O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
Filtro:

Saúde

Investigado por: 2021-02-15

Medidas de proteção contra a covid-19 ainda deverão ser mantidas após o recebimento das doses da vacina

  • Comprovado
Comprovado
É correta a afirmação de um médico cujo vídeo viralizou no Instagram de que as medidas protetivas, como uso de máscara, lavagem das mãos e distanciamento social devem ser mantidas depois do recebimento da primeira dose, mas elas se referem à proteção individual. Especialistas alertam que esses cuidados devem ser tomados por todos os vacinados até que o país alcance a imunização coletiva.
  • Conteúdo verificado: Em vídeo reproduzido no Instagram, um médico afirma que uma única dose da vacina contra covid-19 não é suficiente para assegurar a exposição em atividades e locais com ampla circulação de pessoas e aglomerações em geral.

É verdade que as pessoas imunizadas apenas com a primeira dose das vacinas contra covid-19 não estão totalmente imunes contra a doença. A afirmação consta em um vídeo do infectologista Marcius Burgarelli, que viralizou nas redes sociais e foi objeto de questionamento por parte de leitores do Comprova. No vídeo, Burgarelli explica que uma única dose da vacina não é suficiente para assegurar a exposição a atividades e locais com ampla circulação de pessoas e aglomerações em geral, e recomenda que sejam mantidas as medidas de proteção contra o vírus, como uso de máscara e de álcool.

No mesmo vídeo, Burgarelli sugere ainda que as pessoas devem manter as condutas de proteção “até pelo menos 14 dias depois da segunda dose”. Na realidade, os especialistas alertam que as medidas de proteção devem ser mantidas até que grande parte da população esteja imunizada com as duas doses da vacina.

O vídeo foi publicado por Burgarelli em seu perfil no Instagram em 3 de fevereiro deste ano e compartilhado no perfil do homeopata Alberto Almeida em 7 de fevereiro. Nele, o médico explica que o processo de produção de anticorpos, chamados IgG, só é iniciado 14 dias após a primeira dose, mas que ainda não se pode considerar uma imunidade, já que esse ciclo de imunização só é completo depois de passados mais 14 dias depois da aplicação da dose de reforço – geralmente aplicada 21 dias depois da primeira dose, a depender da vacina.

Logo, o processo completo levaria em torno de 36 dias. Antes desse período, é possível que a pessoa vacinada com a primeira dose ainda seja contaminada com o coronavírus e transmita para outras pessoas que ainda não foram imunizadas.

O Comprova ouviu dois especialistas, além da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que confirmaram a veracidade das informações expostas no vídeo, mas reforçaram que os períodos de proteção podem variar de acordo com cada fabricante.

Como verificamos?

Primeiro, encontramos por meio de busca no Google o vídeo original publicado no perfil do instagram do médico Marcius Kleber Nunes Burgarelli, e pesquisamos seu registro no Conselho Federal de Medicina (CRM), que consta com as especialidades de psiquiatria e infectologia, conforme informado em seu instagram.

Entramos em contato com a assessoria de imprensa da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e com a assessoria do Grupo de Trabalho (GT) Multidisciplinar de enfrentamento à covid-19 da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para solicitar a avaliação de um infectologista sobre as afirmações contidas no vídeo investigado pela reportagem.

Em resposta, o GT encaminhou contato do infectologista e professor Alberto Chebabo, diretor médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ) e integrante do grupo, e a SBI respondeu aos questionamentos com base na análise do infectologista e consultor Leonardo Weissmann.

A reportagem também procurou o autor do vídeo por meio do Facebook para esclarecer se o vídeo trata de algum imunizante em específico ou de todos até o momento aprovados pela Anvisa, e se teria interesse em comentar essa demanda de verificação recebida pelo Comprova e sua veracidade. Por fim, fizemos contato por telefone com seu consultório, em Uberlândia, Minas Gerais, onde atende como psiquiatra, infectologista e imunologista, conforme informações de sua secretária. Até o fechamento da reportagem não obtivemos retorno.

Também enviamos email para a assessoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para mais esclarecimentos sobre a especificações de cada vacina já aprovada no Brasil e o impacto destas na imunização coletiva (de rebanho).

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 15 de fevereiro de 2021.

Verificação

Vacinas aprovadas no Brasil

Até a publicação desta reportagem, apenas duas vacinas receberam autorização da Anvisa para a campanha de imunização no Brasil: a CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e a Covishield, produzida pela Universidade de Oxford e laboratório Astrazeneca em parceria com a Fiocruz.

O Comprova procurou a Anvisa para esclarecer a importância da aplicação da segunda dose da vacina como garantia de uma proteção eficaz contra a covid-19.

A agência explicou que a aprovação dos imunizantes no Brasil é baseada nos estudos de eficácia apresentados pelas fabricantes, que alcançaram a proteção contra a covid-19 após as duas dosagens. “A bula aprovada para as vacinas em uso emergencial indica a administração de duas doses e a aprovação da Anvisa está baseada nos dados dos estudos apresentados”, afirma. O órgão ainda reforça: “a Anvisa recomenda que o intervalo aprovado seja seguido”.

A agência informou ainda que os estudos disponíveis trazem resultados de eficácia para os intervalos disponíveis nas bulas, e que não foi apresentada nenhuma pesquisa divergente que trate de outros intervalos. Abaixo, segue a descrição enviada pela Anvisa sobre a aplicação das duas vacinas aprovadas para uso emergencial no Brasil:

  • Bula do Butantan (CoronaVac): O esquema de imunização contra covid é de 2 doses de 0,5 mL com intervalo de 2-4 semanas entre as doses.
  • Bula da Fiocruz (Covishield/Oxford): A segunda dose deve ser administrada entre 4 e 12 semanas após a primeira dose.

Outras informações sobre as vacinas como características e as bulas completas podem ser encontradas no site do Ministério da Saúde.

Como funcionam as vacinas?

Segundo publicação da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma vacina tem o papel de reduzir o risco de contágio de uma doença por meio da indução de uma defesa natural do corpo humano.

A partir do momento em que a vacina é aplicada, é iniciado um ciclo de imunização que passa por três etapas principais: o reconhecimento do antígeno, podendo ser um vírus ou uma bactéria; a produção de anticorpos para atacar o corpo estranho; e o desenvolvimento de uma memória celular no sistema imunológico que seja capaz de inocular a doença da próxima vez em que o indivíduo seja exposto àquele vírus ou bactéria.

Isso acontece porque o sistema de defesa humano trabalha com mecanismos de memória celular. Uma vez expostos a uma ou mais doses de uma vacina, uma pessoa pode, a depender da vacina, ficar protegida contra uma doença durante anos, décadas ou mesmo uma vida inteira. No lugar de tratar os sintomas de uma doença após sua ocorrência, as vacinas impedem que o corpo adoeça. Esse procedimento é válido para todas as vacinas, e não somente contra a covid-19.

As células que indicam essa proteção são chamadas de IgG (imunoglobulina G). Trata-se de uma classe de anticorpos que, quando detectados, indicam contato prévio com o micro-organismo em algum momento da vida, mas não permite dizer se é recente ou antigo. Em alguns casos, sua presença pode significar proteção se houver novo contato. No caso do coronavírus, pode aparecer tardiamente ou nem aparecer.

O consultor da SBI Leonardo Weissman explica que a  detecção de anticorpos protetores acontece entre 2 a 4 semanas após a vacinação.

“Quando se fala em imunização, pensa-se na proteção individual e coletiva. Nenhuma vacina tem 100% de eficácia e protege todas as pessoas. Por esse motivo, orienta-se manter as demais regras de prevenção enquanto não se alcança a imunidade coletiva (ou de rebanho): distanciamento físico, uso de máscaras, higienização frequente das mãos”, afirma Weissman.

No vídeo, Bugarelli concentra sua fala na importância da segunda dose para assegurar a imunização contra a covid-19 e na necessidade de se manter as medidas de proteção nesse período. “Tome a vacina, mas continue suas condutas de proteção, até pelo menos 14 dias após a segunda dose. A vacina funciona e precisa ser feita”.

De forma didática, Bugarelli apresenta no vídeo um gráfico desenhado por ele para explicar como funciona a produção de anticorpos IgG e a imunização no indivíduo, da primeira à segunda dose, com uma escala crescente. Apontando para a ilustração, ele diz: “se eu tomar a vacina hoje e for para uma festa e pegar o vírus da covid, eu vou ter a doença. Não quer dizer que a vacina não funcionou. Quer dizer que você não deixou a vacina funcionar”.

Ele reforça que é preciso aguardar mais 14 dias, após a segunda dose, que dura, em média, 36 dias,  desde a primeira dose.  “Não se exponham antes de ter resposta à vacina”, afirma Bugarelli.

Alberto Chebabo, diretor médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCHH/UFRJ), reitera a informação, destacando que “a imunidade primária só ocorre após a segunda dose. Mas já há uma proteção parcial após 2 semanas da primeira dose”. O autor do vídeo verificado afirma que a partir do primeiro dia o corpo já inicia a produção de anticorpos, mas que o auge é somente em 14 dias. Nesse período, há risco de contaminação.

Weissman atenta que após a vacinação não é recomendado fazer sorologia ou qualquer exame, “pois isso pode causar somente mais confusão”. Isso porque, de acordo com Bugarelli, somente no 14º dia depois da aplicação da primeira dose, o organismo começa a produzir anticorpos IgG (imunoglobulina G). “Quando detectado, indica contato prévio com o micro-organismo em algum momento da vida, mas não permite dizer se recente ou antigo. Em alguns casos, sua presença pode significar proteção se houver novo contato. No caso da covid-19, pode aparecer tardiamente ou nem aparecer”, explica Weissman, da SBI.

Imunidade de rebanho

De acordo com Leonardo Weissman, a imunidade coletiva ou de rebanho é configurada quando um grande percentual de uma população se torna imune a um determinado agente infeccioso. Tradicionalmente, isso ocorre através de vacinação.

O assunto já foi tratado em outras verificações. Em artigo publicado em outubro de 2020, o professor Fernando Barros, da UFPel, explicou ao Comprova que a imunidade coletiva ocorre “quando o vírus já não consegue mais circular em uma comunidade porque faltam pessoas suscetíveis” a ele.

Segundo Barros, essa terminologia deriva de processos imunizadores que envolvem vacinações em massa. “A imunidade de rebanho se dá quando os níveis de imunização chegam em uma determinada proporção na população; por exemplo, em torno de 90% no caso do sarampo”, diz. “Diante disso, esses 10% das crianças que não estão vacinadas com frequência não se contaminam porque o vírus deixa de circular”, afirma.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o projeto Comprova verifica conteúdos duvidosos que viralizaram na internet relacionados a políticas do governo federal e à pandemia de covid-19.

O Comprova recebeu de leitores solicitação para verificar a veracidade do vídeo publicado originalmente pelo médico Marcius Kleber Nunes Burgarelli em seu perfil pessoal do Instagram. O vídeo foi posteriormente reproduzido pelo médico homeopata Alberto Almeida, também no Instagram, sendo visualizado mais de 16 mil vezes até a publicação desta verificação.

