O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Eleições

Investigado por: 2022-08-31

É falso que apresentadores estrangeiros fizeram piada sobre Lula e eleitores baianos

  • Falso
Falso
É falso o vídeo que circula na internet atribuindo risadas de apresentadores de programa de TV da Irlanda a críticas contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato à presidência. Uma tradução foi inventada de modo a distorcer o contexto do diálogo, que não faz qualquer menção ao Brasil ou ao ex-presidente. Na verdade, os apresentadores têm uma crise de riso após um deles emitir um som nasal enquanto dá risadas depois de uma fala sobre papilas gustativas.

Conteúdo investigado: Trecho de programa de TV estrangeira com legendas que insinuam que apresentadores debocham de suposta afirmação do ex-presidente Lula sobre comprar votos de eleitores baianos. O conteúdo diz ainda: “Lula faz os baianos virar piada no mundo todo. Nordestinos humilhados no mundo todo por causa do ladrão [sic]”.

Onde foi publicado: Kwai, Facebook e WhatsApp

Conclusão do Comprova: É falso que apresentadores de um programa de TV estrangeira disseram que o ex-presidente Lula (PT) comprou votos de cidadãos baianos. O vídeo investigado pelo Comprova exibe um trecho de um programa irlandês, veiculado em novembro de 2020. No trecho manipulado foram inventadas legendas para insinuar que a dupla de apresentadores estava ridicularizando eleitores por supostamente trocarem votos por R$ 10 ou um lanche de mortadela. Porém, o conteúdo não corresponde ao que é dito no programa. Os apresentadores riem, na verdade, de uma piada sobre papilas gustativas e sequer fazem referência ao Brasil. Enquanto dá risada, um deles emite um som nasal que assemelha ao grunhido de um porco, o que provoca uma crise de risos na dupla.

Também não é verdade que Lula disse ser possível comprar o voto de eleitores baianos. Essa alegação tem origem em um boato antigo que manipula uma entrevista do petista à Rádio Metrópole, de Salvador, concedida em 2017. A edição maliciosa distorce uma fala do ex-presidente, na qual ele defende que, para recuperar a economia brasileira, é preciso incluir os mais pobres no mercado. “Você dá R$ 10 para o pobre e ele vira consumidor, você dá R$ 10 milhões para um rico e ele enfia na conta bancária”, disse Lula.

O Comprova considera falso conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e é divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O conteúdo atingiu, até o dia 30 de agosto, mais de 188 mil visualizações distribuídas entre duas postagens na rede de vídeos curtos Kwai. No Facebook, uma publicação recebeu 849 compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o perfil @Marcosbr37, autor de uma publicação do conteúdo no Kwai, mas até o momento não obteve retorno.

Como verificamos: O Comprova baixou o vídeo do Kwai na plataforma Save from Net e o inseriu no programa InVID, que possibilita uma busca reversa na internet a partir dos frames do vídeo. Dentre os resultados, foi possível localizar o trecho original do programa, postado na conta oficial da atração no Twitter; um tuíte da apresentadora Karen Koster, que explica o motivo das gargalhadas; e textos de sites locais que explicam o contexto da situação (Evoke e Extra.ie). As matérias identificadas pela reportagem também ajudaram a confirmar a transcrição do diálogo entre os apresentadores.

Na sequência, foram feitas buscas por conteúdos que relacionam Lula a votos de eleitores da Bahia. O resultado exibiu checagens do Estadão Verifica, do Aos Fatos e da Agência Lupa, que desmentem o boato de que o ex-presidente teria admitido comprar os eleitores. O Comprova também identificou uma verificação da Agência Lupa sobre o mesmo vídeo analisado nesta checagem.

Apresentadores não fazem qualquer referência ao Brasil

O vídeo compartilhado com a inserção de legendas falsas é um trecho do programa Ireland: am, que foi ao ar no dia 10 de novembro de 2020, como mostra postagem no Twitter oficial da atração. O programa matinal é exibido diariamente pelo canal Virgin Media One, do grupo Virgin Media Television, com sede em Dublin, na Irlanda.

Na edição de 10 de novembro de 2020, o convidado foi o chef Tony Keogh, do restaurante Cornucopia. Antes de chamá-lo, o apresentador Alan Hughes faz uma pergunta à colega de bancada, Karen Koster, cuja resposta o diverte. Hughes, ao dar risadas, emite um som nasal que assemelha a um grunhido de porco (snort, em inglês), o que acaba provocando uma crise de riso na dupla.

A própria apresentadora Karen Koster explica, em um tuíte postado no mesmo dia, que a causa da graça foi o som da risada do colega de bancada. “Alan’s snort pushed me over the edge!”, escreveu ela. Numa tradução livre para o português: “O ronco do Alan me tirou do sério”. O tuíte foi compartilhado pelo site Evoke, que repercutiu o episódio.

Antes de os apresentadores caírem na gargalhada, Alan havia perguntado:

“Karen, do you like your taste buds tickled?”

Karen responde: “Everyday. Before nine if possible”.

Em uma tradução livre em português:

“Karen, você gosta de ter as suas papilas gustativas agradadas?”

“Todos os dias. Antes das nove se possível”.

O contexto sobre o motivo da risada é informado na matéria da Evoke. Outro artigo traz a transcrição do diálogo em inglês. Não há qualquer referência ao Brasil, ao Partido dos Trabalhadores ou a Lula.

Na continuação do vídeo original, ainda em meio aos risos, a apresentadora Karen Koster introduz, em áudio quase inaudível, a receita que o chef Tony Keogh realizou no programa. Ela diz “Baked cauliflower fritter with avocado, basil and cream” ou “couve-flor assada com avocado, manjericão e creme”, em tradução livre. Uma postagem do restaurante no Facebook, no mesmo dia do episódio, mostra a execução do prato.

Na sequência, Koster pede desculpas ao chef, culpando o colega de bancada pela crise de risos, e o programa segue.

Legendas falsas

As legendas falsas inseridas no vídeo retomam postagens enganosas que tiveram origem em 2017, quando Lula concedeu entrevista à Rádio Metrópole, de Salvador. Na ocasião, um trecho da entrevista foi manipulado para parecer que Lula teria afirmado comprar votos de eleitores baianos por R$ 10, como mostraram o Estadão Verifica, Aos Fatos e Agência Lupa.

Abaixo, as legendas falsas inseridas no vídeo verificado, em comparação com o que os apresentadores dizem de fato (entre parênteses e com a tradução livre para o português ao lado):

Legenda falsa: “Lula compraria voto baiano por R$ 10 e lanche mortadela”

(“Are you looking for a snack to tickle your taste buds? Karen, do you like to tickle your taste buds?” / “Você está procurando um lanche para agradar seu paladar? Karen, você gosta de ter suas papilas gustativas agradadas?”)

Legenda falsa: “Todos os dias? Nove dedos?”

(“Everyday. Before nine if possible” / “Todos os dias. Antes das nove, se possível”)

Legenda falsa: “O povo brasileiro vota com o estômago. Lanche mortadela e R$ 10 reais”

(“Tony Keogh from Cornucopia Restaurant is helping us to ease into the morning with a healthy breakfast snack” / “Tony Keogh, do Restaurante Cornucopia, está nos ajudando a relaxar pela manhã com um lanche saudável no café da manhã”).

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos potencialmente falsos e enganosos relacionados às eleições presidenciais de 2022, à pandemia e a políticas públicas do governo federal. O vídeo analisado produz e dissemina falsidades, com ampla viralização nas redes sociais, que podem afetar diretamente a imagem de pessoas e organizações públicas. Conteúdos desse tipo são prejudiciais ao processo democrático porque atrapalham o conhecimento do eleitor sobre candidatos e podem influenciar suas decisões, que devem ser tomadas com base em informações verdadeiras.

Outras checagens sobre o tema: O projeto Comprova já desmentiu outros conteúdos que inventam ou distorcem declarações de personalidades políticas, incluindo Lula. Em agosto, apontamos ser enganoso um vídeo que tira de contexto trechos de uma entrevista do ex-presidente para afirmar que o petista disse que vai implantar uma ditadura no Brasil. Também indicamos que não há registros de que Lula tenha defendido uma performance artística em que crianças poderiam tocar um homem nu.

O conteúdo analisado nesta verificação também foi classificado como falso pela Agência Lupa.

Eleições

Investigado por: 2022-08-30

É enganosa postagem no Twitter sugerindo apoio de João Amoêdo a Lula

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso um tuíte que sugere que um dos fundadores do Partido Novo, João Amoêdo, apoia o ex-presidente e candidato em 2022 Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. O autor da postagem publicou um print de parte de um tuíte em que Amoêdo citou Lula e ocultou frases em que o empresário criticou o petista. Pouco depois, o autor esclareceu que fez um corte parcial e que estava “zuando” na publicação. O esclarecimento, no entanto, não viralizou como o tuíte original.

Conteúdo investigado: Tuíte mostra o trecho de uma postagem de João Amoêdo, feita também no Twitter, com a legenda: “até o Amoêdo lulou”. O texto sugere que o ex-presidente do Novo, historicamente antipetista, passou a apoiar Lula nas eleições de 2022. Na publicação citada no tweet enganoso, Amoêdo disse: “Bom de discurso, democrata, preocupado com o povo, defensor das instituições. Esse é o Lula candidato que se apresentou no JN [Jornal Nacional]”. O empresário fez a postagem em 25 de agosto, dia da sabatina do petista no programa da TV Globo.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganosa a publicação do usuário André Serret no Twitter que sugere que João Amoêdo, um dos fundadores e ex-presidente do Partido Novo, passou a apoiar o ex-presidente Lula nas eleições de 2022. Amoêdo, que foi candidato à Presidência em 2018, é crítico de Lula e do PT há anos, posição que mantém na atual campanha eleitoral.

No tuíte enganoso, o autor disse que “até o Amoêdo lulou” e compartilhou o print de outra publicação, também do Twitter, em que o fundador do Novo disse: “Bom de discurso, democrata, preocupado com o povo, defensor das instituições. Esse é o Lula candidato que se apresentou no JN [Jornal Nacional, programa da TV Globo para o qual o petista deu entrevista no dia 25 de agosto]”. O conteúdo verificado foi publicado no dia da sabatina.

O autor ocultou críticas de Amoêdo feitas a Lula na mesma postagem. No tuíte original, o empresário disse: “Bom de discurso, democrata, preocupado com o povo, defensor das instituições. Esse é o Lula candidato que se apresentou no JN. Entretanto, quando eleito, Lula nos entregou outro país: do mensalão, da corrupção institucionalizada, do [‘]nós contra eles[‘] e de benesses para os aliados”.

Em um novo tuíte, em resposta à publicação enganosa, o autor escreveu que estava fazendo uma brincadeira. “Eu tô zuando gente. Eu só cortei a primeira parte [do tuíte de Amoêdo], pois ficou engraçado”, disse. O esclarecimento, porém, teve menos repercussão que a publicação original. Parte das pessoas que a compartilharam parecem ter acreditado que Amoêdo passou a apoiar Lula.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O tuíte verificado pelo Comprova foi publicado no dia 25 de agosto. Até o dia 30, a publicação acumulava 2.414 curtidas, 219 compartilhamentos e 32 comentários na rede social.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com André Serret pelo Twitter, mas não obteve resposta até o fechamento desta verificação.

Como verificamos: Para verificar a postagem, o Comprova procurou, na conta oficial de Amoêdo, o tuíte que havia sido printado. Usando as ferramentas de pesquisa do Twitter para buscar, entre os tuítes do empresário, a palavra-chave “Lula”, a verificação encontrou a publicação em que o fundador do Novo comentou a participação do petista na sabatina no Jornal Nacional.

O Comprova também entrou em contato pelo Twitter com André Serret para confirmar que a postagem enganosa se tratava de uma brincadeira. O autor da publicação não retornou o contato da verificação. Além disso, a reportagem buscou a assessoria de imprensa de João Amoêdo. Por mensagem, via WhatsApp, ela respondeu: “Lamentável e mentirosa a postagem. O fato é que sou totalmente contrário à candidatura do Lula e a postagem original e real é uma crítica ao ex-presidente pela sua incoerência”.

Quem é o autor do tuíte

André Serret tem pouco mais de 9.500 seguidores no Twitter. Na rede social, ele se define ironicamente como “palestrante desmotivacional quântico” e tem na sua foto de perfil uma imagem de Eymael (DC), candidato recorrente à Presidência. Quase todas as suas publicações são sobre política brasileira. Morador do Rio de Janeiro, ele faz críticas frequentes ao presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL). Para as eleições de 2022, declarou voto em políticos de esquerda, como Marcelo Freixo (PSB), candidato a governador do Rio, e Alessandro Molon (PSB), que disputa vaga no Senado.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A postagem verificada faz referência ao suposto apoio de João Amoêdo a Lula, candidato à Presidência pelo PT. O conteúdo enganoso é danoso ao processo democrático, porque distorce a compreensão da realidade, ao passo que a população tem direito de saber a verdade e basear suas escolhas em informações confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: Desde o início da campanha eleitoral, no dia 16 de agosto, o Comprova verificou conteúdos falsos ou enganosos favoráveis à candidatura de Lula nas redes sociais, como o que sugeriu que o presidente do Chile, Gabriel Boric, criaria políticas públicas inspiradas nos governos do petista; o que insinuou que banqueiros apoiam Lula por causa de supostos prejuízos ao setor no atual governo; e o que sugeriu que o ex-presidente havia se tornado o centro das atenções, inclusive de Bolsonaro, no evento de posse de Alexandre de Moraes na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Eleições

Investigado por: 2022-08-30

Vídeo que mostra Bolsonaro à frente na pesquisa Ipec do dia 15 de agosto de 2022 é falso

  • Falso
Falso
É falso que a primeira rodada da pesquisa Ipec, divulgada no Jornal Nacional no dia 15 de agosto, mostrou Jair Bolsonaro (PL) com 44% das intenções de voto para a presidência da República. O trecho do noticiário que citou os dados foi manipulado e postado nas redes sociais. O Ipec e a TV Globo confirmaram que o conteúdo é falso. A informação verdadeira é que o levantamento apontou o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente da disputa, com 44%. Bolsonaro foi o segundo, com 32%.

Conteúdo investigado: Vídeo divulgado no TikTok com imagens do Jornal Nacional, da TV Globo, mostra a apresentadora Renata Vasconcellos narrando o resultado de uma pesquisa eleitoral divulgada pelo Ipec. Na montagem veiculada, o candidato à presidência Jair Bolsonaro aparece na liderança com 44% das intenções de voto, enquanto Lula tem 32%. A publicação foi apagada.

Onde foi publicado: TikTok

Conclusão do Comprova: O presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, não registrou 44% das intenções de voto na primeira rodada da pesquisa Ipec, instituto criado por ex-executivos do Ibope, que teve os resultados divulgados no Jornal Nacional no dia 15 de agosto. O levantamento mostrou, na verdade, o contrário: o ex-presidente Lula na liderança da disputa, com 44%. Bolsonaro aparece em seguida, com 32%.

Um vídeo, em que a narração da jornalista Renata Vasconcellos e o gráfico apresentado no noticiário foram manipulados, mostra os porcentuais dos candidatos invertidos (Bolsonaro com 44% e Lula com 32%), com o objetivo de induzir o internauta a acreditar que Bolsonaro estava à frente na disputa de acordo com a pesquisa, o que não é verdade.

O conteúdo da publicação também foi desmentido em notas encaminhadas ao Comprova pelo Ipec e pela TV Globo.

Para o Comprova, falso é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: A peça verificada foi postada no TikTok, onde teve 2,5 milhões de visualizações; 80,5 mil curtidas; 3.315 comentários e 35,8 mil compartilhamentos, até o dia 29 de agosto de 2022. Depois disso, foi apagada.

