O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Eleições

Investigado por: 2022-04-14

Enquete feita em restaurante de MG não pode ser considerada pesquisa eleitoral

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Enganoso
São enganosos os vídeos que tentam equiparar uma enquete feita em um restaurante na cidade de Governador Valadares, Minas Gerais, a uma pesquisa eleitoral. O conteúdo diz que Bolsonaro tem 70% das intenções de voto na corrida presidencial deste ano, enquanto Lula aparece com 18%. Enquetes são autorizadas pelo TSE antes do início do período eleitoral, mas não podem ser consideradas pesquisas eleitorais porque não seguem qualquer tipo de método científico para a sua realização. O próprio autor da enquete, que é dono do restaurante, disse que fez uma brincadeira com clientes que passavam pelo local, às margens da BR-381.

Conteúdo investigado: Vídeo que usa enquete feita em restaurante de Minas Gerais e a trata como pesquisa de intenção de voto para a eleição à Presidência da República de 2022.

Onde foi publicado: Facebook e YouTube.

Conclusão do Comprova: São enganosos os vídeos compartilhados no Facebook e YouTube que tentam equiparar uma enquete feita em um restaurante na BR-381, em Governador Valadares (MG), a uma pesquisa eleitoral. Pelo menos dois vídeos circulam nas redes com afirmações parecidas. Um deles diz que uma nova pesquisa mostra Jair Bolsonaro (PL) com 70% dos votos e o ex-presidente Lula (PT) com 18%; outros afirmam que o dono de um restaurante resolveu fazer uma brincadeira “e a verdade apareceu”.

Enquetes, como a que foi feita pelo dono do restaurante em Minas Gerais, não podem ser consideradas pesquisas eleitorais porque não seguem qualquer tipo de método científico para a sua realização e, portanto, seus resultados são suscetíveis a distorções e vieses. Procurado pelo Comprova, o próprio dono do restaurante e criador da enquete explica que fez uma brincadeira, não uma pesquisa, que não seguiu nenhum rito e que se surpreendeu com a dimensão que o resultado ganhou nas redes sociais. Um trecho do vídeo também viralizou ao ser postado no Twitter, mas o autor do conteúdo não fez manipulações no material e apenas descreveu a colocação da urna no restaurante.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) define bem as diferenças entre enquete e pesquisa eleitoral: a primeira é um levantamento de opinião sem plano amostral, que depende da participação espontânea do interessado –ou seja, indica a opinião apenas daquele grupo que decidiu participar espontaneamente da consulta. Já a segunda adota uma série de critérios para ter uma amostra científica da população, de modo que o resultado possa ser usado para inferir as intenções de voto de um universo maior (como a população de uma cidade, estado ou país, por exemplo). O Comprova já explicou as diferenças entre enquetes e pesquisas.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Os vídeos feitos utilizando trechos do material gravado no restaurante em Minas Gerais acumulam mais de 142 mil interações no Facebook e 2,2 mil visualizações no YouTube.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato por e-mail com o responsável por um dos vídeos publicado em uma página do Facebook, mas não obteve uma resposta do autor. Na página do Facebook, há um link direto para o perfil dele no Instagram, mas a página aparece como indisponível. Também foram procurados os responsáveis por um canal no YouTube que publicou um dos vídeos, mas não há opção para encaminhar mensagem. O YouTube direciona a um site sobre futebol. O Comprova tentou contato por um formulário que fica disponível na página, mas não houve resposta.

Como verificamos: Primeiro, o Comprova buscou informações a respeito do restaurante Garoupa 381, mencionado no vídeo. Após localizar o perfil oficial do restaurante no Instagram, o Comprova encontrou cinco pequenos vídeos postados na conta que mostram o processo de abertura de uma urna onde foram depositados os votos de uma enquete feita entre 13 de março e 2 de abril de 2022.

Em seguida, o Comprova entrou em contato com os responsáveis pelo restaurante através de um número de telefone disponível no perfil e conversou com o dono do estabelecimento sobre como, quando e por que foi feita uma enquete no local.

Depois, foram acessados materiais já publicados, inclusive pelo Comprova, sobre a diferença entre enquetes e pesquisas eleitorais, e consultado o advogado e membro-fundador da Academia Brasileira de Direito Eleitoral (Abradep), Rodrigo Cyrineu. Por fim, foram procurados os autores dos vídeos postados no Facebook e no YouTube.

 

A enquete do restaurante

Entre os dias 13 de março e 2 de abril de 2022, clientes que passavam pelo restaurante Garoupa 381, que fica às margens da BR-381, próximo a Governador Valadares (MG), puderam votar em um entre cinco possíveis candidatos à Presidência da República ou deixar a cédula em branco, se assim preferissem. A participação não era obrigatória, e sim espontânea, como explicou ao Comprova o dono do estabelecimento, Hudson Schattner. Ele disse que decidiu fazer uma “brincadeira” – sem qualquer rito científico ou com intenção de se configurar como pesquisa eleitoral – com clientes do restaurante depois que discussões sobre política se tornaram comuns por lá durante o café da manhã que é servido no local.

“Todo dia de manhã dá um debate muito acirrado no café da manhã sobre política. A gente oferece um café da manhã à vontade e o pessoal comenta muito. Aí surgiu uma brincadeira”, explica Hudson, se referindo à instalação de uma urna de votação, lacrada, em que clientes poderiam usar cédulas de votação e escolher um dos candidatos ou votar em branco. Foram pouco mais de 300 votos computados no período.

As cédulas continham campos para marcação com os nomes de cinco candidatos, dispostos em ordem alfabética: Ciro Gomes, Jair Bolsonaro, João Doria, Luiz Inácio Lula da Silva e Sergio Moro. Segundo Hudson, os candidatos foram escolhidos para entrar na enquete porque eram os que apareciam nas pesquisas de intenção de voto divulgadas pela “grande mídia”. Na época, Sergio Moro ainda não havia desistido da candidatura à presidência, nem trocado de partido.

Embora tenha dito em um dos vídeos postados no Instagram do restaurante que a enquete representaria “a verdade aparecendo” ou uma espécie de “pesquisa DataPovo”, o dono do restaurante afirmou ao Comprova que tudo não passou de uma brincadeira.

Cinco vídeos mostrando o processo de abertura da urna foram postados na conta oficial do restaurante no Instagram, mas o material acabou sendo usado por outras páginas nas redes sociais, que trataram a enquete como uma pesquisa eleitoral. Isso porque uma regra de três simples mostrou que o atual presidente Jair Bolsonaro recebeu 70% dos votos da enquete, enquanto o ex-presidente Lula recebeu 18%.

“Não seguiu nenhum rito, então não posso chamar de pesquisa. A gente brincou lá, colocou como pesquisa, mas depois eu vi que o nome certo seria uma enquete, porque a gente não seguiu nenhum rito, nenhuma avaliação técnica nem nada, ficou a vontade do povo. A única coisa que eu fiz foi pegar o nome de todos os candidatos que estão nas pesquisas demonstradas pela grande mídia, pelos jornais, que é o Doria, o Bolsonaro, o Ciro, o Lula e o Moro. Coloquei pela ordem alfabética e fiz a cédula, foi só isso”, disse.

Enquetes e pesquisas eleitorais

Embora o dono do restaurante afirme que a enquete recebeu votos “de pessoas de todo o Brasil”, ela não serve para medir, de fato, as intenções de voto da população brasileira. Isso porque uma pesquisa eleitoral segue critérios para selecionar uma amostra que corresponda a um grupo maior de pessoas. Numa pesquisa, por exemplo, é necessário ouvir eleitores de condições financeiras e sociais variadas, de modo que a amostra se aproxime ao máximo do perfil da população.

No caso de uma enquete, como a que foi feita no restaurante, o resultado acaba mostrando as intenções apenas daquele grupo que decidiu votar. Por isso, não é correto afirmar que, ao fazer uma brincadeira, o dono do restaurante acabou mostrando a verdade, como ele diz no vídeo original e como reproduz um dos vídeos verificados. Também não é cabível a comparação entre a enquete e outras pesquisas de opinião, como faz o autor de outro vídeo checado.

A resolução nº 23.600/2019 do TSE define a enquete como um levantamento de opinião sem plano amostral, que depende da participação espontânea de eventuais interessados, sem utilizar qualquer tipo de método científico para a sua realização. Ainda conforme o documento, as enquetes que forem apresentadas à população como pesquisa eleitoral serão reconhecidas como pesquisa de opinião pública sem registro na Justiça Eleitoral.

Com relação à pesquisa eleitoral, o TSE estabelece uma série de requisitos para seu registro. Entre as informações que devem ser registradas estão: o contratante da pesquisa, com CPF ou CNPJ; o valor e a origem dos recursos gastos; a metodologia e o período de sua realização; o questionário aplicado ou a ser aplicado; o nome do estatístico responsável; e a indicação do estado em que será realizado o levantamento. O próprio TSE chegou a elaborar um material explicativo abordando de forma simplificada as principais diferenças entre enquetes e pesquisa eleitoral.

Recentemente, após ouvir especialistas no tema, o Comprova elaborou um conteúdo neste mesmo sentido, indicando os pontos que diferenciam pesquisas eleitorais de enquetes. Entre os profissionais consultados, o professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop-Unicamp), Oswald Amaral.

Ele explicou que a pesquisa é feita com uma amostra cientificamente calculada da população, a fim de representar o grupo como um todo e eliminar vieses. Já as enquetes, não levam em consideração critérios científicos na montagem da amostra, e por isso são vulneráveis a distorções e direcionamentos.

O professor chegou a dar um exemplo de uma situação rotineira para ilustrar a situação: “Imagine que alguém decida realizar uma enquete na porta do Maracanã, no Rio de Janeiro, num dia de jogo do Flamengo contra o Madureira. 99,9% das pessoas vão dizer que torcem para o Flamengo porque o Maracanã é o estádio do Flamengo e do Fluminense. Mas não se pode dizer, a partir desses resultados, que 99,9% das pessoas acompanhando a partida no país — seja pela televisão, rádio ou outros meios — torcem para o Flamengo”.

Consultado pelo Comprova, o advogado e membro-fundador da Academia Brasileira de Direito Eleitoral (Abradep), Rodrigo Cyrineu, acrescentou que, durante muito tempo, as enquetes foram criminalizadas pela Justiça Eleitoral, justamente por não terem o rigor científico próprio das pesquisas eleitorais.

“Uma recente resolução aprovada, a de número 23.600/TSE, traz como novidade o fato de albergar as enquetes e as tratar como se pesquisa de opinião fossem. Mas se atendo à questão central: as enquetes têm algum valor científico para medir intenções de voto de uma campanha eleitoral? Não. Apesar de as enquetes eleitorais serem permitidas, elas têm um tempo para acontecer. E o tempo é justamente o prazo final do registro de candidatura”, salientou Cyrineu.

“Quando a gente passa do dia 15 de agosto – que é o início da propaganda eleitoral – as enquetes eleitorais estão proibidas. O candidato quando se manifestar em sua rede social e, principalmente, no horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão, não pode mencionar o levantamento realizado por uma enquete, porque elas já não mais são permitidas. Só pode mencionar intenção de voto extraída, levantada por meio de uma pesquisa eleitoral. A partir do momento que a campanha eleitoral entra na rua, passa a valer [a resolução], as enquetes são proibidas e candidatos não podem se valer nas propagandas eleitorais”, emendou.

