O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Política

Investigado por: 2023-04-19

É enganoso vídeo em que mulher acusa Lula de ter criado taxas sobre compras em sites internacionais

  • Enganoso
Enganoso
Impostos para taxar compras de menos de US$ 50 em sites internacionais existem no Brasil desde os anos 1990, diferentemente do que afirma uma mulher em vídeo no Telegram. Ela mostra o registro de uma compra no site chinês Shein e o documento de cobrança da Receita Federal e engana ao sugerir que o governo Lula (PT) criou os tributos. A autora desinforma sobre o anúncio que o governo federal fez, e do qual depois recuou, sobre o fim da isenção do imposto de importação sobre compras de até US$ 50 remetidas por pessoas físicas.

Conteúdo investigado: Post em que mulher reclama sobre imposto cobrado pela Receita Federal por compra internacional de menos de US$ 50 em um site chinês. “Olha o que que o bandido ladrão está fazendo com os meus pacotinhos da Shein”, afirma, entre outras colocações.

Onde foi publicado: Telegram.

Conclusão do Comprova: São enganosas as afirmações de uma mulher que, em vídeo, critica o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por impostos cobrados por compra feita em site internacional. Na gravação, a autora exibe o valor da compra (R$ 266,54) e reclama que os produtos estão parados na alfândega até que ela pague R$ 521,97 de impostos, o que ela se nega a fazer. Sem citar o nome de Lula, ela diz: “Olha o que que o bandido ladrão está fazendo com os meus pacotinhos da Shein”. Isso sugere que foi o atual presidente quem determinou a cobrança do imposto para compras de menos de US$ 50 (a dela deu US$ 44,93), o que não é verdade – o imposto já existia, ela apenas foi pega na fiscalização da Receita Federal.

Em nota sobre importação por pessoas físicas, o governo explica que, atualmente, “todas as compras, mesmo as de baixo valor, pagam 60% de tarifa à Receita Federal caso sejam pegas na fiscalização, hoje feita por amostragem”. Apenas encomendas entre pessoas físicas sem fins comerciais não pagam o Imposto de Importação se não ultrapassarem US$ 50. “A Receita Federal monitora empresas que abusam do artifício para se passar por pessoa física.” O imposto de importação incide sobre o valor das mercadorias, o do frete e o do seguro (que compõem o valor aduaneiro), não apenas sobre o valor total que o consumidor paga ao site.

“O benefício (de isenção de imposto para encomendas entre pessoas físicas) existe desde 1980, com o valor de US$ 100, e teve o limite reduzido pela metade no fim da década de 90”, informa o texto. Ou seja, diferentemente do que diz a autora do vídeo, não foi o governo Lula que impôs as taxas de importação.

No documento exposto pela autora do vídeo, também aparece a cobrança de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), uma taxa estadual, e não federal, como ela coloca ao criticar o presidente. No caso da compra dela, o ICMS tem alíquota de 25%. Essa taxa incide sobre o valor aduaneiro, sobre o do imposto de importação e sobre o próprio valor do ICMS.

A discussão sobre taxação de produtos internacionais se intensificou após o governo anunciar que acabaria com a isenção do imposto de importação em envios abaixo de US$ 50 remetidos por pessoas físicas, mas, neste 18 de abril, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), recuou da medida.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O vídeo, publicado em grupo do Telegram no dia 12 de abril, teve 8,7 mil visualizações até 19 de abril.

Como verificamos: A reportagem coletou todos os dados aparentes nas folhas de papel expostas no vídeo que poderiam ajudar a localizar o pedido taxado ou identificar a mulher que gravou o conteúdo enganoso – os dados cadastrais da cliente no site da Shein e o código de rastreio do produto no site dos correios estavam expostos.

Pausando a cena em frames específicos, foi possível anotar o nome da autora do vídeo, o seu endereço e a cidade onde ela mora.

Buscando no Google o nome da mulher e a cidade identificada, apareceu uma clínica veterinária com o nome igual ao do cadastro da Shein (a fachada do comércio também tinha um número de WhatsApp).

A clínica veterinária não pareceu ser uma coincidência, pois o endereço do consultório ficava a 10 minutos a pé do endereço da pessoa física exibido no vídeo enganoso.

O Projeto Comprova, então, entrou em contato com o número de WhatsApp exposto e, em resposta, a médica veterinária afirmou ter compartilhado o vídeo sobre a taxação de sua compra no e-commerce chinês.

Em cooperação com a checagem, a médica veterinária enviou os documentos usados no vídeo para a reportagem.

A equipe também pesquisou sobre a cobrança de impostos em sites como os dos Correios e da Receita Federal e também reportagens sobre o tema.

O que diz o responsável pela publicação: Procurada pelo Comprova, a autora do post afirmou que o que motivou a divulgação do vídeo foi uma “revolta com o ladrão que está taxando qualquer muambinha que a gente compra na Shein. Quando a gente viaja para o exterior temos direito a uma cota para compras internacionais. Compro poucas coisas para consumo próprio”.

O que podemos aprender com esta verificação: Ao se deparar com conteúdos que fazem uma grande denúncia, o primeiro passo é buscar reportagens em sites de veículos profissionais sobre o assunto. Depois de uma rápida pesquisa já seria possível verificar se tratar de um conteúdo duvidoso, uma vez que a mudança de cobrança de imposto (da qual o governo recuou, como informado) havia sido apenas anunciada, não havia começado.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova verificou recentemente que tributo para taxar compras em sites internacionais como Shein e Shopee existe desde 1999.

Saúde

Investigado por: 2023-04-18

É falso que Bill Gates tenha comprado ações da Coca-Cola para inserir vacinas com mRNA na bebida

  • Falso
Falso
É falso que Bill Gates tenha a intenção de inserir vacinas com RNA mensageiro (mRNA) no refrigerante Coca-Cola para controlar o DNA das pessoas. Os imunizantes com essa tecnologia sequer têm essa capacidade e não há registro de alteração na fórmula da bebida.

Conteúdo investigado: Posts afirmam que o empresário norte-americano Bill Gates comprou grande parte das ações da Heineken e da Coca-Cola, que a fórmula do refrigerante foi alterada e que a intenção é inserir nesta bebida vacinas com mRNA.

Onde foi publicado: Twitter, TikTok, Instagram e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falso que o empresário norte-americano Bill Gates tenha comprado ações da Coca-Cola para inserir vacinas mRNA na bebida que leva o nome da empresa no intuito de controlar o DNA das pessoas.

Recentemente, foi noticiado que ele adquiriu ações da Heineken no mesmo dia em que a empresa Fomento Economico Mexicano SAB – conhecida como Coca-Cola Femsa e que negocia na Bolsa de Valores com a sigla KOF – vendeu participação na companhia. A Femsa é responsável por engarrafar o refrigerante e Gates também detém participação nela, mas não é algo recente: as ações foram compradas em 2007.

Além disso, ao Comprova, tanto a Femsa quanto a Coca-Cola garantem não ter havido mudanças na fórmula da bebida. A empresa mexicana é apenas uma das engarrafadoras do refrigerante. Somente no Brasil, o sistema Coca-Cola possui outras seis parceiras engarrafadoras que, juntas, somam 37 fábricas.

Para reforçar a teoria falsa de que Bill Gates estaria querendo interferir no DNA de quem consome a bebida, o autor escreve que “eles nem escondem mais: a propaganda da Femsa (empresa distribuidora) é justamente a seguinte: Um só DNA!”.

Sobre isso, a Femsa acrescentou que utiliza o termo “DNA KOF” na comunicação interna da empresa como forma de traduzir os valores e comportamentos que envolvem os colaboradores.

“Com o propósito de empoderar nossas equipes para liderarem o crescimento e a transformação em um ambiente de constante mudança na indústria, definimos o DNA KOF como uma série de crenças e comportamentos fundamentais que regulam nossas ações diárias”, detalha a companhia em seu site.

Uma explicação sobre o assunto também foi publicada na página da empresa no Facebook em 2021.

 

| As menções à sigla DNA são feitas no contexto da comunicação interna da Femsa. (Fonte: Captura de tela do site da Femsa Brasil feita em 17 de abril).

Por fim, é amplamente comprovado, como já mostrou o Comprova, algumas vezes, que as vacinas mRNA não são capazes de alterar o DNA humano.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No Twitter, a postagem foi curtida 2 mil vezes até o dia 14 de abril e depois foi deletada. No Instagram, os conteúdos somavam mais de 4 mil curtidas até 18 de abril. Até a mesma data, a postagem registrou 59 mil interações no TikTok, entre curtidas, compartilhamentos e comentários.

Como verificamos: Pelo Google, buscamos notícias publicadas pela imprensa profissional sobre a possível compra de ações das companhias Heineken e Coca-Cola pelo empresário Bill Gates. Em seguida, entramos em contato com as assessorias de imprensa da Coca-Cola, da Femsa e da Fundação Bill e Melinda Gates. A Autoridade Holandesa para Mercados Financeiros (Autoriteit financiële Markten – AFM), reguladora do mercado financeiro da Holanda, também foi procurada. Por fim, revisitamos checagens do Comprova sobre a tecnologia mRNA, utilizada em vacinas contra a covid-19, e procuramos os autores das postagens.

Bill Gates comprou ações da Heineken e já possuía da Femsa há anos

Não há notícia de que Bill Gates tenha comprado ações da Coca-Cola Company, empresa dona do refrigerante Coca-Cola.

Na verdade, foi noticiado recentemente que o empresário adquiriu, em 17 de fevereiro de 2023, uma participação minoritária na Heineken Holding NV, acionista controlador da segunda maior cervejaria do mundo, por cerca de US$ 902 milhões.

