O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2023-06-05

Não há indícios de que Amish tenham tido menos mortes por covid-19

  • Falso
Falso
É falso que a comunidade Amish, nos Estados Unidos, tenha registrado “30 vezes menos” mortes por covid-19 mesmo não seguindo recomendações das autoridades sanitárias, como a vacinação. Pesquisa feita com uma das comunidades indica que a tendência de morte por covid entre os Amish foi a mesma do resto dos Estados Unidos. Apesar de avessos à imunização, os Amish seguiram outras recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), como o distanciamento social.

Conteúdo investigado: Tuíte dizendo que os Amish “rejeitaram vacinas, bloqueios e máscaras da covid” e que teriam sofrido “30 vezes menos mortes” pela doença acompanha link para site desinformativo com o mesmo conteúdo.

Onde foi publicado: Twitter e site.

Conclusão do Comprova: Não há indícios de que comunidades Amish tenham tido “30 vezes menos” mortes por covid-19 do que o restante da população por não seguir as recomendações das autoridades sanitárias, como o distanciamento social, o uso de máscara e a vacinação contra a doença.

As comunidades Amish são avessas à vacinação e também à tecnologia de forma geral, o que significa que foram menos testadas para a doença. Por conta disso, não há dados conclusivos a respeito da pandemia entre integrantes desse grupo. Contudo, estudo do Center for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos confirmou que o vírus chegou e se espalhou nessa população, deixando pessoas doentes.

Como não existem dados de mortalidade por covid-19 agregados por grupo religioso, não há como saber exatamente quantos Amish morreram nos Estados Unidos. Um estudo feito com base em obituários publicados na imprensa, no entanto, indica que a mortalidade em algumas comunidades desse tipo seguiu a mesma tendência que o resto do país.

Embora não tenham procurado a vacina, reportagens publicadas na imprensa tradicional mostram que, no período mais crítico da pandemia, os Amish seguiram outras medidas de prevenção, como o distanciamento social.

Além disso, o post, aqui analisado, fala que os Amish teriam registrado 30 vezes menos mortes por covid-19 do que o resto dos Estados Unidos. No entanto, há um problema matemático nesta construção, uma vez que um objeto uma vez menor do que ele próprio já significa zero.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 5 de junho, o tuíte analisado já tinha mais de 112 mil visualizações, 6 mil curtidas e 1,8 mil compartilhamentos.

Como verificamos: O primeiro passo foi pesquisar por notícias relacionadas aos Amish e à pandemia de covid-19. O site do CDC também foi consultado para saber se existiam dados específicos sobre os Amish e o coronavírus. Por fim, a autora do tuíte e o site Tribuna Nacional foram procurados.

Verificação

Os Amish são um grupo cristão que busca viver isolado da sociedade moderna. A ideia é recriar o modo de vida do século 17, quando a Igreja Menonita foi criada pelo suíço Jakob Amman. Dessa forma, eles evitam o uso de tecnologias, inclusive de smartphones, televisões e carros. Os Amish vivem, principalmente, em comunidades isoladas nos Estados Unidos e no Canadá.

Estima-se que haja cerca de 360 mil pessoas vivendo em comunidades Amish nos Estados Unidos, a maior parte está nos estados da Pensilvânia, Ohio e Indiana.

Os Amish e a covid-19

Não há dados estatísticos oficiais sobre casos e mortes por covid-19 em comunidades religiosas. Da mesma forma, não há dados oficiais sobre a vacinação desses grupos.

Mas, de acordo com um estudo feito pelo Departamento de Sociologia e Antropologia da Universidade de West Virgínia, revisado por pares e publicado na revista Journal of Religion and Health, mortes nas comunidades Amish por covid-19 seguiram as mesmas tendências que o resto dos Estados Unidos. Os pesquisadores apontam que, como os grupos Amish são avessos à tecnologia, a tendência é que eles tenham sido menos testados para a covid-19. No entanto, usando obituários publicados em jornais, o estudo foi capaz de detectar um aumento de 125% no número médio de mortes entre os Amish durante a pandemia. A tendência é similar à do resto dos Estados Unidos.

Em maio de 2022, a Al-Jazeera fez uma matéria sobre uma comunidade Amish que fica em Ohio. De acordo com a reportagem, as autoridades do distrito de saúde do condado de Holmes se recusaram a falar com a publicação, porém, o número total de mortes relatadas em 2020 e 2021 no condado aumentou quase um terço em comparação com 2019. Segundo a matéria, como em outras comunidades, esse aumento provavelmente é atribuído ao covid-19.

Já de acordo com matéria de junho de 2021 da Associated Press, durante os primeiros meses da pandemia, os Amish seguiram as diretrizes de distanciamento social e pararam de se reunir em igrejas e funerais.

Ainda segundo o mesmo texto, em 2021, os casos caíram. “Contar com a possível imunidade coletiva quando poucos testes foram realizados entre os Amish é arriscado”, disse Esther Chernak, diretora do Centro de Prontidão e Comunicação em Saúde Pública da Universidade Drexel, na Filadélfia.

No entanto, a comunidade enfrenta resistência para se vacinar contra a doença. A maioria diz que já teve o vírus e não vê necessidade de ser vacinado, disse Mark Raber, que é Amish e membro de um assentamento no condado de Daviess, Indiana, que tem uma das taxas de vacinação mais baixas do estado.

Em abril de 2020, uma pesquisa foi feita avaliando padrões e crenças de vacinação em famílias Amish. O questionário foi enviado a 1 mil famílias Amish.

A taxa de resposta foi de 39%. Entre 391 entrevistados, 59% não vacinaram seus filhos. Os amish ultraconservadores rejeitaram as vacinas com mais frequência. Pesquisa feita uma década antes na mesma comunidade havia revelado que 14% recusavam todas as vacinas.

A pesquisa feita em 2020 também constatou que crianças Amish com alguma deficiência eram mais propensas a receber vacinas do que crianças Amish sem deficiência. Entre os entrevistados, 75% responderam que rejeitariam uma vacina covid-19. O medo de efeitos adversos foi o motivo mais comum para a rejeição.

Famílias que aceitavam vacinas eram mais propensas a citar um profissional de saúde como a principal influência para se vacinar. As esposas eram mais propensas a citar o cônjuge como a principal razão para se imunizar.

De acordo com dados atuais do CDC, 65% da população de Ohio, onde essa comunidade Amish está, recebeu pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19 e 60% se vacinou com duas doses.

Vacinas são a melhor forma de proteção

De acordo com a OMS, é preferível se vacinar contra a covid-19 do que se infectar com a doença. Isso porque “as vacinas constroem imunidade sem os efeitos prejudiciais que a doença pode ter, incluindo os efeitos a longo prazo e a morte. Permitir que a doença se propague poderia causar milhões de mortes e ainda mais pessoas vivendo com os efeitos a longo prazo do vírus”.

Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), nas quatro semanas após a infecção, entre 90% e 99% dos indivíduos infectados pelo vírus SARS-CoV-2 desenvolvem anticorpos neutralizantes detectáveis. No entanto, a duração desta resposta imune pode variar de três meses a cinco anos, ou seja, há possibilidade de reinfecção ou de o paciente contrair outra cepa do vírus contra a qual ainda não desenvolveu imunidade.

O que diz o responsável pela publicação: A autora do tuíte foi procurada por mensagem privada e o site Tribuna Nacional por e-mail. Nenhum dos dois respondeu até a publicação dessa verificação.

O que podemos aprender com esta verificação: Conteúdos como este visam descredibilizar governos, organizações de saúde pública e pesquisadores insinuando que os esforços de prevenção contra a covid-19 e de imunização teriam sido em vão, o que não é verdade.

Neste caso, busca-se utilizar um dado inventado (“30 vezes menos mortes”) de uma população isolada e sobre a qual não se tem muita informação (os Amish) para dar ar de legitimidade ao argumento de que teria havido um “pânico fabricado” a respeito da pandemia. Como em muitas outras teorias conspiracionistas, essa suposta trama enganosa seria promovida por empresas farmacêuticas e governantes para controlar a população.

Ao se deparar com conteúdos suspeitos sobre a pandemia ou sobre vacinação de modo geral, é importante conferir a veracidade das afirmações junto aos órgãos sanitários e de Saúde, como a OMS, a Opas e o Ministério da Saúde.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já checou diversas informações falsas ou enganosas a respeito da covid-19 e das vacinas utilizadas para combater o vírus. Já foi comprovado que a pandemia não foi inventada, que expor a população ao risco de contrair o vírus não é melhor do que promover a vacinação, que o FBI não confirmou a origem do coronavírus e que o Parlamento Europeu não classificou os imunizantes contra a covid-19 como armas biológicas.

Saúde

Investigado por: 2023-06-02

Vacinas contra a covid-19 não foram proibidas, ao contrário do que diz post

  • Falso
Falso
Não é verdade que o Ministério da Saúde tenha proibido a aplicação de vacinas contra a covid-19 nem que tenha alertado sobre perigos envolvendo-as. Posts usam trecho de vídeo em que o jornalista Alexandre Garcia faz tais afirmações, mas o órgão apenas alterou a indicação da Astrazeneca para pessoas a partir dos 40 anos. A mudança foi por conta de novas evidências científicas que relacionam o imunizante a casos raros de trombose. Em nenhum momento o ministério parou de recomendar que as pessoas se vacinem – pelo contrário, em seus comunicados, a entidade sempre reforça a segurança e eficácia das vacinas.

Conteúdo investigado: Vídeo que alega que as vacinas foram proibidas. A gravação mostra Alexandre Garcia afirmando que somente agora o Ministério da Saúde estaria avisando sobre riscos de trombose decorrentes das vacinas da Janssen e Astrazeneca e que esta última teria tido a produção suspensa no Brasil. Sobre o vídeo foi colocada a mensagem alarmista: “Proibiram as vacinas, e agora? E quem já tomou?”.

Onde foi publicado: TikTok e Kwai.

Conclusão do Comprova: É falso post com um trecho de vídeo em que o jornalista Alexandre Garcia afirma que o Ministério da Saúde “está avisando agora que há perigo de trombose em vacinas Janssen e Astrazeneca” e que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) parou de produzir esta última. Uma das publicações que circula com a gravação usa a legenda “Proibiram as vacinas agora? E quem já tomou?”. Nem mesmo Garcia fala sobre uma suposta “proibição”, como fez o autor do post.

O jornalista tira informação de contexto ao dizer que o ministério alertou tardiamente sobre o “perigo” de os imunizantes causarem trombose. O órgão sempre defendeu o uso das vacinas e nunca as relacionou com “perigo”. O que ocorreu foi que, já em abril de 2021 – e não agora –, o ministério publicou nota técnica sobre possíveis casos de Síndrome de Trombose e Trombocitopenia (STT) associados à vacina. Mais recentemente, em dezembro do ano passado, considerando raros casos da doença no exterior, o Ministério da Saúde alterou a recomendação da Astrazeneca, produzida pela Fiocruz, e da Janssen, passando a indicá-las para pessoas a partir dos 40 anos. De acordo com o documento, a incidência de ocorrência da STT é bastante variável entre os diferentes países, com estimativas entre 0,2 até 3,8 casos por 100 mil doses aplicadas

A mudança não significa que a vacina não seja segura, o que o órgão reforçou em nota de abril deste ano, em que garante a segurança e eficácia da Astrazeneca e destaca que ela foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Um usuário do TikTok que compartilhou o vídeo no dia 29 de maio obteve, em 24 horas, 18,7 mil curtidas e 16,7 mil compartilhamentos. No Kwai, não há publicações recentes do vídeo, mas uma delas, feita no dia 14 de abril, tinha sido assistida, até 2 de junho, 91,5 mil vezes.

