O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Política

Investigado por: 2024-02-06

É falso que Adélio Bispo tenha incriminado o PT ou prestado novo depoimento sobre facada em Bolsonaro

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Falso
É falso que Adélio Bispo informou em um novo depoimento que membros do PT tenham sido os mandantes da facada dada por ele em Jair Bolsonaro (PL). A Defensoria Pública da União (DPU), que presta assistência jurídica ao autor do crime, informou que o último depoimento prestado por Adélio ocorreu em 2019. Dois inquéritos da Polícia Federal que investigaram o caso concluíram que ele agiu sozinho.

Conteúdo investigado: Um vídeo antigo gravado pelo deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) em que ele afirma que Adélio Bispo confessou que o PT mandou matar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a circular nas redes sociais acompanhado de um texto alegando que os mandantes do crime foram a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, e José Dirceu. O conteúdo acrescenta que a ex-deputada federal Manuela D’Ávila (PSOL) auxiliou na logística do crime.

Onde foi publicado: WhatsApp e X.

Conclusão do Comprova: Adélio Bispo não prestou um novo depoimento recentemente e nem indicou membros do PT como mandantes do crime praticado por ele contra Jair Bolsonaro (PL), em 2018. São falsas as alegações feitas em posts que circulam no X e no WhatsApp e que resgatam um boato antigo e já desmentido diversas vezes por agências de checagem.

Conforme a Defensoria Pública da União (DPU), que presta assistência jurídica a Adélio desde 2019 e exerce a sua curadoria especial, o último depoimento prestado por ele ocorreu em 19 de agosto daquele ano. O órgão informou ao Comprova não ter sido notificado sobre qualquer novo depoimento.

Os dois inquéritos da Polícia Federal (PF) que investigaram a facada concluíram que Adélio agiu sozinho e por motivação política. Atualmente, ele está recolhido na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS), onde cumpre medida de segurança após ter sido considerado inimputável pela Justiça Federal, devido a laudo que comprovou que ele possui transtorno delirante persistente.

A PF informou ao Comprova que divulga todas as ações e operações no próprio site e qualquer informação que circule nas redes sociais que não tenha partido dos canais oficiais de comunicação é de total responsabilidade de quem a divulgou.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Apenas no X, o post teve 195,7 mil visualizações até 5 de fevereiro. Não é possível mensurar quantas vezes foi compartilhado no WhatsApp.

Como verificamos: Inicialmente, fizemos uma busca combinada no Google com as palavras-chave “Adélio Bispo”, “depoimento”, “PT” e Gleisi Hoffman” que retornou checagens antigas sobre o mesmo assunto feitas por outras agências (Estadão Verifica, Aos Fatos, Lupa). Assim, percebemos se tratar de um boato constantemente resgatado nas redes sociais. Também consultamos informações para entendermos o caso e procuramos a DPU, a PF, o deputado Gustavo Gayer e o autor do post mais recente no X.

Alegações em vídeo foram desmentidas em 2022

Em 16 de fevereiro de 2022, o Estadão Verifica informou que alguns dias antes, em 12 de fevereiro, uma menção a um suposto depoimento de Adélio Bispo foi feita pelo perfil @AnonNovidades, no X, sem informar a fonte para a alegação.

Nos dias posteriores, outras postagens viralizaram com a mesma afirmação em diferentes redes sociais e o blog Terra Brasil Notícias publicou o conteúdo falso com crédito para o perfil @AnonNovidades. No mesmo dia, o blog publicou outro texto no qual disse que a Polícia Federal negou que o depoimento tivesse ocorrido.

O vídeo gravado por Gustavo Gayer quando ele ainda não era deputado não está mais nas redes sociais dele, mas a versão completa ainda pode ser encontrada circulando em outras contas. O Comprova localizou no YouTube uma postagem deste feita em 12 de fevereiro de 2022. Nesta versão, é possível identificar que Gayer repercutia o primeiro texto publicado pelo blog Terra Brasil Notícias, com o título “Urgente: Segundo Anonymous, em novo depoimento Adélio Bispo abre jogo sobre facada em Bolsonaro e diz que PT o contratou em 2018”.

Não foi possível confirmar o motivo de Gayer ter deletado esse conteúdo em suas redes sociais, já que ele não respondeu à tentativa de contato feita pela reportagem. Em novembro de 2022, ele publicou um vídeo no X informando ter apagado mais de mil vídeos no próprio canal no YouTube porque vinha sendo notificado pela plataforma por conta de algumas postagens.

Desde 2022, o boato associando o PT e um falso depoimento de Adélio volta a circular frequentemente, normalmente junto de uma mensagem em tom de urgência que leva as pessoas a interpretarem se tratar de um fato recém ocorrido.

Uma referência a Gleisi Hoffmann, que é citada nas postagens atuais, havia sido feita por Gayer quando o vídeo dele foi registrado, já fora de contexto. À época, ele mostrava um vídeo da presidente do PT afirmando que temia pela vida de Lula, mas não informava que o conteúdo havia sido gravado quatro anos antes, em 30 de outubro de 2018, durante entrevista coletiva do partido, que está disponível na página da AFP, no YouTube.

Caso Adélio

A DPU informou que Adélio segue recolhido na Penitenciária Federal de Campo Grande, onde cumpre medida de segurança. Ele é reconhecido como autor da facada em Bolsonaro, mas considerado inimputável pela Justiça Federal devido a laudo de 2018 que comprovou que ele sofria de transtorno delirante persistente.

Conforme noticiou a Folha de S.Paulo no final de 2023, atualmente há um impasse sobre a situação dele. A DPU tenta transferi-lo para um hospital psiquiátrico, mas a Justiça é contra por considerar que ele mantém a periculosidade e corre risco de morte fora do sistema federal. De acordo com o jornal, Adélio tem recusado remédios e está sem tratamento apropriado.

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi esfaqueado em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 6 de setembro de 2018, durante ato público de campanha.

Em dois inquéritos, a Polícia Federal concluiu que Adélio agiu sozinho e por motivação política.

O que diz o responsável pela publicação: Não foi possível entrar em contato com o perfil do X responsável por resgatar o antigo boato porque ele é bloqueado para receber mensagens de contas que não segue. Também não foi possível identificar contas em outras redes sociais pertencentes ao mesmo indivíduo. Gustavo Gayer, que hoje é deputado federal pelo PL de Goiás, também foi procurado, por meio do gabinete institucional, mas não houve resposta.

O que podemos aprender com esta verificação: Esta verificação é um bom exemplo de como é fundamental observar a fonte dos conteúdos acessados nas redes sociais antes de compartilhá-los. Ao se deparar com postagens de denúncias, conteúdos impactantes ou que sugiram conspirações, verifique se há link para alguma notícia produzida por um veículo jornalístico da sua confiança ou para uma fonte que tenha autoridade para falar sobre o assunto. Se não houver, faça uma busca na internet para obter mais informações. Neste caso, o Comprova identificou rapidamente, por uma busca simples no Google, que o boato sobre Adélio Bispo e um suposto envolvimento do PT como mandante do crime é recorrente, ressurgindo periodicamente nas redes sociais.

É importante também tomar cuidado com postagens que pedem seu compartilhamento com a justificativa de que a imprensa não está cobrindo o assunto. Essa é uma tática comum utilizada por perfis e páginas interessados em promover desinformação. Eles a utilizam para obter engajamento e ativar os algoritmos das redes sociais para que deem ainda mais visibilidade aos conteúdos da postagem. 

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: As alegações aqui verificadas foram desmentidas anteriormente por Aos Fatos, Lupa e Estadão Verifica. O Projeto Comprova já checou diversas alegações falsas ou enganosas sobre a facada em Bolsonaro e publicou, inclusive, um Comprova Explica sobre o assunto.

Política

Investigado por: 2024-02-05

Membro do MST que aparece em vídeo não é o homem que depredou relógio de dom João VI no Palácio do Planalto

  • Falso
Falso
É falso que o homem que quebrou o relógio de Dom João VI, no Palácio do Planalto, em 8 de janeiro de 2023, seja integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), diferentemente do que afirma post verificado pelo Comprova. O vândalo foi identificado como Antônio Cláudio Alves Ferreira, já a pessoa que aparece no vídeo verificado como sendo militante do MST chama-se Danilo e mora no Paraná. Um perito apontou diferenças entre os rostos dos dois homens. Não há nenhum indício de participação de integrantes do MST nos atos golpistas de 8 de janeiro.

Conteúdo investigado: Post faz uma montagem com dois vídeos. O primeiro é de um grupo de pessoas que usa roupas do Movimento pelo Direito à Moradia e que diz estar indo para Brasília. Entre eles aparece um homem que se identifica como Danilo e que veste uma camiseta do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). O segundo vídeo mostra uma pessoa quebrando o relógio de Dom João VI no Palácio do Planalto. A legenda do post diz “O tal bolsonarista que quebrou o relógio é do MST/PT…. Esconderam isso do povo…”

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: O homem que quebrou o relógio de Dom João VI durante os atos antidemocráticos em Brasília, em 8 de janeiro do ano passado, não é militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), ao contrário do que afirma post viral.

A publicação mescla o vídeo do homem jogando o relógio no chão, dentro do Palácio do Planalto, com uma gravação em que aparece um homem com uma camiseta do MST fazendo a letra L com a mão, em referência ao apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na publicação, o autor do post diz ser a mesma pessoa, o que não é verdade.

O vândalo foi identificado como Antônio Cláudio Alves Ferreira e foi preso em 23 de janeiro. Contatado pelo Comprova, o MST afirmou que o post é “uma montagem grosseira na tentativa de criminalizar o movimento” e que conteúdos de desinformação com o mesmo assunto circulam há um ano. Ainda de acordo com o grupo, o homem com a camiseta do MST se chama Danilo, é estudante e mora com a família em um acampamento no Paraná.

