O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Eleições

Investigado por: 2022-09-26

Tuíte engana ao indicar o 17 como número de urna de Bolsonaro nas eleições de 2022

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o tuíte que indica o 17 como sendo o número de urna do candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL). O 17 refere-se ao antigo Partido Social Liberal (PSL), legenda pela qual Bolsonaro foi eleito em 2018. No final de 2021, Bolsonaro se filiou ao Partido Liberal (PL). A sigla PSL deixou de existir em outubro de 2021, quando se fundiu ao partido Democratas, dando origem ao União Brasil.

Conteúdo investigado: Postagem no Twitter que associa incorretamente ao candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) o número 17 como registro de urna na atual disputa.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganoso tuíte sugerindo que o atual número de urna do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, é 17. Esse número representa o PSL, ao qual ele estava filiado na disputa de 2018. Bolsonaro deixou a legenda em 2019 e, no final do ano passado, se filiou ao Partido Liberal, identificado pelo número 22.

O PSL não tem candidato à presidência em 2022. O partido se juntou ao Democratas e formou uma nova legenda, o União Brasil, cujo número de urna é o 44 e tem candidatura própria com Soraya Thronicke. Nesta semana antes do primeiro turno, há, ao todo, 11 candidatos na disputa para ocupar o Palácio do Planalto.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Até o dia 26 de setembro, o tuíte contava com 16,9 mil curtidas e 1.600 retuítes (compartilhamentos).

O que diz o autor da publicação: Ao Comprova, a autora da publicação informou que “em nenhum momento eu disse que o número de Bolsonaro é o 17”. Ela alegou ter feito uma piada. “Fiz uma piada dizendo que quem quiser votar 17, ok. Assim como é ok votar em qualquer número, sendo válido ou não. Foi uma piada e nada mais”, respondeu.

Como verificamos: A equipe acessou o sistema de registro de candidaturas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – divulgacand2022 – para constatar os atuais números de urna utilizados pelos candidatos à Presidência nas Eleições 2022. Por meio de buscas no Google, confirmou também dados relativos à fusão entre o PSL e o DEM, além da filiação recente de Bolsonaro ao PL, partido pelo qual disputa a reeleição.

O número 17 não é utilizado nas eleições 2022

Ao contrário do que afirma a autora do tuíte verificado aqui – e outras centenas que circularam nos últimos meses com conteúdo semelhante –, o número de urna de Bolsonaro nesta eleição não é 17, e sim 22. O número 17 representava o PSL, partido ao qual o presidente estava filiado na disputa presidencial de 2018, e não existe mais. Ele deixou a legenda em 2019 e, no ano passado, se filiou ao PL, cuja representação é o número 22.

Conforme reportagem do UOL, o PL é o nono partido em que Bolsonaro se filia desde que iniciou sua vida política, em 1989. Até chegar ao Partido Liberal, o presidente passou pelo PDC, PPR, PPB, PTB, PFL, PP, PSC e PSL.

Algumas dessas legendas já não existem mais porque se fundiram a outras, como é o caso do PSL que, em outubro de 2021, se juntou ao Democratas (antigo PFL) para criar o União Brasil. O registro de criação do novo partido foi aprovado pelo TSE em fevereiro deste ano.

Quando deixou o PSL, a intenção de Bolsonaro era criar uma nova legenda, denominada Aliança pelo Brasil. Contudo, a proposta não deu certo pois não teve a quantidade de assinaturas necessárias para que o processo de criação tivesse continuidade (Veja, Correio Braziliense, CNN, Folha). Ao ver seu projeto inviabilizado, o presidente se filiou ao PL.

No tuíte investigado, a autora diz desejar que ninguém opte pelo voto pró-reeleição do atual presidente e, ao disseminar o número incorreto, justifica que a possibilidade de escolha é “democracia”. Mas pesquisa recente encomendada pelo FSB/BTG apontou que 13% dos eleitores de Bolsonaro não sabiam o número de urna do presidente a pouco mais de 10 dias das eleições e conteúdos de desinformação, como o aqui investigado, podem desorientar o eleitor.

A intenção de confundir os potenciais eleitores de Bolsonaro é percebida e rebatida em alguns comentários, que alertam para possível cenário de confusão nas cabines de votação e possibilidade de posterior acusação de “fraude” nas eleições – já que não existe o registro 17 nas urnas.

A maioria dos comentários, no entanto, exalta a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Outros candidatos na disputa

De acordo com o site oficial do Tribunal Superior Eleitoral, além do candidato Jair Messias Bolsonaro (PL), há ainda outros 10 na disputa presidencial para as eleições de 2022. São eles:

Ciro Gomes, do PDT (12);

Constituinte Eymael, do DC (27);

Felipe D’Avila, do Novo (30);

Léo Péricles, do UP (80);

Lula, do PT (13);

Padre Kelmon, do PTB (14);

Simone Tebet, do MDB (15);

Sofia Manzano, do PCB (21);

Soraya Thronicke, do União Brasil (44);

Vera, do PSTU (16).

Em 2022, também haverá votação para os cargos de governador, senador, deputado federal, estadual ou distrital. Para não ter dúvidas na hora de digitar o número de seus candidatos, o eleitor pode levar uma “cola” com os dados anotados. Neste ano, não será possível levar o celular até a urna. Quem chegar à seção eleitoral com o aparelho, vai precisar deixá-lo com o mesário. Por isso, a alternativa é anotar os números dos concorrentes em um papel e levá-lo para eventual consulta. Na página do TSE, há a opção de imprimir um modelo para ser preenchido com os dados dos candidatos.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. No conteúdo aqui investigado, a autora indica um número de urna diferente para Jair Bolsonaro, o que pode confundir os eleitores. No processo democrático, as pessoas têm o direito de fazer suas escolhas baseadas em informações corretas e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: Às vésperas do primeiro turno, o tema eleições predomina em conteúdos de desinformação. O Comprova já demonstrou ser montagem post de suposta reportagem do G1 sobre Lula e Venezuela, que ônibus com adesivo “escolar” estavam autorizados a transportar apoiadores do PT, que vídeo mostra encontro de Bolsonaro com pastor, e não presidente da Coreia do Sul e que outro vídeo engana ao atribuir ao PT proibição de plantio de soja no Mato Grosso.

Em agosto, o Aos Fatos publicou uma matéria informando que o Twitter excluiu posts naquela ocasião que também indicavam o número incorreto de Bolsonaro na disputa deste ano. Na mesma época, a Folha fez matéria sobre o assunto.

Eleições

Investigado por: 2022-09-22

É montagem post com suposta reportagem do G1 sobre Lula e Venezuela

  • Falso
Falso
É uma montagem a publicação com suposta reportagem do G1 afirmando que o ex-presidente e candidato à presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria dito, durante ato de campanha em Santo André (SP), que a Venezuela "não precisa de críticas", mas de "financiamento e empréstimos". Ao Comprova, o G1 informou que tal matéria nunca foi publicada. Além disso, Lula esteve na cidade paulista em março deste ano. No dia 15 de setembro, quando teria sido publicada a suposta reportagem, o ex-presidente estava em Montes Claros (MG).

Conteúdo investigado: Imagem com suposta notícia do G1, publicada no dia 15 de setembro, sobre uma fala de Lula (PT) em apoio à Venezuela durante campanha presidencial em Santo André (SP). O título da reportagem é “Lula: ‘A Venezuela não precisa de críticas do Presidente do Brasil e sim de financiamento e empréstimos'”, acompanhado da linha fina “Ex-presidente critica Bolsonaro e diz que se eleito, continuará fortalecendo o governo de Nicolás Maduro com empréstimos e ativos”.

Onde foi publicado: Instagram, Facebook e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falso que o G1 tenha publicado notícia no dia 15 de setembro sobre suposta fala do ex-presidente Lula em apoio à Venezuela durante ato de campanha eleitoral em Santo André. Ao procurar pela reportagem no site do veículo, não foi possível encontrar o conteúdo compartilhado. De acordo com a assessoria do portal, a imagem é falsa, pois tal matéria nunca foi publicada pelo G1, e não há nenhum José da Silva – nome do suposto repórter – na equipe do G1.

Na data mencionada pela suposta publicação, Lula esteve em Montes Claros (MG) para cumprir compromissos da agenda eleitoral. O ex-presidente passou por Santo André em 25 de março de 2022 para visitar um condomínio do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST). Vídeo do discurso de Lula no local foi publicado no canal do YouTube do PT. Ao Comprova, a assessoria do candidato afirmou que Lula nunca disse a fala reproduzida na montagem.

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga conteúdos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 22 de setembro, um dos posts no Facebook teve 395 curtidas, 251 comentários e 907 compartilhamentos. O outro foi excluído da plataforma. No Instagram, o conteúdo teve 9,4 mil curtidas e 538 comentários. Ambas as plataformas sinalizam que o conteúdo é falso.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com os três perfis que publicaram o conteúdo no Instagram e no Facebook. No entanto, não houve resposta até o fechamento desta verificação.

Como verificamos: A equipe do Comprova buscou o título da notícia no Google, sem encontrar resultados para a reportagem original. Em seguida, a partir da data da suposta matéria – 15/09/2022 –, procurou as atividades cumpridas por Lula no dia, de acordo com a agenda do candidato publicada no site oficial do presidenciável.

Em seguida, procurou descobrir se Lula esteve em Santo André neste ano por meio de buscas no Google e na agenda do petista. A equipe também reuniu declarações recentes do ex-presidente em relação à Venezuela a partir de reportagens da Folha de S.Paulo e do Correio Braziliense.

Por fim, entrou em contato com a assessoria de imprensa de Lula, com o G1 e com os responsáveis pelas publicações do conteúdo nas redes sociais.

Post é uma montagem

O Comprova buscou no Google por todos os elementos da suposta reportagem, como o título, e encontrou apenas a reprodução do conteúdo investigado em redes sociais e em um site conhecido por criar memes. Nenhuma dessas postagens apresentava o link para a suposta matéria.

A equipe então pesquisou no próprio portal G1 com filtro personalizado para a data da suposta publicação, mas não houve resultado.

| Captura de tela da busca feita no portal G1 em 20/09/2022.

Além disso, o nome da pessoa que assina a suposta reportagem, “José da Silva”, não aparece na lista da equipe do G1.

Ao Comprova, a assessoria de imprensa do portal afirmou que a notícia é falsa, que “nunca foi publicada pelo G1” e que não há nenhum José da Silva na equipe de jornalistas.

Em 15 de setembro, Lula estava em Montes Claros (MG)

Ao contrário do que alega a montagem investigada, em 15 de setembro de 2022, o ex-presidente esteve em Montes Claros, Minas Gerais, como consta em sua agenda oficial. Na data, o político participou do ato “Todos Juntos por Minas Gerais”, ao lado do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil. O evento ocorreu às 18h, na Praça da Catedral da cidade.

