O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-10-04

Não há evidências de que o governo tenha ‘lista secreta’ de estados onde pode ocorrer chuva preta

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Enganoso
Não há evidências de que o governo tenha uma “lista secreta” de estados brasileiros que podem registrar a chamada chuva preta. Ao Comprova, um meteorologista explicou que dados de monitoramento de eventos climáticos são públicos, portanto qualquer pessoa pode ter acesso. A conta que compartilhou a publicação se descreve como uma página de “histórias reais e fictícias de puro entretenimento”.

Conteúdo investigado: Vídeos publicados no TikTok que apontam a existência de uma suposta lista secreta em que o governo compila os estados que devem registrar chuva preta. Em uma das gravações, sobreposto às imagens, um texto diz: “Alerta urgente. Assista antes que o vídeo seja retirado pelo governo”. Na outra filmagem, o post diz: “Alerta urgente. Chuva preta decreta estados de emergência”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Não há evidências de que o governo tenha uma “lista secreta” com os estados propensos a registrar a chamada chuva preta, fenômeno que atingiu alguns municípios brasileiros entre agosto e setembro em decorrência das queimadas. Em entrevista ao Comprova, o meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Lucas Fumagalli, explicou que os dados para identificação do fenômeno são públicos e, por essa razão, não faz sentido falar em lista secreta. Segundo o especialista, os dados são observados em tempo real, disponibilizados de forma gratuita e estão à disposição de “todos aqueles que consigam interpretar as imagens”.

“Por exemplo, estou observando nesse momento as imagens de satélite. Estou vendo uma grande pluma de fumaça entre a Bolívia, Paraguai, Mato Grosso do Sul, Paraná, e uma frente fria avançando sobre essa região com fumaça. O que provavelmente poderia acontecer nessa situação? A ocorrência de um fenômeno deste tipo. Então, essas informações não são privadas ou confidenciais do governo. Elas são informações públicas, geralmente divulgadas a partir de satélites, que também não são satélites brasileiros, são estrangeiros”, pontuou Fumagalli.

O satélite referenciado pelo meteorologista é o geoestacionário GOES-16, de fabricação americana, que fornece dados publicamente. “As informações estão prontamente disponíveis. Por esse motivo, acredito que não faz sentido pensar em uma lista secreta de estados ou municípios que poderiam ser afetados pela chuva preta”, complementa.

Questionado, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) destacou que “a chuva preta pode ter ocorrido em diversas localidades, especialmente nas áreas onde havia fumaça”, mas não comentou sobre a questão da “lista secreta”.

Mesmo dizendo que a lista era secreta e estava sendo protegida pelo governo, o autor da publicação menciona os estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul.

A meteorologista Rafaela Gomes, que também atua na Funceme, explicou que os estados mencionados pelo conteúdo estão inseridos em regiões que possuem alto índice de incêndios florestais, acarretando em uma quantidade mais densa de queimadas e, portanto, mais suscetíveis ao fenômeno.

“Nessas regiões do Brasil, tanto Norte quanto essa parte Centro-Oeste e Sudeste, houve um grande número de queimadas este ano. Essas queimadas, especialmente entre agosto e setembro, fizeram com que aumentasse a quantidade de poluentes na atmosfera, e com o fenômeno das chuvas que ocorre nesta época do ano, acaba que, quando chove, tem essa mistura entre a poluição e a gotícula de água”, afirmou Rafaela.

O perfil alvo da checagem menciona outras alegações sem qualquer evidência, como a de que escolas estavam sendo fechadas devido ao fenômeno, que alguns estados decretaram emergência por causa da chuva preta e que o problema também estava sendo enfrentado em Portugal, país em que “o dia virou noite”. No entanto, os decretos de emergência (Pará e Rondônia, São Paulo, Mato Grosso, Espírito Santo) foram motivados pelas condições climáticas, como altas temperaturas, tempo seco e incêndios florestais, e não pela chuva preta. Também não foram encontrados registros de que o fenômeno tenha ocorrido em Portugal. Além disso, as publicações faziam menção a meteorologistas fictícios, que não foram encontrados pelo Comprova.

Outra alegação do vídeo é de que a chuva preta estaria deixando os bombeiros “sem saber o que fazer”. Na verdade, as equipes se mobilizaram para combater incêndios florestais, que causam destruição de biomas, deixam o ar carregado de fumaça e podem facilitar o acontecimento do fenômeno. Especialistas explicam (veja mais abaixo) que a chuva preta em si não tem potencial para tamanha destruição: ela nada mais é do que a junção das gotículas de chuva com partículas de fuligem da fumaça causada pelas queimadas, que deixam a água ‘suja’ e em tom escuro. No mais, o aviso de chuva preta se deve ao fato de que não é recomendada a exposição a essas gotículas, justamente por estarem carregadas de poluentes.

O Comprova entrou em contato com o autor da postagem, que não retornou às mensagens.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 3 de outubro, um dos vídeos tinha mais de 944 mil visualizações e 45 mil curtidas. Já o outro, alcançou 5.3 milhões de visualizações e mais de 96 mil curtidas.

Fontes que consultamos: Inmet, Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e meteorologistas.

Entenda o que é a chuva preta

Segundo o meteorologista Lucas Fumagalli, da Funceme, a chuva preta nada mais é do que a junção das gotículas de chuva com partículas de fuligem da fumaça causada pelas queimadas, que deixam a água “suja” e em tom escuro.

“Quando a chuva ocorrer, ela vai levar também todo esse material particular do que está presente na atmosfera em direção à superfície da terra. E é por isso que se observa, então, essa chuva preta, porque ela está carregando não só o vapor da água que estava presente na atmosfera, mas também por todo o material particular que estava presente”, comentou Fumagalli.

O alerta de chuva preta se deve ao fato de que não é recomendada a exposição a essas gotículas, justamente por estarem carregadas de poluentes, como explicou o meteorologista Natálio Abrahão em entrevista concedida ao Correio do Estado, jornal de Mato Grosso do Sul, um dos estados onde foi registrado o fenômeno em setembro.

“É sempre importante não expor, tanto pessoas quanto animais, às chuvas que ocorrem depois de longos períodos de estiagem”, pontuou.

No mês de setembro, a chuva preta foi registrada em quatro municípios de Mato Grosso do Sul, o que havia sido antecipado pela meteorologia. Cidades do Oeste e do Sudoeste e do Paraná, assim como Santa Catarina e São Paulo também registraram o fenômeno, o que foi igualmente alertado pela meteorologia.

Quem emite os alertas

O meteorologista Fumagalli explicou que os alertas são emitidos tanto pelo Inmet e por órgãos estaduais, como por empresas privadas de meteorologia. Ele aponta que nem a iniciativa pública nem a privada tendem a fazer uso de listas secretas sobre onde o fenômeno irá ocorrer.