Em análise feita a pedido do Estadão, o perito audiovisual Ricardo Caires dos Santos, presidente da Comissão Nacional de Perícia Audiovisual, da Academia Brasileira de Ciências Criminais, também concluiu não ser a mesma pessoa nos dois vídeos. Segundo a perícia, há diferenças nos olhos, sobrancelhas e bigode.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Apenas um post no X havia sido visualizado mais de 69 mil vezes até 2 de fevereiro.

Como verificamos: O primeiro passo foi pesquisar no Google termos como “vândalo relógio Dom João VI” e “MST”. O resultado mostrou três verificações que desmentiram a associação dos dois vídeos.

Também foram pesquisadas notícias sobre Antônio Cláudio Alves Ferreira, identificado como a pessoa que quebrou o relógio. O Comprova também entrou em contato com a assessoria de imprensa do MST. Além disso, mandou mensagens para o perfil que compartilhou o vídeo original, que mostra o homem identificado como Danilo, e com o Movimento por Moradia Popular. Mas até a publicação dessa verificação não obteve resposta.

Vândalo se chama Antônio, não Danilo

O relógio de Balthazar Martinot, trazido ao Brasil pelo Dom João VI, que estava no Palácio do Planalto, foi quebrado durante a depredação da sede do Executivo no dia 8 de janeiro de 2023. Vídeo da câmera de segurança do local mostrou que o ato de vandalismo foi executado por um homem vestido com uma camisa estampada com o rosto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As imagens foram divulgadas pela TV Globo.

Logo depois, testemunhas, entre elas a irmã de Antônio Cláudio Alves Ferreira, o reconheceram como sendo a pessoa que aparece no vídeo, segundo reportagem do Diário de Pernambuco. Antônio é natural de Catalão, em Goiás, e, de acordo com a Polícia Civil do estado, foi a Brasília de carro, onde chegou no dia 2 de janeiro. No dia 9, após os ataques, o mesmo veículo foi visto de volta à Catalão.

Antônio foi preso em 23 de janeiro em Uberlândia e está detido desde então no Presídio de Uberlândia I, antiga Colônia Penal Professor Jacy de Assis. Foi incluído no inquérito 4922, do Supremo Tribunal Federal, de relatoria do ministro Alexandre de Moraes. O inquérito investiga os participantes da invasão que não foram presos em flagrante. Na ação, ele responde por cinco crimes, incluindo golpe de Estado.

Relógio de Balthazar Martinot

O relógio de Balthazar Martinot é uma peça do século XVII que pertenceu a Dom João VI, presenteado pela Corte Francesa. O item estava exposto no Palácio do Planalto desde 2012, quando passou por uma restauração.

No dia dos ataques, o relógio foi destruído. Foram arrancados a estátua de Netuno que ficava no topo do objeto, os ponteiros e também os números.

O item foi enviado à Suíça, que se ofereceu para fazer o reparo. O objeto foi entregue a representantes do país em 26 de dezembro de 2023. A restauração será feita pela Audemars Piguet, fabricante tradicional de relógios. Não há data para finalização do restauro. Os custos também não foram divulgados.

Vídeo do MST é viagem para posse de Lula

O vídeo usado na montagem foi postado no Instagram de um integrante do Movimento pelo Direito à Moradia em 3 de janeiro de 2023. Nele, a pessoa que narra a gravação diz que eles estão indo para Brasília. O grupo, que usa camisas do Movimento pelo Direito à Moradia, que é do Paraná, está fazendo uma refeição. Uma das pessoas que aparecem é o homem que se apresenta como Danilo. O mesmo perfil do Instagram também postou fotos e vídeos do dia da posse do presidente Lula, em Brasília. Segundo o Movimento Sem Terra (MST), o vídeo mostra a viagem dos integrantes para a posse de Lula, em 1º de janeiro, portanto, antes dos atos golpistas.

O que diz o responsável pela publicação: Várias páginas no X republicaram o vídeo e não foi possível identificar o perfil que fez a primeira postagem. A reportagem também não conseguiu contatar os perfis que publicam por ser proibido o envio de mensagens.

O que podemos aprender com esta verificação: O post usa vídeos verdadeiros de pessoas parecidas para confundir e difundir uma informação falsa. Diante de postagens como essa, que fazem denúncias sensacionalistas ou apresentam teorias conspiratórias sem identificar as fontes dos conteúdos utilizados, faça buscas na internet para localizar informações sobre o tema fornecidas por veículos jornalísticos ou fontes com autoridade para falar sobre o tema em questão. Se fosse verdadeira a informação, a participação de um integrante do MST na tentativa de golpe de 8 de janeiro seria veiculada em diversos sites e programas de notícias e não somente em perfis de redes sociais cuja autoria não pode ser confirmada.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Estadão, Aos Fatos e Fato ou Fake, do G1, também verificaram o conteúdo. Sobre os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, o Comprova já checou outras publicações, como a de que o FBI não estava no Brasil para investigar os atos, diferentemente do que afirmava vídeo e de post que enganava ao associar vídeo de 2022 a início de movimento contra Lula.

Política

Investigado por: 2024-02-02

Apresentador da Globo não evitou noticiar rombo no governo Lula; houve erro técnico

  • Enganoso
Enganoso
Jornalista da RBS TV, afiliada da Globo no Rio Grande do Sul, não evitou ler manchete sobre déficit nas contas públicas do governo Lula (PT) para protegê-lo, ao contrário do que diz post. Houve um erro técnico no programa, com a exibição de capas de jornais que eram do dia anterior. Ao perceber o equívoco, o apresentador interrompeu a leitura e aguardou pela exibição das manchetes do dia correto.

Conteúdo investigado: Post no Instagram reproduz trecho do telejornal Bom Dia Rio Grande, na RBS TV, afiliada da Globo, em que o âncora estava mostrando as capas dos jornais do dia 31 de janeiro. O apresentador interrompe a leitura no momento em que terminaria de ler a manchete do Zero Hora sobre o déficit do governo atual. Sobre a imagem, aparece a inscrição “O cara travou na hora de falar do rombo do governo Lula”.

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: É enganoso que o apresentador Josmar Leite, da RBS TV, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Sul, tenha interrompido a leitura de manchete sobre déficit nas contas públicas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para protegê-lo. O que ocorreu foi um erro no noticiário da emissora, com a confusão da exibição de capas do dia.

Durante o telejornal Bom Dia Rio Grande, de 31 de janeiro, foram mostradas capas de jornais que eram, na verdade, do dia anterior. Por conta do equívoco, Josmar interrompeu a leitura das manchetes e informou que as capas corretas seriam exibidas pela equipe. Na sequência, o programa consertou as imagens e mostrou as matérias referentes àquele dia.

A informação lida de forma incorreta no dia 31 era a reportagem publicada no jornal Zero Hora do dia anterior, sobre o fato de as contas públicas federais terem fechado em 2023 com déficit de R$ 230,5 bilhões. Esse é o pior resultado desde 2020, ano em que começou a pandemia da covid-19, quando o déficit chegou a R$ 939,9 bilhões.

Após a exibição do telejornal, começou a circular nas redes sociais um vídeo com uma legenda afirmando que o apresentador Josmar Leite “travou” após falar do “rombo nas contas durante o governo Lula”, sugerindo também que a emissora não faz críticas ao presidente da República.

Com a circulação do material enganoso, a RBS TV, no mesmo dia, publicou em seu perfil no Instagram uma nota de esclarecimento sobre o caso, acompanhada do vídeo que mostra o momento do erro técnico e, em seguida, a apresentação da manchete atualizada do Jornal Zero Hora. A emissora também exibiu o trecho do dia anterior, 30, em que Josmar lê normalmente a matéria sobre o rombo.

Em nota, a RBS informou que a íntegra do conteúdo está disponível no Globoplay.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 2 de fevereiro de 2024, a publicação teve 370 mil visualizações, 18,8 mil curtidas e 3,6 mil comentários.

Como verificamos: Para encontrar informações sobre o ocorrido, o Comprova buscou pelo trecho original do telejornal no Globoplay que mostra o erro técnico e a correção das capas na sequência. Também encontrou o programa do dia anterior na plataforma, em que é possível ver que o jornalista leu normalmente a matéria sobre o rombo.

A equipe procurou o posicionamento da RBS TV em seu Instagram, onde esclareceu o engano e as capas do Jornal Zero Hora.

O que diz o responsável pela publicação: Procurado pelo Comprova, o administrador do perfil onde o vídeo foi publicado, não respondeu aos questionamentos feitos.

O que podemos aprender com esta verificação: Trechos recortados de vídeos, apresentados sem contexto e com sobreposição de legendas ou comentários de cunho político, merecem a nossa atenção. O uso de recortes de imagens com essas características é uma tática comumente utilizada por perfis cuja intenção é compartilhar desinformação ou reforçar discursos partidarizados. Neste caso, embora o Comprova não tenha conseguido confirmar alguma intencionalidade do responsável pela publicação, a postagem utiliza trecho de um telejornal sem apresentar para os usuários o contexto e nem explicar que se tratava de um erro. Em casos como este, devemos buscar pelos trechos originais do programa na plataforma da emissora e conferir a veracidade da publicação. Também seria possível checar a informação consultando as capas do jornal Zero Hora nos dias citados.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Metrópoles, Aos Fatos e Lupa também checaram o conteúdo. Ainda sobre trechos de telejornais tirados de contexto, o Comprova já verificou que montagem com vídeos engana sobre a cloroquina.

Política

Investigado por: 2024-02-01

Vídeo inventa fechamento de montadoras e faz falsa projeção de desemprego

  • Falso
Falso
É falso que Citroën e Toyota tenham encerrado as atividades no Brasil ou demitido milhares de pessoas como afirma um homem em vídeo antigo que voltou a circular nas redes sociais. As duas montadoras seguem funcionando e garantem que não pretendem sair do país. Além disso, a previsão do autor do vídeo investigado, de que o Brasil teria 15 milhões de desempregados em maio de 2023, não se cumpriu. O país tinha 8,6 milhões de desempregados no 2º trimestre do ano passado, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. A taxa de desemprego caiu 1,8% em 2023.

