O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2021-06-22

Estudos fraudados não deslegitimam artigos que comprovam ineficácia da cloroquina contra a covid-19

  • Enganoso
Enganoso
Médico norte-americano apresenta evidências enganosas ao sugerir conspiração da ciência contra cloroquina. Texto publicado em um site brasileiro, no qual o médico defende uso de coquetel de medicamentos contra a covid-19, engana ao não explicar que tratamento não tem eficácia comprovada.
  • Conteúdo verificado: Site publica texto com afirmações de cardiologista dos Estados Unidos ao Senado. Ele cita dois estudos sobre hidroxicloroquina que foram  fraudados e diz, a partir disso, que a droga funciona contra a covid-19 se combinada com outras – declaração sem embasamento científico, já que não há medicamentos com eficácia comprovada contra a doença até o momento.

O texto “‘Covid-19: estudos do tratamento precoce foram fraudados na medicina acadêmica’, diz Dr. Peter McCullough”, publicado pelo site Terça Livre, traz informações verdadeiras sobre as declarações do médico, mas engana ao não esclarecer que o “tratamento precoce” não tem eficácia comprovada contra o coronavírus.

O texto se refere às afirmações de McCullough durante uma audiência no Senado americano sobre “Tratamento ambulatorial precoce: uma parte essencial de uma solução para a covid-19”, em 19 de novembro de 2020. Ele esteve lá como testemunha, chamado pelo senador Ron Johnson, republicano que, como o ex-presidente Donald Trump, defende a hidroxicloroquina e outros medicamentos sem eficácia comprovada contra o Sars-CoV-2.

McCullough é um conhecido defensor do chamado “tratamento precoce” nos Estados Unidos e, como destaca o Terça Livre, afirmou ao Senado que “o tratamento com hidroxicloroquina para a covid-19 foi ignorado, banido e até mesmo fraudado na medicina acadêmica”. Na audiência, ele citou dois estudos que refutavam os benefícios da hidroxicloroquina no combate ao coronavírus e que tiveram de ser retratados.

O Terça Livre confunde ao não informar que os estudos retirados do ar não invalidam outros vários artigos que comprovam a ineficácia dessas drogas na pandemia e que nenhum medicamento citado pelo médico é eficaz no combate ao coronavírus, não sendo, portanto, recomendados por autoridades sanitárias como a Organização Mundial da Saúde (OMS), o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) e a FDA (agência regulatória de medicamentos, na sigla em inglês) dos Estados Unidos.

Procurado, o site não respondeu ao pedido de entrevista até a publicação deste texto.

Como verificamos?

O Comprova acessou o vídeo transmitido ao vivo pela conta do programa News Hour, da PBS, no Youtube, no dia 19 de novembro de 2020.

Em seguida, buscou a página da Comissão de Segurança Interna e Assuntos Governamentais do Senado Americano, onde localizou a audiência sobre “tratamento ambulatorial precoce: uma parte essencial de uma solução para covid-19”. O vídeo também está arquivado no site, além do testemunho do médico, transcrito na íntegra.

A reportagem também buscou a biografia do médico e consultou as entrevistas à Gazeta do Povo e à jornalista Laura Ingraham, da Fox News, nas quais defende que a  hidroxicloroquina, em combinação com outros medicamentos, é segura, eficaz e reduz a hospitalização e a morte.

Pesquisou quem é Ron Johnson, senador republicano que comandou a audiência da qual McCullough participou, e buscou informações sobre os estudos mencionados pelo médico, cujas fraudes foram repercutidas pela imprensa.

Foram consultadas as informações mais atualizadas em relação ao chamado “tratamento precoce” e que comprovam a ineficácia de medicamentos como hidroxicloroquina e ivermectina contra a covid. Por fim, a equipe entrou em contato com os responsáveis pelo Terça Livre, mas não obteve resposta.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 21 de junho de 2021.

Verificação

Os estudos

Os estudos mencionados por Peter McCullough tiveram, de fato, falhas apontadas. Um é o artigo “Cardiovascular Disease, Drug Therapy, and Mortality in Covid-19”, que continua disponível na plataforma do New England Journal of Medicine, mas com aviso de remoção. Outro, dos mesmos autores, foi publicado pelo Lancet e é alvo frequente de publicações que tiram as informações de contexto, como observou o Estadão Verifica em janeiro de 2021.

Os rumores no meio médico e estatístico sobre eles começaram após a divulgação na Lancet, em 22 de maio de 2020. O artigo defendia que o uso de medicamentos contra a malária, como a cloroquina e a hidroxicloroquina, no tratamento da covid-19 não se mostraram benéficos e aumentaram o risco de morte por problemas cardiovasculares.

Os pesquisadores informavam terem usado dados de 96 mil pacientes em 671 hospitais do mundo fornecidos pela Surgisphere Corporation, fundada pelo cirurgião vascular Sapan Desai, coautor do artigo.

Entretanto, causou estranheza que uma empresa pequena tivesse dados anônimos de tantos pacientes e dos mais variados hospitais. Os demais coautores, Mandeep Mehra, do Hospital Brigham de Mulheres de Boston, Frank Ruschitzka, do Hospital Universitário de Zurique, e Amit Patel, do departamento de bioengenharia da Universidade de Utah, pediram os dados brutos para assegurar tanto a veracidade da origem quanto a comprovação dos resultados, o que foi negado por Desai.

Como os dados originais de onde foram extraídas as análises não estavam disponíveis e sem um comitê de ética que comprovasse a legalidade do processo, cerca de 120 especialistas da área médica e estatística assinaram uma carta à Lancet apontando as irregularidades no estudo e exigindo a revisão. A revista inglesa retratou-se e retirou do ar o artigo em 5 de junho de 2020.

No dia da retratação, o The New England Journal of Medicine também publicou uma nota para retirar outro artigo assinado por Desai e que analisava se a terapia medicamentosa usada para tratar doenças cardiovasculares era eficaz no combate à covid-19. Os dados utilizados eram os mesmos do artigo da Lancet.

“Tratamento precoce”

Como reiterado frequentemente pelo Comprova, não há, até o momento, estudos que comprovem a eficácia ou segurança do uso de medicamentos associados ao “tratamento precoce” para o combate à covid. No caso da cloroquina e da hidroxicloroquina, a ineficácia nestes casos inclusive já está comprovada.

A OMS contraindica “fortemente” a adoção das duas drogas, posicionamento também adotado pela FDA, autoridade sanitária dos Estados Unidos, e pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA). Os órgãos se baseiam em outros estudos grandes, bem desenhados e publicados em revistas científicas respeitadas.

O médico

Peter McCullough é um especialista em doenças cardiovasculares ligado ao Baylor University Medical Center em Dallas, no Texas.

Ele defende a proposta de reunir diversas pesquisas já publicadas sobre “tratamento precoce” para formar uma espécie de guia orientativo para médicos. Afirma ser necessário usar um coquetel de medicamentos nesse tratamento, sendo que a hidroxicloroquina faria parte de um programa de quatro a seis drogas para pacientes com mais de 50 anos ou com comorbidades.

McCullough atribui a não adoção do tratamento ao medo dos médicos de contraírem o vírus e ao fracasso de governos, empresas farmacêuticas e agências de pesquisa na realização de grandes ensaios clínicos. Ele também vê como censura o fato de redes sociais, como o Twitter, suspenderem contas que tratem do assunto. Já foi alvo de agências de checagem como AFP ao distribuir informação inverídica sobre vacinação e teve artigo verificado pelo próprio Comprova.

O vídeo da audiência aqui checado tem de 2 horas e 16 minutos e foi transmitido ao vivo pela página do programa News Hour, da PBS, no Youtube, no dia 19 de novembro de 2020. Durante o depoimento, o médico afirma ter havido má-fé acadêmica em relação à hidroxicloroquina por conta dos dois estudos removidos das revistas científicas. O trecho consta a partir de 1:44:43 do vídeo.

Ron Johnson

Partidário fervoroso do ex-presidente Donald Trump, Ron Johnson, senador republicano de Wisconsin que comandou a audiência da qual McCullough participou, “passou grande parte de 2020 promovendo investigações contra Hunter Biden, tentando inutilmente mostrar a corrupção por parte de Joseph R. Biden Jr. (Joe Biden)”, segundo o The New York Times. Ainda de acordo com o veículo americano, ele “espalhou desinformação sobre o vírus, a eleição, o motim do Capitólio e até mesmo a vegetação da Groenlândia”.

Em janeiro de 2021, após a vitória de Joe Biden contra Trump, Johnson foi um dos 11 senadores republicanos que disse que iria contestar o resultado da eleição. Além de defender medicamentos como cloroquina e ivermectina, o parlamentar tem minimizado a urgência de vacinar todos os americanos, como mostra reportagem da CNN publicada em abril.

Terça Livre

O site pertence ao bolsonarista Allan dos Santos, investigado no inquérito que apura a organização e o financiamento de atos antidemocráticos ao longo de 2020.

As provas coletadas pela Polícia Federal no ano passado com a quebra de sigilo do aparelho celular de Allan dos Santos mostram que ele mantinha reuniões com deputados bolsonaristas e servidores do Palácio do Planalto. É dele uma mensagem enviada a um assessor de Bolsonaro na qual defende uma intervenção militar no país. Em julho de 2020, ele afirmou que havia deixado o país.

A Polícia Federal pede a abertura de oito frentes de apuração. Cinco meses depois de ser questionada pelo STF sobre a continuação das investigações, a Procuradoria-Geral da República defendeu o arquivamento do inquérito. Em 3 de fevereiro deste ano, Terça Livre teve seu canal no YouTube encerrado por violar as regras da plataforma, mas, em 12 de fevereiro, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo ordenou que o Youtube reativasse o canal. À época, Santos chamou a retirada de censura e criou um canal próprio, que também foi removido.

Na semana passada, o Comprova verificou um tuíte em que o bolsonarista afirmava, falsamente, que um jogador dinamarquês havia se vacinado antes de sofrer mal súbito.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia ou sobre políticas públicas do governo federal.

Quando o conteúdo envolve medicamentos ou tratamentos contra o novo coronavírus, a checagem é necessária porque informações incorretas podem levar as pessoas a colocarem a saúde em risco.

A publicação teve mais de 3,8 mil interações no Facebook e, destas, mil foram compartilhamentos. A postagem foi sinalizada pela plataforma com a frase “Tratamentos para a covid-19 sem comprovação científica podem ser prejudiciais à saúde”.

Neste ano, o Comprova já publicou diversas verificações neste sentido, como, por exemplo, os malefícios de altas doses de ivermectina, a não eficácia da hidroxicoloroquina contra a covid e sobre o “tratamento precoce”. Conteúdos semelhantes também foram publicados por outras agências de checagem, como Agência Lupa e Aos Fatos.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-06-21

É falso que senadores republicanos tenham descoberto origem da covid-19

  • Falso
Falso
A alegação é falsa. Site afirma que vírus vazou de laboratório baseado apenas em uma suspeita levantada por senadores republicanos.
  • Conteúdo verificado: Texto publicado em site na internet segundo o qual senadores republicanos revelaram que já descobriram a origem da covid-19 e que farmacêuticas trabalharam para a “potencialização” dos efeitos do vírus.

Um pronunciamento de cinco senadores republicanos foi tirado de contexto nas redes para dar força a uma teoria de que o Sars-CoV-2 teria escapado de um laboratório. Embora acreditem nessa tese, os senadores não apresentaram nenhuma evidência para comprovar sua veracidade.

O site Terra Brasil Notícias publicou um texto em 14 de junho no qual diz que senadores republicanos “já descobriram a real origem da covid-19” e que ele teria surgido em laboratório chinês. O texto traz dois vídeos de um pronunciamento de cinco parlamentares americanos. No entanto, em nenhum momento os senadores fazem a afirmação de que descobriram a origem da doença. Na verdade, eles convocaram um pronunciamento para criticar o que chamam de “censura das companhias de tecnologia sobre as origens do coronavírus”.

Segundo eles, as empresas donas de redes sociais teriam atuado para limitar o debate sobre a teoria de que o Sars-CoV-2 pode ter vazado de um laboratório em Wuhan, na China.

Ainda em março de 2020, em um estudo publicado na revista Nature, cinco pesquisadores dos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália concluíram que “a análise mostra claramente que o SARS-CoV-2 não é uma construção de laboratório ou um vírus propositalmente manipulado”. A conclusão deste estudo foi corroborada em outras pesquisas publicadas em revistas científicas de renome, como a Cell e Nature Microbiology.

No primeiro estudo, os pesquisadores discutiram a possibilidade de o vírus ter escapado de um laboratório e, apesar de mencionarem que naquele ponto era impossível provar ou refutar essa teoria, disseram acreditar que tal tese não era plausível.

A teoria de um possível vazamento passou a ser mais discutida nos últimos meses, em especial depois que o presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que a comunidade de inteligência norte-americana estaria dividida sobre a teoria e pediu mais investigações. Ainda assim, essa hipótese continua a ser inconclusiva e baseada em evidências circunstanciais. No evento em questão, os senadores não apresentaram provas para essa teoria e sequer haviam convocado o pronunciamento para isso. Apenas pediram que sejam feitas novas investigações sobre o tema.

Procuramos o Terra Brasil Notícias, mas não obtivemos retorno.

Como verificamos?

Primeiramente, buscamos a origem do vídeo utilizado pelo site. Uma notícia do 10 News, da emissora ABC, informou que o pronunciamento dos parlamentares ocorreu em 10 de junho. Localizamos o vídeo publicado na íntegra na conta do Twitter da senadora Marsha Blackburn. Assim, foi possível compreender o contexto das alegações dos senadores.

