Eleições

Investigado por: 2022-04-06

É falso que Barroso tenha prometido atuar contra reeleição de Bolsonaro

  • Falso
Falso
É falso que o ministro do STF Luís Roberto Barroso tenha dito que “Bolsonaro será reeleito se passarem por cima do meu cadáver” em uma live com juízes franceses, conforme afirma um texto que circula nas redes sociais. O texto é anônimo e não apresenta nenhuma prova de que isso seja verdade. Não há registro do evento ou da suposta declaração em fontes confiáveis de informação, e a mensagem foi desmentida pelo Supremo.

Conteúdo investigado: Postagem em blog sem qualquer indicação de autoria afirma que Barroso participou de live com juízes franceses e, na ocasião, fez as seguintes afirmações: “Bolsonaro será reeleito se passarem por cima do meu cadáver” e “Lula merece uma segunda chance”.

Onde foi publicado: Blog, Facebook, Twitter e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falsa a afirmação em blog sem autoria conhecida de que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso tenha participado de uma live com juízes franceses e dito a frase “Bolsonaro será reeleito se passarem por cima do meu cadáver”. A postagem ainda afirma que Barroso teria dito que “Lula merece uma segunda chance”. Não há qualquer registro de que esse evento tenha existido e menos ainda das supostas declarações atribuídas ao magistrado.

Na tarde desta terça-feira, 5, após o amplo compartilhamento do conteúdo nas redes sociais, o site do STF divulgou nota afirmando serem inverídicas as informações. A nota afirma que o gabinete do ministro informou “que tal encontro virtual nunca ocorreu e que o ministro jamais deu as declarações”. O esclarecimento também foi publicado nos canais do STF no Instagram e no Twitter, e em diversos veículos na internet.

O blog que publicou a postagem falsa não traz qualquer informação sobre a autoria da página, nem apresenta provas do que alega sobre Barroso. O texto não é assinado e nele não consta informação adicional ou link da suposta live entre Barroso e juízes franceses. Na internet, não há notícias sobre o suposto encontro, seja em veículos noticiosos ou em canais oficiais do Poder Judiciário e do ministro.

O conteúdo foi classificado como falso pelo Comprova porque foi inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Após dias circulando nas redes sociais, o material foi apagado sem nenhuma explicação no site.

O que diz o autor da publicação: O texto é anônimo, o que impede o contato com o autor da desinformação.

Como verificamos: O Comprova fez essa verificação a partir de pesquisas sobre o assunto na internet, análise da mensagem anônima e navegação no site que primeiro divulgou a desinformação. A equipe ainda tentou descobrir a origem do blog com as ferramentas Who.is e DNSlytics, mas essa busca não trouxe informações relevantes porque a página está hospedada em um servidor compartilhado.

A ausência de registro do suposto evento e das declarações de Barroso na imprensa, as características comuns a boatos no texto checado, a fonte questionável da alegação e a nota oficial do TSE desmentindo a história guiaram a conclusão do Comprova.

O blog anônimo

O blog que publicou a informação é anônimo, ou seja, não há informações sobre pessoa, grupo ou instituição responsável pela página, nem meios de contato. O blog está hospedado na plataforma WordPress, que permite a criação de páginas gratuitamente.

Nas seções “Sobre” e “Contato”, as informações são inexistentes e apenas reproduzem um modelo pronto do WordPress.

Da mesma forma, os links para redes sociais (Facebook, Twitter e Instagram), que aparecem no blog, não levam a nenhum endereço específico.

A ausência dessas informações exime o verdadeiro autor da postagem de eventuais responsabilizações, criminais ou jurídicas, já que o conteúdo atribui falas a uma das autoridades máximas do Judiciário brasileiro, que tem sua foto mostrada no blog.

A postagem, um parágrafo com quatro linhas, também não divulga o link da live que menciona: outro indício de conteúdo falso. Isso, inclusive, é questionado por dois internautas nos comentários:

Porém, há pessoas que tomam a informação como verdadeira sem qualquer questionamento:

STF desmente

A postagem no blog traz a data 4 de abril. O conteúdo viralizou nas redes sociais e, na tarde do dia seguinte, o STF publicou nota desmentindo a existência do suposto encontro e afirmando que o ministro Luís Roberto Barroso jamais deu tais declarações.

Nas redes sociais (1, 2, 3) e em seu site oficial, o ministro Luís Roberto Barroso costuma divulgar informações sobre as atividades de seu dia a dia profissional, como palestras, entrevistas, debates e encontros. Em todos esses canais, não há qualquer menção a live ou encontro com juízes franceses.

