O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2021-08-20

Site antivacina inventa dado sobre efeito colateral em crianças imunizadas com Pfizer

  • Falso
Falso
É falso que dados da Pfizer revelem que 80% das crianças vacinadas desenvolvem efeitos adversos, como afirma uma publicação em um site. A farmacêutica não tem nenhum estudo sobre vacinação em crianças concluído e, até o momento, afirma, assim como órgãos como o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos e a Anvisa, que os benefícios da imunização superam os riscos.
  • Conteúdo verificado: Texto em site afirma que vacinas das Pfizer produzem “efeitos adversos” em 80% das crianças e indica que a vacinação seria pior do que a covid-19.

É falsa a publicação no site antivacina Coletividade Evolutiva segundo a qual dados da farmacêutica Pfizer teriam mostrado que “80% das crianças vacinadas desenvolvem efeitos adversos”.

Um dos links do conteúdo falso leva a uma página em alemão, de onde o texto em português foi traduzido. Na versão estrangeira há um link para um documento da Food and Drug Administration (FDA), agência regulatória dos Estados Unidos, citado como fonte dos tais dados, mas ele é apenas uma ficha técnica para profissionais de saúde que aplicam vacinas. Neste relatório, há informações sobre reações adversas em públicos de idades diferentes, mas em nenhum momento cita os tais 80% de casos de crianças vacinadas que teriam desenvolvido efeitos adversos.

A Pfizer afirmou à reportagem que, em junho, anunciou o início do teste da vacina em um grupo de crianças com menos de 12 anos, mas ainda não há resultados disponíveis.

A empresa acrescentou que “os benefícios da vacinação superam em muito os potenciais eventos adversos”. É o mesmo que afirmam o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O Comprova considerou o conteúdo falso porque ele foi inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. A reportagem tentou falar com o site que publicou o material, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

Como verificamos?

O primeiro passo foi verificar para onde levavam os links incluídos no post verificado. O primeiro deles, logo no início do texto, sugeria que o leitor seria levado diretamente a um suposto relatório da Pfizer, de 37 páginas, onde constavam informações sobre reações adversas em 80% das crianças vacinadas.

O link, contudo, levava a um site austríaco, com texto escrito em alemão. Usando a ferramenta de tradução do Google, a reportagem percebeu que o conteúdo era similar, embora maior. Este, sim, fornecia um link direto ao suposto relatório que, na verdade, era uma ficha técnica destinada a profissionais responsáveis por aplicar as vacinas, disponibilizado pela FDA, mas sem os dados destacados por nenhum dos dois textos.

Foram realizadas pesquisas sobre a imunização de crianças e adolescentes no site da Pfizer e nas páginas de autoridades de saúde como CDC, FDA e Anvisa.

A reportagem contatou, por e-mail, a Pfizer, que respondeu com um comunicado. Também tentou falar com o Coletividade Evolutiva via e-mail e preenchendo o formulário de contato no site, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 20 de agosto de 2021.

Verificação

Pfizer em crianças

Segundo comunicado da farmacêutica enviado ao Comprova, ainda não há dados disponíveis sobre resultados da vacinação de crianças menores de 12 anos. Em junho, a empresa anunciou o início dos testes nesse grupo, mas não informou quando os resultados devem ser publicados.

“A fase 2/3 do ensaio contará com até 4,5 mil participantes com 11 anos ou menos nos Estados Unidos, Polônia e Espanha em mais de 90 locais de ensaios clínicos”, informa o documento.

Sobre o relatório

Citado como fonte dos dados do texto verificado aqui, o relatório da FDA é verdadeiro, mas não contém as informações alegadas pelo texto original e pela tradução publicada no Brasil. No documento, de 39 páginas, há informações sobre reações adversas em públicos de idades diferentes, mas também como acondicionar, diluir e aplicar uma dose da vacina.

A postagem aqui verificada afirma que 80% das crianças que receberam a vacina da Pfizer tiveram efeitos adversos e que pelo menos 80% podem esperar reações adversas “traumáticas”. O documento não traz este percentual, nem o de 79%, mencionado no texto original do site austríaco. Também não há qualquer menção a reações “traumáticas” ou a um relatório publicado pela Pfizer no dia 19 de maio.

Segundo o documento, que teve a última atualização no site em 12 de agosto de 2021, a reação adversa que atingiu o maior percentual de pessoas vacinadas pela Pfizer com idades entre 12 e 15 anos foi dor no local da injeção (86,2% após a primeira dose).

Nesta mesma faixa de idade, os eventos adversos considerados graves se manifestaram em 0,4% dos que receberam a vacina, após a segunda dose. No grupo placebo da mesma idade, essas reações ocorreram em 0,1% dos participantes. Dos 2.260 adolescentes de 12 a 15 anos que participaram do Estudo 2 da Pfizer nos Estados Unidos, 1.131 receberam a vacina e 1.129, o placebo.

Em um estudo clínico, as reações adversas em adolescentes de 12 a 15 anos de idade incluíram dor no local da injeção (90,5%), fadiga (77,5%), dor de cabeça (75,5%), calafrios (49,2%), dores musculares (42,2%), febre (24,3%), dores nas articulações (20,2%), inchaço no local da injeção (9,2%), vermelhidão no local da injeção (8,6%), linfadenopatia (0,8%) e náuseas (0,4%).

Casos de reações alérgicas graves, miocardite e pericardite foram relatados após a administração da vacina fora dos ensaios clínicos.

Estudo da Pfizer

Em estudo clínico com jovens de 12 a 15 anos, a vacina “demonstrou eficácia de 100%”, segundo a empresa informou à reportagem. “Os ensaios de fase 3 foram realizados em 2.260 adolescentes, nos Estados Unidos, e apresentou respostas robustas na produção de anticorpos e o perfil de segurança aceitável semelhante a outros grupos etários também foi estabelecido.”

Ainda de acordo com o documento, as reações adversas mais comuns, em 10% dos pacientes, e comuns (entre 1% e 10%) “podem incluir dor, inchaço ou vermelhidão no local de injeção, cansaço, dor de cabeça, diarreia, dor muscular, dor nas articulações, calafrios e febre, além de náusea e vômito”.

Pfizer em jovens

Ao contrário de outros imunizantes, o grupo mais jovem a receber a Pfizer na fase de ensaios clínicos foi entre 16 e 25 anos – o que possibilitou que a aprovação inicial do imunizante já considerasse os adolescentes mais velhos como aptos a receber as doses. Depois, graças a estudos divulgados no final de março, os órgãos reguladores ampliaram a possibilidade de aplicação da vacina.

A Pfizer é usada em maiores de 12 anos desde maio. O primeiro órgão a autorizar esse uso foi o CDC, em 12 de maio de 2021. Dias depois, a União Europeia também autorizou o uso do imunizante nesta faixa etária.

Israel também autorizou a vacinação de adolescentes em maio com as doses da Pfizer e, no Reino Unido, foi no começo de junho.

No Brasil

Por aqui, a Anvisa autorizou o uso em adolescentes, a partir de 12 anos, em 11 de junho. Como a própria agência sinaliza, este é o único imunizante aprovado para uso em menores de idade no país.

Por decisão do Ministério da Saúde, a vacinação dos adolescentes, entre 12 e 17 anos, deve ocorrer nos estados após o término da aplicação da primeira dose, por faixa etária, nos adultos.

Como o ritmo de vacinação não é o mesmo em todos os estados, o Comprova buscou informações sobre os 26 estados e o Distrito Federal e constatou que ao menos as seguintes localidades já começaram a imunização de adolescentes (até 20 de agosto): Acre; Amapá; Amazonas; Distrito Federal (no caso dos adolescentes com deficiência ou síndromes, e antes do término da vacinação dos adultos); Maranhão; Mato Grosso do Sul; Pernambuco; Rio Grande do Sul; Rondônia; Roraima e São Paulo.

Em Minas Gerais, a cidade de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, e, no Pará, Ananindeua, na região metropolitana de Belém, também já começaram a vacinação de menores de idade.

O Site

Esta não é a primeira postagem do site Coletividade Evolutiva que contém informações falsas sobre a vacinação. Há, na página, uma editoria de “manipulação”, com textos sobre o suposto caráter experimental das vacinas contra a covid e sobre o efeito “magnético” do imunizante. O Comprova já considerou falsa uma postagem do site sobre os efeitos colaterais da CoronaVac.

O site austríaco Report24, que teve a postagem traduzida, também já publicou outros conteúdos conspiratórios e contrários à vacinação.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. O texto verificado aqui entrou na lista de monitoramento do Comprova via pedidos de leitores pelo WhatsApp (se tiver dúvida sobre algum conteúdo, você pode enviá-lo para o telefone 11 97045-4984 ou clicando neste link).

Conteúdos que tentam desacreditar as vacinas são perigosos porque podem levar a população a colocar a saúde em risco.

O Comprova já esclareceu diversos conteúdos sobre imunização, como, por exemplo, que é falso que internação de Silvio Santos por covid indique ineficácia da Coronavac, que é enganoso post que afirma que o CDC e Anthony Fauci não acreditam na vacina, que o diagnóstico positivo de Doria não indica ineficácia da Coronavac e que é falso que imunizantes usados no Brasil não passaram por testes de segurança e eficácia.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2021-08-19

Médico americano engana ao dizer que vacinas ‘enlouquecem’ sistema imunológico e agravam covid-19

  • Enganoso
Enganoso
O discurso do médico Dan Stock, propagado em publicação viral no Twitter, é enganoso ao associar vacinas ao aumento no números de casos de covid-19 nos Estados Unidos. Ele sugere que os imunizantes provocam uma exacerbação da doença, mas não há evidências de que as vacinas estejam associadas ao fenômeno citado pelo médico. Stock também engana ao citar que máscaras são ineficazes para o controle da pandemia e ao recomendar um tratamento sem benefícios comprovados pela ciência. Em um compilado de documentos usados como evidências para sustentar sua afirmação, o médico lista estudos retratados, inconclusivos ou com conclusões que não corroboram com o seu discurso.
  • Conteúdo verificado: O vídeo mostra um discurso do médico americano Dan Stock em audiência a um conselho escolar, em Fortville, Indiana, nos Estados Unidos. Ele afirma que vacinas de covid confundem o sistema imunológico e fazem o organismo combater o vírus de uma maneira inadequada. O médico sugere que a vacinação pode provocar um fenômeno que exacerba a doença e associa os imunizantes ao recente aumento no número de infecções diárias no país. Stock ainda sugere que máscaras são inúteis para controlar a pandemia e que a vacina não oferece benefícios a pacientes recuperados da covid.

São enganosas as alegações do médico norte-americano Dan Stock de que vacinas de covid-19 confundem o sistema imunológico de pessoas imunizadas e as tornam suscetíveis a quadros mais severos da doença, em comparação com a infecção natural. Uma postagem que divulga o discurso do médico em audiência, na cidade de Fortville, Indiana, foi compartilhada mais de 10 mil vezes no Twitter. A plataforma adicionou um aviso ao conteúdo para alertar que o material é enganoso.

No vídeo, Stock cita um fenômeno conhecido, em inglês, como Antibody-Dependent Enhancement (ADE) que, segundo ele, agravaria casos de covid entre vacinados e poderia estar relacionado ao surto recente de casos da doença nos Estados Unidos. O país aplica os imunizantes da Pfizer/BioNtech (Comirnaty), Moderna e Janssen. Não há evidências, entretanto, que essa condição esteja associada com a doença, tampouco com as vacinas.

O médico ainda tira de contexto um estudo do Centro de Prevenção e Controle de Doenças Infecciosas (CDC) dos Estados Unidos que aponta a incidência de sintomas de covid em pessoas vacinadas em Barnstable, Massachusetts. O próprio estudo afirma que a pesquisa não deve sustentar conclusões sobre a efetividade das vacinas.

O vídeo também espalha desinformação ao sugerir que máscaras faciais são ineficazes para coibir a transmissão do novo coronavírus. As melhores evidências científicas indicam que a proteção é essencial para diminuir a exposição à doença. Por fim, Stock faz propaganda de um tratamento sem comprovação científica.

O Comprova considera enganosas as publicações cujos conteúdos confundem ou usam dados imprecisos, como faz Stock ao distorcer informações de estudos para atacar vacinas.

Como verificamos?

Para investigar o conteúdo, o Comprova apurou primeiramente a ocasião em que o discurso do médico foi gravado. A reportagem identificou que as alegações de Dan Stock ocorreram em 6 de agosto de 2021, durante uma audiência na Mount Vernon School Corporation, uma associação escolar que agrega instituições de ensino voltadas a crianças e adolescentes.

O passo seguinte foi investigar quem era o autor do discurso enganoso. O Comprova identificou que Dan Stock é um médico da família que diz praticar “medicina funcional”. Trata-se de um modelo alternativo baseado em uma visão holística dos sistemas biológicos do corpo humano e na individualidade do paciente. Stock é proprietário de uma loja de suplementos.

Ao buscar pelo vídeo e o nome de Dan Stock no Google, o Comprova encontrou uma série de verificações de veículos estrangeiros (1, 2, 3, 4). Segundo uma verificação do site americano Politifact, o médico indicou por correio de voz que os documentos por ele apresentados aos diretores da associação escolar foram publicados em um blog conservador.

O Comprova analisou os 22 artigos listados no site e identificou estudos retratados por inconsistências técnicas, análises não científicas e até trabalhos que contradizem os próprios apontamentos do médico na audiência. Também consultamos o epidemiologista formado pela Universidade de São Paulo (USP) Julio Ponce, bem como a imunologista da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) Cristina Bonorino para analisar as alegações de Stock na reunião.

A reportagem ainda recorreu a fontes documentais, como um editorial da revista Science que minimiza o risco de ADE em vacinas de covid, orientações do CDC e da Organização Mundial da Saúde (OMS) acerca de vacinas, bem como o painel de evidências de tratamentos para covid-19 dos Institutos Nacionais de Saúde americanos (NIH).

Contatamos o médico Dan Stock por um e-mail disponibilizado em seu perfil no Linkedin, mas não obtivemos resposta até o fechamento desta reportagem.

Verificação

Não há evidências de que vacinas causam ADE

Ao contrário do que sugere Stock, não há evidências de que vacinas de covid-19 favorecem uma exacerbação da doença mediada por anticorpos. Essa condição, mais conhecida na língua inglesa como Antibody-Dependent Enhancement, descreve um fenômeno em que anticorpos gerados anteriormente por uma infecção natural ou induzidos por vacinas não conseguem neutralizar o vírus em uma nova infecção, e podem facilitar o ataque do patógeno às células do hospedeiro.

