O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Comprova Explica

Investigado por: 2022-06-17

Entenda projeto do governo federal que permite a penhora de casas por bancos

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Comprova Explica
Projeto de autoria da presidência da República, já aprovado na Câmara dos Deputados e agora sob análise do Senado Federal, cria o Marco Legal das Garantias de Empréstimos. Na prática, o texto altera aspectos previstos na Lei da Impenhorabilidade do bem de família (Lei 8009/1990), que impede que o imóvel próprio do casal ou da entidade familiar seja penhorado desde que quitado. O novo marco legal cria a possibilidade de que as famílias tenham seu único imóvel penhorado, se ele for dado como garantia para tomar financiamento em um banco. O governo federal argumenta que o texto tem o potencial de estimular a redução das taxas de juros, elevar o número de alternativas de crédito e diminuir os custos operacionais para as instituições financeiras. Já para a oposição, contrária à medida, o projeto cria o risco de uma “bolha” com o excesso de empréstimos.

Conteúdo analisado: Um vídeo divulgado no perfil Nova Ordem Mundial, no Facebook, faz críticas ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), especialmente ao projeto recém-aprovado na Câmara dos Deputados – de autoria da presidência – instituindo o Marco Legal das Garantias de Empréstimos. O autor do vídeo critica o fato de que bancos e outras instituições financeiras poderão penhorar o único imóvel de uma família que esteja em dívida.

Conclusão: Em 1º de junho de 2022, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei (PL) 4.188/21, que institui um marco legal para o uso de garantias destinadas à obtenção de crédito. Se aprovado, o texto vai permitir, entre outros pontos, que um imóvel dado como garantia de uma dívida seja penhorado, mesmo que seja o único bem da família – hoje, existe a impenhorabilidade desse tipo de bem.

Conteúdos que circulam nas redes sociais sobre o projeto de lei, como o vídeo publicado no perfil Nova Ordem Mundial que teve mais de 8,6 mil visualizações no Facebook , afirmam que “os bancos poderão tomar as casas de endividados”.

A gravação começa com uma ilustração de uma chamada “corrida dos ratos”, indicando que o brasileiro “trabalha para ganhar dinheiro, pagar contas, até ficar sem dinheiro e trabalhar novamente”, o que o autor classifica como um “ciclo vicioso”. Após a introdução, o autor chega a sugerir que o presidente Jair Bolsonaro (PL) “não só deve perder as eleições, como ser preso” para, em seguida, passar a falar do projeto de lei apresentado pelo governo. Ele também critica governos de esquerda.

Os bancos vão mesmo poder tomar as casas dos brasileiros? Em quais situações? Isso já pode acontecer? Foi o governo que criou a lei? Diante dos questionamentos, o Comprova decidiu explicar os pontos levantados no conteúdo.

Projeto de lei e autoria

O projeto de lei 4188/2021 é de autoria do Executivo, como mostra o site do Congresso Nacional. Esse Poder, de acordo com a Constituição em seu capítulo 76, “é exercido pelo presidente da República, auxiliado pelos ministros de Estado”.

Também conhecido como Novo Marco de Garantias, o texto foi apresentado no dia 25 de novembro de 2021. O PL foi aprovado pela Câmara dos Deputados na forma do substitutivo no início de junho de 2022. Agora, a proposta deve ser votada pelo Senado Federal.

O texto propõe um novo Marco de Garantias, o que, na visão do Ministério da Economia, faz com que “o cenário de crédito brasileiro” seja “aprimorado”. Ao justificar a proposta, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que ela “tem o potencial de estimular a redução das taxas de juros, elevar o número de alternativas de crédito e diminuir os custos operacionais para as instituições financeiras”. Já para a oposição, contrária ao projeto, ele cria o risco de uma “bolha” com o excesso de empréstimos. Bolha, no setor imobiliário, é quando ocorre um aumento do preço dos imóveis que “não condiz com os valores reais dos bens” – esse aumento pode ser resultado da alta procura, o que tende a ocorrer com juros mais baixos. O termo remete à crise financeira de 2008.

A versão original do governo federal passou por algumas alterações feitas pelo relator, o deputado federal João Maia (PL-RN). O parlamentar incluiu, por exemplo, a adoção de procedimentos de execução extrajudicial de bens. Isso significa que uma pessoa que, voluntariamente, colocar sua casa como garantia de uma dívida no contrato poderá perder o imóvel caso fique devendo.

“Hoje, isso não é permitido. Se o texto for aprovado no Senado, isso vai ser permitido”, explica o advogado Guilherme Botelho, professor da graduação e pós-graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Ainda de acordo com o Ministério da Economia, “o Novo Marco de Garantias faz parte do programa Mais Garantias Brasil”, que prevê a modernização dos cartórios e o aprimoramento de garantias rurais, entre outros pontos.

Na abertura do ano legislativo, Bolsonaro citou o Marco Legal das Garantias como uma das prioridades para 2022 ao ler mensagem para o Congresso Nacional. Ainda segundo o Ministério da Economia, o PL facilita as garantias de crédito, reduz custos e juros de financiamentos e aumenta a concorrência.

I Legenda: Ilustração sobre o PL retirada do site da Câmara I

 

Governo propôs, mas não aprovou projeto

Em um trecho do conteúdo aqui analisado, o autor afirma, de forma equivocada, que o governo Bolsonaro foi o responsável pela aprovação do projeto de lei. Na sequência, ainda emenda: “então, quando eu digo que o Bolsonaro é o maior cúmplice do PT e merece ir para a cadeia, não é à toa, meus irmãos”.

O projeto, de fato, foi apresentado pelo Executivo – que detém prerrogativa para adotar essa medida, assim como qualquer deputado, senador, comissão da Câmara, do Senado ou do Congresso, além do procurador-geral da República, o Supremo Tribunal Federal, os tribunais superiores e cidadãos.

Os projetos começam a tramitar na Câmara, à exceção dos apresentados por senadores, que começam no Senado. O Senado funciona como Casa revisora para os projetos iniciados na Câmara e vice-versa. Se o texto da Câmara for alterado no Senado, volta para análise dos deputados. Da mesma forma, se um projeto do Senado for mudado pelos deputados, ele retorna aos senadores. A Casa onde o projeto se iniciou dá a palavra final sobre seu conteúdo, podendo aceitar ou não as alterações feitas na outra Casa.

Após aprovação nas duas Casas (Câmara e Senado), os projetos são enviados ao presidente da República para sanção ou veto.

No caso do Marco Legal das Garantias, o texto já aprovado na Câmara seguiu para o Senado, sem previsão para ser analisado.

Principais mudanças em relação aos imóveis

Frederico Henrique Viegas de Lima, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB), explica que o projeto de lei não modifica os financiamentos em si, mas as garantias possíveis para o fornecimento de crédito.

Sobre a possibilidade de instituições financeiras tomarem a casa própria de pessoas endividadas, o especialista afirma que o texto aprovado muda a lei sobre a impenhorabilidade de imóvel (Lei 8.009/90), que coloca a salvo a casa própria de uma família.

Atualmente, o imóvel de família só pode ser usado como garantia do financiamento do próprio imóvel e leiloado se o financiamento imobiliário não for pago. Outros casos dependem de decisão judicial.

Com o PL, os bancos poderão tomar casas próprias em situações como: quando for demonstrado que a família se beneficiou ao colocar o imóvel como garantia ou quando restar caracterizada a vontade do proprietário em dar a casa como garantia, assumindo os riscos.

“Daí, altera-se a lei da impermeabilidade do bem de família para estabelecer que, de qualquer forma, sendo o estabelecimento da garantia um ato de vontade do titular do imóvel, caso ele dê esse bem de garantia, não importa qual é o motivo, aquele imóvel pode ser penhorado mesmo sendo onde reside a família”, continua.

O especialista em direito imobiliário comenta que outra das principais alterações, caso o texto venha a ser aprovado, é que um imóvel poderá ser dado como garantia em vários financiamentos diferentes, tendo como limite o próprio valor. Atualmente, imóveis só podem ser dados como garantia em uma única operação e de quantia menor.

Por que explicamos: O Comprova investiga conteúdos sobre pandemia, eleições e políticas públicas que atinjam alto grau de viralização nas redes sociais. Já o “Comprova Explica” serve como instrumento para que os leitores entendam um conteúdo que está viralizando e causando confusão, caso do vídeo analisado aqui. O post checado cita o presidente e pré-candidato à reeleição, Jair Bolsonaro. Conteúdos falsos ou enganosos que envolvem atores políticos oferecem prejuízos ao processo democrático e atrapalham a decisão do eleitor, que deve ser tomada com base em informações verdadeiras.

Outras publicações sobre o tema: Em meio às dúvidas relativas ao assunto, o novo Marco Legal das Garantias foi tema de uma reportagem do Valor Econômico que responde se o banco poderá tomar casa de devedor.

Eleições

Investigado por: 2022-06-15

Vídeo faz alegações enganosas para colocar em dúvida credibilidade de pesquisas eleitorais

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa uma publicação no Facebook e YouTube que reúne trechos de dois vídeos para defender a tese de que as pesquisas eleitorais não são confiáveis. Entre as alegações, o autor considera que o tamanho da amostragem - número de eleitores entrevistados - é pequeno para representar a opinião da população. O Comprova já explicou que a pesquisa é feita com uma amostra cientificamente calculada da população, a fim de retratar o grupo como um todo e eliminar vieses.

Conteúdo investigado: Vídeo em que autor reúne duas gravações para levantar suspeitas sobre a credibilidade das pesquisas eleitorais. No primeiro, ele mostra imagens de uma consulta feita em 2018, em frente a um presídio, e, no segundo, gravação feita em abril de 2022, de uma mulher que, segundo a postagem, teria se recusado a continuar a pesquisa quando o entrevistado manifestou apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

Onde foi publicado: YouTube e Facebook. Na plataforma de vídeo, ficou indisponível após o início da verificação.

Conclusão do Comprova: É enganoso o vídeo em que o autor reúne duas gravações para levantar suspeitas sobre a credibilidade das pesquisas eleitorais. Durante a exibição das imagens, ele faz comentários que sugerem manipulação de dados e de entrevistas para favorecer candidatos do PT em detrimento de Bolsonaro.

O autor do vídeo aqui investigado faz inferências sobre o método utilizado pelos institutos oficiais de pesquisa, sugerindo vieses, e questiona o tamanho das amostras da população nos levantamentos realizados.

No início deste ano, em um Comprova Explica, especialistas esclareceram que a pesquisa é feita com uma amostra cientificamente calculada da população, a fim de representar o grupo como um todo e eliminar vieses. Para montar essa amostra, diferentemente do apontado pelo autor do vídeo, é considerada uma série de critérios para aproximar o grupo de entrevistados da composição real da população, tais como raça, gênero, escolaridade e ocupação.

As consultas ao eleitorado registram um recorte do momento em que as entrevistas foram feitas. É o que justifica o fato de Fernando Haddad ter aparecido em primeiro lugar em algumas pesquisas de 2018, e não que houve má condução das entrevistas como insinuado pelo autor do vídeo. Os últimos levantamentos feitos antes do segundo turno, porém, apontaram a vitória de Jair Bolsonaro.

Além disso, segundo a legislação brasileira, todas as pesquisas eleitorais devem ser registradas na Justiça Eleitoral, com detalhes sobre o método científico empregado, o plano de amostragem, os dados do profissional responsável, questionário completo a ser aplicado, entre outros. Essas informações estão disponíveis para consulta no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até o dia 13 de junho, o vídeo teve mais de 80 mil visualizações e 20 mil curtidas no YouTube. Após o contato do Comprova, no entanto, o conteúdo foi removido da plataforma. Já no Facebook, o vídeo alcançou 85 mil visualizações, 9,8 mil curtidas e 897 comentários até o dia 15 de junho.

O que diz o autor da publicação: Olimpio Araujo Junior mantém um canal no YouTube com 625 mil inscritos descrito como “conservador de direita focado em notícias sobre política, economia e atualidades” e que mostraria “a verdade que a mídia e as instituições de ensino não mostram”.

Procurado por e-mail, Olimpio Araujo afirmou que o vídeo é opinativo e que apenas fez uma “análise” da metodologia dos institutos de pesquisa. Na mensagem ao Comprova, ele reafirma suas opiniões sobre a credibilidade das pesquisas.

Como verificamos: Para fazer esta checagem, o Comprova consultou materiais explicativos disponíveis no site do TSE a respeito das pesquisas eleitorais de 2022 e do processo de auditoria das eleições.

Além disso, foram feitas pesquisas com base em reportagens jornalísticas de veículos profissionais (BBC News Brasil, Folha de S.Paulo, Agência Brasil e G1) e verificações realizadas pelo Comprova e outras agências sobre o tema.

Por fim, a equipe procurou o TSE para esclarecer como funcionam a amostragem e a auditoria das pesquisas eleitorais.

Pesquisas eleitorais são retratos do momento

As pesquisas eleitorais são ferramentas de opinião pública utilizadas por institutos ou entidades para verificar a preferência do eleitorado nos meses que antecedem um pleito. De acordo com o TSE, os estudos utilizam métodos científicos para “apurar a realidade do momento junto a segmentos representativos do eleitorado”.

Isso significa que, na semana em que a pesquisa foi realizada, por exemplo, pode ser que as pessoas estivessem mais propensas a votar em um determinado candidato. Na semana seguinte, a intenção de voto pode ter mudado dependendo da campanha eleitoral, debates, notícias, postagens em redes sociais, entre outros fatores, conforme apontou o G1.

