O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2022-09-27

É enganoso que vacinação em crianças no Reino Unido foi interrompida devido a aumento de mortes

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso post no Twitter que afirma que o governo do Reino Unido interrompeu a imunização contra a covid-19 em crianças de 5 a 11 anos devido a um aumento de mortes nessa faixa etária. A vacinação de crianças continua ocorrendo. Somente as que completarem cinco anos a partir de setembro que não irão mais ser imunizadas, o que já era previsto desde fevereiro. Além disso, embora realmente tenha havido um crescimento na mortalidade em crianças em 2022, não existe evidência de que isso tenha ocorrido por causa da vacinação. Segundo a OMS, a vacinação de crianças contra a covid continua sendo eficaz e segura.

Conteúdo investigado: Post no Twitter que diz que o governo do Reino Unido teria interrompido a vacinação contra a covid-19 em crianças de 5 a 11 anos devido a um aumento de mortes nessa faixa etária. O post traz um link para um conteúdo do site negacionista The Exposé sobre o assunto.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganoso tuíte segundo o qual o governo britânico interrompeu a imunização contra a covid-19 em crianças de 5 a 11 anos “após um aumento de 22% nas mortes nesta faixa etária desde que o NHS (sistema de saúde britânico) começou a vaciná-las”.

De fato, foi registrado aumento de óbitos de 22%. Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas Britânico, de janeiro a setembro de 2020 foram contabilizadas 143 mortes de crianças de 5 a 9 anos. No mesmo período de 2022, foram 176 – ou seja, um aumento de 22%. Mas, diferentemente do que afirma o post enganoso, não é possível afirmar que os óbitos tenham relação com a vacina, nem que foram a causa da interrupção da campanha de imunização.

A suspensão da imunização para esse público estava prevista desde o mês de fevereiro, antes do início da campanha de vacinação. Na ocasião, o governo anunciou que a imunização do público de 5 a 11 anos incluía apenas as que completassem 5 anos de idade até o final de agosto de 2022. Ou seja, já estava previsto que, a partir de setembro deste ano, crianças que tivessem completado cinco anos não estariam mais elegíveis para a vacinação. Para o restante do público dessa faixa etária (ou seja, crianças que completaram cinco anos até agosto de 2022) as vacinas seguem disponíveis e sendo aplicadas, segundo o governo do Reino Unido.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Até o dia 27 de setembro o post contava com 6,7 mil curtidas e 2,7 mil retuítes.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o perfil do Twitter que fez a publicação por meio de mensagem direta na rede social, mas não houve retorno até a publicação da verificação.

Como verificamos: Para fazer a verificação, o Comprova pesquisou no Google notícias sobre a interrupção da vacinação em crianças a partir de cinco anos. Nessa pesquisa, encontramos uma matéria do The Guardian, citada no post viral, e uma do iNews. As duas falam sobre críticas de pais e especialistas à interrupção e também que a imunização dessas crianças era temporária desde o início. Em seguida, consultamos o site oficial da Agência de Segurança em Saúde do Reino Unido (UKHSA) para confirmar se a imunização realmente era temporária.

A fim de saber se o dado de 22% era verdadeiro, consultamos o site do Instituto Nacional de Estatísticas Britânico, onde são publicadas estatísticas sobre mortalidade e natalidade no Reino Unido. Os dados de 2022 estão disponíveis até o fim da primeira semana de setembro, por isso, fizemos a comparação com os outros anos usando o mesmo recorte.

Também procuramos na internet se havia sido publicado em algum lugar que a interrupção da vacinação tinha ligação com aumento de mortes, mas nada foi encontrado. Por fim, entramos em contato com a UKHSA, por e-mail, e por mensagem no Twitter com o autor do post.

Imunização de crianças no Reino Unido era temporária

A vacinação para crianças de 5 a 11 anos no Reino Unido começou em fevereiro de 2022 com o imunizante da Pfizer. A publicação de fevereiro deste ano no site oficial do governo do país já previa que a imunização seria suspensa em setembro para crianças que completassem cinco anos a partir desta data. Segundo o texto de fevereiro do governo britânico, o programa “se aplica a pessoas com idade entre 5 e 11 anos, incluindo aqueles que completarão 5 anos de idade até o final de agosto de 2022”. Ou seja, a imunização não terá mais como público as crianças que completarem cinco anos após o fim de agosto.

O Comprova tentou contato por e-mail com a Agência de Segurança em Saúde do Reino Unido (UKHSA) mas não houve retorno até a publicação desta checagem. Em verificação recente sobre o mesmo tema publicada pela agência de checagem australiana AAP, a UKHSA informou que nada havia mudado com relação à vacinação de crianças entre 5 e 11 anos.

À AAP, a agência britânica respondeu que “a elegibilidade sempre terminava em 31 de agosto e isso foi anunciado pela primeira vez em fevereiro deste ano” e que “aqueles que são elegíveis (ou seja, completaram 5 anos antes de 31 de agosto) ainda podem receber a vacina”.

No comunicado oficial de fevereiro de 2022, o governo britânico não detalhou qual critério para deixar de aplicar doses das vacinas em crianças que completam 5 anos a partir de setembro. Conforme relatado nas matérias do The Guardian e do iNews, um dos motivos para justificar a decisão é que crianças nessa idade correm menos risco de desenvolver formas graves da doença e que seria mais eficaz priorizar a vacinação de grupos mais vulneráveis.

Essa decisão gerou repercussão negativa entre especialistas e famílias, conforme noticiou o The Guardian, em reportagem que está citada no texto do The Exposé que faz parte do tuíte aqui verificado. Segundo o Guardian, a UKHSA disse que “a oferta de vacinas contra a covid a crianças saudáveis ​​de 5 a 11 anos sempre foi temporária” e que “crianças com cinco anos ou mais que pertençam a grupo de risco continuariam a receber as vacinas”.

Assim, a partir de agora, crianças saudáveis que completarem cinco anos de setembro deste ano em diante não terão mais direito a ser vacinadas. Crianças entre 5 anos (completos até agosto de 2022) e 11 anos que ainda não foram vacinadas, seguem tendo direito à imunização. E crianças que têm mais de 12 anos continuam tendo direito de ser vacinadas.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a vacinação de crianças de cinco a 11 anos é eficaz e segura. A recomendação é o uso de dose reduzida da vacina – 10 microgramas em vez de 30 microgramas – em comparação com aquela aplicada em pessoas com 12 anos ou mais. Além disso, este grupo deve ser o último a receber o imunizante e também não há orientação para dose de reforço.

Não há indícios de que aumento de mortes tenha relação com a vacina

O texto do The Exposé fala que a decisão de interromper a vacinação de crianças saudáveis a partir dos 5 anos aconteceu depois que uma instituição de governo do Reino Unido, conhecida como “Office for National Static”, publicou que o “número de mortes de crianças de 5 a 9 anos está 22% maior do que nos dois anos antes das vacinas serem aplicadas no país em crianças de 5 a 11 anos”.

De acordo com dados anuais do governo do Reino Unido, divulgados no site do Instituto Nacional de Estatísticas Britânico, entre janeiro e a primeira semana de setembro de 2020 foram registradas 143 mortes de crianças entre cinco e nove anos. Em 2021, foram 144 e em 2022, 176, no mesmo período. O aumento realmente representa 22% a mais do que nos dois últimos anos. Porém, não há nenhum indício de que o aumento tenha relação com a vacina.

Não é possível comparar o mesmo recorte com anos anteriores a 2020, já que antes a divulgação do governo usava recortes de idades diferentes.

Fonte citada no tuíte é site negacionista

O tuíte aqui analisado compartilha como fonte para as informações um link do site “The Exposé”, que se apresenta como veículo disposto a divulgar conteúdos “alternativos aos propagados pela grande mídia mentirosa”. O site é conhecido por publicar informações falsas sobre a pandemia de covid-19 e já foi verificado pelo Comprova em outras oportunidades: em dezembro de 2021 quando publicação do site afirmou que a vacina da covid teria provocado aumento de mortes de crianças e em março de 2022 por conta de um conteúdo que afirmava que a proporção de mortes era maior entre não vacinados do que entre vacinados no Reino Unido.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, as eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal. Conteúdos falsos ou enganosos sobre as vacinas contra a covid-19 podem desestimular as pessoas a se imunizarem, o que coloca a vida delas em risco.

Outras checagens sobre o tema: Esse mesmo conteúdo foi marcado como falso pela Australian Associated Press FactCheck.

Em checagens recentes sobre a pandemia, o Comprova também mostrou que é enganoso que ex-funcionária da Casa Branca tenha confessado, em entrevista, que as vacinas não protegem contra a covid-19, que a morte de seis médicos canadenses não tem relação com a vacina contra a covid-19 e que erros admitidos por órgão dos EUA no combate à covid têm relação com estratégias de comunicação, e não política de vacinação.

Saúde

Investigado por: 2022-09-26

Órgão de saúde dos EUA não incluiu ivermectina entre terapias contra covid-19, diferentemente do que diz post

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Enganoso
Não é verdade que um dos principais órgãos de pesquisa em saúde dos Estados Unidos, o National Institutes of Health (NIH), recomenda ivermectina para o tratamento de covid-19, como sugere um post no Twitter. Na verdade, o órgão contraindica o uso do remédio para a doença, a não ser em estudos clínicos. A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora americana equivalente à Anvisa, também não autoriza a ivermectina para tratar ou prevenir a covid.

Conteúdo investigado: Tuíte do candidato a deputado federal pelo Rio de Janeiro Ed Raposo (PTB) diz que o National Institutes of Health adicionou a ivermectina em suas diretrizes de terapia viral para covid-19. O tuíte mostra a imagem de uma captura de tela do site do NIH que põe a ivermectina ao lado de outros medicamentos estudados ou já usados como tratamento para a doença, como o remdesivir.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganoso o post no Twitter que sugere que o National Institute of Health dos Estados Unidos passou a recomendar ivermectina para o tratamento de covid-19. A postagem, feita pelo candidato a deputado federal Ed Raposo (PTB-RJ), usa uma imagem de captura de tela verdadeira do site do NIH com informações sobre o remédio, mas traz conclusões equivocadas sobre o conteúdo do texto.

Em sua página oficial de terapias antivirais para covid-19, o NIH disponibiliza dados sobre medicamentos em estudo ou já usados para combater a doença, como remdesivir, paxlovid e ivermectina. A imagem do tuíte verificado é um print dessa página, na qual é possível ler “COVID-19 Treatment Guidelines” (“diretrizes para tratamento da covid-19”) e os links sobre cada remédio. Diferentemente do que diz o post, porém, o NIH não recomenda o uso da ivermectina para covid-19, a não ser para estudos clínicos.

“Embora haja muitos estudos sobre a ivermectina, apenas alguns foram bem desenhados e conduzidos”, diz o NIH no site para justificar a contraindicação. “Ensaios clínicos mais recentes não têm mais as limitações dos estudos anteriores, mas não mostram evidências claras de que a ivermectina reduz o tempo de recuperação ou previne a progressão da covid-19”. Para o órgão, é preciso haver mais estudos.

Dados de um ensaio clínico conhecido como Together, que foi conduzido no Brasil e é citado pelo NIH, mostram que não há diferença significativa entre o uso de ivermectina e de placebo para reduzir o risco de hospitalização por covid-19 (em um caso, houve 14,7% de hospitalização e em outro, 16,4%). Também não há diferença relevante entre os dois para reduzir o risco de mortalidade pela doença (3,1% a 3,5%).

Não há terapia com ivermectina para covid-19 nos Estados Unidos. Consultada pelo Comprova, a Food and Drug Administration, agência reguladora que aprova medicamentos e vacinas no país, afirmou que nunca autorizou a aplicação do vermífugo para tratamento ou prevenção da doença. A agência disse também que tem aplicado testes clínicos com o remédio e apurado seus resultados contra a covid-19.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova verifica conteúdos com grande alcance nas redes sociais. Até 26 de setembro, havia cerca de 11,5 mil interações com o tuíte checado, entre curtidas e compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: O Comprova enviou uma mensagem de WhatsApp a um número indicado no Twitter como da campanha de Ed Raposo, mas não obteve resposta até o fechamento desta verificação. O Comprova também tentou ligar para o número, mas ele não aceitou as chamadas.

Como verificamos: Para verificar o tuíte enganoso, o Comprova buscou no Google as expressões “NIH”, “ivermectina” e “terapias antivirais” (as mesmas que aparecem na imagem de captura de tela compartilhada pelo autor da postagem) e chegou ao site da agência americana. Na seção sobre terapias antivirais contra a covid-19, a página do NIH de fato mostra a ivermectina, mas como remédio em estudo.

A verificação leu as informações do site sobre o medicamento. A partir daí, o Comprova entendeu que, na verdade, o NIH não recomenda o uso do vermífugo contra a covid-19, diferentemente do que sugere o tuíte verificado. De volta ao Google, a reportagem descobriu que serviços de checagem como o da agência Reuters já haviam desmentido no início do mês boatos como o espalhado pela publicação.

Para saber se a ivermectina havia sido liberada de alguma outra forma nos Estados Unidos, o Comprova entrou em contato com a Food and Drug Administration. A verificação perguntou à agência americana se o uso do remédio recebeu parecer favorável para o tratamento ou prevenção da covid-19. Por e-mail, a agência negou ter feito qualquer autorização do tipo, apesar de ainda conduzir estudos com o remédio.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, as eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal. Conteúdos falsos ou enganosos sobre tratamentos contra a covid-19 podem influenciar pessoas a se automedicarem com remédios não recomendados — o que, além de não tratar a doença, pode comprometer a saúde.

Outras checagens sobre o tema: A agência Reuters realizou checagem sobre o mesmo assunto e desmentiu a informação.

Em verificações anteriores sobre o uso de ivermectina, o Comprova já mostrou ser falso que o Japão havia declarado que o antiparasitário é mais eficaz do que a vacina e que um estudo realizado em Itajaí comprovou a eficácia do medicamento.

Saúde

Investigado por: 2022-09-21

É enganoso que ex-funcionária da Casa Branca tenha confessado, em entrevista, que as vacinas não protegem contra a covid-19

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Enganoso
É enganoso que a ex-coordenadora da Casa Branca para resposta à covid-19 Deborah Birx tenha confessado, em entrevista de julho à Fox News, a ineficácia das vacinas contra a doença. Ela, na verdade, disse que as pessoas devem continuar se vacinando para ficarem protegidas de casos graves e hospitalizações e que não acredita que as vacinas impedem a contaminação, algo que já afirmava desde, pelo menos, 2020.

Conteúdo investigado: Tuíte com trecho em vídeo de uma entrevista da emissora de televisão americana Fox News com Deborah Birx, ex-coordenadora da Casa Branca para resposta à covid-19, alegando que ela teria confessado a ineficiência das vacinas contra o coronavírus e afirmado que metade dos óbitos pela variante Ômicron envolveriam vacinados.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganoso que a ex-coordenadora da Casa Branca para resposta à covid-19 Deborah Birx tenha confessado, em entrevista de 22 de julho à Fox News, a ineficácia das vacinas contra a doença. Ela, na verdade, defendeu a vacinação, afirmando que evita casos severos e hospitalizações.

Birx disse que as pessoas “devem” se vacinar, inclusive com a dose de reforço, porque “nós realmente acreditamos que isso protegerá você, especialmente se você estiver acima dos 70 anos”.

Ela, apenas, reafirmou não acreditar que as vacinas, por si só, impedem a contaminação, uma tese que ela já defendia desde, pelo menos, 2020. “Eu sabia que essas vacinas não protegeriam contra a infecção”, disse Birx na entrevista à Fox News. A ex-coordenadora, porém, conclui o raciocínio defendendo, novamente, a eficiência da vacinação contra casos graves e hospitalização: “Acho que superestimamos as vacinas [quanto a impedir a contaminação], e isso fez com que as pessoas se preocupassem com [elas] não protegerem contra doenças graves e hospitalização. Elas os protegerão.”

A segunda parte dessa declaração é ignorada em um título descontextualizado no site da própria Fox News — “Dra. Birx sabia que as vacinas COVID não protegeriam contra a infecção” —, no qual o conteúdo aqui verificado muito provavelmente se baseou.

A postagem checada também distorceu declarações de Birx em relação a óbitos pela variante Ômicron entre os imunizados. A ex-coordenadora da Casa Branca disse que metade das mortes na “alta da Ômicron” envolveu “os mais velhos e vacinados”, e não o público imunizado “de uma forma geral”, como afirma a publicação investigada. Birx ressaltou que a idade é determinante na vulnerabilidade das pessoas face à covid-19.

Ela não especifica a qual período essa estimativa se refere, usando apenas a expressão “Omicron surge”, traduzível para “alta da Ômicron”. Reportagem da CNN americana, considerando a alta da Ômicron nos Estados Unidos entre janeiro e fevereiro de 2022, mostra que mais de 40% das mortes por covid envolviam vacinados.

Porém, a matéria, de 11 de maio, destaca que, desse grupo, menos de um terço havia tomado a dose de reforço: um indicativo, segundo a matéria, da necessidade da aplicação de uma terceira dose.

