O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
Filtro:

Saúde

Investigado por: 2021-09-13

Post engana ao comparar ação da vacina contra febre amarela e da covid-19

  • Enganoso
Enganoso
Tuíte força uma relação do imunizante usado para prevenir a febre amarela com as vacinas contra a covid-19. A publicação ignora também que há diferenças nos modos de transmissão das duas doenças - a febre amarela é transmitida por mosquitos infectados, enquanto a covid passa de uma pessoa contaminada para outra, principalmente, por via oral ou nasal - e que nem mesmo a vacina contra a febre amarela tem 100% de eficácia.
  • Conteúdo verificado: Tuíte que questiona as vacinas contra a covid comparando seus efeitos aos da febre amarela.

É enganoso um tuíte que faz referência à vacina da febre amarela para gerar desconfiança nos imunizantes contra a covid-19. Afirma o post: “Não conheço ninguém que tomou a vacina contra febre amarela e contraiu febre amarela”.

De acordo com a doutora em Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Jordana Graziella Alves Coelho dos Reis, a família dos coronavírus possui características que são mais contagiosas. “Essa diferença no contágio e reinfecção entre o Sars-Cov-2 e do vírus da febre amarela está associada com as diferenças intrínsecas de cada um dos vírus. A família coronavírus é conhecida por ter uma facilidade na transmissão e também na reinfecção”, salienta Jordana.

A comparação feita na publicação, mesmo que implícita, é incorreta. A pandemia foi decretada em março do ano passado e as vacinas começaram a ser aplicadas no mundo em 8 de dezembro de 2020 – o primeiro país foi o Reino Unido; no Brasil, a imunização foi iniciada em janeiro. Já a febre amarela existe há muito mais tempo: nos primeiros anos do século XX, o médico e cientista Oswaldo Cruz já tentava combater a doença. A vacina começou a ser produzida no Brasil em 1937.

Além disso, a febre amarela é transmitida por mosquitos infectados, enquanto a covid passa de uma pessoa contaminada para outra, principalmente, por via oral ou nasal – ou seja, a chance de transmissão é maior.

Procurado, o perfil autor do post não respondeu até a publicação deste texto. O conteúdo aqui verificado foi classificado como enganoso pelo Comprova por levar a uma interpretação equivocada sobre as vacinas.

Como verificamos?

Consultamos publicações nos sites de órgãos como Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) na América, e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Também entrevistamos Jordana Graziella Alves Coelho dos Reis, citada acima, e Julio Croda, infectologista, pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

Como o perfil que publicou o tuíte verificado aqui não aceita o envio de mensagens privadas, publicamos um comentário no post, pedindo para que ele entrasse em contato, mas não obtivemos resposta.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 13 de setembro de 2021.

Verificação

Eficácia e transmissão

Como qualquer tratamento de saúde, a vacina da febre amarela também não tem 100% de eficácia. Segundo o Instituto Paulista de Vacinação, o imunizante tem de 98 a 99% de eficácia e, de acordo com a Fiocruz, sua proteção “é demonstrada por meio de observações de mais de 60 anos no Brasil e em outros países da América do Sul, sendo muito rara a ocorrência da doença em pessoas vacinadas”.

Ainda segundo a Fiocruz, “a imunização durante surtos resulta em rápido desaparecimento dos casos” e, “no Brasil, a doença está sob controle por meio da vacinação sistemática da população sob risco, com poucos casos relatados”.

Além das vacinas contra a febre amarela serem aplicadas há mais tempo, a doença tem outra diferença importante em relação à covid: a forma de transmissão, que também torna a disseminação da primeira muito mais difícil do que a da segunda.

No caso da febre amarela, o vírus é passado para as pessoas via picada de mosquitos das espécies Haemagogus, Sabethes e Aedes (Haemagogus e Sabethes em áreas silvestres e do Aedes em áreas urbanas). Eles podem ser infectados ao picarem humanos ou macacos contaminados.

Como informa a OPAS, “a doença não pode ser transmitida de um macaco para um humano, tampouco de uma pessoa para outra nem entre macacos; só pelo mosquito”.

Já o Sars-CoV-2 é transmitido “principalmente por três modos: contato, gotículas ou por aerossol”, como informa o Ministério da Saúde. A contaminação também pode ser indireta, como quando tocamos em uma superfície infectada e, em seguida, levamos a mão aos olhos, à boca ou ao nariz. Ou seja, é mais facilmente transmissível do que a febre amarela.

De acordo com o infectologista Julio Croda, a vacinação contra febre amarela, covid-19 ou qualquer outra doença é um ato individual e coletivo. Conforme o especialista explica, a imunização previne casos graves e combate contaminações e até mesmo variantes no caso do coronavírus.

“No sentido individual, ela previne hospitalizações e casos graves, e no coletivo, diminui a taxa de transmissão da doença. Quanto mais pessoas vacinarmos, mais diminuímos os casos de contaminação, reinfecções e variantes”, salienta Croda.

No entanto, ele ressalta que, mesmo com a vacinação, ainda é possível que algumas pessoas adoeçam. “A vacinação é uma garantia muito segura e nossa principal arma contra as doenças que enfrentamos todos os dias, mas isso não significa que não irão aparecer alguns casos.”

Febre amarela: é possível ser reinfectado?

O Comprova consultou a microbiologista Jordana Alves sobre a possibilidade de reinfecção da febre amarela. Atualmente, o esquema vacinal da febre amarela no Brasil pode ser refeito ao longo da vida da população: é feita uma dose inicial aos nove meses, com reforço aos quatro anos; caso existam pessoas de cinco a 59 anos que não tenham recebido a vacina, podem tomar uma dose única a qualquer momento da vida.

Por conta dos períodos entre uma dose e outra, o que pode acontecer, segundo a microbiologista, é uma baixa na imunidade desenvolvida pela vacina ou a não soroconversão – quando os anticorpos dos indivíduos não fazem o efeito desejado –, após a dose da vacina tomada antes dos cinco anos.

No entanto, é mais provável que pessoas vacinadas contra a doença sejam infectadas quando a vacinação aconteceu na infância ou quando a imunidade desenvolvida pelo imunizante foi baixa.

Quanto à possibilidade de reinfecção, a especialista afirma que os registros desses casos na literatura médica são raríssimos. O que costuma ser mais comum são casos de pessoas que começam a apresentar um quadro de hepatite anos após ter contraído a febre amarela, o que não é considerado uma reinfecção.

Eficácia das vacinas contra a covid-19

Tanto os imunizantes contra a covid-19 quanto os da febre amarela estão disponíveis para a vacinação da população brasileira. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a eficácia geral de uma vacina seja de, ao menos, 50%. A taxa de eficácia mostra a capacidade de uma vacina em diminuir os riscos de uma pessoa que foi imunizada contrair a doença.

Atualmente, no Brasil, quatro vacinas possuem autorização para aplicação no combate à covid-19: a Astrazeneca, com eficácia de 63,09%; Pfizer com 95% de eficácia; a Coronavac com 50,38%; e a Janssen com 66,9%. Já na imunização contra a febre amarela, existem dois principais produtores da vacina que é disponibilizada no Brasil: a Fiocruz, por meio do laboratório Bio-Manguinhos, que produz a vacina distribuída no Sistema Único de Saúde; e a Sanofi, indústria privada da França, que distribui o imunizante para clínicas particulares.

Questionado sobre a eficiência da vacina contra a covid-19, o pesquisador da Fiocruz, Julio Croda, esclarece que o imunizante age de forma parecida com a vacina da gripe.

“A vacina contra a covid-19 é parecida com a da gripe: ela foi desenvolvida para prevenir hospitalizações e casos graves. Isso não significa que ela não funciona, significa que está cumprindo aquilo que foi proposto quando desenvolvida em laboratório e além, porque ela também é capaz de imunizar, as vacinas disponíveis variam de 50% a 95% de eficácia contra a doença”.

Croda ainda explica que a vacina contra o coronavírus é nova e os cientistas estão acompanhando dia após dia os resultados do imunizante.

“Devemos nos lembrar de que a vacina é nova, ainda não sabemos ao certo quanto tempo ela mantém o indivíduo imunizado, estamos acompanhando com o passar do tempo, como ela está reagindo a cada organismo, o que sabemos é que a imunização é o caminho mais seguro para combatermos o vírus e as vacinas foram desenvolvidas para isso”, finalizou.

O Comprova recentemente verificou publicações que induzem ao entendimento que as vacinas disponíveis contra a covid-19 não são eficazes, pois não impedem o contágio da população (aqui e aqui). Conteúdo semelhante também foi publicado recentemente pelo Estadão Verifica.

O perfil

“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, slogan de Jair Bolsonaro (sem partido), sobre foto do presidente está na imagem de capa do perfil @TrumpMargareth, autor do post, no Twitter. Na descrição da bio, “sonhando em ucranizar o Brasil”.

O perfil publica, com tons de ironia e ataques, conteúdos de apoio ao chefe do Executivo federal. Em 6 de setembro, por exemplo, dia em que Bolsonaro assinou uma medida provisória para limitar a remoção de conteúdos falsos nas redes sociais, a página tuitou: “Como ditador, o presidente é muito fraco!!! Como pode assinar a MP da liberdade de expressão?”. Na mesma data, outro post, referindo-se a Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e alvo de ataques do presidente: “O cabeça de ovo vai mandar prender todos que falarem biscoito; segundo ele, o correto é bolacha”.

A reportagem tentou contatar o perfil, mas não recebeu resposta.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O tuíte verificado aqui teve mais de 6,4 mil curtidas e 1,3 mil compartilhamentos até 13 de setembro.

Conteúdos que tentam desacreditar as vacinas ou minimizar os riscos da pandemia são perigosos porque podem levar a população a colocar a saúde em risco.

O Comprova já publicou diversos conteúdos sobre imunização, como o do médico que engana ao afirmar que as vacinas não funcionam contra a variante delta, o de post que desinforma afirmando que o CDC e Anthony Fauci não acreditam nos imunizantes e o de médica que engana ao afirmar que vacinas são experimentais.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Eleições

Investigado por: 2021-09-10

Post usa montagem de foto no 7 de Setembro para atacar senador

  • Falso
Falso
É falsa publicação compartilhada no Facebook e por WhatsApp que afirma ser montagem uma foto de manifestantes bolsonaristas ao lado de um morador de rua. O registro foi feito em Brasília durante manifestação pró-Bolsonaro no feriado de 7 de Setembro. Além de alegar que o registro original tratava-se de montagem, a usuária da rede social postou uma imagem adulterada afirmando se tratar da verdadeira.
  • Conteúdo verificado: Publicação do dia 8 de setembro no Facebook apresenta print de uma foto postada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que retrata manifestantes bolsonaristas caminhando, em Brasília, ao lado de uma pessoa aparentemente em situação de rua deitada no asfalto. Ao lado, a autora do post compartilhou a mesma foto com a legenda “montagem” e outra, sem o morador de rua e com um círculo destacando o espaço onde ele estava, com a legenda “original”. Na descrição do post, ela critica o senador.

É falsa postagem no Facebook que apresenta uma foto verdadeira das manifestações de 7 de Setembro como se fosse montagem. A publicação ainda traz uma imagem manipulada digitalmente e afirma tratar-se da original.

O conteúdo teve como objetivo atacar o senador Randolfe Rodrigues, líder da oposição a Jair Bolsonaro no Senado, que postou o registro original, o qual retrata manifestantes caminhando ao lado de uma pessoa aparentemente em situação de rua.

O caso foi esclarecido ao Comprova pela jornalista Sarah Teófilo, responsável pela fotografia. Ela enviou ao Comprova a imagem original. Além disso, é possível observar que uma das imagens foi grosseiramente manipulada para apagar a pessoa que está deitada.

A autora do post foi procurada, mas não respondeu até a publicação desta reportagem.

Para o Comprova, é falso o conteúdo que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original.

Como verificamos?

O Comprova analisou a publicação do senador Randolfe Rodrigues e percebeu que ele havia colocado crédito na foto, marcando a jornalista Sarah Teófilo. Em seguida, entrou em contato com ela, que confirmou a autenticidade da imagem e deu detalhes sobre dia, local e horário em que o registro foi feito.

A fotógrafa encaminhou a imagem original ao Comprova e conferimos os metadados da imagem (abaixo). Metadados são informações gravadas pelos equipamentos de captura de fotos digitais e que armazenam em arquivo dados como data, hora e localização da captura, equipamento utilizado e outras informações técnicas sobre a imagem.

A reportagem também analisou a imagem adulterada e procurou o senador e a responsável pela postagem no Facebook, mas nenhum retornou até o momento.

Verificação

Senador postou a foto original

A fotografia autêntica mostra um casal que passa ao lado de um homem em situação de rua deitado no chão. Eles vestem a camisa da Seleção Brasileira e a mulher segura um banner com a imagem do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Líder da oposição ao governo Bolsonaro no Senado Federal, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) publicou a foto com a legenda: “Uns comemoram a fome. Outros padecem dela”.

A publicação do congressista foi feita no dia 7, quando foram mobilizados atos antidemocráticos em favor de Bolsonaro, em prol do voto impresso e do fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF).

Entre os dias 8 e 9 de setembro, fotos adulteradas, em que o homem em situação de rua foi apagado, foram compartilhadas em resposta a Randolfe, para sustentar que a crítica política que o senador fez aos bolsonaristas teve base em uma foto montada. Na publicação, contudo, o político do Amapá dá o crédito à autora do retrato. É a jornalista Sarah Teófilo, repórter do Portal R7 em Brasília.

Em conversa com a reportagem do Projeto Comprova, Sarah confirmou ser a autora da foto, feita no dia 7, na capital federal, por volta de 7h10min. Ela detalha que captou a imagem no Eixo Monumental, precisamente no viaduto situado logo após o Museu Nacional da República. “Dá até pra ver um pedacinho do Museu no lado esquerdo da foto”, explica.

O registro foi publicado pelo Portal R7. Outras fotos foram feitas por ela a partir do mesmo ângulo, ou seja, com os manifestantes a passar ao lado do homem deitado no chão.

| Foto original, da jornalista Sarah Teófilo, registrada em 7 de setembro e publicada pelo senador Randolfe Rodrigues.

Imagem adulterada

A autora do post no Facebook é Ruane de Lima Pinheiro, suplente de vereadora no município de Santana, no Amapá, pelo PSD. Ela mantém mais de uma conta no Facebook, onde declara apoio ao presidente.

Na publicação feita pelo perfil dela, no dia 8 de setembro, é apresentada a foto original, feita pela jornalista Sarah Teófilo, com a legenda “montagem”. Já outra, sem o morador de rua e com um círculo destacando o espaço onde ele está na verdadeira foto, é identificada com a legenda “original”.

Observando a imagem, é possível perceber que a manipulação é grosseira. Por exemplo, a sombra de um homem que antes era cortada pela presença da pessoa em situação de rua, continua cortada quando a imagem dela é removida.

Em outro ponto, uma sombra tem início “do nada”, não acompanhando o padrão das demais sombras provocadas pelo ângulo do sol no horário em que a imagem foi registrada.Também é perceptível que o asfalto está com aspecto borrado.

A autora do post foi procurada pelo Comprova, mas não respondeu até a publicação desta reportagem.

Manifestações

O feriado de 7 de Setembro, Dia da Independência do Brasil, foi marcado por atos pró e contra o presidente Jair Bolsonaro em várias partes do país. As manifestações foram amplamente noticiadas pela imprensa nacional e ganharam espaço também em veículos de comunicação internacionais.