Durante seu discurso, o médico sugere que o fenômeno poderia estar associado com aumentos recentes nos números de casos em algumas regiões dos Estados Unidos. Stock cita que foram observados sinais de ADE em estudos com animais durante o desenvolvimento de vacinas contra a Sars, outro coronavírus que foi pivô de uma epidemia em 2003, na China. De fato, a possibilidade de ocorrência dessa condição foi uma preocupação de cientistas no desenvolvimento de vacinas contra a covid, mas nem os estudos pré-clínicos com animais nem ensaios em humanos identificaram evidências do fenômeno, ressalta um editorial da revista Science sobre o assunto, publicado em fevereiro deste ano.

O artigo evidencia ainda que a hipótese levou cientistas a adotarem estratégias para minimizar os riscos de ADE no desenvolvimento das vacinas contra a covid.Também não há evidências de que novas variantes possam desencadear a condição, tampouco o monitoramento de efeitos adversos realizado por agências sanitárias indicou qualquer sinal do problema.

Outra evidência que torna a hipótese improvável é que experimentos com tratamentos baseados em plasma convalescente (com anticorpos contra covid-19) não provocaram exacerbação da doença em voluntários. Até o momento, as evidências da vacinação no ‘mundo real’ mostram que os imunizantes são eficazes em prevenir formas graves da doença. Cerca de 99% das mortes e hospitalizações por covid-19, nos Estados Unidos, ocorrem em pessoas não imunizadas.

Vale ressaltar que o compilado de evidências citado por Stock não contém nenhum estudo que prove a ocorrência de exacerbação de covid mediada por anticorpos. Uma das pesquisas analisou casos de covid em profissionais de saúde vacinados e apontou que a maioria teve sintomas leves ou quadros assintomáticos.

Aumento de casos não é consequência da vacina

Para atacar a vacinação, o médico cita que em Barnstable, cidade de aproximadamente 44 mil habitantes em Massachusetts, 75% dos novos casos de covid-19 ocorreram em pessoas vacinadas. A informação foi retirada de um estudo do CDC, divulgado no final de julho, que avaliou 469 ocorrências da doença na cidade americana.

Os autores da pesquisa, no entanto, destacam no próprio relatório que o levantamento é insuficiente para fornecer conclusões sobre a eficácia das vacinas de covid, incluindo a variante delta, que atualmente corresponde à cepa predominante no país.

“À medida que a cobertura vacinal a nível populacional aumenta, é esperado que as pessoas vacinadas representem uma proporção maior de casos de covid-19. Em segundo lugar, infecções assintomáticas podem estar subrepresentadas por causa do viés de detecção”, explicam os autores no texto.

Entre as pessoas completamente vacinadas, apenas quatro tiveram que ser hospitalizadas e nenhuma morte foi registrada. O estudo ainda afirma que a “vacinação é a estratégia mais importante para prevenir casos graves e óbitos” e recomenda a expansão de estratégias não farmacológicas, como o uso de máscaras em locais fechados, independentemente do grau de vacinação do indivíduo.

Como já explicou o Comprova, os imunizantes já aprovados por agências de saúde nos Estados Unidos e no Brasil foram desenvolvidos para prevenir casos sintomáticos da doença. Nenhuma vacina elimina totalmente o risco de contrair covid, embora reduzam significativamente as chances do paciente desenvolver formas graves. Segundo o CDC, as vacinas também reduzem o risco de pessoas espalharem o novo coronavírus para outras, mas não excluem completamente essa possibilidade.

Julio Ponce lembra que os recentes aumentos de hospitalizações por covid nos EUA estão associados a pessoas não vacinadas. “Mesmo que consideremos que alguns vacinados peguem a doença, eles têm um risco diminuído de agravamento. Em Indiana, onde o vídeo foi gravado, 96% dos novos casos são de pessoas que não se vacinaram”, afirma.

Alerta especial para variante delta

O CDC alerta, entretanto, para casos raros em que vacinados são infectados pela variante delta. Apesar das vacinas serem “altamente eficazes” em evitar o agravamento de infecções desta cepa do novo coronavírus, diferentemente de outras variantes, a delta parece produzir quantidades similares de vírus tanto em pessoas não vacinadas quanto em pessoas totalmente vacinadas.

Por outro lado, a carga viral produzida pelas infecções da variante delta em pessoas totalmente imunizadas diminui mais rapidamente do que as infecções naqueles que não tomaram esquema vacinal completo. “Isto significa que as pessoas totalmente vacinadas [transmitem o vírus] por menos tempo do que as pessoas não vacinadas.”, afirma o CDC.

Melhores evidências indicam que uso de máscaras é eficaz

Stock acerta ao afirmar que o novo coronavírus é propagado por meio de pequenas gotículas chamadas aerossóis. Ele desinforma, no entanto, ao sugerir que devido ao tamanho das partículas, o uso de máscaras não seria eficaz para coibir a transmissão da covid-19. Embora parte dos aerossóis possam escapar das máscaras, o equipamento ainda é essencial para controlar a pandemia.

Segundo o epidemiologista Julio Ponce, trabalhos científicos mostram que o uso da máscara promove uma redução bastante sensível de infectados em contexto de surtos de coronavírus. Ele cita um artigo publicado na conceituada revista de medicina JAMA, o qual afirma que antes da pandemia de covid, o uso comunitário de máscaras para reduzir a transmissão de vírus respiratórios era controverso devido a falta de evidências relevantes sobre a prática.

Ao longo da crise sanitária, entretanto, as evidências científicas cresceram. O artigo pontua que em trabalhos recentes, máscaras de pano de várias camadas bloquearam de 50% até 70% das gotículas pequenas exaladas por uma pessoa infectada. O relatório explica que as máscaras ainda servem como uma barreira contra as gotículas maiores.

O compilado de documentos de Stock contra o uso de máscaras reúne desde análises informais de postagens em blogs, estudos retratados por inconsistências técnicas (1, 2), trabalhos não conclusivos sobre a eficácia da medida (1), até mesmo pesquisas que, na verdade, sugerem benefícios das máscaras. É o caso, por exemplo, deste artigo que conclui que a análise mostra evidências de que estados americanos com regras para uso da proteção registraram uma maior queda nas taxas de diárias de covid, em comparação a outros que não adotaram a medida.

“O que pode ser colocado em contexto é que há máscaras que protegem mais do que outras. Os estudos que o médico menciona parecem ser aqueles feitos com máscaras cirúrgicas, que são adequadas para limitar a projeção de gotículas e aerossóis de quem as usa, mas não são tão eficazes para proteger de aerossóis possivelmente contaminados no ambiente”, afirma Ponce.

O especialista pontua que, por esse motivo, máscaras PFF2/N95 são mais recomendadas para locais de alta exposição, uma vez que os equipamentos são capazes de filtrar até 95% de partículas pequenas.

Vacinas são importantes mesmo para recuperados da covid

Outra informação enganosa do vídeo corresponde à alegação de Stock de que as vacinas de covid não promovem benefícios a quem já se recuperou da doença.

De acordo com o CDC, pesquisadores ainda não estabeleceram por quanto tempo dura a imunidade conferida pela infecção natural ou pelas vacinas. Por outro lado, a agência diz que estudos indicam que os imunizantes podem aprimorar a proteção de pessoas que já se recuperaram da infecção.

Já a OMS afirma que a “maioria das pessoas infectadas com Sars-CoV-2 desenvolvem uma resposta imune nas primeiras semanas, mas ainda estamos aprendendo o quão forte e duradoura é essa resposta imune, e como ela varia entre diferentes pessoas, acrescentando que “mesmo que você tenha tido uma infecção anterior, a vacina age como um reforço que fortalece a resposta imune.”

Em entrevista ao Comprova, a professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre Cristina Bonorino explica que, no caso da infecção natural, o microorganismo evolui para escapar das respostas imunes do hospedeiro, e por isso nem sempre a imunidade deixada após a infecção é eficaz e duradoura.

“As vacinas, por outro lado, focam em estimular mecanismos importantes para controlar a multiplicação do microorganismo no indivíduo, sem a desvantagem do que acontece na infecção natural. Vacinas, portanto, geram respostas mais eficazes que a infecção natural”, comenta a especialista.

A Agência Lupa fez uma verificação de boato semelhante

Tratamento divulgado pelo médico não tem comprovação científica

No vídeo, o médico faz propaganda de substâncias sem benefícios comprovados contra a covid-19 ao citar que tratou 15 pacientes com um protocolo de ivermectina, zinco e vitamina D. O relato de Stock, entretanto, não configura evidência de que o tratamento funcione.

Como já explicou o Comprova em outras verificações, para atestar a eficácia de um medicamento contra a covid, são necessários múltiplos ensaios clínicos randomizados com estrutura adequada e número extenso de participantes. O Painel de Diretrizes de Tratamentos para Covid, dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH), afirma que não há dados suficientes para recomendar a favor ou contra o uso da ivermectina para o tratamento da doença.

“São necessários resultados de ensaios clínicos adequadamente desenvolvidos, bem concebidos e bem conduzidos para fornecer orientações mais específicas e baseadas em evidências sobre o papel da ivermectina no tratamento da covid-19”, diz o documento

No compilado de documentos de Stock constam estudos que sugerem potenciais benefícios da vitamina D no tratamento da covid-19. As diretrizes do NIH, entretanto, informam que também faltam mais dados para recomendar contra ou a favor do uso da suplementação da substância como terapia contra o novo coronavírus.

O órgão emitiu a mesma recomendação para o uso do Zinco, porém, o painel alerta contra a suplementação acima dos níveis de dieta recomendados, uma vez que o consumo excessivo da substância pode ocasionar deficiência de cobre no sangue e outras doenças.

Quem é Stock

Daniel “Dan” Stock se define no Linkedin como um médico de família experiente e com formação em medicina funcional, um ramo alternativo cujos métodos não têm comprovação científica. De acordo com a rede social, ele se formou na Indiana University School of Medicine em 1988.

Segundo o breve perfil de Dan Stock no Top NPI, um site pensado para auxiliar moradores dos Estados Unidos a encontrarem médicos próximos de onde moram, o profissional tem 33 anos de experiência na medicina e é licenciado para exercer a profissão pelo conselho estadual de Indiana.

Após falar ao conselho escolar da Mount Vernon School Corporation, no condado de Hancock, em Indiana, Stock publicou um texto no Linkedin para agradecer o “apoio esmagador de todos”. O teor da mensagem sugere que as medidas adotadas no contexto do enfrentamento à covid-19 são atentatórias às liberdades individuais.

“Por favor, rezem por mim, por nossa própria liberdade que nosso próprio governo federal ameaça, mas como vocês, chamem vocês legisladores estaduais e locais e exijam que eles não sirvam aos especialistas selecionados pelos lobistas federais, mas a você”, ele escreveu.

O Projeto Comprova enviou questionamentos ao profissional no endereço de e-mail disponibilizado por ele no Linkedin, mas não obteve retorno até a publicação desta checagem.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre o governo federal, eleições ou a pandemia que tenham atingido alto grau de viralização. A postagem verificada nesta matéria alcançou mais de 10 mil visualizações no Twitter. Segundo agências de checagem estrangeiras, o mesmo discurso enganoso de Dan Stock atingiu milhões de usuários em outros países.

As alegações do médico são perigosas ao espalhar informações falsas para atacar medidas essenciais para o combate à pandemia, como o uso de máscaras e a vacinação em massa. Essas práticas são recomendadas e defendidas pelas principais agências de saúde no Brasil e no exterior e têm respaldo em evidências científicas relevantes.

O mesmo conteúdo foi verificado por uma série de veículos estrangeiros, incluindo Politifact, Associated Press, Agência Reuters e Verify This. Conteúdos semelhantes já foram desmentidos por veículos brasileiros, como o Estadão Verifica, Aos Fatos e Agência Lupa.

O Comprova também já verificou outras afirmações equivocadas sobre a imunização em massa contra a covid. Um boato recente afirmava enganosamente que não há lógica por trás da vacinação para conter a pandemia. Outro conteúdo tirou de contexto uma entrevista de uma autoridade de saúde americana na tentativa de desqualificar a segurança dos imunizantes usados no país. Uma terceira postagem distorcia dados de efeitos adversos da vacina da Pfizer em adolescentes.

Enganoso, para o Comprova, são conteúdos retirados do contexto original e usados em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-08-18

Internação de Silvio Santos por covid-19 não indica ineficácia da Coronavac

  • Enganoso
Enganoso
Post engana ao associar a internação por covid-19 do apresentador Silvio Santos com uma suposta falha da Coronavac – vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac – que é aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e, portanto, é segura e eficaz. Assim como todos os outros imunizantes em uso no Brasil, a Coronavac é capaz de reduzir o risco das pessoas desenvolverem quadros graves da doença, mas não elimina totalmente a possibilidade de contágio.
  • Conteúdo verificado: Publicação feita no Twitter e compartilhada no Instagram afirma que o apresentador Silvio Santos foi internado por covid-19 após duas doses da “PlaceboVac” – expressão usada para desqualificar a vacina Coronavac – e questiona o que mais é necessário ocorrer para que haja o cancelamento da distribuição do imunizante, apontado no post como “suspeito e ineficaz”.

O fato de o apresentador Silvio Santos, 90 anos, ter sido internado por covid-19 não comprova que a vacina recebida por ele, a Coronavac, seja ineficaz. O imunizante, assim como os demais em uso no Brasil contra o coronavírus, é capaz, conforme testes realizados e estudos documentados, de reduzir o risco de desenvolver quadros graves da doença, mas não elimina completamente a possibilidade de contágio.

Segundo especialistas, nenhuma vacina é capaz de assegurar 100% de proteção contra as doenças. No caso das utilizadas contra a covid, elas cumprem o papel de servir como um redutor de risco, evitando as formas graves. No entanto, mesmo após a imunização, independentemente de qual fabricante seja a vacina aplicada, é possível haver contaminação, internação e até óbito – mas com frequência muito menor do que entre não vacinados.

Isso acontece porque os imunizantes diminuem, mas não zeram as chances de casos graves e de morte pela doença. Portanto, a acusação feita no conteúdo verificado, no qual o autor afirma que a Coronavac é “suspeita e ineficaz”, devido à internação de Silvio Santos mesmo vacinado, é infundada.

O Comprova entrou em contato com o autor da publicação no Twitter e com o perfil que replicou no Instagram, mas até a publicação deste texto não obteve retorno.

Enganosos para o Comprova são os conteúdos que confundem, mesmo que não haja intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

O Comprova consultou dados oficiais nos sites da Anvisa e OMS sobre a segurança e eficácia da Coronavac e buscou por notícias em veículos jornalísticos. Em paralelo, procurou informações nas redes sociais da família Abravanel sobre a imunização de Silvio Santos.

Conversou com dois especialistas: a infectologista da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) Raquel Stucchi e o médico e consultor em infectologia da Escola de Saúde Pública do Ceará Keny Colares. Além disso, procurou o Instituto Butantan, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e o SBT.

Também entrou em contato, via Instagram, com o autor da publicação no Twitter e com o perfil que compartilhou o post do Twitter no Instagram, mas não obteve retorno.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 18 de agosto de 2021.

