O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2020-12-07

Máscara não causa acúmulo de líquido nos pulmões nem intoxicação

  • Falso
Falso
Postagem usa suposto caso de mulher que caiu enquanto corria usando uma máscara para dizer que equipamento é prejudicial à saúde, mas autoridades negam que proteção cause danos graves. Além disso, uso de máscara não é recomendado durante prática de exercícios físicos ao ar livre
  • Conteúdo verificado: Postagem em um site que diz que, de acordo com médicos, o uso de máscara pode baixar a imunidade e congestionar pulmões.

É falso que o uso de máscaras não reduza o risco de contrair o coronavírus e que o equipamento seja prejudicial à saúde, como consta num texto publicado pelo site Estudos Nacionais. A postagem recorre a um vídeo gravado por um otorrinolaringologista sobre uma paciente que teria sofrido uma queda enquanto corria usando máscara. Segundo a publicação, ele afirma que o equipamento de proteção pode causar intoxicação por CO2 e acúmulo de líquido nos pulmões. Isso não é verdade.

O uso de máscaras impede a disseminação de gotículas no ambiente, por isso é indicado para a proteção contra o coronavírus. Mesmo a máscara caseira, quando produzida da maneira correta, não oferece riscos à saúde.

Embora o uso da máscara reduza a capacidade respiratória – e, justamente por essa razão, não seja recomendada durante atividades físicas -, especialistas ouvidos pelo Comprova reafirmaram que elas são eficazes na proteção contra o coronavírus e negaram a possibilidade de as máscaras causarem danos graves como intoxicação por acúmulo de CO2 ou acúmulo de umidade e líquido nos pulmões.

O post afirma ainda que as autoridades ao redor do mundo ignoraram o risco do uso de máscaras mesmo após a morte de dois estudantes na China que se exercitavam usando o equipamento. As duas informações também são falsas. Além de a Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomendar que as pessoas usem máscaras ao praticar exercícios intensos ao ar livre, a agência de checagem portuguesa Polígrafo já mostrou que é falsa a informação de que os estudantes chineses morreram por conta do uso do equipamento, em maio deste ano.

Como verificamos?

Iniciamos procurando o vídeo citado no início da publicação verificada e chegamos a uma postagem da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), feita no Twitter em 20 de novembro. Em seguida, o Comprova analisou os compartilhamentos do vídeo, não apenas no Twitter como também no Instagram e no Facebook, onde foi possível identificar o nome do médico responsável pela gravação.

Feita a consulta no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), foi possível confirmar que Leandro Tavares Flaiban, médico otorrinolaringologista que trabalha no Hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí (SP), foi o responsável pela gravação.

Consultamos as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) a respeito do uso de máscaras, inclusive durante a realização de atividades físicas, e entrevistamos os infectologistas Fábio Amorim, do Hospital São Rafael e do Instituto Couto Maia, unidade de referência para doenças infectocontagiosas na Bahia; e Clarissa Cerqueira, do Hospital Cardiopulmonar e da Estratégia Med, em Salvador.

Buscamos informações sobre o uso de máscaras em verificações anteriores do Comprova e de outras agências de checagem.

Por fim, entramos em contato com o Hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí (SP), que confirmou ter em seu quadro de profissionais o otorrino Leandro Tavares Flaiban. Porém, não foi possível falar com o médico pelos telefones do hospital. Não conseguimos encontrar os contatos pessoais dele.

Também procuramos o site Estudos Nacionais, mas não recebemos resposta até o fechamento desta verificação.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 7 de dezembro de 2020.

Verificação

Máscaras e CO2

O uso de máscaras realmente reduz a capacidade de respirar, segundo especialistas ouvidos pelo Comprova. No entanto, isso não significa que haja um aumento de concentração de CO2 capaz de causar intoxicação. “O gás carbônico que se concentra numa máscara não é suficiente para causar intoxicação nem dano cerebral. A gente trabalha com máscara N95 o tempo inteiro e eu desconheço caso de profissional de saúde que tenha desmaiado”, afirma o médico infectologista Fábio Amorim, que trabalha no Hospital São Rafael, em Salvador, e no Instituto Couto Maia, unidade de referência na Bahia para doenças infectocontagiosas. A máscara N95 consegue filtrar 95% de partículas e é indicada para proteção contra doenças por transmissão aérea.

A também infectologista Clarissa Cerqueira, do Hospital Cardiopulmonar, em Salvador, corrobora, citando inclusive casos de profissionais de saúde que usam máscara com frequência sem que sofram intoxicação. “A máscara é extremamente eficaz. E ela tem a capacidade de fazer a troca de ar. Então, não existe a pessoa falar que está retendo CO2 por uso de máscara. Nós, profissionais em saúde, usamos máscaras há anos no ambiente hospitalar, tem cirurgiões que operam durante 12 horas, infectologistas que precisam usar máscara para atender pacientes com tuberculose, catapora, e nunca houve nada assim”, explica.

No início do mês de abril, diante da falta de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) no mercado mundial, o Ministério da Saúde recomendou que a população produzisse máscaras de tecido, deixando as máscaras profissionais (cirúrgica e N95 ou similares) para os profissionais da saúde.

Entretanto, para garantir a efetividade da proteção, a confecção das máscaras deve seguir algumas especificações técnicas, especialmente com relação ao tipo de matéria prima a ser utilizada. Os tecidos recomendados são, em ordem decrescente de capacidade de filtragem de partículas virais:

a) Tecido de saco de aspirador;

b) Cotton (composto de poliéster 55% e algodão 45%);

c) Tecido de algodão (como camisetas 100% algodão);

d) Fronhas de tecido antimicrobiano.

Outras informações e especificações podem ser encontradas no site do Ministério da Saúde.

“Uma coisa que pode acontecer é alguém fazer uma máscara com um tecido que não tem capacidade de troca de ar, mas isso não leva a esse tipo de alteração [intoxicação]. O tecido que a gente recomenda é algodão e algum tecido sintético. Você tem que usar um tecido de algodão na camada interna. Na intermediária, um tecido sintético como um TNT e na de fora também, porque o tecido tem poros. Agora, realmente, se a pessoa colocar um plástico no rosto, a pessoa vai morrer de falta de ar”, afirma Clarissa Cerqueira.

Máscaras não provocam acúmulo de líquido nos pulmões

Os dois especialistas também negaram a possibilidade de que a máscara, por conta da umidade, provoque acúmulo de líquido nos pulmões, como afirma o post. “Isso acontece quando a pessoa se afoga ou quando acontece uma falência múltipla por edema de pulmão, mas isso é incompatível com o uso de máscaras”, explica o infectologista Fábio Amorim. O equipamento não impede a passagem do ar, mas sim dificulta a passagem de partículas presentes no ar.

Clarissa Cerqueira explica que a umidade na máscara é comum já que, durante a respiração, a pessoa libera partículas de ar. É por isso que a máscara precisa ser trocada a cada duas horas para que seja de fato eficaz. Mas, mesmo assim, não há possibilidade de acúmulo de líquido nos pulmões. “Não tem nada que justifique uma retenção de líquido nos pulmões. Quando você respira, você libera partículas de ar e, com o tempo, você troca a máscara. Se ela tá úmida, você precisa trocar. Mas não faz nenhum sentido acumular líquido no pulmão, eu não consigo nem explicar. Como entraria água ali?”, questiona.

Não se deve usar máscara durante exercícios físicos

A OMS não recomenda o uso de máscara em atividades físicas mais vigorosas, por conta do risco de redução da capacidade respiratória. No entanto, a Organização orienta que, não importa o quão intensas sejam as atividades físicas, é necessário manter no mínimo um metro de distância de outras pessoas e, no caso de atividades em casa, é necessário escolher um local com ventilação adequada.

Não é verdade que estudantes chineses morreram ao usar máscara

A agência portuguesa de fact-checking Polígrafo noticiou que um dos jovens que faleceu na China enquanto faziam exercícios físicos foi vítima de um ataque cardíaco, como foi declarado no atestado de óbito. Segundo a professora da Universidade de Medicina Chinesa de Shaanxi, Cao Lanxiu, “não foi a máscara que causou a morte súbita”.

Na segunda morte registrada, o estudante faleceu durante uma corrida, segundo apuração realizada pela agência tendo como base uma reportagem realizada pela emissora de TV australiana 7 News. Não houve nenhuma evidência de que a máscara tenha sufocado o aluno.

Quem são os médicos citados no post

A postagem verificada cita dois médicos brasileiros. Um deles é Leandro Tavares Flaiban. De acordo com dados do Conselho Federal de Medicina (CFM), Flaiban é otorrinolaringologista e possui registros em dois estados: São Paulo e Amazonas, ambos em situação regular. No registro principal, no Amazonas, consta a especialidade de otorrinolaringologia. Já o registro secundário, de São Paulo, não possui especialidades cadastradas.

O Comprova conseguiu confirmar que Leandro trabalha no Hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí, mas não pudemos conversar com o médico – o hospital, primeiro, disse que não poderia passar o contato dele; em seguida, nos forneceu um telefone, mas ninguém atendeu no número discado. Também não localizamos uma conta sua no Twitter. No Facebook, os posts são fechados.

O segundo médico mencionado no texto é o também otorrinolaringologista Carlos Nigro, que trabalha em uma clínica em Taubaté (SP). Em seu perfil no Facebook, ele afirma ter estudado Medicina na Universidade de São Paulo (USP) e ter doutorado na mesma instituição. As informações constam em seu currículo Lattes, em texto informado pelo próprio autor. Também afirma ser aluno do Seminário de Filosofia de Olavo de Carvalho.

O CFM tem um registro em nome de Carlos Eduardo Nazareth Nigro, feito em janeiro de 1996 em São Paulo, com especialidade para otorrinolaringologia. No Facebook, o médico faz postagens contrárias ao uso de máscara, ao lockdown e à vacina.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. A matéria publicada no site “Estudos Nacionais” teve 12 mil interações no Facebook, de acordo com a plataforma de monitoramento CrowdTangle. Tratando-se de temas relacionados à pandemia da covid-19, os riscos da desinformação são maiores, visto que afetam diretamente a saúde das pessoas e que as medidas de proteção como as máscaras são de extrema necessidade para impedir a disseminação da doença.

O Comprova já verificou outros conteúdos que disseminam informações sem fundamentos, desde o início da pandemia, como um vídeo que afirmava que as máscaras não são eficientes no combate à covid-19; um áudio no qual um engenheiro falsamente alegava que as vacinas causam câncer e danos genéticos; e um vídeo no qual um pastor diz que o vírus foi feito na França e vacinas seriam uma iniciativa globalista para reduzir a população.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Eleições

Investigado por: 2020-12-04

É enganoso vídeo que denuncia suposta fraude nas urnas em João Pessoa

  • Enganoso
Enganoso
Um candidato a vereador pelo MDB disse não ter tido nenhum voto na seção onde ele próprio votou, mas documentos oficiais da Justiça Eleitoral mostram que ele teve dois votos no local
  • Conteúdo verificado: Vídeo no YouTube em que candidato a vereador em João Pessoa afirma que voto que ele deu em si mesmo não foi contado

É enganoso o vídeo em que um candidato a vereador em João Pessoa, na Paraíba, afirma que não foi contabilizado o voto que ele deu em si mesmo. Na realidade, foram contados dois votos para Edmilson Gomes de Melo (MDB) na seção onde ele votou. Ao todo, o candidato recebeu 119 votos e ganhou uma vaga de suplente na Câmara Municipal.