Em seu discurso, que está disponível no canal do YouTube do PT, Lula não faz nenhuma declaração como a que foi falsamente divulgada na manchete aqui analisada. O Comprova entrou em contato com a assessoria do ex-presidente, que afirmou que Lula nunca disse que ​​”a Venezuela não precisa de críticas do Presidente do Brasil e sim de financiamento e empréstimos”.

O ex-presidente esteve em Santo André, São Paulo, no dia 25 de março deste ano, para visitar os condomínios Novo Pinheirinho e Santo Dia, do MTST. Na ocasião, Lula estava acompanhado do coordenador nacional do movimento, Guilherme Boulos, e do ex-prefeito de São Paulo e candidato a governador, Fernando Haddad.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Conteúdos falsos ou enganosos sobre candidatos à presidência, como a peça aqui verificada, podem influenciar o voto dos eleitores, que devem basear suas escolhas em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: A Agência Lupa também checou o conteúdo e concluiu que é uma montagem.

Em verificações anteriores envolvendo o ex-presidente Lula, o Comprova mostrou que é falso que Lula defendeu o nazismo e o fascismo em evento do PT em 2017, que vídeo edita fala de Lula para afirmar que ele chamou apoiadores de vagabundos e traficantes e que vídeo satiriza participação do ex-presidente em comício em local destruído pela chuva em Belém.

Eleições

Investigado por: 2022-09-22

Ônibus com adesivo “Escolar” em evento do PT pertencem a empresas privadas e estavam autorizados a transportar apoiadores da legenda

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa postagem no Twitter sugerindo que militantes do PT não poderiam ter utilizado ônibus que fazem transporte escolar para se deslocar até um comício do ex-presidente Lula em Florianópolis, no último dia 18 de setembro. Vídeo publicado no Twitter mostra um estacionamento com diversos ônibus que levaram apoiadores do partido de outros municípios até a capital catarinense, entre eles, dois com a inscrição “Escolar”. Os veículos, no entanto, pertencem a empresas privadas que prestam o serviço de transporte escolar para a prefeitura do município de Jaguaruna em dias úteis, e atendem outros clientes nos finais de semana, prática permitida no estado de Santa Catarina.

Conteúdo investigado: Postagem no Twitter afirma que o evento do ex-presidente e candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT), realizado em 18 de setembro, em Florianópolis, utilizou ônibus escolares para “carregar a militância” e questiona se a prática seria permitida. A publicação é seguida de um vídeo que mostra diversos ônibus com placas de diferentes municípios de Santa Catarina concentrados em um estacionamento. Com a legenda “Por que o evento de Lula tem público em Florianópolis”, o conteúdo sugere que o candidato precisou levar pessoas de fora para encher o comício realizado na cidade.

Onde foi publicado: Twitter e Instagram.

Conclusão do Comprova: Ao contrário do que sugere vídeo no Twitter, ônibus privados que realizam transporte escolar no estado de Santa Catarina estão autorizados a atender outros clientes, fato que aconteceu com apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que se dirigiram até Florianópolis no último domingo, 18, para um comício da legenda. Os dois ônibus escolares que aparecem no vídeo aqui analisado pertencem a duas empresas privadas, que prestam serviço de transporte escolar de segunda a sexta-feira para o município de Jaguaruna, a 160 quilômetros da capital. A prática é permitida pelo estado de Santa Catarina, conforme informou ao Comprova a secretaria estadual de Infraestrutura e Mobilidade.

Em nota ao Comprova, o diretório estadual do PT em Santa Catarina informou que esses e os outros ônibus que aparecem no vídeo em um estacionamento próximo ao evento foram fretados diretamente pelos apoiadores. Os veículos não foram contratados pelo PT e nem com uso de recursos públicos. A informação foi confirmada pelo representante de uma das empresas de ônibus. Pela legislação eleitoral, candidatos a cargos públicos também não estão autorizados a custear transporte de apoiadores ou militantes para comícios ou eventos de campanha.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Até o dia 22 de setembro, a peça verificada no Twitter teve mais de 258,4 mil visualizações, 4.504 retweets, 339 tweets com comentários e 15,4 mil curtidas.

O que diz o autor da publicação: O perfil do Twitter que fez a postagem não permite o envio de mensagens diretas. O Comprova encontrou um perfil de Instagram com o mesmo nome e a mesma foto do Twitter, mas a conta é privada, o que também impede o envio de mensagens.

Na postagem, contudo, é possível ver que o vídeo em questão foi publicado anteriormente por uma conta do Twitter de nome “Jornalismo João”. Em contato com o Comprova pelo Instagram, o administrador do perfil disse que a intenção da postagem foi mostrar que o público do comício com Lula não era só de Florianópolis e sim de várias regiões do estado.

Segundo ele, o vídeo foi gravado originalmente por uma outra pessoa, que publicou o material nas redes sociais. O Comprova encontrou esse perfil, cujo nome é “Adriana Assing”, mas que também não permite o envio de mensagens diretas. Perfis de mesmo nome foram encontrados no YouTube e no Instagram, mas também sem a opção de envio de mensagens diretas ou menção a qualquer outra forma de contato.

Como verificamos: Na postagem aqui analisada, é possível observar que o conteúdo foi publicado, primeiramente, pela conta @jornalismojoão no Twitter. O Comprova fez buscas nesse perfil e entrou em contato por mensagem direta para entender o contexto e o local da filmagem.

Em seguida, foram feitas pesquisas no Google por notícias sobre o comício que contou com a presença de Lula em Florianópolis no último dia 18 de setembro, o que nos permitiu encontrar o local do evento em uma reportagem do G1. A partir de pesquisas no Google Maps foi possível mapear o endereço exato do estacionamento em que o vídeo foi gravado.

O Comprova ainda buscou informações nas redes sociais sobre as empresas de ônibus que aparecem nas imagens com o adesivo “Escolar” e fez contato com elas por meio do WhatsApp. A equipe também consultou a legislação eleitoral.

Ônibus escolares pertencem a empresas terceirizadas e estão autorizados a atender outros clientes

No vídeo aqui analisado, são mostrados dois ônibus com o adesivo “Escolar” colado junto à carroceria. Os dois veículos têm placa da cidade de Jaguaruna, que fica a 160 quilômetros de Florianópolis.

Após a repercussão do conteúdo, o prefeito de Jaguaruna, Laerte Silva (PSC), publicou um vídeo em sua conta no Instagram esclarecendo que os ônibus pertencem a duas empresas privadas que prestam serviços de transporte escolar para o município de segunda a sexta-feira e atendem a outros clientes nos fins de semana. “Essas empresas prestam serviço para nós de segunda a sexta. O que essas empresas fazem nos fins de semana não é de responsabilidade do prefeito ou do município”, afirmou. No vídeo, o prefeito cita o nome das duas empresas: São João e Nova Era. No primeiro ônibus com adesivo “Escolar” filmado no vídeo, é possível ver a logomarca “SJ Express”, que identifica a empresa São João.

Em contato com o Comprova, a Secretaria de Infraestrutura e Mobilidade de Santa Catarina afirmou que “não há, perante o Estado de Santa Catarina, quaisquer restrições para atividade de transporte intermunicipal de passageiros que esteja vinculada ao uso escolar do veículo”. Os dois veículos escolares que aparecem no vídeo aqui analisado também constam como “licenciados para o serviço de transporte de passageiros com caráter privado”, de acordo com a plataforma “Transporte Correto”, do governo catarinense. É possível consultar a situação de cada ônibus por meio da busca pela placa dos veículos na plataforma.

| Imagens geradas a partir de consultas pelas placas dos dois veículos na plataforma Transporte Correto.

O Comprova também entrou em contato com as duas empresas, e ambas confirmaram o fretamento para o serviço de transporte de apoiadores do ex-presidente Lula de Jaguaruna para Florianópolis em 18 de setembro. Em contato por telefone, o representante da Nova Era disse que a empresa presta serviço para a prefeitura de Jaguaruna de segunda a sexta-feira e que, nos fins de semana, faz viagens particulares. Ele confirmou que o ônibus que aparece no vídeo pertence à empresa e disse que fretou três veículos para o comício com Lula, sendo que dois deles são ônibus que fazem transporte escolar em dias úteis. Já o representante da São João Express, em contato por WhatsApp com o Comprova, limitou-se a confirmar o fretamento e disse que não forneceria mais detalhes.

Transporte de apoiadores não pode ser financiado pela campanha

Na peça de desinformação aqui analisada, além dos ônibus com pintura escolar, diversos outros coletivos aparecem estacionados. A legenda da postagem diz que o “evento do Nine [em alusão ao ex-presidente Lula] utilizou até ônibus escolar pra carregar a militância”, sugerindo que os ônibus poderiam ter sido contratados pelo próprio partido.

Contudo, pela legislação eleitoral (item IV do artigo 26 da Lei 9.504 de 1997 e Resolução 23.607 de 2019), o transporte de apoiadores e militantes para eventos públicos de campanha não pode ser custeado pelos partidos políticos. A única menção a gastos com transporte permitidos nos gastos de campanhas eleitorais se refere ao transporte dos próprios candidatos e pessoas que trabalham para a candidatura. “São considerados gastos eleitorais, sujeitos a registro e aos limites fixados nesta lei (…) despesas com transporte ou deslocamento de candidato e de pessoal a serviço das candidaturas”, especifica a Lei 9.504 de 1997 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Esse tipo de gasto [com o transporte de apoiadores para eventos] não está autorizado porque não é previsto em qualquer resolução do TSE”, reforçou ao Comprova o advogado e especialista em direito eleitoral Alberto Rollo.

Assim, os ônibus, vans e demais veículos fretados para este fim devem ser pagos particularmente, como foi o caso do vídeo aqui investigado, conforme informação do diretório estadual do PT. Ao Comprova, representantes da legenda em Santa Catarina confirmaram que ônibus de outras cidades estavam no estacionamento próximo ao local do comício, mas que eles foram fretados pelos próprios apoiadores, com dinheiro próprio. “As pessoas se deslocaram por conta própria, de vários pontos do estado para Florianópolis, para participar do evento. Sem uso de dinheiro público”, diz a nota.

A informação de que o fretamento aconteceu a pedido de uma pessoa física, e não do partido, também foi confirmada pelo representante da empresa Nova Era ao Comprova.

Vídeo mostra estacionamento próximo ao local do evento com Lula em Florianópolis

O vídeo aqui analisado mostra alguns ônibus, com placas de diferentes municípios do estado de Santa Catarina, estacionados em um mesmo local. Nos segundos finais do vídeo, é possível ver que o estacionamento fica em uma avenida que passa por baixo de uma ponte em formato de arco. Em uma das pilastras da ponte há um grafite colorido.

