O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
Filtro:

Saúde

Investigado por: 2021-02-09

Facebook restaurou post sobre hidroxicloroquina, mas mantém política de remoção de desinformação sobre a covid-19

  • Enganoso
Enganoso
Um comitê independente formado pelo Facebook, de fato, solicitou a restauração de um post feito por um usuário na França, mas o Facebook informou que não "admitiu erro" como fazem crer publicações nas redes sociais.
  • Conteúdo verificado: Publicações nas redes sociais que afirmam que o Facebook teria reconhecido que errou ao censurar postagens sobre o tratamento com hidroxicloroquina.

São enganosas as publicações no Facebook e no Twitter que afirmam que o Facebook admite que “cometeu um erro” ao “censurar a hidroxicloroquina”. A rede social realmente restaurou um post específico feito por um usuário da França em outubro de 2020, em que ele criticava o governo francês por ter se recusado a autorizar o uso combinado de hidroxicloroquina com azitromicina para tratamento da covid-19. No entanto, esta decisão não altera a postura da plataforma em relação à desinformação sobre a covid-19.

O Facebook argumentou que o usuário francês falou em cura pela hidroxicloroquina ao criticar a postura do governo da França, e que o conteúdo foi removido com base numa política da empresa contra conteúdos que possam causar danos no mundo atual. Após a decisão do Comitê de Supervisão – grupo criado e financiado pelo Facebook para analisar de forma independente alguns casos de remoção de conteúdo da plataforma -, o post foi restaurado, no último dia 28 de janeiro. O grupo entendeu que o usuário não incentivava as pessoas a comprar ou tomar o medicamento sem receita. O estatuto do Comitê estabelece que as decisões são vinculantes – ou seja, elas são cumpridas pela empresa, a menos que violem a lei.

O Facebook emitiu um comunicado informando que restabeleceu o post, mas não “admitiu erro” e informou que a atual abordagem para esses casos vai continuar enquanto durar a pandemia. A abordagem, segundo a plataforma, é baseada em “extensas consultas com cientistas reconhecidos, incluindo do Centre for Disease Control (CDC) e da Organização Mundial da Saúde (OMS)”.

As postagens verificadas pelo Comprova foram compartilhadas pelos perfis no Facebook de Priscila Costa (vereadora de Fortaleza pelo PSC) e Esquerdopatia Política. Elas tomam como base um tuíte da médica norte-americana Simone Gold. Ela ficou conhecida por ser uma das defensoras do uso da hidroxicloroquina e esteve entre o grupo de pessoas que invadiu o Capitólio no dia 6 de janeiro deste ano para tentar interromper a certificação da eleição presidencial de 2020 dos Estados Unidos. No post, a médica diz que o Facebook admitiu que cometeu um erro ao censurar estudos que mostravam que a hidroxicloroquina salvava vidas, o que não é verdade.

A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) também fez uma publicação sobre o mesmo assunto no Twitter. Em contato com a assessoria de imprensa da parlamentar, o Comprova recebeu a informação de que ela se baseou numa informação publicada pela colunista de finanças Patrícia Lages, do portal R7.

Como verificamos

Fizemos contato com a assessoria do Facebook para questionar se a rede de fato admitiu erro ao tirar o post do ar, quais são as políticas adotadas para as postagens e como funciona o Conselho de Supervisão da rede. Em seguida, consultamos o site do Comitê de Supervisão do Facebook a respeito da decisão sobre a postagem do usuário francês.

Também entramos em contato com a assessoria de imprensa da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) e com os perfis no Facebook Esquerdopatia Política e Priscila Costa. Apenas os dois primeiros responderam.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 9 de fevereiro de 2020.

Verificação

O que diz o post removido e depois restaurado?

Em outubro de 2020, um usuário do Facebook na França fez uma postagem em um grupo público sobre a covid-19 em que denunciava o que chamava de “escândalo da Agence Nationale de Sécurité du Médicament” (agência francesa responsável pela regulamentação dos produtos para a saúde), que se recusou a autorizar no país o uso combinado da hidroxicloroquina com a azitromicina no tratamento da covid-19, ao mesmo tempo em que havia autorizado e promovido o remdesivir.

O remdesivir é um antiviral aplicado por via intravenosa, usado originalmente para combater o ebola, que foi bastante citado no início da pandemia como promissor no tratamento da covid-19. Em novembro do ano passado, a OMS informou que não recomendava o uso do medicamento contra a covid-19 por falta de evidências de que ele tivesse efeitos significativos. Já a hidroxicloroquina é um medicamento usado no tratamento de doenças reumáticas, como lúpus, e também contra a malária. A OMS informou que a hidroxicloroquina também não funciona contra a covid-19.

O uso da cloroquina e hidroxicloroquina contra a covid-19 apareceu em um estudo inicial feito pelo médico francês Didier Raoult, que apontou o medicamento como a cura para a doença. O usuário autor do post que acabou restaurado pelo Facebook criticou a falta de estratégia em saúde na França e afirmou que “a cura de [Didier] Raoult” estava sendo usada em outros lugares para salvar vidas.

No dia 4 de janeiro, o médico e sua equipe publicaram um artigo no International Journal of Antimicrobial Agents reconhecendo pela primeira vez que o medicamento não tinha eficácia no tratamento contra a covid-19, mas voltou atrás do reconhecimento após a repercussão em jornais por todo o mundo.

Por que o post foi removido?

A postagem foi removida pelo Facebook com base na política contra a desinformação da rede social, por contribuir para o “risco de dano físico iminente”. A empresa explicou ao Comitê de Supervisão – criado e financiado pelo Facebook para analisar de forma independente alguns casos de remoção de conteúdo da rede social – que removeu a postagem porque ela afirmava que existiria uma cura para a covid-19, fato negado pelas principais autoridades sanitárias do mundo, e concluiu que isso poderia levar as pessoas a ignorar as orientações de saúde ou a tentarem se automedicar.

O que disse o Comitê de Supervisão?

O caso do post feito na França em outubro do ano passado foi submetido ao Comitê de Supervisão, que decidiu, no último dia 28 de janeiro, anular a remoção do conteúdo. Para o Comitê, o usuário que fez o post se opunha a uma política governamental na França – a de não autorizar o uso combinado de hidroxicloroquina e azitromicina – e pretendia mudá-la.

“A combinação de medicamentos que o post afirma constituir uma cura não está disponível sem receita na França e o conteúdo não incentiva as pessoas a comprar ou tomar medicamentos sem receita”, afirma o texto publicado pelo comitê.

Para os membros do comitê, o Facebook não demonstrou que a postagem elevaria o risco de dano iminente, exigido pela própria regra dos Padrões da Comunidade. Eles também apontaram que a decisão do Facebook não está em conformidade com os padrões internacionais de direitos humanos sobre a liberdade de expressão. Como o Facebook tem uma gama de ferramentas para lidar com a desinformação, a empresa não conseguiu demonstrar porque não escolheu uma punição menos invasiva do que remover o conteúdo, diz o comitê.

Os membros também consideraram vaga a regra sobre desinformação e dano iminente, o que torna difícil para os usuários entenderem o que podem e o que não podem postar. Na decisão, o grupo determinou que o Facebook restaurasse a postagem que foi removida e recomendou que a empresa crie um novo Padrão da Comunidade sobre desinformação em saúde; adote meios menos invasivos para aplicar as políticas de desinformação em saúde; e aumente a transparência sobre como modera a desinformação em saúde.

Postagem foi restaurada

No mesmo dia 28 de janeiro, o Facebook se pronunciou sobre as primeiras decisões tomadas pelo Comitê de Supervisão e informou que a postagem havia sido restaurada. A vice-presidente de Políticas de Conteúdo do Facebook, Monika Bickert, comentou o caso da hidroxicloroquina:

“O comitê corretamente levanta preocupações de que podemos ser mais transparentes sobre nossas políticas de desinformação em relação à covid-19. Concordamos que essas políticas podem ser mais claras e pretendemos publicar políticas de desinformação de COVID-19 atualizadas em breve”. O texto, publicado na Newsroom do Facebook, acrescenta que a abordagem para remoção de conteúdo sobre a covid-19 irá se manter enquanto durar a pandemia.

Por meio de porta-voz, o Facebook informou ao Comprova que seguiu a recomendação e restaurou a postagem, mas reafirmou ser fundamental que as pessoas tenham acesso a informações precisas durante a pandemia. “Seguindo o compromisso com o Comitê de Supervisão, restauramos o post sobre Covid-19. Porém, acreditamos ser fundamental que as pessoas tenham acesso a informações precisas na nossa plataforma e sabemos que isso é ainda mais crítico durante uma pandemia. Mantemos nossa abordagem de remover desinformação sobre coronavírus que possa levar danos às pessoas no mundo real, com base em extensas consultas a grupos científicos como o Centro de Prevenção de Doenças dos EUA e a Organização Mundial da Saúde”.

O que é o Comitê de Supervisão?

De acordo com o Facebook, o Comitê de Supervisão é formado por um conjunto diversificado de especialistas, responsável por analisar de forma independente alguns conteúdos que tenham sido removidos da rede. Os membros são representantes de diversas partes do mundo e formam uma equipe independente. O financiamento inicial para a formação do Comitê foi de mais de US$ 130 milhões para cobrir custos operacionais, como espaço de escritório, equipe e despesas de viagem, e permitir que o comitê opere pelo menos nos seus dois primeiros mandatos completos, aproximadamente seis anos.

O site oficial do comitê informa que, “para garantir uma perspectiva global, o Comitê de Supervisão tem membros de diversas origens culturais e profissionais”. O site acrescenta que “esses membros foram escolhidos porque têm experiência em deliberar de forma ponderada e colegiada, demonstram habilidade para tomar e explicar decisões com base em um conjunto de políticas ou princípios e estão familiarizados com o conteúdo e a governança digitais”.

Atualmente, o comitê tem 20 membros que tomam decisões colegiadas, independente do local onde o post tenha sido feito. Os casos a serem analisados são enviados pelo próprio Facebook ou por usuários. As decisões do Comitê estão disponíveis na íntegra.

Também entramos em contato com a assessoria da deputada federal Bia Kicis. Segundo a equipe, Kicis retirou a informação de uma matéria publicada no portal R7 assinada pela comentarista de finanças Patrícia Lages. O texto afirma que, de fato, o Facebook recomendou a criação de novo padrão de classificação das informações postadas, e que a empresa “reconhece que ‘cometeu um erro’”, mas não há um posicionamento da empresa, além da recomendação do comitê.

Autores das publicações

Em contato com moderação da página Esquerdopatia Política, questionamos quais foram as fontes usadas para a publicação. A resposta foi a sugestão de checarmos as fontes usadas pela página. O primeiro mostra a postagem da Dra. Simone Gold em sua conta no Twitter, onde afirma que o Facebook ‘admitiu erro ao censurar estudos mostrando que a hidroxicloroquina salva vidas’; outro link trata de um estudo sobre covid-19 no mundo e o uso da hidroxicloroquina; o seguinte é uma publicação de um site cujo fundador teve a conta no Twitter suspensa por divulgação de notícias falsas; o próximo link trata de um estudo publicado no The American Journal of Medicine, que defende o uso preventivo no tratamento da covid-19 com base no uso da hidroxicloroquina; e o último traz o link já colocado nesta verificação, referente à decisão do Comitê de Supervisão do Facebook sobre a publicação do usuário francês.

Após o contato, a página Esquerdopatia Política fez uma nova postagem com o print do contato feito pelo Comprova. “Olha o nível do “jornalismo investigativo”. São incapazes de chegar na fonte primária…”.

A vereadora Priscila Costa não retornou o contato até a publicação desta verificação.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados a informações sobre a pandemia do novo coronavírus, principalmente as que têm grande alcance nas redes sociais.

O Facebook publicou, no dia 28 de janeiro, a respeito de um conjunto de decisões sobre postagens escolhidas para avaliação. Dentre elas, postagens sobre discurso de ódio e desinformação sobre saúde estão elencadas.

Uma das postagens, da página da vereadora Priscila Costa, teve 1,5 mil compartilhamentos no Facebook. Postada no dia 31 de janeiro, uma publicação da deputada federal Bia Kicis (PSL), em referência ao mesmo conteúdo, teve quase 10 mil interações no Twitter até o fechamento desta verificação.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-02-05

Ao contrário do que afirma deputado, Doria não recebeu R$19 bilhões da União para o combate à covid-19

  • Enganoso
Enganoso
Em vídeo publicado no Facebook, deputado federal de Minas Gerais ignora que mais da metade da quantia citada por ele foi encaminhada a administrações municipais e, portanto, não é de competência do governador paulista.
  • Conteúdo verificado: Vídeo publicado no perfil do Facebook de um deputado federal em que ele afirma que o governador de São Paulo, João Doria, recebeu R$ 19,5 bilhões de Bolsonaro para o combate à covid-19.

É enganosa a afirmação do deputado federal Leo Motta (PSL-MG) de que o presidente Jair Bolsonaro destinou R$ 19,5 bilhões ao governo do estado de São Paulo para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus.

