O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Política

Investigado por: 2024-02-16

Torcidas organizadas negam ato contra Bolsonaro em São Paulo

  • Falso
Falso
É falso que torcidas organizadas de futebol estão planejando um ato pela democracia e contra Jair Bolsonaro (PL) no dia 25 de fevereiro, na Avenida Paulista, em São Paulo. Nessa data e no mesmo local, o ex-presidente pretende reunir seus apoiadores para uma manifestação em que quer se defender de acusações que vem sofrendo. O Comprova contatou cinco das oito torcidas citadas em posts virais, e elas negam tal convocação.

Conteúdo investigado: Posts dizendo que torcidas organizadas como a Gaviões da Fiel, do Corinthians, e a Independente, do São Paulo, marcaram um ato em defesa da democracia e contrário a Jair Bolsonaro (PL) no dia 25 de fevereiro, às 15h30, na avenida Paulista, em São Paulo.

Onde foi publicado: X e Facebook.

Conclusão do Comprova: Posts afirmando que torcidas organizadas de alguns dos principais times de futebol do Brasil estão organizando um ato em São Paulo, em 25 de fevereiro, em defesa da democracia e contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), são falsos. As publicações citam Mancha Alvi Verde, do Palmeiras; Gaviões da Fiel, do Corinthians; Independente, do São Paulo; Galoucura, do Atlético-MG; Máfia Azul, do Cruzeiro; Raça Rubro-Negra, do Flamengo; Força Jovem, do Vasco; e Fúria Jovem, do Botafogo. As cinco primeiras negaram ter feito tal convocação. O Comprova não conseguiu contato com as três últimas.

A Mancha Alvi Verde publicou nota em suas redes afirmando que não fez qualquer “convocação para que seus associados compareçam a manifestações de cunho político e desaprova a utilização indevida de seu nome em publicações apócrifas nas redes sociais”.

Danilo Pássaro, torcedor da Gaviões da Fiel e um dos organizadores de ato que uniu as torcidas pela democracia em 2020, postou serem falsas notícias sobre a “articulação das torcidas para confrontar os bolsonaristas”. Na publicação, ele escreve que “o que nos uniu em 2020 foi a defesa da democracia, algo que avaliamos não ser necessário por enquanto”.

Sobre a Independente, Henrique Gomes, o Baby, um dos principais líderes da torcida, afirmou que não há nada organizado. “A Independente respeita a democracia, a esquerda, a direita e o centro. Quem quiser ir, vai, mas a Independente, o CNPJ, não chamou para nada”, disse ao Comprova.

Entre as torcidas mineiras, o presidente da Galoucura, Josimar Júnior, declarou que a torcida não participa de ato político. Já o vice-presidente da Máfia Azul, Raphael Ceraso, afirmou desconhecer “essa tal convocação em ‘ato nacional em defesa da democracia'”.

Segundo os posts, o ato seria às 15h30, na Avenida Paulista, mesmo local para onde Jair Bolsonaro (PL) chamou seus apoiadores para uma manifestação no mesmo dia, meia hora antes. Em post com vídeo publicado em 12 de fevereiro, o ex-presidente convoca bolsonaristas para um ato pacífico e diz: “Quero me defender de todas as acusações que estão sendo imputadas à minha pessoa nos últimos meses”.

Ao Comprova, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirmou que a Polícia Militar foi informada sobre manifestações no dia 25, “mas que não houve detalhamento”. A prefeitura também foi procurada, mas não respondeu até a publicação deste texto.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 16 de fevereiro, apenas três posts no X verificados aqui somavam 8 mil curtidas e mais de 2,3 mil compartilhamentos.

Como verificamos: Buscamos posicionamentos oficiais das torcidas e, como apenas a Mancha Alvi Verde havia feito uma publicação a respeito, entramos em contato com as organizações por WhatsApp ou telefone. Também contatamos, por e-mail, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, que nos respondeu, e a prefeitura de São Paulo, que não retornou.

O que diz o responsável pela publicação: A reportagem contatou os perfis que publicaram os conteúdos virais por meio de mensagem no próprio post, mas nenhum respondeu.

O que podemos aprender com esta verificação: Em 2020, houve um ato em que torcidas organizadas se uniram pela defesa da democracia, mas é sabido que elas não costumam se relacionar de forma amigável. O primeiro passo ao se deparar com posts dizendo que elas estão juntas em alguma ação, é que o leitor desconfie e, então, tente buscar a informação fora das redes sociais, em sites de veículos de imprensa.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Além do Estadão Verifica, Alma Preta e Aos Fatos também investigaram o conteúdo. No Comprova, outros posts com desinformação envolvendo torcidas já foram checados, como o que enganava ao dizer que a torcida do Vasco havia recebido Lula e Eduardo Paes e o que mentia ao associar ao petista vídeo de abordagem da Polícia Militar a torcedores do Sport.

Saúde

Investigado por: 2024-02-16

Vinagre de álcool não é recomendado como medida para combater mosquito da dengue

  • Falso
Falso
É falso que distribuir recipientes com vinagre de álcool no chão dos domicílios seja um método recomendado contra o Aedes aegypti, transmissor da dengue. Especialistas ouvidos pelo Comprova afirmam não haver comprovação científica sobre o uso da substância no combate ao mosquito. O Ministério da Saúde também não cita a utilização do produto alimentício como forma de prevenção à dengue e outras arboviroses urbanas, como zika e chikungunya.

Conteúdo investigado: Vídeo divulgado nas redes sociais indica o uso de vinagre de álcool como repelente contra o mosquito da dengue. Nas imagens, um homem que diz ser presidente do Comitê da Dengue de São Miguel do Iguaçu (PR) afirma que colocar o produto em recipientes no chão dos cômodos da casa funciona para afastar o Aedes aegypti.

Onde foi publicado: X (antigo Twitter) e TikTok.

Conclusão do Comprova: Não é verdadeiro que o vinagre seja um método de prevenção e controle do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, diferentemente do que alega vídeo viral. Procurada pelo Comprova, a Prefeitura de São Miguel do Iguaçu (PR), cidade da qual o autor do vídeo diz ser, afirmou que o homem que aparece na gravação recomendando o produto é Edílio Diesel, que atuou como presidente do Comitê Intersetorial para Controle da Dengue de 2019 a 2020 e atualmente não faz parte do grupo. A gestão do município informou que usar vinagre para o combate ao Aedes aegypti não é uma orientação dada à população, pois “não há comprovação da sua efetividade”.

A tática de colocar potes com o produto nos cômodos de casa, citada no vídeo investigado, não faz parte das recomendações do Ministério da Saúde para o enfrentamento à doença. Os especialistas consultados pelo Comprova também informaram não haver comprovação de que o vinagre seja capaz de combater a dengue e disseram que, na realidade, a ação pode causar mais exposição.

Tânia Vergara, médica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explicou que não há estudos que demonstram que o vinagre é capaz de combater o mosquito. “A notícia é falsa e aumenta o risco de adquirir a dengue, por ser inadequada”, diz. A pesquisadora em gestão de saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Chrystina Barros, também afirmou que “a informação não tem procedência” e enfatizou que “o vinagre não é usado como repelente ou para matar larvas e afastar o mosquito”.

Ademir Martins, biólogo do Laboratório de Biologia, Controle e Vigilância de Insetos Vetores do Instituto Oswaldo Cruz, da Fundação Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), esclareceu que os mosquitos podem ser atraídos pelo vinagre através do olfato e, ao se aproximarem, morrerem por intoxicação ou afogados. No entanto, a medida não é adequada para o combate à dengue. “Em muitas casas há crianças e animais domésticos que não devem beber o líquido. Além disso, todo recipiente que acumule água pode se tornar um criadouro de Aedes”, frisou o pesquisador.

O site da Associação Nacional das Indústrias de Vinagre (Anav) é citado nas publicações sobre a utilização do produto para o combate à dengue, nesse caso, no entanto, ele seria utilizado para combater as larvas, e não o próprio mosquito. Em 2008, a Anav divulgou um artigo recomendando o vinagre como um “poderoso auxiliar no tratamento de saúde” e “mais nova e barata arma para combater a larva que origina o mosquito Aedes aegypti”. Porém, ao ser procurada pelo Comprova em 2024, informou que “não há atualização da orientação, pois foi publicada há alguns anos”.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No X, a publicação acumulou mais de 2,9 mil visualizações e 75 curtidas até o dia 16 de fevereiro. O vídeo foi replicado por diferentes contas no TikTok superando mais de 800 visualizações antes da publicação desta checagem.

Como verificamos: A reportagem fez contato com a Prefeitura de São Miguel do Iguaçu para verificar a veracidade da relação do homem que aparece no vídeo com o Comitê Intersetorial para Controle da Dengue e as recomendações oficiais da pasta para a população do município. Ainda foram realizadas buscas pelas orientações do Ministério da Saúde de combate e prevenção, dados da dengue e informações sobre a vacina contra a doença, bem como entrevistas com especialistas da área de saúde sobre a eficácia da utilização de vinagre contra o Aedes aegypti. A checagem ainda procurou por vídeos e matérias com os termos vinagre, mosquito e dengue, descobrindo que a publicação já circulava nas redes sociais desde 2020 e já havia sido desmentida por outros veículos.

