O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2020-12-14

Vacina que teve estudos suspensos no Peru não é a mesma testada no Brasil

  • Enganoso
Enganoso
Site publica nota sem mencionar que não se trata da vacina testada no Brasil e que será produzida pelo Instituto Butantan, o que levou muitos leitores a se manifestarem contra a Coronavac nos comentários. Dois dias depois, o site editou o texto para incluir a referência ao laboratório Sinopharm.
  • Conteúdo verificado: Texto publicado em site sobre suspensão de testes de vacina chinesa no Peru, que não menciona qual a empresa responsável pelo imunizante.

É enganoso um artigo publicado pelo site Jornal da Cidade Online sobre a suspensão dos testes de uma vacina chinesa no Peru. O texto, publicado no sábado, 12, não mencionava em nenhum momento qual a empresa responsável pelo imunizante. Apenas nesta segunda-feira, 14, o link foi atualizado para incluir a informação de que a vacina suspensa é da Sinopharm, que não realiza ensaios clínicos no Brasil. É outra farmacêutica chinesa, a Sinovac, que produz uma pesquisa em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo.

A Sinopharm tem duas candidatas a vacina contra covid-19 na fase três de testes — uma em parceria com o Instituto Biológico de Wuhan e outra com o Instituto Biológico de Pequim. O imunizante que teve o estudo suspenso no Peru é testado nos seguintes países: Emirados Árabes Unidos, Barein, Egito, Jordânia e Argentina. O governo do Paraná chegou a firmar um acordo com a farmacêutica chinesa para testagem no estado, mas a parceria não vingou.

Os testes da Sinopharm foram suspensos no Peru após um voluntário ter sentido fraqueza nas pernas. O Ministério da Saúde do país informou que ainda investiga se esse sintoma foi causado pela vacinação. No sábado, 12, o responsável pela pesquisa no Peru, Germán Málaga, da Universidad Peruana Cayetano Heredia (UPCH), disse à imprensa local que “há muito pouca probabilidade” de relação com o imunizante. Segundo o médico, o resultado da investigação sobre o evento adverso ficaria pronto em três dias.

Os comentários da postagem do Jornal da Cidade Online no Facebook evidenciam que muitas pessoas entenderam que a vacina suspensa no Peru é a mesma produzida em São Paulo em parceria com o Butantan. “O (governador do Estado, João) Doria calça justa tem que tomar primeiro com a família dele e esquecer a população porque ninguém quer tomar essa droga de vacina da China”, escreveu um usuário.

Procurado pelo Comprova, o site respondeu por email que fez uma atualização da matéria, informando que a vacina foi desenvolvida pelo laboratório Sinopharm.

Como verificamos?

Pesquisamos sobre a suspensão de testes da vacina chinesa na imprensa brasileira e peruana. Também procuramos posicionamentos oficiais do Ministério da Saúde do Peru e da Sinopharm, mas não conseguimos contato com a farmacêutica chinesa.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 14 de dezembro de 2020.

Verificação

Qual é a vacina chinesa testada no Peru?

A vacina da Sinopharm testada no Peru usa a tecnologia de vírus inativado e é produzida em parceria com o Instituto Biológico de Wuhan. Os estudos tiveram início em julho de 2020. Segundo divulgação do Ministério da Saúde do Peru, a Sinopharm iniciou os testes no país em setembro, com 6 mil voluntários e, em outubro, pôde duplicar a quantidade de pessoas submetidas ao teste.

O mesmo texto afirma que, além da Sinopharm, a Johnson e Johnson também iniciou testes da fase 3 no país em novembro, com 3,5 mil voluntários. O governo do Peru até o momento informa ter acordo para aquisição de 9,9 milhões de doses da vacina da Pfizer, com uso já autorizado nos Estados Unidos, e mais 13,2 milhões de doses por meio da iniciativa de colaboração Covax Facility.

A mesma vacina já foi aprovada pelo Ministério da Saúde dos Emirados Árabes Unidos. Lá, os estudos de fase três atestaram 86% de eficácia, de acordo com o órgão de saúde. A fabricante chinesa não divulgou dados sobre os testes.

De acordo o plano de imunização do governo brasileiro, que lista todas as vacinas em fase três de testes no mundo, o imunizante da Sinopharm teve eventos adversos “leves e de curta duração, caracterizados principalmente por dor no local da aplicação e febre, sem registro de eventos adversos sérios”.

Quais foram os sintomas do voluntário peruano?

O pesquisador Germán Málaga, da UPCH, explicou ao jornal El Comercio, do Peru, que um voluntário de 64 anos teve fraqueza nas pernas depois de receber a vacina produzida pela Sinopharm. “Parece mais uma neuropatia diabética; no entanto, há uma possibilidade mínima de que tenha sido Guillain-Barré e por motivos de segurança o estudo foi suspenso”, esclareceu.

A Síndrome de Guillain-Barré é uma doença autoimune rara, que acomete de 1 a 4 pessoas a cada 100 mil habitantes. Um dos sintomas é justamente a fraqueza nos membros inferiores.

Málaga acrescentou que a probabilidade de que haja relação com a vacina é “muito pequena”, porque o paciente tem diabetes mal-controlada há muitas décadas. “O paciente está bem, felizmente é um evento leve, o paciente está se recuperando, ele está em bom estado e todo o apoio está sendo dado a ele para recuperar sua saúde”, disse o médico.

Segundo Málaga, as investigações sobre uma possível relação com o imunizante levariam 72 horas. Depois disso, os testes poderiam ser retomados. No Peru, 11,7 mil voluntários receberam doses da vacina chinesa.

A decisão de suspender os estudos foi divulgada pelo Instituto Nacional de Saúde do Peru no dia 11 de dezembro. O Ministério da Saúde peruano apoiou a decisão em um comunicado no dia seguinte, em que informou que o evento adverso estava sob investigação. Segundo o órgão de saúde, a suspensão temporária é uma medida de segurança prevista pelo Regimento de Ensaios Clínicos.

Qual a vacina chinesa testada no Brasil?

No Brasil, a vacina é produzida por outra fabricante chinesa, a Sinovac Biotech, e é testada em parceria com o Instituto Butantan em 17 centros de pesquisa (página 65). Esse imunizante também usa a tecnologia de vírus inativado. Os testes chegaram a ser suspensos em novembro após a morte de um voluntário, mas foram retomados depois que a causa do óbito foi apontada como suicídio.

A suspensão de estudos já ocorreu inclusive em testes de outros imunizantes, como a vacina da Universidade de Oxford com a farmacêutica AstraZeneca, que teve estudos interrompidos após uma reação adversa relatada por um voluntário no Reino Unido, em setembro. Quatro dias depois, com a análise do caso, os desenvolvedores anunciaram a retomada dos testes.

Os resultados de eficácia da fase três seriam divulgados até esta terça-feira, 15. No entanto, a divulgação foi adiada para incluir novos dados de voluntários infectados pelo novo coronavírus. É a terceira vez que o governo de São Paulo adia o anúncio desses dados.

No sábado, o governador João Doria (PSDB) voltou a dizer que a previsão de início da campanha de vacinação no Estado é no dia 25 de janeiro.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus.

Os conteúdos enganosos relacionados às vacinas em desenvolvimento contra a covid-19 podem interferir na confiança da população em relação aos imunizantes e reduzir a adesão à vacinação quando o país tiver um plano de proteção implantado. A imunização das pessoas por meio de vacina é vista como a principal estratégia capaz de promover uma ampla proteção e encerrar a pandemia.

Até a tarde desta segunda-feira (14), a publicação do Jornal da Cidade Online que não indicava qual vacina chinesa fora alvo de suspensão dos testes no Peru já havia sido postada mais de 500 vezes no Facebook, com mais de 88 mil reações, 53 mil compartilhamentos e 23 mil comentários, segundo dados da ferramenta CrowdTangle. A desinformação associando a CoronaVac à vacina que teve os testes suspensos no Peru também vem circulando em montagens de páginas no Facebook. Na tarde desta segunda (14), a plataforma já sinalizou o conteúdo como falso.

O Comprova já verificou outros conteúdos que traziam informações incorretas sobre a covid-19 e a vacina chinesa desenvolvida pelo laboratório Sinovac, como a publicação que sugeria que um laudo descartaria suicídio como causa da morte de um voluntário da CoronaVac, outra que sugeria que o Instituto Butantan não teria informado a morte de um voluntário da vacina chinesa e outra que afirmava que a CoronaVac teria matado voluntários e causado danos neurológicos ou de DNA. Verificações também mostraram que é enganosa uma publicação que sugeria que a China não usaria a própria vacina contra covid-19.

A publicação sobre a suspensão dos testes da vacina da Sinopharm no Peru também já foi alvo de verificações de outras agências de checagem, como a Aos Fatos e a Boatos.org.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.

Saúde

Investigado por: 2020-12-14

Jornal americano não acusou Doria de receber propina da Sinovac

  • Falso
Falso
A reportagem do Washington Post destacada por um youtuber apenas cita pagamentos ilegais feitos pela farmacêutica na China entre 2002 e 2011
  • Conteúdo verificado: Vídeo publicado por youtuber cita reportagem do The Washington Post e afirma que Doria teria recebido propina da farmacêutica chinesa Sinovac

É falso que reportagem do jornal norte-americano The Washington Post tenha afirmado que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), recebeu propina do laboratório chinês Sinovac, como aponta um vídeo publicado no YouTube.

O autor da gravação cita a publicação como fonte, mas a matéria jornalística aborda apenas pagamentos ilegais admitidos por um dirigente da farmacêutica a um ex-oficial da agência regulatória de medicamentos da China, entre 2002 e 2011. Não há menção a valores indevidos pagos em outros países, tampouco ao governador Doria.

O autor também sugere que a China seria “dona” de 32 partidos políticos no Brasil, mas a legislação brasileira atual impede as legendas partidárias de receber recursos de organizações ou governos estrangeiros.

O autor do vídeo é o youtuber Enzo Leonardo Suzin Momenti, que publica conteúdos favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O Comprova tentou contato com ele por e-mail. O autor respondeu com um link para um tuíte publicado por ele em que reafirma sem provas a acusação contra o governador João Doria e diz que essa seria sua “opinião como eleitor”.

Como verificamos?

Para verificar as afirmações feitas no vídeo, consultamos inicialmente a reportagem do The Washington Post que é citada pelo autor como fonte das informações, além de fazer buscas na internet para outros possíveis conteúdos relacionados a propina envolvendo Sinovac e João Doria.

Pesquisamos também a legislação eleitoral sobre formas de financiamento dos partidos e ouvimos o presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB de Santa Catarina (OAB-SC), Paulo Fretta Moreira, sobre a possibilidade de doações estrangeiras às agremiações partidárias do Brasil. Por fim, consultamos reportagens que citavam o nome do autor do vídeo, como matérias sobre a operação da Polícia Federal no âmbito do inquérito das fake news, do Supremo Tribunal Federal (STF), a lista de filiação partidária no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e processos judiciais relacionados ao autor.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 14 de dezembro de 2020.

Verificação

Reportagem do The Washington Post

A reportagem que o youtuber faz menção foi um furo do jornal americano publicado em 4 de dezembro com o título (numa tradução livre): “Enquanto a China se aproxima de uma vacina contra o coronavírus, nuvem de suborno paira sobre a farmacêutica Sinovac”. (A leitura da reportagem pode exigir uma assinatura do jornal.)

A reportagem sobre o laboratório chinês não menciona nem sugere envolvimento do governo de São Paulo, da figura de João Doria, o Instituto Butantan ou qualquer processo relativo ao desenvolvimento da Coronavac.

O que o texto relata, com base em documentos de tribunais da China, é que o presidente da Sinovac, Weidong Yin, admitiu ter pago propina a um ex-oficial da agência regulatória de medicamentos chinesa entre 2002 e 2011 para acelerar a aprovação de vacinas no órgão governamental. Os eventos, portanto, são bem anteriores à pandemia de covid-19.

O caso levou à abertura de uma investigação na Securities and Exchange Commission (SEC) – órgão que regula o mercado de capitais americano e é equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) brasileira – e no Departamento de Justiça dos EUA. Ao final da apuração, o caso foi encerrado sem que nenhuma responsabilidade ou sanção fosse atribuída à Sinovac.

Enzo ainda afirma que “segundo o Washington Post, [a Sinovac] compra países emergentes e aplica a vacina naquela população antes mesmo de testar na população chinesa, como cobaias humanas”.

Não há, em nenhum momento da reportagem, acusação semelhante. As propinas relatadas foram oferecidas a oficiais chineses.

No vídeo também é alegado que João Doria é bilionário, o que não tem base factual. Nas eleições de 2018, o então candidato a governador declarou um patrimônio de R$180 milhões ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Sinovac

A companhia biofarmacêutica é a parceira do Instituto Butantan no desenvolvimento da vacina Coronavac. As duas instituições tiveram seu primeiro contato por meio da Rede de Fabricantes de Vacinas dos Países em Desenvolvimento, entidade que apoia o aprimoramento dos processos de produção de empresas de nações emergentes.

Butantan e Sinovac são membros da entidade e eventualmente se encontravam nos eventos e reuniões anuais da aliança, que possui 41 fabricantes associados. A relação ficou mais próxima a partir de agosto do ano passado, quando técnicos do Butantan conheceram uma das fábricas da Sinovac em Pequim, durante missão do governo de São Paulo à China.

A Sinovac teve faturamento em 2019 de 246 milhões de dólares e possui cerca de 900 funcionários. Vende, em média, 20 milhões de doses de seus imunizantes por ano, com 15% a 20% de market share na China.

China e partidos políticos brasileiros

Em um trecho do vídeo verificado, o youtuber afirma que “a China é dona dos 32 partidos que existem hoje [no Brasil], e se você tem alguma dúvida disso, você vive na La La Land”. Não fica claro na fala qual influência a China exerceria para ser “dona” de praticamente todos os partidos no Brasil (segundo o TSE, atualmente há 33 partidos com registro no país), se financeira ou de outra ordem. No entanto, a reportagem do The Washington Post citada como base para o vídeo não fala de doações ou propinas pagas no Brasil ou em outros países pela Sinovac – aborda apenas casos ocorridos na China.

Além disso, partidos políticos no Brasil são proibidos de receber dinheiro de instituições ou governos de outros países. O Art. 17, inciso II da Constituição Federal estabelece a “proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes”. A Lei dos Partidos Políticos (Lei nº 9.096/95) também veda o recebimento de recursos de origem estrangeira.

O presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB de Santa Catarina (OAB-SC), Paulo Fretta Moreira, confirma que a legislação brasileira proíbe o recebimento de valores de organizações estrangeiras.

“Esse tipo de recurso internacional, estrangeiro, não pode financiar partido político. Hoje em dia, o financiamento de partidos é exclusivo dos fundos públicos, o partidário e o fundo eleitoral para as eleições, e doações de pessoas físicas. Então nem pessoas jurídicas, nem organismos internacionais, ONGs, todas essas são fontes vedadas tanto para partidos políticos quanto para candidatos em eleições”, explica.

O autor

Enzo Leonardo Suzin Momenti é um youtuber apoiador do presidente Jair Bolsonaro. Em seu canal no YouTube, que tinha 194 mil inscritos até 10 de dezembro, ele costuma compartilhar conteúdos a favor do governo Bolsonaro e ataques à imprensa, a governadores e a ministros do STF.

