O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Eleições

Investigado por: 2022-05-12

Comparação entre aumento da gasolina e patrimônio da família Bolsonaro usa dados imprecisos

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a comparação feita em uma postagem com percentuais sobre reajuste da gasolina no Brasil e crescimento patrimonial da família Bolsonaro. O índice do aumento do combustível não se refere a um ano, como indicado. O valor de aumento de gasolina se refere a um período de três anos, enquanto a evolução de patrimônio ocorreu em período de 12 anos para Jair e Flávio e quatro anos para Eduardo.

Conteúdo investigado: Um card com uma representação gráfica da evolução patrimonial do presidente Jair Bolsonaro (427%) e de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (397%), do PL/RJ, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (432%), do PL/SP, comparada à elevação de preços da gasolina (116%).

Onde foi publicado: Facebook

Conclusão do Comprova: É enganosa a postagem que compara a evolução do patrimônio da família Bolsonaro com o aumento no preço da gasolina. Os números exibidos na postagem, feita originalmente pelo gabinete do senador Humberto Costa (PT-PE) e depois reproduzidas em diversas contas, fazem referência a intervalos de tempo diferentes. Há a indicação do período de um ano apenas no preço da gasolina, o que sugere que os outros números, referentes à família do presidente, também se referem ao mesmo período.

Ao Comprova, a assessoria do senador informou que a origem dos dados são matérias da imprensa (O Globo, UOL e Metrópoles) e um levantamento feito pelo pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) junto com a Federação Única de Petroleiros (FUP).

O aumento de 116% no preço da gasolina que aparece na imagem investigada foi calculado a partir de um período de três anos, de janeiro de 2019 a janeiro de 2022, e não de um ano, como sinaliza o post. A evolução patrimonial dos políticos se deu em períodos distintos e maiores do que o apontado para o crescimento no valor da gasolina.

Os aumentos nos patrimônios do presidente Jair Bolsonaro e de seu filho Flávio levam em conta um intervalo de 12 anos (de 2006 a 2018). E a evolução no patrimônio de Eduardo Bolsonaro considera ainda outro intervalo de tempo, de quatro anos, entre 2014 e 2018.

Além disso, as barras do gráfico usado na postagem são desproporcionais e possuem tamanhos fora de um padrão. Com isso, a interpretação do leitor pode ser incorreta.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Somente no perfil do senador Humberto Costa no Facebook, a publicação alcançou mais de 4,1 mil reações e 3,4 mil compartilhamentos até o dia 12 de maio.

O que diz o autor da publicação: A assessoria de Humberto Costa ressalta que o valor patrimonial da família está atestado por dados públicos, publicados por veículos jornalísticos, e que a variação do combustível foi calculada pelo Dieese, “um órgão insuspeito, que, igualmente, pauta matérias da imprensa.”

Questionada sobre a diferença de períodos a que os números se referem, o que impossibilita comparações, a assessoria reafirmou seu posicionamento. “Todos os dados colocados no card têm fontes oficiais declaradas e foram publicados pela imprensa. Nós mantemos todas as informações publicadas e contestamos a ‘checagem’ de vocês”, diz a nota.

Como verificamos: A equipe do Comprova consultou a base de dados do TSE, na qual constam dados de declaração de patrimônio de candidatos a cargos eletivos, e identificou a evolução do patrimônio do presidente e de seus filhos.

Na internet, também localizou matérias que fazem referência a esse crescimento, tanto do pai, quanto de Eduardo e Flávio Bolsonaro.

A reportagem ainda conferiu a base de dados da ANP, que apresenta, entre outras informações, o preço médio da gasolina comum desde julho de 2001.

Por fim, o Comprova procurou a assessoria do senador Humberto Costa, que criou o card e fez a postagem.

Patrimônio da família Bolsonaro

Em cada eleição, municipal, estadual ou federal, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apresenta dados detalhados sobre todos os candidatos que pediram registro à Justiça Eleitoral e sobre as suas contas eleitorais e as dos partidos políticos. De acordo com a assessoria do senador, eles se basearam na publicação de reportagens, que utilizaram essa base de dados, para construir o gráfico.

Segundo a divulgação de contas do Tribunal, Jair Messias Bolsonaro declarou R$ 433.934,48 em 2006, quando tentava ser eleito deputado federal pela quinta vez. Na disputa pela Presidência da República, em 2018, o candidato afirmou que possuía um total de R$ 2.286.779,48.

A lista de bens inclui cinco casas, quatro veículos e ações na bolsa de valores. O patrimônio de Jair Bolsonaro cresceu 427% entre 2006 e 2018. O valor é o mesmo utilizado pela postagem no Facebook.

O filho mais velho do presidente, Flávio Bolsonaro, foi candidato a deputado estadual pelo Rio de Janeiro inicialmente em 2006 e tentou o mesmo cargo nas duas eleições seguintes. Nesse meio tempo, entre 2006 e 2014, o patrimônio dele saiu de R$ 385 mil para mais de R$714 mil.

Em 2018, quando concorreu ao cargo de senador, informou ao TSE que possuía R$ 1.741.758,15. O valor engloba um apartamento, uma sala comercial e investimentos econômicos. De 2006 a 2018, o patrimônio do político aumentou em 352.40%. A porcentagem é diferente da utilizada pela postagem.

Os dados sobre Eduardo Bolsonaro são mais limitados porque sua primeira candidatura foi em 2014, sendo assim só há informações acerca de seu patrimônio a partir desse período. Uma outra matéria que baseou a postagem é do portal UOL e sinaliza que o patrimônio de Eduardo Bolsonaro em 2014 era de R$ 205 mil, o equivalente a R$ 262 mil em 2018, sendo corrigido pela inflação.

Nas últimas eleições estaduais, o candidato declarou possuir bens que totalizam R$1,395 milhão, sinalizando uma expansão de 432% durante o período. Com as alterações, o valor é correto. Ao conferir os dados no TSE, o Comprova apurou que o crescimento passa de 580% sem levar em consideração os impostos.

Preço da Gasolina

Os autores da publicação afirmaram que utilizaram uma pesquisa do Dieese que aparece em uma matéria no portal Yahoo. Trata-se de um levantamento realizado pelo departamento junto à Federação Única dos Petroleiros (Fup), organização que se declara como uma “entidade autônoma, independente do Estado” e que representa “13 sindicatos filiados”.

Em postagem em seu site oficial, a Fup afirma: “Desde janeiro de 2019, início da gestão do presidente Jair Bolsonaro, a gasolina teve reajuste de 116%, ante uma inflação de 20,6% no período. No gás de cozinha, a alta foi de 100,1%, e no diesel, de 95,5%, de acordo com dados da Petrobras, analisados pelo Dieese”. Sendo assim, o aumento de 116% é referente ao período entre janeiro de 2019 e janeiro de 2022.

Entre 2006 e 2018, o preço médio da gasolina comum passou de R$ 2,559 para R$ 4,447, ou seja, um aumento de 73,77%. Os valores do combustível foram apurados junto à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Nestes 12 anos, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 94,29%.

 

 

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Neste caso, o alvo da desinformação é o presidente Jair Bolsonaro, pré-candidato à reeleição, e sua família. Conteúdos dessa natureza, que não trazem dados precisos, são prejudiciais porque confundem o eleitor que tem direito a fazer sua escolha a partir de informações corretas.

Outras checagens sobre o tema: O período eleitoral tem sido contaminado por conteúdos de desinformação frequentemente. Somente nos últimos dias, o Comprova já demonstrou ser enganoso um vídeo em que Lula chama colaborador da Petrobras de corrupto, que jovem que faz sátira de militantes de esquerda não é filha de deputada do PT e que publicação tira de contexto declaração de Djavan sobre Lei Rouanet e apoio a Bolsonaro.

Eleições

Investigado por: 2022-05-12

Publicação que atribui a ex-tesoureiro do PT áudio contra igrejas é montagem

  • Falso
Falso
É falso um vídeo que manipula uma transmissão do programa Cidade Alerta Sergipe, da TV Atalaia, de forma a inserir o áudio de um homem afirmando que a esquerda tem que atacar as igrejas. A fala é atribuída ao ex-tesoureiro do PT e ex-deputado federal Paulo Ferreira (PT-RS), mas a voz não se assemelha à do político, e o áudio não fez parte da edição original do programa.

Conteúdo investigado: Vídeo no TikTok traz o trecho de uma transmissão do programa Cidade Alerta Sergipe, em que o apresentador divulga áudio atribuído ao ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira. Na gravação, uma voz incentiva que a esquerda ataque igrejas, apoiadoras de Bolsonaro, em defesa do ex-presidente e pré-candidato à presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Sobre as imagens, estão as legendas “olha o demônio agindo novamente” e “eles estão falando em atacar as igrejas!!! as autoridades tem que fazer alguma coisa (sic)”.

Onde foi publicado: TikTok

Conclusão do Comprova: É uma montagem o vídeo que une trecho do programa Cidade Alerta Sergipe a um áudio de origem desconhecida incentivando movimentos da esquerda a atacar igrejas em defesa de Lula.

O vídeo traz uma foto do ex-tesoureiro do PT e ex-deputado federal Paulo Ferreira, insinuando que a fala seria do petista. O Comprova localizou a transmissão original da emissora e identificou que o conteúdo foi adulterado; o áudio não foi exibido no programa.

Além disso, a voz no áudio não condiz com a de Ferreira, com quem a reportagem conversou por telefone. Os áudios foram anexados nesta verificação.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga conteúdos suspeitos de grande alcance nas redes sociais. A publicação aqui verificada foi feita em 10 de fevereiro deste ano e alcançou mais de 40 mil compartilhamentos no TikTok até o dia 11 de maio.

O que diz o autor da publicação: O Comprova solicitou via comentário no TikTok uma forma de contato com o autor da publicação, mas não houve resposta.

Como verificamos: A partir de buscas no Google, foi possível identificar que o mesmo conteúdo já havia circulado anteriormente e foi objeto de verificação de outros veículos, como Aos Fatos, Estadão e Boatos.org. A partir dessas publicações, o Comprova localizou o vídeo original da TV Atalaia, possibilitando identificar o trecho da postagem aqui verificada.

Ao utilizar o mecanismo de busca de imagens reversas TinEye, a reportagem confirmou que a foto usada na montagem retrata o ex-tesoureiro do PT e ex-deputado federal Paulo Ferreira. A imagem é exibida em matérias de diferentes veículos nos últimos anos. O Comprova entrevistou o ex-tesoureiro e procurou o diretório do PT no Rio Grande do Sul, a TV Atalaia e o autor da publicação. Os dois últimos não responderam.