Consultamos notícias na mídia nacional e internacional para obter informações sobre as investigações da OMS e das agências de inteligência dos Estados Unidos sobre a origem do vírus.

Também utilizamos as informações de uma checagem anterior do Comprova sobre o vazamento de e-mails de Anthony Fauci sobre a pandemia.

Solicitamos um posicionamento do Terra Brasil Notícias, mas não tivemos retorno até a publicação deste texto.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 18 de junho de 2021.

Verificação

O pronunciamento de senadores republicanos

Os trechos dos vídeos que viralizaram nas redes sociais no Brasil são parte de um pronunciamento de cinco senadores republicanos, comandado por Marsha Blackburn (Tennessee) em 10 de junho. Diferentemente do informado pelo site Terra Brasil Notícias, Blackburn e os colegas de partido não estavam anunciando que “tinham descoberto a real origem da covid-19”, mas sim, dando sua opinião sobre o que chamam de “censura das grandes companhias de tecnologia sobre a origem do coronavírus”.

Na visão destes republicanos, os veículos de comunicação tradicionais e as empresas de redes sociais não teriam dado a atenção devida a uma das teorias sobre a origem do Sars-CoV-2: a de que ele teria escapado de um laboratório em Wuhan.

“Vou dizer o seguinte: as companhias de tecnologia passaram dos limites nisso. Todos nós temos sugestões de como nós, enquanto senadores, podemos avançar nessa questão e devemos garantir que isso nunca mais aconteça ao povo americano”, disse Blackburn, citando conteúdos relacionados a esse tema que, segundo ela, teriam sido retirados do ar pelas empresas que controlam redes sociais como Facebook, Twitter e YouTube.

Um dos senadores presentes no pronunciamento foi alvo dessa política de combate à desinformação das redes sociais. Na última sexta-feira, 11, Ron Johnson (Winsconsin) teve o seu canal no YouTube suspenso por uma semana. Segundo relatou a CNN, a plataforma informou que removeu o vídeo “de acordo com nossas políticas de desinformação médica, que não permitem conteúdo que incentive as pessoas a usar hidroxicloroquina ou ivermectina para tratar ou prevenir o vírus”. O Comprova já mostrou que estes medicamentos não possuem eficácia comprovada para a covid-19.

Johnson também deu sua opinião sobre a teoria de origem do Sars-CoV-2 em um laboratório. Primeiro adotou um tom ponderado ao dizer que as evidências da teoria de um “potencial vazamento” de laboratório estavam às vistas de todos e que “o resultado dessa lacuna de 18 meses em não investigar a verdadeira origem do coronavírus provavelmente significa que nunca chegaremos ao fundo disso”.

No entanto, depois adota tom mais enfático ao acusar as autoridades chinesas de negligência no momento inicial da pandemia e dizer não ter dúvidas de que “a China é culpada”.

O texto ainda cita os senadores Marco Rubio e Tom Cotton, mas eles não aparecem no vídeo.

Até o momento, as evidências mais robustas que existem são estudos científicos que mostram ser mais provável a teoria de que o Sars-CoV-2 evoluiu naturalmente em morcegos e contaminou os seres humanos, provavelmente tendo infectado um terceiro animal no percurso. Esses senadores republicanos acreditam na tese de que o vírus foi criado em um laboratório e acabou escapando por algum acidente, mas também não apresentaram nenhuma evidência disso. Essa teoria ganhou atenção nos últimos meses, mas permanece sem comprovação, como você pode ler a seguir.

O que se sabe sobre a origem do Sars-CoV-2

Os senadores americanos citados nesta checagem são republicanos, o mesmo partido do ex-presidente Donald Trump que, há um ano, durante campanha em que buscava a reeleição, lançou suspeita sobre a origem do Sars-CoV-2, indicando que o vírus havia vazado do laboratório de Wuhan e que a China era a culpada pela tragédia humanitária. Até deixar a Casa Branca, o ex-presidente não comprovou sua teoria.

Em seu lugar, assumiu o democrata Joe Biden que, no final do mês passado, determinou investigação sobre a origem do coronavírus, e disse que as agências de inteligência dos Estados Unidos estão analisando várias hipóteses, até mesmo um acidente no laboratório chinês. Segundo Biden, os dados atuais são insuficientes para determinar se o vírus surgiu de causas naturais ou de um acidente de laboratório.

A decisão do presidente é uma resposta a um relatório da inteligência dos Estados Unidos, que afirma que pesquisadores do Instituto de Virologia de Wuhan foram hospitalizados no final de 2019 com sintomas que reacendem o debate sobre a origem do Sars-CoV-2. O relatório, porém, é inconclusivo, e Biden requisitou a nova investigação, com prazo para término em até 90 dias – contados a partir do final de maio.

Para Mike Ryan, diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS), “essa mobilização para se descobrir a origem do Sars-CoV-2 está envenenada pela política”.

Em março, a OMS apresentou um relatório sobre o surgimento da covid-19, classificando como “extremamente improvável” a pandemia ser decorrente de um acidente ou fuga do Sars-CoV-2 de laboratório. Era mais plausível, segundo o documento, uma origem natural, ou seja, um animal transmitir o agente infeccioso para humanos.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, criticou a falta de acesso a dados brutos do governo chinês sobre os primeiros casos. Adhanom, grupos de pesquisadores e mesmo o presidente Joe Biden defendem que as autoridades continuem investigando as origens do vírus.

As incertezas sobre a forma como surgiu o novo coronavírus colocaram o assunto em pauta na reunião do G7 (grupo de algumas das maiores economias do mundo) realizada recentemente. Encerrado o encontro, o bloco solicitou que a China colabore com a OMS nas investigações para esclarecer de onde vem o Sars-CoV-2.

E-mails de Fauci não atestam origem do vírus

No vídeo, o senador republicano Roger Marshall, do estado do Kansas, menciona ter lido os e-mails do infectologista Anthony Fauci sobre as origens do vírus. Fauci é diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) dos Estados Unidos e um dos principais conselheiros da Casa Branca no combate à pandemia de covid-19. A imprensa americana publicou, entre maio e junho deste ano, alguns e-mails de Fauci que datam de fevereiro de 2020.

“Estamos 17 meses depois, ainda não sabemos muito sobre esse vírus. Eu acho que devemos responsabilizar o Partido Comunista Chinês. E se os Estados Unidos de alguma forma são responsáveis, se ajudaram a financiar os laboratórios que levaram ao desenvolvimento desse vírus, então também precisamos ser responsabilizados e precisamos nos aprofundar sobre as regras de pesquisa de ganho funcional”, diz Roger Marshall no vídeo.

Em uma troca de mensagens no dia 1º de fevereiro de 2020, Fauci e o pesquisador Kristian Andersen, do laboratório Scripps Research, da Califórnia, discutiram pesquisas sobre análises da sequência genética do Sars-CoV-2 em busca da origem do vírus. Andersen afirmava na época que ainda tentava entender algumas das estruturas únicas do coronavírus e que elas pareciam (potencialmente) “manipuladas”. Na conversa (disponível na página 3.187 do documento) o cientista também observou que ainda haviam outras análises sendo realizadas e que suas opiniões poderiam mudar.

Os e-mails não continham provas de que o vírus havia sido manipulado ou criado em laboratório, mas sim mostravam uma hipótese levantada pelo pesquisador. Pouco mais de um mês após a conversa, no dia 17 de março, Andersen e outros cientistas publicaram um artigo científico na revista Nature Medicine afirmando que a análise deles mostrava que o Sars-CoV-2 “não é um produto de laboratório ou um vírus manipulado propositalmente”.

Uma troca de mensagens de Fauci com um cientista que já havia recebido financiamento do NIAID para conduzir pesquisas no Instituto de Virologia de Wuhan é tirada de contexto para alegar que ele teria “potencializado” o coronavírus. O pesquisador, Peter Daszak, é presidente da EcoHealth Alliance, uma organização que estuda a emergência de doenças virais. Ele pesquisava coronavírus em morcegos, animal do qual emergiu a SARS em 2003. Os coronavírus são um grupo de vírus dos quais surgiram a covid-19, a SARS e outras doenças.

A existência desse estudo estimulou o surgimento de uma teoria, nas redes sociais, de que Daszak estaria realizando “ganho de função” com o Sars-CoV-2. Esse termo faz referência a um ramo da ciência no qual cientistas modificam um vírus geneticamente para deixá-lo mais perigoso ou mais transmissível. Com isso, os cientistas podem analisar o comportamento do patógeno.

Tanto o NIAID quanto a EcoHealth Alliance negam ter feito experimentos desse tipo. Como mostrou o Comprova, em audiência no Senado em 26 de maio, Fauci negou que o NIAID tivesse financiado pesquisas com esse propósito.

No vídeo dos senadores checado aqui, quando o senador Marshall diz que é preciso investigar se os Estados Unidos ajudaram a “financiar os laboratórios que levaram ao desenvolvimento desse vírus”, ele estava se referindo a este fato. O NIAID faz parte de um conglomerado de centros de pesquisa do governo americano. Por isso, é falso afirmar que os senadores tenham denunciado financiamento de farmacêuticas ao Instituto de Virologia de Wuhan, como afirma o texto do Terra Brasil Notícias.

O Comprova já desmentiu que Fauci teria afirmado que o coronavírus é fruto de engenharia genética.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. A publicação verificada aqui teve mais de 26,2 mil visualizações no Instagram.

Esta não é a primeira vez que o Terra Brasil Notícias compartilha desinformação. O Comprova já demonstrou que o site distorceu notícia de TV australiana para alegar que a China havia testado o coronavírus como arma biológica. Essa é uma ideia também defendida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Sobre outras teorias envolvendo o país asiático, o Comprova desmentiu que máscaras importadas da China estariam infectadas pelo coronavírus e demonstrou serem enganosas teses que colocavam em dúvida a segurança e eficácia da Coronavac, vacina da chinesa Sinovac (produzida no Brasil em parceria com o Instituto Butantan). A disseminação desse tipo de conteúdo contribui para que pessoas deixem de se vacinar ou usar máscara de proteção facial contra a covid-19.

A alegação de que o Senado americano teria encontrado a origem do vírus também foi checada pelo Boatos.org.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Eleições

Investigado por: 2021-06-18

‘Motociata’ promovida por Bolsonaro em São Paulo não gerou renda de R$ 40 milhões

  • Falso
Falso
Ato com motoqueiros promovido pelo presidente Jair Bolsonaro em São Paulo não gerou R$ 40 milhões em emprego e renda na cidade, como afirma texto publicado em um site e compartilhado nas redes sociais. A estimativa feita pelo site que publicou a informação é baseada em um número muito maior de participantes do que o real.
  • Conteúdo verificado: Texto em site afirma que “motociata” do dia 12 de junho gerou ‘40 milhões em emprego e renda’, por causa da movimentação de motoqueiros de outras cidades, que teriam viajado para a capital paulista.

Não é verdade que a “motociata” promovida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no dia 12 de junho gerou R$ 40 milhões em emprego e renda para a cidade de São Paulo. O texto verificado aqui, publicado em um site, atribui o suposto ganho econômico ao “aquecimento” do setor hoteleiro e de bares e restaurantes por causa da grande quantidade de participantes do evento. O número no qual o site baseou sua estimativa é, no entanto, muito maior do que o real número de participantes.

Em contato com o Comprova, o responsável pelo site Hora Brasília disse que conversou com comerciantes para fazer a estimativa de impacto econômico. Segundo ele, “levando em consideração que 400 mil motos passaram pelo pedágio, os comerciantes disseram que cada pessoa gastou ao menos R$ 100, chegamos a este valor”. Ocorre que o sistema de pedágio localizado em um trecho por onde passaram as motos aponta que o número de veículos participantes da manifestação não chegou a 6.700. O cálculo, portanto, está baseado em uma estimativa inflada.

Como verificamos?

Procuramos o responsável pelo site que publicou o conteúdo, para saber quais os critérios usados para aferir o ganho econômico em decorrência da “motociata”. No site Hora Brasília, fomos direcionados à página Canal Hugo Alves, no Facebook, onde encontramos um número de WhatsApp.

Entramos em contato com o responsável pelo site e, em seguida, buscamos informações sobre o número oficial de participantes da “motociata”. Contatamos o Sindicato das Empresas de Hotelaria e Estabelecimentos de Hospedagem do Município de São Paulo e Região Metropolitana (SindHotéis-SP) e a Abrasel-SP, para obter uma opinião de representantes dos setores sobre o impacto econômico do evento.

O SindHotéis-SP não respondeu aos nossos contatos até a publicação desta checagem. O presidente da Abrasel-SP, Joaquim Saraiva, nos concedeu uma entrevista por telefone.

Verificação

A “motociata”

O responsável pelo site que publicou o texto verificado, Hugo Alves, disse ao Comprova que “400 mil motos passaram pelo pedágio”. Isso não é verdade.

O ato realizado na cidade de São Paulo no dia 12 de junho teve participação de pouco menos de 6.700 motocicletas. O dado é do sistema de monitoramento da Rodovia dos Bandeirantes, no pedágio de Campo Limpo, que fica no km 39. A medição foi feita entre 11h08 e 12h31 do dia do ato, que começou às 10h na zona norte de São Paulo.

