O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Contextualizando

Investigado por: 2024-10-08

Prisão de Putin em possível vinda ao Brasil depende do Judiciário e não de Lula; entenda

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Contextualizando
Post nas redes sociais menciona que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que virá ao Brasil em novembro para reunião do G20, teria que ser preso ao pisar no território brasileiro pois, caso contrário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estaria desrespeitando a Constituição. O assunto é complexo, mas, de qualquer forma, a eventual prisão de uma autoridade na situação de Putin não seria de responsabilidade do presidente da República.

Conteúdo analisado: Publicação afirma que Lula planeja trazer Vladimir Putin para reunião do G20 em novembro. “Urgente: Lula planeja trazer Putin ao Brasil em novembro para reunião do G20! Devido às sanções, Putin teria que ser preso ao pisar no território brasileiro. Se Lula não fizer isso, ele irá desrespeitar constituição brasileira e colocar o Brasil em uma crise”. O post é acompanhado de trecho de uma análise do jornalista Lourival Sant’Ana na CNN.

Onde foi publicado: X.

Contextualizando: Vladimir Putin, presidente da Rússia, deve ser convidado a vir para o Brasil para participar da reunião da cúpula do G20, um encontro anual entre chefes de Estado e de Governo dos países membros do grupo, que tem como objetivo aprovar acordos e discutir caminhos para lidar com desafios globais.

A vinda de Putin, no entanto, não seria uma visita normal. Em março de 2023, o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu um mandado de prisão para o presidente russo, devido a alegações de crimes de guerra relacionados à deportação de crianças ucranianas durante o conflito da Rússia com a Ucrânia.

Como o Brasil ratificou os termos do acordo internacional que criou o Estatuto de Roma, tratado que criou o Tribunal Penal Internacional, o país tem a obrigação de cooperar com o TPI, inclusive no cumprimento de mandados de prisão.

Questionada sobre a possibilidade de Lula “prender” o presidente russo, a Assessoria Especial do Presidente da República disse que o mandatário brasileiro já tratou do tema publicamente, como durante uma visita à Alemanha em dezembro do ano passado, e explicou que “não é competência dele decidir pela prisão”, sendo a definição de responsabilidade da Justiça.

Ao Comprova, a presidente da Comissão de Relações Internacionais da seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/DF), Clarita Maia, explicou que Putin poderia sim ser preso no Brasil, mas que há uma série de fatores a influenciar na execução dessa prisão.

Entre eles estão a imunidade diplomática, já que chefes de Estado geralmente gozam de imunidades sob o direito internacional consuetudinário, o que pode criar um conflito jurídico; e de considerações diplomáticas e políticas, que permite que o Brasil possa decidir não prender o presidente russo por razões políticas ou diplomáticas, para evitar tensões internacionais.

Além disso, Maia acrescentou que a ordem de prisão poderia ser cumprida especificamente através do Poder Judiciário, com autorização de um juiz federal ou outro órgão competente, ou pela Polícia Federal.

“As autoridades diplomáticas brasileiras também poderiam se envolver, dependendo de como a prisão se desenrolasse, já que envolvem a presença de um chefe de Estado estrangeiro”, acrescentou a advogada.

A eventual prisão também dependeria de uma série de fatores, como uma notificação por parte do TPI, coordenação entre o Ministério da Justiça (MJ), Polícia Federal (PF) e outras autoridades responsáveis pela prisão, e ainda a logística de detenção e transporte, já que Putin teria que ser levado sob custódia até Haia, na Holanda, onde o TPI está sediado.

“Isso envolveria coordenação internacional, possivelmente com o uso de aviões sob escolta militar ou policial”, acrescenta Maia.

A reportagem também entrou em contato com o jornalista Lourival Sant’Anna para saber se a fala utilizada pela postagem estava completa ou se foi manipulada. O jornalista confirmou que, apesar da publicação utilizar apenas um recorte, o trecho da fala está na íntegra e que a análise está completa no Youtube.

Consequências

Caso Putin decida vir ao Brasil e o país não realize a prisão, haveria consequências políticas, como explica Alexandre Coelho, professor de Relações Internacionais na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP) e doutor em Relações Internacionais pelo Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP).

“O país poderá enfrentar consequências diplomáticas e jurídicas, como a perda de credibilidade no cenário internacional e possíveis sanções políticas”, afirma. “Além disso, o Brasil poderia ser acusado de violar suas obrigações internacionais perante o TPI, comprometendo sua reputação como defensor dos direitos humanos e do Estado de Direito”, explica.

Por outro lado, a prisão também teria consequências. “A relação entre o Brasil e a Rússia, membros dos BRICS, é estratégica. A prisão de Putin poderia comprometer alianças políticas, econômicas e comerciais dentro desse grupo, minando a cooperação multilateral”, afirma.

“Além disso, a Rússia, como uma grande potência nuclear e um dos atores principais no cenário internacional, possui considerável influência. O Brasil, ao optar por cumprir o mandado do TPI, arriscaria alienar outros países que também questionam a legitimidade do tratado, como China e Índia”, pontuou Coelho.

“Politicamente, o presidente brasileiro enfrentaria um dilema entre respeitar suas obrigações internacionais e manter uma política externa equilibrada, que historicamente busca evitar antagonismos desnecessários com grandes potências”, acrescentou.

Lula e Putin

Vale contextualizar que o presidente Lula declarou em 9 de setembro de 2023, em entrevista ao canal indiano Firstpost, durante reunião do G20 em Nova Delhi, que Putin não seria preso se vier ao Brasil: “A gente gosta de tratar bem as pessoas. Então, acredito que o Putin pode ir facilmente ao Brasil. Eu posso te dizer que, se eu sou o presidente do Brasil e se ele vem para o Brasil, não tem porque ele ser preso”. A declaração foi noticiada por veículos como Folha de S.Paulo, Veja, CNN, e UOL.

No entanto, após a repercussão negativa da fala, o presidente brasileiro voltou atrás, e no dia 11 daquele mês disse que quem decidiria a prisão é a Justiça.

Na ocasião, Lula mencionou ainda que desconhecia a existência do TPI: “Eu não sei se o tribunal, não sei se a Justiça brasileira, vai prender. Isso quem decide é a Justiça, não é o governo [brasileiro], nem o Parlamento (…) Eu inclusive quero muito estudar essa questão deste Tribunal Penal [Internacional], porque os Estados Unidos não são signatários dele, a Rússia não é signatária dele também. Então, eu quero saber por que o Brasil é signatário de um tribunal que os EUA não aceitam. Por que somos inferiores e temos que aceitar uma coisa? Eu não estou dizendo que vou sair de um tribunal. Eu só quero saber, e só me apareceu agora, eu nem sabia da existência desse tribunal”.

Fontes consultadas: Clarita Maia, presidente da Comissão de Relações Internacionais da OAB/DF; a Assessoria Especial da Presidência da República (Secom); Alexandre Coelho, professor da FESP-SP; e o jornalista Lourival Sant’Anna.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O presidente Lula e Putin já foram alvos de desinformação, a exemplo do uso de um vídeo em que o presidente Russo teria criticado Lula após um encontro com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. O comprova mostrou que era conteúdo falso. O Estadão Verifica também constatou que era falso o conteúdo que dizia que Putin iria intervir nas eleições de 2022 no Brasil.