Em maio de 2020, ele foi um dos alvos de buscas na operação da Polícia Federal que fez parte do inquérito das fake news. A investigação do STF apura notícias falsas, ameaças e ataques a ministros da corte e envolveu outros apoiadores de Bolsonaro. O inquérito está sob sigilo e não permite consulta aos despachos e manifestações. Apenas a decisão que autorizou as buscas está disponível até o momento.

Um vídeo em que o âncora do Jornal Nacional, da TV Globo, William Bonner, cita o nome do youtuber em uma das reportagens sobre a investigação do STF viralizou nos dias seguintes à operação da PF. Na ocasião, o apresentador se referiu a Enzo como “um defensor da tese de que a Terra, o planeta Terra, é… plano”, fazendo gestos circulares e retos com as mãos. Enzo já publicou vídeos em seu canal defendendo o terraplanismo.

Enzo é filiado ao PSL de São Paulo (SP), conforme o sistema de filiação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Apesar disso, em 2018 ele tentou concorrer a deputado estadual em São Paulo com uma candidatura avulsa, sem filiação partidária. O pedido foi negado pela Justiça Eleitoral, porque a Constituição Federal prevê o vínculo com partido político como uma das condições de elegibilidade.

Em um vídeo do próprio canal publicado em dezembro de 2019, Enzo disse que tinha “intenções de ser candidato à prefeitura” de Campinas, cidade em que estava vivendo na ocasião. No entanto, ele não disputou as eleições municipais de 2020.

Outros processos

Enzo e João Doria já estiveram em lados opostos antes do vídeo divulgado pelo youtuber. O governador de São Paulo moveu um processo judicial de indenização por danos morais contra Enzo em 2018. O político alegou que o youtuber teria o relacionado a atos ilícitos que nunca cometeu, “utilizando-se de narrativa com tom de clandestinidade e sensacionalismo”, segundo um trecho da decisão que consta na ação. Ainda segundo a manifestação da defesa, no vídeo ele usava termos como “mafioso” e “safado” ao se referir ao governador. Em novembro de 2018, o youtuber foi condenado em primeira instância a pagar R$ 50 mil como indenização a Doria.

A defesa de Enzo chegou a recorrer ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), mas conseguiu apenas reduzir a indenização para R$ 15 mil. O processo atualmente está em fase de execução da sentença. Segundo a consulta processual do site do TJ-SP, já houve penhora de R$ 1,8 mil localizados pelo sistema bancário da Justiça, transferidos para uma conta vinculada ao processo.

Enzo também foi alvo de uma ação do deputado estadual de São Paulo, Gil Diniz (sem partido), também conhecido como ‘Carteiro Reaça’. Nesse processo, Enzo não apresentou defesa e foi condenado a indenização de R$ 5 mil por danos morais, por ter chamado o parlamentar de “mafioso” e “corrupto” em um vídeo do seu canal do Youtube. No início de dezembro deste ano, o processo também entrou na fase de execução da sentença.

Gil Diniz também apresentou uma queixa de calúnia, injúria e difamação, mas a solicitação foi convertida em um inquérito policial para melhor apuração dos fatos, que ainda segue em andamento.

Além dessas duas ações, Enzo também é alvo de outro processo por danos morais no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ). Este é movido por Fernando Pinto (Patriota), que foi candidato a vereador em Resende (RJ) nas eleições municipais de 2020. Ele é irmão de outro youtuber de direita, Diego Rox.

O Comprova tentou fazer contato com Enzo pelo e-mail indicado no canal dele no Youtube. Ele respondeu com um link para um tuíte publicado em 12 de dezembro. Na postagem, ele afirma novamente sem provas que Doria teria mentido sobre a eficácia da vacina da Sinovac e que, por isso, lhe caberia concluir que “é também por ter recebido proprina [sic]”. “Esse [sic] minha opinião como eleitor, não gostou? Me processe.”, diz o trecho final da mensagem.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus.

Ao afirmar sem provas que uma das empresas que desenvolve uma das vacinas contra a covid-19 teria pago propina a um governante brasileiro e que isso poderia ter relação com a autorização para utilização do imunizante no território nacional, o vídeo, que teve 15,6 mil visualizações até o dia 11 de dezembro, pode aumentar a desconfiança da população com a segurança ou eficácia da proteção em desenvolvimento contra o novo coronavírus. Assim, poderia prejudicar a estratégia de imunização após a conclusão das vacinas, que é encarada como a principal forma de pôr fim à pandemia.

Além do vídeo, diversas publicações, a maioria imagens com textos, que circulam desde 7 de dezembro no Facebook, também confundem o conteúdo da reportagem do The Washington Post e sugerem que a denúncia de propina relatada na reportagem tem relação com a CoronaVac, o que é falso.

O mesmo vídeo com as acusações de Enzo contra João Doria foi verificado também pela Aos Fatos e pela Boatos.org.

O Comprova já verificou outros conteúdos que traziam informações falsas sobre a vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, como a publicação que sugeria que um laudo descartaria suicídio como causa da morte de um voluntário da CoronaVac, outra que sugeria que o Instituto Butantan não teria informado a morte de um voluntário da vacina chinesa e outra que afirmava que a CoronaVac teria matado voluntários e causado danos neurológicos ou de DNA. Verificações também confirmaram que é falso que Doria tomou vacina chinesa contra a covid-19 e que a parceria para a vacina não foi firmada pelo governador de São Paulo no ano passado.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2020-12-09

Pacientes com lúpus não são imunes ao novo coronavírus

  • Falso
Falso
O Comprova teve acesso a um estudo que mostra que pacientes com doenças autoimunes contraíram a covid-19. E especialistas dizem que, apesar da hidroxicloroquina ser eficaz no controle do lúpus, ela não interfere nos riscos dos pacientes de contrair ou não a covid-19.
  • Conteúdo verificado: Post na rede social Twitter insinuando que pessoas com lúpus não “desenvolvem” covid-19.

É falso que pessoas com lúpus não contraem a covid-19, como insinua uma publicação no Twitter. O post questiona por que os cientistas e a mídia não estão falando sobre isso, possivelmente relacionando ao fato de que o tratamento para lúpus envolve a hidroxicloroquina, medicamento que, mesmo sem comprovação científica de eficácia contra a covid-19, ainda é utilizado e defendido por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.

O Comprova conversou com especialistas que disseram não ser correta a relação de lúpus com a covid-19 e que, apesar da hidroxicloroquina ser eficaz no controle do lúpus, ela não interfere nos riscos dos pacientes de contrair ou não o novo coronavírus. Um estudo, coordenado por uma força-tarefa da Sociedade Brasileira de Reumatologia, e que está em processo de avaliação pelos pares, para ser publicado, aponta que os casos de covid-19 entre pacientes reumáticos, que usam o medicamento, ocorreram na mesma frequência que em pessoas que não fazem uso da hidroxicloroquina.

Lúpus é uma doença autoimune rara que causa um desequilíbrio do sistema imunológico. A defesa imunológica se vira contra os tecidos do próprio organismo como pele, articulações, fígado, coração, pulmão, rins e cérebro. A hidroxicloroquina, um dos principais medicamentos utilizados no tratamento da doença, chegou a ter sua eficácia contra os sintomas graves da covid-19 estudada, mas as pesquisas realizadas em várias partes do mundo sugerem que a droga não tem efeito contra o novo coronavírus. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e diversas entidades médicas do Brasil não recomendam o uso para os pacientes com coronavírus, visto que não há resultados científicos que comprovem a funcionalidade do tratamento.

Como verificamos?

Tentamos contato com a autora da postagem no Twitter, @ValeriaBNews, para conferir as suas fontes a respeito da possível ligação entre os pacientes com lúpus e uma suposta “imunidade” ao novo coronavírus. O perfil não possibilita o envio de mensagens diretas, então enviamos as perguntas pelo perfil da mesma pessoa no Facebook e pelo contato de uma livraria da qual ela é proprietária.

Como não tivemos retorno até o fechamento dessa verificação, analisamos as respostas ao tuíte original e vimos que a suposta conexão entre as duas doenças seria o uso contínuo de hidroxicloroquina – medicamento usado há décadas no tratamento do lúpus.

Buscamos, então, informações de verificações anteriores do Comprova sobre a eficácia do fármaco no tratamento da covid-19, bem como reportagens sobre o tema. Além disso, entrevistamos, por telefone, o reumatologista, professor da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), e coordenador da Comissão de Lúpus da Sociedade Brasileira de Reumatologia, que nos deu explicações sobre a doença.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 9 de dezembro de 2020.

Verificação

No tuíte verificado, a usuária da rede social insinua que a mídia e os cientistas estariam ocultando a informação de que pacientes com lúpus não desenvolvem a covid-19 ao contraírem o novo coronavírus. Essa relação não é verdadeira.

Lúpus

O lúpus, segundo o coordenador da Comissão de Lúpus da Sociedade Brasileira de Reumatologia, Edgard Reis, “é uma doença autoimune, em que o organismo começa a produzir anticorpos e substâncias inflamatórias que vão atacar órgãos e tecidos do próprio corpo”. Geralmente, os “alvos” desses ataques são as articulações, algumas estruturas do sangue, do sistema nervoso central e dos rins, e eles podem ser desencadeados por diversos fatores, como infecções ou desequilíbrios hormonais.

Como a hidroxicloroquina é usada em pacientes com lúpus?

De acordo com o reumatologista Edgard Reis, a hidroxicloroquina é um medicamento utilizado há mais de 50 anos no tratamento de pacientes com lúpus para auxiliar no controle da doença e no controle do sistema imune do paciente.

“Ela atua como um imunomodulador, ela vai ajudar a equilibrar o sistema imune do paciente. A hidroxicloroquina atua em estruturas da célula, que vão alterar o ph da célula e interferir em mecanismos inflamatórios da doença também”, explica o médico. O medicamento bloqueia os receptores de algumas células e diminui a resposta inflamatória.

Que benefícios a hidroxicloroquina traz a esses pacientes?

Há muita segurança dos especialistas em relação aos benefícios que a hidroxicloroquina confere aos pacientes com lúpus. De acordo com Edgard Reis, a medicação diminui a chance de a doença entrar em atividade e a frequência dos sintomas, além de melhorar lesões de pele e sistemas articulares. Também minimiza a evolução de sequelas da doença e o risco de morte do paciente.

“Ou seja, aquele paciente com lúpus que usa a hidroxicloroquina vive por mais tempo do que aquele que não usa”, afirma Reis. A hidroxicloroquina também melhora o perfil de colesterol, propicia uma melhora na glicemia, diminui o risco de trombose e melhora a ação de outros medicamentos. “Ela age com sinergismo com outras medicações. A hidroxicloroquina, junto com outras medicações, ajuda a controlar melhor a doença também. Então, é uma droga muito importante, é uma medicação âncora, uma medicação base no tratamento da doença, a menos que o paciente tenha contraindicações para o seu uso”, completa.

De acordo com o professor da Unifesp, essas contraindicações são poucas e não são absolutas, e estão mais ligadas a problemas cardíacos e oculares bastante específicos. Segundo ele, porém, é preciso fazer acompanhamento com um reumatologista, e realizar avaliações periódicas sobre o uso de qualquer medicamento ligado ao tratamento do lúpus.

Pacientes com lúpus têm menos chance de contrair a covid-19?

Não. Apesar de todos os benefícios da hidroxicloroquina no controle do lúpus, ela não interfere nos riscos de que esses pacientes contraiam ou não a covid-19. Os próprios especialistas na área de reumatologia tiveram a curiosidade, no início da pandemia, de saber se a hidroxicloroquina protegeria, de alguma forma, os pacientes que usavam a medicação.

“Lá no começo da covid, a gente tinha essa curiosidade também: será que aqueles pacientes com lúpus, que já usam a hidroxicloroquina, teriam menos risco de contrair a covid-19? E, contraindo, será que eles teriam uma doença menos grave? Os estudos mostraram que não. Eles têm a mesma chance de contrair a covid e eles não têm uma doença menos grave pelo uso da hidroxicloroquina. Então, isso está bem claro pra gente na literatura”, afirma Edgard Reis.

O estudo que apontou estes resultados chama-se Mario Pinotti 2 e foi elaborado por uma força-tarefa da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) com mais de 10 mil brasileiros com doenças reumáticas autoimunes – como lúpus, artrite reumatoide e Síndrome de Sjögren – e seus contactantes. O estudo foi feito em nove estados brasileiros e no Distrito Federal, incluindo 97 cidades e com a participação de quase 400 alunos estudantes de medicina voluntários.

Das 10 mil pessoas avaliadas, 5.166 eram pacientes com doenças reumáticas em uso de hidroxicloroquina há mais de 5 anos e 4.423 contactantes domiciliares, ou seja, pessoas que não usam o medicamento, e moram junto com os pacientes reumáticos. Dos participantes, 169 pacientes reumáticos tiveram covid-19, o equivalente a 4,03% do universo pesquisado. Já entre os contactantes, que serviram de comparação, a proporção de infectados foi de 3,25%, o que representou 124 pessoas. Os resultados apontam, portanto, que o uso de cloroquina ou hidroxicloroquina não protegeu e nem evitou formas graves da covid-19 entre aqueles que usavam a medicação. Os dados sobre a pesquisa foram passados ao Comprova pelo coordenador da Comissão de Lúpus da Sociedade Brasileira de Reumatologia, que nos explicou que ela ainda não foi publicada, e está em processo de revisão pelos pares.

“A gente conhece ao longo desses anos muito do perfil de segurança da hidroxicloroquina para o lúpus, que é muitas vezes conflitante ou que não é semelhante àquele perfil de segurança dos pacientes de covid-19, onde a hidroxicloroquina foi testada e não se mostrou eficaz”, afirma Reis.

O que o especialista afirma é que os cenários são diferentes para o uso do medicamento e que até mesmo a dose testada para a covid-19 é diferente daquela utilizada em pacientes com doenças reumáticas. “A covid-19 tem um status inflamatório agudo, que é único da própria doença, que é singular, ou seja, é diferente do status inflamatório crônico que a gente tem em algumas doenças autoimunes. E, muitas vezes, na covid-19 você tem um uso concomitante com várias outras medicações que podem levar a uma interação medicamentosa que pode propiciar o aparecimento de eventos adversos. A gente sabe dos benefícios da hidroxicloroquina no lúpus, mas sabe que ela não é protetora para covid-19”, finaliza.

Em uma publicação oficial na internet, assinada por Edgar Reis, a Sociedade Brasileira de Reumatologia orienta os pacientes com doenças reumáticas sobre o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina e alerta que o quadro da covid-19 é bastante diferente.

O uso da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19 vem sendo apontado como ineficaz há alguns meses. A OPAS, braço da Organização Mundial da Saúde na América, não recomenda o uso do medicamento para os pacientes com o novo coronavírus, diante da ausência de resultados científicos que comprovem a eficácia e segurança do tratamento. O Comprova também já demonstrou que não há tratamento prévio para a covid-19 e que o uso da hidroxicloroquina não é capaz de diminuir a gravidade da doença.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus.

No caso da covid-19, é imprescindível que as informações sejam claras e possam orientar a população sobre a doença e as formas de minimizar os riscos de contágio. Ao relacionar o uso de um medicamento sem eficácia comprovada a uma suposta “imunidade” à doença, a autora da postagem – que teve quase 5 mil interações no Twitter – desinforma sobre os riscos ligados à infecção e à ausência de tratamento. Com isso, a postagem pode atrapalhar os esforços das autoridades em conter a disseminação da doença.