O que diz o autor da publicação: Não foi possível entrar em contato com o autor da publicação, já que o TikTok só permite a troca de mensagens entre perfis que se seguem mutuamente. A equipe não encontrou páginas do autor em outras redes sociais.

Como verificamos: Para checar a veracidade do conteúdo publicado no TikTok sobre a pesquisa eleitoral realizada pelo Ipec de 12 a 14 de agosto, foram buscadas palavras-chave no Google a respeito do levantamento (Ipec, Jair Bolsonaro, Lula, 44%, 32%, pesquisa de 12 a 14 de agosto, Jornal Nacional).

Assim, foi possível encontrar notícias sobre o resultado da pesquisa em diferentes veículos de imprensa, como a Folha de S. Paulo, o Poder360, o G1 e o Estadão. Buscamos, ainda, o conteúdo veiculado pelo Jornal Nacional, cujo trecho foi publicado no perfil oficial do programa no Twitter, a fim de compará-lo com o TikTok.

O Comprova também entrou em contato com as assessorias de imprensa do Ipec e da TV Globo. As duas empresas afirmaram que o conteúdo é falso. A equipe também tentou, sem sucesso, contato com o responsável por postar o vídeo no TikTok.

Por último, foram checadas as pesquisas eleitorais reunidas pelo agregador de notícias do Poder360, no qual não consta nenhum levantamento no período indicado com resultados semelhantes ao do post modificado. O site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também foi consultado.

Pesquisa mostrou Lula na liderança da disputa

Os dados da primeira rodada da pesquisa Ipec, contratada pela Globo, foram divulgados pelo Jornal Nacional no dia 15 de agosto. No noticiário, a apresentadora Renata Vasconcellos informa que, de acordo com o levantamento, Lula tinha 44% das intenções de voto. Bolsonaro aparecia em segundo, com 32%. A pesquisa foi repercutida em veículos da imprensa como Folha de S. Paulo, Poder360, G1 e Estadão. O levantamento completo pode ser pesquisado no site do Ipec. A íntegra pode ser visualizada neste link.

O vídeo aqui verificado teve áudio e imagem manipulados e mente ao afirmar que Bolsonaro registrou 44% das intenções de voto na primeira rodada da pesquisa Ipec.

No início do vídeo verdadeiro, publicado pelo Jornal Nacional no Twitter, Renata diz: “O Ipec divulgou hoje a primeira pesquisa contratada pela TV Globo sobre a intenção de voto para as eleições presidenciais. O ex-presidente Lula, do PT, lidera a disputa seguido pelo presidente Jair Bolsonaro, do PL.” A apresentadora continua: “O Ipec é o instituto criado por ex-executivos do Ibope Inteligência, que encerrou as atividades. Essa pesquisa compreende o período entre as convenções partidárias e o prazo de registro oficial das candidaturas que se encerrou hoje. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos”.

Em seguida, os dados são mostrados em gráfico com a narração de Renata: “Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, aparece com 44%. Com a margem de erro tem de 42% a 46%. Jair Bolsonaro, do PL, tem 32%. Com a margem de erro tem de 30% a 34%.”

O vídeo manipulado começa com a primeira frase do vídeo original: “O Ipec divulgou hoje a primeira pesquisa contratada pela TV Globo sobre a intenção de voto para as eleições presidenciais.” Em seguida, foram inseridos o áudio e a imagem com alteração, apresentando a informação errada de que Bolsonaro registrou 44% das intenções de voto. Ou seja, a peça de desinformação também omitiu fala da apresentadora sobre a liderança de Lula na disputa e os detalhes sobre a metodologia e margem de erro da pesquisa.

| Gráfico com informações verdadeiras sobre a primeira rodada da pesquisa Ipec para presidência da República, divulgado pelo Jornal Nacional no dia 15 de agosto. Fonte: TV Globo

O gráfico mostrado na peça de desinformação mantém os índices dos demais candidatos. Ciro Gomes (PDT) aparece com 6%; Simone Tebet (MDB), com 2% e Vera Lúcia (PSTU), com 1%, conforme o resultado oficial da pesquisa. Outra alteração visual é a adição de um recurso gráfico que imita a imagem de uma bateria carregada sobrepondo a coluna de Bolsonaro.

A pesquisa original do Ipec, que é referenciada no conteúdo modificado no TikTok, está registrada no TSE com o número BR-03980/2022. O levantamento entrevistou 2.000 eleitores, de modo presencial, em 130 municípios das 27 unidades da Federação, de 12 a 14 de agosto de 2022. A margem de erro do levantamento é de 2 pontos percentuais, com um intervalo de confiança de 95%. A pesquisa em questão foi contratada pela emissora de TV Rede Globo.

Ipec e Globo confirmam que conteúdo é falso

Em nota, a assessoria de comunicação do Ipec informou que “é falso o vídeo que circula em redes sociais e grupos de WhatsApp onde o presidente Jair Bolsonaro (PL) aparece com 44% das intenções de voto e o ex-presidente Lula, do PT, com 32%, segundo dados do Ipec e com imagens do Jornal Nacional, da TV Globo”.

Além disso, o Ipec informou que está denunciando o vídeo ao Sistema de Alerta de Desinformação Contra as Eleições do TSE e ao Ministério Público Eleitoral (MPE) “para que adotem as medidas cabíveis”.

Ao Comprova, a TV Globo também disse que o conteúdo é falso. “A pesquisa, divulgada dia 15, mostra exatamente o contrário: o ex-presidente Lula lidera a disputa, com 44% das intenções de voto, seguido por Bolsonaro, com 32%”, informou nota encaminhada pela assessoria de imprensa da emissora. O texto também destaca a denúncia feita pelo Ipec ao TSE e ao MPE.

Outra forma de verificação de pesquisas eleitorais para presidente realizadas pelo Ipec no período de 12 a 14 de agosto, como divulgado no vídeo do TikTok, é o agregador de pesquisas do jornal digital Poder360. A plataforma reúne levantamentos e estudos com números de intenção de voto para Presidência da República, governos estaduais e Senado.

A ferramenta é atualizada diariamente pela equipe de jornalistas do veículo. Nas datas indicadas, não consta nenhuma pesquisa eleitoral, a nível nacional, em que Bolsonaro aparece em primeiro lugar na disputa. A maior porcentagem indicada por pesquisa oficial de intenção de voto para presidente na semana do intervalo indicado é de 37%. Contudo, consta, no agregador, pesquisas anteriores a esse período em que Bolsonaro ocupou a liderança nos levantamentos, principalmente antes de Lula ser considerado elegível por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em abril de 2021.

TSE disponibiliza lista de pesquisas registradas

O TSE disponibiliza, em seu site, uma aba para a consulta de pesquisas eleitorais registradas no Brasil. De acordo com a lei eleitoral, a partir do dia 1º de janeiro de 2022, entidades e empresas que realizam trabalhos que envolvem pesquisas de opinião pública sobre intenção de voto devem realizar um registro prévio junto à Justiça Eleitoral. A regra prevê que o cadastro precisa ocorrer até cinco dias antes da divulgação de cada pesquisa.

O registro da pesquisa no TSE deve ser acompanhado de uma série de informações, entre as quais: quem contratou a pesquisa, valores gastos, origem dos recursos, metodologia e período de realização, plano amostral e ponderações sobre sexo, idade, grau de instrução, nível econômico e área física de realização do trabalho a ser executado; bem como intervalo de confiança e margem de erro. Também devem constar na documentação itens como o questionário completo da pesquisa.

Embora não seja possível ver o resultado das pesquisas registradas no próprio site do TSE, essa é uma ferramenta importante para o eleitor acompanhar os levantamentos que, de fato, foram contratados e registrados. As informações são públicas e ficam acessíveis no portal do órgão, que salienta não realizar controle prévio sobre o resultado das pesquisas ou cuidar de suas respectivas divulgações.

A empresa que fez a pesquisa apresenta-se como Inteligência em Pesquisa e Consultoria. O Ipec é um empreendimento com fins de lucro, como várias empresas que fazem pesquisas eleitorais no Brasil. O empreendimento é comandado por executivos ligados ao antigo Ibope Inteligência, que encerrou suas atividades em 24 de janeiro de 2021 depois de 79 anos de atuação. A ex-CEO do Ibope, a estatística Márcia Cavallari, ocupa o mesmo cargo hoje no Ipec.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas vinculadas ao governo federal e as eleições presidenciais. O vídeo aqui verificado induz a uma conclusão falsa, a partir da adulteração de números apontados em uma pesquisa de intenção de voto.

É frequente que as pesquisas sejam alvo de peças de desinformação, sobretudo com a proximidade de eleições. Conteúdos desse tipo podem influenciar na decisão de eleitores brasileiros, que vão às urnas no próximo dia 2 de outubro para escolher presidente, senadores, governadores e deputados. Os eleitores devem escolher seus candidatos baseando-se em informações verdadeiras.

Outras checagens sobre o tema: O Fato ou Fake, do G1, publicou uma verificação apontando o conteúdo como falso. O material divulgado já foi desmentido também por outros veículos de checagem de desinformação como o UOL Confere, Folha, Yahoo e Lupa.

O Comprova verificou recentemente o caso de um senador ironiza resultado de instituto para desacreditar pesquisas eleitorais e que não há registros de que Lula tenha defendido performance em que criança toca em homem nu. Em março deste ano, o Comprova explicou também que as pesquisas eleitorais seguem métodos científicos, ao contrário de enquetes.

Saúde

Investigado por: 2022-08-30

Morte de seis médicos canadenses não tem relação com a vacina contra a covid-19

  • Falso
Falso
É falso que seis médicos canadenses tenham morrido em decorrência da aplicação de vacinas contra a covid-19. Três dos profissionais citados no conteúdo aqui analisado, e que trabalhavam na mesma rede hospitalar, morreram de câncer, de acordo com informações publicadas por veículos de imprensa do Canadá e declarações de suas respectivas famílias. Ao Comprova, a rede hospitalar também negou que a causa da morte de qualquer um deles tenha decorrido da vacina contra a covid-19. Em relação aos outros três médicos citados no conteúdo, não há qualquer relato confiável confirmando que as mortes ocorreram por causa da vacina. Em contato com o Comprova, os hospitais e autoridades de saúde aos quais dois desses três médicos estavam vinculados também negaram que as causas das mortes tivessem relação com a vacina. A peça de desinformação foi publicada em um site de língua inglesa, mas replicada no Brasil em um grupo de médicos no Telegram.

Conteúdo investigado: Publicação que circula no Telegram com informações sobre seis médicos que faleceram durante o mês de julho, no Canadá. A mensagem é acompanhada de um link para o site negacionista “Health Impact News”, que reúne informações de outros sites e perfis nas redes sociais para afirmar que as mortes estão relacionadas ao início da aplicação obrigatória da quarta dose de vacinas contra a covid-19 em um hospital do Canadá.

Onde foi publicado: Telegram.

Conclusão do Comprova: É falso que seis médicos tenham morrido por causa da vacina contra a covid-19 no Canadá. O texto, publicado originalmente no site “Health Impact News”, afirma que as mortes começaram duas semanas depois de um hospital iniciar a aplicação obrigatória da quarta dose da vacina contra a covid-19. De fato, os seis médicos canadenses citados no conteúdo morreram recentemente, porém, não há relação comprovada com eventuais efeitos colaterais da vacina.

Três dos seis médicos eram vinculados à rede de hospitais Trillium Health Partners e morreram de diferentes tipos de câncer. Eles já estavam doentes há pelo menos um ano, como mostram reportagens de TV e sites locais do Canadá, como o CTV News Toronto. Lorne Segall, de 49 anos, faleceu após lutar por cerca de um ano contra um “câncer de pulmão avançado”, conforme seu obituário. O neurologista Stephen McKenzie faleceu aos 68 anos e, em um obituário publicado no site Legacy.com, a família de McKenzie diz que o médico morreu “após uma corajosa batalha contra o câncer”. A terceira morte foi de Jakub Sawicki. A esposa do médico, Iris Sawicki, disse que ele lutava contra um câncer gástrico desde agosto do ano passado. Procurada pelo Comprova, a Trillium Health Partners afirmou que “o boato que circula nas redes sociais simplesmente não é verdade. As mortes não eram relacionadas à vacina contra a covid-19”.

Os outros três casos citados na publicação analisada são dos médicos Candace Nayman, Paul Hannam e Shahriar Jalali Mazlouman. Em uma outra publicação do “Health Impact News”, há um texto mencionando o que seria a sétima morte de um profissional da saúde do Canadá ocorrida em função da vacina contra a covid-19: o médico Ryan Buyting.

Candace Nayman e Paul Hannam morreram depois de mal-súbitos durante práticas esportivas no último mês de julho. Candace participava de uma prova de triatlo e desmaiou enquanto nadava e Hannam teve um desmaio enquanto participava de uma corrida. Já Shahriar Mazlouman foi encontrado morto em uma piscina pública na cidade de Regina, na província de Saskatchewan. Os hospitais e autoridades sanitárias aos quais estavam vinculados Hannam e Mazlouman afirmaram ao Comprova que as causas das mortes não foram relacionadas com a vacinação contra a covid-19.

Em relação à Candace Nayman, uma declaração do hospital ao qual ela era vinculada cita que a médica “sofreu uma parada cardíaca durante uma competição de triatlo e morreu”. Questionado pelo Comprova sobre o que poderia ter levado a médica a sofrer uma parada cardíaca, o hospital em que ela trabalhava disse que não poderia fornecer informações “por questões de privacidade”. O Comprova não conseguiu informações em relação à suposta sétima vítima, o médico Ryan Buyting.

Além disso, ao contrário do que diz o post, as mortes não ocorreram após os hospitais passarem a exigir imunização com quatro doses da vacina contra a covid-19. O Comprova conseguiu confirmar que ao menos quatro dos seis médicos citados no conteúdo trabalhavam em hospitais que exigiam que seus funcionários tivessem tomado apenas duas doses da vacina. Conforme relatado por veículos de imprensa do Canadá, algumas regiões do país, como a província de Ontário, chegaram a exigir a obrigatoriedade da vacinação com duas doses para trabalhadores da saúde e da educação em 2021. Embora não seja obrigatória, a quarta dose da vacina já está sendo aplicada no país. O Comitê Nacional sobre Imunização do Canadá recomenda que qualquer pessoa acima dos 12 anos está elegível para receber a quarta dose dos imunizantes.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: No canal do Telegram Médicos Pela Vida, o link do texto em inglês foi compartilhado com alguns trechos destacados em português. Até o dia 30 de agosto, a mensagem tinha 34,3 mil visualizações, 1.095 reações e 331 comentários.

O que diz o autor da publicação: O perfil do Telegram que publicou o conteúdo aqui analisado (“Médicos pela Vida”) não permite o envio de mensagens. A organização Médicos pela Vida foi procurada por e-mail para confirmar se possui alguma relação com o perfil que publicou o conteúdo, mas não houve retorno até o fechamento desta verificação.

Como verificamos: Primeiramente, foram feitas buscas no Google com parte da manchete apresentada no site Health Impact News (“6 Canadian Medical Doctors Died Within 2 Weeks After 4th COVID Booster Shots”) mais o termo “fact-checking”, para verificar se agências estrangeiras já haviam investigado o conteúdo. Os resultados direcionaram para verificações sobre o tema publicadas por Reuters, PolitiFact e USA Today.

Também foram feitas buscas no Google com os nomes de todos os médicos citados pelo conteúdo aqui investigado. A partir dos resultados foi possível ler notícias da imprensa canadense sobre as mortes citadas e descobrir a quais hospitais ou autoridades sanitárias esses médicos estavam vinculados. Em seguida, as assessorias de imprensa desses hospitais e autoridades sanitárias foram procuradas por e-mail.