Comprovado para o Comprova é um fato verdadeiro ou conteúdo original publicado sem edição.

Política

Investigado por: 2021-02-15

Vídeo engana ao comparar dois trechos diferentes da Transamazônica para elogiar governo Bolsonaro

  • Enganoso
Enganoso
Montagem de vídeo usa imagens de dois trechos diferentes da rodovia, um asfaltado e outro por pavimentar, como se fossem registros de um mesmo local em momentos diferentes. Na realidade, o trecho que aparece no vídeo como um lamaçal continua sem pavimentação e o outro já estava asfaltado quando o governo Bolsonaro tomou posse.
  • Conteúdo verificado: vídeo com uma estrada não asfaltada seguido de um vídeo de uma estrada asfaltada indica que o mesmo trecho mudou radicalmente após a eleição de Bolsonaro

É enganosa uma montagem de vídeos que circula nas redes sociais com uma suposta comparação de um mesmo trecho da rodovia Transamazônica, a BR-230, durante o período dos governos do PT com os primeiros meses do governo Bolsonaro.

A montagem usa duas gravações, feitas em locais diferentes.

Na primeira parte do vídeo, que seria dos governos do PT, motoristas e motociclistas tentam ultrapassar um lamaçal em uma rodovia. A gravação mostra a região de Ladeira da Onça, em Brasil Novo, no Pará, que ainda não foi asfaltada.

Na segunda parte, um motorista trafega por uma estrada asfaltada e em boas condições. Ao contrário do que diz o vídeo, esse trecho da BR-230/PA que aparece em boas condições não foi asfaltado durante o governo Bolsonaro, mas antes de 2019.

Como verificamos?

Em uma busca reversa de imagens com prints do vídeo, encontramos o vídeo original, gravado em 2018. O vídeo viralizou como peça de humor em diversas páginas (veja abaixo), algumas alegando ter sido gravado em locais diferentes.

Em uma das buscas, encontramos a reportagem do Bom Dia Pará, jornal da Rede Liberal (afiliada à Globo), que veiculava o nome do local do primeiro vídeo como “Ladeira da Onça”, no município de Brasil Novo (PA). Buscamos o local nas ferramentas de geolocalização Google Maps e Google Street View. Nas imagens, é possível ver a mesma cerca azul e branca, confirmando que o vídeo realmente foi gravado na Rodovia Transamazônica, na altura do km 48. Entramos em contato com Valdemídio Silva, morador de Brasil Novo, que confirmou o local do primeiro vídeo como a Ladeira da Onça.

A imagem do Google Street View é de 2019 e é possível ver que a estrada não havia sido asfaltada naquele ano. Já a foto de satélite do Google Maps é de 2021, e indica que o trecho da Ladeira da Onça ainda é de estrada de terra.

Entramos em contato com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) para obter informações sobre o km 110 da rodovia Transamazônica, mas não tivemos resposta até a publicação. Consultamos notícias no portal do Governo Federal sobre o asfaltamento da BR-230 confirmadas por verificações da Agência Lupa, Estadão e Aos Fatos sobre o mesmo vídeo, verificando que o trecho km 110 foi asfaltado anos atrás, antes do governo Bolsonaro.

Contatamos o deputado Anderson Moraes (PSL- RJ) para obter informações sobre a fonte do vídeo, mas não tivemos resposta.

Verificação

O vídeo que viralizou é formado por duas partes. No primeiro trecho, motociclistas e caminhoneiros tentam subir uma ladeira de lama. No segundo, um motorista dirige por uma estrada asfaltada, alegando ser o km 110 da Transamazônica. A união dos vídeos dá a entender que o motorista está andando pelo mesmo trecho que antes era cheio de lama, o que não é verdade.

Ladeira da onça

Em uma reportagem do Bom Dia Pará, de dezembro de 2018, há a informação de que a primeira parte do vídeo foi gravada na altura do km 48 da Transamazônica (BR-230) no Pará, local conhecido como Ladeira da Onça, no município de Brasil Novo (PA). A localização é incompatível com o km 110 da Transamazônica, como afirma o autor do segundo vídeo, na estrada asfaltada.

O Comprova entrou em contato com o repórter e locutor Valdemídio Silva, morador da cidade de Brasil Novo (PA) há 36 anos, que confirmou que o primeiro vídeo foi gravado na Ladeira da Onça, e circula há cerca de 2 anos. Outros vídeos da mesma época mostram o sofrimento dos usuários da via.

Vídeo bloqueado em perfil de deputado

O vídeo que viralizou foi publicado originalmente pelo deputado Anderson Moraes (PSL-RJ) no Facebook em 17 de janeiro de 2020, e contém a marca d’água com nome e foto do deputado na parte inferior. O Facebook classificou o vídeo como “Informação Falsa” e bloqueou sua exibição na plataforma. Recentemente, o vídeo foi compartilhado por uma usuária no Twitter e voltou a circular. O Comprova entrou em contato com o deputado, que não retornou.

O governo atual fez obras na Transamazônica?

A rodovia Transamazônica é a terceira maior do Brasil, com 4260 km de extensão implantada, cortando os estados da Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará e Amazonas.

Em nota à agência Lupa, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) informou que o km 110 da BR-230/PA não foi asfaltado em 2019, como sugere o vídeo, mas “anos antes”. O DNIT também informou que em 2019, durante o governo Bolsonaro, foi concluída e inaugurada a pavimentação entre os km 0 e 12,1 da Transamazônica no Pará.

Em maio de 2020, o Governo Federal informou que concluiu a pavimentação de 32 quilômetros, entre o km 235 e o km 267 da rodovia. A nota promete a pavimentação de 101,9 quilômetros da rodovia federal, com investimento de R$ 219 milhões. Segundo o balanço anual do Ministério de Infraestrutura do Governo Federal, a pavimentação de 32 km entre Itupiranga e Novo Repartimento, no Pará, e 3 pontes de concreto foram as únicas obras na Transamazônica em 2020.

Em apresentação sobre as obras da BR-230/PA no ano de 2015, o então secretário de Gestão dos Programas de Transportes do Governo Dilma Rousseff, Miguel de Souza, informou que o segmento entre os km 12 e 134,9 da Transamazônica no Pará foi pavimentado durante a gestão petista.

Por que investigamos?

Atualmente em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos que dizem respeito a políticas públicas do governo federal e à pandemia de covid-19. As verificações são feitas em conteúdos que viralizam de forma significativa, caso do vídeo investigado aqui.

A postagem falsa referenciada teve quase 3 mil interações no Twitter no mês de fevereiro e o conteúdo já viralizou por publicações de outros autores uma dezena de vezes desde 2019, incluindo pelo deputado citado na verificação. Supostas realizações do governo Bolsonaro na área de infraestrutura têm sido objeto de desinformação.

Agência Lupa, Estadão e Aos Fatos já verificaram o conteúdo.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

 

Esta verificação contou com o apoio de estudantes de jornalismo do programa de estágio firmado com a FAAP.

 

Saúde

Investigado por: 2021-02-12

É enganoso post que atribui morte de idoso à CoronaVac

  • Enganoso
Enganoso
A pessoa que morreu tinha covid-19, havia sido hospitalizada e, como a vacina é de vírus inativado, ela não poderia ter desencadeado a doença
  • Conteúdo verificado: em um post no Facebook, um homem dizia que seu pai, um idoso, teria morrido por conta da CoronaVac

É enganoso um post no Facebook em que um usuário alega que a CoronaVac, vacina de covid-19 produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, tenha provocado a morte de seu pai. Publicada no dia 6 de fevereiro, a mensagem já havia sido compartilhada mais de 25 mil vezes na plataforma até esta quinta-feira, 11, antes de ser removida da rede social.

Conforme apurou o Comprova, a publicação se refere ao óbito de um idoso de 76 anos na cidade de Guaratinguetá, no interior de São Paulo. Por telefone, o autor do post, Samuel Abreu Batista, afirmou que seu pai recebeu a primeira dose da vacina em 25 de janeiro, posteriormente apresentou sintomas semelhantes aos da covid-19 e faleceu no sábado, 6.

Segundo ele, na certidão de óbito consta morte por choque séptico com suspeita de covid-19. A prefeitura de Guaratinguetá confirmou à reportagem as datas de vacinação e falecimento do idoso.

A relação do óbito com a vacina, porém, foi descartada pela administração municipal após exames de diagnóstico confirmarem que o pai de Samuel apresentava quadro de infecção de covid-19 no dia anterior ao óbito, posteriormente à vacinação. Porém, ao passo que a CoronaVac é um imunizante de vírus inativado, a vacina não poderia ter desencadeado a doença.

Além disso, uma apuração da prefeitura indicou um surto de infecções pelo novo coronavírus na casa de repouso Lar dos Velhinhos São Francisco de Assis, onde o idoso morava.

Como verificamos?

O Comprova acessou o perfil de Samuel Batista, autor do post, no Facebook e verificou que o usuário era pastor na Comunidade Evangélica Projeto Vida em Cunha, São Paulo. A reportagem obteve o número de telefone de Batista e entrou em contato com ele por chamada telefônica e WhatsApp.

A partir do relato do pastor, apuramos o nome do idoso e a cidade em que morava. O passo seguinte foi questionar a Prefeitura Municipal de Guaratinguetá e o Instituto Butantan para averiguar mais informações sobre o caso. A administração da cidade retornou ainda na segunda-feira, 8. Já o Instituto Butantan ainda não havia sido notificado naquela data.

A reportagem ainda consultou o virologista da Universidade Federal de Minas Gerais Flavio Fonseca Guimarães para confirmar se o exame positivo de covid-19 do idoso de fato exclui a possibilidade de efeitos adversos da vacina. Também entramos em contato com a Santa Casa Guaratinguetá para confirmar as datas do envio de resultados dos exames do idoso.

Ainda tentamos conversar com representantes da instituição de longa permanência em que o falecido residia, mas não conseguimos nos comunicar com representantes da entidade beneficente, que também não responderam aos e-mails enviados pela reportagem.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 12 de fevereiro de 2020.

Verificação

De acordo com a prefeitura municipal de Guaratinguetá, um exame RT-PCR coletado no dia 5 de fevereiro, cujo resultado foi confirmado à pasta no dia 9, apontou que o pai do autor da publicação investigada pelo Comprova estava infectado com a doença quando ocorreu o óbito.

O filho revelou à reportagem que o idoso era residente do Lar dos Velhinhos São Francisco de Assis de Guaratinguetá, onde recebeu a primeira dose da CoronaVac em 25 de janeiro. A instituição de longa permanência consta no cadastro estadual de entidades do estado de São Paulo.

Um comunicado da prefeitura atualizado no dia 10 de fevereiro afirma que a apuração da equipe técnica da secretaria de saúde do município constatou que o idoso foi hospitalizado com sintomas de covid-19 e que o mesmo ocorreu com outros idosos que moravam na mesma instituição.

