O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Eleições

Investigado por: 2022-06-15

Vídeo faz alegações enganosas para colocar em dúvida credibilidade de pesquisas eleitorais

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa uma publicação no Facebook e YouTube que reúne trechos de dois vídeos para defender a tese de que as pesquisas eleitorais não são confiáveis. Entre as alegações, o autor considera que o tamanho da amostragem - número de eleitores entrevistados - é pequeno para representar a opinião da população. O Comprova já explicou que a pesquisa é feita com uma amostra cientificamente calculada da população, a fim de retratar o grupo como um todo e eliminar vieses.

Conteúdo investigado: Vídeo em que autor reúne duas gravações para levantar suspeitas sobre a credibilidade das pesquisas eleitorais. No primeiro, ele mostra imagens de uma consulta feita em 2018, em frente a um presídio, e, no segundo, gravação feita em abril de 2022, de uma mulher que, segundo a postagem, teria se recusado a continuar a pesquisa quando o entrevistado manifestou apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

Onde foi publicado: YouTube e Facebook. Na plataforma de vídeo, ficou indisponível após o início da verificação.

Conclusão do Comprova: É enganoso o vídeo em que o autor reúne duas gravações para levantar suspeitas sobre a credibilidade das pesquisas eleitorais. Durante a exibição das imagens, ele faz comentários que sugerem manipulação de dados e de entrevistas para favorecer candidatos do PT em detrimento de Bolsonaro.

O autor do vídeo aqui investigado faz inferências sobre o método utilizado pelos institutos oficiais de pesquisa, sugerindo vieses, e questiona o tamanho das amostras da população nos levantamentos realizados.

No início deste ano, em um Comprova Explica, especialistas esclareceram que a pesquisa é feita com uma amostra cientificamente calculada da população, a fim de representar o grupo como um todo e eliminar vieses. Para montar essa amostra, diferentemente do apontado pelo autor do vídeo, é considerada uma série de critérios para aproximar o grupo de entrevistados da composição real da população, tais como raça, gênero, escolaridade e ocupação.

As consultas ao eleitorado registram um recorte do momento em que as entrevistas foram feitas. É o que justifica o fato de Fernando Haddad ter aparecido em primeiro lugar em algumas pesquisas de 2018, e não que houve má condução das entrevistas como insinuado pelo autor do vídeo. Os últimos levantamentos feitos antes do segundo turno, porém, apontaram a vitória de Jair Bolsonaro.

Além disso, segundo a legislação brasileira, todas as pesquisas eleitorais devem ser registradas na Justiça Eleitoral, com detalhes sobre o método científico empregado, o plano de amostragem, os dados do profissional responsável, questionário completo a ser aplicado, entre outros. Essas informações estão disponíveis para consulta no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até o dia 13 de junho, o vídeo teve mais de 80 mil visualizações e 20 mil curtidas no YouTube. Após o contato do Comprova, no entanto, o conteúdo foi removido da plataforma. Já no Facebook, o vídeo alcançou 85 mil visualizações, 9,8 mil curtidas e 897 comentários até o dia 15 de junho.

O que diz o autor da publicação: Olimpio Araujo Junior mantém um canal no YouTube com 625 mil inscritos descrito como “conservador de direita focado em notícias sobre política, economia e atualidades” e que mostraria “a verdade que a mídia e as instituições de ensino não mostram”.

Procurado por e-mail, Olimpio Araujo afirmou que o vídeo é opinativo e que apenas fez uma “análise” da metodologia dos institutos de pesquisa. Na mensagem ao Comprova, ele reafirma suas opiniões sobre a credibilidade das pesquisas.

Como verificamos: Para fazer esta checagem, o Comprova consultou materiais explicativos disponíveis no site do TSE a respeito das pesquisas eleitorais de 2022 e do processo de auditoria das eleições.

Além disso, foram feitas pesquisas com base em reportagens jornalísticas de veículos profissionais (BBC News Brasil, Folha de S.Paulo, Agência Brasil e G1) e verificações realizadas pelo Comprova e outras agências sobre o tema.

Por fim, a equipe procurou o TSE para esclarecer como funcionam a amostragem e a auditoria das pesquisas eleitorais.

Pesquisas eleitorais são retratos do momento

As pesquisas eleitorais são ferramentas de opinião pública utilizadas por institutos ou entidades para verificar a preferência do eleitorado nos meses que antecedem um pleito. De acordo com o TSE, os estudos utilizam métodos científicos para “apurar a realidade do momento junto a segmentos representativos do eleitorado”.

Isso significa que, na semana em que a pesquisa foi realizada, por exemplo, pode ser que as pessoas estivessem mais propensas a votar em um determinado candidato. Na semana seguinte, a intenção de voto pode ter mudado dependendo da campanha eleitoral, debates, notícias, postagens em redes sociais, entre outros fatores, conforme apontou o G1.

Em entrevista à Agência Brasil, a diretora-executiva do Ipec (ex-Ibope Inteligência), Marcia Cavallari, explicou que “o objetivo de uma pesquisa eleitoral não é o de antecipar os resultados da eleição, mas sim o de mostrar o cenário no momento em que foi realizada.”

Segundo Cavallari, “a pesquisa é uma fotografia do momento e não tem o poder e nem a intenção de prever o resultado de uma eleição. Por isso, seus resultados não podem ser usados para prever o resultado das urnas.”

Mesmo assim, nas mais recentes eleições presidenciais no Brasil, os principais institutos de pesquisa chegaram perto do resultado das urnas, como já mostrou o Comprova em duas ocasiões (1 e 2). Na última pesquisa publicada em 2018, o Ibope apontava que Jair Bolsonaro teria 36% dos votos; Fernando Haddad, 22%; Ciro Gomes, 11%; e Geraldo Alckmin, 7%. Já o instituto Datafolha apontava os mesmos números para Bolsonaro, Haddad e Alckmin, mudando apenas as intenções de voto de Ciro Gomes para 13%. Depois de fechadas as urnas do primeiro turno, Bolsonaro teve 46% dos votos válidos; Fernando Haddad, 29%; Ciro Gomes, 12%; e Geraldo Alckmin, 4%.

No segundo turno, a última pesquisa divulgada pelo Ibope apontava 54% de intenções de voto para Bolsonaro e 46% para Haddad. Já o Datafolha mostrava 55% para Bolsonaro e 45% para Haddad. No resultado final, Bolsonaro teve 55% dos votos válidos e Haddad, 44%.

Um levantamento do site Jota reuniu dados de todas as eleições para governador e presidente no Brasil realizadas entre 1998 e 2018 e das pesquisas divulgadas pelo Datafolha, Ibope, Vox Populi e Sensus para avaliar a influência do tempo que separa a realização da consulta e o dia da eleição. A conclusão foi a de que pesquisas feitas mais próximas das eleições têm maior grau de acerto dos resultados. As pesquisas realizadas até 80 dias antes da eleição variaram 9 pontos percentuais do resultado real. Depois de 80 dias, esse número caiu progressivamente até 5 pontos percentuais, nos últimos dias antes da eleição.

Amostragem

A amostra é o grupo de entrevistados em uma pesquisa de opinião. A ideia é escolher um número limitado de pessoas, cujas características sejam parecidas com a do grupo maior que se queira pesquisar.

Para que essa amostra seja representativa, os institutos de pesquisa seguem critérios do perfil da população (escolaridade, gênero, idade, renda familiar, profissão, etc), seja do país ou apenas de um município, por exemplo. Isso permite a realização de uma análise que considere a proporção dessas diferentes variáveis na composição da população.

Esses critérios são variados e podem diferir de acordo com o método do levantamento, que pode ser quantitativo (quando o objetivo é coletar dados e apontar preferências eleitorais) ou qualitativo (quando há intenção de compreender fenômenos e motivações individuais que não são mensuráveis).

“[A amostragem é feita] a partir de técnicas que vêm da análise estatística, da probabilística, que garantem que aquele número de eleitores entrevistados é capaz de dar uma representação relativamente fiel, dentro de uma margem de erro e um índice de confiança, da opinião da população como um todo”, disse ao Comprova, em março, o professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop-Unicamp), Oswaldo Amaral.

Ele explicou que as pesquisas eleitorais entrevistam um grupo reduzido, porém representativo, para inferir a opinião de milhões. Por exemplo, os dados mais recentes do TSE, de maio de 2022, mostram que 52,8% dos 152,3 milhões de eleitores brasileiros são mulheres. Isso significa, portanto, que uma amostra de 2 mil eleitores deverá ter 52,8% de mulheres (1.056 eleitoras).

Pelo site do TSE, o público pode conferir o relatório das pesquisas para avaliar se a amostragem usada pelos institutos foi bem construída, “para avaliar se as pesquisas foram construídas sem defeitos amostrais que possam enviesar os resultados”, conforme Amaral.

Dados de pesquisa são registrados pela Justiça Eleitoral

Ao contrário do que é difundido por grupos que questionam a credibilidade de pesquisas de institutos profissionais, a legislação eleitoral permite a verificação de dados referentes às consultas feitas com a população.

No artigo 33 da Lei 9.504/1997 está expresso que as entidades e empresas que realizarem pesquisas de opinião pública relativas às eleições ou aos candidatos, para conhecimento público, são obrigadas, para cada pesquisa, a registrar, junto à Justiça Eleitoral, até cinco dias antes da divulgação, as seguintes informações:

 

  • quem contratou a pesquisa;
  • valor e origem dos recursos despendidos no trabalho;
  • metodologia e período de realização da pesquisa;
  • plano amostral e ponderação quanto a sexo, idade, grau de instrução, nível econômico e área física de realização do trabalho a ser executado, intervalo de confiança e margem de erro;
  • sistema interno de controle e verificação, conferência e fiscalização da coleta de dados e do trabalho de campo;
  • questionário completo aplicado ou a ser aplicado;
  • nome de quem pagou pela realização do trabalho e cópia da respectiva nota fiscal.

Além disso, segundo o TSE, entre essas informações necessárias para o registro está o nome do profissional de Estatística responsável pela pesquisa, acompanhado de assinatura com certificação digital e o número do registro no Conselho Regional de Estatísticas competente.

O mesmo dispositivo legal diz ainda que as informações relativas às pesquisas serão registradas nos órgãos da Justiça Eleitoral aos quais compete fazer o registro dos candidatos, e que a divulgação de pesquisa sem o prévio registro de todas essas informações sujeita os responsáveis ao pagamento de multa.