Como verificamos: O Comprova fez uma busca no Google por informações sobre a suposta proibição das vacinas e encontrou uma nota da Anvisa explicando que nenhum dos imunizantes aprovados pela agência teve o uso desautorizado.

Por meio das Notas Técnicas e Boletins Epidemiológicos emitidos pelo Ministério da Saúde checamos as informações sobre eventos supostamente atribuídos às vacinas.

Também consultamos matérias que saíram em veículos de imprensa profissional e em agências de checagem sobre a mudança da recomendação do uso das vacinas Astrazeneca e Janssen.

Verificação

 

O vídeo

Conteúdos semelhantes ao investigado aqui já haviam circulado em abril. Os posts de agora usam trecho de um vídeo publicado no canal do YouTube de Alexandre Garcia no dia 13 de abril, quando o Ministério da Saúde publicou recomendação garantindo a segurança e eficácia da Astrazeneca e reforçando que ela foi aprovada pela Anvisa e pela OMS.

Intitulado “Lula não sabe por que dólar é moeda padrão”, o vídeo, de 14 minutos e 16 segundos, trata de outros assuntos, como economia, Bolsa Família e o julgamento de André do Rap. A partir de 12 minutos e 17 segundos, desinforma sobre as vacinas contra a covid.

Vacinas não foram proibidas

A Anvisa explicou em nota, publicada no dia 13 de abril, que nenhuma das vacinas contra a covid-19 aprovadas pela autarquia foi proibida ou desautorizada.

O documento informa que a agência é “responsável por analisar os pedidos apresentados pelas empresas farmacêuticas a fim de verificar se os dados e informações técnicas garantem a eficácia, segurança e qualidade das vacinas”.

A Anvisa aprovou os imunizantes produzidos pela Pfizer, Butantan, Janssen e Fiocruz/AstraZeneca e concedeu autorização para exportação excepcional do imunizante da Sputnik. Ou seja, a mensagem inserida no vídeo (“Proibiram as vacinas, e agora? E quem já tomou?”) não é verdadeira.

A Fiocruz não parou de produzir as vacinas

No dia 14 de abril, a Fiocruz, responsável pela produção do imunizante da Astrazeneca no país, emitiu uma nota explicando que a fabricação não tinha sido paralisada, que a vacina é segura e eficaz e que os “possíveis efeitos adversos graves, como a síndrome de trombose com trombocitopenia, são extremamente raros”.

De acordo com Boletim Epidemiológico, publicado pelo Ministério da Saúde, do dia 18 de janeiro de 2021 a 18 de junho de 2022 foram registrados 16 óbitos decorrentes de Eventos Supostamente Atribuíveis à Vacinação ou Imunização (ESAVI) cuja causa foi a vacina aplicada (12 pela Astrazeneca/Fiocruz e 4 pela Janssen). “Ressalta-se que os 16 óbitos com relação causal confirmada correspondem a 1 caso a cada 20 milhões de doses aplicadas”, explica o documento.

Mesmo com o registro desses casos raros, a Anvisa manteve a recomendação da continuidade da vacinação com as vacinas da Astrazeneca e da Janssen, por compreender que os benefícios dos produtos superam seus riscos.

Houve, porém, em dezembro de 2022, uma sugestão do Ministério da Saúde para que tais imunizantes fossem aplicados preferencialmente em pessoas acima de 40 anos.

Ministério da Saúde acompanha casos adversos de pós-vacina

No vídeo alvo desta checagem, Alexandre Garcia acusa o Ministério da Saúde de estar avisando somente agora (referindo-se a abril de 2023) que as vacinas supostamente causaram trombose. Isso não é verdade. Pelo menos desde abril de 2021, o Ministério da Saúde orienta sobre a identificação, investigação e manejo da Síndrome de Trombose e Trombocitopenia (TTS) no contexto da vacinação contra a covid-19 no Brasil.

Em 22 de abril de 2021, a pasta emitiu a Nota Técnica nº 441/2021 sobre o assunto. As recomendações foram atualizadas em 4 de agosto de 2021 com a publicação da Nota Técnica nº 933.

Mais recentemente, em 31 de dezembro de 2022, considerando os raros eventos em países da Europa e na Austrália e nos Estados Unidos da TTS após a vacinação, o Ministério da Saúde atualizou as recomendações de uso da Astrazeneca e Janssen. As duas são fabricadas a partir de uma tecnologia conhecida como vetor viral e, de acordo com o documento, o indicado seria que elas fossem aplicadas para uma determinada faixa etária.

No item 3.7 da nota está escrito: “As vacinas de vetor viral estão indicadas para uso na população a partir de 40 anos de idade e; em pessoas de 18 a 39 anos de idade, devem ser administradas preferencialmente vacinas COVID-19 da plataforma de RNAm, entretanto, nos locais de difícil acesso ou na indisponibilidade do imunizante dessa plataforma, poderão ser utilizadas as vacinas de vetor viral (Astrazeneca e Janssen)”.

Ainda sobre os monitoramentos feitos pelo Ministério da Saúde, cabe destacar que em fevereiro de 2021, a Anvisa, órgão responsável por monitorar os eventos relacionados ao uso das vacinas e medicamentos, publicou o painel de Farmacovigilância sobre eventos adversos. Os Eventos Supostamente Atribuíveis à Vacinação ou Imunização (ESAVI) são monitorados pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). O sistema de informação utilizado pelo PNI para o monitoramento de eventos pós-vacinação é o e-SUS notifica.

Vacinas não são experimentais

Alexandre Garcia diz que as vacinas contra covid-19 estavam em teste quando foram aplicadas na população. Alegações semelhantes que buscavam disseminar medo sobre os imunizantes foram frequentemente desmentidas ao longo da pandemia.

Em agosto de 2021, por exemplo, o Comprova mostrou que uma médica enganava ao dizer que vacinas contra covid eram experimentais. A matéria explica que todas as substâncias utilizadas no Brasil foram autorizadas pela Anvisa após terem eficácia e segurança comprovadas ao serem aplicadas em milhares de voluntários durante os testes.

As vacinas usadas para combater o coronavírus passaram por todas as etapas de testes necessárias.

O que diz o responsável pela publicação: Não foi possível conversar com o responsável pela publicação, porque o conteúdo alvo desta checagem foi postado no TikTok e Kwai por usuários que não permitem o envio de mensagem privada de quem eles não eram seguidores. A reportagem tentou contato, via Instagram, com Alexandre Garcia, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

O que podemos aprender com esta verificação: Uma das táticas dos desinformadores é se comunicar de forma alarmista para chamar a atenção de quem os vê. E é isso o que fazem os autores dos posts ao acrescentarem sobre o vídeo, que em si já era enganoso, a afirmação de que as vacinas foram proibidas. Eles sugerem que os imunizantes poderiam causar problemas de saúde ao disseminar o medo.

Ao se deparar com conteúdos assim, reflita. Órgãos de saúde do mundo todo recomendam os imunizantes; após o início da campanha, os casos de óbitos começaram a cair e foi graças à vacinação que a OMS pôde declarar o fim da emergência de saúde da pandemia. Considerando isso, fazem sentido conteúdos antivacina?

Também é importante buscar em sites da imprensa profissional reportagens sobre o assunto. Ao pesquisar, seria possível perceber se tratar de desinformação, já que o Ministério da Saúde defende a vacina, garantindo sua segurança e eficácia.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova publicou na seção Comprova Explica uma reportagem em que detalha a nota do Ministério da Saúde e o motivo pelo qual a recomendação de uso da vacina Astrazeneca ter mudado. A Lupa mostrou que, desde 2021, a pasta acompanha supostos casos de trombose em pessoas que tomaram as vacinas da Janssen e Astrazeneca. O UOL Confere mostrou que é falso que a Fiocruz tenha parado de produzir o imunizante.

Saúde

Investigado por: 2023-05-23

É falso que aparelho criado por brasileiro seja capaz de detectar trombose em vacinados

  • Falso
Falso
É falso um vídeo que usa supostas imagens de exames para afirmar que as vacinas contra a covid-19 causam trombose venosa profunda. O conteúdo usa como referência um brasileiro que se apresenta como biólogo e que teria visto coágulos “maciços” no sistema vascular de imunizados através de uma máquina inventada por ele, mas não há registros oficiais comprovando o fato. A universidade onde afirma ter estudado informou que ele não concluiu o curso de Ciências Biológicas. Já o equipamento foi criado para detecção de dor e não para analisar outros problemas de saúde. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Fiocruz afirmam que casos de trombose em vacinados contra a covid-19 são raros; as duas entidades atestam que os benefícios da vacinação superam os riscos.

Conteúdo investigado: Vídeo que afirma que exames termográficos mostram que vacinados contra a covid-19 desenvolvem trombose e ficam assintomáticos mesmo com a suposta presença de coágulos sanguíneos “maciços” no organismo.

Onde foi publicado: Twitter e Telegram.

Conclusão do Comprova: É falso um tuíte que afirma que um suposto cientista brasileiro teria detectado trombose venosa profunda em pacientes vacinados contra a covid-19. O texto diz que a suposta trombose seria visível em imagens geradas por um aparelho criado pelo próprio cientista, Felipe Reitz. Porém, o equipamento em questão utilizaria imagens termográficas (que medem temperatura em locais do corpo) para identificar dor, não para detectar coágulos sanguíneos.

| Print do vídeo no tuíte checado que mostra o nome do equipamento com o qual os exames teriam sido feitos. Em português “pain diagnostic” significa diagnóstico de dor

Felipe Reitz, segundo a plataforma Lattes, estudou Biologia e Relações Internacionais, além de se identificar como inventor e “consultor da Nova Era”. Conforme a Universidade Federal de Santa Catarina, ele ingressou no curso de Ciências Biológicas em 1991, mas nunca concluiu a graduação.

Ele é o criador de um equipamento que mediria níveis de dor chamado de “Reitz Scan”, que teve financiamento do governo de Santa Catarina e foi apresentado ao Ministério da Saúde em 2018. Não há informações oficiais de que a máquina seja capaz de identificar coágulos sanguíneos ou qualquer outra condição de saúde além de dor.

O vídeo que acompanha a postagem desinformativa no Twitter foi originalmente publicado por Greg Reese no Instagram e traduzido pelo perfil investigado. Reese é editor de uma publicação americana conhecida por disseminar conteúdos desinformativos.

