O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Política

Investigado por: 2024-09-16

Post engana ao omitir que salário de grevistas do INSS também foi cortado por Bolsonaro

  • Enganoso
Enganoso
Vídeo de servidores do INSS protestando contra cortes de salários após adesão à greve iniciada em julho é tirado de contexto e engana ao insinuar que não houve descontos durante o governo Bolsonaro. Em paralisação realizada em 2022, os cortes chegaram a 30%, enquanto agora chegam a 80%. O INSS afirma que os descontos são legais e seguem uma decisão do STF sobre movimentos grevistas.

Conteúdo investigado: Vídeo mostra servidores do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) revoltados. Eles criticam o governo Lula (PT), após terem os salários cortados por participarem de uma greve da categoria. O post, publicado no X e TikTok, traz a mensagem: “URGENTE – Servidores do INSS têm salário cortado por participar de greve e se revoltam contra Lula: ‘Isso é vergonhoso! Nem Bolsonaro teve coragem de fazer isso! Não votei no Lula para cortar meu salário! Que Governo do amor é esse?’”

Onde foi publicado: X e TikTok.

Conclusão do Comprova: Postagens enganam ao sugerir que não houve corte de salários de servidores do INSS que participaram de greve durante o governo de Bolsonaro (PL). De acordo com a Federação Nacional de Sindicatos de Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social (Fenasps) – entidade que está à frente do comando de greve–, a postagem é enganosa. Isso porque, diferentemente do que a publicação sugere, houve cortes sob a gestão do ex-presidente de até 30% nos salários dos servidores que aderiram à greve da autarquia em 2022. Já neste ano, durante o governo Lula, foram registrados cortes de até 80% nos pagamentos dos grevistas em agosto.

Um vídeo em circulação no X e no TikTok mostra o momento em que servidores do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) ocuparam o gabinete da presidência da autarquia em Brasília, no dia 4 de setembro, para protestar contra os cortes de salários aplicados pelo governo em razão do movimento grevista da categoria, que começou em 16 de julho de 2024, e também por causa do anúncio do fim da paralisação, anunciada pelo presidente da autarquia poucas horas antes. Na gravação, alguns deles comparam a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva à de Jair Bolsonaro, com gritos e críticas ao atual presidente.

“Não votei em Lula para cortar meu salário! Que governo do amor é esse?”, indaga uma mulher. “Isso é vergonhoso. Nem Bolsonaro teve coragem de fazer isso”, diz outra servidora. Esta afirmação foi colocada em destaque na legenda de um dos posts do X.

Em outra postagem no TikTok, o mesmo vídeo circula com tarjas sobrepostas às imagens, onde está escrito: “Deu ruim! Servidores do INSS têm salário cortado, detonam Lula e [se] lembram do mito!”. Na legenda, o autor escreveu: “Avisamos!”.

Conforme a Fenasps, a gravação que mostra a reclamação dos servidores é “legítima” e foi feita no dia 4 de setembro, logo depois da ocupação no prédio do INSS pela própria Federação, o Comando Nacional de Greve (CNG) e alguns militantes. Eles protestavam, dentre outros pontos, contra o anúncio do fim da greve, feito pelo presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, nas redes sociais. A decisão de encerrar a paralisação levou em conta um acordo assinado entre o governo e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Nacional (CNTSS). No entanto, a categoria rechaçou a proposta acordada em Plenária Nacional e a Fenasps não reconheceu o fim do movimento.

No mesmo anúncio, Stefanutto divulgou a imposição de falta injustificada aos trabalhadores que continuassem com a paralisação, o que geraria descontos no contracheque dos servidores, sem direito à reposição.

O Comprova fez contato com o autor da publicação no TikTok, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. Não foi possível contato com os autores das publicações no X, já que a rede social está inacessível no Brasil.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. A publicação distribuída no TikTok havia atingido 755,1 mil reproduções até 13 de setembro. No X, o post já tinha alcançado 368,7 mil visualizações.

Fontes que consultamos: Ouvimos a Fenasps, que está à frente do comando de greve, consultamos a Instrução Normativa 59, que dispõe sobre cortes de salário durante movimentos de greve e buscamos o INSS.

Corte de salários e negociações

A ocupação no prédio do INSS, encerrada no dia 5 de setembro, teve como objetivo pressionar pela manutenção da paralisação e a substituição do código de faltas injustificadas pelo código de greve. A paralisação continua, o presidente do INSS retirou as faltas injustificadas e aplicou o código de greve. A aplicação do desconto no salário dos funcionários que estão em paralisação, segundo Cristiano Machado, diretor da Fenasps, tem sido praxe desde a instituição da Instrução Normativa 59 (IN 59), em 2021 – na gestão de Bolsonaro.

O artigo 3º da Instrução estabelece que “a Administração Pública Federal deve proceder ao desconto da remuneração correspondente aos dias de paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos”. Não há menção, no documento, a nenhum limite de corte.

Um Termo de Acordo, contudo, pode ser firmado “para permitir a compensação das horas não trabalhadas pelos servidores” durante a paralisação “e a devolução dos valores já descontados a esse título, desde que com anuência do órgão central do Sistema de Pessoal Civil da Administração Federal (SIPEC)”. O acordo, conforme o artigo 4º da Instrução Normativa, é facultativo.

Segundo Machado, foram registrados, na greve atual, cortes de até 80% nos salários de agosto. Ele ainda não sabe se haverá interferências nos pagamentos de setembro. “Não consegui entender qual critério o governo está usando para fazer os cortes, mas eles têm sido bem altos”, comentou. Em uma audiência no último dia 13, o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, informou que, em outubro, a autarquia irá devolver os valores de agosto descontados durante a greve.

Cristiano Machado, da Fenasps, considera que as publicações analisadas pelo Comprova distorcem a situação ao omitir que houve cortes de salário no governo Bolsonaro. “Tem uma distorção, porque Bolsonaro também cortou nossos salários em até 30% em dois meses da greve de 2022 [que ocorreu entre março e maio daquele ano]. Mas depois, com as negociações, tudo foi devolvido, como prevê a normativa do próprio governo: tem greve, tem corte e depois vem a devolução. Nós esperamos que agora também os valores sejam devolvidos”, afirmou.

O que diz o INSS

O INSS alegou ao Comprova que o “corte” mencionado pelos grevistas foi, na verdade, um desconto no salário por falta, baseado em uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

O texto enviado pelo órgão diz que o desconto referente ao período de paralisação, ainda que caracterize medida de caráter punitivo ou sancionatório, é “ônus inerente à greve”, e que “embora a paralisação seja lícita, ela implica em consequências jurídicas”.

O INSS explica que o exercício do direito de greve pelos servidores públicos acaba gerando uma espécie de suspensão do vínculo funcional, e por isso o servidor perde o direito de receber os valores referentes aos dias não trabalhados.

O Supremo Tribunal Federal, ao julgar o tema, considerou que a adesão à greve leva a um “afastamento” não remunerado do servidor. Por isso, concluiu que “a Administração Pública Federal deve proceder ao desconto dos dias de paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos”, sendo esse corte de ponto “um dever, e não uma faculdade da Administração Pública Federal, que não pode simplesmente ficar inerte quando diante de situação de greve”.

