O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Eleições

Investigado por: 2022-10-25

É falsa a mensagem que atribui a Arthur Lira condução de romeiros a Juazeiro para gerar abstenção no 2º turno

  • Falso
Falso
É falsa a mensagem que circula no WhatsApp segundo a qual o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), estaria usando verba do orçamento secreto para levar romeiros a Juazeiro do Norte, no Ceará, para uma estadia de 28 de outubro a 2 de novembro em busca de gerar abstenção no 2º turno das eleições. Não há evidências da ocorrência do crime eleitoral (até o momento, não há denúncias no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no Ministério Público Eleitoral ou mesmo qualquer veiculação de matéria nos meios de comunicação); o deputado classifica a publicação como “fake news”; e a professora citada na mensagem nega ser a autora do conteúdo verificado.

Conteúdo investigado: Texto atribuído à ex-reitora da Universidade Federal de Alagoas Ana Dayse (UFAL), em que ela teria afirmado que o deputado federal Arthur Lira (PP-AL) estaria usando verba do orçamento secreto para levar romeiros a Juazeiro Norte, no Ceará. A estadia seria de 28 de outubro a 02 de novembro – coincidindo com a data do segundo turno da eleição presidencial. Segundo a mensagem, a romaria evitaria o comparecimento de eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) às urnas.

Onde foi publicado: WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falsa a mensagem que circula no WhatsApp na qual consta que o deputado federal e presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), estaria usando verba do orçamento secreto para levar romeiros de cidades do Nordeste a Juazeiro do Norte – município símbolo de devoção ao Padre Cícero, no Ceará –, para uma estadia de 28 de outubro a 2 de novembro em busca de gerar uma possível abstenção no 2º das eleições, que ocorrerá dia 30 de outubro.

A mensagem indica que as pessoas transportadas nas caravanas seriam “na grande maioria eleitores do Lula”, candidato do PT à Presidência da República. Lira é aliado do candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL). Conforme apurado pelo Comprova, não há evidências da ocorrência do crime eleitoral – até o momento, não há denúncias no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nem no Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), sobre o assunto, tampouco no Ministério Público Eleitoral (MPE) no estado. Também não há, até agora, veiculação de reportagens sobre o caso.

Consultada pelo Comprova, a assessoria do deputado informou que classifica a publicação como “mais uma fake news”. A professora citada como a suposta autora da mensagem, a ex-reitora da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Ana Dayse, nega que tenha produzido o conteúdo inverídico.

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O conteúdo circula no aplicativo de troca de mensagens WhatsApp, com a anotação “encaminhada com frequência”, sinalização que indica a viralização do conteúdo.

O que diz o responsável pela publicação: O conteúdo circula no aplicativo de troca de mensagens WhatsApp, não sendo possível localizar o responsável pela publicação.

Como verificamos: Iniciamos a verificação buscando no Google pelas palavras “Arthur Lira”, “romeiros”, “juazeiro”, que retornou conteúdos já apurados pelo UOL, Boatos.org, além de uma reportagem do site Tribuna Hoje, a respeito de nota em que a Academia Alagoana de Educação (Acale) repudia veiculação de mensagem falsa de cunho político envolvendo a presidente da entidade.

Também procuramos a Universidade Federal de Alagoas – na qual a professora Ana Dayse é reitora honorária –, o Ministério Público Eleitoral no Ceará, o TSE, a Acale e a Prefeitura de Juazeiro do Norte.

O Comprova buscou, ainda, contato com a assessoria de imprensa do deputado Arthur Lira e falou, por WhatsApp, com a professora Ana Dayse – citada no conteúdo de desinformação.

Romarias em Juazeiro do Norte (CE)

O conteúdo enganoso afirma que há “verdadeiras caravanas com ônibus repletos partindo de diversas cidades e estados nordestinos, para que esses eleitores estejam no Ceará e não votem. São pessoas simples e devotas do Padim Pe. Cícero, na grande maioria eleitores do Lula”.

A cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará, de fato, é marcada pelo turismo religioso, sendo um município símbolo de devoção ao padre Cícero Romão Batista. O calendário oficial de eventos do município registra 10 romarias. A mais movimentada é a Romaria de Finados, que ocorre de 29 de outubro a 2 de novembro.

Em 2022, a programação divulgada pela Basílica Santuário Nossa Senhora das Dores confirma que o evento acontecerá nesta data, mas devido ao 2º turno das eleições, nos dias 29 e 30 de outubro a programação encerrará mais cedo.

A Prefeitura de Juazeiro do Norte informou ao Comprova que, baseada nas últimas romarias, a estimativa é de que 400 mil fiéis devem passar pela cidade na Romaria de Finados. A gestão também foi questionada se, em algum momento, devido à ocorrência do 2º turno das eleições no dia 30, foi cogitado antecipar ou adiar o evento religioso e respondeu que não houve proposta alguma de mudança de data.

Em nota, a Prefeitura afirmou que “a programação da Romaria é da Igreja e já existe um calendário”, cabendo ao município auxiliar nos serviços de apoio e acrescentou: “acreditamos que um número elevado de romeiros estarão exercendo seu papel de cidadania no domingo e virão depois da votação. Assim como alguns já estão vindo e retornarão antes das eleições, ou seja, pode acontecer de no domingo de eleição, o número de fiéis não ser como nos anos anteriores”.

Em 2018, o 2º turno das eleições ocorreu no dia 28 de outubro e a programação da Romaria dos Finados teve início no dia 29 de outubro, seguindo até o dia 2 de novembro.

A mensagem indica que Lira, para levar os romeiros a Juazeiro do Norte, estaria usando o dinheiro do orçamento secreto, nome dado às emendas de relator, mecanismo criado em 2019 e implementado em 2020, que permite que deputados e senadores façam o requerimento de verba da União sem detalhes como identificação ou destinação dos recursos.

No orçamento secreto, os nomes dos parlamentares beneficiados não aparecem no sistema, somente o nome do relator do orçamento, por isso a expressão “secreto”. Em novembro de 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) chegou a suspender os repasses. No fim do ano passado, o Supremo liberou o pagamento das emendas, depois que o Congresso aprovou novas regras de transparência, e deu prazo de 90 dias para que o sistema de monitoramento (com individualização, detalhamento e motivação das indicações) fosse instituído. Ainda assim, o dispositivo é criticado já que, por meio dele, o presidente da República pode negociar com as bancadas do Congresso Nacional em busca de apoio político. Recentemente, o Comprova fez um conteúdo explicativo a respeito do tema.

Lira é um dos defensores do orçamento secreto. Em pronunciamentos públicos, o deputado já argumentou que é um erro chamá-lo de “secreto” e, segundo ele, é um orçamento municipalista. Em maio de 2022, matéria do Portal Metrópoles apontou que Lira indicou ao menos R$ 357,477 milhões em emendas parlamentares via orçamento secreto nos últimos dois anos. O montante, diz a reportagem, foi destinado a cidades de Alagoas, estado natal de Lira.

Não há registro de denúncias na Justiça Eleitoral

O Comprova entrou em contato com o TSE e questionou se a Justiça Eleitoral tem conhecimento do suposto caso mencionado na mensagem. O Tribunal esclareceu inicialmente que o Código Eleitoral prevê que “promover concentração de eleitores no dia da eleição com a finalidade de impedir, embaraçar ou fraudar o exercício do voto é crime eleitoral” e a penalidade pode chegar a até seis anos de reclusão.

Mas, no que diz respeito ao caso concreto, explicou o órgão, se houver alguma denúncia ela tramita primeiro no TRE de cada localidade. Na situação específica seria no Tribunal Regional do Ceará. Conforme o TSE, até a noite de sexta-feira, 21 de outubro, o TRE-CE informou que “a comissão de fiscalização da propaganda da corte regional não recebeu nenhuma denúncia sobre o caso”.

O Ministério Público Eleitoral no Ceará também foi consultado pelo Comprova e informou, via e-mail, que até o início da tarde de segunda-feira, 24 de outubro, “não há procedimento instaurado sobre o referido caso”.

Ex-reitora da UFAL nega autoria de mensagem

Na publicação verificada consta que a mensagem teria sido “encaminhada pela ex-reitora da Universidade Federal de Alagoas, professora Ana Dayse”. Em contato com o Comprova, Ana Dayse Rezende Dórea garante que a publicação “é fake” e ela não é autora do texto.

Ana Dayse, conforme consta no site da UFAL, é reitora honorária da instituição (título que confere honraria a ex-reitores, mas, na prática, não implica em qualquer prestação de serviço ou remuneração por isso). Ela foi professora adjunta da universidade e exerceu o cargo de reitora em duas gestões, de 2003 a 2007, e de 2007 a 2011.

Em 2021, Ana Dayse foi eleita presidente da Academia Alagoana de Educação (Acale) para o biênio 2022-2023. Na quinta-feira, 22 de outubro de 2022, a Acale divulgou uma nota na qual repudia a informação de que Ana Dayse “teria postado na mídia social um comentário em relação a determinado político de Alagoas, divulgada em 20.10.2022, via WhatsApp”.

A nota indica repúdio “à prática de divulgação de notícias falsas, assim como de informações mentirosas que possam desabonar a conduta ética, profissional e cidadã da presidente da Acale”.

O documento ressalta ainda que Ana Dayse “tem um lastro de seriedade e reconhecimento público em todo o Estado de Alagoas, com meritório trabalho em prol da educação, nacionalmente aplaudido”.

Camilo Santana não é mais governador

A mensagem que circula no WhatsApp diz ainda que “temos que apelar para que o governador Camilo Santana intervenha e adie a data. Senão teremos uma enorme abstenção”. Citado na publicação, Camilo Santana (PT) não é mais governador do Ceará desde abril de 2022. Ele governou o Estado por dois mandatos, de 1º de janeiro de 2015 até 2 de abril de 2022. Nesta data, deixou o cargo – como estipula a legislação eleitoral – para concorrer ao Senado Federal.

