O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Comprova Explica

Investigado por: 2021-12-17

Máscaras protegem contra epidemia de H3N2; entenda

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Máscaras são métodos preventivos eficazes para combater a contaminação por H3N2 e pela covid-19, assim como outros adotados ao longo da pandemia, como a higiene das mãos e o distanciamento social. Uma publicação do Twitter questiona a utilidade do item diante do crescimento de casos de gripe influenza no Rio de Janeiro e em São Paulo. Contudo, segundo especialistas, entre os fatores que podem estar causando a disseminação da gripe estão exatamente o relaxamento das medidas de proteção pela população, que está se aglomerando mais e deixando de usar a máscara.
  • Conteúdo analisado: Post no Twitter de mulher que se identifica como jornalista levanta a dúvida: “Rio e São Paulo com epidemia de Influenza. As máscaras servem para quê?”. O Comprova preparou conteúdo explicativo sobre a eficácia dos equipamentos de biossegurança, já que a publicação teve 7,2 mil interações.

A epidemia da cepa H3N2, da Influenza A, tem gerado comentários que questionam a utilidade de vacinas e métodos preventivos, capazes de combater vírus como o da covid-19 e o do próprio Influenza, conhecido por ser uma gripe sazonal.

Exemplo disso é uma publicação no Twitter que questiona a serventia das máscaras de proteção usadas contra o novo coronavírus se o Rio de Janeiro e São Paulo estão com epidemia de influenza, vírus causador da gripe.

Diante dos questionamentos, o Comprova decidiu explicar por quais razões as máscaras seguem como eficazes no combate de ambos os vírus que se enquadram como epidemias no país.

Epidemia da influenza está ligada às flexibilizações e falta de vacinação

O aumento de casos está realmente acontecendo – e se espalhou para outros locais, como o estado do Espírito Santo e as cidades de Salvador, na Bahia, e Porto Velho, em Rondônia –, mas esse cenário não invalida a importância das máscaras, segundo especialistas.

Como o vacinologista e professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Odir Dellagostin explicou ao Comprova, a vacina contra a gripe oferecida neste ano “tem uma baixa proteção contra a Darwin, cepa do vírus influenza A H3N2, que está provocando o surto”. E, para piorar o cenário, diz ele, o uso de máscaras está diminuindo. “As pessoas estão voltando a se aglomerar, a se abraçar, a tomar cafezinho juntas, sem máscara, o que reduz a efetividade dela.”

Ainda de acordo com ele, “a solução é recomendar fortemente a continuidade do uso correto da máscara, o distanciamento e o uso de álcool em gel”.

O mesmo disse à Folha Geraldo Barbosa, presidente da Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (ABCVAC): “Agora, (para nos proteger,) são as medidas preventivas, como uso de máscaras, higienização das mãos e evitar aglomerações”.

Epidemia

No dia 9 de dezembro, quando o post verificado aqui foi publicado, a Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro confirmou em redes sociais que a capital vive uma epidemia de influenza. “Será que estamos enfrentando uma epidemia de influenza? A epidemia está localizada no município do Rio e já há aumento do número de casos em outros municípios da região metropolitana”, escreveu o órgão no Twitter.

Em nota publicada no UOL, a secretaria afirmou: “Esse crescimento repentino, verificado a partir de 22 de novembro, quando foram registrados 505 atendimentos, atingiu quase 6 mil atendimentos no último dia 6. Trata-se do maior número de atendimentos por uma única doença realizados nas UPAs estaduais em um único dia desde o início da pandemia”.

Na capital fluminense, a prefeitura está instalando cinco centros de atendimento e testagem de pessoas com síndrome gripal “para reforçar a assistência à população durante o surto de influenza”. A estratégia é semelhante à adotada em 2009, durante o surto de H1N1.

Em São Paulo, segundo e-mail da Secretaria Municipal de Saúde enviado ao Comprova, “houve um aumento significativo de pessoas com síndrome gripal” na última semana. O órgão informou ainda que, em novembro, houve 111.949 atendimentos de pessoas com sintomas gripais, sendo 56.220 suspeitos de covid-19 e, agora na primeira quinzena de dezembro, já foram 91.882 atendimentos com quadro respiratório (45.325 suspeitos de covid-19).

Em 15 de dezembro, o surto da doença já atingia outros locais, como Espírito Santo e as cidades de Salvador e Porto Velho. Só na capital baiana, de acordo com a Folha, a Secretaria Municipal de Saúde “registrou 109 casos da doença em 2021, sendo que 106 deles foram notificados entre o final de novembro e início de dezembro”.

Rio e SP seguem recomendando máscaras em ambientes de maior risco

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), determinou o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras ao ar livre. A medida foi definida por meio de um decreto, publicado em 27 de outubro deste ano.

O anúncio da mudança aconteceu em transmissão ao vivo, com a presença do secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, que lembrou a necessidade de pessoas com sintomas gripais continuarem usando a proteção. A medida também previu a liberação do uso de máscaras em locais com pista de dança, com capacidade de público de até 50%.

Junto à decisão sobre as máscaras, o Rio suspendeu todas as demais regras estabelecidas para combater a covid-19 no município, em um segundo decreto, publicado no dia 12 de novembro no Diário Oficial. Este mesmo decreto manteve o uso obrigatório de máscaras em locais fechados e transportes públicos.

Já em São Paulo, a variante ômicron levou o governo e a prefeitura da capital a manterem o uso obrigatório de máscaras em espaços abertos e fechados.

A suspensão do uso obrigatório de máscaras estava prevista para ocorrer no estado em 11 de dezembro, e o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), havia declarado que pretendia seguir as medidas determinadas pela gestão de João Doria (PSDB).

Com o avanço da nova variante da covid-19, a Vigilância Sanitária recomendou o cancelamento da flexibilização de máscaras. O órgão elaborou um estudo com indicadores epidemiológicos e assistenciais.

Máscaras são importantes contra a covid e a influenza

Ainda que a vacina contra a gripe usada no país tenha a mutação H3N2 em sua composição, a variante não é a mesma que circula agora no Rio e em São Paulo. A nova cepa, titulada Darwin — cidade na Austrália onde ela foi identificada pela primeira vez —, não está coberta pela atual vacina.

O vacinologista Odir Dellagostin detalhou que a cepa não faz parte da formulação que a OMS recomendou para ser utilizada na vacina deste ano. “Portanto, a vacina tem uma baixa proteção contra esta cepa, ainda mais reduzida pelo timing em que está ocorrendo o surto: mais de 6 meses após a campanha de vacinação”, explica.

Na visão de Dellagostin, o uso de máscara está diminuindo e isso representa um risco de exposição tanto para a covid-19 quanto para a nova mutação do vírus da gripe comum.

“As pessoas estão voltando a se aglomerar, a se abraçar, a tomar cafezinho juntas, portanto, sem máscara. Isso está reduzindo a efetividade”.

Ainda de acordo com o vacinologista, o caminho para contornar a epidemia de H3N2 tem que se basear em medidas de prevenção. “A solução é recomendar fortemente a continuidade do uso correto de máscara — cobrindo boca e nariz —, o distanciamento, o uso de álcool gel”, finaliza.

O médico infectologista Rodrigo Nascimento explicou que, para que as máscaras consigam filtrar adequadamente o ar das partículas infecciosas, é preciso que sejam fabricadas de maneira adequada e recebam o selo de aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Os modelos mais indicados, de acordo com o profissional, são as máscaras PFF2 (peça facial filtrante) ou N95 –que trata do mesmo modelo, mas a primeira é certificada no Brasil e a segunda, nos Estados Unidos. “Mas as máscaras simples, cirúrgicas, são eficazes também, em torno de 30% a 40% menos do que as N95 e PFF2”.

Apesar da eficiência das máscaras contra a disseminação dos vírus, seu uso deve ser aliado a outras medidas para melhor efetividade. Os métodos de prevenção contra a doença seguem as mesmas regras de outras doenças virais, assim como a covid-19, incluindo higienização correta das mãos; evitar contato com pessoas infectadas; não compartilhar objetos pessoais, como copos, talheres, toalhas; evitar locais de grande aglomeração e pouco arejado; manter hábitos saudáveis.

Além disso, os governos estaduais realizam anualmente, de forma gratuita, campanhas de vacinação contra a Influenza.

“As vacinas contra influenza são muito eficazes, elas são revisadas anualmente. Através da cepa anterior, é produzida novas vacinas e após 14 dias aproximadamente, ela já produz anticorpos nas pessoas”, relatou o médico.

O público prioritário para receber os imunizantes são idosos, crianças e pessoas com imunossupressão, por serem mais suscetíveis ao vírus e assim, possuírem mais chances de evolução para quadros graves que um jovem saudável, por exemplo.

“Claro que dependem do organismo de cada pessoa, da capacidade que cada pessoa tem de produzir anticorpos. São características individuais imunológicas, por isso que a vacina é prioritariamente indicada para pessoas idosas e pessoas imunossuprimidas, que têm baixa capacidade de se defender de microorganismos”, pontuou.

Questionamento

O tuíte que questiona a eficácia das máscaras e mencionado aqui foi publicado por Flavia Ferronato (@flferronato). Na sequência do post checado agora, ela escreve: “E antes que venham torrar a paciência, eu realmente estou tentando entender como isso é possível, tá ok?”, o que não impediu que seguidores tenham interpretado a publicação como uma forma de descredibilizar as máscaras e outras medidas de combate contra a covid.

Um seguidor comenta: “Será uma epidemia dos vacinados? Por baixa imunidade?”; outro escreve: “Pois é! Inclusive na minha casa todos com a influenza, por enquanto menos eu que não vacinei”; e, mais um: “As máscaras são super eficazes contra doenças respiratórias, o que não é o caso do infl… não, pera…”.

Ferronato já apareceu em uma verificação do Comprova, em novembro de 2020, quando fez um post enganoso no site Jornal da Cidade Online – alvo de algumas checagens do projeto – e em seu perfil no Twitter sugerindo que o Instituto Butantan não havia informado sobre morte de voluntário da vacina Coronavac.

À época, após ser contatada pela reportagem, ela fez publicações em suas redes sociais criticando o trabalho de agências de checagem e procurando intimidar a verificadora que a contatou.

Desta vez, ela respondeu a reportagem dizendo que escreveu o tuíte porque queria “entender por que as máscaras não conseguiram segurar o influenza”.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O conteúdo verificado aqui teve mais de 6,6 mil curtidas e foi compartilhado 1,2 mil vezes até 17 de dezembro.

Máscaras seguem como proteção fundamental para evitar a contaminação e disseminação de vírus como a H3N2 e a covid-19, principalmente em ambientes fechados e sem ventilação. Pouco usada antes da pandemia no Brasil, a proteção facial é uma das principais medidas contra a covid-19 e, consequentemente, contra outros vírus que se disseminam pelo ar, como o influenza. Sem as máscaras, os cidadãos ficam mais vulneráveis a esses vírus.

O Comprova checa peças de desinformação sobre as máscaras desde o ano passado. Alguns exemplos de verificação são o do influenciador que dizia que a proteção facial não era eficiente contra a covid-19 e o de estudo sem revisão usado também para desacreditar o uso do equipamento.

Saúde

Investigado por: 2021-12-16

Hospital desmente relato de médico sobre infarto de paciente vacinada em Campo Grande

  • Falso
Falso
‘Dr. Jackson’ viralizou no Telegram e no Twitter dizendo que uma paciente de 26 anos teria infartado no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, da UFMS, depois de receber dois imunizantes contra a covid-19. Autoridades de saúde e o próprio hospital negam o caso.
  • Conteúdo verificado: Vídeo em que um médico de Campo Grande alega que uma moça de 26 anos teria infartado em um hospital universitário após tomar duas doses da Astrazeneca e uma dose de reforço da Pfizer.

É falso que uma mulher de 26 anos tenha sido atendida em um hospital por causa de um infarto depois de receber duas doses da vacina Oxford/AstraZeneca e uma dose de reforço da Pfizer/BioNTech contra a covid-19. O conteúdo foi divulgado em um vídeo gravado pelo médico cardiologista João Jackson Duarte, que viralizou após a publicação em um canal do Telegram chamado Médicos pela Vida e em perfis do Twitter.

No vídeo, o médico, conhecido nas redes como “Dr. Jackson”, afirma que acabara de sair da sala de emergência e cita o suposto caso, sem dizer o nome da pessoa nem apresentar qualquer prova. Ele diz que a paciente não teria histórico familiar de infarto e que o único “fator de risco” seria o fato de ela ter sido imunizada contra o novo coronavírus.

O Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap), da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), de Campo Grande, onde o vídeo foi gravado, confirmou que o “Dr. Jackson” faz parte da equipe, mas negou a ocorrência de qualquer caso de infarto de jovem de 26 anos na unidade nos últimos dias. O registro mais antigo da publicação do vídeo encontrado pelo Comprova é de 9 de dezembro.

As secretarias municipal e estadual de saúde também informaram que não receberam qualquer notificação de reação adversa do tipo pós-vacinação contra a covid-19 e reforçaram que os efeitos colaterais mais comuns são de caráter leve a moderado, como dor no local da injeção e sintomas semelhantes a de uma gripe, a exemplo do que sustenta a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O médico não retornou aos pedidos de entrevista do Comprova. O conteúdo foi classificado como falso nesta checagem porque foi inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

A reportagem baixou o vídeo publicado no Twitter usando a ferramenta Getfvid e assistiu às imagens quadro a quadro na tentativa de identificar placas, cartazes e algum elemento na estrutura do prédio que indicasse em qual hospital ocorreu a gravação. Foi possível visualizar uma placa nas cores azul e roxa, com setas em amarelo, mas os detalhes não estão legíveis.

Em seguida, procuramos por “Dr. Jackson” no Google em busca de informações sobre o profissional. Uma reportagem de um site local cita que ele atendia pacientes no Edifício Evidence Prime Office, no Royal Park, em Campo Grande. O endereço é o mesmo de uma clínica particular que aparece em seu perfil nas redes sociais como informação de contato.

Em seu cadastro na plataforma Lattes, do CNPq, o médico declara que tem doutorado em Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular pela Fundação Cardiovascular São Francisco de Assis e que atualmente integra uma equipe do Humap. A unidade aparece como seu endereço profissional. Além desse, diz atuar também no Hospital Regional do Mato Grosso do Sul (HRMS).

Com essas pistas, a reportagem passou a procurar por imagens e vídeos dessas unidades para confirmar o local da gravação. O Comprova chegou a uma reportagem de fevereiro de 2019 do canal da TV UFMS, que mostra alguns espaços do hospital universitário. O conteúdo está disponível no YouTube.

No início da gravação aqui verificada, o médico caminha em um corredor com lâmpadas longas e posicionadas na horizontal, próximo a canaletas por onde provavelmente passam fios. O mesmo formato aparece no início da reportagem da UFMS, em corredores internos do hospital universitário.

| Captura do vídeo do médico.

| Captura da reportagem da UFMS.

A certa altura do vídeo, o médico passa por uma porta que está sinalizada por uma placa nas cores azul e roxa, com setas em amarelo. Uma placa semelhante aparece na reportagem da UFMS, logo nos corredores de entrada do hospital universitário. Naquele momento da caminhada do “Dr. Jackson”, a posição das luzes era diferente, na vertical, o que também confere com a matéria do canal.

 

| Capturas do vídeo do médico.

| Captura da reportagem da UFMS.

O hospital é administrado pela UFMS e pertence ao governo federal. A reportagem entrou em contato por meio de telefone e e-mail disponibilizado na página. A Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) confirmou que o vídeo foi gravado no Humap, mas negou a ocorrência citada pelo médico.

O Comprova entrou em contato com as assessorias de comunicação da Secretaria Estadual de Saúde do Mato Grosso do Sul (SES-MS) e da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) para verificar se houve alguma notificação de infarto como reação adversa pós-vacinação em Campo Grande. A SES-MS respondeu por e-mail, e a Sesau, por WhatsApp.

Em seguida, a equipe procurou por reportagens e comunicados oficiais que tratam sobre os efeitos colaterais das vacinas contra a covid-19 e tentou entrevistar o médico João Jackson Duarte por meio do telefone de sua clínica que aparece em pesquisa no Google. A atendente nos passou o telefone da secretária do médico, que pediu o envio de solicitação de entrevista por WhatsApp. O contato também foi feito mensagem direta no Instagram. Ele não respondeu ao pedido de explicações.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 16 de dezembro de 2021.

Verificação

Hospital desmente o relato do médico

Em nota, o Humap informou que analisou as imagens e que elas indicam a gravação na unidade hospitalar por João Jackson Duarte, que faz parte do corpo médico. O hospital disse que não tem registro de nenhuma paciente com 26 anos acometida por infarto nos últimos dias e que vai abrir processo interno para apurar os fatos e a conduta do profissional.