Alcance da publicação: O vídeo checado tinha 108,4 mil visualizações, 4,2 mil retuítes, 11,9 mil curtidas e 118 comentários até o dia 21 de setembro de 2022.

O que diz o autor da publicação: O Comprova tentou entrar em contato com o perfil que publicou o vídeo alvo da checagem, mas ele não aceita mensagem direta no Twitter. Não encontramos em outras redes sociais nenhum perfil do autor da publicação.

Como verificamos: Buscamos, no Google, pelas palavras-chave “Deborah Birx” e “Fox News”. Obtivemos, como segunda resposta, a versão original da entrevista, concedida à emissora de televisão americana, e, como sétima, um artigo do serviço de checagem de fatos americano Politifact desmentindo a alegação reproduzida pelo conteúdo verificado.

O que Deborah Birx disse à Fox News

O conteúdo verificado mostra o apresentador Tucker Carlson, da Fox News, reproduzindo um trecho de uma entrevista de Birx, datada de 22 de julho de 2022, ao jornalista Neil Cavuto, da mesma emissora de televisão.

Nela, a partir do sexto minuto, a ex-coordenadora reafirmou acreditar que a vacina não impediria a contaminação do vírus, mas, mesmo assim, diminuiria os casos graves da doença. “Eu sabia que essas vacinas não protegeriam contra a infecção. Acho que superestimamos as vacinas [quanto a impedir a contaminação], e isso fez com que as pessoas se preocupassem com [elas] não protegerem contra doenças graves e hospitalização. Elas os protegerão”, disse.

A ex-coordenadora de resposta à covid-19 da Casa Branca afirmou que 50% das pessoas que morreram pela variante Ômicron eram idosos e vacinados. Ela não especifica a qual período essa estimativa se refere, usando apenas a expressão “Omicron surge”, traduzível para “alta da Ômicron”. Segundo reportagem da CNN americana, que analisou dados oficiais dos Estados Unidos entre janeiro e fevereiro de 2022, considerado período de alta da Ômicron, mais de 40% das mortes por covid foram de vacinados. Desse grupo, menos de um terço havia tomado a dose de reforço.

O efeito protetivo das vacinas contra o vírus

As vacinas atuam no corpo humano induzindo a criação de anticorpos pelo sistema imunológico. Elas têm a capacidade de diminuir o impacto do vírus prevenindo casos graves e óbitos. Além disso, todas as vacinas licenciadas são rigorosamente testadas e consequentemente seguras.

O processo de criação dos imunizantes passou por estudos que comprovaram a segurança e a eficácia das vacinas. A Organização Mundial de Saúde (OMS), das Nações Unidas, recomenda que todas as pessoas se vacinem, com “muito poucas condições que excluiriam alguém de ser vacinado”, como estar com febre acima de 38,5 °C no dia da vacinação.

O combate a novas variantes que podem ser resistentes às vacinas existentes também se dá pela imunização coletiva e medidas de higiene protetivas.

Quem é Deborah Birx

A doutora Deborah Birx é uma médica e diplomata estadunidense que atuou como coordenadora de resposta à covid-19 durante parte do governo do ex-presidente estadunidense Donald Trump (2017-2021). Especialista de renome mundial, seu trabalho é conhecido na área da imunologia, sobretudo no combate ao Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV na sigla em inglês). Além disso, tem atuação na seara de pesquisa de vacinas, saúde global, entre outros segmentos.

Durante a atuação na pandemia, Birx auxiliou na tomada de decisões e colaborou com autoridades estaduais americanas, fornecendo orientações. Ela também já atuou como Coordenadora das Atividades do Governo dos Estados Unidos para o combate ao HIV/AIDS e como Representante Especial dos Estados Unidos para a Diplomacia da Saúde Global.

De 2005 a 2014, Birx atuou como Diretora da Divisão Global de HIV/AIDS (DGHA), vinculada ao Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. De acordo com informações do governo americano, a médica publicou mais de 200 manuscritos em periódicos revisados ​​por pares, é autora de quase uma dúzia de capítulos em publicações científicas, bem como de pesquisas sobre vacinas desenvolvidas e patenteadas.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, as eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal. Peças de desinformação, como a verificada nesta checagem, desencorajam as pessoas a se vacinar contra a covid-19, expondo-as ao risco de desenvolver casos graves da doença e prejudicando o combate ao vírus.

Outras checagens sobre o tema: Em julho deste ano, a agência de checagem americana PolitiFact desmentiu a alegação reproduzida pelo vídeo que foi alvo desta checagem. O Comprova fez outras verificações sobre conteúdos que distorcem informações relacionadas à pandemia. Dentre elas, mostrou que a vacina contra covid-19 não provoca Aids, ao contrário do que sugeriu Bolsonaro em live; que mutações do vírus não descartam eficácia e segurança das vacinas e que é enganoso que estudo de Harvard comprovou eficácia de hidroxicloroquina na prevenção da doença.

Saúde

Investigado por: 2022-08-30

Morte de seis médicos canadenses não tem relação com a vacina contra a covid-19

  • Falso
Falso
É falso que seis médicos canadenses tenham morrido em decorrência da aplicação de vacinas contra a covid-19. Três dos profissionais citados no conteúdo aqui analisado, e que trabalhavam na mesma rede hospitalar, morreram de câncer, de acordo com informações publicadas por veículos de imprensa do Canadá e declarações de suas respectivas famílias. Ao Comprova, a rede hospitalar também negou que a causa da morte de qualquer um deles tenha decorrido da vacina contra a covid-19. Em relação aos outros três médicos citados no conteúdo, não há qualquer relato confiável confirmando que as mortes ocorreram por causa da vacina. Em contato com o Comprova, os hospitais e autoridades de saúde aos quais dois desses três médicos estavam vinculados também negaram que as causas das mortes tivessem relação com a vacina. A peça de desinformação foi publicada em um site de língua inglesa, mas replicada no Brasil em um grupo de médicos no Telegram.

Conteúdo investigado: Publicação que circula no Telegram com informações sobre seis médicos que faleceram durante o mês de julho, no Canadá. A mensagem é acompanhada de um link para o site negacionista “Health Impact News”, que reúne informações de outros sites e perfis nas redes sociais para afirmar que as mortes estão relacionadas ao início da aplicação obrigatória da quarta dose de vacinas contra a covid-19 em um hospital do Canadá.

Onde foi publicado: Telegram.

Conclusão do Comprova: É falso que seis médicos tenham morrido por causa da vacina contra a covid-19 no Canadá. O texto, publicado originalmente no site “Health Impact News”, afirma que as mortes começaram duas semanas depois de um hospital iniciar a aplicação obrigatória da quarta dose da vacina contra a covid-19. De fato, os seis médicos canadenses citados no conteúdo morreram recentemente, porém, não há relação comprovada com eventuais efeitos colaterais da vacina.

Três dos seis médicos eram vinculados à rede de hospitais Trillium Health Partners e morreram de diferentes tipos de câncer. Eles já estavam doentes há pelo menos um ano, como mostram reportagens de TV e sites locais do Canadá, como o CTV News Toronto. Lorne Segall, de 49 anos, faleceu após lutar por cerca de um ano contra um “câncer de pulmão avançado”, conforme seu obituário. O neurologista Stephen McKenzie faleceu aos 68 anos e, em um obituário publicado no site Legacy.com, a família de McKenzie diz que o médico morreu “após uma corajosa batalha contra o câncer”. A terceira morte foi de Jakub Sawicki. A esposa do médico, Iris Sawicki, disse que ele lutava contra um câncer gástrico desde agosto do ano passado. Procurada pelo Comprova, a Trillium Health Partners afirmou que “o boato que circula nas redes sociais simplesmente não é verdade. As mortes não eram relacionadas à vacina contra a covid-19”.

Os outros três casos citados na publicação analisada são dos médicos Candace Nayman, Paul Hannam e Shahriar Jalali Mazlouman. Em uma outra publicação do “Health Impact News”, há um texto mencionando o que seria a sétima morte de um profissional da saúde do Canadá ocorrida em função da vacina contra a covid-19: o médico Ryan Buyting.

Candace Nayman e Paul Hannam morreram depois de mal-súbitos durante práticas esportivas no último mês de julho. Candace participava de uma prova de triatlo e desmaiou enquanto nadava e Hannam teve um desmaio enquanto participava de uma corrida. Já Shahriar Mazlouman foi encontrado morto em uma piscina pública na cidade de Regina, na província de Saskatchewan. Os hospitais e autoridades sanitárias aos quais estavam vinculados Hannam e Mazlouman afirmaram ao Comprova que as causas das mortes não foram relacionadas com a vacinação contra a covid-19.

Em relação à Candace Nayman, uma declaração do hospital ao qual ela era vinculada cita que a médica “sofreu uma parada cardíaca durante uma competição de triatlo e morreu”. Questionado pelo Comprova sobre o que poderia ter levado a médica a sofrer uma parada cardíaca, o hospital em que ela trabalhava disse que não poderia fornecer informações “por questões de privacidade”. O Comprova não conseguiu informações em relação à suposta sétima vítima, o médico Ryan Buyting.

Além disso, ao contrário do que diz o post, as mortes não ocorreram após os hospitais passarem a exigir imunização com quatro doses da vacina contra a covid-19. O Comprova conseguiu confirmar que ao menos quatro dos seis médicos citados no conteúdo trabalhavam em hospitais que exigiam que seus funcionários tivessem tomado apenas duas doses da vacina. Conforme relatado por veículos de imprensa do Canadá, algumas regiões do país, como a província de Ontário, chegaram a exigir a obrigatoriedade da vacinação com duas doses para trabalhadores da saúde e da educação em 2021. Embora não seja obrigatória, a quarta dose da vacina já está sendo aplicada no país. O Comitê Nacional sobre Imunização do Canadá recomenda que qualquer pessoa acima dos 12 anos está elegível para receber a quarta dose dos imunizantes.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: No canal do Telegram Médicos Pela Vida, o link do texto em inglês foi compartilhado com alguns trechos destacados em português. Até o dia 30 de agosto, a mensagem tinha 34,3 mil visualizações, 1.095 reações e 331 comentários.

O que diz o autor da publicação: O perfil do Telegram que publicou o conteúdo aqui analisado (“Médicos pela Vida”) não permite o envio de mensagens. A organização Médicos pela Vida foi procurada por e-mail para confirmar se possui alguma relação com o perfil que publicou o conteúdo, mas não houve retorno até o fechamento desta verificação.

Como verificamos: Primeiramente, foram feitas buscas no Google com parte da manchete apresentada no site Health Impact News (“6 Canadian Medical Doctors Died Within 2 Weeks After 4th COVID Booster Shots”) mais o termo “fact-checking”, para verificar se agências estrangeiras já haviam investigado o conteúdo. Os resultados direcionaram para verificações sobre o tema publicadas por Reuters, PolitiFact e USA Today.

Também foram feitas buscas no Google com os nomes de todos os médicos citados pelo conteúdo aqui investigado. A partir dos resultados foi possível ler notícias da imprensa canadense sobre as mortes citadas e descobrir a quais hospitais ou autoridades sanitárias esses médicos estavam vinculados. Em seguida, as assessorias de imprensa desses hospitais e autoridades sanitárias foram procuradas por e-mail.

Para confirmar se as mortes tinham relação com a vacina e se a quarta dose da vacina era obrigatória para profissionais da saúde, a assessoria de imprensa da Agência Pública de Saúde do Canadá também foi procurada, mas não houve retorno até o fechamento desta checagem.

Por fim, o Comprova enviou e-mail para o endereço disponível no site Médicos pela Vida.

Os três médicos da mesma rede hospital morreram de câncer

Um dos pontos centrais do texto publicado no site “Health Impact News” menciona que três médicos de um mesmo hospital no Canadá faleceram num intervalo de menos de uma semana e relaciona isso com a aplicação de vacinas contra a covid-19. Entretanto, as informações são falsas.

O Comprova encontrou várias reportagens de veículos do Canadá sobre as mortes dos três médicos. E elas não apontam nenhuma relação com as vacinas contra a covid-19. Os profissionais não trabalhavam todos no mesmo local, mas sim na mesma rede hospitalar, a Trillium Health Partners. Numa reportagem do canal CTV, do Canadá, as mortes de Jakub Sawicki, Stephen McKenzie e Lorne Segall são atribuídas a outras causas, sem qualquer ligação com vacinas ou covid-19.

A primeira morte ocorreu no dia 17 de julho deste ano. O Dr. Lorne Segall, de 49 anos, faleceu após lutar por cerca de um ano contra um “câncer de pulmão avançado”, conforme seu obituário. Segall era otorrinolaringologista no Credit Valley Hospital, na província de Ontário, parte do grupo Trillium Health Partners.

O segundo óbito foi no dia seguinte, 18 de julho. O neurologista Stephen McKenzie faleceu depois de um período em que esteve “gravemente doente”, aos 68 anos. Em um obituário publicado no site Legacy.com, a família de McKenzie diz que o médico morreu “após uma corajosa batalha contra o câncer”. O Legacy é um site que reúne publicações de obituários de jornais norte-americanos e de outros países, como o Canadá. A publicação foi feita na plataforma pelo The Globe and Mail, um dos maiores jornais canadenses.

O terceiro profissional que faleceu foi Jakub Sawicki, no dia 21 de julho. A esposa do médico, Iris Sawicki, disse à CTV que o marido tinha sido diagnosticado com um “câncer gástrico em estágio 4, numa das formas mais agressivas de câncer de estômago”, em agosto do ano passado. No site gofundme.com, Iris criou uma campanha de crowdfunding para arrecadar dinheiro que será convertido em bolsas de estudo para alunos de Medicina. No texto do site, a mulher cita que “ao longo de sua doença, ele (Jakub) foi capaz de encontrar alegria em suas paixões e hobbies e passar tempo comigo e com nosso filho recém-nascido”.

Procurada pelo Comprova, a assessoria de imprensa do Trillium Health Partners confirmou que não há qualquer relação entre o óbito dos três médicos e a vacina contra a covid-19. A empresa também informou que requer de seus profissionais apenas duas doses da vacina contra covid-19. O boato também já havia sido desmentido por agências de checagens dos Estados Unidos, como o USA Today, a Reuters e o PolitiFact.

Não há confirmação de que os outros médicos tenham morrido de causas relacionadas à vacina contra covid-19

A publicação aqui verificada menciona ainda o nome de outros três médicos canadenses, que trabalhavam em hospitais diferentes, e que teriam morrido em função da vacina contra a covid-19 recentemente: Candace Nayman, Paul Hannam e Shahriar Jalali Mazlouman. Em outra publicação do mesmo site, há um texto mencionando o que seria a sétima morte de um profissional da saúde do Canadá ocorrida em função da vacina contra a covid-19: o médico Ryan Buyting.

Esses quatro profissionais de fato morreram no último mês de julho, porém, até o momento não há nenhuma confirmação de que qualquer um dos óbitos tenha relação com a vacina. No caso de Paul Hannam e Shariar Mazlouman, os hospitais e autoridades sanitárias aos quais estavam vinculados afirmaram ao Comprova que as causas da morte não eram relacionadas com a vacinação contra a covid-19.

Paul Hannam era o chefe de medicina de emergência e diretor médico do programa do Hospital Geral de North York. Ele tinha 50 anos e morreu após ter desmaiado enquanto corria no último dia 16 de julho, conforme informou o Toronto CTV News. Em contato com o Comprova, a assessoria de imprensa do Hospital Geral de North York afirmou que o óbito não tem qualquer relação com a covid-19 ou com “vacinas de qualquer tipo”. O hospital ainda enviou um link para um texto do obituário do médico Paul Hannam. O texto menciona que ele morreu após uma “insuficiência cardíaca súbita” no início de uma corrida e não faz menção a qualquer efeito colateral da vacina.

Na mesma resposta, o Hospital de North York informou que exigia que os profissionais vinculados à instituição estivessem vacinados com duas doses da vacina contra a covid-19. “Para garantir um ambiente seguro aos pacientes e a população vulnerável, duas doses da vacina contra a covid-19 são obrigatórias para todos os funcionários do hospital. Acreditamos que esta é a coisa certa a se fazer e é consistente com a direção tomada por muitos hospitais em nossa jurisdição”, escreveram.

Shahriar Jalali Mazlouman, de 44 anos, foi encontrado morto em uma piscina local na cidade de Regina, na província de Saskatchewan, no dia 23 de julho, conforme noticiou o Regina CTV News, que em outro conteúdo sobre o tema classificou a morte como “repentina”. Mazlouman trabalhava na Clínica Médica da cidade de Melville e no pronto socorro do Centro Regional de Saúde da cidade de Yorkton.

Em contato com o Comprova, a autoridade de saúde de Saskatchewan informou que a morte de Shahriar Jalali Mazlouman não teve qualquer relação com a vacina contra a covid-19 e que, “em respeito à sua família, nenhuma outra informação seria fornecida”. A assessoria de imprensa do órgão ainda enviou um link de uma publicação feita no último mês de julho sobre o caso. Na publicação, a autoridade de saúde de Saskatchewan apenas presta condolências à família de Mazlouman e informa que ele era um médico de família da cidade de Melville, que “faleceu inesperadamente no último dia 23 de julho”.

