O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2022-07-14

É falso que o Japão declarou ivermectina mais eficaz do que vacinas contra a covid-19

  • Falso
Falso
Tuíte com trecho de vídeo mente ao dizer que o Japão declarou que a ivermectina tem mais eficácia contra a covid-19 do que os imunizantes. No WhatsApp, circula gravação mais longa com outras afirmações falsas, como a de que o governo do país vai substituir as vacinas pelo medicamento antiparasitário. A Embaixada do Japão no Brasil disse ao Comprova que as informações não procedem.

Conteúdo investigado: Tuíte com a legenda “Japão declara ao mundo que a ivermectina é mais eficaz que a vacina. E agora, como fica?”. O texto acompanha vídeo que não cita o medicamento, mas diz que o país “está mais inclinado para reconhecer as lesões das vacinas e a procurar outras opções de tratamento”. Uma gravação mais longa, citando o medicamento e dizendo que o governo do país asiático o usará para substituir a vacina, circula no WhatsApp.

Onde foi publicado: Twitter e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falso um post que circula nas redes sociais afirmando que o Japão declarou que a ivermectina é mais eficaz do que os imunizantes no combate ao novo coronavírus. Segundo vídeo publicado junto com a mensagem falsa, o país asiático “está mais inclinado a reconhecer as lesões das vacinas e a procurar outras opções de tratamento em comparação com outras nações desenvolvidas”, o que também não é verdade.

A gravação é um trecho de um vídeo que diz que o Japão substituirá a vacina pela ivermectina, remédio antiparasitário que, ainda segundo o narrador, se tornou uma opção de tratamento e pode ser usado como cura contra a covid-19. No entanto, não há evidências científicas que o medicamento funcione contra a doença.

Procurada pela reportagem, a Embaixada do Japão no Brasil afirmou que “não há, até o momento, nenhum processo de aprovação da ivermectina como medicamento para o tratamento da covid-19 no país”. Além disso, o governo japonês, em seu site, diferentemente do que afirma o conteúdo verificado, recomenda que as pessoas se vacinem.

Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O post aqui verificado teve até 14 de julho de 2022: 14,8 mil curtidas, 298 comentários e mais de 4.700 compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: A publicação foi feita por um perfil no Twitter que não permite o envio de mensagens. O Comprova localizou o autor no Instagram e tentou contatá-lo, mas não houve retorno até a publicação deste texto.

Como verificamos: Para obter as informações foram feitas pesquisas no Google que levaram aos sites do Ministério da Saúde e da Agência de Produtos Farmacêuticos e Dispositivos Médicos (Pharmaceutical and Medical Devices Agency; PMDA) do Japão. Nestes links, foi possível verificar os medicamentos liberados e as vacinas utilizadas para combater o coronavírus no país.

O Comprova também contatou, por e-mail, a Embaixada do Japão no Brasil. Além de responder os questionamentos da reportagem, o órgão enviou links de páginas oficiais vinculadas ao governo local nas quais é possível obter informações sobre vacinas e tratamento da doença. Para saber dados gerais sobre a pandemia na nação asiática, a equipe consultou o site do Ministério da Saúde japonês e o Our World in Data.

Japão e ivermectina

“O governo do Japão não determinou o uso da ivermectina como tratamento para a covid-19 em vez da vacinação. Não há, até o momento, nenhum processo de aprovação da ivermectina como medicamento para o tratamento da covid-19 no Japão”, afirmou ao Comprova a Embaixada do Japão no Brasil.

A ivermectina também não consta de uma lista de drogas aprovadas para o tratamento do coronavírus, de acordo com uma relação de substâncias aprovadas pela PMDA. Na mesma lista também é possível verificar os imunizantes que são utilizados e aceitos no país.

Segundo a página da PMDA, as drogas aprovadas para a covid-19 pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão (Ministry of Health, Labour and Welfare of Japan – MHLW), após março de 2020, com revisão científica da agência são: Redemvisir, Baricitinibe, Casirivimabe/imdevimabe (uso combinado), sotrovimabe, molnupiravir, Tocilizumabe, e Nirmatrelvir/Ritonavir também administrados em conjunto.

O vídeo

Na parte superior direita do vídeo aparece um logo que, em uma busca no Google, mostrou ser da The Frustrated Indian (TFI Global), empresa de comunicação indiana.

Em seu site, a corporação diz que, por mês, 8 milhões de pessoas lêem os artigos publicados em inglês ou em hindu no site da TFI Media e que cerca de 30 milhões de pessoas assistem aos vídeos da plataforma.

A companhia afirma ter sido criada para fornecer uma narrativa alternativa aos meios de notícias convencionais e que existe para mudar a narrativa global.

A gravação se inicia com uma voz dizendo que “o Japão disse, em alto e bom som, não às campanhas de vacinação das grandes farmacêuticas com um pequeno mas notável passo”. Segundo o conteúdo, o mundo descartou a ivermectina “sem cerimônia até agora, mas o Japão demonstrou que o medicamento pode ser usado como uma cura mais eficaz e pode ser um substituto permanente das vacinas” contra a covid-19.

O motivo pelo qual os países não divulgam que o remédio antiparasitário seria a cura é, ainda de acordo com o vídeo, porque as nações firmaram acordo com a farmacêutica Pfizer para a compra de vacinas. “Mesmo que seja encontrada uma cura para a covid-19, o contrato não pode ser anulado”, diz o narrador.

Ivermectina e covid

“O uso da ivermectina para covid-19 não está previsto em bula e a utilização off label (quando um medicamento é utilizado para um tratamento diferente do recomendado na bula), até o momento não teve o respaldo das agências reguladoras, bem como do fabricante do medicamento”, afirma a mais recente nota técnica encontrada no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em relação ao remédio, de março de 2021.

O documento destaca ainda que resultados “não parecem ser suficientes para suportar recomendação de uso da ivermectina no tratamento de pacientes com covid-19, sendo que a recomendação da OMS para que a ivermectina seja utilizada, apenas, em protocolos de pesquisa clínica parece ser adequada”.

Na bula do remédio, é explicado que a ivermectina é um medicamento que atua contra várias espécies de parasitas e vermes.

Pandemia no Japão

De acordo com dados oficiais do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão, o país registrou 9.790.789 casos domésticos de covid-19 até 13 de julho. O número de mortes confirmadas que tiveram relação com a doença era de 31.437 até a mesma data. Além disso, outros 31.170 óbitos continuam sob investigação.

As autoridades sanitárias japonesas já aprovaram o uso de quatro imunizantes de diferentes farmacêuticas: Pfizer, aprovada em fevereiro de 2021; Moderna e Astrazeneca, em maio de 2021; e Novavax, em abril de 2022.

A vacina da Pfizer direcionada ao público com idade entre 5 e 11 anos foi aprovada em janeiro deste ano, segundo o ministério.

Embora tenha enfrentado dificuldades no início da vacinação, tendo aprovado o primeiro imunizante apenas em fevereiro de 2021, cerca de dois meses depois de países como Reino Unido e Estados Unidos e um mês depois do Brasil, atualmente o Japão está entre os países que mais imunizaram. De acordo com o Our World in Data, site da Universidade de Oxford (Inglaterra) que monitora dados relacionados à covid-19 no mundo, 81,25% dos japoneses foram vacinados com pelo menos duas doses até o último dia 11 de julho. Segundo a plataforma, o percentual de pessoas parcialmente imunizadas é de 82,35%.

O autor do post

Nas redes sociais, o criador do perfil afirma ser economista e empresário. Define-se como “terrivelmente cristão e entusiasta do Brasil”.

Na conta do Twitter, criada em janeiro do ano passado, compartilha diversos posts com críticas aos pré-candidatos à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Simone Tebet (MDB), bem como elogios a falas e atitudes do presidente Jair Bolsonaro (PL) e de ações do governo, como a redução de ICMS nos estados.

No Instagram, a última publicação data de junho de 2020 e é uma repostagem de Bolsonaro. Não foram encontradas outras checagens ou notícias sobre o economista.

Como informado anteriormente, ele foi procurado pela reportagem, mas não respondeu.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que viralizaram nas redes sociais. O post verificado aqui traz risco à população ao mentir/enganar sobre o uso da ivermectina contra a covid. O conteúdo também é perigoso por afirmar que as vacinas não são seguras – até o momento, elas são uma das ferramentas mais eficazes contra a doença.

Outras checagens sobre o tema: Ao menos desde novembro de 2021, outras agências já checaram conteúdos que afirmavam que o Japão ia apostar na ivermectina contra a covid, como AFP Checamos, Lupa, Fato ou Fake, do G1, Yahoo, Estadão Verifica e Reuters.

O antiparasitário também apareceu em diversas checagens do Comprova, como a de post que engana ao relacionar distribuição dele ao controle da pandemia em estado da Índia e a de conteúdo que afirma erroneamente que a Universidade de Oxford encontrou “fortes indícios” da eficácia do medicamento contra a covid. A vacina foi alvo de outras verificações do projeto, como a de vídeo que mente ao afirmar que ela causa câncer e tem relação com herpes-zóster, a de post que engana dizendo que ela fez “explodir” doenças cardíacas em crianças e a de conteúdo que usa texto que manipula dados para atacar sua segurança.

Eleições

Investigado por: 2022-07-13

Post distorce reportagem e mente ao dizer que estatuto do PT prevê confisco de bens dos brasileiros

  • Falso
Falso
Ao contrário do que sugere um vídeo que circula no Kwai, o estatuto do Partido dos Trabalhadores (PT) não prevê o confisco de bens financeiros de brasileiros, medida que também é proibida pela Constituição. Além disso, o confisco de dinheiro depositado na poupança ou em aplicações também não consta nas diretrizes da pré-candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência da República.

Conteúdo investigado: Vídeo no Kwai compartilha um trecho de telejornal do canal CNN Brasil sobre um documento com propostas econômicas escrito por pessoas ligadas ao PT. Na parte de cima do vídeo foi inserido um texto que alerta as pessoas a “ficar de olho”, pois “Lula vai tomar o seu dinheiro” que está guardado “no banco, na poupança, (…) nas aplicações em geral”. Segundo o texto, essas propostas estariam previstas “no estatuto do PT”.

Onde foi publicado: Kwai.

Conclusão do Comprova: É falso um vídeo compartilhado na rede social Kwai que sugere que o ex-presidente e pré-candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva irá confiscar o dinheiro depositado por brasileiros na poupança ou em aplicações em geral, caso vença a eleição de outubro. Ao contrário do que afirma o post, a proposta não faz parte do estatuto do PT.

Não há nenhuma menção a propostas do tipo no estatuto do partido ou no documento com as diretrizes da chapa de Lula e seu vice, Geraldo Alckmin (PSB). O confisco de bens financeiros também é vedado pela Constituição Federal desde 2001, ano em que foi promulgada a Emenda Constitucional nº 32.

Para fazer a afirmação, o vídeo se baseia em um trecho de telejornal da CNN Brasil, que foi ao ar em fevereiro, em que um jornalista faz um comentário sobre um documento redigido por pessoas ligadas ao PT com propostas econômicas estudadas pela sigla. Durante a fala do jornalista, é citado um eventual imposto emergencial sobre grandes fortunas, mas nenhuma proposta que tenha relação com confiscos de bens financeiros.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até o dia 13 de julho, o post aqui verificado teve mais de 2,8 mil curtidas, 679 comentários e mais de 3,5 mil compartilhamentos. O conteúdo também foi publicado pelo deputado estadual Ricardo Amorim (PL-PR) em seu perfil no Instagram, onde acumula mais de 91 mil visualizações. A postagem já recebeu a sinalização de conteúdo falso.

O que diz o autor da publicação: Por meio da ferramenta de envio de mensagens do Kwai, o Comprova entrou em contato com o perfil que postou o conteúdo, mas não houve retorno.

Como verificamos: O Comprova iniciou a busca pelas palavras-chaves “Estatuto do PT” e “CNN” no Google e constatou que o mesmo conteúdo de desinformação apurado nesta checagem já foi analisado pelo Estadão Verifica, UOL Confere e Boatos.org.

Ainda por meio desta busca, foi possível localizar a reportagem no site da CNN Brasil que trata da elaboração de um documento com propostas do PT para a economia brasileira, caso Lula saia vitorioso na eleição presidencial deste ano. O mesmo conteúdo foi localizado no canal da emissora no YouTube.

Também buscamos no site do PT informações relativas ao estatuto da sigla, cuja última versão é do ano de 2017 e ao documento com as diretrizes da chapa Lula-Alckmin, lançado no último dia 21 de junho.

O vídeo da CNN

O vídeo original é do programa Expresso CNN, de 1º de fevereiro de 2022. A publicação aqui investigada usa o trecho que vai de 00 ’02” até 02′ 05″ do vídeo original. Não há edições ou cortes durante esse trecho. Nele, o jornalista Caio Junqueira diz que pessoas ligadas ao PT e a Lula elaboraram um “documento interno” com propostas do partido para a economia.