Servidores querem recompor perdas

A greve dos servidores do INSS já dura dois meses e tem como objetivo pedir recomposição de perdas salariais, as quais, segundo a Fenasps, somam 53% em razão de congelamentos ocorridos a partir de 2017. Outras reivindicações são valorização profissional e melhores condições de trabalho. “No ano passado, tivemos um reajuste de 9%. Antes disso, a última recomposição foi em 2017, então, houve um congelamento de salários, especialmente, durante o governo Bolsonaro. Agora, existe uma proposta de aumento de 18,2% para 2025 e 2026, mas isso não cobre nossas perdas, que somam mais de 53% nos últimos anos”, afirmou Cristiano Machado, diretor da Fenasps.

Em audiência com o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, na manhã do dia 11 de setembro, a Fenasps apresentou uma nova proposta para substituir a anterior, assinada pela CNTSS e que foi rejeitada pela maioria dos sindicatos. À tarde, o governo encaminhou à Federação um documento retirando do acordo pré-estabelecido a implementação de um Comitê Gestor de Carreira. Já os termos do que havia sido acordado foram definidos, no documento como “discricionários”, ou seja, não obrigatórios. A Federação busca uma nova audiência com o Ministério da Previdência.

O Governo ingressou com uma ação no Supremo Tribunal de Justiça (STJ) em 23 de julho contra o movimento de greve. O STJ determinou que seja mantido em atividade o mínimo de 85% das equipes em cada unidade da autarquia e multa às entidades sindicais envolvidas de R$ 500 mil por dia, em caso de descumprimento. “Porém, temos audiência de conciliação marcada para a próxima sexta-feira (20)”, disse Machado.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Outras verificações sobre o INSS foram feitas anteriormente, como em novembro de 2023, quando o Comprova contextualizou que a autarquia pagou o 13º salário apenas para beneficiários que não tiveram adiantamento; e em 2022, quando o Comprova verificou ser enganoso que Paulo Guedes havia anunciado redução em aposentadorias e em outros benefícios do INSS.

Política

Investigado por: 2024-09-13

Vídeo de campanha de Trump foi alterado para incluir cena com Bolsonaro

  • Enganoso
Enganoso
É adulterada a versão de um vídeo da campanha de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos em 2020 que tem sido reproduzida por perfis brasileiros com a adição de uma cena envolvendo o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL). Esse trecho não pertence ao vídeo original, e sim a outra publicação feita por Trump, em 2019.

Conteúdo investigado: Vídeo que apresenta uma montagem com diversas situações envolvendo o ex-presidente dos EUA Donald Trump, acompanhado da reprodução do trecho de um discurso realizado pelo ex-presidente em 2017 e da música “In the End”, da banda Linkin Park.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: É falsa a versão de um vídeo utilizado pela campanha de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos em 2020, que tem sido reproduzida por perfis brasileiros com a adição de uma cena de cumprimento entre o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL) e Trump. Esta cena não pertence ao material original.

O vídeo original foi publicado no X (na época, Twitter) por Dan Scavino, ex-diretor de mídia social da Casa Branca e assessor de Donald Trump. Em seguida, foi retuitado pelo então presidente em 18 de julho de 2020, o que pode ser comprovado com o uso da ferramenta Wayback Machine

O material original, no qual Bolsonaro não aparece em nenhum momento, consiste em uma montagem com momentos de diversas situações envolvendo Trump, acompanhado da reprodução do trecho de um discurso realizado pelo ex-presidente em 2017 e da música “In the End”, da banda Linkin Park.

Após a publicação do vídeo por Scavino e Trump, o Linkin Park publicou declaração em que afirmou não apoiar Trump. O grupo também desautorizou a utilização de suas músicas na campanha do político, que posteriormente retirou a publicação do ar. O vídeo segue no ar em outras plataformas, porém, caso do Youtube.

A versão original do vídeo investigado aqui foi tirada do ar poucas horas depois da publicação de Trump por infringir direitos autorais. À época, segundo o site Buzzfeed News, a Warner Bros teria entrado com um processo contra o vídeo de campanha por utilizar a música e a tipografia do filme “Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge”.

Trump apagou o tuíte, e um dos assessores do então presidente afirmou que quem fez o vídeo, na verdade, foi “um apoiador”. “Nós gostamos de compartilhar conteúdos daqueles que nos apoiam, e esse foi só mais um exemplo do quanto os fãs de Trump lutam pelo presidente”, disse à CNN.

O trecho do cumprimento entre Bolsonaro e Trump, que não constava no vídeo original e foi acrescentado depois por outros usuários, foi retirado de outro material publicado pela campanha de Trump, em 2019. O vídeo tinha cerca de dois minutos. Aos 49 segundos, a bandeira do Brasil aparece ao lado da bandeira dos Estados Unidos, na entrada da Casa Branca, em imagens do dia em que Bolsonaro esteve na sede do governo americano. Em seguida, aparecem imagens dos dois ex-mandatários se cumprimentando.

Como o X permanece bloqueado por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), o Comprova tentou entrar em contato com o autor da publicação enganosa por meio de editores que residem na Alemanha e na França, mas não foi possível porque o perfil em questão não permite o envio de mensagens diretas.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 12 de setembro, a postagem verificada acumulava 135 mil visualizações.

Fontes que consultamos: Usamos o Wayback Machine para confirmar a publicação original do vídeo no X. Também consultamos a revista Rolling Stone, que noticiou a publicação de Trump que utilizou trilha sonora de Batman; e o jornal O Globo, que publicou uma reportagem sobre o vídeo de campanha em que Bolsonaro e Trump apareciam juntos, mas que foi removido, conforme o Buzzfeed News.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: AFP e o UOL Confere também investigaram o vídeo que foi objeto desta verificação. O Comprova já investigou outras informações falsas disseminadas na internet envolvendo os nomes de Trump e Bolsonaro. Entre elas, está um vídeo dublado que falsamente mostrava o americano enviando uma mensagem ao brasileiro após o atentado de 13 de julho. O vídeo original, de 2022, era apenas uma mensagem de apoio. Outra verificação desmentiu a alegação de que os atentados contra Trump e Bolsonaro teriam sido forjados, comparando-os a uma cena da novela “O Bem Amado”. Não há provas de que os ataques tenham sido armados.

Eleições

Investigado por: 2024-09-13

Tabata Amaral é alvo de campanha de desinformação que a compara a criadora de conteúdo adulto

  • Falso
Falso
Publicações mentem ao compartilhar imagens manipuladas de uma criadora de conteúdo adulto e associá-las a Tabata Amaral (PSB), deputada federal e candidata a prefeita de São Paulo. Especialistas apontam que o material sofreu edição.

Conteúdo investigado: Postagens com fotos sensuais de uma mulher acompanhadas de legenda associada à candidata à Prefeitura de São Paulo Tabata Amaral. Um dos posts apresenta a seguinte descrição: “Tabata Claudia Amaral de Pontes é uma politóloga, ativista pela educação e política brasileira filiada ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). Atualmente exerce o mandato de deputada federal pelo estado de São Paulo”.

Onde foi publicado: Reddit, Forum Outerspace e X.

Conclusão do Comprova: Publicações associam falsamente duas imagens manipuladas de uma criadora de conteúdo adulto a Tabata Amaral. Além da aparente semelhança entre as envolvidas no conteúdo falso, as fotografias foram editadas, conforme apontam especialistas consultados pelo Comprova.

As imagens mostram uma mulher em poses eróticas e trazem na legenda uma minibiografia da candidata do PSB, considerando-a uma “politóloga” – termo para identificar especialistas em ciências políticas ou em política em geral. O texto afirma, ainda, que Tabata é “ativista pela educação”.