“Durante a investigação também recebemos informações de que funcionários da instituição estavam afastados por suspeita de contaminação pelo covid-19, sendo que já foi possível constatar que três dos funcionários afastados testaram positivo recentemente, o que possibilitou estabelecer uma linha do tempo de contágio e vínculo epidemiológico e consequentemente resultou na abertura de um registro de surto por covid-19 na referida instituição”, diz o comunicado.

Com o diagnóstico de covid-19 confirmado, a prefeitura descartou as hipóteses de um evento adverso da vacina, “pois caso fosse reação vacinal não haveria presença de vírus na amostra coletada, uma vez que a vacina CoronaVac é inativada e não pode causar a doença”.

Ao Comprova, o virologista do Centro de Tecnologia de Vacinas da UFMG Flávio Fonseca afirmou que a nota da prefeitura é precisa. Ele explica que o teste RT-PCR detecta o RNA do vírus na amostra do paciente, mas o vírus inativo aplicado na vacina não contém o RNA viral. Dessa forma, a inoculação do imunizante não permitiria ao exame detectar o material do coronavírus.

Imunidade não é imediata

Fonseca ainda destaca que somente a primeira dose não confere imunidade. Ele alerta que após vacinadas as pessoas ainda precisam manter a “guarda elevada” contra o vírus e seguir regras de prevenção, como o uso de máscaras e a prática do distanciamento social.

O site do Instituto Butantan também ressalta que, mesmo após a segunda aplicação, a imunidade contra o novo coronavírus não é desencadeada imediatamente. “Caso uma pessoa tenha covid-19 logo após se imunizar, isso não significa que a vacina não funcionou, mas que seu o sistema imunológico ainda não teve tempo para criar a resposta imune”, diz o instituto paulista.

A página reafirma a necessidade de manter medidas de segurança, como o uso de máscara e a higienização constante das mãos. Nesta quarta-feira, 10, o Butantan também emitiu uma nota destacando que a morte do idoso ocorrida em Guaratinguetá não tem relação com a CoronaVac.

Resultado

No primeiro contato com a reportagem, no dia 8 de fevereiro, embora já tivesse publicado o post, Samuel Batista afirmou que ainda aguardava os resultados do exame de covid-19 e que a depender do apontamento pretendia ingressar com uma ação judicial para suspender a vacinação de idosos.

Segundo ele, a Santa Casa de Guaratinguetá havia dado um prazo de dez dias para informar a conclusão dos exames.

Em nota ao Comprova enviada na quinta-feira, 11, o hospital afirmou que envia as amostras a um laboratório parceiro credenciado. O prazo médio de resultado, segundo a instituição, corresponde a quatro dias, “a depender da demanda do prestador do serviço”.

A Santa Casa disse ainda que o resultado do exame de covid-19 do idoso foi notificado ao hospital e repassado aos familiares na quarta-feira, dia 10. A prefeitura, no entanto, já havia confirmado o diagnóstico positivo à reportagem na tarde do dia 8 e novamente em nota no dia 9 de fevereiro, conforme mostra o e-mail abaixo.

A assessoria de imprensa justificou que o laboratório responsável pela análise enviou o resultado do exame diretamente à Secretaria Municipal de Saúde.

Em novo contato com Samuel Batista nesta sexta-feira, 12, o pastor disse que foi notificado sobre o exame.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados a informações sobre a pandemia do novo coronavírus, principalmente as que têm grande alcance nas redes sociais. A publicação investigada nesta reportagem alcançou mais de 25 mil compartilhamentos, quase 10 mil interações e foi replicada em outras páginas na rede social.

Os imunizantes e a vacinação contra a covid-19 são alvos frequentes de desinformação. O comprova já desmontou um boato enganoso que usava vídeo de 2018 para afirmar que idosa morreu após tomar vacina, outro afirmava que a imunogenicidade da CoronaVac apresentava riscos à saúde de pacientes. Também desmentimos uma mensagem enganosa repercutida por um assessor da Presidência da República com informações incorretas sobre a eficácia do imunizante.

Enganoso, para o Comprova é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-02-09

É falso que EUA estejam distribuindo ivermectina e leite condensado a vacinados

  • Falso
Falso
Vídeo que circula pelas redes sociais foi gravado em Miami Beach, mas a prefeitura da cidade norte-americana informou que não existe distribuição desses itens. Além disso, protocolos oficiais nos EUA não incluem o medicamento como tratamento contra a covid-19.
  • Conteúdo verificado: Em vídeo compartilhado nas redes sociais, um homem exibe um kit que teria recebido nos EUA, após ser vacinado, e que continha uma marmita, uma caixa de ivermectina e uma lata de leite condensado Ele diz que essa seria uma nova política de Biden.

Em vídeo compartilhado em grupos de WhatsApp e no Facebook, um homem, que se apresenta como um brasileiro de mais de 50 anos que acabara de se vacinar, afirma que o governo de Joe Biden está distribuindo ivermectina e leite condensado para quem for vacinado contra a covid-19 nos EUA. Essa afirmação é falsa.

Usando ferramentas de verificação de imagens, o Comprova descobriu o lugar onde foi realizada a gravação, um condomínio em Miami Beach, e entrou em contato com a prefeitura de Miami, responsável pela vacinação no local. A administração da cidade norte-americana informou que o vídeo se trata de uma farsa, que não há distribuição de ivermectina ou leite condensado e que a faixa etária para grupo de risco é acima de 65 anos.

O Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, em suas diretrizes sobre o tratamento da covid-19, não recomenda o uso de agentes como a hidroxicloroquina e a ivermectina contra a doença e informa que ainda não há dados suficientes para a recomendação do uso da ivermectina no tratamento da doença.

A agência reguladora dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), equivalente à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), informa em seu site que embora existam usos aprovados para ivermectina, a droga não foi aprovada para a prevenção ou tratamento da covid-19.

No final do vídeo, de quase seis minutos, o homem diz “desculpa aí a brincadeira”, dando a entender que se trata de uma peça de humor. Mas como o Comprova não conseguiu contato com o autor do vídeo e muitas das páginas que o reproduziram levaram o conteúdo a sério, consideramos o conteúdo como falso.

Como verificamos?

Inicialmente, buscamos informações sobre o autor da postagem no Facebook e o homem que aparece no vídeo.

Para identificar o local onde o video foi gravado, foi feita uma captura de tela do vídeo verificado para começar a busca do local de gravação. Depois, utilizamos o aplicativo do Google Fotos e uma das ferramentas disponíveis para o usuário, o Google Lens, que oferece a possibilidade de selecionar um pedaço da foto para fazer uma busca mais detalhada.

Utilizando essa ferramenta, chegamos ao campo de pesquisa do Google Imagens, que trouxe uma foto que se assemelhava muito ao local onde fora feito o vídeo verificado.

O resultado da busca era uma imagem com o detalhe da fachada do prédio que nos permitiu identificar a construção.

Abaixo da imagem, havia o nome do lugar – North Beach Senior Center / Unidad of Miami Beach – com um link que nos levou para um site que exibia novamente a mesma fachada, mas agora ampliada. A foto trazia, no entanto, a inscrição “ em breve” (coming soon em inglês), o que poderia indicar se tratar apenas de uma imagem feita no computador.

Uma busca semelhante no Google retornava, no entanto, um texto informando sobre a inauguração deste centro, em julho de 2010.

Na sequência, tomamos dois caminhos. Primeiro, buscamos no Google Maps o endereço disponível na imagem: 7251 Collins Ave, Miami Beach, FL 33141, EUA. Utilizando a ferramenta do Google Street View, encontramos o prédio, mas a partir de um local mais distante.

Fotos do local disponíveis no Google Street View traziam, no entanto, indícios de que realmente era esse o prédio.

O Google Street View mostrou, também, que havia uma longa faixa de areia bem à frente do condomínio. Isso era consistente com o reflexo nos óculos escuros do homem responsável pelo vídeo, que aparentava mostrar areia.

Em paralelo, jogamos no Google o nome do local e chegamos ao site da Plaza Constructions, uma construtora com sete escritórios nos Estados Unidos. No site da construtora é possível ver uma série de imagens do empreendimento, mas de ângulos que não permitiam uma confirmação com certeza a respeito do local da gravação.

O site da construtora trazia, no entanto, uma outra informação importante, o nome do escritório responsável pelo projeto – Rene Gonzalez Architects. No Google, encontramos a página do escritório no Instagram e, buscando nas imagens disponíveis, encontramos uma imagem do local publicada em 13 de março de 2020, que mostra a fachada e traz elementos que permitem a confirmação do prédio como sendo aquele em que a pessoa no vídeo estava.

A imagem abaixo mostra as diversas imagens que encontramos e a comparação com as capturas de tela do vídeo verificado:

Consultamos também o site da Itambé, marca do leite condensado exibido no vídeo, e entramos em contato com o departamento de marketing da indústria, para confirmar se o produto é exportado para os Estados Unidos.

Por fim, entramos em contato com o departamento de comunicação e marketing da prefeitura de Miami, que nos retornou informando que o vídeo se trata de uma farsa, que não há distribuição de ivermectina e que a faixa etária para grupo de risco é acima de 65 anos.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 9 de fevereiro de 2020.

Verificação

Houve vacinação no local em que o vídeo foi gravado?

Apesar do local não fazer parte da lista de postos de vacinação informados pelo governo da Flórida, uma busca no Instagram revelou que o prédio da uma localização nomeada como “UNIDAD of Miami Beach (Senior Employment Program) realmente foi usado para essa finalidade pela prefeitura de Miami.

Nas imagens mais recentes, é possível encontrar uma foto que mostra bombeiros de Miami vacinando pessoas. A imagem foi postada por Michael C. Gongora, commissioner (o equivalente a vereador, representa um distrito determinado nas comissões que administram os condados nos Estados Unidos) de Miami Beach.

Ao divulgar a mesma coleção de fotos, o Twitter de Gongora, marcou diversas contas que divulgam notícias de Miami. Uma delas era a @MiamiBeachNews, conta oficial da cidade de Miami Beach. Um dos tweets divulgados por esta conta nos levou a um vídeo de 6 minutos postado em 1º de fevereiro por Dan Gelber, prefeito da cidade. Aos 2min40s, Gelber destaca que o posto de vacinação no “Unidad” foi montado pela prefeitura comandada por ele.

Por email, Melissa Berthier, uma das responsáveis pelo departamento de comunicação e marketing da prefeitura de Miami Beach, confirmou que a cidade está realizando a vacinação, com o imunizante da Moderna, e informou que não há distribuição de ivermectina ou leite condensado pela prefeitura da cidade. Além disso, ela destacou que o suprimento de vacinas é limitado e que, portanto, apenas pessoas com mais de 65 anos estão sendo vacinadas no momento.

Os EUA com Biden anunciaram o chamado “tratamento precoce” com ivermectina e cloroquina?

Segundo as últimas atualizações das diretrizes do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos publicadas no dia 14 de janeiro de 2021, sobre o uso de ivermectina para o tratamento da covid-19, os estudos realizados com a ivermectina em pacientes infectados se mostraram inconclusivos e foi determinado que não há dados suficientes para recomendar a favor ou contra o uso de ivermectina para o tratamento da doença.