Para confirmar se as mortes tinham relação com a vacina e se a quarta dose da vacina era obrigatória para profissionais da saúde, a assessoria de imprensa da Agência Pública de Saúde do Canadá também foi procurada, mas não houve retorno até o fechamento desta checagem.

Por fim, o Comprova enviou e-mail para o endereço disponível no site Médicos pela Vida.

Os três médicos da mesma rede hospital morreram de câncer

Um dos pontos centrais do texto publicado no site “Health Impact News” menciona que três médicos de um mesmo hospital no Canadá faleceram num intervalo de menos de uma semana e relaciona isso com a aplicação de vacinas contra a covid-19. Entretanto, as informações são falsas.

O Comprova encontrou várias reportagens de veículos do Canadá sobre as mortes dos três médicos. E elas não apontam nenhuma relação com as vacinas contra a covid-19. Os profissionais não trabalhavam todos no mesmo local, mas sim na mesma rede hospitalar, a Trillium Health Partners. Numa reportagem do canal CTV, do Canadá, as mortes de Jakub Sawicki, Stephen McKenzie e Lorne Segall são atribuídas a outras causas, sem qualquer ligação com vacinas ou covid-19.

A primeira morte ocorreu no dia 17 de julho deste ano. O Dr. Lorne Segall, de 49 anos, faleceu após lutar por cerca de um ano contra um “câncer de pulmão avançado”, conforme seu obituário. Segall era otorrinolaringologista no Credit Valley Hospital, na província de Ontário, parte do grupo Trillium Health Partners.

O segundo óbito foi no dia seguinte, 18 de julho. O neurologista Stephen McKenzie faleceu depois de um período em que esteve “gravemente doente”, aos 68 anos. Em um obituário publicado no site Legacy.com, a família de McKenzie diz que o médico morreu “após uma corajosa batalha contra o câncer”. O Legacy é um site que reúne publicações de obituários de jornais norte-americanos e de outros países, como o Canadá. A publicação foi feita na plataforma pelo The Globe and Mail, um dos maiores jornais canadenses.

O terceiro profissional que faleceu foi Jakub Sawicki, no dia 21 de julho. A esposa do médico, Iris Sawicki, disse à CTV que o marido tinha sido diagnosticado com um “câncer gástrico em estágio 4, numa das formas mais agressivas de câncer de estômago”, em agosto do ano passado. No site gofundme.com, Iris criou uma campanha de crowdfunding para arrecadar dinheiro que será convertido em bolsas de estudo para alunos de Medicina. No texto do site, a mulher cita que “ao longo de sua doença, ele (Jakub) foi capaz de encontrar alegria em suas paixões e hobbies e passar tempo comigo e com nosso filho recém-nascido”.

Procurada pelo Comprova, a assessoria de imprensa do Trillium Health Partners confirmou que não há qualquer relação entre o óbito dos três médicos e a vacina contra a covid-19. A empresa também informou que requer de seus profissionais apenas duas doses da vacina contra covid-19. O boato também já havia sido desmentido por agências de checagens dos Estados Unidos, como o USA Today, a Reuters e o PolitiFact.

Não há confirmação de que os outros médicos tenham morrido de causas relacionadas à vacina contra covid-19

A publicação aqui verificada menciona ainda o nome de outros três médicos canadenses, que trabalhavam em hospitais diferentes, e que teriam morrido em função da vacina contra a covid-19 recentemente: Candace Nayman, Paul Hannam e Shahriar Jalali Mazlouman. Em outra publicação do mesmo site, há um texto mencionando o que seria a sétima morte de um profissional da saúde do Canadá ocorrida em função da vacina contra a covid-19: o médico Ryan Buyting.

Esses quatro profissionais de fato morreram no último mês de julho, porém, até o momento não há nenhuma confirmação de que qualquer um dos óbitos tenha relação com a vacina. No caso de Paul Hannam e Shariar Mazlouman, os hospitais e autoridades sanitárias aos quais estavam vinculados afirmaram ao Comprova que as causas da morte não eram relacionadas com a vacinação contra a covid-19.

Paul Hannam era o chefe de medicina de emergência e diretor médico do programa do Hospital Geral de North York. Ele tinha 50 anos e morreu após ter desmaiado enquanto corria no último dia 16 de julho, conforme informou o Toronto CTV News. Em contato com o Comprova, a assessoria de imprensa do Hospital Geral de North York afirmou que o óbito não tem qualquer relação com a covid-19 ou com “vacinas de qualquer tipo”. O hospital ainda enviou um link para um texto do obituário do médico Paul Hannam. O texto menciona que ele morreu após uma “insuficiência cardíaca súbita” no início de uma corrida e não faz menção a qualquer efeito colateral da vacina.

Na mesma resposta, o Hospital de North York informou que exigia que os profissionais vinculados à instituição estivessem vacinados com duas doses da vacina contra a covid-19. “Para garantir um ambiente seguro aos pacientes e a população vulnerável, duas doses da vacina contra a covid-19 são obrigatórias para todos os funcionários do hospital. Acreditamos que esta é a coisa certa a se fazer e é consistente com a direção tomada por muitos hospitais em nossa jurisdição”, escreveram.

Shahriar Jalali Mazlouman, de 44 anos, foi encontrado morto em uma piscina local na cidade de Regina, na província de Saskatchewan, no dia 23 de julho, conforme noticiou o Regina CTV News, que em outro conteúdo sobre o tema classificou a morte como “repentina”. Mazlouman trabalhava na Clínica Médica da cidade de Melville e no pronto socorro do Centro Regional de Saúde da cidade de Yorkton.

Em contato com o Comprova, a autoridade de saúde de Saskatchewan informou que a morte de Shahriar Jalali Mazlouman não teve qualquer relação com a vacina contra a covid-19 e que, “em respeito à sua família, nenhuma outra informação seria fornecida”. A assessoria de imprensa do órgão ainda enviou um link de uma publicação feita no último mês de julho sobre o caso. Na publicação, a autoridade de saúde de Saskatchewan apenas presta condolências à família de Mazlouman e informa que ele era um médico de família da cidade de Melville, que “faleceu inesperadamente no último dia 23 de julho”.

Candace Nayman era médica residente de pediatria no McMaster Children’s Hospital, vinculado à Universidade de McMaster, na cidade de Hamilton, e morreu após participar de uma competição de triatlo na cidade de Toronto, que aconteceu em 24 de julho, conforme noticiaram os sites canadenses CBC e Toronto Sun. Candace desmaiou enquanto nadava durante uma das provas, foi socorrida e levada ao hospital. Ela faleceu no dia 28 de julho.

Em contato com o Comprova, a assessoria de imprensa do McMaster Children’s Hospital informou que, por razões de privacidade, não estava autorizada a responder aos questionamentos enviados sobre a causa da morte de Candance e se ela havia sido vacinada contra a covid-19. Na resposta, o hospital apenas enviou um link para uma declaração conjunta do Hamilton Health Sciences e da Universidade de McMaster sobre a morte da médica. Essa declaração descreve que Candace estava no seu terceiro ano de residência médica na McMaster University, preparando-se para se tornar pediatra, e que ela morreu aos 27 anos. Sobre a causa da morte, a declaração cita apenas que ela “sofreu uma parada cardíaca durante uma competição de triatlo e morreu”.

O Comprova não conseguiu informações em relação à suposta sétima vítima, o médico Ryan Buyting. Pesquisas na internet com o seu nome retornaram apenas para a publicação do “Health Impact News”, de outros sites negacionistas que relacionam sua morte com a vacina contra a covid-19 e de um site que publica obituários. Essas publicações afirmam que Buyting, de 26 anos, fazia residência médica no sistema de saúde da região de Alberta, no Canadá, e morreu no último dia 26 de julho. O Comprova não conseguiu contato com o sistema de saúde da região de Alberta.

O site que publicou as informações

O “Health Impact News” foi fundado em 2011 e se apresenta como um site para “combater desinformação sobre vacina” a partir da discussão de assuntos que, segundo o site, são “rotineiramente censurados pela mídia corporativa”. Entre outras coisas, na aba de apresentação do site, o “Health Impact News” chama as vacinas contra a covid-19 de “armas biológicas” utilizadas pelas grandes corporações médicas. Boa parte do conteúdo veiculado hoje no site versa sobre a pandemia de covid-19 e as vacinas. Publicações do site já foram alvo de verificações da Reuters em setembro e novembro de 2021 e do site Poynter em dezembro de 2021.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia de covid-19, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que viralizaram nas redes sociais. Conteúdos como este aqui verificado, que colocam em dúvida a vacinação contra o coronavírus, são perigosos porque podem influenciar a população a não se imunizar, o que impacta diretamente no combate à pandemia.

Outras checagens sobre o tema: Outras iniciativas de checagem de fatos já identificaram como a falsa a afirmação que três médicos do Trillium Health Partners tenham morrido em decorrência da vacina contra a covid-19, como o Fato ou Fake, do portal G1, e os sites USA Today, Reuters e o PolitiFact.

O Comprova também já verificou outras publicações relacionadas à pandemia, como um texto que engana ao dizer que estudo de Harvard comprovou eficácia de hidroxicloroquina na prevenção da covid-19 e alegações falsas de uma médica que trata vacinação da covid em crianças como “assassinato em massa”. O Comprova também já mostrou que não há relação entre casos de mal súbito em atletas e vacinas contra covid e que post engana ao relacionar mortes no esporte à vacinação contra a covid-19.

Saúde

Investigado por: 2022-08-29

Erros admitidos por órgão dos EUA no combate à covid têm relação com estratégias de comunicação, e não política de vacinação

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o vídeo de um médico que afirma que o Centro de Prevenção de Doenças (CDC), agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, pediu desculpas por "erros" cometidos na pandemia dando a entender que a instituição falhou sobre as orientações de combate à covid-19. Na verdade, o órgão norte-americano afirmou que errou quanto à forma como se comunicou com as pessoas sobre assuntos científicos.

Conteúdo investigado: Vídeo divulgado no Instagram e no Telegram em que médico fala que o Centro de Prevenção de Doenças, nos Estados Unidos, pediu desculpas por erros na pandemia, dando a entender que ele estava certo e o CDC errado. O médico fala que exigir vacinas para estudantes é um “erro” porque o CDC orientou o mesmo tratamento para vacinados e não vacinados. Ele finaliza dizendo que as pessoas criam tolerância ao vírus após serem vacinadas, por isso países mais imunizados teriam mais casos de covid-19 – correlação não comprovada por especialistas.

Onde foi publicado: Telegram e Instagram.

Conclusão do Comprova: Um vídeo publicado pelo médico Roberto Zeballos retira de contexto algumas informações verdadeiras para insinuar que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos errou nas orientações de combate ao novo coronavírus.

A instituição realmente admitiu falhas durante a pandemia, porém, não em relação às orientações de prevenção, como uso de máscara, distanciamento social e vacinação, e sim em relação à forma como passou essas orientações para o público. Segundo a diretora do CDC, Rochelle Walensky, o órgão estava acostumado a lidar com um público acadêmico antes da pandemia e não soube adaptar a linguagem para as pessoas comuns. Além disso, o CDC assumiu que precisa ser mais ágil na publicação de descobertas científicas.

No vídeo, o médico também critica a imunização de crianças e adolescentes e relaciona o aumento de casos de covid-19 em alguns países com altas taxas de vacinação. Especialistas consultados pelo Comprova, no entanto, afirmam que não é possível fazer essa correlação. De acordo com eles, países com taxas mais altas de imunização também são os que mais testam a população, por isso, acabam registrando mais casos da doença.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O vídeo no Telegram teve 27 mil visualizações e no Instagram teve 97 mil curtidas e 5,6 mil comentários até 29 de agosto.

O que diz o autor da publicação: Consultado pelo Comprova, Zeballos afirmou que o CDC “errou em vários aspectos” da pandemia e que “viveu intensamente” a covid-19 por dois anos e meio na condição de médico. “Minha experiência vai totalmente de acordo com o CDC ter assumido erros grosseiros”, disse, embora o CDC não tenha recuado em pontos como a recomendação de vacinação, o que Zeballos critica. Apesar de dizer que não se opõe à vacina contra a covid-19 para todos os públicos, o médico criticou a imunização de crianças e adolescentes e disse que ela não é eficaz contra a variante ômicron. Zeballos citou estudos que descrevem efeitos adversos das vacinas para parte dos jovens, disse que a pandemia não é mais uma emergência de saúde pública e que crianças e adolescentes não são o grupo mais atingido pela covid-19 — embora, diferentemente da declaração dele de que “não acontece nada” com jovens com covid-19, a doença tenha feito mais de 3.300 vítimas dessa faixa no Brasil desde 2020.

Como verificamos: Para fazer a verificação, o primeiro passo foi pesquisar no Google sobre os tópicos falados no vídeo, como se o CDC admitiu algum erro, se o imunologista Anthony Fauci estava saindo do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) — outro tema que Zeballos cita —, se o CDC mudou as orientações para a covid-19 e se países mais vacinados registraram mais casos de covid-19. Também consultamos o próprio site do CDC e buscamos dados sobre os casos de infecções por covid-19 nos sites Our World in Data e da Johns Hopkins University que compilam os dados da pandemia no mundo.

Além da pesquisa, consultamos o pediatra, infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, e o médico infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Julio Croda. Por fim, também falamos com o médico Roberto Zeballos, autor do vídeo aqui verificado.

CDC admite falhas na comunicação

A diretora do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, agência do Departamento de Saúde dos Estados Unidos, Rochelle Walensky, admitiu em um comunicado para funcionários, em 17 agosto deste ano, que a agência não atendeu às “expectativas de maneira eficiente” no combate à covid-19. O CDC estava se preparando há 75 anos para uma pandemia e “em nosso grande momento, nosso desempenho não atendeu às expectativas de maneira confiável”, disse Walensky no conteúdo ao qual os jornais norte-americanos The New York Times e o Politico tiveram acesso.

De acordo com ela, o CDC irá passar por mudanças com o objetivo de se preparar melhor para emergências sanitárias futuras. “Meu objetivo é uma nova cultura de saúde pública orientada para a ação no CDC que enfatize a responsabilidade, colaboração, comunicação e pontualidade”, afirmou Walensky.

Segundo o documento, as mudanças visam melhorias na comunicação do CDC, que incluem a liberação de dados científicos mais rapidamente para aprimorar a transparência. As análises feitas concluíram que “os processos científicos e de comunicação tradicionais não eram adequados para responder efetivamente a uma crise do tamanho e escopo da pandemia de covid-19”.

“Estamos falando de uma mudança de cultura. Estamos falando de pontualidade de dados, comunicação de dados e orientação de políticas. A reorganização é difícil”, explicou Walensky ao Times.

De acordo com a diretora do CDC, o órgão foi desenvolvido em uma infraestrutura acadêmica e isso precisa mudar. Até a covid-19, a agência tinha como público-alvo especialistas e acadêmicos, mas, na pandemia, ela teve que passar a falar com a população comum. “Nestes momentos de pandemia, tivemos que conversar com um público mais amplo. Não tivemos que convencer o público científico – tivemos que convencer o povo americano”, disse Walensky. A prioridade então será produzir conteúdos com uma “linguagem simples e materiais fáceis de entender para o povo americano”.

Na avaliação do diretor da SBIm, o médico infectologista Renato Kfouri, não há críticas em relação à atuação do CDC durante a pandemia. “Acho que o CDC é um dos principais órgãos de controle de doenças do mundo. Tem investimento, capacidade, os profissionais mais qualificados do mundo”, disse ao Comprova. Para ele, é um dos órgãos “que mais produziram ciência em termos de dados de vida real, de segurança, de eficácia, de efetividade das vacinas que foram aplicadas nos EUA.”