“O meteorologista se encarrega de interpretar todas essas informações e, no caso do Instituto Nacional de Meteorologia, aplicar os avisos quando forem pertinentes. Mas eu acredito que, relativo à chuva preta, esse tipo de previsão não é feita. Foi constatado que houve esse tipo de precipitação, porque se tinha uma grande quantidade de fuligem na atmosfera, devido à quantidade muito recorde de queimadas, e essa chuva preta foi coletada por observadores e, em geral, a própria sociedade”, ponderou.

Por meio de uma nota enviada ao Comprova, o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) reforçou que os alertas meteorológicos são emitidos para as defesas civis municipais e estaduais, pelo Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), com base nas previsões do Inmet, do Ministério da Agricultura e Pecuária, e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Questões envolvendo crise climática são frequentemente checadas pelo Comprova. Verificamos, por exemplo, que não há evidências de que MST tenha ameaçado “incendiar o agro” antes das queimadas recentes e que um vídeo foi tirado de contexto para dizer que brigadistas estariam causando incêndio no Pantanal. Além disso, explicamos que o decreto no Pará é de emergência climática, e não lockdown.

Comprova Explica

Investigado por: 2024-10-04

Entenda as regras dos convites para debates eleitorais na televisão

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Comprova Explica
As emissoras de televisão seguem regras determinadas pela Justiça Eleitoral para convidar candidatos para os debates, mas podem ampliar a lista se acharem adequado. Neste ano, mais uma vez, as emissoras receberam críticas relacionadas aos debates e aos trâmites judiciais envolvendo os convites.

Conteúdo analisado: Um candidato à Prefeitura de Porto Alegre pelo partido Novo acusa, em vídeo publicado no Instagram, a RBS TV, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Sul, de não convidá-lo para o debate eleitoral do primeiro turno. Ele menciona que a emissora alegou “não ser obrigada” a permitir sua participação. Como este não é o primeiro caso do tipo, o Comprova elaborou este material explicativo para que você saiba quais são os critérios para que candidatos participem de um debate eleitoral.

Comprova Explica: Felipe Camozzato (Novo), candidato à Prefeitura de Porto Alegre, publicou nas redes sociais um vídeo criticando o Grupo RBS por não convidá-lo para o debate relativo ao primeiro turno. Mas, afinal, o que torna um candidato apto a participar de um debate?

Conforme determinado na lei 9.504/1997, que estabelece normas para as eleições, e na resolução nº 23.610 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que dispõe sobre “propaganda eleitoral, utilização e geração do horário gratuito e condutas ilícitas em campanha eleitoral”, as emissoras devem convidar obrigatoriamente todos os candidatos de partidos com pelo menos cinco representantes (parlamentares) no Congresso Nacional.

A participação dos candidatos cujo partido não atingiu o critério é facultativa, desde que o registro de candidatura dos mesmos não tenha sido dado como indeferido, cancelado ou não conhecido pela Justiça Eleitoral. Já no segundo turno, participam dos debates os dois candidatos mais votados no primeiro turno da eleição.

No caso do candidato Camozzato, o partido Novo não tinha cinco parlamentares no Congresso Nacional até o dia 20 de julho, data limite estipulada pela Justiça Eleitoral no artigo 44 da mesma resolução. O quinto representante do Novo no Congresso, o deputado federal Ricardo Salles, retornou ao partido apenas no dia 5 de agosto, 15 dias após o prazo e, por isso, não foi considerado pela resolução.

Foi esse o critério utilizado pelo Grupo RBS na escolha dos candidatos convidados para o debate, como explicou a própria emissora ao Comprova antes do evento ser realizado:

“O Grupo RBS informa que o debate dos candidatos à Prefeitura de Porto Alegre da RBS TV, que será realizado no primeiro turno, no dia 3 de outubro, terá como participantes os candidatos dos partidos, coligações e/ou federações com representação no Congresso Nacional de, no mínimo, cinco parlamentares, no prazo de 20 de julho, conforme estabelece a Resolução nº 23.610 do TSE e de acordo com a Lei nº 9.504/97. Essas regras foram acordadas com os representantes dos candidatos considerados aptos ao debate pela lei e seguem a orientação da Rede Globo para todas as suas afiliadas”, diz a nota.

Em Fortaleza, um candidato a prefeito do Novo foi retirado do debate promovido pela TV Otimista após decisão judicial. O senador cearense Eduardo Girão (Novo) participava do encontro amparado por uma decisão liminar, contudo um dos adversários, George Lima (Solidariedade), acionou a Justiça Eleitoral, que, por sua vez, derrubou a liminar. Dessa forma, o candidato do Novo foi retirado do encontro durante o intervalo do primeiro bloco.

Nesta quinta-feira (3), um juiz do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) derrubou outra liminar que concedia participação de Girão no debate promovido pela TV Verdes Mares, afiliada da Rede Globo. Ele não foi convidado para esse debate por não atender às regras determinadas pela emissora, que, além do que prevê a legislação, estabeleceu como critério a participação de quem atingiu 10 pontos percentuais, sem contar margem de erro, na mais recente pesquisa Quaest, divulgada na quarta-feira, 25.

Lei 9.504/1997

Além de dispor sobre as participações obrigatórias e facultativas de candidatos aos debates, o artigo 46 da lei 9.504/1997 dispõe sobre as formas que a apresentação dos debates poderá ser feita, sendo:

  • Em conjunto, estando presentes todos os candidatos a um mesmo cargo eletivo;
  • Em grupos, estando presentes, no mínimo, três candidatos.

Determina ainda que durante as eleições proporcionais, como no caso de vereadores que serão eleitos em 2024, os debates deverão ser organizados de modo que assegurem a presença de número equivalente de candidatos de todos os partidos a um mesmo cargo eletivo e poderão desdobrar-se em mais de um dia, respeitada a proporção de homens e mulheres.

Além disso, obriga os debates a serem parte de uma programação previamente estabelecida e divulgada pela emissora, fazendo-se mediante sorteio a escolha do dia e da ordem de fala de cada candidato, salvo se celebrado acordo em outro sentido entre os partidos e coligações interessados.

“Será admitida a realização de debate sem a presença de candidato de algum partido, desde que o veículo de comunicação responsável comprove havê-lo convidado com a antecedência mínima de setenta e duas horas da realização do debate”, diz a norma.

A lei veda, ainda, a presença de um mesmo candidato a eleição proporcional em mais de um debate da mesma emissora.

O debate também deve ser realizado seguindo as regras estabelecidas em acordo celebrado entre os partidos políticos e a emissora que realizará o evento, desde que a Justiça Eleitoral esteja ciente.

As regras estabelecidas serão consideradas aprovadas caso pelo menos dois terços dos candidatos aptos concordem no caso de eleição majoritária, e de pelo menos dois terços dos partidos com candidatos aptos, no caso de eleição proporcional.

As emissoras costumam adotar critérios como, por exemplo, melhores colocados em determinada pesquisa, como o caso da Rede Globo, que promove o último debate antes do primeiro turno com os candidatos a prefeito de São Paulo.

Além do exigido pelas normas, a emissora usou como critério convidar aqueles que alcançaram pelo menos 6% de intenções de voto na última pesquisa da Quaest, divulgada na segunda-feira (30). Dessa maneira, o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), cujo partido não obedece a representação no Congresso Nacional, foi convidado para o encontro.

