O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Política

Investigado por: 2020-07-31

Publicações enganam ao associar Bolsonaro à aprovação de verba para filme sobre sua eleição

  • Enganoso
Enganoso
Ancine aprovou em 2019 a captação de 530 mil reais para a realização de um filme que trata da eleição de Bolsonaro, mas não liberou recursos diretos para o documentário como dão a entender duas postagens investigadas pelo Comprova
  • Conteúdo verificado: Informação compartilhada no Twitter e no Facebook afirma que Bolsonaro teria liberado, via Ancine, 530 mil reais para a produção de um filme sobre ele mesmo.

Duas postagens sobre liberação de verbas da Ancine para um documentário sobre o presidente Jair Bolsonaro trazem informações falsas ou enganosas. Em uma delas, o perfil de Twitter @r_camilotti afirma que “Bolsonaro, via Ancine, libera 560 milhões para um filme sobre ele”. Essa informação é falsa. Na outra, no Facebook, o deputado José Guimarães (PT-CE) publicou uma imagem com o texto “Ancine libera 530 mil para documentário sobre Bolsonaro”. Essa informação é enganosa. O que a Agência Nacional do Cinema (Ancine) de fato liberou foi a captação de recursos, por meio da Lei do Audiovisual, para uma produção que pretende retratar os movimentos políticos do país desde 2013 até a eleição de Bolsonaro.

A aprovação para a captação ocorreu em julho de 2019 e não direciona verbas diretamente para o filme: o investimento é indireto, oferecendo aos interessados em contribuir com o filme a possibilidade de deduzir o valor das doações no Imposto de Renda (IR). Além disso, a aprovação ou não de verbas pela Lei do Audiovisual é feita por uma equipe técnica – e não passa pelo crivo direto de Bolsonaro. O presidente, inclusive, se posicionou contra a utilização da verba para a produção do filme.

Como verificamos?

A partir do texto utilizado na postagem de Guimarães, o Comprova utilizou a ferramenta CrowdTangle para rastrear se o post era novo ou se repetia conteúdo propagado por terceiros. Também foram feitas buscas no site da Ancine, com a qual entramos em contato por e-mail, e no Diário Oficial da União. Entrevistamos o cineasta Josias Teófilo, responsável pelo projeto do documentário, e enviamos mensagens ao deputado José Guimarães, que não nos retornou até a publicação desta investigação.

Realizamos buscas em veículos de imprensa para conferir declarações e ações de Bolsonaro a respeito da Ancine.

Verificação

A primeira postagem mencionando que Bolsonaro teria liberado R$ 530 mil para a produção um filme sobre ele foi compartilhada em 23 de julho pela página Ciro da Massa no Facebook. A descrição a identifica como “página voluntária em apoio ao Projeto Nacional de Desenvolvimento do PDT, liderado por Ciro Gomes”, e o perfil apresenta mensagens de apoio ao pedetista. Enviamos uma mensagem para a página para saber de onde surgiu a informação, mas não obtivemos retorno até a publicação desta investigação.

Em 26 de julho, publicação similar foi compartilhada pelo deputado federal Guimarães. Na descrição, o parlamentar afirma que o governo pretendia usar “dinheiro público da cultura para promover Bolsonaro”. Ele citou como fonte uma notícia do UOL, de 24 de julho do ano passado, dizendo que filme sobre eleição de Bolsonaro recebeu aprovação da Ancine para captar R$ 530 mil para sua produção.

Questionamos o deputado, por mensagem no WhatsApp, se o caso teve novas atualizações ou se ele estava apenas republicando uma informação antiga. Ele não nos retornou até a publicação deste texto.

O que foi omitido pela postagem é que a matéria do UOL cita aprovação para captar recursos, e não para financiar, diretamente, a produção do filme. O texto credita o projeto ao cineasta Josias Teófilo, que chegou a anunciar a aprovação da Ancine em redes sociais. Em uma página criada para o projeto no Twitter, ele é identificado como “documentário ensaístico sobre os desdobramentos políticos das Jornadas de Junho de 2013 que culminaram na eleição de Jair Bolsonaro”.

Já o perfil que fez a postagem do Twitter afirmando que Bolsonaro liberou R$ 560 milhões para a produção, pouco depois, publicou outro post corrigindo as cifras e afirmando se tratar de R$ 560 mil, valor ainda errado, mas mais próximo do autorizado para captação.

Como funciona a captação da Lei do Audiovisual?

A Lei do Audiovisual (8.685/93) não libera recursos para a produção de obras; o que ela faz é autorizar que eles sejam captados por um determinado projeto por meio de patrocínios e investimentos, segundo explicação no site da Ancine. Desta forma, os projetos se submetem à aprovação da Ancine e, caso liberados, podem buscar apoio de terceiros.

A vantagem prevista na lei é que quem estiver disposto a investir ou patrocinar projetos audiovisuais aprovados pela Ancine pode deduzir do Imposto de Renda (IR) os valores direcionados à produção das obras audiovisuais. O abatimento não pode passar de 6% do total declarado no IR de pessoas físicas e nem de 4% no caso de pessoas jurídicas.

Ou seja: o órgão não injeta recursos públicos diretamente na produção, mas permite que o contribuinte possa abater o valor de tributos pagos ao Estado.

Houve aprovação para a captação de um projeto associado a Bolsonaro?

Segundo a matéria do UOL, a aprovação para captação de recursos foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 31 de maio de 2019. O Comprova confirmou, na edição do dia, a autorização obtida pelo projeto de Teófilo para captar R$ 530.100 por meio da Lei do Audiovisual.

Procurada por e-mail, a Ancine enviou o link de uma página do site da instituição com as informações sobre a produção de Teófilo. Entre maio e dezembro de 2019, período aprovado para captação, o projeto conseguiu captar R$ 78 mil pela Lei do Audiovisual. Em entrevista ao Comprova, Teófilo confirmou os valores, mas disse que o órgão ainda não liberou o dinheiro. “O filme está sendo montado. Captou R$ 78 mil mas não conseguimos liberar ainda o dinheiro”, disse.

Teófilo alega que o filme não será produzido apenas com os recursos da lei, mas também através de financiamento coletivo, disponível no site oficial da produção. De acordo com o site do projeto, foram arrecadados mais de R$ 70 mil até o momento.

“O filme trata das manifestações de junho de 2013, do impeachment de Dilma, da ascensão da nova direita e da eleição de Bolsonaro. É dividido em cinco partes, a quinta parte trata da eleição de Bolsonaro. Ainda não temos sinopse”, resumiu ele por e-mail.

Em entrevista ao Canal Contracapa, concedida em 27 de julho deste ano, Teófilo declarou que optou por utilizar a lei do incentivo para que as pessoas da direita entendam “que não existe cinema sem lei de incentivo”. O cineasta disse que previa a polêmica em torno do financiamento e ressaltou que isso é ótimo para o projeto. “Quando as pessoas estão debatendo o filme, é sinal que você ganhou”, declarou.

Bolsonaro se opôs ao projeto e defende extinção da Ancine

Questionado pelo Comprova se obteve a liberação diretamente de Bolsonaro, Teófilo negou envolvimento do chefe do Executivo na decisão.

“Não é verdade que Bolsonaro liberou via Ancine. Os projetos da Lei do Audiovisual são aprovados por uma comissão técnica composta por funcionários de carreira. Bolsonaro inclusive se opôs publicamente à aprovação na Ancine desse projeto – ele pensava que o filme era sobre ele, ou sobre sua campanha”, afirmou no e-mail.

Em live nas redes sociais, Bolsonaro declarou ter sugerido à Ancine que recuasse na decisão de autorizar a captação de recursos para o filme. “Não queremos filmes de políticos com dinheiro público. O poder público não deve se meter a fazer filme. O estado vai deixar de patrocinar”, disse o presidente no dia 25 de julho de 2019.

Naquela mesma época, Bolsonaro disse que pretendia impor um filtro à Ancine, acabar com a agência ou privatizá-la. Ele reclamou do financiamento de diversos filmes nacionais, incluindo o longa “Bruna Surfistinha”, de 2011, que alegou ter “fins pornográficos”. Pouco depois, anunciou um corte de quase 43% no orçamento destinado ao Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), tentou transferir a sede da Ancine para Brasília e indicou um pastor e uma produtora ligada a filmes cristãos para a diretoria do órgão.

O que diz a Ancine?

Procurada pelo Comprova, a Ancine declarou que “dados sobre projetos aprovados para captação de recursos estão disponíveis no Portal Ancine” e indicou o link para a consulta pública do projeto “Nem Tudo se Desfaz”. O site mostra que, assim como relatado por Teófilo, foram captados R$ 78 mil para a produção. No entanto, o órgão não respondeu se o dinheiro já havia sido liberado para uso pelo cineasta.

Outros filmes

A produção de Teófilo não é a primeira nacional a ter aporte indireto de recursos com temáticas relacionadas à política. O filme “Polícia Federal: A Lei É para Todos”, que conta como se iniciou a Operação Lava Jato e seus desdobramentos — que levaram à prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda que após os acontecimentos relatados no longa — também contou com auxílio da Lei do Audiovisual, segundo o próprio site da Ancine.

Outro filme de tema similar com captação via Lei do Audiovisual foi “Real: O Plano por Trás da História”, que relata os bastidores da criação do Plano Real e dá protagonismo ao economista Gustavo Franco.

Alvo de polêmica, o longa “Lula, o Filho do Brasil”, uma biografia de Lula, foi produzido sem o uso de leis de incentivo — ou seja, foi feito por meio do patrocínio direto de empresas. Em reportagem de março de 2009, o Estadão relatou que diversas companhias que não apresentavam envolvimento com a indústria nacional do cinema estavam destinando grandes quantias à realização do filme. O texto destaca que, na maioria, são “empresas com negócios que dependem intimamente de decisões do Executivo e que possuem contratos milionários com o governo federal”. Em 2018, os patrocínios do filme entraram na mira da Lava Jato. Em delação premiada, o ex-ministro Antônio Palocci disse que havia determinado ao grupo Schahin que usasse dinheiro proveniente de propina para financiar a obra.

O documentário “Democracia em Vertigem”, indicado ao Oscar em 2020, retrata parte do auge do governo petista, o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e a ascensão de movimentos políticos que levaram à eleição de Bolsonaro. Não há nenhum registro do uso de recursos públicos no site da Ancine. Segundo a diretora Petra Costa, no portal oficial do documentário, parte dos recursos utilizados partiu de sua própria produtora — a Busca Vida Filmes —, enquanto outro aporte financeiro veio de “diversos fundos estrangeiros”. Os fundos, citados no site como Doc Society, Tribeca, Sundance, Berta e Threshold, concedem bolsas a produções audiovisuais que consideram relevantes. Para participar é necessário se inscrever em um processo seletivo. Costa afirma que não houve uso de dinheiro público na produção.

Por que investigamos?

O Comprova verifica conteúdos de ampla repercussão em redes sociais que apresentem informações erradas ou mesmo fora de contexto sobre determinados assuntos. Em um contexto de polarização política, inflamado pela proximidade com as eleições municipais de 2020, o projeto vê a necessidade de esclarecer se postagens que viralizaram na internet envolvendo agentes públicos são verdadeiras.

Outros conteúdos ligados à política foram investigados, como a “sabotagem” do governo do Ceará em canal inaugurado por Bolsonaro, um texto sobre boa aprovação de Lula utilizado para tratar de apoio a Bolsonaro e uma postagem que dizia que o Exército construiu ponte em 24 horas em Goiás.

No caso da aprovação de captação de recursos para um documentário que trata da eleição de Bolsonaro, não se trata de uma informação nova. A publicação também omite como é feita a captação via Lei do Audiovisual e induz o leitor a uma interpretação equivocada de que o chefe do Executivo teria interferido diretamente na liberação e que os valores seriam enviados de forma direta à produção.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado e que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Até 31 de julho, a postagem no Facebook teve mil comentários e 1,2 mil compartilhamentos. O tuíte foi compartilhado 75 vezes.

Política

Investigado por: 2020-07-31

Post mostra imagens de outras estradas para afirmar que o Exército arrumou a Transamazônica

  • Falso
Falso
Parte dos trechos das gravações utilizadas no vídeo verificado pelo Comprova não é da BR-230, segundo um dos autores das imagens. O próprio Exército informou que a força não concluiu nenhuma obra na rodovia Transamazônica durante o governo Bolsonaro
  • Conteúdo verificado: Publicação no Facebook afirmando que o Exército está fazendo melhorias na Transamazônica, após 40 anos sem nenhuma obra. Acompanha um vídeo com imagens do que seria a rodovia em situação precária e, depois, também do que seria a via em boas condições após obras supostamente feitas pelo Exército.

É falsa uma publicação que circula no Facebook afirmando que a rodovia Transamazônica (BR-230) está em boas condições de tráfego, após 40 anos, graças a obras do Exército. O post, publicado pelo perfil Brasil Unido, diz que “segundo os governos anteriores, era impossível arrumar a rodovia TransAmazônica”, e é acompanhado por um vídeo, no qual constam imagens de estradas em situação precária, seguidas de gravações do Exército trabalhando em obras rodoviárias e, por último, de pistas em bom estado.

Em primeiro lugar, parte dos trechos das gravações utilizadas no vídeo verificado não é da BR-230, segundo um dos autores das imagens e o Exército. Além disso, o próprio Exército disse que a força não concluiu nenhuma obra na rodovia Transamazônica durante o governo de Jair Bolsonaro (sem partido).