Verificação

Silvio está vacinado?

Conforme divulgado em diversos veículos jornalísticos, incluindo publicações no site e nas redes sociais do SBT, emissora da qual Silvio Santos é dono, o empresário e apresentador de 90 anos está vacinado contra a covid-19. Ele recebeu a primeira dose no dia 10 de fevereiro; e a segunda no dia 10 de março, em um posto de saúde na cidade de São Paulo.

Na data da primeira dose, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), publicou em seu Twitter uma foto do apresentador, com a filha Patrícia Abravanel, e um texto confirmando a aplicação da Coronavac. “Silvio Santos, aos 90 anos de idade, recebeu hoje a vacina do Butantan aqui em São Paulo. Muito feliz por você, meu amigo”, diz a postagem.

No mesmo dia, Patrícia postou no Instagram a imagem do cartão de vacina do pai que confirma que o imunizante aplicado foi a Coronavac (na imagem, consta um erro de escrita no nome de registro de Silvio, que é Senor Abravanel. No cartão foi registrado “Senhor Abravanel).

No dia 13 de agosto, a notícia de que Silvio foi internado por covid-19 em São Paulo ganhou repercussão. No SBT, o portal principal da emissora e o SBT News noticiaram a confirmação da contaminação e a internação; e no telejornal SBT Brasil foi informado que “o empresário e apresentador Silvio Santos, de 90 anos, testou positivo para a covid-19. Ele está internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e seu estado de saúde é muito bom”, disse o âncora.

Na mesma data, tanto Patrícia quanto Silvia Abravanel, que também é filha de Silvio, publicaram no Instagram informações sobre o estado de saúde do pai. “Nosso pai está clinicamente bem. Daquele jeito que a gente ama… brincando com todos, fazendo piadas […] Mas testou positivo para covid e, por conta da idade e necessidade de exames frequentes, os médicos decidiram interná-lo”, afirmou Patrícia.

Silvia disse: “Nosso pai está super bem, graças a Deus. Ele testou positivo para covid. Os exames dele estão bons e ele decidiu ficar no hospital para fazer o acompanhamento diário exigido pelos médicos por conta da idade dele”.

Ainda no dia 13, à noite, Silvio deixou o hospital. A informação também foi divulgada no Instagram da sobrinha, Dory Abravanel.

O jornalista Roberto Cabrini, que atualmente trabalha na Record, mas já atuou no SBT, em vídeo publicado no Twitter, no dia 14 de agosto, afirmou ter conversado com Íris Abravanel, esposa do apresentador. Segundo o jornalista, ela afirmou que “Silvio é forte e já havia deixado o hospital onde passou por uma série de exames”.

Também no dia 14 de agosto, segundo o portal R7, Tiago Abravanel, neto de Silvio, atualizou o estado de saúde do avô. Em uma publicação no Instagram, ele agradeceu as demonstrações de cuidado e disse que o avô “está se cuidando”.

A assessoria de imprensa do SBT confirmou ao Comprova que o apresentador tomou as duas doses da vacina Coronavac e disse que Silvio está “muito bem” e “na fase final da quarentena fora do hospital”.

Internação não indica ineficácia da vacina

O post enganoso insinua que o fato de Silvio Santos ter contraído covid-19 e ter ficado internado seria resultado de uma suposta ineficácia da vacina Coronavac. No entanto, isso não é verdade.

Segundo a infectologista Raquel Stucchi, as vacinas funcionam, sim, e reduzem os casos graves e a mortalidade. “É inegável que a vacinação conseguiu diminuir o número das internações, dos casos graves e da mortalidade. Se nós analisarmos os dados de março e abril, é facilmente perceptível que houve uma diminuição expressiva das internações e da mortalidade nos idosos que foram os primeiros a serem vacinados”.

No entanto, ela destaca que, com a vacinação no mundo todo, o que foi observado e já documentado é que a proteção de todas as vacinas, independentemente do fabricante, diminui com o passar dos meses. “Particularmente, para alguns grupos populacionais, como por exemplo, os idosos. Eles vão perdendo a proteção pela vacina depois de 4 a 6/7 meses. Essa é a explicação porque passados todos esses meses aqui no Brasil, nós devemos observar e já estamos observando um aumento de internação de idosos e vamos, infelizmente, observar também um aumento da mortalidade”, explica.

Apesar de o risco de infecção ser maior entre os idosos, Raquel afirma que qualquer pessoa que tenha se imunizado corre o risco de pegar covid, pois ainda não há uma vacina com 100% de proteção para doenças infecciosas. “O que as vacinas fazem, e daí com uma diferença de fabricante para fabricante, é diminuir o risco da gente ter uma forma grave da doença. O risco de pegar covid pós-vacinação é para todos, mas sabemos que algumas pessoas já inicialmente não respondem tão bem às vacinas. Os idosos de uma maneira geral, para qualquer vacina, não respondem tão bem”.

Dessa forma, de acordo com a infectologista, a terceira dose – que já vem sendo discutida no país – para determinados grupos deverá ser obrigatória, “porque nós já sabemos que para qualquer vacina há uma redução da proteção”.

Os Estados Unidos anunciaram nesta quarta-feira (18) que os americanos que receberam as vacinas da Pfizer e da Moderna poderão receber uma terceira dose oito meses depois da segunda, a partir de 20 de setembro.

“Os dados disponíveis mostram claramente que a proteção contra a infecção por Sars-CoV-2 começa a declinar com o tempo, depois das primeiras doses da vacina”, diz um comunicado conjunto de altos funcionários, entre eles a diretora do CDC (Centros de Prevenção e Controle de Doenças), Rochelle Walensky, e a diretora interina da agência reguladora de medicamentos e alimentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês), Janet Woodcock. “Somado à prevalência da variante Delta, estamos começando a ver evidências de uma proteção reduzida contra casos leves e moderados da doença”, acrescentou.

No Brasil, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse nesta quarta-feira (18) que a terceira dose da vacina será aplicada, inicialmente, em idosos e profissionais da saúde. Mas ele não informou quando isso acontecerá. Segundo ele, mais dados científicos são necessários.

Em nota enviada ao Comprova, a SBIm afirmou que nenhuma vacina tem 100% de eficácia. Além disso, fatores como imunossenescência (queda natural da imunidade relacionada ao envelhecimento), comorbidades e possível menor resposta a variantes podem contribuir para a redução do índice.

A nota ainda diz que “esses parecem ser os casos do ator Tarcísio Meira e do empresário e apresentador Silvio Santos. É importante salientar que a imensa maioria dos vacinados que desenvolveram covid não evoluiu para forma grave e que a mortalidade se mostrou muito baixa. Nos países com a vacinação mais avançada, os óbitos vêm se concentrando em não vacinados e em indivíduos com esquema incompleto. Da mesma forma, no Brasil já é possível notar movimento semelhante entre os grupos contemplados há mais tempo”.

Nos EUA, por exemplo, quase todas as mortes por covid-19 em maio foram de pessoas que não foram vacinadas. Uma análise da Associated Press com base em dados governamentais disponíveis daquele mês mostra que infecções em pessoas totalmente vacinadas foram responsáveis ​​por menos de 1.200 das mais de 853.000 hospitalizações por covid-19. Isso representa cerca de 0,1%. O assessor da Casa Branca para doenças infecciosas, Anthony Fauci, chegou a usar a expressão “’pandemia entre não vacinados”.

Imunização é uma estratégia coletiva

O médico e consultor em infectologia da Escola de Saúde Pública do Ceará Keny Colares ressalta que não se pode “julgar o funcionamento de uma vacina baseada na situação de uma pessoa. Para considerarmos a eficácia de uma medicação, de uma vacina, temos que avaliar o comportamento dela em um grande número de pessoas. Visto que somos todos diferentes e essa doença, com várias outras, age diferente de uma pessoa para outra. Isso era assim antes da vacina, e continua sendo depois da vacina”.

Ele reitera que estudos já mostravam que as vacinas têm uma boa proteção, mas não são absolutas. Por isso, “temos que somar essa proteção das vacinas a outras medidas”. Para ele, a imputação de que uma vacina é melhor que outra, baseada no grau eficácia, desconsidera que os dados sobre a proteção contra a infecção foram obtidos em estudos diferentes, com pessoas em locais com circulação viral distinta e em momentos diferenciados também.

Além disso, ressalta que “é muito importante não só o indivíduo estar vacinado, mas a coletividade, porque com todas as vacinas, com todas as doses, se a pessoa ficar circulando em um ambiente que está cheio de pessoas contaminadas, ela tem o risco de se contaminar”.

A vacinação da população geral, destaca, é uma linha de defesa e será preciso “somar todas essas estratégias para viver em segurança, até que surjam novas estratégias com novas ferramentas que consigam melhores resultados. Temos que modular as nossas expectativas para caber na realidade. Existem soluções parciais que, bem utilizadas, vão nos permitir viver”.

Coronavac é eficaz

A Coronavac foi aprovada pela Anvisa para uso emergencial no Brasil em janeiro de 2021 e pela OMS, em junho. Comunicado oficial da organização diz que “a OMS validou a vacina Sinovac-CoronaVac COVID-19 para uso emergencial, dando aos países, financiadores, agências de compra e comunidades a garantia de que atende aos padrões internacionais de segurança, eficácia e fabricação”.

O texto ainda diz que, baseada nas evidências disponíveis, a OMS recomenda a vacina para uso em adultos de 18 anos ou mais, em um esquema de duas doses com um espaçamento de duas a quatro semanas. O documento afirma que “poucos adultos mais velhos (com mais de 60 anos) foram incluídos em ensaios clínicos, portanto a eficácia não pode ser estimada neste grupo etário. No entanto, a OMS não está recomendando um limite máximo de idade para a vacina porque os dados coletados durante o uso subsequente em vários países e os dados de imunogenicidade de suporte sugerem que a vacina provavelmente tem um efeito protetor em pessoas idosas”.

A OMS recomendou ainda que os países que usam a vacina em grupos de idade avançada realizem monitoramento de segurança e eficácia para verificar o impacto.

A eficácia global da Coronavac, divulgada com dados iniciais da fase de pesquisa no Brasil, é de 50,38%. Também foi informada uma eficácia de 78% para prevenir casos leves e 100% para casos graves. Contudo, em relação aos casos graves, o próprio Butantan já explicou que o dado não tem significância estatística do ponto de vista científico, porque o número de infectados que precisaram de hospitalização durante os testes foi muito pequeno.

Um artigo científico encaminhado por cientistas do Butantan, em abril de 2021, para a revista científica The Lancet mostrou que a eficácia da Coronavac para casos sintomáticos atingiu 50,7% com 14 dias de intervalo entre as duas doses, mais do que os 50,38% divulgados anteriormente.

Outro estudo feito pelo Instituto Butantan na cidade de Serrana, no interior de São Paulo, vacinou cerca de 75% da população adulta e constatou queda de 80% nos casos sintomáticos de covid e de 86% nas internações, além da redução de mortes em 95%.

Uma pesquisa, feita no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, apontou queda de 80% nos casos de covid-19 entre os 22 mil funcionários vacinados com a Coronavac.

Atualmente, a Coronavac é usada em mais de 30 países. Em entrevista ao Estadão, o médico infectologista e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Alexandre Naime afirmou que o que está por trás da desconfiança em relação às vacinas desenvolvidas na China é uma “guerra política” que mais desinforma do que ajuda as pessoas a entenderem como funciona cada uma delas. “Não cabe comparar agora. No futuro terá sim a revacinação e novas vacinas. Agora, precisamos salvar vidas”, afirma.

Procurado pelo Comprova, o Instituto Butantan enviou dois links: em um traz 5 perguntas e respostas para entender por que pessoas vacinadas também pegam covid-19 e em outro, uma entrevista com o filho de Tarcísio Meira, Tarcísio Filho, no programa Fantástico, da Globo. O ator lembrou que o pai, que morreu vítima de covid-19, tinha comorbidades sérias e que a mãe, que também contraiu o vírus, foi salva por causa da vacina.

Quem é o autor do post?

O autor do post no Twitter é @felipetellesbr, mas a página que compartilhou o tuíte dele no Instagram se chama Mundo Conservador, que traz na bio a descrição: “análises conservadoras diferenciadas e enriquecimento intelectual”.

Nas redes sociais, Felipe se descreve como “um grande entusiasta do Ocidente” e afirma que é dono da página @mundoconservador.

Entramos em contato, via Instagram, com o autor da publicação no Twitter e com o perfil que compartilhou o post no Instagram, mas não tivemos retorno.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. O post verificado aqui teve mais de 9,4 mil interações no Instagram.

Conteúdos enganosos que tentam desacreditar as vacinas são perigosos porque podem levar a população a colocar a saúde em risco.

O Comprova já esclareceu diversos conteúdos sobre imunização, como, por exemplo, que é enganoso post que afirma que o CDC e Anthony Fauci não acreditam na vacina, que o diagnóstico positivo de Doria não indica ineficácia da Coronavac e que é falso que imunizantes usados no Brasil não passaram por testes de segurança e eficácia.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Política

Investigado por: 2021-08-17

Generais não foram promovidos a marechais, mas recebem salários correspondentes ao cargo

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a afirmação de que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tenha promovido cerca de 100 oficiais-generais aos postos de marechais. Os militares recebem proventos pelo cargo, mas não há portarias promovendo-os, e a nomenclatura não retrata os postos exercidos por eles na ativa.
  • Conteúdo verificado: Postagem em site, compartilhada no Facebook, afirma que Bolsonaro nomeou 100 marechais e que os nomes estão no Portal da Transparência.

Não é verdade que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nomeou 100 novos marechais, posto máximo da escala hierárquica do Exército Brasileiro, entre eles o falecido coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (ex-chefe do DOI-CODI) e os generais Augusto Heleno (ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional- GSI), Eduardo Villas Boas (ex-comandante do Exército), Edson Pujol (ex-comandante do Exército), Joaquim Silva e Luna (presidente da Petrobras) e Sérgio Westphalen Etchegoyen (ex-ministro do GSI).

A afirmação consta em uma publicação de um site. Todos os nomes aparecem no Portal da Transparência recebendo salários compatíveis com o cargo, mas este não está relacionado ao posto ocupado por eles na ativa e nenhum recebeu promoção, conforme esclareceu o Ministério da Defesa ao Comprova. Além disso, a reportagem não localizou qualquer documento assinado pelo presidente ou por Braga Netto, ministro da Defesa, promovendo militares à patente.

No Facebook, o autor do conteúdo o compartilhou com legenda questionando “sabia que marechais são nomeados em tempos de guerra?”, dando a entender que Bolsonaro estaria se preparando para um confronto, conforme interpretaram vários usuários no grupo de apoio à reeleição onde foi feita a postagem. Nos comentários, grande parte apoiou uma intervenção militar contra o Supremo Tribunal Federal (STF).