Conteúdo investigado: Um vídeo que circula nas redes sociais mostra um homem alegando que é funcionário da Citroën e que a montadora fechou as portas no Brasil, demitindo 13 mil funcionários. Ele acrescenta que a Toyota também acaba de fechar suas unidades e que até maio o país terá 15 milhões de desempregados. Ao final, coloca a culpa desse cenário no presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, segundo ele, teria planejado assumir o governo para aos poucos quebrar o país.

Onde foi publicado: X e TikTok.

Conclusão do Comprova: As montadoras Citroën e Toyota não encerraram suas atividades no Brasil, demitindo milhares de pessoas. A alegação falsa aqui checada circula desde janeiro de 2023 e já foi desmentida anteriormente, por Reuters e UOL Confere.

A Stellantis, dona da marca Citroën, negou ao Comprova que o homem que aparece nas imagens tenha integrado os quadros da companhia e afirmou que as declarações contidas no vídeo são falsas.

Conforme a montadora, a planta de produção de veículos e motores de Porto Real, no Rio de Janeiro, onde os veículos Citroën são fabricados, é um ativo importante e estratégico, e continuará em funcionamento. “A unidade segue preparada para atender às demandas dos consumidores e ao crescimento do mercado”, informou a empresa, em nota.

A Toyota, por sua vez, informou não ter realizado, neste ano, anúncio referente ao fechamento de unidades. A empresa explicou que, em novembro de 2023, concluiu um processo de transferência das operações da fábrica da cidade paulista de São Bernardo do Campo para as demais unidades (em Sorocaba, Indaiatuba e Porto Feliz, no interior de São Paulo). “Reafirmamos nosso compromisso com o Brasil, desmentindo quaisquer alegações de encerramento das operações no país”, afirma a montadora.

Em relação ao fechamento da fábrica em São Bernardo, a Toyota informou que a decisão se deu pela concentração estratégica das operações no interior de São Paulo. Não foi informado o número de funcionários desligados da unidade, mas, conforme publicado por Época Negócios, havia 550 trabalhadores no local.

Em janeiro de 2023, primeiro ano do governo Lula, quando o vídeo começou a circular, o homem que faz as falsas alegações previa entre 13 e 15 milhões de desempregados no Brasil em maio. Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, principal instrumento para monitoramento da força de trabalho no país, o contingente dos desocupados no Brasil no segundo trimestre de 2023 era de 8,6 milhões, bem abaixo do número citado no conteúdo checado.

A taxa de desocupação do país no segundo trimestre (abril, maio e junho) de 2023 foi de 8%, caindo 0,8% ante o primeiro trimestre (8,8%) e 1,3% frente ao mesmo trimestre de 2022 (9,3%), durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego caiu 1,8% em 2023 em comparação ao ano de 2022. Os dados da Pnad Contínua demonstram que a taxa de desocupação em 2023 foi de 7,8% e a de 2022 foi de 9,6%. Em 2023, o Brasil tinha uma população desocupada de 8,5 milhões.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O vídeo aqui checado foi visualizado 169,7 mil vezes no TikTok e outras 109,3 mil vezes no Twitter.

Como verificamos: Uma busca no Google pelas palavras chaves “Citroën”, “Toyota”, “demissões”, “sair” e “Brasil” levou a uma verificação do Uol Confere que desmentiu em abril de 2023 o vídeo aqui checado. Além disso, pesquisamos por notícias em canais confiáveis que confirmassem a alegação, mas não encontramos nenhum resultado. Em seguida, procuramos as duas montadoras e buscamos os dados de desemprego referentes ao primeiro ano do governo Lula. Por fim, tentamos falar com o responsável pelo compartilhamento do vídeo e pelo homem que aparece na gravação.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova enviou mensagem via Kwai para Luiz Antônio Dornelas Lopes, que se identifica no vídeo como funcionário da Citroën, e via TikTok para Edvaldo Alves Machado, que compartilhou o conteúdo recentemente. Nenhum deles respondeu.

O que podemos aprender com esta verificação: Este caso destaca a importância de verificar informações com fontes confiáveis antes de compartilhar conteúdos. O vídeo em questão já havia sido desmentido anteriormente por agências de checagem de fatos e as duas empresas citadas haviam negado as alegações. Informações alarmantes, como as de demissões em massa e de grande impacto na economia, sempre devem ser confirmadas junto a fontes confiáveis, como veículos de comunicação profissionais, por exemplo.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo foi verificado em 2023 por Reuters e UOL Confere. Boatos sobre diferentes negócios foram desmentidos anteriormente pelo Comprova, que identificou ser falso que a Ford vai deixar de produzir veículos de passageiros globalmente, ser enganoso que fábricas estejam fechando filiais na Argentina para vir ao Brasil e que um áudio inventa que produção de montadora está esgotada até 2021 para afirmar que Brasil pode se tornar maior economia do mundo. Sobre emprego, já demonstramos que uma publicação engana ao comparar dados de Lula e Dilma com Bolsonaro.

Política

Investigado por: 2024-02-01

Ponte rodoferroviária entre SP e MS não foi obra do governo Bolsonaro

  • Falso
Falso
Não há relação entre o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a construção da ponte rodoferroviária Rollemberg-Vuolo, que liga São Paulo a Mato Grosso do Sul. A obra teve início em 1991 e foi inaugurada sete anos depois pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Conteúdo investigado: Vídeo com imagens da ponte rodoferroviária Rollemberg-Vuolo, em que o narrador detalha informações do projeto. Sobrepostas aos vídeos estão fotos de Jair e Michelle Bolsonaro, dando a entender que o empreendimento foi uma iniciativa do governo do ex-presidente. Em uma das postagens no TikTok, há a legenda: “a imprensa sempre escondeu os grandes feitos do governo Bolsonaro”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É falso que a ponte rodoferroviária Rollemberg-Vuolo tenha sido uma obra do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. O empreendimento foi inaugurado em 1998 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. As obras foram iniciadas em 1991.

Não há, portanto, qualquer evidência que atribua a construção do empreendimento a Bolsonaro, governo que durou de 2019 a 2022.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Postados no dia 29 de janeiro, os vídeos tiveram cerca de duas mil visualizações até o dia 31.

Como verificamos: Para encontrar informações acerca do assunto, o Comprova realizou buscas no Google a partir dos termos “ponte rodoferroviária rollemberg-vuolo” e “ponte rodoferroviária rio paraná” ao lado de palavras como “inauguração” e “investimento”. Também foi consultado o acervo do Estadão.

A partir disso, acessamos informações de sites locais e de jornais sobre a obra, bem como outras verificações desmentindo a mesma informação.

O Comprova também tentou contato com o autor da postagem.

Ponte rodoferroviária foi inaugurada em 1998

A ponte rodoferroviária Rollemberg-Vuolo foi inaugurada em 29 de maio de 1998 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Uma notícia da época com a agenda de FHC confirma a informação, assim como reportagem antiga da TV Globo, disponível no YouTube. Segundo matéria do Estadão, de 20 de agosto de 1997, a obra teve custo total de R$ 550 milhões, com investimentos da União e do Estado de São Paulo. Já reportagem de 2005 da Folha aponta o valor da obra em R$ 586,3 milhões.

A ponte rodoferroviária foi construída sobre o Rio Paraná e tem 3.700 metros de extensão, com uma rodovia na parte superior e uma ferrovia abaixo, ligando as cidades de Rubineia, em São Paulo, e Aparecida do Taboado, em Mato Grosso do Sul.

Ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, a Lei 10.570, de 21 de novembro de 2002, denominou a parte ferroviária de “Ponte Senador Vicente Vuolo” e a rodoviária de “Ponte Deputado Roberto Rollemberg”, que atuaram para a viabilidade do empreendimento. As obras foram iniciadas em 1991.

Mais recentemente, em fevereiro de 2022, houve a restauração da iluminação da ponte rodoferroviária. O investimento foi do Estado do Mato Grosso do Sul.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova buscou contato com os perfis que postaram o vídeo no TikTok, porém sem sucesso, já que a plataforma não permite troca de mensagem entre pessoas que não se seguem.

O que podemos aprender com esta verificação: Alguns conteúdos podem ser verificados facilmente pelos próprios leitores. Neste caso, uma busca simples pelo termo “ponte rodoferroviária Rollemberg-Vuolo” leva, logo nos primeiros links, a esclarecimentos sobre a época da construção e às checagens que mostram ser falsas as afirmações de que o empreendimento tenha sido uma realização do governo Bolsonaro.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O UOL Confere, a Lupa e o Boatos.org checaram o vídeo e concluíram ser falsa a alegação de que o governo Bolsonaro esteja envolvido na realização da ponte. Não é a primeira vez que alguma obra ou pelo menos a etapa de construção de algum empreendimento é atribuída ao governo Bolsonaro de forma enganosa. Anteriormente, mostramos, por exemplo, que o ex-presidente não concluiu 84% das obras da transposição do Rio São Francisco, ao contrário do que alega em um vídeo.

Política

Investigado por: 2024-01-30

Investigação da CGU não livrou Bolsonaro no caso do cartão de vacina

  • Enganoso
Enganoso
Vídeo engana ao citar arquivamento de investigação sobre o cartão de vacina do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A Controladoria Geral da União (CGU) considerou que o registro de vacina de Bolsonaro é falso e recomendou o fim da investigação que apurava a participação de um servidor público na inserção de dados. Essa decisão não livra Bolsonaro. Ao contrário, pois deixa clara a falsidade do dado. Uma outra investigação, sobre outros dois registros de vacina no cartão de Bolsonaro, prossegue na Polícia Federal.