Ele utiliza imagens retiradas de um vídeo no YouTube de 23 de agosto de 2022 em que Reitz é entrevistado, em inglês, por uma médica estadunidense. Nessa entrevista, o brasileiro diz ter imagens que mostram coágulos sanguíneos em pessoas vacinadas assintomáticas e danos que seriam provocados pelo “óxido de grafeno” presente nas vacinas. Como já foi desmentido diversas vezes, não há grafeno nos imunizantes contra a covid-19.

No perfil do Facebook de Reitz, é possível notar que ele publica constantemente conteúdos antivacina, principalmente ligados à vacinação contra a covid-19. Ele classifica a imunização em massa contra o coronavírus como um “experimento biológico”. Para Felipe Reitz, as vacinas foram criadas para matar, o que não é verdade.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Fiocruz já atestaram que, apesar de terem sido relatados, casos de trombose venosa em vacinados são raros, com registros entre 0,2 e 3 casos para cada 100 mil doses aplicadas. Os benefícios das vacinas superam os riscos relacionados ao uso desses produtos. Assim, os imunizantes são considerados seguros e seguem sendo recomendados.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O vídeo legendado e postado no canal do Telegram foi visto 33 mil vezes até o dia 16 de maio de 2022. No Twitter, o mesmo conteúdo teve 33,8 mil visualizações.

Como verificamos: A partir da informação de que todas as vacinas contra a covid-19 aplicadas no Brasil tiveram o aval da Anvisa e que o diagnóstico de trombose por causa do imunizante é considerado raro, o Comprova buscou saber quem era Felipe Reitz, o homem apresentado pela peça de desinformação como o “biólogo” que disse ter diagnosticado pacientes com grandes coágulos sanguíneos.

A partir de um print retirado do vídeo, com a imagem de Felipe Reitz, o Comprova utilizou o aplicativo PimEyes para pesquisar fotos semelhantes e concluiu que o homem apresentado na desinformação era um empresário que atualmente trabalha como consultor. Entramos em contato com Reitz pelo Facebook e pelo LinkedIn, mas não houve resposta.

Contatamos a Universidade Federal de Santa Catarina, para saber se ele havia se formado em Biologia e a Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) a respeito da formação em Relações Internacionais. Também pesquisamos a origem da informação e das imagens que supostamente demonstrariam a trombose. Encontramos uma entrevista de Felipe Reitz com uma médica norte-americana no YouTube publicada em agosto de 2022 em que ambos falam sobre o assunto. Para saber sobre a máquina termográfica de diagnóstico citada, buscamos registros do equipamento no Inmetro e na Anvisa (por se tratar de aparelho de uso médico).

Quem é Felipe Reitz

Reitz diz no currículo Lattes que estudou biologia na Universidade Federal de Santa Catarina. A instituição afirma que ele ingressou no curso em 1991 mas não concluiu a graduação. Utilizado como fonte no conteúdo investigado, ele se apresenta no LinkedIn como um consultor empresarial. Seu trabalho atual listado na rede profissional é o de autônomo e “diretor consultivo para a Nova Era que se aproxima”.

No perfil no LinkedIn, Reitz afirma acumular experiências nas áreas de gestão e relação com investidores. No currículo Lattes ele diz ser graduado em Relações Internacionais pela Universidade do Sul de Santa Catarina, em 2014. O Comprova fez contato com a instituição para confirmar a formação, mas não obteve retorno.

Consta, no Lattes, o título de seu trabalho de conclusão de curso: BRICS – Um comparativo sobre o desempenho econômico do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul no período 2002-2010.

Felipe Reitz foi fundador da Reitz Innovation, uma extinta empresa especializada em “Quantificação de Dor”. Também foi sócio-administrador da empresa Global Detecta Complementação Diagnóstica, de fabricação de equipamentos terapêuticos.

Nenhuma das empresas atuava no ramo da vacinação. Elas desenvolviam máquinas para diagnóstico médico. A Reitz Innovation, inclusive, apresentou seus equipamentos ao departamento médico do time de futebol do Avaí. O site do clube mostra o registro desta reunião. O encontro entre Felipe Reitz e representantes do Avaí ocorreu no ano de 2018.

As empresas de Felipe Reitz encerraram as atividades, de acordo com a Receita Federal, em agosto de 2022. Atualmente, ele consta como sócio de uma empresa de web design e processamento de dados.

A Anvisa informou que não encontrou registros de equipamentos termográficos referentes ao nome “Reitz Scan” ou “Felipe Reitz”. Uma busca na base de dados do Inmetro por esses mesmos termos não retornou resultado.

Trombose e vacinas contra a covid-19

Uma edição do Comprova Explica esclareceu por que eventos adversos após a vacinação da covid-19 são raros e que os benefícios superam os riscos.

No fim de 2022, o Ministério da Saúde emitiu uma nota alterando as recomendações de uso das vacinas contra a covid-19 desenvolvidas com a tecnologia de vetor viral, como a da Oxford/AstraZeneca e a da Janssen. Ambos imunizantes passaram a ser indicados preferencialmente para pessoas com mais de 40 anos.

Segundo a nota, houve relatos de casos de síndrome de trombose com trombocitopenia (STT) em pessoas que receberam esses imunizantes. Contudo, a incidência é pequena, estimada entre 0,2 e 3 casos por 100 mil doses aplicadas.

O documento diz ainda que, embora haja a possibilidade raríssima de eventos adversos graves, os benefícios da vacinação contra a covid-19 superam os riscos. “Diferentes publicações estimam entre 300 mil a 800 mil vidas salvas pela vacinação apenas no primeiro ano da campanha de vacinação.”

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova tentou contato com perfil no Twitter que disseminou o conteúdo aqui investigado, mas ele não permite o envio de mensagens. Ao analisar o perfil no Twitter, Rumble e no Telegram, é possível ver que o usuário traduz e legenda diversos vídeos desinformativos originalmente publicados em inglês ou russo. Ele se identifica como tradutor.

O que podemos aprender com esta verificação: Conteúdos desinformativos com frequência utilizam imagens chocantes de exames médicos ou de pessoas doentes para captar a atenção do público e como supostas “provas” da afirmação feita. É importante saber a origem daquela imagem e se ela corresponde à informação que a acompanha. Outra pista de que a informação não é verdadeira é que o autor do suposto estudo e inventor da máquina que identifica trombose é brasileiro e não há nenhum registro sobre a descoberta dele na imprensa profissional brasileira. O que existe são registros dele e do equipamento em reportagens relacionadas à detecção e medição da dor.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já desmentiu inúmeros conteúdos que ligavam a vacinação contra a covid-19 aos mais diversos problemas de saúde, como Aids, câncer, danos genéticos, mortes em crianças, lesões nos órgãos e até “DNA alienígena”. A iniciativa também explicou por que eventos adversos após a vacinação da covid-19 são raros e que os benefícios superam os riscos.

Saúde

Investigado por: 2023-05-19

É falso que Parlamento Europeu tenha classificado vacina contra a covid-19 como arma biológica

  • Falso
Falso
Não é verdade que os maiores cientistas do mundo tenham dito em conferência no Parlamento Europeu que as vacinas contra a covid-19 são uma arma biológica. O evento citado por conteúdos de desinformação foi realizado por cinco dos 705 deputados do Parlamento e os convidados eram conhecidos negacionistas, não “os maiores cientistas”, como alegam as publicações. Instituições respeitadas, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), atestam a eficácia e a segurança das vacinas. A eficácia dos imunizantes ficou comprovada com a queda nas mortes pela doença pós-vacinação ao redor do mundo.

Conteúdo investigado: Posts afirmando que “a mídia corrupta não fala nada”, mas que está sendo realizada no Parlamento Europeu “uma grande audiência pública chamada Conferência Summit Covid-19 com os maiores cientistas, geneticistas e médicos”. De acordo com o conteúdo, eles estão “analisando as consequências (da pandemia) para a saúde humana e anunciando que as vacinas covid-19 foram uma farsa e são realmente uma arma biológica”.

Onde foi publicado: Telegram e Twitter.

Conclusão do Comprova: É falso que uma conferência sobre covid-19 em que “os maiores cientistas, geneticistas e médicos” anunciaram que as vacinas são uma farsa e uma arma biológica tenha sido realizada pelo Parlamento Europeu.

Posts com o conteúdo viralizaram com o mesmo texto e, apesar de realmente ter havido um evento sobre covid no órgão da União Europeia, ele não foi organizado pelo Parlamento, mas por cinco dos 705 deputados. Todos os cinco políticos são conhecidos negacionistas – o romeno Cristian Terhes, a alemã Christine Anderson, a italiana Francesca Donato e os croatas Ivan Vilibor Sinčić e Mislav Kolakušić.

Na agenda do Parlamento, só há registro de uma coletiva de imprensa para apresentação dos resultados do evento, com duração de 30 minutos.

Os “especialistas” que participaram também são negacionistas, inclusive alguns já foram classificados como desinformadores por agências de checagem. David Martin, por exemplo, já foi alvo de ao menos três verificações. Dentre elas há duas da Reuters: “A vacina de RNA contra o coronavírus é uma vacina, e foi feita para prevenir doenças” e “Trabalhos de pesquisa apresentaram evidências da transmissão aérea de SARS-CoV-2” e uma do Factcheck.org: “Novo vídeo ‘Plandêmico’ traz desinformação e conspirações”.

Em uma delas, é descrito como um “analista financeiro e empresário de autoajuda que tem um canal no YouTube que promove algumas teorias da conspiração”.

Ao questionarem a segurança e a eficácia das vacinas contra a covid, eles contrariam organizações respeitadas globalmente, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos.

Também ignoram a realidade, já que foi com o início da vacinação em massa que a pandemia começou a desacelerar.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Apenas um dos tuítes verificados aqui teve mais de 6,5 mil visualizações até 19 de maio.

Como verificamos: O Comprova iniciou a investigação a partir da imagem do evento compartilhada pelo site divulgado em um dos tuítes mentirosos. Na imagem aparecia o link oficial do evento, bem como as fotos e nomes das supostas autoridades que participaram dessa conferência, além de selos do parlamento europeu e do núcleo European Conservatives and Reformists (ECR) – em tradução livre para português: ‘Europeus Conservadores e Reformistas’.

A página também contava com dois vídeos, um deles das ditas “autoridades da ciência” e outro dos parlamentares que participaram do evento. Sobre ambos, era explicitado o nome dos oradores. No primeiro, a menção das vacinas como armas biológicas era creditada ao “Dr. David Martin e Dra. Rosana Chifari”. No caso dos parlamentares, os discursantes também foram listados no site.

Com isso, a reportagem buscou quem seriam esses “doutores”. Com uma busca simples no Google pelo nome deles e a palavra “fake” a reportagem encontrou checagens de veículos internacionais majoritariamente sobre covid-19 e vacinas. Além das matérias desmentindo David Martin, foi encontrada uma sobre Chifari do veículo italiano Open: “Coronavírus, os estudos citados ao Senado pelo Movimento de Hipócrates não comprovam a eficácia da ivermectina”.