Candace Nayman era médica residente de pediatria no McMaster Children’s Hospital, vinculado à Universidade de McMaster, na cidade de Hamilton, e morreu após participar de uma competição de triatlo na cidade de Toronto, que aconteceu em 24 de julho, conforme noticiaram os sites canadenses CBC e Toronto Sun. Candace desmaiou enquanto nadava durante uma das provas, foi socorrida e levada ao hospital. Ela faleceu no dia 28 de julho.

Em contato com o Comprova, a assessoria de imprensa do McMaster Children’s Hospital informou que, por razões de privacidade, não estava autorizada a responder aos questionamentos enviados sobre a causa da morte de Candance e se ela havia sido vacinada contra a covid-19. Na resposta, o hospital apenas enviou um link para uma declaração conjunta do Hamilton Health Sciences e da Universidade de McMaster sobre a morte da médica. Essa declaração descreve que Candace estava no seu terceiro ano de residência médica na McMaster University, preparando-se para se tornar pediatra, e que ela morreu aos 27 anos. Sobre a causa da morte, a declaração cita apenas que ela “sofreu uma parada cardíaca durante uma competição de triatlo e morreu”.

O Comprova não conseguiu informações em relação à suposta sétima vítima, o médico Ryan Buyting. Pesquisas na internet com o seu nome retornaram apenas para a publicação do “Health Impact News”, de outros sites negacionistas que relacionam sua morte com a vacina contra a covid-19 e de um site que publica obituários. Essas publicações afirmam que Buyting, de 26 anos, fazia residência médica no sistema de saúde da região de Alberta, no Canadá, e morreu no último dia 26 de julho. O Comprova não conseguiu contato com o sistema de saúde da região de Alberta.

O site que publicou as informações

O “Health Impact News” foi fundado em 2011 e se apresenta como um site para “combater desinformação sobre vacina” a partir da discussão de assuntos que, segundo o site, são “rotineiramente censurados pela mídia corporativa”. Entre outras coisas, na aba de apresentação do site, o “Health Impact News” chama as vacinas contra a covid-19 de “armas biológicas” utilizadas pelas grandes corporações médicas. Boa parte do conteúdo veiculado hoje no site versa sobre a pandemia de covid-19 e as vacinas. Publicações do site já foram alvo de verificações da Reuters em setembro e novembro de 2021 e do site Poynter em dezembro de 2021.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia de covid-19, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que viralizaram nas redes sociais. Conteúdos como este aqui verificado, que colocam em dúvida a vacinação contra o coronavírus, são perigosos porque podem influenciar a população a não se imunizar, o que impacta diretamente no combate à pandemia.

Outras checagens sobre o tema: Outras iniciativas de checagem de fatos já identificaram como a falsa a afirmação que três médicos do Trillium Health Partners tenham morrido em decorrência da vacina contra a covid-19, como o Fato ou Fake, do portal G1, e os sites USA Today, Reuters e o PolitiFact.

O Comprova também já verificou outras publicações relacionadas à pandemia, como um texto que engana ao dizer que estudo de Harvard comprovou eficácia de hidroxicloroquina na prevenção da covid-19 e alegações falsas de uma médica que trata vacinação da covid em crianças como “assassinato em massa”. O Comprova também já mostrou que não há relação entre casos de mal súbito em atletas e vacinas contra covid e que post engana ao relacionar mortes no esporte à vacinação contra a covid-19.

Saúde

Investigado por: 2022-08-29

Erros admitidos por órgão dos EUA no combate à covid têm relação com estratégias de comunicação, e não política de vacinação

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o vídeo de um médico que afirma que o Centro de Prevenção de Doenças (CDC), agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, pediu desculpas por "erros" cometidos na pandemia dando a entender que a instituição falhou sobre as orientações de combate à covid-19. Na verdade, o órgão norte-americano afirmou que errou quanto à forma como se comunicou com as pessoas sobre assuntos científicos.

Conteúdo investigado: Vídeo divulgado no Instagram e no Telegram em que médico fala que o Centro de Prevenção de Doenças, nos Estados Unidos, pediu desculpas por erros na pandemia, dando a entender que ele estava certo e o CDC errado. O médico fala que exigir vacinas para estudantes é um “erro” porque o CDC orientou o mesmo tratamento para vacinados e não vacinados. Ele finaliza dizendo que as pessoas criam tolerância ao vírus após serem vacinadas, por isso países mais imunizados teriam mais casos de covid-19 – correlação não comprovada por especialistas.

Onde foi publicado: Telegram e Instagram.

Conclusão do Comprova: Um vídeo publicado pelo médico Roberto Zeballos retira de contexto algumas informações verdadeiras para insinuar que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos errou nas orientações de combate ao novo coronavírus.

A instituição realmente admitiu falhas durante a pandemia, porém, não em relação às orientações de prevenção, como uso de máscara, distanciamento social e vacinação, e sim em relação à forma como passou essas orientações para o público. Segundo a diretora do CDC, Rochelle Walensky, o órgão estava acostumado a lidar com um público acadêmico antes da pandemia e não soube adaptar a linguagem para as pessoas comuns. Além disso, o CDC assumiu que precisa ser mais ágil na publicação de descobertas científicas.

No vídeo, o médico também critica a imunização de crianças e adolescentes e relaciona o aumento de casos de covid-19 em alguns países com altas taxas de vacinação. Especialistas consultados pelo Comprova, no entanto, afirmam que não é possível fazer essa correlação. De acordo com eles, países com taxas mais altas de imunização também são os que mais testam a população, por isso, acabam registrando mais casos da doença.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O vídeo no Telegram teve 27 mil visualizações e no Instagram teve 97 mil curtidas e 5,6 mil comentários até 29 de agosto.

O que diz o autor da publicação: Consultado pelo Comprova, Zeballos afirmou que o CDC “errou em vários aspectos” da pandemia e que “viveu intensamente” a covid-19 por dois anos e meio na condição de médico. “Minha experiência vai totalmente de acordo com o CDC ter assumido erros grosseiros”, disse, embora o CDC não tenha recuado em pontos como a recomendação de vacinação, o que Zeballos critica. Apesar de dizer que não se opõe à vacina contra a covid-19 para todos os públicos, o médico criticou a imunização de crianças e adolescentes e disse que ela não é eficaz contra a variante ômicron. Zeballos citou estudos que descrevem efeitos adversos das vacinas para parte dos jovens, disse que a pandemia não é mais uma emergência de saúde pública e que crianças e adolescentes não são o grupo mais atingido pela covid-19 — embora, diferentemente da declaração dele de que “não acontece nada” com jovens com covid-19, a doença tenha feito mais de 3.300 vítimas dessa faixa no Brasil desde 2020.

Como verificamos: Para fazer a verificação, o primeiro passo foi pesquisar no Google sobre os tópicos falados no vídeo, como se o CDC admitiu algum erro, se o imunologista Anthony Fauci estava saindo do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) — outro tema que Zeballos cita —, se o CDC mudou as orientações para a covid-19 e se países mais vacinados registraram mais casos de covid-19. Também consultamos o próprio site do CDC e buscamos dados sobre os casos de infecções por covid-19 nos sites Our World in Data e da Johns Hopkins University que compilam os dados da pandemia no mundo.

Além da pesquisa, consultamos o pediatra, infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, e o médico infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Julio Croda. Por fim, também falamos com o médico Roberto Zeballos, autor do vídeo aqui verificado.

CDC admite falhas na comunicação

A diretora do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, agência do Departamento de Saúde dos Estados Unidos, Rochelle Walensky, admitiu em um comunicado para funcionários, em 17 agosto deste ano, que a agência não atendeu às “expectativas de maneira eficiente” no combate à covid-19. O CDC estava se preparando há 75 anos para uma pandemia e “em nosso grande momento, nosso desempenho não atendeu às expectativas de maneira confiável”, disse Walensky no conteúdo ao qual os jornais norte-americanos The New York Times e o Politico tiveram acesso.

De acordo com ela, o CDC irá passar por mudanças com o objetivo de se preparar melhor para emergências sanitárias futuras. “Meu objetivo é uma nova cultura de saúde pública orientada para a ação no CDC que enfatize a responsabilidade, colaboração, comunicação e pontualidade”, afirmou Walensky.

Segundo o documento, as mudanças visam melhorias na comunicação do CDC, que incluem a liberação de dados científicos mais rapidamente para aprimorar a transparência. As análises feitas concluíram que “os processos científicos e de comunicação tradicionais não eram adequados para responder efetivamente a uma crise do tamanho e escopo da pandemia de covid-19”.

“Estamos falando de uma mudança de cultura. Estamos falando de pontualidade de dados, comunicação de dados e orientação de políticas. A reorganização é difícil”, explicou Walensky ao Times.

De acordo com a diretora do CDC, o órgão foi desenvolvido em uma infraestrutura acadêmica e isso precisa mudar. Até a covid-19, a agência tinha como público-alvo especialistas e acadêmicos, mas, na pandemia, ela teve que passar a falar com a população comum. “Nestes momentos de pandemia, tivemos que conversar com um público mais amplo. Não tivemos que convencer o público científico – tivemos que convencer o povo americano”, disse Walensky. A prioridade então será produzir conteúdos com uma “linguagem simples e materiais fáceis de entender para o povo americano”.

Na avaliação do diretor da SBIm, o médico infectologista Renato Kfouri, não há críticas em relação à atuação do CDC durante a pandemia. “Acho que o CDC é um dos principais órgãos de controle de doenças do mundo. Tem investimento, capacidade, os profissionais mais qualificados do mundo”, disse ao Comprova. Para ele, é um dos órgãos “que mais produziram ciência em termos de dados de vida real, de segurança, de eficácia, de efetividade das vacinas que foram aplicadas nos EUA.”

Kfouri também disse que é esperado que o CDC revise suas condutas após um momento como o da pandemia, em que órgãos como esse tiveram que tomar decisões rápidas. “É uma epidemia nova. O conhecimento [sobre a covid-19] tem sido construído ao longo destes dois anos e meio”, disse. “Nem sempre essas decisões são fáceis. Vários países oscilaram [nas recomendações], mas sempre à luz das evidências disponíveis na época.”

Anthony Fauci anunciou saída do cargo

Como dito no vídeo verificado, o diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA e principal conselheiro médico do presidente Joe Biden, Anthony Fauci, anunciou em agosto que sairá do cargo de gestão a partir de dezembro. Fauci tem 81 anos, é diretor do NIAID desde 1984 e ocupa cargos no governo dos EUA há mais de 50 anos. Na pandemia, foi um dos principais críticos à atuação do então presidente Donald Trump no combate à covid-19.

Não há nenhuma evidência de que a saída de Fauci tenha alguma relação com a sua atuação durante a pandemia, como Zeballos sugere no vídeo. De acordo com o The New York Times, o anúncio do médico não foi inesperado. Ele já tinha falado algumas vezes que estava pensando em se aposentar — apesar de, no anúncio, ele não ter dito que se aposentaria, mas que se “dedicaria a viajar, escrever e encorajar os jovens a ingressar no serviço público”.

O presidente Joe Biden emitiu uma nota de agradecimento a Fauci. “O compromisso dele com o trabalho é inabalável, e ele o faz com espírito, energia, e integridade científica. Por causa das muitas contribuições do Dr. Fauci para a saúde pública, vidas aqui nos Estados Unidos e em todo o mundo foram salvas. Como ele deixa seu cargo no governo dos EUA, sei que o povo americano e todo o mundo continuará a se beneficiar da experiência do Dr. Fauci em tudo o que ele fizer a seguir.”

Pelo Twitter, a diretora do CDC, Rochelle Walensky, também agradeceu pela atuação de Fauci. “O trabalho do Dr. Fauci nas últimas cinco décadas, sem dúvida, teve um impacto na vida de muitos em todo o país, incluindo a minha. Foi um privilégio e uma honra servir ao lado dele na resposta ao #COVID19. Somos todos melhores por causa de sua experiência e serviço”, escreveu.

CDC continua a recomendar vacinação

No vídeo verificado, Zeballos tenta desestimular a vacinação de estudantes — crianças e adolescentes, segundo ele disse ao Comprova mais tarde — com o argumento de que o CDC mudou as orientações e passou a recomendar “o mesmo tratamento” para vacinados e não vacinados. De fato, o CDC emitiu uma atualização de suas orientações para o combate à covid-19, dando as mesmas orientações de cuidados para vacinados e não vacinados, mas não deixou de recomendar a vacinação contra a covid-19, inclusive com doses de reforço.

As mudanças, que foram anunciadas em 11 de agosto, segundo a revista Time, fazem parte da nova política anunciada pelo CDC de ter uma comunicação mais simples e clara. Segundo o órgão, a simplificação das regras foi possível exatamente devido à vacinação.

“Estamos em um lugar mais forte hoje como nação, com mais ferramentas – como vacinação, reforços e tratamentos – para proteger a nós mesmos e nossas comunidades de complicações graves da covid-19”, disse Greta Massetti, uma das cientistas-chefes do CDC. “Também temos uma melhor compreensão de como proteger as pessoas de serem expostas ao vírus, como usar máscaras de alta qualidade, testes e ventilação aprimorada. Essa orientação reconhece que a pandemia não acabou, mas também nos ajuda a chegar a um ponto em que a covid-19 não atrapalhe mais nossas vidas diárias.”

Questionado pelo Comprova, Zeballos disse que o CDC “se omitiu” ao não criticar as vacinas. O médico disse não ser antivacina e que recomendou a aplicação de imunizantes em seus pacientes idosos quando os números da pandemia estavam mais altos no Brasil. Hoje, porém, ele disse considerar a vacinação dispensável, pois ela perdeu parte da efetividade na prevenção de infecções de covid-19 desde o surgimento da variante ômicron — o que é verdade para imunizantes como Pfizer, AstraZeneca e CoronaVac, embora eles ainda tenham ampla proteção contra doença grave e morte. Com a aplicação de terceira e quarta dose de reforço, mesmo a proteção contra infecção aumenta significativamente, segundo estudos conduzidos em vários países.

O novo guia orienta a:

  • Continuar a promover a importância de estar em dia com a vacinação para proteger as pessoas contra doenças graves, hospitalização e morte. A proteção fornecida pela vacina atual contra infecção e transmissão sintomática é menor do que contra doença grave e diminui com o tempo, especialmente contra as variantes atualmente circulantes. Por esse motivo, é importante manter-se atualizado, especialmente à medida que novas vacinas se tornam disponíveis.
  • Atualizar a orientação para pessoas que não estão em dia com as vacinas covid-19 sobre o que fazer se expostas a alguém com covid-19. Isso é consistente com as orientações existentes para pessoas que estão em dia com as vacinas covid-19.
  • Em vez de ficar em quarentena se você foi exposto ao covid-19, usar uma máscara de alta qualidade por 10 dias e fazer o teste no dia 5.
  • Independente do status vacinal, se isolar de outras pessoas quando estiver com covid-19.
  • Fazer testes de triagem de pessoas assintomáticas sem exposições conhecidas não será mais recomendado na maioria dos ambientes comunitários.

Vacinação em crianças e adolescentes

Zeballos enfatizou as críticas na vacinação de crianças e adolescentes. Para ele, a vacinação é desaconselhada para o grupo porque essa não é a faixa etária mais acometida pela covid-19, como são os idosos. “Não acontece nada [com o jovem]”, disse. O médico também citou como motivo para dispensar a vacinação estudos que relatam casos de efeitos adversos dos imunizantes identificados em adolescentes.

É verdade que crianças e adolescentes são menos vulneráveis à covid-19, em comparação com os adultos e idosos. Não é verdade, porém, que “não acontece nada” com o grupo, como diz Zeballos. Segundo boletins do Ministério da Saúde com dados atualizados até 26 de agosto, mais de 50,8 mil pessoas de 0 a 19 anos foram hospitalizadas com covid-19 entre 2020, 2021 e 2022. No mesmo período, mais de 3.300 pessoas na mesma faixa etária morreram pela doença.

“Claro que há uma desproporção muito grande quando se compara com adultos”, disse Renato Kfouri ao Comprova. Até junho de 2022, segundo dados do Ministério da Saúde, mais de 33 mil brasileiros de 60 anos ou mais morreram de covid-19. Segundo ele, porém, é um equívoco comparar casos de crianças com os de adultos: o correto seria comparar a covid-19 com outras doenças pediátricas. “Todas matam muito menos do que a covid-19. E nem por isso a gente deixa de vacinar”, disse Kfouri.

Segundo levantamento da Fiocruz de julho de 2022, desde março de 2020 a covid-19 causou no Brasil a morte de 539 crianças entre 6 meses e 3 anos de idade, por exemplo. O número é mais que o triplo do total de mortes que outras 14 doenças causaram juntas nessa faixa de idade em dez anos, entre elas tétano, sarampo, poliomielite, hepatite B, difteria, coqueluche e tuberculose miliar.

