O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Política

Investigado por: 2021-06-01

Posts fazem comparações enganosas sobre transposição do São Francisco para exaltar Bolsonaro

  • Enganoso
Enganoso
São enganosas postagens nas redes sociais que, para exaltar o governo Bolsonaro, comparam as obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco realizadas por ele com as de gestões anteriores. Os conteúdos omitem que o atual presidente assumiu o mandato com mais de 90% das obras concluídas por administrações que o precederam. Além disso, o empreendimento não está finalizado.
  • Conteúdo verificado: Postagens em grupos de apoio ao governo federal no Facebook utilizam montagens com fotos do presidente Bolsonaro e do ex-presidente Lula para defender que o Projeto de Integração do Rio São Francisco só avançou na atual administração. Uma delas afirma que Bolsonaro assumiu a obra em 2019 e a concluiu em 2020. Outra mostra uma foto de Lula com a descrição “13 anos: só areia” e uma de Bolsonaro, legendada como “2 anos: tome água”.

Postagens nas redes sociais fazem comparações enganosas acerca das obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco para exaltar o governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Os conteúdos omitem que o atual presidente assumiu o país com mais de 90% das obras concluídas por administrações anteriores.

Uma imagem analisada pelo Comprova mostra uma lista com “resultados” da obra no período entre 2005 e 2020. O material não especifica o empreendimento e se refere apenas à “Água para o Nordeste”. A coincidência de datas do início e de inaugurações de trechos do projeto, entretanto, sugerem que o post trata da transposição do Rio São Francisco.

O conteúdo diz que, até 2018, outros governos não tinham concluído a obra e insinua que, após um ano de gestão Bolsonaro, o projeto foi finalizado. Mas não é verdade. Notícias e documentos oficiais indicam que ao menos 92,5% da execução física dos dois eixos estruturantes do projeto estavam prontos quando o atual presidente assumiu o comando do país. Um deles, inclusive, foi inaugurado no governo de Michel Temer.

Vale ressaltar ainda que o empreendimento não está completo. Também faltam conclusões de obras hídricas complementares, que devem viabilizar a integração das águas do Velho Chico com rios e barragens receptoras. Por outro lado, o atual governo investiu recursos e deu continuidade a projetos associados à transposição do Rio São Francisco.

Como verificamos?

O primeiro passo da reportagem foi procurar por informações oficiais sobre o andamento das obras do Rio São Francisco no site do Ministério do Desenvolvimento Regional. A página da pasta serviu para reunir dados acerca da estrutura do projeto e de seus dois eixos estruturantes.

Em seguida, a reportagem consultou notícias publicadas na imprensa sobre o tema, incluindo verificações antigas do Comprova e de agências de checagem de fatos sobre conteúdos semelhantes. A partir da busca, foi possível identificar notícias sobre adiamentos, inaugurações e investimentos nas obras.

Também identificamos documentos oficiais, como relatórios da Controladoria Geral da União e do antigo Ministério da Integração Nacional, a respeito das execuções da transposição do Rio São Francisco. Com isso, apuramos a porcentagem de conclusão dos eixos estruturantes do empreendimento nos governos antecessores da gestão Bolsonaro.

O Comprova, então, questionou o Ministério do Desenvolvimento Regional para obter mais detalhes do avanço da transposição do Rio São Francisco durante o mandato do atual presidente. Também solicitamos informações acerca de valores investidos e uma previsão para o término das obras pendentes.

A reportagem ainda buscou dados mais detalhados sobre investimentos e identificou um pedido de resposta da Lei de Acesso à Informação. Por fim, o Comprova comparou os dados com os apresentados no portal do orçamento do Senado Federal, chamado Siga Brasil.

Verificação

Os eixos

A transposição do Rio São Francisco consiste na construção de equipamentos hídricos, como canais, reservatórios e estações de bombeamento, com a finalidade de integrar suas águas com outras bacias hidrográficas dos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.

O objetivo é abastecer rios perenes que perdem muito volume durante temporadas de estiagem e, assim, garantir a segurança hídrica a municípios dessas regiões. Para isso, a obra foi dividida em dois eixos que se integram com rios receptores e outros empreendimentos que estendem o fluxo das águas do Velho Chico.

O eixo leste percorre uma distância de aproximadamente 220 km, do município de Floresta, em Pernambuco, até o leito do rio Paraíba, em Monteiro, na Paraíba. Já o eixo norte é constituído por 260 km de canais que transportam as águas do reservatório de Milagres, em Pernambuco, até o reservatório de Jati, no Ceará.

Neste ponto, a obra se integra ao Cinturão das Águas, um projeto hídrico ainda inacabado executado pelo governo do estado em parceria com o Governo Federal. Futuramente, a obra vai transportar as águas do Velho Chico até o Açude de Castanhão e abastecer a região metropolitana de Fortaleza. O eixo norte também se integrará a rios receptores e barragens que abastecem municípios do Rio Grande do Norte.

De 2007 a 2021

Em junho de 2020, Bolsonaro inaugurou um dos trechos finais do eixo norte, em Penaforte, no Ceará. O evento marcou a chegada das águas da transposição ao estado.

Um relatório da Controladoria Geral da União (CGU), publicado em novembro de 2017, indica que, mais de um ano antes de Bolsonaro chegar à presidência, todos os segmentos do eixo norte já tinham ao menos 92,5% de execução física concluída. O eixo leste do empreendimento foi inaugurado pelo ex-presidente Michel Temer no mesmo ano.

Outro documento, do Ministério da Integração Nacional, que à época, novembro de 2016, chama-se Ministério do Desenvolvimento Regional, aponta que, naquele ano, os eixos norte e leste apresentavam 87,7% e 84,4% de suas estruturas físicas concluídas, respectivamente. A primeira estação de bombeamento da parte norte, por exemplo, foi entregue no ano anterior, ainda no governo Dilma.

Mesmo com as inaugurações, a estrutura dos eixos do empreendimento não está totalmente concluída. Segundo o site do Ministério do Desenvolvimento Regional ainda restam serviços complementares, como melhorias de estradas de acesso e instalação de equipamentos auxiliares de monitoramento.

Ao Comprova, a pasta afirmou que a “previsão é concluir o projeto entre o fim deste ano e início de 2022”. O ministério ressaltou que todas as estruturas necessárias para a funcionalidade do eixo leste estão concluídas e o trecho está em pré-operação, restando apenas serviços que não interferem no seu funcionamento.

“Já no eixo norte, o caminho das águas até o Reservatório Caiçara, na Paraíba, totalizando cerca de 260 km, está concluído. Após o Reservatório Caiçara, encontra-se em execução um trecho de 8 km até o Reservatório Engenheiro Ávidos”, destacou a pasta.

O ministério ainda acrescenta que o eixo norte se encontra em testes e comissionamento, “fase em que pode ser identificada a necessidade da realização de serviços de manutenção e reparos nos canais e estruturas”.

O que foi feito na gestão Bolsonaro?

De acordo com a pasta, desde 2019, foram investidos cerca de R$ 2,5 bilhões em obras, ações, operação e manutenção dos eixos norte e leste da transposição do Rio São Francisco, e no Ramal do Agreste, uma obra complementar que levará as águas do Velho Chico ao interior de Pernambuco.

“Além de avanços estruturantes fundamentais para garantir a conclusão da obra, foi necessário concentrar esforços na recuperação de etapas que já apresentavam 100% de execução física, mas que exigiram intervenções e reparos no sistema, a exemplo do Dique Negreiros e do Reservatório de Jati, no Eixo Norte; da Barragem Cacimba Nova, no Eixo Leste.”, diz o comunicado.

A pasta destacou ainda a abertura de licitação para a construção do Ramal do Apodi.

Cifras

Por meio da ferramenta de busca de pedidos e respostas via Lei de Acesso à Informação, o Comprova localizou em junho de 2020 o retorno do Ministério do Desenvolvimento Regional a um pedido de dados detalhados sobre o orçamento da Transposição do Rio São Francisco.

Segundo o relatório, até junho de 2020, o investimento somente na execução dos eixos estruturantes da obra somava, aproximadamente, R$ 10,88 bilhões. A reportagem confirmou que as cifras batem com os valores detalhados no portal Siga Brasil, do Senado Federal.

Além das despesas com os eixos estruturantes da obra, o documento ainda cita uma série de ações associadas ao projeto de Integração do Rio São Francisco, algumas delas complementares, como a manutenção da integração com as bacias do Nordeste Setentrional; recuperação de reservatórios estratégicos; e a construção dos sistemas adutores dos ramais do Agreste Pernambucano, de Entremontes e do Piancó.

Um levantamento do Comprova com dados do Siga Brasil mostra que os maiores investimentos em recuperação de reservatórios estratégicos aconteceram em 2018 e 2019.

Assim como a ação “manutenção da integração com as bacias do Nordeste Setentrional recuperação de reservatórios estratégicos”, que foi iniciada em 2015.

Obra marcada por atrasos

Com um orçamento estimado inicialmente em R$ 4,2 bilhões, a ordem para o início do empreendimento foi assinada em 2007 por Geddel Vieira Lima, então ministro da Integração Nacional do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), informa uma matéria da Folha de S. Paulo. O escopo e estudos técnicos do empreendimento, no entanto, foram realizados já no primeiro mandato do petista, quando a pasta era chefiada por Ciro Gomes.

Os governos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Itamar Franco também discutiram propostas de transposição do Rio São Francisco, mas as iniciativas não saíram do papel. Uma reportagem da Agência Senado indica que a ideia é ainda mais antiga. No século XIX, o imperador Dom Pedro II e políticos da época chegaram a debater projetos similares para combater a estiagem no nordeste brasileiro.

Em 2010, o ex-presidente Lula chegou a prometer a entrega dos dois eixos do empreendimento até 2012, indica uma notícia do G1. Já no governo Dilma, a conclusão das obras foi adiada para dezembro de 2015. Como mostra uma verificação antiga do Comprova, o projeto teve problemas de planejamento e execução.

Em 2012, o governo federal informou que a obra foi iniciada ainda com um projeto básico. Somente durante a execução da obra, foi consolidado um projeto executivo. Um dos problemas destacados pelo Ministério da Integração Regional, na época, foi a desistência por parte de construtoras que atuavam nas obras do empreendimento.

Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI) listou, em relatório publicado em 2018, uma série de outros entraves, como atrasos em licenciamentos ambientais, morosidade em processo de desapropriação e judicialização de licitações.

Imagem compara fotos em contextos e localidades diferentes

Outro conteúdo viral nas redes sociais compara imagens de Lula e de Bolsonaro em obras de transposição do Rio São Francisco. Sem detalhar o contexto das fotos, o boato adiciona à imagem do petista o texto “13 anos: só areia”, enquanto atribui a Bolsonaro a chegada de água em regiões atendidas pela obra.

Uma matéria do Estadão Verifica mostra que a imagem de Lula foi capturada em 2009, nas obras do eixo leste do empreendimento, em Cabrobó, no Pernambuco. Já a imagem de Bolsonaro foi registrada em 2020 durante o evento que marcou o acionamento da comporta que liberou as águas da barragem de Jati para o Cinturão das Águas, no Ceará. As duas cidades estão distantes 116 quilômetros.

Por que investigamos?