“Independentemente do ocorrido, a instituição ressalta que não compactua com as conclusões feitas pelo profissional, visto que qualquer análise com este teor precisa ser feita baseada em um conjunto de dados, metodologias, análises de grupos focais e em uma amplitude muito maior como tem sido feito em diversas pesquisas no Brasil e no mundo”, acrescentou a instituição.

Secretarias não foram notificadas

Em resposta ao Comprova, tanto a Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande (Sesau) quanto a Secretaria Estadual de Saúde do Mato Grosso do Sul (SES-MS) afirmaram que não receberam a notificação de infarto como reação adversa das vacinas contra a covid-19. Até 16 de dezembro de 2021, mais de 4,6 milhões de doses foram aplicadas no estado e 72,15% da população estava com esquema vacinal completo.

Por mensagens de texto, a gerência técnica de imunização da Sesau disse que a informação que consta no vídeo do médico não é verídica. “O serviço não recebeu nenhuma notificação de reação adversa do tipo pós-vacinação contra a Covid-19 do Humap. Até o momento, os casos relatados à secretaria são de reações já previstas, como dor localizada. Nada referente a necessidade de internação ou outras ocorrências mais sérias.”

O mesmo relato foi feito pelas autoridades estaduais de saúde. “A SES/MS não foi notificada sobre caso de evento adverso grave no Estado”, afirmou em nota encaminhada por e-mail ao Comprova. Ainda segundo o órgão, o risco de uma reação adversa que demande atendimento é “muito pequeno” para qualquer imunizante autorizado no país e que, dessa forma, recomenda a toda a população elegível que procure uma unidade de saúde ou posto de vacinação para completar o esquema vacinal.

Reações provocadas pela vacina

Os efeitos colaterais provocados pelas vacinas podem ser encontrados nas bulas dos imunizantes, que estão disponíveis no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No caso da Pfizer, as reações mais comuns (ocorrem em 10% dos pacientes) são dor e inchaço no local de injeção, cansaço, dor de cabeça, diarreia, dor muscular, dor nas articulações, calafrios e febre. Também são comuns (ocorrem entre 1% e 10%) casos de vermelhidão no local de injeção, náusea e vômito.

Entre as reações incomuns (ocorrem em menos de 1% dos pacientes) estão aumento dos gânglios linfáticos, reações de hipersensibilidade, coceira, urticária, angioedema, diminuição de apetite, dor nos membros, insônia, letargia, hiperidrose, suor noturno, astenia, sensação de mal-estar e prurido no local de injeção. Há também reação rara de paralisia facial aguda, que ocorre entre 0,01% e 0,1% dos pacientes.

Em julho, a Anvisa publicou alerta sobre risco de miocardite e pericardite pós-vacinação com a Pfizer. A miocardite é a inflamação do músculo cardíaco e a pericardite é a inflamação do revestimento externo do coração. O comunicado da agência ocorreu após os Estados Unidos relatarem a ocorrência de casos das doenças depois da vacinação contra covid-19 com imunizantes de plataforma de RNA mensageiro (RNAm), que é o caso da Pfizer e da Moderna. Apenas a Pfizer tem registro para uso no Brasil.

No texto, a Anvisa esclarece que a ocorrência dos eventos adversos é baixa e recomenda atenção dos profissionais de saúde e da população a sintomas como dor no peito, falta de ar e palpitações. A agência ainda ressalta que a adoção de tratamento correto é fundamental para melhor evolução clínica dos pacientes. Por fim, a Anvisa reafirma que mantém a recomendação da continuidade da vacinação com a Pfizer porque, até o momento, os benefícios superam os riscos. Este também é o posicionamento da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Em relação à vacina de Oxford/AstraZeneca, a bula aponta como reações muito comuns (acima de 10%) sensibilidade, dor, sensação de calor, coceira ou hematoma (manchas roxas) onde a injeção é administrada, sensação de indisposição de forma geral, fadiga, calafrio ou sensação febril, dor de cabeça, enjoos, dor na articulação ou dor muscular.

Os sintomas comuns (entre 1% e 10%) incluem inchaço, vermelhidão ou um caroço no local da injeção, febre, vômitos ou diarreia, dor nas pernas ou braços e sintomas semelhantes aos de um resfriado, como febre acima de 38 °C, dor de garganta, coriza, tosse e calafrios. Já os incomuns (entre 0,01% e 1%) envolvem sonolência ou sensação de tontura, diminuição do apetite, dor abdominal, linfonodos aumentados, sudorese excessiva e coceira ou erupção na pele.

As autoridades de saúde constataram ainda a ocorrência de coágulos sanguíneos em combinação com níveis baixos de plaquetas no sangue, ou trombocitopenia (TTS), mas em uma frequência extremamente rara, inferior a 1 entre 100.000 indivíduos vacinados. Em nota técnica de outubro, o Ministério da Saúde informou uma taxa ainda mais baixa: 1 a 8 casos por milhão. Esse é um efeito adverso mais grave que pode resultar em morte, mas a chance é muito baixa e não muda o perfil de segurança do produto, segundo a Anvisa. Estudos indicam ainda que o risco de desenvolver um quadro de trombose ao ser infectado pela covid-19 seria de 8 a 10 vezes mais alto.

A Anvisa também já publicou comunicado afirmando que a vacinação é, atualmente, a abordagem farmacológica mais promissora e segura para o controle da pandemia causada pelo Sars-CoV-2.

Quem é o médico que gravou o vídeo

João Jackson Duarte é um médico especializado em cardiologia e cirurgia cardiovascular e está regularmente inscrito no Conselho Regional de Medicina do Mato Grosso do Sul (CRM-MS), segundo consta no site da entidade.

Nas redes sociais, ele afirma atuar em uma clínica particular de “cardiologia e nutrição funcional” no bairro Royal Park, em Campo Grande. O currículo na plataforma Lattes acrescenta como locais de atendimento o Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap) e o Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS).

O “Dr. Jackson” é um adepto do chamado “tratamento precoce” — um conjunto de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19 propagandeado por figuras como o presidente Jair Bolsonaro (PL) como opção terapêutica, mas que não encontra respaldo nos principais órgãos de saúde do mundo.

A página da sua clínica particular traz uma série de postagens festejando a prática, incluindo pacientes segurando uma folha de papel com a inscrição “Eu venci o covid” ao lado do médico, sempre sem máscara. Sites locais afirmam que o médico chegava a escrever “livre da picada” em sua conta no Telegram, anunciando aos seguidores que o paciente que recebeu alta não precisaria mais da vacina.

Em suas contas pessoais no Facebook e no Instagram, são frequentes os conteúdos de viés antivacina. O médico acusa os imunizantes de serem ineficazes, distorce informações sobre componentes da fórmula e os associa a casos de doenças graves e mortes sem provas. Em um post recente, afirma que se contaminou com o novo coronavírus em agosto de 2020 e se recusou a se vacinar depois disso.

A busca pelo nome do “Dr. Jackson” no Google ainda traz uma série de artigos em sites de Campo Grande sobre polêmicas do médico. Em junho, por exemplo, entrou em conflito na Justiça com a administradora do prédio onde estava localizada a sua clínica particular e a vigilância sanitária por descumprir protocolos para evitar a contaminação pela covid-19. Ele foi acusado de circular sem máscara pelas dependências do prédio mesmo com diagnóstico positivo para a doença.

Jackson também já foi citado em investigações do Ministério Público Federal (MPF), em um caso que apurou a suposta adulteração de um laudo de cirurgia que terminou na morte de uma paciente, em 2012. Na época, o médico fazia parte da equipe de cirurgia de José Carlos Dorsa no Humap e teve conversas telefônicas grampeadas em meio a um inquérito que apurava um possível esquema de corrupção operado pelo colega.

Assim como outros médicos que já foram alvos de checagem do Comprova por compartilhar desinformação, Jackson vem recebendo convites para participar de audiências públicas sobre a adoção do passaporte sanitário contra a covid-19, medida que obriga estabelecimentos a solicitarem comprovantes de vacinação para entrada. Ele diz ter participado de eventos em Dourados (MS) e Rio Branco (AC), por exemplo.

O médico também já falou sobre “acolhimento precoce” em live convocada por vereadores de Campo Grande. Em texto divulgado pelo legislativo municipal sobre o evento, o médico aparece como “diretor científico da Sociedade Brasileira de Ozonioterapia Médica”, entidade presidida por Maria Emilia Gadelha Serra, outra profissional que costuma atacar as vacinas com desinformação e tentou emplacar a aplicação retal de ozônio como tratamento contra a covid-19 no ano passado.

Apesar de o canal do Telegram em que o conteúdo viralizou se chamar Médicos pela Vida e ter na descrição um link que leva para o site do grupo de mesmo nome, conhecido por defender o tratamento precoce, este nega ser o responsável pela plataforma. No dia 10 de dezembro, o Comprova publicou reportagem mostrando que outra postagem feita no mesmo canal enganava ao afirmar que vacina contra covid-19 tinha provocado aumento de morte de crianças.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado sobre a pandemia e políticas públicas do governo federal. O vídeo checado foi publicado no Telegram e no Twitter e já teve mais de 100 mil visualizações nas plataformas.

Esse tipo de conteúdo falso é prejudicial porque desinforma a população sobre a incidência de efeitos adversos das vacinas e desencoraja a imunização. Segundo autoridades de saúde e especialistas, os imunizantes são a principal medida de combate à covid-19, pois previnem a infecção, a evolução para quadros graves e as mortes pela doença.

Outras verificações publicadas recentemente pelo Comprova já mostraram que mutações da covid-19 não descartam eficácia e segurança das vacinas e que a vacina contra a covid-19 é segura e não gera HIV, câncer ou HPV.

Falso, para o Comprova, é conteúdo inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2021-12-15

É falso que a ômicron seja uma invenção para mascarar as reações da vacina contra a covid-19

  • Falso
Falso
É falso que a variante ômicron não exista e seja um conceito criado apenas para esconder os efeitos adversos das vacinas contra a covid-19. Além de a nova cepa já ter sido identificada em dezenas de países, o que as autoridades de saúde têm reportado sobre ela é que os pacientes têm manifestado casos leves, não estando associada a miocardite, infarto fulminante ou AVC, como afirma vídeo que viralizou. No caso dos imunizantes, a Anvisa afirma que os episódios de miocardites são raros, leves e que as pessoas tendem a se recuperar após um curto período de tempo de tratamento padrão e repouso.
  • Conteúdo verificado: Em vídeo que circula pelo Whatsapp e pelo TikTok, uma mulher afirma que a variante ômicron foi inventada para que os efeitos adversos graves das vacinas sejam disfarçados.

São falsas as alegações de um vídeo viral, segundo o qual a variante ômicron seria uma invenção para encobrir efeitos adversos graves das vacinas contra a covid-19. Formada a partir de mutações do Sars-CoV-2, a nova cepa já foi identificada em ao menos 77 países, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Até agora, porém, os primeiros dados demonstram que ela provoca quadros mais leves de covid-19 do que variantes anteriores. Embora mais evidências precisem ser coletadas sobre a gravidade do quadro dos infectados, os casos de ômicron não estão relacionados a uma maior presença de miocardite, infarto fulminante ou AVC, sintomas citados no vídeo.

Em nota enviada ao Comprova, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) diz que a possibilidade de alguns vacinados contra o novo coronavírus desenvolverem eventos adversos como miocardite e pericardite já é conhecida das agências reguladoras, estando descrita em bula e com os casos sendo acompanhados em cada país. A ocorrência é mais frequente em homens mais jovens, após a segunda dose da vacina. De acordo com a agência, porém, trata-se de um evento raro. “Geralmente são casos leves e os indivíduos tendem a se recuperar dentro de um curto período de tempo após o tratamento padrão e repouso”, afirma.

Em entrevista ao Comprova, o médico José Cássio de Moraes lembrou que a miocardite já é um sintoma comum para pessoas infectadas pelo Sars-Cov-2, motivo pelo qual pacientes com problemas cardíacos são considerados grupo de risco. Pesquisa da Universidade de Oxford, no Reino Unido, aponta que a trombose é um risco maior entre quem se infecta do que entre os vacinados.

O Comprova considerou o conteúdo falso porque as informações foram inventadas.

Como verificamos?

Por email, entramos em contato com a OMS e a Anvisa sobre a situação da ômicron e sobre as possíveis reações provocadas pela vacina contra a covid-19. No site da Anvisa, listamos todos os efeitos das bulas dos imunizantes.

Também consultamos matérias publicadas na imprensa. Checagens anteriores do Comprova foram utilizadas no caso de alegações enganosas já esclarecidas.

Por fim, entrevistamos José Cássio de Moraes, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e integrante da rede Observatório Covid-19 BR.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 15 de dezembro de 2021.

Verificação

Identificação da ômicron

A variante ômicron foi registrada oficialmente pela primeira vez na África do Sul, em novembro de 2021. Ela possui um número significativo de alterações com relação a variantes anteriores, principalmente na proteína Spike, utilizada pelo coronavírus para invadir as células. Sua identificação coincidiu com um terceiro pico de infecções no país africano, o que levou as autoridades de saúde a alertarem a OMS.

Em 26 de novembro, um grupo de especialistas da organização analisou os dados disponíveis e decidiu classificá-la como “variante de preocupação”. Isso quer dizer que ela pode se disseminar mais facilmente, causar doença mais severa, driblar a resposta imunológica, ter sintomas diferentes ou diminuir a eficácia das medidas conhecidas contra o coronavírus, como medidas de saúde, diagnóstico, tratamentos e vacinas.

O país de origem da nova variante pode mudar conforme as outras nações fazem análises e testes.

Ômicron: sintomas e infecções

Em uma coletiva de imprensa no dia 8 de dezembro de 2021, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, afirmou que ainda é muito cedo para tirar conclusões sobre o impacto da variante ômicron para os sistemas de saúde. Cientistas de todo o mundo analisam as informações disponíveis até o momento, e que não param de ser atualizadas, para compreender melhor os sintomas, a facilidade de transmissão e a capacidade de driblar a imunidade concedida por vacinas ou contaminação anterior.

Adhanom disse que a África do Sul registra um aumento rápido e consistente no número de casos. No entanto, a variante ômicron surgiu em um momento em que a variante Delta estava com baixa transmissão no país e é difícil saber como ela reagiria em outro local onde a Delta seja predominante. “Será importante monitorar de forma cuidadosa o que acontece em todo o mundo, para ver como essas duas variantes vão competir”, falou.

Sobre a severidade da doença causada pela ômicron, Adhanom explicou que há algumas evidências de que ela causaria sintomas mais leves do que a variante Delta. No entanto, ainda é cedo para fazer esta afirmação com certeza. Somente com informações atualizadas dos quadros de infecção em cada país é que se poderá ter uma visão mais precisa.

Na manhã da segunda-feira, 13, o secretário de saúde do sistema público de saúde britânico, Sajid Javid, disse à emissora BBC que o número de contaminados pela ômicron dobra a cada dois ou três dias. Com isso, o governo do Reino Unido iniciou uma campanha de vacinação de reforço para todos os maiores de 18 anos que tenham tomado sua última dose há pelo menos três meses.

O primeiro-ministro, Boris Johnson, anunciou que morreu o primeiro paciente infectado com a variante ômicron no Reino Unido. Não foi informado o quadro de saúde anterior desta pessoa. Johnson sugeriu que pare de se falar em “versão mais leve do vírus” e que é preciso reconhecer a velocidade com que ele se espalha pela população.

Já no dia 14, Adhanom voltou a citar a nova variante. Disse que a OMS tem visto com preocupação a variante ômicron ser subestimada como uma doença leve. “Com certeza, aprendemos que só temos a perder ao subestimar este vírus. Mesmo que a ômicron de fato cause sintomas mais leves, o expressivo número de contaminações pode mais uma vez sobrecarregar sistemas de saúde que não estejam preparados.”

Especialista

Ao Comprova, o médico José Cássio de Moraes afirmou que, até o momento, não há nenhum motivo para desconfiar da existência da ômicron. O especialista também contrapõe a tese de que a nova variante seria uma forma de esconder sintomas como miocardite, infarto e AVCs. “A variante ômicron aparentemente produz sintomas mais leves que as outras. Até sábado (dia 11 de dezembro), não tinha provocado nenhum óbito. O primeiro foi referido agora na Inglaterra. Na descrição dos casos, a miocardite não é mencionada até o momento”, explica.

De acordo com o médico, o miocárdio é um dos locais atingidos pelo vírus da covid-19 por ter um receptor específico que pode ser acessado pelo invasor, assim como acontece com pulmões e rins. Por isso, pessoas com problemas cardíacos são consideradas como parte do grupo de risco.