Em vídeo viral no Facebook, o parlamentar omite que mais da metade da quantia citada por ele foi encaminhada a administrações municipais e, portanto, não é de competência do governador paulista João Doria. Motta ainda reproduz uma alegação já desmentida pelo Comprova de que o estado do Amazonas teria recebido “quase R$ 10 bilhões” para combater à covid-19. O Comprova já mostrou que apenas uma pequena parte desse valor era destinado ao enfrentamento da crise sanitária.

Questionado pelo Comprova, o gabinete de Motta enviou por e-mail um boletim da Secretaria Especial de Assuntos Federativos com a descrição de recursos do Governo Federal destinados ao estado de São Paulo e municípios no âmbito da pandemia. Divulgados em novembro de 2020, os relatórios de cada unidade federativa do país estão disponíveis no site do Governo Federal.

O documento informa um repasse total de R$ 19,347 bilhões, com base em dados do Tesouro Nacional, do Fundo Nacional de Saúde e do Ministério da Cidadania. Desse montante, porém, R$ 10,05 bilhões foram destinados a governos municipais.

O mandato de Leo Motta não quis se manifestar sobre os apontamentos do Comprova até a publicação desta reportagem.

Como verificamos

Procuramos o deputado Léo Motta, por meio dos contatos de e-mail e telefone informados no site da Câmara dos Deputados, para questionar a fonte usada por ele para as afirmações. A assessoria do deputado enviou em resposta apenas uma apresentação em PDF, produzida pela Secretaria Especial de Assuntos Federativos, do Governo Federal.

Em seguida, buscamos, nos Portais da Transparência da União e do estado de São Paulo, além do Portal Siga Brasil, do Senado Federal, os dados sobre repasses enviados ao governo paulista para o combate à covid-19, desde o início da pandemia. Os dados listados em cada site possuíam algumas divergências entre as rubricas, e, por isso, procuramos, por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria de Fazenda de SP e o Ministério da Economia. As duas pastas disseram que os valores nos portais estão atualizados e enviaram o caminho para o acesso às informações.

Para saber mais sobre a compra de respiradores e insumos para o combate à pandemia em São Paulo, mencionados pelo deputado, consultamos o Portal da Transparência estadual, que possui uma seção dedicada aos gastos relacionados ao novo coronavírus, bem como os sites do Ministério Público de Contas de SP e do Tribunal de Contas do Estado. Acessamos, ainda, reportagens publicadas sobre possíveis irregularidades na aquisição desses equipamentos.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 5 de fevereiro de 2021.

Verificação

O boletim da Secretaria Especial de Assuntos Federativos aponta cinco origens de repasses ao estado de São Paulo destinados especificamente para combate à pandemia. A primeira delas consiste na transferência da ordem de R$ 1,618 bilhão provinda do Fundo Nacional de Saúde, que é o órgão federal responsável por gerir recursos do Sistema Único de Saúde (SUS).

É importante ressaltar, porém, que o relatório considera dados de janeiro a novembro de 2020. Em nota ao Comprova, a Secretaria da Fazenda de São Paulo informou que a quantia atualizada corresponde a R$ 1,78 bilhão. O valor também consta no portal de transparência da pasta.

De acordo com o boletim do Governo Federal, a União também repassou R$ 69,53 milhões como parte do programa de compensação do Fundo de Participação dos Estados (FPE) em meio à pandemia. O repasse obedece à lei 14.041/2020, que foi constituída a partir de uma medida provisória assinada por Bolsonaro.

O FPE recebe 21,5% dos tributos arrecadados pela União por meio do Imposto de Renda e do Imposto sobre Produtos e Serviços (IPI). Esse valor é distribuído aos 26 estados e ao Distrito Federal, conforme parâmetros previstos em lei. O programa do Governo Federal instituído durante a pandemia cobre a diferença negativa entre os valores destinados ao fundo entre março a junho de 2020, com a arrecadação do mesmo período no ano anterior.

Uma planilha disponível no site do Tesouro Nacional permite a qualquer cidadão verificar a quantia encaminhada a todos os estados e o Distrito Federal.

A maior parte dos recursos destinados pela União ao combate à covid-19 no estado, no entanto, corresponde ao Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus (PFEC). Dos R$ 19,4 bilhões de repasses incluindo os municípios paulistas, R$ 12,7 bilhões são oriundos do auxílio, dos quais R$ 7,6 bilhões foram destinados ao governo estadual.

O programa segue a lei complementar 173/2020, que teve origem em um projeto de lei do senador Antonio Anastasia (PSD-MG). O portal da Fazenda do governo Doria descreve a verba em duas categorias: as receitas referentes ao “Inciso I” da legislação, na ordem de R$ 988 milhões, e ao inciso II, de R$ 6,61 bilhões. Ambos os valores são nominais, ou seja, não estão corrigidos pela inflação.

A distinção acontece porque a lei determina no art 5º inciso I que parte do valor deve ser destinado obrigatoriamente ao apoio de sistemas de saúde e assistência social na linha de frente do combate à pandemia. Já o restante referente ao inciso II pode ser aplicado livremente pelos poderes estaduais beneficiados como, por exemplo, para compensar perdas fiscais.

Na seção “Auxílio Financeiro de que trata o art. 5º da Lei Complementar nº 173, de 27 de maio de 2020” da página informativa do site do Tesouro é possível baixar a planilha com detalhes de cada uma das quatro parcelas do auxílio.

A apresentação do Governo Federal ainda aponta uma última categoria chamada “outros repasses” na ordem de R$ 927 mil. Somando todos os recursos expostos no relatório,  o governo estadual de São Paulo recebeu aproximadamente R$ 9,3 bilhões, já os municípios paulistas obtiveram cerca de R$ 10,05 bilhões.

Portanto, é equivocado afirmar que o governador João Doria ganhou R$ 19,5 bilhões do Governo Federal para investir em medidas de combate à pandemia, como sugere o deputado Leo Motta no vídeo. Além disso,  nem todas as verbas partiram de iniciativas do presidente Jair Bolsonaro.

Amazonas não recebeu R$ 8,9 bilhões para enfrentamento da Covid-19

Leo Motta ainda erra ao insinuar que a União teria repassado quase R$ 10 bilhões ao Amazonas para enfrentar a pandemia. Como mostra uma verificação anterior do Comprova, o repasse de R$ 8,9 bilhões do Governo Federal ao estado em 2020 não foi exclusivo para o combate à Covid-19. Na verdade, as transferências relativas à crise sanitária contabilizam cerca de R$ 1,38 bilhão.

Vale destacar ainda que os boletins da Secretaria Especial de Assuntos Federativos que embasam as declarações do parlamentar sobre os repasses para o Governo de São Paulo também contradizem o deputado no que toca ao Amazonas. O último relatório sobre o estado indica que os auxílios para o governo amazonense somados às verbas distribuídas a municípios não chegavam a R$ 2,4 bilhões em novembro do ano passado.

Gastos com respiradores

No vídeo, ao questionar o governador de São Paulo sobre os gastos públicos para o enfrentamento à pandemia da covid-19, o deputado federal Léo Motta menciona, de forma vaga, a compra de respiradores e máscaras, e indaga o valor pago pelo estado.

Perguntamos ao deputado se ele teve acesso a algum tipo de denúncia específica de problemas nessas aquisições, mas a assessoria não respondeu a esse questionamento.

No Portal da Transparência do governo estadual, é possível pesquisar o valor pago a fornecedores de materiais e serviços contratados no âmbito da pandemia do novo coronavírus. Segundo a plataforma, o governo estadual empenhou R$ 235 milhões na aquisição de equipamentos – no caso, respiradores – junto a empresa Hichens Harrison Partners. O contrato, porém, estava inacessível no portal durante a consulta do Comprova em 5 de fevereiro.

O acordo previa inicialmente a negociação de 3 mil aparelhos pelo valor de US$ 100 milhões, cerca de R$ 550 milhões quando a operação foi anunciada. Diante de atrasos nos prazos de entrega dos respiradores, o Governo de São Paulo decidiu cancelar o contrato e restringiu a compra a 1.280 unidades.

Em junho de 2020, o Ministério Público de Contas de São Paulo abriu um procedimento para investigar os valores pagos pela Secretaria Estadual de Saúde na compra dos equipamentos. O órgão apontou suspeitas de sobrepreço na aquisição.

Segundo a representação enviada ao Tribunal de Contas do Estado, “O procedimento interno de investigação foi instaurado após denúncia formulada pelo Excelentíssimo Senador da República Major Olímpio perante este órgão ministerial. Sua Excelência narrou a existência de eventuais irregularidades no procedimento de aquisição de ventiladores pulmonares pelo Governo do Estado de São Paulo.

O senador Major Olímpio (PSL-SP) é o líder do partido – pelo qual o presidente Jair Bolsonaro se elegeu – no Senado, mas rompeu publicamente com o chefe do executivo no primeiro semestre do ano passado.

A consulta pública ao andamento processual no site do TCE mostra que o caso ainda está ativo no Tribunal, e que foi enviado a um dos conselheiros no começo de fevereiro.

Na mesma página, porém, o último documento disponibilizado é um despacho, de 10 de junho de 2020, que dá aos envolvidos o prazo de 15 dias para o envio de justificativas sobre o caso em apuração.

Além disso, o próprio TCE determinou que os municípios paulistas e alguns órgãos e secretarias do governo estadual preencham um questionário com informações sobre os gastos no combate à pandemia do novo coronavírus. O prazo para a entrega dos dados, que serão posteriormente analisados pelo Tribunal, termina nesta sexta-feira, 5 de fevereiro.

A apuração dos gastos, portanto, ainda está em andamento, e é realizada pelos órgãos estaduais competentes.

Quem é o deputado e qual sua relação com Doria?

Eliel Márcio do Carmo, conhecido como Leo Motta, é deputado desde 2019 pelo Partido Social Liberal- PSL de Minas Gerais, com mandato até 2023. Segundo o site da Câmara Legislativa, o deputado também preside a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle.

Leo Motta, mesmo após a saída do presidente Jair Bolsonaro do PSL, continuou sendo um grande defensor do governo como ficou explícito nas suas redes sociais. O Comprova entrou em contato com o deputado por e-mail, questionando as fontes usadas para afirmar o destino dos 19 bilhões.

Em resposta, a assessoria do deputado apenas encaminhou o documento pelo qual se basearam, o boletim Segov Estadual de São Paulo.

O Comprova não encontrou nenhuma ligação de Leo Motta com o governador de São Paulo, João Doria.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus, principalmente as que têm grande alcance nas redes sociais. A postagem no perfil do Facebook do deputado ultrapassa as 460 mil visualizações e foi compartilhada quase 50 mil vezes até a publicação desta checagem. Com uma interpretação equivocada dos dados disponibilizados pelo Governo Federal,  o deputado contribuiu ainda mais para a desinformação em torno de temas que envolvem a pandemia da covid-19.

O Comprova já verificou outras publicações que envolviam os recursos destinados aos municípios para o combate da Covid-19, como a que checou que o repasse de R$ 8,9 bilhões do governo federal ao Amazonas não foi exclusivo para combate à pandemia.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-02-04

Postagem usa vídeo de 2018 para afirmar que idosa morreu após tomar vacina

  • Enganoso
Enganoso
Retirado de contexto, vídeo que viralizou em um perfil no Facebook corta propositadamente os trechos nos quais as palavras "gripe" e "H1N1" são mencionadas. Ainda assim, o laudo de óbito não indica relação entre a morte da idosa e a vacina contra a gripe.
  • Conteúdo verificado: Postagem em um perfil pessoal no Facebook de uma reportagem da TV Record sobre uma idosa que morreu após ser vacinada

É enganoso um vídeo publicado no Facebook que sugere que uma idosa morreu após ser vacinada contra a covid-19. A postagem usa somente um trecho de uma reportagem, veiculada na TV Record em 2018, com a legenda “mulher morre imediatamente depois da vacina”. A matéria trata da morte de uma mulher de 71 anos por infarto, após a vacinação contra a gripe Influenza A (H1N1), naquele mesmo ano (e antes do surgimento da covid-19), na cidade de Goiânia (GO).

O vídeo que viralizou nesta semana corta propositalmente os trechos em que as palavras “gripe” e “H1N1” são mencionadas.

A matéria original foi veiculada em 18 de abril de 2018, e em determinado momento da reportagem, a então coordenadora de imunização da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, Grécia Pessoni, ressalta que o laudo de óbito não indica relação entre a morte da idosa e a vacina contra a gripe. “A suspeita é de um infarto agudo do miocárdio”, disse à equipe de TV. Em outra reportagem, um membro da família também descarta a correlação.

Como verificamos?

Analisando o vídeo, notamos que as pessoas não utilizam máscara na rua nem no posto de saúde, dando a impressão de que se trata de um material antigo. Para verificar a data do vídeo, o Comprova foi atrás do conteúdo original e de outras notícias que tratassem sobre o mesmo caso.

