O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Eleições

Investigado por: 2022-05-09

Jovem que faz sátira sobre militantes de esquerda não é filha da deputada Maria do Rosário

  • Falso
Falso
Menina que se apresenta como Fernanda Minazzi e faz convite para “maconhaço” é um personagem da humorista Rafaella Gappo, não a filha da deputada Maria do Rosário (PT-RS). Tanto a parlamentar quanto a atriz já desmentiram esse boato.

Conteúdo investigado: Vídeo antigo que voltou a circular nas redes sociais mostra uma “convocação” para um protesto denominado “maconhaço” em apoio ao ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na publicação, o autor diz que a mulher é filha da deputada federal Maria do Rosário (PT-RS).

Onde foi publicado: Facebook

Conclusão do Comprova: É falso um vídeo que circula no Facebook mostrando um quadro de humor como sendo declarações da filha da deputada Maria do Rosário. A pessoa no vídeo chama os seguidores para um “maconhaço” em favor do “nosso pai” Lula.

A jovem que protagoniza as imagens, no entanto, não é filha da deputada Maria do Rosário, mas uma personagem conhecida como Fernanda Minazzi ou Fê Minazzi, interpretada pela atriz Rafaella Gappo, que satiriza movimentos de esquerda. O parentesco foi negado pela protagonista das gravações e pela parlamentar.

O nome do personagem é uma ironia ao termo ‘feminazi’, usado, de forma pejorativa, para se referir a feministas radicais.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até o dia 9 de maio, uma das postagens tinha 448 interações e 273 compartilhamentos. Ao longo da verificação, outro post deixou de estar disponível publicamente ou foi excluído. O próprio Facebook colocou o aviso de informação falsa no vídeo.

O que diz o autor da publicação: Procurados pelo Comprova, por meio do messenger do Facebook, os dois autores das postagens não responderam aos questionamentos feitos.

Como verificamos: Por se tratar de um conteúdo antigo e que já viralizou em outras situações, o Comprova iniciou a apuração buscando checagens a respeito desses materiais e que já foram desmentidas por outras agências (Lupa, AFP Checamos e Aos Fatos).

Também entramos em contato com os dois perfis no Facebook que compartilharam o vídeo, mas nenhum deles respondeu ao Comprova.

Buscamos um posicionamento da deputada federal Maria do Rosário em suas redes sociais.

“Fe Minazi” satiriza militantes de esquerda e é personagem de atriz brasileira

Batizada como Fernanda Minazzi ou simplesmente “Fê Minazzi’ – um trocadilho com o termo “feminazi”, a moça que aparece nos vídeos divulgados nas redes sociais é, na verdade, uma personagem vivida pela atriz Rafaella Gappo. Nas esquetes publicadas no Youtube e Facebook e em que dá vida a “Fê”, a artista satiriza militantes de esquerda.

Ao contrário do que foi publicado nas redes sociais, ‘Fê’ não tem qualquer grau de parentesco com a deputada federal Maria do Rosário. Esta não é a primeira vez que ela é apontada como filha da parlamentar. A própria artista já desmentiu essa alegação.

O perfil utilizado por “Fê” no Facebook está sinalizado como fictício, o que demonstra que os conteúdos ali publicados são sátiras ou vídeos de humor. Na descrição, a personagem relata cursar Ciências Sociais na ‘UERJS’ – possível alusão à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) – e alega ser “uma pessoa homofóbica-fóbica, feminicida-cida e racista-cista”.

A publicação que voltou a viralizar nos últimos dias foi publicada originalmente em novembro de 2016. No conteúdo de humor, a personagem faz um convite a um “maconhaço”, que seria realizado “em favor do pai Lula e em favor da democracia”.

Em um segundo momento do conteúdo, a personagem ainda diz apoiar a jornalista Fátima Bernardes que, à época, era hostilizada nas redes sociais por causa de um debate promovido em seu programa. A polêmica serviu como pano de fundo para os conteúdos de “Fê Minazzi”.

Deputada volta a se manifestar e aponta “gabinete do ódio”

Tão logo os vídeos foram resgatados nas redes sociais, a deputada federal Maria do Rosário voltou a se manifestar a respeito do assunto e fez uma publicação em seu perfil no Instagram. A parlamentar demonstrou contrariedade com o conteúdo que, apesar de humorístico, na visão dela, se apresenta como um material “perverso e covarde”.

Em um vídeo de pouco mais de dois minutos, publicado em seu perfil pessoal, a deputada reiterou que a moça que aparece no conteúdo viral não é sua filha. Ainda no material, Maria do Rosário lamentou o fato de as mulheres que estão na política, frequentemente, receberem ataques contra seus familiares, como forma de lhes atingir pessoalmente.

“Ao longo de todos esses anos procurei sempre manter a política, a minha representação pública, longe da diferença pessoal. Mas, na verdade, principalmente nós mulheres somos atacadas naquilo que é mais importante para gente: a família, o cuidado, a atenção. Para me atingir, tentam atingir minha filha. Vejam bem, essa é uma fake news. Essa moça não é minha filha. O que ela diz eu não sei, eu nem conheço essa pessoa. É uma mentira”, declarou a petista.

“Admiro e amo [minha filha] acima de tudo. Gostaria de ter conseguido protegê-la disso aqui [mostrando o vídeo compartilhado nas redes sociais]. Porque toda fake news que atinge o filho de alguém só porque alguém é da política, ataca profundamente a família. E é engraçado porque essas pessoas se dizem defensoras da família. Jamais ataquei a família de ninguém. Então, poupem o Brasil desses ataques sórdidos. Vamos fazer política em alto nível. Os comitês e gabinetes do ódio não podem vencer”, concluiu a deputada.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. O vídeo alvo desta verificação usa um conteúdo humorístico, que satiriza militantes de esquerda, para alegar que a personagem é filha da deputada federal Maria do Rosário. Publicações enganosas que mencionam políticos e presidenciáveis – como é o caso do ex-presidente Lula, citado no conteúdo analisado – podem induzir interpretações equivocadas da realidade e influenciar eleitores no momento da votação, o que é prejudicial ao processo democrático.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo vídeo foi verificado por outras agências de checagem como a Aos Fatos, Lupa, O Estado de Minas e Estadão. Todos chegaram à conclusão de que os vídeos com conteúdos humorísticos foram retirados de contexto e usados para atacar a deputada Maria do Rosário e, indiretamente, o ex-presidente e pré-candidato à eleição Luiz Inácio Lula da Silva.

Eleições

Investigado por: 2022-05-06

Publicação tira de contexto declarações de Djavan para atacar a Lei Rouanet

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa uma postagem que sugere apoio do cantor e compositor Djavan ao governo de Jair Bolsonaro (PL) e reprovação, por parte do artista, ao mecanismo da Lei Rouanet. A publicação manipula e tira de contexto declarações dadas por Djavan em duas entrevistas.

Conteúdo investigado: Um post no Facebook fala que Djavan teria dito que nunca usou recursos da Lei Rouanet porque é “um dinheiro que pode ser melhor aplicado”. Também afirma que o artista teria dito estar “esperançoso com o governo Bolsonaro”.

Onde foi publicado: Facebook

Conclusão do Comprova: O cantor e compositor Djavan teve declarações distorcidas por uma postagem enganosa que voltou a viralizar recentemente na internet. A publicação usa trechos de duas entrevistas concedidas pelo artista no fim de 2018.

Em uma das declarações, ele se refere à Lei Rouanet. Djavan afirma que nunca captou recursos por meio da Lei e diz acreditar que ele, particularmente, não deva usar um dinheiro que possa ser melhor aproveitado.

A postagem reproduz a declaração fielmente, porém omite a sequência em que Djavan afirma ser a favor da existência da Lei Rouanet, para benefício de outros artistas. O post ainda sugere apoio do artista a Bolsonaro ao reproduzir, na mesma imagem montada com a foto de Djavan, outra suposta declaração: “Estou muito esperançoso com o governo Bolsonaro. O Brasil vai dar certo”.

A frase foi manipulada com a inserção das palavras “governo Bolsonaro”, que não fizeram parte da fala do cantor. Por conta das postagens, o artista veio a público duas vezes para desmenti-las.

Para o Comprova, é enganoso o conteúdo que retira declarações de contexto com o objetivo de sugerir interpretação diversa da realidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. A postagem analisada teve ao menos 3,8 mil reações

O que diz o autor da publicação: O Comprova encaminhou mensagem, via Facebook, à pessoa responsável pela postagem, mas não obteve resposta até o fechamento desta verificação.

Como verificamos: Inicialmente, o Comprova fez buscas no Google com os termos das falas de Djavan. A pesquisa levou à entrevista publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, em 21 de novembro de 2018. Os resultados também trouxeram matérias em sites (GaúchaZH, Revista Forum) que repercutiram o trecho de uma outra entrevista que também foi utilizado no material enganoso.

Outras pesquisas online foram feitas na tentativa de identificar posicionamentos do artista sobre política. A equipe localizou duas postagens de Djavan desmentindo o apoio a Bolsonaro e uma entrevista à TV portuguesa em que ele faz críticas ao atual governo.

O Comprova também buscou contato com a assessoria do artista e com a pessoa que fez a postagem enganosa na internet. Não houve retorno nas duas ocasiões.

 

Djavan sobre a Lei Rouanet

O post alega que Djavan teria dito que “nunca usou e nunca vai usar” dinheiro captado por meio da Lei Rouanet. O artista também teria dito que já rejeitou convites para fazer shows públicos bancados por prefeituras. “Quem vai pagar? Se é o povo eu não quero. Rejeitei muitos convites. Eu nunca usei porque não preciso e não acho que eu deva usar um dinheiro que pode ser melhor aplicado.”

A frase realmente foi dita pelo cantor durante uma entrevista para o jornal Folha de S. Paulo, em 2018. No entanto, o post não traz a íntegra da resposta. Djavan defendeu a importância da Lei Rouanet como política pública para o setor cultural e se absteve de criticar outros artistas que façam uso dela.