Entre as propostas, estariam a decretação de um “estado de emergência”, com o rompimento de regras fiscais; a correção do orçamento herdado do ano anterior; a recuperação da capacidade de investimento de bancos públicos e empresas estatais; a cobrança de impostos sobre grandes fortunas, lucros e dividendos; a retomada dos programas Bolsa Família e Mais Médicos e a convocação de concursos públicos emergenciais. Durante a fala do jornalista não há nenhuma menção a propostas que tenham relação com confisco de bens financeiros depositados nos bancos.

No vídeo original, a partir de 02’06” (ou seja, no trecho que não faz parte da postagem aqui analisada), o jornalista da CNN segue sua fala dizendo que outras fontes ligadas ao PT o informaram que as propostas presentes no documento não significam, necessariamente, que serão colocadas em prática, e que a preocupação atual de Lula é estritamente com assuntos políticos e que propostas econômicas ainda não “entraram no radar do ex-presidente”.

Estatuto do PT não fala de confisco de bens

O estatuto do PT está disponível no site da legenda. No documento não existe qualquer tipo de diretriz econômica ou propostas de governo. O estatuto descreve apenas as normas de funcionamento e as competências atribuídas a alguns dos cargos dentro do partido.

Em relação às diretrizes da chapa Lula-Alckmin, lançadas no último mês de junho, também não há menção a confiscos. No capítulo chamado “Desenvolvimento Econômico”, algumas das propostas citadas são: “revogar o teto de gastos e rever o atual regime fiscal brasileiro”; promover uma “reforma tributária justa e sustentável, reduzindo tributação no consumo, garantindo progressividade tributária”; “fazer os muito ricos pagarem impostos” e “recompor o papel indutor e coordenador do Estado e das empresas estatais”.

Constituição proíbe confisco

O Artigo 62 da Constituição Federal trata de situações em que o presidente da República poderá adotar medidas provisórias com força de lei, desde que submetidas ao Congresso Nacional.

A Emenda Constitucional 32, publicada em setembro de 2001, contudo, estabeleceu algumas proibições, como é o caso do sequestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro dos brasileiros. Nestes casos, fica vedada a edição de qualquer medida provisória que altere a norma.

A legislação foi alterada 11 anos após o episódio em que o então presidente da República, Fernando Collor de Mello, anunciou o bloqueio das cadernetas de poupança e aplicações financeiras dos brasileiros, em 1990. A medida fazia parte do Plano Collor e tinha o objetivo de conter o aumento da inflação no período.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Desta vez, a peça desinformativa trata de um suposto estatuto do PT, que tem Lula como pré-candidato à presidência da República. Conteúdos falsos e enganosos são prejudiciais ao processo democrático porque atingem o direito do eleitor de fazer sua escolha baseada em fatos, não em boatos e desinformação.

Outras checagens sobre o tema:

O conteúdo aqui verificado já foi apurado também por outras agências de checagem como Estadão Verifica, UOL Confere e Boatos.org. O Comprova já apurou outros conteúdos de desinformação relativos ao PT e ao ex-presidente e mostrou que é falso que Lula e presidente eleito da Colômbia queiram obrigar pessoas a dividir casas com outras famílias, que é falsa a frase atribuída a Lula com ameaças ao STF e que protesto anti-Bolsonaro na Itália não teve manifestantes enviados pelo PT.

Eleições

Investigado por: 2022-07-08

É montagem foto que mostra Bolsonaro passando de moto sob uma faixa “Vai trabalhar, preguiçoso!” em Salvador

  • Falso
Falso
É montagem foto de post em que aparece faixa com a frase “Vai trabalhar, preguiçoso!” no momento da passagem da motociata de Jair Bolsonaro (PL) pela avenida Oceânica, em Salvador, durante as comemorações de 2 de Julho. Embora o Comprova tenha encontrado registros de faixas semelhantes à da imagem em outras partes do trajeto, no local não havia nenhuma faixa quando da passagem da caravana do presidente.

Conteúdo investigado: Postagem com foto da motociata de Jair Bolsonaro em Salvador, no dia 2 de julho, em que aparece uma faixa com a frase “Vai trabalhar, preguiçoso!”.

Onde foi publicado: Twitter, TikTok e Facebook.

Conclusão do Comprova: É falsa postagem cuja foto tem uma faixa verde com a frase “Vai trabalhar, preguiçoso!”, escrita em amarelo, que teria sido exposta no bairro de Ondina durante motociata de Jair Bolsonaro (PL) em Salvador, nas comemorações de 2 de Julho na capital baiana. Neste trecho específico da Avenida Oceânica não havia faixa de protesto como a retratada no conteúdo aqui investigado.

Apoiadores do presidente, como o ex-BBB Adriano Castro, fizeram transmissões ao vivo do trajeto. A partir de 1:34:40 do vídeo, ele entra no corredor da Avenida Oceânica, após a Prefeitura da Aeronáutica, mas não se vê a faixa. O deputado estadual Capitão Alden (PL-BA) também fez uma transmissão ao vivo no Facebook que mostra a passagem pelo trecho. A partir de 00:55 é possível ver as primeiras árvores no canteiro central da avenida e nenhuma faixa como a da foto é vista em todo o trecho até o cruzamento com a Avenida Milton Santos (3:12). Outro apoiador do presidente registrou a passagem pelo local antes (00:03) e durante (20:37) a motociata e as imagens mostram que não havia qualquer faixa naquele ponto.

Questionada pelo Comprova no dia 5 sobre a existência da faixa, a Prefeitura de Salvador afirmou que, após o contato da reportagem, encaminhou equipe da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur) até o local para retirá-la, porque não havia autorização de instalação conforme estabelece o Decreto 30.095/2018, mas nada encontrou.

Apesar de não haver uma faixa no ponto específico em que a fotografia foi feita, o presidente Bolsonaro e sua motociata passaram por pelo menos outras duas faixas no percurso. Ambas são idênticas à que aparece na foto aqui verificada e podem ser vistas nos vídeos gravados pelo ex-BBB Adriano Castro, pelo deputado Capitão Alden e por um apoiador do presidente, que filmou a motociata em três partes. Já os vídeos postados no Facebook do presidente não mostram nenhum dos trechos onde as faixas estavam fixadas.

Para o Comprova, falso é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O post verificado aqui teve mais de 20 mil interações no Twitter, TikTok e Facebook, entre curtidas, compartilhamentos e menções, até 8 de julho.

O que diz o autor da publicação: Vários perfis publicaram a foto. Um dos primeiros registros foi feito ainda no dia 2 de julho por @polianices, no Twitter, que reúne sozinho quase 20 mil interações na publicação. Procurado em mensagem direta na rede social, disse que havia visto a foto em outro perfil e a compartilhou sem saber a sua origem. Com posts no Facebook, também foram procurados os perfis Bolsominions Arrependidos e Ciro Progressista. Não houve retorno. O Comprova ainda tentou contato com o canal Distopia Brazil, que usou a foto em um vídeo do TikTok, mas não obteve retorno.

Como verificamos: Inicialmente, o Comprova fez uma busca reversa da foto publicada no Google; a consulta retornou apenas outras publicações de redes sociais com o mesmo conteúdo.

A frase “Vai trabalhar, preguiçoso!” também foi usada em pesquisa com a ferramenta CrowdTangle, aplicada em textos e imagens do Instagram, Facebook e Twitter, na tentativa de identificar a origem da foto.

A equipe ainda buscou conteúdos em vídeo de perfis de apoiadores de Bolsonaro, que o seguiram na motociata, para localizar o momento exato da passagem do presidente pela avenida Oceânica e confrontar com a imagem do post investigado.

Por telefone e pessoalmente, a reportagem fez contato com trabalhadores e moradores da região para se informar sobre a faixa, além de jornalistas e fotógrafos que cobriram a motociata – nenhum deles disse ter visto a faixa de Ondina. Também foram procuradas empresas que produzem esse tipo de material na tentativa de identificar quem o confeccionou e os locais onde foram instalados.

Por fim, o Comprova consultou a Prefeitura de Salvador sobre a existência da faixa e procurou perfis que compartilharam a imagem para conferir a autenticidade da foto.

 

Não havia faixa no local da foto quando Bolsonaro passou por lá

A foto aqui verificada foi feita a partir da calçada da Avenida Oceânica, em Ondina, sentido Parque dos Ventos, nas imediações do Bahia Othon Palace Hotel. É possível identificar o local a partir de pontos de referência no fundo da imagem: há uma barraca de chaveiro, uma cobertura azul de ponto de ônibus e a estrutura de um outdoor um pouco acima do muro do Centro de Esportes e Educação Física da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A suposta faixa estaria presa entre duas árvores e atrás de um poste de iluminação, assim como de uma sinaleira para travessia de pedestres:

No entanto, os vídeos que registram a passagem da motociata pelo local mostram que não havia nenhuma faixa presa nas árvores ao longo de todo este trecho da Avenida Oceânica:

| Apoiador registrou passagem pela Oceânica, em Ondina, entre o minuto 20:37 e 22:40 (https://www.youtube.com/watch?v=ZypjvPrvIDQ&t=1237s)

| Vídeo do ex-BBB Adriano Castro mostra passagem pelo trecho entre 1:34:40 e 1:36:40 (https://www.youtube.com/watch?v=vhl1SqafEDY&t=5770s)

| Transmissão ao vivo do deputado Capitão Alden mostra trecho entre 00:55 e 3:14 (https://www.facebook.com/watch/live/?ref=watch_permalink&v=446825433929825)

Esta foto publicada no Flickr oficial de João Roma, que é pré-candidato ao governo da Bahia, mostra um trecho bem próximo ao local onde a imagem analisada teria sido feita. Ao fundo, é possível ver uma sinaleira para travessia de pedestres, como na foto verificada, mas também não há uma faixa visível:

| Crédito da imagem: Max Haack

Faixas foram colocadas em outros pontos do trajeto

Apesar de não haver uma faixa com a frase “Vai trabalhar, preguiçoso!” no trecho de Ondina da Avenida Oceânica, pelo menos mais duas faixas iguais à que aparece na foto aqui verificada foram de fato fixadas no trajeto da motociata, que partiu do Largo do Farol da Barra e seguiu pela orla marítima até o Parque dos Ventos. As duas faixas estavam no bairro do Rio Vermelho e Bolsonaro passou por elas.

A primeira estava presa entre dois postes na esquina da Rua da Paciência com a Rua Almirante Barroso. A fotojornalista Shirley Stolze chegou a registrar a imagem e postou a foto em sua conta pessoal no Facebook às 14h02 do dia 2 de julho de 2022. Ao Comprova, Shirley disse que viu a faixa quando passava pelo local e a fotografou com o celular:

O Comprova esteve no local na tarde de 7 de julho de 2022 e encontrou, ainda preso em um dos postes, o suporte para a faixa. Um funcionário de um bar que fica na esquina da Rua Almirante Barroso confirmou ter visto a faixa no local e afirmou que ela estava presa entre os dois postes quando a motociata passou por lá. Na noite do dia 2, a faixa já não estava presa, e sim pendurada em apenas um dos postes.

A faixa pode ser vista em três vídeos que registraram o percurso da motociata:

No vídeo feito por um apoiador (00:52):

Na transmissão feita pelo ex-BBB Adriano Castro (1:39:37), o Didi Red Pill:

E na transmissão feita pelo deputado estadual Capitão Alden (6:10):

A segunda faixa foi fixada entre um coqueiro e um poste ao lado de um ponto de ônibus da Rua Guedes Cabral, logo após a Rua da Paciência. O Comprova localizou a imagem através da busca por palavras-chave no Facebook:

Ela também aparece nos vídeos já citados aqui e que transmitiram a trajeto da motociata de Bolsonaro em Salvador: a primeira imagem foi captada do vídeo de Adriano Castro (1:41:02) e a segunda, do Capitão Alden (07:40):

Um apoiador do presidente que registrou sua participação na motociata em três vídeos no YouTube conseguiu captar a faixa da Rua Guedes Cabral em dois momentos. O primeiro foi quando a faixa ainda estava sendo colocada no local. É possível ver um homem em uma escada aos 04:09 deste vídeo prendendo a faixa no poste.

A segunda vez que o mesmo apoiador registrou a existência da faixa foi no terceiro vídeo, quando ele já passava pelo local acompanhando Bolsonaro e os demais apoiadores de moto. A faixa aparece rapidamente em 1:51; em seguida, há um corte no vídeo, que continua depois que o grupo já havia passado por este trecho, que fica entre a Biblioteca Juracy Magalhães Júnior e o Teatro Sesi Rio Vermelho.

O Comprova conversou também com dois funcionários de um restaurante próximo à biblioteca e eles confirmaram que viram uma faixa, mas não prestaram atenção ao conteúdo dela.