Na eleição de 2 de outubro, foi eleito senador pelo Ceará, com 2.831.810 votos (68,68% dos válidos). O Ceará hoje é governado por Izolda Cela (sem partido), eleita como vice de Santana em 2014.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Publicações enganosas que guardam alguma relação com candidatos à presidência podem prejudicar o processo eleitoral, induzir a interpretações equivocadas da realidade e influenciar eleitores no momento da votação. Os cidadãos têm direito de basear suas escolhas em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: O conteúdo analisado nesta verificação foi checado também por Boatos.org e UOL Confere, que classificaram a mensagem como falsa.

O Comprova tem desmentido frequentemente conteúdos que guardam relação com os presidenciáveis que concorrem neste segundo turno das eleições. Recentemente, mostrou que Marcelo Madureira não é autor de texto com críticas a Lula, que vídeo mente ao insinuar que protesto em Recife teria sido convocado por Lula e que é enganoso que Paulo Guedes anunciou redução em aposentadorias e outros benefícios do INSS.

Eleições

Investigado por: 2022-10-24

É falso que Janja e cantor tenham incitado a morte de Bolsonaro em música

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Falso
É falso que a socióloga Rosângela da Silva, esposa de Lula (PT), e um suposto criminoso tenham incitado a morte de Jair Bolsonaro (PL) em vídeo de dancinha, diferentemente do que afirma postagem no Twitter. Dançarino ao lado de Janja, que não possui antecedentes criminais, o cantor MC Dourado explicou que a gíria paraense usada na música do vídeo significa derrota em uma competição.

Conteúdo investigado: Tuíte do mestre de jiu-jitsu Renzo Gracie, declarado apoiador de Jair Bolsonaro (PL), acusando a socióloga Rosângela da Silva, esposa de Lula (PT), e um suposto criminoso de terem incitado a morte do atual mandatário em um vídeo de dancinha gravado na casa do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB). No tuíte, o lutador diz que a letra da música cantada por Janja e Mc Dourado (“agora é sal, Bolsonaro”) é sinônimo de “matar”.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É falso que a socióloga Rosângela da Silva, esposa de Lula (PT), e um suposto criminoso tenham incitado a morte de Jair Bolsonaro (PL) em vídeo de dancinha.

O dançarino ao lado de Janja, como Rosângela é conhecida, é o funkeiro Wagner Sabino da Silva, baseado no Pará e conhecido como MC Dourado. Ele, que não possui nenhum antecedente criminal, explicou que “agora é sal no Bolsonaro”, citada na música do vídeo, é usada, no Pará, para se referir a alguém que perde em uma competição. Outras fontes encontradas pelo Comprova embasam essa afirmação.

O vídeo foi, de fato, gravado na casa do governador Helder Barbalho (MDB), no dia 9 de outubro.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Até o final da tarde de 24 de outubro, o tuíte investigado havia sido retuitado mais de 5,9 mil vezes e tinha mais de 15,7 mil curtidas e 214 mil views. Gracie, autor da publicação, tem mais de 253,3 mil seguidores. O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova tentou entrar em contato com Renzo Gracie pelo Instagram, visto que ele não aceita mensagem direta no Twitter por parte de quem ele não segue. Entretanto, não houve retorno até a publicação desta checagem.

Como verificamos: Pesquisamos, no Google, pelas expressões-chave “Janja”, “Helder Barbalho” e “matar Bolsonaro” para obter informações da dança gravada. Encontramos um artigo de Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, republicado no Yahoo News sobre o episódio. Para apurar a inexistência dos antecedentes criminais de MC Dourado, procuramos, no Google, por “MC Dourado”, e descobrimos que ele foi candidato a deputado estadual nas eleições gerais deste ano. Na sua página de perfil no portal de candidaturas do TSE, encontramos certidões de antecedentes criminais negativas, que é um documento obrigatório no registro dos candidatos.

“Agora é sal” significa derrota em uma competição

O episódio do vídeo da dança de Janja foi noticiado pela Folha de S. Paulo. O dançarino ao lado de Janja é o funkeiro Wagner Sabino da Silva, baseado no Pará e conhecido como MC Dourado.

Ele explicou que a gíria “agora é sal no Bolsonaro”, citada na música do vídeo, é usada, no Pará, para se referir a alguém que perde em uma competição.

“Aqui, quando um time ganha, a gente fala ‘sal’ [para o outro], significa que acabou. Então ficou ‘sal no Bolsonaro'”, disse MC Dourado à Folha.

Outras fontes encontradas pelo Comprova embasam essa afirmação. Vídeo de jogadores do Paysandu, time do Pará, no Facebook, e tuíte de torcedor do Remo, outro clube paraense, mostram o uso dessa gíria após vitórias contra adversários em campeonatos de futebol.

Quanto ao local e à data do vídeo, ele foi, de fato, como alegou Gracie no tuíte verificado, gravado na casa do governador Helder Barbalho, em Belém. A gravação é de 9 de outubro.

MC Dourado não possui antecedentes criminais

No tuíte verificado, Gracie chama MC Dourado de “criminoso confesso”. Entretanto, isso também não é verdade.

O funkeiro foi candidato nas eleições gerais deste ano. Ele concorreu a deputado estadual no Pará pelo União Brasil e ficou na suplência.

Na página de perfil dele no portal de candidaturas do TSE, encontramos certidões de antecedentes criminais negativas (1 e 2), que é documento obrigatório no registro dos candidatos.

Quem é Renzo Gracie

O autor do tuíte verificado é professor de jiu-jitsu e membro da família Gracie, um dos mais influentes clãs da arte marcial no mundo. Gracie também é apoiador declarado de Jair Bolsonaro, já tendo ameaçado agredir críticos do governo.

As ligações entre o lutador e a gestão Bolsonaro vão além do apoio. Em dezembro de 2021, Gracie recebeu o então-secretário de Cultura, Mario Frias, em Nova York, para tratar de um “projeto cultural envolvendo produção audiovisual, cultura e esporte”. A viagem, que foi oficial, custou R$ 39 mil aos cofres públicos.

Integrantes da família Gracie morando nos Estados Unidos aparecem no Portal da Transparência como beneficiários do auxílio emergencial do governo para a pandemia, como reportou o site de notícias Congresso em Foco.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre as eleições presidenciais, a realização de obras públicas e a pandemia. A equipe tem como foco as publicações virais, que tiveram grande alcance nas redes sociais e podem confundir a população. No contexto das eleições no Brasil, muitos conteúdos estão sendo divulgados com o objetivo de tumultuar o processo, pois podem influenciar na decisão de eleitores brasileiros. A população deve escolher seus candidatos com base em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: Renzo Gracie, autor da tuíte verificado, é reincidente em disseminar peças de desinformação, em especial com o intuito de promover o seu candidato, Bolsonaro, e atacar seu principal rival, Lula. Envolvendo publicações do mestre de jiu-jitsu, o Comprova já mostrou que post troca local de ato contra Lula para desacreditar pesquisas, que vídeo de abordagem da PM a torcedores do Sport não tem relação com o petista e que é falsa foto de Schwarzenegger com camiseta de apoio a Bolsonaro.

Eleições

Investigado por: 2022-10-24

Trecho de entrevista de Lula é tirado de contexto para sugerir desprezo aos mais pobres

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o vídeo que tira de contexto uma frase do candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre os pobres, como se ele considerasse a população de baixa renda dispensável após as eleições. Na verdade, durante a entrevista em questão, que o ex-presidente concedeu ao podcast PodPah, exibido originalmente em dezembro de 2021, Lula condena a prática de alguns políticos que, na opinião do petista, demonstram interesse pelos mais pobres somente em período eleitoral.

Conteúdo investigado: Post em vídeo mostrando a declaração de Lula durante o PodPah. O vídeo, com apenas oito segundos, mostra o candidato petista falando aos interlocutores e, na tela, a legenda “Não diga! Ainda tem quem vote num imbecil desse!”, acompanhada de emojis de espanto e vômito.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É enganoso o vídeo que apresenta uma frase de Lula sobre os pobres, sugerindo que o petista, após as eleições, não teria mais interesse nesta parcela da população. Usada fora de contexto, a declaração dá a entender que o candidato do PT considera descartáveis as pessoas em situação de pobreza, mas o sentido original é justamente o contrário: em sua fala, Lula se referiu em tom crítico aos políticos que se importam com a população pobre apenas em período eleitoral.

Com apenas oito segundos, o vídeo aqui investigado é um recorte de uma entrevista de 2h28min concedida por Lula ao podcast PodPah, exibida originalmente no dia 2 de dezembro de 2021.

O presidenciável falava sobre o programa Bolsa Família, que fora instituído ainda durante o seu governo (por meio da Lei Federal 10.836, em 9 de janeiro de 2004), e das mudanças implementadas no sistema de transferência de renda durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL). Candidato à reeleição, o presidente substituiu o benefício, que já tinha 18 anos, pelo programa federal Auxílio Brasil, medida que, na opinião do petista, tem fins eleitorais.

Na sequência, Lula diz que o pobre muitas vezes é tratado como se fosse “papel higiênico”, descartado após as eleições, ou apenas um número, fazendo uma crítica a políticos que se comportam dessa maneira em relação à população vulnerável.

Mas a fala do petista foi resumida ao seguinte trecho: “Acabou as eleições, acabou o interesse pelo pobre. O pobre não é visto como ser humano, é visto como número, sabe?”. Com o corte, fica a impressão enganosa que o presidenciável considera a população de baixa renda descartável.