Procurado, o autor da postagem no perfil Brasil Unido, Fernando da Silva Ferreira, disse que apenas compartilhou o vídeo. “Não fui ao local averiguar se é correto ou não, mas vi muita gente comentando que realmente fizeram obra lá e que melhorou bastante.”

Como verificamos?

O primeiro passo foi buscar pelas palavras “exército obras rodovias” no YouTube. A pesquisa trouxe o vídeo intitulado “Obras da BR-163 e BR-116 – Engenharia do Exército”. Trata-se de uma edição que utiliza o áudio de uma live feita em 18 de julho pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, em que eles falam sobre obras na BR-163 (a partir de 13min47s) e também gravações do ministro com representantes do Exército na BR-116. Foi possível verificar que várias das imagens utilizadas neste vídeo encontrado no Youtube foram também enxertadas no vídeo objeto desta verificação. São imagens que mostram o Exército atuando em estradas.

Na primeira parte da gravação verificada, que mostra a estrada intransitável, algumas gravações têm marcas d’água, que são dos canais no Youtube Lebrão e Narrador Champz. Ao buscar esses nomes na plataforma, apareceram dois perfis ligados ao universo caminhoneiro. O Comprova assistiu e comparou os vídeos publicados nos canais com o vídeo verificado, mas não encontrou correspondência. Depois disso, enviou mensagens privadas por redes sociais para os dois perfis e conseguiu falar com os responsáveis por eles. A equipe também contatou o responsável pela página Brasil Unido, que teve grande viralização ao compartilhar o conteúdo no Facebook.

Também para checar o conteúdo da postagem, o Comprova enviou e-mail para o Exército – algumas imagens do vídeo trazem a marca d’água do órgão – e para o Ministério da Infraestrutura. O último não respondeu até a publicação deste texto.

O Comprova fez esta verificação baseado em dados oficiais disponíveis até o dia 31 de julho de 2020.

Verificação

O Exército e a Transamazônica

Além de afirmar erroneamente que o atual governo estaria, com a participação do Exército, concluindo obras na Transamazônica, a postagem mente ao dizer que governos anteriores não trabalharam por melhorias na via – que tem, no total, 4.260 quilômetros. Questionado sobre obras na BR-230 em gestões passadas, o Exército enviou, por e-mail, uma lista com os feitos para o Comprova. Em 1955, por exemplo, a instituição implantou um trecho de 24 quilômetros na rodovia na Paraíba. Durante o governo militar e nos governos Lula e Dilma (PT), também realizou obras de pavimentação e implantação em diversos trechos da rodovia. Segundo o Exército informou, atualmente, ele está executando obras de adequação da BR-230 em um trecho de 8 quilômetros na região da cidade de Cabedelo, na Paraíba.

Além de obras realizadas pelo Exército no passado, é importante ressaltar que a Transamazônica teve trechos implantados ou pavimentados por empresas particulares, que atuaram por meio de licitações de governos anteriores. Uma reportagem do G1, de 2009, por exemplo, mostra que o então presidente Lula discursou durante a inauguração de obras de duplicação da BR-230, em Campina Grande, na Paraíba.

Sobre o vídeo, o Exército afirmou que “verifica-se que se trata de uma edição em que foram inseridos trechos de diversos vídeos, configurando uma montagem não profissional” e que “a qualidade afeta a identificação de símbolos que aparecem no vídeo, mas existem trechos em que é possível verificar o símbolo do Exército”. Algumas das gravações identificadas pelo órgão foram feitas na BR-163, no trecho entre Novo Progresso e Igarapé do Lauro, no Pará. O Exército informou ainda: “Além de não se tratar da Transamazônica, o período provável das filmagens deve ser de agosto de 2017 a dezembro de 2019” – ou seja, começando no governo de Michel Temer (MDB).

A rodovia em situação precária

Algumas das imagens que mostram estradas em condições difíceis de tráfego no vídeo verificado trazem as marcas d’água dos canais do YouTube de Lebrão e do Narrador Champz.

Segundo o caminhoneiro Marcio de Almeida, dono do perfil Lebrão 001 G.N.A no YouTube, as gravações que contêm a sua inscrição no vídeo verificado “são de 2018, começo de 2019 ou mais antigas”. Ele disse ser o autor de todas as filmagens que posta e que algumas passagens também “não são nem da Transamazônica“.

Já o responsável pelo canal Narrador Champz, Diego da Silva, afirmou que os vídeos com a sua marca d’água são mesmo da Transamazônica, e foram feitos em 2014 e 2015 – as filmagens originais já foram deletadas de seu canal. Silva ressaltou que os vídeos não são de sua autoria, mas que ele recebe de outras pessoas e monta os compilados que publica no YouTube.

O autor da postagem

O post verificado foi publicado pela página Brasil Unido no Facebook. O Comprova entrevistou o autor do perfil por telefone, Fernando da Silva Ferreira. Ele não soube informar a origem do vídeo. “Não me lembro exatamente de onde veio, eu vi no Facebook e compartilhei”, afirmou. “Não fui ao local averiguar se é correto ou não, mas vi muita gente comentando que realmente fizeram obra lá e que melhorou bastante.”

No perfil, criado em maio e que já tem 11 mil seguidores, ele publica conteúdos contrários ao Supremo Tribunal Federal (STF), críticas a nomes como o ex-ministro Sergio Moro e a apresentadora Xuxa por ter um projeto de livro infantil com conteúdo LGBT e, principalmente, posts favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro.

Por que investigamos?

Atualmente em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos que dizem respeito a políticas públicas do governo federal e à pandemia de covid-19. As verificações são feitas em conteúdos que viralizam de forma significativa, caso do vídeo investigado aqui. A postagem falsa teve 75 mil interações no Facebook, além de 8,8 mil comentários, e o vídeo foi visualizado mais de 1,6 milhão de vezes até o dia 31 de julho.

Supostas realizações do governo Bolsonaro na área de infraestrutura têm sido objeto de desinformação. Naquele ano, o Comprova mostrou, por exemplo, que uma montagem enganosa atribuía a Bolsonaro obras na BR-163 feitas no governo Dilma e que outra usava foto de obra no governo Lula para elogiar Bolsonaro. Neste ano, o Comprova voltou ao tema ao investigar um post com conteúdo falso que usava fotos de obras da Transposição do Rio São Francisco dos períodos petistas para destacar supostos avanços realizados no atual governo.

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2020-07-31

Eduardo Bolsonaro posta vídeo antigo sobre liberação da cloroquina

  • Enganoso
Enganoso
Em uma publicação no Twitter, o deputado usa como se fosse de agora um vídeo gravado em 9 de abril no qual o prefeito de São Paulo anuncia a inclusão da cloroquina no protocolo de tratamento de pacientes com covid-19 nos hospitais municipais. No post, ele cobra do governador do estado que faça o mesmo, mas isso já é feito desde 5 de maio
  • Conteúdo verificado: Tuíte do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) com um vídeo do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), anunciando a inclusão da cloroquina no protocolo de tratamento de pacientes com covid-19 nos hospitais municipais.

É enganoso o post no perfil do Twitter do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) que apresenta um vídeo no qual o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), anuncia a inclusão da cloroquina no protocolo de tratamento da covid-19 na cidade de São Paulo. E, no texto que acompanha o vídeo, diz: “Resta saber se Doria também cairá na real de que vidas estão acima de política, que para uma doença nova não existe remédio testado e que toda tentativa de cura é válida”. A Secretaria Estadual da Saúde já libera o uso da cloroquina para casos graves de covid-19, de acordo com a avaliação do médico, desde 5 de maio.

O trecho, publicado no dia 30 de julho, é de uma gravação de 9 de abril e traz o anúncio feito à época por Covas, durante coletiva de imprensa realizada no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Ao publicá-lo, Eduardo Bolsonaro dá a entender que a adoção do protocolo ocorreu agora.

O protocolo, que só foi publicado em 17 de junho, orienta os profissionais de saúde da rede pública municipal sobre o manejo de pacientes com covid-19. Nele, o uso de cloroquina não é recomendado, mas é autorizado — desde que obedecendo critérios médicos e com aval do paciente.

Tentamos entrar em contato com o deputado Eduardo Bolsonaro, mas não tivemos resposta até a publicação desta verificação.

Como verificamos?

Uma verificação já publicada pelo Comprova esclareceu que o anúncio da adoção da cloroquina como parte do protocolo de tratamento da covid-19 na cidade aconteceu no dia 9 de abril. Uma busca no Google confirmou a informação. Com essa data, encontramos o vídeo original no canal do governo do estado de São Paulo no YouTube.

O vídeo editado tem uma marca d’água com o nome do deputado federal Luiz Lima (PSL-RJ) e o endereço de suas redes sociais. Na página de Facebook de Lima encontramos uma postagem com as imagens, datada do dia 9 de maio.

Pesquisamos a recomendação para o tratamento de pacientes com covid-19 no site da Prefeitura de São Paulo e da Secretaria Municipal da Saúde. Também consultamos a página da Secretaria Estadual da Saúde (SES-SP) para esclarecer qual é a orientação do estado em relação ao uso da cloroquina. Os dados sobre o número de casos confirmados e de mortes são do boletim da Secretaria Municipal da Saúde.

As ferramentas Tweetdeck e CrowdTangle foram úteis para mostrar a viralização do conteúdo investigado pelas redes sociais.

Por fim, entramos em contato por e-mail com a assessoria de imprensa do prefeito Bruno Covas, que respondeu ao Comprova e esclareceu que a Secretaria Municipal de Saúde não recomenda, mas permite a uso do medicamento na rede hospitalar, mediante prescrição médica e consentimento do familiar ou paciente. E acrescenta que, apesar de o Ministério da Saúde ter ampliado o uso da cloroquina para casos leves e moderados, a Secretaria Municipal da Saúde emitiu recomendação contrária, “em virtude da ausência de evidências científicas robustas que justifiquem tal indicação”. Também tentamos entrar em contato com o deputado Eduardo Bolsonaro por mensagem de WhatsApp e no Instagram, mas não tivemos resposta até a publicação desta verificação.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 31 de julho de 2020.

Verificação

A equipe do Comprova começou a verificação analisando o vídeo publicado pelo deputado Eduardo Bolsonaro. Bruno Covas está no saguão do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. O logotipo da administração estadual pintado no púlpito junto à hashtag #FiqueEmCasa mostra que as imagens foram captadas em uma das entrevistas coletivas conduzidas pelo governador João Doria para atualizar a situação da pandemia. Chama a atenção o fato de que Covas não está de máscara. O uso do equipamento de segurança é obrigatório em locais públicos no estado desde 4 de maio, mas a gravação aconteceu antes dessa data.

Em junho, o Comprova já tinha desmentido uma postagem no Twitter que dizia que a cloroquina era proibida na capital paulista. Na ocasião, informamos que a Secretaria Municipal da Saúde incluiu a cloroquina no protocolo de tratamento da covid-19 em 9 de abril. Buscando por essa data, encontramos o vídeo original no canal do governo do estado de São Paulo no YouTube.

“Ainda não é possível ser uma política pública, pois não temos ainda pesquisas concluídas, mas havendo prescrição do médico e a concordância do paciente, a Secretaria Municipal de Saúde passou a integrar esse medicamento [cloroquina] no protocolo de tratamento da covid-19”, anunciou o prefeito aos 39 minutos.

O protocolo entrou em prática logo depois do anúncio. Apenas no dia 17 de junho uma recomendação técnica foi publicada detalhando o uso da medicação. O documento sugere uma “análise criteriosa do quadro clínico, o monitoramento do paciente, da resposta em relação à terapêutica selecionada e as reações adversas”. E indica a prescrição de drogas para o tratamento dos sintomas em diferentes momentos da infecção pelo novo coronavírus.

O protocolo da prefeitura autoriza, mas não recomenda, o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina. A prescrição deve ocorrer de acordo com o critério do médico e com consentimento do paciente. “Em virtude da ausência de evidências científicas robustas que justifiquem tal indicação. A deliberação ainda recomenda que o uso em casos graves sob regime hospitalar não seja de rotina”, alerta a publicação.

O documento segue a posição da Secretaria Estadual da Saúde, que em 5 de maio orientou que o uso das drogas “não seja expandido para casos leves e moderados em acompanhamento ambulatorial. Em 20 de maio, o Ministério da Saúde estendeu o uso da cloroquina para pacientes com sintomas leves. O Conselho Municipal de Saúde de São Paulo criticou a decisão em uma nota técnica divulgada oito dias depois.

De lá para cá a situação se agravou na capital paulista. De acordo com o Boletim Epidemiológico do município, em 9 de abril o município registrava 5.832 casos de covid-19, com 386 óbitos. No dia 30 de julho, data em que Eduardo Bolsonaro postou o vídeo, já havia 223.571 casos e 9.547 óbitos confirmados.

Vídeo antigo

O vídeo editado compartilhado por Eduardo Bolsonaro tem uma marca d’água com o nome do deputado federal Luiz Lima (PSL-RJ) e o endereço de suas redes sociais. Na página de Facebook de Lima encontramos uma postagem com as imagens, datada do dia 9 de maio — um mês depois do anúncio. Naquele momento, a cidade de São Paulo registrava 27.414 casos de covid-19 e 2.268 mortes, de acordo com o boletim da Secretaria Municipal da Saúde. O número de óbitos que aparece no vídeo editado é menor, 2.106. Essa diferença pode acontecer por causa dos casos positivos confirmados posteriormente e somados à estatística.