Vídeo original foi modificado

O conteúdo aqui verificado foi manipulado a partir de uma reportagem postada no perfil da TV Atalaia no YouTube, em agosto de 2016. Nas imagens, Gilmar Carvalho, ex-apresentador do programa Cidade Alerta Sergipe, chama atenção dos espectadores para um áudio de um presidiário revoltado com o assassinato de uma mulher. As roupas, fala e movimentos do apresentador são os mesmos, o que atesta que houve edição e manipulação do material original:

 

 

 

O conteúdo adulterado utiliza apenas o início da reportagem original. Em seguida, um corte leva a uma tela com o padrão gráfico da emissora para a exibição de áudios. Neste momento, o áudio original é substituído por outra gravação. Há, ainda, a inserção da foto de Paulo Ferreira na tela:

 

 

 

 

Além da substituição, a voz da gravação é diferente da do ex-tesoureiro do PT; isso pode ser observado ao se comparar parte do áudio com trecho de entrevista concedida por Paulo Ferreira ao Comprova no dia 10 de maio de 2022:

 

Aqui você pode ouvir a íntegra da entrevista.

Paulo Ferreira e PT negam fala

Questionado pelo Comprova, Paulo Ferreira negou que seja a sua voz no áudio com ataques a igrejas. “A voz não é minha, a minha voz é característica, eu tenho um forte sotaque regional, o sotaque regional da voz é completamente diferente da minha. Então foi uma colagem, não sei se dá pra falar assim, que eles fizeram em cima de uma foto e um texto que eles inventaram”, afirma.

Além disso, declarou que a fala não condiz com a opinião dele. “Nunca, em qualquer momento da minha trajetória política, eu expressei esse conceito que a gravação acaba emitindo, de ataque às religiões. (…) Não é a minha voz, nem é o conteúdo que eu expresso e nem a minha opinião sobre o tema. Não tem conteúdo que se aproxime daquilo que eu penso”.

Paulo Ferreira diz que chegou a consultar se o material de fato havia sido veiculado pela emissora do Sergipe e a consultar advogados após identificar que se tratava de desinformação. “Mas tem uma dificuldade muito grande pra buscar a origem (…) Você não sabe onde foi feito, quem fez, só sabe que está na rede. Há uma dificuldade de identificação da origem da fraude, digamos assim, ou da fake news. Isso é uma característica da comunicação em rede contemporânea. A gente acaba sofrendo, não só eu, mas muita gente”, observa.

O diretório do PT no Rio Grande do Sul, estado pelo qual Paulo Ferreira foi deputado federal, também foi procurado pelo Comprova e emitiu nota afirmando que o vídeo é uma manipulação que associa uma voz desconhecida à imagem do ex-deputado, constituindo-se como “mais uma armação como tantas outras forjadas contra o PT, seus dirigentes e principalmente contra a sua militância”.

Sobre o conteúdo do áudio inserido na montagem, o PT-RS afirmou que a violência religiosa é uma prática combatida diariamente pelo partido, assim como a disseminação de desinformação: “O Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Rio Grande do Sul repudia veementemente o uso de notícias falsas, manipulações de áudios e de imagens”.

Quem é Paulo Ferreira

Paulo Adalberto Alves Ferreira é ex-deputado federal e ex-tesoureiro do PT, tendo assumido o cargo em 2005. Em 2016, teve a prisão preventiva decretada na Operação Custo Brasil, acusado de envolvimento em um esquema de fraudes em contratos do então Ministério do Planejamento.

No mesmo ano, quando custodiado, outra prisão preventiva foi decretada contra ele na Operação Abismo, no âmbito da Lava-Jato. Ele virou réu no processo que apurou supostas irregularidades nas obras do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (Cenpes), da Petrobras.

Em 2017, Moro autorizou a soltura do político gaúcho mediante pagamento de fiança, e o condenou em primeira instância. Em 2020, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) o absolveu pelos crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa ao considerar não haver provas de participação na denúncia.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. O vídeo falso atribui a um membro do PT áudio com potencial de prejudicar a isenta avaliação de eleitores em relação à candidatura de Lula nas eleições de 2022.

Comentários na postagem demonstram que usuários da rede social acreditam na veracidade do conteúdo. Uma usuária, por exemplo, afirma “eu era Lula até 1 segundo atrás agora tô repensando”, enquanto outro critica o áudio, escrevendo “como que esses cara quer mecher com Deus? com Deus ninguém se brinca amigo (sic)”.

Conteúdos desta natureza podem induzir a interpretações equivocadas da realidade e influenciar eleitores no momento da votação.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo já foi checado anteriormente por Aos Fatos e Estadão, em fevereiro deste ano, e por Boatos.org, em março de 2021. O Comprova já verificou outras postagens com desinformação envolvendo pré-candidatos à presidência, identificando como fora de contexto vídeo no TikTok em que Lula chama colaborador da Petrobras de corrupto, que um protesto de indígenas na Bahia era por melhoria na educação e não por verba para ato contra Bolsonaro e que vídeos antigos são usados para enganar sobre adesão a atos pró-Bolsonaro em 1º de Maio.

Eleições

Investigado por: 2022-05-10

É enganoso e está fora de contexto vídeo no TikTok em que Lula chama colaborador da Petrobras de corrupto

  • Enganoso
Enganoso
São enganosas as publicações no TikTok em que Lula aparece em uma reunião chamando um colaborador da Petrobras de corrupto. O Comprova apurou que, nesta ocasião, os comentários sobre o sindicalista fazem referência, segundo o ex-presidente, a uma narrativa mentirosa de seus opositores que classificavam o colaborador como petista e corrupto.

Conteúdo investigado: Vídeos no TikTok mostram Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato à presidência da República pelo Partido dos Trabalhadores (PT), dizendo que um sindicalista teve uma derrota no conselho da Petrobras por ser petista, sindicalista e corrupto.

Onde foi publicado: TikTok

Conclusão do Comprova: São enganosas as postagens que mostram o ex-presidente Lula falando que um trabalhador teve uma derrota na Petrobras por ser petista, sindicalista e corrupto. As imagens originais mostram que o político realmente falou isso, mas as falas estavam inseridas em contexto mais amplo. Segundo o ex-presidente, seus adversários políticos espalharam uma narrativa mentirosa sobre a Petrobras, associando os petistas à corrupção.

Os vídeos das publicações recortam a cena e mostram apenas Lula, quando as imagens originais indicam a presença de mais pessoas. As falas do ex-presidente ocorreram em março de 2022 durante encontro com coordenadores da Federação Única dos Petroleiros.

| Foto: Reprodução/Internet – Imagens mostram vídeos do TikTok (esq.) e original

O Comprova considera enganoso o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até o dia 10 de maio, a publicação verificada tinha mais de 525 mil visualizações, 1.947 comentários e 56.600 curtidas. Outro post alcançou mais de 268 mil visualizações, 1.163 comentários e 17.500 curtidas. Ambos foram compartilhados no TikTok.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com os autores das publicações, mas nenhum deles respondeu até a publicação desta verificação.

Como verificamos: Nos vídeos do TikTok, é possível enxergar uma bandeira vermelha com inscrições da Federação Única dos Petroleiros (FUP). Através de buscas na internet, o Comprova descobriu que a última reunião com o ex-presidente Lula na FUP ocorreu no dia 29 de março de 2022, em debate sobre preços dos combustíveis com especialistas e representantes de organizações sindicais.

Há notícias sobre o encontro no site da FUP. A deputada federal Gleisi Hoffmann, que aparece ao lado de Lula no vídeo, também estava presente na reunião de março. A reunião e algumas das falas do ex-presidente foram noticiadas por jornais, como o O Globo e Metrópoles.

O vídeo original do encontro está disponível no canal da TVT, emissora educativa outorgada à Fundação Sociedade Comunicação Cultura e Trabalho. Lula começa a discursar em 1:28:58. Com a imagem original, mais ampla, é possível ver outras pessoas na mesa enquanto o político fala. Além de Gleisi, há sindicalistas, petroleiros e políticos, como o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ) e o vereador Lindbergh Farias (PT).

O Comprova entrou em contato com a assessoria de imprensa do ex-presidente Lula, mas ela não respondeu até a publicação desta checagem.

Contexto do vídeo

O momento citado pelas postagens ocorre no tempo 1:33:15 no vídeo da TVT. Lula diz: “Esse moço aqui teve uma derrota enorme no conselho da Petrobras porque era petista, porque era sindicalista, porque era corrupto”. A fala é direcionada a Deyvid Souza Bacelar da Silva, coordenador da FUP e ex-conselheiro da Petrobras.

Os comentários estão inseridos em um contexto mais amplo. Segundos antes de se dirigir ao funcionário em questão, no momento 1:32:30 da gravação, o petista argumentou que há um duelo de narrativas sobre o petróleo brasileiro e os profissionais envolvidos na exploração do recurso.

“É preciso que a gente encontre uma narrativa. Eu estava vendo o discurso dos companheiros aqui. Nós precisamos, Gleisi, com a nossa assessoria, pegar esse discurso e construir uma narrativa. Porque a primeira coisa que eles fizeram para destruir a Petrobras foi contar todas as mentiras, que eles contaram a ponto dos trabalhadores da Petrobras, que têm orgulho dessa camisa laranja, muitas vezes não conseguirem entrar num restaurante porque eram chamados de ladrões. Esse moço aqui teve uma derrota enorme no conselho da Petrobras porque era petista, porque era sindicalista, porque era corrupto. Eles conseguiram construir na sociedade brasileira a ideia de que foi o roubo da Petrobras que permitiu a Petrobras ter prejuízo”, diz Lula.

Deyvid Bacelar

Os comentários do político são dirigidos a Deyvid Souza Bacelar da Silva. O homem atua como técnico de segurança e integra o quadro de funcionários da Petrobras desde 2006. Em fevereiro de 2015, foi eleito representante dos empregados no Conselho de Administração da empresa.

No dia 5 de abril de 2021, a estatal, através da Gerência Geral da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), aplicou punição disciplinar ao sindicalista, que ficou suspenso por 29 dias. Segundo a FUP, a justificativa dada pela estatal petrolífera foi a de que o trabalhador se envolveu e participou de uma greve na refinaria, o que fere o exercício legal do mandato sindical de Bacelar.