Contudo, no vídeo original, tem-se o contexto da frase, que expressa outro sentido, justamente de crítica ao que o conteúdo verificado insinua, como se percebe a partir de 49 minutos e 42 segundos. “Cê sabe o que acontece? Eu vou dizer uma coisa pra vocês com todo respeito das pessoas que estão acompanhando vocês. É que pobre muitas vezes nesse país é tratado como se fosse papel higiênico. Usou, jogou fora, acabou. Acabou as eleições, acabou o interesse pelo pobre. O pobre não é visto como ser humano, é visto como número, sabe?”

O candidato do PT já usou esses termos em outros eventos, e postagens sobre o assunto foram identificadas como enganosas em checagens do Comprova, Aos Fatos, Lupa e Yahoo.

O Comprova classifica como enganoso todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações e que confunda, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. O vídeo publicado no TikTok alcançou mais de 279 mil interações até 24 de outubro, sendo 126,6 mil curtidas, 9,1 mil comentários e 143,8 mil compartilhamentos.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova entrou em contato com o autor da publicação nos perfis do TikTok e Facebook, mas não houve resposta até a publicação desta verificação.

Como verificamos: A reportagem iniciou a checagem fazendo a transcrição da fala do ex-presidente exibida no vídeo do TikTok. Na sequência, pesquisando pelas palavras-chave “Lula” + “vídeo” + “pobre”, a consulta retornou, entre outros conteúdos, um sobre “vídeos de Lula falando mal dos pobres”.

Nessa publicação, há uma gravação com duração um pouco maior que o vídeo aqui investigado em que o presidenciável aparece com a mesma roupa e, em dado momento, ele cita o nome de um dos apresentadores do PodPah, Igão. O próximo passo foi pesquisar “Lula” + “Igão” e, então, foi possível identificar o conteúdo original.

Após assistir à entrevista, o trecho recortado foi registrado entre os 49 minutos e 58 segundos e 50 minutos e 05 segundos do vídeo.

A equipe também fez contato com o autor da postagem, tanto na plataforma de vídeo quanto em um perfil no Facebook, mas não houve resposta.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre eleições que viralizam nas redes sociais. Publicações falsas ou enganosas envolvendo candidatos à Presidência, como a do vídeo analisado pela equipe de reportagem, podem induzir a erros ou interpretações equivocadas por parte dos eleitores, que têm direito de fazer suas escolhas baseadas em informações confiáveis e verdadeiras.

Outras checagens sobre o tema: Conteúdo semelhante, que traz outra declaração de Lula sobre os pobres, já foi verificado pelo Comprova e pelas agências de checagem Aos Fatos e Lupa. O tema também foi alvo de verificação do portal Yahoo Notícias.

As eleições entram na reta final e os conteúdos de desinformação se espalham com mais velocidade. Nos últimos dias, o Comprova demonstrou que é mentira que homem em ato de Lula foi preso por tiros durante agenda de Tarcísio em São Paulo e também que é falso que o petista tenha defendido o uso de mentira na política e, ainda, que é enganoso que Paulo Guedes anunciou redução em aposentadorias.

Comprova Explica

Investigado por: 2022-10-24

Auditorias externas atestam confiabilidade de sistema eleitoral no 1º turno

  • Comprova Explica
Comprova Explica
Diante de uma série de postagens em redes sociais que questionam a lisura da votação em primeiro turno, no dia 2 de outubro, o Comprova explica as etapas de auditoria e fiscalização realizadas no sistema eletrônico de votação a partir de informações de entidades que fizeram parte do processo. Todas as instituições que enviaram respostas foram unânimes em afirmar que não foi encontrado nada que pudesse comprometer a segurança e confiabilidade do sistema.

Conteúdo analisado: Postagens que lançam dúvidas sobre a segurança e confiabilidade do sistema eletrônico de votação brasileiro.

Comprova Explica: Ao constatar uma série de postagens que questionam a lisura do primeiro turno das eleições, o Comprova apurou as conclusões das entidades fiscalizadoras do sistema eletrônico de votação após as etapas de auditoria realizadas antes, durante e após a votação do dia 2 de outubro.

Em resposta ao Comprova, o Tribunal de Contas da União (TCU), o Ministério Público Federal (MPF), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) afirmaram não terem encontrado vulnerabilidades capazes de trazer insegurança ao processo. Manifestação no mesmo sentido, por parte da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade de São Paulo (USP), Sociedade Brasileira de Computação (SBC) e Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), foram localizadas em documentos e notas disponíveis na internet.

Como verificamos: A partir da página Oportunidades de Auditoria e Fiscalização, no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Comprova buscou informações sobre cada etapa do processo de verificação das urnas. As buscas foram feitas no portal da instituição, com entidades fiscalizadoras do sistema eletrônico de votação e em veículos de imprensa.

As seguintes entidades foram questionadas sobre as conclusões a que chegaram: Tribunal de Contas da União, Ministério da Defesa, Ministério Público Federal, Polícia Federal, Senado Federal, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Sociedade Brasileira de Computação (SBC), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), que inspecionou os códigos-fonte da urna e dos sistemas de votação, também foi procurado.

No site do TSE, o Comprova localizou conclusões da Unicamp sobre a inspeção dos códigos-fonte da urna e do sistemas eleitorais; da USP sobre o Teste Público de Segurança (TPS); e de entidades internacionais que acompanharam a votação do primeiro turno. Já nos sites da SBC e da Abradep, foram localizadas notas em que as entidades apontam para a confiabilidade do processo eleitoral.

O PTB, a OAB e a SBC não responderam até o fechamento desta verificação. No site da SBC, há uma nota, publicada em 25 de julho, em que a entidade “confirma a sua confiança no atual sistema eletrônico de votação utilizado no processo eleitoral brasileiro”.

Dispositivos de auditoria e fiscalização do sistema eletrônico de votação

Os procedimentos de fiscalização e auditoria do sistema eletrônico de votação estão regulados pela Resolução nº 23.673, de 14 de dezembro de 2021, do TSE. Já a Portaria nº 578/2021, de 8 de setembro de 2021, criou a Comissão de Transparência Eleitoral (CTE), com o objetivo de “ampliar a fiscalização e transparência do processo eleitoral”. As entidades fiscalizadoras estão aptas a participar dos procedimentos, descritos na página Oportunidades de Auditoria e Fiscalização, no site do TSE.

Auditorias durante e após a votação

Procurado pelo Comprova, o TSE informou, por email, que apenas o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Ministério da Defesa fizeram verificações externas das urnas durante o primeiro turno de 2022.

O TCU realizou entre os dias 2 e 3 de outubro uma auditoria de 560 boletins de urna emitidos na votação do primeiro turno. Segundo o ministro e presidente em exercício do tribunal, Bruno Dantas, a análise, que checou o trabalho do TSE de conferir os votos registrados para os cargos de presidente, governador e senador, “não registrou nenhuma inconsistência de dado incorreto”.

Para o presidente em exercício do TCU, a fiscalização feita após o primeiro turno “evidenciou, uma vez mais, a transparência do sistema eleitoral brasileiro”. A corte disse que, depois da checagem feita nos dias 2 e 3 de outubro, deve fazer uma auditoria ainda maior sobre mais de 4 mil boletins de urna emitidos na votação de 2022. O resultado desse trabalho deve ser divulgado entre novembro e fevereiro de 2023. A avaliação da sistemática da votação eletrônica brasileira feita pelo TCU se dá no âmbito do processo 014.328/2021-6, de relatoria de Dantas.

Outra auditoria da votação do dia 2 de outubro foi feita pelas Forças Armadas, representadas pelo Ministério da Defesa. Ao Comprova, a assessoria de imprensa da pasta informou, por telefone, que o relatório da auditoria das Forças Armadas será divulgado apenas após a votação do segundo turno, ainda sem uma data definida.

Fora esses casos, a Justiça Eleitoral dispõe de outros meios para fiscalizar as urnas. O primeiro deles é a zerésima, documento impresso na própria urna no dia da votação que atesta que não há nenhum voto registrado no aparelho. Depois da impressão, os mesários guardam o documento e afixam cópias em local visível nas seções eleitorais. Apenas depois dessa verificação a votação pode começar.

Missões internacionais que vieram ao Brasil para observar o processo eleitoral acompanharam a emissão da zerésima e outros procedimentos feitos em algumas seções eleitorais do país no dia do primeiro turno. Relatórios preliminares desses grupos disponíveis no site do TSE dizem que as urnas brasileiras são seguras e parte deles menciona a zerésima. Não há relato de irregularidades nas seções visitadas.

Entre as entidades que acompanharam a eleição no Brasil estão a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a Organização dos Estados Americanos (OEA).

Outro procedimento feito no dia da votação é o Teste de Integridade. Conduzido por todos os Tribunais Regionais Eleitorais em um pequeno grupo de urnas, o teste simula a votação. Os participantes preenchem cédulas de papel com os números de candidatos, digitam esses números na urna e verificam no fim se os dados coincidem no boletim de urna (documento impresso pelo aparelho após a votação).

Em 2022, o teste foi ampliado para abranger um número maior de urnas, e foi realizado momentos antes da votação do primeiro turno em 641 urnas espalhadas no país, segundo o TSE. Partidos políticos e outras entidades fiscalizadoras acompanharam a simulação em todos os estados. O procedimento também foi filmado e pode ser conferido no YouTube. Segundo o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) não encontraram nenhuma irregularidade nos aparelhos testados.

“Como não poderia deixar de acontecer, todos os votos registrados na urna conferiram com os votos em papel”, disse em sessão plenária no tribunal no dia 6 de outubro. Segundo o TSE, os relatórios sobre os testes de integridade conduzidos tanto no primeiro quanto no segundo turno de 2022, que está marcado para o dia 30 de outubro, devem ser publicados até o dia 29 de novembro no Portal da Corte Eleitoral.