Em outra publicação, o autor garante que “vazaram” fotos de Tabata e questiona se os usuários do X votariam na candidata caso fossem eleitores de São Paulo. As imagens, no entanto, sofreram edição.

O jornalista e deepfaker – pessoa que usa a técnica deepfake, que consiste em alterar vídeo ou foto com ajuda de inteligência artificial (IA) – Brunno Sartori, um especialista do jornal A Gazeta e editores de fotografia da Folha de S.Paulo, além do diretor de arte do Comprova, avaliam que as imagens foram manipuladas. Contudo, eles não puderam afirmar que a edição tinha o intuito de assemelhar a mulher a Tabata ou se a própria criadora de conteúdo adulto teria tratado as fotografias.

Na primeira imagem usada no post, uma mulher aparece com a língua para fora e com um arco na cabeça com orelhas de coelhinha da Playboy. Na segunda, ela está em um sofá, com roupas curtas e olha para a câmera.

A partir da ferramenta Winston AI, usada para detectar sinais de inteligência artificial em imagens, Sartori identificou que 99% da primeira imagem tem origem em artifícios de inteligência artificial, enquanto a segunda tem 33%. Foi identificado ainda que a foto de rosto tem 99% de chance de ter sido modificada via deepfake, e a outra, 45%.

Sartori ainda identificou outros traços de manipulação, como é possível ver nas imagens abaixo.

“Há diferença de nitidez dos fios do cabelo. Isso é indicativo que houve manipulação. Os cantos da boca se formam de um jeito totalmente estranho”, disse Sartori.

Na mesma linha, o especialista em Segurança da Informação Gilberto Sudré, colunista da TV Gazeta e da CBN Vitória, também identificou traços de manipulação na imagem, a partir da ferramenta Foto Forensics. É possível ver um quadrado na testa em torno do rosto. Isso significa que foi inserida outra imagem sobre a foto original.

Sudré explicou que quando uma foto é capturada pela câmera, antes de ser salva, é compactada para gerar um arquivo de tamanho menor. Quando esse material é editado em um software de edição, no caso com a inserção de alguma parte de outra imagem, e depois salvo novamente, é possível ver a parte que foi compactada duas vezes.

“O software que usei faz um teste chamado nível de erro, que identifica exatamente essas diferenças entre a foto original e a editada. Está um pouco mais clara do que o quadrado, exatamente onde foi inserida a imagem nova, ou seja, tem uma parte da imagem que foi compactada duas vezes e uma parte da imagem que foi compactada uma vez”.

| Ferramenta mostra sinais de manipulação em imagens associadas a Tabata Amaral | Crédito: Reprodução Foto Forensics

A equipe de fotografia da Folha de S.Paulo também analisou a foto da língua de fora e constatou indícios de manipulação, como um blur (desfoque) na região do buço e a falta de sombra ao lado do nariz. Na avaliação dos profissionais, não foi possível identificar se a foto foi manipulada para a inserção do rosto de Tabata ou se a própria criadora de conteúdo adulto fez um tratamento na foto.

Já na segunda imagem em que a mulher aparece apoiada no sofá, Sartori identificou mais traços de manipulação e marcou em vermelho os pontos, como é possível conferir a seguir.

“Estes são pontos que podem apontar manipulação. Essa mancha na sobrancelha é bem característica de rostos sobrepostos, onde acaba ‘vazando’ a sobrancelha que está abaixo. Nesses outros dois círculos, você vê nítida mudança de textura das imagens que passa de algo borrado para uma linha mais nítida”, destacou o jornalista e deepfaker.

O Comprova contatou os autores das publicações. Um deles, no entanto, limita o envio de mensagens diretas para usuários do X Premium – ou seja, apenas usuários desse grupo podem enviar solicitações para pessoas que não os seguem.

No entanto, o autor em questão comentou o assunto após um usuário afirmar, na publicação, que não se tratava de Tabata, e sim da criadora de conteúdo adulto. O autor do post, então, esquivou-se da associação: “Eu não disse que era ela (nem desdisse) [sic]”.

O autor da outra postagem foi contatado via mensagem direta, mas não respondeu até a publicação desta checagem.

Procurada pela reportagem, a equipe de Tabata Amaral informou que serão protocoladas ações legais contra os autores das postagens.

“[Entraremos com] uma notícia crime alegando fato sabidamente inverídico e difamação, além de violações do código penal também e o pedido de remoção da postagem”, afirmou o gabinete de Tabata.

A reportagem tentou contato com a mulher que aparece nas fotos, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 12 de setembro de 2024, as publicações somavam quase 200 mil visualizações no X.

Fontes que consultamos: Procuramos o jornalista e deepfaker Bruno Sartori, o especialista em Segurança da Informação Gilberto Sudré e editores de fotografia da Folha de S.Paulo. Além disso, contatamos a equipe da candidata Tabata Amaral. Também utilizamos ferramentas para a identificação do uso de inteligência artificial em imagens, como Winston AI e Foto Forensics.

O Comprova acessou o X para obtenção de informações a partir do exterior, por meio de editores que residem na Alemanha e na França.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Outras peças de desinformação produzidas com o uso de inteligência artificial já foram verificadas pelo Comprova. O projeto constatou, por exemplo, ser falso áudio em que William Bonner chama Lula (PT) e Geraldo Alckmin (PSB) de bandidos e, na seção Comprova Explica, mostrou o que é deepfake, técnica apropriada para a produção de conteúdos desinformativos.

Saúde

Investigado por: 2024-09-11

Vídeo antigo sobre febre amarela é tirado de contexto para atacar vacina contra covid-19

  • Falso
Falso
Vídeo adulterado e publicado nas redes sociais tenta confundir o público ao afirmar que vacinas matam. O autor da publicação usa uma reportagem da TV Globo, de 2018, sobre a morte de duas pessoas devido aos efeitos colaterais da vacina contra a febre amarela em São Paulo, e relaciona os óbitos com o imunizante contra a covid-19. O caso aconteceu dois anos antes da pandemia.

Conteúdo investigado: Vídeo do telejornal SPTV 1ª Edição, da TV Globo, compartilhado nas redes sociais, no qual o jornalista César Tralli noticia a morte de duas pessoas após se vacinarem contra a febre amarela. A publicação insinua que as mortes ocorreram pela vacina contra a covid-19. Na legenda, a postagem diz “agora que Bolsonaro não é mais presidente, a vacina mata. E quem está dizendo isso é a Globo!”.

Onde foi publicado: X e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: Um vídeo antigo voltou a viralizar no X e no WhatsApp com alterações enganosas que apontam que a TV Globo teria admitido que vacinas contra a covid-19 matam. O autor do post utilizou um vídeo do SPTV 1ª edição, de 2018, no qual o jornalista César Tralli, então apresentador do telejornal, noticia a morte de duas pessoas imunizadas contra a febre amarela. Naquele momento, o país enfrentava centenas de casos da doença e um terceiro óbito estava para ser confirmado.

Em nenhum momento o jornalista afirma que as vacinas matam. Ele alerta que há contraindicações no caso da imunização contra a febre amarela (veja o vídeo original aqui, em uma verificação do portal g1 sobre o assunto) e ressalta que médicos suspeitavam que a baixa imunidade das pessoas vacinadas estava ocasionando as mortes.