O Comprova já verificou outros conteúdos que traziam informações falsas sobre a covid-19 e as formas de prevenção à doença, como a postagem que sugeria que o uso de máscaras poderia provocar o acúmulo de líquido nos pulmões e o vídeo que afirma que as vacinas contra o novo coronavírus são uma tentativa de diminuir a população.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2020-12-07

Máscara não causa acúmulo de líquido nos pulmões nem intoxicação

  • Falso
Falso
Postagem usa suposto caso de mulher que caiu enquanto corria usando uma máscara para dizer que equipamento é prejudicial à saúde, mas autoridades negam que proteção cause danos graves. Além disso, uso de máscara não é recomendado durante prática de exercícios físicos ao ar livre
  • Conteúdo verificado: Postagem em um site que diz que, de acordo com médicos, o uso de máscara pode baixar a imunidade e congestionar pulmões.

É falso que o uso de máscaras não reduza o risco de contrair o coronavírus e que o equipamento seja prejudicial à saúde, como consta num texto publicado pelo site Estudos Nacionais. A postagem recorre a um vídeo gravado por um otorrinolaringologista sobre uma paciente que teria sofrido uma queda enquanto corria usando máscara. Segundo a publicação, ele afirma que o equipamento de proteção pode causar intoxicação por CO2 e acúmulo de líquido nos pulmões. Isso não é verdade.

O uso de máscaras impede a disseminação de gotículas no ambiente, por isso é indicado para a proteção contra o coronavírus. Mesmo a máscara caseira, quando produzida da maneira correta, não oferece riscos à saúde.

Embora o uso da máscara reduza a capacidade respiratória – e, justamente por essa razão, não seja recomendada durante atividades físicas -, especialistas ouvidos pelo Comprova reafirmaram que elas são eficazes na proteção contra o coronavírus e negaram a possibilidade de as máscaras causarem danos graves como intoxicação por acúmulo de CO2 ou acúmulo de umidade e líquido nos pulmões.

O post afirma ainda que as autoridades ao redor do mundo ignoraram o risco do uso de máscaras mesmo após a morte de dois estudantes na China que se exercitavam usando o equipamento. As duas informações também são falsas. Além de a Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomendar que as pessoas usem máscaras ao praticar exercícios intensos ao ar livre, a agência de checagem portuguesa Polígrafo já mostrou que é falsa a informação de que os estudantes chineses morreram por conta do uso do equipamento, em maio deste ano.

Como verificamos?

Iniciamos procurando o vídeo citado no início da publicação verificada e chegamos a uma postagem da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), feita no Twitter em 20 de novembro. Em seguida, o Comprova analisou os compartilhamentos do vídeo, não apenas no Twitter como também no Instagram e no Facebook, onde foi possível identificar o nome do médico responsável pela gravação.

Feita a consulta no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), foi possível confirmar que Leandro Tavares Flaiban, médico otorrinolaringologista que trabalha no Hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí (SP), foi o responsável pela gravação.

Consultamos as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) a respeito do uso de máscaras, inclusive durante a realização de atividades físicas, e entrevistamos os infectologistas Fábio Amorim, do Hospital São Rafael e do Instituto Couto Maia, unidade de referência para doenças infectocontagiosas na Bahia; e Clarissa Cerqueira, do Hospital Cardiopulmonar e da Estratégia Med, em Salvador.

Buscamos informações sobre o uso de máscaras em verificações anteriores do Comprova e de outras agências de checagem.

Por fim, entramos em contato com o Hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí (SP), que confirmou ter em seu quadro de profissionais o otorrino Leandro Tavares Flaiban. Porém, não foi possível falar com o médico pelos telefones do hospital. Não conseguimos encontrar os contatos pessoais dele.

Também procuramos o site Estudos Nacionais, mas não recebemos resposta até o fechamento desta verificação.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 7 de dezembro de 2020.

Verificação

Máscaras e CO2

O uso de máscaras realmente reduz a capacidade de respirar, segundo especialistas ouvidos pelo Comprova. No entanto, isso não significa que haja um aumento de concentração de CO2 capaz de causar intoxicação. “O gás carbônico que se concentra numa máscara não é suficiente para causar intoxicação nem dano cerebral. A gente trabalha com máscara N95 o tempo inteiro e eu desconheço caso de profissional de saúde que tenha desmaiado”, afirma o médico infectologista Fábio Amorim, que trabalha no Hospital São Rafael, em Salvador, e no Instituto Couto Maia, unidade de referência na Bahia para doenças infectocontagiosas. A máscara N95 consegue filtrar 95% de partículas e é indicada para proteção contra doenças por transmissão aérea.

A também infectologista Clarissa Cerqueira, do Hospital Cardiopulmonar, em Salvador, corrobora, citando inclusive casos de profissionais de saúde que usam máscara com frequência sem que sofram intoxicação. “A máscara é extremamente eficaz. E ela tem a capacidade de fazer a troca de ar. Então, não existe a pessoa falar que está retendo CO2 por uso de máscara. Nós, profissionais em saúde, usamos máscaras há anos no ambiente hospitalar, tem cirurgiões que operam durante 12 horas, infectologistas que precisam usar máscara para atender pacientes com tuberculose, catapora, e nunca houve nada assim”, explica.

No início do mês de abril, diante da falta de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) no mercado mundial, o Ministério da Saúde recomendou que a população produzisse máscaras de tecido, deixando as máscaras profissionais (cirúrgica e N95 ou similares) para os profissionais da saúde.

Entretanto, para garantir a efetividade da proteção, a confecção das máscaras deve seguir algumas especificações técnicas, especialmente com relação ao tipo de matéria prima a ser utilizada. Os tecidos recomendados são, em ordem decrescente de capacidade de filtragem de partículas virais:

a) Tecido de saco de aspirador;

b) Cotton (composto de poliéster 55% e algodão 45%);

c) Tecido de algodão (como camisetas 100% algodão);

d) Fronhas de tecido antimicrobiano.

Outras informações e especificações podem ser encontradas no site do Ministério da Saúde.

“Uma coisa que pode acontecer é alguém fazer uma máscara com um tecido que não tem capacidade de troca de ar, mas isso não leva a esse tipo de alteração [intoxicação]. O tecido que a gente recomenda é algodão e algum tecido sintético. Você tem que usar um tecido de algodão na camada interna. Na intermediária, um tecido sintético como um TNT e na de fora também, porque o tecido tem poros. Agora, realmente, se a pessoa colocar um plástico no rosto, a pessoa vai morrer de falta de ar”, afirma Clarissa Cerqueira.

Máscaras não provocam acúmulo de líquido nos pulmões

Os dois especialistas também negaram a possibilidade de que a máscara, por conta da umidade, provoque acúmulo de líquido nos pulmões, como afirma o post. “Isso acontece quando a pessoa se afoga ou quando acontece uma falência múltipla por edema de pulmão, mas isso é incompatível com o uso de máscaras”, explica o infectologista Fábio Amorim. O equipamento não impede a passagem do ar, mas sim dificulta a passagem de partículas presentes no ar.

Clarissa Cerqueira explica que a umidade na máscara é comum já que, durante a respiração, a pessoa libera partículas de ar. É por isso que a máscara precisa ser trocada a cada duas horas para que seja de fato eficaz. Mas, mesmo assim, não há possibilidade de acúmulo de líquido nos pulmões. “Não tem nada que justifique uma retenção de líquido nos pulmões. Quando você respira, você libera partículas de ar e, com o tempo, você troca a máscara. Se ela tá úmida, você precisa trocar. Mas não faz nenhum sentido acumular líquido no pulmão, eu não consigo nem explicar. Como entraria água ali?”, questiona.

Não se deve usar máscara durante exercícios físicos

A OMS não recomenda o uso de máscara em atividades físicas mais vigorosas, por conta do risco de redução da capacidade respiratória. No entanto, a Organização orienta que, não importa o quão intensas sejam as atividades físicas, é necessário manter no mínimo um metro de distância de outras pessoas e, no caso de atividades em casa, é necessário escolher um local com ventilação adequada.

Não é verdade que estudantes chineses morreram ao usar máscara

A agência portuguesa de fact-checking Polígrafo noticiou que um dos jovens que faleceu na China enquanto faziam exercícios físicos foi vítima de um ataque cardíaco, como foi declarado no atestado de óbito. Segundo a professora da Universidade de Medicina Chinesa de Shaanxi, Cao Lanxiu, “não foi a máscara que causou a morte súbita”.

Na segunda morte registrada, o estudante faleceu durante uma corrida, segundo apuração realizada pela agência tendo como base uma reportagem realizada pela emissora de TV australiana 7 News. Não houve nenhuma evidência de que a máscara tenha sufocado o aluno.

Quem são os médicos citados no post

A postagem verificada cita dois médicos brasileiros. Um deles é Leandro Tavares Flaiban. De acordo com dados do Conselho Federal de Medicina (CFM), Flaiban é otorrinolaringologista e possui registros em dois estados: São Paulo e Amazonas, ambos em situação regular. No registro principal, no Amazonas, consta a especialidade de otorrinolaringologia. Já o registro secundário, de São Paulo, não possui especialidades cadastradas.

O Comprova conseguiu confirmar que Leandro trabalha no Hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí, mas não pudemos conversar com o médico – o hospital, primeiro, disse que não poderia passar o contato dele; em seguida, nos forneceu um telefone, mas ninguém atendeu no número discado. Também não localizamos uma conta sua no Twitter. No Facebook, os posts são fechados.

O segundo médico mencionado no texto é o também otorrinolaringologista Carlos Nigro, que trabalha em uma clínica em Taubaté (SP). Em seu perfil no Facebook, ele afirma ter estudado Medicina na Universidade de São Paulo (USP) e ter doutorado na mesma instituição. As informações constam em seu currículo Lattes, em texto informado pelo próprio autor. Também afirma ser aluno do Seminário de Filosofia de Olavo de Carvalho.

O CFM tem um registro em nome de Carlos Eduardo Nazareth Nigro, feito em janeiro de 1996 em São Paulo, com especialidade para otorrinolaringologia. No Facebook, o médico faz postagens contrárias ao uso de máscara, ao lockdown e à vacina.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. A matéria publicada no site “Estudos Nacionais” teve 12 mil interações no Facebook, de acordo com a plataforma de monitoramento CrowdTangle. Tratando-se de temas relacionados à pandemia da covid-19, os riscos da desinformação são maiores, visto que afetam diretamente a saúde das pessoas e que as medidas de proteção como as máscaras são de extrema necessidade para impedir a disseminação da doença.

O Comprova já verificou outros conteúdos que disseminam informações sem fundamentos, desde o início da pandemia, como um vídeo que afirmava que as máscaras não são eficientes no combate à covid-19; um áudio no qual um engenheiro falsamente alegava que as vacinas causam câncer e danos genéticos; e um vídeo no qual um pastor diz que o vírus foi feito na França e vacinas seriam uma iniciativa globalista para reduzir a população.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2020-12-02

Vírus não foi feito na França e vacinas não são uma iniciativa globalista para reduzir a população

  • Falso
Falso
O Instituto Pasteur nega as acusações feitas no vídeo verificado, especialistas dizem que são teorias conspiratórias sem fundamento e, procurados pelo Comprova, os homens que aparecem na gravação não ofereceram provas do que dizem.
  • Conteúdo verificado: Trecho de uma live publicada no Instagram em que os participantes discutem sobre vídeo que supostamente mostraria documentos comprovando que o novo coronavírus foi fabricado no Instituto Pasteur, na França. Além disso, o conteúdo afirma que vacinas “modificam o DNA para sempre”, “estabelecem um novo sistema genético”, contém “material genético do HIV”, e que são “uma iniciativa dos globalistas para reduzir a população em 90%”.

É falso que vacinas são uma iniciativa globalista para reduzir a população e que modificam o DNA, como afirma um pastor em uma live publicada no Instagram e no YouTube. Ele diz que assistiu a um vídeo que supostamente mostrava provas de que o novo coronavírus tinha sido criado no Instituto Pasteur, na França, e que as vacinas contam com “o material genético do HIV” e “estabelecem um novo sistema genético”. No entanto, o homem não mostra e nem divulga o link para o vídeo no qual baseou suas falas, mesmo sendo solicitado a fazê-lo por alguns seguidores nas áreas de comentários.

Segundo o virologista Flávio Fonseca, da Universidade Federal de Minas Gerais e do Centro de Tecnologia em Vacinas da UFMG, não existem vacinas que tenham a capacidade de alterar o nosso material genético, DNA. Sobre as afirmações realizadas no vídeo de que vacinas são “uma iniciativa dos globalistas para reduzir a população em 90%”, o professor da faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor), Jorge Kalil, falou que não existem provas de que esse tipo de medicamento tenha o objetivo de eliminar parte da população, que são teorias da conspiração. E acrescenta “Como vai ter uma coalizão de interesses tão comuns para eliminar a população do mundo? Nunca houve nenhum tipo de vacina responsável pela morte de muitas pessoas. Isso nunca existiu”.

O Comprova acionou o instituto francês para verificar a afirmação feita pelo pastor sobre a origem do vírus, que negou o boato. O instituto já tinha sido acionado por versões em outros idiomas do mesmo boato e emitido posicionamento.

Também buscamos contato com Lamartine Posella Sobrinho, que faz as afirmações durante a live, assim como o responsável pela entrevista Wagner Malagues, para solicitar as provas que são citadas no vídeo. Até o momento desta publicação não houve resposta do Pastor e Wagner deu respostas inconclusivas.

Como verificamos?

Recorremos a pesquisas em diversas reportagens sobre vacinas, bem como em checagens anteriores do Comprova sobre o tema. Esses materiais nos ajudaram a esclarecer questões como a possibilidade de um imunizante contra o novo coronavírus alterar o DNA humano ou conter material genético do HIV. Acionamos, ainda, o instituto francês Pasteur para solicitar um posicionamento sobre a alegação de que o Sars-CoV-2 teria sido criado na instituição.

Além disso, buscamos especialistas para avaliar as afirmações do vídeo aqui analisado. Colaboraram o professor da faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor), Jorge Kalil; o professor da Escola de Relações Internacionais da FGV, Pedro Brites; o virologista da Universidade Federal de Minas Gerais e do Centro de Tecnologia em Vacinas da UFMG, Flávio Fonseca e a microbiologista Jordana Coelho dos Reis, que atua no Laboratório de Virologia Básica e Aplicada do Departamento de Microbiologia, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Também entramos em contato com os autores do vídeo. O entrevistado, Lamartine Posella Sobrinho, não retornou até o fechamento desta publicação. Já o apresentador Wagner Malagues respondeu nosso contato, mas não deu nenhuma fonte que sustente as afirmações no seu canal.

O Comprova fez esta verificação baseada em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 1 de dezembro de 2020.

Verificação

Vacinas podem causar alterações no DNA humano e câncer?

No conteúdo verificado, o pastor Lamartine Posella diz que assistiu a um vídeo, sem indicar qual, em que um cientista, sem citar o nome, afirma que “das seis vacinas que estão sendo desenvolvidas para Covid, três delas modificam o DNA para sempre”. Porém, não foram apresentadas provas sobre tal afirmação e, de acordo com Flávio Fonseca, virologista da Universidade Federal de Minas Gerais e do Centro de Tecnologia em Vacinas da UFMG, “não existe nenhuma vacina capaz de alterar o nosso material genético, nosso DNA”.