“Acho que tem muita gente que precisa ser ajudada pela Lei Rouanet”, ressaltou o cantor. “O Brasil é enorme, precisa de cultura em todos os quadrantes. O povo precisa usufruir disso. Faz sentido. Não reclamo de quem usa. Eu é que peguei para mim a coisa de não recorrer à Lei Rouanet.”

As mensagens de resposta ao post mostram que ele confunde os usuários sobre o sentido real do posicionamento do cantor. Eles acreditam que Djavan estaria criticando a Lei Rouanet como um todo, e não apenas sua utilização em projetos próprios. “Vagabundos fingem que trabalham pois quase não têm público e vivem às custas de dinheiro público”, disse um usuário. Outro escreveu que “Djavan é um produtor de cultura de verdade, não iria manchar a sua carreira sendo um parasita dependente de dinheiro público”.

Suposto apoio a Bolsonaro não procede

Djavan lançou seu mais recente disco, “Vesúvio”, em novembro de 2018, cerca de um mês após a eleição de Jair Bolsonaro para a presidência da República. Já que uma música do álbum, “Solitude”, tratava de temas sociais, e como as eleições ainda eram recentes, Djavan foi instado a falar sobre política.

Uma das entrevistas teve trecho postado em dois canais do YouTube, em 31 de dezembro de 2018 e 1 de janeiro de 2019. Nessas mesmas datas, o trecho foi repercutido em portais na internet (LeiaJa, Gaúcha ZH, Revista Forum), com afirmações de que Djavan se referia a Jair Bolsonaro ao declarar:

“Eu tenho uma esperança que o Brasil vai dar certo, em algum momento. Tudo o que está começando a acontecer agora aponta para um futuro melhor. A gente não pode garantir, porque o governo ainda não está atuando, está apenas se formando, mas eu estou esperançoso”.

A postagem aqui verificada manipula a declaração e inclui “governo Bolsonaro” em uma das frases ditas por Djavan, que não cita o nome do presidente no trecho da entrevista. Enganosamente, a postagem repercute a frase “Estou muito esperançoso com o governo Bolsonaro. O Brasil vai dar certo”.

Ainda no dia 1º de janeiro de 2019, Djavan publicou uma primeira nota desmentindo a afirmação em sua página no Facebook:

O segundo veio em junho de 2021. Nele, Djavan afirma: “Eu não apoio Bolsonaro” e “Eu NÃO votei no Bolsonaro e NÃO apoio o seu governo”.

Em novembro de 2019, após praticamente um ano do governo Bolsonaro, Djavan deu uma entrevista à emissora portuguesa Canal Antena 1. Na ocasião, criticou o governo: “Eu acho que o futuro do Brasil, se depender deste governo, pelo que se tem apresentado até agora, não é bom”. (Trecho em 2’30).

Na entrevista, Djavan também fez críticas à atuação do governo em relação à preservação da Amazônia. (Trecho a partir de 3’18).

Bolsonaro e a cultura

O conteúdo checado foi publicado em um grupo do Facebook de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, que fez ataques à classe artística desde a campanha. Em 2020, cerca de 400 projetos perderam R$ 500 milhões já captados, que haviam sido aprovados pela área técnica do governo. Faltava apenas a assinatura do secretário Nacional de Fomento à Cultura, André Porciúncula.

Em 2021, o Executivo publicou um decreto fazendo alterações na aplicação da Lei Rouanet. Entre elas, aumentou o poder de decisão do governo na Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC), que decide os projetos aptos a captar recursos, e reduziu o teto dos incentivos fiscais por projeto e os valores pagos a artistas.

Nesta quinta-feira (5), Bolsonaro vetou integralmente a Lei Aldir Blanc 2, de apoio à Cultura. No mês anterior, vetou o projeto da Lei Paulo Gustavo, que repassaria R$ 3,8 bilhões à Cultura.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos sobre pandemia, eleições e políticas públicas que atinjam grau de viralização nas redes sociais. A Lei Rouanet é o principal mecanismo de fomento à cultura no país e é importante que os cidadãos tenham informações confiáveis sobre ele.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente, o Comprova mostrou ser falso que o Zeca Pagodinho ganhou milhões de reais com a Lei Rouanet. Também desmentiu que um museu estaria usando dinheiro público para exibir pornografia infantil.

O Boatos.org também classificou como enganoso o post que atribui a Djavan elogios ao presidente Jair Bolsonaro.

Eleições

Investigado por: 2022-05-05

Protesto de indígenas na Bahia era por melhoria na educação e não por verba para ato contra Bolsonaro

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a publicação que alega que um grupo de indígenas cobrou dinheiro do Partido dos Trabalhadores (PT) pela realização de uma passeata contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), em Porto Seguro, na Bahia. O grupo, na realidade, reivindicava ações em favor da educação escolar indígena e o ato fez parte do 4º Acampamento dos Povos Indígenas da Bahia, que ocorreu em Salvador entre os dias 25 e 29 de abril.

Conteúdo investigado: Vídeo de cerca de dois minutos que circula nas redes sociais mostra protesto de indígenas em frente ao Centro Administrativo da Bahia (CAB), em Salvador. A legenda insinua que o grupo foi ao local cobrar dinheiro que teria sido prometido pelo governo baiano para que eles participassem de manifestação contra o presidente Bolsonaro em Porto Seguro, quatro dias antes.

Onde foi publicado: Facebook e Twitter.

Conclusão do Comprova: Posts no Facebook e Twitter enganam sobre o objetivo de uma manifestação indígena realizada em 26 de abril, em frente ao CAB, complexo público no qual está localizada parte considerável das secretarias e órgãos do Governo da Bahia. As postagens trazem um vídeo do ato e afirmam que os indígenas estariam cobrando dinheiro prometido pelo governo estadual do PT para a realização de uma passeata contra o presidente Bolsonaro.

Na verdade, o grupo reivindicava ações em favor da educação escolar indígena. O protesto aconteceu em Salvador e fazia parte do 4º Acampamento dos Povos Indígenas da Bahia, realizado na capital entre os dias 25 e 29 de abril.

O encontro é organizado pelo Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba) e, este ano, promoveu o debate a respeito de questões territoriais, violência contra indígenas e acesso à saúde e à educação.

Quatro dias antes desse ato, outro protesto ocorreu em Porto Seguro, quando o presidente Bolsonaro estava na cidade para as comemorações de 22 de abril. Esta manifestação foi motivada pelo que os indígenas dizem ser o sucateamento da Fundação Nacional do Índio (Funai), pela invasão e pela falta de demarcação de terras indígenas.

Ao Comprova, a assessoria do PT da Bahia afirmou que o partido não participou nem organizou o protesto dos povos indígenas em Porto Seguro.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. No Twitter, até o dia 5 de maio, o vídeo teve 5,8 mil interações. Já no Facebook, que classificou o conteúdo como informação falsa, a publicação gerou 116 interações.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o autor do post pelo Twitter e aguarda o retorno. O perfil que publicou o conteúdo no Facebook foi procurado por e-mail e WhatsApp, mas não houve retorno até o fechamento desta verificação.

Como verificamos: O Comprova buscou, em sites e nas redes sociais, outras publicações que traziam vídeos da manifestação feitos em ângulos diferentes deste aqui verificado. A pesquisa levou a reportagens de veículos jornalísticos, como o G1, ao site do governo baiano e da Assembleia Legislativa da Bahia, com informações que coincidiram e esclareceram o contexto do ato.

O mesmo foi feito em relação ao protesto de grupos indígenas contra Bolsonaro em Porto Seguro. A fim de checar a motivação e as circunstâncias do ato, foram consultadas reportagens do Mídia Ninja, Hora do Povo, G1 e Giro Ibirataia, além de vídeos compartilhados no Instagram e no Twitter (1, 2, 3, 4, 5, 6).

O local do protesto em Salvador foi confirmado através de uma comparação entre trechos do vídeo aqui verificado, uma publicação no Facebook feita pelo Mupoiba e uma imagem do Google Maps do endereço do CAB. As imagens mostram os mesmos elementos: uma placa vermelha próxima a uma placa de pare, três bandeiras e uma estrutura cinza (este último não aparece no vídeo do Mupoiba).

| Captura de tela do minuto 1:28 do vídeo verificado pelo Comprova.

| Captura de tela da imagem do endereço do CAB no Google Maps. Disponível aqui 

| Captura de tela do minuto 0:07 do vídeo publicado pelo Mupoiba no Facebook.

Já para comprovar que Bolsonaro esteve em Porto Seguro na referida data, foram consultadas matérias do site do governo federal e da imprensa, assim como a agenda oficial do presidente.

A assessoria de imprensa do PT da Bahia foi procurada, assim como um dos manifestantes indígenas que aparece no protesto em Porto Seguro. Este último não respondeu até o fechamento desta publicação.

 

Indígenas protestavam para cobrar demandas educacionais

Ao contrário do que afirma o post verificado, indígenas não cobraram pagamentos do PT por passeata contra Bolsonaro em manifestação que ocorreu no dia 26 de abril em frente ao Centro Administrativo da Bahia (CAB), na cidade de Salvador. A informação foi desmentida pelo governo baiano.

O ato, na verdade, fez parte do 4º Acampamento dos Povos Indígenas da Bahia, realizado na capital entre os dias 25 e 29 de abril deste ano. A iniciativa é promovida pelo Mupoiba e tem como objetivo criar um espaço de diálogo entre as populações originárias e os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do Estado.

Em uma publicação no Facebook, o Mupoiba criticou a reação violenta da polícia e agentes de segurança com os cerca de 300 indígenas que participaram do ato e assegurou que o objetivo do protesto era cobrar demandas relacionadas à educação, como a construção de escolas e transportes escolares.

Protesto contra Bolsonaro em Porto Seguro (BA) ocorreu quatro dias antes

No dia 22 de abril deste ano, Bolsonaro esteve em Porto Seguro para participar de eventos em homenagem aos 522 anos da chegada dos portugueses ao Brasil. A visita consta na agenda oficial do presidente, que registrou a viagem no Twitter.

Como noticiado pelo G1, no mesmo dia, pela manhã, indígenas de 15 aldeias pataxós fizeram um protesto pelas ruas de Porto Seguro motivado pelo sucateamento da Fundação Nacional do Índio (Funai), pela invasão de terras indígenas e a não demarcação de terras.