Conteúdo investigado: Vídeo em que uma pessoa, já investigada pelo Comprova em outra ocasião, repercute o suposto arquivamento da investigação sobre o cartão de vacina do ex-presidente Jair Bolsonaro. A pessoa cita investigação da Controladoria Geral da União (CGU) e dá a entender que a ação livrou o ex-presidente de irregularidades. O autor do vídeo ainda diz que “falaram que ele (Jair Bolsonaro) vacinou para poder entrar lá (nos Estados Unidos). Mentira, olha aí ó. Viram que é falso o cartão de vacinação.”

Onde foi publicado: TikTok e X.

Conclusão do Comprova: São enganosos os posts de redes sociais afirmando que a CGU livrou Jair Bolsonaro de acusações de irregularidades ao arquivar a investigação sobre seu cartão de vacinação. O órgão, na realidade, arquivou a investigação que tentava apurar se um servidor público federal adulterou o documento, mas concluiu que o registro é falso.

No dia 19 de janeiro, a CGU concluiu as investigações sobre um registro de vacinação contra o coronavírus inserido no sistema da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. O órgão apontou que o registro de uma aplicação na UBS Parque Peruche, na zona norte da cidade, era falso.

Conforme divulgado em nota oficial, foi realizada diligência no Ministério da Saúde (MS) e confirmada a segurança do sistema mantido pela pasta, sendo atestada a impossibilidade de o registro ter sido feito através do sistema mantido pelo órgão federal. O exame também teve como objetivo verificar a eventual participação de algum servidor público federal nos fatos para eventual responsabilização. Nada foi localizado nesse sentido.

Logo, a CGU concluiu que a suposta aplicação de vacina em Bolsonaro foi inserida de forma fraudulenta por meio do sistema estadual de registro de vacinação contra a covid-19, em São Paulo. Tal conclusão não sinaliza o “livramento” de Bolsonaro, conforme mencionado nos posts investigados. A conclusão da CGU apenas confirma o não envolvimento de servidores do Ministério da Saúde na falsificação do documento de vacinação do ex-presidente.

Há, ainda, uma outra investigação em curso sobre o cartão de vacinação de Bolsonaro. Ela está sendo executada pela Polícia Federal (PF), que investiga as suspeitas de irregularidade em outros dois registros de imunização, supostamente feitos em Duque de Caxias (RJ). Esse é o caso que imputa crimes ao ex-presidente na fraude de seu registro de vacinação e que foi amplamente divulgado.

Em nota técnica divulgada, a CGU informou que pode reabrir sua investigação caso as provas eventualmente recebidas indiquem o possível envolvimento de agente com vínculo com o governo federal.

A CGU foi procurada pelo Comprova e confirmou as informações divulgadas por meios oficiais até a presente data. Também em resposta ao Comprova, a PF disse que não se manifesta sobre eventuais investigações em andamento.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 26 de janeiro, o vídeo alcançou 62,9 mil visualizações e 6,6 mil curtidas na rede social X, e no TikTok foi visto 5,9 mil vezes.

Como verificamos: Para encontrar informações sobre o assunto, o Comprova realizou buscas por conteúdos com as palavras “cartão de vacina Bolsonaro, CGU e Polícia Federal”. A partir disso, acessamos documentos oficiais do governo federal, como a Nota Técnica que fundamentou a decisão da CGU, bem como informações da PF sobre investigação da inserção de dados falsos de vacinação nos sistemas da Saúde.

Além disso, foram localizadas reportagens jornalísticas noticiando o decorrer das investigações. A exemplo de Agência Brasil, g1, O Globo e Folha.

Com isso, foi possível localizar notícias e publicações, de diferentes fontes, com material amplo sobre o assunto. A apuração buscou, ainda, a Controladoria Geral da União e a Polícia Federal para confirmar os dados verificados.

Origem dos fatos

No dia 3 de maio de 2023, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes autorizou a realização de buscas em endereços de Bolsonaro e de outras pessoas em uma investigação a respeito de possíveis fraudes nos cartões de vacinação de Jair Bolsonaro. A suspeita foi levantada após a quebra do sigilo do ajudante de ordens de Bolsonaro, o coronel do Exército Mauro Cid, durante o processo do Inquérito 4878.

Esse inquérito investiga o suposto vazamento, pelo então presidente da República, de dados sigilosos relacionados a uma investigação da Polícia Federal sobre as urnas eletrônicas. De acordo com a PF, a suposta fraude nos registros do ex-presidente teria sido realizada para garantir que ele pudesse viajar aos Estados Unidos após deixar o cargo. Na época, os EUA exigiam que viajantes comprovassem a imunização contra a covid.

Conforme informações do Ministério da Saúde, um secretário municipal de Duque de Caxias (RJ) teria sido responsável pela inclusão dos dados de vacinação em nome de Bolsonaro. No entanto, o ex-presidente não esteve naquela cidade em 13/08/2022, data da suposta aplicação da primeira dose da vacina da Pfizer. Dados adicionais do Ministério da Saúde trouxeram novos indícios de inserções falsas relacionadas a pessoas próximas ao ex-presidente.

Investigações

As investigações em relação ao cartão de vacinação do ex-presidente começaram a ser realizadas em 2023. No total são duas investigações, uma concluída e outra em andamento:

O Ministério Público Federal (MPF) acompanha as investigações da PF e pode apresentar denúncias contra os responsáveis pela fraude, caso sejam encontrados.

Investigação da CGU sobre vacinação de Bolsonaro

A investigação da CGU, que concluiu que é falso o registro de imunização contra a covid-19 que consta do cartão de vacinação de Bolsonaro, começou no fim de 2022.

Os dados do Ministério da Saúde apontavam que o ex-presidente teria se vacinado em 19 de julho de 2021 na UBS Parque Peruche, na zona norte de São Paulo, data que sequer estava na cidade.

A CGU ficou responsável por investigar se o cartão de Bolsonaro teria sido adulterado para incluir a dose contra a doença, suspeita que foi confirmada.

Durante a investigação, os auditores ouviram o depoimento da enfermeira indicada no cartão de vacinação como aplicadora do imunizante, mas essa negou que tenha feito tal procedimento. E ainda afirmou que não trabalhava mais na Unidade naquela data, o que foi confirmado por documentos.

Também foram feitas oitivas de funcionários em serviço na UBS no dia, mas todos negaram ter visto o ex-presidente da República no local. Da mesma forma, negaram conhecer qualquer pedido feito para registrar a imunização do então chefe do Poder Executivo. Os depoimentos foram corroborados pela análise dos livros físicos mantidos pela UBS para registro da vacinação da população.

Além disso, a CGU constatou que Bolsonaro não estava na capital paulista nesta data e que o lote de vacinação que constava no sistema do Ministério da Saúde não estava disponível naquela data na UBS onde teria ocorrido a imunização. Segundo o órgão, registros da Força Aérea Brasileira (FAB) mostram que o ex-presidente voou de São Paulo para Brasília um dia antes da suposta vacinação e não fez nenhum outro voo até pelo menos 22 de julho de 2021.

Logo, a conclusão da investigação apontou para uma fraude no sistema estadual de registro de vacinação. Em razão de todos os funcionários da UBS dividirem o mesmo login e senha do sistema VaciVida, mantido pela Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, tornou-se impossível apurar qual seria o servidor responsável.

Investigação da Polícia Federal está em andamento

Em 3 de maio de 2023, a PF divulgou que realizava a Operação Venire, para esclarecer a atuação de associação criminosa constituída para a prática dos crimes de inserção de dados falsos de vacinação contra a covid-19 no Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI) e na Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) do Ministério da Saúde.

Jair Bolsonaro e outras 25 pessoas se tornaram alvo da investigação, após Alexandre de Moraes autorizar a operação. Desde então, a PF investiga o caso.

A abertura de tal operação foi resultado de duas informações suspeitas inseridas nos cartões de vacinação de um grupo de pessoas, incluindo o ex-presidente – vacinas teriam sido aplicadas em Jair Bolsonaro no Centro Municipal de Saúde de Duque de Caxias, nos dias 13 de agosto e 14 de outubro de 2022.

A investigação ainda está em andamento e, segundo a PF, a apuração indica que o objetivo do grupo seria manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas ideológicas, no caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a covid-19, ao mesmo tempo em que poderiam burlar restrições sanitárias.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova não conseguiu contato com o autor da postagem enganosa, pois os contatos em redes sociais estão bloqueados/restritos.

O que podemos aprender com esta verificação: O autor do post utiliza informação fora de contexto para confundir e enganar o público que acessa o conteúdo. Envolver fatos da realidade e fazer interpretações enganosas são práticas comuns de perfis que costumam disseminar desinformação. Ao acessar conteúdos deste tipo, vale consultar os órgãos oficiais e veículos de imprensa de sua confiança.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Conteúdos relacionados a presidentes e ex-presidentes são alvos constantes de desinformação. Em outras verificações, o Comprova apurou que em meados de 2023, ao contrário do que afirmavam postagens em redes sociais, a PF não havia encerrado a investigação sobre joias sauditas; também verificou vídeo que engana ao dizer que Bolsonaro não está inelegível por causa de tratado internacional.

Comprova Explica

Investigado por: 2024-01-29

Entenda por que é consenso científico que ação humana causa mudanças climáticas

  • Comprova Explica
Comprova Explica
Conteúdos nas redes sociais desinformam ao afirmar que as mudanças climáticas não são um problema e que a ação humana não é responsável por elas. São postagens que vão contra o consenso científico, como mostrou estudo de 2023 realizado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês), vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU). Como toda desinformação, essas também são perigosas, e, por isso, a seção Comprova Explica esclarece alguns pontos envolvendo o assunto.

Conteúdo analisado: Posts nas redes sociais negam as mudanças climáticas e a responsabilidade do ser humano sobre elas, afirmando, por exemplo, que o clima já mudou antes e que o aquecimento global não é ruim.