Por meio de buscas no Google Maps foi possível confirmar que se trata de um estacionamento próximo ao local do comício do PT, que aconteceu na praça Tancredo Neves, no centro de Florianópolis. O estacionamento fica na Avenida Governador Gustavo Richard, na altura do nº 5.025, no Aterro da Baía Sul. A distância entre o estacionamento e a praça onde ocorreu o evento é de 400 metros a pé, conforme calculado pelo mapa.

| Print dos segundos finais do vídeo no Twitter.

| Print do Google Maps.

A autora do vídeo

O vídeo aqui analisado foi postado por um perfil do Twitter de nome “Elisa Brom”. Na postagem, é possível ver que o vídeo original foi publicado por um outro perfil (“Jornalismo João”) e que, sobre as imagens, há uma marca d’água com o nome “@joaovitorsantostv”. O perfil “Jornalismo João” fez a postagem no último dia 18 de setembro com a legenda: “O real motivo de público no ato de Lula em Florianópolis”.

Em contato com o Comprova, o responsável pelo perfil, João Vitor Santos, disse que “o vídeo foi gravado por uma mulher que compartilhou a filmagem nas redes”. Santos afirmou que as imagens são verdadeiras e que foram feitas na região do Aterro da Baía Sul, em Florianópolis. Segundo ele, a intenção da sua publicação era “mostrar que o público não era só de Florianópolis e sim de várias regiões do estado”.

A partir de buscas nas redes sociais, o Comprova conseguiu identificar a autora do vídeo original, que fez uma série de postagens com vídeos do mesmo estacionamento no Twitter, por meio do perfil “Adriana Assing”. No primeiro dos vídeos publicados por sua conta, ela diz que está fazendo as filmagens para mostrar a quantidade de ônibus de outras localidades que vieram para o evento em Florianópolis. No Twitter, Assing se apresenta como bolsonarista e frequentemente faz postagens de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

Por meio de buscas no Google, o Comprova encontrou uma publicação do Aos Fatos de abril de 2022, que verificou um vídeo publicado pelo mesmo perfil, mas em seu canal no YouTube. No vídeo, Adriana Assing afirmava que o título de eleitor de sua mãe havia sido cancelado recentemente pela Justiça Eleitoral, o que não era verdade.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet e estão relacionados com as eleições presidenciais, a realização de obras públicas e a pandemia. A equipe tem como foco as publicações virais, que tiveram grande alcance nas redes sociais e podem confundir a população. Durante o período que antecede as eleições no Brasil, muitos conteúdos estão sendo divulgados com o objetivo de tumultuar o processo. Estes conteúdos podem influenciar na decisão de eleitores brasileiros. A população deve escolher seus candidatos com base em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: Em relação a participação de candidatos em atos de campanha, o Comprova mostrou em checagens anteriores que é falso que homem disfarçado de mendigo tentou matar Bolsonaro com faca, que também é falso que Lula defendeu o nazismo e o fascismo em evento do PT em 2017, como afirma vídeo. Também verificamos que um vídeo que edita fala de Lula para afirmar que ele chamou apoiadores de vagabundos e traficantes e outro vídeo que mente ao afirmar que militares fizeram ataque a petistas durante desfile de 7 de Setembro.

Eleições

Investigado por: 2022-09-22

Vídeo mostra pastor em encontro com Bolsonaro, e não o presidente da Coreia do Sul

  • Falso
Falso
É falsa publicação afirmando que o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, teria feito uma oração e entregue presentes para Jair Bolsonaro (PL), atual presidente do Brasil e candidato à reeleição. Na verdade, as imagens mostram o pastor sul-coreano Ock Soo Park, que se encontrou com Bolsonaro em 7 de junho de 2022, no Palácio do Planalto, em Brasília.

Conteúdo investigado: Vídeo mostra reunião entre Bolsonaro e emissários sul-coreanos, que dão diversos presentes ao presidente. A postagem indica que o homem nas imagens seria o presidente da Coreia do Sul. Além disso, a publicação também recomenda aos leitores pesquisar a sede do Instituto Ipec. Isso é uma menção a postagens que acusam erroneamente a empresa de pesquisas de ter o mesmo endereço do Instituto Lula.

Onde foi publicado: Instagram, Twitter, Youtube, Kwai e TikTok.

Conclusão do Comprova: É falsa a postagem no Twitter sugerindo que o presidente da Coreia do Sul deu presentes ao presidente Jair Bolsonaro (PL) em encontro presencial e que, além disso, teria feito uma oração pelo brasileiro.

Na verdade, o homem que aparece nas imagens é o pastor sul-coreano Ock Soo Park. Ele veio ao Brasil para participar da Conferência Mundial do Congresso de Líderes Cristãos (CLF). Em seu site pessoal, não há menções a cargos exercidos no governo da Coreia do Sul. O atual presidente do país asiático é Yoon Suk-yeol, que iniciou seu mandato em 10 de maio de 2022.

No dia 7 de junho, Park e outros membros de sua comitiva se encontraram com Bolsonaro. O momento foi transmitido no Facebook de Bolsonaro e consta na agenda oficial do presidente. O vídeo já foi verificado por outras agências de checagem, que identificaram o mesmo conteúdo em outras redes sociais.

O Comprova considera falso qualquer conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Até o dia 22 de setembro, a postagem no Twitter tinha 162 compartilhamentos e 644 curtidas. Este conteúdo foi enviado ao Comprova por leitores por meio do nosso número de WhatsApp, o (11) 97045-4984.

O que diz o autor da publicação: O Comprova procurou a autora da publicação, identificada como Mayranne de Almeida Bandeira, por meio de mensagens diretas no Twitter. Não houve resposta até a publicação desta verificação.

Mayranne indica que faz parte da Secretaria de Comunicação (Secom) do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). O mesmo nome consta no cargo de primeira secretária geral do diretório do partido na Paraíba e secretária de comunicação na executiva nacional da legenda.

José Ronald Vieira Sales Junior, atual presidente do diretório paraibano do partido, confirmou que a mulher fazia parte da área de comunicação do partido no estado. Entretanto, segundo ele, Mayranne Almeida deixou o diretório do PTB em maio deste ano depois de um processo de reformulação na equipe que integrava a legenda na região. Sales Junior ressaltou que não possui informações sobre Mayranne e que não sabe se ela ainda participa das ações nacionais do PTB.

Diante disso, o Comprova procurou o diretório nacional da legenda, que informou: “A Mayranne já foi funcionária da Comunicação do PTB, mas está desligada do cargo desde maio. Ela não responde pelo PTB desde então”.

Como verificamos: A pesquisa no Google com as palavras-chave “Bolsonaro”; “reunião” e “Coreia do Sul” retornou para verificações sobre o mesmo vídeo feitas por outras agências de checagem (Aos Fatos, Boatos, Estadão Verifica e AFP Checamos).

Também foram consultados o site oficial do pastor sul-coreano Ock Soo Park e a página da Presidência da República do Brasil com a agenda oficial.

Pastor sul-coreano

Ao contrário do que sugere a postagem, a pessoa que aparece ao lado de Bolsonaro não é o presidente da Coreia do Sul. Trata-se do pastor Ock Soo Park, que veio ao Brasil para participar da Conferência Mundial do Congresso de Líderes Cristãos, realizada entre os dias 6 e 8 de junho deste ano. A participação dele foi confirmada nas redes sociais do evento.

No site pessoal de Ock Soo Park, aparece que ele atualmente é pastor da igreja Good News Gangnam e conselheiro da International Youth Fellowship (IYF). Não há menções a cargos exercidos no governo da Coreia do Sul na seção que descreve a carreira do pastor.

O atual presidente da Coreia do Sul é Yoon Suk-yeol. Ele foi eleito em 9 de março deste ano, como candidato do Partido do Poder Popular (PPP), e foi empossado em 10 de maio.

Reunião com Bolsonaro

O vídeo mostra trecho da transmissão ao vivo compartilhada no perfil oficial de Bolsonaro no Facebook, em 7 de junho. O encontro aconteceu no Palácio do Planalto, em Brasília, e consta na agenda oficial do presidente para a tarde daquele dia.

O pastor ainda se encontrou com membros da Frente Parlamentar Evangélica na Câmara dos Deputados. Entre os presentes, estavam o vice-presidente da Casa, Lincoln Portela (PL-MG), os deputados Soraya Manato (PTB-ES) e Coronel Tadeu (PL-SP), e também o senador Marcos Rogério (PL-RO).

Ock Soo Park entrega presentes para o presidente e para membros da sua família, como a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Na transmissão, ele também faz uma oração para Bolsonaro.

Endereço do Instituto Ipec

Na postagem verificada pelo Comprova, a autora também recomenda aos leitores pesquisar a sede do Instituto Ipec. Recentemente, conteúdos falsos afirmavam que a sede da empresa de pesquisa eleitoral funcionava dentro do Instituto Lula.

O Comprova já verificou a informação. A organização do ex-presidente está situada na rua Pouso Alegre, no bairro do Ipiranga, em São Paulo. Já o instituto de pesquisa tem sede na avenida Paulista, no bairro da Bela Vista, também na capital paulista. As duas sedes ficam distantes cerca de cinco quilômetros uma da outra.

A confusão pode acontecer porque as duas instituições tiveram a mesma sigla inicialmente, conforme explicado pela assessoria do ex-presidente Lula. “Ipec era o primeiro nome do Instituto Cidadania, que depois virou Instituto Lula.”

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, as eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal. Conteúdos enganosos, com informações erradas e fora de contexto, sobre candidatos podem alterar a percepção de eleitores sobre determinado político e suas ações.

Outras checagens sobre o tema: Aos Fatos, Boatos, Estadão Verifica e AFP Checamos também verificaram postagens com o vídeo.

Recentemente, o Projeto Comprova mostrou que vídeo foi manipulado para mostrar Bolsonaro à frente em pesquisa do Ipec; que fala em apoio a Bolsonaro foi feita por jornalista argentino e não por embaixador, como afirma vídeo, e que não é Fabio Assunção em vídeo de apoio a Bolsonaro e com críticas ao PT e à esquerda.

Eleições

Investigado por: 2022-09-22

Vídeo engana ao atribuir ao PT proibição de plantio de soja em Mato Grosso

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso vídeo em que um homem afirma que o Partido dos Trabalhadores (PT) proibiu o plantio de soja em Mato Grosso até dezembro. Na verdade, o diretório estadual do partido propôs uma ação na Justiça para manter o período de plantio de setembro até o fim do ano, em vez de estender até fevereiro de 2023, com a alegada motivação de evitar a proliferação da praga “ferrugem asiática”, comum a essa cultura. Também não é verdade que o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) vai fiscalizar o agronegócio.