Em vídeos postados na internet sobre a manifestação, eles criticam o atual governo e empunham cartazes “Fora Bolsonaro”.

Durante o ato, que teve participação de cerca de 200 indígenas, os manifestantes pintaram com tinta vermelha uma estátua de Pedro Álvares Cabral, localizada no centro histórico da cidade.

A manifestação também foi noticiada pelo site Hora do Povo, que mostrou um vídeo do momento em que os indígenas entraram na área destinada ao discurso de Bolsonaro.

Já o portal local Radar 64 publicou matéria anterior à realização do evento, informando que, além dos povos originários, sindicatos, partidos políticos e entidades populares iriam se manifestar contra os escândalos de corrupção no MEC, as “rachadinhas” e o aumento de preços dos alimentos e combustíveis. Os indígenas teriam pauta de reivindicações próprias.

Nenhum dos diversos vídeos do protesto dos indígenas publicados nas redes sociais (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7) mostra bandeiras de partidos políticos ou centrais sindicais.

Procurada pelo Comprova, a assessoria do PT da Bahia afirmou que o partido não participou nem organizou o protesto dos povos indígenas em Porto Seguro.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. O vídeo alvo desta verificação cita o presidente Jair Bolsonaro, provável candidato à reeleição, e o PT, partido de outro pré-candidato ao Planalto. Publicações enganosas que mencionam presidenciáveis podem induzir interpretações equivocadas da realidade e influenciar eleitores no momento da votação, o que é prejudicial ao processo democrático.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo vídeo foi verificado por outras agências de checagem como a Lupa e a Aos Fatos, além do site Boatos.org. Todos chegaram à conclusão de que não se tratava de uma manifestação para cobrar suposto dinheiro prometido na passeata contra Bolsonaro, em Porto Seguro.

Em verificações anteriores, o Comprova mostrou que pessoas gritavam a favor de Lula, e não contra ele em vídeo na Sapucaí; que vídeos de manifestação contra Lula em Passo Fundo são de 2018; que é enganosa postagem afirmando que lançamento da campanha de Bolsonaro reuniu multidão em Brasília e que vídeo de abordagem da PM a torcedores do Sport não tem relação com Lula.

Eleições

Investigado por: 2022-05-04

Vídeos antigos são usados para enganar sobre adesão a atos pró-Bolsonaro em 1º de Maio

  • Enganoso
Enganoso
São enganosas publicações nas redes sociais que mostram vídeos de manifestações de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) em São Paulo, Rio de Janeiro e em Brasília, dando a entender que os atos ocorreram em 1° de maio deste ano com a intenção de questionar a credibilidade de pesquisas eleitorais, que mostram uma menor popularidade de Bolsonaro. Na verdade, as gravações foram feitas nos atos de 7 de setembro de 2021.

Conteúdo investigado: Vídeos mostram milhares de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) em atos na Avenida Paulista, em São Paulo, em Copacabana, no Rio de Janeiro, e na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. As publicações dão a entender que as gravações foram feitas em 1° de maio deste ano. “1° de maio dia do trabalho, o povo brasileiro saiu às ruas para mostrar de qual lado ele está!”, diz a legenda de uma delas.

Onde foi publicado: Facebook, Instagram, Kwai e Twitter.

Conclusão do Comprova: São enganosas postagens que mostram vídeos de manifestações de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e dão a entender que os atos ocorreram em 1º de maio de 2022, no Dia do Trabalhador. Um dos vídeos mostra uma manifestação com milhares de pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo, outra em Copacabana, no Rio de Janeiro, e outra na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Os vídeos foram originalmente gravados nos atos convocados pelo presidente Bolsonaro em 7 de setembro de 2021, no Dia da Independência do Brasil.

No dia 1° de maio de 2022 também houve manifestações pró-Bolsonaro, porém, com menos pessoas do que os atos do feriado da Independência, como repercutido pela imprensa.

Enganoso para o Comprova é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Em dois posts diferentes no Kwai, o vídeo com imagens do Rio de Janeiro teve 78,9 mil e 130,9 mil visualizações até 4 de maio. No Facebook, uma das postagens com este vídeo tinha 5,5 mil curtidas, 936 comentários e 44 mil visualizações. Outra tinha 10 mil compartilhamentos. Até a mesma data, no Facebook, uma publicação referente ao protesto realizado na Avenida Paulista tinha 1 mil curtidas, 242 comentários e 1,8 mil compartilhamentos e a outra chegou a 7,7 mil curtidas e 3,3 mil compartilhamentos. Juntos, os posts somam mais de 226 mil interações.

O que diz o autor da publicação: O Comprova fez contato, mas não obteve retorno dos autores dos posts até a publicação desta reportagem.

Como verificamos: Para começar, o Comprova procurou pelos vídeos nas redes sociais, o que nos levou até a publicação do assessor especial para Assuntos Internacionais do Presidente da República, Filipe Martins, no Twitter em 7 de setembro, com o vídeo de São Paulo. Para encontrar o vídeo de Brasília, procuramos no Google publicações sobre o caminhão com a bandeira do Brasil, que é visto no centro do vídeo. Por meio da busca, encontramos o perfil do dono do caminhão que tem o mesmo vídeo salvo nos destaques do Instagram. Nas buscas, usamos palavras-chave como “São Paulo”, “manifestação”, “Bolsonaro”, “7 de setembro”, “avenida paulista”, “Brasília”, “Esplanada dos Ministérios”, “caminhão”, “bandeira do Brasil”. O vídeo do Rio de Janeiro, compartilhado no Facebook, tem a logo do perfil do Kwai que postou o vídeo com a data original de 7 de setembro.

 

Vídeos não são do Dia do Trabalhador

As gravações atribuídas ao Dia do Trabalhador podem ser encontradas circulando na internet desde 7 de setembro de 2021, quando o presidente Jair Bolsonaro convocou atos em apoio ao governo pelo país. Só em São Paulo, a Secretaria de Segurança Pública do estado estima que mais de 125 mil pessoas participaram daquele ato. Números extraoficiais da Polícia Militar do Distrito Federal apontaram que havia pelo menos 400 mil pessoas na manifestação de Brasília. O Rio de Janeiro não apresentou estimativa de público.

São Paulo

O vídeo que mostra a Avenida Paulista foi compartilhado no Twitter pelo assessor especial para Assuntos Internacionais do Presidente da República, Filipe Martins, em 7 de setembro do ano passado.

Em um vídeo publicado pelo UOL, também é possível ver que os manifestantes estenderam uma longa faixa verde e amarela, como a que aparece no vídeo enganoso, que também pode ser observada em outras gravações feitas no Dia da Independência. 

| Frame de video publicado pelo UOL mostrando a faixa verde e amarela

| Vídeo enganoso

Brasília

Já no vídeo que mostra a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, uma das pessoas que aparece na filmagem narra que é “7 de setembro, 10h30 da manhã”.

Além disso, no vídeo, é possível ver um caminhão com a bandeira do Brasil que aparece em outras publicações da manifestação de 7 de setembro.

O vídeo em questão pode ser visto no perfil do dono do caminhão que compartilhou a gravação no dia 7 de setembro e deixou salvo por meio da ferramenta ”Destaques’”, no Instagram.

| Captura de tela de publicação no Instagram  

Rio de Janeiro

O vídeo que mostra o Rio de Janeiro foi publicado na rede social Kwai no dia 7 de setembro de 2021, quando houve uma manifestação de apoio ao presidente Bolsonaro na praia de Copacabana. No canto inferior direito do vídeo, compartilhado no Facebook, é possível ver a identificação de um usuário do Kwai, que postou o vídeo com a data da gravação.

O próprio Facebook, no grupo onde o vídeo foi postado como tendo sido feito no dia 1º de maio de 2022, aponta o conteúdo do post como “informação parcialmente falsa”. Ainda assim, a publicação, até o dia 3 de maio, já havia ultrapassado a marca de 5,4 mil curtidas.

Manifestações 1° de maio x 7 de setembro

Tanto no feriado do Dia do Trabalhador de 2022 quanto no da Independência de 2021, foram registradas manifestações favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo Brasil.

No entanto, como registrado pela mídia, os atos de 1° de maio tiveram menos aderência do que os de 7 de setembro.

Nos atos do Dia da Independência, o presidente Bolsonaro discursou em Brasília e em São Paulo. Durante a fala, o chefe do Executivo atacou ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Neste dia 1° de maio, Bolsonaro também participou do ato em Brasília, mas não discursou para os apoiadores, somente fez um post nas redes sociais. “Vim cumprimentar o pessoal que está aqui nessa manifestação pacífica em defesa da Constituição, da democracia e da liberdade”, disse.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Sobre o conteúdo aqui apurado, o Comprova investigou postagens que estão usando imagens de manifestações antigas para desinformar sobre protestos a favor do presidente Jair Bolsonaro no dia 1º de maio deste ano e questionar a credibilidade de pesquisas eleitorais, o que pode comprometer o processo democrático.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo também foi verificado por outras iniciativas de checagem como o Aos Fatos e a Agência Lupa. Todos chegaram à conclusão de que os vídeos não têm relação com as manifestações do Dia do Trabalhador.

Em verificações anteriores, o Comprova mostrou que vídeo de Neymar com apoio a Aécio em 2014 foi editado para parecer atual e em favor de Bolsonaro; que vídeos de manifestação contra Lula em Passo Fundo são de 2018; que é enganosa postagem afirmando que lançamento da campanha de Bolsonaro reunião multidão em Brasília e que vídeo de Bolsonaro é de inauguração de trecho do VLT na Grande Natal e não de ferrovia que liga o Pará ao Maranhão.

Eleições

Investigado por: 2022-05-03

Antes de ser preso, João de Deus compareceu à posse de Rosa Weber no TSE

  • Comprovado
Comprovado
É verdadeiro que o médium João de Deus tenha comparecido à solenidade de posse da ministra Rosa Weber na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O evento ocorreu meses antes de ele ser preso por crimes sexuais.