Gomes de Melo está inscrito no Título de Eleitor na zona 001, seção 004. Porém, algumas seções eleitorais foram agregadas este ano, por isso Edmilson foi orientado a votar na seção 001. Ao Comprova, o Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB) apresentou documentos que provam a votação de Edmilson na seção 001.

No vídeo, o candidato afirma ainda que um funcionário do TRE-PB “adicionou” dois votos para ele na seção eleitoral. O TRE-PB esclareceu que o banco de dados de votação jamais pode ser “editado”. O órgão comunicou em nota que o vídeo é uma “tentativa de macular a Justiça Eleitoral, forjando fatos”.

Como verificamos?

O Comprova entrou em contato com o Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB) e solicitou informações sobre as seções e zonas eleitorais existentes em João Pessoa. Também buscamos o resultado das eleições 2020 no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para confirmar a candidatura do homem que aparece no vídeo e a quantidade de votos obtida por ele. Foram procurados ainda o candidato Edmilson Duroger e o responsável pelo canal Seu Mizuka, que divulgou o vídeo.

Verificação

Qual a explicação do TRE-PB?

No vídeo, o candidato a vereador Edmilson Gomes de Melo está em frente à sede do TRE-PB. De acordo com o órgão eleitoral, ele foi atendido na Seção de Orientação e Apoio às Zonas Eleitorais (SOAZE) no dia 18 de novembro, três dias depois do primeiro turno do pleito. Na gravação, Edmilson afirma que o voto que ele depositou em si mesmo não foi contado, assim como a votação de seus familiares.

Isso não é verdade. De acordo com os resultados oficiais divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edmilson recebeu 119 votos. O TRE-PB detalhou que foram dois votos na seção onde o candidato votou, a 001 da 1ª Zona Eleitoral. A mesma votação consta no boletim de urna divulgado pelo TSE.

Os votos a favor de Gomes de Melo foram distribuídos da seguinte maneira: 49 votos na 1ª Zona Eleitoral; 24 votos na 64ª Zona; 19 votos na 70ª; 12 votos na 76ª; e 15 votos na 77ª.

Edmilson está cadastrado no Título de Eleitor na seção 004 da 1ª Zona Eleitoral, mas o TRE-PB esclareceu que algumas das seções foram agregadas este ano. O órgão apresentou ao Comprova um documento que mostra que o local de votação do candidato foi transferido.

Como mostra consulta ao site oficial do TSE, Gomes de Melo votou na Faculdade de Ciências Médicas (antigo Colégio Pio XII), na Praça São Francisco, 116, no centro de João Pessoa.

No vídeo, Edmilson diz que, depois de reclamar que nenhum voto a seu favor foi contado na seção onde votou, um funcionário do TRE-PB “adicionou” dois votos para o candidato. Em resposta, o TRE-PB disse que não é possível “editar” o banco de dados de votação. Neste ano, a totalização dos votos foi centralizada na sede do TSE, em Brasília.

O TRE-PB informou que vai encaminhar o caso ao Ministério Público Eleitoral.

Quem é o autor do vídeo original?

Edmilson Gomes de Melo tem 57 anos e foi candidato pelo MDB, usando o número 15.777 e o nome de urna “Edmilson Duroger” — referência ao Roger, um dos bairros mais carentes da capital paraibana. No local ficava, até 2003, o antigo lixão da cidade, e ainda hoje funciona a Penitenciária Desembargador Flósculo da Nóbrega, o mais antigo presídio da Paraíba, inaugurado há 80 anos.

Conversamos com Edmilson por telefone. Ele disse que “estranhou não ter tido votos em sua seção, a 4ª da 1ª zona eleitoral, mas que um funcionário do TRE disse que poderia corrigir e imprimiu um relatório com dois votos naquela seção (na verdade, a 1ª)”.

Durante o telefonema, ele admitiu que o funcionário que o atendeu “pode ter sido irônico”. Após a gravação do vídeo, Edmilson disse que retornou ao TRE e recebeu a explicação que sua seção original, a 4ª, foi agregada à 1ª seção por conta das alterações realizadas para reduzir o número de mesários por causa da pandemia.

O candidato explicou que, no vídeo, se referiu aos oito votos que teve no bairro do Roger, pois sabia que, no total, obteve 119 votos. “Sem arrogância, pela campanha que fiz e pelo trabalho que faço no Roger, há muitos anos, era pra ter tido 5 mil votos”. De acordo com os dados do último censo do IBGE, em 2010, a população do bairro era de 10.381 pessoas aptas a votar.

O trabalho ao qual ele se refere seria “as denúncias de corrupção na Câmara Municipal” que costuma fazer. Edmilson informou ao TRE ser “jornalista e redator”. Na documentação de registro de candidatura consta apenas um diploma de conclusão do Ensino Médio.

No dia 24 de novembro, ele foi à sede da superintendência da Polícia Federal no estado e protocolou um pedido para “pegar todas as urnas do município de João Pessoa, e que se disponibilize uma equipe de especialistas na segurança da informação que seja neutra para periciá-las”.

Edmilson contou que foi à PF acompanhado de dois outros candidatos, citados no vídeo analisado: Nininho Mangabeira e Dr. Nosman (Antônio Nosman Barreiro Paulo), ambos do MDB. Um terceiro candidato que, segundo ele, também estaria “revoltado”, Dr. Aníbal Marcolino (José Aníbal Costa Marcolino Gomes), não o acompanhou por ter desistido de fazer a denúncia.

O Comprova entrou em contato com a PF para saber mais informações sobre a denúncia de Edmilson, mas não recebeu resposta.

O canal do Youtube

O vídeo de Edmilson foi reproduzido pelo canal Seu Mizuka, que existe no YouTube desde 9 de dezembro de 2017 e tem 71,9 milhões de visualizações. É conhecido por publicar conteúdos favoráveis ao governo federal e é um dos canais que veicularam anúncios da Secretaria Especial de Comunicação Social do Governo Federal sobre a Previdência, sendo o sexto canal do YouTube com mais interações nos anúncios do governo por visualização. Em junho deste ano, o Comprova já desmentiu um vídeo publicado no mesmo canal e que tentava desacreditar a pandemia da covid-19, apoiado em imagens da cidade de Genebra, na Suíça.

O Comprova tentou contato com o responsável pelo canal Seu Mizuka, mas não obteve resposta.

Por que investigamos?

Atualmente em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre as eleições municipais de 2020, a pandemia de covid-19 e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. A verificação de conteúdos que tratam de apuração é importante porque conteúdos inverídicos podem atingir a confiança das pessoas nas eleições.

O vídeo publicado no canal “Seu Mizuka” teve mais de 157 mil visualizações desde o dia 25 de novembro. No Facebook, o link de YouTube teve 32.355 interações, de acordo com a ferramenta CrowdTangle.

O Comprova tem checado uma série de conteúdos que atacam a lisura do processo eleitoral. Por exemplo, desmentimos que o software das urnas eletrônicas brasileiras tenha sido usado em fraudes nos Estados Unidos e que o TSE tenha atualizado os resultados das eleições de acordo com o portal de notícias G1. Veja todas as verificações do Comprova sobre eleições.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.

Saúde

Investigado por: 2020-12-02

Vírus não foi feito na França e vacinas não são uma iniciativa globalista para reduzir a população

  • Falso
Falso
O Instituto Pasteur nega as acusações feitas no vídeo verificado, especialistas dizem que são teorias conspiratórias sem fundamento e, procurados pelo Comprova, os homens que aparecem na gravação não ofereceram provas do que dizem.
  • Conteúdo verificado: Trecho de uma live publicada no Instagram em que os participantes discutem sobre vídeo que supostamente mostraria documentos comprovando que o novo coronavírus foi fabricado no Instituto Pasteur, na França. Além disso, o conteúdo afirma que vacinas “modificam o DNA para sempre”, “estabelecem um novo sistema genético”, contém “material genético do HIV”, e que são “uma iniciativa dos globalistas para reduzir a população em 90%”.

É falso que vacinas são uma iniciativa globalista para reduzir a população e que modificam o DNA, como afirma um pastor em uma live publicada no Instagram e no YouTube. Ele diz que assistiu a um vídeo que supostamente mostrava provas de que o novo coronavírus tinha sido criado no Instituto Pasteur, na França, e que as vacinas contam com “o material genético do HIV” e “estabelecem um novo sistema genético”. No entanto, o homem não mostra e nem divulga o link para o vídeo no qual baseou suas falas, mesmo sendo solicitado a fazê-lo por alguns seguidores nas áreas de comentários.

Segundo o virologista Flávio Fonseca, da Universidade Federal de Minas Gerais e do Centro de Tecnologia em Vacinas da UFMG, não existem vacinas que tenham a capacidade de alterar o nosso material genético, DNA. Sobre as afirmações realizadas no vídeo de que vacinas são “uma iniciativa dos globalistas para reduzir a população em 90%”, o professor da faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor), Jorge Kalil, falou que não existem provas de que esse tipo de medicamento tenha o objetivo de eliminar parte da população, que são teorias da conspiração. E acrescenta “Como vai ter uma coalizão de interesses tão comuns para eliminar a população do mundo? Nunca houve nenhum tipo de vacina responsável pela morte de muitas pessoas. Isso nunca existiu”.

O Comprova acionou o instituto francês para verificar a afirmação feita pelo pastor sobre a origem do vírus, que negou o boato. O instituto já tinha sido acionado por versões em outros idiomas do mesmo boato e emitido posicionamento.

Também buscamos contato com Lamartine Posella Sobrinho, que faz as afirmações durante a live, assim como o responsável pela entrevista Wagner Malagues, para solicitar as provas que são citadas no vídeo. Até o momento desta publicação não houve resposta do Pastor e Wagner deu respostas inconclusivas.

Como verificamos?

Recorremos a pesquisas em diversas reportagens sobre vacinas, bem como em checagens anteriores do Comprova sobre o tema. Esses materiais nos ajudaram a esclarecer questões como a possibilidade de um imunizante contra o novo coronavírus alterar o DNA humano ou conter material genético do HIV. Acionamos, ainda, o instituto francês Pasteur para solicitar um posicionamento sobre a alegação de que o Sars-CoV-2 teria sido criado na instituição.

Além disso, buscamos especialistas para avaliar as afirmações do vídeo aqui analisado. Colaboraram o professor da faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor), Jorge Kalil; o professor da Escola de Relações Internacionais da FGV, Pedro Brites; o virologista da Universidade Federal de Minas Gerais e do Centro de Tecnologia em Vacinas da UFMG, Flávio Fonseca e a microbiologista Jordana Coelho dos Reis, que atua no Laboratório de Virologia Básica e Aplicada do Departamento de Microbiologia, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Também entramos em contato com os autores do vídeo. O entrevistado, Lamartine Posella Sobrinho, não retornou até o fechamento desta publicação. Já o apresentador Wagner Malagues respondeu nosso contato, mas não deu nenhuma fonte que sustente as afirmações no seu canal.

O Comprova fez esta verificação baseada em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 1 de dezembro de 2020.