Combate à dengue

Segundo o Ministério da Saúde, a dengue é uma doença febril aguda, sistêmica, dinâmica, debilitante e autolimitada, em que a maioria dos doentes se recupera, porém, parte deles pode progredir para formas graves, inclusive ir a óbito. O vírus da dengue (DENV) pode ser transmitido ao homem principalmente por via vetorial, ou seja, pela picada de fêmeas de Aedes aegypti infectadas. Já os casos de transmissão por via vertical (de mãe para filho durante a gestação) e por transfusão de sangue são raros. Dados do painel de monitoramento de arboviroses do Ministério da Saúde, verificados pelo Comprova em 16 de fevereiro, apontam que o Brasil registrou 532.921 casos prováveis de dengue, com 90 mortes pela doença confirmadas e outras 348 em investigação. O coeficiente de incidência da dengue no país, até a data, era de 262,4 casos para cada grupo de 100 mil habitantes.

Em dezembro de 2023, a vacina contra a dengue foi incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS) e entrou no Calendário Nacional de Vacinação pela primeira vez em fevereiro deste ano. Por conta da capacidade de produção laboratorial, a primeira campanha atende 521 municípios, distribuídos em 37 regiões endêmicas, e contempla apenas crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, faixa etária que apresenta maior risco de agravamento. Além desse grupo, um estudo do Ministério da Saúde, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMSRio), iniciado em 16 de fevereiro, vai imunizar 20 mil voluntários, entre 18 e 40 anos, residentes do bairro de Guaratiba, na Zona Oeste da cidade, para avaliar a eficácia da vacina na população adulta. O objetivo é comparar a incidência de infecção sintomática em um grupo vacinado com a incidência entre não vacinados, tornando possível medir a efetividade do imunizante na prevenção de casos sintomáticos de por qualquer sorotipo.

O Ministério da Saúde e especialistas da área ouvidos pelo Comprova destacam que, mesmo com a vacina, o controle do vetor Aedes aegypti é o principal método para a prevenção e combate à dengue e outras arboviroses urbanas. As ações preventivas devem ser adotadas em períodos fora da sazonalidade da doença, porque são o momento ideal para manutenção de medidas para prevenir epidemias futuras. A pasta recomenda o uso de telas nas janelas e repelentes em áreas de reconhecida transmissão; remoção de recipientes que possam se transformar em criadouros de mosquitos; vedação de reservatórios de caixas d’água; além de desobstrução de calhas, lajes e ralos.

“As ações para dengue têm que envolver educação, eliminar criadouros de mosquitos, aplicar inseticidas e larvicidas, devidamente registrados, em áreas de risco, além das medidas de proteção individual, como repelentes e, para dentro de casa, as telas”, afirmou Chrystina Barros. “Prestem atenção em caixas d’água abertas, calhas, pneus, acúmulo de lixo na via pública, o poder público também é responsável. Em piscinas, devem ser limpas e cloradas adequadamente. Usem repelentes à base de DEET ou Icaridina”, destacou Tânia Vergara.

“Com apenas dez minutinhos por semana é possível andarmos pela casa e ao redor para verificar se há objetos que estão acumulando água e virando depósito de ovos do mosquito. Agindo uma vez por semana, a população interfere no desenvolvimento do vetor, já que seu ciclo de vida, do ovo ao mosquito adulto, leva de 7 a 10 dias. Com uma ação semanal, é possível impedir que ovos, larvas e pupas do mosquito cheguem à fase adulta, freando a transmissão dessas doenças”, reforçou Ademir Martins.

O que diz o responsável pela publicação: Procurados, os responsáveis pelos perfis que divulgaram o vídeo e o ex-presidente do Comitê Intersetorial para Controle da Dengue da Prefeitura de São Miguel do Iguaçu, Edílio Diesel, não responderam à tentativa de contato do Comprova.

O que podemos aprender com esta verificação: Em meio a crises de saúde, é comum que a desinformação sobre métodos de prevenção ou tratamento se torne viral nas redes sociais. É importante lembrar que movimento semelhante também ganhou destaque em 2020, no início da pandemia de covid-19, com indicações de produtos como a água tônica para combater a doença, o que não tem qualquer comprovação científica. Neste caso, o surto de dengue no Brasil e a urgência do enfrentamento da doença se tornaram o alvo do conteúdo falso que faz recomendações sem evidências e comprovações científicas. Duvide de indicações milagrosas de medicamentos ou produtos que prometem uma resolução rápida de problemas de saúde ou doenças. Antes de acreditar, procure pelas recomendações das autoridades de saúde e especialistas e dados publicados na imprensa profissional para ter informações confiáveis sobre o assunto.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: As informações verificadas já haviam sido desmentidas anteriormente pelo UOL Confere, bem como a ação de outros métodos que não os recomendados pelas autoridades de saúde no combate ao mosquito e cura da doença, pelo Boatos.org. Em 2023, o Comprova também já tinha esclarecido sobre a incorporação da vacina contra a dengue ao Programa Nacional de Imunizações (PNI), Em 2024, o Comprova mostrou como funciona o mosquito geneticamente modificado utilizado no combate à dengue.

Comprova Explica

Investigado por: 2024-02-15

Entenda como age o mosquito da dengue geneticamente modificado

  • Comprova Explica
Comprova Explica
Posts com desinformação envolvendo mosquitos Aedes aegypti geneticamente modificados para o controle de doenças como dengue estão viralizando em um momento em que o país vive uma alta no número de casos. Uma dessas postagens cita reportagem de 2019 sobre um estudo que questionava a eficácia da tecnologia e, mais do que isso, afirmava que poderiam agravar o quadro das doenças. A reportagem é verdadeira, mas a revista Nature, que publicou o estudo originalmente, divulgou meses depois um texto com críticas ao artigo dizendo não haver dados que apoiem a tese de que o mosquito modificado seria mais resistente do que a espécie anterior.

Conteúdo analisado: Posts envolvendo o Aedes do Bem, caixa com ovos de mosquitos Aedes aegypti geneticamente modificados para o controle de doenças como dengue e febre amarela. Um dos conteúdos usa reportagem exibida pela Band em 2019 sobre um estudo que sugere que a alteração genética pode ter criado um supermosquito mais resistente.

Comprova Explica: Dados do Ministério da Saúde divulgados na quarta-feira, 14 de fevereiro, dão conta de mais de 524 mil casos prováveis de dengue em todo o país em 2024, com 84 mortes confirmadas desde o início do ano. Em paralelo, crescem nas redes sociais publicações de boatos envolvendo a dengue que confundem e podem causar danos à população.

Um dos boatos detectados pelo Comprova trata do Aedes do Bem, produto de uma empresa britânica com filial no Brasil constituído por ovos de mosquitos Aedes aegypti geneticamente modificados com o objetivo de controlar a dengue e outras infecções, como chikungunya e febre amarela. Posts usando uma reportagem da Band de 2019 sobre uma possível piora do quadro de transmissão de doenças que o Aedes do Bem poderia causar estão sendo compartilhados de forma descontextualizada. O estudo citado na reportagem foi questionado pela comunidade científica e rebatido por editores da revista Nature, onde havia sido publicado originalmente.

Frente ao perigo da desinformação relacionada à saúde, a seção Comprova Explica traz detalhes sobre o que é o mosquito Aedes aegypti geneticamente modificado para o controle de doenças.

Como verificamos: O primeiro passo foi pesquisar a situação da dengue no Brasil em sites como o do Ministério da Saúde e o que é o Aedes do Bem na página da empresa e em reportagens sobre o assunto.

Também foi consultada a página da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), agência reguladora de biossegurança do Brasil, da revista Nature e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

Aedes do Bem

Este é o nome comercial usado pela empresa britânica Oxitec para seu carro-chefe: uma caixa com ovos do mosquito Aedes aegypti geneticamente modificados para controle de doenças. Como diz o site da empresa, que tem filial em Campinas, no interior paulista, os mosquitos que vêm na caixa são machos e, do cruzamento com as fêmeas – que são as transmissoras de doenças como dengue, zika, chikungunya e febre amarela, entre outras –, apenas os filhotes machos sobrevivem, reduzindo a população transmissora dos vírus.

O produto é apresentado em duas versões, uma para uso em residências e outra para utilização profissional. A primeira pode ser comprada pela internet por R$ 199 (valor em 14 de fevereiro).