Kfouri também disse que é esperado que o CDC revise suas condutas após um momento como o da pandemia, em que órgãos como esse tiveram que tomar decisões rápidas. “É uma epidemia nova. O conhecimento [sobre a covid-19] tem sido construído ao longo destes dois anos e meio”, disse. “Nem sempre essas decisões são fáceis. Vários países oscilaram [nas recomendações], mas sempre à luz das evidências disponíveis na época.”

Anthony Fauci anunciou saída do cargo

Como dito no vídeo verificado, o diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA e principal conselheiro médico do presidente Joe Biden, Anthony Fauci, anunciou em agosto que sairá do cargo de gestão a partir de dezembro. Fauci tem 81 anos, é diretor do NIAID desde 1984 e ocupa cargos no governo dos EUA há mais de 50 anos. Na pandemia, foi um dos principais críticos à atuação do então presidente Donald Trump no combate à covid-19.

Não há nenhuma evidência de que a saída de Fauci tenha alguma relação com a sua atuação durante a pandemia, como Zeballos sugere no vídeo. De acordo com o The New York Times, o anúncio do médico não foi inesperado. Ele já tinha falado algumas vezes que estava pensando em se aposentar — apesar de, no anúncio, ele não ter dito que se aposentaria, mas que se “dedicaria a viajar, escrever e encorajar os jovens a ingressar no serviço público”.

O presidente Joe Biden emitiu uma nota de agradecimento a Fauci. “O compromisso dele com o trabalho é inabalável, e ele o faz com espírito, energia, e integridade científica. Por causa das muitas contribuições do Dr. Fauci para a saúde pública, vidas aqui nos Estados Unidos e em todo o mundo foram salvas. Como ele deixa seu cargo no governo dos EUA, sei que o povo americano e todo o mundo continuará a se beneficiar da experiência do Dr. Fauci em tudo o que ele fizer a seguir.”

Pelo Twitter, a diretora do CDC, Rochelle Walensky, também agradeceu pela atuação de Fauci. “O trabalho do Dr. Fauci nas últimas cinco décadas, sem dúvida, teve um impacto na vida de muitos em todo o país, incluindo a minha. Foi um privilégio e uma honra servir ao lado dele na resposta ao #COVID19. Somos todos melhores por causa de sua experiência e serviço”, escreveu.

CDC continua a recomendar vacinação

No vídeo verificado, Zeballos tenta desestimular a vacinação de estudantes — crianças e adolescentes, segundo ele disse ao Comprova mais tarde — com o argumento de que o CDC mudou as orientações e passou a recomendar “o mesmo tratamento” para vacinados e não vacinados. De fato, o CDC emitiu uma atualização de suas orientações para o combate à covid-19, dando as mesmas orientações de cuidados para vacinados e não vacinados, mas não deixou de recomendar a vacinação contra a covid-19, inclusive com doses de reforço.

As mudanças, que foram anunciadas em 11 de agosto, segundo a revista Time, fazem parte da nova política anunciada pelo CDC de ter uma comunicação mais simples e clara. Segundo o órgão, a simplificação das regras foi possível exatamente devido à vacinação.

“Estamos em um lugar mais forte hoje como nação, com mais ferramentas – como vacinação, reforços e tratamentos – para proteger a nós mesmos e nossas comunidades de complicações graves da covid-19”, disse Greta Massetti, uma das cientistas-chefes do CDC. “Também temos uma melhor compreensão de como proteger as pessoas de serem expostas ao vírus, como usar máscaras de alta qualidade, testes e ventilação aprimorada. Essa orientação reconhece que a pandemia não acabou, mas também nos ajuda a chegar a um ponto em que a covid-19 não atrapalhe mais nossas vidas diárias.”

Questionado pelo Comprova, Zeballos disse que o CDC “se omitiu” ao não criticar as vacinas. O médico disse não ser antivacina e que recomendou a aplicação de imunizantes em seus pacientes idosos quando os números da pandemia estavam mais altos no Brasil. Hoje, porém, ele disse considerar a vacinação dispensável, pois ela perdeu parte da efetividade na prevenção de infecções de covid-19 desde o surgimento da variante ômicron — o que é verdade para imunizantes como Pfizer, AstraZeneca e CoronaVac, embora eles ainda tenham ampla proteção contra doença grave e morte. Com a aplicação de terceira e quarta dose de reforço, mesmo a proteção contra infecção aumenta significativamente, segundo estudos conduzidos em vários países.

O novo guia orienta a:

  • Continuar a promover a importância de estar em dia com a vacinação para proteger as pessoas contra doenças graves, hospitalização e morte. A proteção fornecida pela vacina atual contra infecção e transmissão sintomática é menor do que contra doença grave e diminui com o tempo, especialmente contra as variantes atualmente circulantes. Por esse motivo, é importante manter-se atualizado, especialmente à medida que novas vacinas se tornam disponíveis.
  • Atualizar a orientação para pessoas que não estão em dia com as vacinas covid-19 sobre o que fazer se expostas a alguém com covid-19. Isso é consistente com as orientações existentes para pessoas que estão em dia com as vacinas covid-19.
  • Em vez de ficar em quarentena se você foi exposto ao covid-19, usar uma máscara de alta qualidade por 10 dias e fazer o teste no dia 5.
  • Independente do status vacinal, se isolar de outras pessoas quando estiver com covid-19.
  • Fazer testes de triagem de pessoas assintomáticas sem exposições conhecidas não será mais recomendado na maioria dos ambientes comunitários.

Vacinação em crianças e adolescentes

Zeballos enfatizou as críticas na vacinação de crianças e adolescentes. Para ele, a vacinação é desaconselhada para o grupo porque essa não é a faixa etária mais acometida pela covid-19, como são os idosos. “Não acontece nada [com o jovem]”, disse. O médico também citou como motivo para dispensar a vacinação estudos que relatam casos de efeitos adversos dos imunizantes identificados em adolescentes.

É verdade que crianças e adolescentes são menos vulneráveis à covid-19, em comparação com os adultos e idosos. Não é verdade, porém, que “não acontece nada” com o grupo, como diz Zeballos. Segundo boletins do Ministério da Saúde com dados atualizados até 26 de agosto, mais de 50,8 mil pessoas de 0 a 19 anos foram hospitalizadas com covid-19 entre 2020, 2021 e 2022. No mesmo período, mais de 3.300 pessoas na mesma faixa etária morreram pela doença.

“Claro que há uma desproporção muito grande quando se compara com adultos”, disse Renato Kfouri ao Comprova. Até junho de 2022, segundo dados do Ministério da Saúde, mais de 33 mil brasileiros de 60 anos ou mais morreram de covid-19. Segundo ele, porém, é um equívoco comparar casos de crianças com os de adultos: o correto seria comparar a covid-19 com outras doenças pediátricas. “Todas matam muito menos do que a covid-19. E nem por isso a gente deixa de vacinar”, disse Kfouri.

Segundo levantamento da Fiocruz de julho de 2022, desde março de 2020 a covid-19 causou no Brasil a morte de 539 crianças entre 6 meses e 3 anos de idade, por exemplo. O número é mais que o triplo do total de mortes que outras 14 doenças causaram juntas nessa faixa de idade em dez anos, entre elas tétano, sarampo, poliomielite, hepatite B, difteria, coqueluche e tuberculose miliar.

Ao Comprova, Zeballos mencionou dois estudos que citam eventos adversos das vacinas. O primeiro, publicado em agosto na revista New England Journal of Medicine, analisou os efeitos da aplicação do imunizante da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos de janeiro a abril de 2022. Em um trecho, o estudo afirmou que, de 53 mil infecções pelo coronavírus analisadas e 288 hospitalizações, cinco crianças precisaram receber oxigênio, e, delas, duas eram parcialmente vacinadas e duas, totalmente vacinadas. Em outro trecho, o estudo disse que, até fevereiro, 22 eventos adversos sérios após a vacinação nessa faixa etária haviam sido informados em Singapura — isso equivale a cerca de 0,005% de todas as doses administradas, ou seja, 5 a cada 100.000.

O segundo estudo citado pelo médico e publicado também em agosto na revista Tropical Medicine and Infectious Disease acompanhou 301 adolescentes entre 13 e 18 anos que receberam a segunda dose da vacina da Pfizer em Bangkok, na Tailândia. Cerca de 29% deles registraram alterações cardiovasculares após a aplicação da vacina, segundo o estudo. Os efeitos mais comuns foram taquicardia (7,6%), falta de ar (6,6%), palpitação (4,3%), dor no peito (4,3%) e hipertensão (4%). Um paciente teve miocardite (inflamação no coração) leve e se recuperou depois de 14 dias.

A miocardite é reconhecida como evento adverso característico das vacinas de RNA mensageiro, como é o caso da vacina da Pfizer. Relatos da inflamação passaram a surgir após a liberação das vacinas. Apesar disso, não se trata de um evento comum: é um efeito muito raro dos imunizantes do tipo e não tende a atingir todas as crianças e adolescentes, mas um grupo específico — adolescentes do sexo masculino —, segundo dados do CDC. O risco maior de meninos mais velhos está relacionado à puberdade.

E, mesmo assim, a taxa de incidência de miocardite em decorrência covid-19 é 100 vezes maior que aquela derivada da vacinação com RNA mensageiro, segundo estimativa levantada em estudo publicado na revista Nature em dezembro de 2021.

Segundo dados do CDC de dezembro de 2021, apenas oito casos de miocardite em crianças de 5 a 11 anos haviam sido reportados ao órgão até então. Na época, os EUA haviam aplicado mais de 7 milhões de doses de vacina em pessoas dessa faixa etária. Segundo o CDC, a maioria dos pacientes com miocardite ou pericardite (inflamação no revestimento externo do coração) havia respondido bem ao tratamento e melhorado.

Zeballos disse ao Comprova que reconhece que os casos de eventos adversos são raros, embora seja contrário à vacinação. Para Kfouri, os benefícios das vacinas — a prevenção de infecção, doença grave ou morte por covid-19 — superam os riscos de efeitos colaterais. “São eventos raríssimos. [Com as vacinas] Você evita mais mortes, mais sofrimento. Efeitos colaterais graves podem acontecer, como com qualquer vacina ou remédio”, disse.

Não há relação proporcional entre avanço de vacinação e aumento no número de casos de covid-19

Ainda no vídeo verificado, Zeballos relaciona erroneamente o avanço da vacinação ao aumento no número de casos de covid-19. Ele afirma que dois estudos mostram que as vacinas fabricadas pela tecnologia de RNA mensageiro, Pfizer e Moderna, “têm um impacto no sistema imunológico criando uma tolerância ao vírus” a partir de oito meses após a segunda dose. Isso explicaria, segundo ele, o porquê de países avançados na vacinação terem maiores índices de infecção.

Zeballos não menciona quais são esses estudos. Em entrevista ao Comprova, ele compartilhou uma matéria do jornal The Epoch Times com links para os dois estudos em questão. O primeiro, conduzido por pesquisadores britânicos e publicado na Science, afirma, como principal conclusão, que vacinas de RNA mensageiro não são tão eficientes contra a Ômicron, em comparação às outras variantes, e que pessoas infectadas pela Ômicron apresentam maior resistência a todas as outras variantes. Isso não significa, necessariamente, que a vacinação, por ela mesma, aumente o número de casos.

Quanto ao segundo estudo, conduzido por pesquisadores alemães, ele não foi publicado até o momento desta verificação, porque carece de revisão por pares, processo no qual pesquisadores não-envolvidos no estudo o revisam para garantir credibilidade. Como consta na sua própria página, esse estudo “reporta sobre novas pesquisas de medicina que ainda precisam ser avaliadas e, então, não deve ser usado como guia para prática clínica”. Sendo assim, esse estudo é desconsiderado como evidência.

Não citado por Zeballos e publicado após revisão por pares, um estudo conduzido por um pesquisador de Harvard mostra, com base em dados de 68 países diferentes, que, na verdade, o avanço da vacinação, independentemente do tipo da vacina, não impulsiona, nem freia, a evolução do número de casos de covid-19. “No nível nacional, parece não haver relação discernível entre a porcentagem da população totalmente vacinada e os novos casos de covid-19”, afirma o estudo.

Cabe destacar que esse estudo foi publicado em setembro de 2021, em meio a surtos da variante Delta — a Ômicron foi reportada pela primeira vez apenas dois meses depois. O Comprova não encontrou nenhum estudo no Google Scholar que analisasse a relação entre vacinação e casos no contexto da Ômicron. Foram pesquisados estudos que contivessem as palavras-chave “covid-19”, “vaccination”, “cases” e “omicron”.

“As curvas de casos nos países são dependentes de diversos fatores: entrada de novas variantes, coberturas vacinais e medidas não-farmacológicas [distanciamento social, por exemplo], entre outras”, explica Renato Kfouri. “A resposta imune frente às infecções e as vacinas também varia conforme a população”, acrescenta.

No vídeo verificado, Zeballos cita o caso da Coreia do Sul, mas sem desenvolver sobre tal, para tentar provar a sua hipótese. Novamente, ele se mostra equivocado.

De fato, mais de 86% da população sul coreana tomou as duas primeiras doses, segundo o Ministério da Saúde local; e, de acordo com o New York Times, o país tem a segunda maior média diária de casos por 100.000 habitantes na última semana no mundo.

Entretanto, como Kfouri revelou, diversas variáveis, para além da cobertura vacinal, influenciam na evolução no número de casos de covid-19 em um país. No caso da Coreia do Sul, um exemplo de variável citado pela Bloomberg em artigo de março de 2022 sobre o tema é a testagem. Segundo dados de junho deste ano do site de estatística Our World in Data, dentre países com mais de 10 milhões de habitantes, a Coreia do Sul é o 12º em média diária de testes aplicados para cada 1.000 pessoas. A testagem em massa é exatamente o motivo citado pelo médico infectologista e pesquisador da Fiocruz Julio Croda para o caso de países que continuam registrando muitos casos mesmo com a vacinação avançada. “Os países desenvolvidos são os que apresentam maior cobertura vacinal. Eles puderam adquirir as vacinas, em tempo oportuno, e conseguiram vacinar toda a sua população. Esses países também são os que ofertam maior número de testes por 100 mil habitantes, ou seja, o acesso do teste é maior”, afirmou.

Quem é Roberto Zeballos

Roberto Zeballos é médico imunologista (CRM 58439-SP) e tem 538 mil seguidores no Instagram. Reportagem do Aos Fatos do ano passado mostrou que Zeballos é um dos médicos campeões de desinformação sobre a covid-19. Ele está em quatro vídeos com mais de 2,7 milhões de visualizações e, em todos eles, defendeu a administração de cloroquina em pacientes com coronavírus, medicamento comprovadamente ineficaz contra a doença.

Ele apareceu em pelo menos outras duas checagens do Comprova classificadas como enganosas. A de que, ao contrário do que afirmou Zeballos, vacinas são eficazes contra variante delta e que o Ministério da Saúde de Israel negou que seus dados permitam concluir sobre imunidade de infectados.

Em janeiro deste ano, professores da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgaram uma carta aberta em protesto às declarações de Zeballos contra as vacinas da covid-19. “Notoriamente, tem utilizado a sua graduação em medicina e se autodeclarando especialista para fazer campanha contra as vacinas, prestando um desserviço à saúde”, disseram os médicos.