Moraes também rebate a ideia de que a vacina não seja segura. “A vacina Pfizer nos Estados Unidos já teve mais de 400 milhões de doses aplicadas e, até sábado, estava associada a 1700 casos de miocardite, segundo dados do CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos), preferencialmente em adolescentes homens. Todos evoluíram bem e foram curados sem sequelas”, lembra.

Reação das vacinas usadas no Brasil

Os efeitos adversos podem ser conferidos nas bulas dos imunizantes, disponíveis no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Confira abaixo:

CoronaVac: Reações possíveis são dor no local da aplicação, dor de cabeça, cansaço, além de enjoo, diarreia, perda de apetite, calafrios, tosse, dor nas articulações, coceiras, coriza e congestão nasal. Em casos menos frequentes (menos de 1% de quem é vacinado), pode ocorrer vômito, febre, vermelhidão, dor na garganta ou ao engolir, fraqueza muscular, tontura, dor abdominal, sonolência, mal-estar, cansaço, dor nas costas, vertigem, falta de ar, inchaço e hematomas no local da aplicação.

Janssen: As reações mais comuns são dor de cabeça, náusea, mialgia, fadiga e dor no local da injeção, bem como tosse, dor nas juntas, inchaço no local da aplicação, febre e calafrios. Em menos de 1% das pessoas imunizadas pode ocorrer tremores, espirros, irritação na pele, fraqueza muscular, dor no corpo e nas costas, mal-estar, urticárias. Em casos muito raros (menos de 0,01% das pessoas), pode ocorrer Síndrome de Guillain-Barré, trombose e baixo nível de plaquetas no sangue.

AstraZeneca: Os principais efeitos colaterais são dor, coceira, sensação de calor ou hematomas no local da aplicação, indisposição, fadiga, calafrios, febres, dor de cabeça, enjoo, dores nas articulações e dor muscular. Também pode ocorrer vômitos ou diarreias, dor nas pernas e braços, dor de garganta, coriza, tosse, sonolência, diminuição no apetite, dor abdominal, linfonodos aumentados e sudorese excessiva. Em casos muito raros (menos de 0,01% das pessoas), podem surgir coágulos sanguíneos e um nível baixo de plaquetas sanguíneas.

Pfizer: Reações mais comuns são dor e inchaço no local da injeção, cansaço, dor de cabeça, diarréia, dor muscular, dor nas articulações, calafrios, febre, vermelhidão no local da aplicação, náusea e vômito. Em menor grau (menos de 1% dos imunizados), também é possível ocorrer um aumento dos gânglios linfáticos, coceira, urticária, angioedema, diminuição do apetite, dor nos membros, insônia, letargia, suor excessivo, fraqueza, mal-estar e prurido no local de injeção. Em casos raros (ocorrem entre 0,01% e 0,1% das pessoas), é possível ocorrer paralisia facial aguda.

Trombose e miocardite são reações raras

No caso das vacinas da AstraZeneca e da Janssen, a Anvisa afirma que casos raros de trombose têm sido relatados em vários países, inclusive no Brasil. Esses eventos foram adicionados às bulas em julho.

A população deve ficar atenta e procurar um serviço de saúde em caso de sintomas como falta de ar, dor no peito, inchaço ou dor nas pernas, dor abdominal persistente, visão turva, confusão, convulsões, hematomas e manchas vermelhas no corpo e outras manifestações hemorrágicas. Ainda assim, a posição da agência é que “os benefícios dos referidos imunizantes superam os riscos e mantém a recomendação de continuidade da vacinação dentro das indicações descritas em bula”.

Em julho, a agência norte-americana FDA relatou casos raros de inflamação no músculo cardíaco (miocardite) e no revestimento externo do coração (pericardite) associados à vacina da Pfizer. Geralmente ocorreram após a segunda dose, em adolescentes e adultos jovens do sexo masculino. A maioria dos casos foi leve.

A Anvisa então emitiu um aviso para que os vacinados procurem um atendimento médico se sentirem dor no peito, falta de ar e palpitações. Como os casos são raros e reagem bem ao tratamento, a recomendação de uso da vacina dentro das indicações em bula permanece. A Anvisa avalia que os benefícios da vacinação superam os riscos.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) também defende que os benefícios das vacinas são superiores aos riscos de miocardites. Isso porque, ao analisar dados de notificações nos EUA, ficou constatado que há 4 ou 5 casos de miocardites após o uso de imunizantes de mRNA para cada milhão de pessoas vacinadas. Na Europa, o risco de desenvolver trombose após a vacinação é de 1 a 8 casos para cada milhão de imunizados, segundo nota técnica do Ministério da Saúde.

Além disso, o risco de uma pessoa desenvolver trombose venosa cerebral é de 8 a 10 vezes maior entre pessoas que tiveram a covid-19 do que entre os vacinados, aponta um estudo da Universidade de Oxford, no Reino Unido, divulgado pela Fiocruz.

O Comprova já mostrou que não há nenhum indício de que casos de AVC, mal súbito ou infarto tenham aumentado pós-vacinação.

A autora do post

O vídeo foi gravado por uma mulher que se apresenta no Instagram como Daniela Schettino. Ela diz ser natural do Rio de Janeiro, e, segundo seu perfil no Linkedin, dá aulas de inglês desde os anos 1990. Atualmente mora em Portugal.

Ela usa seus perfis em redes sociais para espalhar desinformação sobre vacinas e teorias da conspiração, tema pelo qual afirma que começou a se interessar após os atentados ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001. O Estadão Verifica possui um guia de como identificar e rebater uma teoria da conspiração.

A Lupa já checou outro vídeo da mesma pessoa. A agência de checagem mostrou ser falso que vacinados viveriam apenas dez anos de vida após a imunização.

O Comprova tentou entrar em contato, mas ela não informa publicamente nenhum meio para isso.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado sobre a pandemia e políticas públicas do governo federal. O vídeo checado foi publicado em diversas plataformas como WhatsApp, Telegram e TikTok. Nesta última atingiu o maior número de usuários, com 33 mil visualizações.

Conteúdos falsos sobre as vacinas contra a covid-19 influenciam as pessoas a não se imunizar e enfraquecem os esforços das autoridades em saúde pública.

O Comprova já mostrou não haver relação entre as vacinas e casos de mal súbito em atletas. Também explicou porque é falso que órfãos da Polônia teriam sido usados em experimentos dos imunizantes.

Falso, para o Comprova, é conteúdo inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2021-12-14

É enganoso que vacina contra pólio causou câncer em 98 milhões nos EUA

  • Enganoso
Enganoso
Publicação enganosa afirma que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos admitiu que 98 milhões de pessoas receberam o “vírus do câncer” por meio da vacina contra a poliomielite, mas apagou página com informações em seguida. Alguns lotes de vacinas (de 10 a 30%) aplicadas entre 1955 e 1963 foram realmente infectados com o vírus SV40, mas o CDC não escondeu esses dados. Além disso, não há evidências suficientes para afirmar que a vacina causou câncer nos vacinados, nem de que tenha aumentado a incidência de câncer naquele grupo de pessoas.
  • Conteúdo verificado: Publicação no site Tribuna Nacional diz que o CDC teria admitido que 98 milhões de pessoas receberam o “vírus do câncer” por meio da vacina contra a poliomielite. O texto faz referência a uma publicação que saiu do ar no site do CDC.

É enganoso o conteúdo de um texto publicado na internet por uma integrante de um site conhecido por disseminar material antivacina, em que afirma que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos admite que “98 milhões de pessoas receberam o vírus do câncer através da vacina poliomielite”.

Não existe um “vírus do câncer” e o que os Estados Unidos afirmaram, ainda na década de 1960, foi que algumas das vacinas contra a pólio aplicadas no país entre 1955 e 1963 foram infectadas pelo vírus Simian 40, o SV40 ou vírus símio, que afeta macacos.

Em 1976, um estudo apontou que entre 10% e 30% dos lotes aplicados naqueles oito anos tinham sido contaminados. Para a produção dos imunizantes na época, foram usadas células de rins de macaco e algumas delas estavam infectadas com o vírus, o que só se descobriu depois.

Aqueles eram os primeiros anos de vacinação contra a poliomielite, uma doença infecciosa que afeta principalmente crianças menores de cinco anos, e que ataca o sistema nervoso central, podendo causar paralisia nos membros ou nos músculos respiratórios e levar à morte.

Os estudos para o desenvolvimento da vacina começaram na década de 1930, após a criação de um fundo pelo presidente Franklin Roosevelt, que perdeu o movimento das pernas por causa da doença. Com a vacinação, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), os casos de poliomielite diminuíram mais de 99% nas últimas três décadas. Os números passaram de 350 mil casos estimados, em 1988, para 29 casos notificados em 2018.

Mesmo após quase 40 anos da descoberta de que parte das vacinas foram contaminadas, quando uma comissão médica emitiu um parecer sobre o caso, em 2002, não foi possível provar que houve mais incidência de câncer entre pessoas vacinadas naquela época. Também não foi possível provar que os casos de câncer em pessoas que receberam a vacina entre 1955 e 1963 tinham sido resultado do SV40 presente nas vacinas.

O texto em verificação afirma que o CDC apagou a página que continha as informações sobre contaminação da vacina, mas que esta foi recuperada através do cache do Google. A reportagem procurou o site Tribuna Nacional, que publicou o texto, pediu um posicionamento sobre o conteúdo e solicitou a gravação de tela explicando como foi feita a recuperação da página que o site diz ter sido removido do ar “rapidamente” pelo CDC. Até o momento, não houve retorno.

Apesar de ter sido publicado no site Tribuna Nacional, o texto é “assinado” por uma integrante do site Coletividade Evolutiva que, por sua vez, publicou o mesmo texto em 2019, assinado por outra pessoa. Um estudo publicado em novembro de 2019 pela Avaaz em parceria com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) aponta o Coletividade Evolutiva como o terceiro site com mais publicações antivacina – mais de 200 links.

Diante das distorções dos fatos, o Comprova classificou este conteúdo como enganoso. Além de descontextualizar as informações, o conteúdo usa dados imprecisos e confunde o leitor.

Como verificamos?

Inicialmente, o Comprova buscou no Google e no Wayback Machine a página citada pela matéria do Tribuna Nacional como sendo do CDC. As ferramentas de busca conseguiram localizar a publicação que, de fato, não está mais disponível.

Contudo, informações similares foram encontradas em uma página do próprio CDC sobre preocupações históricas a respeito de segurança das vacinas, o que significa que o centro não escondeu dados sobre a SV40 e as vacinas contra a pólio.

O print utilizado pela publicação verificada aqui mostra que a página estava no ar no dia 11 de julho de 2013. Por meio da ferramenta Wayback Machine, o Comprova conseguiu confirmar que a publicação estava no ar ao menos até o dia 5 de julho de 2013, mas não se encontrava disponível no site a partir do dia 18 de julho do mesmo ano.

A reportagem contatou, sem sucesso, o CDC, via e-mail, questionando sobre as afirmações divulgadas pela publicação do Tribuna Nacional. Além disso, buscou no site do CDC e em artigos científicos qual seria a relação entre as vacinas contra a pólio, o vírus SV40 e o possível desenvolvimento de câncer em pessoas que receberam a vacina.

Em seguida, procuramos o pesquisador Michele Carbone, citado no texto verificado, e a farmacêutica Merck & Co. (MSD fora dos Estados Unidos e do Canadá), que, segundo o texto verificado, teria sido culpada por ele em uma fala a respeito da disseminação do vírus HIV em vacinas contra hepatite B.

Também foi ouvido Edson Elias da Silva, pesquisador do Laboratório de Enterovírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e consultor da rede de laboratórios da (OPAS) dentro do Programa de Erradicação da Poliomielite. Ele também foi pesquisador do CDC e presidiu a Sociedade Brasileira de Virologia (SBV).

Procuramos ainda o site Tribuna Nacional, mas, até a publicação desta checagem, não houve retorno.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 14 de dezembro de 2021.

Verificação

O CDC e os números

O texto aqui verificado afirma que o CDC apagou de seu site uma página na qual admitia que mais de 98 milhões de americanos tinham recebido o “vírus do câncer” através da vacina contra a poliomielite. Isto não é verdade. Primeiramente, porque não existe um vírus do câncer. Em segundo lugar, porque, mesmo que a página citada pelo texto não esteja mais no ar, o CDC não omitiu informações sobre vacinas contra a pólio que foram infectadas por um vírus chamado SV40 entre o final da década de 1950 e o início de 1960.

Estas informações estão disponíveis numa página sobre preocupações históricas a respeito de vacinas, listando uma série de artigos científicos e até dados de contaminação e estimativa de pessoas expostas ao vírus.

Por fim, os números citados no texto são imprecisos: 98 milhões é o número aproximado de americanos que tinham tomado vacinas contra a poliomielite entre 1955 e 1963, período em que se identificou que alguns lotes tinham sido infectados pelo SV40, e não o total de pessoas que foram expostas ou infectadas por ele.

Diversos artigos publicados nas décadas seguintes concluíram não ser possível atribuir casos de câncer de pessoas vacinadas naquela época ao vírus presente nas vacinas, nem que o vírus tenha feito aumentar a incidência de câncer nesse grupo de pessoas.

O que é o SV40?

O SV40 é um poliomavírus, um gênero da família de vírus DNA, que comumente infecta algumas espécies de macacos asiáticos, especialmente o macaco rhesus, mas não causa infecções graves neles.

No entanto, em 1962, os pesquisadores Eddy Bernice, Gerlad Borman, George Grubbs e Ralph Young apontaram que o vírus era capaz de modificar células de roedores, transformando células normais em células cancerígenas.

Nesta época, também se descobriu que o vírus poderia modificar células humanas in vitro e, apenas na década de 1990, foi que se confirmou que o SV40 realmente tinha o potencial de causar câncer em humanos.

Vacinas contaminadas

Em um artigo sobre a revisão de segurança da imunização, o Centro Nacional de Biotecnologia e Informação (NCBI), dos Estados Unidos, afirmou que das 98 milhões de doses de vacinas aplicadas contra o pólio entre 1955 e 1963, estima-se que 10% a 30% continham SV40. As informações utilizaram como base um estudo realizado pelos cientistas Neal Nathanson e Keerti Shah, em janeiro de 1976.

Estes dados levam à estimativa de que algo entre 10 milhões e 30 milhões de pessoas foram expostas ao vírus e eles também foram publicados pelo CDC. Mas, como nem todos que têm contato com um vírus são infectados por ele, não é possível dizer quantas pessoas realmente foram infectadas.

Para Edson Elias da Silva, pesquisador da Fiocruz, consultor da OPAS, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Virologia e ex-pesquisador do próprio CDC, a contaminação de alguns lotes da vacina nunca foi escondida pelo órgão americano. “Descobriram porque pesquisaram, ninguém escondeu nada, como esse texto parece dizer”, afirma.

A partir da constatação de que havia lotes contaminados, as autoridades sanitárias do país passaram a exigir que se verificasse a presença do SV40 nas vacinas produzidas. Segundo ele, não foi necessário alterar a fórmula do imunizante para livrá-lo do SV40, mas apenas se certificar de que células contaminadas não estavam sendo usadas para produzir vacinas.

“Quando se detectou que alguns lotes tinham o SV40, passaram a se preocupar em verificar se o material usado tinha o vírus, um processo chamado de pesquisa de vírus adventícios. Passaram a controlar as células usadas, então nunca mais teve vacina infectada. Desde 1963, não foi detectado o SV40 em nenhuma delas”, afirma.

Vacinas são seguras

Para Edson Elias, o mais importante é deixar clara a segurança da vacina. “Essa é uma vacina segura. Depois da varíola, a segunda doença que está quase erradicada do mundo pela vacina é a pólio. A vacina já impediu mortes de milhares de crianças e impediu prejuízo de bilhões de dólares”, afirma.

De acordo com a OPAS, o número de casos estimados para a doença em 125 países endêmicos foi de 350 mil em 1988. Trinta anos depois, em 2018, a redução tinha sido de 99% — foram 29 casos notificados. Se a doença não for erradicada, podem ser registrados 200 mil novos casos por ano. O último caso de poliomielite nas Américas aconteceu no Peru, em 1991. Nos Estados Unidos, o mais recente é de 1979. No Brasil, o último caso já tem 32 anos, foi em 1989.

O país recebeu o certificado de erradicação da poliomielite em 1994, também segundo a Opas, mas “até que a doença seja erradicada no mundo (como ocorreu com a varíola), existe o risco de um país ou continente ter casos importados e o vírus voltar a circular em seu território. Para evitar isso, é importante manter as taxas de cobertura vacinal altas e fazer vigilância constante, entre outras medidas”.

Vacinas contra covid são seguras

As vacinas produzidas para combater o coronavírus não utilizam como matéria-prima as células de chimpanzés.