Fundada em 2002 na Universidade de Oxford, no Reino Unido, a Oxitec está no Brasil há mais de dez anos. Os mosquitos Aedes do Bem já foram testados em cidades brasileiras (leia mais abaixo) e possuem um gene marcador fluorescente, que brilha ao ser exposto a uma luz específica sob o microscópio, permitindo que sejam rastreados e diferenciados dos mosquitos selvagens, como explica o site da empresa.

Segundo parecer técnico da CTNBio publicado em 2020, o produto atende à legislação que visa “garantir a biossegurança do meio ambiente, agricultura, saúde humana e animal”.

Em quais evidências científicas ele se baseia?

Um projeto piloto de quatro anos foi realizado em Piracicaba, no interior de São Paulo, com o objetivo de apurar a eficácia do programa em áreas com altos índices de transmissão de dengue, entre 2015 e 2018. Os testes tiveram início em um bairro com 5 mil moradores e, ao longo do tempo, foram ampliados para 11 regiões do município, englobando 60 mil residentes. Após quatro anos de liberação do “mosquito do bem”, os estudos identificaram uma redução média de 98% na população do “mosquito selvagem” nas áreas controladas pelos pesquisadores.

O projeto foi conduzido em três fases: na primeira, foram coletados dados do histórico do mosquito na região monitorada, incluindo sazonalidade, incidência de dengue e demografia, e também montadas as armadilhas para os ovos do mosquito; na segunda, teve início a liberação do “mosquito do bem”; na terceira, os pesquisadores avaliaram se a supressão do mosquito selvagem já era suficiente para reduzir os vetores modificados.

No piloto, a prefeitura de Piracicaba selecionou o bairro CECAP/Eldorado para receber o produto e tentar controlar a epidemia de dengue naquele momento, com 133 casos entre cinco mil pessoas. O bairro controle, Alvorada, que serviu de referência para comparar a eficácia do programa e não recebeu os mosquitos modificados, ficava a dois quilômetros de distância. As áreas possuíam características semelhantes de tipo de edificação, saneamento básico e densidade populacional.

A liberação dos mosquitos modificados ocorria três vezes por semana. No primeiro ano, foram soltos 45 milhões de mosquitos; no segundo, 30 milhões; no terceiro, 13 milhões. No primeiro pico da estação chuvosa, período em que o transmissor se reproduz com mais facilidade, a quantidade de larvas nas armadilhas foi sete vezes menor no bairro CECAP/Eldorado do que a observada no bairro controle, o Alvorada. A redução da população do mosquito foi de 79%. Com o resultado positivo, os pesquisadores diminuíram em 33% a liberação de novos vetores.

Na segunda estação chuvosa, entre 2016 e 2017, a circulação do mosquito selvagem permaneceu em queda, de 81%. Na terceira estação, a supressão foi de 76%. Durante esse período, os bairros não receberam inseticidas de origem química.

Em outro estudo de caso, foram realizados testes na cidade de Indaiatuba, também em São Paulo, em 2018, com uma segunda geração do produto. O projeto alcançou 12 bairros, uma área com 45 mil habitantes. Após cinco anos de monitoramento, a queda média da população do Aedes aegypti nas áreas tratadas foi de 96%.

Entre 2011 e 2015, a empresa também fez testes em duas cidades do interior da Bahia: Jacobina e Juazeiro. As pesquisas foram realizadas por cientistas da Universidade de São Paulo em conjunto com a Biofábrica Moscamed Brasil, primeira fábrica de mosca do país. A fábrica foi criada em 2006 com o objetivo de realizar o controle biológico da mosca-do-mediterrâneo, uma praga da fruticultura brasileira, por meio de insetos estéreis. Em ambos os municípios, o projeto-piloto identificou uma queda de mais de 90% da população de Aedes aegypti após a liberação dos mosquitos modificados.

Um parecer técnico emitido pela CTNBio em 2020 atestou que o programa “não é potencialmente causador de significativa degradação do meio ambiente ou saúde humana”. No mesmo ano, o programa foi testado na Flórida, nos Estados Unidos, e também não representou riscos de biossegurança, garantindo aprovação da Agência de Proteção Ambiental do país. Os resultados do piloto em território americano ainda não foram divulgados, e o estudo segue em andamento.

Estudo publicado pela Nature em 2019 e revisado em 2020

Um dos posts que viralizou sobre o Aedes do Bem usa uma reportagem da Band de 2019 que citava um estudo publicado na revista Nature segundo o qual a alteração genética poderia gerar um supermosquito, piorando o quadro de doenças que ele deveria combater. Só que, em 2020, editores da publicação fizeram alguns apontamentos revisando o que havia sido publicado inicialmente.

O estudo, publicado em setembro de 2019, foi assinado por dez cientistas do Brasil e dos Estados Unidos, e analisou dados do Aedes do Bem em um piloto realizado entre junho de 2013 e setembro de 2015 em Jacobina, na Bahia. Os pesquisadores alegam ter concluído que a liberação de mosquitos geneticamente modificados criou um “supermosquito”, mais selvagem do que o Aedes aegypti anterior e possivelmente resistente a inseticidas.

De acordo com a pesquisa, os mosquitos manipulados em laboratório transferiram os genes para a população local do inseto, o que teria contribuído para a suposta adaptação da espécie. Os cientistas alegam na conclusão do estudo que não é possível apontar os efeitos dessa transferência no controle de transmissão de doenças, e afirmam não terem encontrado “diferenças significativas” nas taxas de infecção por dengue e zika em laboratório, o que, segundo os autores, pode ser alterado em condições de campo.

O programa criado pela Oxitec parte do princípio de que os mosquitos modificados não chegarão à idade adulta por terem nascido mais frágeis. O estudo aqui verificado diz que, se essa letalidade for completa, a liberação da espécie com o novo genoma deverá resultar apenas na redução da população, sem alterar a genética do inseto natural. Os cientistas reconhecem, no entanto, que entre 3% e 4% dos descendentes do mosquito modificado com o mosquito selvagem podem sobreviver até a idade adulta, embora sejam fracos e possivelmente inférteis.

O estudo também afirma que a cepa liberada pela empresa Oxitec em território baiano foi derivada do cruzamento de duas outras cepas: uma originária de Cuba e outra do México. Essa combinação “tri-híbrida” teria gerado características genéticas distintas, resultando em uma população mais robusta do que a espécie anterior do mosquito devido justamente ao “vigor híbrido”, de acordo com os pesquisadores.

Em março de 2020, a revista Nature publicou um “editorial de preocupação” com o artigo. A nota cita falta de dados e omissão de resultados que comprovem as conclusões da pesquisa e faz ponderações quanto à linguagem utilizada pelos cientistas.

“O título não deixa claro que os autores examinaram apenas genomas de espécimes que não possuíam os transgenes e foram amostrados durante o período de liberação”, diz trecho do editorial. “Nenhuma amostragem para este estudo foi realizada mais do que algumas semanas após o programa de liberação e, como tal, não há evidências no artigo que estabeleçam se as sequências introgredidas não transgênicas da cepa liberada permaneceram na população ao longo do tempo. Além disso, trabalhos anteriores de alguns dos autores (referência 6 no artigo) mostraram que, com o tempo, o transgene se perde da população, mas o artigo não divulga esta informação”, afirma a nota.

A revista também faz um alerta sobre as alegações de que a espécie híbrida seria mais resistente do que a população anterior. “Não existem dados no artigo que apoiem este ponto; além disso, os dados incluídos no artigo indicam que um número de indivíduos híbridos diminuiu rapidamente após a libertação”, diz o comunicado. Os editores ponderam, ainda, que os pesquisadores sugerem a ausência de monitoramento da liberação do mosquito geneticamente modificado no município de Jacobina. O programa, no entanto, já estava sendo acompanhado pela CTNBio.

Os cientistas que assinam o artigo foram contatados sobre as preocupações apontadas pela revista, que também procurou outros revisores especialistas no assunto. A comunidade científica consultada pelos editores confirmou que as ponderações são válidas. Dos dez pesquisadores envolvidos no estudo, seis concordaram com a revisão e outros quatro discordaram das notas. A publicação ofereceu a possibilidade de correção dos pontos abordados, mas, segundo a Nature, os autores não responderam se chegaram a um consenso sobre a retificação.

Por que explicamos: A seção Comprova Explica esclarece temas importantes para que a população compreenda assuntos em discussão nas redes sociais que podem gerar desinformação. Quando posts geram boatos infundados sobre temas relacionados à saúde, como neste caso, a desinformação pode colocar vidas em risco. No momento em que o Brasil vive surtos da dengue, com ao menos 84 mortos e mais de 226 mil casos confirmados da doença até 14 de fevereiro, segundo o Ministério da Saúde, a sociedade tem o direito de receber a informação correta para se proteger.

Outras checagens sobre o tema: Outros conteúdos de desinformação tentando assustar a população com assuntos ligados à saúde já foram verificados pelo Comprova. Para levar a informação correta ao leitor, a seção Comprova Explica já trouxe detalhes de como funciona a lista de espera por transplante de órgão no Brasil e mostrou por que recomendação da vacina da Astrazeneca contra a covid-19 foi alterada.