Por que investigamos: O Comprova verifica conteúdos suspeitos que viralizam na internet sobre a pandemia da covid-19, políticas públicas e as eleições presidenciais deste ano. O foco é analisar publicações virais, que tiveram grande alcance nas redes sociais e que podem confundir a população. Pesquisas eleitorais ou conteúdos com informações distorcidas dos presidenciáveis podem influenciar eleitores na escolha de um candidato antes da votação. É importante, portanto, que pesquisas não sejam confundidas com enquetes sem método científico, que incluem possíveis vieses e distorções e não refletem o cenário nacional.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já explicou que pesquisas eleitorais seguem métodos científicos, ao contrário de enquetes, também mostrou que é falso que apresentador americano riu de pesquisa eleitoral no Brasil e que vídeo engana ao dizer que pesquisas foram forjadas na eleição de Bolsonaro em 2018.

Eleições

Investigado por: 2022-04-12

Lula não foi expulso de Niterói como afirma vídeo

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Enganoso
É enganoso que o pré-candidato ao Planalto em 2022 e ex-presidente da República Lula (PT) tenha sido expulso da cidade de Niterói (RJ) durante o evento de 100 anos do PCdoB após manifestação de um grupo conservador. Lula esteve presente no município e o protesto de fato ocorreu, mas não houve grandes confrontos e o ex-presidente seguiu a agenda conforme programado.

Conteúdo investigado: Vídeo publicado no canal Plantão Informa News do YouTube diz que Lula foi expulso do Festival Vermelho, realizado na cidade de Niterói (RJ), no dia 26 de março. O narrador do conteúdo atribui a informação ao portal Terra Brasil Notícias.

Onde foi publicado: YouTube e portal Terra Brasil Notícias.

Conclusão do Comprova: É enganoso que o ex-presidente Lula tenha sido expulso da cidade de Niterói (RJ) durante o Festival Vermelho, evento que comemorou os 100 anos do PCdoB. Vídeo publicado no YouTube, feito com base em um texto do portal Terra Brasil Notícias, afirma que a população “colocou o petista para correr”, em referência a uma manifestação convocada por grupos conservadores. De acordo com publicações na imprensa local, no entanto, o protesto contou com poucas pessoas e não houve registro de confrontos. Além disso, na cobertura sobre o festival não há qualquer menção à alegação de que o petista teria sido “expulso” da cidade.

Na imprensa nacional também não constam referências sobre a suposta expulsão. Portais como o G1, UOL, O Globo, entre outros, repercutiram a participação do ex-presidente no evento e as falas durante seu discurso. Ainda segundo informações da imprensa, após o evento, Lula seguiu com a agenda programada para o Rio de Janeiro normalmente.

Procurada, a assessoria do ex-presidente negou que Lula tenha sido expulso de Niterói e afirmou que as atividades na cidade foram realizadas como previsto. Conforme a Polícia Militar do Rio de Janeiro, não houve registro de conflitos graves.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor. Ou então o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Até o dia 11 de abril de 2022 o vídeo teve mais de 115 mil visualizações no YouTube. De acordo com os dados levantados pela ferramenta CrowdTangle, a publicação do Terra Brasil Notícias foi compartilhada em diversos grupos do Facebook e acumula 1,8 mil interações na plataforma.

O que diz o autor da publicação: Procurado, o autor do vídeo publicado no YouTube afirmou que o conteúdo se baseia em um portal de notícias e que, diante da investigação do Comprova, retiraria a publicação do ar. O vídeo de fato ficou indisponível durante um dia, mas está no ar novamente como “não listado”, ou seja, não aparece nos resultados de buscas na plataforma e só pode ser acessado por meio do link direto.

Ao Comprova, o Terra Brasil Notícias informou que embasou a matéria sobre Lula em Niterói em informações fornecidas por um dos organizadores do Festival Vermelho e pelo vereador Douglas Gomes (PL).

Como verificamos: O primeiro passo foi checar se Lula realmente esteve em Niterói no dia 26 de março deste ano e o motivo da visita. Para isso, o Comprova utilizou reportagens dos sites G1, PT, Extra Globo, Em Foco, Brasil de Fato, A Tribuna, O Globo e Uol Notícias, que confirmaram a presença do ex-presidente no evento de comemoração dos 100 anos do PCdoB, realizado na cidade.

Os materiais também mostraram que, no dia do evento, houve um protesto contra a ida de Lula ao município, organizado pelo vereador Douglas Gomes.

Por fim, o Comprova entrou em contato com o responsável pela publicação do conteúdo no YouTube, com o portal Terra Brasil Notícias e o vereador Douglas Gomes. A equipe solicitou esclarecimentos a respeito do episódio à prefeitura de Niterói, às Polícias Militar e Civil do Rio de Janeiro e à assessoria do ex-presidente Lula. A 76ª Delegacia de Polícia de Niterói também foi procurada, mas não retornou até a publicação desta checagem.

Verificação

Ex-presidente Lula participa de evento em Niterói

No dia 26 de março de 2022, o “Festival Vermelho – PCdoB: 100 anos de luta ao lado do povo brasileiro” celebrou o centenário de fundação do partido. Idealizado pela Fundação Maurício Grabois (FMG), o ato político foi realizado na Praça do Povo, em Niterói (RJ). A programação contou com lançamento de livros, shows, feiras, debates e a participação do ex-presidente Lula e outras lideranças políticas do País.

Seguindo a programação do evento, Lula foi o último a falar no palco, após outros políticos de partidos de esquerda. Por volta das 18h10 ele iniciou seu discurso, que durou 48 minutos, segundo matéria do Portal UOL.

O petista recordou sua trajetória política, sobretudo a ligação com o PCdoB. Ainda no ato, ele fez uma série de críticas a nomes que se colocam como pré-candidatos à Presidência da República na eleição de outubro deste ano, entre os quais o presidente Jair Bolsonaro (PL), além do ex-juiz Sergio Moro.

Lula tinha agenda no Rio de Janeiro até o dia 30 de março, quando participou do evento “Encontro Internacional Democracia e Liberdade” na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

A assessoria do ex-presidente negou que Lula tenha sido expulso de Niterói e disse que as atividades previstas na cidade foram realizadas normalmente.

Ao Comprova, a prefeitura de Niterói informou, por meio da Niterói Transporte e Trânsito (Nittrans), que realizou o ordenamento do trânsito no entorno do Caminho Niemeyer, no dia do evento. Mas afirmou que registros de atropelamentos ou brigas na cidade são de competência da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (veja a resposta da PM mais abaixo).

A prefeitura acrescentou, ainda, que por ser um evento particular, informações sobre número de participantes são repassadas apenas pela organização do Festival.

“Manifestação tímida”

Os atos ocorridos em Niterói também foram noticiados pela imprensa local, como o site A Tribuna. Segundo o portal, liderados pelo vereador Douglas Gomes, apoiadores do presidente Bolsonaro e de demais partidos de direita se dividiram em dois grupos para protestar contra a visita de Lula à Niterói. Enquanto uma “tímida” manifestação ocorreu em frente à entrada do Festival Vermelho, o restante dos manifestantes se reuniu na Avenida Visconde do Rio Branco.

Ainda conforme relatado pela imprensa local, antes mesmo de Lula iniciar seu discurso, ele chegou a ser vaiado e hostilizado pelos manifestantes, que recordaram a condenação do ex-presidente na Justiça, bem como sua prisão em 2018.

Captura de tela de transmissão feita pelo vereador Douglas Gomes (PL) – Manifestantes se reuniram contra a presença do ex-presidente Lula em Niterói – Foto: Reprodução/Facebook

Apesar da reportagem do site A Tribuna relatar uma confusão envolvendo o ex-vereador pelo Psol Leonel Brizola Neto, que teria resultado em um atropelamento, o ato não teve outros incidentes. O episódio também foi noticiado pelo O Globo, que afirmou que Brizola Neto, hoje filiado ao PT, teve seu carro atingido por pedaços de pau, pedregulhos e ovos.

Conforme a reportagem, ao tentar atravessar a manifestação, o ex-vereador teria passado por cima do pé de uma mulher que estava protestando contra Lula, razão pela qual foi encaminhado à 76ª Delegacia de Polícia, onde foi registrado um boletim de ocorrência.

As notícias, tanto nos veículos locais, quanto no noticiário nacional, não fazem qualquer menção a uma situação mais crítica ou protestos mais intensos que tivessem levado o ex-presidente a deixar o evento antes do previsto ou mesmo que tenha sido “expulso” do ato por manifestantes.

Durante o ato contrário ao ex-presidente, o vereador Douglas Gomes, responsável pela organização da mobilização, fez publicações nas redes sociais alegando que a Nittrans e a PM estariam impedindo o grupo de chegar ao evento do PCdoB para protestar contra Lula. O parlamentar também compartilhou vídeos do momento em que Brizola Neto é parado pela polícia e do ex-vereador na delegacia.

Procurada, a Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro esclareceu que acompanhou o protesto por meio do 12º Batalhão da Polícia Militar (BPM) e que, em determinado momento, houve uma discussão entre um parlamentar e um dos oficiais. O fato, no entanto, foi resolvido ainda no local.

Sobre o possível atropelamento, a PM afirmou que o incidente “deve ter sido registrado pelos envolvidos diretamente em delegacia”. A 76ª DP foi contactada, mas não retornou até o fechamento desta verificação. O Comprova também entrou em contato com Douglas Gomes, que não respondeu aos questionamentos.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos de espalhar desinformação a respeito da pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições. O foco são publicações que viralizam nas redes sociais. Conteúdos que contêm informações falsas sobre presidenciáveis podem influenciar no processo de escolha dos candidatos. Esse tipo de prática é prejudicial à democracia e polui o debate em torno das eleições.

Outras checagens sobre o tema: No último ano, a Agência Lupa verificou conteúdos semelhantes sobre o ex-presidente Lula ter sido expulso de cidades na Bahia e em Pernambuco. Em checagens recentes, o Comprova confirmou que a dívida de Lula com a União é real, mas é questionada na Justiça após anulação de processos da Lava Jato e que o presidenciável teve uma fala tirada de contexto para sugerir declaração racista.

Eleições

Investigado por: 2022-04-11

Vídeo de Bolsonaro é de inauguração de trecho do VLT na Grande Natal e não de ferrovia que liga o Pará ao Maranhão

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Enganoso
É enganoso o vídeo que viralizou no TikTok e procura atribuir ao governo federal a realização da estrada de ferro que liga o Pará ao Maranhão. A ferrovia e o serviço de transporte de passageiros no trecho é de responsabilidade da Vale e está em operação há 36 anos. As imagens mostram, na realidade, o presidente Jair Bolsonaro em evento de conclusão das obras do Trecho 1 da Linha Branca do VLT da Grande Natal - esta obra sim, de responsabilidade do governo federal.

Conteúdo investigado: Publicações no Facebook e TikTok mostram um vídeo em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) aparece a bordo de um trem e acena para o público. Os posts afirmam que a gravação foi feita em um trem que liga os estados do Pará e Maranhão.

Onde foi publicado: TikTok e Facebook

Conclusão do Comprova: Vídeo engana ao vincular Jair Bolsonaro e o governo federal à criação do serviço de transporte de passageiros na linha férrea entre o Pará e o Maranhão. O conteúdo enganoso tem aparecido recentemente nas redes sociais, em diferentes formatos.

O vídeo que ilustra a postagem mostra o presidente dentro de um vagão do Veículo Leve sobre Trilhos em Parnamirim, no Rio Grande do Norte. A obra é do governo federal. Já a estrada de ferro entre o Pará e o Maranhão, que também conta com o serviço de transporte de passageiros, está em operação há 36 anos pela Vale.

Para o Comprova, é enganoso o conteúdo retirado de contexto com o intuito de provocar interpretação diversa da realidade.