Assim como a FDA avisa em seu site que “embora existam usos aprovados para a ivermectina em pessoas e animais, ela não está aprovada para a prevenção ou tratamento de covid-19. Você não deve tomar nenhum medicamento para tratar ou prevenir covid-19, a menos que tenha sido prescrito por seu médico e obtido de uma fonte legítima”.

No site criado especificamente para informar sobre a pandemia, o estado da Flórida também não indica a ivermectina ou qualquer outro medicamento como tratamento precoce em caso de infecção pelo vírus. O medicamento sequer é mencionado na página.

Leite condensado, kiwi e uvas

No vídeo o homem afirma que o “novo protocolo do novo presidente dos EUA, que é o Biden” inclui a entrega de um kit com uma marmita com camarão, além de frutas como kiwi e uva. Na sequência, o homem mostra a marmita, sem mostrar seu conteúdo, e diz que, com a marmita, veio uma caixinha do “ivermedicina, o remédio do Bolsonaro”. A caixa do remédio é, no entanto, um genérico de fabricação brasileira.

O homem diz que, após receber a vacina, foi chamado por um oficial das Forças Armadas (ele menciona que havia militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica na sala de vacinação) que lhe entregou o brinde. Ele exibe também, como sendo um dos itens do kit, uma lata de leite condensado da Itambé com rótulo bilíngue, com inscrições em português e em inglês. Segundo o site da Itambé, a marca exporta o produto regularmente para os Estados Unidos e pode ser comprado com facilidade pela Amazon ou em lojas especializadas em produtos brasileiros.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus, que tenham alcançado grande repercussão nas redes sociais.

O vídeo sobre o suposto kit de ivermectina e leite condensado, oferecido após a vacinação em um posto de Miami, nos Estados Unidos, foi compartilhado no WhatsApp e em milhares de páginas, grupos e perfis do Facebook. Segundo a ferramenta de monitoramento CrowdTangle, o vídeo teve mais de 736 mil visualizações até o dia 9 de fevereiro. Uma das páginas que publicou o vídeo, cujo post foi compartilhado 24 mil vezes, acrescentou um texto fazendo referência ao presidente Jair Bolsonaro: “veja nesse vídeo pq o homem (presidente) mais uma vez tem razão!!”

Apesar do conteúdo apresentar elementos de uma sátira, o vídeo foi compartilhado por muitas páginas como informação verdadeira. E como o Comprova não localizou o homem que aparece na gravação para apurar a intenção do autor, considerou as informações apresentadas na gravação como falsas.

Falso, para o Comprova, é um conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

 

Esta verificação contou com o apoio de estudantes de jornalismo do programa de estágio Comprova/FAAP.

Saúde

Investigado por: 2021-02-09

Facebook restaurou post sobre hidroxicloroquina, mas mantém política de remoção de desinformação sobre a covid-19

  • Enganoso
Enganoso
Um comitê independente formado pelo Facebook, de fato, solicitou a restauração de um post feito por um usuário na França, mas o Facebook informou que não "admitiu erro" como fazem crer publicações nas redes sociais.
  • Conteúdo verificado: Publicações nas redes sociais que afirmam que o Facebook teria reconhecido que errou ao censurar postagens sobre o tratamento com hidroxicloroquina.

São enganosas as publicações no Facebook e no Twitter que afirmam que o Facebook admite que “cometeu um erro” ao “censurar a hidroxicloroquina”. A rede social realmente restaurou um post específico feito por um usuário da França em outubro de 2020, em que ele criticava o governo francês por ter se recusado a autorizar o uso combinado de hidroxicloroquina com azitromicina para tratamento da covid-19. No entanto, esta decisão não altera a postura da plataforma em relação à desinformação sobre a covid-19.

O Facebook argumentou que o usuário francês falou em cura pela hidroxicloroquina ao criticar a postura do governo da França, e que o conteúdo foi removido com base numa política da empresa contra conteúdos que possam causar danos no mundo atual. Após a decisão do Comitê de Supervisão – grupo criado e financiado pelo Facebook para analisar de forma independente alguns casos de remoção de conteúdo da plataforma -, o post foi restaurado, no último dia 28 de janeiro. O grupo entendeu que o usuário não incentivava as pessoas a comprar ou tomar o medicamento sem receita. O estatuto do Comitê estabelece que as decisões são vinculantes – ou seja, elas são cumpridas pela empresa, a menos que violem a lei.

O Facebook emitiu um comunicado informando que restabeleceu o post, mas não “admitiu erro” e informou que a atual abordagem para esses casos vai continuar enquanto durar a pandemia. A abordagem, segundo a plataforma, é baseada em “extensas consultas com cientistas reconhecidos, incluindo do Centre for Disease Control (CDC) e da Organização Mundial da Saúde (OMS)”.

As postagens verificadas pelo Comprova foram compartilhadas pelos perfis no Facebook de Priscila Costa (vereadora de Fortaleza pelo PSC) e Esquerdopatia Política. Elas tomam como base um tuíte da médica norte-americana Simone Gold. Ela ficou conhecida por ser uma das defensoras do uso da hidroxicloroquina e esteve entre o grupo de pessoas que invadiu o Capitólio no dia 6 de janeiro deste ano para tentar interromper a certificação da eleição presidencial de 2020 dos Estados Unidos. No post, a médica diz que o Facebook admitiu que cometeu um erro ao censurar estudos que mostravam que a hidroxicloroquina salvava vidas, o que não é verdade.

A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) também fez uma publicação sobre o mesmo assunto no Twitter. Em contato com a assessoria de imprensa da parlamentar, o Comprova recebeu a informação de que ela se baseou numa informação publicada pela colunista de finanças Patrícia Lages, do portal R7.

Como verificamos

Fizemos contato com a assessoria do Facebook para questionar se a rede de fato admitiu erro ao tirar o post do ar, quais são as políticas adotadas para as postagens e como funciona o Conselho de Supervisão da rede. Em seguida, consultamos o site do Comitê de Supervisão do Facebook a respeito da decisão sobre a postagem do usuário francês.

Também entramos em contato com a assessoria de imprensa da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) e com os perfis no Facebook Esquerdopatia Política e Priscila Costa. Apenas os dois primeiros responderam.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 9 de fevereiro de 2020.

Verificação

O que diz o post removido e depois restaurado?

Em outubro de 2020, um usuário do Facebook na França fez uma postagem em um grupo público sobre a covid-19 em que denunciava o que chamava de “escândalo da Agence Nationale de Sécurité du Médicament” (agência francesa responsável pela regulamentação dos produtos para a saúde), que se recusou a autorizar no país o uso combinado da hidroxicloroquina com a azitromicina no tratamento da covid-19, ao mesmo tempo em que havia autorizado e promovido o remdesivir.

O remdesivir é um antiviral aplicado por via intravenosa, usado originalmente para combater o ebola, que foi bastante citado no início da pandemia como promissor no tratamento da covid-19. Em novembro do ano passado, a OMS informou que não recomendava o uso do medicamento contra a covid-19 por falta de evidências de que ele tivesse efeitos significativos. Já a hidroxicloroquina é um medicamento usado no tratamento de doenças reumáticas, como lúpus, e também contra a malária. A OMS informou que a hidroxicloroquina também não funciona contra a covid-19.

O uso da cloroquina e hidroxicloroquina contra a covid-19 apareceu em um estudo inicial feito pelo médico francês Didier Raoult, que apontou o medicamento como a cura para a doença. O usuário autor do post que acabou restaurado pelo Facebook criticou a falta de estratégia em saúde na França e afirmou que “a cura de [Didier] Raoult” estava sendo usada em outros lugares para salvar vidas.

No dia 4 de janeiro, o médico e sua equipe publicaram um artigo no International Journal of Antimicrobial Agents reconhecendo pela primeira vez que o medicamento não tinha eficácia no tratamento contra a covid-19, mas voltou atrás do reconhecimento após a repercussão em jornais por todo o mundo.

Por que o post foi removido?

A postagem foi removida pelo Facebook com base na política contra a desinformação da rede social, por contribuir para o “risco de dano físico iminente”. A empresa explicou ao Comitê de Supervisão – criado e financiado pelo Facebook para analisar de forma independente alguns casos de remoção de conteúdo da rede social – que removeu a postagem porque ela afirmava que existiria uma cura para a covid-19, fato negado pelas principais autoridades sanitárias do mundo, e concluiu que isso poderia levar as pessoas a ignorar as orientações de saúde ou a tentarem se automedicar.

O que disse o Comitê de Supervisão?

O caso do post feito na França em outubro do ano passado foi submetido ao Comitê de Supervisão, que decidiu, no último dia 28 de janeiro, anular a remoção do conteúdo. Para o Comitê, o usuário que fez o post se opunha a uma política governamental na França – a de não autorizar o uso combinado de hidroxicloroquina e azitromicina – e pretendia mudá-la.

“A combinação de medicamentos que o post afirma constituir uma cura não está disponível sem receita na França e o conteúdo não incentiva as pessoas a comprar ou tomar medicamentos sem receita”, afirma o texto publicado pelo comitê.

Para os membros do comitê, o Facebook não demonstrou que a postagem elevaria o risco de dano iminente, exigido pela própria regra dos Padrões da Comunidade. Eles também apontaram que a decisão do Facebook não está em conformidade com os padrões internacionais de direitos humanos sobre a liberdade de expressão. Como o Facebook tem uma gama de ferramentas para lidar com a desinformação, a empresa não conseguiu demonstrar porque não escolheu uma punição menos invasiva do que remover o conteúdo, diz o comitê.

Os membros também consideraram vaga a regra sobre desinformação e dano iminente, o que torna difícil para os usuários entenderem o que podem e o que não podem postar. Na decisão, o grupo determinou que o Facebook restaurasse a postagem que foi removida e recomendou que a empresa crie um novo Padrão da Comunidade sobre desinformação em saúde; adote meios menos invasivos para aplicar as políticas de desinformação em saúde; e aumente a transparência sobre como modera a desinformação em saúde.

Postagem foi restaurada

No mesmo dia 28 de janeiro, o Facebook se pronunciou sobre as primeiras decisões tomadas pelo Comitê de Supervisão e informou que a postagem havia sido restaurada. A vice-presidente de Políticas de Conteúdo do Facebook, Monika Bickert, comentou o caso da hidroxicloroquina:

“O comitê corretamente levanta preocupações de que podemos ser mais transparentes sobre nossas políticas de desinformação em relação à covid-19. Concordamos que essas políticas podem ser mais claras e pretendemos publicar políticas de desinformação de COVID-19 atualizadas em breve”. O texto, publicado na Newsroom do Facebook, acrescenta que a abordagem para remoção de conteúdo sobre a covid-19 irá se manter enquanto durar a pandemia.

