O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Eleições

Investigado por: 2021-07-07

É falsa foto de Schwarzenegger com camiseta de apoio a Bolsonaro

  • Falso
Falso
É falsa uma foto de Arnold Schwarzenegger usando camiseta com a imagem de Jair Bolsonaro e a inscrição "Bolsonaro presidente" publicada por um lutador de MMA no Twitter. O clique original, feito em 2015, mostra o ator e ex-governador da Califórnia com uma blusa lisa com um pequeno logo da Nike pouco abaixo do ombro.
  • Conteúdo verificado: Tuíte de um lutador de MMA, apoiador de Bolsonaro, com foto de Arnold Schwarzenegger vestindo camiseta com foto do político brasileiro e a inscrição “Bolsonaro presidente”.

Uma fotomontagem que viralizou nas redes em 2020 voltou a circular nesta semana em um tuíte do lutador Renzo Gracie. Falsa, ela mostra o ator e ex-governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger fumando charuto com uma camiseta vermelha com o retrato ilustrado de Jair Bolsonaro (sem partido) e a inscrição “Bolsonaro presidente”.

Como já haviam verificado veículos de checagem no ano passado, a foto original foi feita em 2015 pela X17, “agência de fotos de celebridades líder de Hollywood”, e publicada pelo Daily Mail.

Renzo Gracie, que postou a foto com a legenda “Vai discutir com o Arnold”, foi procurado pela reportagem, mas não respondeu até a publicação deste texto.

Como verificamos?

Ao fazer a primeira busca no Google, com as palavras “Schwarzenegger”, “Bolsonaro” e “presidente”, os resultados mostraram verificações sobre a foto investigada aqui realizadas em fevereiro e março do ano passado por veículos de checagem brasileiros UOL Confere e Aos Fatos. Incluindo a palavra “camiseta” na pesquisa, vieram outros textos classificando a imagem como falsa.

A partir dessas verificações, chegamos à foto original, publicada no Daily Mail, como informado acima. Depois, deixamos mensagem nos comentários do tuíte de Renzo Gracie, mas ele não respondeu. Como o perfil no Twitter de Schwarzenegger não permite envio de mensagens privadas, escrevemos para sua página oficial no Instagram – também sem resposta.

Além disso, pesquisamos no TweetDeck posts em que o astro de Hollywood falou sobre o Brasil ou sobre Bolsonaro – deste último não veio nenhum resultado.

Verificação

Versões

A imagem usada no tuíte de Renzo Gracie foi alterada digitalmente para incluir o retrato em preto e branco de Bolsonaro na camiseta usada por Schwarzenegger e a inscrição “Bolsonaro presidente”. A versão modificada vem sendo usada desde o início de 2020, época em que Bolsonaro já estava empossado.

Como já informado, o clique original foi feito em 2015. O astro foi flagrado na cidade americana de Beverly Hills, no condado de Los Angeles.

Na versão falsa da imagem é possível ver, inclusive, uma marca circular mais escura onde originalmente está o logotipo da Nike, marca da blusa usada pelo ator e político.

O tuíte com a falsa foto:

 

A foto original:

Schwarzenegger e Bolsonaro

O astro de “Exterminador do Futuro” e ex-governador da Califórnia nunca fez menção ao presidente brasileiro em seu perfil no Twitter, segundo uma busca no TweetDeck. O último post que ele escreve a palavra “Brasil” é de 21 de abril de 2017, quando veio ao país para divulgar seu evento voltado ao universo fitness, com concursos de fisiculturismo.

Três dias depois, ele postou uma foto com João Doria, então prefeito de São Paulo, com a mensagem: “Honrado por encontrar o prefeito @jdoriajr para discutir energia verde com @Regions20 e como estou orgulhoso por hospedar o festival @ArnoldSports em sua grande cidade”.

Em nova visita ao Brasil em 2019, Schwarzenegger recebeu das mãos do deputado federal Alexandre Frota um “certificado de reconhecimento”, espécie de homenagem feita por Bolsonaro, fã de políticos republicanos, como o ator. No diploma, está a mensagem do presidente: “Ao ilustríssimo senhor Arnold Schwarzenegger. Os agradecimentos da República Federativa do Brasil pela sua dedicação e integridade durante sua trajetória na vida artística, social e política”.

O autor do tuíte

Mestre em jiu-jitsu, Renzo é neto de Carlos Gracie e sobrinho-neto de Hélio Gracie, considerados os fundadores do “jiu-jítsu brasileiro”. É carioca e tem uma rede de academias com unidades em cidades como Nova York e Rio de Janeiro.

Segundo a Vejinha, a unidade de sua academia em Nova York é frequentada por personalidades como o cineasta Guy Ritchie e o ator Keanu Reeves, e por lutadores de MMA que figuram entre os melhores do mundo, como os americanos Chris Brennan e Frank Edgar.

Em 15 de agosto de 2019, o lutador foi nomeado “embaixador do turismo” pela Embratur, título que se refere ao trabalho voluntário de divulgação do Brasil no exterior.

Duas semanas depois, em 1º de setembro daquele ano, ele gravou um vídeo em que chamava o presidente da França, Emmanuel Macron, de “franga”. Como mostrou a Folha, referindo-se às acusações de omissão do governo brasileiro em relação às queimadas na Amazônia, ele disse, na gravação: “Macron… I’m sorry, Micron, Micron. ​Tá falando mal do meu país… O único fogo que tem é no coração dos brasileiros e do nosso presidente, seu palhaço”. E continuou: “Vem aqui que tu vai tomar um gogó nesse pescoço, nesse pescoço de franga. Não me engana não, porra. Aqui o merthiolate tá ardendo”.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia ou sobre políticas públicas do governo federal.

O tuíte checado aqui – que foi compartilhado cerca de 256 vezes e gerou mais de 1,7 mil reações – relaciona um grande astro de Hollywood e político dos Estados Unidos com o presidente brasileiro, tentando passar a falsa mensagem que Schwarzenegger apoia Bolsonaro.

Acompanhada da legenda “Vai discutir com o Arnold”, a foto tuitada por Renzo Gracie gerou comentários debochando do trabalho de jornalistas e agências de checagem.

“Parabéns, já pode ser contrato (sic) pela Folha, vai diretamente para o departamento de explicação de memes e piadas”, escreveu um seguidor do lutador. “Avisa que é meme porque se não as agências verificadoras vão dizer que é falsa a informação!”, seguido de vários emojis chorando de rir, comentou outro.

O que esses usuários talvez não tenham visto é que outras pessoas acreditaram na falsa foto e, por isso, a verificação é importante.

Neste ano, o Comprova já publicou diversos conteúdos que, como o verificado aqui, distorcem a realidade para defender ou apoiar o presidente. Alguns exemplos são o que afirmava que obras em Pernambuco entregues por Dilma Rousseff e Michel Temer haviam sido concluídas pelo atual presidente e o que acusava falsamente os irmãos Miranda de terem forjado documento relacionado à compra da Covaxin.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Eleições

Investigado por: 2021-07-07

Vídeo engana ao mostrar resultado parcial de enquete com intenção de voto para presidente

  • Enganoso
Enganoso
Ao apresentar resultado parcial de uma enquete feita por um programa de TV a respeito da intenção de votos para presidente, youtuber passa informação enganosa de que Bolsonaro tem 87,5% de preferência nas eleições do ano que vem. Não é possível usar enquetes como pesquisas eleitorais nem como prévias confiáveis, uma vez que não há uso de metodologias estatísticas, como a representação proporcional da população por meio de amostragem, sequer a confirmação de quantas vezes cada telespectador pôde responder. O resultado final da enquete em questão pode demonstrar, no máximo, a preferência de parte da audiência do programa, mas não é capaz de provar possível fraude nas eleições de 2022 caso o atual presidente não seja reeleito.
  • Conteúdo verificado: Youtuber mostra trecho de um programa de uma emissora de TV de Goiás com resultado parcial de uma enquete e diz: “se nós não conseguirmos o voto auditável com contagem pública, Lula vai ser colocado na presidência, por mais que 87,5% da população rejeite Lula e aprove Bolsonaro”. 

É enganoso um vídeo viral nas redes sociais que conclui que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem apoio de 87,5% da população a partir da parcial de uma enquete de um programa de TV regional. Ao divulgar esse número como sinal de aprovação do presidente, o youtuber bolsonarista Gustavo Gayer omite o resultado final da enquete e não deixa claro que esse tipo de levantamento não tem valor científico e não representa adequadamente a opinião da população brasileira.

Em 29 de junho, o programa Balanço Geral, da TV Sucesso, no interior de Goiás, pediu que os espectadores enviassem por WhatsApp o nome do candidato em quem votariam para presidente. Ao final do programa, 64,9% disseram que escolheriam Bolsonaro e 33,5% citaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Não é possível tirar conclusões a partir do resultado dessa enquete porque o programa tem alcance regional e não há controle sobre quem responde à pergunta. Não há como saber quantas pessoas participaram do levantamento, quantas eram mulheres e quantas eram homens, quantas têm título de eleitor, nem mesmo se alguém enviou mais de uma mensagem.

Pesquisas eleitorais realizadas por institutos como Ipec (formado por ex-executivos do Ibope) e Datafolha usam métodos estatísticos para garantir que a população ouvida seja representativa de todos os brasileiros. Ou seja: os entrevistados são selecionados em proporções de sexo, escolaridade, raça e renda semelhantes às da totalidade do país.

Como verificamos?

Consultamos uma verificação publicada anteriormente pelos parceiros do UOL Confere, por meio da qual acessamos a íntegra do programa Balanço Geral de Goiás. Também recuperamos checagens do Comprova sobre enquetes e pesquisas eleitorais. Checamos as regras do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre divulgação de pesquisas de opinião.

Analisamos ainda os dados da pesquisa de intenção de voto para presidente mais recente, realizada pelo Ipec e divulgada pelo Estadão.

Por fim, consultamos verificações anteriores do Comprova a respeito da auditabilidade do voto eletrônico.

Entramos em contato com Gustavo Gayer por e-mail e WhatsApp. O youtuber se limitou a ironizar a reportagem.

Verificação

A enquete do Balanço Geral

Como mostrou o UOL Confere, a TV Sucesso é uma afiliada da Record que transmite para 30 cidades do sudoeste de Goiás. O Balanço Geral é apresentado por Anderson Magrão, em um estúdio em Jataí, e por Rômulo César, em Rio Verde. No dia 29 de junho, o programa pediu que os espectadores enviassem por WhatsApp a resposta à pergunta “se a eleição fosse hoje, você votaria em quem?”.

No resultado parcial citado no vídeo de Gustavo Gayer, exibido às 12h15 no programa original, Bolsonaro aparecia com 87,5% e Lula com 6,2%. Outros 6,2% citaram o ex-juiz federal Sérgio Moro. Pouco mais de 20 minutos depois, às 12h36, os números já eram ligeiramente diferentes: 83,3% para Bolsonaro e 11,3% para Lula.

Ao final do programa, foi exibido o resultado final: 64,9% para Bolsonaro e 33,1% para Lula. Moro foi mencionado em 1,2% das respostas e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), em 0,4%. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), também apareceu com 0,4%.

O apresentador Rômulo César comenta os números dizendo que a mesma pergunta é feita todo mês, com resultados semelhantes. Ele não informa quantas pessoas responderam à dinâmica, nem quantas mandaram mais de uma mensagem. Também não há segmentação por sexo, escolaridade ou renda.

Como a participação é espontânea e o público conhece as parciais antes do encerramento, isso pode influenciar as conclusões. Por exemplo, um eleitor de Ciro poderia se sentir impelido a mandar mais mensagens para melhorar a porcentagem do pedetista.

Por que enquetes não têm valor científico?