Segundo a Bloomberg, o fundador e filantropo da Microsoft comprou 3,8% da Heineken Holding, de acordo com um documento da Autoridade Holandesa para Mercados Financeiros, totalizando 6,65 milhões de ações, em sua capacidade individual, e outros 4,18 milhões de ações por meio da Fundação Bill & Melinda Gates. A AFM foi procurada pelo Comprova para confirmar a informação, mas não retornou.

O nome do refrigerante aparece nessa história porque Gates adquiriu a participação no mesmo dia em que a Femsa, engarrafadora e distribuidora da Coca-Cola, lançou uma venda de € 3,7 bilhões em ações vinculadas a parte de suas participações na Heineken. Pouco antes, a Femsa havia anunciado planos de se desfazer de sua participação na cervejaria por motivos estratégicos.

Conforme o site de investimento Seu Dinheiro, em 2007, há 16 anos, o empresário comprou uma participação avaliada em US$ 392 milhões (R$ 2 bilhões no câmbio atual) na Femsa. Sete anos antes, a mexicana havia vendido sua cervejaria para a Heineken.

O Comprova também solicitou à Femsa, à Fundação Bill e Melinda Gates e à Coca-Cola informações sobre possíveis venda e compra de ações e se Gates detém ações na empresa que fabrica o refrigerante. A Coca-Cola respondeu informando ser uma empresa de capital aberto nos Estados Unidos e que não comenta movimentações de acionistas. A Femsa não respondeu e a Fundação Bill e Melinda Gates enviou nota ao Comprova sem fazer referências à compra de ações e afirmando que são falsas as alegações de que Bill Gates está inserindo mRNA em bebidas e que ele faça parte de uma “Nova Ordem Mundial”.

Não há registro de alteração na fórmula da Coca-Cola

Os responsáveis pelas postagens não apresentam quaisquer provas de que a Coca-Cola tenha mudado a composição da bebida tradicional que leva seu nome. Ao Comprova, a empresa garantiu que não houve qualquer alteração recente na fórmula do produto. Uma nota sobre o assunto foi publicada no site da companhia, acrescentando que todos os ingredientes utilizados nos produtos são seguros, aprovados pelos órgãos regulatórios e constam no rótulo das embalagens.

O último registro de mudança de fórmula da tradicional bebida ocorreu em de 23 de abril de 1985, há mais de 35 anos. À época, a alteração não foi bem aceita pelos consumidores e a fórmula original foi retomada poucos meses depois, em 11 de julho de 1985.

A assessoria de imprensa da Coca-Cola Femsa declarou que as alegações feitas nas redes sociais são inverídicas e explicou que utiliza o termo “DNA KOF” em sua comunicação interna como forma de traduzir os valores e comportamentos que envolvem seus colaboradores. A expressão foi utilizada nas peças desinformativas como “prova” de que se pretende alterar as informações genéticas das pessoas por meio da bebida.

Vacinas não alteram o DNA das pessoas

Não há sentido em afirmar que inserir vacinas com mRNA em refrigerantes possibilite o controle do DNA, isso porque nem mesmo os imunizantes aplicados nas pessoas para o combate da doença são capazes disso.

A falsa afirmação de que o mRNA pode alterar o DNA passou a ser amplamente difundida após a aprovação de duas vacinas contra a covid-19, da Pfizer e da Moderna, que usam a tecnologia. A alegação foi desmentida várias vezes ao longo da pandemia de coronavírus. O Comprova já explicou que as vacinas de mRNA são desenvolvidas para não interferir no DNA humano e que não há qualquer evidência de que sejam capazes de causar danos genéticos.

O mRNA é uma molécula existente no corpo humano e que leva informações até o núcleo das células para produção de proteínas. Os laboratórios responsáveis pelos imunizantes produziram mRNAs sintéticos, que contêm uma parte da informação genética do novo coronavírus. No nosso corpo, esse RNA vai fazer com que produzamos uma proteína que alerta o sistema imunológico para criar anticorpos.

Sobre alegações desta natureza, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já se posicionou informando que as vacinas que empregam em sua tecnologia o código genético do vírus Sars-CoV-2 não são produtos de terapia gênica porque não utilizam cópias de genes humanos para tratamentos de doenças.

Bill Gates é alvo frequente de teorias conspiratórias devido aos investimentos filantrópicos na área de saúde, incluindo para o combate ao coronavírus. O Estadão Verifica demonstrou, por exemplo, que uma postagem editou vídeo do empresário para sugerir conspiração envolvendo vacina da covid-19 e que um trecho de outra fala dele foi modificado para desacreditar segurança dos imunizantes.

O que diz o responsável pela publicação: No Twitter, o conteúdo foi postado pela conta @VitimasVacinas, que não possui qualquer identificação de quem seja o responsável e não permite o envio de mensagens. Posteriormente, o tuíte foi apagado. O vídeo no Instagram foi gravado por Cristiane Luz. Ao Comprova, ela disse ter se baseado em sites de jornalismo independentes e páginas do Twitter, além dos próprios conhecimentos espirituais sobre o tema, encerrando o contato em seguida.

O que podemos aprender com esta verificação: Os posts têm ar de teoria conspiratória ao sugerirem que um empresário mundialmente conhecido estaria planejando controlar a humanidade. Também envolvem os nomes de duas gigantes do ramo de bebidas. Caso essas empresas, ou mesmo o bilionário, estivessem agindo de má-fé contra os consumidores, o fato certamente teria ampla divulgação. Nesse contexto, é importante destacar que a imprensa profissional é uma fonte de informação confiável, portanto, bastaria uma busca pelo assunto para encontrar notícias nesse sentido. Sobre o funcionamento da tecnologia em vacinas, há farto conteúdo não só na imprensa, como também nos sites das agências que regulamentam esses produtos e em fontes oficiais dos governos, que devem ser consultadas. É importante também que o leitor fique atento a conteúdos muito mirabolantes, como este, e se perguntar se faz algum sentido o que é afirmado na publicação. Bastaria uma simples pergunta, como “É possível colocar DNA em um refrigerante?”, para desconfiarmos do conteúdo.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Conteúdos semelhantes foram verificados por Fato ou Fake, Uol Confere e por Boatos.Org. Além disso, o Comprova já demonstrou anteriormente ser falsa uma publicação sugerindo que Bill Gates instalaria nanopartículas nas doses da vacina e que imunizantes não injetam “DNA alienígena” nos humanos.

Política

Investigado por: 2023-04-13

Governo federal não decretou fim da Zona Franca de Manaus, ao contrário do que diz post

  • Enganoso
Enganoso
São enganosos posts afirmando que o governo federal decretou o fim da Zona Franca de Manaus após a ministra do Planejamento, Simone Tebet, dizer que acabaram os incentivos fiscais dados pela União. De fato, ela disse isso, mas em outro contexto. A ministra falava em uma audiência na Câmara dos Deputados sobre a reforma tributária e, ao citar o polo industrial na capital amazonense, frisou que ele continuaria recebendo benefícios.

Conteúdo investigado: Posts que utilizam captura de tela de site onde se lê “Governo Lula decreta fim da Zona Franca de Manaus – incentivos fiscais ‘se exauriram’, afirma ministra Simone Tebet”.

Onde foi publicado: TikTok e Instagram.

Conclusão do Comprova: Posts enganam ao afirmar que o governo federal decretou o fim da Zona Franca de Manaus porque os incentivos fiscais teriam se acabado, como disse Simone Tebet, ministra do Planejamento. Desinformadores tiraram de contexto uma declaração da ministra. Quando disse, em 4 de abril, em Brasília, que “a questão dos incentivos fiscais foi necessária por um tempo no Brasil, mas ela se exauriu, seus efeitos se exauriram”, Tebet se referia ao modelo de desenvolvimento baseado em benefícios fiscais. Em relação ao polo industrial na capital amazonense, ela disse que, até onde sabe, os incentivos deverão ser protegidos.

“A informação que nós temos é que, a princípio, esses dois benefícios [Zona Franca e Simples Nacional] serão protegidos. Portanto, continuarão tendo uma diferenciação no que se refere à questão tributária. Mas, de novo, é uma decisão a ser feita pelo Congresso Nacional que vai ser acatada pelo governo do presidente Lula”, disse ela durante audiência no grupo de trabalho sobre a reforma tributária na Câmara dos Deputados. O evento completo pode ser assistido no canal da Câmara no YouTube.

Procurado pela reportagem, o Ministério do Planejamento reafirmou que Tebet não defendeu o fim do polo industrial amazonense e que o governo não decretou seu fim. “Pelo contrário, ela colocou a Zona Franca e o Super Simples como benefícios a serem mantidos.”

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No Instagram, duas postagens somaram 4,4 mil interações. Já no TikTok, o post teve 3,8 mil curtidas e 1,2 mil compartilhamentos.

Como verificamos: Em busca no Google por termos como “Simone Tebet” e “exauriram”, o resultado trouxe reportagens sobre a participação dela no evento na Câmara. A partir daí, a equipe encontrou o vídeo completo do evento no site do órgão e conseguiu verificar as declarações da ministra.

Mesmo já sabendo se tratar de um conteúdo enganoso, entrou em contato com a assessoria de imprensa do Ministério do Planejamento para checar informações, que, como mencionado acima, negou as alegações.