No fim de semana, depois do evento, apoiadores do presidente chegaram a divulgar um número muito maior de participantes, afirmando que o evento teria quebrado o recorde mundial de reuniões do tipo. O dado era falso. Ainda no fim de semana, a Secretaria de Segurança Pública do Estado já havia divulgado uma estimativa bem menor do número de manifestantes.

Consumo em bares e restaurantes

O cálculo dos supostos R$ 40 milhões gerados pela “motociata” foi feito, segundo o autor do texto, com base em um consumo de cada participante do evento no comércio da cidade. “Entramos em contato com os comerciantes de São Paulo, aqueles que o Doria quebrou. […] Os comerciantes disseram que cada pessoa gastou ao menos R$ 100”, disse Hugo Alves.

A publicação diz que a presença de turistas teria movimentado o setor de alimentação. Este dado também não procede. Além do número de participantes do evento já impossibilitar o cálculo, uma vez que o consumo alegado geraria, na verdade, uma receita de menos de R$ 670 mil, não é possível afirmar que todos os presentes consumiram em algum negócio ou fazer estimativas de valores.

Ouvido pelo Comprova, Joaquim Pinheiro, da Abrasel-SP, disse que os donos de estabelecimentos próximos aos locais onde os manifestantes se concentraram não registraram movimento e faturamento relevantes. “Ao contrário, pelo tumulto que estava e as dificuldades de se chegar até os restaurantes próximos, o faturamento caiu. No Dia dos Namorados, houve até reservas, mas alguns desistiram delas”, pontuou.

Turistas em hotéis

O texto também fala da chegada de turistas a São Paulo, para participar da “motociata”, e do aquecimento do setor hoteleiro.

O município tem o maior setor de hospedagem do país. Segundo o Observatório do Turismo e Eventos da Cidade de São Paulo, órgão ligado à prefeitura, a oferta de vagas para hospedagem na capital é de mais de 42 mil unidades habitacionais em 400 hotéis e quase 2,5 mil leitos em 70 hostels.

Ainda que todos os participantes da “motociata” fossem turistas – o que não é possível afirmar –, ocupariam cerca de 15% das vagas.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia do novo coronavírus e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. O conteúdo em questão foi considerado suspeito porque atribuía, sem apresentar fontes confiáveis, que o evento motociclístico organizado por apoiadores de Jair Bolsonaro, gerou R$ 40 milhões em faturamento ao estado de São Paulo, englobando empregos diretos e indiretos.

De acordo com a ferramenta CrowdTangle, a publicação original teve 3.737 curtidas, 184 comentários e 652 compartilhamentos nas redes sociais entre os dias 12 e 18 de junho. Também segundo a mesma ferramenta, a postagem do deputado federal Eduardo Bolsonaro teve cerca de 78.508 curtidas entre os dias 15 e 18 de junho.

Recentemente, outras agências de checagem mostraram que é falso que o jornal The Washington Post tenha descrito motociata de Bolsonaro como ‘a maior do planeta’; e que foto de manifestação com motos e parapentes foi tirada na Lituânia, não em ‘motociata’ de Bolsonaro.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2021-06-18

Vídeo que mostra o governador da Bahia dançando forró é de antes da pandemia

  • Enganoso
Enganoso
Postagem tira de contexto imagens de um evento realizado em maio de 2018, com participação de Rui Costa (PT), governador da Bahia, e dos senadores Otto Alencar (PSD) e Jaques Wagner (PT), para atacar os políticos e as medidas de prevenção contra a covid-19.
  • Conteúdo verificado: Post no Instagram com vídeo do governador da Bahia, Rui Costa, dançando forró em um evento, com a legenda sugerindo que a “turma do fique em casa e da CPI da cloroquina” estava num forró sem usar máscara durante a pandemia.

Um vídeo do governador da Bahia, Rui Costa (PT), dançando forró no interior do estado, voltou a circular nos últimos dias em páginas bolsonaristas como se fosse de um evento em um final de semana recente, durante a pandemia. Os autores das publicações afirmam que “a turma do fique em casa e da CPI da cloroquina” estava sem máscara em um forró em um final de semana na Bahia, citando também os senadores Otto Alencar (PSD) e Jaques Wagner (PT).

As imagens, no entanto, são antigas. O vídeo foi gravado na cidade de Lapão, no centro-norte do estado, no dia 11 de maio de 2018. O episódio ocorreu durante uma série de entregas de obras feitas pelo governo no município, que fica a cerca de 500 quilômetros de Salvador. As informações foram prestadas pela assessoria do governador e confirmadas pelo Comprova.

Não é correto, portanto, associar o vídeo antigo a um suposto descumprimento de medidas como distanciamento social e uso de máscaras, eficazes em reduzir o risco de contágio pelo novo coronavírus. O Comprova entrou em contato com a página de Instagram @bolsonaroparana2022 nesta quinta-feira, 17 de junho, mas não teve retorno até a publicação desta checagem.

Como verificamos?

O Comprova fez essa verificação por meio de buscas a notícias, fontes oficiais e outras informações. Ao pesquisar os principais termos no Google, a reportagem chegou até uma nota do Governo da Bahia, que classifica o conteúdo como “fake news”.

Por meio de mensagens de texto, a assessoria do governador Rui Costa esclareceu que o vídeo foi gravado em um evento na cidade de Lapão, na região de Irecê, em 11 de maio de 2018.

Apesar de não ter obtido o conteúdo original com a assessoria, o Comprova checou a informação em um banco de fotos que mostra Rui Costa, Otto Alencar e Jaques Wagner com as mesmas roupas em atos públicos na cidade. Os registros estão disponíveis na conta oficial do governador no Facebook e confirmam que o vídeo é antigo e foi tirado de contexto.

Além disso, as buscas também retornaram um vídeo postado cinco dias depois do evento pelo perfil “Irecê BA minha cidade” no YouTube, além de uma nota publicada pelo Jornal Grande Bahia mostrando que o mesmo vídeo já tinha sido tirado de contexto para atacar o governador naquele ano.

Verificação

Em 15 de junho, o governo do Estado da Bahia publicou uma nota sobre o vídeo no site Bahia Contra o Fake. “É completamente falsa a informação que o governador Rui Costa dançou forró e aglomerou em plena pandemia em Irecê, no interior da Bahia”, diz o texto. “Um vídeo gravado em maio de 2018, portanto antes da covid-19, mostra Rui Costa dançando ao lado do senador Otto Alencar e de outras lideranças políticas e moradores da região.”

O Comprova entrou em contato com a assessoria de comunicação do governo do estado, que prestou novas informações. Segundo a equipe, o vídeo foi feito no dia 11 de maio de 2018, durante uma série de entregas na cidade de Lapão, na região do Irecê e centro-norte da Bahia. O vídeo não foi postado pela assessoria, que não tinha o conteúdo original para envio.

A reportagem então checou a informação em um álbum na conta oficial do governador no Facebook, que mostra imagens daquele mesmo dia, registradas pelo fotógrafo Mateus Pereira. Embora o vídeo não tenha sido postado, as fotos mostram Rui Costa e os senadores Otto Alencar e Jaques Wagner com as mesmas roupas que aparecem nas imagens do forró.

O governador usa a mesma camisa azul clara e listrada, calça cinza escuro e o boné com a palavra “Sertão”. Os senadores Otto Alencar e Jaques Wagner também aparecem nas imagens com camisas azul e branca, respectivamente.

 

Além disso, o mesmo vídeo já tinha circulado em grupos de WhatsApp no final de maio de 2018, como mostra uma nota do Jornal Grande Bahia. Naquela época, o vídeo era compartilhado junto a uma mensagem que dizia que Costa, Alencar e Wagner estariam gastando dinheiro “em um forró na chácara de um lobista” enquanto os caminhoneiros estavam em greve, paralisando as rodovias pelo país.

Em ambas as situações, o vídeo foi tirado de contexto. Em 11 de maio de 2018, quando foi gravado, a greve dos caminhoneiros ainda não tinha sido deflagrada, o que só aconteceu no dia 18 daquele mês. Da mesma forma, não havia razão para que as pessoas usassem máscara no vídeo em 2018, já que ainda não havia uma pandemia.

O Comprova ainda constatou que o vídeo circula, pelo menos, desde o dia 16 de maio de 2018 na internet. Ele foi postado pelo canal “Irecê BA minha cidade” no YouTube, com o título “Rui Costa governador da Bahia cantando forró em Irecê”. O primeiro caso de covid-19 no Brasil foi registrado apenas em 26 de fevereiro de 2020, mais de um ano e meio depois.

Nesta quarta-feira (16), Rui Costa comentou o assunto no programa “Papo Correria”, no YouTube, em que responde a perguntas de internautas. “Tem gente infelizmente espalhando fake news que continua até hoje”, comenta o governador, a partir dos 42 minutos de gravação. “Eu vi imagem de uma visita que eu fiz há dois ou três anos numa cidade do interior, nessa época de festas juninas, que alguém colocou música e a gente brincou de dançar. É de 2018. ali o Otto Alencar, o nosso senador, cantando. E essas pessoas espalham esse vídeo. Infelizmente, eles não cansam.”

Na nota publicada no dia 15, o governo da Bahia acrescenta que “os responsáveis pela fake news serão denunciados e responsabilizados judicialmente pela disseminação das informações falsas na internet”.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia e políticas públicas que tenham obtido grande alcance nas redes sociais. O conteúdo verificado teve mais de 2,7 mil visualizações no Instagram até a manhã desta sexta-feira (18).

A checagem se justifica pelo fato de que esse tipo de postagem confunde a população a respeito da necessidade de medidas de prevenção contra a covid-19, como o distanciamento social e o uso de máscaras, ao duvidar do seu cumprimento por figuras públicas que deveriam dar o exemplo.

Além disso, a peça de desinformação ganhou tração nas redes em virtude de uma disputa política do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) contra governadores e prefeitos e, mais recentemente, contra membros da CPI da Covid no Senado, que apura ações e omissões do governo federal durante a pandemia.

Bolsonaro é contrário ao fechamento de estabelecimentos comerciais e restrição de circulação de pessoas, o que o coloca em rota de colisão desde o ano passado com gestores regionais que adotam temporariamente esse tipo de medida para frear a disseminação do vírus.

Em março deste ano, por exemplo, Bolsonaro acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar decretos na Bahia, no Rio Grande do Sul e no Distrito Federal que determinaram a restrição de circulação de pessoas. Na época, Rui Costa chamou o presidente de “principal aliado do vírus no Brasil”.

Já Otto Alencar se tornou alvo do presidente e de seus apoiadores por sua postura na CPI da Covid, da qual é membro efetivo. O senador já criticou o governo federal diversas vezes na comissão parlamentar de inquérito e considera que Bolsonaro teve conduta criminosa na pandemia ao “apostar na tese de imunidade de rebanho” para superar a crise. Ele também ficou marcado por um episódio em que critica a médica Nise Yamaguchi, defensora da cloroquina e conselheira informal do presidente.

A postagem ainda chama a atenção por conter uma tática comum de desinformação nas redes, que é utilizar um conteúdo antigo como se fosse atual, de modo a estabelecer uma crítica incoerente. O Comprova já verificou casos semelhantes antes, como uma foto do governador paulista,João Doria, sem máscara, recebendo uma vacina contra a gripe. O registro é de março de 2020, quando o equipamento ainda não era obrigatório em São Paulo.

O post também foi checado pela Agência Lupa e o Fato ou Fake, do G1. Ambos concluíram que se trata de uma informação falsa.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.

Saúde

Investigado por: 2021-06-17

Vacinas contra a covid-19 usadas no Brasil passaram por testes de segurança, ao contrário do que diz deputado

  • Falso
Falso
É falsa uma postagem no Facebook do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmando que as vacinas contra a covid-19 não seguiram os protocolos normais de desenvolvimento. Todos os imunizantes passaram por fases de testes, cujos dados são públicos, e, antes de serem aplicados, suas segurança e eficácia são analisadas pela autoridade sanitária de cada país.
  • Conteúdo verificado: Publicação do deputado Eduardo Bolsonaro no Facebook afirma que as vacinas contra o novo coronavírus não seguiram os protocolos de desenvolvimento e que reações adversas têm ocorrido nas pessoas imunizadas. Ele também critica a adoção de um “passaporte de imunização” no Brasil.

É falso que as vacinas para prevenção da covid-19 não tenham seguido os protocolos e que, por isso, reações adversas ocorreram, como afirma o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em uma postagem no Facebook em que critica a possível adoção pelo Brasil de um “passaporte de imunização”, documento que permitiria às pessoas frequentar locais e eventos públicos após a vacinação.

Todas as vacinas em uso no Brasil passaram por diversas fases de teste, em laboratórios e em humanos, para verificar se elas eram seguras e eficazes. O formato dos testes e seus resultados são publicados na internet pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e acompanhados por cientistas do mundo todo. Além disso, toda essa documentação é avaliada pela equipe técnica e pela diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que também vistoria as sedes dos laboratórios, antes de autorizar o uso das vacinas no Brasil.

Em entrevista ao Comprova, o infectologista David Urbaez explicou que a rapidez no desenvolvimento dos imunizantes ocorreu por causa do grande investimento da indústria farmacêutica, por se tratar de uma pandemia. Ele também explica que reações leves são comuns em todas as vacinas e não significa que elas não passaram pelas etapas corretas de testagem. Qualquer suspeita de reação grave é comunicada pelos médicos às autoridades de saúde e acompanhada de perto pela Anvisa.