Enquetes não têm controle sobre o público respondente. O resultado reflete apenas a opinião dos espectadores do Balanço Geral daquele dia que decidiram participar da dinâmica de votação. Importante lembrar que mesmo entre os moradores do interior de Goiás, nem todos assistem ao programa, têm acesso à Internet ou usam smartphone — por isso, há uma parte da população que não é representada.

Em pesquisas eleitorais, institutos de pesquisa como o Ipec e o Datafolha usam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do TSE para definir cotas de sexo, idade, escolaridade e outras características. O objetivo é ouvir um grupo proporcional à população brasileira, ainda que em número menor.

Na pesquisa de intenção de voto mais recente, divulgada em junho pelo Ipec, foram ouvidas 2.002 pessoas de 141 municípios brasileiros, presencialmente. A partir de dados do Censo 2010 e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) 2018, estipulou-se o número de entrevistados de cada grupo em critérios de sexo, idade, nível de instrução e atividade profissional em todas as regiões do país.

O resultado: 49% dos entrevistados disseram que votariam em Lula e 23% em Bolsonaro, com margem de erro de 2 pontos porcentuais para mais ou para menos. O petista tem vantagem sobre o atual presidente em todos os segmentos populacionais analisados pelo Ipec.

Em anos eleitorais, a divulgação de pesquisas segue regras elaboradas pelo TSE. Devem ser registradas junto ao Tribunal informações sobre “o contratante da pesquisa, com CPF ou CNPJ; o valor e a origem dos recursos gastos; a metodologia e o período de sua realização; o questionário aplicado ou a ser aplicado; o nome do estatístico responsável; e a indicação do estado em que será realizado o levantamento”.

O TSE proíbe a divulgação de enquetes no período eleitoral. Segundo a Resolução nº 23.600/2019, se encaixam nessa categoria “o levantamento de opinião sem plano amostral, que depende da participação espontânea do interessado e que não utiliza método científico para a sua realização, apresentando resultados que possibilitam ao eleitor perceber a ordem dos candidatos na disputa”.

Qual a opinião da classe C e dos menos escolarizados?

No vídeo, o youtuber Gustavo Gayer diz que a enquete do Balanço Geral reflete a opinião da classe C e dos menos escolarizados. Na realidade, de acordo com a última pesquisa Ipec, a maior parte desses segmentos populacionais declarou intenção de votar no ex-presidente petista.

Entre os entrevistados que cursaram até a 4ª série do ensino fundamental, 52% disseram preferir Lula e 18%, Bolsonaro; na faixa de pessoas que estudaram da 5ª à 8ª série, os índices são de 59% e 19%; entre os que chegaram ao Ensino Médio, 50% e 24%. No grupo de escolaridade superior, a diferença entre os dois candidatos é menor: 37% responderam que votariam em Lula e 29% em Bolsonaro.

Na segmentação por renda, o petista tem a preferência de 62% entre os que recebem até 1 salário mínimo, contra 20% do atual presidente; nos que ganham de 1 a 2 salários mínimos, os índices são de 51% e 22%; na faixa de 2 a 5 salários, 40% e 29%. Bolsonaro chega mais perto de Lula apenas no grupo com renda superior a 5 salários mínimos: tem 34% das intenções de voto, contra 39% do ex-presidente.

A pesquisa de intenção de voto divulgada pelo Datafolha em maio mostrou um cenário semelhante. Entre os que têm escolaridade de ensino fundamental, 51% disseram preferir Lula e 20%, Bolsonaro. Essas porcentagens foram de 39% e 26% na faixa de ensino médio e de 30% e 22% na de ensino superior. O petista também apresentou vantagem entre os que ganham até 2 salários mínimos (47%, contra 20% do atual presidente) e no grupo que recebe de 2 a 5 salários (34% a 29%). Bolsonaro apareceu à frente no segmento mais rico: 30% entre os que têm renda de 5 a 10 salários e 24% entre os que recebem mais de 10 salários. Nessas faixas, Lula pontuou com 26% e 18%.

Voto eletrônico já é auditável

No vídeo, Gayer diz que “se nós não conseguirmos o voto auditável com contagem pública, Lula vai ser colocado na Presidência, por mais que 87,5% da população rejeite Lula e aprove Bolsonaro”. Ele faz referência à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 135/2019, do voto impresso auditável, que tramita na Câmara dos Deputados. O texto, da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), define a instalação de impressoras junto aos equipamentos de votação, para emitir comprovantes que ficariam armazenados em urnas.

O sistema de votação eletrônica, no entanto, já é auditável. Como mostrou o Comprova no ano passado, há vários mecanismos para a auditagem dos votos. Partidos, coligações, candidatos e Ministério Público podem fazer auditoria pré e pós-eleições.

O TSE informa que nunca se identificou ou comprovou fraude eleitoral durante todo o período de uso das urnas eletrônicas. O equipamento é regularmente submetido a testes públicos de segurança e atualizações.

Quem é o youtuber

Ele tem um canal de YouTube com 419 mil inscritos. Já foi desmentido em verificações do Comprova que demonstraram que um documento não prova fraude nas eleições 2018 e que uma pesquisa brasileira não usou doses letais para matar pacientes e desacreditar cloroquina. Foi candidato a prefeito de Goiânia em 2020 pelo Democracia Cristã (DC); ficou em 4º lugar com 7,6% dos votos.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre o governo federal ou a pandemia de covid-19 que tenham atingido alto grau de viralização. O vídeo verificado foi visto ao menos 286,6 mil vezes no YouTube e Facebook.

Conteúdos que descredibilizam o sistema eleitoral brasileiro, ainda que por meio de informações manipuladas e enganosas, corroboram as acusações, sem fundamentos, que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) faz constantemente à veracidade do processo eleitoral. Desde o início do voto eletrônico no Brasil, em 1996, nenhum caso de fraude foi identificado e comprovado.

Desde a última eleição presidencial, quando as supostas falhas no sistema eleitoral passaram a ser divulgadas, o Comprova já verificou diversas vezes conteúdos falsos e enganosos sobre o assunto. Em outubro do ano passado, o projeto mostrou que um documento não prova fraude nas eleições de 2018 nem comprova vitória de Bolsonaro no 1º turno. No mês seguinte, duas publicações do Comprova apontaram para o fato de o voto eletrônico no Brasil já ser auditável.

Para o Comprova, um conteúdo é enganoso quando confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano, porque usa dados imprecisos e induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor, além de ter sido retirado do contexto original e usado em outro, com alterações no significado.

Eleições

Investigado por: 2021-06-18

‘Motociata’ promovida por Bolsonaro em São Paulo não gerou renda de R$ 40 milhões

  • Falso
Falso
Ato com motoqueiros promovido pelo presidente Jair Bolsonaro em São Paulo não gerou R$ 40 milhões em emprego e renda na cidade, como afirma texto publicado em um site e compartilhado nas redes sociais. A estimativa feita pelo site que publicou a informação é baseada em um número muito maior de participantes do que o real.
  • Conteúdo verificado: Texto em site afirma que “motociata” do dia 12 de junho gerou ‘40 milhões em emprego e renda’, por causa da movimentação de motoqueiros de outras cidades, que teriam viajado para a capital paulista.

Não é verdade que a “motociata” promovida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no dia 12 de junho gerou R$ 40 milhões em emprego e renda para a cidade de São Paulo. O texto verificado aqui, publicado em um site, atribui o suposto ganho econômico ao “aquecimento” do setor hoteleiro e de bares e restaurantes por causa da grande quantidade de participantes do evento. O número no qual o site baseou sua estimativa é, no entanto, muito maior do que o real número de participantes.

Em contato com o Comprova, o responsável pelo site Hora Brasília disse que conversou com comerciantes para fazer a estimativa de impacto econômico. Segundo ele, “levando em consideração que 400 mil motos passaram pelo pedágio, os comerciantes disseram que cada pessoa gastou ao menos R$ 100, chegamos a este valor”. Ocorre que o sistema de pedágio localizado em um trecho por onde passaram as motos aponta que o número de veículos participantes da manifestação não chegou a 6.700. O cálculo, portanto, está baseado em uma estimativa inflada.

Como verificamos?

Procuramos o responsável pelo site que publicou o conteúdo, para saber quais os critérios usados para aferir o ganho econômico em decorrência da “motociata”. No site Hora Brasília, fomos direcionados à página Canal Hugo Alves, no Facebook, onde encontramos um número de WhatsApp.

Entramos em contato com o responsável pelo site e, em seguida, buscamos informações sobre o número oficial de participantes da “motociata”. Contatamos o Sindicato das Empresas de Hotelaria e Estabelecimentos de Hospedagem do Município de São Paulo e Região Metropolitana (SindHotéis-SP) e a Abrasel-SP, para obter uma opinião de representantes dos setores sobre o impacto econômico do evento.

O SindHotéis-SP não respondeu aos nossos contatos até a publicação desta checagem. O presidente da Abrasel-SP, Joaquim Saraiva, nos concedeu uma entrevista por telefone.

Verificação

A “motociata”

O responsável pelo site que publicou o texto verificado, Hugo Alves, disse ao Comprova que “400 mil motos passaram pelo pedágio”. Isso não é verdade.

O ato realizado na cidade de São Paulo no dia 12 de junho teve participação de pouco menos de 6.700 motocicletas. O dado é do sistema de monitoramento da Rodovia dos Bandeirantes, no pedágio de Campo Limpo, que fica no km 39. A medição foi feita entre 11h08 e 12h31 do dia do ato, que começou às 10h na zona norte de São Paulo.

No fim de semana, depois do evento, apoiadores do presidente chegaram a divulgar um número muito maior de participantes, afirmando que o evento teria quebrado o recorde mundial de reuniões do tipo. O dado era falso. Ainda no fim de semana, a Secretaria de Segurança Pública do Estado já havia divulgado uma estimativa bem menor do número de manifestantes.

Consumo em bares e restaurantes

O cálculo dos supostos R$ 40 milhões gerados pela “motociata” foi feito, segundo o autor do texto, com base em um consumo de cada participante do evento no comércio da cidade. “Entramos em contato com os comerciantes de São Paulo, aqueles que o Doria quebrou. […] Os comerciantes disseram que cada pessoa gastou ao menos R$ 100”, disse Hugo Alves.

A publicação diz que a presença de turistas teria movimentado o setor de alimentação. Este dado também não procede. Além do número de participantes do evento já impossibilitar o cálculo, uma vez que o consumo alegado geraria, na verdade, uma receita de menos de R$ 670 mil, não é possível afirmar que todos os presentes consumiram em algum negócio ou fazer estimativas de valores.

Ouvido pelo Comprova, Joaquim Pinheiro, da Abrasel-SP, disse que os donos de estabelecimentos próximos aos locais onde os manifestantes se concentraram não registraram movimento e faturamento relevantes. “Ao contrário, pelo tumulto que estava e as dificuldades de se chegar até os restaurantes próximos, o faturamento caiu. No Dia dos Namorados, houve até reservas, mas alguns desistiram delas”, pontuou.

Turistas em hotéis

O texto também fala da chegada de turistas a São Paulo, para participar da “motociata”, e do aquecimento do setor hoteleiro.

O município tem o maior setor de hospedagem do país. Segundo o Observatório do Turismo e Eventos da Cidade de São Paulo, órgão ligado à prefeitura, a oferta de vagas para hospedagem na capital é de mais de 42 mil unidades habitacionais em 400 hotéis e quase 2,5 mil leitos em 70 hostels.

Ainda que todos os participantes da “motociata” fossem turistas – o que não é possível afirmar –, ocupariam cerca de 15% das vagas.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia do novo coronavírus e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. O conteúdo em questão foi considerado suspeito porque atribuía, sem apresentar fontes confiáveis, que o evento motociclístico organizado por apoiadores de Jair Bolsonaro, gerou R$ 40 milhões em faturamento ao estado de São Paulo, englobando empregos diretos e indiretos.