Bolsonaro esteve pessoalmente em duas das manifestações favoráveis a ele, em Brasília e em São Paulo.

Na Esplanada dos Ministérios, que começou a ser ocupada já na noite anterior, segunda-feira (6), o presidente discursou pela manhã, com ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), principal alvo do bolsonarismo atualmente.

À tarde, na Avenida Paulista, voltou a falar dos ministros do STF. Outras capitais e cidades do interior também registraram manifestações, tanto de apoiadores quanto de opositores.

Do lado contrário a Bolsonaro, a pauta dos atos girou em torno de críticas à forma como o governo conduz o combate à pandemia de covid-19 e aos preços elevados de alimentos e combustíveis. Os manifestantes também pediram o impeachment do presidente.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que tenham viralizado nas redes sociais, como é o caso desta postagem, que teve grande número de compartilhamentos no WhatsApp.

No Facebook, a postagem reuniu 248 interações, sendo 120 compartilhamentos. De lá, foi compartilhada também no Twitter e utilizada principalmente para atacar a mesma postagem, com a foto original, feita no perfil do senador nesta rede. O Comprova identificou contas que apagaram, posteriormente, o conteúdo.

Esta checagem foi realizada a partir de sugestões enviadas por leitores por WhatsApp. Pelo número 11 97045-4984 ou por este link é possível fazer indicações de conteúdos cuja veracidade esteja sob questionamento. A foto da qual esta investigação trata também foi verificada pela AFP Checamos e pela agência Aos Fatos.

Com a proximidade das eleições do próximo ano, tem aumentado a circulação de informações falsas construídas para atacar a imagem de figuras políticas, como é o caso do senador. Postagens desta natureza podem comprometer a avaliação dos eleitores no momento de decidir por um candidato.

Recentemente, o Comprova mostrou se tratar de montagem vídeo em que Reinaldo Azevedo aparece fazendo duras críticas ‘na cara’ de Lula; que um vídeo em que ex-deputado critica Lei da Ficha Limpa foi tirado de contexto para sugerir manipulação eleitoral; e ser enganoso tuíte que acusa Bolsonaro de acabar com o Bolsa Atleta.

Falso, para o Comprova, é conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Política

Investigado por: 2021-09-10

Post compara de forma enganosa valores do gás de cozinha com o salário mínimo

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa uma postagem que compara o preço do gás de cozinha com o salário mínimo para afirmar que o produto sempre foi caro e, portanto, o preço atual não seria culpa do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A imagem usa dados de meses diferentes para fazer a comparação e desconsidera que, proporcionalmente ao salário mínimo, o valor do botijão é atualmente o mais caro desde 2007.
  • Conteúdo verificado: Tabela escrita à mão compara o preço do botijão de gás com o valor do salário mínimo entre 2001 e 2021. Na imagem, o texto diz “nunca tivemos gás barato no Brasil” e pergunta “mas a culpa é do Bolsonaro?”.

É enganosa uma tabela que circula pelas redes sociais e traz uma comparação, escrita à mão em uma folha de papel, entre o preço do botijão de gás e o valor do salário mínimo entre 2001 e 2021. A imagem tem alguns dados imprecisos e compara o preço médio do gás de cozinha em meses diferentes dependendo do ano, o que distorce a avaliação, segundo economistas ouvidos pelo Comprova. Além disso, o conteúdo, que circula há alguns meses, traz valores desatualizados para o caso de 2021.

A tabela, postada em páginas de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, em uma aparente tentativa de defendê-lo diante da alta de preços do produto, também não leva em consideração o contexto econômico, no Brasil e no exterior, que resultou nos preços do gás. Segundo os analistas ouvidos pelo Comprova, nisso estão incluídos desde o preço internacional do petróleo, do qual o gás é um derivado (Gás Liquefeito de Petróleo, ou GLP), até a política de valorização do salário mínimo brasileiro nas duas primeiras décadas dos anos 2000.

O Comprova procurou a página Direita Alagoas, que publicou o conteúdo no Instagram, mas não teve retorno. A imagem, porém, já circula na internet, pelo menos, desde fevereiro deste ano.

A publicação foi classificada como enganosa nesta checagem porque usa dados imprecisos e confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

Inicialmente, o Comprova buscou informações sobre a evolução dos valores estipulados para o salário mínimo na tabela disponível no site do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Na sequência, checamos o preço dos combustíveis por mês desde o ano de 2001, consultando a tabela da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), órgão responsável pela fiscalização de combustíveis.

Com essas informações, o Comprova levantou os valores médios do salário mínimo e do GLP de uso doméstico nos últimos 21 anos para montar uma tabela no mesmo esquema da publicação. Também foi realizada uma comparação simples entre o preço médio do botijão nos meses de agosto de cada ano, corrigindo os valores pela inflação com o auxílio da calculadora do Banco Central.

Para verificar a origem da tabela compartilhada na publicação do Instagram, o Comprova entrou em contato com o perfil Direita Alagoas, mas não houve retorno.

A partir de buscas reversas da imagem nas redes sociais e da busca dos termos “refrescando a memória”, vistos no canto superior da imagem, conseguimos encontrar no Facebook uma publicação que teria originado a captura de tela compartilhada pelo Direita Alagoas.

O objetivo era verificar se a origem da publicação teria vindo da rede. Entre as últimas imagens que aparecem mediante a busca está a publicação que viralizou. Descobrimos que a postagem foi feita originalmente em 15 de junho de 2021, mas que a imagem utilizada nela circulava há cerca de sete meses na internet. Esse perfil também não retornou ao contato do Comprova.

Por fim, entrevistamos Ecio Costa, professor de Economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e consultor da Cedes Consultoria e Planejamento, e Ademilson Saraiva, assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco (Fecomércio-PE).

Verificação

O preço do gás e o salário mínimo

Entre julho de 2001 (começo da série histórica de preços dos combustíveis da ANP) e agosto de 2021, a relação entre o preço do gás de cozinha e o salário mínimo variou entre 5,67% e 14,67%. A mínima aparece em janeiro de 2015, enquanto a máxima diz respeito a janeiro de 2003. Atualmente, o percentual de participação de 8,50% do salário mínimo é o mais desfavorável desde fevereiro de 2008.

Ao alegar que “nunca tivemos gás barato no Brasil” independentemente do governo, o post ignora a evolução desse dado no período. Depois de cair continuamente entre 2004 e 2012, o percentual ficou estável até 2017. Em 2018, houve uma subida acentuada. Os primeiros dois anos do governo de Jair Bolsonaro tiveram uma leve tendência de queda, que é revertida e agora chega aos patamares de 2007.

Como aponta uma reportagem recente do UOL, essa análise desconsidera a inflação geral no Brasil, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Outra forma de avaliar se o preço do botijão está caro ou não em relação a outros anos é pela simples cotação média do produto — mas, nesse caso, é preciso corrigir os valores pela inflação para que a comparação seja justa.

Em julho de 2001, por exemplo, o botijão custava R$ 17,19 em média para os brasileiros, mas representa R$ 58,28 atualmente em valores corrigidos, porque o poder de compra é diferente daquela época. O Comprova levantou os valores médios para o mês de agosto dos últimos 21 anos, e os dados aparecem no gráfico a seguir. A correção monetária pelo IPCA foi feita por meio da calculadora do Banco Central. A cotação atual está 29,6% acima da média entre os valores.

Valores imprecisos

A tabela que circula nas redes sociais apresenta dados imprecisos. O salário mínimo, por exemplo, é informado incorretamente nos anos de 2012 e 2019. Já o comparativo anual do preço do gás de cozinha não segue uma lógica de acordo com os dados oficiais da ANP.

Cinco dos valores sequer aparecem na série histórica, enquanto os demais se referem a diferentes meses a depender do ano analisado — abril (duas vezes), maio, junho, julho (duas vezes), outubro (quatro vezes), novembro e dezembro (cinco vezes). Três foram arredondados incorretamente para baixo.

O caso mais fora da curva é 2016, em que é mencionado um preço de R$ 63,21, quando a média mensal mais alta daquele ano havia sido de R$ 55,61. Já o preço médio para 2021 é apontado como sendo R$ 85, o que reflete o fato de que o conteúdo viral circula há meses na internet. Em agosto, a ANP constatou uma cotação média de R$ 93,48 no Brasil.

O professor de Economia da UFPE Ecio Costa disse ao Comprova que é possível comparar a proporção entre o custo do gás de cozinha e o valor do salário mínimo, desde que se use sempre o mesmo período de comparação. Como o salário mínimo é reajustado anualmente, seria necessário pegar o valor do GLP sempre do mesmo mês (acompanhando o reajuste a cada 12 meses), para que a comparação seja mais precisa.

“Se você colocar o recorte com mais tempo, você vai ter uma elevação percentual em relação ao salário mínimo que provavelmente ficará muito alta. Tudo é uma questão de recorte de tempo e como você olha para lhe mostrar o que interessa mostrar”, adverte.

De acordo com os dados do Ipea, o salário mínimo foi reajustado em momentos diferentes ao longo dos últimos 21 anos, mas sempre no primeiro semestre. Desde 2010, o reajuste é aplicado em janeiro. O Comprova comparou os números relativos a agosto porque esse é o dado mais recente disponível no levantamento de preços da ANP. Nesse período, o salário mínimo já estava ajustado em todos os anos.

Vale lembrar que a cotação do produto ainda varia entre as localidades consultadas pela ANP, que reúne dados de mais de 15 mil postos atualmente. Em agosto, por exemplo, o preço do produto variou entre R$ 66 e R$ 130 em todo o Brasil. A agência governamental oferece um levantamento semanal por estado e município em seu site para acompanhamento da população.

O que dizem os economistas?

Dois economistas ouvidos pelo Comprova afirmaram que, além da comparação percentual, a análise sobre o impacto do preço do botijão de gás no salário mínimo precisa levar em consideração o contexto que levou a esses valores, incluindo aí medidas de política econômica interna e externa.

“Lá atrás, alguns índices, como combustível e energia elétrica, eram represados pelo governo federal, e isso prejudicou muitas empresas do setor. Quando houve a mudança para adoção de preços internacionais, aí é que a gente começou a ter variações mais altas desses preços nos combustíveis, o que inclui o gás”, lembra Ecio Costa. “Não necessariamente é uma culpa de Bolsonaro. Você tem uma elevação de preços dos combustíveis e do gás natural que vem do cenário internacional. O câmbio pode trazer influência sobre esses preços”, explica.

Para ele, como os combustíveis como a gasolina e o gás são negociados internacionalmente, a disparada do dólar traz impactos sobre o preço que é pago no Brasil. “O que ajudaria a melhorar muito? Mais concorrência. Maior abertura para que se tenha mais empresas querendo investir aqui. Também mais certeza jurídica, menos conturbação política como essas que estamos vivendo”, diz. Além disso, ele entende que uma reforma tributária poderia ajudar a reduzir os impostos sobre os combustíveis, tornando-os mais baratos para o consumidor final.

Ademilson Saraiva, economista da Fecomércio-PE, afirma que o preço do botijão de gás é um dos custos mais relevantes no orçamento familiar e, portanto, afeta imediatamente a percepção das famílias quanto ao poder de compra da renda domiciliar. “Entretanto, fatores diversos impactam, e alguns peculiares, esses dois preços no mercado. No caso do preço do botijão, além do aumento dos custos ao produtor, das margens de distribuição e revenda, pesam as oscilações do preço internacional do petróleo (do qual o GLP é um derivado), atreladas à alta do dólar”, ressalta.

“Apesar de o preço médio do GLP como proporção do salário mínimo estar substancialmente menor hoje quando comparado ao início dos anos 2000, é importante considerar que nesse mesmo período as políticas de valorização do salário mínimo, realizadas em governos passados, foram essenciais para manutenção do poder de compra”, ele afirma. Segundo Saraiva, se compararmos o preço médio do gás de cozinha e o valor do salário mínimo entre julho de 2002 e de 2021, corrigindo esses valores pela inflação, as variações serão de 13,2% e 78,3%, respectivamente.

Composição do preço do gás

Como o Comprova mostrou em outra checagem, o preço do gás de cozinha — como é popularmente conhecido o GLP de uso doméstico, comercializado em botijões de 13 quilos — varia conforme diversos fatores presentes na sua composição. A cotação depende da produção, do transporte, da comercialização e dos impostos que incidem sobre a cadeia.

A Petrobras mantém uma página atualizada com informações sobre a composição do preço médio do gás no Brasil. De acordo com a empresa, ela responde por 50,1% do valor do produto, enquanto 34,3% se referem ao segmento de distribuição e revenda e 15,6% é o custo do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), um tributo estadual. Os impostos federais — PIS/Pasep, Cofins e Cide — estão zerados atualmente. Os dados foram coletados entre 29 de agosto e 4 de setembro.

A ANP também disponibiliza um levantamento consolidado, detalhando os números pela média praticada em cada estado, em formato de tabela. A data de apuração mais recente é julho deste ano, portanto, antes da medição da Petrobras. A composição do preço médio no Brasil naquele momento era a seguinte: 49,9% da Petrobras, 14,2% de ICMS, 11,4% em margens de distribuição e 24,5% em margens de revenda.

Desde o começo do ano, o produto acumula alta de 16,96% — passando de uma média nacional de R$ 74,75 em dezembro de 2020 para R$ 87,43 em julho de 2021, segundo dados da ANP. O principal motivo da alta é o preço de refinaria, com a Petrobras cobrando R$ 9,80 a mais no período, crescimento equivalente a 28,9%. A empresa justificou os reajustes por conta da variação no preço do petróleo no mercado internacional e pela taxa de câmbio.

O ICMS, que é cobrado de acordo com um percentual sobre uma estimativa do preço final ao consumidor, acompanhou a alta no preço do botijão. A arrecadação sobre o produto era 16,94% maior, em média, no mês de julho. As alíquotas variam entre os estados. No segmento de distribuição e revenda, o preço médio subiu 3,3% e 16%, respectivamente. Já o corte do imposto federal decretado por Bolsonaro em março desonerou a cadeia em exatos R$ 2,18, porque o PIS/Cofins era fixo.

Conteúdo viraliza há sete meses

O Comprova entrou em contato com o perfil do Instagram Direita Alagoas, página que compartilhou o conteúdo verificado, e questionou a origem da publicação e dos números apresentados na imagem. A página não respondeu até a publicação desta checagem.

Não conseguimos localizar a origem da imagem, que mostra uma tabela escrita à caneta numa folha de caderno. A mesma imagem já havia circulado no Facebook, em junho, e no Reddit, em fevereiro deste ano.

Por que investigamos?

O Projeto Comprova checa conteúdos de redes sociais sobre políticas públicas do governo federal, eleições e pandemia que alcancem uma grande repercussão.

A publicação compartilhada no Instagram a partir de uma reprodução original do Facebook desinforma ao fazer uma comparação com dados imprecisos e valores incoerentes tanto para o valor do salário mínimo — como nos anos de 2012 e 2019 que aparecem na imagem — quanto para o preço do gás.

Além disso, mesmo que a peça esteja circulando há mais de sete meses na internet, perfis nas redes sociais compartilham como se mostrasse o cenário atual de preços, o que não é verdade.

Outros veículos e agências de notícias realizaram levantamentos no mesmo sentido, como o UOL, que comparou o salário mínimo e o preço do gás e a AFP, que classificou como enganoso o conteúdo de um meme que relacionava o valor do gás entre 2001 e 2021.