Política

Investigado por: 2024-02-14

Post engana ao induzir ligação entre furto em loja e fala de Flávio Dino

  • Enganoso
Enganoso
Post engana ao forçar uma ligação direta entre o discurso do ex-ministro de Justiça e Segurança Pública e futuro ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, no dia 31 de janeiro de 2024, e um furto registrado cinco dias antes na cidade de Suzano (SP).

Conteúdo investigado: Um vídeo que circula nas redes sociais mostra o momento do furto de chocolates realizado por quatro pessoas em uma unidade das Lojas Americanas em Suzano, região metropolitana de São Paulo, sobreposto a uma reportagem da CNN que mostra o discurso de Flávio Dino defendendo que não se aplique a pena de prisão para crimes menos graves. A imagem também é acompanhada do texto “já pode roubar à vontade”.

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: É enganoso que o caso de furto de chocolates ocorrido em uma unidade das Lojas Americanas tenha ligação direta com a fala de Flávio Dino, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, que será ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) a partir de 22 de fevereiro. O registro do grupo cometendo o delito foi noticiado no dia 26 de janeiro de 2024 pelo telejornal Bora Brasil, da Band. De acordo com as Lojas Americanas, o crime ocorreu no município de Suzano, na região metropolitana de São Paulo, no mesmo dia da exibição da reportagem. Já o discurso de Dino foi realizado posteriormente, em 31 de janeiro de 2024.

Em sua fala, o então ministro defende que “punição não é igual a prisão”, e que crimes considerados menos graves, como furto e delito de trânsito, não levem à prisão do indivíduo, mas sim a outras formas de punição. Além disso, parte da fala do ex-ministro da Justiça foi omitida e descontextualizada para indicar que Dino incentiva a prática de furtos, como o registrado nas Americanas. “Estuprador tem que ser preso. Homicida tem que ser preso. Autor de crime hediondo tem que ser preso. Mas uma pessoa que eventualmente praticou um delito de trânsito? Um furto? Mesmo situações envolvendo crimes relativos a patrimônio, de um modo geral. Então, imagino que seja por aí”, afirmou Dino.

Em nota enviada ao Comprova, a empresa de varejo informou que registrou boletim de ocorrência no mesmo dia da ação criminosa. A Americanas S.A. acrescenta, ainda, que “a companhia vem investindo em segurança com tecnologias de monitoramento e estuda medidas adicionais de prevenção na unidade”.

Ao produzir a montagem dos dois registros sobrepostos, com as tarjas “Já pode roubar à vontade” e “Eita”, o vídeo sugere uma situação de causa e consequência entre o discurso de Flávio Dino e a ação criminosa na loja de departamentos, como se o ex-ministro estivesse “liberando”, descriminalizando ou incentivando a prática de furto.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Até a manhã do dia 10 de fevereiro de 2024, a publicação no Instagram contava com 2,2 milhões de reproduções; 41,1 mil curtidas; 6,2 mil comentários; e 53,1 mil compartilhamentos.

Como verificamos: Buscamos pelos termos “chocolate americanas roubo” e encontramos o trecho do telejornal Bora Brasil publicado pela Band em sua conta no X. A reportagem mostrava o mesmo vídeo utilizado na montagem. A Americanas foi procurada e confirmou que o caso havia acontecido na cidade de Suzano, no dia 26 de janeiro de 2024, portanto cinco dias antes da fala de Flávio Dino. Também confirmamos a veiculação do discurso do senador Flávio Dino no dia 31 de janeiro, na CNN, após pesquisa no canal do YouTube da emissora.

O que diz o responsável pela publicação: O autor foi questionado sobre a publicação, mas não respondeu até o fechamento desta verificação. A publicação não foi apagada.

O que podemos aprender com esta verificação: É importante checar a data dos vídeos e em qual contexto foram publicados, como forma de afastar uma falsa relação entre os conteúdos. A ausência de marcadores temporais e tarjas de texto chamativas, sobrepostas em tom de urgência e alerta, podem ser um indicativo de que as postagens foram retiradas de seu contexto original ou manipuladas para desfavorecer alguém em posição contrária ao autor do post.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Checagens recentes de UOL Confere, Estadão Verifica e AFP Checamos, iniciativas de checagem que fazem parte do Comprova, também mostraram que o ex-ministro Flávio Dino não defendeu a prática de furto no Brasil. Em outros momentos, Flávio Dino já foi alvo de desinformação, como falsas postagens nas quais teria se eximido da responsabilidade pelo combate ao armamento de traficantes no país e áudios falsos afirmando que entre os “objetivos” do governo Lula estariam “arruinar a economia”.

Contextualizando

Investigado por: 2024-02-14

O que os protestos de agricultores na Europa têm a ver com políticas ambientais

  • Contextualizando
Contextualizando
Publicações nas redes sociais alegam que supermercados da Europa estão desabastecidos por conta dos recentes protestos de agricultores, que estariam se manifestando contra políticas ambientais. As postagens omitem que a escassez de determinados produtos em supermercados ocorre de forma pontual, e não generalizada. Os conteúdos virais também sugerem que as regulamentações ambientais seriam o único descontentamento dos manifestantes. Na verdade, os agricultores têm uma série de outras reivindicações, como a redução de importações estrangeiras mais baratas e a redução da burocracia.

Conteúdo investigado: Vídeo exibe gôndolas vazias de um supermercado. A postagem alega que os mercados da Bélgica e França estão desabastecidos por conta dos protestos realizados por agricultores europeus, que estariam se manifestando contra os “lunáticos climáticos e suas políticas”.

Onde foi publicado: X (antigo Twitter), Facebook e TikTok.

Contextualizando: Desde janeiro deste ano, agricultores têm protestado por toda a Europa. Ao contrário do que sugerem as postagens virais, as queixas dos manifestantes vão além do descontentamento com regulamentações ambientais. Os agricultores também protestam contra a concorrência externa, inflação, rendimentos baixos, burocracia da União Europeia (UE), entre outros.

Ações adotadas pelos agricultores como forma de protesto incluem o bloqueio de estradas e de centros de distribuição. A medida acarretou o atraso de entregas e desabastecimentos pontuais de determinados produtos em supermercados da Europa.

Protestos na Europa

Os movimentos orquestrados por diversas entidades sindicais de agricultores ganharam destaque no fim de janeiro na França, com o bloqueio de estradas e de uma fábrica da Lactalis, maior grupo de laticínios do mundo. Os produtores franceses reclamam dos aumento dos custos da energia e das regras ambientais europeias, que impactam os gastos com a produção.

Esses protestos ganharam fôlego para se espalhar pelo continente durante um protesto em Bruxelas, na Bélgica, embora tenham sido registrados uma série de manifestações anteriores. Na ocasião, em 1º de fevereiro, agricultores jogaram ovos e pedras no Parlamento Europeu, em Bruxelas, além de soltarem fogos de artifício próximo ao prédio, em um ato contra os crescentes custos de produção que afetam a agricultura local e favorecem a importação de produtos.

Uma das demandas mais recorrentes entre as organizações de trabalhadores é a alegação de que a concorrência com produtos vindos de outros países seria desleal com os produtores locais. O internacionalista e fundador do instituto Global Attitude, Rodrigo Reis, explica que o movimento da classe agricultora se concentra na competição com o mercado externo em meio a um cenário de aumento de custos. “Existe um receio da classe agricultora em proteger o mercado interno de produtos importados que serão mais baratos do que os produzidos internamente, e aí existe também um argumento usado por eles na questão ambiental de que esses produtos importados não respeitam as mesmas normas ambientais respeitadas por eles”, destaca.

Além dos dois países, foram registrados protestos na Espanha, em Portugal, Itália, Romênia, Polônia, Grécia, Alemanha e Países Baixos. As reivindicações são semelhantes em quase todos os países, com descontentamento em relação à inflação, concorrência externa, burocracia da União Europeia e regulamentações. Apesar disso, existem demandas específicas para a categoria agrícola de cada Estado.

Desabastecimento nos supermercados

Por consequência de bloqueios realizados por manifestantes, algumas unidades de supermercados começaram a sofrer com escassez de produtos frescos, como frutas e verduras. Na Bélgica, de acordo com o The Brussels Times, as redes que passaram por desabastecimento em determinadas regiões foram Aldi, Colruyt, Lidl e Delhaize.

Em 6 de fevereiro, a RTBF informou que os centros de distribuição da Colruyt já estavam funcionando desde o dia 1º do mesmo mês. Ainda de acordo com o veículo, unidades da rede Delhaize também estavam de volta ao normal. A Delhaize ainda acrescentou que a perda de itens durante as manifestações foi limitada e estima que 100 mil quilos de produtos foram doados a bancos de alimentos. De acordo com a rede, alguns supermercados não ficaram desabastecidos.