Alcance da publicação: O Comprova verifica os conteúdos duvidosos de maior viralização nas redes sociais. No TikTok o vídeo atingiu 549 mil visualizações, 53 mil curtidas e 3 mil comentários até o dia 11 de abril de 2022. Já no Facebook as publicações somam 200 interações.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o autor do post no Facebook, mas não obteve retorno. Não foi possível acionar o perfil do TikTok, pois de acordo com a plataforma, a conta não pode receber mensagens “devido a várias violações das Diretrizes da Comunidade”. No perfil, são compartilhados conteúdos pró-Bolsonaro.

Como verificamos: A análise do vídeo viral trouxe referência do bairro Cajupiranga, em Parnamirim, no Rio Grande do Norte, no letreiro eletrônico do trem. Em seguida, buscas por notícias na imprensa e em sites oficiais do governo federal mostraram o evento de inauguração da estação de Cajupiranga e da conclusão das obras do Trecho 1 do VLT da Grande Natal. A Agência Brasil e o site da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) repercutiram o evento, assim como os portais Metrópoles, G1, UOL, entre outros.

 

O Comprova também procurou pelos vídeos originais, que não foram encontrados. No entanto, a equipe chegou a outras gravações feitas no contexto do evento (1 e 2) e, com isso, foi possível confirmar a correspondência visual.

Por fim, entramos em contato com os autores das publicações.

 

Imagens não mostram trem que vai do Pará ao Maranhão

A única linha de trem de passageiros que liga o Maranhão ao Pará no Brasil é o trem da Estrada de Ferro Carajás. A linha percorre 861 km ao longo de 27 municípios, maioria no estado do Maranhão. Recentemente o Comprova verificou outra desinformação a respeito do tema. Na publicação, o autor agradecia Bolsonaro e o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas pela operação da linha, no entanto, a verificação esclareceu que o trem não tem relação com o governo federal pois é de responsabilidade da empresa Vale e existe há 36 anos.

Nos comentários, usuários alertam para a informação falsa.

Vídeo é de evento de conclusão das obras de trecho de VLT em Parnamirim/RN

As imagens que mostram o presidente Jair Bolsonaro dentro de um trem acenando para o público foram gravadas na cidade de Parnamirim, no Rio Grande do Norte (RN). A visita, na manhã do dia 30 de março, consta na agenda do presidente, que participou, na ocasião, da cerimônia de inauguração da Estação Cajupiranga, na Linha Branca da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).

O sistema de transporte de passageiros é no modelo VLT. O modal na Região Metropolitana de Natal é formado pelas linhas Branca e Roxa. As obras da Linha Branca foram iniciadas em fevereiro de 2021. Já as da Linha Roxa, em setembro de 2021.

O evento marcou, ainda, a conclusão das obras do Trecho 1 da Linha Branca, que é formada ainda pelos trechos 2 e 3. O sistema, incluindo as Linhas Branca e Roxa, parte do bairro Boa Esperança, em Parnamirim, e segue até São Gonçalo do Amarante/RN, como mostra trecho de documento localizado no site do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR).

De acordo com o documento, o governo federal está investindo um total de R$ 83.142.096,71 nas obras do sistema, que é operado pela CBTU.

“Com a construção das linhas Branca e Roxa, a malha ferroviária da Grande Natal se tornará a mais extensa do Nordeste e a terceira maior do país – atrás apenas das Regiões Metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro”, diz um trecho do documento.

Confirmação da localização das imagens

A confirmação da localização do presidente no trem em Parnamirim, e não na composição que vai do Pará ao Maranhão, como diz a postagem, se deu a partir da análise de outros vídeos sobre o evento disponíveis no YouTube. As imagens apresentam as mesmas características da que aparece na publicação do TikTok aqui verificada.

Reportagem da TV Brasil sobre a inauguração da estação do VLT em Cajupiranga, mostra o modal passando em buzinaço com o presidente dentro, a partir de 1’31. Já neste outro vídeo, a comparação entre as imagens não deixa dúvida. Em 9’51, é possível ver Bolsonaro dentro do vagão acenando para a população, ao lado do ex-ministro do Desenvolvimento Regional Rogério Marinho e de um cameraman:

Os mesmos personagens e as mesmas características do trem e do local também aparecem no vídeo verificado:

Evento de inauguração em Parnamirim custou R$ 550 mil

O documento localizado pelo Comprova no site do MDR, que aparece acima, é sobre contratação de empresa para a realização do evento “Inauguração da Estação Cajupiranga e conclusão da obra de expansão do primeiro trecho da Linha Branca” no dia 30 de março de 2022.

O valor total é de R$ 550 mil. Na página 3, aparece a descrição do serviço:

“Apoio na realização de eventos de inauguração entregas do Governo Federal. Planejamento do evento; Montagem da estrutura; Realização do evento; Desmontagem da estrutura; Prestação de contas”.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram a respeito da pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Publicações que exaltam feitos de pré-candidatos — no caso de Bolsonaro — e são baseadas em informações enganosas podem influenciar negativamente na escolha do eleitor. O voto é o principal instrumento de participação popular em uma democracia. A decisão sobre o candidato deve ser tomada com base em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: As agências Lupa e Aos Fatos checaram o mesmo conteúdo e a conclusão foi igual à do Comprova, de que o vídeo foi feito na inauguração da estação de Cajupiranga e não no trem que liga o Pará ao Maranhão. Recentemente, o Comprova verificou que a linha de trem que liga o Pará ao Maranhão existe há 36 anos e não é obra do governo Bolsonaro, que a obra de uma ponte sobre o Rio das Mortes em Mato Grosso é de responsabilidade do estado e não do governo federal e que o Parque do Iguaçu foi criado por Vargas, não por Lula.

Eleições

Investigado por: 2022-04-08

Atriz não prometeu sexo em caso de reeleição de Bolsonaro, como diz blog

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Falso
É falso um texto de blog que circula em grupos de WhatsApp e Facebook, segundo o qual a atriz Alinne Moraes teria dito que “faria sexo com 100 eleitores do atual presidente [Jair] Bolsonaro [PL] caso o mesmo seja reeleito”. Segundo o site, a afirmação teria sido feita em uma entrevista à revista CLAUDIA, em janeiro de 2022. O texto original da revista, no entanto, não contém essa informação. A assessoria da atriz, o jornalista responsável pela entrevista e a editora-chefe da revista negam que a declaração tenha sido dada ou publicada.

Conteúdo investigado: Post em blog diz que, em recente entrevista ao jornalista Pedro Henrique França, da revista CLAUDIA, a atriz Alinne Moraes teria dito que “faria sexo com 100 eleitores do atual presidente [Jair] Bolsonaro [PL] caso o mesmo seja reeleito”.

Onde foi publicado: WhatsApp e Facebook

Conclusão do Comprova: É falso um texto de blog sem autoria conhecida, segundo o qual a atriz Alinne Moraes teria dito que “faria sexo com 100 eleitores do atual presidente [Jair] Bolsonaro [PL] caso o mesmo seja reeleito”. O conteúdo diz que a informação foi retirada de uma entrevista feita pelo jornalista Pedro Henrique França e publicada pela revista CLAUDIA, em 14 de janeiro deste ano. Mas o texto original da revista não contém essa declaração.

Ao Comprova, a editora-chefe da CLAUDIA, Helena Galante, disse que a informação compartilhada no blog é falsa e que a revista nunca publicou tais declarações, “em nenhum momento”. A assessoria da atriz afirmou que se trata de “mais um caso de fake news envolvendo o nome da Alinne”, e que basta acessar o link da entrevista na íntegra para sanar qualquer dúvida quanto a isso.

O jornalista Pedro Henrique França também confirmou que a artista não pronunciou as frases publicadas pelo blog. “É incompreensível que alguém leia esse conteúdo — vindo de um site fantasma, sem qualquer autor responsável que não seja um robô —, e chegue a acreditar e espalhar isso por aí”, declarou ao Comprova. “Não me conformo que essa rede de fake news seja tão nojenta”.

Para o Comprova, falso é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

O que diz o autor da publicação: Como o texto é anônimo e o site não traz qualquer informação sobre a autoria da página, não foi possível fazer contato com o autor da peça de desinformação. O Comprova tentou contato com um perfil responsável pelo compartilhamento do conteúdo no Facebook, mas não obteve retorno até a publicação da checagem.

Como verificamos: De início, o Comprova procurou confirmar se a atriz Alinne Moraes havia concedido uma entrevista à revista CLAUDIA e se teria dito o que foi divulgado pelo blog anônimo.

Após fazer uma busca no Google com os nomes da atriz e do veículo, a equipe encontrou a reportagem intitulada “De cabeça e peito abertos, Alinne Moraes fala sobre tudo com liberdade“, escrita pelo jornalista Pedro Henrique França e publicada pela revista CLAUDIA em 14 de janeiro de 2022.

O próximo passo foi entrar em contato com a editora-chefe da CLAUDIA, com o jornalista responsável pela entrevista e com a assessoria da atriz.

A entrevista

Em 14 de janeiro deste ano, a revista CLAUDIA publicou uma entrevista feita pelo jornalista Pedro Henrique França com a atriz Alinne Moraes, em que ela fala sobre diversos temas, como maternidade, carreira, família, pandemia e política.

Em nenhum momento a atriz diz que faria “sexo gratuito” com eleitores de Bolsonaro caso ele seja reeleito. Pelo contrário, o nome do atual presidente só é mencionado quando Moraes se opõe a seu governo: “Espero que não faltem vacinas, que o Bolsonaro caia e que as pessoas não desperdicem seu voto”. A atriz ainda declarou apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa à Presidência de 2022: “A gente precisa tombar o Bolsonaro. E a pessoa que é capaz de tombar esse homem é o Lula”, afirmou.

Na entrevista, Moraes disse acreditar na importância de artistas se posicionarem politicamente no momento atual: “Não se posicionar é se posicionar. Tinha uma peça que eu fazia do João Falcão que ele dizia: não fazer é fazer. Para além da profissional que eu sou, também sou uma cidadã e vou me posicionar independentemente de onde eu trabalhar”.

Não é a primeira vez que a atriz se posiciona contra a gestão de Bolsonaro. Além de publicações nas redes sociais — como um post no Instagram em que Moraes chamou o presidente de genocida, em março de 2021 —, a artista também já disse em entrevista à Harper’s Bazaar Brasil que o chefe do Executivo “destruiu o Brasil” e que “falar de futuro é falar ‘Fora Bolsonaro’”.

O texto do blog

O conteúdo falso publicado pelo blog consiste em dois parágrafos de uma frase cada. O texto menciona a entrevista publicada pela revista CLAUDIA, mas não apresenta link para a matéria original para que o leitor possa verificar a informação — indício de uma peça de desinformação.

O blog cai em contradição ao misturar falsidades com informações verdadeiras. A primeira frase do texto diz que Alinne Moraes teria declarado voto em Lula e prometido “reforçar a campanha do ‘Ele Não’” — essa parte se baseia em informações verídicas presentes na entrevista com a atriz. Na segunda frase, vem a mentira de que ela teria prometido fazer sexo com eleitores de Bolsonaro (o que, além de falso, contradiz a frase anterior).

A estratégia de citar veículos mais tradicionais e misturar verdade com mentira pode conferir um senso de credibilidade à mentira disseminada pelo blog, e é empregada também em outros textos do site. Outro exemplo disso é uma publicação que trata do veto à Lei Paulo Gustavo, feita no dia 6 de abril pelo blog. Nela, hiperlinks direcionam para notícias publicadas pelo portal UOL. No entanto, várias informações apresentadas ao longo do texto, incluindo supostas declarações do presidente Jair Bolsonaro, não condizem com a realidade.