O Comprova também havia feito uma primeira checagem sobre uma postagem que enganava ao afirmar que o preço do gás só não caiu de forma significativa por conta dos governadores.

O presidente Jair Bolsonaro tem recebido críticas quanto ao processo inflacionário do País. Em agosto, ele reconheceu que o acumulado em 12 meses era um “número grande”, mas atribuiu a culpa ao isolamento social praticado durante a pandemia de covid-19, o que é contestado por economistas.

Sobre a alta no preço dos combustíveis, costuma atacar os governadores por conta da cobrança de ICMS. Recentemente, Bolsonaro entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para que o Congresso edite uma lei obrigando os estados a adotarem alíquota única do imposto sobre esse tipo de produto.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-09-09

Post engana ao insinuar que STF não quis agir contra Doria sobre doses interditadas de Coronavac

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a associação que um usuário no Twitter faz entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e a aplicação, pelo estado de São Paulo, de 4 milhões de vacinas Coronavac interditadas pela Anvisa. No tuíte, o autor afirma que o órgão nada fez contra o governador João Doria (PSDB), dando a entender que essa seria uma obrigação da Corte, mas o Judiciário sequer foi acionado para intervir na questão. Ele afirma, ainda, que os imunizantes foram feitos por laboratório desconhecido, mas eles foram apenas envasados em unidade não vistoriada pela Anvisa, que já instaurou uma medida cautelar para investigar o caso e pretende visitar a fábrica. Por fim, omite que a distribuição das vacinas se deu antes da interdição de doses pela agência regulatória.
  • Conteúdo verificado: Tuíte postado em 5 de setembro afirma que o STF nada fez contra o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), “que aplicou 4 milhões de vacinas Coronavac feitas por um laboratório desconhecido, que a Anvisa já havia proibido o uso”.

É enganoso um tuíte que associa a interdição de um lote de vacinas Coronavac aplicadas em São Paulo e a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF). O órgão não abriu qualquer procedimento relacionado à interdição, decidida de forma cautelar pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), porque não foi provocado para tal. Não há processo judicial movido neste sentido por qualquer órgão ou por cidadão.

A postagem verificada aqui afirma ser “muito interessante” que o STF nada tenha feito contra o governador do estado, João Doria (PSDB), em razão da aplicação de 4 milhões de doses “feitas por um laboratório desconhecido, que a Anvisa já havia proibido o uso”. Dessa forma, insinua que o STF não quis agir contra o gestor.

Ocorre que o STF sequer foi acionado para interferir nesta questão. O Supremo informou ao Comprova não ter localizado qualquer processo envolvendo o nome de João Doria. Em geral, o principal papel do órgão é atuar quando provocado, pelo Ministério Público, por exemplo.

O autor do tuíte também engana ao não informar que as vacinas em questão foram aplicadas antes da interdição cautelar de doses que foram envasadas, e não fabricadas, como sustenta a postagem, em uma unidade não inspecionada e não aprovada pela Anvisa.

A reportagem procurou o autor do tuíte via mensagem direta na rede social, mas não recebeu retorno até o fechamento deste material.

Para o Comprova, é enganoso o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

Inicialmente, o Comprova buscou informações sobre a interdição dos lotes de Coronavac na imprensa e nos sites do Instituto Butantan, responsável pela distribuição no Brasil, e da Anvisa, que regula os imunizantes.

As duas entidades também foram procuradas por e-mail, assim como o STF, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, e a biofarmacêutica chinesa Sinovac, parceira do Butantan no desenvolvimento da vacina. As duas últimas não responderam.

Por fim, entramos em contato com o autor do tuíte, que não deu retorno até esta publicação.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 9 de setembro de 2021.

Verificação

Interdição de imunizantes

No dia 4 de setembro, a Anvisa divulgou ter interditado, de maneira cautelar, 25 lotes da Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a biofarmacêutica chinesa Sinovac. Foram proibidos a distribuição e o uso de 12.113.934 doses envasadas em uma planta não aprovada na Autorização de Uso Emergencial (AUE) do imunizante. Em nenhum momento a agência informou que a fabricação do insumo é irregular.

A interdição ocorreu após reunião entre a Anvisa e o Butantan, no dia 3. O instituto paulista encaminhou à agência reguladora um ofício informando que lotes enviados para o Brasil na apresentação frasco-ampola (monodose e duas doses) foram envasados em uma unidade chinesa não inspecionada e não aprovada pela Anvisa.

Além dos lotes que já haviam desembarcado no Brasil, há mais 17 – totalizando 9 milhões de doses – envasados no mesmo local e que estão em tramitação de envio e liberação ao país. Conforme a Anvisa, a vacina envasada em local não aprovado na AUE é configurada como produto não regularizado.

O órgão federal declarou ter avaliado toda a documentação apresentada pelo Instituto Butantan e consultado as bases de dados internacionais em busca de informações acerca das condições de Boas Práticas de Fabricação (BPF) da empresa responsável pelo envase dos lotes, mas não localizou relatório de inspeção emitido por outras autoridades de referência, como o PIC/S (Pharmaceutical Inspection Co-operation Scheme – Esquema de Cooperação em Inspeção Farmacêutica) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em nota à imprensa, a agência afirmou que “considerando a irregularidade apontada, somada às características do produto e à complexidade do processo fabril, já que vacinas são produtos estéreis (injetáveis), devendo ser fabricadas em rigorosas condições assépticas, bem como o desconhecimento pela Anvisa sobre o cumprimento das BPF por parte da empresa, torna-se necessária a adoção de medida cautelar para evitar a exposição da população a possível risco iminente.”

A Anvisa explica que na autorização de uso emergencial da Coronavac consta que as vacinas devem ser importadas prontas da Sinovac ou o granel da vacina formulada e estéril ser importado da farmacêutica para envase e acondicionamento no Instituto Butantan. Qualquer alteração nestas configurações deve passar por nova análise das áreas técnicas da Anvisa.

Ainda no dia 4 foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União (DOU) a Resolução RE Nº 3.425, contendo os lotes que estão sob interdição cautelar e proibidos para distribuição e uso.

O Comprova procurou a Anvisa questionando, entre outras coisas, quem é o responsável pelo controle de lotes que entram e são distribuídos no país, quando e em que circunstâncias ocorreu a distribuição dessas doses, de quem é a responsabilidade pela distribuição em desacordo com a aprovação para uso emergencial, e se as doses podem vir a ser liberadas.

Em nota, o órgão informou que, durante a vigência da interdição, trabalhará na avaliação das condições de boas práticas de fabricação da planta fabril não aprovada e no potencial impacto dessa alteração de local nos requisitos de qualidade, segurança e eficácia das vacinas.

Além disso, diz que serão feitas tratativas junto ao Butantan para a regularização desse novo local na cadeia fabril da vacina. Sobre as demais questões, declarou que o caso ainda está em andamento e não é possível antecipar outras informações.

O Comprova também procurou a farmacêutica Sinovac, pedindo nome, endereço e mais informações sobre a fábrica que envasou as doses. Além disso, questionou o motivo de eles não terem informado o Brasil sobre a mudança de local. No entanto, não obtivemos uma resposta até a publicação.

Vacinas foram aplicadas em São Paulo e outros estados

Ainda no dia 4, o G1 informou que o estado de São Paulo havia aplicado 4 milhões das doses interditadas pela Anvisa. A imunização, contudo, foi realizada antes da decisão da agência reguladora, a partir do comunicado do Instituto Butantan.

A reportagem publicada apresenta posicionamento do governo de São Paulo afirmando que monitora as reações em pessoas vacinadas com essas doses e que não foram observadas “intercorrências em termos gerais” naqueles que receberam imunizantes dos lotes em questão.

A Secretaria Estadual de Saúde afirmou ao G1 que o número de vacinas corresponde a cerca de 19% do total de 21 milhões de doses da Coronavac aplicadas ao longo de toda a campanha de vacinação contra a covid-19 e que “toda a rede está orientada sobre a importância do monitoramento de todas as pessoas vacinadas, independentemente do imunizante administrado”. Acrescentou, ainda, que o órgão irá aguardar o parecer das autoridades sanitárias para proceder com a distribuição de 1,5 milhão de doses da Coronavac entregues no dia 3.

Ainda conforme o G1, as Secretarias de Saúde de pelo menos 13 estados e do Distrito Federal confirmaram também terem recebido vacinas desses lotes e que entraram em contato com os municípios para suspender a aplicação. Cinco desses estados (Rio Grande do Norte, Paraíba, Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo) confirmaram que já haviam aplicado na população parte das doses recebidas desses lotes. A Secretaria de Saúde de São Paulo foi procurada pelo Comprova, mas não respondeu.

A Anvisa informou que, além do monitoramento feito pelo Ministério da Saúde, haverá um acompanhamento dessas pessoas por parte da própria agência. Ao Comprova, a assessoria de comunicação acrescentou que, durante a vigência da interdição, trabalhará na avaliação do eventual impacto para as pessoas que foram vacinadas com as doses.

Butantan ainda não apresentou documentos satisfatórios

A reportagem também procurou o Instituto Butantan questionando, entre outras coisas, por que a Anvisa só foi notificada das irregularidades após a distribuição e aplicação de doses, quem faz o controle dos lotes que entram no país, em quais circunstâncias foram importadas as doses em desacordo com a autorização emergencial e se a situação é preocupante para aqueles que receberam a vacina.

Em nota, o Butantan não respondeu às questões específicas. Afirmou ter criado uma força-tarefa para esclarecer dúvidas da Anvisa sobre os lotes suspensos e informando que a primeira reunião sobre o assunto foi realizada na tarde do dia 6, com a participação do diretor-presidente do Butantan, Dimas Covas, e da diretora de qualidade e assuntos regulatórios, Patrícia Meneguello.

Durante o encontro, diz a entidade, foram apresentados mais dados que demonstram a segurança e a qualidade dos imunizantes. “O objetivo do grupo é agilizar a liberação dos lotes o mais rapidamente possível para o Programa Nacional de Imunizações (PNI), considerando a urgência do contexto pandêmico. Os técnicos do Butantan vão continuar em constante contato com a Anvisa para pronto envio da documentação solicitada sobre a fábrica chinesa, que conta com certificação de boas práticas internacionais, a GMP (Good Manufacturing Practice)”, diz a nota.

A Anvisa, contudo, informou no dia 8 que os documentos apresentados na reunião não respondem às incertezas sobre o local de fabricação.

De acordo com o posicionamento, não foi apresentado relatório de inspeção emitido pela autoridade sanitária, essencial para a avaliação das condições de aprovação da planta, que podem incluir compromissos e condicionais para permitir a operação no local.

Já os Formulários de Não Conformidades (documento que atesta o não atendimento de um requisito pré-estabelecido) apresentados reforçaram as preocupações da agência relacionadas às práticas assépticas e à rastreabilidade dos lotes, por não possuírem a identificação da autoridade emissora e a identificação de cargos dos signatários. “A Anvisa, por meio da sua Assessoria Internacional, já acionou o Ministério das Relações Exteriores para que essas informações sejam solicitadas à autoridade reguladora chinesa”, esclareceu o órgão.

O órgão federal também não considerou suficiente a análise de risco apresentada pelo instituto para garantir a segurança do processo fabril no novo local. “Tal análise não substitui uma inspeção da autoridade sanitária ou o relatório de inspeção sanitária. Somente as autoridades sanitárias possuem competência para atestar as boas práticas de um local de fabricação”.

O órgão destaca que cabe ao Butantan apresentar a documentação faltante, incluindo o relatório de inspeção emitido por autoridade sanitária para subsidiar a análise da Anvisa ou viabilizar a realização de inspeção presencial pela própria agência.

Paralelamente, visando acelerar a avaliação dos lotes interditados, a Anvisa diz ter iniciado os trâmites internos para realização da viagem de servidores para inspecionar o local de envase da vacina. A equipe inspetora já está designada e preparada para embarcar para a China na próxima semana.

O que são medidas cautelares

A Anvisa explica que as medidas cautelares – como neste caso – não são decisões condenatórias em caráter punitivo, mas, sim, medidas sanitárias para evitar a exposição ao consumo e ao uso de produtos irregulares ou sob suspeita.

“As medidas cautelares também são um ato de precaução que visa proteger a saúde da população, sendo adotadas em caso de risco iminente à saúde, sem a prévia manifestação do interessado, fundamentadas nos termos da Lei 6.437, de 20 de agosto de 1977, sendo aplicáveis para a ação de fiscalização de interdição cautelar”, destaca o órgão.

A interdição cautelar aplica-se aos casos em que “sejam flagrantes os indícios de alteração ou adulteração do produto, hipótese em que a interdição terá caráter preventivo ou de medida cautelar. Esta medida tem o prazo de 90 dias, conforme o art. 23, § 4º, da Lei 6.437, de 20 de agosto de 1977”. Trata-se da lei que configura infrações à legislação sanitária federal, estabelece as sanções respectivas, e dá outras providências.

Durante este período de 90 dias, além de tentar comprovar as condições da planta fabril, a Anvisa fará tratativas junto ao Instituto Butantan para a regularização desse novo local.

STF

O Comprova enviou perguntas à assessoria de comunicação do STF questionando se o órgão foi acionado sobre a aplicação, em São Paulo, de vacinas posteriormente interditadas pela Anvisa. Por e-mail, a instituição respondeu não ter localizado no sistema de consulta processual qualquer processo envolvendo o nome de João Doria.

Em um evento no ano passado, o ministro Luiz Fux, presidente do STF, relembrou que o Poder Judiciário só age quando provocado, sendo chamado para atuar em problemas constitucionais de leis promulgadas pelo Executivo ou aprovadas pelo Legislativo.

Discute-se, atualmente, por que o Inquérito das Fake News, que investiga a disseminação de afirmações falsas contra ministros do STF, é conduzido pela própria Corte. A investigação foi aberta em março de 2019, pelo então presidente do STF Dias Toffoli, sem provocação de outro órgão e sem a participação do Ministério Público.

Foi baseada, contudo, no artigo 42 do regimento interno da Corte, segundo o qual “ocorrendo infração à lei penal na sede ou dependência do tribunal, o presidente instaurará inquérito, se envolver autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição, ou delegará esta atribuição a outro ministro”. Toffoli avaliou que, embora os supostos crimes não tenham sido praticados no prédio do órgão, vitimizam os ministros, que são o tribunal.

Autor

O autor do tuíte é @nelsonpaffi. Com mais de 48 mil seguidores na rede social, ele se define como “linha política positivista. Justiça sem ideologia. Lei tem que ser cumprida. Desejo Brasil próspero livre dos corruptos. Perseguidor implacável a corruptos” e faz críticas ao STF.

Procurado pelo Comprova, ele não retornou até a publicação da reportagem.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Projeto Comprova checa conteúdos de redes sociais sobre políticas públicas do governo federal, eleições e pandemia que alcancem uma grande viralização.

O tuíte é prejudicial, pois desinforma ao fazer um ataque ao STF e insinuar que a Corte foi negligente ao não fazer nada contra João Doria, omitindo que o Poder Judiciário não foi acionado neste caso. Além disso, dá a entender que as vacinas foram aplicadas após proibição da Anvisa, o que não ocorreu.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-09-06

Post engana ao afirmar que empresas não exigem vacinação e que CEO da Pfizer não se imunizou

  • Enganoso
Enganoso
São enganosas as afirmações feitas por um médico brasileiro acerca da não obrigatoriedade de vacinação em funcionários de órgãos e empresas internacionais e de que o diretor-executivo da Pfizer teria sido impedido de entrar em Israel por não estar imunizado. Duas das empresas citadas por ele estão exigindo a imunização e o CEO da farmacêutica não viajou por não ter recebido as duas doses até aquele momento – o que ocorreu posteriormente.
  • Conteúdo verificado: Médico afirma, em sequência de tuítes, que Casa Branca, CDC, FDA, OMS, Pfizer, Moderna e Johnson & Johnson não obrigam funcionários a se vacinarem. Ele também diz que o CEO da Pfizer teve a entrada negada em Israel por não estar vacinado e que o homem teria dito que “não precisava pois era um sujeito saudável”.