Termo preguiçoso atribuído a Bolsonaro se espalhou antes do 2 de Julho

Embora a faixa “Vai trabalhar, preguiçoso!” não carregue o nome do presidente, o termo pejorativo tem sido atribuído a Bolsonaro em redes sociais e protestos de opositores. As manifestações críticas foram pontuadas pela coluna Radar, da Veja do início de junho, ao analisar que “histórico de folgas, passeios de moto e de jet ski, além da jornada curta de expediente no Planalto consolidam imagem desfavorável ao presidente.”

Em março, a mesma revista já havia publicado que a média diária de trabalho de Bolsonaro era inferior a 3 horas naquele mês, considerando as informações da agenda oficial da presidência. Na mesma semana, o jornal Gazeta do Povo apontou os gastos com férias e folgas do agora pré-candidato à reeleição, que somavam R$ 8,3 milhões em três anos de governo.

Já em abril, o Metrópoles fez uma análise sobre o tempo dedicado pelo presidente às atividades do mandato com base em no estudo “Deixa o Homem Trabalhar?”. No mês seguinte, a Folha de S.Paulo mostrou que Bolsonaro faz do lazer uma rotina.

As redes sociais também estão recheadas de críticas e memes com esse enfoque, como mostra reportagem do Diário do Centro do Mundo (DCM), jornal digital que se identifica com o espectro político de esquerda.

Presidenciáveis em Salvador

Além de Bolsonaro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) participaram de atos em Salvador, no dia 2 de julho, na comemoração pela Independência da Bahia.

Com exceção do presidente, os outros três pré-candidatos ao Planalto participaram de ato cívico, percorrendo regiões entre o Largo da Lapinha, no bairro da Liberdade, e o Terreiro de Jesus, no Pelourinho.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Desta vez, a peça desinformativa é contra Jair Bolsonaro, pré-candidato na disputa à presidência da República. Conteúdos falsos e enganosos são prejudiciais ao processo democrático porque atingem o direito do eleitor de fazer sua escolha baseada em fatos, não em boatos e desinformação.

Outras checagens sobre o tema: Este conteúdo que traz como pano de fundo o 2 de Julho, data em que se celebra a Independência da Bahia, não foi o único investigado por desinformação. O Comprova mostrou que post usa vídeo antigo para enganar sobre adesão a ato pró-Bolsonaro e outro que enganava ao sugerir baixa adesão na manifestação a favor do presidente.

Além desse evento, que reuniu quatro presidenciáveis na capital baiana, as eleições têm sido frequentemente tema de desinformação. O Comprova já demonstrou, nesta semana, que é falsa frase atribuída a Lula de ameaça ao STF, também esclareceu que contagem de votos é feita pelo TSE e não por terceirizada e que não há dispositivo nas urnas eletrônicas capaz de alterar votação, e ainda mostrou que fotos de atos políticos sem a presença de Lula tentam desacreditar as pesquisas.

Saúde

Investigado por: 2022-07-08

Vacina contra covid-19 não causa câncer e não tem relação comprovada com herpes-zóster

  • Falso
Falso
É falso que as vacinas contra a covid-19 não sejam seguras e causem doenças como o herpes-zóster e câncer como afirma um médico em vídeo publicado no Instagram. Ao Comprova, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmou que todas as vacinas analisadas e autorizadas no Brasil são seguras, possuem perfis de eficácia definidos por estudos e que seguem sendo monitoradas.

Conteúdo investigado: Vídeo publicado por um médico no Instagram questiona a segurança das vacinas contra a covid-19 e afirma que pessoas estão adoecendo após receberem os imunizantes. O médico também atribui casos de herpes-zóster e câncer aos imunizantes.

Onde foi publicado: Instagram

Conclusão do Comprova: Diferentemente do que afirma médico em vídeo publicado no Instagram, é falso que as vacinas contra a covid-19 causem câncer e outras doenças respiratórias. Segundo especialistas ouvidos pelo Comprova, também não há nenhuma comprovação científica ligando casos de herpes-zóster aos imunizantes.

A Anvisa confirmou que, até o momento, não há qualquer evidência sobre a relação de herpes-zóster com o uso das vacinas contra covid. A agência não recebeu notificações de eventos adversos relacionados a essas doenças.

De acordo com a Anvisa, todas as vacinas analisadas e autorizadas são seguras e possuem perfis de eficácia definidos por estudos, e seguem sendo monitoradas. Também segundo o órgão, até o momento, o monitoramento das vacinas não aponta alterações no perfil de segurança das doses aplicadas na população brasileira, independentemente de serem doses do esquema primário ou de reforço.

Para o Comprova, falso é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Até o dia 8 de julho, a publicação teve 63.718 visualizações e 1.071 comentários no Instagram.

O que diz o autor da publicação: Por meio de mensagem no Instagram, o Comprova entrou em contato com o médico Leandro Almeida, autor da publicação, mas não obteve resposta aos questionamentos feitos.

Como verificamos: Foram feitas pesquisas por dados e informações em fontes oficiais, como o Instituto Butantan, o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Para esclarecer as questões sobre as vacinas contra a covid, entramos em contato com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e com Anamélia Lorenzetti Bocca, especialista em imunologia celular pela Universidade de Brasília (UnB). Também entramos em contato com a Anvisa.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 8 de julho de 2022.

 

Segurança das vacinas

Para o Comprova, a Anvisa afirmou que todas as vacinas analisadas e autorizadas são seguras e possuem perfis de eficácia definidos por estudos e que seguem sendo monitoradas. De acordo com a OMS, uma vez identificada uma vacina promissora, ela passará primeiro por testes laboratoriais e, posteriormente, o fabricante pode solicitar a realização de ensaios clínicos. Esses ensaios geralmente envolvem vários milhares de participantes voluntários saudáveis. A segurança dos testes é garantida pelas autoridades reguladoras nacionais.

Além disso, os estudos continuam a ocorrer após a introdução de uma vacina no mercado. A chamada fase de farmacovigilância permite que os cientistas monitorem a eficácia e a segurança entre um número ainda maior de pessoas, por um período de tempo mais longo.

As vacinas brasileiras aprovadas pela Anvisa têm os possíveis efeitos adversos descritos nas bulas. Os relatos são atualizados através de registros científicos e publicados no próprio site da agência.

Nos documentos, é possível ter acesso a dados importantes que garantem a segurança das vacinas, como os resultados da eficácia do produto em diferentes grupos e descrição de possíveis eventos adversos. Nenhum dos imunizantes usados no país (Pfizer, Coronavac, Janssen e Astrazeneca) tem câncer, herpes-zóster ou outra doença respiratória citados como possíveis efeitos adversos da vacinação contra o coronavírus.

Renato Kfouri, diretor da SBIm, afirma: “As vacinas tanto na segunda, terceira e quarta dose têm os mesmos perfis de segurança. São raríssimos eventos adversos graves. O número de casos evitados, no caso da covid, supera de longe os efeitos colaterais”.

Aplicação da quarta dose

Desde dezembro de 2021, o Ministério da Saúde recomenda a aplicação da quarta dose da vacina contra covid para o grupo de imunossuprimidos. Em junho deste ano, a orientação foi ampliada para pessoas acima de 50 anos e profissionais de saúde, com intervalo mínimo de quatro meses a partir do primeiro reforço. A indicação, segundo documentos do órgão, considera dados clínicos que apontam a eficácia e a segurança da segunda dose de reforço do imunizante.

Segundo o ministério, achados preliminares de estudos recentes feitos em Israel indicaram que, após a vacinação com a quarta dose, houve aumento de cinco vezes nos anticorpos após uma semana da aplicação. Outro fato que baseou a recomendação do ministério foi a aprovação dos órgãos de saúde dos Estados Unidos, incluindo o Food and Drug Administration (FDA) e o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), para indivíduos com 50 anos ou mais receberem a segunda dose de reforço.

O Ministério da Saúde afirmou que, no momento da orientação, existiam poucos dados referentes “à magnitude e duração do benefício de uma quarta dose de reforço” e que “não há dados disponíveis no momento que permitem avaliar a ocorrência de eventos adversos raros para a segunda dose de reforço”. Entretanto, o órgão “reconhece que diferentes estratégias de vacinação por parte dos países devem ser utilizadas com base na situação epidemiológica e na disponibilidade de vacinas”. Além disso, o órgão mencionou o surgimento de novas variantes do coronavírus como outro motivo para a recomendação.

Relação com herpes-zóster

Ao contrário do que atribui o autor do post, os especialistas ouvidos pelo Comprova afirmaram que não existe nenhuma relação comprovada entre herpes-zóster e a vacina contra a covid-19. A Anvisa relatou não haver evidência científica que mostrasse isso e também não foram recebidas notificações sobre uma possível ocorrência.

Anamélia Lorenzetti Bocca, coordenadora do Laboratório de Imunologia Celular no Instituto de Biologia da UnB, conta que é normal existir análises sobre uma possível correlação entre uma vacina e a ocorrência de diversas doenças porque o número de pessoas vacinadas e os diferentes estados da resposta imunológica são muito amplos.

Normalmente, são investigações de um caso específico de uma pessoa ou análises observacionais, que não garantem uma relação de causa e efeito. Entre estas análises estão trabalhos sobre a herpes-zóster, mas, até o momento, não existe nenhuma conclusão ligando a doença com a vacina contra a covid-19. “Não se pode ter como consenso resultados de relato de caso. O número de pessoas para se estabelecer uma correlação significativa deve ser bem grande”, afirma Bocca.

Segundo Renato Kfouri, na verdade, há indícios mais fortes para uma relação entre herpes-zóster e a covid, do que com a vacina contra a doença. Uma pesquisa realizada por profissionais da Universidade Estadual de Montes Claros, em Minas Gerais, mostrou um crescimento de 35% desse tipo de herpes durante a pandemia. O documento não faz diferenciação entre vacinados e não-vacinados, mas os cientistas acreditam que o aumento é um forte indício de correlação entre a herpes e a infecção pelo coronavírus. Outros estudos internacionais também apontam para um risco aumentado de ocorrência de herpes-zóster em pessoas que tiveram contato com o coronavírus, e não com o imunizante que protege contra a doença (1, 2 e 3).

Relação com câncer e doenças respiratórias

A Anvisa informou que não há evidência nos estudos pré-clínicos (feitos com animais) e clínicos (feitos com pessoas) de que as vacinas contra covid-19 sejam capazes de induzir mutações genéticas ou desenvolvimento de câncer. Informações da Fiocruz também descartam a possível relação. O Comprova mostrou anteriormente que a vacina não está relacionada com câncer ou HIV.

Os especialistas ouvidos pelo Comprova afirmaram que não há relação entre a vacinação contra a covid e outras doenças respiratórias. “Até o momento não existe nenhuma relação entre aplicação das vacinas de covid, que estão circulando, com essas doenças. Aliás, às vezes, ocorre o contrário, porque as vacinas estimulam o sistema imunológico enquanto essas doenças ocorrem com depressão da resposta imunológica do paciente”, afirmou Bocca.

Testes contra a covid

O autor da publicação também sugere que os testes contra covid poderiam estar relacionados com o desenvolvimento de outras doenças, principalmente as respiratórias. Segundo Renato Kfouri, os diversos testes contra a covid são colhidos através de swabs nasais, uma espécie de cotonete longo, que têm contato com a região da nasofaringe, onde os vírus respiratórios normalmente se alojam.

O imunologista afirma que é um procedimento inócuo, sem nenhum risco de contaminação de outras doenças: “São cotonetes estéreis e não trazem nenhum prejuízo para a saúde”.

Quem é o autor do post

Leandro Guilherme Ladeia Almeida é graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Barbacena (Fame). Em site pessoal, afirma que é especializado em Endocrinologia pelo Instituto de Pesquisas e Ensino Médico (Ipemed) e pós-graduado em Medicina Ortomolecular, Bioquímica e Fisiologia do Exercício. Também afirma ser especialista em metabologia, nutrigenética, fertilidade, desempenho humano, bioquímica e fisiologia.

No portal do Conselho Federal de Medicina (CFM), ele aparece como médico sem especialidade registrada. Possui situação regular e inscrição em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Não foram encontradas outras checagens ou notícias sobre o médico.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia de covid-19, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que viralizaram nas redes sociais.

A postagem aqui verificada mente ao dizer que não há segurança nas vacinas contra a covid-19 e que os imunizantes são causadores de doenças graves. Conteúdos como esse propagam deliberadamente falsidades e colocam em risco a segurança sanitária do país.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou que vacinas contra covid-19 não provocam câncer, diferentemente do que afirma médico dos EUA; que vacina da covid não fez ‘explodir’ doenças cardíacas em crianças e que imunizante contra o coronavírus é seguro e não gera HIV, câncer ou HPV.