Sobre o blog

O blog que publicou o conteúdo falso é anônimo, ou seja, não há informações sobre pessoa, grupo ou instituição responsável pela página, nem meios de contato. O site está hospedado na plataforma WordPress, que permite a criação de páginas gratuitamente.

Nas seções “Sobre” e “Contato”, as informações são inexistentes e apenas reproduzem um modelo pronto do WordPress. Da mesma forma, os links para redes sociais (Facebook, Twitter e Instagram) que aparecem no blog não levam a nenhum endereço específico.

As postagens do site tratam de temas diversos: desde a conjuntura internacional, com várias publicações referentes ao presidente russo Vladimir Putin, ao caso de um suposto estupro que teria sido praticado por um pichador. Há também muitas menções elogiosas ao governo de Jair Bolsonaro, enquanto diversos artistas são citados de maneira depreciativa.

O Comprova já investigou outro texto do mesmo blog, segundo o qual o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso teria dito que “Bolsonaro será reeleito se passarem por cima do meu cadáver” e que “Lula merece uma segunda chance”, durante uma live com juízes franceses. A conclusão foi de que o conteúdo era falso: a live nunca ocorreu, e o ministro não deu essas declarações.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições. A postagem analisada nesta checagem é prejudicial porque mente sobre o real posicionamento político de uma pessoa pública, que pode influenciar eleitores. É importante que conteúdos como esse sejam verificados para que as pessoas decidam sobre o voto com base em informações, e não em mentiras.

Alcance da publicação: Apesar de a publicação ter sido feita em janeiro deste ano, tanto no blog quanto no Facebook, recentemente o conteúdo voltou a circular em grupos no Whatsapp. Na rede social, a postagem divulgada em dois grupos de apoio à deputada Bia Kicis (PL) pelo mesmo usuário teve 909 interações. O Facebook passou a sinalizar o conteúdo como informação falsa após ter sido verificado por agências de checagens.

Outras checagens sobre o tema: O conteúdo também foi checado pela Agência Lupa, que chegou à mesma conclusão do Comprova. Outros materiais publicados pelo blog, como a suposta declaração do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso de que Bolsonaro só seria reeleito “por cima de seu cadáver”, já foram desmentidos pelo Comprova e outras agências de checagem como a Lupa, Uol Confere e Boatos.org.

 

 

Eleições

Investigado por: 2022-04-08

Protesto contra Lula em Guarapuava (PR) ocorreu em 2018 e ex-presidente não estava no local

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o vídeo em que um homem afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi alvo de manifestação ocorrida na Câmara de Vereadores de Guarapuava (PR). O autor cita o protesto, mas omite que o fato ocorreu em 2018 e mente ao dizer que Lula foi recebido no local. Segundo a assessoria de Lula, ele não visita a cidade paranaense há pelo menos 10 anos.

Conteúdo investigado: Vídeo de dois minutos publicado no YouTube no dia 3 de abril deste ano com o título “Lula passa vergonha em Guarapuava; recepção calorosa ao petista”. O autor da publicação fala sobre um protesto contra o ex-presidente ocorrido no Paraná. São apresentadas imagens da manifestação. Ele também afirma que o ataque sofrido contra uma caravana de Lula naquele estado foi simulado e que o político deixou de fazer campanha em locais abertos por medo de atentados. O conteúdo também circula no WhatsApp.

Onde foi publicado: YouTube e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É enganoso o vídeo que cita uma manifestação contra o ex-presidente Lula na Câmara de Vereadores de Guarapuava, no Paraná, como se o episódio tivesse ocorrido recentemente. Na publicação, o autor afirma que o grupo recebeu o ex-presidente aos gritos de “Lula ladrão, teu lugar é na prisão”, mas o protesto aconteceu em 2018 e o político não estava presente.

Além da falta de contextualização das informações sobre o protesto, o fato do conteúdo ter sido publicado em 3 de abril deste ano também corrobora a ideia enganosa de que se trata de um acontecimento atual.

O vídeo tem cerca de 2 minutos e mostra um homem dando informações sobre o protesto contra Lula em Guarapuava, com base em um vídeo publicado anteriormente no canal Brasil Simples, também no YouTube.

O autor do vídeo mistura informações recentes com situações antigas. Ele também diz que um ataque a uma caravana de Lula foi simulado e usa este tema para afirmar que o ex-presidente se sente ameaçado e evita participar de eventos abertos. No entanto, o autor omite que o ataque aconteceu em maio de 2018.

A investigação sobre o ataque foi feita pelo Ministério Público do Paraná e não foi conclusiva (a última informação sobre o tema foi divulgada em outubro de 2021). Desta forma, não é possível afirmar que o atentado foi simulado. O vídeo aqui verificado foi tirado do ar pelo YouTube no dia 8 de abril por violar as diretrizes do site.

A manifestação citada ocorreu em março de 2018 na Câmara de Vereadores de Guarapuava, cidade paranaense distante 270 quilômetros de Curitiba. Em vídeo publicado no canal do YouTube do próprio Legislativo é possível ver um grupo reunido no local gritando frases como “Lula ladrão”. Ao Comprova, a assessoria da Câmara também confirmou que o protesto ocorreu em 2018.

Lula não aparece no vídeo da Câmara e a assessoria do ex-presidente informou ao Comprova que o político não esteve no local. O PT também negou que a campanha do pré-candidato à presidência esteja limitada a eventos fechados.

Para o Comprova, enganoso é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

O que diz o autor da publicação: Questionado se sabia que o protesto é antigo, o jornalista e youtuber Toni Rodrigues se limitou a dizer que fala no vídeo que, em 2018, Lula foi mal recebido em todo o Sudeste do país. No entanto, no conteúdo aqui verificado, o autor afirma que “’Lula ladrão, teu lugar é na prisão’ são palavras de ordem que vêm sendo empregadas pelos críticos do ex-presidente desde 2018, antes da campanha eleitoral”, ou seja, Toni não deixa claro que o protesto aconteceu há 4 anos.

Como verificamos: Primeiro a equipe tentou confirmar a veracidade do protesto citado no vídeo. A partir da busca reversa das imagens feita pela plataforma Invid, foi possível encontrar dois vídeos que mostram o protesto, ambos publicados em 2018.

Em um segundo momento, a reportagem encontrou, por meio de busca no YouTube, um vídeo da sessão da Câmara de Vereadores de Guarapuava do dia 26 de março de 2018, que mostra a manifestação por outro ângulo. Na página do Legislativo do município paranaense, foi localizada a ata da referida sessão.

Também entramos em contato com a Câmara de Vereadores de Guarapuava, com a assessoria de Lula e com Toni Rodrigues, autor do vídeo verificado.

Manifestação citada no vídeo ocorreu em 2018

A manifestação na Câmara de Guarapuava ocorreu em 26 de março de 2018. A data e a realização do protesto foram confirmadas pela Casa, que informou que imagens do protesto a partir de outro ângulo podem ser vistas no vídeo da sessão do dia 26, publicado no canal do YouTube do próprio Legislativo.

Na transmissão, a partir de 1:12:20, é possível escutar os manifestantes gritarem palavras de ordem contra Lula, após o discurso de uma vereadora petista. O áudio é semelhante ao do vídeo aqui verificado. Os brados se repetem em 1:40:30 e 1:44:35.

Uma matéria publicada no site da Câmara e a ata da sessão parlamentar também comprovam que, naquela data, ocorreram manifestações contrárias e favoráveis ao ex-presidente por conta da votação de uma Nota de Repúdio à presença de Lula em Guarapuava, apresentada pelo vereador Valdomiro Batista e aceita pela maioria dos parlamentares. Na época, Valdomiro era filiado ao PRB, partido que passou a se chamar Republicanos em 2019.

Além disso, a partir da busca reversa dos frames do vídeo verificado, feita pela plataforma Invid, foi possível encontrar pelo menos outras duas publicações (aqui e aqui) que mostram o protesto, ambas publicadas em 2018.

Lula não esteve em Guarapuava em 2018

Ao Comprova, a assessoria de Lula informou que o ex-presidente não visita Guarapuava há pelo menos 10 anos.

Lula tinha agenda na cidade paranaense em 28 de março de 2018, dois dias após os protestos na sessão da Câmara de Vereadores de Guarapuava, mas cancelou a viagem após o ataque a dois ônibus da caravana na estrada entre Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul. O episódio foi amplamente noticiado por veículos de comunicação (G1, Folha de São Paulo, Brasil de Fato, El País, BBC News Brasil) e, em outubro de 2021, o Ministério Público do Paraná afirmou que, até aquele momento, as investigações não conseguiram descobrir os responsáveis pelo crime.

A assessoria do ex-presidente nega que os atentados e ataques com tiros e pedras à caravana de Lula foram simulados.

A passagem por Guarapuava fazia parte do projeto Lula pelo Brasil, em que o ex-presidente percorreu Minas Gerais, além das regiões Nordeste, Sudeste e Sul do país entre os dias 19 e 28 de março de 2018. Na época, a viagem pelo Sul, que cobriu 3 mil quilômetros e 18 cidades, causou muitos protestos e ataques à comitiva (1 e 2).

No Paraná, foram registrados confrontos e agressões durante a visita do ex-presidente. Ele encerrou a caravana na Praça Santos Andrade, em Curitiba.

Quem é o autor do vídeo

Toni Rodrigues é um jornalista, radialista e escritor nascido em Piripiri, no Piauí, em 1967. Em seu canal do YouTube, que tem 55,7 mil inscritos, ele costuma publicar conteúdos sobre política e críticas ao ex-presidente Lula e ao PT.

Em vídeos anteriores, que no geral utilizam títulos sensacionalistas, o youtuber afirmou que as cantoras Pabllo Vittar e Marina Sena fizeram campanha política antecipada e cometeram um crime ao se manifestarem a favor de Lula no festival Lollapalooza e que o ex-presidente deveria passar por um exame mental por conta de uma fala sobre a guerra na Ucrânia.

No dia 28 de março, o ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Raul Araújo, que censurou o Lollapalooza a pedido do partido de Bolsonaro, derrubou a própria liminar que proibia manifestações políticas e previa uma multa de R$ 50 mil caso os artistas se posicionassem contra ou a favor de qualquer candidato.

Toni Rodrigues também compartilha os materiais em um site e em suas redes sociais. No Facebook, sua página conta com 1,3 mil seguidores, enquanto no Instagram e no Twitter ele possui 3 mil e 4 mil seguidores, respectivamente.

Por que investigamos: O Comprova verifica conteúdos sobre a pandemia, políticas públicas e eleições que viralizaram nas redes sociais. Neste caso, o vídeo tira de contexto uma informação antiga para embasar a sua percepção sobre um pré-candidato à Presidência. Ele também traz informações falsas.

No contexto atual de polarização política e com o crescente número de fake news, é importante investigar esse tipo de conteúdo viral, que pode contribuir tanto para difamar determinado candidato quanto favorecer seu oponente.

Alcance da publicação: Até o dia 7 de abril de 2022, o vídeo publicado por Toni Rodrigues teve mais de 100 mil visualizações, 11 mil curtidas e 860 comentários. No dia 8 de abril, a equipe constatou que o vídeo foi tirado do ar pelo YouTube por violar regras do site. Já o conteúdo do canal Brasil Simples alcançou 19 mil visualizações, 2 mil curtidas e 162 comentários. O vídeo continua publicado.

Outras checagens sobre o tema: Em outras verificações, o Comprova já mostrou que é falso que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso tenha prometido atuar contra a reeleição de Bolsonaro. O projeto também mostrou que uma fala de Lula sobre negros foi retirada de contexto e era uma crítica à elite brasileira.