Ações feitas antes da votação

As ações realizadas antes das eleições estão expostas no item Auditoria e fiscalização, dentro da página do TSE dedicada ao tema ”urna eletrônica e segurança do processo eleitoral”. Elas estão distribuídas em sete tópicos, sendo que os dedicados aos Testes Públicos de Segurança permitem consultar as conclusões do relatório final, em 11 páginas.

A primeira etapa é a Abertura do código-fonte, que neste ano teve prazo mais longo, começando um ano antes do pleito. Nesta etapa, são abertos todos os sistemas da urna eletrônica, incluindo sistema operacional, bibliotecas, programas de criptografia e seus compiladores. São abertos também os sistemas usados na geração de mídias para as urnas eletrônicas e na transmissão, no recebimento e no gerenciamento dos arquivos de totalização. Todas as alterações nos sistemas são rastreáveis e ficam disponíveis para verificação das entidades fiscalizadoras.

A inspeção dos códigos-fonte dos sistemas utilizados na urna teve início em 4 de outubro de 2021 e prosseguiu até a conclusão (Terra, Band) da Cerimônia de Assinatura Digital e Lacração dos Sistemas Eleitorais, a um mês do primeiro turno. O Comprova contatou algumas entidades que realizaram a inspeção.

Ao Comprova, a Procuradoria Geral da República (PGR) respondeu que em todas as etapas de que participou o “Ministério Público não identificou nenhum aspecto que pudesse comprometer a segurança, a transparência e a auditabilidade das urnas eletrônicas e dos sistemas de apuração”.

Além da inspeção dos códigos-fonte, o Ministério Público Federal (MPF), órgão da PGR, participou do Teste Público de Segurança (TPS), da Cerimônia de Assinatura Digital e Lacração dos Sistemas, da verificação dos sistemas eleitorais instalados no TSE e dos destinados à transmissão dos boletins de urna, conforme detalhou a assessoria da PGR por e-mail.

Os códigos-fonte também foram inspecionados pela UFRGS, UFPE e Unicamp. Em 25 de agosto, o TSE publicou notícia sobre o recebimento do relatório de conclusão da UFPE, Unicamp e USP, e afirmou que “as instituições foram unânimes e categóricas em atestar a segurança dos sistemas e dos equipamentos”. No caso da USP, o relatório é sobre o Teste Público de Segurança (TPS), em que planos de ataques são executados para testar a integridade do sistema.

Os relatórios das universidades foram disponibilizados pelo TSE e estão nestes links: UFPE, Unicamp e USP.

Em contato com o Comprova, o professor Jéferson Campos Nobre, do Instituto de Informática da UFRGS, também afirmou que “não foi encontrada nenhuma vulnerabilidade, nada que indicasse algum problema com o sistema eletrônico de votação em relação à segurança”. O professor acrescenta que a UFRGS foi convidada para participar ainda do Teste de Integridade pelo TRE. “A nossa avaliação é que o sistema eletrônico de votação é muito seguro, muito confiável”, diz o professor.

As Forças Armadas, a Polícia Federal, o Senado Federal e o PTB também inspecionaram o código-fonte da urna e dos sistemas de votação. Ao Comprova, a assessoria do Senado disse que as avaliações estão cobertas por Termo de Sigilo e Confidencialidade. Já a Polícia Federal encaminhou um link sobre a inspeção das urnas, mas não informou a conclusão do trabalho. O Ministério da Defesa informou que a avaliação sobre os códigos-fonte irá compor o relatório de auditoria das Forças Armadas, que será divulgado após o fim da votação em segundo turno. O PTB não respondeu.

Teste Público de Segurança (TPS)

Faltando 11 meses para a eleição, foi iniciado o Teste Público de Segurança (TPS), etapa na qual a Justiça Eleitoral disponibiliza as urnas eletrônicas e os sistemas a serem usados na próxima eleição para ataques, em busca de possíveis vulnerabilidades. Diferentemente da etapa anterior, além de ter acesso ao código-fonte, os investigadores podem propor e executar planos de ataques e verificar sua efetividade.

Para as eleições de 2022, 26 investigadores realizaram 29 planos de ataques e quatro deles tiveram algum tipo de “achado”. A Justiça Eleitoral fez os ajustes sugeridos e, seis meses antes da eleição, ocorreu o Teste de Confirmação do TPS, para que as entidades verificassem a resolução de eventuais problemas. O teste foi acompanhado por comissão formada por TSE, MPF, Congresso Nacional, TCU, PF, SBC, Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e Universidade de Brasília (UnB).

O resultado consta no relatório final da comissão avaliadora. O documento mostra que os investigadores não conseguiram chegar à manipulação de voto. Ou seja, as tentativas de ataques contra o software não tiveram sucesso e sugestões de melhorias foram acatadas.

Dois meses antes do pleito, há a cerimônia de assinatura digital e lacração dos sistemas, na qual o TSE assina digitalmente todos os sistemas que serão usados nas eleições. Essa medida impede que haja qualquer mudança nos arquivos. Um mês depois, os TREs convocam os partidos políticos, coligações, Ministério Público e OAB para acompanharem os trabalhos de gerar os dados que serão carregados nas urnas eletrônicas para a eleição. A etapa final antes do dia da votação se dá na véspera da eleição, quando as entidades fiscalizadoras podem verificar, em cerimônia pública, a integridade e a autenticidade dos sistemas eleitorais de transmissão de dados instalados nos equipamentos do TSE ou das zonas eleitorais.

Checagens esclarecem boatos sobre fraude

No dia da votação do primeiro turno e ao longo das semanas seguintes, iniciativas que trabalham na verificação de conteúdo publicado na internet ajudaram a apontar narrativas falsas e enganosas sobre a eleição brasileira. O Comprova mostrou, por exemplo, que é falso que a cidade de Barreiras, na Bahia, registrou número de votos em Lula superior à população do município. Além disso, não há comprovação de que uma urna tenha impedido voto em Bolsonaro no Pará e é falso que o Exército tenha interferido na apuração de votos para presidente.

Após a eleição, publicações também tentaram enganar o eleitor ao inventar dados sobre cidades para insinuar fraude eleitoral a favor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e alegar que um algoritmo teria fraudado as urnas em favor do petista. Os dois casos foram classificados pelo Comprova como falsos.

O TSE também mostrou que o comprovante de votação do segundo turno foi entregue por engano a um eleitor de Belém (PA), que não votou duas vezes e que um eleitor pressionou duas teclas ao mesmo tempo para simular problema na votação para presidente em Novo Hamburgo (RS).

Por que explicamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que viralizaram nas redes sociais. A seção Comprova Explica é usada para a divulgação de informações a partir de conteúdos que estão causando confusão, como as diversas mensagens e posts sugerindo fraude eleitoral que circularam e circulam nas redes sociais antes, durante e após o pleito de 2022. Esses conteúdos apontam erroneamente fragilidade nas urnas eletrônicas, desrespeito ao sigilo de voto e manipulação do sistema eleitoral em favor de candidatos. Conteúdos falsos, enganosos ou fora de contexto sobre a contagem de votos e o processo eleitoral podem criar suposições sem fundamentos sobre o pleito, prejudicando a decisão dos eleitores, as eleições, as instituições e a democracia brasileira.

Outras checagens sobre o tema: A página Fato ou Boato, do TSE, e a Agência Lupa esclareceram logo depois do primeiro turno que vídeo que apontava 55% dos votos para Bolsonaro não provava uma falha do TSE, mas indicava o resultado do primeiro turno no Paraná.

O Estadão Verifica também mostrou ser falso que a totalização de votos a cada intervalo de 12% indique fraude no primeiro turno das eleições.

Desinformações que põem em xeque o processo eleitoral do país têm sido recorrentes nos últimos anos. Em 2020, o Boatos.org desmentiu documento que atribuía vitória a Bolsonaro e fraude no 1º turno das eleições de 2018.

Em checagens recentes sobre a eleição, o Comprova mostrou que Marcelo Madureira não é autor de texto com críticas a Lula; ator declarou voto no petista, que vídeo mente ao insinuar que protesto em Recife teria sido convocado por Lula e que é enganoso que Paulo Guedes anunciou redução em aposentadorias e outros benefícios do INSS.

Eleições

Investigado por: 2022-10-24

É falso que homem em ato de Lula tenha sido preso por tiroteio durante agenda de Tarcísio em SP

  • Falso
Falso
É falso que o autor de disparos enquanto o candidato ao governo paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) visitava a comunidade de Paraisópolis, em São Paulo, seja o mesmo homem que aparece em vídeo ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em ato de campanha. O apoiador do petista é Anderson Mamede, líder comunitário do Nordeste de Amaralina, bairro na região sul de Salvador, na Bahia. Além disso, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) diz que não é possível falar em atentado contra Tarcísio, ao contrário do que afirmam os posts virais. Os conteúdos desinformam ainda ao dizer que o evento de campanha do petista era no Rio de Janeiro, quando, na verdade, foi na capital baiana.

Conteúdo investigado: Posts em vídeo mostram foto de três homens detidos, em um carro de polícia, com destaque para um deles. A seguir, os conteúdos mostram uma gravação de Lula em meio a multidão e o momento em que ele acaricia a cabeça de um apoiador que, segundo os posts, seria o homem da foto, detido após tiroteio durante ato de campanha do candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas, na capital paulista.

Onde foi publicado: Kwai, TikTok e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falso que o homem que aparece ao lado do candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em vídeo gravado durante ato de campanha tenha sido preso como suspeito por tiros durante ato de campanhado candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) em uma comunidade paulista, ao contrário do que afirmam posts nas redes sociais. O homem a quem os conteúdos mentirosos se referem como suspeito de crime é, na verdade, Anderson Mamede, líder comunitário que preside a Associação Cultural Nordeste de Amaralina (ACNA), em Salvador.