O virologista explicou que nosso material genético é muito bem protegido dentro de nossas células. “Ele fica dentro do núcleo, não fica exposto no citoplasma. E dentro do núcleo há uma série de enzimas que fazem, entre aspas, o patrulhamento da qualidade do nosso DNA para evitar exatamente que aconteçam mutações indesejadas”.

Fonseca reforçou que estamos expostos diariamente a material genético estranho ao nosso DNA, como infecções por vírus, bactérias e por processo de absorção (fagocitoses) de outras células que, por ventura, entram em contato com nosso organismo. “Então tudo isso chega dentro de nossas células. E, na verdade, são poucos os materiais genéticos que conseguem integrar, entrar no nosso genoma e alterá-lo. Alguns vírus muito especializados conseguem fazer isso, entre eles, por exemplo, os retrovírus, do qual fazem parte o HIV. E pra conseguir fazer isso, o HIV tem todo um aparelhamento molecular que permite que ele altere o nosso DNA”.

Ele também enfatizou que nenhuma das vacinas que temos atualmente consegue fazer isso. “Nenhuma delas, seja para covid-19 ou qualquer outra vacina que a gente conheça, têm a capacidade de fazer esse tipo de coisa, ou seja, de alterar nosso material genético através de sua integração dentro de nosso DNA”.

No início deste mês, o Comprova fez uma verificação que apontou que vacinas não causaram danos neurológicos ou de DNA. O alvo do conteúdo verificado era a CoronaVac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac com apoio do Instituto Butantan.

Ainda no vídeo desta verificação, o pastor Posella também fala, sem apresentar provas, que é a primeira vez que uma vacina está sendo feita com um DNA estranho, um elemento diferente que vai modificar o RNA mensageiro, que por sua vez, estabelecerá um novo sistema genético e que isso pode gerar graves consequências no futuro para quem se vacinar, podendo até provocar mortes por câncer.

Sobre isso a microbiologista Jordana Coelho dos Reis, que atua no Laboratório de Virologia Básica e Aplicada do Departamento de Microbiologia, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explicou que algumas das vacinas que estão sendo desenvolvidas contém RNA mensageiro – molécula que todos têm nas células e que leva a informação até o citoplasma para a produção de proteínas que constituem nosso organismo. Cada proteína precisa de um RNA mensageiro diferente para ser produzida, inclusive as de vírus. “Então para produzirmos proteínas no nosso organismo precisamos de RNAs mensageiros e eles são naturais do nosso organismo. As vacinas que são constituídas de RNAs mensageiros codificam proteínas dos SARS-CoV-2 que vão ser importantes para nos imunizar, para avisar o nosso sistema imune de que existe essa proteína e que ela precisa ser reconhecida por anticorpos, por células e , assim, realmente quando nós entrarmos em contato com o vírus [da covid-19] estaremos imunizados”.

Jordana reforçou que os RNAs que estão sendo utilizados nos testes para algumas vacinas não têm a capacidade de alterar nosso DNA e que, portanto, são seguros. “A gente pode confirmar com segurança, com pé no chão, tranquilamente que essas vacinas não representam um risco para câncer nesse sentido de alterar genoma, não tem a menor chance disso acontecer”.

Ainda sobre essa hipótese levantada pelo instituto, o Comprova já checou e identificou como falso outro conteúdo que também difundia um argumento de que a vacina poderia ocasionar câncer. À época, o Comprova conversou com Cristina Bonorino, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e membro da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), que comentou essa questão, dentre tantos pontos. Cristina disse que não há estudo que possa amparar esse argumento e se fosse verdade, haveria muito mais gente com câncer. Ela também explicou que os efeitos das vacinas, inclusive as que estão há décadas no calendário, na população são constantemente acompanhados por cientistas. “A gente faz estudos, busca efeitos, ajusta imunizações a partir do que é detectado. É muito perigoso uma pessoa sair por aí fazendo esse tipo de declaração.”

Material genético do HIV nas vacinas

De acordo com o virologista Flávio Fonseca, “não existe nenhuma vacina para SARS-CoV-2, para covid-19, que contenha porções oriundas do vírus HIV”.

Fonseca acredita que esse boato possa ter origem em uma situação passada com uma vacina para HIV que passou por três fases de testes com adenovírus, mas não obteve sucesso. “Há uma grande confusão porque no passado houve a geração de uma vacina utilizando adenovírus, vetor viral, que é a estratégia, por exemplo, usada pela vacina de Oxford, pela vacina Russa, pela vacina da Johnson e Johnson, todas elas usam adenovírus como vetor viral”.

No caso dessa vacina para HIV, ela não teve a eficácia pretendida e desencadeou até alguns problemas graves onde pessoas vacinadas acabaram tendo mais infecções com HIV, do que as pessoas que receberam placebo.

Em outubro, a Revista Exame publicou uma reportagem falando sobre as preocupações de médicos em relação às vacinas em desenvolvimento que utilizam o adenovírus de número 5 (Ad5), e que segundo estudo publicado no jornal científico The Lancet apontava que a infecção por HIV poderia ser facilitada caso o paciente vacinado recebesse uma dose contendo o Ad5. Neste estudo, os cientistas se basearam em análises de 2007, referentes à vacina para HIV mencionada pelo o virologista da UFMG. Ainda no texto foi pontuado que até então, “nenhum teste realizado com as vacinas em desenvolvimento contra a covid-19 mostraram resultados semelhantes”.

A microbiologista Jordana também enfatizou que as vacinas em teste são completamente distintas do vírus HIV. “Vamos esclarecer então em relação às vacinas que estão sendo produzidas conter material genético do HIV, isso é uma inverdade. Nós não temos evidências de que existe material genético do HIV, inclusive em nenhuma das vacinas que estão sendo desenvolvidas. Algumas delas contém RNA mensageiro, mas em nenhum momento esse RNA mensageiro pertence ao HIV, ele não é de origem retroviral, então não tem retrovírus ali”.

Vacina x Globalismo

Ao fim do vídeo, o pastor Lamartine Posella Sobrinho, o entrevistado, alerta que vacina é “uma iniciativa dos globalistas para reduzir a população em 90%”. Contudo, não há provas de que esse tipo de medicamento tenha o objetivo de eliminar alguma parcela da população. Tampouco existe registro histórico de que já tenha causado muitos óbitos, conforme o professor da faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor), Jorge Kalil. “Essas teorias da conspiração que colocam a ciência, as empresas e os governantes como se todos quisessem eliminar 90% da população, me parece absolutamente ridículo. Como vai ter uma coalizão de interesses tão comuns para eliminar a população do mundo? Nunca houve nenhum tipo de vacina responsável pela morte de muitas pessoas. Isso nunca existiu”, afirma.

Kallil ainda aponta que a imunização é a alternativa mais adequada para frear o contágio do novo coronavírus. “A gente sabe que vacina é a solução para uma pandemia porque ela vai deixar as pessoas imunizadas, que vão deixar de ficar doentes, vão deixar de transmitir o vírus e, com isso, o vírus não transmitindo, a pandemia acaba. Tivemos milhares de ganhos pela utilização de vacinas. E na situação atual é o que pode nos ajudar.“

Ao mencionar em tom crítico que vacinas são “uma iniciativa globalista”, o pastor usa um conceito difuso, adotado nos dias de hoje, principalmente, pela nova direita populista no mundo.

O professor da Escola de Relações Internacionais da FGV, Pedro Brites, reforça a ideia de que o termo ‘globalistas’ é uma expressão sem significado estrito, que se opõe de maneira não clara a acontecimentos do cenário social, político, econômico e cultural de caráter internacional. ”É um conceito vago, mas que serve muito a propósitos políticos. Efetivamente é um termo que começou a ser utilizado por todos aqueles que são críticos a uma série de fatores que caracterizam esse cenário internacional, especialmente desde o final da guerra fria. Aí podemos mencionar, dentre esses fatores críticos, o avanço das instituições internacionais, aumento dos processos migratórios. Tudo o que diz respeito ou parece ameaçar uma identidade nacional, de valores patrióticos. E a crítica à esquerda, que também é responsabilizada por esse avanço – e aqui esquerda no sentido mais amplo do termo, desde o Obama ao PT no Brasil. Todos esses atores são considerados parte desse processo de você estar vendo cada vez mais o estado-nação perdendo força, perdendo sentido. O fato de ele não ter uma definição bem específica é o que permite que seja usado em diferentes contextos.”

Instituto Pasteur

O Comprova entrou em contato por e-mail com o diretor da unidade de Virologia e Imunidade do Instituto Pasteur, Olivier Schwartz e obteve como resposta uma nota já publicada no site do instituto, desde março deste ano, na seção destinada ao combate à desinformação da instituição.

Na última atualização desta área do site, o instituto reitera que o SARS-CoV-2 não foi criado pelo Instituto, muito menos o liberou na cidade de Wuhan, na China. “O Instituto Pasteur não é um laboratório pertencente ao grupo farmacêutico Sanofi ou à sua subsidiária Sanofi-Pasteur; é uma fundação independente sem fins lucrativos. Afirmar que o Instituto Pasteur está planejando escravizar e controlar a população global é totalmente falso e desprovido de qualquer fundamento.”, diz trecho do texto.

O Pasteur é uma fundação sem fins lucrativos, criada em 1887, que por meio de pesquisas contribui para a prevenção e o tratamento de doenças, principalmente infecciosas. É um dos principais centros internacionais de pesquisas biomédicas, estando presente em 25 países. No Brasil, o Instituto é representado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), situada no Rio de Janeiro.

O Instituto é dedicado ao estudo de microorganismos, doenças e vacinas. Seu nome é uma homenagem a Louis Pasteur, seu fundador e primeiro diretor, que, em 1885, produziu a primeira vacina contra a raiva.

Quem é o pastor

Lamartine Posella Sobrinho, de acordo com seu site oficial, é fundador da YAH Church, igreja criada ao lado da esposa Lylian Posella. Trata-se de uma espécie de atualização da Igreja Batista Palavra Viva em São Paulo, da qual Lamartine foi presidente. Ele também atua como pregador, músico, pianista, violonista, compositor e escritor — publicou nove livros. Tem um canal no youtube que segundo descrição aborda “ vídeos com uma mensagem de fé, estudos sobre hebraico bíblico, escatologia, hermenêutica e tudo que envolve a Bíblia”.

Além disso, tem uma carreira política com passagens pelo PP (outrora PPB, quando o PP uniu-se ao PPR e ao PRP). Pelo Partido Progressista, foi deputado federal por São Paulo entre 1997 e 1999, quando assumiu após ficar como suplente. Exerceu a mesma função como integrante do Partido Progressista Brasileiro, entre 1999 e 2003. Ainda candidatou-se a como vice-prefeito (2000) e como governador (2002) em São Paulo, mas não foi eleito. Atualmente, faz parte do MDB.

Foi denunciado pelo Ministério Público Federal, em Brasília, por desvio de recursos públicos, conforme matéria do Estadão de fevereiro de 2017.

Tentamos contato pelo e-mail informado no site oficial de Lamartine, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.

Wagner Malagues

No perfil do Facebook, Wagner Malagues se apresenta como evangelista. Ele mantém um canal no YouTube intitulado “Wagnão”, cuja descrição diz “minha missão é informá-lo, e trazer o valor aquilo que estava perdido”. O canal contém conteúdos relacionados à religião e também vídeos sobre a vacina e temas políticos.

Procurado pelo Comprova, sobre qual é a fonte para o conteúdo aqui verificado – referenciada na sua transmissão como um “vídeo em francês” -, não retornou. Perguntado se havia fontes adicionais que subsidiaram o conteúdo no seu perfil, nos enviou apenas o link da reportagem da Revista Exame mencionada acima. Também nos enviou um vídeo em português que não respondia às questões.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos relacionados a políticas públicas do governo federal e à pandemia, incluindo, publicações que veiculam informações falsas ou enganosas relacionadas à vacina contra a covid-19. Neste caso, a divulgação desses conteúdos é ainda mais grave, porque pode colocar a saúde das pessoas em risco, uma vez que desencorajam a população a se imunizar por meio da vacinação – que é apontado por especialistas como o meio mais efetivo para conter o novo coronavírus.

Nesta verificação, o vídeo com informações falsas, publicado no Instagram, teve mais de 63 mil visualizações, até 23 de novembro. No YouTube o vídeo foi retirado de circulação antes da contagem de visualizações. O conteúdo contribui para o descrédito das vacinas contra a covid-19, doença que já tirou a vida de mais de 173 mil brasileiros, de acordo com os dados do Ministério da Saúde atualizados em 30 de novembro. A credibilidade dos imunizantes é colocada em dúvida por meio de afirmações sem comprovação que espalham medo, inclusive, a longo prazo, já que é mencionada a possibilidade de graves doenças futuras, como o câncer. Por isso, entender o que diz a ciência, sobretudo os estudos sobre vacinas, pode contribuir para sanar dúvidas da população e aumentar a confiança das pessoas sobre as informações catalogadas nas pesquisas científicas.

O Comprova já checou outros conteúdos falsos que distorciam fatos e colocavam em xeque a credibilidade dos imunizantes, como o áudio que fazia alegações de que as vacinas poderiam causar câncer, danos genéticos ou homossexualismo, a live disponibilizada no Youtube com afirmações de que médico teria morrido por conta de efeitos da vacina de Oxford e o post no facebook que induzia internautas a acreditar que a CoronaVac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac com apoio do Instituto Butantan, teria matado mais de 2 mil voluntários e alterava o DNA das pessoas. Já mostrou também que é enganoso dizer que expor a população ao vírus é melhor para acabar com a pandemia do que a vacinação, que todas as vacinas em teste no Brasil passaram por fase pré-clínica, ao contrário do que diz médico e que tuíte engana ao sugerir que vacina contra a covid-19 é desnecessária.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2020-11-30

Artigo não prova impossibilidade de transmissão da covid-19 por assintomáticos

  • Enganoso
Enganoso
Os próprios autores do artigo, ouvidos pelo Comprova, dizem que os dados não permitem comprovar que indivíduos sem sintomas não sejam capazes de infectar outros
  • Conteúdo verificado: Postagem do site Terça Livre diz que estudo feito na China prova que pessoas assintomáticas não transmitem o novo coronavírus.

É enganoso afirmar que um estudo feito na China prove que pessoas assintomáticas não são capazes de transmitir o novo coronavírus. O artigo, publicado na revista acadêmica Nature Communication, mostrou que durante uma pesquisa de prevalência sorológica realizada em Wuhan os pesquisadores encontraram 300 casos de pacientes assintomáticos. Eles testaram 1.174 contatos próximos desses pacientes e nenhum deles testou positivo. No entanto, os próprios autores do artigo dizem que os dados não permitem comprovar que indivíduos sem sintomas não são capazes de infectar os outros.

De acordo com o doutor Fujian Song, autor do artigo, é preciso diferenciar pacientes assintomáticos dos pré-sintomáticos. Os primeiros são pessoas que se recuperam da infecção pelo novo coronavírus sem apresentar nenhum sintoma. Já os segundos são aqueles que foram infectados e ainda não desenvolveram sintomas. De acordo com Song, já está demonstrado que pessoas pré-sintomáticas podem transmitir o SARS-CoV-2 antes mesmo de começar a demonstrar sinais da doença.