De acordo com uma reportagem do Le Parisien, publicada em 29 de janeiro, os bloqueios tiveram pouco impacto no abastecimento dos supermercados da França. Ao jornal, o delegado geral da Federação do Comércio e Distribuição – que reúne marcas como Carrefour, Système U, Auchan e Aldi – afirmou que atrasos poderiam acontecer “aqui e ali”, mas de forma marginal.

Segundo o Europe 1, os agricultores pretendiam bloquear o mercado internacional de Rungis, atacadista de produtos frescos, o que levantou a preocupação de escassez de alguns alimentos. No entanto, a reportagem apontou que a distribuição em massa não deveria ser afetada, já que as marcas costumam ter armazenamento próprio. Conforme o Le Parisien, manifestantes tentaram invadir o mercado de Rungis e ao menos 91 pessoas foram presas na ocasião.

O bloqueio de estradas e centros de distribuição afetou outros países, como Luxemburgo. De acordo com o RTL Today, houve escassez de produtos frescos em algumas unidades do Lidl e Delhaize no país que faz fronteira com a Bélgica, França e Alemanha.

Como o conteúdo pode ser interpretado fora do contexto original: A postagem utiliza um registro isolado de um supermercado para alegar que há desabastecimento generalizado na Europa. Além disso, associa o protesto de agricultores europeus apenas a normas ambientais. Dessa forma, a publicação gera um cenário alarmista e omite que a insatisfação dos manifestantes em relação à política verde é apenas uma pauta entre diversas outras reivindicações.

O que diz o responsável pela publicação: Não foi possível entrar em contato com a responsável pela postagem analisada, já que o perfil não aceita mensagem de contas que não segue.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 9 de fevereiro, o conteúdo viral no X acumulava mais de 77,4 mil visualizações, 2 mil compartilhamentos e 5 mil curtidas. No Facebook, o vídeo foi publicado ao menos 40 vezes em contas diferentes com a mesma legenda. No TikTok, uma das publicações descontextualizando as imagens teve mais de 64 mil visualizações e 3,5 mil curtidas.

Como verificamos: Primeiramente, realizamos uma busca reversa do vídeo para verificar o contexto da gravação original. Um dos registros que integra a peça verificada foi encontrado em uma conta do TikTok, indicando que a gravação foi feita em um supermercado na Bélgica. Para comprovar que trata-se de um registro recente, o perfil publicou os metadados do vídeo, que apontam que a gravação foi realizada em 31 de janeiro deste ano.

Depois, também transcrevemos e traduzimos o áudio do vídeo. Com a tradução, foi possível identificar que o supermercado gravado pertencia à rede Lidl. Na gravação, a pessoa que filma diz: “O Lidl está começando a ficar sem estoque, não há mais produtos graças à greve. Continuem assim, pessoal, logo alcançarão sua meta. Estamos indo!”.

Em sequência, procuramos notícias em jornais europeus que informassem sobre desabastecimento em supermercados, sobretudo na rede Lidl. Também buscamos informações sobre os protestos e as reivindicações dos agricultores. Por fim, entramos em contato com um especialista para entender a dimensão da pauta climática nas manifestações.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente, o Comprova explicou por que a ação humana é responsável pela crise climática no planeta. A checagem mostrou que a participação do ser humano nas mudanças climáticas é um consenso científico.

Política

Investigado por: 2024-02-09

Vídeo em que Anitta faz críticas ao governo federal é de 2022

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o post que usa um vídeo antigo para sugerir que a cantora Anitta está arrependida de ter prestado apoio ao presidente Lula (PT). As imagens que circulam não são de 2024, como o vídeo tenta induzir. Elas foram retiradas de uma transmissão ao vivo que a artista participou com o cantor Filipe Ret, em 12 de julho de 2022. Na ocasião, a cantora fez críticas à gestão e à postura de Jair Bolsonaro (PL) e reafirmou o apoio a Lula na campanha eleitoral daquele ano.

Conteúdo investigado: Post que compartilha um vídeo no qual Anitta aparece em uma live fazendo críticas ao governo e afirma que a população brasileira tem tido dificuldade de se alimentar. A cantora também diz que a “pessoa no comando” incita brigas entre os cidadãos. As imagens foram publicadas com a legenda “Será que a ficha está caindo?”, em 5 de fevereiro de 2024.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Anitta participou de uma live promovida pelo cantor Filipe Ret, em 12 de julho de 2022, sobre a parceria musical deles, e a dupla comentou outros assuntos, entre eles o governo então vigente e as eleições presidenciais de 2022. No trecho da transmissão ao vivo publicado pelo canal do Poder360 e na íntegra publicada pelo canal do YouTube Vou Contar Tudo, a artista afirma que decidiu declarar seu voto ao então candidato Lula e opina que a população brasileira estaria com dificuldades para se alimentar durante a gestão de Jair Bolsonaro e que ele incitaria a briga entre os eleitores.

“Minha família mora toda no Brasil, minha galera. Minha família sabe o preço de todas as coisas que as pessoas não estão conseguindo comer no Brasil. Isso não é normal, galera. E o pior de tudo é ter uma pessoa no comando que incentiva a sociedade a ficar brigando uns com os outros. Isso não existe. É por isso que eu, que nunca cogitei votar no Lula, agora voto”, declarou.

Na postagem investigada aqui, feita em 5 de fevereiro de 2024, a fala de Anitta foi retirada de contexto e o trecho seguinte, em que a cantora afirma seu voto em Lula, foi cortado. Além disso, o vídeo é acompanhado da legenda “Será que a ficha está caindo?”, induzindo à interpretação de que a declaração é recente e se refere ao atual governo Lula.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Até 8 de fevereiro, a publicação contava com 72,9 mil visualizações, 204 republicações e 1.316 curtidas.

Como verificamos: Uma pesquisa no Google foi realizada com os termos “pessoas não estão conseguindo comer no Brasil”, que resultou no vídeo postado pelo Poder360 no YouTube. Depois de ter acesso ao vídeo com o trecho que a cantora declara seu voto em Lula, também foram pesquisados os termos “Anitta declara voto em Lula”, que retornou notícias em diversos veículos de comunicação e postagens no X. Já as buscas por “Anitta critica Bolsonaro 2022” levaram à live em que a cantora fez as declarações, na íntegra, publicada pelo canal Vou Contar Tudo, em 12 de julho de 2022, dia em que o vídeo foi transmitido ao vivo.

Anitta não criticou governo Lula em live

O vídeo que passou a circular no X induz o internauta a acreditar que as declarações de Anitta foram feitas em 2024 e que ela se arrependeu de ter apoiado publicamente o presidente Lula nas eleições de 2022. Entretanto, o trecho em que ela faz as críticas foi tirado do contexto e pertence a uma live que a artista participou com o cantor Filipe Ret, em 12 de julho de 2022, que teve como tema principal uma parceria musical entre os dois. Na ocasião, eles abordaram outros assuntos, como as eleições presidenciais e, durante os comentários, a cantora criticou a gestão do então presidente Jair Bolsonaro, apontando a dificuldade da população em se alimentar e a postura do político em incentivar brigas entre eleitores.

Vídeo omitiu apoio de Anitta a Lula

Além de não mostrar a data do vídeo, o post omite o trecho em que a cantora declara apoio ao então candidato Lula. “É por isso que eu, que nunca cogitei votar no Lula, agora voto. Se eu quiser, faço outra tatuagem com o nome dele”, diz a cantora, logo após as falas que aparecem no vídeo verificado.

O que diz o responsável pela publicação: O responsável pelo perfil no X excluiu a publicação, após o início da verificação. O administrador não respondeu à tentativa de contato do Comprova.

O que podemos aprender com esta verificação: É importante verificar quando um vídeo de uma personalidade foi publicado e em qual contexto, assim como buscar o registro original nas páginas oficiais da personalidade em questão.

A ausência de marcadores temporais ou de nomes citados diretamente podem ser um alerta de que a postagem foi retirada de seu contexto original e manipulada a favor de quem está repostando o vídeo nas redes sociais.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Publicações relacionadas ao posicionamento político de artistas durante as eleições de 2022 já haviam sido investigadas. Outras verificações do Comprova descobriram ser falsos os vídeos que afirmavam que Anitta foi vaiada durante uma apresentação, após fazer críticas a Jair Bolsonaro, e que houve protesto contra Lula na apresentação de Marina Sena no festival Lollapalooza, no mesmo ano.

Política

Investigado por: 2024-02-09

Posts enganam ao divulgar vídeo antigo para sugerir que Lula é impopular

  • Enganoso
Enganoso
São enganosos os posts que utilizam um vídeo antigo para afirmar que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não tem apoio popular no atual mandato. A gravação em questão mostra o político desembarcando de um jatinho e sugere que ele foi ignorado por funcionários de um aeroporto ao acenar. A gravação, porém, não é atual. Ela foi feita em agosto de 2022, em uma área de desembarque privada, sem a presença de público, no aeroporto de Campina Grande (PB).