Eleições

Investigado por: 2024-10-06

Vídeo de 2010 descredibilizando as urnas sem provas volta a circular como se fosse atual

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o discurso do então deputado federal pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), Fernando Chiarelli, na Câmara dos Deputados, criticando o processo eleitoral brasileiro, que voltou a circular neste domingo de eleição como se fosse recente. O vídeo é de 2010 e, diferentemente do que o político afirma, ele não provou que as urnas eletrônicas são uma farsa. Usados no Brasil desde 1996, os equipamentos já foram alvo de diversas denúncias de fraude, mas, até hoje, nenhuma foi comprovada, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Conteúdo investigado: Vídeo mostra discurso na Câmara dos Deputados de político dizendo que o sistema eleitoral brasileiro é uma fraude, que as urnas eletrônicas não são utilizadas em nenhum outro lugar do mundo e são programadas para favorecer candidatos. No início do vídeo, uma mensagem sugere que a gravação é recente e que teria sido retirada do YouTube.

Onde foi publicado: WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É enganoso vídeo de parlamentar dizendo que as urnas eletrônicas são “uma mentira”. A gravação, que é de novembro de 2010 e voltou a viralizar neste domingo (6), dia do primeiro turno das eleições municipais de 2024, mostra o então deputado federal pelo PDT Fernando Chiarelli em sessão plenária falando, sem provas, que as urnas já estariam preparadas “para criar quem vai ganhar e quem vai perder a eleição”.

Ainda em seu discurso, ele diz que provaria, durante o mandato, que “o sistema eleitoral brasileiro é uma farsa”. Além de ele não ter apresentado nenhuma evidência disso, nenhuma denúncia de fraude contra as urnas eletrônicas, em uso no Brasil desde 1996, foi comprovada até hoje, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O Comprova já publicou diversas verificações abordando a segurança do processo eleitoral brasileiro (veja mais abaixo).

“As urnas têm um componente interno altamente protegido, chamado hardware de segurança, que faz várias verificações nos programas que rodam dentro do equipamento em diversos momentos. Se houver qualquer alteração nos programas, a urna simplesmente não funciona”, afirma texto publicado pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP). Além disso, elas podem ser auditadas antes, durante e depois das eleições.

Também não é verdade que o sistema eletrônico é usado apenas no Brasil. Levantamento realizado em 2023 pelo instituto International Idea, organização que apoia democracias em todo o mundo, mostrava que 34 países usavam o voto eletrônico em algum nível. Os Estados Unidos, que Chiarelli cita como uma nação que não usaria a tecnologia, a utilizam em parte do seu território.

Chiarelli também desinforma ao insinuar que os deputados João Hermann, Enéas e Clodovil teriam sido assassinados por denunciarem problemas nas urnas. Hermann, que foi deputado e prefeito de Piracicaba, no interior paulista, morreu por causa de um edema pulmonar, conforme publicado pelo PDT, partido de Chiarelli e de Hermann quando ele faleceu. Enéas, de leucemia, e, Clodovil, em decorrência de um acidente vascular cerebral.

Antes de exibir a fala enganosa de Chiarelli, o conteúdo verificado aqui exibe uma mensagem dizendo que o vídeo do deputado é recente e teria sido retirado do ar pelo YouTube, o que também não é verdade. De 2010, como informado acima, a fala do então deputado pode ser vista na plataforma. O Comprova não publica o link para não ajudar a disseminar a desinformação.

Na política desde 1992, Chiarelli foi cassado por falta de decoro dois anos depois por ofender um vereador com deficiência e, por isso, ficou oito anos inelegível.

Uma reportagem do Congresso em Foco, publicada em 2010, mostrou que, na época em que era deputado, ele foi um dos parlamentares com mais processos no Supremo Tribunal Federal (STF) na região Sudeste, com dez investigações em curso. À época, Chiarelli foi campeão de novos processos durante a tramitação do projeto ficha limpa e de casos de crimes contra a honra.

De acordo com uma reportagem publicada pelo UOL em 2011, ele ganhou notoriedade no município de Ribeirão Preto, no interior paulista, ao promover ações judiciais contra ex-prefeitos e ex-vereadores, interpretadas como uma forma de vingança pela sua cassação.

As controvérsias continuaram em 2016, quando, como pré-candidato à prefeitura de Ribeirão pelo PTdoB (hoje Avante), foi preso pela Polícia Federal por ofensas dirigidas à então prefeita da cidade, Dárcy Vera, em 2012. No dia da prisão, ele seria oficializado como candidato às eleições municipais daquele ano. Mais tarde, a Justiça Eleitoral o considerou inelegível com base na Lei da Ficha Limpa.

Em 2020, Chiarelli teve sua candidatura à prefeitura de Ribeirão Preto aceita pelo TRE-SP dois dias antes do primeiro turno. Inicialmente, seu registro havia sido indeferido devido ao não pagamento de uma multa de R$ 73 mil relacionada a uma condenação de 2013. Após quitar a multa, a defesa do político recorreu ao TRE-SP, que reverteu a decisão por unanimidade.

A última disputa eleitoral em que Chiarelli participou foi em 2022, quando concorreu a deputado federal por São Paulo pelo Patriota, atualmente PRD. Ele não foi eleito.

A reportagem não conseguiu contatá-lo.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O conteúdo verificado aqui está circulando no WhatsApp, onde não é possível mensurar a viralização, mas ele vem acompanhado do aviso “Encaminhada com frequência”.

Fontes que consultamos: Vídeo com o discurso de Chiarelli, e site do TSE e do TRE-SP, além de reportagens sobre o político.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Como informado acima, o Comprova já verificou diversos conteúdos que colocavam em dúvida a credibilidade das urnas. Veja alguns exemplos do que já foi publicado abaixo:

Eleições

Investigado por: 2024-10-06

Site de notícias foi clonado para divulgar conteúdo falso de candidata à reeleição no Tocantins

  • Falso
Falso
A prefeita de Gurupi (TO), Josi Nunes (União), não foi alvo de operação da Polícia Federal (PF) às vésperas das eleições, diferentemente do que afirma um site neste domingo (6). Página clonou o portal de notícias Gazeta do Cerrado e alegou que a candidata à reeleição teria desviado recursos de merenda escolar.

Conteúdo investigado: Texto de um site que tem visual semelhante ao portal de notícias Gazeta do Cerrado afirma que a prefeita de Gurupi (TO), Josi Nunes (União), foi alvo de uma operação da Polícia Federal. O resultado da suposta ação teria sido a apreensão de R$ 2 milhões em espécie desviados de merenda escolar e cocaína em pasta.

Onde foi publicado: Site de internet.

Conclusão do Comprova: Não há registro de que a prefeita de Gurupi (TO) e candidata à reeleição, Josi Nunes (União), tenha sido alvo de operação da Polícia Federal às vésperas das eleições como informa um site que copia o leiaute de página da Gazeta do Cerrado. Não há nenhuma ação da PF registrada no site oficial da corporação, onde todas as operações são divulgadas (veja mais abaixo). A direção do portal já denunciou o site falso para a Polícia Federal e o TSE e a prefeita repudiou a atitude.

O jornal Gazeta do Cerrado informou ao Comprova que fez a denuncia do site falso à Polícia Federal e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por meio do Sistema de Alertas de Desinformação Eleitoral – SIADE, ferramenta cidadã que permite denunciar fatos inverídicos ou descontextualizados que podem prejudicar as eleições.

“Lamentamos a tentativa de contaminar o processo eleitoral usando nossa marca. A Gazeta luta todos os dias contra a desinformação e só publicamos notícias checadas e apuradas. Buscaremos os autores da montagem e vamos pedir a responsabilização judicial”, disse Maju Cotrim, editora-chefe do veículo, em nota.