O site do STF divulga a agenda dos ministros. As informações no site estão disponíveis entre 7 de março e 12 de abril. Não há qualquer encontro com juízes franceses.

Da mesma forma, não há notícias do suposto encontro em nenhum outro lugar na internet, o que acende ainda mais o alerta para conteúdo falso dada a gravidade das declarações atribuídas a Barroso.

Outras postagens do blog

O blog que fez a publicação relacionada a Barroso tem postagens com temas diversos. Desde a conjuntura internacional, com várias publicações referentes ao presidente russo Vladimir Putin, ao caso de um suposto estupro que teria sido praticado por um pichador.

Há muitas menções também ao governo de Jair Bolsonaro e com referências elogiosas ao presidente, e citações a artistas de maneira depreciativa. Alguns textos têm links para conteúdos de veículos já consolidados, a exemplo de uma publicação que trata do veto à Lei Paulo Gustavo feita nesta quarta-feira (6/4) pelo blog. Nela, os hiperlinks direcionam para notícias publicadas pelo portal UOL. No entanto, várias informações dadas ao longo do texto, incluindo supostas declarações do presidente Jair Bolsonaro, não condizem com a realidade. A inserção desses links pode ser uma tentativa de conferir credibilidade a esta e outras publicações que misturam informações verdadeiras com desinformação.

Barroso é alvo de desinformação

Luís Roberto Barroso foi presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por cerca de dois anos, entre maio de 2020 e fevereiro de 2022, e virou alvo do presidente Jair Bolsonaro e seus aliados ao defender a segurança das urnas eletrônicas e criticar uma proposta que tentava estabelecer um comprovante de voto impresso nas próximas eleições. A matéria, patrocinada pelo governo, acabou rejeitada em comissão especial e no plenário da Câmara dos Deputados no ano passado.

A falsa declaração atribuída ao ministro sugere a tese infundada de que membros do Judiciário estariam planejando manipular as eleições presidenciais para favorecer Lula e prejudicar Bolsonaro. Esse tipo de alegação é desprovida de evidências, assim como mensagens dizendo que o sistema eletrônico de votação seria fraudulento. Desde que as urnas eletrônicas passaram a ser adotadas no Brasil, em 1996, nunca houve comprovação de fraude em qualquer pleito.

Barroso não faz mais parte da composição do TSE desde 16 de fevereiro deste ano. O presidente do órgão hoje é o ministro do STF Edson Fachin, que entrega o cargo em 17 de agosto, quando termina seu mandato na Corte. Durante as eleições, o presidente do TSE será o ministro Alexandre de Moraes.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A postagem analisada nesta checagem é prejudicial porque espalha uma mentira para colocar em descrédito o processo eleitoral brasileiro.

A divulgação de conteúdo falso ou enganoso referente a eleições e candidatos pode confundir a população no momento de decidir seu voto — que deve se basear em fatos, e não em desinformação.

Alcance da publicação: A publicação no site teve mais de 2,7 mil interações até o dia 5 de abril de 2022, antes de ser excluída. No Twitter, alcançou cerca de 1,2 mil interações e, no Facebook, engajou 5.843 pessoas até o dia 6 de abril.

Outras checagens sobre o tema: As eleições presidenciais e os nomes dos principais pré-candidatos na disputa para ocupar a cadeira no Palácio do Planalto são frequentemente envolvidos em conteúdos desinformativos. Os ministros do STF e do TSE também costumam ser citados, numa tentativa de tirar a credibilidade do órgão no julgamento de ações e na condução do processo eleitoral brasileiro.

Sobre o mais recente caso, aqui investigado, a agência Lupa assegurou que é falsa a declaração atribuída a Barroso. A mesma conclusão aparece em checagens do UOL Confere e do Boatos.org.

O Comprova já fez inúmeras verificações relacionadas às eleições, como as que demonstram que uma fala de Lula sobre negros foi tirada de contexto e que é falso que um líder de movimento social, ligado ao ex-presidente petista, foi preso com drogas. Também apontou se tratar de um meme com ator pornô uma suposta imagem viral de apoio a Bolsonaro e concluiu que um vídeo engana ao dizer que as pesquisas eleitorais de 2018 foram forjadas.

Em relação ao Supremo, o Comprova mostrou um post enganoso que dizia que o STF não queria agir contra o governador de São Paulo sobre doses interditadas da Coronavac e verificou que quatro decisões do órgão contra o governo Bolsonaro estão dentro das atribuições da Corte.