Duas das sete empresas e órgãos internacionais citados pelo médico em postagens no Twitter estão exigindo a vacinação contra covid-19 de funcionários. Outros determinaram que sejam apresentados testes frequentes por quem decidir não se vacinar, o que não é esclarecido pelo autor da postagem ao criticar a adoção de um “passaporte vacinal” em algumas regiões do Brasil.

Dentre as instituições citadas pelo profissional de saúde, a Johnson & Johnson já anunciou e confirmou ao Comprova que até o dia 4 de outubro todos os funcionários serão obrigados a se vacinar, com exceção daqueles com problemas de saúde ou por outros motivos, como religiosos.

Da mesma forma, a Reuters informou que a Moderna Inc exigirá a vacinação para todos os funcionários nos Estados Unidos a partir de outubro. No início de agosto, a empresa ordenou que eles se vacinassem ou se submetessem a testes semanais para detectar a doença.

São enganosas, ainda, as afirmações relacionadas ao diretor-executivo da Pfizer, que está vacinado com duas doses do imunizante, conforme anunciou em sua conta no Twitter.

Ao ser procurado pelo Comprova, o médico responsável pelo conteúdo verificado afirmou ter tido a intenção de mostrar que a vacinação não é obrigatória por empresas e órgãos envolvidos no combate à pandemia, diferentemente do que querem fazer no Brasil, mas sem citar exemplos nacionais.

Ele reconheceu que a reportagem compartilhada por ele em relação à situação do CEO da Pfizer é antiga, mas sem comentar o fato de sua postagem não ser coerente com o conteúdo jornalístico indicado. Após ser procurado, publicou mais dois tuítes identificando o link como “defasado”, mas mantendo as demais afirmações.

O Comprova identifica como enganoso o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

Inicialmente, o Comprova verificou o link compartilhado pelo médico e identificou que o conteúdo não era o mesmo afirmado nos tuítes. Em seguida, buscou informações sobre o caso envolvendo o CEO da Pfizer e Israel e se o diretor-executivo estava ou não vacinado.

Foi verificado, também, o posicionamento público de cada órgão e empresa citada pelo autor dos tuítes, além de serem procuradas as instituições via e-mail.

Realizou-se uma pesquisa junto à imprensa norte-americana para entender as bases legais para que as empresas e órgãos governamentais exijam ou não a vacinação dos funcionários.

Por fim, a reportagem entrou em contato com o responsável pelas postagens.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 6 de setembro de 2021.

Verificação

Vacinação de funcionários federais e de empresas nos EUA

A primeira vez que a Casa Branca solicitou comprovação de vacinação para seus funcionários foi no final de julho. No dia 29 daquele mês, o presidente Joe Biden anunciou o fortalecimento dos protocolos de segurança para funcionários federais, o que incluía uma solicitação para que essas pessoas atestassem sua situação vacinal.

Qualquer dessas pessoas que não estivesse totalmente vacinada ficava obrigada a usar máscara no trabalho – independentemente da localização geográfica –, manter distância física de outros funcionários e visitantes, cumprir um requisito de testagem semanal ou duas vezes por semana, além de ficar restrito a viagens oficiais. Na ocasião, o presidente ressaltou que o governo federal dos Estados Unidos empregava 4 milhões de americanos.

Outra medida anunciada foi uma indicação para que o Departamento de Defesa averiguasse quando seria possível incluir a vacina contra a covid-19 entre as vacinações exigidas para militares. O Departamento de Assuntos de Veteranos já havia exigido a vacinação para toda a equipe da área de saúde, assim como mais de 50 sociedades e organizações de saúde haviam exigido que seus funcionários recebessem a vacina contra a covid-19 a longo prazo.

Um mês depois, no dia 31 de agosto, o coordenador de resposta à covid-19 da Casa Branca Jeffrey Zients afirmou que o governo federal estava pressionando pela vacinação de funcionários de outras instituições e empresas, inclusive por meio da exigência desta, como já vinha sendo feito com funcionários federais desde o final de julho.

Zients informou que mais de 800 faculdades e universidades, e mais de 200 empregadores da área de saúde, pequenas e grandes empresas em todo o país, além de dezenas de governos estaduais e locais, passaram a fazer as mesmas exigências que o governo federal. Ele citou como exemplo o caso da empresa Tyson Food, em Arkansas, que tinha apenas 45% dos funcionários vacinados quando anunciou que todos teriam que estar imunizados até 1º de novembro. Após o anúncio, o percentual subiu para 72%.

Ele também citou um dado do site Even.com, de busca de empregos, que mostrou que o número de ofertas de emprego nos Estados Unidos que exigem a vacina aumentou 90%. No início de agosto, a CNN publicou uma lista de empresas que exigem a vacinação de seus funcionários, o que inclui Google, Facebook, Netflix, Walmart, The Washington Post, Uber, Twitter, entre outros.

“Resumindo: os requisitos de vacinação funcionam. Eles aumentam as taxas de vacinação. E precisamos de mais empresas e outros empregadores, incluindo sistemas de saúde, distritos escolares, faculdades e universidades para intensificar e fazer sua parte para ajudar a acabar com a pandemia mais rapidamente”, disse Zients, durante conferência para a imprensa.

Ainda nos Estados Unidos, segundo publicação da Reuters, Nova York se tornará a primeira grande cidade do país a exigir, a partir de 13 de setembro, prova de vacinação para clientes e funcionários em restaurantes, academias e outros ambientes fechados.

Já o estado de Nova York exigirá que os funcionários estaduais sejam vacinados ou testados semanalmente a partir desta segunda-feira, 6 de setembro. A Autoridade Portuária de Nova York e Nova Jersey e a Autoridade de Transporte Metropolitano exigirão que seus funcionários tomem a vacina ou façam o teste semanalmente.

Os trabalhadores da saúde do estado de Nova Jersey e os funcionários que atuam nas prisões devem ser vacinados até esta terça, 7 de setembro, ou fazer testes presenciais duas vezes por semana.

O governador da Califórnia, Gavin Newsom, disse que todos os funcionários do estado receberam ordens para serem vacinados a partir de 2 de agosto ou se submeterem a testes pelo menos uma vez por semana.

Funcionários municipais de Denver e pessoas que trabalham em ambientes de alto risco na cidade serão obrigados a se vacinar, disse o prefeito Michael Hancock, no dia 2 de agosto. As cidades de São Francisco e Nova Orleans ordenaram, em 12 de agosto, que os clientes mostrassem provas da vacinação contra a covid-19 para entrar em restaurantes, academias e outros espaços.

Exigências nas farmacêuticas

Conforme publicou o The New York Times, a Pfizer está exigindo que todos os funcionários e contratados nos Estados Unidos sejam vacinados ou participem de testes regulares semanais de covid-19.

O Fierce Pharma, site especializado na cobertura do setor farmacêutico, afirma ter falado com Pfizer e Johnson & Johnson, assim como outras empresas do ramo, sobre quais as políticas de vacinação adotadas entre seus funcionários. A Pfizer confirmou as informações publicadas na imprensa e um porta-voz afirmou que a empresa também está “encorajando fortemente” a vacinação para todos os ex-funcionários no país.

A Pfizer diz que trabalhará com os funcionários em busca de uma solução alternativa se eles tiverem objeções médicas ou religiosas à imunização.

A Johnson & Johnson também está exigindo que todos os funcionários e contratados nos Estados Unidos sejam totalmente vacinados até o dia 4 de outubro.

Procurada pelo Comprova, a empresa informou por e-mail ser falso que os funcionários não estão sendo obrigados a se vacinar, confirmando que a partir de 4 de outubro todos eles deverão ser totalmente vacinados, acrescentando que serão analisados os casos de pessoas com problemas de saúde ou outros motivos para não serem imunizadas.

A Reuters informou, em 20 de agosto, que a Moderna Inc anunciou que exigirá a vacinação para todos os funcionários nos Estados Unidos a partir de outubro. No início do mês, a empresa já havia ordenado que os funcionários se vacinassem ou se submetessem a testes semanais para detectar a doença.

O que a OMS diz sobre a obrigatoriedade

Procurada pelo Comprova, a OMS informou por e-mail que a vacinação para covid-19 é fortemente encorajada, mas atualmente não é obrigatória para os funcionários. Em um documento publicado no dia 13 de abril de 2021, a OMS faz uma série de considerações éticas e advertências sobre a adoção de obrigatoriedade de vacinação.

A organização destaca que o documento não endossa ou se opõe à vacinação obrigatória, mas identifica considerações éticas importantes e advertências que devem ser avaliadas antes que governos e/ou formuladores de políticas institucionais adotem essas medidas.

Uma das questões éticas levantadas no documento é que políticas que interferem na autonomia das pessoas devem buscar um “equilíbrio entre o bem-estar comunitário e as liberdades individuais”.

A OMS destaca que não é incomum que governos e outras instituições adotem essas políticas e que elas podem ser eticamente justificadas, uma vez que podem ser cruciais para proteger a saúde e o bem-estar públicos. Contudo, as razões para essas exigências precisam estar bem explicadas, incluindo as exceções – como contraindicações médicas à aplicação do imunizante.

Para o órgão, a vacinação obrigatória deve ser considerada apenas se for necessária à obtenção de uma meta de saúde pública importante, identificada por uma autoridade legítima da área sanitária. Outras estratégias devem vir antes disso, como políticas de educação pública, por exemplo.

“As vacinas são eficazes para proteger as pessoas da covid-19. Governos e/ou formuladores de políticas institucionais devem usar argumentos para encorajar a vacinação voluntária contra covid-19 antes de contemplar a vacinação obrigatória. Devem ser feitos esforços para demonstrar o benefício e a segurança das vacinas para a maior aceitação possível da vacinação. Medidas regulatórias mais rígidas devem ser consideradas apenas se esses meios não forem bem-sucedidos”, afirma a OMS.

Se esses objetivos de saúde pública não conseguem ser alcançados sem uma exigência para que as pessoas se vacinem, as preocupações daqueles que são capazes, mas não desejam ser vacinados, devem ser tratadas, se possível, de maneira proativa. Contudo, caso essas medidas não funcionem e a recusa à vacina resultar em riscos significativos à saúde pública, com baixas taxas de vacinação sem uma exigência, a obrigatoriedade pode ser uma medida “necessária”, diz a OMS.

A organização ainda recomenda que dados sobre as vacinas devem estar disponíveis, para que a população saiba que a vacina é eficaz, além de ser um meio para atingir uma meta importante de saúde pública. O acesso ao imunizante também precisa ser “confiável, razoável e gratuito” para aqueles a quem a vacinação for exigida.

Também afirma que é preciso considerar o efeito que a obrigatoriedade da vacina terá sobre a confiança do público na comunidade científica e na vacinação em geral. É recomendado que haja transparência no processo de tomada de decisão em torno da obrigatoriedade do imunizante.

CEO da Pfizer foi imunizado

O autor do tuíte afirma que Albert Bourla, diretor-executivo da Pfizer, teve a entrada negada em Israel por não estar vacinado e que teria afirmado não precisar do imunizante “pois era um sujeito saudável”. Em um segundo post, o médico compartilha o link de uma reportagem do veículo Times of Israel com a intenção de provar o ponto dele, mas o texto não condiz com o dito na postagem.

O médico ainda questiona, no mesmo post, o que diriam os funcionários da empresa para o mundo caso fossem obrigados a injetar em si “o produto que conhecem a fundo, sabem que é experimental e estão bem informados de todos os seus efeitos colaterais…” Os imunizantes não são substâncias experimentais e os benefícios superam os riscos da vacinação, conforme já explicou o Comprova.

Segundo a reportagem compartilhada por ele – publicada há mais de seis meses, em 5 de março –, a visita do diretor da farmacêutica a Israel foi adiada porque ele e outros membros da delegação ainda não estavam totalmente imunizados contra a covid.

O texto explica que Bourla havia recebido a primeira dose, mas aguardava a segunda, enquanto outros membros receberam duas doses, mas não haviam completado a espera mínima de sete dias para garantir maior proteção contra o vírus.

A mesma reportagem relembra que Bourla afirmou anteriormente que não cortaria a fila para receber a vacina, apesar de ter o cargo mais importante da empresa que fabrica o medicamento. A afirmação foi feita em entrevista ao canal CNBC.

Em agosto, a Reuters publicou checagem informando que Albert Bourla recebeu a segunda dose da vacina em 10 de março de 2021, o que foi registrado por ele no Twitter.

| Captura realizada pelo Comprova em 02/09/2021

De acordo com a Reuters, até a publicação da checagem, usuários de redes sociais ainda se referiam à informação desatualizada de que ele teve que cancelar a viagem por não estar totalmente vacinado como se o conteúdo fosse atual.

Obrigatoriedade

Empresas e governos de diversos países estão exigindo que seus funcionários se vacinem, como forma de reduzir a disseminação do coronavírus e da contaminação de seus empregados.

Não há uma lei específica sobre a exigência ou não de o trabalhador se imunizar, mas, segundo advogados entrevistados pela Reuters, a imposição é uma forma de a empresa cumprir seu papel de reduzir os riscos no local de trabalho.

E, como informado acima, desde que o governo dos Estados Unidos anunciou não haver impedimentos legais para tal medida, várias empresas passaram a colocá-la em prática.

Um dos casos de exigência de vacina mais conhecidos no país ocorreu em 1905, quando a Suprema Corte permitiu que órgãos de saúde do estado de Massachusetts pudessem exigir a vacinação contra a varíola de toda a população local se considerassem isso “necessário para a saúde ou segurança pública”. Um pastor que se negou a receber a proteção foi condenado criminalmente e multado.

O tribunal entendeu que “o princípio de liberdade individual não é absoluto em face do bem comum e que a liberdade real para todos depende da restrição de exercícios individuais de liberdade que prejudicam os outros”.

E, ainda sobre os Estados Unidos, desde os anos 1980, os 50 estados exigem vacinas de crianças em idade escolar – há exceções, como motivos médicos e religiosos.

Médico fez novos posts após ser procurado pelo Comprova

Francisco Eduardo Cardoso Alves é especialista em Infectologia pelo Instituto Emílio Ribas e diretor-presidente da Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdência Social (ANMP). Defensor do “tratamento precoce” com medicamentos que não possuem eficácia comprovada contra a covid-19, foi ouvido pela CPI da Pandemia, onde defendeu a prática, em junho deste ano.

Procurado pelo Comprova, afirmou que a intenção do post foi “mostrar que as principais empresas/atores envolvidos nas ‘decisões científicas’ sobre a covid-19 no Ocidente não obrigam coercitivamente a vacinação dos seus funcionários, como alguns políticos e empresas, absurdamente, estão tentando fazer aqui (Brasil)”. Ele não citou exemplos sobre os quais está se referindo.

Acrescentou acreditar que o uso de outras medidas, como testagem frequente, distanciamento e uso de máscaras, são cabíveis e “deveriam servir de exemplo aos gestores de alguns municípios brasileiros”.