O que diz o responsável pela publicação: Os posts enganosos usam print de título publicado no site Portal Conservador Amazonas. Embora a chamada seja “Governo Lula decreta fim da Zona Franca de Manaus – incentivos fiscais ‘se exauriram’, afirma ministra Simone Tebet”, o texto informa que a ministra disse que os benefícios para a Zona Franca vão continuar. Procurado, o site não respondeu até a publicação deste texto. O Comprova tentou contatar, via Instagram, o perfil que assina o texto e um dos que tiveram o post viralizado, mas não houve retorno até a publicação desta verificação. Com o perfil que publicou o post enganoso no TikTok a reportagem não conseguiu contato porque os comentários estão desativados e na rede social só há troca privada de mensagens entre contas que se seguem mutuamente.

O que podemos aprender com esta verificação: Aparentemente, o post traz uma informação bombástica, o governo estaria acabando com a Zona Franca de Manaus, criada em 1967. Sendo assim, devemos, já no primeiro momento, nos perguntar por que não lemos sobre o assunto em nenhum veículo da imprensa tradicional. E já devemos ficar com o alerta ligado. Um próximo passo é pesquisar pelo conteúdo, para ver se nenhuma mídia profissional realmente publicou sobre a notícia. Nessa etapa, já percebemos se tratar de um conteúdo de desinformação, pois as reportagens mais recentes citando Tebet e a Zona Franca de Manaus dizem exatamente o contrário dos posts, como já informado acima. Além disso, não há qualquer menção a este assunto nos canais oficiais do governo.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo foi investigado pelo Jornal do Commercio. E Tebet já foi alvo de outras postagens desinformativas checadas pelo Comprova, como a verificação que demonstrou que ela prometeu reduzir impostos dos mais pobres, ao contrário do que sugeria vídeo e a que mostrou ser falso que a ministra deixou médica ser humilhada na CPI da Covid.

Política

Investigado por: 2023-04-12

Vídeo em que Haddad anuncia programa de auxílio a pessoas trans é de 2015

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso post publicado no TikTok afirmando que o programa social Reinserção Social Transcidadania destinado a travestis e pessoas trans estaria sendo lançado em 2023. O conteúdo, que chama a ação pejorativamente de “Bolsa Travesti”, confunde ao mostrar uma entrevista antiga do atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e beneficiários elogiando a iniciativa. Na verdade, o programa teve início em 2015, quando Haddad era prefeito de São Paulo, e segue até os dias atuais na capital paulista. Não há, no âmbito federal, nenhum programa nesse sentido.

Conteúdo investigado: Vídeo de trecho de reportagem que mostra Fernando Haddad (PT), ministro da Fazenda, anunciando uma bolsa-auxílio para pessoas transsexuais e travestis. Sobre as imagens, há uma caixa de texto em que se lê “Bolsa Travestis – 840,00 reais/2023”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É enganoso post que afirma ser de 2023 vídeo do atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), anunciando o lançamento de um programa de auxílio a pessoas trans e travestis, chamado pejorativamente pela peça de desinformação de “Bolsa Travesti”. A gravação, na verdade, é de 2015, quando Haddad era prefeito de São Paulo. Na época, ele lançou o programa Reinserção Social Transcidadania, que inicialmente oferecia auxílio de R$ 840 para 100 beneficiários, além de acesso à escola e a cursos profissionalizantes.

O vídeo, que circula fora de contexto, é parte de uma reportagem da TV Câmara de São Paulo veiculada em 2 de fevereiro de 2015, com o título “SP: programa da prefeitura estimula o desenvolvimento de travestis”. A íntegra do vídeo tem 4 minutos e 56 segundos de duração.

O projeto Reinserção Social Transcidadania é executado há nove anos pela Prefeitura de São Paulo sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania e da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho. O objetivo da ação é auxiliar na colocação profissional e reintegração social da população trans e travesti em situação de vulnerabilidade.

Na primeira fase do Transcidadania, foram beneficiados 100 participantes, que receberam uma bolsa de R$ 840, condicionada a ações de elevação da escolaridade e qualificação profissional, em atividades de 30 horas semanais durante dois anos.

Ao Comprova, o Ministério da Fazenda informou que não há, no âmbito do governo federal, qualquer programa nesse sentido sendo desenvolvido pela pasta e que o vídeo no post do TikTok foi tirado de contexto.

Em entrevista à Agência Pública em 24 de janeiro deste ano, a Secretária Nacional de Promoção de Defesa das Pessoas LGBTQIA+, Symmy Larrat, afirmou que pretende transformar o Transcidadania em um projeto de âmbito nacional. Não há previsão para a implementação.

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania foi procurado, mas não houve retorno até a publicação desta verificação.

O Comprova considera enganoso o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 12 de abril, a publicação no TikTok havia alcançado 1,1 milhão de visualizações, 40,2 mil compartilhamentos, 9,7 mil comentários e 16,5 mil curtidas.

Como verificamos: Após assistir ao vídeo, buscamos no Google pelas palavras-chave “Haddad” e “pessoas trans” e encontramos checagens de outras agências como Estadão Verifica, Fato ou Fake, Aos Fatos, UOL Confere e Lupa, além de uma reportagem de 2015 do site oficial do PT.

Na gravação, é possível ver um logotipo vermelho de um canal de TV no microfone do jornalista, que aparece pela primeira vez aos 13 segundos. Com a pista de que o logo seria da TV Câmara de São Paulo, fizemos uma busca no YouTube pelas palavras-chave “TV Câmara São Paulo” e “Haddad”, a partir da qual encontramos o vídeo original, publicado em 2 de fevereiro de 2015.

A reportagem, intitulada “SP: programa da prefeitura estimula o desenvolvimento de travestis”, tem 4 minutos e 56 segundos de duração. O trecho utilizado pela peça de desinformação pode ser encontrado a partir de 1 minuto e 40 segundos.

Também reunimos informações a respeito do programa Transcidadania a partir de reportagens e dados do site da prefeitura de São Paulo.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova contatou o perfil @pastor_valdinei por mensagem no TikTok, mas não obteve retorno até a publicação desta verificação. A busca pelo usuário em outras redes sociais retornou um canal no YouTube e uma conta no LinkedIn. No entanto, nenhum dos canais continha informações de contato.

O que podemos aprender com esta verificação: Disseminadores de desinformação costumam utilizar vídeos antigos para confundir o público e tirar informações de contexto. Dessa forma, acabam levando as pessoas a acreditarem que determinado fato é recente, causando uma interpretação equivocada sobre diferentes assuntos. É sempre importante que o leitor questione o conteúdo e busque se informar a respeito do tema junto à imprensa profissional.

O post também mostra que devemos ficar atentos a detalhes. Haddad aparece visivelmente mais jovem no vídeo, algo que, se percebido, já indicaria se tratar de um conteúdo duvidoso.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O conteúdo também foi verificado por outras agências de checagem como Estadão Verifica, Fato ou Fake, do G1, Aos Fatos, UOL Confere e Lupa.

Conteúdos envolvendo identidade de gênero e a comunidade LGBTQIA+ já foram alvos de checagens do Comprova. Recentemente, o projeto mostrou que portaria citada em tuíte enganoso não aborda cirurgias de mudança de sexo. Em 2018, constatamos que Haddad não afirmou que governo deve decidir o gênero das crianças e, em 2020, que não é verdade que vacina contra a covid-19 cause câncer, danos genéticos ou “homossexualismo”.

Política

Investigado por: 2023-04-11

É vereador de Salvador que dança em vídeo viral, não ministro da Educação

  • Falso
Falso
É falso que seja Camilo Santana, ministro da Educação, o homem que aparece em um vídeo dançando até o chão e arrancando aplausos da plateia. Quem está no palco, na verdade, é Henrique Carballal (PDT), vereador de Salvador. Ele próprio compartilhou as imagens da performance em seu perfil no Instagram, no dia 25 de março.

Conteúdo investigado: Vídeo em que homem aparece rebolando no palco de um auditório e sendo aplaudido pela plateia, com frase “ministro da desucadação” sobreposta às imagens. Em tom de crítica, uma mulher comenta: “Ele postou isso no Instagram dele, gente”. E acrescenta: “Esses são os professores que estão educando a nova geração”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Vídeos nas redes sociais mentem ao dizer ser o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), dançando em palco de evento – os posts, em tom depreciativo, sugerem que um ministro não poderia fazer isso em público. A partir das imagens é fácil reconhecer não se tratar de Santana, que não tem cabelos totalmente brancos, como o homem da gravação.

Quem aparece dançando é Henrique Carballal (PDT), vereador de Salvador que publicou as imagens em seu perfil no Instagram em 25 de março e cujo post viralizou antes de ser usado para depreciar o ministro Santana, como mostrou o Correio Braziliense em reportagem de 6 de abril. No post, Carballal conta ter participado de uma palestra para educadores na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) dentro do projeto Mais Infância, que tem o objetivo de ampliar a capacitação de educadores – ele é professor de História, como mostra sua descrição no Instagram.

Ao Comprova, sua assessoria de imprensa informou que a dança faz parte da iniciativa História Cantada, que usa a dança e o canto “para transmitir o conhecimento de forma lúdica”.

Ao programa Bahia Notícias no Ar, o vereador afirmou ter se reunido com o jurídico para discutir quais providências irá tomar contra quem o atacou.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 11 de abril, o post no TikTok acumulava 943,5 mil visualizações, 42,6 mil compartilhamentos, 26,1 mil curtidas e 9,5 mil comentários.

Como verificamos: Logo ao assistir ao vídeo usado nas peças de desinformação foi possível concluir não se tratar de Camilo Santana por causa das características físicas do homem que aparece dançando. Mas a reportagem ainda precisava descobrir quem aparecia na gravação. Um dos posts verificados mostra o vídeo com chamadas de texto na parte inferior típicas de canais televisivos. Nelas, é possível ler “dancinha” e “evento para capacitação”. A pesquisa por esses termos no Google resultou em publicação do site Brado Jornal, que afirmava se tratar do vereador Carballal.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova enviou uma mensagem privada ao perfil @ednocordeiro no TikTok. Não houve retorno até a publicação desta checagem.