Também na busca de entender as relações dos “cientistas” com o Parlamento Europeu, o Comprova pesquisou o nome deles no site oficial da instituição. Como resultado, apareceu que o deputado Ivan Vilibor Sinčić tinha retuitado uma desinformação propagada por David Martin sobre a covid-19. Quanto a Chifari, nada foi encontrado na busca.

A investigação também procurou os citados como participantes da Conferência na lista de deputados do Parlamento Europeu. Todos eram deputados.

Por fim, assistindo ao vídeo, a reportagem notou o selo do ECR no painel disposto atrás dos discursantes. Para saber se o evento tinha uma ligação direta ou financiamento do grupo político foi procurada, no site oficial do Third International Covid Summit (ICS3), uma menção ao núcleo político – nada foi encontrado. O mesmo foi feito no site oficial do European Conservatives and Reformists – também sem sucesso.

O ECR foi contatado pelo Comprova por e-mail, mas não respondeu até a publicação desta matéria.

O que diz o responsável pela publicação: A reportagem procurou o perfil @tucabr54 e @SelvaBrasilOficial, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.

O que podemos aprender com esta verificação: Os conteúdos aqui verificados usam o nome Parlamento Europeu para conferir oficialidade ao que estão compartilhando, mas direcionam o link para um obscuro blog para dar mais informações sobre o evento mencionado. Se fosse verdade que o Parlamento Europeu afirmou que vacinas contra a covid são armas biológicas, essa informação estaria nos principais meios de comunicação do mundo e não somente em um blog. Em casos como esse, faça perguntas sobre o conteúdo e procure respondê-las. Se somente cinco deputados estão convidando para um evento, será possível entendê-lo como sendo um evento do Parlamento? Se as instituições mais respeitadas do mundo na área da saúde garantem que os imunizantes são seguros, eu deveria acreditar em um post de um obscuro blog brasileiro? Por que o link oferecido não é o do Parlamento Europeu? Na dúvida, faça uma busca por mais informações em meios de comunicação em que você confia.

Desconfie também de postagens que usam artifícios para disfarçar o monitoramento das iniciativas de checagem. O post verificado se refere ao imunizante como “vachina”, uma tática comum em publicações antivacina e que procuram escapar de ferramentas de monitoramento.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: As vacinas contra a covid-19 são tema frequente de verificações do Comprova. Só nos últimos dias o projeto publicou que deputado repete alegações enganosas sobre a ineficácia delas e que elas não têm vírus e fungos “do câncer”, ao contrário do que alega vídeo compartilhado nas redes sociais.

Saúde

Investigado por: 2023-05-17

Deputado repete alegações enganosas sobre ineficácia das vacinas contra covid-19

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a afirmação de que as vacinas contra a covid-19 não reduziram o número de óbitos pela doença e que a responsável pela queda tenha sido a imunidade natural dos infectados. O gráfico utilizado no post verificado registra imunizações a partir de setembro de 2021, mas a campanha começou meses antes, em janeiro, com aplicações de segunda dose já no mês seguinte, em fevereiro. Em junho e julho de 2021, o governo federal confirmou que a campanha de imunização contribuiu para a queda de mortes. Isabella Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), destaca que 90% das mortes registradas quando 70% das pessoas haviam sido vacinadas eram de pessoas não imunizadas.

Conteúdo investigado: Post em que o deputado Osmar Terra (MDB-RS) afirma que “as mortes caíram antes das vacinas terem qualquer impacto”. Ele usa um gráfico para ilustrar a afirmação e escreve ainda que “a imunidade natural dos milhões de infectados e curados fez reduzir o número de mortes”.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganoso o post em que o deputado federal Osmar Terra afirma que as vacinas contra a covid-19 não reduziram o número de óbitos pela doença. Em mais uma investida contra os imunizantes, ele escreve, erroneamente, que “a imunidade natural dos milhões de infectados e curados fez reduzir o número de mortes”. O Comprova já checou, por exemplo, que ele enganou ao questionar a eficácia deles e ao dizer que expor a população ao vírus é melhor do que vacinação.

Diferentemente do que o deputado afirma no post, as mortes não começaram a cair antes das vacinas terem qualquer impacto. O gráfico usado para ilustrar a desinformação considera imunizações a partir de setembro de 2021, mas a campanha começou antes, em janeiro daquele ano. Um mês depois, já havia locais aplicando a segunda dose, ou dose de reforço.

Inclusive, o governo federal, do qual Terra fez parte até 2020 como ministro, confirmou que a campanha de imunização foi importante para a queda de mortes, conforme publicação da Agência Brasil de 18 de junho de 2021 intitulada “Menos mortes de idosos por covid-19 indicam avanço de vacina”.

Um mês depois, em julho de 2021, o governo publicou que o Brasil registrava queda de 40% em casos e óbitos por covid-19 em um mês e que os números eram reflexo “do ritmo da campanha de vacinação contra a doença”.

“A vacina foi gradativamente sendo aplicada e refletindo na redução de mortes”, afirma Isabella Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). “Tanto é que, quando chegamos a mais de 70% dos vacinados, cerca de 90% dos óbitos eram de pessoas não imunizadas no Brasil e no mundo.”

Além disso, órgãos de saúde do mundo todo confirmam a eficácia e segurança das vacinas, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, dos Estados Unidos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), em seu site, afirma estar começando a ver evidências de que a imunidade após infecção por covid “pode ser forte”, mas varia de pessoa para pessoa e que a doença pode matar.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Segundo a ferramenta CrowdTangle, o tuíte teve 2,5 mil interações no Twitter, além de ter sido visualizado 44,7 mil vezes.

Como verificamos: Tentamos, inicialmente, localizar a origem do gráfico a partir da busca reversa de imagens com ferramentas como o TinEye. Em seguida, analisamos dados sobre mortes por covid-19 e vacinação no Brasil em plataformas como Our World in Data e Painel Coronavírus, do Ministério da Saúde. Também consultamos notícias sobre o assunto e publicações nos sites do governo federal e de agências reguladoras mundo afora. Em seguida, entrevistamos Isabella Ballalai, da SBIm. Por fim, procuramos o autor da publicação e o suposto responsável por montar o gráfico.

Mortes caíram com a vacinação

O gráfico publicado por Osmar Terra em 10 de maio apresenta um recorte entre 4 de fevereiro de 2021 e 20 de janeiro de 2022 para mortes e a partir da segunda semana de setembro até a mesma data final para vacinados. Contudo, a campanha começou antes, em janeiro daquele ano. Um mês depois, já havia locais aplicando a segunda dose, ou dose de reforço.

Em resposta a um comentário do post, o político afirmou que as fontes das informações do gráfico são o Open DataSus e o Our World in Data. Uma pesquisa nesta plataforma, filtrando as mesmas datas apresentadas na ilustração do post, apresenta um cenário diferente do defendido por Terra. É possível observar que, conforme aumenta o número de doses aplicadas, as mortes diminuem:

| Captura realizada pelo Comprova em 16/05/2023. Fonte: Our World in Data.

O gráfico utilizado no post verificado foi recortado de outro conteúdo publicado anteriormente por Osmar Terra, em 2022. No post antigo há sobre ele o título “vacinação vs mortes futuras por covid-19”, indicando se tratar de uma projeção. Ainda nessa postagem, o político afirma que o gráfico foi produzido pelo professor Bruno Campello, da Universidade Federal de Pernambuco.

A reportagem não identificou o gráfico nas publicações do pesquisador, não conseguindo identificar a data em que o gráfico foi elaborado. O professor foi procurado, mas não respondeu. Ele já teve uma pesquisa sobre lockdown questionada por outros pesquisadores e está entre os responsáveis por um estudo que serviu como base para o TrateCov, aplicativo desenvolvido pelo Ministério da Saúde, associado à oferta de “tratamento precoce”. Foram apontadas, ainda, falhas de metodologia na pesquisa.

De acordo com Isabella Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações, embora o efeito das vacinas seja rápido, as mortes não começaram a diminuir rapidamente pois a imunização foi lenta. “Houve muito problema de falta de vacina. Até todo mundo ter a primeira dose, demorou”, diz ela. Por fim, ela reforça que os dados que Terra apresenta não apresentam nenhuma evidência.

Imunidade natural pode ser forte, mas há riscos à vida

A OMS em seu site, afirma estar começando a ver evidências de que a imunidade após infecção por covid “pode ser forte”, mas varia de pessoa para pessoa e que a doença pode matar. Desta forma, a entidade enfatiza ser muito mais seguro se vacinar do que correr o risco de contrair o vírus.

Conforme demonstrado pelo Comprova, a imunidade natural é insuficiente para controlar a pandemia. O médico geneticista Salmo Raskin reforça que, para ocorrer imunidade parcial por infecção natural, o infectado corre risco de morte pela covid, enquanto as vacinas conferem maior imunidade sem esse risco.

Imunizantes têm eficácia e segurança comprovadas

As principais agências reguladoras do mundo atestam a eficiência e a segurança das vacinas para a covid-19. Em abril passado, a Anvisa reforçou que os benefícios de todos os imunizantes aprovados no Brasil superam os possíveis riscos relacionados ao uso desses produtos, acrescentando que a vacinação é a forma mais eficaz de reduzir mortes e doenças graves pela infecção da doença. Conforme o órgão, as doses aplicadas evitaram milhões de hospitalizações e desaceleraram a pandemia no mundo.

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) mantém uma página com dados atualizados sobre a segurança e a efetividade das vacinas aprovadas na Europa e, conforme a entidade, elas foram avaliadas em dezenas de milhares de participantes em ensaios clínicos. O Centros de Controle e Prevenção de Doenças, dos Estados Unidos, também garante a segurança e a eficácia dos imunizantes, destacando que reações graves são raras.

O que diz o responsável pela publicação: Osmar Terra foi procurado, mas sua equipe pediu que a reportagem se comunicasse por meio de comentário no perfil do deputado no Twitter. A repórter respondeu dizendo que não gostaria de se expôr na rede e questionou se o e-mail informado no site da Câmara não era um meio para falar com o deputado. Não houve mais retorno.

O que podemos aprender com esta verificação: São numerososos conteúdos desinformativos voltados à descredibilizar a eficácia e segurança das vacinas contra a covid-19. No caso aqui verificado, o post tenta levar as pessoas a crerem que os imunizantes são inúteis e que a pandemia se resolveria sozinha. Para dar um ar de credibilidade à afirmação, o autor utiliza um gráfico, mas chama a atenção que as informações inseridas na ilustração não condizem com as divulgadas por plataformas que compilam seriamente dados referentes à doença. Além disso, o discurso do tuíte é contrário ao das principais agências reguladoras do mundo, dos governos e de especialistas em saúde.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Como já informado acima, esta não é a primeira postagem na qual Osmar Terra dissemina desinformação sobre vacinas contra a covid-19. O Comprova já demonstrou serem enganosos um post do deputado que questiona a eficácia dos imunizantes e um tuíte no qual ele ignora comorbidades dos pacientes e a alta cobertura vacinal no RS para atacar as vacinas.