Em entrevista à Agência Brasil, a diretora-executiva do Ipec (ex-Ibope Inteligência), Marcia Cavallari, explicou que “o objetivo de uma pesquisa eleitoral não é o de antecipar os resultados da eleição, mas sim o de mostrar o cenário no momento em que foi realizada.”

Segundo Cavallari, “a pesquisa é uma fotografia do momento e não tem o poder e nem a intenção de prever o resultado de uma eleição. Por isso, seus resultados não podem ser usados para prever o resultado das urnas.”

Mesmo assim, nas mais recentes eleições presidenciais no Brasil, os principais institutos de pesquisa chegaram perto do resultado das urnas, como já mostrou o Comprova em duas ocasiões (1 e 2). Na última pesquisa publicada em 2018, o Ibope apontava que Jair Bolsonaro teria 36% dos votos; Fernando Haddad, 22%; Ciro Gomes, 11%; e Geraldo Alckmin, 7%. Já o instituto Datafolha apontava os mesmos números para Bolsonaro, Haddad e Alckmin, mudando apenas as intenções de voto de Ciro Gomes para 13%. Depois de fechadas as urnas do primeiro turno, Bolsonaro teve 46% dos votos válidos; Fernando Haddad, 29%; Ciro Gomes, 12%; e Geraldo Alckmin, 4%.

No segundo turno, a última pesquisa divulgada pelo Ibope apontava 54% de intenções de voto para Bolsonaro e 46% para Haddad. Já o Datafolha mostrava 55% para Bolsonaro e 45% para Haddad. No resultado final, Bolsonaro teve 55% dos votos válidos e Haddad, 44%.

Um levantamento do site Jota reuniu dados de todas as eleições para governador e presidente no Brasil realizadas entre 1998 e 2018 e das pesquisas divulgadas pelo Datafolha, Ibope, Vox Populi e Sensus para avaliar a influência do tempo que separa a realização da consulta e o dia da eleição. A conclusão foi a de que pesquisas feitas mais próximas das eleições têm maior grau de acerto dos resultados. As pesquisas realizadas até 80 dias antes da eleição variaram 9 pontos percentuais do resultado real. Depois de 80 dias, esse número caiu progressivamente até 5 pontos percentuais, nos últimos dias antes da eleição.

Amostragem

A amostra é o grupo de entrevistados em uma pesquisa de opinião. A ideia é escolher um número limitado de pessoas, cujas características sejam parecidas com a do grupo maior que se queira pesquisar.

Para que essa amostra seja representativa, os institutos de pesquisa seguem critérios do perfil da população (escolaridade, gênero, idade, renda familiar, profissão, etc), seja do país ou apenas de um município, por exemplo. Isso permite a realização de uma análise que considere a proporção dessas diferentes variáveis na composição da população.

Esses critérios são variados e podem diferir de acordo com o método do levantamento, que pode ser quantitativo (quando o objetivo é coletar dados e apontar preferências eleitorais) ou qualitativo (quando há intenção de compreender fenômenos e motivações individuais que não são mensuráveis).

“[A amostragem é feita] a partir de técnicas que vêm da análise estatística, da probabilística, que garantem que aquele número de eleitores entrevistados é capaz de dar uma representação relativamente fiel, dentro de uma margem de erro e um índice de confiança, da opinião da população como um todo”, disse ao Comprova, em março, o professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop-Unicamp), Oswaldo Amaral.

Ele explicou que as pesquisas eleitorais entrevistam um grupo reduzido, porém representativo, para inferir a opinião de milhões. Por exemplo, os dados mais recentes do TSE, de maio de 2022, mostram que 52,8% dos 152,3 milhões de eleitores brasileiros são mulheres. Isso significa, portanto, que uma amostra de 2 mil eleitores deverá ter 52,8% de mulheres (1.056 eleitoras).

Pelo site do TSE, o público pode conferir o relatório das pesquisas para avaliar se a amostragem usada pelos institutos foi bem construída, “para avaliar se as pesquisas foram construídas sem defeitos amostrais que possam enviesar os resultados”, conforme Amaral.

Dados de pesquisa são registrados pela Justiça Eleitoral

Ao contrário do que é difundido por grupos que questionam a credibilidade de pesquisas de institutos profissionais, a legislação eleitoral permite a verificação de dados referentes às consultas feitas com a população.

No artigo 33 da Lei 9.504/1997 está expresso que as entidades e empresas que realizarem pesquisas de opinião pública relativas às eleições ou aos candidatos, para conhecimento público, são obrigadas, para cada pesquisa, a registrar, junto à Justiça Eleitoral, até cinco dias antes da divulgação, as seguintes informações:

 

  • quem contratou a pesquisa;
  • valor e origem dos recursos despendidos no trabalho;
  • metodologia e período de realização da pesquisa;
  • plano amostral e ponderação quanto a sexo, idade, grau de instrução, nível econômico e área física de realização do trabalho a ser executado, intervalo de confiança e margem de erro;
  • sistema interno de controle e verificação, conferência e fiscalização da coleta de dados e do trabalho de campo;
  • questionário completo aplicado ou a ser aplicado;
  • nome de quem pagou pela realização do trabalho e cópia da respectiva nota fiscal.

Além disso, segundo o TSE, entre essas informações necessárias para o registro está o nome do profissional de Estatística responsável pela pesquisa, acompanhado de assinatura com certificação digital e o número do registro no Conselho Regional de Estatísticas competente.

O mesmo dispositivo legal diz ainda que as informações relativas às pesquisas serão registradas nos órgãos da Justiça Eleitoral aos quais compete fazer o registro dos candidatos, e que a divulgação de pesquisa sem o prévio registro de todas essas informações sujeita os responsáveis ao pagamento de multa.

Além disso, a legislação ressalta que a divulgação de pesquisa fraudulenta é crime, que pode ser punida com prisão e também multa. A divulgação de pesquisa sem o prévio registro das informações previstas no normativo sujeita as pessoas responsáveis à multa que varia de R$ 53.205 a R$ 106.410.

O artigo 34 prevê, ainda, que mediante requerimento à Justiça Eleitoral, os partidos poderão ter acesso ao sistema interno de controle, verificação e fiscalização da coleta de dados das entidades que divulgaram pesquisas de opinião relativas às eleições, incluídos os referentes à identificação dos entrevistadores e, por meio de escolha livre e aleatória de planilhas individuais, mapas ou equivalentes, confrontar e conferir os dados publicados, preservada a identidade dos respondentes.

Até o dia 9 de junho, o portal do TSE contabilizava 660 pesquisas eleitorais relativas às eleições gerais de 2022. Desse total, mais de 170 se referem aos cargos de presidente e vice-presidente da República.

Vídeos compartilhados na postagem

No conteúdo aqui investigado, o autor divulga trechos de dois vídeos. O primeiro, registrado em 2018, mostra uma pesquisadora conversando com uma mulher diante de um presídio na cidade de Corumbaíba, em Goiás. É apenas uma parte do que circulou naquele ano, quando um agente de segurança aborda a entrevistadora, dizendo que ela não poderia estar naquele lugar para fazer seu trabalho. Na ocasião, a profissional cancelou a entrevista e, segundo o Datafolha, o procedimento foi correto, porque todos são orientados a encerrar as perguntas se, porventura, forem filmados, o que não é permitido.

O caso foi noticiado pela Folha, que confirmou que o vídeo é verdadeiro, mas esclareceu que a região também tem supermercados, igrejas, agências bancárias e um hospital, com grande circulação de pessoas, apresentando-se como local ideal para esse tipo de entrevista.

No segundo vídeo, de abril deste ano, o enfoque é na entrevistadora do instituto Quaest, que trabalhava em Nova Porteirinha, Minas Gerais. O homem que faz a gravação a interpela diversas vezes, dizendo que ela teria que ser imparcial ao fazer as perguntas para o entrevistado, que não é a mesma pessoa que faz a filmagem.

Ela tenta se justificar, afirmando que só havia abordado o homem perguntando se ele poderia dar entrevista, porém o autor da filmagem é incisivo ao dizer que ela havia parado as perguntas porque o candidato à entrevista havia declarado voto em Bolsonaro e, ela, teria mostrado posicionamento pessoal diferente.

O vídeo não mostra o que alega o autor da filmagem, mas, sim, a entrevistadora tentando argumentar, perguntando se era ele quem havia sido entrevistado e, por fim, tentando retomar o trabalho. Com a divulgação das imagens, o instituto Quaest emitiu nota de esclarecimento no dia 2 de abril, apontando que a entrevistadora não atuou conforme as normas de neutralidade orientadas pela empresa e que ela foi desligada. Além disso, as entrevistas realizadas pela pesquisadora seriam refeitas.

Por que investigamos: O Comprova verifica conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas e as eleições presidenciais deste ano. Conteúdos enganosos sobre pesquisas eleitorais podem prejudicar o processo democrático uma vez que confundem a população na tentativa de descredibilizar as amostras. É importante, portanto, que os eleitores tenham acesso a informações verídicas sobre as pesquisas, que seguem um método científico e buscam eliminar possíveis distorções e vieses.

Outras checagens sobre o tema: Em abril deste ano, o Estadão Verifica checou outra peça de desinformação que também utiliza os vídeos apresentados no conteúdo verificado pelo Comprova e concluiu que as alegações da peça eram enganosas.

Anteriormente, o Comprova já mostrou que pesquisas eleitorais seguem métodos científicos, ao contrário de enquetes, que nenhuma pesquisa eleitoral aponta 70% de votos para Bolsonaro, que áudio sobre fraudes em pesquisas é de comediante, não de ex-diretor do Datafolha e que vídeo engana ao dizer que pesquisas foram forjadas na eleição de Bolsonaro em 2018.

 

Saúde

Investigado por: 2022-06-14

Não é verdade que vacina da covid fez ‘explodir’ doenças cardíacas em crianças

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a postagem que repercute a capa de um jornal impresso irlandês na qual a manchete afirma, de forma equivocada, que doenças cardíacas em crianças têm explodido desde o início da vacinação contra a covid. O conteúdo do impresso atribui ao Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) e ao Escritório Nacional de Estatísticas Britânico supostos dados de mortes e sequelas em crianças pós-imunização. Mas nenhuma das instituições reconhece as informações como verdadeiras. O órgão britânico alerta ainda que o jornal faz uma “interpretação enganosa dos dados”.  

Conteúdo investigado: Imagem da capa de um jornal irlandês impresso na qual a manchete traduzida afirma que doenças cardíacas em crianças têm explodido desde a vacinação contra a covid.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganoso um post no Twitter que reproduz a imagem da capa de um jornal impresso irlandês, na qual a manchete traduzida afirma que “doença cardíaca em crianças explode desde a vacina”. A capa é a 11ª edição do jornal que tem publicado conteúdo antivacina. 

A manchete investigada atribui ao Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos e ao Escritório Nacional de Estatísticas Britânico supostos dados sobre mortes e sequelas em crianças pós-vacinação da covid. Contudo, nenhuma das instituições reconhece as informações publicadas no texto como verdadeiras. 

Ambas as instituições têm monitorado e divulgado pesquisas e dados sobre o assunto, mas nenhuma delas identificou a disparada de óbitos ou efeitos graves em crianças por conta da vacinação da covid. O órgão britânico alerta, inclusive, que o jornal faz uma “interpretação enganosa dos dados”. Já o centro norte-americano, dentre outras informações, ressalta que as vacinas da covid “estão passando pelo monitoramento de segurança mais intenso da história dos Estados Unidos”. 

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação : O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até o dia 13 de junho, o post verificado teve mais de 7 mil interações no Twitter.

O que diz o autor da publicação: Entramos em contato com a autora da postagem identificada como Karina Michelin via Instagram e também pela aba de contato do site que consta no perfil dela no Twitter. Mas até a publicação da checagem, não houve retorno. 

Como verificamos: Inicialmente, o Comprova procurou o site do jornal irlandês para confirmar a existência do veículo e se a capa que consta na imagem realmente corresponde à publicação original. 

A equipe do Comprova também manteve contato, por e-mail, com o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos e o Instituto Nacional de Estatísticas Britânico para conferir a veracidade dos dados divulgados que foram atribuídos às duas instituições. 

A reportagem ainda buscou informações junto à Pfizer no Brasil e consultou publicações anteriores do Comprova com verificações sobre a vacina da farmacêutica. 

Também ouviu Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), e Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), sobre os efeitos adversos da vacina em crianças. O mesmo tema foi abordado com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que ainda foi questionada sobre a autorização concedida no país para imunização contra a covid-19.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 14 de junho de 2022.

 

Jornal irlândes e publicações antivacina

Em tradução livre, o nome do jornal The Irish Light, na qual a foto da capa circula no Twitter, é “A Luz Irlandesa”. O jornal impresso é distribuído de forma independente na Irlanda e publicado, segundo o próprio site, em conjunto com o The Light Paper no Reino Unido. Em maio de 2022, o Comprova também checou uma publicação do jornal inglês que atacava a segurança das vacinas da Pfizer. O conteúdo foi classificado como enganoso. A mesma publicação consta em uma das capas do The Irish Light da Irlanda. 

No site, o jornal da Irlanda disponibiliza para consulta as capas de 11 edições. Mas o Comprova verificou que a da publicação sobre a vacinação em crianças (11ª edição), publicada no site (imagem à direita), não é idêntica à imagem que circula no Twitter (imagem à esquerda).

No entanto, a chamada da capa tem teor praticamente igual, com dois pequenos destaques: a capa publicada no site especifica “vacinas da Covid” e menciona “após a vacina”; já aquela que a imagem circula no Twitter consta “vacina” e “desde a vacina”. Além disso, os layouts das capas são distintos. Mas os textos das matérias, nos dois casos, são os mesmos. 