Ao Comprova, Zeballos mencionou dois estudos que citam eventos adversos das vacinas. O primeiro, publicado em agosto na revista New England Journal of Medicine, analisou os efeitos da aplicação do imunizante da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos de janeiro a abril de 2022. Em um trecho, o estudo afirmou que, de 53 mil infecções pelo coronavírus analisadas e 288 hospitalizações, cinco crianças precisaram receber oxigênio, e, delas, duas eram parcialmente vacinadas e duas, totalmente vacinadas. Em outro trecho, o estudo disse que, até fevereiro, 22 eventos adversos sérios após a vacinação nessa faixa etária haviam sido informados em Singapura — isso equivale a cerca de 0,005% de todas as doses administradas, ou seja, 5 a cada 100.000.

O segundo estudo citado pelo médico e publicado também em agosto na revista Tropical Medicine and Infectious Disease acompanhou 301 adolescentes entre 13 e 18 anos que receberam a segunda dose da vacina da Pfizer em Bangkok, na Tailândia. Cerca de 29% deles registraram alterações cardiovasculares após a aplicação da vacina, segundo o estudo. Os efeitos mais comuns foram taquicardia (7,6%), falta de ar (6,6%), palpitação (4,3%), dor no peito (4,3%) e hipertensão (4%). Um paciente teve miocardite (inflamação no coração) leve e se recuperou depois de 14 dias.

A miocardite é reconhecida como evento adverso característico das vacinas de RNA mensageiro, como é o caso da vacina da Pfizer. Relatos da inflamação passaram a surgir após a liberação das vacinas. Apesar disso, não se trata de um evento comum: é um efeito muito raro dos imunizantes do tipo e não tende a atingir todas as crianças e adolescentes, mas um grupo específico — adolescentes do sexo masculino —, segundo dados do CDC. O risco maior de meninos mais velhos está relacionado à puberdade.

E, mesmo assim, a taxa de incidência de miocardite em decorrência covid-19 é 100 vezes maior que aquela derivada da vacinação com RNA mensageiro, segundo estimativa levantada em estudo publicado na revista Nature em dezembro de 2021.

Segundo dados do CDC de dezembro de 2021, apenas oito casos de miocardite em crianças de 5 a 11 anos haviam sido reportados ao órgão até então. Na época, os EUA haviam aplicado mais de 7 milhões de doses de vacina em pessoas dessa faixa etária. Segundo o CDC, a maioria dos pacientes com miocardite ou pericardite (inflamação no revestimento externo do coração) havia respondido bem ao tratamento e melhorado.

Zeballos disse ao Comprova que reconhece que os casos de eventos adversos são raros, embora seja contrário à vacinação. Para Kfouri, os benefícios das vacinas — a prevenção de infecção, doença grave ou morte por covid-19 — superam os riscos de efeitos colaterais. “São eventos raríssimos. [Com as vacinas] Você evita mais mortes, mais sofrimento. Efeitos colaterais graves podem acontecer, como com qualquer vacina ou remédio”, disse.

Não há relação proporcional entre avanço de vacinação e aumento no número de casos de covid-19

Ainda no vídeo verificado, Zeballos relaciona erroneamente o avanço da vacinação ao aumento no número de casos de covid-19. Ele afirma que dois estudos mostram que as vacinas fabricadas pela tecnologia de RNA mensageiro, Pfizer e Moderna, “têm um impacto no sistema imunológico criando uma tolerância ao vírus” a partir de oito meses após a segunda dose. Isso explicaria, segundo ele, o porquê de países avançados na vacinação terem maiores índices de infecção.

Zeballos não menciona quais são esses estudos. Em entrevista ao Comprova, ele compartilhou uma matéria do jornal The Epoch Times com links para os dois estudos em questão. O primeiro, conduzido por pesquisadores britânicos e publicado na Science, afirma, como principal conclusão, que vacinas de RNA mensageiro não são tão eficientes contra a Ômicron, em comparação às outras variantes, e que pessoas infectadas pela Ômicron apresentam maior resistência a todas as outras variantes. Isso não significa, necessariamente, que a vacinação, por ela mesma, aumente o número de casos.

Quanto ao segundo estudo, conduzido por pesquisadores alemães, ele não foi publicado até o momento desta verificação, porque carece de revisão por pares, processo no qual pesquisadores não-envolvidos no estudo o revisam para garantir credibilidade. Como consta na sua própria página, esse estudo “reporta sobre novas pesquisas de medicina que ainda precisam ser avaliadas e, então, não deve ser usado como guia para prática clínica”. Sendo assim, esse estudo é desconsiderado como evidência.

Não citado por Zeballos e publicado após revisão por pares, um estudo conduzido por um pesquisador de Harvard mostra, com base em dados de 68 países diferentes, que, na verdade, o avanço da vacinação, independentemente do tipo da vacina, não impulsiona, nem freia, a evolução do número de casos de covid-19. “No nível nacional, parece não haver relação discernível entre a porcentagem da população totalmente vacinada e os novos casos de covid-19”, afirma o estudo.

Cabe destacar que esse estudo foi publicado em setembro de 2021, em meio a surtos da variante Delta — a Ômicron foi reportada pela primeira vez apenas dois meses depois. O Comprova não encontrou nenhum estudo no Google Scholar que analisasse a relação entre vacinação e casos no contexto da Ômicron. Foram pesquisados estudos que contivessem as palavras-chave “covid-19”, “vaccination”, “cases” e “omicron”.

“As curvas de casos nos países são dependentes de diversos fatores: entrada de novas variantes, coberturas vacinais e medidas não-farmacológicas [distanciamento social, por exemplo], entre outras”, explica Renato Kfouri. “A resposta imune frente às infecções e as vacinas também varia conforme a população”, acrescenta.

No vídeo verificado, Zeballos cita o caso da Coreia do Sul, mas sem desenvolver sobre tal, para tentar provar a sua hipótese. Novamente, ele se mostra equivocado.

De fato, mais de 86% da população sul coreana tomou as duas primeiras doses, segundo o Ministério da Saúde local; e, de acordo com o New York Times, o país tem a segunda maior média diária de casos por 100.000 habitantes na última semana no mundo.

Entretanto, como Kfouri revelou, diversas variáveis, para além da cobertura vacinal, influenciam na evolução no número de casos de covid-19 em um país. No caso da Coreia do Sul, um exemplo de variável citado pela Bloomberg em artigo de março de 2022 sobre o tema é a testagem. Segundo dados de junho deste ano do site de estatística Our World in Data, dentre países com mais de 10 milhões de habitantes, a Coreia do Sul é o 12º em média diária de testes aplicados para cada 1.000 pessoas. A testagem em massa é exatamente o motivo citado pelo médico infectologista e pesquisador da Fiocruz Julio Croda para o caso de países que continuam registrando muitos casos mesmo com a vacinação avançada. “Os países desenvolvidos são os que apresentam maior cobertura vacinal. Eles puderam adquirir as vacinas, em tempo oportuno, e conseguiram vacinar toda a sua população. Esses países também são os que ofertam maior número de testes por 100 mil habitantes, ou seja, o acesso do teste é maior”, afirmou.

Quem é Roberto Zeballos

Roberto Zeballos é médico imunologista (CRM 58439-SP) e tem 538 mil seguidores no Instagram. Reportagem do Aos Fatos do ano passado mostrou que Zeballos é um dos médicos campeões de desinformação sobre a covid-19. Ele está em quatro vídeos com mais de 2,7 milhões de visualizações e, em todos eles, defendeu a administração de cloroquina em pacientes com coronavírus, medicamento comprovadamente ineficaz contra a doença.

Ele apareceu em pelo menos outras duas checagens do Comprova classificadas como enganosas. A de que, ao contrário do que afirmou Zeballos, vacinas são eficazes contra variante delta e que o Ministério da Saúde de Israel negou que seus dados permitam concluir sobre imunidade de infectados.

Em janeiro deste ano, professores da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgaram uma carta aberta em protesto às declarações de Zeballos contra as vacinas da covid-19. “Notoriamente, tem utilizado a sua graduação em medicina e se autodeclarando especialista para fazer campanha contra as vacinas, prestando um desserviço à saúde”, disseram os médicos.

Ao Comprova, Zeballos enviou um link de uma notícia que fala sobre o CDC ter assumido erros e fez críticas à atuação da agência. “Esse é apenas um dos artigos que mostra que o CDC errou em vários aspectos. Não é só porque ele admite que errou. A gente viveu muito, eu vivi intensamente essa doença durante dois anos e meio. E eu via que estavam cometendo erros, sim: lockdowns prolongados, máscaras ao ar livre, dizer que as vacinas protegem contra a disseminação de infecção”, disse. Porém, em nenhum momento, o CDC disse que errou quanto às medidas de contenção da covid-19.

O médico também disse que foi “vítima do Comprova quatro vezes”. “Sabe o que é você dormir três horas por dia na época da [variante] amazonense? Aí você pergunta pra mim: a vacina ajudou? Eu acho que ela ajudou na delta. E ela poderia talvez ter ajudado na amazonense, mas não deu tempo. Porque o vírus muda muito. A [variante] amazonense foi aquela que veio ao Brasil, que não tinha quase nada de reinfecção. Não tinha quase nada. Por isso eu atendia com tranquilidade. Eu não tomei a vacina. Porque outra coisa que ninguém reforça: as pessoas que pegam a doença são muito imunizadas”, disse.

Zeballos também disse que o trabalho que faz “nunca foi político” e sim “para o paciente” e falou que suas afirmações são baseadas na experiência tratando casos de covid-19. “Eu tô num nível em que eu quero tocar minha vida e salvar as pessoas. Eu tô ajudando as pessoas não indicando o imunizante para as crianças depois desses dois últimos estudos — porque as pessoas só ouvem os estudos, e não ouvem o raciocínio clínico. Eu tenho a experiência com o raciocínio clínico, de não ver criança morrendo, e tenho a experiência”, afirmou.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. O conteúdo aqui verificado confunde as pessoas sobre as orientações de combate à covid-19, o que as coloca em risco.

Outras checagens sobre o tema: Checagens anteriores do Comprova mostraram que o mesmo médico disseminou informações enganosas sobre a vacinação da covid-19, como vídeo em que ele diz que as vacinas não funcionam contra a variante delta e postagem que diz que o ministério da Saúde de Israel disse que pessoas infectadas pelo coronavírus estão mais protegidas do que vacinados.

Recentemente, o Comprova também mostrou que é enganoso que estudo de Harvard comprovou eficácia de hidroxicloroquina na prevenção da covid-19 e que são falsas as alegações de médica que trata vacinação da covid em crianças como “assassinato em massa”.

Saúde

Investigado por: 2022-08-22

É enganoso que estudo de Harvard comprovou eficácia de hidroxicloroquina na prevenção da covid-19

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso um texto publicado no site Médicos Pela Vida - Covid 19 que afirma que um estudo da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, comprovou a eficácia do medicamento hidroxicloroquina para prevenção de covid-19. O artigo em questão é uma metanálise, que cruza resultados de outros estudos para tentar demonstrar uma hipótese, servindo mais para analisar, em conjunto, resultados de estudos já conduzidos do que para se chegar a uma comprovação científica. Entretanto, os autores apenas citam que “um benefício da hidroxicloroquina como profilaxia para covid-19 não pode ser descartado com base nas evidências disponíveis de estudos randomizados”. Especialistas ouvidos pelo Comprova pontuam que a metanálise em questão tem problemas, como a qualidade dos estudos selecionados e o fato de um dos textos ser de um dos próprios autores da metanálise. O estudo também não é de Harvard, como cita o site Médicos Pela Vida - Covid-19. São cinco autores da metanálise, sendo apenas dois ligados à universidade americana.

Conteúdo investigado: Texto publicado no site Médicos Pela Vida – Covid-19, e compartilhado em redes sociais, afirma que um estudo da universidade de Harvard, nos Estados Unidos, comprova que o uso do medicamento hidroxicloroquina é eficaz para profilaxia da covid-19.

Onde foi publicado: Site Médicos Pela Vida – Covid-19, Facebook, Twitter e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: Texto publicado no site Médicos Pela Vida – Covid-19 engana ao afirmar que um estudo da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, apontou a eficácia da hidroxicloroquina na profilaxia pré-exposição de covid-19. A profilaxia pré-exposição é o uso do medicamento antes da exposição ao vírus, como forma de prevenção. Em nenhum momento, o estudo cita que o medicamento é eficaz nesse tipo de tratamento. O artigo é uma metanálise, um tipo de pesquisa que cruza resultados de outros estudos em busca da confirmação ou não de uma hipótese, e não costuma ter caráter de comprovação científica. Além disso, esse cruzamento pode ser afetado pela qualidade dos estudos analisados. É o que acontece neste caso, em que uma das pesquisas não está publicada em revistas científicas e, portanto, não foi revisada por pares. Além disso, outro dos estudos considerados é de autoria de um dos próprios cientistas que conduzem a metanálise, o que, segundo especialistas ouvidos pelo Comprova, pode trazer vieses à metanálise.

A conclusão da metanálise repercutida no site Médicos Pela Vida – Covid 19 foi de que “quando considerados em conjunto, os ensaios randomizados de profilaxia pré-exposição fornecem uma estimativa pontual de um risco aproximadamente 28% menor de covid-19 para atribuição à HCQ [hidroxicloroquina] em comparação com nenhuma HCQ entre indivíduos PCR [teste molecular para covid] negativos na randomização”. Isso quer dizer que o cruzamento dos estudos apontou que quem tomou hidroxicloroquina poderia ter 28% menos chance de contrair covid-19 em relação a quem não tomou, entre os voluntários dos sete estudos sobre profilaxia pré-exposição considerados na metanálise. Em nenhum momento os autores definem que o medicamento teve eficácia comprovada na profilaxia da doença causada pelo coronavírus. Eles pontuam apenas que “um benefício da hidroxicloroquina como profilaxia para covid-19 não pode ser descartado com base nas evidências disponíveis de estudos randomizados”.

A conclusão da metanálise foi destacada no site Médicos Pela Vida – Covid-19 como uma comprovação da eficácia da hidroxicloroquina na profilaxia de covid-19, o que não é verdade. Ela também é apontada como problemática por especialistas ouvidos pelo Comprova. Os médicos infectologistas e professores de Medicina Alexandre Zavascki e Leonardo Weissmann questionam alguns pontos: a qualidade dos estudos selecionados, dos quais um não foi publicado em revistas científicas e nem revisto por pares, etapa básica para avaliar a qualidade de um artigo científico; o fato de o estudo usar pesquisa conduzida pelos próprios autores da metanálise; e o fato de vários estudos já revisados por pares e publicados em outras revisões não terem sido utilizados.

O estudo também não é da Universidade de Harvard, como pontua o site Médicos Pela Vida – Covid-19, que pertence a grupo de profissionais da saúde que defende o tratamento precoce, que não tem eficácia comprovada contra o coronavírus. São cinco autores, dos quais apenas dois estão ligados à universidade americana. Em uma verificação da Agência Reuters sobre o mesmo tema, a universidade negou que tenha realizado a pesquisa e disse que “não interfere no que o corpo docente escolhe investigar”. “Seria mais preciso dizer ‘um estudo de integrantes do corpo docente da faculdade’”, acrescentou. A metanálise cruzou dados de 11 pesquisas, sendo sete de profilaxia pré-exposição e quatro de profilaxia pós-exposição. Também após questionamento da Reuters, a revista que publicou o estudo afirmou que foi informada de possíveis falhas no artigo e que elas estão sob análise.

Enganoso, para o Comprova, é conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: No Facebook, o maior alcance do texto foi na página Livre Brasil, em publicação feita no dia 11 de agosto. Até 16 de agosto, a postagem tinha 252 reações, 20 comentários e 112 compartilhamentos. No Twitter, o maior alcance foi do perfil do site Médicos Pela Vida, onde duas publicações linkando o texto tiveram, juntas, 3,6 mil compartilhamentos e quase 8 mil curtidas.

O que diz o autor da publicação: Procurado, o grupo Médicos pela Vida – Covid-19 respondeu com o link de uma outro texto em seu site, publicado em resposta à verificação feita pela Agência Reuters em que diz que a “checagem que é falsa”.

Como verificamos: O Comprova analisou o estudo repercutido no site Médicos pela Vida – Covid-19, e compartilhado em redes sociais, e entrevistou profissionais sobre aspectos da pesquisa. São eles: o infectologista Alexandre Zavascki, do Hospital das Clínicas de Porto Alegre (HCPA), professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador do CNPq; e Leonardo Weissmann, médico infectologista do Instituto Emílio Ribas (São Paulo), professor do curso de Medicina da UNAERP – Campus Guarujá e diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia.

A equipe também pesquisou estudos sobre hidroxicloroquina no tratamento da covid-19 publicados em periódicos acadêmicos revisados por pares, e analisou dados nos sites das agências reguladoras dos EUA, da União Europeia e do Brasil.