Além disso, a legislação ressalta que a divulgação de pesquisa fraudulenta é crime, que pode ser punida com prisão e também multa. A divulgação de pesquisa sem o prévio registro das informações previstas no normativo sujeita as pessoas responsáveis à multa que varia de R$ 53.205 a R$ 106.410.

O artigo 34 prevê, ainda, que mediante requerimento à Justiça Eleitoral, os partidos poderão ter acesso ao sistema interno de controle, verificação e fiscalização da coleta de dados das entidades que divulgaram pesquisas de opinião relativas às eleições, incluídos os referentes à identificação dos entrevistadores e, por meio de escolha livre e aleatória de planilhas individuais, mapas ou equivalentes, confrontar e conferir os dados publicados, preservada a identidade dos respondentes.

Até o dia 9 de junho, o portal do TSE contabilizava 660 pesquisas eleitorais relativas às eleições gerais de 2022. Desse total, mais de 170 se referem aos cargos de presidente e vice-presidente da República.

Vídeos compartilhados na postagem

No conteúdo aqui investigado, o autor divulga trechos de dois vídeos. O primeiro, registrado em 2018, mostra uma pesquisadora conversando com uma mulher diante de um presídio na cidade de Corumbaíba, em Goiás. É apenas uma parte do que circulou naquele ano, quando um agente de segurança aborda a entrevistadora, dizendo que ela não poderia estar naquele lugar para fazer seu trabalho. Na ocasião, a profissional cancelou a entrevista e, segundo o Datafolha, o procedimento foi correto, porque todos são orientados a encerrar as perguntas se, porventura, forem filmados, o que não é permitido.

O caso foi noticiado pela Folha, que confirmou que o vídeo é verdadeiro, mas esclareceu que a região também tem supermercados, igrejas, agências bancárias e um hospital, com grande circulação de pessoas, apresentando-se como local ideal para esse tipo de entrevista.

No segundo vídeo, de abril deste ano, o enfoque é na entrevistadora do instituto Quaest, que trabalhava em Nova Porteirinha, Minas Gerais. O homem que faz a gravação a interpela diversas vezes, dizendo que ela teria que ser imparcial ao fazer as perguntas para o entrevistado, que não é a mesma pessoa que faz a filmagem.

Ela tenta se justificar, afirmando que só havia abordado o homem perguntando se ele poderia dar entrevista, porém o autor da filmagem é incisivo ao dizer que ela havia parado as perguntas porque o candidato à entrevista havia declarado voto em Bolsonaro e, ela, teria mostrado posicionamento pessoal diferente.

O vídeo não mostra o que alega o autor da filmagem, mas, sim, a entrevistadora tentando argumentar, perguntando se era ele quem havia sido entrevistado e, por fim, tentando retomar o trabalho. Com a divulgação das imagens, o instituto Quaest emitiu nota de esclarecimento no dia 2 de abril, apontando que a entrevistadora não atuou conforme as normas de neutralidade orientadas pela empresa e que ela foi desligada. Além disso, as entrevistas realizadas pela pesquisadora seriam refeitas.

Por que investigamos: O Comprova verifica conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas e as eleições presidenciais deste ano. Conteúdos enganosos sobre pesquisas eleitorais podem prejudicar o processo democrático uma vez que confundem a população na tentativa de descredibilizar as amostras. É importante, portanto, que os eleitores tenham acesso a informações verídicas sobre as pesquisas, que seguem um método científico e buscam eliminar possíveis distorções e vieses.

Outras checagens sobre o tema: Em abril deste ano, o Estadão Verifica checou outra peça de desinformação que também utiliza os vídeos apresentados no conteúdo verificado pelo Comprova e concluiu que as alegações da peça eram enganosas.

Anteriormente, o Comprova já mostrou que pesquisas eleitorais seguem métodos científicos, ao contrário de enquetes, que nenhuma pesquisa eleitoral aponta 70% de votos para Bolsonaro, que áudio sobre fraudes em pesquisas é de comediante, não de ex-diretor do Datafolha e que vídeo engana ao dizer que pesquisas foram forjadas na eleição de Bolsonaro em 2018.

 

Eleições

Investigado por: 2022-06-13

Post engana ao omitir que protesto contra Lula em Bagé é de 2018

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a publicação que mostra uma manifestação contra o ex-presidente e pré-candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na cidade de Bagé, no Rio Grande do Sul, que ocorreu em 2018. A postagem foi publicada recentemente pelo perfil "eleicoesdireita", dando a entender que são imagens recentes. O vídeo, de uma reportagem do SBT, foi postado na plataforma TikTok sem legenda e informações importantes, como a data do protesto que aconteceu em 2018.

Conteúdo investigado: Vídeo que circula no TikTok mostra a passagem do ex-presidente Lula pela cidade de Bagé, no Rio Grande do Sul. Na ocasião, o petista foi hostilizado por manifestantes. A primeira parte do conteúdo é uma reportagem do SBT de 2018 e a segunda, um vídeo amador sem identificação. No post, não há qualquer menção à data em que ocorreu o protesto.

Onde foi publicado: TikTok

Conclusão do Comprova: É enganosa a publicação feita em junho de 2022 no TikTok e que mostra uma manifestação contra o ex-presidente Lula, em Bagé, no Rio Grande do Sul. Embora o protesto de fato tenha ocorrido, a situação ocorreu em 19 de março de 2018, à época em que o petista fazia uma caravana por diversas cidades brasileiras.

Ao não citar a data da manifestação, o post pode passar a falsa impressão de que a manifestação é recente. O que, inclusive, pode ser observado em comentários do tipo “‘Mais’ ora não era ele que estava na frente nas pesquisas?”, “Ué ‘num’ é o primeiro nas pesquisas’, “Ele não é o favorito?”, como mostram os prints abaixo:

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até o dia 9 de junho, a publicação teve mais de 4,3 mil curtidas, 695 comentários e foi compartilhada mais de 1,8 mil vezes.

O que diz o autor da publicação: O conteúdo foi compartilhado por um perfil no TikTok identificado como “eleiçõesdireita”, que acumula 12,9 mil seguidores. Durante a verificação, o vídeo foi apagado, assim como a conta do perfil na plataforma. Não foi possível entrar em contato com o autor.

Como verificamos: O Comprova iniciou a busca pelas palavras-chaves “Lula” e “protesto em Bagé” e localizou registros de diversos veículos jornalísticos publicados em março de 2018. Entre os registros, a matéria do GZH, da Veja e Poder 360.

Com as mesmas palavras-chaves, procuramos vídeos publicados no Youtube e no Facebook que fossem semelhantes à gravação amadora que surge na segunda metade da postagem. Usamos o Google Street View para tentar identificar similaridades entre os vídeos e os lugares em que ocorreram as manifestações.

Protesto contra Lula ocorreu em 2018

Em 2017, o ex-presidente iniciou uma jornada por diversos estados. Intitulado “Lula pelo Brasil”, o projeto tinha a intenção de mostrar a força e popularidade do petista em face das investigações da operação Lava Jato que avançavam sobre ele. As viagens começaram pelos estados do Nordeste, entre os meses de agosto e setembro daquele ano, região onde Lula sempre teve maior popularidade. Posteriormente, a caravana foi alcançando outras regiões do país.

O protesto contra o ex-presidente Lula na cidade de Bagé, no Rio Grande do Sul, ocorreu em 19 de março de 2018, conforme noticiado por veículos de imprensa à época. O município foi escolhido, naquela ocasião, como ponto de partida da caravana nos estados da região Sul do país.

Lula estava acompanhado da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), da presidente do partido, Gleisi Hoffmann e do ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro, dentre outros políticos. Em Bagé, ele participou de uma atividade na Universidade Federal do Pampa (Unipampa).

A chegada do ex-presidente à universidade ocorreu ainda no período da manhã e foi marcada por confusão entre apoiadores do petista e manifestantes contrários ao político. Lula havia deixado o aeroporto do município em um ônibus e já no trajeto até a Unipampa foram registrados bloqueios por parte de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Também nos arredores da universidade, grupos se dividiam entre apoiadores e ruralistas contrários à visita. Foi registrado um confronto no local e um dos manifestantes precisou ser algemado por policiais, como relatou a reportagem original do SBT. No local estavam cerca de 20 tratores com os motores ligados, além de cartazes com protestos a Lula e um ‘pixuleco’ – como ficaram conhecidos os bonecos infláveis usados em manifestações contrárias a Lula e ao PT. O objeto estava pendurado em uma cela que foi içada por um guindaste.

Já no trio elétrico parado na frente do campus, uma faixa estampava a seguinte frase: “Lula, Bagé está orgulhosa de te receber!”. O ex-presidente fez um breve discurso de cima do trio.

Vídeo amador

Postagens de 2018 no Facebook e no YouTube (post 1 e post 2) reproduzem o vídeo amador junto a outras gravações. Também há uma publicação do vídeo em um canal excluído no YouTube, mas a gravação foi salva pela ferramenta Way Back Machine. As publicações mencionam as manifestações contrárias a Lula em Bagé na legenda e nos comentários. Além disso, algumas delas foram postadas no mesmo dia dos protestos no município.

Reportagens da imprensa registrando os protestos em Bagé também possuem elementos presentes no vídeo amador. Na postagem verificada, após a passagem dos ônibus, é possível ver um prédio com a fachada branca. O mesmo edifício pode ser observado em registro feito pelo portal UOL, na reportagem do SBT (minuto 0:32) e em vídeo disponível no YouTube, que mostra o momento de outro lugar.


| Captura de vídeo amador

| Captura do vídeo do UOL

| Captura de vídeo do Youtube

Apesar da baixa qualidade das imagens, é possível ver que um dos manifestantes é imobilizado por um policial com o capacete branco, que está próximo a outros agentes com escudos e capacetes laranjas. A cena foi gravada pelo SBT de outro ângulo.


| Captura de vídeo amador

| Captura de reportagem do SBT

O vídeo no YouTube exibe as cenas do protesto próximo aos manifestantes favoráveis ao ex-presidente Lula. Também surge a caravana do político, formada por três ônibus da empresa Corumbau Brasil, que é mostrada na postagem verificada sob ataque. Além disso, no início da filmagem, o prédio da Unipampa em Bagé é mostrado.


| Imagem de vídeo no Youtube

Imagem da Unipampa em Bagé – Google Street View 2011

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos sobre pandemia, eleições e políticas públicas que atinjam grau de viralização nas redes sociais. O post aqui checado faz uma alegação enganosa por não citar a data em que ocorreu o protesto. Em meio à campanha à presidência da República e tendo Lula como um pré-candidato, o conteúdo pode acabar passando a falsa impressão de que o ato ocorreu neste ano. Conteúdos falsos ou enganosos que envolvem atores políticos trazem prejuízos ao processo democrático e atrapalham a decisão do eleitor, que deve ser tomada com base em informações verdadeiras.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente, o Comprova mostrou que vídeos de manifestação contra Lula em Passo Fundo são de 2018; que post no Facebook engana ao divulgar atos pró-Bolsonaro de 2021 como se fossem atuais e que é falsa a publicação afirmando que revista Veja cortou mão de Lula em foto.