Conteúdo investigado: Vídeo em que homem declara que, a pedido do PT, a Justiça proibiu o plantio de soja em Mato Grosso até dezembro, prejudicando os produtores. O homem insinua que a Justiça tem lado, faz acusações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a seu partido e exalta o presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele também afirma que o MST vai fiscalizar o agronegócio caso Lula seja eleito.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É enganoso o vídeo em que um homem afirma que o PT ingressou com uma ação na Justiça para proibir o plantio de soja em Mato Grosso até dezembro. Na verdade, o diretório estadual do partido solicitou judicialmente que fosse mantido o prazo de semeadura do grão de setembro até o fim do ano, a exemplo do que era adotado em plantios anteriores, até a safra 2020/2021, em vez de estender para fevereiro, como proposto pelo Ministério da Agricultura e com anuência do governo do estado.

A argumentação do partido na ação foi de que a extensão do prazo deixaria as plantações de soja mais suscetíveis à praga conhecida como “ferrugem asiática”, comum a esse tipo de cultura. Embora não haja consenso na área técnica sobre o risco numa janela mais longa de semeadura, a Justiça acatou, no dia 8 de setembro, o pedido de liminar (decisão provisória) da ação proposta pelo PT.

No vídeo, o autor também afirma que Lula, candidato à presidência da República, teria dito que, se eleito, colocaria o MST para fiscalizar o agronegócio. A assessoria do ex-presidente nega que ele tenha declarado que vai entregar o controle do agronegócio para o movimento.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Até o dia 22 de setembro, o vídeo contava com mais de 192 mil visualizações, 21,2 mil curtidas, 1,7 mil comentários e foi compartilhado para o WhatsApp 9,8 mil vezes. Este conteúdo foi enviado ao Comprova por leitores por meio do nosso número de WhatsApp, o (11) 97045-4984.

O que diz o autor da publicação: O TikTok não permite envio de mensagens privadas entre usuários que não se seguem mutuamente. Não encontramos em outras redes sociais perfis com a mesma identificação.

Como verificamos: Primeiramente, o Comprova fez buscas no Google com as palavras-chaves “PT” + “soja” + “Mato Grosso” e a consulta retornou uma reportagem do jornal Valor sobre o assunto.

A pesquisa também levou a equipe até as publicações do Ministério da Agricultura e do governo de Mato Grosso que autorizavam a ampliação do prazo de plantio da soja no estado.

A reportagem ainda procurou indicadores sobre a participação do agronegócio no PIB brasileiro e localizou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Cepea.

O Comprova procurou a assessoria de Lula, que negou as declarações atribuídas ao ex-presidente. Ainda foram procurados o governo de Mato Grosso e o diretório do PT no estado, mas não houve retorno até o fechamento da verificação. Não foi possível o contato com o autor do vídeo.

Não há proibição de plantio em Mato Grosso

É enganoso que o PT tenha impedido o plantio de soja em Mato Grosso. Uma ação liminar, impetrada pelo partido junto à Justiça daquele estado, solicitou a suspensão do novo calendário de plantio para a safra 2022/2023, criado a partir de decisão conjunta entre o governo estadual e o Ministério da Agricultura. Ao contrário do que diz o autor do vídeo, segundo o qual a semeadura estaria proibida de agora até o fim do ano, o plantio fica autorizado especialmente neste prazo – 16 de setembro a 31 de dezembro –, e não mais estendido até 3 de fevereiro de 2023, como previu inicialmente a Portaria nº 607, do Ministério da Agricultura.

A liminar, deferida pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso em 8 de setembro, considera inconstitucional a Instrução Normativa Conjunta SEDEC/INDEA N. 02/2021, que estabelece o intervalo de 16 de setembro a 3 de fevereiro para o plantio, aumentando o período em 34 dias. O período de setembro a dezembro era o usual até a safra 2020/2021. A íntegra da decisão não havia sido divulgada até a publicação desta investigação. A ação argumenta que o alongamento da janela de plantio de soja reduz o vazio sanitário – período em que é proibido manter plantas vivas no campo – e aumenta a resistência do fungo causador da ferrugem asiática aos agrotóxicos existentes.

Conforme reportagem do Valor, o alargamento do prazo de semeadura atendeu a um pedido da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) e a uma bandeira específica de seu ex-presidente, Antônio Galvan. Apoiador de Bolsonaro, ele se licenciou do comando da entidade máxima dos sojicultores para se candidatar ao Senado pelo PTB.

A publicação aponta também que não há consenso técnico sobre o período ideal para o plantio da soja em Mato Grosso. Para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), órgão vinculado ao Ministério da Agricultura, a janela mais curta, até 31 de dezembro, ajuda a evitar casos de ferrugem asiática, principal doença da cultura, ou que o fungo se torne mais resistente aos agrotóxicos existentes no mercado.

Após a decisão judicial, entidades que representam produtores da região divulgaram uma carta conjunta criticando o pedido do PT e o posicionamento da Justiça.

MST não vai fiscalizar o agronegócio

No vídeo, o autor também afirma que o ex-presidente Lula teria declarado que, se eleito, vai colocar o MST para fiscalizar o agronegócio. Entretanto, não há registros de declarações do petista sobre o movimento social nesse contexto e a alegação também é refutada por sua equipe.

“Lula nunca se manifestou sobre esse assunto. A decisão da justiça sobre o tema segue a orientação da ciência para proteger a própria produção da praga da ferrugem asiática. Jamais disse que o MST iria fiscalizar o agronegócio”, informou a assessoria.

Setor de serviços tem participação superior ao agronegócio no PIB do Brasil

No vídeo investigado, o autor também exalta o agronegócio, declarando que o segmento é a maior riqueza do Brasil. De acordo com cálculos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), a produção representou 27,4% do Produto Interno Bruto (PIB) – soma de todos os bens do país – em 2021. Esse indicador, porém, é alvo de críticas de alguns especialistas, conforme aponta reportagem da Piauí, por considerarem uma estimativa inflada.

Indicadores do IBGE, no entanto, revelam uma retração do setor no mesmo período e ainda apontam que a maior fatia do PIB brasileiro é do setor de serviços, quase 10 vezes superior ao agro.

A retração registrada foi de 0,2%, enquanto o setor de serviços cresceu 4,7%, seguido pela indústria, com aumento de 4,5%. Os dados vão de encontro a mais uma desinformação divulgada no vídeo investigado, segundo a qual o setor seria o de maior crescimento no país.

O PIB brasileiro alcançou o total de R$ 8,7 trilhões em 2021, de acordo com o IBGE. Deste total, somente R$ 598,1 bilhões dizem respeito ao agronegócio – o que equivale a 6,87%. Conforme tabela abaixo, o total do PIB considera ainda a indústria, que tem participação de R$ 1,6 trilhão, e o setor de serviços, que em 2021 fechou com participação de R$ 5,2 trilhões. O total geral considera também valores de impostos.

| IBGE – Tabela PIB Brasil 2021 – Participação dos setores

Mato Grosso é o maior produtor de soja no Brasil

O estado de Mato Grosso, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), é o maior produtor de soja do Brasil. O 12º Levantamento da Safra 2021/2022, publicado em agosto, calcula produção colhida de 41.490,2 milhões de toneladas, combinação da área plantada recorde, de 11.108,5 mil hectares, com rendimento médio de 3.735 kg/ha. Desta forma, segundo o relatório, o Mato Grosso obteve aumento de 13,6% em sua produção, respondendo por 33% da produção brasileira. No vídeo investigado, o autor aponta o estado como responsável por 25% da produção.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais. O vídeo investigado tira de contexto diversas informações, e alimenta distorções que podem interferir negativamente no processo de escolha de candidatos por eleitores que irão às urnas em 2 de outubro no Brasil.A escolha de candidatos deve estar pautada em informações verdadeiras.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente, o Comprova também investigou que retirada de produtores de arroz de terras indígenas não foi determinação de Lula, que o petista não defendeu o nazismo e o fascismo em evento do PT, que vídeo engana ao negar orçamento secreto e descontextualizar alta de preços no Brasil e que é enganoso conteúdo que associa preço da carne a suposto monopólio da JBS e complô com o PT.

Saúde

Investigado por: 2022-09-21

É enganoso que ex-funcionária da Casa Branca tenha confessado, em entrevista, que as vacinas não protegem contra a covid-19

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso que a ex-coordenadora da Casa Branca para resposta à covid-19 Deborah Birx tenha confessado, em entrevista de julho à Fox News, a ineficácia das vacinas contra a doença. Ela, na verdade, disse que as pessoas devem continuar se vacinando para ficarem protegidas de casos graves e hospitalizações e que não acredita que as vacinas impedem a contaminação, algo que já afirmava desde, pelo menos, 2020.

Conteúdo investigado: Tuíte com trecho em vídeo de uma entrevista da emissora de televisão americana Fox News com Deborah Birx, ex-coordenadora da Casa Branca para resposta à covid-19, alegando que ela teria confessado a ineficiência das vacinas contra o coronavírus e afirmado que metade dos óbitos pela variante Ômicron envolveriam vacinados.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganoso que a ex-coordenadora da Casa Branca para resposta à covid-19 Deborah Birx tenha confessado, em entrevista de 22 de julho à Fox News, a ineficácia das vacinas contra a doença. Ela, na verdade, defendeu a vacinação, afirmando que evita casos severos e hospitalizações.

Birx disse que as pessoas “devem” se vacinar, inclusive com a dose de reforço, porque “nós realmente acreditamos que isso protegerá você, especialmente se você estiver acima dos 70 anos”.

Ela, apenas, reafirmou não acreditar que as vacinas, por si só, impedem a contaminação, uma tese que ela já defendia desde, pelo menos, 2020. “Eu sabia que essas vacinas não protegeriam contra a infecção”, disse Birx na entrevista à Fox News. A ex-coordenadora, porém, conclui o raciocínio defendendo, novamente, a eficiência da vacinação contra casos graves e hospitalização: “Acho que superestimamos as vacinas [quanto a impedir a contaminação], e isso fez com que as pessoas se preocupassem com [elas] não protegerem contra doenças graves e hospitalização. Elas os protegerão.”

A segunda parte dessa declaração é ignorada em um título descontextualizado no site da própria Fox News — “Dra. Birx sabia que as vacinas COVID não protegeriam contra a infecção” —, no qual o conteúdo aqui verificado muito provavelmente se baseou.

A postagem checada também distorceu declarações de Birx em relação a óbitos pela variante Ômicron entre os imunizados. A ex-coordenadora da Casa Branca disse que metade das mortes na “alta da Ômicron” envolveu “os mais velhos e vacinados”, e não o público imunizado “de uma forma geral”, como afirma a publicação investigada. Birx ressaltou que a idade é determinante na vulnerabilidade das pessoas face à covid-19.

