O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Eleições

Investigado por: 2022-10-02

Moraes não disse que vai mandar prender eleitor que reclamar das urnas

  • Enganoso
Enganoso
Não é verdade que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, disse que quem reclamar das urnas eletrônicas será preso no dia da votação. Moraes afirmou, na verdade, que aqueles que mentirem sobre os aparelhos serão responsabilizados por crime de falsidade. O TSE orienta os eleitores que encontrarem irregularidades nas urnas a comunicarem o problema ao presidente da seção eleitoral e o denunciarem às autoridades policiais no local.

Conteúdo investigado: Vídeo no Kwai replicado no Facebook mostra um homem que se declara apoiador do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) com fotos do presidente do TSE e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, ao fundo. O criador do conteúdo afirma que o ministro declarou que o eleitor que reclamar das urnas será preso. Segundo ele, o ministro teria dado aval para prender quem tumultuar as eleições, em flagrante delito, justificando a afirmativa de que não seria possível informar erros nas urnas eletrônicas.

Onde foi publicado: Kwai e Facebook.

Conclusão do Comprova: É enganoso que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, tenha dito que quem reclamar de possíveis irregularidades ao usar as urnas eletrônicas no primeiro turno das eleições, neste domingo (2), será preso em flagrante por tumultuar o processo eleitoral. A peça de desinformação aparece em um vídeo publicado na rede social Kwai e replicado depois no Facebook.

O autor do vídeo distorce a fala de Moraes em reunião no dia 26 de setembro com a Comissão e Observatório de Transparências do TSE. O presidente do tribunal disse, na verdade, que eleitores que mentirem sobre os aparelhos — dizendo, por exemplo, que digitaram o número de um candidato, mas não conseguiram votar nele — serão levados à delegacia para investigação. Caso a denúncia seja comprovadamente falsa, o eleitor deverá responder por crime de falsidade.

De acordo com o advogado especialista em direito eleitoral Alberto Rollo, o crime de falsidade a que Moraes se refere, nesse caso, é o de falsidade ideológica, previsto no art. 299 do Código Penal. Se for comprovado que a pessoa mentiu sobre problemas nos aparelhos, ela pode responder a um processo posterior na Justiça.

Mas, diferentemente do que o autor do vídeo afirma, um simples questionamento sobre um problema na urna eletrônica não fará o eleitor ser preso, a menos que ele cause um tumulto e atrapalhe a votação para os outros eleitores. Nesse caso, é considerado crime eleitoral “promover desordem que prejudique os trabalhos eleitorais, bem como impedir ou embaraçar o exercício do voto”, e quem cometê-lo estará sujeito à prisão em flagrante. “A prisão depende de tumultuar o processo para os demais”, explica Alberto Rollo.

Eleitores que, de fato, encontrarem irregularidades no dia da votação poderão comunicar o problema ao presidente da seção eleitoral, que tomará medidas para resolvê-lo, segundo orientação do TSE. É possível também fazer uma denúncia, verbalmente ou por escrito, às autoridades policiais presentes no local, ao Ministério Público Eleitoral ou ao juiz da zona eleitoral local, de acordo com outra resolução do tribunal.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova verifica conteúdos com grande alcance nas redes sociais. A publicação verificada tinha 400,9 mil visualizações, 27,1 mil curtidas, 1,7 mil comentários e 13,9 mil compartilhamentos no Kwai até o início da tarde deste domingo (2). Já no Facebook, o conteúdo havia recebido 51 mil visualizações, 2,2 mil curtidas, 155 comentários e 2 mil compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o autor do conteúdo pela rede social Kwai a fim de entender a fonte utilizada para dar a alegação falsa investigada. Em resposta, ele disse ter se baseado em uma notícia dada pelo jornal Alerta Brasil, da TV Record, sobre uma declaração feita pelo presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), Elton Leme.

De acordo com a reportagem, Leme gerou polêmica ao dizer que: “Se um eleitor tumultuar por alegar que digitou um número na urna, mas apareceu outro, a ordem é prender”. Embora a afirmação de Elton esteja de acordo com o que prevê o TSE caso a alegação seja falsa, a matéria não cita o nome de Alexandre de Moraes, presidente do TSE e ministro do STF.

No vídeo investigado, o autor diz que Moraes deixou bem claro que quem reclamasse das urnas eletrônicas seria preso. O Comprova pediu para o autor do vídeo enviar ou indicar o link de onde foi retirada a declaração do ministro, no entanto, ele não respondeu até o fechamento desta verificação.

Como verificamos: Para verificar se a declaração do autor do post verificado era verdadeira, o Comprova fez buscas no Google com as palavras-chave “Alexandre de Moraes”, “eleição” e “manda prender”. Os resultados da pesquisa mostraram uma notícia do portal Yahoo! sobre declaração dada pelo presidente do TSE.

Na mesma busca, o Comprova encontrou uma verificação da Agência Lupa sobre o mesmo boato, embora divulgado por outra pessoa. No texto, a Lupa citou uma resolução do TSE de 2021 que orienta os eleitores que encontrarem irregularidades nas urnas a denunciarem o problema a autoridades policiais, juízes ou ao Ministério Público Eleitoral.

O Comprova também consultou outras orientações disponíveis no site do TSE sobre falhas nas urnas. Parte delas já havia sido citada em uma verificação publicada na sexta-feira (30) sobre um vídeo da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) com informações falsas sobre o que fazer em caso de queixa sobre as urnas. O Comprova procurou ainda o TSE, que não se manifestou até a conclusão deste texto.

O que fazer se a urna apresentar problemas?

O eleitor que presenciar irregularidades ou que encontrar algum problema de defeito ou mau funcionamento da urna eletrônica deve se dirigir diretamente ao mesário que preside aquela seção. Em seguida, o juiz responsável pela seção eleitoral onde o problema foi relatado deve ser acionado imediatamente. A ocorrência deve ser registrada em ata com a descrição do problema apresentado e do encaminhamento dado local para tentar solucionar a questão.

procedimentos de contingência previstos em resoluções do TSE que devem ser adotados para que, mesmo havendo algum problema na urna, a votação possa continuar e os votos já feitos possam ser preservados.

“O primeiro procedimento de contingência a ser adotado, caso a urna eletrônica apresente problemas, é o clássico desligar e ligar, tão utilizado em outros aparelhos eletrônicos”, afirma o secretário de Tecnologia da Informação do TRE-RJ, Michel Kovacs. Ele explica que esse procedimento não elimina os votos já computados, nem as informações dos eleitores que já votaram, uma vez que esses dados são armazenados em um cartão de memória.

Caso o problema persista, os mesários devem acionar os técnicos de urna. Os procedimentos a seguir são: reposicionamento do cartão de memória; substituição do cartão de memória externo; e substituição da urna com falha. Se ainda assim os procedimentos de contingência não forem suficientes, só então a votação deverá prosseguir com o uso de cédulas de papel até o encerramento. Para isso e a fim de permitir eventual auditoria pós-eleições, várias providências devem ser adotadas, como as lacrações tanto da urna defeituosa quanto da urna de contingência e os respectivos envios para a junta eleitoral e equipe designada pelo juiz eleitoral.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet relacionados às eleições presidenciais de 2022, à pandemia e a políticas públicas do governo federal. Conteúdos falsos, enganosos ou fora de contexto sobre o TSE as urnas eletrônicas podem criar suspeitas infundadas sobre o sistema eleitoral, prejudicando as eleições, as instituições e a democracia brasileira.

Outras checagens sobre o tema: A Agência Lupa também checou o boato verificado aqui. No Comprova, outras apurações desmentem boatos que viralizaram no dia do primeiro turno: é falso, por exemplo, que o candidato Ciro Gomes declarou apoio a Bolsonaro, que Neymar ganhou mais patrocínio depois de declarar voto no atual presidente. Checagens sobre votação também foram realizadas nas últimas semanas, como a que demonstra não haver evidências de que urnas tenham chegado a Cordeiro (RJ) com votos já registrados e informando que vídeo faz apologia ao crime ao incentivar os eleitores a escreverem o próprio voto no caderno de assinaturas da seção eleitoral.

 

Neste fim de semana, a equipe do Comprova se uniu a outras 6 iniciativas de checagem de fatos no Brasil para verificar conjuntamente desinformação sobre as eleições. A parceria reúne AFP, Aos Fatos, Boatos.org, Comprova, E-Farsas, Fato ou Fake e Lupa.

Eleições

Investigado por: 2022-10-02

Ciro Gomes não declarou apoio a Bolsonaro; foto usada no Instagram é montagem

  • Falso
Falso
É falsa a imagem que mostra o candidato à presidência Ciro Gomes (PDT) fazendo o número 22 com as duas mãos - número que representa o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) na urna eletrônica. A foto original publicada nas redes sociais do pedetista mostra Ciro fazendo 1 em sua mão esquerda e 2 na mão direita, que representa o 12, seu número na urna.

Conteúdo investigado: Postagem no Instagram exibe foto do candidato à presidência Ciro Gomes fazendo número 22 com as mãos, ao lado do presidente Jair Bolsonaro. A publicação sugere que Ciro apoia a reeleição de Bolsonaro e traz a legenda “Até o Ciro é 22, e você aí com essa história de voto útil”.

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: É falso que o candidato à presidência Ciro Gomes tenha tirado uma foto fazendo o número 22 com as duas mãos, sentado ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PL). A imagem, que circula nas redes sociais, foi manipulada para parecer que o pedetista apoia a reeleição de Bolsonaro.

A foto original foi publicada por Ciro no sábado (1º de outubro), em seu perfil no Twitter. Na publicação, ele aparece fazendo o número 1 com a mão esquerda e 2 com a direita, em referência ao seu número de identificação na urna.

O registro foi feito no debate presidencial da TV Globo, exibido ao vivo no dia 29 de setembro. Na ocasião, Ciro Gomes estava sentado ao lado de Jair Bolsonaro, como mostram imagens do estúdio da TV Globo publicadas pelo portal G1. Às vésperas das eleições, o candidato do PDT utilizou a foto para convocar o eleitor a “apertar o 12 e se livrar dessa polarização cheia de ódio, incompetência e ladroeira que está afundando o país”, como diz a publicação.

No Instagram, a montagem foi publicada por dois perfis em conjunto, que foram contatados pelo Comprova. No entanto, os usuários não responderam até a publicação desta checagem.

Para o Comprova, falso é qualquer conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Até o dia 2 de outubro, a imagem no Instagram tinha 64.068 curtidas e 1.898 comentários.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com as duas contas que publicaram a imagem em conjunto no Instagram. No entanto, não houve respostas até o fechamento desta verificação.