Também não constam os textos – em formato digital e por escrito – das edições impressas. Há  somente  imagens das capas. Das 11 edições publicadas, em seis a chamada e o conteúdo da capa são antivacina.  

Órgão norte americano desmente dados

No texto da imagem investigada, cujo título em tradução livre é “Doença cardíaca em crianças explode desde a vacina”, o jornal afirma que “dados oficiais publicados pelo Centro de Controle de Doenças dos EUA revelaram que 106 crianças morreram após a vacinação”. O CDC é um órgão de saúde do governo dos Estados Unidos. 

O Comprova consultou o CDC que, por e-mail, informou que “até o momento, o CDC não observou nenhum relato de morte após a vacinação com mRNA Covid-19 em que o curso clínico ou os achados da autópsia fornecem evidências claras de que a morte pode ser atribuída à miocardite associada à vacina mRNA Covid-19”. Logo, o dado utilizado na matéria não procede. 

A matéria diz ainda que em “22 de abril de 2022, houve 48.033 reações adversas às injeções de covid-19 em crianças, das quais 12.548 foram consideradas graves, resultando em hospitalização, invalidez permanente ou morte. Infelizmente, 106 crianças perderam a vida”.

Ao ser questionado, o CDC informou que, em 2 de junho de 2022, havia 997 relatórios não verificados registrados no Vaccine Adverse Event Reporting System (VAERS), em tradução livre, “Sistema de Relatório de Eventos Adversos de Vacinas” de casos potenciais de miocardite e pericardite entre pessoas com menos de 18 anos. Destes, 259 estão em análise no momento. 

Já outros 647 relatórios foram verificados por meio da confirmação de sintomas e diagnósticos por entrevista com o provedor ou revisão de registros médicos, para atender à definição de caso de trabalho do CDC para miocardite. Assim, as contagens de relatos verificados de miocardite por faixa etária foram as seguintes: 


  • 5 -11 anos: 21 relatos verificados de miocardite após 18.905.428 doses administradas;
  • 12-15 anos: 337 relatos verificados de miocardite após 23.502.803 doses administradas;
  • 16-17 anos: 289 relatos verificados de miocardite após 12.796.521 doses administradas;

É importante reiterar que os dados são até o dia 2 de junho. O CDC informa ainda que qualquer pessoa pode consultar os dados sobre Eventos Adversos Selecionados Relatados pós-vacinação covid no site disponibilizado pelo órgão. Outro destaque, segundo o CDC, é que as vacinas contra a covid estão passando pelo monitoramento de segurança mais intenso da história dos Estados Unidos.

A instituição afirma ainda que houve relatos raros de morte para o Sistema de Notificação de Eventos Adversos da Vacina em pessoas que desenvolveram miocardite após a vacinação da covid com mRNA, e o CDC analisa esses relatórios da seguinte forma: tenta fazer o acompanhamento para obter registros médicos ou confirmar informações com profissionais de saúde ou departamentos de saúde. 

Escritório Britânico alerta para interpretação enganosa

A matéria investigada também menciona que “o Escritório Britânico de Estatísticas revelou que as crianças têm até 52 vezes mais chances de morrer após a vacina do que aquelas que não a tomaram”. A informação foi repassada pelo Comprova à instituição, via e-mail, bem como o link da publicação. Em resposta, a entidade britânica ressaltou que “essa interpretação dos dados é altamente enganosa”.

O Escritório explicou que “as taxas de mortalidade devem ser interpretadas com cuidado para crianças devido à forma como as crianças em risco foram priorizadas no lançamento da vacina”. 

Outro ponto, diz a instituição, é que “relativamente poucas crianças teriam sido vacinadas triplamente no momento do nosso último estudo (o Escritório disponibilizou o link) e algumas dessas categorias de idade têm relativamente poucas mortes, então as taxas variam consideravelmente”.

O Escritório também indicou um artigo publicado pela instituição em março de 2022 sobre vacinação e mortalidade envolvendo jovens. Dentre os pontos principais destacados, constam: 

  • Atualmente, não há evidências de mudança no número de mortes relacionadas a doenças cardíacas ou mortes ocorridas por qualquer causa após a vacinação contra o coronavírus em jovens de 12 a 29 anos na Inglaterra;
  • Mais mortes foram registradas em jovens de 15 a 29 anos na Inglaterra em 2021 do que o número médio registrado em 2015 a 2019; mas, não houve excesso em 2021 para óbitos por doenças do aparelho circulatório;
  • Ainda não temos um quadro completo de como a pandemia de coronavírus afetou o número de óbitos entre jovens, porque leva muito tempo para investigar as mortes por causas externas. 

Eventos adversos 

No texto há também a afirmação que a Pfizer teria divulgado um documento listando mais de nove páginas de mais de 1.200 eventos adversos de interesse especial. Esta informação tem sido motivo de diferentes checagens no Brasil desde 2021. No Comprova, a informação foi esclarecida em uma verificação sobre vacinas da Pfizer de dezembro de 2021 e outra de maio de 2022

O conteúdo do jornal irlândes não menciona um documento específico.

A verificação do Comprova em 2021 diz que o documento da Pfizer é um pedido de licença biológica enviado à Agência de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos (FDA, sigla em inglês). Este documento tem 38 páginas, das quais nove (16 a 25) tratam, em tradução livre, sobre a “Revisão de Eventos Adversos de Interesse Especial”, cuja sigla é EAIE, em português, e AESIs, em inglês. 

Além disso, da página 30 a 38 há um apêndice com uma lista dos chamados EAIE. Esses eventos são aqueles pré-especificados clinicamente significativos que podem ser causados por uma vacina. Logo, a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que eles devem ser monitorados de perto e, em caso de suspeita, precisam de estudos especiais adicionais. 

Na pandemia de covid, a OMS, junto com o Grupo Brighton Collaboration (organização sem fins lucrativos com sede na Suíça que agrega especialistas em segurança de vacinas), estabeleceu uma lista de EAIE recomendados para a vigilância ativa de vacinas da covid. No documento da Pfizer, a empresa afirma que leva em consideração, dentre outras listas, a de EAIE da Brighton Collaboration. 

Na prática, a lista Eventos Adversos de Interesse Especial (que consta no documento) é um rol de eventos graves que já ocorrem em outras imunizações; que podem estar atrelados às novas plataformas de vacinas; relacionados à falha da imunogenicidade da vacina (doença intensificada) ou eventos que são potencialmente específicos para populações especiais. 

A lista, na qual consta, dentre outros, arritmia, erupção cutânea, convulsões e insuficiência renal, é uma espécie de panorama sobre os diversos tipos de eventos adversos possíveis. Mas não significa que eles foram constatados na análise da Pfizer ou que todos irão ocorrer na vacinação contra covid, mas, sim, que todos são considerados no monitoramento dos registros da imunização. 

O Fato ou Fake do G1 também checou essa informação, em maio de 2022, e a classificou como fake news. 

Riscos cardiológicos da covid-19 X Vacinação 

O presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Renato Kfouri, alerta que pacientes infectados pelo Sars-Cov-2 têm apresentado várias complicações posteriores ao contágio, na chamada covid longa. Adultos com infarto agudo do miocárdio e arritmias, crianças com miocardite (inflamação do músculo cardíaco) e também arritmias são vistos, segundo ele, com alguma frequência. 

Em relação ao efeito adverso da vacina, Kfouri afirma que não há risco cardiológico que não seja a miocardite, um evento associado à vacina de RNA mensageiro que, no Brasil, é a tecnologia da Cominarty, produzida pela Pfizer. O risco estimado, aponta o pediatra, é de 30 a 50 casos para cada um milhão de doses aplicadas. A incidência é maior em meninos do que em meninas, e os casos são mais frequentes entre adolescentes do que em crianças. 

“Mas o risco da doença covid levar à miocardite é maior que isso. Tanto é que, mesmo conhecendo esse risco atribuído à vacina, o benefício da vacinação, o número de mortes evitadas, de hospitalizações e a própria miocardite evitada é muito superior a esses quadros de miocardite desenvolvidos pós-vacina”, atesta Kfouri, acrescentando que, após a imunização, os poucos quadros registrados foram leves e não houve mortes de crianças relacionadas à vacina. 

O pediatra ressalta que a segurança comprovada do imunizante tem garantido a imunização de crianças e adolescentes contra a covid-19 pelo mundo. “Nenhum país retirou a vacinação com a Pfizer”, observa. 

O presidente da SBIm, Juarez Cunha, reforça que todos os dados disponíveis atualmente demonstram um impacto muito positivo na utilização das vacinas na faixa etária pediátrica.

“Os dados do Brasil são muito tranquilizadores, tanto para crianças quanto para adolescentes e adultos jovens em relação a eventos adversos mais relacionados a risco cardiológico. A doença covid causa muito mais alterações cardiológicas, inclusive miocardite e pericardite, do que os raríssimos eventos adversos pós vacinais. Todas as agências regulatórias mundiais continuam colocando benefício muito superior das vacinas comparado aos raros eventos adversos, quer dizer, aos raros riscos.”

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em nota da assessoria, acrescenta que, desde o início do uso das vacinas contra a covid-19 no país e, particularmente, da aplicação em crianças, os imunizantes têm sido monitorados com rigor pelo sistema de farmacovigilância que envolve, além da agência, o Ministério da Saúde, empresas, profissionais e serviços de saúde. 

“Até o momento, não há alterações no perfil de segurança destas vacinas e não há alterações nas suas indicações para uso nas faixas etárias infantis. A relação benefício-risco mantém-se favorável para todas as vacinas autorizadas pela Anvisa, de acordo com aspectos dos textos de bula de cada imunizante”, ressalta a agência, em sua resposta por e-mail. 

Renato Kfouri lembra ainda que a Sociedade de Pediatria, junto ao Departamento de Cardiologia Pediátrica, emitiu uma nota para tranquilizar os pais de crianças com cardiopatias sobre a imunização, informando que não há contraindicações na imunização desse público.  

“As crianças com doença crônica do coração têm o risco aumentado de desenvolver complicações da covid. Essas precisam ser vacinadas mais do que crianças que não têm nenhuma doença crônica.”

Vacinação de crianças no Brasil 

Atualmente, há duas vacinas autorizadas pela Anvisa para crianças no Brasil: a Cominarty, da Pfizer, com uso indicado para a faixa etária de 5 a 11 anos; e a Coronavac, do Butantan, a partir dos 6 anos. 

O Butantan deseja estender o público atendido, incluindo crianças de 3 a 5 anos, e o pedido está em discussão na Anvisa. Na última quarta-feira (8), houve encontro de representantes do instituto, com a agência e especialistas para mais uma etapa da análise. 

“É importante destacar que, para a avaliação de vacinas para o público infantil, a Anvisa tem contado com a colaboração de especialistas externos das mais importantes sociedades médicas das áreas de pediatria, infectologia e imunização”, afirma a agência.

Em maio deste ano, o Ministério da Saúde divulgou a conclusão de uma investigação sobre 38 mortes de crianças e adolescentes após a vacinação. Nenhuma delas estava ligada ao imunizante.

Vacina em bebês

O Comprova procurou a Pfizer no Brasil para saber se há pedido de autorização da farmacêutica para vacinar bebês e se a solicitação já foi liberada em algum país.

Por meio de nota, Pfizer/BioNTech informaram que no dia 23/05/22 os resultados de estudos apontaram eficácia de 80,3% da vacina em crianças de 6 meses a menos de 5 anos de idade, após 3 doses da vacina ComiRNAty.

Segundo a empresa, a terceira dose foi bem tolerada em 1.678 crianças menores de 5 anos com perfil de segurança semelhante ao placebo. O nível de dose, que é um décimo da dose para adultos, foi selecionado para crianças menores de 5 anos com base na segurança, tolerabilidade e imunogenicidade.

A partir disso e seguindo a ordem cronológica de processos de submissões anteriores, primeiramente, os dados são enviados para a análise das agências internacionais FDA e EMA (agências regulatórias de saúde dos EUA e União Europeia). Na sequência, começaremos às submissões para outras agências regulatórias do mundo, incluindo a ANVISA, no Brasil.

Campanha de desinformação afeta a vacinação 

Juarez Cunha analisa que publicação como a irlandesa, reproduzida no conteúdo aqui investigado, causa impacto significativo à saúde pública, não apenas relacionada à prevenção contra a covid-19. 

Ele diz que as campanhas de desinformação, que não refletem a realidade e visam apenas abalar a confiança das pessoas nas vacinas, contribuem para o reaparecimento de doenças que já tinham sido eliminadas e para o escape daquelas controladas.

 “É o que temos observado no país, em especial neste um ano e meio de uso das vacinas (contra a covid). Os grupos antivacina estão tendo espaço, inclusive em audiências públicas para discutir coberturas vacinais. Esses espaços foram dados, infelizmente, por governantes e pelas nossas instituições como o Ministério da Saúde.”

Juarez Cunha sustenta que, a partir do momento que foi dada voz a esses movimentos contra a imunização, o impacto tem sido negativo em todas as coberturas vacinais, de todas as faixas etárias. 

“O risco é de retorno de doenças eliminadas, como foi o caso do sarampo, que retornou por causa de baixas coberturas vacinais. Há um risco importante da pólio (poliomielite), no momento que continua circulando no mundo e as nossas coberturas nos deixam numa vulnerabilidade muito grande; e todas as outras eliminadas, como a rubéola congênita e tétano neonatal; as controladas, como coqueluche e as meningites. Todas as doenças a gente diminuiu muito a incidência com as vacinas e há o risco de elas retornarem agora”, alerta.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Mais de dois anos após a decretação da pandemia pela OMS, as campanhas de desinformação persistem, agora com foco maior para as vacinas. 