A adoção de um documento similar a um “passaporte de imunidade”, em discussão no Congresso Nacional, também tem ocorrido em outros países para permitir a retomada da circulação de pessoas e das atividades econômicas ou o turismo e viagens internacionais. Esse tipo de estratégia é criticada pela OMS, que alerta para dúvidas sobre a duração da imunidade após a vacinação e a possibilidade de isso aprofundar desigualdades no mundo por causa da falta de imunizantes em países de renda baixa e média. No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), pai de Eduardo Bolsonaro, prometeu vetar a lei, caso ela seja aprovada.

Como verificamos?

Procuramos informações da OMS e da Anvisa sobre o processo de desenvolvimento das vacinas e para entender se houve reações adversas e se elas estão relacionadas ao descumprimento de algum protocolo de criação dos imunizantes.

Entrevistamos o médico David Urbaez, presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, sobre as reações que algumas pessoas sentem após serem vacinadas.

Também pesquisamos informações sobre a proposta de criação de um “passaporte de imunização” no Brasil, se há modelos similares sendo adotados em outros países e sobre o que foi a Revolta da Vacina, citada na publicação.

Procuramos a assessoria de Eduardo Bolsonaro por WhatsApp e e-mail disponível no site da Câmara, mas não tivemos resposta.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 17 de junho de 2021.

Verificação

O desenvolvimento das vacinas

Todas as vacinas em desenvolvimento ou aprovadas contra a covid-19 passam por uma série de etapas antes de serem autorizadas para uso humano; incluindo testes em laboratório e ao menos três fases de testes clínicos. A configuração desses testes e seus resultados são compilados e disponibilizados publicamente pela OMS, inclusive para que outros cientistas possam avaliar a segurança e a eficácia dos imunizantes.

Desde o início da pandemia, 287 vacinas já foram desenvolvidas, de acordo com o banco de dados da OMS. Dessas, 185 ainda estão em estágio pré-clínico, enquanto 102 já avançaram para pesquisas em humanos. Até o dia 3 de junho de 2021, a OMS havia avaliado e aprovado a segurança e eficácia de seis imunizantes: AstraZeneca/Oxford; Janssen; Moderna; Pfizer/BionTech; Sinopharm; e CoronaVac.

Mesmo com esse processo internacional público de desenvolvimento de vacinas, antes de serem aplicadas nos cidadãos, elas precisam ainda ser aprovadas pelos órgãos de vigilância sanitária competentes em cada país. No Brasil, a responsabilidade é da Anvisa, que segue uma série de critérios para garantir que os imunizantes aplicados em território nacional sejam seguros e eficazes.

Segundo a agência, as diversas fases de teste servem para avaliar, gradualmente, se a vacina é segura, se ela provoca reações no corpo humano, qual a dose indicada e qual a capacidade dela de gerar anticorpos, além de comprovar se ela é, realmente, capaz de proteger as pessoas do vírus.

A documentação detalhada de cada etapa é analisada pelo corpo técnico da agência e seu uso só é autorizado após ser votado pela diretoria da Anvisa, que é um órgão colegiado, em reuniões públicas (inclusive com transmissão ao vivo pela Internet). O órgão também inspeciona as fábricas e laboratórios para ter certeza de que o imunizante pode ser produzido seguindo os critérios de segurança e confiabilidade.

Atualmente, o Brasil tem duas vacinas registradas para uso geral: da AstraZeneca e da Pfizer. Outras três são aprovadas para uso emergencial: CoronaVac, Covishield e Janssen. É possível conferir o status da documentação, a bula e as últimas notícias sobre cada imunizante no site da Anvisa.

Segundo o infectologista David Urbaez, a única razão para a vacina da covid-19 ter sido desenvolvida de forma mais rápida do que habitualmente ocorre é pelo alto investimento que foi feito. “A velocidade desse processo foi diretamente explicada pelo volume de investimentos como nunca antes ocorreu, motivado pela emergência mundial de grande porte, junto a um número muito significativo de grupos de pesquisa que se dedicam exclusivamente ao assunto”, explica. Além do que as novas plataformas, como RNAm e/ou vetores virais, são tecnologias que já se encontravam maduras e tinham sido previamente testadas para outras infecções como SARS e para outros fins em termos de imunoterapia”.

Reações

Segundo a Anvisa informa nas bulas das vacinas autorizadas no Brasil, os imunizantes, como qualquer outro medicamento, podem apresentar efeitos colaterais. As diferentes fases de testes antes da autorização servem justamente para garantir que eles não provoquem reações graves, que possam prejudicar a saúde das pessoas.

Mesmo após autorizadas, as vacinas são acompanhadas pela Anvisa e pelos seus fabricantes por meio de um processo chamado farmacovigilância. Reações adversas suspeitas são notificadas pelos profissionais de saúde que trataram o paciente para os órgãos competentes, incluindo a Anvisa.

Se a agência identificar um uso de algum medicamento ou vacina que não siga o que determina a bula ou que possa causar algum risco à saúde das pessoas, ela pode determinar a suspensão total ou parcial (apenas para alguns grupos) do seu uso.

Isso ocorreu, por exemplo, no dia 10 de maio, quando a Anvisa suspendeu o uso em gestantes da vacina da AstraZeneca produzida pela Fiocruz, após o registro de “uma suspeita de evento adverso grave”. A aplicação desse imunizante em mulheres grávidas não era prevista pela bula.

De acordo com David Urbaez, os efeitos adversos são comuns em todas as vacinas contra qualquer doença e nada têm a ver com a forma como ela foi desenvolvida. Isso ocorre porque os imunizantes têm a capacidade de estimular o sistema imune. “O sistema imune estimulado gera uma série de substâncias biológicas, que em mais ou menos proporção, geram os efeitos adversos sistêmicos como febre, dores musculares, indisposição, etc”, disse.

Segundo o especialista, em mais de 99% das vezes, essas reações são leves, isto é, não geram nenhuma ameaça ao estado de saúde do indivíduo. “Rarissimamente podem acontecer efeitos adversos mais sérios, sempre menos de 1% das ocorrências. Sempre lembrando, todas as vacinas em uso não têm vírus vivos, pelo que sua segurança é garantida após as fases de ensaio clínico”, afirma.

O certificado nacional de imunização

Existe uma proposta em tramitação no Congresso Nacional para criar um certificado nacional de imunização. O documento apresentaria “informações sobre vacinação, testagem e recuperação de doença infectocontagiosa de seu portador”. A ideia é que ele fosse usado para permitir que as pessoas já imunizadas pudessem abrandar (ou até suspender) as medidas restritivas para enfrentamento da covid-19.

Segundo o site do Senado Federal, o certificado “poderá ser utilizado para autorizar a entrada em locais e eventos públicos, o ingresso em hotéis, cruzeiros, parques e reservas naturais, entre outras possibilidades”. Isso porque, na visão dos senadores, pessoas já vacinadas ou que tenham testado negativo para o Sars-CoV-2 representariam “risco não elevado de propagação do vírus”. O controle do acesso a serviços com base no documento seria feito pelos estados.

O texto original é de autoria do senador Carlos Portinho (PL-RJ), mas sofreu algumas alterações com um substitutivo proposto pelo relator Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB) – uma dessas mudanças foi a troca do nome “passaporte” para “certificado”. A proposta foi aprovada pelo Senado no último dia 10, com 72 votos favoráveis e nenhum voto contrário. O texto agora está em tramitação na Câmara dos Deputados.

No dia 15, o presidente Jair Bolsonaro disse que vetaria a lei, caso ela fosse aprovada no Congresso. “Se passar, eu veto, e o Parlamento vai analisar o veto. Se derrubar, aí é lei”, ele afirmou a apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada.

Passaporte de imunização no mundo

O Green Pass de Israel é um modelo parecido com o que está em discussão no Brasil porque, ao contrário de outros passaportes de imunização em debate ou implementação, ele é voltado para o público interno que poderá acessar estabelecimentos cadastrados no sistema se estiver vacinado, tiver se recuperado da covid-19 ou tiver feito um teste RT-PCR negativo nas últimas 72 horas.

Em abril, o governo do Reino Unido começou a testar a adoção de um passaporte covid para permitir o acesso de pessoas a eventos de grandes públicos, como partidas esportivas, shows e casas noturnas. A promessa do governo britânico é que o passaporte, se implementado, não poderá ser exigido em alguns serviços, como transporte público e lojas essenciais, como supermercados. O primeiro-ministro Boris Johnson também já afirmou que restaurantes e pubs podem começar a pedir uma prova do status vacinal das pessoas a partir do final de julho, quando o país espera que todos os adultos sejam liberados para vacinação.

Em outra frente, um aplicativo do sistema de saúde do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês) tem sido utilizado pelo governo como opção para cidadãos ingleses que queiram viajar ao exterior. O programa mostra se a pessoa já tomou as duas doses. Crianças e jovens com menos de 16 anos não receberão um status. Por enquanto, ainda há dúvidas sobre quais países aceitam o certificado como alternativa aos testes negativos.

A União Europeia formalizou a adoção de um Certificado Digital Covid-19 no último dia 14. Ele poderá ser emitido por qualquer um dos 27 países membros e entrará em vigor a partir de julho. O documento trará dados sobre vacinação, testes e recuperação do novo coronavírus e poderá ser usado para que as pessoas possam voltar a circular livremente dentro do bloco; pois as exigências de medidas sanitárias como testes e quarentenas na chegada a outro país da UE podem ser retiradas para quem tiver o certificado.

Em janeiro deste ano, o arquipélago de Seychelles, no Oceano Índico, já havia adotado uma regra similar, permitindo que turistas que trouxessem um certificado de seus países atestando a vacinação não precisassem se submeter a quarentena ao entrar no país. Mesmo pessoas imunizadas precisariam levar um teste RT-PCR negativo realizado ao menos 72 horas antes do embarque.

OMS critica os passaportes

Desde abril de 2020, a OMS se posicionou contrária à possibilidade de criação de passaportes de imunidade, sejam eles aplicados a viagens ou ao retorno dos trabalhos e atividades normais. “Atualmente, não há evidências de que as pessoas que se recuperaram da covid-19 e possuem anticorpos estejam protegidas contra uma segunda infecção”, afirmou a entidade, na ocasião.

Em agosto de 2020, o primeiro caso confirmado de reinfecção pelo Sars-CoV-2 foi registrado em Hong Kong. Em dezembro do mesmo ano, foi a vez do Brasil identificar seu primeiro episódio confirmado de reinfecção. No início de abril de 2021, um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontou que os sintomas podem ser mais fortes quando a pessoa contrai o vírus pela segunda vez. No mesmo mês, o Brasil teve a primeira morte por uma pessoa que, mesmo tendo se recuperado da doença na primeira vez, acabou sendo reinfectada por uma nova variante.

Em fevereiro de 2021, a OMS voltou a se manifestar contra a adoção de certificados de vacinação para liberar viagens internacionais. Embora os imunizantes protejam contra a infecção pela covid-19, ainda há dúvidas envolvendo a capacidade das vacinas em reduzir a transmissão do vírus, incluindo o surgimento de novas variantes, e o tempo de duração da proteção oferecido pelos imunizantes.

A entidade também teme que a priorização de viajantes no processo vacinal possa prejudicar a imunização de populações prioritárias, inclusive aquelas com maior risco de desenvolver a forma grave da doença. “Atualmente, há limitação de acesso às vacinas contra a covid-19 no mundo todo, particularmente em países de baixa e média renda. (…) A OMS expressa preocupação de que a distribuição desigual de vacinas possa aprofundar desigualdades que já existem e criar novas formas de desigualdade”, afirma o relatório.

A Revolta da Vacina

A Revolta da Vacina, citada por Eduardo Bolsonaro na postagem, ocorreu no Rio de Janeiro no início do século XX. Na época, a rejeição era à vacina da varíola – as pessoas acreditavam que poderiam ficar com feições bovinas, já que o imunizante era feito com pústulas, nódulos que contém pus, de vacas doentes. O produto se tornou obrigatório no Brasil em 1904.

A obrigatoriedade fez com que as pessoas fossem às ruas protestar. Na ocasião, 945 pessoas foram presas, 461 deportadas, 110 feridas e 30 mortas em menos de duas semanas de conflitos. A obrigatoriedade da vacina foi retirada. Na época, o Brasil tinha 3.500 mortes por varíola. Dois anos depois, este número subiu para 6.500. A doença só foi erradicada no Brasil em 1971 após uma nova campanha de vacinação chamada de Campanha de Erradicação da Varíola (CEV).

Vacina traz proteção individual?

De acordo com o infectologista David Urbaez, não adianta ter imunizações individuais. É preciso que a população como um todo seja vacinada para barrar a proliferação do vírus da covid-19. Ele ainda destaca que, apesar de dificultarem que o indivíduo fique doente, as vacinas não têm a capacidade de evitar que uma pessoa vacinada transmita a covid-19 para uma que não esteja imunizada.

“A vacina tem eficácia somente como estratégia coletiva, pois do ponto de vista individual pouco faz se estamos em uma situação epidemiológica de alta transmissão. Temos que alcançar 75%-85% da população geral vacinada, territorialmente de forma homogênea para conseguirmos a imunidade coletiva, dispositivo que consegue controlar a transmissão. Daí porque todas as pessoas são importantes nesse processo”, destaca.

Essa meta de que 60% a 80% da população precisa ser vacinada para que a pandemia seja controlada é esperada pela maioria dos modelos epidemiológicos. Para que este número seja atingido, praticamente toda a população adulta precisaria ser vacinada, já que ainda não há uma indicação para vacinação de crianças contra a covid-19. No Brasil, somente o imunizante da Pfizer tem autorização da Anvisa para ser aplicada em menores de 18 anos.

