O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2021-08-13

Médica usa dados fora de contexto de hospital de Israel para acusar CDC de mentir sobre casos de covid em pessoas não vacinadas

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o tuíte de uma médica que utiliza dados de um hospital israelense para afirmar, sem provas, que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos mente em relação ao número de pessoas não-vacinadas internadas com covid-19.
  • Conteúdo verificado: Infectologista utiliza dados apresentados pelo diretor de um hospital em Israel para afirmar, em post no Twitter, que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) norte-americano mente em relação à porcentagem de não vacinados hospitalizados por covid-19.

É enganosa a postagem feita por uma médica infectologista no Twitter alegando que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos mente em relação à porcentagem de pessoas não vacinadas internadas com covid-19 no país. A autora do tuíte tira de contexto números apresentados por Kobi Haviv, diretor-médico do Herzog Hospital de Jerusalém, à emissora local Canal 13 sobre uma nova onda da doença em Israel.

Na fala, Haviv afirma que 90% dos pacientes atendidos no Herzog já tinham sido vacinados e que a efetividade da vacina está diminuindo. É possível perceber que há uma interrupção na fala do médico no vídeo postado no Twitter e compartilhado por contas de diversos países.

No mesmo tuíte, a médica destaca números apresentados por Kobi Haviv, escreve que Israel vacinou 62% de sua população e questiona por que nos Estados Unidos, onde o CDC afirma que 97% dos hospitalizados com covid são pessoas não vacinadas, seria diferente.

É fato que ambos os países têm observado aumento no número de casos de covid-19, inclusive entre imunizados, principalmente em decorrência da variante delta. Enquanto os Estados Unidos afirmam que a maior parte dos hospitalizados é composta por pessoas não vacinadas, Israel apresenta dados absolutos contendo mais pessoas imunizadas entre as internadas. Entretanto, a partir dos dados relativos, considerando a taxa de 100 mil habitantes, o país possui um maior número de hospitalizados dentre as pessoas não vacinadas.

Embora o post utilize números apresentados pelo médico na entrevista, omite que a unidade hospitalar onde ele trabalha atende predominantemente pessoas idosas, maior faixa etária vacinada no país, aumentando, assim, a quantidade de pessoas vacinadas atendidas.

O Ministério de Saúde israelense informou que a mais recente onda de contaminações se dá, em parte, por causa da diminuição na proteção das pessoas vacinadas em janeiro e fevereiro. Com base nisso, o órgão passou a recomendar uma terceira dose para os idosos.

O post também não contextualiza o que Kobi Haviv fala sobre o assunto em pelo menos mais duas entrevistas – uma para a mesma emissora de TV e outra para uma rádio local, todas na mesma semana: ele defende a vacinação, reforça o poder da vacina em proteger as pessoas em casos mais graves e aconselha, inclusive, a aplicação da terceira dose. Desta forma, a médica abre espaço para que os seguidores – mais de 34 mil – interpretem que os imunizantes são ineficazes, como fica claro em grande parte dos comentários criticando a política de vacinação durante a pandemia.

A reportagem tentou falar com a profissional pelo Twitter, onde ela fez a postagem, mas o perfil mantém fechado o canal para mensagens privadas. Uma mensagem solicitando um meio de contato foi deixada na postagem. O Comprova classificou o conteúdo como enganoso porque ele retira informações de contexto e as utiliza de modo a confundir.

Como verificamos?

O primeiro passo foi fazer uma busca reversa de imagens de frames do vídeo compartilhado no Twitter pela médica, sem resultados. Contudo, buscando no Google pelos termos citados, como o nome do médico entrevistado, encontramos o mesmo vídeo em duas plataformas distintas: o YouTube e o UGETube – site norte-americano mantido pelo grupo Utah Gun Exchange para comércio de armamentos e munição.

Também localizamos um vídeo com conteúdo similar no Facebook. O material foi postado às 10h13 do dia 23 de julho de 2021 pela conta oficial do Herzog Hospital. O tema da entrevista é o mesmo daquele aqui verificado, ela foi concedida à mesma emissora de TV e para a mesma jornalista – Sivan Cohen Saban –, mas é possível perceber que os vídeos são diferentes porque Sivan usa roupas de cores distintas nos dois vídeos e faz saudações diferentes nas duas ocasiões.

| Vídeo compartilhado no Twitter

| Vídeo postado na conta do Herzog Hospital no Facebook

As entrevistas foram concedidas em hebraico e, por isso, pedimos que duas pessoas que falam o idioma assistissem aos dois vídeos e traduzissem o conteúdo. Os vídeos foram vistos pelo historiador Magide Jarallah Dracoulakis Nunes e pelo rabino Gilberto Ventura, fundador do Sinagoga sem Fronteiras, que faz o acolhimento, a nível nacional, das comunidades brasileiras dos descendentes dos judeus forçados pela inquisição.

Ambos afirmaram que o conteúdo das entrevistas eram similares, mas também apontaram informações contidas no vídeo postado no Facebook do hospital que não aparecem nas imagens que viralizaram nas redes.

Também fizemos uma busca pelo nome do médico em hebraico – קובי חביב – na ferramenta de busca de notícias do Google e localizamos textos em veículos de mídia de Israel que repercutiam as declarações feitas por Kobi Haviv, sobre o mesmo assunto, na rádio 103 FM de Israel. A entrevista concedida a Anat Davidov no dia 27 de julho tem cerca de 10 minutos de duração.

Foram analisados os dados atuais da pandemia nos Estados Unidos e em Israel, por meio das plataformas dos governos e pela imprensa. Para isso, foi necessária a ajuda da ferramenta de tradução do Google, já que muitas informações estavam em hebraico.

Entramos em contato, ainda, com o Herzog Hospital, com o CDC, com o Ministério da Saúde de Israel e com o médico Shimshon Erdman, diretor do Departamento de Relações Internacionais com a América Latina da Associação Médica de Israel. Por fim, tentamos contactar a autora do tuíte. Apenas o Ministério da Saúde de Israel e Shimshon Erdman retornaram ao nosso contato por e-mail.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 13 de agosto de 2021.

Verificação

O vídeo e os números

O tuíte verificado foi postado por uma médica infectologista brasileira. No post, ela destaca alguns números e compartilha um link que leva a um vídeo de 42 segundos no qual o chefe do Herzog Hospital de Jerusalém, Kobi Haviv, é entrevistado pela jornalista Sivan Cohen Saban, do Canal 13 de Israel, e afirma que de 85% a 90% das pessoas hospitalizadas na unidade estão totalmente vacinadas.

No vídeo compartilhado, há uma legenda em inglês sobreposta à chamada feita pela própria emissora. O Comprova não conseguiu localizar o vídeo original, mas encontrou outras duas entrevistas concedidas pelo mesmo médico entre os dias 23 e 27 de julho deste ano.

A postagem feita pela médica destaca os números informados por Kobi Haviv – de 85% a 90% dos hospitalizados sendo pessoas vacinadas – e acrescenta um segundo dado, de que 95% desses pacientes hospitalizados eram vacinados e tinham quadro grave. Este percentual aparece na legenda original em hebraico feita pela emissora de TV. Pedimos, então, que o rabino Gilberto Ventura, do Sinagoga sem Fronteiras, confirmasse se o médico menciona esse número em sua fala. O rabino afirma que não, e que o número citado pelo médico no vídeo que viralizou é de 90% de vacinados internados.

A autora do tuíte usa estes números para questionar por que o quadro nos Estados Unidos seria diferente do de Israel, afirmando que o CDC mente ao dizer que 97% dos casos de hospitalizados são de pessoas não vacinadas. A infectologista não apresenta, contudo, dados que comprovem o que diz.

Médico defende as vacinas

Embora a maior parte dos números apresentados pela médica tenham, de fato, sido ditos por Kobi Haviv, ela não contextualiza as informações, o que faz parecer que o diretor do Herzog Hospital é contrário à vacinação, e isso não é verdade. Em entrevistas concedidas à mesma emissora de TV e à rádio 103 FM, Havivi afirma que a maioria dos pacientes graves do hospital foi vacinada e que esperava por um aumento no número de casos quando a equipe acompanhou a variável B.1.617.2 (Delta) agindo na Itália.

Ele acredita que a efetividade das vacinas tem diminuído e informa que a maioria dos pacientes tem mais de 70 anos e que mais de 90% estão vacinados. Diferentemente do que sugere o post feito pela médica, o diretor da unidade defende a vacinação, ressalta que muitos infectados permanecem com quadros leves graças à vacina e se coloca favorável à aplicação de uma terceira dose, o que já está ocorrendo em Israel

Estas informações estão em um texto publicado pelo jornal Ma’ariv, um diário dos mais vendidos do país, que compartilhou, além dos dados, o áudio da entrevista concedida por ele à rádio 103 FM no dia 27 de julho.

O Comprova entrou em contato com a unidade hospitalar, via Facebook, mas não houve retorno. Também solicitou ao Ministério da Saúde israelense detalhes sobre o atendimento no local e se o diretor é considerado uma autoridade em saúde no país, mas não obteve resposta para este ponto.

O médico Shimshon Erdman, diretor do Departamento de Relações Internacionais com a América Latina da Associação Médica de Israel, disse ao Comprova que a unidade dirigida por Kobi Haviv é um centro que trata pacientes com problemas de saúde agravados pela idade e que o médico indica que os pacientes e a equipe recebam uma terceira dose da vacina, o que já está acontecendo.

Por se tratar de um centro especializado, é natural que receba maior número de pessoas vacinadas, visto que esta é a faixa etária com a maior cobertura vacinal em Israel até o momento, segundo o painel de dados (abaixo) relacionados à doença no país, atualizado no dia 12 de agosto.

A plataforma demonstra o número de pacientes ativos e em estado grave, de acordo com as faixas etárias da população e conforme as condições de imunização de cada uma, apresentando, inclusive, a comparação entre a incidência de pacientes para cada 100 mil residentes em cada etapa de imunização: totalmente vacinado; parcialmente vacinado; e não vacinado.

Apesar da maioria dos pacientes ter sido totalmente vacinada, segundo os números absolutos, quando a análise é feita a partir dos números relativos, conforme orientou o Ministério da Saúde de Israel à reportagem, e considerando a taxa de 100 mil habitantes, é possível perceber um maior número de hospitalizados dentre as pessoas não vacinadas no país.

| Números relativos

| Números absolutos

Como explica reportagem do Viva Bem UOL, o sistema imune inicia um processo de declínio progressivo aos 20 anos e as pessoas tornam-se mais vulneráveis às doenças ao final da vida, o que explica a maior vulnerabilidade dos idosos à covid.

Shimshon Erdman também afirma que os vacinados não sofrem com a gravidade da doença, mas, quanto menores os antígenos, mais difícil será lutar contra a contaminação. Assim como Kobi Haviv, ele diz apoiar a aplicação da terceira dose.

Israel vê aumento de infecções diante da variante delta

Segundo informou o Ministério da Saúde de Israel ao Comprova, o noticiário e o próprio site do governo, atualmente o país registra aumento nas infecções como resultado da variante delta, inclusive com a hospitalização de pacientes totalmente vacinados, principalmente entre os grupos de risco. Na quarta-feira (11), havia 694 pessoas sendo tratadas contra o vírus nos hospitais de Israel e cerca de 64% dos pacientes definidos como críticos haviam sido totalmente vacinados.

O país se prepara para o fortalecimento das unidades hospitalares após funcionários do Ministério da Saúde e outros especialistas apresentaram dados prevendo cerca de 4,8 mil pacientes com coronavírus que precisarão de hospitalização até 10 de setembro.

No início de julho, o Ministério da Saúde de Israel relatou que a efetividade da vacina da Pfizer – imunizante mais aplicado no país – contra infecções e casos sintomáticos de covid-19 havia caído para 64% desde 6 de junho. O órgão destacava, contudo, que a vacina continuou tendo 93% de efetividade na prevenção de hospitalizações e casos graves da doença. “Consideramos a vacinação a ferramenta mais eficaz no combate à pandemia”, afirmou o ministério ao Comprova.

Em uma checagem publicada pelo Comprova, em 5 de agosto, a pasta informou que a mais recente onda de contaminações começou em meados de junho e avaliou que o aumento no número de contágios se dá, em parte, por causa da diminuição na proteção das pessoas vacinadas em janeiro e fevereiro. Com base nisso, o órgão passou a recomendar uma terceira dose para os idosos.

O site do órgão mantém uma aba sobre a aplicação desta terceira dose da vacina, explicando os motivos e informando que, entre os infectados, estão crianças, a maioria não vacinada, e também uma parcela imunizada, incluindo com morbidade particularmente grave entre adultos com 60 anos ou mais.

O governo explica que o benefício esperado da administração da terceira dose é baseado em estudos conduzidos por fabricantes de vacinas, os quais apontam que uma terceira dose após a dose basal causa um impulso que aumenta o nível de anticorpos, a qualidade e a duração no corpo. O resultado é um aumento na capacidade dos anticorpos em protegerem contra o vírus.

Ao Comprova, o médico Shimshon Erdman explicou que Israel enfrenta um impulso muito agressivo da pandemia com números que eram registrados desde o início da pandemia. “É enormemente contagioso, com um aumento gráfico assustador, dobrando os números de semana para semana, e também criando a sensação de que se a população não respeitar as indicações não haverá reação diferente que fazer o encerramento total das atividades”, alerta.

Variante também preocupa os Estados Unidos

No dia 16 de julho, Rochelle Walensky, diretora do Centro para Controle de Doenças dos Estados Unidos, esteve em reunião na Casa Branca para a atualização da pandemia e da variante delta no país. Na ocasião, informou que 97% das pessoas que estavam entrando nos hospitais naquele momento não haviam sido vacinadas, notícia repercutida pela imprensa.

O país também vê o número de casos crescer. Em 27 de julho, o CDC divulgou orientações atualizadas sobre a necessidade de aumentar urgentemente a cobertura de vacinação da covid-19 e uma recomendação para que todos em áreas de alta transmissão usem máscara em locais públicos fechados, mesmo aqueles totalmente vacinados.

O principal motivo foi uma reversão na trajetória descendente dos casos, tendo sido observado um aumento rápido e alarmante no caso de covid e nas taxas de hospitalização em todo o país ao longo do mês.

De acordo com o órgão, no final de junho a média móvel em sete dias era de 12 mil casos confirmados. Em 27 de julho, entretanto, essa média atingiu mais de 60 mil casos, sendo considerada maior que a existente antes da vacina estar amplamente disponível.

Outro motivo foi o surgimento de novos dados de que a variante delta é mais infecciosa e está levando a uma maior transmissibilidade quando comparada a outras variantes, mesmo em indivíduos já vacinados, sendo atualmente a cepa predominante do vírus nos Estados Unidos.