Conteúdo investigado: Tuíte mostra uma foto de João de Deus assistindo à posse da ministra Rosa Weber na presidência do Tribunal Superior Eleitoral.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É verdadeiro um tuíte que mostra o médium João de Deus assistindo à cerimônia de posse da ministra Rosa Weber na presidência do TSE, em agosto de 2018. A solenidade ocorreu quatro meses antes de surgirem as primeiras denúncias de abuso sexual contra pacientes em Abadiânia, Goiás, onde ele atuava.

Antes de o escândalo ser revelado, João de Deus tinha uma lista de pacientes famosos como as apresentadoras Xuxa Meneghel e Oprah Winfrey, o ex-presidente Lula (PT) e a modelo Naomi Campbell.

Comprovado, para o Comprova, é o fato verdadeiro ou evento confirmado.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até o dia 2 de maio, o post tinha 2.637 retweets, 158 comentários e 8.393 curtidas.

Como verificamos: Procuramos a íntegra da solenidade de posse de Rosa Weber no canal do YouTube da Justiça Eleitoral. Também consultamos notícias na imprensa sobre a cerimônia (aqui) e sobre as condenações de João de Deus (aqui, aqui, aqui e aqui).

Por fim, consultamos o TSE para saber o motivo da presença do médium na solenidade, mas não tivemos resposta.

Verificação

A ministra Rosa Weber assumiu a presidência do Tribunal Superior Eleitoral, em 14 de agosto de 2018, para comandar o plenário da Corte no biênio 2018-2020. A solenidade de posse – que contou com a presença de ministros ativos e aposentados do Supremo Tribunal Federal (STF) – foi transmitida pelo canal oficial da Justiça Eleitoral no YouTube e, após mais de três anos, o vídeo ultrapassa a marca de 2.950 visualizações.

Rosa Weber permaneceu no cargo de presidente do TSE por um ano e nove meses. Durante esse período, a ministra comandou as eleições gerais de 2018, incentivou a participação feminina na política, intensificou o combate à desinformação no processo eleitoral, investiu no processamento eletrônico, implantou o julgamento virtual e conduziu as sessões jurisdicionais e administrativas no plenário da Corte.

João de Deus na solenidade de posse em 2018

Na transmissão da solenidade de posse, em agosto de 2018, é possível ver na plateia o médium João Teixeira de Faria, popularmente conhecido como João de Deus. Meses após a solenidade, em 16 de dezembro daquele ano, ele foi preso por crimes de estupro contra centenas de mulheres. As violências sexuais atreladas ao curandeiro eram praticadas durante atendimentos espirituais na Casa Dom Inácio Loyola, em Abadiânia (GO). Os crimes vieram à tona após depoimentos das vítimas no programa Conversa com Bial, da Globo.

João de Deus era um médium de fama internacional. Entre as personalidades que tiveram sessões com ele antes dos escândalos virem à tona estão as apresentadoras Xuxa Meneghel e Oprah Winfrey, o ex-presidente Lula e a modelo Naomi Campbell, mostrou o Correio Braziliense. Entre os ministros do STF, o Estadão apurou que Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Luís Roberto Barroso já teriam se consultado com ele.

Condenações

A primeira condenação do médium por estupro ocorreu logo após a prisão dele completar um ano, em 19 de dezembro de 2019. Na ocasião, João de Deus foi condenado a 19 anos e quatro meses de reclusão, em regime fechado, por quatro estupros praticados contra mulheres.

Em janeiro de 2020, o médium recebeu uma nova condenação, desta vez a 40 anos de reclusão, em regime fechado, por ter estuprado cinco mulheres durante os atendimentos espirituais em Abadiânia. Já em 2021, João de Deus foi condenado a 44 anos de prisão também por estupros de mulheres praticados em Goiás.

A condenação mais recente de João de Deus é de janeiro de 2022. O médium foi condenado a mais quatro anos de prisão por violação sexual mediante fraude. Ainda de acordo com a sentença do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO), João de Deus terá que indenizar uma mulher em R$ 20 mil por danos morais.

O médium também possui condenação a quatro anos de prisão pelo crime de posse ilegal de arma de fogo. Somadas, as penas ultrapassam 100 anos de prisão.

Por que investigamos: O Comprova checa postagens nas redes sociais sobre a pandemia, eleições e políticas públicas do governo federal. O TSE é a autoridade responsável por organizar as eleições no país. Conteúdos sobre ele podem influenciar o nível de confiança dos eleitores no processo eleitoral.

Outras checagens sobre o tema: Já mostramos que era sátira um vídeo no qual um homem se apresentava como advogado do PT e sugeria uma fraude nas urnas. Também desmentimos que um ex-ministro da Suíça tenha feito piada do contexto político brasileiro.

Eleições

Investigado por: 2022-05-03

É falso que Elon Musk tenha citado as motociatas de Bolsonaro em entrevista na Alemanha

  • Falso
Falso
É falso um vídeo de Elon Musk publicado no TikTok com legendas inventadas que fazem elogios a uma motociata em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Na ocasião, o empresário falava sobre o abastecimento de água na região de Gruenheide, na Alemanha, onde ocorre a construção de uma fábrica da Tesla. Em nenhum momento ele fez menção a Bolsonaro ou à política brasileira.

Conteúdo investigado: Uma montagem no TikTok mostra uma entrevista do bilionário Elon Musk com legendas falsas, dando a entender que o empresário teria elogiado as motociatas do presidente Jair Bolsonaro.

Onde foi publicado: TikTok e Twitter

Conclusão do Comprova: É falsa a publicação no TikTok que coloca legendas inventadas em um vídeo do bilionário Elon Musk durante uma coletiva de imprensa sobre a nova fábrica de carros elétricos da Tesla, na Alemanha. O post dá a entender que o empresário estava elogiando as motociatas do presidente Jair Bolsonaro no Brasil.

Na verdade, Musk estava respondendo a questionamentos sobre um possível risco de desabastecimento de água por conta da abertura da fábrica da Tesla. O empresário ri algumas vezes e discorda que a empresa dele causaria tal problema.

Alcance da publicação: Até a publicação desta verificação, o vídeo teve 113 mil visualizações, 8.717 curtidas e 1.013 compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: O Comprova não conseguiu contato com o autor do vídeo.

Como verificamos: Por meio do Google e do YouTube, o Comprova realizou busca de vídeos e fotos similares e acessou conteúdo sobre a entrevista coletiva concedida por Elon Musk em agosto de 2021, período em que visitou as futuras instalações de sua fábrica de carros na Alemanha.

Sites internacionais de notícias como Bloomberg foram visitados para comprovação de notícias envolvendo a Tesla na Alemanha.

Também foi possível verificar a autenticidade das legendas por meio da tradução das falas do empresário com o apoio do tradutor online do Google.

Verificação

Legendas falsas

A tradução dos diálogos do vídeo revela que as legendas são falsas. A análise do mesmo vídeo publicado em diferentes plataformas possibilita entendimento sobre o que de fato Elon Musk dizia naquele momento.

Nas legendas do vídeo que viralizou no TikTok, Musk elogia Bolsonaro e seus “milhões de seguidores nas ruas”. A edição do conteúdo também utiliza trechos do evento Acelera para Cristo, do dia 15 de abril de 2022, quando Bolsonaro desfilou de moto ao lado de apoiadores. A motociata reuniu cerca de 3 mil pessoas, número 44% menor que em um evento anterior, que contou com 6.661 participantes. As motocicletas partiram da cidade de São Paulo rumo ao município de Americana, no interior do estado.

 

Diálogo falso vídeo TikTok

Repórter: Você viu que quase não tem moto na motociata de hj?

Musk: haha.. você tá doida? Tá lotado de motos! Hahaha.

Olhe à sua volta, haha.

Repórter: tem poucas motos e poucos apoiadores.

Musk: Nãnaninanãumm…Vc está completamente errada! Haha

Tá parecendo um deserto pra vc?

Repórter: não tem nada senhor!

Musk: Isto é ridículo! Hahaha

Repórter: Tá abarrotado o evento!

Musk: Sim! Tá lotado de motos!!

 

Diálogo vídeo original

Repórter: críticos dizem que a Tesla esgotará a água da região.

Musk: esta região tem tanta água, olhe à sua volta.

Repórter: a companhia de água local diz que não há mais água suficiente aqui.

Musk: não, isso está completamente errado.

Tem água em todos os lugares aqui.

Isso parece um deserto para você?

Isso é ridículo, chove muito.

 

Contexto do vídeo

O vídeo original de Elon Musk foi feito em 13 de agosto de 2021, na ocasião do encontro entre o CEO da Tesla e Armin Laschet, então candidato a primeiro-ministro da Alemanha pela União Democrata Cristã (CDU). Os dois visitaram as obras que ocorriam na fábrica da empresa, que fica no município de Grünheide, próximo a Berlim. Armin publicou fotos do encontro no Twitter.

Dias antes dessa entrevista de Musk, a Tesla divulgou um relatório anual de impacto, no qual sinalizou preocupações de que a água está se tornando cada vez mais escassa devido às mudanças climáticas.

A empresa alegou que consome menos do recurso por veículo produzido do que a maioria das demais montadoras estabelecidas em instalações dedicadas à fabricação de veículos.

Ambientalistas têm criticado a Tesla e dizem que a fábrica sendo construída na Alemanha aumentará os problemas locais de mudança climática.

Logo após a visita às instalações, na coletiva de imprensa, uma repórter questiona Musk se a fábrica vai prejudicar o abastecimento de água na região. Elon Musk respondeu rindo.

“Esta região tem tanta água, olhe ao seu redor. Não, não, isso está completamente errado. Isso parece um deserto para você? É ridículo. Chove muito”.

Bolsonaro e Elon Musk

Em novembro de 2021, o ministro das Comunicações de Bolsonaro, Fábio Faria, se reuniu com Elon Musk para tratar sobre as parcerias da Starlink e a SpaceX, ambas empresas do bilionário, com o governo brasileiro.

De acordo com a pasta, durante o encontro foram discutidos o “uso da tecnologia para preservação da floresta amazônica, para monitoramento de desmatamentos e incêndios ilegais, além de projetos de conectividade para escolas e unidades de saúde em áreas rurais, comunidades indígenas e locais remotos.”