Como verificamos: Inicialmente, buscamos nas redes sociais oficiais do candidato Ciro Gomes para tentar identificar a imagem original. A foto verdadeira foi encontrada no Twitter e no Instagram do pedetista. Além disso, a publicação foi repercutida em veículos de imprensa, como O Globo e Yahoo Notícias no sábado, 1 de outubro.

Foto original

A foto em que Ciro aparece fazendo o número 22 com as duas mãos, o que seria uma referência ao candidato Bolsonaro, é uma montagem. A imagem original foi publicada no Twitter do candidato pedetista no dia 1 de outubro às 9h. Na postagem, ele aparece ao lado de Jair Bolsonaro fazendo o número “12” com os dedos, número de identificação do seu partido, PDT. Na montagem, foi acrescentado um dedo a mais para forjar que Ciro Gomes teria feito o sinal em referência ao partido de seu concorrente na disputa presidencial.

O registro publicado por Ciro Gomes é do debate presidencial da TV Globo, que foi exibido em transmissão ao vivo no dia 29 de setembro. Na ocasião, Ciro Gomes ficou sentado ao lado de Jair Bolsonaro, como mostram imagens do estúdio da TV Globo publicadas pelo portal de notícias G1. A disposição dos candidatos no estúdio foi definida por ordem alfabética do primeiro nome. Da esquerda para a direita estavam Ciro Gomes (PDT), Jair Bolsonaro (PL), Padre Kelmon (PTB), Felipe D’Ávila (Novo), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil).

A imagem original foi reproduzida por portais de notícias como O Globo e Yahoo Notícias neste sábado, 1 de outubro.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre as eleições presidenciais, políticas públicas e a pandemia. Durante o período que antecede as eleições no Brasil, muitos conteúdos estão sendo divulgados com o objetivo de tumultuar o processo eleitoral e a escolha do eleitor. O vídeo aqui verificado apresenta uma informação falsa envolvendo o presidenciável Ciro Gomes. A população deve escolher seus candidatos com base em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente, o Comprova mostrou que o WhatsApp não está bloqueado e vídeo sobre decisão pedindo suspensão do aplicativo é de 2015; que apoiador que tirou foto com Bolsonaro em Garanhuns não é tio de Lula e que vídeo foi manipulado para mostrar Bolsonaro à frente em pesquisa do Ipec.

Neste fim de semana, a equipe do Comprova se uniu a outras 6 iniciativas de checagem de fatos no Brasil para verificar conjuntamente desinformação sobre as eleições. A parceria reúne AFP, Aos Fatos, Boatos.org, Comprova, E-Farsas, Fato ou Fake e Lupa.

Comprova Explica

Investigado por: 2022-10-02

Saiba quem é Padre Kelmon, candidato à Presidência da República pelo PTB

  • Comprova Explica
Comprova Explica
Diante das dúvidas levantadas no último debate político entre candidatos à Presidência da República sobre o vínculo religioso de Padre Kelmon (PTB), o Comprova apurou o histórico eclesiástico e político do candidato e confirmou sua ligação com a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Peru, que tem representações em diferentes países, inclusive no Brasil. Segundo Padre Miguel-Phellype Martins, Vigário Episcopal da instituição no Brasil, Kelmon foi ordenado padre em 2015, mas em outra congregação, a Igreja Apostólica Ortodoxa da América.

Conteúdo analisado: Padre Kelmon, candidato à Presidência da República pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), é, de fato, padre?

Comprova Explica: Candidato à Presidência da República pelo PTB, Padre Kelmon se denomina como um representante religioso da igreja ortodoxa e do conservadorismo cristão. Desde o lançamento de sua candidatura, diversas instituições religiosas vêm se manifestando sobre o suposto vínculo que possuem com Kelmon.

A assessoria de imprensa de Padre Kelmon enviou nota ao Comprova em que também confirma o vínculo religioso do candidato com a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Peru, que segue, sem afiliação oficial, os ritos de uma vertente do cristianismo da Índia (ortodoxa siro-malankara). Procurada pela reportagem, Ángel Ernesto Morán Vidal, Arcebispo Primaz e autoridade máxima da Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Peru, confirmou que o candidato faz parte da igreja.

Anteriormente, instituições negaram qualquer vínculo com o padre. Entidade máxima da denominação ortodoxa predominante no Brasil, a Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia no Brasil emitiu um comunicado dizendo que padre Kelmon não é e nunca foi membro dessa igreja. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), instituição que congrega os bispos da igreja católica no país, também emitiu um comunicado no dia 30 de setembro afirmando que o candidato que se apresenta como “padre Kelmon” não é sacerdote da Igreja Católica Apostólica Romana, principal denominação católica, em número de fiéis, no Brasil e no mundo, com sede no Vaticano.

Padre Kelmon nunca exerceu cargo eletivo e, antes deste ano, não havia se candidatado a nenhuma eleição, segundo dados do portal de divulgação de candidaturas do Tribunal Superior Eleitoral, que vão até 2004. O candidato, que já foi filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), foi uma das figuras centrais de um esquema para propagar desinformação contra Dilma Rousseff em 2010.

Kelmon é apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) desde 2018, segundo reportagem d’O Globo. Inicialmente, Padre Kelmon seria candidato a vice-presidente da República na chapa com Roberto Jefferson, que teve sua candidatura negada pelo TSE.

Dessa forma, no dia 3 de setembro, menos de um mês da data da eleição, Kelmon foi registrado pelo PTB como candidato à Presidência da República, tendo como vice, o pastor Luiz Cláudio Gamonal (PTB).

Como verificamos: O Comprova contactou a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Peru e as assessorias de imprensa do PTB e do PT. Também foram consultadas reportagens jornalísticas, redes sociais do próprio Padre Kelmon e das igrejas relacionadas a ele, assim como o portal do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para divulgação das candidaturas nas eleições deste ano.

Quem é Padre Kelmon?

Filho de Risoldete e José Gomes, Kelmon Luis da Silva Souza nasceu em 21 de outubro de 1976, em Salvador, na Bahia. Ele cresceu em uma família católica e, na adolescência, liderou grupos de jovens como a Legião de Maria.

De acordo com reportagem do SBT News, aos 20 anos Kelmon ingressou no seminário Mater Ecclesiae, dos Legionários de Cristo, em São Paulo, seguindo sua formação nos seminários Santana e Santa Catarina de Alexandria, o primeiro romano e o segundo ortodoxo.

Em 2003, decidiu seguir como ortodoxo e seis anos depois, tornou-se missionário no serviço aos pobres, presidiários, e à juventude universitária.

Em outubro de 2021, fundou o Movimento Cristão Conservador Latino-Americano (MECCLA), assumindo-o como seu primeiro presidente.

Padre Kelmon também é presidente de uma empresa chamada Associação Theotokos (CNPJ: 25310794000110), que declara à Receita prestar atividades de organizações religiosas ou filosóficas e atividades de associações de defesa de direitos sociais.

Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia e CNBB negam vínculo de Padre Kelmon

Entidade máxima da denominação ortodoxa predominante no país, a Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia no Brasil emitiu um comunicado dizendo que padre Kelmon não é e nunca foi membro dessa igreja. “Não possuímos qualquer relação ou comprometimento com o mesmo ou com qualquer um de seus feitos, passados ou presentes”, diz o documento assinado pelo Arcebispo Dom Tito Paulo George Hanna.

Segundo a CNN, em outra manifestação, a Igreja Sirian Ortodoxa disse que nenhum dos “‘bispos’ ou representantes legais hierárquicos” da Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Peru “jamais foram ordenados, sagrados ou tiveram suas ‘sagrações episcopais’ confirmadas por nenhum bispo ou Patriarca de nossa Igreja”.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) também emitiu um comunicado no dia 30 de setembro afirmando que o candidato que se apresenta como “padre Kelmon” não é sacerdote da Igreja Católica Apostólica Romana. A CNBB, que reúne bispos católicos mas não é representante oficial do Vaticano, disse ainda que de acordo com a Lei Canônica em vigor, os padres da Igreja Católica que estiverem “em pleno exercício do ministério sacerdotal não disputam cargos políticos, nem se vinculam a partidos”.

Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Peru confirma relação de Kelmon com a instituição

O Comprova ligou para o telefone que aparece na ficha da igreja no Google. A pessoa que atendeu se identificou como Ángel Ernesto Morán Vidal, Arcebispo Primaz e autoridade máxima da Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Peru. Ele confirmou que Padre Kelmon faz parte da igreja e disse que a instituição está presente em mais de 16 países, na Europa, África e América Latina, incluindo o Brasil, Venezuela, Equador, Itália e Alemanha.

Para mais informações, ele encaminhou o contato do representante da igreja no Brasil, que se identificou como Padre Miguel-Phellype Martins, Vigário Episcopal da Igreja Ortodoxa do Peru no Brasil. Padre Miguel forneceu informações sobre o histórico de filiação de Kelmon à igreja, que se deu por intermédio dele.

Segundo padre Miguel, antes de ingressar na Igreja Ortodoxa do Peru, Kelmon passou pelas igrejas Greco Melquita e Apostólica Ortodoxa da América, onde foi ordenado padre em 2015. Miguel também afirmou que Kelmon passou pela igreja Sírian Ortodoxa de Antioquia no Brasil, apesar dessa negar qualquer relação.

O ingresso do presidenciável na Igreja Ortodoxa do Peru, em 6 de agosto de 2021, se deu por intermédio de padre Miguel.

Assessoria de Padre Kelmon também confirma vínculo com a igreja

A assessoria de imprensa de Padre Kelmon enviou nota ao Comprova em que também confirma o vínculo religioso do candidato com a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Peru. De acordo com o posicionamento, “Padre Kelmon é reconhecido pela Igreja Ortodoxa como Pároco Interino sediado no Vicariato Episcopal do Brasil, com Código de Filiação N° BR0002PB, e é responsável pela Igreja Ortodoxa de São Lázaro, na Ilha de Maré, no Estado da Bahia”.

Em novembro, prossegue a nota, Padre Kelmon será sagrado Bispo pela Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Peru, com a missão de iniciar no Brasil a Igreja de Tradição Canônica Siro Ortodoxa Malankar. Ele terá, como bispo, “poderes eclesiásticos para conduzir a Igreja no Brasil”, diz o texto, informando que, para concorrer à disputa eleitoral, pelo PTB, Padre Kelmon obteve licença eclesiástica da Igreja no dia 2 de agosto de 2022.

Auxílio emergencial

Segundo a assessoria de imprensa do PTB, padres da Igreja Apostólica Ortodoxa do Peru “não recebem salário e vivem de doações”. Nessas circunstâncias, Kelmon recebeu 15 parcelas do auxílio emergencial, do governo federal, em meio à pandemia, entre 2020 e 2022. Ao todo, ele recebeu R$ 5.100.