O vídeo original sofreu edições e cortes. No material adulterado, Tralli faz o seguinte comentário sobre a vacina contra febre amarela: “Gente, é importante lembrar o seguinte: a vacina tem, sim, contra indicações. Tem riscos à saúde. O secretário municipal da saúde aqui de São Paulo, Wilson Pollara, me confirmou agora há pouco por telefone que duas pessoas já morreram aqui em São Paulo depois de tomar a vacina, um homem e uma mulher. Os médicos suspeitam que eles estavam com a imunidade baixa. E outras três mortes de pessoas que tomaram a vacina também estão sendo investigadas. Uma delas deve se confirmar: mais um homem. Todas essas pessoas tomaram vacina de outubro para cá”.

A versão adulterada elimina a frase “só deve tomar essa vacina contra a febre amarela quem for viajar ou mora em área de risco”, dita pelo apresentador. Conforme a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) o imunizante é contraindicado para:

  • Crianças menores 6 meses de idade
  • Pessoas com doença febril aguda, com comprometimento do estado geral de saúde;
  • Pessoas com história de reação anafilática relacionada a substâncias presentes na vacina, como ovo de galinha e seus derivados, gelatina, eritromicina e canamicina;
  • Gestantes, a não ser em situações de alto risco de infecção, o que deve ser avaliado pelo médico;
  • Pessoas com imunodepressão grave por doença ou por uso de medicação/tratamento;

  • Pacientes com câncer;
  • Indivíduos que vivem com HIV, sintomáticos e com comprometimento da imunidade;
  • Pacientes com história de doenças do timo, como miastenia gravis, timoma ou timectomia.
  • Pacientes submetidos a transplante de órgãos;
  • Mulheres grávidas só devem ser vacinadas com orientação médica, embora não existam evidências de que a vacina possa provocar alterações nocivas em fetos.

O texto descritivo da matéria, que fica no rodapé da tela, também foi alterado. Enquanto no vídeo original estava escrito “febre amarela”, no conteúdo modificado ele é substituído, logo no início, por “vacinas matam”. Ainda na legenda do post no qual essa versão foi publicada, o autor escreveu: “Resumindo, Bolsonaro sempre teve razão!”.

O vídeo confunde ao induzir que a TV Globo estaria falando da vacinação contra a covid-19 e que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria correto ao questionar a eficácia da vacina. A pandemia chegou ao país em 2020, um ano após o início da gestão do então mandatário. A imunização contra a covid no Brasil começou em 2021 e sempre foi colocada em xeque por Bolsonaro, que nunca apresentou evidências científicas de falhas.

O Ministério da Saúde atestou, repetidas vezes, que todos os imunizantes utilizados contra a doença têm eficácia comprovada e que, “previamente à sua introdução, passaram por todas as fases de estudos pré-clínicos e estudos clínicos (fase I, II e III)”.

Sobre a vacina contra a febre amarela, a Fiocruz, em nota publicada no site, esclarece que ela é raramente associada a eventos graves, como reação de hipersensibilidade (0,0009%), reação anafilática (0,000023%), doença neurológica (0,0004%) e doença viscerotrópica (0,0003% em maiores de 60 anos e 0,001% em menores de 60 anos).

Não foi possível contato com o autor do post, já que o X está fora do ar no Brasil.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. A publicação distribuída na rede social X alcançou até o dia 10 de setembro, 144 mil visualizações.

Fontes que consultamos: A partir da publicação original, foi realizada uma pesquisa no Google com os termos “vacina febre amarela mortes” ou “vacina febre amarela mortes SPTV“. O buscador exibiu os resultados das notícias e rapidamente foi possível encontrar as informações sobre o caso de 2018, incluindo o vídeo publicado na época pelo portal g1, da TV Globo, em 19 de janeiro de 2018, com a reportagem exibida no telejornal SPTV. Além disso, é possível encontrar a notícia das mortes causadas pela vacina contra a febre amarela em sites como Agência Brasil e g1 a partir do buscador Google.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O vídeo com a edição alterada já foi verificado por veículos como Fato ou Fake e Estadão Verifica. O conteúdo também foi checado por UOL Confere, Terra e Reuters, que apontaram que o conteúdo distribuído nas redes sociais e pelo aplicativo de mensagens WhatsApp é enganoso.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-09-11

Vídeo de queima controlada é tirado de contexto para negar o aquecimento global

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso post que usa vídeo de queima controlada para negar o aquecimento global. As imagens são de uma empresa americana especializada em uso do fogo de forma planejada e foram gravadas no Alabama, nos Estados Unidos. No Brasil, a técnica é permitida pelo Código Florestal. Já o Ibama sugere cautela para a prática.

Conteúdo investigado: Vídeo mostra homem em um quadriciclo derramando líquido inflamável e ateando fogo em vegetação seca na base de uma floresta. Na parte superior, sobreposta às imagens, aparece a frase “Ainda acreditas no aquecimento global?”.

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: Post engana ao usar imagens da técnica de queima controlada para negar a existência do aquecimento global. Embora real, o vídeo foi tirado de contexto pelo autor da publicação para tentar sugerir uma ação proposital de destruição do ambiente e causar dúvidas a respeito do aquecimento global.

O vídeo foi gravado originalmente no estado do Alabama, nos Estados Unidos, e mostra uma prática conhecida como queima controlada. A gravação é da CFM Fire Managers, empresa de propriedade militar que executa serviços de gerenciamento de terras, incluindo a queima controlada.

“Queimamos este povoamento de Pinus taeda pré-comercial de 112 acres à noite para reduzir o escaldamento e diminuir a possibilidade de mortalidade das árvores”, diz a legenda do vídeo original (traduzida pelo Comprova), publicado pela CFM no Facebook em 4 de março de 2024. Nenhuma menção ao processo de aquecimento global é feita no material.

Autorizada pelo Código Florestal brasileiro, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a queima controlada serve, justamente, como uma forma de prevenção a incêndios florestais, na qual uma faixa da vegetação com área previamente definida é queimada a fim de impedir a propagação de chamas. A prática também é utilizada em agriculturas de subsistência de populações tradicionais e indígenas – além de outros casos de maior especificidade.

No entanto, em nota no site do governo federal, o Ibama destaca que “apesar do processo de queima controlada ser legalmente permitido e atuar como prevenção a incêndios florestais, não se pode negar a existência de amplas externalidades negativas com a utilização do fogo, que envolvem danos à saúde, empobrecimento gradual do solo, perda de biodiversidade, danos à rede de transmissão elétrica, entre outros”. Além disso, o órgão reforça a preferência por alternativas ao uso do fogo.

Por fim, o Comprova reforça que o aquecimento global – e a crise climática de forma geral — é real. Conforme explicamos em reportagem publicada em janeiro, também é consenso científico que a ação humana é um dos motivos para a ocorrência desse processo, que já causa aumento da temperatura do ar e da superfície do mar, bem como o degelo das camadas polares – problemas que, por sua vez, acarretam ainda mais consequências.

Tentamos contato com a página que publicou o post, mas não obtivemos retorno até a publicação deste texto.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 10 de setembro, a publicação contava com mais de 23 mil curtidas no Instagram.

Fontes que consultamos: Fizemos uma busca reversa do vídeo utilizado no post enganoso via Google Imagens e encontramos a página no Facebook onde o conteúdo foi originalmente publicado. Também consultamos outras verificações a respeito da publicação e o site do Ibama.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O conteúdo enganoso foi checado pelo Estadão Verifica, cuja matéria foi republicada pelo Terra. O Comprova já verificou que o MST não ameaçou “incendiar o agro” antes das queimadas recentes e que é enganoso afirmar que CO2 não tem relação com o aquecimento global.