Eleições

Investigado por: 2022-06-13

Entrevista sobre voto foi feita por humorista, não pelo Datafolha

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Enganoso
É enganoso o post do deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ) com um vídeo que ironiza as pesquisas de intenção de voto. A gravação publicada por ele é trecho de uma pegadinha do humorista Mizael Silv, o que não foi identificado na postagem; o político a legendou apenas com "Olha o DataPovo indignado com o DataFolha kkkk". Embora no vídeo haja a legenda "Pesquisa pra faculdade", muitos seguidores acham que a gravação é uma denúncia sobre como o instituto de pesquisa do Grupo Folha atua em campo.

Conteúdo investigado: Trecho de pegadinha em que um entrevistador pergunta a um homem em quem ele vai votar. Ele responde “em Bolsonaro” e o humorista diz que o entrevistado “não tem cara de quem vota” naquele candidato e vai colocar como resposta o adversário, Lula.

Onde foi publicado: Facebook, Twitter e Instagram.

Conclusão do Comprova: É enganoso post com vídeo em que um homem pergunta a outro em quem ele vai votar. Ao ouvir a resposta “em Bolsonaro”, o entrevistador afirma: “Pronto, mas como o senhor tem cara de quem vota em Lula, eu vou botar o senhor como quem vota em Lula aqui”. A gravação é trecho de uma pegadinha, o que não foi informado na postagem do deputado federal Carlos Jordy. Ele apenas escreveu a legenda “Olha o DataPovo indignado com o Datafolha kkkk”. Na gravação há a legenda “Pesquisa pra faculdade”, mas diversos seguidores acreditaram se tratar de um pesquisador do Datafolha, instituto de pesquisa do Grupo Folha.

O vídeo completo, como é possível ver pela marca d’água do trecho usado pelo deputado, foi publicado no TikTok do humorista Mizael Silv com hastags indicando se tratar de “#humor #pegadinhas #comedia”. Inclusive, quatro pessoas são supostamente entrevistadas por ele na pegadinha. Dois homens afirmam que votarão em Bolsonaro (PL) e outros dois afirmam que votarão em Lula – o criador de conteúdo faz a mesma pegadinha com todos, dizendo aos que votarão em Lula que preencherá a pesquisa colocando o nome de Bolsonaro.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. O post verificado aqui teve 177 mil visualizações no Facebook.

O que diz o autor da publicação: Procurado, Jordy não respondeu ao contato da reportagem.

Como verificamos: O primeiro passo foi ampliar a marca d’água que aparece no canto inferior direito do vídeo postado pelo deputado. Ali, é possível identificar que se trata de um vídeo publicado no perfil de @mizaelsillv no TikTok. Logo ao entrar neste perfil, verifica-se tratar de uma página de humor. A maioria dos vídeos é identificada com as hashtags #humor, #pegadinhas e #comedia.

O Comprova entrou em contato com Carlos Jordy via mensagem no Facebook, mas não obteve retorno. No Instagram, tentou falar com o humorista, para saber mais detalhes do vídeo, mas também não recebeu resposta.

O vídeo

A gravação completa tem 1 minuto e 25 segundos. Logo no início – o que não aparece no trecho postado pelo deputado, de 36 segundos –, o humorista diz ao primeiro homem entrevistado que está fazendo uma pesquisa para a faculdade. Ou seja, mesmo sendo uma pegadinha, não há nenhuma menção ao Datafolha ou outro instituto de pesquisa.

Após se apresentar, ele diz: “Essa pesquisa vai passar em rede nacional, aí, vim perguntar ao pessoal no centro, vai votar em quem? Lula ou Bolsonaro?”. O primeiro entrevistado que aparece responde que vai votar em Bolsonaro. Mizael, então, afirma: “Eu vou vou botar o senhor como se fosse votar em Lula porque o senhor não tem cara de quem vota em Bolsonaro, não”. Quando o segundo entrevistado aparece, o humorista diz: “Vou botar o senhor aqui como Bolsonaro; o senhor tem cara de quem vota em Bolsonaro.”

O terceiro entrevistado também declara seu voto para o pré-candidato petista. O quarto, que vai votar em Bolsonaro, é o que aparece no trecho do post do deputado federal.

Comentários

Entre os comentários dos seguidores de Carlos Jordy, muitos acreditam se tratar de uma pesquisa verídica. Um deles cita: “Não tem jeito, se Bolsonaro não for reeleito no primeiro turno, fraudaram as urnas”.

Em outra interação, a seguidora menciona: “Hoje o que mais me preocupa é que está claro que estão armando um golpe de fraude nas urnas! Não podemos aceitar isso!”.

Em nenhum momento o parlamentar faz menção de que o conteúdo do vídeo foi retirado de um perfil de humor. Até a tarde de sexta-feira (10), cerca de 1,5 mil comentários foram feitos neste post.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos sobre pandemia, eleições e políticas públicas que atinjam grau de viralização nas redes sociais. Com a proximidade do período eleitoral, cresce o número de conteúdos divulgados nas redes sociais tentando desacreditar as pesquisas de opinião. Informações desse tipo prejudicam a confiança das pessoas sobre os institutos de pesquisa e podem influenciar o voto de forma equivocada. A decisão do eleitor deve ser tomada com base em informações verdadeiras.

Outras checagens sobre o tema: Institutos de pesquisa são alvos frequentes de peças de desinformação. Nesta semana, o Comprova verificou ser falso áudio que atribuía a ex-diretor do Datafolha declarações sobre supostas fraudes em pesquisas eleitorais e manipulação de votos nas urnas eletrônicas. Também já checou vídeo que engana ao dizer que pesquisas foram forjadas na eleição de Bolsonaro em 2018 e site que omite que pesquisa com vantagem para Bolsonaro foi feita apenas em Santa Catarina.

Eleições

Investigado por: 2022-06-10

Post com vídeo antigo engana ao afirmar que Lula e Alckmin foram hostilizados em Porto Alegre

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É enganoso o vídeo postado nas redes sociais de um suposto episódio em que o ex-presidente e pré-candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acompanhado de seu candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB), teria sido hostilizado pela população durante visita ao Mercado Público de Porto Alegre (RS), no início do mês. Lula e Alckmin estiveram na cidade, mas não visitaram o espaço, cujas características arquitetônicas divergem da imagem investigada. O vídeo na realidade foi registrado em 2018, em Florianópolis. Os políticos não aparecem no vídeo, em que também é possível ver manifestações de apoio ao petista.

Conteúdo investigado: Vídeo mostra uma aglomeração de pessoas em suposto protesto contra a presença de Lula e Geraldo Alckmin no Mercado Público de Porto Alegre e, diante disso, questiona a credibilidade das pesquisas eleitorais, que apontam para a liderança do ex-presidente nas intenções de voto.

Onde foi publicado: TikTok e Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganosa a postagem que viralizou no TikTok, feita no dia 6 de junho, que afirma que Lula e Alckmin foram hostilizados durante visita ao Mercado Público de Porto Alegre (RS). O post destaca a seguinte frase: “Cadê o líder nas pesquisas?”, como forma de desacreditar as pesquisas recentes de intenção de voto, que são favoráveis a Lula.

Vídeo semelhante foi encontrado em publicação de 2018 nas redes sociais, como mostrou a Agência Lupa. As correspondências de personagens confirmam que trata-se do mesmo evento.

O Comprova localizou o mesmo vídeo postado no TikTok em tuítes publicados entres os dias 4 e 8 de junho e que trazem a mesma informação. Neles, com imagens em melhor resolução, foi possível perceber que há manifestações também de apoio a Lula. Assim, não se pode afirmar que os gritos de protesto são uma amostra da reprovação da população ao ex-presidente.

As características do espaço também mostram que o vídeo foi gravado no Mercado Público de Florianópolis (SC), e não no de Porto Alegre, cidade em que Lula e Alckmin estiveram, no dia 1º de junho, para evento na casa de shows Pepsi on Stage.

A assessoria de imprensa do PT negou que Lula e Alckmin tenham estado no Mercado Público de Porto Alegre ou em Santa Catarina. Não foram encontradas reportagens em veículos de imprensa ou postagens em redes sociais que atestem a presença dos políticos no local ou na cidade.

O Comprova classifica como enganoso todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até o dia 10 de junho, o vídeo teve mais de 22,6 mil interações, entre comentários, compartilhamentos, visualizações e curtidas.

O que diz o autor da publicação: Luiz Augusto Barbosa dos Santos, de 45 anos, foi candidato a vereador de Campos Novos (SC) pelo Democratas em 2020, mas não se elegeu. Ele foi procurado via e-mail e mensagem no Facebook, mas não retornou.

Como verificamos: Pesquisas com os termos “Lula”, “mercado público” e “Porto Alegre” no campo de busca do Twitter levaram à localização do mesmo vídeo publicado em diferentes contas. Como as imagens estavam em melhor resolução e sem inscrições na tela, foi possível analisá-las mais detalhadamente.

Um dos vídeos foi baixado com utilização do site Save from Net e verificado, frame a frame, no programa Adobe Premiere Pro. A análise das imagens permitiu verificar com mais clareza manifestações também de apoio a Lula.

As características arquitetônicas do espaço mostraram que o vídeo foi gravado no Mercado Público de Florianópolis, cujas imagens foram consultadas no site da prefeitura local.

O Comprova buscou a assessoria de imprensa do PT, o autor da postagem que viralizou no TikTok, e consultou reportagens em veículos de imprensa sobre a presença de Lula e Alckmin em Porto Alegre, no início do mês, para ato político numa casa de shows.

 

Lula e Alckmin não estiveram no Mercado Público de Porto Alegre

Embora a postagem afirme que Lula e Alckmin foram ao Mercado Público de Porto Alegre, as imagens não mostram, em nenhum momento, a presença dos políticos. Também não foram encontradas reportagens em veículos de imprensa ou quaisquer publicações em redes sociais que pudessem comprovar a visita deles ao espaço.