Por meio de porta-voz, o Facebook informou ao Comprova que seguiu a recomendação e restaurou a postagem, mas reafirmou ser fundamental que as pessoas tenham acesso a informações precisas durante a pandemia. “Seguindo o compromisso com o Comitê de Supervisão, restauramos o post sobre Covid-19. Porém, acreditamos ser fundamental que as pessoas tenham acesso a informações precisas na nossa plataforma e sabemos que isso é ainda mais crítico durante uma pandemia. Mantemos nossa abordagem de remover desinformação sobre coronavírus que possa levar danos às pessoas no mundo real, com base em extensas consultas a grupos científicos como o Centro de Prevenção de Doenças dos EUA e a Organização Mundial da Saúde”.

O que é o Comitê de Supervisão?

De acordo com o Facebook, o Comitê de Supervisão é formado por um conjunto diversificado de especialistas, responsável por analisar de forma independente alguns conteúdos que tenham sido removidos da rede. Os membros são representantes de diversas partes do mundo e formam uma equipe independente. O financiamento inicial para a formação do Comitê foi de mais de US$ 130 milhões para cobrir custos operacionais, como espaço de escritório, equipe e despesas de viagem, e permitir que o comitê opere pelo menos nos seus dois primeiros mandatos completos, aproximadamente seis anos.

O site oficial do comitê informa que, “para garantir uma perspectiva global, o Comitê de Supervisão tem membros de diversas origens culturais e profissionais”. O site acrescenta que “esses membros foram escolhidos porque têm experiência em deliberar de forma ponderada e colegiada, demonstram habilidade para tomar e explicar decisões com base em um conjunto de políticas ou princípios e estão familiarizados com o conteúdo e a governança digitais”.

Atualmente, o comitê tem 20 membros que tomam decisões colegiadas, independente do local onde o post tenha sido feito. Os casos a serem analisados são enviados pelo próprio Facebook ou por usuários. As decisões do Comitê estão disponíveis na íntegra.

Também entramos em contato com a assessoria da deputada federal Bia Kicis. Segundo a equipe, Kicis retirou a informação de uma matéria publicada no portal R7 assinada pela comentarista de finanças Patrícia Lages. O texto afirma que, de fato, o Facebook recomendou a criação de novo padrão de classificação das informações postadas, e que a empresa “reconhece que ‘cometeu um erro’”, mas não há um posicionamento da empresa, além da recomendação do comitê.

Autores das publicações

Em contato com moderação da página Esquerdopatia Política, questionamos quais foram as fontes usadas para a publicação. A resposta foi a sugestão de checarmos as fontes usadas pela página. O primeiro mostra a postagem da Dra. Simone Gold em sua conta no Twitter, onde afirma que o Facebook ‘admitiu erro ao censurar estudos mostrando que a hidroxicloroquina salva vidas’; outro link trata de um estudo sobre covid-19 no mundo e o uso da hidroxicloroquina; o seguinte é uma publicação de um site cujo fundador teve a conta no Twitter suspensa por divulgação de notícias falsas; o próximo link trata de um estudo publicado no The American Journal of Medicine, que defende o uso preventivo no tratamento da covid-19 com base no uso da hidroxicloroquina; e o último traz o link já colocado nesta verificação, referente à decisão do Comitê de Supervisão do Facebook sobre a publicação do usuário francês.

Após o contato, a página Esquerdopatia Política fez uma nova postagem com o print do contato feito pelo Comprova. “Olha o nível do “jornalismo investigativo”. São incapazes de chegar na fonte primária…”.

A vereadora Priscila Costa não retornou o contato até a publicação desta verificação.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados a informações sobre a pandemia do novo coronavírus, principalmente as que têm grande alcance nas redes sociais.

O Facebook publicou, no dia 28 de janeiro, a respeito de um conjunto de decisões sobre postagens escolhidas para avaliação. Dentre elas, postagens sobre discurso de ódio e desinformação sobre saúde estão elencadas.

Uma das postagens, da página da vereadora Priscila Costa, teve 1,5 mil compartilhamentos no Facebook. Postada no dia 31 de janeiro, uma publicação da deputada federal Bia Kicis (PSL), em referência ao mesmo conteúdo, teve quase 10 mil interações no Twitter até o fechamento desta verificação.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-02-05

Ao contrário do que afirma deputado, Doria não recebeu R$19 bilhões da União para o combate à covid-19

  • Enganoso
Enganoso
Em vídeo publicado no Facebook, deputado federal de Minas Gerais ignora que mais da metade da quantia citada por ele foi encaminhada a administrações municipais e, portanto, não é de competência do governador paulista.
  • Conteúdo verificado: Vídeo publicado no perfil do Facebook de um deputado federal em que ele afirma que o governador de São Paulo, João Doria, recebeu R$ 19,5 bilhões de Bolsonaro para o combate à covid-19.

É enganosa a afirmação do deputado federal Leo Motta (PSL-MG) de que o presidente Jair Bolsonaro destinou R$ 19,5 bilhões ao governo do estado de São Paulo para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus.

Em vídeo viral no Facebook, o parlamentar omite que mais da metade da quantia citada por ele foi encaminhada a administrações municipais e, portanto, não é de competência do governador paulista João Doria. Motta ainda reproduz uma alegação já desmentida pelo Comprova de que o estado do Amazonas teria recebido “quase R$ 10 bilhões” para combater à covid-19. O Comprova já mostrou que apenas uma pequena parte desse valor era destinado ao enfrentamento da crise sanitária.

Questionado pelo Comprova, o gabinete de Motta enviou por e-mail um boletim da Secretaria Especial de Assuntos Federativos com a descrição de recursos do Governo Federal destinados ao estado de São Paulo e municípios no âmbito da pandemia. Divulgados em novembro de 2020, os relatórios de cada unidade federativa do país estão disponíveis no site do Governo Federal.

O documento informa um repasse total de R$ 19,347 bilhões, com base em dados do Tesouro Nacional, do Fundo Nacional de Saúde e do Ministério da Cidadania. Desse montante, porém, R$ 10,05 bilhões foram destinados a governos municipais.

O mandato de Leo Motta não quis se manifestar sobre os apontamentos do Comprova até a publicação desta reportagem.

Como verificamos

Procuramos o deputado Léo Motta, por meio dos contatos de e-mail e telefone informados no site da Câmara dos Deputados, para questionar a fonte usada por ele para as afirmações. A assessoria do deputado enviou em resposta apenas uma apresentação em PDF, produzida pela Secretaria Especial de Assuntos Federativos, do Governo Federal.

Em seguida, buscamos, nos Portais da Transparência da União e do estado de São Paulo, além do Portal Siga Brasil, do Senado Federal, os dados sobre repasses enviados ao governo paulista para o combate à covid-19, desde o início da pandemia. Os dados listados em cada site possuíam algumas divergências entre as rubricas, e, por isso, procuramos, por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria de Fazenda de SP e o Ministério da Economia. As duas pastas disseram que os valores nos portais estão atualizados e enviaram o caminho para o acesso às informações.

Para saber mais sobre a compra de respiradores e insumos para o combate à pandemia em São Paulo, mencionados pelo deputado, consultamos o Portal da Transparência estadual, que possui uma seção dedicada aos gastos relacionados ao novo coronavírus, bem como os sites do Ministério Público de Contas de SP e do Tribunal de Contas do Estado. Acessamos, ainda, reportagens publicadas sobre possíveis irregularidades na aquisição desses equipamentos.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 5 de fevereiro de 2021.

Verificação

O boletim da Secretaria Especial de Assuntos Federativos aponta cinco origens de repasses ao estado de São Paulo destinados especificamente para combate à pandemia. A primeira delas consiste na transferência da ordem de R$ 1,618 bilhão provinda do Fundo Nacional de Saúde, que é o órgão federal responsável por gerir recursos do Sistema Único de Saúde (SUS).

É importante ressaltar, porém, que o relatório considera dados de janeiro a novembro de 2020. Em nota ao Comprova, a Secretaria da Fazenda de São Paulo informou que a quantia atualizada corresponde a R$ 1,78 bilhão. O valor também consta no portal de transparência da pasta.

De acordo com o boletim do Governo Federal, a União também repassou R$ 69,53 milhões como parte do programa de compensação do Fundo de Participação dos Estados (FPE) em meio à pandemia. O repasse obedece à lei 14.041/2020, que foi constituída a partir de uma medida provisória assinada por Bolsonaro.

O FPE recebe 21,5% dos tributos arrecadados pela União por meio do Imposto de Renda e do Imposto sobre Produtos e Serviços (IPI). Esse valor é distribuído aos 26 estados e ao Distrito Federal, conforme parâmetros previstos em lei. O programa do Governo Federal instituído durante a pandemia cobre a diferença negativa entre os valores destinados ao fundo entre março a junho de 2020, com a arrecadação do mesmo período no ano anterior.

Uma planilha disponível no site do Tesouro Nacional permite a qualquer cidadão verificar a quantia encaminhada a todos os estados e o Distrito Federal.

A maior parte dos recursos destinados pela União ao combate à covid-19 no estado, no entanto, corresponde ao Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus (PFEC). Dos R$ 19,4 bilhões de repasses incluindo os municípios paulistas, R$ 12,7 bilhões são oriundos do auxílio, dos quais R$ 7,6 bilhões foram destinados ao governo estadual.

O programa segue a lei complementar 173/2020, que teve origem em um projeto de lei do senador Antonio Anastasia (PSD-MG). O portal da Fazenda do governo Doria descreve a verba em duas categorias: as receitas referentes ao “Inciso I” da legislação, na ordem de R$ 988 milhões, e ao inciso II, de R$ 6,61 bilhões. Ambos os valores são nominais, ou seja, não estão corrigidos pela inflação.

A distinção acontece porque a lei determina no art 5º inciso I que parte do valor deve ser destinado obrigatoriamente ao apoio de sistemas de saúde e assistência social na linha de frente do combate à pandemia. Já o restante referente ao inciso II pode ser aplicado livremente pelos poderes estaduais beneficiados como, por exemplo, para compensar perdas fiscais.

Na seção “Auxílio Financeiro de que trata o art. 5º da Lei Complementar nº 173, de 27 de maio de 2020” da página informativa do site do Tesouro é possível baixar a planilha com detalhes de cada uma das quatro parcelas do auxílio.

A apresentação do Governo Federal ainda aponta uma última categoria chamada “outros repasses” na ordem de R$ 927 mil. Somando todos os recursos expostos no relatório,  o governo estadual de São Paulo recebeu aproximadamente R$ 9,3 bilhões, já os municípios paulistas obtiveram cerca de R$ 10,05 bilhões.

Portanto, é equivocado afirmar que o governador João Doria ganhou R$ 19,5 bilhões do Governo Federal para investir em medidas de combate à pandemia, como sugere o deputado Leo Motta no vídeo. Além disso,  nem todas as verbas partiram de iniciativas do presidente Jair Bolsonaro.