Defendeu, ainda, que, se o objetivo fosse a saúde da população, os gestores estariam incentivando, e não forçando, a vacina no Brasil, associada às demais medidas, “e não proibindo pessoas de terem empregos ou irem a restaurantes por não terem vacinas, mas permitindo transporte público sem essa exigência, dentre outras contradições”.

Sobre a afirmação relacionada ao diretor-executivo da Pfizer, declarou que, após o contato do Comprova, fez a verificação da reportagem e constatou que o conteúdo é antigo. “Portanto, irei retificá-la no que concerne ao CEO já ter se vacinado. Mas parece que agora duas doses não servirão mais em Israel, a ver…”

Em seguida, o médico adicionou dois tuítes ao fio, afirmando precisar fazer uma correção e esclarecendo que a reportagem compartilhada está defasada. “Consta no perfil, do CEO da Pfizer que ele tomou as duas doses em março de 21. De fato ele não entrou em Israel pois não tinha as duas doses ainda”, postou.

O autor manteve, contudo, a afirmação de que as empresas e órgãos listados não exigem vacina obrigatória, mas esclarecendo que a J&J passará a fazer a exigência a partir de 4 de outubro. Explicou também que, embora não exijam, as demais adotam medidas como testagem frequente, uso de máscaras e distanciamento.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Projeto Comprova checa conteúdos de redes sociais sobre políticas públicas do governo federal, eleições e a pandemia que alcancem uma grande viralização. No caso do conteúdo aqui verificado, foram 7,7 mil interações no Twitter, entre comentários, curtidas e compartilhamentos.

Conteúdos enganosos e desmotivadores sobre vacinas são perigosos porque diminuem a confiança da população nos imunizantes e enfraquecem os esforços de imunização, que são a principal estratégia para controlar a pandemia e salvar vidas, aliados ao distanciamento social, higienização constante das mãos e uso de máscaras.

Apenas em agosto, o Comprova já informou que médico americano engana ao dizer que vacinas “enlouquecem” sistema imunológico e agravam covid-19; que site antivacina inventou dado sobre efeito colateral em crianças imunizadas com Pfizer; que, ao contrário do que diz médico, vacinas são eficazes contra variante delta; e que médica engana ao dizer que vacinas contra covid são experimentais.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Eleições

Investigado por: 2021-09-03

Vídeo em que ex-deputado critica Lei da Ficha Limpa é tirado de contexto para sugerir manipulação eleitoral

  • Enganoso
Enganoso
Vídeo gravado por uma apoiadora de Jair Bolsonaro engana ao afirmar que ministros do STF teriam poder de manipular o resultado eleitoral. A mulher sustenta sua alegação em uma fala do ex-deputado Wadih Damous tirada de contexto no qual ele criticava a Lei da Ficha Limpa e a Operação Lava Jato e não se referia ao processo eleitoral.
  • Conteúdo verificado: Vídeo no qual uma mulher alega que um ex-deputado petista estaria confessando um acordo com um ministro do STF para manipular o resultado das eleições por meio de fraude nas urnas eletrônicas.

Uma apoiadora do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) gravou um vídeo no qual tira de contexto uma fala do ex-deputado Wadih Damous (PT) para sugerir uma conspiração eleitoral envolvendo o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na gravação, de 2018, o petista critica a Lei da Ficha Limpa, que torna inelegível o candidato que tenha uma condenação em segunda instância. No entanto, a autora do vídeo não reproduz essa explicação. Com isso, ela sugere que o ex-deputado estaria confessando um acordo com Gilmar Mendes para manipular o resultado da eleição. Essa ideia é reforçada quando ela questiona “E aí, você tem alguma dúvida do que eles fazem com as urnas eletrônicas?”

A autora do vídeo foi procurada, mas não retornou até a publicação. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.

Como verificamos?

O primeiro passo foi buscar a íntegra do vídeo para saber se o seu contexto original foi preservado. Como o Comprova reconheceu o ex-deputado que aparece no vídeo como sendo Wadih Damous (PT), foi feita uma busca no Google com as palavras-chave citadas no vídeo, como “Wadih Damous”, “Gilmar Mendes” e o advogado “Tacla Durán”. Isso permitiu encontrar links na imprensa (O Antagonista e Jovem Pan) com o vídeo completo.

Consultamos os dados sobre a atuação de Damous no site da Câmara dos Deputados e no site de divulgação de candidaturas e contas eleitorais da Justiça Eleitoral, o DivulgaCandContas.

Em seguida, foram consultadas matérias na imprensa para saber a relação dos personagens citados com o tema debatido e o contexto em que a fala foi dita.

Por fim, procuramos uma forma de contato com a autora do vídeo em suas redes sociais, mas não encontramos. Então fizemos a solicitação de um posicionamento por meio do PRTB, partido pelo qual ela disputou a eleição em 2020.

Verificação

Ex-deputado criticou Lei da Ficha Limpa

O vídeo foi publicado pelo portal O Antagonista em 22 de abril de 2018. Nele, o ex-deputado Wadih Damous faz críticas à Lei da Ficha Limpa e à atuação de procuradores da Lava Jato.

Um pequeno trecho no começo mostra o deputado dizendo: “O PT embarcou nessa onda moralista desde lá de trás. O que é a Lei da Ficha Limpa? A Lei da Ficha Limpa significa dizer o seguinte: ‘O povo não sabe escolher, quem sabe escolher é o Poder Judiciário. O povo é burro, o povo só escolhe corrupto e bandido’”.

Esse trecho foi recortado do vídeo checado. Com isso, este conteúdo se torna enganoso porque não permite compreender o sentido original da fala do deputado petista. Embora ele criticasse uma lei específica, a autora do vídeo checado questiona se “você tem alguma dúvida do que eles fazem com as urnas eletrônicas?”, como se o deputado estivesse falando de alguma ingerência do Judiciário na integridade da votação e no resultado da eleição.

Damous criticava a Lei da Ficha Limpa, de 2010. Ela foi criada a partir de uma iniciativa popular do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) que, entre outros pontos, tornou inelegíveis os candidatos que tenham condenação por um órgão colegiado. Isso impossibilitava a pretensão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de se candidatar nas eleições de 2018 – ele realmente ficou impedido de concorrer naquele ano.

| Fonte: Palácio do Planalto

Damous é ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ). Ele concorreu a uma vaga na Câmara dos Deputados, em 2014, pelo PT. Não teve votos suficientes para ser eleito e ficou na fila de suplentes. Assumiu o mandato como suplente em três ocasiões entre 2015 e 2016, até que foi efetivado no cargo em dezembro de 2016, quando o titular da vaga, Luciano Horta, renunciou para assumir a prefeitura de Maricá (RJ).

O ex-deputado é crítico à possibilidade de prisão de condenados em segunda instância – caso de Lula à época. Na Câmara, apresentou um projeto de lei que reforçava a possibilidade de prisão unicamente após condenação em todas as instâncias cabíveis, alegando a presunção de inocência.

A autora também não dá informações importantes, como a data de divulgação do vídeo. Assim, quem assistir pode pensar que o vídeo é atual.

Ex-deputado faz referência à Lava Jato

Em certo momento do vídeo, Damous cita um encontro com Gilmar Mendes. Sem o contexto original, isso reforça a ideia – passada pela autora do vídeo checado – de que o Supremo Tribunal Federal poderia manipular o resultado das eleições. No entanto, quem aplica as leis para a administração do processo eleitoral é o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Embora parte dos seus integrantes seja do STF – dos sete ministros, três são provenientes de lá –, Gilmar Mendes não faz parte da atual composição deste Tribunal.

Damous afirma ter se encontrado com o ministro Gilmar Mendes para “levar as denúncias do Tacla Durán” e que ele vai “colocar a boca no trombone”. “O Gilmar, hoje, é nosso aliado. Amanhã, volta a ser inimigo, mas hoje é aliado”, disse o ex-deputado, referindo-se a um embate envolvendo a Lava Jato.

Tacla Durán é um advogado apontado por procuradores da Lava Jato como um dos operadores de propinas da Odebrecht. Eles afirmam que o escritório de advocacia dele teria recebido dinheiro das empresas investigadas. Durán chegou a ser preso na Espanha, em 2019, mas a prisão foi revogada. Ele não foi extraditado por possuir dupla cidadania.

Durán é um crítico da Lava Jato e do juiz Sergio Moro. Ele já disse ter pago dinheiro a um juiz amigo de Moro para ajudá-lo a obter vantagens em um processo de delação. A Procuradoria-Geral da República investigou e arquivou o caso, em 2018, afirmando que não encontrou provas dos ilícitos citados.

Gilmar Mendes também já fez duras críticas à operação Lava Jato e às forças-tarefas estaduais que a conduziram, especialmente a de Curitiba. Mais recentemente, durante a votação da suspeição de Moro, Mendes votou para reconhecer a parcialidade do ex-juiz federal. Em seu voto, chegou a citar Tacla Durán, lembrando que a Interpol retirou o advogado da sua lista de procurados ao reconhecer a possível parcialidade de Moro.

Em 2020, circulou na imprensa a notícia de que a Procuradoria-Geral da República estaria estudando reabrir o processo de delação premiada de Tacla Durán. A mudança ocorreu meses após Moro abandonar o governo federal. O atual PGR, Augusto Aras, nomeado por Bolsonaro, enfrentou de frente os procuradores nos estados e conduziu um processo que acabou com o modelo de forças-tarefas da operação. Até a publicação desta checagem, não havia confirmação da delação.

A autora do post

O vídeo descontextualizado foi publicado no canal do YouTube de Val Paschoalini. Em outra rede social, ela se diz “100% Bolsonaro”. Suas postagens vão ao encontro das bandeiras defendidas pelo presidente. Ela faz posts com ataques ao STF e defende o voto impresso, uma pauta que o presidente utilizou para atacar o processo eleitoral em meio a sua perda de popularidade. Desde sua implementação, em 1996, as urnas eletrônicas não tiveram nenhuma fraude comprovada.

O Comprova não conseguiu entrar em contato com Val porque ela não possui nenhuma informação desse tipo nas redes sociais. Pedimos um contato por meio da página do PRTB de São Bernardo do Campo, partido e cidade pelos quais ela concorreu à câmara de vereadores em 2020, mas não obtivemos retorno.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia ou sobre políticas públicas do governo federal e eleições. Só checamos posts que tenham chegado a um grande número de pessoas. O vídeo verificado foi visualizado ao menos 74 mil vezes no YouTube e recebeu ao menos 4 mil compartilhamentos no Facebook, segundo a ferramenta de monitoramento de redes CrowdTangle.

Conteúdos enganosos sobre as eleições representam supressão do direito ao voto porque desencorajam os cidadãos de participarem do processo democrático. O Comprova já mostrou ser falso que um inquérito da PF investigasse fraude no processo de votação. Também verificamos que são falsas as alegações de fraude na eleição de 2014 feitas por Naomi Yamaguchi em um vídeo.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Política

Investigado por: 2021-09-03

Minirreforma não tiraria direitos de todos os trabalhadores como dá a entender vídeo no TikTok

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso vídeo no TikTok afirmando que a medida provisória sobre a minirreforma trabalhista, derrotada nesta semana no Senado, tiraria direitos de todos os trabalhadores. Segundo texto aprovado na Câmara, ela eliminaria benefícios nos três formatos de trabalho que cria e de empregados via CLT em casos específicos.
  • Conteúdo verificado: Vídeo no TikTok afirma que a minirreforma trabalhista proposta pelo governo Bolsonaro e derrubada no dia 1º de setembro pelo Senado retiraria direitos dos trabalhadores.

Um vídeo no TikTok engana ao sugerir que direitos trabalhistas seriam eliminados em todos os tipos de contratações caso a minirreforma trabalhista fosse aprovada no Senado – na última quarta-feira (1), o texto foi derrubado pela Casa.

Originalmente, a medida provisória número 1.045, enviada ao Congresso pelo Palácio do Planalto, previa ações como pagamento do benefício emergencial e redução proporcional de jornada de trabalho e de salários por conta da pandemia, mas a medida recebeu propostas de emendas feitas por deputados. Nelas, eles criavam formas de contratação e alteravam pontos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Um dos modelos propostos era, por exemplo, o Requip (Regime de Qualificação Profissional). Voltado para jovens, desempregados e pessoas carentes, o programa previa recesso remunerado de 30 dias após um ano de trabalho, mas não incluía pagamento de 13º salário nem de FGTS.

Dessa forma, a medida eliminaria benefícios nos três formatos de trabalho que criava, em casos específicos, não retirando todos os direitos trabalhistas. Além disso, ela valeria apenas para novas contratações. Em casos de contratos via CLT normais, a MP reduziria o valor da hora extra paga para algumas profissões, como bancários, operadores de telemarketing e jornalistas.

O Ministério Público do Trabalho (MPT) havia considerado as mudanças propostas na MP como inconstitucionais – a mesma crítica foi feita por advogados ouvidos pelo Comprova.

A reportagem procurou o autor do vídeo, mas não recebeu retorno até a publicação desta checagem. Para o Comprova, enganoso é conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Como verificamos?

O Comprova buscou informações sobre a minirreforma trabalhista nos sites oficiais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal e também consultou matérias jornalísticas sobre o tema.

Além disso, conversou com dois especialistas em direito trabalhista: a advogada Fabíola Marques, doutora em direito do trabalho e professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, e com o presidente da Associação dos Advogados Trabalhistas de São Paulo (AATSP), o advogado Horácio Conde.

Por mensagem privada no TikTok, a equipe tentou contatar o autor do vídeo, mas não recebeu retorno.

Verificação

Minirreforma trabalhista

A Câmara concluiu no dia 12 de agosto a votação do projeto que ficou conhecido como minirreforma trabalhista. O texto criava modalidades de contratações e mudava normas da CLT. A medida prorrogava o programa de redução de jornada e de suspensão de contratos, alterava regras trabalhistas e criava três novas formas de acesso ao mercado de trabalho.

A origem do projeto é a medida provisória número 1045, de 2021, enviada pelo Palácio do Planalto e que previa, segundo a emenda: “pagamento do Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm); redução proporcional de jornada de trabalho e de salários; e a suspensão temporária do contrato de trabalho”. Essas seriam “medidas complementares para o enfrentamento das consequências da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus no âmbito das relações de trabalho”.

Dessa forma, originalmente, a MP criou uma rodada do programa emergencial de redução de jornadas e salários durante a pandemia, o BEm, em abril. No entanto, na votação na Câmara para sua renovação, a medida recebeu uma dezena de adendos dos deputados que instruíram novas formas de contratação e alteraram pontos da CLT.

Reportagem do Correio Braziliense afirma que a Câmara aprovou, “a toque de caixa, uma minirreforma trabalhista, contrabandeada na medida provisória enviada pelo governo para prorrogar o Benefício Emergencial (BEm) e reduzir salários e jornada de trabalho. Mas o texto saiu do Planalto com 35 artigos. Engordou na Câmara dos Deputados para 95, recheado de emendas. Nelas, foram inseridos jabutis que criaram vários regimes de contratação em que as empresas se livram de pagar o FGTS e o INSS”.

Os acréscimos ao texto original – chamados de “jabutis” – foram feitos pelo relator, o deputado federal Christino Aureo (PP-RJ). Entre as principais mudanças estavam: a criação do Requip, modalidade de trabalho sem carteira assinada, sem direitos trabalhistas e previdenciários, apenas com recebimento de bolsa e vale-transporte; criação de uma modalidade de trabalho sem direito a férias, 13º salário e FGTS; redução do pagamento de horas extras para algumas categorias com jornada reduzida, como bancários, jornalistas e operadores de telemarketing e a inclusão de condições que dificultavam a fiscalização, inclusive em casos de infrações graves, como a do trabalho análogo à escravidão.