Foram contatados dois dos autores do estudo que aparece no conteúdo verificado, o grupo Médicos pela Vida – Covid-19 e o Ministério da Saúde. Os autores do estudo não responderam aos questionamentos do Comprova.

O estudo e seus autores

O estudo Systematic review and meta-analysis of randomized trials of hydroxychloroquine for the prevention of COVID-19 foi publicado, no último dia 9, no European Journal of Epidemiology, publicação científica revisada por pares, o que significa alto grau de confiabilidade. O estudo, porém, realiza uma metanálise de pesquisas anteriores: das 11 analisadas, uma não teve publicação em periódicos revisados por pares, o que, segundo Alexandre Zavascki e Leonardo Weissmann, prejudica a confiabilidade e assertividade do estudo. Por ser uma metanálise, Zavascki ainda destaca que ela serve mais para analisar resultados gerais de estudos já conduzidos do que para se chegar a uma descoberta nova ou comprovação de algo.

Questionada pela Reuters sobre inconsistências no estudo, a editora sênior do European Journal of Epidemiology, Virginia Mercer, respondeu que a revista foi informada de possíveis falhas no artigo e que elas estão sob análise: “Não posso fornecer mais detalhes neste momento da investigação”, disse Mercer à Reuters.

O estudo é feito por Xabier Garcia-De-Albeniz, pesquisador associado do Departamento de Epidemiologia da Harvard e pesquisador sênior do RTI Health Solutions; Miguel A Hernán, membro da Harvard-MIT Program in Health Sciences and Technology (HST), diretor do CAUSAlab, de Harvard, membro associado do Broad Institute, e funcionário da agência reguladora americana FDA; Julia del Amo, do Ministério da Saúde da Espanha e professora no Instituto de Saúde Carlos III; Rosa Polo, pesquisadora na divisão de HIV, infecções sexualmente transmissíveis, hepatite e controle da tuberculose no Ministério da Saúde da Espanha; e José Miguel Morales-Asencio, professor da Universidade de Málaga, na Espanha.

Estudo não comprova eficácia de hidroxicloroquina para profilaxia

A metanálise, em nenhum momento, comprova a eficácia da hidroxicloroquina para profilaxia de covid-19. O que os autores pontuam é que um benefício da hidroxicloroquina como profilaxia para covid-19 não pode ser descartado com base nas evidências disponíveis de estudos considerados na análise.

Os autores ainda defendem que os achados “não estatisticamente significativos” – isto é, quando as evidências são insuficientes para provar que uma hipótese é nula ou falsa – de pesquisas feitas no início da pandemia foram amplamente interpretados como “evidência definitiva da falta de eficácia do medicamento para covid-19”. E, para eles, essa interpretação “interrompeu a conclusão oportuna dos ensaios restantes e, portanto, a geração de estimativas precisas para o gerenciamento da pandemia antes do desenvolvimento de vacinas”. Entretanto, especialistas pontuam que não foram poucos os estudos que apontaram a ineficácia da hidroxicloroquina no combate da covid-19, seja na pré ou pós-exposição ao vírus.

A metanálise, que é o estudo citado no texto, não aponta resultados definitivos e depende muito da qualidade dos estudos que são selecionados para avaliação, como pontua o médico infectologista no HCPA e professor da Faculdade de Medicina da UFRGS Alexandre Zavascki. “A metanálise usa um método estatístico para analisar os resultados gerais de outros estudos. O que uma metanálise não faz é avaliar a qualidade desses estudos”, diz o infectologista.

Erro básico de classificação

A metanálise usada como referência no texto do site Médicos Pela Vida – Covid-19 tem por base 11 estudos randomizados concluídos: 7 estudos de profilaxia pré-exposição (administração de hidroxicloroquina antes da exposição à covid-19) e 4 estudos de profilaxia pós-exposição (administração de hidroxicloroquina depois da exposição à covid-19). O estudo ainda cita que todas as pesquisas são duplo-cego (quando participantes e pesquisadores não sabem quem recebeu o medicamento e quem ingeriu o placebo). Porém, Zavascki pontua esse como um dos erros da metanálise, já que um dos estudos não é duplo-cego. Em checagem sobre o mesmo estudo da Agência Reuters, um dos autores se defendeu, dizendo que o erro será corrigido, mas que “o fato de um dos ensaios ter sido aberto não afeta os resultados da metanálise”.

Além disso, o infectologista e professor da UFRGS pontua o fato de que nem todos foram publicados em revistas científicas. O Comprova identificou um dos estudos ainda em preprint (ou seja, sem publicação), no site MedRxiv. Nele, há uma mensagem que informa que “o artigo é uma pré-impressão e não foi revisado por pares” e que, por isso, “não deve ser utilizado para orientar a prática clínica”.

“Isso chama muito a atenção. A base preprint não tem nenhum tipo de análise crítica, ou seja, você publica, escreve alguma coisa, e você põe lá e fica publicado, fica público”, explica Zavascki. “Mas o estudo não passa por uma revisão antes de ser publicado, como ocorre em uma revista científica”, completa.

Pesquisa de autor da metanálise foi incluída

Outra situação que afeta a qualidade da metanálise é que, entre as pesquisas selecionadas, uma foi conduzida por um dos próprios autores que fazem a metanálise, Dr. Xabier Garcia-De-Albeniz, como pode ser visto aqui. Esse tipo de escolha não é recomendada por especialistas, pois pode trazer interferência nos resultados. O médico infectologista Leonardo Weissmann acrescenta que a “falha na análise de vieses (erros metodológicos) nos estudos avaliados tende a produzir conclusões que diferem da realidade”.

Weissmann também pontua que nem todas as evidências sobre o tema foram avaliadas. E que isso se comprova pelo fato de que essa metanálise, publicada em agosto deste ano, “tem menos artigos analisados do que a revisão Cochrane, considerada a melhor do mundo, de fevereiro do ano passado”.

A Cochrane é uma rede internacional com sede no Reino Unido, uma organização sem fins lucrativos que publica revisões sistemáticas de estudos primários sobre saúde humana e políticas de saúde. “Além disso, entre os estudos omitidos nesta metanálise, há alguns muito bons e com resultados negativos para o uso da hidroxicloroquina”, acrescenta o infectologista do Emílio Ribas.

Estudos sobre a hidroxicloroquina

Pesquisas publicadas em periódicos científicos revisados por pares, ou seja, com alto grau de confiabilidade, concluíram não haver comprovação científica de eficácia da hidroxicloroquina tanto na fase de pré-exposição ao vírus da covid-19 quanto na pós-exposição.

O estudo Hydroxychloroquine versus placebo in the treatment of non-hospitalised patients with COVID-19 (COPE – Coalition V): A double-blind, multicentre, randomised, controlled trial, conduzido pelo grupo Cope – Coalition Covid-19 Brazil V Investigators, e publicado na revista The Lancet Regional Health – Americas, em 31 de março de 2022, foi feito com 1.372 pacientes ambulatoriais com formas leves ou moderadas de covid-19. Um grupo recebeu hidroxicloroquina e outro, placebo.

O estudo apontou que o uso de hidroxicloroquina não reduziu o risco de internação em comparação com o grupo que recebeu placebo. Os pesquisadores, então, concluíram que não há indicação para o uso rotineiro de hidroxicloroquina para tratamento de covid-19 no ambulatório.

O grupo Cope – Coalition Covid-19 Brazil V Investigators é coordenado pelas seguintes instituições: Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Hospital Albert Einstein, Hospital do Coração, Hospital Sírio Libanês, Hospital Moinhos de Vento, A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) and Brazilian Research in Intensive Care Network (BRICNet). O mencionado estudo foi conduzido por 39 profissionais ligados a essas instituições.

Outros estudos chegaram a conclusões semelhantes:

Updates on Hydroxychloroquine in Prevention and Treatment of COVID-19 – Publicado em 23/08/2021 pelo The American Journal of Medicine.

Effect of Hydroxychloroquine on Clinical Status at 14 Days in Hospitalized Patients With COVID-19 – Publicado em 09/11/2020 pela revista acadêmica da American Medical Association

A Randomized Trial of Hydroxychloroquine as Postexposure Prophylaxis for Covid-19 – Publicado em 06/08/2020 pelo The New England Journal of Medicine.

Em relação à pré-exposição ao vírus da covid-19, estudos também concluíram não haver comprovação de eficácia no uso da hidroxicloroquina para prevenção da doença:

Efficacy and Safety of Hydroxychloroquine vs Placebo for Pre-exposure SARS-CoV-2 Prophylaxis Among Health Care Workers – Publicado em 30/09/2020 pela revista da American Medical Association.

Efficacy and safety of hydroxychloroquine as pre-and post-exposure prophylaxis and treatment of COVID-19: A systematic review and meta-analysis of blinded, placebo-controlled, randomized clinical trial – Publicado em 28/08/2021 pela revista The Lancet Regional Health – Americas.

Histórico na utilização de hidroxicloroquina na pandemia

Com a pandemia da covid-19, houve um esforço da comunidade científica internacional para identificar um medicamento que pudesse ser eficaz contra a doença. O uso da hidroxicloroquina passou a ser considerado quando um estudo, publicado em 18 de março de 2020, na revista Nature, mostrou que o medicamento poderia bloquear a infecção por Sars-CoV-2 em células derivadas de rins de macacos.

O estudo, que antecedeu os testes em humanos citados anteriormente, impulsionou a prescrição do medicamento no tratamento da covid-19. No dia 28 daquele mês, a Federal Drug Administration (FDA), a agência reguladora dos EUA, havia concedido a autorização de uso emergencial da hidroxicloroquina. Porém, ela foi revogada pela FDA três meses depois, em 15/06/2020, após novos dados apontarem para a não efetividade no tratamento da covid-19.

“Além disso, à luz de eventos adversos cardíacos graves em andamento e outros efeitos colaterais graves, os benefícios conhecidos e potenciais de CQ (cloroquina) e HCQ (hidroxicloroquina) não superam mais os riscos conhecidos e potenciais para o uso autorizado”, disse a FDA à época.

Medicamentos autorizados no tratamento da covid-19

O Comprova fez um levantamento sobre os medicamentos autorizados pelas agências reguladoras dos EUA, da União Europeia e do Brasil para o tratamento da covid-19. A hidroxicloroquina não consta nas listas disponíveis nos sites da FDA, EMA e Anvisa.

Em consulta ao sistema Bulário Eletrônico, no site da Anvisa, sobre hidroxicloroquina, foram verificadas as bulas do medicamento produzido por três fabricantes: Eurofarma, Sanofi Medley e EMS. Não há recomendação de uso contra a covid-19.

Questionado se há testes em andamento para avaliar a eficácia da hidroxicloroquina, o Ministério da Saúde respondeu que “não há solicitação de registro ou indicação em bula da hidroxicloroquina para tratamento de Covid”.

Por que investigamos: Investigamos conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre as eleições presidenciais, a pandemia e políticas públicas do governo federal. No caso do material investigado, a publicação confunde leitores sobre o uso de um medicamento que não tem comprovação científica de qualquer eficácia no tratamento da covid-19, seja na pré ou pós-exposição à doença. Dessa forma, o conteúdo coloca a saúde da população em risco.

Outras checagens sobre o tema: A Agência Reuters publicou uma checagem que concluiu como falsa a afirmação do site Médicos Pela Vida – Covid 19. A Agência Lupa também classificou o texto como falso.

A hidroxicloroquina foi alvo de outras verificações do Comprova, como a que enganava ao afirmar que estudo com o medicamento comprova eficácia no “tratamento precoce” e a de vídeo de médico, também enganoso, dizendo que a hidroxicloroquina funciona contra a covid-19.

Saúde

Investigado por: 2022-08-16

São falsas as alegações de médica que trata vacinação da covid em crianças como “assassinato em massa”

  • Falso
Falso
É falso que vacinar crianças contra a covid-19 seja "assassinato em massa", como afirma, em vídeo, uma médica que é candidata a deputada federal por São Paulo. O Comprova entrou em contato com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Ambas as instituições informaram que as afirmações não são verdadeiras. Também foram consultadas as bulas dos imunizantes aplicados em crianças no Brasil: a Coronavac e a Comirnaty da Pfizer, e nenhuma das vacinas apresenta relação com as doenças citadas no vídeo e nem com óbitos. Além disso, os dados disponíveis até aqui indicam que as vacinas trazem mais benefícios do que riscos.

Conteúdo investigado: Vídeo de médica e candidata a deputada federal dizendo que a vacinação infantil, defendida em documento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), está relacionada a mortes por mal súbito, infarto do miocárdio, AVC, derrame cerebral, doenças autoimunes e até a uma “epidemia de câncer”. A médica afirma que a vacinação é “assassinato em massa”.

Onde foi publicado: Instagram e Telegram.

Conclusão do Comprova: É falso que vacinar crianças seja “assassinato em massa”, como diz a médica e candidata a deputada federal Maria Emilia Gadelha Serra em vídeo compartilhado em redes sociais.

No conteúdo, ela se queixa de documento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), publicado em 25 de julho e disponível no site da instituição sobre a importância da vacinação infantil. O texto da entidade alerta sobre o aumento de casos do coronavírus com a disseminação da variante ômicron e suas sublinhagens no Brasil.

Ao falar sobre a imunização de menores de 18 anos, Gadelha diz que as pessoas devem estar “preparadas para ir ao velório” dos filhos e que “pessoas estão morrendo de mal súbito, infarto do miocárdio, AVC, derrame cerebral, doenças autoimunes e agora começando uma epidemia de câncer nunca antes vista” após se vacinarem.

Procurada pelo Comprova, a Anvisa afirmou que “até o momento, os dados de monitoramento das vacinas apontam que a relação de benefício e risco das vacinas é positiva” e que os eventos adversos delas estão descritos na bula desses produtos. Esses documentos, por sua vez, não registram reações graves às vacinas, óbitos, ou relação dos imunizantes com as doenças citadas por Gadelha.

Também para a reportagem, o Ministério da Saúde afirmou que “não há nenhum caso registrado de morte de criança ou adolescente em decorrência da vacina” no país.

“No início da vacinação, até podíamos ter esse tipo de dúvida, mas passados 2020, 2021 e agora em 2022, vemos que nada ocorreu”, diz o médico José Davi Urbaez, presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal (SIDF), também consultado pela reportagem.

Em nota enviada ao Comprova, a SBP repudiou as acusações e declarações de Gadelha e afirmou que ela “promoveu a desinformação, por meio de ‘fake news'”. A associação também informou que medidas foram tomadas em relação às mentiras ditas pela médica.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: No Telegram, o conteúdo falso teve, até o dia 13 de agosto de 2022, 32,3 mil visualizações. Originalmente também compartilhado no Instagram, o vídeo tinha, até o dia 27 de julho, cerca de 600 interações, mas foi removido da plataforma ao final do mês.

O que diz a autora da publicação: Procurada pelo Comprova, Maria Gadelha não retornou o contato.

Como verificamos: Primeiramente, entramos em contato, via WhatsApp, com a assessoria de comunicação dos médicos citados por Gadelha a fim de obter seus posicionamentos a respeito do conteúdo. Renato de Ávila e Melissa Palmieri, ambos da SBP, foram citados por Gadelha como responsáveis pelo documento, mas preferiram não se pronunciar.

Procuramos, via e-mail, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e a SBP.

Ao mesmo tempo, contatamos a Anvisa, por e-mail, em busca de informações sobre eventos adversos graves associados à vacinação em crianças e a possibilidade de uma “epidemia de câncer” por causa da imunização.

O Comprova ainda entrevistou o médico José Davi Urbaez, da SBI, para checar se há comprovação científica que associa a vacina a mortes e doenças citadas pela médica no vídeo.

Também solicitamos posicionamento do Ministério da Saúde, mas não houve resposta. Por fim, tentamos contato com a médica Maria Emilia Gadelha por telefone e e-mail, mas também não houve resposta.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 16 de agosto de 2022.

Dados da vacinação infantil

Segundo o Vacinômetro covid-19, plataforma do Ministério da Saúde, até esta terça-feira (16), a 1ª dose da vacina contra o coronavírus foi aplicada em 13.852.980 crianças de 5 a 11 anos no Brasil, e a 2ª em 9.248.823 pessoas dessa faixa etária. Por sua vez, 16.648.874 de jovens de 12 a 17 anos tomaram a 1ª dose; 13.860.848 receberam a 2ª dose; e 3.529.848, a dose de reforço, segundo a pasta.

Um estudo publicado em maio deste ano, pelo periódico The New England Journal of Medicine, mostrou que a vacinação de crianças de 5 a 11 anos reduziu as internações em mais de dois terços desde que a covid-19 surgiu.

A pesquisa, feita nos Estados Unidos, mostrou que aproximadamente 92% das crianças de 5 a 11 anos que foram hospitalizadas por complicações da doença não estavam imunizadas com quaisquer doses da vacina. O estudo foi feito com 267 crianças de 5 a 11 anos e com 918 adolescentes de 12 a 18 anos.