O padre declarou ao TSE, em seu registro de candidatura, R$ 8.548,13 em bens. Todo esse montante refere-se a caderneta de poupança, com exceção de um real, descrito como quotas e quinhões de capital.

Atualmente, em seu perfil no Instagram, Kelmon pede doações para sua igreja por PIX. As contas bancárias pertencem a ele, como confirmou a Folha de S. Paulo.

Organização religiosa e filosófica fundada pelo presidenciável, a Associação Theotokos deve R$ 1.200 em impostos. A informação é do Estado de S. Paulo, publicada no sábado (1).

| Postagem do Padre Kelmon pedindo por doações por PIX. Fonte: Instagram do Padre Kelmon

Trajetória política

De ex-filiado do PT a pivô de esquema de fake news contra Dilma

Padre Kelmon nunca exerceu cargo eletivo e, antes deste ano, não havia se candidatado a nenhuma eleição, segundo dados do portal de divulgação de candidaturas do TSE, que vão até 2004. Isso não significa que a jornada política dele começou com o tumulto causado no debate presidencial na Globo.

Apesar de demonizar a esquerda, generalizando-a a partir de ditaduras latino-americanas, Kelmon já foi filiado ao PT. Como mostra o seu histórico de filiação partidária no TSE, ele foi integrante do PT, na Bahia, entre 2 de junho de 2002 e 21 de novembro de 2009. O padre, hoje, se arrepende da filiação, como reportou a Folha de S. Paulo.

Nas eleições de 2010, já fora do PT, ele foi um das figuras centrais de um esquema para propagar desinformação contra a então candidata petista à Presidência da República, Dilma Rousseff. O caso envolveu a encomenda de, pelo menos, um milhão de panfletos insinuando que Dilma apoiava a descriminalização do aborto. Na verdade, a petista disse “não ver sentido” em ampliar a legislação vigente à época sobre o tema.

O pedido dos panfletos estava em nome do bispo Dom Luiz Gonzaga, da Diocese de Guarulhos, em São Paulo, mas Kelmon foi o intermediário responsável pela encomenda. O material foi apreendido pela PF, a pedido do PT, porque os panfletos não continham o CNPJ ou CPF do responsável pela encomenda.

Invasão de quilombo em ilha na Bahia

Em dezembro de 2018, Kelmon pegou um barco a motor, cruzou a baía de Todos os Santos, em Salvador, e chegou à Ilha de Maré. A região, que abriga 4.200 pessoas, faz parte da capital baiana, mas não tem ligação terrestre com o continente.

O padre, então, se mudou para Bananeiras, comunidade quilombola na ilha. Kelmon causa conflito com os habitantes locais desde então, porque ele tenta, até o momento sem sucesso, erguer um templo em parte da região que é área de proteção ambiental.

Foi nesse contexto que ele recebeu, na ilha, a visita do presidente do PTB, Roberto Jefferson, em 2020. Jefferson o convenceu a ingressar no partido, o que aconteceu em 17 de dezembro daquele ano, e a liderar um segmento da legenda chamado Movimento Cristão Conservador (MCC-PTB). Esse grupo, segundo o site do PTB, “visa resgatar e defender os valores Judaico-Cristãos em nossa sociedade”.

Cabo eleitoral que defende golpe e faz poesia

Kelmon é apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) desde 2018, segundo reportagem de O Globo. Em março de 2022, ele publicou, em seu perfil no Instagram, um poema em homenagem a Bolsonaro. “Queremos é continuar. O Brasil vai crescer ! Os teus passos vou firmar… É Brasil acima de tudo. E Deus acima de todos”, diz um dos trechos, em referência ao slogan da campanha bolsonarista de 2018.

​​O padre postou foto em manifestações de 1º de maio erguendo cartazes contra a autonomia do Supremo Tribunal Federal (STF). A Lei de Segurança Nacional proíbe, entre outras coisas, a tentativa de subverter, ameaçar ou mudar o regime vigente ou o estado de direito, a tentativa de impedir o livre exercício de um dos Poderes e a propaganda de processos violentos para alteração da ordem política e social. Dentre as mensagens promovidas por ele naquela ocasião, estavam: “Bolsonaro, exerça seu poder constitucional” e “Liberdade no Brasil não se ganha, se toma”.

| Padre Kelmon ergue cartaz com mensagem criminosa durante manifestação bolsonaristas de 1º de maio de 2022 em São Paulo. Fonte: Instagram do Padre Kelmon

Vice de Roberto Jefferson

Em 4 de agosto de 2022, o PTB anunciou que Padre Kelmon seria candidato a vice-presidente da República, a pedido do ex-deputado federal Roberto Jefferson, que concorreria ao Palácio do Planalto. Na época, Jefferson estava em prisão domiciliar, acusado de participar de uma milícia digital que realizou ataques a instituições democráticas e ao STF.

No entanto, no mês seguinte, o TSE negou o registro de Jefferson ao cargo de presidente e constatou que ele está inelegível para disputar qualquer eleição até 2023, devido aos efeitos secundários da condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em 2013, no caso do mensalão.

Assim, em 5 de setembro, a Executiva Nacional do PTB anunciou que Padre Kelmon iria substituir Jefferson, tendo como vice o pastor Luiz Cláudio Gamonal.

Campanha à presidência

No dia 3 de setembro, menos de um mês da data da eleição, Padre Kelmon foi registrado pelo PTB como candidato à Presidência da República, tendo como vice, o pastor Luiz Cláudio Gamonal (PTB). Na reta final da campanha, Kelmon passou a ser alvo de buscas constantes no google, sobretudo, por conta de posturas adotadas nos debates presidenciais e que sugerem uma possível “dobradinha” com o presidente Bolsonaro.

No confronto de ideias mais recente, realizado pela TV Globo, o padre ficou sentado ao lado de Bolsonaro, com quem chegou a trocar papéis. Além disso, sua atuação foi interpretada como uma espécie de “linha auxiliar” do presidente tendo em vista que, em vários momentos, fez elogios à atual gestão, ressaltou programas criados pelo governo, como o auxílio emergencial e fez críticas à esquerda.

Ele chegou a ser classificado como “padre de festa junina” pela candidata Soraya Thronicke (União Brasil), além de ouvir do ex-presidente Lula que estaria “fantasiado” de religioso. Kelmon também foi repreendido em diversos momentos pelo mediador William Bonner por não respeitar as regras do debate e interromper a fala de seus oponentes.

A performance do padre refletiu nas últimas pesquisas eleitorais do Ipec e do Datafolha antes do primeiro turno, no domingo (2). Esses foram os primeiros estudos conduzidos pelos dois institutos após o debate. No Ipec, 13% do eleitorado afirmou que jamais votaria em Kelmon; até então, ele não figurava nesse recorte. Já, no Datafolha, a rejeição dele foi de 19% para 26%, e assim ultrapassou Ciro Gomes (PDT) como o terceiro presidenciável mais rejeitado.

Gastos de campanha

Os gastos de campanha declarados à Justiça Eleitoral pelo candidato também chamam a atenção. Até este sábado (1º de outubro), o padre disse ter recebido doações que somam pouco mais de R$ 1,5 milhão, sendo 99% do montante da direção nacional do PTB.

Disse também ter contratado despesas que somam R$ 1 milhão e 230 mil. Reportagem de O Globo nesta semana mostrou que o maior volume dos gastos foi com a empresa B2C Marketing (R$ 1 milhão e 200 mil). A publicação destacou que a firma não funciona no endereço que declara à Receita Federal, também não tem um site e, até agora, só prestou serviço para mais dois candidatos do próprio partido.

A reportagem revelou, ainda, que a empresa pertence a Ezequiel Bruno Cortez Gonzaga, conhecido como Bruno Cortez, que tem um longo histórico de negócios com o PTB. Ele mora em Brasília e já ocupou um cargo de confiança na Câmara da cota do partido, em 2005, quando Roberto Jefferson ainda era deputado federal.

Por que explicamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que circulam nas redes sociais. A seção Comprova Explica é utilizada para a divulgação de informações a partir de conteúdos que viralizam e estão causando confusão, como é o caso da participação do candidato Padre Kelmon no debate entre presidenciáveis realizado pela TV Globo.

Durante o programa, a ligação de Padre Kelmon com a igreja foi questionada por dois oponentes, o que levantou suspeitas no eleitorado. Diante da repercussão, o Comprova decidiu verificar as ligações religiosas do candidato para esclarecer a população e contribuir para que os eleitores tomem a decisão do voto com base em informações fidedignas.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo objetivo fez o Comprova explicar, na reta final das eleições, o que é permitido ou não na hora de votar, o que é e como funciona o orçamento secreto e o que é comprovado ou falso sobre a facada em Bolsonaro em 2018.

Eleições

Investigado por: 2022-10-02

É falso que site noticiou aumento de patrocínio a Neymar após vídeo do jogador apoiando Bolsonaro

  • Falso
Falso
É falso post que usa captura de tela de uma suposta notícia do portal GE (Globo Esporte), da Globo, afirmando que a Puma aumentou o patrocínio do jogador Neymar Jr. após ele postar vídeo em apoio a Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição. O GE negou ter publicado tal reportagem e, em contato com o Comprova, a assessoria do futebolista disse "não ter nada a declarar sobre um absurdo desses". Além disso, não há publicações em qualquer outro site de notícias repercutindo o suposto aumento dado pela Puma ao contrato com Neymar.

Conteúdo investigado: Posts no Twitter e Facebook reproduzem imagem do que seria uma notícia do portal GE, da Globo, afirmando que a marca de artigos esportivos Puma aumentou o patrocínio do jogador de futebol Neymar Jr. após ele ter publicado um post que virou “hit”. Uma das publicações usa imagem do tuíte em que o jogador anuncia apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) na eleição presidencial.

Onde foi publicado: Twitter e Facebook.

Conclusão do Comprova: É falso post com imagem que seria a captura de tela de uma notícia do portal GE, da Globo, com o título “Puma aumenta patrocínio de Neymar após hit no TikTok”. Em uma das publicações há uma legenda em que o autor afirma: “A mídia podre está tentando cancelar o Neymar e prejudicar o contrato com a Puma. Só que a Puma adorou a visibilidade. Golaço! #VaiSerNoPrumeiroTurno” (sic) referindo-se ao vídeo publicado pelo jogador no TikTok em 29 de setembro, no qual ele declara apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) na eleição presidencial.

Um outro post viral não usa a imagem com a falsa notícia do GE, mas afirma que “Neymar assinou o contrato de patrocínio individual mais caro do esporte (U$ 30 milhões/ano). Puma aumentou o patrocínio do brasileiro após hit no Tiktok”.