O que podemos aprender com esta verificação: Um sinal que indica se tratar de uma peça de desinformação é a qualidade das imagens. Quando ela for baixa, como neste caso, desconfie. Desinformadores reduzem a qualidade para dificultar a identificação dos elementos do conteúdo, como aconteceu aqui. O vídeo original, postado no Instagram de Carballal, é muito mais definido. Outro indício claro quando analisamos o post no TikTok: há uma caixa de texto colocada sobre o rosto do vereador na maior parte do vídeo, mas, caso se tratasse mesmo do ministro, por que a tentativa de esconder seu rosto? A partir dessa pergunta o leitor já poderia desconfiar.

Um passo importante quando nos deparamos com conteúdos duvidosos é fazer buscas na internet. Mesmo quem não sabe como é o rosto de Camilo Santana poderia concluir rapidamente se tratar de um conteúdo falso após uma simples busca por fotos dele no Google.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo também foi checado por UOL Confere, AFP Checamos, Aos Fatos, Reuters Fact-Check e Boatos.org.

No fim de março, o Comprova checou outro vídeo de homens dançando e verificou também não serem ministros de Lula nas imagens.

Política

Investigado por: 2023-04-11

Vídeo em que Alckmin e Moraes são hostilizados é de 2016 e foi gravado na USP

  • Enganoso
Enganoso
São enganosas postagens que sugerem ser atuais e gravadas em Brasília imagens de protesto contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB). A gravação, na verdade, foi feita em fevereiro de 2016, quando Alckmin e Moraes, na época governador e secretário de Segurança Pública de São Paulo, saíam de um evento na Universidade de São Paulo (USP).

Conteúdo investigado: Posts com vídeo do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), sendo hostilizados por um grupo de pessoas. Imagens são acompanhadas de textos que afirmam que os dois estariam em um restaurante em Brasília.

Onde foi publicado: Twitter e TikTok.

Conclusão do Comprova: É enganoso um vídeo que mostra o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes sendo cercados e vaiados por uma multidão, supostamente em um restaurante de Brasília. Uma das publicações cita: “​​É pra divulgar. Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes juntos em restaurante, são quase linchados em Brasília. NÃO terão paz!!!”.

O vídeo original, cujo trecho viralizou fora de contexto, foi gravado em fevereiro de 2016, no Centro de São Paulo, pela TVT, durante um ato público realizado por estudantes para denunciar a violência da Polícia Militar. Coincidentemente, enquanto os manifestantes preparavam o ato, em frente à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo São Francisco, o então governador paulista, Geraldo Alckmin, e o, à época, secretário da Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, participavam, no mesmo local, da solenidade de posse de Dimas Ramalho como presidente do Tribunal de Contas de São Paulo (TCE-SP).

A confusão começou quando os manifestantes tentaram dialogar com Geraldo Alckmin, que os ignorou.

Conforme noticiado pelo UOL e pela Folha, na ocasião, Alckmin e Moraes saíram escoltados do local. No caminho até o carro, os estudantes gritavam “assassino” e “governador, cadê a merenda?”, em referência, respectivamente, às mortes causadas pela PM de São Paulo e às investigações de desvios na merenda escolar que envolviam integrantes da administração e políticos do PSDB.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 10 de abril, a publicação no Twitter teve 38,7 mil visualizações, 1,9 mil curtidas e 589 compartilhamentos. No TikTok, o post alcançou 6,3 mil visualizações, 856 curtidas, 77 comentários e 369 compartilhamentos.

Como verificamos: Primeiramente, procuramos no Google pelas palavras-chave “Alckmin”, “Moraes” e “hostilizados”, o que resultou em verificações de outras agências de fact-checking, como Lupa, AFP Checamos, Estadão Verifica, Aos Fatos, Reuters e UOL Confere.

Ao assistir ao vídeo, percebemos que no canto superior esquerdo havia o logotipo da emissora TVT. Procurando pelo termo “TVT” no Google, chegamos ao canal no YouTube da Rede TVT, que se apresenta como “um veículo de comunicação educativo”. Neste canal, usamos o campo de busca para pesquisar por “Alckmin” e “Moraes”.

Tendo pistas de que o vídeo investigado era antigo, rolamos a página com os resultados até encontrar uma publicação feita há sete anos, que citava as palavras ”Alckmin” e “protesto”. O título era este: “Em protesto contra PM, manifestantes se deparam com Alckmin”. Ao assistir ao vídeo original, identificamos trecho com as cenas usadas na peça de desinformação, que começa a partir dos 38 segundos.

Por fim, o Comprova buscou os responsáveis pelas publicações enganosas nas redes sociais.

O que diz o responsável pela publicação: Os posts virais foram publicados pelos perfis @9876mel no Twitter e @jral2010 no TikTok. A conta responsável pela publicação na primeira plataforma não contém informações de contato, e a busca pelo perfil em outras redes sociais não retornou resultados. No entanto, no dia 4 de abril, a usuária afirmou em uma publicação que sabe que o vídeo é antigo, mas que a “intenção é mostrar que ambos [Alckmin e Moraes] estão juntos há muito tempo, supostamente sempre tramando alguma coisa e nunca foram bem quistos pela população”.

Como o TikTok não permite o contato entre contas que não se seguem mutuamente, o Comprova encontrou um perfil correspondente do usuário no Instagram e encaminhou uma mensagem. Não houve retorno até a publicação desta checagem.

O que podemos aprender com esta verificação: É comum que vídeos antigos viralizados há mais tempo sejam explorados por disseminadores de desinformação. Eles são utilizados fora de contexto, em geral, na tentativa de sugerir, de forma enganosa, que um determinado episódio ocorreu recentemente. Outra tática empregada é a utilização de vídeos com baixa qualidade de imagem, que dificultam a identificação das pessoas e do local mostrado no conteúdo.

No caso de conteúdos com essas características, uma pesquisa no Google pode ajudar a identificar a data e o contexto original do vídeo, e a descobrir se a informação é atual ou se está desatualizada.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo também foi verificado pela Lupa, AFP Checamos, Estadão Verifica, Aos Fatos, Reuters e UOL Confere.

O Comprova já checou peças de desinformação que utilizam vídeos antigos para sugerir de forma enganosa que um determinado episódio ocorreu recentemente. É o caso das verificações que mostram que homens dançando ao som de “Infiel” não são ministros de Lula, que vídeo usa reportagem sobre apreensões de carros no governo Bolsonaro para criticar gestão Lula e que a Marinha não penalizou o presidente por autorizar navios do Irã no Brasil.

Política

Investigado por: 2023-04-10

FBI não está no Brasil para investigar atos antidemocráticos de 8 de janeiro, diferentemente do que afirma vídeo

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Enganoso
É enganoso que o FBI tenha vindo ao Brasil investigar os atos antidemocráticos de 8 de janeiro a pedido de parlamentares dos Estados Unidos. O órgão não tem jurisdição para fazer investigações em solo brasileiro. O pedido feito por deputados americanos ao presidente Joe Biden, citado no post verificado, é para averiguar se houve, em solo norte-americano, alguma ação de organização dos atos golpistas no Brasil.

Conteúdo investigado: Em vídeo publicado no TikTok, homem afirma que agentes do FBI teriam desembarcado no Brasil para investigar os atos de 8 de janeiro em Brasília a pedido de parlamentares do Partido Democrata norte-americano. A ação estaria “causando pânico no governo Lula”. A peça de desinformação acrescenta que a vinda do FBI ao país teria motivado o comparecimento do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) da Câmara Federal, bem como o retorno do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Brasil.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É enganoso que o FBI (Federal Bureau of Investigation), a Polícia Federal dos Estados Unidos, tenha desembarcado no Brasil para investigar os atos de 8 de janeiro, como afirma vídeo viral no TikTok. A embaixada norte-americana esclareceu ao Comprova que “os representantes dos Estados Unidos não têm mandato ou jurisdição para conduzir operações em território brasileiro”.

No site da instituição, o FBI esclarece que só faz investigações em outros países mediante convite. O secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, afirmou à BBC News em janeiro que o Brasil não solicitou formalmente cooperação para investigação.

O homem que aparece no vídeo afirma que a suposta vinda do FBI ao Brasil teria sido desencadeada por um pedido de deputados do Partido Democrata dos Estados Unidos.

Como publicaram a BBC News e o Washington Post, um grupo de 46 deputados democratas assinou uma carta enviada ao presidente norte-americano, Joe Biden, pedindo que o país tomasse medidas para evitar servir de “refúgio” ao ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que, à época, estava nos EUA. Os parlamentares associam ações de Bolsonaro à invasão do dia 8 de janeiro ao Palácio do Planalto, Congresso e Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília.

A carta tem uma citação ao FBI, mas não implica na vinda de agentes norte-americanos ao território brasileiro: “Pedimos que o FBI e outras agências relevantes de aplicação da lei dos EUA investiguem quaisquer ações que tenham sido tomadas em solo dos Estados Unidos para organizar este ataque ao governo brasileiro”. Ou seja, a investigação solicitada seria para averiguar se os atos antidemocráticos foram organizados e/ou coordenados por pessoas que estavam nos EUA.

Diferentemente do que aponta o vídeo desinformativo, não foi por causa da suposta vinda do FBI ao Brasil que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, prestou esclarecimentos à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados. Os objetivos da convocação eram esclarecer as mudanças na política de controle de armas do governo federal; explicar as ações adotadas no âmbito de seu ministério e do governo após os ataques ocorridos no dia 8 de janeiro; esclarecer a visita que fez ao Complexo da Maré; além de fazer um balanço dos primeiros meses de atuação à frente do Ministério, citando prioridades e diretrizes para o resto do ano.