Eleições

Investigado por: 2022-04-07

Vídeo de abordagem da PM a torcedores do Sport não tem relação com Lula

  • Falso
Falso
É falso que a Polícia Militar do Ceará prendeu um grupo de pessoas que planejava saquear supermercados a mando do ex-presidente Lula. O vídeo mostra uma abordagem a integrantes da torcida organizada Jovem Sport. Eles estavam a caminho de Fortaleza para assistir à partida entre Sport e Fortaleza pela final da Copa do Nordeste, na Arena Castelão, no dia 3 de abril de 2022. A abordagem foi feita próximo à cidade de Aracati, a 151 quilômetros da capital cearense. Ninguém foi preso e não há qualquer relação entre os torcedores e o ex-presidente Lula.

Conteúdo investigado: Vídeo de abordagem policial a um grupo de pessoas ao lado de ônibus em rodovia no Ceará. Na legenda, o autor do post afirma que vândalos estavam a caminho de Fortaleza para saquear supermercados a mando do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Onde foi publicado: Twitter e grupos de WhatsApp

Conclusão do Comprova: O vídeo de uma abordagem de rotina da Polícia Militar do Ceará a passageiros de um ônibus está sendo compartilhado no Twitter e no WhatsApp com uma informação falsa: a de que as pessoas abordadas foram presas a caminho de Fortaleza quando se preparavam para saquear supermercados na cidade por ordem do ex-presidente Lula.

O post ainda destaca o fato de as pessoas na abordagem usarem camisas amarelas, o que foi interpretado por outros que interagiram com a postagem como uma tentativa de relacionar os supostos vândalos a apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Esta alegação também é falsa. As camisas amarelas são o uniforme da torcida organizada Sport Jovem e as pessoas que aparecem na abordagem são torcedores do Sport Clube do Recife. Elas estavam indo para Fortaleza para acompanhar a partida final da Copa do Nordeste entre Sport e Fortaleza, em 3 de abril.

De acordo com a Polícia Militar do Ceará, a abordagem é um procedimento de rotina “para garantir a segurança, evitar tumultos e confrontos entre as torcidas”. Ainda segundo a corporação, nada de ilícito foi encontrado e os torcedores, depois de vistoriados, foram escoltados até o local da partida, a Arena Castelão.

Em sua conta no Instagram, a Torcida Jovem Sport postou uma fotografia da abordagem e agradeceu o tratamento e respeito da Polícia Militar do Ceará. “Todo o diálogo se deu início através do tenente Queiroga e o comandante Ladim que conduziram toda a narrativa conosco desde a nossa saída de Recife até a chegada na cidade de Aracati, onde fomos revistados com respeito e posteriormente levados ao estádio”, diz a nota oficial.

O Twitter sinalizou o vídeo como conteúdo enganoso.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato por e-mail com o lutador de MMA e professor de jiu-jitsu Renzo Gracie, autor do tuíte, mas não houve resposta. Procurou ainda, por e-mail, o gabinete do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que compartilhou a publicação. Também não houve resposta.

Como verificamos: Primeiro, foi feita uma busca reversa de imagens no Google utilizando frames do vídeo, que levaram a outras checagens do mesmo material.

Em seguida, foram identificados elementos na farda dos policiais que pudessem indicar de que estado eles eram. Na manga direita da camisa de um dos policiais há uma bandeira do Ceará. As siglas dos batalhões identificadas no fardamento também pertencem a corporações do estado.

Uma vez observado o padrão nas camisas, foram feitas pesquisas por abordagens policiais a torcidas organizadas. O resultado apontou para notícias sobre torcedores do Sport Clube do Recife terem ficado por duas horas na Arena Castelão após o término do jogo entre Sport e Fortaleza pela Copa do Nordeste. Mesmo sem ver detalhes, foi possível perceber que o padrão das camisetas era parecido com as que aparecem na abordagem.

Então, foi feita uma pesquisa sobre torcidas organizadas do Sport. As cores mais próximas às que apareciam nas duas eram as da Torcida Jovem Sport. Foi feita, então, uma busca por perfis da torcida em redes sociais, o que levou a um post no Instagram com uma fotografia da mesma abordagem que aparece no vídeo e informações sobre o ocorrido.

Segundo a torcida, a abordagem aconteceu no município cearense de Aracati. A partir desta informação, o Comprova fez uma pesquisa no Facebook com os termos “torcida sport policia fortaleza aracati”. Na rede social, encontrou exatamente o mesmo vídeo, postado no dia 3, cerca de três horas antes do jogo, por dois perfis diferentes. As informações falam em abordagem policial aos torcedores. Não há qualquer referência a saques, prisões ou ao ex-presidente Lula.

Por fim, foram procuradas a Polícia Militar e a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, além de Renzo Gracie, o autor do post viral feito no Twitter dois dias após a abordagem, em 5 de abril. O gabinete do deputado federal Eduardo Bolsonaro também foi procurado.

 

A caminho de Fortaleza

De todas as afirmações feitas no post aqui verificado, a única verdadeira é que as pessoas abordadas no vídeo estavam a caminho de Fortaleza. É possível identificar policiais militares do Ceará nas imagens através de detalhes no fardamento, como a bandeira do estado na manga direita do uniforme de um policial que aparece no primeiro segundo do vídeo.

As siglas dos batalhões nas fardas dos demais policiais também pertencem à Polícia Militar do Ceará, como o BPRE (Batalhão de Polícia Rodoviária Estadual), o BEPI-COD (Companhia de Operações de Divisas do Batalhão Especializado de Policiamento no Interior) e a ROMU (Ronda Ostensiva Municipal).

A vegetação visível ao fundo das imagens é característica da região: são palmeiras do tipo carnaúba, encontradas às margens da rodovia BR-304, que dá acesso à cidade de Aracati, no Ceará. Segundo informações da Torcida Jovem Sport, cujos integrantes estão sendo abordados nas imagens, foi na chegada a esta cidade que a revista aconteceu, a 151 quilômetros de Fortaleza.

Final da Copa do Nordeste

Os torcedores viajaram de Recife (PE) até a capital cearense para acompanhar a partida de volta da final da Copa do Nordeste, que aconteceu na Arena Castelão, em 3 de abril deste ano, entre Fortaleza e Sport Club do Recife. Um dos indícios de que as imagens mostravam uma abordagem a um grupo de torcedores, e não a prisão de suspeitos de assalto, é o padrão nas roupas das pessoas abordadas. Quase todos usam camisas amarelas com detalhes em vermelho e preto, cores do time de Pernambuco.

Depois de identificar, pelo fardamento, que os policiais que aparecem nas imagens são da Polícia Militar do Ceará (PMCE), o Comprova enviou o vídeo para a corporação e questionou se eles haviam participado da operação, quando e onde ela tinha acontecido. A PMCE, então, confirmou se tratar de uma abordagem de rotina aos torcedores. Ninguém foi preso porque nada de ilícito foi encontrado com os integrantes do grupo.

“A Polícia Militar do Ceará (PMCE) informa que o vídeo é de uma abordagem realizada a torcedores do Sport Club do Recife que estavam em deslocamento para Fortaleza, onde o clube disputou a final da Copa do Nordeste, partida disputada em Fortaleza no último domingo (03)”, diz a nota, que não faz qualquer menção a saques, prisões ou ao ex-presidente Lula.

Vídeos postados no Facebook

Exatamente o mesmo vídeo que ilustra a postagem com informações falsas foi publicado no Facebook no domingo (3), o dia da final da Copa do Nordeste entre Sport e Fortaleza.

O primeiro foi postado às 15h21 por um perfil pessoal de um homem que se identifica como jornalista. O mesmo vídeo também foi postado, às 15h39, na página do Facebook TV Web Camocim. As publicações foram feitas cerca de três horas antes do jogo, que começou às 18h30. As duas postagens trazem as informações reais dos acontecimentos: abordagem policial a torcedores do Sport.

Os dois perfis foram procurados. Por WhatsApp, a TV Web Camocim respondeu:

“Se vc leu nossa materia, deve ter verificado que nao existe nenhuma linha falando de pt, ou de qualquer outro partido. Fala de averiguação policial normal de torcedores. Video da Internet, nao foi a nossa equipe que gravou”.

Já o tuíte de Renzo Gracie com as informações falsas vinculadas ao mesmo vídeo foi postado dois dias depois, no dia 5, e depois compartilhado por Eduardo Bolsonaro. Também no dia 5, um outro perfil postou o vídeo no Twitter também com informações falsas. A postagem dizia que a Inteligência da Polícia Militar do Ceará interceptou uma “comunicação entre líderes do PT e facções de militantes a caminho de Fortaleza, com o objetivo de invadirem supermercados”.

Agradecimento

Embora o autor do post viral afirme, sem nenhuma prova, que a Polícia Militar impediu que um grupo de vândalos saqueassem supermercados, as imagens não mostram pessoas sendo presas, e sim abordadas. Em um momento, é possível ouvir um policial ordenando que as pessoas fiquem com as mãos na cabeça e olhando para a frente, mas não há voz de prisão.

A própria Torcida Jovem Sport, que foi abordada no local, disse que o tratamento dos policiais foi de “respeito mútuo”. Em um post no Instagram, os torcedores destacaram a “eficiência dos policiais” e reforçaram que foram “bem tratados”. A nota de agradecimento foi publicada um dia depois da partida, na segunda-feira (4).

Quem é o autor

O vídeo foi publicado pelo lutador de MMA e professor de jiu-jitsu Renzo Gracie. Após a publicação, o lutador passou a atacar perfis que questionavam a veracidade da informação.

Renzo, que faz parte da família que fundou o jiu-jitsu brasileiro, tem uma relação de proximidade com o presidente Jair Bolsonaro. No último ano, durante a passagem por Dubai, o chefe do Executivo foi convidado para assistir ao Mundial de Jiu-Jitsu ao lado de Renzo. Ele também acompanhou Bolsonaro em viagem a Nova York. Em 2019, foi nomeado embaixador do turismo pelo então presidente da Embratur, Gilson Machado.

No mesmo ano, o lutador se envolveu em polêmica ao publicar um vídeo em que chama o presidente da França Emmanuel Macron de “palhaço” e diz que ele tem “pescoço de franga”. Recentemente, Gracie lançou sua biografia escrita por Roberto Alvim, ex-secretário de Cultura do governo Bolsonaro, demitido por fazer apologia ao nazismo.

O Comprova entrou em contato com o lutador por e-mail, mas não houve resposta.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A divulgação de conteúdo falso tentando relacionar uma abordagem policial de rotina a um ato ilícito supostamente ordenado pelo ex-presidente Lula, que é pré-candidato à Presidência da República, é prejudicial ao processo eleitoral porque pode influenciar a tomada de decisões do eleitorado com base em uma informação inventada com o objetivo de prejudicar um dos candidatos.

Alcance da publicação: 106,7 mil visualizações no Twitter, além de 4,3 mil curtidas e quase 2 mil retuítes até o final da tarde de 6 de abril de 2022.

Outras checagens sobre o tema: Este conteúdo também foi checado pelo Aos Fatos, Fato ou Fake, Lupa, Boatos.Org e AFP Checamos. Recentemente o Comprova verificou que a dívida de Lula com a União é real, mas é questionada na Justiça após anulação de processos da Lava Jato e que uma apreensão de droga atribuída a Bruno Maranhão ocorreu quatro anos após sua morte.

