteúdo verificado teve mais de 2.500 interações no Facebook e mais de 1,6 milhão de visualizações no Tik Tok.

O grande número de mortes por covid-19 já foi evidenciado por órgãos sanitários, governos e jornais diversas vezes. De acordo com dados do Ministério da Saúde, já foram registrados 637.152 óbitos desde o início da pandemia.

O Projeto Comprova já mostrou em outros momentos que a pandemia de fato causou muitas mortes no país. Em agosto de 2020 um post distorceu dados para negar o número de óbitos. Depois, o Projeto Comprova também mostrou que a média de mortes em 2020 foi maior do que em 2019, em decorrência da pandemia.

Além disso, essa verificação também foi feita pelo Fato ou Fake, que conversou com o repórter autor da matéria distorcida.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2022-02-15

Artigo que condena lockdowns não é da Universidade Johns Hopkins

  • Enganoso
Enganoso
São enganosos posts no Facebook que afirmam que a Universidade Johns Hopkins realizou um estudo que demonstra a efetividade baixa do lockdown como medida de prevenção contra a disseminação da covid-19. Um dos três autores da pesquisa é professor da universidade, mas a instituição não deu aval para nenhum estudo. O trabalho citado na postagem não passou por etapas técnicas recomendadas, nem foi submetido a avaliações de outros pesquisadores.
  • Conteúdo verificado: Postagens no Facebook afirmam que a Universidade Johns Hopkins realizou um estudo que concluiu que lockdowns tiveram pouca efetividade na contenção da covid-19.

Postagens nas páginas do Facebook do site Brasil Sem Medo e do deputado federal Filipe Barros (PSL-PR) afirmam erroneamente que um estudo da Universidade Johns Hopkins teria comprovado que o lockdown teve baixa efetividade como medida de contenção da covid-19. Embora um dos três autores da pesquisa seja professor da universidade, a instituição não contribuiu para o estudo.

O artigo citado não passou pelos protocolos básicos para ser definido como um estudo acadêmico científico, como a submissão aos comentários e observações de colegas da área.

Procurado pelo Comprova, o deputado federal disse que ele e sua equipe apenas publicaram uma matéria de uma revista. Já a página Brasil Sem Medo não respondeu aos nossos questionamentos por e-mail até a publicação desta verificação.

O Comprova classificou a postagem como enganosa por atribuir de forma incorreta dados sem comprovação a uma instituição renomada, com a intenção de distorcer a realidade e levar o leitor a uma conclusão equivocada.

Como verificamos?

O primeiro passo da checagem feita pelo Comprova foi atestar se o estudo citado realmente existia, por meio de uma busca por palavras-chaves na internet. Depois de encontrado, verificamos quais eram as relações dos autores com a universidade citada e qual era o conteúdo do artigo. Também foram pesquisadas as qualificações acadêmicas e profissionais dos autores, assim como as suas publicações em redes sociais e entrevistas anteriores ao trabalho divulgado.

O Comprova buscou a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), especialistas em pesquisas científicas, para analisar a maneira como o estudo foi produzido e também dados oficiais sobre os resultados de medidas sanitárias divulgados.

Verificação

Universidade não fez estudo sobre lockdown

O primeiro ponto que chama a atenção é o fato de a postagem atribuir o estudo à Universidade Johns Hopkins, que faz uma contagem dos casos e mortes por covid-19 no mundo todo. O próprio estudo e a universidade, contatada por e-mail, afirmam que o material divulgado não tem relação com a instituição.

“As opiniões expressas neste documento são dos autores e não necessariamente das instituições às quais os autores são filiados”, diz a abertura do artigo. Dos três autores, apenas um, Steve Hanke, tem relação com a universidade como professor de economia. Os outros dois, Jonas Herby e Lars Jonung, também economistas, são membros de instituições na Suécia e Dinamarca sem relação com a universidade Johns Hopkins.

O fato de um autor trabalhar para uma instituição de ensino não garante que esta apoie todo e qualquer material que ele venha a produzir, como explica o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Renato Janine Ribeiro. “Para você dizer que é um estudo de uma determinada universidade você tem que ter o aval dessa universidade. Não basta apenas ter alguma relação com essa universidade.”, afirma o professor.

Material publicado tem falhas técnicas e distorções

Além de pouca ou nenhuma experiência na área de saúde, os três professores de economia autores do documento em que se baseia a postagem checada não cumpriram os passos técnicos para que o trabalho fosse considerado como um estudo científico, podendo ser descrito como um artigo apenas.

“Você faz um estudo, ele é proposto a alguma revista ou algum periódico, depois ele é avaliado, eventualmente surgem críticas, pedem para o autor refazer ou analisar e responder as críticas e somente depois, no final disso, o estudo é publicado. E somente nessa altura você pode dizer que o estudo está terminado e que é efetivamente um estudo terminado e publicado”, como explica o professor Renato Janine.

Mesmo descrevendo o artigo como um “trabalho em andamento”, os autores foram criticados por pesquisadores cujos estudos serviram como base para a pesquisa. Proposto como uma meta-análise, ou revisão de literatura, onde o autor se propõe a condensar uma grande quantidade de dados e informações coletados por outros autores a fim de obter um dado definitivo, ou pelo menos fazer uma análise dos dados coletados em comparação aos demais estudos, o trabalho citado na postagem tem pouca amplitude e diversidade. Dos 34 estudos usados como base, 12 têm o mesmo status de “trabalho não finalizado”, 14 foram feitos também por economistas sobre um tema de saúde pública e sete usam a mesma base de dados. O principal artigo usado na pesquisa, na verdade, aponta benefícios para o lockdown.

Nas redes sociais, a autora desse estudo base principal disse que os três “já tinham a tese pronta” e que apenas colocaram dados e pesquisas para confirmar essa tese sem realmente ir a fundo nos trabalhos.

Outro problema apontado nas redes sociais por especialistas em análises de dados é a forma como os autores da pesquisa usaram tabelas e dados. Economista da Universidade de Munique, Andreas Backhaus escreveu que “deram peso desproporcional aos trabalhos com o resultado que eles queriam” distorcendo o número final, informação que o próprio autor reconhece nesse documento com respostas sobre questionamentos que ele publicou em suas redes.

A exclusão de dados sem um critério técnico claro também chamou a atenção do epidemiologista da Universidade de Wollogong, na Austrália, Gideon Meyerowitz. Ele trabalha com doenças crônicas em Sydney e ponderou que os autores “excluíram todos os trabalhos robustos conhecidos sobre lockdown, deixando apenas trabalhos obscuros”, o que também mostra uma disposição dos autores em usar números que chegassem a um resultado determinado antes da análise.

Medidas sanitárias foram efetivas contra a covid

Diferentemente do que sugere o artigo checado, diversas pesquisas apontam como bem sucedidas, se bem aplicadas, medidas de contenção ao coronavírus. Além do lockdown, o distanciamento social, o uso de máscaras e a higiene das mãos foram apontadas como medidas positivas no combate à disseminação da doença.

Um estudo de 2020 do Imperial College, de Londres, já apontava que cerca de 120 mil vidas haviam sido salvas com as medidas de restrição na Europa. No mesmo ano, a Organização Mundial da saúde também divulgou um estudo com os benefícios do lockdown em todo o mundo.

Já a revista Nature publicou um extenso material em que aponta que os lockdowns reduziram em média 80% das transmissões do vírus. Dois professores de matemática da Universidade de Barcelona estimaram uma queda no número de casos e de hospitalização como efeito das medidas restritivas, incluindo o lockdown. Produzido por especialistas de diversas áreas, este estudo calculou o impacto do lockdown dependendo da intensidade e da duração. Todas as publicações foram submetidas aos pares e somente depois de revisadas foram publicadas.

Em uma carta conjunta, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e a Associação Médica Brasileira (AMB) abordaram a efetividade das medidas restritivas impostas em outros países e a necessidade de se repetir no Brasil. Já o International Journal of Infectious Diseases, publicou um estudo mostrando a redução no números de casos graças ao uso de máscaras, ao distanciamento social e o lockdown.

Por que investigamos?

O Comprova faz a checagem de conteúdos suspeitos relacionados às políticas públicas do governo federal, pandemia e eleições que tenham viralizado nas redes sociais. O conteúdo verificado, que postava dados incorretos sobre a pandemia para tentar desacreditar as medidas sanitárias, tinha quase 15 mil interações nas duas publicações no Facebook em apenas três dias.

Em outras oportunidades, o Comprova mostrou como as medidas sanitárias foram efetivas no combate a proliferação do coronavírus, como ao mostrar que video usava informações falsas sobre lockdown, ou quando verificou vídeo divulgado que atribuiu falsamente suicídio ao lockdown. Também checamos informações sobre o distanciamento social e a efetividade das máscaras aqui, e também nesta e nesta checagem do Comprova sobre o uso e eficiência das máscaras.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2022-02-11

Postagem que cita aumento de doenças entre militares dos EUA após a vacinação usou dados incorretos

  • Falso
Falso
É falso um post no Twitter da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) que cita uma base de dados militar dos EUA para afirmar que houve um “aumento alarmante de doenças graves em decorrência da picadinha”, em alusão à vacina contra a covid-19. Os dados no sistema americano estavam incorretos entre setembro de 2021 e janeiro de 2022, devido a um erro no código de programação que foi posteriormente corrigido.
  • Conteúdo verificado: Um tuíte de uma deputada faz referência a um banco de dados militar dos EUA para afirmar que houve um “aumento alarmante” de doenças graves entre membros da Forças Armadas americanas após a vacinação obrigatória contra a covid-19. Acompanha o post uma imagem que reúne porcentagens do suposto aumento de diferentes problemas de saúde, como ataque cardíacos e abortos.

São falsas as alegações em um post no Twitter da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) que faz referência a um banco de dados militar dos EUA para afirmar que houve um “aumento alarmante” de doenças graves após a vacinação contra a covid-19, obrigatória para membros da Forças Armadas americanas. Acompanha o post uma imagem que reúne porcentagens do suposto aumento de diferentes problemas de saúde, como ataque cardíacos e abortos.

O tuíte traz um link a um blog americano de extrema-direita, conhecido por disseminar desinformação, de onde os dados foram obtidos. O texto no blog, por sua vez, menciona uma base de dados interna às Forças Armadas dos EUA, a Defense Medical Epidemiology Database (DMED). O site afirma que as informações sobre as doenças foram vazadas por um advogado que disse representar três “delatores” em um painel no Senado dos Estados Unidos chamado “Covid-19: a second opinion”, organizado pelo senador republicano Ron Johnson, em 24 de janeiro de 2022.

Para determinar que houve um “aumento alarmante” de doenças entre os militares após a vacinação, foram comparados dados dos primeiros 10 meses de 2021 com uma média dos casos registrados anualmente entre 2016 e 2020.

Os dados disponíveis na DMED, no entanto, estavam errados. Peter Graves, um porta-voz do órgão de vigilância sanitária das Forças Armadas dos EUA, afirmou ao site de checagem de fatos PolitiFact que as informações que constavam no sistema sobre os anos de 2016-2020 “representavam uma fração pequena dos diagnósticos médicos reais.” Os dados de 2021, entretanto, estavam corretos — o que causou a impressão de um salto na ocorrência de doenças. Ainda segundo a apuração do PolitFact, a base de dados foi tirada do ar para que fosse identificada a causa do erro.

Procurado pelo Comprova, Graves afirmou que um erro no código de programação da plataforma causou a distorção nos dados entre setembro de 2021 e janeiro de 2022. Devido ao erro, profissionais da saúde militares dos EUA que acessaram a plataforma nesse período viram “um aumento incorreto em uma variedade de diagnósticos”. Segundo o representante do órgão, a falha na programação já foi corrigida.

O Comprova entrou em contato com a deputada federal Bia Kicis, mas não obteve resposta até a publicação desta verificação.

O conteúdo foi classificado como falso, porque se apoia em dados incorretos, que já foram desmentidos, para causar incerteza quanto à segurança das vacinas contra a covid-19.

Atualização: Esta verificação foi atualizada em 14 de fevereiro de 2022 para incorporar informações enviadas pelo Defense Health Agency’s Armed Forces Surveillance Division e recebidas pelo Comprova após a publicação.

Como verificamos?

O tuíte da deputada Bia Kicis traz o link de um blog de extrema-direita, que, por sua vez, menciona os nomes da base de dados militar americana (a DMED) e do advogado que teria vazado as informações em um evento de discussão sobre a pandemia no Senado dos Estados Unidos.

Buscando no Google por termos como “DMED data covid”, encontramos a checagem do site PolitiFact sobre o caso. O Comprova entrou em contato com o órgão do governo americano responsável pela base de dados, o Health Military System, por meio de um endereço de e-mail disponível no seu site oficial. Não tivemos resposta até a publicação da verificação.

Fizemos contato então com a equipe do PolitiFact para perguntar por qual canal haviam se comunicado com o órgão. O repórter que assina a verificação, Jeff Cercone, nos disse que havia usado o mesmo e-mail listado no site e que, cerca de um dia depois, havia recebido uma resposta do porta-voz Peter Graves. Ele compartilhou com o Comprova o endereço de e-mail de Graves. 

Realizamos outras buscas no Google para encontrar mais informações sobre o advogado que vazou os dados da DMED, o painel no Senado do Estados Unidos do qual ele participou, a obrigatoriedade da vacinação de militares nos EUA, e o blog de extrema-direita que publicou os dados. A equipe do Senador Ron Johnson, que organizou a audiência, também foi procurada.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 11 de fevereiro de 2021.