Um estudo divulgado pelo centro, por exemplo, apontou que em julho de 2021, após vários eventos públicos em um condado de Barnstable, Massachusetts, 469 casos de covid foram identificados entre pessoas que viajaram para a cidade entre os dias 3 e 17 de julho. Destes, 346 (74%) ocorreram em pessoas totalmente vacinadas. Os testes identificaram a variante delta em 90% das amostras de 133 pacientes. No total, cinco pessoas foram hospitalizadas, quatro delas vacinadas, e não houve óbitos.

O CDC afirma que as vacinas são altamente eficazes, inclusive contra a variante delta, na prevenção do agravamento da doença e morte, mas não são 100% eficazes e algumas pessoas totalmente vacinadas são infectadas.

| Mapa de risco dos Estados Unidos em 11/08 (Fonte: CDC)

Quem postou?

O tuíte foi postado pela médica Roberta Lacerda Almeida de Miranda Dantas, que possui registro emitido pelo Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte, tendo como especialidade a infectologia. Ela mantém um canal com 32 mil inscritos no YouTube, no qual afirma trazer “novidades” e responder “perguntas sobre temas de saúde e tratamento imediato para a covid-19”.

Ela defende o “tratamento precoce” contra a covid, com o uso de medicamentos como ivermectina, azitromicina e hidroxicloroquina, que não têm eficácia comprovada contra a doença, tendo sido convidada, inclusive, a debater o tema, em maio deste ano, em reunião da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados.

O Comprova tentou falar com a profissional pela plataforma na qual fez a postagem, mas o espaço para envio de mensagens está fechado. Foi deixada uma resposta à publicação solicitando um meio de contato.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. A postagem aqui verificada foi curtida 1,7 mil vezes, além de ter sido retuitada 439 vezes.

Conteúdos enganosos envolvendo as vacinas e autoridades e órgãos de saúde podem levar a população a rejeitar as recomendações de combate à pandemia e, assim, colocar-se em risco.

O Comprova já esclareceu diversos conteúdos sobre a imunização, como o post que engana ao afirmar que o CDC e Fauci não acreditam na eficácia das vacinas, o boato que tirava de contexto estudo com adolescentes nos Estados Unidos para atacar vacina da Pfizer, o que afirmava que o diagnóstico positivo de Doria indicaria ineficácia da Coronavac e o que enganava dizendo que os imunizantes usados no Brasil não teriam passado por testes de segurança e eficácia.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Saúde

Investigado por: 2021-08-10

Post engana ao afirmar que CDC e Fauci não acreditam na eficácia das vacinas

  • Enganoso
Enganoso
Post no Instagram engana ao afirmar que Anthony Fauci é "uma farsa completa" e que ele e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) estariam dizendo que "as vacinas não protegem".
  • Conteúdo verificado: Com trecho de entrevista em vídeo de Anthony Fauci e dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, post no Instagram afirma que o infectologista “é uma farsa completa” e que ele e o CDC não acreditam na eficácia das vacinas contra a covid-19.

É enganoso o post que viralizou no Instagram usando trecho de entrevista de Anthony Fauci, diretor do Instituto de Alergias e Doenças Infecciosas (Niaid) dos Estados Unidos e principal autoridade de saúde no país, para afirmar que ele e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) estão dizendo que “as vacinas não protegem”.

A autora do post escreve que “Fauci é uma farsa completa” e que “ele fala como se os dados tivessem mudado”, ignorando que os dados haviam, de fato, mudado.

O vídeo que ela usa para atacá-lo é de uma entrevista que o infectologista concedeu para a rede MSNBC em 28 de julho. A gravação girou em torno de uma medida anunciada pelo CDC um dia antes, quando o órgão deu um passo atrás e voltou a recomendar o uso de máscara em ambientes fechados por pessoas vacinadas. A mudança, como Fauci explica na entrevista, foi a chegada da variante delta aos Estados Unidos, o que não é explicado no post verificado.

O conteúdo enganoso ainda afirma que “os próprios números do CDC provam que Fauci está mentindo”, usando a informação de que o órgão norte-americano reportou “menos de 6 mil casos de hospitalizações entre pessoas vacinadas”. O problema, no caso, é que o post é de 28 de julho – quando os Estados Unidos vivem uma nova alta de casos, muito por conta da variante delta – e, o dado sobre o número de internações, de 19 de abril.

Além disso, o post engana ainda ao afirmar que o “CDC e Fauci estão dizendo que as vacinas não protegem”. Na entrevista para a MSNBC, Fauci diz que é “extremamente improvável’’ que uma pessoa completamente vacinada seja hospitalizada ou morra. O CDC reforça que as vacinas são seguras e eficazes contra a covid-19 e que, mesmo com a variante delta, infecções acontecem em apenas uma pequena proporção de pessoas que foram totalmente vacinadas e tendem a ser leves.

A reportagem procurou a autora do post, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. O Comprova classificou o conteúdo como enganoso porque ele retira informações do contexto original e as utiliza de modo que seu significado sofra alterações.

Como verificamos?

O primeiro passo foi, por meio de pesquisa no Google com frases do vídeo usado no post, encontrar a gravação original da entrevista de Fauci. A partir dela, a reportagem buscou informações sobre as diretrizes do CDC em relação ao uso de máscaras no site do órgão e também pesquisou, com a plataforma TweetDeck, tuítes da Casa Branca sobre avisos acerca da proteção facial.

O site do CDC também foi utilizado como fonte de informação sobre comunicados sobre a campanha de vacinação nos Estados Unidos.

Para saber o número de norte-americanos vacinados em diferentes datas citadas abaixo, a equipe usou o painel virtual Our World in Data, da Universidade de Oxford.

Via mensagem privada no Instagram, o Comprova contatou a autora do post verificado aqui, @kennia.wr, mas não obteve resposta.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 10 de agosto de 2021.

Verificação

Momentos diferentes

A autora coloca dois dados acompanhando o vídeo com a entrevista de Fauci para acusá-lo de mentiroso: “161 milhões de americanos foram vacinados (dados do CDC)” e “o CDC reporta menos de 6 mil casos de hospitalizações entre pessoas vacinadas”.

A primeira informação é verdadeira e da mesma época em que o post foi publicado. Em 22 de julho – ou seja, apenas seis dias antes da postagem –, a Casa Branca informou que o país havia vacinado “mais de 161 milhões de pessoas”.

Já o segundo dado foi tirado de contexto. A informação de que o CDC havia reportado menos de 6 mil hospitalizações entre vacinados foi dada pelo órgão à CNN norte-americana em 15 de abril, mais de três meses antes da postagem. Na época do post, o número de novos casos de covid naquela semana havia subido para 500 mil, ante 92 mil na última semana de junho. Em 28 de julho, dia da entrevista dada por Fauci, os Estados Unidos viviam uma alta de casos – muito em decorrência da variante delta, como Fauci diz no vídeo –, como é possível ver no gráfico abaixo:

 

CDC e as máscaras

Em 8 de março, o CDC relaxou as diretrizes em relação ao uso de máscaras, afirmando que pessoas completamente vacinadas podiam se reunir em grupos pequenos em locais fechados sem a proteção facial.

No comunicado, o órgão destacava que, “embora a nova orientação seja um passo positivo, a grande maioria das pessoas precisa ser totalmente vacinada antes que as precauções com a covid-19 possam ser amplamente suspensas” para “proteger o grande número de pessoas que permanecem não vacinadas”.

Já em 13 de maio, o órgão afirmou que tanto em locais abertos quanto fechados o uso de máscara não era mais necessário por cidadãos completamente imunizados.

Na época do primeiro anúncio (8 de março), segundo o site Our World in Data, apenas 9% dos norte-americanos estavam totalmente imunizados e, 8,6%, parcialmente protegidos. Na data do post verificado aqui, os números eram, respectivamente, 48,9% e 7,8%.

Em 10 de março, o país atingia um pico de 4,6 milhões de novas doses aplicadas em apenas um dia e, depois, viu a administração da vacina cair, chegando a apenas 600 mil doses diárias em 29 de julho, segundo reportagem da Folha.

O CDC deu um passo atrás em 27 de julho e atualizou as diretrizes baseado em “novas evidências sobre a variante B.1.617.2 (delta)”, que já circulava nos Estados Unidos”. Assim, o órgão voltou a recomendar que pessoas vacinadas usassem a proteção facial em ambientes fechados e em áreas de “transmissão substancial”.

Fauci, CDC e vacinas

A publicação afirma que “CDC e Fauci estão dizendo que as vacinas não protegem”, mas isso não é verdade. Na própria entrevista para a MSNBC, Fauci diz que é “extremamente improvável’’ que uma pessoa completamente vacinada seja hospitalizada ou morra de covid-19 e ressalta a importância de vacinar o maior número de pessoas possível.

Em comunicado, o CDC incentiva a vacinação, reforça que as vacinas são seguras e eficazes contra o vírus e que pessoas imunizadas podem voltar a fazer as atividades que faziam antes da pandemia. O órgão diz que mesmo com a variante delta, infecções acontecem em apenas uma pequena proporção de pessoas que foram totalmente vacinadas e tendem a ser leves. Apesar disso, pessoas vacinadas que se infectarem com a variante delta podem transmitir o vírus para outras e por isso é importante o uso de máscaras. O CDC ainda alerta que pessoas com sistema imunológico baixo, incluindo aquelas que tomam medicamentos imunossupressores, podem não estar protegidas mesmo se totalmente vacinadas.

Com exceção da Janssen, que é aplicada em dose única, as demais vacinas contra a covid-19 disponíveis nos Estados Unidos devem ser tomadas em duas doses. A imunização completa ocorre cerca de duas semanas após a aplicação da segunda dose.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. Segundo o Instagram, o post verificado aqui foi visualizado mais de 12,5 mil vezes até 10 de agosto.

Conteúdos enganosos que tentam desacreditar autoridades e órgãos de saúde e suas campanhas contra a covid-19 são especialmente perigosos porque colocam a população em risco, fazendo-a questionar medidas de prevenção, como a vacina, principal ferramenta contra o coronavírus no momento.

O Comprova já esclareceu diversos conteúdos sobre a imunização, como o boato que tirava de contexto estudo com adolescentes nos Estados Unidos para atacar vacina da Pfizer, o que afirmava que o diagnóstico positivo de Doria não indicava ineficácia da Coronavac e o que enganava dizendo que os imunizantes usados no Brasil não passaram por testes de segurança e eficácia.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Saúde

Investigado por: 2021-08-06

Boato tira de contexto estudo com adolescentes nos EUA para atacar vacina da Pfizer

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa uma postagem no Instagram que cita 14 relatos de mortes de jovens relacionadas à vacinação de covid-19, nos Estados Unidos. O conteúdo tira de contexto dados de uma pesquisa do Centro de Controle e Prevenção de Doenças Infecciosas americano (CDC) que já descartou haver relação causal entre a imunização e oito dos relatos. Seis casos seguem em investigação.
  • Conteúdo verificado: Print compartilhado no Instagram do que seria o story de um médico respondendo o que acha sobre a vacinação em crianças e adolescentes. Na resposta, diz poder falar sobre os dados da Pfizer e afirma que “no último semestre foram relatadas 14 mortes de jovens entre 12 e 17 anos relacionadas a essa vacina (sic)”. Acrescenta existir um estudo nos Estados Unidos mostrando que, para cada caso de evento adverso notificado, existem 30 não notificados. Por fim, diz que apenas um jovem na mesma faixa etária morreu de covid-19 no mesmo período e deixa uma sugestão: “faça as contas”.

Uma postagem no Instagram com quase 6 mil visualizações engana ao citar relatos de suspeitas de eventos adversos da vacina Pfizer-BioNTech (também chamada de Comirnaty) em crianças e adolescentes nos Estados Unidos para sugerir que a imunização é insegura. O conteúdo tira de contexto dados expostos em uma pesquisa do Centro de Controle e Prevenção de Doenças Infecciosas americano (CDC) ao omitir que os relatos de mortes citados no estudo não foram confirmados como consequência da vacinação.

O estudo monitorou o registro de suspeitas de eventos adversos da vacina entre jovens de 12 a 17 anos, durante dezembro de 2020 a julho de 2021. Os autores destacam no documento que as notificações registradas no Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas americano (VAERS) não implicam necessariamente que a vacina tenha relação causal com os episódios.

Segundo o relatório, investigações sobre a causa da morte de oito dos 14 casos reportados não indicaram um padrão sugestivo que associe as mortes com a vacina. As outras seis ocorrências ainda são apuradas por especialistas. O boato também cita supostos dados de subnotificação de eventos adversos para atribuir um tom alarmista sobre a segurança da vacinação.

O site do VAERS destaca que a subnotificação é de fato uma limitação do sistema, em especial para ocorrências leves. Entretanto, isso não prova que a vacina da Pfizer causou mortes em adolescentes ou é insegura. Com base no estudo do CDC citado no boato, o Comitê Consultivo e Práticas de Imunização (ACIP) americano avaliou os riscos e benefícios da vacina e decidiu manter a recomendação para que crianças e adolescentes recebam o imunizante.

A postagem afirma ter ocorrido apenas uma morte por covid na faixa etária entre 12 e 17 anos no último semestre. A plataforma do CDC que compila os dados provisórios relacionados à contaminação e mortes pela doença, contudo, não apresenta filtros específicos para esse recorte de idade. Possui, entretanto, a possibilidade de pesquisa de números referentes a crianças e adolescentes com idades entre zero e 17 anos, que somaram 151 óbitos apenas entre janeiro e julho de 2021.

O responsável pelo post foi procurado, assim como o médico marcado no print e apontado como o autor das afirmações, mas nenhum respondeu até a publicação.

Como verificamos?

Inicialmente, o Comprova utilizou o Google para buscar palavras-chave que levassem à origem das afirmações feitas no post, localizando um relatório técnico do CDC sobre a segurança da vacina contra a covid-19 em adolescentes com idade entre 12 e 17 anos.

Em seguida, consultou informações sobre o Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas (VAERS) e sobre a segurança dos imunizantes, além de analisar outras verificações e artigos sobre os assuntos abordados no post.

Foram verificados os dados oficiais do Centro Nacional de Estatísticas de Saúde disponíveis sobre mortes por covid no país, recortando as informações relacionadas a crianças e adolescentes e consultado o que dizem as agências reguladoras americana e brasileira sobre a vacinação nessa faixa etária.

A reportagem procurou o médico que é citado no post como sendo o autor das afirmações, questionando se elas, de fato, são de sua autoria, e verificou todos os stories em destaque no perfil do profissional, onde não consta o conteúdo printado e compartilhado pela conta aqui verificada, também procurada pelo Comprova.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 6 de agosto de 2021.

Verificação

Relação entre mortes e a vacina não foi comprovada

A postagem se apropria de dados de um relatório de técnicos do CDC, publicado no dia 30 de julho, no site da instituição. A pesquisa analisou relatos de possíveis eventos adversos nos sistemas de farmacovigilância VAERS e V-Safe. A primeira plataforma compila notificações de suspeitas de eventos adversos pós-vacinação da população geral dos Estados Unidos.