Os pesquisadores concluíram que a vacina da Pfizer teve uma eficácia de 68% contra internações de crianças de 5 a 11 anos. O estudo foi feito entre julho de 2021 e 17 de fevereiro deste ano. Em relação à faixa etária de 5 a 11 anos, foram avaliados dados entre 19 de dezembro de 2021 e 17 de fevereiro deste ano, período em que o imunizante da Pfizer foi o único liberado para esse público nos Estados Unidos.

Em 13 de julho deste ano, a Anvisa aprovou o uso emergencial da Coronavac para crianças entre 3 e 5 anos. Como mostra o G1, os técnicos da agência confirmaram que não havia registro de nenhuma morte de pessoas entre 6 e 17 anos em decorrência da aplicação da vacina, assim como de adultos acima de 18 anos de idade.

Na faixa etária de 2 a 17 anos, de acordo com documento divulgado em 13 de julho pela Gerência de Farmacovigilância da Anvisa, 79% das notificações de eventos adversos pós-vacinação foram classificados como não graves. Ainda segundo a Agência, os eventos adversos graves observados após a administração de mais de 103 milhões de doses da Coronavac no Brasil são considerados raros ou raríssimos nesse grupo (página 18 do documento).

Vacinação infantil x mortes

O médico José Davi Urbaez, presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, desmente a afirmação de que há comprovação científica que associa a vacina contra a covid-19 a mortes pelas doenças citadas pela médica no vídeo. Segundo ele, se essas constatações fossem verdade, “isso seria um escândalo”.

“No início da vacinação, até podíamos ter esse tipo de dúvida, mas passados 2020, 2021 e agora em 2022 vemos que nada ocorreu”, diz.

Além disso, ele afirma que a autora do vídeo não apresenta dados que corroboram a sua tese e que informações sobre quaisquer mortes no país podem ser obtidas no Sistema de Informação sobre Mortalidade (Sim), plataforma do Ministério da Saúde.

O que diz a Anvisa?

Procuramos a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que é a agência reguladora vinculada ao Ministério da Saúde responsável por analisar e liberar as vacinas aplicadas no Brasil. Em nota, a Anvisa destacou que “todos os eventos adversos conhecidos das vacinas e medicamentos em uso no Brasil estão descritos em suas bulas, bem como novos eventos que possam ser identificados a partir da investigação e do monitoramento do uso.”

A Agência reforçou que o monitoramento de farmacovigilância busca avaliar de forma constante a relação de benefício e risco das vacinas e que, até o momento, os dados da pandemia e os dados de monitoramento dos imunizantes apontam que a relação de benefício e risco da vacinação é positiva. Ou seja, os benefícios das vacinas superam eventuais riscos.

Bulas das vacinas

As vacinas aplicadas em crianças no Brasil e citadas no documento da SBP são a Coronavac, que pode ser dada em crianças a partir de 3 anos, e a Pfizer, para crianças de 5 a 11 anos. A respeito dos efeitos adversos, tanto a bula do imunizante do Instituto Butantan quanto a da Pfizer descrevem desde as reações muito comuns até as raras.

Entre as reações muito comuns, aquelas que podem ocorrer em mais de 10% dos pacientes, está a dor no local de aplicação, efeito registrado em ambos os imunizantes. No caso da vacina da Pfizer, também destaca-se dor de cabeça, diarréia, dor nas articulações, cansaço, calafrios, febre, inchaço no local de injeção e dor muscular. Essas três últimas reações aparecem na bula da Coronavac como comuns, que podem ocorrer entre 1% e 10% dos pacientes. Também estão nessa relação, dor de cabeça, tosse, coriza, dor de garganta, diminuição do apetite e dor muscular.

Já em relação às reações mais raras, a Pfizer apresenta a paralisia facial aguda como registrada entre 0,01% e 0,1% dos pacientes que tomaram o imunizante. Miocardite (inflamação do músculo cardíaco) e pericardite (inflamação do revestimento exterior do coração) são apontados como efeitos muito raros pela fabricante, sendo apresentados em menos de 0,01% dos pacientes que utilizaram o imunizante. Segundo o documento, esses casos foram relatados principalmente em adolescentes, entre 12 a 17 anos, após tomarem a segunda dose da vacina e em até 14 dias após a vacinação. Os sintomas foram leves e os indivíduos se recuperaram dentro de um curto período de tempo após repouso.

De acordo com as bulas das duas vacinas, todas as reações adversas aos produtos não foram graves, apenas leves e moderadas. Em nenhum momento há registro das doenças citadas no vídeo verificado ou casos de morte em decorrência da aplicação da vacina.

Sociedade Brasileira de Pediatria

Responsável pelo documento criticado no vídeo investigado, a SBP se manifestou em nota. A instituição informou que “repudia veementemente as acusações e declarações veiculadas pela Sra. Maria Emilia Gadelha em vídeo de objetivos obscuros que circula nas redes sociais”. A sociedade destacou que o vídeo promove a desinformação e fomenta o movimento anti-vacina, “o que tem sido extremamente prejudicial à saúde pública, especialmente em tempos de pandemia”.

De acordo com a SBP, a situação foi denunciada ao Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, pois as declarações da médica, que foram consideradas pela sociedade como “injustas, dolosas, inverídicas, perigosas e difamatórias agressões”, representam infrações ao Código de Ética Médica (CEM). Além disto, a SBP informou que encaminhou a denúncia às esferas cíveis e criminais, para que a responsável pelo vídeo esclareça as afirmações perante o Juizado Especial Criminal e a Promotoria da Infância e Juventude do Ministério Público.

Quem é a médica que aparece no vídeo

Maria Emilia Gadelha Serra é médica credenciada no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). De acordo com o site da entidade, a especialidade dela é a otorrinolaringologia, sob o CRM 63451.

Em seu Instagram, ela usa uma foto em que está escrito em inglês “We do not consent – Say no to vaccines passports” (“Nós não consentimos – Diga não ao passaporte de vacinas”, em tradução livre). Na mesma rede, ela se intitula como “médica-detetive hardcore com sangue Viking” e presidente do Alpha Group e da Sociedade Brasileira de Ozonioterapia Médica. Ozonioterapia é uma forma de medicina alternativa que alega aumentar a quantidade de oxigênio no corpo introduzindo ozônio. Essa técnica não é permitida pelo Conselho Federal de Medicina e pode ser aplicada apenas em testes clínicos.

Em 24 de agosto de 2021, o Comprova classificou como enganosa outra afirmação da médica: em uma live, ela disse que a maioria dos casos graves da covid-19 no Brasil ocorrem em pessoas já vacinadas. Também já mostramos que não havia fundamento em dizer que as vacinas causavam AVC, como ela fez durante uma palestra.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, políticas públicas e eleições que tenham viralizado nas redes sociais. Juntos, os conteúdos investigados aqui tiveram mais de 32 mil interações no Instagram (antes de ser removido) e Telegram.

Quando o conteúdo trata da pandemia, a verificação é ainda mais necessária, porque a desinformação pode levar as pessoas a deixarem de se proteger e se exporem a riscos de infecção. Isso fica ainda mais evidente pelo fato do vídeo falar especificamente da vacinação infantil, que ainda está imunizando com a primeira dose as crianças de 3 a 5 anos.

Outras checagens sobre o tema: Checagens anteriores do Comprova mostram que a mesma médica chegou a disseminar informações enganosas para desincentivar a vacinação contra a covid-19, como o vídeo em que ela afirma que os imunizantes são experimentais e que faltam evidências sobre vacina da Pfizer. Além de também já ter sido desmentida por ter distorcido estudos sobre a imunização contra o coronavírus.

 

Esta verificação foi feita por jornalistas do UOL, Imirante, SBT e SBT News que participam do Programa de Residência no Comprova.

Saúde

Investigado por: 2022-07-15

Vídeo de médicos engana ao desqualificar vacinas, exaltar tratamento precoce e exagerar problemas cardíacos

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso vídeo de médicos que defendem “tratamento precoce” no enfrentamento da covid-19 e associam o aumento de problemas cardíacos à vacinação. Até o momento, não há pesquisa provando que o “tratamento imediato” é eficaz ou que pessoas vacinadas adquirem mais problemas cardíacos que cidadãos não imunizados contra o coronavírus. A Organização Mundial de Saúde (OMS) segue sustentando que as vacinas protegem contra formas graves da doença e diferentes estudos comprovam isso.

Conteúdo investigado: Vídeo de cerca de 14 minutos em que dois médicos falam sobre as vacinas contra o coronavírus e defendem o tratamento precoce. Os homens ainda relacionam os imunizantes com o surgimento de problemas cardíacos e alegam que pessoas vacinadas estariam adoecendo tanto quanto aquelas que não receberam as doses.

Onde foi publicado: Youtube.

Conclusão do Comprova: É enganoso um vídeo no Youtube em que dois médicos afirmam a existência de um estudo envolvendo eficácia de tratamento precoce contra a covid. Eles chegam a mencionar que o “tratamento imediato” tem muito mais chance de salvar do que os imunizantes. Além disso, os profissionais também associam as vacinas contra a covid a um possível aumento de problemas cardíacos em pessoas imunizadas.

Apesar da tentativa de desqualificar a vacina contra a covid, os médicos não apresentam estudos que invalidem os resultados de pesquisas realizadas ao longo de mais de dois anos de pandemia. Até aqui, está claro que a vacinação continua sendo a principal arma de combate ao coronavírus e seus efeitos no corpo.

Além disso, diversos órgãos nacionais e internacionais como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a OMS e o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), do governo dos Estados Unidos, asseguram a segurança e eficácia dos imunizantes, e recomendam a continuação da aplicação das doses.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até o dia 15 de julho, o vídeo teve mais de 119 mil interações, sendo 99,3 mil visualizações, 19 mil curtidas e 1,4 mil comentários.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o médico Edimilson Migowski, responsável pela publicação, por meio do e-mail disponível em seu canal do Youtube. Em resposta, Migowski afirmou que o objetivo do vídeo foi “trazer opiniões técnicas de médicos e pesquisadores” com experiência no tratamento de pacientes com covid-19 e com “total isenção econômica, política e partidária”.

Procurado através de e-mail, Flavio Cadegiani afirmou que o vídeo é baseado em estudos científicos e, por isso, não deveria ser alvo de uma checagem. O Comprova então solicitou os estudos citados pelo médico. Como resposta, ele disse que não tem a obrigação de dividir as pesquisas e que iria aguardar a publicação do Comprova para se pronunciar nas redes sociais.

“Não irei tratar na forma de ataque, mas sim de esclarecimento. Assim julgo que será mais justo comigo, tentando trazer um pouco de volta o respeito que mereço pela minha carreira e a quem sou”, disse o médico.

Cadegiani concluiu afirmando que “mediante tantas incertezas, temos muito mais questões do que fatos consagrados”.

Como verificamos: O Comprova iniciou a verificação buscando publicações em revistas científicas (Clinical Science, CDC, The New England Journal of Medicine e Imperial College London) e órgãos oficiais (Fundação Britânica do Coração, Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, OMS) a respeito da relação entre os imunizantes contra a covid e doenças cardiológicas, e do adoecimento de pessoas vacinadas e não vacinadas.

Em seguida, investigamos estudos (The New England Journal of Medicine, British Medical Journal) e reportagens jornalísticas (UOL e BBC News Brasil) sobre a suposta efetividade do “tratamento precoce” contra a infecção por coronavírus.

Além disso, o Comprova consultou outras verificações (1, 2, 3, 4 e 5) envolvendo os imunizantes contra a covid-19.

Também reunimos informações a respeito dos médicos Edimilson Migowski (Anvisa e Correio Braziliense) e Flavio Cadegiani (El País, Metrópoles e Conselho Nacional de Saúde).

Por fim, o Comprova entrou em contato com o CDC, com o médico infectologista Nelson Barbosa e os médicos que aparecem no conteúdo verificado.

Benefícios das vacinas contra a covid-19 superam risco de miocardite

No vídeo verificado, Migowski e Cadegiani afirmam que houve um aumento de casos de miocardite (inflamação no músculo do coração) e de infarto agudo do miocárdio após a utilização de determinadas vacinas.

Conforme o site do CDC, que mantém informações atualizadas a respeito dos possíveis efeitos adversos da vacinação, uma revisão dos dados de segurança dos imunizantes realizada entre dezembro de 2020 e agosto de 2021 encontrou um aumento nos casos de miocardite após as vacinas de mRNA, como da Pfizer e Moderna, que, no entanto, continuam muito baixos.

Mais de 350 milhões de vacinas de mRNA foram aplicadas durante o período do estudo e os cientistas descobriram que as taxas de miocardite eram mais altas após a segunda dose entre homens de 12 a 15 anos (70,7 casos por um milhão de doses da Pfizer), 16 a 17 anos (105,9 casos por um milhão de doses da Pfizer) e 18 a 24 anos (52,4 casos e 56,3 casos por milhão de doses de Pfizer e Moderna, respectivamente).

Os médicos que aparecem no vídeo não falam, no entanto, que o desenvolvimento de miocardite ou pericardite (inflamação na membrana que recobre o coração) após a vacinação é raro, que as vacinas são seguras e que a maioria dos pacientes com miocardite ou pericardite após a vacinação respondeu bem à medicina e se sentiu melhor rapidamente, segundo o CDC.

Conforme investigado em checagem anterior do Comprova, diversos especialistas apontam, utilizando estudos variados, que o risco de uma pessoa desenvolver miocardite após a vacinação é muito inferior ao risco de ter esse problema após contrair a covid-19.

Em julho de 2021, o subcomitê para covid-19 do Comitê Consultivo Global da OMS sobre Segurança de Vacinas (GACVS) emitiu uma declaração sobre notificações de miocardite e pericardite após vacinas de mRNA contra covid-19.

A partir da revisão de dados da Austrália, Canadá, Israel e Estados Unidos, o subcomitê observou maior incidência de miocardite após uma segunda dose da vacina da Moderna (Spikevax) do que a vacina da Pfizer (Comirnaty) em homens jovens, embora o risco geral seja pequeno. De acordo com os dados do Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas dos Estados Unidos, até 11 de junho de 2021 foram notificados aproximadamente 40,6 casos de miocardite por milhão após a segunda dose entre homens e 4,2 casos por milhão entre mulheres. Ambos na faixa etária de 12 a 29 anos que receberam as vacinas de mRNA.

Para pessoas com mais de 30 anos, as taxas de notificação foram de 2,4 e 1,0 por milhão após a segunda dose, respectivamente, para homens e mulheres.

Observou ainda que a miocardite pode ocorrer após a infecção pelo vírus da covid-19 e que as vacinas de mRNA têm um benefício claro na prevenção de hospitalização e morte pela doença. Ou seja, os benefícios da vacinação para proteção da doença superam em larga escala eventuais riscos dos imunizantes.

Dois meses depois, o CDC publicou um estudo segundo o qual a incidência da miocardite em vacinados era de nove casos a cada 100 mil. No caso de pessoas que tiveram a doença e não se vacinaram, o resultado foi de 150 casos para cada 100 mil.

Um estudo publicado no periódico The Lancet Respiratory Medicine em 11 de abril de 2022 e realizado por pesquisadores de Cingapura apontou que “o risco geral de miopericardite após a vacinação contra a doença é muito baixo, afetando 18 pessoas por milhão de doses aplicadas”. Os achados confirmam que os riscos são comparáveis ou mais baixos do que o apresentado por outros tipos de imunizantes.

A pesquisa, que se baseou em bancos de dados internacionais, analisou informações de mais de 400 milhões de doses aplicadas, para comparar o risco de miopericardite após a vacinação contra covid-19 e outras doenças, como gripe e varíola, conforme reportagem da CNN.

Neste ano, a Sociedade Brasileira de Cardiologia emitiu um posicionamento sobre a segurança cardiovascular da vacinação em que afirma que “a taxa de miocardite associada à covid-19 excede a taxa observada com as vacinas na maioria dos levantamentos populacionais”. Além disso, “quando comparadas às taxas de mortalidade da infecção pelo vírus SARS-Cov2, bem como o risco de hospitalização, o benefício geral da vacina supera o risco de miocardite por ela induzida”.

Além disso, em março de 2022, o Ministério da Saúde emitiu uma nota técnica em que dispõe atualizações do diagnóstico, investigação, manejo e incidência de miocardite e pericardite após a vacinação no contexto brasileiro. Segundo o documento, no período de 18 de janeiro de 2021 a 12 de março de 2022, foram idenficados 222 eventos com os termos “miocardite”; “pericardite”; “perimiocardite” ou “ressonância cardíaca” no sistema de informação e-SUS Notifica. Destes, apenas 87 tiveram diagnóstico de miocardite/pericardite, sendo 66 após a vacina Pfizer/Cominarty.

Em 39 das notificações os dados eram insuficientes para o diagnóstico e em 62 dos eventos o diagnóstico era negativo para miocardite/pericardite.

No mesmo período, foram aplicadas 294.159.843 doses da vacina contra o coronavírus, segundo informações da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) e do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI). Isso significa que a incidência total de miocardite/pericardite encontrada foi de 0,02 eventos para cada 100 mil doses aplicadas e de 0,05 a cada 100 mil doses após a vacina Pfizer/Cominarty. Apenas dois óbitos foram registrados.