Verificação

A falha no sistema

Segundo o site oficial do Health Military System, a DMED é uma plataforma que confere acesso remoto a um conjunto de dados pertencentes ao sistema Defense Medical Surveillance System (DMSS). Esse sistema reúne “dados atualizados e históricos sobre doenças e eventos médicos (ex: hospitalizações, visitas ao ambulatório, etc.)” de todos os membros ativos e de reserva das Forças Armadas dos EUA.

A DMED pode ser acessada apenas por usuários autorizados, como “profissionais médicos das Forças Armadas dos EUA, epidemiologistas, pesquisadores médicos, oficiais de segurança ou de operações médicas/apoio clínico à vigilância de condições sanitárias nas Forças Armadas dos EUA”.

Os dados da plataforma para os anos de 2016-2020 estavam incorretos, de acordo com o Defense Health Agency’s Armed Forces Surveillance Division, um órgão de vigilância sanitária das Forças Armadas dos EUA. “Os dados cobrindo os anos de 2016 a 2020 estavam corrompidos devido a um erro de programação quando acessados no período entre setembro de 2021 e janeiro de 2022” , afirmou Peter Graves, porta-voz da instituição, em e-mail enviado à equipe do Comprova no dia 14 de fevereiro.

“Quem acessou o sistema para examinar dados entre 2016 e 2021 viu um aumento incorreto em uma variedade de diagnósticos no Military Health System quando comparou os dados de 2021 com o dos cinco anos anteriores”, acrescentou Graves. Na checagem publicada pelo PolitFact, ele ainda informou que, durante o período em que houve o erro de programação, os dados de 2016 a 2020 representavam “apenas uma fração pequena” dos números reais. Os dados de 2021, no entanto, estavam alinhados às informações atualizadas do sistema DMSS — por isso parecia haver um salto na ocorrência de doenças após a vacinação. 

Origem dos números

Os dados foram mencionados pela primeira vez pelo advogado Thomas Renz, durante sua participação no painel “Covid-19: a second opinion” (“covid-19: uma segunda opinião”, em português), organizado pelo senador republicano Ron Johnson, em 24 de janeiro de 2022 no Senado dos Estados Unidos. De acordo com a descrição do vídeo de um trecho do evento postado no canal oficial do Youtube do Senador, o painel reuniu “um grupo de doutores e especialistas médicos” para “trazer uma perspectiva de resposta diferente à pandemia global de covid-19 em relação ao que se sabe sobre tratamento precoce e hospitalar, eficácia e segurança da vacina, o que deu certo, o que deu errado e o que deve ser feito a partir de agora visando o longo prazo”.

O painel teve mais de 5 horas e meia de duração e a íntegra da transmissão está disponível apenas no site Rumble. Popular entre grupos conservadores dos EUA, a plataforma tem se apresentado como uma concorrente ao YouTube com diretrizes mais flexíveis de regulação de conteúdo. Um levantamento do site Wired mostrou que o Rumble recomenda aos usuários vídeos com desinformação sobre a covid-19.

Durante sua fala, Renz se apresenta como representante de três “delatores” do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, que teriam tido acesso aos dados. No painel, Renz afirma que possui “dados substanciais” que comprovam o aumento no número de diagnósticos das doenças. Os números apresentados por ele na ocasião estão entre os citados nas notícias dos sites norte-americanos que repercutiram o fato.

No mesmo dia da realização do painel, notícias repercutindo os dados apresentados por Renz começaram a circular em sites conservadores dos Estados Unidos. Renz voltou a discutir os dados em 29 de janeiro, como convidado do podcast Bannon’s War Room. O programa é apresentado por Steve Bannon, ex-estrategista-chefe do ex-presidente dos EUA Donald Trump, também conhecido por disseminar desinformação sobre a covid-19.

Após a realização do painel “Covid-19: a second opinion”, o senador Ron Johnson divulgou em seu site que havia enviado uma carta ao Departamento de Defesa dos EUA pedindo esclarecimentos a respeito dos números que foram apresentados por Renz. Em 10 de fevereiro, o Comprova entrou em contato com a assessoria do congressista, que afirmou ainda não ter recebido uma resposta do Departamento de Defesa.

Quem é Thomas Renz

Thomas Renz se apresenta como advogado dos funcionários do Departamento de Defesa dos Estados Unidos que levantaram os dados da DMED. Durante a pandemia, ele esteve repetidamente envolvido em peças de desinformação e ações judiciais que contestam a eficácia e segurança das vacinas contra a covid-19.

Por exemplo, em outubro de 2021, Renz abriu um processo contra o Departamento de Saúde do governo americano em nome da organização America’s Frontline Doctors — conhecida por disseminar desinformação sobre a covid-19. A ação citava um “delator” que teria descoberto registros de mais de 45 mil pessoas que teriam morrido 14 dias após tomar o imunizante contra a covid-19. As alegações foram desmentidas por autoridades sanitárias em verificações de veículos como a Reuters e a USA Today.

Um perfil de Thomas Renz no jornal The Washington Post afirma que ele se tornou advogado poucos meses antes do início da pandemia, em novembro de 2019, após prestar o Bar Exam (equivalente ao exame da Ordem dos Advogados do Brasil) pela quinta vez no estado de Ohio. A reportagem destaca que ele passou a ter muita visibilidade durante a crise sanitária, ganhando seu próprio talk show e fazendo mais de 100 aparições em veículos de mídia conservadores dos EUA, até outubro de 2021. Renz também fundou uma ONG que tem coletado doações em prol da “luta pela liberdade médica”.

Sobre o blog de extrema-direita

O tuíte da deputada Bia Kicis apresenta um link para o blog americano The Conservative Treehouse, que é conhecido por disseminar desinformação e já foi classificado como pouco confiável por uma série de organizações dedicadas à checagem de fatos e transparência.

O site consta em um diretório de portais que publicam conteúdo enganoso, elaborado pela FactCheck.org. Segundo a AdFonts Media, o blog tem um viés de “direita hiper-partidária” e é “problemático” e “não confiável”. A NewsGuard deu nota 30 (de 100) à confiabilidade do Conservative Treehouse, alertando que o site “publica conteúdo falso de forma recorrente”, inclusive sobre a pandemia de covid-19.

O blog foi banido da plataforma de sites WordPress em novembro de 2020, por violar os Termos de Serviço. O próprio Conservative Treehouse afirma ter questionado o WordPress sobre quais regras foram violadas. Em resposta, a plataforma teria apontado para regras contra a incitação ao ódio e para o item 5 das diretrizes aos usuários, que detalha outros “conteúdos proibidos”.

Uma reportagem do site The Daily Beast descreve o Conservative Treehouse como o “paciente-zero” de uma série de teorias da conspiração que circulam na mídia de extrema-direita. O fundador do blog publica sob o pseudônimo Sundance, mas já foi identificado como Mark Bradman, um morador do estado da Flórida. Segundo o Daily Beast, Bradman teria ganhado notoriedade por volta de 2012, por sua defesa de George Zimmerman, homem que matou a tiros o jovem negro Trayvon Martin.

Quem é Bia Kicis

A deputada federal Bia Kicis é presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara e uma das principais aliadas do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Congresso Nacional, onde já ocupou o cargo de vice-líder do governo.

Kicis é conhecida por disseminar desinformação sobre a covid-19 pelas redes sociais. No início de fevereiro de 2021, o Instagram suspendeu, temporariamente, transmissões ao vivo na conta da deputada federal. A rede social afirmou que a medida foi tomada devido a “repetidas violações às diretrizes e comunidades do Instagram”.

Em janeiro de 2022, a parlamentar confessou ter vazado, em um grupo de WhatsApp, dados pessoais de médicos que defendem a imunização de crianças contra a covid-19 em uma audiência pública do Ministério da Saúde sobre o tema. Partidos de oposição solicitaram que a Procuradoria-Geral da República investigue a conduta.

A CPI da Covid conduzida pelo Senado imputou à parlamentar incitação ao crime por meio de divulgação de desinformação em suas redes sociais. O intuito seria incentivar a população a desrespeitar as medidas determinadas pelo poder público para conter a pandemia.

O Comprova já verificou outros conteúdos divulgados pela deputada. Foi classificado como enganoso um post no Facebook em que Kicis misturava dois conteúdos sem relação para mentir sobre a segurança das máscaras de proteção individual contra a covid-19.

Por que investigamos?

O Comprova verifica informações suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais ou aplicativos de mensagens sobre políticas públicas do governo federal, eleições presidenciais e a pandemia da covid-19. O conteúdo aqui verificado reuniu mais de 10 mil interações no Twitter até o dia 10 de fevereiro de 2022.

A eficácia e a segurança dos imunizantes já foram amplamente defendidas e comprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Ministério da Saúde. Além de prevenir quadros graves da doença, as vacinas reduzem as chances de contaminação e transmissão do vírus. Publicações que mentem sobre isso podem gerar confusão e hesitação quanto à importância da vacinação, colocando vidas em risco.

Recentemente, o Comprova mostrou que a maioria dos infectados pela variante ômicron do novo coronavírus não foram vacinados e desmentiu um conteúdo falso que afirmava que a vacinação causou “milhares de mortes” ao redor do mundo. Um material elaborado para a sessão “Comprova Explica”, também demonstrou porque as vacinas contra a covid-19 são consideradas seguras e seus benefícios superam eventuais riscos da imunização.

Para o Comprova, é falso o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Saúde

Investigado por: 2022-02-10

Leite materno não substitui vacinação de crianças contra a covid-19, ao contrário do que sugere ex-senador Magno Malta

  • Enganoso
Enganoso
O leite materno não substitui a proteção oferecida pelas vacinas. Estudo aponta que há possibilidade de crianças receberem anticorpos por meio da amamentação, mas o efeito é transitório. Também não há qualquer evidência de que crianças vacinadas contra a covid-19 possam desenvolver esterilidade no futuro porque receberam o imunizante.
  • Conteúdo verificado: Vídeo publicado pelo ex-senador Magno Malta (PL-ES) no Facebook em que ele parabeniza o governador da Bahia, Rui Costa (PT), por não ter vacinado suas filhas contra a covid-19. Malta afirma que o leite materno é como uma vacina para as crianças. Ele diz também que crianças não devem receber o imunizante e sugere que há possibilidade de as doses provocarem comorbidades e até impedir que meninas tenham filhos no futuro.

O leite materno não substitui a vacinação de crianças contra a covid-19 como quer fazer crer o ex-senador Magno Malta (PL-ES) em vídeo publicado em sua página no Facebook, no dia 1º de fevereiro. Ele também afirma que crianças não devem ser vacinadas contra a covid-19 e que o imunizante poderia provocar problemas de saúde no futuro e até levar à esterilidade.

Na gravação, Malta parabeniza o governador da Bahia, Rui Costa (PT), por ainda não ter vacinado suas filhas. O ex-senador afirma que é provável que seja “cancelado” por grupos conservadores por causa do vídeo com elogios a um político petista. Malta é aliado do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), que já afirmou que sua filha de 11 anos não será vacinada contra a covid-19.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e especialistas consultados pelo Comprova afirmaram que as vacinas contra a doença são seguras e que não há base científica para alegar que imunizantes podem gerar problemas de saúde no futuro, chegando até mesmo a levar à infertilidade. Ainda que o leite materno carregue anticorpos desenvolvidos pela lactante e seja fundamental para o recém-nascido, ele não garante a imunidade de crianças contra a covid-19 e, portanto, não substitui a vacinação.

Além disso, nos últimos dois anos, o número de mortes de crianças e adolescentes pelo novo coronavírus no Brasil superou a soma de óbitos do mesmo grupo por outras doenças do calendário vacinal (sarampo, coqueluche, meningite, gripe e febre amarela).

Procurado pelo Comprova, Magno Malta não respondeu ao pedido de informações. O Comprova tentou contato com Rui Costa, mas o governador apenas encaminhou o link para uma postagem no Twitter, em que ele afirma que suas filhas serão vacinadas, mas não diz quando.

Enganoso para o Comprova é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

A equipe começou a apuração buscando no Google por estudos e notícias relacionadas a vacinas contra a covid-19 e problemas de reprodução, usando as expressões “vacina covid-19”, “crianças”, “infertilidade”, “esterilidade”. As publicações encontradas desmentiam o vínculo entre imunização e este problema de saúde.

Em seguida, entramos em contato com a Anvisa e questionamos o órgão sobre a proteção oferecida pelo leite materno contra a covid-19. Perguntamos também se vacinas contra a covid-19 em crianças provocam problemas futuros, como esterilidade.

Os mesmos questionamentos foram direcionados ao pediatra infectologista e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Renato Kfouri, e ao pediatra, também ligado à SBP, Eduardo Jorge da Fonseca Lima.

A reportagem tentou contato com o ex-senador Magno Malta por telefone e WhatsApp, mas não houve retorno. Malta desligou o telefone quando o repórter se apresentou. E, pelo aplicativo, não respondeu às perguntas enviadas.

Também entramos em contato com Rui Costa questionando sobre a atual condição da vacinação das filhas.

Para localizar o vídeo original da entrevista de Costa, citado por Malta em sua publicação, a equipe procurou pelo nome do governador no YouTube junto com a expressão “vacinação de filhas”. Ao filtrar a busca por vídeos mais recentes, o resultado da pesquisa apresenta vídeos com recortes da entrevista original, por meio dos quais é possível identificar que a declaração foi feita ao programa Brasil Urgente Bahia, da Band Bahia.

A equipe encontrou o vídeo original no canal da emissora no YouTube, no minuto 23:50.

O Comprova fez esta verificação com base em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 10 de fevereiro de 2021.

Verificação

Leite materno protege contra o coronavírus?