Ao Comprova, o Ministério da Justiça disse que “a hipótese constitui um disparate” e que “tal investigação pelo FBI não existe e é juridicamente impossível”.

Como não houve vinda de agentes do FBI ao Brasil, esta também não foi a motivação para a volta do ex-presidente Bolsonaro ao país, como afirma o autor do conteúdo de desinformação.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 10 de abril de 2023, a postagem no TikTok havia sido vista 359,9 mil vezes e recebido 16,7 mil curtidas e 1,3 mil comentários.

Como verificamos: Primeiramente, buscamos no Google por “FBI desembarca no Brasil para investigar” e “FBI desembarca no Brasil para investigar atos golpistas de Brasília”. Encontramos checagens de conteúdos similares feitas por outras agências de fact-checking (Lupa e Boatos.org).

A busca também retornou uma reportagem da BBC de janeiro deste ano relacionada ao tema.

Na sequência, pesquisamos por “Flávio Dino CCJ” e encontramos o link do vídeo da audiência, na íntegra, da qual o ministro participou recentemente na Câmara.

Por fim, a partir das pistas obtidas após a leitura dos conteúdos, enviamos e-mail à assessoria de imprensa da Embaixada dos Estados Unidos e ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. Também tentamos contato com o autor do vídeo viral.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova tentou contato com o autor do post a partir de uma conta no Twitter que leva o mesmo nome do perfil que publicou o vídeo no TikTok, mas não obteve retorno até a publicação desta verificação.

O que podemos aprender com esta verificação: O autor da postagem enganosa usa artifícios para gerar a ilusão de importância e urgência em quem vê o vídeo, como a expressão “Bomba!”, logo no início, acompanhada de trilha sonora dramática. Esses elementos servem para prender a atenção da pessoa que entra em contato com a peça de desinformação e para impulsionar o compartilhamento do post, que parece apresentar uma informação “bombástica”, “exclusiva”.

Outro sinal de que o vídeo não se baseia em informações confiáveis é que, em nenhum momento, o autor cita a fonte do conteúdo que está divulgando.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A agência Lupa e o site Boatos.org checaram recentemente vídeos distintos que afirmam que o FBI estaria no Brasil para investigar o governo Lula ou os atos antidemocráticos de 8 de janeiro.

O FBI também já apareceu em outras peças de desinformação checadas pelo Comprova. Nesta, identificamos ser falso que o órgão tenha pedido extradição e prisão do ministro Alexandre de Moraes.

Comprova Explica

Investigado por: 2023-04-07

Entenda a transposição do São Francisco e por que ela gera dúvidas

  • Comprova Explica
Comprova Explica
O Comprova explica como funciona o Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF), uma obra iniciada em 2007 para levar água do Velho Chico a regiões secas e semiáridas do Nordeste brasileiro. Desde 2019, o Comprova tem verificado conteúdos enganosos sobre a transposição disseminados em redes sociais e aplicativos de mensagem.

Conteúdo analisado: A transposição do Rio São Francisco é alvo frequente de desinformação. Conteúdos publicados nas últimas semanas nas redes sociais afirmam que as bombas da transposição foram desligadas, que comportas foram fechadas e que, por isso, há uma crise hídrica no Nordeste.

Comprova Explica: O Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) é uma obra de R$ 14 bilhões do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) e que tem como objetivo levar água para regiões secas e semiáridas do Nordeste brasileiro.

O projeto nasceu em 1985, mas só saiu do papel em 2007. Segundo o MIDR, a obra está com 98,98% de execução, restando serviços complementares, que, de acordo com o governo federal, não comprometem a operação do PISF que já fornece água aos estados.

A estrutura é composta por dois eixos. O Norte tem 260 km de extensão e alcança cidades dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. O Leste possui 217 km e atende municípios de Pernambuco e Paraíba. A execução do projeto consiste em captar água do Rio São Francisco para estações de bombeamento. As bombas elevam a água por tubos até a parte mais alta do canal e, daí em diante, a água segue canal abaixo por força da gravidade até chegar a uma nova estação.

O MIDR explica que a paralisação dos serviços na transposição pode ocorrer em casos de manutenções preventivas e ou corretivas das estruturas, testes no sistema e durante ajustes operacionais. A estrutura também não necessita de bombeamento contínuo e pode interrompê-lo uma vez atingidos os níveis dos reservatórios.

A oferta de água aos Estados é determinada por meio de outorga e é flexível no atendimento de necessidades. Anualmente, as unidades federativas encaminham as demandas de água a serem atendidas pelo PISF, e a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) é encarregada de analisar e aprovar os pedidos dos estados. No Diário Oficial da União do dia 21 de março, o Comprova checou que a ANA publicou a Resolução nº 148/2023, que define as tarifas para a prestação do serviço da Transposição. O custo total previsto para prover os serviços de adução de água bruta da transposição neste ano será de R$ 274,7 milhões.

Diante de tamanha obra, que envolve altas quantias de dinheiro e já atravessou seis governos, a transposição é alvo de disputas políticas e tema frequente de conteúdos de desinformação e, por isso, a seção Comprova Explica traz detalhes sobre o assunto.

Como verificamos: Pesquisamos documentos e reportagens sobre as obras da transposição e entramos em contato com o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, que repassou informações sobre o projeto e o seu funcionamento. Também foram verificadas reportagens relacionadas ao tema e outras verificações sobre o assunto feitas pelo Comprova.

O que é a Transposição do Rio São Francisco

O Projeto de Integração do Rio São Francisco é uma obra gerida pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) e tem o objetivo de levar água para regiões secas e semiáridas do Nordeste brasileiro. A transposição permite o abastecimento de açudes e rios intermitentes (que desaparecem nos períodos de seca) e é composta por dois eixos principais: o Eixo Norte, que leva água para cidades em Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte; e o Eixo Leste, que abastece as cidades de Pernambuco e Paraíba.

A transposição do Velho Chico (como o rio é conhecido) está sendo possível após a construção de canais e sistemas de bombeamento. A proposta principal é ajudar a resolver a crise hídrica na região, fornecendo água para consumo humano, agricultura e outros fins.

O Rio São Francisco responde por 70% de toda a oferta de água do Nordeste. A região, onde vivem 28% da população brasileira, conta somente com 3% da disponibilidade de água do país.

Histórico e dimensão da obra

A transposição é um projeto que nasceu em 1985 no extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento do governo federal. Em 1999, ainda no papel, ele foi transferido para o Ministério da Integração Nacional. Somente em 2007 a obra começou.

O Rio São Francisco nasce a 1,8 mil metros de altitude na Serra da Canastra, em Minas Gerais, e percorre 2,8 mil km –atravessando os estados da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Sua vazão média é de cerca de 2,8 mil metros cúbicos por segundo.

A obra favorece 12 milhões de habitantes de 390 municípios do agreste e do sertão dos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. Além de garantir segurança hídrica, o projeto também colabora para transformar regiões pobres e áridas em áreas produtivas. A transposição é composta por dois eixos que partem de Pernambuco, perto da divisa do estado da Bahia.

O Eixo Norte da obra tem 260 km de extensão; ele alimenta quatro rios, três sub-bacias do Rio São Francisco (Brígida, Terra Nova e Pajeú), e mais dois açudes (Entremontes e Chapéu).

O Eixo-Leste tem 217 km de extensão. Ele parte do reservatório de Itaparica, em Pernambuco, em direção ao leste, e abastece parte do sertão e das regiões agreste de Pernambuco e da Paraíba. Até alcançar o Rio Paraíba no município de Monteiro, ele distribui água para as bacias do Pajeú e Moxotó da Região Agreste de Pernambuco.

Os dois eixos englobam a construção de 13 aquedutos, nove estações de bombeamento, 27 reservatórios, nove subestações de 230 quilowatts, 270 km de linhas de transmissão em alta tensão e quatro túneis. A título de curiosidade, o túnel Cuncas I é o maior da América Latina para transporte de água, com 15 km de extensão.

As obras do Projeto São Francisco passam pelos seguintes municípios no Eixo Norte: Cabrobó, Salgueiro, Terranova e Verdejante (PE); Penaforte, Jati, Brejo Santo, Mauriti e Barro (CE); em São José de Piranhas, Monte Horebe e Cajazeiras (PB). Já no Eixo Leste, o empreendimento atravessa os municípios pernambucanos de Floresta, Custódia, Betânia e Sertânia; e em Monteiro, na Paraíba.

A obra está com 98,98% de execução, restando obras complementares, que, segundo o Ministério da Integração, não comprometem a operação do PISF no que se refere à entrega de água aos Estados.

Os investimentos já somam cerca de R$ 12 bilhões, quando considerados apenas os Eixos Norte e Leste. Ao acrescentar os Ramais Associados (Entremontes, Agreste, Salgado e o próprio Apodi), esse valor alcança cerca de R$ 14 bilhões investidos.

Como funciona a Transposição do São Francisco

A obra consiste em fazer com que as águas do Rio São Francisco cheguem a outros reservatórios de forma sustentável. A água percorre o trajeto de duas formas: por gravidade (usando um canal com um declive de 3°) ou com a força de estações de bombeamento.

Para entender como funcionam as estações de bombeamento da água, podemos citar como exemplo a que fica em Cabrobó, em Pernambuco. Ela tem quase 36 metros de altura, o que equivale a um prédio de 12 andares.