Verificação

Vacinas podem causar alterações no DNA humano e câncer?

No conteúdo verificado, o pastor Lamartine Posella diz que assistiu a um vídeo, sem indicar qual, em que um cientista, sem citar o nome, afirma que “das seis vacinas que estão sendo desenvolvidas para Covid, três delas modificam o DNA para sempre”. Porém, não foram apresentadas provas sobre tal afirmação e, de acordo com Flávio Fonseca, virologista da Universidade Federal de Minas Gerais e do Centro de Tecnologia em Vacinas da UFMG, “não existe nenhuma vacina capaz de alterar o nosso material genético, nosso DNA”.

O virologista explicou que nosso material genético é muito bem protegido dentro de nossas células. “Ele fica dentro do núcleo, não fica exposto no citoplasma. E dentro do núcleo há uma série de enzimas que fazem, entre aspas, o patrulhamento da qualidade do nosso DNA para evitar exatamente que aconteçam mutações indesejadas”.

Fonseca reforçou que estamos expostos diariamente a material genético estranho ao nosso DNA, como infecções por vírus, bactérias e por processo de absorção (fagocitoses) de outras células que, por ventura, entram em contato com nosso organismo. “Então tudo isso chega dentro de nossas células. E, na verdade, são poucos os materiais genéticos que conseguem integrar, entrar no nosso genoma e alterá-lo. Alguns vírus muito especializados conseguem fazer isso, entre eles, por exemplo, os retrovírus, do qual fazem parte o HIV. E pra conseguir fazer isso, o HIV tem todo um aparelhamento molecular que permite que ele altere o nosso DNA”.

Ele também enfatizou que nenhuma das vacinas que temos atualmente consegue fazer isso. “Nenhuma delas, seja para covid-19 ou qualquer outra vacina que a gente conheça, têm a capacidade de fazer esse tipo de coisa, ou seja, de alterar nosso material genético através de sua integração dentro de nosso DNA”.

No início deste mês, o Comprova fez uma verificação que apontou que vacinas não causaram danos neurológicos ou de DNA. O alvo do conteúdo verificado era a CoronaVac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac com apoio do Instituto Butantan.

Ainda no vídeo desta verificação, o pastor Posella também fala, sem apresentar provas, que é a primeira vez que uma vacina está sendo feita com um DNA estranho, um elemento diferente que vai modificar o RNA mensageiro, que por sua vez, estabelecerá um novo sistema genético e que isso pode gerar graves consequências no futuro para quem se vacinar, podendo até provocar mortes por câncer.

Sobre isso a microbiologista Jordana Coelho dos Reis, que atua no Laboratório de Virologia Básica e Aplicada do Departamento de Microbiologia, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explicou que algumas das vacinas que estão sendo desenvolvidas contém RNA mensageiro – molécula que todos têm nas células e que leva a informação até o citoplasma para a produção de proteínas que constituem nosso organismo. Cada proteína precisa de um RNA mensageiro diferente para ser produzida, inclusive as de vírus. “Então para produzirmos proteínas no nosso organismo precisamos de RNAs mensageiros e eles são naturais do nosso organismo. As vacinas que são constituídas de RNAs mensageiros codificam proteínas dos SARS-CoV-2 que vão ser importantes para nos imunizar, para avisar o nosso sistema imune de que existe essa proteína e que ela precisa ser reconhecida por anticorpos, por células e , assim, realmente quando nós entrarmos em contato com o vírus [da covid-19] estaremos imunizados”.

Jordana reforçou que os RNAs que estão sendo utilizados nos testes para algumas vacinas não têm a capacidade de alterar nosso DNA e que, portanto, são seguros. “A gente pode confirmar com segurança, com pé no chão, tranquilamente que essas vacinas não representam um risco para câncer nesse sentido de alterar genoma, não tem a menor chance disso acontecer”.

Ainda sobre essa hipótese levantada pelo instituto, o Comprova já checou e identificou como falso outro conteúdo que também difundia um argumento de que a vacina poderia ocasionar câncer. À época, o Comprova conversou com Cristina Bonorino, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e membro da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), que comentou essa questão, dentre tantos pontos. Cristina disse que não há estudo que possa amparar esse argumento e se fosse verdade, haveria muito mais gente com câncer. Ela também explicou que os efeitos das vacinas, inclusive as que estão há décadas no calendário, na população são constantemente acompanhados por cientistas. “A gente faz estudos, busca efeitos, ajusta imunizações a partir do que é detectado. É muito perigoso uma pessoa sair por aí fazendo esse tipo de declaração.”

Material genético do HIV nas vacinas

De acordo com o virologista Flávio Fonseca, “não existe nenhuma vacina para SARS-CoV-2, para covid-19, que contenha porções oriundas do vírus HIV”.

Fonseca acredita que esse boato possa ter origem em uma situação passada com uma vacina para HIV que passou por três fases de testes com adenovírus, mas não obteve sucesso. “Há uma grande confusão porque no passado houve a geração de uma vacina utilizando adenovírus, vetor viral, que é a estratégia, por exemplo, usada pela vacina de Oxford, pela vacina Russa, pela vacina da Johnson e Johnson, todas elas usam adenovírus como vetor viral”.

No caso dessa vacina para HIV, ela não teve a eficácia pretendida e desencadeou até alguns problemas graves onde pessoas vacinadas acabaram tendo mais infecções com HIV, do que as pessoas que receberam placebo.

Em outubro, a Revista Exame publicou uma reportagem falando sobre as preocupações de médicos em relação às vacinas em desenvolvimento que utilizam o adenovírus de número 5 (Ad5), e que segundo estudo publicado no jornal científico The Lancet apontava que a infecção por HIV poderia ser facilitada caso o paciente vacinado recebesse uma dose contendo o Ad5. Neste estudo, os cientistas se basearam em análises de 2007, referentes à vacina para HIV mencionada pelo o virologista da UFMG. Ainda no texto foi pontuado que até então, “nenhum teste realizado com as vacinas em desenvolvimento contra a covid-19 mostraram resultados semelhantes”.

A microbiologista Jordana também enfatizou que as vacinas em teste são completamente distintas do vírus HIV. “Vamos esclarecer então em relação às vacinas que estão sendo produzidas conter material genético do HIV, isso é uma inverdade. Nós não temos evidências de que existe material genético do HIV, inclusive em nenhuma das vacinas que estão sendo desenvolvidas. Algumas delas contém RNA mensageiro, mas em nenhum momento esse RNA mensageiro pertence ao HIV, ele não é de origem retroviral, então não tem retrovírus ali”.

Vacina x Globalismo

Ao fim do vídeo, o pastor Lamartine Posella Sobrinho, o entrevistado, alerta que vacina é “uma iniciativa dos globalistas para reduzir a população em 90%”. Contudo, não há provas de que esse tipo de medicamento tenha o objetivo de eliminar alguma parcela da população. Tampouco existe registro histórico de que já tenha causado muitos óbitos, conforme o professor da faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor), Jorge Kalil. “Essas teorias da conspiração que colocam a ciência, as empresas e os governantes como se todos quisessem eliminar 90% da população, me parece absolutamente ridículo. Como vai ter uma coalizão de interesses tão comuns para eliminar a população do mundo? Nunca houve nenhum tipo de vacina responsável pela morte de muitas pessoas. Isso nunca existiu”, afirma.

Kallil ainda aponta que a imunização é a alternativa mais adequada para frear o contágio do novo coronavírus. “A gente sabe que vacina é a solução para uma pandemia porque ela vai deixar as pessoas imunizadas, que vão deixar de ficar doentes, vão deixar de transmitir o vírus e, com isso, o vírus não transmitindo, a pandemia acaba. Tivemos milhares de ganhos pela utilização de vacinas. E na situação atual é o que pode nos ajudar.“

Ao mencionar em tom crítico que vacinas são “uma iniciativa globalista”, o pastor usa um conceito difuso, adotado nos dias de hoje, principalmente, pela nova direita populista no mundo.

O professor da Escola de Relações Internacionais da FGV, Pedro Brites, reforça a ideia de que o termo ‘globalistas’ é uma expressão sem significado estrito, que se opõe de maneira não clara a acontecimentos do cenário social, político, econômico e cultural de caráter internacional. ”É um conceito vago, mas que serve muito a propósitos políticos. Efetivamente é um termo que começou a ser utilizado por todos aqueles que são críticos a uma série de fatores que caracterizam esse cenário internacional, especialmente desde o final da guerra fria. Aí podemos mencionar, dentre esses fatores críticos, o avanço das instituições internacionais, aumento dos processos migratórios. Tudo o que diz respeito ou parece ameaçar uma identidade nacional, de valores patrióticos. E a crítica à esquerda, que também é responsabilizada por esse avanço – e aqui esquerda no sentido mais amplo do termo, desde o Obama ao PT no Brasil. Todos esses atores são considerados parte desse processo de você estar vendo cada vez mais o estado-nação perdendo força, perdendo sentido. O fato de ele não ter uma definição bem específica é o que permite que seja usado em diferentes contextos.”

Instituto Pasteur

O Comprova entrou em contato por e-mail com o diretor da unidade de Virologia e Imunidade do Instituto Pasteur, Olivier Schwartz e obteve como resposta uma nota já publicada no site do instituto, desde março deste ano, na seção destinada ao combate à desinformação da instituição.

Na última atualização desta área do site, o instituto reitera que o SARS-CoV-2 não foi criado pelo Instituto, muito menos o liberou na cidade de Wuhan, na China. “O Instituto Pasteur não é um laboratório pertencente ao grupo farmacêutico Sanofi ou à sua subsidiária Sanofi-Pasteur; é uma fundação independente sem fins lucrativos. Afirmar que o Instituto Pasteur está planejando escravizar e controlar a população global é totalmente falso e desprovido de qualquer fundamento.”, diz trecho do texto.

O Pasteur é uma fundação sem fins lucrativos, criada em 1887, que por meio de pesquisas contribui para a prevenção e o tratamento de doenças, principalmente infecciosas. É um dos principais centros internacionais de pesquisas biomédicas, estando presente em 25 países. No Brasil, o Instituto é representado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), situada no Rio de Janeiro.

O Instituto é dedicado ao estudo de microorganismos, doenças e vacinas. Seu nome é uma homenagem a Louis Pasteur, seu fundador e primeiro diretor, que, em 1885, produziu a primeira vacina contra a raiva.

Quem é o pastor

Lamartine Posella Sobrinho, de acordo com seu site oficial, é fundador da YAH Church, igreja criada ao lado da esposa Lylian Posella. Trata-se de uma espécie de atualização da Igreja Batista Palavra Viva em São Paulo, da qual Lamartine foi presidente. Ele também atua como pregador, músico, pianista, violonista, compositor e escritor — publicou nove livros. Tem um canal no youtube que segundo descrição aborda “ vídeos com uma mensagem de fé, estudos sobre hebraico bíblico, escatologia, hermenêutica e tudo que envolve a Bíblia”.

Além disso, tem uma carreira política com passagens pelo PP (outrora PPB, quando o PP uniu-se ao PPR e ao PRP). Pelo Partido Progressista, foi deputado federal por São Paulo entre 1997 e 1999, quando assumiu após ficar como suplente. Exerceu a mesma função como integrante do Partido Progressista Brasileiro, entre 1999 e 2003. Ainda candidatou-se a como vice-prefeito (2000) e como governador (2002) em São Paulo, mas não foi eleito. Atualmente, faz parte do MDB.