Ao Comprova, Zeballos enviou um link de uma notícia que fala sobre o CDC ter assumido erros e fez críticas à atuação da agência. “Esse é apenas um dos artigos que mostra que o CDC errou em vários aspectos. Não é só porque ele admite que errou. A gente viveu muito, eu vivi intensamente essa doença durante dois anos e meio. E eu via que estavam cometendo erros, sim: lockdowns prolongados, máscaras ao ar livre, dizer que as vacinas protegem contra a disseminação de infecção”, disse. Porém, em nenhum momento, o CDC disse que errou quanto às medidas de contenção da covid-19.

O médico também disse que foi “vítima do Comprova quatro vezes”. “Sabe o que é você dormir três horas por dia na época da [variante] amazonense? Aí você pergunta pra mim: a vacina ajudou? Eu acho que ela ajudou na delta. E ela poderia talvez ter ajudado na amazonense, mas não deu tempo. Porque o vírus muda muito. A [variante] amazonense foi aquela que veio ao Brasil, que não tinha quase nada de reinfecção. Não tinha quase nada. Por isso eu atendia com tranquilidade. Eu não tomei a vacina. Porque outra coisa que ninguém reforça: as pessoas que pegam a doença são muito imunizadas”, disse.

Zeballos também disse que o trabalho que faz “nunca foi político” e sim “para o paciente” e falou que suas afirmações são baseadas na experiência tratando casos de covid-19. “Eu tô num nível em que eu quero tocar minha vida e salvar as pessoas. Eu tô ajudando as pessoas não indicando o imunizante para as crianças depois desses dois últimos estudos — porque as pessoas só ouvem os estudos, e não ouvem o raciocínio clínico. Eu tenho a experiência com o raciocínio clínico, de não ver criança morrendo, e tenho a experiência”, afirmou.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. O conteúdo aqui verificado confunde as pessoas sobre as orientações de combate à covid-19, o que as coloca em risco.

Outras checagens sobre o tema: Checagens anteriores do Comprova mostraram que o mesmo médico disseminou informações enganosas sobre a vacinação da covid-19, como vídeo em que ele diz que as vacinas não funcionam contra a variante delta e postagem que diz que o ministério da Saúde de Israel disse que pessoas infectadas pelo coronavírus estão mais protegidas do que vacinados.

Recentemente, o Comprova também mostrou que é enganoso que estudo de Harvard comprovou eficácia de hidroxicloroquina na prevenção da covid-19 e que são falsas as alegações de médica que trata vacinação da covid em crianças como “assassinato em massa”.

Eleições

Investigado por: 2022-08-26

Senador ironiza resultado de instituto para desacreditar pesquisas eleitorais

  • Enganoso
Enganoso
Post do senador Flávio Bolsonaro engana ao sugerir que dados do Datafolha são imprecisos. Para isso, ele utiliza reportagem do portal G1, de agosto de 2018, mostrando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como líder nas pesquisas eleitorais daquela eleição para presidente. O conteúdo não leva em consideração que pesquisas eleitorais não são uma previsão do resultado, mas um recorte das intenções de voto em um determinado momento. Posteriormente, Lula foi impossibilitado de concorrer ao pleito e Jair Bolsonaro esteve em primeiro lugar nas análises seguintes. A pesquisa boca de urna do instituto mostrou Bolsonaro com 45% das intenções de voto e Fernando Haddad, candidato do PT em 2018, com 28%. O resultado oficial foi de 46,03% dos votos para Bolsonaro e 29,28% para o petista.

Conteúdo investigado: Publicação do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) com print de matéria do G1 a respeito de pesquisa do Instituto Datafolha, em agosto de 2018. A imagem mostra o ex-presidente Lula (PT) com 39% das intenções de voto e Jair Bolsonaro (à época no PSL), com 19%, além de dados dos demais candidatos. O senador destaca com um quadro amarelo as informações relativas aos dois candidatos mais bem pontuados, bem como a data e o horário da divulgação do levantamento. O post é acompanhado da legenda: “DataFolha como sempre muito preciso! Kkkk Em 22 de agosto de 2018, eles davam 39% para o ladrão (que estava preso), e 19% para Bolsonaro e o final vocês já sabem!”.

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: É enganosa a postagem de Flávio Bolsonaro sugerindo que as análises feitas pelo Instituto Datafolha são imprecisas. O político utiliza uma matéria do portal G1, de 22 de agosto de 2018, em que Lula aparecia com 39% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro estava com 19%, para tentar tirar a credibilidade de pesquisas eleitorais e induzir a uma ideia de que as análises atuais não retratam a realidade.

Ouvido pelo Comprova, Daniel Bramatti, jornalista e responsável pela análise de pesquisas eleitorais no Estadão desde 2010, comenta que o fato da pesquisa não mostrar Bolsonaro à frente naquele momento não indica erro ou uma imprecisão. “Pesquisa não é previsão de resultado, é uma fotografia do momento. Não é previsão do resultado nem quando é feita na véspera da eleição”, afirma.

A mesma pesquisa Datafolha do dia 22 de agosto também mostrou um cenário sem o ex-presidente Lula, que estava preso, e com Fernando Haddad, candidato do PT que disputou aquele pleito, em seu lugar. Nesse cenário, Bolsonaro liderava com 22% das intenções de voto e Haddad tinha apenas 4%. No dia 31 de agosto, o TSE barrou a candidatura de Lula.

A consulta em questão foi a última com Lula entre as opções para os entrevistados. Bolsonaro esteve em primeiro lugar nas intenções de voto de todos os levantamentos do Datafolha divulgados a partir daquela data.

A pesquisa de boca de urna chegou a registrar crescimento dos dois candidatos: Bolsonaro pontuou 45%, e Haddad aparecia com 28%. O resultado das urnas foi compatível com essa última sondagem. O então candidato do PSL teve 46,03% dos votos e o petista teve 29,28%.

Enganoso para o Comprova é qualquer conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos que obtêm maior alcance nas redes sociais. Até o dia 26 de agosto, a publicação feita pelo senador em seu perfil no Instagram acumulava mais de 39,9 mil curtidas e passava dos 5,6 mil comentários.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com a assessoria do senador Flávio Bolsonaro, que não retornou até o fechamento desta verificação..

Como verificamos: Inicialmente, fizemos uma busca no Google com o título da reportagem descrito na publicação feita pelo senador. A procura retornou a matéria publicada pelo G1, mostrando que, de fato, o levantamento do Datafolha foi divulgado na data indicada e os resultados eram verdadeiros.

A reportagem também procurou pela pesquisa em questão no site oficial do Datafolha, que disponibiliza todos os levantamentos sobre eleições feitos desde 1992. Ali, encontramos a íntegra da pesquisa divulgada em 22 de agosto de 2018, e verificamos que o instituto também perguntou aos entrevistados sobre um cenário eleitoral com Fernando Haddad em vez do ex-presidente Lula.

Depois de ler a íntegra da pesquisa que aparece na publicação, verificamos as pesquisas do Datafolha divulgadas nas semanas e meses seguintes, entre agosto e outubro de 2018, até a votação de segundo turno. Em seguida, comparamos as pesquisas publicadas na véspera e na boca de urna do primeiro e segundo turnos com o resultado das eleições daquele ano

Print e números publicados por senador são reais

A imagem compartilhada pelo senador Flávio Bolsonaro no Instagram destaca uma manchete do portal G1, cuja reportagem foi publicada em 22 de agosto de 2018. A matéria detalhou os números obtidos em levantamento do Instituto Datafolha relativo à corrida presidencial daquele ano.

Na ocasião, o instituto apurou os percentuais de intenção de voto em dois cenários distintos, sendo o primeiro com o ex-presidente Lula e um segundo cenário com o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT).

Também foram analisadas as intenções de voto dos candidatos por diferentes segmentos: sexo, faixa etária, escolaridade, renda familiar, regiões do país e religião.

Os números que aparecem na imagem compartilhada pelo político correspondem aos dados apurados pelo Datafolha naquela ocasião. Apesar de trazer informações reais na postagem, o senador acrescenta à publicação uma frase que ironiza o conteúdo, em uma clara tentativa de descredibilizar o levantamento e o próprio instituto de pesquisa.

Pesquisa em questão trazia dois cenários

A mesma pesquisa Datafolha do dia 22 de agosto também mostrou um cenário sem o ex-presidente Lula, e com Haddad em seu lugar. Nesse cenário, Bolsonaro liderava com 22% das intenções de voto e Haddad tinha apenas 4%. Na análise sem Lula, o número de eleitores que declararam votos em branco e nulos também era de 22%, o que superava as intenções de voto em Marina Silva (16%), Ciro (10%) e Alckmin (9%) – todos à frente de Haddad naquele momento. Lula ainda constava como candidato nas pesquisas, pois o PT havia registrado seu nome como candidato do partido. O TSE decidiu barrar sua candidatura apenas no dia 31 de agosto daquele ano, ou seja, nove dias depois da divulgação da pesquisa.

Assim, a pesquisa do dia 22 de agosto de 2018 foi a última em que o nome do ex-presidente Lula apareceu entre as opções para os entrevistados. Bolsonaro apareceu em primeiro lugar nas intenções de voto de todos os levantamentos do Datafolha divulgados a partir dali.

A sondagem seguinte do instituto para a eleição nacional foi divulgada no dia 11 de setembro, cerca de dez dias após a decisão do TSE. Naquela data, Bolsonaro aparecia isolado na liderança, com 24% das intenções de voto, e quatro candidatos empatados tecnicamente no segundo lugar: Ciro Gomes (13%), Marina Silva (11%), Geraldo Alckmin (10%) e Fernando Haddad (9%). Entre a pesquisa feita no fim de agosto e aquela divulgada em 11 de setembro, Bolsonaro sofreu o atentado a faca em Juiz de Fora (MG) e passou as semanas seguintes hospitalizado. Nos dias seguintes, as sondagens do Datafolha mostraram uma tendência de crescimento contínuo nas intenções de voto em Bolsonaro. Ele pontuou 26% na pesquisa divulgada em 14 de setembro, depois 28% no dia 19 – resultado que ele manteve no dia 28 daquele mês.

Haddad também cresceu nas pesquisas de intenção de voto no mesmo período. O Datafolha mostrou o petista com 13% na pesquisa estimulada de 14 de setembro, e ele chegou a 22% na sondagem divulgada no dia 28 – neste dia, isolando-se pela primeira vez na segunda colocação.

Pesquisas na véspera e boca de urna coincidiram com o resultado das eleições

Na véspera da votação em primeiro turno, no dia 6 de outubro, Bolsonaro aparecia com 40% das intenções de votos válidos e Haddad tinha 25%, segundo o Datafolha. Já a pesquisa de boca de urna, feita após a votação, chegou a registrar crescimento dos dois candidatos: Bolsonaro pontuou 45%, e Haddad aparecia com 28%. O resultado das urnas foi compatível com essa última sondagem.

O então candidato do PSL teve 46,03% dos votos e o petista teve 29,28%, portanto o resultado divulgado pelo TSE ficou dentro da margem de erro (de dois pontos percentuais, para mais ou para menos) da última pesquisa divulgada pelo Datafolha antes da apuração dos votos.

O mesmo se repetiu no segundo turno da eleição presidencial. No dia 27 de outubro, véspera da votação, o Datafolha apontava Bolsonaro com 55% das intenções de voto e Haddad com 45%. O resultado apurado pelo TSE foi de 55,13% para o candidato do PSL e 44,87% para o petista.

Funcionamento de pesquisas eleitorais

O Projeto Comprova explicou recentemente como funciona uma pesquisa eleitoral, que busca apontar as intenções de voto no momento em que é realizada. Utilizando uma amostra cientificamente calculada para representar a população brasileira, a pesquisa eleitoral consegue representar o grupo como um todo e evitar vieses que possam prejudicar a interpretação da realidade.

É considerada uma série de critérios, também chamados de variáveis, para aproximar o grupo de entrevistados da composição real da população, como raça, gênero, escolaridade e ocupação. As variáveis usadas podem diferir entre os institutos de pesquisa. O Comprova também mostrou que as pesquisas eleitorais retratam os resultados obtidos no momento em que elas foram realizadas. Como são feitas por amostragem e não trazem resultados absolutos, as pesquisas apresentam as margens de erro, que incluem essa possível oscilação nos resultados. Para eliminar essa margem de erro, seria necessário entrevistar todas as milhões de pessoas com idade para votar na cidade, estado ou país, o que é inviável.

Daniel Bramatti, responsável pela análise de pesquisas eleitorais no Estadão desde 2010, explica que existe um cálculo estatístico para definir o tamanho da amostra de acordo com a precisão desejada para a pesquisa.

“Se quiser uma pesquisa mais precisa, com menos margem de erro, a sua amostra vai ter que ser um pouco maior. Se não tiver condições de fazer com uma amostra muito grande, vai ter um cálculo para definir qual vai ser a sua margem de erro e se ela é aceitável para o que se está buscando. As pesquisas no Brasil buscam uma margem de erro máxima de 3 pontos percentuais, muitas com 2 pontos percentuais. Isso depende do número de entrevistados. Então, quanto maior o número de entrevistados, menor a margem de erro e maior o intervalo de confiança – ou seja, a sua certeza de que ao fazer a pesquisa ela vai dar resultados que venham dentro da margem de erro esperada”, explica o especialista.

Em relação à postagem feita por Flávio Bolsonaro, Bramatti afirma que não há nada indicando que a pesquisa Datafolha estava errada: “O fato de a pesquisa de agosto não mostrar o Bolsonaro na frente ou não mostrar que ele venceria, não quer dizer nada. Simplesmente pesquisa não é previsão de resultado. Pesquisa é uma fotografia do momento em que ela é realizada”.

Ele ressalta que a definição de intenção de voto tem ficado cada vez mais para o último momento e pode ser alterada até no dia da votação. Além disso, a decisão do eleitor passa pela influência de redes sociais e do círculo social, o que pode gerar mudanças de última hora.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Com a proximidade da eleição, as pesquisas eleitorais têm sido alvo ainda mais frequentes de críticas e questionamentos, especialmente de candidatos insatisfeitos com suas posições nos resultados de intenção de voto. Conteúdos de desinformação sobre pesquisas podem prejudicar o processo democrático uma vez que confundem a população ao tentar descredibilizar as análises. É importante, portanto, que os eleitores tenham acesso a informações verídicas sobre as pesquisas, que seguem um método científico e buscam eliminar possíveis distorções e vieses.

Outras checagens sobre o tema: Conteúdos de desinformação que tentam colocar em xeque as pesquisas eleitorais costumam circular com frequência nas redes sociais. O Comprova já mostrou que vídeo faz alegações enganosas para colocar em dúvida credibilidade das pesquisas, além de ter produzido um material explicativo para mostrar que pesquisas eleitorais seguem métodos científicos, ao contrário de enquetes.

Conteúdo recente publicado pelo Aos Fatos também detalha como são feitas as pesquisas eleitorais.

Eleições

Investigado por: 2022-08-26

Não há registros de que Lula tenha defendido performance em que criança toca em homem nu

  • Falso
Falso
É falso o conteúdo de uma postagem no Kwai que procura associar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a um episódio de 2017, quando uma criança tocou o corpo nu de um artista durante uma performance no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo. No vídeo, um homem sugere que o petista, que é candidato à presidência da República, havia classificado a cena como “arte”. Não há registro de declaração de Lula nesse sentido. O evento foi explorado politicamente naquele ano, que antecedeu as eleições presidenciais de 2018, e ressurge agora em um mesmo contexto buscando associar a esquerda a um projeto de suposta relativização do crime de pedofilia.

Conteúdo investigado: Vídeo em que homem diz: “Ninguém tem coragem de falar, mas eu falo. Se você insiste em votar em um ex-presidiário que vê crianças passando a mão em um homem nu e diz que isso é arte, ou você é muito idiota, ou ele te deu muito dinheiro.” Na gravação, o autor do vídeo aparece de capacete e óculos escuros, percorrendo uma estrada de terra.