Saúde

Investigado por: 2023-05-11

Vídeo descontextualiza trechos antigos de telejornais para enganar sobre cloroquina

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o vídeo que circula no Kwai com recortes de telejornais falando sobre o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina contra a covid-19. As matérias são antigas e, mesmo assim, nenhuma delas indica que os dois medicamentos sejam eficazes contra o coronavírus. Os trechos das matérias que alertam para a ineficácia ou riscos foram cortados pelo autor da peça de desinformação.

Conteúdo investigado: Vídeo que faz montagem com trechos de diversos telejornais brasileiros falando sobre uso de cloroquina e hidroxicloroquina como se as matérias assegurassem que os medicamentos são eficazes contra a infecção pelo coronavírus.

Onde foi publicado: Kwai.

Conclusão do Comprova: É enganosa a montagem que circula pelo Kwai com trechos de diversos telejornais brasileiros sobre o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina contra a covid-19. As matérias usadas no vídeo são antigas e, ainda assim, nenhuma delas afirma que os medicamentos são eficazes no combate ao coronavírus, diferentemente do que tenta convencer o autor da peça de desinformação.

Os trechos foram editados de modo que os alertas a respeito da ineficácia dos remédios fossem omitidos. Além disso, há trechos de matérias falando sobre os riscos do uso do medicamento contra a covid que tiveram o sentido completamente invertido – a montagem faz parecer que as reportagens atestam a segurança e eficácia dos fármacos, o que não é verdade.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), que decretou no último dia 5 de maio de 2023 o fim da emergência de saúde da pandemia de covid-19, considera que todo país é soberano para decidir sobre protocolos clínicos de uso de medicamentos, mas alerta que não há evidência científica de que a cloroquina e a hidroxicloroquina sejam eficazes e seguros para o tratamento da covid-19.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O vídeo investigado teve mais de 7,9 mil visualizações em apenas uma postagem no Kwai até 11 de maio de 2023.

Como verificamos: O primeiro passo foi descobrir se havia mais checagens sobre o mesmo tema. O Comprova localizou verificações feitas pelo UOL, Estadão, Aos Fatos e AFP. Em seguida, fez buscas no Google pelas informações básicas ditas pelos âncoras dos telejornais utilizados na peça de desinformação, o que levou aos mesmos trechos identificados por outras agências na checagem de vídeos parecidos.

O Comprova assistiu a todas as matérias utilizadas na montagem para compreender o contexto em que foram feitas e o que diziam. Por fim, foram buscadas informações atualizadas junto à OMS a respeito do uso da cloroquina e hidroxicloroquina contra o coronavírus.

Verificação

O vídeo investigado é uma montagem com trechos de oito telejornais do Brasil, o título de uma coluna da revista Veja e imagens com ataques à imprensa. Nenhuma das matérias usadas no vídeo, contudo, defende a cloroquina ou a hidroxicloroquina como opção de medicamento contra a covid-19 – pelo contrário, elas alertam para os riscos e para a ineficácia das substâncias, mesmo nas ocasiões em que o Ministério da Saúde, sob o governo de Jair Bolsonaro (PL), tentou validar o que passou a chamar de tratamento precoce, cuja ineficácia já é conhecida. Veja o que realmente diz cada um dos vídeos usados no conteúdo desinformativo:

Vídeo 1 – Jornal da Band, 22 de janeiro de 2022

O primeiro vídeo foi retirado de uma matéria exibida pelo Jornal da Band em 22 de janeiro de 2022. Na ocasião, o jornal noticiou que uma nota técnica do Ministério da Saúde dizia que a cloroquina funcionava contra a covid-19, enquanto as vacinas não funcionam. O trecho usado na montagem, contudo, omite a frase dita a seguir pelo âncora do jornal: “O documento contraria estudos e especialistas ouvidos pelo próprio Ministério”.

Vídeo 2 – Jornal da Record, 23 de maio de 2020

O segundo vídeo exibido foi retirado de uma matéria do Jornal da Record de 23 de maio de 2020, mas a frase completa dita pela âncora do telejornal não foi exibida. No trecho usado, a apresentadora Janine Borba fala de um estudo sobre o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina publicado pela revista The Lancet, mas a fala dela é cortada antes que ela explique o que o estudo diz: que o uso dos dois medicamentos contra a covid-19 aumentou o risco de morte pela doença.

Vídeo 3 – Jornal da Cultura, 17 de julho de 2020

Em seguida, aparece um trecho de uma matéria exibida pelo Jornal da Cultura em 17 de julho de 2020 sobre uma orientação do Ministério da Saúde para que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) recomendasse o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento inicial da covid-19. O vídeo também é cortado antes que a apresentadora Karyn Bravo diga que a orientação do Ministério da Saúde vai na contramão da maioria dos estudos divulgados até então, que apontavam ineficácia dos dois medicamentos para combater o coronavírus.

Vídeo 4 – SBT Brasil, 20 de março de 2020

O quarto vídeo mostra um trecho de uma matéria do SBT Brasil de 20 de março de 2020, no início da pandemia, sobre a falta de medicamentos à base de hidroxicloroquina nas farmácias brasileiras após o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, citar o remédio como eficaz no combate ao coronavírus. Na montagem, ficou de fora o trecho em que os jornalistas afirmam que o remédio é comumente usado contra doenças como lúpus e malária. A fala do médico infectologista Marcos Boulos, entrevistado na matéria, também foi omitida. Ele diz que o remédio “não tem uma ação específica contra vírus”.

Vídeo 5 – Jornal da Record, 23 de julho de 2020

O próximo vídeo mostra o início de uma matéria exibida pelo Jornal da Record em 23 de julho de 2020 sobre a divulgação de um estudo feito por um grupo de 55 hospitais brasileiros relacionado ao uso da hidroxicloroquina. A fala da jornalista Christina Lemos (a partir de 16:58) é cortada antes que ela afirme que o consórcio de hospitais concluiu que “o remédio não é eficaz para pacientes com sintomas leves e moderados da covid-19”.

Vídeo 6 – CNN Domingo Tarde, 23 de janeiro de 2022

O sexto vídeo mostra um trecho do programa CNN Domingo Tarde de 23 de janeiro de 2022, em que o apresentador Kenzô Machida fala sobre a publicação de uma nota técnica do Ministério da Saúde, assinada pelo secretário de Ciência e Tecnologia e Inovação em Insumos Estratégicos em Saúde, Hélio Angotti Neto, afirmando que havia estudos que mostravam que a hidroxicloroquina era eficaz contra a covid-19, mas a vacina não era. Mais uma vez, a montagem desconsidera o restante da matéria, que inclui entrevista com Meiruze Freitas, diretora da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ela tratou a nota técnica como “uma grande surpresa” e reiterou que as vacinas têm qualidade, eficácia e segurança contra a covid-19. A nota técnica foi alterada em seguida, conforme publicou o UOL.

Vídeo 7 – Jornal da Record, 4 de junho de 2020

O sétimo vídeo a aparecer na montagem mostra um trecho do Jornal da Record de 4 de junho de 2020. A parte exibida mostra a apresentadora Adriana Oliveira afirmando que a revista científica The Lancet havia publicado uma retratação dos autores de um estudo que associava risco de morte à cloroquina. A retratação foi publicada, mas não porque o medicamento foi considerado eficaz contra a covid, mas porque os pesquisadores disseram que não podiam mais garantir a veracidade dos dados usados nos estudos sobre o medicamento. Esta informação foi omitida da montagem.

Vídeo 8 – SBT Brasil, 24 de agosto de 2020

O último vídeo da montagem usa dois trechos de uma matéria do SBT Brasil de 24 de agosto de 2020. No primeiro, a apresentadora Rachel Sheherazade faz referência a uma frase dita pelo então presidente, Jair Bolsonaro, em defesa da hidroxicloroquina. Em seguida, é exibida a própria fala do presidente, afirmando que o medicamento foi politizado e poderia ter evitado mortes. A montagem omite o trecho da matéria em que se explica que, segundo a OMS, a cloroquina e a hidroxicloroquina não são eficazes ou seguras contra a covid-19.

Coluna de Vilma Gryzinski na Veja, 6 de março de 2023

Após a sequência de trechos de telejornais, há um print do título de uma coluna publicada por Vilma Gryzinski na revista Veja sobre a origem do Sars-COV-2 e o uso de máscaras. O texto, contudo, não cita a cloroquina ou a hidroxicloroquina, não defende o uso dos medicamentos contra a covid-19, nem que eles são eficazes contra a doença.

O que diz o responsável pela publicação: Não foi possível enviar mensagem ao autor do conteúdo através do Kwai. O usuário indica um link para um perfil no Instagram que não está disponível.

O que podemos aprender com esta verificação: Ao longo de toda a emergência em saúde da pandemia de covid-19, inúmeros conteúdos desinformativos a respeito do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina contra o coronavírus foram desmentidos por agências de checagem. Além disso, a imprensa e autoridades em saúde alertaram para a falta de comprovação científica no uso dos dois medicamentos contra a nova doença.

No vídeo investigado, não há referências a datas, o que pode indicar que o material seja antigo, e os cortes bruscos feitos no conteúdo não permitem que o usuário compreenda o contexto completo em que as informações foram passadas, o que também pode indicar uma manipulação.

Ao se deparar com conteúdos como esse, o usuário deve fazer uma busca de informações em sites confiáveis e em organizações de saúde especializadas, como sociedades de infectologia, virologia, epidemiologia ou junto à própria Organização Mundial de Saúde, que reúne informações atualizadas sobre o assunto.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Este mesmo conteúdo também foi checado pelo UOL Confere, Aos Fatos, Estadão Verifica e AFP Checamos.

O Comprova já mostrou que era enganosa uma postagem que dizia que um estudo de Harvard havia comprovado a eficácia da hidroxicloroquina contra o coronavírus, que estudos fraudados não deslegitimam artigos que comprovam ineficácia da cloroquina contra a covid-19 e que um estudo com hidroxicloroquina não comprova eficácia no ‘tratamento precoce’ da covid-19.

Saúde

Investigado por: 2023-05-08

Vacinas não têm vírus e fungos ‘do câncer’, ao contrário do que alega vídeo compartilhado nas redes sociais

  • Falso
Falso
Vacinas não têm vírus e fungos que causam câncer para “matar lentamente os pobres, os feios e os velhos”. A alegação compartilhada em vídeo nas redes sociais não tem comprovação científica. O câncer não está relacionado à aplicação de qualquer imunizante, segundo o Butantan. O Instituto Nacional do Câncer também desmentiu a publicação e reforçou que “as vacinas são um dos principais métodos de prevenção de doenças infecciosas e não são causadoras de doenças”.

Conteúdo investigado: Vídeo em que um homem que se diz “estudioso das vacinas” alega que os imunizantes, em especial aqueles contra o H1N1, teriam “vírus e fungos do câncer”. Ele diz que os imunizantes são usados para controle populacional.

Na gravação, ele cita especificamente que vacinas contêm o VRS Virus, o Papiloma Vírus Humano (HPV), o Mumps Virus, o vírus da Herpes e diz que esses são os causadores silenciosos da doença.