Eleições

Investigado por: 2022-04-06

É falso que Barroso tenha prometido atuar contra reeleição de Bolsonaro

  • Falso
Falso
É falso que o ministro do STF Luís Roberto Barroso tenha dito que “Bolsonaro será reeleito se passarem por cima do meu cadáver” em uma live com juízes franceses, conforme afirma um texto que circula nas redes sociais. O texto é anônimo e não apresenta nenhuma prova de que isso seja verdade. Não há registro do evento ou da suposta declaração em fontes confiáveis de informação, e a mensagem foi desmentida pelo Supremo.

Conteúdo investigado: Postagem em blog sem qualquer indicação de autoria afirma que Barroso participou de live com juízes franceses e, na ocasião, fez as seguintes afirmações: “Bolsonaro será reeleito se passarem por cima do meu cadáver” e “Lula merece uma segunda chance”.

Onde foi publicado: Blog, Facebook, Twitter e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falsa a afirmação em blog sem autoria conhecida de que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso tenha participado de uma live com juízes franceses e dito a frase “Bolsonaro será reeleito se passarem por cima do meu cadáver”. A postagem ainda afirma que Barroso teria dito que “Lula merece uma segunda chance”. Não há qualquer registro de que esse evento tenha existido e menos ainda das supostas declarações atribuídas ao magistrado.

Na tarde desta terça-feira, 5, após o amplo compartilhamento do conteúdo nas redes sociais, o site do STF divulgou nota afirmando serem inverídicas as informações. A nota afirma que o gabinete do ministro informou “que tal encontro virtual nunca ocorreu e que o ministro jamais deu as declarações”. O esclarecimento também foi publicado nos canais do STF no Instagram e no Twitter, e em diversos veículos na internet.

O blog que publicou a postagem falsa não traz qualquer informação sobre a autoria da página, nem apresenta provas do que alega sobre Barroso. O texto não é assinado e nele não consta informação adicional ou link da suposta live entre Barroso e juízes franceses. Na internet, não há notícias sobre o suposto encontro, seja em veículos noticiosos ou em canais oficiais do Poder Judiciário e do ministro.

O conteúdo foi classificado como falso pelo Comprova porque foi inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Após dias circulando nas redes sociais, o material foi apagado sem nenhuma explicação no site.

O que diz o autor da publicação: O texto é anônimo, o que impede o contato com o autor da desinformação.

Como verificamos: O Comprova fez essa verificação a partir de pesquisas sobre o assunto na internet, análise da mensagem anônima e navegação no site que primeiro divulgou a desinformação. A equipe ainda tentou descobrir a origem do blog com as ferramentas Who.is e DNSlytics, mas essa busca não trouxe informações relevantes porque a página está hospedada em um servidor compartilhado.

A ausência de registro do suposto evento e das declarações de Barroso na imprensa, as características comuns a boatos no texto checado, a fonte questionável da alegação e a nota oficial do TSE desmentindo a história guiaram a conclusão do Comprova.

O blog anônimo

O blog que publicou a informação é anônimo, ou seja, não há informações sobre pessoa, grupo ou instituição responsável pela página, nem meios de contato. O blog está hospedado na plataforma WordPress, que permite a criação de páginas gratuitamente.

Nas seções “Sobre” e “Contato”, as informações são inexistentes e apenas reproduzem um modelo pronto do WordPress.

Da mesma forma, os links para redes sociais (Facebook, Twitter e Instagram), que aparecem no blog, não levam a nenhum endereço específico.

A ausência dessas informações exime o verdadeiro autor da postagem de eventuais responsabilizações, criminais ou jurídicas, já que o conteúdo atribui falas a uma das autoridades máximas do Judiciário brasileiro, que tem sua foto mostrada no blog.

A postagem, um parágrafo com quatro linhas, também não divulga o link da live que menciona: outro indício de conteúdo falso. Isso, inclusive, é questionado por dois internautas nos comentários:

Porém, há pessoas que tomam a informação como verdadeira sem qualquer questionamento:

STF desmente

A postagem no blog traz a data 4 de abril. O conteúdo viralizou nas redes sociais e, na tarde do dia seguinte, o STF publicou nota desmentindo a existência do suposto encontro e afirmando que o ministro Luís Roberto Barroso jamais deu tais declarações.

Nas redes sociais (1, 2, 3) e em seu site oficial, o ministro Luís Roberto Barroso costuma divulgar informações sobre as atividades de seu dia a dia profissional, como palestras, entrevistas, debates e encontros. Em todos esses canais, não há qualquer menção a live ou encontro com juízes franceses.

O site do STF divulga a agenda dos ministros. As informações no site estão disponíveis entre 7 de março e 12 de abril. Não há qualquer encontro com juízes franceses.

Da mesma forma, não há notícias do suposto encontro em nenhum outro lugar na internet, o que acende ainda mais o alerta para conteúdo falso dada a gravidade das declarações atribuídas a Barroso.

Outras postagens do blog

O blog que fez a publicação relacionada a Barroso tem postagens com temas diversos. Desde a conjuntura internacional, com várias publicações referentes ao presidente russo Vladimir Putin, ao caso de um suposto estupro que teria sido praticado por um pichador.

Há muitas menções também ao governo de Jair Bolsonaro e com referências elogiosas ao presidente, e citações a artistas de maneira depreciativa. Alguns textos têm links para conteúdos de veículos já consolidados, a exemplo de uma publicação que trata do veto à Lei Paulo Gustavo feita nesta quarta-feira (6/4) pelo blog. Nela, os hiperlinks direcionam para notícias publicadas pelo portal UOL. No entanto, várias informações dadas ao longo do texto, incluindo supostas declarações do presidente Jair Bolsonaro, não condizem com a realidade. A inserção desses links pode ser uma tentativa de conferir credibilidade a esta e outras publicações que misturam informações verdadeiras com desinformação.

Barroso é alvo de desinformação

Luís Roberto Barroso foi presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por cerca de dois anos, entre maio de 2020 e fevereiro de 2022, e virou alvo do presidente Jair Bolsonaro e seus aliados ao defender a segurança das urnas eletrônicas e criticar uma proposta que tentava estabelecer um comprovante de voto impresso nas próximas eleições. A matéria, patrocinada pelo governo, acabou rejeitada em comissão especial e no plenário da Câmara dos Deputados no ano passado.

A falsa declaração atribuída ao ministro sugere a tese infundada de que membros do Judiciário estariam planejando manipular as eleições presidenciais para favorecer Lula e prejudicar Bolsonaro. Esse tipo de alegação é desprovida de evidências, assim como mensagens dizendo que o sistema eletrônico de votação seria fraudulento. Desde que as urnas eletrônicas passaram a ser adotadas no Brasil, em 1996, nunca houve comprovação de fraude em qualquer pleito.

Barroso não faz mais parte da composição do TSE desde 16 de fevereiro deste ano. O presidente do órgão hoje é o ministro do STF Edson Fachin, que entrega o cargo em 17 de agosto, quando termina seu mandato na Corte. Durante as eleições, o presidente do TSE será o ministro Alexandre de Moraes.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A postagem analisada nesta checagem é prejudicial porque espalha uma mentira para colocar em descrédito o processo eleitoral brasileiro.

A divulgação de conteúdo falso ou enganoso referente a eleições e candidatos pode confundir a população no momento de decidir seu voto — que deve se basear em fatos, e não em desinformação.

Alcance da publicação: A publicação no site teve mais de 2,7 mil interações até o dia 5 de abril de 2022, antes de ser excluída. No Twitter, alcançou cerca de 1,2 mil interações e, no Facebook, engajou 5.843 pessoas até o dia 6 de abril.

Outras checagens sobre o tema: As eleições presidenciais e os nomes dos principais pré-candidatos na disputa para ocupar a cadeira no Palácio do Planalto são frequentemente envolvidos em conteúdos desinformativos. Os ministros do STF e do TSE também costumam ser citados, numa tentativa de tirar a credibilidade do órgão no julgamento de ações e na condução do processo eleitoral brasileiro.

Sobre o mais recente caso, aqui investigado, a agência Lupa assegurou que é falsa a declaração atribuída a Barroso. A mesma conclusão aparece em checagens do UOL Confere e do Boatos.org.

O Comprova já fez inúmeras verificações relacionadas às eleições, como as que demonstram que uma fala de Lula sobre negros foi tirada de contexto e que é falso que um líder de movimento social, ligado ao ex-presidente petista, foi preso com drogas. Também apontou se tratar de um meme com ator pornô uma suposta imagem viral de apoio a Bolsonaro e concluiu que um vídeo engana ao dizer que as pesquisas eleitorais de 2018 foram forjadas.

Em relação ao Supremo, o Comprova mostrou um post enganoso que dizia que o STF não queria agir contra o governador de São Paulo sobre doses interditadas da Coronavac e verificou que quatro decisões do órgão contra o governo Bolsonaro estão dentro das atribuições da Corte.

Eleições

Investigado por: 2022-04-06

Linha de trem que liga o Pará ao Maranhão existe há 36 anos e não é obra do governo Bolsonaro

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso tuíte parabenizando o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos) pela operação do Trem de Passageiros que faz linha entre Parauapebas (PA) a São Luís (MA). Há 25 anos, o trecho é de responsabilidade da mineradora Vale S. A.

Conteúdo investigado: Uma publicação no Twitter parabeniza o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), e o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos) pelo trem de passageiros da Estrada de Ferro Carajás, da Vale, que liga a capital maranhense à cidade de Parauapebas, no Pará. O texto acompanha um vídeo publicado originalmente no TikTok, sem referência ao governo federal, de uma passageira apresentando o funcionamento da linha.

Onde foi publicado: O conteúdo foi publicado no Twitter e circulou no WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É enganoso um tuíte que utiliza o vídeo de uma criadora de conteúdo publicado no TikTok para parabenizar o presidente da República, Jair Bolsonaro, e o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas por uma obra que não foi realizada pelo atual governo.

As imagens são referentes ao trem de passageiros operado pela mineradora Vale entre Parauapebas, no Pará, e São Luís, no Maranhão. O conteúdo original apresenta o meio de transporte e informações relacionadas à viagem, sem citar o governo federal.

A ferrovia existe há 36 anos e a empresa confirmou que é utilizada não apenas para o transporte de passageiros, mas principalmente para escoar minério de ferro e outros produtos da Serra de Carajás até o porto no litoral maranhense.

A autora do vídeo disse ter comprado a passagem no site da mineradora e garantiu não ter havido intuito político na publicação, afirmando que o sentido foi deturpado pelo usuário que reproduziu o conteúdo no Twitter.

O que diz o autor da publicação: O Comprova não conseguiu contato com o autor da publicação, identificado apenas como ‘Wil’. O perfil não aceita mensagens, não sendo possível contato direto com o autor. Na descrição da página, o usuário afirma ser a terceira conta criada e dá a entender que as anteriores foram suspensas.

Como verificamos: Nas respostas ao tuíte aqui verificado, muitos usuários alertavam que o trem seria da Vale S.A. e não teria relação com o governo federal. No vídeo, também é possível visualizar as cores da comunicação visual da mineradora nos vagões. O Comprova então pesquisou a existência de um trem que fizesse a linha Parauapebas (PA) – São Luís (MA) e identificou a Estrada de Ferro Carajás. Entrou em contato com a Vale e também com a autora do vídeo publicado no TikTok. O Ministério da Infraestrutura foi procurado e não respondeu.

 

Trem que aparece no vídeo é da Vale

Os vagões que aparecem no vídeo postado no Twitter junto do agradecimento ao presidente Bolsonaro e ao ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas são, na verdade, do trem operado pela mineradora Vale S.A. entre o município de Parauapebas, no sudeste do Pará, e a capital do Maranhão, São Luís.