O site que imitou o jornal utilizou um endereço parecido com o verdadeiro, mas sem o “.br” no final. A página falsa também imitou o leiaute (visual do site) e copiou informações e notícias. O portal verdadeiro informou que tem marca registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e o link é o www.gazetadocerrado.com.br. A direção reforçou ainda que não procede a informação da suposta operação da Polícia Federal no município.

| Captura de tela do clone (à esquerda) e do site verdadeiro (à direita) capturadas às 14h do dia 6 de outubro de 2024.

Por meio de nota, Josi Nunes repudiou “a divulgação de uma fake news, sendo acusações infundadas que fazem parte de um ataque covarde e criminoso” contra a sua “candidatura e contra a liberdade de imprensa”. Josi acrescentou que “está adotando todas as medidas necessárias para identificar os responsáveis por esse crime eleitoral e garantir que eles respondam perante a justiça”.

O Comprova entrou em contato com a Polícia Federal para questionar se houve alguma operação no município de Gurupi. A assessoria respondeu que todas as ações são divulgadas no site e que “a PF não divulga nem confirma nomes de eventuais presos ou investigados”. Em uma pesquisa, a ação mais recente da PF que cita a cidade foi em agosto de 2024, mas o alvo foi uma secretaria do Governo do Estado.

Usamos a ferramenta Whois, que indica quem é o responsável pelo registro de páginas na internet, para tentar identificar a origem do site falso. Os dados indicam que o endereço do responsável pelo site é uma rua na cidade de Reykjavik, capital da Islândia. A data de criação do domínio “gazetadocerrado.com” foi em 05 de outubro.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Fontes que consultamos: Sócios e editores do jornal Gazeta do Cerrado, Maju Cotrim e Marco Aurélio, Josi Nunes e a Polícia Federal.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Outras verificações sobre conteúdo enganoso ou falso nas eleições foram realizadas pelo Comprova como a do candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB), que usou documento falso para alegar que Guilherme Boulos (PSol) foi internado por uso de drogas, assim como a criação de páginas falsas na internet como um site que copiou um portal de notícias e inventou uma entrevista com Haddad sobre criptomoedas também foram checadas.

Eleições

Investigado por: 2024-10-05

Marçal usou documento falso para alegar que Boulos foi internado por uso de drogas

  • Falso
Falso
Pablo Marçal (PRTB) usou laudo médico falso para afirmar que Guilherme Boulos (PSOL) foi internado em decorrência de dependência química. O documento apresenta uma série de inconsistências, como erros de digitação, número de RG com um dígito a mais e assinatura de um médico que nunca trabalhou na clínica. Além disso, há registros de que Boulos estava em outro lugar no momento apontado como o de sua internação.

Conteúdo investigado: Suposto laudo médico publicado por Pablo Marçal (PRTB) que aponta internação de Guilherme Boulos (PSOL) por conta do uso de cocaína e corte de entrevista de Marçal a um podcast em que ele afirma que o atendimento médico teria sido por “dependência química”.

Onde foi publicado: YouTube, TikTok, Instagram e X.

Conclusão do Comprova: O suposto laudo médico divulgado por Pablo Marçal para afirmar que Guilherme Boulos deu entrada em uma clínica de São Paulo após uso de cocaína, em 19 de janeiro de 2021, apresenta indícios de falsificação. O documento foi divulgado inicialmente em uma live no YouTube e compartilhado nas redes sociais pelo candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo. Marçal disse na live, em entrevista a um podcast, que a internação do psolista teria sido por “dependência química”.

O laudo afirma que Boulos recebeu atendimento médico por apresentar um quadro de surto psicótico grave. O documento indica o CID F14, código para “transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso da cocaína”. Além disso, aponta que o psolista teria feito um exame toxicológico que deu positivo para uso da substância. Como verificado por Estadão, Folha e Aos Fatos, entre outros veículos, o documento apresenta uma série de inconsistências.

No laudo, consta que o atendimento ao candidato do Psol ocorreu às 16h45. Naquela tarde, no entanto, o psolista estava em uma agenda com o vereador Emerson Osasco (PCdoB), o que pode ser confirmado com uma foto registrada no dia, publicada no Instagram, e com uma declaração feita pelo parlamentar na sexta-feira (4) sobre a publicação de Marçal.

Alguns usuários do Instagram alegaram que a publicação foi editada, indicando que ela poderia ter sido alterada após a repercussão do falso laudo médico. No entanto, o Instagram não permite edição de fotos já publicadas, apenas a remoção do conteúdo. Na publicação ainda é possível ver que a postagem foi editada no mesmo dia em que foi feita, como aponta uma etiqueta da rede social.

Considerando que a edição teria sido feita na legenda da foto, questionamos o vereador Emerson Osasco sobre possíveis mudanças no conteúdo. Ele não respondeu nossa tentativa de contato até a publicação desta checagem, mas publicou um posicionamento em seu Instagram, afirmando que “é prova viva” de que o candidato do PSOL estava com ele na data indicada no suposto laudo médico. Em seguida, destaca a foto analisada nesta checagem.

O Comprova localizou também uma live feita por Guilherme Boulos no dia em questão, 19 de janeiro de 2021. Além do registro ser de uma fala ao vivo, portanto feita naquele dia, nela, o candidato usa a mesma camiseta que usou na foto com Emerson Osasco.

Também não é verdade que Boulos ficou internado, uma vez que na tarde do dia seguinte ao encontro com o vereador do PCdoB, em 20 de janeiro de 2021, o candidato participou de uma distribuição de cestas básicas na Comunidade do Vietnã, zona sul de São Paulo, como mostra uma foto publicada na data em seu Facebook.

O suposto laudo ainda apresenta um erro de digitação no RG atribuído a Boulos, conforme comparado pelo Comprova com informações do psolista presentes em processos aos quais ele responde e que o projeto teve acesso. Além de ser um número diferente, o documento presente no suposto laudo possui um dígito a mais do que o padrão de documentos usados no Brasil (nove dígitos).

Também há indícios de que o nome da clínica citada no documento esteja errado, uma vez que a unidade existente no Jabaquara, onde o laudo afirma que o atendimento ocorreu, chama-se “Mais Consultas” e não “Mais Consulta”, o que também pode ser visto no CNPJ da empresa.

Além disso, o documento ainda tem problemas de digitação, como “por minha atendido” e “apresentou com quadro de surto psicótico grave”.

O laudo falso tem assinatura e CRM do médico José Roberto de Souza, falecido em 2022 vítima de câncer, de acordo com o jornal O Globo. Ainda segundo a reportagem d’O Globo, o profissional nunca trabalhou na clínica citada no documento.

O Comprova checou que o médico também possuía CRM no Espírito Santo. O portal da instituição confirma a informação de que ele morreu.

O Globo mostrou também que a assinatura original do especialista difere daquela presente no laudo forjado. O Comprova comparou as assinaturas e confirmou a diferença.

| Assinatura usada no laudo (à esquerda) e  a assinatura verdadeira (à direita).

Em um vídeo publicado no Instagram, Boulos negou que tenha sido internado na clínica, afirmou que o laudo é falso e disse que pedirá a prisão de Marçal.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. A entrevista em live em que Marçal menciona o documento, ao podcast Inteligência Ltda, teve 1.453.688 visualizações no YouTube. Não é possível medir o alcance da publicação do suposto laudo no Instagram do candidato do PRTB, uma vez que a plataforma removeu o post. No TikTok, um vídeo com cortes da entrevista ao podcast teve mais de 5 mil visualizações. E, apesar de estar suspenso no Brasil após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), o falso documento também foi compartilhado no perfil oficial de Marçal no X, alcançando mais de 368 mil visualizações. O Comprova acessou o conteúdo por meio de um dos editores, que reside na Alemanha.