Onde foi publicado: Kwai.

Conclusão do Comprova: Não há registro que comprove que Lula tenha chamado de arte cena registrada em vídeo, que circulou na internet em 2017, em que uma criança toca o corpo de um homem nu durante performance artística no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo. O vídeo de um trecho da performance foi divulgado à época, gerando uma série de protestos e discussões. Na ocasião, a um ano das eleições presidenciais de 2018, o assunto foi explorado politicamente. Uma reportagem publicada pelo Correio Braziliense sobre a repercussão do caso no meio político, porém, informava que “os pré-candidatos Lula e Marina Silva (Rede) não se manifestaram publicamente sobre o assunto”.

O Comprova também fez buscas na internet e não localizou tal declaração de Lula. Já a assessoria de imprensa do ex-presidente e atual candidato à Presidência da República afirmou que o político não fez nenhuma manifestação sobre o assunto.

O autor da postagem, que, no vídeo, apenas menciona “crianças passando a mão em homem nu”, sem citar um episódio específico, confirmou ao Comprova que se referia à cena gravada em 2017 envolvendo a performance “La Bête”, no MAM. Questionado, porém, não prestou informações sobre a fonte em que teria se baseado para afirmar que Lula havia classificado a cena como “arte”.

Para o Comprova, falso é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Apenas na plataforma de vídeos Kwai, até as 12h45 do dia 26 de agosto, o vídeo alcançava 132,4 mil visualizações.

O que diz o autor da publicação: Entramos em contato com o autor do vídeo, Danilo Molteni, pelo Instagram. Pedimos a ele que identificasse o caso ao qual estaria se referindo na gravação. Em resposta, Danilo encaminhou o link de uma reportagem do G1, publicada em setembro de 2017, com o título “Interação de criança com artista nu em museu de São Paulo gera polêmica”. Confirmou, portanto, estar se referindo, no vídeo, à performance “La Bête”, do artista Wagner Schwartz. A matéria jornalística, contudo, não faz menção a Lula.

O influencer também enviou uma foto, em que o ex-presidente aparece sorrindo ao assistir a dois homens se beijando na boca. Na foto, porém, não há pessoas nuas, nem crianças. Ao fazer busca reversa da imagem, ficou constatado que se tratava de uma performance em um ato de artistas e intelectuais, realizado no dia 18 de janeiro de 2018, a favor de Lula.

Questionado, o autor do vídeo não explicou em que ocasião o candidato teria classificado o episódio de 2017 no MAM como “arte”, apenas escreveu: “Não to entendendo aonde vc quer chegar (sic)” e “Pelo que eu saiba ainda temos o direito de liberdade de expressão (sic)”. Também enviou o link de um texto publicado no blog de Rodrigo Constantino, em 2017, na Gazeta do Povo, em que ele faz críticas à mesma performance realizada no MAM, porém, sem qualquer citação a Lula ou comentários que o petista teria feito sobre o caso. O espaço no site se apresenta como “blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda ‘politicamente correta’”.

Questionado diversas vezes sobre a fonte da informação que teria dado origem à afirmação feita no vídeo, o autor não respondeu, afirmando apenas “já disse o que tinha para dizer”.

O Comprova também perguntou qual teria sido sua intenção ao gravar o vídeo. Danilo limitou-se a dizer que “é uma reflexão sobre o que esperar de votar em um ex-presidiário, só isso”.

Como verificamos: Inicialmente, a reportagem pesquisou no Google pelas palavras-chaves “Lula”, “homem nu”, “arte”. A consulta resultou, entre outros links, em uma postagem no Facebook de um perfil conservador, de janeiro de 2018, que apresenta um vídeo com trecho de uma entrevista do ex-presidente ao jornalista e escritor Fernando Morais, no canal do blog Nocaute no YouTube. O título da publicação é “O que Lula pensa da ‘arte’ homem nu com crianças?”, mas o conteúdo exibido não entrega a resposta ou qualquer comentário do ex-presidente sobre performances teatrais.

A equipe procurou, então, pelo vídeo original da entrevista. Com a ferramenta InVid, foi possível selecionar frames do vídeo e fazer busca reversa dessas imagens para identificar uma publicação anterior. Também foram feitas novas buscas no Google com os termos “Lula” + “Fernando Morais” + “entrevista” + “Nocaute”. O Comprova localizou a entrevista completa, dividida em três blocos (1, 2 e 3), e assistiu ao conteúdo. O ex-presidente não faz menção ao que foi alegado no vídeo aqui investigado.

A reportagem entrou em contato com o autor da publicação, que respondeu apenas alguns questionamentos. Um deles foi de que a declaração de Lula teria sido feita em relação à performance do artista Wagner Schwartz, em “La Bête”. A partir dessa informação, também foram feitas pesquisas com uma série de outros termos relacionados à performance, ao artista, ao ex-presidente e ao museu.

As consultas realizadas pelo Google retornaram reportagens sobre a repercussão do caso (G1, Veja, Gazeta do Povo, Carta Capital, O Globo, Folha de S.Paulo) e postagens nas redes sociais, mas nenhuma faz referência à suposta manifestação de Lula.

Na busca avançada do Twitter, com o filtro da língua portuguesa (lang=’pt’), não há retorno quando pesquisado “Lula” + “La Bête”. Mas, quando consultado “Lula” + “homem nu”, aparecem várias postagens em que os dois termos são citados, porém, nenhuma declaração do petista sobre a performance artística.

A assessoria do ex-presidente também foi procurada e negou que Lula tenha declarado o que foi divulgado no vídeo.

Não há registro de suposta declaração de Lula

Não há registro de que Lula tenha feito comentários diretos sobre a participação de uma criança em uma performance realizada pelo artista Wagner Schwartz, no MAM, em setembro de 2017. Na ocasião, a menina, acompanhada da mãe, toca no corpo nu de Schwartz, que, em La Bête, procura reproduzir, com o corpo despido, o efeito de interação proposto na série Os Bichos, de Lygia Clark, em que esculturas poderiam assumir diferentes formas a partir da manipulação pelo público.

O autor do vídeo verificado, postado no dia 17, procura relacionar Lula ao episódio. Em contato com o Comprova, ele não esclareceu perguntas sobre a fonte da informação em que se baseou para sua afirmação.

O Comprova fez buscas na internet e em redes sociais, mas não encontrou nenhuma declaração direta de Lula sobre o episódio. Em uma entrevista, quando perguntado sobre as discussões no país relacionadas à performance e ao cancelamento de uma exposição em Porto Alegre, também em 2017, respondeu de forma generalizada, mencionando que o preconceito e o ódio começam a ser expostos anos antes, a partir das manifestações de 2013 (neste vídeo, a partir do minuto 14). Não há menção direta à performance no MAM.

Uma matéria da Agência Estado, publicada em 16 de outubro de 2017, no Correio Braziliense, traz informações sobre a repercussão, no meio político, da cena da menina tocando o corpo do artista. O texto diz que “os pré-candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Marina Silva (Rede) não se manifestaram publicamente sobre o assunto”.

Acusações retornam neste ano

Em setembro de 2017, a repercussão em torno da performance La Bête e da mostra Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, em Porto Alegre, foi um dos temas discutidos na arena política, a um ano das eleições presidenciais de 2018. Os que defendiam a performance e a exposição foram associados à esquerda, e representantes políticos, apoiadores e eleitores desse espectro foram atrelados às acusações que citavam apologia à erotização de crianças e à pedofilia. (G1, El País, Rádio Jovem Pan).

Os temas fizeram parte da campanha de 2018, quando o Comprova e o Fato ou Fake, do G1, mostraram serem falsas postagens que sugeriam que o então candidato pelo PT, Fernando Haddad, defendia a descriminalização da pedofilia. Em 2020, Bolsonaro voltou ao tema em postagem nas redes sociais, conforme mostram reportagens do Metrópoles e IstoÉ Dinheiro. E, neste ano, novamente, quando, em março, associou o PT à pedofilia em declaração dada a apoiadores, como noticiaram UOL e Carta Capital.

Ainda em março deste ano, os Tribunais Regionais Eleitorais de São Paulo e de Santa Catarina determinaram a suspensão de um trecho de uma propaganda do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) que relacionava a esquerda a suposta flexibilização do crime de pedofilia (G1, Gazeta do Povo, UOL).

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A postagem cita Lula, candidato à Presidência, atribuindo falsamente declarações ao ex-presidente. O conteúdo falso é danoso ao processo democrático, porque distorce a compreensão da realidade, ao passo que a população tem direito de saber a verdade e basear suas escolhas em informações confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: A pouco mais de um mês para as eleições, o tema é recorrente nas verificações do Comprova, que já demonstrou que não há evidências de que o presidente do Chile tenha projeto nacional inspirado em Lula, que posts enganam ao sugerir que Bolsonaro e ministros olhavam para o petista em foto feita no TSE, que decreto para participação das Forças Armadas nas eleições é praxe no Brasil e não confere mais força a Bolsonaro, e que o país não foi o único país a registrar deflação em julho.

Eleições

Investigado por: 2022-08-26

TSE não admitiu ligação entre PT e PCC, diferentemente do que sugere vídeo

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o vídeo em que um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) afirma que o "TSE admite que o PCC tem ligação com o PT de Lula". Uma decisão da Corte, publicada no dia 20 de agosto de 2022, negou um pedido do Partido dos Trabalhadores para que Bolsonaro apagasse de suas redes sociais postagens que acusam Lula e o PT de manter relação com o grupo criminoso. Bolsonaro reproduz trecho de reportagem da TV Record, veiculada no dia 9 de agosto de 2019, na qual consta áudio de interceptação telefônica feita pela Polícia Federal (PF), no contexto da Operação Cravada (2019). Responsável pela decisão, a ministra Maria Claudia Bucchianeri afirmou não ter feito juízo de valor sobre o conteúdo do áudio ao decidir.

Conteúdo investigado: Em vídeo no YouTube intitulado “TSE admite que o PCC tem sim uma ligação com o PT de LULA”, candidato a deputado federal pelo PL em Goiás afirma que a ministra do Tribunal Superior Eleitoral Maria Claudia Bucchianeri “percebeu que falar isso não é fake news” em referência a uma suposta ligação entre o Partido dos Trabalhadores e o PCC.

Onde foi publicado: YouTube

Conclusão do Comprova: É enganoso um vídeo que afirma que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) admitiu que o PT tem ligação com a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). A ministra da corte Maria Claudia Bucchianeri somente negou um pedido do PT para obrigar o presidente Jair Bolsonaro (PL) a excluir algumas postagens no Twitter em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT são associados ao PCC. Porém, na decisão, não há julgamento se a associação é verdadeira ou falsa.

As postagens de Bolsonaro citam uma interceptação telefônica feita pela Polícia Federal em 2019. A ministra confirmou que o trecho é autêntico, tendo sido, inclusive, divulgado em diversos veículos de comunicação à época. Acrescentou, no entanto, não ter feito juízo de valor sobre o conteúdo ao decidir. Segundo ela, o áudio compartilhado por Bolsonaro tem como substância a replicação de matéria jornalística, cujo conteúdo, à época (2019), fora massivamente divulgado por veículos de reconhecida credibilidade.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O vídeo, publicado no YouTube no dia 20 de agosto de 2022, conta com mais de 279 mil visualizações e mais de 3,3 mil comentários, até o dia 26 de agosto de 2022.

O que diz o autor da publicação: A equipe do Comprova fez contato com o autor da publicação por dois diferentes endereços de e-mail disponíveis em suas redes, assim como pelo seu perfil no Instagram, mas não obteve resposta.

Como verificamos: A primeira ação foi certificar se, de fato, a reportagem da CNN Brasil citada pelo autor do vídeo era verídica e se o trecho utilizado no vídeo coincidia com o publicado no site da emissora. A partir de então, avaliamos as publicações de outros veículos de imprensa que também pautaram o assunto (Agência Brasil, Consultor Jurídico, Folha, Poder360). Buscamos, então, a íntegra da decisão publicada no dia 20 de agosto, disponível no site Poder360, para comparar o conteúdo original com os argumentos utilizados pelo autor do vídeo.

Ministra do TSE não avaliou o teor do conteúdo

Na decisão divulgada no dia 20 de agosto, em nenhum momento a ministra Maria Claudia Bucchianeri sugere ou reconhece ligação do PT com a organização criminosa PCC, diferentemente do que afirma o autor do vídeo analisado.

A negativa em relação ao pedido de retirada do ar de posts feitos pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em sua conta do Twitter é sustentada pelo entendimento de que o vídeo compartilhado na rede social tem como substância a replicação de matéria jornalística, cujo o conteúdo, à época (2019), fora massivamente pautado por veículos de reconhecida credibilidade. Ressalta ainda que os conteúdos continuam disponíveis para acesso na internet.

O trecho da interceptação telefônica compartilhada por Bolsonaro é parte de um relatório de 2019 da PF, no âmbito da “Operação Cravada”. A ação teve como objetivo desarticular o núcleo financeiro de uma facção criminosa com atuação nos estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Acre e Roraima. Na interceptação, um dos integrantes do PCC diz que tinha diálogos com membros do PT. Porém, a investigação não comprovou se tais conversas teriam acontecido.

A ministra também é enfática ao afirmar – destacando em negrito – que a decisão “não significa, insisto, que estou a chancelar a veracidade ou não daquilo o quanto foi dito pela pessoa interceptada”.

E acrescenta: “Significa, apenas, que a interceptação aconteceu e gerou inúmeras matérias jornalísticas, todas ainda no ar, o que torna lícita, segundo entendo, a criação de narrativas políticas que devem ser neutralizadas e rebatidas dentro do diálogo político”.

De acordo com a juíza, diferente seria, “se a narrativa política estivesse sendo construída a partir de fato inverídico ou gravemente descontextualizado”. Neste caso, afirma ela, a Justiça Eleitoral deveria intervir “de forma de evitar a indução do eleitor em erro, a partir de críticas políticas fundadas na mentira”.

Representação cita “narrativa maliciosa” e “propaganda antecipada”

A representação contra Bolsonaro feita pelo PT tem como pressuposto que o presidente, por meio do seu perfil no Twitter, “compartilhou e promoveu a desinformação” ao relacionar o partido e Lula ao PCC.

Para o PT, trata-se de “narrativa maliciosa e desinformativa” e “propaganda antecipada negativa”, com o intuito de atacar, por consequência, a imagem do candidato. A legenda pede à Justiça que determine a retirada do conteúdo do ar, além do alerta ao representado sobre a possibilidade de multa, a ser definida pela própria Corte, caso outras publicações de mesmo teor sejam feitas.

O conteúdo das publicações de Bolsonaro

O pedido relaciona três postagens feitas pelo presidente da República no dia 19 de julho de 2022, dois dias após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinar a remoção de posts por dezenas de páginas, perfis e canais que faziam uma falsa associação entre o ex-presidente Lula, o PT e o PCC. A decisão de Moraes, na ocasião, atingiu conteúdos específicos publicados por aliados do presidente, como os deputados Hélio Lopes (PL-RJ) e Carla Zambelli (PL-SP), além do senador e filho do chefe do Executivo, Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

1ª publicação – Bolsonaro compartilha trecho de uma matéria veiculada pela TV Record em 2019, que cita trecho de uma interceptação feita pela PF, e que consta no relatório da Operação Cravada. Neste, um integrante da facção criminosa fala que “com o PT nois tinha diálogo. O PT tinha com nois diálogo cabuloso”. A afirmação foi feita em uma declaração do criminoso em que ele contestava a rigidez das medidas do governo federal contra o crime organizado, especialmente a transferência de lideranças de facções para presídios federais. O conteúdo postado pelo presidente é seguido da legenda: “Líder de facção criminosa (irraaa) reclama de Jair Bolsonaro e revela que o Partido dos (iirrruuuuu) o diálogo com o crime organizado era ‘cabuloso’”.