De acordo com a ferramenta CrowdTangle, a publicação original teve 3.737 curtidas, 184 comentários e 652 compartilhamentos nas redes sociais entre os dias 12 e 18 de junho. Também segundo a mesma ferramenta, a postagem do deputado federal Eduardo Bolsonaro teve cerca de 78.508 curtidas entre os dias 15 e 18 de junho.

Recentemente, outras agências de checagem mostraram que é falso que o jornal The Washington Post tenha descrito motociata de Bolsonaro como ‘a maior do planeta’; e que foto de manifestação com motos e parapentes foi tirada na Lituânia, não em ‘motociata’ de Bolsonaro.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Eleições

Investigado por: 2021-05-20

Vídeo enganoso de 2018 volta a circular para desacreditar Datafolha

  • Enganoso
Enganoso
Três dias após Datafolha mostrar pesquisa eleitoral com Lula à frente de Bolsonaro, uma página no Facebook que apoia o atual presidente publicou um vídeo de 2018 em que um homem tenta desacreditar o instituto de pesquisa porque o funcionário não o deixou ler as perguntas. Como o Comprova já havia verificado à época, o vídeo é enganoso pois o pesquisador apenas seguiu os procedimentos do instituto, que não permitem a leitura prévia para não sugestionar os participantes.
  • Conteúdo verificado: Página de apoio a Jair Bolsonaro no Facebook publicou um vídeo antigo para desacreditar a pesquisa Datafolha que mostrou o atual presidente atrás de Lula em uma eventual disputa eleitoral.

Um vídeo de 2018 em que um homem critica o Datafolha por ter sido proibido de ler as perguntas da pesquisa engana ao questionar a credibilidade do instituto, sem esclarecer que se trata de uma gravação antiga. Postada no perfil Força Patriótica, de apoio a Jair Bolsonaro (sem partido) no Facebook, a gravação voltou a circular nas redes sociais em 15 de maio deste ano, três dias após a Folha publicar resultado de pesquisa eleitoral que mostra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) liderando a corrida com 55% no segundo turno, contra 32% de Bolsonaro.

“Foi anulada a pesquisa Datafolha porque foi negada a informação de eu ler as perguntas. (…) Aí, como é que eu posso dar credibilidade a uma pesquisa que eu não posso ler as perguntas?”, afirma o autor da gravação, feita, conforme o Comprova verificou em 2018, entre os dias 6 e 7 de junho daquele ano, no Rio de Janeiro. 

O colaborador do instituto agiu corretamente, já que, como foi informado à época, “os procedimentos de campo seguidos pelos profissionais do Datafolha não permitem que os entrevistados leiam as perguntas antes para evitar estímulos não previstos quando da elaboração da pesquisa”. Ainda de acordo com o instituto, os entrevistados nunca têm acesso ao questionário aplicado por meio de tablet.

Procurado pelo Comprova, Rui Cosmedson, responsável pelo perfil Força Patriótica, afirmou que recebeu o vídeo e publicou. “Apenas submetemos à análise de nosso público.” Após ser avisado sobre o conteúdo enganoso, ele complementou a legenda afirmando que a gravação é de 2018 e “não reflete a situação atual”, dando o link para a verificação daquele ano do Projeto Comprova.

Como verificamos?

O primeiro passo foi recuperar a verificação sobre o mesmo vídeo feita pelo Comprova e publicada em 23 de agosto de 2018. A equipe também analisou o resultado da pesquisa eleitoral do Datafolha realizada recentemente, dias antes de o vídeo voltar a circular.

Para saber a regulamentação sobre registros de pesquisas eleitorais, também contatamos, por telefone e e-mail, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, por telefone, entrevistamos o especialista em Direito Eleitoral e Constitucional Acácio Miranda da Silva Filho e o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino. 

Posteriormente, o Comprova entrou em contato com o perfil que postou o vídeo novamente, que respondeu por WhatsApp.

Verificação

O vídeo

Conforme o Comprova verificou em 2018, o vídeo foi gravado entre os dias 6 e 7 de junho daquele ano, no Rio de Janeiro. O homem que faz a gravação se identifica como Fábio Figueiredo e questiona a credibilidade de uma pesquisa do Datafolha por ter sido proibido de ler as perguntas antes de respondê-las.

“O rapaz aqui do Datafolha está fazendo um questionário sobre eleição presidencial e eu não posso ler as perguntas no tablet dele”, diz o autor da gravação. “Eu vou respondendo aqui e ele vai clicando, e eu não sei o que ele está clicando… Como é que eu posso dar credibilidade a um cidadão desse que faz uma pesquisa dessa?”

Ele pede para que o pesquisador, que esconde o rosto atrás de um papel, mostre a cara e, posteriormente, diz: “É uma pena, senhores. Podem crer, não deem informação para o Datafolha; provavelmente, é tudo fraudado”. No fim do vídeo, ele afirma: “Esse é o Brasil que a gente vive. Mas, vamos lá, galera, Bolsonaro neles”.

Como informado acima, o vídeo foi feito em junho de 2018 e, antes de voltar a circular em 2021, viralizou em 22 de agosto de 2018, um dia depois de pesquisa Datafolha mostrar Lula à frente dos outros candidatos.

Pesquisa Datafolha de 2021

O vídeo de 2018 e a legenda que o acompanha na postagem de 15 de maio de 2021 feita por um perfil de apoio a Bolsonaro tentam descredibilizar o Datafolha dias depois de uma  pesquisa do instituto, realizada nos dias 11 e 12 de maio de 2021, mostrar o ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva na liderança do ranking de intenções de voto para o 1º e 2º turnos das eleições presidenciais de 2022. 

O levantamento foi realizado com 2.071 pessoas, de forma presencial, em 146 municípios, nos dias 11 e 12 de maio. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

A pesquisa aponta que no 1º turno Lula teria 41% dos votos e Jair Bolsonaro 23%, ambos disparados em relação aos possíveis demais candidatos.  

Os entrevistados também foram questionados sobre eventuais cenários de 2º turno, nos quais Bolsonaro perderia para Lula, Ciro Gomes (PDT) e João Doria (PSDB), atual governador de São Paulo. O estudo aponta também que Lula ganharia contra todos os candidatos com vantagem.

Na disputa entre Lula e Jair Bolsonaro, o candidato petista ganharia com 55% contra 32% dos votos. 11% responderam que votariam em branco ou nulo e 2% não souberam responder.

Veja abaixo o resultado das outras apurações de 2º turno feitas pelo Datafolha:

  • Lula (53%) x Sergio Moro (33%). Brancos e nulos (13%), não sabe (1%)
  • Lula (57%) x João Doria (21%). Brancos e nulos (20%), não sabe (2%)
  • Jair Bolsonaro (36%)  x Ciro Gomes (48%). Brancos e nulos (15%), não sabe (2%)
  • Jair Bolsonaro (39%) x João Doria (40%). Brancos e nulos (20%), não sabe (2%)

Registro

A pesquisa Datafolha de intenção de voto para presidente nas eleições de 2022 foi divulgada no dia 12 de maio de 2021. O Comprova apurou que o levantamento não possui registro no Tribunal Superior Eleitoral porque a legislação determina que os registros desse tipo sejam feitos somente nos anos com realização de votações no país, o que não acontecerá em 2021. Portanto, não há regulamentação de pesquisas fora do período eleitoral.

A equipe de verificação confirmou a informação por telefone e e-mail com a assessoria de imprensa do Tribunal Superior Eleitoral.

O Comprova também procurou o especialista em Direito Eleitoral e Constitucional Acácio Miranda da Silva Filho, que informou em entrevista, por telefone, que as pesquisas realizadas fora do período eleitoral não se submetem às mesmas regras da legislação que vigora nos anos com eleições. Segundo o advogado, geralmente a data considerada como “período eleitoral” é estabelecida e divulgada na última semana do ano que antecede a votação. 

Segundo o TSE,  para as eleições em 2020, a regra que exige o registro começou a valer no dia 1º de janeiro e foi disciplinada pela Resolução nº 23.600/2019. O tribunal informou à equipe do Comprova que ainda não tem uma data definida para registro de pesquisas para 2022.  

A equipe de checagem encontrou no site do Datafolha informações sobre os registros das pesquisas. O instituto esclarece que: “em todos os anos eleitorais, a partir do dia 1º de janeiro, os institutos devem fazer o registro das pesquisas presidenciais no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e, no caso de pesquisas estaduais, no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de cada Estado. Esse registro deve conter informações sobre quem contratou a pesquisa, o valor e a origem dos recursos necessários, a metodologia utilizada e o período de realização, entre outros dados. A pesquisa deve ser registrada na Justiça Eleitoral até cinco dias antes de sua divulgação”.

Por telefone, o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, explicou que todos os levantamentos feitos pelo instituto seguem o mesmo padrão, mesmo quando feitos fora do período eleitoral. Paulino também esclareceu que esta edição da pesquisa foi encomendada pelo jornal Folha de S.Paulo. 

Assim como o Comprova verificou em 2018, a metodologia da pesquisa não permite que os entrevistados leiam as perguntas antes para que o resultado seja considerado válido. De acordo com o site do Datafolha, “o questionário é o principal instrumento das pesquisas e a ordem das perguntas pode influenciar as respostas dos entrevistados”. Paulino reforça que essa regra continua valendo. 

O Comprova consultou o documento completo sobre a pesquisa de maio de 2021, disponível no site do instituto e verificou a metodologia utilizada. A pesquisa quantitativa com abordagem pessoal ouviu 2071 pessoas com 16 anos ou mais em 146 municípios brasileiros entre os dias 11 e 12 de maio de 2021.  Conforme consta no arquivo, “a margem de erro máxima para o total da amostra é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.”

As perguntas do questionário aplicado, durante cerca de 25 minutos, também estão disponíveis. Os entrevistados deveriam responder: 

  • Em outubro do ano que vem haverá eleição pra presidente. Em quem você pretende votar para presidente em 2022? 
  • Alguns nomes já estão sendo cogitados como candidatos a presidente em 2022. Se a eleição para presidente fosse hoje e os candidatos fossem estes (MOSTRE CARTÃO 1), em quem você votaria? 
  • Em quais desses possíveis candidatos (MOSTRE CARTÃO 1) você não votaria de jeito nenhum no primeiro turno da eleição para presidente da República em 2022. E qual mais? 

Os perfis das amostras com dados sobre sexo, escolaridade, renda familiar, ocupação, religião e cor podem ser acessados no mesmo arquivo. 

Nos períodos eleitorais as pesquisas devem seguir as regras que constam na lei de número 9.504, de 30 de setembro de 1997. O detalhamento das normas adotadas nas últimas eleições foi publicado no site do TSE.

Silva Filho, advogado consultado pelo Comprova, esclarece que em caso de suspeitas de fraude,  eleitores ou políticos podem contestar as pesquisas nas Justiças Eleitoral e Comum ou por meio de denúncia ao Ministério Público Eleitoral, órgãos que farão a análise dos questionamentos.

O TSE informou que “a Justiça Eleitoral não realiza qualquer controle prévio sobre o resultado das pesquisas, tampouco gerencia ou cuida de sua divulgação, atuando conforme provocada por meio de representação”.

O post de agora

O vídeo foi postado na página Força Patriótica em 15 de maio de 2021. O perfil se descreve como “uma organização democrática, patriótica, nacional, com base na democracia participativa e visa a restauração da ordem, a defesa da democracia, a preservação do estado de direito e o resgate da dignidade nacional”. 

O responsável pela página, de apoio a Bolsonaro, é Rui Cosmedson. Em entrevista à Folha em 2017, ele disse acreditar que 1964 “foi mais revolução do que ditadura”, com, no máximo, “exageros e abusos por parte de indivíduos.”