Ela não especifica a qual período essa estimativa se refere, usando apenas a expressão “Omicron surge”, traduzível para “alta da Ômicron”. Reportagem da CNN americana, considerando a alta da Ômicron nos Estados Unidos entre janeiro e fevereiro de 2022, mostra que mais de 40% das mortes por covid envolviam vacinados.

Porém, a matéria, de 11 de maio, destaca que, desse grupo, menos de um terço havia tomado a dose de reforço: um indicativo, segundo a matéria, da necessidade da aplicação de uma terceira dose.

Alcance da publicação: O vídeo checado tinha 108,4 mil visualizações, 4,2 mil retuítes, 11,9 mil curtidas e 118 comentários até o dia 21 de setembro de 2022.

O que diz o autor da publicação: O Comprova tentou entrar em contato com o perfil que publicou o vídeo alvo da checagem, mas ele não aceita mensagem direta no Twitter. Não encontramos em outras redes sociais nenhum perfil do autor da publicação.

Como verificamos: Buscamos, no Google, pelas palavras-chave “Deborah Birx” e “Fox News”. Obtivemos, como segunda resposta, a versão original da entrevista, concedida à emissora de televisão americana, e, como sétima, um artigo do serviço de checagem de fatos americano Politifact desmentindo a alegação reproduzida pelo conteúdo verificado.

O que Deborah Birx disse à Fox News

O conteúdo verificado mostra o apresentador Tucker Carlson, da Fox News, reproduzindo um trecho de uma entrevista de Birx, datada de 22 de julho de 2022, ao jornalista Neil Cavuto, da mesma emissora de televisão.

Nela, a partir do sexto minuto, a ex-coordenadora reafirmou acreditar que a vacina não impediria a contaminação do vírus, mas, mesmo assim, diminuiria os casos graves da doença. “Eu sabia que essas vacinas não protegeriam contra a infecção. Acho que superestimamos as vacinas [quanto a impedir a contaminação], e isso fez com que as pessoas se preocupassem com [elas] não protegerem contra doenças graves e hospitalização. Elas os protegerão”, disse.

A ex-coordenadora de resposta à covid-19 da Casa Branca afirmou que 50% das pessoas que morreram pela variante Ômicron eram idosos e vacinados. Ela não especifica a qual período essa estimativa se refere, usando apenas a expressão “Omicron surge”, traduzível para “alta da Ômicron”. Segundo reportagem da CNN americana, que analisou dados oficiais dos Estados Unidos entre janeiro e fevereiro de 2022, considerado período de alta da Ômicron, mais de 40% das mortes por covid foram de vacinados. Desse grupo, menos de um terço havia tomado a dose de reforço.

O efeito protetivo das vacinas contra o vírus

As vacinas atuam no corpo humano induzindo a criação de anticorpos pelo sistema imunológico. Elas têm a capacidade de diminuir o impacto do vírus prevenindo casos graves e óbitos. Além disso, todas as vacinas licenciadas são rigorosamente testadas e consequentemente seguras.

O processo de criação dos imunizantes passou por estudos que comprovaram a segurança e a eficácia das vacinas. A Organização Mundial de Saúde (OMS), das Nações Unidas, recomenda que todas as pessoas se vacinem, com “muito poucas condições que excluiriam alguém de ser vacinado”, como estar com febre acima de 38,5 °C no dia da vacinação.

O combate a novas variantes que podem ser resistentes às vacinas existentes também se dá pela imunização coletiva e medidas de higiene protetivas.

Quem é Deborah Birx

A doutora Deborah Birx é uma médica e diplomata estadunidense que atuou como coordenadora de resposta à covid-19 durante parte do governo do ex-presidente estadunidense Donald Trump (2017-2021). Especialista de renome mundial, seu trabalho é conhecido na área da imunologia, sobretudo no combate ao Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV na sigla em inglês). Além disso, tem atuação na seara de pesquisa de vacinas, saúde global, entre outros segmentos.

Durante a atuação na pandemia, Birx auxiliou na tomada de decisões e colaborou com autoridades estaduais americanas, fornecendo orientações. Ela também já atuou como Coordenadora das Atividades do Governo dos Estados Unidos para o combate ao HIV/AIDS e como Representante Especial dos Estados Unidos para a Diplomacia da Saúde Global.

De 2005 a 2014, Birx atuou como Diretora da Divisão Global de HIV/AIDS (DGHA), vinculada ao Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. De acordo com informações do governo americano, a médica publicou mais de 200 manuscritos em periódicos revisados ​​por pares, é autora de quase uma dúzia de capítulos em publicações científicas, bem como de pesquisas sobre vacinas desenvolvidas e patenteadas.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, as eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal. Peças de desinformação, como a verificada nesta checagem, desencorajam as pessoas a se vacinar contra a covid-19, expondo-as ao risco de desenvolver casos graves da doença e prejudicando o combate ao vírus.

Outras checagens sobre o tema: Em julho deste ano, a agência de checagem americana PolitiFact desmentiu a alegação reproduzida pelo vídeo que foi alvo desta checagem. O Comprova fez outras verificações sobre conteúdos que distorcem informações relacionadas à pandemia. Dentre elas, mostrou que a vacina contra covid-19 não provoca Aids, ao contrário do que sugeriu Bolsonaro em live; que mutações do vírus não descartam eficácia e segurança das vacinas e que é enganoso que estudo de Harvard comprovou eficácia de hidroxicloroquina na prevenção da doença.

Eleições

Investigado por: 2022-09-20

Vídeo foi manipulado para mostrar Bolsonaro à frente em pesquisa do Ipec

  • Falso
Falso
É falso que o presidente Jair Bolsonaro (PL) aparece à frente na pesquisa eleitoral realizada pelo Ipec (Instituto em Pesquisa e Consultoria) e divulgada no Jornal Nacional em 12 de setembro. Um vídeo que circula no TikTok foi manipulado para inverter o resultado do levantamento. Na verdade, o ex-presidente e candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 46% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro tem 31%. Em nota, o Ipec confirmou que o conteúdo é falso.

Conteúdo investigado: Vídeo de 2 minutos e 23 segundos que mostra os apresentadores do Jornal Nacional William Bonner e Renata Vasconcellos falando acerca dos resultados da pesquisa sobre a intenção de voto para presidente realizada pelo Ipec e divulgada em 12 de setembro. Na gravação, Jair Bolsonaro aparece à frente do ex-presidente Lula.

Onde foi publicado: TikTok e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falso o vídeo com uma reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, que apresenta dados de pesquisa do Ipec com Jair Bolsonaro em primeiro lugar, à frente de Lula. O conteúdo de desinformação inverte os números, exibindo o presidente com 46% das intenções de voto e o petista com 31%, o que não é verdade. Segundo o levantamento (em PDF), na realidade, Lula tem 46% e Bolsonaro, 31%.

Além de manipular o áudio de William Bonner falando sobre o primeiro turno e a avaliação da administração de Bolsonaro, a gravação adultera a voz de Renata Vasconcellos ao apresentar o cenário do segundo turno e ao falar sobre a aprovação da maneira de governar do presidente pelos brasileiros. O material também altera os gráficos exibidos na reportagem.

Diferentemente do que é afirmado no conteúdo verificado, de acordo com o Ipec, Lula tem 53% no segundo turno, ante 36% de Bolsonaro. Sobre a avaliação da administração atual, ela é ruim ou péssima para 45% dos entrevistados, ótima ou boa para 30% e regular para 23%. E, por último, 59% reprovam a maneira de governar do presidente, enquanto que 35% a aprovam.

O Ipec divulgou nota em que afirma que o vídeo é falso e que “está denunciando o conteúdo no Sistema de Alerta de Desinformação Contra as Eleições do Tribunal Superior Eleitoral e no Ministério Público Eleitoral”. O Jornal Nacional  afirmou que a pesquisa Ipec divulgada pelo programa “mostrou o oposto do vídeo adulterado”.

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga conteúdos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 19 de setembro, o vídeo teve 2,1 milhões visualizações, 108 mil curtidas, 11,7 mil comentários e 50,3 mil compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: Como o TikTok não permite o envio de mensagens entre contas que não se seguem mutuamente, o Comprova buscou outras redes sociais do autor do vídeo investigado, mas não encontrou correspondência.

Como verificamos: Após buscar no Google pela palavra-chave “pesquisa Ipec”, o Comprova encontrou quatro verificações, do UOL Confere, da Folha, do Fato ou Fake e do Estadão Verifica, que desmentem a alegação de que Bolsonaro estaria à frente no levantamento do instituto.

O próximo passo foi consultar a edição do Jornal Nacional de 12 de setembro (a partir de 17min09s) disponível na Globoplay, que trouxe a divulgação da pesquisa Ipec. Por fim, a equipe buscou o levantamento no site do instituto e no portal do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A reportagem contatou o Ipec e a assessoria de imprensa do Jornal Nacional.

Pesquisa Ipec mostra Lula à frente

Ao contrário do que o vídeo falso mostra, Lula lidera a corrida presidencial, de acordo com a pesquisa Ipec divulgada em 12 de setembro contratada pela rede Globo. O petista aparece com 46% das intenções de voto, contra 31% de Bolsonaro.

| Gráfico com informações verdadeiras sobre a pesquisa do Ipec divulgado pelo Jornal Nacional no dia 12 de setembro. No conteúdo investigado, o gráfico foi invertido: onde está o nome de Lula aparece o de Bolsonaro. Fonte: Captura de tela do JN na Globoplay

Em seguida, a jornalista Renata Vasconcellos apresenta números relacionados ao segundo turno. Segundo o Ipec, Lula tem 53% dos votos e, Bolsonaro, 36%.

| Captura de tela da Globoplay da edição do dia 12 de setembro do JN

O vídeo investigado também usa os dados apresentados sobre a avaliação da administração Bolsonaro e sua maneira de governar. A pesquisa Ipec mostrou que 45% dos brasileiros consideram a gestão ruim ou péssima, 30% acham ótima ou boa e 23% a consideram regular.

| Captura de tela da Globoplay da edição do dia 12 de setembro do JN

Sobre a maneira de governar, os números reais do levantamento são: 59% reprovam e 35% aprovam (e não o contrário, como mente o conteúdo verificado).

| Captura de tela da Globoplay da edição do dia 12 de setembro do JN

O Ipec entrevistou, presencialmente, 2.512 eleitores, em 158 municípios, entre os dias 9 e 11 de setembro deste ano. A margem de erro estimada é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%. A pesquisa foi registrada no TSE sob o número BR-01390/2022.