No vídeo verificado pelo Comprova, Magno Malta afirma que “a vacina da criança já vem no peito da mãe”, frase que, no contexto, pode levar à interpretação de que o leite materno é suficiente para proteger crianças contra o coronavírus. No entanto, a afirmação é refutada por especialistas e, ainda que fizesse sentido, não se aplicaria às crianças que já podem ser imunizadas no Brasil (maiores de 5 anos), já que elas teriam sido amamentadas antes do início da vacinação contra a covid-19 no país.

O pediatra Eduardo Jorge da Fonseca Lim afirma que o leite materno é uma das intervenções mais importantes da pediatria, inclusive na transmissão de anticorpos. Diante disso, a amamentação deve ser estimulada. No entanto, isso não garante a imunidade da criança. “Nós não deixamos de vacinar uma criança contra o sarampo porque a mãe teve sarampo. Não deixamos de vacinar contra a pólio (poliomielite) porque a mãe já tomou a vacina”, afirma.

De acordo com Lima, a passagem de anticorpos da mãe para o bebê por meio de leite materno tem duração transitória. Mesmo com a constatação de que essa transmissão é fundamental, diz o médico, ela é temporária e não garante a imunidade da criança. “Quando tiver vacina autorizada no Brasil para menores de 5 anos, terá total indicação de ser realizada independente de a mãe ter sido contaminada com covid ou tomado a vacina”, afirma.

Esse é o mesmo entendimento do presidente do Departamento de Imunizações da SBP. Renato Kfouri explica que o leite materno não substitui a vacinação. “É um jeito de a gente proteger indiretamente as crianças, mas é uma proteção indireta, de curta duração, no máximo dura uns seis meses para outras doenças, para a covid a gente não tem muita certeza, e jamais substitui a vacinação”, ressalta.

O pediatra infectologista deixa ainda um alerta: “Hoje, a covid é a doença prevenível que mais mata nossas crianças. Se nós somarmos todas as mortes pelas doenças do calendário infantil, a covid, sozinha, matou mais do que todas juntas. Você soma mortes por sarampo, coqueluche, meningite, gripe, febre amarela, junta todas essas mortes, e não são 2,6 mil mortes em dois anos. Precisamos de vacinas para todos.”

A Anvisa faz afirmações semelhantes. Segundo o órgão, o aleitamento materno é fundamental para o desenvolvimento saudável das crianças, mas não garante imunidade contra doenças infectocontagiosas, como a covid-19.

Em agosto de 2021, o Instituto Butantan divulgou que estudo feito pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) apontou que lactantes vacinadas com a CoronaVac (produzida pela entidade) apresentaram anticorpos contra a covid-19 no leite materno, capazes de proteger também os bebês. Como ressaltado pelos especialistas consultados pelo Comprova, a publicação também destacou que essa proteção é transitória, de até quatro meses.

Vacinação infantil

O Ministério da Saúde anunciou, no dia 5 de janeiro, a inclusão de crianças de 5 a 11 anos no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19. A Anvisa já havia aprovado a imunização desta faixa etária com doses da Pfizer desde 16 de dezembro. Em 20 de janeiro, o uso da CoronaVac foi ampliado para crianças e adolescentes de 6 a 17 anos.

Mesmo com as autorizações, o ritmo de vacinação da faixa etária avança lentamente no país. Levantamento do jornal Estado de S. Paulo, publicado no dia 4 de fevereiro, mostrou que cerca de 1,9 milhão de crianças foram imunizadas no Brasil até o fim de janeiro. O número representa 10% do público-alvo.

Conforme destacado na reportagem, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, já disse que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem capacidade para vacinar 2,4 milhões de pessoas por dia. A desinformação relacionada ao tema e o estoque baixo de doses estão entre os motivos que levam à lentidão na campanha.

Vacinas provocam esterilidade?

No vídeo, Magno Malta diz também que meninas vacinadas podem não conseguir ter uma gestação no futuro. Como o ex-senador não respondeu ao nosso pedido para esclarecimento das suas afirmações, não é possível saber se ele se sugere que a vacina possa causar esterilidade ou que possa inviabilizar uma gestação por outras razões também decorrentes da imunização. Decidimos então investigar esse primeiro ponto.

O pediatra Eduardo Jorge da Fonseca Lima afirma que não existe base científica para afirmar que as vacinas contra a covid-19 aplicadas em crianças podem provocar esterilidade no futuro. “Não existe lógica biológica para racionalizar que esse efeito adverso seja possível”, argumentou o médico.

Questionado se há possibilidade de desenvolvimento de outros problemas de saúde no futuro por causa dos imunizantes, Lima afirma que é pouco provável, mas, como no caso de qualquer vacina, é preciso manter a vigilância. “Não podemos indicar com certeza absoluta o futuro, mas é pouco provável que estas vacinas não sejam seguras. Mas precisamos, sim, manter a vigilância”, diz. Para o médico, a aplicação de mais de 10 bilhões de doses no mundo pesam a favor do entendimento sobre a segurança dos imunizantes.

O pediatra infectologista Renato Kfouri acompanha o colega e destaca que, até o momento, não há dados que demonstrem a relação entre esterilidade e vacina. Tampouco haveria ligação entre a própria doença e eventuais problemas de reprodução. “É fake que a doença cause problemas e mais fake ainda que a vacina possa trazer alguma complicação em termos de esterilidade”, garante.

O tema é alvo de conteúdo de desinformação desde o primeiro ano da pandemia. Um boato sobre a vacina Pfizer causar infertilidade em mulheres foi desmentido pela Fato ou Fake em dezembro de 2020. Além disso, postagens que tentam vincular o uso de imunizante à esterilidade em homens também foram refutadas pelo Ministério da Saúde em agosto de 2021. O Comprova também verificou que agências reguladoras negam risco de infertilidade de vacinados.

Na publicação aqui verificada, o ex-senador também cita que vacinas atualmente obrigatórias para crianças têm longo período de estudo, insinuando que imunizantes contra a covid-19 não são confiáveis por terem sido desenvolvidos em menor período. Lima explica que as vacinas usadas contra o novo coronavírus no Brasil são eficazes e seguras, pois passaram por estudos de fase 1 (segurança), 2 (estimular o sistema imunológico a produzir anticorpos) e 3 (eficácia), que foram publicados e revisados por pares.

Segundo o médico, em seguida, as vacinas vão para a fase 4, que é conhecida como “vida real”, e consiste na análise do que ocorre quando as doses já estão disponíveis para a população. Este é um procedimento padrão para qualquer imunizante. Lima diz que os estudos nesta fase precisam continuar em andamento, mas volta a ressaltar que as vacinas já foram aplicadas mais de 10 bilhões de vezes no mundo.

No Brasil, os imunizantes Pfizer e CoronaVac são usados em crianças. A primeira é produzida com tecnologia RNA mensageiro. Lima explica que o método já é estudado há mais de 10 anos e foi adaptado à covid-19 pela oportunidade. No caso da CoronaVac, a produção é por meio de vírus inativado, método amplamente conhecido na comunidade científica.

O que diz a Anvisa

Órgão regulador federal responsável por avaliar a qualidade das vacinas e verificar dados de segurança e eficácia no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que “não há nenhum dado que aponte para eventos adversos que levem à esterilidade após o uso de vacinas contra covid”. Em nota enviada ao Comprova por e-mail no dia 9 de fevereiro, a Anvisa afirmou ainda que todos os imunizantes autorizados no Brasil contra o novo coronavírus “passaram por todas as etapas de estudos clínicos necessárias para que o seu uso fosse permitido”.

O autor do vídeo

Responsável pelo vídeo checado pelo Comprova, Magno Malta é político pelo estado do Espírito Santo. Foi vereador, deputado estadual e federal e senador por dois mandatos. Nas eleições de 2018, foi cogitado como vice na chapa de Jair Bolsonaro, mas decidiu tentar a reeleição como senador e não conseguiu a vitória nas urnas.

Magno Malta protagonizou uma cena curiosa ao rezar de mãos dadas com o então presidente recém eleito após o resultado confirmado nas urnas antes da primeira entrevista coletiva oficial dentro da residência de Bolsonaro no Rio de Janeiro.

Apesar de alguns atritos, seguiu com bastante influência no governo federal. Sua assessora parlamentar, Damares Alves, foi nomeada chefe do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Em suas redes sociais, ele costuma postar encontros semanais com o alto escalão do governo.

O Comprova tentou contato com o político por telefone em três ocasiões desde o dia 3 de fevereiro. Magno Malta atendeu uma das ligações, mas quando o assunto foi mencionado, a ligação caiu. O Comprova também enviou mensagens via WhatsApp, mas não obteve retorno até a publicação.

Declaração de Rui Costa

A entrevista concedida pelo governador Rui Costa, citada no vídeo gravado por Malta, foi ao ar no dia 27 de janeiro, no Brasil Urgente Bahia, transmitido pela Band Bahia. O repórter pergunta a Costa sobre a vacinação de suas filhas. O programa completo está disponível no canal da emissora no YouTube.

Em resposta, o governador diz que as filhas ainda não receberam a vacina e argumenta que o fato tem sido usado por pessoas “levianas e de má-fé”, que, segundo Costa, serão acionadas na Justiça. Em seguida, o chefe do Executivo defende o imunizante.

Procurado pelo Comprova, Costa respondeu apenas com o link de uma postagem no Twitter em que diz que suas filhas serão vacinadas. A equipe não encontrou informações oficiais sobre a idade delas.

O jornal Sociedade, de Salvador, repercutiu o assunto no dia 1º de fevereiro, informando que elas têm 8 e 6 anos. Na conta de Costa no Instagram, há publicações de fotos do governador com a família em que ele e a esposa aparecem ao lado de duas crianças. Na descrição do perfil, Costa diz que tem quatro filhos.

Na Bahia, o público estimado de crianças entre 5 e 11 anos é de 1.476.908 pessoas. Os dados são da Secretaria Estadual de Saúde. Até a data desta publicação, havia o registro de 267 mil crianças que receberam a 1ª dose da vacina contra a covid-19 na Bahia, número que representa 18,13% do total.

Na capital, o público é de 236.449 crianças, sendo que 88 mil (37%) receberam a vacina.

Por que investigamos?

O Comprova verifica informações suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais ou aplicativos de mensagens sobre políticas públicas, eleições presidenciais e a pandemia da covid-19. O conteúdo checado teve mais de 144 mil visualizações no Facebook até o dia 9 de fevereiro.

A desinformação relacionada à vacina para crianças pode levar pais e responsáveis a decidirem não levar seus filhos aos postos de saúde para receber o imunizante contra a covid-19. Este cenário atrasa a campanha de vacinação no Brasil e coloca a vida das crianças em risco.

Outras agências de checagem já mostraram que não há relação entre a vacina e a fertilidade, como este exemplo do Fato ou Fake do G1. A segurança dos imunizantes já foi alvo de verificações do Comprova, como nesta publicação sobre eventos adversos e nesta que mostra que no Brasil não há registro de mortes de crianças provocadas pela vacina contra a covid-19.

Enganoso para o Comprova é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2022-02-09

Organizações sanitárias internacionais defendem vacinação e presidente da Pfizer não foi condenado, ao contrário do que diz texto no WhatsApp

  • Falso
Falso
É falso que entidades internacionais tenham pedido o fim da vacinação contra a covid-19 e que o “Tribunal Internacional de Justiça” tenha decretado a prisão do presidente da Pfizer, Albert Bourla. O “Conselho Mundial de Saúde”, citado em texto que viralizou no WhatsApp, reúne um grupo de entidades negacionistas, antivacinação, e seus argumentos se baseiam em alegações já desmentidas pelo Comprova. Além disso, o autoproclamado Tribunal Internacional de Justiça da Lei Comum não é reconhecido pelo governo de nenhum país.
  • Conteúdo verificado: Textos que viralizaram no WhatsApp dizem que o Conselho Mundial de Saúde pediu a imediata paralisação da imunização contra a covid-19 porque os imunizantes não seriam seguros para os seres humanos. Pelo mesmo motivo, o Tribunal Internacional de Justiça estaria processando várias personalidades, dentre as quais o “diretor geral da Pfizer”.

É falso que entidades internacionais de saúde tenham pedido a interrupção da vacinação contra a covid-19 porque os imunizantes não são seguros para os seres humanos. Uma das entidades citadas em textos que viralizaram no WhatsApp é o Conselho Mundial de Saúde, que reúne grupos negacionistas e antivacina em vários países. Os argumentos elencados pelo grupo já foram verificados pelo Comprova anteriormente, que concluiu que eles eram falsos ou enganosos.

A imunização é segura e passou por vários testes antes de ser autorizada. Por isso mesmo, é apoiada pela Organização Mundial da Saúde (OMS); pela Food and Drugs Administration (FDA), que é a autoridade sanitária dos Estados Unidos; pela European Medicines Agency (EMA); pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa); e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para citar apenas algumas entidades consultadas pelo Comprova. Essas entidades são oficiais, ao contrário do chamado Conselho Mundial de Saúde.

Um outro texto que também viralizou diz que personalidades envolvidas com a vacinação serão julgadas por crimes contra a humanidade, citando o presidente da Pfizer, Albert Bourla. O link elencado no conteúdo, porém, é de um autointitulado “Tribunal Internacional de Justiça da Lei Comum”, que emula o símbolo do Tribunal Internacional de Justiça, principal órgão judiciário ligado à Organização das Nações Unidas e baseado em Haia, na Holanda. Como demonstrado por serviços de checagem internacionais, o “Tribunal Internacional de Justiça da Lei Comum” não tem jurisdição reconhecida por nenhum governo. Na Corte de Haia não há nenhum processo em andamento envolvendo vacinas, a Pfizer ou Albert Bourla.