Cloroquina e hidroxicloroquina

Até o momento, não há comprovação científica da eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento ou prevenção da covid-19. Pelo contrário, estudos publicados no Journal of the American Medical Association (Jama) e no British Medical Journal (BMJ) apontaram que pacientes tratados com cloroquina e hidroxicloroquina não tiveram melhores resultados que aqueles que não receberam os mesmos remédios. Uma pesquisa realizada em 55 hospitais brasileiros e publicada no New England Journal of Medicine (NEJM) chegou às mesmas conclusões.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o National Health Service no Reino Unido cancelaram estudos com cloroquina e hidroxicloroquina.

Em 17 de julho, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) publicou um informe em que afirma ser “urgente e necessário que a hidroxicloroquina seja abandonada no tratamento de qualquer fase da covid-19” diante das novas evidências científicas.

A posição dos médicos não mudou a opinião do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que defende a adoção da cloroquina desde o começo da pandemia. Ele teve covid-19 e declarou que tomou cloroquina para se tratar. Hoje, o Ministério da Saúde tem quatro milhões de comprimidos em estoque.

O Comprova já verificou diversos conteúdos que defendiam o uso da cloroquina, como estudos sem comprovação científica e declarações polêmicas de médicos.

Por que investigamos?

O Comprova verifica informações sobre políticas públicas do governo federal e a pandemia de covid-19 sempre que os conteúdos tenham grande viralização. É o caso do tuíte do deputado federal Eduardo Bolsonaro, que até a data de publicação teve mais de 16 mil interações e 84 mil visualizações do vídeo incluído na postagem.

A cloroquina e a hidroxicloroquina se tornaram objeto de discursos políticos desde que os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e do Brasil, Jair Bolsonaro, passaram a defender essas drogas como cura para a covid-19. A postagem de Eduardo se insere nesse contexto, ao insinuar que a prefeitura de São Paulo estaria “atrasada” na adoção da hidroxicloroquina em relação ao governo federal.

O fato de Bruno Covas ser o alvo é relevante, pois ele é um aliado político do governador de São Paulo, João Doria. No início da pandemia, as medidas de distanciamento social também foram objeto de disputa, pois Bolsonaro se opôs às regras, contrariando recomendações de autoridades de saúde nacionais e estrangeiras.

Nesse ponto, Doria se tornou antagonista do presidente e virou alvo de críticas de seus apoiadores. No auge da disputa, o governador chegou a afirmar que o presidente “despreza vidas” e deveria começar “a ser um líder, se for capaz”. Bolsonaro, por sua vez, acusou Doria de usar a crise como palanque para as eleições presidenciais de 2022 e chamou o governador de São Paulo de “bosta” em reunião ministerial tornada pública.

Enganoso, para o Comprova, é todo o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. É o caso do vídeo com as declarações de Covas que, apesar de verdadeiro, é antigo.

Saúde

Investigado por: 2020-07-30

Médica cita estudos não conclusivos para sugerir conspiração contra cloroquina

  • Enganoso
Enganoso
Procurada pelo Comprova, médica enviou 34 estudos para justificar texto que publicou em um site. Nenhum dos estudos é conclusivo sobre a eficácia dos medicamentos citados. Ela também diz que a venda da cloroquina e da ivermectina foi proibida no Brasil, o que não é verdade
  • Conteúdo verificado: Texto publicado no site Diário do Brasil escrito pela médica Helen Brandão, de Goiânia, defende o uso da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19 e sugere haver uma conspiração da indústria farmacêutica para vender medicações mais caras.

É enganoso o texto escrito pela médica Helen Brandão defendendo que o uso da cloroquina em pacientes no início da covid-19 elimina o novo coronavírus. No texto, publicado pelo site Diário do Brasil, a médica sugere ainda que a indústria farmacêutica tem conspirado para viabilizar remédios mais caros para tratar a doença. Por isso, segundo ela, há um movimento para proibir a venda de medicações baratas, como a cloroquina e a ivermectina. As informações do texto estão distorcidas ou fora de contexto.

Procurada pelo Comprova, Brandão apresentou 34 artigos científicos nos quais afirmou ter se embasado para defender a prescrição da cloroquina e outros compostos, como a ivermectina e o zinco, para pacientes com quadros leves de covid-19. Nenhum deles é conclusivo sobre a eficácia desses medicamentos.

Alguns não passaram por teste clínico randomizado, em que voluntários são divididos em dois grupos – um recebe o medicamento em estudo e o outro, placebo. As pessoas dos dois grupos são escolhidas aleatoriamente para evitar que fatores como idade e quadro de saúde influenciem nos resultados. Elas são acompanhados por pesquisadores ao longo de vários meses. Esse tipo de estudo é considerado o melhor para avaliar a eficácia de medicações.

Diferentemente do que a médica afirma, a venda da cloroquina e da ivermectina não foi proibida no Brasil. Na verdade, a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou, em 24 de julho, uma norma para que esses medicamentos sejam vendidos com receita médica. E o Ministério da Saúde inclui a cloroquina no protocolo de tratamento para pacientes leves da covid-19.

O Comprova fez contato com a médica. Helen Brandão é graduada pela Universidade Federal de Goiás e tem pós-graduação em Dermatologia e Medicina Estética.

Como verificamos?

O Comprova buscou dados sobre a formação profissional de Helen Brandão na plataforma de currículos acadêmicos Lattes, mantida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e junto ao Conselho Regional de Medicina de Goiás (CREMEGO). Também encontramos uma página no Facebook da clínica da médica, onde conseguimos o contato telefônico dela. Por WhatsApp, Brandão enviou vários artigos acadêmicos sobre a pandemia.

Também buscamos informações online sobre empresas farmacêuticas que a médica citou no texto verificado e no contato por WhatsApp. Além disso, buscamos o posicionamento de autoridades de saúde sobre medicamentos e tratamentos para a covid-19.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 30 de julho de 2020.

Verificação

Quem é Helen Brandão

Helen Brandão é médica e possui registro no Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (CREMEGO). No Facebook, o Comprova encontrou uma página com seu nome que faz referência a uma clínica privada de procedimentos estéticos em Goiânia.

Também encontramos o currículo da médica na plataforma Lattes. De acordo com as informações fornecidas por Brandão, ela possui graduação em medicina pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e pós-graduação em Dermatologia e Medicina Estética. Além disso, informa que fez residência médica em Saúde da Família e Comunidade pela Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro.

Através de uma troca de mensagens no WhatsApp, Brandão confirmou que faz atendimentos clínicos e de dermatologia em Goiânia.

Drogas e estudos

Em seu texto, Helen Brandão conta que as discussões envolvendo a hidroxicloroquina a levaram a um “sonho perturbador”, em que ela tinha asas e “conseguia tirar algumas pessoas que ‘subiam’ (…), mas só algumas”. Depois disso, ela escreve, foi pesquisar sobre as drogas e o vírus. “Algumas tabelas e dados me pareciam difíceis de analisar. Mas segui estudando e conversando com colegas que também só queriam entender.”

Após falar com o Comprova, Brandão enviou 34 estudos de diversos países para a equipe, sobre variados temas – cloroquina e hidroxicloroquina (12, no total), ivermectina, zinco, colchicina, nitazoxanida, azitromicina e intubação, entre outros. Todos foram analisados e, destes, ao menos 21 têm limitações e são inconclusivos, segundo os próprios autores.

É o caso da pesquisa intitulada “Uso preventivo da hidroxicloroquina está associado a um risco reduzido de covid-19 em profissionais de saúde”, que conclui que devem ser realizados estudos mais detalhados, com amostras maiores, utilizando o método do ensaio clínico randomizado controlado – o mais confiável, como o Comprova já explicou.

Outro estudo, segundo o qual a cloroquina reduz o risco de morte em pacientes em fase grave da doença se administrada em pequenas doses, foi contestado pelos autores menos de uma semana após a publicação.

Também enviado pela médica, o estudo “Eficácia clínica dos derivados de cloroquina na infecção por covid-19: meta-análise comparativa entre o Big Data e o mundo real” tem Didier Raoult entre os pesquisadores – ele é autor de um dos primeiros trabalhos que Brandão leu, como ela conta no site Diário do Brasil.

O infectologista francês ganhou projeção internacional durante a pandemia ao propor o uso da hidroxicloroquina contra a covid-19 antes mesmo de ter publicado pesquisa a respeito – o que chegou ao conhecimento de líderes como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que chamou a droga de “cura milagrosa”. Por isso e por utilizar métodos duvidosos em seus estudos , Raoult, que já apareceu em outras verificações do Comprova, é criticado na comunidade científica.

Proibição

“Me chamou a atenção a necessidade não só de falar que não funciona mas também proibir o uso das medicações. Medicações que antes eram de venda livre…”, escreve a médica no texto que viralizou. Ela afirma, erroneamente, que a venda, a prescrição ou o uso de algumas drogas teriam sido suspensos no país. Em nenhum momento da pandemia o governo federal, ou qualquer autoridade, retirou medicamentos de circulação.

Houve um conflito de ideias entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e profissionais da saúde que foram contra a adoção da cloroquina e da hidroxicloroquina no protocolo contra a covid-19. Esse embate levou, inclusive, à demissão do ministro da Saúde Nelson Teich, que se recusou a ampliar o uso da droga para pacientes com quadros leves da covid-19 por falta de evidências científicas.

No dia 24 de julho, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma resolução que exige que as farmácias retenham receitas das pessoas que queiram comprar cloroquina, hidroxicloroquina, nitazoxanida e ivermectina. Segundo a Anvisa, o objetivo é impedir a compra indiscriminada dos medicamentos. A comercialização deles no país, porém, não está proibida, desde que o paciente apresente a receita médica.

Brandão afirma também que pesquisadores não conseguiram documentar ou justificar suas argumentações sobre o “temido efeito” que as drogas causam, as “arritmias graves”. Porém, diversos estudos sobre a cloroquina e a hidroxicloroquina concluem que, além de não serem comprovadamente eficazes contra a covid-19, elas podem causar “eventos arrítmicos potencialmente fatais”, conforme nota da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac) citada em outra verificação do Comprova.

Outros profissionais

Além de Didier Raoult, Brandão cita em seu texto o médico Vladimir Zelenko. Ele atua em Nova York e ficou conhecido internacionalmente após afirmar ter obtido “resultados positivos tremendos” em um estudo no qual usou a combinação de hidroxicloroquina, zinco e azitromicina – a pesquisa, porém, sequer foi publicada em um periódico de saúde.

A médica brasileira conta ainda ter recebido um alerta ao encontrar em uma edição do livro Princípios de Medicina Interna de Harrison a “descrição da hidroxicloroquina/cloroquina como agente antiviral”. Segundo a 20ª edição da publicação (a mais atual), a hidroxicloroquina pode ser usada com outros remédios para tratar a febre Q crônica.

Além de ter publicado diversas verificações mostrando que não há nenhum estudo que comprove a eficácia da cloroquina nem da hidroxicloroquina contra o novo coronavírus, o Comprova conversou com Leonardo Weissmann, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, para saber sobre a ação antiviral das drogas. De acordo com ele, “a atividade antiviral da hidroxicloroquina está sendo estudada há décadas; é um medicamento que tem demonstrado atividade in vitro contra uma série de vírus, ou seja, em laboratório, mas essa ação não é vista em humanos”.

Conspiração

Procurada pelo Comprova, a médica reafirmou que existe uma conspiração contra a cloroquina. “Estão tentando evitar que seja usada. Pois concorre com o Tocilizumabe”, escreveu, por mensagem.

Em uma pesquisa sobre o medicamento mencionado, verificamos que, no Brasil, o nome comercial do tocilizumabe é Actemra e a patente é da farmacêutica multinacional Roche. As indicações do laboratório para o uso do remédio são os casos de artrite reumatoide, artrite idiopática juvenil poliarticular e artrite idiopática juvenil sistêmica. Também de acordo com a bula, a ação do tocilizumabe é imunossupressora e não há recomendação de uso quando o paciente apresentar algum tipo de infecção.

Durante a pandemia da covid-19, alguns hospitais começaram a utilizar o medicamento no tratamento dos pacientes e relataram bons resultados. A Sociedade Brasileira de Infectologia, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e a Associação de Medicina Intensiva Brasileira, porém, publicaram em maio as Diretrizes para o tratamento farmacológico da covid-19, e consideraram que os níveis de confiança nas evidências de eficácia do tratamento com o tocilizumabe eram muito baixas e que o custo era elevado, não recomendando o uso de rotina do medicamento nos casos de covid-19. Além disso, em junho, a Itália descartou o uso da droga no tratamento de pacientes com o novo coronavírus.

A médica ainda mencionou no contato com o Comprova, como exemplo da conspiração citada no texto que viralizou, alguns laboratórios farmacêuticos que se beneficiariam com a não indicação da cloroquina no tratamento da covid-19: Gilead, Biotoscana e United Medical. O Gilead é o laboratório que produz o remdesivir, e o Comprova já realizou uma verificação sobre uma suposta conspiração envolvendo a empresa. A Biotoscana, que é colombiana e também foi citada pela médica, registrou, na verdade, prejuízo de mais de R$ 50 milhões no primeiro trimestre de 2020 e atribuiu as perdas financeiras à pandemia da covid-19. A United Medical, de origem uruguaia foi comprada pelo grupo Biotoscana em 2014.

Por que investigamos?