Nesse mesmo sentido, um estudo feito pelo Instituto Butantan em Serrana, São Paulo, concluiu que a vacinação de 95% da população adulta com a CoronaVac é capaz de criar a imunidade de grupo e controlar a pandemia.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. Publicações que tratam da vacinação contra o novo coronavírus merecem atenção especial, visto que a desinformação sobre esse tema pode fazer com que pessoas evitem se imunizar, o que é a principal forma de proteção contra o vírus.

A postagem em questão teve 62 mil curtidas, 5,1 mil comentários e 14 mil compartilhamentos entre os dias 15 e 17 de junho. Ela recebeu um aviso do Facebook afirmando que “as vacinas contra a covid-19 passam por vários testes de segurança e eficácia e são, então, monitoradas com atenção”, tendo como fonte a OMS.

Recentemente, o Comprova mostrou que a vacina contra a covid-19 não tem efeito magnético; que agências reguladoras negam o risco de infertilidade em vacinados; e que um ranking usado por Bolsonaro não representa a realidade da imunização no país.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

 

Saúde

Investigado por: 2021-06-17

É enganoso post que compara falas de Biden e Bolsonaro sobre dispensa do uso de máscara

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o vídeo que combina declarações de Joe Biden e Jair Bolsonaro sobre a liberação do uso de máscaras. O americano anunciou a dispensa da proteção facial em casos específicos e com o país vendo cair drasticamente o número de casos e internações por covid, diferentemente do que ocorre no Brasil.
  • Conteúdo verificado: Vídeo no Instagram compara anúncio do presidente americano Joe Biden e uma fala de Bolsonaro sobre uso de máscaras. O trecho de Biden é acompanhado por legenda em português com um corte de parte da declaração.

É enganoso um vídeo que viralizou nesta semana no Instagram comparando declarações dos presidentes Joe Biden e Jair Bolsonaro (sem partido) sobre a dispensa do uso de máscaras. No trecho publicado, o americano fala que a proteção não é mais necessária para quem estiver totalmente vacinado e em locais abertos, longe de aglomerações. Já a gravação de Bolsonaro mostra-o dizendo que o ministro da Saúde vai concluir um parecer desobrigando o uso da proteção por pessoas já vacinadas.

Inicialmente, o post, que acusa a mídia de tratar os dois mandatários de forma diferente, engana ao não traduzir com fidelidade a fala de Biden, legendando apenas: “Se você já foi vacinado, não precisa usar máscara”. Ou seja, ignorando condições específicas citadas acima, como manter o distanciamento social.

A postagem também desinforma ao desconsiderar os contextos da pandemia de cada país. A declaração de Biden foi feita em 27 de abril, quando os Estados Unidos tinham aplicado 215 milhões de doses em sua população, de 328 milhões de pessoas, desde o início da campanha de imunização. Segundo o monitor Our World in Data, da Universidade de Oxford, 96,7 milhões de americanos estavam totalmente vacinados — cerca de 30% da população. A fala de Bolsonaro foi em 10 de junho, dia em que o Brasil tinha 23,4 milhões de seus 211 milhões de cidadãos totalmente imunizados, ou 11% de seus habitantes, também de acordo com o painel.

Outro dado importante para entender as declarações é o número de casos e óbitos por covid em cada país. Em 27 de abril, dia da fala de Biden, os Estados Unidos registraram 40,4 mil casos de coronavírus e 485 mortes nas últimas 24 horas, segundo relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) para as Américas. Já em 10 de junho, quando Bolsonaro falou em desobrigar o uso de máscara, o Brasil registrou 2.344 novas mortes e 89.802 novos casos da doença.

Para especialistas ouvidos pelo Comprova, o Brasil só poderá seguir o exemplo dos Estados Unidos quando mais gente estiver totalmente vacinada e os números de casos e óbitos tiverem caído.

Como verificamos?

Inicialmente, transcrevemos o trecho da fala de Biden no vídeo e fizemos uma busca no Google, que resultou em reportagens sobre o fim da obrigatoriedade de máscaras em casos específicos em veículos nacionais e internacionais, informando o contexto e a data em que o discurso foi feito. Ao buscar a fala com o nome “White House”, encontramos a transcrição do discurso completo no site da Casa Branca.

Também transcrevemos e pesquisamos no Google a declaração de Bolsonaro; a busca resultou em matérias de sites nacionais repercutindo a fala.

Pesquisamos os números de vacinados no site Our World in Data e contatamos, por e-mail, órgãos oficiais, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Saúde, para levantar dados sobre o uso de máscaras. Este último não respondeu, mas a reportagem pesquisou documentos no site da instituição.

Para comentar os cenários dos dois países, entrevistamos Raquel Stucchi, infectologista da Universidade de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, e o pesquisador Daniel Mansur, professor de imunologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e membro do Comitê Científico da Sociedade Brasileira de Imunologia.

Enviamos mensagens privadas para o perfil @acordabrasil38, onde o vídeo viralizou, mas não recebemos resposta até a publicação deste texto. Também tentamos contatar a página @cristianocjs_br2, citada como provável fonte do conteúdo pelo @acordabrasil38. Um dia depois do contato da reportagem, o perfil estava fora do ar.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 17 de junho de 2021.

Verificação

Vídeos sem contexto

No trecho de nove segundos do vídeo de Biden, publicado no post verificado aqui, ele diz: “Se você foi totalmente vacinado e está ao ar livre, você precisa… e se você não está em uma grande aglomeração, você não precisa usar máscara”.

A declaração foi dada em 27 de abril, durante uma coletiva de imprensa nos jardins da Casa Branca, em Washington. Ele abre o evento com um discurso sobre a luta que o país trava contra a covid-19 para conseguir chegar bem ao 4 de julho, feriado nacional do Dia da Independência.

Diferentemente do que a postagem faz crer ao comparar as afirmações de Biden com as de Bolsonaro – “a mesma informação, presidentes diferentes” –, são contextos completamente distintos.

Em seu discurso, o americano fala sobre as pessoas mais velhas, explicando que, quando assumiu o cargo, em janeiro, o país perdia dezenas de milhares de idosos todas as semanas. “Naquela época, menos de 1% dos idosos estavam totalmente vacinados. Hoje, em menos de cem dias, mais de 67%, dois terços de nossos idosos, estão, e mais de 80% já receberam pelo menos uma injeção”, diz ele, acrescentando que esse esforço “resultou em uma queda de 80% nas mortes entre os idosos americanos e uma queda de 70% nas hospitalizações”.

Outro dado que ele dá antes de anunciar que pessoas imunizadas e longe de aglomerações podem ficar sem máscara ao ar livre é que desde sua posse, em 20 de janeiro, o país, de 328 milhões de habitantes, havia aplicado 215 milhões de doses.

Segundo o monitor Our World in Data, 96,7 milhões estavam totalmente vacinados, ou quase 30% dos americanos.

Relatório de 27 de abril da OPAS mostra que os Estados Unidos registraram 40,4 mil casos de coronavírus e 485 mortes nas últimas 24 horas.

Já o trecho seguinte do vídeo verificado mostra o presidente brasileiro dizendo: “Ministro da Saúde, ele vai ultimar um parecer visando a desobrigar o uso de máscara por parte daqueles que estejam vacinados”. A declaração foi feita no dia 10 de junho, em um evento no Planalto sobre medidas para o setor de turismo, e não terminava aí. Além de falar em desobrigar o uso da proteção para vacinados, Bolsonaro também disse que o parecer valeria para aqueles que “já foram contaminados para tirar este símbolo que, obviamente, tem a sua utilidade para quem está infectado”.

No dia da declaração, 23,4 milhões dos 211 milhões de cidadãos estavam totalmente vacinados, ou 11% da população, também de acordo com o Our World in Data. Ainda em 10 de junho, o país registrou 2.344 novas mortes por Covid-19 e 89.802 novos casos da doença em 24 horas, chegando a um total de 482.135 mortes e 17.215.159 casos desde o início da pandemia.

O que dizem os especialistas

Para a infectologista Raquel Stucchi, diferentemente do que Bolsonaro afirma no vídeo do post verificado aqui, o Brasil não está no momento de liberar o uso de máscaras. “Nós temos quase 12% da população vacinada apenas e um número ainda muito expressivo de casos. A taxa de ocupação de leitos de hospital na maior parte dos estados ultrapassa 80%, muitos acima de 90%, e temos uma mortalidade ainda muito alta, então, nada disso faz com que nós possamos desobrigar o uso de máscaras”, diz ela.

Em contrapartida, ela destaca que os Estados Unidos cumpriram quesitos importantes: vacinaram com duas doses parte significativa da população com imunizantes de alta eficácia e viram uma queda drástica no número de hospitalizações e óbitos. “Portanto, eles podem, sim, tentar abolir o uso de máscaras em locais abertos e sem aglomerações.”

Opinião semelhante tem o pesquisador Daniel Mansur. “Para aliviar as medidas, só quando o número de casos estiver bem baixo”, afirma. “As situações dos Estados Unidos e do Brasil não são comparáveis. Aqui, o pessoal não foi vacinado ainda (em larga escala).”

Ele cita como exemplo Florianópolis, onde vive. Em levantamento publicado pela Folha em 9 de junho, a taxa de ocupação de leitos de UTI na cidade havia subido de 67% para 89% em uma semana. Em Santa Catarina, foi de 91% para 95%.

Uso de máscara

“As pessoas que já foram vacinadas com as duas doses não podem abrir mão da máscara no Brasil pelos motivos já falados: número de casos muito grande, alta taxa de ocupação hospitalar e alta mortalidade”, diz Raquel Stucchi. Ela ressalta que, mesmo vacinadas, elas podem se infectar e transmitir o vírus, já que nenhum imunizante garante 100% de proteção.

Stucchi lembra ainda que, ao contrário do que Bolsonaro afirma (que, além dos vacinados, o governo dispensaria o uso de máscara por pessoas que já se contaminaram), “a reinfecção existe”.

Como reforça Daniel Mansur, já foi comprovado que mesmo uma pessoa sem sintomas pode transmitir o coronavírus, por isso, o uso da máscara continua sendo essencial no Brasil. “A máscara é importante porque protege quem usa e também evita que os outros peguem”, diz ele. “Acho que a parte mais difícil é colocar na cabeça das pessoas que não é só por elas, é pelo próximo também.”

Em verificação publicada pelo Comprova em 11 de junho, a OPAS afirmou que “as evidências científicas mostraram que máscaras são uma medida fundamental para suprimir a transmissão da covid-19 e salvar vidas. Devem ser usadas como parte de uma abordagem abrangente de ‘Faça tudo’, incluindo manter distanciamento físico de um metro ou mais de outras pessoas, evitar locais com aglomeração e contato próximo, garantir boa ventilação, limpar frequentemente as mãos e cobrir o espirro e a tosse com o cotovelo dobrado”.

Procurada pelo Comprova, a Anvisa enviou informações a respeito da resolução nº 456/2021, sobre medidas de proteção contra o vírus apenas “em aeroportos e aeronaves”. A instituição afirmou que as definições sobre uso de máscaras pela população partem do Ministério da Saúde, que não respondeu ao contato da reportagem.

Em seu site, a pasta recomenda a utilização “para toda a população em ambientes coletivos, em especial no transporte público e em eventos e reuniões, como forma de proteção individual, reduzindo o risco potencial de exposição do vírus especialmente de indivíduos assintomáticos”.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia ou sobre políticas públicas do governo federal. Quando esse conteúdo envolve medidas contra o coronavírus, sua checagem se torna ainda mais necessária, porque informações incorretas podem levar as pessoas a colocarem a saúde em risco.

Além de tentar desmoralizar a imprensa, o post verificado aqui, que teve 8.327 visualizações no Instagram até 17 de junho, distorce informações para fazer crer que o Brasil pode seguir o exemplo dos Estados Unidos e desobrigar o uso de máscaras em determinadas ocasiões, o que ainda não é recomendado por autoridades sanitárias.

Neste mês, o Comprova publicou outros conteúdos semelhantes, como um que enganava ao afirmar que estudo provava a ineficácia das máscaras contra a covid e outro que tirava de contexto e-mails de Anthony Fauci sobre a proteção facial.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-06-16

Ao contrário do que afirma post, ivermectina em altas doses pode causar até convulsão

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa postagem de médico no Twitter e no Instagram afirmando que a ivermectina é um remédio seguro em altas doses e com estudos comprovados de sua ação antiviral. O profissional defende o uso da substância no "tratamento precoce" contra a covid-19, porém não há, até o momento, estudo que comprove a eficácia do antiparasitário neste sentido e o uso é desaconselhado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela farmacêutica Merck, que produz a droga nos Estados Unidos. Especialistas também afirmam que nenhum medicamento é seguro em doses excessivas.
  • Conteúdo verificado: Postagens no Instagram e no Twitter de um médico defendendo que ivermectina é um remédio “enviado por Deus”, seguro em altas doses e com estudos já comprovados de sua ação antiviral.

É enganoso o conteúdo de postagens feitas pelos perfis de um médico no Twitter e no Instagram em que ele afirma que a ivermectina é um “remédio enviado por Deus”, barato, seguro em altas doses, pouco metabolizado no fígado e não filtrado nos rins e que sua ação antiviral já foi comprovada em estudos. O medicamento, de fato, é barato, mas ele não é seguro em altas doses, não tem eficácia antiviral comprovada e deve ser utilizado apenas como antiparasitário, como indica a bula. Doses além do recomendado podem provocar intoxicação e reações que vão desde urticária até convulsão.