O conteúdo foi considerado falso porque é inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

Primeiro, consultamos os sites citados nos conteúdos verificados. Na página do “Conselho Mundial de Saúde”, é possível buscar as entidades parceiras por país e acessar os seus sites, o que usamos para encontrar o posicionamento dessas organizações. Buscamos em verificações já publicadas pelo Comprova informações sobre o que é alegado pelo Conselho e sobre a segurança e eficácia dos imunizantes contra a covid-19.

Também fizemos uma busca no Google com o nome em inglês do “Tribunal Internacional de Justiça da Lei Comum” e encontramos checagens internacionais sobre conteúdo bastante similar ao verificado pelo Comprova. No site do Tribunal Internacional de Justiça de Haia, buscamos informações sobre processos em andamento envolvendo as palavras “vacina”, “vacinação”, “Pfizer” e “Albert Bourla”, mas não encontramos nenhum caso relacionado a esses temas.

Por fim, procuramos instituições e autoridades de saúde reconhecidas para saber qual o posicionamento delas em relação à vacinação.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 9 de fevereiro de 2022.

Verificação

Conselho reúne grupos negacionistas

O Conselho Mundial de Saúde se descreve como uma coalizão mundial entre organizações focadas em saúde e grupos da sociedade civil que buscam ampliar o conhecimento público em saúde que traga sentido através da ciência e do compartilhamento de conhecimento.

No site, é possível encontrar as 104 entidades parceiras da coalizão. Também é possível procurar por país em que elas estão localizadas. Ao menos seis grupos consultados pelo Comprova são de instituições negacionistas, que defendem o uso de substâncias comprovadamente ineficazes para tratar a covid-19 ou que são contra a vacinação da população.

No Brasil, o único parceiro do Conselho é a Associação Médicos Pela Vida. O presidente do grupo é o médico pernambucano Antônio Jordão, que foi indiciado pela CPI da Covid no Senado por “desestimular medidas não farmacológicas, como o uso de máscaras”, e reforçar o uso de medicamentos ineficazes para tratar a doença.

Uma farmacêutica que produz esses medicamentos do chamado “tratamento precoce” bancou anúncios da associação brasileira. O grupo chegou a se reunir com o presidente Jair Bolsonaro para defender terapias inócuas contra o novo coronavírus.

Em seu site, a Médicos Pela Vida também questiona a vacinação, principalmente de crianças, e defende a “imunidade natural”, estratégia que consiste em deixar as pessoas se infectarem sem o uso de imunizantes.

O mesmo padrão se repete em outros lugares. Nos Estados Unidos e no Canadá, o Conselho é parceiro de organizações antivacina. Na África do Sul, é aliado a um grupo que deseja processar a Organização Mundial da Saúde e farmacêuticas pela atuação durante a pandemia. Além disso, um dos parceiros internacionais é uma aliança contrária à adoção de lockdowns e contra a vacina.

Texto se baseia em desinformação

O texto em que o Conselho Mundial de Saúde pede o fim do uso de vacinas também é baseado em várias desinformações. O Comprova já mostrou, por exemplo, que as vacinas não são experimentais, tendo passado pelas três fases de estudos necessárias para atestar a eficácia e a segurança. Também já demonstrou que a proteção oferecida pelos imunizantes é muito superior ao risco de miocardite em crianças.

O Comprova também já mostrou que não há relação entre episódios de mal súbito de atleta e a proteção contra a covid-19, ao contrário do que sustenta o texto do Conselho. Por fim, eles citam como uma das referências científicas para o texto o médico Vladimir Zelenko, cujos estudos o Comprova já mostrou não terem comprovação científica.

Segurança da vacina

O Comprova, desde o início dos testes das vacinas contra a covid-19, vem demonstrando a eficácia e a segurança dos imunizantes (conforme pode ser verificado em 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9). Por meio de consulta aos órgãos reguladores em saúde, aos especialistas e aos laboratórios, o projeto verificou boatos e informações enganosas que circulavam em redes sociais desacreditando a vacinação.

Ao contrário da informação citada nos boatos, todas as vacinas utilizadas no país têm sua eficácia cientificamente comprovada e passaram por rigorosas análises antes de serem disponibilizadas à população. Além de testes em laboratório, os imunizantes também foram avaliados em uma fase de testes especificamente desenhada para pessoas que se voluntariam, garantindo que efeitos adversos graves não fossem identificados com frequência.

Especialistas contactados pelo Comprova também descartam a recorrência de efeitos adversos graves ou de mutações corporais em vacinados, assegurando que os imunizantes não oferecem qualquer risco à população. Embora algumas reações possam ocorrer após a aplicação da vacina, um boletim epidemiológico do Ministério da Saúde de novembro de 2021 mostra que, em 92% dos casos, são reações não-graves. Dados apontam que o risco de óbito devido à complicação da covid-19 é 56 vezes maior do que a ocorrência de um efeito adverso relacionado à vacina.

Organizações internacionais apoiam a imunização

A vacinação contra a covid-19, além de comprovadamente segura e eficaz, é defendida e apoiada por autoridades em saúde de todo o mundo. Esse reconhecimento internacional ressalta o método como uma medida eficaz para a proteção contra a doença.

A Organização Mundial da Saúde frequentemente se posiciona a favor da vacinação, garantindo a eficácia e a segurança dos imunizantes aprovados. Em dezembro de 2021, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, reforçou o pedido para que os países desenvolvidos garantam a cobertura vacinal global de 70% até a metade de 2022. O diretor-geral ainda afirmou que era uma “vergonha moral” o mundo não ter alcançado a meta de 40% da população vacinada em 2021, permitindo que o vírus da covid-19 sofresse mutações.

A agência reguladora dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration, também recomenda a vacinação como forma de prevenção à covid-19. Em seu site, a FDA ressalta que “se vacinar ou receber o reforço se você já está vacinado é a melhor coisa que você pode fazer para ajudar a se proteger e proteger sua família e amigos” (tradução livre).

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária e a Fundação Oswaldo Cruz também são defensoras da vacinação contra a covid-19. A Anvisa, no dia 24 de dezembro, destacou que a doença segue como uma ameaça para os não vacinados, já que pessoas que não receberam o imunizante têm uma probabilidade maior de desenvolverem sintomas graves e de necessitar de hospitalização. A agência ainda destaca que as vacinas contra a covid-19 foram desenvolvidas a partir de métodos científicos que já existem há décadas, e que, mesmo após sua aprovação, os imunizantes seguem em constante monitoramento.

A Fiocruz destaca que a vacina é a melhor medida para evitar mortes em decorrência da covid-19. A Fundação, que produz uma das vacinas em uso no Brasil, criou o projeto Vigivac, para acompanhar a eficácia dos imunizantes. O primeiro boletim, divulgado no final de 2021, apresentou análises das quatro vacinas que estão sendo aplicadas no Brasil (CoronaVac, AstraZeneca, Pfizer e Janssen), constatando que todas possuem grande redução do risco de infecção, de internações e de óbito por covid-19.

Tribunal que teria condenado diretor da Pfizer não é legítimo

O Comprova também investigou a suposta sentença mencionada em uma das mensagens divulgadas. O conteúdo compartilhado refere-se ao chamado “Tribunal Internacional de Justiça da Lei Comum”, uma iniciativa privada que não é considerada um órgão oficial. Ao procurar na lista de cortes e tribunais das Nações Unidas, o tribunal não aparece nos registros da organização.

No site do “Tribunal”, encontramos a informação de que ele serve de aconselhamento para a criação de uma assembleia ou tribunal nas comunidades, e que voluntários podem se oferecer para ajudar neste trabalho.

Dentre os conteúdos compartilhados no site, uma matéria ganha destaque ao afirmar que grandes farmacêuticas, governos e líderes da igreja são presos após tribunal os condenarem por genocídio e proibirem a aplicação das vacinas. O texto traz um suposto veredito que teria condenado dois CEOs da Pfizer, o presidente da China, o Papa Francisco, o primeiro-ministro do Canadá e a rainha Elizabeth. Nenhuma dessas condenações é verdadeira e os documentos anexados possuem diversos indícios de falsificação, como a ausência da assinatura de quem proferiu a sentença ou vinculação às instâncias judiciárias.

A matéria apresentada no site é assinada por Kevin Annett, ex-ministro da United Church of Canada, conhecido por publicar histórias on-line relacionadas às Escolas Residenciais Indígenas. Annett foi removido da organização por criar histórias fundadas em teorias da conspiração que difamam líderes religiosos, políticos e indígenas. De acordo com o Conselho Regional das Montanhas do Pacífico, um dos conselhos regionais da United Church of Canada, o ex-líder religioso dispõe de um site com inúmeras alegações e acusações falsas, especialmente sobre clérigos e a Igreja. Na página do Tribunal, todos os detalhes sobre a suposta sentença remetem ao site Murder by Decree, de Kevin Annett.

O verdadeiro Tribunal Internacional de Haia e a atuação durante a pandemia

O Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), também chamado de Corte Internacional de Justiça (CIJ), é o órgão judiciário principal da Organização das Nações Unidas (ONU). Fica sediado em Haia, na Holanda, no Palácio da Paz.

É importante ressaltar que o TIJ não deve ser confundido com o Tribunal Penal Internacional, que entrou em vigor em 2002, voltado para investigação e julgamento de crimes cometidos por indivíduos e que atingem comunidades ou a sociedade como um todo. O Tribunal Penal foi estabelecido pelo Estatuto de Roma, não tendo associação com a ONU.

A criação do TIJ foi determinada pelo artigo 92 da Carta da ONU, em 1945, e seu funcionamento começou no ano seguinte.

Após a Primeira Guerra Mundial, o Tratado de Versalhes criou, em 1919, a Liga das Nações, uma antecessora da ONU, que tinha como órgão judiciário a Corte Permanente de Justiça Internacional. No entanto, a atuação da Liga não foi capaz de impedir o desencadeamento da Segunda Guerra e, em resposta, os países se uniram para reformular suas estratégias de cooperação e promoção da paz.

Assim, o TIJ substituiu a Corte Permanente, com o objetivo de lidar com os mais diversos conflitos jurídicos envolvendo nações que acionam o Tribunal, além de proferir pareceres a respeito de questões apresentadas pela Assembleia Geral ou pelo Conselho de Segurança da ONU. Também podem solicitar pareceres consultivos outros órgãos da ONU, bem como entidades especializadas, desde que devidamente autorizados pela Assembleia Geral.

De acordo com o Estatuto do TIJ, este é composto por 15 juízes, cada um deles devendo ser de uma nacionalidade. Os magistrados são eleitos pela Assembleia Geral e pelo Conselho de Segurança da ONU, com mandato de 9 anos e possibilidade de reeleição. A escolha é feita entre os nomes de uma lista estabelecida por grupos nacionais na Corte Permanente de Arbitragem, uma organização administrativa também localizada em Haia, na Holanda.

A atuação do TIJ envolve múltiplos aspectos do direito internacional, como pareceres sobre a interpretação de tratados internacionais, delimitação dos papéis dos Estados enquanto sujeitos do direito internacional e também da atuação de organizações internacionais, bem como questões envolvendo soberania e responsabilidade internacional dos países membros da ONU, entre outros.

Decisões do Tribunal durante a pandemia

A página oficial do TIJ apresenta, em destaque, um aviso sobre as notas contendo informações e medidas adotadas pelo órgão para ajudar a conter a disseminação da covid-19 nas dependências do Tribunal, mantendo a segurança de seus membros e funcionários. Essas medidas seguem as diretrizes da OMS e as determinações específicas do governo holandês, onde se localiza a sede. Após um período de suspensão das audiências, foi adotado o sistema de reunião por vídeo. Também foram suspensas as viagens oficiais de membros e houve a solicitação para que funcionários evitassem deslocamentos e viagens particulares.

Como o site não tem uma versão em português, o Comprova selecionou a língua inglesa para a navegação, por ser um dos idiomas utilizados na redação das notas de imprensa.

No mecanismo de busca, pesquisas pelas palavras “vaccine”, “vaccination”, “Pfizer” ou mesmo “Albert Bourla” (nome do CEO e diretor da Pfizer nos Estados Unidos) não geraram resultados para notícias, seções, nem documentos registrados pelo Tribunal no período relativo à pandemia.

No campo de buscas avançadas, foram inseridas as mesmas palavras-chave. Não foram selecionadas delimitações de período, então, os resultados compreendem de 1946 a 2022. Para “vaccine” e “vaccination”, o documento mais recente data de 2017, envolvendo Índia e Portugal. Ao digitar “Pfizer”, o resultado mais recente é de 2015 e não há casos para “Albert Bourla”.

No site do TIJ é também possível acessar as listas de casos pendentes, que estão sob deliberação, e aqueles que já foram decididos, separados por ano ou por Estado. Nenhum dos casos em aberto envolve a temática das vacinas e os que tiveram decisões proferidas em 2020 e 2021 são de disputas abertas anteriormente ao surgimento do novo coronavírus, também não se relacionando a vacinas.

Por que investigamos?

O Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia de covid-19, as políticas públicas do governo federal e as eleições de 2022 que tenham viralizado nas redes sociais. Quando se trata de temas relacionados à covid-19, a checagem se torna ainda mais necessária, visto que a desinformação sobre a doença pode levar as pessoas a não acreditarem nas recomendações das autoridades sanitárias e se exporem a riscos desnecessários.

O vídeo verificado aqui foi sugerido pelos leitores do Comprova através do WhatsApp, onde circulou. Sugestões como esta podem ser encaminhadas pelo número (11) 97045-4984, ou clicando neste link. Conteúdos muito parecidos foram verificados por Boatos.org, Yahoo, Reuters e AAP.