Os imunizantes produzidos pela Universidade de Oxford, por exemplo, utilizam a tecnologia conhecida como vetor viral não replicante, que utiliza um “vírus vivo”, como a gripe comum, que não tem capacidade de prejudicar a saúde humana.

Já as vacinas desenvolvidas em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac utilizam como tecnologia o vírus inativado da covid. Esse vírus é cultivado em laboratório e é multiplicado numa célula de culturas.

Depois, segue para o processo de inativação por meio de calor ou produtos químicos. Esse recurso ajuda o corpo a gerar os anticorpos necessários para combater o coronavírus.

A segurança e a eficácia dos imunizantes contra a covid-19 são atestados pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), pelo Ministério da Saúde, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por secretarias de saúde dos governos estaduais e municipais brasileiros.

Associação de vacinas ao câncer

Embora alguns casos de câncer possam ser causados por vírus, segundo o Instituto Nacional do Câncer, não existe um vírus específico da doença, como afirma de maneira enganosa o texto verificado. A associação das vacinas contra a poliomielite, o vírus SV40 e o câncer em humanos começou a ser feita na década de 1960.

Foi nesse período que aumentaram as preocupações de cientistas sobre o assunto, dado que pessoas foram expostas ao SV40 em larga escala com a vacinação contra a poliomielite. Na altura, já se sabia que o vírus era oncogênico — ou seja, podia modificar células normais e transformá-las em cancerígenas em roedores.

A partir da década de 1990 é que outros estudos apontaram que o SV40 também tinha a capacidade de transformar células humanas, não apenas in vitro. Um artigo publicado em 2004 na renomada revista científica Nature pelos pesquisadores Tam Dang-Tan, Salaheddin M. Mahmud, Riccardo Puntoni e Eduardo L. Franco retoma as discussões sobre o assunto e apresenta um panorama das evidências epidemiológicas.

As vacinas contendo o SV40 foram associadas, inicialmente, a quatro tipos de câncer: mesotelioma, osteossarcoma, ependimoma e linfomas. Na revisão de segurança de imunização publicada em 2002 pelo Centro Nacional de Biotecnologia e Informação consta que, embora muitas pessoas tenham sido expostas diretamente ao SV40 por meio de injeções, não está claro se o SV40, recebido por meio da vacina, poderia ser transmitido na população uma vez que a vacina contaminada não estivesse mais em uso.

Naquele mesmo ano, a comissão de especialistas falou sobre as conclusões à imprensa. No Brasil, uma reportagem da agência Reuters sobre o assunto foi publicada pela Folha de S.Paulo. Na matéria, os integrantes da comissão destacaram que, embora o vírus tivesse o potencial de causar câncer, não havia evidências suficientes para confirmar que houvesse uma taxa de incidência maior de câncer em pessoas que receberam a vacina entre 1955 e 1963 e pessoas que não foram vacinadas naquele período.

“A grande maioria dos estudos populacionais, com prioridade para o estabelecimento de relações causais, não encontrou taxas maiores de câncer em pessoas que receberam a vacina contaminada pelo vírus 40 dos símios”, informou a comissão, em trecho publicado pela Reuters. “Entretanto, um suposto vínculo não pode ser totalmente descartado em função das limitações dos dados disponíveis e do método de realização dos estudos”, completaram os pesquisadores.

A grande questão era saber se as pessoas que alegavam ter desenvolvido câncer por causa da vacina poderiam mesmo fazer essa afirmação. Ao que parece, não havia evidências suficientes para isso.

“Há um bom conjunto de evidências biológicas de que o SV40 seja capaz de provocar câncer, mas não se sabe se a exposição ao vírus por vacinas contaminadas pode provocar determinados tumores suspeitos de associação ao SV40 – mesotelioma, osteosarcoma, ependimoma e linfoma não Hodgkin”, diz outro trecho de uma das afirmações dos especialistas, publicado pela Reuters.

Para o pesquisador Edson Elias da Silva, da Fiocruz, ainda hoje não é possível afirmar categoricamente que o SV40 tenha de fato causado câncer nas pessoas vacinadas com doses contaminadas, inclusive porque as vacinas não eram a única maneira de que humanos tivessem acesso ao SV40.

“O que se pode dizer é que as vacinas tiveram o vírus, mas você não pode dizer que até hoje que o câncer que é encontrado é porque veio disso”, afirma.

No artigo “Contaminação de vacinas de poliovírus com vírus símio 40 (1955-1963) e taxas de câncer subsequentes” os pesquisadores Howard D. Strickler, Philip S. Rosenberg e Susan S. Devesa publicaram os resultados de estudos sobre o assunto, em 1998. Segundo eles, a ausência de uma incidência de casos analisados no estudo aumenta a evidência de que não existe relação entre a exposição à vacina contaminada com SV40 e o desenvolvimento de câncer. “Conforme os dados amadurecem, no entanto, será importante continuar a monitorar os riscos de câncer”, afirmam no artigo.

Quem é Michele Carbone?

O texto verificado menciona Michele Carbone como autor de estudos sobre a relação entre o SV40 e a incidência de câncer em pessoas vacinadas contra a pólio entre 1955 e 1963 e sobre a presença do SV40 em tumores de crianças que nasceram nessa época. Ele realmente fez muitos estudos sobre o tema, sendo usados como fonte de referência em diversas publicações, desde artigos na revista Nature até textos publicados pelo CDC.

Carbone é um médico italiano, PhD em Patologia Humana pela Universidade de Roma La Sapienza. Ele foi professor e pesquisador do Departamento de Patologia da Loyola University of Chicago e atualmente é diretor da Oncologia Torácica do Centro de Câncer da Universidade do Hawai’i. Ele é membro efetivo do Programa de Biologia do Câncer e professor do Departamento de Patologia da mesma universidade, em Manoa. Entre as revistas em que ele publicou está a Oncogene, da Nature, que concentra pesquisas mais recentes sobre biologia celular e molecular do câncer.

Ele é um dos cientistas que defendem que o SV40 consegue modificar células humanas. O cientista publicou mais de um artigo sobre isso. Em um dos mais recentes, de fevereiro de 2020, o pesquisador fala sobre o SV40 e mesotelioma humano — um tipo de câncer muito raro que acomete a membrana que reveste os pulmões, o estômago e o coração. A incidência deste tipo de câncer aumentou após a década de 1960, o que inicialmente foi atribuído ao uso de amianto durante a Segunda Guerra Mundial.

Carbone aponta que o SV40 pode ser não só ser o causador de alguns tipos de câncer, como pode ter contribuído, com o amianto, para o aumento da incidência desse tipo de tumor, já que esse aumento coincide com a exposição em larga escala ao vírus entre 1955 e 1963 com as primeiras vacinas contra a poliomielite.

Procurado pelo Comprova, Michele Carbone afirmou por e-mail que “é um fato que milhões de poliovacinas foram contaminadas com o vírus SV40 vivo de 1955 a 1963, com uma estimativa de 98 milhões de potencialmente expostas a vacinas contaminadas”.

Ele acrescentou que, embora o SV40 não tenha estado mais presente nas vacinas americanas a partir de 1963, vacinas contaminadas continuaram a ser vendidas na antiga União Soviética até 1978.

O texto verificado também tenta atacar outra vacina, a de hepatite B, ao afirmar que Michele Carbone disse abertamente que estes imunizantes foram os responsáveis por disseminar o HIV, culpando assim uma das fabricantes, a Merck & Co.

O Comprova questionou o pesquisador e ele respondeu que esta afirmação era totalmente falsa e que havia dito e publicado exatamente o contrário. Contudo, compartilhou o link de um artigo em que afirma não haver evidências de contaminação por HIV nas vacinas contra a pólio, e não de hepatite B. O Comprova voltou a questioná-lo, mas não recebeu resposta.

Em nota, a Merck & Co. (MSD), negou que o vírus HIV tenha sido transmitido pela vacina contra a hepatite B e assegurou que o imunizante é eficaz para a prevenção da doença.

A empresa também negou que o HIV tenha sido transmitido pelas vacinas contra a poliomielite. “Testes laboratoriais independentes não encontraram evidências que apoiam a teoria de que uma vacina de poliomielite, usada em cerca de 1 milhão de africanos na década de 1950, desencadeou a epidemia de AIDS. Os resultados não encontram nenhuma evidência de que a vacina, administrada entre 1957 e 1961, continha qualquer tecido de Chimpanzés e que, consequentemente, disseminava o vírus HIV em humanos. A teoria predominante da transmissão do HIV em humanos é que um caçador foi infectado, após ser arranhado por um chimpanzé, ao tentar capturá-lo ou depois de cortar o animal”, diz a nota.

Autores da informação enganosa

Na aba “Quem Somos”, o Tribuna Nacional afirma ser um portal de ideias conservadoras. O site compartilhou o texto aqui verificado, escrito por Cristina Barroso. Ao clicarmos no perfil da autora, disponibilizado no site, não aparecem informações sobre quem ela seria ou sua formação, apenas textos assinados por ela.

Abaixo da assinatura de Barroso está a indicação que o conteúdo também seria do “Coletividade Evolutiva”. O site condensa informações antivacinas e havia compartilhado anteriormente o mesmo texto, assinado por outra pessoa, em 2019.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova investiga conteúdos suspeitos que tenham viralizado sobre pandemia, políticas públicas e eleições. A publicação verificada recebeu quase 800 interações só no Twitter — entre curtidas, retuítes e tuítes com comentários —, e 56 compartilhamentos dentro do próprio site do portal de notícias.

Informações enganosas como essa, divulgadas como “verdadeiras”, colocam a eficácia de imunizantes em questão. Diante do avanço da pandemia da covid-19 entre os anos de 2020 e 2021, boatos que descredibilizam as tecnologias que integram qualquer imunizante e reforçam o discurso antivacina, de resistência às injeções contra o vírus, são perigosos.

Até o momento, somente os imunizantes contra o coronavírus são capazes de evitar quadros graves da doença, internações e óbitos, além de prevenir a transmissão e contaminação.

Em verificações anteriores, o Comprova mostrou que as vacinas contra a covid-19 são seguras e não geram HIV, câncer ou HPV, como também desmentiu boatos criados por médico dos EUA sobre imunizantes contra o coronavírus provocarem câncer.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-12-13

Tuítes enganam ao afirmar que vacina da Pfizer causou ‘muitas mortes’

  • Enganoso
Enganoso
Sequência de tuítes engana ao afirmar que houve "muitas mortes e efeitos colaterais" decorrentes da vacina da Pfizer contra a covid-19. Diferentemente do que o conteúdo diz, os casos descritos em documento da farmacêutica não relacionam óbitos, abortos e outros relatos ao imunizante. Além disso, a Organização Mundial da Saúde afirma que "os benefícios das vacinas superam os riscos na redução de hospitalizações e mortes devido à infecção".
  • Conteúdo verificado: Tuítes afirmam que, após juiz ordenar liberação de documentos da Pfizer, descobriu-se que mortes e efeitos colaterais foram encobertos.

Uma sequência de sete tuítes engana ao afirmar que foram encobertos casos de mortes e abortos e outros efeitos colaterais decorrentes da vacina da Pfizer contra a covid-19.

A responsável pelo conteúdo desinforma ao escrever que “só nos primeiros três meses, milhares de efeitos colaterais graves e 1.223 mortes foram ocultados do público”, o que mostraria que “a Pfizer mais do que fez jus à sua reputação infame como uma das empresas mais criminosas que o planeta já conheceu”.

O documento usado como fonte dos tuítes — embora a farmacêutica não confirme a autenticidade dele, a Food and Drug Administration (FDA) afirmou ser da Pfizer — considera 42.086 relatos pós-imunização nos Estados Unidos e em outros países desde a autorização do uso emergencial da vacina pelo órgão de saúde do país norte-americano, em 10 de dezembro de 2020, até 28 de fevereiro de 2021. Nele, há o relato de 1.223 óbitos e de 520 pessoas que se recuperaram com sequelas (não “milhares”, nem “efeitos colaterais graves”), mas, como é informado no documento, não há relação de causa e efeito ligada à vacina.

Contatada pela reportagem, a Pfizer afirmou que “as informações dos tuítes não procedem”, que “não há alertas de segurança graves relacionados ao imunizante” e que “a companhia reforça que os benefícios da vacinação superam os potenciais eventos adversos”. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também têm esse entendimento sobre os benefícios do imunizante da Pfizer.

O Comprova entrou em contato com a autora dos tuítes, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto. Este conteúdo foi considerado enganoso porque usa dados imprecisos, que induzem a uma interpretação errada.

Como verificamos?

O primeiro passo foi buscar o documento que a autora dos tuítes usou como fonte. Pesquisando o arquivo, intitulado, em tradução livre, “BNT162b2 — Análise cumulativa de relatórios de eventos adversos pós-autorização” BNT162b2 é o código que identifica a vacina da Pfizer”, foi possível encontrá-lo na internet com o título em inglês em sites não oficiais.

Mesmo sem a farmacêutica confirmar a autenticidade do documento, a partir dele foi possível desmentir os dados usados nos tuítes. Além disso, a reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Pfizer, que respondeu via e-mail.

Ainda sobre a origem das informações, a FDA também foi contatada por e-mail e confirmou que ele “faz parte de um documento maior enviado pela Pfizer-BioNTech”.

Por fim, a reportagem entrou em contato com a autora do conteúdo (@ThaisConexao) via mensagem privada no Twitter, mas ela não respondeu.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 13 de dezembro de 2021.

Verificação

Mortes e outras ocorrências

O documento usado como fonte dos tuítes é, segundo a FDA, um pedido de licença biológica (BLA) enviado ao órgão pela Pfizer. O texto afirma, sim, que 1.223 pessoas que se vacinaram morreram entre a autorização do uso emergencial da vacina pela FDA nos Estados Unidos (o que ocorreu em 10 de dezembro de 2020) e 28 de fevereiro de 2021, mas não relaciona esses óbitos à vacina. Deste modo, o documento não serve como prova de que a vacina matou 1,2 mil pessoas, como alega a sequência de tuítes verificada.

Na tabela “Visão geral: características selecionadas de todos os casos recebidos durante o intervalo de relatório”, o documento informa que, das 42.086 pessoas vacinadas consideradas:

  • 19.582 se recuperaram ou estavam em recuperação;
  • 520 se recuperaram com sequela;
  • 11.361 não haviam se recuperado no momento da publicação do levantamento;
  • 1.223 haviam morrido;
  • 9.400 casos sem conhecimento.

Ou seja, diferentemente do que afirma a sequência de tuítes verificada aqui, os dados não mostram que houve “milhares de [pessoas com] efeitos colaterais graves”. Foram 520 casos de pessoas que se recuperaram com sequelas, ou seja, 1,2% do total — sem mencionar se grave ou não.

Como já informado, o documento analisou 42.086 casos de pessoas vacinadas nos Estados Unidos e em outros países. Para efeito de comparação, até 28 de fevereiro, o país norte-americano havia imunizado 49,7 milhões de cidadãos com ao menos uma dose, segundo o site Our World in Data.

Abortos

A autora do conteúdo também engana ao afirmar que, de 116 mulheres que amamentaram após serem vacinadas, teriam sido “registrados 17 casos [de sequelas], 3 dos quais com graves consequências para os bebês”. O documento é claro ao afirmar que, entre essas 116 mães, não houve a “ocorrência de quaisquer eventos adversos clínicos”.

Na verdade, o documento diz que três bebês expostos à vacina pela amamentação apresentaram sintomas como: febre, erupção cutânea, irritabilidade, vômito, diarreia, insônia, criança com alimentação deficiente, letargia, desconforto abdominal, alergia à vacina, aumento do apetite, ansiedade, choro, sono de má qualidade, arroto, agitação, dor e urticária.

Contatada pela reportagem, a FDA ressalta que “não houve sinais de segurança que emergiram da análise desses casos durante a gravidez e durante a amamentação”.

O conteúdo verificado também inventa que o documento fala em “270 gestações com abortos espontâneos e partos prematuros”. Na verdade, o texto informa que, de 270 casos de gestações, em 23 houve aborto espontâneo – ressaltando que os casos não têm relação de causa e efeito com a vacina.

Limitações

No item sobre “Metodologia”, o documento menciona apresentar um “sistema de notificação espontânea” com “fatores externos” que influenciam nos “eventos adversos”, ou efeitos colaterais. “O sistema de notificação espontânea produz proporções de relatório, não taxas de incidência”, afirma o texto. E continua: “Como resultado, geralmente não é apropriado fazer comparações entre medicamentos usando essas proporções; o sistema de relatório espontâneo deve ser usado para detecção de sinal ao invés de teste de hipótese”.

Outra limitação apresentada é que, em alguns casos, “estão faltando informações clínicas (como histórico médico, validação de diagnóstico, tempo desde o uso de drogas até o início da doença, dose e uso de drogas concomitantes)”.