Além disso, segundo especialistas ouvidos pelo Comprova, o teor de metabolização do medicamento no fígado ou de filtragem pelos rins não é, por si só, um indicativo de que ele seja seguro e que possa ser tomado em altas doses. Isso porque, ainda que um medicamento tenha baixa toxicidade, não quer dizer que ele não possa fazer mal. A ivermectina tem muitas interações medicamentosas e seu uso é recomendado em dose única, e não diária ou semanalmente, como vem sendo prescrita pelos defensores do “kit covid” e do “tratamento precoce”.

De acordo com a bula do medicamento, a ingestão de altas doses pode provocar intoxicação e, nestes casos, o paciente deve procurar assistência médica imediatamente levando, se possível, a bula ou a embalagem do medicamento. São relatados com maior frequência lesões cutâneas até urticária, inchaço, dor de cabeça, tontura, falta de disposição, náusea, vômitos, dor abdominal, diarreia, convulsões, alteração do equilíbrio, falta de ar e alterações na sensibilidade. A Food and Drug Administration (FDA) alerta para a possibilidade de coma e até morte em caso de overdose.

Como verificamos?

Primeiramente, buscamos informações profissionais do usuário @CanaldoFalcao1 em seu perfil no Twitter e encontramos o registro profissional de Marcos Falcão Farias Monte, sob o número 8608-AL, no Conselho Regional de Medicina do Estado de Alagoas. Também analisamos um canal do Telegram mantido pelo médico, por meio do qual encontramos um estudo envolvendo a ivermectina como potencial profilático para covid, compartilhado por ele. O material foi publicado no periódico Journal of Clinical and Diagnostic Research, considerado de média relevância, sem ser de excelência nacional ou internacional.

Em seguida, a partir de postagens em que o médico defendia e prescrevia a ivermectina e outros medicamentos do chamado “kit covid”, entramos em contato com especialistas para falar sobre os efeitos da droga e o impacto de altas doses. Para isso, ouvimos o infectologista Fábio Amorim, médico do Instituto Couto Maia, em Salvador, unidade de referência para doenças infectocontagiosas, e também o hepatologista Raymundo Paraná, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e coordenador do núcleo de pesquisa em Hepatologia do Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos (HUPES/UFBA).

Buscamos informações sobre o uso da ivermectina para pacientes com covid-19 junto à Organização Mundial de Saúde (OMS) e sobre os efeitos do medicamento em reportagens, como esta, publicada pelo CORREIO, e esta outra, do UOL.

Por fim, também entramos em contato por meio de um número de celular disponível na conta do Twitter de Marcos Falcão.Ele respondeu por outro número de telefone, exigindo o número de registro do jornalista e não respondendo às questões propostas. Também tentou intimidar o profissional, ameaçando denunciá-lo, processar o Comprova e, ao fim, compartilhou trechos da conversa nas redes sociais, desmerecendo o trabalho da checagem.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 16 de junho de 2021.

Verificação

O que diz a bula da ivermectina

Disponível no bulário eletrônico da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a bula da ivermectina recomenda a ingestão de uma dose única do medicamento para tratar doenças causadas por vermes ou parasitas. Na maior parte das doenças – estrongiloidíase, filariose, ascaridíase, escabiose e pediculose –, a dosagem recomendada é de 200 mcg por quilo de peso corporal. Uma pessoa que pesa entre 66 kg e 79 kg, por exemplo, deve tomar dois comprimidos e meio. Acima desse peso, o paciente deve calcular a quantidade de mcg por kg para tomar a dosagem correta.

No caso do tratamento para oncocercose, a dose oral única deve ser de 150 mcg/kg de peso corporal. Uma pessoa que pesa entre 65 kg e 84 kg deve tomar dois comprimidos.

A bula esclarece que a dose não deve ser repetida, a menos que haja recomendação médica e após a realização de exames laboratoriais. Também informa que, “em caso de intoxicação acidental ou na exposição significativa a quantidades desconhecidas de formulações veterinárias de ivermectina em humanos, seja por ingestão, inalação, injeção ou exposição de áreas do corpo”, o paciente deve procurar assistência médica imediatamente levando, se possível, a bula ou a embalagem do medicamento.

A bula da ivermectina informa que foram relatados alguns sintomas após a ingestão de dose acima da recomendada. Com maior frequência aparecem lesões cutâneas até urticária, inchaço, dor de cabeça, tontura, falta de disposição, náusea, vômitos, dor abdominal, diarreia, convulsões, alteração do equilíbrio, falta de ar e alterações na sensibilidade.

Problemas no fígado e nos rins

No post verificado aqui, Marcos Falcão afirma que a ivermectina é um “remédio enviado por Deus”, que é “apenas 8% metabolizado no fígado” e que “a molécula é grande e portanto não é filtrada nos rins”. Ele também afirma haver estudos comprovados de sua ação antiviral e que a medicação é “segura em altas doses”.

Médicos ouvidos pelo Comprova, contudo, refutam a informação publicada por Falcão. Tanto o infectologista Fábio Amorim, do Instituto Couto Maia, em Salvador, quanto o hepatologista Raymundo Paraná, da UFBA, têm atendido pacientes com problemas relacionados à ingestão de altas doses da ivermectina.

“Não desmerecendo o papel de Deus nisso tudo, mas é, no mínimo, questionável. Não tem nenhum documento, nenhum paper (artigo científico), em nenhum lugar do mundo que prove a eficácia da ivermectina (contra a covid). Eu desconheço. Não tem medicação nenhuma milagrosa. A gente trata as complicações da doença e não tem nada que trate ou amenize a covid”, afirma Fábio Amorim, que atende apenas em ambiente hospitalar pacientes infectados pelo coronavírus.

Ele acrescenta, ainda, que nenhuma medicação é segura em altas doses. “O que diferencia droga de veneno é volume, é quantidade. Nada em excesso ou fora de padrão é benéfico para ninguém. Se você conversar com gastroenterologista, tem pacientes com intoxicação por hipervitaminose, por excesso de vitamina D, e se você não tratar, o paciente pode ter infarto em poucos anos. Nem vitamina é benéfica em altas doses e as pessoas estão fazendo overdose de ivermectina, de hidroxicloroquina, de zinco, de vitamina D. Não tem porque a gente usar medicamento em demasia. Isso é insanidade”, afirma.

Raymundo Paraná, que tem atendido pacientes com lesões no fígado por conta do uso indiscriminado da ivermectina, reforça que a quantidade metabolizada no fígado ou filtrada nos rins não torna o medicamento seguro, ou mesmo eficaz, contra a covid. “Ela tem muitas interações medicamentosas, tem neurotoxicidade e, embora o potencial de toxicidade dela seja muito baixo, não quer dizer que ela não tenha potencial de toxicidade”, explica.

“A medicina tem como princípio primum non nocere – primeiro não faça mal. Para saber se não está fazendo mal, a gente tem que ter noção de que ela faz bem, o quanto faz mais bem do que mal. Se a gente não tiver essa noção, o pouco mal pode se transformar num grande mal se eu não tenho benefício. Como qualquer outra droga, se eu não tenho vantagens com o uso dela, eu só acumulo desvantagens. E, até o momento, a ivermectina é utilizada como antiparasitário e nem o fabricante recomenda que se use em outra coisa”, aponta.

O que dizem as entidades de saúde e o fabricante

A OMS e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da OMS nas Américas, não recomendam o uso de ivermectina para nenhum propósito que não seja aqueles para os quais o medicamento é autorizado: doenças parasitárias, como oncocercose e sarna.

A revisão dos estudos sobre medicamentos para uso em pacientes com covid-19 identificou “incerteza nos benefícios e danos potenciais”. “Embora estimativas sugiram benefícios com ivermectina, fatores como limitações metodológicas dos estudos apontam que as evidências são insuficientes e que mais pesquisas são necessárias para confirmar ou descartar esses achados”, diz a OMS.

Em 31 de março de 2021, a organização recomendou que a ivermectina fosse usada apenas em ensaios clínicos relacionados à covid-19, tendo em vista que a evidência atual sobre o uso desse medicamento para tratar pacientes com a doença é inconclusiva.

A Food and Drug Administration (FDA), agência de regulação dos Estados Unidos, também não aprova o uso da ivermectina para tratar ou prevenir a covid-19 e alerta que o uso de doses excessivas do medicamento, que não tem efeito antiviral, pode causar danos. A European Medicines Agency (EMA) também desaconselha o uso da ivermectina para pacientes com covid ou para prevenir a doença.

O laboratório Merck, fabricante da ivermectina nos Estados Unidos, afirmou em 4 de fevereiro de 2021 que os cientistas da empresa examinam cuidadosamente todos os estudos disponíveis e emergentes de ivermectina para o tratamento da doença para evidências de eficácia e segurança.

Até o momento, diz, a análise identificou não haver base científica para um efeito terapêutico potencial contra a covid de estudos pré-clínicos; não haver evidência significativa para atividade clínica ou eficácia clínica em pacientes com a doença; e preocupação com a falta de dados de segurança na maioria dos estudos.

“Não acreditamos que os dados disponíveis suportem a segurança e eficácia da ivermectina além das doses e populações indicadas nas informações de prescrição aprovadas pela agência reguladora”, diz o comunicado.

Quem é o autor do post

Marcos Falcão Farias Monte é médico com registro no Conselho Regional de Medicina do Estado de Alagoas, sob o número 8608-AL. O documento foi emitido há seis meses, em 15 de dezembro de 2020, após ele se formar pela Universidade Federal de Alagoas. Não há especialidades registradas.

Ele atende no formato de telemedicina e, tanto no Twitter quanto no Instagram, se apresenta como ativista político de direita, oferecendo tratamento imediato contra a covid. Também mantém um canal no YouTube, que já passou quatro meses desmonetizado como punição aplicada pela plataforma.

Via WhatsApp, o médico oferta serviços de análise clínica, prescrição de remédios, acompanhamento até a cura dos sintomas e solicitação de exames, com direito a quatro retornos por um valor de R$250.

Também pelos perfis, o Comprova localizou um canal do Telegram mantido pelo médico com mais de 5 mil inscritos. Na plataforma, Falcão recomenda – para “ajudar na prevenção da covid” – que todo domingo as pessoas tomem um comprimido de ivermectina para cada 30 kg. “Se tiver num meio-termo, arredonda para mais. Exemplo: 45 kg, toma dois”, diz a publicação, que indica, ainda, a ingestão de outras quatro substâncias também sem comprovação contra a covid em dias alternados, por semana ou diariamente. Em nenhum momento o profissional orienta as pessoas a consultarem um médico antes da ingestão do combo.

Para o hepatologista Raymundo Paraná, essa dosagem não é testada em humanos e não há estudos que comprovem o efeito antiviral da ivermectina, diferente do que diz Falcão. “Já vi pacientes tomando 2 comprimidos por dia, 1 por dia, 1 por semana, 1 a cada 15 dias e já vi 12 comprimidos por dia. É uma loucura. Nunca vi uma prescrição igual à outra porque ninguém sabe qual é a dose e nem o tempo de tratamento. Quando, em medicina, existem propostas muito diferentes, é porque nenhuma presta. Quando tem alguma que presta, todo mundo faz igual”, explica.

Ele destaca que opiniões individuais que defendem o uso da ivermectina contra a covid são frágeis e não há estudos sérios que comprovem sua eficácia, afirmando não fazer sentido que a venda do medicamento tenha crescido vertiginosamente justo no momento em que a pandemia teve mais vítimas.

“Se fosse uma dose tão milagrosa assim, não deveria ter essa coincidência, você deveria ter menos casos graves. Mas, pelo contrário, você teve muito mais casos do que quando não se usava. Obviamente que se fosse demonstrada a eficácia, nenhum médico sério do mundo se recusaria a prescrevê-la”, afirma.

O médico Marcos Falcão, em uma das postagens no Telegram, chega a compartilhar o estudo “Use of Ivermectin as a Potential Chemoprophylaxis for Covid-19 in Egypt: A Randomised Clinical Trial”, publicado no Journal of Clinical and Diagnostic Research, afirmando que ele comprova efeito da ivermectina na proteção contra a covid.

A conclusão do estudo, entretanto, sugere que a ivermectina apresenta eficácia promissora enquanto droga quimioprofilática (uso de medicamento de modo preventivo) contra a covid, acrescentando que trata-se de um primeiro relatório em relação ao uso da substância na profilaxia e que é apropriado se estudar rigorosamente o medicamento.

Conforme consulta na Plataforma Sucupira, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), vinculada ao Ministério da Educação, o periódico no qual o estudo foi publicado é avaliado como B3 na área de Medicina I, ou seja, considerado de média relevância, sem ser de excelência nacional ou internacional.

A cientista Natalia Pasternak, microbiologista da Universidade de São Paulo (USP), ouvida pela Comissão da Pandemia no Senado no dia 11 de junho de 2021, projetou em telão uma série de estudos científicos reconhecidos, de diversas partes do mundo, mostrando que a cloroquina e outros medicamentos do chamado “tratamento precoce”, dentre eles a ivermectina, não funcionam contra a covid-19.

Ela destacou que o chamado ‘kit covid’, que engloba remédios como hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina, não tem base científica, argumentando que a hidroxicloroquina, por exemplo, nunca foi testada em conjunto com ivermectina, e, juntas, podem ter interações medicamentosas que podem ser nocivas para os rins, para o fígado e podem levar pessoas à fila do transplante.