Recentemente, o Comprova mostrou que a maioria dos infectados pela ômicron não foi vacinada, ao contrário do que afirma médico; que é enganoso um vídeo que usa limão para desacreditar os testes de covid-19; e que é falso que as vacinas tenham causado “milhares de mortes”. Também explicou por que eventos adversos graves pós-vacinação contra a covid-19 são raros e os benefícios superam os riscos da imunização.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Esta verificação foi feita por jornalistas que participam do Programa de Residência no Comprova.

Saúde

Investigado por: 2022-02-07

Maioria dos infectados pela ômicron não foi vacinada, ao contrário do que afirma médico

  • Falso
Falso
São falsas as afirmações de um médico que nega a epidemia de influenza no Brasil e diz que a variante ômicron infectou mais as pessoas vacinadas contra covid-19. Ao contrário do que diz o profissional, o Ministério da Saúde e o Conselho Nacional de Saúde (CNS) reconhecem o aumento de casos de influenza, em especial da variante H3N2 e vários estados declaram epidemia ou surto da doença. Já em relação à covid, estudos mostram que a maior parte dos infectados pela ômicron não foram vacinados.
  • Conteúdo verificado: Vídeo de um médico contestando a veracidade da epidemia de influenza no Brasil e sugerindo que pessoas vacinadas contra o coronavírus são mais suscetíveis a contaminação pela variante ômicron.

São falsas as afirmações difundidas pelo médico Rubens Amaral em um vídeo no Instagram e no Telegram. Ele nega a epidemia de influenza no Brasil e diz que pessoas vacinadas contra a covid-19 estão mais vulneráveis à variante ômicron.

O profissional afirma que, como os sintomas causados pela ômicron são semelhantes aos da gripe, as pessoas contaminadas pela H3N2 estariam, na verdade, infectadas com a variante do coronavírus.

O médico ainda recomenda o tratamento precoce, que não tem eficácia comprovada.

Ao contrário do que diz Amaral, o Ministério da Saúde e o Conselho Nacional de Saúde reconhecem o aumento de casos de influenza, em especial da variante H3N2, e vários estados já declararam situação de epidemia ou surto da doença.

Em relação à covid, estudos feitos nos Estados Unidos mostram que a maior parte dos infectados pela ômicron não foram vacinados. Além disso, segundo um estudo realizado pelo Imperial College de Londres, o risco de reinfecção por covid-19 pela ômicron na comparação com a delta é maior para não vacinados (6,4 vezes) do que para vacinados (5 vezes). O resultado do estudo foi destacado em um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o avanço da variante publicado em janeiro. 

Embora pessoas vacinadas possam se infectar com a ômicron, não há nenhuma evidência científica que comprove que a variante contamine de forma mais expressiva essas pessoas. Inclusive, caso contaminados com a cepa, indivíduos vacinados devem ter sintomas leves justamente pela proteção dos imunizantes.

O Comprova entrou em contato com o médico, questionando as fontes utilizadas por ele para embasar o que é dito no vídeo aqui verificado, mas não houve retorno até a publicação desta checagem.

Todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original é classificado como falso pelo Comprova..

Como verificamos?

O primeiro passo da verificação foi a busca por dados oficiais a respeito da disseminação da gripe influenza no Brasil para dimensionar a ocorrência de casos da doença no verão.

Para isso, procuramos informações nos sites oficiais de autoridades sanitárias, como o Conselho Nacional de Saúde, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Instituto Butantan, o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS). Também entramos em contato com o Ministério da Saúde.

O segundo passo foi encontrar estudos científicos a respeito da variante ômicron do coronavírus e sua relação com o sistema imunológico de pessoas vacinadas. Sobre essa temática foram utilizadas pesquisas da Agência de Segurança de Saúde do Reino Unido, do Instituto Nacional de Doenças Comunicáveis (NICD) e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.

Além disso, entrevistamos o diretor do laboratório de imunologia do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (Incor), Jorge Kalil, para esclarecer sobre a infecção pela cepa ômicron e o perfil das pessoas infectadas pela variante.

Por fim, o Comprova entrou em contato com o autor do vídeo, o médico Rubens Amaral, por meio de telefone disponível em suas redes sociais, mas não obteve retorno até o fechamento desta verificação.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 7 de fevereiro de 2021.

Verificação

Epidemia de influenza no Brasil

Embora o médico negue que há uma epidemia de influenza no Brasil no verão, o Conselho Nacional de Saúde e secretarias de saúde de estados como Paraná reconhecem a situação. O aumento de casos de gripe — em especial da variante H3N2 — é reconhecido também pelo governo federal.

Em uma publicação nas redes sociais, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz, afirma que a cepa Darwin, da influenza H3N2, foi registrada em vários estados.

“Estamos enfrentando tanto o vírus da #GripeH3N2, como a #Covid19, em que ambos atacam o sistema respiratório e apresentam sintomas bem parecidos”, escreveu.

Em dezembro de 2021, 17 estados notificaram aumento incomum dos casos de influenza. Pelo menos 11 estados registraram mortes pela variante H3N2.

Em nota enviada ao Comprova, o Ministério da Saúde informou que o padrão de sazonalidade da influenza varia entre as regiões do país, sendo mais marcado naquelas com estações climáticas definidas, ocorrendo com maior frequência nos meses mais frios e em locais de clima temperado.

Por este motivo, espera-se um aumento de casos no outono e inverno, o que não impede a circulação da H3N2 em outras épocas do ano, devido às diferenças geográficas e climáticas.

O órgão explica que para verificar se existe uma epidemia, é preciso avaliar os dados da doença e suas características epidemiológicas locais, sendo através de uma série histórica (avaliando os dados de anos anteriores, o conhecimento e comportamento da doença) ou por meio de uma análise epidemiológica minuciosa (dados de tempo, pessoa e lugar).

“Em 2021, a partir do mês de outubro, mesmo com a pandemia do SARS-CoV-2, começou a ser observada a circulação dos vírus influenza de maneira intensificada e com predominância do vírus influenza A (H3N2) – indicando um início de sazonalidade de temporalidade atípica em algumas unidades federadas do país, podendo ser configurada como uma epidemia, ou surtos localizados de influenza A (H3N2) e que já se encontra em redução”, diz a nota.

Em entrevista ao Comprova, o diretor do laboratório de imunologia do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (Incor), Jorge Kalil, diz que epidemias e surtos de influenza são incomuns no verão. Apesar de terem sintomas parecidos com os da covid, testes laboratoriais, explica Kalil, são capazes de diagnosticar o vírus.

“São feitos diagnósticos moleculares ou celulares para identificar a influenza. Ela realmente é incomum no verão, é uma anormalidade”, disse.

Em entrevista à Agência FioCruz de Notícias em dezembro de 2021, o pesquisador do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo da Fiocruz Fernando Motta disse que um dos fatores que ajuda a entender o aumento dos casos de influenza é a combinação de uma circulação reduzida do vírus influenza em 2020 com a baixa adesão à campanha de vacinação em 2021.

No ano passado, o Brasil vacinou 72,1% do público-alvo, quando a meta era 90%. Vale lembrar que o imunizante contra a influenza, na época, não incluía a cepa H3N2. Os dados são do Ministério da Saúde. A campanha de imunização começou em abril e se estendeu até setembro diante da baixa adesão.

Ômicron entre vacinados

Outra afirmação falsa feita pelo médico é a de que a ômicron “aparece mais em pessoas picadas”, em referência a quem se vacinou contra covid-19. Ele chega a dizer que “as pessoas picadas têm um sistema imunológico que facilita a penetração da ômicron nelas”.

Jorge Kalil explica que, comprovadamente, a maior parte das pessoas que foram hospitalizadas ou morreram em decorrência da infecção pelo coronavírus foram as não vacinadas, o que refuta a alegação do médico de que a nova cepa apareceria mais em indivíduos imunizados.

Isso não significa, no entanto, que pessoas vacinadas não possam se contaminar com a ômicron. Segundo o especialista, a capacidade da variante ômicron escapar aos “anticorpos antigos” (gerados pela vacinação ou pela infecção por variantes anteriores) é alta, porém não total. Isso significa que pessoas vacinadas podem se contaminar com a cepa, mas o imunizante contribuirá para um quadro mais leve da doença.

“A resposta imunológica que você tinha pode ser mais fraca, é o que acontece com essas variantes. A vacina inicial dá uma imunidade e depois essas variantes escapam da resposta imune. Os anticorpos que você tem para bloquear essa contaminação não são mais ativos. Mas a gente sempre tem uma resposta celular. Essa resposta somada aos anticorpos que sobraram depois dessas mudanças na célula humana ainda são suficientes para deixar a doença mais leve”, diz.

Uma pesquisa do Instituto Nacional de Doenças Comunicáveis, da África do Sul, mostrou que a ômicron é menos grave que as outras variantes do coronavírus. Segundo o estudo, a onda gerada por essa variante teve menos casos graves e isso está associado à vacinação e a proteção conferida por infecções anteriores.

No dia 12 de janeiro, a Casa Branca, dos Estados Unidos, divulgou dois gráficos com base em informações do Departamento de Saúde de Nova York, referentes aos meses de outubro, novembro e dezembro de 2021 (veja abaixo).

| Gráfico mostra o número de casos e hospitalizações pela covid-19 entre pessoas vacinadas e não vacinadas. Fonte: Governo dos Estados Unidos. Imagem capturada em 2 de fevereiro às 16h54.

Desde o primeiro caso da ômicron registrado nos EUA, em 1º de dezembro, o número de infecções em pessoas não vacinadas foi de cerca de 500 para cada 100 mil habitantes, para mais de 3 mil para cada 100 mil habitantes em 19 de dezembro. Entre os vacinados, a taxa que se aproximava de zero, foi para 500 no mesmo período.

Em duas semanas, as hospitalizações decorrentes da ômicron entre os não vacinados aumentaram de cerca de 30 (para cada 100 mil habitantes), em 5 de dezembro, para 80 (para cada 100 mil habitantes). Entre os vacinados, o índice, que era quase zero, teve uma pequena alteração e ficou abaixo de 10.

O médico Jorge Kalil explica que a ômicron pode infectar pessoas vacinadas, mas que a maioria dos contaminados deve ter sintomas leves justamente pela proteção dos imunizantes.

“Existem algumas pessoas que apesar de terem sido vacinadas podem se infectar com a ômicron e ter doença leve. Agora, se você olhar qualquer estatística no mundo, você vai ver que 90 a 95% das pessoas que estão hospitalizadas ou vieram a morrer não são vacinadas, apesar de elas serem uma porção pequena da população”, pontua.

Outro estudo realizado nos Estados Unidos pelo CDC e publicado em janeiro de 2022 mostrou que as pessoas não vacinadas no país apresentaram um risco 53 vezes maior de morte por covid-19 em comparação com as pessoas vacinadas com duas e três doses.

Com a ômicron, o risco entre quem não se vacinou foi 13 vezes maior em relação aos imunizados. A dose de reforço apresentou taxa de proteção de 90% contra a variante.

O estudo “Effectiveness of a Third Dose of mRNA Vaccines Against COVID-19″ (Eficácia de uma terceira dose de vacinas do mRNA contra a COVID-19, tradução livre), do CDC, concluiu que pessoas vacinadas com dose de reforço são menos propensas a serem infectadas pela ômicron. A pesquisa foi publicada em 28 de janeiro deste ano.

Um segundo estudo, publicado na Revista Médica Jama em 21 de janeiro deste ano, mostrou que a dose de reforço ajudou a evitar que as pessoas adoecessem com a ômicron. A pesquisa avaliou pouco mais de 13 mil casos da variante nos EUA e descobriu que as chances de desenvolver uma infecção sintomática eram 66% menores para pessoas que receberam reforço em comparação com aquelas que receberam apenas duas injeções.

Uma verificação sobre o mesmo tema foi feita pela Agência Lupa em novembro de 2021. Segundo a Lupa, na época, não havia evidências científicas suficientes que comprovassem uma relação entre a nova variante ômicron e a vacinação. Além disso, não há nenhuma pesquisa que tenha concluído que a cepa é mais severa entre as pessoas totalmente imunizadas contra a covid-19.

Quem é Rubens Amaral

Rubens Amaral é formado em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos. Tem mestrado em Educação pela Universidade Católica de Santos, é especialista em nefrologia, fisiologia do exercício na saúde pela USP e coach pelo Instituto Brasileiro de Coaching.

Apoiador do presidente Jair Bolsonaro, Rubens Amaral é contrário à aplicação de vacinas para combater a covid-19 e já incentivou, repetidamente, o uso de ivermectina como tratamento precoce contra a doença, o que não tem eficácia comprovada pela ciência.

Em dezembro de 2021, o Comprova investigou uma afirmação enganosa do médico sobre a eficácia das vacinas frente ao surgimento de novas variantes do coronavírus.

Por que investigamos?

O Comprova verifica informações suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais ou aplicativos de mensagens sobre políticas públicas, eleições presidenciais e a pandemia de covid-19. O conteúdo checado foi compartilhado no Instagram e no Telegram, tendo alcançado mais de 47 mil visualizações.

As opiniões do médico dão fôlego aos discursos contrários à imunização e à ciência, e contribuem para o aumento da desconfiança sobre as vacinas. Devido aos alcance que as publicações de Amaral têm nas redes sociais, informações falsas a respeito das vacinas e da pandemia são compartilhadas e difundidas por milhares de pessoas.

A eficácia e a segurança dos imunizantes já foram amplamente defendidas e comprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Ministério da Saúde. Além de prevenir quadros graves da doença, as vacinas reduzem as chances de contaminação e transmissão do vírus.

Ao longo da pandemia, o Comprova fez diversas verificações que refutam falas e conteúdos compartilhados na internet que desacreditam a ciência e impactam negativamente no combate ao coronavírus. Alguns exemplos são as verificações a respeito da proteção das máscaras contra a epidemia de H3N2, que é falsa a afirmação de um médico sobre o vírus da covid ser parcialmente desconhecido e que as vacinas são “lixo”, e que a ômicron existe e não é um conceito criado apenas para esconder os efeitos adversos das vacinas contra o coronavírus.