Além de mentir sobre quem é o homem, os conteúdos desinformam ao dizer que o que ocorreu com Tarcísio foi um atentado. De fato, houve um tiroteio no momento em que ele visitava Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, em 17 de outubro, mas os tiros foram em um local próximo ao que ele estava, e não direcionados a ele. Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), o caso é investigado pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). Um suspeito foi baleado após entrar em confronto com policiais militares. Ele foi socorrido no Hospital Campo Limpo, mas não resistiu. Um segundo suspeito foi identificado e está foragido, informou, em nota, a pasta de Segurança do governo de São Paulo.

Outra mentira dos posts é que o ato de campanha onde o homem que aparece no vídeo estava foi no Rio de Janeiro. Como verificado pelo Comprova, a gravação ao lado de Lula foi feita em Salvador.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 19 de outubro, os dois vídeos publicados no Kwai somavam 171 mil visualizações. No mesmo dia esses conteúdos foram apagados.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova procurou os responsáveis pela publicação por meio de mensagens diretas no Kwai. Um deles tornou seu perfil privado assim que visualizou as mensagens e não deu retorno até a publicação desta checagem.

Outro usuário alegou que o vídeo não foi produzido por ele e afirmou que fez apenas um dueto, modo em que um perfil compartilha uma interação com a postagem de outra pessoa.

Os conteúdos não estão mais disponíveis no Kwai e no TikTok.

Como verificamos: Iniciamos a verificação pesquisando no Google por “homem envolvido em atentado contra Tarcísio estava em comício de Lula no RJ”. Chegamos a outras checagens que também investigaram o mesmo conteúdo, tais como as agências de checagens Aos Fatos, Estadão Verifica e Fato ou Fake, do G1.

Entrevistamos Mamede e procuramos também as secretarias de segurança pública de São Paulo e da Bahia. Recebemos notas das duas pastas.

O homem no vídeo

Os conteúdos verificados unem diferentes imagens. Inicialmente, há uma foto que mostra três homens detidos e uma marcação em um deles. Depois, aparece o vídeo de um apoiador junto a Lula durante uma passeata. As publicações relacionam o homem indicado na primeira imagem com o que surge na gravação posterior.

Quem aparece próximo a Lula no vídeo usado nos posts aqui verificados é Anderson Mamede, líder comunitário do Nordeste de Amaralina, bairro na região sul de Salvador. Conhecido como Dakota ou Rasta, ele é presidente da Associação Cultural Nordeste de Amaralina.

Ao Comprova, Mamede disse que o conteúdo de desinformação coloca sua vida em risco. “Eu, pai de família, faço trabalho social no bairro e fazem uma palhaçada dessas”, afirmou.

O vídeo usado nos posts falsos foi feito por ele mesmo, em 12 de outubro, durante um ato de campanha de Lula em Salvador –e não no Rio de Janeiro, como afirmam as peças de desinformação. Mamede conta que, antes de ir ao comício, comandou uma ação social em seu bairro. À reportagem, ele enviou fotos desse momento, mostrando que estava com a mesma camiseta com a qual aparece no vídeo falso. “Como eu sou querido no bairro, na cidade, a mentira foi desmentida.”

I Legenda: Anderson Mamede em ação social, com a mesma camiseta em que aparece no vídeo que viralizou.

Já na foto usada nos posts falsos, ele aparece ao lado de outros dois homens, com as mãos aparentemente algemadas para trás, em um camburão. A partir dessa imagem, os conteúdos afirmam que ele teria sido preso por suspeita de envolvimento com os disparos em Paraisópolis, o que não é verdade. Uma outra versão, anterior a essa, afirmava que ele era traficante no Rio de Janeiro.

“Isso aí, me relacionam ao crime pelo fato de eu ter uma foto como se eu estivesse preso, mas, na verdade, eu fui levado para a delegacia para a averiguação”, diz Mamede. “Quem mora em favela, em comunidade, já sabe como é o tratamento, vai para averiguação como se fosse preso, é algema na mão, algema no pé”, contou ele ao Comprova, sobre o episódio ocorrido em 2019.

Em nota, a SSP-BA informou ser mentira que “uma pessoa de apelido Rasta lidere uma organização criminosa, no Complexo do Nordeste de Amaralina”. O órgão afirma ainda que o “homem que tem a sua imagem atribuída, nas redes sociais, a esse suposto criminoso, registrou um Boletim de Ocorrência na 28ª Delegacia Territorial do Nordeste de Amaralina”.

Mamede enviou à reportagem a imagem do boletim, registrado em 17 de outubro. Nele, ele disse ter sido alertado por familiares e amigos que sua imagem estava circulando em redes sociais como se ele fosse um traficante do Nordeste de Amaralina. “Preocupado, atônito e temendo por sua integridade física ou até mesmo por sua vida, (…) e sem ter ideia de quem produziu e divulgou o vídeo, veio prestar queixa”, finaliza o documento.

Ato em Salvador

Diferentemente do que os posts afirmam, o vídeo em que Lula aparece foi gravado em Salvador e não no Rio de Janeiro. O petista esteve na capital baiana em 12 de outubro e, como mostra a Folha, participou de evento no Farol da Barra, onde Mamede gravou o vídeo.

É possível confirmar que o ato em que Mamede se aproxima de Lula foi este,em Salvador pela roupa do ex-presidente e detalhes do carro em que ele está, que tem cordas verdes sobre a capota.

I Legenda: Cordas verdes amarradas em carro no vídeo viral e em foto de Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial de Lula

Tiroteio em Paraisópolis

Ao contrário do que afirmam os posts verificados aqui, o que ocorreu em Paraisópolis, em São Paulo, em 17 de outubro, não é considerado pela Polícia Militar como um atentado contra Tarcísio de Freitas. No momento em que visitava a comunidade paulistana, para participar da inauguração de um polo universitário, o candidato e sua equipe foram surpreendidos por um tiroteio próximo ao local em que estavam. Inicialmente, o político postou em sua conta no Twitter que haviam sido “atacados por criminosos”.

Em seguida, viralizaram nas redes posts falsos falando ter sido um atentado, versão que foi descartada pela polícia. Na tarde do mesmo dia, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, general João Camilo Pires de Campos, afirmou que era prematuro afirmar que houve um atentado.

Mais tarde, durante pronunciamento à imprensa, Tarcísio afirmou que o tiroteio tinha relação com uma “questão territorial”.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais que viralizam nas redes sociais. Publicações falsas ou enganosas envolvendo candidatos à presidência, como a peça alvo desta verificação, podem induzir o cidadão a interpretações equivocadas sobre a realidade e influenciar eleitores no momento da votação. Os cidadãos têm o direito de basear suas escolhas em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: As agências de checagens Aos Fatos, o Estadão Verifica, AFP Checamos e o Portal G1 também investigaram o mesmo conteúdo.

Recentemente, o Comprova mostrou que sinal de ‘L’ feito por traficantes não é referência a Lula e, sim, saudação de facção que atua no Rio de Janeiro, que militantes petistas não invadiram igreja em Joinville e, na verdade, manifestação aconteceu em pátio da instituição de ensino após demissão de professora, e que é enganoso que Paulo Guedes anunciou redução em aposentadorias e outros benefícios do INSS.

Eleições

Investigado por: 2022-10-21

Marcelo Madureira não é autor de texto com críticas a Lula; ator declarou voto no petista

  • Falso
Falso
É falso vídeo que atribui texto com críticas ao ex-presidente e candidato à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do humorista Marcelo Madureira, um dos integrantes do antigo programa de televisão Casseta & Planeta. O ator, inclusive, publicou tuíte desmentindo ter escrito o texto, que circula nas redes sociais pelo menos desde 2013.

Conteúdo investigado: Vídeo publicado no TikTok mostra texto atribuído ao humorista Marcelo Madureira, integrante do antigo programa de televisão Casseta & Planeta, da Rede Globo, com críticas ao ex-presidente e candidato à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Intituladas “Volta, Lula!”, diferentes versões desse conteúdo foram divulgadas nas redes sociais, pelo menos desde 2013. Desta vez, o conteúdo volta a viralizar no mesmo momento em que o ator declarou apoio ao candidato petista.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É falso que o ator e humorista Marcelo Madureira seja o autor do texto “Volta, Lula!”, com uma série de críticas ao petista. No dia 9 de outubro, o artista publicou um tuíte negando a autoria do conteúdo. “Voltou a circular na internet um texto atribuído a mim, chamado “Volta, Lula!”. Quero dizer que este texto NÃO é meu. Eu nunca publiquei ou compartilhei esse material”, disse. Em 2016, o mesmo conteúdo foi atribuído a Madureira, como mostrou o Boatos.org, que desmentiu o boato na época. O texto apareceu também, em 2013, no Facebook, mas sem autoria atribuída.

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: A publicação alvo da checagem tinha 708,6 mil visualizações e quase 32,8 mil curtidas, 1.752 comentários no Tik Tok até o dia 21 de outubro de 2022. A publicação também teve 45,8 mil compartilhamentos no WhatsApp.

O que diz o responsável pela publicação: Por meio do TikTok, o Comprova tentou contato com a responsável por publicar o vídeo na rede social. Porém, a plataforma permite que apenas contas que se seguem mutuamente possam enviar mensagens entre si, o que impossibilitou o contato com a autora do post. O perfil também foi encontrado no Instagram, mas não retornou às tentativas de contato.

O Comprova também entrou em contato com o perfil que publicou o texto no Facebook, em 2013, no que parece ser a primeira vez que o conteúdo foi publicado na rede social, mas não recebeu retorno.

Como verificamos: O Comprova procurou, primeiro, por declarações oficiais do próprio Madureira e encontrou a publicação em que ele desmente que seja o autor do conteúdo verificado e reclama do fato dessa desinformação circular há anos. Também procuramos por outras ocorrências do texto nas redes sociais para tentar identificar o autor verdadeiro, mas nenhuma das publicações traz essa informação.