Fontes consultadas: A lei 9.504/1997 e a resolução N° 23.610 do Tribunal Superior Eleitoral; o Manual Eleitoral do Ministério Público do Rio Grande do Sul; Grupo RBS; e matérias do jornal O POVO.

Por que o Comprova explicou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está gerando muitas dúvidas e desinformação, o Comprova Explica. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Comprova vem acompanhando a repercussão das eleições nas redes sociais. Recentemente, foram apurados materiais como a pegadinha que viralizou descredibilizando pesquisas eleitorais; a acusação enganosa de que Guilherme Boulos (PSOL) seria líder do MST e responsável por queimar fazendas; e que eleitores não perdem o voto ao apertar “confirma” durante aviso para conferir escolha da urna eletrônica. Acesse nossa lista de materiais sobre as eleições aqui.

Política

Investigado por: 2024-10-03

Site imita portal de notícias e inventa entrevista com Haddad sobre criptomoedas

  • Falso
Falso
Não é verdade que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenha feito propaganda de uma plataforma que usa inteligência artificial para investir em criptomoedas, ou que tenha sido processado pelo “Banco Nacional do Brasil”. A peça de desinformação foi publicada em um site falso, que reproduz o portal de notícias Globo.com.

Conteúdo investigado: Site que simula portal de notícias Globo.com com texto que afirma que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ameaça a segurança financeira nacional e foi processado pelo “Banco Nacional do Brasil” após divulgar uso de plataforma que utiliza inteligência artificial para investir em criptomoedas.

Onde foi publicado: Site na internet, LinkedIn e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falso que Haddad esteja sendo processado pelo “Banco Nacional do Brasil” por ameaçar a segurança financeira do país. Conteúdo com tal afirmação simula uma página do site Globo.com e usa imagem real de quando o político deu entrevista para a CNN Brasil, em março. Já o texto usado na publicação mentirosa cita uma suposta conversa com a emissora, mas o conteúdo é todo inventado.

O site investigado exibe o título “Por que as palavras de Fernando Haddad ameaçam a segurança financeira de todo o Brasil? Ele foi processado pelo Banco Nacional do Brasil por causa dessas palavras!”. Como mostra a lista de instituições habilitadas a operar no mercado de câmbio do Banco do Brasil, não existe um “Banco Nacional do Brasil”. O conteúdo cita, além de Haddad, Raquel Landim, ex-apresentadora do programa CNN 360 que entrevistou o ministro com outras colegas, não mencionadas no conteúdo.

No texto, Haddad fala que está ganhando dinheiro de forma fácil em uma “plataforma que utiliza inteligência artificial para negociar criptomoedas”. No entanto, essa afirmação nunca foi dita. Na entrevista original, Haddad fala sobre meta fiscal, dívidas estaduais, Imposto de Renda e outros assuntos.

Contatado pelo Comprova, o Ministério da Fazenda afirmou se tratar de “um texto completamente falso”. A jornalista Raquel Landim reforçou à reportagem que o conteúdo é mentiroso. “Esse assunto nunca apareceu na entrevista, nunca tinha visto esse conteúdo e lamento muito que o nome do ministro e o meu e um material jornalístico estejam sendo utilizados para enganar pessoas”, disse.

A página com o conteúdo falso leva para um site que, em poucos cliques, pede os dados do cartão de crédito para que o usuário faça um depósito em dinheiro, o que pode ser um indicativo de golpe. Este site difere do endereço oficial utilizado pela plataforma de investimentos em criptomoedas citada na entrevista falsa – tanto na URL, quanto no conteúdo e design.

Há também diferenças entre o site falso e o Globo.com. No original, é possível ver um cabeçalho com menu interativo. Já o site falsificado usa apenas uma imagem estática e simples do painel inicial do veículo de comunicação. Além disso, a URL (endereço do navegador) do site forjado é diferente do site oficial.

No Brasil, a plataforma não tem registro em sites de avaliação, como no ReclameAqui, nem processos abertos no Jusbrasil. Foram encontrados apenas dois posts de blog na internet com conteúdo semelhante ao da página investigada, que também relacionam Haddad à divulgação da plataforma de investimentos. Ambos têm o mesmo título e a mesma entrevista falsa: “Fernando Haddad Immediate Luminary Opinião – fraude ou legítimo?”.

A origem do conteúdo falso é incerta. Ao pesquisar no código fonte da página que simula o portal Globo.com, não foi possível detectar registros do conteúdo na internet, nem do seu autor. Encontramos apenas uma frase em russo que diz “conectando à biblioteca”, em tradução livre.

I Legenda: Site que simula ser portal de notícias Globo.com mente ao afirmar que Haddad tenha sido processado por “Banco Nacional do Brasil” I

Em junho deste ano, o Estadão Verifica investigou um site semelhante, que também reproduzia um portal de notícias — no caso, o Valor Econômico.

Assim como o site checado aqui, o conteúdo falava em uma instituição financeira processando brasileiros, como Haddad, o ex-jogador de futebol Ronaldo Nazário e os empresários Luciano Hang, Roberto Irineu Marinho e Abílio Diniz, já falecido. Além disso, a publicação citava plataformas de criptomoedas, mostrando um padrão de desinformação.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Contudo, não foi possível mensurar a audiência do site investigado. Ainda assim, a checagem foi feita para alertar sobre sites que reproduzem portais de notícias e evitar possíveis golpes financeiros.

Fontes que consultamos: Entrevista original na íntegra, Banco Central do Brasil, Ministério da Fazenda, repórter da CNN Raquel Landim e busca pelo código fonte da página que desinforma.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Citado anteriormente, o Estadão Verifica concluiu que é falso que o Itaú esteja processando ministro, empresários e ex-jogador de futebol. O Comprova já investigou diversos conteúdos envolvendo o atual ministro da Fazenda. Mostramos, por exemplo, que post usa dados falsos sobre PIB e inflação e inventa fala de Haddad sobre impossibilidade de pagar funcionalismo.

Eleições

Investigado por: 2024-10-02

Post que põe em dúvida pesquisas eleitorais em São Paulo usa vídeo de pegadinha

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a postagem em que um suposto funcionário de um instituto de pesquisa altera as respostas dos entrevistados após perguntar em quem eles votariam para a Prefeitura de São Paulo. O conteúdo, postado por um perfil do candidato Pablo Marçal (PRTB), usa recorte de vídeo de quadro de humor.

Conteúdo investigado: Post usa vídeo em que um homem, com prancheta e caneta em mãos, pergunta a outro na rua em quem ele vai votar para a Prefeitura de São Paulo. O entrevistado indica Pablo Marçal (PRTB). O homem, então, que se passa por um funcionário de instituto de pesquisa, diz que vai trocar a resposta para Guilherme Boulos (PSOL), por já ter pego muitas respostas em Marçal. Na tela do vídeo, é inserida a pergunta: “Você confia nos institutos de pesquisa?”. Já na legenda, está escrito: “Será que é assim que funcionam as pesquisas do Bananinha e do Comedor de Açúcar?”.