Outra fala do médico Rubens Amaral também já foi verificada pelo Comprova. Na ocasião, foi confirmado que, ao contrário do que afirmou o profissional, as vacinas contra a covid-19 continuam sendo eficazes mesmo com o surgimento de novas variantes do vírus.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado.

Saúde

Investigado por: 2022-02-04

É enganoso vídeo que usa limão para desacreditar testes de covid-19

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso um vídeo em que uma mulher obtém um resultado positivo em teste rápido de antígeno para covid-19 usando o suco de um limão. Ela sugere que isso prova que os testes são falsos. Uma especialista ouvida pelo Comprova explica que a acidez do limão pode interagir de modo incorreto com reagente do teste. O mecanismo é feito para entrar em contato com material humano, como a saliva, e deve seguir regras estritas de manuseio para garantir o resultado correto.
  • Conteúdo verificado: Vídeo que circula em grupos do WhatsApp, Twitter e Facebook, em que uma mulher faz um teste rápido de antígeno para Sars-CoV-2 usando o suco de um limão e, após obter resultado positivo, diz que a fruta “está com covid”. Ao final, ela pede que as pessoas “acordem”, sugerindo que os testes para detecção da doença são falsos.

Um vídeo que circula nas redes sociais engana ao sugerir que os testes rápidos de antígeno para detectar a covid-19 são falsos, tendo como base a aplicação em um deles de suco de limão. Esse tipo de mecanismo foi desenvolvido para entrar em contato com material humano, como a saliva ou fluidos da cavidade nasal. As especificações do fabricante dizem que o uso tem que ser feito de forma adequada, seguindo todos os passos corretamente, sob o risco de inviabilizar o resultado.

Especialistas ouvidos pelo Comprova explicam que o uso de outras substâncias, como o limão, pode interferir de forma incorreta no reagente. Segundo uma hipótese, a causa da alteração no resultado é a acidez da fruta, que é superior à dos fluidos humanos.

No Reino Unido, pais foram alertados de que os estudantes estavam utilizando substâncias similares para “burlar” os testes e serem liberados das aulas. Também há vários vídeos no TikTok, aplicativo bastante usado por adolescentes, que ensinam a usar outras substâncias para conseguir falsos positivos no exame de antígenos.

Apesar disso, quando utilizados corretamente, testes rápidos são uma ferramenta importante para que as pessoas saibam quando devem se isolar e evitar a transmissão do vírus. Por isso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou, em 28 de janeiro deste ano, a comercialização de autotestes de antígeno em território nacional como estratégia inicial de triagem no controle da pandemia.

O vídeo foi considerado enganoso porque utiliza dados imprecisos e confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

Inicialmente, procuramos por imagens de testes rápidos de covid-19 no Google para tentar encontrar algum com a mesma embalagem que aparece no vídeo. A partir daí, conseguimos identificar que se tratava de um teste de antígeno da marca Genrui. Em novas pesquisas, descobrimos falhas nos testes fabricados pela empresa no exterior e um alerta de farmacovigilância emitido pela Anvisa em relação a eles. A partir desse alerta, foi possível descobrir que a empresa responsável pelo registro dos produtos da Genrui Biotech no Brasil é a 1000Medic, com sede no Paraná. Entramos em contato com a 1000Medic e com a Genrui por e-mail e WhatsApp, mas não tivemos retorno de nenhuma delas.

Por meio de buscas on-line, encontramos informações sobre jovens tentando usar alimentos para burlar os testes de antígeno no exterior. Como as notícias indicavam que as informações eram muitas vezes compartilhadas através do TikTok, fizemos uma procura pelas hashtags citadas e encontramos vídeos semelhantes ao investigado na plataforma. Também fizemos pesquisas para entender como funciona cada teste para detecção da covid-19. No site da 1000Medic, encontramos as especificações do exame utilizado no vídeo.

Entrevistamos especialistas para tentar entender por que o teste reagiu positivamente em contato com o limão. Ouvimos a bióloga Maíra Mello Rezende Valle, professora adjunta do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e o farmacêutico Miler Heleno Teixeira, gerente responsável pelos testes na Drogaria Pacheco de Juiz de Fora, em Minas Gerais.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 4 de fevereiro de 2022.

Verificação

Qual o teste usado no vídeo?

Em determinado ponto do vídeo, é possível observar a embalagem do teste, com um detalhe lateral marcante. Uma comparação com as embalagens de testes de antígenos utilizados no Brasil nos levou ao kit fabricado pela empresa Genrui e, conforme as imagens, é possível notar a semelhança na cor e no desenho dos rótulos.

 

O Comprova entrou em contato com a 1000Medic, responsável pela importação e distribuição dos produtos da Genrui Biotech no Brasil, bem como com a companhia chinesa, mas não teve retorno até a publicação desta verificação.

Em 7 de janeiro deste ano, a Autoridade Nacional do Medicamento e dos Produtos de Saúde (Infarmed), órgão de farmacovigilância do governo de Portugal, emitiu um comunicado dizendo ter sido informada de 550 incidentes de falso positivo com os testes da Genrui na Irlanda. Por isso, os testes dessa marca seriam recolhidos em Portugal, embora no país, até o momento, houve o registro de apenas sete casos de falso positivo entre 7 milhões de autotestes da fabricante distribuídos ao mercado.

Em 28 de janeiro, a Infarmed disse que, após investigação feita pela fabricante, concluiu-se que o problema dos falsos positivos teria ocorrido por causa de contaminação durante o processo de fabricação da solução de diluente usada em dois lotes específicos: 20211008 e 20211125. À época, os dois lotes estavam sendo recolhidos do mercado europeu.

No Brasil, em 9 de outubro de 2020, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu um alerta de tecnovigilância em relação a testes de covid-19 da Genrui. No caso brasileiro, o pedido era apenas para que fossem atualizadas as informações sobre a sensibilidade do produto, que havia sido reportada de modo incorreto nas instruções de uso de um lote específico: 20200505.

“O fabricante foi informado, investigou o ocorrido e concluiu que as informações das instruções de uso foram baseadas no estudo clínico inicial, que apresentou resultado de 100% para sensibilidade e especificidade. Porém, após novos estudos, observou-se variação nos referidos parâmetros, que não havia sido considerada para a elaboração das instruções de uso. Portanto, as instruções de uso foram atualizadas com as informações corretas dos parâmetros”, diz o texto emitido pela Anvisa.

O que dizem os especialistas?

De acordo com os especialistas procurados pelo Comprova, a reação mostrada no vídeo é enganosa na medida em que acontece um desvio de finalidade do teste. Para os profissionais, embora a reação química apresentada gere um resultado positivo, isso não significa que os testes não sejam confiáveis ou seguros.

Maíra Mello Rezende Valle destaca que o resultado apresentado no vídeo, embora possa ser verdadeiro, não indica a presença da covid-19, uma vez que a variação de pH (nível de acidez ou basicidade) pode alterar a sensibilidade do teste.

A pesquisadora explica que os testes rápidos, como o de antígeno (que é utilizado no vídeo), têm anticorpos capazes de reagir à presença do vírus. Quando a amostra coletada é colocada na solução própria para testagem, acontece a quebra do vírus em partículas menores. A solução, em contato com a lâmina, gera uma reação química que provoca a mudança da cor da linha.

(O teste) tem o anticorpo acoplado na lâmina e quando você coloca um antígeno que vem, por exemplo, com a sua saliva ou com o seu sangue, ele vai aglutinar ali e vai gerar uma cor que é aquela linhazinha. Só que esses anticorpos são substâncias químicas também, principalmente proteínas. A proteína muda a conformação dela de acordo com o pH. (…) O que é o limão? É uma substância extremamente ácida; ele tem ácido cítrico”. Valle explica, então, que esse uso do limão é responsável por burlar o teste, fazendo com que apareça a linha indicadora do positivo. A pesquisadora ressalta, no entanto, que “não necessariamente existe positividade no teste”.

O farmacêutico Miler Heleno Teixeira ressalta que os testes para covid-19 foram criados especificamente para testagem humana. Uma vez que o produto é colocado em contato com outras substâncias, como o suco de limão, o resultado pode ser afetado. “A pessoa que fez o teste (no vídeo) com limão provocou uma reação que não é normal, sinalizando positivo. Mas é um resultado inconclusivo, não quer dizer que o limão tenha covid”.

Embora o resultado apresentado no vídeo seja positivo, Teixeira ressalta que não é possível estabelecer relações únicas entre o ácido e o resultado apresentado.

Como funcionam os testes de antígeno

Os testes de antígeno usam o chamado método de fluxo lateral à base de ouro coloidal para detectar a proteína do nucleocapsídeo (que é uma parte específica da composição do SARS-CoV-2). Os testes de fluxo lateral são usados para diversos fins e, em geral, são considerados bastante confiáveis. O mais comum deles é o teste de gravidez através da urina.

Segundo documento da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde, ligada ao Ministério da Saúde, os testes de antígeno apresentam confiabilidade entre 85 e 90% em seus resultados, sendo ainda maior em pacientes com carga viral elevada, testados até o quinto ou sétimo dia da doença.

No caso dos testes desenvolvidos para detectar os antígenos, o princípio é estimular uma reação imunológica dos anticorpos que estão fixados na lâmina. Quando essa reação é desencadeada, a faixa muda de cor – por isso, o processo é chamado de cromatografia.

Em outras palavras, quando a substância a ser analisada (por exemplo, a saliva, após mergulhada em solução própria, para promover a quebra do vírus) é colocada no local indicado, ela se mistura ao conteúdo ali presente e o composto vai migrando, através da membrana que cobre a lâmina, até atingir uma linha revestida com o anticorpo monoclonal para o SARS-CoV-2. Se essa linha se tornar visível, quer dizer que foi produzida uma reação imunológica, e o resultado indica que a pessoa tem o vírus em sua saliva.

Os testes de anticorpos, por sua vez, têm a janela de testagem maior e o fluido coletado é o sangue, pois nele são produzidos os anticorpos em resposta ao contato com o antígeno. Assim, é possível determinar se a pessoa foi, no passado, infectada e, em reação, desenvolveu os referidos anticorpos.

Jovens no exterior descobrem como burlar autotestes

Em 24 de junho de 2021, um e-mail da escola Gateacre, na cidade de Liverpool, Inglaterra, foi encaminhado aos pais, pedindo para que ficassem atentos no momento de seus filhos realizarem os testes em casa. O aviso se deu após professores ouvirem rumores de que alunos haviam descoberto como burlar os resultados utilizando sucos de frutas, para que indicassem uma falsa infecção pelo vírus e, assim, não precisassem comparecer às aulas. Poucos dias antes, a Gateacre havia suspendido as aulas de algumas turmas depois de alunos terem testado positivo para covid-19.

No Reino Unido, os autotestes foram adotados nacionalmente com a reabertura das escolas em 8 de março do 2021. Alunos e funcionários da educação precisam se testar duas vezes por semana e, no caso de resultado positivo para o teste rápido de antígenos, devem realizar uma confirmação no prazo máximo de 48 horas através do teste RT-PCR.

Casos semelhantes ao de Liverpool foram relatados pela imprensa britânica, apontando para essas táticas de burlar os testes descobertas pelos jovens.

Desde o ano passado, uma onda de vídeos compartilhados no TikTok mostra estratégias para obter falsos resultados positivos por meio do teste de antígenos. Após denúncias por veículos britânicos, a plataforma parece ter apagado os vídeos que aparecem na busca pela hashtag #fakecovidtest, conforme noticiado pelo portal iNews em julho de 2021.

Contudo, ao procurarmos pela hashtag #covidtestchallenge no aplicativo, ainda é possível encontrar alguns vídeos demonstrando o uso de refrigerantes e sucos industrializados para obter falsos positivos. No TikTok está compartilhado também o vídeo com a testagem do limão, que chegou até nós pelo WhatsApp.

Diante dos fatos, uma equipe de cientistas da Universidade de Liverpool conduziu um estudo, disponibilizado em 5 de julho de 2021 na plataforma medRxiv e ainda não revisado por pares, em que foram analisados testes de antígeno da empresa Innova Med Group, distribuídos no Reino Unido, utilizando 14 amostras de refrigerantes e sucos prontos, a fim de observar os resultados. Ao todo, dez amostras mostraram resultado positivo ou uma leve marcação da faixa que indica infecção pelo vírus. A testagem foi reproduzida em dois lotes diferentes do produto, obtendo os mesmos resultados.

De acordo com os pesquisadores, o estudo não permite concluir que exista alguma relação especificamente entre a acidez das bebidas e o resultado de falso positivo, nem cita os mecanismos agindo para que isso aconteça. A análise da água com gás não ativou reações, o que excluiu a gaseificação como responsável. Também foram verificados quatro adoçantes utilizados em bebidas, nenhum deles obtendo falso positivo.

Contexto dos autotestes no Brasil

O conteúdo verificado foi divulgado em meio a um contexto de desencontros entre o governo federal e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em relação à liberação dos autotestes de covid-19. A alternativa, mais ágil e prática, uma vez que se trata de um produto com o qual o próprio cidadão pode realizar todas as etapas de testagem sem precisar da ajuda de profissionais, gerou diversas discussões e só foi autorizada pela Anvisa no dia 28 de janeiro deste ano.