Na ocasião, o senador Luis Carlos Heinze defendeu que a ivermectina tem comprovação científica no combate à covid, declarando haver cinco metanálises favoráveis, sendo duas já publicadas (pelos doutores Pierre Kory – já verificado pelo Comprova – e Timotheus). A cientista, entretanto, voltou a negar a eficácia, defendendo que boas metanálises devem incluir “os melhores estudos feitos sobre aquele assunto”.

“Se a gente fizer uma metanálise só com estudos fracos, a gente vai ter uma metanálise fraca, e daí vão poder dizer que algo funciona, quando, na verdade, o conjunto das evidências que foi contemplado naquelas metanálises é um conjunto de evidências fracas. Então precisamos ter metanálises bem feitas”, declarou a especialista, lembrando que o consenso científico é constituído a partir de inúmeras pesquisas, de diferentes níveis de qualidade.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia ou sobre políticas públicas do governo federal. Quando esse conteúdo envolve medicamentos ou tratamentos contra o novo coronavírus, sua checagem se torna ainda mais necessária, porque informações incorretas podem levar as pessoas a colocarem a saúde em risco.

As postagens verificadas aqui tiveram mais de 4,1 mil curtidas, 1,2 mil compartilhamentos e 101 comentários no Twitter, além de 4,7 mil curtidas no Instagram.

Neste ano já foram publicadas checagens informando que a ivermectina não tem eficácia comprovada contra a covid-19 pelas agências Boatos.Org, Aos Fatos e o próprio Comprova.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-06-15

Estudo com hidroxicloroquina não comprova eficácia no ‘tratamento precoce’

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa postagem no Twitter que associa um estudo pré-publicado, portanto sem revisão dos pares, com utilização da hidroxicloroquina no tratamento precoce contra a covid-19 defendido por Bolsonaro (sem partido) e apoiadores. Além disso, o estudo em questão foi realizado com pacientes já em estado grave.
  • Conteúdo verificado: Tuíte compartilha postagem de site americano sobre um estudo que chegou à conclusão de que tratamento com hidroxicloroquina pode aumentar as chances de sobrevivência de pessoas com covid-19 em quase 200%. O perfil acrescenta um comentário: “a CPI do circo deveria dar uma lida em estudos assim. O ministro da Saúde idem”. 

Para defender a adoção de um “tratamento precoce” contra a covid-19, um tuíte enganoso divulga texto do site One America News que afirma que hidroxicloroquina pode aumentar chances de sobrevivência de um paciente em 200%. Na verdade, é um estudo sem revisão de pares e que avaliou o uso da droga em pessoas que estavam em estágio avançado da doença, não utilizando, portanto, o medicamento de forma preventiva.

O site afirma que “estudo confirmou que a hidroxicloroquina é eficaz no tratamento de covid-19”, referindo-se a uma pré-publicação que avaliou 255 pacientes infectados que necessitaram de ventilação mecânica invasiva (IMV, na sigla em inglês), ou seja, em estado grave, durante os primeiros dois meses da pandemia nos Estados Unidos.

A plataforma que o publicou destaca que preprints são relatórios preliminares de trabalhos que não foram certificados por uma revisão por pares. O estudo não engloba o que se defende no Brasil, por apoiadores do governo Bolsonaro e pelo presidente, como tratamento precoce contra o vírus.

O especialista Bruno Rezende de Souza, doutor em Farmacologia Bioquímica e Molecular no Departamento de Fisiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foi consultado pelo Comprova e diz que a amostra utilizada no estudo é pequena, tornando-o fraco, além de ressaltar não ter sido utilizado método eficaz para a análise.

O tuíte da usuária acrescenta o comentário de que “a CPI do circo deveria dar uma lida em estudos assim. O ministro da Saúde idem”, referindo-se à CPI da Pandemia, instaurada no Senado com a finalidade de apurar ações e omissões do governo federal no combate ao coronavírus, e ao depoimento do ministro Marcelo Queiroga aos membros da comissão, durante o qual se posicionou contrário ao “tratamento precoce”, defendendo a vacinação.

O perfil @Clauwild1, que fez a postagem no Twitter, foi procurado, mas não retornou até a publicação dessa verificação.

Como verificamos?

A partir da postagem no Twitter, o Comprova verificou o conteúdo do texto compartilhado e chegou ao estudo, que foi submetido à análise do especialista Bruno Rezende Souza.

Pesquisamos os tipos de estudos e qual o ideal para atestar a eficácia de drogas e tratamentos.

Analisamos uma entrevista de um dos autores do estudo e o procuramos por meio de contato informado no preprint, mas não recebemos retorno.

Também revisitamos checagens e estudos anteriormente publicados sobre o uso da hidroxicloroquina no tratamento contra a covid-19.

Por fim, tentamos conversar com o perfil @Clauwild1, responsável pelo tuíte, sem sucesso.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 14 de junho de 2021.

Verificação

Estudo

O estudo foi publicado pelo site MedRxiv, que se apresenta como um arquivo online gratuito de manuscritos completos, mas não publicados (preprints) nas ciências médicas, clínicas e de saúde relacionadas.

O site destaca, inclusive, que preprints são relatórios preliminares de trabalho que não foram certificados por revisão por pares e que não devem ser usados ​​para orientar a prática clínica ou comportamento relacionado à saúde, nem ser relatados na mídia como informação estabelecida.

Conforme apresentado pelos autores, o estudo avaliou 255 pacientes infectados com covid-19 que necessitaram de ventilação mecânica invasiva durante os primeiros dois meses da pandemia nos Estados Unidos.

Foram examinadas as associações de comorbidades, parâmetros laboratoriais e terapias médicas com mortalidade em todos os pacientes internados em um único hospital no norte de Nova Jersey, durante a primeira onda da pandemia, entre a segunda semana de março e o pico, no início de abril de 2020.

Os pacientes foram analisados no Saint Barnabas Medical Center ao longo de 51 dias, a partir de 12 de março. Os dados dos prontuários foram acrescentados no mesmo banco de dados e analisados ​​de várias maneiras.

“As abordagens incluíram análises de séries temporais de sinais vitais, dados laboratoriais e terapêuticos. Também examinamos o tratamento de uma maneira mais completa e abrangente, que incluiu todos os tratamentos utilizados. Ao fazer isso, fomos capazes de obter novos insights sobre a covid grave, que causa insuficiência respiratória”, diz o estudo.

As conclusões apontam que apenas 3,5% do grupo recebeu alta, mas os autores defendem que vários fatores estão associados ao desfecho em pacientes com covid hospitalizados. “A maioria dos estudos da covid não considerou dias de terapia (período em que pacientes receberam medicação), dose cumulativa ou dosagem ajustada ao peso. Descobrimos que quando as doses cumulativas de dois medicamentos, HCQ [hidroxicloroquina] e AZM [azitromicina], estavam acima de um determinado nível, os pacientes tinham uma taxa de sobrevida 2,9 vezes maior que os outros pacientes”, conclui.

O preprint destaca que esses dados ainda não se aplicam a pacientes hospitalizados que não estejam em IMV, ou seja, que não estejam em estado grave. “Uma vez que aqueles com doses mais altas de HCQ tinham doses mais altas de AZM não podemos atribuir apenas o efeito causal (a sobrevida de alguns pacientes) à terapia combinada de HCQ/AZM”.

É provável, destacam os autores, que a azitromicina contribua significativamente para esse aumento na taxa de sobrevivência. “Uma vez que a terapia com doses mais altas de HCQ/AZM melhora a sobrevida em quase 200% nesta população, os dados de segurança são discutíveis”, destaca.

Tipo de estudo

O artigo trata de um estudo observacional, geralmente utilizado para formular hipóteses, segundo explica o Centro de Apoio à Pesquisa no Complexo de Saúde (CAPCS) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Para atestar a eficácia de drogas e tratamentos, o ideal é a realização de um ensaio clínico, como explica um texto de Claudia de Carvalho Falci Bezerra, mestre em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas pela Fiocruz. O melhor modelo é o duplo-cego randomizado, em que os pacientes são separados em dois grupos: um que receberá o tratamento e outro que receberá placebo. A divisão aleatória ajuda a evitar vieses como idade e condição física, que podem afetar o resultado.

Além disso, nesse tipo de estudo nem médicos, nem pacientes sabem, no momento em que a droga é administrada, quem está recebendo o medicamento e quem está recebendo o placebo. “A justificativa para esta técnica é que quando o paciente sabe que está recebendo um novo tratamento, pode haver um efeito psicológico benéfico no paciente, fazendo-o se sentir melhor mesmo não havendo nenhuma melhora clínica efetiva. E ao contrário, se o paciente souber que está recebendo um tratamento convencional ou nenhum tratamento, pode acontecer um efeito psicológico indesejado. O paciente pode se sentir pior, mesmo que não haja nenhuma piora no quadro”, explica o texto da pesquisadora.

Avaliação

O Comprova pediu ao cientista Bruno Rezende de Souza, da UFMG, para avaliar o estudo.

Conforme o professor, trata-se de estudo observacional e também retrospectivo, tendo peso pequeno como evidência porque é impossível responder se foram os medicamentos que causaram a melhora de pacientes. “Não dá para comparar com os estudos randomizados, duplo-cego e controlados com placebo já publicados”, afirma.

Ainda segundo a análise do especialista, a amostra utilizada é pequena, o que torna o estudo fraco, pois há aumento da chance de resultados falso-positivos e falso-negativos. “É como tirar cara ou coroa e fazer um gráfico depois de jogar a moeda pra cima só três vezes”, diz, lembrando tratar-se de um artigo pré-publicado que precisa ainda passar por revisão por pares.

Rezende chama a atenção sobre um dado específico do estudo, mencionado na tabela 1, que contém valores de apresentação e condições pré-existentes dos pacientes estudados. Conforme o levantamento, no dia da admissão dos pacientes, a maioria já estava sendo medicada com hidroxicloroquina e hidroxicloroquina combinada com azitromicina.

 

“A barra azul mostra para gente que tem muito mais pessoas sendo intubadas que são tratadas (com hidroxicloroquina) do que as que não são tratadas, ou seja, se eu olhasse só esse gráfico eu falaria que esse tratamento está induzindo as pessoas a serem intubadas, está sendo pior”, observa.

Apesar disso, diz, a interpretação está comprometida por falta de dados mais detalhados. “É apenas uma crítica porque não tem os dados que mostram se estava pareado o número de pessoas internadas em tratamento com hidroxicloroquina e azitromicina e pessoas que não estavam sendo tratadas, aí seria um estudo sério, que você pareia, normaliza pela idade, essas coisas todas. E não tem nada”, finaliza.

Hidroxicloroquina

Como o Comprova mostrou em uma verificação recente, o Grupo de Desenvolvimento de Diretrizes da OMS, formado por especialistas de todo o mundo, concluiu, no dia 1º de março de 2021, que a hidroxicloroquina não deve ser usada para tratar a covid-19 de forma precoce. Para fazer essa recomendação, os especialistas realizaram seis ensaios clínicos randomizados, dos quais participaram 6 mil participantes.

De acordo com esse grupo de especialistas, “o estudo mostrou que a hidroxicloroquina não teve efeito significativo na morte e admissão ao hospital, enquanto a evidência de certeza moderada mostrou que a hidroxicloroquina não teve efeito significativo na infecção por covid-19 confirmada em laboratório e provavelmente aumentava o risco de efeitos adversos”.

Por causa desses achados, os cientistas entenderam que a hidroxicloroquina deve deixar de ser prioridade nas pesquisas em busca de medicamentos para prevenir a infecção pelo novo coronavírus. A pesquisa completa foi publicada no The BMJ.

CPI e o ministro da Saúde

A CPI da Pandemia foi instalada no dia 27 de abril de 2021, com 11 senadores titulares, para apurar, em 90 dias, as ações e omissões do governo federal no enfrentamento da crise sanitária no Brasil e, em especial, no agravamento dela no Amazonas com a ausência de oxigênio para os pacientes internados.

Tem como objetivo, também, investigar possíveis irregularidades em contratos, fraudes em licitações, superfaturamentos, desvio de recursos públicos, assinatura de contratos com empresas de fachada para prestação de serviços genéricos ou fictícios, entre outros ilícitos, se valendo para isso de recursos originados da União, bem como outras ações ou omissões cometidas por administradores públicos federais, estaduais e municipais a partir de recursos repassados pela União.

Citado no post verificado aqui, o ministro da saúde, Marcelo Queiroga, prestou depoimento e se posicionou contra o tratamento precoce, defendendo a vacinação como medida contra a covid-19.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia ou sobre políticas públicas do governo federal. Quando esse conteúdo envolve medicamentos ou tratamentos contra o novo coronavírus, sua checagem se torna ainda mais necessária, porque informações incorretas podem levar as pessoas a colocarem sua saúde em risco.

O tuíte verificado aqui teve 3,9 mil curtidas e 1,5 mil compartilhamentos, além de 71 comentários.

Recentemente, o Comprova mostrou serem enganosos conteúdos virais sobre uma possível indicação do defensor da cloroquina ao Nobel da Paz; sobre a vacinação contra a covid-19; sobre o uso de máscaras; e sobre o chamado “tratamento precoce”.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-06-15

É falso que jogador dinamarquês tenha se vacinado antes de sofrer mal súbito

  • Falso
Falso
Tuíte informa como fonte uma entrevista feita para uma rádio italiana, cuja existência a própria emissora nega. O jogador tampouco foi vacinado, segundo o diretor do clube onde atua.
  • Conteúdo verificado: Um tuíte do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos alega que o jogador de futebol Christian Eriksen, vítima de um mal súbito enquanto jogava, teria tomado a vacina da Pfizer contra a covid em 31 de maio. O blogueiro associa o mal-estar com o fato do jogador ter sido supostamente imunizado.