Algumas informações disponíveis no vídeo são o sobrenome da vítima, “Batista da Silva”, narrado pelo jornalista no começo do vídeo, e o bairro “Ville de France”, que também aparece na placa do posto de saúde.

Ao buscar no Google os termos “batista da silva ville de france”, o Comprova encontrou uma notícia do Jornal Opção de 19 de abril de 2018 como quinto resultado.

Na notícia, conseguimos mais informações sobre o caso, como o nome completo, “Maria Batista da Silva”, a data e a informação de que o óbito teria ocorrido após a vacinação contra H1N1.

Outra informação disponível no vídeo é a tarja animada da matéria, em azul na parte inferior do vídeo: “Outra mulher morreu depois de tomar vacina”. Procurando pela frase no YouTube, o primeiro resultado é o vídeo completo no canal da Record TV Goiás.

Vídeo editado

Nota-se que o vídeo original tem 4:40 minutos de duração, e o que viralizou, 2:47 minutos. Comparando as duas versões, notamos que o vídeo foi editado para excluir referências à vacina contra H1N1 e informações sobre o laudo de óbito de Maria Batista da Silva, que indica morte por infarto.

O Comprova ainda entrou em contato com a autora da postagem por meio do Messenger do Facebook, mas não obteve retorno.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 4 de fevereiro de 2020.

Verificação

A reportagem original foi exibida pela Record TV Goiás em 18 de abril de 2018, e está disponível no canal da emissora no YouTube. A matéria trata da morte de Maria Batista da Silva, aos 71 anos, por infarto, após a vacinação contra a gripe Influenza A (H1N1), em 2018. Não há, portanto, relação com a vacina contra o coronavírus, como tenta indicar o vídeo que viraliza no Facebook.

Em reportagem do jornal O Popular, de 20 de abril de 2018, o filho de Maria Batista da Silva, Paulo Henrique da Silva, afirmou que não associava a morte da mãe ao fato dela ter tomado o imunizante. Segundo ele, a mãe se vacinava todos os anos e não apresentava reações. “A vacina é de extrema importância”, afirmou na época.

No vídeo completo da TV Record, a então coordenadora de imunização da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, Grécia Pessoni, ressalta que o laudo do Serviço de Verificação de Óbito (SVO) não indica relação entre a morte de Maria Batista da Silva e a vacina contra a gripe. “A suspeita é de um infarto agudo do miocárdio”, disse.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. É importante investigar conteúdos duvidosos sobre vacinação e pandemia, pois é justamente o trabalho da ciência que garante a erradicação de doenças e a preservação da vida.

Compartilhamentos como este visam desacreditar a vacinação ao redor do mundo, colocando em xeque a eficácia das vacinas, cientificamente comprovadas no caso de Moderna, Pfizer/BioNTech, AstraZeneca/Oxford e CoronaVac. Até o fechamento da publicação, a conta que publicou o vídeo fora de contexto teve mais de 43 mil compartilhamentos de uma única postagem.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.

Saúde

Investigado por: 2021-02-03

Jogador de beisebol dos EUA, Hank Aaron morreu de causas naturais e não por conta da vacina

  • Falso
Falso
O boato de que haveria relação entre a imunização e a morte do ex-jogador foi propagado por um conhecido ativista do movimento antivacina dos EUA
  • Conteúdo verificado: tuíte sugere que Hank Aaron, 86 anos, falecido 17 dias depois de tomar vacina, morreu em decorrência da vacina contra Covid-19

É falso que Hank Aaron, ex-jogador norte-americano de beisebol, morreu por um efeito adverso da vacinação contra a covid-19, conforme sugerem publicações no Twitter nos Estados Unidos e no Brasil. Aaron tomou a vacina da farmacêutica Moderna no dia 5 de janeiro no Morehouse School of Medicine, em Atlanta, na Geórgia, e morreu 17 dias depois, de causas naturais, segundo verificações da imprensa dos Estados Unidos.

A vacinação de Aaron, um ícone do esporte, foi usada para estimular a imunização nos Estados Unidos. Após sua morte, postagens nas redes sociais começaram a ligar o acontecimento à vacinação e veículos do país fizeram a checagem. À rede NBC, a equipe de legistas que examinou o corpo do ex-jogador afirmou que ele morreu de “causas naturais”. Em um comunicado, o Atlanta Braves, time de beisebol pelo qual Hank jogou, disse que ele morreu “pacificamente, enquanto dormia”.

Ao Comprova, o infectologista Evaldo Stanislau, da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que, embora as vacinas possam apresentar efeitos adversos, como qualquer medicação, não há estudos que revelem relação de causa e efeito entre a vacinação e este tipo de morte

Como verificamos?

Pesquisamos sobre Hank Aaron, sua história, luta e os recordes conquistados. Buscamos matérias publicadas em portais de notícias para entender as circunstâncias de sua morte. Também buscamos o contato do local em Fulton County responsável pela autópsia, mas não encontramos as informações.

Conversamos com o professor-doutor Evaldo Stanislau, do Hospital das Clínicas, em São Paulo, para tirar dúvidas sobre reações adversas de vacinas e o tempo médio de resposta do corpo para a imunização após tomar a vacina.

Procuramos ainda a Moderna, farmacêutica responsável pela vacina aplicada em Aaron, por meio do seu e-mail internacional, mas não tivemos resposta até o fechamento da verificação.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 2 de fevereiro de 2020.

Verificação

Aaron morreu de “causas naturais”

Hank Aaron tomou a vacina da Moderna em 5 de janeiro no Morehouse School of Medicine, em Atlanta, na Geórgia. Dezessete dias depois, em 22 de janeiro, ele morreu, aos 86 anos.

Como aqui no Brasil, grupos antivacina começaram a levantar relações entre a vacinação e a morte do ex-jogador, visto que sua imagem foi utilizada para estimular a imunização no país. À NBC News, o grupo médico que examinou o corpo do ex-jogador afirmou que ele morreu de “causas naturais”. Da mesma forma, por meio de comunicado, o Atlanta Braves, seu time de beisebol, lamentou o ocorrido e disse que ele morreu “pacificamente, enquanto dormia”.

Ao jornal The New York Times, que também desmentiu a corrente, os responsáveis pela autópsia em Fulton County afirmaram que sua morte “não teve nada a ver” com a vacina. Segundo eles, não havia nenhum elemento que sugerisse que Aaron teve qualquer tipo de reação alérgica ou anafilática à vacina.

No dia em que foi vacinado, Aaron escreveu no Twitter: “Fiquei orgulhoso de receber a vacina COVID-19 hoje cedo na Morehouse School of Medicine”. “Espero que você faça o mesmo!” Em entrevista à Associated Press, ele afirmou se sentir maravilhoso ao ser vacinado.

Além dele, foram vacinados o ex-embaixador da Organização das Nações Unidas (ONU) e líder dos direitos civis Andrew Young e o ex-secretário de Saúde e Serviços Humanos dos EUA Louis Sullivan. A estratégia foi incentivar a vacinação das pessoas no estado da Geórgia.

“Causas naturais” não têm relação com vacinação

De acordo com o professor e infectologista Evaldo Stanislau, toda vacina tem uma quarta fase de testes que se dá exatamente no período de vacinação. O objetivo é acompanhar os vacinados e descobrir se eles apresentam alguma resposta padrão. Morrer de causas naturais, no entanto, não é uma delas.

“Nessa fase, a gente observa coisas que eventualmente não foram confirmadas nos estudos. Em teoria, se você vê algo que ocorre com muita frequência, pode analisar causa e efeito [entre a vacinação e a resposta]. Aí, nesse caso, me parece uma casualidade”, afirmou o médico.

Segundo Stanislau, o tempo médio para que um imunizante faça efeito é de 15 dias. Neste período, uma pessoa pode, sim, contrair a doença e sofrer suas enfermidades – mas não foi o caso do ex-jogador.

“Qual a função da vacina? Induzir nosso sistema imunológico a produzir uma defesa contra o agente. O efeito de uma vacina é ensinar o sistema imunológico e produzir defesas. São como patrulhas que ficam no nosso corpo. Se o vírus entra em contato com o organismo, essa patrulha vai crescer, proliferar e impedir, mas perceba que isso leva um tempo para se consolidar, não é imediato. Demora, em média, pelo menos duas semanas”, explicou o especialista.

Ele alerta que é preciso seguir tomando precauções mesmo após a vacinação. “Tomar vacina e ser infectado pouco depois é possível, sim, porque o corpo ainda não está imune. Por isso, é importante que a pessoa, quando tomar vacina, continue se protegendo”, alertou o infectologista.

Quem foi Hank Aaron?

Henry Louis Aaron, nome completo de Hank Aaron, nasceu no dia 5 de fevereiro de 1934, em uma região pobre de Mobile, no Alabama. Terceiro de oito filhos de Estella e Herbert Aaron, um assistente de caldeireiro, estudou o ensino médio no Central High School. Além de jogador, Hank Aaron foi empresário e filantropo.

Desde a infância, Aaron desenvolveu uma habilidade e gosto para o beisebol. Aaron foi um dos principais esportistas das Ligas Negras e se tornou um ícone da Liga Principal do Beisebol. Começou na carreira aos 20 anos, em 1954, sendo rebatedor ativo no Milwaukee e Atlanta Braves até 1976. Aaron bateu recorde de 755 home runs (uma rebatida que permite ao autor marcar um ponto e, potencialmente, fazer com que outros companheiros marquem); foi eleito para o Hall da Fama do Beisebol em 1982.

 

Quem é Robert F. Kennedy Jr.

O tuíte é de autoria de Robert F. Kennedy Jr. e foi reproduzido no Brasil por grupos que também costumam questionar as vacinas. Kennedy é um advogado e ambientalista norte-americano, filho do senador Robert F. Kennedy e sobrinho do presidente John F. Kennedy, ambos já falecidos.

Apesar de não ser um profissional da saúde, Kennedy é conhecido pelo ativismo contra as vacinas nos Estados Unidos. Em suas redes sociais, como Instagram e Twitter, há postagens criticando as vacinas em fase de desenvolvimento e sua utilização contra o novo coronavírus. Em sua própria família, uma das mais influentes na política norte-americana, sua postura já foi criticada.

Kennedy foi verificado em agosto de 2020 pelo Comprova após um post do blog católico Mater Salutis viralizar nas redes alegando que as vacinas contra a covid-19 podem provocar dano genético irreversível e são um crime contra a humanidade. O advogado foi investigado, pois o texto seria uma mensagem assinada por ele. Dias depois o post foi retirado do ar por não ser possível comprovar a autoria, segundo um administrador do blog católico.

Na verificação feita em 2020, o Comprova mostrou que antes do início da pandemia, uma reportagem afirmava que Robert F. Kennedy Jr. era um dos dois maiores patrocinadores de anúncios com desinformação sobre vacinas no Facebook.

O tuíte do advogado foi compartilhado por diversas páginas no Brasil, inclusive por páginas já verificadas anteriormente pelo Comprova.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. É importante investigar conteúdos duvidosos sobre vacinação e pandemia, pois é justamente o trabalho da ciência que garante a erradicação de doenças e a preservação da vida.

Compartilhamentos como este visam descredibilizar a vacinação ao redor do mundo colocando em xeque a eficácia das vacinas, dados cientificamente comprovados no caso de Moderna, Pfizer/BioNTech, AstraZeneca/Oxford e CoronaVac. Até o fechamento da publicação, as duas contas de Twitter que tuitaram sobre o conteúdo falso tiveram 27 mil interações.

Falso para o Comprova é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

 

Saúde

Investigado por: 2021-01-26

Repasse de R$ 8,9 bilhões do governo federal ao Amazonas não foi exclusivo para combate à pandemia

  • Enganoso
Enganoso
Os números são reais, mas se referem à verba geral enviada pela União ao Amazonas em 2020. Os recursos, portanto, não eram exclusivos para o combate à crise sanitária e parte do dinheiro é de transferências obrigatórias, aquelas cuja Constituição Federal estabelece que devem ser feitas pela União.
  • Conteúdo verificado: Postagem no Instagram do vereador de Fortaleza Carmelo Neto sobre repasse de verba do Governo Federal ao Amazonas e a Manaus, e o efeito de um suposto desvio de dinheiro público no estado e na capital no combate à pandemia.

É enganosa a postagem de um vereador de Fortaleza que destaca valores de repasses federais ao Amazonas como prova de que o governo federal não teria relação com os graves problemas de saúde pública no estado. Os números que aparecem nos posts são reais, mas se referem à verba geral enviada pela União ao estado em 2020. Os recursos, portanto, não eram exclusivos para o combate à crise sanitária. Além disso, parte do dinheiro é de transferências obrigatórias, aquelas cuja Constituição Federal estabelece que devem ser feitas pela União.

É o próprio vereador responsável pela postagem, Carmelo Neto (Republicanos-CE), quem faz a associação entre as verbas repassadas e uma possível culpa pela situação do colapso no Amazonas na crise sanitária. No texto verificado, ele alega que “PR Bolsonaro repassou, somente em 2020, 8,9 bilhões ao Amazonas, sendo 2,3 bilhões exclusivamente para o município (de Manaus)”. Os dados são do Portal da Transparência, mas o vereador ignora no texto que a verba, por seu caráter geral, pode ser utilizada em outras áreas, como educação, mobilidade, infraestrutura, dentre outras.