Contextualizando

Investigado por: 2024-09-10

Há diferença entre os valores que são aprovados e os que são captados por projetos via Lei Rouanet; entenda

  • Contextualizando
Contextualizando
Em 2023, foram captados R$ 2,3 bilhões para iniciativas culturais, via Lei Rouanet, segundo dados do Ministério da Cultura. Em etapa anterior do processo, foram aprovados cerca de R$ 16 bilhões em projetos, quando o proponente recebe autorização para buscar os recursos junto a patrocinadores. Essa diferença de valores existe porque nem todo projeto aprovado é executado. Nas últimas semanas, o tema voltou a viralizar nas redes sociais, com postagens que misturam os dados das duas fases. Com a apresentação de números fora do contexto, as publicações levam os usuários das plataformas a acreditar que o valor aplicado foi de R$ 16 bilhões. Além disso, os recursos não são investidos de forma direta pelo governo federal, mas por meio de incentivo fiscal de Imposto de Renda.

Conteúdo analisado: Posts que afirmam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) gastou R$ 16,5 bilhões com a Lei Rouanet em 2023.

Onde foi publicado: X e YouTube.

Contextualizando: Circula nas redes sociais um vídeo do jornalista Alexandre Garcia em que ele diz que os artistas estão “em silêncio” diante das recentes queimadas pelo país porque estariam recebendo recursos recordes da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet). O comunicador menciona que, em 2023, a gestão de Lula teria aplicado R$ 16,5 bilhões via Lei Rouanet, valor que “equivale aos quatro anos do governo Bolsonaro”.

De fato, foram autorizados cerca de R$ 16 bilhões em projetos aprovados em 2023, conforme os dados do Ministério da Cultura (MinC), mas falta contexto à publicação. O valor efetivamente captado no ano passado foi de R$ 2,3 bilhões. Isso ocorre porque a Lei Rouanet é, conforme explicado pelo Ministério da Cultura ao Comprova (parte 1 e parte 2), conhecida pela política de incentivos fiscais para projetos. Ela funciona a partir de renúncia fiscal de empresas que destinam parte de seus impostos para o uso em ações artísticas e culturais. Desta forma, podem ser abatidos até 4% do Imposto de Renda devido pelo empreendimento. Sendo assim, nenhum dinheiro é retirado diretamente do orçamento do governo, mas da iniciativa privada. No entanto, nem todo projeto aprovado se converte em recurso efetivamente captado.

Para embasar os números, Garcia destaca que os dados teriam sido compartilhados pelo jornalista americano Glenn Greenwald, o que não é verdade. Inicialmente, o Comprova pesquisou as redes de Greenwald em busca de possíveis publicações relacionadas à Lei Rouanet, mas não foram encontrados posts sobre o assunto. No entanto, o gráfico mencionado por Alexandre Garcia foi compartilhado por uma conta no X que usava o nome e a foto de Greenwald, mas não é perfil oficial do jornalista.

A conta em questão, inclusive, de 25 de agosto pra cá, mudou de nome pelo menos quatro vezes. Quando a checagem foi iniciada no final de agosto, o X ainda não havia sido retirado do ar e o perfil chamava-se Glenn Greenwald – Brasil. Procurado pelo Comprova, Alexandre Garcia encaminhou a postagem no X feita por esta mesma conta, mas que usava outro nome de usuário. Atualmente, ao fazer buscas usando a primeira identificação, é possível encontrar registros de respostas feitas ao perfil. No entanto, ao clicar nos links do perfil, o usuário é direcionado para uma página com outro nome de usuário. Na segunda-feira, 9 de setembro, o perfil usava a foto do empresário Elon Musk. Nesta terça, 10, o nome do perfil mudou novamente e a imagem do perfil é uma caricatura do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O infográfico usado no post encaminhado por Alexandre Garcia foi publicado originalmente em uma reportagem do Poder 360. Ao divulgar os números sem o contexto, as publicações distorcem o dado publicado na matéria jornalística, que tem como embasamento levantamentos oficiais do MinC. Além disso, o texto da reportagem menciona a diferença entre o valor autorizado para captação e o montante que é, de fato, captado pelos projetos culturais.

O portal aponta que o governo federal autorizou a captação de R$ 16,5 bilhões via Lei Rouanet em 2023 e cita que o valor foi superior a todo o autorizado durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL), que, entre 2019 e 2022, aprovou o valor total de R$ 15,2 bilhões. No próprio texto, no entanto, o Poder 360 explica que isso não significa que os R$ 16,5 bilhões aprovados no governo Lula foram efetivamente gastos com os projetos.

Em 2019, inclusive, durante o governo Bolsonaro, o MinC foi extinto e a Cultura passou a integrar o Ministério da Cidadania junto às secretarias do Esporte e do Desenvolvimento Social. Como mostrou o jornal Zero Hora, no ano seguinte, em razão da pandemia de covid-19, os projetos encaminhados à Lei Rouanet sofreram com atrasos nas análises, na liberação de recursos já captados, arquivamentos de projetos, entre outros entraves.

O veículo também cita que a publicação da Instrução Normativa nº1, de 2022, pelo Ministério do Turismo, trouxe uma série de restrições, como ampliação do tempo de análises de projetos e tornou o processo mais burocrático. Isso, consequentemente, provocou uma demanda reprimida, já que dificultou o encaminhamento de projetos.

Outro ponto importante é que o dinheiro da Lei Rouanet é arrecadado a partir da renúncia fiscal de empresas que destinam parte de seus impostos para o uso em ações artísticas e culturais. Sendo assim, nenhum recurso é retirado diretamente do orçamento do governo para patrocinar obras e artistas, mas da iniciativa privada, que em contrapartida recebe abatimentos no Imposto de Renda.

Diferença de valores na tabela

No gráfico citado nas publicações checadas, o dado do valor aprovado pela Lei Rouanet foi de R$ 16,5 bilhões em 2023. Em nota, o Ministério da Cultura explicou que algumas tabelas do Sistema de Acesso às Leis de Incentivo à Cultura (Salic) são atualizadas em tempo real e, outras, apenas ao fim do dia, por isso os valores podem aparecer com diferenças a depender do período em que foi feita a consulta.

Isso ocorre, segundo o MinC, para não sobrecarregar o sistema. Portanto, o caminho para conseguir o dado mais atualizado de captação é: “comparativos > captação de recursos > ano > mês”. Os números foram consultados pela reportagem no dia 6 de setembro de 2024.

Além disso, a pasta acrescenta que os dados dos últimos anos são “sempre revistos” e isso ocorre por dois motivos:

1 – Porque os proponentes têm até 36 meses para captar recursos para o projeto, por isso é possível que haja propostas de 2022 ainda terminando de captar ou comprovar a captação;

2 – A possibilidade de haver inconsistências na comprovação.

“Por exemplo, se o projeto foi autorizado a captar R$ 100 mil, mas captou R$ 150 mil, quando o banco passa os dados para o MinC, o sistema (Salic) automaticamente indica haver diferença e os técnicos pedem ajuste ou explicações para o proponente. Enquanto isso não é resolvido, o valor não entra no cálculo final do sistema”, explica o MinC.

A reportagem entrou em contato com Greenwald, mas não houve retorno até a publicação deste texto.

Os conteúdos do X publicados após o bloqueio à plataforma no Brasil foram acessados do exterior por editores do Comprova que residem na França e na Alemanha.