Já o V-Safe corresponde a um aplicativo de celular que envia formulários e lembretes para usuários cadastrados com o intuito de monitorar possíveis efeitos adversos da vacina em crianças e adolescentes. As duas plataformas recebem relatos de usuários mesmo que a conexão com o evento adverso reportada e a vacina não tenha sido confirmada.

O estudo do CDC indica que o VAERS recebeu 9.246 informes de suspeitas de eventos adversos sobre jovens de 12 a 17 anos, entre 14 de dezembro e 16 de julho. A imunização de adolescentes de 16 e 17 anos foi autorizada pela agência sanitária americana FDA em dezembro, enquanto a vacinação da faixa etária de 12 a 15 anos foi autorizada em maio de 2021.

Até julho, cerca de 8,9 milhões de adolescentes foram imunizados ao menos com a primeira dose da vacina da Pfizer. Mais de 90,7% dos relatos ao VAERS contemplam suspeitas de eventos adversos “não sérios”, principalmente cansaço e dor de cabeça. Outros 863 relatórios apontaram ocorrências mais severas, incluindo as 14 mortes citadas na postagem.

Entre as causas identificadas estão embolismo, infecções bacterianas e suicídio. Segundo os autores, os inquéritos “relativos à causa de morte não indicam um padrão sugestivo de relação causal com a vacinação”. Eles pontuam que os seis casos restantes ainda aguardam informações adicionais. De qualquer forma, é enganoso afirmar que as mortes suspeitas foram provocadas pela vacina da Pfizer antes da revisão adequada dos dados.

O aplicativo V-Safe, por sua vez, registrou 66 mil notificações de eventos adversos entre adolescentes de 16 e 17 anos, e outras 62 mil no grupo de 12 a 15 anos. Não houve relatos de mortes. As principais reações reportadas, diz o estudo, correspondem a dor no local da aplicação da vacina, fadiga, dor de cabeça e dores musculares.

Benefícios superam os riscos de eventos adversos sérios

A pesquisa do CDC ressalta que entre os eventos severos mais relatados ao VAERS configuram suspeitas de miocardite, uma inflamação de um músculo do coração chamado miocárdio. A condição não foi associada a causa da morte de nenhuma das suspeitas de mortes notificadas e representa 4,3% do total de relatórios sobre pacientes de 12 a 17 anos enviados ao sistema.

Os autores destacam que embora análises estatísticas não tenham indicado que miocardite seja um evento adverso associado a vacinas de covid, a mesma condição foi relatada em sistemas de farmacovigilância de diferentes países, o que corrobora com uma conexão causal. Os pesquisadores acrescentam que, a partir dos dados do estudo, o ACIP analisou a relação de riscos e benefícios da vacinação para pessoas acima de 12 anos e decidiu manter a recomendação da vacina da Pfizer para o grupo.

Eles observam que, com exceção dos casos de miocardite, os resultados do relatório são similares aos descritos nos ensaios clínicos da vacina. No Brasil, a Anvisa também emitiu um comunicado sobre os riscos de miocardite e, assim como o CDC, concluiu que os benefícios superam os riscos de eventos adversos.

Cuidado com dados de notificações

As notificações de sistemas de vigilância farmacológica como o VAERS são alvos recorrentes de boatos que tentam descredibilizar a vacinação. Em dezembro, o Comprova já havia desmentido um conteúdo parecido que tirava de contexto os dados de eventos adversos da plataforma americana.

O estudo do CDC publicado no mês passado destaca que o VAERS é uma ferramenta de monitoramento passiva, portanto a plataforma está sujeita a subnotificações e relatórios imprecisos. Autoridades incentivam que pacientes e provedores de serviços de saúde reportem qualquer suspeita de efeitos adversos, mesmo que não existam sinais claros de conexão com as vacinas.

Os autores elencam esse fator como uma das principais limitações do trabalho, mas isso não é citado na postagem enganosa. O próprio VAERS é categórico ao afirmar que as notificações enviadas ao sistema não devem ser usadas isoladamente para concluir que um evento adverso reportado foi causado por uma substância.

“Os relatórios podem incluir informações incompletas, imprecisas, coincidentes e não verificadas”, diz o site do órgão. “O número de relatórios por si só não pode ser interpretado ou utilizado para chegar a conclusões sobre a existência, gravidade, frequência ou taxas de problemas associados às vacinas.”.

Para identificar a incidência de um evento adverso não esperado, especialistas recorrem a análises estatísticas sobre as notificações. Especialistas comparam, por exemplo, a taxa de ocorrência de uma doença na população geral e a taxa de ocorrência entre os vacinados, explica um boletim do Yellow Card, o sistema de vigilância farmacológica do Reino Unido.

No caso de suspeitas de mortes, como demonstra o estudo do CDC, os órgãos sanitários costumam consultar prontuários clínicos, certidões de óbito, autópsias, entre outras fontes de informação. Os dados são continuamente monitorados e, a partir das investigações, as autoridades avaliam a proporção entre os riscos e benefícios da vacina.

Subnotificação é outro fator limitante

A postagem enganosa afirma que um estudo nos Estados Unidos mostra que, a cada evento adverso notificado, outros 30 não são reportados. O Comprova não identificou especificamente a pesquisa mencionada na mensagem, mas o próprio VAERS pontua que a subnotificação configura uma limitação dos dados do sistema de farmacovigilância.

Segundo a instituição, no entanto, o grau de subnotificação varia muito a depender da gravidade da suspeita de evento adverso relatada.

“Uma grande parte das milhões de doses de vacinas administradas a cada ano por injeção causa dor, mas relativamente poucos desses episódios são relatados no VAERS. Médicos e pacientes compreendem que os efeitos colaterais menores das vacinas muitas vezes incluem este tipo de desconforto, bem como febres baixas”, diz o site do VAERS.

O órgão acrescenta que eventos médicos mais sérios e inesperados têm uma probabilidade maior de serem relatados do que efeitos colaterais leves, “especialmente quando ocorrem logo após a vacinação, mesmo que possam ser coincidentes e relacionados a outras causas”, afirma.

Uma verificação da agência norte-americana FactCheck.org investigou um boato semelhante propagado por um apresentador de uma emissora de TV americana. Além de deturpar um relatório de segurança de vacinas, o apresentador citou um levantamento de 2010 submetido ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos, que concluiu que apenas 0,3% (1 a cada 300) dos efeitos adversos eram reportados à agência sanitária americana FDA. Para suspeitas mais graves, a porcentagem foi estimada entre 1-13%. A análise, entretanto, não explicou como calculou esta porcentagem, mostra a verificação do FactCheck.org.

O mesmo documento foi utilizado pelo ativista conservador Charlie Kirk em especulações enganosas, conforme artigo publicado pela National Review, que explica a interpretação errada dele e informa que, desde o início da vacinação para a covid, o banco de dados é alvo de interpretações errôneas, além de abordar pontos do relatório semelhantes aos observados pela FactCheck.org.

Ainda que a subnotificação seja uma limitação do sistema, ao passo que as mortes relatadas ao VAERS não têm necessariamente vínculos causais com a vacina, é insustentável sugerir que há uma subnotificação de óbitos provocados por imunizantes.

Mortes por covid-19 entre crianças e adolescentes

Na publicação, afirma-se que no último semestre apenas um jovem na faixa etária – entre 12 e 17 anos – morreu de covid. Ele não informa a fonte dessa declaração, mas a contagem provisória de óbitos pela doença, realizada pelo CDC com dados do Centro Nacional de Estatísticas de Saúde (NCHS, em inglês), aponta que entre janeiro e julho de 2021 foram registradas 151 mortes entre crianças e adolescentes com idades entre zero e 17 anos (Folha 1, Folha 2). Durante o ano de 2020, foram 198 mortes. Até o momento, a soma entre crianças e adolescentes é de 349 óbitos.

O site do órgão também permite fazer a contagem por semanas, com recortes entre as idades de 5 a 14 anos e de 15 a 24, os mais próximos do período citado no post (entre 12 e 17 anos). Na primeira faixa (5-14), apenas entre o primeiro e o último final de semana de julho foram contabilizadas três mortes. Na segunda (15-24), foram 31 mortes.

O CDC explica que os números de óbitos relatados nas tabelas são baseados nos dados recebidos e codificados na data da análise e podem não representar todas as mortes ocorridas nos períodos descritos, devido ao lapso de tempo entre o momento em que ocorreu o óbito e o preenchimento do atestado de óbito.

O que diz a agência sobre a vacinação entre crianças e adolescentes?

O CDC recomenda a vacinação para maiores de 12 anos mesmo que adolescentes tenham sido menos infectados pela doença em comparação aos adultos, isso porque essas pessoas podem adoecer e também infectar outras. O órgão destaca que a imunização generalizada é ferramenta importante para ajudar a conter a pandemia.

A entidade ressalta que as vacinas são seguras e eficazes e têm sido usadas sob o monitoramento de segurança mais intensivo da história dos Estados Unidos, o que inclui estudos em adolescentes.

No último mês, em audiência do Comitê de Saúde, Educação, Trabalho e Pensões do Senado americano, a infectologista Rochelle P. Walensky, diretora do CDC, defendeu a vacinação de crianças afirmando que as variantes podem ser um problema e que deve ser feito algo enquanto houver mortes registradas entre esse público.

No Brasil, a Anvisa autorizou a vacina da Pfizer para adolescentes com mais de 12 anos após a apresentação de estudos desenvolvidos pelo laboratório indicando a segurança e eficácia para este grupo. Antes, a vacina da Pfizer estava autorizada para pessoas com 16 anos de idade ou mais. Até o momento, esta é a única entre as vacinas autorizadas no Brasil com indicação para menores de 18 anos.

Atualmente, a bula da vacina da Pfizer traz a orientação de uso adulto e pediátrico a partir dos 12 anos de idade. Conforme o laboratório, os resultados demonstraram eficácia de 100% em estudo clínico com jovens dessa faixa etária. Os ensaios de fase 3 foram realizados em 2.260 adolescentes, nos Estados Unidos, e apresentaram respostas robustas na produção de anticorpos.

De acordo com a empresa, a mesma autorização concedida pelo FDA e pela Anvisa também foi dada pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA), da União Europeia, e por agências de países como Reino Unido, Canadá, Chile, Uruguai, Israel, Dubai, Hong Kong, Filipinas, Cingapura e Japão.

Autoria da postagem

A postagem aqui verificada foi feita pelo perfil @vacinacv19_relatos, que afirma compilar notícias relacionadas às vacinas contra a covid-19. A conta já teve conteúdo removido por “informações falsas e prejudiciais” relacionadas à doença, segundo justificou a plataforma.

A publicação é um print no qual não constam as informações referentes ao perfil de origem. Na legenda, o usuário @vacinacv19_relatos afirma se tratar de um story da conta @marceu.lima, pertencente ao médico Marceu do Nascimento Lima, registrado no Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro desde janeiro de 2008.

O profissional tem como especialidades a clínica médica e a cardiologia e mantém no perfil do Instagram um link para plataforma na qual agenda teleconsultas. Ele possui várias postagens nas quais defende a não vacinação de pessoas que já foram infectadas pelo novo coronavírus.

Ambos foram procurados, mas não responderam.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. Segundo a ferramenta CrowdTangle, o post foi publicado em 2 de agosto no Instagram e dois dias depois, em 6 de agosto, já somava 5.955 interações.

Conteúdos enganosos sobre vacinas contra a covid-19 podem induzir a população a recusar medidas de prevenção, como a imunização, e se expor a riscos durante a pandemia.

O Comprova já esclareceu diversos conteúdos sobre a imunização, como, por exemplo, que o diagnóstico positivo de Doria não indica ineficácia da Coronavac e que os imunizantes usados no Brasil passaram por testes de segurança e eficácia e que médico descontextualizou manual da Pfizer para sugerir alterações genéticas pela vacina.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Saúde

Investigado por: 2021-08-05

Ministério da Saúde de Israel nega que seus dados permitam concluir sobre imunidade de infectados

  • Enganoso
Enganoso
Postagens em site e redes sociais enganam ao afirmar que, segundo o Ministério da Saúde de Israel, pessoas que foram infectadas pelo novo coronavírus ficam sete vezes mais protegidas do que aquelas que tomaram a vacina da Pfizer.
  • Conteúdo verificado: Posts afirmam que, de acordo com números do governo israelense, quem teve covid-19 tem imunidade mais forte do que pessoas que não se infectaram e se vacinaram.

São enganosas as postagens em um site e em redes sociais que declaram, com base em supostos dados do Ministério de Saúde de Israel, que pessoas infectadas pela covid-19 estão sete vezes mais protegidas do que aquelas que não tiveram a doença e foram imunizadas com a vacina da Pfizer.

Contatado pela reportagem, o órgão do governo israelense respondeu que os dados disponíveis até agora não permitem apoiar ou rejeitar essa afirmação. Questionado se seria correto dizer que os anticorpos advindos da infecção natural são mais fortes do que os criados pela vacina, o ministério declarou que essa informação “não é conhecida no momento”. A pasta ainda reforçou a importância da vacinação e que ela já se mostrou eficaz em prevenir casos graves e hospitalizações.

O site Frontliner, citado como fonte de informação nos posts, foi procurado pela reportagem, mas não respondeu até a publicação deste texto.

Como verificamos?

Inicialmente, pesquisamos informações sobre a situação da campanha de vacinação em Israel e a eficácia das vacinas em reportagens nacionais e internacionais. O segundo passo foi contatar, por e-mail, o Ministério da Saúde daquele país.

Por mensagens de WhatsApp, falamos com o médico Roberto Zeballos, que postou este conteúdo em seu perfil no Instagram. Tentamos contato, por e-mail, com o site Frontliner, responsável pelo texto, e com o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que publicou um tuíte sobre o assunto. Em ambos os casos, não houve resposta.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 5 de agosto de 2021.

Verificação

Que dados são esses?

Ao contrário do que afirmam textos verificados aqui, os dados sobre contaminação divulgados pelo ministério israelense não foram obtidos por meio de estudo, mas, sim, via monitoramento epidemiológico realizado pela pasta.

Por e-mail, o Ministério da Saúde de Israel informou que a mais recente onda de contaminações começou em meados de junho. Do dia 15 daquele mês até 27 de julho, foram diagnosticadas 24.348 novas infecções.

Destes casos, 163 (0,66%) ocorreram em pessoas que já haviam sido diagnosticadas anteriormente com a covid-19. Nesta conta entram diagnósticos feitos ao menos 90 dias depois do primeiro resultado positivo. Quarenta e sete destas pessoas também já estavam totalmente vacinadas.