Fontes que consultamos: Live em que Marçal pediu à sua equipe para que publicasse o documento em questão em seu Instagram, registro de médicos no Conselho Federal de Medicina (CFM), redes sociais de Guilherme Boulos (PSOL), assessoria de Pablo Marçal (PRTB) e vereador Emerson Osasco (PCdoB), que não retornaram o contato, Econodata e reportagens e checagens sobre o tema.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Outras verificações sobre o tema indicam que há falsificações no laudo apresentado por Marçal. O Estadão Verifica mostrou que suposto laudo apresentado pelo candidato do PRTB contra Boulos tem indícios de falsificação. Já a iniciativa Aos Fatos concluiu que dados incorretos desmentem laudo usado por Marçal para acusar o psolista de uso de drogas. O G1 também publicou os indícios de falsidade do documento.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-10-04

Não há evidências de que o governo tenha ‘lista secreta’ de estados onde pode ocorrer chuva preta

  • Enganoso
Enganoso
Não há evidências de que o governo tenha uma “lista secreta” de estados brasileiros que podem registrar a chamada chuva preta. Ao Comprova, um meteorologista explicou que dados de monitoramento de eventos climáticos são públicos, portanto qualquer pessoa pode ter acesso. A conta que compartilhou a publicação se descreve como uma página de “histórias reais e fictícias de puro entretenimento”.

Conteúdo investigado: Vídeos publicados no TikTok que apontam a existência de uma suposta lista secreta em que o governo compila os estados que devem registrar chuva preta. Em uma das gravações, sobreposto às imagens, um texto diz: “Alerta urgente. Assista antes que o vídeo seja retirado pelo governo”. Na outra filmagem, o post diz: “Alerta urgente. Chuva preta decreta estados de emergência”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Não há evidências de que o governo tenha uma “lista secreta” com os estados propensos a registrar a chamada chuva preta, fenômeno que atingiu alguns municípios brasileiros entre agosto e setembro em decorrência das queimadas. Em entrevista ao Comprova, o meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Lucas Fumagalli, explicou que os dados para identificação do fenômeno são públicos e, por essa razão, não faz sentido falar em lista secreta. Segundo o especialista, os dados são observados em tempo real, disponibilizados de forma gratuita e estão à disposição de “todos aqueles que consigam interpretar as imagens”.

“Por exemplo, estou observando nesse momento as imagens de satélite. Estou vendo uma grande pluma de fumaça entre a Bolívia, Paraguai, Mato Grosso do Sul, Paraná, e uma frente fria avançando sobre essa região com fumaça. O que provavelmente poderia acontecer nessa situação? A ocorrência de um fenômeno deste tipo. Então, essas informações não são privadas ou confidenciais do governo. Elas são informações públicas, geralmente divulgadas a partir de satélites, que também não são satélites brasileiros, são estrangeiros”, pontuou Fumagalli.

O satélite referenciado pelo meteorologista é o geoestacionário GOES-16, de fabricação americana, que fornece dados publicamente. “As informações estão prontamente disponíveis. Por esse motivo, acredito que não faz sentido pensar em uma lista secreta de estados ou municípios que poderiam ser afetados pela chuva preta”, complementa.

Questionado, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) destacou que “a chuva preta pode ter ocorrido em diversas localidades, especialmente nas áreas onde havia fumaça”, mas não comentou sobre a questão da “lista secreta”.

Mesmo dizendo que a lista era secreta e estava sendo protegida pelo governo, o autor da publicação menciona os estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul.

A meteorologista Rafaela Gomes, que também atua na Funceme, explicou que os estados mencionados pelo conteúdo estão inseridos em regiões que possuem alto índice de incêndios florestais, acarretando em uma quantidade mais densa de queimadas e, portanto, mais suscetíveis ao fenômeno.

“Nessas regiões do Brasil, tanto Norte quanto essa parte Centro-Oeste e Sudeste, houve um grande número de queimadas este ano. Essas queimadas, especialmente entre agosto e setembro, fizeram com que aumentasse a quantidade de poluentes na atmosfera, e com o fenômeno das chuvas que ocorre nesta época do ano, acaba que, quando chove, tem essa mistura entre a poluição e a gotícula de água”, afirmou Rafaela.

O perfil alvo da checagem menciona outras alegações sem qualquer evidência, como a de que escolas estavam sendo fechadas devido ao fenômeno, que alguns estados decretaram emergência por causa da chuva preta e que o problema também estava sendo enfrentado em Portugal, país em que “o dia virou noite”. No entanto, os decretos de emergência (Pará e Rondônia, São Paulo, Mato Grosso, Espírito Santo) foram motivados pelas condições climáticas, como altas temperaturas, tempo seco e incêndios florestais, e não pela chuva preta. Também não foram encontrados registros de que o fenômeno tenha ocorrido em Portugal. Além disso, as publicações faziam menção a meteorologistas fictícios, que não foram encontrados pelo Comprova.

Outra alegação do vídeo é de que a chuva preta estaria deixando os bombeiros “sem saber o que fazer”. Na verdade, as equipes se mobilizaram para combater incêndios florestais, que causam destruição de biomas, deixam o ar carregado de fumaça e podem facilitar o acontecimento do fenômeno. Especialistas explicam (veja mais abaixo) que a chuva preta em si não tem potencial para tamanha destruição: ela nada mais é do que a junção das gotículas de chuva com partículas de fuligem da fumaça causada pelas queimadas, que deixam a água ‘suja’ e em tom escuro. No mais, o aviso de chuva preta se deve ao fato de que não é recomendada a exposição a essas gotículas, justamente por estarem carregadas de poluentes.

O Comprova entrou em contato com o autor da postagem, que não retornou às mensagens.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 3 de outubro, um dos vídeos tinha mais de 944 mil visualizações e 45 mil curtidas. Já o outro, alcançou 5.3 milhões de visualizações e mais de 96 mil curtidas.

Fontes que consultamos: Inmet, Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e meteorologistas.

Entenda o que é a chuva preta

Segundo o meteorologista Lucas Fumagalli, da Funceme, a chuva preta nada mais é do que a junção das gotículas de chuva com partículas de fuligem da fumaça causada pelas queimadas, que deixam a água “suja” e em tom escuro.

“Quando a chuva ocorrer, ela vai levar também todo esse material particular do que está presente na atmosfera em direção à superfície da terra. E é por isso que se observa, então, essa chuva preta, porque ela está carregando não só o vapor da água que estava presente na atmosfera, mas também por todo o material particular que estava presente”, comentou Fumagalli.

O alerta de chuva preta se deve ao fato de que não é recomendada a exposição a essas gotículas, justamente por estarem carregadas de poluentes, como explicou o meteorologista Natálio Abrahão em entrevista concedida ao Correio do Estado, jornal de Mato Grosso do Sul, um dos estados onde foi registrado o fenômeno em setembro.

“É sempre importante não expor, tanto pessoas quanto animais, às chuvas que ocorrem depois de longos períodos de estiagem”, pontuou.

No mês de setembro, a chuva preta foi registrada em quatro municípios de Mato Grosso do Sul, o que havia sido antecipado pela meteorologia. Cidades do Oeste e do Sudoeste e do Paraná, assim como Santa Catarina e São Paulo também registraram o fenômeno, o que foi igualmente alertado pela meteorologia.