As tentativas de liberar o autoteste começaram ainda no início do ano, quando, no dia 13 de janeiro, o Ministério da Saúde encaminhou uma nota técnica para a Anvisa com justificativas para a aprovação. O documento explica que essa é uma estratégia complementar ao Plano Nacional de Expansão da Testagem, que foi lançado em setembro de 2021. O motivo para o pedido foi um aumento expressivo no número de infecções, causado pela chegada da variante ômicron do coronavírus no País. Segundo a pasta, esses testes podem ser excelentes como triagem e para permitir que pessoas infectadas se isolem. Já no dia 19, a Anvisa adiou a decisão sobre liberação dos autotestes cobrando mais informações do Ministério, como dados a respeito da notificação de casos positivos, da falta de regulamentação e de política pública. Somente no dia 21, a Anvisa e o Ministério da Saúde fizeram a primeira reunião para discutir a aprovação dos autotestes.

O empecilho para a aprovação tem relação com a Resolução da Diretoria Colegiada 36/2015 da Anvisa, que proíbe a realização de autotestes em caso de doenças infectocontagiosas que têm notificações compulsórias, abrindo exceção apenas para casos em que o Ministério da Saúde propõe uma política pública para servir de base. Para a Anvisa, no entanto, não houve essa apresentação por meio da pasta. No dia 26 de janeiro, então, a agência recebeu o documento formal com a inserção dos autotestes no Plano Nacional de Expansão da Testagem para Covid-19, dando o aval no dia 28.

No site da Anvisa, um documento de perguntas frequentes sobre os autotestes de covid-19 esclarece diversas dúvidas sobre o assunto. Uma das afirmações da agência é que “é importante destacar que os testes rápidos de antígeno aprovados para uso profissional não podem ser utilizados como autotestes por usuários leigos. Estes produtos podem apresentar diferenças quanto ao desempenho, o tipo de amostra a ser utilizada (que pode requerer treinamento profissional) e nas orientações das instruções de uso, trazendo risco à saúde e à confiabilidade do resultado se utilizados por pessoas não qualificadas”. A Anvisa ainda ressalta, ao longo de todo o documento, que o autoteste precisa ser utilizado como uma espécie de triagem para que o isolamento seja feito o quanto antes, quebrando assim a transmissão do vírus e reforça a necessidade de se buscar atendimento em um serviço de saúde para confirmar o diagnóstico.

Por que investigamos?

O Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia de covid-19, as políticas públicas do governo federal e as eleições de 2022 que tenham viralizado nas redes sociais. Quando se trata de temas relacionados à covid-19, a checagem se torna ainda mais necessária, visto que a desinformação sobre a doença pode levar as pessoas a não acreditarem nas recomendações das autoridades sanitárias e se expor a riscos desnecessários.

O vídeo verificado aqui foi sugerido pelos leitores do Comprova através do WhatsApp, onde circulou. Sugestões como esta podem ser encaminhadas pelo número (11) 97045-4984, ou clicando neste link. Conteúdos muito parecidos foram verificados por Aos Fatos, Boatos.org e Fullfact.

Nos últimos dias, o Comprova desmentiu informações falsas sobre a pandemia, mostrando que máscaras impedem a proliferação da covid-19 e não atrapalham a respiração e que não há registro de mortes de crianças causadas pela vacina contra a covid-19 no Brasil. Também explicou aos leitores por que eventos adversos graves pós-vacinação são raros e os benefícios da imunização superam os riscos.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Esta verificação foi feita por jornalistas que participam do Programa de Residência no Comprova

Saúde

Investigado por: 2022-02-04

É falso que vacinas tenham causado “milhares de mortes”; protestos em vídeo viral são contra passaporte vacinal

  • Falso
Falso
São falsas as informações dos vídeos que afirmam mostrar uma manifestação contra “milhares de mortes e efeitos adversos das vacinas”, em frente ao prédio da Pfizer, em Paris. Os protestos que aparecem nas imagens foram realizados na capital francesa e em Estocolmo, na Suécia, e são contra a exigência do passaporte vacinal. Não há qualquer menção a "milhares de mortes" com relação confirmada com as vacinas por parte das agências sanitárias internacionais.
  • Conteúdo verificado: Dois vídeos que circulam nas redes sociais mostram protestos em diferentes ângulos — imagens aéreas e terrestres — com a seguinte legenda: “Prédio da Pfizer cercado em Paris, o povo grita assassinos, devido às milhares de mortes e efeitos adversos das vacinas. Isso a Globo não mostra”.

São falsas as informações de dois vídeos compartilhados no TikTok e no Facebook que afirmam que o prédio da farmacêutica Pfizer foi cercado em Paris, na França, em um protesto contra as “milhares de mortes e efeitos adversos das vacinas”. Os vídeos mostram dois protestos diferentes — um na Suécia e outro na França —, mas nenhum dos atos tinha como pauta supostas mortes e efeitos adversos provocados pelos imunizantes. Nas duas ocasiões, as pessoas se manifestaram contra a exigência do passaporte vacinal.

O primeiro vídeo, visualizado mais de 63 mil vezes no TikTok antes de ser apagado pelo usuário na quinta-feira (3), foi gravado em Estocolmo, na Suécia, no dia 22 de janeiro de 2022. A legenda inserida na imagem mente duas vezes: primeiro, ao dizer que o ato ocorreu em frente ao prédio da Pfizer em Paris, e novamente ao dizer que o motivo da manifestação eram mortes e reações adversas provocadas pela vacina.

O segundo vídeo, compartilhado no Facebook, realmente mostra uma manifestação em frente à sede da Pfizer em Paris, no dia 29 de janeiro de 2022. Mas a legenda também mente sobre o motivo do protesto. Ele também era contra o passaporte vacinal, instituído na França em 24 de janeiro.

Consultadas pelo Comprova, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA), a Food and Drug Administration (FDA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) não identificaram “milhares de mortes” relacionadas às vacinas. E afirmam que a grande maioria dos efeitos adversos são leves e de curta duração, sendo raros os casos graves.

Procurado, o autor da postagem no TikTok afirmou que recebeu o conteúdo por um grupo de WhatsApp e repostou. Após contato do Comprova, o vídeo foi excluído. Já a mulher que fez a publicação no Facebook não respondeu às mensagens.

O Comprova classificou esses conteúdos como falsos porque alteram a pauta dos protestos de modo deliberado, para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

O Comprova buscou confirmar, inicialmente, a realização dos eventos que aparecem nos vídeos e suas pautas. Buscas reversas na internet a partir das imagens, consultas no Google sobre os protestos e a análise das características dos locais no Google Street View levaram à identificação de manifestações em Paris, na França, e em Estocolmo, na Suécia.

As buscas levaram aos vídeos originais, por meio dos quais foi possível identificar as pautas das manifestações e seus organizadores. Nos protestos, nas reportagens que cobriram os eventos e nas páginas dos responsáveis pelos atos não há qualquer menção a “milhares de mortes e efeitos adversos das vacinas”.

Em seguida, o Comprova buscou dados oficiais sobre efeitos adversos das vacinas e possíveis mortes relacionadas aos imunizantes. Foram procurados, por e-mail, a EMA, a OMS, a FDA e o CDC.

Também procuramos o governo francês e a Pfizer, que é citada nas postagens. Tivemos respostas da EMA, da FDA, da OMS e da Pfizer.

Por fim, o Comprova entrou em contato com os autores das publicações.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 4 de fevereiro de 2022.

Verificação

Vídeo no TikTok mostra ato em Estocolmo, não em Paris

Um dos conteúdos checados é um vídeo publicado no TikTok que mostra imagens de um protesto com a legenda “Prédio da Pfizer cercado em Paris, o povo grita assassinos, devido às milhares de mortes e efeitos adversos das vacinas. Isso a Globo não mostra”. O vídeo, entretanto, mostra um protesto ocorrido em Estocolmo, na Suécia, e não em Paris.

A partir do mecanismo de busca reversa, o Comprova encontrou o vídeo original, publicado no dia 22 de janeiro pela página de um grupo sueco chamado Frihetsrörelsen — Movimento de Liberdade, em tradução livre.

Buscando por notícias locais sobre o protesto na Suécia, os resultados retornaram uma matéria do Svenska Dagbladet, que informa que, no dia 22, ocorreram manifestações em Estocolmo e Gotemburgo contra o passaporte da vacina. A primeira reuniu entre 8 e 9 mil participantes, que partiram da praça Norrmalmstorg e marcharam ao longo de Hamngatan até a praça Sergel.

Ao buscar por esses locais no Google Street View, foi possível identificar prédios, placas e outros elementos que correspondiam às imagens do vídeo. Dessa forma, confirmamos que o protesto não ocorreu em frente ao prédio da Pfizer em Paris e, sim, em Estocolmo.

Além disso, as notícias locais afirmam que as manifestações de Estocolmo e Gotemburgo ocorreram contra o passaporte da vacinação, não pelas “milhares de mortes e efeitos adversos das vacinas”, como sustenta o vídeo. As publicações da página do movimento também não fazem menção a mortes supostamente relacionadas às vacinas. Um novo protesto, que também visa a revogação do passaporte da vacina, foi convocado para o dia 19 de março.

Atos na França e em frente ao prédio da Pfizer

O outro vídeo, postado no Facebook, realmente mostra uma manifestação em Paris, em frente ao edifício sede da Pfizer, mas, novamente, as pessoas não protestavam naquela ocasião contra supostas mortes e efeitos adversos das vacinas, e sim contra o passaporte vacinal.

As manifestações aconteceram no dia 29 em diversos pontos da França. Tanto a imprensa francesa quanto a internacional (1, 2, e 3) noticiaram os atos. O jornal Le Parisien publicou que o Ministério do Interior calculou em 30 mil pessoas o número de manifestantes em 162 atos espalhados pelo país naquele sábado.

Na capital, Paris, foram cerca de 5,3 mil pessoas em quatro atos distintos, sendo um deles uma marcha até o prédio sede da Pfizer, na Av. du Dr Lannelongue. Este vídeo da agência Ruptly, mostra os manifestantes próximos ao edifício sede da farmacêutica, mesmo local onde foi feito o material postado no Facebook. O vídeo fala em cerca de 250 participantes.

Segundo a imprensa local, atos contra o passaporte vacinal já vinham acontecendo no país nas semanas anteriores e os do dia 29 de janeiro aconteceram poucos dias depois de a exigência do documento entrar em vigor, em 24 de janeiro.

Os dados divulgados pelo Ministério do Interior mostraram, contudo, um número menor de manifestantes e de atos em todo o país. Se no dia 29 foram 30 mil pessoas em 162 manifestações, no final de semana anterior tinham sido 38 mil manifestantes em 171 protestos espalhados por toda a França.

Mortes e reações adversas não foram pauta das manifestações

Diferente do que afirma a tarja inserida nos dois vídeos aqui verificados, “milhares de mortes e efeitos adversos” provocadas pelas vacinas não faziam parte da pauta dos atos realizados no dia 22 de janeiro em Estocolmo e no dia 29 em Paris. Todos os textos encontrados pelo Comprova na imprensa francesa e até as imagens dos cartazes que aparecem no protesto são contrários ao passaporte vacinal.

No caso dos atos ocorridos na França, há pelo menos três organizadores. O grupo Union Citoyenne pour la Liberté, cuja logomarca aparece em faixas nos protestos, os chamados coletes amarelos e o candidato à presidência pelo partido de direita Patriots, Florian Philippot.

Um texto publicado no portal francês InfoDuJour, uma convocação favorável aos atos do dia 29 de janeiro e que se refere à política de saúde da França como “estúpida, restritiva e enganadora”, diz que os atos são contra a política sanitária e contra o presidente Emmanuel Macron. Os atos ocorreram a 75 dias do primeiro turno das eleições presidenciais na França, sem mencionar mortes ou reações adversas pelas vacinas.

Dados sobre mortes e reações adversas

Agência Europeia de Medicamentos (EMA)

A informação de “milhares de mortes e efeitos adversos das vacinas”, que acompanha os vídeos, não procede. Na página sobre informações de segurança das vacinas autorizadas na Europa, a EMA afirma que “a vasta maioria dos efeitos colaterais adversos conhecidos são leves e de curta duração”, e que casos graves são “extremamente raros”.

A EMA é responsável pela avaliação científica, supervisão e monitoramento da segurança dos medicamentos em utilização nos países da União Europeia (UE) e do Espaço Econômico Europeu (EEE). São 30 países no total, incluindo França e Suécia, onde ocorreram as manifestações que aparecem nos vídeos aqui verificados.

A agência afirma que todas as vacinas autorizadas para uso na Europa são seguras e efetivas no combate à covid-19. São elas: ComiRNAty (Pfizer/BioNTech), COVID-19 Vaccine Janssen, Vaxzevria (AstraZeneca) e Spikevax (Moderna).

“Elas foram avaliadas em dezenas de milhares de participantes em ensaios clínicos e atenderam aos padrões científicos da EMA para segurança, eficácia e qualidade”, diz a agência.

Na página com informações sobre a vacina da Pfizer, à qual se referem os vídeos aqui verificados, a EMA informa que os efeitos adversos mais comuns do imunizante são geralmente leves e moderados, e incluem dor e inchaço no local da injeção, cansaço, dor de cabeça, dores musculares e nas articulações, calafrios, febre e diarreia.

No último boletim da EMA sobre segurança das vacinas, de 20 de janeiro, a agência informa que estudos estão em andamento para confirmar outro possível evento adverso: a síndrome de extravasamento capilar (Capillary leak syndrome) – um distúrbio caracterizado pelo vazamento de fluido dos vasos sanguíneos, causando inchaço dos tecidos e queda da pressão arterial.

Não há alertas da EMA sobre risco de morte relacionado a qualquer efeito adverso da vacina.