Em sua 4ª fase, o Comprova checa conteúdos possivelmente falsos ou enganosos sobre a pandemia ou políticas públicas do governo federal que tenham alcançado alto grau de viralização, como o caso de postagens envolvendo o Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF), maior obra de infraestrutura hídrica do país.

Foram analisadas ao menos três postagens com teores semelhantes, comparando a execução da obra durante o governo Bolsonaro e os anteriores, com ampla repercussão no Facebook. Juntas, somam mais de 120 mil interações entre reações, comentários e compartilhamentos.

O Comprova já fez outras verificações relacionadas ao projeto. Em outubro de 2020, o Estadão Verifica checou a origem das mesmas fotos utilizadas nas postagens aqui verificadas. O Aos Fatos também já precisou desmentir informações falsas veiculadas sobre a obra.

Enganoso, para o Comprova, é conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Política

Investigado por: 2021-06-01

É enganoso que Lei Paulo Gustavo tenta liberar R$ 4,3 bilhões da Lei Rouanet

  • Enganoso
Enganoso
Textos publicados em sites e divulgados no Facebook vinculam erroneamente um projeto apresentado pela bancada do PT no Senado que homenageia o comediante Paulo Gustavo, uma das vítimas da covid-19, à Lei Rouanet. O projeto, na verdade, versa sobre o Fundo Nacional de Cultura (FNC), cujos recursos não têm ligação com o sistema de incentivos fiscais para empresas privadas pelo qual a lei se tornou conhecida.
  • Conteúdo verificado: Texto publicado em sites na internet afirma que partidos de esquerda estão usando o nome do ator Paulo Gustavo, morto em maio deste ano vítima da covid-19, para tentar aprovar a Lei Complementar 73/2021 no Senado e “liberar bilhões da Lei Rouanet”.

São enganosos os textos segundo os quais a “esquerda usa o nome de Paulo Gustavo para tentar liberar bilhões da Lei Rouanet”. Os textos em questão se referem a um projeto de lei que, de fato, existe, e foi apresentado pela bancada do PT, um partido de esquerda, e que homenageia o ator Paulo Gustavo, morto no início de maio vítima de complicações da covid-19. A verba à qual o projeto se refere, no entanto, não tem relação com recursos da Lei Rouanet, legislação de incentivo à cultura rotineiramente alvo de conteúdos falsos e enganosos.

O projeto dos senadores petistas (PLP 73/2021) versa, na realidade, sobre o Fundo Nacional de Cultura (FNC), que foi criado em 1986, antes da Lei Rouanet, e apenas ratificado por ela, em 1991. Ao contrário da Lei Rouanet, que concede incentivos fiscais para empresas que patrocinam eventos culturais, o FNC prevê o repasse de recursos do orçamento diretamente a projetos culturais específicos, por meio de editais. O objetivo do projeto é evitar que os recursos previstos no FNC e não utilizados sejam usados para outros fins.

Como verificamos?

O Comprova iniciou a verificação buscando as últimas notícias sobre a chamada Lei Paulo Gustavo e sua possível relação com a Lei Rouanet. Depois, foi ao site do Senado para ler a íntegra do PLP 73/2021 e entender do que se trata o projeto de lei complementar.

A equipe chegou ao texto verificado por meio de um compartilhamento feito no Facebook que teve milhares de interações. Conversamos com o usuário da rede social que fez o compartilhamento do texto, publicado no blog Por Dentro da Política. Em seu perfil no Facebook, ele se identifica como editor-chefe do site Por Dentro da Política. No contato com o Comprova, o homem afirmou que replicou a publicação por se tratar de um texto de autoria de um site de sua confiança, e citou o “Jornal da Cidade Online”.

Na sequência, encontramos no Jornal da Cidade Online um artigo com o mesmo título usado pelo Por Dentro da Política. Os textos são muito parecidos. Entramos, então, em contato com o Jornal da Cidade Online, que não nos deu retorno até a publicação desta reportagem.

Também conversamos com a assessoria de imprensa do senador Paulo Rocha (PT-PA), um dos autores do projeto de lei. Solicitamos o contato do especialista que desenvolveu o relatório do projeto e nos encaminharam o telefone de Marcos Souza, assessor da Liderança do PT no Senado, com quem conversamos por telefone.

A Secretaria Especial de Cultura foi procurada por e-mail, mas não retornou conforme prometido.

Verificação

Recursos são da Lei Rouanet?

Os conteúdos verificados aqui argumentam, entre outras coisas, que um projeto de lei que tramita no Senado seria uma estratégia para a esquerda “mamar nas tetas do governo pela conhecida lei Rouanet” e consistiria em um “novo golpe para tentar arrecadar bilhões” com o apoio “da classe artista que adora uma boquinha (sic)” . Para isso, a esquerda estaria, afirmam, usando o nome do ator Paulo Gustavo para tentar liberar R$ 4,3 bilhões para o setor cultural. Essas informações são, no entanto, enganosas.

De fato, o projeto em questão existe e é capitaneado por parlamentares de esquerda. Trata-se do Projeto de Lei Complementar (PLP) 73/2021. Ele tem as assinaturas dos senadores Paulo Rocha (PT-PA), Paulo Paim (PT-RS), Jean Paul Prates (PT-RN), Rogério Carvalho (PT-SE), Humberto Costa (PT-PE) e Zenaide Maia (PROS-RN).

A ligação do projeto com a Lei Rouanet é, entretanto, apenas marginal. Aprovada em 1991, no governo de Fernando Collor, a Lei Rouanet é alvo de conteúdos falsos e enganosos há anos, uma situação que persiste até hoje. Essa legislação é a principal ferramenta de fomento à cultura no país e funciona por meio de incentivos fiscais: a Secretaria de Cultura do governo federal autoriza que determinados projetos recebam recursos de empresas para patrocinar eventos culturais e essas empresas podem abater o valor do patrocínio do Imposto de Renda. Não há, portanto, repasses diretos de recursos do orçamento para os responsáveis pelos eventos culturais.

O PLP 73/2021, que tramita no Senado, tem relação com o Fundo Nacional de Cultura, o FNC. Este fundo foi criado em 1986 e apenas ratificado pela Lei Rouanet, que buscava justamente reorganizar o financiamento da cultura no Brasil. Os recursos aos quais se refere o projeto dos senadores petistas, portanto, não são provenientes da Lei Rouanet, ao contrário do que afirma a publicação em questão.

Objetivos da Lei Paulo Gustavo

Os valores sobre os quais o projeto da Lei Paulo Gustavo versa são oriundos do FNC e do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) – R$ 3,8 bilhões do superávit financeiro obtido pelo fundo e R$ 342 milhões da reserva de contingência do orçamento de 2021.

No caso dos orçamentos desses fundos, quando não havia a execução dos recursos até o final do ano, o montante costumava ser devolvido ao Tesouro Nacional, mas com um carimbo de vínculo –, ou seja, continuava pertencendo ao fundo e sendo cumulativo ao longo dos anos. Isso mudou com a aprovação da PEC Emergencial, em março deste ano, e agora o Poder Executivo pode usar, até o fim de 2023, o superávit financeiro de alguns fundos públicos, incluindo o FNC e o FSA, para pagar a dívida pública.

Os valores que constam no PLP foram calculados até 31 de dezembro do ano passado, conforme consta na tabela 6-A da Portaria Nº 772 da Secretaria do Tesouro Oficial, publicada em 29 de março de 2021 e que contém o balanço patrimonial das fontes de recurso público.

O objetivo do projeto é fazer a redistribuição desses recursos em ações emergenciais voltadas ao setor cultural, a exemplo do que fez a Lei Aldir Blanc de apoio à cultura ao longo de 2020. Para tanto, o projeto altera dois artigos da Lei Rouanet (4º e 5º) que versam sobre o FNC, removendo a obrigatoriedade de que créditos programados no fundo sejam objeto da limitação de empenho de recursos e incluindo mais fontes de recursos a ele.

Na época da aprovação da PEC, em março passado, o PT argumentou que a aprovação do artigo sobre os fundos públicos foi irregular e, ao lado da Rede, levou o caso ao STF. Uma semana após a aprovação da PEC, a Secretaria do Tesouro Nacional publicou a Portaria Nº 759/2021, que disciplina os procedimentos para centralização e posterior liberação das fontes de recursos oriundos do superávit financeiro dos fundos públicos.

O fato, segundo Marcos Souza, assessor parlamentar do PT e um dos responsáveis pela confecção do PLP 73/2021, acionou o alerta da bancada petista. “Fomos correr buscando uma forma de salvar esses recursos para serem direcionados à cultura, porque foram, eram e são da cultura, eles estão carimbados. É muito injusto usar isso para abater dívida, ainda mais em um momento em que a pandemia não acabou e os efeitos dela sobre o setor cultural são gravíssimos”, afirmou ao Comprova.

O projeto da Lei Paulo Gustavo foi alvo de críticas do Secretário Especial da Cultura, Mario Frias, e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro. No Twitter, os dois pediram aos seguidores que votassem contra o projeto na consulta pública em andamento no site do Senado. A Secretaria Especial de Cultura foi procurada pelo Comprova via assessoria de comunicação, por e-mail, para comentar o assunto, mas não retornou até a publicação dessa verificação.

Lei Rouanet

A Lei Rouanet, citada na publicação verificada, é hoje a principal ferramenta de fomento à cultura no país, conforme define a própria Secretaria Especial da Cultura do governo federal. Sendo uma lei de incentivo fiscal, não há repasses diretos de recursos do orçamento da Secretaria de Cultura – antes Ministério da Cultura e hoje rebaixada a uma secretaria ligada ao Ministério do Turismo – para os responsáveis pelos projetos. Cabe à Secretaria apenas autorizar a captação por parte dos idealizadores dos projetos junto às empresas.

Por meio da lei, empresas e pessoas físicas podem patrocinar espetáculos – exposições, shows, livros, museus, galerias e várias outras formas de expressão cultural – e abater do Imposto de Renda o valor total ou parcial do aporte destinado ao patrocínio.

Os projetos patrocinados necessitam oferecer uma contrapartida social, como a distribuição de parte dos ingressos gratuitamente, além de promover ações de formação e capacitação junto às comunidades.

Quem analisa as propostas de projetos é a Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC), formada por membros da sociedade civil e do poder público, com representantes de todas as regiões brasileiras e das principais áreas culturais e artísticas. Depois que colocados para análise, os projetos são avaliados pela CNIC, que emite parecer favorável ou contrário para a aprovação, que embasam a decisão final da Secretaria de Cultura.

Atualmente, a secretaria é alvo de ação civil pública movida pela Ordem dos Advogados do Brasil, que aponta estar ocorrendo uma “operação tartaruga” na aprovação de projetos submetidos à Lei Rouanet. A ação foi protocolada no dia 11 de maio à 1ª Vara Federal Cível da Justiça Federal do Distrito Federal.

O documento questiona, entre outras coisas, a meta estabelecida pela secretaria, para 2021, de análise mensal de 120 propostas na Lei Rouanet, acusando-a de ser uma “operação tartaruga” no setor, apontando redução de um terço do número de projetos aprovados em relação a 2020.

Por que investigamos?