Dos R$ 8,9 bilhões enviados pelo Governo Federal em 2020, conforme a Secretaria da Fazenda do Amazonas, R$ 219,4 milhões foram transferências vinculadas ao SUS, especificamente para combate à pandemia. O estado também recebeu outros R$ 267,5 milhões de verbas vinculadas à saúde para enfrentamento à covid-19, só que de recursos previstos na Lei Complementar nº 173/2020, que garante apoio financeiro a estados e municípios na crise sanitária. O total de receitas para uso exclusivo contra a covid no ano passado foi, portanto, R$ 487 milhões no estado.

A publicação verificada também acrescenta que “os culpados pelo caos são aqueles que surrupiaram os repasses da União para interesse próprio, inclusive utilizando adegas de vinhos para superfaturar contratos”. Trata-se de uma referência a uma investigação em curso (“Operação Sangria”), encabeçada pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal, sobre suposta compra superfaturada de ventiladores pulmonares em abril de 2020, autorizada pelo governador Wilson Lima (PSC-AM). A aquisição, segundo as investigações, foi feita em uma loja de vinhos.

Em janeiro de 2021, a Procuradoria-Geral da União (PGR) também determinou a abertura de inquérito no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para apurar possíveis responsabilidades dos governos estadual e municipal de Manaus na crise da falta de oxigênio medicinal, e solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) ação semelhante para apurar a conduta do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em relação ao colapso em Manaus. O STF autorizou, e o ministro está sendo formalmente investigado no Supremo por conta da crise no Amazonas.

Como verificamos?

Inicialmente, procuramos notícias sobre o possível repasse de verbas do governo federal ao Amazonas e a Manaus durante a pandemia, mencionados na postagem. Matérias do Poder 360 e da Folha de São Paulo citavam a publicação feita pelo presidente Jair Bolsonaro, com os valores indicados no post de Carmelo Neto. Em seguida, consultamos o Portal da Transparência do Governo Federal, no qual constam as transferências realizadas oficialmente pela União para estados e municípios.

Em paralelo, contactamos o governo do Amazonas e a Secretaria da Fazenda, por meio do Whatsapp, para saber os valores das transferências federais em 2020. Usamos também dados do site oficial do Governo do Estado e da Secretaria Estadual da Saúde sobre o assunto. O Portal da Transparência do Amazonas também serviu como fonte de informação. A Prefeitura de Manaus foi contactada e, por e-mail, respondeu algumas questões.

Entramos em contato, via Whatsapp, com a assessoria do autor da postagem. O vereador respondeu às questões por meio do aplicativo. Devido à menção na publicação a um suposto superfaturamento de contrato, no combate à crise sanitária no estado, o Ministério Público Federal do Amazonas também foi acionado. O Comprova entrou em contato com a assessoria de imprensa que, via Whatsapp e por e-mail, informou alguns links da página do órgão nos quais há informações sobre a operação contra fraudes e desvios na compra de respiradores no Amazonas.

No processo de verificação, o Comprova também tomou como referência alguns procedimentos, como consultas aos portais da transparência, evidenciados em uma matéria do Estadão Verifica, sobre repasses de verba da União ao Amazonas.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 26 de janeiro de 2021.

Verificação

Crise no Amazonas

Durante a pandemia, o Amazonas tem vivenciado situações de colapso da rede hospitalar em alguns municípios, incluindo a capital Manaus. Em janeiro, pela segunda vez, o aumento de internações por covid-19 provocou uma crise de grandes proporções que alarmou o país. Pacientes morreram por falta de oxigênio nos hospitais. Em meio ao caos no sistema de saúde no estado, o governo federal diz ter feito o que pode para ajudar. Um dos argumentos é de que foram transferidos recursos suficientes.

Na postagem de Carmelo Neto, os valores mencionados são os mesmos divulgados pelo presidente Jair Bolsonaro, em uma publicação no Twitter, no dia 15 de janeiro.

No post de Bolsonaro não há texto, somente uma imagem com dados do Portal da Transparência, administrado pela Controladoria-Geral da União (CGU), na qual consta que o governo federal, em 2020, transferiu R$ 8,91 bilhões de recursos para o Amazonas e seus municípios. A imagem também afirma que Manaus recebeu R$ 2,36 bilhões da União.

Em consulta feita pelo Comprova ao Portal da Transparência, no dia 20 de janeiro, os valores que apareceram, após a busca por transferências da União ao estado do Amazonas, são os mesmos que constam na postagem do presidente.

Conforme o portal, R$ 6,1 bilhões repassados, do total de R$ 8,9 bilhões, são das chamadas transferências obrigatórias. O montante equivale a 69% do total de dinheiro destinado ao estado. Esses valores são aqueles que a Constituição prevê que a União deve enviar obrigatoriamente aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios.

Nesse montante estão incluídos, por exemplo, os recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e do Fundo da Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).

Dos R$ 8,9 bilhões enviados ao Amazonas, R$ 2,8 bilhões se referem às transferências voluntárias. Essas são as verbas destinadas pela União aos estados e municípios, conforme o próprio nome pressupõe, de forma não obrigatória, e com base em demandas específicas desses locais. Normalmente, as transferências voluntárias são condicionais, exigindo alguma contrapartida dos beneficiados, como o cumprimento de algum requisito legal.

No caso da capital, Manaus, dos R$ 2,36 bilhões destinados pela União em 2020, segundo o Portal da Transparência, 42% foram de transferências obrigatórias.

O Comprova buscou saber junto ao Governo Federal e Governo Estadual do Amazonas quanto, dos R$ 8,9 bilhões destinados ao Amazonas, foi exclusivamente para combate à pandemia. O Governo do Amazonas, em diferentes sites oficiais da gestão pública, apresentou valores divergentes. Em publicação no site da Secretaria da Saúde, no dia 11 de novembro de 2020, consta que o Ministério da Saúde destinou ao Amazonas R$ 650 milhões para o enfrentamento da Covid-19.

Já em publicação no site do Governo do Amazonas, no dia 15 de janeiro de 2021, consta que R$ 516,6 milhões foram repassados ao Estado para o enfrentamento da pandemia em 2020. O texto menciona os R$ 8,91 bilhões e reitera que desse total “a maior parte foi em repasses constitucionais, que são obrigatórios à União”.

O Comprova buscou a assessoria de comunicação da Secretaria da Fazenda do Amazonas e questionou os valores divergentes, inclusive com o envio de links das fontes mencionadas.

Por e-mail, a assessoria informou, no dia 25 de janeiro, que “houve um erro em ambos os dados divulgados, tanto pela Secretaria de Comunicação (Secom) quanto pela Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SESC-AM)” e informou o que, segundo eles, é a informação correta: o valor do repasse específico para combate à pandemia é R$ 487 milhões.

Vale ressaltar que desse total mencionado pelo Governo do Amazonas, R$ 267,5 milhões são verbas vinculadas à saúde especificamente para enfrentamento da covid, previstas na Lei Complementar nº 173, de 27 de maio de 2020, de socorro financeiro aos estados e municípios durante a pandemia. Se consideradas somente as transferências específicas para a pandemia, vinculadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), seja para custeio ou investimento, o valor repassado pelo Governo Federal é de R$ 219, 4 milhões.

O Ministério da Economia também foi procurado pelo Comprova, via e-mail. Diante da indagação sobre o registro de R$ 8,9 bilhões repassados ao Amazonas em 2020 e de quanto dessa verba foi especificamente para combate à crise sanitária, o órgão informou que “o portal da Transparência está sob a gestão da Controladoria Geral da União portanto essa pergunta deve ser direcionada para a CGU”. O Comprova também entrou em contrato com a assessoria da CGU, mas não obteve resposta.

A assessoria da Prefeitura de Manaus afirmou, por e-mail, que o valor descrito no post verificado, de R$ 2,3 bilhões para a capital, foi das transferências obrigatórias. E destacou que “são recursos globais, para investimentos em todas as áreas, como saúde, educação, infraestrutura, mobilidade, entre outros”.

Portanto, é fato que o governo federal repassou ao Amazonas, e a Manaus, os valores mencionados nas postagens. Contudo, parte dessa transferência era obrigatória – não sendo uma ação voluntária da gestão federal, tampouco do presidente, direcionada ao Amazonas diante das demandas da pandemia. A verba não foi destinada somente à área da saúde. Essas transferências são para uso geral nas unidades da federação e podem ser utilizadas para financiar diversas áreas da administração pública, tanto nos estados, como nos municípios.

Outro ponto é que, conforme levantamento da Folha de São Paulo feito com base na postagem do presidente referente ao envio de recursos, Manaus, em 2020, foi a segunda capital que menos recebeu verba federal, se considerado o número de habitantes. Na capital do Amazonas, conforme a publicação, foram R$ 1.063 por habitante. O valor é um pouco maior que na cidade do Rio de Janeiro, com R$ 946,00 por morador. As capitais Vitória (ES) e Palmas (TO) constam no topo da lista de repasse federal por pessoa e, segundo o jornal, receberam mais de R$ 4.000 por morador.

Pelo Whatsapp, Carmelo informou que a motivação para a postagem foi “o sentimento de injustiça causado pela campanha da grande mídia interessada em culpar o Pres. Bolsonaro pela falta de oxigênio em Manaus”. Ele diz que a fonte dos valores mencionados foi o Portal da Transparência e, embora na publicação trate de questões específicas da crise sanitária e não faça referência ao orçamento geral, afirma que os números citados no post “referem-se ao total dos repasses do governo federal ao Estado do Amazonas e ao município de Manaus”.

Apoio financeiro aos estados

Conforme já mencionado, o governo do Amazonas informou que recebeu R$ 267,5 milhões de verbas vinculadas à saúde previstas na Lei Complementar nº 173, que garante apoio para o equilíbrio financeiro de estados e municípios na crise sanitária. Além disso, foi repassado, segundo a gestão estadual, outros R$ 626,3 milhões também inclusos na Lei, mas sem a vinculação obrigatória à saúde. O que resulta em um repasse total de R$ 893.884.088,36 ao Amazonas no programa de auxílio financeiro.

A nota da gestão estadual informa ainda que foram recebidos outros R$ 264,1 milhões oriundos da compensação dos repasses do Fundo de Participação dos Estados, previsto na Lei 14.041 de agosto de 2020, também de apoio financeiro aos estados.

O Ministério da Economia, por e-mail, disse ao Comprova, no dia 25 de janeiro, que os recursos transferidos ao Amazonas por meio do auxílio financeiro foram cerca de R$ 894 milhões. A pasta federal informou o link para consulta dos valores repassados (item auxílio financeiro – artigo 5º da Lei Complementar nº 173)). Ao consultar, o Comprova constatou que, de acordo com o Ministério da Economia, foram feitos quatro repasses que totalizaram R$ 893.884.088,36 em envios.

Denúncias no Amazonas e loja de vinhos

O Ministério Público Federal investiga, desde abril de 2020, superfaturamento na compra de ventiladores pulmonares adquiridos de uma importadora de vinhos – “Vineria Adega” que seriam usados para tratamento da covid-19 no Amazonas. A investigação acontece na chamada Operação Sangria, que já prendeu suspeitos em outubro do ano passado.

A compra, autorizada pelo governador Wilson Lima, era de 28 respiradores e teria custado R$ 2,9 milhões. As investigações mostraram que Lima indicou um homem de sua confiança para intermediar as aquisições com uma loja de vinhos que vendeu os aparelhos ao estado. Uma perícia da Polícia Federal indicou que o superfaturamento chegava a 133,67%.

Em novembro, o Ministério Público, a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União cumpriram outros mandados de prisão e de busca e apreensão na terceira fase de investigação da Sangria. Além da compra superfaturada, a operação investiga lavagem de dinheiro, organização criminosa e montagem de processos para encobrir os crimes praticados. Em vídeo publicado em seu Instagram, Wilson Lima disse estar surpreso com a investigação e que estava tranquilo, pois desde o início da pandemia ele afirmou que tem trabalhado para salvar vidas.

Alerta sobre situação de colapso

O governo federal estava ciente desde o dia 8 de janeiro sobre um “iminente colapso do sistema de saúde” do Amazonas, 10 dias antes de começar a faltar cilindros de oxigênio nas unidades de saúde do estado. Essa informação foi confirmada por um ofício da Advocacia-Geral da União (AGU), órgão do governo federal, enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF). A informação foi publicada no G1 e confirmada pelo próprio ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

Segundo a AGU, na última semana de dezembro de 2020, o Ministério da Saúde constatou, durante estudo para elaboração de um novo plano de enfrentamento da pandemia, uma situação sanitária que “revelou aumento significativo no número de hospitalizações” em Manaus.