Conteúdo investigado: Vídeo mostra o presidente Lula caminhando em uma pista de aeroporto, em direção a um carro, acenando, após desembarcar de um jatinho. Ao lado dele, estão pelo menos outras três pessoas. Todas usam máscara de proteção, incluindo Lula. De costas para o autor do vídeo, estão três funcionários do terminal em pé, olhando para frente. A legenda traz a seguinte frase: “Lula acena para os funcionários do aeroporto que ignoram”.

Onde foi publicado: X, Telegram e YouTube.

Conclusão do Comprova: É antigo o vídeo que mostra o presidente Lula em uma pista de aeroporto, acenando, enquanto alguns funcionários do local o observam, sem reagir. A gravação foi feita no dia 2 de agosto de 2022 durante o desembarque do petista no aeroporto de Campina Grande (PB). Naquela época, o vídeo circulou já com a legenda sugerindo que Lula não teria apoio popular, por causa da postura dos funcionários do terminal, que não acenam de volta. Agora, o mesmo conteúdo voltou a ser distribuído nas redes sociais, desta vez sugerindo que o presidente não tem apoio popular atualmente.

A gravação foi replicada em outros momentos por diversos sites que afirmavam se tratar de uma visita de Lula a Teresina (PI), também em agosto de 2022. O uniforme dos funcionários do aeroporto, no entanto, traz o logomarca da concessionária Aena, que administra o terminal de Campina Grande, e não o de Teresina.

Ao Comprova, a concessionária Aena informou que a área de desembarque é restrita e que o pouso não foi divulgado no dia da viagem. Por essa razão, segundo a empresa, não havia público no local. A concessionária diz, ainda, que não há imagens que possam mostrar se outras pessoas acenaram ou não para Lula. A mesma informação foi confirmada pelo ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, que recebeu o presidente no aeroporto. Segundo ele, o acesso ao terminal foi restringido e os carros da comitiva entraram na pista para não atrasar a programação de Lula.

O Comprova não conseguiu verificar para quem Lula acena, nem afirmar que o atual presidente foi ignorado por funcionários de um aeroporto, como sugerem os vídeos investigados. Naquela viagem, o então candidato à presidência da República foi recebido pelo ex-governador da Paraíba e pelo à época candidato ao governo do estado, Veneziano Vital do Rêgo (MDB), atualmente senador, para atos de campanha na cidade ao longo do dia.

Os posts no X e no Telegram que deram origem a esta verificação foram excluídos pelo autor nas duas redes sociais depois do contato feito pelo Comprova.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O vídeo aqui investigado teve mais de 38 mil visualizações no X e 13,5 mil no Telegram até o dia 1 de fevereiro, quando foram apagados. Em um shorts do YouTube, as visualizações chegam a 2,4 mil.

Como verificamos: Fizemos uma primeira busca por outros vídeos que indicassem a qual aeroporto o post se referia. Encontramos informações antagônicas sobre o desembarque de Lula em duas possíveis cidades: Campina Grande e Teresina. Os dois municípios fizeram parte de uma mesma agenda de campanha, nos dias 2 e 3 de agosto de 2022.

Analisando os uniformes dos funcionários, identificamos que se tratava realmente de um aeroporto administrado pela empresa Aena, o que descartava a capital piauiense, onde o terminal é gerido pela CCR Aeroportos. Na sequência, entramos em contato com a concessionária responsável pelo terminal para checar a veracidade do vídeo.

Depois, fizemos buscas por vídeos que pudessem ter outro ângulo do desembarque de Lula na pista para confirmar a resposta ao aceno. Encontramos posts feitos Ricardo Coutinho e Veneziano Vital do Rêgo comentando a chegada de Lula na cidade, na data pesquisada.

Vídeo não foi gravado em Teresina

O vídeo circulou mais de uma vez por redes sociais e portais de notícias locais, mas com a informação falsa de que se tratava de uma viagem de Lula a Teresina. Naquela semana, o então candidato realizou uma caravana pelo Nordeste para participar de atos públicos. Lula esteve, de fato, na capital do Piauí, mas no dia 3 de agosto, portanto, um dia depois da gravação aqui investigada.

Além disso, o uniforme usado pelos funcionários do terminal, na cor verde neon, traz o logo da concessionária Aena, que administra o terminal João Suassuna, em Campina Grande. A CCR, empresa responsável pela gestão do aeroporto de Teresina, que utiliza as cores laranja e vermelha na marca, confirmou que as imagens não correspondiam a aeroportos administrados pelo grupo.

Na Paraíba, Lula se reuniu pela manhã com lideranças religiosas em um hotel da cidade. Depois, à tarde, participou de um ato público no Parque do Povo, ao lado das autoridades que o recepcionaram no aeroporto. A agenda do então candidato aconteceria na capital paraibana, mas foi alterada depois que Lula recebeu o diagnóstico de covid-19. Ela ocorreu uma semana depois, em Campina Grande e não em João Pessoa.

Lula venceu a eleição em Campina Grande

Ao contrário do que sugere o vídeo aqui checado, utilizado para questionar a popularidade de Lula, o presidente venceu a eleição em Campina Grande na disputa de 2022. O petista recebeu 49,2% dos votos, contra 42,4% de Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno das eleições.

Em 2018, o cenário foi diferente, já que a cidade deu vitória a Jair Bolsonaro. Naquele ano, o político teve apoio de 56,3% dos eleitores da cidade paraibana no segundo turno disputado contra Fernando Haddad (PT), que teve 43,7% dos votos.

Segundo a pesquisa Datafolha realizada em 5 de dezembro de 2023, Lula encerrou o último ano com 38% de aprovação dos brasileiros, enquanto 30% consideraram seu trabalho regular, e outros 30%, ruim ou péssimo. Enquanto Jair Bolsonaro teve 30% de aprovação, 32% de avaliação regular e 36% de ruim/péssimo no fim do primeiro ano do seu mandato.

O levantamento mais recente ouviu 2.004 eleitores em 135 cidades do Brasil e a margem de erro média é de dois pontos para mais ou para menos. O presidente foi mais bem avaliado entre nordestinos (48%, num grupo que representa 26% da amostra), entre os que têm 45 a 59 anos (46%), entre quem tem menos escolaridade (50% entre os 28% dos ouvidos), entre os que se autodeclaram como pretos (46%), entre os católicos (43%, ante 26% entre os evangélicos) e entre os que recebem Bolsa Família (46%, ante 35% entre os que não recebem).

O que diz o responsável pela publicação: O responsável pelo perfil no X e pelo grupo no Telegram excluiu a publicação em ambas as redes, após tentativa de contato do Comprova. O usuário não respondeu aos questionamentos da reportagem.

O que podemos aprender com esta verificação: É comum em peças de desinformação o uso de recortes de trechos de vídeos em contextos diferentes dos originais. A postagem investigada aqui usa um vídeo de somente 3 segundos, sem som, captado num ambiente fechado e sem identificação do local e da data em que foi gravado, e aplica sobre ele uma afirmação. Desconfie de conteúdos com essas características e evite compartilhar se não tiver segurança da veracidade da publicação.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O jatinho usado por Lula nas viagens de campanha pelo Nordeste também virou alvo de investigações do Comprova. Outras verificações também desmentiram vídeos que tiraram de contexto a participação do presidente Lula em eventos públicos.

Política

Investigado por: 2024-02-06

É falso que Adélio Bispo tenha incriminado o PT ou prestado novo depoimento sobre facada em Bolsonaro

  • Falso
Falso
É falso que Adélio Bispo informou em um novo depoimento que membros do PT tenham sido os mandantes da facada dada por ele em Jair Bolsonaro (PL). A Defensoria Pública da União (DPU), que presta assistência jurídica ao autor do crime, informou que o último depoimento prestado por Adélio ocorreu em 2019. Dois inquéritos da Polícia Federal que investigaram o caso concluíram que ele agiu sozinho.

Conteúdo investigado: Um vídeo antigo gravado pelo deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) em que ele afirma que Adélio Bispo confessou que o PT mandou matar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a circular nas redes sociais acompanhado de um texto alegando que os mandantes do crime foram a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, e José Dirceu. O conteúdo acrescenta que a ex-deputada federal Manuela D’Ávila (PSOL) auxiliou na logística do crime.

Onde foi publicado: WhatsApp e X.

Conclusão do Comprova: Adélio Bispo não prestou um novo depoimento recentemente e nem indicou membros do PT como mandantes do crime praticado por ele contra Jair Bolsonaro (PL), em 2018. São falsas as alegações feitas em posts que circulam no X e no WhatsApp e que resgatam um boato antigo e já desmentido diversas vezes por agências de checagem.

Conforme a Defensoria Pública da União (DPU), que presta assistência jurídica a Adélio desde 2019 e exerce a sua curadoria especial, o último depoimento prestado por ele ocorreu em 19 de agosto daquele ano. O órgão informou ao Comprova não ter sido notificado sobre qualquer novo depoimento.