O Comprova verifica conteúdos de políticas públicas do governo federal e da pandemia de covid-19 que tenham viralizado na Internet. O texto de Helen Brandão publicado no site Diário do Brasil teve 21.917 interações nas redes sociais, segundo a plataforma de monitoramento Crowdtangle, sendo compartilhado por diversas páginas de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Facebook.

Em ao menos dois grupos do Facebook onde a mensagem circulou, o link foi compartilhado junto com uma mensagem que sugeria submeter as pessoas com visão crítica da cloroquina à morte por enforcamento, em referência ao Tribunal de Nuremberg, que julgou crimes de guerras cometidos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

Desde o início da pandemia, o Comprova já mostrou serem enganosos um site com nome de vários médicos que sugeria haver consenso para tratamento do novo coronavírus e vídeos em que médicas sugerem ser comprovado que o uso da hidroxicloroquina e da ivermectina curem a covid-19. Também já mostrou estarem fora de contexto conteúdos que viralizaram recentemente sobre vacinas, medicamentos naturais e sobre o andamento da pandemia no Brasil.

Enganoso para o Comprova é todo conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2020-07-29

Médica usa informações falsas em vídeo para falar em cura da covid-19

  • Falso
Falso
Ao contrário do que afirma uma médica em vídeo que viralizou, tanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto as autoridades sanitárias dos Estados Unidos e do Brasil já declararam que ainda não há cura para o novo coronavírus e que as máscaras são uma das poucas medidas eficazes para evitar a propagação do vírus
  • Conteúdo verificado: Um vídeo com informações falsas sobre a covid-19. Nele, uma médica afirma que a doença tem cura: um coquetel de hidroxicloroquina, azitromicina e zinco. Ela também diz que curou mais de 350 pessoas e que as máscaras são desnecessárias. As imagens foram feitas nos Estados Unidos e compartilhadas nos perfis do presidente Donald Trump e de Madonna. Uma versão editada e legendada em português da gravação foi compartilhada pelo Twitter de uma apoiadora do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

O vídeo em que uma médica camaronesa radicada nos Estados Unidos defende um coquetel de medicamentos como cura para a covid-19 e critica o uso de máscaras apresenta informações falsas. Tanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto as autoridades sanitárias dos Estados Unidos e do Brasil já declararam que ainda não há cura para o novo coronavírus e que as máscaras são uma das poucas medidas eficazes para evitar a propagação do vírus.

A gravação foi feita nos Estados Unidos e teve ampla viralização em redes sociais, sendo compartilhada até pela cantora Madonna e pelo presidente norte-americano Donald Trump. Twitter, Facebook, Instagram e YouTube derrubaram algumas publicações do vídeo alegando que ele cria desinformação sobre a pandemia.

No Brasil, o conteúdo viralizou com legendas em português em uma postagem no Twitter. A equipe do Comprova tentou contato, por meio de mensagem na plataforma, com a mulher que publicou o vídeo, mas não recebeu retorno até a publicação deste texto.

Como verificamos?

A médica que fala no vídeo aparece nas legendas como Stella Emanuel. Uma busca simples no Google mostrou que a grafia do sobrenome é Immanuel. Com o nome correto, encontramos informações sobre ela em sites de veículos dos Estados Unidos. Também foi possível localizar seu registro profissional no Texas Medical Board (TMB), órgão equivalente ao Conselho Regional de Medicina.

Pesquisamos sobre a viralização do vídeo nas plataformas Tweetdeck e CrowdTangle, buscamos informações a respeito do uso de medicações e máscaras no combate à covid-19 em sites oficiais da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Center for Disease Control and Prevention (CDC), National Health Service (NHS) e do Ministério da Saúde brasileiro. Também nos embasamos em checagens anteriores feitas pelo Comprova sobre tratamentos para o novo coronavírus.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 29 de julho de 2020.

Verificação

O vídeo que viralizou pelo Twitter foi gravado em frente ao prédio da Suprema Corte dos Estados Unidos, em Washington D.C., capital do país. Nas imagens, a médica afirma que a covid-19 tem cura, que já tratou mais de 350 pacientes e nenhum morreu. “Esse vírus tem uma cura! Ela se chama hidroxicloroquina, zinco e azitromicina. Eu sei que as pessoas querem falar sobre máscaras. Oi? Vocês não precisa de uma máscara. Tem cura!”, alega.

As imagens foram feitas durante o White Coat Summit (Encontro do Jaleco), reunião do grupo de médicos America’s Frontline Doctors (Médicos da Linha de Frente), que questiona o consenso científico sobre o novo coronavírus. O evento foi organizado por um grupo de direita ligado ao Partido Republicano, os Tea Party Patriots. O vídeo foi compartilhado pelo site conservador Breitbart News, chegando a 13 milhões de visualizações.

A gravação ganhou ainda mais notoriedade depois que foi postada na página do Twitter do filho mais velho do presidente norte-americano, Donald Trump Jr, que escreveu que as imagens “precisavam ser vistas”. A plataforma tirou o vídeo do ar e suspendeu o acesso de Trump Jr. por 12 horas, alegando que o tuíte disseminava informações falsas. Mas o pai dele, Donald Trump, já tinha compartilhado o conteúdo para mais de 84 milhões de seguidores.

Além do Twitter, Facebook e YouTube tiraram o vídeo de suas plataformas também sob a alegação de que ele espalha desinformação sobre a covid-19. Stella Immanuel reclamou da decisão. “Se a minha página não voltar o Facebook vai cair em nome de Jesus”, escreveu. No dia seguinte, a médica publicou uma outra versão do vídeo, gravada de outro ângulo mas com as mesmas informações, em seu perfil no Twitter.

Outros famosos compartilharam o vídeo. A cantora Madonna publicou as imagens no Instagram. A plataforma marcou o post como falso e, menos de 24 horas depois, a artista deletou a postagem.

Aqui no Brasil, as imagens foram compartilhadas por Paula Marisa, uma apoiadora do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com mais de 147,9 mil seguidores no Twitter. Seu perfil a identifica como jornalista e especialista em educação e tem, entre os seguidores, o próprio presidente e seus filhos Flávio, Carlos e Eduardo. Os ministros Onyx Lorenzoni (Cidadania) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores) também a seguem.

Muitas das postagens de Paula minimizam a situação da pandemia. Um dos compartilhamentos feito na rede é de uma postagem do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) creditando o aumento de casos de covid-19 no Rio Grande do Sul ao frio — e não à reabertura do comércio na região.

Além de compartilhar o vídeo investigado nesta verificação, Paula publicou uma notícia acusando as redes sociais de censura depois de apresentarem outras checagens em que ele foi considerado falso.

O Comprova entrou em contato com ela por meio do Twitter, mas não recebeu retorno até a publicação deste texto.

Quem é a médica que aparece no vídeo?

Stella Immanuel é médica de Camarões radicada no Texas, nos Estados Unidos. Seu registro no Texas Medical Board (TMB) é válido até novembro de 2020. No vídeo verificado, Immanuel afirma que conhece bem a hidroxicloroquina porque a prescrevia para o tratamento da malária na Nigéria, onde estudou medicina. Segundo o TMB, a médica se formou na University of Calabar, na Nigéria, e fez a residência em pediatria em Nova Iorque. Ela tem uma clínica privada na cidade de Houston.

Immanuel também é pastora evangélica e em seus sermões costuma fazer declarações polêmicas sobre assuntos relacionados à medicina. Já afirmou que relações sexuais com demônios são a origem de doenças ginecológicas, que o DNA de aliens é usado em tratamentos médicos e que cientistas estão desenvolvendo uma vacina para acabar com as religiões. “Eles encontraram o gene na mente das pessoas que faz com que você seja religioso e agora podem vacinar contra isso”, disse.

Depois da fama conquistada pela gravação verificada aqui, Immanuel publicou um outro vídeo em que exige que jornalistas e médicos, como Anthony Fauci — chefe do National Institute of Allergy and Infectious Diseases, consultor técnico da Casa Branca e um dos principais especialistas em doenças infecciosas nos Estados Unidos —, cedam amostras de urina para provar que não estão tomando hidroxicloroquina secretamente. Ela também pediu que o presidente Donald Trump a recebesse na Casa Branca.

Covid-19 tem cura?

O Center for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos e a OMS são categóricos: não há cura para a covid-19. Uma série de medicamentos e vacinas estão em estudo mas, por enquanto, nenhum teve a eficácia totalmente comprovada. Por isso, as medidas indicadas para a prevenção do novo coronavírus são não farmacológicas, como a higienização de mãos e superfícies, o distanciamento social e o uso de máscaras.

Hidroxicloroquina não tem eficácia comprovada

A médica defende um coquetel para tratar pacientes de covid-19: a hidroxicloroquina, a azitromicina e o zinco. Nenhum desses medicamentos têm eficácia cientificamente comprovada contra o novo coronavírus. O zinco é um suplemento alimentar e a azitromicina é um antibiótico, ou seja, é indicada para o combate de bactérias. Alguns médicos têm prescrito a droga para evitar o surgimento de infecções oportunistas em pacientes de covid-19.

A hidroxicloroquina e a cloroquina são drogas para o tratamento da malária e de doenças autoimunes, como lúpus. O uso das substâncias em tratamento de pacientes com covid-19 surgiu por causa de um estudo de 2005, que indicava efeitos positivos contra outros tipos de coronavírus em laboratório. Mas os testes em humanos nunca aconteceram. Em março de 2020, já com a pandemia se espalhando pelo planeta, o médico francês Didider Raoult publicou um estudo afirmando que o uso da cloroquina teria curado 75% dos pacientes com covid-19 em seis dias. A pesquisa foi alvo de críticas da revista Science, referência em pesquisas científicas, e seus resultados foram questionados e considerados incompletos.

Mesmo assim as substâncias passaram a ser defendidas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele afirmou ter tomado hidroxicloroquina para evitar a infecção pelo novo coronavírus. Ainda assim, a Food and Drugs Administration (FDA), órgão equivalente à Anvisa, revogou a autorização para o uso emergencial da hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19 no país.

O presidente Jair Bolsonaro seguiu o exemplo e passou a defender o uso da cloroquina no Brasil. Ele ordenou que o Laboratório do Exército produzisse o medicamento e a pressão pela adoção da substância custou o cargo de dois ministros da Saúde. Em 20 de maio, o protocolo adotado pelo Ministério da Saúde brasileiro ampliou a possibilidade do uso das duas drogas para pacientes com sintomas leves da doença – até então, elas eram previstas apenas em casos graves e com monitoramento em hospitais.

Estudos publicados no Journal of the American Medical Association (Jama), no British Medical Journal (BMJ) e no New England Journal of Medicine (NEJM) apontaram que pacientes tratados com cloroquina e hidroxicloroquina não tiveram melhores resultados que aqueles que não receberam os mesmos remédios.

A OMS e o National Health Service cancelaram estudos com cloroquina e hidroxicloroquina.

Neste mês, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) publicou um informe em que afirma ser “urgente e necessário que a hidroxicloroquina seja abandonada no tratamento de qualquer fase da covid-19” diante das novas evidências científicas.

A posição dos médicos não mudou a opinião do presidente Bolsonaro, que teve covid-19 e declarou que tomou cloroquina para se tratar. Hoje, o Ministério da Saúde tem quatro milhões de comprimidos em estoque.

O Projeto Comprova já checou conteúdos que defendiam o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina em diversas ocasiões. As verificações mais recentes são sobre um estudo realizado na França e sobre o protocolo de tratamento da covid-19 em Cuba.

Máscaras são necessárias

Stella Immanuel critica o uso de máscaras alegando que a covid-19 tem cura e, por isso, o equipamento de segurança é desnecessário. Mas em vídeos gravados em sua clínica, Immanuel aparece usando máscara do tipo N95 — que oferece maior proteção. Em outra gravação, publicada em 28 de abril, ela e uma funcionária orientam os pacientes que vão visitar a clínica para que eles higienizem as mãos e usem máscaras.

A OMS recomenda o uso de máscaras como parte da estratégia para evitar a transmissão do novo coronavírus, combinado com o distanciamento de pelo menos um metro entre as pessoas, a higienização das mãos e o cuidado para não tocar o rosto ou a própria máscara. A organização reconhece que as máscaras de pano têm efetividade limitada para evitar o contágio, mas recomenda que os governos estimulem o uso em regiões com transmissão comunitária do vírus onde haja capacidade limitada para implementar medidas de controle. A regra vale especialmente para locais onde não é possível manter o distanciamento físico, como transporte público, lojas e ambientes fechados. A OMS também sugere que as máscaras cirúrgicas e N95 sejam destinadas a profissionais de saúde, pacientes com sintomas de covid-19 e familiares e pessoas de grupos de alto risco, como idosos e portadores de comorbidades.

O CDC também recomenda o uso de proteções para evitar a disseminação do novo coronavírus. Aqui no Brasil, o Ministério da Saúde passou a recomendar o uso de máscaras caseiras em abril. Elas precisam ser feitas de duas camadas de pano, cobrir totalmente a boca e o nariz e ser justas ao rosto, sem deixar espaço nas laterais. O uso é individual e os equipamentos de proteção não podem ser compartilhados com outras pessoas.

Nesta verificação, a equipe do Comprova explica em detalhes como as máscaras ajudam na prevenção.

Por que investigamos?