Outros 12.511 (51,3%) novos casos no mesmo período foram observados em pessoas que já haviam recebido a vacinação completa e acabaram infectadas pela primeira vez.

A doença gera melhor imunidade que a vacinação?

O ministério isralense respondeu que “os dados disponíveis atualmente não permitem confirmar ou negar” que a imunidade das pessoas que entraram em contato com o vírus seja mais forte do que a imunidade conferida por vacinas. “O Ministério da Saúde avalia que o aumento no número de contágios se dá em parte por causa da diminuição na proteção das pessoas vacinadas em janeiro e fevereiro”, disse o órgão israelense.

Por fim, o ministério informou que seus dados “claramente mostram” que a vacinação protege contra casos graves de covid-19 e sugerem que o grau de imunidade pode diminuir quando em contato com a variante Delta e de acordo com o tempo passado após a segunda dose da vacina. Com base nisso, o órgão passou a recomendar uma terceira dose para os idosos. O primeiro a receber a dose de reforço foi o presidente, Isaac Herzog.

Apesar disso, não há estudos conclusivos que indiquem benefício na medida, disse a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Brasil, em recente posicionamento. No país, dois testes clínicos sobre o tema estão sendo conduzidos pelos laboratórios AstraZeneca e Pfizer/BioNTech.

Já a Agência de Medicamentos Europeia (EMA) informa que, até o momento, não se sabe quanto tempo dura a imunidade das vacinas e que é preciso aguardar a conclusão dos estudos atualmente em desenvolvimento. Alguns deles monitoram o impacto das vacinas na vida real, o que deverá subsidiar estratégias futuras de vacinação. O órgão recomenda que todas as pessoas elegíveis se vacinem.

Eficácia da Pfizer

Em sua resposta, o ministério cita um estudo publicado na Lancet sobre o impacto e a eficácia da Pfizer realizado em Israel entre 24 de janeiro e 3 de abril com pessoas com 16 anos ou mais.

O levantamento conclui que duas doses da vacina “são altamente eficazes em todas as faixas etárias na prevenção de infecções sintomáticas e assintomáticas por Sars-CoV-2 e hospitalizações relacionadas à covid-19, doença grave e morte”, incluindo contra a variante alfa. Ainda de acordo com o estudo, “essas descobertas sugerem que a vacinação pode ajudar a controlar a pandemia”.

Em 7 de julho, o Ministério da Saúde havia anunciado que os dados epidemiológicos mais recentes até então mostravam que a taxa de eficácia da vacina em prevenir o contágio e a contaminação sintomática havia caído para 64%. O órgão ressaltou que essa observação se deu simultaneamente com o aumento de contágios pela variante Delta.

No mesmo pronunciamento, o ministério observou que a eficácia em prevenir casos graves e hospitalizações estava em 93%, muito próximo da eficácia anunciada pela Pfizer nos testes clínicos, de 95%.

O site

O site Frontliner afirma, na aba “Quem somos” da seção sobre “princípios editoriais”, que defende “a independência do nosso jornalismo, a primazia da realidade – fatos em primeiro lugar, respeito pelas opiniões e aqueles que as expressam, e o direito de cada indivíduo formar suas opiniões”.

Também afirma que suas publicações trazem “fatos verificados” e entregam “elementos fidedignos à fonte”.

O site já apareceu em outras verificações. Em outubro do ano passado, o Comprova classificou como enganoso um texto que retirava frase de enviado da OMS de contexto para sugerir que a entidade condenava o lockdown. Texto semelhante foi verificado também pelo Estadão Verifica em março deste ano.

O Comprova enviou mensagem por e-mail e pelo “fale conosco” do site, mas não recebeu retorno até a conclusão deste texto.

O texto do site Frontliner ganhou visibilidade ao ser compartilhado por pessoas influentes nas redes sociais. Um deles foi o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que escreveu no Twitter que “Vacina é feita com o vírus da covid, inativado, ou partes dele. Seu objetivo é provocar a produção de anticorpos que irão proteger o organismo de uma infecção com vírus ativo. Igual, quem já teve infecção do vírus ativo produz anticorpos, que protegerão bem o organismo!”

Médico de formação, Osmar Terra foi ministro da Cidadania no primeiro ano do governo Bolsonaro. Ele já fez alegações enganosas sobre a pandemia no Rio Grande do Sul e sobre a eficácia das medidas de distanciamento social, checadas pelo Projeto Comprova. Ele também é investigado pela CPI da Covid, no Senado, por supostamente integrar um gabinete paralelo de aconselhamento do presidente Bolsonaro sobre a condução da pandemia. Procurado pelo Comprova, não respondeu.

Outro post que deu visibilidade ao texto do Frontliner foi um vídeo no Instagram do médico Roberto Zeballos. Na postagem, ele diz que “Estudo de Israel revela que quem venceu a doença tem imunidade SETE vezes melhor do que qualquer vacina!”. Ele também nota que “As vacinas estão mostrando proteção também!” e que “Obviamente não vale o risco de pegar a doença”.

Ao Comprova, ele afirmou que “isso é imunologia básica” e que quem se infecta acaba desenvolvendo resposta imunológica a todas as partes do vírus, não só a uma proteína dele, referindo-se à tecnologia utilizada em algumas das vacinas atualmente utilizadas. Ele disse se basear no estudo do ministério isralense e que suas falas se comprovam “em estudos e resultados com números, nunca especulações”.

Ao ser contestado com a resposta do órgão israelense, respondeu que falou em “estudo” mas que quis dizer os dados de monitoramento. “E quando faz a conta, vê os números e quem teve infecção realmente ficou mais protegido. Não pode ser considerado um estudo, mas tem vários estudos que mostram que quem pegou a doença, tem uma imunidade longa e mais eficaz”, sustentou.

Há estudos mostrando que a imunidade conferida pela infecção seria duradoura. No entanto, os principais órgãos reguladores consideram que os resultados dos estudos até o momento são insuficientes para dizer que a infecção forneceria imunidade maior ou que duraria mais. O Centro de Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, ressalta que especialistas “estão pesquisando para entender mais sobre a imunidade tanto pela infecção quanto pela vacinação” e que estudos apontam que as vacinas oferecem um reforço na proteção de quem já foi infectado. A Anvisa reitera isso, dizendo que “pesquisas apontam que a vacina pode proporcionar uma imunidade mais duradoura à covid-19 e fortalecer a imunidade natural à doença”. Ambos recomendam que qualquer pessoa elegível, mesmo quem já teve a doença, se vacine.

Zeballos já foi alvo de duas checagens do Comprova no começo da pandemia. Em uma delas, uma entrevista sua foi tirada de contexto. Ele dava seu relato sobre experiências com medicamentos corticoides no tratamento da covid-19. À época, como ele próprio explicou ao Comprova, os resultados não haviam sido publicados. Atualmente já se possui estudos robustos que comprovam o benefício destes remédios para pacientes infectados.

A outra checagem foi feita sobre um áudio no qual ele replicava alegações de um médico francês de que o Sars-CoV-2 teria escapado de um laboratório em Wuhan, na China. Até hoje essa hipótese não foi comprovada, e as evidências mais robustas apontam que o coronavírus teria sido transmitido naturalmente de um animal selvagem para o ser humano.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. O texto do site Frontliner foi compartilhado 726 vezes no Facebook e teve 5.729 interações. Já o vídeo do médico Roberto Zeballos foi visualizado mais de 180 mil vezes e o tuíte do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) teve 3.824 reações.

Conteúdos enganosos sobre vacinas ou tratamentos contra a covid-19 podem induzir a população a recusar medidas de prevenção, como a imunização, e se expor a riscos durante a pandemia.

O Comprova já mostrou, por exemplo, que exames sorológicos não servem para provar grau de proteção das vacinas, que o diagnóstico positivo de Doria não indica ineficácia da Coronavac, que a Infecção de Rodrigo Faro não prova ineficácia da vacina e que os imunizantes usados no Brasil passaram por testes de segurança e eficácia.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Eleições

Investigado por: 2021-08-04

Pesquisa antiga é usada para sugerir que Bolsonaro é aprovado por metade da população

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a postagem apontando que metade da população brasileira aprova a maneira de governar do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A pesquisa, na verdade, foi feita em setembro do ano passado, e não reflete a avaliação atual do governo.
  • Conteúdo verificado: Post no Instagram, publicado no fim de julho, traz uma reportagem do portal R7 sobre uma pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ao Ibope, afirmando que 50% da população brasileira aprova a maneira de governar de Jair Bolsonaro e que a avaliação do governo alcançou o maior porcentual desde o início do mandato.

É enganosa a publicação feita no Instagram com a imagem de uma reportagem do portal R7 apontando que, segundo pesquisa CNI/Ibope, metade dos brasileiros aprova a maneira de governar de Jair Bolsonaro. O levantamento, na verdade, foi feito em setembro do ano passado. À época, a pesquisa apontou que 50% dos entrevistados aprovavam a maneira de governar do presidente, revertendo uma tendência de queda – em dezembro de 2019, eram 41%.

Em dezembro, outra pesquisa encomendada pela CNI – a última feita em parceria com o Ibope – apontou uma queda nos índices de aprovação do presidente e do próprio governo. Segundo o levantamento, em dezembro, 46% aprovavam a maneira de Jair Bolsonaro governar. A desaprovação passou de 45% para 49%.

Em março deste ano, a Confederação Nacional da Indústria anunciou que deixaria de produzir os chamados indicadores de sentimentos do consumidor e avaliação do governo, devido ao fim do contrato e ao encerramento das atividades do Ibope Inteligência. Portanto, não há levantamentos encomendados pela CNI em 2021.

Pesquisas do Datafolha, PoderData e Ipespe consultadas pelo Comprova também apontam que o período entre setembro e outubro de 2020 foi marcado por uma alta na aprovação do governo. Por outro lado, os levantamentos mais recentes desses institutos mostram o pior momento na avaliação do presidente, com recorde no percentual de ruim e péssimo. Além disso, as duas pesquisas já feitas em 2021 pelo Ipec, empresa formada por ex-executivos do Ibope, também apontam uma desaprovação elevada do governo.

Como verificamos?

Primeiramente, o Comprova procurou no Google a reportagem do portal R7 publicada pelo perfil @jairmessiasbolsonaro3.0 no Instagram. Depois, buscou quando a pesquisa foi feita e a publicação original no Portal da Indústria, da CNI. A equipe pesquisou, ainda no site da CNI, o último levantamento realizado pela instituição em parceria com o Ibope e encontramos um de dezembro. Depois disso, segundo notícia publicada no portal da CNI, não houve mais pesquisas em decorrência do fim do contrato com o Ibope.

O Comprova ainda buscou outros levantamentos mais recentes de outros quatro institutos para ver se a pesquisa publicada em setembro reflete a realidade atual. Procurado por meio do Instagram, o perfil @jairmessiasbolsonaro3.0 não respondeu até a publicação deste texto.

Verificação

Pesquisas feita pela CNI em parceria com o Ibope

A Confederação Nacional da Indústria encerrou o contrato com o Ibope em março deste ano – ou seja, não há pesquisas realizadas pela parceria em 2021. A última foi em dezembro de 2020 e apontou que 46% aprovavam a maneira de Bolsonaro governar, caindo 4 pontos porcentuais em relação à realizada dois meses antes, em setembro. A margem de erro é de 2 pontos porcentuais.

Por outro lado, a avaliação positiva do governo caiu em dezembro na comparação com setembro. O porcentual de brasileiros que avaliavam o governo como ótimo ou bom caiu de 40% para 35%. Os que classificavam como regular passaram de 29% para 30% e os que avaliavam como ruim ou péssimo, de 29% para 33%.

As duas pesquisas ouviram 2 mil pessoas em mais de 120 municípios brasileiros.

Outras pesquisas

Datafolha

O Datafolha não fez pesquisa em setembro de 2020. Mas os números de agosto e dezembro do ano passado também mostram o melhor desempenho do presidente desde o início do mandato. Em ambas as pesquisas, ele teve 37% de ótimo e bom. Ruim e péssimo eram 34% em agosto e 32% no final do ano.

Desde então, os números pioraram. Nos dois últimos levantamentos, em maio e julho de 2021, o Datafolha mostrou os piores resultados de ótimo e bom para o presidente desde o início da gestão, com 24%. A reprovação a Bolsonaro (ruim ou péssimo) também teve os índices mais altos: 45% em maio e 51% em julho.

PoderData

Pesquisa do PoderData, empresa de pesquisas do Poder 360, aponta o melhor momento para o presidente no último ano entre 12 e 14 de outubro de 2020, quando o percentual de ótimo e bom do governo bateu seu auge, em 40%. Em setembro, mês em que a pesquisa do Ibope foi realizada, a empresa fez três pesquisas. O governo aparece com 39% de ótimo e bom no levantamento entre 31 de agosto e 2 de setembro. Depois, marcou 38% nas duas pesquisas feitas nos períodos de 14 a 16 e de 28 a 30 de setembro.

O instituto também mostra que houve uma redução na aprovação do governo e um aumento da rejeição desde então. O menor índice de ótimo e bom foi registrado entre 15 e 17 de março de 2021: 24%. O maior percentual de rejeição (ruim e péssimo), porém, aparece no último levantamento, feito entre 19 e 21 de julho deste ano: 56%.

Ipespe

O Ipespe realiza pesquisa em parceria com a XP Investimentos. Na série histórica do instituto, os meses em que Bolsonaro teve o melhor resultado de ótimo e bom para seu governo foram em janeiro e fevereiro de 2019, logo no início do mandato, ambos com 40%. Mas, o instituto também aponta o período entre setembro e outubro de 2020 como muito favorável para o presidente. Nos dois levantamentos feitos nesses meses, ele aparece com 39% de ótimo e bom, ante 36% (set) e 31% (out) de ruim e péssimo.

O levantamento mais recente, de julho de 2021, mostra o pior resultado para o presidente da série histórica do Ipespe. Ele aparece com 52% de ruim e péssimo (valor mais alto) e com apenas 21% de ótimo e bom (valor mais baixo).

Ipec

O Ipec é o instituto formado pela equipe que dirigia o Ibope. Por ter surgido após a extinção do Ibope, não tem dados anteriores a 2021. Mas, neste ano, o Ipec já fez duas pesquisas de avaliação do governo. Na primeira, em fevereiro, Bolsonaro tinha 39% de ruim e péssimo, contra 28% de ótimo e bom e outros 31% de regular.

Na mais recente, de junho, o ruim e péssimo cresceu para 49%, enquanto ótimo e bom recuou para 24% e o regular ficou em 26%.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre políticas públicas e pandemia de covid-19 que tenham atingido alto grau de viralização. Em julho de 2021, os participantes decidiram também iniciar a verificação da desinformação envolvendo possíveis candidatos à presidência da República. Desde então, o projeto tem monitorado nomes que vêm sendo incluídos em pesquisas dos principais institutos.