Os dois inquéritos da Polícia Federal (PF) que investigaram a facada concluíram que Adélio agiu sozinho e por motivação política. Atualmente, ele está recolhido na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS), onde cumpre medida de segurança após ter sido considerado inimputável pela Justiça Federal, devido a laudo que comprovou que ele possui transtorno delirante persistente.

A PF informou ao Comprova que divulga todas as ações e operações no próprio site e qualquer informação que circule nas redes sociais que não tenha partido dos canais oficiais de comunicação é de total responsabilidade de quem a divulgou.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Apenas no X, o post teve 195,7 mil visualizações até 5 de fevereiro. Não é possível mensurar quantas vezes foi compartilhado no WhatsApp.

Como verificamos: Inicialmente, fizemos uma busca combinada no Google com as palavras-chave “Adélio Bispo”, “depoimento”, “PT” e Gleisi Hoffman” que retornou checagens antigas sobre o mesmo assunto feitas por outras agências (Estadão Verifica, Aos Fatos, Lupa). Assim, percebemos se tratar de um boato constantemente resgatado nas redes sociais. Também consultamos informações para entendermos o caso e procuramos a DPU, a PF, o deputado Gustavo Gayer e o autor do post mais recente no X.

Alegações em vídeo foram desmentidas em 2022

Em 16 de fevereiro de 2022, o Estadão Verifica informou que alguns dias antes, em 12 de fevereiro, uma menção a um suposto depoimento de Adélio Bispo foi feita pelo perfil @AnonNovidades, no X, sem informar a fonte para a alegação.

Nos dias posteriores, outras postagens viralizaram com a mesma afirmação em diferentes redes sociais e o blog Terra Brasil Notícias publicou o conteúdo falso com crédito para o perfil @AnonNovidades. No mesmo dia, o blog publicou outro texto no qual disse que a Polícia Federal negou que o depoimento tivesse ocorrido.

O vídeo gravado por Gustavo Gayer quando ele ainda não era deputado não está mais nas redes sociais dele, mas a versão completa ainda pode ser encontrada circulando em outras contas. O Comprova localizou no YouTube uma postagem deste feita em 12 de fevereiro de 2022. Nesta versão, é possível identificar que Gayer repercutia o primeiro texto publicado pelo blog Terra Brasil Notícias, com o título “Urgente: Segundo Anonymous, em novo depoimento Adélio Bispo abre jogo sobre facada em Bolsonaro e diz que PT o contratou em 2018”.

Não foi possível confirmar o motivo de Gayer ter deletado esse conteúdo em suas redes sociais, já que ele não respondeu à tentativa de contato feita pela reportagem. Em novembro de 2022, ele publicou um vídeo no X informando ter apagado mais de mil vídeos no próprio canal no YouTube porque vinha sendo notificado pela plataforma por conta de algumas postagens.

Desde 2022, o boato associando o PT e um falso depoimento de Adélio volta a circular frequentemente, normalmente junto de uma mensagem em tom de urgência que leva as pessoas a interpretarem se tratar de um fato recém ocorrido.

Uma referência a Gleisi Hoffmann, que é citada nas postagens atuais, havia sido feita por Gayer quando o vídeo dele foi registrado, já fora de contexto. À época, ele mostrava um vídeo da presidente do PT afirmando que temia pela vida de Lula, mas não informava que o conteúdo havia sido gravado quatro anos antes, em 30 de outubro de 2018, durante entrevista coletiva do partido, que está disponível na página da AFP, no YouTube.

Caso Adélio

A DPU informou que Adélio segue recolhido na Penitenciária Federal de Campo Grande, onde cumpre medida de segurança. Ele é reconhecido como autor da facada em Bolsonaro, mas considerado inimputável pela Justiça Federal devido a laudo de 2018 que comprovou que ele sofria de transtorno delirante persistente.

Conforme noticiou a Folha de S.Paulo no final de 2023, atualmente há um impasse sobre a situação dele. A DPU tenta transferi-lo para um hospital psiquiátrico, mas a Justiça é contra por considerar que ele mantém a periculosidade e corre risco de morte fora do sistema federal. De acordo com o jornal, Adélio tem recusado remédios e está sem tratamento apropriado.

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi esfaqueado em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 6 de setembro de 2018, durante ato público de campanha.

Em dois inquéritos, a Polícia Federal concluiu que Adélio agiu sozinho e por motivação política.

O que diz o responsável pela publicação: Não foi possível entrar em contato com o perfil do X responsável por resgatar o antigo boato porque ele é bloqueado para receber mensagens de contas que não segue. Também não foi possível identificar contas em outras redes sociais pertencentes ao mesmo indivíduo. Gustavo Gayer, que hoje é deputado federal pelo PL de Goiás, também foi procurado, por meio do gabinete institucional, mas não houve resposta.

O que podemos aprender com esta verificação: Esta verificação é um bom exemplo de como é fundamental observar a fonte dos conteúdos acessados nas redes sociais antes de compartilhá-los. Ao se deparar com postagens de denúncias, conteúdos impactantes ou que sugiram conspirações, verifique se há link para alguma notícia produzida por um veículo jornalístico da sua confiança ou para uma fonte que tenha autoridade para falar sobre o assunto. Se não houver, faça uma busca na internet para obter mais informações. Neste caso, o Comprova identificou rapidamente, por uma busca simples no Google, que o boato sobre Adélio Bispo e um suposto envolvimento do PT como mandante do crime é recorrente, ressurgindo periodicamente nas redes sociais.

É importante também tomar cuidado com postagens que pedem seu compartilhamento com a justificativa de que a imprensa não está cobrindo o assunto. Essa é uma tática comum utilizada por perfis e páginas interessados em promover desinformação. Eles a utilizam para obter engajamento e ativar os algoritmos das redes sociais para que deem ainda mais visibilidade aos conteúdos da postagem. 

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: As alegações aqui verificadas foram desmentidas anteriormente por Aos Fatos, Lupa e Estadão Verifica. O Projeto Comprova já checou diversas alegações falsas ou enganosas sobre a facada em Bolsonaro e publicou, inclusive, um Comprova Explica sobre o assunto.

Política

Investigado por: 2024-02-05

Membro do MST que aparece em vídeo não é o homem que depredou relógio de dom João VI no Palácio do Planalto

  • Falso
Falso
É falso que o homem que quebrou o relógio de Dom João VI, no Palácio do Planalto, em 8 de janeiro de 2023, seja integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), diferentemente do que afirma post verificado pelo Comprova. O vândalo foi identificado como Antônio Cláudio Alves Ferreira, já a pessoa que aparece no vídeo verificado como sendo militante do MST chama-se Danilo e mora no Paraná. Um perito apontou diferenças entre os rostos dos dois homens. Não há nenhum indício de participação de integrantes do MST nos atos golpistas de 8 de janeiro.

Conteúdo investigado: Post faz uma montagem com dois vídeos. O primeiro é de um grupo de pessoas que usa roupas do Movimento pelo Direito à Moradia e que diz estar indo para Brasília. Entre eles aparece um homem que se identifica como Danilo e que veste uma camiseta do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). O segundo vídeo mostra uma pessoa quebrando o relógio de Dom João VI no Palácio do Planalto. A legenda do post diz “O tal bolsonarista que quebrou o relógio é do MST/PT…. Esconderam isso do povo…”

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: O homem que quebrou o relógio de Dom João VI durante os atos antidemocráticos em Brasília, em 8 de janeiro do ano passado, não é militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), ao contrário do que afirma post viral.

A publicação mescla o vídeo do homem jogando o relógio no chão, dentro do Palácio do Planalto, com uma gravação em que aparece um homem com uma camiseta do MST fazendo a letra L com a mão, em referência ao apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na publicação, o autor do post diz ser a mesma pessoa, o que não é verdade.

O vândalo foi identificado como Antônio Cláudio Alves Ferreira e foi preso em 23 de janeiro. Contatado pelo Comprova, o MST afirmou que o post é “uma montagem grosseira na tentativa de criminalizar o movimento” e que conteúdos de desinformação com o mesmo assunto circulam há um ano. Ainda de acordo com o grupo, o homem com a camiseta do MST se chama Danilo, é estudante e mora com a família em um acampamento no Paraná.

Em análise feita a pedido do Estadão, o perito audiovisual Ricardo Caires dos Santos, presidente da Comissão Nacional de Perícia Audiovisual, da Academia Brasileira de Ciências Criminais, também concluiu não ser a mesma pessoa nos dois vídeos. Segundo a perícia, há diferenças nos olhos, sobrancelhas e bigode.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Apenas um post no X havia sido visualizado mais de 69 mil vezes até 2 de fevereiro.

Como verificamos: O primeiro passo foi pesquisar no Google termos como “vândalo relógio Dom João VI” e “MST”. O resultado mostrou três verificações que desmentiram a associação dos dois vídeos.