Comprova Explica: A crise climática que estamos vivendo não é uma ideia que os cientistas inventaram para receber mais financiamentos para suas pesquisas. Nem está sendo causada sem a participação humana. Diferentemente do que afirmam posts nas redes sociais, ela é real e é consenso entre cientistas que a responsabilidade pela crise é do ser humano.

Há quem afirme que o aquecimento global não é ruim, que o clima já mudou antes e que as soluções apresentadas não funcionam, afirmações perigosas diante de um cenário cada vez mais problemático, segundo especialistas. Em Milão, na Itália, um grupo investigado por espalhar teorias conspiratórias sobre a vacina contra a covid-19 assinou um cartaz onde se lê: “Quem fala de aquecimento global é o mesmo que quer vacinação obrigatória”. É a mistura de duas teorias mentirosas, mostrando que a crise climática passou a ser alvo de negacionistas da pandemia, como mostrou a Folha.

O ano passado, inclusive, foi o mais quente em ao menos 174 anos, desde que se iniciaram as medições meteorológicas, segundo a Organização Meteorológica Mundial, agência da Organização das Nações Unidas.

Como afirmou ao Comprova o geólogo José Maria Landim Dominguez, professor titular da Universidade Federal da Bahia (UFBA), “modelos climáticos cada vez mais sofisticados, que têm sido desenvolvidos para investigar o funcionamento do clima, confirmam inequivocamente o impacto das emissões de dióxido de carbono (pelo homem) nas mudanças climáticas em curso”.

É o mesmo que afirma o resumo para formuladores de políticas públicas, do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês). “As atividades humanas, principalmente por meio das emissões de gases com efeito de estufa, inequivocamente causaram o aquecimento global “, diz o estudo.

Aumento da temperatura na Terra, secas intensas, incêndios severos e aumento do nível do mar são algumas das alterações que essas ações estão causando, de acordo com especialistas, e que vêm sendo citadas em conteúdos de desinformação não só nas ruas, mas, principalmente, nas redes sociais. Para combater esse fenômeno, a seção Comprova Explica traz detalhes sobre o que é consenso em relação à crise climática.

Este Comprova Explica abre uma nova frente de verificações no Projeto Comprova. A desinformação em torno das mudanças climáticas passa a ser, juntamente com eleições e políticas públicas em nível federal, um dos focos do Comprova em 2024.

Como verificamos: O primeiro passo foi pesquisar na internet publicações relacionadas às mudanças climáticas. Reportagens e relatórios de órgãos meteorológicos, citados abaixo, foram consultados para a elaboração deste texto.

A equipe também entrevistou o geólogo José Maria Landim Dominguez, da UFBA, e a bióloga Mariana Vale, doutora em Ecologia pela Universidade de Duke, dos Estados Unidos, e uma das autoras do mais recente relatório do IPCC, da ONU.

O que são mudanças climáticas?

De acordo com esta publicação da ONU, as mudanças climáticas são “transformações a longo prazo nos padrões de temperatura e clima”. Elas podem ser naturais – influenciadas pela variação no ciclo solar, por exemplo. Ou podem ser provocadas por uma desregulação do efeito estufa, que gera um aumento da temperatura do planeta, causando assim as mudanças climáticas.

O Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE) explica que o efeito estufa é um fenômeno natural que faz com que a temperatura na superfície da Terra seja favorável à existência de vida no planeta. Esse efeito permite que parte do calor do sol que entra pela atmosfera fique retido, regulando a temperatura na Terra. Sem ele, a média da temperatura na superfície seria de -18ºC, e não de 15ºC, como temos hoje.

As mudanças climáticas partem da desregulação do efeito estufa, provocada pelo excesso de emissão de gases por conta da carbonização da economia desde a revolução industrial. Esses gases dificultam ainda mais a saída do calor pela atmosfera, aumentando a temperatura média do planeta, o que desperta um efeito em cadeia que intensifica e aumenta a ocorrência de eventos extremos.

“Desde 1800, as atividades humanas têm sido o principal impulsionador das mudanças climáticas, principalmente devido à queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás”, diz a ONU, que chama a atenção para o fato de que as mudanças climáticas não significam apenas aumento na temperatura, mas alterações em outras áreas, como secas intensas, escassez de água, incêndios severos, aumento do nível do mar, inundações, derretimento do gelo polar, tempestades catastróficas e declínio da biodiversidade.

Consenso científico

De acordo com o dicionário Michaelis, a palavra consenso significa “concordância ou unanimidade de opiniões, raciocínios, crenças, sentimentos etc. em um grupo de pessoas; decisão, opinião, deliberação comum à maioria ou a todos os membros de uma comunidade”.

Na ciência, não é diferente. Como explica em vídeo o imunologista Helder Nakaya, pesquisador do Hospital Israelita Albert Einstein e membro do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia, “o consenso tem a ver com o fato de que há tantas evidências que suportam algum fenômeno que não há dúvida entre os cientistas do que está mais próximo da verdade”.

Na animação, ele dá um exemplo ligado às mudanças climáticas: “Se muitos estudos demonstram o papel do homem no aquecimento global, por exemplo, se torna consenso entre os cientistas dessa área que isso é real”. Como ele pontua, “ter um ou outro cientista que pensa diferente não altera a realidade, mas, obviamente, confunde, sim, quem não é o especialista”. Segundo Nakaya, isso acontece porque, quando ouve alguém que pensa diferentemente da maioria, a pessoa acredita que a comunidade científica está dividida, “quando isso não é o que acontece”.

Ação humana e crise climática

Considerando o exposto acima, de que consenso é o que a maioria dos cientistas concordam, embora não seja unanimidade, é consenso que as mudanças climáticas são causadas pela atividade humana, como mostra o mais recente resumo para formuladores de políticas públicas, do IPCC. “As atividades humanas, principalmente por meio das emissões de gases com efeito de estufa, inequivocamente causaram o aquecimento global “, informa o estudo.

Outro levantamento, realizado em 2021 pela Universidade Cornell, dos Estados Unidos, analisou 90 mil estudos e chegou à mesma conclusão: 99,9% dos cientistas concordam que a crise climática é causada pelo homem.

Como explicou ao Comprova o geólogo José Maria Landim Dominguez, da UFBA, existe um consenso na comunidade científica de que a causa principal das mudanças climáticas são as emissões de gases de efeito estufa (GEE) relacionadas às diferentes atividades humanas, principalmente à queima de combustíveis fósseis (hidrocarbonetos e carvão) e desmatamento, mas também à agricultura e à produção de cimento, por exemplo.

“Sempre se soube que o dióxido de carbono (CO2) é um gás estufa muito potente. Desde o século XIX já existiam cientistas que chamavam a atenção que a queima do carvão eventualmente contribuiria para o aumento da temperatura do planeta. As mudanças climáticas são resultado do aumento da temperatura do planeta e existem várias medidas instrumentais que mostram que a temperatura média do planeta já subiu mais de 1ºC desde a era pré-industrial (1850-1900)”, afirma.

No último dia 24 de janeiro, pesquisadores do World Weather Attribution (WWA), um consórcio formado por cientistas de diversas partes do mundo, apontaram que foram as mudanças climáticas – e não o El Niño – o responsável pela seca excepcional na Bacia do Rio Amazonas ao longo de 2023. Lá, a seca é impulsionada pelo baixo nível de precipitação associado às altas temperaturas.

Os pesquisadores apontaram que as populações altamente vulneráveis foram muito mais atingidas pelos impactos da seca, o que foi agravado por “práticas históricas de gestão de terras, água e energia, incluindo desmatamento, destruição de vegetação, incêndios, queima de biomassa, agricultura corporativa, pecuária e outros problemas socioclimáticos que diminuíram a capacidade de retenção de água e umidade do terra e, portanto, piorou as condições de seca”.

O estudo foi tema de reportagem da BBC, que mostrou que, em um mundo onde a atividade humana não tivesse aquecido o planeta, uma seca assim aconteceria uma vez a cada 1.500 anos. As mudanças climáticas provocadas pelo homem, contudo, tornaram uma seca como a da Bacia do Rio Amazonas 30 vezes mais provável – e, agora, espera-se que ela aconteça uma vez a cada 50 anos.

Consenso na mira da desinformação

Para geólogo José Maria Landim Dominguez, apesar do consenso na quase totalidade da comunidade científica a respeito da responsabilidade humana sobre as mudanças climáticas, ainda há um grupo de negacionistas, ou “semeadores de dúvidas”, que não acreditam nisso, sob o argumento de que o homem não seria capaz de promover tal mudança e que outras alterações já aconteceram no passado.

“Realmente, na história passada da Terra, quando o homem ainda não tinha surgido, tais mudanças ocorreram, mas se desenvolveram ao longo de escalas de tempo muito dilatadas, de alguns milênios. Hoje, as mudanças estão ocorrendo em uma escala de tempo de algumas décadas a um ou dois séculos e não podem ser explicadas apenas por variações naturais de emissões de CO2 ou variações de luminosidade do sol”, aponta.

Para Landim, o argumento desses grupos não se sustenta. “É contraditório que aqueles que consideram o homem como um novo agente geológico, a ponto de batizarem uma nova era geológica de Antropoceno, considerem ao mesmo tempo que suas atividades não são capazes de alterar a composição da atmosfera a ponto de desencadear mudanças climáticas”, completa.

Desinformação de cara nova

Para Mariana Vale, uma das autoras do último relatório do IPCC, da ONU, é preciso considerar que as formas de disseminar desinformação sobre mudanças climáticas mudaram nos últimos tempos. Ela considera que não se nega mais as mudanças climáticas, nem que elas foram causadas pelo homem. No entanto, nega-se que essas mudanças sejam um problema, bem como a possibilidade de que as soluções propostas funcionem.