Além disso, o autor do artigo lembra que a pesquisa foi feita em Wuhan apenas algumas semanas após um rígido lockdown e, portanto, seus resultados não podem ser transferidos para um país onde o surto da covid-19 não está sob controle. Ele também recomenda que, mesmo com o resultado do seu estudo, as pessoas devem manter medidas de contenção do vírus, como a higienização das mãos e o distanciamento social.

Ao Comprova, o professor de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador de um estudo com doentes assintomáticos, Ivo Castelo Branco também disse que ainda não há consenso na comunidade científica sobre a transmissão do vírus por assintomáticos. “Há alguns meses, acreditava-se que as crianças infectadas mas com nenhum ou poucos sintomas tinham transmissão baixa. No entanto, foi comprovado posteriormente que nada disso é verdade, pois com a abertura das escolas, a contaminação aumentou mesmo com as crianças assintomáticas”, exemplifica.

Como verificamos?

Primeiramente, o Comprova leu o artigo científico citado pelo site e entrou em contato com um dos autores da pesquisa por meio do e-mail listado no artigo. Também procuramos os posicionamentos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre a possibilidade de assintomáticos transmitirem ou não o vírus que causa a covid-19. Entrevistamos ainda o professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, Ivo Castelo Branco.

Também enviamos um e-mail para o site Terça Livre, que publicou o conteúdo verificado, mas não recebemos retorno até a publicação dessa verificação.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 30 de novembro de 2020.

Verificação

O que diz o estudo?

O artigo, publicado em novembro, analisa dados de um estudo feito com quase dez milhões de moradores de Wuhan, na China, cidade que foi o primeiro epicentro da covid-19 no mundo, para entender a prevalência do vírus na população. O levantamento, feito pelo governo chinês, detectou, entre outras coisas, a existência de 300 casos assintomáticos na cidade (e nenhum caso sintomático) na segunda quinzena de maio. O governo chinês colocou em isolamento por duas semanas 1.174 contatos próximos dos assintomáticos, mas nenhum deles apresentou resultados positivos nos testes para o SARS-CoV-2.

Os testes de prevalência que embasam o estudo foram realizados entre cinco e oito semanas após o fim do lockdown em Wuhan, em abril. Embora os resultados reforcem que a carga viral (quantidade de vírus) com que uma pessoa tem contato pode influenciar no desenvolvimento de sintomas e, posteriormente, na transmissão entre indivíduos, o estudo defende a manutenção de medidas de saúde pública de prevenção e controle da covid-19, “incluindo o uso de máscaras e a manutenção de um distanciamento social seguro”. Segundo os autores, populações vulneráveis, com baixa imunidade ou comorbidades, devem continuar a ser apropriadamente blindadas contra o novo coronavírus.

O que dizem os pesquisadores?

Em e-mail enviado ao Comprova, Fujian Song, professor titular na University of East Anglia (Reino Unido) e um dos autores do estudo, demonstrou preocupação com a interpretação que as pessoas possam dar ao resultado da pesquisa. Ele explicou que os casos assintomáticos identificados no estudo são de pessoas que não apresentaram sintomas clínicos antes ou durante o período em que ficaram isoladas para acompanhamento. “Alguns casos assintomáticos podem se tornar sintomáticos após alguns dias e esses indivíduos serão capazes de infectar outras pessoas antes mesmo do início desses sintomas”, afirma.

O médico também lembrou que esses casos assintomáticos foram identificados apenas algumas semanas após um rigoroso lockdown que durou mais de 70 dias em Wuhan; o que fazia com que a pandemia estivesse efetivamente sob controle naquele momento. “É provável que a carga de vírus dos casos assintomáticos identificados no programa de triagem em Wuhan possa ser baixa, em comparação com os casos em locais com alta transmissão do vírus SARS-CoV-2. Portanto, é problemático aplicar os resultados do artigo a países onde os surtos de covid-19 não foram controlados com sucesso”, adverte.

Por fim, Song também reiterou que os resultados do artigo não devem ser utilizados para contrariar a implementação de medidas de intervenção não farmacêutica, como a cobertura facial e o distanciamento social. Medidas como estas vinham sendo adotadas pela população chinesa quando os testes foram feitos e o uso de máscaras em lugares públicos continua sendo uma prática comum em Wuhan até hoje.

Autoridades de saúde

Em junho, o tema dos assintomáticos veio à tona depois que a infectologista Maria Van Kerkhove, chefe do departamento de doenças emergentes da Organização Mundial da Saúde, afirmou que a transmissão do novo coronavírus a partir de pessoas “genuinamente assintomáticas” era rara. Um dia depois, para evitar mal entendidos, ela voltou a se pronunciar sobre o assunto dizendo que é preciso ter cuidado ao tirar conclusões a partir de dados iniciais. “Estamos absolutamente convencidos de que a transmissão por casos assintomáticos está ocorrendo, a questão é saber quanto”, ponderou Kerkhove na ocasião.

De acordo com a OMS, “quer apresentem sintomas ou não, pessoas infectadas podem ser contagiosas e o vírus pode se espalhar para outros a partir delas”. Segundo a entidade, dados de laboratório sugerem que as pessoas infectadas aparentemente são mais capazes de transmitir o vírus em um período de dois dias antes de desenvolver os sintomas e no início da doença. Aqueles que desenvolvem casos mais graves podem permanecer infecciosos por mais tempo. “Embora alguém que nunca desenvolverá os sintomas possa transmitir o vírus para outras pessoas, ainda não está claro com que frequência isso ocorre e são necessárias mais pesquisas nessa área”, admite a OMS.

Em seu site, a Fundação Oswaldo Cruz explica que, embora, em média, pessoas infectadas por coronavírus transmitam a doença durante uma semana após o início dos sintomas, dados preliminares do SARS-CoV-2, o vírus que causa a covid-19, indicam que a transmissão pode ocorrer mesmo sem o aparecimento de sinais e sintomas. “Ou seja, a doença pode ser transmitida mesmo em casos assintomáticos ou antes que a pessoa comece a apresentar sintomas mais claros”, diz a Fiocruz.

Transmissão depende do período da infecção

Procurado pelo Comprova, o professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará Ivo Castelo Branco explica que a probabilidade de uma pessoa transmitir vai depender mais do período da infecção no qual ela se encontra do que da presença ou não de sintomas.

“A pessoa com covid já pode transmitir o vírus na primeira semana antes do início dos sintomas, ou seja, quando ainda está assintomática”, explica. “Na segunda semana, ela apresenta os sintomas e diminui a carga viral. Na terceira semana, a carga viral praticamente desaparece”.

O médico coordena o “Projeto Avisa: Avaliação de Incidência de Infecção por SARS-CoV-2 e de Covid-19 no Brasil” em parceria com o Instituto Butantan, e estuda a evolução dos sintomas, a possibilidade de reinfecção e o tempo de imunidade à covid-19, tendo como foco as pessoas assintomáticas ou com manifestações leves da doença.

“A maioria dos estudos sobre a covid é sobre pacientes sintomáticos, e ainda por cima, sobre aquelas com sintomas mais graves e que necessitam de hospitalização. Há, portanto, uma insuficiência de informações no meio científico sobre essa parcela de assintomáticos, que representa uma grande parcela dos infectados”, aponta. “Mas o consenso é que é essencial seguir os protocolos de higiene para evitar a infecção pelo novo coronavírus, ou seja, usar máscaras e higienizar as mãos”, acrescenta.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia, as eleições 2020 e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. É o caso dessa publicação do site Terça Livre, que teve 1,6 mil interações no Twitter e 1,2 mil interações no Facebook, de acordo com a plataforma de monitoramento CrowdTangle. Quando os conteúdos tratam de métodos de prevenção ou disseminação do novo coronavírus, a verificação se torna ainda mais necessária porque informações erradas sobre a doença podem levar as pessoas a não adotarem medidas adequadas de proteção e se exporem a riscos de contaminação.

Desde o início da pandemia, o Comprova já mostrou que as máscaras são eficientes no combate à covid-19; que as vacinas não causam câncer ou danos genéticos; e que que é enganoso dizer que expor a população ao vírus é melhor do que a vacinação para acabar com a pandemia.

O Estadão Verifica e o Boatos.org já fizeram checagens sobre a transmissão do vírus por pessoas assintomáticas.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2020-11-27

‘Tratamento precoce’ com hidroxicloroquina não evitou mortes em Porto Feliz

  • Falso
Falso
A cidade no interior de São Paulo registrou mortes por covid-19 e o "tratamento precoce" com hidroxicloroquina não cobriu toda população
  • Conteúdo verificado: Post no Facebook atribui reeleição de prefeito de Porto Feliz (SP) a suposto tratamento precoce de 100% da população com hidroxicloroquina e ausência de óbitos após adoção do protocolo

São falsas as informações divulgadas em um post no Facebook sobre a situação da covid-19 na cidade de Porto Feliz, no interior de São Paulo. A cidade não é referência no combate à doença por ter tratado “precocemente” toda a população com hidroxicloroquina.

De fato, o medicamento passou a ser adotado pela cidade em abril, junto com outros remédios também sem eficácia comprovada contra a doença causada pelo novo coronavírus, como a ivermectina. No entanto, para a comunidade científica, não existe tratamento precoce para a enfermidade e não há, ainda, um tratamento com eficácia comprovada. Tampouco é verdade que a cidade tenha tratado 100% da população com o medicamento, como afirma o post.

É falsa, também, a informação de que o município não tenha registrado nenhum óbito da doença após o “tratamento precoce” ser adotado. A cidade só começou a divulgar boletins em agosto. No dia 1º daquele mês, a cidade já tinha 10 óbitos. Desde então, mais 6 pessoas morreram de covid-19 em Porto Feliz, totalizando 16 vítimas até esta quinta-feira (26).

A única informação verdadeira do post é sobre a reeleição do prefeito, o médico Dr. Cássio (PTB). Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele recebeu 92,1% dos votos no dia 15 de novembro deste ano.

Como verificamos?

Primeiramente, buscamos o resultado da votação para a eleição municipal em 1º turno, no dia 15 de novembro, no app de Resultados do Tribunal Superior Eleitoral.

Em seguida, localizamos os boletins epidemiológicos divulgados pela Prefeitura Municipal de Porto Feliz, cidade a cerca de 100 km de São Paulo, e também pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

Procuramos por informações sobre a situação em Porto Feliz em reportagens publicadas desde o início da pandemia e, em seguida, buscamos a Prefeitura Municipal de Porto Feliz, que nos respondeu por meio da coordenadoria de Comunicação Social.

Também contatamos, via Facebook, moradores da cidade que comentaram em uma postagem sobre o cancelamento – por causa da pandemia – de um show, que aconteceria no dia 21 de novembro, no Porto Feliz Tênis Clube. Três pessoas aceitaram falar com a reportagem, sendo uma a respeito do uso da cloroquina e outras duas sobre como funcionou o protocolo na cidade.

Ouvimos o médico epidemiologista Eduardo Martins Netto, que é professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e consultamos as publicações da Organização Mundial de Saúde (OMS) a respeito do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina, que é derivada da primeira. Por fim, entramos em contato com o responsável pela publicação no post no Facebook. Ele respondeu que fez uso da hidroxicloroquina e acredita na eficácia científica do tratamento.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 27 de novembro de 2020.

Verificação

‘Tratamento precoce’

A expressão “tratamento precoce”, usada no post verificado, não é correta. Outras verificações feitas pelo Comprova mostram que a comunidade científica não reconhece a existência de um tratamento precoce contra a covid-19.

É o que afirma, também, o médico epidemiologista Eduardo Martins Netto, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia. “Não existe tratamento precoce contra a covid. E os riscos [do uso de remédios] são atribuídos ao tipo de medicação que você está tomando. Além do risco de a pessoa ser enganada”, afirma, referindo-se à não comprovação científica de que o uso desses medicamentos tem eficácia contra a covid-19.

Mesmo sem essa comprovação, uma reportagem publicada pela Agência Pública em outubro mostrou como o prefeito da cidade distribuiu a cloroquina e outros medicamentos numa espécie de coquetel para “tratar” a população contra a doença. Outra reportagem do Estadão mostrou que o protocolo era adotado desde abril.

100% da população tomou cloroquina?

Não. No mês de junho, segundo a reportagem da Agência Pública, o prefeito Dr. Cássio disse, numa entrevista via live ao jornalista Alexandre Garcia, que havia distribuído 1.500 kits à população da cidade e que nenhuma das pessoas que fez uso deles morreu ou foi intubada. Essa informação também foi fornecida pela prefeitura a agências de checagem em julho (Estadão, Aos Fatos e Fato ou Fake).

Mas nem todo mundo recebeu ou mesmo fez uso dos medicamentos – a população estimada da cidade, em 2020, é de 53,4 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Comprova conversou com três moradores da cidade que comentaram no post de uma página do Facebook sobre o cancelamento de um show no dia 21 de novembro, justamente por conta da pandemia.

Procurada pelo Comprova, a coordenadoria de Comunicação Social da Prefeitura de Porto Feliz respondeu que a informação de que “toda a população fez uso precoce da cloroquina para o tratamento da covid-19 é fake”. A coordenadoria também tratou como falsa a alegação “sobre a cidade não ter tido nenhuma morte”.

Sobre os moradores

Realizamos contato por meio de uma página no Facebook com moradores da cidade de Porto Feliz e os questionamos sobre a distribuição de medicamentos para ‘tratamento precoce’ da covid-19. Eles confirmaram a distribuição pelos postos de saúde e nas residências. Segundo eles, essa medida alcançou boa parcela da cidade, que a tomou como medida preventiva.

Segundo moradores, a prefeitura e unidades de saúde pedem para a população que, no primeiro sintoma, procure de imediato uma “unidade de saúde Sentinela” e a “Santa Casa”. Logo depois, a pessoa é encaminhada para a realização de uma bateria de exames, como hemograma, tomografia pulmonar e eletrocardiograma. Caso não haja alteração nos exames, a pessoa está apta a recorrer aos medicamentos para ‘tratamento preventivo’ e já sai do local com o kit em mãos, antes mesmo do resultado oficial.

Dentre os medicamentos fornecidos pelas unidades de saúde para o tratamento estão azitromicina, ivermectina e cloroquina, além de anti-inflamatório, coagulantes e remédio para febre.

Uma das moradoras da cidade com quem conversamos disse que tem histórico de arritmia cardíaca e, por isso, se pegar covid, precisa usar outro medicamento. Segundo especialistas, ivermectina não é indicada para o tratamento da doença. “Eu não fiz uso da ivermectina quando o pessoal do posto de saúde passou na minha casa. Se fosse vacina, eu tomaria”, declara.

Cidade tem 16 mortes pela covid-19

O post verificado aponta que Porto Feliz não registrou nenhuma morte após adotar o protocolo de “tratamento precoce” com hidroxicloroquina. A informação também não é verdadeira, e a própria prefeitura da cidade a desmentiu. Para que isso fosse verdade, era preciso que Porto Feliz não tivesse registrado nenhuma morte desde abril, quando iniciou o protocolo. Os boletins começaram a ser divulgados pela prefeitura em agosto e, naquele mês, já havia 10 óbitos.