É falso que o jogador dinamarquês Christian Eriksen, que teve um mal súbito no jogo contra a Finlândia no último sábado, 12, já tenha sido vacinado contra a covid-19. Essa alegação foi feita pelo blogueiro Allan dos Santos no Twitter. Dizendo que não haveria “nada ainda confirmado”, ele afirma que “é grande o questionamento” se o mal-estar seria um efeito adverso do imunizante.

Allan diz que “o médico-chefe e cardiologista da equipe italiana confirmou via rádio italiana que Eriksen havia recebido a vacina Pfizer em 31 de Maio”. Apesar disso, a rádio citada negou que tenha veiculado entrevista da equipe responsável pelo jogador.

Giuseppe Marotta, diretor da Inter de Milão, clube pelo qual o jogador atua, também desmentiu os boatos. “Ele (Eriksen) não teve covid e também não foi vacinado. Eu posso dizer que a equipe médica da Inter está em contato com a equipe médica da Dinamarca desde o início”, afirmou Marotta em entrevista ao canal de TV Rai Sport.

O Comprova não conseguiu contato com Allan dos Santos.

Como verificamos?

O primeiro passo foi buscar informações sobre o incidente na mídia nacional e internacional, bem como os desdobramentos do caso. Procurando a suposta entrevista na rádio italiana, encontramos o tuíte informando se tratar de desinformação.

O Comprova não conseguiu entrar em contato com Allan dos Santos. Seu posicionamento será acrescentado caso ele procure a reportagem.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 15 de junho de 2021.

Verificação

Eriksen foi vítima de um mal súbito

Durante a partida entre Dinamarca e Finlândia na Eurocopa neste sábado, 12, o jogador dinamarquês Christian Eriksen sofreu um mal súbito e chegou a ficar inconsciente em campo.

Ele recebeu massagem cardíaca até ser reanimado e ser encaminhado a um hospital. A partida chegou a ser suspensa, mas foi retomada quando todos no estádio receberam a notícia de que ele estava em condição estável.

Ainda não se sabe o que ocorreu com o jogador. Na manhã desta segunda, 14, o empresário de Eriksen, Martin Schoots, disse ao jornal italiano Gazzetta dello Sport: “Todos nós queremos saber o que aconteceu, ele também. Os médicos estão fazendo exames detalhados, vai demorar”, afirmou.

Diretor e rádio negam boatos de vacinação

O caso de Eriksen chamou atenção pois o jogador não tinha problemas de saúde, informação confirmada pelo seu diretor na Inter de Milão e por um ex-cardiologista de quando ele jogava no Tottenham, da Inglaterra. Logo surgiram rumores infundados de que o jogador teria tomado a primeira dose da vacina da Pfizer 12 dias antes e que isso poderia estar associado com o mal súbito.

Como mostrou a agência internacional de notícias Reuters, essa alegação falsa circulou inicialmente em um tuíte em inglês que foi posteriormente apagado. Apesar disso, prints do tuíte continuaram circulando no Facebook e no Instagram. Segundo esses posts, a informação teria sido revelada pela equipe médica da Inter de Milão em entrevista para a rádio italiana Radio Sportiva.

Isso foi desmentido pelo rádio em sua conta no Twitter. “As informações relatadas no tuíte mencionado são falsas. Nunca relatamos qualquer opinião da equipe médica da Inter de Milão sobre a condição de Christian Eriksen”, diz o tuíte da rádio.

Ao comentar o bom quadro clínico de Eriksen, seu ex-cardiologista no Tottenham, Sanjay Sharma, deu uma entrevista ao tabloide inglês Daily Mail na qual levantou a hipótese de que “alguns jogadores podem ter se infectado de forma assintomática com covid-19”, o que poderia “ter deixado sequelas no coração”. No entanto, isso foi apenas uma hipótese aventada, uma vez que ele mesmo estava surpreso com o caso, já que nunca encontrou motivo para alarme quando cuidou da saúde do atleta.

Como mostrado pelo Comprova recentemente, já são bem conhecidos os efeitos do coronavírus sobre o coração. A doença pode causar um grave quadro inflamatório em todo o corpo, o que é propício para o desenvolvimento de problemas cardíacos. Além disso, os pesquisadores já identificaram a presença do coronavírus em células do coração e sua relação com uma inflamação do músculo cardíaco chamada miocardite.

No entanto, não foi este o caso de Eriksen, segundo o diretor da Inter de Milão, Giuseppe Marotta. Ele negou que o jogador já tivesse se infectado com o coronavírus ou mesmo que tenha se vacinado. “Ele não teve covid nem havia se vacinado ainda”, disse Marotta ao canal de TV Rai Sport.

Quem é Allan dos Santos

Allan dos Santos é um blogueiro bolsonarista, criador do site Terça Livre. Ele é investigado no inquérito que apura a organização e o financiamento de atos antidemocráticos ao longo de 2020.

As provas coletadas pela Polícia Federal com a quebra de sigilo do aparelho celular de Allan dos Santos mostram que ele mantinha reuniões com deputados bolsonaristas e servidores do Palácio do Planalto. É dele uma mensagem enviada a um assessor de Bolsonaro no qual defende uma intervenção militar no país. Em julho de 2020, ele afirmou que havia deixado o país.

A Polícia Federal pede a abertura de oito frentes de apuração. Cinco meses depois de ser questionada pelo STF sobre a continuação das investigações, a Procuradoria-Geral da República defendeu o arquivamento do inquérito. Cabe ao ministro Alexandre de Moraes determinar o arquivamento ou a continuidade.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre o governo federal e também a pandemia. Damos prioridade para postagens que atingiram alto grau de viralização e assim podem causar mais dano. O tuíte de Allan dos Santos recebeu 12.372 reações, foi retuitado ao menos 1.499 vezes e permanece no ar mesmo após a informação ter sido desmentida por diversos veículos.

As vacinas atualmente disponíveis passaram por várias etapas de testes que garantem sua segurança e eficácia em proteger contra o coronavírus. Conteúdos como o checado lançam dúvidas na população e atrapalham o principal esforço atualmente conduzido pelas autoridades para combater a pandemia.

O Comprova já mostrou que agências regulatórias negam haver risco à fertilidade dos vacinados. Também mostramos ser falso que a Organização Mundial da Saúde recomende uma 3ª dose para a Coronavac.

O boato envolvendo o caso do jogador dinamarquês também foi desmentido pela Reuters, Full Fact, Forbes, Lupa e Fato ou Fake.

Falso, para o Comprova, é conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2021-06-14

Vacina contra covid não tem efeito magnético

  • Falso
Falso
É falso que a vacina contra a covid-19 deixe a pele “magnética”. Ao contrário do que foi sugerido em vídeo divulgado no Facebook, os imunizantes não têm qualquer componente capaz de gerar tal reação, e professores de Física esclarecem que o efeito de adesão é o responsável por permitir que moedas ou ímãs fiquem grudados na pele.
  • Conteúdo verificado: Vídeo divulgado no Facebook mostra uma idosa, que afirma ter sido vacinada com a Coronavac nos dois braços, grudando uma moeda no local onde supostamente teria recebido o imunizante.

É falso que a vacina contra o coronavírus seja capaz de magnetizar a pele no local da aplicação, ao contrário do que alega uma idosa em um vídeo que viralizou no Facebook.

Em vários outros experimentos também publicados na internet, é possível ver que basta um pouco de umidade para que uma moeda, ímã ou qualquer objeto pequeno e leve fique grudado no braço de qualquer pessoa – tendo ela tomado ou não a vacina.

Segundo professores de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que responderam ao boato que circula online, o efeito de adesão, propiciado por forças intermoleculares, é o responsável pelo truque. O princípio científico define a tendência que superfícies e partículas formadas por moléculas diferentes têm de “grudar” uma na outra.

Além disso, o único metal presente na composição das vacinas – em dose baixíssima – é o hidróxido de alumínio, que não tem capacidade magnética nessa proporção.

O Instituto Butantan, responsável pela fabricação da Coronavac, também já desmentiu as alegações.

O Comprova entrou em contato com a mulher que aparece no vídeo e com a autora do post no Facebook, mas não teve retorno até a publicação desta verificação.

Como verificamos?

Tentamos entrar em contato com a idosa que aparece no vídeo que viralizou, para checar se ela fez o “experimento” acreditando mesmo nele ou se, de forma proposital, adotou algum truque. Encontramos o perfil dela no Facebook, com as informações que ela mesma fornece no vídeo, mas ela não respondeu aos nossos contatos por mensagem na rede social. A usuária que publicou o vídeo também foi contatada pela plataforma.

Depois, buscamos outras publicações online sobre o assunto, e encontramos um post do Centro de Referência para o Ensino da Física, publicado em maio, que já explicava a impossibilidade da hipótese de uma “vacina magnética”.

Também encontramos outros vídeos publicados na internet por pessoas que provaram que é possível fazer o truque mesmo sem estar vacinado contra a covid-19.

Buscamos ainda o posicionamento do Instituto Butantan, responsável pela fabricação da Coronavac no Brasil.

Por fim, consultamos outras verificações publicadas por checadores brasileiros e de outros países sobre o assunto.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 14 de junho de 2021.

Verificação

No vídeo que viralizou, a idosa, que se apresenta como Matilde Rodrigues, da cidade de Salto do Pirapora, em São Paulo, diz ter tomado as duas doses da Coronavac – uma em cada braço. Então, ela faz um “experimento”, colocando uma moeda de um real sobre o local onde supostamente foi imunizada. A moeda adere à pele nesses pontos, mas não gruda em outras partes do braço. Por isto, ela afirma que a vacina “deve ter algum ímã”.

Adesão à pele

Em maio, os professores do Centro de Referência para o Ensino da Física, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CREF/URFGS), Fernando Kokobun e Fernando Lang da Silveira, fizeram um post com explicações do que pode provocar a adesão de uma moeda ou outros objetos metálicos ou magnéticos à pele.

Em um vídeo, os professores mostram que uma moeda de 50 centavos adere facilmente ao braço de uma pessoa, em local onde não havia sido aplicada nenhuma vacina. O efeito, segundo eles, é produzido “sem magnetismo algum, apenas com uma leve hidratação do local (caso a pele esteja seca) onde se deseja a adesão da moeda. Se a pele estiver seca, basta passar um pano úmido no local, para que a moeda, levemente pressionada à pele hidratada, tenha aderência suficiente para ali ficar”.

No Twitter, o médico e doutorando da Universidade de Oxford, no Reino Unido, Ricardo Parolin, também publicou um vídeo, mostrando que, mesmo sem ter tomado a vacina, foi capaz de provocar a adesão de uma moeda ao próprio braço, passando antes uma toalha levemente molhada no local.

Para os professores do CREF/UFRGS, todo o boato é uma “teoria conspiratória”, e tudo não passa de um “comum efeito de adesão propiciado por forças intermoleculares”.

Composição da vacina

O único componente metálico da vacina do Butantan e do laboratório Sinovac é o hidróxido de alumínio. De acordo com a instituição brasileira, trata-se de um “componente adjuvante, seguro, aprovado e utilizado há décadas”, que não causa problemas de saúde. Os adjuvantes são compostos que estimulam a produção dos anticorpos e melhoram a resposta imune do organismo após a vacinação.

“Segundo o diretor de ensaios clínicos do Instituto Butantan, Ricardo Palacios, materiais paramagnéticos como o alumínio fazem parte da composição do corpo humano e só podem ser influenciados magneticamente por forças muito potentes, como as usadas nos aparelhos de ressonância magnética nuclear”, diz a publicação no site do Butantan.

E o diretor ainda complementa: “Em situações cotidianas, as pessoas não se expõem a essas grandes forças magnéticas. A quantidade de alumínio existente na composição do corpo humano e a exposição diária por ingestão é muito maior que a administrada na vacina, que não é capaz de alterar significativamente a proporção de alumínio de uma pessoa”.

Kokobun e Lang da Silveira, do CREF/UFRGS, apontam ainda que a quantidade da substância presente em uma dose de vacina é um milésimo da encontrada em comprimidos de antiácido – que não possuem qualquer efeito magnético.

Todos os possíveis efeitos colaterais gerados pela Coronavac, que não incluem magnetismo, estão descritos na bula do imunizante.

Por que investigamos?

O Comprova verifica, em sua quarta fase, conteúdos sobre a pandemia ou políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais.

O vídeo em questão acumula mais de 40 mil interações em um único post no Facebook, e já foi compartilhado diversas outras vezes em outras plataformas, como o Twitter, Youtube, Instagram e Whatsapp. Outros vídeos semelhantes, com as mesmas alegações, também se espalham por todas essas redes, inclusive em outros países, aumentando a desconfiança do público com as vacinas – apontadas por especialistas como a principal medida para solucionar a pandemia.

O Comprova já concluiu que era falso um boato que associava a imunização ao câncer, danos genéticos e ‘homossexualismo’ e que a OMS não recomendou uma terceira aplicação da CoronaVac.

Outros conteúdos sobre a suposta “vacina magnética” — seja a Coronavac ou o imunizante da AstraZeneca — já foram desmentidos no Brasil pelo Estadão, G1, Aos Fatos, AFP e UOL. Fora do país, o tema também foi checado pela BBC, Verifica, Animal Politico, FactCheck.org e Maldita.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.