Dentro dela, uma bomba de grande potência puxa água para tubos que desaguam na parte mais alta do canal. Daí em diante, a água segue canal abaixo por força da gravidade até chegar em uma nova estação.

Todo o funcionamento em etapas da transposição ocorre da seguinte forma:

1 – A água sai do rio e desce por gravidade até uma estação de bombeamento;

2 – Na estação, ela é elevada e volta aos canais. Lá continua a descer por gravidade;

3 – Para descer sempre no mesmo ritmo, a água passa por aquedutos e túneis subterrâneos;

4 – No meio do caminho, saídas de água abastecem diretamente 390 comunidades vizinhas à obra;

5 – A água que permanece nos canais vai para reservatórios. Em alguns casos, também é usada para gerar energia elétrica;

6 – Dos reservatórios, a água chega até as cidades por meio de planos de saneamento básico. Depois desse processo, chega às torneiras das casas e à agricultura.

A vazão outorgada pela Resolução ANA nº 411/2005 permite a retirada de 26,4 m³/s, sendo o Eixo Norte com 16,4 m³/s, e o Eixo Leste com 10,0 m³/s. Cada 1 m³/s equivale a 1000 litros/segundo.

Recentemente, no dia 16 de março, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), criou uma comissão externa formada por nove deputados para fiscalizar e acompanhar in loco a situação da transposição do rio São Francisco. O coordenador será o deputado André Fernandes (PL-CE), que solicitou a criação da comissão (REQ 138/23).

| Eixo Norte e Eixo Leste do PISF. Arte: Portal Norte

Como é feita a gestão do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF)

A gestão do projeto e a execução das obras são de responsabilidade do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR). A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), empresa pública ligada ao MIDR, atua na operação e manutenção das estruturas prontas, que se tornam operacionais.

A água que os Estados recebem da transposição do Rio São Francisco é definida através do Plano Operativo Anual (POA) e do Plano de Gestão Anual (PGA). No POA os estados formalizam seus pedidos de fornecimento de água dos para a União. O PGA compila os POAs e define a disponibilidade de água para cada estado e depois é submetido à Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) para aprovação e posterior publicação.

A oferta de água pelo PISF é determinada por outorga e é intencionalmente flexível para harmonizar as necessidades da bacia doadora e otimizar, de modo adaptativo, as vazões disponíveis ao planejamento dos estados.

Conforme explica o governo federal, além de estabelecer os volumes de água disponibilizados este ano à Paraíba e Pernambuco, no Eixo Leste, e a Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, no Eixo Norte, o PGA define, ainda, para quais finalidades de uso as águas da transposição poderão ser utilizadas, como abastecimento humano e irrigação, por exemplo.

O planejamento para 2023 foi aprovado em março pela ANA (aqui), autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.

Quem paga pelo serviço

Em 2005, antes do início das obras, foi firmado um Termo de Compromisso entre os entes envolvidos no projeto, por meio do qual ficou acordado que caberia à União arcar com os custos de implantação do sistema e aos estados, os custos de operação e manutenção do projeto.

Em 2021, após tratativas no âmbito da Câmara de Conciliação e Arbitragem da Administração Federal (CCAF) da AGU, foi assinado o Termo de Pré-acordo entre a União e os estados beneficiados. O Governo Federal acolheu todas as solicitações dos governos estaduais, de modo a garantir que as tarifas não viessem a impactar de forma relevante o valor para os consumidores.

O Termo de Pré-acordo previa assinatura dos contratos de operação entre a União e estados beneficiados até agosto de 2021. Os documentos foram elaborados e encaminhados aos entes estaduais, porém, até o momento, o MIDR aguarda manifestação e assinatura para iniciar a operação comercial do PISF.

Tarifas do PISF

No Diário Oficial da União do dia 21 de março, o Comprova checou que a ANA publicou a Resolução nº 148/2023, que define as tarifas para a prestação do serviço de adução (transporte) de água bruta, em 2023, do PISF.

As tarifas terão validade a partir do momento em que houver assinatura dos contratos de prestação do serviço pelos estados receptores das águas do Velho Chico: Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Este é um requisito necessário para início da operação comercial do PISF.

Para 2023 as tarifas serão aplicadas aos estados que recebem águas do PISF pelo Eixo Leste, Paraíba e Pernambuco, assim como os Estados do Eixo Norte, que são Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. O custo total previsto para prover os serviços de adução de água bruta da transposição neste ano será de R$ 274,7 milhões. Desse montante, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte terão respectivamente um custo de R$ 92,9 milhões; R$ 77,6 milhões; 82,4 milhões; e R$ 21,6 milhões.

O valor definido para que a Codevasf possa cobrar dos estados receptores equivale a R$ 0,322 por metro cúbico, para a tarifa de disponibilidade da água do empreendimento, e a R$ 0,204/m³, para a tarifa de consumo da água. Cada metro cúbico equivale a 1000 litros ou 1 caixa d’água residencial.

Vazão

A vazão outorgada pela Resolução ANA nº 411/2005 permite a retirada de 26,4 m³/s de água do Rio São Francisco, sendo o Eixo Norte com 16,4 m³/s, e o Eixo Leste com 10,0 m³/s. Cada 1 m³/s equivale a 1000 litros/segundo.

Conteúdos de desinformação que circulam nas redes

O MIDR esclareceu que nenhum estado do Nordeste enfrenta crise hídrica por conta de problemas no Eixo Norte da transposição do Rio São Francisco como afirmam publicações em redes sociais. O governo federal também nega o fechamento de comportas e revelou problema em bomba hidráulica, que passa por manutenção.

A pasta afirmou que a Estação de Bombeamento 3 (EBI-3), localizada na Barragem de Negreiros, foi paralisada em janeiro deste ano depois de “anomalias” (“uma vibração excessiva de uma de suas motobombas, o que ocasionou um desgaste relevante e prematuro nos rolamentos”) terem sido detectadas em novembro de 2022. “O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional acionou o fabricante da bomba e está atuando para normalizar a situação o quanto antes. A previsão é que a estrutura volte à normalidade no final de maio de 2023, podendo ser restabelecida antes”, informou ao Comprova.

O órgão também disse que a área técnica da pasta não identificou nenhum problema no Reservatório Engenheiro Ávidos, na Paraíba. “A estrutura está vertendo com cerca de 30 cm de lâmina”, informou.

Segundo a pasta, “não há desabastecimento em nenhum dos estados (Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte)” servidos pelo trecho paralisado. O ministério enviou ao Comprova um gráfico que mostra as entregas de água do Eixo Norte para cada estado do Nordeste brasileiro ao longo dos anos. Nele, é possível observar que a Paraíba (em verde) e Pernambuco (azul) estão sendo beneficiados em 2023.

| Volumes de água fornecidos para cada estado no Eixo Norte da transposição. Fonte: Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR).

“O objetivo principal não é o abastecimento diário dessas regiões, isso é realizado pelas companhias de água, por meio da captação do recurso e armazenamento em reservatórios”, concluiu o ministério.

Por que explicamos: O Comprova Explica tem a função de esclarecer temas importantes para que a população compreenda assuntos em discussão nas redes sociais que podem gerar desinformação. Neste caso, conhecer de fato, o que é e como funciona a transposição permite que os leitores formem opiniões sobre o assunto com base em informações apuradas com rigor jornalístico.

Outras checagens sobre o tema: A transposição já foi alvo de diversas verificações do Comprova, como a que desmentiu a morte de peixes na barragem de Oiticica por causa do fechamento de comportas da transposição do São Francisco, as que mostraram que Bolsonaro não concluiu 84% das obras da transposição do Rio São Francisco, como alega vídeo, que Posts fizeram comparações enganosas sobre transposição do São Francisco para exaltar Bolsonaro, e que É falso que Lula desligou bombas da transposição do São Francisco. Outras abordagens sobre o assunto já foram feitas pelo Estadão.

Eleições

Investigado por: 2023-04-04

Morte de idosa é usada como sendo de senhora que orava em acampamento bolsonarista

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso que Ilda Ferreira dos Santos, a missionária que ficou famosa entre apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por rezar no acampamento montado em frente ao Quartel do Exército em Brasília (QGEx), tenha morrido. Nas redes sociais, pessoas confundiram Ilda com Ivanilda Maria da Silva, uma moradora de Sirinhaém (PE) que faleceu no dia 21 de março. Ilda tem 81 anos, nunca foi presa e continua fazendo suas orações. Ivanilda tinha 83 anos, não era envolvida com política e morreu após anos acamada.

Conteúdo investigado: Um santinho de falecimento verdadeiro retirado de contexto. A imagem do santinho de falecimento de uma idosa chamada Ivanilda Maria da Silva, criada por seus familiares, foi publicada em uma rede social e algumas pessoas comentaram que a foto no santinho era de Ilda Ferreira dos Santos, conhecida como “Irmã Ilda” e considerada uma personalidade entre apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Outras postagens adulteraram a imagem e acrescentaram junto às informações verdadeiras de Ivanilda – nome, datas de nascimento (10/04/1939) e de óbito (21/03/2023) – um texto falso: “morre a mais cruel fascista, terrorista. Ela portava uma Bíblia e por isso ela foi presa em 9 de janeiro pelo cabeça de ovo demoníaco”. “Cabeça de ovo” é uma alusão depreciativa ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Onde foi publicado: TikTok, Telegram, Twitter, Facebook e Instagram.

Conclusão do Comprova: São enganosas as postagens e comentários nas redes sociais que associam erroneamente o santinho de falecimento de Ivanilda Maria da Silva a Ilda Ferreira dos Santos, apoiadora do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As duas mulheres moravam a cerca de 2 mil quilômetros uma da outra e, segundo Ilda, não se conheciam.