Onde foi publicado: Telegram.

Conclusão do Comprova: O conteúdo é um recorte de um quadro do humorista Ítalo Sena. No vídeo completo, disponível em seu canal no YouTube, Sena elabora pegadinhas com temas sugeridos por seguidores nas redes sociais. Um deles pede: “Aproveita que é época e faz a pegadinha manipulando pesquisa de eleição”. No quadro, o humorista, que se passa por entrevistador de um instituto fictício de pesquisas eleitorais, pergunta às pessoas na rua em que elas votarão para a Prefeitura de São Paulo.

Ele não aceita as respostas e sugere registrar que os eleitores votarão em um candidato diferente do que foi respondido na pesquisa. A um homem, que afirma que vai votar em Pablo Marçal (PRTB), o entrevistador pergunta: “Eu posso botar [registrar] Boulos? É que eu peguei muito [entrevistado que disse votar em] Marçal”. É este o trecho postado do canal no Telegram. Ele segue agindo da mesma forma diante das respostas dos entrevistados. A outro homem que declara voto em Marina Helena (Novo), Sena avisa: “Eu vou botar Boulos”. Já a um senhor que revela que votará em Guilherme Boulos (PSOL), o humorista questiona: “Tem problema se botar Marçal? É que eu peguei muito Boulos”.

No quadro, após reação contrária das pessoas, o humorista avisa que se trata de uma pegadinha. Recortes do conteúdo também foram publicados no Instagram de Ítalo Sena.

Apesar de a campanha de Marçal ter informado outro canal do Telegram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o grupo que postou o vídeo verificado também é oficialmente do candidato – era nele que Marçal divulgava seus cursos como coach, como mostra postagem de 25 de abril do ano passado. O mesmo endereço do perfil do Telegram aparece em uma página do antigo site de Pablo Marçal gravada com utilização da ferramenta Wayback Machine, em 3 de agosto de 2021.

O site hoje está fora do ar, mas aparece em uma postagem do canal oficial do Facebook informado pela campanha de Marçal à Justiça Eleitoral. A publicação, de 13 de maio deste ano, divulga um curso dele.

O recorte do conteúdo postado no Telegram dá margem para que sejam lançadas dúvidas sobre as pesquisas eleitorais. É o que se percebe nos comentários da publicação, em afirmações como “é bem assim mesmo” e “bem isso”. Em outro, uma mulher conta a experiência de uma amiga nos anos 1990, em Porto Alegre, que, segundo ela, fazia a pesquisa de qualquer jeito. Ela não informou a qual instituto a amiga pertencia.

Bananinha” e “Comedor de Açúcar”, apelidos usados na legenda do vídeo, foram dados por Marçal aos candidatos Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito de São Paulo, e Guilherme Boulos, respectivamente.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o início da tarde do dia 2 de outubro, o vídeo tinha cerca de 8,1 mil visualizações no Telegram.

Fontes que consultamos: O Comprova analisou a postagem e localizou o vídeo original no canal do humorista Ítalo Sena no YouTube. Foram consultadas informações de Marçal no site do TSE e as redes sociais informadas pelo candidato à Justiça Eleitoral. O Comprova ainda analisou gravações do antigo site de Marçal, em que ele divulgava seus cursos como coach, na ferramenta wayback machine.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Durante o período eleitoral, surgem alegações colocando em dúvida pesquisas eleitorais. Em 2022, o Comprova desmentiu que uma empresa de pesquisa funcionasse dentro do Instituto Lula. Ainda naquele ano, checamos conteúdo semelhante a esta verificação. Também há casos de manipulação de dados de pesquisas, a exemplo de um conteúdo checado pelo Estadão Verifica, envolvendo os candidatos que disputam a Prefeitura de São Paulo.

Eleições

Investigado por: 2024-10-01

Grupo Flow não recebeu repasses da Prefeitura de São Paulo, ao contrário do que diz Marçal

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O Grupo Flow não recebeu R$ 474 mil da Prefeitura de São Paulo, diferentemente do que alegou Pablo Marçal (PRTB). O ex-coach, que é candidato a chefe do Executivo municipal paulistano nas eleições de 2024, falou sobre a existência dos repasses após ser expulso de debate promovido pelo grupo no dia 23 de setembro.

Conteúdo investigado: Vídeo publicado no Instagram em que Pablo Marçal afirma que o podcast Flow teria recebido R$ 474 mil da Prefeitura de São Paulo, além de carrossel de imagens no TikTok com a mesma acusação.

Onde foi publicado: Instagram e TikTok.

Conclusão do Comprova: É enganosa a afirmação do candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB), de que o Grupo Flow, responsável pelo Flow Podcast, teria recebido R$ 474 mil da gestão municipal. A insinuação foi feita em um vídeo, após o debate promovido pelo grupo no dia 23 de setembro, ocasião em que o ex-coach foi expulso por descumprimento de regras. Marçal fez a declaração seguida de alguns questionamentos enquanto respondia a uma caixinha de perguntas no Instagram.

“A empresa que fez o debate ontem [23] recebeu R$ 474 mil da Prefeitura de São Paulo. Você sabe em que guerra eu estou enfiado aqui? O que está por trás do consórcio comunista do Brasil?”, indagou.

Os pagamentos foram feitos, na verdade, a uma empresa homônima, a Flow Mídias e Publicidade Ltda. Conforme consulta realizada pelo Comprova ao Portal da Transparência da Prefeitura de SP, não há registro de repasses ao Grupo Flow. O valor mencionado por Marçal se refere, na verdade, a dois pagamentos que totalizam R$ 474.999,62, realizados em 2023 para a Flow Mídia e Publicidade, empresa com CNPJ e sede diferentes do Grupo Flow, o qual negou relação entre os dois empreendimentos.

De acordo com os dados disponíveis no Portal da Transparência, o primeiro valor pago à Flow Mídia e Publicidade, no valor de R$ 65.972,22, é referente à “inserção de display e vídeo” na internet entre os dias 25 e 30 de novembro de 2023. Já o segundo pagamento, no valor de R$ 409.027,40, é referente à “inserção de display e vídeo nos principais portais de programática do ‘O Estado de São Paulo’”, entre os dias 1º e 31 de dezembro de 2023.

A Flow Mídia e Publicidade Ltda, CNPJ: 46.198.048/0001-57, tem sede registrada no bairro de Samambaia Norte, em Brasília (DF), está ativa desde abril de 2022 e conta com Wladimir Lenin Santos Araújo como sócio-administrador. A empresa não retornou às tentativas de contato do Comprova. Já a Estúdios Flow Produção de Conteúdo Audiovisual Ltda., da qual faz parte o Flow Podcast, está ativa desde 2020, opera com o CNPJ 37.728.635/0001-10 e tem sede localizada em Vila Prudente, na capital paulista. O apresentador Igor Rodrigues Coelho, conhecido como Igor 3K, é um dos sócios.