Procurada pelo Comprova, a Vale S.A. confirmou que as imagens do vídeo são do Trem de Passageiros da Estrada de Ferro Carajás, em operação há 36 anos. A informação sobre a concessão ser da empresa até 2027 consta na página da Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT.

A mineradora também compartilhou material publicado por ocasião dos 35 anos do trem, em março de 2021.

O texto informa que os vagões transportam até 1.500 pessoas na alta temporada e é o que percorre a maior distância entre os pontos de partida e chegada no Brasil, totalizando 861 km, com 15 pontos de parada ao longo de 27 municípios, sendo 24 no Maranhão e 3 no Pará. A viagem tem duração de 16 horas.

| Cores no vagão indicam que o trem de passageiros é operado pela Vale.

A Vale acrescenta que, segundo a ANTT, há apenas duas linhas de trens de passageiros regulares no país. A EFC, interligando o Maranhão ao Pará; e a Estrada de Ferro Vitória a Minas, com 664 km, interligando Minas Gerais ao Espírito Santo. Ambas são operadas pela empresa.

Além de transportar passageiros, a EFC também é utilizada para escoar a produção da mina de ferro que a Vale mantém na Serra de Carajás até o Porto de Ponta da Madeira, em São Luís. Circulam cerca de 35 composições simultaneamente.

A EFC está interligada com outras duas ferrovias: a Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN), que corta sete estados da região Nordeste, e a Ferrovia Norte-Sul, que passa pelos estados de Goiás, Tocantins e Maranhão.

Vídeo não teve motivação política

Procurada pelo Comprova, via Instagram, a autora do vídeo publicado no TikTok informou ter comprado as passagens para a viagem no site da Vale.

Por áudio, disse ter conhecimento de que pessoas estariam usando as imagens a favor de Bolsonaro e negou que o conteúdo tivesse qualquer intenção neste sentido. “Eu nem apoio e nem falo de nenhum político, por questões pessoais, e fico muito chateada vendo as pessoas levando para um outro lado”, lamentou.

Segundo ela, a produção do material foi meramente ilustrativa para compartilhar a experiência de uma viagem de trem. “Antes de morar em Parauapebas eu não sabia como era isso, então quis passar essa experiência”, afirmou.

Por fim, ela reiterou que a postagem não teve cunho político: “Quero dizer que foi apenas com intuito de informação e não tem nada a ver com Bolsonaro”.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A divulgação de conteúdo enganoso em relação a pré-candidatos – como Bolsonaro e Tarcísio de Freitas – pode levar o eleitor a definir o voto com base em uma desinformação, o que prejudica o processo democrático. Isso pode ser observado em algumas das respostas ao tuíte:

| Imagens capturadas em 4 de abril de 2022.

Alcance da publicação: Até o dia 6 de abril, a publicação no Twitter tinha mais de 1.500 interações. Não é possível medir quantos usuários de WhatsApp foram alcançados.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente o Comprova verificou outras publicações relacionadas a pré-candidatos, como a fala de Lula sobre negros que foi retirada de contexto e era uma crítica à elite brasileira, o vídeo de protesto contra Lula em show de Marina Sena que era falso e que ponte sobre o Rio das Mortes em Mato Grosso é obra do estado e não do governo federal.

Saúde

Investigado por: 2022-04-06

Máscaras ajudam a proteger contra transmissão e contaminação por covid-19

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Enganoso
Ao contrário do que afirma postagem no Twitter, o uso de máscaras serve tanto para que pessoas contaminadas com a covid-19 não transmitam a doença quanto para que pessoas saudáveis se protejam da contaminação.

Conteúdo investigado: Imagem publicada no Twitter mostra uma interação entre dois usuários da rede, na qual um deles afirma que máscaras não seriam eficazes para impedir a contaminação pelo novo coronavírus. “A máscara protege de não transmitir. De pegar, ela não protege”, escreveu o empresário e youtuber Peter Jordan, autor do post inicial que originou a interação.

Onde foi publicado: Twitter

Conclusão do Comprova: É enganosa postagem que circula pelo Twitter que afirma que as máscaras não protegem da infecção pelo coronavírus, e que o uso do item serviria apenas para impedir que infectados transmitam a doença. A afirmação foi feita pelo empresário e youtuber Peter Jordan. No dia 26 de março, ele fez um tuíte se queixando de que foi infectado pela covid-19 após circular com máscara por um shopping, onde poucas pessoas utilizavam o item.

Um usuário questionou como era possível ele ter pegado a doença, uma vez que as máscaras deveriam conferir proteção. “A máscara protege de não transmitir. De pegar, ela não protege”, escreveu Jordan. Uma imagem da sequência desses três tuítes foi postada por um outro usuário, no dia seguinte, 27 de março.

O post do youtuber em que ele relata a ida ao shopping foi apagado, mas a sequência do diálogo continua publicada. Na conversa, um quarto usuário pediu explicação sobre o argumento de Peter, mas o empresário apenas respondeu que não sabia como explicar e atribuiu a informação ao seu médico, mas não citou o nome do profissional. “Eu não sei explicar Rael (nome do usuário), foi meu médico que me disse. Eu geralmente confio nele”, escreveu Peter.

De acordo com autoridades sanitárias de todo o mundo, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e especialistas ouvidos pelo Comprova, o uso de máscaras é uma das principais medidas de combate à pandemia de covid-19, e serve para ambas as situações (evita que infectados transmitam a doença e que pessoas saudáveis sejam infectadas).

Ou seja, quando pessoas com covid-19 e pessoas saudáveis estão dividindo um mesmo ambiente, os riscos de contaminação podem ser muito reduzidos, desde que todos estejam usando máscaras de qualidade. O distanciamento social, a higienização das mãos e a ventilação em ambientes internos também são medidas importantes para diminuir o risco de contaminação.

A efetividade do uso das máscaras também depende do tipo de objeto utilizado e da forma que o item está colocado no rosto. Utilizar a mesma máscara por muito tempo ou de maneira incorreta contribui para a perda da efetividade. Máscaras do tipo PFF2 ou N95 asseguram um grau de filtragem das partículas externas de até 95%, que é maior do que as máscaras cirúrgicas (89%) de TNT (78%) e de algodão ou pano (40%).

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

O que diz o autor da publicação: A reportagem entrou em contato com Peter Jordan por meio de e-mail disponível em suas redes sociais. Inicialmente, não houve retorno, mas após a publicação da verificação ele se manifestou, afirmando ser defensor do uso das máscaras. Não foi possível entrar em contato com o responsável pela postagem do print com a sequência do diálogo porque o envio de mensagens diretas em seu perfil no Twitter é bloqueado.

Como verificamos: Como a postagem verificada foi feita no Twitter e traz o print de outra publicação na mesma plataforma, o primeiro passo da verificação foi buscar o post original. Neste procedimento, a equipe constatou que Jordan apagou a postagem em que relata ter ido ao shopping e, em seguida, ser diagnosticado com covid-19. No entanto, a resposta a um outro usuário – em que o youtuber afirma “A máscara protege de não transmitir. De pegar, ela não protege” – continua publicada.

Para entender se há base científica na afirmação de Jordan, o Comprova entrevistou os infectologistas Raphael Guimarães, do Observatório covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e Boaventura Braz, do Hospital Estadual de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad (HDT), de Goiânia.

Além disso, a equipe também fez pesquisa em publicações oficiais da OMS em busca do histórico de recomendações da instituição sobre o uso de máscaras. Também realizamos um levantamento sobre outras verificações realizadas pelo Comprova sobre o tema.

Por fim, buscamos informações sobre as atuais regras de uso de máscara no Brasil e entramos em contato com Peter Jordan e o usuário do Twitter que publicou o print da postagem do youtuber.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 5 de abril de 2022.

 

Máscaras são importantes para proteger contra covid-19 e evitar transmissão

Desde que passou a recomendar o uso de máscaras como forma de prevenção à covid-19, em junho de 2020, a OMS destaca que a utilização do item serve tanto para evitar que o portador infectado transmita o vírus a terceiros, quanto para oferecer proteção contra a infecção ao usuário da máscara que esteja saudável. Atualmente, a OMS mantém o uso de máscaras listado no seu site como uma das formas de prevenção à covid-19, ao lado de diversas outras medidas, e ressalta que, dependendo do tipo, as máscaras “podem ser usadas para proteção de pessoas saudáveis, prevenir a transmissão, ou ambos”.

Ao longo de toda a pandemia, foram realizados diversos estudos e experimentos apontando a eficiência do uso das máscaras, alguns deles citados em checagens recentes do Comprova (1, 2 e 3). De acordo com artigo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), de dezembro de 2021, uma pessoa não vacinada sem máscara a uma distância de até três metros de outra, infectada pela covid-19 e também sem máscara, leva menos de cinco minutos para se infectar com o novo coronavírus, o que reforça a importância do uso do item. Segundo a mesma publicação, em situação idêntica, mas com ambas as pessoas com máscaras do tipo PFF2 ou N95, as chances de infecção pela doença são de apenas 0,1% e em um tempo de exposição quatro vezes maior (cerca de 20 minutos).

A importância do uso da máscara, independentemente de a pessoa estar infectada ou não, também é corroborada por especialistas ouvidos pelo Comprova. Para o infectologista Raphael Guimarães, as máscaras são eficientes tanto para pessoas não serem contaminadas, quanto para que os infectados deixem de transmitir o vírus, mas desde que seu uso seja feito da maneira correta.

“Alguns detalhes precisam ser observados. Por exemplo, o uso de uma mesma máscara por muito tempo, inevitavelmente, leva à sua perda de efetividade. Quanto mais tempo uma máscara é utilizada, mais úmida ela fica, por conta da respiração e da fala da pessoa, e a umidade faz o material perder efetividade”, explica o pesquisador, que ainda cita outros aspectos que podem contribuir para o mau funcionamento das máscaras: “O grau de vedação é um segundo ponto importante, porque não deve haver nenhum espaço ou buracos entre a máscara e o rosto. Assim, é importante observarmos se o elástico ao redor da orelha não está muito frouxo, ou se o clipe nasal está mal ajustado”, acrescenta Guimarães. “Não se trata apenas de usar máscara, mas de utilizá-la da forma correta”, pondera.

Por fim, Guimarães comenta que em um ambiente fechado em que há circulação de pessoas infectadas pela covid-19 e sem máscara (como provavelmente era o caso do shopping mencionado na postagem), qualquer descuido com o item, por mais breve que seja, pode resultar na infecção. “Tirar a máscara, que seja por poucos segundos para comer ou beber algo, por exemplo, pode ser o suficiente para entrar em contato com partículas contaminadas”.

O infectologista Boaventura Braz também afirma que estudos científicos mostram, até o momento, que o uso de máscara é eficaz para evitar transmitir e ser contaminado com covid-19. “Quando você está usando máscara, principalmente do tipo N95, pois estou falando das melhores máscaras para proteção, você consegue se proteger, sim”, afirma o médico.

A atual flexibilização do uso de máscaras

Nas últimas semanas, estados e prefeituras têm publicado decretos liberando a população da obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes abertos e fechados, sob o argumento de que há melhora no cenário epidemiológico. Dados do consórcio de veículos de imprensa, coletados a partir de informações das secretarias estaduais de Saúde, mostram que a média móvel de mortes pela covid-19 no Brasil é de 196. Entre os estados, 20 registram queda, cinco estão com dados estáveis e um, o Amazonas, tem alta.

Em relação à vacinação, 81,95% da população recebeu a primeira dose contra a covid-19. Já a segunda dose foi aplicada em 75,12%. Os dados foram atualizados no dia 5 de abril de 2022.