Quem emite os alertas

O meteorologista Fumagalli explicou que os alertas são emitidos tanto pelo Inmet e por órgãos estaduais, como por empresas privadas de meteorologia. Ele aponta que nem a iniciativa pública nem a privada tendem a fazer uso de listas secretas sobre onde o fenômeno irá ocorrer.

“O meteorologista se encarrega de interpretar todas essas informações e, no caso do Instituto Nacional de Meteorologia, aplicar os avisos quando forem pertinentes. Mas eu acredito que, relativo à chuva preta, esse tipo de previsão não é feita. Foi constatado que houve esse tipo de precipitação, porque se tinha uma grande quantidade de fuligem na atmosfera, devido à quantidade muito recorde de queimadas, e essa chuva preta foi coletada por observadores e, em geral, a própria sociedade”, ponderou.

Por meio de uma nota enviada ao Comprova, o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) reforçou que os alertas meteorológicos são emitidos para as defesas civis municipais e estaduais, pelo Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), com base nas previsões do Inmet, do Ministério da Agricultura e Pecuária, e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Questões envolvendo crise climática são frequentemente checadas pelo Comprova. Verificamos, por exemplo, que não há evidências de que MST tenha ameaçado “incendiar o agro” antes das queimadas recentes e que um vídeo foi tirado de contexto para dizer que brigadistas estariam causando incêndio no Pantanal. Além disso, explicamos que o decreto no Pará é de emergência climática, e não lockdown.

Comprova Explica

Investigado por: 2024-10-04

Entenda as regras dos convites para debates eleitorais na televisão

  • Comprova Explica
Comprova Explica
As emissoras de televisão seguem regras determinadas pela Justiça Eleitoral para convidar candidatos para os debates, mas podem ampliar a lista se acharem adequado. Neste ano, mais uma vez, as emissoras receberam críticas relacionadas aos debates e aos trâmites judiciais envolvendo os convites.

Conteúdo analisado: Um candidato à Prefeitura de Porto Alegre pelo partido Novo acusa, em vídeo publicado no Instagram, a RBS TV, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Sul, de não convidá-lo para o debate eleitoral do primeiro turno. Ele menciona que a emissora alegou “não ser obrigada” a permitir sua participação. Como este não é o primeiro caso do tipo, o Comprova elaborou este material explicativo para que você saiba quais são os critérios para que candidatos participem de um debate eleitoral.

Comprova Explica: Felipe Camozzato (Novo), candidato à Prefeitura de Porto Alegre, publicou nas redes sociais um vídeo criticando o Grupo RBS por não convidá-lo para o debate relativo ao primeiro turno. Mas, afinal, o que torna um candidato apto a participar de um debate?

Conforme determinado na lei 9.504/1997, que estabelece normas para as eleições, e na resolução nº 23.610 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que dispõe sobre “propaganda eleitoral, utilização e geração do horário gratuito e condutas ilícitas em campanha eleitoral”, as emissoras devem convidar obrigatoriamente todos os candidatos de partidos com pelo menos cinco representantes (parlamentares) no Congresso Nacional.

A participação dos candidatos cujo partido não atingiu o critério é facultativa, desde que o registro de candidatura dos mesmos não tenha sido dado como indeferido, cancelado ou não conhecido pela Justiça Eleitoral. Já no segundo turno, participam dos debates os dois candidatos mais votados no primeiro turno da eleição.

No caso do candidato Camozzato, o partido Novo não tinha cinco parlamentares no Congresso Nacional até o dia 20 de julho, data limite estipulada pela Justiça Eleitoral no artigo 44 da mesma resolução. O quinto representante do Novo no Congresso, o deputado federal Ricardo Salles, retornou ao partido apenas no dia 5 de agosto, 15 dias após o prazo e, por isso, não foi considerado pela resolução.

Foi esse o critério utilizado pelo Grupo RBS na escolha dos candidatos convidados para o debate, como explicou a própria emissora ao Comprova antes do evento ser realizado:

“O Grupo RBS informa que o debate dos candidatos à Prefeitura de Porto Alegre da RBS TV, que será realizado no primeiro turno, no dia 3 de outubro, terá como participantes os candidatos dos partidos, coligações e/ou federações com representação no Congresso Nacional de, no mínimo, cinco parlamentares, no prazo de 20 de julho, conforme estabelece a Resolução nº 23.610 do TSE e de acordo com a Lei nº 9.504/97. Essas regras foram acordadas com os representantes dos candidatos considerados aptos ao debate pela lei e seguem a orientação da Rede Globo para todas as suas afiliadas”, diz a nota.

Em Fortaleza, um candidato a prefeito do Novo foi retirado do debate promovido pela TV Otimista após decisão judicial. O senador cearense Eduardo Girão (Novo) participava do encontro amparado por uma decisão liminar, contudo um dos adversários, George Lima (Solidariedade), acionou a Justiça Eleitoral, que, por sua vez, derrubou a liminar. Dessa forma, o candidato do Novo foi retirado do encontro durante o intervalo do primeiro bloco.

Nesta quinta-feira (3), um juiz do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) derrubou outra liminar que concedia participação de Girão no debate promovido pela TV Verdes Mares, afiliada da Rede Globo. Ele não foi convidado para esse debate por não atender às regras determinadas pela emissora, que, além do que prevê a legislação, estabeleceu como critério a participação de quem atingiu 10 pontos percentuais, sem contar margem de erro, na mais recente pesquisa Quaest, divulgada na quarta-feira, 25.

Lei 9.504/1997

Além de dispor sobre as participações obrigatórias e facultativas de candidatos aos debates, o artigo 46 da lei 9.504/1997 dispõe sobre as formas que a apresentação dos debates poderá ser feita, sendo:

  • Em conjunto, estando presentes todos os candidatos a um mesmo cargo eletivo;
  • Em grupos, estando presentes, no mínimo, três candidatos.

Determina ainda que durante as eleições proporcionais, como no caso de vereadores que serão eleitos em 2024, os debates deverão ser organizados de modo que assegurem a presença de número equivalente de candidatos de todos os partidos a um mesmo cargo eletivo e poderão desdobrar-se em mais de um dia, respeitada a proporção de homens e mulheres.

Além disso, obriga os debates a serem parte de uma programação previamente estabelecida e divulgada pela emissora, fazendo-se mediante sorteio a escolha do dia e da ordem de fala de cada candidato, salvo se celebrado acordo em outro sentido entre os partidos e coligações interessados.

“Será admitida a realização de debate sem a presença de candidato de algum partido, desde que o veículo de comunicação responsável comprove havê-lo convidado com a antecedência mínima de setenta e duas horas da realização do debate”, diz a norma.

A lei veda, ainda, a presença de um mesmo candidato a eleição proporcional em mais de um debate da mesma emissora.

O debate também deve ser realizado seguindo as regras estabelecidas em acordo celebrado entre os partidos políticos e a emissora que realizará o evento, desde que a Justiça Eleitoral esteja ciente.

As regras estabelecidas serão consideradas aprovadas caso pelo menos dois terços dos candidatos aptos concordem no caso de eleição majoritária, e de pelo menos dois terços dos partidos com candidatos aptos, no caso de eleição proporcional.

As emissoras costumam adotar critérios como, por exemplo, melhores colocados em determinada pesquisa, como o caso da Rede Globo, que promove o último debate antes do primeiro turno com os candidatos a prefeito de São Paulo.

Além do exigido pelas normas, a emissora usou como critério convidar aqueles que alcançaram pelo menos 6% de intenções de voto na última pesquisa da Quaest, divulgada na segunda-feira (30). Dessa maneira, o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), cujo partido não obedece a representação no Congresso Nacional, foi convidado para o encontro.