Nesta terceira fase, o Comprova faz verificações de conteúdos que versam sobre políticas públicas do governo federal e sobre a pandemia de covid-19 e que tenham grande viralização. O conteúdo verificado aqui, depois de atingir milhões de pessoas ao ser divulgado pelo presidente dos Estados Unidos e por seu filho, continuou circulando nas redes sociais. A publicação no Twitter, objeto da verificação, teve quase 11 mil interações até o dia 29 de julho.

O vídeo também apareceu no Facebook, mas com menos alcance — pouco mais de duas mil interações até a mesma data. Pelos comentários é possível deduzir a razão. Um usuário reclama que o conteúdo foi apagado pela plataforma. Mesmo assim ele insistiu, publicando as imagens cinco vezes. “Venci pelo cansaço”, vangloriou-se.

No caso do novo coronavírus, a desinformação provocada por conteúdos falsos e enganosos pode promover comportamentos danosos, como uma desmobilização da sociedade diante da suposta existência de uma cura para a doença. Este debate tem sido intenso tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, uma vez que os respectivos presidentes, Donald Trump e Jair Bolsonaro, têm promovido o uso da hidroxicloroquina apesar da ausência de evidências científicas sobre sua efetividade.

A “receita” que Stella Immanuel divulga contra a covid-19, unindo hidroxicloroquina, zinco e azitromicina, circula ao menos desde abril. Naquele mês, o círculo de Donald Trump levou para a fama um médico de Nova Iorque chamado Vladimir Zelenko, que alegava ter “resultados positivos tremendos” com essa combinação. O estudo, entretanto, não fora publicado em nenhum periódico de saúde.

Estados Unidos e Brasil são os dois países mais atingidos pela pandemia. De acordo com dados da Universidade Johns Hopkins, até a data desta verificação os americanos haviam registrado 4.396.030 casos de covid-19 e 662.297 mortes. Aqui, 2.483.191 pessoas foram infectadas e o novo coronavírus já custou a vida de 88.539 brasileiros.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

O site norte-americano PolitiFact verificou o vídeo com a fala de Stella Immanuel e concluiu que as alegações são falsas. No Brasil, a Agência Lupa e o Boatos.org também classificaram o conteúdo como falso.

Saúde

Investigado por: 2020-07-27

Imagem de Doria tomando vacina é de março, antes do uso de máscara se tornar obrigatório em São Paulo

  • Enganoso
Enganoso
Imagem que circula nas redes sociais é de um trecho de reportagem da Rede Globo que mostra o governador João Doria (PSDB) tomando a vacina anual contra a gripe. A matéria foi veiculada em março, 43 dias antes da publicação do decreto que tornou obrigatório o uso de máscaras em São Paulo
  • Conteúdo verificado: Post no Twitter e no Facebook mostra uma imagem em que o governador de São Paulo, João Doria, é vacinado no braço esquerdo e questiona o fato de ele e a médica não usarem máscara

Imagem que mostra o governador de São Paulo, João Doria, sem máscara, tomando vacina está sendo usada fora de contexto e promovendo desinformação nas redes sociais. A foto, que viralizou no Twitter e no Facebook após o início dos testes da vacina contra a covid-19, vem acompanhada de um texto que questiona o fato de o governador e a profissional de saúde que aplica a vacina não usarem máscara. As postagens também sugerem que o tratamento da mídia para este fato seria diferente caso o político vacinado sem máscara fosse o presidente Jair Bolsonaro.

A foto que circula nas redes sociais é um frame (imagem estática) de uma reportagem da Rede Globo que mostra Doria tomando a vacina anual contra a gripe. A matéria foi veiculada em março, 43 dias antes do decreto que tornou obrigatório o uso de máscaras no estado de São Paulo ser publicado no Diário Oficial.

Ou seja, João Doria não tomou a vacina contra o novo coronavírus que está sendo testada em São Paulo desde o dia 21 de julho. Apenas profissionais da saúde estão recebendo a vacina, ainda em fase de teste – no total, são 9 mil pessoas nesta primeira fase.

Como verificamos?

No primeiro passo dessa verificação, o Comprova fez uma busca reversa no Google pela imagem que aparece nas redes sociais para descobrir quando ela foi postada na Internet pela primeira vez e em que contexto.

Na sequência, para apurar a veracidade do conteúdo investigado, buscamos o decreto que obriga o uso de máscaras em São Paulo e informações sobre quem participará dos testes da vacina contra o novo coronavírus. Por fim, procuramos a assessoria do governador João Doria para verificar se ele participa dos testes da vacina contra a covid-19.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 27 de julho de 2020.

Verificação

A vacina da gripe

As imagens que aparecem nas postagens do Facebook são de uma reportagem do telejornal SP1 exibida pela rede Globo em 23 de março. A matéria anuncia que Doria tomou a vacina da gripe naquela data — que marcou o início da campanha nacional de vacinação, promovida pelo Ministério da Saúde. Ainda no dia 23, no Twitter, Doria postou uma foto recebendo uma dose da vacina. A gripe é causada pelo vírus influenza, enquanto a covid-19 é causada pelo vírus SARS-CoV-2.

O uso de máscaras em São Paulo

Os autores da postagem acusam Doria e a profissional da saúde que está aplicando a vacina de descumprirem os protocolos para diminuir a transmissão do novo coronavírus, destacando que ambos não estão utilizando máscaras.

Conforme apurado, as imagens datam de 23 de março. A obrigatoriedade do uso de máscaras no estado foi instituída mais de um mês depois, no dia 4 de maio, e passou a valer a partir do dia 7 daquele mês. O descumprimento pode levar à multa que varia entre R$ 524,59 e R$ 1380,50.

Os testes com a vacina para o novo coronavírus no estado

As imagens de Doria recebendo a vacina da gripe voltaram a viralizar nas redes sociais após o início dos testes de uma potencial vacina da covid-19 em São Paulo, em 21 de julho. Tiradas do contexto, as imagens podem sugerir que, além de desobedecer os protocolos sanitários do estado para o combate da pandemia, o governador tenha participado dos testes e recebido uma dose da vacina experimental.

A assessoria do governo de São Paulo afirmou ao Comprova que Doria não tomou a vacina. O governador apenas acompanhou a aplicação das doses nos primeiros voluntários a receberem as doses, no dia 21 de julho

Ao todo, nove mil voluntários de seis estados participarão do teste da vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac Biotech no Brasil. Todos precisam ser profissionais de saúde, não podem ter contraído o novo coronavírus e não devem estar participando de outros testes ou tratamentos para prevenção da doença. As mulheres também não podem estar grávidas. Os voluntários se candidataram pela Internet.

Por que investigamos?

O Comprova investiga conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19. Quando se trata de vacinas e tratamentos, a verificação é ainda mais importante porque pode levar as pessoas a tomarem decisões equivocadas que aumentam os riscos de contaminação. Além disso, muitas ondas de desinformação são influenciadas pela polarização ideológica no país.

Até o fechamento dessa verificação, no dia 27 de julho, a publicação com a imagem de Doria tinha 66 mil compartilhamentos no perfil de Patrícia Parisotto no Facebook e 1,2 mil curtidas no perfil Paulo de Tarso no Twitter.

O Estadão Verifica e a Agência Lupa verificaram este mesmo conteúdo e chegaram a conclusão de que ele é, respectivamente, fora de contexto e falso.

O Comprova também já mostrou que os lotes da vacina contra a covid-19 da Sinovac Biotech que chegaram a São Paulo são apenas para testes, e não para imunizar a população, e que o governador João Doria não firmou a parceria para fabricação das vacinas antes do início da pandemia.

Enganoso para o Comprova é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado.

Saúde

Investigado por: 2020-07-24

Site engana ao afirmar que baixa mortalidade por covid-19 em Cuba é por conta da hidroxicloroquina

  • Enganoso
Enganoso
Texto distorce declarações de especialista cubano para tentar provar eficácia da cloroquina. Ao Comprova, o próprio médico citado e o coordenador do grupo que enfrenta a covid-19 em Cuba afirmaram que os números do país se devem a um conjunto de fatores
  • Conteúdo verificado: Texto do site Pleno.News que usou trechos de reportagem da agência estatal turca Anadolu sobre a relação da hidroxicloroquina com o baixo número de óbitos por covid-19 em Cuba

É enganoso que o bom desempenho de Cuba frente à pandemia de covid-19 seja atribuído ao uso de hidroxicloroquina. É o que afirma, erroneamente, texto do site Pleno.News que viralizou nas redes sociais no Brasil. As informações, baseadas em reportagem da agência de notícias estatal turca Anadolu, foram compartilhadas, por exemplo, pelos deputados federais Carla Zambelli (PSL-SP) e Marco Feliciano (Republicanos-SP).

Para fazer a relação entre a hidroxicloroquina e o baixo número de mortes no país, o texto distorce declarações do pesquisador cubano Agustín Lage (grafado como Augustin na postagem veificada), consultor de um grupo de organizações que colabora com o Ministério da Saúde Pública de Cuba. Em entrevista ao Comprova, Lage afirmou ter dito que a droga faz parte do tratamento juntamente com outros medicamentos, mas que não pode ser considerada a única responsável pelo bom desempenho do país no combate à pandemia – informação acrescentada em uma atualização do texto no site Pleno.News em 16 de julho.

Entretanto, o Comprova também conversou com Ricardo Pereda, coordenador do grupo para o tratamento da covid-19 no ministério e, de acordo com ele, o protocolo cubano para a doença não inclui a hidroxicloroquina – apenas a cloroquina foi incorporada.

Como verificamos?

O primeiro passo foi procurar pelos termos “Augustin Lage” e “hydroxychloroquine” no Google para ler a entrevista original do pesquisador cubano. A busca nos retornou uma reportagem publicada pela agência turca Anadolu. O texto afirma que “autoridades médicas cubanas dizem que o país usa a hidroxicloroquina e outras drogas exclusivas para o tratamento contra o novo coronavírus”.

Como a Anadolu é estatal, consultamos matérias publicadas em veículos internacionais para saber qual é o posicionamento do governo turco com relação à hidroxicloroquina. Solicitamos informações ao Ministério da Saúde da Turquia em 15 de julho, mas não obtivemos resposta até a publicação desta verificação.

O segundo passo foi entrar em contato com Agustín Lage. O texto publicado pela Anadolu diz que ele é consultor do presidente do grupo empresarial BioCubaFarma e ex-diretor do Centro de Imunologia Molecular (CIM) de Havana. Assim, entramos em contato por e-mail e por mensagens no Facebook com as duas instituições, bem como com o Ministério da Saúde cubano, em 16 de julho. Tanto o CIM quanto a BioCubaFarma confirmaram que ele era, respectivamente, ex-diretor e consultor científico. Disseram que passariam nosso contato para o pesquisador, mas não tivemos retorno.

O Projeto Comprova, então, solicitou a jornalistas cubanos que participam da aliança de organizações latino-americanas de fact-checking LatamChequea o contato de Lage. Eles nos passaram o e-mail do médico e, assim, conseguimos abordá-lo sobre sua entrevista para a agência turca e também sobre suas afirmações acerca da hidroxicloroquina. Lage ainda nos passou o contato de Ricardo Pereda, coordenador do grupo para o tratamento da covid-19 no Ministério da Saúde Pública de Cuba. Ele nos informou, por e-mail, que o protocolo cubano não inclui a hidroxicloroquina, dado que pudemos confirmar no site Covid19CubaData, enviado por um dos jornalistas cubanos. Com essa informação, tentamos falar novamente com Lage, mas ele não respondeu mais os e-mails até a publicação deste texto.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 24 de julho de 2020.

Verificação

Texto da agência Anadolu

A agência estatal turca Anadolu publicou, em 10 de julho, uma reportagem sobre o tratamento precoce da covid-19 em Cuba. A matéria entrevista o médico cubano Agustín Lage, identificado como “consultor do presidente da BioCubaFarma e ex-diretor do Centro de Imunologia Molecular de Havana”.

O conteúdo dá destaque ao uso da hidroxicloroquina no tratamento. Segundo Lage afirma na reportagem, os médicos cubanos estão cientes da “polêmica” envolvendo o medicamento, mas “consideram positivos os resultados” que sua prescrição alcançou. Ainda nas palavras do médico, a hidroxicloroquina “é usada nos estágios iniciais da doença em pacientes sem comorbidades, uma vez que a droga poderia agravá-las”. Em seguida, ele nega que a hidroxicloroquina seja “o principal produto usado no protocolo de tratamento da covid-19” e destaca o papel da BioCubaFarma no combate à pandemia, uma vez que alguns dos remédios são produzidos em Cuba.

O governo da Turquia considera a prescrição de hidroxicloroquina como um fator preponderante no combate à pandemia no país, conforme disse à rede norte-americana CBS um dos consultores do grupo montado para atuar contra a pandemia. Já a rede britânica BBC mostrou o entusiasmo do diretor de um hospital onde é utilizado o protocolo de tratamento com o medicamento. Ambos os textos lembram que estudos ao redor do mundo falharam em provar a eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19 (veja mais abaixo).

O que diz Agustín Lage

O médico afirmou por e-mail ao Projeto Comprova que o propósito de sua entrevista para a agência Anadolu era falar dos produtos da biotecnologia cubana. “Ao que parece, os jornalistas estavam especialmente interessados nestes dois medicamentos (cloroquina e hidroxicloroquina), por isso, lhe deram maior visibilidade (no texto)”, disse o especialista.