Onde foi publicado: TikTok, Facebook e YouTube.

Conclusão do Comprova: É falso o conteúdo de um vídeo que alega que as vacinas, especialmente a que previne contra o vírus H1N1, estejam sendo usadas para matar lentamente os pobres, os velhos e os feios. A postagem compartilha a gravação de um senhor que mente ao dizer que os imunizantes contêm “vírus e fungos do câncer”.

Em resposta às alegações, o Instituto Butantan explicou ao Comprova que “é errado afirmar que a vacina contra influenza causa câncer, uma vez que não há comprovação científica de que a doença está correlacionada à aplicação de quaisquer imunizantes”.

O instituto também ressaltou que as vacinas, na realidade, têm o potencial de prevenir alguns cânceres que podem ser causados por vírus. Um exemplo é a vacina contra o HPV, disponível na rede pública para pessoas com idade entre 9 e 14 anos. O imunizante protege contra o vírus que é responsável pelo câncer de colo uterino, de pênis, anal e oral. O Butantan citou ainda a vacina contra hepatite B, que previne o câncer de fígado.

O Instituto Nacional do Câncer (Inca) também desmentiu a postagem. A médica infectologista Marianne Monteiro, chefe da divisão clínica do Inca e membro da Comissão de Controle e Infecção, explicou que “as vacinas são um dos principais métodos de prevenção de doenças infecciosas e não são causadoras de doenças”.

A especialista também comentou que a vacina contra o H1N1 está liberada para pacientes com imunossupressão, inclusive câncer. “Os profissionais de saúde devem ser vacinados e também dar as orientações para a vacinação de seus pacientes”, concluiu.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Compartilhado em 30 de abril no TikTok, o vídeo checado somava, até a manhã do dia 8 de maio, 420,9 mil visualizações, 22,6 mil curtidas e 2 mil comentários.

Como verificamos: O Comprova consultou o Butantan, produtor da vacina contra o vírus H1N1 no Brasil, e o Inca para falar sobre a suposta relação entre as vacinas e o desenvolvimento de câncer.

Também pesquisou no site da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre as vacinas que usavam vírus em suas composições e a explicação de como elas são feitas para que se garanta a segurança do imunizado.

Vacinas que usam vírus

Atualmente existem vacinas que fazem, sim, uso de vírus (enfraquecido ou em partes) em sua composição para estimular a resposta imune dos anticorpos. Entretanto, nenhuma delas possui quaisquer riscos de transmitir a doença ao imunizado.

Em 2021, a OMS divulgou um guia explicativo dos tipos de vacina que eram aplicadas contra a covid-19 e que faziam uso de vírus. A lista inclui vacina inativada, vacina atenuada ao vivo, vacina vetorial viral, vacina subunita e vacina de ácido nucleico.

As mais comuns são as de vírus inativado e de vetor viral:

  • A primeira consiste no uso de produtos químicos, calor ou radiação para matar ou inativar o vírus, impossibilitando-o de contaminar o vacinado ou gerar efeitos patológicos nas pessoas.
  • A segunda conta com o uso de vírus seguros, que fornecem sub-partes específicas do germe de interesse – chamadas proteínas (como a spike) – para que possa desencadear uma resposta imune sem causar doenças nos imunizados.

Vídeo circula pelo menos desde 2018

A gravação compartilhada no TikTok possui uma marca d’água com o nome “med natural”. Na busca pelo vídeo original, o Comprova encontrou matéria do Fantástico de 2019 que usava trecho do conteúdo checado como exemplo de desinformação sobre as vacinas.

Na matéria, o vídeo aparecia como uma gravação compartilhada no YouTube com o título “A indústria fará de tudo para você não ver este vídeo! Prof. Jaime Bruning 2019”. A reportagem televisiva borrou o nome do canal em que o conteúdo tinha sido publicado.

Ao procurar pelo nome da gravação no YouTube, a equipe de checagem não achou nenhum resultado, o que pode indicar que o conteúdo foi excluído ou ocultado.

Buscando, entretanto, pelo mesmo título no Google, foi possível chegar a uma publicação da página no Facebook “Saúde é qualidade de vida”, que mostra o vídeo na íntegra. O post, de 13 de novembro de 2018, divulga o livro de Bruning, uma palestra do autor, o seu blog e um link para um vídeo no YouTube que virou privado.

Quem é Jaime Bruning

No site de Jaime Bruning atualmente disponível não há informações sobre quem ele é. Há apenas uma página onde consta uma nota em que ele se diz alvo de “acusações, denúncias e perseguição implacável de pessoas que se utilizam de alguns meios de comunicação tendenciosos” por seu trabalho como “terapeuta naturista”. No mesmo texto, ele afirma que interrompeu seus atendimentos ao público.

Contudo, analisando o código-fonte do site (captura de tela feita em 8 de maio de 2023), é possível acessar o conteúdo antigo da página. Nele, Jaime se diz terapeuta naturista e afirma ter feito “mais de três mil palestras em todos os estados do Brasil e também no exterior”. Ele também diz ser formado em Filosofia.

Nessa página, há links para a venda de um folder e de um livro sobre supostas terapias naturais de cura. Neles, há um aviso indicando que Brunning não é médico.

Jaime já foi citado em matéria do Estadão que apontava disseminadores de desinformação que usavam o alcance da audiência para vender produtos como suplementos, cursos e livros.

O que diz o responsável pela publicação: O conteúdo foi publicado pelo perfil @didibraga4 no TikTok, mas a conta não mostra informações de contato e não aceita envio de mensagens pela plataforma. O Comprova buscou no Google e na ferramenta UserSeach pela usuária em outras redes sociais e não encontrou nenhum resultado com o mesmo nome. Seu perfil compartilha majoritariamente vídeos não autorais e contrários ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O que podemos aprender com esta verificação: Conteúdos com desinformação antivacina utilizam afirmações impactantes para disseminar o medo na audiência, como a de que a pessoa possa desenvolver câncer caso se imunize. Nesse caso, o homem no vídeo cita nomes de livros em que estariam tais informações, mas, ao pesquisar sobre as publicações, é possível perceber que são livros de cunho religioso e espiritual, não publicações científicas. Outra estratégia também usada neste vídeo é a de relatar o caso específico de um indivíduo, impossível de ter a veracidade verificada, como “prova” da suposta informação repassada.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova desmentiu por diversas vezes postagens que relacionavam as vacinas com doenças diversas. Já explicou que os imunizantes contra a pólio não causam câncer, e que aqueles contra a covid-19 não causam anomalia genética, não transmitem HPV, nem HIV ou geram problemas de infertilidade.

Saúde

Investigado por: 2023-05-05

Texto repete afirmações falsas de médico norte-americano para criar temor sobre vacinas contra covid-19

  • Falso
Falso
É falso um texto que viralizou no Twitter e que relaciona imunização a aumento de casos de infertilidade ou incidência de tumores. Não há embasamento científico nesta tese, já que os imunizantes tiveram sua segurança comprovada em estudos clínicos. Além disso, o conteúdo exagera na relevância atribuída ao médico norte-americano citado.

Conteúdo investigado: Postagem do site Jornal Tribuna Nacional com o título “O melhor patologista do mundo adverte que centenas de milhões de vacinados estão contraindo câncer e se tornando inférteis”, sobre falas do médico norte-americano Ryan Cole acerca dos supostos efeitos das vacinas de RNA mensageiros (mRNA) contra covid-19. O texto é uma reprodução do site The Exposè.

Onde foi publicado: Site do Jornal Tribuna Nacional e Twitter.

Conclusão do Comprova: É falso o conteúdo de um texto publicado pelo site Tribuna Nacional, que viralizou no Twitter, no qual o autor reproduz afirmações do médico patologista norte-americano Ryan Cole de que o uso de vacinas de RNA mensageiros (mRNA), como algumas das utilizadas contra a covid-19, provocaria um aumento de casos de câncer e infertilidade. Não há comprovação científica sobre essa relação.

Em abril deste ano, o Ministério da Saúde desmentiu que as vacinas causem infertilidade. Estudo feito com homens norte-americanos entre 18 e 50 anos vacinados contra a covid-19 não mostrou alteração na contagem de espermatozoides, diferentemente do que afirma o texto checado. O que existem são estudos que mostram efeitos negativos no sistema reprodutor de homens que se infectaram e morreram de covid.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), não há evidência alguma de que vacinas causem câncer. “As vacinas são um dos principais métodos de prevenção de doenças infecciosas e não são causadoras de doenças”, disse o instituto em nota. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também ressaltou ao Comprova que a relação entre a vacina contra a covid-19 e problemas de saúde graves como câncer e infertilidade não tem qualquer embasamento científico.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, também ressalta que não há evidências de que as vacinas causem infertilidade em homens ou em mulheres. Inclusive, recomenda a vacinação para pessoas que desejam ter filhos.

O site brasileiro traduziu o texto de um site inglês que já foi banido do Twitter por publicar desinformação sobre a covid-19.

O Comprova classifica como falso o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O texto verificado aqui foi compartilhado no Twitter por pelo menos sete contas diferentes. Em uma delas, a postagem teve 73,5 mil visualizações até o dia 5 de maio.

Como verificamos: Buscamos informações a respeito do médico patologista Ryan Cole e questionamos a Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) a respeito do título de “melhor patologista do mundo”. A pesquisa relacionada ao nome do médico gerou registros em sites internacionais que atribuem a ele informações similares a respeito de uma suposta relação entre as vacinas contra a covid-19 e doenças como câncer, infertilidade e coágulos sanguíneos.

Com isso, buscamos informações junto ao Inca e à Anvisa para checar se havia correspondência científica nas afirmações de Cole traduzidas pelo texto aqui investigado. Também buscamos informações no Ministério da Saúde sobre a relação da vacina de mRNA contra covid-19 com casos de infertilidade.

Vacina não causa infertilidade e nem câncer

Segundo o Ministério da Saúde, uma pesquisa da Universidade de Miami refutou a relação das vacinas contra a covid-19 baseadas em mRNA com a infertilidade. A pesquisa, publicada na revista científica Jama, ocorreu com homens entre 18 e 50 anos que receberam as duas doses do imunizante, e o estudo constatou que os pacientes vacinados não tiveram alteração na contagem de espermatozoides.

Por outro lado, o não uso do imunizante, ao facilitar a propagação da covid-19, pode causar impacto no sistema reprodutor masculino. “A pesquisa do Programa de Urologia Reprodutiva da Universidade de Miami realizou autópsias em 6 homens que morreram de covid-19. Os cientistas verificaram a presença do vírus no testículo de um deles e a redução na contagem de espermatozoides de outros três.”

O ministério cita ainda uma pesquisa feita pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), que avaliou 26 pacientes com idades entre 18 e 55 anos com casos leves e moderados de covid-19. Os pacientes não se queixavam de dores escrotais e, mesmo assim, 42,3% deles apresentaram epididimite. “Essa inflamação atinge os epidídimos, estruturas responsáveis parte do processo de maturação, às vezes do armazenamento e também do transporte dos espermatozoides”, explica.