A postagem verificada aqui se encaixa nesse contexto porque ela pode levar o internauta a uma interpretação equivocada do cenário político e eleitoral, com base em uma pesquisa que é real, mas que foi feita para aferir o comportamento do eleitor há quase um ano. A publicação no Instagram teve mais de 34,5 mil curtidas.

É comum a aprovação e a reprovação de governos oscilarem ao longo do tempo, dependendo do contexto político, econômico e social. Por isso, é importante se referir sempre aos levantamentos mais atuais.

O Comprova já mostrou recentemente que uma enquete em um site não indica quem está na frente das pesquisas eleitorais e que é enganoso afirmar que resultado de enquete sobre o voto impresso reflete a opinião da população.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Política

Investigado por: 2021-08-03

Vídeo engana ao atribuir obra no RN apenas à gestão de Bolsonaro

  • Enganoso
Enganoso
São enganosas as afirmações feitas por um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em um vídeo publicado no TikTok sobre obras executadas na Reta Tabajara, trecho da Rodovia BR-304, no Rio Grande do Norte. Ele parabeniza a gestão e afirma que governos anteriores nada fizeram no local. A obra, entretanto, teve início na administração de Dilma Rousseff (PT) e continuou no governo de Michel Temer (MDB). Ele ainda faz comparação infundada sobre pavimentos usados nas obras atuais e nas anteriores. Conteúdo semelhante foi compartilhado no Twitter.
  • Conteúdo verificado: Apoiador do governo federal, em vídeo gravado no que seria a Reta Tabajara, na BR-304, no Rio Grande do Norte, elogia uma obra e afirma que “o governo do PT, os governos anteriores, não fizeram nada, só prometeram e não arrumaram nada”. Ele mostra uma estrutura de concreto e elogia o atual ministro de Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, e o presidente Jair Bolsonaro.

As obras de duplicação e outros serviços na Reta Tabajara, entre os quilômetros 281 e 308 da Rodovia BR-304, na zona metropolitana de Natal (RN), não são fruto apenas da gestão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e do atual ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, conforme afirma apoiador do governo federal em vídeo publicado no TikTok e no Twitter.

Os serviços foram iniciados ainda em 2014, no governo de Dilma Rousseff (PT), e ocorreram também durante a gestão Michel Temer (MDB). As obras se arrastam há sete anos e chegaram a ser paralisadas totalmente por quatro meses pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e tendo liberação parcial por quase dois anos até retornar à execução realizada atualmente.

Na publicação, o apoiador também elogia a obra, comparando a estrutura de concreto “mais grossa”, que atribui ao atual governo, ao asfalto do lado, ao qual atribui pior qualidade por ter sido feito por gestões anteriores.

Não foi possível provar de qual governo é cada estrutura porque o Comprova não localizou o ponto exato onde o vídeo foi gravado, contudo, também não se pode afirmar qual pavimento é o mais adequado apenas visualmente. A escolha, inclusive, deve levar em conta tipos de solo, situações climáticas, carga e custos.

A reportagem procurou o responsável pelas publicações, mas não obteve retorno.

Como verificamos?

Como se trata de uma obra em rodovia federal, o ponto de partida foi entrar em contato com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) – órgão responsável por intervenções nessas vias – para saber o que foi executado no trecho citado na verificação, o período de realização e os valores aplicados.

O Comprova também pesquisou conteúdos publicados em sites do governo e na imprensa sobre a rodovia, e constatou que a obra foi iniciada no governo Dilma. A informação foi confirmada por meio de consulta ao Painel do Orçamento Federal.

A reportagem tentou identificar o ponto exato da gravação, utilizando de forma combinada as ferramentas InVid e Google Street View, o que não foi possível devido aos ângulos fechados do vídeo e à paisagem com características uniformes ao longo do trecho. Além disso, as imagens captadas pelo serviço do Google são de 2019.

Foram consultadas as engenheiras civis Lidiane Santana Silveira e Fernanda Gadler para falar sobre o material utilizado na pavimentação e explicar a diferença dos pavimentos adotados nas obras da BR-304. A mesma demanda foi solicitada à Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). Por fim, a equipe fez contato com o autor da postagem, por mensagem enviada no Instagram, uma vez que não havia canal de comunicação aberto nas redes que usou para divulgar o conteúdo verificado. Ele não respondeu até a publicação da verificação.

Verificação

Governos anteriores realizaram obras na Reta Tabajara

O DNIT informou ao Comprova que as obras no trecho conhecido como Reta Tabajara, entre os quilômetros 281 e 308 da BR-304, foram iniciadas em fevereiro de 2014, no governo Dilma, e compreendem terraplenagem, soluções especiais de aterro, drenagem, pavimentação rígida e flexível, restauração de revestimento asfáltico, sinalização vertical e horizontal, obras de arte correntes, obras de arte especiais, obras complementares, iluminação pública, desapropriação e um novo posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

O órgão afirma que desde quando foram iniciadas existiram “impedimentos construtivos e outros fatores que impediram o bom andamento das obras”, acrescentando ter ocorrido paralisação dos serviços e, consequentemente, a rescisão do contrato da primeira construtora, em dezembro de 2015.

A obra foi retomada em janeiro de 2016, ainda no governo petista, desta vez com a segunda colocada na licitação. De acordo com o DNIT, pouco mais de um ano depois, em abril de 2017, quando Michel Temer era o presidente, os serviços foram novamente suspensos por determinação do TCU, fundamentado por indícios de irregularidades constatados em relatório de auditoria.

Na época, o órgão identificou a apresentação de projeto executivo deficiente, com adoção de pavimento rígido em área de solo mole e utilização de base de brita de custo elevado. O DNIT explica que, em junho de 2019, no governo Bolsonaro, foi aprovada a 2º Revisão de Projetos em Fase de Obras (RPFO) e os serviços suspensos foram liberados para execução, permanecendo as atividades até a presente data.

O departamento informou que a execução da obra é da ordem de 47,67% até o momento. A vigência do contrato é até março de 2022 e o custo da obra atualmente está em R$160,5 milhões, somando os valores pagos às duas empresas que atuaram. A previsão até a entrega é de aplicação de R$ 349 milhões.

Publicações na página do DNIT e na imprensa também comprovam que o trecho recebe obras desde o governo de Dilma, passando pelo governo Temer e tendo continuidade no governo Bolsonaro.

Uma consulta do Comprova ao Painel do Orçamento Federal demonstra que desde 2014 a adequação do trecho rodoviário da BR-304 recebe recursos. Nos últimos sete anos foram empenhados R$ 413.576.446 para as obras, conforme o sistema.

Comparação entre pavimentos é inadequada

No vídeo, o rapaz diz “olha o tamanho desse concreto, irmão” e “olha a grossura disso aqui”, comparando com o outro pavimento por onde os carros passam: “olha a diferença do asfalto aqui, construído na época dos outros governos”.

De acordo com Lidiane Santana Silveira, engenheira civil e pesquisadora colaboradora na Escola Politécnica da USP, a estrutura a que ele se refere no vídeo, elogiando e dizendo ser “mais grossa”, é um tipo de pavimento chamado de pavimento rígido em concreto armado. Já o que ele insinua ser de menor qualidade e construído nos governos anteriores é o pavimento flexível feito com asfalto. Entretanto, o edital de licitação para a contratação de empresas para a execução das obras na Reta Tabajara já previa, em 2013, no governo de Dilma Rousseff, a construção do pavimento rígido em placa de concreto de cimento portland.

A engenheira explicou ao Comprova que o pavimento flexível é o tipo mais comum executado no Brasil e utiliza material asfáltico/betuminoso na camada de revestimento, sendo composto por uma mistura de ligante asfáltico e agregados.

Já o pavimento rígido, menos usado no Brasil por ter um custo maior, utiliza concreto como revestimento, sendo que este concreto pode ser armado (conter armações feitas de barras de aço – vergalhões) ou não (concreto simples ou com outro tipo de reforço, como fibras). “A espessura da camada de revestimento irá depender do dimensionamento do projeto, da carga que será recebida”, explica.

Um documento da CNT (Confederação Nacional de Transporte) traz a informação de que 99% da malha rodoviária brasileira pavimentada é de pavimento flexível. A imagem abaixo traz uma ilustração da diferença entre os dois:

 

Lidiane ressalta que a insinuação feita no vídeo sobre a qualidade do asfalto não leva em conta as características desse tipo de pavimento. “A decisão sobre qual tipo de pavimento deverá ser projetado e executado depende de uma série de fatores, como custo, vida útil, manutenção e tráfego”, afirma.

Uma apresentação feita em um evento realizado pelo Instituto Brasileiro do Concreto (Ibracon) traz um estudo comparativo entre os pavimentos. A conclusão é de que “os dois tipos de pavimentos atendem às características de segurança, de conforto e de economia (manutenção, operação e segurança)” e “num país tão grande e com condições adversas, como os diferentes tipos de solo e situações climáticas, além de cargas que passam pelas estradas de formas diferentes, é muito difícil dar uma única solução”.

Fernanda Gadler, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Transportes da Escola Politécnica da USP e mestre em Engenharia de Construção Civil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), aponta que comparar uma estrutura de pavimento flexível e uma rígida sem saber dados importantes e particularidades do projeto, como período de projeto, carga a que o pavimento estará submetido, local de aplicação — principalmente no que diz respeito à necessidade e facilidade de manutenção periódica — e até mesmo de limitações orçamentárias, pode gerar conclusões equivocadas.

“Além disso, como não sabemos as espessuras de cada uma das estruturas, essa comparação se torna ainda mais inadequada. O pavimento flexível e o pavimento rígido são duas estruturas muito diferentes, que possuem vantagens e desvantagens, e a adoção de um ou de outro deve levar em conta muitos fatores como necessidade de manutenção, período de projeto, tipo de carga solicitante, investimento inicial disponível, entre outros”, reforça.

Segundo ela, o pavimento de concreto, por exemplo, suporta maiores solicitações de carga sem se deformar, tem maior vida útil com menor necessidade de manutenção periódica, além de boa refletividade devido à cor clara, minimizando a formação de ilhas de calor urbano. No entanto, esse tipo de pavimento tem um custo inicial muito superior ao do pavimento asfáltico e também necessita de uma mão de obra especializada para aplicação.

Sendo assim, ele é indicado para locais onde essas vantagens sejam primordiais, como em vias com altas solicitações de carga de tráfego, em corredores de ônibus — onde as deformações são excessivas — e em praças de pedágio, onde a necessidade de maior frequência de manutenções periódicas, mais comuns no pavimento flexível, pode trazer problemas para a concessionária, como longas filas e prejuízo financeiro.

Fernanda explica que, no caso do pavimento asfáltico, a flexibilidade traz vantagens, além da facilidade de aplicação e do custo inferior. O revestimento asfáltico permite muitas combinações com outros materiais, como borracha de pneus moídos, polímeros e até a reutilização do próprio material fresado das pistas, o que torna esse tipo de material muito versátil.

“A decisão do projetista em adotar uma solução ou outra deve levar em conta muitos fatores e particularidades da obra em questão, sendo que existem aplicações mais apropriadas para pavimento rígido e outras onde o pavimento flexível é mais adequado”, completa.

A ABCP disse ao Comprova que o Brasil possui 6,8 mil quilômetros de vias pavimentadas com concreto, sendo que sua presença duplicou na última década, passando de 2% para 4% da malha viária brasileira. ”No que diz respeito ao pavimento de concreto, houve um barateamento relativo de custos das matérias-primas. Os preços do cimento e do concreto, ao contrário do preço do asfalto, são formados em mercados com maior nível de concorrência entre fabricantes. No caso do cimento, o preço também sofre alguma influência dos preços externos, visto que é possível a importação do produto em grandes lotes”, afirmou por meio de nota.

Segundo a Associação, entre 2007 e 2014, houve um crescimento nos preços do cimento e do concreto em torno de 6% ao ano. No entanto, as quedas de demanda observadas a partir de 2014 levaram a uma acomodação dos preços.

Quem é o autor do vídeo?

Maicon Sulivan é um ativista de direita que nas redes sociais se diz cristão, evangelista, armamentista e “anti-mimimi”. Além disso, se identifica como “Black Power do Bolsonaro”, fazendo menção ao episódio pelo qual o Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU) ajuizaram ação civil pública contra a União e contra o presidente por prática de racismo.

Em 6 de maio, durante uma conversa do presidente com simpatizantes na saída do Palácio do Planalto, ele cumprimenta o apoiador chamando-o de “cabeludo” e fala sobre “piolho” e “barata”, referindo-se ao cabelo black power do homem, que não aparece no vídeo. No mesmo dia, Maicon publicou vídeo no Instagram defendendo o presidente, afirmando se tratar de brincadeira e que processaria uma emissora de televisão por reportagem apontando racismo.

Pouco mais de dois meses depois, em 8 de julho, Bolsonaro convidou Maicon para participar de uma transmissão nas redes sociais. Na ocasião, negou ter sido racista e voltou a associar o cabelo de Maicon a um criadouro de baratas, além de dizer que ele possui piolhos. O presidente declarou se tratar de brincadeira e o apoiador negou ter se sentido ofendido pelo comentário.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre políticas públicas e pandemia de covid-19 que tenham atingido alto grau de viralização. Em julho de 2021, os participantes decidiram também iniciar a verificação da desinformação envolvendo possíveis candidatos à presidência da República. Desde então, o projeto tem monitorado nomes que vêm sendo incluídos em pesquisas dos principais institutos.

É o caso deste conteúdo, considerando que o autor cita Jair Bolsonaro, possível candidato à reeleição, e também refere-se a uma obra pública. E não é a primeira vez que o Comprova verifica publicações enganosas para exaltar o presidente, como o vídeo que ignorava que a transposição do rio São Francisco é obra de diversos governos; ou as postagens que fizeram comparações enganosas sobre o mesmo projeto de transposição; e ainda site que omite que pesquisa com vantagem de Bolsonaro foi feita apenas em Santa Catarina.

O conteúdo verificado teve mais de 5,4 mil curtidas no Twitter e pelo menos 866 retuítes até o dia 3 de agosto e, no TikTok, outras 602 curtidas.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Política

Investigado por: 2021-07-30

É falso que Italo Ferreira tenha pedido prisão de Lula na entrega da medalha em Tóquio

  • Falso
Falso
É falso que o surfista brasileiro Italo Ferreira, medalhista de ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio, tenha pedido a prisão do ex-presidente Lula (PT) em uma entrevista ao The New York Times. A assessoria do atleta negou qualquer fala nesse sentido, e o jornal americano não publicou nenhuma matéria com essa declaração.
  • Conteúdo verificado: Postagem no Facebook tem foto do surfista Italo Ferreira e a inscrição “Fico feliz pela medalha mais (sic) fico triste pela corrupção em nosso país. Meu maior prêmio seria ver Lula na cadeia”. Segundo o post, a declaração teria sido dada ao jornal The New York Times.