Foi denunciado pelo Ministério Público Federal, em Brasília, por desvio de recursos públicos, conforme matéria do Estadão de fevereiro de 2017.

Tentamos contato pelo e-mail informado no site oficial de Lamartine, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.

Wagner Malagues

No perfil do Facebook, Wagner Malagues se apresenta como evangelista. Ele mantém um canal no YouTube intitulado “Wagnão”, cuja descrição diz “minha missão é informá-lo, e trazer o valor aquilo que estava perdido”. O canal contém conteúdos relacionados à religião e também vídeos sobre a vacina e temas políticos.

Procurado pelo Comprova, sobre qual é a fonte para o conteúdo aqui verificado – referenciada na sua transmissão como um “vídeo em francês” -, não retornou. Perguntado se havia fontes adicionais que subsidiaram o conteúdo no seu perfil, nos enviou apenas o link da reportagem da Revista Exame mencionada acima. Também nos enviou um vídeo em português que não respondia às questões.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos relacionados a políticas públicas do governo federal e à pandemia, incluindo, publicações que veiculam informações falsas ou enganosas relacionadas à vacina contra a covid-19. Neste caso, a divulgação desses conteúdos é ainda mais grave, porque pode colocar a saúde das pessoas em risco, uma vez que desencorajam a população a se imunizar por meio da vacinação – que é apontado por especialistas como o meio mais efetivo para conter o novo coronavírus.

Nesta verificação, o vídeo com informações falsas, publicado no Instagram, teve mais de 63 mil visualizações, até 23 de novembro. No YouTube o vídeo foi retirado de circulação antes da contagem de visualizações. O conteúdo contribui para o descrédito das vacinas contra a covid-19, doença que já tirou a vida de mais de 173 mil brasileiros, de acordo com os dados do Ministério da Saúde atualizados em 30 de novembro. A credibilidade dos imunizantes é colocada em dúvida por meio de afirmações sem comprovação que espalham medo, inclusive, a longo prazo, já que é mencionada a possibilidade de graves doenças futuras, como o câncer. Por isso, entender o que diz a ciência, sobretudo os estudos sobre vacinas, pode contribuir para sanar dúvidas da população e aumentar a confiança das pessoas sobre as informações catalogadas nas pesquisas científicas.

O Comprova já checou outros conteúdos falsos que distorciam fatos e colocavam em xeque a credibilidade dos imunizantes, como o áudio que fazia alegações de que as vacinas poderiam causar câncer, danos genéticos ou homossexualismo, a live disponibilizada no Youtube com afirmações de que médico teria morrido por conta de efeitos da vacina de Oxford e o post no facebook que induzia internautas a acreditar que a CoronaVac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac com apoio do Instituto Butantan, teria matado mais de 2 mil voluntários e alterava o DNA das pessoas. Já mostrou também que é enganoso dizer que expor a população ao vírus é melhor para acabar com a pandemia do que a vacinação, que todas as vacinas em teste no Brasil passaram por fase pré-clínica, ao contrário do que diz médico e que tuíte engana ao sugerir que vacina contra a covid-19 é desnecessária.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Política

Investigado por: 2020-12-02

É falso que MST tenha destruído estação de energia no Amapá

  • Falso
Falso
As imagens de um vídeo que viralizou são de 2017, quando um grupo de agricultores invadiu uma fazenda em Correntina, na Bahia, para protestar contra obras de irrigação que reduziram o nível de um rio da região – eles não são ligados ao MST.
  • Conteúdo verificado: Vídeo postado em diversas páginas do Facebook e do Twitter afirma que o MST destruiu estação de transmissão de energia no Amapá, insinuando que a organização teria responsabilidade pelo apagão recente no estado.

É falso o vídeo que circula em diversos grupos no Facebook e no Twitter afirmando que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é responsável pelo apagão que ocorreu no Amapá, no mês passado. A gravação mostra um grupo de pessoas destruindo postes de energia em um lugar indefinido e traz como legenda: “Militantes do MST destruindo uma estação de transmissão no Amapá. Isso a mídia podre não mostra”. Não é verdade. Como mostrou reportagem da Globo, essas imagens são de 2017, quando um grupo de agricultores invadiu uma fazenda em Correntina, na Bahia, para protestar contra obras de irrigação que reduziram o nível de um rio da região – eles não são ligados ao MST.

As causas do apagão, que se iniciou com um incêndio durante uma tempestade, ainda estão sendo investigadas, mas segundo o que o Governo do Amapá explicou ao Comprova, o vídeo não foi feito no estado e “não se tem nenhuma evidência de envolvimento do MST no apagão; trata-se de uma fake news”.

Também contatado pela reportagem, o MST disse que as acusações são infundadas e que “essas pessoas e esse tipo de ataque não têm nenhuma relação com o movimento”.

Como verificamos?

Por meio da ferramenta InVID, que faz busca reversa de imagens em fotos e vídeos, conseguimos encontrar links de reportagens da Globo de 2017 que exibiam o mesmo conteúdo e explicava o contexto em que a gravação foi feita. Também nos apoiamos em checagens feitas por outras agências de fact-checking e pesquisamos em sites de veículos de comunicação as causas do recente apagão.

Também pesquisamos os perfis que associaram o vídeo ao MST no Facebook e no Twitter e tentamos entrar em contato com algumas páginas, sem retorno. Por e-mail, contatamos a Secretaria de Estado da Comunicação do Amapá e, por WhatsApp, conversamos com a assessoria de imprensa do MST.

Verificação

Vídeo antigo

A gravação da postagem verificada é do início de novembro de 2017, conforme mostrou uma busca na ferramenta InVID, que trouxe uma reportagem do G1 sobre um protesto de agricultores em uma fazenda da empresa Lavoura e Pecuária Igarashi Ltda., em Correntina, na Bahia.

Os agricultores invadiram a propriedade em um ato contra obras de irrigação que reduziram o nível da água do rio Arrojado e, de acordo com o delegado ouvido na época pelo G1, eram ligados a “pequenas associações existentes nos povoados ao longo do Arrojado”. Ou seja, a derrubada dos postes de energia mostrada no vídeo não contou com a participação do MST e nada tem a ver com o recente apagão no Amapá.

O Comprova consultou o governo do Amapá por e-mail para questionar as informações do vídeo e das postagens feitas nas redes sociais. A assessoria do governo do estado respondeu em nota confirmando que o vídeo não foi feito no Amapá e tratou a publicação como uma notícia falsa: “O vídeo não é no Amapá. Também não se tem nenhuma evidência de envolvimento do MST no apagão. Trata-se de uma fake news”.

Em contato feito por Whatsapp, a assessoria de imprensa do MST também negou qualquer relação com o vídeo e com o apagão do Amapá. “Mais uma vez são acusações infundadas, essas pessoas e esse tipo de ataque não tem nenhuma relação com o Movimento”, diz um trecho da resposta ao Comprova.

O apagão no Amapá

No início de novembro, um incêndio atingiu uma subestação de energia em Macapá, capital do estado. Desde então, treze municípios da região ficaram sem luz. O racionamento de energia foi uma realidade vivida pelos moradores locais e a nova realidade gerou impacto na qualidade de vida dos amapaenses: também houve dificuldade em realizar compras que suprissem as necessidades básicas, já que, sem luz, os bancos não estavam disponíveis para sacar dinheiro e a maioria dos lugares não possuía sinal para compras no cartão. Além das atividades comuns, outro ponto de preocupação foi com a necessidade de manter os cuidados essenciais durante a pandemia.

Na primeira semana após o incêndio, um dos transformadores danificados foi recuperado, o que resultou no restabelecimento parcial da energia.

As investigações sobre o que de fato causou o incêndio ainda não foram finalizadas. Inicialmente, as informações apontavam que uma tempestade de raios teria sido a principal responsável pelo incêndio na unidade. No entanto, em um laudo recente, a Polícia Civil detalhou que o incêndio começou de forma interna, em uma bucha. A Isolux, empresa privada responsável pela unidade, vem enfrentando intimações da justiça federal para que o apagão no Amapá seja solucionado efetivamente.

Revoltados com a situação, os moradores do Amapá compartilharam em suas redes sociais os valores que costumam pagar em suas contas de luz. Os altos valores geraram indignação nos internautas e levantaram questionamentos sobre o preço abusivo.

Os autores

O vídeo da derrubada de postes na Bahia voltou a circular nas redes sociais no dia 26 de novembro de 2020, desta vez com o texto sugerindo que se tratava de um ato de vandalismo de membros do MST no Amapá. Segundo a plataforma de monitoramento CrowdTangle, houve 110 postagens do vídeo em páginas e grupos do Facebook até o fim da tarde de 30 de novembro, com um total de 1,7 mil reações.

As postagens aparecem em grupos de apoio ao presidente Jair Bolsonaro e a figuras ligadas ao governo federal como o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Das 110 postagens identificadas na plataforma, 45 foram em grupos que tinham no nome menções a Bolsonaro ou ao grupo político Aliança pelo Brasil.

Em pesquisa no próprio Facebook, aparecem ainda 80 publicações do vídeo feitas em perfis pessoais. As duas postagens com maior alcance apresentam no campo de busca um total de 3 mil e 2,7 mil visualizações, respectivamente.

Os vídeos foram publicados também no Twitter, onde houve 47 publicações nos últimos sete dias de novembro, segundo o CrowdTangle.

O Comprova tentou contato com alguns dos perfis que compartilharam esses vídeos com a afirmação de que se trataria de um ato do MST, mas não obteve retorno até a publicação desta verificação.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova verifica postagens suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais que tenham ligação com políticas públicas do governo federal, com a pandemia e com as eleições municipais.

É o caso das várias publicações deste vídeo nas redes sociais, que registrava 110 postagens e 1,7 mil reações no Facebook até o dia 30 de novembro. A falsa relação feita entre o vídeo filmado na Bahia em 2017 e uma suposta participação do MST no apagão do Amapá pode confundir a opinião pública sobre as causas do blecaute que deixou o Estado por mais de 20 dias com comprometimento no serviço de energia elétrica. Também pode reduzir a atenção à identificação de fragilidades no sistema de abastecimento do estado a fim de evitar repetições do mesmo problema.

O vídeo investigado também já foi verificado por outros veículos de checagem como a Agência Lupa, Estadão Verifica, Fato ou Fake e E-Farsas.

O Comprova já verificou outros conteúdos relacionados ao MST, como o que relacionava, sem provas, o movimento a queimadas na Amazônia e no Pantanal e o que afirmava que o Exército havia apreendido madeira ilegal ligada à organização – ambas as verificações foram classificadas como falsas.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Eleições

Investigado por: 2020-12-01

Boulos não prometeu deixar o país depois da derrota nas eleições

  • Falso
Falso
Guilherme Boulos nega ter feito a promessa, o Comprova não encontrou nenhum registro de uma manifestação do político nesse sentido e o site responsável pela publicação não respondeu ao nosso contato para que apresentasse alguma prova.
  • Conteúdo verificado: Link de um site compartilhado nas redes sociais afirma que, após serem derrotados nas eleições municipais em Porto Alegre e São Paulo, respectivamente, Manuela D’Ávila (PCdoB) teria chorado, e Guilherme Boulos (PSOL) anunciado que deixará o país.