Na visão de Braz, a máscara deve continuar a ser usada em situações de aglomeração, tanto em ambientes fechados quanto abertos. Além disso, ele recomenda que pessoas com imunodepressão continuem fazendo o uso regularmente. “Em ambientes hospitalares, os profissionais com certeza devem manter uso de máscara, até para proteger pessoas que já estão com a saúde debilitada”, afirmou.

No dia 1º de abril, os ministérios do Trabalho e Previdência e da Saúde publicaram portaria com flexibilização do uso de máscaras em ambientes de trabalho. De acordo com o documento, fica dispensado o uso e fornecimento do objeto em estados ou municípios que deixaram de exigir a máscara em ambientes fechados. Em caso de aumento de casos de covid-19 localmente, a medida pode ser reavaliada.

A OMS já mudou seu posicionamento sobre uso de máscaras?

Embora o uso de máscaras seja hoje defendido por especialistas e autoridades sanitárias de todo o mundo, no início da pandemia, o entendimento não era exatamente o mesmo. Foi só em junho de 2020 que a OMS, por exemplo, passou a recomendar o uso das máscaras pela população em geral como forma de prevenção ao novo coronavírus.

Em um comunicado de abril de 2020, a OMS reconheceu que as máscaras eram uma forma de conter a disseminação do novo coronavírus, mas que o uso do item deveria ser direcionado para pessoas com sintomas ou já diagnosticadas com a doença. “No momento não há evidência de que o uso de uma máscara (seja cirúrgica ou de outros tipos) por pessoas saudáveis na comunidade em geral, incluindo o uso universal de máscara na comunidade, possa prevenir uma infecção por vírus respiratórios, inclusive a covid-19”, escreveu a entidade.

Na época, a OMS frisou ainda que o uso de máscara pela população saudável poderia criar uma “falsa sensação de segurança”, fazendo com que as pessoas negligenciassem outras medidas essenciais, como as práticas de higienização das mãos e o distanciamento físico. A organização citou ainda que o uso universal de máscaras poderia acarretar na falta do item para profissionais da saúde.

Dois meses depois, após novos estudos sobre o comportamento e as características de transmissão da covid-19, a OMS apresentou novos direcionamentos em relação às máscaras, passando a recomendar a utilização do item por toda a comunidade. “Para prevenir a transmissão da covid-19 com eficácia em zonas de transmissão comunitária, os governos devem encorajar o público em geral a usar máscaras em situações e ambientes específicos, como parte de uma abordagem abrangente para suprimir a transmissão do SARS-CoV-2”, escreveu a OMS. De acordo com a entidade, a recomendação do uso de máscaras por toda a população tinha como objetivo “evitar que o portador infectado transmita o vírus a terceiros, e/ou oferecer proteção contra a infecção ao utilizador [da máscara] saudável”. Ao longo de toda a pandemia, a OMS manteve essa recomendação.

Quem é Peter Jordan?

Peter Jordan é um empresário e produtor de conteúdo digital que atua no segmento geek. Ele é o fundador do site Ei Nerd, dedicado à cobertura de cinema, TV, games e histórias em quadrinhos. O canal do Youtube do Ei Nerd, onde Jordan apresenta vídeos sobre o universo geek e cultura pop, conta com mais de 12 milhões de inscritos. De acordo com informações da descrição do próprio canal, desde 2018 o Ei Nerd é eleito pelo Youtube como um dos 50 canais da plataforma mais influentes do Brasil.

Jordan também é dono de outros dois canais no Youtube: Nerds de Negócio e Peter Aqui, e é CEO da empresa de inovação digital e desenvolvedora de sites Pentaxxon. Ele possui cerca de 2 milhões de seguidores no Instagram e pouco mais de 520 mil no Twitter, onde o post sobre as máscaras foi feito.

Atualização em 7 de abril de 2022: Após a publicação desta checagem, a assessoria de Peter Jordan procurou o Comprova na manhã de quinta-feira, 7 de abril, para prestar esclarecimentos sobre o post. A assessoria alegou que não havia recebido o e-mail enviado pela equipe do Comprova inicialmente. No esclarecimento, Jordan afirmou que no dia seguinte à postagem, constatou que estava apenas com um resfriado, e não com covid-19, e que por isso o tuíte original foi deletado. A respeito da afirmação de que “máscaras não protegem contra a contaminação”, ele disse que se baseou em reportagens publicadas pela imprensa e “conversas informais com médicos”.

“No caso do post, não foi a minha intenção causar uma discussão, apenas compartilhei o que li: que algumas máscaras protegem a saída e não a entrada do vírus. Como já havia deletado o post principal e este era somente uma resposta isolada a uma pergunta de um seguidor, que também já tinha sido excluído, não me posicionei mais sobre o assunto, exatamente por não ter sido intencional nenhum tipo de questão além do post”, explicou Jordan.

Em relação à conclusão feita pela checagem do Comprova, Jordan disse que sempre usou e continuará usando e apoiando publicamente a utilização do item. “Por fim, reforço que posso ter me expressado mal mas, este post que mencionam, iniciou-se basicamente porque respondi uma pessoa que não defendia o uso de máscaras. Tentei com a resposta defender o uso e sua importância, como sempre farei! Além disso, aproveito para reforçar também, para quem não é profissional da saúde como eu, que sempre busquem sanar dúvidas com fontes oficiais e médicas. Estudar é sempre a melhor escolha”, acrescentou.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A divulgação de conteúdo falso relacionado ao uso de máscaras por causa da covid-19 pode levar a população a deixar de usar o objeto mesmo em situações de aglomeração, o que pode provocar o aumento de casos da doença.

Alcance da publicação: Até o dia 6 de abril de 2022, a postagem teve 7,7 mil interações no Twitter.

Outras checagens sobre o tema: Em reportagens publicadas recentemente, o Comprova mostrou que é falso que o Brasil tenha sido escolhido pela OMS como um dos três países que melhor atuaram no combate à pandemia. O projeto também já verificou que um texto no Telegram espalha teoria conspiratória sobre tratado internacional da OMS e que vacinas de mRNA não são terapia genética e não causam covid-19.

 

 

Política

Investigado por: 2022-04-05

Polícia Federal nega que ONGs que atuam na Amazônia transportaram ouro ilegalmente como afirma publicação

  • Enganoso
Enganoso
São enganosas as publicações nas redes sociais que atribuem transporte ilegal de barras de ouro a ONGs que atuam na Amazônia. As publicações usam o vídeo de uma abordagem policial que encontrou barras de ouro dentro de peças de carro. A ação ocorreu em Goiás e acarretou na prisão de contrabandistas que faziam a extração de ouro de forma irregular no interior do Pará.

Conteúdo investigado: Vídeo publicado nas redes sociais mostra um militar abrindo uma peça de motor e encontrando dentro dele uma grande quantidade de envelopes com barras de ouro. Na legenda, os autores das publicações afirmam ser uma investigação do Exército brasileiro, que desconfiava da quantidade de motores enviados por ONGs que atuam na Amazônia para fora do país para conserto.

Onde foi publicado: Facebook, Telegram e Youtube

Conclusão do Comprova: São enganosas as publicações que usam vídeo de uma apreensão de ouro para culpar ONGs que atuam na Amazônia. Essas publicações associam indevidamente uma ação da Polícia Militar – que acarretou em uma apreensão de ouro escondido dentro de peças de carros – a uma investigação do Exército brasileiro sobre o envio para conserto no exterior de motores de veículos de ONGs que atuam na Amazônia. Ao Comprova, a Polícia Militar e a Polícia Federal negaram a participação de ONGs no caso.

O vídeo mostra na verdade uma apreensão feita pela Polícia Militar do estado de Goiás durante uma abordagem na cidade de Montes Claros de Goiás, no Centro-Oeste. Os policiais apreenderam 19 barras, com mais de 11 quilos ao todo, e que somavam mais de R$ 4 milhões. Os dois ocupantes do veículo foram presos. Conforme a Polícia Militar, o ouro seria oriundo de garimpos ilegais no interior do estado do Pará.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos, que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

O que diz o autor da publicação: Os autores das publicações foram procurados pelas redes sociais e até o momento não retornaram os questionamentos do Comprova.

Como verificamos: Com a utilização do Youtube DataViewer e do InVid, ferramentas gratuitas que permitem a análise de vídeos, foi possível fazer a busca reversa no Google e nas redes sociais usando frames, imagens congeladas do vídeo, e encontrar outras publicações semelhantes.

Entre as opções destacadas pelas ferramentas estavam vídeos com descrições iguais ao vídeo investigado e matérias dos sites Metrópoles e Jornal Opção, ambas com data de publicação anterior aos vídeos afirmando ser uma operação do exército contra ONGs, que mostravam uma abordagem policial que tinha apreendido cerca de 11 quilos de ouro em uma cidade no interior de Goiás.

O Comprova procurou a Polícia Militar de Goiás e a Polícia Federal sobre o caso.

 

Ouro foi apreendido em Goiás

Em 18 de fevereiro deste ano, a Polícia Militar de Goiás, por meio do Comando de Operações de Divisas (COD), apreendeu 19 barras de ouro durante a abordagem de uma caminhonete em Montes Claros de Goiás, distante 270 quilômetros de Goiânia. A ocorrência foi descrita pela própria corporação em seu site oficial (veja aqui).

Conforme a polícia, a presença de uma peça de câmbio avulsa na carroceria do carro chamou atenção. Ao abrir a peça, a equipe encontrou o ouro. Ao todo foram localizadas 19 barras com tamanhos e pesos diversos. O material apreendido totalizou 11,3kg.

Ainda de acordo com a nota da polícia, o metal precioso era proveniente de garimpos e explorações ilegais. Os dois ocupantes do veículo foram presos em flagrante e conduzidos para a Polícia Federal de Goiânia.

O ouro e o carro foram apreendidos. O prejuízo calculado pelos polícias com a ação era de R$ 4 milhões.

Vídeo da apreensão foi divulgado por jornais

O Metrópoles divulgou em seu canal no Youtube um vídeo da apreensão. As imagens são as mesmas que foram usadas na publicação verificada. Além do vídeo, o portal publicou matéria sobre o caso.

A ação policial também foi noticiada pelo Jornal Opção. A matéria ainda divulga o vídeo do momento da apreensão.

O Estadão Verifica também apurou o conteúdo no último mês de março e chegou à mesma conclusão de que o vídeo de apreensão de ouro em peça mecânica não tem relação com ONGs da Amazônia.

Polícia Militar e Polícia Federal negam envolvimento de ONGs

A Polícia Militar de Goiás confirmou ao Comprova o caso e as circunstâncias. A corporação afirmou que nenhuma relação com ONG foi feita durante o trabalho dos PMs.

Já a Polícia Federal revelou que o ouro apreendido foi apresentado e que duas pessoas foram presas. A investigação da PF não determinou nenhuma relação entre o ouro e ONGs.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais.

Sobre o conteúdo aqui investigado, o Comprova apurou postagens que estão desinformando sobre a operação da PM de Goiás que prendeu dois suspeitos de transportarem minério extraído de garimpo ilegal. O boato amplamente divulgado em redes sociais e aplicativos insinua que ONGs que atuam na Amazônia seriam as responsáveis pelo ouro encontrado escondido em peça mecânica e que as organizações também estariam praticando crimes ambientais na Amazônia.

Alcance da publicação: No Facebook, até 4 de abril de 2022, a postagem teve 1,1 mil visualizações e 468 interações. No Twitter, até 4 de abril, a publicação alcançou 1.998 views.

Outras checagens sobre o tema: Em outras verificações, o Comprova já mostrou que um vídeo de protesto contra Lula em show de Marina Sena é falso e que um tuíte distorceu fatos sobre redução de preços de gasolina em ano eleitoral.