Fontes consultadas: Pesquisamos nas redes sociais de Glenn Greenwald por publicações relacionadas à Lei Rouanet e reportagens que trataram sobre aumento de valores em 2023, quando encontramos a reportagem do Poder 360 com o infográfico reproduzido fora de contexto nas postagens aqui analisadas. Entramos em contato com o Ministério da Cultura, filtramos no sistema disponibilizado pela pasta os dados de projetos aprovados e recursos captados. Usamos o site Find Twitter ID para identificar o número de identificação dos perfis de X, procedimento que permite verificar se houve mudança no nome usado no perfil. Por fim, entramos em contato com Greenwald e com Alexandre Garcia.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O assunto também foi apurado pelo Estadão Verifica e pelo Terra. O Comprova também já verificou que a atriz Malu Mader e a TV Globo não receberam recursos da Rouanet para uma novela e o caso de vídeo em que um ator diz importar alimentos na Europa com dinheiro da lei, mas se trata de sátira.

Na seção Contextualizando, o projeto mostrou como fazer uma pesquisa processual adequada, para evitar confusões como o caso que envolveu os candidatos à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PRTB) e explicou o contexto da discussão sobre reajuste do salário mínimo acima da inflação.

Eleições

Investigado por: 2024-09-09

Eleitor não perde voto ao apertar “Confirma” durante aviso para conferir escolha na urna eletrônica

  • Falso
Falso
Vídeo de 2022 que voltou a circular nas redes sociais mente ao afirmar que o eleitor pode perder voto se apertar a tecla “Confirma” durante a exibição de uma mensagem de verificação na urna eletrônica. O aviso na tela de “Confira seu voto” foi implementado a partir das últimas eleições gerais, e tem como objetivo somente permitir que o eleitor revise o voto antes da confirmação.

Conteúdo investigado: Homem afirma, em vídeo, que o eleitor pode perder o voto caso aperte a tecla “Confirma” ao aparecer mensagem de verificação “Confira seu voto” na tela da urna eletrônica.

Onde foi publicado: WhatsApp.

Conclusão do Comprova: O eleitor não perde o voto ao apertar a tecla “Confirma” enquanto é exibida a mensagem “Confira seu voto” na urna eletrônica. Conteúdo informando o contrário é falso e já foi desmentido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas eleições gerais de 2022, mas voltou a circular nas redes sociais com a proximidade do pleito municipal de 2024.

Naquele ano, o TSE estreou um novo modelo de urna, o UE2020. O equipamento trouxe mudanças em relação à versão anterior, de 2015. Entre elas estava a implementação de um breve período de espera antes da confirmação do voto. Com duração de um segundo, a mensagem surge após o preenchimento dos números dos candidatos escolhidos, assim como dos votos nulos ou em branco. É depois deste alerta que o eleitor pode clicar em “Confirma” ou “Corrige”.

Para as eleições deste ano, um novo modelo de urna, o UE2022, será utilizado. Segundo o tribunal, as diferenças em relação ao modelo anterior são mínimas, com mudanças apenas no design e melhorias relacionadas à capacidade de processamento das informações e à interação com o mesário e a configurações de segurança do equipamento. Não há alterações relacionadas às mensagens exibidas na tela.

Em 2022, com a novidade, o TSE divulgou um vídeo educativo nas redes sociais. Após a circulação de desinformação sobre o “Confira seu voto”, o órgão divulgou um esclarecimento, que já foi atualizado em 2024, já que o conteúdo falso voltou a circular.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No WhatsApp, não há como mensurar o alcance do conteúdo, mas o aplicativo indica que ele foi compartilhado com frequência.

Fontes que consultamos: TSE.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A Justiça Eleitoral mostrou que o vídeo confunde ao afirmar que mensagem “Confira seu voto” pode anular voto de eleitor. O Comprova já fez diversas checagens sobre o voto nas eleições, como de outro vídeo que mostra site falso para alegar que mortos teriam votado nas eleições de 2022 e que não há comprovação de que urna tenha impedido voto em Jair Bolsonaro (PL) no Pará. Além disso, o Comprova esclareceu dúvidas sobre o que é permitido ou não na hora de votar.

Eleições

Investigado por: 2024-09-09

Não há indícios de que Pablo Marçal tenha sofrido tentativa de homicídio em comício; caso foi registrado como ameaça

  • Enganoso
Enganoso
Não há indícios de que Pablo Marçal, candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PRTB, tenha sido alvo de tentativa de homicídio durante comício no dia 30 de agosto, na zona leste da cidade. Uma postagem traz um áudio supostamente vazado e atribuído à Polícia Militar, no qual um homem fala em tentativa de homicídio contra Marçal. A legenda cita que “tiros foram disparados” contra o ex-coach. Em entrevista à imprensa, Marçal afirmou que houve uma confusão envolvendo um assessor do PSOL, mas não citou tiros. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, o caso foi registrado como “ameaça”.

Conteúdo investigado: Áudio supostamente vazado da Polícia Militar de São Paulo (PMSP), em que dois homens discutem e caracterizam uma ocorrência como “tentativa de homicídio” contra Pablo Marçal; um vídeo que traz, junto à entrevista concedida pelo candidato a respeito do caso, uma foto da deputada estadual Luciana Genro (PSOL-RS); e outro vídeo que afirma que um assessor do PSOL tentou contra a vida do político.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Posts desinformam ao dizer que Pablo Marçal (PRTB) foi vítima de tentativa de homicídio durante campanha política pela Prefeitura de São Paulo.

No dia 30 de agosto, após agenda no bairro Anália Franco, na zona leste da cidade, o candidato registrou um boletim de ocorrência protocolado na Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP) como “ameaça”. Posteriormente, ele concedeu entrevista à imprensa relatando ter suspeitado de pessoas que se aproximaram dele ao longo do ato e sugeriu uma possível relação do PSOL com o episódio. O político não apresentou provas do suposto envolvimento do partido.

Desde então, começaram a circular nas redes sociais vídeos sobre o episódio, com informações que não foram relatadas por Marçal nem confirmadas pela SSP, como um áudio supostamente gravado por agentes da Polícia Militar que teria vazado. Nessa gravação, dois homens trocam informações preliminares sobre uma “tentativa de homicídio” contra o candidato.

Procurada pelo Comprova para falar sobre a veracidade do conteúdo “vazado”, a SSP informou, após a publicação deste texto, que o material “o áudio em questão é uma montagem” e “não confere com as comunicações ocorridas no dia dos fatos”. Antes, em nota, a pasta esclareceu que o boletim de ocorrência de Marçal foi registrado como “ameaça”, conforme já havia sido divulgado pelo próprio candidato à imprensa, e não como “tentativa de homicídio”.

A postagem viralizada no TikTok diz, ainda, que foram disparados tiros durante o suposto tumulto – informação não confirmada pela SSP. O que foi divulgado sobre o caso é apenas que “pessoas se aproximaram” do comício de Marçal e “o ameaçaram”. Depois, “os suspeitos fugiram”. Na nota oficial, não há qualquer menção a armas de fogo.

Em conversa com a imprensa, o candidato disse que percebeu a aproximação de uma pessoa em aparente estado de embriaguez, avisou a um dos seguranças da movimentação suspeita e procurou se proteger em uma padaria.

“Parecia alguém que queria fazer alguma hostilização. Eu vi e já dei o toque para o policial que faz o escudo atrás. Falei: olha, tem alguma coisa errada aí”, disse ele.

Questionado por repórteres, Marçal disse que não conseguia descrever as características do suspeito, mas indicou que, pela placa do carro utilizado, tratava-se do assessor de “uma deputada do PSOL”. Ele não detalhou quem seria nem apresentou provas da acusação. Marçal respondeu ainda que não pôde identificar se o homem estava armado, mas mencionou que um policial presente no ato político afirmou que sim.