Em sua 4ª fase, o Comprova checa conteúdos possivelmente falsos ou enganosos sobre a pandemia ou políticas públicas do governo federal que tenham alcançado alto grau de viralização, como o caso do post verificado.

A publicação do blog Por Dentro da Política somou, no grupo Conservadores, do Facebook, 3.844 interações até o dia 1º de junho, sendo 2,2 mil reações, 1 mil comentários e 644 compartilhamentos. Na página do Jornal da Cidade Online na mesma plataforma a publicação teve 4.236 interações, sendo 2,3 mil reações, 936 comentários e 1 mil compartilhamentos.

A Lei Rouanet há anos é alvo de conteúdos falsos ou enganosos nas redes sociais, e já foi assunto de verificações feitas pelo Comprova em 2019 e 2020.

Ao longo de 2020, a Lei Aldir Blanc, que dispõe sobre ações emergenciais destinadas ao setor cultural durante a pandemia de coronavírus, passou a ser vítima de postagens semelhantes.

As informações falsas ou enganosas em torno das leis de incentivo à cultura confundem o cidadão acerca do real objetivo delas e também sobre a origem e aplicação de recursos públicos.

Enganoso, para o Comprova, é conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Política

Investigado por: 2021-05-13

Post usa notícia de 2019 para parabenizar Bolsonaro por acordo Mercosul-UE, mas negociações estão paradas

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É enganosa uma publicação no Facebook do dia 9 de maio de 2021, em um grupo de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, que utiliza manchete de uma edição impressa do Correio Braziliense para parabenizar Bolsonaro pelo acordo Mercosul-UE. A manchete utilizada no post é de 29 de junho de 2019, quando o acordo foi anunciado durante a cúpula do G20, mas as negociações para que o acordo entre em vigor estão estagnadas.
  • Conteúdo verificado: Publicação de 9 de maio de 2021 no Facebook com foto da manchete “Maior acordo da história pode render US$ 100 bi ao Brasil”, da edição de junho de 2019 do jornal Correio Braziliense. A reportagem fala sobre o acordo entre a União Europeia e Mercosul, e o autor da postagem parabeniza Jair Bolsonaro pelo novo bloco econômico em grupo de apoio ao presidente.

É enganosa uma publicação no Facebook feita no dia 9 de maio de 2021, em um grupo de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, que utiliza manchete de uma edição impressa do Correio Braziliense para parabenizar Bolsonaro pelo acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.

A manchete utilizada no post é de 29 de junho de 2019, quando o acordo foi anunciado durante a cúpula do G20, em Bruxelas, na Bélgica. Apesar de assinado, o tratado ainda não está em execução e as negociações para que o acordo entre em vigor se encontram estagnadas por entraves relacionados à política ambiental do governo Bolsonaro.

O acordo foi assinado em 2019, mas as negociações já aconteciam há 24 anos, com início em 1995. Segundo o Itamaraty, as principais discussões, divididas em três fases, ocorreram entre 2000 e 2019, para então consagrar o pacto entre os dois blocos econômicos em 2019, primeiro ano de mandato do presidente Jair Bolsonaro.

O Comprova entrou em contato com o autor do post em 13 de maio, via Facebook, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.

Como verificamos?

Inicialmente, o Comprova buscou a capa do jornal Correio Braziliense, cuja foto foi publicada na postagem, e a encontrou no site oficial do jornal, veiculada no dia 29 de junho de 2019. Em seguida, buscou notícias publicadas posteriormente sobre o acordo em questão.

Os dois blocos econômicos foram procurados, além do autor do post publicado em 2019, também responsável por compartilhá-la em 2021, mas este não respondeu à mensagem encaminhada via Facebook.

Por fim, foi ouvido o especialista Renato Flôres, professor do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV) para comentar o assunto.

Verificação

O Acordo

A manchete do jornal Correio Braziliense, “Maior acordo da história pode render US$ 100 bi ao Brasil”, cuja foto foi publicada na postagem, é verdadeira e foi veiculada em 29 de junho de 2019, dia seguinte ao anúncio do acordo.

A notícia detalha o acordo de diálogo político, cooperação e livre-comércio entre os países que compõem o Mercosul e a União Europeia (UE). Ele foi considerado, em junho de 2019, o maior acordo entre dois blocos econômicos da história, já que o Mercosul e a UE somavam um PIB de US$ 20 trilhões e representavam 25% da economia mundial na ocasião, além de terem um mercado de 780 milhões de pessoas, conforme reportagem publicada pela Agência Brasil e replicada no site oficial da Secretaria-Executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex) do Ministério da Economia.

Pelo acordo, estariam eliminadas as tarifas de importação para mais de 90% dos produtos comercializados entre os dois blocos. Para os produtos em que as tarifas não fossem eliminadas, elas seriam reduzidas. A eliminação de tarifas não seria imediata – o acordo estipulava que esse prazo levaria até 15 anos, dependendo do produto.

Antes do tratado, segundo o Itamaraty, apenas 24% das exportações brasileiras para a União Europeia estavam livres de tarifas. O bloco europeu era o segundo principal parceiro comercial do Mercosul. O bloco sul-americano, por outro lado, era apenas o 8º parceiro da UE, para quem o Brasil exportou, em 2018, mais de US$ 42 bilhões.

Um documento divulgado em julho de 2019 pelo Itamaraty expõe as principais regras do acordo e explica, por exemplo, que os países dos dois blocos têm garantido o direito de adotar medidas de defesa comercial previstas da Organização Mundial do Comércio (OMC), como antidumping (que impede a exportação a preços abaixo do valor de mercado), medidas compensatórias e salvaguarda global.

O acordo também prevê, segundo o documento do Itamaraty, o combate a práticas anticompetitivas, como a formação de cartéis.

As negociações já aconteciam há mais de 20 anos, sendo iniciadas em 1995, com a assinatura de um Acordo-Quadro de Cooperação Interregional entre o Mercosul e a UE, em Madri. Só em 1999, no entanto, é que se fixou o objetivo de iniciar as negociações para um acordo birregional entre os blocos. A decisão foi tomada na Cúpula Mercosul-UE no Rio de Janeiro.

A primeira fase das negociações aconteceu entre 2000 e 2004, mas a discussão ficou parada até 2010, quando foi retomado o diálogo. A segunda fase aconteceu entre 2010 e 2012. Uma terceira foi iniciada em 2016 até o anúncio, em junho de 2019, da conclusão da parte comercial do acordo. Esta linha do tempo está disponível no resumo do acordo divulgado pelo Itamaraty.

O anúncio de que o acordo havia sido firmado após mais de duas décadas de negociações ocorreu durante a cúpula do G20 em Bruxelas, na Bélgica, onde estiveram presentes o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (sem partido), e o então ministro das Relações Exteriores do país, Ernesto Araújo. O presidente comemorou o feito e o tratou como uma vitória da equipe liderada por Araújo, afirmando que o acordo traria “benefícios enormes” e admitindo, posteriormente, que o ex-presidente Michel Temer tinha participação na conclusão das negociações.

Qual a situação atual?

O fechamento do acordo quanto à parte comercial não significa que ele esteja em vigor. Isso porque, após o anúncio, é necessária a revisão técnica e jurídica do documento, além de tradução para os idiomas de todos os países envolvidos. Cada país precisa, individualmente, ratificar o acordo em seus parlamentos para que ele entre em vigor.

Na Europa, entretanto, há uma extensa discussão envolvendo descontentamento com a atual política ambiental brasileira. Em outubro do ano passado, o Parlamento Europeu aprovou texto afirmando que o acordo não poderia ser ratificado por este motivo, demonstrando a insatisfação de parte dos parlamentares com a forma como o documento está redigido.

No início de maio de 2021, a Folha publicou extensa reportagem avaliando a atual situação do acordo, destacando que a discussão está pausada e aguardando um anexo de compromissos ambientais adicionais que sequer começou a ser negociado.

A União Europeia discute, atualmente, legislação para reduzir o desmatamento global e um dos principais pontos é garantir que as cadeias de fornecimento dos países da UE não importem produtos provenientes de áreas desmatadas.

No dia 10 de maio de 2021, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, presidente temporário do Mercosul, se reuniu com o primeiro-ministro de Portugal, António Costa, e ambos falaram sobre o acordo comercial, segundo noticiado pela imprensa. Em declaração conjunta após a reunião, Fernández lembrou os entraves ambientais que necessitam ser superados para o andamento do acordo.

Três dias antes, em 7 de maio de 2021, no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro esteve com a ministra das Relações Exteriores da Espanha, Arancha González Laya. Após o encontro, ela declarou à imprensa que a Espanha é a favor da inclusão de um protocolo adicional no pacto que “contemple compromissos em matéria de desmatamento”.

O Comprova encaminhou e-mails às assessorias de comunicação do Mercosul e também do Parlamento Europeu. A primeira recomendou estabelecer contato com a Presidência Pro-tempore do Mercosul, mas não conseguimos contacto com a instituição. 

[ATUALIZAÇÃO: os próximos três parágrafos foram acrescidos à verificação em 18 de maio para incluir a resposta do Parlamento Europeu recebida após a publicação da reportagem]

O Parlamento Europeu respondeu em 18 de maio, após a publicação da verificação, informando que, atualmente, a Comissão está finalizando a revisão jurídica do acordo e afinando pormenores técnicos, em conjunto com o Mercosul. O passo seguinte, diz o posicionamento, será traduzir o documento para todas as línguas oficiais da União Europeia antes de ser apresentado ao Conselho e ao Parlamento Europeu para assinatura e conclusão.

A assessoria de comunicação afirma, ainda, que a Comissão Europeia, que negociou o acordo em nome da UE, está buscando um acordo paralelo com o Mercosul a ser anexado ao original para dissipar dúvidas com respeito à proteção do meio-ambiente e de direitos trabalhistas.

Esse acordo, uma vez alcançado, deverá ser aprovado pelo Conselho e, em seguida, o texto original e o anexo deverão ser aprovados pelo Parlamento Europeu. Ainda não se sabe se os parlamentos de cada país da UE também deverão votar o acordo. Não foram mencionados prazos no posicionamento. 

O responsável pela publicação no Facebook também foi procurado e não retornou.

Ratificação do acordo

Apesar de assinado pelos representantes dos países, o acordo ainda não está vigente. Isso porque é necessário que o Parlamento Europeu valide os termos da união dos dois blocos.

O especialista Renato Flôres, professor do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV), explicou ao Comprova que há dois obstáculos para a ação: a pandemia do coronavírus e a política ambiental do governo Jair Bolsonaro.

Segundo o professor, a pandemia é um grande dificultador para qualquer operação entre países, já que trouxe demandas mais urgentes para a fila de prioridades de qualquer governo.

Sobre a política ambiental, Flôres destaca que a discussão é fator que gera dúvidas na diplomacia internacional, e com o acordo entre a União Europeia e o Mercosul não é diferente. “Há muito ruído. A questão da Amazônia mal explicada, mal compreendida, há grupos de países que questionam isso. Essa é a dimensão que o assunto vem sendo discutido”, afirma.

Questionado sobre a previsão de ratificação do acordo, o especialista diz que é para daqui um ano, caso a pandemia já não seja mais uma ameaça para o mundo como hoje. O professor considera que será um importante passo para a recuperação econômica a longo prazo.