O autor modificou a legenda após ser procurado pelo Comprova e afirmou acreditar na existência de uma guerra institucional e em uma tensão entre as instituições, “mas não no sentido do cargo”, justificando ter informado que marechais são promovidos em tempos de guerra apenas como um complemento do texto publicado por ele.

O Comprova considera enganosos conteúdos retirados do contexto original e usados em outro, de modo que seu significado sofra alterações.

Como verificamos?

O Comprova buscou pelo termo “marechal” no Portal da Transparência do governo federal, localizando uma lista com 101 nomes que apresentavam o cargo. Em seguida, buscou especificamente nomes que aparecem na publicação aqui verificada.

Utilizando o Google, pesquisou diferentes termos combinados para tentar identificar nomeações realizadas por Jair Bolsonaro, associando o nome do presidente à palavra marechal e a nomes que aparecem na lista.

A ação foi repetida utilizando o nome do ministro da Defesa Walter Souza Braga Netto e o mesmo método foi utilizado no campo de busca do Diário Oficial da União e na plataforma de Acesso à Informação. Nenhum documento neste sentido foi localizado. Publicações na imprensa também foram consultadas.

A reportagem entrou em contato, via email, com o Ministério da Defesa e analisou leis que tratam da hierarquia e das pensões militares, além de informações sobre o cargo de marechal. Por fim, conversou com o responsável pela publicação.

Verificação

Em pesquisa ao Portal da Transparência, o Comprova identificou 101 nomes de militares (Página 1 – PDF, Página 2 – PDF) reformados e reservistas com o cargo de marechal, um cargo especial criado em caso de guerra e que tem como atribuição liderar o Exército no conflito, respondendo diretamente ao presidente da República. Dentre eles, estavam os nomes citados na publicação. Entretanto, não foi localizado no Diário Oficial da União nenhum documento assinado por Bolsonaro ou pelo ministro da Defesa em relação às nomeações.

Dessa forma, o Comprova questionou ao Ministério da Defesa como elas ocorreram e o que significa o fato de essas pessoas aparecerem como marechais no Portal da Transparência. Em resposta, o órgão afirmou não ter havido qualquer promoção de oficiais-generais aos postos de marechal (Exército), almirante (Marinha) ou marechal-do-ar (Aeronáutica).

“O Estatuto dos Militares previa o direito ao militar, com mais de trinta anos de serviço, de perceber os proventos de nível hierárquico superior, ao ser transferido para a inatividade. Cabe ressaltar que essa prerrogativa do posto acima terminou com a MP n° 2215-10/2001. No entanto, todos os militares que à época já contavam com 30 anos de serviço militar ganharam o direito”, informou.

A medida provisória citada pelo ministério dispõe sobre a reestruturação da remuneração dos militares das Forças Armadas, alterando duas leis – 3.765/1960, que trata sobre as pensões militares, e 6.880/1980, que dispõe sobre o Estatuto dos Militares.

O texto revoga o artigo 6º da lei das pensões que, até 2001, facultou aos militares com mais de 30 e 35 anos de serviço, contribuírem, respectivamente, para a pensão correspondente a um ou dois postos, ou graduações acima.

| Fonte: Lei nº 3.765/1960

Ainda conforme a resposta do Ministério da Defesa, os postos de almirante, marechal e marechal-do-ar são previstos no Estatuto dos Militares e serão providos em tempo de guerra.

Esta previsão consta no artigo 16 da lei, que fixa os círculos hierárquicos e a escala hierárquica nas Forças Armadas, bem como a correspondência entre os postos e as graduações da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.

O parágrafo 1° define que o posto é conferido por ato do Presidente da República ou do Ministro de Força Singular, sendo confirmado em Carta Patente. O parágrafo 2º, por sua vez, deixa claro que os postos de almirante, marechal e marechal-do-ar somente serão providos em tempo de guerra.

| Fonte: Lei nº 6.880/1980

Nesse contexto, em relação aos nomes que constam no Portal da Transparência, o Ministério da Defesa diz que o posto corresponde ao pagamento recebido pelos militares, não retratando os postos exercidos por eles na ativa.

Até 1967, quando houve a Reforma do Exército, os generais-de-Exército, ao passarem para a reserva, sofriam promoção automática. Foi o caso, por exemplo, de Waldemar Levy Cardoso, que morreu em 2009, aos 108 anos, o último marechal promovido no país.

Levy Cardoso participou da Revolução Liberal de 1924, em São Paulo, da Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas à Presidência do Brasil, e da Intentona Comunista de 1935. Em 1944, como tenente-coronel, comandou o 1º Grupo de Artilharia Expedicionário na Segunda Guerra Mundial. Chegou ao posto de general-de-Exército em 1964 e dois anos depois foi para a reserva.

Já o último marechal brasileiro na ativa foi Mascarenhas de Moraes, comandante da Força Expedicionária Brasileira, que atuou na Segunda Guerra Mundial. Por um decreto do Congresso Nacional, foi mantido honorificamente de forma vitalícia na tropa ativa, até o falecimento, em 1968.

Nomes na lista

As nomeações que constam no Portal da Transparência foram divulgadas pela imprensa na última semana e políticos de oposição e entidades batizaram o assunto de “Farra dos Marechais”. Uma reportagem publicada pelo Poder 360 leva a uma lista de nomes citados no post aqui verificado e informa que o Portal da Transparência identifica cerca de 100 generais reservistas ou reformados do Exército como marechais.

Essa mesma lista foi citada pelo conteúdo aqui verificado, assim como alguns dos nomes, verificados pelo Comprova. Todos constam no Portal da Transparência recebendo gratificações pelo cargo de marechal.

Dentre eles, está o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno Ribeiro Pereira, que aparece duas vezes enquanto servidor do governo federal: como marechal e reservista do Exército, com salário bruto de R$ 32.153,77, e como ministro, cuja remuneração bruta é de R$ 30.934,70.

O mesmo ocorre com o ex-comandante do Exército Eduardo Dias da Costa Villas Boas, que recebe remuneração bruta de R$ 32.180,43 como marechal e de R$ 13.623,39 como assessor especial da presidência da República. Outros três citados – Edson Pujol, Joaquim Silva e Luna e Sérgio Westphalen Etchegoyen – também recebem como marechais.

A reportagem do Poder 360 afirma ter apurado que a nomenclatura foi incluída neste ano no portal, após reestruturação de divulgação de informações conduzida pela CGU (Controladoria Geral da União), pelo Ministério da Defesa e pelas Forças Armadas. O veículo afirma que os órgãos avaliam, inclusive, alterar ou retirar a especificação do cargo de marechal da página, após diferentes interpretações terem sido divulgadas sobre o assunto.

A busca livre feita pelo Comprova no Portal da Transparência só contabiliza os valores e cargos a partir de abril deste ano. O site disponibiliza, porém, o download de dados de inativos e pensionistas desde janeiro de 2020. Naquele mês, usando o nome de Eduardo Villas Boas como exemplo, a reportagem identificou que ele já recebia remuneração básica bruta acima de R$ 30 mil (R$ 30.496,83). A lista não apresenta, contudo, a informação sobre o cargo ao qual se referia o pagamento.

A postagem cita, ainda, Carlos Alberto Brilhante Ustra, cujo nome não consta na lista que apresenta os 101 militares com o cargo de marechal. Ao buscar pelo nome dele, entretanto, o Comprova localizou duas pensões pagas para as filhas, ambas associadas ao cargo de marechal. A remuneração bruta recebida por cada uma é de R$ 15.307,90.

Na resposta do Ministério da Defesa ao Comprova não foi citada a situação específica do coronel, que não alcançou o posto de general enquanto esteve na ativa. Um email solicitando uma explicação para o caso foi encaminhado à assessoria de comunicação e a reportagem aguarda retorno. 

Os dados referentes às pensões a militares só foram disponibilizados no Portal da Transparência recentemente, após a Fiquem Sabendo, agência de dados especializada na Lei de Acesso à Informação (LAI), protocolar denúncias junto ao Tribunal de Contas da União (TCU).

Autor

O conteúdo foi publicado no site “Boletim do Brasil”, que se apresenta no Facebook como site de notícias e mídia e em um link para financiamento coletivo como um espaço de “boletins diários de notícias rápidas e opinião, boletins cativantes mostrando o que a mídia tradicional tenta esconder de você”.

É mantido por Fernando Takeshi Nascimento, que compartilhou o link no grupo Bolsonaro 2022 BR, de apoio à reeleição do presidente. Procurado pelo Comprova, Fernando afirmou acreditar, “sem dúvidas”, que exista “uma guerra institucional ou uma tensão nas instituições, mas não no sentido do cargo”.

Ele disse , ainda, que o conteúdo publicado por ele revela que a promoção é referente a proventos. “A informação de que marechais são nomeados em nome (sic) de Guerra é um complemento, que não deixa de ser verdade, segundo o próprio estatuto dos militares”, diz, linkando a explicação para “marechal” na Wikipedia.

Declarou também ter modificado a legenda que utilizou no Facebook ao compartilhar o link. Antes do contato, questionava “sabia que marechais são nomeados em tempos de guerra?”. Depois, a legenda passou a ser outra pergunta: “Eai (sic), o que acharam?”.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal, pandemia e eleições que tenham atingido alto grau de viralização. Conforme a ferramenta Crowdtangle, o conteúdo aqui verificado, que envolve o nome do presidenciável Jair Bolsonaro, teve 21.526 interações no Facebook.

Bolsonaro tem criticado frequentemente o sistema eleitoral brasileiro e feito recorrentes ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF). No âmbito militar, tem se aproximado de atividades junto às Forças Armadas. Nesta semana, assistiu à demonstração de manobras táticas da Operação Formosa 2021, que contou com a participação das três forças, e seis dias antes de um desfile do comboio com veículos blindados e armamentos da Marinha, no Planalto.

Desta forma, a aparição do cargo de marechal junto aos nomes dos militares acendeu o alerta de que estes estariam sendo promovidos em preparação para uma guerra, o que não é o caso, já que a nomeação se dá apenas para fins de remuneração. Conteúdos enganosos e falsos sobre o assunto deslegitimam o debate acerca das ações do presidente.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-08-16

Post engana ao dizer que CDC recomendou suspensão da aplicação da vacina da Janssen recentemente

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso post no Twitter que diz que o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos recomendou a suspensão da imunização com a vacina da Janssen. A interrupção ocorreu em abril e, no mesmo mês, a vacinação foi retomada.
  • Conteúdo verificado: Post no Twitter, publicado em agosto, afirma que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos acaba de aconselhar a suspensão da aplicação da vacina contra a covid-19 da Janssen. A publicação compartilha uma reportagem do jornal El País de abril.

É enganosa a postagem feita pelo empresário e presidente do diretório estadual do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) em São Paulo, Otávio Fakhoury, no Twitter afirmando que a aplicação da vacina da Janssen acabou de ser suspensa pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. Na verdade, a interrupção do uso do imunizante ocorreu em 13 de abril e durou apenas 10 dias. Portanto, quando o empresário fez o tuíte, a situação já havia sido normalizada havia pelo menos quatro meses.

A publicação ainda diz que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deveria se manifestar sobre o caso. Porém, o imunizante só começou a ser utilizado no Brasil em junho, quando as primeiras doses chegaram ao país e a aplicação já tinha sido retomada nos Estados Unidos.

O Comprova entrou em contato com Otávio Fakhoury pelo Facebook e pelo Instagram. Logo após a solicitação de contato, o post foi excluído e substituído por outro no qual ele alega que a suspensão temporária seria prova do caráter experimental das vacinas – o que também é enganoso.

Por meio da assessoria de imprensa do empresário, ele entrou em contato com a reportagem e afirmou que o primeiro post foi um erro e que, ao perceber, ele excluiu a publicação e fez uma nova com a correção. Quanto à afirmação de que a vacina é experimental, Fakhoury disse se referir ao fato do imunizante ter sido aprovado em caráter emergencial. Além disso, afirmou que os posts em seu Twitter se tratam de opinião e não têm a intenção de espalhar mentiras ou enganar ninguém.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor. O fato do autor do tuíte ter apagado a publicação considerada enganosa não interrompe a investigação do Comprova. Esta verificação está sendo publicada para esclarecimento das pessoas que tiveram acesso ao tuíte enganoso.

Como verificamos?

O Comprova leu a notícia compartilhada pelo empresário para ver se seu contexto original foi respeitado e notou que ela era antiga. Em vista disso, consultou os sites dos órgãos reguladores citados para conferir o desfecho do caso envolvendo o imunizante da Janssen.

A reportagem assistiu à sessão da CPI da Pandemia para entender o contexto da publicação do empresário e a sua relação com o que foi dito pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE). O parlamentar disse que Fakhoury não perdia a oportunidade de desinformar sobre as vacinas.

Por fim, procuramos o empresário para comentar.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 16 de agosto de 2021.

Verificação

Suspensão temporária das vacinas Janssen

O empresário compartilhou uma notícia da versão brasileira do jornal El País que dizia que “Autoridades dos EUA recomendam interrupção da aplicação da vacina Janssen contra a covid-19 após casos de trombose”. Sem dizer que ela foi postada em 13 de abril, a postagem é enganosa por levar a entender que a situação é atual. Apesar disso, a suspensão já havia sido revogada quatro meses antes.

Em 13 de abril, o Centro de Controle de Doenças e a Agência de Alimentos e Medicamentos (FDA), as duas agências regulatórias dos Estados Unidos, emitiram uma nota conjunta para suspender temporariamente a aplicação da vacina produzida pela Janssen. A nota dizia que haviam sido relatados seis casos de uma mistura rara de coágulos com queda no número de plaquetas.

Àquela altura, 6,8 milhões de pessoas já haviam recebido a vacina. Os casos eram um por milhão de vacinados. Como isso poderia ser sinal de um efeito colateral extremamente raro, a pausa foi sugerida para que os técnicos pudessem investigar os casos.

Isso é um procedimento normal de segurança. As vacinas passam por rigorosos testes em milhares de voluntários que avaliam a eficácia e a segurança delas. Mesmo assim, ainda é possível que elas tenham efeitos colaterais extremamente raros, que só poderiam aparecer quando a vacina é aplicada em milhões de pessoas. Por isso, os órgãos regulatórios mantêm mecanismos de vigilância dos efeitos colaterais mesmo após a autorização.

A pausa da aplicação durou dez dias. Em 23 de abril, os dois órgãos divulgaram que o estudo dos casos permitiu concluir que os coágulos realmente estavam relacionados com a vacina da Janssen. No entanto, reconheceram que a chance deles ocorrerem é “muito baixa” e determinaram a retomada da aplicação.