O vídeo

Um texto intitulado “Volta, Lula!” circula nas redes sociais desde, pelo menos, 2013. Nos anos seguintes, passou a ter sua autoria atribuída a Marcelo Madureira. O conteúdo traz uma série de críticas aos governos do ex-presidente Lula, com alegações sobre mensalão, transposição do Rio São Francisco, SUS, Petrobras e outros temas que costumam estar presentes nos discursos de adversários do petista.

Na publicação analisada, o texto é divulgado em um vídeo, no TikTok, mas, antes, circulou em redes sociais como Twitter e Facebook. Nem sempre ele está escrito da mesma forma e foi passando por mudanças ao longo dos anos, com a inclusão de temas que foram sendo inseridos no discurso antipetista.

Em 2016, por exemplo, o Boatos.org verificou um texto que, diferentemente do que foi analisado aqui, trazia uma referência ao ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), agora eleito senador pelo Paraná.

Marcelo Madureira nega

Embora tenha circulado em todos os anos desde 2013, o conteúdo voltou a viralizar neste mês no mesmo momento em que Madureira declarou apoio a Lula. O ator já havia desmentido que teria escrito o texto, mas precisou voltar a se pronunciar para negar.

Ao desmentir seu vínculo com o texto, Madureira acrescentou que já fez críticas ao PT, mas que, hoje, apoia a eleição de Lula. “Embora já fiz críticas ao PT, hoje faz-se necessário unir forças para que o governo Bolsonaro não permaneça em 2023. Justamente por isso e por defender a democracia, votarei no Lula neste segundo turno”, escreveu.

No dia 10 de outubro, Madureira esteve em São Paulo para declarar apoio ao ex-presidente nas eleições de 2022.

Lula chegou a publicar uma foto com o ator, acompanhada da legenda: “Frente ampla pela democracia e contra Bolsonaro com Marcelo Madureira”. O apoio surpreendeu seguidores do ator nas redes sociais, devido ao seu voto em Jair Bolsonaro (PL) na eleição de 2018.

Em 2019, no entanto, o humorista já havia se posicionado contra o atual presidente da República. Em protesto contra o projeto que endurecia punições para situações de abuso de autoridade, em Copacabana, no Rio de Janeiro, Madureira chegou a ser expulso de um carro de som pelas críticas a Bolsonaro. “Não tenho medo de vaias. Votei no Bolsonaro e vou criticar todas as vezes que for necessário”, disse na época.

Conteúdo tem uma alegação enganosa

Além de críticas comuns a opositores do ex-presidente Lula, o texto checado pelo Comprova contém também uma alegação enganosa. A mensagem diz que Lula teria doado duas refinarias de petróleo para a Bolívia, o que é enganoso.

Como já mostraram agências de checagem (Estadão Verifica, Aos Fatos), a Petrobras recebeu duas parcelas de US$ 56 milhões para transferir o controle das instalações ao governo de Evo Morales. As refinarias foram compradas pelo Brasil em 1999, por US$ 102 milhões.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais que viralizam nas redes sociais. Publicações falsas ou enganosas envolvendo candidatos à Presidência, como o vídeo aqui verificado, podem induzir a interpretações equivocadas da realidade e influenciar eleitores no momento da votação. Os cidadãos têm direito de basear suas escolhas em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: O Boatos.org desmentiu pela segunda vez que o texto tenha sido escrito por Marcelo Madureira. A primeira verificação foi feita em 2016, quando o mesmo conteúdo viralizou.

O Projeto Comprova já mostrou ser montagem um tuíte atribuído a Jair Bolsonaro com menção de acabar com o feriado de Nossa Senhora Aparecida. Também mostrou ser falso que Lula tenha defendido o uso de mentiras na política. Além disso, foi mostrado que há conteúdos enganosos circulando sobre empréstimos do BNDES nas gestões do ex-presidente.

Eleições

Investigado por: 2022-10-21

Vídeo mente ao insinuar que protesto em Recife teria sido convocado por Lula

  • Falso
Falso
É falso que o protesto realizado no centro de Recife, no dia 13 de outubro deste ano, tenha sido convocado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como afirmado em vídeo. A manifestação foi realizada pelo Movimento de Luta e Resistência pelo Teto (MLRT) e a fala do candidato do PT utilizada no vídeo é de um discurso, de abril de 2018, feito em São Bernardo do Campo (SP).

Conteúdo investigado: Vídeo que sugere que protesto realizado em Recife (PE), em outubro deste ano, teria sido convocado por Lula. As imagens mostram uma manifestação enquanto a narração afirma que os participantes são “o pessoal do PT” e, em seguida, surge uma cena com fala de Lula sobre ocupações e queima de pneus.

Onde foi publicado: YouTube. Um vídeo similar também circula no Twitter.

Conclusão do Comprova: É falso que o protesto realizado no centro de Recife, em outubro deste ano, tenha sido convocado por Lula. A manifestação foi realizada pelo Movimento de Luta e Resistência pelo Teto e cobrava respostas sobre o que será feito com as famílias que ocupam o prédio Segadas Viana, no centro da capital pernambucana, após o fim do prazo para a reintegração de posse, em 31 de outubro. O protesto interditou o cruzamento da Ponte Maurício de Nassau com a Avenida Martins de Barros e a Rua do Imperador, no bairro de Santo Antônio, por cerca de uma hora.

O vídeo utilizado para insinuar que a manifestação teria sido convocada pelo candidato do PT é, na verdade, trecho de discurso feito pelo ex-presidente em São Bernardo do Campo (SP), em 2018, antes de se entregar à Polícia Federal para cumprir pena de prisão estabelecida em processos da Lava-Jato. As condenações de Lula foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 15 de abril de 2021. Na íntegra, Lula incentiva os apoiadores a darem continuidade às lutas sociais, mesmo sem a presença dele.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Antes de ser apagado pelo autor da postagem, o vídeo somava mais de 15 mil curtidas e cerca de 2 mil comentários, além de 200 mil visualizações.

O que diz o responsável pela publicação: O autor da publicação é Odécio Carneiro (Solidariedade), ex-vereador de Recife e atual suplente de deputado estadual no Ceará. O Comprova tentou contato com Carneiro e não houve resposta até a publicação desta verificação. Contudo, após as tentativas, o vídeo foi retirado da plataforma.

Como verificamos: Inicialmente procuramos registros de protesto na data e local citados no vídeo. Ao pesquisarmos no Google, encontramos matérias nos portais de notícia G1 e Folha de Pernambuco. A interdição durou pouco mais de uma hora e ocorreu no fim da manhã do dia 13 de outubro.

Na pesquisa, também chegamos a reportagens publicadas pela Folha de São Paulo e Agência Lupa, que afirmam que o protesto teria sido realizado pelo MLRT contra a reintegração de posse do prédio Segadas Vianna, pertencente ao INSS e que está ocupado, desde 2021, por cerca de 400 pessoas ligadas ao movimento. Segundo os textos, o ato teria sido motivado pelo fato de que será permitida a realização de reintegração de posse a partir de 31 de outubro, porém as autoridades ainda não responderam para onde as famílias serão levadas.

No vídeo, é possível ver a bandeira do movimento com a sigla MLRT.

| Capturas de tela do vídeo verificado, nas quais pode-se ver a bandeira do MLRT

Procurado, o Movimento de Luta e Resistência pelo Teto não respondeu ao contato do Comprova.

Para entrar em contato com o responsável pela publicação do vídeo, buscamos no Google pelo nome que consta no canal no YouTube. Entre os principais resultados foram encontrados os perfis do ex-vereador no Facebook e no Instagram, e ainda dois endereços de e-mail atribuídos a ele. Apesar das tentativas de contato por esses quatro canais, não houve resposta até a publicação desta verificação.

Fala de Lula utilizada em vídeo é de 2018

O vídeo em circulação une imagens do protesto de 13 de outubro, no Recife, com discurso de Lula em cima de um palanque, feito em outra oportunidade, para insinuar que os protestos estariam sendo convocados pelo candidato do PT. No trecho recortado, Lula aparece dizendo: “eles têm que saber que vocês, quem sabe, são até mais inteligentes do que eu e poderão queimar os pneus que vocês tanto queimam, fazer as passeatas que tanto vocês queima (sic), fazer as ocupações no campo e na cidade”.

O trecho faz parte de pronunciamento realizado pelo candidato do PT no dia 7 de abril de 2018, em São Bernardo do Campo, antes de se entregar à Polícia Federal. O discurso pode ser conferido, na íntegra, no canal do Youtube do Partido dos Trabalhadores. Nele, o ex-presidente incentiva os apoiadores a darem continuidade a lutas sociais. A partir dos 45 minutos do vídeo, é possível ouvir o trecho em questão.

O diretório do Partido dos Trabalhadores no estado de Pernambuco foi questionado sobre o conteúdo do vídeo e a manifestação mostrada nas imagens, mas informou que não foi possível contato com o presidente do PT-PE, Doriel Barros, que está em agenda no interior do estado. O Comprova também pediu esclarecimentos à assessoria de imprensa do candidato Lula sobre a manifestação e o discurso mostrado nas imagens verificadas, entretanto não houve resposta.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet relacionados às eleições presidenciais de 2022, à pandemia e a políticas públicas do governo federal. O conteúdo aqui investigado é uma montagem de dois vídeos tirados de contexto e atribui falsamente ao PT uma manifestação do MLRT, contra a reintegração de posse do prédio do INSS em Recife. A disseminação de peças de desinformação é uma prática nociva à democracia, porque a população tem direito de fazer suas escolhas baseadas em conteúdos confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova tem desmentido frequentemente conteúdos relacionados aos presidenciáveis que concorrem neste segundo turno das eleições. Recentemente, mostrou que um vídeo que mostra confusão entre petistas de Sergipe é de 2013 e não envolve ato de Lula, que um vídeo foi editado para mostrar Bolsonaro à frente na pesquisa Ipec sobre segundo turno, e também que militantes não invadiram igreja em Joinville, na verdade, tal manifestação aconteceu em pátio de uma instituição de ensino após demissão de professora.