Por que investigamos?

Em sua 4ª fase, o Comprova checa conteúdos possivelmente falsos ou enganosos de redes sociais, sobre a pandemia ou o governo federal, e que tenham alcançado alto grau de viralização.

A postagem analisada foi publicada em um grupo de Facebook que reúne 223,5 mil membros, somando 752 comentários, 1,3 mil compartilhamentos e 3,8 mil reações na data da verificação, dia 13 de maio de 2021. Nos comentários, leitores apoiam o acordo como se ele tivesse sido assinado agora e celebram os US$ 100 bilhões mencionados na manchete como se fosse uma receita garantida pelo governo Bolsonaro.

Enganoso, para o Comprova, é conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

 

Política

Investigado por: 2021-05-06

É falso que governo Bolsonaro tenha feito o Nordeste colher trigo pela primeira vez

  • Falso
Falso
Dados mostram que a Bahia cultiva o grão desde a década de 1980. Postagens distorcem informações divulgadas pelo Ministério da Agricultura em setembro de 2020, sobre uma colheita de trigo no Ceará.
  • Conteúdo verificado: Uma imagem do presidente Jair Bolsonaro com a legenda “Nordeste colhe trigo pela primeira vez. A água vai chegando nas terras secas. E as coisas estão mudando… Adivinhem quem é o culpado?”

 

Não é verdade que o governo de Jair Bolsonaro tenha feito o Nordeste produzir trigo pela primeira vez, como sugerem postagens em circulação nas redes sociais. Dados mostram que agricultores da Bahia já investiam no cultivo do grão em meados da década de 1980. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) informa ainda que o plantio de trigo na Bahia está consolidado desde 2016, com uma área que varia entre 3 e 5 mil hectares por ano.

Esses conteúdos, na verdade, distorcem informações divulgadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em setembro de 2020. Na época, o governo federal anunciou a primeira colheita do trigo no Ceará — e não no Nordeste — com base em resultados obtidos por uma agroindústria no Estado, com apoio técnico da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

A introdução da cultura no Ceará ocorreu em 2019, quando foram realizados ensaios pela Embrapa em áreas experimentais montadas em parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) nos municípios de Limoeiro do Norte e Tianguá. O fato é mencionado no conteúdo do Mapa e foi confirmado ao Comprova pela instituição de pesquisa.

Apesar de a data do primeiro plantio no Ceará coincidir com o primeiro mandato de Bolsonaro, não é possível atribuir unicamente o feito ao seu governo, uma vez que as sementes utilizadas nessas áreas de teste foram desenvolvidas e lançadas em anos anteriores pela Embrapa. A instituição também fez ensaios inéditos em Alagoas nessa mesma época.

Procurado pela reportagem, o Ministério da Agricultura não respondeu se divulgou em algum momento que o Nordeste teria plantado trigo pela primeira vez, nem se as informações foram retiradas de contexto pelas postagens na internet. A pasta apenas encaminhou por e-mail o mesmo texto mencionado acima e disse que as informações deveriam ser consultadas com a Embrapa.

Como verificamos?

O Comprova fez essa verificação a partir de documentos oficiais e consulta a órgãos públicos, como a Embrapa Trigo e o Ministério da Agricultura, além de notícias publicadas pela imprensa.

A partir de buscas simples, a reportagem chegou ao texto publicado pelo Ministério, em setembro de 2020, sobre uma colheita de trigo no Ceará. O site da Embrapa também disponibiliza artigos sobre experimentos em Alagoas, assim como estimativas de produção de trigo na Bahia para os próximos anos.

O Comprova conversou com uma pesquisadora da Unidade de Execução de Pesquisa de Rio Largo, vinculada à Embrapa Tabuleiros Costeiros, Lizz Kezzy de Morais, responsável por pesquisas no estado alagoano, para entender o contexto dos experimentos, e pediu esclarecimentos para a Embrapa Trigo. A instituição forneceu o sumário executivo dos estudos em novas áreas do Nordeste e esclareceu sobre o plantio anterior do trigo na Bahia, entre outras informações.

O Comprova consultou ainda bases de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para checar o histórico da produção de trigo nos estados.

Verificação

Trigo no Nordeste

O plantio de trigo no Nordeste não é recente, de acordo com a Embrapa Trigo. “Na Bahia, o trigo é cultivado desde meados dos anos 1980, principalmente na região Oeste”, relatou a instituição de pesquisa, em nota enviada por e-mail ao Comprova.

Essa informação confere com os dados oficiais de safras no Brasil. A Pesquisa Agrícola Municipal do IBGE informa a produção do cereal na Bahia nos anos de 1986 e 1987. Depois, ela é retomada por um curto período, entre os anos de 2003 a 2005, com o plantio se consolidando a partir de 2015.

A série histórica da Conab aponta a existência de produção de trigo na Bahia primeiro em 1986, 1988, 1989 e 1990; depois entre os anos de 2003 e 2005; e finalmente com um investimento contínuo a partir de 2016. A área plantada variou entre 3 e 5 mil hectares nos últimos cinco anos.

 

Nenhuma dessas fontes aponta a existência de colheita fora da Bahia em toda a série histórica. Porém, de acordo com a Embrapa, já foram realizados plantios em nível experimental nos estados de Alagoas e Ceará. Essas lavouras representam uma novidade na medida que a produção comercial na Bahia ocorre em áreas do Cerrado, bioma que não é compartilhado por esses dois outros estados do Nordeste.

Segundo informações publicadas pela Embrapa em setembro do ano passado, o oeste baiano faz parte do Matopiba — região que integra o Cerrado do Maranhão, do Tocantins, do Piauí e da Bahia. O trigo é plantado principalmente em sistema irrigado, em rotação com a soja, o milho ou o algodão, enquanto o trigo em sequeiro é pontualmente testado por alguns produtores e apresenta maior risco por conta dos solos arenosos da região, com menor capacidade de retenção de água.

De acordo com a Embrapa, o trigo da Bahia é comercializado em moinhos da região, da mesma forma que o produto oriundo de estados do Centro-Oeste.

Experimentos no CE e AL

A Embrapa começou a fazer plantios experimentais de trigo em outras regiões do Nordeste, fora da Bahia, a partir de 2019, de acordo com sumário executivo da pesquisa encaminhado pelo órgão ao Comprova.

Esse material mostra que os testes estão inseridos em um projeto de tropicalização do trigo, que teve início na década de 1920 e foi intensificado a partir da década de 1980. A pesquisa se concentra em estudos técnicos de viabilidade da cultura e no desenvolvimento de variedades de sementes adaptadas para o Cerrado.

Ainda segundo o documento, a Embrapa instalou experimentos em Alagoas e no Ceará. O município de Anadia sediou os testes em Alagoas, em 2019 e 2020. As cultivares, nome dado aos diferentes tipos de sementes comercializadas junto aos agricultores, que mostraram melhor adaptação às condições ambientais da região foram a BRS 264 e a BRS 404.

Em conversa por telefone com o Comprova, a pesquisadora Lizz Kezzy de Morais mencionou ainda experimentos no município alagoano de Porto Calvo. Essa cidade também é citada em um artigo da Embrapa sobre o plantio no Estado em 2020, mas não foi incluída no sumário.

No Ceará, as pesquisas foram conduzidas primeiro em áreas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). As parcelas foram desenvolvidas nos campus localizados nas cidades de Limoeiro do Norte e Tianguá. Foram avaliadas três cultivares: BRS 254, BRS 264 e BR 18. Os melhores rendimentos foram obtidos na região serrana.

O sumário executivo mostra ainda que, em 2020, a Embrapa acompanhou outro experimento no município de Tianguá, em uma área de cinco hectares, implantada pela empresa Santa Lúcia Alimentos. Após a colheita, em setembro de 2020, o Ministério da Agricultura soltou uma nota sobre o evento, com o título “Ceará planta trigo pela primeira vez e colheita surpreende”. O texto menciona os testes anteriores como pequenos ensaios exploratórios.

Esse é o texto que serve de base para as peças publicadas por sites como Terra Brasil Notícias, Surgiu, Página 1 PB e Fala Meu Ilustre, agora com a falsa indicação de que esta seria a primeira colheita de trigo no Nordeste. É possível notar que são reproduzidos os mesmos números publicados pelo Mapa e até uma declaração na íntegra da ministra Tereza Cristina. Os sites alteraram o título para “Governo Bolsonaro faz com que Nordeste produza trigo pela 1ª vez e colheita é surpreendente”.

Ação de longo prazo

Mesmo que o experimento no Ceará fosse realmente a primeira colheita de trigo no Nordeste, ignorando o histórico de cultivo na Bahia, não é correto atribuir esse fato unicamente ao governo Bolsonaro. A introdução do cultivo nessas novas regiões só foi possível graças a anos de desenvolvimento e pesquisa da Embrapa para a tropicalização da cultura.

Todas as variedades de sementes citadas pela Embrapa e pelo Ministério da Agricultura em seus materiais de divulgação sobre os plantios de Anadia, Porto Calvo, Limoeiro do Norte e Tianguá estão no mercado, no mínimo, há seis anos. A instituição informa as seguintes datas de lançamento dos produtos: BRS 264 e BRS 254 (2005), BRS 404 (2014), BRS 394 (2015) e BR 18 (1986).

O Comprova questionou a Embrapa acerca de que projeto especificamente fazem parte as pesquisas em Alagoas e no Ceará. A instituição respondeu que “as pesquisas são custeadas por projetos da Embrapa que trabalham o desenvolvimento do trigo em todo o Brasil” e encaminhou uma página em que estão listados todos os projetos da empresa.

Um dos materiais publicados pela instituição aponta que os experimentos em Anadia e Porto Calvo integraram o projeto “Melhoramento genético de trigo para o Brasil 2017-2021”. A reportagem encontrou outro projeto com o nome praticamente idêntico, “Melhoramento genético de trigo para o Brasil 2012-2016”, relativo aos cinco anos anteriores.

O Comprova perguntou novamente para a Embrapa se esse seria o principal projeto relacionado aos testes nas novas áreas do Nordeste fora da Bahia. A instituição respondeu que as pesquisas de melhoramento genético de trigo são contínuas, renovadas periodicamente, e que não existe um projeto específico para a região do Nordeste: “Tudo é trigo tropical para nós”.

A Embrapa afirmou ainda que está buscando parceiros para ampliar os cultivos experimentais em novas áreas nos estados de Pernambuco, Maranhão e Piauí e que não recomenda o investimento dos agricultores enquanto as análises de viabilidade do grão não forem concluídas e as localidades não estiverem contempladas no zoneamento agrícola de risco climático do trigo.

Por que investigamos?

O Comprova investiga informações suspeitas com grande alcance na internet, caso do conteúdo analisado nesta checagem. As postagens circulam em diferentes formatos nas redes e foram replicadas por quatro blogs diferentes, acumulando mais de 18,4 mil interações no Facebook e no Twitter, desde o final de abril.

O conteúdo foi considerado suspeito porque atribuía, sem apresentar fontes confiáveis, uma realização inédita a uma personalidade política — uma tática comum de desinformação que foi observada em uma série de conteúdos enganosos verificados pelo Comprova anteriormente.