Nova empresa

Recentemente, Musk adquiriu o Twitter por U$ 44 bilhões, equivalente a R$ 223 bilhões, na cotação de 2 de maio. A aquisição foi comemorada por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro em razão da posição do empresário em defender restrições à exclusão de contas em razão do conteúdo publicado”.

Durante live realizada por Jair Bolsonaro, em seu canal próprio, no dia 28 de abril, o presidente comentou sobre a compra do Twitter feita por Elon Musk. Segundo ele, o acontecimento “mudou o humor do brasileiro”. Bolsonaro também comentou sobre o aumento de seguidores que “pessoas de direita” tiveram após a aquisição da rede social.

Logo após o anúncio da compra, diversos perfis bolsonaristas apontaram um aumento no número de seguidores. O presidente ganhou mais de 60 mil seguidores. Em nota ao TecMundo, a rede social informou que o movimento é orgânico.

Por que investigamos: O Comprova checa conteúdos suspeitos que viralizaram a respeito das eleições presidenciais, políticas públicas do governo federal e pandemia de covid-19.

Vídeos de personalidades mundiais também são utilizados para desinformar. Esses conteúdos estrangeiros enganosos ou falsos levam a interpretações erradas de quem não conhece o idioma de outro país.

Dessa forma, o público acaba acreditando que uma pessoa fala algo totalmente diferente do contexto original. Isso induz a avaliações e entendimentos errados sobre assunto específico, possibilitando a viralização de uma mentira.

Outras checagens sobre o tema: Conteúdos de desinformação têm sido disseminados com mais frequência em anos eleitorais. As informações falsas ou imprecisas podem mudar a opinião dos eleitores sobre determinado partido ou político, gerando impactos nos resultados. Recentemente, o Comprova demonstrou que eram enganosas a postagem que cita dados sobre invasões de fazendas no Brasil e a publicação que afirma que, em seu último dia de governo, o ex-presidente Lula concedeu indulto ao italiano Cesare Battisti.

A postagem analisada nesta verificação também foi examinada por outras agências de checagem. A Agência Lupa, a AFP Checamos e o Estadão Verifica consideram a publicação como falsa e ressaltam que as informações foram disseminadas em perfil satírico.

Eleições

Investigado por: 2022-04-28

Post confunde dados e engana sobre conflitos no campo no governo Bolsonaro

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa uma postagem que cita dados sobre invasões de fazendas no Brasil com o intuito de desacreditar uma notícia sobre o aumento de conflitos por terra durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Os dois indicadores usam critérios distintos e não podem ser equiparados.

Conteúdo investigado: Postagem que descreve como “fake news” uma notícia que repercute um relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT) sobre o aumento de conflitos por terra no Brasil durante o governo Bolsonaro. O autor diz “derrubar” a suposta mentira, citando indicadores favoráveis à atual gestão.

Onde foi publicado: Twitter

Conclusão do Comprova: É enganoso o post que descreve como “fake news” uma reportagem do site UOL em que são apresentados dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) indicando aumento de conflitos por terra no Brasil no governo de Jair Bolsonaro (PL). O autor do post diz “derrubar” a suposta mentira, citando dados que apontam para uma redução no número de invasões na gestão do atual presidente.

Não há indicação de fonte, mas, pesquisando na internet, é possível encontrar a referida série histórica em um artigo publicado no site da revista Veja, em dezembro do ano passado, que utilizou números coletados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Entretanto, os dois conteúdos jornalísticos têm como base indicadores distintos e que não podem ser comparados, embora ambos tratem de questões agrárias.

O balanço publicado pela CPT inclui ocorrências relacionadas às temáticas fundiária, indígena, ambiental, de trabalho análogo à escravidão e outras situações. Já no levantamento do Incra, órgão vinculado ao Ministério da Agricultura, são levadas em consideração apenas ocorrências classificadas como invasões coletivas de imóveis rurais.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga conteúdos suspeitos com alto grau de viralização nas redes sociais. O perfil que publicou o post aqui verificado se identifica com o viés de direita na política e tem quase 268 mil seguidores. Até o dia 28 de abril, a publicação recebeu mais de 500 interações.

O que diz o autor da publicação: O autor da publicação foi procurado por mensagem direta no Twitter, mas, após o contato, bloqueou a reportagem, impedindo qualquer interação, e não respondeu os questionamentos.

Como verificamos: A equipe do Comprova entrou em contato com o Incra, autarquia federal que levanta dados sobre a ocupação de terras no país.

A reportagem também procurou a CPT, ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) — a maior representação da Igreja Católica no país — para se informar sobre os dados atribuídos à comissão.

O Comprova ainda buscou o autor da postagem, mas não obteve retorno.

 

Comissão diz que dados não podem ser comparados

A Comissão Pastoral da Terra confirmou, ao Comprova, a veracidade dos dados publicados no portal UOL, mas fez a ressalva de que a reportagem considerou como conflitos por terra os números de ocorrências de violência contra as famílias, sem incluir acampamentos, ocupações e retomada de territórios.

Nesse recorte do UOL com base na tabela divulgada pela entidade (abaixo), o governo Bolsonaro soma, entre 2019 e 2021, 4.078 situações do tipo. No balanço geral, considerando a ressalva feita pela CPT, os conflitos por terra sobem para 5.725 no mesmo período.

Ainda de acordo com o relatório divulgado pela CPT em abril, os números de conflitos por terra vêm subindo nos últimos anos. O levantamento inclui ocupações, retomadas e acampamentos, questões trabalhistas (escravo rural, superexploração) e disputa por água registrados no campo, alguns dos quais resultaram em assassinatos. No governo Dilma Rousseff, a média anual foi de 1.349 conflitos; no governo Michel Temer, 1.526; na gestão Jair Bolsonaro, ainda incompleta, 1.908.

Segundo a comissão, esse aumento observado a partir de 2019 pode ter uma série de explicações, como “o desmonte dos órgãos de fiscalização do trabalho, do desmatamento, da mineração ilegal, do meio ambiente, das atividades predatórias da natureza.”

A Comissão explica que os termos usados para definir as ações no campo também podem ter diferentes interpretações. Enquanto há movimentos que consideram as ocupações de camponeses como invasão, a CPT utiliza o termo para classificar ações de grupos ou indivíduos (grileiros, fazendeiros, mineradoras, madeireiras) contra territórios tradicionalmente ocupados.

Pela metodologia da CPT, assim são definidas as ocupações e demais conflitos:

Conflitos por terra: ações de resistência e enfrentamento pela posse, uso e propriedade da terra e pelo acesso aos recursos naturais, tais como: seringais, babaçuais ou castanhais, dentre outros (que garantam o direito ao extrativismo), quando envolvem posseiros, assentados, quilombolas, geraizeiros, indígenas, pequenos arrendatários, camponeses, sem-terra, seringueiros. As ocupações/retomadas e os acampamentos também são classificados no âmbito dos conflitos por terra.

Ocupações e/ou retomadas: são ações coletivas das famílias sem-terra, que por meio da entrada em imóveis rurais, reivindicam terras que não cumprem a função social, ou ações coletivas de indígenas e quilombolas que reconquistam seus territórios, diante da demora do Estado no processo de demarcação das áreas que lhe são asseguradas por direito.

Acampamentos: são espaços de luta e formação, fruto de ações coletivas, localizados no campo ou na cidade, onde as famílias sem-terra organizadas reivindicam assentamentos. Além disso, os povos indígenas e comunidades tradicionais também formam acampamentos na luta pela retomada de seus territórios. Na pesquisa da CPT, registra-se somente o ato de acampar. Não se faz o acompanhamento do número de famílias acampadas no país.

Conflitos Trabalhistas: compreendem os casos em que a relação trabalho-capital indicam a existência de trabalho escravo e superexploração. As greves também integram o conjunto dos conflitos trabalhistas.

Na compreensão do que é trabalho escravo, a CPT segue o definido pelo artigo 149, do Código Penal Brasileiro, atualizado pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003, que o caracteriza por submeter alguém a trabalhos forçados ou à jornada exaustiva; ou por sujeitá-lo a condições degradantes de trabalho; ou quando se restringe, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto; ou quando se cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho; ou quando se mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.

As situações de superexploração acontecem na esfera salarial e dizem respeito às ocorrências em que as horas de trabalho não pagas excedem a taxa normal de exploração do trabalho. Geralmente, estes casos estão ligados a precárias condições de trabalho e moradia.

Conflitos pela Água: são ações de resistência, em geral coletivas, que visam garantir o uso e a preservação das águas; contra a apropriação privada dos recursos hídricos; contra a cobrança do uso da água no campo; e de luta contra a construção de barragens e açudes. Este último envolve os atingidos por barragem, que lutam pelo seu território, do qual são expropriados. Envolve ainda a luta dos povos e comunidades frente à mineração.

Os dados com os quais a CPT trabalha não são os dados do Incra, mas aqueles obtidos por outros documentos e por pessoas que acompanham as comunidades. “Assim, não é possível fazer uma comparação entre os dados das duas matérias, já que as fontes são diferentes”, prossegue a entidade.

A Comissão confirma que registrou uma diminuição no número de ocupações e acampamentos, sempre ressaltando que a base de dados é diferente da apresentada pelo Incra, mas acrescenta que a redução seria reflexo do medo da violência e também da crise sanitária.

“Analisamos que essa diminuição se dá muito em vista do primeiro ano do governo Bolsonaro ter vindo com muita promessa de violência contra os povos do campo, e nos dois anos subsequentes o contexto da pandemia fez com que as ocupações diminuíssem também”, sustenta a entidade.

Questionada se os dados da CPT foram compartilhados com órgãos governamentais, como o Incra, a Comissão afirma que a atual gestão não mantém as audiências que antes eram realizadas para apresentação dos indicadores.

“Porém, os dados e tabelas são públicos, estão no nosso site, toda a divulgação chega até os órgãos e sempre estamos abertos em enviar e oferecer os dados e pesquisas, caso sejam solicitados, tanto pelos órgãos do governo quanto outras entidades.”