Outras agências de checagem e jornais já desmentiram o conteúdo verificado, como Lupa, Estadão Verifica, e Folha de São Paulo.

Eleições

Investigado por: 2022-10-21

É enganoso que Paulo Guedes anunciou redução em aposentadorias e outros benefícios do INSS

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso que o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou que aposentadorias e outros benefícios pagos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) não vão mais ser reajustados pela inflação a partir de 2023. A alegação enganosa foi feita pelo deputado federal André Janones (Avante-MG) em vídeo publicado no Instagram e no Twitter. Na verdade, Paulo Guedes tem uma proposta para que os benefícios deixem de ser vinculados à inflação do ano anterior e passem a ser corrigidos pela expectativa da inflação do ano corrente. O projeto, entretanto, não foi formalmente apresentado.

Conteúdo investigado: Vídeo no qual o deputado federal André Janones (Avante-MG) relata estar saindo de uma reunião no Ministério da Economia, em Brasília. Ele afirma que o ministro titular da pasta, Paulo Guedes, anunciou no encontro a redução dos valores de aposentadorias e outros benefícios pagos pelo INSS a partir de 2023. Segundo o deputado, os aumentos nos valores dos benefícios deixariam de ser reajustados pelos índices de inflação, medida atual utilizada para fazer o cálculo.

Onde foi publicado: Instagram e Twitter.

Conclusão do Comprova: O ministro Paulo Guedes não anunciou a redução do reajuste nos valores das aposentadorias e outros benefícios pagos pelo INSS a partir de 2023, como afirma vídeo do deputado federal André Janones.

Na verdade, a pasta pretende apresentar uma proposta, caso Jair Bolsonaro (PL) seja reeleito, para mudar a forma de cálculo do reajuste dos benefícios. Com a medida, o salário mínimo e os benefícios pagos pelo INSS deixariam de ser reajustados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação, e passariam a ser reajustados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ou pela projeção da inflação do ano seguinte. A medida, se implantada, poderá diminuir o valor anual de reajuste dos benefícios.

Como a medida altera a Constituição, ela precisaria ser apresentada em forma de Proposta de Emenda à Constituição (PEC) e para que seja aprovada, é necessário que três quintos dos parlamentares votem a favor em dois turnos em cada Casa do Congresso.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Até do dia 21 de outubro, o vídeo tinha 1,5 milhão de visualizações, 103 mil curtidas e 12,7 mil comentários no Instagram. No Twitter, eram 875 mil visualizações, 6.400 comentários, 63,1 mil likes e 27,2 compartilhamentos.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova fez contato com a assessoria do deputado federal André Janones, autor do vídeo. Até o fechamento do texto, ele não havia retornado.

Como verificamos: Procuramos por conteúdos relacionados a aposentadoria e outros benefícios, além do nome de Paulo Guedes, ministro da Economia. Encontramos uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo que detalha a proposta de Guedes, mas em nenhum momento dá a medida como concretizada.

Ainda fizemos contato com as assessorias de imprensa do Ministério da Economia e do deputado federal André Janones. Até o fechamento do texto, ambos não haviam respondido.

Paulo Guedes tem proposta de mudança no reajuste da aposentadoria

Na quarta-feira (19), o jornal Folha de S. Paulo divulgou matéria que teve acesso a trechos de uma proposta do ministro da Economia, Paulo Guedes, a ser apresentada em caso de reeleição de Jair Bolsonaro. O documento, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), teria o objetivo de reformular o teto de gastos e frear o crescimento de despesas, como é o caso dos benefícios previdenciários. Para que uma PEC seja aprovada, é necessário que ela seja discutida e votada em dois turnos na Câmara e no Senado, além de ter três quintos dos votos dos deputados (308) e dos senadores (49).

Hoje, os benefícios previdenciários são reajustados anualmente de acordo com o INPC, que também mede a inflação. Além disso, o segurado do INSS não pode receber um valor menor do que o salário mínimo vigente.

Com a proposta, os benefícios deixariam de ser vinculados à inflação do ano anterior e passariam a ser corrigidos pela expectativa da inflação do ano corrente. O mesmo aconteceria com o salário mínimo. Com isso, há a possibilidade que o reajuste seja menor do que a inflação. Outra proposta é parar de usar o INPC e passar a usar o IPCA, que costuma ser menor.

Em 2021, o INPC teve alta de 10,16%, já o IPCA, 3,5%. Ou seja, caso a proposta já fosse válida, o salário mínimo de 2022 ficaria em R$ 1.138,50. Pelo INPC, o valor reajustado foi de R$ 1.212. A previsão do INPC para 2022 é de 4,97%, de acordo com o último Boletim Focus, do Banco Central do Brasil. Se esse fosse o índice usado para o reajuste, o salário mínimo ficaria em R$ 1.154.

Após a repercussão da proposta, nesta quinta-feira (20), Paulo Guedes disse que os reajustes da aposentadoria e do salário mínimo estão mantidos para o próximo ano. “O jogo está correndo. É claro que agora em janeiro, fevereiro, os aposentados e o salário mínimo serão corrigidos pelo menos igual à inflação”, afirmou. Ele confirmou a intenção de mudar o teto de gastos, mas disse que a medida não terá impacto em aposentados e pensionistas.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais que viralizam nas redes sociais. Publicações falsas ou enganosas podem induzir a interpretações equivocadas da realidade e influenciar eleitores no momento da votação. Os cidadãos têm direito de basear suas escolhas em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: Nos últimos dias, em checagens envolvendo as eleições, o Comprova mostrou que militantes não invadiram igreja em Joinville, que grupo se passava por pesquisadores para pedir votos para Bolsonaro, em Alagoas, e explicou o que se sabe sobre o Caso Celso Daniel.

Eleições

Investigado por: 2022-10-21

Vídeo engana ao sugerir que Lula forçou beijo em comício

  • Enganoso
Enganoso
Narração usada em vídeos publicados nas redes sociais engana ao passar a impressão que o ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria a intenção de dar beijo na boca de uma menina durante evento de campanha para o segundo turno das eleições de 2022. Os trechos foram retirados de uma transmissão da visita do candidato ao Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, no último dia 12 de outubro. Por expor a criança que aparece juntamente com Lula no conteúdo desinformativo, a Defensoria Pública do Rio de Janeiro entendeu que as postagens com afirmações de cunho sexual ferem a integridade da menina.

Conteúdo investigado: Vídeo em que um homem narra imagens do ex-presidente Lula abraçando uma menina e dando um beijo em sua testa: “Tire suas conclusões, isso sim é de se preocupar”. Com a narração, a cena passa a impressão de que o petista iria beijar a boca da criança. No momento da aproximação do ex-presidente, há uma segunda narração: “Aí parece que ele lembrou que estava em público”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Vídeos que circulam no TikTok tentam, de forma enganosa, sugerir que o ex-presidente Lula teria tentado beijar uma criança na boca. O conteúdo checado narra trecho de transmissão feita no canal oficial do Lula no YouTube durante visita do petista ao Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, no momento em que ele interage com uma criança da comunidade. O autor da narração sugere que Lula iria beijar a menina na boca, mas que, ao lembrar que estava em público, acabou beijando a sua testa. No vídeo original, é possível perceber que o candidato abraça a garota e, após a fala dela, tenta dar um beijo na bochecha. Por ela estar com o rosto no ombro do político, ele não alcança sua bochecha direita, desvia e a beija na testa.

Após a solicitação da Defensoria Pública, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro determinou a remoção dos vídeos enganosos das redes sociais por entender que as publicações “distorcem vídeo em que o petista aparece abraçando uma menina de sete anos” e expõem, de forma indevida, a imagem da criança. Isso porque o rosto dela não foi borrado em nenhuma das imagens.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 19 de outubro, os vídeos veiculados no TikTok alcançaram, juntos, mais de 1 milhão de visualizações. No entanto, as postagens foram removidas da plataforma no mesmo dia, a pedido da Defensoria Pública do Rio de Janeiro.

O que diz o responsável pela publicação: Como o TikTok não permite o envio de mensagens entre contas que não se seguem mutuamente, o Comprova buscou os dois usuários em outras redes sociais e encontrou perfis no Instagram. A reportagem encaminhou mensagens para os responsáveis pela publicação e aguarda retorno.

Como verificamos: Iniciamos a verificação buscando no Google pela expressão “Lula beija criança”, que retornou conteúdo já apurado pelo UOL e uma reportagem publicada pelo Conjur – revista eletrônica de Justiça e Direito – que trata de decisão determinando a retirada do ar de vídeo que associa o ex-presidente ao crime de pedofilia.

Também acessamos o canal de Lula no YouTube, onde está disponível a transmissão da visita do petista ao Complexo do Alemão, no último dia 12 de outubro, para entender o contexto da cena em que ele abraça a criança.

Buscamos um posicionamento da assessoria de Lula a respeito do episódio, bem como os perfis nas redes sociais dos autores da publicação analisada nesta checagem.

Vídeo original é do dia 12 de outubro, durante visita de Lula ao Complexo do Alemão (RJ)

A gravação original mostra a menina de sete anos abraçada ao candidato à presidência pelo PT, Lula. Na ocasião, ela fala que apoia o político mesmo não podendo votar ainda. A partir do minuto 25:30, o vídeo mostra quando a criança sobe ao palco e o ex-presidente entrega a ela o microfone para falar.