Em um comunicado, o Flow repudiou as declarações feitas por Pablo Marçal, onde ele acusa o grupo de “parcialidade, manipulação e recebimento de verbas da Prefeitura de São Paulo”.

“Essas alegações são completamente infundadas e atentam contra nossa reputação, construída com dedicação, transparência e ética. Reafirmamos que não recebemos nenhuma verba da Prefeitura”, consta em trecho da nota.

O Flow também fez uma investigação própria, que chegou aos mesmos resultados que a apuração do Comprova. O grupo ressaltou, ainda, que o debate foi realizado de maneira independente.

“Investigamos o assunto e constatamos dois pagamentos em 2023 à empresa Flow Mídia e Publicidade Ltda, empresa que não faz e nunca fez parte do Grupo Flow. Realizamos o debate de forma independente e inédita, com o objetivo de servir ao interesse público”, esclareceu o comunicado.

O Comprova também procurou a assessoria de Marçal para obter um posicionamento acerca das falas distorcidas, mas não houve respostas até a publicação deste texto. A Prefeitura de São Paulo, por sua vez, informou que “nunca fez qualquer tipo de compra de mídia com o Grupo Flow”.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 1º de outubro, o conteúdo alcançou mais de 2 mil visualizações no Tik Tok e mais de 66 mil visualizações no Instagram.

Fontes que consultamos: Consultamos o Portal da Transparência da Prefeitura de São Paulo, o Grupo Flow, via nota divulgada no Instagram, e a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de São Paulo (Secom).

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Estadão Verifica também fez checagem sobre a alegação, classificando-a como enganosa. Lupa e Aos Fatos concluíram que a declaração é falsa. Marçal foi alvo de apuração recente do Comprova, também por conta do uso de homônimos. Mostramos como fazer uma busca processual adequada utilizando o Jusbrasil a partir da acusação do candidato do PRTB de que Guilherme Boulos (PSOL) seria usuário de drogas.

Eleições

Investigado por: 2024-09-27

Vídeo engana ao dizer que Boulos é líder do MST e responsável por queimar fazendas

  • Enganoso
Enganoso
Vídeo engana ao dizer que Guilherme Boulos (PSOL) tem relação com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e só não foi condenado por crimes diversos “porque não foi encontrado”, como afirmam deputados do Distrito Federal em vídeo que circula nas redes sociais. Conforme checado pelo Comprova, Boulos não foi condenado em nenhum dos cinco processos em que foi réu. Além disso, o fato de Boulos ter tido a candidatura à Prefeitura de São Paulo confirmada indica que o político não foi enquadrado pela Lei da Ficha Limpa.

Conteúdo investigado: Publicação com trecho de sessão plenária da Câmara Legislativa do Distrito Federal do dia 11 de setembro de 2024, em que a deputada Paula Belmonte (Cidadania) diz que o candidato do PSOL “não foi condenado porque não foi encontrado”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Vídeo engana ao dizer que o deputado federal e candidato a prefeito de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) seria líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e só não foi condenado judicialmente porque não teria sido localizado durante os seis anos em que o processo contra ele tramitava. O Comprova checou novamente o andamento dos cinco processos em que o candidato foi réu e identificou que não houve condenação em nenhum deles.

A publicação usa um trecho de um discurso do deputado distrital Pastor Daniel de Castro (PP), no qual o parlamentar afirma que Boulos seria líder do MST e responsável por invasões a propriedades, queima de fazendas e morte de gado.

A fala foi proferida no momento em que o pastor fazia um discurso crítico sobre as prisões de suspeitos de praticarem queimadas no Brasil, como mostra o vídeo com a íntegra da sessão plenária.

O discurso foi rebatido pelo deputado Fábio Felix (PSOL). Ele disse que Boulos não tem nenhuma condenação criminal e afirmou que o movimento que o correligionário liderava não era o MST, mas sim o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), cujas manifestações ocorrem no ambiente urbano.

Após a fala de Felix, a deputada Paula Belmonte (Cidadania) afirmou que Boulos só não foi condenado porque não foi encontrado há seis anos, e fez uma referência ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dizendo que há um “ex-condenado a três instâncias na Presidência da República”.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, o processo ao qual se referiu a deputada seria o do episódio conhecido como a desocupação do Pinheirinho, em que Boulos foi preso em flagrante suspeito de atirar contra uma viatura da Guarda Municipal de São José dos Campos (SP). À época, Boulos prestou depoimento negando a acusação, e foi solto mediante pagamento de fiança.

No documento em que reconhece a extinção do processo, que prescreveu, o promotor João Carlos de Camargo Maia, do Ministério Público de São Paulo, afirma que “o criminoso conseguiu fugir por manobra jurídica”.

Em resposta, conforme relatou a Folha, o advogado de defesa de Boulos, Alexandre Pacheco Martins, afirmou que foi o Ministério Público que errou, procurando por Boulos em endereços “sem sentido”, além de não ter procurado pelos advogados, que tinham os contatos anexados ao processo.

“Só procuraram o Boulos em endereços sem sentido. Ele trabalhava na Faculdade Mauá e foram no Instituto Mauá. O inquérito ficou jogado por anos. Não teve tentativa nenhuma de escapar, o Boulos nem sabia do processo nesses seis anos. Foi o Ministério Público que abusou do direito de errar”, disse o advogado.

Ao Comprova, a assessoria de Boulos disse que a afirmação feita pela parlamentar é falsa, e que o candidato jamais fugiu da Justiça ou foi condenado em qualquer processo criminal.

“Todos os casos em que ele foi detido e levado à delegacia estão diretamente ligados à legítima defesa dos direitos da população que luta por moradia digna. O caso em questão trata do episódio de Pinheirinho, de 2012, e foi arquivado”, disse em nota.

Ainda segundo a assessoria, Boulos deixou a coordenação do MTST para assumir o mandato de deputado federal no início de 2023.

O responsável pela publicação foi procurado, mas não retornou aos contatos feitos pela reportagem.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 25 setembro, a publicação alcançou mais de 1.284 visualizações, 126 curtidas, 66 compartilhamentos e 6 comentários.

Fontes que consultamos: Procuramos por outras verificações feitas pelo Comprova, assistimos à íntegra da fala dos deputados, analisamos as certidões de candidatura de Boulos disponíveis no Divulgacand, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), checamos novamente o andamento dos processos em que ele é réu, matérias sobre o caso, e entramos em contato com a assessoria do candidato.

Boulos é réu em cinco processos e não houve condenação

O Comprova voltou a checar o andamento dos cinco processos em que o candidato do PSOL foi réu em pesquisa no site Jusbrasil. Foi possível verificar que não houve condenação criminal em nenhum deles, assim como havia sido identificado em agosto, quando a seção “Contextualizando” do projeto analisou as certidões de candidatura de Boulos disponíveis no Divulgacand, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Conforme outros documentos de Boulos disponíveis no mesmo site de candidaturas da Justiça Eleitoral, o psolista foi preso duas vezes quando era líder nacional do MTST. As prisões ocorreram durante processos de reintegração de posse. Apesar disso, não houve nenhuma condenação criminal.