A imagem da “notícia” aqui analisada apresenta um layout semelhante ao utilizado pelas publicações do portal GE. Contudo, ao pesquisar pelo título da suposta notícia no Google não há retorno para nenhum conteúdo publicado em qualquer site com esse teor.

Procurada pelo Comprova, a equipe de comunicação do site de notícias esportivas afirmou que “essa matéria não existe no GE”. A assessoria de imprensa de Neymar não quis comentar, disse apenas “não ter nada a declarar sobre um absurdo desses”.

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Até o dia 2 de outubro, a postagem no Twitter somou 6.538 compartilhamentos e mais de 38,9 mil curtidas. Outro tuíte, que reproduziu o conteúdo da suposta notícia, somou 442 compartilhamentos e 8.089 curtidas. No Facebook, a publicação tinha mil curtidas, 243 compartilhamentos e 103 comentários.

O que diz o autor da publicação: O Comprova enviou mensagem privada para um dos perfis do Facebook que compartilhou o print com a manchete falsa, mas não houve retorno até a publicação da verificação. Já o perfil do Twitter “@genioneymarjr1”, que em sua postagem não usou o print da notícia falsa, disse que usou como fonte para a publicação uma outra postagem do Twitter, feita em inglês. Esse post, no entanto, não menciona qualquer aumento concedido pela Puma a Neymar. Em tradução livre, o tweet, feito pelo usuário “@slashviolence”, diz apenas: “Estou curioso se a @PUMA, que assinou com @neymarjr o contrato de patrocínio individual mais caro do esporte’ (U$ 30 milhões/ano), se sente confortável em ter sua marca sendo exibida enquanto ele declara apoio a uma campanha racista, homofóbica de um candidato presidencial de extrema direita no Brasil.” O perfil do Twitter que respondeu o Comprova também citou como fonte para a publicação o print da suposta matéria do GE sobre o tema, e disse que o site teria apagado o conteúdo após publicá-lo.

Como verificamos: O primeiro passo foi fazer uma busca no site do GE com o título que aparece nos posts falsos. A pesquisa não trouxe nenhum resultado e, então, a reportagem falou com a área de comunicação do veículo via mensagem de WhatsApp.

Também pelo aplicativo, contatou a assessoria de imprensa do jogador. Por e-mail, tentou falar com a Puma, mas recebeu uma resposta automática dizendo que a equipe só retorna ao trabalho em 3 de outubro.

Site GE não publicou o conteúdo e repórter não existe

O layout da manchete com a notícia aqui analisada é semelhante ao das publicações do G1 e do GE. Ao fazer buscas de conteúdo no GE a partir das palavras-chave “Neymar” ou “Puma”, no entanto, não há qualquer notícia com teor semelhante à afirmação feita na postagem.

Em contato com o Comprova, a assessoria de comunicação do GE afirmou que o conteúdo é falso e que “a matéria não existe no site”. Além disso, a assessoria também disse que não há nenhum repórter com o nome de Fernando Mendes na equipe da editoria de esportes, como aparece na imagem. Ao fazer buscas pelo nome do repórter (“Fernando Mendes”) no Google, também não há retorno para nenhum conteúdo publicado no GE com essa assinatura.

Além disso, existem outros elementos que indicam que a imagem não foi feita a partir de uma notícia publicada no site. Nas publicações do GE, logo após a assinatura do nome do repórter há a indicação da cidade e/ou país de onde o conteúdo foi escrito, o que não acontece no print da notícia aqui verificada.

| Capturas de telas de notícias publicadas no sábado, 1º de outubro, no portal.

Ao lado da assinatura das matérias publicadas no GE, também estão os ícones das redes sociais Facebook, Twitter e WhatsApp para compartilhamento do material. No print da notícia falsa de aumento do patrocínio dado a Neymar estão o logo de mais duas redes sociais: LinkedIn e Pinterest, outro indício de que o conteúdo aqui verificado não é verdadeiro.

O patrocínio

O acordo entre Neymar e Puma foi anunciado pelo jogador em 12 de setembro de 2020. Em um vídeo de um minuto no Twitter, Neymar, já no time francês Paris Saint-Germain, dizia querer que “a [chuteira] King reine em campo novamente e inspire gerações”. Até 2 de outubro, o post tinha 152,2 mil curtidas e mais de 18,1 mil compartilhamentos.

Na época, a revista Veja informou que “a remuneração do craque chegaria a 25 milhões de euros anuais”, valor superior aos recebidos por Cristiano Ronaldo com a Nike e Lionel Messi com a Adidas. Segundo a revista, o patrocínio da Puma a Neymar seria o maior acordo individual de patrocínio esportivo da história do futebol. A informação também foi repercutida pelo site do canal ESPN.

O contrato se iniciou logo após a Nike romper com Neymar, em agosto daquele ano, encerrando uma parceria que começara antes mesmo de ele se tornar jogador profissional do Santos. De acordo com o UOL, o motivo foi a falta de um acordo sobre valores de uma renovação.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre eleições, políticas públicas e a pandemia. O conteúdo suspeito verificado diz respeito a uma suposta consequência após a divulgação de apoio político de uma figura pública, no caso o jogador de futebol Neymar Jr, ao candidato presidenciável, Jair Bolsonaro. O conteúdo falso envolve ainda uma das maiores marcas de artigos esportivos do mundo.

Outras checagens sobre o tema: Outras postagens falsas ou enganosas envolvendo notícias de personalidades que apoiam Jair Bolsonaro já foram feitas pelo Comprova. Recentemente o projeto demonstrou que uma fala em apoio ao presidente foi feita por um jornalista argentino, e não por um embaixador, e que um vídeo mostrava um pastor em um encontro com Bolsonaro, e não o presidente da Coreia do Sul.

Neste fim de semana, a equipe do Comprova se uniu a outras 6 iniciativas de checagem de fatos no Brasil para verificar conjuntamente desinformação sobre as eleições. A parceria reúne AFP, Aos Fatos, Boatos.org, Comprova, E-Farsas, Fato ou Fake e Lupa.

Eleições

Investigado por: 2022-10-01

WhatsApp não está bloqueado; vídeo sobre decisão pedindo suspensão do aplicativo é de 2015

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa a notícia que circula por meio de vídeo, segundo a qual o aplicativo de troca de mensagens WhatsApp seria bloqueado por dois dias por determinação judicial. Trata-se de uma notícia de dezembro de 2015. O vídeo, portanto, engana ao compartilhar o conteúdo como sendo atual. À época, o bloqueio foi ordenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) no âmbito de uma ação criminal em São Bernardo do Campo (SP).

Conteúdo investigado: Vídeo de 2 minutos e 26 segundos reproduz uma reportagem veiculada no canal de notícias GloboNews. A matéria fala sobre decisão judicial no estado de São Paulo que determinou o bloqueio do aplicativo de mensagens WhatsApp por dois dias.

Onde foi publicado: YouTube, Kwai e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É enganoso um vídeo que circula pelas redes sociais afirmando que uma decisão judicial mandou bloquear o WhatsApp por dois dias a partir da meia-noite, sem especificar a data para a suspensão. O vídeo é de uma matéria da GloboNews exibida em 16 de dezembro de 2015. O Comprova recebeu, pelo site do projeto, uma sugestão de leitores para a verificação do conteúdo, que circula pelo WhatsApp e pode enganar ao dar a entender que a decisão é atual e estará em vigor durante o 1º turno das eleições de 2022, o que não é verdade.

Na época em que a reportagem foi exibida, o bloqueio tinha sido ordenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) no âmbito de uma ação criminal em São Bernardo do Campo (SP). O motivo do bloqueio não chegou a ser divulgado imediatamente porque, de acordo com o tribunal, a ação corria em segredo de justiça. O pedido de bloqueio tinha sido feito pelo Ministério Público depois de o WhatsApp ter desrespeitado uma decisão judicial de 23 de julho de 2015. No dia seguinte, o telejornal da rede Globo SPTV noticiou que o bloqueio foi determinado porque o aplicativo não liberou o acesso a conversas para a investigação de uma facção que atuava no roubo a bancos e caixas eletrônicos e também no tráfico de drogas.

A decisão da época determinou que o aplicativo ficaria sem funcionar nos dias 17 e 18 de dezembro de 2015, mas uma liminar do TJ-SP autorizou que as operadoras de telefonia deixassem a plataforma no ar. O bloqueio acabou durando cerca de 14 horas.

Ao Comprova, o WhatsApp informou que não há qualquer bloqueio do aplicativo no fim de semana da eleição deste ano.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Como o conteúdo circula no WhastApp, não é possível definir a quantidade exata de repasses. É identificado, no entanto, com a etiqueta “compartilhado frequentemente” no próprio aplicativo.

O que diz o autor da publicação: Não é possível identificar a origem do compartilhamento, pois o conteúdo circula no WhatsApp.

Como verificamos: Primeiro, buscamos os termos “globonews + j10 + justiça ordena bloqueio do whatsapp” no Google. Os resultados levaram a uma verificação publicada pelo Fato ou Fake, do G1, e a duas notícias do mesmo portal sobre decisões judiciais que ordenavam o bloqueio do WhatsApp no Brasil em 2015 e 2016, além de uma verificação feita em 2018 desmentindo um bloqueio de 48 horas, com base no mesmo conteúdo aqui investigado.

Só a decisão de dezembro de 2015, no entanto, havia sido noticiada pelo portal com vídeo do Jornal das Dez, cuja logomarca – J10 – aparece nas imagens verificadas. O vídeo disponibilizado no portal G1 é o mesmo que está viralizando no WhatsApp e mostra uma notícia de 16 de dezembro de 2015.

Em seguida, foi feito contato com o WhatsApp para verificar se havia novas movimentações sobre aquela decisão, e com o Tribunal de Justiça de São Paulo. O TJ-SP respondeu que não era possível verificar o andamento da ação sem um número de processo.

Bloqueio do WhatsApp em 2015

A decisão da juíza Sandra Marques, da 1ª Vara Criminal de São Bernardo do Campo, em dezembro de 2015, segundo matéria do portal G1, deu-se após autorização judicial para a interceptação das conversas pelo WhatsApp para investigar uma facção criminosa que também tem envolvimento com o tráfico de drogas. Apesar da autorização do grampo oficial, o WhatsApp não liberou o acesso às conversas, sendo multado em R$ 100 mil ao dia por descumprimento, além da determinação do bloqueio.

Mesmo com a determinação do bloqueio durante dois dias, o WhatsApp, na ocasião, só ficou fora do ar por algumas horas. No mesmo dia da decisão, o desembargador Xavier de Souza, da 11ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, determinou o restabelecimento do aplicativo WhatsApp em todo o país.