Fontes consultadas: A lei 9.504/1997 e a resolução N° 23.610 do Tribunal Superior Eleitoral; o Manual Eleitoral do Ministério Público do Rio Grande do Sul; Grupo RBS; e matérias do jornal O POVO.

Por que o Comprova explicou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está gerando muitas dúvidas e desinformação, o Comprova Explica. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Comprova vem acompanhando a repercussão das eleições nas redes sociais. Recentemente, foram apurados materiais como a pegadinha que viralizou descredibilizando pesquisas eleitorais; a acusação enganosa de que Guilherme Boulos (PSOL) seria líder do MST e responsável por queimar fazendas; e que eleitores não perdem o voto ao apertar “confirma” durante aviso para conferir escolha da urna eletrônica. Acesse nossa lista de materiais sobre as eleições aqui.

Política

Investigado por: 2024-10-03

Site imita portal de notícias e inventa entrevista com Haddad sobre criptomoedas

  • Falso
Falso
Não é verdade que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenha feito propaganda de uma plataforma que usa inteligência artificial para investir em criptomoedas, ou que tenha sido processado pelo “Banco Nacional do Brasil”. A peça de desinformação foi publicada em um site falso, que reproduz o portal de notícias Globo.com.

Conteúdo investigado: Site que simula portal de notícias Globo.com com texto que afirma que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ameaça a segurança financeira nacional e foi processado pelo “Banco Nacional do Brasil” após divulgar uso de plataforma que utiliza inteligência artificial para investir em criptomoedas.

Onde foi publicado: Site na internet, LinkedIn e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falso que Haddad esteja sendo processado pelo “Banco Nacional do Brasil” por ameaçar a segurança financeira do país. Conteúdo com tal afirmação simula uma página do site Globo.com e usa imagem real de quando o político deu entrevista para a CNN Brasil, em março. Já o texto usado na publicação mentirosa cita uma suposta conversa com a emissora, mas o conteúdo é todo inventado.

O site investigado exibe o título “Por que as palavras de Fernando Haddad ameaçam a segurança financeira de todo o Brasil? Ele foi processado pelo Banco Nacional do Brasil por causa dessas palavras!”. Como mostra a lista de instituições habilitadas a operar no mercado de câmbio do Banco do Brasil, não existe um “Banco Nacional do Brasil”. O conteúdo cita, além de Haddad, Raquel Landim, ex-apresentadora do programa CNN 360 que entrevistou o ministro com outras colegas, não mencionadas no conteúdo.

No texto, Haddad fala que está ganhando dinheiro de forma fácil em uma “plataforma que utiliza inteligência artificial para negociar criptomoedas”. No entanto, essa afirmação nunca foi dita. Na entrevista original, Haddad fala sobre meta fiscal, dívidas estaduais, Imposto de Renda e outros assuntos.

Contatado pelo Comprova, o Ministério da Fazenda afirmou se tratar de “um texto completamente falso”. A jornalista Raquel Landim reforçou à reportagem que o conteúdo é mentiroso. “Esse assunto nunca apareceu na entrevista, nunca tinha visto esse conteúdo e lamento muito que o nome do ministro e o meu e um material jornalístico estejam sendo utilizados para enganar pessoas”, disse.

A página com o conteúdo falso leva para um site que, em poucos cliques, pede os dados do cartão de crédito para que o usuário faça um depósito em dinheiro, o que pode ser um indicativo de golpe. Este site difere do endereço oficial utilizado pela plataforma de investimentos em criptomoedas citada na entrevista falsa – tanto na URL, quanto no conteúdo e design.

Há também diferenças entre o site falso e o Globo.com. No original, é possível ver um cabeçalho com menu interativo. Já o site falsificado usa apenas uma imagem estática e simples do painel inicial do veículo de comunicação. Além disso, a URL (endereço do navegador) do site forjado é diferente do site oficial.

No Brasil, a plataforma não tem registro em sites de avaliação, como no ReclameAqui, nem processos abertos no Jusbrasil. Foram encontrados apenas dois posts de blog na internet com conteúdo semelhante ao da página investigada, que também relacionam Haddad à divulgação da plataforma de investimentos. Ambos têm o mesmo título e a mesma entrevista falsa: “Fernando Haddad Immediate Luminary Opinião – fraude ou legítimo?”.

A origem do conteúdo falso é incerta. Ao pesquisar no código fonte da página que simula o portal Globo.com, não foi possível detectar registros do conteúdo na internet, nem do seu autor. Encontramos apenas uma frase em russo que diz “conectando à biblioteca”, em tradução livre.

I Legenda: Site que simula ser portal de notícias Globo.com mente ao afirmar que Haddad tenha sido processado por “Banco Nacional do Brasil” I

Em junho deste ano, o Estadão Verifica investigou um site semelhante, que também reproduzia um portal de notícias — no caso, o Valor Econômico.

Assim como o site checado aqui, o conteúdo falava em uma instituição financeira processando brasileiros, como Haddad, o ex-jogador de futebol Ronaldo Nazário e os empresários Luciano Hang, Roberto Irineu Marinho e Abílio Diniz, já falecido. Além disso, a publicação citava plataformas de criptomoedas, mostrando um padrão de desinformação.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Contudo, não foi possível mensurar a audiência do site investigado. Ainda assim, a checagem foi feita para alertar sobre sites que reproduzem portais de notícias e evitar possíveis golpes financeiros.

Fontes que consultamos: Entrevista original na íntegra, Banco Central do Brasil, Ministério da Fazenda, repórter da CNN Raquel Landim e busca pelo código fonte da página que desinforma.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Citado anteriormente, o Estadão Verifica concluiu que é falso que o Itaú esteja processando ministro, empresários e ex-jogador de futebol. O Comprova já investigou diversos conteúdos envolvendo o atual ministro da Fazenda. Mostramos, por exemplo, que post usa dados falsos sobre PIB e inflação e inventa fala de Haddad sobre impossibilidade de pagar funcionalismo.

Eleições

Investigado por: 2024-10-02

Post que põe em dúvida pesquisas eleitorais em São Paulo usa vídeo de pegadinha

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a postagem em que um suposto funcionário de um instituto de pesquisa altera as respostas dos entrevistados após perguntar em quem eles votariam para a Prefeitura de São Paulo. O conteúdo, postado por um perfil do candidato Pablo Marçal (PRTB), usa recorte de vídeo de quadro de humor.

Conteúdo investigado: Post usa vídeo em que um homem, com prancheta e caneta em mãos, pergunta a outro na rua em quem ele vai votar para a Prefeitura de São Paulo. O entrevistado indica Pablo Marçal (PRTB). O homem, então, que se passa por um funcionário de instituto de pesquisa, diz que vai trocar a resposta para Guilherme Boulos (PSOL), por já ter pego muitas respostas em Marçal. Na tela do vídeo, é inserida a pergunta: “Você confia nos institutos de pesquisa?”. Já na legenda, está escrito: “Será que é assim que funcionam as pesquisas do Bananinha e do Comedor de Açúcar?”.

Onde foi publicado: Telegram.

Conclusão do Comprova: O conteúdo é um recorte de um quadro do humorista Ítalo Sena. No vídeo completo, disponível em seu canal no YouTube, Sena elabora pegadinhas com temas sugeridos por seguidores nas redes sociais. Um deles pede: “Aproveita que é época e faz a pegadinha manipulando pesquisa de eleição”. No quadro, o humorista, que se passa por entrevistador de um instituto fictício de pesquisas eleitorais, pergunta às pessoas na rua em que elas votarão para a Prefeitura de São Paulo.