2ª publicação – O perfil de Bolsonaro acrescenta um novo comentário ao conteúdo anterior: “É o grupo praticante de atividades ilícitas coordenadas denominado pela décima sexta e terceira letra do alfabeto com saudades do grupo do animal invertebrado cefalópode pertencente ao filo dos moluscos”.

3ª publicação – Bolsonaro fez ainda outra postagem dizendo: “Em 2018, o apontado de Lula venceu disparado nos presídios; Em 2019, um líder do PCC reclamou de nossa postura para com o grupo e disse que com o PT o diálogo era bem melhor. Não sou eu, mas o próprio crime organizado que demonstra tê-lo como aliado e a mim como inimigo”.

As postagens do presidente, à época, foram registradas em diversos veículos jornalísticos, com conteúdos quase sempre intitulados “Bolsonaro ignora Moraes e associa PT ao PCC nas redes” ou alguma variação – Carta Capital, O Antagonista, GZH, Núcleo, O Estado de S. Paulo.

A associação entre o PT, Lula e o PCC tem como uma das bases a delação premiada do ex-tesoureiro do partido, o publicitário Marcos Valério. O depoimento de Valério aconteceu em 2017, em Minas Gerais. O assunto voltou a ganhar visibilidade em 1º de julho de 2022, após uma reportagem da Veja publicar trechos de depoimento em que o publicitário afirma ter ouvido de um dirigente petista como funcionava suposta relação entre o partido e a facção criminosa.

No trecho divulgado pela revista, Valério afirma que o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira lhe disse que o empresário Ronan Maria Pinto ameaçava revelar que o PT recebia dinheiro de empresas de ônibus, de operadores de transporte clandestino e de bingos, que lavavam dinheiro para o PCC. O dinheiro estaria financiando campanhas do PT.

No dia 17 de julho, Moraes determinou a remoção de notícias consideradas falsas que relacionam a facção criminosa PCC ao PT e ao assassinato do então prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel (PT), em 2002.

Na decisão, Moraes menciona que “como é de conhecimento público e notório, o assassinato do ex-prefeito Celso Daniel se trata de caso encerrado perante o Poder Judiciário, com os responsáveis devidamente processados e julgados, estando cumprindo pena”.

O ministro também cita que o Ministério Público de São Paulo encerrou definitivamente as apurações, não havendo notícia do envolvimento do Partido dos Trabalhadores ou de seus membros.

O autor da publicação

Gustavo Gayer Machado de Araújo, conhecido nas redes sociais como Gustavo Gayer (PL), é candidato a deputado federal pelo estado de Goiás e apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL). De acordo com informações registradas no divulgacand2022, é empresário e tem 41 anos. Em 2020, disputou a prefeitura de Goiânia, quando obteve 45.928 votos.

Além do canal no YouTube, criado em 2016, Gayer estende a atuação nas redes sociais ao Instagram (343 mil seguidores), ao Facebook (271 mil seguidores) e ao Twitter, onde atualmente está com a conta bloqueada por violar as regras da plataforma.

Neste mês, o Projeto Comprova desmentiu outro vídeo de Gayer, no qual ele falava que Lula teria dito que vai implantar uma ditadura no Brasil se eleito.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. No caso aqui abordado, a publicação cita uma informação enganosa que pode levar o eleitor a um entendimento equivocado na disputa eleitoral. Peças de desinformação como esta atrapalham o processo pois enganam a população, que deve fazer sua escolha a partir de dados verdadeiros e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já realizou diferentes checagens envolvendo o TSE. Em uma delas, ficou comprovado que empresa contratada pelo tribunal não tinha ligação com PT. Em outra, a análise do Comprova concluiu que era falso conteúdo afirmando que o TSE tem 32 mil urnas grampeadas. Recentemente, também foi checado que a contagem de votos é feita pelo próprio órgão e não por empresa terceirizada, como dizia post. Checagem sobre a suposta associação PT e PCC também foi realizada pelo Aos Fatos, que também comprou ser falsa a informação.

Comprova Explica

Investigado por: 2022-08-25

Vacina contra covid-19 não provoca Aids, ao contrário do que sugeriu Bolsonaro em live; entenda

  • Comprova Explica
Comprova Explica
O presidente Jair Bolsonaro (PL) é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por conta de sua declaração associando as vacinas contra a covid-19 ao risco de contaminação pelo vírus da Aids, feita durante uma live em 2021. Para justificar a declaração, Bolsonaro disse que se baseou em conteúdo publicado pela revista Exame em 2020, afirmação que é replicada por seus apoiadores em postagens nas redes sociais. Após a fala de Bolsonaro, a matéria publicada pela Exame foi alterada. No entanto, mesmo antes de passar por edições, a revista deixava claro no texto que a relação entre as vacinas contra a covid-19 e a infecção pelo HIV era uma preocupação de alguns pesquisadores britânicos com base em um estudo realizado em 2007, no contexto da fabricação de uma vacina contra a Aids, e que, até então, nenhum teste realizado com as vacinas contra a covid-19 havia chegado ao mesmo resultado do experimento de 2007. A preocupação dos pesquisadores se referia às vacinas contra a covid-19 Sputnik V e CanSino (nenhuma aplicada no Brasil), que, em sua composição, trazem o adenovírus 5 (Ad5), a mesma substância que constava no imunizante em teste contra a Aids e que, segundo eles, poderia ter sido responsável pelo desenvolvimento da Aids em pessoas expostas ao HIV. Especialistas explicaram ao Comprova que o Ad5 funciona como uma tecnologia para a entrega de proteínas do vírus que se quer combater com a vacina.

Conteúdo analisado: Post no Twitter do diretor do Departamento de Fomento e Promoção da Cultura Afro-brasileira da Fundação Palmares, Marcos Petrucelli, em que ele justifica a fala do presidente Jair Bolsonaro associando vacinas contra a covid-19 à Aids com uma reportagem da revista Exame sobre o tema. Na postagem, Petrucelli ainda ataca a revista e chama de “perseguição” a investigação da Polícia Federal sobre a declaração de Bolsonaro.

Comprova explica: Durante uma de suas lives semanais, em 2021, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que pessoas completamente vacinadas contra a covid-19 teriam risco de infecção pelo HIV, que causa Aids, o que não é verdade. Para justificar sua declaração, Bolsonaro disse, dias depois, que havia se baseado em uma matéria da revista Exame. Apoiadores do presidente também sustentaram esse argumento.

No entanto, além de não ter citado a revista Exame em nenhum momento durante a live, ao falar sobre a relação entre vacinas e Aids, Bolsonaro segurava um papel com uma notícia impressa do site negacionista Before It’s News, que havia publicado conteúdo com o mesmo teor de sua fala seis dias antes da live. O papel com a logomarca do portal estava virado para a câmera e não é possível saber exatamente o que Bolsonaro estava lendo.

Durante a live, Bolsonaro não se referiu nominalmente à vacina contra o coronavírus, mas diante do contexto de sua fala e a justificativa posterior envolvendo a Exame, é possível constatar que este era o alvo de sua declaração.

Em outubro de 2020 (ainda no contexto dos estudos para a fabricação dos imunizantes contra a covid-19 e mais de um ano antes da live de Bolsonaro), a Exame de fato publicou um conteúdo que fazia relação entre as vacinas e o risco de infecção pelo HIV ao repercutir uma carta de pesquisadores publicada pela revista científica britânica The Lancet. O conteúdo da matéria da Exame, que se referiu à carta como um “estudo”, dizia que os pesquisadores estavam preocupados com o fato de que um dos elementos que compunham a fórmula das vacinas Sputnik V e CanSino pudesse ser um facilitador para o risco de exposição ao HIV.

A preocupação era baseada em um estudo realizado em 2007, no âmbito da elaboração de uma vacina contra a Aids, e que tinha em sua fórmula o mesmo elemento das vacinas Sputnik V e CanSino: o adenovírus 5, usado como tecnologia para a entrega de proteínas do vírus que se quer combater com um imunizante. O texto da Exame ressalta que nenhum teste realizado com as vacinas contra o novo coronavírus até então havia demonstrado resultado semelhante ao observado em 2007 com a vacina contra a Aids. Após a repercussão da fala de Bolsonaro, o conteúdo passou por alterações, feitas pela própria revista Exame no título e no corpo do texto, com o objetivo de esclarecer que se tratava de conteúdo antigo e sem relação com as vacinas aplicadas no Brasil.

A live em que Bolsonaro fez as declarações foi excluída pelo YouTube e pelo Facebook, e o presidente passou a ser investigado pela Polícia Federal (PF) a pedido do STF por conta da afirmação. No último dia 17 de agosto, a delegada da PF responsável pelo caso recomendou ao STF o indiciamento de Bolsonaro por ter associado a vacinação contra a covid-19 ao risco de desenvolvimento de Aids. Como o tema voltou a circular em postagens nas redes sociais por conta do andamento das investigações, o Comprova decidiu explicar o que exatamente Bolsonaro disse durante a live, o que dizia a matéria da revista Exame, por quais alterações esse conteúdo passou e que não há relação entre as vacinas contra a covid-19 e o HIV.

A afirmação de Bolsonaro durante a live

O presidente Jair Bolsonaro relacionou a vacinação contra a covid-19 com o desenvolvimento da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (Aids) durante uma live realizada em 21 de outubro de 2021 e publicada em seus perfis oficiais no YouTube e no Facebook.

Nos minutos iniciais da transmissão ao vivo, Bolsonaro faz críticas ao trabalho da imprensa e da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 no Senado, que, à época, investigava a atuação do governo federal durante a pandemia. Depois disso, a partir dos 16 minutos e 55 segundos da live, Bolsonaro diz: “Outra coisa grave aqui, só vou dar a notícia aqui, não vou comentar. Já falei sobre isso no passado, apanhei muito. Vamos lá: relatórios oficiais do governo do Reino Unido sugerem que os totalmente vacinados… Quem são os totalmente vacinados? Aqueles que depois da segunda dose, né… 15 dias depois… 15 dias após a segunda dose, totalmente vacinados, estão desenvolvendo a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida muito mais rápido que o previsto. Recomendo ler a matéria, não vou ler para vocês aqui porque posso ter problema com a minha live aqui, não quero que caia a live aqui, eu quero dar informações concretas. Vou deixar bem claro aqui, talvez eu tenha sido o único chefe de Estado do mundo que tenha tido coragem de colocar a cara à tapa nessa questão.”

O áudio original da live foi consultado pelo Comprova em uma pasta organizada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e disponibilizada na ferramenta Pinpoint, do Google, que reúne a transcrição de todas as lives semanais do presidente.

O vídeo original da live não está mais disponível nas redes sociais, mas reportagens do Poder 360 e do Estadão Verifica mostraram que, ao fazer essa fala, Bolsonaro segurava papéis com textos publicados pelo site norte-americano Before It’s News. O site é conhecido por propagar informações falsas sobre vacinas e teorias da conspiração e, no dia 15 de outubro de 2021(seis dias antes da live), havia publicado um texto relacionando a vacinação contra a covid-19 a um maior risco de desenvolvimento de Aids no Reino Unido. O portal argumenta que vacinas contra covid-19 causam problemas imunológicos nas pessoas e chegou a relacionar o conteúdo a um relatório do governo (sem indicar em qual parte do documento), mas o Departamento de Saúde e Assistência Social do Reino Unido classificou a publicação do site como “fake news”.

Em nenhum momento da live, Bolsonaro fala que está fazendo referência a qualquer conteúdo veiculado pela revista Exame, nem do site conspiratório. Mas a declaração do presidente corresponde à tradução da manchete do conteúdo publicado pelo Before It’s News em inglês (“Uma comparação de relatórios oficiais do governo sugere que os Totalmente Vacinados estão desenvolvendo a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida muito mais rápido do que o previsto”). Vale destacar que o papel com a logomarca do portal britânico está virado para a câmera, mas não é possível visualizar o que Bolsonaro está de fato lendo.

| Print da live do dia 21 de outubro de 2021, no momento em que Bolsonaro faz a referência infundada entre vacinas e Aids. Fonte da imagem: Estadão

| Captura de tela do site Before It’s News reproduzindo o detalhe que aparece impresso no verso da folha que Bolsonaro aparece lendo na live de 21 de outubro de 2021.

Após ter a fala contestada por autoridades sanitárias e o vídeo da live ter sido excluído do YouTube, em entrevista concedida a uma rádio do Mato Grosso do Sul, Bolsonaro afirmou ter baseado sua fala em conteúdo publicado pela revista Exame. A partir de 56 minutos e 59 segundos no vídeo da entrevista à rádio, ele diz: “A revista Exame fez uma matéria sobre vacina e Aids. Eu repeti essa matéria na minha live (…). Foi a própria Exame que falou da relação de HIV com a vacina, eu apenas falei sobre a matéria da revista Exame”.

Na matéria da Exame não há qualquer menção a relatórios do governo do Reino Unido com referência às vacinas contra covid-19 e HIV. A existência deste tipo de documento foi desmentida pelo governo britânico, como mostra verificação do Fato ou Fake, do site G1, publicada no contexto da polêmica da live de Bolsonaro.

Reportagem da Exame era de 2020 e passou por modificações após declaração de Bolsonaro

Em 20 de outubro de 2020, a revista Exame publicou uma reportagem que falava sobre a possibilidade da vacina contra a covid-19 (na época ainda em fase de desenvolvimento em todo o mundo) aumentar o risco de infecção por HIV. A reportagem mencionava um conteúdo publicado pela revista científica The Lancet, do Reino Unido, em 19 de outubro de 2020. Após a live de Bolsonaro (um ano depois da publicação original da Exame), a revista alterou o título da reportagem e acrescentou algumas frases no corpo do texto da matéria. As versões antigas do texto foram recuperadas pelo Comprova por meio da ferramenta WayBack Machine, que coleta versões de URLs na Internet.

A primeira versão da reportagem da Exame (abaixo) tinha o título de: “Algumas vacinas contra a covid-19 podem aumentar o risco de HIV” e na chamada “linha-fina”, abaixo do título, estava escrito: “Adenovírus utilizado na produção de vacinas contra o novo coronavírus pode ser um facilitador para que o paciente contrair o vírus da Aids”.

No texto, a revista afirmava que os pesquisadores que assinam o conteúdo publicado na The Lancet pontuam que algumas vacinas que se utilizam de um vetor viral específico (o adenovírus 5, também conhecido como Ad5) para combater o novo coronavírus poderiam aumentar o risco de contaminação por HIV.

Os cientistas baseiam-se em estudos de 2007 sobre o uso do Ad5 na elaboração de um imunizante contra a Aids que aumentava o risco de infecção pelo HIV em voluntários. Na ocasião, conforme relatado pela Exame, a pesquisa para o desenvolvimento dessa vacina foi interrompida justamente porque o próprio imunizante parecia aumentar o risco de voluntários contraírem a doença.

Na sequência, a reportagem da Exame afirma que: “nenhum teste realizado com as vacinas que estão sendo desenvolvidas contra o novo coronavírus mostraram resultados semelhantes. Mesmo assim, os pesquisadores resolveram alertar sobre o risco presente neste vetor, principalmente em regiões onde o HIV ainda está longe de ser controlado, como na África”. No texto publicado na Exame, não há qualquer menção a algum “relatório oficial do governo do Reino Unido” sobre o tema, como disse Bolsonaro em sua declaração durante a live.