E segue afirmando que um “relatório de eventos adversos não indica necessariamente que um evento adverso particular foi causado pela droga”, que pode ser devido a uma doença já existente ou histórico médico.

O uso fora de contexto de dados de sistemas de farmacovigilância é uma tática comum para desinformar sobre a segurança das vacinas. Apenas uma análise criteriosa caso a caso – feita pelas autoridades sanitárias – pode determinar a relação com o imunizante.

Efeitos colaterais

A bula da vacina da Pfizer cita as reações que ela pode causar em pessoas com 12 anos de idade ou mais. São elas:

  • Reações muito comuns (em 10% dos pacientes): dor e inchaço no local de injeção, cansaço, dor de cabeça, diarréia, dor muscular, dor nas articulações, calafrios e febre.
  • Reações comuns (entre 1% e 10% dos pacientes): vermelhidão no local de injeção, náusea e vômito.
  • Reações incomuns (entre 0,1% e 1% dos pacientes): aumento dos gânglios linfáticos, reações de hipersensibilidade, como coceira, diminuição de apetite, dor nos membros, insônia, letargia, suor excessivo, suor noturno, astenia (fraqueza, cansaço físico intenso), sensação de mal-estar e prurido no local de injeção.
  • Reação rara (entre 0,01% e 0,1% dos pacientes): paralisia facial aguda.
  • Desconhecida (não pode ser estimado a partir dos dados disponíveis): reação alérgica grave (anafilaxia), eritema multiforme (reação na pele que causa manchas ou placas vermelhas, que se parecem com um alvo ou “olho de búfalo” e apresenta um centro vermelho escuro rodeado por halos vermelhos e pálidos), inchaço extenso do membro vacinado, inchaço da face (pode ocorrer inchaço da face em pacientes que receberam preenchedores dermatológicos faciais).

A bula menciona também as reações adversas após a terceira dose:

  • Reações muito comuns (em 10% dos pacientes): dor de cabeça, dor nas articulações, dor muscular, dor no local de injeção, cansaço e calafrios.
  • Reações comuns (entre 1% e 10% dos pacientes): aumento dos gânglios linfáticos, diarreia, vômito, febre, inchaço no local de injeção e vermelhidão no local de injeção.
  • Reações incomuns (ocorrem entre 0,1% e 1% dos pacientes): erupção cutânea, diminuição de apetite, náusea e dor nos membros.
  • Desconhecida (não pode ser estimado a partir dos dados disponíveis): reação alérgica grave (anafilaxia).

FDA não pediu sigilo de documentos

Ao contrário do que diz o tuíte, a FDA não exigiu sigilo de 55 anos nos documentos relacionados à Pfizer. Esta alegação tira de contexto uma resposta da FDA a um pedido de informações por meio da FOIA (Freedom of Information Act, a Lei de Acesso à Informação norte-americana).

A requisição foi feita pelo grupo Médicos Profissionais de Saúde Pública pela Transparência. Eles pediram a liberação de toda a documentação analisada pela FDA para autorizar a aplicação dos imunizantes da Pfizer. E deu como prazo limite o dia 3 de março de 2022.

No entanto, o órgão regulatório, que foi contra a decisão, afirma que seriam necessários 55 anos até que toda a documentação esteja disponível. Segundo a agência, não há pessoal e/ou recursos suficientes para atender o pedido no prazo estipulado. A FDA afirma ainda que trata-se de um pedido de mais de 329 mil páginas de documentos e que seria preciso processar 80 mil páginas por mês.

Além disso, o órgão regulatório norte-americano afirma que todos os documentos precisam ser analisados antes de serem disponibilizados, porque parte deles contêm informações comerciais confidenciais da Pfizer/BioNTech, e outros possuem dados pessoais dos envolvidos nos testes clínicos. A FDA acredita ser possível analisar uma média de 500 páginas de documentos por mês, para separar quais são isentos pela FOIA de serem tornados públicos. Os médicos solicitantes, no entanto, alegam que as informações sobre a Pfizer são de interesse público e pedem o cumprimento do prazo até março de 2022.

Apesar da FDA dizer que é impossível cumprir o prazo, o juiz distrital dos Estados Unidos Mark Pittman já definiu uma conferência, agendada para 14 de dezembro em Fort Worth, no Texas, para considerar o cronograma de processamento dos documentos solicitados.

Em 23 de agosto deste ano, a FDA concedeu o registro definitivo para a vacina da Pfizer contra a covid-19 para pessoas com 16 anos ou mais no país. De acordo com informações da Reuters, o imunizante é o primeiro contra o coronavírus aprovado pela agência.

A autora dos tuítes

O conteúdo enganoso foi postado pelo perfil @ThaisConexao no Twitter. A autora se identifica como “correspondente internacional na Europa” do site Conexão Política e, em um post fixado logo no início de seu painel de postagens, ela conta, sem dizer o motivo, que teve uma antiga conta derrubada pelo Twitter.

A reportagem entrou em contato com ela via mensagem privada no Twitter, mas não respondeu até a publicação deste texto.

O Conexão Política, site em que ela diz atuar, é alvo de checagens do Comprova desde 2019, também por enganar ao publicar conteúdos negacionistas como o que relacionava o assassinato de um cientista sino-americano ao seu trabalho de pesquisa com o novo coronavírus, o que usava um título exagerando falas de um médico alemão sobre medidas rígidas contra a doença e o que ligava, sem evidências, morte de menina alemã ao uso de máscaras.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O conteúdo verificado aqui teve mais de 4,7 mil curtidas e foi compartilhado 1,5 mil vezes até 8 de dezembro.

Peças de desinformação como essa, envolvendo as vacinas, colocam a população em perigo ao tentar desacreditá-las. Sem a aplicação correta das doses, os cidadãos ficam mais vulneráveis à covid e têm mais chances de desenvolver os sintomas mais graves da doença.

Conteúdo semelhante foi verificado pelo site norte-americano Lead Stories. Desde o ano passado, o Comprova vem checando conteúdos sobre a imunização, como o da médica que distorceu um estudo para atacar as vacinas e foi desmentida pelo autor e o do médico que espalhou uma tese infundada de que vacinados são perigosos e devem ser isolados.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado de contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda aquele que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Eleições

Investigado por: 2021-12-10

Enquete popular não oficializa Bolsonaro como Personalidade do Ano da Time

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso que Jair Bolsonaro (PL) tenha sido eleito Personalidade do Ano pela revista Time. O presidente venceu votação popular na internet, o que é diferente da escolha feita pelos editores, que determina o título oficial. Capas da revista que circulam nas redes com a suposta conquista são falsas.
  • Conteúdo verificado: Vídeos no Facebook expõem montagens de capas da Time com imagens de Jair Bolsonaro como Personalidade do Ano. Uma das gravações traz um compilado de publicações anteriores da revista e finaliza com uma foto do presidente. Em outra, autor questiona a ausência da notícia no Jornal Nacional.

É enganoso que o presidente Jair Bolsonaro (PL) tenha sido eleito a Personalidade do Ano pela revista Time, ao contrário do que afirmam postagens no Facebook. O resultado citado pelos autores e divulgado em 7 de dezembro se refere à enquete feita anualmente pela publicação na internet, o que não representa o resultado final. A escolha definitiva virá a público em 13 de dezembro. Uma votação não tem relação direta com a outra, embora os editores possam concordar com o resultado da enquete.

Bolsonaro recebeu 24% dos 9 milhões de votos totais computados de forma online. Na sequência, aparecem o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, com 9%, e, em terceiro, com 6,3% dos votos, profissionais de serviços de saúde que atuaram contra a covid-19. Na matéria sobre os primeiros colocados da enquete, a revista destaca que a escolha da personalidade de maior influência no ano é feita “para o bem ou para o mal”.

O Comprova entrou em contato com os perfis que publicaram informações enganosas, mas não obteve retorno até a publicação desta investigação. Enganoso, segundo o Comprova, é todo conteúdo retirado do seu contexto original de modo que seu significado sofra alterações.

Como verificamos?

Inicialmente, realizamos busca no Google com as palavras-chave que envolvem o tema: Bolsonaro, Time e personalidade.

Uma matéria do Estadão sobre o assunto, publicada no último dia 8, diferencia a votação popular da escolha feita pelos editores da revista norte-americana, esta, sim, definitiva. Outro texto consultado, do site alemão DW, estabelece a mesma distinção entre as duas etapas.

A reportagem também recorreu ao banco de dados da própria revista Time para esclarecer fatos históricos sobre as edições da revista.

De quatro publicações com mesmo teor investigadas pelo Comprova, duas são marcadas como inverídicas pelo Facebook. A reportagem entrou em contato com os autores dos posts que contêm desinformação, mas não teve retorno até a publicação deste texto.

Verificação

Enquete popular

A votação vencida por Bolsonaro foi aberta ao público e apoiadores do presidente se articularam em grupos no Telegram para incentivar a participação. “Vote em Bolsonaro na enquete da revista americana e faça o Bonner chorar dando a notícia da vitória do presidente”, escreveu um usuário no grupo “Bolsonaro Presidente”, que contabiliza 10.276 membros.

Outro membro do mesmo grupo compartilhou uma capa falsa, com uma montagem da imagem de Bolsonaro em um fundo neutro da revista, com o título, em inglês, “Person of the Year”. Há ainda uma legenda ao lado da foto com os dizeres “Jair Bolsonaro, presidente do Brasil e líder do mundo livre”.

Diferentemente de apoiadores, o perfil do presidente no Twitter reconheceu que Bolsonaro não foi escolhido oficialmente. O mandatário agradeceu os votos recebidos e manifestou o desejo de que a revista conceda a ele o prêmio final.

Antes disso, em uma live semanal transmitida em 25 de novembro, Bolsonaro chegou a comentar a abertura da enquete popular. “A revista Time está fazendo aí uma enquete, como faz há décadas, personalidade do ano. São cem pessoas. Eu estive entre as cem pessoas em 2019 e em 2020. E, agora em 21, estamos liderando. Então, eu agradeço quem votou em mim. Quem não votou, eu peço que entre no site da Time e vote. Você vota nos cem se você aprova ou não.”

O presidente segue: “O voto, pessoal, é se você achar se aquela pessoa te agrada ou não. E a gente está disparado nisso aqui. Espero que ganhe, né? Espero que ganhe. Se ganhar, se merecer, até agradeço quem votou em mim. Quem não votou tem a oportunidade aí de votar nessa possível personalidade do ano”.

Capas históricas

Um dos vídeos aqui verificados mostra uma linha do tempo com imagens de pessoas que, de fato, estamparam a capa da revista como Personalidades do Ano, como o pacifista indiano Mahatma Gandhi (1930), o ex-líder da antiga União Soviética Josef Stalin (1939), os ex-presidentes dos Estados Unidos Barack Obama (2008-2012) e Donald Trump (2016). O post foi feito em um grupo público, com apoiadores de Bolsonaro, que soma mais de 95 mil membros. Ao final do vídeo, Bolsonaro aparece em uma capa falsa, como se fizesse parte da sequência de pessoas que verdadeiramente receberam o destaque.

A tradição da Personalidade do Ano começou em 1927, quando o pioneiro da aviação nos Estados Unidos, Charles Lindbergh, foi escolhido o homem mais influente. De acordo com a revista, a escolha surgiu por acaso. As capas da época haviam acabado de adquirir a emblemática borda na cor vermelha e priorizavam retratos de figuras que se destacavam nos eventos da semana. Mas, naquele fim de ano, os editores não chegaram a um consenso sobre quem deveria levar o título.

Foi aí, então, que nasceu a ideia de reconhecer uma Personalidade do Ano, e não apenas da semana, segundo um editorial publicado em 1945. O texto pondera, no entanto, que a escolha por Lindbergh foi também uma espécie de retratação da revista por não ter dado destaque, até então, a um dos heróis da época. Na semana em que se noticiou o feito histórico do aviador, que realizou o primeiro voo transatlântico sem escalas, a Time optou por estampar uma imagem do Rei Jorge V e da Rainha Maria, do Reino Unido.

Desde o início da publicação da revista, em 1923, quatro brasileiros foram retratados na capa da revista norte-americana em edições semanais. São eles: o advogado e político Julio Prestes (1930), o ex-presidente da República Juscelino Kubitschek (1956), o também ex-presidente da República Jânio Quadros (1961) e o ex-líder do regime militar Costa e Silva (1967).

Segundo matéria do site alemão DW, a eleição popular realizada atualmente sobre a Personalidade do Ano não tem influência sobre a escolha feita por profissionais do periódico. O principal objetivo da enquete é gerar engajamento no site do veículo.

Em 2019 e 2020, Bolsonaro foi incluído na lista das 100 pessoas mais influentes daqueles anos, também elaborada pela revista Time. O documento inclui figuras de artistas, empresários, empreendedores e líderes mundiais. No ano passado, o youtuber Felipe Neto também foi um dos agraciados. Agora, em 2021, a única brasileira na lista é a empresária Luiza Trajano.

Essas escolhas também ficam a cargo dos editores da revista. Os nomes são selecionados de acordo com o grau de influência, não importando o mérito das ações de cada um dos ali citados. As fotos dos escolhidos também são acompanhadas de um texto com uma breve descrição feita não apenas por jornalistas, mas também por autoridades e outras figuras públicas.

Mais peça de desinformação

Outro vídeo que circula no Facebook, intitulado “globo lixo é assim mesmo, lixo 💆‍♀️ 💆‍♂️ 💆‍♂️ 💆‍♀️ 💆‍♂️ 💆‍♂️ 💆‍♀️ de mentiras… ”, resgata uma gravação do Jornal Nacional de dezembro de 2019, quando foi noticiada a escolha da ativista Greta Thunberg como Personalidade do Ano pela Time. Neste caso, a eleição foi feita pelos editores da revista e, portanto, se trata de um resultado oficial.

A mesma peça compila outro momento do jornal, de dezembro deste ano, em que os âncoras William Bonner e Renata Vasconcellos anunciaram a conquista de dois Prêmios Caboré por profissionais da Globo. A cerimônia é realizada anualmente desde 1980 pelo Grupo Meio & Mensagem, e reconhece funcionários, agências e empresários ligados ao setor de propaganda no Brasil.

O vídeo, que teve mais de 19 mil visualizações até a publicação desta reportagem, inclui uma montagem do autor, que, com tom de ironia, questiona o motivo de os jornalistas não terem noticiado a conquista de Jair Bolsonaro como Personalidade do Ano, como fez com Greta Thunberg. A afirmação é enganosa, pois, como já explicado, o presidente levou o título apenas na votação online, e isso não fica claro no vídeo. Há ainda uma capa falsa, em que o autor coloca outra montagem da imagem de Bolsonaro na revista.

Em determinado momento do vídeo, o autor desdenha do Prêmio Caboré e faz críticas à imprensa: “(…) É o presidente da República, o presidente do país, e eles não deram uma nota, uma notinha sequer, mas deram 5 minutos para duas maritacas deles que ganharam o Prêmio Caboré não sei das quantas, coisinha deles lá. O presidente do Brasil ganhou a Celebridade do Ano da revista Time, a revista mais importante do mundo, e essa ‘rede Goebbels’ [referência a Joseph Goebbels, ministro da Propaganda na Alemanha nazista] não deu uma nota. É esse o nível de jornalismo que temos aqui, principalmente o da Rede Globo”.

Depois, conclui: “Não é lixo, não é lavagem de esgoto, é muito abaixo disso. É uma coisa deprimente, deplorável, e um desrespeito à classe deles, que se julgam jornalistas. Parabéns, presidente Bolsonaro, o Brasil está com o senhor. Mais um gol de placa para o nosso País e para o senhor também. Fiquem com Deus.”

O perfil do responsável por compartilhar o material no Facebook traz uma série de outros vídeos com críticas ao Supremo Tribunal Federal, à imprensa e a partidos políticos.

O que diz a Time

Na primeira vez em que Bolsonaro foi escolhido uma das 100 pessoas mais influentes do ano pela Time, em 2019, o editor Ian Bremmer definiu o presidente como um “personagem complexo”. O texto coloca que o político representava a “melhor chance em uma geração de ordenar as reformas econômicas” e que sua eleição marcava uma “quebra brusca em décadas de corrupção de alto nível”.

O editor também diz que Bolsonaro é um “garoto propaganda de masculinidade tóxica, um ultraconservador homofóbico” e um propulsor de uma guerra cultural que poderia se estender para um “revés no progresso do Brasil com as mudanças climáticas”. A mesma descrição defende que o país vive uma democracia dinâmica, com instituições robustas, e que o presidente teria que “aprender a trabalhar com o sistema” para avançar na agenda.

No ano seguinte, o editor internacional da revista Dan Stewart ficou responsável pelo breve contexto negativo que levou Bolsonaro a ser incluído, pela segunda vez, na lista dos 100 mais influentes. O jornalista destacou o números de mortos pela covid-19 (à época, 137 mil), os efeitos negativos da pandemia na economia, as exonerações de cinco ministros da alta cúpula do governo federal, e as queimadas na Amazônia.