Ele não aceita as respostas e sugere registrar que os eleitores votarão em um candidato diferente do que foi respondido na pesquisa. A um homem, que afirma que vai votar em Pablo Marçal (PRTB), o entrevistador pergunta: “Eu posso botar [registrar] Boulos? É que eu peguei muito [entrevistado que disse votar em] Marçal”. É este o trecho postado do canal no Telegram. Ele segue agindo da mesma forma diante das respostas dos entrevistados. A outro homem que declara voto em Marina Helena (Novo), Sena avisa: “Eu vou botar Boulos”. Já a um senhor que revela que votará em Guilherme Boulos (PSOL), o humorista questiona: “Tem problema se botar Marçal? É que eu peguei muito Boulos”.

No quadro, após reação contrária das pessoas, o humorista avisa que se trata de uma pegadinha. Recortes do conteúdo também foram publicados no Instagram de Ítalo Sena.

Apesar de a campanha de Marçal ter informado outro canal do Telegram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o grupo que postou o vídeo verificado também é oficialmente do candidato – era nele que Marçal divulgava seus cursos como coach, como mostra postagem de 25 de abril do ano passado. O mesmo endereço do perfil do Telegram aparece em uma página do antigo site de Pablo Marçal gravada com utilização da ferramenta Wayback Machine, em 3 de agosto de 2021.

O site hoje está fora do ar, mas aparece em uma postagem do canal oficial do Facebook informado pela campanha de Marçal à Justiça Eleitoral. A publicação, de 13 de maio deste ano, divulga um curso dele.

O recorte do conteúdo postado no Telegram dá margem para que sejam lançadas dúvidas sobre as pesquisas eleitorais. É o que se percebe nos comentários da publicação, em afirmações como “é bem assim mesmo” e “bem isso”. Em outro, uma mulher conta a experiência de uma amiga nos anos 1990, em Porto Alegre, que, segundo ela, fazia a pesquisa de qualquer jeito. Ela não informou a qual instituto a amiga pertencia.

Bananinha” e “Comedor de Açúcar”, apelidos usados na legenda do vídeo, foram dados por Marçal aos candidatos Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito de São Paulo, e Guilherme Boulos, respectivamente.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o início da tarde do dia 2 de outubro, o vídeo tinha cerca de 8,1 mil visualizações no Telegram.

Fontes que consultamos: O Comprova analisou a postagem e localizou o vídeo original no canal do humorista Ítalo Sena no YouTube. Foram consultadas informações de Marçal no site do TSE e as redes sociais informadas pelo candidato à Justiça Eleitoral. O Comprova ainda analisou gravações do antigo site de Marçal, em que ele divulgava seus cursos como coach, na ferramenta wayback machine.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Durante o período eleitoral, surgem alegações colocando em dúvida pesquisas eleitorais. Em 2022, o Comprova desmentiu que uma empresa de pesquisa funcionasse dentro do Instituto Lula. Ainda naquele ano, checamos conteúdo semelhante a esta verificação. Também há casos de manipulação de dados de pesquisas, a exemplo de um conteúdo checado pelo Estadão Verifica, envolvendo os candidatos que disputam a Prefeitura de São Paulo.

Eleições

Investigado por: 2024-10-01

Grupo Flow não recebeu repasses da Prefeitura de São Paulo, ao contrário do que diz Marçal

  • Enganoso
Enganoso
O Grupo Flow não recebeu R$ 474 mil da Prefeitura de São Paulo, diferentemente do que alegou Pablo Marçal (PRTB). O ex-coach, que é candidato a chefe do Executivo municipal paulistano nas eleições de 2024, falou sobre a existência dos repasses após ser expulso de debate promovido pelo grupo no dia 23 de setembro.

Conteúdo investigado: Vídeo publicado no Instagram em que Pablo Marçal afirma que o podcast Flow teria recebido R$ 474 mil da Prefeitura de São Paulo, além de carrossel de imagens no TikTok com a mesma acusação.

Onde foi publicado: Instagram e TikTok.

Conclusão do Comprova: É enganosa a afirmação do candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB), de que o Grupo Flow, responsável pelo Flow Podcast, teria recebido R$ 474 mil da gestão municipal. A insinuação foi feita em um vídeo, após o debate promovido pelo grupo no dia 23 de setembro, ocasião em que o ex-coach foi expulso por descumprimento de regras. Marçal fez a declaração seguida de alguns questionamentos enquanto respondia a uma caixinha de perguntas no Instagram.

“A empresa que fez o debate ontem [23] recebeu R$ 474 mil da Prefeitura de São Paulo. Você sabe em que guerra eu estou enfiado aqui? O que está por trás do consórcio comunista do Brasil?”, indagou.

Os pagamentos foram feitos, na verdade, a uma empresa homônima, a Flow Mídias e Publicidade Ltda. Conforme consulta realizada pelo Comprova ao Portal da Transparência da Prefeitura de SP, não há registro de repasses ao Grupo Flow. O valor mencionado por Marçal se refere, na verdade, a dois pagamentos que totalizam R$ 474.999,62, realizados em 2023 para a Flow Mídia e Publicidade, empresa com CNPJ e sede diferentes do Grupo Flow, o qual negou relação entre os dois empreendimentos.

De acordo com os dados disponíveis no Portal da Transparência, o primeiro valor pago à Flow Mídia e Publicidade, no valor de R$ 65.972,22, é referente à “inserção de display e vídeo” na internet entre os dias 25 e 30 de novembro de 2023. Já o segundo pagamento, no valor de R$ 409.027,40, é referente à “inserção de display e vídeo nos principais portais de programática do ‘O Estado de São Paulo’”, entre os dias 1º e 31 de dezembro de 2023.

A Flow Mídia e Publicidade Ltda, CNPJ: 46.198.048/0001-57, tem sede registrada no bairro de Samambaia Norte, em Brasília (DF), está ativa desde abril de 2022 e conta com Wladimir Lenin Santos Araújo como sócio-administrador. A empresa não retornou às tentativas de contato do Comprova. Já a Estúdios Flow Produção de Conteúdo Audiovisual Ltda., da qual faz parte o Flow Podcast, está ativa desde 2020, opera com o CNPJ 37.728.635/0001-10 e tem sede localizada em Vila Prudente, na capital paulista. O apresentador Igor Rodrigues Coelho, conhecido como Igor 3K, é um dos sócios.

Em um comunicado, o Flow repudiou as declarações feitas por Pablo Marçal, onde ele acusa o grupo de “parcialidade, manipulação e recebimento de verbas da Prefeitura de São Paulo”.

“Essas alegações são completamente infundadas e atentam contra nossa reputação, construída com dedicação, transparência e ética. Reafirmamos que não recebemos nenhuma verba da Prefeitura”, consta em trecho da nota.

O Flow também fez uma investigação própria, que chegou aos mesmos resultados que a apuração do Comprova. O grupo ressaltou, ainda, que o debate foi realizado de maneira independente.

“Investigamos o assunto e constatamos dois pagamentos em 2023 à empresa Flow Mídia e Publicidade Ltda, empresa que não faz e nunca fez parte do Grupo Flow. Realizamos o debate de forma independente e inédita, com o objetivo de servir ao interesse público”, esclareceu o comunicado.