“A FDA considera que os benefícios conhecidos são maiores do que os riscos conhecidos em indivíduos acima dos 18 anos”, informou a agência. Ela também anunciou que manteria o sistema de vigilância para detectar eventuais aumentos nos riscos trazidos pelo imunizante. A possibilidade de coágulos foi incluída na bula como um efeito colateral muito raro (abaixo de 1 caso para cada 10 mil).

No tuíte apagado, o empresário pede que a Anvisa “se manifeste”. É importante lembrar que embora tenha recebido autorização para uso emergencial em 31 de março da Anvisa, as primeiras doses da Janssen só chegaram no Brasil em 22 de junho – dois meses após sua aplicação ter sido retomada nos Estados Unidos.

Por telefone, Fakhoury disse que o primeiro post, que dava a entender que a suspensão da vacina tinha ocorrido recentemente, foi um erro e que ao perceber ele excluiu a publicação e fez uma nova com a correção.

Vacinas em uso foram testadas e aprovadas

Em seu segundo tuíte, o empresário alega que as vacinas são “experimentais”. Fakhoury disse se referir ao fato do imunizante ter sido aprovado em caráter emergencial e que os posts em seu Twitter se tratam de opinião. “Eu faço opinião, não trato como a publicação de um jornal. Eu não sou contra a vacina. A vacina tem que ser disponibilizada a todos, mas os riscos têm que ser explicados e cada um decide se vai tomar. Ninguém quer mentir ou enganar ninguém. Eu tenho opiniões e tem gente que não gosta”, afirmou.

No Brasil, quatro vacinas estão aprovadas para uso pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A Pfizer e a AstraZeneca têm autorização para uso definitivo. Já Coronavac e Janssen têm autorização para uso emergencial.

De acordo com a Anvisa, nesse tipo de autorização, as vacinas continuam a ser avaliadas e só podem ser usadas pelo governo, não podendo ser comercializadas por clínicas e laboratórios. Apesar da autorização ser concedida de forma mais rápida, a agência exige que o imunizante tenha finalizado todos os testes e comprovado sua eficácia e segurança.

Já a FDA explica que a aprovação em caráter emergencial é mais rápida, mas todos os dados disponíveis são avaliados antes de concedê-la. “Uma vez submetida, o FDA avaliará a solicitação e determinará se os critérios legais relevantes foram atendidos, levando em consideração a totalidade das evidências científicas sobre a vacina que estão disponíveis.” Entre esses critérios, estão dados de segurança e eficácia.

Todas as vacinas em uso já terminaram as três fases de testes em humanos exigidas pela Anvisa e pelas principais agências reguladoras do mundo. A Janssen terminou os testes em janeiro de 2021 e conseguiu uma eficácia global de 66%; a Coronavac também finalizou os testes em janeiro e conseguiu a eficácia de 50,38%; a Pfizer terminou os testes ainda em novembro de 2020 e conseguiu eficácia de 95%; e a AstraZeneca em janeiro, com 82% de eficácia.

O autor do post

Otávio Fakhoury é um empresário e financista apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Desde julho de 2021, é também presidente do diretório estadual do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) em São Paulo.

Fakhoury é investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) em inquéritos que apuram a atuação organizada na divulgação de fake news e na promoção de atos antidemocráticos. O empresário já financiou um dos blogs alvo da Polícia Federal e que já teve conteúdos checados pelo Comprova. Em entrevistas anteriores, o empresário afirma que o inquérito das fake news é “cerceamento à liberdade de expressão”.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. O post verificado aqui teve mais de 1,5 mil interações no Twitter antes de ser apagado.

Conteúdos enganosos que tentam desacreditar as vacinas são perigosos porque podem levar a população a colocar a saúde em risco.

O Comprova já esclareceu diversos conteúdos sobre imunização, como, por exemplo, que é enganoso post que afirma que o CDC e Anthony Fauci não acreditam na vacina, que o diagnóstico positivo de Doria não indica ineficácia da Coronavac e que é falso que imunizantes usados no Brasil não passaram por testes de segurança e eficácia.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Eleições

Investigado por: 2021-08-13

Inquérito da PF não investiga fraude no processo de votação

  • Enganoso
Enganoso
A Polícia Federal não concluiu, em um inquérito, que houve invasão às urnas eletrônicas ou fraude no sistema de votação. O ataque hacker ao TSE, investigado pela PF e mencionado pelo presidente Bolsonaro, só atingiu o sistema interno do Tribunal, sem comprometer as eleições.
  • Conteúdo verificado: Postagens virais no Instagram e Facebook, além de um vídeo no YouTube, afirmam que o presidente tem provas sobre a insegurança das urnas eletrônicas – se referindo a documentos sigilosos de uma investigação da Polícia Federal publicados por Bolsonaro no Twitter.

Não é verdade que um inquérito da Polícia Federal prove que as urnas eletrônicas brasileiras já foram invadidas ou que já houve qualquer fraude no sistema eleitoral.

As alegações circulam em postagens enganosas no Facebook e Instagram, além de terem sido repetidas por um youtuber, em vídeo que viralizou.

Todos se referem aos documentos publicados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas redes sociais, que se tratam, de fato, da investigação da PF sobre um ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nem as publicações, nem o chefe do executivo mencionam, porém, que a invasão foi ao sistema interno do TSE, sem qualquer implicação na segurança das urnas eletrônicas – que contam com dispositivos adicionais de proteção.

Não há no inquérito nenhum dado relevante ou que comprove as alegações. Em reportagem publicada pela Folha de S. Paulo, as fontes ouvidas — estudiosos do tema e um participante da investigação — confirmaram que não há prova de fraude ou de mudanças no código-fonte do software de votação.

A Polícia Federal foi procurada, mas disse apenas, por email, que não comenta inquéritos em andamento.

O Comprova considera as postagens enganosas, porque usam dados imprecisos ou que induzem a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Como verificamos?

Primeiramente, assistimos à entrevista concedida pelo presidente ao programa Pingos nos Is, da Jovem Pan, para saber melhor sobre as alegações feitas por ele.

Em seguida, analisamos o conteúdo dos documentos publicados por Bolsonaro em sua conta oficial no Twitter: o inquérito 1.468, da Polícia Federal, que investiga a invasão do sistema GEDAI; o relatório do TSE sobre o caso; o ofício da denúncia de fraude e o email do servidor hackeado. Nesta sexta-feira (13) os documentos não estavam mais disponíveis nos links disponibilizados pelo presidente.

Depois, buscamos o posicionamento do TSE a respeito das alegações e entramos em contato com a Polícia Federal para tentar obter mais detalhes a respeito do inquérito. O Tribunal havia publicado uma nota sobre o assunto, mas a PF disse que não se pronuncia a respeito de investigações que estão em andamento — apesar de ter confirmado que o documento publicado pelo presidente é verdadeiro.

Procuramos por especialistas em segurança digital e no sistema eletrônico de votação e, ainda, por reportagens já publicadas em outros veículos sobre o assunto.

Tentamos contato com os responsáveis pelas postagens, por email e mensagem nas próprias redes sociais onde o conteúdo foi publicado, mas não tivemos retorno até a conclusão desta verificação.

Verificação

Urnas não foram comprometidas

Não há, nos documentos divulgados por Bolsonaro, qualquer conclusão que aponte para a insegurança das urnas eletrônicas ou para a possibilidade do processo de votação ter sido afetado.

A investigação foi aberta pela Polícia Federal em 8 de novembro de 2018, na Superintendência Regional do Distrito Federal, após ser acionada pelo TSE. A motivação foi a suposta invasão de um hacker ao Sistema Gerenciador de Dados, Aplicativos e Interface com a Urna Eletrônica (GEDAI-UE) – aplicativo que permite a instalação na urna das listas com os nomes e dados dos candidatos, junto com o software do sistema de votação, além de registrar a presença dos eleitores –, e ainda o acesso a documentos sigilosos do Tribunal Superior Eleitoral. O caso foi descoberto a partir de uma reportagem do jornalista Felipe Payão, do Portal TecMundo, que foi contatado pelo hacker.

Em 210 páginas, o inquérito mostra que foram adotadas várias diligências diferentes pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal para a investigação do caso, mas não há conclusão ou suspeita de que as urnas eletrônicas tenham sido comprometidas.

Na reportagem publicada pela Folha a respeito do assunto, os especialistas ouvidos também ressaltam que o inquérito não tem nenhuma conclusão neste sentido. “E, mesmo se o atacante tivesse obtido acesso de escrita ao repositório de códigos-fonte interno do TSE, o Git [sistema de controle] tem algumas salvaguardas contra modificações no repositório central de códigos: ele guarda o histórico de alterações, e não é possível alterar o histórico antigo. Então, seria possível detectar se houve modificação pelo invasor”, diz o professor Paulo Matias, do Departamento de Computação da Universidade Federal de São Carlos.

Nesta quinta-feira (12), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acolheu uma notícia-crime do TSE e mandou investigar Bolsonaro por suposto vazamento de dados sigilosos em relação ao inquérito da PF.

Código-fonte não é sigiloso

O caso de 2018 também foi alvo de uma sindicância interna do TSE, cujos documentos constam no inquérito. Em um ofício que trata das consequências da invasão, o secretário de Tecnologia da Informação do Tribunal, Giuseppe Dutra Janino, afirma que “o código-fonte do GEDAI-UE, acompanhado de seus binários compilados, permite a importação de dados; contudo, o software de urna utilizado não tem as assinaturas oficiais da lacração, o que fica evidenciado pelo LED de segurança da urna e pelos procedimentos de verificação de hash, que são resumos digitais realizados para garantir que os códigos lacrados são os mesmos que auditados, e assinatura; também não seria possível a geração de um boletim de urna válido para a totalização a partir disso”.

O código-fonte do software de votação, que corresponde ao programa inserido na urna eletrônica, é sempre analisado por técnicos dos partidos políticos, Polícia Federal, Ministério Público Federal e entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Não se trata, portanto, de um arquivo sigiloso.

No dia 12 de agosto, aliás, o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, anunciou que o prazo para análise do programa pelos representantes dos partidos será ampliado: todos receberão o dado em 1º de outubro, um ano antes do primeiro turno de 2022. A ideia é fortalecer a publicidade e a transparência dos mecanismos que garantem a segurança do processo eleitoral.

Em entrevista à Jovem Pan, Bolsonaro chegou a afirmar que no período de abril a outubro de 2018 o código-fonte esteve na mão de um hacker, e que, por isso, poderia ter “acontecido tudo, aperta 17 e sai nulo”. Em entrevista à Folha, Diego Aranha, professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, contesta a hipótese levantada pelo presidente. “É naturalmente falso o argumento de que a posse do código-fonte é suficiente para provocar fraude. Se fosse o caso, os fiscais de partidos políticos que possuem acesso ao código-fonte nas dependências do TSE estariam fraudando as eleições a torto e a direito desde o princípio, o que não é nada razoável de se assumir”, afirma.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre governo federal, pandemia e eleições que tenham atingido alto grau de viralização. As afirmações aqui verificadas tiveram ao menos 20,6 mil interações no Instagram e o vídeo foi visualizado 445,9 mil vezes no YouTube.

Conteúdos que questionam a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro por meio de informações manipuladas e enganosas corroboram as acusações, sem fundamentos, que o presidente faz constantemente à autenticidade do processo eleitoral. Desde o início do voto eletrônico no Brasil, em 1996, nenhum caso de fraude foi identificado e comprovado.

Desde a última eleição presidencial, quando as supostas falhas no sistema eleitoral passaram a ser divulgadas, o Comprova já verificou diversas vezes conteúdos falsos e enganosos sobre o assunto. Entre as checagens mais recentes está uma de julho deste ano que engana ao afirmar que o resultado de uma enquete sobre o voto impresso reflete opinião da população. Em outubro do ano passado, o projeto mostrou que um documento não prova fraude nas eleições de 2018 nem comprova vitória de Bolsonaro no 1º turno. No mês seguinte, duas publicações do Comprova apontaram para o fato de o voto eletrônico no Brasil já ser auditável.

Para o Comprova, um conteúdo é enganoso quando confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano, porque usa dados imprecisos e induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor, além de ter sido retirado do contexto original e usado em outro, com alterações no significado.

Política

Investigado por: 2021-08-13

Vídeo de veículos militares tombados é retirado de contexto para desqualificar desfile da Marinha em Brasília

  • Falso
Falso
Post no Instagram usa um vídeo de 2018, de um guincho tombado ao socorrer blindado do Exército, para fazer crer que o acidente ocorreu em 10 de agosto deste ano, quando houve desfile de tanques em Brasília.
  • Conteúdo verificado: Vídeo mostra um blindado do Exército sendo socorrido por um guincho e, em seguida, o veículo de socorro tomba. Na legenda do post viral, está a descrição: “Este é o exército do capetão Bolsonaro a caminho do desfile para pressionar a aprovação do voto impresso hoje”, dando a entender que se trata de uma gravação feita no último dia 10 de agosto, quando houve um desfile de blindados em Brasília.

É falso o conteúdo de uma postagem viral no Instagram que apresenta um vídeo de um blindado do Exército tombado à margem de uma rodovia e um outro veículo militar que, ao socorrê-lo, também vira. No texto que acompanha a imagem, o autor afirma que se trata do “Exército do capetão Bolsonaro a caminho do desfile para pressionar a aprovação do voto impresso.”

O desfile de blindados e a votação mencionados no post ocorreram na terça-feira (10), porém, o acidente com o veículo militar foi registrado três anos antes, em 2018, numa estrada de Bela Vista, em Mato Grosso do Sul, como mostra reportagem do G1.

O Exército e o perfil que divulgou o vídeo foram procurados, mas não se manifestaram até a publicação deste texto. O Comprova classificou o conteúdo como falso porque se trata de teor inventado para disseminar uma mentira.

Como verificamos?

Como o conteúdo verificado apresenta um vídeo, o primeiro passo foi conferir se a imagem já havia sido publicada anteriormente. Para tanto, o Comprova fez uma pesquisa reversa pelo Google Imagens e também usando a ferramenta TinEye. Os dois recursos levaram a páginas que já haviam divulgado o vídeo, algumas delas em 2018, e, portanto, antes do desfile de blindados registrado esta semana em Brasília.

Na pesquisa sobre o assunto, a reportagem chegou a outra verificação relacionada ao vídeo, feita pelo G1, que também classificou o conteúdo como falso.

O Exército foi consultado sobre o episódio, mas não respondeu aos contatos da reportagem, por e-mail e telefone. A reportagem também enviou mensagem privada via Instagram para o perfil @esquerdavalente, que publicou o conteúdo aqui verificado, mas não obteve retorno.

Verificação

O acidente

O vídeo apresentado na postagem é de um acidente registrado em 13 de agosto de 2018 na rodovia MS-384, em Bela Vista, no Mato Grosso do Sul. Reportagem da época feita pelo G1 aponta que dois veículos militares se envolveram na ocorrência. O primeiro tombou na estrada e um guincho foi acionado para desvirar a viatura, mas acabou tombando também.