Amazonas não recebeu R$ 8,9 bilhões para enfrentamento da Covid-19

Leo Motta ainda erra ao insinuar que a União teria repassado quase R$ 10 bilhões ao Amazonas para enfrentar a pandemia. Como mostra uma verificação anterior do Comprova, o repasse de R$ 8,9 bilhões do Governo Federal ao estado em 2020 não foi exclusivo para o combate à Covid-19. Na verdade, as transferências relativas à crise sanitária contabilizam cerca de R$ 1,38 bilhão.

Vale destacar ainda que os boletins da Secretaria Especial de Assuntos Federativos que embasam as declarações do parlamentar sobre os repasses para o Governo de São Paulo também contradizem o deputado no que toca ao Amazonas. O último relatório sobre o estado indica que os auxílios para o governo amazonense somados às verbas distribuídas a municípios não chegavam a R$ 2,4 bilhões em novembro do ano passado.

Gastos com respiradores

No vídeo, ao questionar o governador de São Paulo sobre os gastos públicos para o enfrentamento à pandemia da covid-19, o deputado federal Léo Motta menciona, de forma vaga, a compra de respiradores e máscaras, e indaga o valor pago pelo estado.

Perguntamos ao deputado se ele teve acesso a algum tipo de denúncia específica de problemas nessas aquisições, mas a assessoria não respondeu a esse questionamento.

No Portal da Transparência do governo estadual, é possível pesquisar o valor pago a fornecedores de materiais e serviços contratados no âmbito da pandemia do novo coronavírus. Segundo a plataforma, o governo estadual empenhou R$ 235 milhões na aquisição de equipamentos – no caso, respiradores – junto a empresa Hichens Harrison Partners. O contrato, porém, estava inacessível no portal durante a consulta do Comprova em 5 de fevereiro.

O acordo previa inicialmente a negociação de 3 mil aparelhos pelo valor de US$ 100 milhões, cerca de R$ 550 milhões quando a operação foi anunciada. Diante de atrasos nos prazos de entrega dos respiradores, o Governo de São Paulo decidiu cancelar o contrato e restringiu a compra a 1.280 unidades.

Em junho de 2020, o Ministério Público de Contas de São Paulo abriu um procedimento para investigar os valores pagos pela Secretaria Estadual de Saúde na compra dos equipamentos. O órgão apontou suspeitas de sobrepreço na aquisição.

Segundo a representação enviada ao Tribunal de Contas do Estado, “O procedimento interno de investigação foi instaurado após denúncia formulada pelo Excelentíssimo Senador da República Major Olímpio perante este órgão ministerial. Sua Excelência narrou a existência de eventuais irregularidades no procedimento de aquisição de ventiladores pulmonares pelo Governo do Estado de São Paulo.

O senador Major Olímpio (PSL-SP) é o líder do partido – pelo qual o presidente Jair Bolsonaro se elegeu – no Senado, mas rompeu publicamente com o chefe do executivo no primeiro semestre do ano passado.

A consulta pública ao andamento processual no site do TCE mostra que o caso ainda está ativo no Tribunal, e que foi enviado a um dos conselheiros no começo de fevereiro.

Na mesma página, porém, o último documento disponibilizado é um despacho, de 10 de junho de 2020, que dá aos envolvidos o prazo de 15 dias para o envio de justificativas sobre o caso em apuração.

Além disso, o próprio TCE determinou que os municípios paulistas e alguns órgãos e secretarias do governo estadual preencham um questionário com informações sobre os gastos no combate à pandemia do novo coronavírus. O prazo para a entrega dos dados, que serão posteriormente analisados pelo Tribunal, termina nesta sexta-feira, 5 de fevereiro.

A apuração dos gastos, portanto, ainda está em andamento, e é realizada pelos órgãos estaduais competentes.

Quem é o deputado e qual sua relação com Doria?

Eliel Márcio do Carmo, conhecido como Leo Motta, é deputado desde 2019 pelo Partido Social Liberal- PSL de Minas Gerais, com mandato até 2023. Segundo o site da Câmara Legislativa, o deputado também preside a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle.

Leo Motta, mesmo após a saída do presidente Jair Bolsonaro do PSL, continuou sendo um grande defensor do governo como ficou explícito nas suas redes sociais. O Comprova entrou em contato com o deputado por e-mail, questionando as fontes usadas para afirmar o destino dos 19 bilhões.

Em resposta, a assessoria do deputado apenas encaminhou o documento pelo qual se basearam, o boletim Segov Estadual de São Paulo.

O Comprova não encontrou nenhuma ligação de Leo Motta com o governador de São Paulo, João Doria.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus, principalmente as que têm grande alcance nas redes sociais. A postagem no perfil do Facebook do deputado ultrapassa as 460 mil visualizações e foi compartilhada quase 50 mil vezes até a publicação desta checagem. Com uma interpretação equivocada dos dados disponibilizados pelo Governo Federal,  o deputado contribuiu ainda mais para a desinformação em torno de temas que envolvem a pandemia da covid-19.

O Comprova já verificou outras publicações que envolviam os recursos destinados aos municípios para o combate da Covid-19, como a que checou que o repasse de R$ 8,9 bilhões do governo federal ao Amazonas não foi exclusivo para combate à pandemia.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Política

Investigado por: 2021-02-05

É enganoso dizer que vídeo de vagões com contêineres empilhados seja do primeiro trem no trajeto do MT ao porto de Santos

  • Enganoso
Enganoso
Ao contrário do que afirmam publicações nas redes sociais, o trem que aparece nas imagens não é o primeiro a trafegar pela ferrovia. O primeiro trecho da Ferronorte foi inaugurado em 1999 e o mais recente foi entregue em 2013. A operação dos vagões double stack, que transportam dois contêineres empilhados, começou em julho de 2019.
  • Conteúdo verificado: Vídeo compartilhado no WhatsApp, Tik Tok e no Facebook mostra um comboio transportando contêineres sobrepostos afirmando, na legenda, que esse seria o “primeiro trem saindo do estado do Mato Grosso para Santos” e que a imprensa não iria divulgar.

Um vídeo que mostra um comboio da Rumo Logística, com contêineres de sua subsidiária, a Brado, saindo de Alto Taquari (MT) supostamente rumo ao Porto de Santos (SP), foi tirado de contexto e entrega conteúdo enganoso. A legenda das publicações, que viralizou em mais de uma rede social, engana ao afirmar que trata-se do primeiro trem a percorrer o trajeto entre o Mato Grosso e o porto de Santos.

O vídeo foi originalmente publicado pelo entusiasta de trens e ferrovia Jeferson da Luz no dia 24 de novembro de 2020, em seu canal no Youtube, Ferrovia Sul. As imagens foram tiradas de contexto no dia 2 de fevereiro de 2021, por publicações na conta do Tik Tok.

O primeiro trecho da Ferronorte, entre Santa Fé do Sul, no estado de São Paulo, e Alto Taquari, foi inaugurado em 1999, ao passo que o trecho mais recente foi entregue em 2013. Assim, é errado afirmar que o trem mostrado no vídeo seria o primeiro.

Por sua vez, a operação dos vagões double stack, estes que aparecem no vídeo com contêineres empilhados, começou em 19 de julho de 2019. Portanto, elas já estavam em funcionamento havia quase um ano quando o vídeo foi gravado.

Como verificamos?

O Projeto Comprova utilizou a ferramenta InVID para identificar outras vezes em que este vídeo foi postado. A busca levou para uma publicação na conta oficial no Facebook do ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), sem a legenda enganosa.

A postagem do ministro dava crédito para o canal no YouTube chamado Ferrovia Sul, administrado por Jeferson da Luz. Conversamos com Jeferson por meio de mensagens no Instagram, e ele nos confirmou a autoria do vídeo, o local e a data em que foi gravado. Por outro lado, negou que tenha escrito a legenda compartilhada nas redes sociais de forma viral.

Também entramos em contato por e-mail com o Ministério da Infraestrutura do governo federal e a Secretaria de Infraestrutura do Mato Grosso (Sinfra), que também negaram a veracidade de que o trem gravado fosse o “primeiro saindo de Mato Grosso para Santos”.

Por fim, falamos pelo WhatsApp com a empresa Rumo, responsável pelo trem mostrado no vídeo.

Verificação

O autor do vídeo

O Projeto Comprova encontrou o autor do vídeo: Jeferson da Luz, que trabalha no setor ferroviário e é um entusiasta de trens e ferrovias. Ele posta suas fotos e vídeos em seu canal no Youtube, o Ferrovia Sul, e também em suas contas pessoais no Instagram (@polaticus) e no Facebook.

Jeferson conta que o vídeo e as fotos do comboio que viralizaram neste início de fevereiro foram registrados em Alto Taquari (MT) no dia 24 de novembro de 2020, em uma viagem que ele fez de Curitiba (PR) para Rondonópolis, para visitar seu tio. Ele diz que jamais imaginou que o vídeo viralizasse.

“Falar que é o primeiro trem do Mato Grosso para o Porto de Santos? Já está errado”, informa Jeferson da Luz.

Ele lembra que a Ferronorte existe desde a década de 1990. “E as operações double stack, até onde eu tenho conhecimento, é de meados de 2019”, complementa. As datas condizem com as informações fornecidas pelo Ministério da Infraestrutura (mais informações abaixo).

O trabalhador do setor ferroviário descreve como captou as imagens: “Eu estava apressando minha viagem porque queria registrar o trem double stack né? Moro em Curitiba, e aqui não temos esse tipo de trem, que é a grande atração da Malha Norte (trecho da antiga Ferronorte)”, relembra.

Hobby

Sobre as contas no Facebook, Instagram e YouTube, Jeferson afirma que trata-se de um hobby. “Registro imagens de trens e ferrovias desde 2004, e agora com a pandemia, resolvi juntar todo esse material e passar para frente”.

Voltando à cena em que filmou o trem double stack da Rumo Logística em Alto Taquari (MT), Jeferson disse que estava de férias na ocasião. “Como é um hobby meu, eu só juntei o útil com o agradável”, afirma. Ele enviou à reportagem uma foto de seu equipamento montado no exato momento em que registrava a passagem do trem.

A Ferronorte

Conforme a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a Ferronorte atualmente tem 735 km de extensão entre os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Por meio de e-mail, a Secretaria de Infraestrutura e Logística do Mato Grosso (Sinfra) informou que o terminal ferroviário de Alto Taquari foi inaugurado em 1999, o trecho de Alto Araguaia em 2002 e o trecho complementar entre Itiquira e Rondonópolis em 2013. “Desde então nenhum terminal ferroviário foi reformado ou construído em Mato Grosso”, diz a nota.

Conforme contou Jeferson, o vídeo mostra uma operação chamada “double stack”, na qual dois vagões são empilhados um em cima do outro. O Ministério da Infraestrutura informou ao Comprova que este tipo de operação foi iniciado em 2019, após reformas no traçado e adaptação da linha férrea. “O primeiro trem double stack a circular foi em junho de 2019, partindo de Sumaré (SP) até Rondonópolis (MT) e descendo novamente ao ponto de origem”, diz a nota.