O trabalho desenvolvido pela CPT tem mais de 40 anos. A comissão surgiu em 1975 devido às condições vividas pelos trabalhadores rurais no período. Originalmente, é ligada à Igreja Católica, mas hoje considera-se de caráter ecumênico, tanto por atender pessoas de diversas religiões quanto pelo apoio de outras igrejas cristãs.

O que diz o Incra

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária é uma autarquia federal ligada ao Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento que tem por objetivo coordenar o acesso à terra no país. Segundo o órgão, os dados divulgados anualmente pela CPT não são usados de forma oficial pelo Incra.

O Incra considera os dados da Ouvidoria Agrária Nacional do extinto Ministério do Desenvolvimento Agrário (1995 a 2016), da Ouvidoria Agrária (2017 a 2019) e da Câmara de Conciliação Agrária (2020 a 2022). “Referem-se a situações informadas às citadas unidades, não sendo descartada a possibilidade de haver casos não comunicados”, esclarece o órgão.

No levantamento enviado ao Comprova (abaixo), o Incra contabiliza 28 invasões de terra entre 2019 e 2021, mais 12 em 2022, totalizando 40 sob a gestão de Jair Bolsonaro. Isso significa que o ponto levantado pelo tuíte investigado se sustenta – é o menor número de invasões de terra desde 1995 – mas isso não serve para desmentir a reportagem em questão.

Ao Comprova, o Incra esclareceu que atua em disputas, tensões e conflitos fundiários que envolvam terras públicas do instituto ou da União, mas não em situações de terras indígenas, unidades de conservação e áreas públicas estadual, distrital e municipal, como faz a Comissão Pastoral da Terra. A comparação feita pelo tuíte investigado, portanto, não é cabível.

De 2019 a março de 2022, o Incra emitiu mais de 337 mil documentos de titulação em assentamentos da reforma agrária e áreas públicas na sua atribuição. Para o instituto, “a regularização dessas áreas é importante para evitar conflitos fundiários”. O trabalho envolve a mediação junto a representantes de diferentes órgãos públicos, do Ministério Público e do Judiciário.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A postagem faz referência a Jair Bolsonaro, provável candidato à reeleição, e a desinformação sobre o político e sua gestão pode influenciar eleitores de maneira equivocada. Em um processo democrático, a população deve fazer sua escolha baseada em fatos, não em conteúdos enganosos.

Outras checagens sobre o tema: Em ano eleitoral, conteúdos de desinformação têm sido disseminados com mais frequência. Recentemente, o Comprova demonstrou que eram falsos vídeos em que pessoas gritavam contra Lula na Sapucaí e indicou que era enganoso post ironizando Sergio Moro sobre livro de sua infância e que vídeo de Neymar apoiando Aécio Neves foi editado para parecer atual e de apoio a Bolsonaro.

Eleições

Investigado por: 2022-04-27

Lula não deu indulto a Cesare Battisti, ao contrário do que afirma tuíte

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso um post publicado no Twitter e TikTok que afirma que, em seu último dia de governo, o ex-presidente Lula concedeu indulto ao italiano Cesare Battisti, assim como fez o presidente Jair Bolsonaro com o deputado Daniel Silveira. Lula não concedeu perdão, mas negou a extradição de Battisti à Itália, onde era condenado à prisão perpétua. Em ambos os casos, a oposição criticou os benefícios por afinidade política.

Conteúdo investigado: Um post diz que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria concedido indulto a Cesare Battisti, em 2010. A postagem ainda alega que a “graça” é a mesma concedida pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), em abril deste ano.

Onde foi publicado: Twitter e TikTok.

Conclusão do Comprova: Postagens enganam ao afirmar que o ex-presidente Lula teria concedido indulto a Cesare Battisti, condenado na Itália pelo assassinato de quatro pessoas. O petista, na verdade, negou a extradição solicitada pelo país europeu. A postagem equipara ao ato de perdão da pena do presidente Jair Bolsonaro no caso do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), mas as situações são distintas.

O indulto é a extinção da pena de um condenado. O que Lula fez foi negar uma extradição, ou seja, o envio de uma pessoa para cumprir uma pena em outro país. No Brasil, ambos são prerrogativas do presidente da República.

“Está havendo uma confusão”, diz Danilo Berger, mestre em Ciências Criminais, sobre a postagem. Quando se diz que os dois casos são a mesma coisa, não quer dizer que os dois sejam classificados como indulto, mas sim que ambos mostram “favorecimento de uma pessoa por questões políticas”.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor, e que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. No TikTok, o vídeo foi visualizado 14,9 mil vezes. Já no Twitter, a postagem de maior repercussão teve 7,1 mil interações até a publicação desta verificação.

O que diz o autor da publicação: Os perfis que fizeram as postagens no Twitter e no TikTok não permitem o envio de mensagem direta e não informam outro ponto de contato.

Como verificamos: Consultamos o decreto presidencial do presidente Jair Bolsonaro com o indulto a Daniel Silveira no Diário Oficial da União de 21 de abril de 2022. Também solicitamos à Advocacia-Geral da União (AGU) o parecer AGU/AG-17/2010, sobre o processo de extradição de Cesare Battisti.

Para confirmar as informações oficiais do andamento do julgamento, foram acessados os processos no site do Supremo Tribunal Federal (aqui e aqui). Para este fim, também foram consultadas reportagens na mídia profissional (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

Por fim, três especialistas em Direito foram entrevistados para dar um parecer sobre a comparação entre indulto e recusa de extradição. Foram ouvidos Daniel Gerber, advogado criminalista especialista em Direito Penal Econômico e mestre em Ciências Criminais; Leonardo Magalhães Avelar, advogado criminalista; e Diego Henrique, advogado criminalista.

 

Indulto x recusa de extradição

Especialistas ouvidos pelo Comprova afirmam que o indulto e a recusa de uma extradição são situações distintas e não podem ser confundidas.

A extradição ocorre quando um país entrega uma pessoa à Justiça de outro país no qual ela foi condenada por um delito. Por exemplo, o Ministério Público da Itália recentemente pediu ao Ministério da Justiça que solicitasse ao governo brasileiro a extradição do jogador de futebol Robinho. O ex-atacante do Santos foi condenado em última instância no país europeu por violência sexual em grupo contra uma mulher de origem albanesa. O pedido não deve ser atendido porque a legislação não permite a extradição de brasileiros. A defesa do ex-jogador afirma que a relação sexual foi consensual.

Já o indulto é o perdão e a extinção de uma pena, explica o advogado criminalista Leonardo Magalhães Avelar. Segundo ele, a negativa de extradição está relacionada à soberania nacional e é “absolutamente distinta”, do ponto de vista jurídico, da concessão de indulto. Avelar ainda lembra que a recusa de extradição pode ser revista quando há uma mudança de governo, como aconteceu no caso de Battisti (saiba mais abaixo), o que não ocorre com indulto. “Em razão da não retroatividade de decisão que seja mais gravosa à pessoa acusada, dificilmente a concessão do indulto poderia ser revista por um novo presidente da República.”

Daniel Gerber, especialista em Direito Penal, concorda que as duas medidas não são equiparáveis. Ele diz que há uma confusão em torno do caso porque tanto na situação envolvendo Daniel Silveira quanto na de Cesare Battisti, houve favorecimento por identificação ideológica. “Se (a oposição) reclamar sob o argumento de afinidade política, receberá de volta a acusação de que o ex-presidente Lula fez a mesma coisa com Battisti. Não é a mesma coisa (que) indulto, é a mesma coisa (no sentido de) favorecimento de uma pessoa por questões políticas.”

O advogado criminalista Diego Henrique concorda que o indulto e o ato de negar uma extradição são “institutos absolutamente distintos e em nenhuma medida equivalentes”, embora ambos estejam sujeitos à discricionariedade do presidente da República. Ele diz, ainda, que, enquanto o indulto extingue a punibilidade da pessoa, o mesmo não ocorre quando o presidente nega a extradição. “Igualmente, não tem o condão de impedir o desencadeamento do processo-crime que corre em outro país em face do extraditando, tampouco de extinguir sua punibilidade.”

O caso de Cesare Battisti

Cesare Battisti foi condenado à prisão perpétua na Itália pelo assassinato de quatro pessoas na década de 1970. As mortes foram atribuídas ao grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), do qual ele fazia parte. Para fugir da prisão, Battisti primeiro se refugiou na França e, depois, no Brasil.

No Brasil, foi preso no Rio de Janeiro, em 2007, por falsificação de passaporte. Foi levado para Brasília enquanto aguardava uma decisão sobre sua extradição. Em 2009, o então ministro da Justiça, Tarso Genro, acatou o argumento de que Battisti sofreria perseguição política e lhe concedeu o status de refugiado.

Em novembro de 2009, o STF considerou ser ilegal o status de refugiado, o que abriu a possibilidade da extradição. No entanto, no mesmo julgamento, os ministros entenderam que cabia apenas a Lula decidir pela extradição.

Em seu último dia de mandato, no ano de 2010, o ex-presidente Lula decidiu rejeitar a extradição de Cesare Battisti para a Itália, baseando-se em um parecer da Advocacia-Geral da União que alegava que o preso poderia sofrer “perseguição política” em sua terra natal. A decisão gerou protestos do país europeu. A oposição no Congresso brasileiro criticou as decisões a favor de Battisti.

Battisti viveu no Brasil até 2017, quando foi preso pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) tentando entrar ilegalmente na Bolívia. O presidente Michel Temer assinou sua extradição para a Itália em 2018. Ele atualmente cumpre a pena no país europeu.

O caso de Daniel Silveira

Ex-policial militar, Daniel Silveira foi eleito em 2018 para seu primeiro mandato como deputado federal pelo Rio de Janeiro, com 31 mil votos. Ele disputou as eleições pelo Partido Social Liberal (PSL), mesmo partido ao qual Jair Bolsonaro estava filiado na época.

Daniel Silveira ganhou notoriedade no período eleitoral de 2018 quando, em uma manifestação no Rio de Janeiro, quebrou uma placa de homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada a tiros em março daquele ano. O crime completou quatro anos sem a descoberta de seus mandantes.