Essa prática é danosa à saúde pública porque, se as pessoas não se imunizam, o controle da covid torna-se mais complexo. Além disso, a desinformação afeta a confiança da população nos imunizantes de maneira geral, contribuindo para o reaparecimento de doenças já eliminadas. 

Outras checagens sobre o tema: Desde o início da pandemia, o Comprova rebate conteúdos falsos e enganosos sobre a covid-19 nas redes sociais. Os imunizantes são, atualmente, o alvo preferencial de desinformação e a equipe já demonstrou que um post usa texto que manipula dados para atacar a segurança das vacinas e que outra postagem tira documentos da Pfizer de contexto para enganar que imunidade natural é suficiente para combater a doença.  

A autora do conteúdo agora checado já foi investigada anteriormente pelo Comprova, também pela criação de postagens antivacina. A reportagem apontou que vídeo compara erroneamente pesquisadores que estudam covid-19; que é falso que órfãos da Polônia são usados em experimentos de vacina da Pfizer e da Moderna; que para atacar vacinas, post mente ao dizer que OMS apontou dano ao sistema imunológico; e que é impossível que vacinas causem alterações genéticas. 

Saúde

Investigado por: 2022-06-14

Post engana ao relacionar mortes no esporte à vacinação contra a covid-19

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso post que sugere que a vacinação contra a covid-19 aumentou o número de mortes súbitas entre atletas e que já há 673 óbitos após 16 meses do início da aplicação dos imunizantes; os dados apontados pelo post utilizam casos em que não há relação com a vacina, mortes de pessoas que não eram atletas e até de quem não foi vacinado. Para especialistas, casos suspeitos de terem relação com a vacina são muito raros, o que é insuficiente para apontar uma relação de causalidade.

Conteúdo investigado: Post no Twitter que afirma que 673 atletas tiveram morte súbita em 16 meses de vacinação contra o coronavírus, número proporcionalmente superior a todas as mortes deste tipo registradas entre 1966 e 2004.

Onde foi publicado: Twitter e sites de grupos antivacina.

Conclusão do ComprovaÉ enganoso o conteúdo de um tuíte viral que atribui à vacinação contra a covid-19 um suposto aumento no número de casos de mortes súbitas entre atletas. O tuíte, escrito em francês, afirma que 673 atletas morreram num acumulado de 16 meses após o início da vacinação – até abril de 2022 –, enquanto o número total de mortes deste tipo entre atletas, de 1966 até 2004, foi de apenas 1.101 casos no mundo. A fonte dos dados é um post em constante atualização em um site com conteúdo antivacina.

Contrariando a afirmação feita no tuíte, não existe nenhum dado estatístico oficial que aponte que mortes súbitas de atletas foram de fato associadas à vacinação contra a covid-19. Além disso, segundo especialista ouvido pelo Comprova, não é possível comparar casos recentes de morte súbita com um levantamento em um recorte temporal tão amplo, uma vez que a metodologia de coleta dos dados e as formas de notificação mudaram muito nas últimas décadas – sem contar que, no passado, havia uma subnotificação maior do que existe hoje.

O tuíte aqui verificado não cita a fonte dos dados apontados, mas o Comprova localizou os números em um site com conteúdo antivacina. A página lista uma sequência de casos com nome das pessoas, idade, circunstância em que morreram e alguma frase que especula uma relação entre o óbito e a vacinação, como um intervalo de tempo entre a aplicação do imunizante e o mal súbito. Em muitas situações, há links para “notícias” sobre os falecimentos. Contudo, são contabilizados entre os óbitos atribuídos à vacina mortes de pessoas que não foram vacinadas, vítimas de acidentes, pessoas com histórico de doenças cardiovasculares e até algumas que morreram em decorrência de complicações da covid-19.

O Comitê Olímpico Internacional (COI), que adota um protocolo de segurança para casos de morte súbita cardíaca, não possui dados sobre esses eventos em atletas durante a pandemia ou após o início da vacinação, nem a Federação Internacional de Futebol (FIFA). De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), embora haja casos que levantem uma possibilidade de associação entre mal súbito e as vacinas contra o Sars-CoV-2, os casos são “muito raros e insuficientes para sustentar uma suficiente relação de causalidade”.

A fotografia utilizada no post, que mostra um jogador de futebol caído no campo enquanto um profissional tenta reanimá-lo, é antiga e não pode ser associada à pandemia: ela circula pela internet pelo menos desde novembro de 2013 e faz parte de uma peça de publicidade de uma marca de desfibriladores cujo público-alvo são equipes de futebol.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Juntos, o tuíte original, em francês, e o compartilhado, em português, somavam mais de 9 mil interações até o final da manhã de 13 de junho de 2022.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o site que publicou a lista de casos de morte súbita no esporte supostamente relacionados à vacinação, mas não obteve resposta até a publicação desta checagem.

Como verificamosO primeiro passo foi tentar localizar, por meio de busca reversa de imagens, a fotografia utilizada no post. Ela mostra um jogador caído em um gramado, cercado por outros atletas e sendo atendido por um socorrista. De acordo com registros da ferramenta TinEye, a imagem já circula pela internet desde dezembro de 2013. A mesma fotografia com recorte parecido foi usada em um blog britânico sobre atividade física em 18 de novembro de 2013, ou seja, bem antes da pandemia.

| Reprodução do blog Physical-sports. Imagem capturada em 14 de junho de 2022.

Em seguida, a reportagem buscou por publicações que eventualmente associassem casos de morte súbita entre atletas e vacinas contra a covid-19. Apenas páginas na internet com conteúdo antivacina mostravam listas com nomes, datas e locais dos supostos óbitos. Uma dessas páginas continha exatamente os mesmos dados citados no tuíte. O levantamento foi feito com base na comunicação de casos a partir de postagens e notícias na internet.

O Comprova buscou, então, números oficiais em revistas e grupos científicos e em entidades ligadas ao esporte: a American College of Cardiology (ACC), a Sociedade Brasileira de Cardiologia (Sobrac), a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, a Federação Internacional de Medicina Esportiva (FIMS), o Comitê Olímpico Internacional e a Federação Internacional de Futebol.

Também foram consultadas outras checagens e notícias na imprensa sobre morte súbita de atletas, além de acionados os responsáveis pelos dados utilizados nos tuítes.

Lista atribui à vacina morte de pessoas não imunizadas

Os números compartilhados no Twitter são os mesmos que aparecem em um site que afirma publicar conteúdos sobre ciência, mas que costuma questionar a eficácia, segurança e até a necessidade de se tomar a vacina contra a covid-19. O autor do post atualiza a lista de “casos” mês a mês, desde o início da vacinação. No entanto, não há referências científicas para as ocorrências, que são noticiadas em sites especializados em esportes, na imprensa profissional ou até em redes sociais. Em muitas situações, não há sequer menção ao fato de a pessoa ter recebido a vacina ou de o óbito ser associado a uma reação pelo imunizante.

É o caso, por exemplo, do primeiro atleta listado pelo site, o jogador de futebol brasileiro Alex Apolinário. Ele tinha 24 anos e jogava em Portugal, quando sofreu uma parada cardiorrespiratória em campo no dia 3 de janeiro de 2021 e acabou morrendo num hospital quatro dias depois. Alex não havia sido vacinado ainda, o que automaticamente exclui a possibilidade de o imunizante ter provocado a parada. Outro caso parecido é o da tenista italiana Cloe Giani Giavazzi, de apenas 12 anos, que sofreu um mal súbito em Milão, na Itália, em junho de 2021. Ela também não estava vacinada e a academia de tênis onde ela jogava informou que a associação entre a morte e o imunizante é infundada.

Pelo menos três mortes de atletas por covid-19 foram listadas pelo site como óbitos relacionados à vacina: a do jogador de hóquei russo Vladislav Yegin, que morreu aos 32 anos em maio do ano passado; a do patinador bielorusso Igor Zhelezovski, de 57; e a do jogador de futebol brasileiro Waldir Lucas Pereira, de 39, que morreu em junho de 2021. 

O site também atribui à vacina mortes cuja associação faz pouco ou nenhum sentido. O jogador americano de beisebol Sang Ho Baek morreu aos 20 anos. Ele tinha tomado a vacina, mas foi vítima de complicações durante uma cirurgia no cotovelo. O jogador de handebol macedônio Nikola Danilovski, de 24, morreu afogado enquanto pescava com o pai. Já a piloto de motovelocidade russa Tatiana Igushina, de 31 anos, morreu em um trágico acidente de carro, o mesmo que também vitimou o piloto russo Ivan Kurenbin, 31. Ele também foi listado como uma possível vítima de morte súbita provocada pela vacina.

Há, por fim, casos de pessoas que morreram em decorrência de doenças cardíacas pré-existentes, como foi o caso do jogador americano de futebol Ivan Hicks, 16, que tinha uma doença cardiovascular; do jogador de basquete espanhol Juan Manuel Nuñez Martín, 16, que morreu quando estava internado para tratar de uma doença cardíaca; e do ex-jogador americano de beisebol, Hank Aaron, que tinha 86 anos e morreu de causas naturais.

Há até “não atletas” entre os profissionais listados pelo site: a escocesa Laura Henderson, 42 anos, morreu quando corria num parque com duas amigas. O garoto brasileiro Brian Saes, 15, não era ciclista – ele apenas estava andando de bicicleta quando sofreu uma parada cardíaca em Santa Catarina. A irlandesa Catharine Keane, 31, era publicitária e praticava ginástica – ela morreu durante o sono. 

Casos são muito raros e não há dados que indiquem causalidade

O cardiologista Marcelo Leitão, diretor científico da SBMEE explica que casos de morte súbita, mesmo subnotificados, são raros. Ele também afirma que os registros não aumentaram durante a pandemia, o que desmente a tese de que houve aumento significativo após a vacinação: “Nós não temos nenhum dado estatístico oficial que diga que isso aconteceu de fato”, afirma o especialista, que também assinou uma nota técnica da SBMEE de janeiro de 2022.

Na época, a SBMEE se pronunciou porque o mesmo site que serve de fonte para o tuíte aqui verificado vinha levantando essa suposta relação. A nota dizia que, “embora existam relatos, em publicações científicas, levantando a possibilidade de associação entre morte súbita e vacinas contra a Sars-COV-2, estes são muito raros e insuficientes para sustentar uma consistente relação de causalidade”. A nota também afirma não haver “nenhuma evidência científica mostrando qualquer tipo de elevação no número de casos de morte súbita em atletas, acima dos índices habituais”.

Marcelo Leitão observa que há efeitos adversos nestas e em outras vacinas, contra outras doenças. Quando os malefícios superam os benefícios, vacinas ou medicamentos são retirados de circulação, mas isso não se aplica aos imunizantes contra a covid, afirma. “Pelo menos até o momento, em relação às vacinas de covid, apesar de haver relatos de efeitos secundários com todas elas, os efeitos secundários acontecem em incidências muito baixas e os benefícios da vacinação são absolutamente consistentes, fazendo com que se mantenha a recomendação da vacinação”, pontua.

Ele destaca, ainda, que efeitos adversos como as miocardites, por exemplo, são mais comuns em pessoas que tiveram a covid-19 do que em pessoas que tomaram a vacina. “Reduzir a gravidade, o número de infecções pela vacina, é algo que traz uma proteção inclusive no que diz respeito às eventuais miocardites que podem acontecer. Então, é muito mais arriscado não se vacinar, pegar covid e ter miocardite do que se vacinar e ter uma miocardite como efeito adverso porque a frequência é muito maior nas situações pós-covid”, alerta.

Comparação com casos de 1966 a 2004

O site que lista as supostas mortes de atletas decorrentes da vacinação faz uma comparação infundada: a de que entre 1966 e 2004 foram registradas apenas 1.101 mortes súbitas de atletas com menos de 35 anos – 29 mortes por ano –, enquanto ocorreram 673 óbitos de atletas em 16 meses de vacinação contra a covid, uma média de 42 por mês, ou 504 por ano. 

Os números apontados entre 1966 e 2004 constam em um levantamento publicado em 2006 no European Journal of Preventive Cardiology. O estudo leva em conta números de eventos de morte súbita cardíaca no esporte relatados na literatura médica entre 1966 e 2004 e busca chegar a um protocolo de triagem de pré-participação (PPSP) para ser aplicado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Para o cardiologista Marcelo Leitão, contudo, mesmo que os dados sejam reais, a comparação com supostos casos na atualidade é inadequada, tendo em vista que a subnotificação era maior décadas atrás, e a metodologia de notificação também mudou. Muitas pessoas morriam praticando exercícios, mas os casos não eram relatados como morte súbita no esporte.

“É muito complicado você fazer uma comparação de dados estatísticos que falam de eventos de morte súbita numa época em que a capacidade de se identificar e se fazer esse tipo de levantamento era muito menos eficiente do que ela é hoje, apesar de nos dias de hoje a gente saber que ela não é 100% eficiente. Tem que se tomar muito cuidado quando se faz esse tipo de comparação em períodos distintos para avaliar se a metodologia, se as características dos levantamentos eram semelhantes e seguramente isso não acontece”, explica.

Outro empecilho à comparação é a faixa etária: o artigo que levanta os dados de 1966 a 2004 leva em conta mortes súbitas em atletas com menos de 35 anos, enquanto a lista que serviu de base para o tuíte verificado contabiliza mortes de pessoas com mais de 80 anos. 