Além disso, o autor do artigo desinformativo afirma que as doenças citadas são causadas pela “proteína Spike”, supostamente responsável pelo desenvolvimento de câncer e de coágulos sanguíneos. Porém, como a Anvisa ressaltou, “a vacina induz imunidade celular e produção de anticorpos neutralizantes contra o antígeno spike (S)”. É dessa forma, inclusive, que protege contra a covid-19. O Inca também confirma que não há qualquer comprovação científica que relacione aumento de casos de câncer com a vacinação.

A Anvisa esclareceu ainda que a maioria dos eventos adversos identificados após a vacinação contra a covid-19 não é grave, e está normalmente relacionada a efeitos no local da aplicação, como dor e inchaço, ou eventos de curta duração, como ocorrência de febre e indisposição. Essa informação está disponível na bula dos imunizantes.

Origem do texto

A publicação do Tribuna Nacional é uma reprodução do texto “Top pathologist confirms cancer, infertility & strange blood clots are common side effects of covid-19 vaccination”, do site britânico The Exposè. Esse mesmo site já foi objeto de outra checagem feita pelo Comprova.

No entanto, o site, criado em novembro de 2020, é reconhecido internacionalmente por propagar conspirações e desinformações sobre a covid-19. Ele é escrito pelo mecânico britânico Jonathan Allen-Walker e se tornou famoso por um dos seus artigos, reproduzido pelo Before It’s News. O site foi citado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como fonte para relacionar as vacinas contra covid-19 com a incidência de AIDS. Em dezembro do ano passado, a Polícia Federal concluiu que Bolsonaro cometeu crime ao fazer tal relação.

Em 2021, o Twitter suspendeu a conta principal do The Exposè, que criou contas alternativas para evitar o banimento. A startup britânica Logically, especializada em combater e analisar a desinformação, descreveu o The Exposè como um site que promove um portfólio de mitos negacionistas da covid-19 e anti-vacina. O mesmo site é responsável por difundir desinformação sobre a origem da covid-19, composição da vacina e estatísticas relacionadas à doença.

Quem é Ryan Cole

O médico estadunidense Ryan Cole é dermatopatologista e trabalha de forma independente desde 2004. É fundador e atua como CEO do laboratório Cole Diagnostics, que realiza serviços de laboratório clínico e patologias. Ele participa da Associação de Médicos Independentes do estado norte-americano de Idaho.

A entidade é um grupo formado desde 2013 por profissionais de saúde que realizam práticas médicas próprias, com “liberdade de diagnosticar e tratar sem sobrecarga de interesses potencialmente conflitantes”, segundo o site da organização. “Somos uma organização de médicos independentes em Idaho. Donos de nossas clínicas, portanto, livres para nos juntar a nossos pacientes na escolha de suas melhores opções de cuidados de saúde”, diz o site, em tradução livre.

Cole já havia questionado a eficácia e segurança das vacinas contra a covid-19. Por três vezes suas declarações sobre o assunto foram checadas e desmentidas pela FastCheck.Org. Em janeiro deste ano, foi aberta uma declaração de acusação contra a licença do médico no estado de Washington por suas declarações falsas ou enganosas sobre a covid-19.

“Melhor patologista do mundo”

A Sociedade Brasileira de Patologia informa que as informações dadas pelo médico Ryan Cole sobre as vacinas de mRNA são inverídicas. “Em consulta a bases de dados, não foram encontradas pesquisas publicadas em nome dele sobre o tema”, confirmou. Sobre ser considerado o melhor patologista do mundo, a SBP reforça que não existe um ranking mundial de patologistas.

Segundo a entidade, “eventualmente entidades da área em todo o mundo promovem homenagens e condecorações de reconhecimento a médicos patologistas de destaque”. Em uma pesquisa no Google sobre condecorações a patologistas mundiais, a maior referência é da revista The Pathologist, com sedes no Reino Unido e nos Estados Unidos. Eles publicam anualmente uma lista de profissionais influentes na área.

Em 2015, a lista foi feita entre os patologistas para definir qual seria o mais influente da área e o escolhido foi o português Manuel Sobrinho Simões. Em nenhuma das listas anuais da revista o médico Ryan Cole é citado em qualquer categoria.

Com relação à atuação do profissional médico com especialização em patologia, a SBP reitera que, em geral, “é responsável pelo laudo anatomopatológico de exames realizados em biópsias ou peças cirúrgicas, atuando em laboratórios, hospitais e universidades”.

“Este profissional é quem diagnostica o câncer, definindo se um tumor é maligno ou benigno. Com base nesses laudos, clínicos e cirurgiões que acompanham os pacientes podem decidir entre as opções de tratamento. Eventualmente, os clínicos examinam com os patologistas os detalhes técnicos específicos dos laudos e, em alguns casos, discutem opções de tratamento”, informa a entidade médica.

O que diz o responsável pela publicação: O Tribuna Nacional afirma que a publicação ocorreu porque entende que é preciso “mostrar também o outro lado da moeda e não apenas seguir o que alguns ditam como regra e o restante copia, pois estão estourando muitos casos com efeitos adversos e os meios de comunicação não estão divulgando”- embora não haja embasamento para fazer tal afirmação. Ele complementa que o texto foi publicado originalmente no The Exposè, o qual considera “internacional e confiável”.

O que podemos aprender com esta verificação: Desinformadores com frequência utilizam materiais falsos traduzidos de outras línguas e citando supostos especialistas de outros países para dar a impressão de credibilidade ao conteúdo falso. Da mesma forma, utilizam termos técnicos, gráficos e imagens desconhecidos da maior parte da população para confundir o leitor. Uma estratégia que pode ser observada neste caso é o uso de dados imprecisos sem a fonte. No título o autor diz que “centenas de milhões de vacinados” estariam sendo prejudicados. Não há no texto a origem desse dado.

Outro ponto a ser notado no texto em questão como estratégia de desinformação é a citação de alguma autoridade como a “melhor do mundo” ou algum título atribuído de maneira genérica, com o interesse de dar peso ao informante. Por isso, é necessário sempre desconfiar de textos chamativos que conclamam alguém desconhecido da maior parte da população como uma pessoa de referência em determinada área.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: As desinformações realizadas pelo médico Ryan Cole já foram alvo de diversas verificações em todo o mundo desde 2020. Em 2021, o Projeto Comprova já havia considerado como enganosa sua afirmação sobre o aumento de casos de câncer após o uso da vacina contra covid-19. Outras agências, como a FactCheck.org e a Fato ou Fake, do G1, também já realizaram checagens sobre falas do médico.

Saúde

Investigado por: 2023-04-24

É enganoso post de deputado que questiona a eficácia das vacinas contra a covid-19

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso tuíte em que o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) coloca em dúvida a eficácia e segurança das vacinas contra a covid-19. Em seu post, ele tira de contexto reportagens sobre a pandemia e, diferentemente do que ele afirma, as vacinas não foram retiradas da campanha de imunização, como confirmou o Ministério da Saúde ao Comprova.

Conteúdo investigado: Tuíte em que o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) publica títulos de reportagens da BBC News Brasil, da Associação Médica Brasileira e do G1 e escreve: “Mas não foi só a vacina Astrazeneca retirada da vacinação pelo Ministério da Saúde. A Jansen e a Coronavac também foram. Falta de eficácia e efeitos colaterais com risco, foram alegados. Na verdade não haviam completado os testes quando foram autorizadas pela Anvisa, de forma emergencial. Parte da fase 3 de testagem, foi feito direta em toda população, sem ter ideia ainda do que aconteceria…É isso?”.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: O deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) engana ao afirmar, em tuíte, que as vacinas da Astrazeneca e da Janssen e a Coronavac foram retiradas pelo Ministério da Saúde da campanha de imunização contra a covid-19. Ele desinforma ao escrever que “falta de eficácia e efeitos colaterais com risco foram alegados” e que elas foram aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com testes ainda incompletos.

Na publicação, o deputado posta prints de reportagens de diferentes sites. O título do texto da BBC News Brasil é “Por que Brasil deixou de recomendar uso das vacinas Astrazeneca e Janssen contra covid-19?”; o da Associação Médica Brasileira (AMB), “Sem demanda e registro definitivo, Butantan suspende produção de Coronavac”; e, por último, o do G1, “Investigação sobre morte de gestante de 35 anos levou à suspensão do uso da vacina Astrazeneca, diz Anvisa”.

Sobre o texto da BBC, a própria reportagem diz que “a interrupção do uso e produção do imunizante [Astrazeneca] pelo Ministério da Saúde nada tem a ver com a eficácia, mas sim com um possível risco aumentado de trombose dias após a vacinação, segundo documento publicado pelo Ministério da Saúde” e que o Ministério ainda prevê o uso da vacina “caso outras opções estejam em falta”. A reportagem é de 12 de abril. Um dia depois, o governo federal publicou documento de dezembro afirmando que a Astrazeneca continua sendo indicada para pessoas a partir de 40 anos – ou seja, diferentemente do que diz o deputado, ela continua sendo aplicada.

Já o texto da AMB copia o título de uma reportagem do UOL de 25 de junho de 2022, que também não diz que a vacina foi retirada da campanha, apenas que não havia mais pedido do ministério para que o Instituto Butantan, seu fabricante, a produzisse. “O Ministério da Saúde planeja usar a vacina produzida pelo Butantan —e criada pelo laboratório chinês Sinovac— apenas para o público infantil, de 3 a 11 anos. A pasta anunciou ter assinado um aditivo de contrato com o instituto para adquirir um total de 2,6 milhões de doses”, diz o texto.

O terceiro print publicado por Terra, do G1, é de 11 maio de 2021 e trata da suspensão da aplicação da Astrazeneca em grávidas. A reportagem informa que, de acordo com o ministério, apenas gestantes com comorbidades seriam imunizadas, e com Coronavac ou Pfizer. Mas comunicado do órgão em 9 de julho do mesmo ano anunciou a retomada da vacinação para todas as grávidas. Segundo a recomendação, que segue valendo, gestantes devem se vacinar com imunizantes Coronavac e Pfizer.

Em contato com o Comprova, a Fiocruz enviou link para um texto publicado em seu site em 14 de abril. Nele, afirma que “o imunizante [Astrazeneca] continua sendo considerado seguro e eficaz” pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa e que “o acordo de cooperação técnica do Ministério da Saúde com o Biomanguinhos/Fiocruz para produção de insumos, incluindo a vacina AstraZeneca, segue vigente”.

Também procurado, o Ministério da Saúde afirmou que o post contém informação falsa e reforçou a segurança e eficácia de todas as vacinas ofertadas para a população. “O atual cenário da covid-19 no país, com redução de casos graves e óbitos pela doença, é resultado da população vacinada”, escreveu o órgão. “Os eventos adversos, inerentes a qualquer medicamento ou imunizante, são raros” e apresentam “risco significativamente inferior ao de complicações causadas pela infecção da covid-19”.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O tuíte verificado aqui foi compartilhado mais de 3,3 mil vezes e teve mais de 10,3 mil comentários até 24 de abril.