Lula chegou a Porto Alegre no dia 1º de junho, para participar, ao lado de Geraldo Alckmin, de um evento na casa de shows Pepsi on Stage. Esta foi a primeira viagem com os dois juntos na pré-campanha eleitoral.

Questionada pelo Comprova, a assessoria de imprensa do Partido dos Trabalhadores no Rio Grande do Sul afirmou: “Lula e Alckmin não tiveram nenhuma agenda no mercado público de Porto Alegre. Além disso, não foram hostilizados em nenhum momento das suas agendas, hostilizados em deslocamento, hotel ou coisa do tipo. Trata-se de informação mentirosa”.

Segundo a assessoria, Lula e Alckmin chegaram a Porto Alegre na manhã de 1º de junho e deixaram a cidade na tarde do dia seguinte. Sobre a agenda dos dois no município, a assessoria afirmou que, “para além do ato no Pepsi, tiveram reuniões e encontros com setores da educação, cooperativismo e cultura em local fechado. E uma reunião com as representações estaduais dos partidos que apoiam o movimento ‘Vamos Juntos pelo Brasil’”.

Vídeo foi gravado no Mercado Público de Florianópolis em 2018

Ao contrário do que alegam as peças de desinformação, o vídeo que circula nas redes sociais foi gravado no Mercado Público de Florianópolis e não em Porto Alegre.

A partir da comparação de imagens do Mercado de Florianópolis e capturas de tela do vídeo verificado, foi possível observar elementos em comum, como as portas verdes dos estabelecimentos, os arcos que ficam na parte superior das entradas e a cobertura do espaço.

| A primeira foto mostra o espaço do Mercado Público de Florianópolis e está disponível no Portal Municipal de Turismo da cidade: https://turismo.pmf.sc.gov.br/o-que-fazer/item/mercado-publico. A segunda foto é uma captura de tela do vídeo verificado pelo Comprova.

Além disso, na gravação aparece uma porta ligeiramente mais larga que as outras, que pode ser vista também em outras fotos do Mercado Público de Florianópolis.

| Foto do Mercado Público de Florianópolis, em Santa Catarina. Disponível em: https://guia.melhoresdestinos.com.br/mercado-publico-de-florianopolis-65-440-l.html 

Questionada novamente sobre eventual presença de Lula e Alckmin no Mercado de Público de Florianópolis, a assessoria do PT no Rio Grande do Sul negou que eles tenham ido à cidade: “Eles sequer foram a SC (Santa Catarina)”.

Apesar da estrutura do Mercado Público de Porto Alegre também ser amarela, as portas não são verdes como as que aparecem no vídeo:

| Foto da entrada do Mercado Público de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, feita por Giulian Serafim, da Secretaria Municipal de Planejamento e Assuntos Estratégicos da Prefeitura de Porto Alegre. Disponível em: https://prefeitura.poa.br/smpae/noticias/pintura-externa-do-mercado-publico-iniciara-nesta-terca-feira.

A cobertura do espaço também é diferente da que aparece no local do vídeo. A comparação pode ser feita com postagem na conta no Instagram do mercado de Porto Alegre: 

Além disso, o vídeo foi filmado em 2018, conforme mostram diversas outras gravações do mesmo momento feitas em ângulos diferentes e postadas em redes sociais (aqui, aqui e aqui). Nestes registros, mostrados em checagem da Agência Lupa, é possível identificar elementos comuns ao vídeo verificado pelo Comprova, como um homem usando uma blusa amarrada nos ombros.

| Captura de tela do vídeo publicado no TikTok e verificado pelo Comprova

| Captura de tela do vídeo encontrado no Twitter, com qualidade de imagem superior à postagem do TikTok

| Captura de tela do vídeo encontrado no YouTube pela Agência Lupa

Vídeo também mostra manifestações de apoio a Lula

O mesmo vídeo postado no TikTok, aqui verificado, foi publicado por diversos outros usuários do Twitter. As postagens localizadas vão do dia 4 ao dia 8 de junho. Nelas, a qualidade da imagem é superior à postagem do TikTok, o que permite a identificação mais precisa das manifestações também de apoio a Lula. Assim, não se pode valer do vídeo como uma amostra de reprovação da população ao ex-presidente, o que afirma a postagem no TikTok com o objetivo de desacreditar as pesquisas eleitorais que apontam Lula em primeiro lugar nas intenções de voto.

No tuíte do dia 4 de junho, por exemplo, é mais clara a imagem do momento em que uma pessoa se vira para os manifestantes que gritam “ladrão” com um cartaz em que se lê “Lula Livre!”:

O mesmo momento do vídeo no TikTok que, além da qualidade ruim da imagem, ainda traz inscrições que prejudicam a visualização:

Além da placa “Lula livre!”, o vídeo analisado nas postagens no Twitter também permite perceber com mais clareza o sinal de “L” que um homem faz com a mão – símbolo de apoio a Lula. Vê-se ainda pessoas com bandeiras e roupas vermelhas, a cor do PT, partido do ex-presidente. Imagem do vídeo postado no tuíte do dia 8 de junho:

A imagem do momento na postagem do TikTok:

A presença também de manifestantes pró-Lula pode ainda ser constatada pelo áudio do vídeo, marcado como original pelo TikTok, em que é possível ouvir gritos de apoio ao ex-presidente: “Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula”. No entanto, os gritos de “ladrão” são mais evidentes devido à proximidade da pessoa que grava o vídeo do grupo que protesta contra Lula.

Por que investigamos: O Comprova investiga postagens que viralizam na internet com conteúdo envolvendo as eleições presidenciais deste ano, a realização de obras públicas e a pandemia da covid-19. Conteúdos como este aqui verificado podem atrapalhar a lisura do processo eleitoral por desacreditar as pesquisas de intenção de voto registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Outras checagens sobre o tema: A Agência Lupa investigou um vídeo semelhante ao verificado pelo Comprova e chegou à mesma conclusão de que o conteúdo é antigo e não foi gravado em Porto Alegre.

O Comprova mostrou recentemente que áudio sobre fraudes em pesquisas é de comediante, não de ex-diretor do Datafolha, que post no Facebook engana ao divulgar atos pró-Bolsonaro de 2021 como se fossem atuais e que vídeos antigos foram usados para enganar sobre adesão a atos pró-Bolsonaro em 1 de maio. No Comprova Explica, foi mostrado que pesquisas eleitorais seguem métodos científicos, ao contrário de enquetes.

Eleições

Investigado por: 2022-06-09

Não é de Aldo Rebelo áudio que culpa Lula por alta de combustíveis

  • Falso
Falso
É falso o áudio que atribui ao ex-ministro Aldo Rebelo críticas ao PT em relação à corrupção na Petrobras e sugestão para que a estatal seja dividida "para acabar com o monopólio". Não há nenhum registro de que o político tenha gravado tais afirmações, e ele próprio nega ser o autor.

Conteúdo investigado: Áudio com imagem estática do ex-deputado federal e ex-ministro Aldo Rebelo (PDT) com a legenda “Urgente – Vaza áudio de Aldo Rebelo, ex-ministro de Lula e Dilma”. Na gravação, a voz diz que “nenhum presidente tem a possibilidade de controlar os preços da Petrobras” porque “os governos do PT roubaram” a estatal e, com isso, o também ex-presidente Michel Temer (MDB) teria sido obrigado a fazer acordos que incluíam manter a política de preços. Por fim, o criador do áudio sugere fatiar a Petrobras para “acabar com o monopólio”.

Onde foi publicado: Facebook e YouTube. Na primeira rede, o conteúdo foi classificado como falso.

Conclusão do Comprova: É falso um áudio que circula nas redes sociais atribuindo críticas ao PT em relação à Petrobras ao ex-deputado federal e ex-ministro Aldo Rebelo. A postagem usa uma imagem estática do ex-ministro com a legenda “Urgente – Vaza áudio de Aldo Rebelo, ex-ministro de Lula e Dilma”. O próprio Rebelo negou a autoria do áudio. Em resposta ao Comprova, afirmou que o material utiliza expressões que ele não usa e um conteúdo que não defende.

Entre outras coisas, no áudio, que não teve a origem identificada, a pessoa que se passa pelo ex-ministro diz que “ninguém tem a possibilidade de controlar os preços da Petrobras, por um simples motivo: acordos zilionários foram feitos por Michel Temer na Justiça americana”. Afirma ainda que a estatal teria sido “vendida por Lula” e “pelo PT”, o que não é verdade. Como mostra o site da Petrobras, o governo brasileiro é o acionista majoritário.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. O post verificado aqui teve ao menos 9,6 mil visualizações e 6,6 mil compartilhamentos no Facebook.

O que diz o autor da publicação: Dois perfis que postaram o conteúdo falso no Facebook foram procurados pela reportagem, mas não responderam. Em suas páginas, ambos defendem pautas bolsonaristas – um deles afirma ser a favor de intervenção militar.

Como verificamos: O primeiro passo foi fazer uma busca no Google por termos como “Aldo Rebelo” e “Petrobras”, o que resultou em um tuíte do político negando a autoria do áudio e em verificações de agências como Aos Fatos e Boatos.org. Paralelamente, o Comprova também entrou em contato com o ex-ministro por meio de mensagem pelo WhatsApp para que ele comentasse a gravação.

A equipe pesquisou ainda informações sobre a alta do preço dos combustíveis em reportagens e no site da Petrobras.

 

Aldo Rebelo nega ser autor do áudio

Procurado pelo Comprova, Aldo Rebelo enviou um vídeo e negou ser o autor do áudio. “É uma imitação grosseira da minha voz, do meu sotaque, como quem ouviu pode perceber”, disse ele. Aldo Rebelo atribuiu a falsificação “ao temor dos autores do impacto que o preço dos combustíveis está tendo sobre o preço dos alimentos e das passagens”, que “ajudam a jogar uma inflação elevada nas costas, principalmente, dos trabalhadores, dos desempregados e da classe média”.

“O desespero levou à produção desse áudio, em linguagem que não costumo utilizar”, afirmou Aldo Rebelo ao Comprova. Ele disse ainda que está procurando identificar “os autores e os difusores para o devido processo legal”.

O ex-ministro também se pronunciou no Twitter. Na rede social, publicou: “Há um áudio apócrifo circulando e a mim atribuído sobre a Petrobras, com expressões que não uso e conteúdo que não defendo. A minha conclusão é que os autores do áudio fake estão muito preocupados com o impacto dos preços dos combustíveis no preço dos alimentos e nas eleições”.