Marcelo destaca que esse tipo de comparação aparece muito em sites que usam uma nomenclatura relacionada à ciência, mas que não seguem um método científico, justamente como o que serviu de fonte para o tuíte aqui verificado. “Muitas vezes, usam levantamentos inapropriados, inserem entre as mortes súbitas relacionadas à vacina indivíduos que, por exemplo, não se vacinaram, mas há uma tendência de associar isso à vacinação. A metodologia e o cuidado, o rigor do levantamento desses dados é muito questionável, então a gente não pode aceitar essa informação”, alerta.

FIFA não registrou nenhum caso associado à vacina

Procurada, a Federação Internacional de Futebol informou por e-mail que “não está ciente de um aumento nos episódios de paradas cardíacas” e “nenhum caso foi assinalado em relação a indivíduos que receberam uma vacina de covid-19”. A entidade máxima do futebol também informou que mantém contato constante com diversos centros de pesquisa para acompanhar uma variedade de tópicos médicos. Os casos de morte súbita, especificamente, são acompanhados desde janeiro de 2014 através do Registro de Morte Súbita (SRD), em parceria com a Universidade de Saarland, na Alemanha.

“A morte súbita (SD) de um atleta aparentemente saudável é um evento trágico raro que atrai a atenção da mídia, especialmente quando estão envolvidos atletas de elite. O esforço vigoroso aumenta de três a quatro vezes o risco de eventos cardíacos fatais, já que atua como um gatilho para arritmias malignas na presença de doenças cardiovasculares subjacentes. Entretanto, em geral, a atividade física regular está associada a um efeito protetor, mesmo quando se considera os riscos temporários experimentados durante a atividade atlética”, diz a nota.

Em 2020, pesquisadores da Universidade de Saarland, liderados por Florian Egger, do Instituto de Esportes e Medicina Preventiva da instituição, publicaram um artigo com base em dados da FIFA entre 2014 e 2018. Os resultados apontaram 617 casos de morte súbita cardíaca entre jogadores de futebol profissionais em 67 países. Uma vez que a morte súbita pode ser revertida, o estudo aponta que 142 jogadores sobreviveram. A principal causa de mortes súbitas entre jogadores com mais de 35 anos foi doença arterial coronariana, enquanto nos menores de 35, a maioria dos casos teve causa inexplicada. 

Atletas são 100% saudáveis?

Há um discurso comum entre as publicações que tentam associar mortes súbitas de atletas à vacinação contra a covid-19: a ideia de que atletas são pessoas totalmente saudáveis e que, portanto, não deveriam estar sujeitos a mortes súbitas. Isso não é verdade. “A morte súbita em atletas sempre foi uma coisa que chamou muita atenção. O que nós temos que lembrar é que atletas, embora de um modo geral sejam pessoas muito saudáveis – porque a gente sabe que pessoas que são fisicamente ativas têm um risco menor de problemas de saúde, de morte por problemas cardiovasculares – isso não confere imunidade completa a essas pessoas”, diz Marcelo Leitão.

Ele alerta que muitos atletas podem ter problemas silenciosos, que não foram detectados previamente. Nesses casos, o exercício físico, sobretudo o exercício intenso, pode ser um gatilho que desencadeia um evento de morte súbita. “Ele não sentia nada até ter o evento de morte súbita ou ele sentia alguma coisa, mas ele não informou a seu médico, ou ele fez uma avaliação e ainda assim a avaliação não conseguiu identificar algumas situações que a gente sabe que são muito difíceis de ser identificadas”, afirma o cardiologista.

Em novembro de 2019, a cardiologista Alinne Katienny Lima Silva Macambira fez uma apresentação durante o XXXVI Congresso Brasileiro de Arritmias Cardíacas falando justamente sobre mortes súbitas no esporte. Entre as razões para a morte de um atleta estão a alta exigência física, o aumento excessivo da função cardíaca, o aumento da ventilação pulmonar, desidratação, alteração eletrolítica, elevado consumo energético, diminuição da imunidade e, como mencionou Marcelo Leitão, por um gatilho para uma doença pré-existente.

Foto utilizada é parte de ação publicitária

A busca reversa pela imagem usada no post mostrou que ela circula pela internet há quase nove anos. Mas o fato de ela não poder ser associada à vacinação não é o único problema: é que a imagem não registra um atendimento a um atleta que sofreu um mal súbito de verdade – ela foi produzida para divulgar um produto, um modelo de desfibrilador para ser usado por equipes de futebol.

O primeiro sinal de que a foto é produzida, e não um registro jornalístico, é a organização da imagem, além das reações dos atletas: a fotografia é muito limpa e os jogadores estão dispostos na cena de modo que o atendimento fique em primeiro plano. Não há qualquer sinal genuíno de que os outros jogadores ao redor do atleta caído no chão estivessem minimamente assustados com a situação.

Outro indício de que a foto foi produzida é o fato de que muitos sites que a utilizavam no passado salvaram o arquivo com o nome “Zoll-futebol.jpg”.

Outra busca pela imagem associada a essas palavras levou a uma fotografia da mesma sequência que mostra o socorrista chegando ao campo carregando uma espécie de maleta em que aparece o nome de uma marca de desfibriladores, a Zoll, e o modelo AED Plus. O Comprova entrou em contato com os representantes da marca no Brasil, que confirmaram que a imagem não é jornalística e faz parte de um material de marketing.

Por que investigamosO Comprova investiga postagens que viralizam na internet com conteúdo envolvendo as eleições presidenciais deste ano, a realização de obras públicas e a pandemia. Conteúdos como este aqui verificado, que colocam em dúvida a vacinação contra a covid-19 e atribuem a ela mortes quando não há uma relação cientificamente comprovada, são perigosos porque podem influenciar pessoas no mundo inteiro a não tomarem a vacina, o que causa um impacto negativo direto no sucesso do combate à pandemia.

Outras checagens sobre o temaO Comprova já mostrou que não havia relação entre casos de mal súbito em atletas e vacinas contra covid e também já desmentiu que jogador dinamarquês tenha se vacinado antes de sofrer mal súbito em campo.

Eleições

Investigado por: 2022-06-13

Post engana ao omitir que protesto contra Lula em Bagé é de 2018

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a publicação que mostra uma manifestação contra o ex-presidente e pré-candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na cidade de Bagé, no Rio Grande do Sul, que ocorreu em 2018. A postagem foi publicada recentemente pelo perfil "eleicoesdireita", dando a entender que são imagens recentes. O vídeo, de uma reportagem do SBT, foi postado na plataforma TikTok sem legenda e informações importantes, como a data do protesto que aconteceu em 2018.

Conteúdo investigado: Vídeo que circula no TikTok mostra a passagem do ex-presidente Lula pela cidade de Bagé, no Rio Grande do Sul. Na ocasião, o petista foi hostilizado por manifestantes. A primeira parte do conteúdo é uma reportagem do SBT de 2018 e a segunda, um vídeo amador sem identificação. No post, não há qualquer menção à data em que ocorreu o protesto.

Onde foi publicado: TikTok

Conclusão do Comprova: É enganosa a publicação feita em junho de 2022 no TikTok e que mostra uma manifestação contra o ex-presidente Lula, em Bagé, no Rio Grande do Sul. Embora o protesto de fato tenha ocorrido, a situação ocorreu em 19 de março de 2018, à época em que o petista fazia uma caravana por diversas cidades brasileiras.

Ao não citar a data da manifestação, o post pode passar a falsa impressão de que a manifestação é recente. O que, inclusive, pode ser observado em comentários do tipo “‘Mais’ ora não era ele que estava na frente nas pesquisas?”, “Ué ‘num’ é o primeiro nas pesquisas’, “Ele não é o favorito?”, como mostram os prints abaixo:

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até o dia 9 de junho, a publicação teve mais de 4,3 mil curtidas, 695 comentários e foi compartilhada mais de 1,8 mil vezes.

O que diz o autor da publicação: O conteúdo foi compartilhado por um perfil no TikTok identificado como “eleiçõesdireita”, que acumula 12,9 mil seguidores. Durante a verificação, o vídeo foi apagado, assim como a conta do perfil na plataforma. Não foi possível entrar em contato com o autor.

Como verificamos: O Comprova iniciou a busca pelas palavras-chaves “Lula” e “protesto em Bagé” e localizou registros de diversos veículos jornalísticos publicados em março de 2018. Entre os registros, a matéria do GZH, da Veja e Poder 360.

Com as mesmas palavras-chaves, procuramos vídeos publicados no Youtube e no Facebook que fossem semelhantes à gravação amadora que surge na segunda metade da postagem. Usamos o Google Street View para tentar identificar similaridades entre os vídeos e os lugares em que ocorreram as manifestações.

Protesto contra Lula ocorreu em 2018

Em 2017, o ex-presidente iniciou uma jornada por diversos estados. Intitulado “Lula pelo Brasil”, o projeto tinha a intenção de mostrar a força e popularidade do petista em face das investigações da operação Lava Jato que avançavam sobre ele. As viagens começaram pelos estados do Nordeste, entre os meses de agosto e setembro daquele ano, região onde Lula sempre teve maior popularidade. Posteriormente, a caravana foi alcançando outras regiões do país.

O protesto contra o ex-presidente Lula na cidade de Bagé, no Rio Grande do Sul, ocorreu em 19 de março de 2018, conforme noticiado por veículos de imprensa à época. O município foi escolhido, naquela ocasião, como ponto de partida da caravana nos estados da região Sul do país.

Lula estava acompanhado da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), da presidente do partido, Gleisi Hoffmann e do ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro, dentre outros políticos. Em Bagé, ele participou de uma atividade na Universidade Federal do Pampa (Unipampa).

A chegada do ex-presidente à universidade ocorreu ainda no período da manhã e foi marcada por confusão entre apoiadores do petista e manifestantes contrários ao político. Lula havia deixado o aeroporto do município em um ônibus e já no trajeto até a Unipampa foram registrados bloqueios por parte de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Também nos arredores da universidade, grupos se dividiam entre apoiadores e ruralistas contrários à visita. Foi registrado um confronto no local e um dos manifestantes precisou ser algemado por policiais, como relatou a reportagem original do SBT. No local estavam cerca de 20 tratores com os motores ligados, além de cartazes com protestos a Lula e um ‘pixuleco’ – como ficaram conhecidos os bonecos infláveis usados em manifestações contrárias a Lula e ao PT. O objeto estava pendurado em uma cela que foi içada por um guindaste.

Já no trio elétrico parado na frente do campus, uma faixa estampava a seguinte frase: “Lula, Bagé está orgulhosa de te receber!”. O ex-presidente fez um breve discurso de cima do trio.

Vídeo amador

Postagens de 2018 no Facebook e no YouTube (post 1 e post 2) reproduzem o vídeo amador junto a outras gravações. Também há uma publicação do vídeo em um canal excluído no YouTube, mas a gravação foi salva pela ferramenta Way Back Machine. As publicações mencionam as manifestações contrárias a Lula em Bagé na legenda e nos comentários. Além disso, algumas delas foram postadas no mesmo dia dos protestos no município.

Reportagens da imprensa registrando os protestos em Bagé também possuem elementos presentes no vídeo amador. Na postagem verificada, após a passagem dos ônibus, é possível ver um prédio com a fachada branca. O mesmo edifício pode ser observado em registro feito pelo portal UOL, na reportagem do SBT (minuto 0:32) e em vídeo disponível no YouTube, que mostra o momento de outro lugar.


| Captura de vídeo amador

| Captura do vídeo do UOL

| Captura de vídeo do Youtube

Apesar da baixa qualidade das imagens, é possível ver que um dos manifestantes é imobilizado por um policial com o capacete branco, que está próximo a outros agentes com escudos e capacetes laranjas. A cena foi gravada pelo SBT de outro ângulo.


| Captura de vídeo amador

| Captura de reportagem do SBT

O vídeo no YouTube exibe as cenas do protesto próximo aos manifestantes favoráveis ao ex-presidente Lula. Também surge a caravana do político, formada por três ônibus da empresa Corumbau Brasil, que é mostrada na postagem verificada sob ataque. Além disso, no início da filmagem, o prédio da Unipampa em Bagé é mostrado.


| Imagem de vídeo no Youtube

Imagem da Unipampa em Bagé – Google Street View 2011

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos sobre pandemia, eleições e políticas públicas que atinjam grau de viralização nas redes sociais. O post aqui checado faz uma alegação enganosa por não citar a data em que ocorreu o protesto. Em meio à campanha à presidência da República e tendo Lula como um pré-candidato, o conteúdo pode acabar passando a falsa impressão de que o ato ocorreu neste ano. Conteúdos falsos ou enganosos que envolvem atores políticos trazem prejuízos ao processo democrático e atrapalham a decisão do eleitor, que deve ser tomada com base em informações verdadeiras.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente, o Comprova mostrou que vídeos de manifestação contra Lula em Passo Fundo são de 2018; que post no Facebook engana ao divulgar atos pró-Bolsonaro de 2021 como se fossem atuais e que é falsa a publicação afirmando que revista Veja cortou mão de Lula em foto.

Eleições

Investigado por: 2022-06-13

Entrevista sobre voto foi feita por humorista, não pelo Datafolha

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o post do deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ) com um vídeo que ironiza as pesquisas de intenção de voto. A gravação publicada por ele é trecho de uma pegadinha do humorista Mizael Silv, o que não foi identificado na postagem; o político a legendou apenas com "Olha o DataPovo indignado com o DataFolha kkkk". Embora no vídeo haja a legenda "Pesquisa pra faculdade", muitos seguidores acham que a gravação é uma denúncia sobre como o instituto de pesquisa do Grupo Folha atua em campo.