O ofício descreve que a pasta se reuniu com seus secretários em 3 e 4 de janeiro de 2021 para analisar a situação da capital. Entre as conclusões estava a de que havia a “possibilidade iminente de colapso do sistema de saúde, em dez dias, o que pode provocar aumento da pressão sobre o sistema, entre o período de 11 a 15 de janeiro”.

Em entrevista coletiva no dia 18 de janeiro, Pazuello confirmou os fatos narrados no ofício enviado ao STF. “No dia 8 de janeiro, nós tivemos a compreensão, a partir de uma carta da White Martins [empresa produtora do oxigênio], de que poderia haver falta de oxigênio se não houvesse ações para que a gente mitigasse este problema”, disse. Ele explicou que a carta foi “uma surpresa e tanto”, e que apesar da notificação, o assunto estava “equilibrado pela empresa”. Segundo Pazuello, a crise aconteceu porque a velocidade das internações e demanda por oxigênio aumentou abruptamente, e a empresa não deu conta da demanda.

A White Martins é uma multinacional brasileira que trabalha com produção de gases para uso industrial e medicinal. A empresa foi contratada pela Secretaria de Saúde do Amazonas para fornecer o oxigênio hospitalar para toda a rede pública do estado.

Desde o dia 14 de janeiro, data em que estourou a crise, o governo federal enviou sete usinas geradoras com capacidade de produção de 13 a 22 m³/hora e aviões cargueiros militares levaram 180 toneladas de suprimentos e equipamentos para Manaus, incluindo isotanques com oxigênio.

No dia 16 de janeiro, o procurador-geral da República, Augusto Aras, determinou abertura de inquérito no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para apurar possíveis responsabilidades do governador do estado do Amazonas, Wilson Lima (PSC), e da Prefeitura de Manaus quanto à adoção das medidas necessárias ao enfrentamento da pandemia, sobretudo no que diz respeito ao fornecimento de oxigênio medicinal.

A gestão Bolsonaro, segundo a própria Advocacia-Geral da União, também estava ciente da situação emergencial de Manaus desde 8 de janeiro, seis dias antes do esgotamento dos cilindros no estado. Apesar disso, na ocasião, Aras não pediu a abertura de investigação sobre a atuação de Bolsonaro ou Pazuello. A procuradoria havia solicitado apenas esclarecimentos do Ministério da Saúde, o que gerou uma onda de críticas.

No sábado, dia 23 de janeiro, o procurador-geral solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF), conforme notícia no site da PGR, abertura de inquérito para apurar a conduta de Pazuello, em relação ao colapso da saúde pública em Manaus (AM). Segundo a nota, o pedido decorre de representações formuladas por partidos políticos, que relataram conduta omissiva do ministro.

Na segunda-feira, dia 23 de janeiro, o ministro do STF, Ricardo Lewandowski, autorizou a abertura de inquérito para investigar a conduta do ministro da Saúde. Com isso, Pazuello passa a ser formalmente investigado no Supremo por conta da crise vivenciada no Amazonas. A investigação vai começar pelo depoimento do ministro à Polícia Federal, que após a intimação oficial terá 5 dias para indicar dia, hora e local que irá falar à PF. O ministro Lewandowski definiu prazo inicial de 60 dias para as investigações da PGR.

Quem é o autor do tuíte

Carmelo Neto é filiado ao Partido Republicanos e apoiador do presidente Jair Bolsonaro. Em 2020, foi eleito o vereador mais jovem de Fortaleza, com 19 anos. No site DivulgaCand consta que ele disputou a primeira eleição em 2020 para cadeira na Câmara Municipal de Fortaleza. Ele faz parte do Conselho Nacional de Juventude, conforme DO, desde dezembro de 2019, com nomeação assinada por Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus, principalmente as que têm grande alcance nas redes sociais. A postagem no Instagram de Carmelo Neto chegou a quase 11 mil interações, enquanto que no Twitter teve 3,4 mil. Carmelo teve outra postagem analisada pelo Comprova e classificada como falsa.

O Amazonas vive, pela segunda vez durante a pandemia do coronavírus, um colapso nas redes pública e particular de saúde. O mês de janeiro é marcado por mortes por falta de oxigênio no estado, colocando a capital amazonense na imprensa internacional. Publicações como essas são prejudiciais, pois, ao usarem informações de forma enganosa, confundem a população em um momento extremamente delicado. Além disso, podem induzir a erros de interpretação quanto aos reais papéis e responsabilidades dos entes federativos frente a uma crise de dimensões desproporcionais na saúde pública.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-01-25

Recém-nomeados, médicos foram vacinados no primeiro dia de imunização em Manaus

  • Comprovado
Comprovado
Todos os envolvidos citados em um tuíte são médicos. Eles são recém-formados, tiveram suas nomeações publicadas no Diário Oficial da prefeitura de Manaus nos dias 18 e 19 de janeiro de 2021 e foram vacinados no primeiro dia de imunização na capital amazonense.
  • Conteúdo verificado: Post no Twitter que exibe fotos de jovens de famílias conhecidas do Amazonas sendo vacinados no primeiro dia de imunização na capital. Na postagem também é dito que todos foram recém-nomeados a cargos comissionados pelo novo prefeito de Manaus.

É verdadeira a publicação feita pelo perfil “Bora Conversar Política” sobre filhos de políticos e de empresários em Manaus terem sido vacinados um dia após suas nomeações a cargos comissionados na prefeitura da capital do Amazonas. O post exibe imagens dos jovens sendo vacinados e mostra, como noticiado por diversas mídias e checado pelo Projeto Comprova, Gabrielle Kirk Lins e Isabelle Kirk Lins, filhas de Niltinho Lins Jr., herdeiro do hospital e da universidade Nilton Lins. O terceiro citado é David Dallas, filho do ex-deputado estadual e empresário Wanderley Dallas.

O Comprova confirmou no site do Conselho Federal de Medicina que todos os envolvidos são médicos. Eles são recém-formados e tiveram suas nomeações publicadas no Diário Oficial da prefeitura de Manaus nos dias 18 e 19 de janeiro de 2021. Desse modo, não haveria tempo para os médicos terem trabalhado na linha de frente nos hospitais que estão atuando contra a covid-19.

A prefeitura de Manaus, em nota publicada em seu site, disse não haver irregularidade “uma vez que se encontram nomeadas e atuando legitimamente no plantão da unidade de saúde, para a qual foram designadas, em razão da urgência e exceção sanitárias, estabelecidas nos primeiros 15 dias da nova gestão”. O Comprova entrou em contato com as jovens citadas e com o perfil “Bora Conversar Política”, tendo o retorno apenas desse último.

Como verificamos?

Consultamos o Diário Oficial para confirmar se os três médicos foram nomeados, bem como a data da nomeação. Confirmamos também com o Conselho Federal de Medicina a formação dos jovens em medicina.

A consulta também confirmou a veracidade do print da página do Diário Oficial que foi colocada na postagem verificada. Também pesquisamos, na página da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas o sobrenome do médico David Louis de Oliveira Dallas Dias, e confirmamos que ele é filho do ex-deputado estadual Wanderley Dallas.

Em seguida, apuramos no portal da Prefeitura de Manaus a nomeação e a vacinação das duas médicas, vacinadas no primeiro dia da imunização no estado. Segundo a nota, a prefeitura afirmou que não há irregularidades na imunização de ambas.

Também tentamos contato com as páginas do Instagram de Gabrielle Lins e Isabelle Lins, que não responderam e com a página que viralizou o caso no Twitter, BC Política, que respondeu ao Comprova.

Procuramos o Sindicato dos Médicos do Amazonas para comentar a situação da falta de doses de Coronavac na capital, e se as irregularidades estão diretamente ligadas à situação de médicos na linha de frente que ainda não foram vacinados.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 25 de janeiro de 2021.

Verificação

Pessoas vacinadas na foto são médicos familiares de políticos no Amazonas

As duas mulheres nas fotos das postagens são Gabrielle Kirk Maddy Lins e Isabelle Kirk Lins, ambas médicas da família Lins, proprietária da Universidade Nilton Lins na capital amazonense. De acordo com o Diário Oficial, Gabrielle foi nomeada gerente de projetos da Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA) no dia 18 de janeiro. A irmã, Isabelle, foi nomeada gerente de projetos na mesma secretaria no dia 19 de janeiro.

Como mostrou a Agência Amazônia Real, a família Lins, além de um hospital e uma universidade, mantém negócios com a prefeitura de Manaus e o governo do Amazonas. Desde 15 de outubro de 2012, as gêmeas são sócias da empresa de laticínios Rancho Ing Ferradurinha Agro Industrial, que tem um capital de R$ 1 milhão de reais. Quando da criação da empresa, elas tinham 16 anos.

O homem na terceira foto é David Louis de Oliveira Dallas Dias. Ele é médico e foi nomeado gerente de projetos SEMSA, em 19 de janeiro. É filho do ex-deputado estadual Wanderley Dallas, e também se formou no ano passado na mesma instituição que as irmãs Lins.

Médicos foram vacinados no primeiro dia da imunização

Segundo uma nota publicada pela Prefeitura de Manaus em 19 de janeiro, as duas médicas foram vacinadas no primeiro dia de imunização da capital. Em uma live no Facebook o prefeito de Manaus se pronunciou devido à repercussão do caso. David Almeida disse que as nomeações tiveram que ser urgentes devido à situação da capital.

“Nós estamos com aproximadamente 122 médicos afastados, você não tem ideia da dificuldade de conseguir médicos. Nós conseguimos 10 médicos e, pela primeira vez, foram nomeados no gabinete, não dava tempo de fazer contrato”.

Isabelle Lins e David Dallas foram nomeados no mesmo dia do início da vacinação na capital, como é possível verificar no Diário Oficial de 19 janeiro. Já Gabrielle Lins foi nomeada no dia 18 de janeiro.

A prefeitura diz que houve baixo volume de doses repassadas pelo governo do estado à SEMSA – apenas 40.072 das 282 mil recebidas do Ministério da Saúde, após ter divulgado que o repasse foi de 256 mil doses. A prefeitura reservou 12,2% delas para os profissionais da rede municipal, que estão atuando no enfrentamento à covid-19. O acontecido foi de encontro com as alegações, visto que as médicas não poderiam ter sido vacinadas, pois foram nomeadas apenas a cargos administrativos e não atuando nas Unidades Básicas de Saúde quais as vacinas foram destinadas.

Procurado pelo Comprova, o presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas, Dr. Mário Vianna, afirma que também não foi vacinado. “A questão das médicas vacinadas foi um dos pontos que complicaram a imunização em Manaus. Há denúncias sobre outros profissionais da saúde que não estão na linha de frente ou que não seriam prioridade por não serem de áreas de atuação, como UTI, Sala Rosa ou Prontos Socorros. O TCU e o MPF já se meteram, pedindo investigações; a lista de vacinados mostrou uma série de irregularidades, como CPFs falsos e nomes repetidos. Com tudo isso, possivelmente se comprova que houve desvio de vacinas”, defende.

O médico, que trabalha como cirurgião na UTI da Maternidade Balbina Mestrinho, conta que há hoje sete internados com covid-19 na unidade. “Na lista de vacinados, há trabalhadores aqui da maternidade que receberam a dose da Coronavac, mas não houve vacinação oficial no hospital”.

A vacinação na capital ficou suspensa por dois dias na semana passada, devido às denúncias de irregularidade, conforme publicou o portal G1. Foi dada uma ordem judicial à prefeitura para que abra a lista dos vacinados. A lista foi publicada nesse fim de semana.

Quem é BC Política

Postagens com referência às irmãs começaram a circular a partir de capturas de tela do instagram. A postagem encontrada pelo Comprova com maior circulação é de uma página de conteúdo político – a maior parte local de Manaus – com cerca de 17 mil seguidores, a @BCPolitica.

Procurados, os autores da página responderam que já encontraram o conteúdo circulando e que o objetivo do perfil é discutir política, mas que não são jornalistas.

Os perfis no instagram @gablins e @isalins desde que o caso viralizou, estão fechados.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus, principalmente as que têm grande alcance nas redes sociais.

O Amazonas vive, pela segunda vez durante a pandemia do coronavírus, um colapso nas redes pública e particular de saúde. O mês de janeiro é marcado por mortes por falta de oxigênio no estado, colocando a capital amazonense na imprensa internacional.

O assunto ganhou repercussão nas redes sociais desde que o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), disse em transmissão ao vivo no Facebook na noite da terça-feira, 19, que os profissionais de saúde da cidade não poderão publicar registros da vacinação contra a covid-19 nas redes sociais.

A postagem do BC Política de 20 de janeiro, teve mais de 13 mil retweets e cerca de 50 mil interações. A Folha de S.Paulo também noticiou o caso das irmãs Lins. A Revista Fórum noticiou o caso de David.

Comprovado, para o Comprova, é o fato verdadeiro; evento confirmado; localização comprovada; ou conteúdo original publicado sem edição.