Não há indícios de que o ex-candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) tenha anunciado que deixaria o país após perder para o atual prefeito Bruno Covas (PSDB) nas eleições do último domingo (29), como diz uma publicação que circula pelas redes sociais.

Procurada, a assessoria de comunicação de Boulos negou o conteúdo. Em seu pronunciamento pós-eleições publicado no Youtube, Boulos não fez nenhuma menção a sair do país. Pelo contrário, disse ser “o começo de uma caminhada” e motivou as pessoas a continuarem lutando, quando reconheceu a derrota na noite de domingo (29). Além disso, o Comprova não encontrou qualquer entrevista em que o psolista afirme isso.

O “Jornal 21 Brasil”, portal responsável pela publicação, afirma que “uma imprensa livre é a condição fundamental para que as sociedades resolvam seus conflitos, promovam o bem-estar e protejam sua liberdade.” O site foi listado pela “CPI das fake news” do Congresso Nacional como um dos sites de “conteúdo inadequado” que recebeu anúncios do governo. Para a CPI, o site publica notícias falsas” e veiculou material de publicidade da campanha Nova Previdência. A CPI analisou o conteúdo publicado pelo site entre junho e julho de 2019. Outras publicações realizadas pelo portal já foram verificadas, como a afirmação de que o TSE teria mudado a empresa responsável pela divulgação da apuração.

Entramos em contato com o Jornal 21 Brasil, mas, até o momento em que essa checagem foi publicada, não tivemos retorno.

Como verificamos?

Procuramos, por WhatsApp, a assessoria de comunicação de Boulos.

Também verificamos os conteúdos publicados pelo candidato em suas redes sociais oficiais após o fim da apuração no domingo e matérias com entrevistas para verificar se ele havia feito alguma afirmação do tipo. Pesquisamos, ainda, checagens relacionadas a Boulos realizadas anteriormente.

Verificação

Não há indícios de que Boulos pretenda deixar o país

Ao Comprova, a assessoria de Guilherme Boulos negou o conteúdo da corrente. A equipe disse que “a informação, evidentemente, não procede”. Ainda segundo a assessoria, a equipe do candidato já tinha conhecimento de que esse conteúdo estava circulando.

Em seu pronunciamento pós-eleição, o candidato derrotado do PSOL também não disse nada sobre deixar o país. Pelo contrário. Em vídeo publicado em suas redes sociais na noite de domingo (29), ele falou em “começo de uma caminhada”.

“Nós não vencemos essa eleição, mas ninguém perdeu a vontade de lutar por esse caminho, para a gente seguir nos próximos anos. Hoje não é o fim de uma caminhada, é o começo. Começo da vitória da solidariedade sobre a indiferença”, declarou Boulos, em publicação após o fim da apuração.

Por que investigamos?

Atualmente em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre as eleições municipais de 2020, a pandemia e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. A verificação de conteúdos que tratam de apuração é importante porque conteúdos inverídicos podem atingir a confiança das pessoas nas eleições.

Neste caso, o post no Facebook que compartilha o link com a notícia falsa teve mais de 3,3 mil curtidas, 2,2 mil comentários e cerca de 500 compartilhamentos desde a noite de domingo.

Esta já é a terceira corrente que o Comprova checa sobre Boulos. Durante as eleições de 2020, o Comprova desmentiu que ele havia cobrado aluguel de sem-tetos e que iria obrigar paulistanos a receber moradores de rua durante a pandemia.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Política

Investigado por: 2020-12-01

Bolsonaro não tem presença confirmada no Fórum Econômico Mundial de 2021

  • Enganoso
Enganoso
Procurada pelo Comprova, a organização do Fórum Econômico Mundial disse que a lista dos convidados para a edição 2021 do evento ainda não foi divulgada. O Palácio do Planalto também informou que ainda não há confirmação da presença de Bolsonaro no fórum, no ano que vem.
  • Conteúdo verificado: Post no Facebook diz que Bolsonaro vai ser a estrela do Fórum Econômico Mundial, em Davos, em 2021.

É enganosa uma publicação afirmando que o presidente Jair Bolsonaro já teria sido escolhido como a estrela principal do próximo encontro do Fórum Econômico Mundial, realizado na Suíça.

No Facebook, uma postagem afirma que ele terá “uma mesa só dele, para receber autoridades e investidores do mundo todo”, mas a organização do Fórum, procurada pelo Projeto Comprova, disse que a lista dos convidados para a edição 2021 do evento ainda não foi divulgada. O Palácio do Planalto também foi contatado pela nossa reportagem e disse que ainda não há confirmação da presença de Bolsonaro no fórum, no ano que vem.

A imagem verificada foi publicada no Facebook no dia 25 de novembro. Originalmente, a imagem foi postada no Instagram, em 2019, um momento em que, de fato, o presidente do Brasil era um dos expoentes do evento na Suíça. Isso indica que o conteúdo foi retirado de contexto para afirmar que Bolsonaro desfruta de grande prestígio internacional.

Como verificamos?

O primeiro passo da investigação foi descobrir se a imagem já tinha sido publicada antes nas redes sociais. Como a imagem verificada tem um selo da página “Oposição Zuera”, buscamos essa página e encontramos, no Instagram, um perfil com o mesmo nome, que publica imagens com selo idêntico. Verificando as postagens feitas por essa conta, encontramos a foto em questão, com a mesma frase sobre o encontro em Davos, numa publicação de 2019.

Contatamos a assessoria do Palácio do Planalto e a organização do Fórum Econômico Mundial, por e-mail, para saber mais sobre os planos para a próxima edição do encontro.

Por fim, tentamos contato com a autora da postagem no Facebook, mas não tivemos resposta até o fechamento desta verificação.

Verificação

Estrela de Davos

O Fórum Econômico Mundial é realizado desde 1971 e é mais conhecido por suas reuniões anuais em Davos, na Suíça. O evento reúne os principais líderes empresariais e políticos, além de intelectuais e jornalistas selecionados para discutir as questões mais urgentes enfrentadas mundialmente.

A postagem verificada afirma que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) será a “atração principal” do encontro que é realizado anualmente em Davos. Porém, o texto que está na imagem não faz referência ao ano do evento. A postagem original, encontrada pela nossa reportagem, é de 2019, ano em que o chefe do executivo do Brasil realmente era tratado pela imprensa (inclusive internacional) como um dos destaques do Fórum.

Na ocasião, Bolsonaro tinha acabado de tomar posse e ainda era desconhecido pelo resto do mundo. Além disso, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não participaria do evento naquele ano. Na data do Fórum, o discurso do presidente Bolsonaro teve seis minutos de duração e tratou de propostas sobre a abertura da economia brasileira.

Em 2020, Bolsonaro foi convidado a participar do evento, mas acabou cancelando sua ida no começo de janeiro.

O Fórum em 2021

Em 2021, por causa da pandemia do novo coronavírus, a expectativa é de que o encontro presencial seja realizado entre os dias 18 e 21 de maio, na comuna de Lucerna, na Suíça. Em janeiro, líderes globais vão participar de um debate virtual para discutir as perspectivas para o ano.

O Comprova entrou em contato com a assessoria do Fórum Econômico Mundial para confirmar se a lista de convidados do evento presencial já havia sido decidida. Por e-mail, o fórum respondeu que, “como a lista de participantes da reunião anual de 2021 ainda não foi publicada – e será disponibilizada duas semanas antes do evento -, não é possível confirmar as afirmações da postagem.”

Também por e-mail, a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), que responde sobre a agenda e compromissos do presidente Jair Bolsonaro, declarou que “não há confirmação sobre a participação do presidente Jair Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial 2021”.

Por que investigamos?

O Projeto Comprova está em sua terceira fase, que foca na investigação de conteúdos relacionados à pandemia da covid-19, às eleições municipais de 2020 e em políticas públicas do governo federal.

O conteúdo verificado foi tirado de seu contexto original para passar a ideia de que o governo brasileiro desfrute de prestígio internacional atualmente, mas ignora que ele vem sendo criticado por veículos de mídia de outros países e por outros chefes de executivo – sobretudo pelas ações realizadas durante a pandemia da covid-19 e pela política ambiental adotada pelo governo federal.

A postagem verificada teve mais de 4 mil interações no Facebook até o dia 30 de novembro.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.

Saúde

Investigado por: 2020-11-30

Artigo não prova impossibilidade de transmissão da covid-19 por assintomáticos

  • Enganoso
Enganoso
Os próprios autores do artigo, ouvidos pelo Comprova, dizem que os dados não permitem comprovar que indivíduos sem sintomas não sejam capazes de infectar outros
  • Conteúdo verificado: Postagem do site Terça Livre diz que estudo feito na China prova que pessoas assintomáticas não transmitem o novo coronavírus.

É enganoso afirmar que um estudo feito na China prove que pessoas assintomáticas não são capazes de transmitir o novo coronavírus. O artigo, publicado na revista acadêmica Nature Communication, mostrou que durante uma pesquisa de prevalência sorológica realizada em Wuhan os pesquisadores encontraram 300 casos de pacientes assintomáticos. Eles testaram 1.174 contatos próximos desses pacientes e nenhum deles testou positivo. No entanto, os próprios autores do artigo dizem que os dados não permitem comprovar que indivíduos sem sintomas não são capazes de infectar os outros.

De acordo com o doutor Fujian Song, autor do artigo, é preciso diferenciar pacientes assintomáticos dos pré-sintomáticos. Os primeiros são pessoas que se recuperam da infecção pelo novo coronavírus sem apresentar nenhum sintoma. Já os segundos são aqueles que foram infectados e ainda não desenvolveram sintomas. De acordo com Song, já está demonstrado que pessoas pré-sintomáticas podem transmitir o SARS-CoV-2 antes mesmo de começar a demonstrar sinais da doença.

Além disso, o autor do artigo lembra que a pesquisa foi feita em Wuhan apenas algumas semanas após um rígido lockdown e, portanto, seus resultados não podem ser transferidos para um país onde o surto da covid-19 não está sob controle. Ele também recomenda que, mesmo com o resultado do seu estudo, as pessoas devem manter medidas de contenção do vírus, como a higienização das mãos e o distanciamento social.

Ao Comprova, o professor de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador de um estudo com doentes assintomáticos, Ivo Castelo Branco também disse que ainda não há consenso na comunidade científica sobre a transmissão do vírus por assintomáticos. “Há alguns meses, acreditava-se que as crianças infectadas mas com nenhum ou poucos sintomas tinham transmissão baixa. No entanto, foi comprovado posteriormente que nada disso é verdade, pois com a abertura das escolas, a contaminação aumentou mesmo com as crianças assintomáticas”, exemplifica.

Como verificamos?

Primeiramente, o Comprova leu o artigo científico citado pelo site e entrou em contato com um dos autores da pesquisa por meio do e-mail listado no artigo. Também procuramos os posicionamentos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre a possibilidade de assintomáticos transmitirem ou não o vírus que causa a covid-19. Entrevistamos ainda o professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, Ivo Castelo Branco.