Depois, define o presidente como um “homem teimoso e cético”, cuja aprovação, até então, era de 37% da população brasileira. O editor argumenta que parte desse apoio se deve ao pagamento do auxílio emergencial aos mais pobres, mas pondera que, na visão dele, há também uma “espécie de culto ao comando” de Bolsonaro.

O último texto faz parte da matéria que traz o resultado da enquete popular. O site descreve o cenário com o qual ele tentará novo mandato: “O polêmico líder, que será candidato à reeleição em 2022, está enfrentando uma desaprovação crescente sobre seu manejo da economia e enfrentou críticas generalizadas de políticos, tribunais e especialistas em saúde pública por minimizar a gravidade da covid-19 e exibir ceticismo em relação à vacina”.

A publicação cita também dois episódios recentes envolvendo Bolsonaro: os pedidos de indiciamento feitos pela CPI da Pandemia e o inquérito no Supremo Tribunal Federal que apura a declaração do presidente relacionando vacinas ao desenvolvimento de Aids.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova investiga conteúdos suspeitos que tenham viralizado sobre pandemia, políticas públicas e eleições. As postagens aqui investigadas, juntas, contabilizam mais de 28 mil interações, incluindo curtidas, compartilhamentos e visualizações no Facebook.

Os conteúdos foram compartilhados por perfis de apoiadores do presidente para promover a falsa compreensão de que o mandatário realiza um governo reconhecido como positivo por uma influente revista estrangeira.

Para isso, os posts partem da premissa enganosa de que as tradicionais capas da Time têm como finalidade prestar homenagens. A escolha de Personalidade do Ano, como mostrado nesta checagem, é o reconhecimento de nomes que tenham exercido influência positiva ou negativa. O tom dos comentários no Facebook é de comemoração.

“Ele fez por merecer, por mais que a esquerdalha o bata, ele mais vai crescendo mundo afora. Viva o nosso presidente que Deus continue abençoando, vamos firmes pra 2022”, escreveu um usuário. “Que orgulho ter esse homem como presidente”, celebrou outra.

O conteúdo aqui verificado também foi investigado pelo UOL Confere, pela AFP Checamos e pelo Estadão Verifica.

Para o Comprova, enganoso é todo conteúdo retirado do seu contexto original de modo que seu significado sofra alterações.

Eleições

Investigado por: 2021-12-10

Músicos não ofenderam Lula ao recebê-lo em instituição francesa

  • Falso
Falso
Vídeo tem áudio alterado para parecer que grupo de percussão recebeu o ex-presidente Lula (PT) na Sciences Po, tradicional instituição de ensino de Paris, chamando-o de "filha da puta" durante apresentação. Os músicos entoam, em francês, "C'est la Batuka", que significa "É a Batuka", referindo-se ao nome do coletivo.
  • Conteúdo verificado: Vídeo com trechos da apresentação de percussão feita para a chegada de Lula (PT) à Sciences Po, em Paris. A gravação teve áudio adulterado, fazendo parecer que músicos chamam o ex-presidente de “filha da puta”.

É falso que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha sido recebido por músicos entoando “filha da puta” em sua chegada à Sciences Po, instituição pública de ensino superior em Paris, em 16 de novembro, durante sua última viagem à capital francesa.

Um vídeo que viralizou no Facebook teve o áudio adulterado, com o xingamento incluído. A gravação original, sem a montagem, foi postada pelo perfil oficial de Lula naquele mesmo dia, e é possível perceber que o grupo de percussão não canta a expressão “filha da puta”.

“É fake news. Nós estamos dizendo ‘C’est la Batuka’, que significa ‘É a Batuka'”, disse o grupo musical à reportagem.

A assessoria do ex-presidente também classificou o conteúdo como mentira. Em nota, disse que “grupos políticos que usam de fake news contra Lula produziram uma mentira com uma manifestação de carinho de jovens brasileiros e franceses em Paris”.

Também contatado, o autor do vídeo, Luan Amâncio, afirmou que poderia estar errado e, após receber a explicação sobre o áudio verdadeiro, apagou o vídeo de seus canais.

O Comprova classificou o conteúdo como falso porque ele sofreu edições para mudar o seu significado original e foi divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

O primeiro passo foi pesquisar se Lula havia postado o vídeo em suas redes sociais. Fazendo uma busca filtrando pelo perfil do ex-presidente e pelo nome “Sciences Po” no TweetDeck, foi possível encontrar a postagem. Isso foi o primeiro indício de que o vídeo verificado aqui continha desinformação – se realmente tivesse sido ofendido, Lula dificilmente compartilharia a gravação.

Os comentários de seguidores ajudaram na apuração. Um deles escreve que não consegue entender o que os músicos entoam, e outro responde: “De la Batuka, é o nome do grupo“.

Pesquisando no Google pelo nome “La Batuka”, os resultados trazem um tuíte do perfil oficial da Science Po sobre a recepção de Lula pelos estudantes que formam o grupo Batuka.

Buscando por Batuka nas redes sociais, foi possível chegar ao Instagram dos músicos. Então, a reportagem enviou uma mensagem privada perguntando o que eles cantaram na recepção ao petista.

A assessoria de Lula também foi procurada e, em mensagem de texto, negou que o ex-presidente tenha sido hostilizado.

Em seguida, a reportagem contatou, via mensagem privada no Facebook e também via Instagram, Luan Amâncio, autor do vídeo. O grupo Movimento do Povo Brasileiro no Facebook, que compartilhou a gravação falsa, foi procurado por e-mail, mas não respondeu até a publicação deste texto.

Por último, foram feitas buscas em veículos da mídia tradicional para esclarecer como foi a visita de Lula aos países europeus.

Verificação

O vídeo

Em novembro, Lula fez um tour por países europeus. No dia 16 daquele mês, quando chegou a Paris, foi à escola de ciências políticas Sciences Po, onde recebeu o título de honoris causa há dez anos, para proferir a conferência “Qual lugar para o Brasil no mundo de amanhã”.

O vídeo verificado aqui mostra a recepção feita por estudantes da instituição que participam do grupo de percussão Batuka. Em um saguão, os jovens tocam pandeiros, tambores e outros instrumentos musicais. A maioria se apresenta de máscara de proteção contra a covid-19. No centro, uma mulher organiza as batucadas com um apito.

Lula, que passava por uma área comum do prédio da instituição de ensino, foi conduzido por uma pessoa da comitiva para o local em que os jovens se apresentavam, informado de que se tratava de um grupo de batucada da cidade francesa.

O ex-presidente permaneceu assistindo à apresentação por alguns instantes, e depois se retirou, sem demonstrar nenhuma contrariedade como poderia ser esperado em caso de xingamentos. O petista estava acompanhado por dezenas de pessoas, entre as quais a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, sua namorada.

No vídeo com o áudio distorcido, legendas foram criadas para justificar uma suposta recepção mal-sucedida, primeiramente chamando a atenção para o grupo de batucada, de modo que, no momento em que os percussionistas gritam “C’est la Batuka”, parecesse “filha da puta”, no ritmo da música.

O xingamento foi reproduzido na legenda, seguido de “kkkkk”, para caracterizar uma gargalhada. Na sequência, o autor escreveu que Lula retirou-se, decepcionado.

Lula na Europa

A passagem de Lula pela Sciences Po foi apenas uma etapa de sua visita a Paris, na França, e a outros países europeus. Em todas as cidades por onde circulou cumprindo agendas políticas, o ex-presidente foi bem recebido.

A primeira parada foi na Alemanha, onde o petista desembarcou em 11 de novembro, quando esteve com lideranças sindicais. No dia seguinte, encontrou-se com o social-democrata Olaf Sholz que, na ocasião, ainda não havia sido conduzido como o chanceler a suceder Angela Merkel.

Em Bruxelas, capital da Bélgica, Lula chegou em 14 de novembro e o primeiro encontro, com direito a foto, foi com apoiadores. No dia 15, um dos pontos altos do tour pela Europa, foi o discurso no Parlamento Europeu. O ex-presidente foi aplaudido de pé pelos eurodeputados após, entre outras declarações, dizer que o Brasil tem jeito e que é possível construir uma economia justa.

Da Bélgica, o petista partiu para a França onde, no dia 16, se encontrou com a prefeita de Paris, a socialista Anne Hidalgo. Foi nessa mesma data que o ex-presidente esteve na Sciences Po.

No outro dia, Lula foi recebido pelo presidente Emmanuel Macron em um encontro que durou mais de uma hora no Palácio do Eliseu, em Paris, e cuja pauta foi a geopolítica. Desde a eleição do francês, em 2017, ele não recebeu nenhum presidente brasileiro – nem Jair Bolsonaro (PL), com quem já se desentendeu, nem Michel Temer (MDB).

No mesmo dia, Lula foi agraciado com o prêmio de “coragem política” concedido pela revista Política Internacional, honra conferida apenas outras três vezes em 40 anos da publicação a dois ex-presidentes, Anuar Sadat (Egito) e Frederik de Klerk (África do Sul), e ao papa João Paulo II.

Em 19 de novembro, já em Madri, o petista se reuniu com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez.

Foi na capital espanhola que Lula encerrou sua turnê pela Europa. Análise de dados nas redes sociais aponta que a viagem do ex-presidente teve aprovação de 80% da opinião pública não militante.

Pesquisas de intenção de voto

Autor do vídeo com conteúdo falso, Luan Amâncio inicia a gravação dizendo que “parece que os institutos de pesquisa, mais uma vez, estão errados”, referindo-se ao fato de o presidente Bolsonaro aparecer atrás de Lula nas últimas pesquisas eleitorais.

Levantamento da Genial/Quaest divulgado em 10 de novembro mostra o petista com 48% das intenções de voto e, Bolsonaro, com 21%.

Em setembro, Lula tinha 44% dos votos contra 26% de Bolsonaro, conforme revelou o Datafolha.

O autor do vídeo

Em seu canal no YouTube, onde chama quem se considera “patriota e conservador” para se inscrever, Luan Amâncio tem 289 mil seguidores. No Facebook, rede em que compartilha os mesmos vídeos, são 211,4 mil seguidores. Nesta rede, ele se apresenta como “jornalista” e como “advogado, criador de conteúdo de Youtube e residente de Curitiba”.

Os vídeos são, em sua maioria, de apoio a Bolsonaro e contrários a Lula. Um deles foi alvo de uma checagem do Estadão Verifica, em junho deste ano. À época, Amâncio retirou de contexto um trecho de um documentário dizendo que era uma “reunião vazada” da cúpula do PT.

O Comprova entrou em contato com ele via Instagram, questionando-o sobre o vídeo adulterado. “Pode ser, então, que esteja errado mesmo”, disse ele, que apagou a publicação após a troca de mensagens com o Comprova.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Projeto Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre pandemia, governo federal e eleições. A publicação aqui verificada foi visualizada mais de 125 mil vezes no Facebook até o dia 10 de dezembro.

Ao divulgar um vídeo com áudio adulterado, o conteúdo cria a falsa impressão de que Lula teria sido mal recebido na instituição que o convidou, quando, na verdade, foi o contrário. Qualquer cidadão tem o direito de apoiar o político que quiser, mas é perigoso para a democracia quando a opinião é formada com base em conteúdos falsos, como este verificado aqui.

O conteúdo também se torna perigoso quando critica os institutos de pesquisa, importante ferramenta para a sociedade em períodos pré-eleitorais.

O mesmo vídeo foi verificado pela Lupa e AFP Checamos.

O Comprova já concluiu ser falso que o Washington Post tenha publicado manchete com elogios a Bolsonaro, que jogadores de times europeus tenham dedicado gols a ele e que torcedores do Atlético Mineiro tenham xingado Lula em partida recente.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2021-12-10

É enganoso que vacina contra covid-19 tenha provocado aumento de morte de crianças

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o texto que circula no aplicativo Telegram sobre aumento na incidência de mortes de crianças do sexo masculino após receberem a vacina contra a covid-19. A postagem atribui a alegação ao médico britânico Vernon Coleman, mas não há citação sobre indicadores de óbitos de meninos na publicação feita por ele. Há outro link de um site negacionista, que sugere ligação das mortes com a vacina, porém nenhuma pesquisa atesta a mesma relação. O post foi divulgado em um canal que reproduz conteúdos antivacina.
  • Conteúdo verificado: Texto no Telegram alega que dados oficiais mostram que as mortes de crianças do sexo masculino aumentaram 54% desde que receberam a vacina contra a covid-19.

É enganosa a postagem feita em um canal do Telegram chamado Médicos pela Vida, um grupo antivacina. Nela, o autor afirma, logo na primeira frase, que dados oficiais mostram aumento de 54% das mortes de crianças do sexo masculino desde que receberam o imunizante contra a covid-19.

Em seguida, o post reproduz a tradução de uma publicação do site britânico The Exposé e um vídeo do médico Vernon Coleman, em que ele critica o uso de máscaras e a atuação de governos no enfrentamento à Ômicron, nova variante do coronavírus. O portal The Exposé é conhecido por publicar textos com desinformação relacionada à covid-19.

A postagem do The Exposé e o vídeo de Coleman não citam o suposto aumento de mortes de crianças devido à vacina contra a covid-19. Há no site outra publicação que faz esta ligação, mas não existem pesquisas que atestem a relação de óbitos infantis e a aplicação dos imunizantes.

É importante destacar também que o vídeo de Coleman tem conteúdo negacionista. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o uso de máscaras para ajudar a diminuir a transmissão da covid-19, bem como frequentemente alerta para a importância da imunização como prevenção aos quadros graves da doença que podem evoluir à morte.

Além da publicação original não abordar óbitos de crianças, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e médicos consultados pelo Comprova negam a existência de indicadores que apontem o crescimento no número de mortes de meninos como consequência da imunização.

Na descrição do canal em que a postagem foi feita há um link que direciona para o site de uma instituição brasileira, de mesmo nome, que faz defesa do tratamento precoce contra a covid -19 (prática não recomendada pela OMS), mas o grupo afirma não ser responsável pela publicação.

O Comprova classificou o conteúdo como enganoso porque usa dados imprecisos em um publicação que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Atualização: Esta verificação foi atualizada em 10 de dezembro para incluir referência a uma publicação encontrada no site The Exposé após a publicação. Com essa atualização, o Comprova entendeu ser necessária a mudança da etiqueta utilizada originalmente de falso para enganoso

Como verificamos

Primeiramente, procuramos no Google por dados oficiais relacionados ao aumento de mortes de crianças devido à vacina contra a covid-19. A busca não gerou resultado. Depois, buscamos informações em sites de notícias sobre quais países já aplicam a vacina em crianças e se há notificações de efeitos colaterais graves ou mortes.

Entramos no link disponibilizado na postagem e assistimos ao vídeo completo do médico britânico Vernon Coleman, postado no site The Exposé.

Em seguida, pesquisamos pelo endereço do site sobreposto à imagem do vídeo. No portal, encontramos o vídeo e a transcrição completa do que é dito por Coleman. No vídeo, ele faz críticas à imprensa e diz que não tem e-mail público, o que inviabilizou o contato da reportagem com o britânico.

Conversamos com a secretária do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Tânia Petraglia, e com o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, e os dois afirmaram desconhecer qualquer estudo que confirme o conteúdo verificado.

Por fim, a reportagem procurou o Médicos pela Vida, que informou não ser responsável pelo canal no Telegram em que a postagem foi feita, embora fosse esse o nome do grupo no aplicativo de mensagem. Não há outra forma de contato com o autor.

Verificação

Mortes de crianças

A vacinação de crianças ainda é uma estratégia recente no mundo, que priorizou a imunização de faixas etárias e grupos com maior risco de morte em caso de infecção pelo Sars-CoV-2. Por isso, Renato Kfouri, diretor da SBIm, afirma que não há tempo suficiente pós-vacinação para reportar evento adverso importante que dê base para o dado citado na postagem.

O diretor aponta que o estudo relacionado à vacina da Pfizer, a única que está sendo aplicada nos EUA nessa faixa etária, foi realizado com cerca de 2,5 mil crianças e verificou pontos como resposta imune, eficácia e segurança.

Kfouri afirma ainda que a realização de estudos pequenos na fase de licenciamento é comum, assim como também ocorreu na vacinação de adultos. O diretor observa que especialistas continuam fazendo farmacovigilância após o início da aplicação e que esta ainda aponta para o padrão de segurança observado nos testes clínicos.

“As primeiras vacinas da covid-19, quando foram licenciadas, também tiveram estudos em 10 mil, 20 mil, 30 mil, 40 mil indivíduos. Hoje, já existem 7 bilhões de doses aplicadas em todo o mundo, reafirmando a segurança dessas vacinas. Com criança é a mesma coisa”, diz Kfouri.