“Os dados de incidência basal da doença e da baixa incidência de miocardite/pericardite como evento adverso pós vacinação descritos reforçam o benefício da vacina em detrimento do risco da doença covid-19 e o risco de desenvolvimento de formas graves. Assim, mantém-se a recomendação de vacinação para toda população com indicação do uso do imunizante Pfizer/Cominarty sem restrições”, diz a nota.

Risco de morte por miocardite ou pericardite após a vacina é pequeno

Em 14 de abril de 2022, a Fundação Britânica do Coração (BHF) publicou uma matéria respondendo perguntas sobre a relação das vacinas com a miocardite. A reportagem afirma que não há evidências de que as pessoas estejam em risco de parada cardíaca após a vacina contra o coronavírus.

Pesquisas realizadas em Israel, Portugal e outros países analisando miocardite e pericardite após a vacina não encontraram nenhum risco aumentado de morte ou parada cardíaca, em comparação com não vacinados.

Um grande estudo, realizado com quatro milhões de pessoas vacinadas na Dinamarca, publicado no British Medical Journal, descobriu que não houve mortes ou diagnósticos de insuficiência cardíaca em pessoas que foram diagnosticadas com miocardite ou pericardite após serem vacinadas. A pesquisa também mostrou que a vacinação estava associada a um risco muito menor de parada cardíaca ou morte em relação a pessoas não vacinadas ou contaminadas com covid.

No Reino Unido, não houve registros para paradas cardíacas em menores de 18 anos após a vacina – o que significa que houve um número pequeno demais para ser publicado, ou nenhum.

Pegar covid-19, por outro lado, pode aumentar significativamente o risco de parada cardíaca e morte, segundo a BHF.

Uma pesquisa apoiada pela Fundação está trabalhando para descobrir mais sobre a suposta relação entre as vacinas contra a covid e problemas no coração. “Embora ainda não tenhamos todas as respostas, isso não é necessariamente um motivo para não tomar a vacina (ou não vacinar seu filho)”, diz a entidade, em um trecho de perguntas e respostas sobre o assunto.

Casos de miocardite e morte em atletas após vacinação são raros

Contrariando a afirmação feita pelos médicos no vídeo analisado, não existe nenhum dado estatístico oficial que aponte que mortes súbitas de atletas foram de fato associadas à vacinação contra a covid-19. No conteúdo, Cadegiani afirma que a proteína spike (S) do coronavírus vai até as glândulas adrenais e estimula a produção de noradrenalina e adrenalina, hormônios que segundo o médico estão presentes em maior quantidade em pessoas fisicamente ativas, em especial os atletas, e que seriam os responsáveis pelos casos de miocardite nessa população.

Os profissionais então relacionam os casos de miocardite em atletas após a vacinação com imunizantes de RNA mensageiro (mRNA), que utilizam um mRNA sintético do vírus que ensina o organismo a fabricar a proteína S do SARS-CoV-2. Essa proteína sintética, no entanto, não é capaz de realizar qualquer outra tarefa e não penetra no núcleo das células. Portanto, não consegue causar a covid-19 ou qualquer alteração no genoma humano, conforme explicou a Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm).

Em checagem recente do Comprova, o Comitê Olímpico Internacional (COI), que adota um protocolo de segurança para casos de morte súbita cardíaca, informou que não possui dados sobre eventos relacionando ataques cardíacos em atletas após vacinação contra a covid, durante a pandemia ou após o início da vacinação, nem a Federação Internacional de Futebol (FIFA). De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), embora haja casos que levantem uma possibilidade de associação entre mal súbito e as vacinas contra o Sars-CoV-2, os casos são “muito raros e insuficientes para sustentar uma suficiente relação de causalidade”.

Em novembro de 2019, a cardiologista Alinne Katienny Lima Silva Macambira fez uma apresentação durante o XXXVI Congresso Brasileiro de Arritmias Cardíacas falando sobre mortes súbitas no esporte. Entre as razões para a morte de um atleta estão a alta exigência física, o aumento excessivo da função cardíaca, o aumento da ventilação pulmonar, desidratação, alteração eletrolítica, elevado consumo energético, diminuição da imunidade e por um gatilho para uma doença pré-existente.

Pessoas vacinadas têm menos chances de adoecer que as não vacinadas

Ao contrário do que afirmam os médicos no vídeo verificado, pessoas vacinadas não “estão adoecendo na mesma intensidade de quem não inoculou” (os profissionais usam o termo como sinônimo de “vacinação” para evitar que o vídeo, ao defender o tratamento precoce contra a covid-19, seja classificado pela plataforma como fonte de desinformação e, por isso, retirado do ar). Resultados do estudo do Imperial College London e Ipsos MORI mostraram que as pessoas totalmente vacinadas têm três vezes menos probabilidade de serem infectadas do que as que não receberam as doses. Os dados foram coletados entre 24 de junho e 12 de julho de 2021.

Ao Comprova, o médico infectologista Nelson Barbosa, do Hospital e Pronto Socorro 28 de Agosto, que atua no Amazonas e participou do atendimento de pacientes em duas ondas da covid no estado, afirmou que não procede a informação de que pessoas vacinadas estão adoecendo na mesma quantidade de quem não se vacinou.

Ele ressalta que, apesar das vacinas não impedirem o contágio, elas protegem a população das formas graves das doenças. “A BCG protege as pessoas das formas graves da tuberculose, e a vacina da covid protege as pessoas de suas formas mais graves também”, exemplifica.

O médico lembra que quem está vacinado e é infectado pelo coronavírus, muitas vezes, sente apenas os sintomas de uma gripe. “Muitas vezes a pessoa nem desconfia que está com covid, eu já atendi várias assim. Pacientes com sintomas gripais, que quando fazem o teste detectam o coronavírus. Agora, por que a doença não evoluiu para uma forma grave? Porque ela estava vacinada. E a cada dose de reforço, a pessoa aumenta a sua imunidade. Hoje, se você for ver quem está internado, a maioria não tem cobertura vacinal completa.”

A respeito da relação de doentes com vacina e sem vacina, o infectologista considera também que, até o momento, os efeitos colaterais mais comuns da vacina são dor local, febre, mialgia, astenia. “A doença em si causa mais dano cardíaco que a própria vacina”, diz o médico.

“Tratamento precoce”

Ao longo do vídeo, os médicos defendem o “tratamento precoce”, protocolo com medicamentos sem eficácia comprovada para tratar a covid-19, e alegam que ele seria mais eficaz para salvar vidas do que as vacinas.

Atualmente, segundo reportagem da BBC News Brasil publicada em 5 de julho, são seis remédios contra o coronavírus aprovados pela Anvisa para pacientes e situações específicas, e nenhum deles deve ser tomado sem indicação médica. Eles são indicados para ajudar a evitar o agravamento dos casos e não devem ser utilizados como substitutos das vacinas.

  1. Rendesivir – produzido pela farmacêutica Gilead, é um antiviral injetável e de uso hospitalar. É destinado no Brasil a pacientes com pneumonia que precisam de suplementação de oxigênio, mas que não estão sob ventilação artificial.
  2. Paxlovid (nirmatrelvir + ritonavir) – antiviral oral da Wyeth/Pfizer, indicado como tratamento para pessoas com maior risco de ter covid-19 grave. Deve ser tomado assim que possível dentro de cinco dias de início dos sintomas.
  3. Molnupiravir – antiviral da farmacêutica MSD (Merck Sharp & Dohme). Deve ser indicado por um médico e é destinado principalmente a pacientes com quadros leves e moderados e com risco de agravamento. Também deve ser tomado via oral dentro de cinco dias do início dos sintomas.
  4. Sotrovimabe – anticorpos monoclonais da GSK de uso restrito a hospitais. Indicado pela Anvisa para pessoas com covid-19 leve a moderada, mas que estão em risco de progressão para o estágio grave da doença. No serviço de saúde britânico, costuma ser administrado como transfusão para receptores de transplantes, pacientes com câncer e outros grupos de alto risco.
  5. Baricitinibe – anti-inflamatório recomendado pela OMS para pacientes graves; e autorizado pela Anvisa para uso em pacientes adultos hospitalizados que “necessitam de oxigênio por máscara ou cateter nasal, ou que necessitam de alto fluxo de oxigênio ou ventilação não invasiva”.
  6. Evusheld (cilgavimabe + tixagevimabe) – tratamento injetável da AstraZeneca com anticorpos monoclonais indicado como profilaxia (ou seja, deve ser tomado antes da exposição à covid-19) para pessoas com comprometimento imunológico moderado a grave ou em tratamento com imunossupressores. A Anvisa destaca que a profilaxia com Evulshed não substitui a vacinação para indivíduos em que a vacinação é recomendada.

A OMS também tem quatro medicamentos pré-aprovados para o tratamento de covid. No entanto, têm preços elevados e não estão amplamente disponíveis no mundo todo. O mesmo vale para remédios aprovados pela Anvisa.

De acordo com a matéria, diferentemente da vacinação, que é um produto preventivo e tem objetivo de preparar o sistema imunológico do corpo para evitar a contaminação, os tratamentos com medicamentos são administrados durante o desenvolvimento da doença, após a contaminação. O objetivo é combater o vírus e evitar o agravamento da doença.

Outros medicamentos, como a hidroxicloroquina e a ivermectina, não funcionam contra o vírus, como já demonstraram diversos estudos (The New England Journal of Medicine, Jama Network, The Lancet Rheumatology).

Em depoimento na Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado Federal, em fevereiro de 2022, o diretor da Anvisa, Antônio Barra Torres, afirmou que os medicamentos hidroxicloroquina, ivermectina, nitazoxanida e as vacinas não estão no mesmo plano de eficácia no combate à covid-19.

Quem é Edimilson Migowski?

Edimilson Migowski é médico infectologista, mestre em Medicina na área de Concentração Pediátrica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutor em Medicina na área de Concentração de Doenças Infecciosas e Parasitárias pela UFRJ.

Também é membro da Sociedade Europeia de Infectologia Pediátrica desde 2007, membro titular da Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro desde 2009 e membro titular da Academia Nacional de Farmácia desde 2008.

Atualmente, atua como diretor do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) da UFRJ. Migowski também é pré-candidato a deputado federal pelo PL no Rio de Janeiro.

Em dezembro de 2021, secretários do Ministério da Saúde se reuniram com membros da pasta e especialistas que são contra a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a covid. Na época, Migowski foi um dos profissionais que assinaram documento encaminhado à Anvisa, contrário à imunização compulsória do grupo.

Reportagem do Correio Braziliense de junho de 2020 apontou que o médico defendia o tratamento precoce contra o coronavírus com o antiparasitária Nitazoxanida, substância sem eficácia comprovada no combate à doença.

Em março de 2021, o governo brasileiro divulgou uma nota técnica a respeito do uso da nitazoxanida para prevenção e tratamento de pacientes com covid-19. O documento utiliza como base para a análise três ensaios clínicos randomizados, porém, segundo o governo, “considerados de baixa qualidade metodológica e com moderado a alto risco de viés”. A nota concluiu que são necessários estudos com maior qualidade e tempo de acompanhamento para interpretar os resultados.

“A nitazoxanida, se usada no início dos sintomas, parece ter um efeito na redução da carga viral avaliado em sete dias de tratamento e aumentou a proporção de pacientes com teste negativo para SARS-CoV-2, porém a certeza dessa evidência é muito baixa. O medicamento não mostrou benefícios comparado ao placebo para os desfechos importantes como mortalidade, ventilação mecânica e melhora clínica.”

Apesar de alguns estudos indicarem potencial da nitazoxanida para o tratamento da covid (The Lancet, European Respiratory Journal), ainda é cedo para afirmar que ela funciona contra a doença. Isso porque são poucos os estudos, sobretudo os que envolvem seres humanos, que já tiveram resultados aprovados para divulgação em periódicos científicos, de forma que não há uma quantidade suficiente de dados confiáveis que atestem o uso seguro e comprovadamente eficaz do remédio nesses casos.

Um dos estudos mais recentes publicados sobre o medicamento ressalta que “outros testes com números maiores são necessários para avaliar a eficácia da terapia com nitazoxanida na prevenção da progressão para doenças graves”.

Quem é Flavio Cadegiani?

Flavio Adsuara Cadegiani é médico endocrinologista e fundador do Instituto Corpometria, que oferece tratamento para doenças endócrinas. Ele virou alvo de denúncias da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) pela possibilidade de ter levado 200 pessoas à morte por conta do desenvolvimento do estudo “Proxalutamida para pacientes hospitalizados por covid-19”. A proxalutamida é uma droga experimental estudada para aplicação em pacientes com alguns tipos de câncer, como de próstata ou mama, pois bloqueia a ação de hormônios masculinos.

No início de 2021, um homem de 28 anos infectado pelo coronavírus iniciou tratamento com Cadegiani. Segundo relatório publicado sobre o caso na revista britânica British Medical Journal (BMJ) em 15 de fevereiro, o paciente fazia uso diário de um anabólico esteróide que agravou seu diagnóstico, com piora dos sintomas da covid-19 quatro dias antes da consulta. Em seu tratamento, o homem recebeu uma dose de 600mg de proxalutamida, seguida de 200mg diários pelos sete dias seguintes. O fármaco não possui registro no Brasil e foi utilizado pelo médico sem a autorização da Anvisa, numa dose jamais aplicada oficialmente em um ser humano.

O endocrinologista também foi inserido entre as 68 sugestões de indiciamento no relatório da CPI da Pandemia por crime contra a humanidade.

No dia 15 de outubro de 2021, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) publicou uma nota esclarecendo que a pesquisa de Cadegiani foi interrompida por descumprimento das normas, e não por motivação política. A Rede Latinoamericana e Caribenha de Bioética da Unesco (Redbioética-Unesco) se manifestou apontando “grave violação ética” na pesquisa de Cadegiani, acusações que o médico nega.

Cadegiani também é conhecido por defender tratamentos alternativos à covid-19, mesmo sem eficácia comprovada cientificamente. Em fevereiro de 2022, uma reportagem do The Intercept Brasil apontou que a CPI da Pandemia revelou que o médico recebeu R$ 10 mil da Vitamedic, empresa produtora da ivermectina. O diretor da Vitamedic, porém, nega que o pagamento tenha ocorrido.

Em março deste ano, o Comprova verificou que um estudo feito em Itajaí, em Santa Catarina, com participação de Cadegiani, não prova eficácia de ivermectina contra covid-19.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia de covid-19, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que viralizaram nas redes sociais. Conteúdos como este aqui verificado, que colocam em dúvida a vacinação contra o coronavírus, são perigosos porque podem influenciar a população a não se imunizar, o que impacta diretamente no combate à pandemia.

Outras checagens sobre o tema: Em verificações recentes envolvendo os imunizantes, o Comprova mostrou que vacina contra covid-19 não causa câncer e não tem relação comprovada com herpes-zóster, que não é verdade que vacina da covid fez ‘explodir’ doenças cardíacas em crianças e que post engana ao relacionar mortes no esporte à vacinação contra a covid-19.

Saúde

Investigado por: 2022-07-14

É falso que o Japão declarou ivermectina mais eficaz do que vacinas contra a covid-19

  • Falso
Falso
Tuíte com trecho de vídeo mente ao dizer que o Japão declarou que a ivermectina tem mais eficácia contra a covid-19 do que os imunizantes. No WhatsApp, circula gravação mais longa com outras afirmações falsas, como a de que o governo do país vai substituir as vacinas pelo medicamento antiparasitário. A Embaixada do Japão no Brasil disse ao Comprova que as informações não procedem.

Conteúdo investigado: Tuíte com a legenda “Japão declara ao mundo que a ivermectina é mais eficaz que a vacina. E agora, como fica?”. O texto acompanha vídeo que não cita o medicamento, mas diz que o país “está mais inclinado para reconhecer as lesões das vacinas e a procurar outras opções de tratamento”. Uma gravação mais longa, citando o medicamento e dizendo que o governo do país asiático o usará para substituir a vacina, circula no WhatsApp.

Onde foi publicado: Twitter e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falso um post que circula nas redes sociais afirmando que o Japão declarou que a ivermectina é mais eficaz do que os imunizantes no combate ao novo coronavírus. Segundo vídeo publicado junto com a mensagem falsa, o país asiático “está mais inclinado a reconhecer as lesões das vacinas e a procurar outras opções de tratamento em comparação com outras nações desenvolvidas”, o que também não é verdade.

A gravação é um trecho de um vídeo que diz que o Japão substituirá a vacina pela ivermectina, remédio antiparasitário que, ainda segundo o narrador, se tornou uma opção de tratamento e pode ser usado como cura contra a covid-19. No entanto, não há evidências científicas que o medicamento funcione contra a doença.

Procurada pela reportagem, a Embaixada do Japão no Brasil afirmou que “não há, até o momento, nenhum processo de aprovação da ivermectina como medicamento para o tratamento da covid-19 no país”. Além disso, o governo japonês, em seu site, diferentemente do que afirma o conteúdo verificado, recomenda que as pessoas se vacinem.

Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O post aqui verificado teve até 14 de julho de 2022: 14,8 mil curtidas, 298 comentários e mais de 4.700 compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: A publicação foi feita por um perfil no Twitter que não permite o envio de mensagens. O Comprova localizou o autor no Instagram e tentou contatá-lo, mas não houve retorno até a publicação deste texto.

Como verificamos: Para obter as informações foram feitas pesquisas no Google que levaram aos sites do Ministério da Saúde e da Agência de Produtos Farmacêuticos e Dispositivos Médicos (Pharmaceutical and Medical Devices Agency; PMDA) do Japão. Nestes links, foi possível verificar os medicamentos liberados e as vacinas utilizadas para combater o coronavírus no país.

O Comprova também contatou, por e-mail, a Embaixada do Japão no Brasil. Além de responder os questionamentos da reportagem, o órgão enviou links de páginas oficiais vinculadas ao governo local nas quais é possível obter informações sobre vacinas e tratamento da doença. Para saber dados gerais sobre a pandemia na nação asiática, a equipe consultou o site do Ministério da Saúde japonês e o Our World in Data.

Japão e ivermectina

“O governo do Japão não determinou o uso da ivermectina como tratamento para a covid-19 em vez da vacinação. Não há, até o momento, nenhum processo de aprovação da ivermectina como medicamento para o tratamento da covid-19 no Japão”, afirmou ao Comprova a Embaixada do Japão no Brasil.

A ivermectina também não consta de uma lista de drogas aprovadas para o tratamento do coronavírus, de acordo com uma relação de substâncias aprovadas pela PMDA. Na mesma lista também é possível verificar os imunizantes que são utilizados e aceitos no país.

Segundo a página da PMDA, as drogas aprovadas para a covid-19 pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão (Ministry of Health, Labour and Welfare of Japan – MHLW), após março de 2020, com revisão científica da agência são: Redemvisir, Baricitinibe, Casirivimabe/imdevimabe (uso combinado), sotrovimabe, molnupiravir, Tocilizumabe, e Nirmatrelvir/Ritonavir também administrados em conjunto.

O vídeo

Na parte superior direita do vídeo aparece um logo que, em uma busca no Google, mostrou ser da The Frustrated Indian (TFI Global), empresa de comunicação indiana.

Em seu site, a corporação diz que, por mês, 8 milhões de pessoas lêem os artigos publicados em inglês ou em hindu no site da TFI Media e que cerca de 30 milhões de pessoas assistem aos vídeos da plataforma.

A companhia afirma ter sido criada para fornecer uma narrativa alternativa aos meios de notícias convencionais e que existe para mudar a narrativa global.

A gravação se inicia com uma voz dizendo que “o Japão disse, em alto e bom som, não às campanhas de vacinação das grandes farmacêuticas com um pequeno mas notável passo”. Segundo o conteúdo, o mundo descartou a ivermectina “sem cerimônia até agora, mas o Japão demonstrou que o medicamento pode ser usado como uma cura mais eficaz e pode ser um substituto permanente das vacinas” contra a covid-19.

O motivo pelo qual os países não divulgam que o remédio antiparasitário seria a cura é, ainda de acordo com o vídeo, porque as nações firmaram acordo com a farmacêutica Pfizer para a compra de vacinas. “Mesmo que seja encontrada uma cura para a covid-19, o contrato não pode ser anulado”, diz o narrador.

Ivermectina e covid

“O uso da ivermectina para covid-19 não está previsto em bula e a utilização off label (quando um medicamento é utilizado para um tratamento diferente do recomendado na bula), até o momento não teve o respaldo das agências reguladoras, bem como do fabricante do medicamento”, afirma a mais recente nota técnica encontrada no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em relação ao remédio, de março de 2021.

O documento destaca ainda que resultados “não parecem ser suficientes para suportar recomendação de uso da ivermectina no tratamento de pacientes com covid-19, sendo que a recomendação da OMS para que a ivermectina seja utilizada, apenas, em protocolos de pesquisa clínica parece ser adequada”.

Na bula do remédio, é explicado que a ivermectina é um medicamento que atua contra várias espécies de parasitas e vermes.

Pandemia no Japão

De acordo com dados oficiais do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão, o país registrou 9.790.789 casos domésticos de covid-19 até 13 de julho. O número de mortes confirmadas que tiveram relação com a doença era de 31.437 até a mesma data. Além disso, outros 31.170 óbitos continuam sob investigação.

As autoridades sanitárias japonesas já aprovaram o uso de quatro imunizantes de diferentes farmacêuticas: Pfizer, aprovada em fevereiro de 2021; Moderna e Astrazeneca, em maio de 2021; e Novavax, em abril de 2022.

A vacina da Pfizer direcionada ao público com idade entre 5 e 11 anos foi aprovada em janeiro deste ano, segundo o ministério.

Embora tenha enfrentado dificuldades no início da vacinação, tendo aprovado o primeiro imunizante apenas em fevereiro de 2021, cerca de dois meses depois de países como Reino Unido e Estados Unidos e um mês depois do Brasil, atualmente o Japão está entre os países que mais imunizaram. De acordo com o Our World in Data, site da Universidade de Oxford (Inglaterra) que monitora dados relacionados à covid-19 no mundo, 81,25% dos japoneses foram vacinados com pelo menos duas doses até o último dia 11 de julho. Segundo a plataforma, o percentual de pessoas parcialmente imunizadas é de 82,35%.

O autor do post

Nas redes sociais, o criador do perfil afirma ser economista e empresário. Define-se como “terrivelmente cristão e entusiasta do Brasil”.

Na conta do Twitter, criada em janeiro do ano passado, compartilha diversos posts com críticas aos pré-candidatos à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Simone Tebet (MDB), bem como elogios a falas e atitudes do presidente Jair Bolsonaro (PL) e de ações do governo, como a redução de ICMS nos estados.

No Instagram, a última publicação data de junho de 2020 e é uma repostagem de Bolsonaro. Não foram encontradas outras checagens ou notícias sobre o economista.

Como informado anteriormente, ele foi procurado pela reportagem, mas não respondeu.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que viralizaram nas redes sociais. O post verificado aqui traz risco à população ao mentir/enganar sobre o uso da ivermectina contra a covid. O conteúdo também é perigoso por afirmar que as vacinas não são seguras – até o momento, elas são uma das ferramentas mais eficazes contra a doença.

Outras checagens sobre o tema: Ao menos desde novembro de 2021, outras agências já checaram conteúdos que afirmavam que o Japão ia apostar na ivermectina contra a covid, como AFP Checamos, Lupa, Fato ou Fake, do G1, Yahoo, Estadão Verifica e Reuters.

O antiparasitário também apareceu em diversas checagens do Comprova, como a de post que engana ao relacionar distribuição dele ao controle da pandemia em estado da Índia e a de conteúdo que afirma erroneamente que a Universidade de Oxford encontrou “fortes indícios” da eficácia do medicamento contra a covid. A vacina foi alvo de outras verificações do projeto, como a de vídeo que mente ao afirmar que ela causa câncer e tem relação com herpes-zóster, a de post que engana dizendo que ela fez “explodir” doenças cardíacas em crianças e a de conteúdo que usa texto que manipula dados para atacar sua segurança.

Saúde

Investigado por: 2022-07-08

Vacina contra covid-19 não causa câncer e não tem relação comprovada com herpes-zóster

  • Falso
Falso
É falso que as vacinas contra a covid-19 não sejam seguras e causem doenças como o herpes-zóster e câncer como afirma um médico em vídeo publicado no Instagram. Ao Comprova, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmou que todas as vacinas analisadas e autorizadas no Brasil são seguras, possuem perfis de eficácia definidos por estudos e que seguem sendo monitoradas.

Conteúdo investigado: Vídeo publicado por um médico no Instagram questiona a segurança das vacinas contra a covid-19 e afirma que pessoas estão adoecendo após receberem os imunizantes. O médico também atribui casos de herpes-zóster e câncer aos imunizantes.

Onde foi publicado: Instagram

Conclusão do Comprova: Diferentemente do que afirma médico em vídeo publicado no Instagram, é falso que as vacinas contra a covid-19 causem câncer e outras doenças respiratórias. Segundo especialistas ouvidos pelo Comprova, também não há nenhuma comprovação científica ligando casos de herpes-zóster aos imunizantes.

A Anvisa confirmou que, até o momento, não há qualquer evidência sobre a relação de herpes-zóster com o uso das vacinas contra covid. A agência não recebeu notificações de eventos adversos relacionados a essas doenças.

De acordo com a Anvisa, todas as vacinas analisadas e autorizadas são seguras e possuem perfis de eficácia definidos por estudos, e seguem sendo monitoradas. Também segundo o órgão, até o momento, o monitoramento das vacinas não aponta alterações no perfil de segurança das doses aplicadas na população brasileira, independentemente de serem doses do esquema primário ou de reforço.

Para o Comprova, falso é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Até o dia 8 de julho, a publicação teve 63.718 visualizações e 1.071 comentários no Instagram.

O que diz o autor da publicação: Por meio de mensagem no Instagram, o Comprova entrou em contato com o médico Leandro Almeida, autor da publicação, mas não obteve resposta aos questionamentos feitos.

Como verificamos: Foram feitas pesquisas por dados e informações em fontes oficiais, como o Instituto Butantan, o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Para esclarecer as questões sobre as vacinas contra a covid, entramos em contato com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e com Anamélia Lorenzetti Bocca, especialista em imunologia celular pela Universidade de Brasília (UnB). Também entramos em contato com a Anvisa.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 8 de julho de 2022.

 

Segurança das vacinas

Para o Comprova, a Anvisa afirmou que todas as vacinas analisadas e autorizadas são seguras e possuem perfis de eficácia definidos por estudos e que seguem sendo monitoradas. De acordo com a OMS, uma vez identificada uma vacina promissora, ela passará primeiro por testes laboratoriais e, posteriormente, o fabricante pode solicitar a realização de ensaios clínicos. Esses ensaios geralmente envolvem vários milhares de participantes voluntários saudáveis. A segurança dos testes é garantida pelas autoridades reguladoras nacionais.

Além disso, os estudos continuam a ocorrer após a introdução de uma vacina no mercado. A chamada fase de farmacovigilância permite que os cientistas monitorem a eficácia e a segurança entre um número ainda maior de pessoas, por um período de tempo mais longo.

As vacinas brasileiras aprovadas pela Anvisa têm os possíveis efeitos adversos descritos nas bulas. Os relatos são atualizados através de registros científicos e publicados no próprio site da agência.

Nos documentos, é possível ter acesso a dados importantes que garantem a segurança das vacinas, como os resultados da eficácia do produto em diferentes grupos e descrição de possíveis eventos adversos. Nenhum dos imunizantes usados no país (Pfizer, Coronavac, Janssen e Astrazeneca) tem câncer, herpes-zóster ou outra doença respiratória citados como possíveis efeitos adversos da vacinação contra o coronavírus.

Renato Kfouri, diretor da SBIm, afirma: “As vacinas tanto na segunda, terceira e quarta dose têm os mesmos perfis de segurança. São raríssimos eventos adversos graves. O número de casos evitados, no caso da covid, supera de longe os efeitos colaterais”.

Aplicação da quarta dose

Desde dezembro de 2021, o Ministério da Saúde recomenda a aplicação da quarta dose da vacina contra covid para o grupo de imunossuprimidos. Em junho deste ano, a orientação foi ampliada para pessoas acima de 50 anos e profissionais de saúde, com intervalo mínimo de quatro meses a partir do primeiro reforço. A indicação, segundo documentos do órgão, considera dados clínicos que apontam a eficácia e a segurança da segunda dose de reforço do imunizante.

Segundo o ministério, achados preliminares de estudos recentes feitos em Israel indicaram que, após a vacinação com a quarta dose, houve aumento de cinco vezes nos anticorpos após uma semana da aplicação. Outro fato que baseou a recomendação do ministério foi a aprovação dos órgãos de saúde dos Estados Unidos, incluindo o Food and Drug Administration (FDA) e o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), para indivíduos com 50 anos ou mais receberem a segunda dose de reforço.

O Ministério da Saúde afirmou que, no momento da orientação, existiam poucos dados referentes “à magnitude e duração do benefício de uma quarta dose de reforço” e que “não há dados disponíveis no momento que permitem avaliar a ocorrência de eventos adversos raros para a segunda dose de reforço”. Entretanto, o órgão “reconhece que diferentes estratégias de vacinação por parte dos países devem ser utilizadas com base na situação epidemiológica e na disponibilidade de vacinas”. Além disso, o órgão mencionou o surgimento de novas variantes do coronavírus como outro motivo para a recomendação.

Relação com herpes-zóster

Ao contrário do que atribui o autor do post, os especialistas ouvidos pelo Comprova afirmaram que não existe nenhuma relação comprovada entre herpes-zóster e a vacina contra a covid-19. A Anvisa relatou não haver evidência científica que mostrasse isso e também não foram recebidas notificações sobre uma possível ocorrência.

Anamélia Lorenzetti Bocca, coordenadora do Laboratório de Imunologia Celular no Instituto de Biologia da UnB, conta que é normal existir análises sobre uma possível correlação entre uma vacina e a ocorrência de diversas doenças porque o número de pessoas vacinadas e os diferentes estados da resposta imunológica são muito amplos.

Normalmente, são investigações de um caso específico de uma pessoa ou análises observacionais, que não garantem uma relação de causa e efeito. Entre estas análises estão trabalhos sobre a herpes-zóster, mas, até o momento, não existe nenhuma conclusão ligando a doença com a vacina contra a covid-19. “Não se pode ter como consenso resultados de relato de caso. O número de pessoas para se estabelecer uma correlação significativa deve ser bem grande”, afirma Bocca.

Segundo Renato Kfouri, na verdade, há indícios mais fortes para uma relação entre herpes-zóster e a covid, do que com a vacina contra a doença. Uma pesquisa realizada por profissionais da Universidade Estadual de Montes Claros, em Minas Gerais, mostrou um crescimento de 35% desse tipo de herpes durante a pandemia. O documento não faz diferenciação entre vacinados e não-vacinados, mas os cientistas acreditam que o aumento é um forte indício de correlação entre a herpes e a infecção pelo coronavírus. Outros estudos internacionais também apontam para um risco aumentado de ocorrência de herpes-zóster em pessoas que tiveram contato com o coronavírus, e não com o imunizante que protege contra a doença (1, 2 e 3).

Relação com câncer e doenças respiratórias

A Anvisa informou que não há evidência nos estudos pré-clínicos (feitos com animais) e clínicos (feitos com pessoas) de que as vacinas contra covid-19 sejam capazes de induzir mutações genéticas ou desenvolvimento de câncer. Informações da Fiocruz também descartam a possível relação. O Comprova mostrou anteriormente que a vacina não está relacionada com câncer ou HIV.

Os especialistas ouvidos pelo Comprova afirmaram que não há relação entre a vacinação contra a covid e outras doenças respiratórias. “Até o momento não existe nenhuma relação entre aplicação das vacinas de covid, que estão circulando, com essas doenças. Aliás, às vezes, ocorre o contrário, porque as vacinas estimulam o sistema imunológico enquanto essas doenças ocorrem com depressão da resposta imunológica do paciente”, afirmou Bocca.

Testes contra a covid

O autor da publicação também sugere que os testes contra covid poderiam estar relacionados com o desenvolvimento de outras doenças, principalmente as respiratórias. Segundo Renato Kfouri, os diversos testes contra a covid são colhidos através de swabs nasais, uma espécie de cotonete longo, que têm contato com a região da nasofaringe, onde os vírus respiratórios normalmente se alojam.

O imunologista afirma que é um procedimento inócuo, sem nenhum risco de contaminação de outras doenças: “São cotonetes estéreis e não trazem nenhum prejuízo para a saúde”.

Quem é o autor do post

Leandro Guilherme Ladeia Almeida é graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Barbacena (Fame). Em site pessoal, afirma que é especializado em Endocrinologia pelo Instituto de Pesquisas e Ensino Médico (Ipemed) e pós-graduado em Medicina Ortomolecular, Bioquímica e Fisiologia do Exercício. Também afirma ser especialista em metabologia, nutrigenética, fertilidade, desempenho humano, bioquímica e fisiologia.

No portal do Conselho Federal de Medicina (CFM), ele aparece como médico sem especialidade registrada. Possui situação regular e inscrição em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Não foram encontradas outras checagens ou notícias sobre o médico.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia de covid-19, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que viralizaram nas redes sociais.

A postagem aqui verificada mente ao dizer que não há segurança nas vacinas contra a covid-19 e que os imunizantes são causadores de doenças graves. Conteúdos como esse propagam deliberadamente falsidades e colocam em risco a segurança sanitária do país.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou que vacinas contra covid-19 não provocam câncer, diferentemente do que afirma médico dos EUA; que vacina da covid não fez ‘explodir’ doenças cardíacas em crianças e que imunizante contra o coronavírus é seguro e não gera HIV, câncer ou HPV.