Eleições

Investigado por: 2022-07-08

É falso que Lula e presidente eleito da Colômbia queiram obrigar pessoas a dividir casa com outras famílias

  • Falso
Falso
É falso que o presidente eleito da Colômbia, Gustavo Petro, tenha decretado que pessoas que moram em residências com mais de 65m² deverão ser obrigadas a abrigar outras famílias. Também não é verdade que o ex-presidente e pré-candidato à presidência pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva, tenha a mesma proposta para o Brasil.

Conteúdo investigado: Em um vídeo que circula no Kwai, uma mulher afirma que o presidente eleito da Colômbia, Gustavo Petro, deu início ao “plano de Lula” e decretou que pessoas que moram em residências com mais de 65m² no país deverão ser obrigadas a abrigar outra família. Ao fundo está a imagem de uma página de jornal em espanhol, com a notícia falsa de que Petro havia feito a proposta para sanar a falta de habitação no país.

Onde foi publicado: Kwai, TikTok, Twitter e Whatsapp.

Conclusão do Comprova: São falsas as afirmações que circulam em um vídeo no Kwai de que o presidente eleito da Colômbia, Gustavo Petro, decretou uma medida para que residências com mais de 65m² sejam compartilhadas por mais de uma família. Também não é verdade que essa é uma proposta de Lula (PT), caso ele seja eleito nas próximas eleições presidenciais do Brasil.

O vídeo dá a entender que a medida “já foi decretada” e “colocada em prática” na Colômbia, mas o governo de Petro ainda nem começou: o presidente eleito toma posse em 7 de agosto. A imagem com a notícia falsa presente no vídeo circula desde 2018 e já foi desmentida por sites de checagem da Colômbia e do Brasil e pelo próprio Gustavo Petro.

Nos planos de governo de Gustavo Petro para as eleições de 2018 e 2022 não há nenhuma menção à proposta, que também nunca foi citada por ele em manifestações públicas ou entrevistas. Também não existe qualquer menção a propostas do tipo nas diretrizes do programa de governo do ex-presidente Lula. Em resposta ao Comprova, a assessoria de imprensa de Lula também negou qualquer proposta com esse teor.

O Comprova considera falso todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Até o dia 8 de julho, a publicação no Kwai alcançou 8,8 mil visualizações, 252 curtidas, 65 comentários e 187 compartilhamentos. O vídeo original, publicado no TikTok, foi apagado.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o perfil que publicou o vídeo no Kwai, mas não obteve resposta até a publicação desta verificação.

Como verificamos: Primeiro, foram pesquisados no Google os termos “Gustavo Petro” + “residências 65 m²”. Os resultados levaram apenas a checagens já publicadas sobre o tema feitas pelo G1, AFP e Aos Fatos.

Também no Google, o Comprova pesquisou pelos planos de governo oficiais de Gustavo Petro nas eleições de 2018 e 2022 e pelas diretrizes do atual programa de governo do pré-candidato à presidência no Brasil Lula, lançadas no último mês de junho. A assessoria de imprensa do petista também foi contatada.

Por fim, foram feitas pesquisas no perfil oficial de Gustavo Petro no Twitter para verificar se em algum momento ele deu declarações ou endossou medidas como a citada na publicação falsa.

 

Quem é Gustavo Petro?

Gustavo Petro Urrego foi eleito presidente da Colômbia no último dia 19 de junho. Ele venceu o empresário Rodolfo Hernández no segundo turno, com 50,5% dos votos válidos. O mandato começa no dia 7 de agosto. Até lá, o presidente da Colômbia é Ivan Duque, eleito em 2018.

Aos 62 anos, Petro será o primeiro presidente eleito considerado de esquerda na história da Colômbia. Ele chegou a integrar o grupo guerrilheiro M-19 e iniciou a carreira política como deputado, em 1991. Foi prefeito da cidade de Bogotá, capital da Colômbia, entre 2012 e 2015 e já havia disputado as eleições presidenciais duas vezes, em 2010 e 2018.

Petro nunca propôs compartilhamento de residências ou desapropriação de imóveis

A busca no Google por termos como “Gustavo Petro” + “moradia compartilhada” ou “moradia 65 m²” não indica nenhum resultado com declarações públicas, conteúdos de entrevista ou planos de governo nos quais o presidente eleito da Colômbia tenha mencionado a ideia.

No plano de governo de Petro para o pleito de 2022 não há qualquer referência a propostas do tipo. No documento, o item “3.10. Hábitat, Vivienda y Servicios Públicos como derechos” (Hábitat, Habitação e Serviços Públicos como direitos, em tradução livre) fala apenas que o governo pretende liderar “uma política de habitação e serviços públicos ordenados em torno da água que nos permita superar a profunda desigualdade e a primazia dos negócios sobre os direitos”, apostando em uma “gestão local e comunitária”.

O plano fala em “acesso à moradia por meio de organizações populares eliminando a obrigatoriedade de ter previamente uma terra” e promete avançar em programas de reassentamento, titulação de terras e melhorias de habitação, com o Estado colombiano definindo mecanismos para que os municípios do país sejam obrigados a produzir bancos de terrenos públicos.

Ao longo da última campanha presidencial, Petro reiterou que não pretende iniciar qualquer programa que envolva expropriação de terras ou imóveis. No último mês de abril, Petro e sua companheira de chapa, Francia Marquez, também assinaram um documento no qual se comprometem a não recorrer a expropriação de bens caso chegassem à presidência, conforme mostrou a checagem da AFP sobre o tema.

Já o plano de governo de 2018 é bem mais resumido e, sobre a questão da moradia, reforça que não pretende expropriar nenhuma empresa, negócio, moradia ou terra produtiva. O documento indica ainda que o governo seria responsável por lançar um programa “com prefeituras e organizações sociais para a legalização e melhoria integral dos bairros e habitações”, a partir, entre outras coisas, da criação de “um fundo nacional de financiamento”.

Durante a campanha de 2018, Gustavo Petro também reforçou que não pretende fazer qualquer tipo de expropriação de bens durante seu mandato (ver aqui e aqui).

Lula também nunca mencionou proposta

Não existem declarações do ex-presidente e atual pré-candidato à presidência Lula mencionando qualquer proposta com esse teor. No documento com as diretrizes de governo do petista, lançado no último dia 21 de junho, o termo “moradia” é mencionado apenas em um item das propostas, onde está escrito:

“Voltaremos a ter um amplo programa de acesso à moradia, com mecanismos de financiamento adequados a cada tipo de público. Ter uma moradia digna, proteção primeira da família, é um direito de todos e todas e um requisito para um Brasil desenvolvido e soberano”.

Em contato com o Comprova, a assessoria de imprensa do petista disse ainda que: “O ex-presidente Lula já governou o país e fez o maior programa de construção de casas no país, não tomou casa de ninguém”, e que a postagem aqui analisada não passa de “fake news”.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia de covid-19, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que viralizaram nas redes sociais. A postagem aqui verificada mente ao associar o ex-presidente e pré-candidato ao Planalto Lula com uma proposta falsa, que também nunca foi mencionada pelo presidente eleito da Colômbia, Gustavo Petro. Conteúdos como esse podem influenciar a decisão dos eleitores no pleito, que deveria ser baseada em informações verídicas.

Outras checagens sobre o tema: Em verificações recentes, o Comprova mostrou que é falsa uma frase atribuída a Lula com ameaça ao Supremo Tribunal Federal, que um post engana ao usar fotos de atos sem presença do ex-presidente para desacreditar as pesquisa eleitorais, e que é falso um vídeo que tenta ligar um dos filhos de Lula ao aumento nos preços dos combustíveis.

Eleições

Investigado por: 2022-07-07

É falsa a frase atribuída a Lula com ameaça ao STF

  • Falso
Falso
É falsa a publicação que acusa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de ameaçar o Supremo Tribunal Federal (STF). Não há nenhum registro de que Lula tenha dito que "arrastaria o STF junto" se um de seus filhos fosse preso. Ao Comprova, a assessoria do ex-presidente afirmou que ele nunca fez tal declaração. O STF também foi procurado, mas a assessoria de imprensa do órgão afirmou que não localizou qualquer registro envolvendo a declaração.

Conteúdo investigado: Post no Facebook traz uma imagem do ex-presidente Lula com um texto afirmando que os “filhos milionários” do petista não são investigados pela Justiça porque Lula teria ameaçado o Supremo Tribunal Federal. Embaixo da foto, há uma frase atribuída ao ex-presidente: “Se um dos meus filhos for preso, arrasto todo o STF junto”.

Onde foi publicado: Facebook.

Conclusão do Comprova: É falsa a publicação feita no Facebook, no dia 3 de julho, que sugere que os “filhos milionários de Lula” não são investigados pela Justiça porque o ex-presidente teria ameaçado o STF ao proferir a seguinte frase: “Se um dos meus filhos for preso, arrasto todo o STF junto”.

Buscas na internet resultaram apenas em frases antigas com o mesmo teor, porém todas sem qualquer menção a fontes que baseassem a alegação. Nenhum registro da frase utilizada no post verificado, ou variações dela, foi localizado em sites de órgãos oficiais ou reportagens jornalísticas.

Procurada, a assessoria de imprensa de Lula afirmou que ele jamais proferiu as ameaças ao STF. Já a assessoria da Corte disse não ter localizado registro do assunto quando perguntada se havia sido procurada por jornalistas, em algum momento, para comentar as supostas declarações do ex-presidente.

O Comprova classifica como falso todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Originalmente, o post foi publicado no Facebook em 20 de fevereiro de 2021. Este conteúdo, até o dia 7 de julho, alcançou 781 curtidas e 43 mil compartilhamentos. A segunda publicação, feita em um grupo de apoiadores do presidente Bolsonaro, teve 1,5 mil curtidas, 666 comentários e 1,7 mil compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com as duas pessoas que publicaram o conteúdo no Facebook, mas não houve retorno até o fechamento da verificação.

Como verificamos: As buscas no Google pelas palavras-chave “Lula”, “ameaça” e “STF”, ou trechos da frase supostamente dita pelo ex-presidente, retornaram conteúdos suspeitos que não mencionam nenhuma fonte e uma checagem feita pelo Estadão Verifica em maio de 2021.

Nenhuma repercussão na imprensa nacional a respeito da suposta declaração foi encontrada.

Buscando em redes sociais, a equipe achou posts semelhantes ao verificado, que utilizam a mesma foto, mas com variações da frase. O mais antigo é de março de 2018.

Fazendo uma busca reversa pela imagem que aparece na postagem, o Comprova encontrou reportagens do jornal El País e do G1 que mostram que a foto foi tirada durante uma coletiva de imprensa de Lula em São Paulo, em março de 2016. Na época, o ex-presidente, que era investigado por lavagem de dinheiro e corrupção passiva no caso do tríplex no Guarujá, foi conduzido coercitivamente para prestar depoimento à Justiça. Nos registros disponíveis da coletiva, a frase não aparece.

O Comprova também buscou informações sobre os filhos do ex-presidente, seus patrimônios (Justiça Eleitoral, Estadão, Veja) e investigações que sofreram ao longo dos anos (G1, Agência Brasil, Folha e O Povo).

A equipe ainda fez contato com as assessorias de imprensa de Lula e do STF, e com o jurista Modesto Carvalhosa, que citou, em entrevista em março de 2018, que Lula proferiu a frase.

 

Declaração não foi feita por Lula

Além da frase “Se um dos meus filhos for preso, arrasto todo o STF junto”, atribuída a Lula pelo post falso, publicado no último dia 3, no Facebook, o Comprova localizou outras duas variações da frase também atribuídas ao ex-presidente em publicações referentes aos anos de 2018 (1, 2) e de 2019. São elas, respectivamente: “Se eu for para a cadeia arrasto o STF comigo” e “Se prenderem meu filho, arrasto todo STF junto”.

Todas as postagens usam a mesma foto de Lula. A partir de buscas reversas da imagem na internet, foi possível identificar que a foto, feita por André Penner, da Associated Press, ilustra reportagem publicada pelo El País em 4 de março de 2016, por ocasião da coletiva dada por Lula após a condução coercitiva para prestar depoimento no âmbito da Lava Jato. A legenda da foto é “Lula, durante a coletiva de imprensa que deu em São Paulo ao terminar sua declaração ante a polícia”.

A entrevista coletiva pode ser conferida na página oficial de Lula no Facebook e no G1. Em nenhum momento Lula profere as frases atribuídas a ele.

Todos os posts suspeitos localizados pelo Comprova não trazem informações sobre o contexto em que as frases teriam sido ditas. As supostas declarações também não aparecem sendo repercutidas por veículos de imprensa, o que sugere que a informação é falsa.

A mesma conclusão aparece em checagem do Estadão Verifica, que, em maio de 2021, analisou postagem com frases atribuídas a Lula, sendo uma delas a seguinte: “Se prenderem os meus filhos, arrasto todo o STF junto”.