O deputado passou a ser investigado em 2020 nos inquéritos que apuram ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e a disseminação de fake news. Em fevereiro de 2021, o aliado de Bolsonaro publicou um vídeo nas redes sociais, com pautas inconstitucionais, no qual defendeu o Ato Institucional número 5 (AI-5), instrumento de repressão mais duro aplicado durante o regime militar (1964-1985), e a destituição de ministros do STF. Daniel Silveira foi preso em flagrante por determinação do ministro Alexandre de Moraes.

Em 20 de abril de 2022, o deputado – filiado atualmente ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) – foi condenado pelo STF a oito anos e nove meses de prisão, em regime fechado, por estímulo a atos antidemocráticos e ataques às instituições.

Um dia após a condenação do deputado federal pelo STF, o presidente Jair Bolsonaro assinou um decreto de indulto a Daniel Silveira. Em uma live, Bolsonaro anunciou a concessão de perdão da pena imposta ao parlamentar.

Em seu discurso, Bolsonaro usou o artigo 734 do Código de Processo Penal (CPP), segundo o qual o presidente da República pode conceder “espontaneamente” a graça presidencial, uma forma de indulto (perdão) individual. Ao menos quatro partidos de oposição já entraram com ações no STF para questionar a constitucionalidade do benefício .

Por que investigamos: O Comprova checa conteúdos sobre a pandemia, as eleições e políticas públicas do governo federal. O conteúdo analisado envolve decisões tomadas por Bolsonaro e Lula, atualmente apontados pelas pesquisas eleitorais como os dois candidatos principais ao Planalto. Os eleitores precisam ter acesso a informações apuradas corretamente para tomar sua decisão nas urnas.

Outras checagens sobre o tema: Já explicamos que um homem que viralizou nas redes sociais sugerindo fraude eleitoral não é advogado do PT, partido de Lula, mas sim um comediante. Também já mostramos que Bolsonaro não se beneficiou de fraude eleitoral em 1994.

Eleições

Investigado por: 2022-04-26

Pessoas gritavam a favor de Lula, e não contra ele em vídeo na Sapucaí

  • Falso
Falso
É falso vídeo que mostra pessoas gritando “Globo lixo” e “Lula ladrão” na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro; áudio foi inserido sobre imagens feitas durante ensaio técnico, em 27 de março, e esconde que os gritos, na verdade, eram de apoio ao ex-presidente.

Conteúdo investigado: Vídeo na Marquês de Sapucaí que mostra pessoas nas arquibancadas gritando “Globo lixo” e “Lula ladrão”.

Onde foi publicado: Helo, Facebook, Twitter e TikTok.

Conclusão do Comprova: São falsos os vídeos que circulam nas redes sociais e que, supostamente, mostram pessoas gritando “Globo lixo” e “Lula ladrão” durante os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro na Marquês de Sapucaí entre os dias 22 e 23 de abril de 2022. O vídeo original utilizado nos posts foi feito em 27 de março, durante um ensaio técnico, e mostra, na verdade, pessoas cantando um jingle em apoio ao ex-presidente Lula, que é pré-candidato à Presidência da República pelo PT. Os áudios com os ataques à Rede Globo e ao ex-presidente foram inseridos digitalmente sobre as imagens originais.

Além do Facebook e Twitter, o vídeo com o áudio adulterado também foi parar no TikTok e no app Helo. A maior parte do material editado utiliza um vídeo postado no dia 30 de março por um usuário do Helo identificado como Matheus Winicius. É possível identificar o vídeo dele pela ID do usuário disponível em seu perfil e que também fica visível no arquivo salvo no celular quando o vídeo é baixado direto da plataforma. No vídeo postado em sua conta, Matheus Winicius escreveu: “É Lula Lá no ensaio técnico da Sapucaí”.

O vídeo de Winicius não contém texto ou outros elementos inseridos diretamente na imagem, como os que viralizaram. Outro indício de que as pessoas realmente cantavam o jingle lulista, e não palavras contra ele e contra a Globo, está no fato de haver mais vídeos do mesmo dia, feitos em pontos diferentes, que também mostram as pessoas entoando o jingle de apoio ao ex-presidente. Os metadados de pelo menos um dos vídeos mostram que as imagens foram feitas às 22h08 de 27 de março de 2022.

Durante os desfiles, nos dias 23 e 24 de abril, o público também gritou palavras em apoio a Lula e contra Bolsonaro nas arquibancadas, enquanto o ex-presidente foi xingado nos camarotes.

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. No Facebook e no TikTok, até o dia 26 de abril, posts semelhantes acumulam pelo menos 22 mil interações.

O que diz o autor da publicação: O Comprova solicitou esclarecimentos aos responsáveis pelas publicações do conteúdo no Facebook e no Helo, mas não obteve resposta até o fechamento desta checagem.

Como verificamos: O primeiro passo foi identificar o vídeo que deu origem aos posts verificados. Em todos eles aparece, em determinado momento, a logomarca da rede social Helo e um número de ID: 887877477. Esse número levou a um usuário da rede chamado Matheus Winicius, que postou o vídeo no dia 30 de março de 2022 com a legenda “É Lula Lá no ensaio técnico da Sapucaí #FluEliminadoLibertadores”.

O áudio original mostra pessoas cantando um jingle petista: “Ole ole olá, Lula, Lula”. É possível baixar o vídeo direto para o celular e o arquivo baixado passa a exibir, assim como os vídeos aqui verificados, a logomarca do Helo e a ID de Matheus Winicius.

Em seguida, através de uma busca reversa de imagens, foi possível identificar outros vídeos em redes sociais com imagens do mesmo momento, de ângulos diferentes. Postadas entre os dias 27 e 28 de março de 2022, elas mostram os mesmos elementos que aparecem nos vídeos verificados, mas com o áudio semelhante ao do vídeo postado no Helo: gritos de apoio ao ex-presidente Lula.

O Comprova, então, passou a buscar em redes como o TikTok, o Facebook e o Twitter pelas palavras “sapucaí e lula”. Os resultados mostraram mais vídeos do mesmo momento, feitos de pontos diferentes da mesma arquibancada, todos eles com o áudio sinalizado como “original” e em apoio ao petista.

Já uma busca pelas palavras “sapucaí e globo lixo” ou “sapucaí e lula ladrão” retornou vídeos iguais aos verificados, com a marca e a ID do usuário do Helo, o que indica que todos eles tiveram a mesma origem. Apesar de as imagens serem iguais, o áudio é diferente e mostra gritos de “Globo lixo” e “Lula ladrão”. Uma evidência de que eles foram adulterados e inseridos posteriormente é a falta de continuidade, uma vez que é clara a transição artificial entre o suposto protesto contra a Globo e os xingamentos contra o ex-presidente Lula.

Por fim, o Comprova entrou em contato com os usuários que postaram os vídeos de ângulos diferentes nas redes sociais e solicitou que eles enviassem os metadados dos arquivos – apenas a equipe do Mais Carnaval, onde trabalha o jornalista Rangel Andrade, respondeu. Também foram consultadas outras checagens e procurados os responsáveis pelos posts com o áudio adulterado, mas não houve resposta.

Verificação

Ensaio técnico

Os posts aqui verificados foram feitos entre os dias 23 e 24 de abril de 2022, sugerindo que as imagens foram gravadas durante os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, que aconteceram na Marquês de Sapucaí nos dias 22 e 23 deste mês. As imagens originais, no entanto, são de quase um mês atrás, dia 27 de março de 2022, quando aconteceu um dos ensaios técnicos para os desfiles, também na Sapucaí.

É o que mostram vídeos postados nas redes sociais na noite do dia 27, madrugada de 28 e até poucos dias após o ensaio. Além disso, os gritos entoados em apoio ao ex-presidente Lula foram noticiados aqui, aqui e aqui.

O ensaio do dia 27 foi o antepenúltimo antes do desfile oficial. No dia 27 de março, o ensaio contou com a presença das escolas Unidos da Tijuca, Salgueiro e Beija-Flor – é possível ver uma faixa da Torcida Soberanos Beija Flor na arquibancada que aparece em todos os vídeos feitos no local.

| Captura de tela extraída pelo Comprova do vídeo original postado por Matheus Winicius no Helo

Outros vídeos

A ID de um usuário da rede social Helo aparece nos vídeos que tiveram o áudio adulterado, o que indica que todos eles tiveram a mesma origem. No entanto, há mais vídeos publicados nas redes, feitos de ângulos diferentes, que mostram gritos de apoio ao ex-presidente Lula, e não xingamentos contra ele e a Rede Globo. Um desses vídeos foi publicado no Twitter ainda na noite de 27 de março, às 22h08, pelo jornalista Rangel Andrade, do site Mais Carnaval. Diferente dos vídeos verificados, ele foi feito na horizontal, mas aparecem nas imagens os mesmos elementos do vídeo do Helo, usado nos posts falsos.

| Captura de tela do vídeo publicado no Facebook por Fernando Can (minuto: 0:08)

| Print do vídeo publicado no Twitter por Rangel Andrade

O Comprova entrou em contato com a equipe do site, que enviou o arquivo original e destacou que os vídeos com os gritos de “Globo lixo” e “Lula ladrão” foram editados: “Esse vídeo do Facebook não procede, é uma montagem. O vídeo publicado pelo nosso jornalista, Rangel Andrade, foi feito por nós do Mais Carnaval, no dia 27 de março, durante o ensaio técnico da Beija-Flor”.

Com o vídeo original em mãos, o Comprova o submeteu à plataforma InVid, onde foi possível extrair os metadados que indicam o dia e a hora em que foram feitas as imagens.