Pela ferramenta WayBack Machine, é possível ver que o texto da revista começou a ser alterado no dia 24 de outubro de 2021 (abaixo), três dias depois da live de Bolsonaro. Nessa segunda versão, a expressão “Out/2020” foi acrescida ao título, antes de “Algumas vacinas contra a covid-19 podem aumentar o risco de HIV”. A linha fina também foi modificada para: “Cientistas se basearam em análises feitas em 2007. Por ora, nenhum teste realizado com as vacinas da covid mostrou resultado semelhante”.

Além disso, no final do primeiro parágrafo do texto, foi acrescentada a frase: “- para isso a pessoa precisa ser exposta ao vírus”. Nessa segunda versão, a revista Exame também acrescentou, entre o primeiro e o segundo parágrafo, a seguinte informação: “Até agora, não se comprovou que alguma vacina contra a covid-19 reduza a imunidade a ponto de facilitar a infecção em caso de exposição ao vírus”.

| Em vermelho as frases adicionadas no corpo do texto após a primeira alteração.

Por fim, no dia 25 de outubro, uma nova alteração foi feita pela revista Exame (abaixo), que acrescentou um sinal de interrogação ao final do título: “Out/2020: Algumas vacinas contra a covid-19 podem aumentar o risco de HIV?”.

Ainda no dia 23 de outubro (ou seja, antes da declaração de Bolsonaro sobre ter baseado sua fala em reportagem da Exame), a revista publicou outro conteúdo com o título “Cientistas reagem à mentira de Bolsonaro sobre vacinas e Aids” (abaixo). É um print desse título publicado pela revista que aparece na postagem de Marcos Petrucelli para justificar a fala de Bolsonaro e atacar a Exame.

Essa matéria publicada pela Exame é a reprodução de um conteúdo da Agência Estado, do Estadão, cujo título original era: “Cientistas e políticos reagem à fake news replicada por Bolsonaro sobre vacinas e aids”. A publicação desse conteúdo (com o termo “mentira” no título) foi excluída pela revista Exame no mesmo dia, mas o Comprova conseguiu consultá-lo por meio da ferramenta WayBack Machine.

Uma nova versão do material, com o mesmo conteúdo, foi publicada pela Exame ainda no dia 23 de outubro (abaixo), porém com a palavra “declaração” no lugar de “mentira” no título: “Cientistas reagem à declaração de Bolsonaro sobre vacinas e aids”, versão que permanecia disponível no site da revista até a data de publicação deste Comprova Explica.

Já no dia 27 de outubro, após Bolsonaro ter atribuído sua fala à reportagem da Exame, a revista publicou outra matéria para esclarecer que não havia qualquer relação entre HIV e as vacinas contra a covid-19. Nesse texto, a revista reiterou que os cientistas que publicaram o material na The Lancet “se baseavam não em vacinas contra a covid-19 que ainda estavam em desenvolvimento na época, mas em análises feitas em 2007 na busca por uma vacina contra o HIV que usavam o Ad5 em sua composição”. Em seguida, a Exame ainda pontuou que algumas vacinas, como a Sputnik V, utilizam o Ad5 em sua composição, o que não ocorreu com os imunizantes aplicados no Brasil.

O material publicado pela The Lancet

A revista de medicina britânica The Lancet é uma das mais antigas e prestigiadas do mundo. Quatro pesquisadores (Susan Buchbinder, Juliana McElrath, Carl Dieffenbach e Lawrence Corey) assinaram uma carta, publicada em outubro de 2020, visando a alertar sobre o uso do Ad5 na fabricação de vacinas contra o coronavírus. O conteúdo foi publicado em uma seção do site da revista chamada “Correspondence” (correspondência, em tradução livre).

Sobre essa seção, a Lancet explica tratar-se de um espaço para “reflexões de nossos leitores sobre conteúdos publicados nas revistas Lancet ou sobre outros temas de interesse geral para nossos leitores”. A revista ainda pontua que “essas cartas normalmente não são revisadas externamente por pares”. Não trata-se, portanto, de um estudo científico.

Na carta, os pesquisadores afirmaram que estavam apenas expressando preocupação com o desenvolvimento de vacinas contra a covid-19 que utilizavam a técnica de vetor viral em sua fórmula por meio do adenovírus Ad5. Isso porque os pesquisadores haviam avaliado, em 2007, que uma vacina em desenvolvimento contra o HIV, e que utilizava o Ad5, resultava em uma maior possibilidade dos vacinados desenvolverem a doença, desde que fossem expostos ao vírus.

Em entrevista à Folha de São Paulo em outubro de 2021, Carl Dieffenbach, um dos pesquisadores que assina a carta, afirmou que a relação entre Aids e as vacinas contra a covid-19 era uma “notícia antiga” e que a relação está restrita a imunizantes que utilizam o Ad5 em sua composição. “O perigo é fazer essa ligação entre todas as vacinas e um efeito visto apenas quando o vírus Ad5 é usado como vetor da imunização”, explicou Dieffenbach, que é diretor da Divisão de Aids do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos. “Não há evidências de que outros vírus usados como vetores nas vacinas contra covid-19 tenham o mesmo efeito”.

Susan Buchbinder, outra pesquisadora que assinou a carta e que é diretora de Pesquisa de Prevenção ao HIV no Departamento de Saúde Pública de San Francisco, afirmou ao AFP Checamos tratar-se “apenas de um risco teórico” e que ela e os colegas não foram “capazes de encontrar o mecanismo exato pelo qual isso ocorreu” (em relação ao estudo sobre adenovírus 5 e HIV). “Nossa recomendação se aplica apenas às vacinas Ad5 contra a covid-19 [como Sputnik V e CanSinoBio], e é apenas um risco teórico de que se uma pessoa recebesse essa vacina e depois fosse exposta ao HIV, ela poderia ter o risco de infecção pelo HIV aumentado. Isso não se aplica à grande maioria das vacinas que estão sendo usadas internacionalmente contra a covid-19”.

Em outra checagem do mesmo veículo, Buchbinder ainda disse: “Há mais de uma década, realizamos dois estudos de uma vacina contra o HIV (usando o adenovírus tipo 5) que parecia aumentar o risco de infecção por HIV em pessoas que foram expostas através de práticas sexuais. Esse aumento de risco era transitório. Não fomos capazes de encontrar o mecanismo exato pelo qual isso ocorreu”.

Não há relação entre vacinas contra a covid-19 e o vírus HIV

Após a fala de Bolsonaro, diversas entidades posicionaram-se e emitiram comunicados negando qualquer relação entre o vírus da Aids e as vacinas contra a covid-19, como a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e o Conselho Nacional de Saúde.

O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) emitiu uma nota de esclarecimento em 24 de outubro de 2021 na qual afirma que todas as vacinas autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) são eficazes na contenção da pandemia. Também informa que não há evidências científicas de que, ao receber duas doses do imunizante, a infecção por Aids seja facilitada.

Em contato com o Comprova, a professora do Departamento de Imunologia da Universidade Federal de Goiás (UFG) Ana Paula Junqueira Kipnis reforçou que, entre todas as vacinas contra a covid-19, não foi observada qualquer relação com maior chance de infecção por HIV. “Todos os estudos mostram que as vacinas contra a covid-19 são eficazes e seguras e não resultaram no aumento da incidência de nenhuma doença”.

Sobre o estudo de 2007 que relacionou a maior chance de contaminação por HIV a vacinas que utilizam o adenovírus 5, Kipnis ressalta dois pontos. O primeiro é que os estudos foram feitos em um ensaio único, a partir da observação de um grupo pequeno e cujo perfil era de pessoas com maior risco de contrair o HIV. “Ou seja, o uso do Ad5 foi uma das hipóteses levantadas para o não funcionamento da vacina contra o HIV, mas que partiu de um estudo feito com um grupo exclusivo, que não avaliou os diferentes perfis populacionais”.

O segundo aspecto pontuado pela especialista é que, mesmo que a técnica seja a mesma (a utilização do adenovírus 5), a comparação entre a vacina contra o HIV e a contra a covid-19 não pode necessariamente ser feita, uma vez que se tratam de vírus diferentes. “Vacinas contra o HIV que utilizaram o Ad5 tinham nele uma proteína do ‘envelope’ do HIV. Nas vacinas para a covid, não existem essas proteínas de HIV, só existem proteínas que estão relacionadas à covid, por exemplo a proteína spike. Onde tem proteína spike no vírus HIV? Em lugar nenhum, então é uma situação completamente diferente uma vacina da outra, que irão induzir respostas imunes distintas”.

A professora também ressaltou que um estudo publicado pela The Lancet já demonstrou que o uso do Ad5 em vacinas contra a covid-19 é seguro.

Ao Comprova, o imunologista Rafael Larocca, especialista em vacinas do Centro de Virologia e Vacinas da Universidade de Harvard, explicou que o adenovírus é um vírus respiratório que infecta as vias aéreas superiores e causa sintomas leves, como o resfriado. Ele não tem relação nenhuma com o vírus do HIV, que é de outra família – um lentivírus.

Sobre a carta enviada à revista The Lancet, o especialista reafirma que o conteúdo se trata de uma especulação. “É importante ressaltar que a vacina em si não infecta ninguém com o HIV. O grupo que escreveu a carta tentou alertar para uma possibilidade de maior suscetibilidade dos vacinados com adenovírus 5 se infectarem com HIV, mas caso sejam expostos ao vírus”.

O imunologista explica que, no caso das duas vacinas, a de HIV e a de covid-19, o adenovírus funciona como uma tecnologia para a entrega de proteínas do vírus que se quer combater com a vacina: “O que é importante ressaltar é que o adenovírus 5 nesse caso serve apenas como um vetor viral. O vírus não consegue se replicar. Ele apenas carrega o gene de interesse para determinada vacina. O que significa isso? Que o material genético que tem dentro do adenovírus 5 para uma determinada plataforma vacinal é diferente entre a vacina que você vai fazer para HIV ou para covid-19”.

Larocca reforça que nenhuma vacina em uso no Brasil utiliza a tecnologia do adenovírus 5.

PF vê indício de crime em fala de Bolsonaro

Atendendo a pedido protocolado pela CPI da Covid-19 no Senado, o STF abriu inquérito em dezembro de 2021 para apurar se Bolsonaro pode responder criminalmente pela declaração relacionando a Aids às vacinas contra a covid-19. Em relatório enviado ao STF no dia 17 de agosto, a Polícia Federal disse que há indícios de que Bolsonaro cometeu crime durante a live. Foi após essa manifestação da PF que o diretor do Departamento de Fomento e Promoção da Cultura Afro-brasileira da Fundação Palmares, Marcos Petrucelli, fez a postagem no Twitter que é objeto deste Comprova Explica.

No relatório parcial enviado ao STF, a delegada Lorena Lima Nascimento, responsável pelo caso, afirmou que as declarações de Bolsonaro levaram os espectadores da live a descumprirem normas sanitárias estabelecidas pelo próprio governo. No documento, a PF pede autorização do STF para indiciar Bolsonaro e o tenente Mauro Cid, ajudante de ordens do presidente, que teria auxiliado a produzir o material lido por Bolsonaro durante a transmissão.

O pedido de indiciamento diz que, ao propagar a desinformação que relaciona a vacina da covid-19 ao HIV/Aids, o presidente Jair Bolsonaro cometeu os crimes: causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos (art. 267 do Código Penal); infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa (art. 268); e de incitar, publicamente, a prática de crime (art. 286).

Procurada pelo Comprova, a Polícia Federal disse que “não fornece informações sobre investigações em andamento”.

Tentamos contato com Marcos Petrucelli e com a Fundação Palmares, porém, até a publicação deste Comprova Explica, não obtivemos retorno.

Por que explicamos: Em seu escopo usual, o Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que viralizaram nas redes sociais. Já o Comprova Explica é uma ferramenta utilizada para que os leitores entendam um conteúdo que está viralizando e causando confusão. Como a Polícia Federal pediu, no dia 17 de agosto, o indiciamento de Bolsonaro por conta de sua declaração relacionando vacinas contra a covid-19 a Aids, é importante que a população compreenda qual o contexto da fala do presidente, o que dizia a reportagem da revista Exame, citada por Bolsonaro como a fonte para a sua afirmação, e no que a revista se baseou para publicar o conteúdo.

Outras publicações sobre o tema: O Comprova também publicou recentemente outros conteúdos com explicações sobre temas que, com frequência, são alvos de peças de desinformação, como a facada em Bolsonaro em 2018, a política de redução de danos a usuários de drogas criticada em vídeo por Damares Alves e a fiscalização do código-fonte das urnas eletrônicas.

Em relação à covid-19, o Comprova já mostrou que é enganoso que estudo de Harvard comprovou eficácia de hidroxicloroquina na prevenção da covid-19 e que são falsas as alegações de médica que trata vacinação da covid em crianças como “assassinato em massa”.

Comunicados

Investigado por: 2022-08-24

Projeto Comprova lança aplicativo para compartilhar verificações e incentivar educação midiática

  • App do Comprova
App do Comprova
Aplicativo desenvolvido com financiamento do Google reproduz checagens, oferece dicas para evitar a disseminação de desinformação, abre um canal com o projeto e vai incentivar os usuários a fazerem suas próprias verificações de imagens.

O Projeto Comprova, iniciativa colaborativa de verificação de fatos formada por 43 veículos de comunicação brasileiros e liderada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – Abraji, está lançando um aplicativo para celular para ajudar usuários a detectar desinformação.

A primeira versão do aplicativo já está disponível no Google Play Store e na Apple Store. Com ela, os cidadãos poderão acompanhar as verificações publicadas pelo projeto, enviar sugestões de conteúdos suspeitos para verificação e conhecer técnicas para identificação de conteúdos enganosos ou falsos disseminados pelas redes sociais. A segunda versão, que estará disponível em até duas semanas, permitirá aos usuários fazer algumas investigações de imagens com um recurso de busca oferecido pelo aplicativo. A ideia é que professores também possam usar essa funcionalidade para orientar exercícios de checagem com turmas de Educação Midiática.

Para a presidente da Abraji, Katia Brembatti, é mais uma iniciativa que mostra como estamos buscando todos os canais para chegar a mais e mais pessoas. “O combate à desinformação exige esforços em várias frentes. O aplicativo é uma forma de estar presente nos celulares”, comenta.

O aplicativo foi desenvolvido pela Vórtigo e contou com apoio e financiamento do Google Brasil. “O aplicativo representa mais um sucesso na história de parceria que temos com o Comprova e chega em um momento muito importante do país, diz Marco Túlio Pires, um dos coordenadores da Google News Initiative no Brasil. “Por meio dele, agora o brasileiro vai poder acessar conteúdo checado sobre as eleições diretamente na tela do seu celular.”

O Projeto Comprova é uma coalizão de veículos de comunicação formada em 2018 para investigar a veracidade de conteúdos suspeitos sobre as eleições presidenciais disseminados em redes sociais, aplicativos de mensagens e sites hiperpartidários. Desde então o Comprova já publicou mais de 800 reportagens investigativas e seus profissionais treinaram mais de 5 mil jornalistas e estudantes de jornalismo. Em 2022, participam do projeto 43 organizações de mídia de todas as regiões do Brasil. São sites de notícias, rádios, TVs e jornais que trabalham colaborativamente para minimizar os efeitos da desinformação sobre a pandemia e as eleições presidenciais.

Educação midiática é um dos compromissos do Comprova e o projeto se une a diversas iniciativas brasileiras que trabalham para levar conhecimento aos cidadãos brasileiros para que possam analisar criticamente a mídia e seus produtos e saibam lidar com a desinformação. Um dos objetivos do aplicativo é servir de apoio didático a professores que desenvolvam projetos de educação midiática nas escolas.