Como apontado pelo Estadão Verifica, caso fosse verdadeira, a frase teria sido publicada na imprensa, uma vez que se trata de uma ameaça ao Judiciário feita por um dos principais políticos do país.

O Comprova procurou a assessoria de imprensa do STF, partindo do princípio de que, caso tal declaração de Lula tivesse sido publicada pela imprensa, o órgão teria sido procurado para repercutir a frase. Resposta: “Olá, não localizamos registro desse assunto”.

O Comprova também localizou entrevista com o jurista Modesto Carvalhosa, postada no canal do YouTube da TV Gazeta, em 27 de março de 2018. Carvalhosa falou sobre as decisões do STF em relação aos processos do ex-presidente Lula.

Ao responder a pergunta da jornalista Maria Lydia Flândoli se havia “alguma coisa por trás da decisão do Supremo” de suspender o julgamento, em 22 de março de 2018, do pedido de habeas corpus de Lula, adiando a decisão para o dia 4 de abril daquele ano, Carvalhosa disse: “O ex-presidente Lula, que é réu condenado pela Justiça Federal, declarou outro dia, e saiu em todos os jornais, que se ele for preso ele vai arrastar os ministros do Supremo Tribunal também com ele. Se alguém faz uma ameaça dessas, fica bem claro que os ministros do Supremo Tribunal Federal estão sendo ameaçados”.

O Comprova procurou Modesto Carvalhosa, que respondeu: “Não me lembro de ter dito essa frase em época nenhuma. Deve haver algum desencontro de fontes, pode ser uma fake news da época”.

A assessoria de imprensa de Lula também foi procurada, primeiramente em relação à frase do post verificado: “Se um dos meus filhos for preso, arrasto todo o STF junto”. “O ex-presidente jamais disse isso. Infelizmente o bolsonarismo, assim como na pandemia, tem divulgado mentiras contra o PT, para tentar criar distrações em relação ao desastre do governo Bolsonaro”, respondeu a equipe do petista.

Após a localização da variação da frase – “Se eu for para a cadeia arrasto o STF comigo” – em postagens de 2018, o Comprova fez novo contato com a assessoria de Lula, que afirmou: “Ele nunca disse isso. Aliás ele foi preso e não arrastou ninguém. Defendeu-se e provou sua inocência.”

O contexto das frases atribuídas a Lula

As primeiras publicações com as supostas frases atribuídas a Lula em ameaça ao STF surgiram em 2018, no contexto do julgamento, na corte, do habeas corpus preventivo protocolado pela defesa de Lula, que havia sido condenado, em julho de 2017, a nove anos e seis meses de prisão pelo caso do triplex do Guarujá. A condenação foi mantida em segunda instância, em 24 de janeiro de 2018, com aumento de pena para 12 anos e um mês de prisão.

A defesa de Lula entrou com pedido de habeas corpus no STF. O primeiro julgamento na Suprema Corte foi em 22 de março de 2018. A sessão, no entanto, foi adiada para o dia 4 de abril. Nesse meio tempo, surgiram as postagens com a frase: “Se eu for para a cadeia arrasto o STF comigo”. Na madrugada de 5 de abril daquele ano, os ministros rejeitaram o habeas corpus por seis votos a cinco. O ex-presidente foi preso dois dias depois.

Já em 2019, a declaração falsa atribuída a Lula “Se prenderem meu filho, arrasto todo STF junto” surge no contexto do pedido de prisão do filho de Lula Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, pela Polícia Federal. Em setembro daquele ano, a juíza Gabriela Hardt, da 13.ª Vara Federal de Curitiba, negou o pedido da PF, entendendo que não havia necessidade de decretação de prisão temporária dos investigados.

Agora, a frase “Se um dos meus filhos for preso, arrasto todo o STF junto”, também falsamente atribuída a Lula, passou a circular em um momento em que o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) começou a fazer declarações atacando o Tribunal e seus ministros (Folha, Gazeta do Povo, Correio Braziliense).

Patrimônio dos filhos de Lula

A postagem aqui verificada afirma que os filhos de Lula, Fábio Luís, Luís Cláudio, Sandro Luís, Marcos Cláudio e Lurien Cordeiro, são milionários. Por se tratar de dado pessoal e não público, há dificuldade de confirmar o exato patrimônio deles. No entanto, o Comprova já mostrou que, conforme consta no Brasil.IO, site que facilita a busca por dados públicos, Fábio Luís é sócio de quatro empresas: G4 Entretenimento e Tecnologia Digital Ltda.; Br4 Participacoes Ltda.; LLF Participacoes – Eireli e FFK Participacoes Ltda.

Através da consulta aos CNPJs das empresas, o Comprova encontrou o capital social de cada uma, ou seja, quanto foi necessário investir para que as empresas se mantivessem e começassem a gerar lucro. Foram R$ 100 mil para a G4 Entretenimento e Tecnologia Digital, R$ 4 milhões para a Br4 Participacoes, R$ 110 mil para a LLF e R$ 150 mil para a FFK.

Sandro Luís é sócio de FlexBR Tecnologia Ltda., Gasbom Cursino I e Gisan Comércio de Roupas e Acessórios Ltda. Marcos Cláudio tinha 25% das quotas do capital social da empresa Flex BR, segundo sua prestação de contas à Justiça Eleitoral em 2016, ano em que foi candidato a vereador em São Bernardo do Campo (SP). Naquele ano, a lista de bens declarados correspondia a R$ 614.485,15.

Luís Cláudio é sócio da LFT Marketing Esportivo Ltda., Touchdown Promoção de Eventos Esportivos Ltda. e Lula Comércio e Serviços Fotográficos Ltda. A pesquisa pelo nome de Lurian Cordeiro não retornou resultados.

A última declaração de renda de Lula à Justiça Eleitoral é de 2018. Na ocasião, o ex-presidente declarou patrimônio de R$ 7.987.921,57.

Ainda em 2018, no processo de inventário e partilha de bens de Marisa Letícia, esposa de Lula falecida em fevereiro de 2017, a defesa do ex-presidente informou à Justiça patrimônio de R$ 12,3 milhões do casal, em regime de comunhão universal de bens.

Investigações contra os filhos de Lula

De acordo com a apuração do jornal O Povo, feita em março de 2021, até aquele momento, dos cinco filhos de Lula, quatro estavam envolvidos em investigações: Fábio Luís, Luís Cláudio, Sandro Luís e Marcos Cláudio.

Em janeiro de 2022, a Justiça Federal de São Paulo arquivou a investigação sobre Fábio Luís na Operação Lava Jato. Ele era investigado em caso de repasse de mais de R$ 100 milhões da Oi/Telemar para a empresa Gamecorp/Gol, de sua propriedade.

A juíza Fabiana Alves Rodrigues, da 10ª Vara Criminal Federal de São Paulo, atendeu a um pedido do Ministério Público Federal (MPF), que defendeu o arquivamento do processo após o STF decidir pela suspeição do ex-juiz da vara federal de Curitiba Sergio Moro nos processos da Lava Jato em relação a Lula e pessoas ligadas ao ex-presidente.

Em 2016, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou à Justiça Lula e Luís Cláudio pelos crimes de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa no âmbito da Operação Zelotes, da Polícia Federal. Segundo o MPF, houve uma simulação de prestação de serviços por uma firma de Luís Cláudio, que recebeu R$ 2,55 milhões de um escritório apontado como sendo de lobistas.

Em março deste ano, o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, suspendeu a ação penal.

Já Marcos Cláudio teve sua casa, no interior de São Paulo, alvo de uma operação de busca e apreensão da Polícia Civil em 2017, após uma denúncia anônima sobre uso de drogas no local. Os agentes não encontraram nada de ilícito.

Em 2016, no âmbito da Operação Lava Jato, a Polícia Federal e o Ministério Público investigaram irregularidades no repasse de dinheiro do Instituto Lula e da empresa LILS Palestras, Eventos e Publicações Ltda a Fábio Luís, Marcos Cláudio e Sandro Luís. Em novembro de 2021, a 5ª Vara Criminal Federal de São Paulo encerrou o inquérito contra os três por falta de provas, acolhendo solicitação do MPF.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia de covid-19, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que viralizaram nas redes sociais. A postagem aqui verificada mente ao dizer que o ex-presidente e pré-candidato ao Planalto Lula teria feito ameaças ao STF, mais alta instância do poder judiciário brasileiro. Conteúdos como esse podem influenciar a decisão dos eleitores no pleito, que deveriam basear o voto em informações verídicas.

Outras checagens sobre o tema: Em verificações recentes envolvendo o ex-presidente, o Comprova mostrou que postagem usa foto de atos sem presença de Lula para tentar desacreditar pesquisas eleitorais, que é falso vídeo que tenta ligar filho de Lula a Petrobras e a aumento de combustíveis e que Lula não tem conta no banco do Vaticano.

Eleições

Investigado por: 2022-07-07

Contagem de votos é feita pelo TSE e não por empresa terceirizada, como afirma post

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o vídeo que usa declarações do ministro Luís Roberto Barroso de 2020, quando era presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para afirmar que existe uma terceirização de serviços envolvendo a contagem de votos nas eleições brasileiras. O conteúdo está fora de contexto e não explica que, apesar de haver um prestador de serviço de suporte e manutenção dos computadores do tribunal, quem controla os equipamentos são os próprios servidores do TSE.

Conteúdo investigado: Um vídeo editado que circula no Facebook, Twitter e WhatsApp mostra o ministro Luís Roberto Barroso concedendo entrevista após as eleições de 2020. O conteúdo atribui ao TSE a afirmação de que a contagem de votos é feita por empresa terceirizada.

Onde foi publicado: Facebook, Twitter e Whatsapp.

Conclusão do Comprova: É enganoso um vídeo de 2020 que circula nas redes sociais, no qual Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e então presidente do TSE, responde à pergunta de um jornalista sobre o supercomputador usado pelo tribunal para fazer a contagem de votos nas eleições.

A publicação distorce as declarações do ministro para dar a entender que quem administra a máquina é uma empresa terceirizada e que os votos são enviados para uma nuvem computacional. Conforme explicado pelo TSE, o supercomputador é gerido pelo tribunal e fica em uma sala-cofre na sede do órgão.

A empresa terceirizada, contratada pelo TSE por meio de contrato de quatro anos, é responsável pela manutenção do computador, que consiste em um eventual conserto ou troca de peças do aparelho.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Somente no Facebook, o vídeo alcançou 16,8 mil visualizações, 2,2 mil curtidas, 319 comentários e 1,4 mil compartilhamentos até o dia 7 de julho.

O que diz o autor da publicação: O post viral foi compartilhado no Facebook pelo delegado Francischini, que foi deputado estadual do Paraná e deputado federal. Em outubro de 2021, no entanto, foi cassado por divulgar notícias falsas contra o sistema eletrônico de votação.

Ele foi procurado por mensagem no Facebook, mas não respondeu.

Como verificamos: Para fazer a verificação, a equipe do Comprova procurou informações no Google sobre o supercomputador citado no vídeo. A busca retornou resultados sobre peças de desinformação a respeito do assunto que circularam nas eleições de 2020 (G1, Estadão e Aos Fatos) e uma nota do TSE que desmentia que o supercomputador mandava os votos para um serviço de computação em nuvem.

Em seguida, a equipe procurou o vídeo original, que é de uma entrevista coletiva dada no primeiro turno das eleições de 2020, e está disponível no canal do Youtube do TSE.

A equipe também entrou em contato com o TSE e com o autor do post, que até o momento não respondeu.

 

O vídeo

O trecho do conteúdo investigado é de uma entrevista coletiva transmitida no dia 15 de novembro de 2020, após o fim do 1º turno das eleições municipais. Naquele dia, um problema técnico no supercomputador do TSE, que faz a totalização dos votos que chegam de todo o país, acabou atrasando a divulgação do resultado das eleições. Isso levantou questionamentos em relação ao processo utilizado pelo tribunal.

Na época, o presidente do TSE era o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso. Durante coletiva à imprensa, ele informou que “houve um atraso na totalização dos resultados por força de um problema técnico que foi exatamente o seguinte: um dos núcleos de processadores do supercomputador que processa a totalização falhou e foi preciso repará-lo”.

Ele então foi questionado pelo repórter André Shalders, da BBC Brasil, sobre a manutenção do supercomputador e os seus serviços. Na resposta, Barroso e Giuseppe Dutra Janino, então secretário de tecnologia da informação (TI) do TSE, confirmaram que quem executa os serviços de manutenção no supercomputador é a empresa Oracle, mas quem opera a totalização dos votos são servidores do próprio tribunal.

Na publicação enganosa, é usado esse trecho editado com algumas frases que tentam desacreditar o processo eleitoral, como: “descobrimos onde está seu voto” e interjeições como “Huh?” e “Blah blah”. Após a exibição da fala, também é editado um outro vídeo em que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) fala sobre uma “nuvem” em contexto diferente da fala de Barroso e Janino. A publicação é acompanhada da legenda: “Barroso afirma que ‘quem conta os votos por ocasião das eleições é um supercomputador de uma empresa terceirizada, contratada pelo TSE.'”