Alta dos combustíveis

“Bolsonaro nem ninguém, nenhum presidente da República, seja de esquerda ou de direita, pode ser de qualquer coisa, tem a possibilidade de controlar os preços da Petrobras.” Assim começa a peça de desinformação que circula nas redes, que procura tirar qualquer responsabilidade do chefe do Executivo sobre a alta do preço dos combustíveis, que, desde o ano passado, é “a principal preocupação do governo e tornou-se também a da campanha de reeleição do presidente”, como informa a Folha.

Embora a gravação diga não ser possível controlar os preços da estatal, durante o governo Dilma Rousseff (PT), de 2011 a 2016, a Petrobras conteve o aumento de preços para segurar a inflação, o que a endividou ainda mais.

O áudio falso segue comentários feitos por Bolsonaro, que já afirmou ter vontade de privatizar a Petrobras. “Aumentou a gasolina? Culpa do Bolsonaro! Eu já tenho vontade de privatizar a Petrobras, tenho vontade. Vou ver com a equipe econômica o que a gente pode fazer”, disse ele, em outubro de 2021.

A alta é reflexo de aumentos promovidos pela Petrobras em suas refinarias – só a gasolina, em 2021, sofreu reajustes de mais de 70% e, em 2022, 24,5% –, motivada, entre outros pontos, pela alta do preço internacional do barril de petróleo e do dólar. Em seu site, a estatal afirma que “o preço é definido pelos movimentos de oferta e demanda no mercado global” e que o valor “da gasolina segue referências do mercado” e é impactado, principalmente, pelo preço do petróleo.

A política atual de preços, chamada Preço de Paridade Internacional (PPI), que segue a cotação mundial do barril em dólar, foi implementada em 2016, durante o governo Temer, como informa o Estado de Minas.

Ainda em sua página, a Petrobras explica a formação do preço do litro da gasolina dando o exemplo do preço médio no país. Em 9 de junho, era de R$ 7,22, composto da seguinte maneira:

  • R$ 0,99 (13,7%): distribuição e revenda
  • R$ 0,98 (13,6%): custo etanol anidro
  • R$ 1,75 (24,2): imposto estadual
  • R$ 0,69 (9,6%): impostos federais
  • R$ 2,81 (38,9%): parcela Petrobras

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Conteúdos falsos que envolvem atores políticos, como o verificado aqui, trazem prejuízos ao processo democrático e atrapalham a decisão do eleitor, que deve ser tomada com base em informações verdadeiras.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova verificou recentemente outros conteúdos falsos envolvendo o nome de Lula, como o que afirmava que a revista Veja cortou a mão do ex-presidente em foto, o de post que usa áudio com imitação do petista para confundir sobre acusações de corrupção e o que desinforma ao dizer que Lula roubou 350 mil toneladas de ouro de Serra Pelada e deu dinheiro para Venezuela.

Eleições

Investigado por: 2022-06-09

É falso que Lula tenha sido apontado como bilionário pela revista Forbes

  • Falso
Falso
É falsa uma imagem que aponta que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) integra o ranking de bilionários da revista Forbes. O conteúdo em questão, é, na verdade, uma montagem publicada pelo site A Trombeta News. Lula nunca fez parte desta lista; a declaração de bens mais recente do petista mostra um patrimônio total de R$ 7,98 milhões.

Conteúdo investigado: Imagem em que o ex-presidente Lula aparece na capa da revista norte-americana Forbes, cuja manchete, traduzida do inglês, traz a seguinte frase : “Os bilionários do mundo: os nomes, os números e as histórias por trás das 1,246 pessoas que controlam o mundo”.

Onde foi publicado: Facebook e Twitter.

Conclusão do Comprova: É falsa uma imagem publicada pelo site A Trombeta News em que o ex-presidente Lula aparece na capa da revista Forbes como um dos bilionários do mundo. A imagem é, na verdade, uma montagem, e nunca foi publicada pela revista norte-americana.

A montagem em questão mistura elementos de diferentes capas reais da revista e uma fotografia antiga do petista, publicada em 2014, pela Agência Brasil, feita pelo fotógrafo José Cruz. Na ocasião, Lula participou da solenidade comemorativa dos 10 anos da reforma do Judiciário, em Brasília. O evento não tinha nenhuma relação com a Forbes.

Para o Comprova, falso é um conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até a manhã do dia 9 de junho, o texto publicado no site A Trombeta News gerou mais de 2,3 mil interações no Facebook. Desse número, 305 tratavam-se de reações e 248 de comentários. No Twitter, o link do conteúdo foi compartilhado 41 vezes, gerando 129 interações.

O que diz o autor da publicação: Em sua conta no Twitter, A Trombeta News se descreve como “um meio de comunicação de direita”. O Comprova entrou em contato com os responsáveis do site via mensagem privada do Twitter. Apesar de não ter respondido todas as questões enviadas pela reportagem, o perfil argumentou que a “notícia está vinculada em vários sites”, e que é possível encontrar a fonte do texto na própria publicação. No entanto, o endereço do site O Detetive, citado como fonte no pé do texto, não funciona.

Como verificamos: O primeiro momento da verificação envolveu a leitura dos elementos textuais da capa da revista, bem como do texto que acompanha a publicação do site “A Trombeta News”. Nessa etapa, foi possível notar um erro na grafia do nome do ex-presidente: “Luis” Inácio Lula da Silva, em vez de “Luiz”.

Para aprofundar a análise da veracidade da capa, o Comprova fez a busca reversa da imagem a partir das ferramentas Google Imagens e Google Lens. Com isso, não foi encontrado nenhum resultado que relacionasse a imagem com o site da revista Forbes.

Utilizando as palavras-chave “Lula” e “billionaire” no Google, o primeiro resultado da busca foi o artigo “Is Lula, Brazil’s Former President, A Billionaire?”, publicado em 2013, na Forbes. O material, que explica a metodologia da lista de bilionários elaborada anualmente pela revista desde 1987, também esclarece que, até aquele momento, Lula nunca tinha participado do ranqueamento, por não ser bilionário. Com a repercussão desse artigo na imprensa brasileira, foi possível notar que os rumores da suposta fortuna de Lula e a capa manipulada circulavam, pelo menos, desde 2012 na internet. Esclarecimentos sobre a situação foram publicados em veículos como O Estado de S. Paulo e Infomoney.

Por fim, entrou em contato com o site “A Trombeta News” para descobrir a fonte e a intenção da publicação.

A veracidade da capa

O conteúdo analisado nunca foi publicado pela Forbes. Na verdade, a imagem é uma montagem veiculada no site A Trombeta News e mistura elementos de diferentes capas verdadeiras da Forbes com uma fotografia antiga de Lula, feita em 2014 pelo fotógrafo José Cruz, da Agência Brasil.

A montagem ainda traz um selo do 25º aniversário da revista Forbes, celebrado em 2012, que apareceu em algumas edições da revista naquele ano. Ainda assim, o selo usado na imagem falsa possui elementos diferentes do original.

O conteúdo falso apresenta uma frase destacando os 1.426 bilionários que controlariam o mundo. Mas esse número de bilionários só foi registrado em 2013. Em 2012, ano do selo comemorativo, eram 1.226 bilionários, segundo a Forbes.

Lula nunca figurou entre os bilionários do ranking da revista . Essa informação falsa circula nas redes sociais desde 2012. No ano seguinte, em 2013, a própria revista publicou um artigo para desmentir essa afirmação. “Embora existam alguns bilionários que são políticos, Lula não é um deles”, declarou a Forbes.

O patrimônio de Lula

De acordo com a declaração de bens mais recente do ex-presidente Lula para a Justiça Eleitoral, feita em agosto de 2018, o petista tinha R$ 7,98 milhões em carros, imóveis e ativos financeiros. Na época, a maior parte do valor declarado por Lula era referente a um plano de previdência privada, identificado pela sigla VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre).

De acordo com o Estadão, também em 2018, o petista declarou possuir três terrenos, três apartamentos, dois automóveis e uma série de ativos financeiros, como depósitos, aplicação em poupança, créditos decorrentes de empréstimo, alienação e cotas de sua empresa de palestras e eventos.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. O conteúdo verificado transmite informações falsas a respeito de Lula, que é pré-candidato à presidência da República pelo Partido dos Trabalhadores. Conteúdos falsos ou enganosos sobre atores políticos fragilizam o processo democrático e a decisão dos eleitores, que deve ser baseada em informações verdadeiras.

Outras checagens sobre o tema: Além do Comprova, as agências de checagem Lupa e Aos Fatos já verificaram a capa falsa da Forbes que coloca Lula como bilionário. Anteriormente, o Projeto Comprova mostrou que um post usa áudio com imitação de Lula para confundir sobre acusações de corrupção e que uma enquete popular não oficializava Jair Bolsonaro como Personalidade do Ano na revista Time.

Eleições

Investigado por: 2022-06-08

Vacina de spray nasal ainda em teste é diferente de remédio defendido por Bolsonaro

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o post que relaciona uma reportagem de 2021 do UOL sobre ineficácia de spray nasal defendido por Jair Bolsonaro (PL) contra a covid-19 e outra do programa Fantástico, de junho de 2022, afirmando que, segundo especialistas, uma vacina de spray nasal "é o caminho" para o fim da pandemia. Além de ainda não ter comprovação contra o coronavírus, o medicamento citado pelo presidente não era um imunizante.

Conteúdo investigado: Post unindo títulos de duas reportagens para afirmar, erroneamente, que Bolsonaro estava certo sobre aposta em remédio nasal contra o coronavírus. A primeira chamada, publicada pelo UOL em março de 2021, diz: “Com spray, Bolsonaro insiste em medicamento sem eficácia contra covid-19”. A segunda, que foi ao ar no programa “Fantástico”, da Globo, em 5 de junho de 2022, informa: “Vacina de spray nasal é o caminho para o fim da pandemia de covid, apontam especialistas”.

Onde foi publicado: Facebook, Twitter e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É enganoso post que usa a hashtag #Bolsonarotemrazão ao comparar uma reportagem do UOL, de março de 2021, com outra do Fantástico, de junho de 2022. A primeira informa que o spray nasal, aposta do presidente Jair Bolsonaro, não tem eficácia comprovada contra a covid-19. A do programa dominical da Globo afirma que especialistas apontam vacina de spray nasal como “caminho” para o fim da pandemia. A relação, porém, não pode ser feita, porque se tratam de medicamentos diferentes.