Também enviamos um e-mail para o site Terça Livre, que publicou o conteúdo verificado, mas não recebemos retorno até a publicação dessa verificação.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 30 de novembro de 2020.

Verificação

O que diz o estudo?

O artigo, publicado em novembro, analisa dados de um estudo feito com quase dez milhões de moradores de Wuhan, na China, cidade que foi o primeiro epicentro da covid-19 no mundo, para entender a prevalência do vírus na população. O levantamento, feito pelo governo chinês, detectou, entre outras coisas, a existência de 300 casos assintomáticos na cidade (e nenhum caso sintomático) na segunda quinzena de maio. O governo chinês colocou em isolamento por duas semanas 1.174 contatos próximos dos assintomáticos, mas nenhum deles apresentou resultados positivos nos testes para o SARS-CoV-2.

Os testes de prevalência que embasam o estudo foram realizados entre cinco e oito semanas após o fim do lockdown em Wuhan, em abril. Embora os resultados reforcem que a carga viral (quantidade de vírus) com que uma pessoa tem contato pode influenciar no desenvolvimento de sintomas e, posteriormente, na transmissão entre indivíduos, o estudo defende a manutenção de medidas de saúde pública de prevenção e controle da covid-19, “incluindo o uso de máscaras e a manutenção de um distanciamento social seguro”. Segundo os autores, populações vulneráveis, com baixa imunidade ou comorbidades, devem continuar a ser apropriadamente blindadas contra o novo coronavírus.

O que dizem os pesquisadores?

Em e-mail enviado ao Comprova, Fujian Song, professor titular na University of East Anglia (Reino Unido) e um dos autores do estudo, demonstrou preocupação com a interpretação que as pessoas possam dar ao resultado da pesquisa. Ele explicou que os casos assintomáticos identificados no estudo são de pessoas que não apresentaram sintomas clínicos antes ou durante o período em que ficaram isoladas para acompanhamento. “Alguns casos assintomáticos podem se tornar sintomáticos após alguns dias e esses indivíduos serão capazes de infectar outras pessoas antes mesmo do início desses sintomas”, afirma.

O médico também lembrou que esses casos assintomáticos foram identificados apenas algumas semanas após um rigoroso lockdown que durou mais de 70 dias em Wuhan; o que fazia com que a pandemia estivesse efetivamente sob controle naquele momento. “É provável que a carga de vírus dos casos assintomáticos identificados no programa de triagem em Wuhan possa ser baixa, em comparação com os casos em locais com alta transmissão do vírus SARS-CoV-2. Portanto, é problemático aplicar os resultados do artigo a países onde os surtos de covid-19 não foram controlados com sucesso”, adverte.

Por fim, Song também reiterou que os resultados do artigo não devem ser utilizados para contrariar a implementação de medidas de intervenção não farmacêutica, como a cobertura facial e o distanciamento social. Medidas como estas vinham sendo adotadas pela população chinesa quando os testes foram feitos e o uso de máscaras em lugares públicos continua sendo uma prática comum em Wuhan até hoje.

Autoridades de saúde

Em junho, o tema dos assintomáticos veio à tona depois que a infectologista Maria Van Kerkhove, chefe do departamento de doenças emergentes da Organização Mundial da Saúde, afirmou que a transmissão do novo coronavírus a partir de pessoas “genuinamente assintomáticas” era rara. Um dia depois, para evitar mal entendidos, ela voltou a se pronunciar sobre o assunto dizendo que é preciso ter cuidado ao tirar conclusões a partir de dados iniciais. “Estamos absolutamente convencidos de que a transmissão por casos assintomáticos está ocorrendo, a questão é saber quanto”, ponderou Kerkhove na ocasião.

De acordo com a OMS, “quer apresentem sintomas ou não, pessoas infectadas podem ser contagiosas e o vírus pode se espalhar para outros a partir delas”. Segundo a entidade, dados de laboratório sugerem que as pessoas infectadas aparentemente são mais capazes de transmitir o vírus em um período de dois dias antes de desenvolver os sintomas e no início da doença. Aqueles que desenvolvem casos mais graves podem permanecer infecciosos por mais tempo. “Embora alguém que nunca desenvolverá os sintomas possa transmitir o vírus para outras pessoas, ainda não está claro com que frequência isso ocorre e são necessárias mais pesquisas nessa área”, admite a OMS.

Em seu site, a Fundação Oswaldo Cruz explica que, embora, em média, pessoas infectadas por coronavírus transmitam a doença durante uma semana após o início dos sintomas, dados preliminares do SARS-CoV-2, o vírus que causa a covid-19, indicam que a transmissão pode ocorrer mesmo sem o aparecimento de sinais e sintomas. “Ou seja, a doença pode ser transmitida mesmo em casos assintomáticos ou antes que a pessoa comece a apresentar sintomas mais claros”, diz a Fiocruz.

Transmissão depende do período da infecção

Procurado pelo Comprova, o professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará Ivo Castelo Branco explica que a probabilidade de uma pessoa transmitir vai depender mais do período da infecção no qual ela se encontra do que da presença ou não de sintomas.

“A pessoa com covid já pode transmitir o vírus na primeira semana antes do início dos sintomas, ou seja, quando ainda está assintomática”, explica. “Na segunda semana, ela apresenta os sintomas e diminui a carga viral. Na terceira semana, a carga viral praticamente desaparece”.

O médico coordena o “Projeto Avisa: Avaliação de Incidência de Infecção por SARS-CoV-2 e de Covid-19 no Brasil” em parceria com o Instituto Butantan, e estuda a evolução dos sintomas, a possibilidade de reinfecção e o tempo de imunidade à covid-19, tendo como foco as pessoas assintomáticas ou com manifestações leves da doença.

“A maioria dos estudos sobre a covid é sobre pacientes sintomáticos, e ainda por cima, sobre aquelas com sintomas mais graves e que necessitam de hospitalização. Há, portanto, uma insuficiência de informações no meio científico sobre essa parcela de assintomáticos, que representa uma grande parcela dos infectados”, aponta. “Mas o consenso é que é essencial seguir os protocolos de higiene para evitar a infecção pelo novo coronavírus, ou seja, usar máscaras e higienizar as mãos”, acrescenta.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia, as eleições 2020 e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. É o caso dessa publicação do site Terça Livre, que teve 1,6 mil interações no Twitter e 1,2 mil interações no Facebook, de acordo com a plataforma de monitoramento CrowdTangle. Quando os conteúdos tratam de métodos de prevenção ou disseminação do novo coronavírus, a verificação se torna ainda mais necessária porque informações erradas sobre a doença podem levar as pessoas a não adotarem medidas adequadas de proteção e se exporem a riscos de contaminação.

Desde o início da pandemia, o Comprova já mostrou que as máscaras são eficientes no combate à covid-19; que as vacinas não causam câncer ou danos genéticos; e que que é enganoso dizer que expor a população ao vírus é melhor do que a vacinação para acabar com a pandemia.

O Estadão Verifica e o Boatos.org já fizeram checagens sobre a transmissão do vírus por pessoas assintomáticas.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Eleições

Investigado por: 2020-11-29

É falso que cabos eleitorais de Sarto tenham transportado urna adulterada

  • Falso
Falso
Vídeo mostra urna conduzida em uma picape cedida à Justiça Eleitoral pelo DNOCS, no Ceará. O equipamento é uma urna de contingência, utilizada para substituir unidade que apresentou defeitos no início da votação
  • Conteúdo verificado: Vídeo no Facebook que mostra urna eletrônica em uma picape, com legenda que diz que o equipamento foi adulterado e transportado por cabos eleitorais do prefeito eleito de Fortaleza José Sarto (PDT)

É falso que um vídeo viral no Facebook mostre cabos eleitorais do prefeito eleito de Fortaleza José Sarto (PDT) transportando uma urna eletrônica adulterada em um carro particular. Na verdade, a gravação mostra um equipamento trazido em uma picape cedida à Justiça Eleitoral pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). A máquina é uma urna de contingência, utilizada para substituir um equipamento que apresentou defeitos no início da votação.

De acordo com Edna Saboia, coordenadora de Eleições do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), o procedimento de substituição de urnas é “correto, dentro da legalidade e comum nas eleições”. Ao todo, 42 urnas foram substituídas na capital cearense.

O Tribunal afirmou que o tumulto foi gravado por uma eleitora que não entendeu o transporte da urna. “Ressalta-se que o vídeo está editado e não mostra o momento em que uma servidora explica o processo de troca”, comunicou o TRE-CE.

Como verificamos?

Entramos em contato com o TRE-CE, que divulgou uma nota sobre o ocorrido. Também questionamos Edna Saboia, coordenadora de Eleições do TRE-CE. O editor-chefe do site de checagem E-Farsas Marco Faustino cedeu ao Comprova áudios de uma conversa com uma auxiliar convocada pela Justiça Eleitoral que presenciou o incidente, Ana Cristina Rodrigues.

Verificação

Em que contexto foi gravado o vídeo?

De acordo com o Tribunal Regional do Ceará, o vídeo mostra um tumulto causado por uma eleitora que não aceitou o processo de troca de uma urna eletrônica defeituosa. A confusão ocorreu em um local de votação da 85ª zona eleitoral de Fortaleza, na escola Professor César Campelo.

Uma auxiliar convocada pela Justiça Eleitoral presenciou o incidente e conversou com o editor-chefe Marco Faustino, do site de checagem E-Farsas. Ana Cristina Rodrigues disse que uma urna da seção 141 estava apresentando defeitos pela manhã. “Quando isso acontece, o presidente da mesa tem que reiniciar a urna e se ela continuar travando, tem que substituir”, disse ela. “Mas isso é último caso, porque nós só temos duas urnas de reposição”.

De acordo com a auxiliar, por volta das 11h30 uma eleitora viu uma urna de contingência chegando para a substituição. Ainda segundo Ana Cristina, essa mulher começou a fazer acusações de fraude contra o candidato a prefeito Capitão Wagner (PROS). Uma segunda eleitora filmou, do lado de fora da escola, a picape em que a urna de contingência foi transportada.

“Mostramos para que ela (a mulher que filmava) pudesse ver que era uma urna de reposição, um procedimento normal”, disse Ana Cristina. “Ela continuou gritando dizendo que a gente tava roubando. Ela filmou e editou, deixou só a parte que interessava.”

Segundo o TRE-CE, algumas das pessoas mostradas em torno da picape faziam parte da equipe de apoio da Justiça Eleitoral. O carro utilizado para transporte da urna de contingência foi cedido pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) e estava identificado com adesivos.

“A equipe estava em carro adesivado pelo TRE-CE que foi requisitado ao DNOCS, visto que a Justiça Eleitoral não possui carros suficientes para abranger todas as rotas, sendo necessária a requisição de veículos de outros órgãos públicos”, informou o Tribunal.

Urnas de contingência

São aparelhos reservas, preparados para substituir equipamentos que apresentem algum defeito no dia da votação. Elas são preparadas e lacradas na mesma audiência que as demais e, portanto, apresentam como opções os mesmos candidatos de uma urna “normal”. Caso a urna original apresente problemas após o início da votação, a Justiça Eleitoral transfere o flash card e o disquete do aparelho com defeito para a urna de contingência, garantindo que os votos já registrados não sejam desconsiderados. A nova urna é, então, lacrada novamente e passa a ser a urna da seção eleitoral.