É falso que o surfista Italo Ferreira, campeão olímpico nos Jogos de Tóquio, tenha pedido a prisão do ex-presidente Lula (PT) em uma entrevista ao jornal The New York Times.

Uma postagem no Facebook, com a foto do medalhista de ouro, atribui a ele uma declaração falsa, que menciona a corrupção no Brasil e o petista, dizendo que a prisão de Lula seria um “prêmio” maior do que a conquista olímpica.

O Comprova procurou a assessoria do atleta, que disse que a frase não foi dita por Italo e que nenhuma publicação do tipo foi feita pelo jornal norte-americano.

O The New York Times mencionou a vitória do surfista em duas matérias publicadas no site, mas nenhuma delas trata de qualquer posicionamento político dele.

Na comemoração da vitória, o surfista fez um símbolo com uma das mãos, que foi entendido por alguns usuários do Twitter como um “L”, em homenagem ao ex-presidente petista. A assessoria de Italo, porém, disse ao Comprova que se trata do número 1.

Nós entramos em contato com o autor da postagem falsa, mas não tivemos resposta até a publicação desta checagem.

Como verificamos?

Primeiramente, entramos em contato com a IF15 Sports, descrita na conta oficial do atleta no Twitter como “o canal oficial do campeão Italo Ferreira”. Tivemos resposta por e-mail.

Buscamos, no Google, pelas palavras-chave “New York Times” e “Italo Ferreira”, e encontramos, além de outras verificações sobre o tema, duas reportagens do jornal americano que mencionam o campeão brasileiro. Procuramos também por entrevistas concedidas por Italo a outros veículos, após a conquista da medalha de ouro.

Por fim, buscamos, no Twitter e outras redes sociais, postagens que relacionam o medalhista olímpico ao ex-presidente Lula, ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ou a qualquer outra declaração de cunho político-partidário.

O Comprova ainda entrou em contato com o responsável pela postagem no Facebook, mas não recebeu resposta.

Verificação

Declarações após o título

A assessoria de Italo negou que ele tenha feito qualquer declaração sobre corrupção ou o ex-presidente Lula em entrevista ao The New York Times. “Trata-se de fake news. O atleta não deu essa declaração e nem o NYT fez a publicação”, afirmou

Nas reportagens e vídeos de veículos brasileiros, publicados após a conquista do ouro olímpico, há menção a uma entrevista coletiva e a outras conversas que o atleta teve com jornalistas, mas nenhuma delas menciona qualquer declaração política feita pelo surfista.

Italo Ferreira no NYT

Desde o início das Olimpíadas, há duas matérias do jornal americano The New York Times que citam Italo, ambas publicadas no dia 27 de julho, data da vitória do potiguar no surfe.

A primeira é assinada pelo jornalista John Branch, que reporta as medalhas de ouro de Italo e da americana Carissa Moore. Nela, só há uma fala do surfista brasileiro: “For me, that was a long day. But it was a dream come true.” (“Para mim, foi um dia longo. Mas um sonho virando realidade”, em tradução livre). A publicação americana deu muito mais destaque ao japonês nascido nos Estados Unidos, Kanoa Igarashi, que levou a prata.

A outra matéria em que Italo é citado consiste apenas em um resumo do que aconteceu de mais importante naquele dia nos jogos olímpicos. Não há falas do atleta, apenas a notícia de seu ouro. Nenhuma das duas publicações faz referência a posicionamentos políticos do surfista.

Símbolo em comemoração

No dia da conquista da medalha de ouro, Italo saiu da água, após a prova final, e fez um sinal com a mão, que foi interpretado por várias pessoas na internet como um “L”. A assessoria do atleta, porém, disse ao Comprova que não foi isso. “Ele não fez um L. E sim um sinal de número 1, de comemoração”, afirma.

Foto: Miriam Jeske/COB
Italo Ferreira. Foto: Miriam Jeske/COB

O símbolo do “L”, também é usado por torcedores do Vasco da Gama, em homenagem ao atacante Germán Cano. O jogador costuma comemorar os gols dessa forma, em homenagem ao filho, Lorenzo. O Vasco, inclusive, parabenizou Italo pela conquista da medalha, no Twitter, mencionando a forma de comemoração.

No Twitter de Italo não há qualquer postagem que mencione o ex-presidente Lula ou o presidente Bolsonaro, mas há um tuíte, de janeiro, que relaciona a corrupção nos estados brasileiros à pandemia do novo coronavírus – em discurso parecido com o adotado pelo atual chefe do executivo: “Corrupção nos estados, (sic) mata mais que qualquer vírus. Triste realidade”. 

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições e pandemia de covid-19 que tenham atingido alto grau de viralização. Em julho de 2021, os participantes decidiram também iniciar a verificação da desinformação envolvendo possíveis candidatos à presidência da República. Desde então, o projeto tem monitorado nomes que vêm sendo incluídos em pesquisas dos principais institutos.

É o caso deste conteúdo, que alega que um atleta campeão olímpico teria se posicionado contra o pré-candidato Lula em meio à realização dos Jogos Olímpicos, que recebem a atenção dos brasileiros no momento. O Comprova já checou outras publicações nesse mesmo sentido, como uma postagem falsa que afirmava que a trilha sonora usada por Rebeca Andrade, ginasta medalhista de prata, era uma homenagem a Bolsonaro; e o tuíte enganoso que dizia que o presidente vai acabar com o programa Bolsa-Atleta.

A postagem soma quase 10 mil curtidas e 2,7 mil compartilhamentos até 30 de julho apenas no Facebook. Também verificaram o conteúdo as publicações Aos Fatos, Lupa, Boatos.org e E-Farsas.

Falso, para o Comprova, é conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Eleições

Investigado por: 2021-07-29

Frase de Cármen Lúcia de 2018 é tirada de contexto para afirmar que Lula não poderá se candidatar em 2022

  • Enganoso
Enganoso
Montagem engana ao trazer parte de uma frase dita pela ministra do STF (Supremo Tribunal Federal) Cármen Lúcia, em 2018, sobre a Lei da Ficha Limpa, e descontextualiza ao indicar que o ex-presidente Lula (PT) não poderia ser candidato em 2022.
  • Conteúdo verificado: Montagem que está circulando no Facebook traz uma foto da ministra Cármen Lúcia e uma suposta fala dela: “Lei não permite registro de candidato condenado em segunda instância” junto com a frase “Lula não será candidato!”.

Montagem engana ao descontextualizar frase dita pela ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia em 2018, quando ela se referia à Lei Complementar 135/2010, conhecida como Lei da Ficha Limpa. Na época, o ex-presidente Lula (PT) estava preso depois de ser condenado em segunda instância na Operação Lava Jato.

No entanto, atualmente, Lula é considerado elegível para 2022. As condenações do ex-presidente no âmbito da Lava Jato foram anuladas pelo ministro Edson Fachin em 8 de março deste ano. Na decisão monocrática, o ministro entendeu que a 13ª Vara Federal de Curitiba não tinha competência para julgar o ex-presidente.

No dia 15 de abril, por oito votos a três, o plenário da Suprema Corte manteve a anulação das condenações. Cármen Lúcia votou pela anulação. Portanto, o ex-presidente se tornou elegível novamente. O petista lidera a corrida presidencial com 46%, segundo a pesquisa mais recente feita pelo instituto Datafolha.

Como verificamos?

O Comprova consultou os processos que envolvem o ex-presidente Lula, notícias relacionadas e comunicados oficiais do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), STF e Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Procurou o advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, e a advogada Marilda Silveira, especialista em Direito Eleitoral.

Além disso, tentamos contato com a autora do conteúdo enganoso e com a assessoria de imprensa do STF, mas não tivemos uma resposta.

Verificação

Frase de Cármen Lúcia é de 2018

A frase citada pelo conteúdo que viralizou é real, mas ocorreu em outro contexto. Ela foi proferida por Cármen Lúcia em 29 de maio de 2018. Na época, Lula estava preso depois de ser condenado em segunda instância na Operação Lava Jato.

A frase completa da ministra foi: “O direito brasileiro não permite que haja, pela Lei da Ficha Limpa, o registro válido daquele que tenha sido condenado a partir de um órgão colegiado. Juridicamente, é isso que se tem no Brasil”.

Cármen Lúcia se referia à Lei Complementar 135/2010, conhecida como Lei da Ficha Limpa, que proíbe a candidatura daqueles “condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado”, por uma série de crimes, entre os quais os cometidos contra a administração pública. O impedimento vale “desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena”. A legislação foi sancionada pelo próprio Lula, quando presidente, em 4 de junho de 2010.

A declaração da ministra ocorreu durante um evento da revista Veja, chamado Amarelas ao Vivo. A ideia era fazer, com plateia, uma entrevista similar às que são publicadas na seção “Páginas amarelas” do veículo impresso. Além de Cármen Lúcia, naquela edição foram entrevistadas outras dez pessoas, entre as quais o historiador Leandro Karnal e o youtuber Iberê Thenório.

Em razão da greve dos caminhoneiros, a ministra não esteve presencialmente no auditório do evento, mas falou por videochamada. A revista registrou a frase dela quando questionada sobre a candidatura de Lula no mesmo dia em que a entrevista foi realizada.

O Comprova procurou a assessoria de imprensa do STF, mas o órgão não retornou até a publicação da matéria.

Lula se mantém elegível

A primeira condenação de Lula no âmbito da Lava Jato ocorreu em 12 de julho de 2017. O ex-juiz Sérgio Moro decretou a sentença de nove anos e seis meses de prisão no caso em que ele era acusado de ter recebido benesses de uma construtora em um apartamento triplex no Guarujá. O ex-presidente nega ser proprietário do imóvel. No dia 24 de janeiro de 2018, o TRF-4 confirmou, por unanimidade, a condenação e aumentou a pena para 12 anos e um mês de reclusão.

Como o TRF-4 é um órgão colegiado, o TSE indeferiu o registro de candidatura de Lula a presidente da República no dia 1º de setembro de 2018. Ele estava preso desde o dia 7 de abril daquele ano em uma cela especial na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

Em 6 de fevereiro de 2019, o ex-presidente foi condenado uma segunda vez, pela juíza federal Gabriela Hardt, a 12 anos e 11 meses de prisão por supostamente receber propinas através de um sítio em Atibaia, no interior de São Paulo. O petista também afirma não ser dono do imóvel. Novamente, o TRF-4 manteve a condenação e aumentou a pena de Lula, desta vez para 17 anos, um mês e dez dias, em 27 de novembro de 2019.

Poucas semanas antes, em 8 de novembro, Lula havia deixado o cárcere. Ele se beneficiou do fato de o STF ter mudado seu entendimento e passado a determinar que o cumprimento da pena deve começar apenas após o trânsito em julgado do processo, momento em que se esgotam todas as possibilidades de recursos.

As condenações do ex-presidente no âmbito da Lava Jato foram anuladas pelo ministro Edson Fachin em 8 de março deste ano. Na decisão monocrática, o ministro entendeu que a 13ª Vara Federal de Curitiba não tinha competência para julgá-lo.

A decisão foi remetida para o plenário do STF quatro dias depois, para que a Corte desse uma decisão unânime sobre o caso. No dia 15 de abril, por oito votos a três, o plenário da Suprema Corte manteve a anulação das condenações de Lula. Cármen Lúcia votou pela anulação.

Com isso, o ex-presidente se tornou elegível novamente. O petista lidera a corrida presidencial com 46%, segundo a pesquisa mais recente feita pelo instituto Datafolha.

Processos abertos contra Lula

O ex-presidente já foi alvo de 18 procedimentos na Justiça. Destes, três processos ainda estão abertos, quatro foram anulados pelo STF e enviados para serem julgados novamente no Distrito Federal, como explicitado anteriormente, e dos 11 restantes, em quatro ele foi absolvido, em três a denúncia foi rejeitada, três foram arquivados e um foi trancado pelo TRF-1.

As três ações abertas na Justiça Federal ainda estão em primeira instância e não há sentença. Os processos podem ser consultados pelo sistema PJE:

Procurado pelo Comprova, o advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, disse, por meio de assessoria de imprensa, que os casos dos caças Gripen e do BNDES na Angola estão com petições pendentes de análise na Justiça Federal de Brasília.

“Nessas petições mostramos que os processos estão utilizando de forma ampla o material produzido pela Lava Jato de Curitiba, que foram declarados nulos, de forma irremediável, pelo STF. O caso da ‘Guiné’ está na mesma situação e o TRF-3 suspendeu a marcha processual até o exame final pela Turma Julgadora”, explicou.

Segundo ele, os quatro da “Lava Jato de Curitiba” sequer configuram processos atualmente. “Não há ainda acusações recebidas pela Justiça”, afirmou.

Lula é considerado elegível atualmente. Os três processos em aberto, assim como os quatro anulados pelo STF, teriam que ser julgados em segunda instância e Lula ser condenado para afetar a candidatura do ex-presidente em 2022.

De acordo com Marilda Silveira, especialista em Direito Eleitoral e ex-assessora Jurídica de Ministros e da Presidência do TSE, como esses sete processos criminais encontram-se em primeira instância, a não ser que tenham decisão e a parte perca o prazo de recurso, não interferem em nada na elegibilidade.

“Para que decorra inelegibilidade destes sete processos, seria preciso que houvesse condenação do órgão colegiado do TRF, mantendo sentença condenatória ou afastando absolvição, em um dos crimes dolosos listados no artigo 1, inciso I, alínea e da LC 64/90, com pena superior a 2 anos”, explica.

A LC 64/90, citada por Marilda, teve alguns trechos alterados pela Lei da Ficha Limpa, que proíbe a candidatura daqueles “condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado”, por uma série de crimes, como de lavagem e ocultação de bens.

Dessa forma, segundo ela, é muito difícil dizer se Lula poderá se tornar inelegível novamente porque depende de uma série de fatores como tempo do judiciário, dos recursos das partes, do que está prescrito, das provas a produzir, etc. “O fato é que uma decisão condenatória atrativa da inelegibilidade – pela jurisprudência atual – teria que existir até a diplomação em dezembro de 2022 ou até a decisão definitiva do registro de candidatura, que é antes”, comenta.

Quem é a autora?

O perfil @lidice.nascimento.98, que postou o conteúdo, foi procurado via Facebook, mas não respondeu às tentativas de contato. Na rede social, ela se descreve como estudante de direito, armamentista, patriota, cristã, conservadora, bolsonarista e de ultradireita. Na imagem de capa do perfil, ela publicou uma montagem com fotos de dois caixões com bonecos representando os ex-presidentes petistas Lula e Dilma Rousseff, além da expressão “Bolsonaro 2022”.

Por que investigamos?