A fala em questão não foi dita pelo ministro no vídeo e nem há registro de ter sido dita em algum outro momento, conforme buscas no Google.

Supercomputador

O TSE esclareceu, ainda nas eleições de 2020, que não utiliza um serviço de nuvem — modelo utilizado para salvar dados na internet — para armazenar a soma de votos de urnas eletrônicas no Brasil e que “os bancos de dados são integralmente gerenciados pelo tribunal”.

O órgão também disse que o serviço “Cloud at Costumer”, Nuvem no Cliente, em tradução livre, consiste na instalação, na sede do TSE, por parte da empresa Oracle, de dois computadores (um principal e um reserva (redundante), para ser usado em caso de falhas), sendo o servidor principal “Exadata X8 Full Rack”, com oito nós de processamento, e um “Exadata X8 Half Rack”, com quatro nós de processamento.

Os equipamentos são chamados de supercomputadores por causa do tamanho e ficam na sala-cofre do TSE, protegidos contra ações da natureza e humanas.

A empresa oferece ainda os softwares de banco de dados e presta serviços de suporte e atualização dos produtos, mas quem controla o equipamento é a equipe do TSE. De acordo com o tribunal, a empresa realiza apenas a manutenção, que consiste em um eventual conserto ou troca de peças do aparelho, por exemplo. O custo é de R$ 26 milhões por quatro anos, ou R$ 6,5 milhões anuais.

O TSE e os 27 Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) utilizam o sistema de banco de dados Oracle há mais de uma década, sendo que os serviços da empresa foram contratados em todas as eleições que utilizaram o sistema de votação eletrônica desde 1996. O contrato atual foi firmado em março de 2020 e tem a validade até 2024.

O processo eleitoral

A apuração dos resultados das eleições é feita automaticamente pela urna logo após o encerramento da votação, e o supercomputador é usado para fazer a soma total dos votos, conforme o TSE.

Antes da apuração dos votos, primeiro é impressa uma listagem das urnas eletrônicas com os nomes de todos os candidatos, chamada de zerésima, para mostrar que nenhum candidato tem voto ainda. Ao final do dia da eleição, o presidente da seção eleitoral deve digitar uma senha na urna para encerrar a votação.

A urna então emitirá cinco vias do boletim de urna. Neste boletim, é possível ver quantos votos cada candidato recebeu, votos brancos, nulos e quantidade de eleitores na seção. Os dados de cada urna eletrônica são codificados em flash cards, ou cartões de memória, em português. A partir dessas mídias é que o TSE calcula o total de votos por meio do supercomputador, que fica na sede do tribunal em Brasília.

Os mecanismos de segurança do TSE são postos à prova durante testes públicos de segurança. Nos testes de 2021, 26 investigadoras e investigadores realizaram 29 planos de ataques contra as urnas eletrônicas e somente cinco deles tiveram algum tipo de “achado” relevante. Os cinco planos bem-sucedidos atacaram, principalmente, os sistemas de transmissão e recepção dos resultados. Além disso, de acordo com o TSE, há diversos mecanismos de auditoria e verificação dos resultados que podem ser efetuados por candidatos e coligações, pelo Ministério Público (MP), pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e pelo próprio eleitor.

Em toda eleição, também é feita uma audiência pública em que são sorteadas urnas para verificação. Essas urnas, que já estavam instaladas nos locais de votação, são conduzidas ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e substituídas por outras, preparadas com o mesmo procedimento das originais. No dia das eleições, também em cerimônia pública, as urnas sorteadas são submetidas à votação nas mesmas condições em que ocorreria na seção eleitoral, mas com o registro, em paralelo, dos votos depositados na urna eletrônica. Cada voto é registrado numa cédula de papel e, em seguida, replicado na urna eletrônica, tudo isso registrado em vídeo. Ao final do dia, no mesmo horário em que se encerra a votação, é feita a apuração das cédulas de papel e comparado o resultado com o boletim de urna. Realizado desde 2002, nunca houve divergência entre os resultados da urna eletrônica e da contagem dos votos em papel.

Quem é o delegado Francischini?

O post foi compartilhado no perfil do Facebook do delegado Francischini. Nascido em Londrina em 1970, Fernando Destito Francischini mora em Curitiba desde os oito anos. Formado em Direito, com especialização em repressão ao tráfico de drogas e combate à lavagem de dinheiro, Francischini é delegado licenciado da Polícia Federal. Em 2018, foi eleito deputado estadual do Paraná como o candidato mais votado, com 428 mil votos. Francischini também atuava como presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep).

Foi deputado federal, mas, em 28 de outubro de 2021, foi cassado por propagar desinformação contra as urnas eletrônicas.

No dia da eleição de 2018, Francischini fez uma live para espalhar notícia falsa de que duas urnas haviam sido fraudadas e aparentemente não aceitavam votos no então candidato à Presidência Jair Bolsonaro. Na transmissão, ele também afirmou que urnas tinham sido apreendidas e que ele teria tido acesso a documentos da Justiça Eleitoral que confirmariam a fraude.

O boato propagado pelo parlamentar surgiu depois que começaram a circular na internet dois vídeos que tentam mostrar suposta dificuldade em votar em Bolsonaro, quando o eleitor chega à urna e tenta, de imediato, apertar as teclas do número 17. No entanto, os vídeos evidenciaram erro do eleitor e foram esclarecidos pela Justiça Eleitoral, sendo desmentido também o rumor sobre a suposta apreensão de urnas, que nunca ocorreu.

Em 6 de junho de 2022, Francischini reassumiu o mandato de deputado estadual na Alep, por conta de uma decisão liminar do ministro do STF, Nunes Marques. Dois dias depois, ele deixou o cargo novamente frente ao despacho da 2ª Turma do Supremo, que derrubou a decisão de Nunes Marques e restaurou a cassação.

No dia 7 de junho, Bolsonaro voltou a propagar as mesmas afirmações que levaram à cassação de Francischini.

Por que investigamos: O Comprova tem o compromisso de investigar conteúdos suspeitos que tenham relação com a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A equipe tem como foco as publicações virais, que tiveram grande alcance nas redes sociais e podem confundir a população.

Durante o período que antecede as eleições no Brasil, muitos conteúdos virais têm sido divulgados com o objetivo de desacreditar a segurança das urnas eletrônicas. Isso colabora para confundir eleitores e criar teorias falsas sobre a contagem de votos, armazenamento de informações e resultado das eleições.

Outras checagens sobre o tema: A segurança das urnas eletrônicas tem sido alvo frequente de diferentes conteúdos suspeitos na internet. Em junho deste ano, o Estadão Verifica checou uma peça de desinformação semelhante que utiliza o mesmo trecho da entrevista coletiva do TSE e concluiu que o vídeo distorce a resposta dada pelo tribunal.

Recentemente, o Comprova investigou e concluiu que não há dispositivo nas urnas eletrônicas capaz de alterar votação. Há pouco tempo, também investigou vídeo que cita falhas já corrigidas nas urnas e que voltou a circular fora de contexto. Em 2020, ficou comprovado que o sistema de voto eletrônico pode ser auditado, ao contrário do que afirmava post viral.

Eleições

Investigado por: 2022-07-06

Vídeos enganam para dizer que adesão a ato pró-Bolsonaro foi baixa

  • Enganoso
Enganoso
São enganosos os vídeos publicados por um perfil no TikTok que comparam imagens dos atos do ex-presidente Lula (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL) no último dia 2 de julho, em Salvador (BA). As imagens utilizadas para mostrar o ato com Bolsonaro foram feitas no momento em que havia menos pessoas concentradas no local, para passar a sensação equivocada de fracasso de público.

Conteúdo investigado: Dois vídeos publicados no TikTok por um perfil de um apoiador do Partido dos Trabalhadores (PT) comparam imagens de atos com o ex-presidente Lula e do presidente Jair Bolsonaro ocorridos no último dia 2 de julho, na cidade de Salvador (BA). Ele inicia os vídeos falando de “mais um DataPovo na Bahia” e em seguida mostra imagens do ato com Lula cheio de pessoas e do ato com Bolsonaro praticamente vazio.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: São enganosos vídeos publicados por um apoiador do PT comparando manifestações em apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a Jair Bolsonaro (PL) no dia 2 de julho, em Salvador, na Bahia.

Com a legenda “Motociata do Bolsonaro vazia”, os conteúdos usam a imagem de uma pequena aglomeração no Farol da Barra, mas o evento com Bolsonaro reuniu grande público. Vídeos da Jovem Pan News com o mandatário discursando e transmissões ao vivo no perfil oficial do próprio Bolsonaro no Facebook deixam claro que a região do Farol ficou cheia de gente.

A imagem do local vazio foi usada em contraposição a uma foto da manifestação em apoio a Lula, com milhares de pessoas.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Somados, os dois vídeos verificados aqui têm mais de 14,6 mil curtidas, 3 mil compartilhamentos e 1,6 mil comentários até 5 de julho.

O que diz o autor da publicação: O dono do perfil @Thiagodosreis8, que publica conteúdos de apoio a Lula, não respondeu o contato da reportagem.

Como verificamos: Primeiramente, foi necessário encontrar a origem das imagens que aparecem na postagem, uma vez que o autor da publicação filma a tela de um outro aparelho que está exibindo essas imagens, enquanto fala. No vídeo do ato com Bolsonaro em que há pouca concentração de pessoas, foi possível identificar uma marca d’água da rede social Kwai. Ao encontrar esse perfil no Kwai, foi possível assistir ao vídeo original.

Os perfis oficiais de Bolsonaro no Facebook e de Lula no Twitter foram consultados para encontrar fotos e vídeos dos respectivos atos de cada um em Salvador. Também foram feitas pesquisas no Google com os termos “Bolsonaro” e “Lula” + “atos Salvador” ou “Bahia 2 de julho” para encontrar reportagens repercutindo os eventos (como G1, Folha e Poder360).

Via TweetDeck, o Comprova encontrou tuítes publicados no dia 2 sobre o ato com Bolsonaro. Um deles mostrava a tela da Jovem Pan News. No site do veículo foi possível buscar o programa que mostrou vídeos da manifestação.

O acervo de fotos da Folha de S.Paulo também foi consultado pela equipe para comparar se as imagens feitas pelo jornal durante a cobertura do ato guardavam semelhança ou não com as que foram exibidas na postagem do TikTok.

Imagem da motociata vazia não é do mesmo momento em que Bolsonaro estava no evento

O vídeo original com a foto que mostra o evento de Bolsonaro vazio foi publicado na rede social Kwai, no dia 2 de julho de 2022 pelo usuário @JuninhoCamacan. No vídeo original, é possível ouvir a voz da pessoa que está filmando dizendo: “Dia 2 de julho, sábado. Ó a manifestação dos bolsominion aí”, em referência ao ato com a presença de Bolsonaro, enquanto ele filma a região do Farol da Barra, em Salvador, no momento em que poucas pessoas estão concentradas no local.

 

Quando assistimos às transmissões ao vivo do perfil oficial do presidente no Facebook e em vídeos divulgados na programação da Jovem Pan News, é possível certificar-se de que a manifestação que contou com a presença dele ocorreu no mesmo local, nas imediações do Farol da Barra e da avenida Oceânica, em Salvador. Em uma das transmissões ao vivo postadas no perfil de Bolsonaro naquele dia, às 9h54, é possível ver o presidente pilotando uma moto na região do Farol da Barra e cercado por apoiadores. A presença do público é bem maior em comparação com o momento em que o vídeo postado no Kwai foi gravado.

Assim, embora trecho do vídeo aqui verificado tenha sido feito no mesmo dia e local, as imagens foram capturadas em momentos distintos. O vídeo da postagem do TikTok foi feito quando havia pouca concentração de pessoas no local. Nas imagens divulgadas pelo perfil do presidente, no momento em que ele aparece para o público, é possível ver que a aglomeração de pessoas no entorno do Farol da Barra é bem maior.

A grande concentração de apoiadores do presidente Bolsonaro no ato de 2 de julho em Salvador também pode ser confirmada por imagens transmitidas pela Jovem Pan News, como a abaixo:

Foto da manifestação de Lula é verdadeira e também é do mesmo dia

A imagem utilizada na postagem do TikTok para ilustrar como foi a manifestação com Lula também é verdadeira, e foi feita em Salvador no dia 2 de julho, conforme é possível comparar com o registro publicado na Folha feito pelo fotógrafo Rafael Martins, do UOL, na ocasião. É possível ver o mesmo casarão à direita, inclusive com o detalhe da janela da direita aberta.

Também é possível observar que a imagem que aparece no vídeo do TikTok é a mesma que foi divulgada pelas redes sociais do próprio ex-presidente Lula, no último 2 de julho (ver aqui e aqui).