Caso os problemas persistam, a Justiça Eleitoral prevê também a possibilidade de se utilizar um flash card de contingência, também preparado previamente, ou, se não houver alternativa para usar a urna eletrônica, de coletar os votos manualmente através de cédulas.

De acordo com Edna Saboia, coordenadora de Eleições do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), o vídeo em questão gravou o transporte de urnas para substituição, procedimento que é usual em todas as eleições. “Há mais de 600 urnas de contingência, que são as urnas reservas que ficam em pontos específicos. Quando tem uma ocorrência [de mau funcionamento da urna em uso] em algum local de votação, as equipes de apoio do TRE transportam essas urnas de contingência para substituição. Quem transporta essas urnas são os veículos requisitados pela Justiça Eleitoral. A frota (para as eleições atuais) é de uns 500 veículos, só aqui em Fortaleza, e os carros são requisitados de vários órgãos. O veículo que aparece no vídeo é do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). O procedimento é correto, dentro da legalidade e comum nas eleições”.

Registros de denúncia

Segundo a Polícia Militar do Ceará, apenas seis ocorrências foram encaminhadas à superintendência da Polícia Federal em Fortaleza por irregularidades no dia da votação. Os registros são de suspeita de distribuição de material de campanha, realização de carreata, apreensão de folhetos e dinheiro (sem comprovação de compra de votos) e outras três ocorrências em Fortaleza e em Caucaia, município da Região Metropolitana, classificadas como “tentativas de atrapalhar os trabalhos eleitorais” que não foram especificados pelo TRE-CE.

Para Saboia, esta foi uma das eleições mais tranquilas que a servidora já vivenciou. “A quantidade de ocorrências foi bem menor do que na eleição passada”, destaca.

Quem é o Inspetor Alberto?

O vídeo com maior viralização no Facebook foi divulgado pela conta do Inspetor Alberto, nome de urna do servidor público aposentado José Alberto Bastos Vieira Júnior, de 59 anos. Ele foi eleito vereador em Fortaleza com 7.301 votos pelo Partido Republicano da Ordem Social (PROS). Essa foi a quinta eleição que ele disputou e a primeira em que teve sucesso – desde 2006, quando concorreu a deputado estadual, vem se candidatando a cargos proporcionais.

Em suas redes sociais, onde ostenta foto ao lado do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), ele se define como “armamentista, conservador e antiesquerdista”.

Nos documentos disponíveis no sistema de divulgação de candidaturas do TSE (DivulgaCand), os três números de telefones fornecidos são do partido PROS. Tentamos contato com o Inspetor através de uma pessoa chamada Tancredo Santos, seu correligionário, que não respondeu às mensagens do Comprova.

No início da noite, Alberto voltou ao seu perfil no Facebook para postar em letras maiúsculas, sugerindo estar gritando: “O Facebook está tentando manipular as pessoas! Está alegando que a notícia é falsa! Contra fatos não há argumentos!”

Por que investigamos?

Atualmente em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre as eleições 2020, a pandemia e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. A verificação de conteúdos que tratam de apuração é importante porque conteúdos inverídicos podem atingir a confiança das pessoas nas eleições.

O vídeo que viralizou teve 121,6 mil interações no Facebook, segundo a plataforma de monitoramento de mídias sociais CrowdTangle.

O Aos Fatos, o E-farsas e a Agência Lupa verificaram o mesmo conteúdo e o classificaram como falso.

Durante a eleição de 2020, o Comprova mostrou que as justificativas dos eleitores não podem ser transformadas em votos válidos; que a apuração brasileira é aberta a qualquer pessoa; que é possível realizar recontagem dos votos; e que o sistema que aparece em um vídeo para simular fraude não é o mesmo das urnas eletrônicas.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Eleições

Investigado por: 2020-11-29

É falso que Manuela D’Ávila tenha liderado protestos no Carrefour de Porto Alegre

  • Falsa
Falsa
Ao contrário do que uma postagem sugere, a rede de supermercado Carrefour nunca anunciou fechamento ou demissão de seus funcionários
  • Conteúdo verificado: Publicação em grupo de Facebook afirma que o Carrefour de Porto Alegre onde João Alberto Silveira Freitas foi morto será fechado por conta de protestos liderados pela candidata a prefeita Manuela D’Avila (PCdoB)

É falsa a publicação no Facebook que afirma que o Carrefour da Zona Norte de Porto Alegre, onde ocorreu a morte de João Alberto Silveira Freitas, será fechado por conta de protestos liderados pela candidata a prefeita Manuela D’Avila (PCdoB). Na verdade, os atos foram organizados e convocados por entidades e coletivos do movimento negro, movimentos sociais e integrantes da torcida do time São José.

Ao contrário do que a postagem sugere, a rede de supermercado Carrefour nunca anunciou fechamento ou demissão de seus funcionários. Após a morte, o mercado anunciou no Twitter que no dia 20 de novembro a loja não iria abrir: “em respeito à vítima, a loja será fechada”.

A decisão ocorreu um dia depois do espancamento de João Alberto por dois seguranças. No dia 26 de novembro, sete dias depois da morte de João Alberto, a unidade também ficou fechada. Em post no Twitter, a rede de mercados informou que “em respeito ao luto da família de João Alberto Freitas e à sociedade brasileira, nossas lojas estarão fechadas na quinta até as 14h” .

Não há registro de que funcionários do Carrefour tenham sido demitidos ou que a unidade tenha sido fechada em decorrência dos protestos. Segundo a assessoria da empresa, “a loja segue operando normalmente”. Já o Sindicato dos Empregados do Comércio de Porto Alegre comunicou que não recebeu nenhuma denúncia referente à demissão de funcionários ou sobre a possibilidade de fechamento da loja.

Até o momento, foram demitidos apenas os seguranças envolvidos no espancamento: os terceirizados Giovane Gaspar da Silva e Magno Braz Borges. O Carrefour, em nota, afirmou que terminou o contrato com o Grupo Vector, empresa responsável pela segurança.

Como verificamos?

Procuramos o posicionamento oficial do Carrefour e do Sindicato dos Empregados do Comércio de Porto Alegre. Questionamos a assessoria da própria Manuela D’Ávila sobre sua participação no protesto e entramos em contato com os movimentos e grupos que organizaram os atos realizados em prol de João Alberto. Um dos verificadores foi presencialmente a um dos protestos entrevistar os manifestantes.

O Comprova também tentou contato com a página responsável pela publicação. Não obteve retorno. Posteriormente, a postagem foi apagada, mas outras publicações com o mesmo conteúdo continuam circulando nas redes sociais.

Verificação

A morte de João Alberto desencadeou diversos protestos, que inicialmente foram convocados para o dia 20 de novembro. A reportagem conversou pessoalmente com participantes de uma das manifestações. De acordo com os entrevistados, os atos foram criados pelos seguintes grupos: Torcida Os Farrapos (torcedores do clube Esporte Clube São José, do qual João Alberto fazia parte), Movimento Negro Unifcado (MNU), Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT), Juntos, Alicerce, Renagro Casa do Babá Giba de Yemanjá, Pastorais da Criança e do Negro Paróquia Santo Antônio, Articulação Popular Gaúcha, Partido Unidade Popular, Movimento de Alabês Velha África.

Manuela D’Ávila, candidata à prefeitura de Porto Alegre pelo PCdoB, chegou a participar de uma manifestação na unidade do Carrefour, mas não fazia parte da organização do ato. A mídia local informou que a manifestação foi “convocada por entidades e coletivos ligados ao movimento negro”. O fato foi corroborado ao Comprova por representantes de coletivos presentes no local.

Os protestos

Manuela D’Ávila esteve presente em apenas um protesto contra o racismo após a morte de João Alberto na unidade do Carrefour à qual a postagem analisada faz menção. Foi no dia 20 de novembro, quando se celebra o Dia da Consciência Negra no Brasil.

Até a publicação desta verificação, quatro protestos foram feitos em Porto Alegre contra a morte de João Alberto. Na sexta-feira, 20 de novembro, cerca de 2,5 mil manifestantes, segundo a Guarda Municipal de Porto Alegre, se reuniram em frente ao supermercado. Um grupo pequeno de manifestantes tentou invadir o mercado, que estava fechado, gerando confronto com a Brigada Militar.

No sábado, 21 de novembro, 50 pessoas protestaram pacificamente no mesmo local por aproximadamente duas horas. Na segunda-feira, 23, o protesto aconteceu em outro local, em frente ao Carrefour da Avenida Bento Gonçalves, zona leste da cidade. Já no dia 27 de novembro, ocorreu um ato ecumênico no final da tarde, em frente à Igreja São Jorge. Manifestantes caminharam cerca de 3km até o Carrefour da Avenida Bento Gonçalves.

Ao Comprova, a assessoria de Manuela D’Ávila negou que ela tenha convocado o ato e informou que a candidata “apenas passou pelo protesto, no primeiro dia, muito antes de haver qualquer tipo de confusão”.

Posicionamento do Carrefour

Não há evidência de que funcionários do Carrefour tenham sido demitidos em decorrência dos protestos. Segundo a assessoria de comunicação do Carreforur, a informação de que a loja da Zona Norte de Porto Alegre será fechada não é verdadeira. “A informação não procede. A loja segue operando normalmente”, afirmou a empresa, por e-mail.

Já o Sindicato dos Empregados do Comércio de Porto Alegre informou ao Comprova que não recebeu nenhuma denúncia referente à demissão dos funcionários e nem sobre a possibilidade de fechamento da loja.

Após o ocorrido, o mercado anunciou em seu perfil no Twitter que no dia 20 de novembro a loja não iria abrir, “em respeito à vítima, a loja será fechada”. A decisão foi um dia depois do espancamento que levou João Alberto a óbito. No dia 26 de novembro, sete dias depois do espancamento, o mercado também ficou fechado. Em post no Twitter, a rede informa que “Em respeito ao luto da família de João Alberto Freitas e à sociedade brasileira, nossas lojas estarão fechadas na quinta até as 14h” .

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais referente à pandemia, a políticas públicas do governo federal e às eleições de 2020. A postagem analisada nessa verificação se enquadra no último caso: difunde informações falsas sobre uma candidata e pode afetar o processo eleitoral. O conteúdo foi divulgado em pelo menos quatro publicações no Facebook, que somaram mais de 7 mil interações, entre curtidas, comentários e compartilhamentos. Também registrou 50 curtidas em uma publicação no Instagram.

O Fato ou Fake, Aos Fatos e AFP também checaram este conteúdo como falso.

Outros candidatos à prefeitura de capitais foram alvos de desinformação. O Comprova já demonstrou que Boulos não cobrou aluguel de moradores sem-teto e que panfletos distorceram frase de Marília Arraes sobre a Bíblia. Uma frase de Ana Arraes também foi tirada de contexto em vídeo para implicar que seu neto e candidato à prefeitura de Recife, João Campos, teria lhe agredido fisicamente.

Sobre Porto Alegre, o Comprova demonstrou que a diferença entre os resultados do primeiro turno e de uma pesquisa realizada na cidade não implica em fraude do levantamento.