A pediatra Tânia Petraglia também não reconhece a estatística apresentada na postagem. A médica explica que os Estados Unidos trabalham com notificação espontânea de eventos adversos. Com isso, qualquer pessoa pode informar uma reação à vacina da covid-19. A notificação é apurada, em seguida, pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças do país.

Segundo ela, o país não divulgou dado de aumento de mortes de crianças supostamente provocadas pela vacina contra a covid-19. “Que eu tenha conhecimento, nenhum país suspendeu a vacinação em crianças por óbitos desproporcionais ou eventos adversos graves em série.”

Embora a vacinação de crianças ainda não tenha sido autorizada no Brasil, a Anvisa avalia pedido da Pfizer para iniciar a imunização do público de 5 a 11 anos e, além dos dados fornecidos pela farmacêutica, monitora o cenário de outros países.

Em nota, a agência informa que acompanha os dados referentes à vacina pelo mundo por meio de uma rede de monitoramento de eventos adversos. “Não há nenhum dado que indique aumento de óbitos entre crianças do sexo masculino em decorrência do uso das vacinas”, sustenta o órgão responsável pela aprovação de uso dos imunizantes no Brasil.

Vacinação para menores de 12 anos

Um levantamento realizado pela agência de notícias Reuters, no início de novembro, apontava que nove países já tinham começado a vacinar o público na faixa etária abaixo de 12 anos. Naquele momento, a imunização alcançava crianças do Bahrein, Chile, China, Cuba, El Salvador, Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos, Equador e Indonésia, segundo informações da BBC. Esses locais usam vacinas diferentes: Sinopharm, Sinovac (Coronavac), Soberana 02 e Pfizer.

No final do mês, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) autorizou uma versão reduzida da vacina da Pfizer, para crianças, nos países que compõem a União Europeia.

Itália, Grécia e Portugal já incorporaram a medida. No dia 7 de dezembro, as autoridades de saúde da Espanha também liberaram a vacina para crianças de 5 a 11 anos a partir de 15 de dezembro.

No mesmo dia, diante da nova onda de casos de covid-19 na Europa, a OMS fez um alerta para aumentar a proteção de crianças, a faixa etária mais afetada neste momento.

Vacina para crianças no Brasil

A Anvisa, em nota, afirmou ao Comprova que, até 8 de dezembro, o único fabricante que havia solicitado avaliação da agência para incluir o público menor de 12 anos na bula da vacina contra a covid-19 era a Pfizer.

O pedido foi enviado à Anvisa no dia 12 de novembro e está no prazo de 30 dias previsto para análise. No dia 6 de dezembro, atualização mais recente sobre a solicitação, a farmacêutica encaminhou informações adicionais para a agência, que havia exigido mais dados para avaliar a implementação da estratégia de imunização no público de 5 a 11 anos.

Nova variante

A África do Sul alertou sobre a Ômicron no final do mês passado, afirmando que a variante poderia desencadear novo surto de infecções. Cientistas do país informaram no dia 10 de dezembro, contudo, que não veem sinais de que a nova cepa esteja causando quadros mais graves. Os atendimentos decorrentes da doença aumentaram no país sul-africano, mas as mortes não tiveram a mesma escalada.

As farmacêuticas também estão conduzindo estudos sobre a eficácia das vacinas disponíveis para barrar a Ômicron, que já chegou a mais de 50 países, inclusive no Brasil. As primeiras análises indicam que, com três doses, a variante pode ser neutralizada.

No país, a dose de reforço foi autorizada para toda a população adulta.

O grupo de médicos

A postagem que trata sobre o aumento de mortes de meninos em decorrência da vacina foi compartilhada em um canal no Telegram denominado “Médicos pela Vida”, mas o grupo que, oficialmente, assim se denomina, diz não ter relação com a publicação.

A assessoria dos médicos que defendem o chamado tratamento precoce, sem eficácia comprovada contra a covid-19 e cuja aplicação não é reconhecida para estes casos por organizações como a OMS, informou não ter canal no Telegram.

“A entidade reforça que repudia a divulgação de informações errôneas que visem a conduzir a sociedade e a própria classe médica a incorrer a erros de interpretação. Seja por parte de redes sociais, mídias digitais e a imprensa”, diz, em nota.

Quem é Vernon Coleman

Muito antes da pandemia da covid-19, o britânico Vernon Coleman já colecionava polêmicas devido a seu posicionamento contrário à assistência médica convencional e ao uso de vacinas, segundo aponta uma reportagem da Revista Época de 2006. Formado em Medicina, abandonou a prática há 45 anos e passou a criticar a atuação dos profissionais da área.

Em março deste ano, foi alvo de uma checagem do PolitiFact devido a um vídeo em que dizia que as vacinas são armas de destruição em massa, alegação desmentida na verificação feita pelo site norte-americano. Nessa reportagem, entre outras informações sobre o perfil de Coleman, a equipe lembrou que ele negou a existência do HIV e que publicou um livro, em 2019, que tentava desacreditar a eficácia e segurança das vacinas. Nessa mesma verificação, o PolitiFAct aponta que a licença de médico de Vernon foi cassada, embora ele se apresente em sua página na internet como clínico geral.

Mais recentemente, a Reuters apontou, em uma checagem, que Vernon usou, de maneira enganosa, o resumo de um artigo, que não havia sido revisado por pares, para justificar sua teoria de que as vacinas contra a covid-19 seriam um risco às pessoas.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre governo federal, pandemia e eleições que tenham atingido alto grau de viralização. Essa publicação no Telegram alcançou mais de 26 mil visualizações até o dia 10 de dezembro.

Conteúdos de desinformação são frequentes nas abordagens sobre a covid-19 desde o início da crise sanitária. Primeiro, para minimizar os riscos da doença ou promover remédios sem eficácia, e, agora, para colocar em dúvida a eficácia e segurança das vacinas.

Essa prática é danosa porque leva muitas pessoas a recusarem a imunização, estratégia que, até o momento, se mostra como a mais efetiva para prevenir casos graves e mortes provocadas pelo coronavírus.

O Comprova já fez inúmeras verificações relacionadas à pandemia, como a que, de forma enganosa, sugeria que as mutações da covid-19 tornavam as vacinas inócuas, ou o post falso que alegava que a África do Sul não reconhecia a variante Ômicron ou mesmo o coronavírus.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-12-08

Mutações da covid-19 não descartam eficácia e segurança das vacinas

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso vídeo em que médico diz que as vacinas contra a covid-19 não teriam mais serventia devido ao surgimento de novas variantes do coronavírus. A Pfizer e a BioNTech adiantaram que os imunizantes são eficazes contra a nova cepa, com a aplicação de três doses. Os imunizantes das outras farmacêuticas estão sendo estudados para saber como as vacinas se comportam em relação à ômicron, que é a variante mais recente, e, caso seja preciso, serão atualizados. O consenso que existe, até agora, é que as vacinas continuam sendo as melhores alternativas para prevenir a contaminação e quadros graves da doença, ainda que surjam variantes.
  • Conteúdo verificado: Circula um vídeo pelo Twitter, Instagram e Whatsapp no qual um médico identificado como Rubens Amaral desencoraja a vacinação contra a covid-19. Ele afirma, de maneira enganosa, que as vacinas são “do vírus original,” que “não existe mais”, e, portanto, não teriam mais serventia.

São enganosas as afirmações difundidas pelo médico Rubens Amaral contra as vacinas desenvolvidas para combater a covid-19. Em um vídeo compartilhado no Instagram e replicado no Twitter, WhatsApp e Telegram, ele afirma que os imunizantes não são capazes de proteger contra variantes e que, por este motivo, não valeria a pena receber qualquer dose da vacina.

Diferentemente do que diz Amaral, o vírus que provoca a covid-19 continua sendo o Sars-Cov-2, o que aconteceu foi o surgimento de variantes, que ocorre quando o vírus sofre pequenas modificações. Além disso, o surgimento de novas variantes não faz com que as vacinas automaticamente se tornem dispensáveis. Os imunizantes seguem capazes de reduzir as chances de quadros agudos da doença, além de minimizar a contaminação pelo novo coronavírus. A dose de reforço, incentivada pelo Ministério da Saúde brasileiro e adotada em outros países, é uma das provas da importância das imunizações.

Evidências demonstram que as vacinas protegem contra todas as variantes de preocupação que surgiram até a delta. Em relação à nova cepa, denominada ômicron, estudos estão sendo conduzidos para saber a real eficácia dos imunizantes contra ela. A Pfizer e a BioNTech já adiantaram que as três doses do imunizante são capazes de neutralizá-la.

Caso seja preciso, os imunizantes podem ser atualizados. Além disso, atualmente, a variante predominante no Brasil é a delta, contra a qual as vacinas são comprovadamente eficazes.

Outras farmacêuticas ainda não se manifestaram publicamente, de forma conclusiva, como a Pfizer. Até o momento, os dados mostram que as vacinas são capazes de proteger da cepa.

O Comprova entrou em contato com o médico questionando as fontes de informações utilizadas por ele para embasar o que é dito no vídeo aqui verificado. Até o momento da publicação desta checagem, não houve retorno.

Por ser uma autoridade médica, as opiniões de Amaral são levadas em consideração por milhares de seguidores no Instagram e também por membros de grupos bolsonaristas que difundem as declarações distorcidas apresentadas por ele, ainda que os argumentos contrários à imunização não tenham respaldo científico.

Todo conteúdo que retira informações de contexto original para distorcer os fatos é classificado como enganoso pelo Comprova. Esse tipo de postagem induz a uma interpretação diferente dos acontecimentos e confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

Primeiramente, procuramos informações sobre as vacinas e o que se sabe sobre o efeito delas contra as variantes.

Buscamos informações nos sites de autoridades sanitárias, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e Ministério da Saúde, para saber quais são as recomendações em relação à imunização.

Conversamos ainda com a doutora em imunologia e professora do Instituto de Biologia da Universidade de Brasília (UnB) Anamélia Lorenzetti Bocca e com o professor do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Universidade de São Paulo (USP) Eduardo Lani Volpe da Silveira.

Por fim, tentamos contato por e-mail com o médico Rubens Amaral, autor do vídeo.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 8 de dezembro de 2021.

Verificação

Ômicron e a eficácia das vacinas

Nomeada com a 15ª letra do alfabeto grego, a nova variante do coronavírus foi detectada em vários países. A diferença dessa para outras mutações do vírus é que as alterações genéticas estão relacionadas a um maior potencial de disseminação. Na prática, isso significa que o vírus se tornou mais infeccioso e pode se transmitir mais rápido.

Isso ocorre porque, na ômicron, a proteína spike, que ajuda o vírus a infectar as células humanas, tem 32 mutações. Especialistas discutem que, mesmo com essas mutações, não necessariamente a ômicron será uma mutação mais preocupante que as anteriores.

Ainda é cedo para saber se os imunizantes desenvolvidos até o momento conseguirão combater a variante ômicron, mas os primeiros indícios apontam que sim, conforme sinalizou a Pfizer e a BioNTech.

Scott Gottlieb, diretor da Pfizer e ex-comissário da Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos, disse ao canal estadunidense CNBC que há um grau razoável de confiança nos três ciclos da vacina, contando com a dose de reforço. “O paciente terá uma proteção razoavelmente boa contra essa variante”, declarou.

Por outro lado, em entrevista ao jornal norte-americano Financial Times, o presidente da farmacêutica Moderna, Stéphane Bancel, prevê uma “redução significativa” da eficácia contra a variante. Bacel disse que o alto número de mutações na proteína spike fará com que os imunizantes precisem ser modificados no próximo ano. Apesar das afirmações, o cenário ainda é de incertezas diante da necessidade ou não de uma reformulação dos imunizantes.

De acordo com Anamélia Lorenzetti Bocca, da UnB, ainda é cedo para saber se as vacinas atuais terão a mesma eficácia contra a variante ômicron. Porém, é esperada alguma resposta positiva.

“Espera-se uma diminuição da eficiência, uma vez que temos as mutações, mas não serão ineficazes porque a proteína spike é grande e existem outros epítopos que são conservados. Os anticorpos reconhecem regiões pequenas, então são formados vários anticorpos (chamados de policlonal) para a proteína toda. Outro ponto é que não se sabe ainda se as mutações no RNA levam a mudanças na conformação da proteína. Algumas mutações levam à mudança de aminoácidos que têm as mesmas características e não interferem na proteína e/ou epítopo final”, explica.

Eduardo Lani Volpe da Silveira, destaca o mesmo ponto de que ainda é cedo para saber a eficácia das vacinas contra a nova variante.

“Ainda é prematura qualquer afirmação em relação à eficácia vacinal. O número de casos com esta variante ainda é pequeno na escala global. Porém, a maioria dos relatos tem sido associada a pacientes com sintomas leves de covid-19. Se essa observação se repetir, daqui em diante, em uma população bem maior e em diferentes localidades, daí podemos ter uma ideia mais robusta que as formulações vacinais administradas contra a covid-19 também protegeriam contra essa variante”, explica.

Caso seja necessário, as vacinas podem ser atualizadas

A Anvisa também tem acompanhado os impactos das variantes no curso da doença. A agência participa do grupo de especialistas da Coalizão Internacional de Autoridades Reguladoras de Medicamentos (International Coalition of Medicines Regulatory Authorities – ICMRA), que discute estratégias regulatórias para a atualização das vacinas. No início deste mês, a agência pediu que as empresas responsáveis pelos imunizantes no país avaliem se eles são eficazes contra a variante.

As vacinas contra a covid-19 são as primeiras a usar a tecnologia de RNA mensageiro (mRNA). Tanto as empresas Pfizer e BioNtech quanto a Moderna usaram a técnica em seus imunizantes. Uma das grandes vantagens dessa tecnologia é a flexibilidade. Elas podem ser alteradas rapidamente para poder agir contra variantes que eventualmente não forem atingidas pela vacina em uso.

Em um artigo publicado no site The Conversation, Deborah Fuller, microbiologista, professora da Universidade de Washington e especialista em vacinas que utilizam a tecnologia de mRNA, disse acreditar que somente uma dose de reforço seja suficiente para atualizar a imunização contra a variante e que a atualização estaria pronta em até três meses.

A Pfizer disse que está avaliando o impacto da variante na eficácia da vacina. Só depois que os estudos forem concluídos a empresa avaliará se há necessidade de atualizar o imunizante. Já a Universidade de Oxford, responsável pela vacina da AstraZeneca, disse que não há evidências de que o imunizante não sirva para a variante. Porém, a instituição ressaltou que está pronta para atualizar a vacina caso seja preciso.

A Janssen disse que já está desenvolvendo uma nova vacina contra a variante. “Começamos a trabalhar para projetar e desenvolver uma nova vacina contra a ômicron e vamos progredir rapidamente em estudos clínicos, se necessário”, disse Mathai Mammen, chefe global de pesquisa da unidade farmacêutica da Johnson & Johnson.

A Sinovac, fabricante da Coronavac, também afirmou que está avaliando se a vacina funciona contra a variante. Em entrevista ao Jornal da CBN, Sandra Coccuzzo, diretora do Centro de Desenvolvimento Científico do Instituto Butantan, falou que o instituto já coletou amostras dos indivíduos contaminados pela ômicron e os testes foram iniciados.

O governo chinês disse em janeiro que as vacinas produzidas no país podem ser atualizadas para variantes em até dois meses. No último dia 7, a Sinovac pontuou que já trabalha em um novo imunizante adaptado para a cepa e que a expectativa é que ele fique pronto em três meses.

O CEO da Moderna, Stephen Hoge, revelou em 1º de dezembro que pode ter um reforço do seu imunizante para ômicron pronto em março. A empresa também trabalha na elaboração de vacina multivalente que incluiria até quatro variantes diferentes do coronavírus, incluindo a ômicron.

A empresa Novavax, que ainda não teve sua vacina aprovada, apresentou dados que mostram que a eficácia dela para a ômicron é de 50%. Diante dos indicadores, a empresa disse que estuda mudar a composição das doses para aumentar a eficácia.

Cepa pode ser menos letal

O epidemiologista e futuro ministro da Saúde da Alemanha Karl Lauterbach, assim como alguns especialistas, concordam que a nova variante pode vir a se tornar comprovadamente menos letal que as demais.

Lauterbach classificou como “presente de Natal antecipado” a falta de indícios de casos graves da doença associados à mutação descoberta recentemente.

O mesmo olhar otimista sobre a pandemia tem ganhado espaço entre especialistas, como Anthony Fauci, principal conselheiro do presidente dos Estados Unidos Joe Biden.

Anthonyclassificou os primeiros sinais da variante como “um tanto encorajadores“, podendo sinalizar que a nova cepa teria se otimizado para infectar pessoas, em vez de matar, o que poderia acelerar o fim da pandemia e a retomada econômica e social, segundo ele.