Conteúdo investigado: Trecho de pegadinha em que um entrevistador pergunta a um homem em quem ele vai votar. Ele responde “em Bolsonaro” e o humorista diz que o entrevistado “não tem cara de quem vota” naquele candidato e vai colocar como resposta o adversário, Lula.

Onde foi publicado: Facebook, Twitter e Instagram.

Conclusão do Comprova: É enganoso post com vídeo em que um homem pergunta a outro em quem ele vai votar. Ao ouvir a resposta “em Bolsonaro”, o entrevistador afirma: “Pronto, mas como o senhor tem cara de quem vota em Lula, eu vou botar o senhor como quem vota em Lula aqui”. A gravação é trecho de uma pegadinha, o que não foi informado na postagem do deputado federal Carlos Jordy. Ele apenas escreveu a legenda “Olha o DataPovo indignado com o Datafolha kkkk”. Na gravação há a legenda “Pesquisa pra faculdade”, mas diversos seguidores acreditaram se tratar de um pesquisador do Datafolha, instituto de pesquisa do Grupo Folha.

O vídeo completo, como é possível ver pela marca d’água do trecho usado pelo deputado, foi publicado no TikTok do humorista Mizael Silv com hastags indicando se tratar de “#humor #pegadinhas #comedia”. Inclusive, quatro pessoas são supostamente entrevistadas por ele na pegadinha. Dois homens afirmam que votarão em Bolsonaro (PL) e outros dois afirmam que votarão em Lula – o criador de conteúdo faz a mesma pegadinha com todos, dizendo aos que votarão em Lula que preencherá a pesquisa colocando o nome de Bolsonaro.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. O post verificado aqui teve 177 mil visualizações no Facebook.

O que diz o autor da publicação: Procurado, Jordy não respondeu ao contato da reportagem.

Como verificamos: O primeiro passo foi ampliar a marca d’água que aparece no canto inferior direito do vídeo postado pelo deputado. Ali, é possível identificar que se trata de um vídeo publicado no perfil de @mizaelsillv no TikTok. Logo ao entrar neste perfil, verifica-se tratar de uma página de humor. A maioria dos vídeos é identificada com as hashtags #humor, #pegadinhas e #comedia.

O Comprova entrou em contato com Carlos Jordy via mensagem no Facebook, mas não obteve retorno. No Instagram, tentou falar com o humorista, para saber mais detalhes do vídeo, mas também não recebeu resposta.

O vídeo

A gravação completa tem 1 minuto e 25 segundos. Logo no início – o que não aparece no trecho postado pelo deputado, de 36 segundos –, o humorista diz ao primeiro homem entrevistado que está fazendo uma pesquisa para a faculdade. Ou seja, mesmo sendo uma pegadinha, não há nenhuma menção ao Datafolha ou outro instituto de pesquisa.

Após se apresentar, ele diz: “Essa pesquisa vai passar em rede nacional, aí, vim perguntar ao pessoal no centro, vai votar em quem? Lula ou Bolsonaro?”. O primeiro entrevistado que aparece responde que vai votar em Bolsonaro. Mizael, então, afirma: “Eu vou vou botar o senhor como se fosse votar em Lula porque o senhor não tem cara de quem vota em Bolsonaro, não”. Quando o segundo entrevistado aparece, o humorista diz: “Vou botar o senhor aqui como Bolsonaro; o senhor tem cara de quem vota em Bolsonaro.”

O terceiro entrevistado também declara seu voto para o pré-candidato petista. O quarto, que vai votar em Bolsonaro, é o que aparece no trecho do post do deputado federal.

Comentários

Entre os comentários dos seguidores de Carlos Jordy, muitos acreditam se tratar de uma pesquisa verídica. Um deles cita: “Não tem jeito, se Bolsonaro não for reeleito no primeiro turno, fraudaram as urnas”.

Em outra interação, a seguidora menciona: “Hoje o que mais me preocupa é que está claro que estão armando um golpe de fraude nas urnas! Não podemos aceitar isso!”.

Em nenhum momento o parlamentar faz menção de que o conteúdo do vídeo foi retirado de um perfil de humor. Até a tarde de sexta-feira (10), cerca de 1,5 mil comentários foram feitos neste post.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos sobre pandemia, eleições e políticas públicas que atinjam grau de viralização nas redes sociais. Com a proximidade do período eleitoral, cresce o número de conteúdos divulgados nas redes sociais tentando desacreditar as pesquisas de opinião. Informações desse tipo prejudicam a confiança das pessoas sobre os institutos de pesquisa e podem influenciar o voto de forma equivocada. A decisão do eleitor deve ser tomada com base em informações verdadeiras.

Outras checagens sobre o tema: Institutos de pesquisa são alvos frequentes de peças de desinformação. Nesta semana, o Comprova verificou ser falso áudio que atribuía a ex-diretor do Datafolha declarações sobre supostas fraudes em pesquisas eleitorais e manipulação de votos nas urnas eletrônicas. Também já checou vídeo que engana ao dizer que pesquisas foram forjadas na eleição de Bolsonaro em 2018 e site que omite que pesquisa com vantagem para Bolsonaro foi feita apenas em Santa Catarina.

Eleições

Investigado por: 2022-06-10

Post com vídeo antigo engana ao afirmar que Lula e Alckmin foram hostilizados em Porto Alegre

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o vídeo postado nas redes sociais de um suposto episódio em que o ex-presidente e pré-candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acompanhado de seu candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB), teria sido hostilizado pela população durante visita ao Mercado Público de Porto Alegre (RS), no início do mês. Lula e Alckmin estiveram na cidade, mas não visitaram o espaço, cujas características arquitetônicas divergem da imagem investigada. O vídeo na realidade foi registrado em 2018, em Florianópolis. Os políticos não aparecem no vídeo, em que também é possível ver manifestações de apoio ao petista.

Conteúdo investigado: Vídeo mostra uma aglomeração de pessoas em suposto protesto contra a presença de Lula e Geraldo Alckmin no Mercado Público de Porto Alegre e, diante disso, questiona a credibilidade das pesquisas eleitorais, que apontam para a liderança do ex-presidente nas intenções de voto.

Onde foi publicado: TikTok e Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganosa a postagem que viralizou no TikTok, feita no dia 6 de junho, que afirma que Lula e Alckmin foram hostilizados durante visita ao Mercado Público de Porto Alegre (RS). O post destaca a seguinte frase: “Cadê o líder nas pesquisas?”, como forma de desacreditar as pesquisas recentes de intenção de voto, que são favoráveis a Lula.

Vídeo semelhante foi encontrado em publicação de 2018 nas redes sociais, como mostrou a Agência Lupa. As correspondências de personagens confirmam que trata-se do mesmo evento.

O Comprova localizou o mesmo vídeo postado no TikTok em tuítes publicados entres os dias 4 e 8 de junho e que trazem a mesma informação. Neles, com imagens em melhor resolução, foi possível perceber que há manifestações também de apoio a Lula. Assim, não se pode afirmar que os gritos de protesto são uma amostra da reprovação da população ao ex-presidente.

As características do espaço também mostram que o vídeo foi gravado no Mercado Público de Florianópolis (SC), e não no de Porto Alegre, cidade em que Lula e Alckmin estiveram, no dia 1º de junho, para evento na casa de shows Pepsi on Stage.

A assessoria de imprensa do PT negou que Lula e Alckmin tenham estado no Mercado Público de Porto Alegre ou em Santa Catarina. Não foram encontradas reportagens em veículos de imprensa ou postagens em redes sociais que atestem a presença dos políticos no local ou na cidade.

O Comprova classifica como enganoso todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até o dia 10 de junho, o vídeo teve mais de 22,6 mil interações, entre comentários, compartilhamentos, visualizações e curtidas.

O que diz o autor da publicação: Luiz Augusto Barbosa dos Santos, de 45 anos, foi candidato a vereador de Campos Novos (SC) pelo Democratas em 2020, mas não se elegeu. Ele foi procurado via e-mail e mensagem no Facebook, mas não retornou.

Como verificamos: Pesquisas com os termos “Lula”, “mercado público” e “Porto Alegre” no campo de busca do Twitter levaram à localização do mesmo vídeo publicado em diferentes contas. Como as imagens estavam em melhor resolução e sem inscrições na tela, foi possível analisá-las mais detalhadamente.

Um dos vídeos foi baixado com utilização do site Save from Net e verificado, frame a frame, no programa Adobe Premiere Pro. A análise das imagens permitiu verificar com mais clareza manifestações também de apoio a Lula.

As características arquitetônicas do espaço mostraram que o vídeo foi gravado no Mercado Público de Florianópolis, cujas imagens foram consultadas no site da prefeitura local.

O Comprova buscou a assessoria de imprensa do PT, o autor da postagem que viralizou no TikTok, e consultou reportagens em veículos de imprensa sobre a presença de Lula e Alckmin em Porto Alegre, no início do mês, para ato político numa casa de shows.

 

Lula e Alckmin não estiveram no Mercado Público de Porto Alegre

Embora a postagem afirme que Lula e Alckmin foram ao Mercado Público de Porto Alegre, as imagens não mostram, em nenhum momento, a presença dos políticos. Também não foram encontradas reportagens em veículos de imprensa ou quaisquer publicações em redes sociais que pudessem comprovar a visita deles ao espaço.

Lula chegou a Porto Alegre no dia 1º de junho, para participar, ao lado de Geraldo Alckmin, de um evento na casa de shows Pepsi on Stage. Esta foi a primeira viagem com os dois juntos na pré-campanha eleitoral.

Questionada pelo Comprova, a assessoria de imprensa do Partido dos Trabalhadores no Rio Grande do Sul afirmou: “Lula e Alckmin não tiveram nenhuma agenda no mercado público de Porto Alegre. Além disso, não foram hostilizados em nenhum momento das suas agendas, hostilizados em deslocamento, hotel ou coisa do tipo. Trata-se de informação mentirosa”.

Segundo a assessoria, Lula e Alckmin chegaram a Porto Alegre na manhã de 1º de junho e deixaram a cidade na tarde do dia seguinte. Sobre a agenda dos dois no município, a assessoria afirmou que, “para além do ato no Pepsi, tiveram reuniões e encontros com setores da educação, cooperativismo e cultura em local fechado. E uma reunião com as representações estaduais dos partidos que apoiam o movimento ‘Vamos Juntos pelo Brasil’”.

Vídeo foi gravado no Mercado Público de Florianópolis em 2018

Ao contrário do que alegam as peças de desinformação, o vídeo que circula nas redes sociais foi gravado no Mercado Público de Florianópolis e não em Porto Alegre.

A partir da comparação de imagens do Mercado de Florianópolis e capturas de tela do vídeo verificado, foi possível observar elementos em comum, como as portas verdes dos estabelecimentos, os arcos que ficam na parte superior das entradas e a cobertura do espaço.

| A primeira foto mostra o espaço do Mercado Público de Florianópolis e está disponível no Portal Municipal de Turismo da cidade: https://turismo.pmf.sc.gov.br/o-que-fazer/item/mercado-publico. A segunda foto é uma captura de tela do vídeo verificado pelo Comprova.

Além disso, na gravação aparece uma porta ligeiramente mais larga que as outras, que pode ser vista também em outras fotos do Mercado Público de Florianópolis.

| Foto do Mercado Público de Florianópolis, em Santa Catarina. Disponível em: https://guia.melhoresdestinos.com.br/mercado-publico-de-florianopolis-65-440-l.html 

Questionada novamente sobre eventual presença de Lula e Alckmin no Mercado de Público de Florianópolis, a assessoria do PT no Rio Grande do Sul negou que eles tenham ido à cidade: “Eles sequer foram a SC (Santa Catarina)”.

Apesar da estrutura do Mercado Público de Porto Alegre também ser amarela, as portas não são verdes como as que aparecem no vídeo:

| Foto da entrada do Mercado Público de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, feita por Giulian Serafim, da Secretaria Municipal de Planejamento e Assuntos Estratégicos da Prefeitura de Porto Alegre. Disponível em: https://prefeitura.poa.br/smpae/noticias/pintura-externa-do-mercado-publico-iniciara-nesta-terca-feira.

A cobertura do espaço também é diferente da que aparece no local do vídeo. A comparação pode ser feita com postagem na conta no Instagram do mercado de Porto Alegre: 

Além disso, o vídeo foi filmado em 2018, conforme mostram diversas outras gravações do mesmo momento feitas em ângulos diferentes e postadas em redes sociais (aqui, aqui e aqui). Nestes registros, mostrados em checagem da Agência Lupa, é possível identificar elementos comuns ao vídeo verificado pelo Comprova, como um homem usando uma blusa amarrada nos ombros.

| Captura de tela do vídeo publicado no TikTok e verificado pelo Comprova

| Captura de tela do vídeo encontrado no Twitter, com qualidade de imagem superior à postagem do TikTok

| Captura de tela do vídeo encontrado no YouTube pela Agência Lupa

Vídeo também mostra manifestações de apoio a Lula

O mesmo vídeo postado no TikTok, aqui verificado, foi publicado por diversos outros usuários do Twitter. As postagens localizadas vão do dia 4 ao dia 8 de junho. Nelas, a qualidade da imagem é superior à postagem do TikTok, o que permite a identificação mais precisa das manifestações também de apoio a Lula. Assim, não se pode valer do vídeo como uma amostra de reprovação da população ao ex-presidente, o que afirma a postagem no TikTok com o objetivo de desacreditar as pesquisas eleitorais que apontam Lula em primeiro lugar nas intenções de voto.