Como verificamos: O primeiro passo foi buscar as reportagens cujos prints foram publicados no tuíte enganoso e verificar seu conteúdo. A equipe também pesquisou sobre as decisões mais recentes do Ministério da Saúde e da Anvisa em relação aos imunizantes nos sites dos órgãos e em reportagens de veículos profissionais.

Além disso, contatou o Ministério da Saúde, o Instituto Butantan e a Fiocruz.

O que diz o responsável pela publicação: Procurada pela reportagem a partir do e-mail informado no site da Câmara dos Deputados, a equipe de Osmar Terra – que já teve outros posts relacionados à pandemia classificados como enganosos ou falsos pelo Comprova (como o que ele usava dados de um único hospital para dizer que a covid-19 estava reduzindo no Rio Grande do Sul e o que ele publicava informações imprecisas para colocar em dúvida a eficiência de medidas de distanciamento social) – não respondeu até a publicação deste texto.

O que podemos aprender com esta verificação: Conteúdos duvidosos sobre as vacinas contra a covid vêm sendo publicados nas redes sociais desde antes de elas serem ofertadas à população, embora sejam comprovadamente seguras e eficazes. Quando nos depararmos com peças que questionem isso, devemos ficar atentos e buscar informações confiáveis em sites de veículos profissionais e de órgãos como Ministério da Saúde e Anvisa, além do da Organização Mundial da Saúde.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova publicou recentemente um texto para ajudar o leitor a entender a situação da vacina da Astrazeneca e por que sua recomendação mudou. Também já explicou que o imunizante contra covid-19 não provoca Aids, ao contrário do que sugeriu Bolsonaro em live e que os eventos adversos graves pós-imunização são raros e benefícios superam os riscos.

Comprova Explica

Investigado por: 2023-04-20

Entenda a situação da vacina da Astrazeneca e por que sua recomendação mudou

  • Comprova Explica
Comprova Explica
Em dezembro de 2022, o Ministério da Saúde mudou a recomendação da vacina da Astrazeneca para covid-19 por conta de novas evidências científicas que relacionam o imunizante com casos raros de trombose. Nos últimos dias, conteúdos de desinformação têm usado essa nova indicação para afirmar que o imunizante foi banido no Brasil e que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estava certo ao atacar as vacinas, entre outras afirmações enganosas. A partir desta confusão, o Comprova responde perguntas sobre o assunto.

Conteúdo analisado: Conteúdos publicados nas redes sociais que desinformam sobre a segurança e aplicação da vacina Astrazeneca.

Comprova Explica: Conteúdos de desinformação sobre a vacina Astrazeneca têm se disseminado após reportagens recentes tratarem de nota técnica acerca do imunizante contra a covid-19 publicada em dezembro pelo Ministério da Saúde. No texto, o órgão afirma que a vacina produzida pela Astrazeneca/Oxford e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) passa a ser indicada para pessoas a partir dos 40 anos, “de acordo com as evidências científicas mais recentes” – as evidências, no caso, são ligação da Astrazeneca com casos raros de trombose, diz o texto.

Mas, diferentemente do que dizem os conteúdos de desinformação, as vacinas continuam sendo aplicadas no Brasil. Em nota sobre o assunto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmou ser “perfeitamente normal que algumas das vacinas da primeira geração aplicadas anteriormente sejam substituídas por outros imunizantes, como acontece com outras vacinas atualizadas regularmente”.

A seguir, o Comprova responde algumas dúvidas comuns sobre o assunto.

O que diz a nota do Ministério da Saúde sobre os casos de trombose?

A nota é uma atualização da recomendação do uso da vacina Astrazeneca. O texto começa reforçando a importância dos imunizantes para a redução do número de infectados e mortos pela covid e segue para falar “do perfil de segurança das vacinas Astrazeneca e Janssen”.

Neste trecho, o texto destaca que diversos países europeus (como Áustria, Dinamarca, Noruega, Alemanha, Reino Unido) e Austrália registraram casos de síndrome de trombose com trombocitopenia (STT) entre as pessoas que receberam imunizantes que “utilizam plataformas de vetor viral não replicante como a vacina covid-19 recombinante Astrazeneca/Oxford e, posteriormente nos Estados Unidos com a vacina Janssen”. Em linhas gerais, a STT é uma doença marcada pela combinação da formação de coágulos sanguíneos com baixos níveis de plaquetas no sangue.

Ainda de acordo com o documento, a incidência de ocorrência da STT é bastante variável entre os diferentes países, com estimativas entre 0,2 até 3,8 casos por 100 mil doses aplicadas. “Devido à raridade das ocorrências, ainda não foi possível identificar fatores de risco associados à síndrome a exceção de um aparente aumento do risco em indivíduos com idade abaixo de 40 anos de idade”, diz o texto.

A seguir, a nota diz que, embora todas as vacinas sejam seguras, “não se pode descartar a ocorrência de raríssimos casos de reações adversas graves” e que no início da pandemia, com número de mortes elevado, a vacina foi extremamente importante, mas que é preciso reavaliar a relação de risco e benefício constantemente, ainda mais “considerando-se a existência de alternativas para vacinação”.

Ao considerar a elevada cobertura vacinal dos adultos no Brasil, as recomendações de vacinação foram atualizadas “para melhor adequação da relação benefício versus risco face à possibilidade de ocorrência de raríssimos casos de reações adversas graves de vacinas de vetor viral”.

A nota conclui com as novas recomendações, que serão tratadas mais abaixo.

O Brasil deixou de usar e produzir a vacina da Astrazeneca?

Não, o Brasil não deixou de usar e nem de produzir a vacina. Em nota publicada em 13 de abril, a Anvisa reafirmou que todas as vacinas contra covid-19 estão válidas e que os imunizantes são eficazes em reduzir mortes e doenças graves pela infecção e os danos da doença. O documento esclarece ainda que a vacina da Astrazeneca “está registrada no Brasil” e, “com isso, está autorizada para uso no país dentro das condições e indicações aprovadas pela Anvisa”.

Em nota enviada para a CNN Brasil, a Fiocruz manifestou que o acordo de cooperação técnica entre a Bio-Manguinhos (unidade da Fiocruz responsável pela produção de vacinas) e o Ministério da Saúde continua em vigor. Cabe ao Ministério da Saúde, segundo a nota, as tomadas de decisão sobre a descontinuação ou desautorização do imunizante no país.

“Neste momento, em razão do novo cenário epidemiológico e do quantitativo de imunizantes disponíveis, há um contexto de baixa demanda e a produção foi readequada. No momento, Bio-Manguinhos/Fiocruz está produzindo um novo lote de IFA, que permanecerá em estoque para ser processado prontamente caso necessário”, disse a instituição para a CNN.

A Astrazeneca continua a ser aplicada no Brasil? Para quais grupos? Em que situações?

Sim, continua. Em 13 de abril, o Ministério da Saúde publicou recomendação garantindo a segurança e eficácia da Astrazeneca e reforçando que ela foi aprovada pela Anvisa e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Porém, apesar de “escassas ocorrências” de STT ligada à vacina, “e devido a um visível aumento de risco para pessoas com idade inferior a 40 anos”, o Ministério da Saúde mudou a indicação da Astrazeneca. Desde dezembro de 2022, quando foi publicada a nota técnica, ela é recomendada para pessoas acima de 40 anos. De acordo com o texto, “as vacinas de vetor viral (como a Astrazeneca) estão indicadas para uso na população a partir de 40 anos de idade e, em pessoas de 18 a 39 anos de idade, devem ser administradas preferencialmente vacinas Covid-19 da plataforma de mRNA (RNA mensageiro, como a Pfizer)”.

É melhor não tomar vacina nenhuma a tomar a vacina da Astrazeneca?

Não. O melhor é se vacinar. Segundo a nota do ministério, embora a indicação, como informado acima, para pessoas abaixo de 40 anos sejam as vacinas de mRNA, “nos locais de difícil acesso ou na indisponibilidade do imunizante dessa plataforma, poderão ser utilizadas as vacinas de vetor viral (Astrazeneca e Janssen)”.

Bolsonaro estava certo ao atacar as vacinas afirmando que elas causavam trombose e embolia?

Não, essa afirmação tratou-se de mais um ataque, sem provas, às vacinas feito pelo ex-presidente. Bolsonaro citou efeitos adversos considerados raros para colocá-los como uma regra de que os imunizantes provocariam trombose e embolia.

No caso da vacina Astrazeneca, como foi afirmado acima, a ação do Ministério da Saúde foi a de recomendar que as doses sejam dadas a pessoas com mais de 40 anos. Apesar disso, conforme enfatizou a pasta, o imunizante da Astrazeneca pode ser dado a pessoas de qualquer faixa etária. Ou seja, a preferência por imunizar um público específico não anula o fato de que a vacina é segura e eficaz e que seus benefícios superam os riscos.

Ao longo da pandemia, o ex-presidente ficou conhecido por disseminar conteúdos enganosos que, além de descredibilizar a comprovada eficácia dos imunizantes contra a covid-19, iam de encontro às medidas de saúde pública para prevenir a doença, como mostrou o próprio Comprova.

A equipe verificou ser enganoso tuíte que sugere que Bolsonaro recusou oferta anterior da Pfizer para conseguir mais vacinas e ser falso que o Japão declarou ivermectina mais eficaz do que vacinas.

O risco de trombose é maior em contaminados pela covid?

Embora, de acordo com o Ministério da Saúde, haja “escassas ocorrências” de STT em vacinados, o risco de desenvolver a doença ainda é maior em pessoas contaminadas. Essa constatação é corroborada pela professora do Departamento de Biologia Celular da Universidade de Brasília (UnB) Anamélia Lorenzetti Bocca.

“Quando comparado com os riscos da vacina, ter covid aumenta em 10 vezes a chance de trombose”, detalha a bióloga.

Especialista em vacinas, ela diz não ser necessário se preocupar com a possibilidade de desenvolver STT. A bióloga também indica que pacientes com predisposição à formação de trombose podem procurar um médico para tirar dúvidas sobre a imunização.

“Vale lembrar que agora temos várias vacinas no mercado, com características de imunização diferentes. Isto permite adequar a melhor para cada um dos pacientes”, afirma.

Como verificamos: Pesquisamos documentos sobre a Astrazeneca e sua recomendação, como a nota do Ministério da Saúde, e também reportagens de veículos profissionais sobre o assunto.

Por que explicamos: Desde o início da vacinação contra a covid-19, as redes sociais foram tomadas por dúvidas sobre a eficácia das vacinas e também sobre os possíveis riscos de eventos adversos. Este Comprova Explica tem o objetivo de informar sobre esses tópicos, destacando que a imunização ainda é fundamental, já que, como informa o Ministério da Saúde, “o atual cenário no país, com redução de casos graves e óbitos pela doença, é resultado da população vacinada”. A desinformação não deve atrapalhar e impedir que todos se imunizem.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já explicou que a vacina contra covid-19 não provoca Aids, ao contrário do que sugeriu Bolsonaro em live e que os eventos adversos graves pós-imunização são raros e benefícios superam os riscos.