O que o presidente defendia é um remédio em desenvolvimento em Israel para tratar pessoas já infectadas pelo coronavírus; já o citado na reportagem do Fantástico é um imunizante.

Sobre o spray que trata a doença, o EXO-CD24, Nadir Arber, um dos cientistas que participa das pesquisas, disse ao Comprova que ainda não há resultados que comprovem sua eficácia – exatamente como informa a reportagem do UOL usada no conteúdo enganoso.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. O post da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) no Facebook recebeu 2,5 mil comentários e foi compartilhado mais de 15 mil vezes até 8 de junho. Outros políticos divulgaram as mesmas alegações em seus perfis do Facebook após a postagem da parlamentar. Até a mesma data, a publicação do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) tinha 3,3 mil compartilhamentos e 966 comentários. Já o conteúdo propagado pela deputada federal Bia Kicis (PL-DF) teve 3,3 mil compartilhamentos e 496 comentários.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com Carla Zambelli, Bia Kicis e Flávio Bolsonaro para esclarecer questões referentes às postagens enganosas. Em resposta, Zambelli questionou o trabalho do Comprova, disse que as duas substâncias são parecidas por serem sprays nasais e afirmou que não teceu “qualquer opinião sobre a eficácia do imunizante proposto”. Os outros políticos não responderam.

Como verificamos: Com a ferramenta TweetDeck, foi possível encontrar as primeiras postagens de Bolsonaro relacionadas ao spray nasal. A equipe também buscou as reportagens cujos títulos são citados na peça de desinformação e outras relacionadas ao spray contra a covid.

A partir de reportagem da Folha de S.Paulo sobre o spray que citava o Clinical Trials, site que reúne informações sobre testes de medicamentos, o Comprova buscou o estudo relacionado ao EXO-CD24 e os nomes dos responsáveis. Via pesquisa no Google, foi possível encontrar seus e-mails e contatá-los. Quem respondeu o contato foi Nadir Arber, professor de medicina e gastroenterologia e diretor do Centro Integrado de Prevenção do Câncer do Centro Médico Sourasky – Hospital Ichilov, em Tel Aviv, em Israel.

Também foram entrevistados Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), e a professora Anamélia Lorenzetti Bocca, coordenadora do Laboratório de Imunologia Celular no Instituto de Biologia da Universidade de Brasília (UnB).

Primeiras menções

Bolsonaro começou a falar sobre um spray nasal contra a covid-19, de acordo com a Folha, em fevereiro de 2021, após o jornal israelense Times of Israel publicar que o remédio EXO-CD24 havia curado 29 dos 30 casos moderados a graves de covid-19.

Em 12 de fevereiro de 2021, em seu Twitter, o presidente afirmava ter conversado com o então primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, sobre o medicamento, que vinha “obtendo grande sucesso no tratamento” da doença em casos graves, como ele escreveu. Três dias depois, ele publicou que “brevemente” enviaria o pedido de análise para seu uso emergencial à Anvisa, mostrando interesse em comprá-lo.

Cerca de um mês depois, de acordo com a reportagem do UOL, cujo título é usado na peça de desinformação, Bolsonaro defendeu o remédio insistindo em outra aposta sem eficácia comprovada, a hidroxicloroquina. “Você tem um pai, irmão ou amigo que está ali: Olha, vai ser intubado. Você vai dar um spray no nariz dele ou não? Ou vai tratar isso como uma hidroxicloroquina, porque também não tem comprovação científica?”, questionou em live no Facebook.

Em março de 2021, o governo federal enviou uma comitiva de dez pessoas a Israel para conhecer o spray nasal. A viagem, que custou ao menos R$ 100 mil, segundo a Folha –, não resultou em nenhum contrato.

Mas, diferentemente do que o presidente disse e do que o conteúdo investigado aqui leva a crer, o EXO-CD24 é um medicamento que estava em teste para ser usado em pessoas infectadas pelo vírus, não um imunizante.

A vacina citada no post enganoso, inclusive, ainda nem está disponível. Como informa o Fantástico na reportagem cujo título é usado no conteúdo verificado aqui, “grupos pelo mundo estão na busca de uma vacina que ataque o vírus logo de cara, que não deixe que ele se multiplique” – o que seria feito via nasal. Ainda de acordo com a atração da Globo, desta forma “a pessoa vacinada não se contamina, e nem dá tempo de transmitir o vírus” e o micróbio finalmente para de circular e a pandemia pode chegar ao fim”.

Remédio israelense

O uso original do EXO-CD24 é para tratamento de câncer de ovário, conforme matéria da Folha.

Quando Bolsonaro começou a falar sobre o spray, ele estava em fase inicial de testes clínicos e não tinha dados publicados, ainda de acordo com a Folha. Entre 35 pesquisas em humanos com drogas via nasal que havia na época, a do EXO-CD24 era uma das mais incipientes.

Nota técnica do Ministério da Saúde de fevereiro de 2021 concluía que a droga “aponta para uma melhora clínica importante dos pacientes hospitalizados com covid-19 moderada a grave”, mas que “os resultados ainda não foram publicados e as informações disponíveis não oferecem dados suficientes sobre os desfechos de segurança e eficácia obtidos e as características dos pacientes incluídos”.

nota da mesma época do Observatório de Tecnologias Relacionadas ao Covid-19, do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, usa trechos da reportagem do jornal Times of Israel para descrever o EXO-CD24. O texto afirma que “o medicamento combate a tempestade de citocinas, que se acredita ser responsável por muitas das mortes associadas à doença” e que “ele usa exossomos – pequenos sacos transportadores que transportam materiais entre as células – para entregar uma proteína chamada CD24 aos pulmões, que o grupo de estudo (do Centro Médico Ichilov de Tel Aviv) está pesquisando há décadas”.

Ainda de acordo com a nota, “essa proteína ajuda a acalmar o sistema imunológico e conter a tempestade” e, por ser administrado localmente no nariz, não tem efeitos colaterais, “ao contrário de outras fórmulas, (o spray é) direcionado diretamente para os pulmões”.

Ao Comprova, o professor Nadir Arber, um dos responsáveis pela pesquisa do EXO-CD24 contra o coronavírus, contou que ainda não há resultados do teste clínico com a metodologia de estudo duplo-cego, quando o voluntário não sabe se está tomando remédio ou placebo, substância sem efeito no corpo. “A última fase da pesquisa está sendo realizada, mas, atualmente, não há pacientes com covid, então, planejamos ter outros dois estudos”, disse ele.

Questionado se o medicamento é eficaz contra a covid, ele respondeu que “parece ser muito eficaz; no entanto, nada pode ser reivindicado até o compararmos com o placebo.”

Vacinas por via intranasal

Anamélia Lorenzetti Bocca, professora de Imunologia Celular na UnB, explica que as vacinas contra o coronavírus podem ser administradas por vias variadas, gerando diferentes respostas imunológicas. A forma de aplicação também pode mudar, podendo ser formuladas por partículas em uma solução ou uma preparação que adere na mucosa do nariz e passa para os outros tecidos do corpo.

A cientista considera que os imunizantes aplicados no nariz são importantes para uma resposta mais robusta localmente, com o aumento de anticorpos, assim como as vacinas por via intramuscular, e a geração dos linfócitos T e B, que são células de memória imunitária.

De acordo com Bocca, a vacina intranasal possui uma resposta mais robusta na mucosa nasal, com produção de anticorpos e células de memória nos linfonodos ao redor da mucosa nasal. Já a vacina intramuscular faz uma resposta mais sistêmica, com produção de anticorpos na mucosa nasal, mas em outras mucosas também, e a geração de células de memória em outros tecidos. Para ela, a utilização de uma ou outra depende do tipo de resposta imune que se pretende para o indivíduo.

Sobre a vacina produzida pelo Dr. Jorge Kalil, citada na matéria do Fantástico, a especialista afirma se tratar de uma proteção profilática, usada na prevenção da doença. “Seria mais uma vacina disponível com a possibilidade de apresentar uma resposta mais robusta na via de entrada do vírus, o que impediria a sua disseminação para outros tecidos”, declara.

“A vacina intranasal de tecnologia nacional não tem qualquer relação com a EXO-CD24 porque uma induz uma resposta imune protetora e a outra trata um sintoma da doença. A atual do Brasil (vacina intranasal) está pronta para iniciar os ensaios clínicos de fase I, aguardando autorização da Anvisa para tal. Ainda não tem parceria com indústrias farmacêuticas para o seu escalonamento. O investimento no Brasil é muito baixo para esta etapa”, esclarece Anamélia Lorenzetti Bocca.

Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), fala que o desenvolvimento desse tipo de vacina é muito procurado para combater os vírus que têm entrada pelas vias respiratórias. Para ele, entretanto, é um caminho mais difícil já que o custo financeiro e tecnológico é maior, demandando laboratórios de biossegurança maiores.

“Até agora, a gente só conseguiu a gripe, que não existe aqui no Brasil, mas muitos países têm a vacina de gripe nasal com vírus influenza vivo, mas enfraquecido”, diz o imunologista.

O diretor da SBIm não acredita que tenhamos essa forma de imunizante em um período de curto prazo. Apesar disso, considera necessário criar vacinas mais modernas que sejam mais eficazes na prevenção de formas leves da doença e que sejam voltadas para as novas formas do coronavírus. Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente existem 361 vacinas em teste contra a covid (163 em estágio clínico e 198 em estágio não-clínico). Do total, há oito imunizantes intranasais sendo desenvolvidos.

Por que investigamos: O Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais ou aplicativos de mensagem sobre a pandemia, eleições e políticas públicas do governo federal. Bolsonaro vem desacreditando as vacinas e defendendo medicamentos sem eficácia comprovada, como o spray nasal, desde o início da pandemia, e conteúdos que fazem o mesmo colocam a saúde da população em risco.

Outras checagens sobre o tema: A Covid-19 dominou a quarta fase do Projeto Comprova, encerrada em dezembro de 2021. Mais de cem conteúdos foram verificados, sobretudo os relacionados a vacinas e tratamentos sem eficácia comprovada contra a doença. Em junho do ano passado, por exemplo, o Comprova mostrou ser enganoso conteúdo que comparava spray nasal patenteado com tratamento precoce. Ainda sobre a covid, a equipe publicou, mais recentemente, ser falso que imunizantes de mRNA são terapia genética e causam a doença e que era enganoso que estudo feito em Itajaí prova eficácia de ivermectina.