Saúde

Investigado por: 2021-01-22

É enganoso que imunogenicidade da CoronaVac ofereça risco; Anvisa pediu dados complementares e não questionou segurança

  • Enganoso
Enganoso
Dirigente da Anvisa disse, de fato, que dados de imunogenicidade - a capacidade que uma vacina tem para induzir o sistema imunológico a produzir anticorpos - da CoronaVac eram inadequados. A Anvisa explicou, no entanto, que não há questionamentos em relação à segurança da vacina.
  • Conteúdo verificado: Postagens na rede social Twitter que falam sobre a imunogenicidade inadequada da vacina CoronaVac e questionam sua eficácia.

São enganosos os posts no Twitter que lançam dúvidas sobre a CoronaVac por conta de seus dados de imunogenicidade – a capacidade que uma vacina tem para induzir o sistema imunológico a produzir anticorpos. A CoronaVac foi aprovada para uso emergencial no Brasil no dia 17 de janeiro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As postagens colocam em dúvida a eficácia e a segurança da vacina com base em uma declaração do gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa, Gustavo Mendes, que disse que os dados de imunogenicidade da CoronaVac eram inadequados.

De fato, Gustavo Mendes usou estas palavras durante uma entrevista concedida ao portal UOL em 17 de janeiro, para se referir aos dados apresentados pelo Instituto Butantan em relação à imunogenicidade da CoronaVac. Mas, o gerente-geral também disse que a inadequação estava no fato de os dados serem qualitativos e não quantitativos.

Por e-mail, a Anvisa explicou ao Comprova que não há questionamentos em relação à segurança da CoronaVac. O que faltou foi a apresentação dos dados detalhados sobre a metodologia do teste de imunogenicidade, além da informação de como se deu a evolução dos anticorpos no grupo que tomou a vacina em relação ao grupo que tomou placebo.

O Butantan assinou um termo de compromisso e tem até 28 de fevereiro para enviar os dados complementares à Anvisa. Essas informações são importantes para saber a eficácia da vacina para grupos diferentes como idosos, jovens, pessoas com comorbidades e entre aqueles que já foram infectados, por exemplo.

Como verificamos?

Inicialmente, procuramos especialistas que explicassem o que é a imunogenicidade de uma vacina e qual a situação da CoronaVac em relação a esse dado. Para isso, ouvimos o imunologista André Báfica, coordenador do Laboratório de Imunobiologia no Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia (MIP) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e Flávio Fonseca, coordenador do CT-Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV).

Também consultamos o dicionário de conceitos da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Entramos em contato com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para esclarecer o significado da fala do gerente Gustavo Mendes e procuramos o Instituto Butantan para que explicasse que dados ainda precisam ser enviados à Agência.

Também procuramos os autores dos tuítes que viralizaram. Segundo eles, as informações divulgadas em seus perfis são baseadas em uma matéria do UOL e comunicados da Anvisa. Com um dos três autores não conseguimos contato. No entanto, em seu perfil ele também compartilha as afirmações tirando de contexto os dados publicados pela Anvisa na apresentação da Coronavac.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 22 de janeiro de 2021.

Verificação

O que é imunogenicidade?

Imunogenicidade é a capacidade que uma vacina tem induzir respostas imunes protetoras contra um organismo infeccioso, conforme explica o imunologista André Báfica, coordenador do Laboratório de Imunobiologia no Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia (MIP) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Em outras palavras, é a capacidade que uma vacina tem que induzir o sistema imunológico a produzir anticorpos. Para afirmar que a imunogenicidade de uma vacina é de 100%, é preciso que todas as pessoas vacinadas tenham desenvolvido anticorpos. Se, por exemplo, metade das pessoas os desenvolveu, a imunogenicidade é de 50%.

Mais do que produzir anticorpos, uma alta imunogenicidade aponta que os anticorpos são bons. “Quanto mais imunogênica é uma vacina, mais anticorpos ou mais células de defesa, anticorpos de melhor qualidade, células de defesa de melhor qualidade são produzidas. Uma vacina muito imunogênica é uma vacina que produz muitos anticorpos e bons anticorpos, muitas células de defesa e boas células de defesa. Quando eu falo boas são anticorpos e células de defesa adequados ao combate ou o reconhecimento do patógeno contra o qual se vacinou”, detalha o professor Flávio Fonseca, coordenador do CT-Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Segundo a Anvisa, os dados de imunogenicidade apresentados pela CoronaVac são inadequados porque são qualitativos e não quantitativos. Segundo a agência, é preciso que o Instituto Butantan apresente a metodologia e os detalhes de como os testes de imunogenicidade foram feitos.

O Instituto Butantan foi procurado pelo Comprova, mas não respondeu até a publicação desta verificação. Em agosto, no entanto, publicou um release em que afirmava que a Coronavac “se mostrou segura e com bom índice de imunogenicidade”, com base em um estudo que analisou o comportamento de 600 voluntários vacinados na China.

Os dois especialistas ouvidos pelo Comprova, no entanto, afirmam que os dados de imunogenicidade da CoronaVac são bons. “No caso da covid-19, uma doença viral, a resposta imune protetora aferida em ensaios de vacinas é baseada principalmente na produção de anticorpos neutralizantes. Levando isso em consideração, 100% dos voluntários que foram vacinados em ensaios de fase clínica 2, vacinação nos dias 0 e 28, tiveram anticorpos neutralizantes. Esta resposta se mostrou adequada para que a vacina entrasse em estudos de fase 3”, explica André Báfica, da UFSC.

Báfica usa como base os dados divulgados em um artigo publicado em 17 de novembro de 2020 na The Lancet pelos pesquisadores chineses Yanjun Zhang, PhD em Microbiologia e pesquisador do Centro Provincial de Zhejiang para Controle e Prevenção de Doenças; Gang Zeng, também PhD, ligado ao laboratório Sinovac Biotech; Hongxing Pan, do Centro Provincial de Jiangsu para Controle e Prevenção de Doenças; Changgui Li, dos Institutos Nacionais de Controle de Alimentos e Medicamentos, em Pequim, na China; Yaling Hu, da Sinovac Biotech; e Kai Chu, do Centro Provincial de Jiangsu para Controle e Prevenção de Doenças.

O artigo mostra os dados de imunogenicidade da CoronaVac para adultos saudáveis entre 18 e 59 anos, nas fases de 1 e 2 de testes, controladas por placebo. Foram estes dados de imunogenicidade que apontaram que a vacina era segura para seguir para a fase 3 de testes. Os dados mostram que houve “soroconversão [produção] de anticorpos neutralizantes” em 100% das pessoas que fizeram uso da dose alta da CoronaVac ao final dos testes, enquanto a geração de anticorpos neutralizantes no grupo que fez uso do placebo foi de 0%.

O professor André Báfica explicou que, em tese, os dados de imunogenicidade podem variar de acordo com o país em que os testes foram feitos, mas isso é raro.

Eficácia global e segurança não estão comprometidas

De acordo com dados divulgados pelo Instituto Butantan em 12 de janeiro, a CoronaVac obteve 50,38% de eficácia global no estudo clínico desenvolvido no Brasil, índice superior ao exigido pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Além disso, o imunizante apresentou 78% de proteção em casos leves e 100% em casos moderados e graves da covid-19. Neste último critério, ainda não há significância estatística para ter certeza sobre o dado, então mais observações precisam ser feitas.

Para a Anvisa, não há dúvidas quanto à segurança da vacina, já que as informações colocadas como “inadequadas” dizem respeito à imunogenicidade e são necessárias para se conhecer a eficácia da vacina em grupos com perfis diferentes, como idosos, jovens, pessoas com comorbidades e entre aqueles que já foram infectados previamente e os que não foram.

O professor Flávio Fonseca, coordenador do CT-Vacinas-UFMG, discorda que os dados do imunizante produzido pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chines Sinovac, sejam inadequados: “As formas que os cálculos foram feitos são corretos, e mostra que é uma vacina com um potencial de proteção, uma eficácia global limitada, mediana apenas. Mas ela tem eficácia em evitar o surgimento de casos graves, leves e moderados, o que nesse momento de emergência sanitária justifica o uso emergencial dessa vacina”, concluiu.

Em relação à segurança da vacina, de acordo com o documento de autorização de uso emergencial da CoronaVac, apresentado pela Anvisa em 17 de janeiro, a reação mais comum observada após a aplicação da segunda dose da vacina foi dor no local, que ocorreu em 40,1% dos adultos e 27,8% dos idosos.

Importante dizer que neste momento a vacina aprovada para uso emergencial não pode ser aplicada em pessoas com menos de 18 anos, naqueles que já apresentaram reação anafilática confirmada a qualquer componente da vacina, pessoas com sintomas ou suspeita da covid-19 e em gestantes apenas após avaliação médica.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus que tenham grande alcance nas redes sociais.

Os conteúdos verificados somavam até o fim desta reportagem quase 20 mil interações no Twitter. Publicações como essas não têm fundamentos e servem apenas para assustar a população acerca das vacinas e outras medidas que contribuem no combate da disseminação do vírus da covid-19. A vacina já teve sua eficácia comprovada, e as outras recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), como o uso de máscaras, seguem sendo as únicas medidas preventivas contra o coronavírus.

O Comprova já verificou outros conteúdos que propagam a desinformação em torno das vacinas, como as postagens enganosas que dizem que os vacinados pela CoronaVac estarão protegidos pela metade, que eficácia da CoronaVac seria apenas 0,38% superior ao placebo, também foi apontado como falso o post que dizia que enfermeira que recebeu a primeira dose da CoronaVac já estava imunizada.

Enganoso, para o Comprova é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-01-20

É falso que eficácia da CoronaVac seja apenas 0,38% superior ao placebo

  • Falso
Falso
Diferentemente do que afirma um tuíte verificado pelo Comprova, a eficácia global alcançada nos testes da fase 3 da CoronaVac significa que 50,38% dos vacinados estão totalmente protegidos da covid-19. Os outros 49,62%, apesar de poderem contrair a doença, também desenvolvem anticorpos, o que pode reduzir a incidência de casos moderados e graves.
  • Conteúdo verificado: Post no Twitter que afirma que a CoronaVac é apenas 0,38% superior ao placebo.

É falso que a CoronaVac, vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, em São Paulo, em parceria com a chinesa Sinovac, tenha eficácia contra a covid-19 apenas 0,38% superior ao placebo. A eficácia da vacina, na verdade, é 50,38% superior à do placebo – mesmo dado da eficácia geral, divulgada no último dia 12 de janeiro pelo Butantan.

A informação de que a vacina seria apenas 0,38% superior ao placebo consta em um tuíte publicado no último dia 14 de janeiro, sugerindo que não há diferença significativa entre a vacina e o placebo, o que não é verdade.

A eficácia da vacina é calculada levando em conta o quanto de efeito ela provoca a mais do que o placebo, que tem eficácia zero na proteção contra o vírus. Ou seja: se a eficácia geral da CoronaVac foi de 50,38%, significa que ela teve 50,38% mais efeito do que o placebo administrado nos participantes dos testes da fase 3.

No caso da CoronaVac, os testes foram feitos em 9.242 participantes, todos profissionais de saúde que trabalham na linha de frente do combate à covid-19. Destes, 4.653 receberam a vacina e outros 4.599 receberam o placebo. No primeiro grupo, o dos vacinados, 85 pessoas adoeceram, enquanto no segundo, que receberam placebo, 167 contrairam a doença.

Além da eficácia global, os testes com a CoronaVac alcançaram outros percentuais secundários de eficácia: 78% para casos leves, em que a pessoa precisa de assistência médica, e nenhum dos que receberam as doses da vacina nos testes da fase 3 apresentou casos moderados a graves em que o paciente precisa de hospitalização e, em alguns casos, de internação em leito de UTI. Isso geraria um índice de 100% de eficácia contra casos graves, mas o próprio Instituto Butantan indicou que, como são poucos casos registrados nesse critério, mais observações precisam ser feitas.

Como verificamos?

Primeiramente, entramos em contato com o Instituto Butantan, para que explicasse como a eficácia da vacina é calculada em relação ao placebo.

Em seguida, ouvimos Luiz Gustavo Almeida, doutor em Microbiologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP e diretor do Instituto Questão de Ciência (IQC), Rafael Dhalia, doutor em biologia molecular e especialista em desenvolvimento de vacinas de DNA pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e o biomédico e mestre em microbiologia Mateus Falco, integrante da Rede Análise Covid-19.

Por fim, consultamos reportagens que explicam o que é a eficácia de uma vacina e como ela se aplica à CoronaVac. Também procuramos a autora do tuíte, identificada na rede social como Paula Marisa, mas não obtivemos resposta até a publicação desta checagem.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 20 de janeiro de 2021.

Verificação

Eficácia da vacina é 50,38% superior à do placebo

É equivocada a afirmação, feita no tuíte verificado, de que a CoronaVac é apenas 0,38% mais eficaz do que o placebo. Especialistas ouvidos pelo Comprova explicam que ela é 50,38% superior ao placebo, que tem eficácia zero em proteger contra a covid-19. Por e-mail, o Instituto Butantan, em São Paulo, nos encaminhou o relatório da pesquisa simplificado, apresentado na coletiva de imprensa que divulgou a eficácia da vacina e reafirmou, por telefone, que a eficácia dela é 50,38%, enquanto o placebo tem efeito zero de proteção contra a covid-19.