A iniciativa já desmentiu boatos sobre uma ciclovia de Boa Vista, em Roraima; sobre uma ponte de concreto em Porto dos Gaúchos, no Mato Grosso do Sul; sobre pavimentações de quatro estradas no Mato Grosso; e sobre a construção de um viaduto em Foz do Iguaçu, no Paraná, entre outros conteúdos virais. 

Falso, para o Comprova, é qualquer conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Política

Investigado por: 2021-03-02

É enganoso que ponte de concreto no MT seja obra do governo Bolsonaro

  • Enganoso
Enganoso
Obra na MT- 220 sobre o Rio Arinos, em Porto dos Gaúchos, é atribuída em vídeo ao governo Bolsonaro, mas na verdade é de responsabilidade do governo de Mato Grosso.
  • Conteúdo verificado: vídeo publicado no TikTok atribui a execução da ponte de concreto do rio Arinos em Porto dos Gaúchos (MT) ao governo Bolsonaro.

É enganoso um vídeo publicado no TikTok que atribui ao governo Jair Bolsonaro (sem partido) a construção de uma ponte de concreto sobre o rio Arinos, em Porto dos Gaúchos, no Mato Grosso. A obra, iniciada em maio de 2020, é, na realidade, de responsabilidade do governo estadual e os recursos de R$ 18 milhões saíram do Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab) e do Fundo Estadual de Saúde. Os dois fundos contam com recursos da União, mas, de acordo com o próprio Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), a obra é de responsabilidade do estado.

O Fethab foi criado pela Lei Estadual 7.263 em 2010. Segundo o site da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística, os recursos financeiros do fundo são provenientes de commodities de algodão, madeira, soja, gado e óleo diesel e impostos. No Portal da Transparência do governo federal, há o repasse da União ao Fethab. Por exemplo, nos meses de novembro e dezembro de 2020, o órgão recebeu mais de R$ 300 mil para pagar taxas e pedágios no transporte de milho.

No vídeo verificado, um homem transita por uma ponte de madeira sobre o rio Arinos, paralela às obras da ponte de concreto, e recomenda “aos petistas” para “limparem a boca” antes de criticarem o atual governo federal. Apontando para a construção da ponte de concreto, o homem diz que graças “ao nosso governo Bolsonaro” vai sair a ponte, que não foi feita “em 16 anos de PT”.

Como verificamos?

Primeiramente, buscamos a localização exata da ponte de acordo com que é falado no vídeo: ponte rio Arinos em Porto dos Gaúchos, município a 650 quilômetros de Cuiabá, no estado do Mato Grosso. O local não possui dados do Google Street View, mas conseguimos fazer um vídeo pelo Google Earth. As imagens, de outubro de 2020, mostram uma ponte de madeira e do lado a construção de uma nova ponte, de concreto.

Entramos em contato com a prefeitura de Porto dos Gaúchos, com o governo do Mato Grosso e com o governo federal para esclarecer as possíveis responsabilidades de cada esfera. Buscamos notícias sobre o andamento das obras e fotos do lugar. Entramos em contato com o deputado federal Neri Geller (PP) e a deputada estadual Janaina Riva (MDB), citados em uma notícia sobre a obra publicada no site da prefeitura de Porto dos Gaúchos.

Também procuramos o autor do vídeo, que se apresenta como Rudimar Martins da Silva, mas até o momento da publicação desta verificação ele não havia retornado. Em sua conta no TikTok, ele tem diversos vídeos em apoio ao presidente Jair Bolsonaro.

Verificação

Sobre a ponte do rio Arinos em Porto dos Gaúchos

O Rio Arinos corta o estado de Mato Grosso, tem extensão de 760 km e se une, ainda no território do estado, ao rio Juruena. O lugar onde ele é mais conhecido é chamado de Vale do Rio Arinos e envolve as cidades de Juara, Juina, Novo Horizonte do Norte e Porto dos Gaúchos.

A ponte sobre o rio em Porto dos Gaúchos é parte da MT-220, uma rodovia estadual e, portanto, de responsabilidade do governo estadual.

A necessidade de trocar a ponte de madeira por uma ponte de concreto é apontada há anos no noticiário local. Uma notícia de 2013 mostra a inauguração da reforma da ponte de madeira. Na ocasião, o ex-prefeito de Porto dos Gaúchos Baixinho Piovesan (PSB) afirmou que a licitação da ponte de concreto estava concluída e que a previsão era ser construída no ano seguinte. No entanto, outras reformas da ponte de madeira foram realizadas antes da construção da nova, em 2017 e 2018. Um vídeo de março de 2020 no Facebook da página “O Mato Grosso é nosso” mostra a travessia da ponte de madeira já bem danificada.

Em agosto de 2013, o governo do Mato Grosso realizou uma licitação por concorrência pública com o objetivo de construir diversas pontes de concreto no estado.

A empresa que ganhou a licitação foi a Arteleste Construções LTDA. No dia 5 de março de 2014, o Diário Oficial do Mato Grosso publicou o contrato com a construtora. Em contato com a empresa Arteleste Construções eles confirmaram serem responsáveis pela obra.

Em contato com o Comprova, a assessoria de imprensa do governo do Mato Grosso confirmou que a obra é de responsabilidade estadual e afirmou que os recursos utilizados na obra são do Fethab, o Fundo Estadual de Transporte e Habitação. Segundo a assessoria, 68% da obra está sendo realizada e o prazo máximo para ela ser finalizada é abril de 2022.

Reforçando a informação de que a obra não é do governo federal, como garante o vídeo verificado, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) afirmou, em email enviado ao Comprova, que a obra é de responsabilidade do governo do Mato Grosso e que não há participação do governo federal.

A posição da Prefeitura

Até a publicação desta verificação, o Comprova não havia recebido retorno da prefeitura de Porto dos Gaúchos. No site da administração municipal, encontramos uma nota publicada em maio de 2020, na qual o governo municipal agradece ao governo estadual pela construção da ponte de madeira.

São mencionados na nota da prefeitura, também, os apoios do deputado federal Neri Geller e da deputada estadual Janaína Riva. Neri Geller (PP) é produtor rural, empresário e deputado federal no terceiro mandato pelo Mato Grosso. Foi ministro da Agricultura de março a dezembro de 2014, durante o primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Em um vídeo no Facebook, em maio de 2020, Geller menciona um repasse de R$ 10 milhões para a construção da ponte por emenda parlamentar.

Em contato por telefone com o Comprova, o deputado explicou que seu apoio na verdade teria sido uma articulação com o governo do Mato Grosso. Ele argumentou que destinou parte do valor de uma emenda de bancada feita ao orçamento da União para a saúde do Estado e, como contrapartida, o governo mato-grossense usaria recursos estaduais de infraestrutura para executar a obra da ponte. O valor total da emenda seria de cerca de R$ 60 milhões, segundo o parlamentar, mas a parte indicada por ele nessa articulação seria de R$ 10 milhões — o valor que ele cita no vídeo.

O Portal da Transparência apresenta uma emenda de bancada dos deputados federais do Mato Grosso no valor de R$ 61 milhões destinada a serviços de assistência hospitalar e ambulatorial na área da saúde, em 2020. O valor consta como pago ao Fundo Estadual de Saúde em 23 de junho de 2020.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o projeto Comprova verifica conteúdos duvidosos que viralizaram na internet relacionados a políticas do governo federal e à pandemia de covid-19.

Postado no TikTok, com mais de 26 mil visualizações, o vídeo em questão, que aborda a obra e melhorias como responsabilidade do governo Bolsonaro quando, na verdade, é de cunho estadual, já passou de 4,2 mil interações, contando com mais de 740 compartilhamentos e comentários de parabenização ao presidente pelo encaminhamento da obra.

Enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Política

Investigado por: 2021-02-26

É falso que ‘novo presidente’ da Petrobras tenha demitido 300 funcionários da companhia

  • Falso
Falso
O general Joaquim Silva e Luna ainda não assumiu o comando da petroleira, uma vez que sua indicação deve passar pela análise de órgãos internos da empresa. Ele não teria como, portanto, ter demitido ninguém.
  • Vídeo no Facebook com a tarja “Faxina na Petrobras” faz várias afirmações sobre a empresa e diz que o “novo presidente” já teria demitido 300 funcionários.

É falso que o general Joaquim Silva e Luna, novo indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para o comando da Petrobras, tenha demitido mais de 300 funcionários do prédio central da companhia, como sugere vídeo viral no Facebook. O conteúdo mistura trechos de uma reportagem veiculada no Jornal Nacional e um áudio inverídico que circula no WhatsApp.

A matéria original não menciona demissões de funcionários da Petrobras e destaca que o nome de Silva e Luna ainda precisa ser “referendado” pelo conselho administrativo da estatal. O general ainda não assumiu o comando da petroleira, uma vez que sua indicação deve passar pela análise de órgãos internos da empresa. Ele não teria como, portanto, ter demitido ninguém. 

O vídeo verificado também apresenta um boato infundado de que 3,2 mil funcionários ligados ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (2003-2005), do PT, teriam criado empresas paralelas para revender o combustível da Petrobras a preços elevados no Brasil. Não há registros públicos ou notícias na imprensa profissional que sustentem essa alegação.

Em nota ao Comprova, a Petrobras negou que as afirmações contidas no post sejam verdadeiras. A empresa ainda desmentiu mensagens semelhantes segundo as quais o general Silva e Luna desocupou um andar inteiro do edifício da Petrobras e empregou a inteligência do Exército e a Polícia Federal na companhia. A PF disse em nota que a corporação não havia sido informada sobre esse tipo de operação. 

Além disso, o post confunde a localidade do edifício-sede da Petrobras, que fica no Rio de Janeiro, e não em Brasília. 

Como verificamos?

O Comprova entrou em contato por e-mail e telefone com a assessoria de imprensa da Petrobras, que nos informou que as alegações do vídeo eram falsas. A reportagem também conversou com a assessoria da Polícia Federal para esclarecer se de fato a corporação foi acionada para ocupar um andar do prédio da estatal. 

Buscamos por notas oficiais da Petrobras para entender o patamar do processo de indicação do general Silva e Luna ao comando da companhia. No site da empresa também acessamos conteúdos com explicações sobre a composição do preço dos combustíveis e acerca da possibilidade da prática de valores mais baixos em outros países.

A fim de confirmar a localização do edifício sede da Petrobras, o Comprova buscou pelo estabelecimento na ferramenta Google Maps e verificou que a central da empresa está no Rio de Janeiro. Também buscamos por notícias ou artigos que pudessem sustentar a acusação sobre o uso de empresas estrangeiras por funcionários da Petrobras, mas não encontramos qualquer registro que comprovasse o boato.

Verificação

O vídeo mostra inicialmente um trecho de uma reportagem ao vivo do Jornal Nacional. O repórter lê uma nota à imprensa do Ministério das Minas e Energia sobre a indicação do general Joaquim Silva e Luna ao comando da Petrobras, reproduzida pelo presidente Jair Bolsonaro em suas redes sociais.

Na sequência, o clipe emenda um trecho em que o repórter descreve o currículo do militar, mas suprime uma parte anterior com a informação de que o nome de Silva e Luna ainda seria analisado por um conselho da empresa. Então entra a voz do autor do áudio falso que diz ter recebido informações de que “o negócio está fervendo em Brasília com o negócio da Petrobras”.