Eleições

Investigado por: 2022-06-08

Post exagera importância de convite ao Brasil para a Cúpula das Américas

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso um tuíte alegando que o convite do governo dos Estados Unidos ao Brasil para participar da Cúpula das Américas significa que "o mundo se rende à importância do Brasil". Embora o post acerte em dizer que o governo norte-americano chamou Jair Bolsonaro (PL) para o evento, o convite não denota prestígio porque o Brasil é membro da Organização dos Estados Americanos (OEA), o que já garantiria a participação na Cúpula.

Conteúdo investigado: Tuíte traz uma montagem com imagens dos rostos dos presidentes Jair Bolsonaro e Joe Biden, uma ao lado da outra. O conteúdo é acompanhado da legenda: “Biden pede pinico (sic) e convida Bolsonaro a ir à Cúpula das Américas. O mundo se rende à importância do Brasil”.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganosa uma publicação no Twitter que afirma que “o mundo se rende à importância do Brasil”, fazendo referência ao convite feito pelo governo dos Estados Unidos a Bolsonaro para participar da Cúpula das Américas.

Apesar de Biden, de fato, ter chamado o presidente brasileiro para o evento que reúne periodicamente os líderes das Américas do Norte, do Sul, Central e do Caribe, o convite não pode ser considerado notável porque, sendo um país membro da OEA, o Brasil teria participação garantida.

Comentários no post indicam que muitas pessoas entenderam que o convite seria importante. “Estão respeitando o Brasil como merece e deve. O capitão é duro e o Brasil agora tem dono, nós patriotas e comandados por um grande brasileiro”, escreveu um dos usuários. “Falaram que o líder Bolsonaro estava isolado e agora imploram a ida dele!”, “Biden só chamou o Bolsonaro para ajudar porque sabe que ele vence as eleições no Brasil e irá precisar do Brasil lá na frente”, disseram outros.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até o dia 8 de junho, a publicação teve mais de 2,6 mil interações entre comentários, curtidas e compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o autor do tuíte por meio de uma comentário na rede social, uma vez que seu perfil não autoriza o envio de mensagens diretas; o autor, no entanto, não respondeu ao nosso contato.

Como verificamos: O Comprova buscou informações sobre o funcionamento e o objetivo da Cúpula das Américas em sites oficiais como o da OEA, do Departamento de Estado dos Estados Unidos, da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, além de notícias da imprensa brasileira (Folha de S.Paulo, G1, Correio Braziliense, Estadão).

A equipe também buscou a OEA, o Departamento de Estado dos Estados Unidos e a Casa Branca a fim de entender como é realizado o processo de convocação dos países que participam da reunião.

Por fim, a equipe conversou com a coordenadora do curso de Relações Internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e consultora da Comissão de Relações Internacionais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SP), Fernanda Magnotta, que fez uma análise sobre a participação do Brasil no encontro deste ano.

A Cúpula das Américas

O evento é uma reunião periódica entre 35 governantes de países da América e do Caribe, que tem como objetivo a discussão de questões políticas comuns e a construção de uma visão compartilhada para enfrentar os desafios enfrentados pelos países da região.

A cúpula ocorre aproximadamente uma vez a cada três anos e é a única reunião de todos os líderes da América e Caribe.

Além dos governantes, cada encontro é formado pelo Grupo de Revisão da Implementação de Cúpulas (Gric), pelo Grupo de Trabalho Conjunto de Cúpulas – composto por 13 instituições regionais e internacionais que fornecem assistência técnica durante a negociação dos temas da Cúpula -, por organizações da sociedade civil, representantes de comunidades indígenas, líderes cívicos, empresários e jovens empreendedores.

A nação que sedia a reunião atua como presidente do processo das Cúpulas e o anfitrião anterior atua como vice-presidente.

De acordo com o Departamento de Estado dos Estados Unidos, a primeira Cúpula das Américas foi convocada pelo então presidente americano Bill Clinton e ocorreu em dezembro de 1994, em Miami, na Flórida. O propósito da reunião era criar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

Desde então, sucederam-se oito edições: Santiago, Chile (1998); Cidade de Quebec, Canadá (2001); Mar del Plata, Argentina (2005); Port of Spain, Trinidad e Tobago (2009); Cartagena, Colômbia (2012); Cidade do Panamá, Panamá (2015) e Lima, Peru (2018).

Conforme consta no site da OEA, que atua como secretária técnica da Cúpula, alguns temas já discutidos em reuniões anteriores foram educação, o problema das drogas nas Américas, sustentabilidade ambiental, segurança energética, discriminação e criminalidade.

Participação do Brasil na Cúpula de 2022

Em 2022, a Cúpula das Américas está sendo sediada em Los Angeles, nos Estados Unidos, entre os dias 6 e 10 de junho. O tema desta nona edição é “Construindo um futuro sustentável, resiliente e equitativo”.

Ao Comprova, a OEA e o Departamento de Estado dos Estados Unidos afirmaram que é o país anfitrião, neste caso os Estados Unidos, que emite os convites para a Cúpula.

A única informação verdadeira do post aqui verificado é que, de fato, o governo norte-americano convidou Jair Bolsonaro para participar da reunião, como consta na declaração do assessor especial da Casa Branca: “Nesta manhã, em meu encontro com o presidente Bolsonaro, reiterei o nosso desejo de que o Brasil seja um participante ativo da Cúpula, pois reconhecemos a responsabilidade coletiva de avançar para um futuro mais inclusivo e próspero”.

Em 26 de maio, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) informou que Bolsonaro aceitou comparecer na reunião. O presidente brasileiro deve chegar aos Estados Unidos na quinta-feira, dia 9 de junho.

No entanto, na análise da coordenadora do curso de Relações Internacionais da FAAP e consultora da Comissão de Relações Internacionais da OAB/SP, Fernanda Magnotta, o convite feito pelo governo dos Estados Unidos a Bolsonaro não é significativo porque o Brasil é um país membro da OEA, o que assegura participação na Cúpula.

“O Brasil ser convidado não representa muito, porque é uma praxe. Me parece que a expressão ‘o mundo se rende à importância do Brasil’ é uma tentativa de capitalizar politicamente, no contexto das eleições. O governo Bolsonaro tenta há tempos descolar um encontro bilateral com Biden, entre outras razões, para tentar contestar a ideia de que o país é um pária internacional e está isolado. Há uma lógica política doméstica”, afirma Magnotta.

Ainda de acordo com a especialista, o encontro deste ano é bastante simbólico e esperado por dois motivos. O primeiro é que os Estados Unidos não sediavam a Cúpula desde a sua primeira edição e o segundo é que a última reunião foi considerada um fiasco diante da ausência de diversos líderes, como o próprio Donald Trump, então presidente dos Estados Unidos.

Ausências no evento

Segundo informações divulgadas na imprensa (CNN Brasil, CNN, Agência Reuters, Poder360) em 6 de junho, primeiro dia da Cúpula, o país anfitrião não convidou Cuba, Venezuela e Nicarágua por considerar que os países não possuem regimes democráticos.

A ausência dos convites gerou instabilidade diplomática e líderes de algumas nações confirmaram que não estarão presentes no evento. Conforme noticiou o G1, os presidentes do México, Andrés Manuel López Obrador, de Honduras, Xiomara Castro, e da Guatemala, Alejandro Giammattei, anunciaram que recusaram o convite para participar do encontro.

O presidente da Bolívia, Luis Arce, anunciou que não irá a Los Angeles se todos os outros líderes do hemisfério não forem ao evento, e o chefe de Estado do Uruguai, Luis Lacalle Pou, cancelou a viagem após testar positivo para a covid-19.

A Casa Branca foi procurada pelo Comprova, mas não retornou até o fechamento desta checagem.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos sobre pandemia, eleições e políticas públicas que atinjam grau de viralização nas redes sociais. Ao ser compartilhada por perfis que apoiam o presidente, a publicação investigada ajuda a promover a ideia de que a repercussão global do governo federal é de aclamação, sem informações que sustentem essa percepção.

Outras checagens sobre o tema: Anteriormente, o Projeto Comprova mostrou que era enganoso post comparando falas de Biden e Bolsonaro sobre uso de máscaras e que uma enquete popular não oficializava Jair Bolsonaro como Personalidade do Ano na revista Time.

Eleições

Investigado por: 2022-06-07

É falso post que afirma que Veja cortou mão de Lula em foto

  • Falso
Falso
É falso o post que afirma ter havido montagem em foto de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante evento em Porto Alegre (RS), em publicação na revista Veja. A mesma imagem foi encontrada em canais oficiais do ex-presidente. Ao Comprova, a Veja afirmou não ter feito qualquer edição na imagem.

Conteúdo investigado: Tuíte traz uma captura de tela da reportagem da revista Veja intitulada “O que pode impedir uma vitória de Lula no primeiro turno”, que tem como imagem de capa uma foto do ex-presidente em evento. Lula está com o braço direito levantado, segurando o microfone, enquanto caminha em direção ao fotógrafo. Na legenda, a autora do post afirma que a foto não é real porque a Veja teria cortado a mão esquerda do petista por meio de edição.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É falsa a postagem que afirma ter havido montagem em foto de Lula publicada pela revista Veja. A autora da publicação se baseia no fato de a mão esquerda do ex-presidente estar encoberta pela manga do paletó para fazer tal alegação.

No entanto, a mesma foto foi encontrada em canais oficiais de Lula, exatamente com as mesmas características. E a Veja, procurada, negou ter editado a imagem.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado, ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original, e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até o dia 7 de junho, a publicação atingiu mais de 10 mil curtidas e 2 mil compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: A autora do post viral é de Minas Gerais e possui um canal no YouTube com 1,6 milhão de inscritos no qual publica vídeos comentando episódios da política brasileira. No geral, são conteúdos que enaltecem pautas bolsonaristas.

Diante da impossibilidade de contato pelo Twitter, a autora foi procurada por e-mail, disponível no canal do YouTube, e mensagem no Instagram. Mas não houve resposta até a publicação desta verificação. Ao Comprova, ela afirmou que a intenção do tuíte foi “zoar a foto do Lula sem mão”.

Como verificamos: O primeiro passo da verificação foi acessar a matéria da revista Veja, a partir da qual identificamos o fotógrafo responsável pela imagem, além do local e data em que a foto foi feita.

Fazendo uma busca pelas palavras-chave “Lula”, “Porto Alegre” e “junho” no Google, a equipe encontrou uma reportagem do portal Poder360 sobre o evento do qual o ex-presidente participou e que traz um vídeo do discurso do petista.