Questionado se a hidroxicloroquina é um dos medicamentos responsáveis pelo baixo número de mortes pela covid-19 em Cuba, Lage respondeu falando sobre a cloroquina – os dois medicamentos levam a mesma substância (a cloroquina), mas têm efeitos distintos, segundo reportagem do UOL. Ao Comprova, Lage escreveu: “Eu não disse que a cloroquina foi responsável pela baixa mortalidade da covid-19 em Cuba. Este é um dos medicamentos, dentre outros. Na verdade, a baixa mortalidade no país é resultado da política de saúde estabelecida em plano único que envolve muitos ministérios e organizações do Estado e que inclui ações epidemiológicas e clínicas”.

Depois de conversar com Pereda, do Ministério da Saúde Pública de Cuba, e ser informado de que o país não inclui a hidroxicloroquina em seu protocolo, o Comprova tentou falar novamente com Lage, mas ele não respondeu as perguntas enviadas por e-mail.

Protocolo da covid-19 em Cuba

Diferentemente do que afirma o texto da Anadolu, Cuba não usa a hidroxicloroquina, conforme contou ao Comprova Ricardo Pereda, coordenador do grupo central para tratamento da covid-19 do Ministério da Saúde Pública cubano. A informação também foi confirmada no site Covid19CubaData, que apresenta os medicamentos usados em cada versão do protocolo cubano e é utilizado pelo governo.

“A partir da segunda versão do protocolo, utilizamos a cloroquina; não dispusemos de hidroxicloroquina”, afirmou, por e-mail, Pereda. Na quarta atualização do protocolo, o país passou a utilizar a cloroquina em conjunto com outras drogas em pacientes testados positivos para covid-19 e com sintomas clínicos de evolução para uma piora. De acordo com o especialista, os protocolos cubanos se baseiam em terapias combinadas com medicamentos resultantes da biotecnologia nacional e uma nova versão do protocolo vai ser lançada oficialmente nos próximos dias.

Questionado sobre se a cloroquina é uma das responsáveis pelo baixo número de vítimas do novo coronavírus em Cuba, como afirma o texto verificado, Pereda foi categórico: “Não é uma droga. É uma estratégia epidemiológica de intervenção em escala nacional, a partir de um plano nacional dirigido pelo estado, no qual todos participam”. E acrescentou que o sucesso também é resultado de medidas como o isolamento de contatos suspeitos e confirmados, o tratamento no início dos sintomas – e tratamentos para as diferentes fases da doença – e a combinação de medicamentos. “Não existe, até agora, um medicamento de total eficácia comprovada, que seja o responsável pelos resultados favoráveis”, esclareceu.

No contato com o Comprova, Pereda afirmou que “toda a sociedade, de uma forma ou de outra, participou do combate à covid-19” e exemplificou medidas como “a educação da população, a informação correta, a total transparência da informação a que o povo tem acesso diariamente e as campanhas educativas em todos os meios disponíveis”.

BioCubaFarma e Centro de Imunologia Molecular de Havana

Segundo Lage, a BioCubaFarma é um grupo de 32 empresas da área farmacêutica e de biotecnologia, que colabora estreitamente com o Ministério da Saúde Pública de Cuba, mas não faz parte dele. A instituição atua em diferentes programas de saúde do governo por meio de pesquisas e fornecimento de diferentes remédios – é responsável pelo fornecimento de 60% dos medicamentos considerados essenciais em Cuba, inclusive de alguns para o tratamento da covid-19, “garantindo a cobertura nacional e o acesso universal gratuito para o paciente”. A empresa não participa da formulação do protocolo de tratamento.

Já o Centro de Imunologia Molecular (CIM) de Havana, que Agustín dirigiu até 2018 e atualmente mantém relações como docente, é um centro de pesquisa. Seu campo de atuação é o tratamento de câncer e outras doenças não infecciosas. Por isso, conforme explicou Lage, o papel do CIM no combate da covid-19 tem sido prestar apoio para outras instituições de atuação mais direta.

Hidroxicloroquina e cloroquina

Em 20 de maio, o protocolo adotado pelo Ministério da Saúde brasileiro ampliou a possibilidade do uso das duas drogas para pacientes com sintomas leves da doença – até então, elas eram previstas apenas em casos graves e com monitoramento em hospitais. A publicação foi uma pressão política do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e custou o cargo do então ministro da Saúde Nelson Teich. O documento, porém, ressalta que não há comprovação da eficácia das medicações e deixa sua prescrição a critério dos médicos.

Também em maio, o Journal of the American Medical Association (Jama) e o British Medical Journal (BMJ) publicaram pesquisas questionando a eficácia tanto da cloroquina quanto da hidroxicloroquina. Os resultados dos estudos apontaram que pacientes tratados com essas drogas não tiveram melhores resultados que aqueles que não receberam os mesmos remédios.

Em junho, pesquisadores do Recovery, estudo clínico conduzido no Reino Unido, afirmaram não haver benefício no uso da hidroxicloroquina em pessoas com covid-19.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) informou no dia 4 de julho deste ano que aceitou a recomendação do Comitê Diretor Internacional do Estudo de Solidariedade – grupo de estudos clínicos, do qual participam 5500 pacientes em 21 países – para interromper os estudos sobre hidroxicloroquina devido aos baixos resultados e avanços na redução da mortalidade de pacientes com covid-19 hospitalizados. “Esses resultados provisórios mostram que a hidroxicloroquina e o lopinavir/ritonavir produzem pouca ou nenhuma redução na mortalidade de pacientes com covid-19 hospitalizados quando comparados ao padrão de atendimento. Os investigadores do estudo interromperam os estudos com efeito imediato”, explica a declaração, no site da OMS.

No dia 17 de julho, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) publicou um informe no qual, diante de novas evidências científicas, afirma ser “urgente e necessário que a hidroxicloroquina seja abandonada no tratamento de qualquer fase da covid-19”.

Por que investigamos?

O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia de covid-19 que viralizam nas redes sociais. As ondas de desinformação são pautadas pela polarização e o mesmo padrão se repete na pandemia. A hidroxicloroquina e a cloroquina foram levadas para o centro da disputa ideológica após os presidentes Donald Trump, dos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro, do Brasil, defenderem seu uso – mesmo sem comprovação científica.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) salienta que até o momento não há tratamento ou vacina disponível para a covid-19. Apesar disso, cada país adota um protocolo de tratamento dos sintomas e de apoio aos doentes que considerar melhor. Por isso, os protocolos de outros países são comumente tirados de contexto para avalizar um tipo ou outro de remédio.

O Comprova já desmentiu que a África tivesse controlado a pandemia apenas com o tratamento do vermífugo ivermectina. Tampouco o uso da cloroquina seria responsável pela situação da covid-19 no Senegal.

O texto publicado pelo site Pleno.News teve mais de 247 mil interações até a publicação desta checagem, segundo a ferramenta de monitoramento de redes sociais CrowdTangle. As informações foram compartilhadas por outros blogs como o Gazeta Brasil e também serviram de fonte para post dos deputados federais Carla Zambelli (PSL-SP) e Marco Feliciano (Republicanos-SP)

Enganoso, para o Comprova, é todo o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

 

ATUALIZAÇÃO: Esta verificação foi atualizada em 12 de março de 2021 para deixar mais clara a diferença entre o nome correto de Agustín Lage e Augustin Lage, forma como foi mencionado na postagem verificada pelo Comprova.

Saúde

Investigado por: 2020-07-24

Vacinas para covid-19 que chegaram ao Brasil são para testes e não para imunização da população

  • Enganoso
Enganoso
Publicação no Instagram comemorava a chegada da vacina sem dizer que se tratava de um lote para teste em voluntários. O autor corrigiu a informação depois de alertado pelo Comprova
  • Conteúdo verificado: Post no Instagram do ginasta Diego Hypolito que comemorou a chegada à São Paulo dos primeiros lotes da vacina chinesa contra a covid-19

É enganosa uma postagem no perfil de Instagram do ex-ginasta Diego Hypolito que comemorava a chegada da vacina para a covid-19 no Brasil sem explicar que se tratavam de doses ainda em fase de testes. Após troca de mensagens com o Comprova, em 22 de julho, Hypolito acrescentou na legenda do post a informação de que são vacinas ainda sendo testadas.

Embora o ginasta tenha corrigido a informação, o Comprova fez a verificação do conteúdo para alertar as milhares de pessoas que acessaram o post original nos dois dias em que a informação enganosa permaneceu no ar.

O post, de 20 julho, apresenta uma montagem com duas fotos e o título “Avião com lotes da vacina chinesa contra a covid-19, (sic) chegou nesta segunda-feira (20) em São Paulo”. As imagens são de uma medicação etiquetada como vacina do novo coronavírus e de um avião sendo descarregado.

Na data da postagem, lotes da vacina produzida pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech chegaram ao aeroporto de Cumbica, em São Paulo. Trata-se de um lote que será testado por voluntários brasileiros — parte de um acordo firmado entre a empresa e o governo paulista. Ao mencionar apenas a chegada do lote, o conteúdo induz à interpretação de que se trata de uma imunização definitiva. Ainda há diversas etapas a serem cumpridas no processo de testagem até que a vacina seja aprovada e comercializada. Veja mais abaixo quais são elas.

Como verificamos?

Para fazer esta verificação, o Comprova buscou informações sobre a chegada das doses de vacina contra a covid-19 produzidas pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech ao Brasil. Pesquisamos sobre o assunto nos sites do Instituto Butantan e do governo de São Paulo que, juntos, fizeram uma parceria com a companhia chinesa para participar dos testes.

Procuramos por Diego Hypolito, autor da postagem, para identificar a fonte da informação. Ele alterou a legenda do post após o contato com Comprova e acrescentou se tratar de uma vacina em fase de testes.

Por fim, usamos mecanismos de busca reversa do Google para encontrar a origem das duas imagens usadas na publicação de Diego e verificar se elas, de fato, se referiam à chegada da vacina a São Paulo.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 24 de julho de 2020.

Verificação

A postagem

Publicada em 20 de julho no perfil do ex-ginasta Diego Hypolito no Instagram, a postagem era um agradecimento a Deus pela chegada das vacinas ao Brasil. O post apresenta o logo e a marcação da página Fuxiquei na rede social. Ao entrar no perfil, o Comprova encontrou a publicação original, também datada de 20 de julho, que apenas na descrição informava se tratar de uma vacina a ser usada em ensaios clínicos.

Procurado pelo Comprova em 22 de julho, Diego confirmou ter retirado o conteúdo do Fuxiquei e perguntou se a notícia era falsa. Ao saber que o título podia render outra interpretação — já que a vacina segue em fase de testes e ainda não é garantida —, alterou a descrição da imagem. Após o agradecimento pela chegada do lote de vacinas, adicionou a frase: “Estão em fase de teste ainda”.

Ele declarou, em áudio do WhatsApp, ter ficado feliz com a notícia da chegada das vacinas e disse ter acrescentado a descrição sobre a fase de testes por preocupação com a proliferação de “fake news” em torno do tema.

Foto retirada de banco de imagens

A imagem utilizada pelo Fuxiquei é uma montagem com duas fotos. Uma delas é de uma medicação que apresenta um rótulo de “vacina para covid-19”. Ao clicar na imagem e realizar a busca reversa no Google, o Comprova chegou ao site Pos Belitung, da Indonésia, que creditava a foto ao banco de imagens iStockPhoto.

No iStock, banco de imagens ligado ao Getty Images, encontramos a foto após uma busca pelos termos “vacina” e “coronavírus”. A imagem é descrita como “ilustrativa” e foi publicada em 16 de março de 2020. O fotógrafo Manjurul é creditado como o autor.

Já a busca reversa pela foto do avião, também aplicada em busca reversa no Google, levou a uma matéria da TV Globo sobre o descarregamento das vacinas vindas da China no Brasil. A imagem é a mesma que ilustra a notícia do G1 a respeito da chegada do lote no aeroporto de Cumbica, em São Paulo.

As vacinas

O governo de São Paulo anunciou, em 11 de junho, uma parceria entre o Instituto Butantan e a empresa farmacêutica chinesa Sinovac Biotech para a realização de testes de uma vacina capaz de prevenir a covid-19. Um acordo de confidencialidade com a Sinovac havia sido firmado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) no dia 12 de maio de 2020. O termo foi publicado no Diário Oficial do estado em 5 de junho. O Comprova já havia mostrado que a parceria do governo de São Paulo com a Sinovac não foi firmada antes do início da pandemia.

Os testes foram autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no início de julho. Já havia sido definido que o estudo clínico envolveria nove mil pessoas. O governo paulista passou, então, a recrutar voluntários para os testes. Para se candidatar, era preciso ser profissional de saúde, estar atuando no tratamento de pacientes com o novo coronavírus e ainda não ter sido infectado pelo SARS-CoV-2. Também era necessário não ter se submetido a outros estudos de prevenção à doença, nem ter doenças instáveis ou que demandem medicações capazes de alterar a resposta imune. Além disso, grávidas não podiam participar.

O voo que trouxe os lotes da vacina ao Brasil partiu de Frankfurt, na Alemanha, e chegou ao Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na madrugada do dia 20 de julho. Imagens publicadas pela TV Globo e pelo jornal Folha de S.Paulo mostram o descarregamento da aeronave da empresa aérea alemã Lufthansa. O ângulo da foto, a máquina de descarga e o transporte são os mesmos que aparecem na imagem do conteúdo verificado.