“Como já ficou praticamente impossível negar as mudanças climáticas, porque elas estão acontecendo diante dos nossos olhos, e também a quantidade de evidências científicas de que o homem é o principal ator por trás dessas mudanças, esses negacionistas climáticos começaram a se concentrar em criar fake news em torno das soluções, desacreditar as soluções que são propostas a partir de evidências científicas”, diz Vale, que é professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e tem as mudanças climáticas entre os principais temas de suas produções acadêmicas.

Para ela, há algo de positivo nisso, pois mostra que a sociedade se convenceu de que as mudanças climáticas são reais e estão acontecendo. Mas ela aponta um novo desafio: “demonstrar que existe evidência científica de que as soluções propostas são viáveis e têm que ser implementadas o quanto antes”.

As soluções, afirma Vale, passam pela decarbonização da economia em escala global e, especificamente no contexto do Brasil, também pela conservação de florestas – a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica – e no reflorestamento, sobretudo da Mata Atlântica e do Cerrado, os dois biomas brasileiros mais degradados.

Para combater a desinformação sobre o tema, os cientistas têm recorrido à geração de informação de qualidade: “São evidências científicas a partir de dados robustos, e isso a gente gera em abundância já há muito tempo. O importante é conseguir aliados, e há muitos aliados que trabalham para difundir essa informação”, afirma Vale, citando ONGs especializadas, mídias alternativas, redes sociais e mídia convencional, como jornais que replicam a informação correta.

Relação entre mudanças climáticas e desinformação

O 19º relatório do Fórum Econômico Mundial sobre riscos globais, publicado em janeiro deste ano, aponta que os eventos climáticos extremos e a desinformação são os dois maiores riscos globais em curto e longo prazo. Nos próximos dois anos, a desinformação aparece no topo da lista dos dez principais riscos, seguida imediatamente dos eventos climáticos extremos.

Já no prazo de dez anos, os quatro primeiros itens da lista envolvem questões climáticas: eventos climáticos extremos; mudanças críticas nos sistemas da Terra; perda de biodiversidade e colapso de sistemas; e escassez de recursos naturais. O próximo item do ranking, não por acaso, é a desinformação.

Pesquisador do Global Change Institute, da Universidade de Queensland, na Austrália, John Cook mantém desde 2007 o site Skeptical Science (Ciência Cética, em tradução livre), que atua desbancando mitos em torno do aquecimento global com base em evidências científicas.

Entre os argumentos usados por aqueles que negam as mudanças climáticas estão as teses de que “o clima já mudou antes”, o aquecimento global “não é ruim”, “não há consenso científico”, que “animais e plantas podem se adaptar” e até que a Terra “está esfriando” e que a Antártida está “ganhando gelo”.

Todos os argumentos são desbancados por artigos, a exemplo deste que aponta que há consenso de 99% dos cientistas sobre o aquecimento global ser provocado, principalmente, pela atividade humana – o que reafirma o artigo de 2021 da Universidade de Cornell, citado acima –, ou este outro, que mostra como os impactos negativos do aquecimento global são muito maiores do que quaisquer aspectos positivos. Também não é verdade que a Antártida esteja ganhando gelo ou que a Terra esteja esfriando.

O geólogo José Maria Landim Dominguez acrescenta outras alegações que também foram sendo descartadas ao longo do tempo, como é o caso da tese de que a luminosidade do sol poderia aumentar a temperatura global – investigada e descartada. “Outros processos como emissões naturais de CO2 devido à atividade vulcânica foram investigados e não conseguem explicar o aumento verificado”, afirma.

Por que explicamos: O Comprova Explica tem a função de esclarecer temas importantes para que a população compreenda assuntos em discussão nas redes sociais que podem gerar desinformação. Mentiras sobre as mudanças climáticas, tirando a responsabilidade do homem sobre elas, são perigosas por sugerir que podemos continuar degradando o meio ambiente sem olhar para as consequências. Por isso, é importante que as pessoas tenham acesso a informações verificadas, como as trazidas neste texto.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já verificou diversos conteúdos ligados à crise climática, como o que mentia ao afirmar que a retirada de gado de áreas rurais tem a ver com a venda da Amazônia pelo governo – na verdade, a medida era para combater o desmatamento ilegal. Classificou como enganoso um post afirmando que a Amazônia não estava queimando e um vídeo que, entre outros erros, distorce falas do presidente Lula (PT) sobre mudanças climáticas.

Contextualizando

Investigado por: 2023-12-22

Entrega de chaves de condomínio no Amapá começou no dia de evento com Lula

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Contextualizando
Publicações nas redes sociais alegam que o governo Lula (PT) teria descumprido uma promessa de entregar as chaves de um conjunto habitacional em Macapá apenas para lotar a cerimônia de lançamento do empreendimento, com participação do presidente. A entrega teve início, no entanto, ainda no dia do evento e não era de responsabilidade do governo federal, mas da construtora que fez a obra, em processo sob supervisão da Caixa Econômica Federal e com apoio do governo do Amapá.

Conteúdo investigado: Publicações alegam que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu a entrega de chaves no evento de lançamento de um conjunto habitacional, com participação do presidente, para que estivesse lotado e não houvesse vaias. As postagens são acompanhadas de um vídeo em que uma mulher questiona, sem aparecer na imagem, onde estão as chaves e narra, em meio a uma multidão, que o público presente teria sido enganado.

Onde foi publicado: X (antigo Twitter) e TikTok.

Contextualizando: Publicações nas redes sociais alegam que o governo Lula (PT) teria descumprido uma promessa de entregar as chaves de um novo conjunto habitacional durante uma cerimônia de lançamento com participação do presidente. As chaves começaram a ser entregues, contudo, ainda no dia do evento, ocorrido em 18 de dezembro deste ano.

As postagens são acompanhadas de um vídeo gravado após a cerimônia de inauguração do Miracema III e IV, em Macapá (AP), com mil unidades habitacionais do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV).

A cerimônia de lançamento contou com a participação do presidente Lula e do ministro da Cidades, Jader Filho (MDB), além do governador do Amapá, Clécio Luís (Solidariedade), entre outras autoridades locais, como membros do Ministério Público amapaense.

O conjunto habitacional foi lançado pela modalidade Recursos do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR) do MCMV, que oferece imóveis subsidiados com recursos públicos em áreas urbanas para famílias em situação de vulnerabilidade, que estejam em um cadastro habitacional local, por exemplo.

O modelo MCMV – FAR também prevê a participação de diferentes agentes públicos e privados para viabilizar cada empreendimento, com responsabilidades distintas entre si.

Conforme estabelece uma portaria do Ministério das Cidades, estão envolvidos, em geral, a própria pasta, que regula regras e propostas do MCMV – FAR; a Caixa Econômica Federal, gestora dos recursos do FAR; algum ente público local, que pode ser uma prefeitura ou o governo do Estado; um agente financeiro, que supervisiona o processo e pode ser a própria Caixa; uma construtora, a quem cabe propor e erguer a obra; e os beneficiários, que, entre outras coisas, devem assumir o financiamento do imóvel, se necessário.

No caso do Miracema III e IV, a entrega das chaves aos novos moradores foi realizada pela construtora CMT Engenharia, em operação com apoio do governo do Amapá, na condição de ente público local, que fez a seleção e orientação dos beneficiários ao longo de todo o processo, e com supervisão da Caixa, agente financeiro do conjunto habitacional, segundo comunicou o banco ao Comprova.

A entrega das chaves começou ainda no dia 18 de dezembro, logo após o evento com a participação de Lula. Até o começo da tarde do dia 22, foram entregues 862 unidades, também segundo a Caixa.

“A entrega das chaves é realizada mediante assinatura do contato e realização de vistoria pela família beneficiária indicada pelo Ente Público local, neste caso o Governo do Estado, à luz das regras estabelecidas pelo Programa”, escreveu a assessoria de imprensa da Caixa, em nota.

A Secretaria de Habitação do Amapá (Sehab) reforçou que a entrega das chaves é de responsabilidade da CMT Engenharia. A pasta divergiu da Caixa, contudo, ao comunicar que todas as mil chaves já foram entregues: “Informa ainda que, no mesmo dia do evento, foram entregues 300 chaves, e que a conclusão desta etapa foi realizada nesta quinta-feira, 21”, escreveu, em nota.

A construtora CMT Engenharia, citada pela Caixa e pela Sehab, não respondeu aos contatos do Comprova por telefone e e-mail até a publicação deste texto

Além das partes envolvidas no empreendimento, o Comprova também buscou contato com o MP-AP, que havia divulgado ter acompanhado todo o processo de finalização das obras. O órgão comunicou não ter recebido reclamação formal sobre não recebimento de chaves por parte dos beneficiários.

Como o conteúdo pode ser interpretado fora do contexto original: Sem o contexto completo, que mostra quando a entrega das chaves teve início, os leitores poderiam ser levados a acreditar que o governo tentou enganar as pessoas beneficiadas. A investigação mostra que o vídeo analisado não trazia, porém, todas as informações para que o leitor pudesse entender o que aconteceu na situação mostrada ali. 

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova procurou o autor da postagem no X por mensagem privada. Além de não responder, ele apagou a publicação no X e no TikTok. Não é a primeira vez que conteúdos veiculados pelo mesmo autor são investigados. Anteriormente, já foi verificado ser falso que PT ou a governadora de PE reinauguraram obra de Bolsonaro ligada à transposição do São Francisco, que policiais foram expulsos pelo MST de protesto em rodovia no PR, e não feitos reféns, bem como que vídeo de mulher com rosto de Lula e delegado parecido com Bolsonaro é uma sátira.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. As publicações com o vídeo foram, no entanto, excluídas pelo autor. Ao menos até 21 de dezembro, quando ainda estava no ar, o post no X tinha 50,6 mil visualizações e 2 mil curtidas.

Como verificamos: O Comprova identificou, ao analisar o vídeo, uma faixa com a logomarca do atual governo federal (abaixo). Em seguida, a reportagem buscou por entregas recentes de moradias populares com participação do presidente Lula, ocasião em que encontrou a cerimônia realizada em Macapá, no Amapá.