Outros bloqueios

Além da determinação de dezembro de 2015, outras decisões judiciais ordenaram o bloqueio do WhatsApp no Brasil. Em fevereiro de 2015, a Justiça do Piauí determinou a suspensão do aplicativo em todo o país depois de o WhatsApp se negar a fornecer informações para uma investigação policial. No mesmo dia, uma liminar suspendeu a decisão anterior e o aplicativo não chegou a ficar fora do ar.

Em maio de 2016 foi a vez da Justiça de Sergipe determinar o bloqueio por 72 horas em todo o país, alegando que o Facebook (Meta), dono do WhatsApp, tinha descumprido uma decisão anterior de compartilhar informações para uma investigação policial. Desta vez, o aplicativo chegou a ficar fora do ar por 24 horas, até que outra decisão do Tribunal de Justiça de Sergipe restabeleceu o serviço.

Novamente em 2016, agora em julho, a Justiça do Rio de Janeiro determinou o bloqueio do aplicativo, também porque o Facebook se recusava a cumprir uma decisão de fornecer informações para uma investigação policial. O serviço ficou fora do ar por uma tarde.

Sem determinações de bloqueios nas eleições

De acordo com a assessoria de comunicação do WhatsApp, a informação de um novo bloqueio no fim de semana eleitoral (1º e 2 de outubro de 2022) não passa de um boato. Procurada, a empresa confirmou que a peça em questão trata-se de um vídeo antigo que está sendo usado fora do contexto.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet e estão relacionados às eleições de 2022, à pandemia da covid-19 ou às políticas públicas do governo federal. O vídeo aqui verificado é antigo e voltou a circular dias antes da eleição. Sem contexto, o conteúdo pode levar o usuário a acreditar que a proibição do WhatsApp – aplicativo de mensagens amplamente usado no Brasil – é atual e tem relação com pleito de 2022.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo foi investigado pelo ‘Fato ou Fake’ do G1, que concluiu tratar-se de uma desinformação. O Comprova também investigou que boato de 2018 foi resgatado para afirmar que a Polícia Federal encontrou urnas eletrônicas não zeradas.

Também foram objetos de investigação do Comprova que queixas sobre urnas devem ser registradas com o presidente da mesa, e não em aplicativo do TSE; que vídeo foi editado para parecer que Lula defende o fechamento de igrejas e que não houve redução de seções eleitorais em 2022 em função das mortes por covid-19.

Neste fim de semana, a equipe do Comprova se uniu a outras 6 iniciativas de checagem de fatos no Brasil para verificar conjuntamente desinformação sobre as eleições. A parceria reúne AFP, Aos Fatos, Boatos.org, Comprova, E-Farsas, Fato ou Fake e Lupa.

Eleições

Investigado por: 2022-10-01

Vídeo que mostra confusão entre petistas de Sergipe é de 2013 e não envolve ato de Lula

  • Falso
Falso
É falso que vídeo mostra confusão para "pagar o povo que foi participar do ato de Lula" em Aracaju (SE) na atual campanha eleitoral. As imagens foram gravadas na cidade, mas em 2013, durante o Processo de Eleições Diretas (PED) do Partido dos Trabalhadores (PT), que ocorreu em todo o país naquele ano.

Conteúdo investigado: Vídeo, publicado no TikTok, mostra uma confusão entre pessoas vestidas de vermelho. Um homem que está no centro das imagens grita bastante e xinga. Outra mulher diz que ele estaria ganhando dinheiro. No vídeo, foram inseridos dois textos: “Ato de Lula em Aracaju” e “confusão para pagar o povo que foi participar do ato de Lula”.

Onde foi publicado: Twitter, TikTok e Facebook.

Conclusão do Comprova: Confusão mostrada em vídeo não aconteceu após ato do ex-presidente e candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Aracaju, Sergipe, como afirma post no TikTok. O registro, na verdade, foi feito em novembro de 2013 durante Processo de Eleições Diretas (PED) do Partido dos Trabalhadores, que ocorreu em todo o país naquele ano. No processo, os filiados à legenda devem escolher presidente da sigla a nível nacional e estadual.

No vídeo, é possível identificar o senador Rogério Carvalho (PT-SE), que atualmente concorre ao governo do estado, mas ele está com os cabelos escuros. Em 2022, o parlamentar está com os cabelos grisalhos. A assessoria do PT em Sergipe confirmou ser o político no vídeo e afirmou se tratar de um registro de 2013 feito em Aracaju.

Na publicação, também é possível identificar o número 180 escrito na camisa das pessoas. O número não é usado pelo PT em eleições federais e nem estaduais. Além disso, nenhum candidato ao Senado (cargo em que o número do candidato tem três números) por Sergipe, em 2022, está usando o número 180, conforme o DivulgaCand.

Em buscas no Twitter, foi possível confirmar que o número 180 foi o usado por Rui Falcão para concorrer ao cargo de presidente nacional do PT em 2013. Além disso, uma reportagem do G1 daquele ano sobre as eleições internas do partido mostra as pessoas usando a mesma camiseta que aparece no vídeo.

Lula, que atualmente faz campanha para a Presidência da República, esteve em Aracaju em 18 de junho deste ano. Na ocasião não foram registrados tumultos.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Até o dia 1º de outubro, o vídeo no TikTok tinha 6.029 curtidas, 1.359 comentários e 6.021 compartilhamentos. No Facebook, a publicação tinha 3,8 mil comentários e 197 mil visualizações. No Twitter, apenas uma das publicações somou 1.055 compartilhamentos e 2.467 curtidas.

O que diz o autor da publicação: O vídeo foi postado no TikTok. No perfil, tem a identificação de que a pessoa trabalha na prefeitura de Novo São Joaquim (MT). Como a rede social não permite envio de mensagens entre perfis que não se seguem, o Comprova procurou o nome do perfil no Google. O resultado encontrou uma página de um escritório de contabilidade em Novo São Joaquim, que tem um número de contato de WhatsApp. A equipe enviou uma mensagem, mas até o momento não teve retorno.

Como verificamos: Para fazer a verificação, o primeiro passo foi procurar em que outros locais o vídeo foi postado. Encontramos uma publicação no Twitter, de junho de 2022. Nos comentários do post, algumas pessoas apontavam que o homem no centro da imagem seria o senador e candidato ao governo de Sergipe, Rogério Carvalho, e que as imagens seriam antigas. Também havia um comentário que falava que a situação tinha acontecido no Sindicato dos Bancários.

Procuramos então as assessorias do PT em Sergipe, do PT Nacional, de Rogério Carvalho e do Sindicato dos Bancários. O PT em Sergipe explicou que as imagens seriam de uma eleição interna do partido em 2013.

Para confirmar se a informação realmente procedia, o Comprova procurou no Google e no Twitter, usando a ferramenta de busca por data, informações sobre a eleição interna daquele ano. A busca encontrou notícias no Estado de Minas e no G1. Na reportagem do G1, é possível comparar a roupa usada pelas pessoas no vídeo checado.

A equipe também procurou no DivulgaCand, ferramenta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), se algum candidato ao Senado por Sergipe está usando o número 180, que aparece nas camisetas das pessoas no vídeo, nas urnas. Também comparamos as imagens atuais do senador Rogério Carvalho com as do vídeo, nelas é possível ver que o parlamentar está com a aparência mais envelhecida agora.

Por fim, tentamos contato com o autor da publicação.

Vídeo foi gravado nas Eleições Diretas do PT em 2013

O conteúdo foi gravado durante o Processo de Eleições Diretas do PT que ocorreu em todo o país em 2013. Nele aparece Rogério Carvalho – na época deputado federal e atualmente senador e candidato do partido ao governo de Sergipe – discutindo com outros militantes.

Naquele ano, Rui Falcão foi eleito presidente nacional do partido e concorreu com o número 180, como mostram publicações da época em redes sociais (1, 2 e 3). Além disso, nenhum dos sete candidatos ao Senado de Sergipe em 2022 usa o número 180 nestas eleições.

O número está estampado em camisetas vestidas por várias pessoas que aparecem no vídeo e é visível mesmo com a péssima resolução do material. Uma reportagem exibida pelo jornal Bom Dia SE, da TV Sergipe, afiliada à Rede Globo, traz imagens daquele período. Nelas, é possível ver pessoas trajando a mesma vestimenta:

 

| Captura do vídeo verificado realizada pelo Comprova
 
| Captura realizada pelo Comprova de reportagem exibida em 2013 pelo telejornal Bom Dia SE, da TV Sergipe.
 

Outra prova de que o vídeo não é atual são as características físicas de Rogério Carvalho. Nas imagens verificadas ele está com os cabelos escuros, mas atualmente os apresenta grisalhos:

 

| Captura do vídeo investigado feita pelo Comprova mostra cabelos escuros de Rogério Carvalho
 
| Foto de ato de Lula em Sergipe, em junho de 2022, publicada no site do PT
 

Lula esteve em Sergipe no dia 18 de junho deste ano e realizou ato no Centro de Convenções, no Bairro Inácio Barbosa, em Aracaju. Na ocasião, conforme pesquisa feita pelo Comprova, não foram noticiados tumultos.

A camiseta utilizada por Rogério Carvalho no ato de Lula e no vídeo também é diferente. Nas imagens verificadas, ele está com uma blusa vermelha e sem estampa. Já no dia em que Lula esteve na cidade, o candidato ao governo de Sergipe vestia roupa estampando o rosto do ex-presidente:

 

| Captura do vídeo investigado, feita pelo Comprova, mostra camiseta de Rogério Carvalho sem estampa
 
| Transmissão ao vivo do ato de Lula em Aracaju, em junho deste ano, mostra Rogério Carvalho vestindo camiseta estampada
 

A assessoria de comunicação do PT em Sergipe confirmou que o vídeo em questão se trata de um episódio ocorrido em 2013, durante votação interna do partido, e destacou ser possível verificar a temporalidade do material citando que Rogério Carvalho está visivelmente mais jovem nas imagens verificadas. “Lamentavelmente, o material, que é absolutamente antigo, tem sido usado de maneira descontextualizada com o objetivo de enganar o eleitor sergipano”, diz o partido.

 

 

O secretário de Comunicação do PT em Sergipe, Plínio Pugliesi, explicou ao Comprova que as imagens foram registradas na sede do Sindicato dos Bancários em Aracaju, quando Rogério concorria à presidência estadual do partido, eleição que venceu. “Por ser um processo eleitoral interno do partido, marcado tradicionalmente por disputas acirradas, aconteceu essa tensão entre ele e alguns militantes, que logo depois foi superada internamente, mas hoje está sendo divulgado em forma de fake news”, declarou.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre as eleições presidenciais, políticas públicas e a pandemia. Durante o período que antecede as eleições no Brasil, muitos conteúdos estão sendo divulgados com o objetivo de tumultuar o processo eleitoral e a escolha do eleitor. O vídeo aqui verificado apresenta uma informação falsa envolvendo o presidenciável Lula. A população deve escolher seus candidatos com base em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: Em verificações recentes sobre as eleições, o Comprova mostrou que não há evidências de que urnas tenham chegado a Cordeiro (RJ) com votos já registrados, ao contrário do que afirma áudio, que apoiador que tirou foto com Bolsonaro em Garanhuns não é tio de Lula, diferentemente do que diz post e que queixas sobre urnas devem ser registradas com o presidente da mesa, não em aplicativo do TSE.