Falso: Conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Eleições

Investigado por: 2020-11-29

É falso que hacker tenha atacado sistema de votos do TSE

  • Falso
Falso
Os dados vazados eram da área de Recursos Humanos e os hackers não chegaram a invadir o sistema de apuração dos votos ou as urnas eletrônicas. Além disso, a urna não é conectada à internet. O sistema operacional instalado nela impede a conexão com qualquer rede ou acesso remoto
  • Conteúdo verificado: Post no Twitter diz que um jovem de 19 anos atacou o sistema do TSE e que um sistema sem auditoria não tem segurança

É falso que um hacker tenha atacado o sistema de votos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), como afirma um tuíte que viralizou neste domingo (29), dia do segundo turno das eleições. Nesse sábado, a Polícia Federal cumpriu quatro mandados de busca e apreensão em São Paulo, Minas Gerais e em Portugal contra programadores acusados de integrar o grupo hacker que vazou dados administrativos do TSE no primeiro turno das eleições de 2020. Os dados vazados eram da área de Recursos Humanos e os hackers não chegaram a invadir o sistema de apuração dos votos ou as urnas eletrônicas, de acordo com a Justiça Eleitoral, a Polícia Federal e quatro especialistas em cibersegurança que, a pedido do Comprova, analisaram as informações vazadas no dia em que a falha de segurança se tornou pública.

Também não é verdade que o sistema de votação brasileiro não seja seguro por não ter uma auditoria através de votos impressos. As urnas eletrônicas, a rede que transmite os votos e o programa que faz a totalização da votação de cada candidato têm uma série de mecanismos de segurança, como criptografias e chaves de segurança às quais apenas o TSE tem acesso. A Justiça Eleitoral também realiza auditorias das urnas eletrônicas em todos os estados, no primeiro e no segundo turno das eleições, com participações de fiscais dos partidos políticos, de representantes da sociedade civil e de qualquer cidadão interessado em acompanhá-las. Como o Comprova já mostrou, a impressão de um comprovante com os votos de cada eleitor foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) porque poderia violar o sigilo do voto, que é definido como direito fundamental pela Constituição de 1988.

Como verificamos?

Para essa verificação, inicialmente buscamos informações sobre a prisão do hacker que vazou dados da Justiça Eleitoral. Também procuramos o TSE para saber sobre a segurança das urnas e o processo de apuração dos votos. Entrevistamos Emanuel Bezerra, professor do Departamento de Computação da Universidade Federal do Ceará (UFC), para entender como funciona o tipo de ataque que resultou no vazamento de dados da Justiça Eleitoral. Por fim, entramos em contato com o autor do tuíte.

Verificação

Como foi a ação do hacker preso?

De acordo com matéria publicada pelo Estadão, que entrevistou o hacker, o ataque foi do tipo DDoS (do inglês Distributed Denial-of-Service attack) e realizado por meio de uma “botnet” (controle de uma rede de dispositivos com internet), o que gerou instabilidade no site. O ataque de DDoS, também conhecido como ataque de negação de serviço, atinge seu objetivo excedendo os limites do servidor. Para isso, os hackers criam programas maliciosos que são instalados em diversas máquinas, as quais realizarão múltiplos acessos simultâneos ao site ao qual o ataque é direcionado. A mesma estratégia foi utilizada nos ataques aos sites da Receita Federal, da Presidência da República, do Portal Brasil e da Petrobras ocorridos em junho de 2011.

Na segunda-feira (16), o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, afirmou que o ataque não afetou as urnas eletrônicas nem o resultado das eleições. No entanto, a ação resultou em lentidão nos serviços remotos do TSE em todo o Brasil, devido a solicitações oriundas de 435 mil conexões — que além do território nacional, partiram de países como Estados Unidos e Nova Zelândia.

Segundo Emanuel Bezerra, professor do Departamento de Computação da Universidade Federal do Ceará (UFC), esse tipo de ataque só é possível ser feito com uma rede articulada de computadores, ao contrário do que afirmou o hacker, que disse ter feito a operação sozinho e com auxílio apenas de um celular. “É muito difícil só uma pessoa com o celular conseguir derrubar uma rede. Geralmente são muitas máquinas infectadas trabalhando ao mesmo tempo, e elas não precisam ser do hacker. O que os hackers fazem é contaminar as máquinas (computadores e celulares) de outras pessoas ao redor do mundo, que ficam como se fossem ‘zumbis’ no momento do ataque e iniciam os disparos em massa na rede que o hacker quer derrubar. Essa contaminação de máquinas pode ser causada por sites ou links maliciosos e resultam no que a gente chama de botnet (rede de robôs), que obedecem as ordens do atacante”, explica.

Quem é o hacker?

O hacker português identificado como Zambrius, líder do grupo local CyberTeam, suspeito de ter atacado os dados da Justiça Eleitoral do Brasil, foi preso sábado, 28, pela Polícia Federal em Portugal. O hacker tem 19 anos e se diz “viciado” em programação de computador. Estava detido em casa desde março, com uma tornozeleira eletrônica, após efetuar um ataque aos sistemas de uma empresa de energia elétrica local. Em entrevista ao Estadão, feita entre os dias 17 e 18 de novembro, mas publicada após a prisão, ele contou que agiu por “diversão” e por ser contra governos. Ele acrescentou que o objetivo principal era demonstrar que o TSE continuava vulnerável mesmo depois de ter sido anunciado que tinha reforçado a segurança.

Sobre o fato de o ataque ter feito com que os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro acusassem fraude no sistema eleitoral do Brasil, o hacker disse que a intenção do grupo não era propulsionar o que chamou de “desinformação de fraudes”, e que a invasão não afeta ou causa fraudes nas eleições. “Eu não tenho envolvimento em atos políticos, tenho apenas protestos antigoverno, nunca apoiei partidos, governos ou o quer que seja relacionado ao governo”, afirmou.

No dia 15, o Comprova entrou em contato com a página do CyberTeam e a pessoa que respondeu às mensagens e trocas de e-mails se apresentou como Zambrius e disse ser o jovem que já havia sido preso em abril deste ano em Portugal. Ele disse que o ataque teria ocorrido na data do primeiro turno das eleições, não anos antes. Quando questionado sobre a avaliação de especialistas ouvidos pelo Comprova, segundo a qual o vazamento não teve ligação com dados da eleição, Zambrius respondeu: “Eu não explorei por completo o TSE e só me foquei em reunir os dados de utilizador”.

Sistema de votos não foi invadido

O TSE afirmou ainda no dia 15 de novembro, data do primeiro turno, que o vazamento envolvia apenas dados administrativos do tribunal, com informações de funcionários e ex-ministro da Corte. As informações são referentes ao período de 2001 a 2010. A falha não comprometeu o sistema de votação, que funciona à parte e possui várias travas de segurança, inclusive utilizando chaves e criptografia. O ataque também não poderia afetar as urnas eletrônicas, que estavam recebendo o voto dos eleitores naquele momento, porque elas não são conectadas à internet.

Ainda no dia 15 de novembro, o Comprova pediu a quatro especialistas em cibersegurança que avaliassem os dados vazados para saber se eles poderiam comprometer o resultado das eleições. Todos foram unânimes em afirmar que o sistema de votos não foi afetado e que o ataque não violou a segurança da eleição. Foram ouvidos Paulo Lício de Geus, professor do Instituto de Computação e CIO da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e representante da Sociedade Brasileira de Computação nos testes públicos de segurança do sistema eletrônico de votação do TSE; Hiago Kin, presidente da Associação Brasileira de Segurança Cibernética e CEO da Deepcript; Thiago Tavares, presidente da SaferNet; e Márcio Correia, analista de sistemas da Universidade Federal do Ceará (UFC) e professor de Tecnologia de Informação da Faculdade Cearense (FaC).

Posição do TSE e segurança da eleição

Desde o dia do primeiro turno da eleição, as informações iniciais passadas pelo ministro Luís Roberto Barroso eram de que o vazamento de dados havia partido de Portugal. O ministro da Justiça, André Mendonça, também afirmou, no dia da votação, que a Polícia Federal estava investigando o caso e não havia encontrado “qualquer indicativo de prejuízo ao pleito eleitoral”. Além de garantir que a falha de segurança não afetou o resultado das eleições por conta das medidas de proteção, o TSE também instituiu uma Comissão de Segurança Cibernética para trocar informações com a PF e acompanhar a apuração do caso.

As urnas eletrônicas possuem comandos que garantem que apenas softwares assinados digitalmente pelo TSE possam ser executados. Também são programadas barreiras de segurança que fazem com que tentativas de ataque ou de executar um software não autorizado bloqueiem o aparelho. O programa oficial do TSE também para automaticamente de ser executado caso alguém tente executá-lo em um hardware não certificado. Além disso, a urna não é conectada à internet. O sistema operacional instalado nela impede a conexão com qualquer rede ou acesso remoto.

As urnas passam por testes públicos em que especialistas tentam quebrar as barreiras de segurança. Em nenhuma das cinco edições (realizadas em 2009, 2012, 2016, 2017 e 2019) os programadores conseguiram quebrar o sigilo ou desvirtuar a destinação dos votos. Se houver qualquer suspeita em relação à autenticidade do software utilizado em qualquer aparelho, as assinaturas digitais também podem ser conferidas pela Justiça Eleitoral.

Por fim, o TSE realiza auditorias para testar a segurança e a lisura da votação. Os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) sorteiam ao menos seis urnas em cada turno da eleição. Em três delas são conferidos os sistemas instalados no equipamento. Fiscais da sociedade civil, de partidos políticos e cidadãos podem conferir se a assinatura digital que consta nas urnas é a mesma que foi lacrada anteriormente em uma cerimônia feita pela Justiça Eleitoral. Nas demais urnas, é feita uma votação paralela. Em um local público, com a participação de fiscais dos partidos políticos e de qualquer cidadão que tenha interesse em acompanhar, é feita uma votação simulada, em que os representantes dos partidos preenchem cédulas em papel e, depois, registram esses votos nas urnas. Ao final, as cédulas em papel são contadas para verificar se os votos batem com o boletim impresso ao final pela urna eletrônica.

O autor do post

O Comprova entrou em contato com o autor da postagem, um ex-agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) com atuação pró-Bolsonaro nas redes sociais. “Eu não disse que ela (a urna eletrônica) não é auditável. Eu disse que sem o voto impresso, não há segurança 100%. (…) Não é voltar ao sistema anterior, mas adicionar outra camada de segurança”, afirmou, defendendo a impressão do voto, medida declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por riscos de fraude e quebra de sigilo.

Logo após o contato do Comprova, o autor restringiu o acesso à publicação, que já havia sido curtida por mais de duas mil contas e compartilhada por quase 500.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre as eleições de 2020, a pandemia de covid-19 e políticas públicas do governo federal. É o caso do tuíte verificado aqui, do perfil @pacefeco, que teve 2,2 mil interações nas redes sociais. Conteúdos sobre a eleição são importantes porque a desinformação pode afetar a credibilidade dos resultados das urnas.

Recentemente, o Comprova mostrou que as justificativas dos eleitores não podem ser transformadas em votos válidos; que a apuração brasileira é aberta a qualquer pessoa; que é possível realizar recontagem dos votos; e que o sistema que aparece em um vídeo para simular fraude não é o mesmo das urnas eletrônicas.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.