Segundo o site da Globo, os dois veículos eram do 10° Regimento de Cavalaria Blindada e “um militar teve ferimentos leves e recebeu atendimento médico de imediato”.

O desfile

Embora também integrante das Forças Armadas, o Exército não promoveu o desfile com blindados da última terça-feira (10), mas, sim, a Marinha. A parada militar ainda apresentou armamentos e foi realizada na Esplanada dos Ministérios, com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) acompanhando o evento da rampa do Palácio do Planalto.

Não há registro de que algum veículo tenha se envolvido em acidente a caminho ou na saída da apresentação, como sugere o conteúdo verificado.

O desfile militar foi bastante criticado por opositores do governo, que viram na manifestação uma tentativa de intimidação, sobretudo porque foi realizado na mesma data em que a Câmara Federal apreciou a PEC do voto impresso, uma proposta de emenda constitucional defendida pelo presidente, que previa a impressão de cédulas que pudessem ser conferidas pelo eleitor, independentemente do meio empregado para o registro dos votos.

Voto impresso

A PEC do voto impresso já havia sido rejeitada por comissão especial na Câmara, mas, na última terça-feira, foi levada a plenário para apreciação de todos os parlamentares. Como se tratava de emenda constitucional, precisaria dos votos de ⅗ dos 513 deputados para ser aprovada, ou seja, pelo menos 308 a favor.

Contudo, a proposta defendida por Bolsonaro não obteve a votação necessária e foi arquivada, impondo uma derrota política ao presidente. Após o resultado, ele voltou a criticar o sistema eleitoral brasileiro e a lançar dúvidas sobre a segurança da urna eletrônica.

Bolsonaro e seus seguidores constantemente atacam as instituições, como a Justiça Eleitoral e o Supremo Tribunal Federal (STF), e o presidente ainda usa boatos para alegar fraude nas urnas e até para ameaçar a realização das eleições em 2022. Essa conduta o colocou no centro de investigações da Justiça sobre fake news.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre o governo federal, eleições e pandemia que tenham atingido alto grau de viralização. O conteúdo verificado aqui foi visualizado mais de 11,4 mil vezes no Instagram até 13 de agosto.

Bolsonaro tem feito manifestações que são consideradas golpistas por opositores e entidades, como a insistência em criticar o sistema eleitoral brasileiro. O desfile militar desta semana foi visto como mais uma tentativa de pressionar outros poderes e politizar o Exército. Conteúdos falsos sobre o ocorrido, entretanto, deslegitimam o debate acerca dos movimentos do presidente.

O conteúdo também foi verificado pela plataforma Fato ou Fake, do G1 e, recentemente, o Comprova verificou outros conteúdos envolvendo o voto impresso, como o que enganava ao afirmar que a opção já é lei e o que afirmava, também de forma enganosa, que o resultado de uma enquete sobre o pleito em papel reflete a opinião da sociedade.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2021-08-13

Médica usa dados fora de contexto de hospital de Israel para acusar CDC de mentir sobre casos de covid em pessoas não vacinadas

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o tuíte de uma médica que utiliza dados de um hospital israelense para afirmar, sem provas, que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos mente em relação ao número de pessoas não-vacinadas internadas com covid-19.
  • Conteúdo verificado: Infectologista utiliza dados apresentados pelo diretor de um hospital em Israel para afirmar, em post no Twitter, que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) norte-americano mente em relação à porcentagem de não vacinados hospitalizados por covid-19.

É enganosa a postagem feita por uma médica infectologista no Twitter alegando que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos mente em relação à porcentagem de pessoas não vacinadas internadas com covid-19 no país. A autora do tuíte tira de contexto números apresentados por Kobi Haviv, diretor-médico do Herzog Hospital de Jerusalém, à emissora local Canal 13 sobre uma nova onda da doença em Israel.

Na fala, Haviv afirma que 90% dos pacientes atendidos no Herzog já tinham sido vacinados e que a efetividade da vacina está diminuindo. É possível perceber que há uma interrupção na fala do médico no vídeo postado no Twitter e compartilhado por contas de diversos países.

No mesmo tuíte, a médica destaca números apresentados por Kobi Haviv, escreve que Israel vacinou 62% de sua população e questiona por que nos Estados Unidos, onde o CDC afirma que 97% dos hospitalizados com covid são pessoas não vacinadas, seria diferente.

É fato que ambos os países têm observado aumento no número de casos de covid-19, inclusive entre imunizados, principalmente em decorrência da variante delta. Enquanto os Estados Unidos afirmam que a maior parte dos hospitalizados é composta por pessoas não vacinadas, Israel apresenta dados absolutos contendo mais pessoas imunizadas entre as internadas. Entretanto, a partir dos dados relativos, considerando a taxa de 100 mil habitantes, o país possui um maior número de hospitalizados dentre as pessoas não vacinadas.

Embora o post utilize números apresentados pelo médico na entrevista, omite que a unidade hospitalar onde ele trabalha atende predominantemente pessoas idosas, maior faixa etária vacinada no país, aumentando, assim, a quantidade de pessoas vacinadas atendidas.

O Ministério de Saúde israelense informou que a mais recente onda de contaminações se dá, em parte, por causa da diminuição na proteção das pessoas vacinadas em janeiro e fevereiro. Com base nisso, o órgão passou a recomendar uma terceira dose para os idosos.

O post também não contextualiza o que Kobi Haviv fala sobre o assunto em pelo menos mais duas entrevistas – uma para a mesma emissora de TV e outra para uma rádio local, todas na mesma semana: ele defende a vacinação, reforça o poder da vacina em proteger as pessoas em casos mais graves e aconselha, inclusive, a aplicação da terceira dose. Desta forma, a médica abre espaço para que os seguidores – mais de 34 mil – interpretem que os imunizantes são ineficazes, como fica claro em grande parte dos comentários criticando a política de vacinação durante a pandemia.

A reportagem tentou falar com a profissional pelo Twitter, onde ela fez a postagem, mas o perfil mantém fechado o canal para mensagens privadas. Uma mensagem solicitando um meio de contato foi deixada na postagem. O Comprova classificou o conteúdo como enganoso porque ele retira informações de contexto e as utiliza de modo a confundir.

Como verificamos?

O primeiro passo foi fazer uma busca reversa de imagens de frames do vídeo compartilhado no Twitter pela médica, sem resultados. Contudo, buscando no Google pelos termos citados, como o nome do médico entrevistado, encontramos o mesmo vídeo em duas plataformas distintas: o YouTube e o UGETube – site norte-americano mantido pelo grupo Utah Gun Exchange para comércio de armamentos e munição.

Também localizamos um vídeo com conteúdo similar no Facebook. O material foi postado às 10h13 do dia 23 de julho de 2021 pela conta oficial do Herzog Hospital. O tema da entrevista é o mesmo daquele aqui verificado, ela foi concedida à mesma emissora de TV e para a mesma jornalista – Sivan Cohen Saban –, mas é possível perceber que os vídeos são diferentes porque Sivan usa roupas de cores distintas nos dois vídeos e faz saudações diferentes nas duas ocasiões.

| Vídeo compartilhado no Twitter

| Vídeo postado na conta do Herzog Hospital no Facebook

As entrevistas foram concedidas em hebraico e, por isso, pedimos que duas pessoas que falam o idioma assistissem aos dois vídeos e traduzissem o conteúdo. Os vídeos foram vistos pelo historiador Magide Jarallah Dracoulakis Nunes e pelo rabino Gilberto Ventura, fundador do Sinagoga sem Fronteiras, que faz o acolhimento, a nível nacional, das comunidades brasileiras dos descendentes dos judeus forçados pela inquisição.

Ambos afirmaram que o conteúdo das entrevistas eram similares, mas também apontaram informações contidas no vídeo postado no Facebook do hospital que não aparecem nas imagens que viralizaram nas redes.

Também fizemos uma busca pelo nome do médico em hebraico – קובי חביב – na ferramenta de busca de notícias do Google e localizamos textos em veículos de mídia de Israel que repercutiam as declarações feitas por Kobi Haviv, sobre o mesmo assunto, na rádio 103 FM de Israel. A entrevista concedida a Anat Davidov no dia 27 de julho tem cerca de 10 minutos de duração.

Foram analisados os dados atuais da pandemia nos Estados Unidos e em Israel, por meio das plataformas dos governos e pela imprensa. Para isso, foi necessária a ajuda da ferramenta de tradução do Google, já que muitas informações estavam em hebraico.

Entramos em contato, ainda, com o Herzog Hospital, com o CDC, com o Ministério da Saúde de Israel e com o médico Shimshon Erdman, diretor do Departamento de Relações Internacionais com a América Latina da Associação Médica de Israel. Por fim, tentamos contactar a autora do tuíte. Apenas o Ministério da Saúde de Israel e Shimshon Erdman retornaram ao nosso contato por e-mail.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 13 de agosto de 2021.

Verificação

O vídeo e os números

O tuíte verificado foi postado por uma médica infectologista brasileira. No post, ela destaca alguns números e compartilha um link que leva a um vídeo de 42 segundos no qual o chefe do Herzog Hospital de Jerusalém, Kobi Haviv, é entrevistado pela jornalista Sivan Cohen Saban, do Canal 13 de Israel, e afirma que de 85% a 90% das pessoas hospitalizadas na unidade estão totalmente vacinadas.

No vídeo compartilhado, há uma legenda em inglês sobreposta à chamada feita pela própria emissora. O Comprova não conseguiu localizar o vídeo original, mas encontrou outras duas entrevistas concedidas pelo mesmo médico entre os dias 23 e 27 de julho deste ano.

A postagem feita pela médica destaca os números informados por Kobi Haviv – de 85% a 90% dos hospitalizados sendo pessoas vacinadas – e acrescenta um segundo dado, de que 95% desses pacientes hospitalizados eram vacinados e tinham quadro grave. Este percentual aparece na legenda original em hebraico feita pela emissora de TV. Pedimos, então, que o rabino Gilberto Ventura, do Sinagoga sem Fronteiras, confirmasse se o médico menciona esse número em sua fala. O rabino afirma que não, e que o número citado pelo médico no vídeo que viralizou é de 90% de vacinados internados.

A autora do tuíte usa estes números para questionar por que o quadro nos Estados Unidos seria diferente do de Israel, afirmando que o CDC mente ao dizer que 97% dos casos de hospitalizados são de pessoas não vacinadas. A infectologista não apresenta, contudo, dados que comprovem o que diz.

Médico defende as vacinas

Embora a maior parte dos números apresentados pela médica tenham, de fato, sido ditos por Kobi Haviv, ela não contextualiza as informações, o que faz parecer que o diretor do Herzog Hospital é contrário à vacinação, e isso não é verdade. Em entrevistas concedidas à mesma emissora de TV e à rádio 103 FM, Havivi afirma que a maioria dos pacientes graves do hospital foi vacinada e que esperava por um aumento no número de casos quando a equipe acompanhou a variável B.1.617.2 (Delta) agindo na Itália.

Ele acredita que a efetividade das vacinas tem diminuído e informa que a maioria dos pacientes tem mais de 70 anos e que mais de 90% estão vacinados. Diferentemente do que sugere o post feito pela médica, o diretor da unidade defende a vacinação, ressalta que muitos infectados permanecem com quadros leves graças à vacina e se coloca favorável à aplicação de uma terceira dose, o que já está ocorrendo em Israel

Estas informações estão em um texto publicado pelo jornal Ma’ariv, um diário dos mais vendidos do país, que compartilhou, além dos dados, o áudio da entrevista concedida por ele à rádio 103 FM no dia 27 de julho.

O Comprova entrou em contato com a unidade hospitalar, via Facebook, mas não houve retorno. Também solicitou ao Ministério da Saúde israelense detalhes sobre o atendimento no local e se o diretor é considerado uma autoridade em saúde no país, mas não obteve resposta para este ponto.

O médico Shimshon Erdman, diretor do Departamento de Relações Internacionais com a América Latina da Associação Médica de Israel, disse ao Comprova que a unidade dirigida por Kobi Haviv é um centro que trata pacientes com problemas de saúde agravados pela idade e que o médico indica que os pacientes e a equipe recebam uma terceira dose da vacina, o que já está acontecendo.

Por se tratar de um centro especializado, é natural que receba maior número de pessoas vacinadas, visto que esta é a faixa etária com a maior cobertura vacinal em Israel até o momento, segundo o painel de dados (abaixo) relacionados à doença no país, atualizado no dia 12 de agosto.

A plataforma demonstra o número de pacientes ativos e em estado grave, de acordo com as faixas etárias da população e conforme as condições de imunização de cada uma, apresentando, inclusive, a comparação entre a incidência de pacientes para cada 100 mil residentes em cada etapa de imunização: totalmente vacinado; parcialmente vacinado; e não vacinado.

Apesar da maioria dos pacientes ter sido totalmente vacinada, segundo os números absolutos, quando a análise é feita a partir dos números relativos, conforme orientou o Ministério da Saúde de Israel à reportagem, e considerando a taxa de 100 mil habitantes, é possível perceber um maior número de hospitalizados dentre as pessoas não vacinadas no país.

| Números relativos

| Números absolutos

Como explica reportagem do Viva Bem UOL, o sistema imune inicia um processo de declínio progressivo aos 20 anos e as pessoas tornam-se mais vulneráveis às doenças ao final da vida, o que explica a maior vulnerabilidade dos idosos à covid.

Shimshon Erdman também afirma que os vacinados não sofrem com a gravidade da doença, mas, quanto menores os antígenos, mais difícil será lutar contra a contaminação. Assim como Kobi Haviv, ele diz apoiar a aplicação da terceira dose.

Israel vê aumento de infecções diante da variante delta

Segundo informou o Ministério da Saúde de Israel ao Comprova, o noticiário e o próprio site do governo, atualmente o país registra aumento nas infecções como resultado da variante delta, inclusive com a hospitalização de pacientes totalmente vacinados, principalmente entre os grupos de risco. Na quarta-feira (11), havia 694 pessoas sendo tratadas contra o vírus nos hospitais de Israel e cerca de 64% dos pacientes definidos como críticos haviam sido totalmente vacinados.

O país se prepara para o fortalecimento das unidades hospitalares após funcionários do Ministério da Saúde e outros especialistas apresentaram dados prevendo cerca de 4,8 mil pacientes com coronavírus que precisarão de hospitalização até 10 de setembro.

No início de julho, o Ministério da Saúde de Israel relatou que a efetividade da vacina da Pfizer – imunizante mais aplicado no país – contra infecções e casos sintomáticos de covid-19 havia caído para 64% desde 6 de junho. O órgão destacava, contudo, que a vacina continuou tendo 93% de efetividade na prevenção de hospitalizações e casos graves da doença. “Consideramos a vacinação a ferramenta mais eficaz no combate à pandemia”, afirmou o ministério ao Comprova.