Contatado pelo Comprova por e-mail e WhatsApp, ele disse que recebeu o vídeo e pediu que os seguidores da página opinassem sobre o conteúdo – ele pede a opinião dos seguidores em vários posts. “Em nenhum momento, afirmamos concordar com o conteúdo ou atestamos a veracidade do mesmo; apenas submetemos à análise de nosso público”, disse ele à equipe.

Em seguida, ele afirmou que deixaria um alerta para os seguidores. Modificou a legenda do vídeo para “Pesquisa Datafolha. Dê sua opinião sobre isso. Conforme nos foi informado pelo grupo Folha, esse vídeo é de 2018 e não reflete a situação atual”.

Por que investigamos?

Em sua 4ª fase, o Comprova checa conteúdos possivelmente falsos ou enganosos sobre a pandemia ou o governo federal que tenham alcançado alto grau de viralização.

O post com o vídeo verificado aqui teve 802 mil visualizações no Facebook, além de 50 mil compartilhamentos até a tarde de 20 de maio. Nos últimos anos, conteúdos falsos ou enganosos a respeito do processo eleitoral se proliferaram de maneira intensa nas redes sociais e em aplicativos de mensagens, como WhatsApp e Telegram. O debate sobre a credibilidade do sistema eleitoral e das pesquisas é legítimo, mas de modo a promover avanços deve ser baseado em eventuais problemas concretos, o que não é o caso do vídeo verificado aqui. Criado em 1983, o Datafolha tem papel importante não só em levantamentos eleitorais, mas também sobre a opinião do brasileiro em relação a temas como pandemia e fome, dentre tantos outros.

Como já informado, o vídeo foi verificado pelo Comprova há três anos. E, na semana passada, a Folha publicou verificação semelhante, sobre vídeo também de 2018 em que jovem afirmava, erroneamente, que pesquisador do Datafolha teria se recusado a entrevistá-lo por ele ser eleitor de Bolsonaro –o Estadão Verifica também checou o assunto.

Enganoso, para o Comprova, é conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Eleições

Investigado por: 2020-12-04

É enganoso vídeo que denuncia suposta fraude nas urnas em João Pessoa

  • Enganoso
Enganoso
Um candidato a vereador pelo MDB disse não ter tido nenhum voto na seção onde ele próprio votou, mas documentos oficiais da Justiça Eleitoral mostram que ele teve dois votos no local
  • Conteúdo verificado: Vídeo no YouTube em que candidato a vereador em João Pessoa afirma que voto que ele deu em si mesmo não foi contado

É enganoso o vídeo em que um candidato a vereador em João Pessoa, na Paraíba, afirma que não foi contabilizado o voto que ele deu em si mesmo. Na realidade, foram contados dois votos para Edmilson Gomes de Melo (MDB) na seção onde ele votou. Ao todo, o candidato recebeu 119 votos e ganhou uma vaga de suplente na Câmara Municipal.

Gomes de Melo está inscrito no Título de Eleitor na zona 001, seção 004. Porém, algumas seções eleitorais foram agregadas este ano, por isso Edmilson foi orientado a votar na seção 001. Ao Comprova, o Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB) apresentou documentos que provam a votação de Edmilson na seção 001.

No vídeo, o candidato afirma ainda que um funcionário do TRE-PB “adicionou” dois votos para ele na seção eleitoral. O TRE-PB esclareceu que o banco de dados de votação jamais pode ser “editado”. O órgão comunicou em nota que o vídeo é uma “tentativa de macular a Justiça Eleitoral, forjando fatos”.

Como verificamos?

O Comprova entrou em contato com o Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB) e solicitou informações sobre as seções e zonas eleitorais existentes em João Pessoa. Também buscamos o resultado das eleições 2020 no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para confirmar a candidatura do homem que aparece no vídeo e a quantidade de votos obtida por ele. Foram procurados ainda o candidato Edmilson Duroger e o responsável pelo canal Seu Mizuka, que divulgou o vídeo.

Verificação

Qual a explicação do TRE-PB?

No vídeo, o candidato a vereador Edmilson Gomes de Melo está em frente à sede do TRE-PB. De acordo com o órgão eleitoral, ele foi atendido na Seção de Orientação e Apoio às Zonas Eleitorais (SOAZE) no dia 18 de novembro, três dias depois do primeiro turno do pleito. Na gravação, Edmilson afirma que o voto que ele depositou em si mesmo não foi contado, assim como a votação de seus familiares.

Isso não é verdade. De acordo com os resultados oficiais divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edmilson recebeu 119 votos. O TRE-PB detalhou que foram dois votos na seção onde o candidato votou, a 001 da 1ª Zona Eleitoral. A mesma votação consta no boletim de urna divulgado pelo TSE.

Os votos a favor de Gomes de Melo foram distribuídos da seguinte maneira: 49 votos na 1ª Zona Eleitoral; 24 votos na 64ª Zona; 19 votos na 70ª; 12 votos na 76ª; e 15 votos na 77ª.

Edmilson está cadastrado no Título de Eleitor na seção 004 da 1ª Zona Eleitoral, mas o TRE-PB esclareceu que algumas das seções foram agregadas este ano. O órgão apresentou ao Comprova um documento que mostra que o local de votação do candidato foi transferido.

Como mostra consulta ao site oficial do TSE, Gomes de Melo votou na Faculdade de Ciências Médicas (antigo Colégio Pio XII), na Praça São Francisco, 116, no centro de João Pessoa.

No vídeo, Edmilson diz que, depois de reclamar que nenhum voto a seu favor foi contado na seção onde votou, um funcionário do TRE-PB “adicionou” dois votos para o candidato. Em resposta, o TRE-PB disse que não é possível “editar” o banco de dados de votação. Neste ano, a totalização dos votos foi centralizada na sede do TSE, em Brasília.

O TRE-PB informou que vai encaminhar o caso ao Ministério Público Eleitoral.

Quem é o autor do vídeo original?

Edmilson Gomes de Melo tem 57 anos e foi candidato pelo MDB, usando o número 15.777 e o nome de urna “Edmilson Duroger” — referência ao Roger, um dos bairros mais carentes da capital paraibana. No local ficava, até 2003, o antigo lixão da cidade, e ainda hoje funciona a Penitenciária Desembargador Flósculo da Nóbrega, o mais antigo presídio da Paraíba, inaugurado há 80 anos.

Conversamos com Edmilson por telefone. Ele disse que “estranhou não ter tido votos em sua seção, a 4ª da 1ª zona eleitoral, mas que um funcionário do TRE disse que poderia corrigir e imprimiu um relatório com dois votos naquela seção (na verdade, a 1ª)”.

Durante o telefonema, ele admitiu que o funcionário que o atendeu “pode ter sido irônico”. Após a gravação do vídeo, Edmilson disse que retornou ao TRE e recebeu a explicação que sua seção original, a 4ª, foi agregada à 1ª seção por conta das alterações realizadas para reduzir o número de mesários por causa da pandemia.

O candidato explicou que, no vídeo, se referiu aos oito votos que teve no bairro do Roger, pois sabia que, no total, obteve 119 votos. “Sem arrogância, pela campanha que fiz e pelo trabalho que faço no Roger, há muitos anos, era pra ter tido 5 mil votos”. De acordo com os dados do último censo do IBGE, em 2010, a população do bairro era de 10.381 pessoas aptas a votar.

O trabalho ao qual ele se refere seria “as denúncias de corrupção na Câmara Municipal” que costuma fazer. Edmilson informou ao TRE ser “jornalista e redator”. Na documentação de registro de candidatura consta apenas um diploma de conclusão do Ensino Médio.

No dia 24 de novembro, ele foi à sede da superintendência da Polícia Federal no estado e protocolou um pedido para “pegar todas as urnas do município de João Pessoa, e que se disponibilize uma equipe de especialistas na segurança da informação que seja neutra para periciá-las”.

Edmilson contou que foi à PF acompanhado de dois outros candidatos, citados no vídeo analisado: Nininho Mangabeira e Dr. Nosman (Antônio Nosman Barreiro Paulo), ambos do MDB. Um terceiro candidato que, segundo ele, também estaria “revoltado”, Dr. Aníbal Marcolino (José Aníbal Costa Marcolino Gomes), não o acompanhou por ter desistido de fazer a denúncia.

O Comprova entrou em contato com a PF para saber mais informações sobre a denúncia de Edmilson, mas não recebeu resposta.

O canal do Youtube

O vídeo de Edmilson foi reproduzido pelo canal Seu Mizuka, que existe no YouTube desde 9 de dezembro de 2017 e tem 71,9 milhões de visualizações. É conhecido por publicar conteúdos favoráveis ao governo federal e é um dos canais que veicularam anúncios da Secretaria Especial de Comunicação Social do Governo Federal sobre a Previdência, sendo o sexto canal do YouTube com mais interações nos anúncios do governo por visualização. Em junho deste ano, o Comprova já desmentiu um vídeo publicado no mesmo canal e que tentava desacreditar a pandemia da covid-19, apoiado em imagens da cidade de Genebra, na Suíça.

O Comprova tentou contato com o responsável pelo canal Seu Mizuka, mas não obteve resposta.

Por que investigamos?

Atualmente em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre as eleições municipais de 2020, a pandemia de covid-19 e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. A verificação de conteúdos que tratam de apuração é importante porque conteúdos inverídicos podem atingir a confiança das pessoas nas eleições.

O vídeo publicado no canal “Seu Mizuka” teve mais de 157 mil visualizações desde o dia 25 de novembro. No Facebook, o link de YouTube teve 32.355 interações, de acordo com a ferramenta CrowdTangle.

O Comprova tem checado uma série de conteúdos que atacam a lisura do processo eleitoral. Por exemplo, desmentimos que o software das urnas eletrônicas brasileiras tenha sido usado em fraudes nos Estados Unidos e que o TSE tenha atualizado os resultados das eleições de acordo com o portal de notícias G1. Veja todas as verificações do Comprova sobre eleições.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.

Eleições

Investigado por: 2020-12-01

Boulos não prometeu deixar o país depois da derrota nas eleições

  • Falso
Falso
Guilherme Boulos nega ter feito a promessa, o Comprova não encontrou nenhum registro de uma manifestação do político nesse sentido e o site responsável pela publicação não respondeu ao nosso contato para que apresentasse alguma prova.
  • Conteúdo verificado: Link de um site compartilhado nas redes sociais afirma que, após serem derrotados nas eleições municipais em Porto Alegre e São Paulo, respectivamente, Manuela D’Ávila (PCdoB) teria chorado, e Guilherme Boulos (PSOL) anunciado que deixará o país.

Não há indícios de que o ex-candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) tenha anunciado que deixaria o país após perder para o atual prefeito Bruno Covas (PSDB) nas eleições do último domingo (29), como diz uma publicação que circula pelas redes sociais.

Procurada, a assessoria de comunicação de Boulos negou o conteúdo. Em seu pronunciamento pós-eleições publicado no Youtube, Boulos não fez nenhuma menção a sair do país. Pelo contrário, disse ser “o começo de uma caminhada” e motivou as pessoas a continuarem lutando, quando reconheceu a derrota na noite de domingo (29). Além disso, o Comprova não encontrou qualquer entrevista em que o psolista afirme isso.

O “Jornal 21 Brasil”, portal responsável pela publicação, afirma que “uma imprensa livre é a condição fundamental para que as sociedades resolvam seus conflitos, promovam o bem-estar e protejam sua liberdade.” O site foi listado pela “CPI das fake news” do Congresso Nacional como um dos sites de “conteúdo inadequado” que recebeu anúncios do governo. Para a CPI, o site publica notícias falsas” e veiculou material de publicidade da campanha Nova Previdência. A CPI analisou o conteúdo publicado pelo site entre junho e julho de 2019. Outras publicações realizadas pelo portal já foram verificadas, como a afirmação de que o TSE teria mudado a empresa responsável pela divulgação da apuração.