Para o Comprova, a Petrobras confirmou que Bacelar continua na empresa, no cargo de Técnico de Segurança, e encontra-se liberado de suas atividades para atuação direta nas entidades sindicais desde 2012. Sobre a punição disciplinar, a estatal não fez comentários.

Em nota, a federação afirma que o homem defendia direitos da categoria e estava “fazendo o enfrentamento necessário” para evitar privatizações no sistema da Petrobras. Após o episódio, Bacelar recebeu o apoio de diversas instituições sindicais e políticas, incluindo o PT.

Em relação a possíveis crimes de corrupção, o Comprova não encontrou nenhum processo envolvendo o nome de Deyvid Souza Bacelar da Silva. O sindicalista foi procurado, através das redes sociais, para esclarecer questões sobre sua atuação na Petrobras e ações criminais, mas não respondeu até a publicação desta checagem.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais.

O vídeo alvo desta verificação cita o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato à Presidência da República pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Além disso, as informações do vídeo fazem referência à empresa estatal Petrobras.

Conteúdos enganosos e que não mencionam o contexto completo das falas podem induzir a interpretações equivocadas da realidade e influenciar eleitores no momento da votação, o que é prejudicial ao processo democrático.

Outras checagens sobre o tema: Em verificações anteriores, o Comprova mostrou que pagamento de indenização à Justiça dos EUA não influenciou no preço da gasolina; que pessoas gritavam a favor de Lula, e não contra ele em vídeo na Sapucaí e que vídeos de manifestação contra Lula em Passo Fundo são de 2018.

Eleições

Investigado por: 2022-05-09

Jovem que faz sátira sobre militantes de esquerda não é filha da deputada Maria do Rosário

  • Falso
Falso
Menina que se apresenta como Fernanda Minazzi e faz convite para “maconhaço” é um personagem da humorista Rafaella Gappo, não a filha da deputada Maria do Rosário (PT-RS). Tanto a parlamentar quanto a atriz já desmentiram esse boato.

Conteúdo investigado: Vídeo antigo que voltou a circular nas redes sociais mostra uma “convocação” para um protesto denominado “maconhaço” em apoio ao ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na publicação, o autor diz que a mulher é filha da deputada federal Maria do Rosário (PT-RS).

Onde foi publicado: Facebook

Conclusão do Comprova: É falso um vídeo que circula no Facebook mostrando um quadro de humor como sendo declarações da filha da deputada Maria do Rosário. A pessoa no vídeo chama os seguidores para um “maconhaço” em favor do “nosso pai” Lula.

A jovem que protagoniza as imagens, no entanto, não é filha da deputada Maria do Rosário, mas uma personagem conhecida como Fernanda Minazzi ou Fê Minazzi, interpretada pela atriz Rafaella Gappo, que satiriza movimentos de esquerda. O parentesco foi negado pela protagonista das gravações e pela parlamentar.

O nome do personagem é uma ironia ao termo ‘feminazi’, usado, de forma pejorativa, para se referir a feministas radicais.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até o dia 9 de maio, uma das postagens tinha 448 interações e 273 compartilhamentos. Ao longo da verificação, outro post deixou de estar disponível publicamente ou foi excluído. O próprio Facebook colocou o aviso de informação falsa no vídeo.

O que diz o autor da publicação: Procurados pelo Comprova, por meio do messenger do Facebook, os dois autores das postagens não responderam aos questionamentos feitos.

Como verificamos: Por se tratar de um conteúdo antigo e que já viralizou em outras situações, o Comprova iniciou a apuração buscando checagens a respeito desses materiais e que já foram desmentidas por outras agências (Lupa, AFP Checamos e Aos Fatos).

Também entramos em contato com os dois perfis no Facebook que compartilharam o vídeo, mas nenhum deles respondeu ao Comprova.

Buscamos um posicionamento da deputada federal Maria do Rosário em suas redes sociais.

“Fe Minazi” satiriza militantes de esquerda e é personagem de atriz brasileira

Batizada como Fernanda Minazzi ou simplesmente “Fê Minazzi’ – um trocadilho com o termo “feminazi”, a moça que aparece nos vídeos divulgados nas redes sociais é, na verdade, uma personagem vivida pela atriz Rafaella Gappo. Nas esquetes publicadas no Youtube e Facebook e em que dá vida a “Fê”, a artista satiriza militantes de esquerda.

Ao contrário do que foi publicado nas redes sociais, ‘Fê’ não tem qualquer grau de parentesco com a deputada federal Maria do Rosário. Esta não é a primeira vez que ela é apontada como filha da parlamentar. A própria artista já desmentiu essa alegação.

O perfil utilizado por “Fê” no Facebook está sinalizado como fictício, o que demonstra que os conteúdos ali publicados são sátiras ou vídeos de humor. Na descrição, a personagem relata cursar Ciências Sociais na ‘UERJS’ – possível alusão à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) – e alega ser “uma pessoa homofóbica-fóbica, feminicida-cida e racista-cista”.

A publicação que voltou a viralizar nos últimos dias foi publicada originalmente em novembro de 2016. No conteúdo de humor, a personagem faz um convite a um “maconhaço”, que seria realizado “em favor do pai Lula e em favor da democracia”.

Em um segundo momento do conteúdo, a personagem ainda diz apoiar a jornalista Fátima Bernardes que, à época, era hostilizada nas redes sociais por causa de um debate promovido em seu programa. A polêmica serviu como pano de fundo para os conteúdos de “Fê Minazzi”.

Deputada volta a se manifestar e aponta “gabinete do ódio”

Tão logo os vídeos foram resgatados nas redes sociais, a deputada federal Maria do Rosário voltou a se manifestar a respeito do assunto e fez uma publicação em seu perfil no Instagram. A parlamentar demonstrou contrariedade com o conteúdo que, apesar de humorístico, na visão dela, se apresenta como um material “perverso e covarde”.

Em um vídeo de pouco mais de dois minutos, publicado em seu perfil pessoal, a deputada reiterou que a moça que aparece no conteúdo viral não é sua filha. Ainda no material, Maria do Rosário lamentou o fato de as mulheres que estão na política, frequentemente, receberem ataques contra seus familiares, como forma de lhes atingir pessoalmente.

“Ao longo de todos esses anos procurei sempre manter a política, a minha representação pública, longe da diferença pessoal. Mas, na verdade, principalmente nós mulheres somos atacadas naquilo que é mais importante para gente: a família, o cuidado, a atenção. Para me atingir, tentam atingir minha filha. Vejam bem, essa é uma fake news. Essa moça não é minha filha. O que ela diz eu não sei, eu nem conheço essa pessoa. É uma mentira”, declarou a petista.

“Admiro e amo [minha filha] acima de tudo. Gostaria de ter conseguido protegê-la disso aqui [mostrando o vídeo compartilhado nas redes sociais]. Porque toda fake news que atinge o filho de alguém só porque alguém é da política, ataca profundamente a família. E é engraçado porque essas pessoas se dizem defensoras da família. Jamais ataquei a família de ninguém. Então, poupem o Brasil desses ataques sórdidos. Vamos fazer política em alto nível. Os comitês e gabinetes do ódio não podem vencer”, concluiu a deputada.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. O vídeo alvo desta verificação usa um conteúdo humorístico, que satiriza militantes de esquerda, para alegar que a personagem é filha da deputada federal Maria do Rosário. Publicações enganosas que mencionam políticos e presidenciáveis – como é o caso do ex-presidente Lula, citado no conteúdo analisado – podem induzir interpretações equivocadas da realidade e influenciar eleitores no momento da votação, o que é prejudicial ao processo democrático.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo vídeo foi verificado por outras agências de checagem como a Aos Fatos, Lupa, O Estado de Minas e Estadão. Todos chegaram à conclusão de que os vídeos com conteúdos humorísticos foram retirados de contexto e usados para atacar a deputada Maria do Rosário e, indiretamente, o ex-presidente e pré-candidato à eleição Luiz Inácio Lula da Silva.

Saúde

Investigado por: 2022-05-09

Post tira documentos da Pfizer de contexto e engana ao sugerir que imunidade natural é suficiente para combater a covid-19

  • Enganoso
Enganoso
Documentos da Pfizer liberados pela agência americana FDA não afirmam que imunidade natural dispensa vacina; também não é verdade que vacinados correm mais risco de contraírem a covid, serem hospitalizados e morrerem da doença, ou que 26 mil americanos morreram por causa dos imunizantes contra a covid-19.

Conteúdo investigado: Sequência de tuítes que interpreta dados de vacina da Pfizer de forma equivocada e sugere, entre outras coisas, que imunizante é desnecessário diante da imunidade natural fornecida pelo coronavírus.

Onde foi publicado: Twitter e sites conhecidos por espalhar desinformação sobre vacinas – The Epoch Times e Mercola.com.

Conclusão do Comprova: É enganoso o conteúdo de uma sequência de postagens publicada no Twitter que tenta atacar as vacinas contra a covid-19 ao fazer referência, supostamente, a documentos da Pfizer que começaram a ser divulgados pela agência reguladora dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), a pedido de um grupo de médicos. Algumas das alegações contidas nos tuítes são verdadeiras, como o fato de que a imunidade natural funciona, mas o conteúdo mente ao sugerir que, por conta disso, a vacina é desnecessária. Especialistas ouvidos pelo Comprova listam razões pelas quais a vacina protege mais do que a infecção. Uma delas é o fato de que as vacinas têm uma quantidade fixa de antígenos, enquanto a infecção pode ter uma carga viral leve e com uma quantidade de antígenos pequena, o que reduz a resposta imune.

Além disso, os autores do conteúdo distorcem informações presentes nos documentos para tentar justificar uma narrativa mentirosa. É o que acontece quando utilizam os números absolutos – e não os relativos – de pessoas vacinadas e que se infectaram com a covid-19 para afirmar que elas têm três vezes mais chances de contraírem a doença. Isso acontece porque o número de pessoas vacinadas é cada vez maior e é natural que elas passem a ser mais numerosas do que as não vacinadas. Mas, mesmo que se infectem, as chances de morrerem pela doença são muito menores.

Os posts também erram ao utilizar números de reações adversas coletados pelo sistema norte-americano Vaccine Adverse Event Reporting System (VAERS), como se houvesse uma relação de causalidade já confirmada entre reações e a aplicação das vacinas, o que não é verdade. As pessoas são estimuladas a informar qualquer evento adverso após a aplicação de vacinas ao sistema do governo dos Estados Unidos, mas isso não significa que realmente houve uma relação de causalidade entre os episódios, conforme explicam especialistas ouvidos pelo Comprova.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. O post compartilhado no Twitter teve mais de 25,2 mil interações até a manhã de 9 de maio de 2022.