“Botaram o presidente novo, um general. Disse que até 11 horas da manhã, ele tinha demitido, do prédio central da Petrobras, 300 fucionários”, afirma a gravação. Indicado na sexta-feira, 18, porém, o general Joaquim Silva e Luna ainda não assumiu a presidência da companhia. 

Nesta terça-feira, 23, o Conselho de Administração da Petrobras autorizou a convocação de uma assembleia para substituir o atual diretor da empresa, Roberto Castello Branco. Em nota, a Petrobras afirma que a indicação de Silva e Luna ainda “será submetida ao processo de análise de gestão e integridade da companhia” e ao Comitê de Pessoas da empresa. O artigo lembra ainda que o mandato do conselho hoje presidido por Castello Branco perdura até o dia 20 de março de 2021. 

Não há evidências sobre ‘maracutaia’ de funcionários

O autor afirma que Bolsonaro teria descoberto uma rede de 3,2 mil funcionários “ligados” a José Dirceu responsáveis por uma “maracutaia” para aumentar o preço da gasolina. Segundo o boato enganoso, esses funcionários usam empresas estrangeiras para comprar o petróleo brasileiro no exterior e revender mais caro no Brasil. 

A assessoria da Petrobras disse ao Comprova que as “as informações das mensagens não procedem, não possuem qualquer fundamento”. Também não havia registros na imprensa ou em canais oficiais sobre esse suposto esquema até o fechamento desta reportagem. Os recentes reajustes no preço dos combustíveis se devem ao alinhamento da política de preços da empresa ao mercado internacional. 

Desde dezembro, o barril de petróleo acumula alta de 35%. De acordo com a estatal, esse alinhamento é “fundamental para garantir que o mercado brasileiro siga sendo suprido sem riscos de desabastecimento pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às diversas regiões brasileiras: distribuidores, importadores e outros refinadores, além da Petrobras.”.

A companhia ressalta ainda que a cotação do combustível vendido às refinarias representa apenas uma parcela do preço cobrado nas bombas de abastecimento. Como mostra figura publicada no site da empresa, a política da Petrobras incide em cerca de 34% do preço que chega ao consumidor. O restante reflete impostos federais e estaduais, assim como custos de distribuição e revenda. 

Combustível é mais barato no Paraguai?

A gravação alega ainda que o novo presidente da Petrobras teria revisado as notas fiscais de todos os produtos exportados para o Paraguai, Argentina e Uruguai. A mensagem exagera ao insinuar que a gasolina chegaria aos consumidores desses países pelo preço de R$ 1,62.

Uma reportagem do Estado de Minas, publicada em 2017, mostra que o litro do combustível chegou a ser comercializado no Paraguai por R$ 2,62. O site da filial paraguaia da Petrobras, porém, mostra que o preço recomendado da gasolina da empresa atualmente varia de 4700 a 7950 guaranis, o equivalente a R$ 3,87 e R$ 6,54 em conversão direta. Em 2019, a Petrobras licenciou o uso da sua marca pela empresa Nextar.

Apesar do tom alarmista do vídeo, a própria Petrobras explica que o valor do combustível da empresa praticado no Brasil pode ser maior do que em outros países. “O preço cobrado no Brasil pela gasolina que sai da refinaria equipara-se aos preços de outros países que possuem mercados de derivados abertos e competitivos. No entanto, há uma grande variação na lógica de formação de preços de bomba em cada país”, justifica.

De acordo com a companhia, além de diferenças nos preços de produtores, distribuidores e revendedores, o ambiente regulatório de cada nação, como impostos e subsídios, também impactam no preço dos produtos. 

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre Covid-19 e políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização.

O vídeo verificado foi publicado em 23 de fevereiro de 2020 por um perfil no Facebook e, até a publicação da reportagem, acumulava 99 mil compartilhamentos e 72 mil reações na plataforma. O conteúdo circula também nos formatos de imagem, texto e áudios nas redes sociais e, segundo verificações de outros veículos, é amplamente difundido no Whatsapp. 

A Agência Lupa, o Aos Fatos e o site Boatos.org também desmentiram os boatos. 

O Comprova já fez verificações anteriores que miravam a Petrobras. Em 2019, desmentimos que um leilão entregaria metade do petróleo brasileiro a estrangeiros e mostramos que contratos do presidente da OAB com a empresa eram regulares.

Falso, para o Comprova, é conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

 

Esta verificação contou com apoio do programa de estágio em jornalismo firmado entre o Comprova e a FAAP.

Política

Investigado por: 2021-02-25

Vídeo atribui a Bolsonaro obras em estradas no MT feitas também por outros governos

  • Enganoso
Enganoso
Vídeo atribuiu exclusivamente ao governo Bolsonaro atos que também são da gestão estadual. E credita ao governo federal obras de pavimentação realizadas em governos anteriores.
  • Conteúdo verificado: Vídeo publicado no Facebook que atribui a pavimentação de uma estrada que liga cinco municípios no Mato Grosso ao governo do presidente Bolsonaro.

Em vídeo publicado no Facebook, um caminhoneiro diz que está numa estrada asfaltada que liga Comodoro, no Mato Grosso, a outros quatro municípios do estado e que isso seria obra do governo Bolsonaro. Ele diz também que os caminhoneiros precisam propagar, porque “a mídia não vai divulgar o que o presidente está fazendo”. O vídeo, que já foi compartilhado 56 mil vezes desde sua publicação em 29 de agosto de 2020 no perfil de uma pastora da Assembleia de Deus que mora no Pará, é enganoso.

O trajeto mencionado pelo narrador tem cerca de 582 km e usa três rodovias, somente uma delas federal, a BR-364. E, embora alguns trechos tenham recebido obras de restauração durante o governo Bolsonaro, a pavimentação já havia sido feita bem antes do atual presidente ser empossado.

Procurado pelo Comprova, o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT) informou que, em 2020, foram restaurados 78,8 quilômetros da BR-364/MT, com investimento de R$ 37 milhões, mas não precisou quando os trechos mencionados no vídeo foram pavimentados. O órgão argumentou que, como uma rodovia nunca é entregue ao tráfego de uma só vez, não tem o histórico. “Os trechos são pavimentados ao longo de muitos anos. Esta rodovia, especificamente, tem 4.141,5 km de extensão, com início em Limeira (SP) e final na fronteira com o Peru”, descreveu o órgão, na nota.

O Comprova encontrou registros da pavimentação nos trechos mencionados no vídeo. O Diário de Cuiabá já mencionava obras de pavimentação da BR-364 na região em 2001. Outra notícia, publicada em 2006 no site do governo de Mato Grosso, relata a inauguração de três trechos da estrada, entre Comodoro e Diamantino, da qual participaram o então presidente Lula e o governador do MT à época, Blairo Maggi.

As rodovias MT-170 e MT-235, que estão no trajeto entre Comodoro e Juína, são estaduais. O governo do Mato Grosso afirmou que realizou obras de restauração de 75,5 quilômetros entre o entroncamento da MT-249 até o município de Campo Novo do Parecis.

O Comprova entrou em contato com a pastora Agricola Neta de Aquino Carrera, autora da primeira postagem do vídeo no Facebook. Ela reside na cidade paraense de Ananindeua, localizada ao norte de Belém. Em entrevista por WhatsApp, ela contou que recebeu o vídeo de um caminhoneiro que conheceu em um grupo de Facebook e que ele seria o autor. Agricola, no entanto, diz não lembrar do nome, que já teria apagado o registro e a gravação de seu celular e que não tem certeza da veracidade do conteúdo, pois apenas compartilhou o vídeo.

Como verificamos?

Entramos em contato com as prefeituras das cidades citadas, com o governo do estado do Mato Grosso e com o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT).

Analisamos as imagens para verificar se as placas poderiam auxiliar  na identificação dos trechos mostrados da gravação, com ajuda do Google Maps e outras ferramentas.

Utilizamos o Google Maps para ver se os trechos citados no vídeo conferiam com o posicionamento do governo de Mato Grosso.

Com os locais informados e identificando alguns elementos no vídeo que pudessem auxiliar na localização em que a gravação foi realizada, como a ponte com placas pela qual o motorista passa, próximo a um campo aberto, chegou-se a um possível local no Google Maps e confirmando que o vídeo foi gravado na BR-364.

Captura de um trecho do vídeo 

Captura do Google Maps da ponte sobre o Rio Juína, na BR-364

Captura de um trecho do vídeo, após o motorista passar pela ponte

Captura do Google Maps do trecho logo após a ponte sobre o Rio Juína, na BR-364

Verificação

O vídeo verificado mostra um homem dirigindo e exibindo uma estrada à sua frente. Ele afirma que a rodovia é obra da administração de Jair Bolsonaro e faz agradecimentos à gestão, citando também o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. O homem menciona ainda que a estrada garante acesso do município de Comodoro até Campos de Júlio, Sapezal, Campo Novo e Juína, todos no estado do Mato Grosso. Na legenda, o post critica a imprensa por não mostrar a obra, e reforça que Bolsonaro está garantindo auxílio e fortalecendo o agronegócio.

As estradas

Para ir de Comodoro a Juína, passando por Campos de Júlio, Sapezal e Campo Novo, municípios citados no vídeo, é necessário utilizar três rodovias, uma delas federal e as outras duas, estaduais.

O trajeto entre Comodoro e Campos de Júlio é feito pela BR-364 e tem 74 km.

Para ir de Campos de Júlio a Sapezal são 57 km, também pela BR-364.

De Sapezal a Campo Novo do Parecis são 108 km feitos pela MT-235.

De Campo Novo a Juína são 344 km e para fazer esse trajeto, o motorista deve transitar por 242 km da MT-170 e outros 103 km da BR-364.

O que dizem os governos

Em contato com os governos estadual e federal, o Comprova confirmou que houve obra de recuperação em 2020 em trechos citados no vídeo, mas as intervenções não foram feitas exclusivamente pela administração de Bolsonaro.

O DNIT informou, em nota, que o trecho da BR-364 tem um serviço de manutenção contratado por licitação, que realiza as obras à medida que surgem demandas para garantir condições de trafegabilidade e segurança. E que, quando o contrato está próximo de ser encerrado, é realizado outro processo de licitação para sempre ter uma empresa responsável pelos trechos das rodovias sob sua administração. A rodovia federal é uma das estradas que liga as cidades de Comodoro, Campos de Júlio, Sapezal, Campo Novo e Juína, citadas no vídeo. Em 2020, foram realizadas obras de restauração de 78,8 km da BR-364/MT, com investimentos de R$ 37 milhões.

Questionado sobre a pavimentação da estrada, o DNIT informou que, como uma rodovia nunca é entregue ao tráfego de uma só vez, não tem o histórico. “Os trechos são pavimentados ao longo de muitos anos. Esta rodovia, especificamente, tem 4.141,5 km de extensão, com início em Limeira [SP] e final na fronteira com o Peru”, descreveu o órgão, na nota.