No tuíte do dia 4 de junho, por exemplo, é mais clara a imagem do momento em que uma pessoa se vira para os manifestantes que gritam “ladrão” com um cartaz em que se lê “Lula Livre!”:

O mesmo momento do vídeo no TikTok que, além da qualidade ruim da imagem, ainda traz inscrições que prejudicam a visualização:

Além da placa “Lula livre!”, o vídeo analisado nas postagens no Twitter também permite perceber com mais clareza o sinal de “L” que um homem faz com a mão – símbolo de apoio a Lula. Vê-se ainda pessoas com bandeiras e roupas vermelhas, a cor do PT, partido do ex-presidente. Imagem do vídeo postado no tuíte do dia 8 de junho:

A imagem do momento na postagem do TikTok:

A presença também de manifestantes pró-Lula pode ainda ser constatada pelo áudio do vídeo, marcado como original pelo TikTok, em que é possível ouvir gritos de apoio ao ex-presidente: “Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula”. No entanto, os gritos de “ladrão” são mais evidentes devido à proximidade da pessoa que grava o vídeo do grupo que protesta contra Lula.

Por que investigamos: O Comprova investiga postagens que viralizam na internet com conteúdo envolvendo as eleições presidenciais deste ano, a realização de obras públicas e a pandemia da covid-19. Conteúdos como este aqui verificado podem atrapalhar a lisura do processo eleitoral por desacreditar as pesquisas de intenção de voto registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Outras checagens sobre o tema: A Agência Lupa investigou um vídeo semelhante ao verificado pelo Comprova e chegou à mesma conclusão de que o conteúdo é antigo e não foi gravado em Porto Alegre.

O Comprova mostrou recentemente que áudio sobre fraudes em pesquisas é de comediante, não de ex-diretor do Datafolha, que post no Facebook engana ao divulgar atos pró-Bolsonaro de 2021 como se fossem atuais e que vídeos antigos foram usados para enganar sobre adesão a atos pró-Bolsonaro em 1 de maio. No Comprova Explica, foi mostrado que pesquisas eleitorais seguem métodos científicos, ao contrário de enquetes.

Eleições

Investigado por: 2022-06-09

Não é de Aldo Rebelo áudio que culpa Lula por alta de combustíveis

  • Falso
Falso
É falso o áudio que atribui ao ex-ministro Aldo Rebelo críticas ao PT em relação à corrupção na Petrobras e sugestão para que a estatal seja dividida "para acabar com o monopólio". Não há nenhum registro de que o político tenha gravado tais afirmações, e ele próprio nega ser o autor.

Conteúdo investigado: Áudio com imagem estática do ex-deputado federal e ex-ministro Aldo Rebelo (PDT) com a legenda “Urgente – Vaza áudio de Aldo Rebelo, ex-ministro de Lula e Dilma”. Na gravação, a voz diz que “nenhum presidente tem a possibilidade de controlar os preços da Petrobras” porque “os governos do PT roubaram” a estatal e, com isso, o também ex-presidente Michel Temer (MDB) teria sido obrigado a fazer acordos que incluíam manter a política de preços. Por fim, o criador do áudio sugere fatiar a Petrobras para “acabar com o monopólio”.

Onde foi publicado: Facebook e YouTube. Na primeira rede, o conteúdo foi classificado como falso.

Conclusão do Comprova: É falso um áudio que circula nas redes sociais atribuindo críticas ao PT em relação à Petrobras ao ex-deputado federal e ex-ministro Aldo Rebelo. A postagem usa uma imagem estática do ex-ministro com a legenda “Urgente – Vaza áudio de Aldo Rebelo, ex-ministro de Lula e Dilma”. O próprio Rebelo negou a autoria do áudio. Em resposta ao Comprova, afirmou que o material utiliza expressões que ele não usa e um conteúdo que não defende.

Entre outras coisas, no áudio, que não teve a origem identificada, a pessoa que se passa pelo ex-ministro diz que “ninguém tem a possibilidade de controlar os preços da Petrobras, por um simples motivo: acordos zilionários foram feitos por Michel Temer na Justiça americana”. Afirma ainda que a estatal teria sido “vendida por Lula” e “pelo PT”, o que não é verdade. Como mostra o site da Petrobras, o governo brasileiro é o acionista majoritário.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. O post verificado aqui teve ao menos 9,6 mil visualizações e 6,6 mil compartilhamentos no Facebook.

O que diz o autor da publicação: Dois perfis que postaram o conteúdo falso no Facebook foram procurados pela reportagem, mas não responderam. Em suas páginas, ambos defendem pautas bolsonaristas – um deles afirma ser a favor de intervenção militar.

Como verificamos: O primeiro passo foi fazer uma busca no Google por termos como “Aldo Rebelo” e “Petrobras”, o que resultou em um tuíte do político negando a autoria do áudio e em verificações de agências como Aos Fatos e Boatos.org. Paralelamente, o Comprova também entrou em contato com o ex-ministro por meio de mensagem pelo WhatsApp para que ele comentasse a gravação.

A equipe pesquisou ainda informações sobre a alta do preço dos combustíveis em reportagens e no site da Petrobras.

 

Aldo Rebelo nega ser autor do áudio

Procurado pelo Comprova, Aldo Rebelo enviou um vídeo e negou ser o autor do áudio. “É uma imitação grosseira da minha voz, do meu sotaque, como quem ouviu pode perceber”, disse ele. Aldo Rebelo atribuiu a falsificação “ao temor dos autores do impacto que o preço dos combustíveis está tendo sobre o preço dos alimentos e das passagens”, que “ajudam a jogar uma inflação elevada nas costas, principalmente, dos trabalhadores, dos desempregados e da classe média”.

“O desespero levou à produção desse áudio, em linguagem que não costumo utilizar”, afirmou Aldo Rebelo ao Comprova. Ele disse ainda que está procurando identificar “os autores e os difusores para o devido processo legal”.

O ex-ministro também se pronunciou no Twitter. Na rede social, publicou: “Há um áudio apócrifo circulando e a mim atribuído sobre a Petrobras, com expressões que não uso e conteúdo que não defendo. A minha conclusão é que os autores do áudio fake estão muito preocupados com o impacto dos preços dos combustíveis no preço dos alimentos e nas eleições”.

Alta dos combustíveis

“Bolsonaro nem ninguém, nenhum presidente da República, seja de esquerda ou de direita, pode ser de qualquer coisa, tem a possibilidade de controlar os preços da Petrobras.” Assim começa a peça de desinformação que circula nas redes, que procura tirar qualquer responsabilidade do chefe do Executivo sobre a alta do preço dos combustíveis, que, desde o ano passado, é “a principal preocupação do governo e tornou-se também a da campanha de reeleição do presidente”, como informa a Folha.

Embora a gravação diga não ser possível controlar os preços da estatal, durante o governo Dilma Rousseff (PT), de 2011 a 2016, a Petrobras conteve o aumento de preços para segurar a inflação, o que a endividou ainda mais.

O áudio falso segue comentários feitos por Bolsonaro, que já afirmou ter vontade de privatizar a Petrobras. “Aumentou a gasolina? Culpa do Bolsonaro! Eu já tenho vontade de privatizar a Petrobras, tenho vontade. Vou ver com a equipe econômica o que a gente pode fazer”, disse ele, em outubro de 2021.

A alta é reflexo de aumentos promovidos pela Petrobras em suas refinarias – só a gasolina, em 2021, sofreu reajustes de mais de 70% e, em 2022, 24,5% –, motivada, entre outros pontos, pela alta do preço internacional do barril de petróleo e do dólar. Em seu site, a estatal afirma que “o preço é definido pelos movimentos de oferta e demanda no mercado global” e que o valor “da gasolina segue referências do mercado” e é impactado, principalmente, pelo preço do petróleo.

A política atual de preços, chamada Preço de Paridade Internacional (PPI), que segue a cotação mundial do barril em dólar, foi implementada em 2016, durante o governo Temer, como informa o Estado de Minas.

Ainda em sua página, a Petrobras explica a formação do preço do litro da gasolina dando o exemplo do preço médio no país. Em 9 de junho, era de R$ 7,22, composto da seguinte maneira:

  • R$ 0,99 (13,7%): distribuição e revenda
  • R$ 0,98 (13,6%): custo etanol anidro
  • R$ 1,75 (24,2): imposto estadual
  • R$ 0,69 (9,6%): impostos federais
  • R$ 2,81 (38,9%): parcela Petrobras

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Conteúdos falsos que envolvem atores políticos, como o verificado aqui, trazem prejuízos ao processo democrático e atrapalham a decisão do eleitor, que deve ser tomada com base em informações verdadeiras.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova verificou recentemente outros conteúdos falsos envolvendo o nome de Lula, como o que afirmava que a revista Veja cortou a mão do ex-presidente em foto, o de post que usa áudio com imitação do petista para confundir sobre acusações de corrupção e o que desinforma ao dizer que Lula roubou 350 mil toneladas de ouro de Serra Pelada e deu dinheiro para Venezuela.

Eleições

Investigado por: 2022-06-09

É falso que Lula tenha sido apontado como bilionário pela revista Forbes

  • Falso
Falso
É falsa uma imagem que aponta que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) integra o ranking de bilionários da revista Forbes. O conteúdo em questão, é, na verdade, uma montagem publicada pelo site A Trombeta News. Lula nunca fez parte desta lista; a declaração de bens mais recente do petista mostra um patrimônio total de R$ 7,98 milhões.

Conteúdo investigado: Imagem em que o ex-presidente Lula aparece na capa da revista norte-americana Forbes, cuja manchete, traduzida do inglês, traz a seguinte frase : “Os bilionários do mundo: os nomes, os números e as histórias por trás das 1,246 pessoas que controlam o mundo”.

Onde foi publicado: Facebook e Twitter.

Conclusão do Comprova: É falsa uma imagem publicada pelo site A Trombeta News em que o ex-presidente Lula aparece na capa da revista Forbes como um dos bilionários do mundo. A imagem é, na verdade, uma montagem, e nunca foi publicada pela revista norte-americana.

A montagem em questão mistura elementos de diferentes capas reais da revista e uma fotografia antiga do petista, publicada em 2014, pela Agência Brasil, feita pelo fotógrafo José Cruz. Na ocasião, Lula participou da solenidade comemorativa dos 10 anos da reforma do Judiciário, em Brasília. O evento não tinha nenhuma relação com a Forbes.

Para o Comprova, falso é um conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até a manhã do dia 9 de junho, o texto publicado no site A Trombeta News gerou mais de 2,3 mil interações no Facebook. Desse número, 305 tratavam-se de reações e 248 de comentários. No Twitter, o link do conteúdo foi compartilhado 41 vezes, gerando 129 interações.

O que diz o autor da publicação: Em sua conta no Twitter, A Trombeta News se descreve como “um meio de comunicação de direita”. O Comprova entrou em contato com os responsáveis do site via mensagem privada do Twitter. Apesar de não ter respondido todas as questões enviadas pela reportagem, o perfil argumentou que a “notícia está vinculada em vários sites”, e que é possível encontrar a fonte do texto na própria publicação. No entanto, o endereço do site O Detetive, citado como fonte no pé do texto, não funciona.

Como verificamos: O primeiro momento da verificação envolveu a leitura dos elementos textuais da capa da revista, bem como do texto que acompanha a publicação do site “A Trombeta News”. Nessa etapa, foi possível notar um erro na grafia do nome do ex-presidente: “Luis” Inácio Lula da Silva, em vez de “Luiz”.

Para aprofundar a análise da veracidade da capa, o Comprova fez a busca reversa da imagem a partir das ferramentas Google Imagens e Google Lens. Com isso, não foi encontrado nenhum resultado que relacionasse a imagem com o site da revista Forbes.

Utilizando as palavras-chave “Lula” e “billionaire” no Google, o primeiro resultado da busca foi o artigo “Is Lula, Brazil’s Former President, A Billionaire?”, publicado em 2013, na Forbes. O material, que explica a metodologia da lista de bilionários elaborada anualmente pela revista desde 1987, também esclarece que, até aquele momento, Lula nunca tinha participado do ranqueamento, por não ser bilionário. Com a repercussão desse artigo na imprensa brasileira, foi possível notar que os rumores da suposta fortuna de Lula e a capa manipulada circulavam, pelo menos, desde 2012 na internet. Esclarecimentos sobre a situação foram publicados em veículos como O Estado de S. Paulo e Infomoney.

Por fim, entrou em contato com o site “A Trombeta News” para descobrir a fonte e a intenção da publicação.

A veracidade da capa

O conteúdo analisado nunca foi publicado pela Forbes. Na verdade, a imagem é uma montagem veiculada no site A Trombeta News e mistura elementos de diferentes capas verdadeiras da Forbes com uma fotografia antiga de Lula, feita em 2014 pelo fotógrafo José Cruz, da Agência Brasil.

A montagem ainda traz um selo do 25º aniversário da revista Forbes, celebrado em 2012, que apareceu em algumas edições da revista naquele ano. Ainda assim, o selo usado na imagem falsa possui elementos diferentes do original.

O conteúdo falso apresenta uma frase destacando os 1.426 bilionários que controlariam o mundo. Mas esse número de bilionários só foi registrado em 2013. Em 2012, ano do selo comemorativo, eram 1.226 bilionários, segundo a Forbes.