Ilda ficou conhecida nas redes sociais por ter “rezado pela nação” em Brasília, sendo chamada de “irmã Ilda” e, aos 81 anos, continua viva. Ela também não foi presa a mando do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes quando o acampamento em frente ao Quartel do Exército em Brasília foi desmantelado no dia 9 de janeiro. Ilda mora em Ceilândia (DF) enquanto que Ivanilda era moradora de Sirinhaém, em Pernambuco. Ivanilda enfrentava problemas de saúde e não caminhava mais há uma década. Sua morte ocorreu a poucos dias de completar 84 anos.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Uma usuária que compartilhou no TikTok o santinho de falecimento original em 21 de março obteve até 4 de abril 386,8 mil visualizações, 4442 curtidas e mais 1000 comentários.

No Twitter, um usuário que compartilhou no dia 25 de março o santinho com a legenda falsa teve, até o momento, 120,8 mil visualizações na postagem e 1,5 mil retuítes. Em um grupo do Telegram, a imagem adulterada foi compartilhada no dia 27 de março e já foi vista 6,2 mil vezes. Ela circulou também no Facebook, Instagram e Whatsapp.

Como verificamos: A equipe do Comprova fez uma busca no Google pelo termo “Ivanilda Maria da Silva”. O primeiro link foi a checagem feita pelo Boatos.org que desmente a informação de que a “Irmã Ilda” teria falecido. Uma das evidências apresentadas pela matéria é um vídeo publicado pelo senador Magno Malta (PL) que mostra a própria irmã Ilda atestando estar viva.

A assessoria do senador confirmou ser falsa a informação sobre o falecimento da “irmã Ilda” e citou o vídeo postado por Malta. Foram analisadas os conteúdos da página do Facebook da Assembleia de Deus de Ceilândia do Norte, igreja frequentada pela missionária. Uma busca nas redes sociais por postagens sobre a “irmã Ilda” identificou pastores e uma bispa próximos a ela, com os quais entramos em contato para solicitar uma entrevista com a missionária. Ela conversou com Comprova pelo telefone.

Foi realizada uma pesquisa na lista dos presos durante os atos terroristas de janeiro deste ano em Brasília, fornecida pela Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (SEAP-DF), com a intenção de verificar se Ivanilda Maria da Silva esteve entre os relacionados. Também pesquisamos, pelo Google Lens, Pimeyes e TinEye, a imagem da mulher colocada no santinho de falecimento, na tentativa de identificá-la. Pesquisas em obituários, processos e reportagens sobre falecimento de “Ivanilda Maria da Silva” em março deste ano foram realizadas com o objetivo de verificar se alguma pessoa com essa nomeação teria falecido na mesma época.

A equipe Comprova ligou para cartórios de registro civil e informou os dados contidos no santinho de falecimento. Com isso, conseguimos confirmar a morte de Ivanilda Maria da Silva em Sirinhaém (PE). Buscamos no Facebook usuários que fossem dessa localidade e mandamos mensagem para alguns. Dessa forma, obtivemos o contato de familiares e conhecidos da senhora Ivanilda Maria da Silva, com quem também conversamos.

Ilda não é Ivanilda

“Meu nome é Ilda, estou passando aqui para dizer que eu estou viva”, afirma Ilda Ferreira dos Santos em vídeo divulgado pelo senador Magno Malta. Mais adiante, ela agradece a preocupação das pessoas e lembra que esta é a segunda vez que é alvo de boato. Em janeiro deste ano, a AFP e o Aos Fatos mostraram que não era verdade que ela havia sido presa pela Polícia Federal, após os ataques a Brasília no dia 8 de janeiro, e muito menos que ela teria falecido na prisão.

Já Ivanilda Maria da Silva nasceu, segundo o santinho de falecimento divulgado nas redes sociais, em 10 de abril de 1939 e faleceu em 21 de março de 2023, portanto, faria 84 anos este mês. Uma usuária do TikTok publicou o santinho de falecimento no dia da morte de Ivanilda. Apesar de a imagem não ser falsa, a maioria das pessoas que comentaram a publicação acharam que Ivanilda Maria da Silva, a moradora de Sirinhaém (PE), era Ilda Ferreira dos Santos, a missionária evangélica do acampamento de Brasília. “Que triste, ela estava sempre nas manifestações, lutou pelo Brasil”, escreveu uma senhora. Em caixa alta, uma mulher comentou, “PATRIOTA. MORREU NO DIA DO ANIVERSÁRIO DO NOSSO CAPITÃO”, referindo-se a Bolsonaro, nascido em 21 de março de 1955.

Outros usuários compartilharam o santinho de falecimento adulterado. Na parte superior dele foi colocado o texto: “Morre a mais cruel fascista, terrorista. Ela portava uma Bíblia e por isso ela foi presa em 09 de janeiro de 2023 pelo cabeça de ovo demoníaco”. A frase ligava o nome de Ivanilda à “Irmã Ilda”.

Isso porque “Irmã Ilda” ficou conhecida durante os acampamentos de bolsonaristas em Brasília que ocorreram entre novembro de 2022 e janeiro deste ano, onde rezava junto aos presentes. Ela também esteve em uma unidade prisional do Distrito Federal, com uma Bíblia, para orar pelos presos da manifestação do dia 8 de janeiro. Na ocasião, Ilda foi alvo de outra mentira, a de que estaria sendo libertada da prisão. Dias antes desta notícia, outra informação falsa foi compartilhada nas redes sociais sobre o falecimento da “Irmã Ilda”.

De toda forma, não há, na lista de presos pelos atos de janeiro deste ano em Brasília, qualquer pessoa identificada como Ilda ou Ivanilda. O único registro público sobre “Ivanilda Maria da Silva” nascida em 10 de abril de 1939 e falecida em 21 de março de 2023 remete à moradora de Sirinhaém (PE), que estava acamada em janeiro deste ano. Com relação à identificação da imagem colocada no santinho de falecimento, a pessoa que aparece na foto em preto e branco não se assemelha à Ilda e as buscas reversas e de reconhecimento facial não resultaram.

Quem é Ivanilda Maria da Silva

Ivanilda Maria da Silva com uma das bisnetas, no final de 2022. Foto: acervo pessoal

Ivanilda Maria da Silva iria completar 84 anos este mês. Viúva há mais de 40 anos, ela criou 9 filhos, segundo uma das filhas, Joelma Souza dos Santos, que trabalha com confecção e conserto de próteses dentárias no centro de Sirinhaém, uma “cidade pacata”, como ela mesma definiu ao Comprova, localizada no litoral sul de Pernambuco, a 76 km de Recife.

“Essa dona Ivanilda é minha tia e minha mãe de criação, é uma pessoa evangélica, nunca se meteu em confusão, nunca foi presa. Se ela foi numa delegacia, foi pra tirar a identidade”, explicou Joelma, desmentindo a informação que circula nas redes sociais de que Ivanilda teria sido presa em 9 de janeiro de 2023.

“Tudo que tá escrito nesse enunciado é mentira”, afirma Valéria Norberta Marques de Lima ao Comprova a agente de saúde que cuidou de dona Ivanilda por 29 anos. Ela se referia à frase “morre a mais cruel fascista, terrorista. Ela portava uma Bíblia e por isso ela foi presa em 9 de janeiro pelo cabeça de ovo demoníaco” colocada no santinho de falecimento de dona Ivanilda. “Ela nunca esteve presa e em janeiro estava acamada”, relembrou a agente de saúde.

Joelma conta que há mais de 10 anos a mãe não caminhava. “Ela tinha problema de pressão, glaucoma e reumatismo”, relembra. Quando souberam que havia um boato circulando nas redes sociais a respeito da mãe, os filhos ficaram “super constrangidos”, contou Joelma e explicou que uma das irmãs não quis dar entrevista porque estava muito nervosa com a situação.

“Isso é negócio de política, quem era Bolsonaro está tudo errado. Até porque a gente nem é desse meio, nem gosta dessas coisas”, afirmou Joelma. Ao saber que a equipe do Comprova estava entrando em contato com ela para desmentir o boato sobre a mãe, ela fez um apelo: “Por favor, eu gostaria muito que você desfizesse isso aí, se você puder”.

Quem é Ilda Ferreira dos Santos

Senador Magno Malta (PL-ES) homenageia irmã Ilda em sessão especial do Senado realizada em 14 de março de 2023 em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, 8 de março. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado.

Ilda Ferreira dos Santos nasceu em Formosa (GO) e se mudou para Ceilândia (DF) na década de 1960. Ela disse ao Comprova que virou evangélica aos 38 anos e frequenta a Assembleia de Deus de Ceilândia Norte (ADCN), onde ocupa cargo de presidente de missões, função que a levou algumas vezes ao Senegal para trabalhos missionários. Ilda passou a frequentar o acampamento em frente ao Quartel General do Exército de Brasília em novembro de 2022 e ficou por lá até a madrugada de 9 de janeiro, instantes antes de ser deflagrada a ação policial que pôs fim ao acampamento.

Naquela mesma noite, passou a circular um primeiro boato de que ela teria morrido e depois que havia sido presa. Ela, na verdade, segundo conta, estava em segurança na igreja de uma amiga. Ilda diz não ter se incomodado com o boato que circulou em janeiro, nem com este mais recente, e contou que chegou a ver a imagem do santinho de falecimento que passou a circular como se fosse o seu e que não se achou parecida fisicamente com Ivanilda.