Até as 18h desta quinta-feira (26), a cidade tinha 1.441 casos de covid-19 e 16 óbitos, segundo dados do boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. A taxa de letalidade na cidade é de 1,12% e o índice de óbitos por 100 mil habitantes, de 29,96. O índice é menor do que o da maior parte das cidades da mesma região – de Sorocaba – com um total aproximado de população. É o caso de Piedade, que tem 40 óbitos e índice de 72,02 para cada 100 mil habitantes; de Salto de Pirapora, com 23 mortes e 50,15 para cada 100 mil; e de Mairinque, com 21 óbitos e índice de 44,27 para cada 100 mil habitantes.

Passa à frente, no entanto, de outras cidades paulistas maiores, como Assis, que tem mais casos, mais óbitos e população maior, embora um índice de mortes por 100 mil habitantes menores (26,64) e de São Carlos (22,79). A capital, São Paulo, tem letalidade de 4,13% e índice de 116,09 óbitos para cada 100 mil habitantes.

Esta não é a primeira vez que circula nas redes a informação de que Porto Feliz não registrou mortes pela covid-19. Em julho, o Estadão Verifica, o Aos Fatos e o G1 fizeram checagens que mostravam que a informação era falsa. Naquela ocasião, dia 16 de julho, o Estadão Verifica mostrou que a cidade tinha oito mortes. Pouco antes, em 11 de junho, quando a informação falsa começou a circular, o total era de seis.

O site oficial da prefeitura mostra os boletins epidemiológicos divulgados a partir do dia 1º de agosto. Naquela data, Porto Feliz tinha 10 óbitos confirmados. Em 10 de agosto, o número chegou a 11 e saltou para 12 em 13 de agosto.

O 13º óbito ocorreu em 19 de agosto; o 14º em 29 de outubro; o 15º em 4 de novembro e o mais recente, o 16º, em 26 de novembro.

O que a ciência diz a respeito do uso precoce de cloroquina

Segundo a OMS, não há evidência científica de que a cloroquina ou a hidroxicloroquina seja eficaz no tratamento da covid-19. Apesar disso, o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma) indica que o consumo da cloroquina cresceu 358% na pandemia.

No Brasil, o uso do medicamento foi amplamente incentivado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que mostrou a hidroxicloroquina em reunião do G20, em março, e lançou uma campanha do governo federal para incentivar o uso do medicamento, além de ter exibido a caixa do remédio em aparições públicas.

Antes da campanha, a OMS já alertava sobre os efeitos colaterais e o risco do uso sem comprovação científica.

Prefeito reeleito

O médico Dr. Cássio (PTB) foi mesmo reeleito prefeito na cidade de Porto Feliz, com 92,1% dos votos válidos no dia 15 de novembro deste ano. Ele recebeu 25.318 votos. Os outros candidatos a prefeito foram Marola (DEM), que recebeu 5,70% dos votos (1.566) e Miguel Arcanjo (Rede), com 2,21% (607 votos).

Antonio Cássio Habice Prado é médico com CRM 49282-SP no Conselho de Medicina desde 1984, sem especialidade registrada. Formou-se na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, em São Paulo. Dr. Cássio é um dos apoiadores do movimento “Médicos contra a Covid-19” que em agosto de 2020 fez uma caravana pedindo a hidroxicloroquina nas farmácias populares.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o projeto Comprova verifica conteúdos duvidosos que viralizaram na internet relacionados a políticas do governo federal, à pandemia ou às eleições municipais de 2020. A publicação investigada é falsa por afirmar não haver nenhuma morte pela covid-19 na cidade de Porto Feliz, São Paulo, depois de a população ter sido tratada precocemente por hidroxicloroquina. Nesse sentido, a verificação se torna fundamental e ajuda pessoas a não se exporem a medicações sem eficácia comprovada.

O conteúdo verificado pelo Comprova teve 2,1 mil interações no Facebook, na página Bolsonaro presidente 2022. Na publicação, há uma foto do prefeito recém eleito, Dr. Cássio Prado, com a mensagem de que ele é “ignorado pela grande mídia”. Na imagem há uma marca d’água do lado direito com o texto ‘Capitão Assumção, deputado estadual do Espírito Santo’. O texto apresenta a cidade de Porto Feliz como referência no combate à covid-19 com tratamento precoce da hidroxicloroquina. Outras páginas no Facebook fazem essa mesma afirmação – a que teve mais interações foi publicada no dia 26 com mais de 1.000 compartilhamentos.

No entanto, essas alegações não são novas. O Estadão Verifica investigou o boato de que Porto Feliz não teria tido nenhum óbito com protocolo de tratamento em julho. A Agência Pública apontou em outubro que a hidroxicloroquina chegou a ser distribuída de porta em porta.

Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2020-11-18

É enganoso que laudo do IML descarte suicídio de voluntário da CoronaVac

  • Enganoso
Enganoso
A hipótese de suicídio foi levantada pela Polícia Civil desde o início do caso, por conta de indícios coletados no local onde o corpo foi encontrado. O exame do IML detectou a presença de opióides, sedativos e álcool no sangue da vítima
  • Conteúdo verificado: Postagem no Twitter afirma que o laudo do IML mostrando que um voluntário da CoronaVac morreu por “intoxicação por agentes químicos”, o que apontaria que o caso não foi um suicídio, como registrou a polícia

É enganoso o tuíte segundo o qual um laudo do Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo havia demonstrado que a morte de um dos voluntários que participava dos testes da CoronaVac, uma das vacinas contra a covid-19, não foi decorrência de um suicídio. O laudo deixa evidente que a pessoa não morreu por conta do imunizante.

A postagem verificada descartava a possibilidade de suicídio ao enfatizar que o laudo apontava morte por “intoxicação exógena”, em uma tentativa de atribuir a morte à vacina. Esse tipo de intoxicação, porém, é compatível com a possibilidade de suicídio e não tem nenhuma relação com a aplicação da vacina.

A hipótese de suicídio foi levantada pela Polícia Civil desde o início do caso, por conta de indícios coletados no local onde o corpo foi encontrado. O exame do IML detectou a presença de opióides, sedativos e álcool no sangue da vítima, como confirmou ao Comprova a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo.

Também ouvidos pela reportagem, o médico perito legista José Mário de Lima Júnior e o médico e diretor científico da Associação Brasileira de Medicina Legal e Perícias Médicas (ABMLPM), Jozefran Berto Freire, esclarecem que esse resultado apenas determina o que causou a morte de uma pessoa. Somente a investigação da Polícia Civil, que considera outros elementos da ocorrência, pode indicar, de fato, se uma intoxicação química ocorreu por tentativa suicida, acidente ou homicídio.

O Comprova também tentou contato, por e-mail, com o blogueiro Oswaldo Eustáquio, que publicou o conteúdo verificado, mas não teve retorno até a publicação deste texto.

Como verificamos?

Para essa verificação, o Comprova procurou por matérias na imprensa a respeito do boletim de ocorrência sobre o falecimento do voluntário e os laudos produzidos pelo IML e pelo Instituto de Criminalística (IC) de São Paulo. Em seguida, buscamos a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo, que confirmou o conteúdo dos documentos, e o 93º Distrito Policial, responsável pelo caso. A Delegacia informou que a investigação segue em andamento.

Para entender como os laudos são usados na investigação e se eles podem descartar a hipótese de suicídio, entrevistamos o médico José Mário de Lima Júnior, integrante da Associação dos Médicos Peritos Legistas do Ceará (Ampelce), e Jozefran Berto Freire, diretor científico da Associação Brasileira de Medicina Legal e Perícias Médicas. Por fim, buscamos a posição do Instituto Butantan, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) sobre a retomada dos testes com a CoronaVac, na verificação publicada pelo Comprova em 13 de novembro.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 18 de novembro de 2020.

Verificação

Investigação e laudo

A Polícia Civil de São Paulo registrou como suicídio a morte do voluntário que participava dos testes da vacina CoronaVac, como noticiaram, no dia 10 de novembro, O Estado de S. Paulo, UOL e Rede Globo, veículos que tiveram acesso ao boletim de ocorrência número 2.460/2020, registrado pelo 93º Distrito Policial. De acordo com as reportagens, o boletim de ocorrência foi registrado às 16h02 do dia 29 de outubro na delegacia da Zona Oeste de São Paulo. Trechos do documento foram exibidos pela Globo, mostrando que os policiais encontraram uma seringa e diversas ampolas de remédio próximas ao braço da vítima.

No dia 12 de novembro, o UOL e a GloboNews noticiaram que os laudos do IML e do IC apontaram, segundo o exame toxicológico, que o voluntário de 32 anos faleceu por consequência de uma intoxicação aguda por agentes químicos. No sangue da vítima foram detectados álcool, uma grande quantidade de sedativos e um analgésico usado em procedimentos cirúrgicos.

A ocorrência com o voluntário fez a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspender, no dia 9 de novembro, temporariamente os testes da CoronaVac. Após uma ampla repercussão do caso e algumas manifestações públicas das entidades envolvidas no processo de teste da vacina no Brasil, a Anvisa afirmou ter recebido detalhes sobre o caso, fornecidos pelo Instituto Butantan e pelo Comitê Independente de Monitoramento e Segurança da vacina e, no dia 11 de novembro, determinou a retomada dos testes.

O que dizem as autoridades

Em nota enviada ao Comprova, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo confirmou que a morte do voluntário ocorreu por uma “intoxicação exógena”, isto é, causada por substâncias químicas externas ao corpo e que nada têm a ver com a vacina CoronaVac, cujo voluntário participava dos testes. Segundo a secretaria, “foram constatadas a presença de opióides, sedativos e álcool no sangue na vítima”.

Por telefone, o escrivão do 93º Distrito Policial, no Jaguaré, em São Paulo, disse que o inquérito segue em andamento. O delegado responsável pelo caso não foi localizado. Legalmente, o prazo para a conclusão do inquérito é de 30 dias, a contar da data da instauração do procedimento.

Avaliação de peritos

Por e-mail, o médico perito legista, integrante da Associação dos Médicos Peritos Legistas do Ceará (Ampelce), José Mário de Lima Júnior, explicou que o laudo cadavérico só aponta a causa da morte e o instrumento ou meio que levou ao falecimento. “Essa conclusão, porém, não significa, nem reforça necessariamente, que houve suicídio. Tampouco descarta esta hipótese: tudo dependerá da análise de todas as informações produzidas na investigação do caso, bem como das perícias feitas no local de encontro do corpo”, exemplificou. Portanto, ao contrário do que alega a postagem verificada, o laudo não indica se a ocorrência foi um suicídio ou um homicídio, por exemplo.

Segundo Lima Júnior, a diferenciação entre as diversas hipóteses pode ser feita analisando imagens de circuitos de segurança, registros de entrada e saída da portaria, impressões digitais, entre outras possibilidades. O perito afirma que uma série de elementos pode levar à conclusão de que a causa da morte foi suicídio, como a ausência de vestígios de violação do domicílio, de sinais de luta corporal ou a falta de indícios sobre a presença de terceiros no local da morte.

“Caso haja suspeita de morte provocada por uso de agentes químicos, faz-se necessário confirmar a presença de vestígios destas substâncias no local da morte ou no organismo, além da confirmação da presença destes agentes em níveis letais nas amostras biológicas recolhidos do corpo durante a necropsia”, lembra Lima Júnior.

Por telefone, o médico Jozefran Berto Freire, diretor científico da Associação Brasileira de Medicina Legal e Perícias Médicas (ABMLPM), reiterou que, ao indicar que uma morte foi provocada por intoxicação química, o laudo pericial não descarta, nem reforça, que foi suicídio. O que vai apontar isso é a investigação, assegura ele.

O médico também explicou que, em situações semelhantes ao caso do voluntário da vacina, quando um corpo é encontrado, o primeiro passo é acionar a polícia, responsável por chamar o serviço de perícia criminal. “Depois que tudo é feito no local, esse corpo é transportado para o IML, onde é feita a necropsia”, informa. No local da ocorrência vão os peritos criminais. No IML, o trabalho fica a cargo do médico legista. Ambos emitem laudos a serem considerados pela autoridade policial que investiga o caso.

O médico reforça que quem estabelece essa relação entre as provas e a causa da morte são os investigadores da polícia. “Tem que haver uma relação que se faz tecnicamente para dizer da possibilidade disso ou daquilo, a partir da prova constituída por exames que justifiquem. A prova é o meio que a gente usa em busca da verdade. A prova tem que ser científica, consistente. Não é por opinião: ‘eu acho que’. O delegado tem elementos técnicos, tem laudos, para concluir a investigação”, afirma. O mais comum é que, durante o inquérito, a autoridade policial chame os peritos que estiveram no local da ocorrência para conversar e orientar a investigação.

Retomada dos testes

No dia 13 de novembro, o Instituto Butantan afirmou ao Comprova ser inverídico que a morte do voluntário tenha sido causada pela CoronaVac. De acordo com o órgão de pesquisa, já foi esclarecido amplamente que o evento adverso grave ocorrido com um participante dos estudos clínicos não teve qualquer relação com a vacina, “como já chancelado pelo órgão regulador e comitês internacional e nacional que acompanham os estudos”. Testes feitos com 50 mil voluntários na China mostraram que apenas 5,36% deles tiveram reações adversas de grau baixo, como dor no local a aplicação, fadiga, estado febril e perda de apetite.

No mesmo dia, a Conep, entidade que acompanha os testes de vacinas contra a covid-19 no país, disse que, até o momento, em nenhum dos “eventos adversos graves” ocorridos durante os testes dos quatro imunizantes em curso no Brasil, houve a confirmação de que a vacina teria sido o causador do evento. “Ao contrário, nos casos estudados sempre foram encontrados outros elementos relacionados com os indivíduos vacinados, que explicariam a ocorrência do problema com mais argumentos do que pela vacinação”, assegura.

Na ocasião, a Anvisa informou ao Comprova que “teve subsídios suficientes para permitir a retomada da vacinação” no caso da CoronaVac, embora lembre que a medida não dispensa o aprofundamento da investigação sobre a morte pautada pelos protocolos de segurança e eficácia de vacinas.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, as políticas públicas do governo federal ou as eleições municipais de 2020. Quando a publicação envolve tratamentos e vacinas contra o novo coronavírus, a checagem se torna ainda mais importante, já que a informação equivocada pode levar pessoas a não se protegerem ou a adotarem tratamentos sem comprovação científica. O conteúdo verificado pelo Comprova teve 29,4 mil interações no Twitter e 2,8 mil interações no Facebook.

À medida em que avançam os testes de eficácia e segurança de vacinas contra o novo coronavírus, peças de desinformação têm tido amplo alcance, principalmente após a suspensão temporária de testes pela Anvisa, prática comum no processo de testagem de imunizantes. Na última semana, o Comprova mostrou que a CoronaVac não matou um voluntário; que a morte do homem não está relacionadas a alterações neurológicas e que o Instituto Butantan informou o evento às autoridades, ao contrário do que circulou na Internet. O Comprova também mostrou que um voluntário da vacina de Oxford morreu após contrair a covid-19, não por efeitos adversos do imunizante.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos, que é retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2020-11-13

Morte de voluntário não está relacionada a alterações neurológicas causadas por vacina

  • Enganoso
Enganoso
A publicação cita estudos feitos com poucos casos e que não são conclusivos. Especialistas dizem que não há comprovação na literatura médica de que uma vacina possa causar danos neurológicos
  • Conteúdo verificado: Texto publicado em site fala de uma possível relação entre a CoronaVac e a morte de um voluntário da vacina por suícidio.