De acordo com resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o placebo é uma “formulação sem efeito farmacológico, administrada ao participante do ensaio clínico com a finalidade de mascaramento ou de ser comparador”.

Luiz Gustavo Almeida, doutor em Microbiologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP e diretor do Instituto Questão de Ciência (IQC), explica que, nos estudos clínicos para medicamentos ou vacinas, é sempre medido qual o efeito a mais que eles provocam em relação ao verificado sobre o grupo placebo.

No caso da CoronaVac, o placebo tinha uma série de substâncias, mas não o vírus inativado usado na vacina. De uma forma simplificada, pode-se dizer que o placebo não tinha justamente aquilo que era necessário para que o sistema imunológico produzisse anticorpos contra o coronavírus.

Ou seja, mesmo que não seja uma substância totalmente inerte, a eficácia do placebo é zero, porque não tem um princípio ativo capaz de proteger as pessoas do vírus. “A vacina CoronaVac tem 50,38% de eficácia em relação ao placebo, ou seja, o placebo tem 0%, portanto a diferença é de 50,38% e não 0,38%, como comentado”, explica Rafael Dhalia, doutor em biologia molecular e especialista em desenvolvimento de vacinas de DNA pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Por que não é possível dizer que a diferença é de 0,38%?

Para que a eficácia da CoronaVac fosse apenas 0,38% superior à do placebo, seria necessário partir do pressuposto de que cada um dos grupos tem uma eficácia de 50% – e que a vacina teria, após os testes, conseguido ‘avançar’ apenas 0,38% em relação ao placebo, alcançando uma eficácia de 50,38%. Seria como dizer que a proteção seria como um jogo de cara ou coroa.

Isso não faz sentido a partir do momento em que se compreende que o placebo não tem qualquer eficácia em proteger as pessoas contra a covid-19. Se ele tem uma eficácia de 0%, a vacina, obviamente, é 50,38% superior a ele.

Especialistas ouvidos pelo Comprova explicam que, durante os testes, é feito um cálculo de risco de se contrair a doença a partir do número de pessoas que adoeceram no grupo vacina e no grupo placebo, de forma proporcional.

A partir desses resultados é que é calculada a eficácia da vacina, que aponta o quanto ela teve mais sucesso em imunizar as pessoas de seu grupo do que o placebo administrado no outro grupo. A única coisa aleatória nesse processo, explica o biomédico e mestre em microbiologia Mateus Falco, integrante da Rede Análise Covid-19, é a escolha sobre quem vai participar do grupo vacina e quem vai para o grupo placebo.

“Não tem como você comparar dois grupos e falar que você jogou uma moeda para cima para selecionar aquele que se infectou ou não. Você pode jogar uma moeda para cima para saber quem vai ficar em cada grupo [placebo ou vacina], mas não para dizer quem se infectou, isso não existe”, afirma.

O que significa o resultado da eficácia da CoronaVac

No último dia 12 de janeiro, o Instituto Butantan informou que a CoronaVac tinha uma eficácia geral de 50,38%. O Instituto Butantan explica que a taxa geral de eficácia de 50,38% se aplica em pacientes que tenham sintomas muito leves e não dependem de suporte médico.

“O estudo verificou que a menor taxa foi registrada em casos de infecções muito leves, considerados score 2 e verificados em pacientes que receberam placebo. De uma amostragem de 9,2 mil participantes, 85 dos casos muito leves foram de pessoas que receberam vacina, e 167 em voluntários que tomaram placebo” apontam o Instituto e o Governo de São Paulo, em comunicado oficial.

A mesma taxa de eficácia vai aumentando de acordo com o agravamento dos sintomas e do quadro clínico: em pacientes leves – que precisam de ajuda e suporte médico -, a taxa de eficácia foi de 78%. Para os casos moderados e graves, que precisaram de internação, a taxa de eficácia foi de 100% – nenhum dos voluntários que recebeu a vacina desenvolveu quadros moderados a graves da doença, enquanto no grupo placebo, sete pessoas tiveram quadros assim. Como mencionado acima, no entanto, este resultado ainda não tem significância estatística e precisa ser confirmado com mais observações.

“É importante reforçar que essa eficácia diz que 50,38% dos vacinados estão totalmente protegidos em relação à contrair SARS-Cov-2, ou seja pegar a covid-19. Os outros 49,62%, apesar de poderem contrair a doença, também desenvolvem anticorpos. Desses, 78% ficaram protegidos de evoluírem para as formas mais severas e nenhum deles, 100%, foram à óbito”, explica Rafael Dhalia.

Nesta reportagem publicada pelo CORREIO, especialistas explicam que há uma série de variantes que influenciam no resultado da eficácia de uma vacina, inclusive o ambiente em que ela foi testada. A CoronaVac mostrou-se uma vacina segura em ambientes de alto risco, já que foi testada apenas em profissionais de saúde na linha de frente de combate à doença.

Além disso, a eficácia da vacina é utilizada para definir uma estratégia de vacinação: quanto maior a eficácia, menor o número de pessoas que precisará ser vacinada para se alcançar uma imunidade coletiva.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus que tenham grande alcance nas redes sociais. O conteúdo que motivou esta verificação teve, até o fechamento desta reportagem, 4,1 mil compartilhamentos no Twitter e 19 mil no Facebook.

O post que sugere que a vacina é apenas 0,38% superior ao placebo teve mais de 5 mil interações no Twitter em uma semana. Conteúdos como esse são prejudiciais porque ajudam a disseminar a falsa informação de que a vacina não é eficaz ou que não faz diferença tomar ou não o imunizante, enquanto especialistas trabalham para mostrar que a vacinação é a saída para a crise que o mundo vive atualmente com a pandemia.

Falso, para o Comprova é, conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2021-01-19

Revisão de estudo publicado no site do MS não garante eficácia da hidroxicloroquina no tratamento preventivo contra covid-19

  • Enganoso
Enganoso
O artigo que fala sobre o uso da hidroxicloroquina como tratamento precoce para a covid-19 foi publicado em agosto de 2020 e foi apenas revisado em janeiro de 2021. E não comprova a eficácia do tratamento.
  • Conteúdo verificado: Postagem no Twitter que cobra do Ministério da Saúde a adoção do uso precoce de hidroxicloroquina no combate da covid-19 baseado em publicação do The American Journal of Medicine. O mesmo conteúdo foi publicado no site do Ministério da Saúde.

É enganosa uma série de postagens no Twitter que faz referência a um estudo do The American Journal of Medicine publicado em 1º de janeiro deste ano e que recomendaria o uso precoce da hidroxicloroquina na prevenção da covid-19. O mesmo estudo foi citado em uma matéria no site do Ministério da Saúde e em uma coluna de vídeo do jornalista Alexandre Garcia, posteriormente republicada pelo presidente Jair Bolsonaro.

O site do Ministério da Saúde diz que na primeira edição de 2021 o jornal americano traz um estudo que “comprova a eficácia do tratamento precoce na evolução da covid-19”. No entanto, o artigo que fala sobre o uso da hidroxicloroquina como tratamento precoce para a covid-19 foi publicado em agosto de 2020 e foi apenas revisado em janeiro deste ano.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma em seu site, em referência ao uso da hidroxicloroquina, que “não há evidência científica até o momento de que esses medicamentos sejam eficazes e seguros no tratamento da doença”.

Em conversa com o Comprova, o pesquisador do Laboratório de Imunologia Aplicada da Universidade Federal de Santa Catarina Douglas Bardini afirma que o trabalho acadêmico que embasou a notícia publicada no site do Ministério da Saúde não passa de um “artigo de opinião”, visto que tem como referência uma série de artigos científicos sem evidências conclusivas.

O Comprova entrou em contato com um dos autores do estudo, Peter A. McCullough, professor de Medicina na Universidade de Baylor, no Texas (EUA). Ele respondeu informando que as atualizações realizadas no artigo inseridas no mês de janeiro referiam-se a algumas mudanças na pesquisa e nos aumentos de estudos sobre o tratamento precoce em alguns países.

Como verificamos?

O Comprova buscou a pesquisa na íntegra e entrou em contato com o pesquisador Peter A. McCullough, um dos autores do artigo. Verificamos a autoria e as datas de publicação e atualização do artigo no site do The American Journal of Medicine.

Consultamos também o pesquisador Douglas Bardini, cientista do Laboratório de Imunologia Aplicada da Universidade Federal de Santa Catarina, sobre as atualizações do artigo. Em consulta ao site da Organização Mundial de Saúde, coletamos informações sobre a eficácia do uso de hidroxicloroquina para tratamento da covid-19.

O Comprova ainda consultou Guilherme Werneck, médico e professor de Epidemiologia da UERJ, e vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO. Ele analisou para o Comprova a resposta do autor do estudo.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 19 de Janeiro de 2020.

Verificação

O estudo comprova a eficácia da cloroquina?

O artigo foi publicado pelo “The American Journal of Medicine”, o jornal oficial da “Alliance for Academic Internal Medicine”. O artigo, conforme descrito no site, foi publicado no dia 6 de agosto e revisado em 1º de janeiro de 2021, diferentemente de como publicado na página do Ministério da Saúde, que menciona apenas a data da revisão do estudo.

Conforme o pesquisador do Laboratório de Imunologia Aplicada da Universidade Federal de Santa Catarina Douglas Bardini, a revisão do artigo é chefiada pelo médico americano Harvey Risch, professor na Universidade de Yale, e foi publicada no The American Journal of Medicine, que tem um fator de Impacto de 4,5 (método bibliométrico para qualificar a importância de periódicos científicos em suas respectivas áreas), o que pode ser considerado baixo/modesto.

Ele avalia que o trabalho acadêmico que embasou a notícia publicada no site do Ministério da Saúde não passa de um “artigo de opinião”, pois tem como referência uma série de artigos científicos sem evidências conclusivas.

Douglas aponta que a revisão leva em conta somente as partes dos estudos de observação que convém aos autores para embasar a utilidade do medicamento no tratamento da covid-19. “Aqui, o principal problema que eu vejo é considerar somente a parte da evidência científica que corrobora a opinião dos autores, principalmente quanto à eficácia da hidroxicloroquina”, completa o pesquisador.

Bardini ainda relata que o artigo deixou de levar em consideração estudos com outras metodologias, que têm maior relevância científica e que já comprovaram a ineficiência da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. Para Bardini, “nessa revisão, os autores citam alguns estudos observacionais, mas desconsideram ensaios clínicos randomizados, que teriam uma ‘força metodológica’ maior”. Em meados de agosto, data em que a revisão foi publicada em “acesso aberto”, ensaios com maior peso de evidência já atestavam a ineficiência da hidroxicloroquina. Essa ineficiência hoje é um consenso na comunidade científica.

O estudo chega a citar a interrupção dos testes clínicos com a hidroxicloroquina que foram realizados pelo “National Institutes of Health – NIH” (Centros de pesquisa que formam a agência governamental de pesquisa biomédica do departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos). No site do NIH é possível encontrar um texto publicado no mês de outubro de 2020 que menciona o resultado dos testes e argumenta que “em outro ensaio clínico randomizado conduzido no Brasil, nem a hidroxicloroquina isolada nem a hidroxicloroquina associada à azitromicina melhoraram os desfechos clínicos entre pacientes hospitalizados com covid-19 leve a moderado”.

O que diz um dos autores do estudo

Em resposta ao e-mail do Comprova, Peter A. McCullough, esclareceu que as atualizações realizadas no artigo, inseridas no mês de janeiro, referiam-se a algumas mudanças na pesquisa e no aumento de estudos sobre o tratamento precoce em alguns países.

As maiores mudanças, segundo ele, foram a adição de estudos sobre a proteína spike, que é usada pelo coronavírus para penetrar nas células, e sobre aumento de dosagens de ivermectina em tratamentos da covid-19. Ele diz também que de agosto a janeiro houve um grande aumento no volume de estudos de suporte para poliquimioterapia, uma combinação de medicamentos, sequenciada para covid-19.

Para Guilherme Werneck, médico e professor de Epidemiologia da UERJ, e vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO, a revisão feita em janeiro foi de cunho narrativo, alterando apenas sugestão de ‘escolha terapêutica’. “É que essa é uma revisão chamada de revisão narrativa na área científica – não tem método. A pessoa lê, incorpora o que acha relevante, junta evidências na base da experiência e chega às conclusões. No campo científico, as revisões narrativas caíram em grande desuso”, explica o professor.

Ele entende que o artigo, bem como sua revisão, expressa a concepção do autor, que lê cada um dos medicamentos e argumenta favoravelmente ao que considera justificativas para usar o medicamento.

“Basicamente, a revisão introduziu uma nova escolha terapêutica, que são os anticorpos monoclonais – são subconjunto de anticorpos mais específicos, mais potentes para finalidade de ‘inativar’ o vírus da covid-19 – via injetável. É uma visão particular do autor”, finaliza.

O que a ciência diz atualmente a respeito do “tratamento precoce” com cloroquina?