Para além da confusão, racismo

Ivanilda e Ilda são diferentes fisicamente, mas foram confundidas. A pesquisadora de estudos de relações etnico-raciais Etiene Martins avalia que os erros e equívocos cometidos pelos usuários nas redes sociais são uma forma de negar a individualidade e, consequentemente, a humanidade de uma pessoa em razão de sua raça. “É aquele famoso argumento racista: “preto é tudo igual””, explica.

Etiene alerta sobre os danos e transtornos que essa generalização causa na vida dos envolvidos. ”A falta de empatia, que é uma das principais características do racismo, faz com que quem leia que uma pessoa negra falsamente foi anunciada como falecida não se atente ao fato que essa mentira atinja a família, amigos e outras pessoas que nutrem carinho por ela e sofrem diante de uma notícia como essa até ter acesso a verdade.”

Ela dá um exemplo recorrente de como os ditos “equívocos” podem ter consequências drásticas. “São esses tipos de situações que fazem com que um jovem negro inocente seja preso em um reconhecimento por foto por um crime que não cometeu ou morto por agentes do estado de forma equivocada por que o fato de ser negro o faz parecer com um outro homem negro que é procurado pela polícia.”

A pesquisadora explica que essas situações são mesmo complexas e de difícil entendimento para o senso comum, mas que são justamente elaboradas para parecer tudo, menos racismo. “É evidente que a raça é um fator fundamental porque vivemos em uma sociedade em que há negros, brancos, indígenas e amarelos e esses erros são recorrentes apenas com os negros.”

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova mandou mensagem no privado para usuários do Twitter, Instagram e Facebook que compartilharam o conteúdo, mas não obteve respostas até o momento. Também seguimos no TikTok a usuária que compartilhou o santinho de falecimento e comentamos a postagem na expectativa de que ela entrasse em contato conosco, mas ela não nos procurou.

O que podemos aprender com esta verificação: Desinformadores costumam utilizar termos sensacionalistas e de ironia para chamar a atenção do leitor. Além disso, é comum a utilização de informações truncadas e sem esclarecimentos. Neste caso, foi usado o santinho de falecimento de Ivanilda e uma correlação com o suposto falecimento de uma pessoa que se caracterizava pelo uso de uma Bíblia nos acampamentos bolsonaristas.

Desta forma, mesmo sem citar o nome da irmã Ilda, foi o suficiente para que as pessoas fizessem a alusão entre as duas mulheres. Sempre desconfie de publicações com termos sensacionalistas e sem informações claras. Também é preciso verificar os fatos na imprensa profissional, sobretudo em casos envolvendo falecimento de pessoas que se tornaram conhecidas.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A mesma publicação foi checada pelo Boatos.org. O UOL Confere desmentiu que idosas detidas por causa dos atos terroristas em Brasília tivessem falecido no ginásio da Polícia Federal. O Comprova mostrou que é falso que FBI pediu extradição e prisão do ministro do STF Alexandre de Moraes.

Política

Investigado por: 2023-03-31

Homens dançando ao som de “Infiel” não são ministros de Lula

  • Enganoso
Enganoso
Homens que aparecem dançando música da cantora Marília Mendonça em vídeo não são os ministros da Justiça, Flávio Dino, e da Defesa, José Múcio. As imagens, gravadas em um bar na cidade de Grossos, no Rio Grande do Norte, circulam nas redes sociais desde 2017. Diferentemente do que sugerem posts enganosos nas redes sociais, quem protagoniza a coreografia ao som de “Infiel” é um radialista da cidade também potiguar de Mossoró, acompanhado de um amigo, que não é ministro.

Conteúdo investigado: Vídeo em que dois homens aparecem dançando a música “Infiel” da cantora Marília Mendonça. Publicações nas redes sociais afirmam falsamente que os homens seriam o ministro da Justiça, Flávio Dino, e o ministro da Defesa, José Múcio.

Onde foi publicado: TikTok e Telegram.

Conclusão do Comprova: São enganosos posts que circulam nas redes sociais associando um vídeo de dois homens dançando a música “Infiel”, de Marília Mendonça, aos ministros da Justiça, Flávio Dino, e da Defesa, José Múcio. Nas imagens, gravadas em um bar, a dupla faz uma performance ao redor de uma mesa de sinuca. Uma das peças de desinformação insere sobre as imagens a frase “ministro da Defesa dando show em churrasco”, enquanto a outra inclui a legenda “Dinossauro tá animada, hein ?!”. “Dinossauro” é a nomenclatura que as redes bolsonaristas têm usado para designar Flávio Dino.

O vídeo é de 2017 e foi feito no bar Amigos de Farra, na Prainha de Grossos, no Rio Grande do Norte. Além de ser possível, pelas imagens, identificar que não são os ministros, ao Comprova, o dono do bar negou a presença de qualquer ministro no local e indicou o nome de um dos homens que aparece no vídeo. O frequentador do bar apontado falsamente como Flávio Dino é, na verdade, Nelson Filho, radialista do município potiguar de Mossoró. Ele próprio confirmou a informação e acrescentou que, na ocasião, estava acompanhado de um amigo, que sequer é político. “Não tem nem cabimento isso, porque nem de longe parece com o ministro”, disse.

As imagens da coreografia feita pela dupla chegaram a ser compartilhadas por Nelson à época e foram parar, inclusive, na página oficial da cantora (morta em 2021) no Facebook – a publicação acumula 4,9 milhões de visualizações.

As assessorias de imprensa dos ministérios da Justiça e da Defesa também desmentiram a informação de que as pessoas que aparecem no vídeo seriam os ministros das respectivas pastas.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 31 de março de 2023, o post no Telegram tinha 6,6 mil visualizações, já a publicação no TikTok somava 25,3 mil compartilhamentos, 24,4 mil curtidas e 7,5 mil comentários.

Como verificamos: Primeiramente, buscamos por “ministros de Lula dançando em bar” no Google, que retornou com checagens do Boatos.org e da Lupa. A verificação da Lupa localizou uma publicação do site Buzzfeed de seis anos atrás sobre o mesmo vídeo, indicando que o conteúdo é antigo. O texto não identifica quem são os homens, mas registra que o vídeo viralizou nas redes sociais naquela época.

Também comparamos as fotos dos ministros, disponíveis nos sites do Ministério da Justiça e da Defesa, com prints das imagens que mostram os homens dançando. Como a qualidade do vídeo viral estava baixa, usamos a ferramenta Clicdrop para melhorar a resolução. Em seguida, colocamos as imagens lado a lado, usando recurso do site Montagem de Fotos.

| Montagem sobre fotos (Divulgação/Ministério da Justiça | Reprodução do vídeo viral).

| Montagem sobre fotos (Divulgação/Ministério da Defesa | Reprodução do vídeo viral).

Ainda que as fotos apontassem pouca semelhança entre eles, entramos em contato com as assessorias de imprensa dos ministérios, que negaram que fossem os ministros nas imagens.

Diante da negativa, partimos para a identificação da dupla que aparece em primeiro plano no conteúdo viral. Decidimos, então, buscar pistas no próprio vídeo. Na parede do bar, era possível ler “Amigos de Farras” e “Bar & Restaurante”.

| Reprodução TikTok.

A partir dessa identificação, procuramos por essas palavras-chave no Google e encontramos um estabelecimento de mesmo nome localizado na chamada “Prainha”, cujas imagens correspondiam às do cenário do vídeo viral. Junto ao endereço do bar, havia um número de celular. A partir dele, conseguimos contato por WhatsApp com o dono, Marcos Antonio Neves Eufrasio.

| Reprodução Google Maps – Captura de tela feita em 31 de março de 2023.

| Reprodução de imagem do restaurante ampliada, publicada há cinco anos no Google.

Eufrasio nos passou o nome do homem de camiseta branca que aparece dançando e informou que ele seria da cidade de Mossoró. Na sequência, fizemos nova busca no Google por “Nelson Filho Mossoró” e encontramos um texto publicado em um blog local, que traça um perfil do radialista.

Procurando pelo nome do autor do blog no mesmo buscador, chegamos a uma revista da região, em que o blogueiro atua como colunista. Em contato com a revista, conseguimos o telefone de Nelson Filho. Por WhatsApp, o homem confirmou ser ele a pessoa que aparece no vídeo viral, acompanhado de um amigo.

O vídeo chegou a ser compartilhado pelo próprio Nelson e pela página oficial da cantora Marília Mendonça no Facebook no dia 9 de fevereiro de 2017. “Adorooooo!!! Aôooo sofrência!!!!!”, escreveu a equipe da cantora com a hashtag #Infiel, nome da música.

| Captura de tela do Facebook feita em 31 de março de 2023.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova não conseguiu contatar o perfil Selva Brasil Oficial pelo Telegram, mas fez contato com o perfil @selvabrasiloficiall no Instagram. Não houve resposta até a publicação desta checagem.

O perfil @DodoBarbosa22, responsável pela publicação no TikTok, foi procurado por mensagem direta no Twitter, mas não respondeu e bloqueou a jornalista.

O que podemos aprender com esta verificação: Peças de desinformação costumam se aproveitar de vídeos com baixa qualidade de imagem para enganar sobre a identidade das pessoas. Por vezes, a resolução pode ser reduzida propositalmente na intenção de dificultar a identificação dos atores.

Também é comum que vídeos antigos que viralizaram há mais tempo voltem a ser explorados, em outros contextos, para espalhar desinformação.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Esse conteúdo também foi verificado pelo site Boatos.org e pela Lupa. O Comprova já desmentiu outros boatos envolvendo o nome de Flávio Dino, que, frequentemente, tem sido alvo de desinformadores. Já atestou, por exemplo, que o ministro não eximiu o governo de combater armas ilegais, ao contrário do que é dito nas redes sociais e que Dino não se reuniu com criminosos.