No vídeo verificado aqui, postado no dia 23 de agosto, portanto, antes de a MP ser derrotada, o autor insinua que os direitos trabalhistas de todos os trabalhadores seriam retirados se a proposta fosse aprovada. No entanto, isso é enganoso, pois, como explicitado acima, ela eliminaria benefícios nos três formatos de trabalho que cria e de empregados via CLT em casos específicos. Além disso, ela valeria apenas para as novas contratações. Dessa forma, não atingiria aqueles que já estão prestando serviços.

Parte das medidas incluídas foi tentada pelo governo nos primeiros meses de 2020, na medida provisória do “Contrato de Trabalho Verde Amarelo”. Como ela não seria aprovada a tempo pelo Congresso e perderia validade, o governo revogou a MP em abril de 2020. Desde então, o governo trabalhava para recriar as medidas. O texto do relator teve apoio da base do governo.

Derrotada no Senado

O Senado votou na quarta-feira (1) a MP 1.045 e rejeitou o projeto que criaria novos programas trabalhistas e impôs uma derrota aos ministros Paulo Guedes (Economia) e Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência). O texto chegou ao Senado há duas semanas e recebeu quase 200 emendas.

O relator, o senador Confúcio Moura (MDB-RO), que recebeu a função na sexta-feira (27) e passou o fim de semana trabalhando no tema, chegou a retirar alterações na CLT, mantendo os novos programas de emprego. Mas a estratégia não foi suficiente. Por 47 a 27, o plenário do Senado derrubou o pacote trabalhista defendido pelos ministros.

Com a rejeição e o arquivamento da MP, segundo técnicos da Secretaria-Geral da Mesa do Senado, o Congresso deve elaborar um projeto de decreto legislativo para “modular” as relações que já foram firmadas.

Neste caso, o projeto de decreto serviria para dar segurança jurídica aos acordos já celebrados na nova fase do programa de redução de jornadas e salários ou suspensão temporária do contrato de trabalho (BEm).

Com a rejeição, o governo não poderá editar medida provisória com o mesmo teor neste ano.

Críticas

O texto votado nesta semana no Senado recebeu críticas por promover, sem discussão, mudanças permanentes na CLT. A MP divide opiniões de advogados.

Para a advogada Fabíola Marques, doutora em direito do trabalho, a medida é inconstitucional, porque viola direitos mínimos previstos constitucionalmente. “A Constituição Federal de 1988 garantiu que todos os trabalhadores urbanos e rurais tinham direitos, como salário mínimo, FGTS e 13º. Também previu que todos devem ser tratados de forma igualitária, não pode haver distinção em função do tipo de atividade. Quando essa MP cria uma classe de trabalhadores, reduzindo os direitos, ela viola um dos princípios básicos da república que é o princípio da igualdade”, explica.

De acordo com Marques, toda a sociedade seria afetada pela MP. “Por exemplo, a fiscalização do Ministério do Trabalho seria flexibilizada e permitiria muito mais possibilidade de descumprimento das regras estabelecidas, como de saúde e segurança do trabalho, porque haveria uma redução nessas observações.”

Horácio Conde, presidente da AATSP, acrescenta que “o texto criaria modelos de trabalho que, supostamente, fariam com que as empresas contratassem mais pessoas, mas que, na essência, retirariam os direitos desses trabalhadores”. “O que temos criticado é que a medida criaria subcategorias de trabalhadores com menos direitos, e que isso não traz, de fato, emprego. Grosso modo, o que cria emprego é a estabilidade política somada à estabilidade econômica.”

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos enviados por leitores que falem da pandemia, de políticas públicas ou eleições. Só checamos conteúdos que tenham atingido um alto grau de viralização. O vídeo que foi verificado teve mais de 284 mil visualizações.

O conteúdo é prejudicial por levar a interpretações erradas sobre a minirreforma que foi discutida no Congresso.

Enganoso, para o Comprova, é conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-09-03

É enganoso que recomendação do uso de máscara contra covid siga palavras de vidente e não estudos científicos

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o post de um médico no Twitter que compara o apelo de um vidente para que as pessoas não parem de usar máscara a um estudo científico que não teria sido capaz de apontar a eficácia desse tipo de proteção. O estudo em questão esperava que as máscaras reduzissem as infecções em mais de 50%, o que é considerado um percentual muito alto para estudos sobre intervenções - algo entre 15% e 30% estaria mais perto da realidade. A postagem também desconsidera outros estudos e recomendações de autoridades sanitárias do Brasil e do mundo, que defendem o uso da proteção facial.
  • Conteúdo verificado: Em mensagem no Twitter, médico compara pedido de um vidente para que as pessoas sigam usando máscara como meio de proteção contra a covid-19 com os resultados de um estudo da Dinamarca que não teria mostrado benefício para o uso de proteção facial.

É enganoso o conteúdo postado por um médico no Twitter, no qual ele sugere que não há benefício do uso comunitário de máscaras contra a covid-19. Na postagem, ele recorre ao resultado de um estudo feito em 2020 na Dinamarca, o Danmask, a fim de contrapor uma notícia em que a revista Istoé ouve um vidente. Os próprios autores do Danmask, contudo, consideram os resultados do estudo inconclusivos.

No texto publicado pela IstoÉ, o vidente conhecido como Mestre José pede que as pessoas não parem de usar máscaras e afirma que haverá o “maior caos da história” se acabar a obrigatoriedade. O médico Ricardo Ariel Zimerman, então, compartilha uma imagem com o título do texto da revista e uma foto do vidente. Ele comenta que “o maior ensaio clínico randomizado conduzido até o momento” não demonstrou “benefício com o uso comunitário de máscaras”, mas, o vidente, sim, ironiza.

O texto da IstoÉ não deixa claro se o vidente se baseia em evidências científicas ou em sua própria opinião. O estudo conduzido na Dinamarca e citado pelo médico, contudo, recebeu críticas da comunidade científica por ter falhas metodológicas e por perseguir um resultado fora da realidade – os pesquisadores esperavam que as máscaras reduzissem as infecções em 50%, mas, o especialista ouvido pelo Comprova explica que resultados são realistas quando uma intervenção produz um efeito de 15% a 30%.

Além disso, o uso de máscaras é recomendado por entidades nacionais e internacionais, como a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Ministério da Saúde.

O Comprova procurou o autor do post, mas ele não respondeu até a publicação desta reportagem.

Este conteúdo foi classificado como enganoso pelo Comprova porque usa dados imprecisos e confunde, mesmo que não tenha uma intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

Fizemos uma pesquisa no Google para saber o que era o estudo Danmask e quais as análises feitas pela comunidade científica sobre essa pesquisa. Encontramos um artigo do pesquisador do Instituto Butantan Alison Chaves, PhD em Microbiologia e Imunologia, e pedimos que ele conversasse conosco sobre o estudo e seus resultados.

Também levantamos as orientações de autoridades de saúde do Brasil e do exterior sobre o uso de máscaras, bem como procuramos a legislação brasileira sobre o enfrentamento à pandemia.

Procuramos o título da matéria que aparece no conteúdo verificado para identificar se ela era real e o que dizia o texto e, por fim, entramos em contato com o autor do post, mas não obtivemos resposta.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 3 de setembro de 2021.

Verificação

O que é o estudo Danmask?

O estudo que ficou conhecido como Danmask-19 foi um ensaio controlado randomizado feito em abril e maio de 2020 na Dinamarca por 22 pesquisadores, os autores principais. O objetivo do estudo era analisar “se a recomendação do uso de máscara cirúrgica fora de casa reduz o risco dos usuários de infecção por Sars-CoV-2 em um ambiente onde as máscaras eram incomuns e não estavam entre as medidas de saúde pública recomendadas”.

O efeito esperado pelos pesquisadores era de que o uso de máscara reduzisse as taxas de infecção pelo coronavírus em 50% entre os usuários de uma comunidade com “taxas de infecção modestas, algum grau de distanciamento social e uso incomum de máscara”.

Foram distribuídos kits com 50 máscaras cirúrgicas descartáveis de três camadas para adultos que não tinham sintomas, passavam mais de três horas por dia fora de casa e que não usavam máscara habitualmente em suas ocupações. Segundo os pesquisadores, 3.030 participantes foram designados aleatoriamente para a recomendação de usar máscaras e 2.994 foram designadas para o grupo controle, totalizando 6.024 pessoas. Destes, 4.862 completaram o estudo, sendo 2.392 pessoas com recomendação para uso de máscara e 2.470 do grupo controle.

O ensaio foi publicado em novembro de 2020 na revista científica Annals of Internal Medicine.

Quais as conclusões desse estudo?

Segundo os resultados publicados na revista científica, 95 das 4.862 pessoas que completaram o estudo foram infectadas pelo Sars-CoV-2. Destas, 42 participantes eram do grupo com recomendação do uso de máscara (1,8%) e 53 faziam parte do grupo controle (2,1%).

Os pesquisadores consideraram que, embora a diferença observada não tenha sido estatisticamente significativa, os resultados eram inconclusivos. Eles afirmam que não é possível descartar que o uso de máscara tenha reduzido o contágio em 46% das infecções ou aumentado em 23%, já que eles não mediram os efeitos do uso de máscara na origem do contágio, nem em locais onde outras medidas não estavam em vigor.

Eles também destacaram que, na época da realização do estudo, o governo dinamarquês não recomendava o uso de máscaras em outros ambientes que não os hospitalares – portanto, os participantes do estudo que usaram as máscaras estavam circulando em locais onde a grande maioria das pessoas não usavam a proteção.

Os estudiosos levaram em conta limitações para o estudo, como resultados inconclusivos, dados faltantes, adesão variável, resultados de exames relatados por pacientes a partir de testes caseiros, o fato de o estudo não ter sido cego (ou seja, os participantes sabiam em qual grupo estavam) e ausência de avaliação se as máscaras poderiam diminuir a transmissão de doenças de usuários de máscaras para outras pessoas.

Apesar dessas limitações, o estudo concluiu que “a recomendação de usar máscaras cirúrgicas para complementar outras medidas de saúde pública não reduziu a taxa de infecção de Sars-CoV-2 entre os usuários em mais de 50%”. Ou seja, há indícios de que houve uma redução, mas os resultados do ensaio não apontavam para o percentual de eficácia esperado pelos pesquisadores.

O que se fala sobre o Danmask-19?

Quando o estudo foi publicado, em novembro do ano passado, surgiram comentários na comunidade científica sobre o assunto. Em 26 de novembro, o editor-executivo do The BMJ – publicação da British Medical Association –, Kamram Abbasi, disse em um artigo que o resultado “negativo” do primeiro ensaio sobre o uso de máscaras durante a pandemia já era conhecido.

Segundo ele, antes da publicação do estudo, já se comentava nas redes sociais que os pesquisadores buscavam um periódico importante para a publicação, uma vez que muitos não estavam se mostrando “corajosos” para dar espaço ao estudo. No artigo, em que chama de “curioso” o caso do estudo dinamarquês, Abbasi afirma que os resultados não eram negativos, e sim inconclusivos. Ele acrescenta que, na verdade, apontavam para um “provável benefício do uso da máscara para o usuário”, diferentemente do que se comentava nas redes sociais.

Menos de uma semana antes, os pesquisadores Carl Heneghan e Tom Jefferson, ambos da Universidade de Oxford, publicaram um artigo na revista britânica The Spectator comentando os resultados do Danmask-19. Eles afirmaram que, no geral, havia uma “falta preocupante de evidências robustas sobre máscaras faciais e covid-19” e que estudos randomizados como o Danmask eram importantes para entender o impacto de medidas como aquela.

Também no dia 19 de novembro, o pesquisador Alison Chaves, PhD em Microbiologia e Imunologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), publicou um artigo no site do Instituto Questão de Ciência, no qual considerou como “ineficaz” o estudo dinamarquês sobre a eficácia das máscaras.

Problemas do estudo

O Comprova, então, pediu que Chaves detalhasse mais sobre as razões pelas quais acredita que o estudo seja “ineficaz”. O grande problema do Danmask-19, segundo Alison Chaves, está no que ele chama de “efeito perseguido”: a redução de 50% nas infecções a partir do uso de máscaras associado a outras medidas, como o distanciamento. Alison explica que esse percentual não é um efeito realista em estudos científicos.

“Um dos grandes problemas desse estudo especificamente é que ele persegue um efeito muito grande para um tipo de intervenção que está sendo avaliada. Independente da intervenção, quando você tem um efeito entre 20% e 30%, até 15%, é um efeito realista. Tem alguns estudos que cometeram esse mesmo tipo de gafe, que perseguiram um efeito que, no final, é uma profecia auto-irrealizável, porque você não vai alcançar”, disse, em entrevista ao Comprova por telefone.

O pesquisador também aponta outras falhas. “Ele não é cego, ou seja, as pessoas sabem da intervenção. É muito difícil conseguir medir efetivamente o desfecho porque é um estudo de recomendação, ele não mede uma métrica que você consegue detectar objetivamente. A intervenção não é um tratamento, é uma recomendação e um composto. Para dizer que houve efeito, você precisa que as pessoas tenham seguido ambas as recomendações, que é se isolar e usar máscara. E a aderência foi extremamente variável. Ele tem falhas metodológicas, de planejamento, tem limitações reais para fazer alguma conclusão”, afirma.

No tuíte aqui verificado, o autor destaca que o Danmask é o maior ensaio clínico randomizado conduzido até o momento sobre o uso de máscaras. Para Chaves, o fato de o estudo ser grande – e o trabalho dinamarquês de fato é, pelo menos em número de participantes – não o isenta de problemas.

“Existem muitos estudos enormes, como o Surgisphere, que mostrava a ausência de efeito da hidroxicloroquina em covid-19 e os dados não foram abertos e o estudo foi retratado. E aquele é, sem dúvida, um dos maiores estudos já feitos. Nem por isso ele é um estudo que tem credibilidade hoje”, exemplifica.

Apesar dos problemas apontados, para ele, o Danmask não se encaixa num tipo de estudo que precise de uma retratação. “A gente tem estudos retratados quando existem erros que geram problemas nos resultados, tem um erro aqui que muda totalmente o resultado. No caso dele, foi mais um estudo mal desenhado”, aponta.

Para o pesquisador, independente do resultado do estudo, o uso de máscaras e sua eficácia se encaixam num princípio chamado por cientistas de “plausibilidade extrema”. “Se você tem uma doença cuja transmissão é respiratória, ou seja, exige gotículas, as únicas maneiras de barrar essa transmissão são se não tiver contato ou se houver uma barreira entre as pessoas. E a máscara é uma barreira. Esse tipo de estudo não faz muito sentido existir, porque é um caso de plausibilidade extrema, (usar a máscara) é algo que vale a pena fazer, porque não há risco”, afirma.

Recomendação do uso de máscaras no Brasil

Nas orientações sobre como se proteger do novo coronavírus, o Ministério da Saúde inclui o uso de máscara em serviços de saúde e na população em geral ao lado de outras medidas preventivas como o distanciamento social e a higienização das mãos.