Também foram pesquisadas notícias sobre Antônio Cláudio Alves Ferreira, identificado como a pessoa que quebrou o relógio. O Comprova também entrou em contato com a assessoria de imprensa do MST. Além disso, mandou mensagens para o perfil que compartilhou o vídeo original, que mostra o homem identificado como Danilo, e com o Movimento por Moradia Popular. Mas até a publicação dessa verificação não obteve resposta.

Vândalo se chama Antônio, não Danilo

O relógio de Balthazar Martinot, trazido ao Brasil pelo Dom João VI, que estava no Palácio do Planalto, foi quebrado durante a depredação da sede do Executivo no dia 8 de janeiro de 2023. Vídeo da câmera de segurança do local mostrou que o ato de vandalismo foi executado por um homem vestido com uma camisa estampada com o rosto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As imagens foram divulgadas pela TV Globo.

Logo depois, testemunhas, entre elas a irmã de Antônio Cláudio Alves Ferreira, o reconheceram como sendo a pessoa que aparece no vídeo, segundo reportagem do Diário de Pernambuco. Antônio é natural de Catalão, em Goiás, e, de acordo com a Polícia Civil do estado, foi a Brasília de carro, onde chegou no dia 2 de janeiro. No dia 9, após os ataques, o mesmo veículo foi visto de volta à Catalão.

Antônio foi preso em 23 de janeiro em Uberlândia e está detido desde então no Presídio de Uberlândia I, antiga Colônia Penal Professor Jacy de Assis. Foi incluído no inquérito 4922, do Supremo Tribunal Federal, de relatoria do ministro Alexandre de Moraes. O inquérito investiga os participantes da invasão que não foram presos em flagrante. Na ação, ele responde por cinco crimes, incluindo golpe de Estado.

Relógio de Balthazar Martinot

O relógio de Balthazar Martinot é uma peça do século XVII que pertenceu a Dom João VI, presenteado pela Corte Francesa. O item estava exposto no Palácio do Planalto desde 2012, quando passou por uma restauração.

No dia dos ataques, o relógio foi destruído. Foram arrancados a estátua de Netuno que ficava no topo do objeto, os ponteiros e também os números.

O item foi enviado à Suíça, que se ofereceu para fazer o reparo. O objeto foi entregue a representantes do país em 26 de dezembro de 2023. A restauração será feita pela Audemars Piguet, fabricante tradicional de relógios. Não há data para finalização do restauro. Os custos também não foram divulgados.

Vídeo do MST é viagem para posse de Lula

O vídeo usado na montagem foi postado no Instagram de um integrante do Movimento pelo Direito à Moradia em 3 de janeiro de 2023. Nele, a pessoa que narra a gravação diz que eles estão indo para Brasília. O grupo, que usa camisas do Movimento pelo Direito à Moradia, que é do Paraná, está fazendo uma refeição. Uma das pessoas que aparecem é o homem que se apresenta como Danilo. O mesmo perfil do Instagram também postou fotos e vídeos do dia da posse do presidente Lula, em Brasília. Segundo o Movimento Sem Terra (MST), o vídeo mostra a viagem dos integrantes para a posse de Lula, em 1º de janeiro, portanto, antes dos atos golpistas.

O que diz o responsável pela publicação: Várias páginas no X republicaram o vídeo e não foi possível identificar o perfil que fez a primeira postagem. A reportagem também não conseguiu contatar os perfis que publicam por ser proibido o envio de mensagens.

O que podemos aprender com esta verificação: O post usa vídeos verdadeiros de pessoas parecidas para confundir e difundir uma informação falsa. Diante de postagens como essa, que fazem denúncias sensacionalistas ou apresentam teorias conspiratórias sem identificar as fontes dos conteúdos utilizados, faça buscas na internet para localizar informações sobre o tema fornecidas por veículos jornalísticos ou fontes com autoridade para falar sobre o tema em questão. Se fosse verdadeira a informação, a participação de um integrante do MST na tentativa de golpe de 8 de janeiro seria veiculada em diversos sites e programas de notícias e não somente em perfis de redes sociais cuja autoria não pode ser confirmada.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Estadão, Aos Fatos e Fato ou Fake, do G1, também verificaram o conteúdo. Sobre os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, o Comprova já checou outras publicações, como a de que o FBI não estava no Brasil para investigar os atos, diferentemente do que afirmava vídeo e de post que enganava ao associar vídeo de 2022 a início de movimento contra Lula.

Política

Investigado por: 2024-02-02

Apresentador da Globo não evitou noticiar rombo no governo Lula; houve erro técnico

  • Enganoso
Enganoso
Jornalista da RBS TV, afiliada da Globo no Rio Grande do Sul, não evitou ler manchete sobre déficit nas contas públicas do governo Lula (PT) para protegê-lo, ao contrário do que diz post. Houve um erro técnico no programa, com a exibição de capas de jornais que eram do dia anterior. Ao perceber o equívoco, o apresentador interrompeu a leitura e aguardou pela exibição das manchetes do dia correto.

Conteúdo investigado: Post no Instagram reproduz trecho do telejornal Bom Dia Rio Grande, na RBS TV, afiliada da Globo, em que o âncora estava mostrando as capas dos jornais do dia 31 de janeiro. O apresentador interrompe a leitura no momento em que terminaria de ler a manchete do Zero Hora sobre o déficit do governo atual. Sobre a imagem, aparece a inscrição “O cara travou na hora de falar do rombo do governo Lula”.

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: É enganoso que o apresentador Josmar Leite, da RBS TV, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Sul, tenha interrompido a leitura de manchete sobre déficit nas contas públicas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para protegê-lo. O que ocorreu foi um erro no noticiário da emissora, com a confusão da exibição de capas do dia.

Durante o telejornal Bom Dia Rio Grande, de 31 de janeiro, foram mostradas capas de jornais que eram, na verdade, do dia anterior. Por conta do equívoco, Josmar interrompeu a leitura das manchetes e informou que as capas corretas seriam exibidas pela equipe. Na sequência, o programa consertou as imagens e mostrou as matérias referentes àquele dia.

A informação lida de forma incorreta no dia 31 era a reportagem publicada no jornal Zero Hora do dia anterior, sobre o fato de as contas públicas federais terem fechado em 2023 com déficit de R$ 230,5 bilhões. Esse é o pior resultado desde 2020, ano em que começou a pandemia da covid-19, quando o déficit chegou a R$ 939,9 bilhões.

Após a exibição do telejornal, começou a circular nas redes sociais um vídeo com uma legenda afirmando que o apresentador Josmar Leite “travou” após falar do “rombo nas contas durante o governo Lula”, sugerindo também que a emissora não faz críticas ao presidente da República.

Com a circulação do material enganoso, a RBS TV, no mesmo dia, publicou em seu perfil no Instagram uma nota de esclarecimento sobre o caso, acompanhada do vídeo que mostra o momento do erro técnico e, em seguida, a apresentação da manchete atualizada do Jornal Zero Hora. A emissora também exibiu o trecho do dia anterior, 30, em que Josmar lê normalmente a matéria sobre o rombo.

Em nota, a RBS informou que a íntegra do conteúdo está disponível no Globoplay.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 2 de fevereiro de 2024, a publicação teve 370 mil visualizações, 18,8 mil curtidas e 3,6 mil comentários.

Como verificamos: Para encontrar informações sobre o ocorrido, o Comprova buscou pelo trecho original do telejornal no Globoplay que mostra o erro técnico e a correção das capas na sequência. Também encontrou o programa do dia anterior na plataforma, em que é possível ver que o jornalista leu normalmente a matéria sobre o rombo.

A equipe procurou o posicionamento da RBS TV em seu Instagram, onde esclareceu o engano e as capas do Jornal Zero Hora.

O que diz o responsável pela publicação: Procurado pelo Comprova, o administrador do perfil onde o vídeo foi publicado, não respondeu aos questionamentos feitos.

O que podemos aprender com esta verificação: Trechos recortados de vídeos, apresentados sem contexto e com sobreposição de legendas ou comentários de cunho político, merecem a nossa atenção. O uso de recortes de imagens com essas características é uma tática comumente utilizada por perfis cuja intenção é compartilhar desinformação ou reforçar discursos partidarizados. Neste caso, embora o Comprova não tenha conseguido confirmar alguma intencionalidade do responsável pela publicação, a postagem utiliza trecho de um telejornal sem apresentar para os usuários o contexto e nem explicar que se tratava de um erro. Em casos como este, devemos buscar pelos trechos originais do programa na plataforma da emissora e conferir a veracidade da publicação. Também seria possível checar a informação consultando as capas do jornal Zero Hora nos dias citados.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Metrópoles, Aos Fatos e Lupa também checaram o conteúdo. Ainda sobre trechos de telejornais tirados de contexto, o Comprova já verificou que montagem com vídeos engana sobre a cloroquina.