Neste fim de semana, a equipe do Comprova se uniu a outras 6 iniciativas de checagem de fatos no Brasil para verificar conjuntamente desinformação sobre as eleições. A parceria reúne AFP, Aos Fatos, Boatos.org, Comprova, E-Farsas, Fato ou Fake e Lupa.

Eleições

Investigado por: 2022-10-01

Eleitores de Lula não têm dia diferente para votação. Todos os brasileiros votam em 2 de outubro

  • Falso
Falso
É falso o áudio que indica dia diferente de votação para eleitores do ex-presidente e candidato à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No conteúdo compartilhado em um aplicativo de mensagens, a alegação é que a suposta diferença de datas foi divulgada no Jornal Nacional, da TV Globo, e que seria para evitar confusão com apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), que disputa a reeleição, o que é mentira. O primeiro turno da eleição deste ano ocorre neste domingo, dia 2 de outubro, para todos os eleitores.

Conteúdo investigado: Em um áudio que circula no WhatsApp, um homem afirma que os eleitores que pretendem votar no ex-presidente Lula devem ir às urnas no dia 3 de outubro (segunda-feira), e não no dia 2 de outubro (domingo), para evitar conflitos com eleitores que votarão em Bolsonaro.

Onde foi publicado: WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falsa a alegação que circula em um áudio no WhatsApp na qual um homem diz que viu no Jornal Nacional, da TV Globo, uma matéria que supostamente teria dito que eleitores dos candidatos Lula e Bolsonaro devem votar em dias diferentes nas eleições presidenciais deste ano. O primeiro turno das eleições presidenciais de 2022 será realizado no dia 2 de outubro (domingo) e todos os eleitores que pretendem comparecer às urnas devem fazê-lo neste dia.

Diferentemente do que alega o áudio, o Jornal Nacional não divulgou o material mencionado na mensagem falsa. Uma reportagem veiculada pelo JN na última sexta-feira, 30, destacou que o Brasil tem recorde de eleitores aptos a votar nas eleições de 2022 e mencionou detalhes que envolvem o eleitorado e que a votação ocorrerá no próximo domingo (2 de outubro).

Onde houver segundo turno, o eleitor deverá comparecer às urnas no dia 30 de outubro. O voto é obrigatório para os brasileiros com idade entre 18 e 69 anos e é facultativo para as pessoas analfabetas, jovens com 16 e 17 anos e para quem tem mais de 70 anos de idade.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e tenha sido divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Não é possível dimensionar o alcance da publicação que circula em aplicativo de mensagem como o WhatsApp.

O que diz o autor da publicação: Também não foi possível identificar o autor do áudio e, por isso, o Comprova não conseguiu contato.

Como verificamos: Consultamos o site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), instituição responsável pela organização do pleito, e conferimos o calendário das eleições de 2022. Nele consta o dia 2 de outubro como a data oficial para o primeiro turno em todo o país. No caso de segundo turno, a votação será realizada no dia 30 de outubro também para todos os eleitores.

Ainda no site do TSE pesquisamos sobre os cargos em disputa no dia 2 de outubro e a ordem de votação, que segue o previsto na Resolução 23.669/2021. A norma dispõe sobre os atos gerais do processo eleitoral deste ano.

A equipe ainda fez consultas na internet sobre reportagem de eleições no Jornal Nacional e a pesquisa retornou uma matéria da última sexta-feira, 30 de setembro, indicando a data correta da votação.

Dia da votação é 2 de outubro para todos

No calendário eleitoral definido pelo TSE, o primeiro turno de votação para todos os eleitores é neste domingo, 2 de outubro. A última atualização que houve nessas normas foi registrada em dezembro do ano passado, no site do órgão. Em caso de segundo turno, para os cargos de governador ou presidente, a votação se dará no dia 30 de outubro. A data da eleição também está prevista na Constituição Federal.

A votação começa às 8h e termina às 17h do horário de Brasília. As pessoas que estiverem na fila da seção no horário de fechamento ainda poderão votar. Neste ano, há uma novidade: o horário de votação será unificado em todo o país. Como consequência, estados com fuso horário diferente ao de Brasília terão de se adequar à medida.

Assim, as seções de Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Roraima e de parte do Amazonas abrem uma hora antes, ou seja, às 7h do horário local, e fecham também uma hora antes, às 16h. Nas localidades que seguem o fuso do Acre, os trabalhos começam às 6h e se encerram às 15h. Já em Fernando de Noronha (PE), a votação será iniciada às 9h do horário local, e se encerrará às 18h.

Ordem da votação

Na eleição deste ano, o eleitor brasileiro deverá escolher candidatos para o Legislativo e Executivo. Cinco cargos estarão em disputa, sendo dois para o poder Executivo (governador e presidente da República) e três do poder Legislativo (deputado federal, deputado estadual ou distrital e senador).

No momento da votação, o TSE destaca a importância de que o eleitor esteja atento para a ordem de votação estabelecida pelo Congresso Nacional.

O primeiro a ser votado será o candidato a deputado federal, que tem o número representado por quatro dígitos. Na sequência, vem o candidato a deputado estadual ou distrital, com número representado por cinco dígitos. Depois, o eleitor escolherá o candidato a senador e deverá teclar três dígitos na urna eletrônica. Em seguida, a votação é para governador (dois dígitos) e presidente (dois dígitos), respectivamente.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. O áudio tenta induzir eleitores do ex-presidente Lula a não comparecer no dia da votação, marcado para 2 de outubro, indicando a data errada do pleito. A desinformação é uma prática nociva à democracia porque a população tem direito de fazer suas escolhas baseadas em conteúdos confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: Os conteúdos de desinformação sobre as eleições são recorrentes neste momento. O Comprova já demonstrou ser falso que urnas chegaram com votos registrados em Cordeiro (RJ), que apoiador que tirou foto com Bolsonaro não é tio de Lula e que vídeo usa boato de 2018 para afirmar que Polícia Federal encontrou urnas não zeradas em Brasília.

Sobre o conteúdo aqui investigado, o Fato ou Fake também o classificou como falso, negando que eleitores de Lula e Bolsonaro devam votar em dias diferentes.

 

Neste fim de semana, a equipe do Comprova se uniu a outras 6 iniciativas de checagem de fatos no Brasil para verificar conjuntamente desinformação sobre as eleições. A parceria reúne AFP, Aos Fatos, Boatos.org, Comprova, E-Farsas, Fato ou Fake e Lupa.

Eleições

Investigado por: 2022-09-30

Não há evidências de que urnas tenham chegado a Cordeiro (RJ) com votos já registrados, ao contrário do que afirma áudio

  • Falso
Falso
É falso o conteúdo de áudio que afirma que urnas eletrônicas teriam chegado à cidade de Cordeiro, na região serrana do Rio de Janeiro, com votos registrados para o candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Em nota, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) comunicou a abertura de uma investigação no cartório da 52ª Zona Eleitoral (Cordeiro) contra o suspeito de produzir o conteúdo de desinformação. Antes de iniciar o processo de votação, todas as urnas eletrônicas passam pelo procedimento de emissão da zerésima, documento que confirma que nenhum voto foi depositado no equipamento.

Conteúdo investigado: Áudio que circula no WhatsApp aponta suposta fraude eleitoral por meio da inserção de votos – de forma antecipada e a favor de Lula – em urnas eletrônicas encaminhadas à cidade de Cordeiro, no Rio de Janeiro.

Onde foi publicado: WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falsa a informação de que duas urnas eletrônicas enviadas à cidade fluminense de Cordeiro já teriam votos registrados para Lula, como diz um áudio que circula no WhatsApp. O Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) desmentiu o conteúdo em nota publicada na quarta-feira (28/9). O Ministério Público do Estado (MPE-RJ) também classificou o conteúdo como falso.

Segundo o texto publicado no site do tribunal, a Justiça Eleitoral do Rio encerrou o processo de preparação dos aparelhos em cerimônia aberta ao público e a entidades, como partidos e o Ministério Público. Pelo MPE-RJ, acompanharam a preparação das urnas equipes da 52ª Promotoria Eleitoral que atua em Cordeiro. Nenhum tipo de irregularidade foi encontrada nas cerca de 39 mil urnas que serão utilizadas no estado no domingo (2), quando acontece o primeiro turno das eleições de 2022.

Mesmo que houvesse algum problema durante a preparação, em toda eleição as urnas precisam passar pelo processo de emissão da zerésima no dia da votação, antes da abertura das seções eleitorais ao público. A zerésima é um documento impresso na própria urna e atesta que não há nenhum voto registrado no aparelho. Depois de impressa, ela deve ser assinada pelo presidente da seção eleitoral e pelos mesários e fiscais dos partidos ou coligações presentes no local.

Após a circulação do áudio, o TRE informou que o cartório da 52ª Zona Eleitoral do Rio, que fica em Cordeiro, abriu uma investigação para responsabilizar o autor das declarações falsas. Segundo o tribunal, o suspeito foi identificado e deverá responder criminalmente.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e tenha sido divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Não é possível medir o alcance de mensagens que circulam no WhatsApp.

O que diz o autor da publicação: Não é possível identificar o autor do áudio que circula no WhatsApp, portanto, o Comprova não conseguiu contatá-lo. O cartório da 52ª Zona Eleitoral do Rio de Janeiro diz ter colhido indícios que indicam a identidade do suspeito, mas não revelou essas informações ao público.

Como verificamos: Iniciamos verificação buscando no Google pelas palavras “fraude urnas” e “Cordeiro”, que retornou a publicação do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro. O próprio conteúdo cita uma apuração aberta pela zona eleitoral responsável pelo município com objetivo de responsabilizar o autor do conteúdo falso.

Também buscamos informações já divulgadas pela Justiça Eleitoral que explicam o processo de preparação das urnas citado pelo TRE e o funcionamento da “zerésima” — documento emitido no dia da votação que atesta que não há nenhum voto registrado nas urnas eletrônicas.

O Comprova buscou, ainda, posicionamento do Ministério Público do Rio de Janeiro, que confirmou se tratar de um conteúdo falso.