O que diz o autor da publicação: A autora do post no Twitter foi procurada, mas não respondeu até a publicação desta checagem.

Como verificamos: O conteúdo aqui verificado se baseia em um post feito pelo The Epoch Times, site antes ligado a um movimento religioso chinês, mas que se transformou em uma potência pró-Donald Trump e no qual frequentemente são publicados textos recheados de desinformação.

O texto publicado no The Epoch Times no dia 14 de abril de 2022 foi retirado de outra postagem, feita no mesmo dia pelo site Mercola.com, mantido pelo médico Joseph Mercola, conhecido propagador de desinformação sobre a covid-19 na internet. O material original faz referência a uma nova leva, do dia 1º de abril, de 11 mil páginas de documentos relacionados à vacina da Pfizer contra a covid-19, liberados pela FDA após a agência perder uma ação na justiça contra um grupo de médicos.

Primeiro, o Comprova buscou referências entre os documentos liberados no dia 1º de abril que tratassem dos mesmos assuntos citados no post viral. Pelo menos dois documentos falam sobre dados de efeitos adversos e imunidade. A reportagem, então, pediu que especialistas na área analisassem tanto os documentos originais quanto os posts virais.

Foram ouvidos o epidemiologista Pedro Hallal, professor titular do curso de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), o médico geneticista Salmo Raskin, presidente do Departamento Científico de Genética da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), e a biomédica, neurocientista e divulgadora científica Mellanie Fontes-Dutra, que coordena a Rede Análise Covid-19.

Também foram procuradas a Pfizer, a FDA e a autora do conteúdo viral aqui verificado. Nenhuma respondeu até o fechamento desta checagem.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 09 de maio de 2022.

Imunidade natural

O texto publicado pelos dois sites e compartilhado por uma usuária do Twitter diz que a imunidade natural funciona e que a Pfizer sempre soube disso. Isso é verdade e está longe de ser uma exclusividade da covid-19. Contudo, não significa, como sugerem os conteúdos aqui verificados, que a vacina não seja necessária e que a imunidade natural seja suficiente.

“Não só a Pfizer, mas todos na área médica sabem há décadas que ocorre imunidade parcial por infecção natural. Mas, para que isto ocorra, a pessoa corre risco de morte pela covid, enquanto as vacinas conferem maior imunidade sem risco de morte. Se a imunidade natural fosse tão eficiente para proteger da covid-19 não ocorreriam reinfecções. Neste momento, pessoas infectadas pela Ômicron BA.1 estão se infectando pela Ômicron BA.2”, exemplifica o médico geneticista Salmo Raskin.

Ele cita dados do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), os quais apontam que pessoas que se curaram da covid-19 e não se vacinaram tiveram cinco vezes mais chances de se reinfectarem do que outras, nunca infectadas, mas duplamente imunizadas.

“Neste momento, ao menos 35% dos brasileiros ainda não estão plenamente vacinados. Oficialmente, um em cada dez já tiveram covid-19, mas o número real é ainda maior. Existe um tabu de que quem se infecta pelo coronavírus já adquiriu imunidade. Portanto, é importante neste momento esclarecer que nem toda infecção protege mais do que as vacinas”, diz o médico.

Raskin lista pelo menos dez motivos pelos quais mesmo as pessoas que já tiveram covid-19 devem se vacinar. Um deles é que a proteção adquirida pela infecção é menos previsível do que a gerada pela vacina e mais de um terço das infecções por coronavírus não resultam em anticorpos protetores. “A vacina tem quantidade fixa de antígenos. Na infecção, principalmente em jovens, a carga viral pode ser muito leve, com pouca apresentação de antígenos, e consequente menor resposta imune de memória”, diz.

A biomédica Mellanie Fontes-Dutra reforça: “A grande questão da imunidade natural é que ela é muito variada. Tem gente que faz uma resposta boa, tem gente que não faz uma resposta potente o suficiente para gerar memória imunológica. No cenário atual, cada vez mais vemos que o reforço é importante, especialmente em quem se recuperou, considerando as variantes. A resposta vacinal é muito abrangente, inclusive para as sub-linhagens da Ômicron que estão surgindo (BA.4, BA.5…). No entanto, recuperados sem vacinação têm risco de reinfecção justamente pela pouca abrangência que se observa na resposta que alguns podem elaborar”, diz.

Uma pesquisa recente conduzida pela matemática Christina Pagel, diretora da Unidade de Pesquisa Operacional Clínica da University College London, mostra como apenas uma infecção prévia pelo coronavírus, sem vacinação, pode não ser suficiente para evitar infecção pelas novas linhagens da variante Ômicron.

Outra razão para tomar a vacina mesmo para quem já teve covid, segundo Raskin, é que a imunidade natural desaparece mais rápido do que a imunidade da vacina. Ele ainda cita que o coronavírus tem mecanismos para escapar das nossas defesas e até atrapalha a resposta imune em alguns casos. A proteção da vacina contra variantes, especialmente a Delta, é melhor do que a proteção natural.

“Justamente em pessoas previamente infectadas pelo coronavírus, a vacina atua ainda melhor, pois aumenta o número de linfócitos B maduros, células de vida longa e treinadas para responder rapidamente a uma segunda exposição ao mesmo antígeno”, diz Raskin. Ele também destaca que a ampla cobertura vacinal em um lugar tende a dificultar o acúmulo de mutações e o surgimento de novas variantes. Além disso, o risco de covid longa parece ser menor em pessoas vacinadas e aqueles que se infectam e têm um esquema completo de vacinação correm menos risco do que os que tomaram apenas uma dose.

“Hoje, sabemos que há uma ordem crescente de proteção para covid-19”, afirma Raskin. Os não vacinados são os provavelmente desprotegidos. Entre os protegidos, aqueles que tiveram uma infecção assintomática ou leve têm o menor nível de proteção. Um pouco mais protegidos do que estes estão os que foram infectados com covid moderada ou grave, e acima deles, os vacinados plenamente com curto intervalo entre doses. Quem se vacinou plenamente com intervalo estendido entre doses tem um pouco mais de proteção, mas está abaixo dos que se infectaram com a covid e em seguida se vacinaram. Os mais protegidos seriam os plenamente vacinados e que depois se infectaram com a covid. “Mas, para atingir a ‘imunidade híbrida’ (infecção seguida de vacinação), a pessoa se arriscou a morrer de covid-19! Claro que ninguém quer arriscar, principalmente quem já passou por esta doença terrível”, explica o médico.

Enfraquecimento temporário do sistema imunológico?

O conteúdo verificado faz parecer que uma diminuição transitória dos linfócitos, chamada no texto de forma equivocada de “enfraquecimento temporário do sistema imune”, seria um problema detectado na vacina da Pfizer e que foi ignorado pelo FDA e pela grande mídia. Na verdade, esse comportamento do sistema imune é esperado e até desejado.

“Este fato é conhecido em todas as vacinas e não tem nenhuma repercussão clínica. Assim que uma vacina (antígeno/corpo estranho) é aplicada, é natural, esperado e desejado que parte da defesa imunológica do corpo seja focada na defesa deste antígeno, sem qualquer consequência para nosso sistema imunológico como um todo”, explica Salmo Raskin.

A tese de que a vacina da Pfizer enfraquecia o sistema imunológico, e até poderia fazer com que as pessoas vacinadas morressem por conta de outras doenças, se espalhou em setembro do ano passado e foi desmentida já naquela época pela equipe do Deutsche Welle (DW). O médico e pesquisador holandês Mihai Netea, um dos autores do estudo que mostrou justamente o mecanismo citado aqui por Salmo Raskin, disse que a alegação de que a vacina enfraquecia o sistema imunológico era falsa. “Em nosso estudo não obtivemos nenhum dado clínico que nos permita dizer que a vacina enfraqueça o sistema imunológico e que os inoculados sejam mais suscetíveis a infecções e outras doenças”, disse.

Vacinados têm mais chance de ter covid-19 e morrer da doença?

Com o avanço da vacinação, os números totais de vacinados, casos e mortes pela doença não podem ser comparados sem a sua proporcionalidade. O professor em epidemiologia, Pedro Hallal, explica que como existem muito mais pessoas vacinadas do que não vacinadas também existem muito mais pessoas vacinadas contaminadas com covid.

“Quando você pega o número absoluto de contaminados você verá que existem três vezes mais pessoas vacinadas contaminadas do que as não vacinadas. Mas se você analisar os números proporcionais é exatamente o contrário. Não faz o menor sentido fazer essa comparação pelos números absolutos. Existem mais pessoas vacinadas e essas pessoas têm menos chance de se contaminar e de sofrer as consequências disso e é isso que os estudos mostram”.

Para Salmo Raskin, a alegação do post aqui verificado não faz qualquer sentido. “Esta é a mais bizarra das afirmações porque não existe a mínima dúvida que as vacinas salvaram milhões de vidas. Claro que se você tem 100% de uma população vacinada e mesmo assim algumas pessoas podem morrer de covid, você pode confundir as pessoas dizendo que ‘os mais vacinados estão mais propensos a morrer de covid’”, aponta.

Eventos adversos mostram que a vacinação em massa é irresponsável?

A Pfizer enviou 126.212.580 doses de sua vacina contra a covid-19 para todo o mundo entre 1º de dezembro de 2020 e 28 fevereiro de 2021, segundo os documentos divulgados pela FDA. A maior parte dos casos de efeitos adversos aconteceu nos Estados Unidos, onde eles devem ser notificados ao VAERS.

Um documento de abril de 2021 que consta do rol daqueles que foram disponibilizados em 1º de abril pela FDA mostra uma série de dados sobre efeitos adversos à vacina da Pfizer, inclusive os citados no tuíte, mas faz um alerta: os relatos de acontecimentos adversos não indicam, necessariamente, que a vacina foi a causa do evento. Ele pode estar relacionado a algum outro fator, como histórico médico ou medicação concomitante.

“A base de dados de segurança da Pfizer contém casos de efeitos adversos reportados espontaneamente à Pfizer, casos relatados pelas autoridades de saúde, casos publicados na literatura médica, casos de programas de marketing patrocinados pela Pfizer, estudos não-intervencionais, e casos de efeitos adversos sérios relatados de estudos clínicos, independentemente da avaliação da causalidade”, diz o documento. A conclusão do relatório foi de que “os dados não revelam quaisquer preocupações ou riscos de segurança novos que exijam alterações de rótulos e apoiam um perfil de risco-benefício favorável para a vacina BNT162b2”.