É enganoso que a morte de um voluntário de testes da vacina CoronaVac esteja relacionada a alterações neurológicas causadas pelo imunizante. A possibilidade foi levantada em um post no site Estudos Nacionais, que especula que a vacina poderia ter causado “danos psíquicos graves”. A hipótese também chegou a ser levantada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), sem apresentar qualquer evidência. Especialistas ouvidos pelo Comprova descartam essa possibilidade. A causa provável da morte do voluntário foi suicídio, de acordo com a Polícia Civil.

Segundo a imunologista Cristina Bonorino, não há comprovação na literatura médica de que uma vacina possa causar danos neurológicos. Até o momento, os voluntários que participaram do teste não apresentaram danos neurológicos.

No texto verificado pelo Comprova, o autor afirma que, de acordo com essas pesquisas, “alterações neurológicas podem ser causadas por inflamações geradas por vacinas da gripe ou da febre tifóide, como já foi registrado no passado e foi objeto de pesquisas. A inflamação é uma reação do sistema imunológico”.

Em coletiva realizada no dia 9 de novembro, o governo de São Paulo disse que, no caso em questão, houve um “evento externo” não relacionado com a vacina que gerou a notificação ao órgão regulador de que um participante do estudo clínico teve um efeito adverso grave.

O Instituto Butantan, questionado pelo Comprova, afirmou ser inverídico que a morte de um voluntário tenha sido causado pela CoronaVac. O episódio ocorreu 25 dias após o voluntário receber o composto. O Butantan não informou se, nesse caso, foi aplicada a vacina ou o placebo.

O jornalista Cristian Derosa, que respondeu ao Comprova em nome do site Estudos Nacionais, afirmou que “os motivos que levam jornalistas a ligar hipóteses de causa sobre determinado fato diz respeito a escolhas editoriais previstas pela liberdade de imprensa. Em nenhum momento afirmou-se taxativamente a causa, mas buscou-se, como eu disse, estudos já consagrados sobre o tema”.

Como verificamos?

Para esta verificação, consultamos reportagens sobre a CoronaVac e sobre a morte de um dos mais de nove mil voluntários do imunizante desenvolvido pela empresa chinesa Sinovac com o Instituto Butantan.

Também fomos em busca de esclarecimentos do próprio Butantan, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) do Conselho Nacional de Saúde (CNS).

Buscamos ainda a avaliação de especialistas em vacinas. Entrevistamos a imunologista Cristina Bonorino, professora titular da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e membro do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), e Mellanie Fontes-Dutra, doutora em Neurociências pela UFRGS, idealizadora e coordenadora da Rede Análise covid-19.

Acionamos o site que publicou o artigo “Morto após tomar vacina pode ter sofrido alterações neurológicas graves”. O jornalista responsável pela página, Cristian Rosa, respondeu por e-mail.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 13 de novembro de 2020.

Verificação

A paralisação dos testes

A Anvisa suspendeu os testes da CoronaVac em 9 de novembro. Em coletiva realizada na mesma data, o governo de São Paulo disse que, no caso em questão, houve um “evento externo” não relacionado com a vacina, que gerou a notificação ao órgão regulador de que um participante do estudo clínico teve um efeito adverso grave. O episódio ocorreu 25 dias após o voluntário ser inoculado. O Instituto Butantan não informou se, nesse caso, foi aplicada a vacina ou o placebo.

A Polícia Civil registrou o caso como suicídio, como noticiaram O Estado de S. Paulo, UOL e Rede Globo, veículos que tiveram acesso ao boletim de ocorrência número 2.460/2020, registrado pelo 93º Distrito Policial. Trechos do documento foram exibidos pela Globo, incluindo detalhes de como o corpo foi encontrado.

Em 10 de novembro, o coordenador da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), Jorge Venâncio, afirmou que o órgão analisou os dados iniciais sobre a morte do voluntário e avaliou que não havia necessidade da suspensão dos testes.

Após receber detalhes sobre o caso, fornecidos pelo Instituto Butantan e pelo Comitê Independente de Monitoramento e Segurança da vacina, a Anvisa determinou a retomada dos testes no dia 11 de novembro. “Após avaliar os novos dados apresentados pelo patrocinador depois da suspensão do estudo (conforme listado na tabela), a Anvisa entende que tem subsídios suficientes para permitir a retomada da vacinação e segue acompanhando a investigação do desfecho do caso para que seja definida a possível relação de causalidade entre o EAG inesperado e a vacina”, informou a agência.

Em nota, a Sinovac afirmou que está confiante na segurança da vacina. “Acreditamos que uma vacina com bom perfil de segurança e eficácia pode ser fornecida apenas se os estudos clínicos forem conduzidos de acordo com padrões elevados”, diz o texto.

O que dizem os órgãos públicos

Procurado pelo Comprova, o Instituto Butantan afirmou ser inverídico que a morte de um voluntário tenha sido causado pela CoronaVac. De acordo com o órgão de pesquisa, já foi esclarecido amplamente que o evento adverso grave ocorrido com um participante dos estudos clínicos não teve qualquer relação com a vacina “como já chancelado pelo órgão regulador e comitês internacional e nacional que acompanham os estudos”.

O Butantan também lembrou que testes preliminares realizados com 50 mil voluntários na China apresentaram um índice de apenas 6,36% de efeitos adversos, todos de grau baixo. Os mais frequentes foram dor no local da aplicação, fadiga, febre e perda de apetite. Nenhum deles foi relacionado com problemas neurológicos. “Vale ressaltar que a formulação da CoronaVac utiliza técnica de inativação do vírus. Ou seja, a formulação do imunizante contém coronavírus mortos num processo de inativação química para que apenas estimulem a proteção imunológica do organismo sem causar a infecção”, explica a nota do instituto.

Em nota enviada ao Comprova, a Conep, entidade que acompanha os testes de vacinas contra a covid-19 no Brasil, disse que, até o momento, “nada foi encontrado com respeito a um risco digno de nota de que estas vacinas possam causar danos cerebrais ou neurológicos, mesmo já tendo sido vacinados em ambiente das pesquisas, milhares de indivíduos”.

Segundo a entidade, em nenhum dos “eventos adversos graves” ocorridos no Brasil durante os testes do imunizante contra o novo coronavírus houve a confirmação de que a vacina teria sido o causador do evento. “Ao contrário, nos casos estudados sempre foram encontrados outros elementos relacionados com os indivíduos vacinados, que explicariam a ocorrência do problema com mais argumentos do que pela vacinação”, assegura.

Segundo a Conep, as vacinas são responsáveis por salvar uma quantidade enorme de vidas em todo o mundo. De acordo com a comissão, o imunizante é uma intervenção no organismo e, como tal, está sujeita a riscos. “Muito raras são as ocorrências graves (como as neurológicas, por exemplo) e mais raros ainda são os óbitos”, explica. De acordo com a Conep, autores que publicaram artigos associando a vacina a esses eventos tiveram seus trabalhos retirados de publicação ou retratados por “insuficiência de evidências que amparassem suas conclusões”.

Ao Comprova, a Anvisa informou que “teve subsídios suficientes para permitir a retomada da vacinação”, embora lembre que a medida não dispensa o aprofundamento da investigação pautada pelos protocolos de segurança e eficácia de vacinas.

O que pensam os especialistas

De acordo com Mellanie Fontes-Dutra, coordenadora da Rede Análise covid-19, atualmente não há nenhum registro de uma causalidade confirmada entre efeitos adversos neurológicos e vacinas. Ainda que alguns relatos relacionem a presença da síndrome de Guillain-Barré em pessoas que se vacinaram com a vacina do vírus influenza, da gripe, ela lembra que o Manual de Eventos Adversos Pós-Vacina do Ministério da Saúde afirma que o próprio vírus da gripe pode desencadear essa síndrome e que não há nenhum trabalho que demonstre que a vacina seria capaz de aumentar o risco para esta doença.

“A única relação é de os dois eventos terem acontecido em tempos próximos, porém, não há causalidade entre eles estabelecidas. É como dizer que sempre que chove, eu encontro uma moeda de 25 centavos no chão. Pode ter ocorrido de os dois eventos acontecerem ao mesmo tempo. Mas eu poderia ter encontrado a moeda num dia sem chuva. Ou chover e não ter encontrado nada. Só existe aqui associação temporal, e não causalidade”, explica Fontes-Dutra.

A imunologista Cristina Bonorino afirma desconhecer qualquer registro na literatura vacinal de que tenha ocorrido algum dano neurológico em seres humanos causado por imunizantes.

“Um efeito psiquiátrico, que eu saiba, nunca foi relatado para nenhuma vacina. O que pode causar efeito psiquiátrico é o vírus vivo, não a vacina. Essa vacina CoronaVac é o vírus inativado (agentes mortos ou apenas partículas do vírus, sem capacidade infecção), então não tem como ele fazer isso. O vírus tem essa característica de infectar neurônios, diferentes tipos deles. Inclusive os do olfato e do paladar, que são sintomas nos pacientes (com covid-19). Então, o vírus vivo poderia fazer. O que é mais uma razão para se tomar a vacina. O vírus morto vai te proteger e ele não pode fazer isso. Um vírus que não está vivo não consegue infectar um neurônio”, lembra Bonorino.

Estudos citados no texto

O primeiro estudo usado como referência no texto analisado é o artigo Neural Origins of Human Sickness in Interoceptive Responses to Inflammation (Origens neurais da doença humana em respostas interoceptivas à inflamação, em tradução livre), publicado em 2009 no site Biological Psychiatry, o jornal oficial da Society of Biological Psychiatry, dos Estados Unidos. O estudo aborda a associação de inflamações a distúrbios psicológicos, emocionais e comportamentais, conhecidos como comportamento doentio. A pesquisa em questão, porém, realizou testes em 16 homens jovens e saudáveis. Além da amostra ser pequena e não representar todos os estratos sociais, a próprio conclusão do artigo diz que “nosso experimento não pode provar que a inflamação cause diretamente os padrões verificados”.

O segundo artigo se chama Comparison of cytokine levels in depressed, manic and euthymic patients with bipolar disorder (ou Comparação dos níveis de citocinas em pacientes deprimidos, maníacos e eutímicos com transtorno bipolar, na tradução livre), publicado no Journal of Affective Disorders. Esse estudo avaliou a associação entre a mania e a depressão bipolar com o estado pró-inflamatório em 61 pacientes bipolares. Mas também não é conclusivo, com os autores indicando que o estudo fornece subsídios para investigações futuras.

O site

O artigo “Morto após tomar vacina pode ter sofrido alterações neurológicas graves” foi publicado no Estudos Nacionais. Em sua página no Facebook, o portal se descreve como “Observatório de mídia, com artigos, vídeos, palestras e cursos e lançamento de projetos editorais [sic]”. Suas publicações costumam ser mais conservadoras e alinhadas ao governo Bolsonaro, como contestações da vitória de Joe Biden sobre Donald Trump na eleição estadunidense e críticas à mídia tradicional. Também há outras publicações sobre vacinas, algumas contestando a efetividade dos imunizantes.

Questionado se não seria cedo para associar a morte do voluntário com alterações neurológicas em consequência da vacina, já que ainda não é público se a vítima tomou o medicamento ou placebo, o jornalista Cristian Derosa, cofundador do portal, disse que a “busca por esclarecimento inclui a consulta de fontes científicas e estudos anteriores que lancem luz sobre as hipóteses que envolvem o ocorrido”.

“Os motivos que levam jornalistas a ligar hipóteses de causa sobre determinado fato diz respeito a escolhas editoriais previstas pela liberdade de imprensa. Em nenhum momento afirmou-se taxativamente a causa, mas buscou-se, como eu disse, estudos já consagrados sobre o tema, assim como há estudos que lançam suspeita sobre medicamentos diversos, frequentemente usados no jornalismo, inclusive no contexto da pandemia”, complementou.

O jornalista respondeu às perguntas com uma série de informações questionáveis – algumas já desmentidas – e sem apresentar provas. Já sobre a menção no texto sobre a CoronaVac, que usa a tecnologia do vírus inativado ou atenuado, Cristian alegou que “a sociedade espera do jornalismo uma cobertura completa e que atenda os diversos pontos de vista.”

Usando a ferramenta Whois, que verifica informações sobre o domínio de sites, não há dados que indiquem o nome de quem é responsável pelo site. Porém, o recurso revela que a cidade onde o registro foi feito é Burlington, nos Estados Unidos.

Por que investigamos?

O Comprova está em sua terceira fase. Nessa etapa, verifica conteúdos suspeitos sobre a covid-19 ou sobre políticas públicas do governo federal que tenham alcançado grande repercussão nas redes sociais. As publicações que veiculam informações falsas relacionadas a vacinas contra o novo coronavírus são bastante prejudiciais. Isso porque podem desencorajar a população a se imunizar – meio apontado por especialistas como o mais efetivo para conter a pandemia que já causou a morte de mais de 164 mil brasileiros, de acordo com os últimos dados do Ministério da Saúde, atualizados em 12 de novembro.

É desaconselhável, portanto, ensejar sem comprovação a possibilidade de que vacinas em teste no Brasil, como é o caso da CoronaVac, possam causar efeitos colaterais graves.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos; ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2020-11-13

É enganosa postagem que sugere que Instituto Butantan não informou morte de voluntário da vacina CoronaVac

  • Enganoso
Enganoso
Ao contrário do que sugere a postagem, o Instituto Butantan comunicou a Anvisa sobre o chamado “evento adverso grave” envolvendo um dos voluntários. A notificação foi enviada no dia 6 de novembro, dentro do prazo de uma semana estabelecido pela agência
  • Conteúdo verificado: Publicação afirma que Instituto Butantan e governo de São Paulo estariam fingindo “que nada está acontecendo” após morte de voluntário da vacina chinesa CoronaVac.

É enganosa a publicação que compara condutas dos desenvolvedores de vacina contra a covid-19 e afirma que o Instituto Butantan e o governo de São Paulo “fingem que nada está acontecendo” após a morte de um voluntário da terceira fase de testes da CoronaVac. O óbito provocou a interrupção da pesquisa pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que autorizou a retomada dos estudos dois dias depois.

Ao contrário do que sugere a postagem, o Instituto Butantan comunicou a Anvisa sobre o chamado “evento adverso grave” envolvendo um dos voluntários. A notificação foi enviada no dia 6 de novembro, dentro do prazo de uma semana estabelecido pela agência. A Anvisa alegou que só teve acesso às informações três dias depois, mas que isso ocorreu por um problema de tecnologia no sistema do governo federal, e que o envio das primeiras informações pelo Butantan ocorreu dentro do período exigido pelo órgão.

O caso também foi comunicado pelo Butantan à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), que, no mesmo dia 6, buscou mais informações junto aos pesquisadores. Com os novos dados, o órgão avaliou que o evento adverso não tinha ligação com a vacina. O Butantan também nega relação do óbito com a CoronaVac. A Anvisa informou em nota que ainda pretende avaliar o desfecho do caso.

A postagem verificada também afirma que “quando um voluntário morreu, mesmo tomando placebo, a própria Oxford pediu a suspensão dos testes para a Anvisa”. A vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica AstraZeneca teve, de fato, os testes interrompidos pelos próprios responsáveis em setembro, mas isso ocorreu após um caso de doença em um participante do Reino Unido. Quando os pesquisadores responsáveis por essa vacina registraram um óbito entre os voluntários, o que ocorreu em outubro, no Brasil, os testes não chegaram a ser paralisados.