Vacina da Pfizer na Europa

Segundo a EMA, foram aplicadas 545 milhões de doses da vacina da Pfizer na população dos países da UE e do EEE, entre 21 de dezembro de 2020, quando o imunizante foi autorizado, e 2 de janeiro deste ano.

Os dados sobre supostos eventos adversos das vacinas são coletados no sistema EudraVigilance, que recebe notificações espontâneas de indivíduos e agentes de saúde. De acordo com a EMA, esses dados são avaliados pelo Comitê da Farmacovigilância da agência (Prac, sigla em inglês) para a detecção de possíveis comportamentos inesperados.

Segundo dados do EudraVigilance, foram espontaneamente notificados 522 mil casos de supostos eventos adversos após a vacina da Pfizer, sendo 6.490 desses com resultado final morte. Os números aparecem no último boletim de segurança das vacinas, e são acompanhados da seguinte observação:

“O fato de alguém ter tido um problema médico ou ter morrido após a vacinação não significa necessariamente que isso tenha sido causado pela vacina. Isso pode ter sido causado, por exemplo, por problemas de saúde não relacionados à vacinação”.

Já o site do EudraVigilance traz a seguinte ressalva em relação às notificações espontâneas de eventos adversos:

“As informações neste site referem-se a efeitos colaterais suspeitos, ou seja, eventos médicos que foram observados após a administração das vacinas COVID-19, mas que não estão necessariamente relacionados à vacina ou tenham sido causados ​​​​por ela. Esses eventos podem ter sido causados ​​por outra doença ou estar associados a outro medicamento tomado pelo paciente ao mesmo tempo”.

A informação é reforçada em troca de e-mail entre a EMA e o Comprova:

Neste vídeo, a EMA afirma que as notificações de casos suspeitos de efeitos colaterais pós-vacinação “são, frequentemente, não relacionados à vacina”.

Sobre a análise desses dados, a agência afirma que:

“A avaliação científica da EMA leva em consideração muitos outros fatores, como o histórico médico do paciente, a frequência da suspeita de reação adversa na população vacinada em comparação com a frequência na população geral e se é biologicamente plausível que a vacina possa ter causado o evento. Apenas uma avaliação detalhada de todos os dados disponíveis permite tirar conclusões robustas sobre os benefícios e riscos das vacinas covid-19”.

Food and Drug Administration (FDA)

O Comprova também fez contato com a Food and Drug Administration (FDA), a agência reguladora de medicamentos norte-americana. Por e-mail, a FDA informou que técnicos da agência e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) identificaram, inicialmente, em abril de 2021, três mortes por trombose com síndrome de trombocitopenia (TTS) associada à vacina da Janssen. Os casos foram verificados em um universo de 6,8 milhões de doses aplicadas nos EUA.

A última atualização no site do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, de 31 de janeiro deste ano, aponta nove mortes por trombose com síndrome de trombocitopenia (TTS) associadas à vacina da Janssen, em um total de 18,1 milhões de doses aplicadas do imunizante. O número corresponde a 0,00005% do total de casos.

As vacinas em utilização nos EUA são a ComiRNAty (Pfizer/BioNTech), Spikevax (Moderna) e Janssen COVID-19 Vaccine.

Assim como a EMA, o FDA e o CDC classificam as vacinas contra a covid-19 como seguras e efetivas no combate à covid-19.

O que diz a Pfizer

Procurada pelo Comprova, a Pfizer informou por e-mail estar ciente dos relatos a respeito da manifestação ocorrida em Paris, em frente ao prédio da farmacêutica, mas que não conhece as razões do ato naquele local.

Sobre mortes e reações adversas provocadas pela vacina, informou que “a Pfizer encara com muita seriedade os eventos adversos potencialmente associados à vacina ComiRNAty. A companhia acompanha de perto todos os eventos e coleta informações relevantes para dividir com autoridades reguladoras globais”.

Em nota, acrescentou que “a Pfizer já distribuiu globalmente mais de 2,7 bilhões de doses da vacina ComiRNAty em mais de 168 países ao redor do mundo e não há, até o momento, qualquer alerta de segurança ou preocupação, de modo que o benefício da vacinação segue se sobrepondo a qualquer risco”.

Dados no Brasil

No Brasil, a análise sobre possíveis efeitos adversos e mortes relacionadas às vacinas foi divulgada pelo Ministério da Saúde no boletim epidemiológico nº 90, de 20 de novembro de 2021. O documento cita 11 mortes relacionadas às vacinas, 0,3% das reações graves notificadas ao Ministério da Saúde até aquele momento. Os casos estão relacionados à síndrome de trombose com trombocitopenia. Do total de vítimas, oito foram vacinadas com doses da AstraZeneca e três com Janssen, conforme mostrou o Comprova.

OMS: benefícios superam os riscos

Em resposta ao Comprova, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou, por e-mail, que as vacinas contra a covid-19 são constantemente avaliadas em relação aos benefícios versus riscos.

“A observação consistente até agora, em todos os países, foi que os benefícios das vacinas superam em muito os riscos”, diz a OMS.

O que dizem os autores

A equipe do Comprova entrou em contato com os autores das postagens. O homem que publicou o vídeo no TikTok, identificado como Marconi Americano, diz que recebeu o conteúdo em um grupo do WhatsApp e que repostou no TikTok. Também afirmou que não é o autor da legenda que aparece no vídeo. Marconi afirma que assim que soube das “inverdades”, apagou o post.

O vídeo, de fato, foi apagado do aplicativo após o contato do Comprova. Porém, segue disponível no perfil do Facebook de Marconi com a legenda “Prédio da Pfizer cercado em Paris, o povo grita assassinos, devido às milhares de mortes e efeitos adversos das vacinas. Isso a Globo não mostra.” Na publicação, o homem ainda marcou o deputado Carlos Jordy, as deputadas Carla Zambelli e Bia Kicis e o presidente Jair Bolsonaro.

O Comprova também procurou a autora do post no Facebook, Elza Elice Monfradini, mas não tivemos resposta até o momento.

Por que investigamos?

O Comprova investiga conteúdos suspeitos que tenham relação com a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O foco são publicações virais que têm grande alcance nas redes sociais e podem causar desinformação.

As postagens compartilhadas no TikTok e no Facebook aqui verificadas acumulavam mais de 63 mil interações nas duas redes, antes de o vídeo do TikTok ser retirado do ar pelo usuário, na tarde da última quinta-feira, 3. Embora eles mostrassem imagens de protestos que realmente aconteceram, as duas postagens enganavam ao afirmar que as pessoas se manifestaram contra mortes e reações adversas graves provocadas por vacinas. Os atos eram, na verdade, contra o passaporte vacinal.

O MonitoR7 também checou a veracidade do vídeo do protesto ocorrido em frente ao prédio da Pfizer. Publicações que questionam a segurança das vacinas são constantemente checadas pelo Comprova. Recentemente, a equipe mostrou que os efeitos adversos à vacinação são raros e os benefícios superam os riscos e que não há registro de mortes de crianças causadas por vacinas contra a covid-19 no Brasil.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2022-02-03

Médicos reafirmam: máscaras impedem proliferação da covid-19 e não atrapalham respiração

  • Falso
Falso
É falso conteúdo de vídeo que afirma que o uso prolongado das máscaras contra a covid-19 pode afetar o sangue e aumentar os riscos de contágio. A afirmação esconde que isso só seria possível em caso de asfixia total, o que não acontece com o uso das máscaras em nenhuma hipótese.
  • Conteúdo verificado: Vídeo compartilhado no Facebook, Twitter, WhatsApp e Telegram afirma que as máscaras retém o gás carbônico expelido na respiração, fazendo com que o usuário volte a inalá-lo. Isso causaria uma acidificação do sangue, o que tornaria usuários de máscaras mais suscetíveis a infecções pelo novo coronavírus.

São falsas as afirmações feitas em vídeo postado no Facebook, Twitter e no Telegram, segundo as quais o uso prolongado de máscaras de proteção individual pode acidificar o sangue e aumentar as chances de contágio pelo coronavírus.

De acordo com estudos e especialistas ouvidos pelo Comprova, o uso correto das máscaras reduz a transmissão do vírus.

As máscaras são feitas de material poroso, que permite a passagem do oxigênio consumido e o gás carbônico produzido durante a respiração. O que as máscaras impedem é a passagem de gotículas, pequenas partículas que ficam no ar e que carregam o vírus.

O material usado na produção das máscaras é submetido a testes que mostram que os poros têm capacidade de barrar as gotículas e permitir a passagem dos gases.

Procurado pelo Comprova, o site Corpur Iuris, que divulgou o vídeo investigado nessa checagem, não respondeu o contato feito por e-mail, pelo próprio site e pelo telefone da advogada indicada no site.

O Comprova classifica a afirmação de que as máscaras podem causar danos à saúde das pessoas como falsa porque utiliza dados imprecisos, fora de contexto, para levar as pessoas a uma conclusão que não é verdadeira.

Como verificamos?

O vídeo verificado aqui foi primeiramente divulgado em um canal no Telegram. O Comprova entrou em contato com os responsáveis para checar as fontes de informação utilizadas na produção do material, mas não obteve resposta.

Em seguida, o Comprova pesquisou as diretrizes das autoridades de saúde sobre o uso das máscaras, que são recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e pelo Ministério da Saúde.

Também procuramos infectologistas, que relataram aspectos médicos e científicos sobre o uso de máscaras.

Por fim, analisamos estudos sobre o uso prolongado de máscaras, como este do Memorial Hospital de Miami, que mostra que não há alteração significativa no consumo de oxigênio e produção de gás carbônico.

Verificação

Máscaras não prejudicam a respiração

As máscaras, assim como a higiene das mãos, são uma das maneiras de prevenir o contágio pelo coronavírus, segundo recomendações do Ministério da Saúde. Ao contrário do que informa o vídeo aqui verificado, as máscaras não retêm o gás carbônico produzido durante a respiração.

O material utilizado na fabricação das máscaras, sejam elas cirúrgicas, descartáveis ou caseiras de pano, é poroso – ou seja, contém furos grandes o suficiente para que as moléculas de oxigênio e gás carbônico passem de um lado para o outro e pequenas o bastante para impedir que as gotículas que carregam o coronavírus passem.

Estudos como este, do Memorial Hospital de Miami, mostram que a respiração não é prejudicada pela utilização de máscaras. Os voluntários foram submetidos a exercícios de diferentes intensidades com e sem máscara, e os níveis de oxigênio e gás carbônico mantiveram as variações esperadas mesmo em pessoas com problemas respiratórios.

O que dizem os especialistas?

Especialistas entrevistados apontaram que não há qualquer fundamento científico à ideia de que o uso de máscaras causa riscos à saúde. Segundo eles, o item deve ser, sim, usado como medida de prevenção ao contágio.

De acordo com o médico infectologista Marcus Guerra, diretor do Hospital Tropical do Amazonas, não existe sustentação à teoria de que as máscaras acidificam o sangue ou facilitam a proliferação do vírus.

“Não há fundamento. O ar expirado contendo CO2 não é reinspirado novamente. Vários trabalhos científicos já desclassificaram conteúdos que mencionam essa possibilidade”, explica.

Sobre a afirmação de que o fortalecimento do sistema imunológico é suficiente para proteger as pessoas do coronavírus, o médico ressalta que não procede.

“O sistema imunológico é altamente específico. Para ele reagir a um invasor, rápido e eficientemente, é preciso que ele tenha sido estimulado anteriormente. Este é o papel das vacinas já existentes no calendário vacinal do Programa Nacional de Imunização”, ressalta Marcus.

Segundo o médico Nelson Barbosa, infectologista que atuou na crise de falta de oxigênio no Amazonas durante a pandemia de covid-19, as máscaras cumprem o seu papel de prevenção sem prejuízo à saúde do corpo. “Nem teríamos a diminuição da transmissão sem o uso contínuo delas”, diz o médico.

Ele também discorda quando se fala que apenas fortalecer o sistema imunológico já impede a ação do coronavírus. “O fortalecimento do sistema imunológico atenua os efeitos deletérios da infecção pelo Sars-CoV-2, mas não impede a sua infecção”, concluiu.

Usar máscara não acidifica o sangue

O vídeo investigado pelo Comprova afirma que usar as máscaras por um período longo faz com que o sangue fique mais ácido devido à alta quantidade de gás carbônico absorvida durante a respiração.

Além da informação não ser verdadeira, devido ao material usado na produção das máscaras permitir tanto o oxigênio do ambiente quanto o gás carbônico exalado ultrapassar o filtro, a informação também é falsa porque a quantidade necessária de gás carbônico a ser inalada para que houvesse alteração significativa no pH do sangue só seria possível em caso de asfixia ou de completa vedação, como ao respirar dentro de um saco plástico, como explica esse estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Além disso, alterações pequenas na acidez do sangue são niveladas pelo próprio organismo, como mostra um estudo produzido por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Por que investigamos?

O Comprova verifica conteúdos suspeitos que circulam nas redes sociais, que tenham relação com a pandemia, políticas públicas do governo federal ou as eleições de 2022. O foco são publicações que têm grande alcance. O vídeo checado nesse texto tinha ao menos 6 mil interações logo que postado no Facebook e 2 mil interações no Twitter, além de ter circulado por aplicativos como Telegram e WhatsApp.

Outras agências de checagem como Fato ou Fake, Veja, Estadão e Lupa e até mesmo o canal da ONU no YouTube já fizeram checagens sobre o mesmo tema ou semelhantes, assim como o próprio Comprova fez em ao menos quatro ocasiões, explicando como as máscaras protegem contra a epidemia do H3N2, mostrando que as máscaras não tornam o sangue ácido, que é enganoso um estudo mostrando que as máscaras seriam ineficazes e que as autoridades e estudiosos recomendam o uso de máscara.

Para o Comprova, falso é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.