Também no Twitter foi encontrado um vídeo postado às 2h50 de 28 de março pela usuária @thata_macedo. As imagens foram feitas do alto da arquibancada, e não no chão, e também mostram as pessoas gritando o jingle do ex-presidente Lula. É possível ver, mesmo que de longe, uma pessoa vestindo amarelo caminhando no meio da Sapucaí, a faixa da torcida da Beija Flor e um grupo de pessoas com camisas laranja de pé na lateral da avenida.

| Print do vídeo publicado no Twitter por Tata Macedo (minuto 0:07)

No Facebook, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) postou um vídeo de 20 segundos às 9h56 de 28 de março com a legenda “⭐ Ontem, na Sapucaí, no Rio, Lula sendo ovacionado durante os ensaios técnicos”. Também é possível identificar todos os elementos na imagem.

| Print de vídeo publicado pela CUT no Facebook (minuto 0:08)

Foram localizados, ainda, dois vídeos no TikTok, do mesmo momento, mas de ângulos diferentes, em que as pessoas se manifestam em apoio a Lula, e não contra ele ou a Globo. O post da usuária Marli Pero foi feito no dia 28 de março e na legenda ela informou que as imagens eram de “8 horas atrás”. Assim como o vídeo de Tata Macedo no Twitter, as imagens de Marli foram feitas do alto da arquibancada, mas desta vez um pouco mais perto da faixa da torcida da Beija-Flor.

| Print de vídeo publicado por Marli Pero no TikTok (minuto 0:02)

Por fim, foi encontrado um vídeo postado em 28 de março pelo usuário Euclides Netto. As imagens foram gravadas do chão e, logo nos primeiros segundos, é possível ver a pessoa que aparece nos outros vídeos andando pelo meio do sambódromo usando uma camiseta amarela. Além de o áudio mostrar gritos em apoio a Lula, é possível fazer a leitura labial de dois homens que aparecem nas imagens a partir do segundo 0:04 – um rapaz de camisa azul com o braço esquerdo erguido e outro, ao lado dele, usando um boné com a aba para trás. Fica claro pelas imagens como eles cantam “Ole ole olá, Lula, Lula”.

| Print do vídeo publicado no TikTok por Euclides Netto (minuto 0:02)

Protestos durante o Carnaval

O Carnaval de 2022 foi marcado por manifestações políticas nas avenidas tanto do Rio de Janeiro quanto de São Paulo. No primeiro dia de desfiles na Marquês de Sapucaí, o público nas arquibancadas protestou contra o presidente Jair Bolsonaro e entoou gritos favoráveis a Lula, enquanto as pessoas no camarote foram contra o petista.

As manifestações foram noticiadas pelo UOL Notícias, Poder360, O Povo. No entanto, não foram encontrados registros de que o público tenha feito críticas à Rede Globo em nenhuma das reportagens.

Neste ano, diversos sambas-enredo se posicionaram contra o racismo, a homofobia, a intolerância religiosa e a desigualdade social, e fizeram críticas ao governo de Jair Bolsonaro.

No Rio de Janeiro, a Unidos da Tijuca utilizou um dos carros alegóricos para criticar o Projeto de Lei 191, do governo federal, que visa liberar a mineração em terras indígenas. No desfile, indígenas seguravam cartazes com palavras contrárias à proposta.

Em São Paulo, a escola Rosas de Ouro transformou um personagem que representava Bolsonaro em um jacaré após receber a vacina contra a covid-19, em referência a uma fala do presidente contra a imunização. A Gaviões da Fiel se manifestou contra o fascismo e o racismo trazendo um casal com faixa presidencial na ala de militares, representando o “presidente fascista”.

Por que investigamos: O Comprova tem o escopo de investigar conteúdos suspeitos que viralizaram a respeito da pandemia de covid-19, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal. Publicações que usam de informações enganosas para favorecer ou prejudicar pré-candidatos à presidência podem afetar diretamente a escolha do eleitor. O debate sobre projetos e propostas dos pré-candidatos deve ser feito com base em informações confiáveis e, não, em desinformação.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo também foi verificado por outras agências de checagem como a Lupa, Aos Fatos, AFP Checamos, além do site Boatos.org. Todos chegaram à conclusão de que o áudio do vídeo foi adulterado.

Em verificações anteriores que tratam sobre manifestações políticas envolvendo pré-candidatos à presidência, o Comprova mostrou que é falso o vídeo de protesto contra Lula em show de Marina Sena, que vídeo de Neymar com apoio a Aécio em 2014 foi editado para parecer atual e em favor de Bolsonaro e que vídeo de ex-ministro da Suíça é de 2010 e não tem relação com o contexto político brasileiro.

 

 

Eleições

Investigado por: 2022-04-25

Dendeleão, livro da infância de Moro, estava disponível no Brasil desde a década de 70

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a publicação que diz que o livro “Dendeleão”, que marcou a infância de Sergio Moro, é de 1995. A primeira edição da obra foi lançada no Brasil na década de 1970, mesmo período em que o ex-juiz nasceu.

Conteúdo investigado: Tuíte cita publicação de Sergio Moro em homenagem ao Dia do Livro Infantil na qual o ex-juiz afirma que o livro “Dendeleão” marcou sua infância e o ajudou na alfabetização. O post do Twitter diz que a primeira edição em português da obra foi lançada em 1995, quando Moro tinha 23 anos.

Onde foi publicado: Twitter

Conclusão do Comprova: É enganosa a publicação que afirma que a primeira edição em português do livro “Dendeleão” é de 1995. O post usa a informação para rebater a fala do ex-juiz Sergio Moro de que a obra marcou sua infância. Na data referida, Moro tinha 23 anos.

Na realidade, em 1995 ocorria o lançamento da 5ª edição da obra no Brasil, publicada pela editora Ediouro. O livro, voltado para o público infantojuvenil, foi escrito por Don Freeman e lançado nos Estados Unidos em 1964. Uma reportagem do Jornal do Brasil, de 1971, já citava a obra como parte da coleção “Pingos de Ouro”, publicada no Brasil pela editora Edições de Ouro — antiga Ediouro.

Em resposta ao Comprova, a editora afirmou que comprou os direitos da obra e fez sua tradução na década de 1970, o que leva a crer que o livro foi lançado nessa época, embora não tenha sido possível encontrar registros para determinar a data exata. Já sobre a versão de 1995, a empresa informou que contratou “ilustrações para uma nova edição e a obra voltou a circular nesse momento.”

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Em 25 de abril, a publicação alcançou cerca de 19 mil interações no Twitter.

O que diz o autor da publicação: O perfil do Twitter não permite o envio de mensagens, portanto, não foi possível entrar em contato com o autor.

Como verificamos: O Comprova fez consultas a partir da palavra-chave “Dendeleão” no acervo digital da Biblioteca Nacional (1 e 2), na Agência Brasileira de ISBN e no site da editora Ediouro. A equipe ainda procurou informações sobre o número de identificação da obra (ISBN) no site da Amazon.

Também foram buscadas informações gerais sobre o livro — como o autor, data de lançamento — e sobre o ex-juiz Sergio Moro. Por fim, o Comprova solicitou esclarecimentos à editora e procurou por outras verificações sobre o assunto.

 

Dendeleão não é de 1995

O livro Dendeleão foi escrito pelo norte-americano Don Freeman e lançado nos Estados Unidos em 1964. A versão em português foi traduzida por Stella Leonardos, poetisa nascida em 1923, no Rio de Janeiro, que atuou como tradutora entre 1942 e 1971.

Em uma busca na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, o Comprova encontrou uma edição do Jornal do Brasil, datada em 18 de dezembro de 1971, que falava sobre o lançamento da coleção infantil “Pingos de Ouro”, da editora Edições de Ouro — antiga Ediouro. Entre as obras, a reportagem cita Dendeleão como parte do catálogo da editora naquele ano.

Outra consulta no acervo da Biblioteca Nacional retornou quatro resultados, nos quais uma edição não consta data e o restante se refere às versões de 1995, 1997 e 2000, as últimas têm a mesma capa.

Referências à obra traduzida ao português por Stella Leonardos, no entanto, já podiam ser encontradas desde a década de 1970, como mostrou o site Boatos.org. Na página 473 do livro “Resumo Bibliográfico da Biblioteca Nacional” consta a edição de 1974 de “Dendeleão”, da Ediouro, antiga editora Edições de Ouro.

Além disso, como mostra uma publicação no Twitter, um trecho do livro “Dicionário crítico da literatura infantil/juvenil brasileira 1882-1982”, de Nelly Novaes Coelho, conta que, durante os anos 1970, Stella Leonardos traduziu uma série de obras para crianças em processo de alfabetização, incluindo “Dendeleão”.

Procurada, a editora Ediouro informou que de fato foi contratada uma versão da obra na década de 1970, mas não soube precisar a data. Em relação à edição de 1995, trata-se de uma publicação repaginada com novas ilustrações.

A editora também não soube informar quantas edições e os respectivos anos de lançamento. “Como esse título é bem antigo, o registro mais confiável seria o do nosso arquivo, que atualmente está em processo de mudança de endereço e levantamento de inventário”, informou.

Resposta de Moro

Após a viralização do tuíte, Sergio Moro se manifestou novamente em rede social. “Sobre o livro infantil Dendeleão: Tinha fixação por leões. Pedia a minha mãe que lesse o livro a toda hora. Um dia me disse: aprenda a ler se gosta tanto. Daí aprendi. Matéria abaixo confirma que ele já estava disponível na década de 70. Chega de fake news.” A publicação tem o link para uma verificação feita pelo Boatos.org.

O ex-juiz nasceu em 1º de agosto de 1972. Conforme as informações levantadas pelo Comprova sobre a data provável da primeira publicação, em 1971, o livro estava disponível no Brasil quando Moro era criança.

Por que investigamos: O Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre as eleições de 2022, as políticas públicas do governo federal e a pandemia que tenham viralizado nas redes sociais. Conteúdos que contêm informações enganosas sobre possíveis presidenciáveis, como no caso de Sergio Moro, podem influenciar no processo de escolha dos candidatos. Esse tipo de prática é prejudicial à democracia e polui o debate em torno das eleições.

Outras checagens sobre o tema: O site Boatos.org, a agência Lupa e o Monitor7 também checaram o conteúdo e chegaram à mesma conclusão do Comprova de que a obra não foi lançada em 1995. Em verificações anteriores sobre as eleições, o Comprova mostrou que vídeo de Neymar com apoio a Aécio em 2014 foi editado para parecer atual e em favor de Bolsonaro, que foto de Bolsonaro ao lado de André Mendonça é de 2019, anterior à nomeação como ministro do STF e que vídeos de manifestação contra Lula em Passo Fundo são de 2018.