Já entre Sapezal e Campo Novo do Parecis a rodovia é a MT-235, sob responsabilidade do governo de Mato Grosso. A administração estadual afirmou em nota, que nessa rodovia foi realizada a restauração de 75,5 km do entroncamento da MT-249 até o município de Campo Novo do Parecis. Os serviços foram entregues em maio de 2020, com investimento de  R$ 4,34 milhões. A MT-235 foi pavimentada em 2009, na gestão do então governador Blairo Maggi (2003-2010).

Quem é a autora da publicação

Agricola Neta de Aquino Carrera tem 47 anos, é pastora da Assembleia de Deus no Pará e foi candidata a vereadora em 2020 pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB),  do vice-presidente Hamilton Mourão, na cidade de Ananindeua, no Pará.

Em entrevista por WhatsApp, ela contou ao Comprova que um caminhoneiro em um grupo de Facebook do Mato Grosso do Sul pediu apoio para compartilhar o vídeo. A pastora garante que foi o próprio autor quem enviou o vídeo para o seu celular. Mas ela não lembra o nome do homem e apagou os registros do aparelho.

Perguntada se poderia confirmar a veracidade do conteúdo que publicou, ela disse não ter certeza, pois apenas compartilhou o vídeo.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre Covid-19 e políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização.

O vídeo verificado pelo Comprova foi publicado em agosto de 2020 por um perfil pessoal no Facebook. Desde então foi compartilhado 56 mil vezes. Recentemente foi compartilhado pelo grupo de Facebook Fechados com Bolsonaro 2022 e nele alcançou 5,8 mil curtidas e 3,2 compartilhamentos na rede social.

O Comprova já fez verificações anteriores a respeito de publicações sobre obras e outros possíveis feitos por parte do governo federal, como sobre uma obra na rodovia Transamazônica durante o governo Bolsonaro, imagens antigas com obras atribuídas ao presidente e fotos fazendo uma comparação da situação da rodovia BR-163 nos governos petistas e no atual.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Política

Investigado por: 2021-02-23

Foto de ciclovia construída em 2016 circula fora de contexto para promover Tarcísio Gomes de Freitas

  • Falso
Falso
Montagem publicada no Twitter compara imagens de duas ciclovias. A imagem de uma ciclovia danificada, atribuída ao ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad é verdadeira e é de 2015. A segunda é de 2016 e sua construção foi falsamente atribuída ao ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, Tarcísio Gomes de Freitas.
  • Conteúdo verificado: Tuíte compara a gestão Tarcísio Freitas à frente do Ministério da Infraestrutura, no governo Bolsonaro, com a gestão Haddad na prefeitura de São Paulo, por meio de duas imagens de ciclovias supostamente construídas por cada um.

É falsa a informação compartilhada no Twitter que atribui ao atual ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, a execução de uma ciclovia em Boa Vista, capital de Roraima. O post utiliza duas fotografias de ciclovias diferentes: a primeira, tomando os dois lados do canteiro central de uma grande avenida, fica em Boa Vista. Já a segunda, entre um canal e uma avenida, fica em São Paulo.

O autor do tuíte diz que a primeira é a “magnífica ciclovia” do ministro Tarcísio. Sobre a segunda imagem, diz que é a ciclovia do “Poste”, se referindo ao ex-prefeito de São Paulo e ex-candidato à Presidência da República Fernando Haddad (PT), e acrescenta que comparar as duas é uma “humilhação”. A segunda imagem é, de fato, de uma ciclovia de São Paulo durante a gestão de Fernando Haddad, mas a primeira ciclovia não tem qualquer relação com o ministro Tarcísio Gomes de Freitas, nem foi inaugurada por ele.

A ciclovia de Boa Vista foi inaugurada em 1º de abril de 2016 pela Prefeitura Municipal da cidade em um convênio firmado com a Caixa Econômica Federal por intermédio do Ministério das Cidades. Na época – tanto da assinatura do contrato, em 2015, quanto da inauguração da obra, em 2016 -, o ministro das Cidades era Gilberto Kassab, do governo Dilma Rousseff (PT).

Já Tarcísio Gomes de Freitas foi nomeado ministro da Infraestrutura em dezembro de 2018 pelo presidente Jair Bolsonaro. De setembro de 2011 até janeiro de 2015, ele era diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), então vinculado ao Ministério dos Transportes.

Como verificamos?

Utilizamos o mecanismo de busca reversa do Google para achar a origem das duas fotos. Uma delas de fato mostra uma ciclovia em São Paulo, e foi publicada inicialmente pelo jornal Folha de S. Paulo, em 7 de julho de 2015. Segundo a legenda da imagem, que é de Luiz Carlos Marauskas, o trecho é na Avenida do Estado, próximo ao shopping Central Plaza, no bairro Bom Retiro.

A outra foto que está no tuíte foi publicada inicialmente pela comunicação social da Prefeitura de Boa Vista, na conta da gestão no Flickr, na inauguração do trecho da ciclovia, no dia 1º de abril de 2016.

Antes de localizar a foto original, ampliamos a imagem do post e conseguimos identificar uma placa no canteiro central, entre os dois ciclistas, com o nome de Boa Vista. Também ampliando a imagem, identificamos uma placa vertical vermelha do Roraima Garden Shopping.

Então, buscamos seu endereço no Google Maps e pudemos confirmar que a ciclovia citada pela prefeitura é a mesma utilizada no tuíte viral.

Em seguida, buscamos informações sobre a ciclovia na Avenida Ville Roy e encontramos uma publicação da prefeitura da cidade com uma fotografia do mesmo local, mas de um ângulo diferente. Em seguida, procuramos por fotos de ciclovias no Flickr oficial da prefeitura de Boa Vista e localizamos a mesma imagem utilizada no tuíte. As informações da foto mostram que ela foi feita no dia 1º de abril de 2016.

Entramos em contato com a prefeitura por e-mail, para confirmar a data da foto e saber se o Ministério da Infraestrutura, chefiado por Tarcísio Gomes de Freitas, teria alguma relação com a construção da ciclovia – fato negado pela prefeitura.

Também entramos em contato com o perfil MITO2022, que publicou o tuíte, mas não obtivemos resposta até a publicação desta checagem.

Verificação

A Ciclovia de Boa Vista

A ciclovia que é creditada no tuíte ao ministro Tarcísio Gomes de Freitas fica na Avenida Ville Roy, em Boa Vista, Roraima.

A Secretaria Municipal de Comunicação explicou ao Comprova que a obra foi finalizada e inaugurada em abril de 2016, e que ela fez parte do projeto de Mobilidade Urbana de Boa Vista. Além do trecho em questão, a iniciativa – custeada por meio de um convênio com a Caixa Econômica Federal, intermediado pelo então Ministério das Cidades – incluiu a construção de 40 quilômetros de ciclovias na capital roraimense.

O município, na época, era governado pela prefeita Teresa Surita (PMDB), enquanto o ministro das Cidades era, até meados de abril de 2016, Gilberto Kassab, escolhido pela então presidente Dilma Rousseff.

Ministro Tarcísio Gomes de Freitas

Uma busca com a palavra-chave “ciclovia” na conta oficial do Twitter do ministro Tarcísio Gomes de Freitas mostrou que no mesmo dia da postagem viral, 11 de fevereiro, ele compartilhou um vídeo divulgando a “restauração da travessia urbana de Itaperuna”, no Rio de Janeiro. Esta obra foi feita pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT, vinculado ao Ministério da Infraestrutura) e conta com uma ciclovia de 2,4 km. Tarcísio compareceu à cerimônia de inauguração, informou a Agência Brasil.

Ciclovia da gestão Haddad em São Paulo

O petista Fernando Haddad foi prefeito de São Paulo de 2013 a 2016. Um dos marcos de sua gestão na área de mobilidade foi a implantação de ciclofaixas. O balanço final do plano de metas da prefeitura aponta que foram implantados 447,4 km de ciclovias (pista segregada fisicamente do restante da via) e ciclofaixas (sem segregação física do restante da via).

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova checa conteúdos virais sobre a pandemia de covid-19 ou sobre políticas públicas do governo federal. Este tuíte teve 6.936 reações e foi compartilhado ao menos 1.543 vezes.

Tarcísio Gomes de Freitas é um dos ministros mais badalados pelo presidente Jair Bolsonaro e a execução de obras de infraestrutura se tornou uma das principais bandeiras do governo federal. O Comprova já desmentiu que um vídeo de vagões com contêineres empilhados seria do primeiro trem no trajeto do MT ao porto de Santos, como informavam diversas postagens.

Falso, para o Comprova, é conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original.

Política

Investigado por: 2021-02-18

Projeto de autonomia do Banco Central não prevê indicação de diretores pelo mercado financeiro

  • Enganoso
Enganoso
Autor do tuíte que relaciona autonomia aprovada para o Banco Central à indicação dos diretores pelo mercado financeiro disse ao Comprova que a afirmação é uma interpretação e não deve ser entendida literalmente.
  • Conteúdo verificado: Tuíte diz que a autonomia aprovada para o Banco Central significa que “diretores indicados pelo mercado financeiro vão decidir o destino da economia”.

Ao contrário do que sugere um tuíte verificado pelo Comprova, o projeto de autonomia do Banco Central, recentemente aprovado no Congresso Nacional, não prevê indicação de diretores do BC pelo mercado financeiro. O próprio autor do tuíte, o ex-candidato à Prefeitura de São Paulo em 2020, pelo PSOL, e coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MTST), Guilherme Boulos, afirmou ao Comprova que ela é uma interpretação e que não deve ser entendida literalmente. Essa verificação foi feita atendendo a solicitação de leitores.

Especialistas ouvidos pelo Comprova explicaram que a diretoria do Banco Central – órgão responsável pela emissão de moeda, definição da taxa de juros e fiscalização do sistema financeiro no país – vai continuar sendo indicada pelo presidente da República, mas, agora, terá que passar pelo crivo do Senado, e só poderá ser removida do cargo com a anuência do Legislativo. Isso, segundo o economista Hélio Berni, da faculdade IBMEC de Belo Horizonte, significa que o órgão terá mais espaço para implementar políticas mais duradouras.

Além disso, o professor Flávio Constantino, do Departamento de Economia da PUC Minas, lembra que a possibilidade de pressão do mercado financeiro sobre o Banco Central já existia, independentemente da aprovação do projeto de autonomia. “Se o sistema financeiro cobrar do presidente da República, e se o presidente da República ceder a essas pressões, aí corremos o risco, sim, do Banco Central fazer políticas voltadas para o mercado, que vão beneficiar instituições financeiras, por exemplo”, pondera.

Contatado pelo Comprova, Guilherme Boulos disse que a postagem tem caráter de análise política, e não é literal. “É uma análise dessa relação já existente das nomeações no banco com os interesses do mercado, com as vontades do mercado, ela só vai se aprofundar, porque você vai reduzir os mecanismos de controle democrático”, afirmou.

Como verificamos?

Procuramos Guilherme Boulos, e pedimos uma explicação mais detalhada sobre o que ele quis dizer com o tuíte. 

Para entender melhor o funcionamento do Banco Central e como funciona o projeto de autonomia, entrevistamos o professor Flávio Constantino, do Departamento de Economia da PUC Minas, e o professor Hélio Berni, do IBMEC-BH.

Também buscamos informações nos sites oficiais da Câmara e do Senado, sobre a tramitação do texto aprovado pelos parlamentares, e consultamos matérias publicadas em diversos veículos de imprensa sobre a iniciativa e a relação dela com o governo Bolsonaro.