“Ele [o policial] pediu para eu não me aproximar porque a pessoa que estava dirigindo o carro estava armada”, relatou o candidato. A SSP não confirmou se havia alguém armado na ocorrência.

O Comprova tentou contato com Marçal e com o PSOL, mas não recebeu retorno até a publicação desta checagem.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 6 de setembro, o post que contém o suposto áudio vazado da polícia contava com 105,8 mil reproduções no TikTok. Já o vídeo que associa a participação de Luciana Genro no caso registrava mais de 245 mil reproduções até a mesma data. O terceiro vídeo, que cita que o assessor do PSOL atentou contra a vida de Pablo Marçal, contava, por sua vez, com 821,2 mil reproduções.

Fontes consultadas: Questionamos a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo sobre o teor do suposto atentado, verificamos a nota divulgada por Carol Iara, bem como a entrevista de Marçal à imprensa. Também contatamos as assessorias de imprensa de Luciana Genro, citada em um dos vídeos, de Marçal e de Iara. Os candidatos paulistas, no entanto, não responderam às tentativas de contato.

Qual a suposta relação do PSOL com o episódio?

Um dos vídeos investigados pelo Comprova associa a imagem da deputada estadual Luciana Genro (PSOL-RS) ao episódio. O conteúdo mostra uma foto da parlamentar abaixo do relato de Marçal à imprensa sobre a provável tentativa de aproximação por parte do suposto assessor. À reportagem, a assessoria de Luciana afirmou que ela não estava em São Paulo no dia da confusão e negou envolvimento na situação.

Outro vídeo que circula no TikTok relaciona o PSOL ao episódio de ameaça contra Marçal. No post, um homem, que não aparece nas imagens, grita: “Segura! Polícia! Polícia!”, enquanto três pessoas entram rapidamente em um veículo. Um texto na imagem afirma que um “assessor do PSOL tenta supostamente Marçal” (sic). O Comprova procurou o partido, mas não obteve retorno.

De acordo com reportagem do Metrópoles, que estava presente no comício, uma das pessoas seria Carol Iara, candidata a vereadora pelo PSOL (entenda mais abaixo). Através de busca reversa de imagem no Google, o Comprova utilizou uma captura de tela para identificar que o vídeo foi gravado, de fato, em uma esquina do bairro Anália Franco, na zona leste de São Paulo, onde Marçal realizou comício eleitoral naquele final de semana.

No Instagram, no mesmo dia do episódio, Carol Iara publicou vídeo e nota em que comenta sobre imagens em que diz aparecer sendo “perseguida por um segurança de Pablo Marçal”. Segundo ela, estariam “tentando ligar o vídeo a um suposto atentado”. Logo em seguida, Iara explica que passou o dia em campanha na zona leste e conta que tentou entregar um boneco de pinóquio (feito de isopor) ao candidato a prefeito pelo PRTB. Ela não menciona em qual local ou evento ocorreu essa tentativa.

A psolista comenta que foi perseguida e que saiu rapidamente do local “porque a extrema direita é bastante truculenta, bastante mentirosa”. Neste momento, o vídeo mostra imagens dela e de mais duas pessoas, aparentemente as mesmas que aparecem no conteúdo aqui verificado, andando rapidamente, como se estivessem indo embora do local.

Segundo Carol, a intenção era entregar o boneco em razão das condenações que o político sofreu ao longo da última semana de agosto. Marçal teve as contas oficiais temporariamente suspensas na internet e foi condenado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP) a dar direito de resposta nas redes sociais a Guilherme Boulos (PSOL) e a Ricardo Nunes (MDB), adversários do ex-coach na corrida pela Prefeitura.

Conforme a nota divulgada pela equipe de Iara, a entrega do boneco não ocorreu, “pois os seguranças de Pablo Marçal começaram a persegui-la de forma violenta no instante em que a viram”, fazendo com que a candidata deixasse o local rapidamente.

“Transformar um isoporzinho que sequer foi entregue em um suposto atentado é uma mentira. As acusações são infundadas e completamente falsas. Não houve qualquer incidente com Marçal e lamentamos profundamente a tentativa de criar uma falsa narrativa que o vitimiza”, diz trecho do comunicado. O Comprova tentou contato com a candidata do PSOL, mas não obteve resposta.

Também foi feito contato com os perfis analisados nesta verificação, mas apenas um deles, que indica que o assessor do PSOL teria atentado contra o candidato a prefeito, respondeu, alegando ser “independente” e afirmando “que posta vídeos relacionados à política de diversos candidatos, prezando pela imparcialidade”. Ainda na resposta, enviada por mensagem direta na própria rede social, o perfil afirma que o trecho postado ”é de um vídeo que circulou na internet sobre o suposto atentado”.

Na descrição do post, disse o perfil, foi reproduzido o “posicionamento” da assessoria de Marçal. “Tanto que colocamos: ‘de acordo com a assessoria do candidato Pablo Marçal’. Não estávamos no local do ocorrido, por isso não podemos afirmar se, de fato, havia ou não alguém armado oferecendo risco e, por isso, não fizemos afirmações, sempre utilizando ‘supostamente’ para se referir ao caso”.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está gerando muitas dúvidas e desinformação, o Comprova Explica. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O suposto atentado contra Pablo Marçal já foi verificado por outras agências de checagem. A Boatos.org apontou que a narrativa do candidato do PRTB carece de provas. Além disso, a Agência Lupa revelou que é falso que a deputada estadual Luciana Genro tenha atentado contra a vida do político. O Comprova já mostrou como fazer uma busca processual adequada utilizando o Jusbrasil, a partir das acusações de Marçal de que Guilherme Boulos seja usuário de drogas.

Eleições

Investigado por: 2024-09-06

Post engana ao afirmar que os EUA teriam construído urnas para o Brasil

  • Enganoso
Enganoso
Michael Benz, ex-secretário de Trump, publicou capturas de tela em seu perfil no X sugerindo interferência do Departamento de Estado dos EUA nas eleições de 2022 no Brasil e alegando que o governo americano teria construído as urnas usadas no país. Apesar das imagens não terem sido manipuladas, elas foram tiradas de contexto para sugerir apoio pró-Lula, comparando com o golpe de 1964. O TSE informou que o equipamento usado em 2022 foi totalmente fabricado no Brasil.

Conteúdo investigado: Publicação – retuitada por Elon Musk – em que Michael Benz, ex-secretário de Donald Trump e influenciador de direita, sugere que o governo dos Estados Unidos teria interferido diretamente no resultado das eleições federais brasileiras de 2022 para favorecer o candidato eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Publicação do ex-secretário de Donald Trump e influenciador de direita Michael Benz usa capturas de tela de reportagens do Financial Times e da Reuters, destaca trechos dos materiais e os tira de contexto para dizer que as urnas eletrônicas usadas no Brasil durante as eleições de 2022 teriam sido construídas pelos Estados Unidos “para autoridades brasileiras pró-Lula”.

Os temas tratados pelas matérias, no entanto, não dizem respeito à construção de urnas. As reportagens em questão, na verdade, falam sobre “a campanha discreta dos Estados Unidos para defender as eleições brasileiras” e a Agência de Inteligência Central (CIA) ter dito ao governo Bolsonaro “para não mexer com as eleições do Brasil”.