Os primeiros testes clínicos começaram no dia seguinte, 21 de julho, em voluntários que trabalham no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, unidade de referência no tratamento da covid-19. Ao todo, nove mil pessoas participarão do teste em 12 centros de pesquisa de seis estados do país. Metade delas receberá a vacina e outra metade receberá um placebo para que seja possível comparar a resposta imune. Em ambos os casos, os compostos serão aplicados duas vezes, com a diferença de 14 dias entre cada dose.

Além do Hospital das Clínicas da USP, que coordena o estudo, também participam da pesquisa no estado o Instituto de Infectologia Emílio Ribas, o Hospital Israelita Albert Einstein, a Universidade Municipal de São Caetano do Sul, o Hospital das Clínicas da Unicamp, a Faculdade de Medicina de Rio Preto e o Centro de Saúde Escola da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto.

Nos demais estados, funcionarão como centros de pesquisa o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro; a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte; a Universidade de Brasília (UnB), na capital federal; o Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba; e o Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre.

Os voluntários serão acompanhados durante três meses por uma equipe científica. Se a imunização se provar segura e eficaz, o Butantan produzirá 120 milhões de doses a partir do início de 2021. Segundo o instituto, nessa fase, a vacina será disponibilizada para todo o país, não só para São Paulo, através do Sistema Único de Saúde (SUS).

Por que investigamos?

O Comprova verifica conteúdos virais sobre a pandemia do novo coronavírus que pareçam suspeitos ou possam levar a interpretação equivocada das pessoas sobre tratamentos e medidas de prevenção contra a doença. É o caso desta checagem sobre a chegada ao Brasil dos primeiros lotes, ainda em fase de testes, da vacina contra a covid-19 produzida pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que induz a uma interpretação diferente de seu significado original.

O Comprova já desmentiu que a parceria com a Sinovac havia sido firmada antes do início da pandemia e verificou boatos sobre a descoberta de curas da doença por meio de anticorpos, corticoides, e de medicamentos como a cloroquina e a ivermectina.

Além disso, a Agência Lupa atestou que a primeira voluntária dos testes tomou a vacina, ao contrário do que alegavam postagens nas redes sociais. O Estadão Verifica mostrou que a OMS não recomendou a compra da vacina chinesa e que o composto passou por testes na China antes de chegar ao Brasil. O Aos Fatos e o Boatos.org também já desmentiram conteúdos sobre vacinas contra a covid-19.

A publicação de Diego Hypolito somava 3,6 mil interações no Instagram até a publicação desta investigação. O alcance da página Fuxiquei, de onde ele reproduziu o conteúdo, atingiu 55,7 mil curtidas na rede social.

Saúde

Investigado por: 2020-07-24

Tuíte engana ao afirmar que vacinas usam células de fetos abortados

  • Enganoso
Enganoso
Linhagens celulares desenvolvidas a partir de tecidos humanos são comuns em pesquisas científicas. As células de uma linhagem servem como “pequenas fábricas” para que os vírus atenuados possam se multiplicar e não fazem parte da composição da vacina
  • Conteúdo verificado: Texto do site Estudos Nacionais afirma que a vacina em testes no Brasil é produzida com células de fetos abortados. O artigo foi publicado originalmente no site Brasil Livre em junho. Mas viralizou na última semana depois de ser reproduzido pelo Estudos Nacionais e divulgado pelo Twitter.

Uma postagem que viralizou no Twitter na última semana engana os leitores ao insinuar que a vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford é “produzidas (sic) a partir de células de bebês abortados”. A postagem traz o link para um artigo na página Estudos Nacionais em que o autor diz que a vacina foi produzida “usando uma linha de células renais fetais humanas chamada HEK-293”.

Como o próprio artigo já explica, as células foram retiradas de um feto abortado legalmente na Holanda nos anos de 1970 e desenvolvidas em laboratório a partir da imortalização — ou seja, a capacidade perene de divisão. Elas deram origem à linhagem de células HEK-293 (a sigla vem do inglês “human embryonic kidney”, ou seja, rim de embrião humano), que desde então é usada na indústria farmacêutica em todo o mundo.

Linhagens celulares desenvolvidas a partir de tecidos humanos são comuns em pesquisas científicas. A HEK-293 é a mais comum, mas a PER. C6 (também de origem fetal) e a HeLa (feita com tecido retirado de uma mulher adulta) são exemplos de outras linhagens usadas. As culturas servem para que os cientistas entendam como determinada substância age nas células humanas, sem a necessidade de colocar vidas de pacientes em risco. No caso das vacinas, as células da linhagem servem como “pequenas fábricas” para que os vírus atenuados possam se multiplicar (veja mais detalhes abaixo) e não fazem parte da composição do produto final.

A postagem é enganosa, pois induz o leitor a acreditar que bebês são abortados para que a vacina possa ser produzida. Essa confusão fica clara nos comentários no Twitter. “Não tomarei”, disse um deles. “Tome a vacina e tenha sangue inocente nas mãos”, escreveu uma mulher. Outra especulou: “Meu Deus, isso tudo pra (sic) liberarem o aborto, tem método”. “Prefiro pegar o (sic) Covid e me tratar com Hidroxicloroquina”, resumiu um dos usuários que comentou o tuíte.

Pesquisadores são categóricos ao afirmar que o uso das linhagens celulares não provoca novos abortos.

Como verificamos?

O tuíte que viralizou nos levou até o texto postado no Estudos Nacionais. Na página há um link, indicando que o artigo foi originalmente publicado pelo portal Brasil Livre. Para analisar se houve alterações entre o texto que viralizou, publicado em julho pelo Estudos Nacionais, e o texto publicado em junho pelo Brasil Livre, comparamos os dois conteúdos. Ao chegar à conclusão de que não houve alterações, entramos em contato por e-mail com as equipes responsáveis pelos dois sites, questionando sobre fontes e referências utilizadas na elaboração do texto.

Recebemos um e-mail de resposta do site Estudos Nacionais, em que outras referências foram listadas. Verificamos o conteúdo e a razoabilidade de cada uma dessas referências.

Além disso, checamos os hiperlinks presentes no texto publicado pelo Estudos Nacionais. A fonte especificada tanto nesse site quanto no Brasil Livre é um portal chamado Life Site News, dos Estados Unidos. Pesquisamos sobre a orientação ideológica do site, que se diz “pró-vida” e procuramos o conteúdo relacionado, em inglês.

A equipe do portal Brasil Livre só respondeu depois de duas semanas. Eles também enviaram uma lista de links, que consultamos, mas em nada mudaram o conteúdo desta verificação. [Atualização: este parágrafo foi incluído em 7 de agosto para incorporar resposta do portal]

Para entender sobre como a comunidade científica enxerga o uso de células HEK-293 em pesquisas e o histórico dessa metodologia, acessamos artigos científicos e publicações de veículos jornalísticos sobre o assunto. Também entramos em contato com Cristina Bonorino, imunologista, professora titular da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e membro do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia. A conversa com a pesquisadora também nos ajudou a verificar a razoabilidade dos processos de produção de vacinas mencionados no texto que viralizou.

Como o conteúdo publicado pelo Estudos Nacionais menciona a vacina que está sendo desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), entramos em contato com a assessoria da fundação. Também tentamos falar com a assessoria da Unifesp, citada no texto viral como a responsável pela realização dos testes da vacina. Tanto a assessoria da Unifesp quanto a da Fiocruz alegaram que há muita demanda por causa da pandemia e que não poderiam responder até o momento da publicação.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 24 de julho de 2020.

Verificação

A vacina que está sendo desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca começou a ser testada no Brasil em junho. A tecnologia utilizada é conhecida como “vetor viral recombinante”. Um adenovírus (grupo de vírus que originalmente causam doenças respiratórias, como resfriados) é modificado e passa a carregar proteínas do SARS-CoV-2. Os vírus modificados são introduzidos em células humanas, que funcionam como pequenas fábricas para produzir adenovírus atenuados, que não podem se multiplicar, mas carregam genes do novo coronavírus. Ao serem introduzidos no corpo humano, os vírus modificados provocam uma resposta do sistema imunológico, que passa a produzir anticorpos e linfócitos T para combater o novo coronavírus.

Em entrevista ao Comprova, Cristina Bonorino, imunologista, professora titular da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e membro do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia, explicou: “Um vetor viral é um vírus que não se replica, não se divide: apenas infecta uma célula, levando dentro dele material genético parcial do vírus para o qual você quer gerar a resposta. Ele é útil pois ativa mecanismos que geram tanto anticorpos como linfócitos T, que podem matar as células infectadas”.

Células embrionárias

A polêmica está na linhagem celular usada nesse processo. De acordo com um artigo publicado em junho na revista Science, pelo menos cinco vacinas contra a covid-19 em desenvolvimento hoje no mundo, inclusive a de Oxford, usam culturas de células de origem embrionária.

A mais comum é conhecida como HEK-293, desenvolvida a partir do tecido renal colhido de um feto abortado legalmente na Holanda em 1973. As células foram alteradas geneticamente para que pudessem ser reproduzidas em laboratório. “Uma linhagem celular é algo estabelecido a partir da imortalização – ou seja, a capacidade perene de divisão – de uma célula, em geral usando um vírus, como foi nesse caso, um adenovírus”, afirmou Bonorino.

A linhagem HEK-293 é usada até hoje, mundialmente, em pesquisas de medicamentos e vacinas. A importância de utilizar linhagens celulares de origem humana em pesquisas desse tipo, segundo Bonorino, é que “para fabricar proteínas que funcionem em seres humanos, elas precisam ser sintetizadas por células humanas”.

A pesquisadora completa: “Há uma série de processos na célula que são necessários para finalizar a proteína. Por exemplo, a vacina da Hepatite B, que consiste em uma única proteína do vírus. Se ela não for fabricada em uma célula humana, ela não vai gerar a resposta adequada na pessoa vacinada”.

Bonorino esclareceu também que “as células [embrionárias] não entram na composição da vacina. Apenas a proteína produzida por elas, ou o vírus replicado nelas, que sai da célula e fica no meio de cultura, é coletado e purificado para a formulação vacinal”. Não é necessário mais tecido fetal para manter as células se multiplicando, ou seja, o uso da cultura HEK 293 não provoca novos abortos.

O texto que viralizou traz também a informação de que há uma alternativa para a produção de vacinas, a partir do RNA das células, sem a necessidade de utilizar proteínas virais. Elas aparecem na lista publicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) com as vacinas contra a covid-19 em estudo. As vacinas de RNA são sintéticas e não dependem de linhagens celulares para serem produzidas. “Mas são as primeiras de sua geração, então não sabemos ainda como funcionarão a longo prazo”, afirmou Bonorino ao Comprova. Por isso a importância de se utilizar as linhagens celulares durante a pandemia, quando há uma corrida internacional pela produção de uma vacina eficiente contra a covid-19 em tempo recorde. As linhagens celulares não causam novos abortos. Ainda assim, já há alguns anos grupos católicos e antiaborto dos Estados Unidos e do Canadá pressionam governantes a incentivar o desenvolvimento de vacinas que não usem culturas de células de origem embrionária. O lobby se intensificou com a busca por uma vacina contra o novo coronavírus. Em abril e maio deste ano, bispos chegaram a escrever às autoridades sanitárias dos dois países questionando a ética no uso desses tecidos. A Food and Drug Administration (que corresponde à Anvisa norte-americana) afirmou em maio que “a impossibilidade de usar essas células privaria os Estados Unidos de vacinas que salvam vidas”.

Em resposta a essas preocupações, no ano passado o governo norte-americano impediu que cientistas ligados à administração pública usem culturas de células retiradas de fetos abortados recentemente, mas não baniu o uso de linhagens que já existem há décadas, como a HEK-293 e a PER. C6. A linhagem PER. C6 foi desenvolvida na década de 1980 por um laboratório do grupo Johnson & Johnson, com material retirado da retina de um feto abortado legalmente em 1985.

Outra linhagem importante e mais antiga, mas sem origem embrionária, é a HeLa, derivada de células obtidas a partir do câncer de colo de útero da norte-americana Henrietta Lacks, em 1951. Essa linhagem foi utilizada no desenvolvimento da vacina contra a poliomielite.

As linhagens de células embrionárias foram usadas no desenvolvimento de outras vacinas populares no mundo, como contra sarampo, hepatite A, rubéola e catapora. Em 2005, o Vaticano publicou um documento reafirmado em 2017 — em que dizia que, na falta de alternativas, os católicos poderiam tomar as vacinas desenvolvidas com linhagens de células fetais.

A Agência Lupa já checou conteúdos falsos que acusavam um fabricante de refrigerantes de usar “células de bebês abortados” nas bebidas. A verificação explica que um laboratório contratado pela empresa usou culturas HEK-293 para testar produtos, mas que as células não entram na composição das bebidas.

Site Estudos Nacionais e Portal Brasil Livre

O texto que viralizou foi publicado pelo site Estudos Nacionais em 19 de julho. Ele é uma reprodução do texto publicado no portal Brasil Livre um mês antes. A versão do Estudos Nacionais não alterou nem as datas que apareciam no artigo original.

Ambos citam como referência os sites norte-americanos antiaborto Children of God for Life e Life Site News. Na página, há uma seção que avalia vacinas diversas e afirma se elas são ou não feitas a partir de “fetos abortados”. No caso das muitas vacinas para covid-19 em produção, eles fizeram uma lista separando aquelas “moralmente produzidas” das demais. Na lista, há a informação de que a vacina de Oxford utiliza células HEK-293. Um artigo publicado no US National Library of Medicine confirma esse uso.