Mesma tática

Em 30 de agosto, o Comprova publicou conteúdo semelhante ao verificado aqui. Com o título “Vídeo que mostra Bolsonaro à frente na pesquisa Ipec do dia 15 de agosto de 2022 é falso“, a peça usava a mesma técnica para desinformar: a manipulação de áudio e imagens. E também utilizava trecho do Jornal Nacional.

A checagem anterior era sobre pesquisa Ipec divulgada em 15 de agosto, que apontava Lula com 44% e Bolsonaro com 32%, ao contrário do que o vídeo falso apresentava.

Sobre o Ipec

O Ipec, uma empresa brasileira de pesquisas de opinião, mercado e política, foi fundado em fevereiro de 2021, logo após o encerramento das atividades do antigo Ibope Inteligência, que ficou conhecido, principalmente, pelas análises de intenção de voto. O novo negócio é, inclusive, administrado por executivos da extinta companhia.

Segundo o portal InfoMoney, as pesquisas de intenção de voto do Ipec acontecem a partir de entrevistas pessoais a domicílio. Em média, 2 mil pessoas são consultadas para levantamentos nacionais e a empresa é contratada para fazer este trabalho por veículos de comunicação.

Para uma amostra de dados, três critérios são utilizados, conforme detalhou o InfoMoney: no primeiro estágio faz-se um sorteio probabilístico dos municípios que vão compor a amostra, por um método com probabilidade proporcional ao tamanho; depois, é feito um sorteio probabilístico da região onde as entrevistas acontecerão, abrangendo a população de 16 anos ou mais que reside nos conjuntos de quarteirões sorteados; por último, dentro dos setores sorteados, os entrevistados são selecionados através de cotas amostrais proporcionais, que levem em consideração gênero, idade, escolaridade e condição de atividade.

Em cada setor censitário, respeitando seus respectivos perímetros no mapa, os pesquisadores fazem oito entrevistas e todos os dados são coletados em tablets e gravados com dispositivo de geolocalização. Ainda de acordo com o InfoMoney, o Ipec costuma trabalhar com nível de confiança estimado em 95% e margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos sobre os resultados encontrados no total da amostra.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais. Com a proximidade da votação, é frequente que as pesquisas eleitorais sejam alvo de peças de desinformação. Conteúdos como o vídeo verificado pelo Comprova, que induzem a uma conclusão falsa a partir da manipulação dos números apontados em uma pesquisa de intenção de voto, podem influenciar na decisão de eleitores brasileiros. A população deve escolher seus candidatos com base em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: O vídeo que adultera trecho do Jornal Nacional sobre a pesquisa Ipec foi desmentido também por UOL Confere, Estadão Verifica, Folha e Fato ou Fake, do G1.

Em checagens anteriores, o Comprova revelou que é falso vídeo que mostra Bolsonaro à frente na pesquisa Ipec do dia 15 de agosto de 2022 e que o Ipec funcione dentro do Instituto Lula. Também verificou ser enganoso post de senador que ironiza resultado de instituto para desacreditar pesquisas eleitorais.

Eleições

Investigado por: 2022-09-19

É falso que homem disfarçado de mendigo tentou matar Bolsonaro com faca

  • Falso
Falso
Não é verdade que um homem disfarçado de mendigo tenha tentado matar o presidente Jair Bolsonaro (PL) com uma faca, durante motociata realizada no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, no último dia 7 de setembro, como afirma um vídeo no TikTok. Na ocasião, um homem em situação de rua chegou a ser preso pela Polícia Militar por furar o bloqueio da rua por onde a motociata iria passar, mas ele não portava uma faca e sim um rádio-comunicador.

Conteúdo investigado: Vídeo postado no TikTok mostra um homem em situação de rua sendo preso pela polícia. O vídeo começa com o narrador falando “pessoal já vai levar, filho da *” e é acompanhado pela legenda: “Homem disfarçado de mendigo tenta matar Bolsonaro com uma faca hoje no aterro do Flamengo RJ”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Vídeo que circula no TikTok não mostra a polícia prendendo um homem “que se fingiu de mendigo” para tentar se aproximar do presidente Jair Bolsonaro e matá-lo com uma faca na região do Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, durante motociata no último dia 7 de setembro. As imagens mostram Tiago da Silva Coelho sendo preso pela polícia no local, mas ele não portava nenhuma faca e não há indícios que ele tenha tentado se aproximar do presidente. A ocorrência foi noticiada ainda no dia 7, entre outros, pelo G1 e o jornal O Globo.

Conforme a delegacia de polícia responsável pelo caso informou ao Comprova, Tiago furou o bloqueio e atravessou a rua por onde passaria a motociata para pegar um rádio-comunicador, que caiu de um dos capacetes dos policiais que faziam a escolta da motociata. Inicialmente o objeto chegou a ser confundido com uma faca pelos próprios policiais, mas a hipótese foi descartada após Tiago ser revistado e encaminhado para a delegacia. Ainda de acordo com a polícia, o homem em situação de rua tem 26 anos, nasceu no município de Duque de Caxias (RJ) e é usuário de crack.

Falso para o Comprova é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Até o dia 19 de setembro, a postagem no TikTok que deu origem à verificação do Comprova teve 417,5 mil visualizações, 12,4 mil curtidas, 2.496 comentários e 6987 compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: O TikTok não permite o envio de mensagens entre contas que não se seguem mutuamente. O Comprova encontrou um perfil no Facebook com a mesma foto e o mesmo nome do perfil do TikTok responsável pela postagem (Helena Claudia Avelino Gomes). Uma mensagem privada foi enviada para a conta, mas não houve retorno até a publicação desta checagem.

Como verificamos: Na verificação, a equipe do Comprova buscou informações no Google, o que possibilitou acesso a diferentes publicações envolvendo o assunto (G1, O Globo e Carta Capital).

Em seguida, a partir da análise de fotografias, a equipe procurou o local do fato. O Google Maps foi consultado e retornou resultados com imagens do Monumento Nacional aos mortos na Segunda Guerra Mundial, localizado na avenida Infante Dom Henrique, nº 75, no Rio de Janeiro.

O delegado Rafael Barcia, titular do 9º DP (Catete), também foi entrevistado, e tivemos a confirmação do local da ocorrência, bem como a identidade do homem detido.

O Comprova também buscou em outras redes sociais postagens com conteúdo semelhante para tentar localizar a origem do vídeo. Por fim, o Comprova buscou informações em outras redes sociais sobre a autora da postagem e entrou em contato por mensagem privada no Facebook.

Homem levado pela polícia não tinha faca

A prisão de um homem em situação de rua que tentou furar o bloqueio da motociata do presidente Jair Bolsonaro, no último dia 7 de setembro, no Rio de Janeiro, foi noticiada, entre outros, pelo G1, O Globo e Carta Capital. De acordo com o delegado Rafael Barcia, titular da 9ª Delegacia de Polícia do Rio de Janeiro e responsável pela investigação do caso, Coelho estava desarmado, e o único objeto encontrado com ele foi um rádio-comunicador. O equipamento havia caído do capacete de um dos policiais que faziam a escolta da motociata e estava no chão, quando o morador em situação de rua furou o bloqueio para pegá-lo.

Em contato com o Comprova, Barcia ainda esclareceu que Coelho estava no meio da multidão, acompanhando a motociata e que militares à paisana desconfiaram quando ele pegou o objeto do chão. Inicialmente, o rádio-comunicador chegou a ser confundido com uma faca, o que, segundo Barcia, gerou um princípio de tumulto entre os presentes. O delegado enviou ao Comprova uma foto do objeto apreendido com Coelho, e disse se tratar de um rádio-intercomunicador para capacete de motocicletas.

| Foto do rádio-comunicador apreendido enviada pelo delegado Rafael Barcia ao Comprova.

De acordo com o delegado Barcia, Tiago da Silva Coelho foi levado para a 9ª Delegacia de Polícia do Rio de Janeiro, no bairro do Catete. “Ele estava bem agitado e alternando momentos de lucidez com paranoias. Discutiu com os policiais pois dizia que os militares tentaram retirar dele o objeto [comunicador] que ele mesmo havia encontrado no chão”, afirmou. “Ele [Tiago] não entrou em detalhes sobre posições/preferências políticas”, concluiu Barcia.

No vídeo da abordagem filmado pelo jornal O Globo, Coelho fala em direção à câmera: “não fiz nada, eles estavam correndo atrás de mim sem eu fazer nada. Eu fui correndo mesmo no meio da rua, mas não tentei fazer nada com ninguém”. Uma voz (provavelmente de quem estava filmando a cena) pergunta: “Mas você estava com faca?”, e Tiago responde: “Não. Aqui, o dispositivo está aqui, não é faca, é um plástico, não é nada. Eu vim correndo, não fiz nada com ninguém, desde que eu entrei lá, ó, desde cedo, eu falo a verdade”.

Segundo o delegado Barcia, Coelho tem 26 anos e nasceu no município de Duque de Caxias (RJ). Ele é usuário de crack, está em situação de rua e já teve outras passagens pela polícia por roubo, furto, desacato a autoridade e briga de rua. Após chegar na delegacia, Coelho foi autuado no artigo 132 do Código Penal por colocar a vida ou a saúde de pessoas em perigo direto e iminente. Após registrar um Termo Circunstanciado, ele foi liberado e vai responder em liberdade.

Vídeo mostra homem em situação de rua sendo preso

O vídeo aqui analisado mostra um homem sendo imobilizado por policiais em meio a uma multidão. Após ser imobilizado, ele é conduzido para o outro lado da rua, até uma região com um gramado. É possível confirmar que trata-se do momento da prisão de Tiago Santos Coelho, no último dia 7 de setembro, na cidade do Rio de Janeiro, a partir da comparação de alguns elementos visuais presentes no vídeo aqui analisado e em uma filmagem publicada pelo jornal O Globo no Twitter, que noticiou o ocorrido.

Com 1 minuto e 10 segundos do vídeo publicado no TikTok, enquanto os policiais encaminhavam Coelho para uma área com gramado, é possível ver um monumento ao fundo. A mesma estrutura, também com uma região com gramado à frente, pode ser vista no vídeo publicado pelo jornal O Globo no Twitter, a partir de 15 segundos, conforme os prints abaixo.

| Frame do vídeo publicado no TikTok (à esquerda) e print da reprodução do vídeo publicado no Twitter do jornal O Globo (à direita).

Trata-se de uma estrutura que pertence ao Monumento Nacional aos mortos na Segunda Guerra Mundial, também conhecido como “Monumento dos Pracinhas”, localizado na avenida Infante Dom Henrique, nº 75, no Rio de Janeiro. Pelo Google Maps é possível confirmar que a mesma estrutura aparece nos dois vídeos. O local em que foi feita a abordagem ao morador em situação de rua também foi confirmada ao Comprova pelo delegado Rafael Barcia.

| Print do google maps da fachada do Museu em homenagem aos mortos na Segunda Guerra Mundial.