Sobre os serviços de saúde, a pasta lembra que o uso de máscaras deve ser uma exigência em áreas clínicas, independentemente das atividades realizadas. “Em locais de assistência a pacientes com covid-19 em que são realizados procedimentos geradores de aerossóis, recomenda-se que os profissionais da saúde usem máscaras de proteção respiratória (padrão N95 ou PFF2 ou PFF3, ou equivalente), bem como demais equipamentos de proteção individual”, diz.

No caso da população, o Ministério da Saúde diz que o uso de máscara facial, inclusive a feita de tecido, é “fortemente recomendado” em ambientes coletivos “em especial no transporte público e em eventos e reuniões, como forma de proteção individual, reduzindo o risco potencial de exposição do vírus especialmente de indivíduos assintomáticos”. No caso de pessoas sintomáticas, o governo recomenda o uso específico de máscaras cirúrgicas, para controlar a fonte de transmissão.

A recomendação da pasta afirma ainda que as máscaras não devem ser usadas por crianças menores de 2 anos ou “pessoas que tenham dificuldade para respirar, estejam inconscientes, incapacitadas ou que tenham dificuldade de remover a máscara sem ajuda”. A orientação também é para que se lave a mão antes de colocar a proteção e que ela cubra o nariz e a boca, além de estar presa ao queixo.

No Brasil, a lei federal 14.019, de 2 de julho de 2020, permitiu que as autoridades de saúde federal, estadual e municipal exigissem a obrigação do uso de máscara para combater a emergência sanitária provocada pela covid-19. São citadas especificamente vias públicas; transportes públicos como táxis, ônibus, aeronaves e embarcações; estabelecimentos comerciais e industriais; templos religiosos; estabelecimentos de ensino e demais locais fechados em que haja reunião de pessoas.

Base científica para o uso de máscaras

A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), braço da OMS para as Américas, publicou desde abril de 2020 orientações sobre o uso de máscara para o enfrentamento do Sars-CoV-2. A última orientação foi feita em 1º de dezembro do ano passado e traz uma série de evidências sobre o papel que a proteção facial pode ter na prevenção do vírus.

A OMS analisou 43 estudos e metanálises (quando mais de uma pesquisa é comparada) sobre o efeito do uso protetor de máscaras na comunidade. A entidade reconhece que “são limitadas e variáveis” as evidências científicas sobre o uso de máscaras por pessoas saudáveis como prevenção à infecção por vírus respiratórios. Mas seis desses estudos apontaram uma redução no risco de infecção pelo Sars-CoV-2. Outros 18 sinalizam para uma diminuição no número de casos de covid-19 associada ao uso de máscara pelo público.

Seis apontam para evidências limitadas de que a máscara cirúrgica possa prevenir a infecção caso a pessoa compartilhe o mesmo domicílio de um paciente contaminado ou participe de eventos de massa em que há pessoas infectadas.

Por isso, as orientações são para o uso de máscaras em locais públicos fechados, com pouca ventilação ou que não seja possível manter o distanciamento; em ambientes domésticos internos quando houver visita que não resida no local; em ambientes externos ventilados em que não seja possível manter o distanciamento ou que tenham pessoas de grupo de risco.

No caso do Brasil, a Fiocruz divulgou o resultado de um estudo que reforça o papel das máscaras. Eles analisaram 45 proteções faciais (30 de tecido com duas camadas e 15 cirúrgicas) usadas por 28 pacientes com infecção confirmada para o Sars-CoV-2. Eles utilizaram essas máscaras por um período contínuo de duas a três horas, em situações da vida real. Os testes apontaram a presença do vírus apenas na camada interna das máscaras, indicando que elas podem barrar a transmissão da doença.

Matéria da IstoÉ é real

A matéria com o título “Vidente prevê ‘maior caos da história’, caso acabe obrigatoriedade do uso de máscaras” é real. Foi publicada no site da revista IstoÉ no dia 25 de agosto de 2021. Nela, o tarólogo Mestre José, que a revista diz ter ficado conhecido como “vidente dos famosos”, faz um apelo que as pessoas não parem de usar máscaras mesmo após o presidente Jair Bolsonaro ter anunciado que pediria ao Ministério da Saúde para avaliar o fim do uso obrigatório do equipamento como medida de proteção contra a covid-19.

O autor

Ricardo Ariel Zimerman é médico registrado no Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul. A especialidade dele é a infectologia. Ele é defensor do “tratamento precoce” contra a covid-19 e um vídeo em que fala sobre o tema já foi classificado como enganoso pelo Estadão Verifica.

Zimerman foi ouvido pela CPI da Pandemia do Senado no dia 18 de junho de 2021, ao lado do médico Francisco Eduardo Cardoso Alves, em uma audiência pública. Durante a sua fala na comissão, defendeu uso de hidroxicloroquina e ivermectina, dois medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que tenham atingido alto grau de viralização. A desinformação sobre a covid-19 é ainda mais grave porque pode levar pessoas a não se protegerem de maneira adequada ou a recusarem medidas de prevenção ao vírus. As postagens verificadas aqui tiveram 4,5 mil interações no Twitter e 8,9 mil curtidas no Instagram.

Desde o início da pandemia, o Comprova já mostrou o uso de estudos com falhas para alegar que máscaras são ineficazes contra a covid-19; que um estudo recomenda o uso de máscara contra o novo coronavírus, ao contrário do que sugere deputada; que um médico tirou de contexto dados de um estudo para sugerir que as máscaras não são eficazes; e que é falso que máscaras causem acúmulo de líquido nos pulmões e intoxicação.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Eleições

Investigado por: 2021-09-02

É montagem vídeo em que Reinaldo Azevedo aparece fazendo duras críticas ‘na cara’ de Lula

  • Falso
Falso
É falso vídeo publicado no TikTok no qual aparecem o jornalista Reinaldo Azevedo e o ex-presidente Lula. As imagens foram editadas para dar a impressão de ser uma entrevista recente, mas pertencem a momentos diferentes. O trecho que mostra Lula é de uma conversa entre os dois ocorrida em abril deste ano, mas o que apresenta a fala do jornalista foi gravado em 2017.
  • Conteúdo verificado: Vídeo no TikTok traz Reinaldo Azevedo, do lado esquerdo, fazendo duras críticas a Lula e ao Partido dos Trabalhadores (PT) e o ex-presidente em silêncio do lado direito. Uma legenda sobre as imagens diz “a verdade sendo dita na cara do maior ladrão da história”. Embaixo, outra frase afirma se tratar de uma entrevista do programa “O É da Coisa Especial”, da Rádio BandNews FM. Na descrição, o autor da postagem utiliza hashtags a favor da reeleição de Bolsonaro (sem partido) e contra a esquerda.

É montagem um vídeo publicado no TikTok que apresenta o jornalista Reinaldo Azevedo fazendo duras críticas a Luiz Inácio Lula da Silva e ao Partido dos Trabalhadores (PT), enquanto o ex-presidente permanece em silêncio na tela ao lado.

O jornalista, procurado pelo Comprova, confirmou que o conteúdo é falso e que apresenta imagens de dois momentos distintos: a primeira de uma fala dele criticando Lula em 2017 e, a segunda, do presidente Lula durante uma entrevista concedida a ele em 2021. A assessoria de Lula também informou que o vídeo não é verdadeiro.

O tempo decorrido de quatro anos entre os dois vídeos utilizados na montagem foi verificado pela reportagem, que localizou os dois conteúdos publicados na conta da Rádio BandNews FM no YouTube, um em julho de 2017 e o outro em abril de 2021.

O autor da postagem no TikTok foi procurado, mas não respondeu.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

O Comprova analisou o vídeo publicado no TikTok e, com a utilização da ferramenta de buscas do Google, pesquisou se Lula havia concedido entrevista a Reinaldo Azevedo, localizando o conteúdo de abril de 2021 no YouTube.

A partir dele, foram comparadas as imagens do ex-presidente e comprovado, por meio da roupa, do cenário e de gestos, que esta entrevista foi utilizada na montagem.

As imagens do jornalista, contudo, não eram as mesmas da entrevista. O Comprova localizou, também no YouTube, a gravação original, que é de um trecho de programa de rádio veiculado em julho de 2017.

A reportagem entrou em contato com o jornalista e com a assessoria do ex-presidente, que confirmaram ser falso o vídeo postado no TikTok. Também procurou o responsável pela publicação do conteúdo, mas não recebeu resposta.

Verificação

Vídeo no TikTok mistura imagens de 2017 e 2021

A montagem do vídeo, de um minuto e vinte e cinco segundos, apresenta Reinaldo Azevedo do lado esquerdo, fazendo duras críticas ao governo de Lula e ao PT, e o ex-presidente do lado direito, em silêncio, durante um trecho e, sorrindo, em outro.

A fala de Azevedo, contudo, foi retirada de outro vídeo, este de sete minutos e dezoito segundos e postado há quatro anos, em 6 de julho de 2017, no canal Rádio BandNews FM no YouTube. O trecho utilizado na montagem inicia aos cinco minutos e vinte e dois segundos.

Na ocasião, o jornalista comentava uma fala do ex-presidente criticando o governo de Michel Temer (MDB) durante entrevista concedida um dia antes à Rádio Arapuan, da Paraíba.

Já as imagens de Lula que aparecem na montagem são de uma entrevista concedida pelo ex-presidente ao jornalista no programa “O É da Coisa Especial”, mas em 1º de abril deste ano. O vídeo tem duração de uma hora, vinte e cinco minutos e trinta e dois segundos e também está disponível no canal da Rádio BandNews FM no YouTube.

É possível associar claramente as imagens de Lula na entrevista de 2021 com as utilizadas na montagem junto ao vídeo de 2017, tanto pelas roupas e gestos dele, quanto pelo cenário.

 

| Captura de tela realizada pelo Comprova no dia 01/09/2021 a partir da montagem publicada no TikTok.

| Captura de tela feita pelo Comprova no dia 01/09/2021 a partir do vídeo original publicado no YouYube.

O tom adotado pelo jornalista durante a conversa em 2021 não é o mesmo de 2017, sendo inclusive descontraído, com direito a uma imitação de Lula. Azevedo também pergunta ao ex-presidente se a imitação dele é boa.

No dia seguinte à entrevista, o jornalista também publicou o vídeo em sua coluna no Uol com o título: “‘Histórica?’ Acho que sim!” e comentando que “Vale a pena assistir. O resultado parece muito bom, concorde-se ou não com o ex-presidente…”.

Conteúdo falso

O Comprova procurou o jornalista por e-mail, questionando se o vídeo postado no TikTok era verdadeiro, além de outras informações sobre o assunto. Ele respondeu se tratar de conteúdo falso e confirmou que a crítica ao PT foi feita por ele em 2017, acrescentando ter entrevistado Lula no dia 1° de abril de 2021. “Editaram os dois momentos, com intervalo de quatro anos, como se eu estivesse dizendo aquilo a Lula durante a entrevista”, declarou.

A assessoria de Lula também afirmou que o vídeo é falso, alegando que o ex-presidente é alvo de um ataque de desinformação inspirado pelo presidente Jair Bolsonaro: “Infelizmente grupos de apoiadores de Bolsonaro têm, inspirados por ele, divulgado mentiras sobre uma série de assuntos com objetivos políticos, até atrapalhando o enfrentamento da pandemia. Lamentamos tais práticas que devem ser coibidas e responsabilizadas pelas plataformas de redes sociais e autoridades competentes”.

Autor da postagem

O vídeo foi postado no TikTok no dia 13 de agosto pela conta @rogeriocpf, que possui como descrição o lema “Brasil acima de tudo! Deus acima de Todos!”, utilizado pelo presidente Bolsonaro, além da frase “Deus e Família, a base de tudo!”. A conta é destinada a conteúdos defendendo o presidente e críticas a Lula e ao PT.

Em um trecho do conteúdo é possível verificar uma espécie de assinatura de outra conta: @canal_patriota. O Comprova procurou por este usuário no próprio TikTok, encontrando-o e localizando a publicação da mesma montagem no dia 9 de agosto, mas sem a legenda “a verdade sendo dita na cara do maior ladrão da história”.

A conta, que tem número bem menor de seguidores, foi procurada por meio de comentário no vídeo, já que a caixa de mensagens é fechada para não seguidores, mas o Comprova não recebeu retorno até esta publicação. O mesmo aconteceu com o autor do post aqui verificado, procurado por mensagem privada em duas ocasiões.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, pandemia de covid-19 e eleições que tenham atingido alto grau de viralização, como o caso do vídeo manipulado e postado no TikTok, que envolve o nome de um presidenciável. O conteúdo teve mais de 22 mil curtidas e 15 mil compartilhamentos na plataforma.

Com a aproximação das eleições de 2022, cresce o número de informações falsas e enganosas circulando nas redes sociais com o intuito de confundir o eleitor.

O Comprova vem publicando diversas verificações referentes ao assunto, como a que esclareceu que o inquérito da PF não investiga fraude no processo de votação, que pesquisa antiga foi usada para sugerir que Bolsonaro é aprovado por metade da população e que vídeos enganam ao atribuir obra no RN apenas à gestão de Bolsonaro, ao dizer que se trata de Lula em quadra poliesportiva e que o STF quer barrar cristãos na política.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2021-08-31

Estudo não traz evidências que comprovem eficácia da hidroxicloroquina na prevenção à covid-19

  • Enganoso
Enganoso
Um post na plataforma Substack engana ao afirmar que estudo norte-americano coloca a hidroxicloroquina no mais alto nível de evidência científica como substância para prevenção da covid-19. A metanálise não atesta isso, apenas sugere, e orienta que ensaios clínicos randomizados sejam conduzidos sobre o assunto. Além disso, especialistas ouvidos pelo Comprova alertaram para a baixa relevância científica do estudo.
  • Conteúdo verificado: Postagem no Substack, uma plataforma para publicação de boletins informativos (newsletters), afirma que estudo científico norte-americano, revisado por pares e publicado em “prestigiado periódico científico”, coloca a hidroxicloroquina no mais alto nível de evidência científica como substância para prevenção da covid-19.

É enganoso um post feito na plataforma Substack afirmando que uma meta-análise norte-americana revisada por pares e publicada em um periódico científico coloca a hidroxicloroquina no mais alto nível de evidência científica como substância para prevenção da covid-19. O artigo, na verdade, é de baixa relevância científica, segundo explicaram dois especialistas ouvidos pelo Comprova: o médico infectologista Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), e o virologista e coordenador do curso de Biomedicina do Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação (IBMR), Raphael Rangel.

A pesquisa também não comprova a eficácia do medicamento enquanto “tratamento precoce” para a covid-19, mas “sugere que a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) HCQ (hidroxicloroquina) semanal é segura e eficaz na prevenção da doença em um grupo de profissionais de saúde de alto risco”. A Profilaxia Pré-Exposição é o procedimento de saúde usado antes da exposição a um patógeno capaz de provocar uma doença.

O artigo analisou 11 pesquisas de caráter observacional com profissionais de saúde da Índia e o método de seleção dos estudos foi descrito de forma vaga. Conforme as diretrizes metodológicas para estudos observacionais do Ministério da Saúde, os principais problemas das meta-análises deste tipo de pesquisa são decorrentes das limitações do delineamento dos estudos primários (coortes e caso-controles). Basicamente, a presença de variáveis de confusão, ausentes ou controladas em ensaios clínicos randomizados, pode gerar medidas de associação enviesadas nos estudos observacionais.