Em janeiro de 2012, Boulos estava na Ocupação Pinheirinho, em São José dos Campos, no interior paulista, quando foi preso em flagrante por “dano qualificado”. Ele foi solto após prestar depoimento e pagar fiança no valor de R$ 700. Posteriormente, o processo foi anulado.

Já a segunda prisão ocorreu em janeiro de 2017. Ele foi detido por “incitação à violência e desobediência” durante reintegração de posse na Ocupação Colonial, em São Mateus, bairro da zona leste de São Paulo. Na ocasião, ele ficou detido por 10 horas e foi liberado após ter assinado um termo circunstanciado.

Como noticiou o Estadão, o próprio Boulos disse, em entrevista para a Agência Pública, que foi preso também entre 2003 e 2004, em uma ocupação em Osasco. Não constam no site do TSE, porém, documentos a respeito deste episódio.

Além disso, o fato de a Justiça Eleitoral ter confirmado a candidatura de Boulos significa, necessariamente, que o político não foi enquadrado pela Lei da Ficha Limpa. Ou seja, ele não tem nenhuma condenação judicial em segunda instância (quando a condenação é feita por um órgão colegiado).

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Boulos e o MST são alvos frequentes de desinformação nas redes sociais. O Comprova já mostrou que Boulos não prometeu deixar o país depois da derrota nas eleições, que não há evidências de que o movimento tenha ameaçado “incendiar o agro” antes das queimadas recentes e que um homem que afirmava ser petista e corrupto não era líder do movimento e sim ex-candidato do PRTB.

Eleições

Investigado por: 2024-09-26

Jovem que chamou passeio na Rocinha de “safári” não é sobrinha de Eduardo Paes

  • Falso
Falso
Uma youtuber que gravou um vídeo rindo do passeio turístico na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, ao defini-lo como um “safári” para “conhecer pobres” não é sobrinha do prefeito da cidade e candidato à reeleição, Eduardo Paes (PSD), diferentemente do que afirmam publicações nas redes sociais. Inicialmente, a repercussão do vídeo foi motivada pela revolta de moradores do local, o que levou o SBT a gravar uma reportagem sobre o caso. A gravação, então, foi usada em posts que afirmavam, de forma mentirosa, se tratar da sobrinha de Paes. Ele e a jovem negaram o parentesco.

Conteúdo investigado: Post com vídeo em que uma jovem define o passeio turístico na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, como “safári” para “conhecer pobre”. Ela diz: “Você paga R$ 100 reais para ir de jipe conhecer pobre, você sobe e fala: ‘Olha, um pobre! Olha, outro pobre! É casa de pobre’. Eu achei horrível. Evitem”, diz a mulher. A legenda que acompanha o vídeo é: “Sobrinha de Eduardo Paes ‘mangando’ de pobre na Rocinha. “

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: A jovem que gravou um vídeo chamando o passeio turístico na Rocinha de “safári” não é sobrinha do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD). O vídeo é real, mas não há parentesco entre os dois. Paes afirmou, em suas redes sociais, que nunca viu a mulher que aparece na gravação e que a fala é absurda. Contatada pelo Comprova, a autora da gravação, Bianca Similamore Rizzon, também negou a relação familiar com o político.

Uma reportagem do SBT veiculada no dia 17 de setembro abordou a polêmica envolvendo Bianca e o posicionamento de moradores da comunidade da Rocinha contra a sua fala. Em nenhum momento da matéria ou em sites de notícias foi informado que ela teria algum grau de parentesco com Eduardo Paes. No entanto, postagens têm utilizado a reportagem fora de contexto.

O vídeo que circula nas redes sociais é um recorte de uma live feita por Bianca entre 14 e 16 de setembro. Ela o publicou no YouTube no dia 19 para comentar o assunto, e informou que esteve na capital carioca “no fim de semana”.

No trecho do vídeo compartilhado, ela inicia reconhecendo que falaria uma coisa horrível e deduz que seria “cancelada”. “Descobri que tem um safári na Rocinha, que é o safári que você paga para ir de jipe e conhecer pobre [pausa com risadas]. Você paga R$ 100 para você dar um rolê e ver pobre [pausa com risadas]. Achei horrível, você sobe e fala: ‘olha um pobre, olha outro pobre, é casa de pobre.’ Eu achei horrível. Evita”, falou.

Após a repercussão negativa, Bianca pediu desculpa em um dos perfis que mantém no Instagram, e falou que o comentário foi uma piada, sem intenção de “zoar o povo”. “Os analfabetos funcionais não entenderam o sarcasmo”, disse ao incentivar curtidas e comentários. “Isso vai me ajudar a pegar migalhas do YouTube para tentar processar quem fez a matéria comigo e as pessoas que estão me ameaçando”, informou.

A Associação dos Moradores da Rocinha disse ao Comprova que a comunidade reagiu com repúdio à fala. “Assim que recebemos o vídeo, fizemos uma mobilização com os moradores para denunciar o perfil e o post e, logo em seguida, movemos uma ação judicial e estamos movendo uma petição pública contra ela”, afirmou o vice-presidente do grupo, Marcondes Ximenes.

Além de negar parentesco com Paes, Bianca falou para o Comprova que recebeu ameaças e vai processar os autores destas intimidações.

Sobre o conteúdo do vídeo, ela afirmou que não teve a intenção de ridicularizar a população da Rocinha e reclamou que utilizaram apenas um corte da gravação: “Minha risada foi em tom de crítica pelo quanto humilham esse povo, que é tratado como animal, enquanto os gringos passam em carro tirando foto, fazendo isso com a pobreza alheia. O dinheiro que entra com esse tour não vai para o pessoal que trabalha lá”.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O vídeo publicado no X acumula 244,2 mil visualizações e 4 mil interações até 26 de setembro (a plataforma, suspensa no Brasil, foi acessada por editores do Comprova no exterior).

Fontes que consultamos: Redes sociais da jovem e de Eduardo Paes, reportagem do SBT e Associação dos Moradores da Rocinha.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Boatos.org também checou o post enganoso e o Comprova verificou outros conteúdos de desinformação envolvendo o prefeito do Rio de Janeiro. Em agosto, o projeto publicou que vídeo usado para atribuir apoio do Comando Vermelho a Eduardo Paes era falso.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-09-26

Decreto no Pará é de emergência climática, e não lockdown

  • Comprova Explica
Comprova Explica
O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), decretou situação de emergência climática em todo o estado devido à seca e aos incêndios florestais. O Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR) reconheceu a condição em 13 dos 144 municípios paraenses. Desde então, vídeos circulam nas redes sociais com menções a um suposto “lockdown climático”, promovendo a ideia de que governos estariam usando os fenômenos de mudança climática como uma justificativa para impor restrições e controlar as pessoas. No entanto, situação de emergência não é lockdown.