No entorno de toda a região do gramado também é possível ver, tanto no vídeo do jornal O Globo quanto no conteúdo do TikTok, a presença de diversas estruturas na cor laranja, o que reforça que ambas as filmagens foram feitas no mesmo local. Além disso, nas duas filmagens, o homem que está sendo levado pela polícia está coberto com material plástico preto, similar a um saco de lixo, o que também reforça se tratar da mesma pessoa.

| Print do vídeo do jornal O Globo mostrando as estruturas laranjas ao redor do gramado.

| Prints do vídeo do TikTok mostrando o material plástico preto, que parece ser um saco de lixo, colado ao corpo do homem que está sendo levado pela polícia.

O Comprova não conseguiu identificar quem é o autor do vídeo e em quais circunstâncias o material começou a circular, mas existem outras postagens do mesmo conteúdo no TikTok, Facebook e no Twitter, sempre insinuando que seria alguém com uma faca e que teria tentando matar o presidente Bolsonaro. A mais antiga delas identificada pelo Comprova aconteceu no Facebook, no último dia 12 de setembro (quatro dias antes da postagem do TikTok aqui analisada).

A motociata de Bolsonaro no Rio de Janeiro

O presidente Jair Bolsonaro participou de atos no último dia 7 de setembro em Brasília e no Rio de Janeiro. Na capital carioca, ele chegou por volta das 14h, na região do Aterro do Flamengo, de onde saiu em motociata com apoiadores. A concentração da motociata aconteceu próximo ao Monumento dos Pracinhas, onde o vídeo aqui analisado foi gravado. Dali, Bolsonaro e seus apoiadores se dirigiram para a Praia de Copacabana, onde o presidente acompanhou o desfile militar e, sem seguida, discursou para seus apoiadores pedindo votos e em tom de campanha.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet e estão relacionados com as eleições presidenciais, a realização de obras públicas e a pandemia da covid-19. A equipe tem como foco as publicações virais, que tiveram grande alcance nas redes sociais e podem confundir a população.

Durante o período que antecede as eleições no Brasil, muitos conteúdos estão sendo divulgados com o objetivo de tumultuar o processo. Isso colabora para confundir eleitores e criar teorias falsas sobre a realidade dos fatos.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente, o site boatos.org realizou checagem do mesmo assunto e chegou à conclusão de que se trata de notícia falsa.

Também há poucas semanas, o Comprova fez a checagem de outros assuntos envolvendo conteúdos falsos. No final de agosto, foi confirmado como falso o vídeo que mostra Bolsonaro à frente na pesquisa Ipec do dia 15 de agosto de 2022. Semanas atrás, o Comprova também concluiu como falso um áudio em que o presidente teria xingado Michelle Bolsonaro antes do desfile de 7 de Setembro.

Eleições

Investigado por: 2022-09-19

É falso que pesquisadora do Datafolha negou entrevistar bolsonarista por causa de posicionamento político

  • Falso
Falso
É falso que uma pesquisadora do Instituto Datafolha tenha deixado de entrevistar um apoiador de Jair Bolsonaro (PL) por causa do posicionamento político dele, como sugere um vídeo que circula nas redes sociais Kwai e Facebook. É parte do procedimento padrão da empresa não aceitar entrevistas de pessoas que se ofereçam para responder o questionário, o que ocorreu naquela ocasião, segundo o Datafolha. Isso é feito para garantir que a amostra seja aleatória e evite vieses. Ao Comprova, os institutos Quaest e Ipec afirmaram que a prática é comum.

Conteúdo investigado: Vídeos publicados nas redes sociais Kwai e Facebook, em 13 de setembro, que mostram dois homens abordando uma mulher identificada como pesquisadora do Datafolha e acusando-a de se recusar a entrevistar eleitores que declaram voto no presidente Bolsonaro.

Onde foi publicado: Kwai, Facebook e TikTok.

Conclusão do Comprova: É falso que uma pesquisadora do Instituto Datafolha tenha se negado a entrevistar um homem porque ele é apoiador do candidato à presidência Jair Bolsonaro (PL). “Se você é bolsonarista, ela não aceita; só aceita do Lula”, diz o autor da gravação. Nota publicada pelo instituto informa que o homem abordou a pesquisadora, perguntou se ela trabalhava no Datafolha e solicitou que ela o entrevistasse. O fato ocorreu, segundo a empresa, no dia 13 de setembro, na cidade de São Paulo.

Como o Datafolha publicou, “não aceitar entrevistas de pessoas que se ofereçam para responder a um questionário é uma das principais normas de condução que esses pesquisadores devem atender durante sua abordagem”. Desta forma, as afirmações feitas pelo autor do vídeo são falsas, já que, conforme explica o Datafolha, “os pesquisadores do instituto recebem um treinamento padronizado, que determina que pessoas que se oferecem para serem entrevistadas devem ser obrigatoriamente evitadas, para que a amostra seja aleatória”.

“É uma prática comum entre os institutos de pesquisa não entrevistar quem se dispõe a responder. Isso é para evitar vieses”, diz a cientista política Tathiana Chicarino, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo – Escola de Humanidades (FESPSP). Ela explica que esse cuidado é para evitar, por exemplo, respostas de eleitores de determinado candidato que, ao saber que a pesquisadora está naquele local, se desloquem até lá para participar da pesquisa.

Consultado pelo Comprova, o Quaest, instituto que também tem feito pesquisas eleitorais semanais nesta campanha, informou que segue o mesmo procedimento. “Temos protocolos de condução de entrevista e abordagem que incluem a orientação de não entrevistar pessoas que se ofereçam para esse fim”, afirmou a empresa. O Ipec também confirmou que seus pesquisadores são orientados a não entrevistar pessoas que se ofereçam para participar da pesquisa.

No vídeo aqui verificado, o autor filma a pesquisadora, tenta mostrar o nome dela no crachá e a agride verbalmente. Como explica a Folha, os pesquisadores também são instruídos “a não dar permissão para ser filmado e a não usar o crachá do Datafolha enquanto estiver se deslocando”.

Em certo momento, a mulher tenta interromper a filmagem, mas, em seguida, usa uma prancheta para esconder o rosto, continua andando na calçada e se afasta do agressor, ainda sob ataques verbais.

A última rodada da pesquisa Datafolha sobre a eleição presidencial, publicada em 15 de setembro, mostrou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 45% das intenções de voto para o 1º turno. Bolsonaro aparece em seguida, com 33%. Na rodada anterior, divulgada no dia 10 de setembro, antes da gravação do vídeo, Lula registrou 45% e Bolsonaro, 34%. O fato de o levantamento apontar o presidente atrás do petista na pesquisa é motivo de frequentes ataques de bolsonaristas.

O Comprova classifica como falso todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga conteúdos que tenham maior alcance nas redes sociais. Até o dia 19 de setembro, o vídeo teve cerca de 50 interações, entre curtidas, comentários e compartilhamentos, no Kwai. No Facebook, que sinaliza o conteúdo como informação falsa, foram mais de 3 mil interações, entre visualizações, curtidas, comentários e compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: As publicações no Kwai e no Facebook tiveram origem em um vídeo postado, inicialmente, no TikTok. Como esta plataforma não permite o envio de mensagens entre contas que não se seguem mutuamente, o Comprova encontrou o perfil do autor da publicação original, Israel Rangel, no Facebook. Não obtivemos retorno dele, entretanto. Conseguimos entrar em contato com o outro homem que aparece no vídeo verificado, Tiago Candeias, mas não foi possível colher o depoimento dele antes do fechamento desta verificação. Em caso de resposta, este texto será atualizado.

Como verificamos: Fazendo uma busca no Google pelas palavras-chave “pesquisadora” e “Datafolha”, o Comprova encontrou duas checagens que tratavam do mesmo vídeo aqui investigado, uma feita pela Reuters e a outra, pela Fato ou Fake. Além disso, a pesquisa resultou em uma nota do Datafolha sobre o caso, relatando procedimentos seguidos pela funcionária no episódio. Outro resultado obtido foi uma reportagem da Folha de S.Paulo, ao qual o Datafolha é associado, sobre a hostilidade sofrida por pesquisadores do instituto em geral.

Em seguida, para confirmar a localização do vídeo, o Comprova identificou elementos que pudessem indicar onde a abordagem à pesquisadora ocorreu, como o número de um edifício e dois detalhes de fachadas de prédios.

| Capturas de tela do vídeo investigado mostram elementos na fachada de um prédio

No vídeo, o autor diz: “Datafolha fazendo a pesquisa aqui na Queiroz Filho, no Alto da Lapa”. Na nota do instituto, há informação de que a pesquisadora foi abordada na Vila Leopoldina, na cidade de São Paulo. Com isso, a equipe buscou no Google Maps por “Queiroz Filho, número identificado em um prédio no vídeo e Vila Leopoldina”. O endereço em questão fica, na verdade, na Vila Hamburguesa, bairro ao lado da Vila Leopoldina e do Alto da Lapa. Elementos da imagem do Google Street View confirmam que o vídeo verificado foi gravado nessa localização.

| Capturas de tela do Google Street View mostram os mesmos elementos identificados no vídeo investigado

Os vídeos postados no Kwai e no Facebook têm marca d’água que indicam que o vídeo foi originalmente postado no TikTok por usuário identificado na rede como Israel Rangel. No dia 14 de setembro, Israel postou na rede social uma gravação criticando o TikTok por ter apagado um vídeo que ele havia postado e citou o caso de uma pesquisadora do Datafolha. O vídeo com as críticas à rede social também foi apagado (não é possível afirmar se a medida foi tomada pela plataforma ou pelo usuário).

A reportagem também entrevistou, por telefone, a cientista política Tathiana Chicarino, professora da FESPSP. Os institutos Quaest e Ipec, que realizam e divulgam pesquisas sobre a eleição presidencial, também foram consultados.

Pesquisadora seguiu procedimento padrão

Em nota publicada no dia 14 de setembro, o Instituto Datafolha informou que, no dia anterior, uma pesquisadora havia sido atacada enquanto realizava seu trabalho na cidade de São Paulo. O instituto esclareceu que a profissional foi abordada pelo segurança de um estabelecimento comercial após fazer uma entrevista em frente ao local. O homem, diz a nota, estava filmando a pesquisadora, perguntou se ela trabalhava no Datafolha e pediu-lhe para ser entrevistado.

De acordo com o instituto, a profissional procedeu de forma correta, explicando que não poderia entrevistá-lo, porque as abordagens da pesquisa devem ser aleatórias: pedidos como o que ele fez ferem o critério de aleatoriedade. Segundo o Datafolha, a pesquisadora também explicou que tinha cotas de idade a cumprir, as quais a pessoa que a abordou não atenderia.