Não foram levantados dados de estudo clínico randomizado controlado, conhecido pela sigla em inglês RCT. Neste tipo de estudo, os pacientes são separados em dois grupos de forma aleatória. Um deles recebe o tratamento a ser testado, enquanto o outro recebe o placebo. Nenhum paciente sabe qual recebeu para evitar influência nos resultados. Esse estudo é considerado o padrão-ouro para determinação de eficácia de um medicamento ou vacinas.

Procurados, os autores do estudo não responderam ao Comprova. A reportagem também entrou em contato com o autor da postagem, Filipe Rafaeli. Ele defendeu a pesquisa e afirmou já ter sido procurado anteriormente pelo Estadão Verifica. Conforme a publicação, ele ameaçou processar o autor da checagem.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.

Como verificamos?

A partir da postagem no Substack, o Comprova verificou o conteúdo do texto compartilhado e chegou ao estudo, que foi conduzido por Raphael B. Stricker e Melissa C. Fesler, dois médicos de um grupo privado de São Francisco, nos Estados Unidos, chamado Union Square Medical Associates.

Acessamos checagens e estudos anteriormente publicados sobre o uso da hidroxicloroquina no tratamento contra a covid-19. Também conversamos com dois especialistas sobre a análise publicada e consultamos as recomendações das principais agências reguladoras do mundo e da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Por fim, tentamos conversar com os autores do estudo e falamos com Filipe Rafaeli, responsável pela publicação no Substack.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 31 de agosto de 2021.

Verificação

Estudo não garante a eficácia da cloroquina

A pesquisa “Profilaxia pré-exposição de hidroxicloroquina para covid-19 em profissionais de saúde da Índia: uma meta-análise” foi publicada no Journal of Infection and Public Health, que possui Fator de Impacto 3.718, um método bibliométrico para avaliar a importância de periódicos científicos em suas respectivas áreas. A partir disso, está classificado na 60ª posição entre 203 revistas especializadas em saúde pública, ambiental e ocupacional.

O estudo foi conduzido por Raphael B. Stricker e Melissa C. Fesler, revisado por pares e indexado em outras plataformas médicas.

Foram analisadas 11 pesquisas de caráter observacional com profissionais de saúde da Índia e o método de seleção dos estudos foi descrito de forma vaga em apenas um parágrafo. Os autores afirmam terem utilizado mecanismos de busca da internet para identificar os estudos de caso-controle que envolveram 7.616 profissionais de saúde de alto risco testados para infecção por Sars-CoV-2 após Profilaxia Pré-Exposição com hidroxicloroquina semanal ou após nenhum tratamento.

Não foram levantados dados de estudo clínico randomizado controlado considerado bastante eficaz para testar se um medicamento funciona ou não, conforme explica essa reportagem da Superinteressante.

No texto publicado, Filipe Rafaeli afirma que a meta-análise colocou a hidroxicloroquina para prevenção da covid-19 no mais alto nível de evidência científica. A afirmação, contudo, contradiz a própria pesquisa, que não atesta a eficácia da hidroxicloroquina enquanto “tratamento precoce”, mas “sugere que a PrEP HCQ semanal é segura e eficaz na prevenção de covid-19 em um grupo de profissionais de saúde de alto risco”.

Os autores reconhecem, por exemplo, que os estudos de coorte selecionados têm limitações em termos de desenho retrospectivo, ou seja, a análise antes da exposição, quando se olha para o passado dos pacientes para a identificação de quem sofreu a exposição, e de homogeneidade. Acrescentam serem necessárias as conduções de ensaios clínicos randomizados para avaliar a utilização da substância como método de prevenção para covid-19.

A meta-análise, que é um método estatístico para agregar os resultados de dois ou mais estudos independentes sobre uma mesma questão de pesquisa, combinando os resultados em uma medida sumária, também destaca ser importante reconhecer que os estudos utilizados excluíram a profilaxia pós-exposição (PEP) com hidroxicloroquina ou o tratamento de indivíduos que foram infectados com SARS-CoV-2, ou seja, a administração de medicamentos com o intuito de tratar a doença já adquirida.

Especialistas apontam falhas

O Comprova pediu a dois especialistas que fizessem a análise do estudo e ambos apontaram problemas no artigo. O médico infectologista Leonardo Weissmann, da SBI, destaca que os autores do artigo não se esqueceram de falar em “preconceito” contra a hidroxicloroquina, mas deixaram de lado regras básicas de metodologia para a realização de uma revisão sistemática e meta-análise.

Os autores defendem, ao longo do texto, que a hidroxicloroquina “foi atacada e rejeitada com base em estudos falhos e controvérsias políticas que obscureceram o valor deste tratamento como profilaxia”.

Segundo o especialista, não há um objetivo definido de estudo, não foi citada a estratégia de busca dos artigos, com critérios de inclusão e exclusão, não se sabe se os autores avaliaram a qualidade dos estudos utilizados, pois nada foi descrito a respeito, e não existe um padrão definido para a extração de dados. “Como afirmar que não há vieses? Impossível!”, declara.

Conforme Leonardo, diante disso, não há como avaliar os achados da meta-análise com qualquer credibilidade, nem aplicá-los na prática diária. “Ainda usam ‘vacina’ como palavra-chave do estudo, sendo que o texto não tem nenhuma relação com imunização”, comentou.

O virologista Raphael Rangel tem opinião semelhante. “O artigo se trata de uma meta-análise com estudos observacionais, então os dados podem estar muito enviesados. Além disso, não é um estudo duplo-cego randomizado, portanto não há como medir de fato se houve uma eficiência de medicamento ou não. Outro fator é que esses resultados foram publicados em revistas de pouquíssima expressão”, disse, referindo-se às análises observacionais.

No estudo duplo-cego randomizado um grupo de interesse faz uso da terapia e é acompanhado por um grupo-controle, que não faz o uso da terapia. Já o estudo observacional de coorte se propõe a observar, em uma população previamente definida, qual será a incidência de determinada doença ou fenômeno relacionado à saúde ou doença.

Rangel destacou haver estudos aprofundados e publicados em revistas científicas de renome, como The Lancet e New England Journal Of Medicine, demonstrando que a hidroxicloroquina não tem nenhuma eficácia, nem voltada à pré-exposição e nem à pós-exposição. “Precisamos superar isso, já passou. Temos vacina, precisamos vacinar e é só com a vacina e com a utilização de máscaras mais eficazes que vamos sair dessa pandemia”, defende.

Autor se envolveu em polêmica científica

Conforme explicou o Estadão Verifica, que fez a checagem do mesmo conteúdo, um dos principais autores do estudo citado pelo blog, Raphael B. Stricker, se envolveu em uma polêmica em 1993, quando foi acusado de “má conduta científica” ao longo de outra pesquisa.

À época, uma investigação da Universidade da Califórnia em São Francisco apontou que o cientista teria falsificado dados enquanto pesquisava sobre Aids, suprimindo seletivamente aqueles que não sustentavam sua hipótese, e relatando dados consistentemente positivos, enquanto apenas um em quatro experimentos produziu resultados positivos. Na ocasião, a pesquisa afirmou que anticorpos para Aids eram encontrados apenas em homens homossexuais.

Stricker afirmou ao Estadão que as “alegações de 30 anos atrás são espúrias”. Ele não respondeu ao contato do Comprova.

Em relação a Melissa C. Fesler, não foram localizados artigos sobre doenças respiratórias até a pandemia, quando passou a fazê-los junto a Stricker, segundo dados do Research Gate.

Órgãos de regulação não recomendam o uso de hidroxicloroquina

Conforme o Comprova já mostrou anteriormente, o Grupo de Desenvolvimento de Diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), formado por especialistas de todo o mundo, concluiu em março deste ano que a hidroxicloroquina não deve ser usada para tratar a covid-19 de forma precoce.

| Fonte: Drugs to prevent COVID-19: A WHO living guideline (captura de tela feita em 31 de agosto de 2021)

Os especialistas realizaram seis ensaios clínicos randomizados, dos quais participaram 6 mil pessoas e o estudo mostrou que “a hidroxicloroquina não teve efeito significativo na morte e admissão ao hospital, enquanto a evidência de certeza moderada mostrou que a hidroxicloroquina não teve efeito significativo na infecção por covid-19 confirmada em laboratório e provavelmente aumentava o risco de efeitos adversos”. A pesquisa completa foi publicada no BMJ. No Brasil, o ensaio clínico Solidariedade (Solidarity) foi conduzido pela Fiocruz.

| Fonte: https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/advice-for-public/myth-busters#chloroquine

A OMS interrompeu os ensaios clínicos com hidroxicloroquina como tratamento para covid-19 após o Solidariedade, um estudo do grupo colaborativo Recovery, do Reino Unido, e uma revisão da Cochrane evidenciarem que a hidroxicloroquina não reduziu as mortes entre pacientes com covid-19 hospitalizados.

Em agosto deste ano, a OMS anunciou a próxima fase do estudo Solidariedade: o Solidariedade PLUS, que envolverá pacientes hospitalizados para testar três novos medicamentos em pacientes hospitalizados com covid-19: artesunato, imatinibe e infliximabe. O primeiro é usado para malária grave; o segundo para certos tipos de câncer; e o terceiro para doenças do sistema imunológico.

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) também anunciou que os medicamentos não mostraram quaisquer efeitos benéficos no tratamento em grandes ensaios clínicos randomizados e alertando que a cloroquina e a hidroxicloroquina podem causar certos efeitos colaterais, incluindo problemas de ritmo cardíaco.

O risco desses efeitos colaterais pode ser maior em pacientes que os recebem em doses superiores às recomendadas para as indicações autorizadas nas bulas e em combinação com outros medicamentos que têm efeitos semelhantes no coração, como o antibiótico azitromicina.

O Painel de Diretrizes de Tratamento para a covid-19 do Instituto Nacional de Saúde (NHI) dos Estados Unidos não recomendou o uso de cloroquina ou hidroxicloroquina e/ou azitromicina para o tratamento da doença, após analisar avaliações de segurança e eficácia das drogas em ensaios clínicos randomizados, estudos observacionais e/ou estudos de braço único, onde todos os inscritos são tratados da mesma maneira.

Um estudo publicado na The New Journal of Medicine, feito utilizando o método de ensaio clínico multicêntrico (conduzido de acordo com um único protocolo, concomitantemente em vários centros de pesquisa, nacionais ou internacionais) e randomizado, concluiu que o uso da hidroxicloroquina, manipulada sozinha ou com azitromicina, feito por pacientes hospitalizados com covid-19 em casos de leve a moderado, não melhorou o estado clínico em 15 dias, em comparação com o tratamento padrão.

O resultado entra em convergência com os dados obtidos pela Nature. Uma meta-análise colaborativa internacional de ensaios clínicos randomizados mostrou que o tratamento com hidroxicloroquina está associado ao aumento da mortalidade em pacientes com covid-19, e não há benefício da cloroquina.

Responsável pelo post alterou texto original

Na aba em que se apresenta no site, Filipe Rafaeli afirma ser profissional de comunicação, cineasta e piloto de acrobacia. O primeiro conteúdo foi publicado em dezembro de 2020 e defendia que a hidroxicloroquina era cientificamente comprovada. A partir de então, todas as postagens são referentes ao “tratamento precoce” contra a covid-19, tratando, principalmente, do medicamento.

Quando o Comprova iniciou esta verificação, o texto publicado por ele afirmava que “um recente estudo científico revisado por pares e publicado no prestigiado periódico científico Journal of Infection and Public Health, de alto impacto, confirmou cientificamente a eficácia da hidroxicloroquina para prevenção da COVID-19.”

 

| Captura realizada pelo Comprova em 31 de agosto de 2021 a partir da página arquivada

Posteriormente, o texto foi alterado para: “Um recente estudo científico revisado por pares e publicado no prestigiado periódico científico Journal of Infection and Public Health, de alto impacto, colocou a hidroxicloroquina para prevenção da COVID-19 no mais alto nível de evidência científica.”

 

| Captura realizada pelo Comprova em 31 de agosto de 2021 a partir de texto publicado no Substack

Três dias antes da publicação deste texto, o autor comentou, na plataforma Substack, que a sua sugestão para as pessoas é que “todos tenham em mãos o telefone de algum médico que faça tratamento de covid-19. E, na primeira suspeita, ligar”, disse.

Em fevereiro deste ano, a agência Aos Fatos identificou como falsa postagem nas redes sociais que reproduziu um texto dele.

Ao ser procurado pelo Comprova, ele respondeu afirmando: “Esse (conteúdo) o Estadão já veio atrás (…). O Estadão ignorou estudos e pegou a opinião de um ‘especialista’ para rebater”. Conforme publicado pelo Estadão Verifica, Filipe ameaçou processar o autor da checagem “caso fosse publicado algo que ‘pichasse’ seu nome ou ‘censurasse’ a postagem”.

Sobre o artigo, afirmou que “meta-análise é meta-análise”, complementando que o estudo em questão não foi feito em padrão Prisma, um conjunto mínimo de itens com base em evidências para relatar em revisões sistemáticas e meta-análises.

Questionado pelo Comprova sobre a eficácia do artigo compartilhado, Filipe disse: “Então, partindo do princípio de ‘carimbo’ de burocrata de alguma entidade, sendo que a Europa ou os Estados Unidos não aceitam a Coronavac, você vai concluir que ela [a pesquisa] ‘não é comprovada cientificamente?”

Conforme explicou essa verificação do Comprova, um artigo encaminhado por cientistas do Butantan, em abril de 2021, para a revista científica The Lancet mostrou que a eficácia da Coronavac para casos sintomáticos atingiu 50,7% com 14 dias de intervalo entre as duas doses.

Outro estudo feito pelo Instituto Butantan na cidade de Serrana, no interior de São Paulo, vacinou cerca de 75% da população adulta e constatou queda de 80% nos casos sintomáticos e de 86% nas internações, além da redução de mortes em 95%. Uma pesquisa, feita no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, apontou queda de 80% nos casos de covid-19 entre os 22 mil funcionários vacinados com a Coronavac.

Trecho do conteúdo publicado no Substack foi printado e compartilhado no perfil “Médicos pela Vida” no Instagram, que afirma defender a relação médico-paciente, assistência primária e o “tratamento precoce”. Na página, contudo, a postagem foi definida como parcialmente falsa pela plataforma.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal, eleições e pandemia, que viralizam nas redes, como é o caso da postagem aqui verificada, que teve mais de 16 mil interações no Facebook, 1.280 no Twitter e 1.145 no Instagram, conforme a ferramenta Crowdtangle. Esse conteúdo chegou até o Comprova por meio de um pedido realizado por Whatsapp por um leitor, que nos contactou através do número (11) 97045-4984. Os compartilhamentos ocorreram principalmente a partir de páginas bolsonaristas.

A disseminação de informações falsas ou enganosas sobre supostos tratamentos profiláticos para a covid-19 pode colocar a saúde das pessoas em risco, tanto pela exposição às substâncias não recomendadas para a doença, quanto pelo contato com o vírus ao se imaginarem protegidas.

Até o momento, as únicas formas comprovadas de se evitar a contaminação são o uso de máscaras, o distanciamento social e a higienização constante das mãos, assim como a vacinação.

Esse mesmo conteúdo foi analisado pelo Estadão Verifica e outros envolvendo a hidroxicloroquina já foram alvos de publicações do Comprova, como a que demonstrou que um médico engana ao afirmar que hidroxicloroquina é eficaz contra a covid, a que apontou que estudo com hidroxicloroquina não comprova eficácia do “tratamento precoce” e outra informando que estudos fraudados não deslegitimam artigos que comprovam ineficácia da cloroquina contra a covid.

Enganoso, para o Comprova, é conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.