Lula nunca figurou entre os bilionários do ranking da revista . Essa informação falsa circula nas redes sociais desde 2012. No ano seguinte, em 2013, a própria revista publicou um artigo para desmentir essa afirmação. “Embora existam alguns bilionários que são políticos, Lula não é um deles”, declarou a Forbes.

O patrimônio de Lula

De acordo com a declaração de bens mais recente do ex-presidente Lula para a Justiça Eleitoral, feita em agosto de 2018, o petista tinha R$ 7,98 milhões em carros, imóveis e ativos financeiros. Na época, a maior parte do valor declarado por Lula era referente a um plano de previdência privada, identificado pela sigla VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre).

De acordo com o Estadão, também em 2018, o petista declarou possuir três terrenos, três apartamentos, dois automóveis e uma série de ativos financeiros, como depósitos, aplicação em poupança, créditos decorrentes de empréstimo, alienação e cotas de sua empresa de palestras e eventos.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. O conteúdo verificado transmite informações falsas a respeito de Lula, que é pré-candidato à presidência da República pelo Partido dos Trabalhadores. Conteúdos falsos ou enganosos sobre atores políticos fragilizam o processo democrático e a decisão dos eleitores, que deve ser baseada em informações verdadeiras.

Outras checagens sobre o tema: Além do Comprova, as agências de checagem Lupa e Aos Fatos já verificaram a capa falsa da Forbes que coloca Lula como bilionário. Anteriormente, o Projeto Comprova mostrou que um post usa áudio com imitação de Lula para confundir sobre acusações de corrupção e que uma enquete popular não oficializava Jair Bolsonaro como Personalidade do Ano na revista Time.

Eleições

Investigado por: 2022-06-08

Vacina de spray nasal ainda em teste é diferente de remédio defendido por Bolsonaro

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o post que relaciona uma reportagem de 2021 do UOL sobre ineficácia de spray nasal defendido por Jair Bolsonaro (PL) contra a covid-19 e outra do programa Fantástico, de junho de 2022, afirmando que, segundo especialistas, uma vacina de spray nasal "é o caminho" para o fim da pandemia. Além de ainda não ter comprovação contra o coronavírus, o medicamento citado pelo presidente não era um imunizante.

Conteúdo investigado: Post unindo títulos de duas reportagens para afirmar, erroneamente, que Bolsonaro estava certo sobre aposta em remédio nasal contra o coronavírus. A primeira chamada, publicada pelo UOL em março de 2021, diz: “Com spray, Bolsonaro insiste em medicamento sem eficácia contra covid-19”. A segunda, que foi ao ar no programa “Fantástico”, da Globo, em 5 de junho de 2022, informa: “Vacina de spray nasal é o caminho para o fim da pandemia de covid, apontam especialistas”.

Onde foi publicado: Facebook, Twitter e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É enganoso post que usa a hashtag #Bolsonarotemrazão ao comparar uma reportagem do UOL, de março de 2021, com outra do Fantástico, de junho de 2022. A primeira informa que o spray nasal, aposta do presidente Jair Bolsonaro, não tem eficácia comprovada contra a covid-19. A do programa dominical da Globo afirma que especialistas apontam vacina de spray nasal como “caminho” para o fim da pandemia. A relação, porém, não pode ser feita, porque se tratam de medicamentos diferentes.

O que o presidente defendia é um remédio em desenvolvimento em Israel para tratar pessoas já infectadas pelo coronavírus; já o citado na reportagem do Fantástico é um imunizante.

Sobre o spray que trata a doença, o EXO-CD24, Nadir Arber, um dos cientistas que participa das pesquisas, disse ao Comprova que ainda não há resultados que comprovem sua eficácia – exatamente como informa a reportagem do UOL usada no conteúdo enganoso.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. O post da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) no Facebook recebeu 2,5 mil comentários e foi compartilhado mais de 15 mil vezes até 8 de junho. Outros políticos divulgaram as mesmas alegações em seus perfis do Facebook após a postagem da parlamentar. Até a mesma data, a publicação do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) tinha 3,3 mil compartilhamentos e 966 comentários. Já o conteúdo propagado pela deputada federal Bia Kicis (PL-DF) teve 3,3 mil compartilhamentos e 496 comentários.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com Carla Zambelli, Bia Kicis e Flávio Bolsonaro para esclarecer questões referentes às postagens enganosas. Em resposta, Zambelli questionou o trabalho do Comprova, disse que as duas substâncias são parecidas por serem sprays nasais e afirmou que não teceu “qualquer opinião sobre a eficácia do imunizante proposto”. Os outros políticos não responderam.

Como verificamos: Com a ferramenta TweetDeck, foi possível encontrar as primeiras postagens de Bolsonaro relacionadas ao spray nasal. A equipe também buscou as reportagens cujos títulos são citados na peça de desinformação e outras relacionadas ao spray contra a covid.

A partir de reportagem da Folha de S.Paulo sobre o spray que citava o Clinical Trials, site que reúne informações sobre testes de medicamentos, o Comprova buscou o estudo relacionado ao EXO-CD24 e os nomes dos responsáveis. Via pesquisa no Google, foi possível encontrar seus e-mails e contatá-los. Quem respondeu o contato foi Nadir Arber, professor de medicina e gastroenterologia e diretor do Centro Integrado de Prevenção do Câncer do Centro Médico Sourasky – Hospital Ichilov, em Tel Aviv, em Israel.

Também foram entrevistados Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), e a professora Anamélia Lorenzetti Bocca, coordenadora do Laboratório de Imunologia Celular no Instituto de Biologia da Universidade de Brasília (UnB).

Primeiras menções

Bolsonaro começou a falar sobre um spray nasal contra a covid-19, de acordo com a Folha, em fevereiro de 2021, após o jornal israelense Times of Israel publicar que o remédio EXO-CD24 havia curado 29 dos 30 casos moderados a graves de covid-19.

Em 12 de fevereiro de 2021, em seu Twitter, o presidente afirmava ter conversado com o então primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, sobre o medicamento, que vinha “obtendo grande sucesso no tratamento” da doença em casos graves, como ele escreveu. Três dias depois, ele publicou que “brevemente” enviaria o pedido de análise para seu uso emergencial à Anvisa, mostrando interesse em comprá-lo.

Cerca de um mês depois, de acordo com a reportagem do UOL, cujo título é usado na peça de desinformação, Bolsonaro defendeu o remédio insistindo em outra aposta sem eficácia comprovada, a hidroxicloroquina. “Você tem um pai, irmão ou amigo que está ali: Olha, vai ser intubado. Você vai dar um spray no nariz dele ou não? Ou vai tratar isso como uma hidroxicloroquina, porque também não tem comprovação científica?”, questionou em live no Facebook.

Em março de 2021, o governo federal enviou uma comitiva de dez pessoas a Israel para conhecer o spray nasal. A viagem, que custou ao menos R$ 100 mil, segundo a Folha –, não resultou em nenhum contrato.

Mas, diferentemente do que o presidente disse e do que o conteúdo investigado aqui leva a crer, o EXO-CD24 é um medicamento que estava em teste para ser usado em pessoas infectadas pelo vírus, não um imunizante.

A vacina citada no post enganoso, inclusive, ainda nem está disponível. Como informa o Fantástico na reportagem cujo título é usado no conteúdo verificado aqui, “grupos pelo mundo estão na busca de uma vacina que ataque o vírus logo de cara, que não deixe que ele se multiplique” – o que seria feito via nasal. Ainda de acordo com a atração da Globo, desta forma “a pessoa vacinada não se contamina, e nem dá tempo de transmitir o vírus” e o micróbio finalmente para de circular e a pandemia pode chegar ao fim”.

Remédio israelense

O uso original do EXO-CD24 é para tratamento de câncer de ovário, conforme matéria da Folha.

Quando Bolsonaro começou a falar sobre o spray, ele estava em fase inicial de testes clínicos e não tinha dados publicados, ainda de acordo com a Folha. Entre 35 pesquisas em humanos com drogas via nasal que havia na época, a do EXO-CD24 era uma das mais incipientes.

Nota técnica do Ministério da Saúde de fevereiro de 2021 concluía que a droga “aponta para uma melhora clínica importante dos pacientes hospitalizados com covid-19 moderada a grave”, mas que “os resultados ainda não foram publicados e as informações disponíveis não oferecem dados suficientes sobre os desfechos de segurança e eficácia obtidos e as características dos pacientes incluídos”.

nota da mesma época do Observatório de Tecnologias Relacionadas ao Covid-19, do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, usa trechos da reportagem do jornal Times of Israel para descrever o EXO-CD24. O texto afirma que “o medicamento combate a tempestade de citocinas, que se acredita ser responsável por muitas das mortes associadas à doença” e que “ele usa exossomos – pequenos sacos transportadores que transportam materiais entre as células – para entregar uma proteína chamada CD24 aos pulmões, que o grupo de estudo (do Centro Médico Ichilov de Tel Aviv) está pesquisando há décadas”.

Ainda de acordo com a nota, “essa proteína ajuda a acalmar o sistema imunológico e conter a tempestade” e, por ser administrado localmente no nariz, não tem efeitos colaterais, “ao contrário de outras fórmulas, (o spray é) direcionado diretamente para os pulmões”.

Ao Comprova, o professor Nadir Arber, um dos responsáveis pela pesquisa do EXO-CD24 contra o coronavírus, contou que ainda não há resultados do teste clínico com a metodologia de estudo duplo-cego, quando o voluntário não sabe se está tomando remédio ou placebo, substância sem efeito no corpo. “A última fase da pesquisa está sendo realizada, mas, atualmente, não há pacientes com covid, então, planejamos ter outros dois estudos”, disse ele.

Questionado se o medicamento é eficaz contra a covid, ele respondeu que “parece ser muito eficaz; no entanto, nada pode ser reivindicado até o compararmos com o placebo.”

Vacinas por via intranasal

Anamélia Lorenzetti Bocca, professora de Imunologia Celular na UnB, explica que as vacinas contra o coronavírus podem ser administradas por vias variadas, gerando diferentes respostas imunológicas. A forma de aplicação também pode mudar, podendo ser formuladas por partículas em uma solução ou uma preparação que adere na mucosa do nariz e passa para os outros tecidos do corpo.

A cientista considera que os imunizantes aplicados no nariz são importantes para uma resposta mais robusta localmente, com o aumento de anticorpos, assim como as vacinas por via intramuscular, e a geração dos linfócitos T e B, que são células de memória imunitária.

De acordo com Bocca, a vacina intranasal possui uma resposta mais robusta na mucosa nasal, com produção de anticorpos e células de memória nos linfonodos ao redor da mucosa nasal. Já a vacina intramuscular faz uma resposta mais sistêmica, com produção de anticorpos na mucosa nasal, mas em outras mucosas também, e a geração de células de memória em outros tecidos. Para ela, a utilização de uma ou outra depende do tipo de resposta imune que se pretende para o indivíduo.

Sobre a vacina produzida pelo Dr. Jorge Kalil, citada na matéria do Fantástico, a especialista afirma se tratar de uma proteção profilática, usada na prevenção da doença. “Seria mais uma vacina disponível com a possibilidade de apresentar uma resposta mais robusta na via de entrada do vírus, o que impediria a sua disseminação para outros tecidos”, declara.

“A vacina intranasal de tecnologia nacional não tem qualquer relação com a EXO-CD24 porque uma induz uma resposta imune protetora e a outra trata um sintoma da doença. A atual do Brasil (vacina intranasal) está pronta para iniciar os ensaios clínicos de fase I, aguardando autorização da Anvisa para tal. Ainda não tem parceria com indústrias farmacêuticas para o seu escalonamento. O investimento no Brasil é muito baixo para esta etapa”, esclarece Anamélia Lorenzetti Bocca.

Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), fala que o desenvolvimento desse tipo de vacina é muito procurado para combater os vírus que têm entrada pelas vias respiratórias. Para ele, entretanto, é um caminho mais difícil já que o custo financeiro e tecnológico é maior, demandando laboratórios de biossegurança maiores.

“Até agora, a gente só conseguiu a gripe, que não existe aqui no Brasil, mas muitos países têm a vacina de gripe nasal com vírus influenza vivo, mas enfraquecido”, diz o imunologista.

O diretor da SBIm não acredita que tenhamos essa forma de imunizante em um período de curto prazo. Apesar disso, considera necessário criar vacinas mais modernas que sejam mais eficazes na prevenção de formas leves da doença e que sejam voltadas para as novas formas do coronavírus. Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente existem 361 vacinas em teste contra a covid (163 em estágio clínico e 198 em estágio não-clínico). Do total, há oito imunizantes intranasais sendo desenvolvidos.

Por que investigamos: O Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais ou aplicativos de mensagem sobre a pandemia, eleições e políticas públicas do governo federal. Bolsonaro vem desacreditando as vacinas e defendendo medicamentos sem eficácia comprovada, como o spray nasal, desde o início da pandemia, e conteúdos que fazem o mesmo colocam a saúde da população em risco.

Outras checagens sobre o tema: A Covid-19 dominou a quarta fase do Projeto Comprova, encerrada em dezembro de 2021. Mais de cem conteúdos foram verificados, sobretudo os relacionados a vacinas e tratamentos sem eficácia comprovada contra a doença. Em junho do ano passado, por exemplo, o Comprova mostrou ser enganoso conteúdo que comparava spray nasal patenteado com tratamento precoce. Ainda sobre a covid, a equipe publicou, mais recentemente, ser falso que imunizantes de mRNA são terapia genética e causam a doença e que era enganoso que estudo feito em Itajaí prova eficácia de ivermectina.