Conteúdo analisado: Tuítes e vídeos que mencionam o decreto baixado pelo governador Helder Barbalho no dia 17 de setembro, que estabelece situação de emergência climática no estado do Pará. Os conteúdos afirmam que a medida seria uma forma de imposição de um “lockdown climático”, com restrições a diversas liberdades individuais.

Comprova Explica: O governo do Pará não irá implementar um “lockdown climático”. O termo, usado para se referir à ideia de que governos e membros de uma “elite globalista” estariam usando – e até produzindo – os fenômenos de mudança climática como justificativa para restringir e controlar a liberdade das pessoas, tem sido mencionada nas redes sociais após o governador paraense, Helder Barbalho (MDB), decretar situação de emergência climática em todo o estado.

A seguir, a seção Comprova Explica traz os principais pontos sobre o tema.

O que realmente diz o decreto?

O Decreto nº 4.192, emitido no dia 17 e publicado no Diário Oficial do Estado (DOE) no dia 19 de setembro, trata de uma declaração de Situação de Emergência Estadual Nível II em todo o estado, em função da grave estiagem e dos incêndios florestais que atingem o Pará – o Rio Tapajós, por exemplo, atingiu 1,15 metro na segunda-feira (23), o que levou a Agência Nacional das Águas a declarar situação crítica de escassez hídrica pela primeira vez.

O documento está fundamentado em critérios das portarias de nº 260 e 3646 do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR).

A medida autoriza a Defesa Civil a, em caso de risco iminente – proximidade de incêndios a casas de moradores, por exemplo –, entrar em moradias para prestar socorro ou determinar evacuação. Já em caso de iminente perigo público, a Defesa Civil também poderá usar propriedades particulares – e os proprietários poderão ser indenizados em caso de danos.

Também estão previstos o início de processos de desapropriação, conforme a legislação federal, e a dispensa de licitações para as aquisições de itens de atendimento da situação de emergência.

O que é “lockdown climático”?

O “lockdown climático” é um termo cunhado por negacionistas para se referir à narrativa de que governos e a “elite globalista”, termo relacionado a uma teoria da conspiração segundo a qual existe um movimento para que seja implantado um governo global e totalitário no mundo, estariam produzindo e utilizando os fenômenos de mudança climática como justificativa para restringir e controlar a liberdade das pessoas.

O decreto do governo do Pará não prevê nenhuma medida de isolamento social, quarentena ou distanciamento social que possa ser interpretada como lockdown – termo da língua inglesa que se refere a isolamento ou restrição de acesso imposto como medida de segurança, a exemplo do que aconteceu durante a pandemia de covid-19.

Não é a primeira vez que a ideia de “lockdown climático” vem à tona nas redes sociais brasileiras. Em maio deste ano, durante as fortes enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, a Agência Lupa divulgou um compilado de checagens sobre múltiplas publicações alarmistas que falavam em “chuvas artificiais”, que teriam sido “fabricadas em laboratórios” com o objetivo de instaurar uma nova ordem mundial. O “lockdown climático” seria um dos próximos passos dessa conspiração, segundo as postagens.

Vale notar: em março de 2020, pouco após o início da pandemia, a advogada Sara Hayat publicou um artigo na revista Dawn com o título “Climate lockdown?” (“Lockdown climático?”, em tradução livre), em que discute os efeitos que o isolamento social teve sobre o ambiente, como a redução da emissão de dióxido de carbono.

Apesar de utilizar o termo no título, a autora não chega a defini-lo como uma ideia, e não o menciona mais nenhuma vez no artigo.

Emergência climática

Um levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), organização independente e apartidária cujo objetivo é fortalecer a autonomia dos municípios, mostrou que, de janeiro a 16 de setembro deste ano, 538 municípios brasileiros haviam decretado situação de emergência por conta de incêndios florestais. O número é 2.239% maior do que o registrado em 2023, ano em que 23 municípios decretaram situação de emergência.

Ainda segundo o estudo, a estimativa é de que 11,2 milhões de pessoas já tenham sido diretamente afetadas pelas queimadas em 2024. O prejuízo econômico foi avaliado em R$ 1,1 bilhão.

Quanto aos decretos de emergência por seca e estiagem, o levantamento diz que o Brasil teve 9,3 milhões de pessoas afetadas, e mais de R$ 43 bilhões em prejuízos econômicos.

Fontes consultadas: Para explicar as medidas definidas pelo decreto, o Comprova consultou o texto original. A reportagem também conferiu o artigo da advogada Sara Hayat, as portarias do governo federal que determinam os critérios para decretar situação de emergência e uma checagem realizada pela Agência Lupa.

Por que o Comprova explicou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está gerando muitas dúvidas e desinformação, o Comprova Explica. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O conteúdo também foi verificado pelo Aos Fatos, UOL Confere e Reuters. Recentemente, o Comprova checou outros materiais que disseminavam desinformação a respeito de fenômenos climáticos baseados em teorias da conspiração, como a falsa acusação de que o governo federal teria comprado drones para provocar incêndios no país, e, na seção Comprova Explica, mostrou o que é a teoria da conspiração da Nova Ordem Mundial.

Política

Investigado por: 2024-09-26

Lula não assumiu ser comunista, diferentemente do que afirma post

  • Enganoso
Enganoso
Lula (PT) não assumiu ser comunista, diferentemente do que afirma uma montagem de vídeos que circula nas redes sociais. O presidente, na verdade, diz que seu partido tem “forte relação” com o Partido Comunista chinês. Ele também afirma que, para políticos progressistas e de esquerda, não se trata de uma ofensa ser chamado de "comunista" ou "socialista", mas um orgulho. Ambas as gravações são de 2023.

Conteúdo investigado: Montagem com dois vídeos do presidente Lula em situações distintas. Sobreposto às imagens, na parte superior, um texto diz: “Só pra quem duvidava! Atenção! Urgente. O Lula assume o comunismo”. Já na parte inferior, outro texto diz: “E agora? Meu povo? Quem poderá nos defender?”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não assumiu ser comunista, ao contrário do que afirma publicação no TikTok. Os vídeos utilizados em montagem viral são de 2023 e se referem a dois momentos distintos.

O primeiro vídeo é de 22 de setembro daquele ano. A fala foi feita durante encontro no Palácio do Planalto entre o petista e Li Xi, membro do Comitê Permanente do Politburo e secretário da Comissão Central de Inspeção Disciplinar do Comitê do Partido Comunista da China. Na ocasião, eles trataram das relações econômicas entre os países, em comemoração aos 30 anos de parceria estratégica.

No canal do YouTube do presidente, há um vídeo que mostra oito minutos da conversa com Li Xi. Nele, Lula começa dizendo:

“Bem, meu caro Li Xi, membro da delegação chinesa, embaixador. Para nós, brasileiros, é sempre uma alegria poder receber um país-irmão, com quem mantemos uma relação extraordinária não apenas do ponto de vista comercial, mas também do ponto de vista político. O meu partido tem uma forte relação com o Partido Comunista Chinês”.