Segundo informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as urnas eletrônicas de modelo UE2020, utilizadas nas eleições gerais de 2022 – assim como os modelos usados em todas as eleições brasileiras desde a adoção do modelo digital –, foram de fabricação totalmente brasileira, feita pela Positivo Tecnologia.

O Comprova não fez contato com o responsável pela publicação porque o X está indisponível no Brasil.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Entre os dias 30 de agosto (data da publicação) e 6 de setembro, o post teve 10 milhões de visualizações, 18 mil curtidas, 9,1 mil compartilhamentos e 687 comentários.

Fontes que consultamos: O Comprova consultou as duas reportagens citadas pelo autor do post, que foram publicadas pela agência internacional de notícias Reuters e pelo jornal americano Financial Times. Além disso, pesquisou sobre as montagens das urnas eletrônicas pelo site do TSE. As informações sobre Mike Benz foram encontradas no site da Foundation For Freedom Online.

As urnas eletrônicas e seus chips

A montagem das urnas eletrônicas usadas nas eleições brasileiras é feita no Brasil – em Manaus (AM) e em Ilhéus (BA) –, mas alguns dos componentes utilizados são comprados de outros países, como os chips, feitos com materiais semicondutores, por exemplo.

Para as urnas do modelo UE2020, os semicondutores foram adquiridos da empresa taiwanesa Nuvoton e da americana Texas Instruments, segundo duas fontes ouvidas pela reportagem do Financial Times utilizada por Benz nos posts investigados.

A reportagem destaca ainda que a única participação dos Estados Unidos, no que diz respeito às urnas, foi a solicitação às autoridades taiwanesas e a figuras dentro da Texas Instruments para dar prioridade à demanda brasileira por essas peças.

As justificativas para os pedidos às empresas em questão foi o “impacto em eleições democráticas” e a crise de escassez de material por conta da pandemia. Um dos trechos publicados por Benz descreve justamente essa ação, mas o autor do post não deu destaque a ela, utilizando ferramentas gráficas para chamar a atenção do leitor apenas para outros trechos do material. Benz também não contextualiza as reportagens mencionadas.

A ação dos EUA foi realizada antes das eleições

Conforme descrito pelas fontes ouvidas pela reportagem do Financial Times, que teve uma tradução publicada pela Folha de S. Paulo, toda a ação americana se deu antes das eleições, com o intuito de contribuir para a lisura do processo eleitoral e evitar que os resultados fossem questionados, como ocorreu nos EUA após a vitória de Joe Biden sobre Donald Trump, em 2020.

“O objetivo foi reforçar duas mensagens consistentes para os generais brasileiros inquietos e os aliados próximos de Bolsonaro: Washington tinha posição neutra quanto ao resultado da eleição, mas não toleraria qualquer tentativa de questionamento do processo de votação ou do resultado”, diz a reportagem. Este trecho foi omitido por Benz em suas postagens.

Os últimos esforços dos americanos foram no sentido de manter comunicação com aliados políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para que estes o fizessem desistir de qualquer manifestação voltada à contestação do resultado eleitoral – enquanto após a eleição, a única posição adotada pelos Estados Unidos foi de propor um pronunciamento conjunto com o Canadá e o México, em vista dos ataques de 8 de janeiro de 2023.

Quem é Mike Benz

Michael Benz foi Secretário Assistente Adjunto de Comunicações Internacionais e Política de Informação do Departamento de Estado dos Estados Unidos durante o governo de Donald Trump, e é Diretor Executivo da Foundation for Freedom Online (FFO), organização não-governamental que diz ter como objetivo “defender a liberdade digital”.

O trabalho de Mike Benz ganhou destaque após ser citado em audiências do Congresso dos EUA, e ser promovido por Elon Musk, atual dono do X, como explica a NBC News.

Devido à visibilidade, Mike Benz tornou-se uma personalidade referência para as críticas republicanas ao governo Biden e ao que eles chamam de “censura nas mídias sociais”.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já realizou uma checagem relacionada à matéria do Financial Times, por conta de um post que enganava ao afirmar que os Estados Unidos interferiram em prol de Lula nas eleições. O projeto também já verificou diversas publicações relacionadas às urnas eletrônicas, como as falsas informações de que um dispositivo alterava a votação e sobre o TSE ter grampeado mais de 30 mil máquinas.

Política

Investigado por: 2024-09-05

É falso que número de apostas na Mega-Sena tenha caído após crescimento das bets

  • Falso
Falso
Publicação mente ao afirmar que o governo federal "está em desespero", porque “o povo parou de jogar na Mega-Sena” e estaria destinando “todo dinheiro” para apostas online, conhecidas como bets. A Caixa, que administra as loterias federais, informou que não houve quedas nas apostas e que a Mega-Sena apresentou aumento em 2024 se comparado ao mesmo período de 2023.

Conteúdo investigado: Publicação afirma que o governo federal “está em desespero”, porque “o povo parou de jogar na Mega-Sena e está entregando todo seu dinheiro para apostas online”.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Não é verdade que os brasileiros estão parando de apostar na Mega-Sena, principal loteria da Caixa Econômica Federal, para colocar seu dinheiro nas apostas online – diferentemente do que diz publicação no X. Contatada pelo Comprova, a instituição negou haver queda no número de jogos.

“As apostas na Mega-Sena apresentaram variação positiva de 22% de janeiro a agosto de 2024, em relação ao mesmo período de 2023”, afirmou a instituição, que não informa o número absoluto de apostas.

Essa variação positiva significa que, ao contrário do que a publicação investigada afirma, as apostas aumentaram até o momento. Conforme a Caixa, esse crescimento está relacionado ao valor dos prêmios, à quantidade e à arrecadação. As apostas podem ser feitas em lotéricas e nas plataformas digitais do banco.

No site da instituição foi possível verificar que, de janeiro a agosto deste ano, a arrecadação com a Mega-Sena foi de R$ 6.076.232.420. No mesmo período de 2023, o valor foi R$ 5.315.120.448, considerando a inflação. Os repasses sociais, incluindo a Mega e as outras loterias da Caixa, como Lotomania e Quina, bateram o valor recorde de R$ 23,4 bilhões.

Outro dado que contraria a ideia de queda no número de apostadores foi o da Mega da Virada: em 2023, ela registrou mais de 485,25 milhões de apostas, em comparação com os cerca de 435,21 milhões do ano anterior.

Embora o post desinforme ao falar em queda da Mega-Sena, ele acerta ao sugerir que as apostas online, ou bets, estão aumentando. O setor cresceu 734,6% entre 2021 e abril deste ano, segundo pesquisa da plataforma de análise de dados Datahub, publicada pela CNN. Mas a alegação de que as bets seriam concorrentes da Mega-Sena já foi refutada pela própria diretora-presidente da Caixa Loterias, Lucíola Vasconcelos. Em agosto, ela disse ao UOL: “[Loterias e bets] não são mercados concorrenciais. Passamos a atuar em um novo mercado de jogos e apostas. Falando de estratégia, sabemos que é um mercado muito grande e a regulação vai trazer mais formalidade ao mercado”.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 27 de agosto, antes da suspensão do X, a publicação tinha 3,7 mil visualizações.

Fontes que consultamos: Caixa Econômica Federal, via assessoria de comunicação e dados disponíveis no portal oficial da instituição, e matérias da CNN e do UOL sobre o assunto.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já verificou outros conteúdos envolvendo a Caixa, como post que enganava ao afirmar que o presidente do banco teria processado ex-dirigente e receberia indenização por assédio sexual.