Entramos em contato com o Jornal 21 Brasil, mas, até o momento em que essa checagem foi publicada, não tivemos retorno.

Como verificamos?

Procuramos, por WhatsApp, a assessoria de comunicação de Boulos.

Também verificamos os conteúdos publicados pelo candidato em suas redes sociais oficiais após o fim da apuração no domingo e matérias com entrevistas para verificar se ele havia feito alguma afirmação do tipo. Pesquisamos, ainda, checagens relacionadas a Boulos realizadas anteriormente.

Verificação

Não há indícios de que Boulos pretenda deixar o país

Ao Comprova, a assessoria de Guilherme Boulos negou o conteúdo da corrente. A equipe disse que “a informação, evidentemente, não procede”. Ainda segundo a assessoria, a equipe do candidato já tinha conhecimento de que esse conteúdo estava circulando.

Em seu pronunciamento pós-eleição, o candidato derrotado do PSOL também não disse nada sobre deixar o país. Pelo contrário. Em vídeo publicado em suas redes sociais na noite de domingo (29), ele falou em “começo de uma caminhada”.

“Nós não vencemos essa eleição, mas ninguém perdeu a vontade de lutar por esse caminho, para a gente seguir nos próximos anos. Hoje não é o fim de uma caminhada, é o começo. Começo da vitória da solidariedade sobre a indiferença”, declarou Boulos, em publicação após o fim da apuração.

Por que investigamos?

Atualmente em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre as eleições municipais de 2020, a pandemia e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. A verificação de conteúdos que tratam de apuração é importante porque conteúdos inverídicos podem atingir a confiança das pessoas nas eleições.

Neste caso, o post no Facebook que compartilha o link com a notícia falsa teve mais de 3,3 mil curtidas, 2,2 mil comentários e cerca de 500 compartilhamentos desde a noite de domingo.

Esta já é a terceira corrente que o Comprova checa sobre Boulos. Durante as eleições de 2020, o Comprova desmentiu que ele havia cobrado aluguel de sem-tetos e que iria obrigar paulistanos a receber moradores de rua durante a pandemia.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Eleições

Investigado por: 2020-11-29

É falso que cabos eleitorais de Sarto tenham transportado urna adulterada

  • Falso
Falso
Vídeo mostra urna conduzida em uma picape cedida à Justiça Eleitoral pelo DNOCS, no Ceará. O equipamento é uma urna de contingência, utilizada para substituir unidade que apresentou defeitos no início da votação
  • Conteúdo verificado: Vídeo no Facebook que mostra urna eletrônica em uma picape, com legenda que diz que o equipamento foi adulterado e transportado por cabos eleitorais do prefeito eleito de Fortaleza José Sarto (PDT)

É falso que um vídeo viral no Facebook mostre cabos eleitorais do prefeito eleito de Fortaleza José Sarto (PDT) transportando uma urna eletrônica adulterada em um carro particular. Na verdade, a gravação mostra um equipamento trazido em uma picape cedida à Justiça Eleitoral pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). A máquina é uma urna de contingência, utilizada para substituir um equipamento que apresentou defeitos no início da votação.

De acordo com Edna Saboia, coordenadora de Eleições do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), o procedimento de substituição de urnas é “correto, dentro da legalidade e comum nas eleições”. Ao todo, 42 urnas foram substituídas na capital cearense.

O Tribunal afirmou que o tumulto foi gravado por uma eleitora que não entendeu o transporte da urna. “Ressalta-se que o vídeo está editado e não mostra o momento em que uma servidora explica o processo de troca”, comunicou o TRE-CE.

Como verificamos?

Entramos em contato com o TRE-CE, que divulgou uma nota sobre o ocorrido. Também questionamos Edna Saboia, coordenadora de Eleições do TRE-CE. O editor-chefe do site de checagem E-Farsas Marco Faustino cedeu ao Comprova áudios de uma conversa com uma auxiliar convocada pela Justiça Eleitoral que presenciou o incidente, Ana Cristina Rodrigues.

Verificação

Em que contexto foi gravado o vídeo?

De acordo com o Tribunal Regional do Ceará, o vídeo mostra um tumulto causado por uma eleitora que não aceitou o processo de troca de uma urna eletrônica defeituosa. A confusão ocorreu em um local de votação da 85ª zona eleitoral de Fortaleza, na escola Professor César Campelo.

Uma auxiliar convocada pela Justiça Eleitoral presenciou o incidente e conversou com o editor-chefe Marco Faustino, do site de checagem E-Farsas. Ana Cristina Rodrigues disse que uma urna da seção 141 estava apresentando defeitos pela manhã. “Quando isso acontece, o presidente da mesa tem que reiniciar a urna e se ela continuar travando, tem que substituir”, disse ela. “Mas isso é último caso, porque nós só temos duas urnas de reposição”.

De acordo com a auxiliar, por volta das 11h30 uma eleitora viu uma urna de contingência chegando para a substituição. Ainda segundo Ana Cristina, essa mulher começou a fazer acusações de fraude contra o candidato a prefeito Capitão Wagner (PROS). Uma segunda eleitora filmou, do lado de fora da escola, a picape em que a urna de contingência foi transportada.

“Mostramos para que ela (a mulher que filmava) pudesse ver que era uma urna de reposição, um procedimento normal”, disse Ana Cristina. “Ela continuou gritando dizendo que a gente tava roubando. Ela filmou e editou, deixou só a parte que interessava.”

Segundo o TRE-CE, algumas das pessoas mostradas em torno da picape faziam parte da equipe de apoio da Justiça Eleitoral. O carro utilizado para transporte da urna de contingência foi cedido pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) e estava identificado com adesivos.

“A equipe estava em carro adesivado pelo TRE-CE que foi requisitado ao DNOCS, visto que a Justiça Eleitoral não possui carros suficientes para abranger todas as rotas, sendo necessária a requisição de veículos de outros órgãos públicos”, informou o Tribunal.

Urnas de contingência

São aparelhos reservas, preparados para substituir equipamentos que apresentem algum defeito no dia da votação. Elas são preparadas e lacradas na mesma audiência que as demais e, portanto, apresentam como opções os mesmos candidatos de uma urna “normal”. Caso a urna original apresente problemas após o início da votação, a Justiça Eleitoral transfere o flash card e o disquete do aparelho com defeito para a urna de contingência, garantindo que os votos já registrados não sejam desconsiderados. A nova urna é, então, lacrada novamente e passa a ser a urna da seção eleitoral.

Caso os problemas persistam, a Justiça Eleitoral prevê também a possibilidade de se utilizar um flash card de contingência, também preparado previamente, ou, se não houver alternativa para usar a urna eletrônica, de coletar os votos manualmente através de cédulas.

De acordo com Edna Saboia, coordenadora de Eleições do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), o vídeo em questão gravou o transporte de urnas para substituição, procedimento que é usual em todas as eleições. “Há mais de 600 urnas de contingência, que são as urnas reservas que ficam em pontos específicos. Quando tem uma ocorrência [de mau funcionamento da urna em uso] em algum local de votação, as equipes de apoio do TRE transportam essas urnas de contingência para substituição. Quem transporta essas urnas são os veículos requisitados pela Justiça Eleitoral. A frota (para as eleições atuais) é de uns 500 veículos, só aqui em Fortaleza, e os carros são requisitados de vários órgãos. O veículo que aparece no vídeo é do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). O procedimento é correto, dentro da legalidade e comum nas eleições”.

Registros de denúncia

Segundo a Polícia Militar do Ceará, apenas seis ocorrências foram encaminhadas à superintendência da Polícia Federal em Fortaleza por irregularidades no dia da votação. Os registros são de suspeita de distribuição de material de campanha, realização de carreata, apreensão de folhetos e dinheiro (sem comprovação de compra de votos) e outras três ocorrências em Fortaleza e em Caucaia, município da Região Metropolitana, classificadas como “tentativas de atrapalhar os trabalhos eleitorais” que não foram especificados pelo TRE-CE.

Para Saboia, esta foi uma das eleições mais tranquilas que a servidora já vivenciou. “A quantidade de ocorrências foi bem menor do que na eleição passada”, destaca.

Quem é o Inspetor Alberto?

O vídeo com maior viralização no Facebook foi divulgado pela conta do Inspetor Alberto, nome de urna do servidor público aposentado José Alberto Bastos Vieira Júnior, de 59 anos. Ele foi eleito vereador em Fortaleza com 7.301 votos pelo Partido Republicano da Ordem Social (PROS). Essa foi a quinta eleição que ele disputou e a primeira em que teve sucesso – desde 2006, quando concorreu a deputado estadual, vem se candidatando a cargos proporcionais.

Em suas redes sociais, onde ostenta foto ao lado do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), ele se define como “armamentista, conservador e antiesquerdista”.

Nos documentos disponíveis no sistema de divulgação de candidaturas do TSE (DivulgaCand), os três números de telefones fornecidos são do partido PROS. Tentamos contato com o Inspetor através de uma pessoa chamada Tancredo Santos, seu correligionário, que não respondeu às mensagens do Comprova.

No início da noite, Alberto voltou ao seu perfil no Facebook para postar em letras maiúsculas, sugerindo estar gritando: “O Facebook está tentando manipular as pessoas! Está alegando que a notícia é falsa! Contra fatos não há argumentos!”

Por que investigamos?

Atualmente em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre as eleições 2020, a pandemia e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. A verificação de conteúdos que tratam de apuração é importante porque conteúdos inverídicos podem atingir a confiança das pessoas nas eleições.

O vídeo que viralizou teve 121,6 mil interações no Facebook, segundo a plataforma de monitoramento de mídias sociais CrowdTangle.

O Aos Fatos, o E-farsas e a Agência Lupa verificaram o mesmo conteúdo e o classificaram como falso.

Durante a eleição de 2020, o Comprova mostrou que as justificativas dos eleitores não podem ser transformadas em votos válidos; que a apuração brasileira é aberta a qualquer pessoa; que é possível realizar recontagem dos votos; e que o sistema que aparece em um vídeo para simular fraude não é o mesmo das urnas eletrônicas.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Eleições

Investigado por: 2020-11-29

É falso que Manuela D’Ávila tenha liderado protestos no Carrefour de Porto Alegre

  • Falsa
Falsa
Ao contrário do que uma postagem sugere, a rede de supermercado Carrefour nunca anunciou fechamento ou demissão de seus funcionários
  • Conteúdo verificado: Publicação em grupo de Facebook afirma que o Carrefour de Porto Alegre onde João Alberto Silveira Freitas foi morto será fechado por conta de protestos liderados pela candidata a prefeita Manuela D’Avila (PCdoB)

É falsa a publicação no Facebook que afirma que o Carrefour da Zona Norte de Porto Alegre, onde ocorreu a morte de João Alberto Silveira Freitas, será fechado por conta de protestos liderados pela candidata a prefeita Manuela D’Avila (PCdoB). Na verdade, os atos foram organizados e convocados por entidades e coletivos do movimento negro, movimentos sociais e integrantes da torcida do time São José.

Ao contrário do que a postagem sugere, a rede de supermercado Carrefour nunca anunciou fechamento ou demissão de seus funcionários. Após a morte, o mercado anunciou no Twitter que no dia 20 de novembro a loja não iria abrir: “em respeito à vítima, a loja será fechada”.

A decisão ocorreu um dia depois do espancamento de João Alberto por dois seguranças. No dia 26 de novembro, sete dias depois da morte de João Alberto, a unidade também ficou fechada. Em post no Twitter, a rede de mercados informou que “em respeito ao luto da família de João Alberto Freitas e à sociedade brasileira, nossas lojas estarão fechadas na quinta até as 14h” .

Não há registro de que funcionários do Carrefour tenham sido demitidos ou que a unidade tenha sido fechada em decorrência dos protestos. Segundo a assessoria da empresa, “a loja segue operando normalmente”. Já o Sindicato dos Empregados do Comércio de Porto Alegre comunicou que não recebeu nenhuma denúncia referente à demissão de funcionários ou sobre a possibilidade de fechamento da loja.