Atualmente em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal, eleições e a pandemia de covid-19 que tenham viralizado nas redes sociais. Em julho de 2021, os participantes decidiram também iniciar a verificação da desinformação envolvendo possíveis candidatos à presidência da República. Desde então, o projeto tem monitorado nomes que vêm sendo incluídos em pesquisas dos principais institutos. É o caso dessa verificação que menciona pré-candidato que tem liderado as pesquisas.

A publicação verificada aqui teve mais de 13,5 mil interações no Facebook.

O mesmo conteúdo foi checado pelo Estadão Verifica, que o considerou fora de contexto, e pelo Aos Fatos, que o classificou como distorcido.

Recentemente, o Comprova mostrou que vídeo que circulou nas redes sociais não é de fazenda de filho de Lula e mostra ovelhas, não bois; que outro vídeo não prova que houve fraude nas eleições de 2014; e que a Constituição brasileira não permite a revogação de mandato político por assinatura.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda, aquele que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-07-29

Site engana ao afirmar que Anvisa ‘confessa ineficácia de máscaras’ contra a covid

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a publicação em um site conservador brasileiro afirmando que “Anvisa confessa ineficácia de máscaras e diz se basear apenas na OMS”. O texto se baseou em um ofício do órgão que trata de máscaras de tecido e que foi descontextualizado. Além disso, publicações da agência utilizam outras fontes, além da OMS, como referência desde o início da pandemia do novo coronavírus.
  • Conteúdo verificado: Texto em site afirma que a Anvisa confessou ineficácia de máscaras e disse se basear apenas na OMS para recomendar o equipamento, sem levar a ciência em conta.

É enganoso que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tenha “confessado” que máscaras sejam ineficazes para a proteção contra a covid-19, segundo afirma o título e o subtítulo de texto publicado em um site conservador brasileiro e fechado para não assinantes, que foi compartilhado em redes sociais. Outro artigo, veiculado no dia seguinte e sem bloqueio, muda levemente o tom, afirmando que a Anvisa confessou falta de evidências de eficácia de máscaras.

No Twitter, onde o link postado teve grande interação, pessoas comentaram a postagem fazendo coro à afirmação que consta no título e concordando com ela. Como o conteúdo é liberado apenas para assinantes, muitos usuários da rede social não tiveram acesso ao texto completo.

Em ofício utilizado como base para o conteúdo, a chefe de gabinete da agência, Karin Schuck Hemesath Mendes, afirma ter sido mantida, em nota técnica do órgão, a recomendação para o uso da proteção “apesar de não existir evidências robustas sobre a eficácia do uso de máscaras de tecido como controle de fonte para a transmissão da covid-19”.

O documento diz, ainda, que a recomendação é baseada no princípio da precaução e alinhada com as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O ofício trata apenas de máscaras de tecido e em nenhum momento a funcionária da Anvisa diz que elas são ineficazes. O título do texto verificado, entretanto, não faz essa identificação dos equipamentos e leva à interpretação de que nenhum deles protege contra o vírus.

Diversos documentos consultados pelo Comprova demonstram que a Anvisa recomenda a utilização das máscaras para a proteção desde 2020, assim como estudos, médicos e outros órgãos de saúde. A agência também utiliza outras fontes, além da OMS, para as orientações.

A reportagem entrou em contato com o site que publicou o conteúdo e a equipe afirmou ter construído o título de forma a resumir o conteúdo da publicação e chamar a atenção, alegando ser impossível inserir nele todas as informações do texto. Justificou, ainda, que o trecho do ofício em que se baseou está na abertura e que o parágrafo seguinte esclarece que se tratam de máscaras de pano.

Como verificamos?

O Comprova acessou e leu o ofício citado no conteúdo publicado no site. Em seguida, consultou diversas publicações da Anvisa desde o início da pandemia do novo coronavírus e entrou em contato com o órgão, por e-mail.

Também consultou estudos relacionados ao uso de máscaras na proteção contra a covid-19 e entrevistou o clínico geral Vitor Key Assada, que atende na linha de frente contra a covid-19 no Hospital Santa Casa de Londrina.

Por fim, entrou em contato com os responsáveis pela publicação verificada.

O Comprova fez esta verificação baseada em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 29 de julho de 2021.

Verificação

Anvisa não “confessa a ineficácia de máscaras” contra a covid-19

O texto publicado afirma que a Anvisa confessou a ineficácia de máscaras e que se baseia apenas na OMS, não levando em conta a ciência para recomendar o uso do equipamento. O conteúdo foi baseado em um ofício assinado por Karin Schuck Hemesath Mendes, chefe de gabinete da Anvisa, no dia 7 de abril de 2021, em resposta a questionamentos do defensor público federal João Frederico Bertran Wirth Chaibub, que atua em Goiânia (GO).

No documento, ela esclarece que as orientações para prevenção e controle da disseminação de doenças na população em geral, incluindo a recomendação do uso de máscara facial de tecido, competem ao Ministério da Saúde e que cabe à Gerência Geral de Tecnologia em Serviços de Saúde (GGTES) da Anvisa emitir orientações sobre prevenção e controle da disseminação da covid-19 apenas dentro dos serviços de saúde.

Destaca, ainda, que para este público o órgão atualiza frequentemente notas técnicas levando em consideração a situação epidemiológica do país e a disponibilização de novas evidências nacionais e internacionais.

Neste contexto, a chefe de gabinete afirma que “apesar de não existir evidências robustas sobre a eficácia do uso de máscaras de tecido como controle de fonte para a transmissão da covid-19, considerando o cenário epidemiológico atual, com vasta disseminação do vírus, incluindo cepas com tendência de maior transmissibilidade e virulência, pelo princípio da precaução e alinhado com as orientações da Organização Mundial da Saúde, a GGTES manteve na última atualização da nota técnica Nº 04/2020 (25/02/2021), a orientação para o uso de máscara de tecido para o controle de fonte por: pacientes, acompanhantes e visitantes (se estiverem assintomáticos) e profissionais do serviço de saúde que executam atividades exclusivamente administrativas e não tem nenhum contato com pacientes ou áreas de internação de pacientes”.

O ofício, entretanto, trata apenas de máscaras de tecido e, em nenhum momento, Karin diz que elas são ineficazes, ao contrário do que afirma um segundo texto publicado no site, que só cita se tratar de máscaras de tecido quando reproduz literalmente, entre aspas, trechos do documento.

Procurada pelo Comprova, a assessoria de comunicação da agência encaminhou posicionamento afirmando que o trecho sobre não existirem “evidências robustas” foi retirado de contexto. “O fragmento deve ser lido à luz do conhecimento científico produzido no transcorrer do enfrentamento à pandemia no Brasil e no mundo”, diz a nota. O Comprova verificou que, por não terem padronização na fabricação, a eficácia de máscaras de tecido varia. Já outros modelos, como o cirúrgico e o PFF2, têm eficácia comprovada em impedir a transmissão.

A agência acrescenta que a nota técnica a que se refere o ofício elenca entre as medidas de prevenção e controle de novos casos de infecção pelo Sars-CoV-2 o uso de máscaras adequadas pelos profissionais que atuam nos serviços de saúde. “Com o avanço da pandemia e considerando o acúmulo de evidências sobre a transmissão do novo coronavírus, a Anvisa vem implementando diversas atualizações em suas publicações. Em todas elas o uso de máscaras faciais adequadas às necessidades e aos profissionais de saúde foi reforçado”, afirma.

Assim como consta no ofício, a assessoria de comunicação afirma que as definições sobre o uso de máscaras pela população devem partir do Ministério da Saúde, mas explicou que a agência elaborou diversas orientações sobre máscaras faciais para uso não profissional com a finalidade de apoiar as ações para a saúde pública.

“Máscaras faciais não hospitalares não oferecem total proteção contra infecções, mas reduzem sua incidência. Especialistas apontam que mesmo pequenas medidas para reduzir transmissões têm grande impacto na atual pandemia, especialmente quando combinadas com medidas preventivas adicionais. Por esse motivo, a Agência sempre reforçou que máscaras de tecido íntegras, limpas, secas e usadas de forma correta são eficazes para evitar que gotículas contaminadas sejam expelidas sobre produtos, equipamentos e outras pessoas”.

O vírus pode se espalhar pela boca ou nariz de uma pessoa infectada, ao tossir, espirrar, falar, cantar ou respirar, por gotículas respiratórias maiores e aerossóis menores. A evidência atual sugere que a doença se espalha principalmente entre pessoas que estão em contato próximo umas com as outras, normalmente dentro de um metro. Uma pessoa pode ser infectada quando aerossóis ou gotículas contendo o vírus são inalados ou entram em contato direto com os olhos, nariz ou boca.

O que a Anvisa diz sobre o uso de máscaras?

Em janeiro deste ano, a Anvisa publicou um longo material em texto esclarecendo dúvidas sobre o uso de máscaras faciais e alertando as pessoas para que não se deixem “enganar pelas fake news”. O conteúdo, em formato de perguntas e respostas, explica, por exemplo, quais são os diferentes tipos de máscaras, para que servem e quais tipos de equipamentos têm sido utilizados pela população e pelos profissionais de saúde.

Em uma questão específica, afirma que as máscaras de proteção de uso não profissional são aquelas confeccionadas artesanalmente com tecidos e utilizadas para cobrir o nariz e a boca em espaços públicos durante a pandemia. “Essas máscaras atuam como barreiras físicas, reduzindo a propagação do vírus e, consequentemente, a exposição e o risco de infecções”, diz o texto.

Em seguida, o material educativo destaca que a utilização é uma importante medida de saúde pública que as pessoas devem adotar no combate à covid-19, além do distanciamento social e da limpeza frequente das mãos.

Em março deste ano, o órgão também publicou um documento de perguntas e respostas sobre o uso de máscaras de proteção facial em aeroportos e aeronaves, esclarecendo quais os tipos permitidos nesses locais, como usá-las e em quais situações é permitido retirá-las.

Em maio, uma nota técnica atualizou as medidas sanitárias a serem adotadas em portos e embarcações para resposta à Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) e Internacional (ESPII) pelo novo coronavírus, também reforçando a obrigatoriedade do uso das máscaras. “Entre as exigências aos viajantes, a Anvisa determinou que as máscaras de tecido confeccionadas artesanal ou industrialmente com material como algodão e tricoline devem possuir mais de uma camada de proteção e ajuste adequado ao rosto”, disse o órgão em nota encaminhada ao Comprova.

No início da pandemia no Brasil, em abril de 2020, a Anvisa já havia lançado uma cartilha com as orientações gerais relacionadas às máscaras faciais de uso não profissional. Nas referências, consta que o órgão se baseou em orientações do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) – o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos; da Association Française de Normalisation (AFNOR) – conjunto de normas francesas, como a ABNT no Brasil; da National Center for Biotechnology Information (NBCI) – que é o Centro Nacional de Informação Biotecnológica, uma seção da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos; em artigos científicos, entre outras.

Na ocasião, a OMS somente foi citada com a recomendação de que se respeitasse a distância entre as pessoas preconizada pela entidade e pelo Ministério da Saúde.

No dia 23 de julho de 2021, há menos de uma semana, a Anvisa publicou uma revisão da nota técnica nº 07/2020 com orientações para prevenção e vigilância epidemiológica das infecções por Sars-CoV-2 dentro dos serviços de saúde. Nela, o órgão destaca que a vacinação protege o indivíduo de infecção ou da forma grave da infecção, mas esta proteção não é absoluta e que estudos mais recentes relatam eficácia reduzida das vacinas contra a infecção por variantes do vírus.

Desta forma, o órgão orienta que mesmo o profissional do serviço de saúde totalmente vacinado – que recebeu a segunda dose em uma série de duas doses há mais de duas semanas ou uma dose de uma vacina de dose única há mais de duas semanas – deve continuar a usar os equipamentos de proteção individual, incluindo a máscara.

O texto também distribui orientações para pacientes, acompanhantes e visitantes, destacando que pessoas assintomáticas devem fazer uso de máscara de tecido e sintomáticas de máscara cirúrgica durante toda a permanência no serviço de saúde.

“Ressalta-se que por ainda estarmos com elevada transmissão comunitária do Sars-CoV-2 e que a vacinação não reduz 100% a possibilidade de infecção por esse vírus, todos dentro do serviços de saúde (profissionais, pacientes, visitantes e acompanhantes) devem continuar utilizando máscara facial como controle de fonte, independente de já estarem vacinados contra covid-19 ou não”, diz a nota técnica.

Conforme a Anvisa informou ao Comprova, nos primeiros meses da pandemia, diante de um possível cenário de desabastecimento de máscaras profissionais no mercado nacional, que poderia atingir trabalhadores que atuam na linha de frente com pacientes com covid-19, o órgão publicou material com orientações sobre confecção e uso de máscaras artesanais. “O objetivo era estimular a população a buscar uma solução de baixo custo e de mais fácil acesso para reforçar a proteção”.

A agência também lembra que, embora o uso de máscara de proteção facial seja uma medida fundamental no combate à propagação do novo coronavírus, para que haja prevenção efetiva o equipamento precisa fazer parte de um conjunto de medidas que inclui distanciamento social e higiene das mãos com água e sabonete ou preparações alcoólicas. Além disso, é necessário evitar aglomerações e permanecer em locais limpos e bem ventilados.

Estudos comprovam a eficácia do equipamento de proteção

Estudos científicos comprovam a eficácia das máscaras na proteção contra a contaminação pelo novo coronavírus. Em maio deste ano, por exemplo, a Agência Brasil publicou o resultado de um estudo conduzido por pesquisadores do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), que constatou que máscaras de algodão, as mais comumente usadas pela população na prevenção da covid-19, têm eficiência de filtração de 20% a 60%. A pesquisa foi publicada na revista Aerosol Science & Technology e analisou 300 máscaras usadas pela população brasileira.

Em abril de 2020, uma reportagem do UOL já citava outra pesquisa científica que atestou a eficácia de máscaras cirúrgicas contra a disseminação do coronavírus. O estudo publicado na revista Nature Medicine comprovou que o aparato reduz a quantidade do agente infeccioso no ar expirado por pessoas contaminadas com coronavírus sazonais, que integram a família do Sars-CoV-2, causador da pandemia, ou com o vírus da influenza, que provoca a gripe.

Em 5 de julho de 2021, especialistas em medicina, baseados em evidências científicas, divulgaram a carta “Choosing Wisely” na revista Nature Medicine, com 10 dicas para enfrentamento da covid-19. Dentre elas, a primeira é usar máscaras sempre que estiver em público. De acordo com os especialistas, uma revisão sistemática e meta-análise de 10 estudos observacionais ajustados e 29 não ajustados mostraram que o risco de infecção foi significativamente reduzido com o uso de máscaras faciais. As máscaras N95 (PFF2 no Brasil) foram citadas como as que mais protegem.