O Comprova também procurou a assessoria de Marçal para obter um posicionamento acerca das falas distorcidas, mas não houve respostas até a publicação deste texto. A Prefeitura de São Paulo, por sua vez, informou que “nunca fez qualquer tipo de compra de mídia com o Grupo Flow”.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 1º de outubro, o conteúdo alcançou mais de 2 mil visualizações no Tik Tok e mais de 66 mil visualizações no Instagram.

Fontes que consultamos: Consultamos o Portal da Transparência da Prefeitura de São Paulo, o Grupo Flow, via nota divulgada no Instagram, e a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de São Paulo (Secom).

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Estadão Verifica também fez checagem sobre a alegação, classificando-a como enganosa. Lupa e Aos Fatos concluíram que a declaração é falsa. Marçal foi alvo de apuração recente do Comprova, também por conta do uso de homônimos. Mostramos como fazer uma busca processual adequada utilizando o Jusbrasil a partir da acusação do candidato do PRTB de que Guilherme Boulos (PSOL) seria usuário de drogas.

Eleições

Investigado por: 2024-09-27

Vídeo engana ao dizer que Boulos é líder do MST e responsável por queimar fazendas

  • Enganoso
Enganoso
Vídeo engana ao dizer que Guilherme Boulos (PSOL) tem relação com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e só não foi condenado por crimes diversos “porque não foi encontrado”, como afirmam deputados do Distrito Federal em vídeo que circula nas redes sociais. Conforme checado pelo Comprova, Boulos não foi condenado em nenhum dos cinco processos em que foi réu. Além disso, o fato de Boulos ter tido a candidatura à Prefeitura de São Paulo confirmada indica que o político não foi enquadrado pela Lei da Ficha Limpa.

Conteúdo investigado: Publicação com trecho de sessão plenária da Câmara Legislativa do Distrito Federal do dia 11 de setembro de 2024, em que a deputada Paula Belmonte (Cidadania) diz que o candidato do PSOL “não foi condenado porque não foi encontrado”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Vídeo engana ao dizer que o deputado federal e candidato a prefeito de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) seria líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e só não foi condenado judicialmente porque não teria sido localizado durante os seis anos em que o processo contra ele tramitava. O Comprova checou novamente o andamento dos cinco processos em que o candidato foi réu e identificou que não houve condenação em nenhum deles.

A publicação usa um trecho de um discurso do deputado distrital Pastor Daniel de Castro (PP), no qual o parlamentar afirma que Boulos seria líder do MST e responsável por invasões a propriedades, queima de fazendas e morte de gado.

A fala foi proferida no momento em que o pastor fazia um discurso crítico sobre as prisões de suspeitos de praticarem queimadas no Brasil, como mostra o vídeo com a íntegra da sessão plenária.

O discurso foi rebatido pelo deputado Fábio Felix (PSOL). Ele disse que Boulos não tem nenhuma condenação criminal e afirmou que o movimento que o correligionário liderava não era o MST, mas sim o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), cujas manifestações ocorrem no ambiente urbano.

Após a fala de Felix, a deputada Paula Belmonte (Cidadania) afirmou que Boulos só não foi condenado porque não foi encontrado há seis anos, e fez uma referência ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dizendo que há um “ex-condenado a três instâncias na Presidência da República”.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, o processo ao qual se referiu a deputada seria o do episódio conhecido como a desocupação do Pinheirinho, em que Boulos foi preso em flagrante suspeito de atirar contra uma viatura da Guarda Municipal de São José dos Campos (SP). À época, Boulos prestou depoimento negando a acusação, e foi solto mediante pagamento de fiança.

No documento em que reconhece a extinção do processo, que prescreveu, o promotor João Carlos de Camargo Maia, do Ministério Público de São Paulo, afirma que “o criminoso conseguiu fugir por manobra jurídica”.

Em resposta, conforme relatou a Folha, o advogado de defesa de Boulos, Alexandre Pacheco Martins, afirmou que foi o Ministério Público que errou, procurando por Boulos em endereços “sem sentido”, além de não ter procurado pelos advogados, que tinham os contatos anexados ao processo.

“Só procuraram o Boulos em endereços sem sentido. Ele trabalhava na Faculdade Mauá e foram no Instituto Mauá. O inquérito ficou jogado por anos. Não teve tentativa nenhuma de escapar, o Boulos nem sabia do processo nesses seis anos. Foi o Ministério Público que abusou do direito de errar”, disse o advogado.

Ao Comprova, a assessoria de Boulos disse que a afirmação feita pela parlamentar é falsa, e que o candidato jamais fugiu da Justiça ou foi condenado em qualquer processo criminal.

“Todos os casos em que ele foi detido e levado à delegacia estão diretamente ligados à legítima defesa dos direitos da população que luta por moradia digna. O caso em questão trata do episódio de Pinheirinho, de 2012, e foi arquivado”, disse em nota.

Ainda segundo a assessoria, Boulos deixou a coordenação do MTST para assumir o mandato de deputado federal no início de 2023.

O responsável pela publicação foi procurado, mas não retornou aos contatos feitos pela reportagem.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 25 setembro, a publicação alcançou mais de 1.284 visualizações, 126 curtidas, 66 compartilhamentos e 6 comentários.

Fontes que consultamos: Procuramos por outras verificações feitas pelo Comprova, assistimos à íntegra da fala dos deputados, analisamos as certidões de candidatura de Boulos disponíveis no Divulgacand, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), checamos novamente o andamento dos processos em que ele é réu, matérias sobre o caso, e entramos em contato com a assessoria do candidato.

Boulos é réu em cinco processos e não houve condenação

O Comprova voltou a checar o andamento dos cinco processos em que o candidato do PSOL foi réu em pesquisa no site Jusbrasil. Foi possível verificar que não houve condenação criminal em nenhum deles, assim como havia sido identificado em agosto, quando a seção “Contextualizando” do projeto analisou as certidões de candidatura de Boulos disponíveis no Divulgacand, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Conforme outros documentos de Boulos disponíveis no mesmo site de candidaturas da Justiça Eleitoral, o psolista foi preso duas vezes quando era líder nacional do MTST. As prisões ocorreram durante processos de reintegração de posse. Apesar disso, não houve nenhuma condenação criminal.

Em janeiro de 2012, Boulos estava na Ocupação Pinheirinho, em São José dos Campos, no interior paulista, quando foi preso em flagrante por “dano qualificado”. Ele foi solto após prestar depoimento e pagar fiança no valor de R$ 700. Posteriormente, o processo foi anulado.

Já a segunda prisão ocorreu em janeiro de 2017. Ele foi detido por “incitação à violência e desobediência” durante reintegração de posse na Ocupação Colonial, em São Mateus, bairro da zona leste de São Paulo. Na ocasião, ele ficou detido por 10 horas e foi liberado após ter assinado um termo circunstanciado.

Como noticiou o Estadão, o próprio Boulos disse, em entrevista para a Agência Pública, que foi preso também entre 2003 e 2004, em uma ocupação em Osasco. Não constam no site do TSE, porém, documentos a respeito deste episódio.

Além disso, o fato de a Justiça Eleitoral ter confirmado a candidatura de Boulos significa, necessariamente, que o político não foi enquadrado pela Lei da Ficha Limpa. Ou seja, ele não tem nenhuma condenação judicial em segunda instância (quando a condenação é feita por um órgão colegiado).

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Boulos e o MST são alvos frequentes de desinformação nas redes sociais. O Comprova já mostrou que Boulos não prometeu deixar o país depois da derrota nas eleições, que não há evidências de que o movimento tenha ameaçado “incendiar o agro” antes das queimadas recentes e que um homem que afirmava ser petista e corrupto não era líder do movimento e sim ex-candidato do PRTB.