Até o momento, foram demitidos apenas os seguranças envolvidos no espancamento: os terceirizados Giovane Gaspar da Silva e Magno Braz Borges. O Carrefour, em nota, afirmou que terminou o contrato com o Grupo Vector, empresa responsável pela segurança.

Como verificamos?

Procuramos o posicionamento oficial do Carrefour e do Sindicato dos Empregados do Comércio de Porto Alegre. Questionamos a assessoria da própria Manuela D’Ávila sobre sua participação no protesto e entramos em contato com os movimentos e grupos que organizaram os atos realizados em prol de João Alberto. Um dos verificadores foi presencialmente a um dos protestos entrevistar os manifestantes.

O Comprova também tentou contato com a página responsável pela publicação. Não obteve retorno. Posteriormente, a postagem foi apagada, mas outras publicações com o mesmo conteúdo continuam circulando nas redes sociais.

Verificação

A morte de João Alberto desencadeou diversos protestos, que inicialmente foram convocados para o dia 20 de novembro. A reportagem conversou pessoalmente com participantes de uma das manifestações. De acordo com os entrevistados, os atos foram criados pelos seguintes grupos: Torcida Os Farrapos (torcedores do clube Esporte Clube São José, do qual João Alberto fazia parte), Movimento Negro Unifcado (MNU), Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT), Juntos, Alicerce, Renagro Casa do Babá Giba de Yemanjá, Pastorais da Criança e do Negro Paróquia Santo Antônio, Articulação Popular Gaúcha, Partido Unidade Popular, Movimento de Alabês Velha África.

Manuela D’Ávila, candidata à prefeitura de Porto Alegre pelo PCdoB, chegou a participar de uma manifestação na unidade do Carrefour, mas não fazia parte da organização do ato. A mídia local informou que a manifestação foi “convocada por entidades e coletivos ligados ao movimento negro”. O fato foi corroborado ao Comprova por representantes de coletivos presentes no local.

Os protestos

Manuela D’Ávila esteve presente em apenas um protesto contra o racismo após a morte de João Alberto na unidade do Carrefour à qual a postagem analisada faz menção. Foi no dia 20 de novembro, quando se celebra o Dia da Consciência Negra no Brasil.

Até a publicação desta verificação, quatro protestos foram feitos em Porto Alegre contra a morte de João Alberto. Na sexta-feira, 20 de novembro, cerca de 2,5 mil manifestantes, segundo a Guarda Municipal de Porto Alegre, se reuniram em frente ao supermercado. Um grupo pequeno de manifestantes tentou invadir o mercado, que estava fechado, gerando confronto com a Brigada Militar.

No sábado, 21 de novembro, 50 pessoas protestaram pacificamente no mesmo local por aproximadamente duas horas. Na segunda-feira, 23, o protesto aconteceu em outro local, em frente ao Carrefour da Avenida Bento Gonçalves, zona leste da cidade. Já no dia 27 de novembro, ocorreu um ato ecumênico no final da tarde, em frente à Igreja São Jorge. Manifestantes caminharam cerca de 3km até o Carrefour da Avenida Bento Gonçalves.

Ao Comprova, a assessoria de Manuela D’Ávila negou que ela tenha convocado o ato e informou que a candidata “apenas passou pelo protesto, no primeiro dia, muito antes de haver qualquer tipo de confusão”.

Posicionamento do Carrefour

Não há evidência de que funcionários do Carrefour tenham sido demitidos em decorrência dos protestos. Segundo a assessoria de comunicação do Carreforur, a informação de que a loja da Zona Norte de Porto Alegre será fechada não é verdadeira. “A informação não procede. A loja segue operando normalmente”, afirmou a empresa, por e-mail.

Já o Sindicato dos Empregados do Comércio de Porto Alegre informou ao Comprova que não recebeu nenhuma denúncia referente à demissão dos funcionários e nem sobre a possibilidade de fechamento da loja.

Após o ocorrido, o mercado anunciou em seu perfil no Twitter que no dia 20 de novembro a loja não iria abrir, “em respeito à vítima, a loja será fechada”. A decisão foi um dia depois do espancamento que levou João Alberto a óbito. No dia 26 de novembro, sete dias depois do espancamento, o mercado também ficou fechado. Em post no Twitter, a rede informa que “Em respeito ao luto da família de João Alberto Freitas e à sociedade brasileira, nossas lojas estarão fechadas na quinta até as 14h” .

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais referente à pandemia, a políticas públicas do governo federal e às eleições de 2020. A postagem analisada nessa verificação se enquadra no último caso: difunde informações falsas sobre uma candidata e pode afetar o processo eleitoral. O conteúdo foi divulgado em pelo menos quatro publicações no Facebook, que somaram mais de 7 mil interações, entre curtidas, comentários e compartilhamentos. Também registrou 50 curtidas em uma publicação no Instagram.

O Fato ou Fake, Aos Fatos e AFP também checaram este conteúdo como falso.

Outros candidatos à prefeitura de capitais foram alvos de desinformação. O Comprova já demonstrou que Boulos não cobrou aluguel de moradores sem-teto e que panfletos distorceram frase de Marília Arraes sobre a Bíblia. Uma frase de Ana Arraes também foi tirada de contexto em vídeo para implicar que seu neto e candidato à prefeitura de Recife, João Campos, teria lhe agredido fisicamente.

Sobre Porto Alegre, o Comprova demonstrou que a diferença entre os resultados do primeiro turno e de uma pesquisa realizada na cidade não implica em fraude do levantamento.

Falso: Conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Eleições

Investigado por: 2020-11-29

É falso que hacker tenha atacado sistema de votos do TSE

  • Falso
Falso
Os dados vazados eram da área de Recursos Humanos e os hackers não chegaram a invadir o sistema de apuração dos votos ou as urnas eletrônicas. Além disso, a urna não é conectada à internet. O sistema operacional instalado nela impede a conexão com qualquer rede ou acesso remoto
  • Conteúdo verificado: Post no Twitter diz que um jovem de 19 anos atacou o sistema do TSE e que um sistema sem auditoria não tem segurança

É falso que um hacker tenha atacado o sistema de votos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), como afirma um tuíte que viralizou neste domingo (29), dia do segundo turno das eleições. Nesse sábado, a Polícia Federal cumpriu quatro mandados de busca e apreensão em São Paulo, Minas Gerais e em Portugal contra programadores acusados de integrar o grupo hacker que vazou dados administrativos do TSE no primeiro turno das eleições de 2020. Os dados vazados eram da área de Recursos Humanos e os hackers não chegaram a invadir o sistema de apuração dos votos ou as urnas eletrônicas, de acordo com a Justiça Eleitoral, a Polícia Federal e quatro especialistas em cibersegurança que, a pedido do Comprova, analisaram as informações vazadas no dia em que a falha de segurança se tornou pública.

Também não é verdade que o sistema de votação brasileiro não seja seguro por não ter uma auditoria através de votos impressos. As urnas eletrônicas, a rede que transmite os votos e o programa que faz a totalização da votação de cada candidato têm uma série de mecanismos de segurança, como criptografias e chaves de segurança às quais apenas o TSE tem acesso. A Justiça Eleitoral também realiza auditorias das urnas eletrônicas em todos os estados, no primeiro e no segundo turno das eleições, com participações de fiscais dos partidos políticos, de representantes da sociedade civil e de qualquer cidadão interessado em acompanhá-las. Como o Comprova já mostrou, a impressão de um comprovante com os votos de cada eleitor foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) porque poderia violar o sigilo do voto, que é definido como direito fundamental pela Constituição de 1988.

Como verificamos?

Para essa verificação, inicialmente buscamos informações sobre a prisão do hacker que vazou dados da Justiça Eleitoral. Também procuramos o TSE para saber sobre a segurança das urnas e o processo de apuração dos votos. Entrevistamos Emanuel Bezerra, professor do Departamento de Computação da Universidade Federal do Ceará (UFC), para entender como funciona o tipo de ataque que resultou no vazamento de dados da Justiça Eleitoral. Por fim, entramos em contato com o autor do tuíte.

Verificação

Como foi a ação do hacker preso?

De acordo com matéria publicada pelo Estadão, que entrevistou o hacker, o ataque foi do tipo DDoS (do inglês Distributed Denial-of-Service attack) e realizado por meio de uma “botnet” (controle de uma rede de dispositivos com internet), o que gerou instabilidade no site. O ataque de DDoS, também conhecido como ataque de negação de serviço, atinge seu objetivo excedendo os limites do servidor. Para isso, os hackers criam programas maliciosos que são instalados em diversas máquinas, as quais realizarão múltiplos acessos simultâneos ao site ao qual o ataque é direcionado. A mesma estratégia foi utilizada nos ataques aos sites da Receita Federal, da Presidência da República, do Portal Brasil e da Petrobras ocorridos em junho de 2011.

Na segunda-feira (16), o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, afirmou que o ataque não afetou as urnas eletrônicas nem o resultado das eleições. No entanto, a ação resultou em lentidão nos serviços remotos do TSE em todo o Brasil, devido a solicitações oriundas de 435 mil conexões — que além do território nacional, partiram de países como Estados Unidos e Nova Zelândia.

Segundo Emanuel Bezerra, professor do Departamento de Computação da Universidade Federal do Ceará (UFC), esse tipo de ataque só é possível ser feito com uma rede articulada de computadores, ao contrário do que afirmou o hacker, que disse ter feito a operação sozinho e com auxílio apenas de um celular. “É muito difícil só uma pessoa com o celular conseguir derrubar uma rede. Geralmente são muitas máquinas infectadas trabalhando ao mesmo tempo, e elas não precisam ser do hacker. O que os hackers fazem é contaminar as máquinas (computadores e celulares) de outras pessoas ao redor do mundo, que ficam como se fossem ‘zumbis’ no momento do ataque e iniciam os disparos em massa na rede que o hacker quer derrubar. Essa contaminação de máquinas pode ser causada por sites ou links maliciosos e resultam no que a gente chama de botnet (rede de robôs), que obedecem as ordens do atacante”, explica.

Quem é o hacker?

O hacker português identificado como Zambrius, líder do grupo local CyberTeam, suspeito de ter atacado os dados da Justiça Eleitoral do Brasil, foi preso sábado, 28, pela Polícia Federal em Portugal. O hacker tem 19 anos e se diz “viciado” em programação de computador. Estava detido em casa desde março, com uma tornozeleira eletrônica, após efetuar um ataque aos sistemas de uma empresa de energia elétrica local. Em entrevista ao Estadão, feita entre os dias 17 e 18 de novembro, mas publicada após a prisão, ele contou que agiu por “diversão” e por ser contra governos. Ele acrescentou que o objetivo principal era demonstrar que o TSE continuava vulnerável mesmo depois de ter sido anunciado que tinha reforçado a segurança.

Sobre o fato de o ataque ter feito com que os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro acusassem fraude no sistema eleitoral do Brasil, o hacker disse que a intenção do grupo não era propulsionar o que chamou de “desinformação de fraudes”, e que a invasão não afeta ou causa fraudes nas eleições. “Eu não tenho envolvimento em atos políticos, tenho apenas protestos antigoverno, nunca apoiei partidos, governos ou o quer que seja relacionado ao governo”, afirmou.

No dia 15, o Comprova entrou em contato com a página do CyberTeam e a pessoa que respondeu às mensagens e trocas de e-mails se apresentou como Zambrius e disse ser o jovem que já havia sido preso em abril deste ano em Portugal. Ele disse que o ataque teria ocorrido na data do primeiro turno das eleições, não anos antes. Quando questionado sobre a avaliação de especialistas ouvidos pelo Comprova, segundo a qual o vazamento não teve ligação com dados da eleição, Zambrius respondeu: “Eu não explorei por completo o TSE e só me foquei em reunir os dados de utilizador”.