Em seguida, o chefe do Executivo brasileiro afirma que já foi à China como dirigente partidário, antes de assumir a presidência. Lula ainda cita que quer transmitir a boa vontade do governo em estabelecer relações cada vez mais fortes com a China, em âmbito comercial, político e cultural.

O segundo vídeo também tem mais de um ano. A gravação foi feita no dia 29 de julho de 2023, no evento da Cerimônia de Abertura do XXVI Encontro do Foro de São Paulo, que aconteceu em Brasília. Segundo o PT, que publicou o discurso de abertura na íntegra no YouTube, o evento foi uma articulação internacionalista (princípio que defende uma maior cooperação econômica e política entre nações e estados) de partidos e movimentos de esquerda de 27 países da América Latina e Caribe.

Em nota ao Comprova, a Secretaria de Comunicação (Secom) do governo federal disse que Lula não declarou ser comunista.

“No primeiro vídeo, o presidente Lula lembrou que o PT tem uma forte relação com o Partido Comunista Chinês e destacou a importância da relação entre os dois países em diversas áreas, como é possível confirmar no vídeo original”, diz trecho do comunicado.

“Já no segundo, Lula pondera que ser chamado de comunista é motivo de orgulho e que, entretanto, seria uma ofensa ser nomeado como nazista, neofascista ou terrorista. O discurso está disponível na íntegra aqui. A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República repudia a divulgação de boatos falsos para fins políticos”, finaliza o texto.

Segundo o dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa Michaelis, o comunismo é uma “doutrina econômica, política e social baseada no sistema de propriedade coletiva e na distribuição de renda conforme as necessidades individuais”. Embora o comunismo tenha sofrido diversas interpretações ao longo do tempo, Karl Marx e Friedrich Engels são considerados os principais idealizadores dessa corrente política e ideológica. Ultimamente, o termo tem sido vulgarizado nas redes sociais, sendo associado a qualquer posicionamento progressista ou de esquerda.

Lula não se define como comunista e Fernando Morais, autor da biografia do político publicada em 2021 e intitulada “Lula”, também não o considera. Em 2017, o escritor perguntou a Lula se ele era ou não um “comunista de coração”, e o atual presidente respondeu o seguinte: “Em 1980, eu tinha meio milhão de trabalhadores atrás de mim, e impedi uma greve. Se eu fosse comunista, teria então iniciado uma revolução. Mas o que é que eu fiz? Em vez disso, comecei uma festa e uma central sindical”. O conteúdo foi publicado em texto pelo site de notícias da Deutsche Welle (DW) Brasil.

Atualmente, cientistas políticos analisam o terceiro mandato de Lula como centro-esquerda e até centro-direita – posicionamentos que estão distantes do comunismo.

A reportagem tentou contatar o autor do post, mas as configurações do seu perfil não permitem o envio de mensagens de desconhecidos.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 26 de setembro, o vídeo alcançou mais de 68 mil visualizações no TikTok.

Fontes que consultamos: Verificamos os vídeos originais na íntegra e solicitamos posicionamento da Secom.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Lula é alvo frequente de desinformação. O Comprova já mostrou, por exemplo, que é falsa a frase atribuída ao presidente com ameaça ao Supremo Tribunal Federal, e que vídeo engana ao tirar de contexto fala dele sobre “universidade ser para ricos”.

Política

Investigado por: 2024-09-26

Bolsa Família não vai priorizar pessoas acima de 40 anos; saiba os critérios

  • Falso
Falso
É falso que o Bolsa Família, do governo federal, vai priorizar pessoas acima de 40 anos. O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS) disse ao Comprova que não há critério de prioridade para essa faixa etária ligado ao recebimento do benefício. Têm prioridade, segundo o órgão, famílias indígenas e quilombolas e com crianças resgatadas de situação de trabalho infantil, integrantes resgatados de situação análoga à de trabalho escravo e catadores de material reciclável. A página que publicou o conteúdo tem características de sites que aplicam golpes financeiros e podem levar os seguidores a perder dinheiro.

Conteúdo investigado: Vídeo apresenta imagens do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de ministros do governo em diferentes agendas públicas. Em destaque, inseridas sobre as imagens, as legendas “🚨🙏 Melhor notícia” e “24/09 Quem tem mais de 40 anos pode ter prioridade no Bolsa Família”. Uma voz artificial narra o vídeo e diz que o governo aprovou nova norma, e que pessoas com CPF terminado em determinados números e com 40 anos ou mais passarão a ter prioridade no Bolsa Família.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Post no TikTok mente ao dizer que pessoas com 40 anos ou mais terão prioridade para receber o Bolsa Família. Não houve nenhum anúncio do governo nesse sentido. Consultado pelo Comprova, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS) afirmou que não existe critério ligado à idade para o recebimento prioritário do benefício.

Conforme a Lei nº 14.601/2023, são elegíveis ao Programa Bolsa Família as famílias cuja renda per capita mensal seja igual ou inferior a R$ 218. Também é necessária a inscrição no CadÚnico – que, por sua vez, é reservada às famílias com renda mensal de até meio salário mínimo (atualmente, R$ 706).

Os grupos prioritários no recebimento do benefício, de acordo com o governo federal, são famílias:

  • Indígenas;
  • Quilombolas;
  • Com crianças resgatadas de situação de trabalho infantil;
  • Com integrantes resgatados de situação análoga à de trabalho escravo;
  • Com pessoas catadoras de material reciclável.

“As demais famílias são ordenadas pelos critérios de menor renda familiar mensal por pessoa, maior número de crianças e/ou adolescentes de 0 a 17 anos e maior tempo de habilitação de forma ininterrupta (inscritos e seguindo os requisitos do Bolsa Família), sucessivamente”, acrescentou o MDS.

O critério de idade só é utilizado em dois benefícios complementares ao Bolsa Família, criados em 2023, após a recriação do programa:

  • Primeira Infância: concede um valor adicional de R$ 150 para cada criança de até seis anos de idade na família
  • Benefício Variável Familiar: concede um adicional de R$ 50 para cada criança e adolescente com idade entre sete e 18 anos incompletos, além de gestantes.

O perfil “Nova Notícia” que postou o conteúdo tem em sua descrição o texto: “Sua nova renda em casa em 1 mês ou seu dinheiro de volta + R$100 no Pix”. Abaixo, há link de uma página que pede dados como nome, e-mail, CPF e dados de cartão de crédito – ação típica de sites golpistas. A reportagem não conseguiu contatar o perfil.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O post foi visualizado mais de 24,3 mil vezes, até o dia 26 de setembro.

Fontes que consultamos: Consultamos a Lei nº 14.601/2023, que institui o Bolsa Família, reportagens do governo federal sobre o programa e o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já verificou outros conteúdos falsos envolvendo programas sociais, como um post que mentia ao dizer que o governo federal teria criado o programa “Ceia para Todos”. Na mesma linha do conteúdo verificado aqui, esse também levava a um golpe. Ainda sobre o Bolsa Família, foi publicado, na seção Comprova Explica, detalhes de por que não há pagamento de 13ª parcela e das variantes que podem reduzir o valor do benefício.