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) enfatizam em seu site que o uso da cloroquina e hidroxicloroquina “têm pouco ou nenhum efeito na prevenção de mortes ou na redução de tempo que a pessoa passa hospitalizada. para tratamento contra covid-19. Acrescentam que “a maioria das pesquisas até agora sugere que não há benefício e já foram emitidos alertas sobre efeitos colaterais do medicamento. Por isso, enquanto não haja evidências científicas de melhor qualidade sobre a eficácia e segurança desses medicamentos, a OPAS recomenda que eles sejam usados apenas no contexto de estudos devidamente registrados, aprovados e eticamente aceitáveis”, argumentam as organizações.

Quem é o autor do tuíte investigado pelo Comprova?

A postagem viralizou no Twitter através da conta de Alessandro Loiola, que apareceu em outras 4 verificações feitas anteriormente pelo Comprova. A primeira em Outubro de 2020 quando o médico tirou de contexto dados de estudo para sugerir que máscaras são ineficientes. Em dezembro um vídeo publicado por deputado no Facebook no qual Alessandro afirma que as vacinas em desenvolvimento para a covid-19 e que utilizam as tecnologias de vetor viral, vacina de DNA e vacina de RNA mensageiro podem provocar danos genéticos potenciais em quem se imunizar. Ainda em dezembro durante uma entrevista ao programa Coliseum o médico e empresarios enganam ao desqualificar medidas protetivas e culpa China pela pandemia. Em Janeiro de 2021 ele descontextualiza manual da Pfizer para sugerir alteração genética pela vacina.

Alessandro Lemos Passos Loiola nasceu em 1971, é médico formado pela Escola de Medicina da Santa Casa, no Espírito Santo, e possui dois registros ativos em conselhos regionais de medicina no Brasil: Minas Gerais e São Paulo. Isso é comum porque um médico precisa ter registro em cada estado em que atua.

Alessandro Loiola foi também coordenador da Secretaria Especial de Cultura do governo federal. A nomeação para o cargo foi publicada no Diário Oficial da União de 27 de novembro de 2019. Ele foi nomeado pelo ministro do Turismo, Marcelo Henrique Teixeira Dias, para exercer o cargo de Coordenador-Geral de Empreendedorismo e Inovação, do Departamento de Empreendedorismo Cultural, da Secretaria da Economia Criativa, da Secretaria Especial da Cultura.

Menos de dois meses depois, no dia 24 de janeiro, ele foi exonerado do cargo também pelo ministro. A exoneração foi publicada no Diário Oficial da União no dia 27 de janeiro de 2020

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus.

A repercussão da postagem foi de 7,4 mil curtidas e 2,9 mil compartilhamentos até o fechamento deste texto, além de trazer consigo link da página do Ministério da Saúde. Por se tratar de um portal com conteúdo oficial do governo federal, além da repercussão, acreditamos que a postagem pode ser perigosa, uma vez que vários outros estudos e debates acerca do uso da hidroxicloroquina para tratamento da covid-19 apontam em sentido contrário. O tweet também incentiva que o governo federal faça divulgação desse uso do medicamento na imprensa, o que pode ser prejudicial para os tratamentos.

O UOL Confere também apurou a respeito do estudo, após um tweet de Jair Bolsonaro, que continha um vídeo do jornalista Alexandre Garcia falando sobre a mesma publicação. Segundo a investigação, o Ministério da Saúde também defendeu o estudo em nota no dia 2 de janeiro. Na segunda-feira (18), a coluna de Lauro Jardim em O Globo informou que a revista que publicou o estudo usado por Bolsonaro para defender a cloroquina desmentiu o presidente.

No fim de semana, o próprio Twitter lançou alerta sobre post feito pela conta do Ministério da Saúde, conforme publicou o site G1. O órgão sugeria urgência na realização de tratamento precoce para quem tiver sintomas da covid-19. Tal tratamento inclui o uso de hidroxicloroquina.

O Comprova já verificou outros conteúdos envolvendo a pandemia da covid-19, vários deles a respeito de uma suposta eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, como um texto enganoso afirmando que a cloroquina seria capaz de curar em 98.7% dos pacientes com a doença, uma fala de Bolsonaro defendendo que o medicamento teria salvado 100 mil vidas no Brasil, e desmentindo um post no Facebook que afirmava que o uso de cloroquina em Porto Feliz (SP) evitou mortes.

Enganoso, para o Comprova, é conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-01-19

É falso que enfermeira que recebeu a primeira dose da CoronaVac já estivesse imunizada

  • Falso
Falso
Mônica Calazans participou como voluntária dos estudos clínicos feitos no Brasil da vacina CoronaVac, mas ela estava no grupo que recebeu placebo, substância sem efeito, e não as doses do imunizante.
  • Conteúdo verificado: Publicações de deputado paulista questionam a razão pela qual a enfermeira Mônica Calazans recebeu a primeira dose da CoronaVac se ela já estaria imunizada por ter participado dos testes da vacina do Butantan.

É falso que a enfermeira Mônica Calazans, primeira pessoa a receber a vacina contra a covid-19 no Brasil, já estivesse imunizada por ter participado dos testes da vacina do Butantan, como diz o deputado paulista Gil Diniz (sem partido) em postagens no Facebook e Twitter.

De fato, Mônica participou como voluntária dos estudos clínicos feitos no Brasil da vacina CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac. Ela recebeu duas aplicações dos testes entre julho e agosto de 2020. No entanto, no dia 17 de janeiro, ela foi informada que estava no grupo que recebeu placebo e não as doses do imunizante.

Durante o processo de pesquisa, um grupo recebia a vacina e outro grupo recebia placebo. Nenhum dos participantes sabia de qual grupo fazia parte. Apenas após a conclusão das pesquisas é divulgado quem faz parte de cada grupo.

A enfermeira, além de integrar a linha de frente, faz parte do grupo de risco para o coronavírus – é obesa, hipertensa e diabética. Mônica foi auxiliar de enfermagem por 25 anos e se graduou em Enfermagem aos 47 anos. Segundo reportagem da CNN Brasil, Mônica foi aprovada em concurso público para a área da saúde em fevereiro de 2015 e foi chamada em regime de emergência no início da pandemia pelo governo de São Paulo.

A postagem ainda afirma que a própria enfermeira postou em suas redes sociais que estava na praia no final do ano. A foto foi postada no Facebook pessoal de Mônica. Em entrevista ao programa Encontro com Fátima, da TV Globo, ela disse que às vezes vai à praia, mas que não participa de aglomerações. Ela defendeu que “o fato de uma pessoa sair, andar na praia, entendo que não é aglomeração”.

Como verificamos?

Procuramos Mônica Calazans para esclarecer sua participação nos testes da vacina em julho e agosto de 2020. Confirmamos ser dela o perfil no Facebook onde foi publicada em 19 de dezembro de 2020 uma foto de Mônica, com duas amigas na praia. Esta imagem foi reproduzida no post de Diniz.

Na publicação do deputado também consta a imagem de uma notícia veiculada no último dia 8 de janeiro, no site do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP). Nela, há relatos de profissionais da área da saúde sobre a vacinação. O depoimento da enfermeira Mônica Calazans está entre eles.

Realizamos buscas no Google por outras reportagens sobre Mônica.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 18 de Janeiro de 2020.

Verificação

A participação de Mônica Calazans nos testes da CoronaVac

Mônica Calazans tem 54 anos e é enfermeira da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo. Ela realmente participou como voluntária dos estudos clínicos feitos no Brasil da vacina CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac. No entanto, estava no grupo que recebeu placebo, substância sem efeito, e não as doses do imunizante.

Em contato com o Comprova, a enfermeira confirmou que tomou as duas aplicações dos testes entre julho e agosto de 2020. Apesar disso, somente no último domingo, dia 17 de janeiro, ela foi informada que estava no grupo que recebeu placebo, e que havia sido escolhida para desta vez receber a vacina, se tornando a primeira brasileira a ser imunizada contra a covid-19.

Quem é Mônica Calazans e por que ela foi escolhida para receber a primeira dose da vacina?

Mônica Aparecida Calazans, 54 anos, moradora de Itaquera, Zona Leste de São Paulo (SP), é enfermeira na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo. Além de fazer parte da linha de frente, ela também faz parte do grupo de risco para o coronavírus, é obesa, hipertensa e diabética.

Mônica foi auxiliar de enfermagem por 25 anos e se graduou em Enfermagem aos 47 anos. Segundo reportagem da CNN Brasil, Mônica foi aprovada em concurso público para a área da saúde em fevereiro de 2015 e foi chamada em regime de emergência no início da pandemia pelo governo de São Paulo.

Mônica foi escolhida para ser a primeira brasileira vacinada por ser trabalhadora de saúde e atuar na linha de frente da covid-19, e também por pertencer ao grupo de risco. Também ficou conhecida depois que foi personagem de reportagens na imprensa e venceu o prêmio Notáveis CNN, premiação do canal de notícias que contemplou pessoas que lutam contra o novo coronavírus. Ela foi a vencedora na categoria Heroína do Ano e representou os profissionais da saúde que atuam durante a pandemia.

“É toda uma história de vida. Diante dos prêmios e toda minha trajetória profissional e principalmente na pandemia, eu fui a escolhida. Havia outros 100 profissionais lá”, afirma. Sobre o como foi o procedimento para receber o imunizante, Mônica conta que as pessoas que fazem parte do grupo que participou da pesquisa recebem um telefonema semanalmente para saber o estado de saúde de cada um. “Eu tive todo um aparato dos profissionais para qualquer problema que eu tivesse poderia fazer contato, eu tive um respaldo e isso sempre me deixou muito tranquila”.

As imagens usadas no post do deputado

O deputado Gil Diniz reproduziu duas imagens na publicação investigada pelo Comprova. São capturas de tela de uma notícia e de uma postagem da enfermeira feita em seu perfil no Facebook.

A primeira imagem é a reprodução de uma notícia veiculada no dia 8 de janeiro de 2021 no site do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP). A matéria, intitulada “Covid-19: profissionais de enfermagem contam experiência como voluntários nos testes da vacina”, traz o relato de três profissionais da área da saúde, incluindo a enfermeira Mônica Calazans. Eles contam como foi o processo de vacinação e de monitoramento após receberem as doses. A reportagem informa que que os voluntários não sabem se receberam vacina ou um placebo.

A segunda imagem publicada pelo deputado, a reprodução de um post feito por Mônica em seu perfil de Facebook, mostra a enfermeira na praia ao lado de duas mulheres, com a legenda “Oiii, vcs [vocês] que lutem”, em registro de 19 de dezembro de 2020.

Ao Comprova, Mônica disse que a foto é de um dia de folga com outras duas amigas também profissionais da saúde na Praia Grande, estadi de São Paulo. “Eu tenho um apartamento na praia, por isso eu fui. Acho que um banho de mar tinha o direito de tomar e foi o que eu fiz”. Ela também reforça que optou por um horário com pouco movimento, pois não participa de aglomerações e disse acreditar que o maior risco são baladas, encontros com muitas pessoas e festas clandestinas que desrespeitam as normas de distanciamento social.

O perfil no Facebook divulgado no tuíte do deputado é a conta pessoal da enfermeira. Desde o domingo, no entanto, Mônica relata que foram criadas diversas contas e postagens falsas em redes sociais com o nome dela.

Quem é Gil Diniz?

Gildevanio Ilso dos Santos Diniz, conhecido também como Gil Diniz, é deputado estadual de São Paulo (sem partido). Foi filiado ao Partido Social Cristão (PSC) de 2015 a 2018. Após sua saída do PSC, foi filiado ao Partido Social Liberal (PSL), até ser expulso em 2020 por disseminação de notícias falsas e ataques a instituições democráticas, como o Supremo Tribunal Federal (STF). Antes de ingressar na carreira política, Gil trabalhava nos Correios, como carteiro na zona leste de São Paulo.

Gil Diniz tem ligação com Eduardo e Carlos Bolsonaro desde 2014. No período em que esteve filiado ao partido PSC, Diniz foi assessor da equipe de Eduardo Bolsonaro. Em 2018, foi eleito deputado estadual pelo PSL em São Paulo com 214.037 votos.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus que tenham grande alcance nas redes sociais. O conteúdo que motivou esta verificação teve, até o fechamento desta reportagem, 4,1 mil compartilhamentos no Twitter e 19 mil no Facebook.

Após muita repercussão sobre a eficácia da vacina e estudos e testes na preparação da Coronavac no Brasil, o post é problemático pois põe dúvida na efetividade do plano de imunização contra a covid-19. Além disso, usa de informações pessoais de Mônica Calazans – como a foto na praia, por exemplo – para validar seu argumento.

O G1 – Fato ou Fake publicou na segunda-feira (18) uma verificação a respeito de mensagem nas redes sociais afirmando que a enfermeira Mônica já havia tomado anteriormente a dose da vacina, e que portanto não precisaria de outra dose. A Agência Lupa, também fez checagem da postagem de Diniz.

Falso, para o Comprova é, conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.