A foto que é mostrada no vídeo do evento com Lula, contudo, foi objeto de polêmica assim que foi divulgada. Isso porque, no canto inferior direito, apareciam algumas pessoas “duplicadas”. Várias reportagens (como Folha e Estadão) apontaram o problema que mostra pessoas similares em movimentos distintos nas fotografias. Apesar disso, é possível notar que a maior parte da foto não tem esse problema.

A coordenação do ato com Lula justificou o ocorrido como sendo um bug característico de fotos panorâmicas e, em seguida, o perfil do ex-presidente no Twitter postou uma outra versão da mesma foto, esta sem o erro técnico. Em depoimento ao site G1, o fotógrafo responsável pela imagem, Ricardo Stuckert, explicou a falha: “Eu fiz nove fotos para pegar o ângulo todo. E aí o que que acontece? Quando eu estava fotografando, o drone vai mexendo. Só que as pessoas estavam mexendo. O que aconteceu? As pessoas mexem, duplicou, e na hora que o software junta todas as nove fotos para fazer esse 180 graus, ele não juntou direito porque as pessoas mexeram. Foi uma sobreposição”.

De acordo com o UOL, esse tipo de bug é normal, “uma vez que a panorâmica agrupa diversas fotos em diferentes ângulos, tiradas em um movimento contínuo”, segundo dois fotógrafos que analisaram as imagens.

Um vídeo do mesmo local e ângulo da foto também foi publicado pela equipe de Lula, para afirmar que não houve adulteração proposital nas imagens com objetivo de “aumentar” o número de participantes do ato.

Pelas imagens do vídeo aqui verificado, não é possível identificar se o autor utilizou a foto com as pessoas duplicadas ou se é a foto sem o erro técnico.De uma forma ou de outra, as duas imagens mostram milhares de pessoas no local.

Pré-candidatos em Salvador

Lula e Bolsonaro não foram os únicos pré-candidatos à Presidência a participar de atos em Salvador em 2 de julho. Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) também estiveram na cidade, durante a celebração da Independência da Bahia.

Com exceção do atual presidente, os outros três políticos participaram de um ato cívico que percorreu regiões entre o Largo da Lapinha, no bairro da Liberdade, e o Terreiro de Jesus, no Pelourinho.

Inicialmente, Lula havia sido desaconselhado a ir ao evento, mas mudou de ideia para se contrapor a Bolsonaro, que participou de uma motociata.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram na internet e tenham relação com pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. Os vídeos aqui verificados envolvem os dois principais candidatos à corrida presidencial e podem induzir a população a análises equivocadas, influenciando a decisão dos eleitores na hora do pleito.

Outras checagens sobre o tema: Nesta semana, o mesmo ato em Salvador foi alvo de outra checagem do Comprova, que classificou como enganoso post que usa vídeo antigo sobre adesão à manifestação pró-Bolsonaro. Anteriormente, a iniciativa verificou que postagem usou foto de atos sem presença de Lula para tentar desacreditar pesquisas eleitorais e que protesto anti-Bolsonaro na Itália não teve manifestantes enviados pelo PT.

Eleições

Investigado por: 2022-07-04

Post usa vídeo antigo para enganar sobre adesão a ato pró-Bolsonaro no 2 de Julho

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso vídeo postado no Twitter e no Facebook que atribui aos atos de apoio a Jair Bolsonaro (PL) em 2 de julho de 2022 imagens feitas no Farol da Barra, em Salvador. Na verdade, o vídeo foi gravado no dia 7 de setembro de 2021, no mesmo local.

Conteúdo investigado: Vídeo que mostra apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) em manifestação em frente ao Farol da Barra, em Salvador, em 2 de julho de 2022.

Onde foi publicado: Facebook, Kwai e Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganoso vídeo compartilhado nas redes sociais atribuído a ato pró-Bolsonaro de 2 de julho deste ano, em Salvador. A gravação foi feita, na verdade, em 7 de setembro de 2021, durante outra manifestação em apoio ao presidente.

Realmente houve um ato em apoio a Bolsonaro em 2 de julho na capital baiana, porém, as imagens mostram que o evento reuniu menos pessoas do que mostrado no vídeo aqui verificado.

No conteúdo enganoso, é possível ver pelo menos três placas que não aparecem nas imagens verdadeiras do ato de 2 de julho de 2022, mas que estão presentes em outras fotos registradas em 2021. Além disso, o vídeo original foi compartilhado em 7 de setembro daquele ano em um perfil do Kwai, o mesmo cuja identificação aparece no material aqui verificado.

O Comprova considera enganoso todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Juntas, as publicações no Facebook tiveram 2,7 mil curtidas, 168 comentários e 26,3 mil compartilhamentos até o dia 4 de julho. No Kwai, o vídeo alcançou mais de 455 mil interações, sendo 376,5 mil visualizações, 53,4 mil curtidas, 9,7 mil comentários e 15,6 mil compartilhamentos.

Antes de ser excluído da plataforma, o vídeo havia alcançado 40 mil visualizações no Twitter. A última medição foi feita no dia 3 de julho.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com as duas pessoas responsáveis pela publicação do conteúdo no Facebook e também com o autor da postagem no Kwai. Porém, não houve resposta até o fechamento da verificação.

Como verificamos: Para determinar se o vídeo poderia ter sido feito em 2 de julho, primeiro o Comprova pesquisou sobre o ato a favor do presidente Jair Bolsonaro neste dia, tanto na imprensa (G1, Folha, Poder360 e Estadão) quanto em posts feitos pelo próprio chefe do Executivo.

Na sequência, o Comprova procurou pelo vídeo original no Kwai, porque o conteúdo investigado trazia a marca da rede social e a identificação do usuário que postou a gravação.

Em seguida, a equipe do Comprova fez uma busca reversa no Google de prints do vídeo aqui verificado. Ao encontrar imagens parecidas em manifestação de 7 de setembro de 2021, a equipe procurou especificamente imagens desse dia no Farol da Barra para determinar se, de fato, se tratava do mesmo ato.

Por fim, a equipe tentou contato com os autores das publicações.

Imagens são diferentes das registradas no 2 de julho de 2022

Embora tenha sido postado no Twitter e no Facebook no dia 2 de julho de 2022, o vídeo aqui verificado não foi feito neste dia, como é possível perceber a partir da comparação entre frames do vídeo e outras imagens publicadas na imprensa e no perfil do próprio Bolsonaro no Facebook. No vídeo falsamente atribuído ao ato de 2 de julho de 2022, todo o gramado e o largo em frente ao Farol da Barra estão tomados por apoiadores do presidente.

No entanto, não foi isso que aconteceu no último final de semana, uma vez que havia uma área de isolamento entre o Farol e o Edifício Oceania, que fica defronte ao monumento e de onde partiu a motociata com a presença de Bolsonaro. Imagens publicadas pela imprensa (Folha, Poder 360 e Estadão) e postadas nas redes sociais do presidente mostram que, no ato do dia 2 de julho de 2022, a concentração maior de pessoas foi na calçada em frente ao gramado do Farol da Barra e na Avenida Sete de Setembro, no trecho entre o Porto da Barra e o Edifício Oceania. Enquanto isso, o largo em frente ao Farol da Barra ficou quase vazio.

Vídeo foi feito em 7 de setembro de 2021

Postado no Twitter e no Facebook, o vídeo viral registra a ID de um usuário do aplicativo Kwai. Lá, ele foi originalmente publicado em 7 de setembro de 2021, junto com vídeos de outros atos pró-Bolsonaro ocorridos no mesmo dia e espalhados pelo Brasil.

Uma busca reversa no Google utilizando como base um frame do vídeo levou à possibilidade de que as imagens tivessem sido feitas durante um ato pró-Bolsonaro em 26 de maio de 2019 (Correio, G1), uma vez que um dos cartazes vistos no vídeo viral também aparece em uma reportagem da TV Bahia sobre os protestos daquele dia, de ataque ao STF. No entanto, há um elemento no ato de 2019 que não aparece no vídeo viral: um letreiro azul com a palavra “Salvador” no gramado do Farol da Barra, que estava lá em 2019, mas não em 2021.

Embora não tenha localizado o mesmo vídeo, o Comprova encontrou imagens de cobertura das manifestações de 7 de setembro de 2021 que mostram os mesmos elementos. Essa matéria publicada pelo site da Rádio Sociedade da Bahia, por exemplo, não mostra a faixa contra o STF em letras vermelhas, mas outra mais abaixo, preta em letras amarelas, com o que parece dizer “contagem pública”. A mesma foto, com o pedido de “contagem pública dos votos em 2022”, aparece nesta notícia do site Jacobina Notícia, do interior da Bahia. Elas também estão no vídeo verificado. O letreiro azul não aparece em nenhuma das imagens e é possível ver, nas duas, um coqueiro do lado esquerdo voltado para a direita:

No primeiro segundo do vídeo viral, é possível ver, mesmo que com pouca nitidez, um cartaz suspenso, preso a um trio elétrico, com as palavras “Bolsonaro”, “Forças Armadas” e “democracia”. Elas também aparecem em foto feita pelo repórter Levy Teles, do Estadão, durante a cobertura dos atos de 7 de setembro de 2021 em Salvador.

Por fim, foi possível localizar a faixa contra o STF e outra que se assemelha à que pede uma “contagem pública” de votos na conta do Facebook do deputado estadual Capitão Alden (PL-BA), postada por ele em 7 de setembro de 2021.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram na internet e tenham relação com pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O vídeo aqui verificado envolve o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) e como estaria a aprovação dele diante do público. Conteúdos como esse podem induzir a população a análises equivocadas, influenciando a decisão dos eleitores na hora do pleito.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já verificou que não há dispositivo nas urnas eletrônicas capaz de alterar votação, que postagem usou foto de atos sem presença de Lula para tentar desacreditar pesquisas eleitorais e que protesto anti-Bolsonaro na Itália não teve manifestantes enviados pelo PT.

Eleições

Investigado por: 2022-07-01

Não há dispositivo nas urnas eletrônicas capaz de alterar votação, ao contrário do que diz postagem

  • Falso
Falso
É falso conteúdo de site que afirma haver na urna eletrônica um programa executável capaz de fazer alterações nos votos digitados por eleitores no dia das eleições. A existência do dispositivo, segundo a publicação, teria sido identificada pelas Forças Armadas. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e especialistas consultados pelo Comprova negam que isso seja possível e apontam pelo menos duas etapas do processo de auditoria e fiscalização das urnas em que tal impossibilidade pode ser comprovada. Sobre a suposta identificação de tal fragilidade pelas Forças Armadas, o Comprova questionou o Ministério da Defesa, que não se pronunciou.

Conteúdo investigado: Publicação de site conservador sugerindo, sem apresentar provas, que há um programa executável nas urnas capaz de transferir votos de um candidato para outro, “aproveitar” votos brancos e nulos para alguém ou considerar como nulos os votos em determinado candidato. Tal “executável”, segundo o blog, fica inativo em simulações e entra em ação somente na votação real. O conteúdo ganhou visibilidade nas redes sociais através de um post no Instagram do deputado estadual Capitão Assumção (PL-ES).

Onde foi publicado: Facebook e Instagram.

Conclusão do Comprova: É falso o conteúdo de um site conservador afirmando que as urnas eletrônicas possuem um programa executável capaz de alterar votos digitados. A publicação também aponta, sem apresentar provas, que tal executável diferenciaria votações reais de simulações. Além disso, há a citação de que membros das Forças Armadas teriam identificado a existência de tal programa.

Ao Comprova, especialistas e o TSE afirmaram que os sistemas executáveis — parte do programa das urnas com códigos que têm instruções com as tarefas que devem ser executadas no sistema — não fazem qualquer tipo de adulteração dos votos em quaisquer dos cenários de uma votação. E que há, no processo de auditoria e fiscalização da urna eletrônica, diversos mecanismos que comprovam isso, como o Teste Público de Segurança e o Teste de Integridade.

O Comprova procurou o Exército Brasileiro e o Ministério da Defesa para saber se, de fato, as Forças Armadas identificaram a existência de um executável capaz de alterar votos, como afirma a postagem. O Exército pediu que as respostas fossem direcionadas à Defesa, que não respondeu aos questionamentos.

Em documentação sobre as sugestões apresentadas na Comissão de Transparência Eleitoral (CTE) para aprimoramento da urna, divulgada pelo TSE em 11 de junho, não consta a identificação de qualquer fragilidade como a sugerida pela postagem falsa. A postagem ainda mente sobre a existência de uma sala escura no TSE, informação já contestada pelo tribunal.

O Comprova considera falso todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Até o dia 1º de julho, a publicação do site teve 1.037 interações no Facebook, 5.101 no Twitter e 586 no Instagram, segundo a ferramenta CrowdTangle. Já a postagem do deputado alcançou 82.951 visualizações e 1.174 comentários.