Por meio de nota, a concessionária Rumo confirmou que a operação “double stack” teve início em 19 de junho de 2019. Explicou que a operação consiste em contêineres de dois níveis, “sendo dois de 40 pés ou um de 40 pés e dois de 20 pés”. A empresa não informou quantos vagões têm a composição.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova checa conteúdos virais sobre a pandemia de covid-19 e sobre políticas públicas do governo federal. O vídeo tirado de contexto e com a legenda enganosa foi compartilhado em mais de uma rede social, com alto engajamento no TikTok (ao menos 20,1 mil interações). Ele também foi postado no Twitter pelo deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) e teve ao menos 5.495 impressões e 1.333 retuítes.

Investimento em infraestrutura e a inauguração de obras entraram para o foco do governo de Jair Bolsonaro.. O próprio vídeo de Jeferson da Luz foi compartilhado na página oficial do presidente, sem a legenda falsa.

Não é a primeira vez que a operação “double stack” é alvo de desinformação. O Comprova publicou checagem em outubro de 2019 na qual mostrava ser enganoso afirmar que o investimento no transporte de contêineres empilhados na Ferronorte teria relação com o governo Bolsonaro.

Este conteúdo também foi checado por Boatos.org.

Enganoso, para o Comprova, é conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações. 

 

 

Saúde

Investigado por: 2021-02-04

Postagem usa vídeo de 2018 para afirmar que idosa morreu após tomar vacina

  • Enganoso
Enganoso
Retirado de contexto, vídeo que viralizou em um perfil no Facebook corta propositadamente os trechos nos quais as palavras "gripe" e "H1N1" são mencionadas. Ainda assim, o laudo de óbito não indica relação entre a morte da idosa e a vacina contra a gripe.
  • Conteúdo verificado: Postagem em um perfil pessoal no Facebook de uma reportagem da TV Record sobre uma idosa que morreu após ser vacinada

É enganoso um vídeo publicado no Facebook que sugere que uma idosa morreu após ser vacinada contra a covid-19. A postagem usa somente um trecho de uma reportagem, veiculada na TV Record em 2018, com a legenda “mulher morre imediatamente depois da vacina”. A matéria trata da morte de uma mulher de 71 anos por infarto, após a vacinação contra a gripe Influenza A (H1N1), naquele mesmo ano (e antes do surgimento da covid-19), na cidade de Goiânia (GO).

O vídeo que viralizou nesta semana corta propositalmente os trechos em que as palavras “gripe” e “H1N1” são mencionadas.

A matéria original foi veiculada em 18 de abril de 2018, e em determinado momento da reportagem, a então coordenadora de imunização da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, Grécia Pessoni, ressalta que o laudo de óbito não indica relação entre a morte da idosa e a vacina contra a gripe. “A suspeita é de um infarto agudo do miocárdio”, disse à equipe de TV. Em outra reportagem, um membro da família também descarta a correlação.

Como verificamos?

Analisando o vídeo, notamos que as pessoas não utilizam máscara na rua nem no posto de saúde, dando a impressão de que se trata de um material antigo. Para verificar a data do vídeo, o Comprova foi atrás do conteúdo original e de outras notícias que tratassem sobre o mesmo caso.

Algumas informações disponíveis no vídeo são o sobrenome da vítima, “Batista da Silva”, narrado pelo jornalista no começo do vídeo, e o bairro “Ville de France”, que também aparece na placa do posto de saúde.

Ao buscar no Google os termos “batista da silva ville de france”, o Comprova encontrou uma notícia do Jornal Opção de 19 de abril de 2018 como quinto resultado.

Na notícia, conseguimos mais informações sobre o caso, como o nome completo, “Maria Batista da Silva”, a data e a informação de que o óbito teria ocorrido após a vacinação contra H1N1.

Outra informação disponível no vídeo é a tarja animada da matéria, em azul na parte inferior do vídeo: “Outra mulher morreu depois de tomar vacina”. Procurando pela frase no YouTube, o primeiro resultado é o vídeo completo no canal da Record TV Goiás.

Vídeo editado

Nota-se que o vídeo original tem 4:40 minutos de duração, e o que viralizou, 2:47 minutos. Comparando as duas versões, notamos que o vídeo foi editado para excluir referências à vacina contra H1N1 e informações sobre o laudo de óbito de Maria Batista da Silva, que indica morte por infarto.

O Comprova ainda entrou em contato com a autora da postagem por meio do Messenger do Facebook, mas não obteve retorno.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 4 de fevereiro de 2020.

Verificação

A reportagem original foi exibida pela Record TV Goiás em 18 de abril de 2018, e está disponível no canal da emissora no YouTube. A matéria trata da morte de Maria Batista da Silva, aos 71 anos, por infarto, após a vacinação contra a gripe Influenza A (H1N1), em 2018. Não há, portanto, relação com a vacina contra o coronavírus, como tenta indicar o vídeo que viraliza no Facebook.

Em reportagem do jornal O Popular, de 20 de abril de 2018, o filho de Maria Batista da Silva, Paulo Henrique da Silva, afirmou que não associava a morte da mãe ao fato dela ter tomado o imunizante. Segundo ele, a mãe se vacinava todos os anos e não apresentava reações. “A vacina é de extrema importância”, afirmou na época.

No vídeo completo da TV Record, a então coordenadora de imunização da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, Grécia Pessoni, ressalta que o laudo do Serviço de Verificação de Óbito (SVO) não indica relação entre a morte de Maria Batista da Silva e a vacina contra a gripe. “A suspeita é de um infarto agudo do miocárdio”, disse.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. É importante investigar conteúdos duvidosos sobre vacinação e pandemia, pois é justamente o trabalho da ciência que garante a erradicação de doenças e a preservação da vida.

Compartilhamentos como este visam desacreditar a vacinação ao redor do mundo, colocando em xeque a eficácia das vacinas, cientificamente comprovadas no caso de Moderna, Pfizer/BioNTech, AstraZeneca/Oxford e CoronaVac. Até o fechamento da publicação, a conta que publicou o vídeo fora de contexto teve mais de 43 mil compartilhamentos de uma única postagem.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.

Saúde

Investigado por: 2021-02-03

Jogador de beisebol dos EUA, Hank Aaron morreu de causas naturais e não por conta da vacina

  • Falso
Falso
O boato de que haveria relação entre a imunização e a morte do ex-jogador foi propagado por um conhecido ativista do movimento antivacina dos EUA
  • Conteúdo verificado: tuíte sugere que Hank Aaron, 86 anos, falecido 17 dias depois de tomar vacina, morreu em decorrência da vacina contra Covid-19

É falso que Hank Aaron, ex-jogador norte-americano de beisebol, morreu por um efeito adverso da vacinação contra a covid-19, conforme sugerem publicações no Twitter nos Estados Unidos e no Brasil. Aaron tomou a vacina da farmacêutica Moderna no dia 5 de janeiro no Morehouse School of Medicine, em Atlanta, na Geórgia, e morreu 17 dias depois, de causas naturais, segundo verificações da imprensa dos Estados Unidos.

A vacinação de Aaron, um ícone do esporte, foi usada para estimular a imunização nos Estados Unidos. Após sua morte, postagens nas redes sociais começaram a ligar o acontecimento à vacinação e veículos do país fizeram a checagem. À rede NBC, a equipe de legistas que examinou o corpo do ex-jogador afirmou que ele morreu de “causas naturais”. Em um comunicado, o Atlanta Braves, time de beisebol pelo qual Hank jogou, disse que ele morreu “pacificamente, enquanto dormia”.

Ao Comprova, o infectologista Evaldo Stanislau, da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que, embora as vacinas possam apresentar efeitos adversos, como qualquer medicação, não há estudos que revelem relação de causa e efeito entre a vacinação e este tipo de morte

Como verificamos?

Pesquisamos sobre Hank Aaron, sua história, luta e os recordes conquistados. Buscamos matérias publicadas em portais de notícias para entender as circunstâncias de sua morte. Também buscamos o contato do local em Fulton County responsável pela autópsia, mas não encontramos as informações.

Conversamos com o professor-doutor Evaldo Stanislau, do Hospital das Clínicas, em São Paulo, para tirar dúvidas sobre reações adversas de vacinas e o tempo médio de resposta do corpo para a imunização após tomar a vacina.

Procuramos ainda a Moderna, farmacêutica responsável pela vacina aplicada em Aaron, por meio do seu e-mail internacional, mas não tivemos resposta até o fechamento da verificação.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 2 de fevereiro de 2020.

Verificação

Aaron morreu de “causas naturais”

Hank Aaron tomou a vacina da Moderna em 5 de janeiro no Morehouse School of Medicine, em Atlanta, na Geórgia. Dezessete dias depois, em 22 de janeiro, ele morreu, aos 86 anos.

Como aqui no Brasil, grupos antivacina começaram a levantar relações entre a vacinação e a morte do ex-jogador, visto que sua imagem foi utilizada para estimular a imunização no país. À NBC News, o grupo médico que examinou o corpo do ex-jogador afirmou que ele morreu de “causas naturais”. Da mesma forma, por meio de comunicado, o Atlanta Braves, seu time de beisebol, lamentou o ocorrido e disse que ele morreu “pacificamente, enquanto dormia”.

Ao jornal The New York Times, que também desmentiu a corrente, os responsáveis pela autópsia em Fulton County afirmaram que sua morte “não teve nada a ver” com a vacina. Segundo eles, não havia nenhum elemento que sugerisse que Aaron teve qualquer tipo de reação alérgica ou anafilática à vacina.

No dia em que foi vacinado, Aaron escreveu no Twitter: “Fiquei orgulhoso de receber a vacina COVID-19 hoje cedo na Morehouse School of Medicine”. “Espero que você faça o mesmo!” Em entrevista à Associated Press, ele afirmou se sentir maravilhoso ao ser vacinado.

Além dele, foram vacinados o ex-embaixador da Organização das Nações Unidas (ONU) e líder dos direitos civis Andrew Young e o ex-secretário de Saúde e Serviços Humanos dos EUA Louis Sullivan. A estratégia foi incentivar a vacinação das pessoas no estado da Geórgia.

“Causas naturais” não têm relação com vacinação

De acordo com o professor e infectologista Evaldo Stanislau, toda vacina tem uma quarta fase de testes que se dá exatamente no período de vacinação. O objetivo é acompanhar os vacinados e descobrir se eles apresentam alguma resposta padrão. Morrer de causas naturais, no entanto, não é uma delas.

“Nessa fase, a gente observa coisas que eventualmente não foram confirmadas nos estudos. Em teoria, se você vê algo que ocorre com muita frequência, pode analisar causa e efeito [entre a vacinação e a resposta]. Aí, nesse caso, me parece uma casualidade”, afirmou o médico.

Segundo Stanislau, o tempo médio para que um imunizante faça efeito é de 15 dias. Neste período, uma pessoa pode, sim, contrair a doença e sofrer suas enfermidades – mas não foi o caso do ex-jogador.

“Qual a função da vacina? Induzir nosso sistema imunológico a produzir uma defesa contra o agente. O efeito de uma vacina é ensinar o sistema imunológico e produzir defesas. São como patrulhas que ficam no nosso corpo. Se o vírus entra em contato com o organismo, essa patrulha vai crescer, proliferar e impedir, mas perceba que isso leva um tempo para se consolidar, não é imediato. Demora, em média, pelo menos duas semanas”, explicou o especialista.