Os dados de efeitos adversos relatados não devem ser contabilizados necessariamente como reações às vacinas porque as pessoas são estimuladas a relatar qualquer evento pós-vacinação, e isso não significa que haja uma relação de causalidade. Pode ser apenas uma associação temporal, como explica Mellanie Fontes-Dutra.

“O VAERS foi estabelecido em 1990, é um sistema nacional de alerta precoce para detectar possíveis problemas de segurança em vacinas licenciadas nos EUA. Ele não foi projetado para determinar se uma vacina causou um problema de saúde, mas é especialmente útil para monitoramento e ajuda muito em assegurar que as vacinas seguem cumprindo seu papel na segurança”, afirma.

Ela aponta, ainda, que a maior parte dos eventos adversos pós-vacina são decorrentes de erros na hora de aplicar, e não da vacinação em si, e por isso o treinamento das equipes é tão importante. Esses erros são relatados pela própria Pfizer no documento sobre reações adversas e listados como envenenamento acidental, erro de utilização do produto, uso de dispositivo contra-indicado, erro de cálculo da dose, exposição via contato direto com a pele, mucosa ou ocular, técnica asséptica inadequada, utilização múltipla do produto que deveria ser de utilização única, etc. Estados Unidos, França e Reino Unido foram os países com maior incidência de reações por erro na hora de aplicar.

Outra informação enganosa sobre as reações adversas é que elas são graves em pessoas de 18 a 55 anos. “Coincidentemente, é a população que não é idosa. Os idosos sofrem de imunosenescência, há uma queda na performance do sistema imunológico. Então, o relato de eventos adversos, de qualquer natureza, é mais frequente em quem tem um sistema imunológico bem responsivo. A questão é: esses eventos são leves, graves? Mesmo nessa população, os eventos mais graves são raríssimos. E em geral, a vasta maioria dos eventos adversos (que são leves-moderados) são autolimitados e se resolvem em poucos dias”, diz a pesquisadora.

Mortes por vacina nos Estados Unidos?

O post aqui verificado ainda afirma que até 25 de março de 2022 foram reportadas 26.396 mortes relacionadas às vacinas contra a covid-19 nos Estados Unidos. Os dados do CDC e do próprio VAERS, contudo, desmentem o post. De acordo com o CDC, foram reportados preliminarmente ao sistema VAERS 14.468 óbitos de pessoas que receberam vacinas contra a covid-19 nos Estados Unidos entre 14 de dezembro de 2020 e 2 de maio de 2022.

Assim, como as demais reações adversas, os dados relatados ao VAERS não podem, por si só, provar que a vacina causou o problema. “O VAERS aceita e analisa relatórios de possíveis problemas de saúde – também chamados de ‘eventos adversos’ – após a vacinação. Como um sistema de alerta precoce, o VAERS não pode provar que uma vacina causou um problema. Especificamente, um relatório ao VAERS não significa que uma vacina causou um evento adverso”, diz o próprio sistema.

Entre as limitações dos relatórios está o fato de que as reações podem ser relatadas por qualquer pessoa e muitas vezes os dados são incompletos, carecem de detalhes e até contêm erros.

Os relatos feitos ao VAERS são revisados por profissionais da FDA e do CDC, incluindo análises de autópsias, registros médicos e atestados de óbito. Até o momento, o monitoramento contínuo do órgão identificou nove mortes ligadas à vacina da Janssen, nenhuma ligada ao imunizante da Pfizer.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet e estão relacionados às eleições presidenciais deste ano, à realização de obras públicas e à pandemia da covid-19. Neste caso, a postagem verificada distorce dados de modo que a interpretação deles seja diferente da intenção do autor e até da realidade, o que contribui para desacreditar a população sobre a eficácia e segurança das vacinas contra a covid-19, aprovadas por agências de vigilância ao redor do mundo.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já investigou outros conteúdos cuja intenção era desacreditar as vacinas, como este, que também manipulou dados da Pfizer para dizer que a farmacêutica sabia que a vacina mataria pessoas. Também mostramos que as vacinas de mRNA não são terapia genética e não causam covid.

Eleições

Investigado por: 2022-05-06

Publicação tira de contexto declarações de Djavan para atacar a Lei Rouanet

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa uma postagem que sugere apoio do cantor e compositor Djavan ao governo de Jair Bolsonaro (PL) e reprovação, por parte do artista, ao mecanismo da Lei Rouanet. A publicação manipula e tira de contexto declarações dadas por Djavan em duas entrevistas.

Conteúdo investigado: Um post no Facebook fala que Djavan teria dito que nunca usou recursos da Lei Rouanet porque é “um dinheiro que pode ser melhor aplicado”. Também afirma que o artista teria dito estar “esperançoso com o governo Bolsonaro”.

Onde foi publicado: Facebook

Conclusão do Comprova: O cantor e compositor Djavan teve declarações distorcidas por uma postagem enganosa que voltou a viralizar recentemente na internet. A publicação usa trechos de duas entrevistas concedidas pelo artista no fim de 2018.

Em uma das declarações, ele se refere à Lei Rouanet. Djavan afirma que nunca captou recursos por meio da Lei e diz acreditar que ele, particularmente, não deva usar um dinheiro que possa ser melhor aproveitado.

A postagem reproduz a declaração fielmente, porém omite a sequência em que Djavan afirma ser a favor da existência da Lei Rouanet, para benefício de outros artistas. O post ainda sugere apoio do artista a Bolsonaro ao reproduzir, na mesma imagem montada com a foto de Djavan, outra suposta declaração: “Estou muito esperançoso com o governo Bolsonaro. O Brasil vai dar certo”.

A frase foi manipulada com a inserção das palavras “governo Bolsonaro”, que não fizeram parte da fala do cantor. Por conta das postagens, o artista veio a público duas vezes para desmenti-las.

Para o Comprova, é enganoso o conteúdo que retira declarações de contexto com o objetivo de sugerir interpretação diversa da realidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. A postagem analisada teve ao menos 3,8 mil reações

O que diz o autor da publicação: O Comprova encaminhou mensagem, via Facebook, à pessoa responsável pela postagem, mas não obteve resposta até o fechamento desta verificação.

Como verificamos: Inicialmente, o Comprova fez buscas no Google com os termos das falas de Djavan. A pesquisa levou à entrevista publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, em 21 de novembro de 2018. Os resultados também trouxeram matérias em sites (GaúchaZH, Revista Forum) que repercutiram o trecho de uma outra entrevista que também foi utilizado no material enganoso.

Outras pesquisas online foram feitas na tentativa de identificar posicionamentos do artista sobre política. A equipe localizou duas postagens de Djavan desmentindo o apoio a Bolsonaro e uma entrevista à TV portuguesa em que ele faz críticas ao atual governo.

O Comprova também buscou contato com a assessoria do artista e com a pessoa que fez a postagem enganosa na internet. Não houve retorno nas duas ocasiões.

 

Djavan sobre a Lei Rouanet

O post alega que Djavan teria dito que “nunca usou e nunca vai usar” dinheiro captado por meio da Lei Rouanet. O artista também teria dito que já rejeitou convites para fazer shows públicos bancados por prefeituras. “Quem vai pagar? Se é o povo eu não quero. Rejeitei muitos convites. Eu nunca usei porque não preciso e não acho que eu deva usar um dinheiro que pode ser melhor aplicado.”

A frase realmente foi dita pelo cantor durante uma entrevista para o jornal Folha de S. Paulo, em 2018. No entanto, o post não traz a íntegra da resposta. Djavan defendeu a importância da Lei Rouanet como política pública para o setor cultural e se absteve de criticar outros artistas que façam uso dela.

“Acho que tem muita gente que precisa ser ajudada pela Lei Rouanet”, ressaltou o cantor. “O Brasil é enorme, precisa de cultura em todos os quadrantes. O povo precisa usufruir disso. Faz sentido. Não reclamo de quem usa. Eu é que peguei para mim a coisa de não recorrer à Lei Rouanet.”

As mensagens de resposta ao post mostram que ele confunde os usuários sobre o sentido real do posicionamento do cantor. Eles acreditam que Djavan estaria criticando a Lei Rouanet como um todo, e não apenas sua utilização em projetos próprios. “Vagabundos fingem que trabalham pois quase não têm público e vivem às custas de dinheiro público”, disse um usuário. Outro escreveu que “Djavan é um produtor de cultura de verdade, não iria manchar a sua carreira sendo um parasita dependente de dinheiro público”.

Suposto apoio a Bolsonaro não procede

Djavan lançou seu mais recente disco, “Vesúvio”, em novembro de 2018, cerca de um mês após a eleição de Jair Bolsonaro para a presidência da República. Já que uma música do álbum, “Solitude”, tratava de temas sociais, e como as eleições ainda eram recentes, Djavan foi instado a falar sobre política.

Uma das entrevistas teve trecho postado em dois canais do YouTube, em 31 de dezembro de 2018 e 1 de janeiro de 2019. Nessas mesmas datas, o trecho foi repercutido em portais na internet (LeiaJa, Gaúcha ZH, Revista Forum), com afirmações de que Djavan se referia a Jair Bolsonaro ao declarar:

“Eu tenho uma esperança que o Brasil vai dar certo, em algum momento. Tudo o que está começando a acontecer agora aponta para um futuro melhor. A gente não pode garantir, porque o governo ainda não está atuando, está apenas se formando, mas eu estou esperançoso”.

A postagem aqui verificada manipula a declaração e inclui “governo Bolsonaro” em uma das frases ditas por Djavan, que não cita o nome do presidente no trecho da entrevista. Enganosamente, a postagem repercute a frase “Estou muito esperançoso com o governo Bolsonaro. O Brasil vai dar certo”.

Ainda no dia 1º de janeiro de 2019, Djavan publicou uma primeira nota desmentindo a afirmação em sua página no Facebook:

O segundo veio em junho de 2021. Nele, Djavan afirma: “Eu não apoio Bolsonaro” e “Eu NÃO votei no Bolsonaro e NÃO apoio o seu governo”.

Em novembro de 2019, após praticamente um ano do governo Bolsonaro, Djavan deu uma entrevista à emissora portuguesa Canal Antena 1. Na ocasião, criticou o governo: “Eu acho que o futuro do Brasil, se depender deste governo, pelo que se tem apresentado até agora, não é bom”. (Trecho em 2’30).