Em uma checagem publicada pelo Comprova, em 5 de agosto, a pasta informou que a mais recente onda de contaminações começou em meados de junho e avaliou que o aumento no número de contágios se dá, em parte, por causa da diminuição na proteção das pessoas vacinadas em janeiro e fevereiro. Com base nisso, o órgão passou a recomendar uma terceira dose para os idosos.

O site do órgão mantém uma aba sobre a aplicação desta terceira dose da vacina, explicando os motivos e informando que, entre os infectados, estão crianças, a maioria não vacinada, e também uma parcela imunizada, incluindo com morbidade particularmente grave entre adultos com 60 anos ou mais.

O governo explica que o benefício esperado da administração da terceira dose é baseado em estudos conduzidos por fabricantes de vacinas, os quais apontam que uma terceira dose após a dose basal causa um impulso que aumenta o nível de anticorpos, a qualidade e a duração no corpo. O resultado é um aumento na capacidade dos anticorpos em protegerem contra o vírus.

Ao Comprova, o médico Shimshon Erdman explicou que Israel enfrenta um impulso muito agressivo da pandemia com números que eram registrados desde o início da pandemia. “É enormemente contagioso, com um aumento gráfico assustador, dobrando os números de semana para semana, e também criando a sensação de que se a população não respeitar as indicações não haverá reação diferente que fazer o encerramento total das atividades”, alerta.

Variante também preocupa os Estados Unidos

No dia 16 de julho, Rochelle Walensky, diretora do Centro para Controle de Doenças dos Estados Unidos, esteve em reunião na Casa Branca para a atualização da pandemia e da variante delta no país. Na ocasião, informou que 97% das pessoas que estavam entrando nos hospitais naquele momento não haviam sido vacinadas, notícia repercutida pela imprensa.

O país também vê o número de casos crescer. Em 27 de julho, o CDC divulgou orientações atualizadas sobre a necessidade de aumentar urgentemente a cobertura de vacinação da covid-19 e uma recomendação para que todos em áreas de alta transmissão usem máscara em locais públicos fechados, mesmo aqueles totalmente vacinados.

O principal motivo foi uma reversão na trajetória descendente dos casos, tendo sido observado um aumento rápido e alarmante no caso de covid e nas taxas de hospitalização em todo o país ao longo do mês.

De acordo com o órgão, no final de junho a média móvel em sete dias era de 12 mil casos confirmados. Em 27 de julho, entretanto, essa média atingiu mais de 60 mil casos, sendo considerada maior que a existente antes da vacina estar amplamente disponível.

Outro motivo foi o surgimento de novos dados de que a variante delta é mais infecciosa e está levando a uma maior transmissibilidade quando comparada a outras variantes, mesmo em indivíduos já vacinados, sendo atualmente a cepa predominante do vírus nos Estados Unidos.

Um estudo divulgado pelo centro, por exemplo, apontou que em julho de 2021, após vários eventos públicos em um condado de Barnstable, Massachusetts, 469 casos de covid foram identificados entre pessoas que viajaram para a cidade entre os dias 3 e 17 de julho. Destes, 346 (74%) ocorreram em pessoas totalmente vacinadas. Os testes identificaram a variante delta em 90% das amostras de 133 pacientes. No total, cinco pessoas foram hospitalizadas, quatro delas vacinadas, e não houve óbitos.

O CDC afirma que as vacinas são altamente eficazes, inclusive contra a variante delta, na prevenção do agravamento da doença e morte, mas não são 100% eficazes e algumas pessoas totalmente vacinadas são infectadas.

| Mapa de risco dos Estados Unidos em 11/08 (Fonte: CDC)

Quem postou?

O tuíte foi postado pela médica Roberta Lacerda Almeida de Miranda Dantas, que possui registro emitido pelo Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte, tendo como especialidade a infectologia. Ela mantém um canal com 32 mil inscritos no YouTube, no qual afirma trazer “novidades” e responder “perguntas sobre temas de saúde e tratamento imediato para a covid-19”.

Ela defende o “tratamento precoce” contra a covid, com o uso de medicamentos como ivermectina, azitromicina e hidroxicloroquina, que não têm eficácia comprovada contra a doença, tendo sido convidada, inclusive, a debater o tema, em maio deste ano, em reunião da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados.

O Comprova tentou falar com a profissional pela plataforma na qual fez a postagem, mas o espaço para envio de mensagens está fechado. Foi deixada uma resposta à publicação solicitando um meio de contato.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. A postagem aqui verificada foi curtida 1,7 mil vezes, além de ter sido retuitada 439 vezes.

Conteúdos enganosos envolvendo as vacinas e autoridades e órgãos de saúde podem levar a população a rejeitar as recomendações de combate à pandemia e, assim, colocar-se em risco.

O Comprova já esclareceu diversos conteúdos sobre a imunização, como o post que engana ao afirmar que o CDC e Fauci não acreditam na eficácia das vacinas, o boato que tirava de contexto estudo com adolescentes nos Estados Unidos para atacar vacina da Pfizer, o que afirmava que o diagnóstico positivo de Doria indicaria ineficácia da Coronavac e o que enganava dizendo que os imunizantes usados no Brasil não teriam passado por testes de segurança e eficácia.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Saúde

Investigado por: 2021-08-10

Post engana ao afirmar que CDC e Fauci não acreditam na eficácia das vacinas

  • Enganoso
Enganoso
Post no Instagram engana ao afirmar que Anthony Fauci é "uma farsa completa" e que ele e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) estariam dizendo que "as vacinas não protegem".
  • Conteúdo verificado: Com trecho de entrevista em vídeo de Anthony Fauci e dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, post no Instagram afirma que o infectologista “é uma farsa completa” e que ele e o CDC não acreditam na eficácia das vacinas contra a covid-19.

É enganoso o post que viralizou no Instagram usando trecho de entrevista de Anthony Fauci, diretor do Instituto de Alergias e Doenças Infecciosas (Niaid) dos Estados Unidos e principal autoridade de saúde no país, para afirmar que ele e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) estão dizendo que “as vacinas não protegem”.

A autora do post escreve que “Fauci é uma farsa completa” e que “ele fala como se os dados tivessem mudado”, ignorando que os dados haviam, de fato, mudado.

O vídeo que ela usa para atacá-lo é de uma entrevista que o infectologista concedeu para a rede MSNBC em 28 de julho. A gravação girou em torno de uma medida anunciada pelo CDC um dia antes, quando o órgão deu um passo atrás e voltou a recomendar o uso de máscara em ambientes fechados por pessoas vacinadas. A mudança, como Fauci explica na entrevista, foi a chegada da variante delta aos Estados Unidos, o que não é explicado no post verificado.

O conteúdo enganoso ainda afirma que “os próprios números do CDC provam que Fauci está mentindo”, usando a informação de que o órgão norte-americano reportou “menos de 6 mil casos de hospitalizações entre pessoas vacinadas”. O problema, no caso, é que o post é de 28 de julho – quando os Estados Unidos vivem uma nova alta de casos, muito por conta da variante delta – e, o dado sobre o número de internações, de 19 de abril.

Além disso, o post engana ainda ao afirmar que o “CDC e Fauci estão dizendo que as vacinas não protegem”. Na entrevista para a MSNBC, Fauci diz que é “extremamente improvável’’ que uma pessoa completamente vacinada seja hospitalizada ou morra. O CDC reforça que as vacinas são seguras e eficazes contra a covid-19 e que, mesmo com a variante delta, infecções acontecem em apenas uma pequena proporção de pessoas que foram totalmente vacinadas e tendem a ser leves.

A reportagem procurou a autora do post, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. O Comprova classificou o conteúdo como enganoso porque ele retira informações do contexto original e as utiliza de modo que seu significado sofra alterações.

Como verificamos?

O primeiro passo foi, por meio de pesquisa no Google com frases do vídeo usado no post, encontrar a gravação original da entrevista de Fauci. A partir dela, a reportagem buscou informações sobre as diretrizes do CDC em relação ao uso de máscaras no site do órgão e também pesquisou, com a plataforma TweetDeck, tuítes da Casa Branca sobre avisos acerca da proteção facial.

O site do CDC também foi utilizado como fonte de informação sobre comunicados sobre a campanha de vacinação nos Estados Unidos.

Para saber o número de norte-americanos vacinados em diferentes datas citadas abaixo, a equipe usou o painel virtual Our World in Data, da Universidade de Oxford.

Via mensagem privada no Instagram, o Comprova contatou a autora do post verificado aqui, @kennia.wr, mas não obteve resposta.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 10 de agosto de 2021.

Verificação

Momentos diferentes

A autora coloca dois dados acompanhando o vídeo com a entrevista de Fauci para acusá-lo de mentiroso: “161 milhões de americanos foram vacinados (dados do CDC)” e “o CDC reporta menos de 6 mil casos de hospitalizações entre pessoas vacinadas”.

A primeira informação é verdadeira e da mesma época em que o post foi publicado. Em 22 de julho – ou seja, apenas seis dias antes da postagem –, a Casa Branca informou que o país havia vacinado “mais de 161 milhões de pessoas”.

Já o segundo dado foi tirado de contexto. A informação de que o CDC havia reportado menos de 6 mil hospitalizações entre vacinados foi dada pelo órgão à CNN norte-americana em 15 de abril, mais de três meses antes da postagem. Na época do post, o número de novos casos de covid naquela semana havia subido para 500 mil, ante 92 mil na última semana de junho. Em 28 de julho, dia da entrevista dada por Fauci, os Estados Unidos viviam uma alta de casos – muito em decorrência da variante delta, como Fauci diz no vídeo –, como é possível ver no gráfico abaixo:

 

CDC e as máscaras

Em 8 de março, o CDC relaxou as diretrizes em relação ao uso de máscaras, afirmando que pessoas completamente vacinadas podiam se reunir em grupos pequenos em locais fechados sem a proteção facial.

No comunicado, o órgão destacava que, “embora a nova orientação seja um passo positivo, a grande maioria das pessoas precisa ser totalmente vacinada antes que as precauções com a covid-19 possam ser amplamente suspensas” para “proteger o grande número de pessoas que permanecem não vacinadas”.

Já em 13 de maio, o órgão afirmou que tanto em locais abertos quanto fechados o uso de máscara não era mais necessário por cidadãos completamente imunizados.

Na época do primeiro anúncio (8 de março), segundo o site Our World in Data, apenas 9% dos norte-americanos estavam totalmente imunizados e, 8,6%, parcialmente protegidos. Na data do post verificado aqui, os números eram, respectivamente, 48,9% e 7,8%.

Em 10 de março, o país atingia um pico de 4,6 milhões de novas doses aplicadas em apenas um dia e, depois, viu a administração da vacina cair, chegando a apenas 600 mil doses diárias em 29 de julho, segundo reportagem da Folha.

O CDC deu um passo atrás em 27 de julho e atualizou as diretrizes baseado em “novas evidências sobre a variante B.1.617.2 (delta)”, que já circulava nos Estados Unidos”. Assim, o órgão voltou a recomendar que pessoas vacinadas usassem a proteção facial em ambientes fechados e em áreas de “transmissão substancial”.

Fauci, CDC e vacinas

A publicação afirma que “CDC e Fauci estão dizendo que as vacinas não protegem”, mas isso não é verdade. Na própria entrevista para a MSNBC, Fauci diz que é “extremamente improvável’’ que uma pessoa completamente vacinada seja hospitalizada ou morra de covid-19 e ressalta a importância de vacinar o maior número de pessoas possível.

Em comunicado, o CDC incentiva a vacinação, reforça que as vacinas são seguras e eficazes contra o vírus e que pessoas imunizadas podem voltar a fazer as atividades que faziam antes da pandemia. O órgão diz que mesmo com a variante delta, infecções acontecem em apenas uma pequena proporção de pessoas que foram totalmente vacinadas e tendem a ser leves. Apesar disso, pessoas vacinadas que se infectarem com a variante delta podem transmitir o vírus para outras e por isso é importante o uso de máscaras. O CDC ainda alerta que pessoas com sistema imunológico baixo, incluindo aquelas que tomam medicamentos imunossupressores, podem não estar protegidas mesmo se totalmente vacinadas.

Com exceção da Janssen, que é aplicada em dose única, as demais vacinas contra a covid-19 disponíveis nos Estados Unidos devem ser tomadas em duas doses. A imunização completa ocorre cerca de duas semanas após a aplicação da segunda dose.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. Segundo o Instagram, o post verificado aqui foi visualizado mais de 12,5 mil vezes até 10 de agosto.

Conteúdos enganosos que tentam desacreditar autoridades e órgãos de saúde e suas campanhas contra a covid-19 são especialmente perigosos porque colocam a população em risco, fazendo-a questionar medidas de prevenção, como a vacina, principal ferramenta contra o coronavírus no momento.

O Comprova já esclareceu diversos conteúdos sobre a imunização, como o boato que tirava de contexto estudo com adolescentes nos Estados Unidos para atacar vacina da Pfizer, o que afirmava que o diagnóstico positivo de Doria não indicava ineficácia da Coronavac e o que enganava dizendo que os imunizantes usados no Brasil não passaram por testes de segurança e eficácia.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Saúde

Investigado por: 2021-08-06

Boato tira de contexto estudo com adolescentes nos EUA para atacar vacina da Pfizer

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa uma postagem no Instagram que cita 14 relatos de mortes de jovens relacionadas à vacinação de covid-19, nos Estados Unidos. O conteúdo tira de contexto dados de uma pesquisa do Centro de Controle e Prevenção de Doenças Infecciosas americano (CDC) que já descartou haver relação causal entre a imunização e oito dos relatos. Seis casos seguem em investigação.
  • Conteúdo verificado: Print compartilhado no Instagram do que seria o story de um médico respondendo o que acha sobre a vacinação em crianças e adolescentes. Na resposta, diz poder falar sobre os dados da Pfizer e afirma que “no último semestre foram relatadas 14 mortes de jovens entre 12 e 17 anos relacionadas a essa vacina (sic)”. Acrescenta existir um estudo nos Estados Unidos mostrando que, para cada caso de evento adverso notificado, existem 30 não notificados. Por fim, diz que apenas um jovem na mesma faixa etária morreu de covid-19 no mesmo período e deixa uma sugestão: “faça as contas”.

Uma postagem no Instagram com quase 6 mil visualizações engana ao citar relatos de suspeitas de eventos adversos da vacina Pfizer-BioNTech (também chamada de Comirnaty) em crianças e adolescentes nos Estados Unidos para sugerir que a imunização é insegura. O conteúdo tira de contexto dados expostos em uma pesquisa do Centro de Controle e Prevenção de Doenças Infecciosas americano (CDC) ao omitir que os relatos de mortes citados no estudo não foram confirmados como consequência da vacinação.