A reportagem também identificou que a cor dos prédios e a estrutura de evento montada aparentes no vídeo condizem com o cenário mostrado em imagens oficiais da cerimônia e do empreendimento.

| Presidente Lula em cerimônia de lançamento de conjunto habitacional (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

| Conjunto habitacional Miracema, em Macapá (Foto: Nayana Magalhães/GEA)

A partir disso, a equipe localizou postagens no X feitas por Max Yataco, secretário-adjunto de Habitação do Amapá, que mostram famílias recebendo as chaves de unidades do Miracema III e IV. Em contato por telefone, Yataco confirmou que o vídeo em que uma mulher contesta a falta das chaves teria sido gravado após a cerimônia em Macapá com a participação de Lula.

Além de Yataco, o Comprova fez contato, por e-mail, e obteve retorno da Caixa Econômica Federal, do Ministério das Cidades, do governo do Amapá e do Ministério Público amapaense.

A reportagem também procurou a CMT Engenharia, mas foi informada que a empresa não possui assessoria de imprensa e que as pessoas autorizadas a falar sobre o assunto não estavam no escritório nos dois dias em que telefonou. Por e-mail, também não houve resposta até esta publicação.

Chaves começaram a ser entregues após cerimônia em Macapá

Ao pesquisar sobre a cerimônia nas redes sociais, o Comprova localizou vídeos postados na mesma data, mas à noite, após o evento, em que famílias aparecem recebendo chaves dos imóveis.

Um deles foi compartilhado às 21h36 de 18 de dezembro no X pelo governador do Amapá, Clécio Luiz. No post, ele comunicava que a equipe do governo estadual seguia no residencial Miracema III e IV para realizar a entrega das chaves para os novos moradores do empreendimento.

O vídeo mostra o secretário-adjunto Max Yataco, segundo o qual, naquele momento, estavam sendo colhidas as assinaturas para a entrega de chaves. Ele diz também que o processo ainda demoraria um pouco. Mais tarde, às 23h15, Yataco compartilhou outro vídeo, de uma moradora com a chave em mãos.

Por telefone, o secretário-adjunto afirmou que algumas pessoas ficaram chateadas quando correu um rumor, não verdadeiro, de que não seria feita a entrega das chaves já naquele dia. Yataco também reafirmou que a responsabilidade da entrega era da construtora CMT Engenharia, que executou a obra.

“Eles [construtora] repassaram para a gente a dificuldade na logística da entrega, mas em nenhum momento foi repassado que não seriam entregues as chaves. Na verdade, o que aconteceu foi um rumor entre eles mesmos [beneficiários] de que não seriam entregues as chaves, aí algumas pessoas ficaram indignadas, chateadas, e começaram essa movimentação vista no vídeo”, relatou ao Comprova.

Yataco disse também que a Secretaria de Habitação enviou convites da cerimônia para os beneficiários, comunicando que poderiam levar até três familiares para participar do evento, mas que não teria sido ventilada informação sobre a entrega das chaves, uma vez que o procedimento caberia à construtora.

Na véspera da cerimônia, o governador do Amapá divulgou vídeo no Instagram anunciando a entrega de mil unidades habitacionais junto do presidente Lula. No dia do evento de lançamento, o governo federal também reafirmou, com publicação oficial, que seria feita a entrega dos imóveis.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: É comum a disseminação de desinformações associadas a eventos dos quais o presidente participa. O Comprova já demonstrou, por exemplo, que Lula se encontrou com liderança religiosa da Nigéria em evento de igualdade racial, não com “feiticeiro”, que ele não foi hostilizado em visita a polo automotivo de Goiana nem dentro do Bahia Farm Show e ser falso que defendeu o nazismo e o fascismo em evento do PT em 2017.

Eleições

Investigado por: 2023-12-21

Vídeo engana ao dizer que Bolsonaro não está inelegível por causa de tratado internacional

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o vídeo em que uma mulher diz que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não estaria inelegível porque sua condenação violaria um pacto internacional de Direito Humanos. Bolsonaro foi condenado duas vezes por decisão do plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder político em 2023. Especialistas consultados pelo Comprova ressaltam que, até que as decisões sejam revistas ou anuladas, elas estão valendo.

Conteúdo investigado: Publicação na rede social X de um vídeo no qual uma mulher fala que o ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) não está inelegível porque duas leis complementares seriam inconstitucionais, apesar de entendimento contrário do STF, e também porque o Pacto de San José da Costa Rica determina que só pode se tornar inelegível alguém condenado em processo penal, o que não é o caso do ex-presidente.

Onde foi publicado: X (antigo Twitter).

Conclusão do Comprova: É enganoso que Jair Bolsonaro (PL) não esteja inelegível porque estaria protegido por uma convenção internacional da qual o Brasil é signatário, como diz um vídeo divulgado nas redes sociais. O ex-presidente foi declarado inelegível duas vezes pelo plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a primeira em junho de 2023, e a segunda em outubro do mesmo ano. Ambas as vezes por abuso de poder político.

A mulher que fala no vídeo afirma que a motivação utilizada pelo TSE para condenar Bolsonaro vai contra a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, também chamada de Pacto de San José da Costa Rica. Por isso, as decisões não teriam validade.

Especialistas em Direito Político, Eleitoral e Constitucional ouvidos pelo Comprova afirmam que esse entendimento não é correto. Primeiramente porque, até que as decisões do TSE sejam reformadas ou revogadas, elas estão valendo.

Segundo porque, embora seja possível discutir se há uma divergência entre a legislação brasileira e a norma internacional, ainda assim o Pacto de San José da Costa Rica encontra-se abaixo da Constituição na hierarquia das leis brasileiras. E no parágrafo 9 do artigo 14, a Constituição prevê a inelegibilidade para a proteção da probidade administrativa, que é o dever de agir com honestidade na administração pública, inclusive contra o abuso do exercício da função.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 21 de dezembro, o vídeo alcançou 49 mil visualizações na rede social X e 881 likes e, no Telegram, ele foi visto 71,4 mil vezes.

Como verificamos: Primeiramente, buscamos entender quais são e o que dizem as leis citadas pela mulher no vídeo e o Pacto de San José da Costa Rica. Em seguida, fizemos contato com especialistas em Direito para entender se as afirmações feitas por ela eram ou não verdadeiras. Entramos também em contato com o perfil que fez a postagem por mensagem no X.

Inelegibilidade

Em 30 de junho de 2023, por por 5 votos a 2, o TSE declarou a inelegibilidade do ex-presidente da República Jair Bolsonaro por oito anos, contados a partir das eleições de 2022. Ficou reconhecida a prática de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante reunião realizada no Palácio da Alvorada com embaixadores estrangeiros no dia 18 de julho do ano passado. Walter Braga Netto (PL), que compôs a chapa de Bolsonaro à reeleição pelo PL, foi excluído da sanção, uma vez que não ficou demonstrada sua responsabilidade na conduta. Nesse ponto, a decisão foi unânime.

Em 31 de outubro, com o mesmo placar, o TSE condenou Bolsonaro novamente, dessa vez acompanhado por Braga Netto, por abuso de poder político e econômico nas comemorações do Bicentenário da Independência, realizadas no dia 7 de setembro de 2022 em Brasília e no Rio de Janeiro. Com a decisão, ambos ficaram inelegíveis por oito anos.

Especialistas confirmam que decisões estão valendo

No vídeo, a mulher diz que o artigo 23 do Pacto San José da Costa Rica determina que só podem perder direitos políticos pessoas condenadas em processo penal, o que não é o caso de Bolsonaro. Porém, especialistas em Direito ouvidos pelo Comprova confirmam que as duas decisões do TSE são válidas e que o ex-presidente está inelegível.

“Pode-se dizer que a inelegibilidade pode ser questionada por contrariar o Pacto San José da Costa Rica. Pode-se dizer que a decisão é controversa, em relação ao pacto. Mas dizer que ele não é inelegível, não. Até que as decisões da Justiça Eleitoral a respeito de Bolsonaro sejam reformadas ou anuladas, elas estão valendo”, afirma o advogado e mestre em direito Ludgero Liberato, membro da Academia Brasileira de Direito Político e Eleitoral (Abradep), Ludgero Liberato.

Ele esclarece que no sistema legal brasileiro, o Pacto está abaixo da Constituição e acima das demais leis. Esse é o entendimento do Supremo Tribunal Federal em relação aos pactos e tratados internacionais relativos aos Direitos Humanos que o Brasil aderiu antes de 2004, como é o caso do Pacto mencionado no vídeo desinformativo.

O Brasil se tornou signatário da Convenção Americana sobre Direitos Humanos – Pacto de San José da Costa Rica em 1992. Até 2004, todos os tratados e pactos internacionais tinham natureza de lei ordinária. Naquele ano, foi feita uma emenda na Constituição dizendo que aqueles tratados internacionais referentes aos direitos humanos, se passarem pelo mesmo rito de aprovação de um Projeto de Emenda Constitucional (PEC), teriam status de Emenda à Constituição. Isso significa que eles teriam que ter aprovação em dois turnos, na Câmara e no Senado, com pelo menos dois quintos dos votos favoráveis.

“Criou-se um problema entre aqueles pactos que entraram em vigor antes da EC 45/2004, como é o caso do Pacto San José da Costa Rica. O entendimento atual do Supremo é que este tratado está abaixo das emendas constitucionais, mas acima das leis ordinárias”, aponta.

O artigo 14 da Constituição Federal, que fala sobre o direito dos cidadãos de votar e serem votados, aponta também alguns casos de inelegibilidade. No parágrafo 9º, está determinado que uma lei complementar estabelecerá casos de inelegibilidade que protejam a probidade administrativa. Entre eles, é citado “a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta”.

Outro argumento é levantado pelo professor da Universidade Federal de Minas Gerais e da PUC-MG José Luiz Quadros Magalhães. Ele afirma que a Constituição cria e define a Justiça Eleitoral e determina quais poderes ela terá.