O que diz o autor da publicação: Um homem vinculado ao site que divulgou as informações falsas foi contatado. O autor afirma ser editor da página na internet e ter escrito a matéria sobre as urnas eletrônicas baseando-se em fontes militares. Ele cita um programa executável chamado Inserator, que, segundo ele, foi responsável pela “virada da Dilma sobre o Aécio”, fazendo referência às eleições presidenciais de 2014.

Questionado sobre as alegações do autor, o TSE respondeu que o Inserator fez parte de um pacote de sistemas utilizados até 2004, que gerava certificados digitais, antes da lacração dos sistemas. Os certificados são atestados emitidos pelo TSE garantindo que determinada urna faz parte do sistema oficial da Justiça Eleitoral. Já a lacração das urnas eletrônicas funciona como procedimento que confere uma blindagem a todo o conjunto de sistemas eleitorais, possibilitando assegurar que não houve nenhuma adulteração dos programas que foram desenvolvidos.

“Ele [Inserator] não fazia parte da urna, era externo ao equipamento e gerava um certificado digital em uma tabela. Importante ressaltar que o Inserator não poderia permitir fraudes, já que ele nunca foi usado, mesmo em 2006. A única função que continha era o de inserir o certificado antes da lacração”, disse o órgão.

O deputado estadual Capitão Assumção foi procurado por meio do seu e-mail e contato telefônico, via aplicativo de mensagens, que estão disponibilizados no seu site próprio. Ele não respondeu até o fechamento desta verificação.

Como verificamos: Foram feitas pesquisas na internet pelo nome do deputado estadual Capitão Assumção e sobre pessoas relacionadas ao site conservador. Também pesquisamos matérias da imprensa que citam os mesmos integrantes das Forças Armadas relacionados às postagens falsas (UOL) e reportagens sobre as reuniões entre membros das Forças Armadas e do Tribunal Superior Eleitoral, que acontecem no âmbito da Comissão de Transparência Eleitoral (CTE), da qual as Forças Armadas fazem parte (Poder360, Nexo e CNN).

O Comprova também fez pesquisas no site do TSE e entrou em contato com o tribunal e com representantes de instituições que formam a CTE (Universidade Federal de Pernambuco, Open Knowledge Brasil e Transparência Eleitoral Brasil). Por fim, fez contato com o Exército Brasileiro e com o Ministério da Defesa.

O que são os sistemas executáveis

Ao Comprova, o TSE explicou que os executáveis são todas as porções de software — códigos com o que deve ser executado — das urnas. De acordo com o tribunal, quando a urna é preparada para a eleição, ela recebe todos os executáveis necessários para o seu funcionamento.

A instalação desses executáveis ocorre na Cerimônia de Assinatura Digital e Lacração dos Sistemas, evento público realizado a dois meses da eleição e que conta com a presença de representantes das entidades fiscalizadoras. O evento é uma das etapas de auditoria e fiscalização das urnas, que ocorrem antes, durante e depois da votação e podem ser conferidas, em detalhes, nesta página.

Conforme a página, na cerimônia todos os sistemas que serão usados nas eleições são assinados digitalmente e uma cópia é armazenada na sala-cofre do TSE. O site explica que a assinatura digital “é uma tecnologia que utiliza chaves criptográficas de um certificado digital para autenticar documentos eletrônicos. Ela permite identificar os signatários, proteger as informações e conferir validade jurídica a algo”.

O Tribunal Superior Eleitoral garante que em nenhum cenário os programas executáveis da urna fazem qualquer tipo de adulteração dos votos nela depositados. O tribunal também ressaltou que o Inserator, usado até 2004 de forma externa à urna na criação de um certificado digital, não permitiria fraudes. “O voto é sempre gravado exatamente como foi digitado pelo eleitor, seja um voto válido, branco ou nulo. Na hipótese de um eleitor não votar em todos os cargos, os votos confirmados são gravados e os não realizados são anulados. E em nenhuma hipótese os votos são apurados sem a correspondência com aquilo que foi gravado pela urna”, informa o órgão.

Isso, segundo o TSE, é demonstrado em todas as eleições em uma outra etapa do processo de auditoria e fiscalização, o Teste de Integridade, que ocorre no dia da votação. Nele, conforme consta no site, é realizada “votação pública, aberta e auditada, em uma urna eletrônica que estava pronta para uso na eleição, utilizando-se os mesmos votos em cédula de papel que também são depositados em uma urna de lona. Ao final, compara-se o resultado da urna eletrônica com os da urna que recebeu votos em papel”.

De acordo com o TSE, desde 2002, quando o teste foi iniciado, nunca houve divergência entre os resultados da urna eletrônica e da contagem dos votos em papel.

O Inserator, mencionado pelo autor do conteúdo, não faz parte da urna. É externo à urna e gerava um certificado digital em uma tabela

Não existe executável capaz de alterar votos

O Comprova buscou contato também com especialistas na área de tecnologia e representantes da sociedade civil que fazem parte da Comissão de Transparência das Eleições. Todos afirmaram não haver no sistema algum executável que seja capaz de alterar votos.

“Não tem como, pois isso teria que estar no código, que não tem nada assim. E o código é o mesmo em todas (as urnas). Os programas (executáveis) são assinados com diversas chaves, de diversas pessoas, e ela (a urna) não aceita código sem essas assinaturas. Por isso que tem como garantir e verificar a qualquer momento, se quiser, que é o mesmo código”, diz o doutor em tecnologia André Luís de Medeiros Santos, professor titular do Centro de Informática (CIn) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

O professor destaca que, no dia das eleições, todas as urnas operam com os mesmos sistemas, que são autenticados na forma de assinaturas digitais antes do pleito, na Cerimônia de Assinatura Digital e Lacração dos Sistemas, como explicado anteriormente.

“Existe uma cerimônia no calendário eleitoral de assinatura do código que ocorre antes de ele ser distribuído para todas as urnas (através dos TREs)”, explicou. “Então esse código assinado é o único que tem aquelas assinaturas. Só o código assinado dessa forma é que funciona nas urnas. Então em todas é copiado esse mesmo código. Não teria como alterar o código em algumas e não em outras, por exemplo. Todas vão funcionar da mesma forma, com os mesmos executáveis, no dia da eleição”.

Também consultada, Fernanda Campagnucci, CEO da Open Knowledge Brasil, cita que, na hipótese de haver mudança no código, a urna está programada para desligar: “Ela está programada para cortar a energia e desligar caso haja qualquer mudança no código original, que é validado e lacrado publicamente”.

No dia da votação, destaca o professor André Luís, há um sorteio das urnas já preparadas para as eleições e dispostas nas zonas eleitorais de cidades e estados para o Teste de Integridade, que verifica o comportamento da urna, como também foi explicado anteriormente.

“Todas as urnas recebem os mesmos executáveis. Então são os mesmos programas em todas”, disse. “O Teste de Integridade, que é feito no dia da eleição, sorteia várias urnas para testes no dia da eleição. Depois inclusive de elas estarem em seus locais de votação. Essas urnas são substituídas por outras sobressalentes e as que estavam nos locais são testadas no mesmo dia e horário da eleição, então ela não teria como diferenciar se são votos reais ou não. Esse é apenas um dos controles que existem, mas existem muitos outros controles”.

Ana Claudia Santano, professora de Direito Constitucional, Eleitoral e Direitos Humanos da Transparência Eleitoral Brasil, também rechaçou qualquer possibilidade de alteração dos votos registrados na urna eletrônica.

“A urna não diferencia entre voto em alguém ou voto nulo e branco”, afirmou. “Quem dá esse comando é somente o eleitor. Não há qualquer mecanismo que diferencie votos. O software da urna sempre é o mesmo, funciona do mesmo jeito, em todas elas, seja no teste de integridade, seja na votação normal. Tudo isso pode ser visto no teste de integridade, ou seja, que os softwares são iguais, rodam igual e que não há diferenciação entre votos de candidatos, por exemplo”.

Fernanda Campagnucci e Ana Cláudia Santano ainda comentam que tanto no âmbito da CTE quanto do Teste Público de Segurança (TPS) não foram encontradas quaisquer fragilidades em relação à alteração de votos nas urnas eletrônicas. Os resultados do último TPS podem ser conferidos nos seguintes links: aqui (relatório completo) e aqui (resumo).

Simulação de votações

O TSE aponta que existem diferentes maneiras de simular uma votação com uma urna eletrônica. A primeira delas é o treinamento de eleitores ou de mesários, quando a urna pode ser carregada com variação do software especialmente projetada para facilitar esse treinamento.

Outra possibilidade é uma eleição simulada em que a urna pode ser carregada com uma variação do software para permitir um ensaio geral de todo o processo eleitoral. Assim, as equipes da Justiça Eleitoral praticam todos os procedimentos de uma eleição.

Há também o modo de demonstração. Nele, a urna pode iniciar o Software de Votação num modo que permite a votação, mas não requer a habilitação de eleitores reais, tampouco gera resultados para a totalização. O objetivo é apenas demonstrar como o processo de votação se dá com dados de candidatos em modo oficial ou numa eleição simulada. O modo de demonstração deve ser ativado em equipamentos selecionados durante a cerimônia de carga e lacre das urnas e não pode ser ativado no dia da eleição.

Em todos os casos de simulação de votos, a urna evidencia o modo em que está executando, apresentando nas telas as mensagens “TREINAMENTO”, “SIMULADO” e “DEMONSTRAÇÃO”.

“Na realização de simulações, a urna é carregada com variante específica do software”, explicou o TSE. “Para a execução em modo oficial no dia da eleição, o software da urna é preparado para tratar somente a eleição real e nada mais, não possuindo qualquer dispositivo que seja capaz de identificar que o equipamento está participando de algum tipo de ensaio ou exercício em ambiente controlado”.

Transparência nas eleições: novos órgãos

Em 9 de setembro de 2021, o então presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, anunciou a criação de dois órgãos: a Comissão de Transparência das Eleições (CTE) e o Observatório da Transparência das Eleições (OTE). Entre as finalidades da CTE, presentes na Portaria TSE nº 578, de 8 de setembro de 2021, estão: “ampliar a transparência e a segurança de todas as etapas de preparação e realização das eleições”; “aumentar a participação de especialistas, entidades da sociedade civil e instituições públicas na fiscalização e auditoria do processo eleitoral”; e “contribuir para resguardar a integridade do processo eleitoral”. Enquanto o objetivo do OTE é colaborar com as atividades desenvolvidas pelo CTE e pelo TSE.

A Comissão de Transparência é formada por 12 especialistas da área de tecnologia e representantes da sociedade civil e por representantes de instituições e órgãos públicos. O general Heber Garcia Portella, comandante de Defesa Cibernética, se insere no último grupo, como representante das Forças Armadas. O Observatório da Transparência, por sua vez, é composto por profissionais de organizações e instituições públicas e privadas com foco de atuação nos campos da tecnologia, dos direitos humanos, da democracia e da ciência política.

A reunião do dia 20 de junho, mencionada no conteúdo aqui investigado, foi a primeira a reunir os dois órgãos criados a fim de aumentar a transparência eleitoral. Nela, foram apresentados “os resultados dos trabalhos e estudos que vêm sendo realizados nos últimos meses para assegurar a transparência e a auditabilidade do pleito geral de 2022”, conforme notícia no site do TSE.

Segundo reportagens da época (Folha de S.Paulo, O Globo), o general Heber Portella permaneceu em silêncio no encontro. O Comprova perguntou ao Exército Brasileiro e ao Ministério da Defesa o motivo de o militar não ter se pronunciado na reunião. O Exército pediu que as perguntas fossem encaminhadas à Defesa, que não respondeu aos questionamentos.

Quem é o deputado capitão Assumção?

O deputado estadual Lucinio Castelo de Assumção, conhecido como Capitão Assumção, usou suas redes sociais para divulgar as informações originais do site. Em vídeo publicado no Instagram, o político basicamente lê o texto da publicação. A postagem também foi compartilhada por outros usuários no Facebook.

Não foram encontradas relações entre Capitão Assumção e o site que publicou o conteúdo falso. Esse foi um dos questionamentos feito pelo Comprova a Assumção, que não respondeu até a publicação desta verificação.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet e tenham relação com pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. Informações que mentem sobre o funcionamento das urnas eletrônicas atrapalham todo o processo eleitoral. Além disso, de acordo com resolução do TSE, é vedada a divulgação ou compartilhamento de fatos sabidamente inverídicos ou gravemente descontextualizados que atinjam a integridade do processo eleitoral.

Outras checagens sobre o tema: O Projeto Comprova já mostrou que as urnas brasileiras não foram hackeadas nos EUA; que vídeo citando falhas já corrigidas nas urnas volta a circular fora de contexto e que empresa foi multada por pagar propinas, não por fraudar urnas eletrônicas. Nesta quarta-feira, o TSE publicou texto desmentindo as afirmações feitas na postagem aqui verificada.