A página de apresentação do Brasil Livre afirma que se trata de “um site de notícias que busca esclarecer a opinião pública sobre temas importantes e polêmicos”. Ainda segundo a descrição, o site tem como princípio editorial o “comprometimento com a verdade e o repúdio do uso de fake news” e como meta “um Brasil Livre do socialismo, do comunismo e das imposições de todo o tipo provenientes das máquinas de controle psicossocial do globalismo.” No cabeçalho do site, numa espécie de slogan, está escrito que o portal Brasil Livre é “o espaço de reflexão e ação da direita conservadora na internet”.

O Comprova entrou em contato com o site Estudos Nacionais que informou que, além dos links citados no texto, um artigo publicado na Science no mês passado explica que a vacina para covid-19 em desenvolvimento pela Universidade de Oxford em parceria com a AstraZeneca utiliza as linhas celulares fetais humanas do tipo HEK-293 e, conforme divulgado pela Agência Brasil em junho deste ano, se trata da mesma vacina que está sendo testada em São Paulo.

Por que investigamos?

Nesta terceira fase, o Comprova verifica conteúdos relacionados à covid-19. Desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a pandemia, em março, boatos e desinformação sobre a doença e o novo coronavírus se espalharam pelas internet e viraram uma questão de saúde pública.

Uma vacina eficaz é a forma mais eficiente de imunizar a população e esforços estão sendo feitos em todo planeta para chegar a essa solução. Mas grupos anti-vacina, comuns nos Estados Unidos, começam a se popularizar no Brasil. O Comprova já verificou uma teoria falsa que dizia que as vacinas contra o novo coronavírus injetariam um microchip para rastrear a população. No dia 21 de julho começaram os testes, em São Paulo, da vacina produzida pelo laboratório chinês Sinovac. A vacina do laboratório AstraZeneca, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford, também é testada no país. Com isso, conteúdos enganosos sobre as vacinas ganharam força.

O texto publicado originalmente no site Brasil Livre em junho teve pouca repercussão. Ao ser replicado pela página Estudos Nacionais, que compartilhou o link em seu perfil no Twitter, o conteúdo ganhou força. Foram mais de três mil interações entre os dias 20 e 24 de julho.

O site E-farsas verificou conteúdo semelhante e concluiu que a alegação de que as vacinas são feitas com fetos humanos abortados é falsa.

O Comprova considera enganoso todo o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Política

Investigado por: 2020-07-24

Brasil não terá uma nova moeda lastreada em nióbio chamada “DIM”

  • Falso
Falso
O Banco Central (BC), responsável exclusivo pela emissão da moeda brasileira, negou de forma taxativa a possibilidade de mudança no sistema financeiro nacional
  • Conteúdo verificado: Vídeo publicado no YouTube que afirma que o real será substituído por uma nova moeda chamada “DIM”.

Produzido com base em postagem feita no Facebook, um vídeo publicado em 20 de julho no canal “cristina Daflon chicletinho” no YouTube afirma que o Brasil substituirá o real pelo “DIM”. A nova moeda, que seria lastreada em nióbio, entraria em vigor em 30 de novembro por meio de um “ato interventorial constituinte” assinado pelo “chefe de estado Celio Evangelista Ferreira do Nascimento”. Todo o conteúdo é falso.

Constitucionalmente, o Banco Central (BC) é o responsável exclusivo pela emissão da moeda brasileira. O órgão negou de forma taxativa a possibilidade de mudança no sistema financeiro nacional.

Além disso, um cidadão brasileiro não pode se auto-proclamar presidente da República sem antes passar por uma série de ritos de eleição e posse descritos nos artigos 57, 77 e 78 da Constituição.

Celio Evangelista Ferreira do Nascimento, inclusive, foi indiciado na Lei de Segurança Nacional por ter ameaçado juízes, promotores e procuradores do Distrito Federal. Ele chegou a ser preso pela Polícia Civil do Distrito Federal no âmbito da operação Pátria Amada, mas conseguiu um habeas corpus e responde ao processo em liberdade.

Como verificamos?

Para esta verificação, o Comprova inicialmente realizou uma busca para tentar identificar quem era a autora do vídeo, Cristina Daflon; o autor do texto que ela lê, Lopes Winner; e o homem que propôs a criação do “DIM”, Celio Evangelista Ferreira do Nascimento. Também tentamos contato com os três por meio de redes sociais e telefones disponibilizados em seus perfis.

Depois, procuramos as assessorias de imprensa do Banco Central e do Ministério da Economia para saber se há debates em curso sobre a mudança da moeda no Brasil. A pasta disse que a resposta caberia ao BC.

Entrevistamos o economista Jocildo Fernandes Bezerra, professor de Política Monetária na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), sobre o processo de mudança do meio circulante no País.

Também procuramos a Polícia Civil do Distrito Federal e a Justiça Federal para levantar informações sobre o processo que investiga Célio Evangelista por uma ameaça de morte enviada para juízes, promotores e procuradores do DF.

Por fim, entrevistamos o advogado Marcelo Labanca, professor de Direito Constitucional na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), para entender se qualquer cidadão pode se autodeclarar presidente da República.

Verificação

Real continua

Em resposta ao Comprova, o Banco Central negou a adoção do “DIM” no Brasil em novembro. A Constituição garante exclusivamente ao BC a competência para emissão de moeda.

De acordo com o economista Jocildo Fernandes Bezerra, um país só adota uma nova moeda quando a anterior perde valor. “A moeda é um meio circulante cujo valor tem limite de instabilidade. Uma moeda instável é uma moeda cujo valor não é confiável. De modo que, se essa instabilidade for muito elevada, ela gera o fenômeno da inflação. Quanto mais a inflação se agrava, mais a moeda perde valor. Então, nesse caso, você precisa de uma nova moeda”, explica.

Segundo Bezerra, as moedas também não podem ser mudadas “da noite para o dia”, porque a estabilidade delas permite que os atores econômicos se planejem para o futuro. “Se eu sei que um bem custa R$ 100 hoje e vai custar os mesmos R$ 100 amanhã, eu posso contratar trabalhadores ou investir, porque eu sei qual o preço que aquele produto vai ter no final. Se, de repente, o Banco Central decidisse trocar de moeda, toda a economia seria perturbada. Imagine que você é fabricante de sapato e eu sou vendedor de banana. Quanto é que serão os preços, na nova moeda, do sapato e da banana? Isso paralisaria a produção, o consumo. E incluiria um grau de incerteza na economia que é indesejável”, argumenta.

O professor também diz que lastrear moedas em metais, como sugere a publicação, é uma técnica em desuso há quase 50 anos, quando os Estados Unidos deixaram de basear o valor do dólar nas reservas de ouro. Lastrear significa que o valor de uma nota daquela moeda representa uma quantia de metal, geralmente o ouro, guardada em alguma reserva ou banco.

“Em 1971, os Estados Unidos disseram que não tinham mais ouro para lastrear o valor dólar. Isso fez com o que o dólar acabasse? Não. Por causa da solidez da economia americana. Por isso, inclusive, que o Banco Central [brasileiro] se comporta de modo a criar expectativa de que o valor do real não vai oscilar além de um limite aceitável, assegurando a confiança na economia e na sociedade brasileira. Lastrear uma moeda em nióbio não faz sentido”, afirmou.

O Brasil tem, no dia 23 de julho, 8,2 bilhões de cédulas e 27,3 bilhões de moedas que, juntas, somam R$ 341,8 bilhões em circulação.

“Peso-real”

Em junho de 2019, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse ser favorável a estudos para criar uma moeda em conjunto com a Argentina, que seria chamada de “peso-real”. Na época, o chefe do Executivo brasileiro apoiava a candidatura à reeleição do ex-presidente argentino Mauricio Macri, derrotado por Alberto Fernandéz em outubro do mesmo ano.

O ministro Paulo Guedes, que chegou a participar das conversas, não deu prazo para implementação do “peso-real”. Na ocasião, o Banco Central do Brasil divulgou uma nota em que afirmava não haver nem projeto, nem estudo para a adoção de uma moeda em conjunto com a Argentina.

Desde a independência, em 1822, o Brasil teve nove moedas. Seis delas surgiram em um curto período de dez anos, em que o país passou pela hiperinflação. O Real foi criado em 1º de julho de 1994, após quatro meses de transição com a Unidade Real de Valor (URV), que existiu ao mesmo tempo em que o Cruzeiro Real.

O conteúdo falso

Responsável pelo conteúdo falso no YouTube, Cristina Daflon é uma pessoa real. O canal “cristina Daflon chicletinho” havia publicado 650 vídeos até esta sexta-feira. Somadas, as gravações — cujos temas variam de receitas culinárias a conspirações sobre queda de OVNIs no Brasil — tinham mais de 2,6 milhões de visualizações.

No Instagram, um perfil associado a Cristina Daflon possui informações de contato. O Comprova enviou mensagens pela própria rede social, pelo e-mail e pelo número de WhatsApp (que não pertence a ela), mas não teve resposta. Na quinta-feira, o vídeo foi colocado no modo “privado” no YouTube.

Na gravação, a mulher lê um texto sobre o “DIM”, publicado em 19 de julho no perfil “Lopes Winner” no Facebook. O Comprova enviou mensagem para o responsável pela postagem por meio da própria rede social, mas não teve retorno. Na página, há ainda um contato telefônico. O número, porém, não existe.

O ‘criador’ do “DIM”

O texto lido no vídeo atribui a idealização do “DIM” a Celio Evangelista Ferreira do Nascimento, indiciado na Lei de Segurança Nacional por fazer ameaças de morte a juízes, promotores e procuradores do Distrito Federal. De fato, o homem de 79 anos mencionou a suposta criação da moeda numa publicação na internet datada de 29 de outubro de 2019.

Em 21 de maio, Celio Evangelista e Rodrigo Ferreira, de 40 anos, foram presos preventivamente pela Polícia Civil do Distrito Federal no âmbito da Operação Pátria Amada por conta das ameaças. Na semana seguinte, os dois conseguiram habeas corpus e respondem às acusações em liberdade.

As ameaças foram enviadas em um e-mail intitulado “Sentença de morte aos traidores da pátria”. No texto, a dupla “convoca a população para matar políticos, juízes, promotores, chefes de gabinetes, assessores, parentes, amigos, protetores e demônios de toda sorte”.

Em vídeo publicado na internet, Celio Evangelista fala em “estado de sítio” e ameaça nominalmente políticos como o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o vice Hamilton Mourão (PRTB), os ex-presidentes Lula (PT), Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).

O caso foi investigado pela Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC). Celio Evangelista e Rodrigo Ferreira foram indiciados no artigo 17 da Lei de Segurança Nacional, que prevê de três a 15 anos de prisão a quem “tentar mudar, com emprego de violência ou grave ameaça, a ordem, o regime vigente ou o Estado de Direito”. O inquérito foi enviado à Justiça Federal, que deve remeter os autos ao Ministério Público Federal (MPF). Após análise, os promotores podem apresentar denúncia.

Celio Evangelista se intitula “Presidente Constituinte” do Brasil desde dezembro de 2017. Em vídeo publicado este mês, diz que, com o “DIM”, o país comandaria o “novo sistema financeiro do mundo”. O Comprova tentou contato com Célio por meio de número disponibilizado em seu site, mas os telefonemas foram diretamente para a caixa postal.

O presidente no Brasil

O artigo 77 da Constituição Federal diz que o presidente da República precisa ser eleito, com maioria dos votos válidos, mesmo que para isso seja necessário realizar um segundo turno de votação. Além disso, o artigo 78 define que, para tomar posse, o presidente eleito precisa prestar um juramento à Constituição e às leis em sessão do Congresso Nacional. Se o eleito não comparecer ao Congresso para tomar posse em até dez dias após a convocação pelo Legislativo, o texto constitucional diz, que o cargo será declarado vago.

O professor de Direito Constitucional Marcelo Labanca explica que ninguém pode se autoproclamar presidente sem ter seguido os ritos descritos na Carta Magna. “A Constituição, inclusive, é muito clara em relação a esse rito. Ela diz que a posse tem que ocorrer no dia 1º de janeiro, em uma sessão solene do Congresso Nacional. Ou seja, não pode nem ser uma sessão só da Câmara ou do Senado”, lembra.

Outra formalidade, de acordo com Labanca, está descrita no parágrafo 6º do artigo 57, segundo o qual a convocação extraordinária para dar posse ao presidente da República será feita pelo presidente do Senado Federal.

Por que investigamos?

Nesta terceira fase de combate à desinformação e a conteúdos enganosos na internet, o Comprova analisa postagens com grande circulação sobre políticas públicas do governo federal, eleições municipais e a pandemia de covid-19.

Até 21 de julho, antes de ser colocado em modo privado, o vídeo sobre o “DIM” tinha quase 50 mil visualizações no YouTube. A versão do conteúdo em texto no Facebook gerou 116.680 interações (soma de reações, comentários e compartilhamentos) até 24 de julho, segundo a ferramenta CrowdTangle.

A verificação é relevante pelas repercussões que a troca de moeda de um país pode causar, como aumento de gastos públicos para impressão de novas notas e os impactos nas políticas externas, além das mudanças no dia a dia até que as pessoas se adaptem ao novo sistema.

Recentemente, o Comprova classificou como falso ou enganoso outras publicações sobre políticas públicas do governo federal, como a transposição do Rio São Francisco, a construção de uma ponte em Goiás e um “decreto-lei” para criar um Tribunal Constitucional Militar.

O Boatos.org também desmetiu duas versões em texto do conteúdo sobre o “DIM”.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.