Na entrevista, Djavan também fez críticas à atuação do governo em relação à preservação da Amazônia. (Trecho a partir de 3’18).

Bolsonaro e a cultura

O conteúdo checado foi publicado em um grupo do Facebook de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, que fez ataques à classe artística desde a campanha. Em 2020, cerca de 400 projetos perderam R$ 500 milhões já captados, que haviam sido aprovados pela área técnica do governo. Faltava apenas a assinatura do secretário Nacional de Fomento à Cultura, André Porciúncula.

Em 2021, o Executivo publicou um decreto fazendo alterações na aplicação da Lei Rouanet. Entre elas, aumentou o poder de decisão do governo na Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC), que decide os projetos aptos a captar recursos, e reduziu o teto dos incentivos fiscais por projeto e os valores pagos a artistas.

Nesta quinta-feira (5), Bolsonaro vetou integralmente a Lei Aldir Blanc 2, de apoio à Cultura. No mês anterior, vetou o projeto da Lei Paulo Gustavo, que repassaria R$ 3,8 bilhões à Cultura.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos sobre pandemia, eleições e políticas públicas que atinjam grau de viralização nas redes sociais. A Lei Rouanet é o principal mecanismo de fomento à cultura no país e é importante que os cidadãos tenham informações confiáveis sobre ele.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente, o Comprova mostrou ser falso que o Zeca Pagodinho ganhou milhões de reais com a Lei Rouanet. Também desmentiu que um museu estaria usando dinheiro público para exibir pornografia infantil.

O Boatos.org também classificou como enganoso o post que atribui a Djavan elogios ao presidente Jair Bolsonaro.

Eleições

Investigado por: 2022-05-05

Protesto de indígenas na Bahia era por melhoria na educação e não por verba para ato contra Bolsonaro

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Enganoso
É enganosa a publicação que alega que um grupo de indígenas cobrou dinheiro do Partido dos Trabalhadores (PT) pela realização de uma passeata contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), em Porto Seguro, na Bahia. O grupo, na realidade, reivindicava ações em favor da educação escolar indígena e o ato fez parte do 4º Acampamento dos Povos Indígenas da Bahia, que ocorreu em Salvador entre os dias 25 e 29 de abril.

Conteúdo investigado: Vídeo de cerca de dois minutos que circula nas redes sociais mostra protesto de indígenas em frente ao Centro Administrativo da Bahia (CAB), em Salvador. A legenda insinua que o grupo foi ao local cobrar dinheiro que teria sido prometido pelo governo baiano para que eles participassem de manifestação contra o presidente Bolsonaro em Porto Seguro, quatro dias antes.

Onde foi publicado: Facebook e Twitter.

Conclusão do Comprova: Posts no Facebook e Twitter enganam sobre o objetivo de uma manifestação indígena realizada em 26 de abril, em frente ao CAB, complexo público no qual está localizada parte considerável das secretarias e órgãos do Governo da Bahia. As postagens trazem um vídeo do ato e afirmam que os indígenas estariam cobrando dinheiro prometido pelo governo estadual do PT para a realização de uma passeata contra o presidente Bolsonaro.

Na verdade, o grupo reivindicava ações em favor da educação escolar indígena. O protesto aconteceu em Salvador e fazia parte do 4º Acampamento dos Povos Indígenas da Bahia, realizado na capital entre os dias 25 e 29 de abril.

O encontro é organizado pelo Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba) e, este ano, promoveu o debate a respeito de questões territoriais, violência contra indígenas e acesso à saúde e à educação.

Quatro dias antes desse ato, outro protesto ocorreu em Porto Seguro, quando o presidente Bolsonaro estava na cidade para as comemorações de 22 de abril. Esta manifestação foi motivada pelo que os indígenas dizem ser o sucateamento da Fundação Nacional do Índio (Funai), pela invasão e pela falta de demarcação de terras indígenas.

Ao Comprova, a assessoria do PT da Bahia afirmou que o partido não participou nem organizou o protesto dos povos indígenas em Porto Seguro.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. No Twitter, até o dia 5 de maio, o vídeo teve 5,8 mil interações. Já no Facebook, que classificou o conteúdo como informação falsa, a publicação gerou 116 interações.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o autor do post pelo Twitter e aguarda o retorno. O perfil que publicou o conteúdo no Facebook foi procurado por e-mail e WhatsApp, mas não houve retorno até o fechamento desta verificação.

Como verificamos: O Comprova buscou, em sites e nas redes sociais, outras publicações que traziam vídeos da manifestação feitos em ângulos diferentes deste aqui verificado. A pesquisa levou a reportagens de veículos jornalísticos, como o G1, ao site do governo baiano e da Assembleia Legislativa da Bahia, com informações que coincidiram e esclareceram o contexto do ato.

O mesmo foi feito em relação ao protesto de grupos indígenas contra Bolsonaro em Porto Seguro. A fim de checar a motivação e as circunstâncias do ato, foram consultadas reportagens do Mídia Ninja, Hora do Povo, G1 e Giro Ibirataia, além de vídeos compartilhados no Instagram e no Twitter (1, 2, 3, 4, 5, 6).

O local do protesto em Salvador foi confirmado através de uma comparação entre trechos do vídeo aqui verificado, uma publicação no Facebook feita pelo Mupoiba e uma imagem do Google Maps do endereço do CAB. As imagens mostram os mesmos elementos: uma placa vermelha próxima a uma placa de pare, três bandeiras e uma estrutura cinza (este último não aparece no vídeo do Mupoiba).

| Captura de tela do minuto 1:28 do vídeo verificado pelo Comprova.

| Captura de tela da imagem do endereço do CAB no Google Maps. Disponível aqui 

| Captura de tela do minuto 0:07 do vídeo publicado pelo Mupoiba no Facebook.

Já para comprovar que Bolsonaro esteve em Porto Seguro na referida data, foram consultadas matérias do site do governo federal e da imprensa, assim como a agenda oficial do presidente.

A assessoria de imprensa do PT da Bahia foi procurada, assim como um dos manifestantes indígenas que aparece no protesto em Porto Seguro. Este último não respondeu até o fechamento desta publicação.

 

Indígenas protestavam para cobrar demandas educacionais

Ao contrário do que afirma o post verificado, indígenas não cobraram pagamentos do PT por passeata contra Bolsonaro em manifestação que ocorreu no dia 26 de abril em frente ao Centro Administrativo da Bahia (CAB), na cidade de Salvador. A informação foi desmentida pelo governo baiano.

O ato, na verdade, fez parte do 4º Acampamento dos Povos Indígenas da Bahia, realizado na capital entre os dias 25 e 29 de abril deste ano. A iniciativa é promovida pelo Mupoiba e tem como objetivo criar um espaço de diálogo entre as populações originárias e os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do Estado.

Em uma publicação no Facebook, o Mupoiba criticou a reação violenta da polícia e agentes de segurança com os cerca de 300 indígenas que participaram do ato e assegurou que o objetivo do protesto era cobrar demandas relacionadas à educação, como a construção de escolas e transportes escolares.

Protesto contra Bolsonaro em Porto Seguro (BA) ocorreu quatro dias antes

No dia 22 de abril deste ano, Bolsonaro esteve em Porto Seguro para participar de eventos em homenagem aos 522 anos da chegada dos portugueses ao Brasil. A visita consta na agenda oficial do presidente, que registrou a viagem no Twitter.

Como noticiado pelo G1, no mesmo dia, pela manhã, indígenas de 15 aldeias pataxós fizeram um protesto pelas ruas de Porto Seguro motivado pelo sucateamento da Fundação Nacional do Índio (Funai), pela invasão de terras indígenas e a não demarcação de terras.

Em vídeos postados na internet sobre a manifestação, eles criticam o atual governo e empunham cartazes “Fora Bolsonaro”.

Durante o ato, que teve participação de cerca de 200 indígenas, os manifestantes pintaram com tinta vermelha uma estátua de Pedro Álvares Cabral, localizada no centro histórico da cidade.

A manifestação também foi noticiada pelo site Hora do Povo, que mostrou um vídeo do momento em que os indígenas entraram na área destinada ao discurso de Bolsonaro.

Já o portal local Radar 64 publicou matéria anterior à realização do evento, informando que, além dos povos originários, sindicatos, partidos políticos e entidades populares iriam se manifestar contra os escândalos de corrupção no MEC, as “rachadinhas” e o aumento de preços dos alimentos e combustíveis. Os indígenas teriam pauta de reivindicações próprias.

Nenhum dos diversos vídeos do protesto dos indígenas publicados nas redes sociais (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7) mostra bandeiras de partidos políticos ou centrais sindicais.

Procurada pelo Comprova, a assessoria do PT da Bahia afirmou que o partido não participou nem organizou o protesto dos povos indígenas em Porto Seguro.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. O vídeo alvo desta verificação cita o presidente Jair Bolsonaro, provável candidato à reeleição, e o PT, partido de outro pré-candidato ao Planalto. Publicações enganosas que mencionam presidenciáveis podem induzir interpretações equivocadas da realidade e influenciar eleitores no momento da votação, o que é prejudicial ao processo democrático.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo vídeo foi verificado por outras agências de checagem como a Lupa e a Aos Fatos, além do site Boatos.org. Todos chegaram à conclusão de que não se tratava de uma manifestação para cobrar suposto dinheiro prometido na passeata contra Bolsonaro, em Porto Seguro.

Em verificações anteriores, o Comprova mostrou que pessoas gritavam a favor de Lula, e não contra ele em vídeo na Sapucaí; que vídeos de manifestação contra Lula em Passo Fundo são de 2018; que é enganosa postagem afirmando que lançamento da campanha de Bolsonaro reuniu multidão em Brasília e que vídeo de abordagem da PM a torcedores do Sport não tem relação com Lula.

Eleições

Investigado por: 2022-05-04

Vídeos antigos são usados para enganar sobre adesão a atos pró-Bolsonaro em 1º de Maio

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Enganoso
São enganosas publicações nas redes sociais que mostram vídeos de manifestações de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) em São Paulo, Rio de Janeiro e em Brasília, dando a entender que os atos ocorreram em 1° de maio deste ano com a intenção de questionar a credibilidade de pesquisas eleitorais, que mostram uma menor popularidade de Bolsonaro. Na verdade, as gravações foram feitas nos atos de 7 de setembro de 2021.