Sistema de votos não foi invadido

O TSE afirmou ainda no dia 15 de novembro, data do primeiro turno, que o vazamento envolvia apenas dados administrativos do tribunal, com informações de funcionários e ex-ministro da Corte. As informações são referentes ao período de 2001 a 2010. A falha não comprometeu o sistema de votação, que funciona à parte e possui várias travas de segurança, inclusive utilizando chaves e criptografia. O ataque também não poderia afetar as urnas eletrônicas, que estavam recebendo o voto dos eleitores naquele momento, porque elas não são conectadas à internet.

Ainda no dia 15 de novembro, o Comprova pediu a quatro especialistas em cibersegurança que avaliassem os dados vazados para saber se eles poderiam comprometer o resultado das eleições. Todos foram unânimes em afirmar que o sistema de votos não foi afetado e que o ataque não violou a segurança da eleição. Foram ouvidos Paulo Lício de Geus, professor do Instituto de Computação e CIO da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e representante da Sociedade Brasileira de Computação nos testes públicos de segurança do sistema eletrônico de votação do TSE; Hiago Kin, presidente da Associação Brasileira de Segurança Cibernética e CEO da Deepcript; Thiago Tavares, presidente da SaferNet; e Márcio Correia, analista de sistemas da Universidade Federal do Ceará (UFC) e professor de Tecnologia de Informação da Faculdade Cearense (FaC).

Posição do TSE e segurança da eleição

Desde o dia do primeiro turno da eleição, as informações iniciais passadas pelo ministro Luís Roberto Barroso eram de que o vazamento de dados havia partido de Portugal. O ministro da Justiça, André Mendonça, também afirmou, no dia da votação, que a Polícia Federal estava investigando o caso e não havia encontrado “qualquer indicativo de prejuízo ao pleito eleitoral”. Além de garantir que a falha de segurança não afetou o resultado das eleições por conta das medidas de proteção, o TSE também instituiu uma Comissão de Segurança Cibernética para trocar informações com a PF e acompanhar a apuração do caso.

As urnas eletrônicas possuem comandos que garantem que apenas softwares assinados digitalmente pelo TSE possam ser executados. Também são programadas barreiras de segurança que fazem com que tentativas de ataque ou de executar um software não autorizado bloqueiem o aparelho. O programa oficial do TSE também para automaticamente de ser executado caso alguém tente executá-lo em um hardware não certificado. Além disso, a urna não é conectada à internet. O sistema operacional instalado nela impede a conexão com qualquer rede ou acesso remoto.

As urnas passam por testes públicos em que especialistas tentam quebrar as barreiras de segurança. Em nenhuma das cinco edições (realizadas em 2009, 2012, 2016, 2017 e 2019) os programadores conseguiram quebrar o sigilo ou desvirtuar a destinação dos votos. Se houver qualquer suspeita em relação à autenticidade do software utilizado em qualquer aparelho, as assinaturas digitais também podem ser conferidas pela Justiça Eleitoral.

Por fim, o TSE realiza auditorias para testar a segurança e a lisura da votação. Os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) sorteiam ao menos seis urnas em cada turno da eleição. Em três delas são conferidos os sistemas instalados no equipamento. Fiscais da sociedade civil, de partidos políticos e cidadãos podem conferir se a assinatura digital que consta nas urnas é a mesma que foi lacrada anteriormente em uma cerimônia feita pela Justiça Eleitoral. Nas demais urnas, é feita uma votação paralela. Em um local público, com a participação de fiscais dos partidos políticos e de qualquer cidadão que tenha interesse em acompanhar, é feita uma votação simulada, em que os representantes dos partidos preenchem cédulas em papel e, depois, registram esses votos nas urnas. Ao final, as cédulas em papel são contadas para verificar se os votos batem com o boletim impresso ao final pela urna eletrônica.

O autor do post

O Comprova entrou em contato com o autor da postagem, um ex-agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) com atuação pró-Bolsonaro nas redes sociais. “Eu não disse que ela (a urna eletrônica) não é auditável. Eu disse que sem o voto impresso, não há segurança 100%. (…) Não é voltar ao sistema anterior, mas adicionar outra camada de segurança”, afirmou, defendendo a impressão do voto, medida declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por riscos de fraude e quebra de sigilo.

Logo após o contato do Comprova, o autor restringiu o acesso à publicação, que já havia sido curtida por mais de duas mil contas e compartilhada por quase 500.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre as eleições de 2020, a pandemia de covid-19 e políticas públicas do governo federal. É o caso do tuíte verificado aqui, do perfil @pacefeco, que teve 2,2 mil interações nas redes sociais. Conteúdos sobre a eleição são importantes porque a desinformação pode afetar a credibilidade dos resultados das urnas.

Recentemente, o Comprova mostrou que as justificativas dos eleitores não podem ser transformadas em votos válidos; que a apuração brasileira é aberta a qualquer pessoa; que é possível realizar recontagem dos votos; e que o sistema que aparece em um vídeo para simular fraude não é o mesmo das urnas eletrônicas.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Eleições

Investigado por: 2020-11-27

Bolsonaro não se beneficiou de fraude eleitoral em 1994

  • Enganoso
Enganoso
Notícia de 1994 compartilhada agora nas redes sociais é verdadeira, mas não indica qualquer evidência de que Bolsonaro tenha participado da fraude. Nas eleições daquele ano, ele foi o terceiro candidato mais votado no Rio de Janeiro
  • Conteúdo verificado: Tuíte usa recorte de um jornal da década de 1990 para afirmar que Jair Bolsonaro já se envolveu em fraude eleitoral

É enganoso afirmar que o atual presidente, Jair Bolsonaro (sem partido), participou de fraude em eleições nos anos 1990. A alegação viralizou no Twitter no início da semana (23/11). A postagem apresenta uma notícia da época, em que Bolsonaro, então candidato a deputado federal, é citado como um dos favorecidos pelo uso de cédulas falsas.

O tuíte desconsidera que, de acordo com a própria reportagem, Bolsonaro só teria angariado um voto a mais caso a Justiça Eleitoral não tivesse descoberto as irregularidades nas cédulas naquele ano. Nas eleições de 1994, ele foi o terceiro candidato mais votado no Rio de Janeiro. Além disso, a notícia não indica qualquer evidência de que ele tenha participado do episódio.

Contudo, o Comprova verificou que a notícia é verdadeira e que as irregularidades citadas no jornal não foram as únicas registradas na ocasião. A eleição chegou a ser anulada e uma segunda votação foi realizada. Em 1996, porém, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) restabeleceu o resultado do primeiro pleito por entender que a maioria dos votos foi válida.

De acordo com especialistas consultados pela reportagem, as fraudes no período foram facilitadas pelo fato do voto ser impresso. Os métodos para fraudar eram inúmeros: cédulas depositadas em branco nas urnas pelos eleitores poderiam ser preenchidas irregularmente durante a apuração; lotes inteiros de cédulas não utilizadas poderiam ser extraviadas; e os formulários chamados “boletins de urnas” poderiam ser alterados após a apuração com informações falsas, tidas como autênticas por não haver registro eletrônico. O voto em papel é a tecnologia defendida diversas vezes pelo presidente Bolsonaro, mas, segundo o TSE, as urnas eletrônicas vieram para dar mais segurança e confiabilidade às eleições.

Como verificamos?

Na publicação verificada, internautas comentaram que o recorte da reportagem seria do Jornal do Brasil de 1994. O Comprova confirmou a informação após pesquisas no arquivo da Biblioteca Nacional. Por meio das edições antigas do periódico, também fizemos um retrato das fraudes ocorridas naquelas eleições.

A fim de comentar como era o cenário da votação e da apuração na época, entrevistamos por telefone o cientista político David Fisher, que foi observador da Organização dos Estados Americanos (OEA) em São Paulo; e o procurador regional eleitoral aposentado Alcir Molina da Costa, que foi responsável pelo pedido de anulação daquela eleição.

Detalhes sobre a investigação das fraudes e o desfecho dela foram solicitados à assessoria de imprensa do Tribunal Superior Eleitoral. Os resultados das eleições do Rio de Janeiro em 1994 estão disponíveis no próprio site do TSE. Por estes meios, também foram obtidas informações sobre a adoção e a segurança das urnas eletrônicas.

Para contextualizar a verificação, o Comprova buscou notícias no Google sobre o voto impresso, encontrando declarações favoráveis de Jair Bolsonaro (sem partido) e contrárias do ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE. Pelo buscador também detalhamos quem eram os outros deputados citados na reportagem presente no tweet.

Verificação

A reportagem antiga é real

O recorte do jornal mostrado no tuíte verificado é real. Trata-se de uma reportagem publicada no Jornal do Brasil, no dia 17 de novembro de 1994. Ela aparece na quinta página do periódico, na seção “Política e Governo”, que naquele dia cobria, principalmente, as eleições. Naquele ano, a votação ainda era feita por meio de cédulas de papel.

Conforme o texto, foram constatadas fraudes em quatro zonas eleitorais no Rio de Janeiro. Na 70ª, cerca de 200 votos foram anulados devido à caligrafia idêntica. Na 25ª, havia 16 votos fantasmas, 15 com assinaturas falsificadas e 79 preenchidos com a mesma letra. Na 77ª zona, 28 votos para um candidato a deputado não foram contabilizados.

Já a tentativa de fraude envolvendo o agora presidente Jair Bolsonaro – na época, candidato a deputado federal – aconteceu na 24ª zona, onde foram descobertas quatro cédulas falsas, feitas com papel mais fino. Também seriam beneficiados Álvaro Valle (PL), Vanessa Felippe (PSDB) e Francisco Silva (PP).

Na ocasião, Jair Messias Bolsonaro (PPR) foi o terceiro candidato a deputado federal mais votado no Rio de Janeiro, com 111.927 votos (2,48%), de acordo com o resultado divulgado no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O mais votado, Oliveira Franciso da Silva (PP), teve 141.880 votos (3,14%). Os dois foram eleitos.

Outros dois candidatos que teriam recebido os votos falsos –caso os mesmos não tivessem sido detectados– também se elegeram. Vanessa Felippe (PSDB), que angariou 44.822 votos (0,99%), e Álvaro Bastos do Valle (PL), com 38.247 votos (0,85%). Na lista dos candidatos mais votados no Rio de Janeiro, eles aparecem nas posições 24ª e 34ª, respectivamente.

As fraudes nas eleições de 1994 no Rio de Janeiro

Os jornais da época relatam vários casos diferentes de fraude ou suspeita de fraude, com métodos diferentes. O primeiro indício da fraude generalizada foi o baixo percentual de votos em branco, que havia caído pela metade: de 20,8% em 1990 para 10,8% em 1994, no caso da eleição para deputado estadual. À medida que a apuração avançava, fiscais e juízes também perceberam a grande quantidade de cédulas preenchidas com a mesma caligrafia.

A 25ª zona, em Santa Cruz, teria sido a região com maior número de votos fraudados, mas as denúncias recebidas pela Justiça Eleitoral e pelo Ministério Público chegavam de vários bairros da capital e de municípios da região metropolitana e interior. Em pelo menos quatro urnas, havia mais votos do que eleitores registrados.

Em um caso, o presidente da 58º seção da 117ª zona eleitoral, na Ilha do Governador, desapareceu levando urnas, cabine de papelão, livro de votação, 500 cédulas de votação para governador e 500 para deputado federal e estadual. Na 7ª zona, um escrutinador (voluntário credenciado pela Justiça Eleitoral para contar os votos) suspeito de alterar oito boletins de urna foi preso duas semanas após a eleição do primeiro turno, quando foi ao fórum participar de uma audiência do próprio divórcio.