Em março deste ano, no momento mais grave da pandemia no Brasil, a Associação Médica Brasileira chegou a divulgar carta pedindo vacinas, isolamento e uso de máscaras para combater pandemia: “Nosso diagnóstico é de que apenas a obediência às regras de proteção – como confinamento, uso de máscara e outras –, as iniciativas contínuas de testagem e rastreio de contactantes, juntamente com a vacinação em larga escala, são capazes de oferecer melhor prognóstico à população brasileira”.

Em dezembro de 2020, um ano após o início da pandemia, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, gravou uma mensagem na qual afirmava que a vacinação de todos contra a covid-19 levaria tempo e a população deveria “continuar a aderir às medidas testadas e comprovadas que mantêm todos e cada um de nós seguros”, o que significa, destacou, “manter distância física, usar máscaras faciais, praticar a higiene das mãos e respiratória, evitar locais fechados lotados e encontrar pessoas em ambientes abertos”.

Em junho deste ano, Mariângela Simão, diretora-geral assistente da OMS, elogiou a produção de vacinas no Brasil, mas destacou que a vacinação por si só não é suficiente no país e reforçou a importância do uso da máscara. “Eu sei que há uma controvérsia recente no Brasil sobre o uso consistente de máscaras. Continua sendo uma orientação da OMS o uso consistente de máscaras onde não há possibilidade de distanciamento social, a higienização das mãos, etiqueta respiratória, ambientes ventilados, evitar aglomerações”, afirmou.

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da OMS nas Américas, mantém uma folha informativa sobre a covid-19 com as orientações das duas entidades sobre o uso de máscaras, afirmando que as evidências científicas mais recentes mostram que elas são uma medida fundamental para suprimir a transmissão da doença e salvar vidas. O texto orienta a utilização das máscaras de tecido, especificamente, pelo público em geral com idade inferior a 60 anos e que não apresente problemas de saúde subjacentes.

Tipos de máscara e a eficácia

O Comprova entrevistou o clínico geral Vitor Key Assada, que atende na linha de frente contra a covid-19 no Hospital Santa Casa de Londrina. O profissional ressaltou a importância do uso das máscaras para evitar a propagação do vírus. “Essas postagens afirmando que [as máscaras] são ineficazes são completamente errôneas. São várias publicações desde o início da pandemia que confirmam a eficácia do uso das máscaras. Quando a gente coloca a máscara, entendemos subjetivamente que estamos nos protegendo, que vamos colocar a máscara para não nos contaminar, mas não é só isso. Muitos artigos evidenciam o quanto a máscara, principalmente para os assintomáticos, ajuda a não transmitir o vírus para outras pessoas”, esclarece.

Ele destaca a existência de três modelos principais de máscara: as de pano, as cirúrgicas e aquelas com modelos “bico de pato”, como N95 e PFF2. As duas últimas, afirma, são as mais recomendadas para quem está em ambientes com alta carga viral, como hospitais, apresentando eficácia maior que 90%.

Quanto às máscaras de tecido, ele observa haver alguns problemas. “Não quer dizer que todas são ineficazes, mas não há um padrão. Por mais que a OMS cite que elas devem ter pelo menos dois tecidos, que seriam as camadas da máscara, sabemos que as empresas estão mais ligadas em estética e conforto do que propriamente na filtragem das partículas. Os estudos apontam uma variabilidade de eficácia muito grande de proteção [das máscaras de tecido], justamente porque não há controle de qualidade”.

Em relação às cirúrgicas, afirma que possuem proteção de 80% para cima. “Obviamente, cada uma delas tem um período de uso, ou seja, você tem que estar trocando elas e conservá-las. Tudo isso pode afetar diretamente a eficácia das máscaras”.

Por fim, o profissional opina pela manutenção do uso das máscaras mesmo diante do avanço da vacinação. “Como sabemos, a vacina por si só não significa que estamos acabando com a doença de uma hora para outra, ainda mais que nenhuma vacina tem proteção de 100%. Não dá para falar: olha, temos 70% da população vacinada, abre a porteira, todo mundo está livre do uso de máscara. Eu acho que não é por aí. Acho que é muito importante continuar usando a máscara mesmo com o avanço da vacinação. A vacina não significa que não podemos pegar e nem transmitir para quem não foi vacinado”.

Quem publicou o texto

O texto com título e subtítulo enganosos foi publicado no site Brasil sem Medo, que se identifica como “o maior jornal conservador do Brasil” e tem, entre os colunistas, o escritor bolsonarista Olavo de Carvalho.

Procurada, a equipe do site afirmou que “o título é construído de forma a resumir o conteúdo da publicação e, também, chamar a atenção, sendo impossível inserir nele todas as informações do texto”, acrescentando que aqueles que leram a matéria completa “sabem que esse trecho do ofício está no próprio lead e que, no parágrafo seguinte, também é esclarecido que se tratam de máscaras de pano, que são as utilizadas pela maior parte da população”.

Declarou, também, que a intenção do site ao publicar o texto foi “informar a população sobre um aspecto importante da pandemia, que é a possível ineficácia das máscaras de pano”, acrescentando que a imprensa tradicional não o faz “por razões ideológicas e financeiras”.

Dentre os colunistas do site também está Bernardo P. Kuster, que se apresenta como jornalista, palestrante, tradutor e diretor de opinião do Brasil sem Medo. O link com o conteúdo que ele compartilhou nas próprias redes sociais gerou, apenas no Twitter, 6.892 interações. Ele foi procurado, mas não respondeu.

No Instagram, ele teve o conteúdo publicado no dia 26 de julho removido sob alegação, por parte da plataforma, de ir contra as diretrizes da comunidade. No dia seguinte, 27 de julho, foi publicado novo artigo sobre o assunto no site, desta vez liberado para a leitura de não assinantes, acusando o Instagram de censura. O site ainda aproveitou o teor postado em uma coluna que faz “giro de notícias”.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições e pandemia que tenham atingido alto grau de viralização. Em julho de 2021, os participantes decidiram também iniciar a verificação da desinformação envolvendo possíveis candidatos à presidência da República. Desde então, o projeto tem monitorado nomes que vêm sendo incluídos em pesquisas dos principais institutos.

O compartilhamento da primeira publicação aqui verificada teve 8.822 interações apenas no Twitter, segundo a ferramenta CrowdTangle. Uma conta do Instagram que postou o print da coluna do site onde foi utilizado o teor do texto somou mais de 700 curtidas na plataforma.

O uso de máscaras faciais é apontado como uma das medidas de prevenção à covid-19, sendo incentivado pela Organização Mundial da Saúde desde o ano passado, somado a outras ações, como a higienização frequente das mãos e o distanciamento social.

Enquanto não há medicamentos eficazes contra o vírus e sem a cobertura vacinal adequada, esta segue sendo a recomendação, principalmente no Brasil, onde já foram registradas mais de 550 mil mortes pela doença. O país tem hoje pouco mais de 38,04 milhões de pessoas completamente vacinadas, o que equivale a 18,6% da população brasileira.

Desde o ano passado, o uso de máscaras faciais têm sido alvo de afirmações falsas ou enganosas. O Comprova já verificou, por exemplo, que um estudo não comprova a ineficácia do uso do equipamento; que as máscaras são eficientes no combate ao novo coronavírus; que o uso correto delas reduz as chances de contaminação e não torna o sangue ácido; e que as elas não causam acúmulo de líquido nos pulmões, tampouco intoxicação.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; bem como aquele que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

 

Política

Investigado por: 2021-07-29

É enganoso o tuíte que acusa Bolsonaro de acabar com o Bolsa Atleta

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa postagem que aponta para o fim do programa Bolsa Atleta no governo Bolsonaro em 2020. No ano passado, não foi lançado edital para seleção de novos atletas para receber o benefício – segundo o governo, por conta da pandemia –, mas o programa está vigente. Tanto que a mesma postagem afirma, corretamente, que 80% dos atletas na Olimpíada usufruíram da bolsa criada na gestão de Lula.
  • Conteúdo verificado: Post publicado no Twitter afirma que o governo Bolsonaro acabou com o Bolsa Atleta e que a maioria dos atletas que estão em Tóquio usufruíram do programa.

É enganosa a postagem sugerindo que o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) acabou com o Bolsa Atleta, um programa de apoio à prática esportiva de alto rendimento. No ano passado, não foi lançado o edital para seleção de novos atletas para receber o benefício, porém o auxílio não deixou de existir para quem já havia sido selecionado no programa de 2019. Segundo o governo federal, a decisão de não lançar edital em 2020 se deu por conta da pandemia e da suspensão de campeonatos em decorrência da covid-19.

No mesmo post publicado no Twitter, o autor ressalta, de maneira correta, que 80% dos atletas que participam das Olimpíadas de Tóquio são beneficiados pelo programa, criado em 2004, quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) era o presidente.

O benefício alcança hoje 7.531 atletas em seis categorias, segundo o Ministério da Cidadania, ao qual está vinculada a Secretaria Especial do Esporte e, portanto, o Bolsa Atleta. Do grupo de 302 esportistas convocados para os Jogos Olímpicos no Japão, 242 (80%) são atendidos atualmente pelo programa.

O atual orçamento para o programa é de R$ 145,2 milhões e contempla 7.531 atletas. Dados obtidos através da Lei de Acesso à Informação (LAI) pelo Estadão revelam uma redução de 17% no orçamento total do ciclo olímpico (2017/2021).

A informação sobre o suposto encerramento do Bolsa Atleta por Bolsonaro foi publicada pela primeira vez pelo perfil @ThiagoResiste no Twitter. A reportagem o procurou, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.

Como verificamos?

Para saber se o Bolsa Atleta havia acabado, o Comprova fez pesquisas em sites do governo federal e logo foi possível constatar, na página do Ministério da Cidadania, que o programa está ativo.

Também pesquisamos publicações sobre o assunto e descobrimos que, em 2020, o governo não lançou edital para seleção de novos atletas, justificando a medida com a pandemia da covid-19.

Foram consultados dados orçamentários sobre o programa, disponíveis publicamente no Siga Brasil (na ação orçamentária 09HW – Concessão de Bolsa a Atletas) e também publicados pelo Estadão.

Entramos em contato com o Ministério da Cidadania, por e-mail, para saber se o programa havia passado por reformulações no governo Bolsonaro, se houve cortes e por que não havia sido lançado o edital no ano passado.

Para a checagem, ainda foi feito contato, por e-mail, com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB). O autor do tuíte também foi procurado, em mensagem direta no Twitter, mas não se manifestou.

Verificação

O Bolsa Atleta é um programa, na definição do Ministério da Cidadania, que visa garantir a manutenção pessoal aos atletas de alto rendimento que não têm patrocínio.

O programa é dividido em seis categorias: Atleta de Base (R$ 370); Estudantil (R$ 370); Nacional (R$ 925); Internacional (R$ 1.850); Olímpico/Paralímpico (R$ 3.100) e Pódio (R$ 5 mil a R$ 15 mil). Os valores pagos são mensais.

Para as cinco primeiras, a seleção é feita por chamada pública e é preciso atender a uma série de pré-requisitos, como idade e vinculação a entidade desportiva.

O Ministério da Cidadania aponta que na categoria Pódio, a mais alta do programa, são apoiados os atletas que estão entre os 20 primeiros do ranking mundial de sua modalidade ou prova específica e que atendam aos critérios estabelecidos pela legislação. “Os atletas elegíveis nessa categoria de bolsa são avaliados por um grupo de trabalho composto por representantes da Secretaria Especial do Esporte, das Entidades Nacionais de Administração do Desporto e dos Comitês Olímpico e Paralímpico”, afirma o órgão federal, em nota.

Suspensão do edital

O autor da postagem no Twitter afirma que o governo federal acabou com o Bolsa Atleta em 2020. No ano passado, entretanto, houve a suspensão do edital do programa. O lançamento foi adiado para 2021, segundo o Ministério da Cidadania, devido ao período de excepcionalidade imposto pela pandemia da covid-19.

O órgão federal assegura que não houve interrupção do pagamento do benefício aos atletas que haviam sido contemplados no edital de 2019. Entre os desportistas da categoria Pódio, houve renovação automática dos 274 que continuaram atendendo aos critérios para receber a bolsa.

Em janeiro deste ano, foi lançado o edital para seleção de esportistas para o Bolsa Atleta e, em maio, publicada a lista com os contemplados nas cinco categorias da chamada pública.

O COB foi questionado sobre a execução do programa, mas, em e-mail da assessoria de comunicação, informou que não tem porta-voz para falar do assunto.

Redução da verba

O atual orçamento para o programa é de R$ 145,2 milhões e contempla 7.531 atletas, dos quais 334 são da categoria Pódio. Apesar de o governo não admitir cortes e afirmar que o valor é o maior desde 2014, dados obtidos através da Lei de Acesso à Informação (LAI) do Ministério da Cidadania pelo Estadão revelam uma redução de 17% no orçamento total do ciclo olímpico (2017/2021) – maior parte do período sob a gestão de Jair Bolsonaro na presidência.

Conforme os dados disponibilizados pela LAI, o ciclo olímpico de Tóquio – com um ano a mais devido ao adiamento dos jogos – teve R$ 530,4 milhões destinados ao programa, enquanto o ciclo do Rio recebeu R$ 641,1 milhões.

Segundo dados do Siga Brasil – ferramenta do Senado para análise do Orçamento Federal –, o governo Bolsonaro desembolsou, em média, R$ 124,1 milhões por ano entre 2019 e 2020 com o pagamento de bolsas a atletas, em números já atualizados pela inflação. O valor é 5,4% superior à média registrada entre 2016 e 2018, durante o governo de Michel Temer.

Atletas em Tóquio

Entre os 302 atletas convocados para a Olimpíada, 242 integram o Bolsa Atleta. Nos Jogos Paralímpicos, 222 dos 232 convocados são contemplados pelo programa.

O governo federal mantém uma página na internet para divulgação do desempenho dos brasileiros nas competições.

Até o dia 28 de julho, dos cinco primeiros medalhistas no Brasil, apenas a skatista Rayssa Leal não é beneficiada – ela não tem a idade mínima, de 14 anos, para se candidatar ao programa.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições e pandemia que tenham atingido alto grau de viralização. Em julho de 2021, os participantes decidiram também iniciar a verificação da desinformação envolvendo possíveis candidatos à presidência da República. Desde então, o projeto tem monitorado nomes que vêm sendo incluídos em pesquisas dos principais institutos.

Nesta verificação, o nome de Jair Bolsonaro, que é provável candidato à reeleição, foi associado à suspensão de um programa federal, bastante em evidência no momento devido aos Jogos Olímpicos de Tóquio. O evento, inclusive, já foi pauta de outra checagem do Comprova ao relacionar falsamente a trilha sonora da ginasta Rebeca Andrade a uma homenagem ao presidente.

Somente no Twitter, até o dia 29 de julho, a postagem sobre o Bolsa Atleta já havia recebido 1,4 mil curtidas e outros 418 retuítes.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.