Conteúdo investigado: Vídeos mostram milhares de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) em atos na Avenida Paulista, em São Paulo, em Copacabana, no Rio de Janeiro, e na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. As publicações dão a entender que as gravações foram feitas em 1° de maio deste ano. “1° de maio dia do trabalho, o povo brasileiro saiu às ruas para mostrar de qual lado ele está!”, diz a legenda de uma delas.

Onde foi publicado: Facebook, Instagram, Kwai e Twitter.

Conclusão do Comprova: São enganosas postagens que mostram vídeos de manifestações de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e dão a entender que os atos ocorreram em 1º de maio de 2022, no Dia do Trabalhador. Um dos vídeos mostra uma manifestação com milhares de pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo, outra em Copacabana, no Rio de Janeiro, e outra na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Os vídeos foram originalmente gravados nos atos convocados pelo presidente Bolsonaro em 7 de setembro de 2021, no Dia da Independência do Brasil.

No dia 1° de maio de 2022 também houve manifestações pró-Bolsonaro, porém, com menos pessoas do que os atos do feriado da Independência, como repercutido pela imprensa.

Enganoso para o Comprova é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Em dois posts diferentes no Kwai, o vídeo com imagens do Rio de Janeiro teve 78,9 mil e 130,9 mil visualizações até 4 de maio. No Facebook, uma das postagens com este vídeo tinha 5,5 mil curtidas, 936 comentários e 44 mil visualizações. Outra tinha 10 mil compartilhamentos. Até a mesma data, no Facebook, uma publicação referente ao protesto realizado na Avenida Paulista tinha 1 mil curtidas, 242 comentários e 1,8 mil compartilhamentos e a outra chegou a 7,7 mil curtidas e 3,3 mil compartilhamentos. Juntos, os posts somam mais de 226 mil interações.

O que diz o autor da publicação: O Comprova fez contato, mas não obteve retorno dos autores dos posts até a publicação desta reportagem.

Como verificamos: Para começar, o Comprova procurou pelos vídeos nas redes sociais, o que nos levou até a publicação do assessor especial para Assuntos Internacionais do Presidente da República, Filipe Martins, no Twitter em 7 de setembro, com o vídeo de São Paulo. Para encontrar o vídeo de Brasília, procuramos no Google publicações sobre o caminhão com a bandeira do Brasil, que é visto no centro do vídeo. Por meio da busca, encontramos o perfil do dono do caminhão que tem o mesmo vídeo salvo nos destaques do Instagram. Nas buscas, usamos palavras-chave como “São Paulo”, “manifestação”, “Bolsonaro”, “7 de setembro”, “avenida paulista”, “Brasília”, “Esplanada dos Ministérios”, “caminhão”, “bandeira do Brasil”. O vídeo do Rio de Janeiro, compartilhado no Facebook, tem a logo do perfil do Kwai que postou o vídeo com a data original de 7 de setembro.

 

Vídeos não são do Dia do Trabalhador

As gravações atribuídas ao Dia do Trabalhador podem ser encontradas circulando na internet desde 7 de setembro de 2021, quando o presidente Jair Bolsonaro convocou atos em apoio ao governo pelo país. Só em São Paulo, a Secretaria de Segurança Pública do estado estima que mais de 125 mil pessoas participaram daquele ato. Números extraoficiais da Polícia Militar do Distrito Federal apontaram que havia pelo menos 400 mil pessoas na manifestação de Brasília. O Rio de Janeiro não apresentou estimativa de público.

São Paulo

O vídeo que mostra a Avenida Paulista foi compartilhado no Twitter pelo assessor especial para Assuntos Internacionais do Presidente da República, Filipe Martins, em 7 de setembro do ano passado.

Em um vídeo publicado pelo UOL, também é possível ver que os manifestantes estenderam uma longa faixa verde e amarela, como a que aparece no vídeo enganoso, que também pode ser observada em outras gravações feitas no Dia da Independência. 

| Frame de video publicado pelo UOL mostrando a faixa verde e amarela

| Vídeo enganoso

Brasília

Já no vídeo que mostra a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, uma das pessoas que aparece na filmagem narra que é “7 de setembro, 10h30 da manhã”.

Além disso, no vídeo, é possível ver um caminhão com a bandeira do Brasil que aparece em outras publicações da manifestação de 7 de setembro.

O vídeo em questão pode ser visto no perfil do dono do caminhão que compartilhou a gravação no dia 7 de setembro e deixou salvo por meio da ferramenta ”Destaques’”, no Instagram.

| Captura de tela de publicação no Instagram  

Rio de Janeiro

O vídeo que mostra o Rio de Janeiro foi publicado na rede social Kwai no dia 7 de setembro de 2021, quando houve uma manifestação de apoio ao presidente Bolsonaro na praia de Copacabana. No canto inferior direito do vídeo, compartilhado no Facebook, é possível ver a identificação de um usuário do Kwai, que postou o vídeo com a data da gravação.

O próprio Facebook, no grupo onde o vídeo foi postado como tendo sido feito no dia 1º de maio de 2022, aponta o conteúdo do post como “informação parcialmente falsa”. Ainda assim, a publicação, até o dia 3 de maio, já havia ultrapassado a marca de 5,4 mil curtidas.

Manifestações 1° de maio x 7 de setembro

Tanto no feriado do Dia do Trabalhador de 2022 quanto no da Independência de 2021, foram registradas manifestações favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo Brasil.

No entanto, como registrado pela mídia, os atos de 1° de maio tiveram menos aderência do que os de 7 de setembro.

Nos atos do Dia da Independência, o presidente Bolsonaro discursou em Brasília e em São Paulo. Durante a fala, o chefe do Executivo atacou ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Neste dia 1° de maio, Bolsonaro também participou do ato em Brasília, mas não discursou para os apoiadores, somente fez um post nas redes sociais. “Vim cumprimentar o pessoal que está aqui nessa manifestação pacífica em defesa da Constituição, da democracia e da liberdade”, disse.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Sobre o conteúdo aqui apurado, o Comprova investigou postagens que estão usando imagens de manifestações antigas para desinformar sobre protestos a favor do presidente Jair Bolsonaro no dia 1º de maio deste ano e questionar a credibilidade de pesquisas eleitorais, o que pode comprometer o processo democrático.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo também foi verificado por outras iniciativas de checagem como o Aos Fatos e a Agência Lupa. Todos chegaram à conclusão de que os vídeos não têm relação com as manifestações do Dia do Trabalhador.

Em verificações anteriores, o Comprova mostrou que vídeo de Neymar com apoio a Aécio em 2014 foi editado para parecer atual e em favor de Bolsonaro; que vídeos de manifestação contra Lula em Passo Fundo são de 2018; que é enganosa postagem afirmando que lançamento da campanha de Bolsonaro reunião multidão em Brasília e que vídeo de Bolsonaro é de inauguração de trecho do VLT na Grande Natal e não de ferrovia que liga o Pará ao Maranhão.

Política

Investigado por: 2022-05-04

Livro crítico a Bolsonaro foi usado em escola do DF por iniciativa de um professor, não da rede de ensino

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa uma postagem sugerindo que uma cartilha com informações sobre a taxação de grandes fortunas e com críticas a Bolsonaro está sendo “amplamente distribuída” nas escolas públicas do Distrito Federal. A obra não foi adotada pela rede de ensino e, segundo a Secretaria da Educação do DF, só foi apresentada pelo professor de uma única escola de nível médio, sem o conhecimento da direção.

Conteúdo investigado: Vídeo em que a autora declara que material contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) é distribuído em escolas da rede pública do Distrito Federal.

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: É enganoso vídeo em que a autora afirma que um material contrário ao governo Bolsonaro é “amplamente distribuído” em escolas da rede pública do Distrito Federal. A cartilha existe, mas, segundo a Secretaria da Educação, foi levada apenas para uma unidade, o Centro de Ensino Médio Asa Norte (Cean), na aula de um professor de Sociologia, e não para toda a rede do governo distrital.

No último dia 26 de abril, em reunião no colégio, conforme reportagem do Metrópoles, o professor afirmou que a cartilha foi usada em uma sala de aula como material complementar para tratar do tema desigualdade e concentração de renda, que estava sendo discutido com a turma. Ele se comprometeu a recolher a cartilha para não infringir a legislação.

A publicação reúne tirinhas de uma personagem, a Niara, criada para falar principalmente sobre tributação dos super-ricos, mas que também aborda questões referentes à pandemia da covid-19, teto de gastos e a luta contra o racismo e a violência doméstica. O compilado tem tirinhas de dezembro de 2020 a dezembro de 2021 e, no geral, tematiza fatos do período.

Bolsonaro aparece em alguns textos que reprovam a sua gestão perante problemas enfrentados pela população brasileira, como a crise sanitária, ou por sua falta de apoio ao tema principal da campanha de tributação: a taxação dos super-ricos. No ano passado, o presidente criticou o imposto sobre fortunas.

A autora também interpreta e faz considerações sobre o conteúdo da cartilha que extrapolam o que está escrito no material.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até o dia 4 de maio, o conteúdo teve mais de 23 mil visualizações, 293 comentários e 1,8 mil curtidas.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com a advogada Amanda Marques pelo Instagram, mas não obteve resposta até a conclusão desta verificação.

Como verificamos: Para verificar a existência do material citado no vídeo, o Comprova procurou a Secretaria de Educação do Distrito Federal e, no site do órgão, identificou uma nota oficial referente ao assunto. Também foram feitos questionamentos por e-mail a fim de saber se a cartilha havia sido distribuída para toda a rede e como é feita a seleção do material usado nas escolas.

Em outras pesquisas na internet, a equipe também localizou manifestações sobre o assunto de entidades que defendem a tributação dos super-ricos e do Sindicato dos Professores do DF, todos a favor do professor que usou a cartilha em sala de aula.

A reportagem ainda leu a cartilha em busca dos pontos abordados pela autora do vídeo.

 

Cartilha foi distribuída apenas em uma escola do DF

Em nota oficial, divulgada no dia 27 de abril, a Secretaria de Educação do Distrito Federal confirmou que a cartilha com “apologia política” foi distribuída por um professor de Sociologia, mas que a iniciativa foi tomada sem o conhecimento da direção da escola, da Coordenação Regional de Ensino e da Subsecretaria de Ensino Básico. O caso foi encaminhado à corregedoria.

Segundo o órgão, além de a cartilha apresentar críticas ao governo Bolsonaro, promove uma dirigente sindical de partido de oposição que se apresenta como pré-candidata ao governo do Distrito Federal. Na versão online do material, contudo, não há qualquer referência a candidaturas.