Em Nova Iguaçu, um juiz eleitoral chegou a ser investigado por envolvimento com uma quadrilha de fraudadores. Ele teria violado o código eleitoral ao nomear dois parentes para atuar na mesma junta apuradora. As pessoas nomeadas pelo juiz, dois irmãos, foram flagrados alterando boletins de urna em favor de um candidato do PPR, apoiado pelo então presidente da Assembleia Legislativa, José Nader (PDT).

Desfecho: houve anulação, mas foi revertida

Por causa das fraudes, a eleição foi anulada e houve uma nova votação para os cargos proporcionais junto com a votação do segundo turno para governador, no dia 15 de novembro. No entanto, em 1996, a segunda votação é que foi anulada e os resultados da primeira votação foram homologados pelo TSE.

Em e-mail enviado ao Comprova, o Tribunal Superior Eleitoral explicou que as eleições proporcionais foram anuladas pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) porque “entendeu que o índice de votos em branco poderia ser uma evidência de fraude na votação”. Porém, “essa anulação foi revertida em 1996 pelo plenário do TSE”.

“Para os ministros da Corte Eleitoral, não ficou provado que o total de votos supostamente fraudados seria o suficiente para determinar anulação de todo o pleito. É importante esclarecer que o voto fraudado é retirado do cômputo dos votos válidos, mas isso não necessariamente conduz à anulação de toda a votação. Para que isso ocorra, é preciso ter a comprovação de fraude substancial acima de 50% dos votos válidos”, esclareceu o TSE.

Procurador regional eleitoral naquela eleição e hoje aposentado do Ministério Público Federal (MPF), Alcir Molina da Costa, contou que, naquele ano, a decisão do TRE-RJ de anular as eleições para deputado federal e estadual foi inédita e surpreendente.

“Desde os anos 1960 e 1970, havia no Rio um ditado entre candidatos e cabos eleitorais que dizia ‘eleição não se ganha na votação, se ganha na apuração’. Era verdade. O ambiente da apuração, primeiro no Maracanãzinho e, depois, no Riocentro, era uma grande confusão, com centenas de mesas apuradoras cercadas por fiscais dos partidos, com as contagens das cédulas de papel e preenchimento de boletins oficiais acontecendo ao mesmo tempo”, recordou.

Em 1994, contudo, as denúncias que surgiam a todo instante e vindas de todos os locais do estado indicavam que as fraudes tinham se tornado a regra e não a exceção. “Então, eu e o juiz-corregedor eleitoral, Paulo César Salomão, entendemos que não podíamos homologar aquele absurdo. Mesmo sabendo que seria difícil o TRE concordar, pedimos a anulação”. Para surpresa de ambos, foram sete votos a zero pela suspensão da primeira votação.

Qual o envolvimento de Jair Bolsonaro?

Apesar do nome do atual presidente aparecer na reportagem, não é possível afirmar que ele tenha tido envolvimento direto com a ação. Ele é citado apenas em um caso isolado, exatamente o do recorte do Jornal do Brasil mostrado no conteúdo verificado.

Conforme relata o próprio texto, ele poderia ter recebido somente um voto fruto de fraude, elaborado em uma cédula de papel que era mais fina que a oficial. O mesmo aconteceu com Álvaro Valle (PL), Vanessa Felipe (PSDB) e Francisco Silva (PP). As suspeitas mais graves, já citadas acima, recaíram sobre diversos outros candidatos e candidatas.

Também de acordo com o ex-procurador regional eleitoral Alcir Molina, a quantidade de cédulas com o nome de Bolsonaro era irrelevante e restrita a uma seção eleitoral. Aliás, o atual presidente teve cerca de 23 mil votos a mais na segunda eleição do que na primeira. Além dele, os outros três candidatos em igual situação também foram eleitos em ambas as votações.

Quem são os outros candidatos citados?

Mais votado entre todos os candidatos, Oliveira Francisco da Silva era empresário e radialista. Nascido na cidade de Cunha (SP), ele foi eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro a primeira vez em 1990, pelo PDC. Nas eleições de 1994, ele foi reeleito. No ano seguinte, ele foi um dos fundadores do Partido Progressista Brasileiro (PPB).

Novamente reeleito em 1998, Oliveira Francisco da Silva deixou o cargo em janeiro de 1999 para assumir a Secretaria de Habitação do Rio de Janeiro, na gestão de Anthony Garotinho. Em outubro de 2017, aos 79 anos, ele morreu e foi velado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Ele é pai do atual deputado estadual Fábio Silva.

Já Álvaro Bastos do Valle era professor, diplomata e bacharel em direito. Antes das eleições de 1994, ele já tinha sido eleito deputado federal cinco vezes consecutivas pelo Rio de Janeiro, sendo a primeira delas em 1974. Nas décadas de 1960 e 1970, ele foi também deputado estadual pela UDN e pela ARENA.

Em junho de 1985, ele fundou o Partido Liberal (PL) e, no ano seguinte, foi o quinto candidato à deputado federal constituinte mais votado de todo o país, com mais de 320 mil votos, fazendo parte, assim, da Assembleia Constituinte. Nascido no Rio de Janeiro em 1934, ele morreu na capital em janeiro de 2000, aos 65 anos.

Nascida em outubro de 1972, Vanessa Poyares Tuffy Felippe foi deputada federal pelo Rio de Janeiro entre os anos de 1995 e 1999, iniciando o mandato como a mais jovem congressista do país, com apenas 26 anos. Ela é filha do também político Jorge Miguel Felipe, que foi três vezes vereador da capital fluminense.

Atualmente empresária, ela foi novamente candidata a deputada federal pelo Rio nas eleições de 2018, pelo Partido da Mobilização Nacional (PMN), terminando a disputa como suplente. Em 2016, ela se candidatou à vereadora na capital fluminense pelo Partido Trabalhista do Brasil (PTdoB), mas não foi eleita.

Votação em papel facilita fraudes e manipulações

Cientista político da Universidade de Brasília (UnB), David Fisher foi categórico ao afirmar que o voto por meio de cédulas de papel “abre muito espaço para manipulação e falsificação”. Como exemplo, ele citou experiências que viveu durante as eleições de 1994 em São Paulo, quando foi observador da Organização dos Estados Americanos.

“Era complicado porque tinha que apurar votos para cargos majoritários e proporcionais. Teve uma mesária que foi ao banheiro quatro ou cinco vezes. O juiz desconfiou e mandou uma oficial ir atrás dela. A apuradora havia pego votos em branco sorrateiramente, colocado na calcinha e estava no banheiro preenchendo”, exemplificou.

“Naquela época, nas cidades menores, tinha o fenômeno que o cabo eleitoral guardava o título eleitoral dos eleitores e depois levava o eleitor para votar. Chegava lá, entregava o título e a chamada marmita (envelope com todas as cédulas de papel). Era muito mais produtivo você comprar o cabo eleitoral que os eleitores. O Mário Palmério, que foi um deputado federal de Minas Gerais, publicou um livro chamado ‘Vila dos Confins’ que descreve uma eleição. A maior corrupção que ele já tinha visto”, contou Fisher.

Outro exemplo dado por ele é o de um juiz eleitoral que pediu a opinião dos fiscais para saber como contabilizar os votos. “Fernando Henrique Cardoso não era candidato, deveria ser voto nulo. Mas podia contar como voto partidário ao PSDB. Mesma coisa no caso do Lula e do Brizola: acabou contando como voto de legenda”, contou.

O próprio TSE admitiu que houve “várias denúncias de fraudes antes da adoção da urna eletrônica pela Justiça Eleitoral”. No entanto, o Tribunal não tem um levantamento específico sobre essas ocorrências. “Esclarecemos que todos os votos que comprovadamente decorriam de fraude eram anulados e excluídos da contagem dos votos válidos”, garantiu por e-mail.

O procurador aposentado Alcir Molina conta que a fraude generalizada de 1994 estimulou o TSE a acelerar o processo de adoção do voto eletrônico no país, que passou a ser testado já na eleição seguinte.

Adoção das urnas eletrônicas

As urnas eletrônicas passaram a ser adotadas nas eleições brasileiras em 1996. Ou seja, na seguinte à relatada nesta verificação. De acordo com o próprio Tribunal Superior Eleitoral, ela foi desenvolvida “com o objetivo de garantir mais segurança, rapidez e transparência ao processo eleitoral – diminuindo a intervenção humana dos procedimentos de apuração e totalização dos resultados”. Assim como “impedir interferências na vontade do eleitor” e “assegurar o sigilo do voto”.

Desde que a urna eletrônica começou a ser utilizada, “não houve qualquer comprovação de fraude envolvendo o sistema eleitoral brasileiro”. Gradualmente implantado a partir das eleições de 1996, o voto eletrônico passou a estar presente em todo o país em 2000. “A partir de 2008, a Justiça Eleitoral iniciou o cadastro biométrico dos eleitores, aumentando ainda mais a segurança do pleito”, afirmou o TSE.

Recentemente, o Comprova já realizou diversas verificações que mostram a segurança e a confiabilidade das urnas e do atual sistema de votação do país, tais como: a que mostrou ser possível auditar e realizar a recontagem de votos; a que esclareceu que a apuração é aberta para qualquer pessoa; e a que garante que as justificativas dos eleitores não podem ser transformadas em votos válidos.

Bolsonaro é a favor do voto impresso

Atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro já se declarou a favor do voto impresso inúmeras vezes, inclusive durante a campanha à presidência. Recentemente, no dia 5 deste mês, em transmissão ao vivo pela internet, ele voltou a defender a mudança já para as próximas eleições, em 2022.

Vale lembrar também que, em março deste ano, Bolsonaro afirmou – sem apresentar provas – que a eleição de 2018, na qual ele saiu vencedor, teria sido fraudada. Até hoje as provas que ele garantiu possuir nunca foram apresentadas. Também com a alegação de “evitar fraudes”, ele defendeu o voto impresso em outubro.

No último domingo (22), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, também defendeu que um Projeto de Emenda Constitucional (PEC) para a impressão de comprovantes de urna junto aos votos seja tratado como prioridade. No mesmo dia, apoiadores do governo federal se manifestaram em apoio no Planalto do Palácio.

É importante ressaltar que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em setembro deste ano, que a impressão do registro do voto eletrônico é inconstitucional, porque poderia colocar em risco o sigilo e a liberdade do voto. Sobre a decisão, o Comprova chegou a esclarecer que era enganosa a afirmação de que o voto impresso seria inconstitucional.

Rebatendo as afirmações de Bolsonaro, o ministro Luís Roberto Barroso, atual presidente do TSE, reiterou que “de 1996 para cá nunca se documentou nenhum tipo de fraude associada às urnas eletrônicas”, que não tem “paixão pelas urnas, mas apreço por eleições limpas” e declarou que “retornar ao voto impresso é um retrocesso, é como comprar um videocassete na era do streaming”.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos duvidosos que viralizaram na internet, relacionados a políticas do governo federal, à pandemia ou às eleições municipais de 2020. A publicação aqui verificada engana ao usar uma reportagem real para afirmar que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já se envolveu em fraude eleitoral.

Até o início da tarde de 26 de novembro, o tuíte em questão já tinha mais 3.300 curtidas, além de 690 retweets e mais de 240 comentários. De acordo com a ferramenta CrowdTangle, o conteúdo poderia ter atingido até 280 mil internautas, apenas no Twitter. A publicação também foi compartilhada no Facebook, mas em menor número.

Recentemente, em maio ao período eleitoral, o Comprova já mostrou que o software usado nas urnas eletrônicas brasileiras não é o mesmo que o utilizado nos EUA, que diferenças entre o resultado da pesquisa e da eleição não significa fraude, que o TSE não atualizou o resultados das eleições com base em um portal de notícias e que o sistema usado em um vídeo que sugere fraudes não é o mesmo usado nas urnas eletrônicas do Brasil.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.