“Mesmo não podendo votar, o meu apoio é precioso pelo Lula. E, quando ele for presidente, o senhor vai ter que cumprir suas missões, que é tirar o povo pobre desse sofrimento, baixar os preços e reformar escolas”, diz a criança.

Após se pronunciar, ela vira o rosto e o apoia no ombro do petista, que a abraça e tenta dar um beijo na bochecha direita, mas a menina se move e o político acaba beijando a testa da garota. O vídeo foi transmitido ao vivo no dia 12 de outubro deste ano, pelo canal oficial de Lula no YouTube.

Na postagem enganosa, o seguinte texto é inserido sobre as imagens do vídeo: “Nojento! Durante comício neste sábado, Lula tentou beijar a boca de uma criança”. A publicação dá a entender que o vídeo teria sido gravado no sábado, dia 15 de outubro, e que Lula teria tentado beijar a boca de uma criança.

Procurada pelo Comprova, a assessoria de imprensa do ex-presidente afirmou que “o bolsonarismo tem investido em todo o tipo de fake news para influenciar a eleição de 2022”.

Justiça pede remoção do conteúdo enganoso

Em 18 de outubro, a Defensoria Pública do Rio de Janeiro solicitou a remoção imediata do conteúdo enganoso das redes sociais, como o Twitter e o Facebook, por entender que a imagem da criança foi utilizada para disseminação de notícias falsas com insinuações e afirmações de cunho sexual.

A Defensoria – que considerou o Facebook e o Twitter “omissos em retirar das suas páginas um conteúdo humilhante e vexatório, produzindo um dano que afronta a dignidade da criança” – adiantou que os fatos também seriam encaminhados ao conhecimento das autoridades policiais “para apuração de crimes contra as pessoas que estão divulgando suas imagens com o objetivo de uso em campanha para eleições presidenciais”.

Após a solicitação da Defensoria, a juíza Luciana de Oliveira Leal Halbritter, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, determinou a retirada dos vídeos recortados dessas plataformas.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Publicações enganosas como esta verificada que envolvem candidatos à presidência podem prejudicar o processo eleitoral, induzir a interpretações equivocadas da realidade e influenciar eleitores no momento da votação. Os cidadãos têm direito de basear suas escolhas em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: O conteúdo checado nesta verificação foi classificado como falso pelo UOL Confere.

O Comprova tem desmentido frequentemente conteúdos relacionados aos presidenciáveis que concorrem neste segundo turno das eleições. Recentemente, mostrou que sinal de ‘L’ feito por traficantes não é referência a Lula e, sim, saudação de facção que atua no Rio, que Argentina não revogou herança e Lula não tem proposta sobre o tema, que é montagem tuíte atribuído a Bolsonaro com ataques a religiosos católicos e que vídeo engana ao afirmar que Bolsonaro acabou com a multa para demissão sem justa causa.

Eleições

Investigado por: 2022-10-21

Lula não defendeu o uso de mentiras na política, ao contrário do que sugere post

  • Falso
Falso
É falso que o ex-presidente e candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha defendido que políticos precisam mentir. Na realidade, Lula defendeu o contrário, que político “não precisa mentir”, e disse haver políticos que não mentem. As declarações foram dadas em entrevista concedida pelo candidato ao Flow Podcast, transmitido no YouTube na última terça-feira, 18 de outubro. Trecho recortado da entrevista engana ao induzir quem assiste a acreditar que Lula teria defendido a mentira como método, mas na verdade o petista referia-se a uma suposta fala do presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem ele chamou de “mentiroso compulsivo”. Na realidade, o próprio Lula distorceu uma declaração de Bolsonaro, que não falou que político tem que mentir.

Conteúdo investigado: Um vídeo que circula nas redes sociais mostra trecho de entrevista do ex-presidente Lula ao Flow Podcast no dia 18 de outubro de 2022. O post alega que o petista defende que políticos precisam mentir. “Tenho que mentir. É preciso mentir. O político tem que mentir. Porque sempre é mais fácil acreditar numa mentira. Uma mentira, minha mãe dizia, uma mentira, ela voa, a verdade engatinha. É sempre assim”, diz Lula no trecho recortado da entrevista.

Onde foi publicado: Kwai.

Conclusão do Comprova: É falso que o ex-presidente Lula tenha defendido que políticos precisam mentir. O vídeo alvo da checagem é um recorte de uma fala do petista em entrevista ao Flow Podcast, do último dia 18 de outubro, que foi retirado de contexto. Na entrevista, o candidato do PT defendeu o oposto. Disse que político “não precisa mentir” e que acredita haver políticos que não mentem.

A frase em questão foi uma referência de Lula ao comportamento do presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro. O petista disse que o atual presidente teria afirmado que “político tem que mentir” e chamou o adversário de “mentiroso compulsivo” na entrevista. O próprio ex-presidente, por sua vez, distorceu uma declaração de Bolsonaro, que disse ter sido aconselhado a mentir.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: No Kwai, o vídeo alvo da checagem tinha mais de 813,2 mil visualizações; 47 mil curtidas; 16,4 mil comentários e 121,5 mil compartilhamentos até o dia 21 de outubro de 2022.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova tentou contato com o autor da publicação no aplicativo Kwai, mas não obteve resposta até a publicação desta checagem.

Como verificamos: Primeiramente, o Comprova identificou que o trecho havia sido retirado da entrevista ao Flow por meio da inscrição vista no microfone utilizado por Lula na peça alvo da checagem. No dispositivo, é possível ver a logo do podcast. Com essa informação, a equipe buscou no Google pelos termos “Lula”, “entrevista” e “Flow” e encontrou a íntegra da entrevista concedida pelo ex-presidente no último dia 18 de outubro.

Ao pesquisar pelos termos “Lula” + “político” + “mentira” + “Flow”, o buscador retornou checagens feitas por diversas agências (Fato ou Fake, Lupa e Aos Fatos) sobre a fala de Lula; todas elas desmentiram a alegação de que o petista teria defendido a prática da mentira por políticos.

Lula defendeu que políticos não precisam mentir

Na versão integral da entrevista do Flow, foi possível encontrar o trecho completo com as frases ditas por Lula e recortadas no vídeo alvo da checagem.

A partir dos 9 minutos e 15 segundos, o apresentador Igor 3K começa a falar sobre o debate presidencial da TV Bandeirantes, realizado no último domingo, 16 de outubro. Neste momento, Lula elogiou o formato do debate e citou discussões anteriores que teve, em segundos turnos eleitorais, com outros candidatos como Geraldo Alckmin e José Serra. Aos 9 minutos e 44 segundos, Lula faz a referência a Bolsonaro, alegando que o problema de debater com o adversário é ele ser “um mentiroso compulsivo”.

A partir dos 9 minutos e 56 segundos, Igor 3K diz que “todo político é mentiroso”, e Lula discorda. “Não, não é verdade [que todo político é mentiroso]. Deixe eu lhe falar uma coisa. É que se cria uma imagem do político que causa prejuízo à política. Você tem político sério de direita, você tem político sério de esquerda. Você tem político sério de centro, você não precisa mentir”, disse o petista.

Na sequência (10 minutos e 17 segundos), começa o trecho recortado na peça de desinformação. Na versão integral do vídeo, é possível constatar que o petista fazia uma referência ao presidente Bolsonaro antes de realizar o comentário. “Eu estava vendo um vídeo do Bozo [em referência ao presidente Bolsonaro] esses dias. Ele, naquele vídeo em que ele está falando das meninas venezuelanas, ele fala textualmente: ‘tenho que mentir, é preciso mentir, o político tem que mentir’ porque sempre é mais fácil acreditar numa mentira. Uma mentira, minha mãe dizia, uma mentira, ela voa, a verdade engatinha. É sempre assim. Mas eu acho que você tem muitos políticos no Brasil que não mentem, que são pessoas sérias, sabe?”, disse Lula.

A suposta fala de Bolsonaro citada por Lula

Sobre a suposta fala que Lula atribui a Bolsonaro, agências de checagem mostraram que houve uma distorção por parte do petista. A checagem do Aos Fatos apontou que Bolsonaro teria dito, na verdade, que foi aconselhado por outras pessoas a mentir para conseguir ampliar o apoio à gestão. A declaração foi dada durante entrevista do presidente ao canal Paparazzo Rubro-Negro, no último dia 14, que foi retirada do ar pelo YouTube.

“E eu lembro, usando essa passagem do João 8:32, quantas vezes nego chegar pra mim e falar: ‘Ó, falando a verdade, tu não vai chegar a lugar nenhum. Você tem que mentir, cara. Falar que vai criar 10 milhões de empregos, 50 milhões de casas populares, ‘vou triplicar o salário mínimo’. Se não falar isso aí tu não vai chegar’. E a regra é mentir. Quem mente mais, com alguma inteligência, chega. E não estou falando nenhuma mentira aqui”, disse Bolsonaro na ocasião. É possível escutar a fala de Bolsonaro em um arquivo de áudio disponibilizado online pelo Aos Fatos, a partir dos 14 minutos e 26 segundos.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais que viralizam nas redes sociais. Publicações falsas ou enganosas envolvendo candidatos à Presidência da República, como no caso da peça alvo desta verificação, podem induzir o cidadão a interpretações equivocadas sobre a realidade e influenciar eleitores no momento da votação. Os cidadãos têm o direito de basear suas escolhas em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: Outras verificações sobre o mesmo tema foram feitas pelo Fato ou Fake, do G1, pelas agências Lupa e Aos Fatos e pelo Yahoo. Recentemente o Comprova checou conteúdos envolvendo os candidatos a presidente e mostrou que Lula não tem proposta sobre revogação de heranças; que proposta para flexibilizar trabalho aos domingos e feriados é de 2019 e que sinal de ‘L’ feito por traficantes não é referência a Lula e, sim, saudação de facção que atua no RJ.