O estudo monitorou o registro de suspeitas de eventos adversos da vacina entre jovens de 12 a 17 anos, durante dezembro de 2020 a julho de 2021. Os autores destacam no documento que as notificações registradas no Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas americano (VAERS) não implicam necessariamente que a vacina tenha relação causal com os episódios.

Segundo o relatório, investigações sobre a causa da morte de oito dos 14 casos reportados não indicaram um padrão sugestivo que associe as mortes com a vacina. As outras seis ocorrências ainda são apuradas por especialistas. O boato também cita supostos dados de subnotificação de eventos adversos para atribuir um tom alarmista sobre a segurança da vacinação.

O site do VAERS destaca que a subnotificação é de fato uma limitação do sistema, em especial para ocorrências leves. Entretanto, isso não prova que a vacina da Pfizer causou mortes em adolescentes ou é insegura. Com base no estudo do CDC citado no boato, o Comitê Consultivo e Práticas de Imunização (ACIP) americano avaliou os riscos e benefícios da vacina e decidiu manter a recomendação para que crianças e adolescentes recebam o imunizante.

A postagem afirma ter ocorrido apenas uma morte por covid na faixa etária entre 12 e 17 anos no último semestre. A plataforma do CDC que compila os dados provisórios relacionados à contaminação e mortes pela doença, contudo, não apresenta filtros específicos para esse recorte de idade. Possui, entretanto, a possibilidade de pesquisa de números referentes a crianças e adolescentes com idades entre zero e 17 anos, que somaram 151 óbitos apenas entre janeiro e julho de 2021.

O responsável pelo post foi procurado, assim como o médico marcado no print e apontado como o autor das afirmações, mas nenhum respondeu até a publicação.

Como verificamos?

Inicialmente, o Comprova utilizou o Google para buscar palavras-chave que levassem à origem das afirmações feitas no post, localizando um relatório técnico do CDC sobre a segurança da vacina contra a covid-19 em adolescentes com idade entre 12 e 17 anos.

Em seguida, consultou informações sobre o Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas (VAERS) e sobre a segurança dos imunizantes, além de analisar outras verificações e artigos sobre os assuntos abordados no post.

Foram verificados os dados oficiais do Centro Nacional de Estatísticas de Saúde disponíveis sobre mortes por covid no país, recortando as informações relacionadas a crianças e adolescentes e consultado o que dizem as agências reguladoras americana e brasileira sobre a vacinação nessa faixa etária.

A reportagem procurou o médico que é citado no post como sendo o autor das afirmações, questionando se elas, de fato, são de sua autoria, e verificou todos os stories em destaque no perfil do profissional, onde não consta o conteúdo printado e compartilhado pela conta aqui verificada, também procurada pelo Comprova.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 6 de agosto de 2021.

Verificação

Relação entre mortes e a vacina não foi comprovada

A postagem se apropria de dados de um relatório de técnicos do CDC, publicado no dia 30 de julho, no site da instituição. A pesquisa analisou relatos de possíveis eventos adversos nos sistemas de farmacovigilância VAERS e V-Safe. A primeira plataforma compila notificações de suspeitas de eventos adversos pós-vacinação da população geral dos Estados Unidos.

Já o V-Safe corresponde a um aplicativo de celular que envia formulários e lembretes para usuários cadastrados com o intuito de monitorar possíveis efeitos adversos da vacina em crianças e adolescentes. As duas plataformas recebem relatos de usuários mesmo que a conexão com o evento adverso reportada e a vacina não tenha sido confirmada.

O estudo do CDC indica que o VAERS recebeu 9.246 informes de suspeitas de eventos adversos sobre jovens de 12 a 17 anos, entre 14 de dezembro e 16 de julho. A imunização de adolescentes de 16 e 17 anos foi autorizada pela agência sanitária americana FDA em dezembro, enquanto a vacinação da faixa etária de 12 a 15 anos foi autorizada em maio de 2021.

Até julho, cerca de 8,9 milhões de adolescentes foram imunizados ao menos com a primeira dose da vacina da Pfizer. Mais de 90,7% dos relatos ao VAERS contemplam suspeitas de eventos adversos “não sérios”, principalmente cansaço e dor de cabeça. Outros 863 relatórios apontaram ocorrências mais severas, incluindo as 14 mortes citadas na postagem.

Entre as causas identificadas estão embolismo, infecções bacterianas e suicídio. Segundo os autores, os inquéritos “relativos à causa de morte não indicam um padrão sugestivo de relação causal com a vacinação”. Eles pontuam que os seis casos restantes ainda aguardam informações adicionais. De qualquer forma, é enganoso afirmar que as mortes suspeitas foram provocadas pela vacina da Pfizer antes da revisão adequada dos dados.

O aplicativo V-Safe, por sua vez, registrou 66 mil notificações de eventos adversos entre adolescentes de 16 e 17 anos, e outras 62 mil no grupo de 12 a 15 anos. Não houve relatos de mortes. As principais reações reportadas, diz o estudo, correspondem a dor no local da aplicação da vacina, fadiga, dor de cabeça e dores musculares.

Benefícios superam os riscos de eventos adversos sérios

A pesquisa do CDC ressalta que entre os eventos severos mais relatados ao VAERS configuram suspeitas de miocardite, uma inflamação de um músculo do coração chamado miocárdio. A condição não foi associada a causa da morte de nenhuma das suspeitas de mortes notificadas e representa 4,3% do total de relatórios sobre pacientes de 12 a 17 anos enviados ao sistema.

Os autores destacam que embora análises estatísticas não tenham indicado que miocardite seja um evento adverso associado a vacinas de covid, a mesma condição foi relatada em sistemas de farmacovigilância de diferentes países, o que corrobora com uma conexão causal. Os pesquisadores acrescentam que, a partir dos dados do estudo, o ACIP analisou a relação de riscos e benefícios da vacinação para pessoas acima de 12 anos e decidiu manter a recomendação da vacina da Pfizer para o grupo.

Eles observam que, com exceção dos casos de miocardite, os resultados do relatório são similares aos descritos nos ensaios clínicos da vacina. No Brasil, a Anvisa também emitiu um comunicado sobre os riscos de miocardite e, assim como o CDC, concluiu que os benefícios superam os riscos de eventos adversos.

Cuidado com dados de notificações

As notificações de sistemas de vigilância farmacológica como o VAERS são alvos recorrentes de boatos que tentam descredibilizar a vacinação. Em dezembro, o Comprova já havia desmentido um conteúdo parecido que tirava de contexto os dados de eventos adversos da plataforma americana.

O estudo do CDC publicado no mês passado destaca que o VAERS é uma ferramenta de monitoramento passiva, portanto a plataforma está sujeita a subnotificações e relatórios imprecisos. Autoridades incentivam que pacientes e provedores de serviços de saúde reportem qualquer suspeita de efeitos adversos, mesmo que não existam sinais claros de conexão com as vacinas.

Os autores elencam esse fator como uma das principais limitações do trabalho, mas isso não é citado na postagem enganosa. O próprio VAERS é categórico ao afirmar que as notificações enviadas ao sistema não devem ser usadas isoladamente para concluir que um evento adverso reportado foi causado por uma substância.

“Os relatórios podem incluir informações incompletas, imprecisas, coincidentes e não verificadas”, diz o site do órgão. “O número de relatórios por si só não pode ser interpretado ou utilizado para chegar a conclusões sobre a existência, gravidade, frequência ou taxas de problemas associados às vacinas.”.

Para identificar a incidência de um evento adverso não esperado, especialistas recorrem a análises estatísticas sobre as notificações. Especialistas comparam, por exemplo, a taxa de ocorrência de uma doença na população geral e a taxa de ocorrência entre os vacinados, explica um boletim do Yellow Card, o sistema de vigilância farmacológica do Reino Unido.

No caso de suspeitas de mortes, como demonstra o estudo do CDC, os órgãos sanitários costumam consultar prontuários clínicos, certidões de óbito, autópsias, entre outras fontes de informação. Os dados são continuamente monitorados e, a partir das investigações, as autoridades avaliam a proporção entre os riscos e benefícios da vacina.

Subnotificação é outro fator limitante

A postagem enganosa afirma que um estudo nos Estados Unidos mostra que, a cada evento adverso notificado, outros 30 não são reportados. O Comprova não identificou especificamente a pesquisa mencionada na mensagem, mas o próprio VAERS pontua que a subnotificação configura uma limitação dos dados do sistema de farmacovigilância.

Segundo a instituição, no entanto, o grau de subnotificação varia muito a depender da gravidade da suspeita de evento adverso relatada.

“Uma grande parte das milhões de doses de vacinas administradas a cada ano por injeção causa dor, mas relativamente poucos desses episódios são relatados no VAERS. Médicos e pacientes compreendem que os efeitos colaterais menores das vacinas muitas vezes incluem este tipo de desconforto, bem como febres baixas”, diz o site do VAERS.

O órgão acrescenta que eventos médicos mais sérios e inesperados têm uma probabilidade maior de serem relatados do que efeitos colaterais leves, “especialmente quando ocorrem logo após a vacinação, mesmo que possam ser coincidentes e relacionados a outras causas”, afirma.

Uma verificação da agência norte-americana FactCheck.org investigou um boato semelhante propagado por um apresentador de uma emissora de TV americana. Além de deturpar um relatório de segurança de vacinas, o apresentador citou um levantamento de 2010 submetido ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos, que concluiu que apenas 0,3% (1 a cada 300) dos efeitos adversos eram reportados à agência sanitária americana FDA. Para suspeitas mais graves, a porcentagem foi estimada entre 1-13%. A análise, entretanto, não explicou como calculou esta porcentagem, mostra a verificação do FactCheck.org.

O mesmo documento foi utilizado pelo ativista conservador Charlie Kirk em especulações enganosas, conforme artigo publicado pela National Review, que explica a interpretação errada dele e informa que, desde o início da vacinação para a covid, o banco de dados é alvo de interpretações errôneas, além de abordar pontos do relatório semelhantes aos observados pela FactCheck.org.

Ainda que a subnotificação seja uma limitação do sistema, ao passo que as mortes relatadas ao VAERS não têm necessariamente vínculos causais com a vacina, é insustentável sugerir que há uma subnotificação de óbitos provocados por imunizantes.

Mortes por covid-19 entre crianças e adolescentes

Na publicação, afirma-se que no último semestre apenas um jovem na faixa etária – entre 12 e 17 anos – morreu de covid. Ele não informa a fonte dessa declaração, mas a contagem provisória de óbitos pela doença, realizada pelo CDC com dados do Centro Nacional de Estatísticas de Saúde (NCHS, em inglês), aponta que entre janeiro e julho de 2021 foram registradas 151 mortes entre crianças e adolescentes com idades entre zero e 17 anos (Folha 1, Folha 2). Durante o ano de 2020, foram 198 mortes. Até o momento, a soma entre crianças e adolescentes é de 349 óbitos.

O site do órgão também permite fazer a contagem por semanas, com recortes entre as idades de 5 a 14 anos e de 15 a 24, os mais próximos do período citado no post (entre 12 e 17 anos). Na primeira faixa (5-14), apenas entre o primeiro e o último final de semana de julho foram contabilizadas três mortes. Na segunda (15-24), foram 31 mortes.

O CDC explica que os números de óbitos relatados nas tabelas são baseados nos dados recebidos e codificados na data da análise e podem não representar todas as mortes ocorridas nos períodos descritos, devido ao lapso de tempo entre o momento em que ocorreu o óbito e o preenchimento do atestado de óbito.

O que diz a agência sobre a vacinação entre crianças e adolescentes?

O CDC recomenda a vacinação para maiores de 12 anos mesmo que adolescentes tenham sido menos infectados pela doença em comparação aos adultos, isso porque essas pessoas podem adoecer e também infectar outras. O órgão destaca que a imunização generalizada é ferramenta importante para ajudar a conter a pandemia.

A entidade ressalta que as vacinas são seguras e eficazes e têm sido usadas sob o monitoramento de segurança mais intensivo da história dos Estados Unidos, o que inclui estudos em adolescentes.

No último mês, em audiência do Comitê de Saúde, Educação, Trabalho e Pensões do Senado americano, a infectologista Rochelle P. Walensky, diretora do CDC, defendeu a vacinação de crianças afirmando que as variantes podem ser um problema e que deve ser feito algo enquanto houver mortes registradas entre esse público.

No Brasil, a Anvisa autorizou a vacina da Pfizer para adolescentes com mais de 12 anos após a apresentação de estudos desenvolvidos pelo laboratório indicando a segurança e eficácia para este grupo. Antes, a vacina da Pfizer estava autorizada para pessoas com 16 anos de idade ou mais. Até o momento, esta é a única entre as vacinas autorizadas no Brasil com indicação para menores de 18 anos.

Atualmente, a bula da vacina da Pfizer traz a orientação de uso adulto e pediátrico a partir dos 12 anos de idade. Conforme o laboratório, os resultados demonstraram eficácia de 100% em estudo clínico com jovens dessa faixa etária. Os ensaios de fase 3 foram realizados em 2.260 adolescentes, nos Estados Unidos, e apresentaram respostas robustas na produção de anticorpos.

De acordo com a empresa, a mesma autorização concedida pelo FDA e pela Anvisa também foi dada pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA), da União Europeia, e por agências de países como Reino Unido, Canadá, Chile, Uruguai, Israel, Dubai, Hong Kong, Filipinas, Cingapura e Japão.

Autoria da postagem

A postagem aqui verificada foi feita pelo perfil @vacinacv19_relatos, que afirma compilar notícias relacionadas às vacinas contra a covid-19. A conta já teve conteúdo removido por “informações falsas e prejudiciais” relacionadas à doença, segundo justificou a plataforma.

A publicação é um print no qual não constam as informações referentes ao perfil de origem. Na legenda, o usuário @vacinacv19_relatos afirma se tratar de um story da conta @marceu.lima, pertencente ao médico Marceu do Nascimento Lima, registrado no Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro desde janeiro de 2008.

O profissional tem como especialidades a clínica médica e a cardiologia e mantém no perfil do Instagram um link para plataforma na qual agenda teleconsultas. Ele possui várias postagens nas quais defende a não vacinação de pessoas que já foram infectadas pelo novo coronavírus.

Ambos foram procurados, mas não responderam.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. Segundo a ferramenta CrowdTangle, o post foi publicado em 2 de agosto no Instagram e dois dias depois, em 6 de agosto, já somava 5.955 interações.

Conteúdos enganosos sobre vacinas contra a covid-19 podem induzir a população a recusar medidas de prevenção, como a imunização, e se expor a riscos durante a pandemia.

O Comprova já esclareceu diversos conteúdos sobre a imunização, como, por exemplo, que o diagnóstico positivo de Doria não indica ineficácia da Coronavac e que os imunizantes usados no Brasil passaram por testes de segurança e eficácia e que médico descontextualizou manual da Pfizer para sugerir alterações genéticas pela vacina.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.