Além disso, a busca reversa da fotografia pelo Google Lens levou a uma publicação no site oficial do ex-presidente em que há uma imagem semelhante. É possível afirmar que ambas as fotografias foram feitas no mesmo local e data pela correspondência de personagens, roupas, faixas, bandeiras e decoração do palco.

O Comprova também analisou as redes sociais de Lula e encontrou a mesma imagem utilizada pela Veja na capa de um vídeo postado no Instagram do ex-presidente, além de uma gravação, publicada no Twitter, que mostra o momento exato registrado pela fotografia.

Por fim, entramos em contato com a revista para entender se houve alguma edição na fotografia.

 

Contexto da foto

A foto que ilustra a reportagem de Veja foi feita por Ricardo Stuckert, fotógrafo de Lula há quase 20 anos, no dia 1º de junho de 2022, em Porto Alegre (RS), na casa de shows Pepsi on Stage.

Na ocasião, o ex-presidente participava de um ato em defesa da soberania nacional, que contou com a presença de Fernando Haddad, Dilma Rousseff, Roberto Requião, Geraldo Alckmin, Gleisi Hoffmann, além de lideranças nacionais e estaduais do PT, PSB, PCdoB, PSOL, PV, Solidariedade, da Rede e de movimentos sociais.

Reportagem do Poder360 sobre o evento traz um vídeo em que é possível ver, na parte final, a partir de 2h36, o exato momento em que a foto é feita por Ricardo Stuckert, que está posicionado no palco, de frente para Lula e para a plateia.

Outros veículos de imprensa também cobriram o evento, como o Brasil de Fato, Revista Fórum e Valor Econômico.

Foto não foi editada

A mesma foto usada na postagem falsa pode ser vista na capa de um vídeo postado na conta do Instagram oficial de Lula:

A imagem também aparece no Flickr oficial de Lula:

Na versão original da imagem no Flickr, em alta resolução, é possível ver que a mão esquerda do ex-presidente está sendo encoberta pelo paletó, provavelmente em razão do movimento ascendente do outro braço, o que causa inclinação na posição da roupa:

O Comprova obteve o arquivo original da foto, cujos metadados, ao serem analisados clicando com o botão direito do mouse, mostram a data do registro, dia 1º de junho, dia do evento em Porto Alegre, e características da câmera utilizada:

As informações são as mesmas que também aparecem no Flickr oficial de Lula:

No site oficial de Lula, o Comprova encontrou uma foto semelhante à utilizada pela Veja. A correspondência de personagens, roupas, faixas, bandeiras e decoração do palco, permite confirmar que a cena foi registrada no mesmo momento da foto publicada pela revista. Na imagem semelhante, a mão esquerda do ex-presidente também aparece encoberta pela manga do paletó:

| Foto semelhante à usada pela Veja também foi registrada por Ricardo Stuckert e mostra mão de Lula escondida pelo paletó.

Já um vídeo publicado na conta oficial de Lula no Twitter mostra o mesmo momento registrado pela foto de Stuckert. Novamente, desta vez com a imagem em movimento, vemos a mão esquerda do ex-presidente encoberta pela manga do paletó.

Ao Comprova, o editor da Veja, José Benedito da Silva, que publicou a reportagem, garantiu que não houve nenhum tipo de edição na imagem e que a “foto foi divulgada pela assessoria do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seus canais oficiais”.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. O post aqui verificado cita um ex-presidente e pré-candidato à reeleição. Conteúdos falsos ou enganosos que envolvem atores políticos trazem prejuízos ao processo democrático e atrapalham a decisão do eleitor, que deve ser tomada com base em informações verdadeiras.

Outras checagens sobre o tema: Em verificações anteriores envolvendo o ex-presidente Lula, o Comprova mostrou que post usa áudio com imitação de Lula para confundir sobre acusações de corrupção, que não há evidências de que Lula pediu para Bolívia reduzir fornecimento de gás ao Brasil, que Lula não afirmou que implantará restrições religiosas no Brasil caso reeleito, e que é falso que Lula tenha roubado 350 mil toneladas de ouro de Serra Pelada e dado dinheiro para Venezuela.

Eleições

Investigado por: 2022-06-06

Áudio sobre fraudes em pesquisas é de comediante, não de ex-diretor do Datafolha

  • Falso
Falso
Vídeo mente ao atribuir a Mauro Paulino, ex-diretor do Instituto Datafolha, declarações sobre supostas fraudes em pesquisas eleitorais e manipulação de votos nas urnas eletrônicas. A voz que aparece nos vídeos é de um humorista.

Conteúdo investigado: Áudio de um homem apontado como sendo o diretor do Instituto Datafolha, Mauro Paulino, em que ele fala de uma conspiração para fraudar pesquisas eleitorais e manipular votos nas urnas eletrônicas em favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No YouTube, há apenas o áudio sobreposto com os seguintes dizeres: “Áudio vazado do diretor do Datafolha”, acompanhado de uma manchete do G1, de maio de 2022, com o petista liderando pesquisa eleitoral realizada pelo instituto. No Twitter, o mesmo áudio foi divulgado, mas com a imagem de um homem gravado ao nível da cintura enquanto bebe um café, como se tivesse sido filmado com uma câmera escondida.

Onde foi publicado: Twitter, Kwai e YouTube.

Conclusão do Comprova: É falso um áudio que circula nas redes sociais atribuindo ao ex-diretor do instituto Datafolha Mauro Paulino declarações sobre supostas fraudes em pesquisas eleitorais e manipulação de votos nas urnas eletrônicas. O áudio em questão não foi gravado por Paulino.

Na verdade, o material foi produzido por Warley Alberto Clauhs, que se apresenta como um humorista e que interpreta um personagem chamado Dr. Avacalho Ellys. O áudio foi recortado e editado, sendo então atribuído a Mauro Paulino. No vídeo original de Warley Alberto, o conteúdo se apresenta como uma esquete de humor. Contudo, nos comentários nas redes sociais, muitas pessoas demonstram acreditar que o homem seria o diretor do Datafolha.

Warley já disputou duas eleições, nos anos de 2016 e 2020, e saiu derrotado em ambas. Ele tentou se eleger vereador nos municípios de Açailândia (MA) e Rondon do Pará (PA).

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade. Embora o conteúdo original seja de um humorista, ele foi editado de modo a atribuir informações falsas a outra pessoa, no caso o ex-diretor de um instituto de pesquisa.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. No YouTube, o conteúdo alcançou mais de 1,7 mil visualizações e 122 curtidas. Contudo, durante a checagem, foi verificado que a publicação foi deletada do canal em 3 de junho, antes mesmo de o Comprova tentar contato com o autor. No Twitter, o vídeo foi visualizado mais de 450 vezes.

O que diz o autor da publicação: No Twitter, a pessoa que compartilhou o conteúdo diz ser enfermeira e se descreve como “patriota e 100% Bolsonaro”. O Comprova não conseguiu contato com a autora.

Como verificamos: Por conta da voz que consta no vídeo investigado e do teor da frase, nossos verificadores constataram se tratar de um conteúdo que já viralizou em outras ocasiões, inclusive já apurado pelo Comprova. Naquela ocasião, o áudio era atribuído a um suposto advogado do PT.

Assim, iniciamos a checagem buscando verificações sobre o tema e localizamos registros do Boatos.org, do G1 e da Lupa.

Também entramos em contato com o Datafolha, por telefone e e-mail, para saber se Mauro Paulino ainda é um dos diretores, além de buscar um posicionamento da empresa. O Instituto confirmou que ele deixou o cargo de direção e negou que ele seja o autor do conteúdo. Mauro Paulino também foi procurado, via Twitter, para se manifestar sobre o assunto.

O Comprova ainda checou junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informações relativas às disputas eleitorais das quais Warley Alberto já participou.

Vídeo é de personagem humorístico

O homem que aparece no conteúdo verificado é Warley Alberto Clauhs, que dá vida ao personagem de humor Dr. Avacalho Elhys. O ator mantém o canal “Nana Arroba e Dr. Avacalho” no YouTube, que conta com 755 inscritos.

Na descrição, ele se apresenta como “ator, poeta, professor, locutor e imitador”. O vídeo alvo desta checagem está disponível no canal do comediante e circulou em abril de 2022 como se fosse de um advogado do PT. O conteúdo, apresentado originalmente como um quadro de humor, foi verificado pelo Comprova. O mesmo personagem aparece em vários outros vídeos do comediante.

Em 2016, Warley Alberto tentou se eleger vereador na cidade de Açailândia (MA), disputando a eleição pelo Progressistas. Quatro anos depois, nas eleições de 2020, foi candidato ao mesmo cargo, mas em Rondon do Pará (PA), desta vez, pelo Republicanos. Nos dois pleitos não conseguiu se eleger, ficando na condição de suplente.

De acordo com informações declaradas para o TSE, Warley é natural de Teófilo Otoni (MG) e tem 42 anos.

Mauro Paulino não é mais diretor do Datafolha

O Comprova entrou em contato com o Datafolha e foi informado que Mauro Paulino não é mais diretor do instituto. Ele deixou o cargo após 35 anos, substituído pela executiva Luciana Chong.

Em abril deste ano, a GloboNews anunciou a contratação de Paulino, que passou a integrar a equipe de comentaristas da emissora. Ele analisa os resultados das pesquisas eleitorais que tratam, sobretudo, da disputa à presidência e também da corrida eleitoral nos governos, no Senado e na Câmara Federal.

Tentamos contato com Paulino, mas não obtivemos resposta até a publicação deste conteúdo.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos sobre pandemia, eleições e políticas públicas que atinjam grau de viralização nas redes sociais. Com a proximidade do período eleitoral, cresce o número de conteúdos divulgados nas redes sociais tentando desacreditar as pesquisas de opinião e o voto eletrônico no país. Informações enganosas ou falsas que colocam as urnas eletrônicas sob suspeita prejudicam a confiança sobre o sistema eleitoral brasileiro e podem influenciar pessoas a desistirem de votar. O conteúdo do vídeo aqui verificado também cita o pré-candidato à presidência Lula. Informações falsas que envolvem atores políticos trazem prejuízos ao processo democrático e atrapalham a decisão do eleitor, que deve ser tomada com base em informações verdadeiras.

Outras checagens sobre o tema: Anteriormente, o Comprova também mostrou que “advogado do PT” em vídeo do Kwai é personagem de humor, que vídeo que cita falhas já corrigidas nas urnas volta a circular fora de contexto e que o sistema de votação eletrônica pode ser auditado.