A preparação das urnas

Depois que o Tribunal Superior Eleitoral envia as urnas aos estados, os TREs fazem a preparação desses aparelhos. O processo, que é feito em uma cerimônia aberta ao público, consiste na instalação do sistema operacional das urnas, que inclui programas e dados dos candidatos e eleitores da região. Em seguida, a Justiça Eleitoral faz testes para verificar se os aparelhos estão funcionando da forma correta.

Entre os programas inseridos nas urnas, está um software do TSE com mecanismos de segurança para impedir a instalação de programas ou dados não reconhecidos pela Justiça. Os aparelhos nunca são conectados à internet ou a outra rede de comunicação externa, o que os protege contra invasões. Além disso, os sistemas instalados só permitem o uso das urnas no momento programado para a votação.

Após a preparação, as urnas são seladas com lacres produzidos pela Casa da Moeda e armazenadas em um local escolhido pelos TREs. Na véspera das eleições, a Justiça Eleitoral as transporta para os locais de votação. Depois, para voltar a garantir que os aparelhos não foram violados, os presidentes das seções eleitorais, mesários e fiscais de partidos presentes no dia da eleição emitem e assinam as zerésimas.

Vídeo do TSE sobre a zerésima

A zerésima é um relatório impresso pelas próprias urnas. Depois da impressão, ela deve ser guardada em um envelope, que no fim da votação será enviado à Justiça Eleitoral. Uma cópia do documento também é impressa nesse momento e afixada na porta das seções eleitorais, em um local visível para os eleitores. Apenas depois desses procedimentos a votação pode começar.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet e estão relacionados às eleições de 2022, à pandemia da covid-19 ou às políticas públicas do governo federal. A postagem verificada dissemina conteúdo falso que descredibiliza o processo eleitoral e as urnas eletrônicas.

Outras checagens sobre o tema: O conteúdo alvo desta verificação foi classificado como falso pelo próprio Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro. Além disso, o áudio foi desmentido em checagens produzidas pelo G1, Uol Confere e Estadão, por exemplo.

O Comprova também investigou recentemente informação sobre suposta redução do número de seções de votação em função das mortes por covid-19; alegações falsas de que funcionários da Justiça Eleitoral estariam fraudando urnas eletrônicas durante procedimento de carga e lacração e que a terceirização de procedimentos comprometeria integridade das eleições.

Eleições

Investigado por: 2022-09-30

Apoiador que tirou foto com Bolsonaro em Garanhuns não é tio de Lula, ao contrário do que afirma post

  • Falso
Falso
É falso que foto mostre um tio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sentado ao lado de Jair Bolsonaro (PL) durante visita do atual mandatário a Garanhuns, em Pernambuco. A imagem, usada para afirmar que nem a família do petista vai votar nele, mostra, na verdade, um homem que não possui parentesco com Lula. O registro foi feito no dia 17 de setembro deste ano, data em que Bolsonaro passou pela cidade natal do adversário político. O Comprova falou com o filho do senhor apontado como familiar do petista, que negou qualquer relação entre o pai e Lula.

Conteúdo investigado: Tuíte com foto do presidente Jair Bolsonaro posando com três homens e a legenda “Bolsonaro recebido por tio e sobrinho de Lula em Garanhuns. PE… Nem a família do famigerado vota e nem confia no moluscolo” (sic). A mesma imagem circula no TikTok com um áudio em que o autor afirma que o homem de chapéu e óculos é tio do petista e que não vai votar nele.

Onde foi publicado: Twitter e TikTok.

Conclusão do Comprova: É falso post que usa foto de Bolsonaro sentado ao lado de apoiadores em evento em Garanhuns, em Pernambuco, para dizer que nem o tio de Lula (PT), que estaria no clique, vai votar no petista nas eleições presidenciais deste ano.

A foto é verdadeira e mostra Bolsonaro durante um almoço na Associação Garanhuense de Atletismo (AGA) com outros três homens. Um deles, mais velho e usando chapéu, é apontado nos conteúdos falsos como “tio de Lula”.

A publicação, contudo, desinforma, já que a imagem não mostra um parente de Lula. A reportagem conversou com os outros dois homens que aparecem no clique, um deles sendo o filho do senhor apontado como familiar do petista. Ambos afirmaram que o conteúdo é mentiroso.

De acordo com Giovani Goes, filho do senhor destacado na foto, seu pai não tem nenhum parentesco com o candidato do PT. “Sou totalmente contra o que está acontecendo, de terem usado a nossa imagem, de alguém ter feito um áudio dizendo que ele é parente de Lula”, declarou Giovani.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e tenha sido divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Até o dia 30 de setembro, a postagem no Twitter alcançou 862 curtidas e 242 retuítes. No TikTok, o post chegou a 36,7 mil visualizações, 3,6 mil curtidas, 1,2 mil compartilhamentos e 248 comentários.

O que diz o autor da publicação: Entramos em contato por mensagem direta com um perfil que fez a postagem no Twitter. O responsável apagou o post e afirmou que retirou a publicação de outro perfil, mas não se lembra qual. O conteúdo também foi reproduzido em postagem no TikTok, plataforma que não permite envio de mensagens entre contas que não se seguem mutuamente. Pesquisamos pelo nome do autor da postagem em outras redes sociais e encontramos a mesma foto usada no TikTok em perfis no Instagram e no Facebook. A equipe encaminhou mensagem por meio destas plataformas, mas não recebeu retorno.

Como verificamos: A checagem deste conteúdo começou com pesquisa no Google sobre a visita de Bolsonaro a Garanhuns, que encontrou reportagens mostrando que o candidato esteve no município no dia 17 de setembro deste ano, quando participou da Marcha Para Jesus. Matérias publicadas por UOL e O Globo sobre a visita mostraram que o PT orientou seus militantes a ficarem em casa, com o objetivo de evitar confrontos. As publicações citam como fonte Eraldo Ferreira, identificando-o como primo de Lula e dirigente do PT na cidade.

Com essa informação, a equipe entrou em contato com o diretório estadual do PT em Pernambuco e conseguiu o telefone de Eraldo com uma assessora. O petista confirmou ser primo de Lula e negou que o homem apontado na postagem aqui verificada seja tio do candidato.

Eraldo identificou Giovani Goes na imagem, informou tratar-se do filho do idoso descrito pelo conteúdo como tio de Lula. Eraldo, então, nos encaminhou um número de telefone. Em seguida, entramos em contato com Giovani, que também negou que seu pai tenha qualquer parentesco com o ex-presidente e informou que a foto havia sido feita em um espaço na Associação Garanhuense de Atletismo, onde houve um almoço com Bolsonaro.

Também procuramos o candidato a deputado federal Joctã Barros (PTB-PE), que aparece na foto. Chegamos ao nome dele após contato com o dono do restaurante onde o registro foi feito. Em suas redes sociais, o político fez uma postagem desmentindo o conteúdo e esclarecendo que o idoso na foto não é tio de Lula, mas um veterano do Exército e presbítero em Garanhuns.

Com a informação de que o senhor na foto é presbítero na cidade, conseguimos falar com o Colégio Presbiteriano XV de Novembro, e a pessoa que atendeu o telefone, que não quer ter o nome publicado, disse conhecê-lo. Enviamos a foto do senhor para ela, que confirmou ser quem Giovani dizia que era.

Antes de identificar e contatar o primo de Lula, a reportagem chegou a procurar a assessoria de imprensa do ex-presidente, que afirmou que ele tem muitos parentes e que nem todos são próximos. “Lula saiu com 7 anos de Pernambuco, de uma família grande, com pai e mãe com muitos irmãos, em outra época”, informou um assessor, acrescentando que não teria condições de colaborar para esta checagem.

Imagem não mostra tio de Lula

A foto aqui verificada foi registrada durante o encontro na AGA no dia 17 de setembro. Além de Bolsonaro e José Agostinho de Goes, conhecido como senhor Goes, que usa um chapéu, também aparecem na imagem Giovani Goes, que veste uma camisa amarela e é filho do senhor Goes, e o político local Joctã Barros (PTB), vestindo uma camiseta com a bandeira do Brasil.

| Foto usada na peça de desinformação mostra Bolsonaro sentado ao lado de Goes. De pé, vestido de amarelo, é Giovani Goes. Joctã Barros está vestindo camisa verde

| Print de postagem feita por Joctã Barros. É possível ver o filho de Goes ao fundo da imagem, em situação semelhante à foto usada no conteúdo de desinformação aqui verificado. Na legenda, Joctã diz que Goes não é parente de Lula

Em entrevista ao Comprova, Giovani disse que seu pai não tem qualquer parentesco com Lula. De acordo com ele, o idoso foi convidado para o almoço com o presidente porque é evangélico e veterano do Exército. “Nosso sobrenome é Goes. Não tem nenhum grau de parentesco com o ex-presidente. Eu tenho recebido várias ligações, mensagens, pessoas conhecidas perguntando. Isso incomoda”, disse.

A mesma versão da história foi apresentada ao Comprova por Eraldo, primo de Lula e dirigente do PT na cidade, e pelo candidato a deputado federal Joctã Barros, que está de camiseta verde na foto. “Seu Goes é um senhor que está completando em novembro próximo 100 anos de idade, é veterano do Exército e é o presbítero mais antigo da igreja presbiteriana aqui de Garanhuns. O que passar disso aí é pura invencionice, é boato, não procede. Não tem parentesco nenhum com Lula”, afirmou Barros.

A reportagem pediu a Giovani que encaminhasse fotos e registros com o pai, para que a equipe pudesse compará-lo com o idoso que aparece na foto, mas ele respondeu que a família não gostaria de expor o homem, que está próximo de completar 100 anos.

Publicação no site do 71º Batalhão de Infantaria Motorizado, localizado em Garanhuns, mostra homenagem ao “senhor Goes”, 99 anos, no Dia do Soldado, em 25 de agosto. Imagens do evento exibem-no ao lado do filho, que também aparece no registro divulgado na peça de desinformação. As fotos foram publicadas pelo Exército em 8 de setembro de 2022.

| Imagem de divulgação de homenagem a José Agostinho de Goes. Crédito: Exército Brasileiro.

Visita de Bolsonaro a Pernambuco

Bolsonaro fez maratona de visitas a cidades pernambucanas no dia 17 de setembro. Em motociata, o candidato saiu de Santa Cruz do Capibaribe e passou por Toritama e Caruaru. A distância entre os municípios é de 42 quilômetros.