Ele alerta que é preciso seguir tomando precauções mesmo após a vacinação. “Tomar vacina e ser infectado pouco depois é possível, sim, porque o corpo ainda não está imune. Por isso, é importante que a pessoa, quando tomar vacina, continue se protegendo”, alertou o infectologista.

Quem foi Hank Aaron?

Henry Louis Aaron, nome completo de Hank Aaron, nasceu no dia 5 de fevereiro de 1934, em uma região pobre de Mobile, no Alabama. Terceiro de oito filhos de Estella e Herbert Aaron, um assistente de caldeireiro, estudou o ensino médio no Central High School. Além de jogador, Hank Aaron foi empresário e filantropo.

Desde a infância, Aaron desenvolveu uma habilidade e gosto para o beisebol. Aaron foi um dos principais esportistas das Ligas Negras e se tornou um ícone da Liga Principal do Beisebol. Começou na carreira aos 20 anos, em 1954, sendo rebatedor ativo no Milwaukee e Atlanta Braves até 1976. Aaron bateu recorde de 755 home runs (uma rebatida que permite ao autor marcar um ponto e, potencialmente, fazer com que outros companheiros marquem); foi eleito para o Hall da Fama do Beisebol em 1982.

 

Quem é Robert F. Kennedy Jr.

O tuíte é de autoria de Robert F. Kennedy Jr. e foi reproduzido no Brasil por grupos que também costumam questionar as vacinas. Kennedy é um advogado e ambientalista norte-americano, filho do senador Robert F. Kennedy e sobrinho do presidente John F. Kennedy, ambos já falecidos.

Apesar de não ser um profissional da saúde, Kennedy é conhecido pelo ativismo contra as vacinas nos Estados Unidos. Em suas redes sociais, como Instagram e Twitter, há postagens criticando as vacinas em fase de desenvolvimento e sua utilização contra o novo coronavírus. Em sua própria família, uma das mais influentes na política norte-americana, sua postura já foi criticada.

Kennedy foi verificado em agosto de 2020 pelo Comprova após um post do blog católico Mater Salutis viralizar nas redes alegando que as vacinas contra a covid-19 podem provocar dano genético irreversível e são um crime contra a humanidade. O advogado foi investigado, pois o texto seria uma mensagem assinada por ele. Dias depois o post foi retirado do ar por não ser possível comprovar a autoria, segundo um administrador do blog católico.

Na verificação feita em 2020, o Comprova mostrou que antes do início da pandemia, uma reportagem afirmava que Robert F. Kennedy Jr. era um dos dois maiores patrocinadores de anúncios com desinformação sobre vacinas no Facebook.

O tuíte do advogado foi compartilhado por diversas páginas no Brasil, inclusive por páginas já verificadas anteriormente pelo Comprova.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. É importante investigar conteúdos duvidosos sobre vacinação e pandemia, pois é justamente o trabalho da ciência que garante a erradicação de doenças e a preservação da vida.

Compartilhamentos como este visam descredibilizar a vacinação ao redor do mundo colocando em xeque a eficácia das vacinas, dados cientificamente comprovados no caso de Moderna, Pfizer/BioNTech, AstraZeneca/Oxford e CoronaVac. Até o fechamento da publicação, as duas contas de Twitter que tuitaram sobre o conteúdo falso tiveram 27 mil interações.

Falso para o Comprova é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

 

Política

Investigado por: 2021-02-01

Gastos com leite condensado e outros alimentos são de todo Executivo e não apenas de Bolsonaro

  • Enganoso
Enganoso
Vídeos publicados no TikTok atribuíam, erradamente, os gastos ao "consumo próprio" do presidente da República
  • Conteúdo verificado: Publicações na rede social Tik Tok afirmam que os gastos públicos revelados em reportagem do portal Metrópoles foram de consumo do presidente Jair Bolsonaro.

São enganosas as informações de vídeos publicados no TikTok que atribuem ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) os gastos de R$ 1,8 bilhão em alimentos com base em reportagem do portal Metrópoles.

Publicada em 24 de janeiro, a reportagem traz dados sobre as despesas com alimentos de todos os órgãos do poder Executivo no ano de 2019 pagas em 2020. Os gastos com itens como biscoitos, sorvete, massa de pastel e, sobretudo, leite condensado, viralizaram nas redes sociais e causaram revolta, gerando uma onda de críticas de milhares de usuários sobre os supostos gastos e estilo de vida de Jair Bolsonaro.

Um dos vídeos verificados, publicado no TikTok em 26 de janeiro, afirma que o governo Bolsonaro gastou R$ 1,8 bilhão “para consumo próprio”. Outro vídeo, publicado no mesmo dia, mostra cenas de Bolsonaro, segundo o autor, “dando uma de humilde” e depois afirma que “o verdadeiro Bolsonaro” “gasta R$ 15 milhões em leite condensado”.

Os altos valores revelados pelo Metrópoles são despesas pagas com recursos da União, destinados a suprir gastos de todo Executivo. Segundo reportagem do Poder360, os principais destinos dos alimentos comprados pelo governo federal são o Ministério da Defesa e o Ministério da Educação. Isso porque os órgãos citados são responsáveis pela administração dos insumos destinados a quartéis, escolas, universidades federais e hospitais universitários que oferecem refeições em restaurantes tipo bandejão.

De acordo com o portal UOL, os gastos abordados na reportagem são referentes ao ano de 2019, pagas em 2020. Isso porque o valor que foi efetivamente gasto é diferente daquele que foi empenhado. O valor empenhado em 2019 corresponde à previsão orçamentária. Já o pago, é quanto foi desembolsado de fato no ano de 2020.

Como verificamos?

Procuramos a repórter do jornal brasiliense Metrópoles, que publicou a primeira reportagem a respeito dos gastos do governo, Rafaela Lima, para verificar como foi feita a apuração e extração dos dados mencionados na matéria, no Portal de Compras do Ministério da Economia. Averiguamos todos os dados apurados pela repórter e colocados na reportagem e as notas emitidas pelos ministérios da Defesa e da Educação.

Pesquisamos também outras verificações a respeito, como do AosFatos, Estadão Verifica, do portal de notícias UOL e do Poder 360. As matérias averiguaram a que esfera e segmento pertencem os gastos publicados na reportagem do Metrópoles.

Outro caminho abordado foi o próprio portal Painel de Compras. Porém, publicações na imprensa nos últimos dias mostraram que há imprecisão nos dados, além de alteração na navegação do Painel de Compras .

Verificação

Acessamos a reportagem do portal Metrópoles a respeito dos gastos públicos. Segundo matéria assinada pela repórter Rafaela Lima, as despesas reveladas se referem a todos os órgãos do Executivo, não somente à Presidência da República. Não são gastos, portanto, para “consumo próprio” do presidente.

Do valor de R$15,6 milhões em leite condensado mencionado na reportagem, R$ 14,2 milhões foram empregados pelo Ministério da Defesa. Em seguida, vêm os ministérios da Educação (R$ 1 milhão), da Justiça (R$ 327 mil) e da Saúde (R$ 61 mil). Ao Metrópoles, a Defesa afirmou que os gastos com alimentação são maiores porque o órgão é responsável pela comida do efetivo das Forças Armadas, referente a cerca de 370 mil pessoas.

Em nota, o Ministério da Defesa alega que a compra de alimentos leva em consideração o fornecimento de uma dieta adequada para deixar seu efetivo num “estado nutricional saudável para a realização de suas atividades laborais”.

O órgão argumenta ainda que “com disponibilidade permanente e dedicação exclusiva, os militares realizam atividades inerentes à profissão militar e que possuem exigências físicas específicas em diferentes áreas de atuação e nas mais diferentes regiões do território nacional”. Informa que também é fornecida “diariamente alimentação para militares e servidores civis que permaneceram com atividades essenciais ao cumprimento de sua missão institucional, mesmo durante a pandemia, por meio de suas Unidades Gestoras”.

Com relação à compra, o Ministério da Defesa diz que “existem processos de licitação em fase inicial de compra tipo Registro de Preços, que se trata de um edital para pregão, sem, contudo, haver sido consumada a compra dos itens discriminados.”

Registro de Preço é um procedimento que permite que os órgãos públicos realizem suas compras a preços acessíveis através das modalidades de licitação de Concorrência Pública e Pregão (eletrônico ou presencial), nas quais é selecionada a proposta mais vantajosa, pressupondo o fiel princípio da isonomia, pois sua compra é projetada para uma futura contratação.

O Ministério da Educação (MEC) também emitiu nota onde ressalta que “é uma pasta complexa, à qual estão vinculadas autarquias, empresa pública, universidades federais, institutos federais e hospitais universitários, com atividades em todo território nacional”.

A rede de ensino federal é formada por Universidades Federais e seus campi, onde são mantidos Restaurantes Universitários (RU’s) que servem refeições para a comunidade acadêmica (discentes, docentes e servidores). Compõem também o sistema federal de ensino Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets), além do Colégio Pedro II.

Além das instituições federais de ensino, o MEC esclarece que as compras de gêneros alimentícios também abastecem os hospitais universitários, sendo que os insumos são “destinados” à alimentação de pacientes, profissionais de saúde e colaboradores, sendo regulamentado o fornecimento de refeições. A rede é formada por 50 hospitais vinculados a universidades federais, e destes, cinco são maternidades. Em 2020, essas unidades foram responsáveis por mais de 4 milhões de atendimentos, entre consultas, exames e cirurgias”.

Buscamos também referência na verificação de outros veículos da imprensa. Apesar das postagens afirmarem que os gastos são da Presidência, o Painel de Compras não mostrou despesas alimentares deste órgão pagas em 2020, conforme apurou o Estadão Verifica.

O Comprova conseguiu contato com os autores dos vídeos por meio do Instagram. Eles afirmaram que sabiam que os gastos são de todos os órgãos do Executivo, mas que não estavam cientes de que as despesas citadas na reportagem do Metrópoles referem-se a gastos de 2019, não de 2020.

Por que investigamos?

A publicação do portal Metrópoles, através da checagem de seu núcleo de jornalismo de dados, gerou repercussão em diversos outros veículos da imprensa brasileira. No último dia 27, o próprio presidente Jair Bolsonaro se manifestou a respeito, atacando a imprensa em meio a um almoço com apoiadores.

A repercussão chegou nas redes sociais, como em postagens de vídeos no Tik Tok. O vídeo do canal Tony Devito, um dos verificados aqui, teve mais de 104 mil visualizações um dia após a postagem, chegando a 3.060 compartilhamentos e 3.615 curtidas até o fechamento desta reportagem. Na mesma rede social, um vídeo publicado por Camila Moreno que atribuiu os gastos revelados a consumo próprio do presidente teve 470 mil visualizações, com 96 mil likes e 12 mil compartilhamentos até hoje (01/02).

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos, que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.