A publicação foi feita pela advogada Flávia Ferronato, no site Jornal da Cidade Online. Flávia coordena um grupo chamado Movimento dos Advogados do Brasil e divulgou as mesmas informações em seu perfil no Twitter. Procurada pelo Comprova, ela preferiu não responder questionamentos sobre a publicação. Após o contato, ela fez publicações em suas redes sociais criticando o trabalho de agências de checagem e procurando intimidar a verificadora que a contatou.

Como verificamos?

Para verificar este conteúdo, entramos em contato com o Instituto Butantan, a Anvisa e a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para questionar como e quando ocorreram as comunicações do evento adverso grave que causou a suspensão dos testes da vacina. Recorremos também a comunicados publicados no site da Anvisa, de farmacêuticas que desenvolvem vacinas e a entrevistas coletivas em que foram dados detalhes do caso.

O Comprova também entrevistou o professor Flávio Fonseca, virologista do Centro de Tecnologia de Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foram consultadas ainda a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo e publicações de veículos de imprensa, sobre a possível causa da morte do voluntário. Buscamos também o cadastro da advogada que assina a publicação no site da OAB e o perfil dela no Twitter e no Facebook, por onde tentamos contato.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 12 de novembro de 2020.

Verificação

O Butantan comunicou a Anvisa?

Um trecho da publicação verificada afirma que o Instituto Butantan e o governo de São Paulo teriam fingido “que nada estava acontecendo” após a morte do voluntário da vacina chinesa CoronaVac. A informação, no entanto, é enganosa. Isso porque o Instituto Butantan informou a Anvisa sobre o evento adverso grave ocorrido com o voluntário, dentro do prazo estabelecido pela agência, que é responsável por autorizar as etapas de testagem. Esta comunicação foi reforçada em nota pelo Butantan e confirmada pela própria Anvisa em entrevista coletiva. Ocorre que o órgão afirmou que devido a um problema no sistema do governo federal causado por ataques sofridos na primeira semana de novembro, a informação só teria sido acessada por eles ao ser enviada uma segunda vez, três dias depois.

Na nota em que comunicou a suspensão dos testes da CoronaVac, a Anvisa afirmou que foi, sim, comunicada do “evento adverso grave”, e que por isso pediu a interrupção dos estudos. No entanto, não deu detalhes sobre quem comunicou a agência e de que forma isso foi feito. “O evento ocorrido no dia 29/10 foi comunicado à Agência, que decidiu interromper o estudo para avaliar os dados observados até o momento e julgar o risco/benefício da continuidade do estudo”, diz um trecho do texto.

Em entrevista coletiva no dia 10 de novembro, o gerente-geral de Medicamentos da Anvisa, Gustavo Mendes, deu mais detalhes e disse que o Instituto Butantan informou o evento adverso grave no dia 6 de novembro, dentro do prazo de sete dias após a intercorrência em que a comunicação é necessária, conforme normas da agência. Entretanto, segundo ele, por causa de um ataque hacker sofrido pelo governo federal e pelo Judiciário, a agência só teve conhecimento da notificação três dias depois, no dia 9 de novembro, às 18h, quando o Butantan reenviou as informações após receber ofício da agência questionando sobre possíveis eventos graves. Na coletiva, Mendes também negou que tivesse ocorrido algum erro de notificação fora do prazo pelo Butantan.

Procurado pelo Comprova, o Instituto Butantan enviou uma nota em que confirma ter repassado a comunicação do evento adverso grave no dia 6, e que precisou reenviá-las no dia 9, após receber ofício e e-mail da Anvisa.

“No dia 30 de outubro, o HC [Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, centro de estudo do qual o voluntário fazia parte] informou a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e a Farmacovigilância do Instituto Butantan (patrocinador do estudo). No dia 6 de novembro, dentro do prazo, a farmacovigilância do Instituto Butantan comunica a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), conforme preconizado em protocolo oficial. Na conclusão constava que o óbito não era relacionado à vacina em teste”, diz um trecho da nota.

O Comprova questionou a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), ligada ao Conselho Nacional de Saúde (CNS), se a notificação do caso foi recebida de fato no dia 30 de outubro, como dito na nota do Butantan. O órgão informou que foi comunicado do episódio no dia 6 de novembro, mesma data da notificação à Anvisa. O Conep diz ter feito já no dia 6 à noite uma audiência com os pesquisadores para solicitar os documentos que faltavam. “Na conversa, com o conjunto de dados que foram trazidos, ficou claro que o evento adverso não tinha relação com a vacina, então não se justificava a suspensão do estudo”, pontuou o coordenador da Conep, Jorge Venâncio, via assessoria de imprensa. Após a suspensão, a Conep emitiu nota defendendo a continuidade dos estudos clínicos da CoronaVac.

O Comprova também solicitou mais informações à Anvisa sobre como se deu a comunicação do evento adverso grave e que informações foram repassadas. A agência respondeu replicando o link de uma nota emitida no dia 11, em que autoriza a retomada dos testes da CoronaVac após a polêmica suspensão. No texto, ela afirma que não possuía no momento da paralisação informações sobre a causa do evento adverso grave, recebidas somente no dia 10.

Por que a Anvisa suspendeu os testes da CoronaVac?

Na nota em que comunicou a suspensão dos testes da CoronaVac, a Anvisa afirmou que a paralisação foi motivada pela ocorrência de um “evento adverso grave” e que a medida seria “para avaliar os dados observados até o momento e julgar o risco/benefício da continuidade do estudo”. O órgão também frisou que os dados dos voluntários devem ser mantidos em sigilo, mas que a interrupção é prevista pelas normas da Anvisa e faz parte dos procedimentos de Boas Práticas Clínicas.

Dois dias após a suspensão, a Anvisa autorizou a retomada dos estudos da CoronaVac. Em nova publicação no site, a agência alegou que “após avaliar os novos dados apresentados pelo patrocinador depois da suspensão do estudo (…), a ANVISA entende que tem subsídios suficientes para permitir a retomada da vacinação”.

Nessa mesma publicação, a Anvisa argumenta que a suspensão, agora revogada, ocorreu considerando “1) A gravidade do evento; 2) A precariedade dos dados enviados pelo patrocinador naquele momento; 3) A necessidade de proteção dos voluntários de pesquisa; e 4) A ausência de parecer do Comitê Independente de Monitoramento de Segurança”.

Na nova nota, a Anvisa afirma ainda que a causa do evento adverso grave não havia sido informada até o dia 9 de novembro, quando houve a suspensão. Diz também que o boletim de ocorrência relacionado à provável motivação do evento e a manifestação do Comitê Independente de Monitoramento de Segurança não haviam sido enviadas até a mesma data. Entretanto, o órgão aponta que essas informações foram repassadas à agência no dia seguinte, em 10 de novembro, permitindo então a retomada dos estudos.

O Butantan afirma em nota que na primeira comunicação do caso, enviada à Anvisa no dia 6 de novembro e reenviada no dia 9, já “constava que o óbito não era relacionado à vacina em teste”. Essa informação foi ratificada também pelo diretor do Butantan, Dimas Covas, em entrevista coletiva sobre o caso concedida no dia 10. “Do ponto de vista clínico do caso, e nós não podemos dar detalhes, infelizmente, é impossível que haja relacionamento desse evento com a vacina. Impossível”, defendeu.

A morte teve relação com a vacina?

Uma das principais dúvidas sobre o caso é se o evento adverso grave que causou a suspensão dos estudos teve ou não ligação com a vacina aplicada ao voluntário. O Instituto Butantan nega qualquer relação do episódio com o imunizante, enquanto a Anvisa diz que ainda irá acompanhar o caso para analisar este ponto.

A Anvisa não revelou se o evento adverso grave que provocou a suspensão dos testes da CoronaVac foi de fato uma morte de um participante. Tampouco informa as circunstâncias do caso, em razão da confidencialidade dos voluntários.

No dia 10, no entanto, após a interrupção dos estudos da vacina chinesa no Brasil, veículos de imprensa divulgaram que o caso se trataria de uma morte de um homem de 32 anos, que tem como provável causa o suicídio. Reportagem do jornal O Globo citou informações de um boletim de ocorrência registrado na delegacia do 93º DP e de uma nota da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), que afirma que o caso foi registrado e está sendo investigado como suicídio. Ainda assim, exames periciais ainda estão em andamento, segundo a nota.

As informações do boletim de ocorrência também foram divulgadas por veículos como o jornal O Estado de S.Paulo, Uol e TV Globo. O Comprova fez contato com a Secretaria de Segurança Pública de SP e confirmou as informações da nota.

Na nota enviada ao Comprova, o Instituto Butantan confirma que o evento adverso grave se refere a uma morte de um participante dos ensaios clínicos, mas garante que o óbito não teve nenhuma relação com a vacina. A instituição afirma que o voluntário foi encontrado morto 25 dias depois de receber a dose de vacina ou placebo – não foi informado a qual grupo ele pertencia.

Apesar das informações do Butantan, que foram enfatizadas na entrevista coletiva do órgão, e dos veículos de imprensa, a Anvisa afirmou na nota em que autorizou a retomada dos testes da CoronaVac que seguirá acompanhando a investigação do desfecho do caso “para que seja definida a possível relação de causalidade entre o EAG [evento adverso grave] inesperado e a vacina”.

Diferenças entre as interrupções de vacinas

O Comprova ouviu também o professor Flávio Fonseca, virologista do Centro de Tecnologia de Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele preferiu não comentar os prazos das comunicações ocorridas entre Butantan e Anvisa, mas explicou que, quando há um evento adverso grave, como a morte de um voluntário, os casos são comunicados e há painéis de observadores, até mesmo internacionais, que julgam se o evento pode ou não ter ligação com a vacina.

No caso da CoronaVac, o especialista frisa que tanto a Conep quanto observadores internacionais julgaram que esse efeito adverso não seria relacionado ao imunizante, e que por isso não exigiria a suspensão. Ele explica que o episódio da CoronaVac tem diferenças em relação aos que causaram as interrupções dos testes das outras duas vacinas no país.

“Tanto em Oxford quanto na Johnson e Johnson, as pessoas tiveram problemas clínicos. Quando você tem um problema clínico, tem que investigar a origem daquilo, para entender se aquele problema clínico pode ter sido gerado a partir da administração da vacina. Em algumas circunstâncias, no entanto, a não ligação da vacina com o evento adverso é tão óbvia que o próprio observador internacional vai olhar a natureza daquele evento e falar: isso não tem ligação com a vacina, portanto não suscita suspensão do estudo. Isso tem que ser visto de forma prática”, avalia, citando atropelamentos e assassinatos como exemplos de eventos passíveis de ocorrer com voluntários, mas sem ligação com os imunizantes.

O virologista também criticou o uso do termo “vachina” que a advogada usa para se referir à CoronaVac na publicação.

“Esse comentário da advogada vem tachado de xenofobia. Ela pode ter a convicção política que ela quiser, o que ela não pode é desqualificar uma vacina por causa de sua origem. Isso é xenofóbico, inadmissível, ainda mais diante da emergência sanitária atual. Todos os indícios que a gente tem até agora são de que a vacina chinesa é tão boa e tão promissora quanto as outras que estão sendo testadas”, afirmou.

As outras desenvolvedoras interromperam os testes?

A postagem verificada compara ainda a situação da CoronaVac com a paralisação dos estudos de outras duas vacinas, da Universidade de Oxford e de empresa ligada à Johnson & Johnson. A publicação afirma que essas desenvolvedoras teriam comunicado à Anvisa e interrompido por conta própria as testagens quando houve intercorrências com pacientes.

A postagem da advogada diz que no caso do imunizante desenvolvido em parceria entre a farmacêutica AstraZeneca e a Universidade de Oxford, a suspensão ocorreu “quando um voluntário morreu mesmo tomando placebo”. Na verdade, os testes foram de fato suspensos pelos próprios desenvolvedores, mas quando foi identificado um evento adverso em uma voluntária da Inglaterra – que não resultou em morte.

A AstraZeneca informou em nota no dia 9 de setembro que a pausa ocorreria para análise de dados de “um único evento de uma doença inexplicável que ocorreu no estudo de Fase III do Reino Unido”. Não foram divulgados oficialmente detalhes do caso, mas o CEO da AstraZeneca afirmou em uma videoconferência tratar-se de um caso de mielite transversa, segundo informou o site americano especializado em saúde StatNews. Três dias depois, a AstraZeneca publicou nova nota comunicando a retomada dos testes. Nesta ocasião, os estudos também foram paralisados no Brasil.

O caso em que houve morte de voluntário que integrava os testes da vacina da Oxford-AstraZeneca ocorreu no Brasil, mais de um mês depois, em 15 de outubro. No entanto, neste caso os testes não chegaram a ser suspensos pela Anvisa, que seguiu recomendação de comitê internacional para manter o prosseguimento dos estudos. Este participante morreu de pneumonia viral causada por covid-19, como já mostrou outra verificação do Comprova. Ele estaria no grupo dos que tomaram placebo, segundo fontes relataram a veículos como a TV Globo – o Comprova não conseguiu confirmar a informação.

No caso da vacina da farmacêutica Janssen-Cilag, braço farmacêutico da empresa Johnson & Johnson, os testes foram de fato interrompidos pela própria empresa após evento adverso grave com voluntário do exterior, conforme afirma a postagem verificada. O caso ocorreu em 12 de outubro e foi informado em notas no site da Janssen e no site da Anvisa. A agência autorizou a retomada dos estudos da vacina da Janssen no país em 3 de novembro, após analisar dados do Comitê Independente de Segurança e da autoridade regulatória norte-americana, a Food and Drugs Administration (FDA, na sigla em inglês).

Quem é a autora do texto

Flavia Ferronato é advogada, possui cadastro nacional da OAB. Também é coordenadora nacional do Movimento Advogados do Brasil, organização composta por advogados de todo país. Na sua biografia do Twitter, Flávia se intitula como “Palpiteira no Jornal de Cidade online”. No dia 10 de novembro a advogada fez um tweet com o mesmo texto do Jornal da Cidade Online. Também foi encontrado o canal do Youtube da advogada, em que o vídeo mais recente critica a possível vacinação obrigatória contra covid-19. Durante a verificação buscamos contato via Twitter e WhatsApp com a advogada. Ela se negou a responder às perguntas enviadas. Nos seus últimos tweets a advogada postou prints da conversa com o verificador do Comprova que a procurou. Também fez postagens criticando o trabalho de agências de checagem.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais tratando sobre políticas públicas do governo federal ou sobre a pandemia. Interesses políticos têm sido colocados à frente da ciência, gerando uma “politização da vacina” durante a fase de estudos e produções de uma possível cura para o covid-19. Essa polarização, que também é chamada de “Guerra da vacina”, tem como consequência o aumento de produções de conteúdos enganosos e/ou falsos.

A publicação analisada no portal “Jornal da Cidade” foi um artigo da advogada Flavia Ferronato, onde a mesma afirma que “Butantan e o Governo de São Paulo fingem que nada está e se fingem surpresos com a suspensão?”. Mesmo tal afirmação sendo enganosa, a advogada compartilhou as mesmas informações em seu twitter.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos; ou ainda que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.