“O fato é que a Constituição cria a Justiça Eleitoral, uma jurisdição eleitoral e estabelece normas para o funcionamento do processo eleitoral, inclusive a competência dos Tribunais Regionais Eleitorais e do TSE para julgar o que julgou”, avalia.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova entrou em contato com o perfil em que o vídeo viralizou para saber a origem da gravação e quem é a mulher que aparece nas imagens, mas não houve retorno até a publicação deste texto.

O que podemos aprender com esta verificação: Conteúdos desinformativos com frequência se utilizam de informações verdadeiras de forma incompleta ou fora de contexto para confundir. No caso analisado, a mulher ainda utiliza números de leis e jargão jurídico, o que dá a impressão que se trata de autoridade no assunto, ainda que não haja no vídeo identificação de quem ela seja. O uso do “juridiquês” também dificulta o entendimento de pessoas leigas. Para não ser enganado, é importante buscar informações de fontes confiáveis, como os sites oficiais e veículos de imprensa.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A inelegibilidade de Bolsonaro já foi alvo de desinformação recentemente. O Comprova verificou que mesmo que o PL chegasse à presidência da Câmara, Bolsonaro ainda não mandaria do Brasil. Também mostrou que é falso que dono da Seara atacou eleitores do ex-presidente em vídeo e que é enganoso vídeo que diz que o PT teria oferecido dinheiro para o TSE para tornar inelegíveis integrantes do PL.

Política

Investigado por: 2023-12-21

É falso que PT ou governadora de PE reinauguraram obra de Bolsonaro ligada à transposição do São Francisco

  • Falso
Falso
São falsas as alegações de postagens nas redes sociais de que o PT teria reinaugurado uma obra concluída pela gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As publicações exibem um vídeo da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), na Estação de Tratamento de Água Petrópolis, em Caruaru, gravado em dezembro de 2023. Na ocasião, o local passou a receber águas do Rio São Francisco a partir da Adutora do Agreste Pernambucano, em fase de teste operacional, já sob gestão Lula (PT). A adutora é uma obra do governo pernambucano que ainda não foi finalizada, passou por diferentes administrações e recebe verbas da União desde 2014, um ano após ter sido iniciada.

Conteúdo investigado: Publicação exibe vídeo da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), em uma aparente estação de tratamento de água. A tucana se mostra empolgada ao dizer que a água do Rio São Francisco chegou a Caruaru (PE). O post traz, além da filmagem, um comentário: “É sério que o PT está reinaugurando obras do Bolsonaro e dizendo que foram eles que terminaram?”.

Onde foi publicado: X e Telegram.

Conclusão do Comprova: É falso que o PT, à frente do governo federal, ou a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), tenham reinaugurado uma obra que supostamente teria sido concluída pela gestão de Jair Bolsonaro (PL), diferentemente do que alegam publicações nas redes sociais.

As postagens exibem um vídeo de Lyra gravado em 16 de dezembro de 2023 na Estação de Tratamento de Água (ETA) Petrópolis, em Caruaru, ao testemunhar a chegada da água do Rio São Francisco ao local a partir da Adutora do Agreste Pernambucano. Este empreendimento ainda está em construção e vai ligar municípios do interior do estado à estrutura de transposição do São Francisco.

A Adutora do Agreste é uma obra do governo de Pernambuco executada pela Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa). Ela conta também com aportes da União desde 2014. Atualmente, o empreendimento apresenta 79,40% de execução física.

O projeto original da Adutora do Agreste prevê que ela se conecte ao Eixo Leste do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) a partir do chamado Ramal do Agreste, também em construção e de responsabilidade do governo federal.

No entanto, antes que esse ramal esteja concluído, o governo pernambucano e a Compesa viabilizaram como alternativa a Adutora de Moxotó, para já dar funcionalidade à Adutora do Agreste, ao captar água da Barragem do Moxotó, também incluída no sistema integrado da transposição do Rio São Francisco.

Em dezembro de 2023, um trecho da Adutora do Agreste entrou em fase de teste operacional ao captar água a partir da Adutora de Moxotó, de acordo com o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), que gere os repasses da União ao empreendimento.

A ETA Petrópolis, em Caruaru, que já pertencia ao sistema de abastecimento de água da Compesa, passou a receber água nesta etapa de teste no último 10 de dezembro, seis dias antes da visita da governadora Raquel Lyra, conforme foi divulgado pela Compesa.

A transposição do Rio São Francisco é alvo frequente de desinformação. Em outras ocasiões, o Comprova já explicou o caso da transposição e desmentiu conteúdos falsos e enganosos sobre o tema, principalmente em relação a quem seria o “dono” da obra. O projeto nasceu em 1985, saiu do papel apenas em 2007 e passou por diversas mãos ao longo dos anos.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No X, até o dia 21 de dezembro, a publicação tinha 734,6 mil visualizações, mil curtidas e 2 mil compartilhamentos. Na mesma data, um post semelhante em um canal do mesmo autor no Telegram tinha 10,1 mil visualizações.

Como verificamos: A primeira ação foi consultar o Google em busca por informações acerca do assunto. Após a procura por termos como “inauguração de obras em Pernambuco”, “obras inauguradas por Raquel Lyra”, “PT inaugura obras do governo de Bolsonaro” encontramos diversas notícias (G1, Diário de Pernambuco, JC) sobre a obra que aparece no vídeo.

Também encontramos informações de sites oficiais dos governos federal e de Pernambuco, os quais esclarecem detalhes sobre a obra da Adutora do Agreste e da Estação de Tratamento de Água Petrópolis, ambas de responsabilidade da Companhia Pernambucana de Saneamento.

O Comprova ainda tentou contato com o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, do qual obteve retorno, com o governo de Pernambuco e com a página autora da postagem, que não responderam até esta publicação.

Adutora do Agreste passou por diferentes governos

A obra da Adutora do Agreste teve início em 2013, com a previsão de levar água do Rio São Francisco para ao menos 23 municípios do agreste e do sertão de Pernambuco que lidam com escassez hídrica.

A chamada primeira fase da adutora inclui cinco lotes, cada um com um percentual diferente de execução física até dezembro de 2023. São eles: lote 1 (79,2%), 2 (93,2%), 3 (89,4%), 4 (84,5%) e 5 (51,5%). Caruaru, cidade visitada pela governadora Raquel Lyra, está na intersecção entre os lotes 1, 4 e 5.

Os percentuais foram informados ao Comprova pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, segundo o qual o assentamento dos tubos da obra atingiu 88,11% neste mês.

“O avanço da Adutora do Agreste em 2023 foi a conclusão da Estação Elevatória de Água Bruta Ipojuca, a execução do ramal da Adutora do Agreste para a Estação de Tratamento de Água Petrópolis, em Caruaru, pela Compesa, e a execução dos testes, também pela Compesa, do trecho da Adutora do Agreste entre Belo Jardim e Caruaru. São ações reais e essenciais que não aparecem nas porcentagens de execução de contratos”, escreveu a pasta, em resposta ao Comprova.

| Visão geral do Sistema Adutor do Agreste (Mapa: TCU/Reprodução)

Também estarão integradas à Adutora do Agreste Pernambucano as adutoras do Moxotó e do Jatobá, ambas já concluídas, e o Sistema Adutor dos Poços de Tupanatinga, com 91,6% de execução física.

Até dezembro do ano passado, ainda sob gestão Jair Bolsonaro, a obra da Adutora do Agreste não havia avançado o bastante para levar água à ETA Petrópolis, também segundo o MIDR. Naquela altura, o lote 1 tinha 78% executados; o lote 2, 93%; o lote 3, 89%; o lote 4, 84%; e o lote 5, 51%.

Apesar de ser executada pela Compesa, uma empresa que tem como acionista majoritário o governo de Pernambuco, a construção da Adutora do Agreste também recebe recursos federais desde 2014.

Naquele ano, sob gestão Dilma Rousseff (PT), houve o maior valor empenhado (reservado no Orçamento federal) para a construção desde então, segundo dados do Portal da Transparência: R$ 236.553.000. Também foram garantidos recursos da União para a obra ao longo dos governos de Michel Temer (MDB), Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT).

Em 2023, a primeira fase da Adutora do Agreste foi incluída como uma prioridade do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), principal vitrine da gestão Lula para a infraestrutura. A previsão atual é de que ela esteja concluída em dezembro de 2025. O Novo PAC também vai priorizar o financiamento de estudos para viabilizar uma segunda fase da adutora.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova tentou contato via e-mail com a página responsável pela postagem, mas não houve retorno até esta publicação. Não é a primeira vez que conteúdos veiculados pelo mesmo autor são investigados. Anteriormente, já foi verificado que policiais foram expulsos pelo MST de protesto em rodovia no PR, e não feitos reféns, bem como que vídeo de mulher com rosto de Lula e delegado parecido com Bolsonaro é uma sátira.

O que podemos aprender com esta verificação: As redes sociais são espaços muito utilizados para propagar peças de desinformação, sendo cada vez mais necessário manter a atenção e verificar a veracidade de conteúdos compartilhados nesses espaços. No caso de informações falsas como a destacada ao longo deste material, nota-se que uma rápida busca no Google levaria a conteúdos com os dados reais sobre o tema. Diante de um grande volume de informações compartilhadas nas redes, conferir a veracidade de certos conteúdos antes de repercuti-los pode ajudar a não propagar mais desinformação.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Projeto de Integração do Rio São Francisco e as obras integradas a ele são alvos frequentes de dúvidas e conteúdos de desinformação. Entre outras verificações, o Comprova já mostrou que Bolsonaro não concluiu 84% das obras da transposição, como alegava um vídeo, e que um trecho do Eixo Norte do projeto não foi fechado pelo governo Lula. Checagens recentes mostraram que o governo federal não bloqueou água do Nordeste e também não desligou bombas da transposição do Velho Chico.