Verificação

O que prevê o projeto de Autonomia do BC

O PL 19/2019, de autoria do Senador Plínio Valério (PSDB-AM) foi aprovado na Câmara dos Deputados, em segundo turno, neste mês de fevereiro. Até a publicação desta verificação, o texto aguardava apenas a sanção presidencial para entrar em vigor.

A principal mudança prevista no texto é na forma de indicação dos diretores e da presidência do Banco Central – que passa a ocorrer a partir do terceiro ano de mandato do presidente da República. Os nomes devem passar por uma sabatina no Senado, e tem um período fixo no comando do BC, de quatro anos. Atualmente, o cargo é de livre nomeação do chefe do executivo. O presidente do banco já precisa ser aprovado pelo Senado, mas pode ser escolhido pelo governo federal em qualquer ponto do mandato, e também pode ser demitido sem restrições.

O professor Flávio Constantino, do Departamento de Economia da PUC Minas, ouvido pelo Comprova, explica que o Banco Central tem como atribuições cuidar da moeda, da taxa de juros e da supervisão do mercado financeiro. As políticas decididas pelo órgão, segundo o professor, precisam levar em consideração a possibilidade de aumento da inflação ou de criação de uma recessão econômica, caso sejam equivocadas, e ainda lidam com as expectativas e pressões do governo – que controla o Ministério da Economia (ou Fazenda, em gestões anteriores) – e da sociedade.

A ideia de ampliar a autonomia do Banco Central existe no Brasil desde os anos 1970, e se respalda, entre seus apoiadores, em experiências adotadas em outros países. Segundo Flávio Constantino, nações como Reino Unido, Estados Unidos, Nova Zelândia e Alemanha realmente conseguiram, por exemplo, reduzir a inflação no longo prazo, com a adoção dos modelos de independência. Isso não significa, porém, que o mesmo resultado será alcançado no Brasil, já que toda a conjuntura econômica é relevante. “Esses países não tinham uma preocupação, como temos no Brasil, de um quadro de forte desigualdade – a diferença de quem é mais rico no Brasil supera mais de vinte vezes [em renda] quem é mais pobre, enquanto nesses países isso não passa de oito, nove vezes – então é um quadro social diferente do que nós temos no nosso país”, explica.

Crítica Política

Segundo o autor do post, Guilherme Boulos (PSOL), o post tem caráter de análise política das consequências da autonomia do Banco Central. “Na prática, hoje, os diretores do Banco Central já são indicados pelo mercado financeiro, obviamente não é indicação formal, não vai existir nunca lei como atribuição para o mercado financeiro indicar os diretores. Então, não dá pra ler com literalidade aí”, explica.

O ex-candidato avalia que na atual conjuntura da autarquia já há uma ‘tradição dos presidentes serem indicados numa porta giratória pelo financeiro e de boa parte da diretoria também’, usando como exemplo o atual presidente Roberto Campos Neto, que teve passagem pelo Banco Santander.

O Banco Central no governo Bolsonaro

A intenção de ampliar a independência do Banco Central foi manifestada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) logo no primeiro ano de mandato à frente do Executivo, e o governo chegou a enviar um projeto de lei ao Congresso Nacional sobre o tema.

Recentemente, o presidente disse que o projeto – que faz parte da pauta liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes – era importante, mas que iria analisar o texto final, acordado entre os congressistas durante a tramitação, e que poderia vetar parte do conteúdo aprovado.

O autor do post

O autor do tuíte verificado, Guilherme Boulos, é integrante do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), e foi candidato, pela legenda, à prefeitura de São Paulo, nas eleições de 2020. Boulos também é o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST).

No dia 15 de fevereiro, Boulos reiterou as críticas ao projeto de autonomia do BC em um artigo publicado na Folha de S. Paulo. 

Durante a campanha política, no ano passado, ele foi alvo de boatos que diziam que ele obrigaria moradores de São Paulo a receber moradores de rua em casa e que ele sairia do país, se não fosse eleito. Os dois conteúdos foram checados pelo Comprova, e classificados como falsos.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus que têm grande alcance nas redes sociais. A postagem de Guilherme Boulos alcançou 14 mil curtidas e 2.119 compartilhamentos até o fechamento desta checagem, e a verificação do conteúdo foi sugerida por leitores ao Comprova.

Apesar de ser uma análise política, não é possível avaliá-la como informação precisa, e alguns leitores entenderam o tuíte de forma literal.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Política

Investigado por: 2021-02-15

Vídeo engana ao comparar dois trechos diferentes da Transamazônica para elogiar governo Bolsonaro

  • Enganoso
Enganoso
Montagem de vídeo usa imagens de dois trechos diferentes da rodovia, um asfaltado e outro por pavimentar, como se fossem registros de um mesmo local em momentos diferentes. Na realidade, o trecho que aparece no vídeo como um lamaçal continua sem pavimentação e o outro já estava asfaltado quando o governo Bolsonaro tomou posse.
  • Conteúdo verificado: vídeo com uma estrada não asfaltada seguido de um vídeo de uma estrada asfaltada indica que o mesmo trecho mudou radicalmente após a eleição de Bolsonaro

É enganosa uma montagem de vídeos que circula nas redes sociais com uma suposta comparação de um mesmo trecho da rodovia Transamazônica, a BR-230, durante o período dos governos do PT com os primeiros meses do governo Bolsonaro.

A montagem usa duas gravações, feitas em locais diferentes.

Na primeira parte do vídeo, que seria dos governos do PT, motoristas e motociclistas tentam ultrapassar um lamaçal em uma rodovia. A gravação mostra a região de Ladeira da Onça, em Brasil Novo, no Pará, que ainda não foi asfaltada.

Na segunda parte, um motorista trafega por uma estrada asfaltada e em boas condições. Ao contrário do que diz o vídeo, esse trecho da BR-230/PA que aparece em boas condições não foi asfaltado durante o governo Bolsonaro, mas antes de 2019.

Como verificamos?

Em uma busca reversa de imagens com prints do vídeo, encontramos o vídeo original, gravado em 2018. O vídeo viralizou como peça de humor em diversas páginas (veja abaixo), algumas alegando ter sido gravado em locais diferentes.

Em uma das buscas, encontramos a reportagem do Bom Dia Pará, jornal da Rede Liberal (afiliada à Globo), que veiculava o nome do local do primeiro vídeo como “Ladeira da Onça”, no município de Brasil Novo (PA). Buscamos o local nas ferramentas de geolocalização Google Maps e Google Street View. Nas imagens, é possível ver a mesma cerca azul e branca, confirmando que o vídeo realmente foi gravado na Rodovia Transamazônica, na altura do km 48. Entramos em contato com Valdemídio Silva, morador de Brasil Novo, que confirmou o local do primeiro vídeo como a Ladeira da Onça.

A imagem do Google Street View é de 2019 e é possível ver que a estrada não havia sido asfaltada naquele ano. Já a foto de satélite do Google Maps é de 2021, e indica que o trecho da Ladeira da Onça ainda é de estrada de terra.

Entramos em contato com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) para obter informações sobre o km 110 da rodovia Transamazônica, mas não tivemos resposta até a publicação. Consultamos notícias no portal do Governo Federal sobre o asfaltamento da BR-230 confirmadas por verificações da Agência Lupa, Estadão e Aos Fatos sobre o mesmo vídeo, verificando que o trecho km 110 foi asfaltado anos atrás, antes do governo Bolsonaro.

Contatamos o deputado Anderson Moraes (PSL- RJ) para obter informações sobre a fonte do vídeo, mas não tivemos resposta.

Verificação

O vídeo que viralizou é formado por duas partes. No primeiro trecho, motociclistas e caminhoneiros tentam subir uma ladeira de lama. No segundo, um motorista dirige por uma estrada asfaltada, alegando ser o km 110 da Transamazônica. A união dos vídeos dá a entender que o motorista está andando pelo mesmo trecho que antes era cheio de lama, o que não é verdade.

Ladeira da onça

Em uma reportagem do Bom Dia Pará, de dezembro de 2018, há a informação de que a primeira parte do vídeo foi gravada na altura do km 48 da Transamazônica (BR-230) no Pará, local conhecido como Ladeira da Onça, no município de Brasil Novo (PA). A localização é incompatível com o km 110 da Transamazônica, como afirma o autor do segundo vídeo, na estrada asfaltada.

O Comprova entrou em contato com o repórter e locutor Valdemídio Silva, morador da cidade de Brasil Novo (PA) há 36 anos, que confirmou que o primeiro vídeo foi gravado na Ladeira da Onça, e circula há cerca de 2 anos. Outros vídeos da mesma época mostram o sofrimento dos usuários da via.

Vídeo bloqueado em perfil de deputado

O vídeo que viralizou foi publicado originalmente pelo deputado Anderson Moraes (PSL-RJ) no Facebook em 17 de janeiro de 2020, e contém a marca d’água com nome e foto do deputado na parte inferior. O Facebook classificou o vídeo como “Informação Falsa” e bloqueou sua exibição na plataforma. Recentemente, o vídeo foi compartilhado por uma usuária no Twitter e voltou a circular. O Comprova entrou em contato com o deputado, que não retornou.

O governo atual fez obras na Transamazônica?

A rodovia Transamazônica é a terceira maior do Brasil, com 4260 km de extensão implantada, cortando os estados da Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará e Amazonas.

Em nota à agência Lupa, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) informou que o km 110 da BR-230/PA não foi asfaltado em 2019, como sugere o vídeo, mas “anos antes”. O DNIT também informou que em 2019, durante o governo Bolsonaro, foi concluída e inaugurada a pavimentação entre os km 0 e 12,1 da Transamazônica no Pará.

Em maio de 2020, o Governo Federal informou que concluiu a pavimentação de 32 quilômetros, entre o km 235 e o km 267 da rodovia. A nota promete a pavimentação de 101,9 quilômetros da rodovia federal, com investimento de R$ 219 milhões. Segundo o balanço anual do Ministério de Infraestrutura do Governo Federal, a pavimentação de 32 km entre Itupiranga e Novo Repartimento, no Pará, e 3 pontes de concreto foram as únicas obras na Transamazônica em 2020.

Em apresentação sobre as obras da BR-230/PA no ano de 2015, o então secretário de Gestão dos Programas de Transportes do Governo Dilma Rousseff, Miguel de Souza, informou que o segmento entre os km 12 e 134,9 da Transamazônica no Pará foi pavimentado durante a gestão petista.

Por que investigamos?

Atualmente em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos que dizem respeito a políticas públicas do governo federal e à pandemia de covid-19. As verificações são feitas em conteúdos que viralizam de forma significativa, caso do vídeo investigado aqui.

A postagem falsa referenciada teve quase 3 mil interações no Twitter no mês de fevereiro e o conteúdo já viralizou por publicações de outros autores uma dezena de vezes desde 2019, incluindo pelo deputado citado na verificação. Supostas realizações do governo Bolsonaro na área de infraestrutura têm sido objeto de desinformação.

Agência Lupa, Estadão e Aos Fatos já verificaram o conteúdo.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

 

Esta verificação contou com o apoio de estudantes de jornalismo do programa de estágio firmado com a FAAP.