Depois, Bolsonaro foi de helicóptero para Garanhuns, onde chegou por volta das 13h30, e foi recebido em almoço com empresários e lideranças evangélicas na AGA. Na sequência, o presidente participou da Marcha Para Jesus na cidade.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre as eleições presidenciais, a realização de obras públicas e a pandemia. Durante o período que antecede as eleições no Brasil, muitos conteúdos estão sendo divulgados com o objetivo de tumultuar o processo eleitoral e a escolha do eleitor, divulgando desinformação a respeito dos candidatos, como a peça aqui verificada. A população deve escolher seus candidatos com base em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: Lula e o PT são alvos recorrentes de verificações do Comprova nessas eleições. Nos últimos dez dias, o projeto classificou como falso conteúdo que afirma que o partido tenha projeto de moradia social para abrigar famílias sem teto em casas que já têm dono e montagem dizendo que o ex-presidente teria dito que a Venezuela “não precisa de críticas”, mas de “empréstimos”.

Eleições

Investigado por: 2022-09-30

Queixas sobre urnas devem ser registradas com o presidente da mesa, não em aplicativo do TSE

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso que seja possível registrar denúncias no aplicativo Pardal, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em caso de problemas na hora da votação nas Eleições 2022. Diferentemente do que afirma vídeo gravado em 2018 que voltou a circular nas redes sociais com declaração da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), a orientação do TSE para este ano é que os eleitores apresentem a queixa sobre eventual mau funcionamento da urna diretamente ao presidente da mesa receptora de votos. O documento utilizado por Zambelli no vídeo para fundamentar a fala era válido apenas para o segundo turno do pleito de 2018.

Conteúdo investigado: Republicação de um vídeo de 2018 em que Carla Zambelli (PL-SP) fala que, no dia da votação, os eleitores podem chamar o mesário para registrar denúncias no aplicativo Pardal, do TSE, em caso de problemas com a urna eletrônica no momento do voto. No final da gravação, Zambelli mostra um documento assinado pela então presidente do TSE, Rosa Weber, e pelo então ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, que contém orientações em situação de complicações no momento do voto.

Onde foi publicado: Kwai.

Conclusão do Comprova: É enganoso que os eleitores brasileiros poderão registrar denúncias no aplicativo Pardal, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), caso haja problemas na hora da votação nas eleições. O vídeo que contém desinformação mostra a deputada federal Carla Zambelli apresentando uma orientação conjunta do TSE e do Ministério da Segurança Pública sobre o tema. Mas o conteúdo, que circula agora no Kwai, é, na verdade, de 2018.

A Justiça Eleitoral informou que o aplicativo Pardal não receberá ocorrências desse tipo em 2022. Segundo o órgão, a ferramenta receberá denúncias apenas de ilícitos eleitorais, como as práticas de propaganda eleitoral irregular, compra de votos, abuso de poder econômico e político, dentre outros.

Nestas eleições, conforme informações do TSE, eleitores que queiram se queixar de problemas na hora do voto devem falar diretamente com o presidente da mesa receptora de votos – área composta por seis mesários nomeados por um juiz eleitoral e onde fica instalada a urna eletrônica. Em seguida, o juiz deve ser contatado e a ocorrência deve ser registrada em ata.

O Comprova classifica como enganoso todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga conteúdos que têm maior alcance nas redes sociais. Até o dia 30 de setembro, o vídeo verificado teve 303,7 mil visualizações; 38,1 mil curtidas; 2,2 mil comentários e 20,7 mil compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o autor da postagem por meio de mensagem direta no aplicativo Kwai, mas não obteve retorno até o fechamento desta verificação.

Como verificamos: Para apurar as informações do vídeo, o Comprova consultou o documento citado por Zambelli disponível no site do TSE, além de outros materiais do tribunal sobre as urnas eletrônicas (1 e 2).

Em nosso processo de verificação, buscamos a postagem original do vídeo. No entanto, em meio a tantas publicações da candidata, não encontramos o conteúdo. Solicitamos o conteúdo para a assessoria de imprensa de Carla Zambelli, que não retornou nosso contato.

A equipe também reuniu informações sobre o aplicativo Pardal e entrou em contato com a assessoria do TSE e com a pessoa responsável pela publicação do vídeo.

Documento mostrado por Zambelli é de 2018

No vídeo alvo da checagem, a deputada federal Carla Zambelli faz referência a um documento com orientações sobre como proceder em eventuais problemas no momento do voto. O documento mostrado na filmagem é de 16 de outubro de 2018, cujo título é “Orientação Conjunta N° 01/2018 TSE/MSP”, e foi assinado pela então presidente do TSE, ministra Rosa Weber, e pelo então ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann.

À época, o TSE e o Ministério da Segurança Pública expediram orientações para o segundo turno daquele pleito “com o objetivo de uniformizar o atendimento, o registro e o encaminhamento de queixas relativas a um eventual mau funcionamento das urnas eletrônicas e padronizar o tratamento de ocorrências apresentadas às polícias, além de evitar a desinformação no dia da eleição”.

Dentre as medidas citadas no texto estavam a orientação para que o eleitor comunicasse ao mesário ou presidente da mesa da respectiva seção qualquer problema no ato do voto; procedimentos para que o presidente da mesa registrasse a ocorrência em ata e meio digital (aplicativo Pardal), sendo obrigatório o registro no mesmo aplicativo; e comunicação do ocorrido ao juiz eleitoral da região, a quem caberia decidir sobre providências a serem adotadas.

Dois dias depois, um segundo documento foi emitido em conjunto pelos órgãos supracitados. A “Orientação Conjunta N° 02/2018 TSE/MSP” alterou trechos da recomendação inicial, retirando a obrigatoriedade de que mesários e presidente de seções registrassem a ocorrência no aplicativo Pardal, mas possibilitando que o próprio eleitor fizesse o procedimento, caso desejasse.

A alteração aconteceu sob a justificativa de ser necessário “evitar a formação de filas durante a votação” e citando a “inexistência de acesso à internet em seções e os custos de transmissão de dados a serem suportados pelos mesários”, caso a obrigatoriedade do uso do aplicativo fosse mantida.

Sendo assim, as novas orientações assinadas por TSE e MSP determinaram que não caberia aos mesários e presidentes de seção, mas ao cartório eleitoral ou servidor sob a responsabilidade do juiz eleitoral “tão logo possível, efetuar o registro das atas (referentes às ocorrências trazidas por eleitores), no aplicativo Pardal, selecionando, no aplicativo, a opção ‘nova denúncia’ e, em seguida, ‘outros/denúncias’, inclusive inserindo foto da ata lavrada”.

Eleitor não pode registrar queixas sobre as urnas no Pardal nas eleições de 2022

A reportagem do Comprova acessou o Pardal no dia 27 de setembro e, no aplicativo, atualmente, não aparecem as opções “nova denúncia” e “outros/denúncias”. Ao se conectar, o cidadão vê duas opções: “fazer uma denúncia” ou “consultar uma denúncia”. Ao clicar em “fazer uma denúncia”, a página é direcionada a uma nova aba com outras duas opções: “propaganda eleitoral irregular” ou “internet e outras irregularidades eleitorais”:


| Capturas de tela feitas no dia 27/09/2022 às 14h18 e 14h19, respectivamente.

Dada a repercussão da desinformação, a Justiça Eleitoral, na seção Fato ou Boato de seu site, informou que, em 2022, o aplicativo Pardal não recebe relatos de problemas com a urna. Segundo o órgão, essa ferramenta é exclusiva para receber denúncias de ilícitos eleitorais, como propaganda eleitoral irregular de compra de votos, abuso de poder econômico, abuso de poder político, uso da máquina pública para fins eleitorais e uso indevido dos meios de comunicação social.

Saiba como denunciar em caso de falha

Em caso de problemas no dia da votação, o TSE orienta os eleitores a apresentarem eventuais denúncias de defeitos ou mau funcionamento da urna eletrônica diretamente a quem preside a mesa receptora de votos. Em seguida, o juiz responsável pela seção eleitoral deve ser imediatamente contatado, sendo que essa ocorrência deve ser registrada em ata com a descrição do problema apresentado e o encaminhamento que foi dado.

Para garantir a continuidade da votação, a Justiça Eleitoral também prevê mecanismos de contingência a fim de preservar e evitar a perda do voto dos eleitores, sem desconsiderar as necessidades de transparência e segurança que permeiam o processo eleitoral como um todo.

O primeiro procedimento é o ato de desligar e religar a urna eletrônica. A ação é feita pelo próprio mesário (no caso, o presidente da mesa), à vista dos fiscais presentes. O simples reinício da máquina, de forma análoga ao reinício de outros dispositivos eletrônicos (computadores, telefones celulares), não altera informações já gravadas em cartões de memória. Ou seja, nem os votos já gravados nem a informação de quais eleitores já votaram sofrem alteração.

Caso o problema persista, os procedimentos são: reposicionamento do cartão de memória; substituição do cartão de memória externo; e substituição da urna com falha. Se ainda assim os procedimentos de contingência não forem suficientes, só então a votação deverá prosseguir com o uso de cédulas de papel até o encerramento. Para isso e a fim de permitir eventual auditoria pós-eleições, várias providências devem ser adotadas, como as lacrações tanto da urna defeituosa quanto da urna de contingência e os respectivos envios para a junta eleitoral e equipe designada pelo juiz eleitoral.

Conforme explica o TSE, as urnas eletrônicas são fabricadas levando em consideração um prazo de cerca de dez anos de uso e, por isso, há mais de um modelo a cada eleição. A interface da máquina permanece a mesma, no entanto, internamente, os equipamentos recebem novos dispositivos de segurança ou com mais memória interna, entre outras melhorias. Embora sejam adotados testes preventivos a fim de evitar problemas, a urna eletrônica, assim como qualquer dispositivo eletrônico, pode apresentar falhas.

Dados do tribunal eleitoral mostram que no primeiro turno das eleições de 2014, por exemplo, houve a substituição de 5.275 urnas em todo país, o que representa pouco mais de 1% das quase 450 mil urnas usadas. No segundo turno, o número foi de 3.480 urnas, menos de 1% do total. Já na eleição seguinte, segundo a Agência Brasil, no primeiro turno, 2,4 mil máquinas foram substituídas e, no segundo, o número subiu para pouco mais de 4,3 mil.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre as eleições presidenciais, políticas públicas do governo federal e a pandemia. A poucos dias do primeiro turno das eleições de 2022, são frequentes os conteúdos que tentam colocar em dúvida a segurança das urnas e do pleito. Peças de desinformação como esta verificada, que tentam tumultuar o processo eleitoral, podem influenciar na decisão de eleitores brasileiros. A população deve escolher seus candidatos com base em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: Em verificações recentes sobre as eleições, o Comprova mostrou que é falso que 70% do processo eleitoral seja terceirizado e que a terceirização comprometa a integridade das eleições, que tuíte engana ao indicar o 17 como número de urna de Bolsonaro nas eleições e que vídeo foi manipulado para mostrar o presidente à frente de Lula em pesquisa do Ipec.