Dose de reforço como melhor aliada

Especialistas em saúde orientam que a população siga as recomendações para tomar a dose de reforço. A medida tem como intuito prevenir uma nova onda de infecções.

O Ministério da Saúde reduziu o intervalo entre as aplicações de doses de reforço. Com isso, as aplicações passaram de seis para cinco meses após a segunda dose. Na cidade de São Paulo a redução foi ainda maior, prevendo apenas quatro meses entre a última dose e a dose de reforço.

O reforço vale para todos os brasileiros adultos, a partir dos 18 anos. Antes, a dose adicional era aplicada após seis meses apenas para pessoas com mais de 60 anos, profissionais de saúde e pessoas com problemas no sistema imunológico.

A especialista em imunologia Anamélia Lorenzetti Bocca ressalta que tomar as vacinas aprovadas ainda continua sendo a melhor alternativa, uma vez que elas têm a capacidade de evitar casos graves da doença.

“É importante tomar a vacina, mesmo que a eficiência diminua um pouco, será importante para reduzir a carga viral e a gravidade da doença”, ressalta. Eduardo Vani Volpe também destaca a importância da vacinação para conter novas variantes. “Há todo o sentido em vacinarmos o maior número de pessoas, e não só no Brasil, mas no mundo todo. Além da proteção contra doença grave e morte, a vacinação em massa reduz as chances do surgimento de novas variantes virais, as quais podem eventualmente ser mais transmissíveis ou patogênicas que as conhecidas até o momento.”

Anamélia ainda explica que os dados mais atuais mostram que será preciso tomar um reforço do imunizante a cada seis meses pelo menos enquanto o vírus continuar com alta circulação.

“No cenário em que o vírus fica circulando regularmente, serão necessárias as doses de reforço porque foi demonstrado que os níveis de uma resposta imune ativa começam a diminuir após 6 meses da última dose, apesar de as células de memória ficarem por mais tempo no organismo. No cenário de contenção da circulação do vírus, talvez seja necessário vacinar apenas as populações de risco. Neste último cenário, vamos precisar aguardar e ver o comportamento da infecção.”

Vacina da gripe x covid-19

No vídeo, é falado que a vacina contra a covid-19 teria que ser atualizada todos os anos assim como a contra a influenza. O vírus da gripe sofre muitas alterações, por isso a vacina contra a doença precisa ser tomada anualmente. De acordo com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), há três tipos de vírus da influenza – A, B e C —, o primeiro é o mais suscetível a mutações.

No Brasil, a Anvisa decide quais as cepas do vírus devem ser incluídas no imunizante a cada campanha. De acordo com o Instituto Butantan, que é responsável pela vacina contra a influenza no país, a campanha anual de vacinação é necessária porque a proteção conferida pela vacina cai progressivamente seis meses depois da aplicação e devido à variação dos subtipos de influenza circulantes. O instituto demora cerca de seis meses para atualizar o imunizante.

Em relação à comparação feita no vídeo verificado com o vírus da gripe, Anamélia explica que o patógeno causador da influenza sofre grandes mutações regularmente.

“A OMS identifica as cepas em circulação nas regiões do mundo ao final de cada inverno e indica quais modificações nas vacinas devem ser realizadas para a vacinação antes do inverno seguinte. Então, as vacinas são atualizadas a cada ano para serem eficientes na imunização da população. A vacina aplicada em cada região do mundo é diferente, porque depende das variantes do influenza identificadas. Até o momento as vacinas da covid não precisaram ser modificadas como ocorre para a influenza, porque ainda se mostram eficientes com as variantes descritas”, destaca.

A professora ressalta, no entanto, que caso seja preciso atualizar as vacinas contra a covid-19 todos os anos, isso será possível. “As vacinas da covid são produzidas em plataformas nas quais pode-se atualizar os antígenos, com as mutações vigentes. As vacinas de RNAm são as mais simples de serem produzidas. Então, assim como as vacinas da gripe são atualizadas todo ano, as da covid também podem. No entanto, até o momento não foi necessária esta atualização devido à sua alta eficiência com as variantes observadas até a ômicron”, aponta.

Efeitos adversos das vacinas

De acordo com a OMS, é normal que, após se vacinar, a pessoa sinta alguns efeitos colaterais leves, tais como febre baixa ou dores musculares. Isso porque seu sistema imunológico está instruindo seu corpo a reagir de certas maneiras.

Algumas pessoas, porém, podem experimentar efeitos adversos menos comuns. Segundo a OMS, reações alérgicas graves, como anafilaxia, têm sido relatadas de forma extremamente rara.

De acordo com a Anvisa, os eventos adversos mais comuns após a vacinação são dor no local da aplicação, fadiga, cefaleia (dor de cabeça), dor muscular, calafrios, dor nas articulações e febre.

Já o risco de ocorrência de miocardite e pericardite é baixo, e não há evidências científicas disponíveis que indiquem riscos aumentados de eventos cardíacos.

Quem é Rubens Amaral

Rubens Azevedo do Amaral é médico formado pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos, com mestrado em Educação pela Universidade Católica de Santos. Tornou-se especialista em nefrologia, fisiologia do exercício na saúde pela USP e coach pelo Instituto Brasileiro de Coaching.

Apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) e contrário à aplicação de vacinas para combater a covid-19, Rubens Amaral receitou ivermectina — medicamento sem eficácia comprovada — durante uma live no Instagram. A transmissão ao vivo ocorreu em abril deste ano. Ele recomendou o uso para todas as pessoas que tiveram contato com infectados ou que apresentaram sintomas, contrariando as recomendações da OMS, e fez alegações insustentáveis sobre o risco de internação.

Um mês depois, o próprio Ministério da Saúde se posicionou pela primeira vez contra o uso tanto da ivermectina quanto da cloroquina e azitromicina, remédios de uso amplamente incentivado pelo presidente Bolsonaro e seus apoiadores mesmo sem eficácia atestada contra a covid-19.

O Comprova encaminhou um e-mail para Rubens Amaral na tentativa de saber qual era a fonte de informações que ele cita no vídeo, a respeito das vacinas não fazerem mais efeito contra as mutações da covid-19 e, por essa razão, desestimular a imunização. Não houve retorno.

Conteúdo enganoso desincentiva vacinação

O vídeo original foi publicado no Instagram do médico no dia 26 de novembro de 2021, um dia após o anúncio oficial sobre a descoberta da variante ômicron.

Até o momento, mais de 29 mil pessoas assistiram ao conteúdo na plataforma. O vídeo também circula em grupos bolsonaristas e de viés antivacina, tanto no Facebook quanto no WhatsApp.

Rubens questiona na legenda do vídeo “o óbvio está óbvio?”. Em resposta, seguidores inflamam o discurso antivacina incitado pelo médico.

Os impactos da propagação dessas notícias enganosas são vistos em alguns comentários que desacreditam a ciência, vistos como verdade pela audiência que o acompanha nas redes.

“Não tenho dúvida, as pessoas estão realmente anestesiadas. Sem capacidade de raciocínio”, escreveu uma seguidora. Na sequência, outra pessoa escreve que não é preciso “ter formação acadêmica e conhecimentos específicos” para entender sobre a “obviedade” citada pelo médico, que contraria a ciência.

Em diversas postagens no Instagram e no Facebook, Rubens Amaral trata a vacina como “vilã” da pandemia e se vale de argumentos por vezes falsos e, em outras, enganosos, para desestimular as imunizações.

As vacinas criticadas pelo médico bolsonarista são comprovadamente seguras e eficazes na prevenção de quadros graves da covid-19, além de reduzirem as chances de contaminação e transmissão da doença.

Agências de vigilância sanitária ao redor do mundo, assim como a Anvisa, ressaltam que os imunizantes funcionam, diferentemente do que afirma o médico. Checagens anteriores do Comprova também mostram que a comparação do número de mortes por covid-19 em 2020 e 2021 não indica a ineficácia das vacinas.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado sobre pandemia, políticas públicas e eleições. O conteúdo em verificação foi compartilhado em grupos bolsonaristas e publicado originalmente no Instagram, alcançando mais de 29 mil visualizações.

Publicações enganosas como essa, quando feitas por pessoas que são autoridades em saúde, como profissionais da medicina, aumentam a desconfiança sobre os imunizantes contra a covid-19. Já foi amplamente divulgado pela imprensa o posicionamento da Anvisa e do Ministério da Saúde sobre as vacinas serem seguras e eficazes contra a doença, e que os efeitos adversos são raros.

O Comprova tem publicado verificações que desmentem boatos de internet que interferem negativamente na proteção contra a covid-19, como o conteúdo enganoso que afirmava que vacinação em massa ampliou a taxa de mortalidade por covid-19 e outro em que uma médica espalhou boatos sobre AVC em pilotos gerados pela vacina, o que não procede.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-12-07

É falso post de novembro que cita cancelamento do carnaval no Rio

  • Falso
Falso
É falso post de novembro que afirma que o carnaval do Rio de Janeiro em 2022 foi cancelado. A afirmação circula em grupo do Facebook de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) e não encontra respaldo na realidade, uma vez que a Prefeitura do Rio ou o Governo do Estado do Rio de Janeiro não anunciaram a medida até a publicação desta verificação, em 7 de dezembro de 2021.
  • Conteúdo verificado: Montagem com uma foto da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, com a frase “Carnaval de 2022 está cancelado”, publicada em um grupo de bolsonaristas com a legenda “Graças a Deus”.

É falso que o carnaval de 2022 do Rio de Janeiro foi cancelado, conforme afirma uma publicação que circulava em um grupo bolsonarista no Facebook. 

O conteúdo, apagado posteriormente, exibia uma montagem com a foto da Sapucaí em plano de fundo, e com os dizeres em destaque: “Carnaval de 2022 está cancelado”. Até dezembro de 2021, quando esta verificação foi publicada, o evento estava mantido.

Na legenda, o autor agradeceu a Deus pela medida, que não foi determinada pelas gestões estadual ou municipal, tratando-se de um boato de internet.

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

Inicialmente, o Comprova enviou e-mail à Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro (Riotur), responsável por aplicar as políticas de turismo feitas pela prefeitura do Rio de Janeiro, entre elas o carnaval.

Por telefone, a gestão municipal confirmou à reportagem que, por enquanto, as festividades de carnaval serão mantidas na região, ainda que as de Ano Novo tenham sido suspensas.

Em seguida, a equipe entrou em contato com o autor da publicação por meio do Facebook, que também havia compartilhado a imagem em seu perfil pessoal, mas não obteve resposta.

O post original, no grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, foi apagado da plataforma. Segundo um aviso do Facebook que surge ao clicarmos no que seria o link da postagem, o conteúdo pode ter sido removido pelo autor ou ter sido direcionado a apenas um grupo específico.

Antes de se tornar inacessível – quer seja por exclusão ou mudança de quem poderia acessar a postagem -, havia um anúncio de conteúdo que violava as diretrizes da rede junto à publicação, adicionada automaticamente pelo Facebook, uma vez que a plataforma o considerou como conteúdo falso.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 7 de dezembro de 2021.

Verificação

Carnaval está mantido no Rio

Em entrevista à revista Veja no dia 25 de novembro deste ano, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), afirmou que se houver condições epidemiológicas favoráveis, o carnaval estará mantido na cidade.

A entrevista ocorreu após a Europa anunciar a quarta onda da covid-19 e, apesar das incertezas em relação ao quadro pandêmico, o prefeito se manifestou favorável à realização. “Se não tiver condições, não vai ter. Torço para que tenha”.

Já o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, informou em entrevista à rádio Jovem Pan no mesmo dia que, na altura, não existiam motivos para que o carnaval fosse adiado.

Conforme a assessoria de imprensa da empresa Riotur, a organização para o evento de fevereiro de 2022 se mantém sem nenhuma alteração.

“A Riotur informa que a organização para o Carnaval no Rio de Janeiro em 2022 ocorre normalmente, estamos trabalhando para a realização de um evento organizado e seguro, enfatizamos que até o presente momento a programação do evento não sofreu nenhuma alteração, desta forma, o post anunciando o cancelamento da festa não é real. No entanto, caso órgãos competentes ligados à saúde entendam que a realização do evento é um risco para a população em relação à covid-19, o mesmo poderá ser cancelado”, destacou.

O portal de notícias UOL também verificou o teor do conteúdo aqui checado, e concluiu que se trata de um conteúdo falso.

A publicação viralizou após Bolsonaro conceder entrevista à Rádio Sociedade da Bahia, também no dia 25 de novembro, afirmando que por ele “não haveria Carnaval em 2022”. Na ocasião, disse que é uma decisão que cabe aos governadores e prefeitos, a quem responsabilizou pela realização do evento em 2020. Na época, ainda não haviam casos do novo coronavírus confirmados no Brasil. Posteriormente, uma pesquisa liderada pela Fiocruz constatou que o coronavírus já circulava sem ser detectado na Europa e nas Américas.

A reportagem procurou o autor da publicação e o questionou sobre a origem da imagem. Contudo, não obteve resposta até a publicação.

Réveillon cancelado no Rio

A tradicional festa de Réveillon na capital fluminense foi cancelada no dia 4 de dezembro pelo prefeito Eduardo Paes. O anúncio levou em consideração as orientações do comitê científico do estado, em função da variante ômicron, da covid-19.

No Twitter, Paes escreveu que a decisão mais restritiva foi adotada diante de divergências entre os comitês científicos estadual e municipal. “Vamos sempre ficar com a mais restritiva”. O prefeito também afirmou que o município respeita a ciência.

“O Comitê da prefeitura diz que pode. O do Estado diz que não. Então não pode. Vamos cancelar dessa forma a celebração oficial do Réveillon do Rio”, escreveu.

Paes disse ainda que toma a decisão “com tristeza”, mas que não há possibilidade de organizar a celebração sem a garantia de todas as autoridades sanitárias.

“Se é esse o comando do estado (não era isso o que vinha me dizendo o governador), vamos acatar. Espero poder estar em Copacabana abraçando a todos na passagem de 22 para 23. Vai fazer falta, mas o importante é que sigamos vacinando e salvando vidas”, afirmou o prefeito do Rio.

Paes recebeu com surpresa a decisão do estado

Em entrevista concedida após reunião com os secretários no mesmo dia 4 de dezembro de 2021, Eduardo Paes repetiu que o cancelamento do Réveillon foi decidido por recomendações do estado, afirmando ter sido surpreendido com a decisão.

Segundo o prefeito, nos próximos dias uma conversa com o governador do estado, Cláudio Castro (PL), seria estabelecida para avaliar a evolução do cenário epidemiológico no Rio de Janeiro.

“Fui surpreendido pela decisão do comitê científico do estado dizendo que representava risco. Se eu tenho um comitê científico me dando embasamento, não tenho problema nenhum [em fazer a celebração]. Mas se esse comitê entende como risco, vou ficar com a opinião técnica que gere mais restrições”.

Ao mesmo tempo, ele disse que apesar do cancelamento, a cidade continua preparada para receber turistas. “Com a baixa taxa de transmissão, acho difícil que tenhamos outras medidas restritivas. Os turistas vacinados serão muito bem-vindos ao Rio de Janeiro”.

Réveillon cancelado em mais de 20 capitais

Com o avanço da variante ômicron e a falta de informações sobre os efeitos que essa nova mutação da covid-19 pode causar, 20 capitais e o Distrito Federal decidiram cancelar as festas de fim de ano.

Até o momento, os eventos não ocorrerão em São Paulo, Rio de Janeiro, Natal, Recife, Fortaleza, Salvador, São Luís, Teresina, Aracaju, João Pessoa, Cuiabá, Campo Grande, Belém, Palmas, Vitória, Porto Alegre, Macapá, Maceió, Manaus e Florianópolis. A ideia do cancelamento é evitar aglomerações na virada de ano.

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), também decidiu por não fazer nenhum evento em Brasília.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições.

A publicação em questão teve 98 mil curtidas, 27 mil comentários e 63 mil compartilhamentos até o dia 29 de novembro. Neste caso, disseminar informações falsas sobre o cancelamento do carnaval poderia prejudicar planos pessoais de quem depende da renda advinda do evento, ou ainda quem já programou uma viagem para a cidade.

Além disso, mesmo que o conteúdo falso não explique o motivo do cancelamento, dá a entender que ele teria ocorrido por causa da pandemia. Anunciar um falso quadro epidemiológico pode causar alarde à população e descredibilizar posteriores notícias oficiais sobre a saúde.

O Comprova realizou verificações sobre o carnaval anteriormente e desmentiu, por exemplo, publicação que afirmava que o cancelamento do evento estaria sujeito apenas à vontade de Bolsonaro, ou ainda, que o diretor-geral da OMS teria se posicionado contra o carnaval de 2022.

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.