“A secretaria repudia um ato como esse e informa que não permitirá proselitismo político de nenhuma espécie nas escolas públicas do DF e que fará cumprir fielmente o Regimento da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal”, pontua em um dos trechos da nota.

O documento a que se refere a secretaria prevê, no artigo 304, que é vedado ao professor:

  • envolver o nome da unidade escolar em manifestações estranhas às suas finalidades educativas;
  • ferir a suscetibilidade dos estudantes no que diz respeito às convicções políticas, religiosas, etnia, condição intelectual, social, assim como no emprego de apelidos e/ou qualificações pejorativas;
  • fazer apologia à política partidária no interior da unidade escolar.

Questionada pelo Comprova se a cartilha foi distribuída nas demais escolas da rede, a secretaria afirmou que o material foi utilizado apenas no Cean.

Quanto à avaliação dos materiais utilizados nas instituições de ensino, o órgão ressalta que livros e demais publicações doados à secretaria devem passar por uma verificação pedagógica para analisar se obras atendem às legislações para entrada na rede pública. “A SEEDF verifica se os materiais estão de acordo com critérios da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), entre outros”, finaliza.

O material

Segundo a versão online do livro, a obra foi criada pelo cartunista Renato Aroeira e teve a primeira tirinha publicada em dezembro de 2020. Através da personagem Niara, uma pré-adolescente negra, a publicação defende que, proporcionalmente, é cobrado pouco imposto dos ricos e muito dos pobres, situação que se agravou com a pandemia de covid-19.

O material reúne mais de 50 histórias, publicadas entre dezembro de 2020 e dezembro de 2021, que abordam temas diversos, como o desemprego no Brasil, racismo, desigualdade de gênero, desmatamento, pandemia de covid-19 e a discussão em torno da concentração de renda no país.

Em alguns textos há críticas ao presidente Bolsonaro principalmente por sua gestão da pandemia e assuntos relacionados ao meio ambiente, além da falta de apoio à política de taxação de grandes fortunas, tema central da tirinha.

A obra foi produzida para fortalecer a campanha Tributar os Super-ricos, um movimento nacional lançado por 70 organizações que visa promover justiça fiscal, propondo medidas para reduzir impostos aos mais pobres e pequenas empresas e aumentar para altas rendas e grandes patrimônios.

Segundo uma estimativa da campanha, seria possível arrecadar cerca de R$ 300 bilhões ao ano aumentando a taxação de pessoas físicas com salários acima de R$ 60 mil por mês e o imposto sobre heranças, onerando apenas os 0,3% mais ricos da população, o que representa 59 mil pessoas entre 210 milhões de brasileiros. As propostas de alterações legislativas tributárias foram protocoladas no Congresso Nacional em setembro de 2021.

Conforme a cartilha, os super-ricos são poucas pessoas com muita riqueza acumulada e fortunas superiores a US$ 1 bilhão. No total, segundo dados da revista Forbes, em 2021 o Brasil tinha 315 bilionários, 40 a mais que no ano anterior. O patrimônio dos bilionários, juntos, é estimado pela revista em R$ 1,9 trilhão.

Os quadrinhos são publicados nas redes sociais da campanha e das entidades apoiadoras, que incluem o Sinpro-DF e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).

O presidente Bolsonaro se mostra contrário à taxação dos super-ricos e, entre os argumentos, alega a fuga de capitais do país.

Entidades defendem professor

Através de nota, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) repudiou “a polêmica criada por uma advogada no Distrito Federal sobre o livro contendo as histórias em quadrinho da personagem Niara”. O texto também foi assinado pelo Instituto Justiça Fiscal (IJF), Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e Sindicato Carioca dos Fiscais de Renda (Sincaf/RJ).

Entre os argumentos das entidades, a nota invoca a liberdade de cátedra, princípio constitucional que assegura a autonomia de aprender e ensinar, uma prerrogativa fundamental da democracia. Para elas, a história em quadrinho reflete a realidade, não apenas do Brasil, e serve para debater a taxação de grandes fortunas como prevista na Constituição Federal de 1988.

O Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF) também divulgou, na página oficial da entidade, um artigo em defesa da liberdade de cátedra e criticando a maneira como o assunto está sendo conduzido por parlamentares e o governo distrital a partir do vídeo aqui investigado.

Ressalta ainda que a tributação dos super-ricos é um conteúdo compatível com a grade curricular das competências e habilidades previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Médio.

Quem é a autora do post

Amanda Marques é advogada formada pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) e mora na capital federal. Conforme o perfil no Linkedin, atualmente ela é chefe de gabinete na Junta Comercial, Industrial e Serviços do Distrito Federal.

No Instagram, a advogada costuma publicar vídeos em que fala sobre religião cristã e política, com manifestações elogiosas a Bolsonaro e Sergio Moro e críticas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ela tem 22,9 mil seguidores na rede social.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. O vídeo aqui verificado envolve o nome do presidente Jair Bolsonaro, provável candidato à reeleição. A menção de presidenciáveis em publicações deve ser baseada em fatos porque, do contrário, pode induzir eleitores a interpretações equivocadas e a uma avaliação distorcida no momento de votar, o que configura um prejuízo ao processo democrático.

Outras checagens sobre o tema: Conteúdos enganosos relacionados às eleições se tornaram recorrentes. Em verificações anteriores, o Comprova já apontou que um post confunde dados sobre conflitos no campo no governo Bolsonaro, que Lula não deu indulto a Cesare Battisti e que o livro de infância de Moro estava disponível na década de 70.

Eleições

Investigado por: 2022-05-03

Antes de ser preso, João de Deus compareceu à posse de Rosa Weber no TSE

  • Comprovado
Comprovado
É verdadeiro que o médium João de Deus tenha comparecido à solenidade de posse da ministra Rosa Weber na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O evento ocorreu meses antes de ele ser preso por crimes sexuais.

Conteúdo investigado: Tuíte mostra uma foto de João de Deus assistindo à posse da ministra Rosa Weber na presidência do Tribunal Superior Eleitoral.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É verdadeiro um tuíte que mostra o médium João de Deus assistindo à cerimônia de posse da ministra Rosa Weber na presidência do TSE, em agosto de 2018. A solenidade ocorreu quatro meses antes de surgirem as primeiras denúncias de abuso sexual contra pacientes em Abadiânia, Goiás, onde ele atuava.

Antes de o escândalo ser revelado, João de Deus tinha uma lista de pacientes famosos como as apresentadoras Xuxa Meneghel e Oprah Winfrey, o ex-presidente Lula (PT) e a modelo Naomi Campbell.

Comprovado, para o Comprova, é o fato verdadeiro ou evento confirmado.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até o dia 2 de maio, o post tinha 2.637 retweets, 158 comentários e 8.393 curtidas.

Como verificamos: Procuramos a íntegra da solenidade de posse de Rosa Weber no canal do YouTube da Justiça Eleitoral. Também consultamos notícias na imprensa sobre a cerimônia (aqui) e sobre as condenações de João de Deus (aqui, aqui, aqui e aqui).

Por fim, consultamos o TSE para saber o motivo da presença do médium na solenidade, mas não tivemos resposta.

Verificação

A ministra Rosa Weber assumiu a presidência do Tribunal Superior Eleitoral, em 14 de agosto de 2018, para comandar o plenário da Corte no biênio 2018-2020. A solenidade de posse – que contou com a presença de ministros ativos e aposentados do Supremo Tribunal Federal (STF) – foi transmitida pelo canal oficial da Justiça Eleitoral no YouTube e, após mais de três anos, o vídeo ultrapassa a marca de 2.950 visualizações.

Rosa Weber permaneceu no cargo de presidente do TSE por um ano e nove meses. Durante esse período, a ministra comandou as eleições gerais de 2018, incentivou a participação feminina na política, intensificou o combate à desinformação no processo eleitoral, investiu no processamento eletrônico, implantou o julgamento virtual e conduziu as sessões jurisdicionais e administrativas no plenário da Corte.

João de Deus na solenidade de posse em 2018

Na transmissão da solenidade de posse, em agosto de 2018, é possível ver na plateia o médium João Teixeira de Faria, popularmente conhecido como João de Deus. Meses após a solenidade, em 16 de dezembro daquele ano, ele foi preso por crimes de estupro contra centenas de mulheres. As violências sexuais atreladas ao curandeiro eram praticadas durante atendimentos espirituais na Casa Dom Inácio Loyola, em Abadiânia (GO). Os crimes vieram à tona após depoimentos das vítimas no programa Conversa com Bial, da Globo.

João de Deus era um médium de fama internacional. Entre as personalidades que tiveram sessões com ele antes dos escândalos virem à tona estão as apresentadoras Xuxa Meneghel e Oprah Winfrey, o ex-presidente Lula e a modelo Naomi Campbell, mostrou o Correio Braziliense. Entre os ministros do STF, o Estadão apurou que Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Luís Roberto Barroso já teriam se consultado com ele.

Condenações

A primeira condenação do médium por estupro ocorreu logo após a prisão dele completar um ano, em 19 de dezembro de 2019. Na ocasião, João de Deus foi condenado a 19 anos e quatro meses de reclusão, em regime fechado, por quatro estupros praticados contra mulheres.

Em janeiro de 2020, o médium recebeu uma nova condenação, desta vez a 40 anos de reclusão, em regime fechado, por ter estuprado cinco mulheres durante os atendimentos espirituais em Abadiânia. Já em 2021, João de Deus foi condenado a 44 anos de prisão também por estupros de mulheres praticados em Goiás.

A condenação mais recente de João de Deus é de janeiro de 2022. O médium foi condenado a mais quatro anos de prisão por violação sexual mediante fraude. Ainda de acordo com a sentença do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO), João de Deus terá que indenizar uma mulher em R$ 20 mil por danos morais.

O médium também possui condenação a quatro anos de prisão pelo crime de posse ilegal de arma de fogo. Somadas, as penas ultrapassam 100 anos de prisão.

Por que investigamos: O Comprova checa postagens nas redes sociais sobre a pandemia, eleições e políticas públicas do governo federal. O TSE é a autoridade responsável por organizar as eleições no país. Conteúdos sobre ele podem influenciar o nível de confiança dos eleitores no processo eleitoral.

Outras checagens sobre o tema: Já mostramos que era sátira um vídeo no qual um homem se apresentava como advogado do PT e sugeria uma fraude nas urnas. Também desmentimos que um ex-ministro da Suíça tenha feito piada do contexto político brasileiro.