O Datafolha informou ainda que realiza treinamentos regulares para orientar os pesquisadores de campo e esclareceu que uma das principais normas é não aceitar entrevistas de pessoas que se ofereçam para responder ao questionário. O desrespeito a essa regra leva ao cancelamento automático de todos os questionários do pesquisador em questão.

“Dessa forma, diante da recusa em não entrevistar pessoas que se ofereçam ou agressivamente exijam responder a um questionário, a pesquisadora não só atendeu a todos os parâmetros que uma pesquisa séria deve seguir, mas também protegeu o objeto de seu trabalho”, diz o texto.

O Datafolha mostrou que a hostilidade contra os pesquisadores é crescente. Em apenas um dia, o instituto registrou dez casos em municípios de diferentes regiões do país. Ao todo, são 470 pesquisadores atuando na empresa.

Prática comum

De acordo com a cientista política Tathiana Chicarino, professora da FESPSP, o procedimento da pesquisadora do Datafolha no vídeo verificado, além de ser o correto, costuma ser o padrão de institutos de pesquisa. “Quando você faz uma pesquisa estatisticamente válida, há essa prioridade. Você não pode pegar alguém que quer responder, porque isso pode resultar no enviesamento da pesquisa”, diz ela.

O Quaest, instituto de pesquisa com sede em Belo Horizonte, confirma. Ao Comprova, afirmou orientar seus pesquisadores a não entrevistar quem se oferece para tal e que intensificou a preparação dos pesquisadores em relação a situações violentas, como a agressão sofrida pela entrevistadora do Datafolha. Entre os pontos, o Quaest destaca que “qualquer tentativa de intimidação deve ser relatada à polícia local e à supervisão de campo, se o entrevistador perceber que está sendo gravado, a entrevista deve ser interrompida imediatamente e relatada à supervisão de campo para substituição de entrevistador na área sorteada e entrevistas devem ser feitas sem a presença de terceiros para evitar influência ou favorecer indução”.

Em nota, o Ipec Inteligência informou que os pesquisadores do instituto também são orientados a não entrevistar pessoas que se ofereçam para responder o questionário, pois a seleção do entrevistado tem que ser aleatória. “No nosso caso, a pesquisa é realizada em setores censitários que são conjuntos de quarteirões que foram selecionados para a amostra através do método PPT (Probabilidade Proporcional ao Tamanho). Ele só pode entrevistar pessoas que residam naquele conjunto de quarteirões. Ele pode bater nas casas ou abordar pessoas que estejam circulando no setor, desde que residam naquele conjunto de quarteirões e que preencham as características determinadas na amostra”, explicou o Ipec.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, as eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal. A menos de 20 dias do primeiro turno das eleições deste ano, cresce o número de conteúdos que tentam desacreditar as pesquisas de opinião. Publicações como a verificada nesta checagem prejudicam a confiança das pessoas sobre os institutos de pesquisa e podem influenciar o voto de forma equivocada. A decisão do eleitor deve ser tomada com base em informações e fatos.

Outras checagens sobre o tema: Outras agências de checagem como a da Reuters e a Fato ou Fake, do G1, também classificaram o vídeo verificado pelo Comprova como falso. Em maio deste ano, o Estadão Verifica desmentiu conteúdo semelhante.

Em verificações anteriores envolvendo pesquisas eleitorais, o Comprova mostrou que uma entrevista sobre voto foi feita por humorista, não pelo Datafolha, que um pesquisador agiu corretamente ao não mostrar questionário de pesquisa eleitoral e que um senador ironizou resultado de instituto para desacreditar pesquisas eleitorais.

Eleições

Investigado por: 2022-09-16

É falso que Lula defendeu o nazismo e o fascismo em evento do PT em 2017, como afirma vídeo

  • Falso
Falso
É falso vídeo publicado no Kwai em que o ex-presidente e candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) diz ser necessário incentivar as pessoas à “negação da política” e no qual defende “fascismo, nazismo, qualquer outra coisa, menos democracia.” Trata-se de uma montagem antiga que voltou a circular. O conteúdo original, uma transmissão ao vivo feita pela página do Facebook do petista em 2017, foi cortado em trechos específicos e editado, o que fez com que o contexto fosse deturpado, e o sentido do discurso parecesse o oposto do original.

Conteúdo investigado: Vídeo de um minuto e 44 segundos publicado na plataforma de vídeos Kwai em que Lula supostamente diz ser preciso negar a política e no qual o petista é associado à defesa do fascismo, nazismo e qualquer outro regime autoritário adverso à democracia. Acima das imagens do petista, foram inseridas a palavra “demônio” e a frase “ele quer a nossa destruição”. Abaixo, a seguinte legenda: “Este vídeo foi guardado a sete chaves pelo PT”.

Onde foi publicado: Kwai.

Conclusão do Comprova: É falso vídeo supostamente “guardado a sete chaves pelo PT” no qual o ex-presidente Lula parece afirmar que o partido “precisa convencer as pessoas a negação da política” e defender “fascismo, nazismo, qualquer outra coisa, menos democracia”. Editado, o conteúdo teve trechos suprimidos para alterar o sentido do discurso. No vídeo original, de 2017, o presidenciável diz justamente o contrário.

As imagens, apontadas como sigilosas na publicação verificada, foram, na verdade, transmitidas ao vivo pela página de Lula no Facebook. No conteúdo original, que tem pouco mais de 44 minutos, Lula começa a falar aos 21 minutos da gravação e seu discurso dura cerca de 20 minutos.

Amplamente compartilhada em 2017, a versão manipulada do vídeo voltou a viralizar duas vezes em época de campanha eleitoral – em 2018 e 2022 – e, desde então, vem sendo desmentida por agências de checagem, inclusive pelo Comprova.

Em nota, a assessoria de imprensa do PT afirma que o conteúdo foi “pesadamente editado e manipulado para criar frases nunca ditas pelo ex-presidente”.

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: No Kwai, até o dia 16 de setembro, o vídeo havia sido visualizado 126,3 mil vezes. A publicação havia alcançado 5,8 mil curtidas, quase 2,6 mil comentários e 16,2 mil compartilhamentos. Antes disso, o mesmo conteúdo manipulado já havia viralizado em 2017 e em 2018, ano do último pleito eleitoral para presidência da república.

O que diz o autor da publicação: Procuramos Nancy Martins, autora da publicação. Questionada se tinha conhecimento de que o vídeo havia sido editado/manipulado, Nancy respondeu que: “Não tem nada de errado com esse vídeo. Muito menos manipulado. É exatamente isso que ele [Lula] prega”. No Kwai, Nancy tem 38,8 mil seguidores.

Como verificamos: Inicialmente, fizemos uma busca no Google pelas seguintes palavras-chave: “lula”; “vídeo”; “negação”; “política”; e “fascismo”. A pesquisa retornou links de verificações do mesmo vídeo feitas anteriormente por agências de checagem, como Estadão Verifica, Fato ou Fake e Aos Fatos.

A partir do vídeo original, uma transmissão ao vivo de evento do PT feita pelo Facebook, comparamos a fala de Lula na íntegra com as frases do vídeo cortado, editado e distribuído na internet. A edição é nítida, com cortes abruptos de áudio e imagem.

Também fizemos contato com a assessoria de imprensa do PT e procuramos a autora do post verificado.

Vídeo original x versão editada

O vídeo original foi publicado na página oficial de Lula em 22 de setembro de 2017. Trata-se da transmissão ao vivo do lançamento da campanha de filiação ao PT em São Paulo. No segundo semestre daquele ano, eventos como esse eram promovidos pelo partido em diversos pontos do país. Esta ocasião, especificamente, contou com a presença de Lula, que fez um discurso voltado a atrair novos membros para a legenda.

Como já verificado pelo Comprova, no trecho original do vídeo, o petista diz: “Eu penso que as pessoas devem se filiar ao PT. Primeiro porque o PT precisa convencer as pessoas de que não existe saída para o Brasil e para qualquer país do mundo fora da política, ou seja, o PT tem que ser o partido que enfrenta essa discussão contra a negação da política. Fora da política, nós teremos fascismo, nazismo, qualquer outra coisa, menos democracia.”

Na versão editada e compartilhada pelo perfil do Kwai de Nancy Martins, o vídeo é cortado, palavras são suprimidas e as frases, retiradas de contexto. A edição faz com que o discurso ganhe sentido oposto ao original.

A declaração do ex-presidente é alterada para: “Eu penso que as pessoas devem se filiar ao PT. Primeiro porque o PT precisa convencer as pessoas a negação da política. Fascismo, nazismo, qualquer outra coisa, menos democracia.”

Conteúdo circula desde 2017

Esta é a segunda vez que o conteúdo distorcido volta a ser compartilhado nas redes sociais. O vídeo circula na internet desde 2017. A uma semana das eleições presidenciais de 2018, voltou a circular com força. À época, foi desmentido pelo Comprova. Quatro anos depois, a menos de um mês das eleições presidenciais de 2022, a peça de desinformação viralizou mais uma vez.

Ainda que já tenham sido desmentidos, conteúdos falsos e/ou enganosos costumam voltar a circular em épocas propícias de forma estratégica, como é o caso deste que ganha força a cada eleição. Por vezes, o material é reproduzido exatamente nos mesmos moldes, mas ele também pode ser “reciclado” e adquirir novas roupagens.

PT reafirma manipulação

Procurada, a assessoria de imprensa de Lula, que já havia emitido nota quando o conteúdo circulou pela primeira vez, voltou a afirmar que “o vídeo foi pesadamente editado e manipulado para criar frases nunca ditas pelo ex-presidente”. Acrescentou ainda que o material “foi montado e circula em grupos, em geral de simpatizantes de Bolsonaro, como arma para estimular o ódio político contra Lula e o PT”.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Conteúdos falsos ou enganosos e sátiras envolvendo candidatos à presidência, como a peça aqui verificada, podem influenciar os eleitores, que devem basear suas escolhas em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: O conteúdo foi investigado pela primeira vez em outubro de 2018 pela equipe do Comprova. Dias depois, foi também desmentido pelo Fato ou Fake. No ano seguinte, em 20 de setembro de 2019, o Estado de S.Paulo fez a checagem do mesmo vídeo. A peça também foi alvo de verificação do Aos Fatos em agosto de 2020.

O Comprova também já investigou conteúdos similares envolvendo candidatos à presidência. Recentemente, apontou manipulação de vídeo para inserir ofensa a Lula em discurso de apoiadora em Pernambuco, que vídeo foi editado para deturpar fala de Lula sobre ‘ideologia do PT’ e que vídeo de Bolsonaro criticando direitos trabalhistas é de 2019.